chomsky - linguística a ciência do cérebro

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Ideação v v v . 14 nº 2 p. 2º semestr . 14 nº 2 p. 2º semestr . 14 nº 2 p. 2º semestr . 14 nº 2 p. 2º semestr . 14 nº 2 p. 2º semestr e de 2012 e de 2012 e de 2012 e de 2012 e de 2012 R R R EVISTA EVISTA EVISTA EVISTA EVISTA DO DO DO DO DO C C C C C ENTRO ENTRO ENTRO ENTRO ENTRO DE DE DE DE DE E E E E E DUCAÇÃO DUCAÇÃO DUCAÇÃO DUCAÇÃO DUCAÇÃO E E E L L L L L ETRAS ETRAS ETRAS ETRAS ETRAS DA DA DA DA DA U U U U U NIOESTE NIOESTE NIOESTE NIOESTE NIOESTE - C - C - C - C - C AMPUS AMPUS AMPUS AMPUS AMPUS DE DE DE DE DE F F F F F OZ OZ OZ OZ OZ DO DO DO DO DO I I I I I GUAÇU GUAÇU GUAÇU GUAÇU GUAÇU Ideação 10 ARTIGO LINGUÍSTICA E CIÊNCIA DO CÉREBRO 1 Noam Chomsky 2 UNIOESTE NIOESTE NIOESTE NIOESTE NIOESTE aaaCampusaaa FOZ OZ OZ OZ OZ DO DO DO DO DO I I I I IGUAÇU GUAÇU GUAÇU GUAÇU GUAÇU V. 14 - n º 2 - p. 10-31 2º sem. 2012 sem. 2012 sem. 2012 sem. 2012 sem. 2012 Revista do Centro de Educação e Letras Revista do Centro de Educação e Letras Revista do Centro de Educação e Letras Revista do Centro de Educação e Letras Revista do Centro de Educação e Letras Ideação ARTIGO Resumo Resumo Resumo Resumo Resumo 3 : Este artigo trata de um intrigante tema que se relaciona diretamente com os estudos da linguagem: a vinculação existente entre cérebro e mente. Nele, Chomsky descreve as possibilidades de propriedades da mente serem emergentes do cérebro, com o intuito de discutir (rediscutir) as questões relacionadas à aquisição da linguagem. Para isso, faz referências a outras ciências, para muito além da linguística, como a física e química, e arrolando pesquisadores renomados dessas áreas, tanto da atualidade como do passado que corroboram essa tese. Palavras-chave Palavras-chave Palavras-chave Palavras-chave Palavras-chave: linguística, ciências cognitivas, aquisição da linguagem. Abstract: Abstract: Abstract: Abstract: Abstract: This article approaches an intriguing topic that is directly related to language studies: existing linking between brain and mind. In it, Chomsky describes the possibilities of mind properties emerging from the brain, in order to discuss (bring) the issues related to language acquisition. For this, there are references to other sciences, far beyond Linguistics, such as Physics and Chemistry, enrolling renowned researchers of these areas, both from present and past, to corroborate this thesis. Key-words: Key-words: Key-words: Key-words: Key-words: linguistics, cognitive sciences, language acquisition. 1 Artigo traduzido da página oficial de Noam Chomsky: http://www.chomsky.info/ articles.htm, com autorização concedida pelo próprio autor, a quem agradecemos a gentileza. Agradecemos também a Pamela Quick, do MITPress, por viabilizar todo o processo oficial de direitos de tradução. 2 Linguista, filósofo e ativista político americano. Professor emérito do MIT (Massachusetts Institute of Technology). 3 A tradução do artigo e o resumo sobre o mesmo foram realizados por Adriana Faria de Escalada e Maridelma Laperuta-Martins. Nos últimos 50 anos, têm sido muitos e intensos os questionamentos sobre o cérebro, comportamento e capacidades cognitivas de muitos organismos. O que tem provocado o maior entusiasmo é também provavelmente o que é mais remoto, por ordens de magnitude: uma compreensão sobre o cérebro humano e as capacidades mentais superiores 10-31 10-31 10-31 10-31 10-31

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Artigo publicado na Revista do Centro de Educação e Letras, da UNIOESTE, Foz de Iguaçu.

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    ARTIGO

    LINGUSTICA E CINCIA DO CREBRO1

    Noam Chomsky2

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    Revista do Centro de Educao e LetrasRevista do Centro de Educao e LetrasRevista do Centro de Educao e LetrasRevista do Centro de Educao e LetrasRevista do Centro de Educao e LetrasIdeao ARTIGO

    ResumoResumoResumoResumoResumo33333::::: Este artigo trata de um intrigante tema que se relacionadiretamente com os estudos da linguagem: a vinculao existente entrecrebro e mente. Nele, Chomsky descreve as possibilidades depropriedades da mente serem emergentes do crebro, com o intuito dediscutir (rediscutir) as questes relacionadas aquisio da linguagem.Para isso, faz referncias a outras cincias, para muito alm da lingustica,como a fsica e qumica, e arrolando pesquisadores renomados dessasreas, tanto da atualidade como do passado que corroboram essa tese.Palavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chavePalavras-chave: lingustica, cincias cognitivas, aquisio da linguagem.Abstract:Abstract:Abstract:Abstract:Abstract: This article approaches an intriguing topic that is directlyrelated to language studies: existing linking between brain and mind. Init, Chomsky describes the possibilities of mind properties emergingfrom the brain, in order to discuss (bring) the issues related to languageacquisition. For this, there are references to other sciences, far beyondLinguistics, such as Physics and Chemistry, enrolling renownedresearchers of these areas, both from present and past, to corroboratethis thesis.Key-words:Key-words:Key-words:Key-words:Key-words: linguistics, cognitive sciences, language acquisition.

    1 Artigo traduzido da pgina oficial de Noam Chomsky: http://www.chomsky.info/articles.htm, com autorizao concedida pelo prprio autor, a quem agradecemosa gentileza. Agradecemos tambm a Pamela Quick, do MITPress,por viabilizar todo o processo oficial de direitos de traduo.

    2 Linguista, filsofo e ativista poltico americano. Professor emritodo MIT (Massachusetts Institute of Technology).

    3 A traduo do artigo e o resumo sobre o mesmo foram realizadospor Adriana Faria de Escalada e Maridelma Laperuta-Martins.

    Nos ltimos 50 anos, tm sido muitos e intensos osquestionamentos sobre o crebro, comportamento ecapacidades cognitivas de muitos organismos. O que temprovocado o maior entusiasmo tambm provavelmente o que mais remoto, por ordens de magnitude: uma compreensosobre o crebro humano e as capacidades mentais superiores

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    do homem, sua natureza e as formas com que entram em aoe interao.

    Desde o princpio, houve muitas previses otimistas, atmesmo declaraes de distintos pesquisadores de que oproblema mente-corpo solucionado por avanos nacomputao, ou que tudo essencialmente compreendido longedo difcil problema da conscincia.

    Tais concluses certamente no resistem a anlises. Paraum observador de fora, objetivo digamos, um cientista deMarte o otimismo tambm pode parecer um pouco estranho,j que tampouco h escassez de problemas muito mais simplesque so mal compreendidos, ou nem um poucocompreendidos.

    Apesar dos importantes progressos em muitas reas e dajustificada emoo sobre as perspectivas criadas por tecnologiasmais novas, creio que certo grau de ceticismo justificado eque prudente ser cauteloso em avaliar o que conhecemos e oque podemos realmente esperar aprender.

    O otimismo do perodo recente ao ps-guerra tem muitasfontes, algumas delas relacionadas com histria social, creioeu. Mas tambm teve razes nas cincias, em particular, naintegrao bem sucedida de partes da biologia, no mbito dascincias naturais. Isso induziu muitas pessoas a pensarem que acincia pode estar se aproximando de uma ltima fronteira,a mente e o crebro, que deve estar dentro do nosso alcanceintelectual no devido tempo, como aconteceu com o DNA.

    Muito frequentemente, essas investigaes tm adotadoa tese de que coisas da mente, realmente mentais, sopropriedades emergentes do crebro, enquanto reconhecemque essas emergncias no so consideradas irredutveis, masso produzidas por princpios que controlam as interaes entreos eventos de nvel mais baixo - princpios que ns ainda noentendemos. A ltima frase reflete o otimismo que tem sidoum tema constante em todo este perodo, correta ouincorretamente.

    Estou citando um renomado neurocientista, VernonMountcastle, do Instituto da Mente/Crebro da UniversidadeJohns Hopkins. Mountcastle est apresentando um volume deensaios publicados pela Academia Americana de Artes eCincias, com contribuies de pesquisadores de renome, quereveem as conquistas dos ltimos cinquenta anos, entendendo

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    o crebro e suas funes (The Brain, 1998). A tese daemergncia amplamente aceita na rea, muitas vezesconsiderada uma contribuio distinta da era atual. Nos ltimosanos, a tese tem sido repetidamente apresentada como umahiptese surpreendente, a afirmao audaciosa de que osfenmenos mentais so inteiramente naturais e causados poratividades neurofisiolgicas do crebro e que capacidadesda mente humana so de fato capacidades do crebrohumano. A tese tambm tem sido proposta como uma ideianova e radical na filosofia da mente que pode, enfim, deixarde lado o dualismo cartesiano, alguns acreditam, enquantooutros expressam dvida de que o aparente abismo entre corpoe mente possa realmente ser superado.

    Dentro do crebro e das cincias cognitivas, muitosendossariam a posio expressa pelo bilogo evolucionista deHarvard, E. O. Wilson, na mesma questo sobre a mente daAcademia Americana: pesquisadores agora falam, comsegurana, sobre uma soluo prxima para o problema damente/crebro, provavelmente acompanhando as linhas datese de Mountcastle sobre emergncia. Um colaborador, oeminente neurologista Semir Zeki, sugere que as cincias docrebro podem at, seguramente, pretender falar sobre artecriativa, assim incorporando os limites externos da realizaohumana dentro das neurocincias. Ele tambm observa que acapacidade de reconhecer uma linha vertical contnua ummistrio que a neurologia ainda no resolveu; talvez a palavraainda seja um pouco mais realista aqui.

    At onde sei, a base neural para o notvel comportamentodas abelhas tambm permanece um mistrio. Estecomportamento inclui o que parece ser um talento cognitivoimpressionante e tambm alguns dos poucos conhecimentosanlogos para distintas propriedades da linguagem humana,particularmente, a dependncia normal por refernciadeslocada - comunicao sobre objetos que no esto nocampo sensorial (Grifin, 1994). As perspectivas para organismosmuito mais complexos parecem consideravelmente maisremotas.

    Quaisquer que sejam as especulaes sobre asperspectivas atuais, importante ter em mente que a teseprincipal sobre mentes como propriedades emergentes docrebro est longe de ser fico. Isto relembra as propostas do

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    ARTIGO

    sculo XVIII, formuladas por imposio por, entre outros, ofamoso cientista ingls Joseph Priestley e, antes dele, o mdicofrancs Julien Offray de la Mettrie. Como Priestley formulou atese, os poderes da sensao ou percepo e pensamento sopropriedades de um certo sistema organizado do assunto.Propriedades denominadas mentais so o resultado da estruturaorgnica do crebro e do sistema nervoso humano,geralmente.

    Em outras palavras, coisas mentais, realmente mentais,so propriedades emergentes dos crebros (Mountcastle).Priestley, claro, no pde dizer como esta emergncia ocorree ns no avanamos muito depois de 200 anos.

    As razes para as concluses no sculo XVIII sobreemergncia foram realmente foradas. Creio que o crebro eas cincias cognitivas podem aprender algumas lies teis como crescimento da tese da emergncia de 200 anos atrs e coma forma com que as cincias tm-se desenvolvido desde ento,at meados do sculo XX, quando a assimilao de partes dabiologia e da qumica aconteceu. Os debates do incio destesculo sobre tomos, molculas, estruturas qumicas e reaes,e questes relacionadas so visivelmente parecidas s atuaiscontrovrsias sobre mente e crebro. Eu gostaria de divagarpor um momento sobre estes tpicos - instrutivos e pertinentes,eu acho.

    O raciocnio que levou tese da emergncia do sculoXVIII foi direto. A revoluo cientfica moderna foi inspiradapela filosofia mecnica, a ideia de que o mundo uma grandemquina que pde, em princpio, ser construda por um artesomestre e que , portanto, inteligvel para ns, num sentido muitodireto. O mundo uma verso complexa dos relgios e outrosautmatos complexos que fascinaram os sculos XVII e XVIII,tanto quanto os computadores tm proporcionado um estmuloao pensamento e imaginao nos anos recentes - a mudanados artefatos limitou as consequncias para os problemas bsicos,como Alan Turing demonstrou sessenta anos atrs.

    Nesse contexto, Descartes foi capaz de formular umproblema mente-corpo relativamente claro: esse problemasurgiu porque se observou um fenmeno que, ele possivelmenteargumentou, no poderia ser levado em conta em termos deautomatismo. Provou-se que ele estava errado, por razes queele nunca poderia ter imaginado: nada pode ser levado em

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    conta dentro da filosofia mecnica, mesmo o movimentoterrestre e planetrio mais simples. Newton estabeleceu, parasua grande consternao, que uma fsica puramente materialistaou mecanicista... impossvel (Koyr, 1957:210).

    Newton foi duramente criticado por liderar cientistas desua poca na reverso ao misticismo do qual estvamos,finalmente, prestes a ser liberados pela revoluo cientfica. Elefoi condenado por reintroduzir qualidades ocultas que noso diferentes das misteriosas simpatias e antipatias dosfsicos da neo-escolstica aristotlica, que foram muitoridicularizados. Newton concordava com isso. Ele consideravasuas descobertas como um total absurdo e, pelo resto de suavida, procurou um caminho sua volta: ele continuouprocurando por um certo esprito mais sutil que atravessa e seesconde em todos os corpos rgidos e seriam responsveis pormovimento, interao, atrao e repulso eltrica, propriedadesda luz, sensaes e meios pelos quais os membros dos corposde animais se movem ao comando da vontade - mistrioscomparveis, ele sentia.

    Esforos semelhantes continuaram a ocorrer por sculos,mas sempre em vo. O absurdo era real, mas simplesmentetinha que ser aceito. Em certo sentido, foi superado neste sculo,mas apenas pela introduo do que Newton e seuscontemporneos consideraram como absurdos ainda maiores.Ficamos com a admisso no corpo da cincia deincompreensveis e inexplicveis fatos impostos a ns peloempirismo (Koyr, 1957:272).

    Bem antes de Priestley, David Hume havia escrito queNewton parecia desenhar o vu de alguns dos mistrios danatureza, mas ele mostrou, ao mesmo tempo, as imperfeiesda filosofia mecnica e, assim, resgatou os segredos ntimos [daNatureza] para aquela obscuridade, na qual eles sempreestiveram e onde sempre permanecero (Hume [1778]1983:542). O mundo simplesmente incompreensvel inteligncia humana, pelo menos nos meios em que a recentecincia moderna havia desejado e esperado. Em seu clssicoestudo sobre a histria do materialismo, Friedrich Lange observaque suas expectativas e metas foram abandonadas e ns, poucoa pouco, nos acostumamos noo abstrata de fora, oumelhor, a uma noo que paira em uma mstica obscuridadeentre abstrao e compreenso concreta. Lange descreve isso

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    como um ponto de mudana na histria do materialismo queremove os sobreviventes da doutrina para longe dos seusautnticos materialistas do sculo XVII e os priva de significado(Lange, 1925:308).

    O ponto de virada tambm levou gradualmente a umconceito muito mais fraco de inteligibilidade do que aqueleque inspirou a revoluo cientfica moderna: a inteligibilidadedas teorias, no do mundo uma diferena considervel, quepode muito bem pr em funcionamento diferentes capacidadesda mente, um tema, quem sabe, para a cincia cognitiva.

    Poucos anos aps escrever a introduo para a traduoem ingls da histria de Lange, Bertrand Russell ilustrou adistino com um exemplo reinventado recentemente e agoradestaque em debates sobre conscincia. Russel apontou queum homem que pode ver conhece coisas que um homemcego desconhece; mas um homem cego pode conhecer a fsicapor completo, ento o conhecimento que outros homens tm,e ele no, parte da fsica (Russell, 1929:389). Russell est sereferindo ao conhecimento qualitativo que ns possumosreferente aos eventos mentais, que poderia no sersimplesmente um problema de noo consciente, como ofenmeno da cegueira sugere. Alguns renomados pesquisadoresde animais concordam que algo semelhante pode ser verdadesobre as abelhas (Griffin, 1994). A concluso de Russel de queas cincias naturais buscam descobrir o esqueleto causal domundo, e no pode ir mais longe do que isso. Estudos fsicospercebem apenas em seu aspecto cognitivo; os outros aspectosficam fora de seu alcance (Russell 1929:391-392).

    Estas questes esto muito vivas agora, mas vamos coloc-las de lado e retornar crise intelectual da cincia do sculoXVIII.

    Uma consequncia foi que o conceito de corpodesapareceu. H somente o mundo, com seus muitos aspectos:mecnicos, qumicos, eletromagnticos, ticos, mentais -aspectos que ns podemos desejar para unificar de algumaforma, mas como, ningum sabe. Ns podemos falar de ummundo fsico, se ns quisermos, mas para dar nfase, sem queisso implique em um outro mundo - e no o modo como falamosda verdade real, sem significar que h algum outro tipo deverdade. O mundo tem propriedades ocultas, que ns tentamoscompreender o melhor que podemos, com nossas formas de

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    ARTIGO

    inteligncia altamente especficas, que podem deixar grandeparte da natureza um mistrio, pelo menos se ns mesmosformos parte do mundo biolgico, no anjos. No h mais umproblema mente-corpo, porque no h noo til de corpo,do mundo material ou fsico. Os termos simplesmenteindicam que mais ou menos entendido e assimilvel de algumaforma fsica do ncleo, o que quer que isso seja. Parapsicologia individual, a hiptese emergencial da neurocinciacontempornea torna-se um trusmo: no h alternativacoerente, com o abandono do materialismo em qualquer sentidosignificante do conceito.

    claro, isso deixa todos os problemas empricos noresolvidos, incluindo a questo de como abelhas encontramuma flor depois de assistir a uma dana sacolejante e comoelas no conseguem deixar a colmeia se as indicaes levaremao meio de um lago (Gould, 1990). Tambm includas estoquestes sobre a relao entre os princpios da linguagemhumana e propriedades das clulas. Includos tambm esto osproblemas de muito maior dificuldade de alcance que aqueleque preocupou Descartes e Newton sobre os comandos davontade, incluindo o uso normal da linguagem - inovadora,apropriada e coerente, mas aparentemente sem causa. tillembrar que estes problemas sustentam a teoria de duassubstncias de Descartes, que foi descartada por Newton, quemostrou que uma das duas substncias no existe: o corpo.

    Como ns definimos os problemas reais? Eu no conheonenhum conselho melhor do que as recomendaes do qumicoingls do sculo XVIII, Joseph Black: afinidade qumica deveser aceita como um primeiro princpio, que ns no podemosexplicar melhor do que Newton pde explicar a gravitao evamos adiar a justificativa das leis da afinidade at que tenhamosestabelecido um corpo de doutrinas como Newton fez, emrelao s leis da gravidade (Black, apud Schofield, 1970:226). exatamente assim que aconteceu. A qumica estabeleceu umrico corpo de doutrinas: seus triunfos... construdos em umafundao no reducionista, mas sim alcanados isolados daemergente cincia da fsica (Thackray, 1970). Isso continuouat recentemente. O que foi finalmente alcanado por LinusPauling sessenta anos atrs foi a unificao e no a reduo. Aobservao de Russel, em 1929, de que as leis qumicas nopodem atualmente ser reduzidas a leis fsicas acaba sendo

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    ARTIGO

    enganosa, de um jeito importante (Russell, 1929). A fsica teveque passar por mudanas fundamentais, principalmente nadcada de 20, a fim de ser unificada com a qumica bsica,partindo ainda mais radicalmente do senso comum do fsico.A fsica teve que se libertar de imagens intuitivas e desistirda esperana da visualizao do mundo, nas palavras deHeisenberg (apud Holton, 1996:191), outro longo salto longeda inteligibilidade no sentido da revoluo cientfica do sculoXVII, que trouxe a primeira revoluo cognitiva tambm.

    A unificao da biologia e da qumica poucos anos maistarde pode ter sido um engano. Foi uma autntica simplificao,mas para uma qumica fsica recentemente criada; algumas dasmesmas pessoas foram envolvidas, notavelmente Pauling. Umasimplificao verdadeira no to comum na historia da cinciae no precisa ser assumida automaticamente para ser ummodelo para o que vai acontecer no futuro.

    Antes da unificao da qumica e da fsica, na dcada de30, era comumente argumentado por renomados cientistas,incluindo ganhadores de prmios Nobel em qumica, que aqumica apenas um dispositivo de clculo, um meio deorganizar resultados de reaes qumicas, s vezes para prev-los. Qumica no diz respeito a algo real. A razo era queningum sabia como reduzi-la fsica. Essa falha foi entendidaposteriormente: a reduo era impossvel, at que a fsica passoupor uma revoluo radical. Est claro agora ou deveria serclaro que os debates sobre a realidade da qumica forambaseados em mal-entendidos bsicos. A qumica foi real esobre o mundo no nico sentido que temos desses conceitos:ela fez parte da melhor concepo de como funciona o mundoque a inteligncia humana foi capaz de inventar. impossvelfazer melhor que isso.

    Os debates sobre a qumica de alguns anos atrs so, dediversas maneiras, ecoados na filosofia da mente e cinciacognitiva hoje e a qumica terica, claro, uma cincia difcil,mesclando indistintamente com a fsica nuclear. No est naperiferia do conhecimento cientfico, como as cinciascognitivas e do crebro, que esto tentando estudar sistemasmuito mais complexos. Creio que esses debates recentes sobrequmica, e seus resultados surpreendentes, podem ser instrutivospara cincias do crebro e cognitivas. Deveramos seguir osbons conselhos de Joseph Black e tentar construir corpos de

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    doutrina como pudermos, desacorrentados pelas intuies dosenso comum sobre como o mundo deve ser ns sabemosque no dessa forma e despreocupados com o fato de termosque adiar a contabilizao dos princpios em termos deconhecimento cientfico geral. Esse entendimento pode vir aser inadequado para a tarefa de unificao, como tem sidoregularmente h 300 anos. Uma boa parte da discusso dessestemas parece-me equivocada, talvez seriamente, por razescomo essas.

    Outras semelhanas devem ser lembradas. Os triunfosda qumica ofereceram diretrizes teis para uma eventualreconstruo da fsica: eles proporcionaram condies que afsica nuclear teve que encontrar, de um jeito ou de outro. Deforma semelhante, descobertas sobre a comunicao das abelhasproporcionam condies que tm que ser satisfeitas por algunsem termos de clulas. Em ambos os casos, uma via de modupla: as descobertas da fsica compelem possveis modelosqumicos, da mesma forma que os da biologia bsica deveriamcompelir modelos de comportamento de insetos.

    H analogias familiares nas cincias do crebro e dacognio: a questo das teorias computacionais, algortmicas ede implementao enfatizadas particularmente por David Marr,por exemplo. Ou o trabalho de Eric Kandel sobre o aprendizadonos caracis marinhos, buscando traduzir em termos neuronaisideias que foram propostas em um nvel abstrato por psiclogosexperimentais e assim mostrar como a psicologia cognitiva e aneurobiologia podem comear a convergir para ceder a umanova perspectiva no estudo do aprendizado (Hawkins e Kandel,1984:380, 376). Muito razovel, apesar de que o curso atualdas cincias deveriam nos alertar para a possibilidade daconvergncia no poder acontecer porque algo est faltando -onde no podemos saber at descobrir.

    Questes deste tipo surgem de uma vez no estudo dalinguagem e do crebro. Por linguagem, eu quero dizer,linguagem humana, e entendo cada linguagem particularcomo um estado de um subcomponente do crebroespecificamente dedicado linguagem - como um sistema que; seus elementos podem ter outras funes. Parece claro queestes curiosos estados do crebro tm propriedadescomputacionais: uma linguagem um sistema de infinidadediscreta, um procedimento que enumera uma infinidade de

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    ARTIGO

    expresses, cada uma delas uma estrutura complexa depropriedades de som e significado.

    O procedimento recursivo de alguma formaimplementado a nvel celular, como ningum sabe. Isto no surpreendente; as respostas so desconhecidas em casos bemmais simples.

    Randy Gallistel observa que ns claramente noentendemos como o sistema nervoso trabalha, mesmo comoele leva o pequeno conjunto de operaes lgicas e aritmticasque so fundamentais a qualquer computao. Sua posiomais geral que, em todos os animais, aprender baseia-se emmecanismos especializados, instintos para aprender emformas especficas. Esses mecanismos de aprendizagem podemser tomados como rgos dentro do crebro [que] so circuitosneurais cuja estrutura permite que eles faam um tipo particularde computao, como eles fazem mais ou menosreflexivamente separados dos meios extremamente hostis. Aaquisio da linguagem humana instintiva neste sentido,baseada em um rgo da linguagem especializado. Essa visomodular de aprendizado, Gallistel toma como a norma atualem neurocincias (Gallistel, 1997:77, 82, 86-89).

    Reformulando termos que usei algumas vezes (Chomsky,1975), os mecanismos de aprendizagem so sistemasdedicados HL (O, D) (teorias de aprendizagem para organismoO em domnio D); entre eles est HL (Humano, Lngua), orgo lngua especializado, a faculdade da lngua FL. Seuestado inicial uma expresso dos genes, comparvel ao estadoinicial do sistema visual humano e parece ser uma possessohumana comum para maior aproximao. Assim sendo, umacriana tpica adquirir qualquer linguagem sob condiesapropriadas, mesmo sob dficit severo e meios hostis. Oestado inicial muda com o efeito desencadeador e formadorda experincia e com processos de maturidade determinadosinternamente, sucumbindo a estados posteriores que parecemestabilizar-se em vrios estgios, finalmente prximos puberdade. Podemos pensar o estado inicial da FL como ummecanismo que mapeia experincia em estado L alcanado,portanto um dispositivo de aquisio da linguagem (DAL). Aexistncia de tal DAL , s vezes, considerada polmica, masno mais do que a (equivalente) suposio de que h ummdulo de linguagem dedicado que considera o

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    ARTIGO

    desenvolvimento lingustico de uma criana como distinto dode seu gatinho (ou chimpanz, ou o que quer que seja), dadasessencialmente as mesmas experincias. Mesmo as maisextremas especulaes behavioristas radicais pressupem(frequentemente tacitamente) que uma criana pode de algumaforma distinguir materiais lingusticos do resto da confuso aoseu redor, assim postulando a existncia de FL DAL. Quando adiscusso sobre a aquisio da linguagem torna-se maissubstantiva, ela se move para suposies sobre a FL que somais ricas e mais especficas do domnio, sem exceo.

    Pode ser til distinguir modularidade, entendida nostermos das ideias de Jerry Fodor (Fodor, 1983). A modularidadefodoriana trata principalmente dos sistemas de entrada de dados.Em contraste, modularidade, no sentido recm descrito, estrelacionada com os sistemas cognitivos, seus estados iniciais ealcanados, e as formas com que estes estados entram empercepo e ao. Se os sistemas de processamento (entrada/sada) que acessam tais estados cognitivos so modulares, nosentido de Fodor, outra questo.

    Como Fodor coloca o problema, o sistema perceptualpara uma linguagem visto como contendo uma teoria bastanteelaborada dos objetos em seu domnio; talvez uma teoriaformulada em termos de gramtica da linguagem (e o mesmodeveria acontecer com os sistemas do uso da linguagem) (Fodor,1983:51). Eu prefiro uma formulao diferente: a linguagem Lde Jones um estado da FL, e o sistema perceptual (e deproduo) de Jones acessam L. As Teorias da L (e FL) so o queo linguista procura descobrir; adaptando termos tradicionais, ateoria lingustica de L de Jones pode ser chamada de gramticade L, e a teoria de FL pode ser chamada de gramtica universal,mas o linguista, e no Jones, quem tem uma teoria de L e FL,uma teoria que parcial e parcialmente errnea. Jones tem L,mas nenhuma teoria de L (exceto o que ele pode crer sobre alinguagem que possui, crenas que no tm nenhum statusprivilegiado, nenhuma mais do que Jones pode crer sobre seusistema visual ou capacidades de resolver problemas).

    Quando olhamos mais de perto, podemos ver que hmais coisas envolvidas aqui do que escolha de terminologia,mas vamos deixar isso de lado. Claramente as noes demodularidade so diferentes, como so as questes levantadas,apesar de no serem incompatveis, exceto talvez em um sentido:

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    ARTIGO

    FL e L parecem ser sistemas centrais no sistema de Fodor,componentes distintos da arquitetura da mente central, deforma que sistemas centrais no seriam desestruturados (oque Fodor chama de Quineano e isotrpico), contendosomente propriedades de modalidades neutras de inferncia,raciocnio e, geralmente, pensamento.

    Para linguagem, esta abordagem biolingustica parece-me muito ouvida (veja Jankins, 2000, em estado de arte). Masquestes elementares permanecem sem resposta antes de havermuita esperana de resolver problemas sobre a implementaocelular de procedimentos recursivos e mecanismos para us-los, que parecem ter evoludo recentemente, isolados no mundobiolgico em aspectos essenciais.

    Problemas tornam-se ainda mais severos quandodescobrimos que h debate, que parece ser substancial, quanto forma de interpretar o procedimento recursivo. H as toconhecidas interpretaes derivacionais e representacionais, eas subvariedades de cada uma. E apesar de que, na superfcie,os debates tm o carter de debate sobre se 25 5 ao quadradoou 5 a raiz quadrada de 25, quando olhamos mais de pertoencontramos evidncia emprica que parece apoiar uma ououtra viso.

    Essas so questes difceis e sbitas nas fronteiras dainvestigao, mas o fato surpreendente que elas parecem serquestes empricas. O fato confuso. Est longe de ser claro oque significa dizer que um procedimento recursivo tem umainterpretao particular para um sistema cognitivo, e no umainterpretao diferente formalmente equivalente primeira; oucomo tais distines - o que quer que elas queiram dizer -poderiam ser implementadas no nvel celular. Nos encontramosem uma situao alusiva dos cientistas ps-Newton - porexemplo, Lavoisier, que acreditou que nmero e natureza doselementos um problema insolvel, capaz de uma infinidadede solues, nenhuma delas provavelmente de acordo com aNatureza. Parece extremamente provvel que ns nosaibamos nada sobre... [os]... tomos indivisveis de cujoproblema est composto, e nunca saberemos, ele achava(Lavoisier, apud Brock 1992:129).

    Alguns reagiram a esses problemas da mesma forma quecientistas naturais renomados fizeram na poca anterior unificao da qumica e da fsica. Uma proposta influente o

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    ARTIGO

    modelo computacional da mente. De acordo com esta viso, acincia cognitiva aponta para um nvel de descrio da menteque se abstrai das realizaes biolgicas das estruturascognitivas. Assim ocorre em princpio, no por causa da faltade compreenso, que ns desejamos ser temporria, ou pararesolver alguns problemas para cuja implementao irrelevante,ou para explorar as consequncias de certas suposies. Pelocontrrio, para a cincia cognitiva no importa se algumescolhe uma implementao na massa cinzenta..., mudanas,ou gatos e ratos. Psicologia no , portanto, uma cinciabiolgica, e dado o vis anti-biolgico dessa abordagem, sepudermos construir autmatos em nossa imagemcomputacional, executando como ns fazemos por algumcritrio, ento naturalmente sentiremos que a teoria maisconvincente da mente aquela que geral o suficiente paraservir a eles e a ns, como distinto de uma teoria biolgica damente humana [que] no se aplica a essas mquinas (Block,1990:261).

    Assim concebida, a cincia cognitiva no-naturalsticae no parte das cincias naturais, em princpio. Perceba queisto lembra a viso da qumica, de no muito tempo atrs, comoum mecanismo de clculo, mas bem mais extremo: ningumprops que a teoria mais persuasiva da qumica seja geral osuficiente para servir aos mundos com leis fsicas diferentesdas nossas, mas com fenmenos que so semelhantes por algunscritrios. Algum pode perguntar por que deveria haver umapartida radical da prtica das cincias quando nos voltamospara o estudo da mente.

    A conta do modelo computacional uma descrio justade muito do trabalho em cincias cognitivas; por exemplo,trabalho que busca responder perguntas moldadas em termosde teste de Turing - erro de interpretao das propostas de Turing,eu acho, mas isto outro problema. Para o modelocomputacional da mente, os problemas que eu mencionei noacontecem. Tambm ocorre que nada do que foi descobertosobre o crebro importar para as cincias cognitivas. Porexemplo, se algum dia for descoberto que uma interpretaodo procedimento recursivo pode ser implementada a nvelcelular, e outra no, o resultado ser irrelevante ao estudo dalinguagem humana.

    Isto no me parece ser inteligente.

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    ARTIGO

    Outra abordagem, influente na filosofia contemporneada mente e na cincia cognitiva terica, sustentar que a relaoentre o mental e o fsico no redutibilidade, massobrevenincia: qualquer mudana nos eventos ou estadosmentais envolve uma mudana fsica, apesar de nocontrariamente, e no h nada mais especfico a se dizer. Osdebates de pr-unificao sobre qumica poderiam ser reescritosnestes termos: aqueles que negarem a realidade da qumicapoderiam ter sustentado que as propriedades qumicas sobrevms propriedades fsicas, mas no so redutveis a elas. Isto teriasido um erro, por razes j mencionadas: as propriedades fsicascertas ainda no tinham sido descobertas. Depois que foram,falar em sobrevenincia irrelevante e nos movemos no sentidoda unificao. A mesma postura parece-me razovel neste caso.

    Ainda outra abordagem traada em um livro altamentereconhecido do neurocientista Terrence Deacon (1997) sobrea linguagem e o crebro. Ele prope que estudantes de linguageme sua aquisio que esto preocupados com estados de ummdulo do crebro determinado geneticamente ignoram outrapossibilidade: que o apoio extra para o aprendizado dalinguagem, alm dos dados da experincia, no est investidano crebro da criana nem nos dos pais ou professores, masfora deles, na prpria linguagem. Lngua e linguagens so extra-humanas. Linguagens evoluram com respeito ao crebrohumano; as lnguas do mundo evoluram espontaneamentee tornaram-se cada vez mais bem adaptadas s pessoas,aparentemente da forma que presa e predador co-evoluramno ciclo familiar. Lngua e linguagens no so somenteorganismos extra-humanos, mas so externos ao mundobiolgico. Crianas so predispostas a aprender lnguashumanas e so fortemente preconceituosas em suas escolhassobre as regras que envolvem a linguagem, mas um errotentar determinar quais so estas predisposies e procurar suarealizao nos mecanismos cerebrais (em que caso os organismosextra-humanos desaparecem de cena). pior que um erro:perseguir o curso da cincia normal neste caso recorrer a umtruque de mgico (Deacon, 1997: cap. 4).

    Eu fao citaes porque no tenho nenhuma ideia doque isto significa e o entendimento no ajudado pelo conceitoirreconhecvel de Deacon sobre lingustica e o trabalhosupostamente relacionado a ela. Qualquer que seja o significado,

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    ARTIGO

    a concluso parece ser a de que uma perda de tempo investigaro crebro para descobrir a natureza da linguagem humana eque estudos da linguagem devem ser sobre os organismos extra-humanos - e aparentemente extra-biolgicos que co-evoluramcom os humanos e de alguma forma os compreendem, algunscompreendendo ingls, outros, japons.

    Eu no recomendo este curso, tampouco; na verdade,eu no poderia, pois no o compreendo.

    Dentro da filosofia da linguagem e da mente, e uma boaparte da cincia cognitiva terica, a viso consensual tambmtoma a linguagem como algo exterior ao crebro: umapropriedade de algum organismo social, uma comunidadeou uma cultura ou uma nao. Cada lngua existeindependentemente de qualquer falante particular, que tenhaum domnio parcial, e parcialmente errneo, da linguagem.A criana pega emprestada a lngua da comunidade, comoum consumidor. O som e o significado reais das palavras doingls so aqueles da pessoa que empresta e esto, portanto,fora de minha cabea, eu posso no conhec-los, e seria umacidente estranho se algum os conhecesse por todo o ingls.Eu cito vrios filsofos renomados da mente e da linguagem,mas as suposies so muito gerais, de uma ou de outra forma.

    Formas comuns de falar sobre a linguagem reforam estesconceitos. Assim, dizemos que uma criana est aprendendoingls, mas ainda no alcanou seu objetivo. O que a crianaadquiriu no uma lngua mesmo: ns no temos nenhumnome para o que quer que seja o que uma criana de quatroanos de idade tenha adquirido. A criana tem um domnioparcial, e parcialmente errneo, do ingls. Da mesma formatm todos, na verdade.

    Aprender uma conquista. O aprendiz tem um objetivo,um alvo: voc mira um objetivo e se voc no o alcana vocno aprendeu ainda, apesar de voc estar no caminho. A teoriade aprendizado formal adota uma figura semelhante: elapergunta sobre as condies que devem ser satisfeitas para queo aprendiz alcance o alvo, que colocado de formaindependente. Tambm ocorre que a lngua um conjuntode sentenas, no um procedimento recursivo para gerarexpresses no sentido do estudo emprico da linguagem(frequentemente chamado de gramtica internalizada, um usoque s vezes negligenciado). Em ingls, diferentemente de

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    ARTIGO

    outras lnguas, tambm se fala em conhecer a lngua. Este usolevou concluso de que alguma relao cognitiva ocorre entrea pessoa e a lngua, que ento externa pessoa: ns noconhecemos um estado de nossos crebros.

    Nada disso tem qualquer interpretao biolgica.Ademais, muito disso me parece ser resistente a qualquerinterpretao explcita e coerente. Isto no problema para alinguagem comum, claro. Mas no h razo para supor que ouso comum de termos como linguagem ou aprendizado (oucrena ou muitos outros como eles), ou outros pertencentes acampos semnticos semelhantes em outros sistemas lingusticos,encontraro um lugar na tentativa de entender os aspectos domundo ao qual pertencem. Da mesma forma, ningum esperaque os termos energia ou lquido ou vida cumpram umpapel nas cincias, alm de um nvel rudimentar. As questesso quase sempre as mesmas.

    Houve resultados importantes no estudo sobre ocomportamento e a comunicao animais numa variedade deespcies, geralmente abstrados do nvel celular. O quanto taltrabalho nos permite avanar em direo a uma compreensodas capacidades mentais superiores humanas parece poucoclaro. Gallistel introduziu um compndio de artigos de revisosobre o assunto alguns anos atrs ao questionar que asrepresentaes tm um papel-chave na cognio ecomportamento animais. Aqui, representao deve serentendida no senso matemtico do isomorfismo: uma relaoum-por-um entre os processos mente/crebro e um aspectodo meio ambiente com o qual estes processos se adaptam aocomportamento do animal - por exemplo, quando uma formigarepresenta o cadver de um semelhante por seu odor (Gallistel,1990b:2).

    Os resultados so extremamente interessantes, mas noest claro se eles oferecem anlogos teis para a representaoconceitual humana, especificamente, para o que chamadode representao fontica ou semntica. Eles no parecemfornecer uma abordagem til para a relao de fonologia paramovimentos de molculas e pesquisas no seguem esse caminho.Pessoalmente, creio que a figura mais enganosa do que tilquanto ao lado do significado de lngua, contrrio ao trabalhomais contemporneo sobre significado e referncia. Aqui,particularmente, penso que ns podemos aprender um bocado

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    ARTIGO

    com o trabalho sobre estes assuntos no perodo moderno recente,quase todo esquecido agora. Quando nos voltamos organizao e gerao de representaes, analogias perdem ocontrole rapidamente, alm do nvel mais superficial.

    A abordagem biolingustica est no centro do estudomoderno sobre a linguagem, pelo menos como eu entendo. Oprograma foi formulado com relativa clareza h mais ou menosquarenta anos. To logo as primeiras tentativas foram feitas paradesenvolver procedimentos recursivos para caracterizarexpresses lingusticas, ficou instantaneamente claro que poucose sabia, mesmo sobre linguagens bem estudadas. Dicionriose gramticas conhecidos, apesar de extensos, provm poucomais do que pistas e algumas generalizaes. Eles tacitamentebaseiam-se na no-analisada inteligncia do leitor parapreencher o restante, que simplesmente sobre tudo. Almdisso, as generalizaes so frequentemente enganosas ou piores,porque so limitadas a fenmenos observados e seus arranjosestruturais aparentes - paradigmas morfolgicos, por exemplo.Como j foi descoberto em todos os lugares nas cincias, estesmodelos mascaram princpios de um personagem diferente queno pode ser detectado diretamente em disposio dosfenmenos.

    Mas preencher os imensos abismos e encontrar osprincpios e generalizaes reais so s parte do problema.Tambm preciso levar em conta o fato de todas as crianaspossurem suas lnguas: suas prprias lnguas, claro, desse pontode vista, da mesma forma que tm seus prprios sistemas visuais,no um alvo que elas procuram alcanar ou uma possecomunitria ou algum organismo extra-humano que coevoluiucom elas.

    Ficou rapidamente claro que os dois objetivos bsicosesto em conflito. Para descrever o estado alcanado, pareceunecessrio postular um sistema rico e complexo de regras,especficas para a lngua e at mesmo especficas paraconstrues gramaticais particulares: frases relativas em japons,frases verbais em suali, e assim por diante. Mas as observaesmais elementares sobre a aquisio de uma lngua mostrou queisto no pode estar nem prximo da verdade. A criana temuma evidncia insuficiente (ou no) para propriedades bsicasda lngua que foram descobertas, ento deve ocorrer que elasrefletem o estado inicial da capacidade da lngua, que prov a

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    estrutura bsica para lnguas, permitindo somente os tipos devariao marginal que a experincia poderia determinar.

    A tenso entre esses dois objetivos definiram a agendainvestigativa imediata quarenta anos atrs. A abordagem bviafoi a de tentar abstrair as propriedades gerais dos estadoscomplexos alcanados, atribu-los ao estado inicial e mostrarque o resduo realmente simples o suficiente para serconsiderado como experincia disponvel. Muitos dos taisesforos mais ou menos cristalizaram de quinze a vinte anosatrs, no que s vezes chamado de abordagem de princpios-e-parmetros. Os princpios bsicos da linguagem sopropriedades do estado inicial; os parmetros podem variar deformas limitadas e so definidas por experincia.

    Para a grande maioria, os parmetros parecem ser lexicais,na verdade, propriedades de um pequeno subcomponente dolxico, particularmente a morfologia inflexional. Alguns trabalhosrecentes sugerem que uma subparte ainda menor da morfologiainflexional pode ter um papel central na determinao dofuncionamento e da variedade superficial da lngua: morfologiainflexional que carece de interpretao semntica. Esse estreitosubcomponente tambm pode ser o que est envolvido naonipresente e surpreendente propriedade de deslocamentoda linguagem humana: o fato de que frases so pronunciadasem uma posio numa sentena, mas compreendidas como seestivessem numa posio diferente, na qual seus papissemnticos seriam transparentes.

    Aqui h alguma convergncia com outras abordagens,incluindo o trabalho de Alfonso Caramazza e outros. Essesinvestigadores encontraram a dissociao da morfologiainflexional de outros processos lingusticos em afasia, eproduziram alguns resultados intrigantes que sugerem que odeslocamento tambm pode ser dissociado (Caramazza, 1997).Um resultado de interesse particular para o estudo da linguagem a distino que Grodzinsky e Finkel relatam entre deslocamentode categorias frasais e de categorias lexicais (Grodzinsky, 1990;Grodzinsky e Finkel, 1998). Esse resultado tenderia a confirmaralgumas ideias recentes sobre distines de semntica bsica,fonolgica, e propriedades sintticas destes dois tipos dedeslocamentos: movimento de ncleo e movimento de XP emtermos tcnicos.

    Outros trabalhos lingusticos recentes levaram a um foco

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    mais apurado das relaes de interface entre os sistemasextralingusticos e o sistema cognitivo da linguagem - ou seja, oprocedimento recursivo que gera expresses. Os sistemasextralingusticos incluem sistemas sensrio-motores e conceituaisque tm suas propriedades independentes da capacidade dalngua. Esses sistemas estabelecem o que podemos chamar deespecificaes de padro mnimo para a capacidade da lngua.Para ser utilizvel, uma lngua deve ser legvel na interface: asexpresses que ela gera devem consistir de propriedades quepodem ser interpretadas por esses sistemas externos.

    Uma tese que me parece ser muito mais plausvel do quequalquer pessoa poderia ter imaginado, alguns anos atrs, que essas especificaes de padro mnimo so tambmcondies mximas em respeitos no-triviais. Isto , a lngua um tipo de soluo tima s condies mnimas que se deveencontrar para ser utilizvel de alguma forma. Essa forte teseminimalista, como s vezes chamada, altamente controversa,e deveria ser: seria bastante surpreendente se algo assim fosseverdade. Creio que o programa de pesquisa estimulado por essatese promissor. J foram conseguidos alguns resultadosinteressantes e surpreendentes, que podem ter implicaessugestivas para a investigao da linguagem e do crebro. Essatese traz tona uma aparente propriedade da linguagem queeu j mencionei e que poderia provar-se fundamental: asignificncia das caractersticas morfolgicas no interpretveissemanticamente, e seu papel especial na variedade dalinguagem, incluindo a propriedade de deslocamento.

    Outras consequncias tambm sugerem direes depesquisa que poderiam ser possveis e produtivas. Uma questoimportante da pesquisa lingustica, em todas as perspectivas, o que George Miller chamou anos atrs de chunking: quaisso as unidades que constituem expresses, paraarmazenamento de informao e para acesso em produo,percepo, recuperao e outras operaes? Algumas sorazoavelmente claras: algo como slabas, palavras, frases maioresde vrios tipos. Outras que parecem ser cruciais so mais difceisde detectar no fluxo do discurso: elementos fonolgicos emorfolgicos, estruturas de deslocamento e configuraessemanticamente relevantes que mal podem ser refletidas no somde uma expresso, s vezes de jeito nenhum, e nesse sentidoso abstratos. Ou seja, esses elementos esto realmente

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    ARTIGO

    presentes na computao interna, mas com efeitos indiretosapenas, se algum, na emisso fontica.

    Trabalhos bastante recentes que procuram tesesminimalistas sugerem que dois tipos de frases abstratas estoimplicadas de forma especial nos processos lingusticos. Os doistipos so os anlogos sintticos mais prximos s proposiescompletas, no senso semntico. Em termos mais tcnicos, essasso oraes com estrutura tempo/evento assim como indicadoresfora-humor e frases verbais com uma estrutura argumentativaexterna: CPs completos e frases verbais com argumento externo,mas no frases encabeadas pelo tempo, finitas ou infinitivas,sem complementos ou frases verbais sem argumento externo(Chomsky, 2000).

    impossvel esclarecer os detalhes e a base emprica aqui,mas as categorias esto claramente definidas e h evidncia deque elas tm um papel especial em relao ao som, significadoe propriedades sintticas completas, incluindo os sistemas deelementos no interpretveis, deslocamento e a interpretaoderivacional da funo recursiva. Seria extremamenteinteressante ver se as concluses poderiam ser testadas pelosestudos online do uso da lngua, ou de outras abordagens.

    Na medida em que a forte tese minimalista se mantm,condies de interface assumem importncia renovada. Elasno podem mais simplesmente serem tomadas como certas deforma no explcita, como em muitos trabalhos empricos sobrea linguagem. Sua natureza precisa torna-se um objeto primriode investigao - em lingustica, nas cincias do crebro, naverdade, de qualquer ponto de vista.

    Exatamente como a histria se desenrola daqui em diantedepende dos fatos reais do problema. No nvel da linguagem eda mente, h bastante a se dizer, mas este no o lugar.Novamente, creio que faz sentido pensar nesse nvel dequestionamento como, em princpio, semelhante qumica doincio do sculo XX: em princpio no em termos deprofundidade e riqueza dos corpos de doutrina estabelecidos.

    Um objetivo primrio trazer os corpos de doutrinareferentes linguagem para uma relao mais prxima comaqueles emergentes das cincias do crebro e outrasperspectivas. Podemos antecipar que os corpos mais ricos dadoutrina interagiro, conseguindo condies significativas deum nvel de anlise a outro, talvez no final das contas

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    ARTIGO

    convergindo em uma unificao verdadeira. Mas nodeveramos confundir trusmos por teses substantivas, e no hlugar para dogmatismos de como as questes poderiam se moverem direo a uma resoluo. Conhecemos muito pouco paraisso e a histria da cincia moderna nos ensina lies que euacho que no deveriam ser ignoradas.

    REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS4

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    4 As referncias bibliogrficas deste artigo foram copiadas comose apresentavam na pgina http://www.chomsky.info/articles/2000----.pdf, da qual foi retirado o artigo.

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