cidadão completo 32

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Cadeirante dribla obstáculos Ativismo comunitário ganha força Jornal-laboratório produzido pelos alunos de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul - Ano IX - Número 32 - Setembro de 2008 No Jardim Lapenna, em São Miguel, adolescentes criaram um jornal alternativo para falar do seu próprio pedaço. No Itaim Paulista, artistas, produtores e representantes de entidades comemoram os 23 anos de resistência da Casa de Cultura do bairro, ao mesmo tempo em que reativam um fórum pela afirmação da expressão artística em outras localidades vizinhas. São exemplos de Ativismo comunitário ganha força iniciativas nascidas da vontade de moradores em organizar-se para fazer valer seus direitos junto às administrações públicas. Esta edição do Cidadão expõe vários caminhos do ativismo comunitário na região, que passa inclusive pelo cuidado com o meio ambiente, demonstrado na tarefa de utilizar materiais reaproveitáveis, como latas de alumínio. Páginas 2, 4 e 5 Felipe Pierri Marcos Dias Cadeirante dribla obstáculos Colocar-se no lugar do outro é uma experiência das mais urgentes na sociedade contemporânea. Acompanhe os obstáculos que o desenhista mecânico Rogério Ferreira de Figueiredo, 44 anos, supera em seu dia-a-dia desde o Carnaval de 1985, quando, em decorrência de um assalto, foi baleado na coluna e perdeu os movimentos das pernas. É a perspectiva do mundo de quem pilota uma cadeira de rodas e aprendeu a ser campeão na vida, nas calçadas esburacadas da cidade e nas quadras de basquetebol. Página 8 Associação luta para aterro virar parque Há dez anos em atividade na Zona Leste, a Associação Aqualiprof Pedro Nunes, no bairro de mesmo nome, nasceu da necessidade de os moradores se representarem junto ao governo municipal. A primeira reivindicação era transformar a área onde funcionou um aterro sanitário em um parque público. O local chegou a receber calçamento, mas atualmente é ocupado por matagal. A comunidade não desiste de ter a sua área de lazer. Nesse exercício de cidadania, já conquistou inclusive uma escola de educação infantil. Página 3 A cada ano, 700 mil meninas viram mãe Desde a década de 1980, o número de partos entre adolescentes de 15 a 19 anos aumentou 15% no país, uma média de 700 mil meninas por ano. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A gravidez precoce resulta uma das maiores preocupações junto ao sistema de saúde na região leste. Página 6 O Centro de Referência do Idoso, em São Miguel Paulista, recebe por mês cerca de 1.500 pessoas. São freqüentadores como a viúva Maria de Lourdes Pereira de Carvalho, 72 anos, que gosta de bolero e não perde um baile desde 2001. “Sinto como se fosse minha casa”, diz. O ob- jetivo dessa iniciativa do Esta- do é estimular os participantes aos bem-estares mental, físico e cultural. Página 7 Centro de Referência dá vez e voz a idosos Liane Mota

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Page 1: Cidadão completo 32

Cadeirante

dribla obstáculos

Ativismo comunitário ganha força

Jornal-laboratório produzido pelos alunos de Jornalismo da Universidade Cruzeiro do Sul - Ano IX - Número 32 - Setembro de 2008

No Jardim Lapenna, em São Miguel, adolescentescriaram um jornal alternativo para falar do seu

próprio pedaço. No Itaim Paulista, artistas,produtores e representantes de entidades

comemoram os 23 anos de resistência da Casa deCultura do bairro, ao mesmo tempo em que reativam

um fórum pela afirmação da expressão artística emoutras localidades vizinhas. São exemplos de

Ativismo comunitário ganha forçainiciativas nascidas da vontade de moradores emorganizar-se para fazer valer seus direitos junto àsadministrações públicas. Esta edição do Cidadão

expõe vários caminhos do ativismo comunitário naregião, que passa inclusive pelo cuidado com o meioambiente, demonstrado na tarefa de utilizar materiaisreaproveitáveis, como latas de alumínio.Páginas 2, 4 e 5

Felipe Pierri

Marcos Dias

Cadeirante

dribla obstáculosColocar-se no lugar do outro é umaexperiência das mais urgentes na sociedadecontemporânea. Acompanhe os obstáculosque o desenhista mecânico Rogério Ferreirade Figueiredo, 44 anos, supera em seudia-a-dia desde o Carnaval de 1985,quando, em decorrência de um assalto, foibaleado na coluna e perdeu os movimentosdas pernas. É a perspectiva do mundo dequem pilota uma cadeira de rodas eaprendeu a ser campeão na vida, nascalçadas esburacadas da cidade e nasquadras de basquetebol. Página 8

Associação luta para

aterro virar parque

Há dez anos em atividade na Zona Leste, a AssociaçãoAqualiprof Pedro Nunes, no bairro de mesmo nome, nasceu danecessidade de os moradores se representarem junto ao governomunicipal. A primeira reivindicação era transformar a área ondefuncionou um aterro sanitário em um parque público. O localchegou a receber calçamento, mas atualmente é ocupado pormatagal. A comunidade não desiste de ter a sua área de lazer.

Nesse exercício de cidadania, já conquistou inclusive uma escolade educação infantil. Página 3

A cada ano, 700 mil

meninas viram mãeDesde a década de 1980, o número de partos entre adolescentes

de 15 a 19 anos aumentou 15% no país, uma média de700 mil meninas por ano. Os dados são do Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE). A gravidez precoce resultauma das maiores preocupações junto ao sistema de saúde

na região leste. Página 6

O Centro de Referência doIdoso, em São Miguel Paulista,recebe por mês cerca de 1.500pessoas. São freqüentadorescomo a viúva Maria de LourdesPereira de Carvalho, 72 anos, quegosta de bolero e não perde umbaile desde 2001. “Sinto comose fosse minha casa”, diz. O ob-jetivo dessa iniciativa do Esta-do é estimular os participantesaos bem-estares mental, físico ecultural. Página 7

Centro de

Referência dá vez

e voz a idosos

Liane Mota

Page 2: Cidadão completo 32

PÁGINA 2 - SETEMBRO DE 2008 CIDADANIA

Alessandra GattoMarisa Moretti

A Voz do Lapenna - jornal produzido pelos participantes

Jovens produzem jornal para a comunidade

Em São Miguel Paulista, adoles-centes de 16 a 20 anos de idade apren-dem a desenvolver ferramentas de co-municação como rádio, fanzine, jor-nal, fotografia, documentário, blog efotolog. A iniciativa é da FundaçãoTide Setubal, por meio do projeto SãoMiguel no Ar. Iniciado em 2007, o cur-so atende a cerca de 30 jovens que têmaulas de segunda a quinta-feiras, du-rante um período de dez meses.

Os participantes são selecionadospor meio de uma reflexão escrita e umaentrevista. O perfil socioeconômicotambém é considerado, pois o curso évoltado às pessoas de baixa renda. Aoficina é oferecida no Jardim Lapen-na, bairro com aproximadamente 15mil habitantes, em São Miguel Paulis-ta, na Zona Leste.

A divulgação das novas turmas éfeita pelos próprios organizadores doprojeto, que visitam escolas do ensi-no médio da região convidando osalunos para a seleção. A propagandaboca-a-boca também é uma impor-tante ferramenta. Além disso, os pró-prios trabalhos produzidos pelos jo-vens da primeira turma ajudaram: elessão exibidos nas escolas e por meio

de acesso gratuito viaInternet.

Em cada sessão, aopinião dos jovens éouvida por meio de de-bates, nas chamadasrodas de conversa. De-pois, os alunos apren-dem técnicas de traba-lho em veículos de mí-dia. Além do trabalhosemanal, a oficina pro-porciona aos partici-pantes atividades cultu-rais e visitas a estúdiosde rádio e televisão,além da oportunidadede conhecer departa-mentos de comunica-ção de universidades.

O grupo que fez ocurso em 2007 elabo-rou o jornal A Voz doLapenna, que, por seucaráter experimental,contou com a partici-pação dos moradoresda região. Com 5 milexemplares distribuídos em sua pri-meira edição, a publicação será agoraproduzida bimestralmente. O traba-lho será conduzido pelo Núcleo deComunicação Comunitária, formado

pelos jovens da primeira turma e co-ordenado por José Luiz Adeve, o Co-meta, 50 anos, e pela jornalista MayaraEvangelista, 22 anos.

Desde o início, muitas mudanças

Comunicação é tema de oficina gratuita oferecida pela Fundação Tide Setúbal no Jardim LapennaAlessandra Gatto

na vida desses adoles-centes puderam ser no-tadas. “Na avaliaçãoque fizemos direta-mente com eles, é pos-sível detectar uma mai-or capacidade de articu-lação e uma melhoriaconsiderável da capaci-dade de expressão oral,escrita e não-verbal”,diz o coordenador doprojeto, Judi Cavalcan-te, 44 anos. Segundoele, o objetivo é contri-buir para a melhoriadas condições de vidana região. “Isso temsido alcançado”, afir-ma.

Na visão de Caval-cante, São Miguel pos-sui espaços físicos paracultura e lazer “emquantidade satisfató-ria”. Porém, em relaçãoa conteúdo e diversida-de, “a região ainda pre-

cisa melhorar muito”. “São Miguel fazparte da cultura paulistana e esta surgena alma, na matriz da cultura do bair-ro”, afirma.

Os próprios jovens dizem que o

projeto proporcionou mudanças sig-nificativas em suas vidas e em seumodo de pensar. É o caso de EliasLopes, 17 anos, que após a experiên-cia decidiu que vai estudar jornalismo.“Melhor, impossível”, diz Karen San-tos, 16 anos, em relação à qualidadedo curso.

Além da possibilidade de melho-rar as habilidades de comunicação, es-crita e oral, os jovens adquirem inti-midade com câmeras fotográficas e devídeo, programas de edição de filmese de textos. O curso não é profissio-nalizante, mas abre novos caminhos.“Os jovens ficam mais fortes para en-carar o mercado de trabalho”, afirmaCometa, que trabalha há dez anos comeducação não-formal.

São Miguel no Ar: de segunda a quin-ta-feira, das 13 às 17 horas.Galpão de Cultura e Cidadania: RuaJuruoca, s/nº - Jardim Lapenna -São Miguel Paulista.Informações: Fundação Tide Setú-bal - fone(11) [email protected]

Serviço

EDITORIAL

Conviver em comunidade implica re-lacionar-se com o próximo, seja dentro decasa, na calçada, na escola, no trabalho,no ônibus e por aí vai. Junto ou juntos,precisamos lidar com as diferenças. O ou-tro não precisa pensar igual, gostar dasmesmas músicas, ser da mesma cor, torcerpelo mesmo time, nutrir os mesmos dese-jos. Mas temos fortes pontos em comum,a começar pelos valores humanistas indis-sociáveis da vida.

São as percepções desta edição do Ci-

dadão. O jornal-laboratório dos estudan-tes de Jornalismo reporta iniciativas queajudam a refletir sobre a noção do outro.Foi o que moveu artistas e a população dobairro em torno da Casa de Cultura doItaim Paulista em 23 anos de resistência,fruto de uma época em que não havia or-ganizações não-governamentais.

Hoje, ONGs ajudam a viabilizaruma oficina de música no Jardim Eliane,em Itaquera, ou reforçam a consciênciado uso de ferramentas de comunicaçãosocial no Jardim Lapenna, em São Mi-

A noção do outro

Jornal-laboratório do Curso deComunicação Social (Jornalismo)da Universidade Cruzeiro do Sul

Ano IX - Número 32 - Setembro de 2008Tiragem: 3 mil exemplares

Telefone para contato: (11) 2037-5706Impressão: Jornal Última Hora do ABC

(11) 4226-7272

Reitora

Sueli Cristina Marquesi

Pró-reitor de Graduação

Carlos Augusto Baptista de Andrade

Pró-reitor de Pós-graduação e Pesquisa

Luiz Henrique Amaral

Pró-reitor de Extensão e Assuntos

Comunitários

Renato Padovese

Coordenador do Curso de

Comunicação Social

Carlos Barros Monteiro

Professores-orientadoresCecília Luedemann, Dirceu Roque de

Sousa, Flávia Serralvo, Luciana Rosa,Marcelo Sinelli, Regina Tavares e

Valmir Santos.

guel, conforme relatos nas páginas se-guintes. Dez anos atrás, o caminho al-ternativo do voluntariado gerou uma as-sociação no bairro Pedro Nunes, tam-bém na Zona Leste. O impulso inicialdos moradores era transformar a áreaonde funcionou um aterro sanitário emparque público. A luta segue: o local re-cebeu calçamento, é só mato, mas a co-munidade não desiste da área de lazer,sobretudo depois de ter conquistado suaescola de educação infantil.

Às vezes, o exercício de cidadaniaemana da ação individual e traz ecos cole-tivos. Caso do desenhista mecânico Rogé-rio Ferreira de Figueiredo, 44 anos, acos-tumado a superar obstáculos de toda or-dem sobre duas rodas. Ele sofreu um as-salto em 1985, foi baleado na coluna, per-deu os movimentos das pernas - mas ja-mais a perseverança. Esse cadeirante deSão Miguel tornou-se, inclusive, campeãode basquetebol. Uma lição de vida para suaequipe, sua cidade, seu país e seu planeta.

Boa leitura

Oficina estimula inclusão social

Integrantes da oficina para portadores de necessidades especiais

Por meio do projeto Oficina de mu-sicalização para portadores de necessidadesespeciais, crianças e jovens têm a opor-tunidade de se expressar e aprenderquestões importantes como respeitoe convívio social. O curso é uma ini-ciativa do Projeto Talentos Especiais,da Associação Amigos das OficinasCulturais do Estado de São Paulo(Assaoc), em parceria com o Centrode Ação Social Espaço Livre, localiza-do no Jardim Eliane, em Itaquera.

Uma vez por semana, os alunos,que têm entre 9 e 15 anos de idade,desenvolvem atividades relativas àmúsica. Nas aulas, os participantes uti-lizam instrumentos musicais, apren-dem técnicas para que sintam a vibra-ção do som e dançam. Para a idealiza-dora e educadora da oficina, PriscilaChagas, 30 anos, o objetivo do cursoé melhorar a auto-estima, estimular oaluno a expor seus sentimentos, alémde ensiná-lo a concentração e a seguirinstruções. Relaxamento e desenvol-vimento da musculatura também in-tegram as atividades da oficina.

Não há cobranças quanto ao rit-mo e à afinação. Para Priscila, o impor-tante é o trabalho de integração e in-clusão sócio-cultural. A educadora, quetambém é pianista, trabalhou comdeficientes físicos e mentais na Escó-cia, entre 2003 e 2004. Além de pro-mover atividades voltadas à música,ela também cuidava de pessoas comesse perfil. No Brasil, participou deoutros projetos envolvendo musico-terapia e cidadãos com necessidadesespeciais. “É um trabalho árduo, masgratificante. Também é uma terapiapara mim”, diz a educadora, que tra-balha há sete anos com deficientes.

Criado em 2001 pela Secretaria deEstado da Cultura, o Projeto Talen-tos Especiais é coordenado por Gise-le Caram Sakavicius, 41 anos. Atendea capital e algumas cidades do interior.

Marisa Moretti

Por meio de parcerias com instituições,o projeto realiza atividades culturaiscom o objetivo de contribuir para osdesenvolvimentos físico, motor e sen-sorial dos participantes. Também pro-move a integração social e desperta ointeresse pelas artes. Segundo a equi-pe de coordenação, o público-alvo éformado por crianças a partir de 6anos, jovens e adultos.

A primeira turma da Oficina deMusicalização iniciou aulas em abril eencerrou em julho. O curso é realiza-do no Centro de Ação Social EspaçoLivre. A instituição filantrópica, quefoi fundada em 1984, atende atual-mente 105 crianças e adolescentes comdeficiência intelectual, segundo a pre-sidente da fundação, Maria CristinaSouza, 51 anos. No espaço, o alunotambém tem ensino adaptado à suacapacidade, além de oficinas de artesa-nato, reciclagem, informática, teatro,dança e educação física.

A entidade é mantida pela Secreta-ria Municipal de Educação e SecretariaMunicipal de Assistência e Desenvol-vimento Social, e também recebe re-

cursos da Secretaria Especial de Parti-cipação. No entanto, a coordenadorado espaço, Fernanda Silva, 37 anos,afirma que a demanda de deficientes émaior do que a capacidade da institui-ção e de escolas voltadas a esse públi-co na Zona Leste. São cerca de 50 or-ganizações para atender a mais de 3,6milhões de deficientes que vivem nes-ta região, segundo dados disponíveisno site da prefeitura do município.

Algumas iniciativas já melhorarama vida dos portadores de necessidadesespeciais. Em 2004, foi decretada a leifederal 5.296, que determina que asescolas proporcionem condições deacesso e utilização de todos os seusambientes para pessoas portadoras dedeficiência ou com mobilidade redu-zida. (A.G. e M.M.)

Oficina de musicalização para por-tadores de necessidades especiais:Terças-feiras, das 9 às 11 horas. RuaArumarana, 26, fone: (11) 3337-5031. www.assaoc.org.br

Também participaram desta edição:Adalberto Pereira, Ademilson Chaves, Andressa Lombizani,

Bruno Alves, Camila Carpinelli, Elaine Santana, Geane Mota, Iara Barros,Isabela Costa, Janaina Bertunes, Jussara Pimentel, Leonardo Aleixo,

Ricardo Medeiros e Tamine Krieger.

Page 3: Cidadão completo 32

SETEMBRO DE 2008 - PÁGINA 3

Entidades trabalham por direitos sociaisConheça o atendimento de três ONGs localizadas em bairros diferentes da Zona Leste

Gisele FrançaHevlyn Celso

O voluntariado é uma atividadeadmirada pela maioria das pessoas.Em alguns casos, é fruto da indigna-ção pessoal ou coletiva. Essa indigna-ção motivou a criação da AssociaçãoAqualiprof Pedro Nunes, em 1998,no bairro de mesmo nome, peladona-de-casa Eleni Ribeiro, 46 anos, epelo jornalista Sylvio Alves Sena, 49anos. Moradores da região, eles con-viveram durante nove anos (1979-1988) com o antigo Aterro SanitárioJacuí, uma área de 122 mil m2 repletade lixo, que, além de foco de contami-nação, servia como abrigo de ratos eoutros animais. Apóssua desativação, o ter-reno ficou abandonado.A comunidade reivin-dicava a construção deum parque no local,mas precisava de umrepresentante junto àprefeitura. Desta forma,surgiu a organização.Hoje, o futuro ParquePrimavera ainda é ummatagal, mas o calça-mento e o gradeamen-to já foram feitos. Os moradoresaguardam o início efetivo das obras.O projeto inclui quiosques e quadrasesportivas, entre outras áreas de lazer.

A burocracia arrasta a entrega háanos. “O parque primavera é uma lutadesde 1979, que já vai completar 30anos”, explica Sena. Apesar das difi-culdades, a ONG intermediou váriasmelhorias para o bairro: dois Telecen-

ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL

tros, centro de aprendizado de infor-mática que hoje atendem cerca de 3mil pessoas por meio da doação deR$ 15 mil pela prefeitura, o Programado Leite, que beneficia 100 famíliascom crianças até 6 anos e agora mais100 cotas para idosos pela Secretariade Abastecimento do Estado. AONG também participa do MOVA(alfabetização para adultos).

Uma das realizações da ONG foia construção da Escola Municipal deEducação Infantil Globo do Sol, quefuncionava precariamente em um gal-pão junto a um despejo de lixo. Du-rante sete anos (2001-2008), a associa-ção lutou por essa escola. Sena chegoua ser preso por ocupar o galpão junta-

mente com a comuni-dade, mas a mobiliza-ção popular gerada pelaatenção da imprensa nocaso foi positiva. Inau-gurada em fevereirodeste ano, a escola be-neficia 470 crianças epossui playground,quadra de esportes eelevador para deficien-tes físicos. “Esse espa-ço era um nada, só ser-via para juntar lixo e

rato, fora o mau cheiro. O lugar estáirreconhecível”, afirma.

Sena também preside o JornalPedro Nunes, fundado em 1999. Oveículo procura dar prioridade aos pro-blemas da comunidade e é mantidopelos anúncios dos comerciantes lo-cais. A Associação planeja uma crechepara o futuro, mas no momento seusrecursos financeiros são limitados.

Pela comunidade, escola infantilse transforma em associação

Legalizada há quatro anos, a As-sociação Sorriso de Criança mantémsua atual sede no Jardim Campos. Ometalúrgico Antônio de Souza, 49anos, e sua mulher, a professora Abi-gail Amaral de Souza, 48 anos, inicia-ram há mais de 12 anos um projetoque beneficiava crianças carentes. Tudocomeçou na Vila Jacuí, onde eles mon-taram uma escolinha infantil.

Em 2004 legalizaram a entidade ehá um ano mudaram-se para o novolocal. Segundo Souza, que preside aassociação, 12 pessoas são voluntáriase ajudam a coordenar os projetos e aarrecadar doações. Entre as atividades,está o atendimento gratuito realizadopor um oftalmologista a cada doismeses. O serviço é disponibilizadopor uma clínica, que também oferecedescontos aos que necessitarem deóculos. Segundo Souza, essa uniãoproporcionou um momento inesque-cível para ele. A ótica doou um par deóculos a Severino Leite da Silva, apo-sentado de 89 anos, que caminhavacom auxílio de uma bengala improvi-sada, porque não enxergava direito há20 anos. “Foi o momento mais emo-cionante da minha vida quando o vicolocando os óculos e dizendo que

estava enxergando”, diz Souza.Na entidade também há a parceria

com um escritório de advocacia quedá consultoria previdenciária gratuitauma vez por mês. Nos períodos damanhã e tarde, uma sala fica reservadapara alunos do ensino fundamentalque necessitam de reforço, e, à noite, oespaço é utilizado para a alfabetizaçãode adultos. A Associação possui ain-da o programa Viva Leite, em parceriacom o Estado de São Paulo, que be-neficia 150 famílias mensalmente.Souza ressalta que os serviços não sãocobrados, e sempre que alguém ne-cessita de um botijão de gás ou demantimentos os voluntários colabo-ram. Ele gostaria de ampliar os servi-ços, como oferecer um sopão para pes-soas carentes, abrir um curso de cortee costura e até levar as crianças carentesdo bairro para conhecer espaços cultu-rais, mas não tem conseguido apoio.

Os presidentes das associações eda ONG frisam que, apesar de per-tencerem a uma determinada comu-nidade, estão dispostos a dar atendi-mento a pessoas de outras localida-des, mas dizem também que toda aajuda será bem-vinda, seja ela de qual-quer natureza.

O silêncio do ambiente é que-brado pelo alvoroço das crianças, queaguardam ansiosamente a sua vezde ter os cabelos trançados por mãoshabilidosas. Meninas se olham noespelho e abrem sorrisos ao ver oresultado final. Um quiosque depenteados localizado em um shop-ping da Zona Leste de São Paulo épalco do trabalho de Sheila Silva dosSantos, 21 anos. Moradora no bair-ro de São Mateus, ela trabalha há trêsanos confeccionando os mais varia-dos tipos de tranças. Mas nem sem-pre sua vida foi assim; apesar de suaformação como técnica administra-tiva, não conseguia ter um emprego,o que ocasionou uma depressão. Amudança ocorreu depois que come-çou a estudar em uma organizaçãonão-governamental, a ONG SempreAmigos. Ela narra um pouco da suaexperiência nesta entrevista.

Cidadão - Como você conheceu aentidade?Sheila - Fiz o curso básico de entrelaça-mento em outra ONG; uma das professo-ras me apresentou à Sempre Amigos.Hoje sou voluntária e repasso o que aprendinas folgas do trabalho.Cidadão - Qual o perfil das pessoasque você atende?Sheila - Em sua maioria, são mulherescasadas, com filhos e família e que estão

Atividade voluntária recupera auto-estima

em dificuldades para se manter. Querem umaprofissão que seja fácil de aprender e rápida,porque já querem sair dali trabalhando emcasa.Cidadão - Você venceu uma depres-são trabalhando na ONG. Como foiisso?Sheila - Tive uma visão totalmente dife-rente, porque eu pensava só nos meus pro-blemas, só ali no meu cantinho; vi que nãoera só eu que passava por isso; mesmo com aminha depressão, consegui ajudar outraspessoas. Depois, comecei a melhorar, paramim isso foi ótimo.Cidadão - Em que momento vocêsentiu que sua vida mudou?

Sheila - Este curso, que fiz naONG, abriu várias portas paramim. Logo depois comecei a daraulas, e aí surgiu o emprego aqui.Cidadão - Do que você seorgulha?Sheila - De ajudar as pessoas;já formei umas 20 alunas, agoraestou ensinando outras. No iní-cio elas acham que não vão conse-guir, porque é difícil, mas depoisvêem que não é bem assim.Cidadão - Qual a sua opi-nião sobre o trabalho dasONGs?Sheila - É muito importante,porque abre portas, abre cami-nhos. Quase todas as meninasque trabalham aqui vieram de

ONGs; fizeram cursos e conseguiram tra-balho; então, mesmo se você não tiver umemprego fixo, vai ter uma forma de ga-nhar o seu dinheiro. Todo bairro teria queter pelo menos duas ONGs. Elas são im-portantes para o crescimento das pessoas.Cidadão - O que você falaria para aspessoas que estão interessadas emser voluntárias?Sheila - Você tem de querer participar.Se não gostar, não adianta nada. É sóvocê ter uma visão ampla do mundo, nãopensar só em si. Se você quer ajudar, mes-mo que não saiba fazer nada, sempre vaiter uma escolha. Para ser voluntário, é sóvocê querer.

Sheila: emprego após o trabalho voluntário

Hevlyn Celso

CONQUISTA - EMEI Globo do Sol era uma das principais reivindicações da Associação Pedro Nunes

Ronaldo Lucena

Sempre Amigos começou em uma garagemHá cerca de 18 anos a ONG Sem-

pre Amigos atua no Itaim Paulista. Aantiga Associação de Moradores da VilaItaim foi fundada em 1990 pela fisio-terapeuta Sandra Soares Pereira, 46anos, juntamente com seu marido, ofuncionário público Marcos Joaquimda Silva, 35 anos, e teve seu início nagaragem da casa onde morava a mãede Sandra. Com o passar do tempo, agaragem se tornou insuficiente paraos trabalhos realizados e surgiu a ne-cessidade de um lugar mais amplo, quecomportasse os serviços prestados.

Após uma reunião com os voluntá-rios, a família Soares resolveu alugarum espaço maior. De acordo com ocasal, a entidade não possui parceriacom a prefeitura, e é mantida com re-cursos próprios e a contribuição sim-bólica de R$ 10,00 mensais dos alu-nos que fazem cursos no local. Lá sãoministrados cursos profissionalizan-tes de manicure, cabeleireiro, panifica-ção, confeitaria, artesanato, informáti-ca, inglês básico, entre outros. A orga-nização também distribui leite para 350famílias e faz doações de cestas básicas

e remédios, além de manter atendi-mentos jurídico, odontológico, psico-lógico e terapia para a terceira idade.Para Sandra, ver os alunos se qualifica-rem profissionalmente é motivo desatisfação e orgulho: “Aqui é nossavida, aqui é nossa casa. Esquecemosum pouco da nossa vida para cuidardaqui”.

Como meta para o futuro, a ONGpretende expandir o número de cur-sos, fundar uma creche e ter um veícu-lo para o transporte de pessoas comdeficiência física.

Associação Aqualiprof Pedro Nunes - fone: 2031-3853.ONG Sempre Amigos - fones: 6561-0152 e 6571-0498. Site: www. sae.jn.org.brAssociação Sorriso de Criança - fone: 6852-3502.

Serviço

Sena: luta por melhorias

Ronaldo Lucena

Page 4: Cidadão completo 32

PÁGINA 4 - SETEMBRO DE 2008 DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

Reciclagem é alternativa contra poluiçãoSeparar materiais reutilizáveis torna-se fonte de renda e ainda ensina a proteger meio ambiente

Carlos OliveiraJayme Sampaio

É comum a falta de ações para me-lhorar a qualidade de vida. Mais co-mum ainda é o ato de jogar lixo narua, no chão, em terrenos baldios –onde o que importa é apenas o des-carte. Sem pensar, porém, que lixo jo-gado nas ruas entope bueiros, mó-veis deixados em terrenos baldios ouesquinas podem se transformar emfocos de insetos e roedores portado-res de doenças, e outras conseqüên-cias diretamente relacionadas à degra-

Depósito incentiva a consciência ambientalSuzana Machado

Descaso com o lixo podetrazer transtorno a moradores

Marcos DiasA empresária Fabiana Novack, 32

anos, trabalha desde criança com ma-teriais recicláveis no ferro-velho que suafamília possuía na Zona Leste. Elaaprendeu o básico com um tio e há 11anos é dona de seu próprio depósito,no Jardim São Vicente. Bia, como éconhecida, trabalha com o marido etrês parentes. “É uma cooperativa fa-miliar: tudo o que se ganha se divide.Aqui não se ganha dinheiro, mas sediverte muito”, brinca. O casal temdois filhos. O mais velho, de 12 anos,sente-se pouco à vontade com a pro-fissão dos pais, fato que Bia atribui aopreconceito daqueles que associam re-ciclagem com lixão. Por sua vez, o fi-lho mais novo, de 7 anos, demonstraorgulho e participa do cotidiano daempresa, pesando e aprendendo a cal-cular valores.

Ela ofende-se quando é conside-rada uma atravessadora, alguém quelucra com o trabalho alheio. Comotoda empresa, os lucros são necessá-rios para manter o funcionamento,mas tudo está baseado na ética. Nesteramo, todos se conhecem, sabemquem são. Não há chance no negóciopara quem não cumpre com sua pala-vra ou age com deslealdade. Misto deamiga e parceira, seu depósito faz su-cesso porque, além de oferecer os me-lhores preços para a venda, Bia temcarisma. Segundo os catadores, ela di-ferencia-se porque os conhece e está

Com o crescimento da populaçãoe o conseqüente aumento do consu-mo, a poluição e o lixo gerado nosgrandes centros urbanos alcançou pro-porções alarmantes. Considerandotoneladas diárias, quando não coleta-do adequadamente o lixo gera inúme-ros problemas que afetam a saúde dapopulação, compromete a infra-estru-tura e o saneamento das cidades e cau-sam grandes danos ao meio ambien-te. Segundo o Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE), na re-gião metropolitana de São Paulo sãocoletadas 83 mil toneladas de lixo pordia. Deste total, apenas 16% recebemalgum tipo de tratamento, como reci-clagem. O restante é depositado emlixões e aterros sanitários que já estãocom a capacidade comprometida.

Há um movimento mundial emprol de atitudes e posturas a seremtomadas pela população e por empre-sas, no qual os conceitos de sustenta-bilidade, consciência ambiental e res-ponsabilidade social são aplicados afavor do meio ambiente. Reduzir, reu-tilizar e reciclar são as novas palavrasde ordem. A reciclagem do lixo do-méstico apresenta um custo elevado,mas iniciativas comunitárias podemreduzir a zero tais custos e produzirbenefícios para todos. É preciso res-saltar que a principal função desta ini-ciativa é reduzir o volume de lixo, ge-rando ganhos ambientais.

O Programa de Coleta Seletiva dacidade de São Paulo foi instituído em2002 e atende 71 bairros. Este proje-to é estruturado com base na separa-

ção, pelos moradores, dos materiaisrecicláveis, que são recolhidos em diase horários diferentes da coleta domi-ciliar. A coleta seletiva é realizada pe-las concessionárias EcoUrbis e Logae pelas cooperativas contratadas pelaprefeitura para operar as 15 centraisde triagem distribuídas pela capitalque recebem o material reciclável co-

letado, onde é separado, prensado evendido.

Seguindo o mesmo princípio, hátambém um mercado mantido pelosdepósitos que popularmente são cha-mados de ferro-velho. Baseado nacompra e venda destes materiais, osdepósitos mantêm uma estrutura si-milar às de empresas: geram empre-

gos, pagam impostos e contribuemcontra a marginalização daqueles quejá não se encaixam no mercado de tra-balho. A consciência ambiental dá lu-gar ao pensamento econômico e criaoportunidades de renda. Os catado-res, também conhecidos como carro-ceiros ou carrinheiros, se dispõem arecolher os materiais pelas ruas, até

DESCASO - Entulho e móveis deixados em esquina na Vila Rosária

dação da qualidade de vida.O lixo passa despercebido até que

se torne o motivo de preocupação paraa população, na forma de enchentes ealagamentos. Estudos da Sabesp pro-jetando a situação para o futuro apon-tam que daqui a 11 anos, o lixo joga-do nas ruas representará 167 tonela-das de sujeira que chegarão diariamen-te aos rios e córregos. “Se a populaçãonão mudar de atitude, a situação per-manecerá crítica”, afirma José Anto-nio De Angelis, superintendente daSabesp.

sempre disposta a ouvir o que têm adizer. Ajuda os catadores, trata-oscomo a seus familiares. E ainda rea-liza campanhas para recolher roupase alimentos e doar aos que precisam.O depósito funciona de segunda àsexta-feira, das 8 às 17 horas, e aossábados, das 8 às 14 horas, mas ohorário sempre é estendido até o úl-timo cliente.

Bia acompanhou a evolução dospreços e o aumento do interesse pelareciclagem. Se antigamente o centro dacidade era o lugar onde os catadorespodiam vender mais, hoje os depósi-tos na periferia rendem lucros maio-res. Em 2000, o quilo da lata de alu-mínio era comprado por R$ 0,50.Hoje, paga-se em média R$ 3,20. O

CONSCIÊNCIA - Latas reaproveitadas provam que atitudes simples ajudam a preservar meio ambiente

TRADIÇÃO - Bia gerencia o depósito criado há 11 anos no São Vicente

material que desperta mais interesseaos depósitos é o PET: plástico versá-til e com muito valor agregado. A se-paração dos diferentes tipos de plásti-cos e o aprendizado dos novos pro-cessos foi assimilado aos poucos, coma experiência do dia-a-dia e com as di-cas das empresas parceiras que com-pram todos os materiais.

Bia acredita que para vencer o pre-conceito e colaborar com o meio am-biente, a consciência ecológica deve serreforçada por meio de mais campa-nhas que introduzam na vida das pes-soas o hábito da reciclagem. Funda-mentado em informação e educação,tudo seria mais simples. “Isso é omeu trabalho, e a cidade agradece”,finaliza.

Plásticos: lave-os para eliminar res-tos do produto, principalmente nocaso de detergentes e xampus, poisdificultam a triagem e o seu apro-veitamento.Vidros: lave-os e retire as tampas.Metais: latas de refrigerantes e cer-vejas devem ser prensadas para fa-cilitar o armazenamento.Papéis: podem ser guardados di-retamente em sacos plásticos.

Como separar o lixo

que tenham o suficiente em seus car-rinhos para vender no ferro-velho.

Apesar da sua presença constante,muitos catadores deparam-se com cer-tas situações desagradáveis duranteseu trabalho. Casos de humilhação,xingamentos e maus tratos são amos-tras do preconceito enfrentado poraqueles que ganham a vida recolhen-do o que é considerado lixo para osoutros. Segundo a catadora MariaAparecida da Silva, 41 anos, diversasvezes ela foi discriminada ao ser sur-preendida vasculhando o lixo das re-sidências. Em uma ocasião, enfrentouuma moradora que a agrediu verbal-mente, propondo-lhe que esta sepa-rasse os materiais recicláveis do lixoorgânico e, assim, evitando transtor-nos para as duas. Maria Aparecidatambém diz que, por não possuir equi-pamentos de proteção adequados, jáse machucou com cacos de vidro, latasde flandres e outros objetos cortan-tes. Apesar disso, muitos catadoresutilizam-se da coleta seletiva para con-seguir sua renda.

Marcos Dias

Suzana Machado

Marcos Dias

Page 5: Cidadão completo 32

SETEMBRO DE 2008 - PÁGINA 5CULTURA

Casa do Itaim é marco de incentivo à arteComunidade freqüenta espaço gratuito criado há 23 anos por movimentos populares

José Ortega

A Casa de Cultura do Itaim Pau-lista completou 23 anos em abril. Oespaço foi totalmente reestruturado edeixará à disposição dos moradoresda comunidade novas oficinas e ativi-dades gratuitas.

A união de alguns movimentosculturais expressivos da época, dentreeles o Cultura e Arte em Movimento(CAM) e o Espaço Aberto ao Desen-volvimento Cultural (Eadec), no go-verno do então prefeito Mario Covase do secretário de Cultura, o ator e dra-maturgo Gianfrancesco Guarnieri,inauguraram em 1985 a casa que foi oprimeiro ponto cultural da cidade deSão Paulo, segundo o coordenadorSandro Ivo, 34 anos.

Hoje, na capital, são mantidas pelaprefeitura 15 casas de cultura, com ofi-cinas e atividades desenvolvidas e mi-nistradas por artistas remuneradose alguns voluntários.

Devido à reforma, que ainda nãofoi concluída, são disponibilizados nolocal oficinas de teatro vocacional, dançavocacional, estudo vocacional, grafite,hip-hop e yoga. Em 2007, acontece-ram também atividades de manipula-ção de bonecos, aulas de violão, cantocoral, criação de máscaras e oficinas dedesenhos, que após o término da re-

forma, voltarão a fazer parte do qua-dro de atividades disponíveis.

Uma novidade que a casa trarápara a comunidade é a sala Guarnieri,que disponibilizará apresentações dedança, teatro, cinema e musicais acús-ticos, com uma infra-estrutura com-posta por aproximadamente 80 luga-res, projetor multimídia, iluminaçãode palco e equipamento de áudio.

Apesar da reestruturação, a Casade Cultura sofre ainda hoje com a fal-ta de divulgação, o que reduz a partici-pação do público. Acredita-se que onúmero de freqüentadores não ultra-passe a 150 pessoas por mês. Atual-

mente, são promovidos eventos ex-ternos com o objetivo de mostrar paraa comunidade os trabalhos da casa edos artistas da região.

Outro meio de divulgação que seráimplantado é a criação de um espaçovirtual web site e mailing (uma lista de e-mail), para que todos os que tenhamcomputador possam acessar às pro-gramações e novidades da Casa deCultura via Internet. Ivo explica que“a rede foi instalada na administração,mas a casa ainda não possui acesso àInternet e mantém apenas três com-putadores, dos quais dois necessitamde manutenção.”

Para o coordenador da entidade,apesar das dificuldades, muitos artis-tas já saíram do anonimato por meiodas Casas de Cultura e atualmente so-brevivem da própria arte. “Estes es-paços podem contribuir muito com acomunidade, mas poderão deixar deexistir devido à falta de parceiros, di-vulgação e desinformação da própriacomunidade”, lamenta.

CARA NOVA - Após reforma, Casa de Cultura ganhará outra fachada

Reativado, Fórum Cultural mira outros bairrosAntonio AguiarHerberth BrasilThais Renesto

DECISÃO - Moradores e integrantes do Fórum rearticulam ação cultural

Herberth Brasil

O Fórum Cultural do Itaim Pau-lista está de volta e deve beneficiar ou-tros bairros da região, como a VilaCuruçá. A ação busca ajudar os artis-tas locais a conquistarem mais espaçopara demonstrar sua arte. Para isso, oprojeto vai orientar os grupos artísti-cos a conseguirem parceiros interessa-dos em promover iniciativas no se-tor. Os esforços de fazer o projeto ala-vancar vêm desde 2005, quando a fal-ta de produtores culturais atrasou asua implementação.

Os primeiros passos para o funci-onamento do Fórum Cultural do Ita-im já foram tomados. Em julho doano passado, começou a ser formadauma comissão composta por intelec-tuais, representantes da subprefeiturada região, produtores de cultura, enti-dades, somando 16 colaboradores.Eles assumiriam o compromisso decriar estatutos, normas éticas, com afinalidade de levar o trabalho do artis-ta local ao conhecimento de novospúblicos. A reunião teve a presença dosubprefeito do bairro, Diógenes San-dim Martins, 58 anos, no cargo desdemarço de 2005. O intuito era o de res-gatar o trabalho cultural e intelectuaisda região, realizar reuniões semanaiscom grupos e enriquecer os artistascom atividades.

A Casa de Cultura do Itaim Pau-lista foi criada em 21 de abril de 1985.Desde então, tem por objetivo esta-belecer a comunicação entre a popu-lação local e a cultura, assim, tem porresponsabilidade também o resgateda cultura local e de oferecer isso paraas pessoas. Com isso, a Casa de Cul-tura cedeu espaço para a sede provi-

sória do Fórum Cultural onde ocor-rem reuniões aos sábados a partir das9 horas.

Segundo o coordenador da Casade Cultura do Itaim Paulista, SandroIvo, 34 anos, a Semana Cultural reali-zada no ano passado, entre 6 e 14 deoutubro, juntamente com a Semana doMeio Ambiente, foi o primeiro eventocriado a partir das reuniões do grupo.A programação teve início no ParqueChico Mendes, no bairro da Vila Curu-çá, em São Miguel, com a apresentaçãoda Orquestra de Metais e Percussão ArteNobre, sob a regência do maestro Mar-cio Correa. Shows musicais e apresen-tações de dança no Itaim completaramo projeto. Segundo Ivo, o Fórum tema intenção de ser uma ONG (organiza-ção não-governamental) ou até mes-mo uma cooperativa para organizar ati-vidades culturais. A proposta é quecontinue funcionando, independente-mente das mudanças de administra-ção que venham a ocorrer a cada eleiçãomunicipal.

O supervisor de cultura do Ita-im Paulista, André Ruiz, 29 anos, arespeito dessa Semana Cultural, acres-

centa que foi positiva a resposta depessoas participantes do evento. Fo-ram firmadas parcerias, entre outrascom uma rádio, que possibilitarammesclar nomes conhecidos da músicaa artistas locais.

Ruiz destaca a responsabilidade dapopulação nesse Fórum: “A comuni-dade do bairro é que deverá assumir ocompromisso de manter o evento emfuncionamento e tentar buscar recur-sos para as suas propostas culturais.A comissão dará as orientações neces-sárias para capacitar a sociedade na horade conseguir patrocínio.”

Contudo, a história da Zona Les-te mostra a independência da popula-ção para abrigar as produções artísti-cas da comunidade. Nos anos 70 e 80,surgia em São Miguel o MovimentoPopular de Arte (MPA). Poetas, ato-res e pintores se reuniam nos finais desemana para apresentar idéias sobreshows, exposições e apresentações te-atrais e que logo eram concretizadas.Em fevereiro de 2007 o MPA comple-tou 30 anos de existência.

A auxiliar administrativa ElaineAlmeida, 32 anos, é moradora da re-

gião e está informada sobre o Fórum.Ela diz: “Não acredito que a comu-nidade vai assumir o Fórum, reinodividido não prospera. É fácil políti-co prometer e depois não incentivara cultura.”

Carlos Alberto Alves Farias dosSantos, 35 anos, um dos artistas lo-cais que participou da semana culturaldesenvolvida pelo Fórum Cultural,viu nesse evento uma fonte muitoimportante para a apresentação dosartistas locais. “Conseguir um méritoonde você mora é muito mais difícil”,diz Santos.

Para ele, a melhor alternativa paraorganizar eventos ligados ao poderpúblico é conseguir a estrutura eapoio dos demais artistas da região.“A ajuda das subprefeituras é muitopequena”, diz.

A comissão do Fórum para ori-entar a comunidade foi capacitada peloInstituto Brasileiro de Incentivo aoMérito (Ibim) que realizou umworkshop entre dezembro de 2007 ejaneiro de 2008. Além disso, vai serregistrada legalmente com direito a umestatuto social e CNPJ para ganhar le-gitimidade perante o governo, isto é,depois de estar legalizado, o Fórumserá visto com mais confiança pelosempresários na hora do apoio finan-ceiro. Após esta fase, o conselho irá sedesfazer e de fato vai atuar em con-junto com a população do Itaim pararesgatar o potencial cultural da região.

Casa de Cultura Itaim Paulista,rua Barão de Alagoas, 340, fones:6963-2742 e 9604 -7877.Coordenação: Sandro Ivo eCristiane Maria.Site: www.itaimpaulista.com.br

Oficina de dança contemporânea: terça-feira, das 13h30 às 17 horas.Oficina de teatro vocacional: terça e sábado, das 9 às 15 horas.Oficina de dança vocacional: quarta-feira, a partir das 14 horas.Oficina de grafite: domingo, das 13 às 16 horas.Sala de leitura Severino do Ramo: terça-feira a domingo, das 9 às 21 horas.Hip-hop “Dança de Rua”: quarta-feira e sexta-feira, 18 horas.Música “Projeto Samba Leste”: terça-feira, 19 horas.Aulas de yoga: quinta-feira, das 16 às 18 horas.

Conheça alguns cursos e horários

Bianca Vasconcelos

“Socializaçãoe auto-estima”

Nesta entrevista, a coordenadora docurso de Psicologia da UniversidadeCruzeiro do Sul, professora SimoneFerreira Domingues, fala sobre a im-portância para as pessoas de realizar al-guma atividade cultural, ressaltando osbenefícios para a sua socialização e oaumento da auto-estima, tanto para osjovens como para a terceira idade.

Cidadão - Por que a cultura (música,dança, pintura, teatro, jogos...) é im-portante?Simone - A cultura é todo o conhecimen-to construído por uma sociedade e pode aju-dar nos desenvolvimentos social e cognitivo,que é o ato ou processo do conhecer.Cidadão - Existe alguma faixa etáriaideal para se conhecer ou fazer partede atividades culturais?Simone - De maneira alguma, a culturaé importante em qualquer idade, tanto paraa criança, o adolescente e o idoso, pois am-plia seu conhecimento, abrange a maneirade se ver e enxergar a sociedade. A pessoatorna-se assim colaboradora dessa cultura,tem mais facilidade para entender o mundoque está incluído e para articular melhorsuas idéias.Cidadão - Qualquer manifestação cul-tural pode acrescentar valores?Simone - Sim, pois cultura é a expressãodos hábitos e costumes da sociedade. Emuma peça teatral ou em um musical, porexemplo, o contexto histórico e até mesmoos problemas desse “universo” estão incluí-dos. Sendo assim, o simples ato de jogar umpapel no lixo recebe um sentido, um signifi-cado que motiva ou não a pessoa-cultural afazê-lo, pois ela entende o que isso implicahoje ou no futuro.Cidadão - O que a cultura pode agre-gar ao jovem? Ajuda a tirá-lo das ruas,dos vícios e das más companhias?Simone - Algumas pesquisas mostram quedurante o dia os jovens se ocupam com o ócio(atividades sem finalidade ou objetivo). Acultura traz um sentido de vida para essesjovens, uma ocupação, enfim, uma nova di-reção. Isso evita que eles participem de ativi-dades que não colaboram com seus cresci-mentos pessoal e social.Cidadão - O que passa na cabeça deuma pessoa que está entrando na ter-ceira idade?Simone - Antigamente, próximo aos 50anos, a pessoa já se considerava velha. Atu-almente, o envelhecimento é uma fase muitoindividual, uma questão de percepção (decomo a pessoa se vê). Há pessoas que passa-ram dos 50 anos e se vêem como se tivessem20. Isso acontece porque em termos sociaisela continua trabalhando, passeando e fa-zendo amizades; portanto, não se achamvelhas e sim, produtivas, capazes de fazerqualquer coisa. São essas que muitas vezesforçam a sociedade a se preocupar com suasnecessidades. Entretanto, outras acham quea idade pesa, portanto mudam sua vida, en-tram em um “ostrismo” (vivem para si pró-prias, isoladas do mundo social). Elas nãose acham capazes de realizar as coisas, res-tringem sua vida às atividades domésticas,têm poucos amigos e vivem de rotina, comoassistir à TV todos os dias e quase nuncasair de casa.Cidadão - Como fica essa pessoa quese acha velha demais?Simone - Normalmente, ela se fecha, re-clama de tudo e costuma repetir: “Você sou-be que fulano morreu”, “O vizinho de nãosei quem está doente”, “Estou com dor aqui,ali...” A pessoa fica isolada, triste e atémesmo depressiva, suas falas são limitadas ea família, principalmente os filhos, ficamsem ter assunto para conversar com ela.

José Ortega

Page 6: Cidadão completo 32

COMPORTAMENTOPÁGINA 6 - SETEMBRO DE 2008

A cada ano, 700 mil adolescentes viram mãeMesmo com informação e acesso a métodos anticoncepcionais, índice de gravidez é alto no Brasil

Bianca Vasconcelos

Compreensão e apoio são importantes Menor de 14 anos corre maisriscos na gestação, diz médico

Segundo dados do Instituto Bra-sileiro de Geografia e Estatística(IBGE), o índice de gravidez na idadeadulta caiu, ao contrário do que ocorreentre as jovens. Desde 1980, o núme-ro de partos em adolescentes de 15 a19 anos aumentou 15%. Só para seter idéia do que isso significa, são cercade 700 mil meninas se tornando mãea cada ano no Brasil.

A coordenadora do curso de Psi-cologia da Universidade Cruzeiro doSul, professora Simone Ferreira da Sil-va Domingues, aponta os principais

fatores responsáveis pela gravidez damenor. “O primeiro fator é que, anti-gamente, a gravidez era indesejada esó acontecia por falta de informação,cuidados e prevenção. As jovens acre-ditavam no ditado: ‘Nunca vai acon-tecer comigo’. Hoje, elas conhecem osmétodos anticoncepcionais, mas nãoos usam de forma adequada.”

Conforme Simone, as meninascorrem risco de não se prevenir, mes-mo sabendo que podem engravidar;é como se tivessem um desejo de sermãe, mas do qual elas não têm cons-ciência. “Meninas de classe social me-nos favorecida possuem menos ex-

pectativas de vida. Elas entendem queum dia serão mães, então não faz di-ferença se serão agora ou mais tarde, jáque não possuem objetivos futuros.Já as adolescentes de classes favoreci-das imaginam que a gravidez podeatrapalhar seus projetos, então, espe-ram o momento mais adequado”,afirma a psicóloga.

A adolescente grávida recebe umacarga de novos sentimentos, taiscomo: a surpresa de ter uma vida paratomar conta e a alegria por sua entra-da, ainda que prematura, no mundoadulto. As mudanças hormonais de-correntes trazem o sentimento de tris-

teza e podem levar a um quadro dedepressão. Neste caso, a psicóloga ex-plica que o medo se dá por causa dapresença do desconhecido, de não sa-ber como será sua nova rotina, da in-certeza de como ficará seu corpo apóso nascimento e da preocupação se re-ceberá o apoio da família e do namo-rado, principalmente financeiro.

Ser mãe não é como brincar de bo-necas, há inúmeras responsabilidades.Para auxiliar as adolescentes que estãoentrando na fase adulta, há informa-ções sobre métodos anticoncepcionaisou planejamento familiar disponíveisnos postos de saúde.

Para a psicóloga Simo-ne Ferreira da Silva Domin-gues é fundamental nessafase a compreensão e oapoio dos pais. Apesar deviver uma fase adulta, que éa gravidez, a mãe é adoles-cente e precisa de ajuda emo-cional, material e financeira.

“Evite dizer que seu fi-lho é incompetente, irres-ponsável ou que não vaiconseguir cuidar dos netos.Estes pensamentos não tra-zem nenhum acréscimo deresponsabilidade, e, se aadolescente achar que não é capaz, vaiquerer continuar sem obrigações e vi-vendo do mesmo jeito de outrora.Sendo assim, é muito provável queengravide novamente”, diz Simone.

A adolescente que tem o primeirofilho sem assumir seus deveres delegaas funções de mãe a outros. Normal-mente, parte para uma segunda gravi-dez e as crianças podem ser filhos domesmo pai ou, algumas vezes, de ho-mens diferentes.

É o caso da ex-estudante MarianaPires Menezes, 20 anos, moradora emErmelino Matarazzo, Zona Leste, queengravidou pela 1ª vez aos 17 anos eteve a segunda filha aos 19, com ou-tro rapaz. Atualmente, ela não está emum relacionamento fixo e não traba-lha. “Quem cuida delas é a minha mãe.Ainda estou viva, por isso saio e na-moro do mesmo jeito”, diz.

A mãe de Mariana, a autônomaVera Lúcia Pires Menezes, 37 anos, ape-

sar das necessidades fi-nanceiras e da posição ne-gativa da parentela,apoiou a filha e acompa-nhou todos os momen-tos da gestação, inclusivea frustração e a depressãoque Mariana sofreu.

Elas moram sozinhase não tiveram condiçõesde pagar os exames de pré-natal, nem a cesariana. Se-gundo Mariana, tudo sófoi possível “graças à ge-nerosidade” de dois obs-tetras que se comoveram

com a história e fizeram o parto.Vera Lúcia se diz uma avó coruja e

confessa não ter brigado com a filhaao saber da gravidez: “Por incrível quepareça, não fiquei brava. Os bebês trou-xeram alegria a essa casa.” A avó faz acomida, lava as roupas, dá banho nosnetos, leva-os para a escola e educa-os,além de vender salgados e iogurtespara os vizinhos. “Minha filha ainda énovinha. Na verdade, cuido de trêscrianças”, afirma.

A menina-mãe poderá apresentarproblemas de crescimento e desenvol-vimento, emocionais e comportamen-tais, além de riscos de complicações nagestação ou na hora do parto.

O obstetra Alfonso Maria GarciaBittencourt, 56 anos, diz que o pré-natal é de extrema importância paraevitar futuros problemas. “A gravidezna adolescência é complicada, princi-palmente quando a menina tem me-nos de 14 anos. O corpo ainda nãocompletou a formação e não está ama-durecido. Será indispensável fazer osexames de pré-natal, que irão acom-panhar e colaborar para a saúde da mãee do bebê”, diz Bittencourt.

Além de tomar as vitaminas re-comendadas pelo médico e obedecera todas as restrições, quem tem dia-betes ou pressão alta deve redobrar aatenção quanto à gravidez de risco.

Caso a adolescente tenha diabetes,há um aumento na taxa de açúcar nosangue e a criança pode nascer com so-brepeso, além de contrair diabetes econvulsões devido à falta de açúcar que

outrora estava acostumada a receberna barriga da mãe. Entretanto, se oproblema da jovem for pressão alta,ela pode ter uma eclampsia: os rinsparam de funcionar, a paciente incha epode gerar na mãe um derrame (aci-dente vascular cerebral, AVC) que temchances de resultar em convulsões, in-farto (falta de oxigênio no coração) eaté mesmo levar ao coma.

“Muitas vezes, as jovens não que-rem ir ao médico. Elas acreditam quenão há necessidade e deixam os exa-mes de pré-natal de lado. Isso podecomprometer a gestação”, relata o mé-dico.

Nos hospitais particulares, não écomum a ocorrência de adolescentesgestantes. A situação é inversa em es-tabelecimentos públicos freqüenta-dos por classes menos favorecidas.“Eu trabalho para o Estado e parauma clínica particular. Na clínica, difi-cilmente aparecem menores grávidas.Já no hospital, é freqüente o atendi-mento às adolescentes”, afirma Bit-tencourt.

Entre 100meninas grávidas:

95 conhecem ou já usaram méto-dos anticoncepcionais;70 pararam de estudar quando en-gravidaram;70 engravidaram do mesmo pai;60 tinham menos de 26 anos quan-do engravidaram pela primeira vez;50 delegam a outros os cuidadoscom o bebê.

Fonte: Universidade Federal deSão Paulo (Unifesp), 2001

A Prefeitura de São Paulo distri-bui gratuitamente kits para controledo diabetes a pacientes que usam in-sulina regular ou NPH (humana) dia-riamente. Essa distribuição cumpre aLei Federal nº 11.347, de 26 de outu-bro de 2006. Os kits, chamados insu-mos, contêm glicosímetro (aparelho),lancetas, tiras reagentes, seringas paraaplicação de insulina e medicação.

Para recebê-lo, o paciente depen-dente de insulina necessita apresentarum relatório médico emitido pelaUnidade Básica de Saúde (UBS), espe-cificando há quanto tempo é diabéti-co, o tipo de síndrome, a quantidadede insulina utilizada e de testes que opaciente deve fazer diariamente.

O automonitoramento do nívelde glicose é uma ferramenta impor-tante para o controle do diabetes. “Au-menta a auto-estima dos pacientes,eles se preocupam mais, se contro-lam”, diz Luciene Maria dos SantosSouza, 49 anos, auxiliar de enferma-

Pacientes recebem kit de diabetes em postosComo em outras unidades básicas, usuários do Jardim Maia monitoram em casa nível de glicose no sangue

Raquel Bariani

SAÚDE

gem responsável peladistribuição do materialna UBS Jardim Maia,em São Miguel. Todasas unidades básicas fa-zem o cadastro dos pa-cientes e orientam quan-to à retirada do kit.

Segundo dados daPesquisa Nacional porAmostra de Domicílio(PNAD), colhidos em2003 pelo Instituto Bra-sileiro de Geografia eEstatística (IBGE),29,9% da populaçãoeram portadores dedoenças crônicas, comodiabetes, hipertensão e tuberculose.A proporção de portadores dessasdoenças cresceu com a idade, chegan-do a 77,6% na faixa dos 65 anos oumais. A mesma sondagem revelou que52,4% da população buscam atendi-mento em postos de saúde.

“É importante que haja esse mo-nitoramento diário e constante. O pa-

ciente depen-dente de insu-lina pode ter várias oscilações do nívelde glicose no sangue durante o dia.Esse controle auxilia o tratamentomédico e contribuiu com diagnósti-cos mais precisos”, afirma o clínico-geral Geraldo José Torres, da UBS Car-los Muniz, na Ponte Rasa.

O aposentado Elias de Oli-veira, 65 anos, diabético há 15anos, faz uso de insulina duasvezes ao dia. Ele afirma ter so-licitado o kit na UBS CostaMelo, próximo à Penha, háaproximadamente dois anos.“Conversei com a agente comu-

nitária de saúde e ela dis-se que é demorado

mesmo, masconheço pes-soas que já re-ceberam o ma-terial. Há maisou menos umano renovei o

pedido, masainda não recebi nada.

Assim que chegar, não precisaria ir aoposto semanalmente para fazer o con-trole”, diz Oliveira. O paciente Antô-nio Plínio Ramos de Castro, 64 anos,diagnosticou o diabetes em 2006. Elediz que demorou cerca de seis mesespara receber o kit do posto de saúde.Faz uso de insulina uma vez ao dia e

realiza dois testes diários. “As fitassão caras e ajudaria muito se o gover-no mandasse mais kits para seremdistribuídos.”

Os médicos recomendam a práti-ca de exercícios físicos, principalmenteos aeróbicos, para estimular a produ-ção de insulina, elevar a capacidade decaptação de glicose pelos músculos ediminuir a gordura corporal. Esta édiretamente relacionada ao diabetestipo II e aumenta a sensibilidade celu-lar à insulina.

A atividade física diminui tambémo risco de doenças cardíacas, melhoraa hipertensão arterial (em combinaçãocom uma dieta adequada), entre ou-tros benefícios. A prática de exercíciosdeve ser acompanhada por um pro-fissional responsável, para que nãohaja problemas de contusões.

Mariana com a mãe e as filhas: alegria em casa

Bianca Vasconcelos

UBS Vila Curuçá éum dos pontos dedistribuição do kit

A Coordenadoria Regional deSaúde fica na avenida Pires do Rio,199, Vila Americana. Fones: 6133-0041 e 6956-258.

Fotos Raquel Bariani

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SETEMBRO DE 2008 - PÁGINA 7COMPORTAMENTO

Centro organiza atividadesde saúde e lazer para idoso

Espaço de referência em São Miguel desperta mulherese homens para cuidar da mente, do corpo e do coração

Liane Mota

A preocupação com os bem-es-tares mental, físico e cultural é o tra-balho realizado pelo Centro de Refe-rência do Idoso (CRI), órgão da Se-cretaria do Estado da Saúde que reú-ne uma série de atividades e serviçosgratuitos de atendimento ao idosoem um ambiente estruturado e adap-tado para os idosos.

Ao falar em terceira idade, imagi-na-se um grupo de senhores e senho-ras que não pratica atividade alguma,que já viveu tudo o que tem para vivere que hoje só quer saber de descansar.É assim com muitos avôs e avós e amaioria das pessoas não presta aten-ção no que anda acontecendo comnossos “velhinhos”.

Segundo o Instituto Brasileiro deGeografia e Estatística (IBGE), as es-timativas para os próximos 20 anosindicam que a quantidade de idososno país excederá a 30 milhões de pes-soas, chegando a representar quase13% da população brasileira. Essa par-cela tão importante de brasileiroscomeçou a ganhar notorieda-de nos últimos anos. Fo-

ram popularizadas as atividades vol-tadas à terceira idade e houve um cres-cimento de entidades, apoiadas pelogoverno ou não, dedicadas a promo-ver diversos programas de incentivopara a terceira idade (viagens mais ba-ratas, descontos em hotéis e até uni-versidades a preços acessíveis). Desta-cam-se ainda os espetáculos de teatro,dança e artesanato entre outros, volta-dos para o público idoso. Com isso,já pode ser notada a melhora na quali-dade de vida e na longevidade da tam-bém chamada “melhor idade”. Loca-lizado na praça Padre Aleixo Montei-ro Mafra, em São Miguel Paulista, po-pularmente conhecida como Praça do

Forró, o CRI da Zona Leste possui,além de acompanhamento médico emtodas as especialidades geriátricas, ati-vidades diárias que promovem a rein-tegração do idoso na sociedade. Sãoaulas de dança sênior e teatro, entreoutras que acontecem durante a sema-na. Existem também oficinas de arte-sanato que são muito procuradas eonde as alunas têm a oportunidadede expor e vender seus trabalhos con-feccionados nas aulas, como bolsas decrochê, tricô e costuras em geral, nopróprio hall de entrada da instituição.Sempre que possível são fechadosconvênios para a exposição dos tra-balhos também em feiras e eventosda região. Há ainda trabalhos decora-tivos com a utilização de materiais re-ciclados, que são expostos pelos qua-tro andares do prédio.

Atendidos por cerca de 300 fun-cionários, chegam a freqüentar o CRIZona Leste aproximadamente 1,5 milpessoas por mês, mas a participaçãoé restrita somente aos idosos commais de 60 anos de idade, o que aca-ba excluindo muitos moradores daregião.

O Centro de Referência do Ido-so (CRI) fica na praça Padre AleixoMafra, 34, e funciona de segunda àsexta-feira, das 7 às 19 horas. Tele-fone: (11) 6130-4000.

Baile da Terceira Idade vira xodóÉ nas sextas-feiras que acontece o

evento mais movimentado do CRI.A partir das 14 horas, o Baile da Ter-ceira Idade reúne no salão de festascerca de 700 pessoas. Ao som de mú-sicos contratados, senhores e senho-ras têm a oportunidade de dançar to-dos os estilos de música, desde o for-ró até clássicos do bolero.

Há também aqueles que vão sim-plesmente para olhar a agitação. Ficamsentados em cadeiras dispostas ao re-dor do salão somente ouvindo e ob-servando. É ali que começam grandesamizades, velhos amigos se reencon-tram e onde eles se sentem à vontadeaté para paquerar. As senhoras maisvaidosas costumam chegar cedo, comuma grande sacola a tiracolo e se pre-param ali mesmo no banheiro, quefica com suas pias lotadas de maquia-gem e escovas de cabelo. Todas que-rem estar muito bonitas para o baile.O salão possui uma espécie de guar-da-volumes, onde pode-se deixar abolsa durante a festa e uma grandeárea de convivência atrás do salão ain-

da está sendo reformada, o que possi-bilitará que mais pessoas freqüentemo baile.

A área de convivência não é restri-ta, ou seja, não precisa ser cadastradonas outras atividades da casa, mas so-mente os “maiores de idade”, commais de 60 anos, podem participar, o

que atrai público de diversos bairrosde São Paulo. “O baile é sempre mui-to animado e, às vezes, os jovens pa-ram em frente ao CRI e perguntamse podem entrar, pois ouvem a ban-da tocando e acham que é uma festacomum. Mas respondemos que, in-felizmente, não é permitido, só à ter-ceira idade”, diz o diretor da área deconvivência e cultura, Milton da Silva

Guedes, 63 anos.

Grupo teatral ocupa vãode viaduto com oficinas

Juntas, mãe e filha fazem aulas

O projeto Viaduto Cultural acon-tece todo domingo, das 10 às 13 ho-ras, embaixo do Viaduto da China,no Itaim Paulista. Voltado às criançase jovens moradores da comunidade,é coordenado pelo grupo teatral Lou-cura Alternativa, formado a partir doencontro de seus integrantes na Casade Cultura do mesmo bairro.

O projeto oferece oficinas gratui-tas de teatro, aulas de circo, tecido, ma-labares, contador de histórias e acro-bacias. Segundo Rafaela Souza Alves,18 anos, uma das participantes, ini-cialmente o grupo realizava somenteensaios no local e aos poucos foi des-pertando a curiosidade dos jovensmoradores. Após algumas semanas,as crianças começaram a participar dosensaios e automaticamente as oficinasforam oficializadas.

“Hoje, o projeto visa desenvol-ver um raciocínio crítico e despertaroutros caminhos tirando as crianças

FILOSOFIA - Instrutora de ioga garante postura adequada

“Sinto como sefosse minha casa”

Em meio a todos esses perso-nagens, são encontradas históriasmuito parecidas, como a da viúvaMaria de Lourdes Pereira de Carva-lho, 72 anos. “Minha vida mudou100% após começar a freqüentar oCRI. Sinto como se fosse minhacasa”, afirma. Ela participa de todasas atividades esportivas e culturais,de computação a artesanato: “Venhode segunda à sexta, e se funcionassesábado e domingo viria também.Durante a semana, chego às 7 ho-ras.” Ela participa do baile desde2001, dança bolero e já participou doconcurso que escolhe a Miss TerceiraIdade do CRI anualmente.Maria de Lourdes: semana cheia

Prática da ioga ajuda aconhecer a si e ao outro

Ioga é a mais nova atividade ofe-recida pela Casa de Cultura do ItaimPaulista. As aulas são ministradaspela instrutora Fernanda da SilvaMontenegro, 24 anos, e acontecem àssextas-feiras. Para ela, a ioga leva aoautoconhecimento e proporciona al-ternativas para que o aluno possa li-dar melhor com situações das maisadversas no seu dia-a-dia. O públicoque procura esse tipo de atividade éformado geralmente por mulheresentre 35 e 40 anos, porém, na Casa

de Cultura o grupo é variado e qual-quer pessoas acima de 14 anos podeparticipar.

“É um tipo de atividade dificil-mente encontrada nas Casas de Cul-tura, pois se acredita que a ioga temligação com a prática esportiva, o quenão é verdade”, afirma a instrutora.Com essa iniciativa, a Casa de Cultu-ra do Itaim Paulista pretende quebraro mito e levantar uma bandeira nãosó a favor da cultura como tambémdessa filosofia de vida.

das ruas e da marginalidade”, diz ela.Vale lembrar que esse projeto nãoconta com apoio de empresas ou deórgãos do governo. Todo materialutilizado nas aulas é fornecido pelospróprios alunos e por moradores dacomunidade.

José Ortega

José Ortega

Liane Mota

Liane Mota

Liane Mota

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CIDADANIAPÁGINA 8 - SETEMBRO DE 2008

Cadeirante apontacaminhos em São Miguel

A perspectiva de quem precisa de cadeira de rodaspara se locomover e enfrentar as limitações no bairro

Felipe Pierri

Um trajeto curto para a maior par-te das pessoas, como ir até a padariamais próxima, parece algo corriqueiro.Mas o mesmo caminho para quemdepende de cadeira de rodas significaalgo muito mais complexo. Um sim-ples buraco, um desnível na calçada ouum poste mal posicionado são sufi-cientes para um cadeirante se deslocarda calçada de pedestres para a rua edividir espaço com os automóveis.Esse é um dos riscos que o desenhis-ta mecânico Rogério Ferreira de Figuei-redo, 44 anos, enfrenta todos os diasdesde o Carnaval de 1985, quando, emdecorrência de um assalto, foi baleadona coluna e perdeu os movimentosdas pernas.

Figueiredo fez fisioterapia porquase três anos, mas só o tratamentofísico não era o bastante para superar

tamanho trauma. Em uma de suassessões no hospital, conheceu um pa-ciente em situação semelhante, masque praticava esporte. Intermediadopor esse atleta, Figueiredo conheceu aAssociação para a Educação, Esporte,Cultura e Profissionalização da Divi-são de Reabilitação do Hospital dasClínicas (Aedrehc), na Zona Leste,onde iniciou um treinamento de bas-quete e passou a fazer parte da equipe.Foram dezessete anos jogando noAedrehc, time da associação que eleajudou a ser campeão paulista e brasi-leiro. Mas as conquistas não se limita-ram aos títulos e troféus que recebeu.“Além de proporcionar aquele prazerde jogar, o basquete me ensinou a su-perar meus problemas. Tinha que to-mar banho, arrumar a cama, tudo semajuda de ninguém. Estava longe daminha família e tive que me virar sozi-nho”, afirma Figueiredo.

Outra atividade que exercia noHospital das Clínicas era consertar ca-deiras de rodas, trabalho ao qual seadaptou facilmente pela experiênciaque tinha como mecânico. Quan-do questionado sobre as chancesdadas aos cadeirantes, Figueire-do diz que a maior parte daspessoas quer mostrar que é ca-paz de trabalhar, mas falta-lhe oportunidades. Deacordo com o artigo93 da Lei 8.213/91,uma empresa commais de 100 empre-gados é obrigada adestinar de 2% a 5%de seus cargos a bene-ficiários reabilitados oupessoas com deficiência,sob pena de multa.

Para auxiliar o cumpri-mento da lei, as SecretariasMunicipais do Trabalho e da Pessoacom Deficiência e Mobilidade Redu-zida assinaram parceria que garante àspessoas com algum tipo de deficiên-cia admissão ao mercado de trabalhopor meio de cadastro on-line. Mesmotendo ciência de programas como esse,Figueiredo afirma que é preciso per-sistir para superar os limites e não seacomodar. Sem nenhuma ajuda decusto, estudou desenho mecânico eatualmente projeta cadeiras de rodasespecíficas às necessidades de cadacliente. Envia o projeto para uma fá-brica em Goiânia, recebe uma porcen-tagem das vendas e comercializa, emmédia, três cadeiras por mês.

Calçadas são o principal

obstáculo no bairro

Dentre os fatores que dificultam alocomoção dos cadeirantes estão o ex-cesso de buracos, desníveis, e os pos-tes de iluminação colocados em espa-ços irregulares. Segundo a Lei Federal7.853, cabe ao poder público remover

No que se re-fere ao uso do trans-

porte público, as normasestabelecidas são um pouco mais

generosas. Os deficientes são isentosdo pagamento de tarifas. Porém, parausufruir desse direito, é necessário fa-zer cadastramento em um dos pos-tos da SPTrans.

Figueiredo conta que em São Mi-guel “existe uma boa quantidade” deônibus adaptados. “Espero no máxi-mo meia hora no ponto até conseguirembarcar. Mas há lugares mais afasta-dos, no extremo leste, onde a espera éde mais de duas horas. Então, é umserviço que precisa ser visto”, afirma odesenhista.

Quanto às atitudes de outros pas-sageiros, ele diz que algumas pessoasnão respeitam os direitos e espaçosdestinados a ele. “Parece que a pessoanão quer ver. Está sinalizado que aque-le espaço é para mim e o pessoal nãoquer saber, fica na frente e não se im-porta”, lamenta.

Zona Leste luta por educação diferenciadaAndrea PaschoalHenrique Pereira

Nadya Zago

RECREAÇÃO - Brincando, as crianças desenvolvem habilidades

As Escolas Municipais de Educa-ção Infantil (Emeis) de ErmelinoMatarazzo e São Miguel Paulista or-ganizam trabalhos de recreação comas crianças. Além das atividades paraos alunos, são criadas ações para inte-gração da comunidade com a escola.O desenvolvimento de oficinas depintura, bijuteria e sucata destinam-se a ensinar essas atividades às pes-soas em geral e ao mesmo tempoconscientizam a população da impor-tância da escola no aprendizado e navida de todos.

A Emei Professora Dinah Galvão,em Ermelino Matarazzo, aplica a re-creação como método educativo paraos estudantes e para os moradores quevivem ao redor da escola, como expli-ca a coordenadora pedagógica, Ana

Maria Silvage, 44 anos. “A expressãopode se dar através da linguagem tea-tral, corporal, escrita, matemática e ar-tística. E quando você trabalha respei-tando essa linguagem, as crianças de-

senvolvem as próprias habilidades”,afirma ela.

Os professores utilizam-se de ar-tifícios para prender a atenção dos alu-nos e fazer com que entendam sua

proposta. A idéia criada na escola Di-nah Galvão são as salas ambientes,além da quadra e do parque, que têma finalidade de desenvolver diversashabilidades dos educandos por meioda recreação.

No momento, existem três salasde grafia; uma de leitura, na qual se fazuso de acessórios como livros, palco,instrumentos, fantoches, bonecos,tapetes e até fantasias, tudo para me-lhor interpretação do texto; uma demovimento, que é espelhada e possuimateriais para trabalhar exercícios físi-cos; uma de multimídia, com recur-sos tecnológicos para o aprendizadodos estudantes na era digital; uma deartes, com utensílios de pintura, argilae sucata; e uma brinquedoteca. A es-cola realiza campanhas para recolhermateriais aproveitáveis com o objeti-vo de ensinar a reciclagem e a arte quedeles pode ser gerada.

Hoje, o acervo da brinquedoteca

está sendo substituído por móveisreais, mas em miniatura. O que antesera uma geladeira de brinquedo, foisubstituído por um frigobar. A mu-dança baseia-se em um projeto daUniversidade de São Paulo (USP),como esclarece a diretora Maria Cristi-na da Silva Salada, 45 anos: “O brin-quedo, em si, não desencadeia umprocesso de aceleração do crescimen-to. A USP, que montou o projeto queestá sendo aplicado aqui na escola, tempor objetivo não distanciar as criançasdas coisas reais. A intenção não é ocrescimento precoce, mas não borda-dos e outras que podem ser usadasno dia-a-dia e até mesmo para finslucrativos.”

“Após o feriado, os professores efuncionários vão ensinar aos mora-dores da região a fazer um mosqui-teiro para ajudar a combater a den-gue”, diz a auxiliar de ensino Melissade Oliveira, 32 anos.

obstácu-los em viaspúblicas que pos-sam atrapalhar a passagem depessoas com necessidades especiais.Porém, não só em São Miguel Paulis-ta, como na maior parte dos bairrosde São Paulo, a lei não é devidamentecumprida, o que ocasiona hábitos es-pecíficos na vida dos cadeirantes.

Algo rotineiro para pessoas comnecessidades especiais é a obrigação deesquematizar caminhos e destinos.Para evitar imprevistos, como falta desanitários adaptados e rampas de aces-so, é indispensável conhecer os espa-ços freqüentados ou ao menos ter in-dicação de um amigo que já conheça olocal. “Como eu ando muito pela ci-dade, conheço deficientes de todosos lugares. Quando a gente se encon-tra, trocamos informações. Um ba-nheiro adaptado ou uma porta maislarga são coisas que parecem não tervalor, mas para nós faz muita dife-rença”, diz Figueiredo.

Cadastramento on-line no Programa Inclusão Eficiente:www4.prefeitura.sp.gov.br/cpsi/Cadastramento de pessoas com direito ao Bilhete Especial:Subprefeitura de São Miguel PaulistaRua Ana Flora Pinheiro de Souza, 76Atendimento de segunda à sexta-feira, das 8h às 18h.Telefone: 2297-0634Secretaria Municipal da Pessoa com Deficiência e MobilidadeReduzidaEd. Matarazzo - Viaduto do Chá, 15Atendimento de segunda à sexta-feira, das 9h às 19h.Telefone: 3113-8000http://portal.prefeitura.sp.gov.br/secretarias/deficiencia_mobilidade_reduzidaDivisão de Medicina de Reabilitação do Hospital das Clínicas -Unidade Vila Mariana – Zona SulPara receber atendimento, o paciente necessita agendar umatriagem por telefone com a Coordenação de HoráriosTelefone: 5549-0111 - ramais 225 ou 227.Rua Diderot, 43 – Vila Mariana.Atendimento de segunda à sexta-feira, das 7h às 19h.Aos sábados, das 8h às 13h.

Serviços públicos

SUPERAÇÃO - Apósperder os movimentosdas pernas, em 1985,

ao ser baleado duranteum assalto, Figueiredo

precisou mudartotalmente seu

estilo de vida

Felipe Pierri

Nadya Zago