ciências humanas - ficha 115 -...

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Curso Pré-ENEM Ciências Humanas ê H i i i i i iê ê ê ê ê ên n n n n nc c c c ci i i i i ia a a a a as s s s s H H H H H Hu u u u um m m m m ma a a a a an n n n n na a a a a as s s s s i i i i i i i i iê ê ê ê ê ê ê ê ê ê ê ê ê ên n n n n n n n n n nc c c c ci i i i i i i i i i ia a a a a a a a a a a a a as s s s s s s H H H H H H H H H Hu u u u u u u u um m m m m m m m m m m m ma a a a a a a a a a a a a a an n n n n n n n n n na a a a a a a a a a a a a as s s s s s s E E E S S SU U UA A AS S S T T T E E S S SU UAS T T E E E S S SU U UA A A AS S S T T T T E E E E S S S S S SU U U U UA A A A A A AS S S S S T T T T T T C E E EC C C E EC E E EC C C E E E E E EC C C C N N N NO O OL L LO O OG G GI IA A AS S S N NO OLO OG GIAS N N N NO O OL L LO O OG G GI IA A A AS S S N N N N N N NO O O O OL L L L L LO O O OG G G GI I I I I I I IA A A A A A AS S S S S Ficha de Estudo Ficha de Estudo 115 115 Tema Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade. Tópico de estudo História cultural dos povos africanos. A luta dos negros no Brasil e o negro na formação da identidade brasileira. Entendendo a competência Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade. Essa competência refere-se à capacidade de perceber a associação entre os eventos históricos e as lutas e conquis- tas da cidadania. Desvendando a habilidade Habilidade 25 – Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social. A habilidade 25 significa que o estudante deverá ser capaz de perceber as várias formas de mobilização da socieda- de no sentido de garantir a todos o pleno exercício das liberdades individuais e da cidadania. Situações-problema e conceitos básicos Negros e cidadania no Brasil 1988 foi um ano muito especial. Fazia pouco tempo que o Brasil havia recuperado a democracia, depois de um longo e tenebroso período governado por generais de verde oliva. Até o fim daquele ano, os meios de co- municação, liberados de qualquer arranjo de órgãos censores, iriam transmitir, publicar e comentar uma cena memorável protagonizada pelo então presidente do Congresso Nacional, o deputado Ulysses Guimarães, que levantava a nova Constituição brasileira acima da cabeça calva como um troféu, como uma nova taça Jules Rimet, feita de papel e de garantias civis. Foi alegria nacional só comparável a título de Copa do Mundo, ano novo com foguetório na praia e carnaval. Em 1988 comemoraram-se também os cem anos do fim da escravidão. Além das festividades oficiais, con- gressos, simpósios e livros acadêmicos para louvar a assinatura da Lei Áurea, a escola de samba Unidos da Vila Isabel, do Rio de Janeiro, fez a festa da Kizomba, em homenagem a Zumbi dos Palmares. A letra era mais ou menos assim: Valeu Zumbi! O grito forte dos Palmares. Que correu terras, céus e mares, Influenciando a abolição. Zumbi valeu! Hoje a Vila é kizomba É batuque, canto e dança, Jongo e maracatu. (...)

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Curso Pré-ENEM Ciências Humanas

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115Ficha de EstudoFicha de EstudoFicha de Estudo 115115

Tema

Diversidade cultural, conflitos e vida em sociedade.

Tópico de estudoHistória cultural dos povos africanos. A luta dos negros no Brasil e o negro na formação da identidade brasileira.

Entendendo a competênciaCompetência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e

da democracia, favorecendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.

Essa competência refere-se à capacidade de perceber a associação entre os eventos históricos e as lutas e conquis-

tas da cidadania.

Desvendando a habilidadeHabilidade 25 – Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.

A habilidade 25 significa que o estudante deverá ser capaz de perceber as várias formas de mobilização da socieda-

de no sentido de garantir a todos o pleno exercício das liberdades individuais e da cidadania.

Situações-problema e conceitos básicosNegros e cidadania no Brasil

1988 foi um ano muito especial. Fazia pouco tempo que o Brasil havia recuperado a democracia, depois de um longo e tenebroso período governado por generais de verde oliva. Até o fim daquele ano, os meios de co-municação, liberados de qualquer arranjo de órgãos censores, iriam transmitir, publicar e comentar uma cena memorável protagonizada pelo então presidente do Congresso Nacional, o deputado Ulysses Guimarães, que levantava a nova Constituição brasileira acima da cabeça calva como um troféu, como uma nova taça Jules Rimet, feita de papel e de garantias civis. Foi alegria nacional só comparável a título de Copa do Mundo, ano novo com foguetório na praia e carnaval.

Em 1988 comemoraram-se também os cem anos do fim da escravidão. Além das festividades oficiais, con-gressos, simpósios e livros acadêmicos para louvar a assinatura da Lei Áurea, a escola de samba Unidos da Vila Isabel, do Rio de Janeiro, fez a festa da Kizomba, em homenagem a Zumbi dos Palmares. A letra era mais ou menos assim:

Valeu Zumbi!O grito forte dos Palmares.Que correu terras, céus e mares,Influenciando a abolição.

Zumbi valeu!Hoje a Vila é kizombaÉ batuque, canto e dança,Jongo e maracatu. (...)

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E mais adiante:

Sacerdote ergue a taçaConvocando a massaNeste evento que congraçaGente de todas as raçasNuma mesma emoção. Esta kizomba é nossa Constituição!Esta kizomba é nossa Constituição! (...)

“Esta kizomba é nossa Constituição!”, disse o compositor popular. Segundo o pesquisador e sambista Nei Lopes no seu “Novo Dicionário Banto do Brasil”, Quizomba – com Q ou K, tanto faz – vem do idioma quimbundo, e quer dizer festa. Ou seja, o que milhares de pessoas cantavam na Sapucaí naquele ano já distante de 1988 era a festa das liberdades, conquistadas de muitas maneiras e celebradas do jeito que nós brasileiros mais gostamos de fazer: com Carnaval.

Não foi fácil lutar pelos direitos civis no país dos coronéis do cabresto, dos doutores do diploma e dos generais da escopeta. Particularmente os negros, que nessa terra chegaram escravos e viveram séculos de humilhação e preconceito, demoraram muito até conquistar respaldo legal, reconhecimento e respeito da sociedade e do Esta-do brasileiros.

Apesar de a Lei Áurea assinada em 13 de maio de 1888 ter sido um inquestionável marco da liberdade no Bra-sil, existem duas questões que não podem ser esquecidas: a primeira é que as boas intenções da filha do Impera-dor não devem fazer sombra aos quase quatrocentos anos de lutas desesperadas e heroicas dos negros contra a escravidão. A segunda, é que liberdade sem plenos direitos de cidadania pode ser só mais uma forma disfarçada de escravidão. Veja o que disse a Lei:

“Declara extinta a escravidão no Brasil: A Princesa Imperial Regente, em nome de Sua Majestade o Impera-dor, o Senhor D. Pedro II, faz saber a todos os súditos do Império que a Assembleia Geral decretou e ela sancio-nou a lei seguinte: Art. 1o: É declarada extinta desde a data desta lei a escravidão no Brasil. Art. 2o: Revogam-se as disposições em contrário. Manda, portanto, a todas as autoridades, a quem o conhecimento e execução da referida Lei pertencer, que a cumpram, e façam cumprir e guardar tão inteiramente como nela se contém.”

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Antes do documento assinado pela Princesa Isabel, outros artifícios legais já tinham sido implementados, no esforço de resolver o assunto da mão de obra escrava. As mais conhecidas foram: (i) a Lei no 2.024, ou ‘Lei do Ven-tre Livre’, de 28 de setembro de 1871 – que declarava libertos todos os negros nascidos no Brasil a partir daquela data; e (ii) a Lei no 3.270, ou Saraiva Cotegipe, de 1885 – também chamada ‘Lei dos Sexagenários’, que promovia a “extinção gradual do elemento servil”. Foram passos importantes, porém insuficientes para a conquista da li-berdade plena do negro no Brasil.

Então talvez seja importante pensar em uma palavra: ‘resistência’. Resistência que vem de resistir, ‘fazer opo-sição’, ‘lutar contra alguma coisa ou alguém’. Mas resistir também é ‘sobreviver’, ‘perpetuar’. A resistência do negro brasileiro cumpriu essas duas vocações, e qualquer reforma legal que o Estado tenha realizado nos últimos cem ou cento e cinquenta anos é necessariamente tributária dela. Dizendo de outra maneira, não foi a bondade das instituições públicas ou o esforço pessoal de figuras notáveis da história que garantiram direitos aos negros. Não! Ao contrário, foi a luta do negro que criou as condições sociais, políticas e ideológicas que mudaram as leis, dobraram as convenções das elites brancas. É essa luta vem conseguindo o reconhecimento do legado e das tradições culturais desse povo.

Um pensador alagoano, Arthur Ramos, escreveu em 1934 que o “negro no Brasil é um elemento civilizador”. Em outras palavras, ele diz que o negro trazido da África pela violência do tráfico e da escravidão, não chegou nessas terras de Santa Cruz como mera e passiva mão de obra. Ramos lembrava as inúmeras contribuições das culturas da diáspora para a formação da identidade nacional do Brasil: a religião, a culinária, a dança, a música, a indumen-tária etc. Além de coisas até mais difíceis de explicar, como os gestos, a alegria e o idioma; coisas tão presentes em nossas vidas que é mesmo impossível não considerá-las. Quer ver um bom exemplo disso? Em 2007 a Editora Pallas publicou um livrinho infantil delicioso chamado “Falando Banto”. Nele os dois autores, Eneida Gaspar e Victor Tavares, se valeram quase exclusivamente de palavras de origem banto para mostrar como nós usamos esse idioma em nosso cotidiano, muitas vezes sem saber. Palavras já incorporadas, nossas também. Olhe só:

“Quitutes

A quitanda tem moganga,coco, quiabo e dendê.Tem fubá, farofa e guando,maxixe, inhame, jiló,manjericão, mocotó.A quituteira foi lá.Fez tereco e quibabá,

tutu, curau e pirão,sarapatel, pururuca,angu, quibebe, quindim,fez moqueca e mungunzá.Tem cachaça na moringa.Tem cocada na cabaça.A cambada, empanzinada, zonza, bambeia e babau...”

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Então? Quantas palavras você reconheceu? Quantas você usa com frequência? Quantas você come?

Várias formas de mobilização social têm contribuído para preservar as culturas, as tradições e o legado dos negros à civilização brasileira nas últimas décadas. Desde Abdias Nascimento – herói nacional do tamanho de Zumbi e Chico Rei, fundador do movimento negro no Brasil dos anos 1930 – até o Projeto Olodum, o Projeto Axé, o Jongo da Serrinha, entre tantos outros, a sociedade brasileira conquistou bastante. A Constituição de 1988 garantiu direitos e liberdades a todos, estendeu as garantias civis e tornou qualquer forma de preconceito e dis-criminação racial no Brasil crime inafiançável. Ainda mais recentemente, em 2003, o governo federal brasileiro publicou a Lei 10.639, que obriga as escolas do país a ensinar a história da África e os legados da cultura e das tradições afrodescendentes no país.

Leia o texto do decreto:

“O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu sanciono a seguinte Lei: Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, e 79-B:

Art. 26-A. Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira.

§ 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil.

§ 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o cur-rículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras.

Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como ‘Dia Nacional da Consciência Negra’ Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação”.

É certo que não vivemos no melhor dos mundos possíveis. É certo também que nossos problemas sociais são graves, que a pobreza, a ignorância, o preconceito, a corrupção, a desigualdade ainda são vexames que não podemos mais tolerar. Mas é igualmente certo que diversos avanços foram alcançados. Graças às muitas lutas dos negros brasileiros, o respeito e o reconhecimento altivo de sua importância civilizacional já viraram lei e certamente vão tornar o Brasil um lugar ainda melhor de se viver. Como dizia o samba antigo, “essa Kizomba é nossa Constituição!”

© B

IRF