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Page 1: Cientista brasileiro pesquisa genes responsáveis por ... fileCientista brasileiro pesquisa genes responsáveis por acumulação de metais pesados em plantas O tomate é uma planta

                                                                      

Cientista brasileiro pesquisa genes responsáveis por acumulação de metais pesados em plantas 

O tomate é uma planta hiperacumuladora de metais pesados. Descubra como essa capacidade pode influenciar a segurança alimentar. 

O cádmio (Cd) é um metal pesado que, se consumido por seres humanos, pode causar danos  ao  nosso  DNA.  Isso  poderia  se  dar  por  meio  da  ingestão  de  alimentos contaminados. Cientistas pesquisam por que algumas plantas, a exemplo do  tomate, acumulam metais pesados em suas folhas e frutos, caso sejam cultivadas em solos nos quais houve algum depósito desses elementos químicos.  

Uma das instituições que se dedica a essa investigação é a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O estudo gaúcho tem como objetivo  identificar os genes que fazem  com  que  algumas  plantas  absorvam metais  pesados  em  grande  quantidade. Uma  vez  desvendado  esse mecanismo  genético,  a  biotecnologia  poderia  contribuir desativando  esse(s)  gene(s)  de  maneira  que  o  vegetal  não  mais  acumulasse  a substância  tóxica.  Ao mesmo  tempo,  o  entendimento  desse  processo  pode  levar  à recuperação de solos e água contaminados com metais pesados por meio do cultivo de espécies  com  essa  capacidade  de  absorção,  mas  que  não  fazem  parte  da  cadeia alimentar.  

O Conselho de  Informações sobre Biotecnologia conversou com o professor Marcelo Gravina, pesquisador da UFRGS, que falou sobre como a biotecnologia pode ajudar a tornar nossos alimentos mais seguros e recuperar o meio ambiente.  

CIB: Como  os metais  pesados  (que  são  potencialmente  tóxicos)  podem  entrar  em nossa cadeia alimentar? Onde isso acontece com maior freqüência? 

Marcelo  Gravina:  Nas  últimas  cinco  décadas,  devido  ao  uso  mais  intensivo  da mineração,  industrialização e de práticas agrícolas, aumentou também a  liberação na atmosfera  de  elementos  potencialmente  tóxicos.  Entre  essas  liberações  podemos destacar aquelas de metais como o cádmio (Cd) que atingiu 22.000 toneladas, além de cobre  (Cu), chumbo  (Pb) e   zinco  (Zn), com 93.9000, 783.000 e 1.350.000  toneladas, respectivamente. Essa alta carga de metais pesados apresenta‐se como séria ameaça às plantas e aos animais, inclusive aos humanos, pois podem causar danos ao DNA, já que  são  carcinogênicos  (podem  favorecer  o  aparecimento  de  um  câncer).  Os problemas mais graves de contaminação ocorrem em áreas com altas densidades de indústrias e em áreas de mineração. Mas as áreas urbanas e as atividades agrícolas também contribuem muito para elevar os níveis de contaminação. 

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                                                                    CIB: Esse processo de acúmulo de metais pesados acontece  com diversos  tipos de plantas?  Como é a absorção do cádmio (Cd) pelo tomate? 

Marcelo Gravina: Algumas espécies de plantas, conhecidas como hiperacumuladoras, são capazes de acumular nos seus tecidos concentrações de metais de 50 a 500 vezes superiores às plantas em geral. Um sistema eficiente de transportar o metal das raízes para as folhas e a capacidade de concentrar alta quantidade de um determinado metal nos  tecidos  são  fatores  que  garantem  às  espécies  hiperacumuladoras  elevada capacidade de detoxificação do metal (retiram o metal do solo com maior facilidade). Este é o caso do tomate.  

CIB: Como é a absorção do cádmio (Cd) pelo tomate? 

Marcelo  Gravina:  Os  resultados  obtidos  em  nossos  estudos  indicam  que  o  tomate possivelmente apresente mecanismos diferenciados envolvidos na detoxificação deste metal,  fazendo  com  que  as  plantas  acumulem  e  tolerem  altas  quantidades  de  Cd (Cádmio) em  seus  tecidos,  sem comprometer o  seu crescimento e desenvolvimento. Desta  forma, ao  se  cultivar  tomate em uma área  contaminada  com Cd, dificilmente serão observados sintomas de excesso desse metal nas plantas, porém poderá ocorrer um grande acúmulo desse metal pesado nas  folhas da planta e, principalmente, nos frutos, que por ingestão podem ser tóxicos especialmente à saúde humana. 

CIB: Por que seria interessante a análise dos genes do tomate para a absorção do Cd? 

Marcelo Gravina: Estudos mostram que, aproximadamente, 2 a 6% do Cd que entra no corpo humano é efetivamente absorvido, sendo que 95% deste metal entra no corpo por   ingestão de alimentos contaminados. A maior parte do Cd absorvida pelo corpo humano (98%) provém de espécies de plantas terrestres, incluindo as que crescem em solos contaminados, ou da carne proveniente de animais que se alimentaram destas plantas.  Esta  situação  torna‐se  mais  grave  se  for  levado  em  consideração  que  a principal  fonte de acúmulo de Cd no solo provém da aplicação de adubos  fosfatados utilizados intensivamente em lavouras, sendo que 41,3% da deposição de Cd nos solos no mundo decorre da utilização dessa prática agrícola  

De  acordo  com  os  dados  recentes,  ao  se  comer  um  único  fruto  de  tomate contaminado pode‐se ingerir mais de 2,0 mg de Cd. Este valor é 200 vezes superior ao limite crítico aceitável de ingestão diária de Cd por um ser humano. Valores superiores a estes podem  causar  sérios  riscos  à  saúde humana, devendo‐se, portanto, evitar o cultivo de tomate em áreas contaminadas por Cd. 

Muitos genes já foram identificados em plantas com a função de absorção, transporte e acúmulo de metais pesados para a parte aérea. O estudo desses genes em tomate pode auxiliar na compreensão das causas do elevado acúmulo de Cd. 

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                                                                    CIB: Se o tomate tem genes que  fazem com que ele absorva e acumule mais Cd, o que  pode  ser  feito,  do  ponto  de  vista  da  biotecnologia,  para  impedir  que  esse processo aconteça?  

Marcelo Gravina: A biotecnologia  já tem sido usada em um processo denominado de fitoremediação, que é uma  tecnologia que utiliza plantas para  remover,  transformar ou estabilizar contaminantes encontrados na  localizados em água, em sedimentos ou no  solo.  Já  foram  identificadas muitas  espécies  de  plantas  hiperacumuladoras  com potencial  para  fitoremediação.  Estas  espécies  hiperacumuladoras  constituem  um excelente modelo para elucidar os mecanismos  fundamentais envolvidos na ativação dos  genes  que  controlam  a  hiperacumulação  de  metais  no  tomate.  Esses  genes governam processos que podem  aumentar  tanto  a  solubilização dos metais no  solo próximo  às  raízes  como  as  proteínas  transportadoras  que  os  absorvem  e  os transportam  para  as  folhas.  A  descoberta  de  mecanismos  que  possam  reduzir  a atividade desses genes resultará em um menor acúmulo de Cd nos frutos. 

CIB: De onde veio a idéia desse estudo e que vantagens ele traz? 

Marcelo Gravina: A  idéia do estudo surgiu de uma busca de solanáceas, que é família de  plantas  do  tomate,  no  Rio  Grande  do  Sul  que  fossem  importantes  para  a fitorremediação. Um estudo  realizado anteriormente descreveu para a  região Sul do Brasil  87  espécies  nativas  de  solanáceas  somente  do  gênero  Solanum,  ao  qual pertence o  tomate.  Essa  grande  variedade de espécies possibilita  a  identificação de características  de  interesse  agronômico  como  tolerância  a  fatores  abióticos  e resistência a doenças e pragas. Ao estudarmos também o tomate pudemos perceber que a espécie cultivada acumulava mais Cd que as próprias espécies silvestres. Isso foi uma  surpresa, pois pensávamos que aconteceria  justamente o contrário. A partir de então,  passamos  a  procurar  genes  em  tomate  que  seriam  responsáveis  pelo mecanismo  de  acumulação  de  Cd  e  de  estratégias  genéticas  para  evitar  que  essa acumulação ocorresse também nos frutos. 

 

Sobre o CIB ‐ O Conselho de Informações sobre Biotecnologia (CIB), criado no Brasil em 2001,  é  uma  organização  não‐governamental  sem  fins  lucrativos,  cujo  objetivo  é divulgar  informações  técnico‐científicas  sobre  biossegurança,  biotecnologia  e  seus benefícios, aumentando a familiaridade de todos os setores da sociedade com o tema. Na Internet, você pode nos conhecer melhor por meio do site www.cib.org.br. 

O  Conselho  desenvolve  suas  atividades  com  o  suporte  de  profissionais  ligados  aos principais centros de pesquisa, universidades e institutos de cunho científico do País. O grupo hoje é composto por mais de 100 profissionais que atuam em campos distintos do  conhecimento  científico.  Desta  forma,  o  CIB  se  consolidou  como  fonte  para jornalistas,  pesquisadores,  consumidores,  empresas  e  instituições  interessadas  em biotecnologia e biossegurança. 

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