cinema brasileiro e a ideia de experiência

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  • 7/31/2019 Cinema Brasileiro e a Ideia de Experincia

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    Intercom Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicao

    XXXV Congresso Brasileiro de Cincias da Comunicao Fortaleza, CE 3 a 7/9/2012

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    Cinema Brasileiro e a Ideia de Experincia1

    Carlos Gerbase2

    e Helena Stigger3

    Programa de Ps-Graduao da Faculdade de Comunicao da Pontifcia UniversidadeCatlica do Rio Grande do SulPorto Alegre - RS

    ResumoUm dos perodos mais repressivos e violentos da histria da poltica brasileira foi aDitadura Militar, de 1964 a 1985. E, atualmente, tem crescido o nmero de filmesbrasileiros que mostram as barbaridades que ocorreram nesse perodo. Assim, nesse artigo,auxiliados pelos estudos de Walter Benjamim, Marcio Seligmann-Silva e Jean-Franois

    Lyotard, buscamos estudar a representao da ditadura militar no cinema brasileiro e arelao da mesma com a experincia.

    Palavras-chaveCinema Brasileiro, Ditadura Militar, Experincia

    De acordo com Walter Benjamin a experincia chega ao fim na Modernidade. No

    entanto, o mesmo autor afirma que o cinema uma arte que abriga na sua prpria

    concepo a reproduo e, alm disso, os filmes colocam em evidncia detalhes do

    cotidiano imperceptveis ao olho nu, fato que Benjamin chamou de inconsciente tico.

    Desse modo, evidenciamos que a arte contempornea continua a repassar a

    experincia quando ela torna-se testemunho de todas as atrocidades que o mundo Ocidental

    vivenciou baseado num pensamento tcnico e progressista. Assim, de modo particular,

    identificamos que o cinema brasileiro est tornando-se um eficaz testemunho da ditadura

    militar.

    1.Os filmes e suas vertentes

    Ainda contemporneo ao governo, em 1965, com o filme O desafio, Paulo Csar

    Saraceniretratava as angstias de um intelectual perante o golpe militar. Em 1967, Glauber

    1 Trabalho apresentado no GP Cinema, evento componente do XXXV Congresso Brasileiro de Cincias da ComunicaoIntercom.2Doutor em Comunicao Social pela Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul, Brasil (2003). Professoradjunto da Pontifcia Universidade Catlica do Rio Grande do Sul e do Curso Tecnolgico de Audivisual da mesmauniversidade. Coordenador do [email protected] Doutora em Comunicao Social pelo Programa de Ps-Graduao da Faculdade de Comunicao da PontifciaUniversidade Catlica do Rio Grande do Sul. Bolsita de PNPD (Programa Nacional de Ps Doutorado) pelo PPG-COM daPUCRS. [email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    Rocha mostrou o desejo de ruptura revolucionria na prpria forma esttica do filme em

    Terra em transe. Em 1972, Joaquim Pedro de Andrade registrou a ditadura militar atravs

    de uma analogia com a histria da Inconfidncia Mineira. E, aps o fim da censura, o

    cinema passou a retratar claramente o governo militar o que resultou em obras como Paula,

    histria de uma subversiva (Francisco Ramalho Jr., 1979); O bom burgus (Oswaldo

    Caldeira, 1982); Pra frente Brasil (Roberto Farias, 1983);Extremos do prazer (Carlos

    Reichenbach, 1982);Nunca fomos to felizes (Murilo Salles, 1983); O beijo da mulher

    aranha (Hector Babenco, 1985);Besame mucho (Francisco Ramalho Jr., 1987);Feliz ano

    velho (Roberto Gervitz, 1987);Lamarca (Srgio Resende, 1994);As meninas (Emiliano

    Ribeiro, 1995);O que isso companheiro (Bruno Barreto, 1997);Ao entre amigos (Beto

    Brant, 1998);Dois Crregos (Carlos Reichenback, 1999);Benjamin (Monique Gardenberg,2004);A dona da histria (Daniel Filho, 2004); Cabra-cega (Toni Venturi, 2005); Quase

    dois irmos (Lcia Murat, 2005); Zuzu Angel (Srgio Rezende, 2006); Sonhos e

    desejos (Marcelo Santiago, 2006);1972 (Jos Emlio Rondeau e Ana Maria Bahiana, 2006);

    Batismo de sangue (Helvcio Ratton, 2007); O ano que meus pais saram de frias (Cao

    Hamburger, 2007);Corpo (Rubens Rewalde Rossana Foglia, 2008) eEm teu nome (Paulo

    Nascimento, 2010).

    Paula histria de um subversiva, O bom burgus e Pra frente Brasil foram as

    primeiras obras a evidenciar o sistema repressivo do governo militar. Nessas narrativas,

    vemos as primeiras tentativas de conciliao de um pas em processo de abertura poltica

    com seu passado recente de autoritarismo.Zuzu Angel foi inspirado na vida real da estilista

    Zuzu Angel e na sua luta pessoal para localizar o corpo do filho desaparecido. Nesse filme,

    temos mais um exemplo das pessoas que foram tragicamente marcadas pela ditadura. A

    narrativa tambm revela o medo de uma sociedade que no conseguia ajudar o prximo.

    Batismo de sangue uma narrativa inspirado no livro homnimo de Frei Beto. O filme

    narra a participao poltica dos frades que ajudaram a ALN, especialmente, Frei Tito, que,

    depois de torturado, tentou o suicdio duas vezes, a ltima tentativa o levou a morte.

    Quase dois irmos retrata o encontro de presos polticos com a formao do

    Comando Vermelho. Assim, a obra prope um dilogo sobre a ramificao da violncia nos

    dias atuais.

    Enfim, esses so apenas um dos exemplos. Do intimismo ao neo-realismo italiano,

    passando pela alegoria, tropicalismo, antropofagia, so as mltiplas vertentes do cinemanacional, diversas formas de retratar a ditadura. Assim, buscamos nessas pginas estudar a

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    relao da representao da ditadura militar com a experincia nos filmes brasileiros de

    fico. Pois, o nosso presente propsito compreender de que maneira o cinema tem

    contribudo para a formao crtica da sociedade. Ao analisar esses filmes, cumpre saber o

    contexto e o papel desempenhado pela arte no Brasil contemporneo, pois mesmos as

    narrativas mais antigas sobre a ditadura militar, so vistas e revistas na atualidade, em

    outras palavras, elas retratam nossa histria poltica.

    2.A experincia e o cinema

    Para Walter Benjamin o mundo moderno foi marcado pelo fim da experincia e para

    Jean-Franois Lyotard, os discursos que orientavam a modernidade como a crena no

    progresso e o desenvolvimento da cincia esto em desuso. O fim da experincia significa aimpossibilidade de repassar para novas geraes uma prtica do passado. A descrena nos

    metadiscursos culmina numa crise de legitimao que leva a um relativismo radical. Diante

    dessas circunstncias, estudar a representao da ditadura militar contribui para identificar

    como o cinema auxilia numa construo de uma memria coletiva e, tambm, nos ajuda a

    entender como um filme, dentro do contexto social atual, sobrevive ao relativismo e retrata

    uma tica na esttica.

    Benjamin observa que a experincia est em vias de desaparecer na sociedadecontempornea. Pois, por princpio, as narrativas so baseadas em descries, o narrador

    no inaugura um sentido, mas apenas se atm em narrar as travessuras do heri. Por fora

    dessa tradio, a narrativa torna-se uma obra aberta para a interpretao de cada ouvinte e,

    medida que se reproduz, soma-se a ela uma nova camada. Conforme Benjamin, na

    narrativa pica que culminam todas essas reprodues da experincia. No que

    concerne ao romance, a sabedoria desaparece. compatvel com o rpido desenvolvimento

    da tcnica e as subsequentes transformaes do mundo social, a perda da referncia dasgeraes anteriores. Desse modo, o indivduo, ao mesmo tempo em que exposto a

    acontecimentos atrozes como a guerra, perde seu marco referencial da tradio na narrativa

    oral. Portanto, ciente da impossibilidade do acesso experincia, o homem moderno

    procura no romance um sentido para a sua vida.

    No textoA obra de arte na era de sua reprodutibilidade tcnica (1984), Benjamin

    atribui um papel primordial ao cinema. Esse, segundo o autor, tem na sua prpria essncia o

    clculo da reproduo. Para ser pago, um filme precisa atingir um pblico massivo: logo, a

    reproduo em larga escala uma caracterstica calculada e decisiva para sua existncia.

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    Portanto, cessado o antigo modo ritualizado da arte, institui-se uma nova percepo da

    mesma. No centro desse pensamento, o cinema torna-se o representante dessas mudanas.

    Ainda, apropriando-se de dois personagens, Benjamin nos mostra a natureza do

    cinema: o pintor e o cineasta. Na pintura, necessria a longitude e a observao do objeto

    para a reproduo. Aps esse exerccio, o pintor cria na tela a realidade que v ou imagina.

    No cinema, o princpio de sua linguagem est baseado na montagem de planos e na

    construo dos mesmos atravs de escolhas tcnicas tais como o posicionamento e ngulo

    da cmera, iluminao e outras. Assim, diferentemente do pintor, o cineasta no apenas

    observa a realidade mantendo uma distancia, mas a recria artificialmente. Perante essas

    teorias aqui expostas, nos parece evidente que a finalidade do cinema buscar um meio de

    sobrevivncia da obra aberta. Portanto:

    Aqui intervm a cmera com seus inmeros recursos auxiliares,suas imerses e suas aceleraes, suas ampliaes e suas miniaturizaes.Ela nos abre, pela primeira vez, a experincia do inconsciente tico, domesmo modo que a psicanlise nos abre a experincia do inconscientepulsional. De resto, existem entre os dois inconscientes as relaesestreitas (BENJAMIN, 1987, pp.189-190).

    De acordo com Mrcio Seligmann-Silva (2005), Benjamin descreve o cinema como

    uma arte que evidencia os o autor, com a sua luz de uma freqncia inusitada, o cinema

    revela um acmulo de catstrofes nos locais onde costumamos ver, na nossa viglia, uma

    bela realidade. (SELIGMANN-SILVA, 2005, p.28) Assim, Seligmann-Silva observa uma

    atualizao na teoria de Benjamin aplicado ao cinema. Segundo esse primeiro autor, se o

    desenvolvimento da tcnica levou ao Holocausto, hoje a arte se emancipou da mesma, a

    arte ps-Auschwitz tendeu a exacerbar esse movimento de explicao do real traumtico

    que passava por uma denncia da tcnicadenncia essa que Benjamin reconhecera na sua

    poca na prpria arte cinematogrfica. (SELIGMANN-SILVA, 2005, p.28) Ento, para

    Seligmann-Silva, o cinema seria a vingana do desenvolvimento tecnolgico, pois ele

    tcnica, mas uma tcnica atualmente utilizada para mostrar as catstrofes do sculo XX.

    Conclui o autor: Nessa nossa cultura fascinada pelo trauma estabelece -se uma nova tica e

    esttica da representao. (SELIGMANN-SILVA, 2005, p.43) Essas obras que expem os

    corpos, as secrees e o grotesco fundam uma arte da dor e, dessa forma, elas testemunham

    os traumas.

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    Tendo por alicerce, primeiro a teoria de Benjamin e, depois, a interpretao da

    mesma feita por Seligmann-Silva, cabe a ns reconhecer o papel que o cinema brasileiro

    est desempenhando para a sobrevivncia da experincia ao representar a ditadura militar.

    Queremos ainda reiterar que a poca atual marcada por discursos que questionam a

    legitimidade da verdade, da identidade nica do sujeito e discutem a veracidade da cincia

    da histria. E, como se pode perceber, essas trs indagaes incidem diretamente no tema

    desse estudo. Portanto, a rdua tarefa do cinema de repassar a experincia da ditadura

    militar encontra alguns obstculos.

    3.O relativismo

    preciso lembrar, principalmente nesse tempo que no mais marcado por uma

    lgica racional, fundado no desenvolvimento da cincia e da tcnica que ajudou na

    formao do corpo social, definindo a priori o funcionamento da sociedade. Assim,

    trazemos o parecer de Lyotard: A modernidade, seja qual for a poca de que date,

    sempre inseparvel do enfraquecimento da crena e da descoberta do pouco de realidade,

    associada inveno de outras realidades (LYOTARD, 1993, p.21).

    Roberto Machado, em seu livroNietzsche e a Verdade (2002), estuda o sentido de

    realidade para Nietzsche e conclui que o que o filsofo refuta no a verdade em si, mas

    essa incessante busca por ela. Nietzsche entendeu que a necessidade da cincia em procurar

    a verdade tornou-se uma obsesso prxima metafsica, ou seja, a necessidade de chegar a

    uma nica perspectiva resultaria num mundo-verdade e vida melhor (MACHADO,

    2002 pp. 77-78). Seria o mesmo que entender que a vida real est em algum lugar alhures

    ao cotidiano do homem. Ento, a vontade de verdade uma fora reativa, pois o que

    vivemos e sentimos seriam atos e desejos inferiores a uma verdadeira ordem inalcanvel

    como a salvao divina e a verdade cientfica absoluta. Fundamentalmente, a vontade de

    verdade estimulada e mantida pela cincia pertence mesma natureza do ideal asctico

    religioso, lembrando que este ltimo, nada mais do que uma vontade de potncia reativa

    sentida por um homem religioso que objetiva um ideal de vida inexistente no seu mundo do

    aqui e agora. Ou seja, A tese central da argumentao que a cincia supe o mesmo

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    empobrecimento da vida que caracteriza a moral dos escravos (MACHADO, 2002,

    pp.76)4.

    Novamente, parafraseando Nietzsche, Machado retoma a perspectiva como o

    legado do primeiro autor, enfatizando a importncia da valorizao do cotidiano e

    apontando suas diversas interpretaes. Complementa Richard Rorty:

    Foi Nietzsche o primeiro a sugerir explicitamente queabandonssemos toda a idia de conhecer a verdade. Sua definio daverdade como um exrcito mvel de metforas equivaleu a dizer que a

    idia inteira de representar a realidade por meio da linguagem e,portanto, descobrir um contexto nico para todas as vidas humanas, devia

    ser abandonada (RORTY, 2007, p.63).

    Essa refutao pela busca pela verdade teorizada por Nietzsche faz eco na

    atualidade. lgico que ainda h uma crena na verdade, mas j sabido que essa verdade

    o resultado de um discurso compartilhado e aceito socialmente. No existe uma verdade

    exterior ao mundo humano, todo o real precisa ser interpretado por um sujeito que o traduz

    4 Nietzsche nos mostra que Deus est morto, ou seja, no h mais necessidade dos homens agirem emproveito ao outro, viver de forma covarde, ressentida e com isto reprimir seus instintos naturais de vontade depoder. Nietzsche percebe que a moralidade moderna ofusca o verdadeiro sentido e preservao da vida, poisreprimir nossas pulses negar a si mesmo. Falar de justo e injusto em si carece de qualquer sentido, em si,ofender, violentar, explorar, destruir no pode naturalmente ser algo injusto, na medida em queessencialmente, isto , em suas funes bsicas, a vida atua ofendendo, violentando, explorando, destruindo,no podendo sequer ser concebida sem esse carter (NIETZSCHE, 2008, Primeira Dissertao, 11).

    Nesse aforismo da Primeira Dissertao do livro Genealogia da Moral, o autor entende as pulsesda vida como uma manifestao natural que est aqum das privaes morais do cristianismo. Entretanto,muitos no suportariam entender a falta de sentido do mundo, e por isto recorrem f e crena numatranscendncia metafsica. A f sempre mais desejada, mais urgentemente necessitada, quando falta avontade: pois a vontade , enquanto afeto de comando, o decisivo emblema da soberania e da fora. Ou seja,

    quanto menos sabe algum comandar, tanto mais anseia por algum que comande severamentepor um deus,um prncipe, uma classe, um mdico, um confessor, um dogma, uma conscincia partidria. De onde seconcluiria, talvez, que as duas religies mundiais, o budismo e o cristianismo, podem dever sua origem a umenorme adoecimento da vontade (NIETZSCHE, 2007, 347).

    Portanto, somente os homens fortes tolerariam a verdade do mundo e exerceriam sua vontade depoder como um nico sentido da vida. Nesta perspectiva, podemos compreender a oposio que Nietzschetraa entre o bem/ruim e bem/mal. Anteriores metafsica, os nobres viviam de acordo com suas pulses e,desse modo, em harmonia com a natureza. O nobre tinha a si como o homem bom e, exterior a ele, estava oque era ruim, o homem comum, escravo, rebanho. Assim sendo, a valorizao dos valores partia de umapercepo interna e numa vontade de afirmao da vida. Entretanto, na metafsica, os valores so invertidos: oque era o homem comum passa a estabelecer o valor da moral. Desde esse momento, as pulses de vontade depoder dos nobres, o egosmo, a destruio e a criao passam a ser retidas e condenadas por uma moralescrava. Ento, o rebanho nega a vitalidade do nobre, tomando o seu modo de vida como o mal e, como

    oposio, entende-se como o bem. Nesse esforo, a valorizao deixa de ser a afirmao de si para a negaodo outro.

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    em realidade. Da, atribumos uma importncia ao cinema, pois as narrativas ficcionais

    auxiliam na construo coletiva da experincia.

    O mesmo sentido de indeterminao tambm se aplica identidade do sujeito. O ser

    humano um ser que para ser definido precisa ser sempre alguma coisa. Como a verdade

    numa sociedade, a identidade tambm construda socialmente. Para esclarecermos esse

    aspecto, recorremos a Cornelius Castoriadis.

    Castoriadis evidenciou em seus escritos que a principal essncia do homem est no

    poder de criar: o imaginrio possibilita ao ser a capacidade indeterminada de criar

    sociedades, enquanto que a racionalidade uma caracterstica comum dos seres vivos em

    geral. Assim o autor percebe que existe um imaginrio em cada indivduo que ele chama de

    Imaginrio Radical. Esse imaginrio primitivo e est relacionado com nosso id. Por maisque tentamos reprimir ou sublimar a pulso desse imaginrio, ns no conseguimos

    domin-lo plenamente. Dessa ao, resulta a criao, a alterao da sociedade, da histria e

    do tempo.

    Colocado dessa forma, a teoria de Castoriadis incompreensvel, para entender

    melhor sua anlise necessrio o desenvolvimento de alguns significados importantes para

    seus estudos. Para Castoriadis, o imaginrio sempre coletivo, mesmo que a imaginao

    radical esteja no indivduo. Isso assim porque a sociedade modula o indivduo desdemuito pequeno s suas regras. O ser humano um ser naturalmente social, e j nos

    primeiros anos de vida, instituies tais como a famlia e a escola os ensinam o que certo

    e errado. Usando um termo psicanaltico, Castoriadis explica que o descobrimento da

    realidade social reprime nossos instintos fazendo com que ns sublimemos nossos desejos

    para atividades permitidas socialmente. uma substituio do objeto de prazer. Porm, nem

    sempre a sublimao eficiente e acabamos por permitir que partes de nossos impulsos

    transcendam nossas mentes e sejam, enfim, absorvidos pela sociedade. A sociedade aceitacomo sua pulso, e dessa ao resulta que o sujeito novamente incorpora essa modificao

    da sociedade, mas como algo que vem de fora. O criador da pulso no tem noo de sua

    autoria. Essa nova tendncia de comportamento da sociedade domesticada em regras e

    instituies e repassada para todos os indivduos. A manuteno da sociedade e suas

    transformaes ocorrem a partir de um annimo coletivo. Como explica Castor Bartolom

    Ruiz, leitor assduo de Castoriadis:

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    (...) a psique deve instituir imaginariamente o mundo no qual est inseridae projet-lo de modo criativo como o mundo querido ou como o objetodesejado. (...) A sublimao no deve ser caracterizada num sentidopejorativo ou redutivo, como se fosse uma carncia de racionalidade daqual a pessoa no tem conscincia. Pelo contrrio, ela representa a formaoriginal em que a pessoa representa o mundo, pensa seus desejos eracionaliza sua prxis (RUIZ, 2003, p.97).

    Vejamos um exemplo, um indivduo na sociedade brasileira cresce, vai para a

    escola, aprende o portugus, descobre o Hino Nacional, identifica a bandeira brasileira

    como a sua, educado pela famlia que lhe ensina as regras sociais tais como os

    comportamentos sexuais, as divises de classes, o casamento, a criao de filhos etc. A

    sociedade desse sujeito composta por um complexo de instituies instituies aqui

    compreendidas como as descritas por Castoriadis: a escola, a ptria, Deus, o estado, a

    famlia entre outras ; que possuem uma organizao interna com o objetivo de ser

    determinada. Porm essa determinao afrontada com um novo instituinte que persiste em

    alterar o institudo.

    Como essa indeterminao do sujeito no lcida para grande parte dos homens,

    cremos que poucas pessoas compreendem que a ditadura militar s pode ter sido implantada

    e mantida pela sociedade a qual ela governou. E devido essa tendncia a crer que o regime

    foi mantido por alguma entidade alhures, preciso passar e repassar a experincia do que

    foi a represso liberdade individual e a prtica da tortura. atravs da construo da

    memria coletiva que poderemos lembrar os males de um regime ditatorial e, quem sabe,

    impedir que ele se repita. E, se havia pessoas que no sabiam o que acontecia nos pores da

    polcia poltica, hoje, pensamos que o cinema pode contar para elas e, principalmente, no

    deixar esquecer. Assim, inseridos nessa esfera de construes de verdade, memria e

    identidade, cremos que a narrativa cinematogrfica traz tona reflexes sobre o nosso

    passado poltico. Nesse sentido, o cinema desempenha o seu papel de testemunho do traumareforando a necessidade da lembrana num supremo esforo para legitimar o que no

    mais aceitvel.

    Como vimos com Castoriadis, existe um annimo coletivo que institui os valores

    simblicos de cada sociedade. Na modernidade, institui-se a crena exacerbada no

    desenvolvimento da cincia e do progresso atravs da racionalidade. Tambm se acreditava

    que a histria transcorria por uma linha de tempo linear, desse modo, era possvel um

    desenvolvimento progressivo da sociedade. No entanto, o sculo XX foi marcado pordiversos acontecimentos catastrficos como a Primeira e Segunda Guerra Mundial,

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    ditaduras na Arglia e na Amrica Latina, entre outros. A partir desses acontecimentos,

    surge uma nova forma de se pensar a atualidade. Entre diversos autores que dissertam sobre

    as mesmas questes, nesse artigo, vimos com Nietzsche que a verdade uma perspectiva.

    Castoriadis, leitor de Niestzsche, nos diz que a realidade uma criao coletiva e a

    identidade construda. Mas alm dessas caractersticas, cumpre saber que a

    contemporaneidade tambm marcada pelo fim das metanarrativas. Conforme Jean-

    Franois Lyotard:

    (...) Emancipao progressiva da razo e da liberdade,emancipao progressiva ou catastrfica do trabalho (fonte de alienao

    no capitalismo), enriquecimento da humanidade inteira atravs dosprogressos da tecnocincia capitalista, e at, se considerando o prpriocristianismo na modernidade (opondo-se, neste caso, ao classicismoantigo), salvao das criaturas do amor mrtir (LYOTARD, 1993, p.31).

    Assim, essas narrativas desempenhavam um papel similar ao do mito: legitimar,

    desde as instituies at o modo de pensar de uma sociedade (LYOTARD, 1986, p.31). No

    entanto, ao contrrio dos mitos, que tm seu papel legitimador na origem, as metanarrativas

    fornecem uma promessa de futuro. Como mencionamos, eventos como o Holocausto

    desacreditaram a prenunciao progressiva e universal da modernidade. Hoje, o problema

    se traduz em definir quem o juiz habilitado a legitimar. Em outras palavras, se a cincia e

    a prpria verdade no nos so mais dadas como algo que precisa ser buscado alhures

    sociedade, mas ao contrrio disso, essas so construdas e aceitas em comunidade, quem

    desempenha o papel de dizer que tal discurso ser o aceito? Nesse processo, a arte auxilia

    para mostrar os caminhos perversos de algumas escolhas humanas. Assim, ela ajuda a criar

    um consenso tico coletivo. Pois, se o atributo inquestionvel do desempenho da tcnica

    levou a catstrofes na modernidade, ser que a crena num relativismo radical tambm no

    poder gerar atrocidades?

    4. Apontamentos finais

    Os filmes desempenham o papel de registrar os anseios daquela sociedade que o

    produziu. Nesse sentido, Kracauer (1988, p.17) observa: os filmes de uma nao refletem a

    mentalidade desta, de uma maneira mais direta do que qualquer outro meio artstico. Ou

    seja, os filmes so particularmente abrangentes porque seus hierglifos visveis

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    suplementam o testemunho de suas histrias peculiares. E, permeando ambos, as histrias e

    as imagens, a dinmica despercebida das relaes humanas so mais ou menos

    caractersticas da vida interior da nao da qual os filmes emergem (KRACAUER, 1988,

    p.19). Em outras palavras, notria a grande quantidade de filmes nacionais que retratam a

    ditadura militar sob diferentes aspectos. Os primeiros filmes buscam registrar o esprito que

    povoava os dias anteriores e posteriores ao golpe de 1964.

    O desafio, por exemplo, (Paulo Csar Saraceni, 1965) mostra o personagem Marcelo.

    Ele est indolente, desanimado. Segundo Bernardet (BERNARDET, 1978, p.129) o impasse

    angustiado de Marcelo, no sendo mais fecundado pela evoluo social do pas, esmorece,

    transformando-se num desespero aptico, eventualmente num ceticismo castrador. Em Terra

    em transe (Glauber Rocha, 1967) vemos uma fuso entre o discurso verdade-realidade queentrava em crise neste momento no Cinema Novo com o retrato da classe mdia diante do golpe

    militar de 1964. Na cidade fictcia de Eldorado, o governo populista derrubado. Um poeta

    sente-se impotente e a populao permanece passiva perante a nova realidade poltica do pas.

    Na sua prtica cinematogrfica, Glauber trabalha com a esttica do caos: uso de cmera na mo,

    personagens esto em delrio, berros, descontinuidade narrativa. Pode-se ler esse nvel tcnico

    da linguagem como a prprio transe do momento poltico que os cinemanovistas estavam

    vivenciando. Os inconfidentes (Joaquim Pedro de Andrade, 1972) narra a Inconfidncia

    Mineira, uma apologia aos anos de chumbo da ditadura contada atravs de um episdio

    histrico. Nesse filme, Joaquim Pedro apropria-se do tema da perplexidade dos intelectuais

    perante a ditadura, ilustrando o comportamento dos integrantes envolvidos na conspirao

    mineira. Assim, ele faz uma dura crtica aos intelectuais contemporneos ao regime militar.

    Em suma, com o passar dos anos e o fim da censura, pode-se falar abertamente da

    represso e da tortura, mas a reproduo das aflies, das dvidas e incertezas da poca no

    foi relegada obscuridade graas ao registro numa obra contempornea ao golpe. Portanto,

    O desafio, Terra em transe e Os inconfidentes so uma obra clssica na filmografiabrasileira e ele instiga a observar a nossa sociedade no passado, pois cristaliza aspiraes de

    um determinado tempo que hoje se traduz em vestgios histricos. Marc Ferro (1992, pp.13-

    19) estuda a relao entre a leitura histrica do filme e a leitura cinematogrfica da

    histria. E uma das contribuies mais pertinentes dos estudos de Ferro est no

    reconhecimento de que o cinema tem um contedo visvel, assim como outro invisvel.

    Isso porque um filme, seja ele qual for, sempre vai alm de seu contedo, e da mesma

    forma que escapa a seu censor, escapa tambm a quem faz a filmagem, afirma Ferro(1992, p.28). a partir desse pressuposto, que os historiadores podem se apropriar dos

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    filmes como um material de pesquisa. Ampliando as possibilidades de estudo, o cinema

    tambm deve ser identificado alm dos seus elementos flmicos, ou seja, preciso analisar

    no filme tanto a narrativa quanto o cenrio, a escritura, as relaes do filme com aquilo

    que no filme: o autor, a produo, a crtica, o regime do governo. S assim se pode

    chegar compreenso no apenas da obra, mas tambm da realidade que ela representa

    (FERRO, 1992, p.87). Esse contedo que Ferro denominou de invisvel, que nada mais do

    que os lapsos do criador, o verdadeiro contedo dos filmes, e no sua representao do

    passado, o que uma evidncia (FERRO, 1992, p.117).

    Para Kracauer, ao estudar o cinema s se pode compreender totalmente sua tcnica,

    o contedo da histria e a evoluo dos filmes de uma nao relacionando-os com o padro

    psicolgico vigente nesta nao (KRACAUER, 1974, p.17). Isso ocorre porque o filme o

    produto coletivo. Mesmo que haja um diretor, todos os componentes da equipe so

    necessrios para a realizao da obra. Depois, o cinema um entretenimento pensado para

    ser um veculo de massa que chega a uma multido annima. A repetio de temas, num

    conjunto de obras, numa determinada poca, demonstra que aquela sociedade est

    projetando nas telas suas inquietaes. nesse sentido que Kracauer relaciona o cinema

    como um dispositivo psicolgico de uma nao. Nas suas palavras, o que conta no tanto

    a popularidade dos filmes estatisticamente mensurada, mas a popularidade de seus temaspictricos e narrativos. A persistente reiterao destes temas marca-os como projees

    externas de desejos internos (KRACAUER, 1974, p.20).

    Enfim, nos primeiros filmes sobre a ditadura, como Marcelo, o personagem de O

    desafio, representa muitos indivduos da esquerda que acreditavam numa mudana social no

    pas. Assim sendo, sua importncia est na clara representao do que foi a implantao do

    golpe militar e de que forma isso impediu o projeto nacional-estatista promovido pelo

    presidente Joo Goulart, deposto em 1964, de concretizar o desenvolvimento social do Brasil.

    Por outro lado, os filmes posteriores a Lei da Anistia reconstituem a histria da ditadura militar

    sob o olhar dos militantes da esquerda armada, que, em grande parte, foram presos,

    assassinados ou exilados. a partir da perspectiva dos vencidos que vemos representada a

    histria da ditadura militar.

    Portanto, nesse momento da atualidade em que a verdade relativizada (Nietzsche)

    e que a legitimao cientfica no mais to certa (Lyotard), cremos ser ainda muito

    necessrio um modo de se repassar a experincia. Sendo assim, compreendemos que o

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    cinema uma arte tcnica, de massa, que pode sensibilizar e atravs desse mecanismo

    educar. Conforme Nadja Hermann (2005), para um convvio pacfico em sociedade

    necessita, mesmo que em diversos formatos, um compartilhamento de valores morais

    comuns a todos, pois o relativismo total lhe parece impossvel. Assim como Lyotard,

    Hermann verifica que estamos vivendo uma crise dos valores morais consumados pela

    modernidade, pois os projetos racionais baseados na crena iluminista esto em descrena

    frente a um passado trgico de guerras, preconceitos, genocdios etc. Autores como

    Nietzsche, Foucault, entre outros, j mostraram que os valores morais no so universais

    nem transcendentes, mas o seu oposto.

    Diante desse trgico passado recente, como as prticas de tortura na ditadura militar,

    constatamos que a formao moral no pode mais ser constituda somente por elementosracionais, nas palavras de Hermann:As normas morais universais, apoiadas na metafsica,

    resultam em meras abstraes, incapazes de articular a diferena e a pluralidade

    (HERMANN, 2005, pp.13-14). Assim, a autora prope um aprendizado da tica atravs da

    esttica. A esttica aparece sempre associada possibilidade de reter possibilidades que

    so irredutveis ao pensamento racional (HERMANN, 2005, p.29). Para o estudo em

    questo, identificamos o cinema como uma ferramenta de grande potencial de massa para

    transformar a histria da ditadura militar numa experincia esttica. Logo, para repassar aexperincia.

    com essa finalidade de educar que objetivamos analisar a representao da

    ditadura militar no cinema. Em outras palavras, todo esse contexto que descrevemos at

    aqui foi o que nos instigou a estudar a representao da ditadura militar no cinema e

    evidenciar sua importncia no papel de construo da experincia no contexto

    contemporneo. Pois, a ditadura militar foi representada no cinema desde 1965 at os dias

    atuais. Numa relao de vinte e quatro filmes

    5

    , produzidos ao longo das vrias etapas deste

    5Paula, histria de uma subversiva (Francisco Ramalho Jr., 1979);O bom burgus (Oswaldo Caldeira, 1982);

    Pra frente Brasil (Roberto Farias, 1983);Extremos do prazer (Carlos Reichenbach, 1982);Nunca fomos tofelizes (Murilo Salles, 1983);O beijo da mulher aranha (Hector Babenco, 1985);Besame mucho (FranciscoRamalho Jr., 1987); Feliz ano velho (Roberto Gervitz, 1987); Lamarca (Srgio Resende, 1994); Asmeninas (Emiliano Ribeiro, 1995);O que isso companheiro (Bruno Barreto, 1997);Ao entre amigos (BetoBrant, 1998);Dois Crregos (Carlos Reichenback, 1999);Benjamin (Monique Gardenberg, 2004);A dona dahistria (Daniel Filho, 2004);Cabra-cega (Toni Venturi, 2005);Quase dois irmos (Lcia Murat, 2005);ZuzuAngel (Srgio Rezende, 2006);Sonhos e desejos (Marcelo Santiago, 2006);1972 (Jos Emlio Rondeau e AnaMaria Bahiana, 2006);Batismo de sangue (Helvcio Ratton, 2007); O ano que meus pais saram defrias (Cao Hamburger, 2007);Corpo (Rubens Rewalde Rossana Foglia, 2008) e Em teu nome (Paulo

    Nascimento, 2010).

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    perodo recente da histria brasileira, resgatam os cenrios e as criaturas daquele tempo de

    exceo. Um tempo povoado por algozes e vtimas e por todos os demais personagens que,

    movidos por ideais ou outras paixes, ou congelados pelo medo e outros pavores, viveram,

    sobreviveram e morreram nessas dcadas de sombra e de supresso de liberdade. Assim,

    nossa nica concluso segura de que o cinema nacional se imps ao esquecimento.

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