chrysomelidae

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1 Universidade Federal de Goiás Programa de Pós Graduação em Ciências Ambientais CHRYSOMELIDAE (INSECTA/COLEOPTERA) COMO BIONDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL EM ÁREAS DE CERRADO NO ESTADO DE GOIÁS - BRASIL Mayra Pimenta Orientador: Prof. Dr. Paulo De Marco Júnior Goiânia Goiás Março de 2011

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    Universidade Federal de Gois

    Programa de Ps Graduao em Cincias Ambientais

    CHRYSOMELIDAE (INSECTA/COLEOPTERA) COMO

    BIONDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL EM REAS DE

    CERRADO NO ESTADO DE GOIS - BRASIL

    Mayra Pimenta

    Orientador: Prof. Dr. Paulo De Marco Jnior

    Goinia Gois

    Maro de 2011

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    Universidade Federal de Gois

    Programa de Ps Graduao em Cincias Ambientais

    CHRYSOMELIDAE (INSECTA/COLEOPTERA) COMO

    BIONDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL EM REAS DE

    CERRADO NO ESTADO DE GOIS - BRASIL

    Tese apresentada Universidade

    Federal de Gois, como parte dos

    requisitos do Programa de

    Doutorado em Cincias Ambientais

    para a obteno do Ttulo de

    Doutor em Cincias Ambientais

    Mayra Pimenta

    Orientador: Prof. Dr. Paulo De Marco Jnior

    Goinia Gois

    Maro de 2011

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    Universidade Federal de Gois

    Programa de Ps Graduao em Cincias Ambientais

    CHRYSOMELIDAE (INSECTA/COLEOPTERA) COMO

    BIONDICADORES DE QUALIDADE AMBIENTAL EM REAS DE

    CERRADO NO ESTADO DE GOIS - BRASIL

    Tese apresentada Universidade

    Federal de Gois, como parte dos

    requisitos do Programa de

    Doutorado em Cincias Ambientais

    para a obteno do Ttulo de

    Doutor em Cincias Ambientais

    Aprovada em 18 de Maro de 2011

    Membros da Banca

    Prof. Dra. Cibele Stramare Ribeiro Costa- UFPR

    Prof. Dra Rosana TidonUNB

    Prof. Dr. Rogrio Pereira Bastos-UFG

    Prof. Dr. Fausto Miziara -UFG

    Paulo De Marco Jnior-UFG (Orientador)

  • 4

    minha me, a jardineira mais fiel deste mundo

    Dedico....

  • 5

    Agradecimentos

    Desde os primeiro momentos em Goinia me senti bem acolhida e tive a

    certeza que uma fase nova, de crescimento, de perspectivas positivas, de grandes

    amigos estava por comear. Eu agradeo a todos que fizeram parte deste

    momento to importante em minha vida e que tornaram estes seis anos to

    especiais.

    Agradeo ao Professor Paulo De Marco Jnior, por me receber entre seus

    alunos, pelo privilgio de sua orientao. Sou grata pela confiana, pela pacincia,

    pela oportunidade de poder observar brotar de uma nica pessoa, novos e

    importantes raciocnios em um espao de tempo to curto que me fazia esforar

    para acompanhar. Obrigada pela alegria contagiante, pela energia e por ser, como

    eu, torcedor do Atltico Mineiro, daqueles que no desistem nunca!

    Agradeo ao Professor Rogrio Pereira Bastos, de quem guardo profunda

    admirao e respeito. Sua ateno, apoio e confiana, desde os tempos de

    mestrado, foram muito importantes durante todo o perodo de minha formao na

    UFG, e a ele sou imensamente grata.

    Ao Professor Divino Brando por ter me concedido a possibilidade de

    convivncia to enriquecedora... Ao Professor Benedito Baptista dos Santos, pelo

    incentivo em trabalhar com besouros, por toda ajuda e ateno.

    Ao Sr. Ayr de Moura Bello pelo apoio e pela inestimvel ajuda na

    identificao das espcies.

    Ao CNPQ, pelo suporte financeiro atravs da Bolsa de Doutorado,

    FUNAPE e a Anglo American do Brasil pela oportunidade e pelo apoio Logstico

    que permitiram a realizao deste trabalho.

    Aos professores do Programa de Doutorado em Cincias Ambientais pelos

    ensinamentos, assim como aos Professores do Programa de Mestrado e

  • 6

    Doutorado em Ecologia e Evoluo, todos pessoas muito valiosas, que muito

    contriburam neste processo de aprendizado. De forma especial agradeo aos

    Professores Viviane Gianluppi Ferro e Adriano Sanches Melo por me receberem

    por tanto tempo em seu laboratrio e por toda a ajuda recebida...

    Aos meus grandes amigos de laboratrio, de campo, de doutorado: Silvia,

    Leonardo Bergamini, Carol Costa, Thiago Santos, Danilo, Diogo, Joana, Leandro,

    Mrian, Paulinia, Nelson, Eduardo, Karina, Daniel, Fernanda, Carol, Fbio,

    Mariana, Flvia, Juliana, Ktia, Klber, Tereza Cristina, Alexandre. Obrigada pela

    amizade verdadeira, pelas sugestes, pela companhia. Vocs estaro sempre

    comigo. H um pedacinho da ajuda de cada um de vocs nesta tese. Agradeo de

    forma ainda mais sincera e contundente s trs pessoas que contriburam com

    tantos pedacinhos que, sem sua ajuda, seria muito mais difcil chegar at aqui:

    Leonardo Bergamini, Silvia Leito, Carol Costa. Hoje sou mais feliz por ter tido a

    oportunidade de conhecer vocs!

    Agradeo as minhas amigas que so irms de corao Maria Thereza A.

    Batista e Jhuli D. Ferreira, obrigada por esta amizade. todos os meus amigos

    Weslane, Tatiane, Aretuza e Cristiano, Flvio, J, Karla, Alissania e Fernando,

    Thalita, Gustavo, Mazinho e Vanuza, pela alegria, pela companhia, pelos bons

    momentos.

    Agradeo ao meu pai. Sei que ficaria orgulho de mim neste momento.

    Saudades...

    Agradeo ao amor dos meus irmos Dyane, Regim, Samy, Livia e ao meu

    sobrinho Arthur. No foi nada fcil privar-me da convivncia cotidiana com vocs,

    mas a certeza deste amor diminua a distncia e tornava as dificuldades mais

    suportveis.

    Wesley por todo amor. Agradeo por fazer parte de minha vida, pela

    companhia, pelo incentivo, por entender e respeitar o meu trabalho.

  • 7

    pessoa mais importante para mim neste mundo, minha me, pelo amor e

    dedicao, pela amizade, pela confiana, pelo incentivo, por existir. Nada que eu

    faa ou fale expressar todo o amor e gratido que sinto por voc.

    Deus por todas as muitas graas concedidas.....

  • 8

    SUMRIO

    CHRYSOMELIDAE (INSECTA/ COLEOPTERA) COMO BIONDICADORES DE

    QUALIDADE AMBIENTAL EM REAS DE CERRADO NO ESTADO DE GOIS -

    BRASIL ................................................................................................................. 10

    1. INTRODUO GERAL ...................................................................................... 10

    2. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 14

    CAPTULO 1* ........................................................................................................ 17

    COMUNIDADE DE CRISOMELDEOS (COLEOPTERA/CHRYSOMELIDAE) EM

    UM MOSAICO DE REAS NATURAIS E ANTROPIZADAS NO CERRADO

    BRASILEIRO ......................................................................................................... 17

    RESUMO .............................................................................................................. 19

    ABSTRACT ........................................................................................................... 20

    1. INTRODUO ................................................................................................. 21

    2. MATERIAIS E MTODO ..................................................................................... 25

    2.1. LOCAIS DE ESTUDO E PROCEDIMENTOS DE COLETA ........................................... 25

    2.2. Anlise dos dados ................................................................................. 30

    3. RESULTADOS ................................................................................................. 34

    3.1. Espcies como biondicadoras .............................................................. 34

    3.2. Gneros como biondicadores ............................................................... 36

    3.3. Descrio Geral da Comunidade de Chrysomelidae ............................ 37

    3.4. Diversidade beta e padres espaciais da composio de espcies ..... 40

    3.5. Ordenao das comunidades de Chrysomelidae ................................. 43

    3.6. Proporo de Chrysomelidae ................................................................ 44

    4. DISCUSSO ................................................................................................... 46

    4.1. Espcies/Gneros como indicadores de qualidade do habitat.............. 46

    4.2. Proporo de Chrysomelidae ................................................................ 49

    4.3. Estrutura da Comunidade de Chrysomelidae ....................................... 51

    4.4. Diversidade beta ................................................................................... 53

    5. CONCLUSES ................................................................................................ 57

    6. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ....................................................................... 59

    CAPTULO 2* ........................................................................................................ 68

    RESPOSTA ESCALA - DEPENDENTE AOS ATRIBUTOS DA PAISAGEM DE

    UMA ASSEMBLIA DE BESOUROS HERBVOROS TROPICAIS ...................... 68

    RESUMO .............................................................................................................. 70

    ABSTRACT ........................................................................................................... 71

    1. INTRODUO ................................................................................................. 72

    2. METODOLOGIA ............................................................................................... 80

  • 9

    2.1. Local de Estudo .................................................................................... 80

    2.2. Dados de Chrysomelidae ...................................................................... 82

    2.3. Dados ambientais e de paisagem ......................................................... 82

    2.4. Anlise de dados .................................................................................. 85

    3. RESULTADOS ................................................................................................. 85

    3.1. Relao entre abundncia, riqueza e composio de Chrysomelidae e

    descritores da paisagem derivados de NDVI .................................................. 85

    3.2. Relao entre Cobertura Vegetal (CV) e riqueza, abundncia e

    composio de Chrysomelidae ....................................................................... 89

    3.3. Relao dos descritores da paisagem derivados do NDVI e o Habitat

    Dominante ...................................................................................................... 91

    3.4. Estimativa de Diversidade de Chrysomelidae a partir dos descritores da

    paisagem. ....................................................................................................... 93

    4. DISCUSSO/CONCLUSO ................................................................................ 97

    4.1. Resposta de Chrysomelidae heterogeneidade e complexidade dos

    habitas aos atributos da paisagem ................................................................. 97

    4.2. Resposta de Chrysomelidae Dominncia do Habitat medida pela

    classificao do uso do solo ......................................................................... 101

    4.3. Estimativa de diversidade de Chrysomelidae em rea de Cerrado no

    Estado de Gois. .......................................................................................... 103

    5. REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS ..................................................................... 104

    CAPTULO 3* ...................................................................................................... 110

    DISTRIBUIO DA ABUNDNCIA DE CHRYSOMELIDAE (COLEOPTERA) EM

    REAS DE MOSAICO NO CERRADO ............................................................... 110

    RESUMO ............................................................................................................ 111

    ABSTRACT: ........................................................................................................ 112

    INTRODUO ...................................................................................................... 114

    METODOLOGIA .................................................................................................... 118

    RESULTADOS ...................................................................................................... 124

    Distribuio de abundncia de Chrysomelidae em escala local ................... 124

    Distribuio de abundncia de Chrysomelidae em escala da paisagem ...... 130

    DISCUSSO/CONCLUSO ..................................................................................... 135

    Referncias ................................................................................................... 140

  • 10

    Chrysomelidae (Insecta/ Coleoptera) como biondicadores de qualidade

    ambiental em reas de cerrado no estado de Gois -Brasil

    1. Introduo Geral

    O Bioma Cerrado o segundo maior bioma brasileiro, ocupando cerca de

    23% de todo territrio nacional, caracterizado como uma importante rea formada

    por mosaicos de diferentes fitofisionomias, por exibir uma rica biodiversidade, com

    considervel endemismo de espcies e que, nas ltimas dcadas, teve sua

    paisagem profundamente modificada diante de intervenes antrpicas; (Myers et

    al., 2000; Klink and Machado, 2005). O processo de fragmentao do Cerrado tem

    se intensificado especialmente a partir da abertura da frente agropastoril de

    expanso, colocando em risco a manuteno da heterogeneidade ambiental e

    elevando o risco de perda de espcies da fauna e flora deste ambiente (Sano et

    al., 2001; Klink and Machado, 2005; Silva et al., 2006).

    As transformaes antrpicas na paisagem do Cerrado incluem tanto

    mudanas no tamanho das reas naturais quanto na reconfigurao dos mosaicos

    formados, eliminando ou reduzindo a quantidade de determinado habitat e

    isolando os fragmentos remanescentes (Aquino and Miranda, 2008), o que deve

    afetar a distribuio e a composio de espcies. A distribuio das reas

    remanescentes do Cerrado fortemente estruturada no espao com um gradiente

    leste-oeste e norte-sul, tornando a composio da paisagem o resultado da

    interao de um conjunto de fatores ecolgicos, fsico, econmicos e sociais

    (Diniz-Filho et al., 2009). Um exemplo de ocorrncia deste padro visto nas

  • 11

    paisagens de Gois nas quais as reas convertidas em pastagem e lavoura no

    ocorrem de forma randmica, mas so preferencialmente encontradas em reas

    com menor altitude, menor inclinao de terreno e solos mais frteis, localizando-

    se principalmente nas regies mais ao sul do estado, refletindo assim a histria de

    ocupao do solo nestas regies (Klink and Moreira, 2002; Carvalho et al., 2009;

    Sano et al., 2010). A rea foco do presente estudo est situada na regio ao norte

    do estado de Gois e inclui os municpios de Niquelndia e Barro Alto, que

    resguardam grande parte dos remanescentes naturais do Cerrado no estado. Esta

    regio representa importante ligao com outras reas de grande relevncia para

    conservao da biodiversidade como o Vale do Paran e o Parque Nacional da

    Chapada dos Veadeiros, um conjunto de reas consideradas prioritrias para

    conservao, cuja proteo necessria para a continuidade dos processos

    ecolgicos e manuteno da biodiversidade.

    Entre os conceitos de biondicadores apresentados por McGeoch (2007)

    est o de Indicador Ecolgico, direcionamento adotado no presente estudo. O

    indicador ecolgico seria uma espcie ou grupo de espcies que demonstram o

    efeito de mudanas ambientais (como alterao de habitat, fragmentao ou

    mudanas climticas). Organismos biondicadores tm sido freqentemente

    utilizados para avaliar o efeito de perturbaes antrpicas, para determinar reas

    de rica biodiversidade, bem como reas prioritrias para conservao (Landres et

    al., 1988; Caro and O'Doherty, 1998). No entanto, o efeito das mudanas

    ambientais deve variar entre diferentes espcies em funo de suas

    caractersticas bionmicas, mobilidade, exigncias do habitat, entre outros,

  • 12

    criando a possibilidade de escolha de uma variedade de grupos indicadores para

    as alteraes ambientais.

    Insetos tropicais tm recebido considervel ateno em funo do seu

    importante papel nos processos ecolgicos e como biondicadores (Landres et al.,

    1988; Brown Jr, 1997). A maioria dos grupos estudados tende a possuir

    importncia ecolgica e econmica clara (por exemplo, como polinizadores,

    pragas ou grupos considerados como carismticos', por serem tipicamente

    grandes e ornamentados). Txons de insetos hiper diversos, entretanto, tm sido

    negligenciados, em parte devido ao impedimento taxonmico e em parte por que

    apesar desses organismos serem bastante diversos, permanecem em sua maioria

    sub-amostrados (Baselga and Novoa, 2008). Padres de distribuio e ecologia

    dos txons hiper-diversos permitem compreender a estruturao de componentes

    crticos do funcionamento dos ecossistemas e podem ser mais eficientes em

    detectar o impacto ambiental devido a causas antropognicas (Baldi, 2003).

    Mesmo em relao a grupos bem estudados h uma falta geral de informaes

    biolgicas e ecolgicas bsicas relacionadas histria natural, distribuio

    geogrfica, e seu papel na dinmica dos ecossistemas (Novotny et al., 2002;

    Novotny et al., 2006).

    Os crisomeldeos (Coleoptera: Chrysomelidae) formam um txon bastante

    diverso, com cerca de 35.000 espcies descritas. So majoritariamente herbvoros

    tendo como plantas hospedeiras desde brifitas gimnospermas e angiospermas,

    alimentando-se de vrias partes da planta como razes, caules, folhas, flores,

    plen e frutos (Jolivet and Verma, 2002). A maior parte dos crisomeldeos

  • 13

    monfoga ou oligfaga, alimentando-se de um txon especfico de planta,

    entretanto, outros - sobretudo representantes das subfamlias Eumolpinae,

    Cryptocephalinae e Clytrinae - so polfagos, capazes de explorar os recursos de

    uma grande variedade de plantas (Fernandez and Hilker, 2007; Sen and Gk,

    2009). Algumas espcies so consideradas importantes pragas agrcolas,

    enquanto outras tm sido estudadas como agentes potenciais de controle

    biolgico de ervas daninhas(Konstantinov et al., 1996; Jolivet and Verma, 2002;

    DeLoach et al., 2003).

    Nessa tese busco aliar a pesquisa envolvendo grupos e espcies

    bioindicadores (na escala local das comunidades), fragmentao de habitats (uma

    escala de paisagem) com os objetivos ltimos de conservao de biodiversidade

    (na escala regional do estado de Gois). Como ferramenta de estudo da qualidade

    de habitats do Cerrado localizados na regio norte do estado de Gois foram

    utilizados besouros crisomeldeos, no intuito de gerar informaes que permitam

    entender a resposta das comunidades naturais frente s presses ambientais,

    fornecendo assim dados que subsidiem o monitoramento e a gesto dos recursos

    naturais na regio.

    Visando atender a estes objetivos a tese foi dividida em trs captulos,

    apresentados no formato de artigos. O primeiro captulo trata da estruturao da

    comunidade de Chrysomelidae em diferentes tipos de fitofisionomias e reas com

    diferentes nveis de conservao nos municpios de Niquelndia e Barro Alto,

    estado de Gois, apontando de forma direta as espcies e grupos de

    Chrysomelidae indicadores de diferentes tipos de habitats. No segundo captulo

  • 14

    atributos da paisagem (complexidade e heterogeneidade ambiental), obtidos

    atravs de produtos do sensoriamento remoto, mais precisamente o NDVI

    (Normalized Difference Vegetation Index), foram avaliados como preditores da

    riqueza, abundncia e composio de Chrysomelidae. Caractersticas das

    comunidades naturais foram relacionadas aos componentes ambientais da

    paisagem e a partir dos resultados, foram criados modelos de distribuio da

    comunidade em uma escala regional. Por ltimo, considerando caractersticas

    intrnsecas comunidade de Chrysomelidae amostrada, foram utilizados modelos

    de distribuio de abundncia como descritores da integridade dos habitats,

    buscando determinar o melhor modelo de predio da abundncia de

    Chrysomelidae. Como a distribuio das espcies responde mais rapidamente s

    alteraes na paisagem do que as alteraes na riqueza de espcies, esperamos

    atravs das informaes de abundncia do grupo no bioma Cerrado, compreender

    o efeito de perturbaes antrpicas sobre a comunidade, gerando informaes

    teis no monitoramento ambiental.

    2. Referncias Bibliogrficas

    Aquino, F. G., Miranda, G. H. B., 2008. Consequncias ambientais da

    fragmentao de habitats no Cerrado. In Cerrado Ecologia e Flora, eds. S. M.

    Sano, S. P. d. Almeida, & J. F. Ribeiro, pp. 385-398. Embrapa Informao

    Tecnolgica, Brasilia.

    Baldi, A., 2003. Using higher taxa as surrogates of species richness: a study based

    on 3700 Coleoptera, Diptera, and Acari species in Central-Hungarian reserves.

    Basic and Applied Ecology 4, 589-593.

  • 15

    Baselga, A., Novoa, F., 2008. Coleoptera in a relict forest of spain: Implications of

    hyperdiverse taxa for conservation strategies. Annals of the Entomological Society

    of America 101, 402-410.

    Brown Jr, K. S., 1997. Diversity, disturbance, and sustainable use of Neotropical

    forests: insects as indicators for conservation monitoring. Jounal of Insect

    Conservation 1, 25-42.

    Caro, T. M., O'Doherty, G., 1998. On the use of surrogate species in conservation

    biology. Conservation Biology 13, 805-814.

    Carvalho, F. M. V., De Marco P.Jr., Ferreira, L. G., 2009. The Cerrado into-pieces:

    Habitat fragmentation as a function of landscape use in the savannas of central

    Brazil. Biological Conservation 142, 1392-1403.

    DeLoach, C. J., Lewis, P. A., Herr, J. C., Carruthers, R. I., Tracy, J. L., Johnson, J.,

    2003. Host specificity of the leaf beetle, Diorhabda elongata deserticola

    (Coleoptera: Chrysomelidae) from Asia, a biological control agent for saltcedars

    (Tamarix: Tamaricaceae) in the Western United States. Biological Control 27, 117-

    147.

    Diniz-Filho, J. A. F., Oliveira, G. d., Ferrreira, L. G., Rangel, T. F. L. V., 2009.

    Agriculture, habitat loss and spatial patterns of human ocupation in a biodiversity

    hotspots. Scientia Agricola 66, 764-771.

    Fernandez, P., Hilker, M., 2007. Host plant location by Chrysomelidae. Basic and

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    Jolivet, P. H., Verma, K. K., 2002. Biology of leaf beetles, Intercept Ltd, Andover,

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    Klink, C. A., Machado, R. B., 2005. Conservation of the Brazilian Cerrado. Conserv

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    Landres, P. B., Verner, J., Thomas, J. W., 1988. Ecological Uses of Vertebrate

    Indicator Species: A Critique. Conservation Biology 2, 316-329.

  • 16

    McGeoch, M. A., 2007. Insects and Bioindication: Theory and Progress. In Insect

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    Myers, N., Mittermeier, R. A., Mittermeier, C. G., Fonseca, G. A. B., Kent, J., 2000.

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    Sano, E. E., Rosa, R., Brito, J. L. S., Ferreira, L. G., 2010. Land cover mapping of

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    Silva, J. F., Farias, M. R., Felfili, J. M., Klink, C. A., 2006. Spatial heterogeneity,

    land use and conservation in the cerrado region of Brazil. Journal of Biogeography

    33, 536-548.

  • 17

    Captulo 1*

    Comunidade de Crisomeldeos

    (Coleoptera/Chrysomelidae) em um mosaico

    de reas naturais e antropizadas no Cerrado

    brasileiro

    __________________________________________________________________

    * Este captulo foi editado segundo s normas da Revista Ecological Indicator

  • 18

    Comunidade de Crisomeldeos (Coleoptera/Chrysomelidae) em um mosaico

    de reas naturais e antropizadas no Cerrado brasileiro

    Autores:

    Mayra Pimenta

    Laboratrio de Ecologia de Insetos, ICB1, Sala 222, Universidade Federal de

    Gois, Campus Samambaia, Goinia, Gois, Brasil. (+55) 62 3521-1732

    E-mail: [email protected]

    Universidade Federal de Gois, Goinia, Gois Brasil

    Paulo De Marco Jnior

    Laboratrio de Ecologia Terica e Sntese - LETS, Universidade Federal de Gois,

    Goinia, Gois, Brasil

    .

  • 19

    Resumo

    O conhecimento da composio das comunidades naturais e de suas

    respostas as alteraes antropognicas essencial para determinar o estado de

    conservao de um determinado sistema e priorizar aes de manejo. Impactos

    antropognicos poderiam causar uma reduo da biodiversidade, no s devido

    perda de habitat, mas tambm devido perda de heterogeneidade de habitats em

    determinada paisagem, especialmente em sistemas caracterizados por um

    mosaico de diferentes elementos (por exemplo, a vegetao de Cerrado no Brasil

    Central). Aqui ns avaliamos crisomeldeos (Coleoptera / Chrysomelidae) como

    bioindicadores em um sistema com diferentes intensidades de impactos humanos

    e diferentes fitofisionomias (de campo aberto s reas florestais). Foram coletados

    1117 crisomeldeos, pertencentes a 245 espcies, das quais 12 espcies e 5

    gneros foram considerados bioindicadores possveis, baseada na mtrica de

    IndVal. Uma maior riqueza de espcies foi observada em florestas e campos de

    regenerao, e os habitats com menor riqueza de espcies foram pastagens,

    minas e veredas. reas de eucalipto apresentaram uma grande abundncia de

    Chrysomelidae, seguido por matas e outros tipos habitats, que no foram

    significativamente diferentes entre si. Campos naturais, campos em regenerao,

    cerrados e matas apresentaram maiores valores de diversidade beta. Em geral, a

    proporo de Chrysomelidae sobre o total de colepteros e de colepteros

    herbvoros no foram capazes de apontar variaes entre os tipos habitats. O

    grande nmero de espcies raras de crisomeldeos, a alta proporo de espcies

    de distribuio restrita e os altos valores de diversidade beta das reas naturais

    dificultam a utilizao de espcies como bioindicadores. O uso do gnero de

    Chrysomelidae como biondicador da qualidade do habitat, foi considerado mais

    eficaz do que a utilizao de espcies individuais. Sistemas biondicadores, que

    incluam no apenas a riqueza de espcies e abundncia, mas tambm a

    composio das assemblias, so necessrios para permitir um melhor

    entendimento da resposta Chrysomelidae s perturbaes ambientais.

    Palavras chaves: Biondicadores, diversidade beta, heterogeneidade de habitats,

    insetos herbvoros, IndVal

  • 20

    Abstract

    Knowledge of the composition of natural communities and their responses to

    anthropogenic alterations is essential for determining the conservation status of a

    given system and prioritizing management actions. Anthropogenic impacts could

    cause a reduction in biodiversity not only due to habitat loss, but also due the loss

    of habitat heterogeneity across given landscape, especially in systems

    characterized by a mosaic of different elements (e.g. the Cerrado vegetation in

    central Brazil). Here we evaluate leaf beetle (Coleoptera/Chrysomelidae) as

    bioindicators in a system whith varying intensities of human impacts and different

    phyto-physionomies (from open field to forests). We collected 1117 leaf beetle

    belonging to 245 species, of which 12 species and 5 genus were considered

    possible bioindicators based on IndVal measure. Higher species richness was

    observed in forests and regenerating fields, and habitats with lower species

    richness included pastures, mines and veredas. Only the Eucalyptus areas had a

    high abundance of Chrysomelidae, followed by forests and the other habitats,

    which were not significantly different from each other. Natural fields, regenerating

    fields, natural cerrados and forest had higher values of -diversity. In general, the

    proportion of Chrysomelidae over total Coleoptera and over herbivorous

    Coleoptera were not able to distinguished among the habitats. The large number of

    rare leaf beetle species, the high proportion of restricted species and the high -

    diversity of the natural areas made it difficult to utilize individual of species as a

    bioindicator. The use of the genus Chrysomelidae as a biondicator of habitat

    quality, was considered more effective than using individual species. Bioindicator

    systems that include not only species richness and abundance but also

    assemblage composition are needed to allow for a better understanding of

    Chrysomelidae response to environmental disturbance.

    Keywords: bioindicators, beta diversity, habitat heterogeneity, herbivorous insects

  • 21

    Comunidade de crisomeldeos (Coleoptera/Chrysomelidae) em reas

    naturais e antropizadas no Cerrado brasileiro

    1. Introduo

    As rpidas mudanas sofridas pelas comunidades naturais do Cerrado

    brasileiro, resultantes da desordenada ao humana, tm colocado em risco a

    diversidade biolgica neste sistema (Klink and Machado, 2005;Borges and Marini,

    2010;Diniz et al., 2010b). Grande parte dos problemas aos quais esto sujeitos as

    espcies vegetais e animais conseqncia da fragmentao de habitats

    decorrente principalmente da expanso da fronteira agrcola, atividades pecurias

    e da expanso urbana (Sano et al. 2001;Ferreira et al. 2004;Silva et al. 2006).

    Outros danos ambientais decorrentes de aes antrpicas podem ser ainda

    somados perda da biodiversidade como a invaso de espcies, poluio de

    aqferos, degradao de ecossistemas, alteraes nos regimes de queimadas,

    desequilbrios no ciclo do carbono e possivelmente modificaes climticas

    regionais (Klink et al., 2005).

    Alteraes antrpicas no ambiente podem gerar uma reduo significativa na

    biodiversidade no s pela perda direta de rea, mas tambm pela perda de

    heterogeneidade ambiental (Fischer and Lindenmayer, 2007). Carvalho et

    al.(2009), demonstraram que reas dominadas por pastagem apresentam menor

    intensidade de fragmentao e so mais capazes de manter populaes de

    mamferos ameaados do que reas dominadas por lavoura, no estado de Gois.

    Em sistemas nos quais mosaicos ambientais so comuns, como o Cerrado

    brasileiro (Silva et al., 2006) esperado que a interao dinmica de diferentes

  • 22

    manchas de habitat, principalmente atravs da disperso e seleo de habitats,

    afete fortemente a estrutura das comunidades ecolgicas (Halffter, 1998). Este

    mosaico rene reas com diferentes fitofisionomias, em um gradiente de cobertura

    vegetal que variando de reas abertas (por exemplo campos limpo) reas

    florestais (como matas e veredas). A converso dos habitats naturais, mesmo em

    paisagens dominadas por pastagem ou agricultura, poder manter um mosaico

    diverso de diferentes tipos de vegetao, mas os seus efeitos sobre a manuteno

    da biodiversidade ainda so pouco conhecidos. Um exemplo disso so as reas

    dominadas por atividades de minerao de nquel no Cerrado de Gois, que

    mantm um mosaico de ambientes que incluem reas de minerao, eucaliptais,

    campos, lavouras, pastagens, cerrado sensu stricto e matas. Uma premissa

    bsica deste estudo considerar que as manchas contidas nos mosaicos

    ambientais, se convenientemente conectadas e dependendo da intensidade das

    alteraes antrpicas, podem manter uma fauna diversificada no sistema.

    Organismos biondicadores podem ser usados para avaliar o efeito de

    atividades humanas sobre o ambiente, determinar padres de biodiversidade

    regional, mudanas na estrutura e funo de comunidades e estimar valor de

    conservao (Staines and Staines, 1998). Embora existam crticas ao uso de

    biondicadores (Landres et al., 1988;Simberloff, 1998;Rolstad et al., 2002), vrios

    autores tem reafirmado que txons indicadores podem ser efetivamente definidos

    e aplicados no monitoramento ambiental (Noss, 1990;McGeoch, 1998;Hilty and

    Merelender, 2000;McGeoch, 2007). Para que isso ocorra, tais autores apontam a

    necessidade de uma clara definio de objetivos (McGeoch, 2007), o

  • 23

    estabelecimento das relaes entre os indicadores e o ambiente (Kitching et al.,

    2000), o uso de um sistema biondicador (conjunto de espcies, gneros, guildas

    trficas) mais do que uma nica espcie biondicadora (O'Connell et al., 2000) e

    ainda, de testes dos indicadores, utilizando amostras independentes no tempo ou

    no espao (McGeoch et al., 2002).

    Em ambientes terrestres, diversos grupos de insetos tm recebido considervel

    ateno por apresentarem caractersticas necessrias para serem considerados

    bons indicadores tais como: (1) alta diversidade, (2) importncia funcional nos

    ecossistemas, (3) sensibilidade a mudanas ambientais e (4) facilidade de

    amostragem e identificao (Landres et al., 1988;Pearson, 1994). No presente

    estudo vamos utilizar a famlia Chrysomelidae (Insecta: Coleoptera), que rene

    esses requisitos esperados de organismos potencialmente biondicadores s

    mudanas no ambiente e dos seus nveis de conservao, alm de apresentarem

    alta fidelidade ecolgica (Brown, Jr., 1991;Staines et al., 1998;Iannuzzi et al.,

    2003;Linzemeyer and Ganho, 2003).

    Chrysomelidae est entre as maiores famlias de besouros tanto em termos

    nmero de espcies quanto em nmero de indivduos, sendo atualmente descritas

    cerca de 35.000 espcies com aproximadamente 2.000 gneros (Suzuki, 1994).

    Larvas e adultos de crisomeldeos so considerados essencialmente herbvoros,

    se alimentando de diferentes partes de plantas (folhas, frutos, sementes, plen,

    razes) (Jolivet and Verma, 2002) pertencentes principalmente as famlias

    Asteraceae, Solanaceae, Convolvulaceae, Fabaceae, Malvaceae, Salicaceae e

    Verbenaceae (Solorio and Rosales, 2004). Algumas espcies tm grande

  • 24

    importncia econmica, seja por serem consideradas importantes pragas

    agrcolas, seja por seu grande potencial como agente no controle biolgico de

    plantas daninhas (Konstantinov et al., 1996;Jolivet et al., 2002;DeLoach et al.,

    2003).

    Os besouros crisomeldeos por apresentarem estreitas relaes com suas

    plantas hospedeiras, sendo provavelmente os mais seletivos entre os insetos

    fitfagos (Jolivet, 1992;Staines et al., 1998), dependem sempre de um conjunto

    dessas plantas para se manterem em um sistema. Por essa razo esperado que

    respondam a alteraes ambientais, especialmente intervenes antrpicas nos

    seus habitats naturais. O monitoramento destes indicadores e de suas complexas

    interaes e respostas aos impactos podem servir como ferramentas para avaliar

    a estrutura ambiental, trazendo consigo informaes sobre os riscos que corre o

    sistema natural (Bonvicino et al., 1996;Staines et al., 1998;Linzemeyer et al.,

    2003;Ganho and Marinoni, 2006).

    A proporo de insetos herbvoros em relao ao total de insetos

    considerada uma maneira de se verificar o efeito de distrbios no ambiente sobre

    a estrutura da comunidade (Hutcheson, 1990;Marinoni and Ganho, 2006). Insetos

    herbvoros, como Chrysomelidae, seriam mais freqentemente encontrados em

    habitats pertubardos em comparao queles no pertubardos, pois neles haveria

    maior disponibilidade de recursos como plantas jovens e mais palatveis com esta

    proporo diminuindo em reas naturais nas quais outras guildas trficas como as

    de insetos predadores e detritvoros estariam mais presentes. Ao contrario disto,

  • 25

    espera-se que insetos predadores e detritivoros aumentem sua representatividade

    em reas naturais (Hutcheson, 1990).

    Considerando que o conhecimento da composio das comunidades naturais e

    das respostas destas frente a alteraes antrpicas fundamental para que sejam

    determinadas reas crticas para a conservao biolgica do Cerrado, objetivamos

    avaliar os crisomeldeos como biondicadores em um sistema que varia em grau de

    alterao antrpica (de reas no alteradas, reas em regenerao, manejadas

    para cultivo de Eucalyptus urofilla ST Blake e reas de minerao de nquel) e de

    estruturas fitofisionmicas (de reas de campos a reas florestadas). Aqui

    buscamos testar duas hipteses gerais sobre o efeito das alteraes ambientais

    afetando as comunidades de besouros crisomeldeos em uma paisagem em

    mosaico. Em primeiro lugar se a riqueza de espcies e a diversidade beta entre

    reas so afetadas pelo estado de conservao dessas reas. Dentro dessa

    anlise, buscamos tambm avaliar as principais diferenas de composio de

    espcies que ajudem a explicar essas diferenas. Alm disso, tambm testamos a

    hiptese de que a proximidade entre diferentes reas pode afetar sua composio

    de espcies, evidenciado a importncia da estrutura espacial nesses sistemas.

    2. Materiais e mtodo

    2.1. Locais de estudo e procedimentos de coleta

    Esse estudo foi desenvolvido em reas de interesse para atividades de

    minerao de Nquel nos municpios de Barro Alto e Niquelndia no estado de

    Gois. A regio compreende reas originalmente do Bioma Cerrado que

  • 26

    caracterizado por invernos secos e veres chuvosos, um clima classificado como

    Aw de Kppen, com temperatura mdia anual variando entre 18-28oC (Ratter et

    al., 1997), precipitao mdia anual de 1500mm variando de 750 2000mm

    (Ribeiro and Walter, 1998). A regio tambm de reconhecido interesse para

    conservao da biodiversidade do Cerrado (MMA/SBF, 2002) em decorrncia do

    significativo grau de endemismo das espcies e da alta presso antrpica a que

    vem sendo submetida. De acordo com uma recente avaliao dos padres de

    fragmentao do Cerrado brasileiro esta regio apresenta proporo relativamente

    elevada de remanescentes de Cerrado (Carvalho et al., 2009), principalmente por

    causa da sua geomorfologia, j que se caracteriza por numerosos morros e

    serras, que dificultam certas prticas agrcolas ou usos de terras que exijam

    equipamentos mecanizados.

    Foram amostradas reas com diferentes condies ambientais geradas

    pelo manejo da propriedade, como reas naturais representativas de diferentes

    fisionomias do Cerrado (cerrado, mata, vereda e campo), ambientes antropizados

    (pasto, eucaliptais e minerao) e ambientes em estado de regenerao ps-

    distrbio (minerao) do estado Gois (Figura 1, Tabela 1). reas antropizadas,

    reas de cultivo de Eucalyptus urophylla ST Blake (Myrtaceae) e as fitofisionomias

    foram agrupadas de forma gradativa, relacionadas com o tipo de cobertura

    vegetal, complexidade estrutural e nvel de conservao, sendo distribudas em

    nove tipos de habitat: campos naturais, campos em regenerao, cerrado natural,

    cerrado em regenerao, mata, eucaliptais, pasto, mina e vereda (Tabela 1).

  • 27

    Os crisomeldeos foram coletados em nove campanhas realizadas nos

    meses de novembro de 2007, fevereiro e abril de 2008, maro, setembro e

    outubro de 2009 no municpio de Niquelndia e nos meses de maio, novembro e

    dezembro de 2009 em Barro Alto, durante o perodo chuvoso em que o pico de

    abundncia de colepteros maior (Pinheiro et al., 2002;Santos et al., 2003b). As

    coletas foram realizadas mediante a utilizao de armadilha Malaise (Townes,

    1972), uma armadilha interceptadora de vo freqentemente utilizadas em

    levantamentos faunsticos especialmente por sua notvel eficincia na captura de

    insetos voadores. As armadilhas foram mantidas no campo por sete dias em cada

    campanha, com retirada dos frascos coletores ao final desse perodo. Aps a

    triagem, os besouros foram acondicionados em frascos plsticos contendo

    soluo alcolica a 70%, sendo posteriormente identificados sempre que

    possvel ao nvel de espcie ou, quando no se conseguisse, at o menor grupo

    taxonmico possvel. A identificao foi feita mediante o uso de chaves e por

    comparao com o material existente nas colees da Universidade Federal de

    Gois e de outras instituies e o material depositado na Coleo Entomolgica

    da Universidade Federal de Gois.

  • 28

    Figura 1: Localizao das reas amostradas na regio de Niquelndia e Barro Alto, GO

  • 29

    Tabela 1: Descrio das reas amostradas, no municpio de Niquelndia e Barro Alto-GO

    Descrio das reas Municpio Latitude Longitude Ponto de coleta

    Campo natural: reas em

    que a cobertura vegetal,

    predominantemente

    herbceo-arbustiva,

    encontra-se inalterada.

    NI 1407'43.5" S 4821'00" W Fruta do Lobo

    NI 1412'59.4 "S 4822'39.1"W Morro seco

    NI 1411'58.6" S 4822'27.5" W Mica Verde

    NI 1411'20.1" S 4822'14.1"W Pedra Verde

    NI 1423'27.4" S 4841'24.9"W Horto Aranha

    BA 15 4'56.60"S 49 0'38.60"W Morro Dois Corregos

    BA 15 4'44.50"S 49 0'6.70"W Morro Dois Corregos

    BA 15 3'45.00"S 4859'59.70"W Morro Dois Corregos

    BA 15 6'32.80"S 49 1'45.30"W Casa de Pedra

    Campo em regenerao:

    reas em que a cobertura

    vegetal,

    predominantemente

    herbceo-arbustiva, foi

    retirada por atividades de

    minerao e, atualmente,

    encontra-se em fase de

    regenerao.

    NI 1411'20.1" S 4822'14.1" W Fruta do Lobo

    NI 1412'27.4" S 4821'58.1" W Mica Verde

    NI 1411'23.6" S 4822'01.8" W Pedra Verde

    NI 1412'58.3" S 4822'30.5" W Morro seco

    Cerrado natural: reas de

    cerrado stricto sensu, com

    cobertura vegetal

    preservada caracterizado

    pela presena de rvores

    baixas, inclinadas,

    tortuosas, com

    ramificaes irregulares e

    retorcidas.

    NI 1412'39.8" S 4822'46.7" W Morro seco

    NI 1411'58.76"S 4822'31.42"W Mica vede

    NI 1422'55.1" S 4841'00" W Horto Aranha

    BA 15 3'42.60"S 4858'28.90"W Fazenda Pedro Ferreira

    BA 15 4'3.30"S 4858'0.90"W Fazenda Pedro Ferreira

    BA 15 5'38.70"S 49 1'47.80"W Casa de Pedra

    BA 15 6'26.50"S 49 1'11.60"W rea 1A/Anglo

    Cerrado em regenerao:

    reas de cerrado sensu

    stricto, submetidas a

    considervel impacto

    ambiental e que encontra-

    se em regenerao da

    vegetao natural

    NI 1407'27.6" S 4821'46.6" W Fruta do Lobo

    NI 1416'33.1" S 4843'42.1" W Horto Aranha

    Matas: reas com

    predomnio de espcies

    arbreas, prximas a

    cursos d'gua, com a

    altura mdia do estrato

    arbreo entre 20 e 30 m.

    NI 1407'57.0" S 4820'54.3" W Fruta do Lobo

    NI 1416'20.2" S 4843'39.4" W Horto Aranha/ Mata de

    Galeria

    NI 1408'57.6" S 4820'13.9" W Mata da Barragem

    BA 15 5'36.70"S 49 0'38.20"W rea 1B/Anglo

    BA 15 3'46.70"S 4859'31.50"W Fazenda Pedro Ferreira

    BA 15 4'23.30"S 4859'51.60"W Morro Dois Corregos

    BA 15 5'40.60"S 4859'8.60"W Fazenda Dirani

  • 30

    Continuao Tabela 1

    Florestas de eucaliptos

    (clones de Eucalyptus

    urophylla S. T. Blake)

    plantadas para a produo

    de cavaco

    NI 1422'23.0" S 4840'59.3" W Horto Aranha

    NI 1422'23.3" S 4841'18.4" W Horto Aranha

    NI 1421'47.1" S 4841'17.9" W Horto Aranha

    Pasto

    BA 15 3'58.90"S 4859'1.60"W Fazenda Pedro Ferreira

    BA 15 3'24.70"S 4859'2.00"W Fazenda Pedro Ferreira

    BA 15 2'36.10"S 4857'15.80"W Fazenda Nossa Senhora de

    Lurdes

    Mina:rea de minerao

    de nquel, caracterizada

    por ausncia de vegetao

    e revolvimento recente

    do solo

    BA 15 4'54.60"S 4858'34.80"W rea 2/Anglo

    BA 15 3'32.30"S 4857'30.20"W rea 3/Anglo

    BA 15 5'36.10"S 4859'40.10"W rea 1C/Anglo

    Vereda: Formao

    encontrada sobre solos

    hidromrficos,

    localizadas prximas

    cursos d'gua e nas quais

    so encontradas

    abundantemente buritis

    (Mauritia flexuosa),em

    meio a agrupamentos

    mais ou menos densos de

    espcies arbustico-

    herbceas.

    BA 15 4'38.50"S 4854'44.30"W rea adjacente a Rodovia

    Go 437

    BA 15 5'46.70"S 49 2'18.80"W Casa de Pedra

    BA 15 5'22.00"S 4858'48.50"W Fazenda do Sr. Antnio

    2.2. Anlise dos dados

    As espcies indicadoras de qualidade do habitat foram buscadas atravs do

    mtodo do valor indicador IndVal (Dufrene and Legendre, 1997) que combina a

    abundncia da espcie com sua freqncia de ocorrncia em vrios grupos de

    locais e, atravs do mtodo de randomizao de Monte Carlo foi avaliada a

    significncia dos maiores valores de Indval de cada espcie (p> 0,05). Alta

    fidelidade de espcies em um ponto amostral est geralmente associada a uma

    alta abundncia de indivduos, que uma caracterstica apresentada por bons

    indicadores. Tal mtodo deriva indicadores de qualquer classificao de stios (a

    priori ou a posteriori), ou ainda de forma hierrquica ou no hierrquica. Outra

  • 31

    vantagem apresentada que o IndVal de uma espcie calculado

    independentemente do IndVal de outra (McGeoch and Chown, 1998).

    O Indval calculado atravs da seguinte frmula:

    100xB xA=IndVal ijij

    Nindiv

    Nindiv=A

    i

    ij

    ij

    Em que:

    Aij = medida da especificidade

    Nindiv ij = nmero mdio de indivduos da espcie i em todos os locais do

    grupo j

    Nindiv i = a soma da mdia dos indivduos da espcie i em todos os grupos

    Nlocais

    Nlocais=B

    i

    ij

    ij

    Bij = medida de fidelidade

    Nlocais ij = nmero de locais no grupo j onde a espcie i est presente,

    Nlocais j = nmero total de locais nesse grupo

    Nesta anlise, espcies com apenas um ou dois indivduos foram eliminadas, o

    que reduziu de 245 para 67 o nmero de espcies avaliadas como biondicadoras

    quando consideradas as reas de Niquelndia e Barro Alto juntas e, quando estas

    foram avaliadas separadamente, analisamos 45 das 150 espcies de Niquelndia

  • 32

    e 27 das 124 de Barro Alto. Seguindo a mesma linha, em relao anlise no

    nvel de gnero avaliamos 27 dos 47 encontrados em Niquelndia e Barro Alto

    juntas, 23 dos 24 de Niquelndia e 14 dos 16 de Barro Alto. A significncia do

    valor indicador foi tambm testada pela tcnica de Monte Carlo. As espcies de

    Chrysomelidae cujo IndVal seja estatisticamente diferente do acaso (p

  • 33

    entre duas reas amostradas utilizando para isso o intervalo de confiana de cada

    uma delas, tendo sido utilizado em estudos de indicao de qualidade ambiental

    (Silva et al., 2010). Esses valores foram estimados utilizando o programa

    EstimateS (Chao et al., 2005;Colwell, 2005).

    Estimou-se a diversidade para cada uma das reas dos diferentes grupos de

    habitats atravs do ndice de dissimilaridade quantitativo de Sorensen (Chao et al.,

    2005), que mede o grau de diferena na composio de espcies entre as

    diferentes reas amostradas sendo calculado a partir da abundncia relativa das

    espcies. De acordo com Chao et al. (2005) o ndice quantitativo o melhor

    estimador de diversidade por ser independente da riqueza de espcies.

    Ns utilizamos o Teste de Mantel (Manly, 1994) para testar a hiptese de que a

    diversidade dependente da distncia geogrfica. Para isso foram construdas

    duas matrizes sendo uma a matriz de dissimilaridade entre as reas amostradas

    de cada um dos grupos de habitats e outra, uma matriz de distncia geogrfica

    que expressasse a conexo entre as reas. Alm disso, para testar a hiptese de

    que a diversidade determinada pelo tipo de habitat ns utilizamos uma anlise

    de Similaridae-ANOSIM (Clarke, 1993) entre cada um dos grupo de habitats.

    Segundo Clarke (1993) se dois grupos de unidades amostrais so realmente

    diferentes nas sua composio de espcies, ento a dissimilaridade na

    composio entre os grupos ser maior do que aquela dentro dos grupos.

    O ndice de Jaccard (J) foi utilizado para medir a dissimilaridade na

    composio da comunidade de crisomeldeos entre fitofisionomias, reas naturais

  • 34

    e no naturais e entre grupos de habitats. O mtodo de Escalonamento

    Multidimensional No-Mtrico (NMS, do ingls Non-metric Multidimensional

    Scaling) foi utilizado a fim de se sumarizar os padres da comunidade de

    crisomeldeos. O NMS considerado o melhor mtodo para descrever gradientes

    ecolgicos, sendo mais vantajoso em relao a outros mtodos de ordenao por

    no pressupor relaes lineares entre atributos e objetos e, geralmente, resumir

    mais informaes em menos dimenses (eixos) (Minchin, 1987;Faith et al., 2004).

    Para avaliar o nmero de dimenses em que os dados so mais bem

    representados, analisou-se o valor do stress, que avalia a preciso da soluo em

    representar uma relao multidimensional, a partir da diferena entre a distncia

    real e a distncia aproximada entre todos os pares de objetos. Neste processo,

    busca-se a soluo com menor dimenso e maior reduo do valor de stress. Esta

    anlise foi realizada para as dez espcies que apresentaram maior abundncia e

    para o conjunto total de espcies amostradas e o Teste de Monte Carlo

    selecionado para avaliar a confiabilidade da soluo com 100 repeties.

    3. Resultados

    3.1. Espcies como biondicadoras

    Em Niquelndia duas espcies das 45 avaliadas apresentaram IndVal

    significativo (p

  • 35

    Colaspis sp 9 e Leprotina sp 1 (Eucaliptal), Strabala sp 1 e Parasyphraea sp 1

    (campo natural) e Alticini sp 50 (mina). O restante das espcies com IndVal

    significativo so consideradas como detectoras de mudanas no habitat

    (IndVal

  • 36

    3.2. Gneros como biondicadores

    Os gneros avaliados (27) representaram 74% da abundncia total de

    crisomeldeos encontrados para as reas de Niquelndia e Barro alto juntas.

    Desse total cinco gneros apresentaram IndVal significativo, indicando reas com

    interferncia antrpica de minerao, eucalipto e de regenerao de cerrado

    (Tabela 3). Quando o conjunto de dados foi avaliado por regies separadamente,

    dois gneros foram considerados caractersticos de campos naturais sendo

    Parasyphraea e Strabala em Barro Alto e o gnero Colaspis, em Niquelndia,

    caracterstico de eucaliptais.

    Tabela 3: Valor de INDVAL com resultado significativo (p

  • 37

    3.3. Descrio Geral da Comunidade de Chrysomelidae

    Foram coletados um total 8102 besouros dos quais 1117 indivduos (14%)

    pertenciam a famlia Chrysomelidae e encontraram-se distribudos por 245

    morfoespcies. A maior parte dos crisomeldeos coletados considerada rara,

    sendo que 56% apresentaram um indivduo e 16%, dois indivduos (Figura 2). As

    dez morfoespcies de crisomeldeos que apresentaram maior abundncia,

    concentrando 45% de todos os indivduos coletados foram Hypolampsis sp 4

    (3.8020.45) (mdia desvio padro), Zeteticus sp 1 (2.7610.22), Diphaulaca sp

    5 (1.494.71), Altica sp 1 (0.71 2.11), Alticini sp 50 (0.631.85), Leprotina sp 1

    (0.631.85), Margaridisa sp 1 (0.611.64), Neothona sp 1 (0.541.23), Parabrotica

    sp 1 (0.462.67) e Iphimeina sp 3 (0.412.11). Apenas Iphimeina sp 3 e Leprotina

    sp 1 pertencem a Subfamlia Eulmopinae, enquanto as outras oito morfoespcies

    de maior abundncia restantes pertencem a Subfamlia Galerucinae sendo sete

    delas pertencentes Tribo Alticini.

    Entre as morfoespcies coletadas, 178 possuam distribuio restrita

    (Apndice 1), com destaque para o nmero de morfoespcies encontradas apenas

    em reas de mata (61 espcies restritas), seguido de reas de eucaliptais e

    cerrado natural (cada uma delas com 26); campo natural (22); pasto, vereda e

    mina (9); campo em regenerao e cerrado em regenerao (8).

  • 38

    1 3 7 15 31 63 127 255 511

    Abundncia de Chrysomelidae

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    160

    Fre

    quncia

    Figura 2: Distribuio das abundncias das espcies de Chrysomelidae em Niquelndia e

    Barro Alto - Gois.

    As curvas cumulativas de espcies de crisomeldeos para cada rea e para o

    conjunto de reas (Figura 3) demonstra que a riqueza destas aumenta medida

    que novas reas dentro de uma mesma paisagem so inclusas na amostragem.

  • 39

    A)

    5 9 13 17 21 25 29 33 37 41 45 49 53 57 61 65 69 73 77 81 85 89 93 97

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    400

    450

    Riq

    ueza

    Sobs (Mao Tau) Jack 1 Mean

    B)

    4 7

    10

    13

    16

    19

    22

    25

    28

    31

    34

    37

    40

    43

    46

    49

    52

    55

    58

    61

    64

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    400

    450

    Riq

    ueza

    Sobs (Mao Tau) Jack 1 Mean

    C)

    8

    15

    22

    29

    36

    43

    50

    57

    64

    71

    78

    85

    92

    99

    10

    6

    11

    3

    12

    0

    12

    7

    13

    4

    14

    1

    14

    8

    15

    5

    16

    2

    Amostras

    0

    50

    100

    150

    200

    250

    300

    350

    400

    450

    Riq

    ueza

    Sobs (Mao Tau)

    Jack 1 Mean

    Figura 3: Relao entre acumulao de reas e acumulao do nmero de espcies

    observadas e estimadas de Chrysomelidae em Niquelndia (A), Barro Alto (B) e reas de

    Cerrado_ Niquelndia+ Barro Alto (C).

  • 40

    Ns comparamos a riqueza estimada e abundncia mdia de crisomeldeos

    para os nove tipos de habitats amostrados (Figura 4). Observou-se que as

    maiores riquezas foram encontradas em reas de Mata e Campo em regenerao

    e os habitas com menor nmero de espcies foram os de pasto, mina e vereda.

    No houve diferena entre as abundncias dos diferentes tipos de habitats.

    A

    Ma

    ta

    Ce

    rra

    do

    Na

    tura

    l

    Ca

    mp

    o N

    atu

    ral

    Ca

    mp

    o e

    m R

    eg

    .

    Ce

    rra

    do

    em

    re

    g.

    Ve

    red

    a

    Pa

    sto

    Eu

    ca

    lipto

    Min

    a

    0

    20

    40

    60

    80

    100

    120

    140

    160

    180

    200

    Riq

    ue

    za

    (Ja

    ckn

    iffe

    1)

    B

    Mata

    Cerr

    ado N

    atu

    ral

    Cam

    po N

    atu

    ral

    Cam

    po r

    eg.

    Cerr

    ado r

    eg

    Vere

    da

    Pasto

    Eucalip

    to

    Min

    a

    -0.5

    0.0

    0.5

    1.0

    1.5

    2.0

    2.5

    3.0

    3.5

    4.0

    4.5

    Abundncia

    (lo

    g)

    Figura 4: Riqueza estimada (Jackniffe 1) (A) e Abundncia de Chrysomelidae (B) em

    diferentes habitats do Bioma Cerrado localizados no municpio de Niquelndia,

    Gois.(Barras representam o intervalo de confiana de 95%.)

    3.4. Diversidade beta e padres espaciais da composio de espcies

    A variao na diversidade beta de todos os grupos de habitats avaliados foi de

    0.323 a 0.868. reas de campo natural, campo em regenerao, cerrado natural e

    mata apresentaram maiores valores de diversidade beta possuindo um maior

    nmero de espcies restritas a cada uma das reas e poucas espcie

  • 41

    compartilhadas entre estas, enquanto os menores valores foram registrados para

    as reas de mina e eucalipto (Figura 5).

    Mata

    Cerr

    ado N

    atu

    ral

    Cam

    po N

    atu

    ral

    Cam

    po e

    m r

    eg.

    Vere

    da

    Pasto

    Eucalip

    tal

    Min

    a

    0.2

    0.3

    0.4

    0.5

    0.6

    0.7

    0.8

    0.9

    Div

    ers

    idade B

    eta

    KW-H(7,39) = 30,30; p < 0.01

    Figura 5: Diversidade beta em cada um dos nove grupos de habitat amostrados no

    municpio de Niquelndia-GO e Barro Alto -GO . (Barras representam o intervalo de

    confiana de 95%).

    A diversidade beta total de Chrysomelidae no depende da riqueza estimada

    (Jackniffe 1) (Figura 6). A distncia geogrfica entre reas afeta a diversidade beta

    total de Chrysomelidae (r=0.267, p

  • 42

    0 5 10 15 20 25 30 35 40 45 50

    Riqueza Estimada (Jackknife1)

    0.2

    0.3

    0.4

    0.5

    0.6

    0.7

    0.8

    0.9

    Div

    ers

    ida

    de

    Be

    ta

    r2 = 0.0370, p = 0.2410, y = 0.7644-0.003*x

    Figura 6: Relao entre a diversidade beta de Chrysomelidae com a riqueza estimada

    (Jackniffe) das espcies.

    Tabela 4: Teste de Mantel entre a matriz de dissimilaridade e matriz de distncia

    geogrfica para cada grupo de habitat amostrados em Niquelndia GO.

    Grupo de Habitat r2 p

    Mata -0.061 0.539

    Cerrado Natural 0.179 0.262

    Campo Natural 0.425 0.021

    Campo em Regenerao -0.210 0.701

    Vereda 0.376 0.675

    Pasto 0.635 1.000

    Eucaliptal 0.163 0.668

    Mina 0.004 0.492

    Geral 0.101 0.010

  • 43

    3.5. Ordenao das comunidades de Chrysomelidae

    H diferenas na composio de espcies entre os diferentes grupos de

    habitats (Anosim: r= 0,171, p

  • 44

    B)

    eixo 1 (50.5%)

    eix

    o 2

    (3

    1.3

    %)

    -2.0

    -1.5

    -1.0

    -0.5

    0.0

    0.5

    1.0

    1.5

    -1.4

    -1.2

    -1.0

    -0.8

    -0.6

    -0.4

    -0.2

    0.0

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    1.0

    1.2

    1.4

    1.6 MataCerrado Natural

    Campo Natural

    Campo em Regenerao

    Cerrado em Regenerao

    Vereda

    Pasto

    Eucaliptal

    Mina

    Figura 7: Ordenao das dez espcies mais abundantes de Chrysomelidae (A) e do total

    de Chrysomelidae (B) ao longo dos eixos de NMS em reas de Cerrado, Estado de

    Gois, Brasil.

    3.6. Proporo de Chrysomelidae

    Em geral, a proporo da abundncia de Chrysomelidae sobre o total de

    Coleoptera foi diferente entre os grupos de habitats amostrados sendo maior em

    reas de mata e eucalipto (Figura 8A). J a proporo do nmero de espcies de

    Chrysomelidae sobre o total de Coleoptera no apresentou diferenas entre os

    grupos de habitats Figura 8D). A anlise da tanto da proporo da abundncia

    quanto da riqueza de Chrysomelidae sobre a abundncia e riqueza de colepteros

    herbvoros no foi diferente entre cada um dos habitats avaliados.

  • 45

    A)

    Ma

    ta

    Ce

    rra

    do

    Na

    tura

    l

    Ca

    mp

    o N

    atu

    ral

    Ca

    mp

    o e

    m R

    eg

    .

    Ce

    rra

    do

    em

    Re

    g.

    Ve

    red

    a

    Pa

    sto

    Eu

    ca

    lipto

    Min

    a-0.1

    0.0

    0.1

    0.2

    0.3

    0.4

    0.5

    0.6

    0.7

    Ab

    un

    d

    ncia

    de

    Ch

    ryso

    me

    lida

    e/C

    ole

    op

    tera

    (sq

    rt)

    F(8, 161)=2.4314, p=.01655

    B)

    Ma

    ta

    Ce

    rra

    do

    Na

    tura

    l

    Ca

    mp

    o N

    atu

    ral

    Ca

    mp

    o e

    m R

    eg

    .

    Ce

    rra

    do

    em

    Re

    g.

    Ve

    red

    a

    Pa

    sto

    Eu

    ca

    lipta

    l

    Min

    a

    -0.2

    -0.1

    0.0

    0.1

    0.2

    0.3

    0.4

    0.5

    0.6

    Riq

    ue

    za

    de

    Ch

    ryso

    me

    lida

    e/C

    ole

    op

    tera

    F(8, 159)=.60853, p=.76980

    C)

    Mata

    Cerr

    ado N

    atu

    ral

    Cam

    po N

    atu

    ral

    Cam

    po e

    m R

    eg.

    Cerr

    ado e

    m R

    eg.

    Vere

    da

    Pasto

    Eucalip

    to

    Min

    a

    -0.8

    -0.6

    -0.4

    -0.2

    0.0

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    1.0

    1.2

    1.4

    1.6

    1.8

    Abundncia

    de C

    hry

    som

    elid

    ae/C

    ole

    opte

    ra H

    erb

    ivoro

    s

    F(8, 158)=.38602, p=.92687

    D)

    Mata

    Cerr

    ado N

    atu

    ral

    Cam

    po N

    atu

    ral

    Cam

    po e

    m R

    eg.

    Cerr

    ado e

    m R

    eg.

    Vere

    da

    Pasto

    Eucalip

    to

    Min

    a

    -0.2

    0.0

    0.2

    0.4

    0.6

    0.8

    1.0

    Riq

    ueza d

    e C

    hry

    som

    elid

    ae/C

    ole

    opte

    ra H

    erb

    voro

    F(8, 158)=.25486, p=.97898

    Figura 8: Proporo da abundncia (A) e riqueza (B) de Chrysomelidae sobre o total de

    Coleoptera (Barras representam o intervalo de confiana de 95%.) e proporo da

    abundncia (C) e riqueza (D) de Chrysomelidae sobre o total de colepteros herbvoros

    (Barras representam o intervalo de confiana de 95%.)

  • 46

    4. Discusso

    4.1. Espcies/Gneros como indicadores de qualidade do habitat

    Algumas espcies restritas aos diferentes habitats avaliados no atingiram o

    status de biondicadoras proposto por Dufrene & Legendre (1997), pois, embora

    apresentassem preferncias por determinados habitats, no atenderam ao

    componente de fidelidade, seja por que no ocorreram em todas as reas do

    mesmo tipo de habitat, seja por apresentarem abundncias muito baixas. Uma

    abundncia reduzida limita as possibilidades de que estas mesmas espcies

    sejam encontradas em outras investigaes (McGeoch, 1998), e seu uso de forma

    mais geral como bioindicadores.

    Entre as espcies com IndVal significativo ocorreram morfoespcies

    consideradas indicadoras de reas naturais (campo e vereda), todavia

    predominaram aquelas que indicavam reas antropizadas (cerrado em

    regenerao, com cultivo de eucalipto, reas de minerao de nquel). Para a

    maioria das morfoespcies indicadoras o gnero a qual pertenciam tambm se

    mostrou um bom indicador, reforando seu potencial de indicao. Estes

    indicadores devem estar relacionados diretamente composio da flora existente

    em cada tipo de habitat, que deve reproduzir o estado de conservao do habitat e

    de reas vizinhas a este (Kitching et al., 2000). A reduo na resoluo

    taxonmica ao nvel de gnero precisa reter a habilidade de encontrar

    biondicadores com as mesmas caractersticas gerais.

  • 47

    Crisomeldeos dos gneros Parasyphraea Bechyn, 1959 e Strabala Chevrolat

    1837 mostraram-se indicadores de reas naturais campestres, sendo apontadas

    para o primeiro como plantas hospedeiras espcies do gnero Inga sp

    (Mimosaceae) e Cavendishia sp (Ericaceae) e para o segundo o gnero

    Spermacoce sp. (Rubiaceae)(Flowers and Janzen, 1997), um gnero que possui

    diversas espcies representantes em reas de campo aberto no bioma Cerrado

    (Delprete, 2007). Informaes a respeito da biologia e histria natural do gnero

    Neothona Bechyn 1955, indicador de reas de cerrado em regenerao, no

    foram encontradas. Entre gneros indicadores de reas antropizadas pela

    minerao, esto Diphaltica Barber 1941 que um gnero neotropical associado

    Solanaceas (Furth, 1989;Flowers et al., 1997) e o gnero Longitarsus Berthold,

    1827 encontrado no s na regio neotropical como tambm na nertica, sendo

    polfagos, com algumas espcies com larvas minadoras de folha e tendo como

    principais plantas hospedeiras gneros de Asteraceae, Boraginaceae,

    Convolvulaceae, Lamiaeceae, Linaceae, Solanaceae (Flowers et al.,

    1997;Santiago-Blay, 2004).

    Em relao s morfoespcies com IndVal significativo encontradas em reas

    de eucaliptais vimos que, exceo de Colaspis, as morfoespcies indicadoras

    no pertencem a gneros de besouros comumente considerados pragas desta

    cultura (Ohmart and Edwards, 1991;Freitas et al., 2002), e no constam entre as

    mais abundantes no monitoramento realizado nas mesmas reas de plantao por

    Santos et al (2003b), mas utilizando armadilhas luminosas. As espcies do gnero

  • 48

    Colaspis so conhecidas por atacarem diversas mirtceas incluindo eucalipto

    (Costa Lima, 1955;Fao, 2009).

    As morfoespcies detectoras identificadas pelo IndVal incluram Zeteticus sp,

    Hypolampsis sp1, Iphimeina sp3 e Colaspis sp2 e podem ser consideradas

    biondicadoras capazes de detectar mudanas ambientais no habitat. J Colaspis

    sp9 e Leprotina sp1, so consideradas caractersticas de eucaliptais. Espcies da

    famlia Chrysomelidae podem ser importantes como insetos herbvoros em

    plantios de eucalipto, particularmente em rvores jovens (Freitas et al., 2002), mas

    o monitoramento de populaes de besouros nesse ambiente feito geralmente

    utilizando tcnicas diferentes das aqui utilizadas (principalmente armadilhas

    luminosas e armadilhas de queda). As armadilhas Malaise, utilizadas em nosso

    estudo, favorecem a captura de Chrysomelidae que voam baixo, uma

    caracterstica do grupo que, estando geralmente associados a arbustos e

    subarbustos, ocupam os estratos mais baixos da vegetao (Linzemeyer, 2009).

    Grupos de indicadores podem ser teis no monitoramento ambiental se

    tivermos a capacidade de identific-los corretamente, o que sugere um conflito

    relacionado com a escolha da resoluo taxonmica apropriada. Em reas do

    mundo nas quais h uma grande quantidade das espcies ainda no descritas,

    existem fortes argumentos que favorecem a utilizao de avanos tericos e

    tcnicos para buscar uma utilizao produtiva dos dados coletados(Diniz et al.,

    2010a). Identificao das espcies de Chrysomelidae geralmente difcil em

    reas neotropicais, e informaes gerais sobre esses insetos so raros no

    Cerrado (Pinheiro et al., 2002). Uma alternativa importante a utilizao de um

  • 49

    maior nvel taxonmico, o que pode tornar a identificao mais fcil. Esta escolha

    foi feita por vrios pesquisadores estudando bioindicadores especialmente no

    nvel da assemblia total (Baldi, 2003;Cardoso et al., 2004), ou no estudo de

    surrogates diante de problemas relacionados definio de prioridade de

    conservao (Villasenor et al., 2005;Khan, 2006;Heino and Soininen, 2007).

    Nossos resultados permitem essa escolha, porque fomos capazes de encontrar

    gneros de Chrysomelidae bioindicadores a partir do mesmo conjunto de habitats

    que encontramos para os dados de espcies, o que obviamente uma

    propriedade desejada da abordagem de txons superiores (Khan, 2006). O uso de

    espcies pode ser um avano terico, pois permite uma relao mais adequada e

    direta ao conceito de nicho (Hutchinson and MacArthur, 1959), de acordo com

    uma perspectiva evolutiva sobre bioindicadores. Entretanto, o uso dos gneros

    como bioindicadores deve ser baseada na suposio da conservao do nicho

    (Peterson et al., 1999), hiptese que pode ser suportada pela estreita relao

    apresentada pela Chrysomelidae e suas plantas hospedeiras especialmente no

    nvel de gnero (Staines et al., 1998;Jolivet et al., 2002;Fernandez and Hilker,

    2007). Por outro lado, como as espcies raramente alcanam maiores densidades

    em reas naturais(Hall and Barney, 2010), a amostragem de dados a nvel de

    gnero pode favorecer comparaes e generalizaes em escalas espaciais

    maiores (Balmford et al., 1996;Maurer, 2000).

    4.2. Proporo de Chrysomelidae

    Apesar de uma maior proporo na abundncia de crisomeldeos em reas

    florestais (mata e eucalipto) em geral a proporo da riqueza e da abundncia de

  • 50

    Chrysomelidae sobre o total de Coleoptera e de colepteros herbvoros no se

    mostrou uma mtrica vivel para diferenciao de reas naturais e em

    regenerao. Embora existam indicaes de que comunidades de besouros

    herbvoros predominariam em reas degradadas e ou em incio de regenerao

    (Ganho et al., 2006), esta diferena no foi suficiente para diferenciar reas

    naturais do Cerrado e reas antropizadas. A mobilidade e a capacidade de

    disperso de crisomeldeos seriam suficientes para permitir o intercmbio de

    espcies entre reas adjacentes, ocultando possveis diferenas na proporo

    destes.

    Alm disso, preciso considerar que as diferenas na diversidade de

    comunidade de artrpodes entre reas naturais e perturbadas no so facilmente

    percebidas em formaes savnicas. Os mesmos resultados foram obtidos para

    drosoflideos no-exticos no Cerrado (Mata, 2007) assim como para formigas por

    Hoffmann & Andersen (2003), segundo os quais ambientes abertos seriam menos

    afetados por impactos antrpicos e mudanas no microclima do que ambientes

    florestais.

    Os padres aqui encontrados para as comunidades de crisomeldeos devem

    ser considerados um resultado de caractersticas ecolgicas fixadas nessas

    espcies, com um possvel efeito filogentico e potencial efeito histrico, resultado

    das adaptaes desse grupo a um sistema de mosaico com vegetao aberta e

    reas de vegetao fechada. Seria importante, do ponto de vista da discusso de

    espcies e grupos indicadores de biodiversidade com objetivo de conservao,

    considerar a possibilidade de que esses crisomeldeos possam ser usados como

  • 51

    substitutos ou indicadores (surrogates na literatura em ingls) de outros grupos

    com caractersticas ecolgicas semelhantes. No entanto, a falta de conhecimento

    da distribuio e associao a plantas hospedeiras dessas espcies impede uma

    avaliao imediata dessa hiptese, que merece ser melhor desenvolvida no futuro.

    4.3. Estrutura da Comunidade de Chrysomelidae

    Entre as 10 espcies mais abundantes e cujos gneros no atingiram o status

    de biondicadoras, esto indivduos pertencentes aos gneros Diphaulaca Clark

    1865, Altica Mller 1764, Margaridisa Bechyn 1958 e Parabrotica Bechyn &

    Bechyn 1961. Apenas para o gnero Parabrotica no foram encontradas

    informaes a respeito de plantas hospedeiras e todos os outros gneros

    restantes so polfagos. Existem registros de espcies do gnero Diphaulaca

    atacando plantaes de eucalipto, e associadas fabceas como soja e feijo

    (Loureno and Miranda, 1986;Flowers et al., 1997;Freitas et al., 2002). J o

    gnero Altica tem como plantas hospedeiras indivduos pertencentes s famlias

    Asteraceae, Lythraceae e Onagraceae (Pettis and Bramam, 1979). O gnero

    Margaridisa possui registros de espcies do gnero associadas s plantas das

    famlias Melastomataceae e Solanaceae (Flowers et al., 1997). Esses resultados

    gerais sugerem um suporte hiptese de que a abundncia desses organismos

    maior para as espcies generalistas (Barbosa et al., 2005).

    A comunidade amostrada de Chrysomelidae, assim como outros grupos de

    insetos fitofgos (Hughes, 1986) apresentou um padro recorrente de grande

    nmero de espcies com apenas um ou dois indivduos. Crisomeldeos em

    diferentes biomas brasileiros, como Pantanal (Santos et al., 2003a) e Mata

  • 52

    Atlntica (Linzemeyer, 2009) apresentaram valores superiores a 50% de espcies

    com dois ou menos indivduos. Embora muitas espcies possam ser

    aparentemente raras, por insuficincia amostral ou inadequao de mtodo de

    amostragens, Novotny and Basset (2000) relembram que insetos fitfagos pouco

    abundantes so um importante componente da comunidade de insetos tropicais,

    sendo possvel que essa condio seja natural nesses grupos. Considerando a

    intensidade de nosso trabalho de campo e a escolha de um dos mtodos mais

    apropriados para esta fauna, acreditamos que problemas de amostragem podem

    ser descartados como um fator explicar a raridade neste estudo. Ressalta-se

    ainda que, no bioma Cerrado, as comunidades associadas s plantas como os

    insetos fitfagos, tendem a se encontrar difusas na vegetao, notadamente

    diversa e distribuda em mosaicos e muitas vezes com grande distncia entre

    indivduos da mesma espcie de planta, o que tambm poderia levar a uma baixa

    abundncia e alto grau de restrio na distribuio (Pinheiro et al., 1998).

    Em sistemas ambientais como o Cerrado a diversidade est diretamente

    relacionada com a heterogeneidade ambiental. A reduo da riqueza de

    crisomeldeos no gradiente de reas naturais antropizadas reala o efeito

    negativo de distrbios causados pela expanso das fronteiras agrcolas e demais

    atividades antrpicas sobre a diversidade de determinados grupos da fauna no

    Cerrado (Borges et al., 2010;Diniz et al., 2010b). A substituio progressiva de

    reas naturais poder, eventualmente, levar a uma simplificao irreversvel do

    sistema (Brown Jr, 1997).

  • 53

    O aumento da riqueza de crisomeldeos medida que novas manchas de

    habitat so amostradas numa mesma regio tambm tem implicaes sobre como

    devem ser pensadas as estratgias de manejo da biodiversidade em ambientes

    em mosaico para os diferentes grupos taxonmicos. Para Chrysomelidae a

    existncia de manchas menores e interconectadas em diversos locais da

    paisagem parece ser importante para garantir a conservao de um maior nmero

    de espcies, corroborando com os resultados obtidos para Coleoptera tambm por

    Oertli et.al (2002).

    4.4. Diversidade beta

    A anlise de ordenao reala a grande dissimilaridade entre os pontos e a

    pouca identidade de cada um dos tipos de ambientes. Considerando as espcies

    mais freqentes, observamos que as reas de mina e as de eucaliptais formam

    um grupo facilmente distinguvel dos demais. Evidentemente tais habitats

    representam a mudana mais drstica de composio vegetal no sistema o que

    novamente suporta a hiptese de que os padres de comunidades de

    crisomeldeos devem estar mais associados composio das plantas (Jolivet,

    1992). Se considerarmos que a diferena na estrutura da vegetao e no nvel de

    conservao das reas no constituiu uma barreira disperso de Chrysomelidae

    entre habitats limtrofes pode-se inferir que as reas naturais das diferentes

    fitofisionomias de Cerrado estariam mais sujeitas ocupao por espcies

    associadas ao cultivo de eucalipto, que no encontrariam dificuldades para

    alcanar reas circunvizinhas.

  • 54

    H muitas diferentes formas de se estimar a diversidade beta sendo

    particularmente importante um estimador que no seja sensvel variaes na

    riqueza e de proporo de espcies raras. Os dois problemas, e principalmente a

    alta quantidade de espcies raras ocorrem no sistema estudado. No entanto, a

    no relao entre diversidade beta e riqueza de espcies confirma que o ndice

    quantitativo proposto por Chao et al.(2005), capaz de corrigir esse efeito.

    Em geral a diversidade beta de crisomeldeos maior em reas naturais

    decrescendo em reas antropizadas. Os altos valores de diversidade beta

    encontrados para os habitats naturais de Cerrado refletem uma elevada

    heterogeneidade do ambiente e uma baixa dominncia ecolgica, sendo o

    contrrio encontrado em reas de mina e eucalipto nas quais haveria tambm um

    menor nmero de espcies raras em relao s reas naturais. Em grandes

    propores, as alteraes antrpicas tenderiam a homogeneizar os padres da

    paisagem, ao menos em escalas finas e intermedirias, podendo trazer srios

    danos a diversidade de espcies (Wiens, 2000).

    A diversidade beta entre insetos fitfagos est obviamente ligada ao turnorver

    das espcies de plantas hospedeiras (Odegaard, 2006): a alta heterogeneidade do

    Cerrado, especialmente em relao sua vegetao (Ratter et al.,

    2003;Bridgewater et al., 2004), bem conhecida o que diretamente deve afetar a

    diversidade de espcies crisomeldeos a ela associados, elevando-a. Alm disso,

    a distribuio das espcies deve estar relacionada com a variao nas condies

    ambientais, o que implica que todas as partes de um ecossistema no devem ser

    equivalentes (Legendre et al., 2005).

  • 55

    reas com valores altos de diversidade beta, ou seja, fragmentos mais

    dissimilares devem ser considerados prioritrios para conservao (McKnight et

    al., 2007;He and Zhang, 2009), principalmente em paisagens dominadas por

    mosaicos nos quais diferenas de diversidade beta devem ser acentuadas.

    Conforme Peterson et al (1993), pequenas reservas, mas cuidadosamente

    planejadas, podem ser muito eficientes em conservar as partes mais raras da

    diversidade biolgica do que poucas reservas maiores. A escala espacial desse

    estudo obviamente muito menor do que aquela dos estudos de planejamento

    sistemtico de conservao (Mittermeier et al., 1998;Myers et al., 2000), mas os

    conceitos bsicos de como possvel preservar conjuntos raros de espcies

    dispersos na paisagem ainda podem ser aplicados. A concepo dessas matrizes

    heterogneas deve ser muito semelhante concepo de manuteno da

    biodiversidade em ambientes intensificados pela agricultura (Vandermeer et al.,

    1998;Carvalho et al., 2009), sendo possvel estender esse conceito para outros

    tipos de alterao antrpica da paisagem. Nesses sistemas importante

    considerar que mesmo fragmentos pequenos podem ser importantes na

    manuteno da diversidade total e da capacidade de recuperao de reas pela

    capacidade de disperso, principalmente de insetos. Essa viso ressalta a

    importncia da manuteno dos corredores de mata ciliar e reas inclinadas do

    terreno, protegidas pela legislao brasileira e da reserva legal (Lei 4771/65)

    Avaliaes da diversidade da flora indicam que no bioma Cerrado as espcies

    esto pouco difundidas geograficamente, sendo necessrio que vrios stios

    sejam selecionados no planejamento de reservas de forma que uma maior

  • 56

    diversidade de espcies de plantas seja includa (Bridgewater et al., 2004).

    Nossos resultados suportam essa viso, j que a curva de acmulo de espcies

    entre reas mostra que, tambm para crisomeldeos, so necessrias muitas

    reas para representar uma grande proporo da diversidade total do sistema.

    Isso revela a grande dificuldade de um planejamento de conservao em reas de

    mosaicos ambientais como o do Cerrado aqui estudado.

    Como habitats diferentes podem estar adjacentes na paisagem estudada, a

    distncia entre as manchas de habitats do mesmo tipo pode ser uma barreira que

    limita o compartilhamento de espcies entre estes, enquanto a proximidade com

    outros habitats pode facilitar a disperso e compartilhamento de espcies. Esse

    mecanismo s explicaria os padres de diversidade observados em trs

    situaes: (i) se as espcies forem suficientemente generalistas para utilizar novos

    recursos no habitat prximo; (ii) se existe a mesma espcie de planta hospedeira

    no novo habitat, ou o besouro capaz de utilizar folhas de plantas

    filogeneticamente prximas ali presentes; e (iii) se a ocorrncia do besouro for um

    fato acidental, devido a sua mobilidade no ambiente.

    Estudos recentes mostram uma alta diversidade beta em comunidades

    vegetais de Cerrado, especialmente em paisagens fragmentadas e sob forte

    presso antrpica (Felfili and Felfili, 2001). Analogamente, ns encontramos uma

    alta diversidade beta entre os habitats naturais estudados o que sugere mais uma

    vez que a preservao de apenas algumas reas no capaz de manter toda a

    biodiversidade da paisagem. Desta forma, uma maior diversidade seria alcanada

    em ambientes que mantenham um mosaico que inclua tipos vegetacionais no

  • 57

    perturbados, reas em regenerao, clareiras naturais, clareiras resultantes de

    atividades antrpicas e reas manejadas (Lawton et al., 1998;Ganho et al., 2006).

    Esses resultados reforam que atividades impactantes no Cerrado devem ser

    consideradas dentro de um modelo conceitual de Cerrado que privilegia a

    heterogeneidade na paisagem como fator determinante dos padres de

    diversidade encontrados.

    5. Concluses

    O grande nmero de espcies de Chrysomelidae consideradas raras, de

    restrio dos crisomeldeos em cada uma das reas e a alta diversidade

    encontrada em reas naturais, dificultam a deteco de espcies que possam ser

    utilizadas como biondicadoras, mesmo que estas tenham reconhecida

    sensibilidade a mudanas ambientais. Explica tambm porque a maioria das

    morfoespcies com valores de IndVal significativo encontradas so para

    ambientes mais homogneos como eucaliptais e mina. Ns consideramos que

    utilizao de gneros de Chrysomelidae como biondicadores mais vantajosa em

    avaliaes ambientais de qualidade do habitat.

    As diferenas no nmero de espcies entre os habitats com nvel de

    conservao ou tipo fitofisionmico indicam uma maior riqueza e diversidade em

    reas naturais e de regenerao em relao s reas que sofreram os impactos

    antrpicos. Estes resultados alertam para o efeito da expanso de atividades

    como minerao e agricultura sobre a diversidade de crisomeldeos.

    Diferentemente do encontrado em outros ecossistemas a proporo de indivduos

  • 58

    de Chrysomelidae sobre o total de Coleoptera assim como do nmero de espcies

    no se mostrou capaz de detectar mudanas na estrutura do ambiente

    Um sistema biondicador incluindo no s informaes sobre a riqueza e

    abundncia de espcie, mas tambm a composio de cada tipo de habitat

    necessrio para permitir o entendimento das respostas de comunidades naturais

    de crisomeldeos s modificaes no ambiente. A relao entre acumulao de

    espcies de crisomeldeos e acumulao de reas amostradas assim como a alta

    diversidade encontrada para o grupo no Cerrado refora que, especialmente em

    ambientes em mosaicos, a manuteno no s de grandes reas mas de vrias

    manchas de diferentes habitats pode evitar a perda de espcies como tambm de

    que estas manchas precisam estar prximas e interconectadas. O aumento das

    distncias entre manchas semelhantes em funo da perda de habitats

    decorrentes de alteraes antrpicas no ambiente provavelmente implicaria em

    uma reduo do compartilhamento de espcies, podendo ao longo do tempo,

    comprometer a persistncia de muitas espcies.

  • 59

    6. Referncias Bibliogrficas

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