chueh_2004

102
ANDERSON MENDES CHUEH ANÁLISE DO USO DO SOLO E DEGRADAÇÃO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO PEQUENO - SÃO JOSÉ DOS PINHAIS/PR, POR MEIO DO DIAGNÓSTICO FÍSICO-CONSERVACIONISTA - DFC CURITIBA 2004 Dissertação apresentada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre. Curso de Pós- Graduação em Geografia. Área de Concentração em Análise Ambiental. Setor de Ciências da Terra, Universidade Federal do Paraná. Orientador: Prof. Dr. Leonardo José Cordeiro Santos

Upload: cesar-claudio-caceres-encina

Post on 22-Nov-2015

5 views

Category:

Documents


1 download

TRANSCRIPT

  • ANDERSON MENDES CHUEH

    ANLISE DO USO DO SOLO E DEGRADAO AMBIENTAL NA BACIA

    HIDROGRFICA DO RIO PEQUENO - SO JOS DOS PINHAIS/PR, POR MEIO

    DO DIAGNSTICO FSICO-CONSERVACIONISTA - DFC

    CURITIBA 2004

    Dissertao apresentada como requisito parcial obteno do grau de Mestre. Curso de Ps-Graduao em Geografia. rea de Concentrao em Anlise Ambiental. Setor de Cincias da Terra, Universidade Federal do Paran. Orientador: Prof. Dr. Leonardo Jos Cordeiro Santos

  • "Ao meu pai que deixou este mundo sem poder

    participar totalmente desta conquista, e minha filha

    Ceclia, que veio para preencher a luz que havia se

    apagado, fazendo-me ver de forma concreta a

    inexorvel ao do tempo no ciclo da vida."

  • AGRADECIMENTOS

    Agradeo a Deus por mais esta etapa concluda em minha vida.

    Ao Professor Doutor Leonardo Jos Cordeiro Santos, pela orientao e pela

    amizade sincera que estabelecemos durante o desenvolvimento desta pesquisa.

    Ao Professor Irani dos Santos, pelo apoio amigo e pelos dados levantados

    junto ao Centro de Hidrulica e Hidrologia Professor Parigot de Souza - CEHPAR.

    Ao Professor Francisco Mendona, pelo apoio e amizade.

    Aos funcionrios da Secretaria do Curso, especialmente ao Zem, pela

    dedicao e presteza que sempre me atenderam.

    amiga Tnia Lcia G. de Miranda pela fora e incentivo quando esta

    pesquisa ainda era apenas uma inteno.

    Aos amigos Fabiano e Cludia, pela demonstrao de carinho e

    imprescindvel ajuda, tanto na elaborao quanto no fornecimento de dados para o

    desenvolvimento da pesquisa.

    amiga Snia B. do Amaral pelo apoio e valioso material cedido.

    Aos queridos amigos Claudio e Janana pelo apoio de maneira geral e

    irrestrita, e, Marciel pela demonstrao de amizade e ajuda na elaborao de

    mapas.

    Aos colegas Claudinei, Josemara e Simone pela ajuda e apoio na

    manipulao de dados em meio computacional.

    minha me que sempre acreditou em mim e tambm minha querida

    esposa pelo carinho, dedicao, incentivo e pacincia que teve durante o curso.

    Enfim, a todas as pessoas que de maneira direta ou indireta contriburam

    para a execuo deste trabalho e concluso do curso: muito obrigado.

    ii

  • SUMRIO

    LISTA DE FIGURAS............................................................................................... vi

    LISTA DE TABELAS.............................................................................................. vii

    LISTA DE QUADROS............................................................................................ ix

    RESUMO................................................................................................................ x

    ABSTRACT............................................................................................................ xi

    1 INTRODUO..................................................................................................... 01

    2 DO AMBIENTE NATURAL AO ESPAO CONSTRUDO.................................. 04

    2.1 A BACIA HIDROGRFICA DO RIO PEQUENO............................................... 04

    2.2 ASPECTOS FSICOS NATURAIS E USO DO SOLO...................................... 07

    2.2.1 Geologia......................................................................................................... 07

    2.2.2 Geomorfologia................................................................................................ 10

    2.2.3 Solos.............................................................................................................. 11

    2.2.4 Aspectos da Cobertura Vegetal Atual............................................................ 16

    2.2.5 Uso do Solo.................................................................................................... 20

    2.3 O ESPAO CONSTRUDO.............................................................................. 22

    3 FUNDAMENTAO TERICA........................................................................... 26

    3.1 A ABORDAGEM SISTMICA........................................................................... 26

    3.2 DEGRADAO E IMPACTOS AMBIENTAIS................................................... 28

    3.2.1 Alteraes no Uso do Solo............................................................................. 30

    3.3 BREVE CONTEXTUALIZAO DE ESTUDOS REALIZADOS NA BACIA

    HIDROGRFICA DO RIO PEQUENO....................................................................

    33

    4 METOLOGIA....................................................................................................... 39

    4.1 APRESENTAO DO DIAGNSTICO FSICO-CONSERVACIONISTA-DFC 39

    4.1.1 Determinao dos Parmetros Propostos na Frmula Descritiva................. 42

    5 PROCEDIMENTOS METODOLGICOS E RESULTADOS............................... 44

    5.1 SETORIZAO DA BACIA HIDROGRFICA DO RIO PEQUENO................. 44

    5.2 OBTENO DOS NDICES DOS PARMETROS PROPOSTOS NA

    FRMULA DESCRITIVA PARA A BACIA DO RIO PEQUENO.............................

    50

    5.2.1 Determinao do Parmetro Cobertura Vegetal Original (CO) .................... 50

    5.2.2 Determinao do Parmetro Cobertura Vegetal Atual (CA) ........................ 55

    iii

  • 5.2.3 Determinao do Parmetro Declividade Mdia (DM)................................... 66

    5.2.4 Determinao do Parmetro Erosividade da Chuva (E)................................ 67

    5.2.5 Determinao do Parmetro Potencial Erosivo do Solo (PE)........................ 70

    5.2.6 Determinao do Parmetro Densidade de Drenagem (DD) ....................... 78

    5.2.7 Determinao do Parmetro Balano Hdrico (BH)....................................... 79

    6 FRMULA DESCRITIVA FINAL......................................................................... 82

    7 CLCULO DO VALOR DO PROCESSO DE DEGRADAO DA BACIA DO

    RIO PEQUENO.......................................................................................................

    84

    8 AVALIAO DOS RESULTADOS OBTIDOS PELO DIAGNSTICO FSICO-

    CONSERVACIONISTA - DFC ...............................................................................

    86

    8.1 CONFLITOS NO USO DO SOLO NA BACIA HIDROGRFICA DO RIO

    PEQUENO..............................................................................................................

    88

    8.2 PROPOSTA DE USO RACIONAL DO SOLO NA BACIA HIDROGRFICA

    DO RIO PEQUENO................................................................................................

    92

    9 CONSIDERAES FINAIS................................................................................. 94

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS...................................................................... 97

    iv

  • LISTA DE FIGURAS

    Figura 1 - Localizao da rea de Estudo...................................................... 03

    Figura 2 - Mapa da Bacia Hidrogrfica do Rio Pequeno (So Jos dos

    Pinhais - PR)..................................................................................

    06

    Figura 3 - Mapa das Formaes Geolgicas Predominantes na Bacia do

    Rio Pequeno...................................................................................

    09

    Figura 4 - Mapa dos Solos Predominantes na Bacia do Rio Pequeno........... 15

    Figura 5 - Uso do Solo na Bacia do Rio Pequeno - maio/2000...................... 20

    Figura 6 - Perfil Longitudinal do Rio Pequeno................................................ 44

    Figura 7 - Mapa Hipsomtrico da Bacia do Rio Pequeno............................... 45

    Figura 8 -

    Figura 9 -

    Mapa de Declividade da Bacia Hidrogrfica do Rio Pequeno........

    Mapa dos Setores da Bacia Hidrogrfica do Rio Pequeno............

    46

    47

    Figura 10 - Mapa da Cobertura Vegetal Original da Bacia do Rio Pequeno... 52

    Figura 11 - Uso do Solo na Bacia Hidrogrfica do Rio Pequeno...................... 56

    Figura 12 - Carta de Erosividade da Chuva do Rio Pequeno........................... 69

    Figura 13 - Mapa das Classes do Potencial Erosivo da Bacia do Rio

    Pequeno.........................................................................................

    73

    Figura 14 - Representao da Equao da Reta dos Valores da Frmula

    Descritiva, por Unidades de Risco de Eroso dos Setores da

    Bacia do Rio Pequeno....................................................................

    85

    Figura 15 - Mapa das Classes em Conflito no Uso do Rio Pequeno................ 91

    Figura 16 - Mapa do Uso Racional do Rio Pequeno........................................ 93

    v

  • LISTA DE TABELAS

    Tabela 1 - Classes de Solos............................................................................ 11

    Tabela 2 - Classificao sobre Mudana e Uso do Solo................................. 31

    Tabela 3 - Classificao Quanto ao Grau de Semelhana Existente entre a

    Vegetao Atual e a Original..........................................................

    50

    Tabela 4 - Semelhanas entre a Cobertura Vegetal Atual e a Cobertura

    Original, nos Setores A, B e C........................................................

    51

    Tabela 5 - Uso do Solo Atual da Bacia do Rio Pequeno................................. 55

    Tabela 6 - Uso do Solo nos Setores A, B e C, e Dados Totais da Bacia do

    Rio Pequeno...................................................................................

    57

    Tabela 7 (a) Tipo de Uso do Solo e o Respectivo ndice de Proteo do Solo,

    por rea de Cada Classe Agrupada do Setor A.............................

    64

    Tabela 7 (b) Tipo de Uso do Solo e o Respectivo ndice de Proteo do Solo,

    por rea de Cada Classe Agrupada do Setor B.............................

    64

    Tabela 7 (c) Tipo de Uso do Solo e o Respectivo ndice de Proteo do Solo,

    por rea de Cada Classe Agrupada do Setor C............................

    65

    Tabela 8 - ndices e Smbolos de Proteo Total do Uso............................... 65

    Tabela 9 - ndices e Smbolos Respectivos da Proteo Oferecido pelo Tipo

    de Uso do Solo, dos Setores A, B e C...........................................

    65

    Tabela 10 - Classificao da Declividade Mdia dos Setores A, B e C............ 67

    Tabela 11 - ndices de Erosividade da Chuva (E) para a Bacia do Rio

    Pequeno.........................................................................................

    68

    Tabela 12 - ndices de Erosividade da Chuva (E) para os Setores A, B e C

    com os Respectivos Smbolos e Subndices..................................

    68

    Tabela 13 - Fator de Erodibilidade dos Solos da Bacia do Rio

    Pequeno.........................................................................................

    71

    Tabela 14 - Matriz de Integrao entre os Subndices de Declividade e

    Suscetibilidade a Eroso para a Bacia do Rio Pequeno................

    71

    Tabela 15 - Escalonamento dos ndices do Potencial Erosivo.......................... 72

    Tabela 16 - Classes de Potencial Erosivo dos Solos da Bacia do Rio

    Pequeno.........................................................................................

    72

    vi

  • Tabela 17 - Clculo do Potencial Erosivo dos Solos por Setor......................... 74

    Tabela 18 - Potencial Erosivo dos Solos por Setores e Respectivos Smbolos 75

    Tabela 19 - Valores da Densidade de Drenagem dos Setores A, B e C........... 79

    Tabela 20 - Balano Hdrico da Bacia do Rio Pequeno - Perodo 1965/2000... 81

    Tabela 21 - Classificao do Balano Hdrico por Setores e Respectivos

    Smbolos.........................................................................................

    81

    Tabela 22 - Unidades de Risco de Eroso por Setores da Bacia do Rio

    Pequeno.........................................................................................

    84

    Tabela 23 - Classes Conflitantes Totais e por Setores na Bacia do Rio

    Pequeno.........................................................................................

    90

    Tabela 24 - Classes Totais e por Setores do Uso Racional do Solo................. 92

    vii

  • LISTA DE QUADROS

    Quadro 1 - Adaptaes feitas na Metodologia do DFC, proposta por

    Beltrame (1990)..............................................................................

    41

    Quadro 2 - Classificao do Tipo de Uso Quanto Proteo Fornecida ao

    Solo................................................................................................

    63

    Quadro 3 - Classes de Declividade, com Respectivos ndices e Smbolos

    Utilizados para a Bacia do Rio Pequeno........................................

    66

    Quadro 4 - ndices de Erosividade das Estaes Pluviomtricas de

    Influncia para a Bacia do Rio Pequeno........................................

    68

    Quadro 5 - Classificao dos Valores de Densidade de Drenagem e

    Respectivos Smbolos....................................................................

    78

    Quadro 6 - Sntese dos ndices Obtidos em cada Parmetro por Setor.......... 83

    viii

  • RESUMO

    A rea de estudo a bacia hidrogrfica do rio Pequeno, compreendida integralmente

    nos limites de So Jos dos Pinhais, entre as coordenadas 25 27' e 25 37' S e 48

    58' e 49 12' W. Esta bacia encontra-se no limite da expanso da RMC - Regio

    Metropolitana de Curitiba - e experimenta o conflito entre as possibilidades e

    necessidades de ocupao e uso do solo. Tendo como base esta necessidade, e

    buscando estabelecer parmetros na explorao dos recursos naturais, com

    especial ateno ao solo e gua, tem se almejado estudos sistmicos que

    possibilitem um diagnstico ambiental integrado do meio fsico. O objetivo principal

    deste trabalho quantificar a degradao dos recursos naturais da bacia. Para isto,

    buscou-se apoio na metodologia denominada Diagnstico Fsico-Conservacionista

    (DFC), proposta por BELTRAME (1990), adaptada do Centro Interamericano de

    Desenvolvimento de guas e Terras (CIDIAT) e pelo Ministrio do Ambiente e dos

    Recursos Naturais Renovveis (MARNR), ambos da Venezuela. A partir desta

    metodologia e de algumas adaptaes obteve-se os ndices para os parmetros

    estipulados pela mesma, possibilitando uma anlise quantitativa do potencial de

    degradao de cada setor. Como resultados finais, os setores A e B apresentaram

    igual valor - 46,875 unidades de risco de degradao fsica, demonstrando que

    esto sob as mesmas condies em termos de conservao fsica do ambiente. No

    entanto, para o setor B, deve-se ter uma ateno especial nas medidas

    conservacionistas, pois o uso do solo atual mostra que h intensificao do uso

    agropecurio, o qual vem avanando sobre os demais tipos e pode aumentar a

    degradao fsica naquela rea. No setor C os resultados dos ndices dos

    parmetros demonstraram caractersticas distintas dos outros. Embora com ndice

    menor que os demais, 34,375 unidades de riscos de eroso, foi o que apresentou

    alteraes mais significativas na sua cobertura vegetal original, a qual foi substituda

    pelos tipos de uso agropecurio e por reas urbanas, o que pode intensificar os

    impactos ambientais negativos, devendo estas alteraes serem consideradas no

    planejamento e nas medidas conservacionistas a serem adotadas.

    Palavras-chaves: bacia hidrogrfica, uso do solo, degradao fsica, recursos

    naturais.

    ix

  • ABSTRACT

    The study area is the hydrographic basin of the Pequeno river, understood integrally

    in the limits of So Jos of Pinhais, among the coordinates 25o 27' and 25o 37' S and

    48o58' and 49o12' W. This basin meets in the limit of the expansion of RMC -

    Metropolitan Area of Curitiba - and it tries the conflict between the possibilities and

    occupation needs and use of the soil. Tends as base this need, and looking for to

    establish parameters in the exploration of the natural resources, with special attention

    to the soil and the water, it has been longing for systemic studies that facilitate an

    integrated environmental diagnosis of the physical middle. The main objective of this

    work is to quantify the degradation of the natural resources of the basin. For this,

    support was looked for in the methodology denominated Diagnstico Fsico-

    Conservacionista (DFC), proposed by BELTRAME (1990), adapted of the

    Interamerican Center of Development of Waters and Lands (ICDWL) and for the

    Ministry of the Atmosphere and of the Natural Renewed Resources (MANRR), both

    of Venezuela. Starting from this methodology and of some adaptations it was

    obtained the indexes for the parameters specified by the same, facilitating a

    quantitative analysis of the potential of degradation of each section. As final results,

    the sections A and B presented the same value - 46,875 units of risk of physical

    degradation, demonstrating that are under the same conditions in terms of physical

    conservation of the environment. However, for the section B, a special attention

    should be had in the preservation measured, because the use of the soil current

    exhibition that there is intensificated by the agricultural use, which comes moving

    forward on the other types and it can increase the physical degradation in that area.

    In the section C the results of the indexes of the parameters demonstrated

    characteristics different from the other ones. Although with smaller index than the

    others, 34,375 units of erosion risks, it had more significant alterations in its original

    vegetable covering, which was substituted by the types of agricultural use and for

    urban areas, what can intensify the negative environmental impacts, owing these

    alterations be considered in the planning and in the preservation measured to be

    adopted.

    Word-keys: hydrographic basin, soil used, physical degradation, natural resources.

    x

  • 1 INTRODUO

    O uso do solo est relacionado diretamente degradao do ambiente pelas

    aes antrpicas, tanto diretas quanto indiretas. Estas aes podem variar em grau

    de intensidade conforme a funo que um determinado ambiente assume decorrente

    da apropriao dos seus recursos naturais, transformando-o em um espao que

    demanda a sua explorao econmica, estabelecendo uma nova dinmica na

    relao homem/natureza e gerando conseqncias no meio natural. Nesta relao

    do homem com a natureza, normalmente prioriza-se o fator socioeconmico em

    detrimento do ambiente fsico.

    Portanto, a explorao dos recursos naturais e suas conseqncias nos

    remete a uma grande discusso que abrange vrios segmentos da sociedade civil.

    Este processo de apropriao e explorao ambiental demanda diagnsticos que

    contemplem as necessidades de se prevenir impactos ambientais considerados

    negativos, tanto para se evitar a degradao dos ambientes a serem explorados,

    quanto para minimizar as degradaes j ocorridas, proporcionando subsdios

    tcnicos no planejamento das aes mitigadoras.

    Tendo como base esta necessidade, e buscando estabelecer parmetros na

    explorao destes recursos, com especial ateno ao solo e gua, tem se buscado

    estudos sistmicos que possibilitem um diagnstico ambiental integrado do meio

    fsico, pois s desta maneira adquirir-se- um instrumento adequado, tanto para o

    entendimento quanto manuteno do equilbrio ambiental.

    Sob esta perspectiva, a rea de estudo escolhida para esta pesquisa a

    bacia hidrogrfica do rio Pequeno, localizada no Municpio de So Jos dos Pinhais,

    entre as coordenadas 25 27' e 25 37' de latitude sul e os meridianos 48 58' e 49

    12' de longitude oeste (Figura 1). A escolha desta bacia justifica-se pelo fato de que

    a mesma encontra-se no limite da expanso da RMC - Regio Metropolitana de

    Curitiba, e experimenta intenso conflito entre as possibilidades e necessidades de

    uso e ocupao do solo e as de manterem-se preservados seus recursos naturais,

    principalmente os hdricos, para que num futuro prximo sirva de fonte para o

    abastecimento de gua populao. No entanto, um dos distritos industriais criados

    a pouco tempo no municpio de So Jos dos Pinhais, em que se encontra por

    exemplo, a fbrica de automveis Renault do Brasil, est localizado na bacia do rio

  • 2

    Pequeno (COMEC, 1997), ficando claro a grande contradio entre a necessidade

    de preservao ambiental da bacia e a possibilidade prtica de sua explorao

    econmica, desencadeando um processo de uso e parcelamento do solo

    desordenado, no qual o planejamento e zoneamento ambiental foram submetidos

    lgica do capital.

    Diante disto, o objetivo principal deste trabalho buscar quantificar a

    degradao dos recursos naturais da bacia hidrogrfica do rio Pequeno. Para isto,

    buscou-se como instrumento de anlise da degradao dos recursos naturais e do

    ambiente como um todo, apoio na metodologia proposta por BELTRAME (1994),

    adaptada do Centro Interamericano de Desenvolvimento de guas e Terras

    (CIDIAT), com sede na Venezuela, e pelo Ministrio do Ambiente e dos Recursos

    Naturais Renovveis (MARNR) tambm deste Pas, cuja denominao Diagnstico

    Fsico Conservacionista (DFC), que segundo esta autora, se prope a diagnosticar a

    situao real em que se encontram os recursos naturais renovveis e determinar o

    potencial de degradao destes recursos naturais em um dado espao geogrfico,

    visando principalmente a manuteno dos recursos hdricos, solo e vegetao em

    bacias hidrogrficas (p.13).

    Seguem-se como objetivos especficos ou complementares: realizar o

    levantamento e avaliar as condies fsicas da rea, tais como a cobertura vegetal,

    aspectos climticos, pedolgicos, litolgicos e geomorfolgicos inerentes a

    metodologia proposta. Tambm sero realizadas a elaborao e a correlao entre

    os mapas e as tabelas destes temas com a declividade e hipsometria, para uma

    avaliao e setorizao do estado fsico da rea de estudo. A partir destas

    informaes, sero avaliadas as possibilidades dos resultados e concluses desta

    metodologia proporcionarem suporte ao planejamento e zoneamento ambiental.

  • 3

  • 4

    2 DO AMBIENTE NATURAL AO ESPAO CONSTRUDO

    2.1 A BACIA HIDROGRFICA DO RIO PEQUENO

    A escolha de uma bacia hidrogrfica como unidade de estudo em uma

    pesquisa possibilita uma anlise e interpretao das alteraes fsicas ambientais

    que auxiliaro nos diagnsticos e prognsticos do uso do solo, para o planejamento

    e zoneamento de uma rea.

    Esta categoria de anlise espacial est consolidada de tal forma, que alm

    das justificativas tcnicas para sua aplicao, tambm sob o aspecto legal se

    considera a bacia hidrogrfica como unidade de planejamento, visto que a Lei das

    guas n 9.433, de 8 de janeiro de 1997 que institui a Poltica Nacional de Recursos

    Hdricos, em seu Artigo 1, inciso V, define que a bacia hidrogrfica a unidade

    territorial para implementao da Poltica Nacional de Recursos Hdricos e atuao

    do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hdricos.

    O clima da regio em que se localiza a bacia do rio Pequeno na

    classificao de Kppen do tipo Cfb, isto , o clima temperado propriamente

    dito, com temperaturas mdias do ms mais quente em torno de 22C. Nos meses

    mais frios as temperaturas mantm-se em torno de 18C (mesotrmicos). Chove o

    ano todo, com precipitaes mensais superiores aos 60 mm, mesmo nos meses

    mais secos. De maneira geral, a umidade aumenta com a proximidade da Serra do

    Mar" (IAPAR,1994).

    A bacia hidrogrfica do rio Pequeno (Figura 02) apresenta uma rea de

    drenagem em torno de 130 km, o seu rio principal afluente da margem esquerda

    do rio Iguau, localizado no alto curso da bacia hidrogrfica homnima - a maior do

    Estado do Paran. Seus afluentes menores so os rios Purgatrio e Charqueado,

    cujas nascentes aparecem junto Serra do Mar e o rio Pequeno desenvolve-se em

    direo ao rio Iguau no sentido leste - oeste, sua maior parte est situada na Bacia

    Sedimentar de Curitiba, a qual resultado de um represamento tectnico sofrido

    pelo rio Iguau durante o Pleistoceno (MAACK,1981). Tem como limites: ao norte a

    bacia do rio Itaqui, ao sul a bacia do rio Miringuava, a leste o relevo montanhoso da

    Serra do Mar e a oeste o rio Iguau. Essa bacia hidrogrfica est localizada na

    regio natural do Primeiro Planalto Paranaense, onde ao longo de sua borda, em

  • 5

    contato com as vertentes da Serra do Mar, nas altitudes entre 850 e 1,000 metros s.

    n. m., h uma rea "representada pelo contato ou transio entre duas unidades

    fitogeogrficas", ou seja, o Ectono Floresta Ombrfila Mista / Floresta Ombrfila

    Densa (SEMA/2002).

    2.2 ASPECTOS FSICOS NATURAIS E USO DO SOLO

    2.2.1 Geologia

    A bacia hidrogrfica do rio Pequeno est sobreposta a duas unidades

    geolgicas: ao complexo Grantico da Serra do Mar ou Complexo Gnassico-

    Migmatito, ou ainda, Complexo Cristalino que ocorre nas pores central e nordeste

    da bacia, formado principalmente por migmatitos associados com xistos

    magnesianos e gnaisses, mica-xistos, anfiobolitos, quartzitos e rochas metabsicas

    (ROCHA,1996, p.21), e bacia sedimentar de Curitiba que composta por rochas

    metamrficas e plutnicas formadas no pr-cambriano e recobertos com sedimentos

    do perodo Quaternrio e rochas do Mesozico. Esta bacia sedimentar, de acordo

    com MAACK (1968), foi definida como 'zona de everso', caracterizada por um

  • 6

    relevo movimentado apresentando colinas alongadas e orientadas segundo a

    direo geral de bandeamento e xistosidade do substrato rochoso.

    Deste contexto geolgico mais amplo, foram apontados cinco grupos

    geolgicos especficos na bacia do rio Pequeno (Figura 3), sendo: Aluvies atuais e

    Terraos aluvionares; Formao Guabirotuba; Complexo Gnissico-Migmatitos e

    Complexo Grantico-Gnissico (MINEROPAR,1994/SUDERHSA,2002).

    Os aluvies so reas de depsitos recentes de vrzea, ocorridos no

    Holoceno. Os sedimentos depositados apresentam-se totalmente inconsolidados,

    originados e retrabalhados pela ao fluvial do rio Iguau e seus principais afluentes,

    entre eles o rio Pequeno, ocupando atualmente as reas planas que configuram as

    vrzeas dos mesmos e depositados em terraos, barras e ilhas junto calha do rio

    principal e de seus afluentes maiores. Formados por argilas, argilas turfosas, siltes e

    areias que variam de finas a grosseiras, esto sobre os sedimentos do pleistoceno,

    so encontrados ao longo dos leitos dos cursos de gua e ainda esto sofrendo

    processos de deposies de sedimentos (BIGARELLA e SALAMUNI, 1962).

    Os terraos podem ser definidos em dois agrupamentos distintos: aqueles

    esculpidos nos depsitos tidos como pleistocnicos, com aspecto genrico; e, os

    que se acham presentes nos sedimentos holocnicos, que podem ser considerados

    tpicos, que na realidade, so os baixos terraos fluviais dos afluentes de cabeceira

    do rio Iguau (BIGARELLA e SALAMUNI, 1962). Estes ltimos compreendem os

    Terraos aluvionares, presentes no baixo curso da bacia, e que esto depositados

    sobre a Formao Guabirotuba.

    A Formao Guabirotuba predominante em todo baixo curso da bacia, foi

    depositada em um ambiente propcio ao surgimento de extensos leques aluvionais,

    marcados por canais meandrantes e de dimenses variadas, com circulao

    peridica de gua, composta por sedimentos argilosos, intercalados com arenitos

    feldspticos de granulao mdia a grossa, com seixos de quartzo, blocos e at

    mataces confinados entre as camadas argilosas do perodo pleistocnico ou plio-

    pleistocnico, depositados em discordncia sobre o cristalino (BIGARELLA e

    SALAMUNI, 1962). Os argilitos aparecem intercalados com arcsios e

    conglomerados de tons cinza ou cinza esverdeado, passando a um tom de cor

    avermelhada em funo do intemperismo. A estratigrafia pouco desenvolvida e so

    constitudos por minerais argilosos do grupo da caulinita.

  • 7

    A espessura da Formao Guabirotuba muito varivel, formando um

    pacote de sedimentos que oscila entre 60 a 80 metros, calcada sobre rochas

    gnissicas decompostas em discordncias angular (FUCK, 1976).

    O grupo formado pelo embasamento cristalino do Complexo Gnissico-

    Migmatito do Proterozico Inferior, apresenta uma granulao variando entre mdia

    at muito fina, com migmatitos bandados com paleossoma de gnisses anfibiolticos

    e metamficos e meta-ultramficos; neossoma de composio quartzo-feldsptica

    em injees pegmatticas, milonitos e blastomilonitos (SUDERSHA, 2002). Segundo

    ROCHA (1996, p.22), as rochas migmatticas e gnissico-granticas, nas partes altas

    da bacia do rio Pequeno, encontram-se bastante intemperizadas pela ao climtica

    da regio, desenvolvendo um manto de alterao que pde ser observado em poos

    cacimbas prximos aos afloramentos, com espessuras variando entre 3 a 10 metros.

    Este grupo predominante em todo alto e mdio curso da bacia hidrogrfica,

    com exceo de uma pequena rea no alto curso, nas nascentes do rio Purgatrio,

    onde ocorre a formao Complexo Grantico-Gnasico do Proterozico Inferior com

    gnaisses granticos ou granodioritos (SUDERSHA, 2002).

  • 8

    2.2.2 Geomorfologia

    A bacia hidrogrfica do rio Pequeno, segundo MAACK (1981), situa-se na

    parte oriental do Planalto de Curitiba, no Primeiro Planalto Paranaense, em uma

    rea de transio entre os domnios da Serra do Mar e aquele Planalto.

    As reas de maiores altitudes esto localizadas a leste - nordeste da bacia,

    nas encostas oeste da Serra do Mar, onde esto as nascentes dos afluentes do rio

    Pequeno, os rios Charqueado e Purgatrio. So as reas de maior declividade,

    normalmente superiores a 45 e com altitudes superiores a 1,000 metros, com

    vertentes curtas e vales em forma de 'V', com predominncia das rochas do Grupo

    de Migmatitos, representados pelos embrechitos e granitos de anatexia.

    A leste - sudeste, nos limites com a Serra do Mar, as colinas so dissecadas

    e elevadas, com alta declividade e tambm vales em forma de 'V' (TONETTI, 1993).

    A parte central da bacia possui relevo mais suave, com amplas colinas

    arredondadas em forma de meia laranja e vertentes cncavo - convexas, com

    declividade mais branda e presena de depsitos aluvionares mais significativos

    (GUIMARES, 2000).

    Nas pores centro-norte e centro-sul da bacia, ladeando os aluvies, as

    colinas so amplas com vertentes cncavo-convexas e topos amplos. A sudeste do

    mdio curso da bacia, as colinas so mdias, bastante dissecadas com vertentes

    curtas e ngremes.

    No tero inferior, esta bacia caracterizada a sudoeste pelas vrzeas de

    inundao do rio Pequeno, por vertentes longas e de baixa declividade, a formao

    Guabirotuba aflora na forma de colinas suavemente arredondadas, e limita a plancie

    de inundao do rio Pequeno com terraos fluviais aplainados, amplos interflvios e

    largos depsitos aluvionares influenciados pela confluncia com o rio Iguau

    (ROCHA,1996), apresentando a menor densidade de drenagem em relao aos

    demais setores.

    So caractersticas as vastas plancies aluvionares, que se estendem ao

    longo das margens do rio principal, so superfcies de agradao horizontalizadas

    que se estendem ao longo das margens dos rios Iguau e Pequeno, onde ocorrem

    tambm terraos fluviais e rampas de colvios (PASSOS et al., 1998).

  • 9

    2.2.3 Solos

    A distribuio dos tipos de solos e suas caractersticas morfolgicas so

    fatores condicionantes importantes a serem considerados na anlise integrada de

    um ambiente, pois a conveno que estabelece o uso e/ou parcelamento da terra,

    alm de outras, est relacionada com a gnese e formao dos tipos de solo, o que

    permitir estabelecer parmetros para limitar ou no os seus diferentes usos.

    Os solos verificados na bacia do rio Pequeno, organizados por SANTOS

    (2002), esto apresentados na tabela 01 e representados espacialmente na figura 4.

    Tabela 1 - Classes de Solos

    Tipologia Descrio do tipos de solos Tipologia* Nomenclatura atual* Ca Cambissolo lico C Cambissolo Lva Latossolo Vermelho-amarelo LVA Latossolo Vermelho-amarelo Pva Podzlico Vermelho-amarelo PVA Argissolo Vermelho-amarelo

    HG/HO Solos Hidromrficos / Orgnicos

    G/O Gleissolos / Organossolos

    AR2 Afloramento de Rocha / Litlicos

    R/L Afloramento de Rocha/ Neossolo Litlico

    FONTE: BOIKO; SANTOS; CHUEH (2000) * Nova classificao da EMBRAPA (1999)

    De acordo com classificao da EMBRAPA (1999), as caractersticas

    morfolgicas e o comportamento geral dos solos encontrados na bacia do rio

    Pequeno so:

    Cambissolo, que normalmente pouco desenvolvido ou raso, com horizonte

    B incipiente, variando de moderado a bem drenado. Ocorre em paisagens

    diversificadas e de forma descontnua sob vrias coberturas vegetais, em quase

    todas as unidades de relevo, mas predominante nas topografias fortemente

    onduladas e montanhosas. Pode ocorrer tambm em superfcies planas de

    sedimentos aluviais recentes. Neste tipo de solo comum a presena de alto teor de

    alumnio, tornando-o cido e com baixas reservas de nutrientes s plantas. pouco

    utilizado para agricultura, pois carece de correo dos elementos qumicos e

    demanda cuidados no manejo quando presente em relevo forte ondulado, pois

    mais susceptvel eroso.

    Este tipo de solo predominante no alto curso da bacia, onde foi delimitado

    o setor A, ocupando quase que toda sua rea. Com reas menos representativas no

    setor B, localizado no mdio curso.

  • 10

    O Latossolo Vermelho-amarelo com matizes variando do vermelho para o

    amarelo (2,5 YR a 7,5 YR) e teores de sesquixido de ferro entre 7 a 11% um solo

    profundo, muito poroso e permevel, quando de textura argilosa varia de bem a

    acentuadamente drenado e quando de textura mdia varia de acentuado a

    fortemente drenado. Normalmente apresenta horizonte A bem desenvolvido, entre

    10 a 60 cm, e horizonte Bw com estrutura granular de aspecto macia in situ

    associada estrutura moderadamente desenvolvida em blocos subangulares e

    horizontes B profundos, com espessuras superiores a 250 centmetros.

    Outras caractersticas importantes destes solos so a ausncia de minerais

    primrios facilmente intemperizveis, que constituem fonte de reserva potencial de

    nutrientes s plantas, os baixos teores de silte e a baixa relao silte/argila, tambm

    a pouca diferenciao entre os horizontes, torna a distino pouco ntida devido

    baixa variao das propriedades morfolgicas e s transies amplas entre as

    mesmas. De maneira geral ocorrem nas reas de relevo suave ondulado a

    praticamente plano, nas declividades que variam de 1 a 8 % favorecendo a

    mecanizao. So solos mais resistentes eroso pois possuem boas condies

    fsicas e com poucos problemas de reteno de gua, no entanto apresentam baixa

    fertilidade natural, mas isto no impede em ser considerado de uso adequado para a

    agricultura, face as tcnicas que propiciam a correo dos elementos qumicos

    necessrios para a melhoria de sua fertilidade.

    Este solo ocorre principalmente no baixo curso da bacia, onde foi definido o

    setor C, aparecendo tambm no mdio curso, em reas menores no setor B.

    O Argissolo Vermelho-amarelo constitudo por material mineral,

    apresentando horizonte B textural com argila de atividade baixa imediatamente

    abaixo do horizonte A ou E. Em geral ocorre nas encostas cncavas e plano-

    inclinadas das superfcies onduladas e forte onduladas, tem alta suscetibilidade

    eroso devido a diferena textural entre os horizontes A e E (que so mais

    arenosos) e Bt (que mais argiloso). A textura, atividade da argila e fertilidade

    natural so muito variveis. As classes que ocorrem em ambientes mais secos e

    menos midos, em geral, apresentam solos com boas reservas de nutrientes e argila

    de atividade alta. mais representativo no mdio curso da bacia, nas reas que

    abrangem o setor B, mas tambm pode ser visto no baixo curso da bacia, ocupando

    as reas ao norte do setor C.

  • 11

    O Organossolo constitudo de materiais orgnicos produzidos pela

    vegetao hidrfila, a qual tem sua decomposio bioqumica retardada, devido s

    condies de encharcamento permanente e conseqente deficincia de oxignio.

    Este solo apresenta um horizonte superficial turfoso bastante espesso, de

    cor preta devido ao alto teor de carbono orgnico, com espessura superior a 40 cm e

    as camadas subseqentes podem ser constitudas de restos de vegetais em vrios

    graus de decomposio, ou de camadas arenosas e/ou argilosas gleisadas. Sempre

    encontrado em reas planas, normalmente em fundo de vales, possui baixa

    fertilidade e grandes limitaes ao uso agrcola, devido ao excesso de gua que

    impede a aerao e no permite o uso de mquinas e implementos agrcolas.

    O Gleissolo um solo mal ou muito mal drenado, no qual as caractersticas

    zonais determinadas pela ao do clima e vegetao no se desenvolvem

    integralmente, face a restrio imposta pela grande influncia da gua no solo;

    caracterizado pelo acmulo de matria orgnica nos horizontes superiores e fortes

    gleizaes nos horizontes inferiores em decorrncia do regime de umidade. Este tipo

    de solo compreende os solos minerais cujas caractersticas devem-se grande

    influncia do lenol fretico na superfcie ou prximo dela por longo perodo de

    tempo.

    Os organossolo e gleissolo na bacia do rio Pequeno encontram-se

    espacialmente contguos e apresentam semelhante grau de erobidilidade, sendo

    agrupados no mapa pedolgico.

    Estes solos ocorrem em toda a extenso da bacia, nos fundos de vales ao

    longo dos canais fluviais. So mais representativos no baixo curso da bacia, onde foi

    delimitado o setor C, especialmente na foz do rio Pequeno, diminuindo sua

    ocorrncia, na medida que se ruma montante do rio principal, mas presentes e

    tambm nos setores A e B.

    O Neossolo Litlico o solo com horizonte A ou O hstico com menos de 40

    cm de espessura, assentado diretamente sobre a rocha ou sobre um horizonte C ou

    Cr ou sobre material com 90% (por volume), ou mais de sua massa constituda por

    fragmentos de rochas em dimetro maior que 2 mm (cascalhos, calhaus e

    mataces) e que apresenta um contato ltico dentro de 50 cm da superfcie do solo.

    Admite um horizonte B, em incio de formao, cuja espessura no satisfaz a

    qualquer tipo de horizonte B diagnstico.

  • 12

    O Afloramento de Rocha qualquer exposio natural de rochas na

    superfcie. O neossolo litlico e o afloramento de rocha na bacia do rio Pequeno

    foram agrupados no mapa pedolgico por apresentarem semelhante grau de

    erobidilidade.

    Estes solos ocorrem nas reas de maiores altitudes, no alto curso da bacia,

    onde foi delimitado o setor A.

    2.2.4 Aspectos da Cobertura Vegetal Atual

    A cobertura vegetal da bacia do rio Pequeno, ao longo do tempo, tem

    apresentado variaes da sua formao original, pois as alteraes do uso do solo

    impresso nesta bacia, sobretudo nas trs ltimas dcadas, so resultados das

    necessidades impostas ao ambiente em funo de seu uso.

    Nas margens do rio Pequeno e afluentes ocorre a formao Floresta

    Ombrfila Mista Aluvial, tambm conhecida como mata de galeria, ciliar ou ripria.

    Ocupa as reas da formao geolgica dos Aluvies atuais, podendo ser vista ao

    longo dos cursos de gua que formam vales sujeitos a inundaes peridicas, em

  • 13

    todo baixo curso e no mdio curso nos fundos de vales planos, "em reas de melhor

    drenagem, h maior diversidade e mistura de espcies que ocorrem na formao

    Montana" (SEMA/2002).

    Essas florestas so formadas por agrupamentos de algumas espcies de

    rvores, adaptadas s condies edficas especiais (solos freqentemente cobertos

    pela gua e com escoamento lento) sendo dominante o Branquilho (Sebastiania

    klotzschiana) que forma aproximadamente 60% a 80% da composio da

    vegetao, a Cortiqueira-do-brejo (Erythrina crista-galli) e o Aoita-cavalo (Luechea

    divaricata). Este tipo de formao composta "por um pequeno nmero de rvores

    caractersticas de porte mdio e que imprimem s mesmas um aspecto de grande

    homogeneidade" (p.20), com dossel de altura uniforme em torno de cinco metros e

    sub-bosque praticamente inexistente (KLEIN & HASTSCHBACH, 1962, p.8; 13).

    As formaes de maior porte predominam nas encostas que limitam com a

    Serra do Mar no alto curso da bacia at o curso mdio. Embora no alto curso, nas

    pores mais elevadas com altitude mdia acima de 1,200 metros s. n. m., pode

    ser encontrada a Floresta Ombrfila Densa Altomontana que " constituda por

    associaes arbreas simplificadas e de porte reduzido (3 a 7 metros de altura),

    regidas por condicionantes climticas e pedolgicas mais restritas ao

    desenvolvimento das rvores" (RODERJAN et al., 2000).

    Na poro sudeste da bacia h a presena de uma rea contnua de

    Floresta Ombrfila Mista Montana, que segundo GUIMARES (2000), quando

    observada em fotografias areas apresenta aspecto homogneo, no entanto quando

    se verifica em campo, so vistos diferentes estgios de evoluo ao longo da

    mesma e "so raros os fragmentos remanescentes de florestas primrias" (p.80).

    Na poro nordeste, em direo s vertentes ocidentais da Serra do Mar, as

    formaes presentes tm caractersticas da Floresta Ombrfila Mista Montana e da

    Floresta Ombrfila Densa Montana, "sendo possvel observar uma zona de contato

    com miscigenao de espcies das duas formaes, mas a predominncia das

    espcies da Ombrfila Mista" (GUIMARES, 2000, p.80).

    Esta variao marca o "Ectono Floresta Ombrfila Mista/Floresta Ombrfila

    Densa que representado pelo contato ou transio entre essas duas unidades

    fitogeogrficas, observada ao longo da borda do primeiro planalto, em contato com

    a vertente oeste da Serra do Mar (entre 850 e 1000 m s. n. m)" (SEMA /2002).

  • 14

    medida que se avana rumando de leste para oeste, entre o tero mdio

    do alto curso seguindo para o mdio curso da bacia, nota-se o desenvolvimento da

    Floresta Ombrfila Mista Montana ou Mata das Araucrias, mas os remanescentes

    desta formao vem diminuindo, face as alteraes no uso do solo. A partir do tero

    inferior do alto curso e do mdio curso em diante, seguindo em direo foz do rio

    Pequeno, encontram-se capes isolados ou fragmentos destas formaes em

    diversos estgios de desenvolvimento, apontando para as alteraes ocorridas na

    cobertura vegetal. As fases da sucesso vegetal se intercalam entre a Fase Inicial

    da Sucesso e a Fase Intermediria da Sucesso, sendo que a primeira fase

    equivale capoeira, onde o estrato arbreo varia de 3 a 5 metros de altura, com

    baixa diversidade de espcies; a segunda, tambm pode ser denominada capoeiro,

    pois medida que as plantas do sub-bosque se desenvolvem, a diversidade

    aumenta e se forma um segundo estrato arbreo mais alto do que o primeiro

    (SEMA/2002).

    Os capes no se diferenciam muito entre si, ou seja, entre os capes em

    formao e os mais desenvolvidos a diferena que estes ltimos apresentam em

    seu centro um desenvolvimento bem complexo, semelhante aos observados nos

    sub-bosques das matas de Araucria mais adiantadas. Destes capes, os que no

    sofreram forte interferncia humana, apresentam densos agrupamentos de Pinheiro-

    do-Paran (Araucria angustifolia), formando um dossel quase contnuo sobre as

    demais espcies (KLEIN & HASTSCHBACH, 1962, p.23).

    medida que se aproxima da foz, do tero inferior do mdio curso em

    diante, as caractersticas originais da floresta ombrfila mista esto totalmente

    alteradas, prevalecendo as variaes das fases de sucesso vegetal mencionadas

    anteriormente. Normalmente ladeados por campos, os capes apresentam

    composies distintas, variando em conformidade com o estgio de

    desenvolvimento e as condies edficas. Nos capes em formao, a espcie mais

    importante o Pinheiro-brabo (Podocarpus lamberti), principalmente nos capes

    localizados nas suaves ondulaes do relevo ou em pequenas colinas, onde

    exemplares mdios de Pinheiro-do-Paran comeam a disputar um espao no

    dossel. Nas bordas destes capes, nota-se quase sempre o Pinheiro-brabo e a

    Aroeira (Schinus terebinthifolius). Nos capes situados nas baixadas e lugares

    midos encontram-se o Cambu (Myrceugenia euosma), a Aroeira e a Cataia

  • 15

    (Drimys brasilensis). As extenses dos capes mais prximos aos cursos de gua,

    possuem em suas bordas o Cambar (Moquinia polymorpha) e o Carvalho Nacional

    (Roupala brasiliensis), ao lado de outras espcies caractersticas (KLEIN &

    HASTSCHBACH, 1962, p. 24).

    As vrzeas ou Formaes Pioneiras com influncia Fluvial (herbcea/

    arbustiva), em torno das florestas aluviais ao largo dos rios, so reas planas e

    permanentemente alagadas, que funcionam como reguladoras do fluxo das guas

    dos rios para as terras contguas no perodo das cheias. Desta forma, as vrzeas

    so como reservatrios de conteno, sendo muito importantes manuteno do

    equilbrio hidrolgico. Esta formao ocorre no baixo e mdio curso, no alto curso

    abrange pequenas reas dos fundos de vales em que a declividade favorece.

    Nessas reas, onde o solo encontra-se permanentemente saturado pela

    gua, formam-se campos edficos, constitudos principalmente por espcies

    seletivas e exclusivas dessas formaes. Os campos edficos ocorrem tanto nas

    plancies de inundao do rio Pequeno quanto nos lugares baixos e sujeitos

    inundao peridica. As Ciperceas e Gramneas so as famlias mais comuns

    nesses locais, "conferindo uma grande uniformidade fitofisionmica, que se

    estendem por sobre uma larga rea plana do Holoceno, cujos solos so formados

    por depsitos de vrzeas" (p.13). As Ciperceas so dominantes principalmente nos

    locais encharcados e com solos cidos, normalmente as depresses, nascentes ou

    lugares brejosos. Nos baixios, onde guas estagnadas permanecem por mais

    tempo, notam-se agrupamentos de Caraguat (KLEIN & HASTSCHBACH, 1962).

    Entrando nos domnios do baixo curso da bacia, a cobertura vegetal toma

    outra feio, pois originalmente onde predominavam os Campos ou Estepes

    Gramneo- Lenhosa, com relevo suave-ondulado, h atualmente a ocupao pelo

    uso agrcola e pela pecuria, entre outros.

    Nas reas em que as inundaes so raras ou no ocorrem, esto

    presentes os campos naturais. Estes Campos ou Estepes Gramneo - Lenhosa

    apresentam uma vegetao profundamente alterada, com um tapete graminceo

    bastante ralo, que nos locais limpos, constantemente expostos a pastagens, o

    domnio quase sempre da espcie Paspalum notatum, entremeadas por Carquejas

    (Baccharis spp.), se no houver pastoreio, possvel encontrar arbustos dispersos

    da famlia das Compostas. A pequena vegetao arbustiva que muitas vezes

  • 16

    acompanha os pequenos crregos incipientes formada principalmente pela

    Congonha, tambm conhecida por Erva do ndio (Citronella congonha), que

    geralmente a mais abundante nos campos prximos de Curitiba. Nos locais onde

    as guas fluem mais rapidamente, predominam as Gramneas Andropogon virgatus

    e Paspalum notatum (KLEIN & HASTSCHBACH, 1962, p.12-15).

    2.2.5 Uso do Solo

    De maneira geral, observando o mapa de uso e ocupao do solo (Figura 5)

    pode-se dizer que houve uma intensificao do seu uso com equipamentos urbanos

    e loteamentos praticamente em todo tero inferior ou baixo curso da bacia, que

    configuram um padro urbano, mesmo que por vezes em descontinuidade.

    Figura 5: Uso do Solo na Bacia do Rio Pequeno - maio/2000 (AMARAL/2002)

    Estas caractersticas so mais ntidas nas reas prximas ao Aeroporto

    Afonso Pena e margeando as rodovias BR 277 e Contorno Leste, onde nota-se a

    presena mais acentuada de edificaes e vias com caractersticas de um desenho

    da malha urbana, intensificando ainda mais o processo de urbanizao na bacia.

  • 17

    As reas de uso agrcola ou atividades agropecurias esto espalhadas por

    boa parte da bacia, predominando em todo baixo curso da bacia, onde, embora

    apresente uma densidade de drenagem menor que em outros setores, este tipo de

    uso, em que o cultivo de lavouras e roados predominam, pode trazer impactos

    negativos significativos ao ambiente, dada a intensividade da produo agrcola. A

    maioria da produo est voltada a culturas perenes, com ciclos curtos, em que

    destacam-se as produes de hortalias.

    As vrzeas esto presentes ao longo do curso do rio principal da bacia, na

    maioria das vezes consorciada com a vegetao de pequeno porte ou arbustiva,

    associada vegetao herbcea.

    A vegetao de porte arbreo e denso ocorre no leste, nas reas mais

    prximas a Serra do Mar, nas cabeceiras de drenagem da bacia e tambm com uma

    mancha significativa a sudeste da mesma, apresentando-se mais ralhada na medida

    em que se desloca para o oeste, praticamente inexistente no tero inferior da bacia.

    O uso do solo como rea de preservao dos mananciais nesta bacia foi

    instituda pelo Decreto n.. 1752 de 06 de maio de 1996, que em seu Artigo 1 est

    disposto da seguinte forma: "Fica instituda a rea de Proteo Ambiental na rea de

    manancial da bacia hidrogrfica do rio Pequeno, denominada APA Estadual do

    Pequeno, localizada no municpio de So Jos dos Pinhais, Estado do Paran, com

    rea aproximada de 6.200,00 ha (seis mil e duzentos hectares)". Esta preservao

    limita o uso do solo, estabelecendo um novo plano de manejo com um zoneamento

    ecolgico - econmico.

    Esta rea abrange parte do mdio curso at o alto curso da bacia, limitando

    a explorao dos recursos naturais e mantendo os recursos hdricos como reserva

    para o abastecimento de gua. No entanto, na prtica o que se nota, so alteraes

    no uso do solo desta rea que deveria ser mantida como de preservao,

    principalmente pelo uso agrcola e pecuria.

  • 18

    2.3 O ESPAO CONSTRUDO

    As propostas para o desenvolvimento econmico do Brasil, por meio de

    programas de governos fomentando a industrializao e a agricultura intensiva no

    incio da dcada de 70, motivaram e intensificaram o deslocamento populacional de

    determinadas reas, pelas alteraes no modo de produo, ou seja, os grandes

    centros urbanos se tornaram plos de atrao populacional, nos quais "as pessoas

    buscam melhores condies de vida" (DURHAN, 1973, p. 114).

    A Cidade de Curitiba e Regio Metropolitana - RMC1no ficaram alheias a

    esse evento. "Na dcada de 70, a Regio Metropolitana de Curitiba se destacava

    por apresentar a mais alta taxa de crescimento da populao, quando comparada s

    outras RM's do Pas, seja considerada apenas o plo, seja tomando todo o conjunto

    de municpios. Essas taxas so explicadas pelo grande xodo rural observado no

    Estado, poca" (ULTRAMARI & MOURA, 1994, p.23).

    Entretanto, o processo de concentrao populacional no entorno dos

    grandes centros urbanos caracterizou, principalmente na dcada de 1980, o

    fenmeno da metropolizao do Brasil. Mas, a partir da dcada de 90 que ocorreu

    a intensa expanso da Capital paranaense sobre os municpios vizinhos, originando

    uma estreita vinculao entre a dinmica scio-espacial desses municpios com o

    plo. Porm, esta dinmica scio-espacial no considerada pelas aes do

    planejamento urbano de Curitiba, ficando restrita somente ao plano territorial do

    Municpio de Curitiba (TREMARIN, 2001, p.149).

    A desconsiderao no planejamento da RMC como um todo, afeta

    diretamente os municpios do seu entorno, isto pode ser constatado em So Jos

    dos Pinhais, por exemplo no caso da instalao da fbrica de automveis Renault do

    Brasil, cuja localizao industrial pode gerar conflitos ambientais, em razo da

    escolha feita pelos grandes grupos econmicos e a aceitao por parte dos

    governos locais e estaduais em atenderem s demandas impostas, sob o risco do

    capital migrar para outras reas (FIRKOWSKI, 1998).

    1 N.E.: A Regio Metropolitana de Curitiba foi instituda pelo governo federal em 1973, pela Lei Complementar n. 14, e era composta inicialmente por quatorze municpios. Atualmente composta por vinte e cinco municpios.

  • 19

    O municpio de So Jos dos Pinhais, de acordo com o Plano Diretor de

    Desenvolvimento Municipal, originou-se a partir de um pequeno povoamento criado

    em funo das notcias da descoberta de ouro em Paranagu, em meados do sculo

    XVII. Em 27 de dezembro de 1897, pela Lei 259, foi elevado categoria de cidade.

    So Jos dos Pinhais est localizado na parte sul - sudeste da RMC, seu

    territrio com 952,8 Km equivale a 10,6% da Regio Metropolitana, e estende-se

    desde o rio Iguau, fronteira com Curitiba, at a vertente atlntica da Serra do Mar.

    "Atualmente o segundo municpio em populao dentro da RMC, atrs apenas do

    municpio-plo. a cidade que mantm ligaes mais slidas com a Capital,

    principalmente pela proximidade de ambas. A expanso urbana de Curitiba em

    direo plancie sul ultrapassou suas fronteiras e, estendendo-se sobre So Jos,

    acabou por interligar as duas malhas urbanas, num processo tpico de conurbao"

    (PLANO DIRETOR DE DESENV. MUNICIPAL DE S. J. dos PINHAIS, 1990, p. 12).

    neste municpio da RMC que o processo de industrializao mais

    intenso, pois, segundo FIRKOWSKI (1998, p. 100), os investimentos na RMC no se

    distribuem de forma equilibrada entre os 25 municpios. De modo geral, a grande

    concentrao de capital se d em apenas cinco deles, com So Jos dos Pinhais

    absorvendo 47,1% dos investimentos e 41% do total de empregos gerados na RMC,

    sendo o maior beneficiado com o processo de concentrao industrial.

    So Jos dos Pinhais passou por uma grande transformao nas ltimas

    dcadas, crescendo economicamente por causa da industrializao e acelerando a

    urbanizao do municpio como um todo, resultando num aumento populacional

    significativo, principalmente da populao concentrada na sede.

    O crescimento industrial atraiu mais trabalhadores do que todo aparato da

    prpria indstria, do comrcio e do setor de prestao de servios podiam absorver,

    gerando desemprego ou impulsionando muitos economia informal ou ao

    subemprego. No bojo deste processo de transformao, tambm inmeros

    problemas sociais afloraram, tais como a gerao de um estado de misria das

    pessoas atradas que ficaram margem desta transformao, levando a ocupaes

    irregulares na periferia da cidade s margens dos rios Pequeno e Iguau, entre

    outros. As conseqncias deste processo de transformao se manifestam por meio

    das alteraes sentidas diretamente no ambiente, seja pela alterao da cobertura

  • 20

    vegetal, caracterizado pelo desmatamento e pelo uso agrcola em reas imprprias,

    seja pela poluio dos rios (LOBO & SCHIMIDT, 1996 apud AMARAL, 2002).

    No perodo dos anos 80, grande parte da populao da periferia vivia em

    casas alugadas e uma parcela cada vez mais significativa passou a ocupar terrenos

    prximos aos rios Pequeno e Iguau, expondo-se ao risco de inundaes. As

    moradias precrias e sub-habitaes multiplicaram-se originando as primeiras

    favelas, os problemas decorrentes da falta de saneamento bsico e falta de coleta

    de lixo comearam a ser sentidos tanto pela populao local, quanto no ambiente.

    As regies que mais cresceram neste perodo foram do bairro Afonso Pena e a

    regio norte, prxima da BR 277, por onde passa o rio Pequeno. Estas regies

    constituram-se em uma nova cidade dentro da cidade, haja vista que o crescimento

    populacional e a instalao de equipamentos urbanos foram superiores nestas que

    em outras reas do municpio, com ocupaes irregulares que resultaram na

    degradao ambiental tais como desmatamento e a poluio gerada nas margens

    dos rios (LOBO & SCHIMIDT, 1996 apud AMARAL, 2002).

    A dcada de 90, segundo AMARAL (2002), teve uma passagem marcante

    para So Jos dos Pinhais, particularmente no ano de 1996, pois foram concludas

    as obras que transformaram o Aeroporto Afonso Pena, conferindo-lhe status de

    aeroporto internacional. Tambm ocorreu a escolha do municpio para sediar a

    Fbrica Montadora de Carros Renault, que foi instalada na regio da Borda do

    Campo, sendo que estas duas obras esto localizadas na bacia do rio Pequeno.

    Esta condio de plo atrativo de investimento tem seus reflexos negativos

    na gesto ambiental dos recursos naturais deste municpio, em particular na bacia

    hidrogrfica do rio Pequeno, haja vista que esta bacia, segundo o Plano Diretor de

    Abastecimento Pblico da RMC de 1992, tido como um importante manancial para

    o abastecimento pblico de gua, com previso de uso a partir de 2004 (AMARAL,

    2002, p. 63). Portanto, o equilbrio ambiental condio sine qua non na

    manuteno da higidez destes mananciais, fazendo-se necessria uma viso

    holstica das relaes existentes entre o ambiente e a maneira de explor-lo, para

    que as transformaes impostas pelo homem no propiciem impactos

    scioambientais negativos.

    Estes impactos so expresses das desigualdades inerentes estrutura

    social imposta pelo modo de produo capitalista vigente que gera alteraes fsicas

  • 21

    ao ambiente. Quando vistas sob a tica sistmica, estas alteraes podem

    desequilibrar o fluxo de energia, desregulando a entrada ou sada de matria,

    desestruturando os elementos e impondo uma nova dinmica nas suas relaes,

    levando a um novo arranjo de seus componentes, que muitas vezes conseqncia

    do uso do solo in situ, ou em reas que atingem indiretamente aquele ambiente,

    quando integrado a um sistema ainda mais amplo.

    Assim, um ambiente alterado pelo homem sofrer impactos positivos ou

    negativos, e, naturalmente buscar o restabelecimento do equilbrio no seu

    funcionamento sistmico. Quando os impactos so negativos, acarretam

    conseqncias ao prprio agente transformador que se apropriou e alterou o

    ambiente, agregando valores aos recursos naturais, os quais, agora, no mais

    pertencem a um ambiente natural, mas um espao transformado, construdo

    conforme os valores que lhe so impostos histrica e socialmente, apresentando

    estrutura e funcionalidade que variam de acordo com os interesses daquele

    momento histrico.

    Esta estrutura resultado de diretrizes e aes de planejamento, de acordo

    com SANTOS (1996), que direcionam os fluxos de capitais ora num sentido, ora

    noutro em um dado momento histrico, aliado ao conhecimento dos sistemas

    tcnicos do o entendimento do fato geogrfico, que "em cada momento histrico os

    modos de fazer so diferentes, o trabalho humano vai tornando-se cada vez mais

    complexo exigindo mudanas correspondentes s inovaes, as quais, por meio de

    tcnicas substituem uma forma de trabalho por outra, de uma configurao territorial

    por outra, num estado permanente de mudana" (p.67).

    As relaes emaranhadas das partes se confundindo com o todo, se

    concretizam no espao construdo, abrangendo os aspectos sociais na anlise

    espacial, entendendo que "o espao seria um conjunto de objetos e de relaes que

    se realizam sobre estes objetos; no entre estes especificamente, mas para as quais

    eles servem de intermedirios. Os objetos ajudam a concretizar uma srie de

    relaes. O espao resultado da ao dos homens sobre o prprio espao,

    intermediados pelos objetos, naturais e artificiais" (SANTOS, 1996, p.71).

  • 22

    3 FUNDAMENTAO TERICA

    3.1 A ABORDAGEM SISTMICA

    A Teoria dos Sistemas aplicados geografia em grande escala comeou

    nos Estados Unidos nos anos de 1950 e 1960. Na dcada de 50, a Teoria dos

    sistemas foi aliada ao Mtodo Quantitativo dentro da geografia. Isso s foi possvel

    graas aplicao tambm da Teoria dos Modelos, que resultou na aplicao de

    modelos matemticos na anlise dos componentes fsicos do ambiente. Dando uma

    nova configurao aos estudos geogrficos, completamente diferente da

    desenvolvida at ento. Os resultados das aplicaes dos estudos sistmicos

    decorrentes em parte daquele movimento, hoje constituem-se como mtodos de

    estudos aplicados geografia (MENDONA 1989, p. 45-46).

    A abordagem metodolgica aplicada nesta pesquisa norteada pela anlise

    sistmica, que segundo MENDONA (1989), pode ser definida como um conjunto

    de objetos ou atributos e suas relaes, organizada de forma a executar uma funo

    particular. Os sistemas podem ser classificados em isolados ou no isolados: os

    isolados so os que fecham em si mesmos um ciclo de atividades, por exemplo o

    ciclo de eroso apresentado por Davis no comeo do sculo XX. Os sistemas no

    isolados so todos aqueles que mantm relaes com os demais, podendo ser

    fechados (p. ex. o ciclo hidrolgico) e abertos (p. ex. morfolgicos, em seqncia,

    processos - respostas, controlados, etc.).

    Desta forma, a rea de estudo foi considerada um sistema, cuja elaborao

    do diagnstico ambiental integrado do meio fsico aqui proposto permite esta

    anlise, haja vista que a gnese do recorte espacial da rea de estudo - uma bacia

    hidrogrfica, a qual por si mesma pode ser considerada um sistema natural aberto

    ou um sistema ambiental.

    Para CHRISTOFOLETTI (1999), os sistemas ambientais representam

    entidades organizadas na superfcie terrestre, assim a espacialidade torna-se uma

    das suas caractersticas intrnsecas. A organizao desses sistemas est ligada

    diretamente com a estruturao e funcionamento de seus elementos.

  • 23

    Nas citaes de CHRISTOFOLETTI (1979), um sistema pode ser definido

    como o conjunto dos elementos e das relaes e interaes entre si e seus atributos,

    entretanto quando se define um sistema particular para se estudar, importante

    lembrar que este no est isolado, mas funciona dentro de um ambiente e faz parte

    de um conjunto maior, o qual se encontra organizado em virtude das inter-relaes

    entre as unidades, e o grau de organizao destas permite que o conjunto assuma a

    funo de um todo que maior que a soma de suas partes.

    Nessas definies deve-se considerar que os sistemas devem ter:

    - elementos ou unidades - so as suas partes componentes;

    - relaes - os elementos integrantes dos sistemas encontram-se inter-

    relacionados, um dependendo do outro, por meio de ligaes que

    denunciam os fluxos;

    - - atributos - so as qualidades que se atribuem aos elementos ou ao

    sistema, a fim de caracteriz-los. Conforme o sistema podemos

    selecionar algumas qualidades para melhor descrever as suas partes. Os

    atributos podem se referir ao comprimento, rea, volume, caractersticas

    da composio, densidade dos fenmenos observados em outros;

    - entrada (input) - constituda por aquilo que o sistema recebe. Um rio

    recebe gua e sedimentos fornecidos pelas vertentes, etc.;

    - sada (output) - as entradas recebidas pelo sistema sofrem

    transformaes em seu interior e, depois, so encaminhadas.

    Afirma ainda este autor que na composio dos sistemas h outros aspectos

    importantes que devem ser abordados tais como a entrada e sada de matria, a

    energia e a estrutura. Sendo que a matria corresponde ao material a ser mobilizado

    por meio do sistema; a energia representada pela fora que desencadeia o seu

    funcionamento; e a estrutura constituda pelos elementos e suas relaes,

    expressa no arranjo de seus componentes.

  • 24

    3.2 DEGRADAO E IMPACTOS AMBIENTAIS

    Dois termos correntes nas discusses deste trabalho so degradao

    ambiental e impacto ambiental. Portanto, faz-se necessrio esclarecer o contexto em

    que os mesmos so empregados, de maneira que admitiram-se as definies

    propostas por GUERRA e GUERRA (1997), em que:

    Degradao ambiental: a degradao do meio ambiente causada pela ao do homem, que na maioria das vezes, no respeita os limites impostos pela natureza. A degradao ambiental mais ampla que a degradao dos solos, pois envolve no s a eroso dos solos, mas a extino de espcies vegetais e animais, a poluio de nascentes, rios, lagos e bacias, o assoreamento e outros impactos prejudiciais ao meio ambiente e ao prprio homem (p.184).

    Impacto ambiental: Expresso utilizada para caracterizar uma srie de modificaes causadas ao meio ambiente, influenciando na estabilidade dos ecossistemas. Os impactos ambientais podem ser negativos ou positivos, mas, nos dias de hoje, quando a expresso empregada, j est implcito que os impactos so negativos. Os impactos podem comprometer a flora, fauna, rios, lagos, solos e a qualidade de vida do ser humano (p. 350).

    Muitos processos naturais ocorrem no ambiente sem a interveno humana,

    tais como formao dos solos, lixiviao, eroso, deslizamentos, modificaes do

    regime hidrolgico e da cobertura vegetal, etc., sendo que estas transformaes no

    so reflexos da degradao ambiental, mas transformaes decorrentes da dinmica

    natural destes processos (GUERRA e CUNHA, 1996).

    Agora, quando h a interferncia do homem, em que ele o principal agente

    transformador do ambiente, desmatando, plantando, construindo, ou seja,

    transformando o ambiente de maneira significativa, "estes processos, ditos naturais,

    tendem a ocorrer com maior intensidade, e nesse caso as conseqncias para a

    sociedade so quase desastrosas" (GUERRA e CUNHA, 1996, p. 344).

    Exemplos disto puderam ser constatados nos deslizamentos ocorridos em

    Petrpolis (RJ) em 1988 e mais recentemente em Belo Horizonte (MG) no incio de

    2003, devido s fortes chuvas, em que vrias pessoas morreram e a destruio das

    edificaes e ruas prximas s reas dos eventos foram completas, resultando em

    impactos scioambientais negativos de grande expresso.

    Tambm nas reas rurais, onde atividades agropecurias so

    desenvolvidas, os manejos com tcnicas inadequadas neste tipo de uso do solo

    podem trazer alteraes e degradaes ambientais, haja vista que as limitaes

  • 25

    impostas pelas caractersticas naturais muitas vezes no so consideradas na

    explorao destes sistemas ambientais, gerando conseqncias como o

    desenvolvimento de processos erosivos e assoreamento dos cursos de gua.

    A explorao dos recursos naturais ofertados pela natureza e presentes no

    ambiente, decorre da valorao a eles atribudos. Assim, o conceito de recursos

    naturais sensvel ao contexto no qual est inserido e utilizado. Os componentes

    existentes na superfcie terrestre no surgem como recursos naturais apenas porque

    se encontram em um sistema natural. Passam a esta categoria quando ganham

    relevncia em funo da interveno humana, pelo conhecimento de sua existncia,

    pelo conhecimento de como pode ser tecnicamente explorado e pela sua integrao

    a determinadas necessidades da sociedade (CHRISTOFOLETTI, 1999, p. 158).

    A degradao ambiental ocorre em toda parte nos mais variados ambientes,

    com maior ou menor grau de intensidade, dependendo das tcnicas utilizadas na

    explorao dos recursos naturais, e, da preocupao local na manuteno e

    conservao desses recursos (LIMA-E-SILVA; GUERRA; DUTRA; 1999, p.324).

    As aes humanas que degradam o ambiente, muitas vezes so aceleradas

    pelas imposies inerentes ao modelo socioeconmico atual, que se apropria dos

    recursos naturais e vai expandindo e ampliando espacialmente as reas de

    explorao destes recursos, gerando conseqncias negativas para o ambiente e

    para a sociedade.

    Estes impactos scioambientais, segundo GUERRA e CUNHA (1996), se

    apresentam em duas situaes: na primeira, alm do desmatamento para ocupao

    de novas terras, as reas abandonadas dificilmente conseguiro recuperar por si

    mesmas as caractersticas e a biodiversidade que possuam antes de serem

    exploradas; na segunda, fica sempre a possibilidade de ocorrer a poluio

    atmosfrica, das guas superficiais, dos solos e do lenol fretico, face o uso de

    produtos qumicos, que alm de contaminar o ambiente, contaminam os prprios

    alimentos produzidos. "Em ambas as situaes preciso enfatizar que, alm do

    custo social e ecolgico, nos prprios locais onde a degradao ocorre, existem

    tambm, os custos para pessoas e ambientes, que podem estar afastados das reas

    atingidas, diretamente pela degradao" (p. 343).

    De modo que as modificaes na superfcie de uma rea podem trazer

    alteraes nos processos do ciclo hidrolgico terrestre, as quais so mais 'sentidas'

  • 26

    nas bacias com maior ndice de urbanizao, devido a concentrao populacional

    exposta aos impactos negativos causados pelo desequilbrio do ambiente, que se

    manifestar com outra forma no contexto scioambiental. Por exemplo, as

    enchentes que atingem diretamente as populaes ribeirinhas que residem em

    reas imprprias para edificarem suas moradias, isto conseqncia da falta de

    oportunidades proporcionada pelo modelo socioeconmico a que esto submetidas.

    Assim, quando se contextualiza a problemtica do desequilbrio ambiental no

    mbito social, a essncia do seu tema se revela ser o mesmo j muitas vezes

    questionado, mas, vista por ngulos diferentes. Isto , so abordadas na sua

    contingncia, pois ela (a problemtica) reside no fator cultural, na sade (no sentido

    mais amplo), na educao, ou seja, conseqncia do modelo de explorao

    econmico em voga, apresentando suas contradies.

    Contudo, esta questo tomou propores maiores aps a consolidao do

    regime democrtico no Brasil, em que as mazelas sofridas pelo ambiente puderam

    ser expostas e reclamadas pelas populaes diretamente atingidas, em um primeiro

    momento pela organizao das comunidades locais, posteriormente por outros

    segmentos da sociedade civil como as Organizaes No Governamentais (ONG's),

    firmando-se como conquista da sociedade, expressa na atual Constituio Federal

    do Brasil, resumida como 'essencial sadia qualidade de vida' e se confirma numa

    problemtica social que deve ser discutida por todos os segmentos da sociedade

    civil, e no restrita aos ambientalistas exclusivamente (CHUEH, 2000).

    3.2.1 Alteraes no Uso do Solo

    Os estudos realizados para estabelecer ou restabelecer o equilbrio em um

    ambiente natural esto diretamente ligados s aes antrpicas que promovem

    modificaes em funo do uso do solo, portanto, estas aes devem ser

    desempenhadas sempre buscando os menores efeitos dos impactos

    scioambientais.

    Para tanto, os planejamentos e os manejos ambientais podem ser

    entendidos como a execuo de atividades ou aes para dirigir e controlar a coleta,

  • 27

    a transformao, a distribuio e a disposio dos recursos naturais de maneira

    capaz de sustentar as atividades humanas com um mnimo de distrbios nos

    processos scioambientais (BALDWIN apud CHRISTOFOLETTI, 1999, p. 162).

    O tipo de uso do solo vai determinar as alteraes na superfcie de uma

    rea, apontando os efeitos impactantes que podem causar desequilbrios ambientais

    sob o ponto de vista hidrolgico. TUCCI e CLARKE (1998, p.39) propem

    caractersticas e classificaes dos tipos de alteraes que podem ocorrer na

    superfcie de uma bacia hidrogrfica. "As alteraes sobre uso e manejo do solo da

    bacia podem ser classificadas quanto: (i) ao tipo de mudana; (ii) ao tipo de uso da

    superfcie ou; (iii) a forma de alterao da superfcie".

    Na tabela 2 esto apresentadas as principais classificaes.

    Tabela 2 - Classificao Sobre Mudana e Uso do Solo Classificao Tipo Mudana da superfcie Desmatamento

    Reflorestamento O uso da superfcie Urbanizao

    Reflorestamento para explorao sistemtica Culturas agrcolas: de subsistncia; anuais; permanentes

    Mtodo de alterao Queimada Manual Equipamentos

    FONTE: (TUCCI ; CLARKE (1998, p.39)

    A urbanizao e a impermeabilizao da bacia tm vrios efeitos sobre o

    ciclo hidrolgico. Alguns deles podem ser vistos no aumento do escoamento mdio

    superficial, aumentando as enchentes; na reduo da evaporao e do escoamento

    subterrneo; na maior produo de sedimentos; na degradao da qualidade da

    gua dos rios e contaminaes dos aqferos (TUCCI ; CLARKE, 1998, p.39).

    Todavia, os impactos negativos decorrentes das alteraes nas bacias

    hidrogrficas com caractersticas agrcolas ou de preservao (p. ex. reas de

    mananciais) mais distantes das cidades, ou menos urbanizadas no so menores

    quando esto em desequilbrio, muitas vezes esto mascaradas pela distncia e/ou

    pela inacessibilidade em funo de outros fatores. Porm, mais cedo ou mais tarde o

    sistema natural responde s aes que o degradam expondo suas contaminaes,

    seja por produtos txicos nos cursos dos rios por meio de agrotxicos e/ou resduos

    industriais, seja na degradao fsica manifestada pela acelerao dos processos

  • 28

    erosivos e assoreamento dos cursos de gua, devido aos desmatamentos e/ou as

    prticas agrcolas com tcnicas incorretas.

    O desmatamento um termo geral para diferentes mudanas de cobertura

    em relao mata natural. Este tipo de modificao na cobertura do solo altera as

    condies de equilbrio do ambiente, pois a retirada da floresta altera os fluxos

    envolvidos no ciclo hidrolgico, ocorrendo o seguinte:

    - aumento do albedo. A floresta absorve maior onda curta e reflete menos;

    - maiores flutuaes da temperatura e dficit de tenso de vapor das superfcies das

    reas desmatadas;

    - volume evaporado menor devido a reduo da interceptao vegetal pela retirada

    da vegetao;

    - menor variabilidade da umidade das camadas profundas do solo, a floresta pode

    retirar umidade de profundidades superiores a 3,6 m enquanto que a vegetao

    rasteira como pasto age sobre profundidades de cerca de 20 cm. (BRUJINZEEL,

    1990; SAHIN; HALL, 1996 apud TUCCI; CLARKE, 1998, p.42).

    Das alteraes provocadas no ambiente, pode-se estabelecer uma relao

    de equilbrio ambiental local com uma problemtica ainda maior, pois os

    procedimentos tcnicos do modo de produo no atual contexto socioeconmico

    podem ser nocivos ou sustentar-se harmoniosamente com o ambiente, o qual

    comporta-se nesta relao conforme o trato e manejo que lhe dispensado.

    Segundo HIBBERT,1961 apud ODUM, 1988, o desmatamento das vertentes

    aumentar a disponibilidade de gua nos vales, mas deteriorando a qualidade da

    gua, limitando a explorao dos recursos naturais e diminuindo a capacidade de

    regenerao atmosfrica da bacia hidrogrfica. "As perdas de nutrientes das bacias

    hidrogrficas florestadas no-perturbadas, nas cabeceiras dos rios, so pequenas e,

    geralmente, repostas pela chuva e pelo intemperismo " (p.125).

    As alteraes decorrentes das transformaes dos tipos de uso do solo so

    essenciais na manuteno do equilbrio ambiental, principalmente na preservao

    dos recursos hdricos e dos solos, que muitas vezes podem ser planejadas

    minimizando os impactos negativos, por meio de aes relativamente simples e de

    uma explorao menos agressiva. Por exemplo, preservar as reas de mananciais,

    dos entornos dos rios e nascentes, deixando suas matas ciliares intactas, o que

    diminuir a eroso dos solos nessas reas e tambm possibilitar refgio fauna.

  • 29

    3.3 BREVE CONTEXTUALIZAO DE ESTUDOS REALIZADOS NA BACIA

    HIDROGRFICA DO RIO PEQUENO

    As prticas danosas ao ambiente que outrora no despertavam interesses

    no mbito social, agora diante da limitao quanto explorao dos recursos

    naturais, especialmente a gua, torna-se assunto emergente em vrios segmentos

    da sociedade civil, e a Universidade Federal do Paran traz sua contribuio por

    meio de estudos e pesquisas acadmicas que podem dar suporte ao entendimento e

    planejamento no manejo da explorao destes recursos.

    Em uma breve sntese, cabe ressaltar que a bacia do rio Pequeno j foi

    palco de estudos de alguns trabalhos e pesquisas acadmicas desenvolvidas na

    Universidade Federal do Paran. Dentre estes, tem-se:

    ROCHA2 (1996), em que a autora analisa o potencial de explorao das

    guas subterrneas desta bacia hidrogrfica, considerando as caractersticas

    hidrogeolgicas e geoqumicas dos depsitos aluvionares l existentes.

    Segundo a autora, embora os depsitos aluvionares desta bacia hidrogrfica

    se apresentem bastante alterados pela extrao de material arenoso, "a existncia

    de trechos relativamente extensos da plancie, ainda no atingidos pela minerao,

    reforou a idia de que a mesma poderia ter utilidade como reserva estratgica de

    gua para a regio de Curitiba" (p. 54).

    Nas suas concluses, alm das consideraes tcnicas, a autora afirma que:

    "Esta discusso acerca do grau de degradao do aqfero aluvionar e a proposio

    de um projeto alternativo de recuperao ser a grande contribuio deste estudo"

    (p.152), objetivando a melhoria das condies sociais e a qualidade de vida da

    populao.

    De maneira geral, o estudo revelou que apesar da degradao ambiental

    presente ocasionada pela extrao de material arenoso originando as cavas e

    limitando a explorao das guas subterrneas, as cavas, por sua caractersticas

    hidrogeolgicas e geoqumicas, podem servir como reservatrio de gua

    complementar ao abastecimento pblico da cidade de Curitiba (ROCHA, 1996).

    2 N.E.: Consultar ROCHA, A. L. - Caracterizao Ambiental, Hidrolgica e Geoqumica dos Depsitos Aluvionares da Bacia Hidrogrfica do Rio Pequeno - Regio Metropolitana de Curitiba, 1996. Dissertao de Mestrado - rea de Concentrao Geologia Ambiental da Universidade Federal do Paran.

  • 30

    Outro trabalho desenvolvido por CHUEH3 (2000), aborda o uso e ocupao

    do solo sob a tica da legislao ambiental nas reas de Preservao Permanente,

    usando os parmetros legais especificados nos Art. 2 e 10 da Lei 4.771/65 -

    Cdigo Florestal Brasileiro.

    O autor fez uma anlise integrada, por meio de mapas e tabelas, entre as

    APP's. - reas de Preservao Permanentes determinadas pela lei e o uso e

    ocupao efetivo do solo. Comparando as reas que representavam o ideal

    preconizado legalmente e as reas que representavam o uso/ocupao do solo

    nesta bacia hidrogrfica, concluindo que, embora existindo um alto ndice de

    preservao (95,19%) das reas de Preservao Permanente, isso no significou

    que era em funo da conscientizao dos proprietrios da necessidade de se

    manter as reas de preservao. "Esta situao mascara a realidade do elevado

    ndice de preservao das APP's., pois este elevado grau de reas de preservao

    no reflete necessariamente a preocupao de preservao ambiental ou uma

    conscincia adequada no cumprimento das normas ambientais legais. Mas,

    reproduz a condio geral da bacia, a qual pode ser explicada por diversos fatores,

    que no so os legais" (CHUEH, 2000, p. 43).

    O autor exemplifica com a hiptese da funcionalidade da rea em que est

    inserida a bacia hidrogrfica, que no contexto socioeconmico no tinha importncia

    para o acmulo e reproduo do capital, assim no demandava alteraes

    significativas no uso e parcelamento do solo para suprir as necessidades deste

    capital. Entretanto, com a saturao das reas que instrumentalizavam a dinmica

    do capital e, portanto, passveis de serem exploradas, esta bacia assume uma nova

    funo no desenvolvimento da configurao espacial da RMC, sentindo os efeitos

    das alteraes decorrentes das aes antrpicas desordenadas.

    A pesquisa realizada por GUIMARES4 (2000) teve por objetivo determinar

    a magnitude das mudanas ocorridas no regime hidrolgico, principalmente sobre a

    vazo do rio principal, o balano hdrico e seus componentes num perodo de tempo

    entre 1952 e 1997 na bacia hidrogrfica do rio Pequeno.

    3 N.E.: Consultar CHUEH, A. M. - Legislao Ambiental e Meio Ambiente na Bacia Hidrogrfica do Rio Pequeno: situao atual e possibilidades. Curitiba, 2000. Monografia (Concluso de Curso) - Departamento de Geografia, Setor de Cincias da Terra, Universidade Federal do Paran. 4 N.E.: Consultar GUIMARES, J. L. B. - Estudo da Relao entre a Ocupao do Solo e Comportamento Hidrolgico na Bacia Hidrogrfica do Rio Pequeno - So Jos dos Pinhais - PR. Curitiba, 2000. Dissertao de Mestrado - rea de Concentrao Conservao da Natureza - Setor de Cincias Agrrias, UFPR.

  • 31

    A anlise identificou as principais alteraes de uso do solo, as quais foram

    mapeadas e que poderiam estar relacionadas a um possvel incremento nas vazes

    mximas do rio Pequeno e determinadas por meio de anlises temporais de vazo e

    precipitaes, estas correlaes foram apoiadas em dados estatsticos.

    "A anlise da evoluo do uso do solo no perodo 1953 - 1996 apontou um

    aumento significativo na rea urbana, se levarmos em conta que em 1953 a

    ocupao urbana era inexpressiva na bacia (0,05 % da rea total) e em 1996 ela

    corresponde a 8,59 da rea total da mesma. A isto soma-se o agravante das reas

    urbanas nesta bacia do Pequeno encontrarem-se principalmente no tero inferior,

    rea sujeita ocorrncia de enchentes" (GUIMARES, 2000, p. 173).

    Outro trabalho realizado na bacia do rio Pequeno, foi o de BOIKO5 (2000),

    que tratou da anlise de fragilidade ambiental por meio da determinao da

    fragilidade potencial, proposta por ROSS (1991), cuja metodologia relaciona o relevo

    com o quadro natural, baseado na geomorfologia, considerando as componentes

    naturais interdependentes (clima, solo, vegetao), buscando o entendimento da

    dinmica dessas componentes na paisagem que esto em equilbrio, portanto a

    fragilidade potencial representa a possibilidade deste equilbrio ser rompido. Assim,

    a autora elaborou um mapeamento preliminar da fragilidade potencial e emergente

    nesta bacia, integrando a anlise dos elementos do meio fsico e das aes

    antrpicas quanto ao uso do solo, por meio de ferramentas de geoprocessamento

    com vistas a melhorar o ordenamento territorial e o manejo dos recursos naturais.

    Segundo a autora, os resultados da pesquisa quanto ao emprego desta

    metodologia foram satisfatrios para anlise e planejamento territorial da bacia

    hidrogrfica, pois fornece subsdios que favorecem a interpretao dos fatores

    naturais - fragilidade potencial - e dos problemas ambientais - fragilidade emergente.

    Assim, a autora classificou 76% da rea da bacia com fragilidade potencial entre

    mdia e muito alta, indicando uma rea potencialmente muito frgil. O ndice de

    fragilidade emergente mdia aparece em 54,8% da rea da bacia, principalmente no

    baixo e alto curso, isto denota que j vem ocorrendo alteraes significativas em

    alguns setores desta bacia.

    5 N.E.: Consultar BOIKO, J. D. - Mapeamento Preliminar da Fragilidade Ambiental da Bacia Hidrogrfica do Rio Pequeno, RMC de Curitiba. Curitiba, 2000. Monografia (Concluso de Curso) Dep. de Geografia, Setor Cincias da Terra, Universidade Federal do Paran.

  • 32

    A metodologia aplicada mostrou-se um instrumento de anlise ambiental

    satisfatrio " podendo ser utilizado para planejar e diagnosticar os problemas atuais

    e futuros, bem como promover condies ambientalmente corretas de uso e

    ocupao da bacia" (BOIKO, 2000, p.62).

    Em outra pesquisa feita por SANTOS6 (2001), o autor apresentou

    alternativas para subsidiar o zoneamento e o planejamento ambiental baseado na

    modelagem de alguns processos geobiohidrolgicos na bacia hidrogrfica do rio

    Pequeno. Segundo o autor, foram empregados dois modelos distribudos de base

    fsica, um hidrolgico e outro geomorfolgico.

    Sendo que o primeiro pressupe que a dinmica da gua influenciada

    pelas caractersticas do solo e do relevo de toda bacia contribuinte, fornecendo

    como resultado, alm da vazo do rio, a distribuio espacial da umidade no sistema

    (zonas saturadas e reas secas) ao longo do tempo. O modelo geomorfolgico

    pressupe que a evoluo do relevo est intimamente ligada dinmica da gua na

    bacia, sendo que a determinao de onde e quando acontecem os diferentes

    processos erosivos depende do conhecimento das propriedades hidrulicas e

    mecnicas do solo, das caractersticas do relevo e dos processos hidrolgicos. A

    partir destes dois modelos foram gerados mapas das reas saturadas e dos

    processos erosivos, que foram analisados considerando o uso do solo e as reas de

    preservao permanente de mata ciliar.

    "Os modelos utilizados mostram grande potencial de aplicabilidade no

    planejamento ambiental, pois permitem discutir e orientar as aes antrpicas sobre

    o meio fsico com base no entendimento dos processos naturais. Portanto so

    ferramentas de grande utilidade prtica para o diagnstico e anlise ambiental, bem

    como para subsidiar projetos de ordenamento territorial" (SANTOS, 2001, p.82).

    No trabalho realizado por SANTOS7 (2002), esta autora buscou demonstrar

    a perda de solo por eroso hdrica na bacia do rio Pequeno, considerando as

    caractersticas do meio fsico (clima, relevo, tipos de solos), associada ao uso e

    ocupao do solo e das prticas conservacionistas desta rea. Para isto, a autora

    6 N.E.: Consultar SANTOS, Irani dos - Modelagem Geobiohidrolgica como ferramenta no planejamento Ambiental: Estudo da Bacia Hidrogrfica do Rio Pequeno - So Jos dos Pinhais/Pr. Curitiba, 2001. Dissertao de Mestrado - rea de Concentrao Cincia do Solo - Setor de Cincias Agrrias, UFPR. 7 N.E.: Consultar SANTOS, C. I.