cientista e mulher: entre discursos e … · de fazerem calar as paixões, como o dono que, com uma...
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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13thWomen’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
CIENTISTA E MULHER: ENTRE DISCURSOS E REPRESENTAÇÕES DE
ELISA FROTA-PESSOA
Maria Lucia de Camargo Linhares1
Henrique César da Silva2
Resumo: Como discursos, materializados em textos de divulgação, artigos científicos e entrevistas,
representam as cientistas brasileiras na produção do conhecimento? Esta pergunta pode ser
respondida, em parte, por uma análise a partir da História da Ciência Brasileira, compreendendo o
período de institucionalização da Física no país (1930-1950), com centralidade em Elisa Frota-
Pessoa, física que contribuiu para pesquisas em Raios Cósmicos. É na análise desses textos que se
pode compreender os diferentes discursos que constituem a imagem de Elisa, construindo
representações das atuações não só como Cientista, Professora e Pioneira, mas às vezes apenas
como Mãe e Esposa, compondo uma imagem múltipla. A estratégia usada para apontar essa
multiplicidade consiste em analisar a Escrita de Si (Foucault), ou seja, textos de entrevistas em que
Elisa tem espaço para narrar sua própria história, afirmando sua identidade num processo político
de agir sobre o presente de sua imagem, e outros textos produzidos por autores que falam de Elisa.
Nesses discursos, podemos apontar como os movimentos de resistência e de ressignificação do
imaginário sobre a mulher na ciência se expandem a partir da Escrita de Si e evidenciam
contradições que se articulam com várias ideologias presentes na sociedade. Deste modo, observa-
se como há uma disputa entre os diferentes discursos que constroem representações sobre Elisa,
podendo ser compreendidos como representações gerais sobre as mulheres cientistas no Brasil.
Palavras-chave: Cientista. Mulher. Física. Análise de Discurso.
Neste artigo, trazemos uma análise de como Elisa Frota-Pessoa é representada por si mesma,
em um texto de entrevista (FROTA-PESSOA, 2012), publicado na revista eletrônica Cosmos e
Contexto, e por outros, em um artigo que reúne três homenagens (LIMA et. Al., 2004) prestadas à
Elisa em comemoração aos seus 80 anos, publicado na revista Brazilian Journal of Physics. A
escolha por trabalhar com essas duas textualizações é por falarem diretamente sobre Elisa Frota-
Pessoa e por trazerem diferentes representações sobre a cientista, sendo na entrevista uma
autorresentação de Elisa e nas homenagens são três pessoas diferentes, que conviveram com Elisa,
produzindo representações nos discursos sobre Elisa, podendo mostrar as múltiplas imagens que
constituem esta física brasileira.
1 Mestranda do Programa da Pós Graduação em Educação Científica e Tecnológica (PPGECT) - Universidade Federal
de Santa Catarina, Florianópolis, Brasil. 2 Professor Doutor do Centro de Ciências da Educação e do PPGECT - Universidade Federal de Santa Catarina,
Florianópolis, Brasil.
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Para a análise, trazemos como referencial a Escrita de Si (Foucault, 1992), onde o indivíduo
que se escreve ocupa um espaço de poder sobre suas próprias representações e imagens, trazendo
suas verdades, reinterpretando e deslocando o que já foi dito, ouvido e lido sobre si e sobre outros.
Fazemos, então, uma aproximação entre esta forma de escrita com os relatos autobiográficos
presentes na entrevista, evidenciando as diferenças discursivas quando esta representação é
constituída pelas falas e escritas dos outros, mostrando a importância de se escrever, como um
processo de cuidado de si mesmo, principalmente quando o indivíduo ocupa uma posição na
sociedade que contraria os estereótipos social e culturalmente constituídos (RAGO, 2013).
Neste sentido, escolhemos trabalhar com a figura de Elisa Frota-Pessoa por se tratar de uma
professora, física e pesquisadora pioneira no Brasil, pois foi a segunda mulher a se formar em física,
iniciando sua carreira na década de 1940, trabalhou com pesquisas em Raios Cósmicos,
principalmente no aperfeiçoamento das emulsões nucleares (aparato para a detecção de partículas
subatômicas) e contribuiu para a institucionalização da Física no país, participando da fundação do
Centro Brasileiro de Pesquisas Física (CBPF), onde trabalhou durante vários anos. Junto com a
física Neusa Amato, teve o primeiro artigo científico publicado em nome do CBPF, intitulado
“Sobre a desintegração do méson pesado positivo”.
Portanto, diante da trajetória de Elisa, julgamos importante trazer as suas representações, por
ser uma mulher, brasileira, que, como pioneira, teve de conquistar pouco a pouco seu espaço e sua
autonomia em um cenário majoritariamente masculino. Os textos analisados trazem diferenças
presentes nos discursos que formam as representações da física e professora, contribuindo para
pensarmos em como esta física é constituída e se constrói através dos discursos.
A Escrita de Si por mulheres
Foucault (1992) traz o conceito de Escrita de Si para analisar o papel da escrita na
subjetivação das culturas filosóficas greco-romanas e cristã, evidenciando que essa prática se
desenvolveu de maneiras distintas nessas duas culturas, constituídas por princípios e razões
diferentes. A primeira corresponde, principalmente, as práticas greco-romanas do cuidado de si,
onde o indivíduo escreve para si, ou para o outro, em um trabalho que envolve não só um exame de
sua própria vida e de suas trajetórias, mas também a constituição de sua moral e, principalmente de
sua ética (TAVARES, 2014).
Este cuidado de si está ligado diretamente à ética, uma vez que
no interior de uma cultura muito fortemente marcada pela tradicionalidade, pelo valor
reconhecido ao já dito, pela recorrência do discurso, pela prática “citacional” com a
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chancela da antiguidade e da autoridade, desenvolvia-se uma ética muito explicitamente
orientada pelo cuidado de si para objetivos definidos como: retirar-se para o interior de si
próprio, alcançar-se a si próprio, viver consigo próprio, bastar-se a si próprio, tirar proveito
e desfrutar de si próprio. (FOUCAULT, 1992, p. 138)
Nesta perspectiva, a escrita de si se realiza a partir de um exercício intenso de leitura, de
revisitar as vivências, os sentimentos, os pensamentos e, por fim, realizar a escrita. Ou seja, é um
processo que acontece por práticas de memorizações, exames de consciência, meditações, silêncio
e, também, pela escuta dos outros, podendo levar a uma relação plena de si consigo próprio
(FOUCAULT, 1992). Estes exercícios que antecedem e constituem a escrita tem como fundamento
construir, mesmo que inconscientemente, discursos que evidenciem a verdade no cuidado de si, ou
seja, uma verdade necessária, mesmo quando coloca em risco a própria existência, uma verdade que
se constitui como uma prática política e ética do contar-se (RAGO, 2013).
Este processo de escrita traz a perspectiva de que os pensamentos poderão ser acessados
futuramente, fazendo da memória um mecanismo que proporciona releituras e aconselhamentos de
si próprio, deixando de lado qualquer intenção punitiva ou de busca pelos erros já cometidos.
Assim, o indivíduo torna-se capaz de materializar os seus pensamentos, o que foi dito, lido e ouvido
em uma escrita que, como um documento ou uma prova, revela os exercícios interiores de
autoexame de suas atitudes e vivências cotidianas. Essas memórias e pensamentos escritos podem
ser lidos, relidos, meditados e compartilhados com outras pessoas com o objetivo de serem
utilizados, quando necessários, não só como uma forma de consciência, mas para as outras ações
que se deseje realizar (TAVARES, 2014). Sobre isso, Foucault (1992) explica que
Trata-se de constituir para si próprio um logos boethikos, um equipamento de discursos a
que se pode recorrer, susceptíveis – como diz Plutarco – de erguerem eles próprios a voz e
de fazerem calar as paixões, como o dono que, com uma só palavra, sossega o alarido dos
cães. E para isso é preciso que eles não sejam simplesmente arrumados como num armário
de recordações, mas profundamente implantados na alma, “gravados nela”, diz Séneca, e
que desse modo façam parte de nós próprios: em suma, que a alma os faça não apenas seus,
mas si própria (p. 137).
Logo, essa escrita de si torna-se um importante meio de subjetivação do discurso, que,
diferente das formas de escrita em que o objetivo é alcançar o que não pode ser dito, de revelar o
que está oculto, capta o que já foi dito e, reunindo aquilo que foi lido e ouvido, constitui a si próprio
na escrita (FOUCAULT, 1992). Dessa forma, pode-se dizer que a escrita de si, compreendida como
um cuidado de si e como uma forma de abertura para o outro, é uma atividade essencialmente ética,
na qual o indivíduo se constitui em uma prática de liberdade, e não como forma de sujeição em
práticas disciplinares (RAGO, 2013).
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Já para as práticas da filosofia cristã, a escrita de si traz outros significados que são ligados
diretamente ao poder que o outro exerce sobre a verdade do indivíduo que se escreve. Desse modo,
essa escrita adota a forma de confissões e tem a função de revelar uma verdade que não poderia ser
dita. Muito diferente das práticas greco-romanas de cuidado de si, na cultura cristã a confissão age
como um ato de sacrifício, de revelação da verdade e de renuncia de si perante o seu confessor,
dando, a partir da escrita, poder ao outro e não a si mesmo (TAVARES, 2014). Nesse tipo de escrita
o objetivo não é realizar uma narrativa de si, mas sim confessar as suas verdades, como um ato de
purificação, como uma forma de tirar do interior da alma os movimentos ocultos, para se libertar
(FOUCAULT, 1992). Então, diferente das práticas greco-romana, a forma cristã não tem como
princípio a subjetivação dos discursos, mas sim a sujeição, dando poder a quem lê e não a quem
escreve, deixando o indivíduo subjugado ao outro, passível de manipulação e, ao mesmo tempo,
sedento de liberdade, redenção e purificação.
É a partir da perspectiva greco-romana da escrita de si que Rago (2013) evidencia a escrita
de si de mulheres que sofreram as repressões da ditadura militar brasileira, mostrando que os
discursos autobiográficos delas são capazes de desfazer as linhas da continuidade histórica,
“demonstrando uma preocupação com a reinvenção de si e da ralação com o outro, na perspectiva
ética que abrem a partir das lutas feministas” (Rago, 2013, p.32).
Nessa escrita, as mulheres podem, além de mostrar suas experiências vividas, reinterpretá-
las, evidenciando as marcas que o poder do outro fez em suas vidas e se construindo singularmente
de forma autônoma, sinalizando as vivências mais fundamentais, que precisam ser ditas e
esclarecidas no sentido de combater os valores morais e algumas verdades estabelecidas
socialmente, ou seja, a partir do trabalho sobre si mostrar outras verdades sobre o já dito. Dessa
maneira, Rago (2011) resume o significado da escrita de mulheres na atualidade, que se torna
essencial para o processo de subjetificação: “escrever-se é marcar sua própria temporalidade e
afirmar sua diferença na atualidade” (p.03).
Neste sentido, Rago (2013) utiliza como referencial para o local de escrita os espaços
autobiográficos, que são compreendidos a partir “dos diferentes tipos de narrativas de si, entre
memórias, depoimentos, entrevistas, correspondências, diários ou blogs, que permitem cartografar a
própria subjetividade” (Rago, 2013, p.33). Essas narrativas autobiográficas podem construir
diferentes identidades, que mudam no decorrer dos discursos, se reinventam e são complexas,
revelando-se num processo tanto de sujeição, produzindo uma verdade que é promovida sobre si
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mesmo, quanto num exercício de subjetivação, onde “se se examina criticamente como a pessoa
chegou a ser o que é, em relação aos discursos normalizadores” (Rago, 2013, p. 55).
Sendo assim, essa escrita, que também pode se enquadrar como narrativas autobiográficas, é
um espaço onde as mulheres, ou qualquer outro indivíduo, podem assumir o controle da própria
vida, impondo uma forma e um sentido a ela, e não apenas a representação de uma vida que já
aconteceu, invocando um sentido confessatório e desejando que os leitores apreciem a imagem que
constroem sobre a pessoa, como afirma Tavares (2014), por isso a escrita de si é fundamental para
diferenciar os discursos autobiográficos das autobiografias confessionais tradicionais. Trata-se,
portanto, de “contrapor às imagens que o poder impõe sobre o indivíduo, uma outra imagem de si,
aquela pela qual se quer ser percebido” (Rago, 2011, p.07).
Dessa maneira, trataremos da entrevista como um espaço autobiográfico, pois, também se
constitui como um local em que o indivíduo pode contar suas trajetórias, suas vivências e
reinterpretá-las a partir de suas verdades, mostrando todos os sentimentos e experiências que narram
uma “vida real” ou as diversas interpretações/invenções de si, sendo uma narrativa que muda e
infringe os limites entre os gêneros textuais e discursivos. Além disso, assim como a autobiografia,
a entrevista é capaz de alterar as esferas entre público e privado e pode evidenciar várias vertentes
de pensamentos e ações sociais, culturais e políticas (ARFUCH, 2014). E traremos como o discurso
do outro o texto de homenagem, onde pessoas narram as histórias de vida de outro indivíduo,
falando por ele, assumindo o controle sobre as representações do outro e, portanto, sendo o
contrário da escrita de si, uma escrita do outro sobre o outro, estabelecendo uma forte relação de
poder nas falas, nos discursos e nas representações que aparecem no texto.
A entrevista e a homenagem em contexto
Os materiais selecionados para análise foram uma entrevista, realizada por Mario Novello e
por Maria Borba3, com a professora Elisa Frota-Pessoa, intitulada Elisa Frota-Pessoa, suas
pesquisas com emulsões nucleares e a Física no Brasil, publicada em 2012 na revista eletrônica de
divulgação científica Cosmos e Contexto, que pertence ao CBPF (fundado em 1949 e tendo Elisa
como membro fundadora); e um artigo que traz as homenagens dos professores Carlos Alberto
Lima, Sérgio Joffily e Roberto Salmeron4 à professora, em comemoração aos seus 80 anos de idade,
3 Novello foi aluno de Elisa Frota-Pessoa na extinta Faculdade Nacional de Filosofia – FNFi - e na Universidade de Brasília – UnB e Maria Borba foi orientanda de mestrado de Novello. 4 Carlos Alberto Lima e Sérgio Joffily foram alunos de Elisa na FNFi e na UnB, junto com Mário Novello. E Roberto Salmeron, além de amigo, trabalhou com Elisa na UnB.
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intitulado Homenagem à Professora Elisa Frota-Pessôa, publicado em 2004 na edição especial da
revista Brazilian Journal of Physics, pertencente à Sociedade Brasileira de Física (SBF – 1966).
A entrevista foi realizada em duas etapas: a primeira, em 1990, foi em forma de depoimento,
coletado por duas pesquisadoras do Programa de Estudos e Documentação de Educação e
Sociedade (PROEDES), ligado à Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(UFRJ), contribuindo para a pesquisa e organização do acervo da extinta Faculdade Nacional de
Filosofia (FNFi); a segunda, foi a entrevista realizada pela revista Cosmos e Contexto. Portanto,
este material não possui foco apenas no trabalho e na história de Elisa, mas nas instituições por
onde ela passou, como aluna, professora e fundadora.
Nesta entrevista não estão expostas as perguntas feitas à Elisa, pois foram incorporadas
junto com as respostas ao corpo do depoimento, mas é possível compreender as intencionalidades
dos pesquisadores a partir das falas de Elisa e dos tópicos que dividem o texto para organizar as
falas: Antecedentes e a Universidade do Distrito Federal (UDF); A Faculdade Nacional de Filosofia
e o início do trabalho com pesquisa; Os Seminários Avançados; Depois da graduação – a formação
como pesquisadora; 1948-1949: São Paulo; 1949 – A fundação do CBPF; A criação e a importância
do Conselho Nacional de Pesquisa (CNPq); Os primeiros anos do CBPF; O primeiro trabalho do
Centro – 1950; A Universidade Nacional de Brasília (UNB); O período 1975-77; Os anos seguintes
com Jayme; Reflexão final.
Já o artigo com as homenagens foi composto por falas proferidas na comemoração dos 80
anos de Elisa, realizada durante o XXIV Encontro Nacional de Física de Partículas e Campos, no
ano de 2003. Este artigo está dividido em quatro partes, sendo a primeira subdividida em 6 tópicos.
A primeira parte é a homenagem do Professor Carlos Alberto da Silva Lima (UNICAMP) à
Professora Elisa Frota-Pessoa e têm como tópicos: A importância de ser Elisa; O desafio de
enfrentar e destacar-se “numa profissão de homens”; Ensino e Pesquisa: o binômio imprescindível
para formar uma escola; Garimpando talentos: os alunos da Elisa; Uma carreira de triunfos: a
trajetória científica de Elisa Frota-Pessoa; O repouso da guerreira: a alegria e o orgulho do dever
cumprido. A segunda parte é o Discurso do Professor Sergio Joffily (CBPF) em Homenagem à
Professora Elisa Frota-Pessoa, a terceira parte é o Discurso de Homenagem do Professor Roberto
Salmeron (Escola Politécnica de Paris) à Professora Elisa Frota-Pessoa e a quarta, e última, parte é
o Agradecimento da Professora Elisa Frota-Pessôa (CBPF).
A escrita de si e a escrita do outro
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Para a análise dos discursos de Elisa sobre si e de outros sobre Elisa, foram selecionados
quatro trechos de cada material textual, com o intuito de evidenciar os contrapontos nas
representações de Elisa Frota-Pessoa. Para tanto, os trechos selecionados são os que narram de
modos diferentes os mesmo episódios e acontecimentos biográficos da professora, mas que, por
serem publicações com formatos distintos, entrevista e homenagem, produzem sentidos diferentes
às frases, evidenciando discursos que constituem diferentes representações, como no primeiro
fragmento selecionado. Na homenagem à Elisa coloca-se que:
Elisa iria para a UDF por recomendação de Plínio Süssekind Rocha, seu ex-professor no
ginásio, que reconhecendo suas habilidades assegurou-lhe “Nada de Engenharia, você vai
fazer Física”. (LIMA, 2004, p.1461, grifo nosso)
Já na entrevista de Elisa, ela conta sobre o mesmo evento:
Foi ele (Plínio Süssekind Rocha) quem me disse: “Você não vai fazer Engenharia coisa
nenhuma, você vai fazer Física!”. E eu perguntei: “Mas existe curso de Física?” Ao que ele
respondeu afirmativamente. Eu não sabia que tinha curso de Física. Eu sabia que gostava
de Física e Matemática, mas naquela época tinha a ilusão de que a engenharia tratava destas
coisas. Não tinha muita gente voltada para Física e foi ele quem me chamou a atenção para
isto. (FROTA-PESSOA, 2012, p. 02, grifo nosso)
Nesses dois trechos é possível compreender a existência de dois discursos sobre Elisa: no
primeiro uma mulher submissa, dependente do professor para tomar as decisões de carreira, passiva,
pois não mostra um diálogo, apenas uma aceitação. Esses discursos se materializam, em partes,
nas/pelas palavras em itálico: Quando as palavras “reconhecendo” e “assegurou-lhe” aparecem,
sugerem que Elisa só chegou onde chegou porque seu professor reconheceu suas habilidades e lhe
assegurou que iria fazer Física, ou seja, a escolha e decisão dela, no olha do outro, está relacionado
ao reconhecimento de suas habilidades por seu professor. Como não possui nenhuma resposta dada
por ela, acentua-se a passividade e obediência em aceitar o que seu professor lhe disse.
Porém, no segundo fragmento, há uma mulher mais ativa, que responde e dialoga com seu
professor, que lhe deu uma informação que não possuía, para decidir a carreira que seguiria. Ou
seja, quando mostra a pergunta “Mas existe curso de Física?”, mostra que não há passividade, mas
sim diálogo, para compreender o que não se sabia e quando diz: “Eu sabia que gostava de física” e
“me chamou a atenção para isto”, evidencia que, em seu olhar sobre si, a escolha de qual carreira
seguir tem a ver com o seu gosto, sua afinidade com física e que o professor apenas mostrou um
caminho além do qual ela estava pensando, sendo a decisão final dela, mesmo depois da frase
“Você não vai fazer Engenharia coisa nenhuma, você vai fazer Física!”. Nesses dois trechos é
possível compreender o que Rago (2013) evidencia como reinterpretar as próprias vivências e se
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construir singularmente de forma autônoma, esclarecendo as verdades estabelecidas socialmente a
partir do já dito.
Em outros dois fragmentos, as diferenças nas representações não estão somente ligadas à
Elisa, mas também às instituições. Na homenagem é dito que:
Desde aluna da FNFi, Elisa já reclamava da Inexistência de Laboratórios para o trabalho
experimental na Faculdade. Este reconhecimento da necessidade desta simbiose aula teórica
+ aula experimental era uma obsessão, para ela. Não podia ela compreender o Ensino da
Física Básica sem que os alunos sentissem o desafio pessoal (único e insubstituível) de
realizar experimentos para estudar o comportamento fenomenológico dos materiais sob
diversas condições experimentais e inferir leis Físicas a partir do estudo detalhado dos
resultados. (LIMA, 2004, p.1462, grifo nosso)
Quando Elisa fala de si estão presentes outras explicações para o mesmo evento:
“Na Faculdade o aluno, de um modo geral, ficava isolado da pesquisa. [...]Ele (Costa
Ribeiro) dava aulas teóricas e às vezes dava aulas práticas. Os aparelhos que Gross tinha
conseguido na UDF eram mais orientados para pesquisa dele mesmo e foram usados pelo
Costa Ribeiro. Eram aparelhos caríssimos e não apropriados para estudantes. [...]Os
aparelhos escondiam a Física, porque eram aparelhos em que se regulava o botão, seguindo
as indicações. Então, quando se dava aula, explicava-se qual o princípio do aparelho, mas
era tudo escondidinho, fechadinho numa caixa de botões. Os alunos faziam a aula prática,
mas tinham um acesso limitado aos aparelhos. No CBPF, ao contrário, era tudo descoberto,
as coisas eram improvisadas, o aparelho era montado pelos alunos com improvisação. Eles
sentiam a Física ali, porque tinham que pensar como é que iam fazer o aparelho. Tinha que
ser uma coisa mais simples para ver a Física.” (FROTA-PESSOA, 2012, p. 8, grifo nosso)
As palavras “reclamava” e “obsessão”, no primeiro trecho, sugerem dois sentidos distintos:
um de uma professora e aluna que reclamava e buscava seus objetivos diante o ensino-
aprendizagem por uma obsessão e outro de uma professora, cheia de qualificativos, crítica de sua
realidade educacional e que, diante disso, luta pra mudar as condições tradicionais de um ensino.
Porém, no segundo trecho, da entrevista, está presente um sentido de professora-pesquisadora, de
física experimental, que conhece os instrumentos além de seus aspectos funcionais e que, por suas
vivências, se preocupa com o ensino-aprendizagem no viés da prática e da teoria.
No trecho da entrevista, há, também, a representação de uma instituição ligada diretamente à
representação de Elisa, sem ser possível desvincular esses dois aspectos. Por exemplo, enquanto há
uma imagem dinâmica de comparação entre as práticas dela como professora e os ambientes
proporcionados nas instituições, nas relações com os alunos, também existem elementos que
evidenciam a presença de uma memória discursiva, que é, neste caso, ligada ao feminino, quando
diz “fechadinho numa caixa de botões”. Esta expressão pode ser uma marca da mulher em um
referencia cultural, que também é marcado temporalmente, capaz de produzir sentidos ligados à
esfera pessoal, mas em um ambiente institucional. Neste trecho é possível identificar o que Arfuch
(2014) diz sobre os sombreamentos que existem, em uma autobiografia entre as esferas públicas e
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privadas, uma vez que a vida da Elisa se confunde e se entrelaça com a vida publica institucional,
mostrando indícios de suas vivências, criação e formação.
Em alguns outros momentos Elisa é representada como mãe, a partir da relação entre seu
filho e a pessoa que a homenageia:
Conheci a Professora EFP, ainda que virtualmente, em 1958, através de seu filho Roberto
Frota-Pessoa, quando este (em decorrência da viagem de sua mãe para o “University
College” de Londres nos anos 1958/1959, onde trabalhou com grupo do Professor Eric
Burhop), chegou no internato em que eu estudava. No Colégio Nova Friburgo, Centro de
Estudos Pedagógicos, fomos cobaias de experiências sobre o ensino. Frota, como era
chamado por seus colegas, hoje um renomado Médico-Cirurgião no Rio de Janeiro, gostou
tanto daquele internato que mesmo após o retorno de sua mãe ali permaneceu até o fim do
ginásio. (JOFFILY, 2004, p.1466)
Já no texto da entrevista, há outra representação de Elisa como mãe e cientista:
Quando passei para os segundo ano na Faculdade, peguei o Costa Ribeiro, pois o pessoal
italiano já estava indo embora por causa da guerra. Em meados do ano, fui convidada para
trabalhar com ele em pesquisa. Começamos a trabalhar no mesmo esquema da UDF. Ele
conseguiu com o Carlos Chagas uma salinha e montamos lá nosso laboratório de pesquisas
em radioatividade com aparelhos da Medicina e da FNFi. Começávamos a trabalhar às seis
horas da tarde e acabávamos geralmente às nove horas. [...] Durante todo este tempo eu tive
dois filhos – Roberto Frota-Pessoa e Sônia Frota-Pessoa Valadão de Barros, que neste ano
faz 70 anos. Eu levava as crianças para o laboratório, colocava no berço e dava de mamar
na hora necessária. (FROTA-PESSOA, 2012, p. 8)
Esses dois trechos produzem, novamente, duas representações de Elisa, dessa vez não só
como cientista, mas também como mãe. No primeiro, foca-se na função mãe, mostrando sua
ausência, em alguns momentos, dessa função para ser pesquisadora. Já no segundo trecho há uma
representação diferente, onde a junção das duas imagens, mãe e pesquisadora, aparecem
imbrincadas, ou seja, para poder fazer pesquisas ela levava os filhos para o laboratório e, ao mesmo
tempo, para poder ser mãe ela levava os filhos para o laboratório, mostrando as dificuldades, para as
mulheres, em conciliar a carreira acadêmica com a função de mãe. Neste trecho é possível
reconhecer o que Rago (2013) destaca sobre as diferentes identidades de si, que, neste caso,
evidenciam as mudanças no decorrer dos discursos, produzindo representações diversificadas sobre
Elisa e corroborando para o estabelecimento de um embate em relação aos discursos
normalizadores sobre as posições sociais e culturais que ela ocupa nesse espaço, tanto como mãe,
quanto como pesquisadora e mulher.
Nos dois trechos a seguir, existem representações distintas de Elisa como pesquisadora e,
também, do contexto institucional. No texto de homenagem é relatado que:
Ali começava, brilhantemente, sua carreira, com um trabalho envolvendo dosagem de
minerais radiativos. Sua amostra, oriunda de algumas que Costa Ribeiro obtivera do
Laboratório de Produção Mineral (LPM), no Rio, cuidadosamente examinada, revelou uma
atividade acima de qualquer outra citada na literatura e imediatamente decidiu-se publicar
os resultados. Foi procurar a identificação da rocha no LPM e para sua angústia a ficha do
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mineral havia sido perdida. Em que pese não poder fazer pública externa, ali ficou o
registro do encontro de uma amostra altamente radioativa. (LIMA, 2004, p.1462)
A fala de Elisa na entrevista possibilita uma representação sobre ela relacionada fortemente
a representação institucional:
No Laboratório de Produção Mineral, havia uma porção de minerais que precisavam ser
dosados. Pedi para que me dessem um mineral que eles estivessem interessados em dosar, e
me deram. Fiz a dosagem e os resultados mostraram que era o mais radioativo conhecido
no mundo. Naquele tempo, o mundo todo estava “de olho” em minerais radioativos.
Quando voltei ao Laboratório e apresentei o resultado, pedi a ficha do mineral com o
número que eles haviam me passado, mas ninguém mais sabia nem de onde ele tinha sido
retirado. A ficha tinha sido perdida! Como todos os países estavam interessados em saber
onde havia minerais radioativos, eles tinham espiões para roubar informações deste tipo. O
Laboratório queria que o trabalho saísse, mas foi uma questão política – o mineral sumiu
por algum espião. Sabíamos que ele existia, mas não conseguimos localizá-lo mais.
(FROTA-PESSOA, 2012, p. 04)
Os dois trechos produzem percepções distintas sobre a representação de Elisa no contexto
institucional: No primeiro, a partir da frase “cuidadosamente examinada”, está em evidencia uma
característica que muitas vezes pode ser ligada ao feminino nos sentidos de delicadeza, cuidado e
atenção, produzindo uma representação de Elisa nestes mesmos sentidos, de uma mulher cuidadosa
e preocupada. Já no segundo trecho há outra representação: As palavras “Pedi” e “fiz” produzem o
sentido de uma mulher proativa, dinâmica e comprometida com as pesquisas, diferente da
representação anteriormente citada. Também existe uma diferença em relação a representação do
cenário institucional em que Elisa estava: as palavras “perdida” e “angustia”, estão ligadas a uma
representação institucional e emocional que podem produzir um sentindo de um ambiente apolítico,
em que coisas importantes se perdem sem uma razão exterior, sem uma causa institucional ligadas à
produção acadêmica. Já no trecho da entrevista, está evidente a dimensão política, explicita na frase
“foi uma questão política” e nas outras duas frases “o mundo todo estava “de olho” em minerais
radioativos” e “tinham espiões para roubar informações deste tipo”, ou seja, neste trecho são
produzidas representações de um embate político nas instituições acadêmicas e de pesquisas, onde
objetos importantes não somem, mas são roubados para que outros façam suas publicações antes. O
sentimento aqui também é diferente, não há uma “angústia”, mas sim uma indignação, que pode ser
representada pela frase “A ficha tinha sido perdida!”.
Considerações Finais
Por estas duas publicações possuírem objetivos e características bem diferentes, produzem
sentidos e, consequentemente, representações distintas sobre Elisa Frota-Pessoa. A entrevista,
diferente de um texto de homenagem, é Elisa falando por si, produzindo e controlando, mesmo que
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inconscientemente, suas representações e, por mais que exista um editor e um entrevistador, torna-
se um espaço em que pode falar sobre si, com um papel mais ativo, com falas mais incisivas,
permitindo se expressar com mais liberdade do que em outras formas textuais. Por outro lado, nos
discursos das homenagens, são privilegiados os aspectos positivos do homenageado, contando as
lutas, mas enaltecendo as vitórias, produzindo discursos que remetem a bons momentos, com alguns
poucos obstáculos superados. E por se se tratar de pessoas falando diretamente de Elisa, ela é
representada como uma figura sempre acompanhada, dependente dos outros, mais passiva, com
suas decisões mais diluídas, ou menos relevantes. Suas vivências são reduzidas a frases curtas, pois
o espaço de fala em uma homenagem não é tão amplo que permita contar as histórias de vida de
uma pessoa de forma tão detalhada quanto em uma entrevista ou uma autobiografia.
Portanto, são nos discursos de autorrepresentação de Elisa Frota-Pessoa, que enxergamos as
tentativas de estabelecer outras verdades, aquelas necessárias para combater as verdades instituídas
socialmente, exercendo um poder de libertação dos estereótipos, não só das mulheres na ciência,
mas também do próprio fazer científico. Nesses trechos as verdades revelam o cuidado de si, pois
suas verdades são reinterpretações de uma época já vivida sob o olhar de uma Elisa mais madura,
que já passou por tudo e agora pode falar todo o já dito por uma perspectiva outra, com outro valor
e outros significados, de um outro sujeito.
Por fim, essas falas também trazem uma reinterpretação sobre o já dito, sobre os
personagens que compõem este cenário e sobre o meio científico e institucional. Mostram que o
poder que existe na escrita de si é transformador, pois manifesta outra verdade e outra posição de
sujeito na história. Os discursos quebram noções tidas como verdadeiras em alguns momentos,
como a simplicidade do fazer científico, a função submissa e coadjuvante das mulheres na física, a
tranquilidade existente nas instituições e na política científica das publicações e pesquisas, a
facilidade em ser um “grande” cientista, entre outros.
O que esses discursos revelam, a partir da escrita de si é a complexidade da vida das
cientistas mulheres na Academia e a constante luta por ter uma posição de efeito diante da ciência.
Ao mostrarmos essas diferentes representações, evidenciamos como as textualidades não só
influenciam, mas constroem discursos que irão contribuir com memórias sociais estereotipadas ou
não. Neste sentido, evidenciamos a importância dessas diferentes representações no referencial da
Escrita de Si (Foucault, 1992), onde o indivíduo tem voz e um espaço para contar suas trajetórias,
reinterpretando suas vivências e dando outros sentidos as suas representações, fazendo desse espaço
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de escrita um espaço de luta e resistência diante das representações estereotipadas, proporcionamos
um outro movimento em que podem ser reconhecidos por suas próprias verdades.
Referências
ARFUCH, Leonor. (Auto) biografia, memória e história. Clepsidra. Revista Interdisciplinaria de
Estudios sobre Memoria, Buenos Aires, v. 1, n. 1, março 2014, p. 68-81. Disponível em: <
http://ppct.caicyt.gov.ar/index.php/clepsidra/article/view/CERDA/pdf.>. Acesso em: 17 jun. 2017.
FOUCAULT, Michel. O que é um autor? Lisboa: Passagens, 1992.
FROTA-PESSOA, Elisa. Elisa Frota-Pessoa: suas pesquisas com emulsões nucleares e a Física no
Brasil. Cosmos e Contexto: Revista Eletrônica de Cosmologia e Cultura, Rio de Janeiro, v. 11, n. 1,
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pesquisas-com-emulsoes-nucleares-ea-fisica-no-brasil/>. Acesso em: 17 jun. 2017.
LIMA, Carlos Aalberto da Silva.; JOFFILY, Sérgio; SALMERON, Roberto; FROTA-PESSOA,
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n. 4A, dezembro 2004. p. 1461-1468. Disponível em:
<http://www.sbfisica.org.br/bjp/files/v34_1461.pdf>. Acesso em: 17 jun. 2017.
RAGO, Margareth. Escrita de si, parresía e feminismos. In: VEIGA-NETO, Alfredo; BRANCO,
Guilherme Castelo (Org.). Foucault: Filosofia & Política. Belo Horizonte: Autêntica, 2011. p. 251-
267.
RAGO, Margareth. A aventura de contar-se: feminismos, escrita de si e invenções da subjetividade.
Campinas: Editora Unicamp, 2013.
TAVARES, Derek. Escrita De Si: Uma Ilusão Autobiográfica. Encontro Internacional de Estudos
Foucaultianos: Governamentalidade e Segurança. João Pessoa, n.1, maio 2014. P. 01-13.
Disponível em: <Endereço.>. Acesso em: data.
Scientist and woman: between discourses and representations of Elisa Frota-Pessoa
Astract: How do the discourses, materialized in dissemination texts, scientific articles and
interviews, represent Brazilian scientists in the production of knowledge? This question can be
answered, in parts, by an analysis from the History of Brazilian Science, comprising the period of
institutionalization of Physics in the country (1930-1950), with centrality in Elisa Frota-Pessoa, a
physicist who contributed to Cosmic Ray research. It is in the analysis of these texts that one can
understand the different discourses that constitute the image of Elisa, constructing representations
of the acting not only as Scientist, Teacher and Pioneer, but sometimes only as Mother and Wife,
composing a multiple image. The strategy used to point out these multiplicities consists of
analyzing the Writing of Himself (Foucault), in other words, interview texts in which Elisa can tell
her own story, affirming her identity in a political process of acting on the present of her image, and
others texts produced by authors who talk about Elisa. In these discourses, we can point out how the
movements of resistance and resignification of the imaginary about women in science expand from
the Writing of Himself and evidence contradictions that are articulated with various ideologies
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present in society. In this way, it is observed how there is a dispute between the different discourses
that construct representations on Elisa, being able to be understood like general representations on
the woman scientists in Brazil.
Keywords: Scientist. Woman. Physics. Discourse analysis.