cidadania & limitação

2
O ensino profissional articula um percurso escolar numa certa área científica com uma formação profissional que permita ao aluno for- mando, concluído com êxito o curso, exercer uma profissão. A responsabilidade da instituição formadora é oferecer ao aluno formando um percurso de aprendizagem que permita obter uma qua- lificação profissional que responda às necessidades das entidades empregadoras e às exigências do perfil de competências do curso, incluindo o desenvolvimento pessoal e social de quem o frequenta. ノ nesta dupla dimensão — formação profissional e cidadania interventi- va — que se enquadra a actividade “Cidadania & limitação”. A organização desta actividade pelo Curso Técnico de Apoio Psi- cossocial visa, em primeiro lugar, desenvolver a capacidade de planifi- cação, organização e gestão de eventos dos alunos formandos; em segundo lugar, visa intervir de forma activa e crítica na comunidade, contribuindo para a discussão dos problemas psicossociais que a afec- tam. Neste sentido, e tendo por referência as visitas de trabalho já realizadas a instituições que desenvolvem a sua actividade no âmbito da formação escolar e profissional, da reabilitação e da inclusão de pessoas portadoras de deficiência, decidimos organizar um colóquio no qual algumas pessoas portadoras de deficiência apresentassem as suas dificuldades, os seus anseios e os seus sucessos, mas, ao mesmo tempo, no qual participassem também alguns dos técnicos especializa- dos que procuram, com elas, gerir ou superar as dificuldades, ajudan- do a realizar anseios e a construir sucessos; para completar o triângulo psicossocial, a família — os pais e encarregados de educação — não poderia ser ignorada, pelo que convidámos também um seu represen- tante. Contribuir para a inserção social e profissional das pessoas porta- doras de deficiência e divulgar o seu trabalho criador e as suas realiza- ções, na comunidade escolar e na região à qual a Escola Fernando Namora pertence, são os objectivos básicos que, com a ajuda dos nos- sos convidados e das instituições que nos apoiaram, visamos neste colóquio; é um contributo muito modesto, e só possível pela boa- vontade dos nossos convidados, mas é a forma de nos apresentarmos como aprendizes da solicitude e do cuidado; somos realistas — é uma aprendizagem para a vida, mas queremos fazê-la. Curso Profissional de Técnico de Apoio Psicossocial Cidadania &limitação C C C olóquio olóquio olóquio sobre for- sobre for- sobre for- mação escolar e profissional, mação escolar e profissional, mação escolar e profissional, reabilitação e inclusão de pes- reabilitação e inclusão de pes- reabilitação e inclusão de pes- soas portadoras de deficiência. soas portadoras de deficiência. soas portadoras de deficiência. M ostra de trabalhos rea- ostra de trabalhos rea- ostra de trabalhos rea- lizados por utentes da APPACDM lizados por utentes da APPACDM lizados por utentes da APPACDM de Condeixa e de Coimbra de Condeixa e de Coimbra de Condeixa e de Coimbra (unidade funcional de Montemor). (unidade funcional de Montemor). (unidade funcional de Montemor). Madalena Almeida, Madalena Almeida, Professora de Educação Professora de Educação Especial da E. S. Fernando Namora. Especial da E. S. Fernando Namora. Conceição Grade, Conceição Grade, Psicóloga da APPACDM de Con- Psicóloga da APPACDM de Con- deixa. deixa. Cristina Póvoa, Cristina Póvoa, Técnica de Serviço Social da Técnica de Serviço Social da Câmara Municipal de Condeixa. Câmara Municipal de Condeixa. Albano Tomás, Albano Tomás, Psicólogo Clínico do Centro de Psicólogo Clínico do Centro de Saúde de Condeixa. Saúde de Condeixa. Maria Júlia Vilares Alves, Maria Júlia Vilares Alves, Mãe e Encarregada de Mãe e Encarregada de Educação. Educação. Vicente Guimarães, Vicente Guimarães, Professor de Direito da E. S. Professor de Direito da E. S. Quinta das Flores. Quinta das Flores. Lurdes Breda, Lurdes Breda, Escritora Escritora João Rodrigues, João Rodrigues, Estudante Estudante João Sousa, João Sousa, Desempregado (Ex Desempregado (Ex- militar da Força militar da Força Aérea) Aérea) Apoios:

Upload: paulocarrega

Post on 30-Jul-2015

291 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Cidadania & limitação

O ensino profissional articula um percurso escolar numa certa áreacientífica com uma formação profissional que permita ao aluno for-mando, concluído com êxito o curso, exercer uma profissão.

A responsabilidade da instituição formadora é oferecer ao alunoformando um percurso de aprendizagem que permita obter uma qua-lificação profissional que responda às necessidades das entidadesempregadoras e às exigências do perfil de competências do curso,incluindo o desenvolvimento pessoal e social de quem o frequenta. Énesta dupla dimensão — formação profissional e cidadania interventi-va — que se enquadra a actividade “Cidadania & limitação”.

A organização desta actividade pelo Curso Técnico de Apoio Psi-cossocial visa, em primeiro lugar, desenvolver a capacidade de planifi-cação, organização e gestão de eventos dos alunos formandos; emsegundo lugar, visa intervir de forma activa e crítica na comunidade,contribuindo para a discussão dos problemas psicossociais que a afec-tam. Neste sentido, e tendo por referência as visitas de trabalho járealizadas a instituições que desenvolvem a sua actividade no âmbitoda formação escolar e profissional, da reabilitação e da inclusão depessoas portadoras de deficiência, decidimos organizar um colóquiono qual algumas pessoas portadoras de deficiência apresentassem assuas dificuldades, os seus anseios e os seus sucessos, mas, ao mesmotempo, no qual participassem também alguns dos técnicos especializa-dos que procuram, com elas, gerir ou superar as dificuldades, ajudan-do a realizar anseios e a construir sucessos; para completar o triângulopsicossocial, a família — os pais e encarregados de educação — nãopoderia ser ignorada, pelo que convidámos também um seu represen-tante.

Contribuir para a inserção social e profissional das pessoas porta-doras de deficiência e divulgar o seu trabalho criador e as suas realiza-ções, na comunidade escolar e na região à qual a Escola FernandoNamora pertence, são os objectivos básicos que, com a ajuda dos nos-sos convidados e das instituições que nos apoiaram, visamos nestecolóquio; é um contributo muito modesto, e só possível pela boa-vontade dos nossos convidados, mas é a forma de nos apresentarmoscomo aprendizes da solicitude e do cuidado; somos realistas — é umaaprendizagem para a vida, mas queremos fazê-la.

Curso Profissional de Técnico

de Apoio Psicossocial

Cidadania

&limitação

CCC o l ó q u i oo l ó q u i oo l ó q u i osobre for-sobre for-sobre for-

mação escolar e profissional,mação escolar e profissional,mação escolar e profissional,reabilitação e inclusão de pes-reabilitação e inclusão de pes-reabilitação e inclusão de pes-soas portadoras de deficiência.soas portadoras de deficiência.soas portadoras de deficiência.

MMMostra de trabalhos rea-ostra de trabalhos rea-ostra de trabalhos rea-lizados por utentes da APPACDMlizados por utentes da APPACDMlizados por utentes da APPACDMde Condeixa e de Coimbrade Condeixa e de Coimbrade Condeixa e de Coimbra(unidade funcional de Montemor).(unidade funcional de Montemor).(unidade funcional de Montemor).

Madalena Almeida,Madalena Almeida, Professora de EducaçãoProfessora de EducaçãoEspecial da E. S. Fernando Namora.Especial da E. S. Fernando Namora.

Conceição Grade,Conceição Grade, Psicóloga da APPACDM de Con-Psicóloga da APPACDM de Con-deixa.deixa.

Cristina Póvoa,Cristina Póvoa, Técnica de Serviço Social daTécnica de Serviço Social daCâmara Municipal de Condeixa.Câmara Municipal de Condeixa.

Albano Tomás,Albano Tomás, Psicólogo Clínico do Centro dePsicólogo Clínico do Centro deSaúde de Condeixa.Saúde de Condeixa.

Maria Júlia Vilares Alves,Maria Júlia Vilares Alves, Mãe e Encarregada deMãe e Encarregada deEducação.Educação.

Vicente Guimarães,Vicente Guimarães, Professor de Direito da E. S.Professor de Direito da E. S.Quinta das Flores.Quinta das Flores.

Lurdes Breda,Lurdes Breda, EscritoraEscritora

João Rodrigues,João Rodrigues, EstudanteEstudante

João Sousa,João Sousa, Desempregado (ExDesempregado (Ex--militar da Forçamilitar da ForçaAérea)Aérea)

Apoios:

Page 2: Cidadania & limitação

Para certas diferenças culturais, o ponto de partida não vemde uma identidade colectiva, mas de um movimento em que semobilizam pessoas que, na origem, se definem segundo umregisto individual.

O mesmo se passa com as diferenças associadas a uma doen-ça grave ou crónica, a uma deficiência . Constituem-se a partirnão de uma preferência e de uma escolha, mas de um drama oude uma dificuldade pessoal cujo carácter colectivo os actoresaprendem em seguida a descobrir. Na origem, deparamos assimcom uma mobilização visando o reconhecimento de um proble-ma que impede a pessoa de ter domínio sobre o seu destino,de uma deficiência que a priva da capacidade de construir a suaprópria existência.

A partir daí, há indivíduos que começam a agrupar-se, even-tualmente acompanhados pela colaboração de terceiros, e teminício uma acção cujo projecto é que os implicados tenham umapalavra a dizer sobre o que lhes diz respeito, a fim de que avítima deixe de ser consideradas como objecto passivo de cui-dados e tratamentos, ou, muito simplesmente, visando abalar aindiferença que demasiadas vezes rodeia tal tipo de problemas.Michel Wieviorka (2002), La Différence, p. 146

Resolução ONU N° 2.542/75. Declaração dos Direitos dasPessoas Portadoras de Deficiências

1) O termo pessoa portadora de deficiência identifica aqueleindivíduo que, devido aos seus "défices" físicos ou mentais, nãoestá em pleno gozo da capacidade de satisfazer, por si mesmo,de forma total ou parcial, as suas necessidades vitais e sociais,como faria um ser humano normal.2) Os direitos proclamados nesta declaração são aplicáveis atodas as pessoas com deficiência, sem discriminação de idade,sexo, grupo étnico, nacionalidade, credo político ou religioso,nível sociocultural, estado de saúde ou qualquer outra situação(...).3) Às pessoas portadoras de deficiência, assiste o direito, ineren-te a todo e qualquer ser humano, de ser respeitado, sejam quaisforem os antecedentes, natureza e severidade da sua deficiên-cia.(…).4) As pessoas portadoras de deficiência têm os mesmos direitoscivis e políticos que os demais cidadãos.5) As pessoas portadoras de deficiência têm o direito de usufruirdos meios destinados a desenvolver confiança em si mesmas.6) As pessoas portadoras de deficiência têm direito a tratamen-to médico e psicológico apropriados, os quais incluem serviçosde prótese e ortose, reabilitação, formação profissional, traba-lho e outros recursos que lhes permitam desenvolver ao máxi-mo as suas capacidades e habilidades e que lhes assegurem umprocesso rápido e eficiente de integração social.7) As pessoas portadoras de deficiência têm direito à segurançaeconómica e social, e, especialmente, a um padrão condigno devida. (…)8) As pessoas portadoras de deficiência têm direito a que as suasnecessidades especiais sejam levadas em consideração, emtodas as fases do planeamento económico e social do país e dassuas instituições.9) As pessoas portadoras de deficiência têm direito de viver comas suas próprias famílias ou pais adoptivos, e de participar emtodas as actividades sociais, culturais e recreativas da comunida-de. (…) Se for imprescindível o seu internamento em instituiçõesespecializadas, é indispensável que estas tenham ambiente econdições apropriadas (…).10) As pessoas portadoras de deficiência têm direito à protecçãocontra qualquer forma de exploração e de tratamento discrimi-natório, abusivo ou degradante.13) As pessoas portadoras de deficiência, os seus familiares e acomunidade devem estar plenamente informados (…) dos direi-tos proclamados nesta declaração".

(United Nations Secretariat, 1975)