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Autores: Prof. Me. Alexandre Saramelli Prof. Ma. Divane Alves da Silva Colaboradora: Profa. Elisabeth Alexandre Garcia Ciências Contábeis Interdisciplinar

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Page 1: Ciências Contábeis Interdisciplinar...Paulista. Na grade curricular, há várias disciplinas que fazem intersecção com outras áreas do saber indispensáveis ao “novo” contador,

Autores: Prof. Me. Alexandre Saramelli Prof. Ma. Divane Alves da SilvaColaboradora: Profa. Elisabeth Alexandre Garcia

Ciências Contábeis Interdisciplinar

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Professores conteudistas: Me. Alexandre Saramelli / Ma. Divane Alves da Silva

Professor Mestre Alexandre Saramelli

Nascido na cidade de São Paulo, é contador formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo e mestre profissional em Controladoria pela mesma Universidade.

Atuou em empresas nacionais e internacionais de médio a grande porte como contador em áreas de custos e orçamentos e foi consultor em sistemas de controladoria da desenvolvedora alemã SAP.

Atualmente é professor adjunto na Universidade Paulista e consultor empresarial.

Como entusiasta de tecnologia da informação e ambientes altamente informatizados, é um incentivador da pesquisa, difusão e uso eficiente e intensivo das modernas ferramentas de gestão, “transferência de conhecimento”, ensino a distância e audiovisual.

Professora Mestra Divane Alves da Silva

Nascida na cidade de São Paulo, é mestre em Contabilidade pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1998), especialista em Controladoria e Contabilidade Gerencial pela Faculdade Santana São Paulo (1992), especialista em Didática do Ensino Superior pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (1996), especialista em Ensino a Distância – EaD (2011), graduada em Ciências contábeis pela Faculdade de Administração e Ciências contábeis Tibiriçá (1990) e em Filosofia – Bacharel e Licenciatura pela Universidade Presbiteriana Mackenzie (2009).

Possui dois livros editados sobre a área contábil, além de participações em congressos, tanto na área contábil quanto na educacional, inclusive em EaD.

Funções empresariais na área técnica: controller, contadora, auditora e consultora; na área acadêmica: atualmente, é coordenadora do curso de Ciências contábeis nas modalidades presencial e a distância na Universidade Paulista – UNIP, professora de pós‑graduação – nível lato sensu em Instituições de Ensino Superior – IES: Universidade Presbiteriana Mackenzie, Universidade Paulista – UNIP, Faculdades Metropolitanas Unidas – FMU e em diversos cursos e disciplinas correlatas à formação. Também atua ministrando curso in company.

Conteudista de materiais para ensino a distância, incluindo gravações de aulas.

© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Universidade Paulista.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

S243c Saramelli, Alexandre

Ciências contábeis interdisciplinar / Alexandre Saramelli; Divane Alves da Silva. – São Paulo: Editora Sol, 2012.

108 p., il.

1. Ciências contábeis. 2. Ciências contábeis interdisciplinar. 3. Interdisciplinaridade. I. Título.

CDU 657.1

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Prof. Dr. João Carlos Di GenioReitor

Prof. Fábio Romeu de CarvalhoVice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças

Profa. Melânia Dalla TorreVice-Reitora de Unidades Universitárias

Prof. Dr. Yugo OkidaVice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa

Profa. Dra. Marília Ancona‑LopezVice-Reitora de Graduação

Unip Interativa – EaD

Profa. Elisabete Brihy

Prof. Marcelo Souza

Profa. Melissa Larrabure

Material Didático – EaD

Comissão editorial: Dra. Angélica L. Carlini (UNIP) Dr. Cid Santos Gesteira (UFBA) Dra. Divane Alves da Silva (UNIP) Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR) Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT) Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)

Apoio: Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos

Projeto gráfico: Prof. Alexandre Ponzetto

Revisão: Virgínia Bilatto Andréia Gomes Vitor Andrade

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SumárioCiências contábeis Interdisciplinar

APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................9

Unidade I

1 O DESAFIO DA CONTABILIDADE NO PADRÃO INTERNACIONAL ................................................... 111.1 Esquentando os motores ................................................................................................................... 111.2 O contador frente aos grandes desafios da sociedade atual ............................................. 121.3 Outros fatores da sociedade atual que trazem desafios aos contadores ...................... 191.4 Princípios de contabilidade .............................................................................................................. 241.5 O conceito de fair value – valor justo .......................................................................................... 251.6 Processo de convergência ................................................................................................................. 30

2 O DESAFIO DA INTERDISCIPLINARIDADE .............................................................................................. 342.1 Conceitos importantes para a aplicação do IFRS e as características qualitativas das demonstrações financeiras ..................................................................................... 342.2 Definição da vida econômica e da vida útil de determinado ativo ................................. 352.3 Características qualitativas das demonstrações contábeis ................................................. 362.4 Características qualitativas fundamentais ................................................................................. 37

3 OUTRAS CARACTERíSTICAS DESEJáVEIS ............................................................................................... 443.1 Neutralidade ........................................................................................................................................... 443.2 Confiabilidade ........................................................................................................................................ 453.3 Limitações existentes na divulgação de informações financeiras ................................... 46

4 A INTERDISCIPLINARIDADE DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE ........................................ 474.1 Como atender à necessidade de interdisciplinaridade? ....................................................... 47

Unidade II

5 UMA REVISÃO SOBRE AS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS – CONCEITO E LEGISLAÇÃO .......................................................................................................................................................... 526 COMO SURGIRAM AS EMPRESAS? .......................................................................................................... 62

6.1 Tipos de sociedades e enquadramento fiscal das empresas ............................................... 656.2 Tributos relacionados à atividade de compra e venda de materiais para o estoque para empresas industriais ....................................................................................................... 676.3 Tributos relacionados ao resultado apurado pelas empresas, inclusive com a atividade industrial .................................................................................................................................. 70

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6.4 Tributos sobre a contratação de empregados .......................................................................... 737 UMA EMPRESA EM OPERAÇÃO ................................................................................................................. 748 UM ESTUDO SOBRE A ELABORAÇÃO E UTILIzAÇÃO DAS DEMONSTRAÇÕES FINANCEIRAS ........................................................................................................................................................ 75

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APRESENTAÇÃO

O ensino da contabilidade no Brasil, desde o técnico em contabilidade até o bacharel em Ciências contábeis, até poucos anos carregava uma preocupação essencialmente técnica. O profissional de contabilidade, via de regra, envolvia‑se em atividades como classificar contas, escriturar os livros da empresa, em sua maioria ainda de forma manuscrita ou mecanografada, gerenciar os fechamentos contábeis, preenchimento de documentos para o Fisco, entre outras. Todas essas atividades são da mais alta importância, porém, como diziam Johnson e Kaplan (1987) em seu famoso e polêmico livro The rise and fall of management accounting (O apogeu e declínio da contabilidade gerencial) os contadores eram vistos trabalhando em salas isoladas, sem interação com os demais profissionais da entidade. De fato, um contador, para prestar bons serviços, não precisaria necessariamente se envolver com os gestores de uma empresa ou mesmo saber em detalhes como seria o processo produtivo. Tanto faz se o contador trabalhasse em uma metalúrgica, em um supermercado, em um clube de futebol, em uma emissora de rádio e TV, o trabalho contábil seria exatamente o mesmo.

A tecnologia evoluiu de forma rápida e influenciou todas as áreas do saber. A contabilidade teve um enorme benefício com o desenvolvimento da tecnologia, e hoje o perfil do profissional passou de um técnico que realizava atividades mecânicas a um consultor, que precisa orientar os profissionais de outras áreas.

É necessário, como dizem Miranda e Miranda (2007), que o Ensino Superior também acompanhe essa evolução e prepare o profissional da contabilidade para atuar em um ambiente em que a contabilidade é um sistema de informações para a tomada de decisões. Atento a essa mudança de perfil, o Conselho Nacional de Educação (CNE), ainda em 2004, considerou que o “novo” profissional de contabilidade deve contar com conhecimentos não somente da área em que atua, mas também de áreas afins. Esses novos conhecimentos podem ser entendidos como uma atividade de “interdisciplinaridade”.

O Parecer CNE/CES 776/97, nas orientações gerais para as diretrizes curriculares dos cursos de graduação, no ponto número 4, diz que devemos observar o seguinte:

Incentivar uma sólida formação geral, necessária para que o futuro graduado possa vir a superar os desafios de renovadas condições de exercício profissional e de produção do conhecimento, permitindo variados tipos de formação e habilitações diferenciadas em um mesmo programa.

Ainda no Parecer CNE/CES 776/97, no artigo 4, inciso II, entre as competências e habilidades que devem ser embutidas na formação de bacharéis, está a de “demonstrar visão sistêmica e interdisciplinar da atividade contábil”.

Essa orientação é atendida no planejamento do curso de Ciências contábeis da Universidade Paulista. Na grade curricular, há várias disciplinas que fazem intersecção com outras áreas do saber indispensáveis ao “novo” contador, como direito, língua e interpretação de textos, matemática etc. No entanto, como comentam Miranda e Miranda (2007) baseados na opinião de Bellinaso (1998) “o aluno do ensino superior tem a impressão de estar estudando assuntos distintos sem ligação entre si, ou seja, uma colcha de retalhos, uma justaposição de informações, de especializações”. E como diz Santomé

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(1998), “cada professor preocupa‑se apenas com sua disciplina, considerando‑a mais importante e forçando os alunos a se interessarem somente por ela”.

A interdisciplinaridade, tal como proposta pelo Conselho Nacional de Educação, é um conceito complexo que vem sendo discutido nos meios acadêmicos e está em processo de construção. O Termo foi descrito pela primeira vez em 1937 pelo sociólogo Louis Wirtz, que deu a ele um significado filosófico prático, de integração de teorias, métodos, instrumentos. Miranda e Miranda (2006), baseados em autores como Luck (2002), Eagan (et al. 2002) e Caviglia‑Harris, Hatley J. (2004), dizem que a interdisciplinaridade é a “integração e engajamento de educadores no conjunto, na interação das disciplinas do currículo escolar entre si e com a realidade”.

Ainda segundo Miranda e Miranda (2006), Fazenda (1998) menciona que a interdisciplinaridade possui duas finalidades que não devem ser confundidas, porém,

[...] precisam ser trabalhadas conjuntamente em relação ao método didático adotado, que são: a científica e a escolar. A principal diferença entre elas está em seu objetivo. A científica está ligada à produção de novos conhecimentos em resposta a algumas necessidades sociais, e a escolar, por outro lado, está ligada à difusão do conhecimento e à formação de atores sociais.

Como forma de apresentar meios para os alunos diminuírem a suposta sensação de “colcha de retalhos” do curso de Ciências contábeis, tal qual exposta por Bellinaso (1998) e da natural tendência de os professores preocuparem‑se apenas com suas disciplinas, como disse Santomé (1998), e ainda de promover a interdisciplinaridade de forma científica e escolar como disse Fazenda (1998), decidiu‑se incluir no currículo do curso de Ciências contábeis da Universidade Paulista a disciplina Contabilidade Interdisciplinar.

Esta disciplina, de acordo com o Plano Pedagógico do Curso (PPC), traz a seguinte descrição:

Esta disciplina visa levar o aluno a estabelecer um diálogo entre os conhecimentos adquiridos em sua área e aqueles advindos de outros campos do saber. Pretende possibilitar o estabelecimento de um diálogo interdisciplinar, verificando áreas de intersecção, de complementação e de transferência de conhecimento.

Como forma de obter os resultados almejados, os professores conteudistas optaram, para este livro‑texto, por realizar uma introdução com os principais requisitos necessários ao “novo” contador, por conta do uso no país das normas internacionais de contabilidade. Essa introdução é imprescindível porque traz uma reflexão sobre o que se espera do “novo” contador, acima de questões técnicas que as normas internacionais trazem. E, posteriormente, trabalha‑se o caso fictício das irmãs Josefa da Silva e Jussara da Silva, duas brasileiras que sonham em ter seu próprio negócio.

A introdução desse caso, além de seguir uma opção pedagógica, que é uma tendência no moderno ensino de contabilidade, a exemplo de Hastings (2011) e sua “novela contábil”, possibilita a intersecção de conhecimentos e trabalha de forma transversal as pequenas e médias empresas, tão importantes para a economia atual.

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INTRODUÇÃO

Olá, aluno(a)

Imagino que você esteja franzindo a testa em reação a uma situação muito esquisita e se perguntando: o que é Contabilidade Interdisciplinar? E, mais do que isso, enfim, como estudar contabilidade “interdisciplinar”? Além disso, o que de tão importante esta disciplina traz e o quais os benefícios para a sua atuação profissional? Vale a pena estudar Contabilidade Interdisciplinar? Para quê?

A ementa (Plano de Ensino) da disciplina Contabilidade Interdisciplinar traz o seguinte objetivo:

Percorrer o conceito de aprendizado multidisciplinar e chamar a atenção para as diferenças das práticas e das teorias em Ciências contábeis; objetiva um diálogo interdisciplinar, verificando áreas de intersecção, complementação e de transferência de conhecimento nas Ciências contábeis.

Esta disciplina, então, tem uma missão muito importante! A de promover uma reflexão sobre a intercomunicação entre as diversas disciplinas do curso de Ciências contábeis, e, para isso, serão propostas atividades práticas nas quais você possa vivenciar os conteúdos abordados.

Mas, para entender perfeitamente a proposta desta disciplina, é interessante voltarmos um pouco no tempo e entender por quais modificações a profissão contábil passou nos últimos anos.

A realidade da profissão contábil, até meados da década de 1980, era a de ser uma profissão de cunho técnico, prática. O ensino, então, era voltado a essa realidade, e continua a ser, em muitos aspectos.

Embora alguns contadores sempre se envolvessem em atividades mais sofisticadas de uma entidade, a maioria gastava o seu dia em atividades essencialmente manuais, mecânicas, tinham de fato uma rotina de trabalho mais isolada. E como trabalhavam! Havia tanta carga de trabalho nas empresas que em muitos momentos não era possível sequer conversar com os contadores, completamente atarefados!

Apesar de tanto trabalho, muitos questionavam se a contabilidade teria mesmo um lugar na nova sociedade. Essas críticas vieram até mesmo de acadêmicos muito importantes, como Johnson e Kaplan (1987), que levavam a entender que os contadores estariam perdendo a sua relevância, uma vez que não apresentavam nada de novo em termos científicos. Não seriam mais profissionais que pudessem trazer benefícios para a sociedade. Essa discussão, que, diga‑se de passagem, foi muito boa para a contabilidade, mostrou que Johnson e Kaplan (1987) estavam errados. Ao contrário, provou‑se que a contabilidade é cada vez mais relevante para a sociedade.

As tecnologias evoluíram de maneira formidável nos últimos trinta anos, muito rapidamente e intensamente, e trouxeram mudanças fantásticas para todas as áreas do saber e da vida cotidiana, revolucionando a maneira como as pessoas vivem e trabalham.

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Para os contadores não foi diferente. Nem todos reconhecem, mas é fato que sempre utilizaram a mais avançada tecnologia disponível no momento ao seu favor. Foram os primeiros a utilizar calculadoras eletrônicas, as míticas “HP12C”, os computadores, a tecnologia da informação. Mais do que isso, com as possibilidades que a tecnologia da informação oferece, os contadores distribuíram parte de sua grande carga de trabalho a outras áreas da empresa. Por exemplo, se antes um contador precisava classificar uma nota fiscal da compra de uma nova máquina e depois escriturar nos livros contábeis, atualmente a classificação é realizada pelos engenheiros, quando da emissão do pedido de compra. Assim que a máquina chegar ao prédio da fábrica, é realizado um registro automático nos livros contábeis, sem nenhum envolvimento direto do contador.

O envolvimento do contador com os profissionais da área de tecnologia da informação é tão grande que muitos chegam até a confundi‑lo com o analista de sistemas. Da mesma forma, muitos contadores não se envolvem mais no trabalho de escrituração, que é completamente automático. O contador passou muito rapidamente de uma atividade técnica, isolada, para ser um consultor.

Com isso, pode‑se dizer que o contador simplesmente abandonou seu perfil técnico, mecanicista, e passou a ser um profissional que ajuda os profissionais de outras áreas em matéria contábil. Ou seja, o contador já não está mais isolado em sua sala, passou a ser um profissional atuante, que interage com pessoas de dentro e fora da organização. Mas essa não e uma tarefa nada fácil, exige um preparo cuidadoso.

Você está tendo esse preparo desde o momento em que iniciou seu curso; mas, por conta da atual dinâmica do sistema universitário, é bem capaz que esteja nesse momento com uma sensação de que as disciplinas são uma grande “colcha de retalhos” sem relação entre si.

A disciplina Contabilidade Interdisciplinar surge, então, como uma oportunidade fantástica para você aplicar todos os conhecimentos que adquiriu até agora. E de forma muito próxima ao que irá encontrar ou já encontra no mercado de trabalho.

Primeiramente, você será convidado(a) a entender, além das orientações mais imediatas, a forma como órgãos nacionais e internacionais, como o IASC (International Accounting Standard Committee – Comitê Internacional de Contabilidade), a IASB (International Accounting Standar Board – Comissão Internacional de Normas Contábeis) e o CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis), esperam que você atue. E, depois, irá conhecer o simpático caso das irmãs Josefa e Jussara, que querem abrir um negócio próprio.

Imagine que você é o(a) contador(a) dessas irmãs. E imagine também como iria lidar com essa situação que envolve os diversos conhecimentos que tivemos ao longo do curso. Se tiver dificuldades com esses conhecimentos, sempre que achar necessário, retorne aos livros das disciplinas anteriores. A proposta é que você atue de forma profissional, em uma privilegiada preparação, para agir em situações reais.

Bom e entusiasmado estudo!

Um forte abraço dos

Professores Mestres: Alexandre Saramelli e Divane Alves da Silva.

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Unidade I1 O DESAFIO DA CONTABILIDADE NO PADRÃO INTERNACIONAL

1.1 Esquentando os motores

Da mesma forma que um atleta se aquece antes de iniciar um dia de exercícios físicos, vamos nos “aquecer” para iniciar o estudo de Ciências contábeis Interdisciplinar. O nosso aquecimento será baseado em um dos filmes mais aclamados da história do cinema internacional: Titanic. A pergunta é:

Quanto custou o filme Titanic?

Figura 1 – Cartaz do filme Titanic

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A imprensa especializada diz que um dos filmes mais caros para serem produzidos na história do cinema foi Titanic. Grande parte da “conta” é devido ao fato de o diretor de cinema James Cameron, conhecido como um perfeccionista, ter exigido que fosse construído um gigantesco tanque de água onde uma réplica do navio, praticamente do tamanho real, foi afundada de verdade! A ideia era produzir uma cena autêntica, sem recorrer a efeitos especiais, que, por mais perfeitos que fossem, sempre deixariam escapar um artificialismo nas imagens. Os números exatos da contabilidade não estão disponíveis, mas a especulação em torno dos custos de produção gerou enorme polêmica. Diz‑se que uma boa parte dos custos foram relacionados com a construção da réplica do navio, com a decoração e a mobília luxuosa que foram usadas nos cenários e com a construção do tanque.

No entanto, após as filmagens, o tanque onde Titanic foi filmado não foi desativado. Faz parte de um complexo dos Estúdios de Cinema Baja, no qual muitos outros filmes foram gravados desde então.

Esse exemplo do cinema nos faz pensar sobre vários aspectos da contabilidade, atiçando nossa curiosidade e dando um prenúncio dos grandes desafios enfrentados atualmente pelos contadores.

Por exemplo, como um contador deve responder a estas perguntas:

1) Se o tanque de água onde o “Titanic” foi filmado continua a ser usado para outras produções cinematográficas, não seria então um ativo? Ou seria uma despesa de produção do filme?

2) Um filme pode ser ativado nos balanços de um estúdio de cinema ou... é uma despesa?

3) Caso seja possível manter um filme no ativo de uma empresa, por quanto tempo ele poderá permanecer?

4) E as receitas, por quanto tempo poderão ser lançadas?

Observação

No final deste livro‑texto, há um texto sobre como os norte‑americanos lidam com a contabilidade do audiovisual.

1.2 O contador frente aos grandes desafios da sociedade atual

O mundo precisa da contabilidade?

Essa inquietante pergunta traz um enorme desconforto, um amargor digno das maiores ameaças! Será que a contabilidade teria perdido o seu valor e sua razão de existir, caducando à margem das modernas e dinâmicas tecnologias? Será que a contabilidade já não mais atenderia aos anseios da sociedade e deveria ser encaminhada a um museu para que as pessoas do presente e do futuro conheçam “como as coisas eram feitas”? Todo nosso esforço como contadores (e, é claro, também o seu como estudante da ciência contábil) já não faria mais sentido?

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Ou... as modernas tecnologias e as mudanças sociais estariam dando para a contabilidade oportunidades valorosas? Estaríamos em um momento em que todas as condições seriam favoráveis para a contabilidade dar um salto qualitativo e ser reconhecida como um importante instrumento não apenas para administrar patrimônios e negócios, mas de democracia?

Felizmente, nos últimos trinta anos muitos contadores ao redor do planeta não esmoreceram frente às ameaças e trabalharam em prol de uma contabilidade de oportunidades. No entanto, esse não é um caminho fácil e que está consolidado. Tornar a contabilidade relevante é uma tarefa de todos nós.

Nesse sentido, abre‑se outra pergunta, que é o centro dos estudos da disciplina Ciências contábeis Interdisciplinar.

O que devemos fazer?

Para responder a essa pergunta, precisamos, antes, estudar o que ocorreu nos últimos trinta anos na contabilidade e o significado do processo de convergência da contabilidade às normas internacionais.

Segundo Chua (2001), a partir da década de 1970, os acadêmicos sentiram um grande desconforto em relação ao desenvolvimento da pesquisa contábil e, em 1977, a Associação Americana de Contabilidade concluiu que não haveria uma teoria contábil geralmente aceita, mas uma proliferação de paradigmas que possibilitam somente uma orientação limitada para os tomadores de decisão. Ainda segundo Chua (2001), em 1976, Wells escreveu o livro Revolution of Accounting Thought – Revolução no pensamento contábil –, em que afirmava que a contabilidade careceria de um paradigma definitivo ou de uma matriz disciplinar.

Em 1987, aumentando ainda mais um sentimento de insegurança que rondava a contabilidade, Johnson e Kaplan (1987) assustaram a comunidade acadêmica e a profissão contábil em geral quando afirmaram no livro The relevance lost (A perda da relevância) que a contabilidade havia perdido a relevância, sobretudo a contabilidade gerencial. Para essa afirmação, os autores apontaram como o motivo dessa “perda de relevância” o fato de que os gerentes continuavam a adotar técnicas que haviam sido desenvolvidas ainda no início do século passado.

Esses autores argumentavam que se passaram várias décadas sem a adoção de novos e mais avançados artefatos contábeis. As teorias, então, teriam sido exageradamente simplificadas. Mesmo os mais modernos desenvolvimentos da tecnologia da informação usavam as mesmas teorias que já haviam sido criadas no período pós‑Revolução Industrial. Então, como não se produzia nada de novo, a contabilidade teria caducado ou se tornado irrelevante.

Essas (fortes) críticas de Johnson e Kaplan (1987) receberam a atenção de vários pesquisadores desde então, que contestaram essa situação de irrelevância. Houve desenvolvimentos de novos artefatos contábeis, mas também a criação de uma certeza de que é necessário conferir para a contabilidade uma contínua relevância. Segundo Borinelli et al. (2005), houve respostas positivas da contabilidade gerencial. A seguir, um quadro com as principais críticas de Johnson e Kaplan (1987):

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Quadro 1 – Quadro-resumo dos argumentos e das críticas do Relevance Lost

Argumento Justificativa Crítica

Crescimento das organizações e descentralização da gestão

• Administração profissional desconhece o processo produtivo.

• Tomada de decisão com base em indicadores financeiros de curto prazo.

• Crescimento de custos não identificáveis diretamente com os produtos.

• Todos os custos e despesas deveriam ser imputados aos produtos.

• Como imputar todos os custos e despesas aos produtos?

• A relevância é perdida em função das relações sociais e do trabalho.

Influência das informações contábeis para usuários externos

• Inexistência de informações periódicas.

• Subserviência da contabilidade gerencial à contabilidade financeira.

• Informações financeiras inadequadas para informações gerenciais.

• Os argumentos são baseados em evidências não empíricas.

• Necessidade de J&K se posicionares sobre os propósitos da contabilidade gerencial e da contabilidade financeira são os mesmo.

Redução do foco de gestão de custos e ênfase na contabilidade de custos

• Ênfase na contabilidade e não na gestão de custos.

• Alto custo de geração de informações por produtos.

• Formação universitária pautada em informes financeiros.

• A educação contábil de custos não ficou estagnada, uma vez que houve diversas publicações que contemplavam informações para a gestão.

Automatização dos sistemas de informação

• Automatização dos sistemas já existentes.

• Ausência de inovações.

• Novos sistemas estão limitados ao custo x benefício.

Pouca participação dos acadêmicos

• Desaparecimento da avaliação gerencial de custos de produtos pós 1ª Guerra Mundial.

• Educação pautada na administração com base em indicadores financeiros.

• Pesquisadores acadêmicos influenciados por um modelo simplificado do comportamento das empresas.

Estudiosos acadêmicos enfatizam:

• Relação custo x benefício das diferentes alternativas de decisão.

• Limitações da contabilidade financeira.

• A importância de outros dados para o planejamento e controle das operações.

Os profissionais não estavam divulgando novas técnicas

• Questionamento das contribuições dos profissionais nos últimos sessenta anos.

• Tem havido sim relacionamento entre profissionais e acadêmicos.

• O poder dos profissionais e acadêmicos vem do seu conhecimento técnico. não aprimorá‑lo seria contraproducente ao interesse da classe.

Fonte: Borinelli et al. (2005)

Johnson e Kaplan (1987) dão a entender que os contadores estariam trabalhando de forma isolada, automática, restritos a seu escritório e a suas próprias preocupações, sem envolvimento com a equipe de profissionais da empresa, conforme podemos visualizar na figura a seguir:

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Figura 2 – Isolamento funcional dos contadores dentro das organizações

Além de a contabilidade gerencial (ou seja, a contabilidade para usuários internos) ter sofrido esse diagnóstico negativo, também a contabilidade financeira (ou seja, a contabilidade para usuários externos) estava enfrentando problemas muito graves. Cada país mantinha seu próprio conjunto de normas contábeis, sendo que as normas norte‑americanas, devido ao gigantismo e à importância da economia dos Estados Unidos da América, passaram a ser utilizadas como um padrão internacional, principalmente pelas empresas com ações nas bolsas americanas.

Em alguns casos vergonhosos, empresas passaram a interpretar as normas contábeis da forma que melhor lhes conviesse. Não demorou para que surgissem escândalos, que foram agravados ainda mais pelas recentes crises internacionais, como a crise da ásia. O diagnóstico de vários especialistas era de que a contabilidade não estaria atendendo às necessidades de informação dos investidores e gerando dúvidas ao invés de incertezas.

É possível entender esse momento negativo da contabilidade pelas palavras de Sir David Tweedie, numa declaração ao jornal britânico The Guardian:

Figura 3 – Declaração de Sir David Tweedie

Saiba mais

É extremamente recomendável pesquisar na internet e conhecer um pouco sobre a impressionante biografia do Prof. Sir David Tweedie.

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Mais do que isso, os próprios fundamentos da contabilidade passaram a ser questionados. As entidades contábeis internacionais passaram, então, a tentar estabelecer um conjunto de regras com validade internacional, mas esse processo não decolava por várias razões. Essa situação chegou a seu ápice com a crise de 2007‑2008, em que finalmente os governos nacionais, em particular o G201 (Grupo dos vinte), entenderam que adotar um conjunto comum de normas contábeis, com validade planetária, seria indispensável para evitar novas crises econômicas internacionais.

A seguir, uma carta encaminhada ao Presidente Barack Obama pelos presidentes da IASB e da FASB (International Accounting Standards Board – Comissão Internacional de Normas Contábeis e Financial Accounting Standards Board – Comissão de Normas Contábeis dos Estados Unidos da America, respectivamente).

Figura 4 – Miniatura de uma carta do IASB/IFRS ao Presidente dos Estados Unidos Barack Obama

1 O G20 é um grupo que reúne os ministros de finanças e chefes dos bancos centrais das 19 maiores economias do mundo (incluindo o Brasil) mais a União Europeia. Foi criado em 1999 como uma ação intergovernamental para enfrentar os problemas de sucessivas crises financeiras mundiais e após a crise financeira mundial de 2008 passou a assumir a centralidade como fórum de discussão sobre governança internacional antes ocupada pelo G7(atual G8). Para mais informações, consulte o site da entidade <http://www.g20.org/> – disponível em inglês e em espanhol) e a matéria jornalística do Bol <http://noticias.bol.uol.com.br/internacional/2010/11/09/paises‑do‑g20‑concentram‑80‑do‑comercio‑mundial.jhtm>.

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A IASB/IFRS respondeu a recomendações da declaração do grupo do G‑20 publicada em abril de 2009 e, desde então, a cada reunião desse grupo é emitida uma carta ao anfitrião (o líder político máximo do país) do país que sedia uma reunião do G‑20, atualizando os líderes com as ações que estão em curso para a convergência contábil internacional. As cartas são escritas em língua inglesa e sua leitura literal é muito recomendável para refletir e entender o enorme esforço que está sendo empreendido. Uma das cartas foi traduzida para o português:

24 de junho de 2010

Ao honorável Stephen Harper

Primeiro‑Ministro

Gabinete do Primeiro‑Ministro

80 Wellington Street

Ottawa – Canadá

K1A 0A2

Prezado Sr. Primeiro‑Ministro:

Em nome do Comitê Internacional de Normas Contábeis – International Accounting Standards Board (IASB) e do Comitê de Normas Contábil‑Financeiras – Financial Accounting Standards Board (FASB), que representam os órgãos normativos encarregados de desenvolver padrões contábeis de alta qualidade, escrevemos ao senhor na qualidade de anfitrião da próxima reunião da Cúpula de Líderes do G20. Solicitamos respeitosamente que a Secretaria da reunião faça circular esta carta para todos os outros participantes da reunião.

Entendemos a importância que os líderes do G20 atribuem à questão da normatização de contabilidade. No encontro de Pittsburgh, em setembro de 2009, os líderes do G20 afirmaram:

Apelamos aos nossos organismos internacionais de contabilidade para redobrar seus esforços para alcançar um conjunto único, global e de alta qualidade para normas de contabilidade, que dentro do âmbito do seu padrão independente e de seus processos de decisão, completem o seu projeto de convergência até junho de 2011.

O Comitê Internacional de Normas Contábeis – International Accounting Standards Board (IASB) deverá aumentar ainda mais o envolvimento dos vários intervenientes.

Relatamos o progresso do nosso trabalho para os Ministros das Finanças do G20 antes de sua reunião na Coreia no início deste mês. Atribuímos essa carta para o seu conhecimento.

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Essa carta ressaltava nosso compromisso comum para a melhoria internacional das normas internacionais – Financial Reporting Standards (IFRS), e a convergência dos princípios geralmente aceitos norte‑americanos (USGAAP). Destaque‑se também a nossa compreensão da relevância do objetivo de junho de 2011 como meta para os que os membros do G20 adotem as IFRS, e 2011 ou 2012 para os outros países, incluindo o Japão e os Estados Unidos que consideram a continuidade da melhoria e convergência como um aspecto importante para os seus mercados de capitais.

Observamos também que muitas partes interessadas (stackholders) manifestaram a sua preocupação sobre a capacidade de fornecer informações de alta qualidade para os relatórios que foram planejados para publicação no segundo trimestre deste ano. Por essa razão, no momento da nossa redação ao grupo de ministros de finanças do G20, as duas entidades estavam no processo de desenvolvimento da revisão de uma estratégia que dê condições de cumprir o prazo de junho de 2011 ou antes disso. Para tal, o mais urgente é melhorar as IFRSs e as normas contábeis geralmente aceitas norte‑americanas.

Nós também estamos identificando projetos que são adequados e podem ser analisados em um segundo momento, aqueles que acreditamos tenham assuntos que acreditamos ter uma prioridade menor ou que vão demandar análise e pesquisa.

Já completamos nossa atenção nas estratégias a serem modificadas e enviamos em anexo o programa de trabalho atualizado.

O pronunciamento dos líderes em Pittsburgh enfatizou a importância do engajamento das partes interessadas (stakeholders). Acreditamos que o programa modificado de trabalho, onde há fases para a publicação de pronunciamentos e interpretações, possibilitam a participação das partes interessadas (stakeholders) de forma ampla e eficaz nesse processo que é crítico para atingir uma boa qualidade nos nossos padrões. A natureza dos comentários recebidos em nossos documentos de discussão vai determinar a extensão das redeliberações necessárias e outros passos e esforços que vão ser necessários para atingir esse objetivo.

Nós gostaríamos do suporte do G20 para o desenvolvimento de um conjunto comum de padrões contábeis globais de alta qualidade. As duas instituições continuam compromissadas em alcançar o objetivo. Iremos continuar a providenciar atualizações periódicas relatando os progressos.

Atenciosamente,

David Tweedie

Presidente da IASB

Robert Herz

Presidente da FASB

Tradução: Prof. Me. Alexandre Saramelli

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Saiba mais

No site da IASB, é possível encontrar uma página exclusiva dedicada aos documentos emitidos ao G20, relatando as ações da IASB/IFAC (em inglês).

<http://www.ifrs.org/Financial + crisis/Update+G20+response.htm>

Durante as discussões das normas internacionais pela IASB e outros órgãos, a questão da relevância foi muito lembrada. Para conferir às demonstrações financeiras maior relevância, entendeu‑se que seria imprescindível conferir para a contabilidade características qualitativas e uma preferência por demonstrações contábeis que vão ao encontro dos interesses dos investidores, como é o caso da Demonstração do Fluxo de Caixa.

Segundo Chua (2001), a tendência atual da contabilidade alicerça‑se em um conjunto de pressupostos filosóficos sobre o conhecimento, o mundo empírico e a relação entre teoria e prática. Os contadores teriam a tendência de lidar apenas com o que seria “mais eficiente e efetivo” para estabelecer quais são as necessidades de um tomador de decisões. Um contador não se envolveria com julgamentos morais sobre as necessidades ou objetivos de um tomador de decisões, limitando‑se a orientar o que deve fazer para que esse tomador de decisões tenha mais sucesso, seja mais rentável. Chua (2001) (apud CHAMBERS, 1966, p. 40‑58) dá ao contador uma característica de neutralidade.

Observação

Estudaremos as características qualitativas das demonstrações contábeis nas próximas unidades.

1.3 Outros fatores da sociedade atual que trazem desafios aos contadores

Neste tópico, analisa‑se o cenário mundial e os principais fatores que afetam o trabalho dos contadores e o ambiente da contabilidade internacional.

A globalização e a União Europeia

O fenômeno da globalização, visto simplificadamente como o comércio internacional entre nações, não é recente. Há séculos, ocorre comércio entre pessoas de diversas nacionalidades. Os diversos Estados Nacionais (países) influenciam e regulamentam esse processo, e nem sempre há permissão para a livre circulação de mercadorias, pessoas e capitais.

Não raramente, impede‑se a um cidadão de certa nacionalidade o direito de viver em um país que proporcione melhores condições de vida, embora, na maioria dos casos, seja permitido a esse mesmo cidadão acesso a mercadorias e serviços produzidos em outros países, além de liberdade para remeter capitais.

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Com a livre circulação de capitais, é possível formar negócios em diversos países, o que naturalmente abre o desejo de que esses negócios estejam sob as mesmas normas contábeis. Porém, por si só, a globalização não traz necessariamente uma necessidade de adoção de uma contabilidade internacional. O que vimos, poucos anos atrás, é que as nações mais desenvolvidas, principalmente a pujante economia norte‑americana, faziam de suas normas internacionais um padrão a ser seguido também em outros países, atuando na prática como com normas internacionais.

Apesar de já haver normas internacionais, as IAS (International Accounting Standards – Normas Contábeis Internacionais), emitidas pela Federação Internacional de Contadores, não havia motivação para a aplicação prática. A situação, de certa forma, estava confortável dessa maneira.

Essa situação começou a mudar por ocasião de uma iniciativa notável: a formação da Comunidade Europeia, fato relevante que vem inspirando a adoção de atitudes semelhantes por outros países.

Conforme comenta Thorstensen (1992), após conflitos sangrentos nos quais se tentou, por meio da força, impor uma unificação entre os países europeus, chegou‑se a um acordo no qual os países, por livre e espontânea vontade, criaram uma união comercial com livre circulação de mercadorias, pessoas e capitais.

O ponto básico de toda a experiência da Comunidade Europeia é a consciência de que ganhos econômicos só seriam possíveis através de uma integração política, o que implicaria a transferência de grande parte das soberanias nacionais para o âmbito da estrutura de poder da Comunidade (THORSTENSEN, 1992).

Essa experiência trouxe, naturalmente, a necessidade de tentativas de padronização da contabilidade, porque se fez necessário uma integração entre os negócios da comunidade.

Dessa forma, os países, em matéria de adoção de princípios e normas contábeis, ao invés de olharem apenas para seus problemas nacionais, passaram a olhar também para a comunidade e a agir em conjunto. Foram justamente as reuniões da União Europeia e as publicações de “diretivas” comuns que fizeram o sonho das normas realmente internacionais de contabilidade começarem a virar uma realidade.

O surgimento de grupos políticos, como o G7 (Grupo dos Sete) e atualmente o G20 (Grupo dos Vinte), também é acompanhado por iniciativas de padronização contábil por meio de órgãos internacionais, conforme estudaremos em capítulo específico.

O ordenamento jurídico nas nações

O Brasil adota como base jurídica o chamado direito romano. Não são todos os países que adotam essa mesma base jurídica. Alguns, como a Inglaterra, preferem outros ordenamentos jurídicos, como a Commom Law, outros preferem a Sharia, a lei islâmica.

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Walton (apud NIYAMA, 2005) resume com enorme lucidez, e até bom humor, as diferenças de ordenamento jurídico entre os países:

A compreensão de regras internacionais é muito difícil porque as regras têm diferentes significados: na Alemanha, tudo é proibido a menos que esteja explicitamente previsto na lei, enquanto na Inglaterra tudo é permitido a menos que esteja explicitamente proibido em lei. No Irã, tudo é proibido, mesmo que esteja permitido na lei, enquanto na Itália tudo é permitido, especialmente se é proibido.

Certamente, o fenômeno da globalização não irá alterar essas preferências, o que significa que um mesmo objeto poderá ter várias interpretações e decisões diferentes de acordo com o país. Como consequência, os aspectos contábeis também são afetados.

A evolução das telecomunicações, da tecnologia da informação e o uso de sistemas integrados na área contábil

Ainda no estudo da globalização, observou‑se a adoção de tecnologias de telecomunicação e de informação que diminuem as distâncias. Atualmente é possível que um brasileiro interaja em seu trabalho, ao mesmo tempo, com um indiano e um sul‑africano, distantes entre si milhares de quilômetros.

Isso não significa que perdem sua cultura e seus costumes, mas que podem trabalhar em conjunto como se estivessem em uma mesma sala. Dessa sala, esses cidadãos podem controlar negócios a distância, entrar em sistemas de informação e remeter capitais entre países, mesmo não tendo sequer um passaporte.

É cada vez maior o uso, nas empresas, de sistemas informatizados integrados, como os ERPs (Enterprise Resource Planning – Planejamento dos Recursos Empresariais). Podem‑se encontrar dezenas de empresas multinacionais que controlam suas atividades em tempo real, em diversos países ao redor do globo, por meio de redes de computadores ligadas a esses sistemas integrados.

Segundo Saramelli (2010), os sistemas geralmente embutem melhores práticas – best‑practices – que são utilizadas, mas nem sempre completamente compreendidas. Ainda segundo Saramelli (2010), é muito grande o apelo à padronização dos procedimentos para que esses sistemas possam atuar de forma mais eficiente, mas nem sempre isso é possível, porque os fatos contábeis podem guardar diferenças significativas entre os países.

Surge, então, uma difícil situação, na qual, ao mesmo tempo, se espera do contador que padronize as operações e aplique julgamento profissional, o que força o surgimento de procedimentos diferenciados.

O contador, ao mesmo tempo em que precisa preparar informações periódicas e de qualidade para os usuários externos (o simples atraso de um dia na publicação de balanços contábeis pode criar grandes aborrecimentos), precisa preparar informações contábeis relevantes para os usuários internos, muito antes que as operações ocorram.

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Também na área financeira, há uma crescente e rápida informatização. As operações financeiras são realizadas em tempo real em todos os fusos horários, e muitas vezes de forma tão ágil que o mercado e os jornalistas, não raramente, descobrem e/ou analisam situações antes mesmo que o próprio contador e/ou gestor da empresa consigam fazer o mesmo. O resultado é, como comenta Garcia (2004), o surgimento repentino de crises que, se não forem rapidamente esclarecidas, podem afetar com gravidade a empresa. Isso requer dos contadores habilidades para lidar com a mídia e com os jornalistas.

O conhecimento como fator de produção

Definia‑se em economia que os fatores de produção seriam “terra, trabalho e capital”. O conhecimento, embora sempre existisse, não era, e por muitos continua não sendo, considerado como fator de produção. Toffler e Toffler (1996) defendem a ideia de que atualmente o conhecimento não só deve ser considerado um fator de produção, como é o mais importante de todos. Dizem Toffler e Toffler (1996) que uma máquina computadorizada, trabalhando com conhecimentos formados ao longo de um histórico de aprendizados, pode economizar matérias‑primas. Mais do que isso, o conhecimento pode ser aplicado em locais diferentes, ao mesmo tempo.

A crescente informatização e o surgimento das redes de comunicação fazem com que muitos negócios trabalhem exclusivamente de forma virtual, sem forma física. Os serviços são cada vez mais importantes para uma economia. Ao mesmo tempo, Toffler e Toffler (1996) tecem uma crítica aos economistas e contadores tradicionais que ainda usam técnicas do passado e que não reconhecem as novas possibilidades e formatos de negócios que surgem com a chamada “era do conhecimento”.

Observação

Alvin e Heide Toffler são influentes pensadores sociais nos EUA, famosos pela publicação do livro A terceira onda.

É muito difícil para a maioria dos contadores, por exemplo, o reconhecimento de temas sofisticados, como o valor de um fundo de comércio (goodwill), ativos intangíveis e/ou de capital intelectual. Alguns temas sofisticados, como os ativos intangíveis, já são tratados nas normas internacionais de contabilidade.

A crise financeira de 2008-2010

Assim como a histórica crise financeira de Nova York na década de 1930 gerou profundas consequências para a história da humanidade e para a melhoria dos procedimentos contábeis, a crise financeira de 2008‑2010 será estudada nos próximos anos e trará diversas reflexões, inclusive no que se refere aos procedimentos contábeis. Os estudos seminais sugerem que a recente adoção das normas internacionais de contabilidade e, em especial, a adoção do fair value (valor justo) tiveram um efeito benéfico. A crise teria sido uma espécie de “batismo de fogo” das IFRS, embora seja muito cedo para uma conclusão mais fundamentada.

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Observação

Quando o assunto é muito recente, obviamente não há estudos científicos que abordem o fenômeno. Os primeiros estudos exploratórios realizados sobre o fenômeno são, então, denominados de “estudos seminais”.

Nas recentes reuniões do grupo dos vinte ministros da fazenda e presidentes de banco central (G20), enfatizou‑se a necessidade e o reconhecimento desses países quanto ao desenvolvimento de normas contábeis internacionais.

Figura 5

Foto oficial dos chefes de Estado que participaram do encontro do G20 em Seul, na Coreia do Sul, em novembro de 2010.

A crise de 2008‑2010 sugeriu que a iniciativa privada não deve agir sozinha nos mercados internacionais. A atuação do Estado seria fundamental para o bom funcionamento dos mercados. Longe de um mercado financeiro que mais se parece com um cassino global, os mercados exigem, acima de tudo, honestidade, ética, responsabilidade, prudência e bons controles.

Nesse sentido, o mundo passou a olhar com mais atenção para a economia e os bancos de inspiração islâmica, assunto que será tratado no tópico a seguir.

Saiba mais

Sugestão para aprofundamento: tese de mestrado do Prof. Eric Barreto de Oliveira.

<http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12136/tde‑07102009 ‑143816/pt‑br.php>.

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Novos mercados: BRICS e finanças islâmicas

Após o final da Segunda Grande Guerra, no século passado, durante o período da chamada Guerra Fria, o mundo estava dividido entre duas superpotências, os Estados Unidos e a União Soviética, e os aliados dessas potências. Cada qual representando um sistema econômico, capitalistas de um lado e socialistas do outro.

Com o fim da União Soviética, o mundo foi dividido entre os EUA, a maior e mais representativa economia; a Europa, com a União Europeia, com menos força econômica; e os demais países desenvolvidos e/ou em desenvolvimento.

Posteriormente, entre os países em desenvolvimento, observou‑se que cinco países reunidos na sigla BRIC (Brasil, Rússia, índia e China, e alguns também incluem a áfrica do Sul) relatam força econômica e política diferenciada, o que justifica uma classificação própria. O ambiente de negócios entre esses países apresenta muitas diferenças, enquanto Brasil, Rússia, índia e, principalmente, a China crescem a taxas invejáveis, países desenvolvidos enfrentam problemas econômicos severos.

Os países islâmicos, principalmente o Catar e os Emirados árabes Unidos, apresentam um notável crescimento, e possuem planejamento estratégico para serem países que oferecerão qualidade de vida invejável a seus habitantes nos próximos anos. Cidades como Dubai ou Abu Dhabi são atualmente tão cosmopolitas como São Paulo, Roma, Nova York ou Tóquio, e possuem centros financeiros importantes.

Em específico, nos países islâmicos, conforme reportam jornalistas como Belkaid (2008) e Philipp (2008), surgiu um tipo de banco que segue as orientações da religião islâmica, a lei Sharia, na qual não existe a cobrança de juros. A remuneração dos bancos se dá a partir da cobrança de mais‑valias. Esse sistema chama a atenção por sua novidade e por uma atitude prudente. A contabilidade islâmica será analisada em capítulo específico, pela sua relevância para o estudo de contabilidade internacional.

O surgimento do BRIC, o fortalecimento dos países e das finanças islâmicas trazem impactos aos contadores brasileiros, surgindo a necessidade de estudar esses fenômenos com mais atenção.

1.4 Princípios de contabilidade

Após estudar os desafios da profissão contábil na sociedade atual, iremos estudar e/ou relembrar alguns aspectos sobre os princípios fundamentais de contabilidade, que são imprescindíveis para entender as normas internacionais de contabilidade e como devemos agir.

Lembrete

Certamente, aluno(a), você não irá encontrar dificuldades neste tópico, porque já deve ter estudado esses princípios. Por isso, ele tem um caráter recordatório.

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Os Princípios Fundamentais de Contabilidade, (hoje somente princípios de contabilidade, conhecidos, antes na legislação brasileira na Resolução 750/93 do Conselho Federal de Contabilidade), num esforço para a harmonização contábil internacional, foram alterados pela Resolução CFC 1.282/10 NBC TI 1 (Atualiza e consolida dispositivos da Resolução CFC n.º 750/93, que dispõe sobre os Princípios Fundamentais de Contabilidade.).

Conforme Iudícibus et al. (1990), princípios contábeis são premissas básicas sobre os fenômenos e eventos contemplados pela contabilidade. Muitos profissionais no mercado e/ou estudantes costumam chamar os princípios contábeis norte‑americanos de USGAAP (United States Generally Acepted accounting principles – princípios contábeis geralmente aceitos dos Estados Unidos da América do Norte) e, por analogia, os princípios brasileiros de BRGAAP (Brazilian Generally Acepted accounting principles – princípios contábeis geralmente aceitos do Brasil).

Observação

O GAAP, ao final dessas siglas, abrevia a expressão Generally Accepted Accounting Principles ou princípios contábeis geralmente aceitos.

Segundo Iudícibus et al. (1990), para um princípio ser incorporado à doutrina contábil, é necessário que atenda a duas condições básicas:

1. o objetivo deve ser considerado praticável pelo consenso profissional;

2. deve ser considerado útil.

A ordem de classificação é importante porque, para muitos profissionais da contabilidade, é de fundamental importância que um princípio seja praticável antes de ser relevante. Não basta que um princípio seja aderente a uma realidade econômica, é necessário que tenha como ser colocado em prática com facilidade, em uma relação de custo‑benefício. Isso não quer dizer que um potencial princípio contábil que hoje é considerado impraticável não venha a ser considerado praticável no futuro, mas quer dizer que a tecnologia e a cultura podem favorecer sua aceitabilidade.

Saiba mais

Consulte a Resolução CFC 1.282/10 NBC TI 1, no site do Conselho Federal de Contabilidade: <www.cfc.org.br>.

1.5 O conceito de fair value – valor justo

Uma das novidades que as normas internacionais trazem para o universo contábil brasileiro é o conceito de true and fair value – valor justo e verdadeiro, certamente um conceito muito polêmico, por isso mesmo, necessita ser estudado com muita profundidade.

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A FASB norte‑americana, por meio de seu pronunciamento SFAS 157, definiu valor justo como “o valor que seria recebido ao vender um ativo, ou pago ao transferir um passivo em uma operação normal, entre participantes do mercado na data de mensuração”.

Anteriormente, entendia‑se que um ativo deveria ser mantido em seu custo de aquisição, sendo que, na sua venda, se apurava um lucro ou prejuízo, de acordo com as condições de mercado. Esse conceito, no entanto, foi amplamente debatido e entendeu‑se que não era razoável manter um ativo a seu custo de aquisição, porque os ativos sofrem modificações de valor ao longo do tempo.

Segundo a pesquisa de Barreto (2009), Iudícibus e Martins (2007, p. 3) definiram valor justo como “O montante pelo qual um determinado item poderia ser transacionado entre participantes dispostos e conhecedores do assunto numa transação sem favorecimento”. Nessa definição, há mais clareza sobre o aspecto “justo” do conceito, porque, de fato, se um imóvel foi comprado a um valor X alguns meses atrás e, por algum motivo, passa a ter um valor Y, um valor maior (ou menor), não é certo mantê‑lo no valor histórico, surge a necessidade de reconhecer esse fato.

Da mesma forma, não se deve sobrevalorizar o valor desse imóvel, muito menos subvalorizar. O valor deve ser correto, verdadeiro.

Sá (2008) argumentou contra a aplicação desse conceito porque entendia que a questão não estaria em conservar valores históricos, mas em saber de forma objetiva como atualizá‑los. Para Sá (2008), a questão não estaria em volatilidade, mas em responsabilidade técnica e social. Seu receio era de que, se a informação contábil ficasse à mercê do subjetivismo, teria toda a condição de lesar seus usuários. Ele via dificuldades para a aplicação prática desse princípio, que é um desafio para todos os contadores.

Os contadores europeus entenderam que havia condições práticas para a aplicação do valor justo e adicionaram esse conceito na 4ª Diretiva europeia, em que se tratava da contabilidade praticada pelas empresas situadas nos países da União Europeia. A 4ª Diretiva foi o primeiro e mais importante documento de harmonização das normas contábeis na União Europeia.

Castro Neto et al. (1992) escreveram um artigo para o XIV Congresso Brasileiro de Contabilidade com uma aprofundada análise das origens do termo true and fair view, uma contribuição que, por ser muito esclarecedora para nosso estudo, é descrita a seguir:

Saiba mais

O Congresso Brasileiro de Contabilidade é um dos mais importantes eventos da classe contábil brasileira. Pesquise sobre esse evento.

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Segundo Castro Neto et al. (1992), Parker (1990) expõe que o true and fair view surgiu na lei inglesa Company Acts, em 1947, e posteriormente na Company Acts de 1948. O 1º item (ou parágrafo) desse normativo pronunciava que: “todo balanço e demonstração de resultado de uma companhia deve espelhar uma visão justa e verdadeira dos negócios da empresa”.

Castro Neto et al. (1992) comentam que Walton (1991) sugeriu adotar os ensinamentos de Saussure de distinguir entre o “significado” e o “significante” para explicar o que vem a ser visão justa e verdadeira. No caso, o primeiro refere‑se aos termos true e fair view, sua “imagem acústica” (cadeia de sons) no plano da forma, enquanto o segundo implica as ideias, os conceitos veiculados por essas palavras no plano do conteúdo.

Observação

Ferdinand de Saussure foi um linguista e filósofo suíço que viveu entre 1857 e 1913.

O significado de true and fair view estaria originado na sua origem inglesa; porém, os significados em outras línguas europeias não seriam traduções literais.

A 4ª Diretiva europeia teria introduzido diversos significados, de acordo com os países aos quais ela se aplica. Veja, a seguir, quadro com as principais traduções, segundo Castro Neto et al. (1992):

• Inglaterra e Irlanda: true and fair view;

• Holanda: een getrouw beed;

• Dinamarca: et palideligt;

• França, Luxemburgo e Bélgica: une image fidèle (een getrouw beeld, em flamenco);

• Alemanha: ein den Tatsachlichen Verhaaltnissen entsprechendes Bilds;

• Grécia: ten pragmatiki ikona;

• Espanha: una imagem fiel;

• Portugal: uma imagem fiel;

• Itália: un quadro fedele.

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Observação

Todos os documentos emitidos pela União Europeia são disponibilizados nas línguas de todos os países‑membros. Consequentemente, é possível surgirem divergências ocasionadas por causa da tradução.

Nos Estados Unidos, o significador usado é present fairly in conformity with generally accepted accounting principles.

Castro Neto et al. (1992) continuam a análise comentando que “o Reino Unido concebe que espelhar uma true and fair view deve ser o objetivo final das demonstrações contábeis, o que implica aceitar a ideia de que certos procedimentos contábeis sobrepõem‑se à letra da lei”. E citam um exemplo, discutido por Nobes (1993), que diz que “... a prática de alguns países do norte da Europa de lançar ativos contra reservas para tirar proveito fiscal não deveria ser permitida na contabilidade, pois tal não favoreceria uma visão justa e verdadeira das contas”.

Nessa mesma discussão, segundo Castro Neto et al. (1992) (apud HOPWOOD, 1990, p. 84) teria sugerido que a true and fair view:

[...] tornou‑se particularmente importante no Reino Unido como uma contraposição ao excessivo legalismo do texto da 4ª Diretiva. O significado do conceito relacionava‑se à interpretação que os advogados do Reino Unido davam à ele e estava associado às práticas correntes da contabilidade.

Castro Neto et al. (1992), baseados em Flint (1995, p. 15) ensaiam, então, uma conclusão de que não existiria uma unanimidade quanto ao significado e à interpretação da true and fair view. Seria um “conceito filosófico” e, portanto, não suscetível de definição por um conjunto de regras detalhadas. Essa opinião revelaria um dos pontos fracos do termo, aquele sobre o qual alguns estudiosos centram suas críticas.

Dessa forma, ainda segundo Castro Neto et al. (1992), o entendimento da noção de valor justo é polêmico, porque pode ser interpretado de diferentes formas, Tweedie (1983, p. 424) sugeriu três cenários alternativos para os legisladores da área contábil abordarem o conceito:

a) deixar os administradores decidirem, à luz das circunstâncias, quais informações são necessárias;

b) uma prescrição das regras de avaliação e mensuração, além das exigências de disclosure;

c) uma prescrição estatutária do conceito de verdade (Truth) e justiça (Fairness).

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Castro Neto et al. (1992) expõem que Flint defendia o uso da última alternativa, e reconhecia que “tal opção impõe uma maior obrigação dos administradores em escolher a informação adequada a evidenciar para satisfazer obrigações legais e estatutárias das empresas que representam”.

Finalizando a exposição da análise de Castro Neto et al. (1992), que contribui para este texto, os autores procuram uma definição de cunho mais prático, de Rutherford (1985, p. 483): true and fair view é “aquilo que é correntemente empregado pelo profissional, de modo consistente e coerente” e expõe dois entendimentos de órgãos regulamentadores:

Comitê de Padrões Contábeis da Inglaterra:

As contas não serão verdadeiras (true) nem justas (fair) a menos que as informações nelas contidas sejam suficientes em quantidade e qualidade para satisfazer as expectativas razoáveis dos leitores a quem elas se destinam.

International Accounting Standards Committee (IASC)

Uma true e uma fairview somente podem ser alcançadas se:

Fatos, e não ficção, são evidenciados nas demonstrações contábeis.

As bases de avaliação e determinação da receita são aceitáveis. Referidas bases são evidenciadas em notas explicativas.

O agrupamento e o arranjo dos itens nas demonstrações contábeis estão adaptados ao negócio.

Há poucas reflexões ou mesmo opiniões e reclamações de contadores não acadêmicos (ou práticos) brasileiros, o que parece indicar que ou o conceito ainda está sendo ignorado ou o conceito de valor justo está sendo entendido e soluções para sua aplicabilidade estão sendo desenvolvidas. No entanto, a aplicação do conceito de valor justo no trabalho do contador é necessária.

Saiba mais

O artigo Mensuração a valor justo: um estudo sobre a opinião dos professores e profissionais contábeis, de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e da Universidade de Brasília, explora os impactos do complexo conceito de fair value.

Disponível em: <http://www.congressousp.fipecafi.org/artigos112011/ 474.pdf>. Acesso em: 14 out. 2012.

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1.6 Processo de convergência

O que é convergência?

Além de um conjunto de normas internacionais, o que é necessário para a aplicação correta das IFRS?

Neste tópico, iremos estudar o processo de convergência para entender como agir na “nova contabilidade”:

Três conceitos precisam ser estudados para melhor compreensão do que significa convergência contábil:

• convergência;

• harmonização;

• padronização.

O processo de globalização e as facilidades para o comércio internacional acabam por gerar um desejo de padronização, no qual as regras precisariam ser rigorosamente as mesmas em todos os países. Assim, harmonizar seria aplicar as mesmas regras, na íntegra. Logo nos lembramos de normas técnicas, como as que a ISO (International Standardization Organization – Organização Internacional para a Padronização) publica.

Por exemplo, se alguém quiser produzir cabos telefônicos, independentemente se uma fábrica está no Paquistão ou na Argentina, deve aplicar as mesmas regras de qualidade. Não deve haver influência do país e/ou da cultura do país.

No entanto, em matéria contábil, não é possível dar esse tratamento. Como vimos, até mesmo nas coisas mais simples, a língua e os usos e costumes precisam ser observados para que não ocorram situações problemáticas. Portanto, o uso da palavra harmonizar no sentido de padronizar, tornar as coisas rigorosamente iguais, não é razoável.

Então, fez‑se ou faz‑se necessário o uso de outra palavra, outro conceito que é muito mais difícil e complexo de ser colocado em prática: a convergência.

Sob o conceito de convergência, as regras e/ou procedimentos podem ser diferentes, respeitando a cultura, a língua, os usos e os costumes e/ou legislação local, desde que o resultado final leve ao mesmo entendimento, ao mesmo objetivo.

Essa é uma costura complexa de ser realizada. Como, por exemplo, fazer com que um contador árabe relate a sua contabilidade de forma que um contador asiático ou da América Central possa entender essa contabilidade, mesmo sabendo que as diferenças culturais influenciam nos negócios?

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Figura 6 – Processo de padronização

Figura 7 – Processo de harmonização

A respeito dessa problemática, Weffort (2005, p. 19) complementa:

A contabilidade é moldada pelo ambiente no qual opera. Da mesma forma que as nações têm diferentes histórias, valores e sistemas políticos, elas também têm diferentes padrões de desenvolvimento da contabilidade financeira.

(…) Esta diversidade é resultante da variação dos ambientes de negócios ao redor do mundo e do fato de a contabilidade ser ambientalmente sensível.

Harmonização, o ato de deixar harmônico, ou, comparando com a música, o fato de uma melodia soar de forma agradável e empolgante, independentemente da nacionalidade do músico, na contabilidade significa não a padronização, mas a convergência.

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Uma analogia para entender o que significa convergência: muito se fala que a palavra “saudade” só existe na língua portuguesa.

Figura 8 – Saudades, de Almeida Júnior, 1899

Saiba mais

O óleo sobre tela Saudades, de Almeida Júnior, está disponível no Google Art Project: <http://www.googleartproject.com>.

A palavra, o sentimento, ou ainda o conceito de “saudades” inspirou dois importantes gêneros musicais: o fado em Portugal e o samba no Brasil. Apesar de ser o mesmo sentimento, é notória a herança cultural que cada um desses povos imprime.

Mas se “saudades” é um termo próprio da língua portuguesa, então, como um cidadão que nasceu nos Estados Unidos ou na Inglaterra, que fala inglês, expressaria esse sentimento? Pela não existência de uma palavra em seu idioma como “saudade”, o sentimento não existiria?

Segundo Jacobs (2001), existe uma palavra que expressa esse sentimento na língua inglesa, que é homesickness. Essa palavra, que na verdade é uma composição de duas palavras, significa na língua portuguesa “doente de lar”. Ou seja, o cidadão americano ou inglês fica “doente” quando sente “saudades”, o que é tão forte ou até mais significativo do que o que a palavra “saudade” expressa.

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E, complementando, um russo não sentiria saudades? Certamente sente, mas não há uma palavra no idioma russo que seja equivalente a “saudades”. Geralmente, recorre‑se ao equivalente, à palavra “nostalgia”. No entanto, os russos têm no seu idioma a palavra razbliuto, que demonstra um sentimento que permanece após um amor que não existe mais.

De qualquer forma, apesar de terem significados diferentes, tanto a palavra em português “saudade” como a palavra homesickness levam à demonstração do mesmo sentimento. Portanto, temos uma oportunidade de “convergência”, ou seja, independentemente da cultura, é possível relatar as mesmas coisas.

Após essa análise comparativa, voltemos para a área contábil: observa‑se, no Comitê de Pronunciamentos Contábeis – (2010), o cuidado de Alfried Ploger, como coordenador de relações institucionais do Comitê de Pronunciamentos Contábeis – CPC, ao comentar uma preocupação para não criar resistências para que as normas internacionais sejam adotadas no Brasil:

Destinado a buscar soluções para as questões que se apresentarem, com ampla e indiscriminada consulta a quem possa ser afetado, o Comitê inova no trato de questões regulamentares porque reúne representantes de entidades da área privada, do mundo acadêmico e do setor governamental, sentados à mesma mesa e imbuídos de um único critério, que é a busca da modernidade.

Na verdade, estamos diante de uma dupla convergência: de um lado, a necessidade universal de integrar regras contábeis aos padrões internacionais; de outro, a participação, no debate interno, de representantes de todos os atores do mercado brasileiro – governo, iniciativa privada e órgãos acadêmicos – dialogando livre e democraticamente no CPC.

Nós sabemos, por nossa própria experiência de vida, que nada será fácil na trajetória do CPC. O mundo da contabilidade é complexo e sutil; as soluções buscadas devem responder às questões levantadas e aos ambientes nos quais proliferam, mas nem sempre isso é muito fácil de identificar Para citar um exemplo já muito discutido, será necessário muito cuidado para verificar se alguma norma ou procedimento adotado produzirá elevação dos custos tributários, de modo a minimizar as possíveis resistências à adoção de procedimentos modernizantes.

São cuidados que deveremos ter, para tocar a difícil tarefa, que será gratificante, de colocar o CPC em pleno funcionamento.

Uma vez, no entanto, vencida a dificuldade de convergir, o resultado é empolgante: uma demonstração contábil em língua portuguesa poderá ser usada no exterior sem necessidade de um trabalho de conversão. Da mesma forma, uma demonstração contábil feita em outra língua também poderá ser usada por nós, brasileiros, sem a necessidade de conversão, no máximo, com uma tradução linguística. É o que comentam Carvalho, Lemes e Costa (2006, p. 15):

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Balanços de empresas (…) em diversos países tinham que ser comparados quanto a margens, retornos, custos de oportunidade, estruturas patrimoniais e desempenhos, e havia (ainda há) enorme desperdício de tempo e dinheiro para entender as distintas normas contábeis nacionais e reconciliá‑las para um padrão único. Isso deixará de ser obstáculo e deixará de ser um custo a partir das IFRS – as normas das empresas de países que as adotarem já sairão, na origem, em IFRS e eventualmente o máximo que se exigirá será a tradução do idioma, e não mais das práticas contábeis.

Em suma, as IFRS nos trazem o desafio de ser verdadeiros tradutores, preparando demonstrações financeiras que não sejam entendíveis apenas em uma região ou apenas por um grupo muito específico de usuários. As demonstrações financeiras precisam ser entendidas por qualquer usuário, independentemente do país e/ou da cultura.

Saiba mais

Veja o relatório Quem somos e o que fazemos, da IASB, disponível em:

<http://www.ifrs.org/NR/rdonlyres/B6338983‑6155‑4699‑B05C‑B59382D89F67/0/WhoWeArePortuguese21072011.pdf>.

2 O DESAFIO DA INTERDISCIPLINARIDADE

“O trabalho da contabilidade é manter o capitalismo honesto.”

(Hans Hoogervorst – IAAER Conference 2012 Amsterdã – Holanda)

2.1 Conceitos importantes para a aplicação do IFRS e as características qualitativas das demonstrações financeiras

Lembrete

A IASB fomenta demonstrações financeiras de maior relevância para o usuário, com características qualitativas.

Uma vez que estudamos os desafios para o trabalho do contador na sociedade atual e o processo de convergência, em que se definiu que é importante o contador conferir às demonstrações contábeis elementos não apenas quantitativos, mas qualitativos, começaremos a estudar quais são esses elementos qualitativos.

A seguir, alguns conceitos que são importantes para a aplicação do IFRS, segundo Mourad e Paraskevopoulos (2010).

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2.2 Definição da vida econômica e da vida útil de determinado ativo

Embora vida econômica e vida útil de um bem sejam definições simples, de compreensão intuitiva, provocam muitas confusões no dia a dia. Dessa forma, faz‑se necessário estudar com muita atenção as seguintes definições:

Benefício econômico

Os benefícios econômicos são fatores importantes para a consecução de metas e objetivos de curto ou longo prazo. O conceito de benefício econômico é o resultado atingido por uma entidade após realizar uma atividade.

Vida útil e vida econômica

A vida útil de um bem é a quantidade de tempo que uma entidade deseja usar determinado ativo. Já a vida econômica, é a quantidade de tempo que um bem dura.

Caso real

A linguagem de computador COBOL, sigla de Common Business Oriented Language (Linguagem Orientada aos Negócios), foi criada na década de 1950, tornando‑se uma das mais utilizadas no mundo. Atualmente, a COBOL é considerada ultrapassada, pois outras linguagens muito mais ágeis e modernas foram desenvolvidas. No entanto, vários bancos e instituições financeiras no Brasil continuam a utilizar sistemas desenvolvidos em COBOL.

Sistemas em COBOL não teriam valor algum no mercado. Mas, se considerarmos sua importância dentro do ambiente da empresa, principalmente aspectos como diferenciação estratégica, são fundamentais, por isso teriam um valor muito alto.

Assim, pode‑se dizer que sistemas em COBOL já ultrapassaram há muito tempo a sua “vida econômica”, mas continuam a ter “vida útil” e a gerar benefícios econômicos para a entidade.

Exemplo de aplicação

A empresa eletrônica Eetris Ltda. mudou‑se para um excelente e barato terreno, mas com muita dificuldade de acesso. Como não encontrou um prestador de serviço para transportar os funcionários, por causa das péssimas condições de uma estrada vicinal, decidiu comprar dez veículos de transporte para seus funcionários (vans ou “peruas” em São Paulo). Espera‑se que a estrada vicinal seja finalmente asfaltada em cerca de três anos. Nesse período, a empresa acredita que as vans irão se desgastar completamente, embora o fabricante afirme enfaticamente que elas foram construídas para enfrentar essas condições adversas e que irão durar pelo menos quinze anos. Nessa situação, qual seria a vida econômica e a vida útil dessas vans?

Resposta: A vida útil das vans é de três anos e a vida econômica, de quinze anos.

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2.3 Características qualitativas das demonstrações contábeis

De acordo com CPC (2012), Pronunciamento Conceitual Básico (R1), as demonstrações devem ser:

• compreensíveis;

• relevantes;

• materiais ou importantes para os usuários;

• confiáveis; e

• comparáveis.

Entende‑se que os contadores devem se preocupar não somente com a acurácia quantitativa do seu trabalho, mas também em aumentar as informações de cunho qualitativo que venham a melhorar a experiência dos usuários da contabilidade ao consultarem e analisarem as demonstrações financeiras. Esse aspecto foi muito bem exposto pelo presidente da IASB, Hans Hoogervorst (2012):

Se sabemos que nem sempre há uma resposta precisa a todas as perguntas, o nosso trabalho precisa ser fundamentado no pragmatismo e no senso comum. Como dizia Keynes, é melhor estar aproximadamente certo do que ser precisamente errado. Devemos evitar que as empresas tentem conseguir alcançar a precisão, sem precisão. Devemos melhorar o significado dos resultados quantitativos de nossos padrões sempre que possível.

Em caso de impossibilidade, devemos deixar isso claro e colocar mais ênfase em informações qualitativas.

O CPC (2012), Pronunciamento Conceitual Básico (R1), indicou como características qualitativas dos relatórios contábeis duas classes de características:

• as características qualitativas fundamentais;

• as características qualitativas de melhoria.

Entende‑se que as características fundamentais devem ser observadas em todas as demonstrações financeiras, tendo um cunho mais crítico. Já as características de melhoria não são críticas ou imprescindíveis, mas desejáveis.

A seguir, as características qualitativas fundamentais e as características qualitativas de melhoria:

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Características qualitativas fundamentais:

• Relevância.

• Materialidade.

• Representação fidedigna.

Características qualitativas de melhoria:

• Comparabilidade.

• Verificabilidade.

• Tempestividade.

• Compreensibilidade.

Há ainda uma preocupação em analisar eventuais restrições de custo na elaboração e divulgação da informação contábil‑financeira útil.

A seguir, vamos estudar cada uma dessas características:

2.4 Características qualitativas fundamentais

Relevância

Entende‑se que a relevância da informação financeira ocorre quando ela ajuda os usuários a avaliar o passado, o presente e o futuro, ou na confirmação de alguma atividade no passado.

Entende‑se ainda que a relevância da informação financeira é afetada pela sua natureza e materialidade.

Exemplo de aplicação

A Carbo Veler Indústria Naval, apesar do nome, atua em diversos segmentos. Como a indústria naval é cíclica, ainda mais no ramo específico de barcos e pequenos navios de veraneio, a Carbo Veler usa os equipamentos também para fabricar silos industriais, banheiras, piscinas residenciais, caixas d´água e bebedouros para fazendas de gado. Se a Carbo Veler preparar informações contábeis para cada um dos segmentos em que atua, estará tendo relevância?

Resposta: sim, lembre‑se de que é necessário que as empresas segmentem suas informações contábeis, conforme o IFRS 8, que estudaremos ainda nesta unidade.

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Figura 9 – Relevância

Uma empresa sempre produz um tipo de produto. Por algum motivo, passa a produzir um produto diferente. Isso deve ser relatado ao usuário externo da contabilidade?

Materialidade

Entende‑se que quem prepara as informações contábeis deve analisar e decidir se as informações que está preparando são úteis para os usuários. Uma das formas para observar se algo é material ou não é imaginar o que ocorreria se a informação fosse omitida e/ou divulgada de forma inexata. Há também situações nas quais tanto a materialidade quanto a natureza são importantes, como é o caso das quantias de estoque realizadas em cada categoria principal do negócio.

Exemplo de aplicação

A Pedro de Toledo Equipamentos Médicos Ltda. é uma média indústria e prestadora de serviço especializada em equipar unidades de tratamento intensivo em hospitais, clínicas e residências. Apesar de quase a totalidade de seus produtos serem de terceiros, a Pedro de Toledo produz um dos melhores e mais bem conceituados monitores cardiovasculares brasileiros.

Recentemente, por conta de conversas com amigos, a Pedro de Toledo foi convidada a abrir uma pequena indústria na Escócia, de onde irá atender a toda a Europa. Apesar de a fábrica já estar em funcionamento há seis meses, nenhum investidor brasileiro foi informado sobre o negócio. O presidente comentou que não queria que ninguém soubesse de seus planos de expansão.

Essa informação é material? O presidente da empresa (e o contador) estão corretos ao omitir essa informação?

Resposta: não, o presidente e o contador não estão agindo de forma adequada nessa situação. A omissão dessa importante informação, a abertura de uma subsidiária no exterior, poderá vir a ter consequências econômicas para os investidores, portanto, dever‑se‑ia informar.

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Figura 10 – Materialidade. A informação é útil para o usuário?

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Comparabilidade

Para atender aos anseios dos usuários das demonstrações contábeis, faz‑se necessário preparar as demonstrações financeiras de forma que possam ser comparadas entre os anos e as empresas de ramos semelhantes.

O ideal é que as políticas contábeis sejam divulgadas e que os empresários no mesmo ramo também divulguem suas demonstrações, para que haja comparabilidade.

Caso real: comparativo entre balanços de times de futebol

Observe os seguintes balanços, do Esporte Clube Milan e do Manchester United, duas entidades distintas em países diferentes, mas que estão no mesmo ramo de atuação:

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Tabela 1 – Detalhe do balanço patrimonial de 2009 do Esporte Clube Milan – Itália

Fonte: Milan (2009).

Tabela 2 – Detalhe do balanço patrimonial de 2009 do Manchester United – Reino Unido

Fonte: Manchester United (2009).

Um dos ativos mais importantes para um time de futebol são os “passes” dos jogadores, que representam os direitos sobre esses jogadores.

Saiba mais

Os times de futebol são exemplos de aplicação da contabilidade. Para mais informações, acesse:

<http://jcrs.uol.com.br/site/noticia.php?codn=20230>.

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Observando‑se os balanços desses dois times, verifica‑se que o Milan evidencia esses direitos representados na conta diritti pluriennali alle prestazione dei calciatori’ – Direitos Plurianuais sobre a prestação dos jogadores. O Manchester United também evidencia os passes dos jogadores na conta Intangible Assets – Player´s Registrations – ativos intangíveis, registros dos jogadores.

Um usuário da contabilidade, ao analisar os dois balanços, pode traçar algum entendimento sobre os passes dos jogadores, de acordo com o interesse de sua análise. Nesse caso, sugere‑se que há comparabilidade.

Sabe‑se que tanto o Milan como o Manchester United mantêm escolas para a formação de jovens e promissores jogadores, atividade que é atualmente um importante gerador de receitas para os times de futebol. No balanço do Milan, é possível analisar que o clube registra o gasto com a escola de futebol no ativo, na conta capitalizzazione costi vivaio – capitalização do custo do “viveiro”, ou a escola de formação de jogadores. Já no balanço do Manchester United, não é possível observar gastos desse tipo. Ou estão diluídos em outras contas contábeis, ou o time não ativa esses gastos. Nesse caso, sugere‑se que não há comparabilidade, um usuário não consegue estudar esse aspecto.

Observação

Os europeus preferem enfatizar seus ativos imobilizados e não o seu ativo circulante.

Verificabilidade

De acordo com o CPC (2012), Pronunciamento Conceitual Básico, a verificabilidade é um auxílio aos usuários para que se assegurem de que a informação da forma como está sendo representada é fidedigna com o fenômeno que se propõe analisar.

Imaginemos que em uma mesma sala estejam diferentes observadores, cada um com sua particularidade, mas todos são conscientes e independentes. Se, ao tomarem conhecimento dos relatórios contábeis, esses diferentes observadores chegarem a um consenso, embora talvez não cheguem a um acordo, teremos condições de verificabilidade. Por exemplo, imaginemos que uma empresa alegou que teve uma diminuição muito grande nas vendas, digamos 30%, porque houve uma mudança repentina nos gostos dos consumidores, que passaram a preferir produtos com cores mais fortes e alegres, e tudo indicava quando do planejamento que a preferência seria por cores mais sóbrias. Como justificativa, o presidente dessa empresa alegou que uma determinada atriz de uma novela de sucesso passou a usar roupas de cores mais fortes e alegres e sua empresa não foi capaz de identificar essa mudança.

Os observadores na sala poderão chegar a um consenso e inclusive verificar que realmente houve a situação alegada pela empresa, embora possam não concordar totalmente que a empresa não teria sido capaz de identificar a tempo a mudança.

A seguir, o texto literal do pronunciamento, comentando detalhes sobre a verificabilidade:

QC27. A verificação pode ser direta ou indireta. Verificação direta significa verificar um montante ou outra representação por meio de observação

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direta, como, por exemplo, por meio da contagem de caixa. Verificação indireta significa checar os dados de entrada do modelo, fórmula ou outra técnica e recalcular os resultados obtidos por meio da aplicação da mesma metodologia. Um exemplo é a verificação do valor contábil dos estoques por meio da checagem dos dados de entrada (quantidades e custos) e por meio do recálculo do saldo final dos estoques utilizando a mesma premissa adotada no fluxo do custo (por exemplo, utilizando o método PEPS).

QC28. Pode não ser possível verificar algumas explicações e alguma informação contábil‑financeira sobre o futuro (forward‑looking information) até que o período futuro seja totalmente alcançado. Para ajudar os usuários a decidir se desejam usar dita informação, é normalmente necessário divulgar as premissas subjacentes, os métodos de obtenção da informação e outros fatores e circunstâncias que suportam a informação.

Tempestividade

A Tempestividade é a capacidade dos contadores de oferecer informações no tempo exato em que são relevantes para a tomada de decisões. É um aspecto tido como fundamental na proposta da IASB e na atuação do profissional de contabilidade.

A seguir, o texto literal do pronunciamento:

QC29. Tempestividade significa ter informação disponível para tomadores de decisão a tempo de poder influenciá‑los em suas decisões. Em geral, a informação mais antiga é a que tem menos utilidade. Contudo, certa informação pode ter o seu atributo tempestividade prolongado após o encerramento do período contábil, em decorrência de alguns usuários, por exemplo, necessitarem identificar e avaliar tendências.

Compreensibilidade

Entende‑se que os usuários das informações contábeis devam compreender facilmente as informações. Entende‑se também que os usuários demonstrem algum conhecimento de negócios e contabilidade, mas não se deve excluir uma informação com a suposição de que será muito complexa para o entendimento da maioria dos usuários.

Como exemplo dessa situação, analisam‑se as empresas de planos de benefícios, que seguem a IAS 19 e têm suas informações elaboradas por atuários. Nem todos os usuários terão conhecimento para entender os difíceis cálculos e informações atuariais, mas, caso necessário, esses usuários poderão consultar outros especialistas que conhecem o assunto.

A seguir, o texto literal do pronunciamento:

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QC31. Certos fenômenos são inerentemente complexos e não podem ser facilmente compreendidos. A exclusão de informações sobre esses fenômenos dos relatórios contábil‑financeiros pode tornar a informação constante em referidos relatórios mais facilmente compreendida. Contudo, referidos relatórios seriam considerados incompletos e potencialmente distorcidos (misleading).

QC32. Relatórios contábil‑financeiros são elaborados para usuários que têm conhecimento razoável de negócios e de atividades econômicas e que revisem e analisem a informação diligentemente. Por vezes, mesmo os usuários bem informados e diligentes podem sentir a necessidade de procurar ajuda de consultor para compreensão da informação sobre um fenômeno econômico.

Exemplo de aplicação

A Luzir Sinc S/A é uma indústria química que há alguns anos enfrentou um pequeno acidente ambiental em sua planta no Estado de Minas Gerais. O acidente ambiental foi pequeno, mas as preocupações com ambientalistas foram enormes. Entre algumas propostas para demonstrar a seriedade da empresa e se estavam tomando providências reais para que o fato não mais aconteça, propôs‑se que a empresa passaria a informar trimestralmente todas as suas despesas ambientais. No entanto, um consultor empresarial recomendou que a Luzir Sinc S/A não fizesse isso, porque os ambientalistas poderiam não saber interpretar bem essa informação. De acordo com as normas internacionais de contabilidade, a Luzir deve ou não evidenciar seus gastos ambientais?

Resposta: sim, a Luzir Sinc S/A não deve se preocupar com prováveis más interpretações de usuários sobre sua contabilidade.

Figura 11 – CompreensibilidadeUm contador tenta demonstrar um assunto da forma mais compreensível possível, mas não a ponto de preferir

não divulgar informações com a alegação de que os usuários não irão entender o que se diz. Por outro lado, os usuários também devem se esforçar para entender os assuntos que são expostos

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3 OUTRAS CARACTERíSTICAS DESEjávEIS

Apresentam‑se, a seguir, outras características desejáveis, de acordo com a obra de Mourad e Paraskevopoulos (2010), realizada antes da primeira revisão do CPC – Pronunciamento Conceitual Básico.

3.1 Neutralidade

Segundo Mourad e Paraskevopoulos (2010),

As demonstrações contábeis não são neutras se apresentarem informações que influenciam a tomada de decisão dos usuários das demonstrações contábeis para alcançar um resultado específico e predeterminado ou se for utilizado um elevado grau de arbitrariedade em uma metodologia específica de avaliação para um determinado ativo ou passivo.

Dessa forma, as informações contábeis não devem apresentar dados que influenciem a tomada de decisão dos usuários para alcançar um resultado específico. O contador também não deve lançar mão de expedientes que empreguem arbítrios ou metodologias que avaliem determinado ativo ou passivo para que o resultado, por exemplo, atinja uma meta de gestão.

Exemplo de aplicação

A Amaz S/A, cia. de vidros reciclados, está tendo ótima aceitação no mercado, captando matéria‑prima praticamente de graça e ainda recebendo “muito obrigado” dos clientes, que se livram de sucatas. Por isso, a Amaz S/A está de “vento em popa”.

No entanto, o Sr. Cláudio está preocupado, porque suas metas estão abaixo do esperado. Como as vendas estão bem, muito acima de sua expectativa, pediu que o contador alterasse algumas informações contábeis para melhor refletir os gastos do centro de custo de que cuida.

Esse procedimento não fere o aspecto de neutralidade, uma vez que é apenas interno, e, mesmo que alguém use essa informação, não terá consequências maiores. Correto?

Resposta: não, se o contador fizer essa modificação para atender aos anseios do Sr. Cláudio, provavelmente haverá quebra de neutralidade.

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Figura 12 – Neutralidade. Não importa se há eventuais disputas internas ou jogos de interesses, o contador deve sempre ser imune a essas disputas, não tomando partido em uma ou outra corrente de pensamento.

Observação

Aqui, observa‑se o lado mais comportamental da contabilidade, em que os aspectos qualitativos que a IASB expõe são imprescindíveis.

Saiba mais

Além da Behavioral Accounting, há duas teorias muito estudadas em contabilidade: a Teoria da Agência e a Teoria Institucional. Pesquise artigos relacionados com essas duas teorias.

3.2 Confiabilidade

A informação contábil é confiável quando não leva consigo erros materiais na sua preparação, seja por erros de controle interno, seja por processos equivocados. Ao mesmo tempo, a confiabilidade é afetada quando há aplicação incorreta de políticas contábeis em IFRS.

Exemplo de aplicação

A Brinquedos Nuvem, empresa especializada em equipamentos para parques de diversão, vendeu um equipamento para um novo parque de diversões em Itanhaém, no litoral Sul do Estado de São Paulo. Ao mesmo tempo, o equipamento, que já estava instalado em Itanhaém, foi alugado para o mesmo comprador. Essa operação está prevista nas normas internacionais?

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Resposta: trata‑se de uma transação de Sale & Leaseback (venda com aluguel subsequente). Nesse caso, conforme o IAS 17, o ativo não pode ser baixado na entidade vendedora, e o ganho na venda do ativo não pode ser reconhecido imediatamente. A mera contabilização do evento como venda não representaria com confiabilidade a substância econômica da transação.

Figura 13 – Confiabilidade. O contador deve relatar informações que sejam confiáveis, que não venham causar dúvidas e/ou apreensões sobre sua qualidade

3.3 Limitações existentes na divulgação de informações financeiras

Segundo Mourad e Paraskevopoulos (2010), as informações devem ser divulgadas com oportunidade e tempestividade, segundo as quais a administração deve adequar a necessidade de equilibrar as vantagens relativas de fornecer determinadas informações de forma oportuna e confiável.

Por exemplo: imaginemos que uma empresa está desenvolvendo uma transação e o principal executivo dessa empresa deseja divulgar essa transação ao mercado, interessado em melhorar a imagem da marca, fomentar relações públicas ou atrair novos clientes. No entendimento desse executivo, não haveria nenhum problema em divulgar a novidade, ao contrário, publicar um edital formal em um jornal ou pedir que uma agência de publicidade elaborasse um comercial de TV traria ótimos benefícios. No entanto, justamente porque a transação ainda não está finalizada, o contador poderá julgar que essa divulgação, no atual estado, poderá prejudicar a confiabilidade da contabilidade, porque até a sua finalização poderão ocorrer modificações relevantes, como a quebra de um contrato. Então, deve‑se avaliar e/ou equilibrar se é razoável divulgar essa informação.

Além disso, as informações devem levar a um adequado equilíbrio entre custo e benefício, não necessariamente há a necessidade de gastar um volume de recursos para obter informações, os benefícios devem superar o custo para obtê‑las. Por fim, as demonstrações contábeis devem ser elaboradas com base em uma imagem verdadeira e apropriada.

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4 A INTERDISCIPLINARIDADE DO PROFISSIONAL DA CONTABILIDADE

Após estudar os desafios que se impõem ao profissional da contabilidade, a emergência da aplicação das normas internacionais de contabilidade, do conceito de valor justo e das características qualitativas das demonstrações contábeis, segundo o pronunciamento conceitual básico do CPC, chegamos a uma outra dúvida:

4.1 Como atender à necessidade de interdisciplinaridade?

Ao estudarmos as características qualitativas das demonstrações qualitativas, uma certeza surge: o contador não tem condições de atender a todas essas necessidades sozinho. É imprescindível ao “novo” contador interagir com as demais áreas da empresa e tomar ações coordenadas. Esse aspecto, que é o centro da discussão de nossa disciplina, é totalmente novo e pouco tem sido estudado nesse sentido nos últimos anos.

Em palestra no Congresso USP de Contabilidade em 2010, o Prof. Ariovaldo dos Santos recomendou que o contador descentralize parte de sua responsabilidade em formar informações qualitativas para outros profissionais da empresa. Essa tem sido uma orientação básica que vem sendo transmitida aos contadores.

Ao contrário de um profissional da contabilidade, segundo a visão que Johnson e Kaplan (1987) deram a entender em seu livro Relevance Lost (A relevância perdida), “restrito ao seu escritório”, o contador cada vez mais precisa estar presente em uma equipe, orientar os outros profissionais, entender os problemas, antecipar‑se a eles e apresentar soluções corretas nos momentos certos.

Como exemplo desse novo papel:

Antes, um contador, para realizar o cálculo da depreciação, teria de consultar a legislação brasileira e aplicar uma alíquota adequada, de acordo com o texto legal. Agora, essa consulta já não é mais suficiente. Faz‑se necessário realizar um cálculo de depreciação de um imóvel, não basta aplicar uma taxa média definida previamente em lei ou em algum regulamento tributário. Para bem aplicar o conceito de valor justo – fair value, o contador precisa envolver os outros profissionais da empresa, neste exemplo, os engenheiros. Um engenheiro, com base em estudos apresentado na forma de laudo, irá fornecer a informação necessária para o contador decidir qual o valor a ser depreciado.

O engenheiro, por sua vez, talvez tenha que recorrer ao trabalho de corretores de imóveis, que com seu conhecimento irão ajudar na montagem do laudo. Então, chegamos a uma conclusão:

Sendo assim, as normas internacionais de contabilidade não são um assunto apenas dos contadores. As normas internacionais de contabilidade são um assunto de todos os profissionais!

No entanto, como é que se deve dar esse relacionamento entre os contadores e os demais agentes? Entende‑se que a interdisciplinaridade deve começar ainda na universidade, onde o ensino

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da contabilidade já passa a ter uma preocupação interdisciplinar. A disciplina Ciências contábeis Interdisciplinar é consequência desse pensamento.

Mas, mesmo na universidade, o conceito de interdisciplinaridade ainda está em construção. A realidade é que as disciplinas geralmente são ensinadas aos alunos sem haver ligação entre si, formando, conforme diz Bellinaso (1998), uma “colcha de retalhos”. No entanto, conforme Miranda e Miranda (2006), baseados em autores como Luck (2002), Eagan (et al. 2002) e Caviglia‑Harris, Hatley J. (2004), é a “integração e engajamento de educadores no conjunto, na interação das disciplinas do currículo escolar entre si e com a realidade”.

Esse conceito mostra‑nos que não basta estudarmos uma disciplina de forma isolada, dando preferência a uma ou outra que nos desperte alguma afeição. O aprendizado deve ser amplo, integrado, para que nossa prática profissional também venha a ser interdisciplinar. E o gosto pela interdisciplinaridade, em saber interagir com os outros profissionais, passa a ser um hábito praticável de forma rotineira.

Lembrete

Segundo a IASB, é necessário que o contador se preocupe não apenas com os aspectos quantitativos de uma empresa, mas também os seus aspectos qualitativos.

Riccio, Sakata e Segura comentaram que a busca pela competitividade está fazendo com que os contadores criem pontes entre a contabilidade e as demais disciplinas. É importante observar que interagir de forma adequada, ao mesmo tempo, não significa atender a todos os anseios dos usuários. Basicamente, conforme já estamos acostumados, de acordo com Santos (2005), podemos listar os seguintes grupos de usuários: externos e internos.

Para os diversos usuários externos, entende‑se que os contadores devem dar uma especial atenção para três grupos em específico, sem criar uma hierarquia entre eles: investidores; credores por empréstimo; e outros credores, existentes e em potencial. Esses grupos são denominados de “usuários primários”.

Até certo tempo atrás, alguns usuários, analistas e agentes existentes (ou seja, já conhecidos da empresa), costumavam constantemente entrar em contato com a empresa, para conhecer detalhes da operação e/ou dos números divulgados. Em muitos casos, alegando que as demonstrações financeiras não eram suficientes, grupos de interesse chegavam a solicitar às empresas relatórios ad hoc, ou seja, relatórios desenvolvidos sob encomenda e sem periodicidade definida. E, muitas vezes, esses relatórios continham informações complementares.

Algumas empresas chegaram, inclusive, a disponibilizar departamentos de relações públicas com investidores, que divulgam as informações de forma constante e profissional. Mesmo assim, muitos usuários insistiam (fato que ocorre até hoje) em conversar diretamente com os contadores e administradores, sempre com a alegação de que o que havia sido disponibilizado era insuficiente.

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Esse comportamento é saudável e natural, porque todas as empresas tendem a querer auxiliar os interessados em suas informações, no entanto, gera descrédito ao trabalho de rotina da contabilidade. Além de tomar tempo precioso do contador, que precisa atender à sua própria rotina de trabalho.

Criou‑se, então, o conceito de “Relatórios contábil‑financeiros de uso geral”, em que o contador já deve considerar as necessidades em específico dos usuários primários, e não elaborar relatórios ad hoc, com o intuito de valorizar cada vez mais o trabalho de rotina da contabilidade.

É o que diz o pronunciamento conceitual básico:

OB2. O objetivo do relatório contábil‑financeiro de propósito geral é fornecer informações contábil‑financeiras acerca da entidade que reporta essa informação (reporting entity) que sejam úteis a investidores existentes e, em potencial, a credores por empréstimos e a outros credores, quando da tomada de decisão ligada ao fornecimento de recursos para a entidade. Essas decisões envolvem comprar, vender ou manter participações em instrumentos patrimoniais e em instrumentos de dívida, e oferecer ou disponibilizar empréstimos ou outras formas de crédito.

OB5. Muitos investidores, credores por empréstimo e outros credores, existentes e em potencial, não podem requerer que as entidades que reportam a informação prestem a eles diretamente as informações de que necessitam, devendo desse modo confiar nos relatórios contábil‑financeiros de propósito geral, para grande parte da informação contábil‑financeira que buscam.

Consequentemente, eles são os usuários primários para quem relatórios contábil‑financeiros de propósito geral são direcionados.

OB6. Entretanto, relatórios contábil‑financeiros de propósito geral não atendem e não podem atender a todas as informações de que investidores, credores por empréstimo e outros credores, existentes e em potencial, necessitam. Esses usuários precisam considerar informação pertinente de outras fontes, como, por exemplo, condições econômicas gerais e expectativas, eventos políticos e clima político, e perspectivas e panorama para a indústria e para a entidade.

As áreas de relações públicas e relações com investidores da empresa auxiliam com muita ênfase o trabalho do contador em relatar as informações para os usuários externos, inclusive com a formação de relatórios de impacto, prospecção de eventuais dúvidas e a maneira como os usuários almejam receber as informações.

Se o entendimento é de que para os usuários externos o contador deve ter um relacionamento mais contido, até para que seus relatórios de rotina sejam mais bem valorizados para os usuários internos (que no passado não costumavam ser muito bem atendidos), precisam de uma abordagem mais ampla.

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Indo ao encontro dessa abordagem ampla, recorremos ao conceito que ainda está em construção de “contabilidade estratégica”. Martins (2003) referiu‑se a esse conceito como uma “semente” e comentou que o contador precisa conhecer os planos da empresa para poder formar dados que proporcionem meios para que os gestores tomem decisões. Segundo Martins (2003), a interação do contador com outras áreas leva‑o, inclusive, para fora dos muros da empresa, conhecendo os fornecedores e clientes, ou seja, a cadeia de valor em que essa empresa está inserida.

Entende‑se que o contador deve oferecer informações tempestivas para que os gerentes possam tomar decisões de qualidade no momento correto. E que, em alguns momentos, deverá, inclusive, antecipar‑se a algumas necessidades.

Concluindo, a face moderna do contador passa pela necessidade de se integrar com a equipe de profissionais de uma empresa e com os usuários externos em geral, na medida do possível.

Saiba mais

Mais informações sobre o mercado de trabalho e a atuação profissional do contador em:

<http://exame.abril.com.br/carreira/noticias/contadores‑viram‑prota gonista‑decisoes‑583909>.

Observação

Faça dessa atividade um verdadeiro hábito! Escolha uma empresa ou um ramo de negócios que tenha alguma relevância para a sua vida particular e passe a acompanhar os aspectos qualitativos de suas demonstrações contábeis.

Resumo

Neste capítulo, começamos a estudar a Contabilidade Interdisciplinar.

É importante comentar que a contabilidade está atualmente em um amplo processo de mudanças. Para tal, foi fundamental estudarmos as causas e soluções encontradas para os problemas, como vimos nos tópicos:

1. Esquentando os motores.

2. O contador frente aos grandes desafios da sociedade atual.

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3. Outros fatores da sociedade atual que trazem desafios aos contadores.

4. Princípios fundamentais de contabilidade.

5. O conceito de fair value – valor justo.

6. Processo de convergência.

Com esse conhecimento, passamos a estudar como agir, ou seja, o que devemos fazer nesse ambiente de uma “nova contabilidade”. E, nesse sentido, o objetivo é muito claro: a contabilidade, ao lado de dados quantitativos, também precisa informar dados qualitativos. Vimos isso nos capítulos:

• Conceitos importantes para a aplicação do IFRS e as características qualitativas das demonstrações financeiras.

• A interdisciplinaridade do profissional da contabilidade.

Para formar dados qualitativos, passa a ser imprescindível um contador profundamente integrado na equipe de trabalho da empresa.

Na próxima unidade, você estudará a aplicação das demonstrações contábeis, aspectos comerciais, tributários, financeiros, operações mercantis e investimentos, com o simpático caso das irmãs Josefa e Jussara da Silva.

O objetivo é praticar a interdisciplinaridade entre as disciplinas, ou seja, abordando os diversos aspectos da contabilidade de forma integrada, sem a formação de uma “colcha de retalhos” em que cada disciplina não teria conexão com a outra.