cidadania e liberdade de educação

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Cidadania e Liberdade de Educação Fernando Adão da Fonseca 16 de Maio de 2012 Fundação Maria Ulrich Tertúlias de Educação

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Apresentação do Presidente do FLE - Fórum para a Liberdade de Educação intitulada "Cidadania e Liberdade de Educação", apresentada em Maio de 2012 na Fundação Maria Ulrich e integrada nas "Tertúlias da Educação"

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Page 1: Cidadania e Liberdade de Educação

Cidadania e Liberdade de Educação

Fernando Adão da Fonseca

16 de Maio de 2012

Fundação Maria Ulrich

Tertúlias de Educação

Page 2: Cidadania e Liberdade de Educação

2Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1.Uma condição de CIDADANIA?

2.Uma exigência de LIBERDADE?

Cidadania e Liberdade de Educação

Page 3: Cidadania e Liberdade de Educação

3Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1.Uma condição de CIDADANIA?

2.Uma exigência de LIBERDADE?

Cidadania e Liberdade de Educação

Page 4: Cidadania e Liberdade de Educação

4Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1 -Uma condição de CIDADANIA?Declaração Universal dos Direitos do Homem

Art. 26º, nº 3: “Aos pais pertence a prioridade do direito de escolher o género de educação a dar aos filhos

Constituição da República Portuguesa:

Artigo 16º, nº 2: Os preceitos constitucionais e legais relativos aos direitos fundamentais devem ser interpretados e integrados de harmonia com a Declaração Universal dos Direitos do Homem.

O Estado português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?

Page 5: Cidadania e Liberdade de Educação

5Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1 -Uma condição de CIDADANIA?Carta dos Direitos Fundamentais da União Europeia

Artigo 14º (Direito à educação)

nº 3: São respeitados, segundo as legislações nacionais que regem o respectivo exercício, (…) o direito dos pais de assegurarem a educação e o ensino dos filhos de acordo com as suas convicções religiosas, filosóficas e pedagógicas. O Estado

português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?

Page 6: Cidadania e Liberdade de Educação

6Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1 -Uma condição de CIDADANIA?Constituição da República Portuguesa

Artigo 36º (Família, casamento e filiação):

nº 5: “Os pais têm o direito e o dever de educação e manutenção dos filhos”

Artigo 67º (Família):

nº 1: “A família, como elemento fundamental da sociedade, tem direito à protecção da sociedade e do Estado e à efectivação de todas as condições que permitam a realização pessoal dos seus membros”

nº 2: “ Incumbe, designadamente, ao Estado para protecção da família:

c) “Cooperar com os pais na educação dos filhos”

O Estado português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?

Page 7: Cidadania e Liberdade de Educação

7Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Artigo 74º (Ensino):

nº 1:“Todos têm direito ao ensino com garantia do direito à igualdade de oportunidades de acesso e êxito escolar”

nº 2:“Na realização da política de ensino incumbe ao Estado:

a) “Assegurar o ensino básico universal, obrigatório e gratuito”

e) “Criar um sistema público e desenvolver o sistema geral de educação pré-escolar”

1 -Uma condição de CIDADANIA?Constituição da República Portuguesa

O Estado português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?

O que significa ser “público”?

Page 8: Cidadania e Liberdade de Educação

8Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Artigo 75º (Ensino público, particular e cooperativo):

nº 1: “O Estado criará uma rede de estabelecimentos públicos de ensino que cubra as necessidades de toda a população”

nº 2: “O Estado reconhece e fiscaliza o ensino particular e cooperativo, nos termos da lei”

√ Com a revisão de 1982, o art. 75º da Constituição deixou de consagrar (como fazia na redacção de 1976) o monopólio da rede pública e o carácter supletivo do ensino privado.

Note-se bem: Os artigos da Constituição de 1976 foram aprovados por maioria simples, enquanto as alterações posteriores o foram por maioria qualificada de dois terços!

1 -Uma condição de CIDADANIA?Constituição da República Portuguesa

O Estado português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?

O que significa ser “público”?

Page 9: Cidadania e Liberdade de Educação

9Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

√ A revisão de 1982 passou a impor ao Estado o reconhecimento dos estabelecimentos de ensino privado e a criação de uma rede escolar de estabelecimentos públicos que cubra as necessidades de toda a população.

√ Mas nada é dito, nem podia ser dito, no sentido de privilegiar esta ou aquela escola e, muito menos, tirar a liberdade às pessoas, obrigando à inscrição na escola que os pais ou os alunos não querem!

1 -Uma condição de CIDADANIA?Constituição da República Portuguesa

Page 10: Cidadania e Liberdade de Educação

10Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1 -Uma condição de CIDADANIA?Constituição da República Portuguesa

“Depois das revisões sofridas, o art. 75º trata apenas da rede escolar; não conforma nem os direitos de liberdade nem os direitos sociais.

A Constituição impõe ao Estado a obrigação de garantir uma rede de estabelecimentos públicos de ensino que tenha suficiente capacidade para satisfazer toda a procura efectiva, porque o Estado não pode obrigar os cidadãos a criar escolas privadas.

Mas, do mesmo passo que se compromete a criar escolas públicas, conta também, de facto e de direito, com as privadas (que livremente poderão ser criadas e procuradas).

É por isso mesmo que, logo ali no artigo que precisamente trata da garantia de rede escolar, a Constituição reconhece juridicamente «o ensino particular e cooperativo»”.

Mário Pinto, “A Crise na Educação e a Infidelidade à Constituição”, Revista Nova Cidadania (Jan-Mar 2011):

Page 11: Cidadania e Liberdade de Educação

11Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Artigo 43º (Liberdade de aprender e ensinar):

nº 1:“É garantida a liberdade de aprender e ensinar.”

nº 2:“O Estado não pode programar a educação e a cultura segundo quaisquer directrizes filosóficas, estéticas, políticas, ideológicas ou religiosas.”

1 -Uma condição de CIDADANIA?Constituição da República Portuguesa

O Estado português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?

Page 12: Cidadania e Liberdade de Educação

12Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1 -Uma condição de CIDADANIA?Constituição da República Portuguesa

“Portanto, o Estado pode criar escolas; mas não pode programar nem dirigir o seu projecto educativo e a sua actividade educativa, para além do direito de regulação geral do ensino e de fiscalização e tutela de entes públicos autónomos.

As escolas estatais têm de ter autonomia perante o Estado: científica, pedagógica,

curricular, etc. Como têm as universidades públicas.

Assim, a acção do Estado em matéria de educação (para além do dever geral de regular o exercício das liberdades para as garantir) é apenas financeira e organizativa de recursos materiais, sendo-lhe vedada qualquer opção educativa e devendo respeitar e apoiar o dever e o direito de liberdade educativa dos pais.”

Mário Pinto, “A Crise na Educação e a Infidelidade à Constituição”, Revista Nova Cidadania (Jan-Mar 2011):

Page 13: Cidadania e Liberdade de Educação

13Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Artigo 43º (Liberdade de aprender e ensinar):

nº 3: “O ensino público não será confessional.”

nº 4: É garantido o direito de criação de escolas particulares e cooperativas.”

1 -Uma condição de CIDADANIA?Constituição da República Portuguesa

√ O que é um ensino confessional? É um ensino que não tem de estar aberto a todas as propostas religiosas.

√ E o que é um ensino aberto a todas as propostas religiosas?

√ O ensino nas escolas privadas e nas escolas estatais que fizerem parte da oferta de serviço público de educação tem de estar obrigatoriamente aberto a todas as propostas religiosas que os seus alunos/famílias desejarem.

Page 14: Cidadania e Liberdade de Educação

14Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1 -Uma condição de CIDADANIA?Constituição da República Portuguesa

√ Uma escola que imponha paredes vazias de símbolos religiosos é uma escola anti-confessional. Nesse caso, não poderá ser uma escola pública.

√ Uma escola só é verdadeiramente pública se nela puderem livremente exprimir-se a religiosidade e a irreligiosidade dos alunos/famílias em causa, sem ninguém se sentir ameaçado pela diferença.

√ Numa sociedade livre, as manifestações de liberdade de uns nunca poderão ser vistas como ameaças à liberdade de outros.

Page 15: Cidadania e Liberdade de Educação

15Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1 -Uma condição de CIDADANIA?Convenção de Protecção dos Direitos do Homem e das Liberdades Fundamentais

Artigo 9° (Liberdade de pensamento, de consciência e de religião)

Qualquer pessoa tem direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião; este direito implica a liberdade de mudar de religião ou de crença, assim como a liberdade de manifestar a sua religião ou a sua crença, individual ou colectivamente, em público e em privado, por meio do culto, do ensino, de práticas e da celebração de ritos.

Artigo 2º do Protocolo nº 1 adicional

A ninguém pode ser negado o direito à instrução.O Estado, no exercício das funções que tem de assumir no campo da educação e do ensino, respeitará o direito dos pais a assegurar aquela educação e ensino consoante as suas convicções religiosas e filosóficas.

O Estado português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?

Page 16: Cidadania e Liberdade de Educação

16Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1 -Uma condição de CIDADANIA?Pacto Internacional sobre os Direitos Económicos, Sociais e Culturais

Número 3º do artigo 13º

Os Estados Partes no presente Pacto comprometem-se a

respeitar a liberdade dos pais ou, quando tal for o

caso, dos tutores legais de escolher para seus filhos

(ou pupilos) estabelecimentos de ensino diferentes

dos poderes públicos, mas conformes às normas

mínimas que podem ser prescritas ou aprovadas pelo

Estado

em matéria de educação, e de assegurar

a educação religiosa e moral de seus

filhos (ou pupilos) em conformidade

com as suas próprias convicções.

O Estado português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?

Page 17: Cidadania e Liberdade de Educação

17Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1 -Uma condição de CIDADANIA?Lei de Bases do Sistema de Ensino (Lei nº 46/86)*

Artigo 1º

nº 3: O sistema educativo desenvolve-se segundo um conjunto organizado de estruturas e de acções diversificadas, por iniciativa e sob responsabilidade de diferentes instituições e entidades públicas, particulares e cooperativas.

* Lei com valor reforçado (com pequenas alterações: Leis nº 115/97, 49/2005 e 85/2009)

O Estado português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?

Page 18: Cidadania e Liberdade de Educação

18Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Capítulo VII - Ensino particular e cooperativo  Artigo 57º (Especificidade)

nº 1: É reconhecido pelo Estado o valor do ensino particular e cooperativo como uma expressão concreta da liberdade de aprender e ensinar e do direito da família a orientar a educação dos filhos.

1 -Uma condição de CIDADANIA?Lei de Bases do Sistema de Ensino (Lei nº 46/86)*

O Estado português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?* Lei com valor reforçado (com pequenas alterações: Leis nº 115/97, 49/2005 e 85/2009)

Page 19: Cidadania e Liberdade de Educação

19Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Artigo 58º (Articulação com a rede escolar)

nº 1:Os estabelecimentos do ensino particular e cooperativo que se enquadrem nos princípios gerais, finalidades, estruturas e objectivos do sistema educativo são considerados parte integrante da rede escolar.

nº 2:No alargamento ou no ajustamento da rede o Estado terá também em consideração as iniciativas e os estabelecimentos particulares e cooperativos, numa perspectiva de racionalização de meios, de aproveitamento de recursos e de garantia de qualidade.

1 -Uma condição de CIDADANIA?Lei de Bases do Sistema de Ensino (Lei nº 46/86)*

O Estado português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?* Lei com valor reforçado (com pequenas alterações: Leis nº 115/97, 49/2005 e 85/2009)

Page 20: Cidadania e Liberdade de Educação

20Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Artigo 61º (Intervenção do Estado)

nº 2:O Estado apoia financeiramente as iniciativas

e os estabelecimentos de ensino particular e

cooperativo quando, no desempenho efectivo

de uma função de interesse público, se

integrem no plano de desenvolvimento da

educação, fiscalizando a aplicação das verbas

concedidas.

1 -Uma condição de CIDADANIA?Lei de Bases do Sistema de Ensino (Lei nº 46/86)*

O Estado português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?* Lei com valor reforçado (com pequenas alterações: Leis nº 115/97, 49/2005 e 85/2009)

Page 21: Cidadania e Liberdade de Educação

21Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Mas quem é que tem de ser financiado? Quem precisa, que são as crianças e os jovens (isto é as famílias) e não as escolas.

O Estado entrega o dinheiro às escolas e não às famílias (para entregarem às escolas) apenas porque é mais fácil sob o ponto de vista administrativo.

Mas o objectivo é financiar as famílias! Não é financiar as escolas!

Perder a noção do verdadeiro objectivo do financiamento do Estado favorece o entendimento perverso de que o Estado deve financiar todas as escolas de que ele é dono (mesmo aquelas que os alunos rejeitariam se tivessem liberdade de escolha?!), mas não deve ser financiar escolas de que não é dono (mesmo aquelas que os alunos prefeririam se tivessem liberdade de escolha?!).

1 -Uma condição de CIDADANIA?Lei de Bases do Sistema de Ensino (Lei nº 46/86)*

Page 22: Cidadania e Liberdade de Educação

22Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1 -Uma condição de CIDADANIA?Lei de Bases do Ensino Particular e Cooperativo (Lei nº 9/79)

Artigo 6º nº 2: No âmbito desta competência são,

designadamente, atribuições do Estado:

d) Conceder subsídios e celebrar contratos para o funcionamento de escolas particulares e cooperativas, de forma a garantir progressivamente a igualdade de condições de frequência com o ensino público nos níveis gratuitos e a atenuar as desigualdades nos níveis não gratuitos.

O Estado português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?

Page 23: Cidadania e Liberdade de Educação

23Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1 -Uma condição de CIDADANIA?Lei da Liberdade do Ensino (Lei nº 65/79)

Artigo 2º

e) Existência progressiva de condições de livre acesso aos estabelecimentos

públicos, privados e cooperativos, na medida em que contribuam para o progresso dos sistema nacional de educação, sem discriminações de natureza

económica, social ou regional.O Estado

português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?

Page 24: Cidadania e Liberdade de Educação

24Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1 -Uma condição de CIDADANIA?Estatuto do Ensino Particular e Cooperativo (DL nº 553/80)

Artigo 4.ºCompete ao Estado:g) Promover progressivamente o acesso às

escolas particulares em condições de igualdade com as públicas;

O Estado português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?

Page 25: Cidadania e Liberdade de Educação

25Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1 -Uma condição de CIDADANIA?Lei da Rede Escolar (DL nº 108/88)

Artigo 2º (Rede escolar)

nº 1: As escolas particulares e cooperativas passam a fazer parte integrante da rede escolar, para efeitos de ordenamento desta.

Artigo 4º (Dimensionamento da rede escolar)

O dimensionamento da rede escolar dependente do Ministério da Educação, no que respeita ao seu alargamento, reconversão ou ajustamento, terá obrigatoriamente em consideração as iniciativas dos estabelecimentos particulares e cooperativos, tendo em vista uma melhor racionalização dos meios disponíveis, um melhor aproveitamento de recursos e a defesa e garantia da qualidade do ensino ministrado.

O Estado português cumpre estes preceitos? Se não cumpre, porque não nos

indignamos?

Page 26: Cidadania e Liberdade de Educação

26Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1 -Uma condição de CIDADANIA? Em conclusão (1)

“Não se pode ser mais claro: As escolas do Estado

não podem ser impostas aos pais das crianças e jovens pela via do monopólio do financiamento público.

O Estado não pode preferir uma escolas a outras, não pode preferir as escolas públicas às escolas privadas.

Porque está proibido de fazer a programação do

ensino (Constituição, art. 43º nº 2); e a obrigação de criar uma igualdade de oportunidades para todos não lhe permite pagar a gratuitidade do ensino nas suas escolas e não o pagar nas escolas livremente escolhidas pelos pais.

Tem que financiar o ensino para todos, sem preferir umas escolas a outras.”

Citando Mário Pinto:

Page 27: Cidadania e Liberdade de Educação

27Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1 -Uma condição de CIDADANIA?Em conclusão (2)

“Os cidadãos, os partidos e sindicatos podem preferir umas escolas a outras, porque têm liberdade de opinião ideológica; mas o Governo, no cumprimento da Constituição e da lei, não pode discriminar entre cidadãos

que preferem uma escola e cidadãos que preferem outra escola.

A Constituição e a lei não permitem esta discriminação.”

Citando Mário Pinto:

Page 28: Cidadania e Liberdade de Educação

28Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1.Uma condição de CIDADANIA?

2.Uma exigência de LIBERDADE?

Cidadania e Liberdade de Educação

Page 29: Cidadania e Liberdade de Educação

29Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

1. O Estado considerar que as suas iniciativas são mais valiosas do que as iniciativas dos cidadãos é a visão típica dos inimigos da liberdade. É a visão que alimenta todos os regimes totalitários.

2. Não nos deixemos enganar! Todos os regimes totalitários são contra a liberdade de educação.

3. Talvez não seja claro, mas os inimigos da liberdade de educação que por aí andam são, infelizmente para eles e para nós, inimigos da liberdade

4 -Uma exigência de LIBERDADE?A liberdade está em perigo (1)

Page 30: Cidadania e Liberdade de Educação

30Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

4. Sem liberdade de educação, todas as outras liberdades têm tendência a definhar, começando pelas liberdades de pensamento, de consciência, de religião e de expressão.

5. Sem liberdade de educação, nunca teremos uma cultura de verdadeira liberdade em Portugal e o risco de a democracia não se consolidar estará sempre presente.

4 -Uma exigência de LIBERDADE?A liberdade está em perigo (2)

Page 31: Cidadania e Liberdade de Educação

31Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

4 -Uma exigência de LIBERDADE?A liberdade está em perigo (4)

Onde estão os inimigos

da liberdade?

Já alguma vez pensaste no facto

de que nos querem fechar num espaço

cercado?

Page 32: Cidadania e Liberdade de Educação

32Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

4 -Uma exigência de LIBERDADE?A liberdade está em perigo (4)

“Ok, podem ter liberdade de expressão, mas cuidado com a

linguagem!”

Onde estão os inimigos

da liberdade?

Page 33: Cidadania e Liberdade de Educação

33Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

4 -Uma exigência de LIBERDADE?A liberdade está em perigo (3)

• Só há liberdade no espaço público se nele puderem exprimir-se todas as opções dos cidadãos.

• Numa sociedade livre, os espaços públicos são espaços de liberdade e não espaços vazios de liberdade.

Onde estão os fora de

lei?

Page 34: Cidadania e Liberdade de Educação

Cidadania e Liberdade de Educação

Fernando Adão da Fonseca

16 de Maio de 2012

Fundação Maria Ulrich

Tertúlias de Educação

Page 35: Cidadania e Liberdade de Educação

35Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Anexo – Os retrógrados… (1)

Extractos do artigo de Mário Pinto: “A Recente Lei do Ensino Superior - Uma Lei Retrógrada”, Jornal PÚBLICO de 11/12/2000

Diz a Resolução do Parlamento Europeu sobre a liberdade de ensino na Comunidade Europeia (14-03-1984, parágrafo 9): "o direito à liberdade de ensino implica, para os Estados membros, a obrigação de tornar possível, também no plano financeiro, o exercício prático deste direito, e de conceder às escolas privadas as subvenções públicas necessárias ao exercício da sua missão e ao preenchimento das suas obrigações em condições iguais àquelas de que beneficiam os estabelecimentos públicos correspondentes, sem discriminação a respeito dos organizadores das escolas, dos pais, dos alunos e do pessoal."

Page 36: Cidadania e Liberdade de Educação

36Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Anexo – Os retrógrados… (2)

“Outros países da Europa vêm, desde há muitos anos, nesta linha do respeito pela liberdade de ensino dos cidadãos e da sociedade civil, estabelecendo estatutos de grande autonomia para as escolas privadas, com regimes de financiamento que não discriminam injustamente as escolas privadas das escolas públicas. Talvez mereça destaque, ainda, pelo seu grande prestígio jurídico, a doutrina que o Tribunal Constitucional federal Alemão estabeleceu, em decisão já dos anos oitenta, no sentido de que a liberdade de criação de escolas privadas, na sua dimensão positiva, postula que o Estado crie condições efectivas, incluindo financeiras, para que essa liberdade possa ser exercida efectivamente. E que, na sociedade actual, há uma presunção de que as escolas privadas (expressão da liberdade fundamental dos cidadãos) não podem ser criadas e mantidas sem o auxílio do Estado.”

Page 37: Cidadania e Liberdade de Educação

37Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Anexo – Os retrógrados… (3)

“E como tem sido a nossa orientação, em Portugal? Tradicionalmente, Portugal concede privilégio ao ensino do Estado, e maltrata o ensino privado. Em vez de apoiar a iniciativa cultural livre e responsável dos cidadãos, no pluralismo da sociedade civil, prefere dar vantagens à iniciativa política do Estado (na tradição pombalina, republicana, estado-novista e, enfim, estatista do nosso primeiro texto constitucional de 1976). Numa brevíssima resenha da nossa evolução mais recente, dir-se-á que, desde a Revolução de Abril, a orientação consagrada na Constituinte foi estatista, com a imposição do princípio do ensino oficial para toda a população e a recusa de consagrar expressamente o princípio da liberdade de escola privada.“

Page 38: Cidadania e Liberdade de Educação

38Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Anexo – Os retrógrados… (4)

“A breve prazo, porém, reconheceu-se que tal orientação era violadora da própria Declaração Universal dos Direitos do Homem. E foi por isso que, logo três anos depois, em 1979, a Assembleia da República aprovou, em grande consenso, como verdadeiro pacto de regime, a chamada Lei de Bases do Ensino Particular e Cooperativo (Lei 9/79), onde inequivocamente se contrariava o texto constitucional. O qual, por sua vez, foi alterado logo na primeira revisão constitucional de 1982. Desde então, a legislação portuguesa sobre a liberdade de ensino (isto é, em termos práticos, sobre a escola privada) desenvolveu-se a partir daquela Lei de Bases, a meu ver com duas características evidentes.”

Page 39: Cidadania e Liberdade de Educação

39Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Anexo – Os retrógrados… (5)

“Por um lado, afirmando sempre os princípios da liberdade de ensino e de escola privada, com expressa aceitação do direito de livre escolha entre as escolas públicas e privadas e com a consequência do dever de o Estado apoiar também financeiramente as escolas privadas. Por outro lado, deixando para o Governo uma grande liberdade de concretizar esses apoios financeiros, com base num critério de progressividade e de disponibilidade de recursos financeiros. Quer dizer: boa orientação de princípios, pelo reconhecimento da liberdade do ensino privado e do serviço público das escolas privadas; mas fraca concretização dos meios de apoio a esse serviço público.”

Page 40: Cidadania e Liberdade de Educação

40Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Anexo – Os retrógrados… (6)

“(…) Inexplicavelmente (temos vindo a assistir ao) enfatizar, em matéria de financiamento, da ideologia vencedora na Constituinte de 1976 para as escolas privadas - estabelecendo que "as carências do serviço público de educação em áreas de formação consideradas prioritárias para o País podem, enquanto subsistirem, ser supridas por contratos-programa por tempo determinado", ou por apoio directo aos alunos que "não tenham lugar nos estabelecimentos da rede pública". A própria acção social escolar nas escolas privadas apenas está admitida em termos de poder beneficiar de apoio financeiro do Estado - simples possibilidade legal, portanto. No espírito da lei está claramente o reavivamento de uma concepção de rede pública detentora do monopólio da prestação de serviço público do ensino, que as escolas privadas apenas precária e supletivamente podem exercer.”

Page 41: Cidadania e Liberdade de Educação

41Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Anexo – Os retrógrados… (7)

“Vale a pena citar a posição de Sousa franco acerca da liberdade de ensino. Citarei apenas uma breve passagem de um seu artigo: "não sendo o ensino só um bem mercantil, porque há-de ele ser caro nas instituições de ensino privado e cooperativo, e barato nas instituições de ensino público? Penso que só há uma resposta para isto: é que esta situação resulta de o Estado querer fazer uma discriminação e querer empurrar a generalidade da população para o ensino público, dificultando o acesso dos pobres à liberdade de opção escolar". E afirma ainda Sousa Franco: ·0 problema central está na paridade financeira entre escola pública e privada, sem a qual não há igualdade e não há liberdade efectiva de escolha do tipo de ensino" (v. Artigo em Ensino livre. Uma fronteira da hegemonia estatal, (1994).”

Page 42: Cidadania e Liberdade de Educação

42Cidadania e Liberdade de Educação Tertúlias de Educação – Fundação Maria Ulrich , 16 de Maio de 2012

Anexo – Os retrógrados… (8)

“Conclusão: (Vinca-se) o monopólio dos privilégios das escolas públicas, e marginalizam-se as escolas privadas, em vez de as apoiar e aproximar das escolas públicas, de acordo com uma correcta interpretação da liberdade de educação e cultura dos cidadãos e com um desígnio de vitalização da sociedade civil - orientação que é cada vez mais consensual na Europa das democracias pluralistas.

Mais de 20 anos depois, voltamos a 1979, com a questão (reaberta) da escola privada supletiva. Para onde nos encaminhamos? Para uma concepção estatista, de privilégio da escola oficial? Ou para a liberdade de ensino, com um regime de paralelismo escolar?”