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1 © 2014 Anhanguera Educacional. Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma. Ciências Sociais Tema 4: Identidade Autor: Tarcisio Torres Silva Como citar este material: SILVA, Tarcisio Torres. Ciências Sociais: Identidade. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2014. O tema desta aula tem muito a ver com cada um de nós, pois trata da construção da identidade e nossa relação com os grupos e papéis sociais. Desde quando somos bebês, desenvolvemos a capacidade de reconhecer nossa própria imagem, diferenciando nosso eu do restante do mundo. Além de nos reconhecermos desde bem cedo, é possível afirmar que a construção da identidade também sofrerá a influência de outros elementos de cunho tanto interno quanto externo ao indivíduo. Veremos que para nos entendermos como somos, qual é nosso lugar no mundo e quais são nossos desejos e aspirações, é necessário levar em consideração também a influência do meio social em que vivemos e dos fluxos de informação produzidos pelos meios de comunicação e pela globalização. O conceito de identidade O psicanalista Jacques Lacan percebeu, observando seu filho de seis meses, que ele tinha a capacidade de reconhecer sua própria imagem. Notou que a criança conseguia, por meio de gestos e mímica, diferenciar-se de outra criança, assim como do adulto que a sustentava. A este processo o autor chamou de “o estádio do espelho” e constatou que o ser humano carrega consigo a matriz simbólica do Eu que o acompanha por toda a vida. Essa consciência de si mesmo faz com que o ser humano possa, desde as fases iniciais de sua vida, identificar também os outros, que serão uma referência exterior diferente de si próprio. Como veremos a seguir, os outros, que podemos entender, grosso modo, como a sociedade como um todo, são parte também da construção do eu, pois servem como referência e identificação. É nessa dicotomia entre o eu e o outro que se dará a construção da identidade. Observamos assim que a formação da personalidade não diz respeito apenas ao eu, mas também ao mundo que o circunda. Ela é fruto da relação entre o indivíduo e a sociedade.

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1© 2014 Anhanguera Educacional. Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua portuguesa ou qualquer outro idioma.

Ciências Sociais Tema 4: Identidade

Autor: Tarcisio Torres Silva

Como citar este material:SILVA, Tarcisio Torres. Ciências Sociais: Identidade. Valinhos: Anhanguera Educacional, 2014.

O tema desta aula tem muito a ver com cada um de nós, pois trata da construção da identidade e nossa relação com os grupos e papéis sociais. Desde quando somos bebês, desenvolvemos a capacidade de reconhecer nossa própria imagem, diferenciando nosso eu do restante do mundo.

Além de nos reconhecermos desde bem cedo, é possível afirmar que a construção da identidade também sofrerá a influência de outros elementos de cunho tanto interno quanto externo ao indivíduo.

Veremos que para nos entendermos como somos, qual é nosso lugar no mundo e quais são nossos desejos e aspirações, é necessário levar em consideração também a influência do meio social em que vivemos e dos fluxos de informação produzidos pelos meios de comunicação e pela globalização.

O conceito de identidade

O psicanalista Jacques Lacan percebeu, observando seu filho de seis meses, que ele tinha a capacidade de reconhecer sua própria imagem. Notou que a criança conseguia, por meio de gestos e mímica, diferenciar-se de outra criança, assim como do adulto que a sustentava. A este processo o autor chamou de “o estádio do espelho” e constatou que o ser humano carrega consigo a matriz simbólica do Eu que o acompanha por toda a vida.

Essa consciência de si mesmo faz com que o ser humano possa, desde as fases iniciais de sua vida, identificar também os outros, que serão uma referência exterior diferente de si próprio. Como veremos a seguir, os outros, que podemos entender, grosso modo, como a sociedade como um todo, são parte também da construção do eu, pois servem como referência e identificação. É nessa dicotomia entre o eu e o outro que se dará a construção da identidade.

Observamos assim que a formação da personalidade não diz respeito apenas ao eu, mas também ao mundo que o circunda. Ela é fruto da relação entre o indivíduo e a sociedade.

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Figura 4.1 – Bebê olhando-se no espelhoDisponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/Category:Babies#mediaviewer/File:Mirror_baby.jpg>.

Acesso em: 9 jun. 2014.

Construir uma identidade dá ao indivíduo a sensação de pertencimento que lhe auxilia a se entender e entender-se no mundo. Para Cristina Costa (2010, p. 84), a identidade é “a possibilidade de, em certas circunstâncias, vencer as oposições que existem entre nosso mundo interior e o meio circundante, percebendo este como nosso prolongamento e a nós próprios como parte dele”.

Como se pode notar, a influência do meio na construção da identidade do indivíduo mostra que aspectos culturais também interferem na personalidade dos sujeitos. É um processo completo, mas mostra como algumas coisas dadas como próprias da individualidade do sujeito podem ser fruto também do meio em que ele vive.

Estudos sobre os sonhos desenvolvidos por diversos pesquisadores mostram justamente isso. O sonho, proveniente da memória individual, carrega traços de influência do meio em que está o indivíduo.

Um desses estudos foi feito por José de Souza Martins na cidade de São Paulo. 180 habitantes da cidade descreveram seus sonhos ao pesquisador e sua equipe. Eles constataram que boa parte dos sonhos trazia menções a sensações de medo, insegurança e mal-estar, refletindo, portanto, a experiência que carregam por viverem numa cidade como essa. Além disso, os pesquisadores cruzaram essas narrativas dos sonhos com crenças e valores que carregam os indivíduos. Dessa vez constaram que, dependendo da religião, por exemplo, o entrevistado interpreta seus sonhos de uma determinada maneira.

Portanto, os sonhos também são importantes para a construção da identidade, pois dizem respeito a um processo psíquico que almeja a completude do Eu, além de auxiliar o indivíduo a elaborar suas experiências vividas durante o período de vigília.

Além dos sonhos, será importante também, na elaboração da identidade, o papel do outro. Tudo que praticamos socialmente leva sempre em consideração a figura do outro. Nossas ações são

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sociais somente na medida em que um outro motiva essa nossa ação. É no outro que se dá a aprovação ou a reprovação de nosso comportamento. Como coloca Cristina Costa (2010, p. 87), “é no olhar do outro que encontramos a nós mesmos e podemos ver refletida nossa ação. É no outro que a ação repercute, tornando-a visível para nós mesmos. O outro é o espelho permanente no qual nos miramos e tomamos consciência de nossos acertos e erros”.

Essa relação de aceitação e reprovação ajuda aos poucos a moldar nossa personalidade. É por meio dela que vamos nos entendendo como parte de um grupo, assim como aprendemos a conviver melhor socialmente.

O caso do garoto alemão, Kaspar Hauser, que foi deixado numa praça em Nuremberg, em 1828, ficou famoso. Por razões misteriosas, o menino cresceu sem nenhum tipo de convivência social até a idade de 15 anos. Quando foi finalmente acolhido, aprendeu a falar e a conviver socialmente. Porém, acabou sendo assassinado, provavelmente por causa da intolerância de alguns com relação ao comportamento atípico do rapaz.

Figura 4.2 – Representação de Kaspar Hauser.Fonte: Domínio público. Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/Kaspar_Hauser#mediaviewer/

File:Kaspar_hauser.jpg>. Acesso em: 6 jun. 2014.

A história foi filmada por Werner Herzog com base em documentos históricos, em 1974. O filme, que leva o mesmo nome do seu personagem principal, mostra os questionamentos de Kaspar em relação a coisas que para outras pessoas são tidas como dadas. Durante o longa, ele questiona, por exemplo, porque as mulheres lavam a louça enquanto os homens conversam na sala de estar. Ou ainda, questiona noções de dentro-fora ou mesmo a possível inteligência de elementos da natureza, como as maçãs. Em linhas gerais, a história mostra a impossibilidade do sujeito desenvolver sua identidade sem o contato com o outro.

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Saiba Mais!

Pôster do filme O Enigma de Kaspar Hauser.

O Enigma de Kaspar Hauser. Alemanha: Dir. Werner Herzog. 1974. Drama. 110 min.

Um homem jovem chamado Kaspar Hauser (Bruno S.) aparece de repente na cidade de Nuremberg, em 1828, e mal consegue falar ou andar, além de portar um estranho bilhete. Logo se descobre que sua aparição misteriosa se deve ao fato de que ele ficou trancado por toda a sua vida em um cativeiro, desconhecendo a existência exterior. Quando ele é solto nas ruas sem motivo, muitas pessoas decidem ajudá-lo a se integrar na sociedade, mas rapidamente Kaspar se transforma em uma atração popular.

(Sinopse Adoro Cinema – <www.adorocinema.com>.)

Norbert Elias (1994) mostra no livro A sociedade dos indivíduos que, ao longo do desenvolvimento das sociedades, os indivíduos foram se desprendendo dos modelos de sociedades tradicionais (mais limitantes do ponto de vista das escolhas que o sujeito pode fazer) rumo à liberdade própria da vida nas sociedades modernas. A estrutura das cidades nas sociedades industriais e o desenvolvimento da tecnologia permitiram maior desenvolvimento das individualidades, pois aumentaram as diferenças e a proliferação de grupos.

Portanto, o que notamos até esse momento é essa interdependência existente entre o indivíduo e a sociedade. O primeiro não se desenvolve sem ela e vice-versa.

Identidade hoje

E já que falamos das sociedades modernas e industriais, como fica a identidade hoje, no mundo globalizado em que vivemos?

O fato é que em função da proliferação dos meios de comunicação, o advento da indústria cultural e a globalização em si, aspectos antes ligados a uma identidade mais local vão ficando difusos e mais complexos.

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Para Stuart Hall (apud COSTA, 2010, p. 115), esse processo gera o abandono das crenças tradicionais e da visão de um mundo estável e resistente às mudanças. Assim, se por um lado acontece a homogeneização da cultura, fruto da padronização promovida pelos meios de comunicação e a indústria cultural, por outro acontecem também movimentos de resistência cultural.

Essa contraposição leva os indivíduos a uma crise de identidade. Como resultado, observa-se a busca por algo que sustente a sua identidade, por mais passageira e efêmera que essa identificação seja. A participação em movimentos sociais, discurso político ou mesmo a adesão de costumes exóticos (na alimentação, nos esportes, nas práticas espirituais) são alguns desses exemplos.

Muitos movimentos sociais que vemos crescendo hoje podem estar relacionados com a busca por uma identidade. Vamos lembrar, por exemplo, das manifestações que aconteceram no Brasil em junho de 2013.

Figura 4.3 – Manifestação contra o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo, junho de 2013.Fonte: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File%3ASe_a_tarifa_nao_baixar.jpg>. Acesso em: 6 jun. 2014.

Inicialmente, o movimento foi liderado pelo MPL (Movimento do Passe Livre) em São Paulo como uma reivindicação pela redução no preço da passagem do transporte público. Em seguida, muitos outros temas entraram na pauta, tais como o combate à corrupção, melhoria da condição de trabalho dos professores, fim da violência, dos impostos e até mesmo dos partidos políticos. Mais recentemente, a pauta voltou-se para a realização da Copa do Mundo no Brasil, seus excessos e suas contradições.

O que muitos críticos apontaram é que em um determinado momento o movimento tinha perdido sua identidade, em função dessa proliferação de temas. Pois bem, pode ser, mas por outro lado isso mostra que os manifestantes estão em busca de um lugar no mundo e a abertura de um espaço para manifestação faz com que eles escolham aquilo com que mais se identificam e “vistam a camisa” dessa causa. É somente num processo democrático, realizado num país livre e liberal, que é possível assistirmos a essa amplitude de temas em discussão ainda que, como colocam alguns, sem muita fundamentação ou propostas efetivas.

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Saiba Mais!

Pôster do filme Junho.

Junho, o mês que abalou o Brasil. Brasil: Dir. João Wainer. 2013. Documentário. 110 min.

O documentário mostra as manifestações que tomaram conta das ruas em diversas cidades do Brasil em junho de 2013. Tudo começou em São Paulo, quando a população organizou uma passeata contra o aumento das tarifas do transporte público. As reivindicações aumentaram, havendo protestos contra a corrupção, falta de serviços públicos e gastos excessivos com a Copa do Mundo. O movimento evoluiu e ganhou dimensão nacional, a ponto de levar mais de um milhão de pessoas às ruas.

(Sinopse Adoro Cinema – <www.adorocinema.com>.)

Além dessas pautas difusas que observamos no Brasil, é possível identificar ainda outros movimentos mais organizados que têm possibilitado também a formação de identidades no mundo contemporâneo. Surgem como um leque de possibilidades disponíveis aos indivíduos que carecem de uma identidade mais bem estabelecida. Entre eles, podemos citar o ambientalismo, o fundamentalismo e a identidade de gênero.

Segundo Cristina Costa (2010, p. 110), o ambientalismo é um movimento político e ideológico que se proliferou a partir da década de 1960 como resultado do amplo desenvolvimento tecnológico mundial naquele momento, assim como da globalização, o que ampliou o sentimento de responsabilidade individual pelas transformações ambientais do planeta. Muitas ONGs lidam diretamente com essa causa, tais como o Greenpeace e a WWF.

O fundamentalismo diz respeito à devoção tradicionalista das religiões por meio de práticas que beiram o fanatismo. O suporte identitário está justamente na sensação de conforto, refúgio e abrigo que essas doutrinas trazem. O fundamentalismo pode estar presente em qualquer prática religiosa, seja de evangélicos, católicos, islâmicos, espiritualistas ou judeus. Por estar ligado às tradições, o fundamentalismo vai se contrapor a ideias mais modernas ligadas à ciência, ao evolucionismo, ao estado laico, à liberação de costumes e à emancipação feminina. Em função disso, representa forte fator de influência em crises que envolvem hoje a representação nos Estados e as relações envolvendo o moderno e o tradicional.

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Finalmente, cresce também a interligação entre a identidade e o gênero. Com a crise da família patriarcal, aquela liderada somente pelo homem, as mulheres foram, principalmente ao longo do século XX, ganhando mais espaço na democracia, nas escolas e no ambiente de trabalho. Isso fez com que não só o feminismo ganhasse força, como também abrisse espaço para outros movimentos baseados na identidade sexual ou de gênero, como o lesbianismo e o movimento gay. Sem mais a necessidade de cumprir um papel social único relativo ao seu sexo (masculino ou feminino), as pessoas hoje têm mostrado novas formas de identidade que não se identificam com esses papéis formais da sociedade tradicional, mas com outras maneiras de ser que vão aos pouco sendo criadas.

Saiba Mais!

Para entender um pouco mais sobre o feminismo no mundo contemporâneo, indicamos o filme a seguir, que conta a história de uma banda russa punk composta só por mulheres. Através das letras de suas músicas e suas performances em lugares públicos, o grupo chamou a atenção da mídia internacional para as políticas de intolerância e repressão do governo russo.

Pôster do filme Pussy Riot.

Pussy Riot, a punk prayer. Reino Unido/Rússia: Dir. Mike Lerner, Maxim Pozdorovkin. 2013. Documentário. 88 min.

Este documentário acompanha o julgamento do grupo de punk rock Pussy Riot, conhecido pelas performances ousadas e militantes. Após um ato contra os governantes russos na catedral de Moscou, as integrantes do grupo foram condenadas e presas, e nem a forte pressão efetuada pela comunidade internacional conseguiu liberá-las. O filme acompanha o jogo de forças por trás do caso, analisando os pontos de vista de diversas pessoas envolvidas.

(Sinopse Adoro Cinema – <www.adorocinema.com>.)

Assim, por meio desses exemplos, podemos perceber que o estabelecimento de identidades passa por uma crise ainda sem data para acabar. Notamos a vulnerabilidade dos indivíduos em busca de

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uma identidade. Ao mesmo tempo, verificamos ser este um caminho que pode ser libertário, pois nunca foram tão amplos os caminhos para que alguém seja o que realmente deseja.

Estádio do espelho: Momento em que o bebê se reconhece como um ser inteiro. Percebe na imagem do espelho que não é mais a continuidade do corpo da mãe, sendo assim, é nesse momento que se torna sujeito e passa a interagir com o mundo tendo como referência a própria imagem.

Feminismo: Movimento social, filosófico e político que visa à equiparação entre os gêneros através do empoderamento feminino. Teve início no século XIX, momento em que as mulheres buscavam principalmente maior participação política por meio do voto (sufrágio). Em função disso, as primeiras feministas também eram chamadas de “sufragetes”. Depois desse momento inicial, as feministas lutaram (e continuam lutando) por diversas causas, tais como: direitos reprodutivos, proteção contra a violência doméstica e o assédio sexual, direitos trabalhistas, entre outras.

Jacques Lacan (1901-1981): Psicanalista francês que fez uma releitura da obra de Freud. Em sua obra, utiliza de diversas referências, entre elas o estruturalismo (Lévi Strauss), a linguística (Saussure), a filosofia (Sartre), além da matemática (topologia e lógica).

MPL (Movimento Passe Livre): Movimento social brasileiro que busca a desmercantilização do transporte coletivo no país. Foi fundado em uma plenária no Fórum Social Mundial de 2005, em Porto Alegre. Obteve grande destaque na mídia em junho de 2013, quando foi apontado como um dos principais movimentos das manifestações de rua no país naquele ano.

Resistência cultural: Manifestação cultural que se contrapõe à cultura hegemônica. Quando se entende a relação entre as culturas como uma relação de poder, é comum que se note dentro de um contexto cultural, em que predomina certa cultura, outras formas culturais que resistem a um determinado discurso, comportamento ou modo de vida. Desde os quilombos, passando pelas culturas populares, até os recentes movimentos de subculturas, o que se observa são manifestações culturais que resistem a determinados padrões predominantes.

Instruções

Agora, chegou a sua vez de exercitar seu aprendizado. A seguir, você encontrará algumas questões de múltipla escolha e dissertativas. Leia cuidadosamente os enunciados e atente-se para o que está sendo pedido.

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Questão 1

Sobre o “estádio do espelho” é correto afirmar que:

a) Ocorre toda vez que um ser humano, adulto ou criança, se vê diante do espelho.

b) Refere-se ao momento em que a criança adquire linguagem verbal (fala).

c) Diz respeito ao momento em que o bebê se reconhece como um ser inteiro.

d) Comum entre as pessoas que passam por crise de identidade ao longo da vida.

e) Compreende a fase de puberdade na adolescência.

Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito.

Questão 2

Quando Cristina Costa (2010, p. 87) nos diz que “é no olhar do outro que encontramos a nós mesmos e podemos ver refletida nossa ação. É no outro que a ação repercute, tornando-a visível para nós mesmos. O outro é o espelho permanente no qual nos miramos e tomamos consciência de nossos acertos e erros”:

Podemos entender o “outro” como aquele que exerce que tipo de influência sobre a identidade?

a) Política.

b) Psicológica.

c) Social.

d) Antropológica.

e) Cultural.

Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito.

Questão 3

Nos processos de construção de identidade contemporâneos, notamos uma busca incessante dos indivíduos por participar de práticas que deem sentido às suas vidas e que colaborem para afirmá-los enquanto sujeitos. Podemos considerar exemplos dessas práticas todos os casos a seguir, exceto:

a) Participação em movimentos sociais.

b) Identificação com subculturas.

c) Adesão a costumes exóticos na alimentação.

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d) Prática de esportes orientais.

e) Intensificação na compra de bens de consumo de massa.

Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito.

Questão 4

Cite três exemplos de movimentos organizados que têm possibilitado a formação de identidades no mundo contemporâneo e suas principais características.

Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito.

Questão 5

Segundo o texto, qual a relação existente entre as manifestações de junho de 2013 no Brasil e as transformações que ocorrem com as identidades contemporâneas?

Verifique a resposta correta no final deste material na seção Gabarito.

Nesta aula estudamos alguns dos principais elementos que contribuem para a construção das identidades no mundo contemporâneo. Vimos que a identidade sofre influência não só de fatores internos, mas também de elementos culturais e sociais.

E você, já pensou na forma como está dia a dia construindo sua identidade? Identificou-se com algumas dessas práticas que foram mencionadas? Pense sobre isso, pois na próxima aula iremos falar sobre um dos fatores responsáveis pela reorganização das identidades no mundo contemporâneo: os meios de comunicação e a sociedade midiática.

COSTA, Cristina. Sociologia: questões da atualidade. São Paulo: Editora Moderna, 2010.

ELIAS, Norbert. A sociedade dos indivíduos. Rio de Janeiro: Zahar, 1994.

JUNHO, o mês que abalou o Brasil. Dir. João Wainer. Brasil: 2013. Documentário. 110 min.

O ENIGMA de Kaspar Hauser. Dir. Werner Herzog. Alemanha: 1974. Drama. 110 min.

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PUSSY Riot, a punk prayer. Dir. Mike Lerner, Maxim Pozdorovkin. Reino Unido/Rússia: 2013. Documentário. 88 min.

Questão 1

Resposta: Alternativa “C”.

O estádio do espelho acontece na fase em que a criança (em torno de seis meses) se reconhece no espelho.

Questão 2

Resposta: Alternativa “C”.

O “outro” é entendido aqui como a influência do meio social na construção da identidade de uma pessoa.

Questão 3

Resposta: Alternativa “E”.

O consumo de produtos de massa comuns não pode ser visto como uma prática que contribui para a diferenciação das identidades. Da forma como apresentado nesta aula, essas práticas procuram diferenciar os indivíduos dos demais.

Questão 4

Resposta: Os exemplos citados no texto são o ambientalismo, o fundamentalismo e a identidade de gênero. Também podem ser citados os movimentos sociais globais, a politização das redes sociais e o feminismo (como um elemento mais específico das transformações que ocorrem com relação à identidade de gênero).

Questão 5

Resposta: O texto mostra que os manifestantes no Brasil estão em busca de um lugar no mundo e a abertura de um espaço para manifestação faz com que eles escolham aquilo com que mais se identificam e “vistam a camisa” dessa causa. Apesar da amplitude de causas que vieram à tona naquele momento, é possível dizer que a reação em cadeia aos problemas de transporte público no Brasil é indício de um certo incômodo generalizado por parte da população, que criou na figura do “manifestante” uma identificação, ainda que passageira, que deu vazão às suas insatisfações.