ciberjornalismo: 20 anos - .que dizem respeito a fraquezas humanas” – do que em hard news –
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ESTUDOS DE JORNALISMO// setembro // n. 4 // 2015 //
CIBERJORNALISMO: 20 ANOS MADE IN PORTUGAL
// SOPCOM // GT Jornalismo e Sociedade // 1
// FICHA TCNICA //
Revista Estudos de Jornalismo
Nmero 4
ISSN: 2182-7044
Site: www.revistaej.sopcom.pt
Contacto: revistaestudosjornalismo@gmail.com
// EDITOR //
Pedro Jernimo
// SUB-EDITORA //
Nair Moreira Silva
// CONSELHO EDITORIAL //
(Membros do GT Jornalismo e Sociedade da SOPCOM)
Antnio Jos Ferreira Bento (Univ. da Beira Interior)
Felisbela Lopes (Univ. do Minho)
Francisco Rui Cdima (Univ. Nova de Lisboa)
Hlia Costa Santos (Escola Sup. de Tec. de Abrantes)
Helena Lima (Univ. do Porto)
Joaquim Fidalgo (Univ. do Minho)
Joo Carlos Correia (Univ. da Beira Interior)
Jorge Pedro Sousa (Univ. Fernando Pessoa)
Manuel Pinto (Univ. do Minho)
Rogrio Santos (Univ. Catlica Portuguesa)
// DATA //
Setembro 2015
// LOCAL //
Porto
// ORGANIZAO //
Coordenao do GT Jornalismo e Sociedade da SOPCOM
// NOTA EDITORIAL // Textos, imagens e referncias
so da responsabilidade dos autores. Foto de capa da autoria de Ana Isabel Reis.
// SOPCOM // GT Jornalismo e Sociedade // 2
mailto:revistaestudosjornalismo@gmail.comhttp://www.revistaej.sopcom.pt/
ndice
IntroduoAntnio Granado e Fernando Zamith 5
Dossier temtico
Das utopias realidade: Um olhar sobre duas dcadas de ciberjornalismoHelder Bastos 9
Tabloidizao das notcias e a reconfigurao de valores do jornalismo contemporneoTarcineide Mesquita 19
Credibilidade nas Redes Sociais: Os jornalistas portugueses aos olhos da audincia Ctia Mateus 37
Vinte anos de Zero Hora na internet (1995-2015)Luciana Mielniczuk, Alciane Baccin, Marlise Brenol, Mara Sousa e Priscila B. Daniel 53
Jornalistas no facebook ignoram critrios de apurao da notcia: O caso da bananeira fora de contextoBeatriz Dornelles e Patrcia Specht 67
Tema livre
Mudanas estruturais e ensino de jornalismo: Os desafios dos professores nos novos rumos do jornalismoBoaneges Balbino Lopes Filho e Rafael Pereira da Silva 83
Consideraes sobre a profisso de Jornalista. A pluriespecializao, o gatekeeping, o jornalismo de cidado e colaborativoTiago Lima Quintanilha 99
O Jornalismo Mestio de Gabriel Garca MrquezMatheus Torreo Farias 121
Recenses
Duas dcadas de ciberjornalismo na Ibero-AmricaPedro Jernimo 137
Pensamento Comunicacional Brasileiro: A Emergncia Epistemolgicadas Cincias da Comunicao no Brasillmano Ricarte de Azevdo Souza 141
// SOPCOM // GT Jornalismo e Sociedade // 3
// SOPCOM // GT Jornalismo e Sociedade // 4
// ESTUDOS DE JORNALISMO // n. 4 // 2015 //
Introduo
Editores convidados:
Antnio GranadoFaculdade de Cincias Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboaantgranado@gmail.com
Fernando ZamithFaculdade de Letras da Universidade do Portozamith@gmail.com
Este nmero da revista Estudos de Jornalismo comemora os 20 anos do ciberjornalismo
em Portugal. No foram, no esto a ser, tempos fceis para o jornalismo. Esmagadas por um
modelo de negcio que caminha para o seu fim, as redaces portuguesas sabem bem o que
passaram nestes ltimos anos com a reduo de efectivos, os cortes de despesas, o
sedentarismo forado, a queda de leitores, ouvintes e telespectadores.
O crculo vicioso em que entraram muitos rgos de comunicao, incapazes de reagir
em tempo s mudanas de paradigma trazidas pela Web, arrastam consigo a prpria profisso
de jornalista e transformam muitos dos seus executantes em operrios obedientes,
estudantes atenciosos, leitores ingnuos de notcias sensacionais, gente pouca, pouca e seca,
como escrevia o poeta.
Se no incio a Web trazia consigo promessas de um mundo melhor e mais diverso, com
acesso quase infinito s fontes de informao, a verdade que se tem vindo a transformar
numa gigantesca mquina fotocopiadora, onde quase nenhum rgo de comunicao quer
deixar de falar no ltimo vdeo viral, de recontar o que os outros j contaram melhor, de ceder
ao todo-poderoso abismo do clique, convencido de que a sobrevivncia depende de ttulos que
no dizem nada mas tentam obrigar os leitores a abrir os textos.
No artigo inicial que abre este nmero, Helder Bastos que h precisamente 20 anos
trabalhava na redaco do Jornal de Notcias, o primeiro jornal portugus a colocar a sua
edio na Web fala-nos do fim das utopias do ciberjornalismo e do choque duro com a
realidade. E acrescenta-lhes previses no muito animadoras: Deteriorao geral das
condies de trabalho dos jornalistas e ciberjornalistas, precarizao, desvalorizao do valor
do trabalho jornalstico, aumento da exigncia de aptides mltiplas e do cumprimento de
diversas tarefas em simultneo, presso do deadline contnuo, sedentarismo, baixos nveis de
interactividade, ausncia de fontes prprias e de investigao, escreve o autor. Em conjunto,
estas distopias podero vir a ser sinnimo de um jornalismo na rede mais pobre, superficial,
// SOPCOM // GT Jornalismo e Sociedade // 5
mailto:zamith@gmail.commailto:antgranado@gmail.com
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suprfluo, inofensivo para os poderes estabelecidos, irrelevante no contexto da democracia e
do debate pblico.
No mesmo sentido, parece ir tambm o artigo de Tarcineide Mesquita, que consiste numa
reviso de literatura acerca da tabloidizao e da forma como esta prtica tem vindo a ganhar
espao no jornalismo contemporneo. A mudana de contedo orientada para os tipos e
formatos do entretenimento, e de prioridade verbal para a visual, como escreve a autora,
clara em muito do ciberjornalismo da actualidade, mais interessado em soft news notcias
que dizem respeito a fraquezas humanas do que em hard news apresentaes factuais
de ocorrncias consideradas noticiveis.
Ctia Mateus, no artigo que se segue, vem colocar o dedo numa das feridas mais abertas
pelos ltimos anos de deriva do jornalismo, tal como o conhecamos: a prpria credibilidade do
jornalista. Na sequncia de um inqurito efectuado a utilizadores das redes sociais, a autora
tira algumas concluses que deviam arrepiar qualquer jornalista com carteira profissional:
71,9% dos seguidores de jornalistas nas redes sociais (a maioria acompanhando ou
subscrevendo apenas as partilhas pblicas dos jornalistas) [identificam] entre os profissionais
que seguem partilhas, comentrios ou opinies, capazes de colocar em causa o dever de
imparcialidade que lhes exigido, e 66% [confirmam] que a actuao de um jornalista nas
redes sociais j gerou um impacto negativo na sua opinio em relao sua credibilidade.
Num ambiente sedentarizado e cada vez mais dependente das redes sociais, acontece
mesmo que os mais bsicos princpios da profisso jornalstica so esquecidos, como nos
demonstram Beatriz Dornelles e Patrcia Specht, no artigo que se segue. A partir de um
episdio de um vdeo da jornalista Gabriella Bordasch plantando bananeira, publicado no
Facebook e convertido em notcia nos meios tradicionais, as investigadoras concluem, no
sem preocupao, que o processo resultou, na maior parte dos casos, em produto jornalstico
distorcido, com alto grau de imprecises, sem checagem das informaes e sem depoimento
da principal fonte da notcia.
No ltimo artigo temtico deste nmero, Luciana Mielniczuk, Alciane Baccin, Marlise
Brenol, Mara Sousa e Priscila Berwaldt Daniel apresentam-nos a histria do jornal Zero Hora,
recolhendo entrevistas e documentos importantes que descrevem a implantao e o seu
percurso na Web entre 1995 e 2015. Este trabalho de reconstituio histrica de uma viagem
com altos e baixos pode certamente servir de inspirao a outros trabalhos do gnero,
envolvendo outras redaces, de forma a poder um dia escrever-se, com mais qualidade e
profundidade, a histria do jornalismo na Internet.
Na segunda parte deste nmero, Boaneges Balbino Lopes Filho e Rafael Pereira da Silva
discutem os reflexos das mudanas no campo dos media no ensino do jornalismo, defendendo
a criao de procedimentos, disciplinas, metodologias de ensino e aprendizado, e processos
pedaggicos que levem em conta [a] natureza fluda do jornalismo contemporneo [] e leve
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em conta o jornalismo enquanto prtica social, inserida em diferentes contextos de produo,
onde o presente particularmente marcado pela ruptura dos limites espaciais e temporais que
caracterizavam as prticas jornalsticas na modernidade. Um desafio aos professores de
jornalismo, que vivem num tempo de mudana acelerada e correm atrs de um alvo em
constante movimento.
O outro artigo deste nmero, da autoria de Tiago Lima Quintanilha, fala da
pluriespecializao, do gatekeeping e da emergncia do chamado jornalismo de cidado e
colaborativo, a partir de um conjunto de dados extrados do Barmetro Desafios do Jornalismo
(2010 e 2012), publicado pelo OberCom (Observatrio da Comunicao). Neste texto, o autor
chama a ateno, entre outros aspectos, para o prprio desencanto dos jornalistas
portugueses com a profisso que exercem: [Em] 2012, cerca de 83% dos inquiridos viam
com pessimismo o futuro dos diferentes rgos de comunicao social, sendo que, para cerca
de 65% dos