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ADVOCACY: ciclo de implementação para a Rede Marista de Solidariedade

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O Advocacy está pautado e orientado pelo enfoque em direitos humanos de crianças, adolescentes e jovens, referência fundamental para o desenvolvimento de iniciativas, intervenções e diálogos a serem estabelecidos, e define, sobretudo, um posicionamento frente à efetivação dos direitos e ao enfrentamento de sua violação.

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ADVOCACY: ciclo deimplementação para a

Rede Marista de Solidariedade

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ADVOCACY: ciclo de implementação para a Rede Marista de Solidariedade

Iniciativa da Rede Marista de Solidariedade

Concepção e coordenação técnica: Setor de Solidariedade – SSOL

Diretor: Ir. Jorge Gaio

Assessores e analistas: Jimena Djauara Grignani, Lilian Juliana Buhrer, Pollyana Devides Nabarro e Khalil Abdalla

Coordenação editorial: Ir. Jorge Gaio e Jimena Djauara Grignani

Redação dos textos e organização: Jimena Djauara Grignani

Contribuição nos textos: Luci Michelon Lohman, Roberta Rocha Rosa Martins, Soeli Terezinha Pereira, Vanderlúcia da Silva, Pollyana Devides Nabarro

Revisão técnica: Alvaro Danilo Sepulveda Romero (Província Marista Santa Maria de los Andes)

Bárbara Pimpão Ferreira (Rede Marista de Solidariedade)

Manel Mendonza Prario (Fundação Marista de Solidariedade Internacional – FMSI)

Vicente Sossai Falchetto (Fundação Marista de Solidariedade Internacional – FMSI)

Participaram do desenvolvimento da publicação: Luci Michelon Lohman, Cassia Messias, Bárbara Pimpão Ferreira, Lilian Juliana Buhrer, Vanderlúcia da Silva, Marta Vinhas Moreira,

Neuzita de Paula Soares, Soeli Terezinha Pereira, Viviane Aparecida da Silva

Fotos: João Borges

Coordenação do projeto gráfico: Felipe Machado de Souza

Capa: Rafael da Matta Hasselmann

Projeto gráfico e diagramação: Janete Yun

Revisão textual e de normas: Debora Carvalho Capella

Reprodução permitida, desde que citada a fonte.

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SuMÁRiO

Apresentação 5

introdução 5

Enfoque em direitos humanos de crianças e jovens 6

Conceito do Advocacy da RMS 11

Governança do Advocacy da RMS 11

Ciclo do Advocacy 13

1. tema 13

2. Objetivos 14

3. Análise das informações 17

4. Análise das partes interessadas 18

5. incidência política 20

5.1 Mensagens 20

5.2 Recomendações 21

6. Coalizões 22

7. Sustentabilidade 22

8. Avaliação e monitoramento 23

Referências e obras consultadas 24

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e recomendações, as demais coalizões, sua sustentabilidade, avaliação e seu monitoramento. Os casos que se apresentam em destaque nos textos são referentes ao Advocacy, atualmente desenvolvido no Grupo Marista em duas temáticas: Educação Infantil e Acesso à Formação do Ensino Superior.

Introdução

Após pesquisas em fontes variadas, como referenciais teóricos e boas práticas já desenvolvidas por outras ONGs e instituições, a Rede Marista de Solidariedade optou pela cons-tituição de um ciclo para o desenvolvimento do Advocacy.

Esse ciclo é compreendido por passos que se traduzem em iniciativas desenvolvidas no Advocacy, com a possibilidade de ocorrerem em sequência ou concomitantemente. Há passos que permeiam todo o processo, pois servem de subsídios para a realização dos demais — ao serem executados, retroalimen-tam a mesma prática que os inspiram, formando, assim, um processo contínuo de ação-refl exão-ação do Advocacy.

Apresentação

Em consonância ao posicionamento estratégico do Gru-po Marista e ao compromisso apontado no XXI Capítulo Geral pelo Instituto Marista na evangelização, promoção e defesa dos direitos de crianças, adolescentes e jovens, a Rede Marista de Solidariedade (RMS) assumiu, desde 2010, o Advocacy como uma modalidade de atuação no eixo de defesa dos direitos de crianças, adolescentes e jovens, com conceito próprio e proces-so de implementação e monitoramento, ao qual chamamos de Ciclo do Advocacy.

O Advocacy está pautado e orientado pelo enfoque em di-reitos humanos de crianças, adolescentes e jovens, referência fundamental para o desenvolvimento de iniciativas, interven-ções e diálogos a serem estabelecidos, e defi ne, sobretudo, um posicionamento frente à efetivação dos direitos e ao enfrenta-mento de sua violação.

Este documento pretende descrever os passos de elabo-ração, desenvolvimento e avaliação do Advocacy, percorrendo governança, eleição do tema, objetivos, análise das informações e das partes interessadas, incidência política, suas mensagens

O Advocacy está pautado e orientado pelo enfoque em

direitos humanos de crianças, adolescentes e jovens,

referência fundamental para o desenvolvimento de

iniciativas, intervenções e diálogos a serem estabelecidos,

e de� ne, sobretudo, um posicionamento frente à efetiva-

ção dos direitos e ao enfrentamento de sua violação.

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A escolha dos passos a serem realizados se dá por meio da análise de um conjunto de fatores relacionados ao tema, aos objetivos que se pretende incidir, à análise de cenários e aos atores envolvidos para sua validação.

A fim de garantir a retroalimentação da prática no Advocacy, tanto na Educação Infantil como no Acesso à Formação do Ensino Superior, a estratégia definida foi insti-tuir grupos de trabalho com representantes de áreas e setores que possuam interface com o desenvolvimento das iniciativas, para análise e avaliação das práticas e ações previstas.

Enfoque em direitos humanos de crianças e jovens

Como parâmetro da atuação em Advocacy, o enfoque em direitos humanos da criança, do adolescente e do jovem torna--se a principal referência para o desenvolvimento da prática.

Em consonância aos marcos regulatórios nacionais e acordos internacionais dos direitos humanos, sobretudo em conformidade com a Convenção dos Direitos da Criança da ONU e as demais legislações brasileiras1, o enfoque em direi-tos humanos se baseia no reconhecimento de crianças e jovens como sujeitos detentores de direitos, pertencentes à determi-nada comunidade, com sua cultura e história.

Diante disso, torna-se premissa que todos esses sujei-tos, independente de sua condição social, tenham acesso a seus direitos fundamentais, bem como uma vida em socie-dade solidária, justa e digna. Para tanto, devem participar do

1- Estatuto da Criança e do Adolescente, promulgado em 1989, e o Estatuto da Juventude, aprovado em 2013.

Em 2005, a PUCPR aderiu ao Programa Universidade Para Todos (ProUni), instituído pela Lei n. 11.096/2005, proposta pelo governo brasileiro, com vistas à demo-cratização do acesso da população de baixa renda ao Ensino Superior. Os impactos, tanto externos quanto internos, gerados pela possibilidade de ingresso de alunos com diferentes perfis socioculturais, provindos de várias regiões do Brasil e com demandas diferen-ciadas por suas trajetórias acadêmicas, despertaram questões e atenção a um maior aprofundamento na perspectiva da garantia dos direitos humanos prove-nientes dessa prática, gerando adaptações estruturais, culturais, comportamentais, societárias, administrati-vas e tributárias no ambiente interno e externo das IES. Todo esse processo foi subsidiado pela pesquisa Acesso à Formação no Ensino Superior, realizada na PUCPR com os alunos bolsistas, não mais dizendo respeito apenas aos bolsistas do ProUni, como antes. Dessa vez, foram englobados também os alunos que tiveram acesso por meio de outras bolsas institucionais.

Acesso à Formação do Ensino Superior

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planejamento, da implementação e da avaliação das iniciativas e decisões que os afetem, contribuindo, assim, para a conscien-tização em relação a seus próprios direitos, ao compromisso e à responsabilidade com os demais.

Como marco histórico da mudança do paradigma vigen-te da época e propulsor de mudanças signifi cativas na consoli-dação de justiça e paz num contexto de pós-guerra, apontamos a ratifi cação da Declaração Universal dos Direitos Humanos pela Assembleia das Nações Unidas, no dia 10 de dezembro de 1948. Nela, os direitos humanos estão defi nidos como aqueles que competem indistintamente a cada ser humano e preser-vam sua dignidade; são inalienáveis, inatos, indivisíveis e uni-versais. O Pacto Internacional de Direitos Econômicos, Sociais e Culturais (Pacto Social ou PISEC)2 e o Pacto Internacional de Direitos Civis e Políticos (Pacto Civil)3 foram acrescenta-dos à Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1966.

2- Por exemplo: direito ao trabalho, ao sindicalismo, à segurança social, à saúde, à edu-cação, de participação, à vida cultural etc.

3- Por exemplo: direito à vida, proibição da tortura e da escravidão, direito à liberdade de pensamento, expressão, de credo religioso, direito à reunião etc.

A Rede Marista de Solidariedade atua no campo da Educação Infantil há mais de 50 anos, por meio da pro-moção do direito das crianças pequenas ao acesso e à permanência na Educação Infantil de qualidade. Ao longo dos últimos quatro anos, concomitantemente ao fortale-cimento da incidência política em espaços estratégicos que fomentam políticas públicas para a Educação Infantil — como Conselhos, Fóruns e Redes em consonância com o cenário externo —, a RMS amplia a atuação nesse campo e fortalece seu posicionamento pela promoção e defesa de direitos, tendo como eixo estruturante as práticas peda-gógicas em desenvolvimento a partir de um currículo com enfoque em direitos. Tal posicionamento está alinhado às normativas nacionais e internacionais que ratificam a concepção de criança enquanto sujeito de direitos, como a Convenção Internacional de Direitos da Criança da ONU, a Constituição Federal Brasileira de 1988 e a Lei n. 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente). Desse modo, e considerando que a primeira infância é momento peculiar do desenvolvimento do ser humano em sua integralidade, a RMS assume, desde 2010, o Advocacy na Educação Infantil como uma modalidade de atuação na defesa de direitos da criança, alinhada ao cenário brasilei-ro atual, no qual as políticas para a primeira infância e, es-pecificamente, quanto à efetivação do direito à Educação Infantil de qualidade, são foco de atenção.

Educação infantil

A � m de garantir a retroalimentação da prática no

Advocacy, tanto na Educação Infantil como no Acesso

à Formação do Ensino Superior, a estratégia de� nida

foi instituir grupos de trabalho com representantes de

áreas e setores que possuam interface com o desenvol-

vimento das iniciativas, para análise e avaliação das

práticas e ações previstas.

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A partir da CDC, diante de debates, ocorreram desdobra-mentos que geraram protocolos específicos, como o da situa-ção das crianças em situação de conflito armado e do enfren-tamento da violência, do abuso e da exploração sexual, e, mais recentemente, o terceiro protocolo da convenção, relativo aos procedimentos de comunicação.

No Brasil, no fim da década de 1980, em um momen-to histórico de abertura democrática que gerou a revisão de nossa Constituição, por meio de uma mobilização da socie-dade civil organizada, o movimento pela infância conseguiu inserir o art. 227 na Constituição de 1988, regulamentado pela Lei Complementar n. 8.069/1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente — ECA)4 e pelo Estatuto da Juventude, apro-vado recentemente.

A trajetória da construção dos marcos regulatórios orien-ta as discussões e os posicionamentos frente aos temas eleitos como Advocacy, podendo ser complementados, muitas vezes, pelas diversas áreas de conhecimento que agreguem elemen-tos às discussões e intervenções geradas pela proposta.

Sob essa perspectiva, cabe esclarecer que podem ser consideradas iniciativas com enfoque de direitos humanos de crianças e jovens, práticas preventivas e de intervenção direta nos locais, as quais promovam o exercício de desfru-te dos direitos humanos e possam estar ligadas a processos de desenvolvimento local, defesa legal e social. Incluem-se, ainda, o desenvolvimento de práticas de sensibilização, conscientização e denúncia social, sempre considerando o princípio da participação.

4- O art. 227 da Constituição Brasileira sofreu uma alteração com a inclusão da juventude como prioridade, por meio da Emenda Constitucional n. 65 (2010).

Esses três pactos constituem a Carta Internacional dos Direitos Humanos. Com a atualização em 11 de outubro de 2007, 157 paí-ses ratificaram o Pacto Social, e 160, o Pacto Civil.

Dos tratados da Carta Internacional dos Direitos Hu-manos originaram-se outros pactos e acordos, que contribuí-ram para a efetivação do conceito abrangente dos direitos humanos. Dentre eles, consta o acordo para a eliminação de qualquer forma de discriminação da mulher, o acordo contra a tortura, formas cruéis, humilhantes e desumanas de trata-mento ou punição.

A CDC é composta por 54 artigos e pode ser dividida em três grupos temáticos: o direito à proteção, promoção e partici-pação. A proteção refere-se ao enfrentamento da violência, do abuso e dos maus-tratos, ao direito ao conhecimento da própria origem e à vida (arts. 6, 8, 19, 32, 33 e 34); a promoção diz respeito ao acesso aos direitos fundamentais: à saúde, educação, cultura, religiosidade, ao lazer etc. (arts. 24, 25, 26, 27 e 28); e participação é o eixo que contempla os aspectos que afirmem a identidade da criança, como o direito de atuação, de ser ouvida e de participa-ção em todas as situações referentes à infância (art. 12 e 13).

A Convenção também define quatro princípios gerais, cuja interpretação pode ser transversal a todo o documento: o princípio da participação (art.12), da sobrevivência e do de-senvolvimento (art. 6), da não discriminação (art. 2) e do supe-rior interesse da criança (art. 3). Este último define o aspecto de prioridade absoluta que esse sujeito de direitos deve ter na agenda política do Estado e de suas decisões, incluindo o inves-timento público para a implementação de políticas públicas.

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Universalidade e inalienabilidade: todos os habitantes do mundo são titulares deles. Ninguém pode renunciá-los volun-tariamente, tampouco uma pessoa pode privá-los de outra.

Indivisibilidade: os direitos humanos são indivisíveis. Tanto os civis como os culturais, econômicos, políticos ou so-ciais são inerentes à dignidade de cada pessoa.

Interdependência e inter-relação: muitas vezes, a reali-zação de um direito depende, total ou parcialmente, da reali-zação de outros. Por exemplo: a realização do direito à saúde pode depender da realização do direito à informação.

Igualdade e não discriminação: um enfoque baseado nos direitos humanos concentra-se especialmente em combater a discriminação e a desigualdade. Prima pela preservação de instrumentos de desenvolvimento para a proteção dos direi-tos e pelo bem-estar dos grupos excluídos ou marginalizados. Na medida do possível, devem-se desagregar os dados, por exemplo, por sexo, religião, etnia, idioma e deficiência, a fim de dar visibilidade a populações potencialmente vulneráveis. Ademais, deve-se exigir que todas as decisões, políticas e ini-ciativas de desenvolvimento que procuram habilitar os partici-pantes locais tenham o cuidado de não reforçar os desequilí-brios de poder e não criar outros novos.

Participação e integração: todas as pessoas têm o di-reito de participar ativa, livre e positivamente no desen-

volvimento civil, econômico, social, cultural e político, pois é assim que poderão desfrutar dos direitos humanos e das liberdades fundamentais.

Habilitação: processo pelo qual aumentam as capacida-des das pessoas para demarcar seus direitos e fazer uso deles. Elas estão habilitadas para reivindicar seus direitos, além de meramente aguardar a política, as leis ou a prestação de ser-viços. As práticas com enfoque nos direitos humanos devem criar capacidades que as pessoas e as comunidades necessi-tem para exigir de seus responsáveis. O objetivo é dar às pesso-as poder e capacidades para mudar suas vidas, melhorar suas comunidades e influenciar seus destinos.

Prestação de contas e respeito ao imperativo da lei: este enfoque se esforça em aumentar a prestação de contas no pro-cesso de desenvolvimento, determinando quem são os “titula-res de direitos” e os correspondentes “titulares de deveres” (ou responsáveis), e melhorar as capacidades destes últimos para cumprirem suas obrigações, que consistem em obrigações positivas de proteger, promover e cumprir os direitos huma-nos e as obrigações negativas de abster-se de violá-los. Cabe destacar que, além do governo, outros agentes devem assu-mir responsabilidades para a realização dos direitos humanos: indivíduos, famílias, organizações e autoridades locais, o setor privado, os meios de informação e comunicação.

PRinCíPiOS quE PERPASSAM OS DiREitOS huMAnOS E FunDAMEntAM O POSiCiOnAMEntO E A COMPREEnSãO DO ADVOCACY

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Baseado nos referenciais apontados, surge o conceito de Advocacy adotado pela RMS, considerando principalmente os princípios da universalidade, não discriminação, participação e do desenvolvimento pleno.

Conceito do Advocacy da rms

O Advocacy é uma ação política baseada em princípios e valores de incidência na formulação de legislação e de políticas públicas, no acompanhamento e no controle social de sua im-plementação. Caracteriza-se como forma de agir politicamente sobre uma causa a partir de uma boa prática em desenvolvi-mento na instituição e sob os princípios dos direitos humanos. É um processo sustentado em métodos argumentativos e ações de mobilização, construção de alianças e negociações com os poderes do Estado, nas três esferas (municipal, estadual e fe-deral) com a sociedade civil, que conhece e analisa o problema para formular pontos-chave para a ação política.

O exercício de Advocacy no Grupo Marista tem seu foco na defesa dos direitos da criança, do adolescente e da juventude, alinhado às reflexões internacionais do Instituto Marista. Deve considerar a construção da interlocução qua-lificada com os diversos atores da sociedade civil e do gover-no, e apresentar caminhos viáveis, com boa fundamentação argumentativa e base propositiva, construídos a partir de um conhecimento adquirido por meio de nossa prática e do reconhecimento de sua qualidade sob o enfoque de direitos, e da geração de conhecimento a partir da reflexão e do diá-logo teórico-prático. Sua articulação será por meio de redes

temáticas de incidência, buscando parcerias e alianças com instituições que lutam pela mesma causa.

O processo de avaliação no Advocacy deve compreen-der ações geradoras de impacto, visando a resultados ime-diatos e em longo prazo, bem como indicadores de proces-so e resultados que vislumbrem a garantia dos direitos das gerações futuras, considerando o investimento de recursos humanos e financeiros.

Governança do Advocacy da rms

O Advocacy deve ser planejado a partir da visão global de seu desenvolvimento e sua abrangência, levando-se em conta sua sustentabilidade e descrevendo o melhor mecanismo de monitoramento e avaliação.

O desenvolvimento do Advocacy está ancorado de forma efetiva em uma prática já estabelecida e/ou em desenvolvimen-to do Grupo Marista, sob a aprovação e o acompanhamento do Setor de Solidariedade, cuja responsabilidade é promover a comunicação e o intercâmbio entre as diversas atuações, con-tribuindo para sua reflexão e seu aprimoramento.

As Unidades de Negócio do Grupo Marista têm a res-ponsabilidade de estabelecer a coordenação para o Advocacy proposto, bem como a instância de referência, que valida e aprova as iniciativas propostas em consonância com o Setor de Solidariedade. Essa instância de referência pode ser um comi-tê patrocinador, criado a partir da atuação do Advocacy, ou co-missões e instâncias presentes na estrutura do Grupo Marista, como os comitês de área.

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CiCLO DO ADVOCACY

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Ciclo do Advocacy

1. tema

Como resultado de uma análise de cenários externos e internos, identificando elementos em nossa prática em corre-lação às discussões que a sociedade apresenta sob o enfoque nos direitos humanos de crianças e jovens, pode-se observar um ponto (ou vários) que se sobressai a esse contexto e mere-ce um olhar mais atento, em busca de questões relacionadas à garantia ou à violação dos direitos humanos das pessoas e dos coletivos que eles afetam.

A análise das situações e questões identificadas instiga a pensar em respostas e/ou promover mudanças, resultando na definição do tema, e seus pontos complementares ou destes derivados, de subtemas (ex.: direito à educação infantil, como tema; e direito à participação e ao brincar, como subtemas).

Para se definir o tema, ou subtemas, é necessário levantar todas as informações disponíveis, sempre sob a perspectiva dos direitos humanos, que contribuam para a visualização das causas e dos efeitos relacionados ao tema e do propósito que queremos atingir ou provocar nas interlocuções, que serão es-tabelecidas a partir dessa escolha.

Tal levantamento deve ser o mais abrangente possível, contendo produções científicas, legislação e políticas públicas existentes, identificação de movimentos sociais ou redes que já atuem nessa direção, análise de recursos técnicos e financeiros para o desenvolvimento das iniciativas, considerando sempre das mais simples às mais complexas. Além disso, deve iden-tificar nesse processo possíveis barreiras ou obstáculos que possam interferir na garantia dos direitos.

Essas informações nos ajudarão a delinear o tema do Advocacy, seu propósito, e então, o posicionamento político assumido pela instituição frente a tal tema. A partir desse posicionamento, definir-se-ão as estratégias de interlocução com o poder público e a sociedade civil, a construção do co-nhecimento e a busca de alianças e recursos, ou seja, as in-tervenções necessárias para a construção de um mundo mais justo onde crianças e jovens possam desfrutar plenamente de seus direitos.

A princípio, a identificação do tema do Advocacy do Acesso à Formação no Ensino Superior restringiu-se à análise e ao acompanhamento do ProUni. Após pes-quisa realizada com os alunos bolsistas, coleta de mais informações sobre esse assunto e incursões em outras organizações, chegou-se à conclusão de que a amplia-ção desse escopo possibilitaria uma imersão em um universo maior que os mecanismos de acesso ao Ensino Superior. Agregou-se à discussão aspectos quanto ao impacto na vida desse jovem, a melhora da qualidade de vida e a perspectiva de transformação social, e o acesso à educação.

Acesso à Formação do Ensino Superior

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2. Objetivos

Os objetivos visam responder às questões levantadas pelo tema e demonstrar as mudanças necessárias e o que se preten-de incidir para a efetivação dos direitos identificados.

Eles podem significar mudanças organizacionais, que afetam nossa prática, a fim de torná-la mais coerente com a

proposta do enfoque em direitos, ou gerar ações que preten-dam causar impacto e promover alterações em sistemas intei-ros de um país, na perspectiva legal ou comportamental, em relação aos sujeitos de direitos envolvidos.

Os fatores a serem considerados na análise devem envol-ver diferentes aspectos: relação das transformações conceituais e comportamentais dos atores sociais, incidência política, inclu-são ou implementação legislativa, atração de demais atores para o tema e favorecimento da construção de conhecimento.

A definição da Educação Infantil como tema do Advocacy percorreu um caminho de reflexão e debate, que levou em consideração a materialização de um currículo na Educação Infantil com enfoque nos direitos da criança, as discussões internacionais e nacionais sobre o tema, as coalizões e os movimentos sociais, e os cenários políticos. O posicionamento da RMS, enquanto Advocacy da Edu-cação Infantil, considera o aspecto mais amplo da pri-meira infância e possibilita desenvolver iniciativas que perpassam outros direitos relacionados, como o direito à participação, ao brincar e ao desenvolvimento integral, levando em conta: os princípios de desenvolvimento, su-perior interesse da criança e de não discriminação; as interações entre crianças e crianças, e entre crianças e adultos; e o acesso a espaços, materiais pedagógicos e lúdicos de qualidade, numa relação indissociável entre o educar e o cuidar.

Educação infantil

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envolvidos com a Educação Infantil na RMS (crianças, famílias, parceiros, educadores, gestores etc.). Assim, para coleta e con-solidação de dados, optou-se pela aplicação de alguns disposi-tivos e pelo desenvolvimento de oportunidades de avaliação e autoavaliação: questionários online com educadores, gestores e demais colaboradores das Unidades, contendo questões ela-boradas a partir dos indicadores da matriz de avaliação. Já para ouvir as famílias, foi utilizada a metodologia orientada pelos Indicadores de Qualidade da Educação Infantil5, instrumento alinhado ao projeto de avaliação cujo objetivo é promover a participação das famílias e da comunidade na autoavaliação do cotidiano da Educação infantil em diferentes dimensões: 1 – planejamento institucional, 2 – multiplicidade de experiên-cias e linguagens, 3 – interações, 4 – promoção da saúde, 5 – espaços, materiais e mobiliário, 6 – formação e condições de trabalho de professoras e demais profissionais, e 7 – coopera-ção e troca com as famílias e participação na rede de proteção social. A fim de identificar as concepções e práticas que se re-velam na documentação pedagógica produzida nas Unidades, foram realizadas oficinas com os educadores e, também, a aná-lise das produções de adultos e crianças por observadores ex-ternos; por meio do desenvolvimento de oficinas de avaliação de trabalho em rede e parcerias com integrantes das demais Unidades do Grupo Marista e áreas da mantenedora, foi pos-sível identificar a percepção de tais atores sobre a atuação da

CASE DA AVALiAÇãO DA EDuCAÇãO inFAntiL

O Projeto Avaliação da Educação Infantil, da Rede Marista de Solidariedade, teve origem no ano de 2010, como uma importante estratégia na identificação de práticas cotidianas com foco na promoção de direitos na Educação Infantil, que subsidia o Advocacy. Assim, o projeto de avaliação é entendido como ação diagnóstica essencial, no que tange à efetivação de um currículo com enfoque em direitos na Educação infantil e às evidências do posicionamento da RMS na promoção e defe-sa de direitos da criança nos territórios onde atua e sua interlo-cução com a sociedade e o poder público.

Para a execução do projeto, a partir do objetivo de revelar a realidade nas Unidades de Educação Infantil da RMS, optou--se por uma metodologia participativa com a constituição de um grupo de trabalho representativo da Rede que, numa traje-tória formativa, elaborou uma matriz de avaliação permitindo, de forma criteriosa, identificar evidências na promoção de di-reitos no âmbito da Educação infantil da RMS. Para tanto, foram definidos seis eixos de avaliação: promoção e defesa dos direi-tos das crianças, proposta socioeducativa, formação contínua, articulação em rede, impacto social e viabilidade econômica.

Para cada eixo, foram elaboradas perguntas avaliativas que serviram como disparadoras para a identificação de um conjun-to de indicadores desdobrados de cada eixo, a partir da opção do grupo em priorizar alguns indicadores em atenção ao objeti-vo do processo avaliativo. Por exemplo, no eixo “promoção e de-fesa de direitos das crianças”, foram priorizados os direitos à par-ticipação infantil, ao desenvolvimento da autonomia, ao brincar, à não discriminação e à convivência familiar e comunitária.

Definidos os indicadores, foram selecionadas fontes e for-mas de coleta que promoveram a escuta dos diferentes atores

5- “(...) instrumento de autoavaliação da qualidade das instituições de Educação Infantil, por meio de um processo participativo e aberto a toda a comunidade” (BRASIL, 2009, p. 19-20).

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Todo o processo de avaliação, como uma iniciativa da Análise de Informações do Ciclo do Advocacy, demonstra con-tribuições em dois aspectos: a possibilidade de retroalimenta-ção da prática, que inaugura e/ou aprofunda elementos para aprimorar nossa prática sob o enfoque de direitos, e a quali-ficação do currículo com enfoque em direitos humanos da criança, subsidiando argumentações e recomendações na in-terlocução com o poder público e a sociedade civil.

Unidade e, por fim, para constatação de qual impacto social a Rede tem no desenvolvimento integral das crianças, foi realiza-do estudo de caso a partir da escuta de crianças egressas.

Após a aplicação dos dispositivos e do desenvolvimento dos momentos de avaliação, a RMS obtém um material bastan-te rico para análise quantitativa e qualitativa da realidade das Unidades e do impacto do trabalho realizado junto aos atores envolvidos com a Educação Infantil.

Assim, é realizada a análise criteriosa dos dados, alinhada ao posicionamento da RMS e a referenciais teóricos, oficiais e institucionais da Educação Infantil, a qual permitiu a produção de um relatório geral com dados qualitativos e quantitativos do conjunto de Unidades avaliado, bem como um relatório específico para cada Unidade. Neles, são indicados elemen-tos que subsidiaram as equipes locais e a mantenedora na elaboração de um plano de melhoria para a Educação Infantil da Rede, com foco na superação de fragilidades identificadas no cotidiano que representam desafios na efetivação do posi-cionamento na promoção e defesa de direitos da criança e na busca da excelência de sua atuação.

Tal plano foi desenhado a partir de focos de intervenção prioritários e da definição de ações e estratégias sob a respon-sabilidade das diferentes instâncias de gestão. Com a execução do projeto, a identificação e análise dos resultados e o desen-volvimento de ações previstas nas Unidades avaliadas entre 2011 e 2013, visualiza-se um processo de retroalimentação e fortalecimento das práticas, o que permitirá dar continuida-de ao ciclo de avaliação, com a estimativa de atualização do projeto e realização de nova avaliação envolvendo todas as Unidades da RMS em 2014.

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arcabouço legal em que o tema se encontra respaldado (ou sua ausência), o comportamento da justiça em relação às violações, a pesquisa sobre a atuação de outras instituições e o posicio-namento de outras redes e movimentos sociais em relação ao tema. É importante que a análise seja baseada em dados ofi-ciais utilizados em relatórios de Estado ou ONGs e Órgãos Internacionais, o que não exclui a possibilidade da realização de pesquisas próprias, complementares, que podem estar con-tidas em sistemas de avaliação de serviços, ou do levantamento do perfil do sujeito de direitos com quem estamos trabalhando.

Há, ainda, a possibilidade da interpretação e análise dos dados por diferentes áreas do conhecimento, em consonância com o enfoque de direitos, para identificar estratégias diversi-ficadas que possibilitem intervenção com diferentes públicos, contribuindo para a incidência política.

Informações confiáveis, obtidas por pesquisas consis-tentes e baseadas em dados comparativos com outras expe-riências, alimentarão todo e serão o elemento diferencial da proposta assumida pela instituição. Esses fatores fornecerão fortes elementos para a construção da base argumentativa, coerente com cenários políticos e sociais, impactando na ela-boração e na implementação de iniciativas que consolidem os objetivos propostos.

Nos casos em que se faz necessária a identificação de boas práticas como parâmetro do Advocacy, a análise de informa-ções cumpre papel significativo, gera subsídio para identificar alterações necessárias internas e contribui com uma reflexão que pode gerar mudanças de objetivos, estratégias e, até mes-mo, temas e subtemas.

3. Análise das informações

Coleta, sistematização e análise das informações sobre o tema são fundamentais na consolidação do posicionamen-to e na construção da base argumentativa para a atuação do Advocacy. Essa análise é complementar à escolha do tema e estabelece com ele um movimento retroalimentador, ou seja, é necessário um olhar em direção a cenários internos e externos para a definição do tema, e coleta de informações para subsi-diar as definições.

Nessa perspectiva, quando é preciso aprofundar o levan-tamento dos dados e das informações, podemos encontrar novos temas (ou subtemas) que influenciem uma retomada da ideia originária e/ou fomentem novos posicionamentos, objetivos e iniciativas. São necessárias informações que con-templem a realidade interna de como se desenvolve o tema na instituição, seus pontos fortes e suas fragilidades, bem como a realidade externa, identificando as principais práticas e dis-cussões que estão ocorrendo em diversos âmbitos — geográfi-cos, políticos, culturais — e seus diversos atores.

Diante de todos os dados adquiridos, poderemos identifi-car a situação dos direitos à qual o indivíduo está submetido, sob a perspectiva da promoção e violação, bem como levantar os cenários e fatores que afetam direta ou indiretamente essa condição e, a partir disso, construir melhor as estratégias para as intervenções, os intercâmbios, as iniciativas que venhamos a desenvolver posteriormente.

São também elementos importantes nessa análise: nos-sas práticas sistematizadas sob a perspectiva dos direitos, o

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as mudanças propostas. Esse aspecto nos indica a relevância do mapeamento e suas possibilidades de intervenção com lide-ranças capazes de influenciar a situação ou espaços que opor-tunizem bons resultados.

A investigação dos públicos nos dará pistas da razão por que não ocorreram as mudanças de paradigma e compor-tamento e a efetivação dos direitos, como crenças, enfoques, gostos, prioridades, planos etc. E, após conhecer os públicos, teremos condições e elementos para estabelecer os espaços e as oportunidades de intervenção.

Para isso, nessa etapa, devemos também definir em quem centrar nossas atividades, de quem buscaremos apoio mais efetivo, quem devemos influenciar para atingir os objetivos e qual a melhor estratégia, seja direta ou indiretamente. Uma avaliação dos riscos baseada na análise do entorno político com o qual se pretende trabalhar é muito pertinente, assim como a definição de parcerias e alianças.

Ambas representam passos relevantes e essenciais do Advocacy, e se somam à perspectiva de coalizões, exigindo a constituição de delineamentos e estratégias específicas para sua realização.

Exemplos de informações para o desenvolvimento de argumentos:

• registro reflexivo da prática, sistematização dos conteú-dos, pesquisas que subsidiem os objetivos do Advocacy;

• processos descritos que mitiguem as violações de direitos; • indicadores da avaliação da modalidade de atuação; • estudo comparativo com indicadores nacionais ou de ou-

tras organizações; • comparação do custo do serviço público e da proposta da

Rede Marista de Solidariedade e de outras organizações; • levantamento das políticas públicas existentes; • identificar as temáticas de garantia de direitos realiza-

das por movimentos e organizações sociais.

4. Análise das partes interessadas

Com o tema e os objetivos do Advocacy selecionados, e a contribuição da análise das informações, podemos nos con-centrar na identificação dos públicos que o Advocacy atinge e nas oportunidades de intervenção direta ou indireta nas ins-tâncias de decisão sobre as mudanças.

Essa identificação também deverá ser abrangente: inves-tigar práticas similares, conhecer outras instituições — pri-vadas ou públicas — que atuem em Advocacy com o mesmo tema, bem como perceber os responsáveis e/ou tomadores de decisões, personagens importantes na perspectiva de atingir

Exemplos de espaços e oportunidades de intervenção: MEC, Secretaria Municipal de Educação, Conselhos de DCA, Conselhos de Classe, Câmara Legislativa, Poder Judiciário, Fóruns de DCA e de Educação, Educadores, Associações de Bairros, Frente Parlamentar, Universidades etc.

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As mensagens podem conter informações adicionais que contribuam para o envolvimento e a influência das pessoas a cargo das decisões. Por exemplo, podemos motivar um político a aderir a uma proposta ao divulgarmos o interesse da popula-ção nela, relacionando-se fatos a dados, tanto em comunicação direta com esse político quanto por meio de uma campanha à qual seu partido pode aderir.

Sobre o conteúdo dessas mensagens, destacamos as que são subsídios importantes para a construção de bons argu-mentos para o Advocacy. Elas devem comunicar aos atores--chave o que eles ou outros devem fazer, bem como os benefí-cios da ação.

Preferencialmente, as mensagens devem conter informa-ções quantitativas e qualitativas, econômicas, políticas e éticas, abrangendo equidade e justiça social.

5. incidência política

O Advocacy tem como premissa a interlocução com o Estado e com a sociedade, visando à efetivação dos direitos de crianças e jovens, focada não somente na aprovação de leis ou na implementação de políticas públicas, mas também em con-tribuir para as mudanças de paradigmas quanto à implemen-tação do enfoque em direitos humanos de crianças e jovens. Portanto, a identificação desse público também é importante, seja ele o destinatário direto — o próprio sujeito de direito — ou seus interlocutores, como a família, os educadores, a Igreja e a sociedade.

Nessa perspectiva, definimos mensagens e recomendações como passos importantes para a construção dessa interlocução.

5.1 Mensagens

As mensagens referem-se à importância da comunicação do Advocacy em interlocução com diferentes públicos, de di-versas formas. A escolha da mensagem é baseada na identifi-cação do público e nos objetivos que se pretende atingir.

Deve-se também considerar as oportunidades de interlo-cução e o nível de conhecimento sobre o tema das pessoas e/ou instâncias abordadas. Esses fatores determinam a escolha da realização de uma publicação com artigos científicos, um Projeto de Lei ou uma campanha. As mensagens permitem a organização do conhecimento, a fim de encontrar melhores linguagens e formatos de acordo com o que se quer comunicar aos públicos do Advocacy.

Exemplo de mensagem: Como uma estratégia de ampliar a compreensão e o entendimento sobre a defesa do direito à Educação Infantil de qualidade, foram criadas dez iniciativas para ilustrar formas de garantir o direito ao brincar das crian-ças, as quais podem ser consideradas mensagens do Advocacy. Isso porque, além de contribuir nos argumentos para o posicio-namento propositivo, disseminam o conceito e o tornam mais acessível a diferentes públicos, proporcionando mudanças no comportamento e na cultura da sociedade, visto que esclare-cem que ações os adultos devem tomar em relação à promoção e à defesa desse direito.

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Outro elemento importante a ser considerado nas men-sagens é o envolvimento das pessoas a fim de que se somem a defesa efetuada e o modo como desenvolvemos suas capaci-dades para fazê-lo da melhor forma. Como exemplo, podemos citar o desenvolvimento de projetos de educação a distância. O objetivo de disseminar a oferta da Educação Infantil com en-foque nos direitos torna-se uma estratégia para a atuação na formação dos educadores por meio do ensino a distância, atin-gindo, assim, maior extensão geográfica e envolvendo diversas realidades, com custo menor.

Na perspectiva de introduzir na agenda as questões re-ferentes ao Acesso à Formação no Ensino Superior, uma das iniciativas desenvolvidas no Advocacy foi a apresen-tação dos dados identificados por meio de pesquisa em diversos Fóruns, tanto acadêmicos quanto instâncias de discussão e deliberação de políticas públicas, como forma de ampliar a discussão e contar com informações mais próximas à realidade do sujeito de direito.

Acesso à Formação do Ensino Superior

Como exemplos de iniciativas desenvolvidas a partir da proposta de mensagens do Advocacy, identificamos a proposta dos itinerários formativos e a disponibilização de cursos a distância. A primeira iniciativa compreende seminários e congressos temáticos, com a intenção de proporcionar espaços em que a Educação Infantil seja tema e possa ser aprofundada em diferentes perspecti-vas; já a segunda nos permitiu ampliar geograficamente o debate, envolvendo diversas realidades e propagando a proposta de uma Educação Infantil com enfoque nos direitos humanos de crianças e adolescentes.

Educação infantil

A análise do público e do objetivo que queremos determi-nará o perfil das pessoas a serem envolvidas para a realização dessa etapa; ou seja, se, na área de comunicação, serão técnicos acadêmicos ou especialistas.

5.2 Recomendações

As iniciativas desse passo representam uma abordagem mais específica, tentando influenciar as políticas públicas, as de-cisões governamentais, a legislação ou regulação e as alterações de leis. As oportunidades para influenciar aqueles que têm o po-der de decidir são, muitas vezes, limitadas. Um político pode lhe conceder uma reunião para discutir o problema, ou um ministro pode ter apenas cinco minutos para uma conferência. É necessá-ria, então, uma preparação cuidadosa de argumentos convincen-tes e estilo de apresentação específico a fim de transformá-los em breves oportunidades para uma defesa bem-sucedida.

Nesse passo, são previstas iniciativas mais direcionadas à interlocução com quem tem o poder ou a influência para tomada de decisões. Pode prever uma abordagem direta ou por meio dos espaços deliberativos ou consultivos de contro-le social, como conselhos, comissões etc., sempre num diálogo propositivo cujo objetivo seja o desfrute pleno dos direitos das crianças e dos jovens.

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6. Coalizões

Muitas vezes, o impacto do Advocacy é encontrado no nú-mero de pessoas que apoiam e aderem a seu objetivo — especial-mente quando a proposta apresenta teor inovador e desconheci-do. Envolver grande número de pessoas, de diversos setores da sociedade, representando diversos interesses, pode proporcio-nar mais segurança para o Advocacy, bem como construir apoio político e ampliar as possibilidades de sucesso.

Coalizões representam a articulação de organizações em relação a um objetivo em comum, por grandes eixos ou temá-ticas, de abrangência local ou internacional. Pode, ainda, ser uma coalizão já instituída da qual conseguimos a adesão à nossa causa ou uma formação específica para a proposta apre-sentada. Como exemplos de coalizões, podemos citar o Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente, a Rede Nacional pela Primeira Infância, a Rede Nacional Não Bata! Eduque, o Fórum Nacional de enfrentamento ao Trabalho Infantil etc.

Exemplo de recomendação: No Advocacy Acesso à Formação do Ensino Superior, em aliança a diversas coalizões e organi-zações da sociedade civil, busca-se intervir de maneira pro-positiva na avaliação e na elaboração de novos programas governamentais que englobem o tema. Em diálogo constante com o Ministério da Educação e comissões parlamentares que debatem a educação e seus cenários futuros, o Advocacy busca um posicionamento subsidiado pela análise de informações e boas práticas.

Mesmo dentro de uma organização, a construção de co-alizão interna é importante, envolvendo pessoas de diferentes departamentos no desenvolvimento de uma nova proposta, na construção de consenso e apoio para a ação.

Como exemplos, podemos citar a articulação das re-des como o Fórum Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente e a Rede Nacional da Primeira Infância, além do envolvimento das próprias Instituições Maristas, como a Fundação Marista Internacional de Solidariedade (FMSI) e a UMBRASIL.

A opção por atuar com a Rede Nacional da Primeira Infância se definiu a partir da análise das partes interes-sadas no tema do Advocacy da Educação Infantil, e na im-portância do fomento e do fortalecimento de coalizões que envolvam o maior número de organizações dedica-das ao tema e que conciliem nossos objetivos em prol da garantia dos direitos, visando à influência junto aos ór-gãos e instâncias a cargo das decisões na implementa-ção de políticas públicas que contemplem as demandas atuais do país, principalmente o acesso e a qualidade.

Educação infantil

7. Sustentabilidade

A busca pela sustentabilidade dos projetos e a necessi-dade de recursos humanos (capacitações específicas, tempo),

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Um aspecto importante do Advocacy é o monitoramento das iniciativas que propiciem a prestação de contas e a transpa-rência das ações e dos recursos investidos para esse fim, prin-cipalmente após mudanças políticas ou quando compromis-sos forem alcançados. É essencial estabelecer metas e critérios para a transparência na alocação e na execução do orçamento, bem como espaços permanentes de diálogo, que subsidiarão a interlocução, buscando a responsabilização pelo direito viola-do ou a ausência da política pública.

Caso o objetivo do Advocacy não tenha sido atingido, essa etapa de avaliação torna-se fundamental para a análise e a identificação de fatores que auxiliarão o emprego de novas estratégias e a busca de sua efetivação.

O sucesso do Advocacy está atrelado à capacidade de mudanças que ele proporcionou, na perspectiva de que todos os esforços empenhados contribuirão para melhorar a condi-ção dos sujeitos de direitos, e favorecerão a construção de um mundo mais justo e digno.

materiais e financeiros para o desenvolvimento do Advocacy deve considerar a captação de recursos financeiros como par-te indispensável de todos os processos. Manter um esforço de defesa eficaz de longo prazo é investir tempo e energia na arre-cadação de fundos ou outros recursos para apoiar o trabalho.

Existem várias agências de fomento internacionais, como fundações e institutos com o foco na defesa dos direitos huma-nos; por exemplo: Fundação Ford, Kellogs e Save The Children.

Esses recursos podem ser reunidos por meio de uma previsão de orçamento próprio e dos aliados à causa, ou seja, as organizações mobilizadas. Tal aspecto pode ser observado também quando for desenvolvido o passo referente às coali-zões. Pode haver alguma aliança cujo objetivo seja também o financiamento do Advocacy.

8. Avaliação e monitoramento

A etapa de avaliação exige o desenvolvimento de indica-dores que permitam ver os avanços das estratégias utilizadas em busca de respostas aos objetivos. Uma defesa eficaz exige avaliações contínuas, pois os cenários do Advocacy podem sofrer mudanças constantes em relação a um aspecto e ne-nhuma mudança referente a outro. Para isso, é importante a avaliação contínua, pois ela permite redefinir os rumos das estratégias, para adequação aos objetivos, às ações e às metas estabelecidas no projeto.

Acompanhar o número das adesões ao Advocacy insti-tuído, os avanços alcançados e os produtos derivados dessa discussão — Projetos de Lei, artigos, campanhas, audiências públicas etc. — são informações que poderão compor os indi-cadores para a avaliação dos resultados.

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