cidadania política e voto do analfabeto no brasil

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Sociologia

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    Polticas Pblicas, Campinas, v.2, n.2, p.84-99, dez. 2009 ISSN: 1982-3207.

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    CIDADANIA POLTICA E VOTO DO ANALFABETO NO BRASIL

    Rosemary Dore Simone Ribeiro

    RESUMO Este trabalho examina, a partir de uma perspectiva histrica, o direito poltico de cidadania dos analfabetos no Brasil. De 1889 a 1985, havia uma lei estabelecendo a obrigatoriedade de ser alfabetizado para poder ter o direito de voto. Tal conexo entre voto e educao tornou-se uma fonte de excluso social e de injustia. No mbito das lutas pela democracia no pas, os analfabetos conquistaram o direito poltico de voto. Dessa maneira, eles comearam a participar das decises polticas concernentes s suas prprias vidas, mesmo que continuem sem ter o direito de serem eleitos.

    PALAVRAS CHAVE Educao e voto; Cidadania poltica; Voto do analfabeto; Estado e sociedade civil

    POLITICAL CITIZENSHIP AND THE VOTE OF THE ILLITERATE IN BRAZIL

    ABSTRACT This work examines, from a historical perspective, the illiterates political right of citizenship in Brazil. From 1889 to 1985, there was a law establishing the obligation to be literate so to have the right to vote. This connection between vote and education became a source of social exclusion and injustice. In the scope of the social struggles for democracy, the illiterates conquered the political right to vote. In this manner, they started to participate at the political decisions referring to their own lives, even if they continue not having the right to be elected.

    KEY WORDS Education and vote; Political citizenship; Vote of the illiterate; State and civil society

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    INTRODUO

    Neste trabalho, examina-se a conquista do voto dos analfabetos no Brasil, direito poltico negado maioria da populao1 por quase cem anos (1889-1985). O fundamento dessa poltica era o vnculo entre educao e voto: seria necessrio ser alfabetizado para exercer a cidadania poltica. Tal argumento tornou-se uma fonte de excluso social pois, durante quase um sculo, o problema da universalizao da educao bsica no foi resolvido e o analfabetismo no foi reduzido (Cf. PINTO et al., 2000). A grande maioria da populao brasileira, sendo analfabeta, continuou sem o direito poltico do voto. somente na atmosfera das lutas sociais pela ampliao da democracia no pas, depois de vinte anos de ditadura militar, que concedido o direito de voto aos analfabetos. Contudo, foi uma conquista parcial porque os analfabetos continuam inelegveis e, desse modo, no podem exercer funes de governo na sociedade poltica. O direito de voto significou e ainda significa as possibilidades de desenvolvimento de uma grande parte da sociedade brasileira, historicamente marginalizada pelas polticas dominantes, que passou a ter o direito de participar das decises polticas referentes sua prpria vida. Contudo, o fato de o analfabeto poder votar mas no poder ser votado2 constitui uma desigualdade no exerccio dos direitos polticos, que a Constituio de 1988, a mais progressista que existiu no Brasil, no viu como uma injustia. Mas sim uma situao de injustia e de desigualdade poltica, agravada pela ineficcia das polticas pblicas em eliminar o analfabetismo.

    No existe avano no campo da educao de adultos sem o alargamento da participao dos analfabetos na sociedade poltica, seja como aquele que vota ou que eleito, isto , influenciando as diretivas para a educao nacional. Isso representa uma das estratgias para eliminar o analfabetismo, pois, sem educao, tambm difcil compreender o mundo, criticar quem dirige o governo e ser um governante. E numa perspectiva histrica das lutas sociais pela ampliao da democracia no Brasil que abordamos a conquista do direito poltico de cidadania dos analfabetos e os problemas ainda hoje suscitados pelo analfabetismo.

    1 Em 1900, o percentual de analfabetos no Brasil era de 75% (fonte: Anurio Estatstico do Brasil, do Instituto

    Nacional de Estatstica, Cf. ALMEIDA, 2000). 2 De acordo com o Tribunal regional Eleitoral, dentre os eleitores brasileiros aptos a votar at o final de 2007

    6,46% so analfabetos. Desse total, a maior parte dos eleitores analfabetos se encontra no Nordeste do pas, onde as desigualdades de todo tipo so gritantes. Enquanto o percentual de eleitores analfabetos de 3,51% e 3,84% nas regies Sul e Sudeste, os estados da regio Norte e Nordeste registram 8,74% e 12,22% de analfabetos em seu eleitorado. Na regio Centro-Oeste, os iletrados somavam 4,76% no final do ano passado. Embora votem, todo esse contingente de eleitores inelegvel, de acordo com a Constituio Federal. (O Globo, 2008).

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    CIDADANIA E VOTO DOS ANALFABETOS

    At 1891, quando foi proclamada a Repblica no Brasil, no existiam restries ao voto de pessoas analfabetas. No entanto, o direito de voto estava condicionado posse de propriedades. Os ndios, os escravos e as mulheres no podiam votar. A partir de 1891, foi instituda a restrio ao voto das pessoas analfabetas. Ento, a taxa de analfabetismo no pas era quase 80%.

    O vnculo entre educao e voto foi estabelecido quando sopravam no Brasil os ventos liberais, vindos da Europa, no final do sculo XIX, em direo ao cancelamento do voto censitrio e da instituio do voto universal (masculino). E por que os nossos polticos liberais entenderam que era o momento de suprimir o voto censitrio, mas cuidaram de no tornar o voto universal? A eliminao do voto censitrio abriria as portas para o voto das massas populares, o que amedrontava os polticos liberais. Por isso, eliminam o voto censitrio, mas introduzem a limitao da alfabetizao, sabendo muito bem que a maior parte da populao brasileira, sendo analfabeta, continuaria fora do jogo poltico, mesmo que no fosse mais uma exigncia a comprovao de propriedade e renda.

    O impedimento das pessoas analfabetas de votar continuou a prevalecer nas Constituies de 1946, elaborada num contexto democrtico, e na de 1967, formulada aps o golpe que instituiu uma ditadura militar no pas por mais de vinte anos (1964-1984). Apenas em 1985, com a redemocratizao do pas, as pessoas analfabetas ganharam o direito de voto, embora no pudessem ser votadas.

    H um estreito vnculo entre democratizao do Estado e ampliao da participao das massas populares na poltica. Se desde a proclamao da Repblica at meados dos anos oitenta os analfabetos no podiam votar, porque o Estado brasileiro tinha avanado muito pouco no campo democrtico. Foi apenas no comeo da dcada de oitenta do sculo XX que teve incio a ampliao do Estado, na medida em que a sociedade civil se fortaleceu, atravs da organizao e participao das classes subalternas, forando o Estado a ceder s presses dos diversos movimentos populares. A sociedade civil passa a se caracterizar, de acordo com o pensamento gramsciano, como uma "trincheira", onde travada a luta entre concepes distintas para conseguir a hegemonia poltica. A ausncia dessa disputa, com o fechamento da sociedade, a ditadura. Ao se alargar a sociedade civil, com a

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    ampliao do Estado, as maiorias sociais tambm puderam se manifestar e lutar para transformar a sociedade.

    ESTADO, SOCIEDADE CIVIL E PARTICIPAO POLTICA

    Atualmente, o conceito de sociedade civil tem sido amplamente utilizado para a anlise dos movimentos sociais. Contudo, h uma grande diversidade de entendimento do seu significado (NOGUEIRA, 2003), chegando-se a excluir da sociedade civil a luta pelo poder (COHEN, 2003), o que tambm excluiria a dimenso da hegemonia, imprescindvel compreenso do conceito gramsciano de sociedade civil.

    Em Gramsci, os conceitos de hegemonia e de sociedade civil so inseparveis. Esse aspecto destacado pelo autor quando chama a ateno para o fato de que entende o conceito de sociedade civil como Hegel, isto , como hegemonia poltica e cultural de um grupo social sobre a inteira sociedade, como contedo tico do Estado... (GRAMSCI, 1977, p. 703).

    Hegel foi um dos primeiros a identificar a sociedade civil como uma esfera distinta do Estado. Para ele, a sociedade civil a mediao entre o indivduo e o Estado. Ela concebida como uma instncia desorganizada porque nela predominavam interesses particularistas, mas tambm, contraditoriamente, um momento de articulao e transio para o Estado-tico, no qual se realizaria a identidade entre a vida civil e a vida poltica (HEGEL, 1976). Nesse sentido, os interesses particularistas, que se expressam na sociedade civil, deveriam se articular em torno da vontade geral e aspirar ao universal. Mas isso somente ocorreria se todos os indivduos fossem educados para desejar o universal e, dessa forma, conquistar a liberdade concreta, que se realiza no Estado-tico-poltico.

    A identidade proposta por Hegel entre vida civil e vida poltica no Estado tico , contudo, criticada por Marx (1983). Para ele, assim como para Engels (197_), o Estado moderno uma organizao constituda a partir dos conflitos entre os interesses de classe, que expressam interesses particulares de uma parte da sociedade, a burguesia, como se estes fossem interesses gerais. Para mudar os interesses e a vontade geral do Estado, os trabalhadores deveriam se organizar como classe social e derrubar violentamente a classe social dominante, atravs de um processo revolucionrio. Em Marx e Engels, o Estado concebido como fora, violncia organizada.

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    A concepo do Estado-fora criticada e dialeticamente superada por Gramsci (1977), quando analisa a organizao da sociedade civil como uma nova esfera do exerccio do poder estatal, cuja especificidade est fundada no consenso e no na fora. No entanto, Gramsci ressalta que o surgimento dessa nova esfera no suprime a instncia repressiva da vida estatal, a sociedade poltica. O Estado, para ele, fora+consenso, sociedade poltica+sociedade civil.

    A organizao poltica dos diferentes interesses sociais, no mbito da sociedade civil, a grande novidade para a qual Gramsci chama a ateno. Ele mostra que, ao se organizarem os interesses das classes subalternas, ganhando uma dimenso poltica, a sociedade civil vai deixando de ter aquelas marcas particularistas, voltadas mais para interesses econmicos, como Marx tinha acentuado. Ao assumir dimenses de organizao poltica, a sociedade civil vai transitando do nvel econmico e corporativo para o poltico (DORE Soares, 2000). De um lado, as classes subalternas, organizadas na sociedade civil, exercem presses sobre a sociedade poltica, no sentido de governo, e, assim, foram os grupos dominantes a redefinir o seu domnio poltico. Isso foi o que ocorreu na Europa, principalmente na segunda metade do sculo XIX. Dos seus confrontos com a classe trabalhadora, a burguesia compreendeu que seu poder no poderia mais se basear apenas na coero. Sua estratgia de poder passou a contemplar a incluso das classes subalternas no processo poltico e tambm a busca do seu consentimento ao Estado capitalista. O fato de o voto universal masculino ter sido conquistado na dcada de oitenta do sculo XIX, na maior parte dos pases europeus, uma das evidncias da incluso das classes subalternas no processo poltico. Compe um dos mais importantes aspectos da teoria do Estado ampliado e esclarece a nova forma de domnio do capitalismo a partir do final do sculo XIX. Desde ento, alm de exercer a coero atravs de instrumentos de represso, como o aparato policial e jurdico, os grupos dominantes comeam tambm a buscar o consentimento dos governados na sociedade civil. So nelas que se do os embates entre diferentes projetos sociais e polticos.

    As mudanas da relao entre Estado e sociedade apontadas por Gramsci mostram que, quando o aparelho estatal est pouco desenvolvido, a participao da sociedade civil na poltica mnima. J quando o Estado se amplia, com a expanso de associaes da vida civil nas democracias modernas, as maiorias sociais se envolvem na luta pela resoluo de seus prprios problemas. As associaes formam o que Gramsci chamou de "aparelhos privados de

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    hegemonia", que constituam as verdadeiras "trincheiras" de combate para obter posies de direo no governo da sociedade. Dentre elas, Gramsci destaca a escola como instncia privilegiada para a obteno do consentimento e do conformismo das classes subalternas aos interesses dos grupos dominantes. A escola tambm, contraditoriamente, uma instncia de organizao cultural das massas populares. O confronto entre concepes de mundo diversas, sustentadas por interesses sociais tambm distintos, uma das manifestaes da disputa pela hegemonia que tambm se realiza na escola.

    De acordo com o conceito de hegemonia formulado por Gramsci, o domnio da burguesia no apenas resultado de seu poderio econmico, mas tambm da sua capacidade de apresentar uma direo poltica e cultural para a sociedade, capaz de ganhar a adeso das classes subalternas. Com esse objetivo, ela procura difundir suas concepes de mundo no mbito da sociedade civil. Por isso, a escola e a educao se convertem em elementos estratgicos para a conquista da hegemonia.

    A anlise de Gramsci sobre as mudanas ocorridas na relao entre sociedade civil e sociedade poltica foi adotada como referncia para a leitura do processo poltico brasileiro por diversos autores que apresentam contribuies ao entendimento do contexto no qual foi aprovado o voto dos analfabetos no Brasil.

    DEMOCRATIZAO DO ESTADO BRASILEIRO E VOTO DOS ANALFABETOS

    A histria de nossa sociedade marcada por golpes e pela excluso da participao da sociedade civil nos processos polticos: da monarquia Repblica foi um golpe militar, outro o golpe de Getlio Vargas, em 1937, instituindo uma ditadura at 1945, posteriormente o golpe militar em 1964, dando incio a outra ditadura que vai at 1984.

    A "passagem" da ditadura Vargas ao processo de redemocratizao da sociedade, em 1945, no teve uma dimenso revolucionria porque no foi liderado pelas massas populares. No entanto, deu lugar a um breve perodo de experincia democrtica, de 1946 a 1964, que possibilitou a expanso do voto secreto, inserindo a classe operria na vida poltica e ampliando suas condies de lutar pelos seus interesses e projetos (NOGUEIRA, 1998, p. 76).

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    Com o golpe militar de 1964, o Estado se fortaleceu, principalmente depois das medidas autoritrias, adotadas a partir de 1968. Durante a vigncia dos governos militares, foi feita uma grande modernizao no pas que, todavia, no contou com a participao popular, mas, ao contrrio, deixou-a alijada desse processo. Foi uma modernizao pelo alto, fazendo com que acorresse aos grandes centros urbanos uma enorme massa de trabalhadores que carecia de qualquer tipo de infra-estrutura econmica e social. No entanto, por meio do acesso aos meios de comunicao de massa e da sua prtica cotidiana nos embates sociais dos modernos centros industriais, os trabalhadores adquiriram conscincia dos seus mais elementares direitos como cidados. Essa massa de trabalhadores urbanos foi a maior novidade do Brasil no final da ditadura militar, dando sustentao poltica luta pela consolidao da democracia no pas.

    Assim, foi apenas no comeo da dcada de oitenta do sculo XX que o Estado comeou a se ampliar, na medida em que a sociedade civil foi se fortalecendo, atravs da organizao e participao das classes subalternas, forando o Estado a ceder s presses dos diversos movimentos populares. O descontentamento popular com a ditadura militar e as presses internacionais contriburam para a proposio da abertura lenta, gradual e segura do pas. Em 1979, aprovada a Lei da Anistia, pela qual foram anistiados os acusados de crimes polticos e conexos, ou seja, tanto os adversrios do regime militar, quanto os opressores e torturadores. (CACERES, 1993, p. 354). Ainda naquele ano, foi aprovada a Reforma Partidria, extinguindo-se o bipartidarismo institudo pelos militares e permitindo-se a criao de vrios partidos polticos.

    Com a abertura poltica iniciada em 1979, os novos movimentos sociais, as associaes civis, as organizaes no-governamentais, dentre outras, intensificam as lutas contra o regime autoritrio, buscando formas alternativas de participao poltica, baseadas em identidades coletivas e na promoo da solidariedade social.

    Na esteira do processo de abertura poltica, foi aprovada uma emenda Constituio, em novembro de 1980, estabelecendo eleies diretas para Governador. Dois anos depois, realizaram-se eleies diretas para os governos estaduais. Os seus resultados, no entanto, reafirmam a dominncia dos partidos criados pela ditadura militar (ASSIS, 1996, p. 61).

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    Em novembro de 1983, os partidos de oposio encetaram a campanha intitulada Diretas J! Seu objetivo principal era a aprovao de uma emenda constitucional, determinando que as eleies presidenciais para 1984 fossem realizadas pelo voto direto da populao e no por um colgio eleitoral. Embora a campanha tenha se constitudo num dos maiores movimentos de massa da histria do Brasil, o projeto de emenda constitucional no foi aprovado no Congresso Nacional. Desse modo, as eleies para a presidncia da Repblica realizaram-se por via indireta, sem a participao popular. O voto direto para a presidncia da Repblica somente ser institudo com a Constituio de 1988.

    Contudo, nesse efervescente contexto que os analfabetos conquistam o direito de votar. No obstante as eleies diretas para os governos estaduais tivessem sido restabelecidas por emenda constitucional desde o incio dos anos oitenta (1982), os prefeitos das capitais das estncias hidrominerais no eram eleitos, mas designados pelos governadores. Para reivindicar eleies diretas nessas capitais, encaminhada uma nova proposta de emenda Constitucional, em 31 de maro de 1984. Dentre os itens que faziam parte da emenda Constituio3, estava o universo do voto, passando a incluir os analfabetos.

    Nos discursos dos parlamentares em favor da Emenda constitucional destacam-se trs aspectos fundamentais conquista do voto dos analfabetos: o processo de democratizao do pas, a importncia da participao de todos na consolidao da democracia e a mudana na concepo de analfabetismo, devido s informaes viabilizadas pelos meios de comunicao. Quanto ao problema da educao pblica e gratuita, os deputados criticaram a incompetncia do governo republicano no seu oferecimento e, na sua opinio, os analfabetos foram prejudicados nos dois aspectos da cidadania: o poltico e o social.

    A aprovao do direito de voto das pessoas analfabetas (Lei n 7.332, em 1 de julho de 1985) no significou, porm, garantir a sua elegibilidade. A impossibilidade das pessoas que no sabem ler e escrever serem votadas permanece at hoje, mesmo depois de aprovada, em 1988, a mais avanada Constituio que o pas j teve (Art. 14, 4 - So inelegveis os (..) analfabetos), o que significa o reforo desigualdade poltica e social.

    3 Substitutivo n 1 PEC n 2/84.

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    A promulgao de uma nova Constituio para o pas (5/10/1988) representou o atendimento a vrias reivindicaes dos movimentos sociais daquela poca. Dentre outras questes, a educao foi concebida como direito pblico subjetivo (artigo 208), garantindo a todos o Ensino Fundamental pblico e gratuito, inclusive aos que a ele no tiveram acesso na idade regular. Declarar a educao fundamental como um direito pblico subjetivo equivale a dizer que ela um direito totalmente eficaz e de aplicabilidade imediata, podendo ser exigvel no caso de no ser prestado espontaneamente. O direito pblico subjetivo se refere ao poder de ao que uma pessoa tem de proteger um bem considerado inalienvel e tambm legalmente reconhecido. Trata-se de uma declarao avanada que, porm, no foi ainda concretizada.

    A discusso do processo de fortalecimento da sociedade civil, com a ampliao da participao das massas populares na poltica, tem como eixo a relao entre voto e educao, estabelecida desde a proclamao da Repblica e que implicou a negao da cidadania poltica aos analfabetos. Mas quais foram as iniciativas do Estado para eliminar o analfabetismo no pas? Elas se materializaram em grandes campanhas de alfabetizao ineficazes, que comearam na dcada de quarenta. Mesmo extintas durante a ditadura militar, o modelo de campanha ainda se mantm na atualidade e no tem contribudo para erradicar efetivamente o analfabetismo no pas.

    AS CAMPANHAS DE ALFABETIZAO COMO ESTRATGIAS PARA ERRADICAR O ANALFABETISMO

    A ausncia de garantias constitucionais para a educao pblica e gratuita para todos, pelo menos no nvel da educao elementar, e os nmeros sempre alarmantes de pessoas analfabetas no pas deram lugar ao surgimento de grandes campanhas de alfabetizao. Aquelas que tiveram financiamento do governo comearam em 1946 e se multiplicaram durante a dcada de cinqenta, at serem interrompidas pela primeira legislao de mbito nacional, a Lei de Diretrizes da Educao Nacional (LDB), promulgada em 1961. Depois disso, as iniciativas para a alfabetizao passam a constituir um movimento da sociedade civil, especialmente da esquerda catlica, sendo suspensas com a represso generalizada, advinda do golpe de 1964.

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    Os primeiros recursos para a educao de adolescentes e adultos vm em 1946, atravs do direcionamento de 25% do Fundo Nacional de Ensino Primrio (FNEP) para essa modalidade de ensino. So esses recursos que, de acordo com Rodrigues (1965), permitiro o investimento numa campanha nacional de educao de adolescentes e adultos no pas, a partir de 1947. Dessa forma, somente na segunda metade dcada de quarenta do sculo XX que o governo brasileiro apresenta, de forma concreta, iniciativas dirigidas a investimentos na rea da educao de adultos, criando um fundo especfico para esse fim.

    A Campanha de Educao de Adolescentes e Adultos (CEAA), uma das primeiras do gnero, propunha cursos com durao de dois anos, com carga horria de duas horas por dia, durante dois perodos de sete meses cada (Cf. Paiva, 1973, p. 190). Devido ao grande nmero de jovens atrados pela Campanha, houve tambm uma iniciao profissional durante o curso. Outros programas de Educao de jovens e adultos foram desenvolvidos posteriormente, tais como a Campanha Nacional de Educao Rural (1952); a Campanha Nacional de Extino do Analfabetismo (1958); a Mobilizao Geral Contra o Analfabetismo (1961).

    As campanhas de alfabetizao do governo foram extintas em 1961. A partir de 1962, foram formulados outros programas para a alfabetizao de pessoas adultas. So programas assumidos por iniciativas da sociedade civil, mas continuam a ser apresentados em forma de campanhas. Em sua grande maioria, foram campanhas organizadas pelo setor da esquerda da igreja catlica, dando prioridade defesa das classes populares e conscientizao do seu valor, bem como possibilidade de sua participao na vida econmica, social e poltica. Esta , por exemplo, a proposta do Movimento de Educao de Base (MEB), cujo trabalho era realizado por intermdio de emissoras de rdio catlicas e limitava-se s regies norte, nordeste e centro-oeste. Era um plano qinqenal que previa a instalao, no perodo 1961 a 1965, de 15.000 escolas radiofnicas (PAIVA, 1973).

    A perspectiva de voltar a educao elementar para as classes populares tambm se acha no Movimento de Cultura Popular (MCP), desenvolvido durante o perodo de 1961-1964, no Rio Grande do Norte. Seu destaque foi a Campanha De P no Cho Tambm se Aprende a Ler, experincia que ficou conhecida como uma das maiores expresses do MCP. Analisando-a, De Ges (1980) afirma que o seu principal carter inovador foi o de ter fugido das regras estabelecidas pela escola burguesa, segundo as quais o maior obstculo difuso da educao popular era a falta de recursos para a construo de prdios escolares. Na opinio

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    de De Ges, o argumento financeiro no representou um empecilho para a Campanha De p no cho, pois no havia dinheiro, mas havia escola (DE GES, 1980, p. 100). A Campanha possibilitou a incluso de alunos que, do contrrio, entrariam na lista dos analfabetos. Alm do acesso escola, as crianas tinham tambm acesso cultura, merenda, recreao, iniciao ao trabalho, dentre outras atividades.

    Investigando as campanhas do perodo, Soares afirma que a Educao de Jovens e Adultos (EJA) encontra nos princpios pedaggicos de Paulo Freire, que tambm atuava no Nordeste, um novo paradigma terico e pedaggico, que vai inspirar os programas de alfabetizao e de educao popular realizados no pas nesse incio dos anos 1960 (SOARES, 2002, 102). O Mtodo Paulo Freire teve tanta repercusso que foi eleito como um instrumento do Plano Nacional de Alfabetizao (PNA), atravs do qual o prprio Ministrio da Educao foi incumbido, em 1964, de executar o programa de alfabetizao popular, fazendo com que, em 2 anos, 5 milhes de adultos aprendessem a ler e a escrever (PAIVA, 1973, p. 256).

    Um dos programas de educao popular que sobreviveu ao golpe de 1964 foi a Cruzada Ao Bsica Crist (Cruzada ABC), sendo porm revisado em sua metodologia, em seu material didtico e em sua orientao. Os objetivos da Cruzada ABC eram os de "anular os efeitos ideolgicos dos movimentos anteriores e de reorientar, atravs da educao, as massas populares do Nordeste" (PAIVA, 1973, p. 270).

    A partir de 1964, todos os programas de educao de adultos e adolescentes foram extintos. Ento, o governo militar instituiu e financiou o Movimento Brasileiro de Alfabetizao (MOBRAL), atribuindo-lhe o objetivo de reduzir o ndice de pessoas analfabetas maiores de 15 anos, de 38,5% para 21%. O MOBRAL, entretanto, no alcanou xito, pois no tinha uma rede fsica prpria, os mtodos pedaggicos eram improvisados, eram utilizados materiais didticos para a educao infantil sem adapt-los educao de adultos. (GATTI et al, 1990). Foi extinto em 1985 e substitudo pela Fundao Educar. Este projeto de financiamento de movimentos alfabetizadores com recursos provenientes da sociedade civil tambm foi extinto em 1990.

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    Os governos que se iniciaram depois da abertura poltica do pas tambm no conseguiram erradicar o analfabetismo entre jovens e adultos. Em 1996, no governo de Fernando Henrique Cardoso, foi proposto o Programa Alfabetizao Solidria (PAS) pelo Ministrio da Educao, cuja coordenao, entretanto, coube ao Conselho da Comunidade Solidria (organismo vinculado Presidncia da Repblica que desenvolve aes sociais de combate pobreza). O objetivo do PAS foi o de desencadear um movimento de solidariedade nacional que fosse capaz de reduzir as disparidades regionais e os ndices de analfabetismo at o final do sculo XX. O PAS propunha uma alfabetizao apenas inicial, tendo somente cinco meses de durao, sendo dirigido aos municpios com ndice de Desenvolvimento Humano (IDH) inferior a 0,5 e s periferias urbanas em que os ndices de analfabetismo do pas eram mais elevados. Alm de envolver os governos municipais, tambm procurou o apoio de universidades para qualificar os educadores que participaram do programa. Contudo, manteve o estilo das ultrapassadas campanhas de alfabetizao, ficando o seu financiamento ao sabor da filantropia ou da boa vontade da sociedade civil (HADDAD & DI PIERRO, 2000, p. 127)

    Outro programa de alfabetizao inicial criado durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, em 1997, foi o Programa Nacional de Educao na Reforma Agrria (PRONERA), destinado a trabalhadores rurais assentados que se encontram na condio de analfabetismo absoluto. O programa resultou de uma negociao entre o Conselho de Reitores das Universidades Brasileiras (CRUB) com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), sendo coordenado pelo Instituto Nacional de Colonizao e Reforma Agrria (INCRA) e vinculado ao Ministrio Extraordinrio da Poltica Fundiria (MEPF). Sua implementao envolve uma parceria entre o governo federal (responsvel pelo financiamento), universidades (responsveis pela formao dos educadores) e sindicatos ou movimentos sociais do campo (HADDAD; DI PIERRO, 2000, p. 125).

    Paralelamente ao Programa Alfabetizao Solidria, foi criado o Programa Brasil Alfabetizado, em 2003, pelo governo de Lus Incio Lula da Silva. Seu objetivo foi o de alfabetizar 20 milhes de jovens e adultos, ainda durante o seu primeiro mandato: 3 milhes de pessoas em 2003, 6 milhes em 2004, 6 milhes em 2005 e 5 milhes em 2006. O Programa Brasil Alfabetizado foi reestruturado pelo Plano de Desenvolvimento da Educao (PDE), sendo financiado pelo MEC e executado por entidades parceiras, tais como governos estaduais, prefeituras, instituies de ensino superior e organismos no-governamentais. Pelo

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    menos 75% do quadro de alfabetizadores deve ser composto por professores das redes pblicas municipais, estaduais e do Distrito Federal, os quais recebem uma bolsa do MEC quando trabalham alm de suas atividades regulares.

    Devido aos insucessos das diversas iniciativas para alfabetizar a populao, o Brasil chega a 2008 tendo ainda 14,4 milhes de pessoas analfabetas. Com a instituio da Repblica, o Estado imps o saber ler e escrever como um dever do cidado para exercer o seu direito poltico de votar, mas no assumiu, em contrapartida, o dever de oferecer educao pblica e gratuita de qualidade para todos. Essa situao se manteve por quase cem anos. As mudanas advindas da ampliao da democracia no pas, depois da queda da ditadura militar na dcada de oitenta do sculo passado, tambm no conseguiram eliminar o analfabetismo no pas. No entanto, foram mudanas fundamentais que contriburam para o reconhecimento dos analfabetos como sujeito de direitos polticos que no poderiam ser negados4, ainda que tenha sido mantida a sua inelegibilidade, reforando a desigualdade social e poltica do pas.

    CONCLUSO

    Certamente o voto, direito de cidadania poltica dos analfabetos, s ganhou constitucionalidade no contexto de fortalecimento da democracia no pas. Mas a histria poltica do pas mostra que o vnculo entre educao e voto no representou a oferta de educao de qualidade populao brasileira. Representou, ao contrrio, a excluso poltica das maiorias sociais, que no Brasil continuaram analfabetas por muito tempo.

    Atualmente, trs quartos dos analfabetos do mundo se concentram em 15 pases, dentre eles, o Brasil, onde 14,1 milhes de pessoas, entre a populao maior de 15 anos, no sabem ler nem escrever. Continuar analfabeto mesmo depois de ir para a escola se constitui na maior dificuldade de milhares de jovens no Brasil, evidenciando a ineficcia do sistema educacional do pas, principalmente de suas reas mais pobres. De acordo com dados de 2007 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica (IBGE), 2,1 milhes de crianas entre 7 e 14 anos (7,5% do total de estudantes) no conseguem aprender a ler e a escrever nas escolas. A taxa de analfabetismo entre os brasileiros acima de 15 anos atinge 10%, embora caia para 1,7% entre as pessoas com idade entre 15 e 17 anos. Todavia, de toda a populao analfabeta

    4 Em 1988, na primeira eleio para presidente da Repblica, depois da aprovao do voto do analfabeto, o

    Tribunal Superior Eleitoral (TSE) registrou que 68% dos eleitores eram formados por analfabetos, semi-analfabetos e pessoas que apenas iniciaram o curso primrio (Folha de So Paulo, 11/05/94, p. 1-8. Cf. Eleitorado ultrapassa a marca de 94 milhes, Folha de S. Paulo (25 August 1994).

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    do pas mais de 90% esto acima de 40 anos, sendo que a mdia de idade de 54 anos. Alm disso, 9,5 milhes de jovens entre 15 e 24 anos no concluram o ensino fundamental e 750.160 so analfabetos.

    A alfabetizao de jovens e adultos, portanto, um problema no apenas para o Brasil mas para o mundo.

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    ROSEMARY DORE

    PhD em Filosofia e Histria da Educao. Professora Associada em Filosofia da Educao na Faculdade de Educao

    da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). E-mail: [email protected]

    SIMONE RIBEIRO

    Mestre em Educao, professora da Faculdade de Cincias Humanas e Sociais de Lagoa Santa - MG E-mail: [email protected]

    Recebido em: 01/09/2009 Publicado em: 15/12/2009