christiane cavalcante frauzino

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Page 4: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

Universidade Federal de Goiás

Faculdade de Artes Visuais

Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual

Mestrado

Vultos de Vestígios

A Poética de Uma Lembrança

Christiane Cavalcante Frauzino

Trabalho final de Mestrado

Goiânia/GO

2015

Page 5: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

Universidade Federal de Goiás

Faculdade de Artes Visuais

Programa de Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual

Mestrado

Vultos de Vestígios

A Poética de Uma Lembrança

Christiane Cavalcante Frauzino

Trabalho final de mestrado apresentado à Banca Examinadora do Programa de

Pós-Graduação em Arte e Cultura Visual – Mestrado da Faculdade de Artes

Visuais da Universidade Federal de Goiás, como exigência parcial para

obtenção do título de MESTRE EM ARTE E CULTURA VISUAL, linha de

pesquisa Poéticas Visuais e Processos de Criação, sob orientação do Prof. Dr.

José César Teatini de Souza Clímaco.

Goiânia/GO

2015

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Page 7: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

TERMO DE CIÊNCIA E DE AUTORIZAÇÃO PARA DISPONIBILIZAR AS TESES

EDISSERTAÇÕES ELETRÔNICAS (TEDE) NA BIBLIOTECA DIGITAL DA UFG

Na qualidade de titular dos direitos de autor, autorizo a Universidade Federal

de Goiás (UFG) a disponibilizar, gratuitamente, por meio da Biblioteca Digital de

Teses e Dissertações (BDTD/UFG), sem ressarcimento dos direitos autorais, de

acordo com a Lei nº 9610/98, o documento conforme permissões assinaladas

abaixo, para fins de leitura, impressão e/ou download, a título de divulgação da

produção científica brasileira, a partir desta data.

1. Identificação do material bibliográfico: [ x ] Dissertação [ ]

Tese

2. Identificação da Tese ou Dissertação

Autor

(a):

Christiane Cavalcante Frauzino

E-mail: chrisfrauzino@g

mail.com

Seu e-mail pode ser disponibilizado na página? [ x ]Sim [ ] Não

Vínculo empregatício do autor

Agência de fomento: CNPQ Sigla:

País: Brasil UF:

GO

CNPJ:

Título

:

Vultos de Vestígios – A poética de uma lembrança

Page 8: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

Palavras-chave: Xilogravura, Memória,cartografia,Lembrança,Imagem, Site

Specific

Título em outra língua:

Palavras-chave em outra

língua:

Woodcut, Site Specific, Cartography, Memory, Image,

Remembrance.

Área de concentração: Arte, cultura e visualidades

Data defesa:(14/04/2015)

Programa de Pós-Graduação: Programa de pós-graduação em Arte e Cultura

Visual

Orientador

(a):

Prof. Dr. José César Teatini de Souza Clímaco.

E-mail: [email protected]

Co-orientador

(a):*

E-mail:

*Necessita do CPF quando não constar no SisPG

3. Informações de acesso ao documento:

Page 9: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

Concorda com a liberação total do documento[ X ] SIM [ ] NÃO1

Havendo concordância com a disponibilização eletrônica, torna-se imprescindível o

envio do(s) arquivo(s) em formato digital PDF ou DOC da tese ou dissertação.

O sistema da Biblioteca Digital de Teses e Dissertações garante aos autores,

que os arquivos contendo eletronicamente as teses e ou dissertações, antes de sua

disponibilização, receberão procedimentos de segurança, criptografia (para não

permitir cópia e extração de conteúdo, permitindo apenas impressão fraca) usando

o padrão do Acrobat.

________________________________________ Data: ____ / ____ / _____

Assinatura do(a) autor(a)

1Neste caso o documento será embargado por até um ano a partir da data de defesa. A extensão deste

prazo suscita justificativa junto à coordenação do curso. Os dados do documento não serão

disponibilizados durante o período de embargo.

Page 10: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

Resumo: Deambulando pelo território da memória afetiva, encontrei uma lembrança

singular da qual comecei a explorar as possibilidades de um processo poético entre

gravura e site specific. A presente pesquisa esboça um breve percurso possível de ser

visualizado através da proposta de elaboração de um site retira imagens de matrizes

apropriadas dos restos do antigo assoalho do casarão de meus familiares na cidade

de Morrinhos e as transpõe para longas cortinas. A partir desse processo é que busco

as relações poéticas entre os referenciais teóricos e execução poética de uma obra.

Palavras-Chave: Xilogavura, site specific, memória, lembrança, imagem.

Abstract: The present article evoke memories from my childhood and bring to

present poetic elements that I will to construct a project for site specific. Images-

memories of the past came into my mind like photographs. The memory like a

poetic territory envolve and put together past and present on the same line,

breaking boundaries. The images used to make the curtains, were printed from

woodcut , pieces of old floorboard. Between present and past, images and

memories, i try to connect ideas to propose possilites dialogues poetic.

Keywords: woodcut, site specific, memory, image, remembrance.

Page 11: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

Dedicatória

Dedico essa dissertação aos meus pais Vadinho e

Tinha, pois sem eles teria sido impossível chegar ao fim;

aos meus irmãos Dede, Bito e Nega, que estavam na

torcida organizada; aos meus filhos que ficaram ansiosos

para que isso chegasse ao fim e eu pudesse ter tempo

para eles; ao meu ex-marido, professor e artista Paulo

Veiga que me ensinou o valor da incasável pesquisa; aos

meus queridos amigos Vivi, Fê e Sayô por terem estado

comigo na alegria e na tristeza; à minha tia Diná pelo

constante incentivo e carinho e a minha vó que rolou de rir

enquanto eu raspava as taboas do assoalho.

Agradecimento

Agradeço imensamente a todo o corpo de funcionários da

FAV/UFG, da limpeza à diretoria. Agradeço ao corpo de

professores do PPGAV da FAV e aos secretários sempre

prontos e pacientes; aos coordenadores e ao CNPQ que

viabilizou esta pesquisa até o final.

Agradeço imensamente ao Prof.Dr. Thiago S’Ana e as

Profas. Dras. Eliane Chaud, Anahy Jorge e Lilian do

Amaral, por terem me estendido me instigado à novas

pesquisas e por me apontarem novos e infinitos rumos.

Page 12: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

Faço aqui um agradecimento especial ao meu orientador,

por permitir que eu caminhasse , corresse, caísse e

levantasse . Obrigada Zé

Page 13: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

Lista de figuras

Fig. 01.Christian Boltanski, Espíritos, 2013. Kustnmuseum Wolfsburg. Fotografia: Marek Kruszewski.

Fig.02.Christian Boltanski, Espíritos, 2013. Kustnmuseum Wolfsburg. Fotografia: Marek Kruszewski

Fig 03. Alain Fleischer. À procura de um rosto para Stella Venezizner, 2013. Fotografia: LP Côte Galerie de l’UQUAM.

Fig.04. Alain Fleischer. À procura de um rosto para Stella Venezizner, 2013. Fotografia: LP Côte Galerie de l’UQUAM. Fig. 05. Selma Parreira, 2008. Lençóis esquecidos num Rio Vermelho. Fotografia: Selma Parreira. Largo da Carioca, Cidade de Goiás –Go Fig. 06. Selma Parreira, 2008. Lençóis esquecidos num Rio Vermelho. Fotografia: Selma Parreira. Cidade de Goiás. Go. Fig. 07. Vitrola da família. Fotografia, Chris Frauzino, 2014.

Fig. 08. Vovó Irene. Fotografia, Chris Frauzino, 2014

Fig. 09. Barracão do casarão. Morrinhos-Go. Chris Frauzino, 2015.

Fig. 10. Barracão do casarão, entulhos. Morrinhos-Go. Chris Frauzino, 2015.

Fig.11. Detalhes do entulho do assoalho. Morrinhos-Go. Chris Frauzino, 2015.

Fig.12. Fotografia das Matrizes e primeiras frottages.Chris Frauzino, 2013

Fig. 13. Fotografia. Numeração das matrizes na parte posterior. Chris Frauzino. 2013

Fig.14. Marcel Duchamp.50 ccof Paris Air, 1919

Fig.15.. Yves Klein.Vitória de Samotrácia.1962. Museo Reina Sofia. Madri.

Fig.16. Yves KleinVitória de Samotrácia,1962.Três pontos de vista.Museo Reina Sofia. Madri.

Fig.17. Yves KleinVitória de Samotrácia,1962. Museo Reina Sofia.Madri. Recorte e alongamento por Christiane Frauzino, 2013.

Fig. 18-38. Matriz de peroba rosa. Foto: Chris Frauzino, 2013.

Fig.39.Casarão da família. Fotografia, Chris Frauzino, 2014

Fig. 40. Simulação digital para a instalação da cortinas. Fotografia, Chris Frauzino, 2014

Fig. 41. Avenida Coronel Pedro Nunes,Morrinhos-Go, década de 40. Anônimo.

Fig.42. Técnico Gráfica Econômica Digital. Roniele Eterno.Instalação noturna das cortinas.Foto: Chris Frauzino, 2015.

Fig. 43-62 – Registro fotográfico do Site specic. Foto: Chris Frauzino, 2015.

Page 14: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

Sumário

1. Introdução .................................................................................................. 01

2. Metodologia ................................................................................................ 04

3. Memórias ao relento .................................................................................. 07

4. A poética de uma lembrança .................................................................... 14

4.1. O assoalho ............................................................................................. 14

4.2. A apropriação do objeto ........................................................................ 18

5. Um olhar fotográfico sobre as matrizes virgens.................................. 27

5.1.Ouça-me.

Série de fotografias ....................................................................................... 33

6. Vultos de vestígios ................................................................................... 54

6.1. Processo e materialidade ...................................................................... 60

7. Rastros.

Registro fotográfico....................................................................................... 63

8. Saideira........................................................................................................ 85

9. Referências bibliográficas......................................................................... 87

Page 15: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

1

1.Introdução

Vultos e vestígios – A poética de uma lembrança, é um percurso

cartográfico pelo território da memória, uma deambulação que resgata, reflete,

transpõe e re-elabora uma lembrança através do processo de criação que

emerge dos procedimentos da gravura, frottage, site specific e fotografia.

A pesquisa parte das vivências e trocas que experimentei ao longo do

meu percurso afetivo em relação ao assoalho da sala de estar do casarão da

minha família na cidade de Morrinhos-Go. Imersa nessa relação com esse

objeto e as reverberações que este afectou minhas memórias, busquei trazer à

evidência as formas possíveis reveladas em imagens através da gravura. Para

que tais imagens pudessem se concretizar, me apropriei de cinco matrizes de

um entulho do antigo assoalho do casarão para delas extrair imagens através

da frottage e posteriormente executar gravuras impressas manualmente.

A trajetória da lembrança afetiva transitou pelo território da memória,

pelo geográfico , pelo conceitual buscando um lugar específico – o site specific.

Aqui , nesta presente pesquisa, a linguagem do site specific abre espaço para

que a lembrança se sobreponha por algum tempo sobre a paisagem local . A

partir das gravuras impressas das cinco matrizes, elaborou-se a confecção de

cinco cortinas em tecido branco, estampadas com a imagens das gravuras

originais e em seguida foram fixadas sobre as cinco janelas do casarão pelo

lado externo.

Para que esse processo, tanto teórico quanto prático, tivesse seus

pilares fundados de forma objetiva, reflexiva e pautada nas discussões

coerentes com a arte contemporânea, agregou-se aqui as referências sobre

memória em Bergson e a poética de Bachelard.

Para a presente pesquisa, o território que foi explorado e dele extraiu-

se elementos latentes para a produção em gravura foi o território da memória,

mais especificamente, uma lembrança escolhida do meu acervo-memória; uma

imagem-lembrança como matriz e as possibilidades de seus desdobramentos-

impressões a partir das formas híbridas e plurais de construir e transitar com a

gravura por vários espaços, territórios de representação simbólica, visual,

conceitual e poética.

Page 16: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

2

A semente dessa investigação e parte de um recorte temporal e espacial

dentro do meu ‘percurso’ familiar. Elegi a lembrança que tenho do assoalho da

sala de estar do casarão dos meus bisavós paternos e a relação de afetos que

estabeleci com esse “suporte” quando ainda era criança.

As lembranças são imagens invisíveis, inexistentes ao olhar físico de um

observador externo; estão navegando em arquivos virtuais de nossa memória

prontas para serem ativadas a qualquer instante, são nossas matrizes originais

entalhadas no transcorrer da nossa vida formando imagens dos momentos

vividos. Cada indivíduo possui suas próprias imagens latentes no seu universo

particular de imagens, sendo então, o único capaz de ver suas imagens-

lembranças. A imagem de uma lembrança torna-se então uma matriz única de

um momento específico. Ela pode ser relembrada a qualquer momento; pode

também polarizar os seus sentidos. “A lembrança pura com efeito, é por

hipótese, a representação de um objeto ausente”. (BERGSON, 2010a, p.80).

Levando até o fim essa distinção fundamental, poderíamos representar-nos duas memórias teoricamente independentes. A primeira registraria, sob forma de imagens-lembranças, todos os acontecimentos de nossa vida cotidiana à medida que se desenrolam; ela não negligenciaria nenhum; atribuiria a cada fato, a cada gesto, seu lugar e sua data. Sem segunda intenção de utilidade ou aplicação prática, armazenaria o passado pelo mero efeito de uma necessidade natural. Por ela se tornaria possível o reconhecimento inteligente, ou melhor, intelectual, de uma percepção já experimentada; nela nos refugiaríamos todas as vezes que remontamos, para buscar aí uma certa imagem, a encosta de nossa vida passada. Mas toda percepção prolonga-se em ação nascente; e à medida que as imagens, uma vez percebidas, se fixam e se alinham nessa memória, os movimentos que as continuam modificam o organismo, criam no corpo disposições novas para agir. (BERGSON, 2010b, p.88)

Nossas imagens-lembranças, só existem em nós e em nenhum outro

sujeito, só se processam em nós, em nosso corpo onde habitam e apenas

nossos olhos internos podem visualizá-las. Nossas imagens internas, nossas

memórias, só podem ser observadas, olhadas e percebidas por nós mesmos.

Podemos vê-las no escuro ou no claro, de olhos abertos ou fechados. Uma

lembrança, só pode ser compartilhada quando de alguma forma, elaboramos

um meio de concretizá-la, seja oralmente ou através de representações visuais.

No entanto, o que se apresentará dessa lembrança será apenas fragmento,

Page 17: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

3

vestígios ou signos; nunca a matriz real invisível, armazenada na memória. É

preciso tornar visível a representação de uma lembrança através de um meio

que nutrirá a vivência experienciada, lembrada. Pelo menos é assim que como

artista, exercito parte da elaboração da poética e do processo criativo do

trabalho que aqui pretendo refletir.

Lembrança como matriz, é então para esta pesquisa, a plataforma sobre

a qual pretendo articular minha produção poética em gravura e as

possibilidades de cruzamentos e tramas que essa linguagem oferece em sua

amplitude de técnicas, suportes, hibridizações de conceitos e representações.

Sobre a reflexão do que vem a ser a imagem e como a percebemos, Jacques

Aumont (1995) elucida o funcionamento óptico do mecanismo de percepção de

uma imagem e como nosso olho age fisicamente a essa engrenagem. Para ele,

“as imagens são feitas para serem vistas, além da capacidade perceptiva.

Entram em jogo o saber, os afetos, as crenças, que por sua vez, são muito

modelados pela vinculação a uma região e sua história (a uma classe social, a

uma época, a uma cultura)”. Sobre essa mesma forma de perceber e olhar o

mundo, os roteiristas e diretores João Jardim e Walter Carvalho apresentam no

documentário A Janela da Alma (2001), artistas de várias áreas que expressam

sua forma de perceber o mundo através do olhar e como o processo desse

olhar elabora poéticas de criação e conceitua novos olhares.

Para Maurice Merlau-Ponty (2007), “ o que os olhos veem e como

percebo, sinto e penso com meu corpo; vemos também o invisível e muitas

vezes não temos certeza; o ver gera em nosso corpo a percepção de imagens

as quais emergirão no recesso do corpo”. Platão, chama de “... imagens em

primeiro lugar as sombras, depois os reflexos que vemos nas águas ou na

superfície de corpos opacos, polidos e brilhantes e todas as representações do

gênero”. Essas imagens que os olhos podem visualizar articulam o

pensamento através da percepção de tais imagens, e nos diz o que são e do

que se trata aquilo que estamos vendo, e esse aquilo também no olha (DIDI-

HUBERMAN, 2013a). Vultos de vestígios traz à luz imagens de uma lembrança

armazenada na memória e que se processou em forma de arte buscando

assim existir e coexistir em novos lugares.

Page 18: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

4

2.Metodologia

O artista é um produtor de arte, um fazedor de poesia. O lugar da arte

reside primeiramente no lócus-corpo do artista. Moradia de vivências,

existências múltiplas de um sujeito social e cultural imerso em seu tempo e

envolto em contínuas transformações que transpassam seu corpo e seu

universo imaginário . Uma produção artística não parte de um absoluto vazio,

nem mesmo de um buraco negro de alguma galáxia perdida. Penso então que

diagnosticar a célula que por algum estimulo, alterou-se detonando um

processo de imbricamentos e discussões na constituição do corpo poético de

uma obra, seja ela uma dança de elementos visíveis e invisíveis, necessária de

ser estudada a olhos e corpos abertos, ao trabalho artístico nascido,

executado, visto e pronto para ser um objeto visível, perceptível, está a

concretização real e física do que se iniciou com um estímulo. Pronto. Talvez

recorrer num primeiro instante a Spinoza (2009) sobre como brotam os afetos,

poderia nos elucidar como um vagalume o processo criativo rizomático de um

artista.

Descrever, discutir e tornar público as formas de fazer arte propicia uma

arena de participações múltiplas, necessárias à manutenção do campo da arte

como campo de trabalho profissional, fortalecendo e acrescentando às

referências e sedimentando a área das artes.

Não há método, metodologia a ser aplicado sobre um vazio. Saberes e

conhecimentos são antes de qualquer grupo de regras a serem seguidas,

vivências internalizadas. Os processos de internalização de conhecimentos e

apreensão de conteúdos são singulares a cada pessoa. Mesmo que os

conhecimentos formais estejam formatados em matrizes curriculares, a

maneira como cada pessoa tomará posse e absorverá o que lhe está sendo

apresentado, será individualizado. No campo das poéticas visuais nas artes, a

metodologia de trabalho não está apartada do processo criativo, ou seja, não

há setor A e setor B nos processos poéticos de construção de trabalhos. O que

se dá é uma eclosão de substâncias em estado de latência, cruzamentos de

Page 19: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

5

referências, estados prenhes de ideias, conceitos, críticas, vontades, desejos,

frustações, sonhos, desilusões, indignações, percursos, deambulações,

divagações. Na verdade é uma eclosão de coisas que fazem parte do sujeito

artista e do processo de criação.

A produção poética cria mais problemas e perguntas do que propõe

soluções e respostas. Se há algum problema; o que se entende por problema?

Algo parecido como resolver uma expressão algébrica? Não é o caso aqui de

resolver nenhum problema, mas refletir e compartilhar uma poética. Durante

minha trajetória, a vivência em arte, através da dança, do desenho, da

fotografia, da performance, do vídeo e também como docente, formaram uma

base que facilitou a lida com os métodos e formas de gerar dados para essa

pesquisa. O que me proporcionou resolver com certa desenvoltura as questões

de metodologia a ser usada, visto os anos de docência, a experiência de

montar disciplinas, escrever projetos, participar de editais de arte e cultura,

montar estratégias e planejamentos, organização e direção de espetáculos,

produção de eventos e exposições e assim segue. O que não quer dizer que

eu seja exímia escritora. Então, metodologicamente falando, fiz um cronograma

básico e flexível, como uma tela de touchscreem de um dispositivo móvel e

seus ícones de aplicativos flexíveis a manipulação e acesso, para iniciar a

parte escrita – ler e fazer anotações a partir do tema que eu já havia delimitado;

produzir gravuras; refletir sobre as leituras e a produção; delimitar rumos a

serem seguidos; eleger e rejeitar referências e artistas; trocar ideias com

professores e colegas; escrever; deletar; reescrever. Basicamente é isso. Um

constante exercício de fazer e refletir, tomar decisões, definir o que vai se

concretizar e elaborar as ações para concluir o trabalho.

A compreensão do sistema de funcionamento da memória, dos

caminhos que levam à aprendizagem e da construção de conhecimentos,

assim como suas manifestações e representações visuais e poéticas são de

suma importância para qualquer indivíduo que lida com a leitura e análise de

imagens, com a crítica, com a produção e mediação das artes visuais, tanto na

comunicação visual quanto na cultura visual.

Page 20: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

6

“...’aprendizagem’ é apenas uma palavra que utilizamos para nos

referirmos a determinadas ações realizadas pelo indivíduo quando ele

tem seu comportamento modificado mediante um esquema ou

programa previamente estabelecido.[...] ‘Investigar’ e ‘aprender’ são

também dois termos diferentes que utilizamos para descrever o mesmo

fenômeno. [...] Ao tratar da investigação, estamos falando do aspecto

ativo do indivíduo no processo de aprendizagem; ele age sobre o meio

em que está.”(DUTRA, 2000, p.17, 18).

Então, entender e considerar como funciona nossa máquina cerebral e

como nossa subjetividade se converte em representação nos conduz mais

conscientes rumo ao campo da construção e formação de pensamentos, na

formulação de conceitos e na elaboração de estruturas culturais, assim

também como nos permite trilhar por territórios ainda não explorados do nosso

universo imaginário e a partir dele produzir novas imagens em arte.

Page 21: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

7

3. Memórias ao relento

A memória, seja ela individual, compartilhada ou coletiva, tem sido tema

para vários trabalhos na artes em todo o mundo. Neste capítulo trago três

referências de artistas que elaboraram suas poéticas tendo como plataforma de

reflexão a memória e que a transpuseram para o site specifc. Busquei nesses

artistas a aproximação com o meu trabalho que também trata da memória e do

site specific. São eles e ela, Christian Boltanski, Alain Fleischer e Selma

Parreira. Os três artistas exploram o potencial do espaço físico como espaço

ampliado para a discussão sobre a memória e o esquecimento elaborando

suas poéticas através da fotografia e do site specific. É no espaço físico

escolhido pelos artistas que se expande o conceito de rememoração das

imagens esquecidas, sejam elas individuais ou coletivas. No processo de

instalação do site specific da produção das imagens, suscita reflexões em

contínuo fluxo . Podemos perceber o quanto esse processo reverbera na

potencialização de cada poética.

A instalação é o plano de consistência de um conceito prometido, cuja promessa se desenvolve, cresce, murcha, acerta, fracassa, mas deixa sempre resíduos. Seu conceito não se dissolve porque seu caminho passa pela produção desses resíduos, produção condicionada na fricção inerente ao entender. Enquanto prática enunciativa, a instalação gera esse corpo residual que é o corpo de uma proposição sobre um teatro que não se consome. (HUCHET,2006, p.37)

Há décadas Boltanski, artista frânces, multifacetado, trabalha com a ideia

de memória e transitoriedade, sendo esses seus maiores temas. Segundo o

artista, o ser humano morre duas mortes, a morte física e a morte imaterial

quando a imagem e a memória se apagam. Na imagem abaixo, a instalação

Espíritos (2013), Boltanski trabalha com imagens de arquivos fotográficos. A

imagem abaixo mostra uma das instalações feita especialmente para o

Kustnmuseum Wolfsburg na Alemanha. As imagens foram impressas em

tecido transparente e se movimentam por um sistema de transporte e

ventiladores.

Page 22: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

8

Fig. 01.Christian Boltanski, Espíritos, 2013. Kustnmuseum Wolfsburg. Fotografia: Marek

Kruszewski.

Fig.02.Christian Boltanski, Espíritos, 2013. Kustnmuseum Wolfsburg. Fotografia: Marek

Kruszewski

Page 23: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

9

Os elementos de construção da instalação Espíritos, como a fotografia, o

tecido, o sistema de movimentação dos painéis e os ventiladores, constroem

juntamente com o discurso da memória e do esquecimento a plataforma para

uma reflexão sobre nossa transitoriedade enquanto seres humanos.

Alain Fleischer, também francês e um artista pluridisciplinar, segundo ele

mesmo, trabalha os temas entre esquecimento e memória resgatando arquivos

fotográficos e filmográficos para a elaboração de seus trabalhos e instalações.

Fleischer é escritor, fotógrafo, artista e cineasta, tendo realizado vários filmes

sobre outros artistas inclusive sobre Christian Boltanski. Em entrevista à artista

goiana Anahy Jorge em 2006, o artista descreve o processo de criação de sua

instalação intitulada Á la recherge d’um visage pour Stella Venezianer (1995),

(À procura de um rosto para Stella Venezianer).

Ele realiza uma coleção de imagens fotográficas das tumbas da sessão

israelita de um cemitério italiano, cujas lápides possuem imagens e

nomes impressos em medalhões. Alain Fleischer fotografa as imagens

de mulheres que morreram antes de 1930, ou seja, antes da grande

catástrofe do nazismo, durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945)

[...] Sua intenção, segundo disse, era a de salvar essas mulheres de

uma segunda morte, a morte pelo esquecimento, pela memória.

(JORGE, 2013)

Nessa instalação, as imagens são projetadas nas paredes de uma

antiga e abandonada igreja francesa, as janelas estão cobertas com cortinas

pretas e o público ao adentrar o local recebe um espelho para visitar a

instalação. Segundo Fleischer (2002), o espelho serve como reflexo do auto

retrato e também como dispositivo de rebatimento dos feixes das projeções;

dessa forma o visitante é co-participante na criação de novas imagens. Essa

relação da imagem fotográfica do retrato, tendo o espelho como objeto de

reflexão da imagem , é para Fleischer o diálogo ente a imagem individual e a

imagem coletiva, entre a lembrança individual e a lembrança coletiva. Dessa

forma a voz dos entes queridos não se calam no universo do esquecimento.

Page 24: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

10

Fig 03. Alain Fleischer. À procura de um rosto para Stella Venezizner, 2013.

Fotografia: LP Côte Galerie de l’UQUAM.

Fig.04. Alain Fleischer. À procura de um rosto para Stella Venezizner, 2013.

Fotografia: LP Côte Galerie de l’UQUAM.

Page 25: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

11

Dentre os artistas que elegi como referência, a goiana Selma Parreira

em seu trabalho Lençóis esquecidos num Rio Vermelho (2008), que consiste

em utilizar ensaios fotográficos, instalação e vídeodocumentário, também

busca na fotografia e nos acervos fotográficos o elemento almagama para criar

um discurso poético sobre a memória e o esquecimento e a partir desses

procedimentos trazer à tona as histórias que foram relegadas ao completo

apagamento.

Para a elaboração desse trabalho, realizei pesquisas em acervos públicos e privados na antiga capital goiana e em Goiânia. Encontrei registros imagéticos (fotografias, pinturas, desenhos e mapas) e alguns textos literários e jornalísticos. Foi com esses registros, que remetem ao cotidiano do rio entre 1930 e 1950, que me certifiquei das potencialidades históricas, sociais, geográficas e estéticas do lugar. A intervenção urbana Lençóis esquecidos no Rio Vermelho é um site específic de caráter efêmero e se relaciona com a história e as memórias do rio e das lavadeiras de roupas daquela cidade. (PARREIRA,2010).

Fig. 05. Selma Parreira, 2008. Lençóis esquecidos num Rio Vermelho. Fotografia: Selma Parreira. Largo da Carioca, Cidade de Goiás -Go

Page 26: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

12

Fig. 06. Selma Parreira, 2008. Lençóis esquecidos num Rio Vermelho. Fotografia: Selma Parreira. Cidade de Goiás. Go.

Sigo em frente, agora tendo esses três grandes artistas como referência

por trabalharem temas com os quais me debruço para elaborar este projeto de

site specifc. A memória, o esquecimento, a rememoração e o site specifc, são

aqui nesta pesquisa os pilares sobre os quais estarão assentados meu

processo de criação. Então, amparada por estas referências, friso aqui o

quanto o tema memória, lembrança e esquecimento afectam não apenas meu

universo afetivo, mas também o de outros artistas. Tema esse que desenterra

histórias mortas, lembranças soterradas, acontecimentos ignorados. Os

processos e que envolvem a construção de um site specific nos trabalhos

citados acima, formulam a poética de cada artista. A partir de seus conceitos e

das formas de imaginar as possibilidades de construção da obra através de

imagens Bachelard (1991) diz que o enquanto poeta “o homem satisfaz uma

potência de criação que se multiplica por numerosas metáforas”. O espelho de

Alain Fleischer seria uma dessas metáforas.

Page 27: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

13

A imaginação humana é um reino novo que totaliza os princípios de imagens em ação nos três reinos mineral, vegetal, animal. Graças às imagens o homem é apto para terminar a geometria interna, a geometria verdadeiramente de todas as substâncias. (BACHELARD,1991, p.23)

Nos trabalhos dos três artistas, foram utilizadas imagens fotográficas de

arquivos, espaços físicos abandonados, esquecidos ou institucionalizado como

museus, tecidos, água, bacias, ponte, espelho, cortinas, ventiladores. São

esses elementos que a imaginação humana do artista poeta reinventa para

elaborar sua poética e construir um site specifc , terminando sua geometria

interna. São nesses procedimentos e na reflexão sobre como cada artista

elaborou seu site specif a partir de seus acervos e arsenal de matérias que me

debruço sobre o meu tema memória, lembrança, site specifc.

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4.A poética de uma lembrança

Somente quando a alma e o espírito estão unidos num devaneio pelo devaneio é que nos beneficiamos da união da imaginação e da memória. É nessa união que podemos dizer que revivemos nosso passado. Nosso ser passado imagina reviver.

Gaston Bachelard

4.1.O assoalho

Vozes cruzadas dentro e fora da sala de estar, parecia uma grande

discussão mas era apenas a descendência italiana flamejando naqueles

encontros de domingo. Três janelas abertas, duas que se abriam para a rua de

paralelepípedos, outra que se refestelava para o alpendre com um parapeito

que dá de frente para mesma rua. Gente dentro e gente fora, gente sentada

nos sofás, gente dormindo nos sofás. Lá fora havia gente em pé de braços

cruzados, gente recostada no parapeito do alpendre e no batente de uma das

janelas que dava para a rua de paralelepípedos. Em quase todo canto da sala

havia gente. O piso de assoalho encerado era tão lustroso que até as cabeças

dos pregos tilintavam brilhando. A sala parecia uma grande caixa acústica.

Cada passo dado sobre o assoalho reverberava uma nota grave que

misturando com as vozes formava uma composição aconchegante aos meus

ouvidos curiosos.

Ressoavam vozes barbarelhando muitos tons; o masculino, o feminino,

os sons das vozes dos anciãos, as dos mancebos, os agudos da meninada

entrando e saindo da casa, passando como manada alegre sobre o assoalho

de tábuas largas, tábuas lustradas a escovão de ferro com palha de aço e

flanela. A cera que hidratava as tábuas largas era preparada no fogão a lenha

e aquecida em sua própria lata, depois de derretida era jogada sobre o

assoalho e espalhada com um pano no rodo. Assim, repetidas vezes, a cera

derretida era jogada sobre o assoalho, e cada vez que esse gesto se repetia o

líquido espesso formava imagens avermelhadas sobre as tábuas. A

Page 29: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

15

imaginação precisava ser rápida para “ver” que bicho ou coisa ou gente havia

se revelado como figuras efêmeras. Pois logo vinha o rodo e o pano, em

movimentos verticais de vai-e-vem, diluindo minha brincadeira.

Depois da cera seca seguia a segunda parte de tratamento de

hidratação do assoalho, lustrar. Essa parte me assustava porquê a ‘coisa’, que

fazia o trabalho de lustrar o assoalho e deixa-lo tão brilhante, parecia um

bicho peludo feito de ferro com algumas coisas escritas que eu nunca

conseguia ler. O bicho pesava mais do que qualquer coisa que algum dia eu

conseguira levantar, aliás, nunca era permitido nem mesmo tentar arrastá-lo.

Apesar da aparência ‘ferrofeiosa’ eu amava os seus movimentos, para cima e

para baixo sobre as tábuas, fazendo com que o assoalho ficasse brilhando de

forma que os móveis da sala se refletiam sobre ele revelando as imagens que

povoavam minha imaginação. Desviando por entre as pernas das pessoas

grandes, eu percorria com o dedo indicador as imagens anamorfas

desenhadas sobre o assoalho num movimento corporal pouco civilizado para

uma menina, o que acabará por me deixar com os joelhos esfolados enquanto

me arrastava pelo território cartográfico do assoalho.

Lustrado e reluzente, ali estava ele, pronto para outro fascínio

inquietante, peculiar das crianças curiosas - deitar no chão e colar o ouvido no

assoalho para ouvir os sons que dele evaporavam. Os tacos dos sapatos

tocavam o assoalho e retiravam da madeira deitada percussões, batidas

ritmadas, compassos de cada passo singular, de cada gente que entrava, saía,

voltava, andava, parava. Leveza no tocar o chão de madeira com os sapatos;

passos pontuados, passos certeiros, passos arrastados. Como o reverberar do

som na cabeça miúda pousada no chão morno, ouvido colado e corpo largado

sobre as tábuas largas, podia provocar tamanho rebento de fascínio e

gargalhadas!

Batidas sapateadas no assoalho, numa mistura de catira e paso doble,

ouvido colado no chão e a meninada a decifrar o pisar singular do tio, da tia, da

avó, da bisavó. Entre cada tábua uma fresta escura, frestas que o dedo curioso

não se detinha em cutucar e achar de quando em vez uma ferpinha que

provocava uma ai, um choro, uma cara feia e sem graça. Dedo curioso que

Page 30: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

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insistia em deslizar pelas frestas negras das tábuas largas e corridas, pois que

o olho não cabia ali, e se coubesse encontraria um cupim espeto e certeiro a

ferir as pálpebras arregaladas. Olho e nariz nas frestas, com sorte era possível

encontrar um tesouro perdido, uma chave, um grampo de cabelo, um papel de

chiclete, um brinco, uma miçanga, alguma coisa que alguém com dedos

grossos não teria conseguido salvar. Quando cada um de nós encontrávamos

o que quer que fosse valioso, nos juntávamos para avaliar as fortunas

adquiridas das profundezas das frestas negras. Em círculo, aquele restrito clã

comemorava suas preciosidades recém encontradas e no troca-troca de

avaliações estipulávamos valores mais elevados conforme a nobreza de cada

peça do nosso tesouro.

Outras lembranças se desprendem de outra memória e chegam até

mim. A sala com piso de assoalho foi um dia lugar para saraus entre familiares

e amigos. Até hoje permanece na sala uma grande vitrola que mais parece

uma grande caixa de som com balcão em cima. Ainda é linda e suntuosa, bem

preservada e conservada com carinho pela família. Essa peça de mobiliário

antigo parece estabelecer um portal para idas e vindas ao passado. Atualmente

a vitrola não canta mais nos saraus, tão pouco há saraus na sala de estar.

Fig. 07. Vitrola da família. Fotografia, Chris Frauzino, 2014

Page 31: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

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A memória parece ser assim, um portal para entradas e saídas, idas e

vindas de acesso ao passado. É assim com Dona vitrola imensa e robusta, que

agora abriga sobre seu balcão inúmeros brique-a-braques desde um mini

oratório de Santo Antônio a porta-retratos, objetos made in China, convites de

casamento, convite de batizado, convite de chá de panela, convite de chá de

berço, convite de chá de fraldas, convite de formatura, santinhos, terços, velas,

jarro de flores e ainda sobra espaço para a poeira se assentar.

As janelas da sala já não ficam mais abertas como num passado de

infância. A janela que dá para o alpendre de parapeito e o alpendre que dá

para a rua de um asfalto ordinário, já não se abre mais, agora ela é apenas

uma janela memorial onde ficam afixadas algumas fotografias, calendário anual

e papéis de presente. O piso da sala de estar não ressoa mais os sons

vibrantes dos pés tocando o assoalho, agora se andamos sobre um piso frio.

Fig. 08. Vovó Irene. Fotografia, Chris Frauzino, 2014

Page 32: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

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Vasculhar lembranças, relatos, compartilhamentos, vasculhar baús,

ouvir, descobrir, escrever no tempo presente sobre aquilo que ainda se

esconde no silêncio. Falar do que ainda não foi dito por estar soterrado no

esquecimento. “Toda imagem é uma memória de memórias, um grande jardim

de arquivos declaradamente vivos” (SAMAIN,2012).

Caixa craniana, porões, caixa de Pandora (DIDI-HUBERMAN, 2009),

esse é o lugar, a morada de nosso encéfalo. Esse ser, cérebro, que possui a

capacidade de gravar e armazenar fatos reais, imaginários e sonhos no

território invisível o qual nomeamos de memória, e onde estão registrados,

através de lembranças, nossas vivências e experiências, conceitos e juízos,

elaboração de pensamentos. Construídos ao longo da nossa trajetória de vida

esse acervo pode ser acionado para vir a tona ao toque de um click e assim

abrir portas e janelas de lembranças conforme a necessidade de um dado

momento.

Segundo Bachelard (1990) esse lugar de morada das lembranças e

também lugar de nossa intimidade é a casa natal.

Assim, uma casa onírica é uma imagem que, na lembrança e nos sonhos, se

torna uma força de proteção. Não é um simples cenário onde a memória

reencontra suas imagens. Ainda gostamos de viver na casa que já não existe,

porque nela revivemos, muitas vezes sem nos dar conta, uma dinâmica de

reconforto. Ela nos protegeu, logo, ela nos encontra.( BACHELARD, 1990, P.

92)

4.2. A apropriação do objeto

No barracão do casarão dos meus bisavós, vi um amontoado de

madeira. Ainda residem na casa minha avó paterna de 90 anos e minha tia-avó

de 86 anos, ambas professoras de português. O amontoado de madeira no

barracão dos fundos da casa, era restos do assoalho da sala de estar do

casarão. Ao olhara aquele amontoado percebi naquele momento que nasceu

uma conexão entre lembranças do chegar ao lugar, de respirar o ar da casa

Page 33: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

19

velha e poder formular algo significativo daquele entulho. As lembranças já

estavam armazenadas na minha memória, o que se deu naquele momento foi

o encontro dessas lembranças com aquele lugar, naquele momento, naquela

pessoa, ou seja todos esses elementos provocaram um reação afetiva de

rememorar e ao mesmo tempo em que se deu o início de um processo

criativo para a produção de trabalhos ainda latentes.

Há alguns anos atrás, o assoalho da sala de estar foi removido devido a

deterioração que sofreu ao longo dos anos; as tábuas ficaram empilhadas num

barracão no fundo do casarão. Muitas delas estavam totalmente danificadas,

apodrecidas, carcomidas por carunchos e cupins. Outras ainda era possível de

se aproveitar, dando uma boa lixada, raspando e ressignificando sua função

como objeto. Resolvi fuçar e revirar aquele amontoado de tábuas e ver o que

se poderia aproveitar de algumas placas de madeira para “poetizar” e

“gravurar”, afinal, aqueles vestígios do assoalho da sala de estar, eram

testemunhos de muitas histórias, piadas, saraus, muitas crianças correndo no

entre e sai dos domingos. Revirar o monte de madeira foi também revirar

minhas lembranças.

Aos poucos e devagar, fui desmontando aquele monte de tábuas em seu

silêncio, quietas, esquecidas e despojadas de sua função de sustentação de

corpos. Elas e eu; um diálogo que emergiu entre poeira, teias de aranha, terra,

insetinhos em carcaça. Tábuas de um assoalho que por um século, brilhou

lustroso no casarão, testemunhou alegrias, tristezas, segredos, chegadas e

partidas. Eu refletia sobre a história do assoalho enquanto estendia cada tábua

sobre o chão, separando por tamanhos e por qualidade de aproveitamento.

Estendidas alí no chão, parei por algum tempo o olhar sobre elas enquanto

passado e presente se fundiram num lugar saudade. O que são essas tábuas

agora? A que se destinam enquanto eu as olho? Somos. Apenas somos, um

instante, entreo passado e o agora. O instante segundo Bergson (2007), “ é a

conjunção entre a duração compactada- ou seja, ainda não expressa – e a

duração distendida – expressa em palavras, números e símbolos”( GOMES,

2007a).

Page 34: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

20

Uma escolha em que, da heterogeneidade do emaranhado de significados possíveis, a consciência elegesse uma expressão homogênea, compreensível, contável, compatível com o tempo externo e mecânico compartilhado pelas pessoas, permitindo propor um significado único ou principal ao instante. O instante, assim, é a síntese da contraposição entre a totalidade heterogênea da consciência e a expressão homogênea de um significado. ( GOMES, 2007b, p. 9 )

Destrinchar a pilha de tábuas velhas, histórica, afetiva e tocá-las,

acariciando ao carrega-las de um canto para outro, o que um dia foi

aproximadamente 10m2 de tábuas corridas revelou imagens através das

minhas lembranças. Piso lustrado no escovão toda semana com cera

vermelha. Chão nunca frio nunca quente, sempre aconchegante. Pés calçados,

ritmos andantes construindo musicas sem autoria, e que o próprio mover dos

dias e do cotidiano, cuidou de elaborar sonoridades. Cada um que caminhava

sobre o assoalho tinha sua identidade, e nós, as crianças, sabíamos quando

era a tio, a tia, a avó, a bisavó.

Essas lembranças, aqui registradas, contam histórias de uma família que

tinha por costume congregar sua presença sobre um solo sonoro e que se

confundia com as vibrações das vozes nos encontros de domingo. A madeira,

o escovão, a cera, as janelas, as pessoas, enfim, os elementos que

construíram essa lembrança compartilhada ergueram a arquitetura do casarão

tanto como casa edificada como casa afetiva. Morada de lembranças. A casa

natal , segundo Bachelard (1990) é o nosso lugar de habitação das lembranças

e por sua vez da intimidade.

O mundo real apaga-se de uma só vez, quando se vai viver na casa da

lembrança. De que valem as casas da rua quando se evoca a casa

natal, a casa da intimidade absoluta, a casa onde se adquiriu o sentido

da intimidade? Essa casa está distante, está perdida, não a habitamos

mais, temos certeza, infelizmente, de que nunca mais a habitaremos.

Então ela é mais do que uma lembrança. É a casa de sonhos, a nossa

casa onírica. (BACHELARD, 1990, pg. 75).

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Fig. 09. Barracão do casarão. Morrinhos-Go. Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 10. Barracão do casarão, entulhos. Morrinhos-Go. Chris Frauzino, 2015.

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Fig.11. Detalhes do entulho do assoalho. Morrinhos-Go. Chris Frauzino, 2015.

Page 38: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

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Placas de madeira quase virando poeira, cidades de cupins, árvores em

túmulos. Assoalho, placas lado a lado marteladas com pregos e fixadas sobre

toras de madeira. Espaço entre o chão e o assoalho, o vão, caixa de

ressonância, andanças sobre o piso, músicas. A noite quando tudo se

aquietava, os estalos das madeiras se dilatando ou se ajustando para o dia

seguinte, podiam ser ouvidos dos quartos. Eu ficava de ouvido atento para

cada nova nota musical que supitava do assoalho.

Voltando ao trabalho de limpeza das placas de madeira, ganhei um

pequeno ajudante de quatro anos de idade, meu primo Victor Hugo, um

Frauzino da quinta geração da união de Evaristo Frauzino e Alzira Quinta,

meus bisavós. Olhar para esse momento e constituí-lo de significado poético,

tangencia passado e presente num evento singular e único. São dessas

poesias que se pode construir significados e poéticas na arte. Meu pequeno

primo nem sabe o significado daquelas madeiras, mas ali está ele me ajudando

a lixar e raspar parte do que foi também história de nós dois. Ele toca no

passado. E vendo esse momento não pude deixar de registrar a forma como eu

o entendia e percebia. Percebi como poética e possibilidade de construção de

processos afetivos, que é o corpo latente dessa composição de palavras e

imagens – a dissertação e a produção plástica.

Separei cinco placas de madeira, peroba rosa, as primeiras

selecionadas de uma pilha amontoada no barracão. A partir dessa primeira

seleção comecei o trabalho de raspar as camadas grossas de cera. Para esse

procedimento, usei uma espátula de metal, dessas que se encontra em casas

de material de construção, trincha larga, escova metálica e lixas para madeira.

Além é claro do meu equipamento de segurança do trabalho – luvas e óculos

de proteção. Algumas placas estavam bem danificadas e continham partes de

cimento e muito verniz grosso.

Raspei, lixei e limpei as cinco placas com um pano úmido. Fiz um

primeiro registro gráfico, utilizando a técnica de frottage. Usei papel manteiga

formato A1 e giz de cera preto de ponta grossa. “A frottage, como se sabe, é

uma técnica arqueológica por excelência: capta os traços mais antigos e

menos visíveis que sejam [...] Através dessa técnica, obtém- se a impressão

humilde. [...]” (DIDI-HUBERMAN, 2009, p.62)

Page 39: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

25

“A frottage é tanto leitura e compreensão quanto gravação fiel da forma.

Ela é imagem direta, imediata, imagem primeira da realidade, primeira leitura e

codificação de uma superfície. Ação de conhecimento através da pele” (DIDI-

HUBERMAN, 2009, p.62 Apud. PENONE)

Então, ao utilizar essa técnica pude trazer a luz as imagens gravadas

nas matrizes; fiquei parada em frente àquelas imagens, uma pausa no tempo.

Imagens surgidas não da minha articulação gestual, mas do esfregaço sobre

os vestígios impregnados pelo tempo sobre as madeiras, sobre os relevos e os

buracos. Cada placa foi numerada de um a cinco, como também os registros

por frottage. As cinco matrizes do assoalho foram embaladas em papel

manteiga na cidade de Morrinhos para serem transportadas até Goiânia. Aqui

chegando fiz os primeiros registros fotográficos dessa primeira etapa da

produção como arquivo do processo de produção inicial.

Fig.12. Fotografia das Matrizes e primeiras

frottages.Chris Frauzino, 2013

Page 40: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

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Fig.13.Fotografia. Numeração das matrizes na parte posterior. Chris Frauzino. 2013.

Na segunda etapa da produção, , utilizei tinta gráfica preta, papel

manteiga e impressão manual para as primeiras impressões. Foram feitas duas

impressões no dia dezoito de setembro, o primeiro dia de chuva do mês após

muito calor e baixa umidade. Logo na primeira entintada da matriz nº 01, o

verniz que havia na chapa soltou-se em pequenas lascas aderindo ao rolo de

borracha. Nesse primeiro procedimento foi possível perceber a brecha para

uma reflexão sobre a forma como o tempo pode ser explorado como elemento

simbólico significante, tendo exercido a sua ação implacável sobre a matriz.

O exercício das poéticas penso eu, pode emergir a partir de questões

tanto técnicas quanto das elaborações conceituais sem que essas duas

vertentes sejam excludentes ou mesmo inviáveis. Diria então que o

entrelaçamento tanto das proposições das técnicas de produção material

quanto da produção simbólica e poética estão emaranhadas no processo de

criação sem que haja necessariamente a rígida exigência de se saber onde

começa e onde termina uma e outra. Ao perceber as lascas de verniz que se

soltaram da matriz e já sabendo que isso iria interferir no resultado final da

imagem impressa, pude naquele momento eleger dois caminhos a serem

Page 41: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

27

tomados a partir desse dado– o primeiro era parar o procedimento e limpar o

rolo de borracha, lixar a matriz para retirar todo o verniz e a partir daí reiniciar

o processo de entintagem; o segundo era tomar o elemento surpresa como

presente ofertado pelo acaso e que se revelou como possibilidade de refletir

sobre a poética da ação tempo sobre a matriz. Elegi o segundo e me apropriei

do elemento surpresa da matriz me oferecia além de sua organicidade já

precária e carcomida, a sua superfície desenhada, sulcada pela ação do tempo

ao longo de cem anos.

5.Um olhar fotográfico sobre as matrizes virgens

As imagens fotográficas aqui apresentadas neste capítulo foram

capturadas com o propósito de produzir imagens poéticas; não são instantes

decisivos” como diria Cartier-Bresson; muito pelo contrário, são imagens

preparadas, articuladas ao discurso poético. Para Roullé( 2009) “ uma tal

imagem fotográfica não é uma simples impressão de coisas materiais, mas sim

a atualização de uma relação fotográfica (imaterial) com um estado de coisas

(material): a passagem de um infinito-virtual para um finito-atual”. Tudo aquilo

de imaterial, reservado no território da memória, imagens- lembranças, e que

os olhos não podem ver proponho como imagens fotográficas revelando

visualidades de um território invisível de lembranças, afetos, sonhos. São

lembranças, imagens-matrizes, reveladoras de uma materialidade articulada.

Nesse trabalho, artista e fotógrafa coincidem em uma mesma pessoa,

orientando o que vejo e como vejo. As imagens fotográficas obviamente não

são isentas de influências estéticas, de vivências e experiências visuais como

afirma Rouillé (2009).

Quanto às suas imagens, elas mobilizam outros elementos armazenados em sua memória: suas habilidades e suas competências fotográficas, as miríades de imagens que ele já viu, assim como os esquemas formais e estéticos que assimilou... Algumas de suas lembranças são então reativadas, sua percepção é estimulada e orientada, e seu corpo mobilizado em uma verdadeira dança ritual onde todos os movimentos (aproximações, afastamentos, joelho no chão, deslocamentos laterais, etc.) produzem efeitos estéticos diretos. (ROUILLÉ, 2009, p.225.)

Page 42: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

28

O sujeito por trás das lentes não é apenas um operador do botão de

disparo da câmera fotográfica. Fotografar a partir de um conceito, exige do

fotógrafo elaborações pertinentes e coerentes com o assunto que se tem a

frente. A atividade prática da fotografia, não se resume a técnicas e truques

tecnológicos. O uso da fotografia para a série Ouça-me, não está ali, a serviço

como mera ferramenta de um registro fotográfico. É portanto um registro

poético de olhares para um mesmo objeto, visto por ângulos diferentes, por

aproximações e distanciamentos diferentes, articulando nesse processo a

construção de poéticas visuais possíveis . Segundo Rouillé,(2009) “ essa

função de ferramenta é apenas uma das versões das relações entre a

fotografia e a arte”, e da qual Marcel Duchamp também fez uso em algumas

de suas obras como, Fountain (1917), 50 cc Paris of Air (1919),RroseSélavy

(1920), Belle Haleine, Eau de voilette (1921). Mesmo que Duchamp não tenha

utilizado a fotografia como concepção conceitual, ele inaugura não somente a

arte contemporânea, mas o entrecruzamento entre arte e fotografia rompendo

assim com a querela de ódio entre a pintura e a fotografia. É no procedimento

artístico e conceitual que reside a obra de Duchamp, quando ao tomar alguma

coisa do seu lugar habitual, do seu regime de verdade e reelaborar sua forma

de apresentação - ready-made–ele então transforma simbolicamente o uso

original de tal coisa, ou tal objeto e registrando-a através da fotografia

potencializa um novo conceito, um novo sentido, uma nova forma de olhar para

um objeto.

Page 43: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

29

Fig.14. Marcel Duchamp.50 ccof Paris Air, 1919

Entre a experiência visual e a sensorial diante de uma obra de arte e a

experiência apenas visual, através de imagens fotográficas, vistas a partir de

revistas, catálogos, jornais, TV e web, abre-se um abismo vertiginoso em

relação a forma como compreendemos o que vemos, e é por isso que se faz

tão necessário abordar a fotografia como objeto poético nesse contexto de

produção. No ensaio de Walter Benjamin (2012), A obra de arte na era de sua

reprodutibilidade técnica, o autor faz distinções sobre processos manuais e

técnicos de reprodutibilidade de obras de arte. Mas é com a fotografia que ele

esclarece o potencial da reprodução – “ela pode, também, graças a

procedimentos como a ampliação ou a câmara lenta, fixar imagens que fogem

inteiramente à ótica natural. Em segundo lugar, a reprodução técnica pode

colocar a cópia do original em situações impossíveis para o próprio original”. É

particularmente nessa proposição, que explorei uma experiência vivida entre a

fotografia e uma obra de arte. É importante expor situações num varal de

discussões e articular ideias entre um ponto e outro, e entre vários pontos,

Page 44: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

30

tecendo informações e compreendendo novas relações possíveis dentro desse

exercício.

Estar diante de uma obra de arte e visualizar uma imagem fotográfica da

mesma obra, consiste em experiências profundamente diferenciadas. Mesmo

que a fotografia de uma obra possa tomar rumos que a própria obra não

consegue atingir, segundo Bergson (2012), a fruição do espectador frente ao

original transfigura uma experiência sensorial, da qual a imagem fotográfica

não dá conta. O espectador, fruidor da obra de arte, é tomado por um campo

de dados estéticos, forma, cor, tipo de material do qual a obra é feita, espaço

expositivo, iluminação ambiente ou ao ar livre, sensações olfativas, audíveis e

segue assim uma infinidades de dados. Ao olhar uma fotografia de uma obra

de arte, o que vemos é uma informação visual do original, que pode ser

apresentada em formatos diferenciados e veiculada em diversos meios de

circulação. Não é possível ter noção das dimensões físicas reais de uma obra

de arte através da fotografia.

Numa visita ao Museo Reina Sofia (Madri) em 2000, tive a oportunidade

de estar diante de várias obras; porém uma em particular me encantou. Uma

pequena escultura azul de aproximadamente 35 cm de altura. Já havia visto a

fotografia da escultura numa aula de história da arte, porém, ao vê-la ao vivo e

a cores, fui tomada de um surpreendente encantamento. Imaginava, por ver a

escultura através de imagens fotográficas, que se tratava de um objeto imenso.

Qual foi a minha surpresa ao ver uma pequena escultura toda em azul, de um

azul que também jamais se perceberia na imagem fotográfica, e experimentar

essas relações de aproximações e distanciamentos tendo uma mesma obra

como referência. Enganar os olhos, essa é uma das façanhas da fotografia

devido a seus vários recursos técnicos, uso de lentes diferenciadas que

modificam a percepção visual ocular, o controle de luz e sombras, os

distanciamentos e afastamentos em relação ao objeto.

Page 45: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

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Fig.15. Yves Klein.Vitória de Samotrácia.1962. Museo

Reina Sofia. Madri

Fig.16. Yves KleinVitória de Samotrácia,1962.Três pontos de vista.Museo Reina Sofia. Madri.

Page 46: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

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Ao olhar para a imagem fotográfica da escultura de Yves Klein, não é

possível saber as proporções de medidas em centímetros ou metros, ou

também peso e cheiro. Podemos sim ter informações que geralmente seguem

as imagens fotográficas, veiculadas como fonte de divulgação. Na foto acima,

temos três ângulos de visão da mesma obra, o que nos dá informações visuais

diferenciadas, é claro, se estivermos dispostos a olhares sobre uma obra. Se

ampliarmos uma delas ou mesmo fizermos um recorte, teremos ainda outras

informações.

Fig.17. Yves KleinVitória de Samotrácia,1962. Museo Reina Sofia.

Madri. Recorte e alongamento por Christiane Frauzino, 2013.

Na imagem acima é possível perceber a alteração que a imagem

fotográfica provoca em nossa percepção visual a partir de um procedimento

simples, recortar e alongar. Assim, cria-se uma outra imagem, outra referência

que não atualiza e nem mesmo traz informações que possam trazer retornar a

fotografia original. Se exponho o recorte como uma obra isolada ou componho

com uma série de outros recortes, inauguro uma nova história para um

fragmento manipulado. São esses jogos entre obra de arte e fotografia,

fotografia e poéticas, conceitos emaranhados e caminhos se cruzando, que

fervilha a vontade de poetizar com a série Ouça-me.

.

Page 47: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

33

5.1.Ouça-Me

Fig. 18. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

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Fig.19.Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

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Fig. 20. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

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Fig. 21. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

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Fig. 22. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

Page 52: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

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Fig.23. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

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Fig.24. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

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Fig. 25. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013

Page 55: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

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Fig.26. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

Page 56: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

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.

Fig. 27. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

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Fig. 28. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

Page 58: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

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Fig.29. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

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Fig. 30. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

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Fig. 31. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

Page 61: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

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Fig. 32. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

Page 62: CHRISTIANE cavalcante FRAUZINO

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Fig. 33. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

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Fig. 34. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

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Fig. 35. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

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Fig. 36. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

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Fig. 37. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

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Fig. 38. Matriz de peroba-rosa. Fotografia: Chris Frauzino, 2013.

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6. Vultos de vestígios

Como uma lembrança que veio a tona pode tomar corpo e ter um

significado com múltiplos desdobramentos? Como as cascas do tempo estão

sobrepostas nesse sistema que nomeamos de memória? Rememorar uma

lembrança é também olhar, ‘levantar os olhos’ para perceber o que está nos

olhando (DIDI-HUBERMAN, 2013); essa imagem-lembrança vem habitar meus

afetos e territorializar-se em processo criativo de elaboração de um site

specific.

“ Nas artes, a evocação das memórias pessoais implica a construção de um lugar de resiliência, de demarcações de individualidade e impressões que se contrapõem a um panorama de comunicação à distância e de tecnologia virtual que tendem gradualmente a anular as noções de privacidade, ao mesmo tempo que dificultam trocas reais” (CANTON, 2013).

É portanto no território da memória que reside a potência latente de

performar poéticas, de deambular entre o passado e o presente, de resistir ao

apagamento desenfreado .

O esquecimento é, certamente, um tema em si mesmo. Diz respeito à noção de rasto, de que falamos antes, e da qual tínhamos constatado a multiplicidade de suas formas: rastos cerebrais, impressões psíquicas, documentos escritos dos nossos arquivos. O que a noção de rasto e esquecimento têm em comum é, antes de tudo o mais, a noção de apagamento, de destruição. Mas este processo inevitável de apagamento não esgota o problema do esquecimento. O esquecimento tem igualmente um polo ativo ligado ao processo de rememoração, essa busca para reencontrar as memórias perdidas, que, embora tomadas indisponíveis, não estão realmente desaparecidas. (RICOUER, 2003).

Os elementos visuais, conceituais, concretos e geográficos, formulam

em si um lugar de discurso que leva em consideração a poética do espaço

(BACHELARD,1994 ) e como esse espaço pode ser simbólicos e poético

dentro das proposições que o trabalho necessita para ser formulado e nutrido.

Os espaços físicos-geográficos, estão ligados diretamente com a estrutura do

discurso que busco tratar nessa articulação entre memória, lembrança, lugar,

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territórios, afetos, paisagem alterada. O propósito de eleger o site specific como

linguagem para essa série de gravuras foi pensado de maneira afetiva e

simbólica, considerando os significados que cada procedimento, dentro do

processo do trabalho, pudesse contribuir com seu corpus e assim estruturasse

a poética de uma lembrança.

Vultos de Vestígios – a poética de uma lembrança, busca estabelecer

relações de diálogo entre o passado e o presente, interior e exterior, público e

privado, a janela como moldura, a contemplação, a reinvenção de uma furtiva

paisagem, a apropriação da fachada do casarão, a intervenção num lugar

doméstico, a casa como espaço poético, e sua construção arquitetônica, a

topográfica, os transeuntes e motoristas e outros circulantes que transitam pela

Avenida Coronel Pedro Nunes, o lugar geográfico como palimpsesto, a morada

dos vestígios de lembranças, ausências, presenças, a rua, a calçada, os

vizinhos. Partindo então, desse primeiro ‘sítio arqueológico’ delineado e

demarcado como lugar de semeaduras das poéticas possíveis de emergirem

dessas relações, ou seja, do território da memória, do território de uma

lembrança como poética e seus desdobramentos como espaço de travamentos

e inquietações é que suscitam os desdobramentos para a proposta de um site

specific.

A lembrança que aqui trago, parte do desejo de rememorar a infância,

rememorar a casa natal; o desejo de rever o que já está soterrado pelo tempo,

assim voltar à casa da infância é segundo Bachelard (1990) a casa dos nossos

sonhos.

Assim , uma casa onírica é uma imagem que, na lembrança e nos sonhos, se torna uma força de proteção. Não é um simples cenário onde a memória reencontra suas imagens. Ainda gostamos de viver na casa que já não existe, porque nela revivemos, muitas vezes sem nos dar conta, uma dinâmica de reencontro. Ela nos protegeu, logo ela nos reconforta ainda. (BACHELARD, 1990, p. 92).

A veladura das janelas, tanto visual quanto simbólica, concretizada pelas

longas cortinas, alia traços de vestígios deixados pelo tempo na memória, na

minha memória afetiva em relação ao assoalho da sala de estar, congrega

múltiplas relações entre o espaço físico e o espaço memória. Vultos de

Vestígios, rastros, pós-lugar; territórios entrecruzados e diálogos em trânsitos

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sobre e sob superfícies poéticas. Camadas de peles de tintas, peles de asfalto,

poeiras, paralelepípedos, descascados invisíveis sobrepostos ao longo da

degradação de uma paisagem local. Lembrança que viaja até o presente para

habitar-se no corpo imagem (BERGSON, 2010), no corpo território osmótico de

trocas entre partículas do universo particular de imagens e no “corpo que é o

veículo do ser humano no mundo, e ter um corpo é, para um ser vivo, juntar-se

a um meio definido, confundir-se com certos projetos e empenhar-se

continuamente neles” (Merleau-Ponty,1994). Confundir-se é aqui, o rebuliço

que uma reflexão poética suscita nas fronteiras dos campos visíveis e

invisíveis.

Fig.39.Casarão da família. Fotografia, Chris Frauzino, 2014

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Fig. 40. Simulação digital para a instalação da cortinas. Fotografia, Chris Frauzino, 2014

A proposta para o site specific consistia em fixar cinco cortinas sobre as

janelas do casarão, pelo lado de fora, contendo imagens impressas a partir de

cinco matrizes. Cada matriz provem do restolho do antigo assoalho da sala de

estar. Foram impressas gravuras com tinta gráfica preta manualmente sobre

papel manteiga. Em seguida, as imagens foram digitalizadas e reconfiguradas

através do software CorelDRAW X7, preparando os arquivos digitais para a

impressão final das gravuras sobre tecido. A partir dos arquivos digitais, as

gravuras foram estampadas sobre dezesseis metros de tecido branco 100%

poliéster através da técnica de sublimação, estamparia digital. Após esse

processo, as cortinas foram confeccionadas e separadas conforme as gravuras

originais; deu-se o processo de montagem do site specific .

A casa centenária, construída no século XIX, onde nasceu Alzira Quinta

Frauzino (1895-1988), minha bisavó paterna, ainda está ‘plantada’ no mesmo

lugar, no mesmo sítio; porém ela agora é apenas um exemplar palimpsesto

(CORBOZ,1983), tendo tido a sua primeira fachada ‘raspada’ e sobre sua

estrutura emergida uma nova ‘escritura’, uma nova forma, novas linhas, uma

entrada lateral com alpendre em substituição a entrada original . A porta de

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entrada que antes estava ‘desenhada’ na fachada da casa foi deslocada para o

alpendre lateral, que tem saída para um estreito corredor com três degraus e

que daí desemboca para a rua. Essa ação humana, de causar uma alteração

para além da estrutura arquitetônica, reflete o que Corboz vem conceituando

como território, ou seja, o resultado de diversos processos que estão em

relação direta com o espaço topológico, geográfico, cultural, histórico,

econômico, político, dinamismos urbanos, jurisdição, gestão de bens,

inovações tecnológicas, instalação de indústrias. Para o autor não há território

sem imaginar um território, ele porta um nome.

Imersa nessas reflexões do campo expandido do conceito de território, é

que exercito possíveis relações de tempo, espaço, lembrança, memória,

apropriação de restos de assoalho, lugar, paisagem urbana alterada. A ação de

instalar um trabalho, ou seja, toda a trajetória que a ideia carrega até sua

concretização final - as cortinas instaladas que alteram a paisagem e abre

espaço para uma reflexão sobre espaço-tempo-imagem-lembrança - instauram

um discurso carregado de referências, tanto sobre o conceito de memória

enquanto lugar (BERGSON, 2010) quanto do território como espaço imaginado

( CORBOZ,1983), e fértil para a construção de uma nova paisagem, novas

cartografias e novas deambulações. A Avenida Coronel Pedro Nunes era uma

rua pavimentada com paralelepípedos e no meio dela ao longo de toda sua

extensão havia árvores altas de copas grandes. Atualmente a rua está

pavimentada com um asfalto ordinário tecido de remendos. As árvores agora

estão apenas nas lembranças e nos registros fotográficos.

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Fig. 41. Avenida Coronel Pedro Nunes,Morrinhos-Go, década de 40. Anônimo.

Para Anne Cauquelin (2007) “Não é mais o objeto posto ali que é a meta

a alcançar, mas o modo como ele pode ser posto”. É esse modo de ser posto

que permite o acontecimento do “lugar específico do discurso”

(KIWON,1997)e sua ‘localização’ proposto ao ato do exercício de transitar,

derivar pelos territórios da lembrança, do espaço geográfico, do lugar de

elaborações poéticas, de articular ‘no’ e com ‘o’ site-specific.

A frente do casarão compreende uma extensão de 15 metros, voltada

para a Avenida Cel. Pedro Nunes, nº 312, centro. A rua é uma via pública de

passagem e de ligação com outras vias que se comunicam dando acesso para

as rodovias estaduais GO 476 e GO 213 e para rodovia federal, BR 153. As

cortinas brancas estampadas elaboram um novo vocabulário visual, e que

passam a pertencer, mesmo que por um breve recorte de tempo, a uma nova

paisagem gerada pelas interferências causadas diretamente em todo o entorno

onde se localiza o casarão. Por algum tempo, a paisagem estará modificada

visualmente e aberta a esperadas e inesperadas ações que por ventura

poderão inaugurar novos percursos. Ao fim do projeto restou os Vultos de

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Vestígios, memórias, fragmentados no tempo, registrados através de

fotografias, vídeos, e outras lembranças que comporão uma nova ‘fachada’ da

história da passagem desse trabalho pelo lugar.

Entre cruzamentos e diálogos das linguagens e dos meios pelos quais a

gravura transitou nesse processo, o conceito de Bergson (2010), lembrança

como imagem-matriz, alarga o campo e o lugar de diálogo, buscando uma

forma de se constituir como matéria física e conceitual. Nesse breve percurso

da imagem gravada – da matriz ao tecido de musseline – a gravura permeou

fronteiras para articular possíveis construções poéticas entre espaço

bidimensional e espaço geográfico, confluindo num discurso conceitual o seu

lugar específico, para habitar uma nova superfície, um novo espaço, um novo

território de transito de possíveis poesias visuais, delírios cartográficos e

andanças vertiginosas.

6.1. Processo e materialidade

Para que a execução do site specific fosse possível, os procedimentos,

processos e também o cronograma de ações estivessem afinados com os

colaboradores e técnicos, foi necessário consultas técnicas e estratégias bem

elaboradas. Para a pesquisa sobre o processo de sublimação, estamparia

digital, recorri à Profa. Dra. Lavínnia Seabra que me orientou sobre que tipo de

tecido seria mais indicado para o projeto, visto que o material ficaria ao relento

recebendo sob sol e chuva. Também me foi orientado em qual empresa seria

possível realizar a estamparia em metros corridos de tecido e com qualidade

de impressão, ou seja, uma impressão que fosse resistente às intempéries do

tempo e à poluição.

Após a impressão em 15mts de tecido corrido (sem cortes), contei com

Roniele Eterno, técnico em instalação de banners e diagramador visual

(Gráfica Econômica Digital), para as separação das imagens individuais das

gravuras através de secção com tesoura. Cada imagem media 3 mts x 1,30. O

banner de divulgação do site foi criado por mim e impresso na gráfica citada

acima. A instalação das cortina de do banner foram executado pelo mesmo

profissional citado acima.

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Para a instalação das cortinas foi utilizado uma fita adesiva dupla

face para exterior 44 11, fabricada pela 3M. Essa fita tem 2,4 cm de largura e

foi utilizada em toda a extensão superior das cortinas para fixa-las nas janelas.

A fita é de fácil aplicação e tem a vantagem de fixar bem o material do tecido.

O banner foi instalado com parafusos, pois se trata de um material em lona e

sua estrutura é mais pesada. Todo o processo de montagem foi executado à

noite, pois dentro da programação foi o que pude organizar com o apoio

técnico.

Fig.42. Técnico Gráfica Econômica Digital.

Instalação noturna das cortinas.

Foto: Chris Frauzino, 2015.

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O site specific Vultos de Vestígios, ficou exposto de 14 de fevereiro a 31

de março de 2015 na cidade de Morrinhos sendo desinstalado após esse

período. As cortinas foram retiradas, dobradas e embaladas para retornarem à

Goiânia. Por serem de fácil manuseio e leves, a manipulação desse trabalho se

torna bem versátil tanto para instalar quanto para desinstalar e mesmo para

armazená-lo sem que haja altos custos ou mesmo danos para o tecido.

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7.Rastros

Registro fotográfico

Fig. 43. Banner. Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 44.Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 45.Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 46. Nó na cortina. Interferência da Tia Diná.Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 47. Nó na cortina. Interferência da Tia Diná Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 48 Nó na cortina. Interferência da Tia Diná.Fotografia: Chris Frauzino, 2015

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Fig. 49. Nó na cortina. Interferência da Tia Diná.Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 50. Nó na cortina. Interferência da Tia Diná Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 51..Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 52.Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 53 . Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 54. Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 55. Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 56. Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 57. Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 58. Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 59. Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 60. Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 61. Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 62. Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 62. Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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Fig. 63. Fotografia: Chris Frauzino, 2015.

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8.Saideira

Do apagamento à rememoração registrou-se aqui um percurso

osmótico entre passado e presente. A lembrança, imagem e matriz, revelam-

se e abrem possibilidades para diálogos poéticos. As imagens agora

emergidas de um universo antes oculto, compartilham memórias, histórias,

ruas, lembranças múltiplas. O site specifc inaugura o topos desse evento de

volta ao passado e congrega múltiplos olhares para as cortinas expostas

sobre as janelas.

Uma lembrança , antes oculta no meu universo particular de imagens,

tomou forma e ocupou o espaço do imaginário do outro, transformou por um

espaço de tempo a paisagem local, congregou trocas de lembranças na

calçada do casarão, onde familiares, amigos, conhecidos e transeuntes

compartilharam as lembranças do chão de pau.

Nesse percurso, que tanto a lembrança quanto a gravura transitou, as

imagens estampadas nas cortinas revelam um lugar hoje inexistente, a casa

natal (BACHELARD, 1990c) como lugar das lembranças num tempo que já

se evaporou, lembranças carcomidas como as madeiras das matrizes,

sobreposição de camadas de lembranças assim como as várias camadas de

cera sobre o assoalho. O site specific propôs a elaboração de um possível

momento de troca e reflexão diante das cortinas no casarão. Ao passar pela

Avenida Coronel Pedro Nunes nº 312, centro, Vultos de Vestígios deixa

rastros e imprime uma breve história da poética de uma lembrança.

Ao longo dessa pesquisa verificou-se que tratar de uma lembrança

pessoal e afetiva não impediu que outras lembranças, de outros sujeitos,

também não fossem incorporada, pois a lembrança do assoalho da sala de

estar não é uma memória exclusivamente minha. Vários foram os sujeitos que

participaram com seus relatos sobre o assoalho; pais, amigos, irmãos, primos,

vó, tia-avó, vizinhos, conhecidos e que acompanharam a trajetória dessa

pesquisa, pois que o assoalho foi nosso solo em comum por longos anos. As

cortinas ao relento congregam os afectos e lembranças de vários sujeitos que

compartilharam o assoalho agora vestígios e rastros desse objeto.

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A memória, a imagem e o site specifc, tocam os olhos do espectador,

que participa da obra assim como em Boltanski, Fleischer e Parreira. A busca

pela rememoração através desses procedimentos traz à luz entes outrora

esquecidos e apagados da história. É na elaboração do site specifc que se

vislumbra a potência de uma construção poética e possível de estabelecer uma

plataforma de diálogo entre o individual e o coletivo, memórias, lembranças,

apagamento e rememoração.

O processo tanto da pesquisa teórica quanto do processo de

desenvolvimento do site specifc, me trouxeram inquietações que não se

encerram com o final desta pesquisa acadêmica. Muitas foram as trajetórias

aqui que me abriram novos rumos para novas pesquisas e que também foram

apontados por professores, colega e familiares os quais não cessaram de

contar sua lembranças. Tudo isso me fez pensar em dar seguimento a esse

trabalho agora de maneira informal ampliando as redes de diálogo com os

sujeitos que também cm partilharam a lembrança do assoalho.

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JORGE, Anahy. Sobrevivência: conceitos e processos artísticos dentro de duas vídeoinstalações

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REY,Sandra. Da prática à teoria: três instâncias metodológicas sobre a pesquisa em Poéticas Visuais. Porto Alegre,v. 07, n. 13, p. 81-95, nov. 1996.

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TÁVORA, Maria Luiza Luz. Mesa redonda pública: ideias sobre a gravura brasileira – 1957/58. In: Revista “Interfaces”, UFRJ, ano 01 nº 01, 1995

Catálogos

- Contemporary Brazilian Printmaking

An exhibition at International Print Center New York

March 20- May 23, 2014

Disponívelem: http://www.gravurabrasileira.com/customImages/expo/IPCNY%20catalogo%2010mar.pdf

Sites

Pinacoteca de São Paulo

http://www.pinacoteca.org.br/pinacoteca-pt/

Acesso em: 29/12/2013

Itaú Cultural

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Christian Boltanski

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Alain Fleischer

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Acessado em: 06/05/2015

Documentários

JANELA DA ALMA

Roteiro e Direção: João Jardim e Walter Carvalho

Duração: 73 min.

Ano: 2001

Brasil

Disponível em:https://www.youtube.com/watch?v=56Lsyci_gwg

Acessado em: 07/07/2013

EU INDICO

O artista Nelson Feliz relembra sua experiência diante da instalação do albanês Anri Sala, (Ravel,Ravel, 2013 e Unravel, 2013) na 55ª Bienal de Veneza.

Canal: Arte 1

Disponível em: http://arte1.band.uol.com.br/eu-indico-10/

Acesso em: 05/03/2014

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