cidade, lugar de contradiÇÕes e · ... bairro e a escola como parte do lugar onde o ... um bairro...

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CIDADE, LUGAR DE CONTRADIÇÕES E PERTENCIMENTO: um estudo sócio econômico sobre o

bairro São Miguel, Francisco Beltrão, PR1.

Mary Teresinha Bernardi

2

Eduardo Donizeti Girotto3

RESUMO O presente artigo aborda o conceito geográfico do lugar e sua utilização no processo de ensino-aprendizagem em geografia. Destaca que cada lugar tem seu próprio valor, como os centros econômicos, áreas industriais, centros de pesquisas conhecidos como tecnopólos, de recursos minerais e vegetais, localização geográfica ou estratégica de um país, áreas turísticas, de lazer e preservação ambiental, espaços de grande concentração de recursos humanos como é o caso das cidades que dispõem de mão de obra assalariada, qualificada ou informal. A partir disso, estabelecemos um vínculo de estudo entre a cidade de Francisco Beltrão, o bairro São Miguel, o Colégio Estadual Prof. Vicente de Carli, Ensino Fundamental e Médio, como parte do lugar onde o aluno está inserido. O artigo apresenta a leitura da realidade local através da investigação e produção do conhecimento. Para tanto, o trabalho analisa as condições socioeconômicas e culturais do bairro com o intuito de compreender as possibilidades que o lugar oferece aos alunos do 3ª Ano do Ensino Médio Noturno, estudando seu processo de formação e ocupação, verificando se as empresas existentes no bairro propiciam empregabilidade aos alunos que estudam na escola. Através desta pesquisa, foi possível observar do crescimento do Bairro nos últimos 10 anos, nas suas melhorias físicas e sociais. Além disso, a partir das atividades desenvolvidas verificou-se que os alunos reconhecem o colégio como meio de oportunidade em suas formações pessoais e profissionais, mas analisam que o bairro ainda não oferece condições de trabalho aos mesmos que são assim obrigados a procurá-las no centro e outros bairros da cidade.

PALAVRAS-CHAVE: conhecimento – lugar –trabalho – urbanização – cidade

1 Este texto é resultado das atividades de discussão e pesquisa realizadas no âmbito do PDE.

2 Professora PDE, turma 2010 do curso de Geografia da Unioeste - Campus de Francisco

Beltrão. 3 Professor orientador do Colegiado de Geografia – Unioeste – Campus Francisco Beltrão.

Mestre em Geografia Humana (USP)

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1.Introdução

O presente artigo tem como referência de estudo o conceito de lugar,

com o intuito de compreender as possibilidades que este oferece as pessoas

que vivem no seu entorno.

Desde os primórdios da humanidade o homem procurou estabelecer

relações com a natureza como estratégia de sobrevivência de sua prole,

surgindo assim às primeiras organizações sociais fazendo parte do lugar para

modificá-lo em benefício próprio.

Nesse contexto, ampliam-se os espaços territoriais conquistados pelo

homem. Sendo assim, abordaremos uma análise do espaço geográfico

pautada na concepção teórica histórico-crítica, tendo como ponto relevante em

nosso estudo a temática sobre a cidade, lugar de contradição e pertencimento,

da morada de um povo, como agentes de transformação do espaço social em

que vivem e modificam constantemente essa realidade.

Cada lugar tem seu próprio valor. Alguns locais destacam-se

economicamente, como as áreas centrais, áreas industriais, centros de

pesquisas conhecidos como tecnopólos, de recursos minerais e vegetais,

localização geográfica ou estratégica de um país, áreas turísticas e de lazer e

preservação ambiental, espaços de grande concentração de recursos humanos

como é o caso das cidades que dispõem de mão de obra assalariada

qualificada ou informal. A partir disso, estabelece-se um vínculo de estudo

entre a cidade, bairro e a escola como parte do lugar onde o aluno esta

inserido. Segundo CALLAI:

Pensar sobre sua realidade social, seu próprio espaço, leva a exercitar análise critica constantemente sobre as formas de vida e as condições estruturais, políticas e socioeconômicas que existem, possibilita ao sujeito efetivamente se situar no mundo, trabalhar nele tendo as condições necessárias a viver de modo decente. (2004, p.36).

Neste sentido, o artigo descreve como foi realizada a leitura da

realidade através da busca/investigação e produção do conhecimento que

apresenta os questionamentos sobre as condições socioeconômicas e culturais

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do bairro, bem como as possibilidades que este lugar oferece aos alunos para

sua formação humana e profissional.

Atualmente a maior parte da população mora em cidades, pertence a

um bairro e começa a apropriar-se dos primeiros conhecimentos científicos

através da escola local. Também nesse lugar é onde ocorrem as primeiras

relações e conflitos sociais, sendo o espaço mais conhecido e próximo da

realidade do nosso aluno, pois devemos lembrar que essas famílias são, em

sua maioria, originários das comunidades rurais do interior do município.

Sabemos que a partir da década de 80 ocorre no país à inversão da população

rural para a urbana. Isto se reflete em todas as cidades do mundo, sendo este

fenômeno destacado num relatório do UENFPA (Fundo de População das

Nações Unidas – Relatório da Conferência sobre População e

Desenvolvimento, Nova Iorque, 1995).

Fundamentamos em nosso estudo uma reflexão sobre o conceito de

lugar como forma de ocupação e fixação no espaço físico (solo). Segundo as

Diretrizes Curriculares da Educação Básica – Geografia, PR, 2008, o conceito

de lugar aparece em meados do século XX, através da geografia humanística

como espaço vivido, ligado as diferentes subjetividades sociais. Porém, em

uma leitura mais econômica, discute-se a relação do local com o global,

salientando as possibilidades políticas dos lugares e suas relações com outros

espaços, próximos ou distantes. Portanto, o lugar também nesse trabalho, é

conceituado, ao mesmo tempo, como espaço vivido, construído e reconstruído,

impregnado de valores humanos pelos sujeitos que nele vive e convive e como

campo das relações político-econômicas do local com o global, possibilitando a

visão da totalidade das relações entre as nações e dando ênfase tanto as suas

especificidades como a questões mais gerais (questão ambiental, preservação

do planeta, diferentes escalas e estratégias de reprodução ampliada do

capital).

Portanto, é no lugar que a escola é construída e vivenciada. Segundo as

Diretrizes Curriculares da Educação Básica (2008, p.21): “a escola é um

espaço de confronto e diálogo entre os conhecimentos sistematizados e os

conhecimentos do cotidiano popular...” Nesse sentido, esse estudo propõe

demonstrar que a escola é um espaço de afirmação da identidade, de liberdade

de expressão, de reflexão e construção, pois está intrinsecamente ligada aos

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problemas do lugar dando atenção ao seu entorno social, cultural e econômico

entre a teoria e prática que é motivação de aprendizagem.

E são pelas ações de homens e mulheres que a educação se realiza

diariamente. Para a geógrafa Ana Fani é preciso pensar o homem por inteiro

em sua dimensão humana e social, que atua dinamicamente no mundo

moderno. Portanto em sua obra “O lugar do/no mundo” escreve que:

É no plano do lugar que é possível, por exemplo: compreender a racionalidade homogeneizante inerente ao processo de acumulação, que não se realiza apenas a partir da produção de objetos e mercadorias, mas liga-se cada vez mais à produção de um novo espaço, de uma nova divisão e organização do trabalho, além de produzir modelos e comportamentos que induzem ao consumo e norteiam a vida cotidiana. (CARLOS, 2007, p.85).

Tendo o aluno apropriado o conceito de lugar, que tem como ponto de

referência suas vivências cotidianas individuais ou coletivas (família,

comunidade, escola...), que produz relações de convivência, sente-se como

cidadão que pertence ao lugar.

A partir do momento que o aluno assimila o conceito de lugar, passa a ter noção de pertencimento a este lugar e que é também um dos construtores / organizadores desse espaço, que ao mesmo tempo é singular/global. Enquanto essa noção de pertencimento não existir, o sujeito/aluno torna-se estranho ao local e dificilmente contribuirá para que, sendo necessária outra realidade seja construída. (STRAFORINI 2006, p.56).

Sendo assim, através de suas ações desenvolvidas diariamente no lugar

em que vive, o aluno adquire e produz seu conhecimento que possibilita sua

interferência na participação do desenvolvimento sócio econômico e cultural

em sua comunidade.

O espaço geográfico está presente em todos os locais de nossa vivência e

não só nos conteúdos tratados em sala de aula. Nesse sentido considera-se

necessário entender que à escola pública é um espaço de aprendizagem,

através das práticas pedagógicas de cada professor, “... com vistas a fomentar

a construção da cidadania e assegurar a realização dos direitos fundamentais

do cidadão.” (GIROTTO, 2009, p.38). Para que a proposta pedagógica se

efetive o professor deve desenvolver várias possibilidades práticas permitindo

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que cada vez mais jovens estudantes adquiram o interesse para aprender,

entendendo-se como sujeitos no mundo em qual estão inseridos.

2. Apresentando o Projeto

Neste sentido, com o intuito de discutir as questões geográficas do

bairro São Miguel, realizamos o nosso projeto de intervenção pedagógica no

Colégio Estadual Prof. Vicente de Carli.

Fonte: Google hearts 2008. www.google.com.br/google_heart.php - panorâmico bairro São Miguel.

O Bairro São Miguel foi oficialmente legalizado em 11 de novembro de

1973 e seus limites atualizados conforme Lei Nº2800/200 de 23.11.00,

assinada pelo Prefeito Guiomar de Jesus Lopes. No ano de 2002, a Lei

Nº2875/2002 de 05.03.2002, altera os dispositivos da antiga Lei, cria e delimita

os bairros São Francisco e o Mundo Novo (desmembrados do Bairro São

Miguel). O Bairro conta com 2 representantes (2011) na Câmera de

Vereadores sendo eles Dazio Zanatta e Celson Antunes.

O lugar conta com transporte coletivo realizado pela empresa Scheider,

possui 16 telefones públicos, 1 Posto de Saúde Pública, 1 Igreja Católica e 3

Igrejas Evangélicas; 3 Ginásios de Esporte sendo que 2 pertencem as Escolas

Municipal e Estadual. O Ginásio Flávio Morcelli é utilizado por toda a

comunidade; 1 Casa Mortuária, 1 loja e Ponto de Arrecadação; 1 Praça Pública

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com Academia da 3º Idade; 7 supermercados e vários outras mercearias,

diversas casa comerciais de: vestuário, materiais de construção, eletro

domésticos, oficinas mecânicas e chapeação, lava car, revenda de carros e

motos, panificadoras, farmácias, sorveterias, bares, salões de beleza, entre

outros. Conta ainda com 1 empresa de dedetização e 2 fábricas de Alumínios.

Na área da educação possui 1 Creche Infantil ,1 Escola Municipal Madre Boa

Ventura ofertando a Educação Infantil e o Ensino Fundamental, séries iniciais,

1 Colégio Estadual Prof. Vicente de Carli que oferta o Ensino Fundamental,

séries finais e Médio.

Em 14 de março de 1991, foi criada a Escola Estadual São Miguel com

Ensino de 1º Grau, pela Deliberação Nº 30/80 do Conselho Estadual de

Educação. De acordo com a Resolução 4.706/95, a escola foi reconhecida no

dia 26/12/1995 e teve como 1º Diretor o Professor Vicente De Carli.

A autorização de mudança de endereço só aconteceu no dia 19/01/1998

através da Resolução 223/98, sendo Diretora a Professora Mary Teresinha

Bernardi (Gestão 1996 a 2000). O funcionamento do Curso de 2º Grau Regular

no Colégio São Miguel nos períodos Matutino e Noturno foi autorizado no dia

12/12/1997, com implantação gradativa a partir de 1998, assinado pelo chefe

de Núcleo de Educação o Professor Atila de Freitas.

Professores, funcionários, presidentes das APMF, representantes da

comunidade do bairro e da cidade de Francisco Beltrão contribuíram com a

construção física e história da Escola/Colégio Prof. Vicente de Carli, como a

Professora Diva Fagundes que representou a escola como diretora durante nas

Gestões de 2001 a 2002 e 2005 a 2008. Atualmente está no cargo de Diretor o

professor Silvio Basse (Gestão 2009 a 2014).

Partindo dessas conquistas a comunidade escolar tem na sua Bandeira

o Lema: “Para que todos tenham pão, conhecimento, justiça e trabalho”.

Feito este resgate histórico, passemos a descrição do projeto de

intervenção pedagógica desenvolvido no colégio. As atividades desenvolvidas

no projeto foram aplicadas com a turma do 3º Ano Noturno e tiveram como

objetivos:

� analisar as condições socioeconômicas e culturais do bairro São

Miguel com o intuito de compreender as possibilidades políticas e

culturais que o lugar oferece aos alunos;

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� estudar o processo de ocupação/formação atual do Bairro;

verificar se as empresas existentes propiciam empregabilidade

aos alunos que estudam no colégio e sua relação com o trabalho;

� entender a perspectiva de futuro dos alunos.

Para efetivar a implementação pedagógica no colégio foram utilizados

recursos metodológicos como coleta de fotografias antigas, fotos atuais,

análise de mapas, levantamento das possibilidades socioeconômicas do lugar

de estudo bem como os aspectos positivos e negativos, coletas de dados

(IBGE), trabalho de campo, seminários, socialização do trabalho e produção de

um Blog.

2.1 Partindo da realidade dos Alunos

Para iniciarmos o projeto realizamos, através de questionário, um

diagnóstico da percepção dos alunos sobre o bairro. Com base no diagnóstico,

foi possível perceber que os alunos reconhecem o bairro como lugar em que

vivem, mas não praticam nenhuma ação social para melhorá-lo. Dizem que

com a melhoria dos salários seus pais realizaram pequenas reformas em suas

casas, o que contribuiu para mudar a paisagem do barro.

Foi constatado também que o bairro está bem diferente de 10 anos

atrás, pois hoje o movimento do trânsito está organizado para facilitar a

locomoção dos pedestres e dos carros. Na praça foi instalada a Academia

Pública de Ginástica para os Idosos, beneficiando toda a comunidade. Muitas

ruas foram pavimentadas; ocorreu a reorganização do transporte coletivo entre

os bairros com ônibus novos; houve a reforma da Escola e do Colégio, a

instalação de Creche e Posto de Saúde, com as sinalizações das faixas de

pedestres e faixas elevadas. Algumas ruas tornaram-se mão única, evitando

acidentes. Houve colocação de calçadas nas principais ruas do bairro; melhoria

nas Igrejas evangélicas e católicas inclusive os pavilhões para encontros

festivos; construção da rede de esgoto; canalização e promoção de limpeza do

Córrego Progresso conhecido como “Valo” do São Miguel”, propício às

enchentes; instalação de alguns pontos comerciais, assim surgindo novos

empregos.

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Os estudantes observam o crescimento do bairro e suas melhorias

físicas e sociais e afirmam que se preocupam com o “lugar onde vivem”; que

“precisam cuidar do que é nosso”; “preservar o bairro para melhorar o

desenvolvimento do lugar em que a gente vive...”

Além disso, reconhecem o Colégio como um meio de oportunidade em

suas formações pessoais e profissionais e justificam dizendo: “a escola é um

espaço pessoal, é a partir da escola que concretizamos os sonhos para o

futuro”; “é através dela que iremos ter o conhecimento para a vida das

oportunidades”; “é na escola que começa a formação profissional”; “porque se

não concluirmos todas as séries, não vamos chegar a uma faculdade”.

Vários alunos conhecem a história do bairro, contadas pelos avós, família

e alguns leram o Livro da Professora de História Diva Fagundes sobre os

Pioneiros do Bairro.

Quanto à relação de trabalho com a empresas locais, muitos já foram

vendedores em lojas, empregadas domésticas, manicures, trabalhadores da

construção civil, eletricistas e diaristas.

Referente às perspectivas de futuro em relação ao Bairro os alunos

esperam melhorias em diversas questões:

- Política: que o bairro tenha mais representantes na câmera de

vereadores e que realizem um trabalho com dedicação e ética; melhorar a

Associação de Moradores.

- Cultural: revitalização dos espaços de lazer e praças públicas,

incentivo a população a reciclar o lixo; cobrar uma taxa simbólica pela

utilização do pavilhão da Igreja católica para eventos sociais; colocar uma

biblioteca pública no Bairro; despoluir o Córrego Progresso e melhorar o campo

de futebol.

- Econômica: trazer mais indústrias para a comunidade que possam

gerar novos empregos.

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2.2. Reconhecendo o Lugar: O Trabalho com Mapas

Após a aplicação dos questionários, iniciamos um atividade com os

alunos que consistia na identificação das principais pontos de referências

existente nos bairros. Logo abaixo pode se verificar os mapas resultantes desta

atividade:

Localização do Bairro

Mapa Político de Francisco Beltrão – PR, localizando o Bairro São Miguel. Identificando seus limites.

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Principais pontos de referência do Bairro São Miguel

Fonte: Mary Teresinha Bernardi. Acervo pessoal.

A metodologia de trabalho utilizada para a elaboração da atividade

ocorreu através da apresentação aos alunos do mapa político de Beltrão

localizando o Bairro de estudo. Realizamos um recorte do lugar de pesquisa e

ampliamos esse espaço em folha A4, onde os alunos através da criação da

legenda identificaram as ruas e pontos comerciais. Após o processo de

construção pedagógica, cada grupo apresentou o resultado do seu trabalho

aos demais colegas.

2.3 O trabalho de Campo

Nesta etapa, realizamos uma atividade de campo com o intuito de

compreender as transformações ocorridas no espaço geográfico do bairro.

Para realizar essas atividades os alunos foram divididos em equipes, onde

coletaram fotografias antigas do lugar e as atualizaram para observar as

mudanças sócias espacial do bairro.

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Fotos antigas Fotos recentes

Imagem 1 Igreja Calólica 1978 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 1 – 2011

Imagem 2 Igreja Evangélica 1998 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 2 -2011

Imagem 3 Ginásio de Esportes 2002 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 3 - 2011

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Imagem 4 Escola São Miguel1998 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 4 Colégio Prof.Vicente de Carli 2001 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 5 1a Escola Municipal 1971 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 5 - 2011

Imagem 6 Rua Presidente Getúlio Vargas 2000 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 6 - 2011

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Imagem 7 Córrego Progresso 2005 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 7 - 2011

Imagem 8 Rua São Miguel 2002 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 8 - 2011

Imagem 9 Vista Panorâmica 1998 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 9 - 2011

Além disso, durante o trabalho foram coletadas imagens que revelam os

principais pontos negativos e positivos do Bairro.

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Aspectos Negativos do Bairro São Miguel

Imagem 01 Ponto de Ônibus 2011

Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 02 Pavimentação com defeito 2012 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 03 Encosta Morro Tucuman 2012

Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 04 Assoreamento do Córrego 2012 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 05 Enchente do Marrecas 2011

Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary Imagem 06 Enchente do Marrecas 2011

Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

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Aspectos Positivos

Imagem 01 Praça Getulio Vargas 2012

Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 02 Escola Madre Boa Ventura 2012 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 03 Creche Carrossel 2011 Fonte: Acervo Próprio Mary Bernardi

Imagem 04 Escadaria entre Bairros 2012 Fonte: Acervo Próprio

Imagem 05 Posto de Saúde 2012 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 06 Academia 2012 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

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Imagem 07 Loja 2012 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 08 Farmácia 2012 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 09 Loja 2012 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 10 Materiais de Construção 2012 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 11 Fábrica 2012 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

Imagem 12 Sorveteria 2012 Fonte: Acervo Próprio Bernardi. Mary

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Após a coleta dos dados em campo os alunos produziram um texto

contendo suas expectativas de futuro em relação ao seu bairro.

Segundo os alunos, as principais melhorias e obras que precisam ser

feitas pela prefeitura Municipal em parceria com a comunidade local são

mutirões de limpeza periodicamente no Córrego Progresso para evitar o

acúmulo do lixo, crescimento da vegetação no seu leito e as enchentes;

presença constante de uma patrulha na escola e colégio para evitar a violência

entre os alunos; fiscalização e fechamento dos bares clandestinos que vendem

bebidas de álcool para menores; ampliação dos locais de lazer no bairro para

passar o fim de semana; criar outdoor para sensibilizar a população no sentido

de preservar e proteger os bens públicos tais como: a iluminação das ruas, as

calçadas, os pontos de lotação, o córrego, praça e igrejas; organizar o

atendimento do posto de saúde, ampliando o atendimento das vagas para

médicos e dentistas; cuidar da separação do lixo, a limpeza dos lotes baldios

e ampliar a rede de esgoto; criar uma pista especial para os ciclistas, asfaltar

todas as ruas do bairro, implantação de indústrias, casa comercias no bairro

para gerar mais empregos, melhorar a alimentação nas escolas e incentivar o

esporte.

Em consonância aos conceitos de Milton Santos e Doreen Massey,

para estudar o desenvolvimento de um município, se faz necessário saber qual

sua relação com o mundo, principalmente no plano econômico, de onde deriva

os níveis técnicos, os objetos e as ações voltadas à produção, que não é só

produção de mercadorias, mas também produção de espaço, tempo e relações

sociais. Portanto é possível compreender o lugar a partir do entorno social que

o aluno vive, estabelecendo relações econômicas, sociais, políticas e culturais

com a comunidade e a escola.

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Fonte: www.geografiamarybernadi.blogspot.com

Para socializar os resultados, foi realizado um Seminário para todas as

turmas do colégio envolvendo a comunidade escolar, oportunizando aos alunos

colocarem suas ideais, opiniões e sugestões para melhorar o bairro. Além

disso, criou-se um blog com as informações contidas no projeto para divulgar o

trabalho, bem como disponibilizar as informações no site da escola.

3. Considerações Finais

O trabalho de pesquisa apresenta o conhecimento da realidade do lugar

vivido pelos alunos e envolve situações do contexto urbano, do seu cotidiano

além de se tornar uma forma atrativa de estudar e aprender.

A partir da caracterização do lugar por fotos, mapas, coleta de dados

estatísticos do IBGE, pesquisa de campo foram pontuados uma série de

aspectos que são comuns nas cidades e seu entorno especificamente a

criação de um bairro.

O desenvolvimento metodológico do estudo esteve embasado na

concepção do conceito de lugar, através de diferentes atividades possibilitando

aos alunos produzirem e manifestarem suas ideias, opiniões e conhecimentos

sobre o mundo, estabelecendo relações entre o que é estudado e o que faz

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parte do seu cotidiano, abordando as contradições e o sentimento de

pertencimento de viver na cidade e participar do desenvolvimento do bairro

observando as mudanças políticas, culturais e econômicas que ocorrem nesse

espaço vivido para encontrar soluções e melhorar a realidade local.

A escola tem papel fundamental na vida de todos, contribuindo para a

afirmação da identidade, de liberdade de expressão, de reflexão e construção,

ampliando o conhecimento sobre a realidade social. AZANHA (2001) diz que

“toda escola possui um endereço” e, é nesse espaço físico que deve ser

estudado formas efetivas de promover ações positivas de pertencimento ao

lugar, com o objetivo de valorização das práticas escolares produzidas pelos

alunos e orientadas pelos professores. O trabalho desenvolvido neste projeto

levou em consideração as dimensões econômicas, políticas e culturais do

espaço geográfico do Bairro em que o aluno mora. Como aponta CALLAI

(2002).

Muitas vezes sabemos coisas do mundo, admiramos paisagens maravilhosas, nos deslumbramos por cidades distantes, temos informações de acontecimentos exóticas ou interessantes que nos impressionam, mas não sabemos o que existe e o que está acontecendo no lugar em que vivemos.

Portanto, é papel da escola formar cidadãos, ensinar e transmitir

conhecimentos, bem como orientá-los para a vida e o mundo do trabalho.

Através de um trabalho crítico e da busca pelo exercício da cidadania, a escola

deve mostrar às novas gerações a importância de cada indivíduo e seu papel

na sociedade, considerando que o aluno é sujeito de múltiplas relações e está

em processo de formação, deve ser considerado em sua totalidade. O

professor deve assegurar aos educandos uma formação crítica, capaz de levá-

los a refletir sobre as temáticas cotidianas interferindo interferir positivamente

em seu meio e, sobretudo, em sua vida para transformá-la.

O projeto foi extremamente importante para o aperfeiçoamento

profissional, pois oportunizou o desenvolvimento do estudo através da

pesquisa, revisão de conceitos, redimensionamento da prática pedagógica,

progressão no Plano de Carreira do Magistério e a ampliação do

conhecimento da realidade escolar sobre as questões sociais e

econômicas do lugar de vivência dos alunos.

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Referências

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STRAFORINI, Rafael. Ensinar Geografia: o desafio da totalidade-mundo

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