chs 2014 - apostila de direito administrativo

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Apostila do Curso de Habilitação de Sargentos da Polícia Militar do Estado do Espírito Santo - PMES. 2014.

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  • GOVERNO DO ESTADO DO ESPRITO SANTO POLCIA MILITAR

    DIRETORIA DE ENSINO E INSTRUO E PESQUISA CENTRO DE FORMAO E APERFEIOAMENTO

    APOSTILA

    DIREITO

    ADMINISTRATIVO

    CHS-2014

  • 1

    Sumrio I. 1 APRESENTAO ................................................................................................ 4

    CONCEITO E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO .................................. 4

    I. 2 REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO - RAMO DO DIREITO PBLICO ..................................................................................................................... 5

    UNIDADE DIDTICA II .................................................................................................. 7

    II.1 ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAO PBLICA. ................................ 7

    II.1.1 Estado ................................................................................................................. 7

    II. 1.1.1 Poderes e funes do Estado .................................................................... 7

    II. 1.1.2 Organizao do Estado Brasileiro ............................................................. 8

    II. 1.2 Governo ............................................................................................................. 8

    II. 1.3 Administrao Pblica .................................................................................... 9

    II.2 A PM NO CONTEXTO DA ADMINISTRAO PBLICA .......................... 10

    II. 2.1 Das aes das Polcias Militares ................................................................. 11

    UNIDADE DIDTICA III ............................................................................................... 13

    III.1 PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS EXPLCITOS ....................................... 13

    III. 1.1 Legalidade...................................................................................................... 13

    III. 1.2 Impessoalidade ............................................................................................. 13

    III. 1.4 Publicidade .................................................................................................... 14

    III.1.5 Eficincia ......................................................................................................... 15

    III. 2 PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS IMPLCITOS ....................................... 15

    III. 2.1 Razoabilidade ................................................................................................ 15

    III. 2.2 Proporcionalidade ......................................................................................... 15

    III. 2.3 Segurana Jurdica ....................................................................................... 16

    III.2.4 Princpio da Cortesia ..................................................................................... 16

    III. 3 OUTROS PRINCPIOS DE DIREITO ADMINISTRATIVO ........................ 17

    III. 3.1 Supremacia do Interesse Pblico/Finalidade Pblica ............................. 17

    III. 3.2 Indisponibilidade do Interesse Pblico ...................................................... 17

    III.3.4 Autotutela ........................................................................................................ 17

    III. 3.5 Continuidade do Servio Pblico ............................................................... 18

    III. 3.6 Motivao ....................................................................................................... 18

    UNIDADE DIDTICA IV ............................................................................................... 19

    IV.1 PODERES ADMINISTRATIVOS ................................................................... 19

    IV. 1.1 Poder Vinculado ........................................................................................... 19

    IV. 1.2 Poder Discricionrio ..................................................................................... 20

    IV.1.3 Poder Hierrquico ......................................................................................... 20

  • 2

    IV. 1.5 Poder Regulamentar .................................................................................... 23

    IV. 1.6 Poder de Polcia ........................................................................................... 23

    IV.1.6.1 A Polcia Militar e o Poder de Polcia ..................................................... 24

    IV.1.6.2 Atributos do Poder de Polcia .................................................................. 26

    UNIDADE DIDTICA V ................................................................................................ 28

    V.1 CONCEITO ......................................................................................................... 28

    V.2 ELEMENTOS ..................................................................................................... 29

    V.2.1 Sujeito ou competncia ................................................................................. 29

    V.2.1.1 Delegao .................................................................................................... 29

    V.2.1.2 Avocao ...................................................................................................... 29

    V.2.1.3 Vcios do Sujeito .......................................................................................... 29

    V.2.2 Finalidade ........................................................................................................ 30

    V.2.2.1 Vcios da Finalidade ................................................................................... 30

    V.1.3 Objeto ............................................................................................................... 30

    V.2.3.1 Vcios do Objeto .......................................................................................... 31

    V.2.4 Motivo ............................................................................................................... 32

    V.2.4.1 Vcios de Motivo .......................................................................................... 32

    V.2.5 Forma ............................................................................................................... 33

    V.2.5.1 Vcios da Forma .......................................................................................... 33

    V.2.6 Ato perfeito ...................................................................................................... 33

    V.2.7 Abordagem policial como ato administrativo ............................................. 33

    V.2.8 Vinculao e Discricionariedade .................................................................. 34

    V.3 ATRIBUTOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS .......................................... 36

    V.3.1 Presuno de legitimidade ............................................................................ 36

    V.3.2 Auto-executoriedade ...................................................................................... 36

    V.3.3 Imperatividade ................................................................................................ 37

    V.4 EXTINO DOS ATOS ADMINISTRATIVOS ............................................. 37

    V.4.1 Revogao ...................................................................................................... 38

    V.4.2 Anulao .......................................................................................................... 38

    UNIDADE DIDTICA VI ............................................................................................... 40

    VI.1 RESPONSABILIDADE DO ESTADO E DOS AGENTES PBLICOS ... 40

    VI.2 RESPONSABILIDADE EXTRACONTRATUAL DO ESTADO ................ 40

    VI.2.1 Teoria da irresponsabilidade ....................................................................... 40

    VI.2.2 Teoria da responsabilidade com culpa, teoria civilista da culpa ou teoria da responsabilidade subjetiva ..................................................................... 41

    VI.2.3 Teorias publicistas ........................................................................................ 41

    VI.2.4 Teoria do risco administrativo ..................................................................... 41

  • 3

    VI.3 RESPONSABILIDADE DO ESTADO NO DIREITO BRASILEIRO ........ 42

    VI.3.1 Responsabilidade por ato lcito ................................................................... 43

    VI.3.2 Ao regressiva ............................................................................................. 43

    VI.4 RESPONSABILIDADE DO AGENTE PBLICO ........................................ 44

    VI.4.1 Responsabilidade civil, penal e administrativa ......................................... 44

    BIBLIOGRAFIA: ............................................................................................................. 45

  • 4

    GOVERNO DO ESTADO DO ESPRITO SANTO POLCIA MILITAR

    DIRETORIA DE ENSINO E INSTRUO E PESQUISA

    CENTRO DE FORMAO E APERFEIOAMENTO

    CURSO DIREITO ADMINISTRATIVO

    UNIDADE DIDTICA I

    Apresentao. Conceito e Objeto do Direito Administrativo; Regime Jurdico- Administrativo - Ramo do Direito Pblico. I. 1 APRESENTAO

    O Direito Administrativo no Brasil no codificado, e em razo do Pacto

    Federativo cada ente, seja federal, estadual ou municipal, tem autonomia para

    elaborao das leis de sua competncia, gerando uma infinidade de regras nos

    diversos Estados e Municpios brasileiros, bem como na Unio.

    Este emaranhado de normas no pode ser um bice ao conhecimento

    do Direito Administrativo, pois um ramo da cincia jurdica dotado de

    princpios e normas prprias, cuja doutrina devidamente lastreada na

    Constituio Federal, permitindo sua delimitao e estudo.

    O Estado desenvolve suas atividades por meio do Governo e da

    Administrao Pblica. O Governo pratica os atos polticos, estabelecendo as

    diretrizes do respectivo ente federado, segundo o Direito Constitucional. Por

    sua vez, a Administrao Pblica executa as diretrizes traadas pelo Governo,

    visando alcanar os objetivos do Estado por meio dos atos administrativos, de

    acordo com o Direito Administrativo.

    Nesse contexto, a Polcia Militar como rgo da Administrao Pblica

    do Estado do Esprito Santo, est subordinada aos princpios norteadores do

    Direito Administrativo que orientam a atuao da Administrao Pblica.

    Assim, o policial militar, no exerccio de sua misso constitucional, tem a

    necessidade de conhecer os princpios e os poderes que integram o regime

    jurdico administrativo, referencial doutrinrio que possibilita reconhecer os

    parmetros para o desempenho de suas atribuies em consonncia com os

    ideais de cidadania, mesmo diante de uma quantidade de normas no

    codificadas.

    CONCEITO E OBJETO DO DIREITO ADMINISTRATIVO

    O conceito e o contedo de direito administrativo variam conforme o

    critrio adotado pelo doutrinador ao longo de seu desenvolvimento. Dos

    estudos doutrinrios e dos sistemas legais decorreu o surgimento de vrias

  • 5

    teorias. Predominantemente, o direito administrativo brasileiro, em

    sntese, pode ser entendido como o conjunto de princpios jurdicos

    que regem a atividade administrativa, as entidades, os rgos e os

    agentes pblicos, objetivando o perfeito atendimento das necessidades

    da coletividade e dos fins desejados pelo Estado.

    Com relao ao objeto, podemos assim definir: compete ao direito

    administrativo o estudo da atividade ou funo administrativa exercida

    direta ou indiretamente, de sua estrutura, de seus bens, de seu pessoal e de

    sua finalidade. Objetiva, em especial, o estudo de atos editados pelo Poder

    Executivo, conquanto aplicvel tambm a atos oriundos dos Poderes

    Legislativo e Judicirio.

    Por funo administrativa entende-se o dever e o Estado atender ao

    interesse pblico, satisfazendo o comando decorrente dos atos normativos.

    A Administrao Pblica, em face dos conceitos propostos,

    substancialmente o objeto e a funo precpua do direito administrativo. I. 2 REGIME JURDICO-ADMINISTRATIVO - RAMO DO DIREITO PBLICO

    O direito administrativo, como dito, constitui uma disciplina jurdica

    vinculada ao direito pblico, organizada a partir de princpios jurdicos

    harmonicamente reunidos. A expresso regime jurdico-administrativo

    consagra a unio dos princpios peculiares a essa disciplina, que conservam

    entre si no apenas unio, mas relao de interdependncia. Tais princpios

    so, primordialmente: supremacia do interesse pblico sobre o privado e

    indisponibilidade do interesse pblico, que sero vistos dentro da Unidade III

    desta Apostila.

    Esse regime , ainda, caracterizado pela coexistncia de prerrogativas

    e sujeies. As prerrogativas so detidas pela Administrao Pblica para

    satisfazer o interesse pblico, condicionando ou limitando o exerccio de

    direitos e liberdades do indivduo, denotando a supremacia do interesse

    pblico sobre o particular. As sujeies restringem a autonomia de vontade

    da Administrao Pblica, que somente atua para atender ao interesse

    pblico e na forma permitida por lei. Da o binmio prerrogativas e sujeies,

    tpico do regime jurdico aplicvel para todos os rgos e entidades que

    compem a Administrao Pblica brasileira.

    Vale aqui diferenciar regime jurdico da Administrao Pblica de

    regime jurdico-administrativo.

    A expresso regime jurdico da Administrao Pblica utilizado

    para designar, em sentido amplo, os regimes de direito pblico e de direito

    privado a que pode submeter-se a Administrao Pblica. J a expresso

    regime jurdico-administrativo reservada to-somente para abranger o

    conjunto de traos, de conotaes, que tipificam o Direito Administrativo,

    colocando a Administrao Pblica numa posio privilegiada, vertical, na

  • 6

    relao jurdico-administrativa.

    O Direito Administrativo integra o ramo do Direito Pblico, cuja

    principal caracterstica encontramos no fato de haver uma desigualdade

    jurdica entre cada uma das partes envolvidas. Assim, de um lado,

    encontramos a Administrao Pblica, que defende os interesses coletivos;

    de outro, o particular. Havendo conflito entre tais interesses, haver de

    prevalecer o da coletividade, representado pela Administrao. Isto posto,

    veja que esta se encontra num patamar superior ao particular, de forma

    diferente da vista no Direito Privado, onde as partes esto em igualdade de

    condies

    Em resumo:

    Regime jurdico da Administrao conjunto de normas de direito

    pblico ou de direito privado aplicveis regncia da Administrao

    Pblica.

    Regime jurdico-administrativo conjunto de normas de direito pblico prprias do direito administrativo e que condicionam a vontade da Administrao (sujeio) e permite-lhe o exerccio de prerrogativas exorbitantes do direito privado.

  • 7

    UNIDADE DIDTICA II

    Estado, Governo e Administrao Pblica: A PM no Contexto da Administrao Pblica. II.1 ESTADO, GOVERNO E ADMINISTRAO PBLICA.

    O estudo da Administrao Pblica em geral deve partir da definio

    de Estado no seu conceito amplo, sobre o qual repousa toda a concepo

    moderna de organizao e funcionamento dos servios pblicos a serem

    prestados aos administrados. O objetivo no aprofundar o estudo sobre o

    Estado, o que objeto do Direito Constitucional, mas estabelecer premissas

    para melhor compreender os institutos do Direito Administrativo.

    II.1.1 Estado

    O Estado, sob o prisma constitucional, pessoa jurdica territorial

    soberana. uma nao politicamente organizada, dotada de personalidade

    jurdica prpria, sendo pessoa jurdica de direito pblico interno (CC, art. 41,

    I), composto por trs elementos bsicos e indissociveis: bsicos: povo, que

    representa o componente humano; o territrio, que a sua base fsica, e o

    governo soberano, que o elemento condutor do Estado, que detm e

    exerce o poder absoluto de autodeterminao e auto- organizao, emanado

    do povo.

    II. 1.1.1 Poderes e funes do Estado

    A vontade estatal apresenta-se e se manifesta por intermdio dos

    denominados Poderes do Estado. Esses Poderes, na clssica tripartio de

    Montesquieu, at hoje adotada nos Estados de Direito, so o Legislativo, o

    Executivo e o Judicirio, independentes e harmnicos entre si e com

    funes reciprocamente indelegveis, conforme preceitua o art. 2 da CF/88:

    So Poderes da Unio, independentes e harmnicos entre si, o Legislativo, o

    Executivo e o Judicirio.

    Importante observar, ainda, que Montesquieu no empregou, em sua

    obra poltica, expresses Separao de Poderes ou Diviso de Poderes,

    como se esses fossem elementos incomunicveis em todas as suas

    manifestaes. Na verdade, a tripartio dos poderes no gera absoluta

    diviso de poderes e de funes, mas sim distribuio de trs funes

    estatais precpuas, mesmo porque o pode estatal uno e indivisvel.

    Os poderes Legislativo, Executivo e Judicirio desempenham funes

    tpicas e atpicas. Funo tpica aquela para a qual o poder foi criado, a

    principal ou precpua. J a funo atpica quando o Poder desempenha

  • 8

    funo estranha quela para o qual foi criado, funo secundria. Por

    exemplo: funo tpica do Poder Legislativo legislar, exercer funo

    legiferante, sendo atpica a possibilidade de julgamento do Presidente da

    Repblica em processo de impeachment ou a realizao de um

    procedimento licitatrio. Da mesma forma, pode-se citar o Poder Executivo,

    que tem como funo tpica administrar, atuando atipicamente quando da

    edio de medidas provisrias.

    A funo tpica, precpua do Poder Legislativo exercer a atividade

    normativa: a elaborao da lei; a do Poder Executivo o exerccio da

    funo administrativa: a converso da norma abstrata em ato concreto; e

    a do Poder Judicirio a funo jurisdicional: aplicao da lei de forma

    coativa, substituindo a vontade das partes, compondo os conflitos ou

    resistncias ao cumprimento das leis. II. 1.1.2 Organizao do Estado Brasileiro

    O estudo da organizao poltica e da diviso espacial do poder pode

    ser realizado sob trs enfoques: a) da forma de governo; b) da forma de

    Estado; c) do sistema de governo.

    A forma de governo adotada a republicana. A Repblica privilegia a

    isonomia entre todos, governantes e governados, no admite a

    irresponsabilidade poltica e privilegia o interesse pblico. A forma do Estado

    a federativa, que pressupe a descentralizao poltica, a soberania do

    Estado federal, o princpio da indissolubilidade do vnculo, alm de outras

    caractersticas adiante estudadas. Por fim, o sistema de governo o

    presidencialista, confiando ao Chefe do Executivo tambm a Chefia da

    Administrao Pblica, a representao do Estado e do governo.

    De relevo para o direito administrativo os trs modos de organizao

    poltica do Estado, porquanto deles que decorrem os princpios

    fundamentais do regime jurdico-administrativo. Veja-se: da Repblica,

    indisponibilidade do interesse pblico e a supremacia do interesse pblico

    sobre o particular; do presidencialismo, a chefia da Administrao confiada,

    sobretudo, ao Executivo; e da Federao o reconhecimento de competncias

    materiais e legislativas a todas as pessoas polticas que compem o Estado

    brasileiro.

    Compem a Federao a Unio, os Estados, o Distrito Federal e os

    Municpios. Todas as pessoas polticas integrantes da Federao possuem

    auto-administrao e, por isso, devem gerir seus negcios, prestar os servios

    pblicos de sua competncia, zelar pelo primado do interesse pblico. II. 1.2 Governo

    J o conceito de Governo est ligado atividade que fixa objetivos

  • 9

    do Estado ou conduz politicamente os negcios pblicos. Atos de Governo

    da soberania ou autonomia poltica detidas pela unio (soberania), Estados-

    membros, Distrito Federal e Municpios (autonomia), todos nominados por

    entidades estatais ou pessoas polticas.

    Os atos resultantes da atividade governamental (atos de Governo, ex:

    sano, veto, decreto autnomo) so distintos dos atos administrativos: os

    primeiros so desvinculados, independentes, legais e polticos, diferentemente

    dos atos administrativos tpicos, que devem guardar necessria dependncia,

    sendo resultantes da atuao hierarquizada prpria da Administrao Pblica.

    O Governo e a Administrao atuam por seus rgos (entes

    despersonalizados e integrantes da estrutura da pessoa jurdica), por suas

    entidades (dotadas de personalidade jurdica) e por seus agentes (pessoas

    fsicas incumbidas do exerccio da funo pblica). A atividade administrativa

    usualmente exercida pela prpria entidade que a titulariza, mas, por vezes,

    pode ser exercida em regime de comunho de interesses de mais de uma

    entidade estatal (como ocorre com a gesto associada de servios pblicos,

    por meio de consrcios e convnios), como pode se dar por ato ou contrato

    que transfere a execuo para pessoas fsicas ou jurdicas estranhas

    Administrao ( o que se passa com as concesses, permisses,

    delegaes de servios pblicos).

    A Administrao executa funes administrativas que se vinculam

    satisfao do interesse pblico e, por isso, seus atos, por vezes, podem ser

    impostos coercitivamente e independentemente de anuncia dos

    destinatrios ou mesmo revelia de prvia autorizao judicial. So atos

    que, quando executados, revelam as prerrogativas da Administrao, os

    chamados poderes administrativos. Os trs Poderes do Estado tambm no

    se confundem com os poderes administrativos; aqueles so estruturais e

    estes meramente instrumentais da Administrao. II. 1.3 Administrao Pblica

    Em sentido amplo, a Administrao Pblica o conjunto de

    entidades e de rgos incumbidos de realizar a atividade administrativa

    visando satisfao das necessidades coletivas e segundo os fins

    desejados pelo Estado.

    A doutrina menciona Administrao e administrao, conforme se

    refira ao exerccio da atividade administrativa (em minscula), ou ao prprio

    Estado (em maisculas).

    A atividade administrativa, frisa-se, pode ser entendida como a gesto

    dos interesses qualificados da comunidade pela necessidade, utilidade ou

    convenincia de sua realizao e marcados pela conjugao de dois

    princpios caracterizadores do regime jurdico-administrativo: supremacia do

    interesse pblico e indisponibilidade do interesse pblico.

  • 10

    A Administrao Pblica est subordinada aos princpios de direito

    administrativo e, em especial, aos princpios bsicos institudos no art. 37,

    caput, da Constituio Federal (legalidade, impessoalidade, moralidade,

    publicidade e eficincia), alm dos que decorrem do sistema constitucional

    (proporcionalidade, razoabilidade, segurana jurdica, etc).

    II.2 A PM NO CONTEXTO DA ADMINISTRAO PBLICA

    Antes de adentrarmos nas aes das polcias militares, propriamente

    ditas, vale uma contextualizao da Polcia Militar no tocante Administrao

    Pblica, assim abrangida pelo texto da Carta Magna:

    Art. 42. Os membros das Polcias Militares e Corpos de Bombeiros Militares, instituies organizadas com base na hierarquia e disciplina, so militares dos Estados, do Distrito Federal e dos Territrios.

    ...............................................

    Art. 144. A segurana pblica, dever do Estado, direito e responsabilidade de todos, exercida para a preservao da ordem pblica e da incolumidade das pessoas e do patrimnio, atravs dos seguintes rgos:

    I - polcia federal;

    II - polcia rodoviria

    federal; III - polcia

    ferroviria federal; IV -

    polcias civis;

    V - polcias militares e corpos de

    bombeiros militares. (...)

    5 - s polcias militares cabem a polcia ostensiva e a preservao da ordem pblica; aos corpos de bombeiros militares, alm das atribuies definidas em lei, incumbe a execuo de atividades de defesa civil.

    6 - As polcias militares e corpos de bombeiros militares, foras auxiliares e reserva do Exrcito, subordinam-se, juntamente com as polcias civis, aos Governadores dos Estados, do Distrito Federal e dos Territrios.

    Os militares abrangem as pessoas fsicas que prestam servios s

    Foras Armadas - Marinha, Exrcito e Aeronutica e s Polcias Militares e

  • 11

    Corpos de Bombeiros Militares dos Estados, Distrito Federal e dos Territrios,

    com vnculo estatutrio sujeito a regime jurdico prprio, mediante

    remunerao paga pelos cofres pblicos.

    At a Emenda Constitucional n 18/98, eram considerados servidores

    pblicos. A partir dessa Emenda, ficaram excludos da categoria, s lhes

    sendo aplicveis as normas referentes aos servidores pblicos quando

    houver previso expressa nesse sentido. Seu regime estatutrio, porque

    estabelecido em lei a que se submetem independentemente de contrato.

    Esse regime jurdico definido por legislao prpria dos militares, que

    estabelece normas sobre ingresso, limites de idade, estabilidade,

    transferncia para a inatividade, direitos, deveres, remunerao,

    prerrogativas.

    Por fim, como vimos, a Administrao Pblica , em sentido amplo,

    o conjunto de entidades e de rgos incumbidos de realizar a atividade

    administrativa visando satisfao das necessidades coletivas e segundo

    os fins desejados pelo Estado. Neste particular, a Polcia Militar insere-se

    como rgo do Poder Executivo dos Estados, do Distrito Federal e dos

    Territrios, cabendo-lhe o papel precpuo de preservao da ordem pblica

    e da incolumidade das pessoas e do patrimnio.

    II. 2.1 Das aes das Polcias Militares

    O ordenamento jurdico anterior atual Constituio, j garantia o

    amplo conjunto de ao das polcias militares, ao atribuir a competncia de

    polcia da manuteno da ordem pblica.

    H de se compreender a Ordem Pblica para identificao de sua

    destinao institucional, dentro do ramo do Direito Administrativo, o qual

    tambm estuda o Poder de Polcia e suas modalidades.

    Ordem Pblica, sob duas significaes. Ora como designativa de

    parmetros basilares de comportamento social, ora diz com o clima de

    equilbrio e paz indispensvel convivncia do dia-a-dia. Sendo ambas

    cogitadas pelo Direito Administrativo, mas, sobretudo, no que tange a

    ordem pblica como condio de paz para realizao dos objetivos do

    Estado e do seu papel perante a sociedade.

    Este ponto relaciona de imediato a ordem pblica com a atividade

    policial, em razo da necessidade do estado de paz e harmonia.

    Dentro desta tica, verifica-se que a ordem pblica abrange a

    segurana, a tranquilidade e a salubridade, ou tudo que cause alterao da

    estabilidade, da paz e da harmonia social, que atente contra as pessoas e

    os bens, dando ampla abrangncia para atuao estatal, mas que

    obviamente deve sujeitar-se a limites afim de se evitar o arbtrio.

    Pode-se dizer que a polcia de manuteno da ordem pblica a

    que se destina a impedir os atos individuais ou coletivos que atentem contra

    a segurana interna, as atividades lcitas, os bens pblicos ou particulares, a

  • 12

    sade e o bem-estar das populaes, e a vida dos cidados, mantendo a

    situao de garantia e normalidade que o Estado assegura, ou deva

    assegurar, a todos os membros da sociedade. Essa misso precpua da

    fora pblica, hoje denominada Polcia Militar.

    A Constituio vigente ampliou o campo de atuao das polcias

    militares ao lhe atribuir a Polcia Ostensiva e a Preservao da Ordem

    Pblica. O termo Polcia Ostensiva foi utilizado ao invs de policiamento

    ostensivo, e antiga designao de manuteno foi substituda por

    Preservao da Ordem Pblica.

    O fundamento constitucional positivado no art. 144 estabelece o dever

    do Estado na Segurana Pblica e o direito e responsabilidade de todos os

    cidados, definindo a competncia rgos da administrao federal,

    estadual e municipal, sendo a Polcia Militar responsvel pela Polcia

    Ostensiva e Preservao da Ordem Pblica.

  • 13

    UNIDADE DIDTICA III

    Princpios do Direito Administrativo: Princpios constitucionais implcitos, Princpios constitucionais explcitos, outros princpios da Administrao Pblica. III.1 PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS EXPLCITOS

    A atuao da Administrao Pblica est subordinada aos princpios

    constitucionais previstos no art. 37, seno vejamos:

    Art. 37 A administrao pblica direta e indireta de qualquer dos

    Poderes da Unio, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municpios

    obedecer aos princpios de legalidade, impessoalidade, moralidade,

    publicidade e eficincia e, tambm, ao seguinte: (Redao dada pela

    Emenda Constitucional n 19, de 1998)

    III. 1.1 Legalidade

    O princpio da legalidade essencial no Estado de Direito, haja vista

    reger-se pelas normas, caracterizando a submisso do Estado ao imprio da

    Constituio e das leis.

    A legalidade pode ser compreendida em duas vertentes, conforme o

    foco no direito pblico ou no direito privado. No setor privado as pessoas

    podem fazer tudo aquilo que no for proibido em lei, enquanto no setor publico

    s pode ser feito aquilo que estiver fundado em lei. A omisso da lei no setor

    privado significa liberdade, e no pblico significa proibio.

    Ressalta-se, a A dministrao Pblica s pode fazer o que a lei

    permite. No vigora no direito administrativo o princpio da autonomia da

    vontade, o qual permite seja feito tudo o que a lei no probe. O que no est

    na lei no pode ser feito.

    III. 1.2 Impessoalidade

    A impessoalidade reporta a imparcialidade, que se volta ao ideal de um

    tratamento igualitrio aos cidados por parte do Estado. Pode-se compreender

    seu contedo a partir de dois aspectos.

    Primeiramente, verifica-se que a atuao da Administrao deve ser

    impessoal, genrica, e voltada finalidade de atender ao interesse pblico.

    Por outro lado, pode tambm ser compreendida sob a tica da

    imputao que direcionada ao rgo ou entidade jurdica e no ao agente

    pblico com pessoa fsica.

    III.1.3 Moralidade

  • 14

    Por exigncia constitucional, os atos praticados pela Administrao

    devem seguir a orientao concomitante da legalidade e da moralidade. No

    basta que o ato administrativo seja legal, ela ainda deve ser moral.

    O direito moderno tornou-se mais exigente quanto ao controle dos atos

    sob a vertente da moralidade, que se norteia por valores como a tica, a boa-

    f, a lealdade, a honestidade, os bons costumes e outros.

    Esta moralidade no aquela comum, mas prpria da Administrao

    Pblica, que diz respeito forma correta de praticarem os seus atos, voltando-

    se ao dever de boa administrao.

    Assim, a atuao administrativa deve obedecer moral, aos bons

    costumes, aos princpios de justia, equidade e ideia de honestidade. A boa

    administrao moral.

    A Lei 9784/99 prev o princpio da moralidade no art. 2, caput, como

    um dos princpios a que se obriga a Administrao Pblica; e, no pargrafo

    nico, inciso IV, exige atuao segundo padres ticos de probidade, decoro

    e boa-f.

    Tanto o ato ilegal como o imoral so passveis de controle pelo Poder

    Judicirio. Embora no se identifique com a legalidade, a imoralidade

    administrativa produz efeitos jurdicos, porque acarreta a invalidade do ato,

    que pode ser decretada pela prpria administrao ou pelo Poder Judicirio.

    III. 1.4 Publicidade

    A publicidade na Administrao Pblica requisito essencial para

    caracterizar sua transparncia. O Princpio da publicidade vem consagrado no

    art. 37 da CF que exige ampla divulgao dos atos praticados pela

    Administrao, ressalvadas as hipteses de sigilo previstas em lei. Na

    verdade, a publicidade dos atos acaba sendo limitada pela Constituio

    quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem (art.5, LX);

    quando necessrio ao exerccio profissional (art. 5, XIV) e quando o sigilo

    for imprescindvel segurana da sociedade e do Estado (art. 5, XXXIII).

    Este princpio imprescindvel para que toda a coletividade saiba se

    a Administrao respeitou ou no os demais princpios.

    A publicidade est vinculada ao princpio da impessoalidade. Art. 37,

    1 da CF: A publicidade dos atos, programas, obras, servios e

    campanhas dos rgos pblicos dever ter carter educativo, informativo ou

    de orientao social, dela no podendo constar nomes, smbolos ou imagens

    que caracterizem promoo pessoal de autoridades ou servidores.

    Isso uma limitao formal publicidade: no podem ser divulgados

    nomes, imagens, smbolos que caracterizem promoo pessoal. Alm disso,

    a CF clara, a publicidade no pode ter outro carter que no o educativo, o

    informativo ou de orientao social.

    A publicidade condio de eficcia dos atos e contratos

    administrativos. No que tange a questo da eficcia, os atos s produzem

  • 15

    seus efeitos a partir da publicao, que pode ser interna ou externa, conforme

    o alcance proporcionado pela atuao da Administrao. No basta que o ato

    seja registrado, pois necessria a visibilidade para proporcionar condies

    de controle.

    III.1.5 Eficincia

    O princpio da eficincia foi acrescido aos anteriores, na Constituio

    Federal de 1988, por intermdio da emenda constitucional n 19. o mais

    moderno princpio da funo administrativa, que j no se contenta em ser

    desempenhada apenas com legalidade, exigindo resultados positivos para o

    servio pblico e satisfatrio atendimento das necessidades da comunidade e

    de seus membros.

    Segundo Hely Lopes Meirelles, a eficincia o que se impe a todo

    agente pblico de realizar suas atribuies com presteza, perfeio e

    rendimento funcional.

    Pela eficincia deve-se buscar que o agente no atue de forma

    amadorstica, mas profissional, voltando a devida ateno formao e ao

    aperfeioamento tcnicos dos agentes pblicos, orientando a Administrao a

    adequar-se aos padres modernos de gesto.

    III. 2 PRINCPIOS CONSTITUCIONAIS IMPLCITOS

    III. 2.1 Razoabilidade

    o uso do bom senso. Na verdade, uma limitao

    discricionariedade administrativa, ampliando-se o mbito de apreciao do ato

    administrativo pelo Poder Judicirio. A deciso discricionria do funcionrio

    ser ilegtima, apesar de no transgredir nenhuma norma concreta e

    expressa, se irrazovel.

    Para Diogo de Figueiredo Moreira Neto, deve haver uma relao de

    pertinncia entre oportunidade e convenincia, de um lado, e finalidade, de

    outro. o agir de maneira mais adequada e compatvel para atingir a

    finalidade pblica. o bom senso que deve nortear a escolha de uma das

    solues possveis no ato discricionrio, compatibilizando a soluo mais

    oportuna e conveniente com a finalidade pblica especfica do ato a ser

    praticado.

    III. 2.2 Proporcionalidade

    algo mais que a razoabilidade. a proporo entre os meios de

    que se utiliza a Administrao e os fins que ela tem que alcanar.

    ele que permite fazer o sopesamento dos princpios e direitos

  • 16

    fundamentais, bem como dos interesses e bens jurdicos em que se

    expressam, quando se encontram em estado de contradio, solucionando-a

    de forma que maximize o respeito a todos os envolvidos no conflito.

    importante que se destaque que a prevalncia de um direito sobre outro no

    depender de uma valorao prvia e abstrata dos interesses envolvidos

    (como se houvesse uma "escala de importncia" entre eles), mas sim das

    condies especficas de cada caso em particular.

    A importncia do princpio em pauta vem sendo progressivamente

    reconhecida pela doutrina e jurisprudncia ptrias, que cada vez mais tem

    dele se valido como mecanismo indispensvel soluo de controvrsias

    envolvendo as normas de direitos fundamentais.

    III. 2.3 Segurana Jurdica

    A idia de perpetuidade orienta o princpio da segurana jurdica. Busca-

    se a estabilidade das relaes jurdicas decorrentes da atuao da

    Administrao Pblica, evitando a insegurana que pode ser causada pelas

    mudanas freqentes no sistema poltico e administrativo dos entes federados.

    A proteo constitucional dada ao ato jurdico perfeito, ao direito

    adquirido e coisa julgada, assim como o instituto da prescrio, exemplificam

    os instrumentos de garantia do princpio da segurana jurdica, que estabelece

    restries ao poder de auto-tutela da Administrao Pblica.

    Tendo em vista que os princpios orientam a atuao da Administrao

    Pblica, sua inobservncia pode gerar irregularidades ou vcios nos atos

    administrativos, ensejando o seu controle e invalidao.

    Registra-se oportuno destacar que aos agentes pblicos que praticam

    atos irregulares e viciados podem ser atribudas as responsabilidades

    administrativa, penal e civil, remanescendo, em alguns casos, a improbidade

    administrativa.

    III.2.4 Princpio da Cortesia

    O princpio da cortesia sinnimo de urbanidade no tratamento. Noutro

    falar, significa o trato educado para com o pblico, "devido pelos prestadores,

    diretos ou indiretos, aos usurios no mera exigncia do bom convvio social,

    mas um dever legal, de assento constitucional (art. 37, 3), uma vez que os

    destinatrios so, em ltima anlise, os senhores dos servios pblicos." O

    dispositivo constitucional supramencionado dispe que o usurio poder

    prestar reclamao caso constate que o agente da Administrao desobedeceu

    aos princpios elencados, ou seja, houve uma prestao de servio pblico

    precria:

    Dinor Adelaide Musetti Grotti cenceitua o princpio da cortesia como o

    "bom acolhimento ao pblico, constituindo-se em um dever do agente, da

  • 17

    Administrao Pblica ou dos gestores indiretos e, em especial, um direito do

    cidado".

    III. 3 OUTROS PRINCPIOS DE DIREITO ADMINISTRATIVO

    III. 3.1 Supremacia do Interesse Pblico/Finalidade Pblica

    Deve estar presente tanto na elaborao da lei como no momento da

    execuo em concreto pela Administrao Pblica. Inspira o legislador e

    vincula o administrador.

    A Administrao Pblica, quando se deparar com uma situao em que

    h conflitos de interesses, havendo de um lado o interesse da coletividade e

    de outro o particular dar preponderncia ao interesse coletivo. a vontade

    geral sobre a vontade egoisticamente considerada. esse princpio que

    justifica todas as prerrogativas da administrao e a sua condio de

    superioridade sobre os particulares. Entretanto, tais prerrogativas e

    superioridade no podem servir de fundamento s arbitrariedades e ao

    desrespeito dignidade da pessoa humana.

    III. 3.2 Indisponibilidade do Interesse Pblico

    Embora o princpio da supremacia do interesse pblico favorea a

    Administrao com um patamar de superioridade em face dos administrados,

    tambm lhe exige maiores cuidados e obedincia a inmeras formalidades,

    tendo em vista que essa atuao deve ocorrer nos limites da lei, no

    podendo esse interesse ser livremente disposto pelo administrador. Assim, o

    princpio da indisponibilidade serve para limitar a atuao do agente pblico,

    revelando-se um contrapeso superioridade descrita no princpio da

    supremacia, podendo se afirmar que, em nome da supremacia do interesse

    pblico, o Administrador pode muito, pode quase tudo, mas no pode abrir

    mo do interesse pblico.

    III.3.4 Autotutela

    Aqui fala-se de controle sobre os prprios atos da Administrao, com

    a possibilidade de anular os ilegais e revogar os inconvenientes ou

    inoportunos, independentemente de recurso ao Poder Judicirio. A

    Administrao est submetida lei, logo, cabe-lhe o controle da legalidade.

    Smula 346 do STF: A Administrao Pblica pode declarar a nulidade

    dos seus prprios atos.

    Smula 473 do STF: A Administrao pode anular os seus prprios

  • 18

    atos, quando eivados de vcios que os tornem ilegais, porque deles no se

    originam direitos; ou revog-los, por motivo de convenincia ou oportunidade,

    respeitados os direitos adquiridos, e ressalvada, em todos os casos, a

    apreciao judicial.

    O art. 53 da lei 9784/99 deu uma melhorada na redao desta smula

    e proclamou que: Art. 53. A Administrao deve anular seus prprios atos, quando

    eivados de vcio de legalidade, e pode revoga-los por motivo de

    convenincia ou oportunidade, respeitados os direitos adquiridos.

    (grifei)

    Tambm se fala em autotutela para designar o poder que tem a

    Administrao, por meio de medidas de polcia administrativa, impedir

    quaisquer atos que ponham em risco a conservao de seus bens.

    III. 3.5 Continuidade do Servio Pblico

    O servio pblico, por designar funes essenciais ou necessrias coletividade, no pode parar. Dele decorre:

    a) Proibio de greve nos servios pblicos (vedao que foi abrandada pela nova redao do art. 37, inciso VII da CF);

    b) Impossibilidade de o contratado invocar contra a Administrao contratante a exceptio non adimpleti contractus (exceo de contrato no cumprido) nos contratos de execuo de servio pblico;

    c) Faculdade de a administrao utilizar os equipamentos e instalaes da empresa que com ela contrata para assegurar a continuidade do servio pblico;

    d) Possibilidade de encampao (retomada) da concesso do servio pblico.

    III. 3.6 Motivao

    O princpio da motivao exige que a Administrao Pblica indique

    os fundamentos de fato e de direito de suas decises. A sua obrigatoriedade

    se justifica em qualquer tipo de ato, porque se trata de formalidade

    necessria para permitir o controle de legalidade dos atos administrativos.

    A necessidade de motivao no est mais relacionada

    discricionariedade ou vinculao do ato administrativo.

    A regra, hoje, a motivao de todos os atos administrativos, sejam

    discricionrios ou vinculados, exceto aqueles que a prpria lei dispensa a

    motivao.

    A motivao a indicao dos pressupostos de fato e de direito que

    determinam a deciso. De acordo com o art. 50 da Lei 9784/99, a motivao

    a indicao dos fatos e fundamentos jurdicos, isto , a justificativa para a

    prtica do ato e obrigatria quando os atos afetem direitos ou interesses

    individuais arrolados nos incisos do art.50.

  • 19

    UNIDADE DIDTICA IV

    Poderes Administrativos: poder vinculado, poder discricionrio, poder hierrquico, poder disciplinar, poder regulamentar e poder de polcia com maior nfase. IV.1 PODERES ADMINISTRATIVOS Para bem atender ao interesse pblico, a Administrao dotada

    de poderes administrativos distintos dos poderes polticos consentneos

    e proporcionais aos encargos que lhes so atribudos. Tais poderes so

    verdadeiros instrumentos de trabalho, adequados realizao das tarefas

    administrativas. Da o serem considerados poderes instrumentais,

    diversamente dos poderes polticos, que so estruturais e orgnicos, porque

    compem a estrutura do Estado e integram a organizao constitucional.

    Feitas estas consideraes de ordem geral, vejamos,

    destacadamente, cada um desses poderes administrativos.

    IV. 1.1 Poder Vinculado

    A Administrao no liberta da absoluta influncia da lei,

    significando que a sua atuao somente lcita se conforme ou

    correspondente ao comando legal. A atividade administrativa ser vinculada,

    assim, se o regramento legal impuser todas ou quase todas as exigncias

    para a atuao, ordenando a competncia, a finalidade, o motivo e o objeto de

    forma impositiva e cogente.

    Esse poder na realidade encerra a ideia de restrio, que significa estar

    a Administrao, em suas atribuies, sujeita lei em praticamente todos os

    aspectos1. O legislador, nessa hiptese, preestabelece todos os requisitos do

    ato administrativo, de tal forma que, estando eles presentes, no cabe

    autoridade administrativa seno edit-los, sem apreciao de aspectos

    concernentes oportunidade, convenincia, interesse pblico, que foram

    previamente valorados pelo legislador. No deixa margem de liberdade para

    sua atuao. Deve seguir fielmente a lei. O agente ao praticar ato, nesta

    vinculao, limita-se a reproduzir os elementos da lei que os compem.

    Um exemplo a ser observado no poder vinculado, o cumprimento das normas

    relativas s obrigaes e deveres, direitos e prerrogativas dos Policiais

    Militares, no Estatuto da PMES, Lei 3.196/78.

    1 DI PIETRO, Maria Sylvia Zanella. Direito Administrativo. 24. ed. So Paulo: Atlas, 2011, p

    86..

  • 20

    IV. 1.2 Poder Discricionrio

    Como contraposto da atividade inteiramente vinculada lei, h

    situaes em que o legislador faz contemplar alguma liberdade para o

    administrador, concedendo-lhe a discricionariedade. O poder discricionrio

    exercido sempre que a atividade administrativa resultar da opo, permitida

    pela lei, realizada pelo administrador.

    Discricionariedade absoluta, porm, no h. A atividade

    administrativa est sempre vinculada ao fim a que se destina e a eleio de

    opes somente decorre de concesso legal. Como resultante desse poder, o

    agente elege a opo que melhor atende ao interesse pblico no caso

    concreto, e somente assim agir se a lei expressamente contemplar mais de

    uma possibilidade de ao.

    Da discricionariedade resulta ao administrador liberdade para, na

    forma da lei, decidir quanto convenincia e oportunidade da atuao

    administrativa. O agente pblico, assim, quem deve decidir, em razo da

    situao ftica ou jurdica, como e em que momento deve atuar, fazendo-o

    para melhor alcanar o fim exigido em lei. A discricionariedade tanto pode ser

    expressamente concedida em lei como pode decorrer do emprego de

    conceitos jurdicos indeterminados utilizados pelo legislador.

    Um exemplo a ser observado na Polcia Militar o ato administrativo de

    abordagem policial, que no uso do atributo, discricionariedade do poder de

    polcia, traduz-se na livre escolha, da oportunidade e convenincia. Isto ,

    adequao da conduta escolhida pelo policial militar finalidade que a lei

    expressa. Discricionariedade no arbitrariedade, e, sua conduta se

    caracteriza como inteiramente legtima.

    IV.1.3 Poder Hierrquico

    o de que dispe o Executivo para distribuir e escalonar as funes

    de seus rgos, ordenar e rever a atuao de seus agentes, estabelecendo

    a relao de subordinao entre os servidores do seu quadro pessoal. Poder

    hierrquico e poder disciplinar no se confundem, mas andam juntos, por

    serem os sustentculos de toda a organizao administrativa.

    Hierarquia a relao de subordinao existente entre os vrios

    rgos e agentes do Executivo, com a distribuio de funes e a gradao

    da autoridade de cada um.

    O poder hierrquico tem por objetivo ordenar, coordenar, controlar e

    corrigir as atividades administrativas, no mbito interno da Administrao

    Pblica.

    Ordena as atividades da Administrao, repartindo e escalonando as

    funes entre os agentes do Poder.

    Coordena, entrosando as funes no sentido de obter o funcionamento

    harmnico de todos os servios.

    Controla, velando pelo cumprimento da lei e das instrues e

  • 21

    acompanhando a conduta e o rendimento de cada servidor.

    Corrige os erros administrativos, pela ao revisora dos superiores

    sobre os atos dos inferiores.

    Deste modo, a hierarquia atua como instrumento de organizao e

    aperfeioamento do servio e age como meio de responsabilizao dos

    agentes administrativos, impondo-lhes o dever de obedincia.

    Pela hierarquia se impe ao subalterno a estrita obedincia das

    ordens e instrues legais superiores e se define a responsabilidade de cada

    um. As determinaes superiores devem ser cumpridas fielmente, sem

    ampliao ou restrio, a menos que sejam manifestamente ilegais.

    O respeito hierrquico no vai a ponto de suprimir, no subalterno, o

    senso do legal e do ilegal, do lcito e do ilcito. Da no lhe ser lcito discutir ou

    deixar de cumprir ordens seno quando se apresentarem manifestamente

    ilegais.

    Descumprindo-as ou retardando-as na execuo, poder o servidor

    relapso incorrer no s em falta disciplinar como, tambm, em crime funcional

    (prevaricao), previsto e definido no art. 319 do CP.

    Do poder hierrquico decorrem faculdades implcitas para o superior,

    tais como a de dar ordens e fiscalizar o seu cumprimento, a de delegar e

    avocar atribuies e a de rever os atos dos inferiores.

    Dar ordens determinar, especificamente, ao subordinado os atos a

    praticar ou a conduta a seguir em caso concreto.

    Fiscalizar vigiar permanentemente os atos praticados pelos

    subordinados, com o intuito de mant-los dentro dos padres legais

    regulamentares institudos para cada atividade administrativa.

    Delegar conferir a outrem atribuies que originariamente competiam

    ao delegante. O que no se admite, no nosso sistema constitucional, a

    delegao de atribuies de um Poder a outro, como tambm no se

    permite delegao de atos de natureza poltica, como a do poder de tributar,

    a sano e o veto de lei.

    Avocar chamar para si as funes originariamente atribudas a um

    subordinado

    Rever atos de inferiores hierrquicos apreciar tais atos em todos os

    seus aspectos, para mant-los ou invalid-los, de ofcio ou mediante

    provocao do interessado. A reviso hierrquica possvel enquanto o ato

    no se tornou definitivo para a Administrao Pblica, ou no criou direito

    subjetivo para o particular (CF, art. 5, XXXVI; Smula 473 do STF).

    IV.1.4 Poder Disciplinar

    a faculdade de punir internamente as infraes funcionais dos

    servidores e demais pessoas sujeitas disciplina dos rgos e servios da

    Administrao.

  • 22

    O poder disciplinar correlato com o poder hierrquico, mas com ele

    no se confunde. No uso do poder hierrquico, a Administrao Pblica

    distribui e escalona suas funes executivas; no uso do poder disciplinar ela

    controla o desempenho dessas funes e a conduta interna de seus

    servidores, responsabilizando-os pelas faltas cometidas.

    No se deve confundir o poder disciplinar da Administrao com o

    poder punitivo do Estado, realizado atravs da Justia Penal. O poder

    disciplinar exercido como faculdade punitiva interna da Administrao e, por

    isso mesmo, s abrange as infraes relacionadas com o servio; a punio

    criminal aplicada com finalidade social, visando represso de crimes e

    contravenes definidas nas leis penais, e por esse motivo realizada fora da

    Administrao ativa, pelo Poder Judicirio.

    Por outras palavras, a mesma infrao pode dar ensejo a punio

    administrativa (disciplinar) e a punio penal (criminal), porque aquela

    sempre um minus em relao a esta. Da resulta que toda condenao

    criminal por delito funcional acarreta a punio disciplinar, mas nem toda falta

    administrativa exige sano penal.

    A aplicao de pena disciplinar tem para o superior hierrquico o

    carter de um poder- dever, uma vez que a condescendncia na punio

    considerada crime contra a Administrao Pblica.

    As sanes disciplinares, a qu e o p o l i c i a l m i l i t a r e s t

    su je i t o , e s t o p re v i s t a s n o Re g u la m e n t o D i sc i p l i n a r d o s

    M i l i t a re s E s t a d u a i s (De c . 2 5 4 -R / 2 0 0 0 ) . So de seis espcies,

    enumerando-se nesta ordem crescente de gravidade:

    advertncia;

    repreenso;

    deteno;

    reforma disciplinar;

    licena a bem da disciplina;

    Excluso a bem da disciplina;

    Demisso.

    A enumerao das penas em ordem crescente de gravidade no

    quer dizer que o superior tenha que comear sempre pela mais branda para

    atingir a mais rigorosa.

    A apurao regular da falta disciplinar indispensvel para a

    legalidade da punio interna da Administrao. O discricionarismo do poder

    disciplinar no vai a ponto de permitir que o superior hierrquico puna

    arbitrariamente o subordinado. Dever, em primeiro lugar, apurar a falta, pelos

    meios legais compatveis com a gravidade da pena a ser imposta, dando-se

    oportunidade de defesa ao acusado. Sem o atendimento desses dois

    requisitos a punio ser arbitrria (e no discricionria), e, como tal,

    ilegtima e invalidvel pelo Judicirio.

    A motivao da punio disciplinar sempre imprescindvel para a

    validade da pena.

  • 23

    A motivao destina-se a evidenciar a conformao da pena com a falta

    e permitir que se confira a todo tempo realidade e a legitimidade dos atos ou

    fatos ensejadores da punio administrativa.

    IV. 1.5 Poder Regulamentar

    a faculdade de que dispem os Chefes de Executivo (Presidente da

    Repblica, Governadores e Prefeitos) de explicar a lei para a sua correta

    execuo, ou de expedir decretos autnomos sobre matria de sua

    competncia ainda no disciplinada por lei. um poder inerente e privativo

    do Chefe de Executivo (CF, art. 84, IV), e, por isso mesmo, indelegvel a

    qualquer subordinado.

    Regulamento o ato administrativo geral e normativo, expedido

    privativamente pelo Chefe do Executivo (federal, estadual ou municipal),

    atravs de decreto, com o fim de explicar o modo e forma de execuo da

    lei (regulamento de execuo) ou prover situaes no disciplinadas em lei

    (regulamento autnomo ou independente).

    Nem toda lei depende de regulamento para ser executada, mas toda

    e qualquer lei pode ser regulamentada se o Executivo julgar conveniente faz-

    lo. Sendo o regulamento, na hierarquia das normas, ato inferior lei, no a

    pode contrariar, nem restringir ou ampliar suas disposies.

    O Poder Regulamentar ou Normativo possibilita, tambm, Administrao Pblica editar normas complementares lei, por meio de portarias, deliberaes e outros atos normativos, no entanto, vale observar que a Administrao, via de regra, no lcito inovar em matria de lei.

    IV. 1.6 Poder de Polcia

    Segundo Hely Lopes Meirelles Poder de polcia a faculdade de que

    dispe a Administrao Pblica para condicionar e restringir o uso e gozo de

    bens, atividades e direitos individuais em benefcio da coletividade ou do

    prprio Estado.

    Para Celso Antonio Bandeira de Mello, o poder de polcia a

    atividade da Administrao Pblica expressas em atos normativos ou

    concretos, de condicionar, com fundamento em sua supremacia geral e na

    forma da lei, a liberdade e a propriedade dos indivduos, mediante ao ora

    fiscalizadora, ora preventiva, ora repressiva, impondo coercitivamente aos

    particulares um dever de absteno (non facere) a fim de conformar-lhes os

    comportamentos aos interesses sociais consagrados no sistema normativo.

    Alm dos conceitos e entendimentos apresentados, torna-se

    imprescindvel enunciar a regra do ordenamento jurdico brasileiro prevista no

    artigo 78 do Cdigo Tributrio Nacional para consubstanciar o entendimento

    do tema, in verbis:

  • 24

    Art. 78. Considera-se poder de polcia a atividade da administrao pblica que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prtica de ato ou absteno de fato, em razo de interesse pblico concernente segurana, higiene, ordem, aos costumes, disciplina da produo e do mercado, ao exerccio de atividades econmicas dependentes de concesso ou de autorizao do Poder Pblico, tranquilidade pblica e ao respeito propriedade e aos direitos individuais ou coletivos. Pargrafo nico. Considera-se regular o exerccio do poder de polcia quando desempenhado pelo rgo competente nos limites da lei aplicvel, com observncia do processo legal e, tratando-se de atividade que a lei tenha como discricionria, sem abuso ou desvio de poder.

    O Cdigo Tributrio Nacional define o poder de polcia como atividade

    administrativa que limita ou disciplina direitos e liberdades, em razo do

    interesse pblico que abrange segurana, tranqilidade e salubridade, por

    intermdio da regular atuao dos rgos competentes, nos limites da lei,

    respeitando o devido processo legal, e nos casos discricionrios, sem abuso ou

    desvio de poder.

    Em princpio, tem competncia para policiar a entidade que dispe do

    poder de regular a matria. Assim sendo, os assuntos de interesse nacional

    ficam sujeitos regulamentao e policiamento da Unio; as matrias de

    interesse regional sujeitam- se s normas e polcia estadual, e os assuntos

    de interesse local subordinam-se aos regulamentos edilcios e ao policiamento

    administrativo municipal.

    O ato de polcia um simples ato administrativo, apenas com algumas

    peculiaridades. Como todo ato administrativo, o ato de polcia subordina-se ao

    ordenamento jurdico que rege as demais atividades da Administrao,

    sujeitando-se, inclusive, ao controle de legalidade pelo Poder Judicirio.

    A amplitude alcanada pelo tema em questo conduz necessidade de

    realizar a sua delimitao didtica, em razo das diversas modalidades de

    poder de polcia que existem, e que variam de acordo com a esfera de

    competncia definida legalmente para cada rgo estatal, a exemplo dos

    rgos policiais, que exercem principalmente a polcia de segurana, de

    trnsito, de meio ambiente etc.

    IV.1.6.1 A Polcia Militar e o Poder de Polcia

    Para compreender a utilizao do poder de polcia pela Polcia Militar,

    necessrio se faz entender a amplitude da misso da Corporao. A CF/88

    atribuiu as Polcias Militares a preservao da ordem pblica. A ordem pblica

    pode ser entendida, como j foi dito alhures, sob trs aspectos, quais sejam:

  • 25

    segurana, salubridade e tranquilidade pblica. Deve-se, ainda, ter em mente

    que quem responsvel por manter a ordem pblica, tambm responsvel

    por restaur-la imediatamente, quando ela for quebrada.

    Geralmente, o poder de polcia administrativo exercido de forma

    preventiva e quando exercido de forma repressiva decorre de um ilcito

    administrativo. A Polcia Militar ao realizar o policiamento ostensivo, nas suas

    mais diversas modalidades, e ao efetuar abordagens policiais de rotina,

    util iza-se do poder de polcia administrativo, pretendendo evitar a

    quebra da ordem publica, no entanto, quando a ordem pblica, j foi

    violada atravs da ao de atos criminosos, requer uma resposta

    imediata da Polcia Militar, mesmo que essa atuao seja motivada

    por um ilcito penal, atuar repressivamente para efetuar a deteno

    dos infratores da lei e restaurar a ordem pblica .

    Oportuno distinguir o poder de polcia administrativo do poder

    de polcia judiciria. Este repressivo, pois se manifesta aps um

    ilcito penal, atravs das polcias: federal e civil, para apurao do

    crime, visando responsabilizao dos infratores da ordem jurdica.

    A questo central do poder de polcia reside na harmonizao dos

    princpios da liberdade e da autoridade, por intermdio da ponderao de

    interesses conflitantes, quando os indivduos produzam ou possam produzir

    alteraes na ordem pblica, ameaando a salubridade, a tranquilidade ou a

    segurana, e assim apresente motivos que fundamentam e autorizam o ato de

    polcia de polcia de segurana para manuteno da ordem pblica.

    Um exemplo disso aconteceu, recentemente, no Estado do Esprito

    Santo, quando eclodiu uma onda de manifestaes pblicas, decorrentes,

    inicialmente, da insatisfao popular com a tarifa de pedgio da terceira ponte.

    Algumas dessas manifestaes ocorreram de forma a cercear outros direitos

    fundamentais da populao, e outras, terminaram em depredao do

    patrimnio pblico e privado, levando a uma ao concreta do Estado, atravs

    da Polcia Militar, que utilizando do Poder de Polcia, interveio ora para

    compatibilizar os interesses conflitantes, ora para efetuar a priso dos

    depredadores, a fim de manter a ordem pblica.

    Nesse contexto, cabe ressaltar que o poder de polcia, no absoluto

    ou ilimitado, mas sim um poder que deve ser amparado quanto ao seu uso

    pela legalidade e motivao do ato. A fora quesito necessrio para a polcia

    cumprir sua funo constitucional de preservao da ordem pblica, seu

    excesso, no entanto, punvel, como por exemplo, abusar do uso de algemas,

    e do uso de spray de pimenta.

    Assim, o exerccio do poder de polcia deve ser balizado pelos seus

    atributos que so a discricionariedade, a auto-executoriedade e a

    coercibilidade, objeto de anlise a seguir.

  • 26

    IV.1.6.2 Atributos do Poder de Polcia

    Essencial trazer baila os atributos do Poder de Polcia, que so a auto-executoriedade, a coercibilidade e a discricionariedade, pois estruturam e garantem a autoridade do ato de polcia.

    No entender de Hely Lopes Meirelles (LAZZARNI et. al., 1986, p. 150-151 passim), a auto-executoriedade a faculdade de a Administrao julgar e executar a deciso, por seus prprios meios, sem a interveno do Judicirio, sendo, portanto, necessrio que o ato de polcia atenda as exigncias legais.

    A coercibilidade a imposio coativa das medidas adotadas pela administrao, de forma imperativa, admitindo, inclusive, o emprego da fora pblica para o seu cumprimento, proporcionalmente resistncia oferecida;

    E a discricionariedade traduz-se na livre escolha, da oportunidade e convenincia de exercer o poder de polcia, bem como de aplicar sanes e empregar os meios conducentes a atingir o fim colimado, que o interesse pblico.

    No se pode confundir, entretanto, ato discricionrio, que legtimo quando nos limites da lei, com o ato arbitrrio, que ilegal por desbordante da lei, sendo que o arbtrio, por ilegalidade, abuso de autoridade, excesso ou desvio de poder, ensejam a responsabilidade administrativa, civil ou criminal.

    Analisando os atributos do Poder de Polcia, Dr. lvaro Lazzarini (1999, p. 196-197 passim) segue a mesmo raciocnio de Hely Lopes, e acrescenta que o exerccio do poder de polcia precisa se basear em fatos concretos e no em meras conjecturas da autoridade que seja competente. A par de tudo o que foi dito, podemos trazer discusso o ato de abordagem policial, como decorrente do exerccio do poder de polcia, especialmente no que tange a sua discricionariedade. Ser que a abordagem policial pode ser feita indiscriminadamente? O policial militar pode abordar qualquer pessoa?

    O art. 240 do CPP, nos d uma pista a respeito do assunto, seno vejamos:

    Art. 240. A busca ser domiciliar ou pessoal. 1

    o Proceder-se- busca domiciliar, quando fundadas razes a

    autorizarem, para: a) prender criminosos; b) apreender coisas achadas ou obtidas por meios criminosos; c) apreender instrumentos de falsificao ou de contrafao e objetos falsificados ou contrafeitos; d) apreender armas e munies, instrumentos utilizados na prtica de crime ou destinados a fim delituoso; e) descobrir objetos necessrios prova de infrao ou defesa do ru; f) apreender cartas, abertas ou no, destinadas ao acusado ou em seu poder, quando haja suspeita de que o conhecimento do seu contedo possa ser til elucidao do fato; g) apreender pessoas vtimas de crimes; h) colher qualquer elemento de convico. 2

    o Proceder-se- busca pessoal quando houver fundada

    suspeita de que algum oculte consigo arma proibida ou objetos mencionados nas letras b a f e letra h do pargrafo anterior.

    Assim, conclui-se que a discricionariedade do poder de polcia no ato de abordagem policial e limitada ao estado de fundada suspeita. Logo, no pode

  • 27

    ser feita indiscriminadamente, nem to pouco ter carter de pessoalidade, por ser a pessoa abordada, desafeto do policial militar que far a revista policial.

  • 28

    UNIDADE DIDTICA V

    Atos Administrativos: atos jurdicos, condies de validade, atributos, ato administrativo perfeito, extino, anulao e revogao.

    V.1 CONCEITO

    A Administrao Pblica realiza sua funo executiva atravs de atos

    jurdicos denominados atos administrativos. No se confundem com atos

    emanados do Legislativo ou do Judicirio, quando desempenham suas

    atribuies especficas. Embora a prtica de atos administrativos caiba, a

    princpio, aos rgos executivos, as autoridades do Judicirio e do Legislativo

    tambm os praticam de forma restrita, ao ordenarem seus prprios servios,

    dispor sobre seus servidores, etc.

    O conceito de ato administrativo baseado no de ato jurdico,

    diferenciando-se deste pela finalidade pblica. Segundo o conceito elaborado

    por Hely Lopes Meirelles, Ato administrativo toda manifestao unilateral

    da vontade da Administrao Pblica, que agindo nessa qualidade, tenha

    por fim imediato adquirir, resguardar, transferir, modificar, extinguir e

    declarar direitos, ou impor obrigaes aos administrados ou a si prpria.

    importante lembrar que condio essencial para o ato administrativo

    que a Administrao Pblica aja nessa qualidade, usando a supremacia do

    Poder Pblico.

    O ato administrativo difere do fato administrativo. Numa acepo

    tradicional, fatos administrativos so descritos como a materializao da funo

    administrativa; consubstanciam o exerccio material da atividade administrativa,

    correspondem aos denominados atos materiais. So exemplos a apreenso

    de mercadorias, a construo de uma escola pblica pela administrao, a

    limpeza de um logradouro pblico.

    Um fato administrativo, em regra, resulta de um ato administrativo (ou de

    mais de um), decorre de uma deciso ou determinao administrativa, mas

    com esta no se confunde. Exemplificando, a demolio de um prdio (fato

    administrativo) pode ser resultante de uma ordem de servio da administrao

    (ato administrativo); a edio de um decreto (ato administrativo) pode ter como

    consequncia a desapropriao de um bem particular (fato administrativo).

    Os fatos administrativos no tm por fim a produo de efeitos jurdicos,

    embora possam vir a ocorr-los. Exemplo seria a coliso entre um veculo

    oficial da administrao pblica dirigido por um agente pblico, nesta qualidade,

    e um veculo particular. Nessa hiptese, a coliso resultou de uma atuao

    administrativa e produzir efeitos jurdicos, mas no se trata de uma ato

    administrativo, porque no houve uma manifestao de vontade da

    administrao que tivesse a finalidade de produzir esses efeitos jurdicos,

    Trata-se de um fato administrativo.

    Vale notar que no se pode dizer, no exemplo acima, que o fato

    administrativo (coliso de veculo oficial) tenha resultado de um ato

    administrativo ou de uma deciso administrativa. Simplesmente, uma atuao

  • 29

    da administrao pblica trouxe em algum momento, a finalidade de produzir

    esses resultados.

    V.2 ELEMENTOS

    Para que se possa falar em ato administrativo, necessrio verificar a presena de seus elementos e requisitos ou condies de validade: competncia, finalidade, forma, motivo e objeto. A falta de qualquer desses elementos torna o ato nulo.

    Vejamos cada um desses elementos.

    V.2.1 Sujeito ou competncia

    Condio para a validade do ato. Nenhum ato pode ser realizado

    validamente sem que o agente disponha de poder legal para tal. A competncia

    resulta da lei. Todo ato emanado de agente incompetente ou realizado alm do

    limite de que dispe a autoridade competente, INVLIDO. A competncia

    um elemento vinculado, no pode ser alterado discricionariamente.

    V.2.1.1 Delegao

    Diz-se da transferncia de parcela das atribuies conferidas pela lei, de

    forma temporria, passvel de revogao a qualquer tempo, de um rgo ou

    agente pblico para outro, subordinado ou no, desde que no haja vedao

    legal.

    O artigo 13 da Lei n 9.784/99 elenca trs vedaes, a saber: 1)

    expedio de ato de carter normativo; 2) deciso de recurso administrativo; e

    3) matria de competncia exclusiva de um rgo ou agente.

    V.2.1.2 Avocao

    Ato pelo qual superior hierrquico chama para si parcela das atribuies

    de um subordinado. Da mesma forma do que ocorre na delegao, somente

    possvel em carter excepcional, em razo de motivos relevantes e

    devidamente justificados.

    V.2.1.3 Vcios do Sujeito

    So considerados vcios do sujeito: 1) o agente incapaz; 2) o desrespeito

    a regra legal; ou 3) o excesso de poder (do gnero abuso) Lei n 4.898/65.

    Ocorre excesso de poder quando o agente pblico atua fora ou alm de

    sua esfera de competncias, estabelecida em lei. O excesso de poder uma

    das modalidades de abuso de poder (a outra modalidade o desvio de

    poder, que corresponde a vcio no elemento finalidade dos atos

    administrativos).

  • 30

    Exemplo de excesso de poder: a autoridade era competente para aplicar

    a pena de suspenso, mas imps penalidade mais grave, que no de sua

    atribuio, ou quando a autoridade policial se excede no uso da fora para

    praticar ato de sua competncia.

    V.2.2 Finalidade

    A finalidade, como o prprio nome diz, o resultado mediato, o fim que

    a Administrao pretende alcanar com a prtica do ato. Podemos dizer que a

    finalidade mediata de todo ato administrativo o interesse pblico e que

    alcanada aps a prtica do ato. Assim, em sentido amplo, o interesse

    pblico; em sentido restrito, o resultado especfico que se quer atingir com o

    respectivo ato. O ato administrativo deve ser praticado unicamente para um fim

    de interesse pblico, no h ato sem um fim pblico a sustent-lo, e nulo por

    desvio de finalidade o ato praticado fora da exigncia do interesse pblico ou

    se h desvio de sua finalidade a fim de atender a um interesse privado.

    V.2.2.1 Vcios da Finalidade

    O desatendimento ao requisito da finalidade acarreta vcio insanvel do

    ato, com sua obrigatria anulao. O vcio de finalidade denominado desvio

    de poder pela doutrina, e uma das modalidades do denominado abuso de

    poder (a outra, como vimos, o excesso de poder, vcio do elemento

    competncia).

    Conforme seja desatendida a finalidade, teremos duas espcies de

    desvio de poder:

    a) O agente busca uma finalidade alheia ou contrria ao interesse pblico

    (exemplo, um ato praticado com o fim exclusivo de favorecer ou

    prejudicar algum);

    b) O agente pratica um ato condizente com o interesse pblico, mas a lei

    no prev aquela finalidade especfica para o tipo de ato praticado (por

    exemplo, a remoo de ofcio de um servidor, a fim de puni-lo por

    indisciplina; ser desvio de finalidade, ainda que a localidade para a qual

    ele foi removido necessite realmente de pessoal; isso porque o ato de

    remoo, nos termos da lei, no pode ter o fim de punir um servidor,

    mas, unicamente, o de adequar o nmero de agentes de determinado

    cargo s necessidades de pessoal das diferentes unidades

    administrativas em que esses agentes sejam lotados).

    V.1.3 Objeto

    O objeto o prprio contedo material do ato.

    O objeto do ato administrativo identifica-se com o seu contedo, por

    meio do qual a administrao manifesta sua vontade, ou atesta simplesmente

  • 31

    situao preexistentes. Pode-se dizer que o objeto do ato administrativo a

    prpria alterao no mundo jurdico que o ato provoca, o efeito jurdico

    imediato que o ato produz.

    Nesse aspecto, o objeto o que o ato enuncia, opina ou modifica. a

    aquisio, resguardo, transferncia, transformao, extino e declarao de

    direitos ou de uma determinada situao jurdica, ou a imposio de obrigaes

    ao Estado aos administrados.

    Por ser o efeito imediato do ato administrativo, diz-se o objeto o que o

    ato faz em si mesmo. o resultado prtico.

    Assim, objeto do ato de concesso de uma licena a prpria

    concesso da licena; o objeto do ato de exonerao a prpria exonerao;

    o objeto do ato de suspenso do servidor a prpria suspenso (neste caso, h

    liberdade de escolha do contedo especfico nmero de dias de suspenso -,

    dentro dos limites legais de at noventa dias, conforme valorao da gravidade

    da falta cometida).

    Percebe-se que nos exemplos acima, que o objeto indica a prpria

    alterao no mundo jurdico que o ato provoca. No ato de concesso de uma

    licena, porexemplo, a licena tem como contedo permitir que o interessado

    possa edificar na forma legtima, no ato de exonerao, a exonerao tem

    como contedo extinguir a relao jurdica entre o servidor e a Administrao,

    etc.

    Podemos utilizar, ainda, como exemplo a abordagem policial, um ato

    administrativo cujo objeto ou contedo pode ser a revista para busca e

    apreenso de armas ou objetos de corpo de delito, bem como de pessoas na

    iminncia de cometer ou que j cometeram ilcitos ou atos que alterem a ordem

    pblica.

    O objeto guarda semelhana com a finalidade, porm enquanto a

    finalidade ampla (interesse pblico) o objeto o efeito jurdico imediato

    produzido pelo ato. Em outras palavras, o objeto o efeito imediato pretendido

    para que o resultado mediato (interesse pblico) seja alcanado.

    Di Pietro ensina que o objeto deve ser lcito (de acordo com a lei),

    possvel (realizvel no mundo real e juridicamente), certo (ter destinatrios,

    efeitos, tempo e lugar certos) e moral (de acordo com padres de

    comportamento aceitos pela sociedade).

    V.2.3.1 Vcios do Objeto

    Diz-se objeto viciado quele:

    a. ilcito; b. impossvel; c. indeterminado com relao a destinatrios ou efeitos; d. imoral ou moralmente incorreto.

  • 32

    V.2.4 Motivo

    o pressuposto ftico e jurdico que d causa ao ato, ou seja, a

    verificao da existncia de um dispositivo legal e de fatos concretos que

    ensejam a prtica do ato.

    No se deve confundir motivo e motivao. Marcelo Alexandrino e

    Vicente Paulo ensinam que a motivao a exposio dos motivos que

    determinaram a prtica do ato, a exteriorizao dos motivos que levaram a

    Administrao a praticar o ato, a declarao escrita desses motivos. a

    demonstrao, por escrito, de que os pressupostos autorizadores da prtica do

    ato realmente aconteceram. Em seguida do o exemplo da demisso de um

    servidor, que tem como motivo a infrao por ele praticada e a motivao seria

    a exposio de motivos, a exteriorizao, por escrito, do motivo que levou a

    Administrao a aplicar tal penalidade.

    A motivao est ligada aos princpios da transparncia e da

    publicidade. Entretanto, de acordo com a doutrina majoritria, nem todos os

    atos da Administrao precisam de motivao. Somente os atos vinculados

    devem ser sempre motivados por escrito. Exemplo: na concesso de licena paternidade, o motivo ser sempre o

    nascimento do filho do servidor, na punio do servidor, o motivo a infrao

    por ele cometida, na ordem de demolio de um prdio, o motivo o perigo

    que ele representa, em decorrncia da m conservao, no tombamento, o

    motivo o valor histrico do bem, no ato de concesso de aposentadoria

    compulsria, cujo motivo fato biolgico de um servidor pblico ocupante de

    cargo efetivo completar 70 anos (art. 40, 1, inciso II, da CF). Detalhando um pouco mais, tomando o primeiro dos exemplos

    enumerados no pargrafo anterior: a lei diz que o servidor que tenha filhos faz

    jus a licena paternidade, com durao de cinco dias. Se um servidor

    apresenta um requerimento de licena paternidade Administrao, provando

    o nascimento de seu filho (pressuposto ftico), a administrao, verificando que

    a situao ftica se enquadra na hiptese descrita na norma legal (pressuposto

    de direito), ou seja, que ocorreu a subsuno do fato norma, ter que praticar

    o ato, exatamente com o contedo descrito na lei: concesso da licena pelo

    prazo de cinco dias.

    V.2.4.1 Vcios de Motivo

    Diz-se que o motivo encontra-se eivado de vcio quando presente a incompatibilidade:

    a) com a lei; b) com o resultado; ou c) com a veracidade.

  • 33

    V.2.5 Forma

    o mecanismo pelo qual a vontade da Administrao Pblica

    exteriorizada.

    Pelo Princpio da Solenidade das Formas, em regra, a atuao

    administrativa d-se pela forma escrita, uma vez que a documentao viabiliza

    o controle e a fiscalizao pelo Poder Judicirio, pelo prprio administrador

    anos depois, e ainda possibilita a informao ao cidado.

    Diz-se que quase sempre a forma escrita porque essa a regra,

    porm existem excees, podendo haver ordens exteriorizadas atravs de

    sinais luminosos, placas, apitos, gestos, etc.

    Esse elemento, em sentido estrito, resume-se exteriorizao do ato;

    em sentido amplo, engloba o procedimento, isto , os ritos a serem observados

    anteriormente produo do ato.

    V.2.5.1 Vcios da Forma

    Os vcios de forma podem ser decorrentes da desobedincia a forma

    especfica ou da inobservncia de procedimentos necessrios. Exemplo: se a lei exigir processo disciplinar para demisso de um

    funcionrio, a falta daquele procedimento invalida a demisso. V.2.6 Ato perfeito

    Vistos todos os elementos acima, convm destacar que quando o ato

    administrativo rene todos os elementos e requisitos necessrios sua

    formao e est apto a produzir efeitos estar tratando-se do ato administrativo

    perfeito.

    V.2.7 Abordagem policial como ato administrativo

    Competncia: O policial militar deve agir de forma impessoal,

    imparcial e genrica para atender ao interesse pblico.

    Forma: escrita, excepcionalmente por meio de gestos, sinais, comandos

    verbais ou smbolos como na fiscalizao do trnsito, nas atividades

    militares e policiais.

    O ato de abordagem deve ser formalizado em um relatrio, um boletim

    de ocorrncia, um termo de apreenso, ou outro documento oficial que

    possibilite a apreciao dos requisitos de validade do ato administrativo

    para o controle interno e externo.

    Objeto ou contedo O resultado que se pretende alcanar refere-se

    revista para busca e apreenso de armas ou objetos de corpo de delito,

    bem como de pessoas que estejam na iminncia ou cometeram ilcitos

  • 34

    ou atos que alterem a ordem pblica e at para a prpria preveno ou

    represso dos atos ilcitos ou anti-sociais.

    Motivo Refere-se s razes de fato e de direito. Respalda-se no poder

    de polcia tornando cabvel a abordagem policial conforme a modalidade

    a ser desenvolvida, isto , conforme seja direcionada a pessoa, a

    veculo, a edificao, ou a locais, diante da anlise dos casos que

    justifiquem a interveno do Estado.

    Finalidade Em sentido amplo, refere-se ao interesse pblico da

    segurana e tranqilidade, ao bem estar da comunidade administrada,

    em sentido estrito relaciona-se com o resultado da busca e apreenso

    de pessoa ou coisa necessria a instruo probatria das relaes

    jurdicas administrativas, penais e civis.

    V.2.8 Vinculao e Discricionariedade

    Conforme o grau de liberdade, os atos administrativos dividem-se em

    discricionrios e vinculados. Estes ltimos so aqueles aos quais o legislador

    no conferiu margem alguma de atuao, atrelando a edio de um

    determinado ato ocorrncia de uma especfica situao de fato. Por sua vez,

    aos discricionrios o legislador oferta ao administrador uma margem de

    atuao (dentro da lei) para que se defina a deciso mais adequada a ser

    tomada diante de um dado caso concreto.

    Aos vinculados o legislador entendeu que, diante de uma especfica

    situao, s existe uma (e apenas uma) atitude a ser tomada pelo

    administrador pblico, ou seja, caso no fosse adotada tal medida no se

    estaria sendo atendido o interesse pblico. Neste caso, h somente uma forma

    de agir considerada pela lei como apta a alcanar os preceitos legalmente

    estabelecidos, a prpria norma define quais os requisitos e as condies para a

    realizao desta classe de atos.

    No existe, portanto, qualquer apreciao subjetiva por parte do

    administrador ao praticar um ato administrativo vinculado, no lhe competindo a

    apreciao de qualquer critrio de convenincia e oportunidade. Havendo uma

    determinada situao de fato, o ato dever ser executado; ao revs, ausente

    qualquer dos requisitos, ser impossvel sua realizao.

    J nos atos discricionrios, o legislador entendeu que, diante de uma

    dada situao ftica, seria impossvel definir um nico modo de agir para a

    administrao pblica, tendo em vista que as particularidades de cada caso

    concreto exigem decises/aes distintas.

    Nesse exemplo da licena paternidade, como temos um ato vinculado, a

    lei determina que, vista daquele fato, seja obrigatoriamente praticado aquele

    ato, com aquele contedo (concesso de licena-paternidade por cinco dias).

  • 35

    Quando se trata de um ato discricionrio, a lei autoriza a prtica do ato,

    vista de determinado fato. Constatado o fato, a administrao pode, ou no,

    praticar o ato; algumas vezes a lei faculta ainda administrao escolher entre

    diversos objetos, conforme a valorao que faa dos motivos que se lhe

    apresentam; em qualquer caso, a deciso da administrao adotada segundo

    os seus critrios privativos de oportunidade e convenincia, e sempre nos

    limites da lei.

    Por exemplo, a Lei 3.196/78 (Estatuto dos Policiais Militares do ES) diz

    que o servidor estvel pode pedir licena no remunerada para tratar de

    interesses particulares, e ser concedida, ou no, a critrio da Comandante

    Geral.

    Assim, se um militar estadual solicita a licena Administrao, a

    Administrao, conforme seu exclusivo critrio de oportunidade e convenincia

    poder conceder ou no a licena. A administrao decidir a partir da

    valorao dos motivos que podem justificar o deferimento ou o indeferimento

    do pleito do militar levando em conta, por exemplo, se h excesso ou carncia

    de pessoal na repartio, a falta que o militar faria para o bom andamento do

    servio da repartio, a economia de recursos que adviria da concesso da

    licena, entre outros fatores. Caso opte por conceder a licena, a administrao

    poder decidir, dentro dos limites da lei, qual a durao que considera mais

    conveniente (escolha do objeto), mesmo que o pedido tenha sido para uma

    durao diferente.

    Nos atos discricionrios, portanto, h liberdade de valorao do motivo

    e, como resultado, escolha do objeto, dentre os possveis, autorizados na lei; o

    ato s ser praticado se e quando a administrao consider-lo oportuno e

    conveniente, e com o contedo escolhido pela administrao, nos limites da lei.

    Pode-se afirmar, portanto, como o faz a doutrina em geral, que:

    a) nos atos administrativos vinculados, todos os elementos encontram-se

    rigidamente determinados no texto legal, restando ao agente pbico

    nenhuma margem de liberdade;

    b) nos atos discricionrios, somente so estritamente vinculados os

    elementos competncia, finalidade e forma. Diferentemente, os

    elementos motivo e objeto so discricionrios.

    Nos atos administrativos discricionrios, o binmio motivo-objeto

    determina o denominado mrito administrativo.

    O mrito administrativo , em poucas palavras, o poder conferido pela lei

    ao agente pblico para que ele decida sobre a oportunidade e convenincia de

    praticar determinado ato discricionrio, e escolha o contedo desse ato, dentro

    dos limites estabelecidos na lei. Vale repetir, s existe mrito administrativo em

    atos discricionrios.

    Destaca-se que o Poder Judicirio, no exerccio de funo jurisdicional,

    nunca vai adentrar o mrito administrativo para dizer se o ato foi ou no

    conveniente e oportuno, substituindo a administrao nessa anlise. Isso seria

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    controle de mrito, pelo Judicirio, de atos administrativos de outro Poder, o

    que o nosso ordenamento jurdico no permite (ofende o princpio da

    separao dos Poderes).

    V.3 ATRIBUTOS DOS ATOS ADMINISTRATIVOS

    Segundo Marcelo Alexandrino e Vicente Paulo atributos so as

    qualidades dos atos administrativos. Enquanto os requisitos dos atos

    administrativos constituem condies que devem ser observadas para sua

    vlida edio, seus atributos podem ser entendidos como as caractersticas

    inerentes a estes atos administrativos.

    A maior parte da doutrina aponta trs atributos dos atos administrativos:

    a presuno de legitimidade, auto-executoriedade, e a imperatividade

    sendo os dois ltimos s esto presentes em alguns atos administrativos.

    Vejamos cada um desses atributos.

    V.3.1 Presuno de legitimidade

    Salvo prova em contrrio, presumem-se legtimos os atos da

    administrao e verdadeiros os fatos por ela alegados, por conta da inteira

    submisso ao princpio da legalidade.

    Este atributo, que est presente em todo ato da Administrao Pblica,

    garante que os atos possam gerar efeitos desde sua edio, mesmo que

    contenha vcios ou defeitos, no precisando, a cada ato praticado, consultar o

    Poder Judicirio ou outro rgo sobre a legitimidade do ato. No cabe ao rgo

    que pratica o ato provar sua validade, uma vez que o ato presumidamente

    vlido. Cabe a quem verificar a presena de vcios ou defeitos a prova de sua

    existncia.

    No entanto, tal presuno no absoluta, mas sim relativa, admitindo,

    portanto, prova em contrrio. Assim, como decorrncia da presuno de

    legitimidade, o nus da prova da existncia de vcio no ato administrativo de

    quem alega, ou seja, do administrado.

    V.3.2 Auto-executoriedade

    So atos auto-executrios aqueles praticados pela Administrao

    Pblica sem a necessidade de autorizao judicial prvia. So praticados pela

    Administrao pelo seu poder de imprio sobre os administrados. A

    Administrao faz uso da auto-executoriedade em situaes de urgncia, nas

    quais sua atuao deve ser imediata a fim de evitar prejuzos para a

    coletividade (como vimos, a finalidade dos atos da Administrao sempre o

    interesse pblico), e somente pode valer-se desse atributo nas situaes

    previstas na lei.

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    Na prtica desses atos pode a Admin