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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS CHINA NA ÁFRICA: REAÇÕES OCIDENTAIS E PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS PARA A SEGURANÇA E O DESENVOLVIMENTO AFRICANO TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO Thais Dias Gregis Santa Maria, RS, Brasil 2014

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Page 1: CHINA NA ÁFRICA: REAÇÕES OCIDENTAIS E PRINCIPAIS ... · soberania de seus parceiros e a primazia ao desenvolvimento econômico, o que lhe agrega uma visão positiva perante seus

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA MARIA CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS E HUMANAS

CURSO DE RELAÇÕES INTERNACIONAIS

CHINA NA ÁFRICA: REAÇÕES OCIDENTAIS E PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS PARA A SEGURANÇA E O

DESENVOLVIMENTO AFRICANO

TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO

Thais Dias Gregis

Santa Maria, RS, Brasil

2014

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CHINA NA ÁFRICA: REAÇÕES OCIDENTAIS E PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS PARA A SEGURANÇA E O DESENVOLVIMENTO

AFRICANO

Thais Dias Gregis

Monografia realizada como requisito parcial para obtenção do grau de bacharel em Relações Internacionais pelo curso de Relações Internacionais, da

Universidade Federal de Santa Maria.

Orientador: Prof. Me. Igor Castellano da Silva

Santa Maria, RS, Brasil

2014

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Universidade Federal de Santa Maria Centro de Ciências Sociais e Humanas

Curso de Relações Internacionais

A Comissão Examinadora, abaixo assinada, aprova a Monografia

CHINA NA ÁFRICA: REAÇÕES OCIDENTAIS E PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS PARA A SEGURANÇA E O DESENVOLVIMENTO AFRICANO

elaborada por Thais Dias Gregis

como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Relações Internacionais

COMISSÃO EXAMINADORA:

Igor Castellano da Silva, Me. (Presidente/Orientador)

(UFSM)

Arthur Coelho Dornelles Júnior, Dr. (UFSM)

Diego Trindade d’Ávila Magalhães, Me.

(UFSM)

Santa Maria, 05 de dezembro de 2014.

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AGRADECIMENTOS

O fim de uma etapa da vida, pois é isso que significa o trabalho de conclusão de

curso, encerra um período muito importante no processo de quem tem a oportunidade

cursá-lo. Esse é um período de aprendizagem, não apenas acadêmica, mas como todas as

etapas pelas quais passamos, de vida. O início foi complicado e dolorido, houve revezes

tristes no caminho, mas sempre tive apoio das pessoas mais importantes da minha vida,

minha família, em especial, minha mãe e meu pai. Então, primeiramente queria agradecer a

eles.

Agradecer minha mãe por todo apoio, compreensão, amizade, companheirismo,

aprendizado, e exemplo de vida, os quais me guiaram sempre, estando presente em todos

os momentos felizes e difíceis, sempre me lembrando que a vida é “um caminhão de

melancias, aos poucos elas se ajeitam no lugar” e sendo meu porto seguro.

Agradecer ao meu pai, que também sempre esteve do meu lado, seja brigando, em

geral, para construções positivas; seja me incomodando, tornando os meus dias mais alegres

e leves; ou me ligando todos os dias no mesmo horário só para dizer um “Oi”, sempre

significou muito para mim.

Agradecer ao meu irmão, muito importante no processo da entrada na faculdade,

mas também durante todos os outros momentos, sempre deixando claro que ele estaria

pronto para me ajudar, sejam nas contas matemáticas ou nos medos à noite.

Da mesma forma, ou seja, de maneira muito especial, gostaria de agradecer ao meu

namorado, Gustavo, meu melhor amigo e companheiro de todos os momentos, pelo qual eu

nutro uma grande admiração, e que me ajudou e acompanhou por todo esse período, me

mostrando que mesmo nos piores momentos, eu não estaria sozinha, embora distante de

casa. Um pouco desta conquista também é dele.

Por fim, gostaria de agradecer meu orientador, Igor Castellano, professor que

encontrei no final da graduação e por quem tenho muita admiração e carinho. Agradeço

primeiramente, por ter me aceitado como sua orientanda, pelo seu empenho, atenção,

disponibilidade, pela compreensão, quando foi necessário, pelo apoio incondicional, e,

principalmente, por ter acreditado em mim. Meu trabalho não seria possível sem sua ajuda e

orientação.

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RESUMO

CHINA NA ÁFRICA: REAÇÕES OCIDENTAIS E PRINCIPAIS CONSEQUÊNCIAS

PARA A SEGURANÇA E DESENVOLVIMENTO AFRICANO AUTORA: THAIS DIAS GREGIS

ORIENTADOR: Prof. Me. IGOR CASTELLANO DA SILVA Santa Maria, 05 de dezembro de 2014.

A pesquisa trata sobre a presença chinesa na África, sob um prisma amplo, da

necessidade de matérias primas e recursos energéticos, bem como de atuação em

investimentos de infraestrutura, educação, cooperação técnica e militar. Somando-se a isso,

analisam-se as respostas das potências tradicionalmente inseridas no continente, que veem

seus interesses tendo um novo competidor, através do ajuste de suas políticas externas para

a África; bem como as consequências, para o continente africano, dessa disputa e da

inserção diferenciada de Pequim, em relação ao seu poder de barganha internacional,

segurança, desenvolvimento e construção estatal. Assim sendo, o trabalho se orienta pela

seguinte questão: quais são as principais consequências para a África, nos âmbitos de

desenvolvimento (humano e econômico), segurança e construção estatal, da inserção

chinesa e da competição entre essa e as potências Ocidentais (EUA, França e Reino Unido)?

Possuindo como hipótese que: a inserção chinesa é diferenciada e têm como consequências

avanços no desenvolvimento, segurança e construção estatal africana, além de incentivar

uma maior condição de barganha internacional de países do continente. O trabalho obteve

como resultados, através da análise dos dados apresentados, a confirmação parcial de que,

direta ou indiretamente, parece que a inserção chinesa tem acrescentado no

desenvolvimento e segurança dos países africanos, bem como, que a competição entre a

China e as potências ocidentais, tem aumentado o poder de barganha africano

internacionalmente.

Palavras-chave: China, África, Potências Ocidentais, Competição, Barganha.

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ABSTRACT

CHINA IN AFRICA: WESTERN REACTIONS AND MAJOR CONSEQUENCES FOR THE SECURITY AND AFRICAN DEVELOPMENT

AUTHOR: THAIS DIAS GREGIS TEACHER: Me. IGOR CASTELLANO DA SILVA

Santa Maria, December 5rd, 2014.

This research through an ample scope refers to the Chinese presence in Africa due to

the need of raw materials and energy resources, as well as investments in infrastructure,

education, technical and military cooperation. Additionally, responses from the world´s

leading powers traditionally inserted in the African continent were analyzed, all of which

ultimately perceive a new competitor to their interests, through the adjustment of their

foreign policies to Africa; as well as the consequences of this dispute to the African continent

and the differentiated insertion of Beijing with regard to its international bargaining power,

security, development and State building. This work is therefore based on the question:

which are the main the main consequences for Africa, in development areas (human and

economic), security and state building from Chinese integration and competition between it

and Western powers (US, France and United Kingdom)? In this perspective it is hypothesized:

Chinese insertion is differentiated and have consequences as advances in development,

security and Africa state-building, and encourage greater international bargaining condition

of the continent. Through the analysis of the presented data the results of this work confirm

that the Chinese insertion in Africa has, directly or indirectly, seems contributed to the

development and security of African countries. Likewise, the competition between China

and the Western powers adds to possibilities of choices, also increasing the African

bargaining power in international settings.

Keywords: China, Africa, Western Powers, Competition, Bargaining.

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LISTA DE SIGLAS

ACOTA – African Contingency Operations Training and Assistance

ACRI – Africa Crisis Response Iniciative

AFRICOM – United States Africa Command

CINC – Index of National Capability

CFA – Communautés Financières d’Afrique

EUA – Estados Unidos da América

FOCAC – Fórum de Cooperação China-África

IDH – Índice de Desenvolvimento Humano

IED – Investimento Externo Direto

MINURSO – United Nations Mission for the Referendum in Western Sahara

MONUC – United Nations Organization Mission in the Democratic Republic of the Congo

NEPAD – New Partnership for Africa’s Development

PIB – Produto Interno Bruto

PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento

RCA – República Centro Africana

RPC – República Popular da China

SFI – State Fragility Index

UA – União Africana

UNAMID – African Union/ United Nation Hybrid operation in Darfur

UNMIL – United Nation Mission in Liberia

UNMIS – United Nation Mission in Sudan

UNOCI – United Nation Operations in Cotê d’Ivoire

URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas

ZEE – Zonas Econômicas Exclusivas

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1- Exportações africanas para China ............................................................................. 68

Tabela 2- Importações africanas oriundas da China ............................................................... 69

Tabela 3- IED da China destinado aos países africanos ............................................................ 78

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1- IDH África subsaariana ............................................................................................. 73

Gráfico 2- Evolução do IDH ....................................................................................................... 74

Gráfico 3- Evolução do PIB dos países africanos ...................................................................... 75

Gráfico 4- Fluxo de IED África ................................................................................................... 76

Gráfico 5- Fluxo de IED chinês por região ................................................................................ 77

Gráfico 6- Gastos militares dos países africanos ...................................................................... 80

Gráfico 7- Número de mortes por mil habitantes .................................................................... 82

Gráfico 8- Importação de armas ............................................................................................... 83

Gráfico 9- CINC ......................................................................................................................... 85

Gráfico 10- SFI ........................................................................................................................... 86

Gráfico 11- Densidade de ferrovias .......................................................................................... 87

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .................................................................................................................... 9

1. CAPÍTULO 1 - CHINA NA ÁFRICA: A ATUAÇÃO DA POTÊNCIA ORIENTAL NO

CONTINENTE. .................................................................................................................. 15

1.1. Introdução do capítulo 1 .................................................................................... 15

1.2. A ascensão chinesa, política externa e a virada para a África .............................. 15

1.3. O histórico da relação China-África .................................................................... 20

1.4. China na África: aproximações recentes ............................................................. 26

1.5. Conclusão do capítulo 1 ..................................................................................... 32

2. CAPÍTULO 2 - AS REAÇÕES OCIDENTAIS: A ANÁLISE DAS ADEQUAÇÕES DAS POLÍTICAS

EXTERNAS DO REINO UNIDO, FRANÇA E ESTADOS UNIDOS PARA A ÁFRICA ..................... 34

2.1. Introdução do capítulo 2 .................................................................................... 34

2.2. A política externa inglesa para África: do imperialismo a emergência de um novo

competidor .................................................................................................................. 34

2.3. A relação França-África: multilateralismo e neointervencionismo ....................... 41

2.4. As nuances da política externa norte-americana para a África: o 11 de setembro, a

China e o AFRICOM ...................................................................................................... 47

2.5. Conclusão do capítulo 2 ..................................................................................... 55

3. CAPÍTULO 3 - A INSERÇÃO DIFERENCIADA, AS NECESSIDADES AFRICANAS, AS CRÍTICAS

OCIDENTAIS O DIAGNÓSTICO E A BARGANHA .................................................................. 56

3.1. Introdução do capítulo 3 .................................................................................... 56

3.2. Inserção Chinesa Diferenciada ........................................................................... 56

3.3. As críticas ocidentais, os pontos de fricção com os africanos e a resposta chinesa

60

3.3.1. As críticas Ocidentais .......................................................................................... 60

3.3.2. Pontos de fricção entre a China e os Estados africanos ..................................... 62

3.3.3. A defesa de Pequim ............................................................................................ 63

3.4. Efeitos para os países africanos: as consequências da relação com a China para o

processo de construção dos Estados, desenvolvimento e segurança ............................. 64

3.4.1. Construção dos Estados Africanos, insegurança e falta de desenvolvimento .... 64

3.5. Análise dos efeitos da inserção chinesa para os países africanos:

desenvolvimento, segurança, capacidades dos Estados e barganha internacional ......... 65

3.5.1. O comércio China-África ..................................................................................... 67

3.5.2. Implicações da relação sino-africana no desenvolvimento socioeconômico .... 71

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3.5.3. Implicações da relação sino-africana na segurança da região ........................... 79

3.5.4. Implicações da relação sino-africana na construção dos Estados Africanos ..... 84

3.6. Barganha: a relação com a China como impulsionadora dessa condição para os

países africanos ........................................................................................................... 88

3.6.1. Barganha: condições assimétricas, poder de barganha e alteração do status

quo 88

3.7. Conclusão do capítulo 3 ..................................................................................... 91

CONCLUSÃO .................................................................................................................... 92

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................................................ 98

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INTRODUÇÃO

O sistema internacional tem vivenciado um movimento em direção multipolarização

desde o fim da Guerra Fria, com a consolidação do status da União Europeia e do Japão, bem

como a ascensão de países como a China, além de outras potências emergentes, como Índia

e Brasil. Diante dessa nova conjuntura, é o notável crescimento econômico por qual tem

passado a China, potência emergente que tem despontado como grande ator no ambiente

mundial (VISENTINI, 2012), sendo esse processo intensificado pela crise financeira de 2008

(PAUTASSO, 2009, p. 20).

Esse país tem empenhado sua política interna e externa para a continuidade desse

crescimento econômico, considerado a melhor maneira de se afirmar internacionalmente,

inclusive através de sua diplomacia, a qual, tem como novo objetivo o estreitamento de

laços com os países do sul (GAZIBO; MBABIA, 2012, p. 63). Mas a China também busca,

através de sua diplomacia, uma maneira de melhorar sua condição interna, uma vez que

uma crise social tem emergido em Pequim, devido à desproporção com que o crescimento

econômico tem beneficiado a todos, sendo uma maneira de alcançar tal fim, se empenhar

em questões de prestígio externamente (NAIDU, 2007, p. 43).

Nesse contexto, a diplomacia chinesa parece dar preferência ao respeito da

soberania de seus parceiros e a primazia ao desenvolvimento econômico, o que lhe agrega

uma visão positiva perante seus parceiros. Rotberg (2008), por exemplo, ressalta que a China

não possui interesse na conquista de territórios, mas sim em fontes de recursos energéticos,

matérias-primas, mercado consumidor, e também, em parceiros que lhe forneçam

sustentação no ambiente internacional e em organizações internacionais, por exemplo, na

ONU, sendo que para isso o país tem adotado a via do multilateralismo.

Logo, visando alcançar seus objetivos e, devido à reticência de criar atritos com os

demais países que necessitam de recursos, o país tem se voltado para outras áreas

geográficas de influência e cooperação, como é o caso da África.

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A relação histórica entre o continente africano e a China, contudo, não é nova. O

contato entre a China e a África remonta a séculos (TAYLOR, 2007, p. 16). No entanto, após a

emergência da China, a mesma se tornou uma espécie de exemplo, tanto por seu apoio as

lutas de libertação nacional, quanto por suas façanhas de crescimento. E dentro de uma

dicotomia de aproximação e afastamento, a África sofreu, nos anos 80, com a crise mundial,

e foi marginalizada no cenário econômico internacional. Concomitantemente, ocorria o

grande boom chinês, e por consequência, sua necessidade por fontes de energia, mercados

e matérias-primas, sendo nesse contexto que se transformaram as relações com a África

(VISENTINI, 2012).

Essa nova relação sino-africana é pautada pela cooperação, embora impulsionada

por motivos econômicos, além de baseada em princípios como a não intervenção em

assuntos internos, o que atraía muitos dos novos Estados africanos, sendo eles ditatoriais ou

não. Para Sousa e Oliveira (2013, p. 32), de maneira geral, essa aliança se apresenta como

vantajosa para ambos os lados: enquanto a China obtém apoio político dos Estados africanos

nos fóruns internacionais, o que reforça o princípio da China única; os Estados africanos1

gozam de vantagens econômicas advindas da ajuda externa chinesa, ganham respaldo para

suas posturas, ampliam sua margem de manobra perante outros Estados, e ainda,

aumentam seu poder de influência por negociarem em bloco.

Um dos principais meios pelos quais se dá a relação sino-africana é através dos

investimentos chineses na região. Os montantes chineses na África vão desde infraestrutura,

passando pelo turismo, educação, alcançando a ajuda humanitária (ROTBERG, 2008). Essas

ações, aliadas ao comércio, parecem contribuir para um crescimento inédito dos países

africanos, tendo, nos últimos anos, a região, crescido a taxas próximas aos 5% ao ano

(VISENTINI, 2013, p. 21). Para Visentini (2013), é inegável que a maior parte dos Estados

africanos tem angariado respostas rápidas à presença chinesa, conseguindo concluir acordos

em diversas áreas, passando pela formação de profissionais, até a construção de

infraestrutura, é claro, sem esquecer do setor petrolífero e de demais recursos naturais. Na

verdade, os investimentos chineses direcionados a áreas como educação, infraestrutura e

1 Neste trabalho se foca na análise ampla dos países africanos com relação a presença chinesa, o que, embora possa gerar generalizações, foi realizado devido ao amplo espectro do estudo. Dessa forma, abra-se como oportunidades para novos estudos, análises mais especificas de cada Estado africano.

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capacitação, como exemplo, são vistos como uma prova da intenção chinesa de manter

relações duradouras com o continente e não apenas uma exploração de seus recursos

naturais. Todavia, existem também questões de atrito nesse relacionamento, como é o caso

do comércio.

Contudo, a presença chinesa na África tem sido alvo de críticas pelas potências

ocidentais, as quais a acusam de dar suporte a regimes autoritários, a violações de direitos

humanos e ser, na realidade, um novo colonizador. Essa série de críticas, em geral, por

membros da academia, da mídia e de ONGs da Europa e dos EUA, caracterizam esse

movimento como neocolonialista. Ademais, a manutenção, por parte da China, de relações

com países de regimes autoritários, é vista como extremamente prejudicial para o

continente africano.

Para tais críticos, o envolvimento da China com o continente africano estaria vinculado exclusivamente ao interesse chinês no petróleo e em outros recursos naturais dos países africanos e à garantia, por meio da ‘One China Policy’, de que Taiwan não seja reconhecido como país independente. (VISENTINI, 2013, p. 13)

No entanto, as críticas Ocidentais não se limitam a retórica. A estratégia das

potências ocidentais é de tentar limitar, progressivamente, a China dos recursos naturais

necessários para a manutenção de seu crescimento, através de ações como a Guerra ao

Terror, o que também justifica seu olhar mais atento ao subsistema africano (VISENTINI,

2013). Segundo Machado (2012) em respostas às transformações no âmbito internacional,

os EUA criaram um programa de assistência militar denominado African Crisis Response

Iniciative (ACRI), que se tornou Africa Contingency Operations Training Assintance (ACOTA),

em 2002, tendo como objetivo oficial o treinamento para a manutenção da paz e a ajuda

humanitária. Contudo, na prática, “[...] a ACRI é destinada a modernizar e adaptar as forças

armadas locais às normas norte-americanas” (MACHADO, 2012, p. 96). Nessa mesma linha,

em 1999, o Pentágono americano criou o Centro Africano para Assuntos Estratégicos e o

African Command (AFRICOM), em 2007, tendo como meta principal proteger o acesso ao

petróleo e outras fontes energéticas e, concomitantemente, responder ao envolvimento

político da China na África (MACHADO, 2012).

De todo modo, caberia prospectar de maneira mais focada em que medida a

competição entre China e Ocidente (aqui tomado como Estados Unidos da América, França e

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Reino Unido) para com o continente africano, é benéfica para a África. Isso pode ser avaliado

em termos diretos, no impacto das abordagens desses países para o desenvolvimento de

países africanos, e indiretos, na capacidade de criar novas oportunidades e possibilidades de

barganha, com o aumento do número de parceiros e da competição entre os mesmos. Este

trabalho é um esforço inicial neste sentido.

Assim sendo, o trabalho se orienta pela seguinte questão: quais são as principais

consequências para a África, nos âmbitos de desenvolvimento (humano e econômico),

segurança e construção estatal, da inserção chinesa e da competição entre essa e as

potências Ocidentais (EUA, França e Reino Unido)? O objetivo geral é estudar a recente

inserção, chinesa na África, focando-se no período pós-Guerra Fria, as reações ocidentais, e

seus impactos mais gerais no desenvolvimento, segurança, e construção dos Estados

africanos e na capacidade de barganha destes Estados. Como objetivos específicos têm-se:

(1) analisar a relação sino-africana; (2) estudar as políticas externas de EUA, França e Reino

Unido para a África, e suas alterações perante a presença chinesa no continente; (3) avaliar

os efeitos da presença chinesa diferenciada, e da competição desta, com as potências

ocidentais, diante do desenvolvimento, segurança e no desafio da construção dos Estados

africanos. Como hipótese principal, tem-se que: a inserção chinesa é diferenciada e têm

como consequências avanços no desenvolvimento, segurança e construção estatal africana,

além de incentivar uma maior condição de barganha internacional de países do continente.

Metodologicamente, o trabalho se propõe como um estudo de análise da presença

chinesa, pautado pelas reações ocidentais e pelas consequências, para a África, dessa nova

dinâmica, possuindo muitos pontos de caráter exploratório. Adota como método de

abordagem o hipotético dedutivo. São utilizadas fontes, principalmente, secundárias (livros,

artigos, dissertações), além de dados quantitativos para que se analisem as alterações nos

índices dispostos para comprovar a hipótese.

O trabalho será divido em três capítulos. O primeiro tratará sobre a interação China-

África em todos os seus aspectos, contando como uma breve retrospectiva histórica da

relação, principais áreas da relação, suas principais características, e seus dilemas; o segundo

capítulo analisará as políticas externas de EUA, França e Reino Unido para a África e suas

alterações diante do novo competidor no continente, a China; a terceira secção tratará sobre

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o modo diferenciado da inserção chinesa, como a relação com a China parece estar

contribuindo para questões como segurança, desenvolvimento e construção dos Estados

africanos, e, por fim, tratará sobre como essa competição entre a China e as potências

extrarregionais ocidentais tem proporcionado a África um maior poder de barganha, sendo

agora mais capaz para buscar seus próprios objetivos.

A inserção chinesa será analisada através dos investimentos do país no continente

africano, sejam eles em infraestrutura, educação, saúde, cooperação técnica ou militar. Uma

vez que, Rotberg (2008) aponta que as ações chinesas na África não se resumem a

investimentos em infraestrutura, mas também ao incremento no comércio entre ambos, a

ajuda avançada, como é o caso da educação, parcerias políticas, como o FOCAC2,

transferência de tecnologia, principalmente agrícola (LECHINI, 2013, p. 149), disseminação

cultural, através do Instituto Confúcio, além de ações diplomáticas, como o perdão de

dívidas dos países africanos e de segurança, como o treinamento militar. Buscando delinear

as principais motivações para tal relação obedecendo a suas necessidades energéticas e

princípios de não intervenção nos assuntos soberanos dos Estados africanos.

O capítulo 2 focará nas as respostas ocidentais perante a inserção chinesa. Serão

abordadas as nuances das políticas externas de cada uma das potências ocidentais: Reino

Unido, França e EUA, e também de questões pontuais. Um exemplo é a criação, pelos EUA

do AFRICOM. Outro, são as políticas adotadas, no caso do Reino Unido, baseadas no diálogo

construtivo com a China, visando aproximar as ações da última ao conceito ocidental de

“melhores práticas” (ALDEN, 2007, p. 107) e, sua nova postura, juntamente a França, de

novas intervenções no continente. Ou, ainda, as ações francesas, onde está ocorrendo um

grande debate sobre a competição da China em um local de tradicional influência da França,

causando receio francês da perda de gerência sobre esse local, bem como, de ver corroído o

que se tem como base para a França ser reconhecida como uma potência (ALDEN, 2007, p.

108-109), tendo sido percebida sua nova postura de intervencionismo na África.

Por fim, o capítulo 3 busca explicitar as consequências para o continente africano de

suas relações com a China, como possível catalisadora de melhorias no processo de

construção estatal, no âmbito do desenvolvimento e da segurança. Serão analisados

2 Fórum de Cooperação China-África

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diversos dados, como IDH, PIB, CINC, SFI, gastos militares, a fim verificar se as relações com a

China estão relacionadas com essas melhorias e se os países que gozam dos índices mais

expressivos são os principais parceiros comerciais chineses (Angola, África do Sul e Sudão).

Ademais, procura-se avalia se o aumento de suas capacidades e recursos, juntamente com

mais opções diante da competição entre a China e as demais potências extrarregionais,

presente no continente, tem prospectado a África um maior poder de barganha, fazendo

com que a mesma consiga obter maior autonomia no sistema internacional.

Dessa forma, este trabalho visa contribuir para um melhor entendimento da relação

sino-africana, não apenas em se tratando particularmente da China na África, mas dos

efeitos que tal dinâmica origina, como as reações ocidentais e as alterações no continente

africano. Sendo que, com a análise dos dados parece que a inserção chinesa tem

contribuído, direta e indiretamente, para o desafio da construção dos Estados africanos

(desenvolvimento e segurança) e o poder de barganha internacional dos mesmos.

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1. CAPÍTULO 1 - CHINA NA ÁFRICA: A ATUAÇÃO DA POTÊNCIA ORIENTAL NO

CONTINENTE.

1.1. Introdução do capítulo 1

Este capítulo trará um panorama amplo sobre a presença chinesa no continente

africano, desde os primeiros contatos no século XV até contemporaneamente, abarcando a

emergência chinesa no cenário internacional como potência global; um breve histórico da

relação sino-africana, a partir dos primeiros contatos comerciais – século XV- até

atualmente, focando-se no pós-Guerra Fria, demonstrando o desenvolvimento da política

externa chinesa para África bem como seus principais interesses na região, as características

dessa interação e a configuração contemporânea da questão.

1.2. A ascensão chinesa, política externa e a virada para a África

A China tem emergido como a principal ganhadora da Guerra ao Terror norte-

americana (ARRIGHI, 2008, p. 308), uma vez que, quanto mais emaranhado na luta contra o

terrorismo, mais os EUA passaram a depender de mercadorias estrangeiras baratas, sendo

na esfera econômica que a China tem sua influência mais extraordinária (ARRIGHI, 2008, p.

214-216):

Em resumo, longe de lançar bases para um segundo século norte-americano, a ocupação do Iraque comprometeu a credibilidade do poderio militar dos Estados Unidos, reduziu ainda mais a centralidade do país e da moeda na economia política global e fortaleceu a tendência à promoção da China como alternativa à liderança norte-americana na Ásia oriental e em outras regiões. (ARRIGHI, 2008, p. 219)

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Dessa forma, a emergência chinesa, durante os anos 2000, se tornou evidente

(GAZIBO; MABABIA, 2012, p. 53). Tanto a Índia quanto a China têm conhecido um notável

crescimento econômico, tendo mantido, nos últimos anos, o mesmo em uma taxa próxima

aos dois dígitos, o que tem acarretado uma projeção mundial (VISENTINI, 2012, p. 258).

Tendo contribuído para tal ascensão a crise financeira de 2008, a qual partiu dos EUA e se

espalhou para o mundo; explicando, de certa forma, a emergência dos países periféricos,

como foi o caso do Brasil, uma vez que os mesmos não sofreram, tão arduamente, com o

choque capitalista. Somando-se a isso, essa crise também desencadeou o fortalecimento da

multipolarização, bem como o surgimento de novos alinhamentos econômico-diplomáticos

(PAUTASSO, 2009, p. 20):

O acelerado desenvolvimento econômico da China e, mais recentemente, o da Índia produziram uma radical alteração nas conexões internacionais entre a Ásia e outras regiões do mundo. Partindo de uma posição periférica, a Ásia está se tornando um polo dinâmico que ocupa uma posição cada vez mais importante na economia e na política mundiais. (VISENTINI, 2012, p. 258)

Ou seja, convive-se com um movimento de transposição da unipolaridade para a

multipolaridade, no momento em que o desenvolvimento interno, combinado com as

políticas externas da China, e também de outras potências como União Europeia, Japão,

Rússia e Índia, têm alterando a balança de poder global (WALTZ, 2000, p. 32; SCHWELLER,

2011, p. 285)3. Contudo, o principal interesse chinês não é tomar a liderança global, e sim

aumentar o poder e prestigio de Pequim em locais estratégicos (SCHWELLER, 2011, p. 63).

É inegável o papel da China como um dos grandes exportadores do mundo, além de, no plano estratégico, pertencer ao Conselho de Segurança e possuir um forte aparato bélico, inclusive de cunho nuclear, fatos que a levam cada vez mais a ser o centro de gravidade asiático. Ressalte-se, ainda, o crescente interesse chinês em manter relações com a África, visando colocar o continente como importante fornecedor de matérias primas (CARVALHO, 2013, p.15).

Logo, Sousa e Oliveira (2013) apontam que a política externa chinesa se mantém

guiada pela continuidade de buscar autonomia nacional, bem como se afirmar

internacionalmente (SOUSA; OLIVEIRA, 2013, p. 27). E, uma vez traçado seus objetivos,

3 Segundo Waltz (2000, p. 34-36), Estados com grandes capacidades econômicas se tornam grandes potências, sendo relutante ou não, tendo a China um grande potencial. Contudo, a China, aparentemente, não busca uma atuação solitária no sistema internacional, da mesma forma que os EUA o fizeram depois da Guerra Fria, arcando com os custos dessa liderança, alegando que a China ainda é um país em desenvolvimento, não sendo capaz de se engajar na governança global (SCHWELLER, 2011, p. 291). No momento, a China, pragmaticamente, tem acomodado a liderança dos EUA, e, ao mesmo tempo, contestado a legitimidade dessa liderança, através de uma série de estratégicas como: participação das missões de paz da ONU, proeminência econômica, multilateralismo, diplomacia de soft power (SCHWELLER, 2011, p. 52-58).

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Pequim, tem dado ênfase ao desenvolvimento econômico - identificado como único meio de

se alcançar a soberania, a estabilidade e a ascensão internacional (BRAUTIGAM, 2009, p. 21)

- bem como, dado prioridade a elaboração de laços com os países do Sul4 - diferentemente

do tipo de relação, até então, priorizada pelos países centrais- a fim de assegurar sua

segurança, desenvolvimento econômico e apoio internacional (SOUSA; OLIVEIRA, 2013, p.

28). Dessa forma, a diplomacia chinesa apresenta como características, o respeito da

soberania de seus parceiros e a primazia ao desenvolvimento econômico, o que lhe agrega

uma visão benéfica, perante suas novas relações (BRAUTIGAM, 2009, p. 20-21).

Somando-se a isso, as prioridades atuais da política externa chinesa também têm

sido guiadas por motivações internas (MENDES, 2008). Em primeiro lugar, o país está

interessado na manutenção de um ambiente pacífico na esfera regional, bem como,

assegurar o acesso a recursos energéticos a nível internacional, a fim de manter os níveis de

crescimento econômico. Em segundo lugar, a atitude assertiva no plano externo, tem

proporcionado unidade e estabilidade a um regime autoritário e inseguro, o qual tem

buscado se engajar em questões de prestígio, como em Darfur (ALDEN, 2007, p. 115).

Por fim, a política externa chinesa tem sido marcada por um grande pragmatismo,

sendo todas essas diretrizes apoiadas por um nacionalismo, uma vez que, “[...] o objetivo do

crescimento econômico e de estabilidade e harmonia social tem ajudado ao adormecimento

coletivo das preocupações políticas e culturais” (MENDES, 2008, p. 232), ou seja, o sucesso

econômico também tem acrescentado a coesão interna. É importante ressaltar que esse

nacionalismo incrustado na política externa chinesa tem levado a alguns alinhamentos

contraditórios, mas que a China tenta transmitir uma imagem de ascensão pacífica (MILANI;

CARVALHO, 2012):

[...] Vimos que, quer o nacionalismo quer o crescimento econômico, alimentam estratégias contraditórias. Por um lado, exigem uma atitude assertiva, para legitimar o lugar do PCC no poder e para garantir a obtenção de recursos naturais que alimentem a máquina da economia chinesa. Por outro, exigem um grande pragmatismo e contenção, para assegurar o papel da China enquanto ator internacional responsável e motivo de orgulho e para garantir estabilidade regional

4 De acordo com Milani e Carvalho (2012), a Cooperação Sul-Sul (CSS) se apresenta como uma alternativa e não uma estratégia de substituição a Cooperação Norte-Sul, sendo a mesma mais horizontalizada, menos assimétrica e fundada na solidariedade. Para Milani e Carvalho (2012), no caso chinês, a CSS assume múltiplas formas, dentre elas: o envio de missões médicas; a construção de rodovias e pontes; cooperação técnica; instalação de estações termoelétricas; programas de treinamento e empréstimos de apoio ao comércio exterior; doações; empréstimos a juro zero e empréstimos subsidiados, entre outros.

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essencial à economia. Assim, a política externa chinesa tem sido essencialmente caracterizada por uma diplomacia econômica cada vez mais ativa e por conceitos securitários que procuram transmitir uma imagem defensiva (‘ascensão pacífica’, ‘desenvolvimento pacífico’). (MENDES, 2008, p. 234)5

Ao mesmo tempo, a China, em seu engajamento externo, não possui interesses em

conquistas de territórios, mas sim interesses mercantis. Os fins requeridos pela China são

tanto de ordem material, quanto ideológica (ROTBERG, 2008). Quanto ao primeiro, o país

busca, principalmente, o fornecimento de matérias-primas necessárias para a manutenção

de seu crescimento (ALDEN, 2007, p. 13), além de mercados que possam absorver sua

grande produção. Já quanto a sua intenção ideológica, Rotberg (2008) aponta a necessidade

de marginalizar Taiwan diante de países como o caso de alguns africanos, os quais ainda

reconhecem o enclave chinês6. Logo, a estratégia da política externa chinesa persegue um

ideal de posição global para a China, e para esse fim, os meios utilizados por Pequim

alternam entre o bilateralismo, multilateralismo e iniciativas sub-regionais (ALDEN, 2007, p.

27-30; WENPING, 2007). Sendo este, uma forma de utilização e exercício do soft power7

chinês. Contudo, a China tem combinado o uso de soft power e hard power em suas relações

externas (MENDES, 2008).

Se tem, por um lado, então, o fortalecimento da economia chinesa e a crescente

necessidade de insumos, petróleo, alimentos, minérios, entre outros, além de mercados; de

outro, nota-se o fortalecimento diplomático chinês diante as oportunidades e desafios

proporcionados pela transformação pela qual tem passado, que proporcionou novos

alinhamentos na política internacional (PAUTASSO, 2009, p. 18),

5 Há um grande debate sobre a possibilidade de manutenção da política de ascensão pacífica chinesa e segurança da região Ásia-Pacífico, devido sua ascenção (PEOU, 2014, p. 121). Para Xiaoming e Buzan (2010, p. 450), o crescimento chinês representa uma mudança para a dominação ocidental e, dessa forma, se torna muito difícil se manter a característica de ascensão pacífica por mais 30 anos. Além disso, todos os possíveis aspirantes a novas potências, em momentos diferentes, Alemanha, Japão e URSS, sofreram com as reações dos EUA, sendo para Mearsheimer (2006, p. 160), impossível que a China mantenha essa política, pois a mesma está prestes a entrar em competição com EUA, e possivelmente, em conflito com o mesmo. 6 Na África, atualmente, apenas quatro países não possuem relações diplomáticas com a China, pois reconhecem Taiwan: Burkina Faso, desde 1994; Gâmbia, desde 1995; São Tomé e Príncipe, desde 1997; e, Suazilândia, desde 1968 (MENEZES, 2013, p. 309). 7 De acordo com Mendes (2008), o soft power chinês, diferentemente da visão norte-americana, cunhada por Joseph Nye, o qual se baseia em ideais políticos, possui um componente essencialmente cultural e civilizacional.

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Crescendo rapidamente e deixando para trás sua condição de subdesenvolvimento para se tornar uma grande potência mundial, a China precisa de fontes de energia e matérias-primas. (ROTBERG, 2008, p. 4, TRADUÇÃO LIVRE)8

[...] Fica claro que a China precisa – para ser capaz de gerir domesticamente seu enorme crescimento econômico e industrial – ter acesso a uma ampla gama de matérias-primas e recursos energéticos [...] também precisa de parceiros e consumidores que possam absorver sua produção de bens e serviços, mas também a ideologia chinesa, em outras palavras, o soft power chinês. Dito isso, o continente africano, devido as suas dimensões, abundância em recursos energéticos e matérias-primas, e a simpatia manifestada por muitos regimes políticos as ideias do Consenso de Pequim, ocupa, inquestionavelmente, um lugar privilegiado na estratégia de consolidação do grande poder da China no mundo. (DUARTE, 2012, p. 23, TRADUÇÃO LIVRE)9

A partir de então, é perfeitamente explicável a adoção do multilateralismo chinês,

uma vez que não se deseja entrar em atrito com países como EUA na busca por fontes de

matérias-primas, uma vez que a diplomacia chinesa é embasada nos cinco Princípios da

Coexistência Pacífica10, sintetizados na Conferência de Bandung (1955) (GAZIBO; MBABIA,

2012, p. 53).

A partir dessas considerações pode-se tomar como base que, com o rápido

crescimento econômico, somando a outras características que a China possui, como arsenal

nuclear e um assento no Conselho de Segurança da ONU, o país tem ascendido ao sistema

internacional como potência global. Por outro lado, o país logra manter uma identidade

terceiro mundista que possibilita a consolidação de parcerias sul-sul (GAZIBO; MBABIA,

2012, p. 65). Esse novo protagonismo chinês tem alterado o sistema internacional,

tornando-o mais descentralizado. Além disso, devido à reticência de criar atritos com os

demais países que necessitam de recursos, o país tem se voltado para outras áreas de

influência e cooperação, como é o caso da África11.

8 “Growing rapidly and bursting out of its long underdeveloped cocoon to become a major world power and global economic source, China needs sources of energy and raw materials[…].” 9 “[...] It is clear that China needs – to be able to domestically operate its huge economic and industrial growth – to have acess to a wide range of raw materials and energy resources […] also needs partners and consumers that may absorb the Chinese production of goods and services, but also Chinese ideology, or in the other words Chinese soft power. That said, the African continent, due to its dimensions, abundance in energy resources and raw materials, but also due to sympathy that many political regimes manifest towards the ideas of Beijing Consensus, occupies, unquestionably, a privileged place in the strategy of consolidation and assertiveness of China’s great power in the world.” 10 Segundo Visentini (2012), os Cinco Princípios da Coexistência Pacífica são: 1. respeito mútuo à soberania e integridade nacional; 2. não-agressão; 3. não- intervenção nos assuntos internos de cada país; 4. igualdade e benefícios recíprocos; e, 5. Coexistência pacífica entre Estados com sistemas sociais e ideológicos diferentes. 11 Mendes (2008) ressalta que a China desenvolveu em 2008, uma nova estratégia internacional conhecida como “Estratégia da Pomba da Paz”, onde se distribui as áreas de intervenção da política externa chinesa

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1.3. O histórico da relação China-África

Os contatos e o comércio entre a Ásia e o litoral africano do Oceano Índico são muito

antigos, onde no século XII, começou-se a importar porcelana song da China. Contudo, o

comércio entre os dois continentes, diretamente, só se deu a partir do século XV (NIANE,

2010, p. 525). Ou seja, o contato com a África remonta a séculos atrás.

Moedas chinesas e fragmentos de porcelana que datam da Dinastia Sung (960-1279) foram encontrados em sítios arqueológicos em Zanzibar, ao longo da costa oeste da África, até o sul, e em terras da grande Zimbábue. Estas descobertas indicam que o contato, embora indireto, entre a China e a África existem a um período considerável de tempo. (TAYLOR, 2007, p. 16, TRADUÇÃO LIVRE)12

Dessa forma, a partir do século XV, muitos impérios e reinos da Índia e da China

fizeram contatos diretos com a África Oriental, somando-se as ligações proporcionadas pelos

árabes-muçulmanos, os quais comercializavam na região, sendo que, durante a Dinastia

Ming, a esquadra marítima chinesa era muito numerosa, fazendo com que essa ligação se

tornasse muito mais intensa. Contudo, devido a questões internas, a China diminuiria sua

empreitada marítima, deixando um espaço que seria ocupado pelos países europeus (NIANE,

2010, p. 531). Contudo, mesmo durante a fase de colonialismo europeu, esses contatos não

cessaram uma vez que, partilhando do domínio colonial, houve migrações chinesas para a

África, onde os primeiros africanos que chegaram na China datam do século VI ou VII

(NIANE, 2010, p.760).

Já durante o período pré-1949, ou seja, antes da Revolução Chinesa, inserido na

dinâmica da Guerra Fria, Mao Zedong formulou o conceito de “zonas intermediárias”, como

uma arena de contradição entre as duas ideologias do período, o capitalismo e o socialismo.

Essas zonas representariam a existência de países entre a dicotomia EUA/URSS, não

necessariamente alinhados com uma das ideologias (TAYLOR, 2007, p. 17). Mao impôs uma

através do corpo da pomba, seguindo uma lógica de prioridades. Sob este prisma, a África estaria na base caudal da pomba, enquanto a região asiática, estaria no centro, contudo, Mendes (2008), aponta que isso não significa a falta de importância para essa região, uma vez que, não se poderia adquirir uma boa estrutura se sua base está fraca, o que também é corroborado por Milani e Carvalho (2012), uma vez que ressalta que o foco geográfico da política externa chinesa é a Ásia e a África, sendo seus temas prioritários: infraestrutura, produção de recursos energéticos, e desenvolvimento industrial. 12 “Chinese coins and porcelain fragments dating from the Sung Dynasty (960-1279) have been founded at archeological sites in Zanzibar, along the Swahili coats eastern Africa and as far south and as inland as Great Zimbabwe. These discoveries indicates that contact, however indirect, between China and Africa has existed for a considerable period of time.”

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divisão entre os países “desenvolvidos”, them, incluindo EUA e URSS, e os países na mesma

condição que a China, us. Isso atraiu alguns Estados recém independentes da África

(TAYLOR, 2007, p. 17). Sendo possível afirmar que o conceito de Mao sobre as zonas

intermediárias pode ser identificado como o início da conceptualização da teoria do Terceiro

Mundo (Taylor, 2007, p. 17).

Em paralelo, a Revolução Chinesa teve grande impacto no continente africano

principalmente sendo vista como um exemplo para o processo de descolonização, se

tornando um grande parceiro nesse período (VISENTINI, 2012). A Revolução Chinesa

também marcou uma mudança na política de Pequim, fazendo com que a China se

empenhasse de maneira mais enfática em problemas de ordem interna e externa (TAYLOR,

2007, p. 17):

Após a Revolução Chinesa (1949), foi possível observar um maior aprofundamento dos laços, a partir da iniciativa chinesa. Naquela conjuntura, a China tinha como objetivo exportar a revolução, o que coincidiu com a proliferação de movimentos de libertação nacional na África. (OURIQUES, LUI, 2012, p. 19)

A China teve grande relevância na cooperação com os países africanos durante o

processo de descolonização (ADEBAJO, 2010, p. 164): “[...] A solidariedade anticolonialista e

anti-imperialista da Conferência de Bandung representou um elemento de aproximação, que

se apoiou na diplomacia terceiro-mundista de Beijing [...]” (VISENTINI, 2012, p. 259), além da

tentativa de isolar Taiwan do contato com os países africanos. Durante os anos de 1970, a

ajuda chinesa a África foi de 1,7 bilhões de dólares, em razão da diminuição da presença

soviética na região (OURIQUES; LUI, 2012, p. 19). Esses investimentos se dirigiram,

principalmente, para a infraestrutura, característica marcante da atuação chinesa na região

(BRAUTIGAM, 2009, p. 1), como a construção da ferrovia Tanzan, projeto recusado pelas

potências ocidentais, “[...] o objetivo dessa obra era ligar a Tanzânia a Zâmbia, como parte

do projeto de construir uma pan-África. Esta parceria aumentou ainda mais a influência

chinesa no continente africano”. Contudo, é preciso ressaltar que, no imediato pós-

Revolução, a política externa chinesa foi muito influenciada pelo suporte da URSS, diante da

aliança Sino-Soviética de 1950 (TAYLOR, 2007, p. 18).

Somando-se a isso, a China propiciava treinamento militar a movimentos de

libertação nacional, bem como assistência técnica e a constituição de quadros no período,

como na Argélia, Egito, Somália, Tanzânia e antigo Zaire (ADEBAJO, 2010, p. 165). Foi

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marcante também, na conjectura dos movimentos de libertação nacional, a transferência de

armamentos chineses para a África. A China forneceu armas para os movimentos da Argélia,

Moçambique (FRELIMO), Angola, Zimbábue (ZANLA), e também para o movimento opositor

na guerra civil na República Democrática do Congo (BROMLEY; DUCHÂTEL; HOLTOM, 2013,

p. 36).

Nesse interregno, mais precisamente em 1954, a China elaborou os princípios que

guiariam sua política externa, os quais seriam denominados de Cinco Princípios de

Coexistência Pacífica13, visando uma aproximação com os países recém independentes e

também os socialistas (VISENTINI, 2013, p. 14). Já em 1955, ocorre a Conferência de

Bandung, a qual proporcionou o contato dos chineses com diversos líderes africanos;

oportunidade de incremento das relações entre ambos, sendo fruto de tal encontro, o

estabelecimento de relações diplomáticas entre China e Egito em 1956 (ALDEN, 2007, p. 9),

inaugurando, oficialmente, as relações sino-africanas (VISENTINI, 2013, p. 14).

Assim sendo, no pós-Bandung a China se tornou, gradualmente, mais envolvida com

a África. Concomitantemente, as relações Sino-Soviéticas começaram a ruir, uma vez que,

após a morte de Stálin, a China passou a ver a política de Khruschev como complacente com

a política capitalista, o que aproximou ainda mais a política chinesa da África visando apoio

para sua posição internacional (ALDEN, 2007, p. 10). Dessa forma, o período de 1960-1965

para as relações sino-africanas, foi de sucesso.

Contudo, nos anos 80, houve um relativo afastamento da África, uma vez que a China

priorizou, novamente, questões internas, devido a Revolução Cultural, o que gerou um

isolamento de Pequim (ALDEN, 2007, p. 10). Assim,

A Revolução Cultural resultou em intensa agitação interna na China de 1966 em diante. Para as relações exteriores de Pequim, a Revolução Cultural pode ser vista como um desastre, onde os interesses e influência na África e no mundo sofreram um grande revés durante o período. (TAYLOR, 2007, p. 32, TRADUÇÃO LIVRE)14

13 Segundo Taylor (2007, p. 18), esses princípios são: o respeito mútuo da integridade territorial de cada país; a não-agressão; a não interferência em assuntos internos; igualdade e benefícios mútuos; e, coexistência pacífica. 14 “The Cultural Revolution resulted in intense domestic upheaval in China from 1966 onwards. For Beijing’s foreing relations, the Cultural Revolution can be seen to be a disaster and the PRC’s interest and influence in Africa and in the world in general suffered a great setback during the turmoil.”

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A ajuda chinesa para com o continente africano, nesse período, também sofreu

reveses (BRITO, 2011, p. 6). Concomitantemente, o continente africano enfrentou uma crise

generalizada, pois, enquanto se instalava em grande parte do mundo uma economia global e

dinâmica, a África Subsaariana passava por um processo de deterioração de sua posição no

comércio, investimentos, produção e consumo, em relação a demais áreas do globo

(CLAPHAM, 1996, p. 164). Entre 1870 e 1970, quando a África foi incorporada a economia

capitalista, as exportações africanas tiveram um crescimento acelerado, mas a década de 80

marcou um revés para essa tendência. Somando-se a isso, as exportações africanas se

mantiveram restritas as commodities, o que dificultou ainda mais sua situação no período,

combinado ao crescimento do setor informal, refletindo e exacerbando a diminuição das

capacidades dos Estados Africanos (CLAPHAM, 1996, p. 165). Essa situação levou a maioria

das economias africanas à dependência da ajuda internacional e dos empréstimos externos,

o que marcou esse período como a marginalização da África na economia global e a

solicitação de ajuda a instituições financeiras internacionais (ADEBAJO, 2010, p. 25). Essas

instituições, como condição para a ajuda financeira, obrigaram15 os países africanos a aplicar

reformas estruturais, as quais erodiram o controle dos Estados africanos sobre sua política e

economia, sendo o período marcado, novamente, por uma submissão indireta ao ocidente

(ADEBAJO, 2010, p. 25) e pela dependência dos mesmos (CLAPHAM, 1996, p. 166)

Os resultados desses ajustes políticos foram: a corrosão das capacidades Estatais de

governar seu próprio território, e a perda de legitimidade internacional e interna, sendo que

a utilização do conceito de uma “recolonização”, embora polêmico, não seja, totalmente,

injustificado (CLAPHAM, 1996, p. 180-186).

Nesse período, a China obteve uma maior aproximação com as potências ocidentais,

devido a sua fase “antissoviética”, o que proporcionou a mesma, a visão de “uma nova

grande potência” no estilo ocidental, presente na África em vista de defender seus

interesses globais apenas. Ou seja, seu discurso anti-imperialista se deteriorava diante dos

países terceiro-mundistas. Foi nessa época, no entanto, que a China alcança sua cadeira no

Conselho de Segurança das Nações Unidas, com o apoio dos países africanos, ao mesmo

15 Nem todos os países africanos se subjugaram a tais reformas, existindo três tipos de posição: a resistência, a qual, na verdade, não era uma opção; a aceitação, como no Quênia, devido a sua situação extrema; ou o intermédio entre os dois, o que só era possível em países que gozavam de suporte de mais de um país ocidental, como era o caso do Zaire, o qual barganhava entre EUA e França (CLAPHAM, 1996, p. 178).

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tempo em que ocorriam as reformas econômicas de mercado e inserção chinesa na

economia mundial.

Concomitantemente, ocorreu o grande crescimento chinês e seu impacto na

dinâmica internacional (BRAUTIGAM, 2009, p. 8). Esse crescimento, acompanhado pela

inclusão social (embora precária) de meio bilhão de pessoas, mostrou um impacto muito

grande na busca por matérias-primas, fontes de energia e alimentos, a fim de manter o

ritmo e dinamismo do processo de crescimento. Até então, a China supria suas necessidades

com carvão e suas reservas de petróleo, mas devido ao suntuoso crescimento, tal conjuntura

não se sustentava mais. Somando-se a isso, as nações desenvolvidas, para as quais os fluxos

eram originalmente endereçados, não tinham mais capacidade de absorver as exportações

chinesas. Consequentemente, o país irá voltar-se para os países em desenvolvimento, o que

foi propiciado pela grande quantidade de excedentes, resultantes desse crescimento

econômico (ALDEN, 2007, p. 11).

Assim, novas modificações no relacionamento entre China e África se deram em

meados dos anos de 1990, quando será estabelecido um novo tipo de relação com o

continente, a qual visava: uma amizade confiável, a igualdade soberana, a não intervenção

(BRAUTIGAM, 2009, p. 3), o desenvolvimento mutuamente benéfico e a cooperação

internacional. Ou seja, a substituição das estratégias políticas voltadas à ideologia em

detrimento das voltadas para o desenvolvimento econômico. Essa mudança em relação a

África se deu em função de três aspectos: o isolamento imposto pelas potências ocidentais,

após o massacre ocorrido na Praça da Paz Celestial; pelo vácuo de poder originado da

retirada da influência europeia na região; e, pela inserção de Taiwan no continente africano

buscando apoio político contra a RPC (SOUSA; OLIVEIRA, 2012, p. 30).

Já a aceleração dessa política de Pequim em direção a África teve duas influências

principais: a necessidade crescente de recursos naturais e, a estratégias das grandes

potencias de privá-los desses recursos, o que foi feito através do dilema de guerra ao

terrorismo, visando perturbar a segurança energética16 chinesa (VISENTINI, 2012). Beijing

16 O conceito de segurança energética tem atraído mais atenção dos políticos e da opinião pública em geral atualmente. O tema se transformou em ponto de discussão porque uma sociedade mais complexa e produtiva aumenta sua necessidade por energia, colocando-se em cheque sua capacidade de manutenção de suprimento dessa demanda. Essa preocupação tem sido guiada por quatro pontos principais: a preocupação crescente sobre a disponibilidade de energia; preocupação quanto à capacidade dos produtores de manter a paz com o

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buscou áreas, então, não cobertas pela capacidade militar, principalmente norte-americana,

ou seja, a própria Ásia, a América Latina, sem confronto com os EUA, e a África, se

aproveitando da visão africana de admiração para com a China, devido ao seu grande

desenvolvimento e superação da pobreza, sendo tida como um exemplo a ser seguido

(BRAUTIGAM, 2009, p. 10).

Já em 1996, durante a visita do então presidente chinês, Jiang Zemin, ao continente

africano, foi delineada uma proposta, de cinco pontos, visando desenvolver as relações

China-África de maneira estável e de longo prazo, baseada em cooperação e interação. Esses

preceitos incluíam: interação baseada na igualdade, respeito pela soberania e não ingerência

em assuntos internos, desenvolvimento comum, benefícios mútuos e, aumento das

consultas e cooperação internacional. Dessa forma, baseando-se nessas prerrogativas que as

relações entre a China e a África cresceram e se fortaleceram, evoluindo até a criação do

Fórum de Cooperação China-África17 (FOCAC), em 2000 (VISENTINI, 2013, p. 16). O FOCAC,

fomenta as relações sino-africanas nos âmbitos econômico e político, buscando o benefício

mútuo, se tornando o principal símbolo dessa interação (ALDEN, 2007, p. 30-31).

Sendo assim, essa nova protagonista do cenário internacional apareceu no

continente africano trazendo recursos econômicos e políticos, proporcionando

desenvolvimentos em muitos países, bem como a emergência de processos de integração

aumento da demanda; preocupação diante da mudança da produção de petróleo do norte para o sul; e, preocupação de que as instalações de petróleo, principalmente, se tornem alvo de terroristas, insurgentes ou separatistas. Dessa forma, as políticas estatais têm se focado na tentativa de assegurar esse fornecimento, assumindo uma dimensão militar (KLARE, 2008, p. 487). 17 O primeiro FOCAC se iniciou através de uma conferência ministerial em Pequim em 2000, onde se delegou que o encontro seria repetido a cada três anos, alternando o local entre a China e um país africano. Esse encontro tem como objetivo a cooperação e a amizade, baseando-se em igualdade, consenso, amizade, parceria e benefícios mútuos. O primeiro FOCAC teve como resultados a Declaração de Pequim e o Programa para cooperação econômica e desenvolvimento social China-África (ENUKA, 2010, p. 211). Esse primeiro encontro se focou em duas áreas principais: como promover uma nova ordem internacional mais equânime, e o fortalecimento da relação China-África, nos âmbitos de desenvolvimento econômico e social (ENUKA, 2010, p. 212). A segunda reunião ministerial ocorreu em 2003, na Etiópia, a qual terminou com a adoção do Addis Abada Action Plan 2004-2006 (ENUKA, 2010, p. 212), tendo como foco a cooperação política e o desenvolvimento socioeconômico (CISSÉ, 2012 [S.P.]). Já o terceiro fórum, em 2006, se concentrou na redução dos débitos dos países africanos, assistência econômica treinamento pessoal e investimentos na África com dois desenvolvimentos importantes: o White Paper on China’s African Policy, e o discurso do Presidente Hu Jintao, no congresso nigeriano durante sua visita ao país (ENUKA, 2010, p. 212). O quarto forúm ocorreu no Egito, em 2009. Dessa forma, a experiência do FOCAC, nos últimos nove anos, parece estar se mostrando como uma importante plataforma e mecanismo de diálogo para o fortalecimento da relação China-África, sendo essa marcada pela solidariedade, cooperação e salvaguardando interesses comuns, se mostrando diferenciada diante das relações com os parceiros tradicionais africanos (ENUKA, 2010, p. 212). Contudo, embora se apresentando como um fórum multilateral, as ações são implementadas bilateralmente (JANSSON, 2009, p. 3).

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regional. Logo, “[...] os resultados seriam visíveis, como um crescimento econômico

acelerado e um maior protagonismo político por parte dos Estados africanos, bem como o

ressentimento das potências Ocidentais, que passaram a denunciar o ‘imperialismo chinês”

(VISENTINI, 2012).

1.4. China na África: aproximações recentes

As reformas e o acelerado desenvolvimento da economia chinesa, acrescentando-se

o fim da dicotomia imposta pela Guerra Fria, se mostram como aspectos determinantes para

as relações entre a China e a África (VISENTINI, 2012). O que anteriormente se baseava

apenas em uma dicotomia ideológica, uma vez que a China buscava parcerias que

convergissem com a sua posição conjuntural e sua diplomacia de prestígio, se transformou

em uma aliança de amplos aspectos.

Uma das questões que mudou a percepção chinesa para com o continente africano

foi sua recepção não critica quanto ao acontecimento ocorrido na Praça da Paz Celestial, em

1989, (incidente que gerou grandes críticas do Ocidente). Logo a China passou a conceber a

África como um possível aliado político, capaz de lhe proporcionar sustentação

internacional, principalmente na ONU, uma vez que os Estados africanos representavam um

grande número. Somando-se a isso, as críticas feitas pelo Ocidente aproximaram ainda mais

esses dois atores, uma vez que eram vistas como um empecilho a seu desenvolvimento. O

passado compartilhado de dominação colonial também aproximava esses dois polos. Além

disso, a política chinesa de não intervenção em assuntos internos proporcionava a

possibilidade de desenvolvimento econômico, sem o crivo da liberalização política, o que

tornava mais próximo os governos autoritários presentes no continente africano (GAZIBO;

MBABIA, 2012, p. 63).

No entanto, é impossível negar que a presença chinesa na África esteja ligada,

primariamente, a necessidade da última por recursos energéticos (ALDEN, 2007, p. 13), a fim

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de sustentar seu desenvolvimento econômico, sendo o petróleo e outros recursos

representantes de importante parte do investimento chinês no continente africano,

principalmente a partir dos anos 2000 (VISENTINI, 2013, p. 19). Sendo que, Angola é o

principal parceiro comercial chinês, respondendo por 64% das importações do petróleo da

África.

A partir de 2003, o novo incremento do interesse chinês pela África se deu por duas

razões, sendo muito marcada pelas ações de investimentos chineses na região:

Em primeiro lugar, como Hu estava tomando posse como presidente, a crise energética na China focou as mentes de Pequim na necessidade urgente de diversificação de suprimento de energia. Em segundo lugar, uma tentativa, em 2005, da CNOOC de controlar a empresa americana Unocal com uma oferta de US$ 18,5 bilhões colapsou diante da pressão do Congresso dos EUA. Essas e as outras demais falhas levaram Pequim a assumir o risco em países instáveis em quais não poderiam lidar, em parte para evitar a ocorrência direta com grandes multinacionais. (VINES, 2007, p. 214, TRADUÇÃO LIVRE)18

A maioria dos investimentos chineses é dirigida à construção de infraestrutura

(BRAUTIGAM, 2009, p. 1), em rodovias, ferrovias, eletricidade, o que torna mais fácil a

exportação de recursos como o petróleo. Contudo, o desenvolvimento de infraestrutura

influência diretamente na segurança desses países, uma vez que possibilita uma maior

conexão entre o centro do poder do Estado e as regiões periféricas, as quais possuem

características centrífugas (CASTELLANO, 2013, p. 88). Ademais, também são exemplos

desses investimentos, a revitalização das minas de cobre na Zâmbia e de madeira em

Moçambique; e em setores petrolíferos, em países como Nigéria, Angola, Sudão, Guiné

Equatorial, Gabão e Chad (ADEBAJO, 2010, p. 166), sendo que o incremento nesses campos

traz transbordamentos para os africanos: “[...] ações chinesas nas áreas de infraestrutura

podem, potencialmente, promover muitos benefícios sociais para os africanos, bem como

econômicos” (ROTBERG, 2008, p. 7, TRADUÇÃO LIVRE)19.

Os investimentos chineses na África não se resumem a infraestrutura, mas também

ao incremento no comércio entre ambos, sendo exemplos, Nigéria, Angola, Sudão, e Congo;

18 “First, as Hu was taking over as president, an energy crisis in China focused minds in Beijing on the urgent need for energy diversification. Second, an attempt in 2005 by CNOOC to gain control of the American firm Unocal with a $18.5 billion bid collapse under pressure from the US Congress. That and the other such failures have pushed Beijing to take risks in unstable countries it might not otherwise deal with, in part to avoid direct competition with major multinationals.” 19 “Chinese action in these infrastructural areas potentially could prove of enormous benefit to Africans socially, as well as economically.”

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e a ajuda avançada, como é o caso da educação, em Serra Leoa, Etiópia e Senegal, o que

entusiasma os africanos (ADEBAJO, 2010, p. 167); turismo; construções; energia;

transportes; comunicação; saúde, através de investimentos e a atração de médicos, agentes

de saúde e especialistas chineses para a África; em manufaturas, no Marrocos e no

Zimbábue; na pesca, no Gabão e na Namíbia; na construção de estádios, Mali, Djibouti e na

República Centro Africana; construção de prédios públicos (VISENTINI, 2010, p. 19); na

agricultura, na Zâmbia e na Tanzânia (ADEBAJO, 2010, p. 167); além do aspecto cultural,

através dos Institutos Confúcio (VISENTINI, 2013).

Somando-se a isso, a China tem buscado desenvolver no continente africano o

mesmo sistema de Zonas Econômicas Especiais (ZEEs), as quais visam o desenvolvimento de

setores específicos (BRAUTIGAM, 2009, p.1). Segundo Rotberg (2008, p. 8, TRADUÇÃO

LIVRE), “[...] o objetivo africano é atrair investimentos externo diretos para as zonas já

estabelecidas”20.

As Zonas Econômicas Especiais, onde são instaladas industriais sob o regime de joint

ventures, passaram a ser desenvolvidas a partir da cúpula de 2006 da FOCAC, sendo

aprovadas cinco zonas na África Subsaariana, duas delas na Nigéria.

“O investimento em Zonas Econômicas e de Livre Comércio se apresenta como uma tentativa de reproduzir o modelo chinês de desenvolvimento, uma vez que, na China, a implantação de zonas como essas teria sido responsável pelo aumento do investimento direto estrangeiro e pelo consequente desenvolvimento do país”. (VISENTINI, 2013, p. 19).

Além disso, o baixo valor dos produtos chineses permite aos africanos o acesso a um

consumo anteriormente de difícil acesso. No entanto, mais importante ainda, é que os

africanos deixaram de necessitar de empréstimos oriundos do FMI, se tornando menos

dependente da ajuda ocidental, bem como, tem desenvolvido uma diplomacia mais ativa.

Ou seja, “para os africanos, trata-se de uma descolonização econômica e de uma nova

projeção internacional” (VISENTINI, 2010, p. 20).

De acordo com Sousa e Oliveira (2013, p. 31), “A cooperação chinesa na África

apresenta-se, portanto, como uma parceria com os projetos de desenvolvimento dos países

com os quais negocia”. Ou seja, esse tipo de relação não se restringe as relações econômicas

e comerciais; como apontado pelos autores,

20 “The African goal is to attract foreign direct investment to the zones already established.”

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[...] no caso da China, essa parceria estratégica funciona como uma plataforma para a inserção internacional dos Estados africanos, na medida em que suas posturas ganham respaldo de um membro permanente no CS/ONU (SOUSA e OLIVEIRA, 2013, p. 32).

De maneira geral, essa aliança se apresenta mutuamente vantajosa: enquanto a

China obtém apoio político dos Estados africanos nos fóruns internacionais, o que reforça o

princípio da China única21; os Estados africanos gozam de vantagens econômicas advindas da

ajuda externa chinesa, ganham respaldo para suas posturas, ampliam sua margem de

manobra perante outros Estados, e ainda, aumentam seu poder de influência por

negociarem em bloco. Sendo essa cooperação marcada por fortes vínculos diplomáticos e

muito mais atrativa do que as estratégias rigorosas e condicionais do Consenso de

Washington (SOUSA; OLIVEIRA, 2013, p. 32).

Um país em crescimento, que está à procura de mercados e influência encontra um continente rico em recursos, mas com falta de investidores [...] a África aparece como uma boa opção aos olhos dos líderes chineses [...] Por sua vez, o continente africano parece ter todo o interesse em diversificar a cooperação com outras regiões em todo o mundo. (DUARTE, 2013, p. 24, TRADUÇÃO LIVRE)22

A China tem também auxiliado nas legislações dos países africanos. O modelo do

sistema chinês, supostamente, serviria de exemplo para os africanos, por ter alcançado

grande crescimento econômico e ter tirado muitas pessoas da condição de pobreza

(ROTBERG, 2008).

Percebe-se, dessa forma, que a ajuda chinesa se dá baseada nos princípios de

igualdade, benefício mútuo, e respeito pela soberania do país, se inserindo em diversas

dinâmicas, inclusive culturais. Aplicando, Pequim, dessa forma, uma diplomacia de soft

power para o continente africano (NAIDU, 2007, p. 42):

[...] Com a sua economia em rápido crescimento, a China começou cultivar a atração para seu idioma, cultura, valores políticos e para sua diplomacia no mundo inteiro. A África é, talvez, o campo de teste mais importante para a promoção do soft power chinês. (WENPING, 2007, p. 28, TRADUÇÃO LIVRE)23

21 De acordo com Wenping (2007), a questão de Taiwan tem reduzido sua importância perante a emergência de novas questões a serem enfrentadas pela cooperação Sino-africana, como ameaças à segurança, por exemplo, o terrorismo e a malária. 22 “[...] a growing country that is looking for markets and influence meets a continent rich in resources but with a lack of investors […] that Africa appears as a good option in the eyes of Chinese leaders […] In turn, the African continent seems to have every interest in diversifying cooperation with other regions throughout the world.” 23 “With its rapidly growing economy, China has begun to cultivate the attraction of its language, culture,

political values and a diplomacy around the world. Africa is perhaps the most important testing ground for the promotion of Chinese soft power.”

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Essa relação sino-africana tem trazido muitas críticas do Ocidente, pois dessa forma o

país estaria proporcionando a manutenção de regimes ditatoriais e grandes massacres e

violações dos Direitos Humanos, como o de Darfur. No entanto, a China é um regime

ditatorial, e suas ações internas e externas são reflexos disso (ROTBERG, 2008). Além disso,

os chineses também possuem interesses quanto à segurança, o que tem aumentado sua

relação nesse âmbito com os países africanos, através do fornecimento de armas para a

África24, bem como treinamento, embora sem firmar pactos militares, o que já vinha

ocorrendo desde os movimentos de libertação nacional: “[...] China mantém o status quo

político, seja ele qual for, e fornece equipamentos militares e outros tipos de assistência

para governos, autocráticos ou duvidosos” (ROTBERG, 2008, p. 9, TRADUÇÃO LIVRE)25.

A China também vê no continente africano a possibilidade de teste para sua

estratégia de going out (BRAUTIGAM, 2009, p. 2). As empresas chinesas se instalam no

continente africano a fim de adquirir experiência, para que possa expandir seus

empreendimentos no continente e na arena global (BRITO, 2011, p. 8). Aproximadamente

900 companhias chinesas são investidoras na região (BRAUTIGAM, 2009, p. 2), as quais têm

sido mais bem sucedidas que as empresas ocidentais (ALDEN, 2007, p. 13).

Ou seja, a política chinesa para a África também possui um componente interno.

Segundo Naidu (2007, p. 43), uma crise social tem emergido internamente na China,

aumentando-se a desigualdade e as diferenças regionais, tornando-se claro que a ascensão

do país não tem beneficiado a todos. A partir disso, a relação sino-africana também

representa um meio de sustentação interna.

Ainda cabe ressaltar que a China da preferência pelas relações bilaterais com cada

país africano, em detrimento do relacionamento multilateral (NAIDU, 2007, p. 44). Embora

Pequim tenha negociações com organizações coletivas africanas, como o Mercado Comum

do Leste e do Sul da África e da União Africana (LECHINI, 2013, p. 147).

Com a relação sino-africana, China fica exporta as críticas internacionais,

principalmente porque é vista como interferindo na dominação ocidental (ALDEN, 2007, p.

24 No ranking de 2008-2012, a China é a 5ª maior exportadora de armas convencionais do mundo (SIPRI, 2013, p. 39). 25 “China supports the political status quo, whatever it is, and it supplies military hardware and other assistance to buttstress existing governments, however autocratic or dubious in oringin.”

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102), estando entre as apreciações, a acusação de manutenção de regimes ditatoriais na

África, a reticência com regimes que violam os direitos humanos, bem como com massacres.

A postura chinesa é classificada como um ato de neocolonialismo. Contudo, em

contraponto, a China tem se empenhado para realizar ajudas humanitárias no continente

africano, sendo que em 2007. Pequim empenhou um contingente de 1.800 soldados para as

missões de paz da ONU no Sudão, na República Democrática do Congo, na Libéria, na Costa

do Marfim, na Etiópia/Eritréia, e no Saara Ocidental (ADEBAJO, 2010, p. 168). Em relação a

acusação de neocolonialismo, Rotberg (2008) sublinha que a China não tem a intenção de

subjugar os africanos, nem impor seu modelo de vida, sendo que a mesma ressalta o

respeito pela soberania de cada Estado. Somando-se a isso, a China tem proporcionado o

incremento de estruturas políticas e econômicas para a África, que tem melhorado as

relações entre ambos os lados e traz benefícios mútuos. Além disso, um grande ponto que

separa a presença chinesa do colonialismo ou neocolonialismo, é que há o interesse dos

africanos nessas relações (ROTBERG, 2008). Segundo Visentini (2013, p. 79) “A presença

chinesa ainda é minoritária, e o país não realiza qualquer atividade que não seja demandada

pelas nações africanas”, estabelecendo-se uma interdependência econômica. Contudo,

acentua-se que as ações chinesas não cumprem a função de ajuda sem interesses, uma vez

que tais é que motivam suas ações, principalmente o suprimento de fontes de energia

(ROTBERG, 2008)

Em suma, a cooperação entre a China e os países africanos tem sido caracterizada

pela denominação de “win-win strategy” (BRAUTIGAM, 2009, p. 1), marcada por diversas

ações como investimentos; múltiplas ajudas, as quais se diferenciam, uma vez que se focam

na infraestrutura, na produção, bolsas de estudo, mas que estão incrustadas de interesses

pelos recursos africanos (BRAUTIGAM, 2009, p. 17); subsídios; perdão de dívidas (ALDEN,

2007, p. 31); entre outras, onde a política implementada pela China, segundo Rotberg (2008)

visa ajudar os países africanos a superar a pobreza, bem como consolidar sua

independência, em uma relação de desenvolvimento mutuamente benéfico.

Além disso, desde que os países africanos afirmaram que apenas empréstimos não

são capazes de mudar a conjuntura do continente, a China tem mudado seus incrementos

na África, a fim de fazer frente às aspirações africanas (ROTBERG, 2008), sendo uma das

formas a transferência de tecnologia, principalmente agrícola (LECHINI, 2013, p. 149).

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Contudo, a “lua de mel” da China para com alguns países africanos tem ruído. A

China tem enfrentado alguns revesses em sua política econômica para o continente como

são os casos de Angola, Gabão, Nigéria, Sudão e Zâmbia, uma vez que os empreendimentos

chineses no continente têm reduzido a capacidade local de competir no mercado (VINNES,

2007, p. 218). Além disso, protestos já ocorreram na África diante da depredação ambiental

feita pelas instalações de indústrias chinesas (LECHINI, 2013, p. 152); além de pontos de

fricção devido a imigração de chineses para trabalhar nas indústrias multinacionais chinesas.

É por isso que este trabalho procura prospectar, em seu capítulo 3, resultados mais

concretos da presença chinesa e das reações ocidentais no continente africano.

Antes, importa lembrar que, embora a presença chinesa na África é significativa, o

comércio da China com a África representa apenas 3% do total de seu comércio

internacional. Somando-se a isso, a China ainda é apenas o terceiro maior parceiro africano,

atrás de EUA e França (VISENTINI, 2013, p. 23). Não obstante, a política chinesa para com a

África tem preocupado as potências ocidentais, gerando uma série de críticas e reações por

parte desses atores, que serão abordadas no próximo capítulo.

A relação sino-africana se mostra bem mais simples, se comparada a complexidades

das políticas ocidentais. Essa simplicidade, e consequentemente, preferência, pode estar

sinalizando o possível início de um novo distanciamento da África do ocidente. Mas também

se mostra extremamente complexa devido as diversas diretrizes em que atua, possuindo

respostas variadas dos países africanos (ALDEN, 2007, p. 90).

Por fim, a China é uma nova força na África, e não parece dar sinais de saída

(BRUTIGAM, 2009, p. 312).

1.5. Conclusão do capítulo 1

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A presença chinesa na África, bem como sua política e modelo de desenvolvimento,

se caracterizam pela forma multifacetada, estando presente em vários âmbitos como:

infraestrutura, comércio, educação, saúde, turismo, cultura. Essa interação não é nova,

remonta ao século XV. É evidente, contudo, que a China possui interesses no continente

africano, mas estes não estão apenas relacionados com a África, mas com todo o sistema

internacional. Além disso, a relação sino-africana é caracterizada pela não intervenção em

assuntos internos, respeito à soberania, benefícios mútuos, não imposição de

condicionalidades. Tais ações parecem estar acarretando impactos políticos e econômicos

nas sociedades africanas e favorecendo o fortalecimento da Cooperação Sul-Sul.

Essa interação foi facilitada pelo grande crescimento econômico e pelas aspirações

chinesas de recursos econômicos, para manter seu crescimento; de mercado consumidor; de

apoio diplomático; de isolamento de Taiwan; mas também pela recepção dos países

africanos e distanciamento ocidental.

Essa nova relação tem angariado críticas ocidentais, as quais sugerem que a interação

sino-africana pode ser considerada neocolonial, somando-se às críticas tradicionais ao

governo chinês. Contudo, o que se observa é que tal dinâmica não tende a se alterar,

cabendo, a partir de então se analisar as reações ocidentais, através das mudanças de suas

políticas externas.

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2. CAPÍTULO 2 - AS REAÇÕES OCIDENTAIS: A ANÁLISE DAS ADEQUAÇÕES DAS

POLÍTICAS EXTERNAS DO REINO UNIDO, DA FRANÇA E DOS ESTADOS

UNIDOS PARA A ÁFRICA

2.1. Introdução do capítulo 2

O rápido crescimento dos interesses chineses no continente africano tem causado

grandes receios e desconfortos nas esferas políticas e econômicas dos países desenvolvidos,

em especial, as principais ex-potências coloniais e dos EUA, principalmente em se tratando

da capacidade dos mesmos em manter sua influência na região (MENEZES, 2013, p. 178). A

partir da ascensão chinesa, confluindo com outros pontos, essas potências têm adequado

suas políticas externas em direção à África, sendo a análise dessas mudanças que se dará

nesse capítulo. Tratar-se-á primeiramente do Reino Unido, em seguida da França, e, por fim,

dos EUA.

2.2. A política externa inglesa para África: do imperialismo a emergência de um novo

competidor

De acordo com Hobsbawm (2009, p. 87-88), o período entre 1875 e 1914 pode ser

denominado de Era dos Impérios, no entanto, não somente, por representar um novo tipo

de imperialismo, mas sim porque,

“Foi provavelmente o período da história mundial moderna em que se chegou ao máximo o número de governantes que se autodenominavam ‘imperadores’, ou que eram considerados pelos diplomatas ocidentais como merecedores desse título” (HOBSBAWM, 2009, p. 88).

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Contudo, tal conjuntura foi o resultado da luta hegemônica pelos Estados europeus,

somando-se a suas expansões militares do final do século XV, o que, gradualmente

entrelaçou o mundo em redes globais de poder. O que culminou no período a que

Hobsbawm denomina a Era dos Impérios (ABBELOOS, 2008, p. 106):

Em suma, foi um período durante o qual uma onda de integração econômica internacional foi notada, caracterizada pelo comércio internacional intensificado, aumento dos investimentos externos diretos, imigração em massa e integração de mercados e produtos. (ABBELOOS, 2008, p. 106, TRADUÇÃO LIVRE)26

Nesse período, a maior parte do mundo, excluindo-se a Europa e as Américas, foi

alvo da divisão de territórios sob a tutela direta ou indireta de um determinado grupo de

Estados (HOBSBAWAN, 2009, p. 88). Entre eles, o mais proeminente no período, o Reino

Unido. A partir de então, duas regiões foram inteiramente divididas: a África e o Pacífico,

sendo que “a Grã-Bretanha aumentou seus territórios em cerca de dez milhões de

quilômetros quadrados [...]” (HOBSBAWM, 2009, p. 91). Ou seja, durante esse interregno de

tempo, o continente foi de vital importância para as aspirações do Império Inglês.

Já a partir da metade do século XX, as relações entre o Reino Unido e a África foram

caracterizadas pelo desengajamento, saída e controle de danos, devido aos processos de

descolonização. Essa transição foi extremamente traumática, principalmente para os

africanos. Contudo, a antiga metrópole tentou manter seus interesses estratégicos e

comerciais, através de relações diferenciadas com as antigas colônias (PORTEOUS, 2008, p.

6-7). O período da Guerra-Fria limitou essa influência inglesa na África, à medida que URSS e

China buscavam estender sua influência na região, o que tornou a política externa inglesa

mais ativa na África (PORTEOUS, 2008, p. 8).

Contudo, o fim da Guerra Fria representou a marginalização do continente africano,

uma vez que o mesmo já havia ultrapassado seu período de lutas de libertação nacional

(VISENTINI, 2012, p. 155). Essa marginalização significou certo abandono por parte da

política britânica em relação à África: “[...] Africa has not been a priority for Britain’s foreign

policy elites for several decades” (WILLIANS, 2004, p. 42).

A relação do Reino Unido com o continente foi com exceção dos importantes e de longa data negócios com a África do Sul, visto economicamente e comercialmente

26 “In sum it was a period during which a wave of international economic integration was noticed, characterized by heightened international trade, increased foreign direct investments, mass immigration and the integration of goods and factor markets.”

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insignificante [...] Para a política externa britânica, portanto, a África era marginal. (PORTEOUS, 2008, p. 6, TRADUÇÃO LIVRE)27

No período pós-Guerra Fria, a diretriz da política externa britânica passa a ser

precaução28, “por mais da metade do século XX, a relação do Reino Unido com a África foi

marcada pelo desengajamento, saída e limitação de danos” (PORTEOUS, 2008, p. 6,

TRADUÇÃO LIVRE)29.

Contudo, as relações entre o Reino Unido e a África nunca foram totalmente extintas,

uma vez que a Inglaterra tentou, durante esse período, manter afinidades com os novos

Estados africanos, principalmente com as antigas colônias inglesas. Ademais, embora no

início do período pós-Guerra Fria, a importância da África para a política externa do Reino

Unido tenha sido marginalizada, nesse mesmo interregno de tempo, o continente africano

sofreu com diversas questões como conflitos inter-regionais, os quais influenciavam

diretamente em questões primordiais como direitos humanos (PORTEOUS, 2008, p. 10):

Depois de conflitos violentos, a África foi assolada por outros problemas graves: a pobreza generalizada, a corrupção, as altas taxas de analfabetismo, a degradação ambiental (alguns relacionados ao aquecimento global) e, alta taxa de mortalidade, devido a problemas de saúde, incluindo as epidemias de malária, HIV e outras doenças fatais. (PORTEOUS, 2008, p. 10, TRADUÇÃO LIVRE)30

Dessa forma, a degradação dessas questões humanitárias, principalmente a partir de

1997, passou a atrair a atenção dos países Ocidentais, incluindo o Reino Unido, confluentes

com seus interesses no continente africano, uma vez que, ocorre um crescimento da

importância da África para a economia inglesa (WILLIANS, 2004, p. 53):

Em retrospecto, não era exigido muita análise, observação ou imaginação para perceber que era errado considerar a África como marginal para os interesses de

longo prazo da Grã-Bretanha. Não fazia diferença se o continente africano tinha

melhorado ou piorado, mas estava claro que o continente estava se tornando mais central para a segurança internacional e, portanto, para os interesses do Reino

27 “Britain’s relationship with the continent was, with the exception of long-standing and important ties with South-Africa, seen as economically and commercially insignificant […] From a British foreign policy, therefore, Africa was marginal.” 28 Isso porque, de acordo com Porteous (2008, p. 7), os Estados que colonizaram a África, como Inglaterra e França, estavam, nos últimos dez anos, preocupados em deixar o continente, sendo, essa transição, traumática para os africanos, “The transition to Independence in Britain’s former colonies was everywhere traumatic and difficult, especially for the Africans” (PORTEOUS, 2008, p. 7). 29 “For most of the second half of the twentieth century Britain’s relationship with Africa had been characterized by disengagement, withdrawal and damage limitation.” 30 “Besides violent conflict, Africa was beset by others serious problems: widespread poverty, corruption, high rates of illiteracy, environmental degradation (some related to global warming) and high mortality due to ill health, including epidemics of malaria, HIV and other fatal diseases.”

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Unido e para a Europa, mais do que nunca. (PORTEOUS, 2008, p. 13, TRADUÇÃO LIVRE)31

Não se trata apenas de preocupações com problemas visíveis no continente, como

pobreza e corrupção, mas também quanto as suas consequências para a segurança

internacional, principalmente direcionado pelos Estados Unidos e Europa, como a

proliferação de cartéis internacionais envolvidos com tráfico de drogas e o suporte de armas,

os quais propiciam zonas de conflito na África (PORTEOUS, 2008, p. 14). E, por fim, também

cabe ressaltar que a renovação do interesse do Reino Unido para com a África está,

diretamente, relacionada com seus recursos naturais, bem como que o continente tem se

mostrado propicio a investimentos lucrativos:

O continente também era uma fonte cada vez mais importante de petróleo e gás no momento em que, por um lado, países industrializados e em industrialização, estavam competindo mais intensamente entre si pelo controle das reservas energéticas do mundo e, por outro lado, as fontes tradicionais de energia no Oriente Médio foram ameaçadas pela crescente instabilidade política (PORTEOUS, 2008, p. 15, TRADUÇÃO LIVRE)32

Logo, a mudança de interesse em relação ao continente africano também foi

incrementada pela mudança no governo inglês, ao assumir o poder o partido trabalhista, “as

questões africanas, tomaram, desde então, ao mais alto na agenda da política externa

britânica sob o novo governo trabalhista (1997- presente)” (WILLIANS, 2004, p. 42,

TRADUÇAÕ LIVRE)33.

Nesse momento, o continente africano passa a ser prioridade da política inglesa,

tendo, a política externa, como objetivos: a manutenção dos seus interesses na África;

redução da pobreza; desenvolvimento econômico; boa governança e prevenção de

conflitos34 (PORTEOUS, 2008, p. 20).

31 “In retrospecto, it did not require much analysis, observation and imagination to realize that it was wrong to regard Africa as marginal to Britain’s longer-term interests. Whether the state of Africa improved or deteriorated, it was already clear that the continent was becoming more central to international security and therefore to the interests of the UK and Europe than ever before.” 32 “The continent was also an increasingly important source of oil and gas at a time when the one hand industrialized and industrializing nations were competing more keenly among themselves for control of world energy reserves, and on the other hand traditional sources of energy in the Middle East were seen as threatened by growing political instability.” 33 “African issues have since climbed higher up Britain’s foreign policy agenda under the New Labour government (1997-present).” 34 Porteous (2008, p. 44) aponta que embora até 1997 os interesses britânicos em relações a África tenham sido marginalizados, diversos setores produtivos já estavam envolvidos no continente africano, entre eles: defesa e segurança, indústrias extrativas, farmacêuticas, bancos, turismo, telecomunicações e construção.

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Uma política ética do Reino Unido para a África com redução da pobreza como objetivo principal. Estabeleceu a Grã-Bretanha, além de outras ex-potências coloniais e os EUA, a qual continuou assiduamente a perseguir seus próprios interesses no continente, da mesma forma que no passado. (PORTEOUS, 2008, p. 21, TRADUÇÃO LIVRE)35

Para se alcançar tais objetivos foi criado o Departamento para Desenvolvimento

Internacional, o qual se comprometia com uma política externa de contornos mais morais

para com o continente africano, uma vez que o mesmo passa a ser visto como um local

assolado pela pobreza, por conflitos e por crises; além disso, esse novo departamento

permitia que a política fosse mais centralizada e os gastos melhor direcionados (PORTEOUS,

2008, p. 20).

Entretanto, atualmente, novas questões têm emergido como novos focos de

preocupação e as quais possuem como consequência novas alterações nas políticas externas

dos Estados Ocidentais, em especial em direção a África. Dentre tais problemáticas estão

pontos securitários como proliferação nuclear, terrorismo, em especial no pós-11 de

setembro, crescimento da influência do Islã, o surto de epidemias, o aquecimento global e as

migrações em massa, os quais substituíram a confrontação ideológica da Guerra Fria, entre

EUA e URSS, mas que são percebidos como novos temas que podem acarretar impactos

negativos para a segurança e os interesses ocidentais (PORTEOUS, 2008, p. 26).

Além disso, outra questão que tem atraído a atenção é o rápido crescimento da

China e suas interações com o continente africano, os quais ameaçam os interesses

ocidentais na região, em especial Reino Unido36, EUA e França: “houve também

preocupações com o rápido e crescente poder econômico da China (embora as questões dos

Além disso, Porteous (2008, p. 46) ressalta que, embora os objetivos da política externa britânica para a África sejam de redução da pobreza e desenvolvimento econômico, os mesmos não estão em concordância com as aspirações dos empresários presentes no continente, uma vez que é bem documentada a relação de empresários ocidentais com práticas de corrupção e conflitos (PORTEOUS, 2008, p.46). 35 “An ethical UK policy towards Africa with poverty reduction at it’s a heart was a worthy goal. It set Britain apart from other former colonial powers in Africa such as France and Italy, as well as from the United States, which continued assiduously to pursue their own interests on the continent as they had in the past.” 36 Para Porteous (2008, p. 92) a presença da China só começou a preocupar o Reino Unido no começo do novo milênio, uma vez que o país está atuando em diversas esferas como comércio, investimentos, empréstimos e assistência, o que tornou a China o terceiro maior parceiro do continente africano em 2006, apenas atrás de Europa e EUA.

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investimentos e comércio chineses ainda não estivesse no radar)” (PORTEOUS, 2008, p. 26,

TRADUÇÃO LIVRE)37.

Dessa forma, como afirma Porteous (2008, p. 94), o Reino Unido reconhece a China

como um novo competidor no continente africano e, a partir disso, a reação britânica ao

crescente papel da China na África tem sido de muita discussão interna, a qual é

incrementada pela opinião da mídia inglesa, a qual tende a inflamar a questão (ALDEN, 2007,

p. 107). Contudo, Londres tem agido de forma proativa, buscando o diálogo construtivo com

Pequim, esperando que o mesmo adote políticas que sejam confluentes com as visões

ocidentais de boa governança, desenvolvimento e investimento (ALDEN, 2007, p. 107).

A partir de então, a política externa inglesa para a África sofre uma nova inflexão,

uma vez que, é enganoso pensar que o crescimento chinês não preocupa o Reino Unido, o

qual ameaça seus interesses (ALDEN, 2007, p. 108). Logo, a política externa inglesa passa a

ser caracterizada por quatro pontos:

[...] a ideia era de “incrementar as parcerias com os governos africanos”, os quais estivessem comprometidos com a boa governança, a prevenção de conflitos, e redução da pobreza; sendo um grande impulso para aumento da ajuda, alívio da dívida, comércio e investimento como principais meios de estimular o desenvolvimento econômico; também um esforço deliberado para fortalecer a rede e as relações com estatais e não-estatais, incluindo celebridades internacionais, como um meio crucial para aumentar a alavancagem do Reino Unido na África; bem como, a importância de continuar a proteger e promover os interesses nacionais do Reino Unido na África. (PORTEOUS, 2008, p. 54, TRADUÇÃO LIVRE)38

Estão entre seus novos objetivos39, além da redução da pobreza e o desenvolvimento

econômico, combater o terrorismo40 e o crime organizado, dar suporte aos empresários

37 “There were also concerns about the fast-increasing economic power of China (though the issue of Chinese economic investment and trade in Africa was yet not on the radar).” 38 “[...] the ideia of ‘enhance partneship’ with African governments committed to good governance, conflict prevention38, and poverty reduction; the big push for a massive increased in aid, debt relief, trade and investment as the primary means of stimulating economic development; the deliberate effort to strengthen the UK’s international networking and relations with state and non-state actors, including international celebrities, as a crucial means of increasing the UK’s leverage to effect change in Africa; and the continuing importance to protecting and promoting the UK’s national interests in Africa.” 39 É importante ressaltar que a política externa britânica para a África está inserida em um âmbito muito maior, que é a política externa inglesa como um todo, a qual visa os interesses do Estado Britânico (PORTEOUS, 2008, p. 81). 40 Para tal objetivo, a Grã-Bretanha tem se empenhado no desenvolvimento do continente, pois uma vez que os Estados africanos estejam em melhores condições, os mesmo se tornam menos suscetíveis a células terroristas (PORTEOUS, 2008, p. 82).

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ingleses no continente, assegurar o fornecimento de fontes de energia41 e gerenciar as

migrações42 do continente em direção a Europa.

É importante ressaltar, da mesma forma, que o Reino Unido tem delegado grande

suporte as instituições do continente como a UA e ao NEPAD, ajudando na possibilidade de

tais propostas poderem ter uma atuação melhor em situações de crise ou conflito, na

construção da paz, na defesa e proteção dos Direitos Humanos e contra os crimes de guerra

(PORTEOUS, 2008, p. 94). O Reino Unido também tem fornecido suporte nos esforços da

ONU no continente, como missões de paz, prevenção de conflitos, monitoramento dos

Direitos Humanos e proteção aos civis em conflitos armados (PORTEOUS, 2008, p. 30).

Essa nova política externa também está mais voltada para os países da antiga

Commonwealth e nos de língua inglesa (WILLIANS, 2004, p. 41), bem como está diretamente

relacionada com um período de prosperidade do Estado inglês, além de serem dependentes

do apoio de seus aliados43: “e, essa política está também dependente da cooperação dos

aliados britânicos, os Estados Unidos, o Canadá, o Japão, e todos os demais membros da

União Europeia, especialmente a França e a Alemanha” (PORTEOUS, 2008, p. 88, TRADUÇÃO

LIVRE)44. Essa posição, contudo, tem levado com que o Reino Unido de forma conjunta com

tais países, ou mesmo na dinâmica da União Europeia, por vezes, se torne mais um meio da

política francesa, não deixando de interferir militarmente no continente, a fim de assegurar

seus interesses e projeção na região, como foi o caso da intervenção na Líbia.

Todavia, Porteous (2008, p. 101-104) ainda ressalta que o envolvimento inglês no

continente tem sido bem sucedido, seja independentemente ou agindo em confluência com

os demais países aliados, mas que o país também encontra limitações, como representado

pelo seu mau relacionamento com os Estados párias. Contudo, o Reino Unido também

41 A segurança energética é de extrema relevância para o Reino Unido, principalmente após a emergência da China no continente (PORTEOUS, 2008, p. 84). 42 Segundo Porteous (2008, p. 85), as migrações africanas têm diversas implicações políticas, sempre chagando novos imigrantes em busca de asilo, além de imigrações clandestinas. 43 Segundo Porteous (2008, p. 91) a política britânica está, muitas vezes alinhada com a política estadunidense, e mais em divergência com a política francesa para a África, mas a mesma é que, em especial, direciona a política da União Europeia para a África. Contudo, como afirma o autor, há, inevitavelmente, competição comercial, especialmente no setor energético, o que, contudo, não significa que não possa ocorrer cooperação entre ambos. 44 “And it also depended on the cooperation of Britain’s international allies, the United States, Canada, Japan and above all its fellow members of the European Union, especially France and Germany.”

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manteve relações com Estados corruptos e não respeitadores dos Direitos Humanos

(PORTEOUS, 2008, p. 46).

Em suma, no pós-11 de Setembro a África tem retomado a atenção inglesa. Essa

atenção também tem sido reforçada pela nova ameaça de prospecção da China no

continente, questão que desafia os interesses ingleses. Nesse momento, a prioridade

britânica tem sido a Etiópia, por questões estratégicas, principalmente, obtenção de

recursos energéticos, além de estar voltada para algumas áreas em especial como

infraestrutura, educação, saúde e boa governança (PORTEOUS, 2008, p. 101-104). Mas

também o Reino Unido tem se empenhado em intervenções multilaterais, juntamente com a

França, visando assegurar seus interesses na região, como na Líbia (CASTELLANO, 2013, p.

82).

2.3. A relação França-África: multilateralismo e neointervencionismo

A França é uma das potências ocidentais mais envolvidas com o continente africano

(UTLEY, 2002, p. 129), uma vez que, o status internacional francês está diretamente ligado à

posição do país na África (RENOU, 2002, p. 5). Sendo assim, os interesses franceses na região

remontam ao período colonial, mas os mesmos não cessaram com o período de

independência dos países africanos (UTLEY, 2002, p. 129).

A importância do continente africano para a França é multifacetada, englobando

interesses estratégicos e econômicos (UTLEY, 2002, p. 130):

A importância da África para a França tem sido multifacetada. Economicamente, a África tem constituído um investimento razoável para a França, ao longo dos anos, e ainda é responsável por cerca de 5% do comércio externo francês. Estrategicamente, a África também tem sido muito útil para a França, a qual tem mantido forças em países amigos ou, pelo menos, em países francófonos. As bases francesas na África se revelaram úteis na proteção dos interesses mais amplo para

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a França: comerciais, militares e estratégicos. (UTLEY, 2002, p. 130, TRADUÇÃO LIVRE)45

Assim sendo, é importante ressaltar que, a política externa francesa para a África foi,

tradicionalmente marcada por duas características principais. Primeiro, o poder exclusivo do

Presidente nas questões de política externa. Segundo, a continuidade da política externa

como uma política de Estado, e não de governo, sendo também marcada por um alto

personalismo nessas relações (KROSLAK, 2004, p. 61).

Contudo, não apenas isso, a França tem tentado manter influência política sobre suas

antigas colônias, sob o conceito da Françafrique46, através do qual há a promoção da cultura

e da língua francesas. Chega-se até a considerar que tais países africanos nunca gozaram de

total independência (RENOU, 2002, p. 6). Isso é corroborado quando ressalta-se que, “com a

África independente essa posição estava ameaçada, então a França desenvolveu uma

estratégia neocolonial para suas antigas colônias” (TOUATTI, 2007, p. 2, TRADUÇÃO LIVRE)47.

Ou seja, a política externa francesa para África era baseada em três pilares: militar,

financeiro e político-cultural (ADEBAJO, 2010, p. 178).

Já os objetivos da política francesa para a África eram bem definidos em torno de três

questões: a preservação do status francês de potência internacional, o qual poderia ser

ameaçado pela perda de suas colônias africanas; a necessidade de assegurar uma fonte

segura de recursos; e, a manutenção de lucros obtidos, até então, sob uma situação de

monopólio (RENOU, 2002, p. 2).

Alguns setores da economia francesa têm constantemente se beneficiado das relações assimétricas estabelecidas entre a França e as suas antigas colônias africanas [...] empresas francesas possuem quase monopólio. Eles se beneficiam do baixo custo da mão-de-obra e de matérias primas, e de se ter um mercado cativo. (RENOU, 2002, p. 8, TRADUÇÃO LIVRE)48

45 “Africa’s importance to France has been multifaceted. Economically, Africa has constituted a reasonable investment for France over the years, and still accounts for approximately 5 per cent of France’s external trade. Strategically, too, Africa has been a useful asset to France, which has maintained forces in a number of friendly, or at least francophone, Africa states. France’s bases in Africa have proved valuable in the protection of France’s wider commercial, military and strategic interests.” 46 Na África Subsaariana, isso significou uma transição negociada para a independência; um relacionamento semelhante ao de uma máfia entre os dirigentes dos Estados; um permanente controle militar; e, a preservação de mercados para companhias francesas (RENOU, 2002, p. 8). 47 “[…] with African Independence this position could been threatened, thus France develop a neo-colonial strategy towards its former colonies.” 48 “Some sectors of the French economy have constantly benefited from the asymmetrical relations established between France and its former African colonies […] French companies enjoyed a quasi-monopoly. They benefited from cheap labour costs, low prices for raw materials, and a captive market.”

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Contudo, o principal laço francês com a África está na aplicação de defesa e acordos

militares entre ambos, os quais resultaram em muitas intervenções militares francesas no

continente africano (UTLEY, 2002, p. 130), visando à manutenção de seus interesses

(RENOU, 2002, p. 9),

Esses acordos incluíam defesa, suprimento de armas, treinamento de oficiais, apoio técnico e logístico, forças policiais, unidades contra revolucionárias, guardas presidenciais, serviço secreto, agências de inteligência, e intervenções militares para manutenção do status quo. A qualquer momento ditadores africanos poderiam exigir a ajuda francesa para manter o poder. (RENOU, 2002, p. 10, TRADUÇÃO LIVRE)49

No entanto, uma série de acontecimentos encorajaram a reforma da política externa

francesa para a África nos anos 90 (UTLEY, 2002, p. 131; KROSLAK, 2004, p. 63).

Primeiramente, uma série de retrocessos para a política externa francesa no continente

africano contribuíram para essa mudança (KROSLAK, 2004, p. 132), onde salienta-se a crise

na Região dos Grandes Lagos e os eventos em Ruanda em 1994 (UTLEY, 2002, p. 132), em

que a França exportou armas ao país, mesmo estando o mesmo sob embargo da ONU, o que

colocou em cheque a credibilidade da política francesa. Em segundo lugar, as eleições de

alguns líderes impactaram na política francesa, pois estes não estavam mais convencidos dos

benefícios de relações tão próximas à França, bem como não mais gozavam de relações

personalistas com os dirigentes franceses (KROSLAK, 2004, p. 63). Em terceiro lugar,

escândalos envolvendo a elite política francesa afetaram sua imagem na região (KROSLAK,

2004, p. 63).

Mas existem outras questões relevantes para o revés da política francesa para a

África: os efeitos da queda do Muro de Berlim e o fim da Guerra Fria; críticas oriundas da

emergência de crises no continente (Grandes Lagos e Ruanda); e, como consequência da

última, a percepção da mudança de seu poder internacional e influência na África (UTLEY,

2002, p. 131-133). Ou seja, fica explicito que, com a escalada das crises, a França não era

capaz de proteger seus interesses; além de não possuir condições de responder as

demandas dos países africanos que eram assolados por problemas econômicos (RENOU,

2002, p. 13).

49 “These agreements included defense, supply weapons, training of army officers, technical and logistic-material support to courts staffs, police forces, riot control units, presidential guards, secret services, intelligence agencies, and military interventions to ensure the maintenance of the status quo. At any time African dictators could require the help of France to keep power.”

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Concomitantemente, os países africanos, inclusive os francófonos, passaram a ser

mais receptivos à aproximação norte-americana (UTLEY, 2002, p. 134). Para Renou (2002, p.

14), uma “nova Guerra Fria” se instalava na África, agora entre EUA e França. Dessa forma,

A nova política foi decidida na segunda metade da década de 1990 e lançada, oficialmente em 1998. Após o desastre na África central, a França perdeu muito de seu crédito na África e sua influência no continente foi ameaçada. Isso foi explorado pelo seu principal rival, os EUA. Para a França, era necessário reconstruir uma imagem positiva na África. (RENOU, 2002, p. 15, TRADUÇÃO LIVRE)50

A partir de então, a França propôs uma nova parceira com a região (UTLEY, 2002, p.

136), a qual passa a ser baseada, segundo Renou (2002, p. 18) em quatro dimensões: a

reconstrução da imagem da França na África; a defesa da estabilidade na região através do

engajamento multilateral51; a adaptação dos países francófonos ao conceito de boa

governança52; e, a luta contra a influência norte-americana na região.

O engajamento multilateral na África passa então a ser a palavra-chave da política

francesa (KROSLAK, 2004, p. 69), integrando a política da França a política europeia para a

África, sendo a iniciativa RECAMP53 o símbolo dessa união. Contudo, a principal componente

que sofreu alteração dessa política foi o militar54, com a redução do formato e localização

das forças francesas na África55 (UTLEY, 2002, p. 137).

50 “A new policy was decided upon in the second half of the 1990s and launched officially in 1998. After the disaster in Central Africa, France lost much of its credit in Africa and its influence on the continent was threatened. This was exploited by the main rival, the USA. France needed to rebuild a positive image in Africa.” 51 É importante ressaltar que tal engajamento multilateral não significa que a França não estará mais engajada no continente, mas que o mesmo se dará através de processos regionais e multilaterais (RENOU, 2002, p. 20). Na verdade a França busca ser a intermediária entre essas instituições e os países africanos francófonos (RENOU, 2002, p. 22). Além do fato de que através do multilateralismo, as ações são menos dispendiosas (KROSLAK, 2004, p. 73). 52 Segundo Kroslak (2004, p. 68), o que foi chamada de “Paristroika” vinculava a manutenção da ajuda francesa ao continente a reformas democráticas. Contudo, Kroslak (2004, p. 68) ressalta que a política francesa é marcada pelo suporte financeiro a regimes que não são democráticos: “Although President Chriac denounced ‘sham democracies’ and coup’s d’état, Paris retains its ambiguous relationship to democracy on the African continente. It remains willing to maintain contact with the continent’s pariahs [...]” (KROSLAK, 2004, p. 68). 53 De acordo com Utley (2002, p. 140) a iniciativa RECAMP (Renforcement des Capacités Africaines de Maintien de la Paix) é desenvolvida em coordenação com os EUA e o Reino Unido, sendo parte do programa de Washington para a África ACRI. Seu objetivo é prover treinamento e equipamento a fim de permitir, aos países africanos, uma maneira melhor de manter a segurança e a estabilidade no continente, estando também relacionada com as iniciativas da ONU e da UA, não sendo limitada aos países francófonos. 54 Segundo Utley (2002, p. 137), essa diminuição militar não foi muito bem recebida pelos governos africanos, sendo esse contingente deslocado para outras iniciativas. 55 Segundo Utley (2002, p. 144) a base francesa no Djibuti continua sendo a mais importante estrategicamente para Paris.

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Somando-se a isso, no sentido econômico, a fim de garantir que as economias

africanas trabalhem em favor de Paris, foi reestruturado o arranjo de cooperação monetária,

a Zona do Franco CFA (Communautés Financières d'Afrique), a qual tinha como finalidade

controlar as condições econômicas nos países africanos (KROSLAK, 2004, p. 71). Visava-se, a

partir de então que a zona se expandisse e se integrasse à rede regional, facilitando a

entrada de companhias francesas em novos mercados (RENOU, 2002, p. 22). A CFA sofreu

com dois reveses, a desvalorização do franco e a abertura para países não francófonos

(KROSLAK, 2004, p. 71). Ou seja, “economicamente, contudo, a França não sofreu perdas

relevantes na África” (SADA, 1997 apud KROSLAK, 2002, p. 72, TRADUÇÃO LIVRE)56, uma vez

que a África tem se tornado menos importante para economia francesa, cada vez mais

integrada a União Europeia, embora, “os países francófonos na África contribuem para a

balança comercial positiva da França, e provem recursos e mão-de-obra baratos, somando-

se a um mercado fácil [...]” (RENOU, 2002, p. 23, TRADUÇÃO LIVRE)57.

Além disso, com a crescente concorrência dos EUA na África, a França tem

reorientado sua política para atingir também os países de colonização inglesa (RENOU, 2002,

p. 22). É importante ressaltar que, as relações entre Paris e os países africanos ainda são

muito importantes no sentido político, uma vez que o país ganha relevância dentro da União

Europeia e sua política externa para a África também.

Essas mudanças também diminuíram a ajuda58 francesa para a região (KROSLAK,

2004, p. 73). Segundo Touati (2007, p. 5), a França tem tentado combinar sua ajuda com o

comércio. No entanto, embora essas mudanças tenham enfrentado certa relutância, e nem

tudo tenha mudado (UTLEY, 2002, p. 141), a França ainda mantém prestígio e influência no

continente africano, sendo esse um dos seus objetivos principais em sua política externa

para com a África (KROSLAK, 2004, p. 80).

Todavia, hoje a França tem que enfrentar novos desafios no continente africanos, ou

seja, novos competidores:

56 “Economically, however, Frances has not suffered important losses in Africa.” 57 “Francophone countries in África contribute to France’s positive balance of trade, and provide cheap resources, cheap labour and easy markets [...].” 58 Touati (2007, p. 7) ressalva que as áreas prioritárias para a alocação da ajuda francesa são: educação, água e saneamento, saúde e a luta contra a AIDS, infraestrutura, agricultura e segurança alimentar, proteção do meio-ambiente e no setor produtivo.

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A França tem de enfrentar seus novos concorrentes. O aumento do crescimento global, a instabilidade política entre os produtores de petróleo e o aumento dos preços no mercado do mesmo, aumentaram o interesse no potencial africano. Os principais rivais econômicos franceses incluem a China e as empresas inglesas presentes na África francófona […]. (TOUATI, 2007, p. 14, TRADUÇÃO LIVRE)59.

A China como novo competidor tem intensificado as discussões sobre o assunto entre

os dirigentes de Estado franceses, a fim de gerenciar as implicações desse novo concorrente

na África (ALDEN, 2007, p. 108). O maior receio da elite francesa, é que Paris perca sua

tradicional esfera de influência, a qual está diretamente conectada ao seu status de potência

(ALDEN, 2007, p. 108-109).

A aparente confusão que está sendo experimentada pela França devido à presença chinesa em pontos primordiais para a política externa francesa, tem se tornado o maior dilema da mesma, uma vez que a França procura manter certa independência de ação, em determinadas esferas, se beneficiando da política externa da União Europeia. (ALDEN, 2007, p. 109, TRADUÇÃO LIVRE)60

Sendo assim, a presença chinesa no continente tem sido percebida pela França como

um entreposto a sua diplomacia na região: “[...] fica claro que Paris vai continuar

enfrentando dificuldades com a presença chinesa” (ALDEN, 2007, p. 109, TRADUÇÃO

LIVRE)61. Ou seja, após as condicionalidades que impulsionaram as mudanças na política

externa francesa para o continente africano, a França agora lida com um novo competidor

na região, o que mantém o caráter incerto da política externa francesa para a África

(TOUATI, 2007, p. 22).

Entretanto, nos últimos anos, a possibilidade de degradação dos negócios franceses

frente a um novo competidor, como a China, ou frente a conflitos internos, tem justificado

os novos movimentos estratégicos franceses na região (ALT, 2014, p. 4), como por exemplo,

a intervenção francesa na RCA, onde possuí forte presença na economia interna62. Dessa

forma, Castellano, Oliveira e Diallo (2011, p. 4) ressaltam que a França tem renovado seu

59 “France has to face up its new competitors. Increase in global growth, political instability among oil producers and the rise of prices on the oil market have enhance interest in Africa potential. Key economic rivals includes the Chinese and Anglo-Saxon firms based in francophone Africa […].” 60 “The apparent confusion being experienced by French policy on the question of china in Africa cuts of the heart of the larger foreign policy dilemma facing Paris, which seeks to retain independence of action in certain spheres while benefiting from the great power projection possibilities of a cohesive EU foreign policy.” 61 “[...] it is clear that Paris will continue to face difficulties with the Chinese presence.” 62 Alt (2014, p. 4) ressalta que muitas empresas francesas estão presentes nessa região como a Castel, a Bolloré, a Total, a France Telecom e a CFAO, as quais garantem grande peso a França na economia centro-africana, garantindo o seu papel de maior investidor na região. Somando-se a isso, Silva, Oliveira e Diallo (2011, p. 17) ressalta que, entre as companhias ameaçadas pela presença chinesa, estão a Boygue, a Balloré, entre outras.

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intervencionismo no continente através de ações militares, um novo intervencionismo feito

através de uma característica de multilateralismo, sendo sua primeira operação na República

Democrática do Congo (Operação Artemis), em 2003, e seus momentos mais dramáticos,

nas recentes intervenções na Costa do Marfim63 e na Líbia64, ambas possuindo legitimação

por instituições multilaterais (CASTELLANO, 2013, p. 81). Logo, o posicionamento francês na

questão da crise da Costa do Marfim está inserido em uma nova fase da política francesa

para a África a qual foca-se “[...] na recuperação de espaços de influência perdidos, sendo

sustentada por um novo ciclo de intervencionismo militar” (CASTELLANO; OLIVEIRA; DIALLO,

2011, p. 20). Outro ponto do novo intervencionismo francês, após a ascensão de François

Hollande, foram as intervenções no Mali e, novamente, na República Centro Africana,

regiões consideradas política e economicamente estratégicas (CASTELLANO, 2013, p. 82).

Logo, tem-se, no momento, um neointervencionismo francês, marcado pela

intensificação do perfil militar, o qual tem sido revestido pelo caráter multilateral de sua

política, buscando recuperar os espaços de influência política perdidos desde o fim da

Guerra Fria (CASTELLANO; OLIVEIRA; DIALLO, 2011, p. 24). O mesmo também tem sido

reforçado por iniciativas como a Operação Barkhane65, e pela coligação denominada

“Entente frugale”, uma cooperação militar entre França e o Reino Unido, a qual visa a defesa

dos interesses comuns em termos econômicos, políticos e securitários (2010).

2.4. As nuances da política externa norte-americana para a África: o 11 de setembro, a

China e o AFRICOM

63 Na Costa do Marfim, a preocupação francesa era de prover apoio a ascensão de Alessane Ouatarra, aliado francês, frente ao seu concorrente, Laurent Gbagbo. 64 Novamente, o interesse francês era derrubar o regime autonomista de Ghadaffi. 65 Lançada em julho de 2014, a Operação Barkhane marca a mudança da ação bilateral para uma multilateral, por parte da França para a região. Tendo seu enfoque na luta contra o terrorismo e na segurança, a mesma tem aumentado o escopo militar francês na África, principalmente nas regiões do norte, leste e Chifre da África, possuindo bases no Mali, em Burkina Faso e no Níger. A primeira atuação dessa foi na crise do Mali (2012/2013). Essa iniciativa marca uma aproximação regional para a África, garantindo não apenas interesses econômicos, mas a influência na região (WADDINGTON, 2014).

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A África, no período pós-Guerra Fria, assumiu uma posição ainda mais marginal no

sistema internacional, sendo o continente assolado por processos de transição política e

econômica, cujos são marcados por rivalidades internas e crises generalizadas (PECEQUILO,

2003, p. 296). Nessa circunstância, até o início dos anos 90, os Estados Unidos também não

dirigiam muita atenção ao continente, exceto em regiões com grande competição

estratégica com a URSS (PECEQUILO, 2003, p. 297):

“Até 1991, os Estados Unidos também não demonstravam interesse na região, havendo uma transformação, posteriormente, com a operação Restore Hope na Somália e, mais especificamente, a partir de 1997, com o avanço norte-americano em antigas zonas de influência europeia” (PECEQUILO, 2003, p. 297).

Entretanto, não se pode afirmar que a região foi totalmente ignorada pela política

norte-americana (BURNS, 2010, p. 1). No período pós-Guerra Fria, a África não se constituiu

como uma prioridade para a política externa dos EUA (NEETHLING, 2012, p. 31). Contudo, os

EUA não deixaram de possuir interesses estratégicos no continente, sendo que sua política,

segundo Alden (2000 apud BURNS, 2010, p. 1), foi marcada por indiferença e negligência,

com pontos de interesse e ação. Ademais, embora tenha havido um distanciamento dos EUA

em relação à África, no período pós-Guerra Fria, principalmente se comparado ao momento

anterior, quando EUA e URSS estabeleciam um embate ideológico no continente, houve uma

renovação da atenção do setor privado norte-americano, o qual investiu na região (BURNS,

2010, p. 2).

A assistência norte-americana para a África também declinou desde o início dos anos

de 1980, principalmente como o resultado da eliminação do Fundo de Assistência

Econômica e Securitária, o qual vigorava durante a Guerra Fria, em direção aos aliados

(LAWSON, 2007, p. 4; WALKER; SEEGERS, 2012, p. 26). A partir de então, a política

estadunidense para a África passou a ser baseada na premissa “African Solutions to Africans

Problems66”, durante o segundo mandato de Clinton67 na presidência (LAWSON, 2007, p. 4).

66 Segundo Lawson (2007, p. 4), isso não significava um completo abandono, por parte dos EUA, para com as questões africanas, mas que o governo norte-americano não podia suportar tais empreitadas sem a cooperação africana. Sendo assim: “And so the search for alternatives that would combine U.S. financial resources and African human resources for conflict resolution/peacekeeping, political reform, and economic development” (LAWSON, 2007, p. 4). 67 Durante esse período, o mundo conviveu com o genocídio em Ruanda e, uma vez que se apresentava a possibilidade de que o Burundi tornasse ao mesmo caminho, a administração Clinton propôs a criação do African Crisis Response Force (ACRF), o qual será redefinido como African Crisis Response Iniciative (ACRI), se tornando um programa de treinamento bilateral, com o objetivo de melhorar as capacidades das forças nacional a fim de participarem em programas para manutenção da paz. Já na administração W. Bush, o ACRI foi

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Contudo, durante esse período, os EUA mantiveram sua política diplomática de apoio à OUA,

bem como, começaram a se envolver em missões humanitárias no continente,

principalmente do Chifre da África, política que culminou com a missão norte-americana no

conflito da Somália68, em 1992 (JAIMIESON, 2009, p. 311).

Economicamente, a política externa americana para a África se voltava para a

redução da pobreza e a melhoria da qualidade de vida, juntamente com a implementação de

seus valores de democracia69 e liberdade social e política, onde podem ser observadas as

primeiras condicionalidades ocidentais para com a posterior ajuda ao continente africano

(LAWSON, 2007, p. 7).

Entretanto, os ataques terroristas de 11 de Setembro de 2001 afetaram de maneira

dramática a conduta da política exterior norte americana70: “a mudança de orientação de

marginalização para engajamento este largamente ligada a mudança geoestratégica no pós-

11/09” (ROOYEN; SOLOMON, 2007, p. 12, TRADUÇÃO LIVRE)71.

Logo, o governo dos Estados Unidos passou a se focar no combate ao terrorismo

internacional7273, bem como a busca da segurança de fornecimento energético74 (ROOYEN;

SOLOMON, 2007, p. 12), o que, para Lawson (2007, p. 9) se transformou em uma grande

incorporado ao African Contingency Operations Training and Assitence (ACOTA), o qual se concentra nas necessidades específicas do país receptor (LAWSON, 2007, p. 4). 68 Essa intervenção norte-americana, conhecida como Black Hawk Down, foi considerada um desastre, forçando com que o governo de Clinton, no momento, retirasse as tropas da Somália (JAIMIESON, 2009, p. 311). 69 Para Pham (2007, p. 40) a grande ênfase norte-americana na questão da democratização e da boa governança em sua relação com os Estados africanos, é um dos pontos que diverge sobre o distanciamento dos EUA da região, no período pós-Guerra Fria. 70 Somando-se a isso, Berschinski (2007, p. 4), aponta que: “Since 2001, however, Africa has steadily gained strategic importance in the eyes of American policymakers. Africa recently surpassed the Middle East as the largest U.S. regional supplier of crude oil”. 71 “The shift in orientation from marginalization to engagement is largely due to the changing geostrategic realities of the post-9/11 world.” 72 Cabe ressaltar que ataques terroristas na África são anteriores a mudança da política externa para o continente. Os primeiros registros são de 1998 em Narobi e Dar es Salaam (CAMPBELL, 2008, p. 7). Ou seja, a questão apenas se mostrou relevante para os EUA quando seus interesses passaram a ser ameaçados, o que ocorre no pós-11 de setembro. 73 Segundo Guimarães (2002, p. 64), o combate ao terrorismo se tornou um verdadeiro “utensílio do poder”. 74 A busca por fontes energéticas africanas, segundo Rooyen e Salomon (2007, p. 14) se deu devido à instabilidade no Oriente Médio, buscando os EUA a diversificação de seus fornecedores como um meio de alcançar a estabilidade de obtenção de petróleo.

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atração dos EUA para com a África75. Dessa forma, a o continente africano passa a atrair

novamente atenção, uma vez que se argumentava que Estados fracos seriam facilitadores

do desenvolvimento terrorista interno; além desses países possuírem pouca capacidade

Estatal, e sofrerem com violência política interna (PHAM, 2007, p. 42).

O engajamento de longo prazo dos EUA na região é suscetível de ser definido em termos do aumento de interesse do mesmo na região, como resultado do terrorismo internacional, aumento da dependência do petróleo africano e ao engajamento dramático da China no continente nos últimos anos. (LAWSON, 2007, p. 8, TRADUÇÃO LIVRE)76

A partir disso, o governo norte-americano se empenhou na promoção da boa

governança e na democracia na África, como uma maneira de dirimir a proliferação

terrorista no continente77, “na verdade, os Estados Unidos veem a África como um risco

potencial a segurança, o qual emana do fracasso dos países em controlar suas fronteiras e

suas populações de forma adequada” (BROMLEY, 2005 apud ROOYEN; SOLOMON, 2007, p.

13, TRADUÇÃO LIVRE)78.

Entretanto, outro fator tem modificado a política norte-americana para a África, a

emergência da China no continente: “o desafio mais significativo para a política dos Estados

Unidos na África nos anos recentes tem sido a China” (LAWSON, 2007, p. 10, TRADUÇÃO

LIVRE)79. Mas não apenas na África, segundo Pautasso e Oliveira (2008, p. 364), a ascensão

chinesa tem se mostrado como um desafio à condição hegemônica80 dos Estados Unidos,

uma vez que, “[...] o acelerado crescimento chinês nessas últimas décadas tem implicado no

crescente deslocamento das posições de poder dos EUA e do Japão na Ásia-Pacífico”

(PAUTASSO; OLIVEIRA, 2008, p. 365).

75 A invasão do Iraque, como consequência da Guerra ao Terror desempenhada pelos EUA no pós-11 de Setembro, resultou na instabilidade do Oriente Médio, o que trouxe maior importância para África como ponto estratégico para o fornecimento de petróleo para os norte-americanos (JAMIESON, 2009, p. 312). 76 “Longer-term U.S. engagement with Africa is likely to be defined in terms of the perceived increase in U.S. interests in the region as a result of international terrorism, increased dependence on African oil, and the dramatic engagement of China with the continent in recent years.” 77 Para tal fim, segundo Rooyen e Solomon (2007, p. 13), o meio utilizado foi o aumento das capacidades militares e de segurança dos Estados africanos, bem como o fortalecimento de iniciativas regionais. 78 “In fact, the United States views Africa as a potential security risk, emanating from failure of countries to control their borders and their internal populations adequately.” 79 The most significant challenge to U.S. policy in Africa in the coming years may be China. 80 Para Campbell (2013, p. 92), a mal sucedida intervenção norte-americana no Iraque também expos a diminuição do prestigio e credibilidade dos EUA.

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Ou seja, três motivos podem ser identificados como propulsores da mudança da

política externa norte-americana para a África: os ataques terroristas de 11 de setembro,

quando a região passa a ser vista como foco de células terroristas; a busca por novas fontes

de matérias-primas, principalmente, petróleo, buscando uma maior diversificação e

reduzindo sua dependência do Oriente Médio (PHAM, 2007, p. 44); e, a presença de novos

competidores no continente, principalmente a China (BURNS, 2010, p. 3).

Porém, o envolvimento de potências externas com o continente africano não é novo;

o que tem ocorrido atualmente é que a África tem sido vista como um parceiro estratégico,

o que propiciou o que tem se denominado como “new scramble for Africa” (ROOYEN;

SOLOMON, 2007, p. 1). Dessa forma, embora EUA e China não compartilhem das mesmas

intenções para com o continente africano, ambos estão buscando o acesso aos recursos

energéticos81 africanos. Desta maneira, como afirma Rooyen e Solomon (2007, p. 3,

TRADUÇÃO LIVRE) “[...] essa competição82 por recursos é eminente [...]83”.

Ou seja, “[...] África está se tornando, gradativamente, um teatro para a competição

estratégica entre os Estados Unidos e seus competidores mais ferrenhos na esfera global,

como a China […]” (PHAM, 2007, p. 48, TRADUÇÃO LIVRE)84.

Com o aumento da presença chinesa no continente africano e sua demanda por

petróleo, os Estados Unidos têm intensificado suas ações militares e diplomáticas na região

(PAUTASSO; OLIVEIRA, 2008, p. 382), a fim de contrabalancear a presença chinesa no

continente85 (ESTERHUYSE, 2008, p. 115), sendo o AFRICOM86 o movimento mais

emblemático dessa política:

81 Como salienta Pautasso e Oliveira (2008, p. 363), o petróleo tem sido utilizado como um meio de política dos EUA como um mecanismo de controle dos principais polos ascendentes a grandes potências: China, União Europeia e Japão. 82 Para Rooyen e Solomon (2007, p. 4), essa competição entre EUA e China em função dos recursos africanos tem provocado profundos impactos políticos no continente africano. 83 “[...] that resource competition is iminent [...].” 84 “Africa is increasingly becoming a theater for strategic competition between the United States and its near-peer competitors on the global stage, like the People’s Republic of China (PRC).” 85 Segundo Neethling (2008, p. 39), apontar que o AFRICOM é uma resposta a presença chinesa no continente africano, uma unidade antiterrorista ou que o mesmo visa assegurar o acesso dos EUA a recursos, são mitos. Contudo, não se pode ignorar o fato de que tais fatores são relevantes para as mudanças da política externa norte-americana para a África. 86 O AFRICOM está engajado em 53 países, menos no Egito, em áreas estratégicas (NDLOVU; OJAKOROTU, 2010, p. 104).

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A recente expansão da atividade chinesa na África tem levantado diversas preocupações, desde o controle sobre recursos energéticos até as práticas econômicas exploratórias e suporte a regimes corruptos, perpetuando instabilidade e subestimando a pressão internacional por reformas [...] Consequentemente, na continuidade da missão para promover um ambiente africano estável e seguro, o recentemente estabelecido comando americano sob a África apoiaria de fato a produtiva e responsável atividade dos atores chineses na África. (HOFSTEDT, 2009, p. 78, TRADUÇÃO LIVRE)87

Berschinski (2007, p. 1) explicita que o AFRICOM visa à prevenção de conflitos através

da cooperação, iniciativas civis-militares e projetos humanitários88, sendo considerado um

novo tipo de empenho militar por parte dos EUA, no qual convergem os ideais de segurança,

governança e desenvolvimento. Entretanto, essa iniciativa nada mais é do que o reflexo dos

interesses americanos na África, focando-se em países em que os EUA possuem negócios

estratégicos, como a Nigéria (BURNS, 2014, p. 6).

Ademais, supõe-se que os EUA têm construído bases militares e alianças com o Leste

da Ásia e com a Europa até a fronteira com a China, visando cercar seu novo competidor,

sob o pretexto de contenção ao terrorismo, (CAMPBELL, 2013, p. 95), “é o crescente

interesse norte-americano no petróleo da África que sustenta o argumento frequentemente

ouvido de que os Estados Unidos estão usando a guerra ao terro como uma desculpa para

ter acesso aos recursos africanos” (ESTERHUYSE, 2008, p. 117, TRADUÇÃO LIVRE)89.

Logo, percebe-se, que o AFRICOM visa promover os interesses norte-americanos,

demonstrando a grande importância estratégica do continente para os EUA (NEETHLING,

2012, p. 34), possuindo como consequência a militarização e securitização das relações entre

os EUA e a África (CAMPBELL, 2008, p. 30). Isso pode ser observado por iniciativas como o

Pan-Sahel Iniciative e Trans-Saharan Counterterrorism Partneship (TURSE, 2014, p. 1-2), pelo

suporte a intervenção militar na Etiópia (PLOCH, 2011, p. 25), pelo suporte logístico e de

consultoria para a operação militar conjunta entre os exércitos da Uganda, RDC e Sudão do

Sul (PLOCH, 2011, p. 32) e, pela intervenção na Líbia, durantes os eventos da Primavera

87 “The recent expansion of Chinese activity in Africa has raised several concerns, ranging from control over energy resources to exploitive economic practices and support of rogue or corrupt regimes, perpetuating instability and undermining international pressure for reform […] Consequently, in the furtherance of its mission ‘to promote a stable and secure African environment,’ the newly established U.S. Africa Command (AFRICOM) would do well support the productive, responsible activities of Chinese actors in Africa.” 88 Os africanos também possuem receio de que a atuação do AFRICOM possa militarizar as ações humanitárias norte-americanas no continente (NEETHLING, 2008, p. 36). 89 “It is the increasing US interest in Africa oil that underpins the often heard argument in Africa that the United States is using the war on terror as an excuse to get access to African resources.”

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Árabe. Desde a criação do AFRICOM (2007), os gastos militares estadunidenses aumentaram

5% de 2006 para 2007 e, 11% de 2007 para 2008 (SIPRI, 2013).

Além disso, segundo Turse (2014, p. 5) os EUA, através do AFRICOM, também

fornecem suporte para as ações militares francesas no continente, como em Mali, Níger,

Burkina Faso e Chad. Sendo que, sob a doutrina de Guerra ao Terror, tem se cometido

atrocidades e limpezas étnicas contra muçulmanos, como a operação Echo Casamate, na

República Centro Africana (TURSE, 2014, p. 7), e intervenções como os recentes ataques

aéreos na Somália, e a intervenção na Líbia. Logo, caiu por terra a ideia de que o AFRICOM

não traria mudanças na política securitária norte-americana para a África (PLOCH, 2011, p. 9-

25). O AFRICOM também não tem demonstrado uma forma de redução das dependências

dos países africanos para com os EUA (CASTELLANO, 2013, p. 80).

Ao mesmo tempo, a criação e implementação do AFRICOM não tem agradado muitos

líderes dos governos da África Austral90, segundo Esterhuyse (2008, p. 111), pois para eles o

AFRICOM se mostra como uma ameaça aos interesses africanos (NEETHLING, 2012, p. 35),

como a supremacia dos interesses norte-americanos, e pode representar um esforço

neocolonial para dominar a região militarmente (PLOCH, 2011, p. 25). Somando-se a isso, o

AFRICOM pode ter como consequência a mudança da postura dos EUA de reativa para

proativa (ESTERHUYSE, 2008, p. 114):

Consequentemente, a decisão dos Estados Unidos de criar o AFRICOM está dizendo mais sobre seus próprios medos e sobre a posição geoestratégica do que sobre seus interesses na África. Este, particularmente, diz respeito as preocupações dos EUA com o crescente envolvimento da China na África, a guerra dos EUA contra o terror, e com a necessidade de crescente de petróleo por parte dos EUA na África. (ESTERHUYSE, 2008, p. 114, TRADUÇÃO LIVRE)91

Essa posição da comunidade africana não é fruto de falta de conhecimento, e sim da

reflexão de que a região possui outras prioridades regionais de segurança como: fome,

doenças, guerras internas, regimes opressivos e pobreza, além de preocupações com o

90 Há, em alguns nichos na região, o receio de que o continente africano seja “Iraqed”: “[...] that is, that the US efforts to protect itself against international terrorism from African continente will, in fact, exacerbate the problem. This fear is rooted in the notion that a strong military presence in Africa will draw attention of its enemies and that, as in the Cold War, Africa will once again become the battlefield for the power and military struggles of the great powers – the United States and China, for instance, and particularly the US military and its international terrorist enemies.” (ESTERHUYSE, 2008, p. 124) 91 “Consequently, the US decision to create AFRICOM is saying more about its own fears and geostrategic position than about its interests in Africa. This particularly relates to US concerns about the growing Chinese involvement in Africa, the US war on terror, and the growing US need for oil from Africa.”

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desenvolvimento e com a forma que os movimentos securitários se darão (BERSCHINSKI,

2007, p. 10).

A partir disso, existem dois tipos de expectativas quanto ao AFRICOM e a sua relação

com a China: a positiva e a negativa. Além de uma grande discussão sobre a dicotomia entre

a oferta de ações e a capacidade das mesmas de incrementar de forma positiva, as questões

africanas. A primeira acredita que o AFRICOM ainda pode ser uma maneira de melhorar a

imagem dos EUA na região, bem como um veículo de sustentação de sua presença na África,

além de se mostrar benéfico aos militares africanos (ESTERHUYSE, 2008, p. 125); ou, de que

haveria benefícios de uma ação conjunta entre EUA e China, incluindo a iniciativa do

AFRICOM, como um meio de se alcançar uma maior estabilidade no continente, o que

beneficiaria ambos, e também os Estados africanos,

Em outras palavras, a abordagem mais proveitosa para o AFRICOM parece não ser a tentativa de inibir a China, ou tomar posições que degradem a influência da mesma e de seus interesses, mas permitindo aos africanos, e ao mesmo tempo, dando-lhes apoio, para que possam dar uma resposta regional a questão, sem usurpar a liderança local ou impor os interesses dos EUA. (HOFSTEDT, 2009, p. 92, TRADUÇÃO LIVRE)92

Isso é corroborado por Alden (2007, p. 107), no momento em que ressalta que a

confrontação tem sido substituída por interesses e perspectivas comuns, onde a África é a

peça chave para ambos. Sendo que tal convergência pode ser percebida através da

coordenação de suas diplomacias e de suas posições convergentes no Conselho de

Segurança da ONU (ALDEN, 2007, p. 107) ou pelas conversações regulares sobre temas

africanos, no denominado “Subdiálogo sobre a África” (MENEZES, 2013, p. 186).

E a negativa, aponta que os EUA, após 2005, adotou uma postura agressiva contra os

chineses: “[...] a razão mais importante é que ‘a China, ao contrário do Japão, parece mesmo

estar surgindo como rival estratégico dos Estados Unidos e concorrente no acesso a recursos

escassos [...]” (ARRIGHI, 2008, p. 289).

O que fica claro é que houve alterações na política norte-americana para a África, não

apenas pela emergência da China, mas também pela obtenção de matérias-primas e o

discurso antiterrorista: novos incrementos de ajuda (NEETHLING, 2012, p. 34); aumento da

92 “In other words, the most fruitful approach for African Command would seem to be not attempting to inhibit China from taking actions that degrade China’s own influence and interests but allowing them, while supporting the regional response to those actions – without usurping local leadership or imposing narrow U.S. interests.”

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assistência militar (NEETHLING, 2012, p. 32); e, consequentemente, uma maior militarização

do continente, por parte dos EUA (ESTERHUYSE, 2008, p. 115).

2.5. Conclusão do capítulo 2

A inserção chinesa ganha importância na medida em que: “[...] passa a influenciar as

relações entre os países de presença tradicional no continente, tanto em termos políticos

quanto econômicos” (MENEZES, 2013, p. 192). Logo, é visível que a forte presença da China

na África vem influenciando como cada uma das outras grandes potências, Reino Unido,

França e EUA, em maior ou menor grau, atuam no continente (MENEZES, 2013, p. 185).

Além disso, a China tem emergido como novo competidor: “os interesses ocidentais

não vão se sair bem tendo a China como competidor” (SIEVERS; MARKS; NAIDU, 2010, p. 44,

TRADUÇÃO LIVRE)93, o que pode representar riscos de confrontação (SIEVERS; MARKS;

NAIDU, 2010, p. 45) e consequências perigosas para os africanos, como a intervenção na

Líbia e na Costa do Marfim (JAMIESON, 2009, p. 320).

Dessa forma, percebe-se que o Reino Unido e a França, em especial a última, pois seu

status de potência sempre esteve muito atrelado a suas relações com a África, revestem,

atualmente, suas ações através do multilateralismo, buscando manter seus interesses no

continente. Intervenções militares têm sido recorrente nessa nova postura.

Enquanto isso os EUA, que delegaram menor importância para a região durante o

pós-Guerra Fria, o que não significa seu total afastamento da África, teve sua política externa

alterada devido a duas causas principais: os ataques terroristas de 11 de setembro, e a

escalada da China no continente. Frente a essas novas dinâmicas, Washington tem delegado

maior atenção à região, sendo vista como estandarte para a luta contra o terrorismo, tendo

como principal política a criação do AFRICOM, o qual aumenta as ações militares norte-

americanas no continente. 93 “This onslaught on western interests did not go down well with China’s competitors.”

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3. CAPÍTULO 3 - A INSERÇÃO DIFERENCIADA, AS NECESSIDADES AFRICANAS,

AS CRÍTICAS OCIDENTAIS O DIAGNÓSTICO E A BARGANHA

3.1. Introdução do capítulo 3

Neste capítulo tratar-se-á dos pontos em que a inserção chinesa se diferencia das

interações até então implementadas pelas potências ocidentais; das críticas ocidentais,

recepção africana e resposta de Pequim; também irá se expor sobre os problemas que o

continente africano enfrenta, ou seja, falha no processo de construção estatal, insegurança e

falta desenvolvimento. Após explicitar todos esses pontos, irá se fazer um breve diagnóstico,

analisando a influência da China, nas áreas de segurança e desenvolvimentos africanos. Por

fim, irá se expor um pouco sobre a teoria de barganha e como a competição entre a China e

as potências ocidentais tem incrementado o poder de barganha africano.

3.2. Inserção Chinesa Diferenciada

A presença chinesa na África tem atraído atenções internacionais. A partir de 2006, a

China se tornou o terceiro principal parceiro do continente, apenas atrás de Estados Unidos

e França, tornando-se, a região, um ponto chave para o ciclo de política diplomática da China

(ALDEN, 2007, p. 8).

A China tem sido capaz de se impor como um parceiro de desenvolvimento alternativo para muitos países africanos, através de uma diplomacia de soft power que combina a não interferência política e a utilização de incentivos econômicos com uma retórica que enfatiza a existência de uma amizade histórica e benefícios mútuos. (FERREIRA, 2010, p. 176)

A China parece estar demonstrando um modelo de inserção diferenciado para os

países africanos (LECHINI, 2013, p. 145) se comparado as interações da região com Estados

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Unidos e Europa, uma vez que esse relacionamento fundamenta-se em interação baseada

na igualdade, respeito pela soberania e não ingerência em assuntos internos,

desenvolvimento comum, benefícios mútuos e, aumentos das consultas e cooperação

internacional, sendo a mesma denominada de “win-win relationship” (ALDEN, 2007, p. 121).

Dessa forma, a China não é um simples parceiro que perpetua uma relação de desigualdade

entre exportadores de commodities e exportador de manufaturados, mas representa uma

fonte de desenvolvimento econômico (ALDEN, 2007, p. 126):

Para a África, tanto política quanto economicamente, a participação chinesa no continente se mostra positiva na medida em que cria novas oportunidades e possibilidades, com o aumento do número de possíveis parceiros e da competição engendrada entre eles. (VISENTINI, 2013, p. 20)

Somando-se a isso, cabe ressaltar que o principal componente para a rápida escalada

da China na África é sua política de não impor condicionalidades (ALDEN, 2007, p. 8):

No núcleo da rápida entrada da China nos mercados africanos está a sua promoção deliberada de uma política sem condicionantes políticos que, quando combinada com a disposição de Pequim de fornecer ajuda e empréstimos concessionais, provou ser extremamente atraente aos líderes africanos. (ALDEN, 2007, p. 8, TRADUÇÃO LIVRE)94

Já Visentini (2013, p. 20) ressalta a importância do auxílio disponibilizado pela China

aos países africanos, como mais um ponto de diferenciação da relação chinesa com a região,

sendo que grande parte da ajuda chinesa é feito por intermédio da construção de

infraestrutura, evitando desvio de verbas e corrupção, sendo o auxílio chinês bem mais

dinâmico, com prazos muito maiores. Dessa forma, a ajuda chinesa se diferencia da ajuda

ocidental, a qual se concentra, sobretudo, na transferência de dinheiro de países ricos para a

África, política muito criticada por Moyo (2009, p. 47), sob a forma de empréstimos: “é isso

que tem prejudicado, sufocado e retardado o desenvolvimento africano” (MOYO, 2009, p.

48-49, TRADUÇÃO LIVRE)9596. A partir disso, a autora ressalta que a atuação chinesa também

94 “At the core of China’s rapid entry into African markets is its deliberate promotion of a foreign policy of ‘no political strings’ which, when coupled with Beijing’s willingness to provide aid and concessionary loans, has proved to be tremendously appealing to African leaders.” 95 “It is these that have hampered, stifled and retarded the Africa’s development.” 96 Segundo Moyo (2009, p. 90), mais de 2 trilhões de dólares têm sido transferidos de países ricos para países pobres, sendo os maiores receptores, os países africanos, contudo, essa ajuda não tem alcançado seus objetivos de crescimento econômico e redução da pobreza, além de perpetuar uma situação de dependência da ajuda Ocidental, corroborada pela corrupção da região (MOYO, 2009, p. 137); ademais, as mesma estão ligadas a condicionalidades impostas pelo país doador, o que, geralmente, não se encaixa com as reais necessidades dos países africanos (MOYO, 2009, p. 113).

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se diferencia dos demais países ricos, sendo até mesmo identificada como “amiga”, uma vez

que também se concentra em IED (MOYO, 2009, p. 252), alegando, assim que:

Ninguém pode negar que a China está na África por petróleo, ouro, cobre, e tudo aquilo que está no chão. Mas dizer que os africanos, em média, não estão sendo beneficiados, é uma falsidade, e os críticos sabem disso. (MOYO, 2009, p. 261, TRADUÇÃO LIVRE)97

Ainda existem algumas diferenças entre a cooperação da China e dos países

ocidentais para com a África, as quais reforçam a relação sino-africana:

Em primeiro lugar, a política de não-interferência da China respeita a soberania das nações e reconhece seus limites na resolução de crises, como desastres humanitários. Em segundo lugar, enquanto o oeste negligenciou a África no pós-Guerra Fria, o ministro de negócios estrangeiros da China fez visitas oficiais a países africanos de 1991 a 2007, bem como o estabelecimento do FOCAC em 1980, com o intuito de tranquilizar a África quanto a amizade comprometida da China. Em terceiro lugar, nas discussões diplomáticas com os países africanos, a China faz sugestões amigáveis sobre questões de governança e assuntos internos, enquanto as intervenções ocidentais são coercivas. Por fim, a assistência técnica e na cooperação em ciência e tecnologia com a África, é uma área que tem sido amplamente recusada pelos países ocidentais, sendo agora uma parte de rápida expansão das relações sino-africanas. (AYENAGBO; NJOBVU; SOSSOU; TOZOUN, 2012, p. 27, TRADUÇÃO LIVRE)98

Ademais, as interações entre a China e o continente africano alteraram o panorama

econômico da região porque a grande demanda chinesa por commodities favorece as

economias africanas, gerando divisas, proporcionando um crescimento real e

desenvolvimento econômico, o qual acarreta uma emancipação de instituições econômicas

internacionais como o FMI (VISENTINI, 2013, p. 20). Sendo que as reações, na maioria,

positiva dos governos africanos diante dessa nova dinâmica, endossam a presença chinesa e

sua forma de política externa (ALDEN, 2007, p. 35). Ou seja,

[…] Se a China é capaz de se adaptar as preocupações africanas, enquanto persegue seus próprios objetivos mais amplos no continente, sua presença seguirá sendo bem recebida pelos africanos. De qualquer modo, ao contrário do passado, são os africanos, e não o ocidente, que irão determinar a natureza e a

97 “No one can deny that China is at least in Africa for the oil, the gold, the copper and whatever else lies in the ground. But to say that the average African is not beneficiating at all is a falsehood, and the critics know it.” 98 “First, China’s policy of noninterference respects the sovereignty of nations and acknowledges its limits in solving such a crisis such like humanitarian disasters. Second, while de West largely neglected Africa after the Cold War, China’s foreign Minister made his visits to African nations the first official stop abroad in every year from 1991 to 2007 and more visits to Africa and submitted diplomacy (FOCAC) from 1980’s, designed to reassure Africa of China’s committed friendship. Thirdly, in diplomatic discussions with African nations, China does make friendly suggestions on issues of governance and infra-state affairs while Western interventions would coercive. Finally, in technical assistance and cooperation in science and technology with Africa is an area that has largely been refused by Western countries but is now a rapidly expanding part of Sino-African relations.”

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profundidade do envolvimento chinês nos assuntos africanos. (ALDEN, 2007, p. 137, TRADUÇÃO LIVRE)99

A China estaria possivelmente mais adaptada às necessidades africanas de

desenvolvimento e segurança, relacionadas aos processos particulares de formação dos

Estados na região. Ayoob (1995, p. 15) ressalta que os Estados do Terceiro Mundo100 são

prejudicados pelo momento em que se encontra seu processo de construção estatal, bem

como a ocasião em que os mesmos se inseriram no sistema internacional. Suas

características principais são: a falta de coesão interna; fissuras étnicas e regionais; falta de

legitimidade das fronteiras estatais, instituições e elites governamentais; muita

susceptibilidade a conflitos internos e externos; desenvolvimento distorcido e dependente;

marginalização; e, por fim, a grande vulnerabilidade a atores internacionais, sendo a

insegurança uma condição do Terceiro Mundo:

Ao se colocar essas características principais em conjunto, tem-se uma grande caracterização do Terceiro Mundo como fraco, vulnerável e inseguro – sendo essas características função de ambos os fatores, interno e externo. No mundo real, os Estados do Terceiro Mundo, individualmente, apresentam diferentes graus de vulnerabilidade, fraqueza e insegurança. (AYOOB, 1995, p. 16, TRADUÇÃO LIVRE)101

Logo, a falta de um Estado forte e coeso, segurança102 e desenvolvimento, fazem com

que esses países se tornem vulneráveis (AYOOB, 1995, p. 4). Logo, uma vez que os países

africanos são países do terceiro mundo, ressaltar-se-á essas mazelas com o intuito de

apresentar, posteriormente, as implicações das relações da China sob cada um desses

aspectos.

99 “[...] If China is able to adapt itself to African concerns, while persuing its own broader aims on the continent, then its presence will continue to be well received by Africans. In any case, unlike in the past, it is Africans – not Westerns – who will determine the nature and depth of China’s engagement in African affairs.” 100 Para Ayoob (1995, p. 15) os países de Terceiro Mundo possuem, em termos de economia, tecnologia e capacidade militar, condições inferiores do que os países do Norte, sendo essa disparidade o que explica a escolha racional pela barganha coletiva, adotada por tais países, perante os países mais desenvolvidos, principalmente em se tratando de questões econômicas e de tecnologia. 101 “Putting these major characteristics together provides a composite, grand characterization of the Third World as weak, vulnerable, and insecure – with these traits being the function of both domestic and external factors. In the real world, individual Third Wold states exhibit different degrees of vulnerabilities, weaknesses, and insecurities.” 102 Segundo Ayoob (1195, p. 9), o binômio segurança-insegurança é definido em relação a vulnerabilidade, interna e externa.

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3.3. As críticas ocidentais, os pontos de fricção com os africanos e a resposta chinesa

Ao contrário das relações estabelecidas entre os países ocidentais e a África, a China

desenvolve sua inserção baseada nos princípios de não impor condicionalidades,

acompanhada pela diretriz política de não intervenção em assuntos internos (BROICH;

SZIRMAI, 2014, p. 4). Essas diretrizes proporcionaram o crescimento da presença chinesa no

continente africano, de forma que hoje, apenas atrás da União Europeia, a China não apenas

representa o parceiro comercial mais importante para a região, mas também para muitos

dos Estados africanos individualmente (BROICH; SZIRMAI, 2014, p.5).

Contudo, a projeção da China na África tem acarretado uma vigorosa reação por

parte das potências ocidentais, uma vez que seus interesses e influência na região ganham

um novo competidor (GONÇALVES, 2010 apud BRITO, 2011, p. 2). Sendo que tais reações

podem ser observadas através da mudança de suas políticas externas, como analisado no

segundo capítulo, ou, através das críticas desbravadas por tais atores a presença chinesa.

Sendo assim, se analisará essas críticas de três formas: primeiramente demonstrando

quais são as principais censuras expostas pelos atores ocidentais a presença chinesa no

continente; em segundo lugar, expor-se-á os pontos de fricção da presença chinesa na

África, em relação aos africanos; e, por fim, como Pequim tem respondido a tais

pronunciamentos.

3.3.1. As críticas Ocidentais

O primeiro ponto de questionamento quanto a política de Pequim para a África é

quanto a não imposição de condicionalidades e não interferência em assuntos internos,

pilares da política externa chinesa para a África (MENEZES, 2013, p. 175). Tal

posicionamento de Pequim seria responsável pela perpetuação e apoio a situações como

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desrespeito à democracia e aos Diretos Humanos (Darfur), corrupção (Angola), falhas na boa

governança, padrões trabalhistas e sociais injustos, políticas ambientais ineficientes, entre

outros pontos (MENEZES, 2013, p. 175). As características da relação entre Pequim e

determinados países africanos, criaria um ciclo de dependência em relação à China, além de

a mesma ser percebida como um facilitador de governos párias, como Sudão e Zimbábue,

uma vez que a China, concedendo ajuda e comércio, aliviaria as pressões externas sobre tais

regimes (BRITO, 2011, p. 3):

“Tal relação, percebida como ‘permissiva’, criaria, segundo essa visão, um ciclo de dependência dos países africanos em relação a China, uma vez que distanciaria os países africanos de outros países ‘mais exigentes em suas relações’” (PERE, 2008 apud MENEZES, 2013, p. 175).

A segunda principal crítica às relações sino-africanas é de que a China percebe a

África como um “safari por recursos”, estando apenas buscando seus próprios interesses no

continente, efetuando uma política neoimperialista na África (BRITO, 2011, p. 3), no

momento em que, os interesses de Pequim estariam voltados essencialmente para obtenção

de recursos naturais, mercados consumidores, e contribuição em obras de infraestrutura

estritamente ligadas ao comércio entre a China e a África.

Somando-se a isso, a vinculação entre financiamentos de projetos e empréstimos a

países africanos e o possível desvio de recursos e corrupção, uma vez que não se cobra

transparência na aplicação dos mesmos, seria mais um foco de crítica ocidental. Segundo

Menezes (2013, p. 176) a Human Rights Watch acusa a China de contribuir com o governo

de Angola, o qual dispensou os recursos do FMI uma vez que o fundo obrigava o país

africano a melhorar seu desempenho em determinados pontos como governança.

A China também é criticada por sua conduta na área ambiental, através dos projetos

que financia na África, sendo um exemplo disso a barragem de Merowe103, no Sudão

(MENEZES, 2013, p. 176).

Entretanto, o que se observa é que muitas dessas críticas são simplistas. Em primeiro

lugar, quanto a caracterização da relação de Pequim com a África como neocolonial, a China

não possui interesse na conquista de territórios, o que acontecia a época do colonialismo,

contudo, possui grandes interesses mercantis: o país busca o fornecimento de matérias-

103 Segundo Menezes (2013, p. 176) um dos maiores projetos em construção no setor hidroelétrico representa sérios impactos sociais e ambientais.

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primas necessárias para a manutenção de seu crescimento, além de marcados que possam

absorver sua grande produção (ROTBERG, 2008). Ao mesmo tempo, a relação entre ambos é

muito mais complexa, possuindo, por exemplo, diversas formas de interação, como:

migrações, comércio, ajuda, IED, transferência de tecnologia (BROICH; SZIRMAI, 2014, p. 6):

“O interesse da China na África vai bem além dos assuntos petrolíferos” (OLIVEIRA, 2008, p.

28).

Além disso, Menezes (2013, p. 178) ressalta que a cooperação e a ajuda ao

desenvolvimento possuem impactos sociais e econômicos positivos nos países africanos.

3.3.2. Pontos de fricção entre a China e os Estados africanos

Em geral, a recepção em relação à dinâmica Pequim-África, pelos países africanos é

positiva, principalmente por regimes autoritários, os quais gozam de uma menor aceitação

internacional, logo, encontram na China uma opção de apoio, como é o caso do Sudão

(MENEZES, 2013, p. 158).

Contudo, algumas posições chinesas têm causado recusa pelos africanos, como é o

caso dos setores empresariais nigerianos e da Tanzânia, descontentes com a agressiva

presença de produtos chineses, diminuindo sua competitividade (MENEZES, 2013, p. 162).

Esse sentimento tem tido como efeito o crescimento da xenofobia contra chineses e

manifestações racistas, como ocorrido no Lesoto em 1990, e na Zâmbia (MENEZES, 2013, p.

174).

Segundo Schiere (2011, p. 10), a intensa competição chinesa para com os setores

manufatureiros africanos, bem como sua intensa demanda por petróleo, acarreta o risco de

um retorno ao setor primário de Estados com indústrias bem estabelecidas, fazendo com

que esses países fiquem vulneráveis às alterações dos preços das commodities.

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Também no Níger, manifestações a favor de maior transparência governamental

atingiram os negócios entre a China e o governo quanto a exploração de petróleo na região

de Diffa, bem como os impactos ambientais e sociais (MENEZES, 2013, p. 173).

A prática das empresas chinesas de buscarem seus próprios trabalhadores para a

execução de projetos na África é outra fonte de ressentimentos, já tendo ocorridos

manifestações, até mesmo violentas, na Zâmbia e no Lesoto (OLIVEIRA, 2008, p. 24). Para

Brito (2011, p. 8) a África também é tida pela China como uma área de testes para a

estratégia chinesa going out, ou seja, as empresas chinesas atuam na África com o intuito de

ganhar experiência, estabelecer e expandir empreendimentos no continente, bem como,

globalmente. Já na Namíbia, ocorreram protestos, em 2008 contra a Jiangsu International

Construction Co., visando pressionar a empresa chinesa por melhores padrões de trabalho.

Logo, percebe-se que as respostas africanas aos interesses chineses e sua relação

com a região em pontos de fricção são diversas e complexas, não se restringindo ao nível

governamental.

3.3.3. A defesa de Pequim

As respostas de Pequim para com as críticas originadas, sobretudo, por países

desenvolvidos, têm variado entre discursos das autoridades, artigos acadêmicos chineses, e

na imprensa do país, especialmente. O primeiro ponto abordado é que a parceria sino-

africana não é nova, sendo a mesma baseada em princípios como:

[...] sinceridade, amizade, equidade, benefício mútuo, reciprocidade, prosperidade comum, apoio mútuo, coordenação estreita, aprendizado de parte a parte, busca de desenvolvimento comum, entre outras formulações. (MENEZES, 2013, p. 192)

Além disso, a China tem se beneficiado da visão de estudiosos como Li Anshan, o qual

expõe que as críticas ocidentais a presença chinesa, são em decorrência da visão da África

como sua esfera de influência, sendo que, tanto a China como quaisquer outros países são

compreendidos como atores externos (MENEZES, 2013, p. 195).

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Pequim também tem buscado expor outras formas de relação entre a China e a

África, como a transferência de tecnologia. Segundo Menezes (2013, p. 196) a Nigéria, país

que seria visto como foco da atuação neocolonial de Pequim, lançou, em cooperação com

este país, seu próprio satélite de comunicação.

3.4. Efeitos para os países africanos: as consequências da relação com a China para o

processo de construção dos Estados, desenvolvimento e segurança

Para que se analisem os efeitos da interação chinesa na África, primeiramente se

dará atenção ao processo de construção estatal africano, ao desenvolvimento e a segurança

na região. A fim de se avaliar, posteriormente, de forma mais criteriosa, a influência da China

em cada uma das questões.

3.4.1. Construção dos Estados Africanos, insegurança e falta de desenvolvimento

Segundo Hyden (2006, p. 50) um Estado104 emerge como resposta a necessidades

que grupos de uma sociedade possuem. Na África, os Estados da região têm sido descritos

como variando entre fracos e soft (HYDEN, 2006, p. 56), pois, de acordo com Jackson e

Rosberg (1982, p. 1), as instituições e organizações estatais do continente são menos

desenvolvidas na região Subsaariana do que qualquer outra parte do mundo, sendo o

continente marcado por instabilidade política desde sua independência.

Percebe-se, então, que o continente africano convive com dificuldades no processo

de construção de seus Estados, implicando na falta de controle centralizado sobre o

território e a população, a falta de legitimidade, a não concentração dos meios de coerção,

bem como a falta de capacidade de permear os diversos âmbitos da sociedade, colocando-a

em descompasso com o Estado (AYOOB, 1995, p. 27).

104 De acordo com Taliaferro, Lobell e Ripsman (2009, p. 26) o termo Estado é um termo genérico para uma variedade de políticas autônomas com diferentes escopos geográficos, atributos internos e capacidades, as quais coexistem e interagem em um ambiente internacional anárquico, não sendo o mesmo, completamente autônomo da sociedade.

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Os Estados africanos são problemáticos por três razões específicas:

Falta-lhe a autonomia perante a sociedade, o que a torna um instrumento de ação coletiva [...] Ela não consegue operar como uma entidade corporativa – como um sistema. A segunda razão é que as autoridades governamentais não respeitam as regras formais que constituem a autoridade pública. A terceira razão é que os indivíduos nomeados para cargos públicos raramente subordinam suas identidades sob as definições que o papel que desempenham exige. (HYDEN, 2006, p. 65, TRADUÇÃO LIVRE)105

Mas não apenas isso, os Estados africanos, diferentemente dos Estados europeus,

não foram forjados através da guerra, estando praticamente fadados ao insucesso de

construir Estados em tempos de paz, permanecendo fracos (HERBST, 1990, p. 119),

A guerra foi o principal instrumento para a criação e extensão da autoridade política sobre as pessoas sujeitas e territórios estrangeiros, e para a organização, manutenção e reforço dessa autoridade. (HERBST, 1990, p. 121, TRADUÇÃO LIVRE)106

Esses Estados são considerados por Jackson (1990) como quasi-states porque eles

são sustentados, não por sua força empírica, mas sim pelo sistema de Estados que lhes dá

reconhecimento jurídico como entidades soberanas.

E, como consequência dessa falha no processo de construção estatal, está, entre

outras coisas, o desenvolvimento do que Hyden (2006, p. 73) chama de economy of

affection107, instabilidade política, insegurança, falta de coesão social, condição periférica na

economia global (HYDEN, 2006, p. 206).

3.5. Análise dos efeitos da inserção chinesa para os países africanos: desenvolvimento,

segurança, capacidades dos Estados e barganha internacional

105 It lacks the autonomy from society tha makes it an instrumento f colletive action [...] It fails to operate a corporate entity – as a system. A second reason is that state officials do not adhere to the formal rules that constitute public authority. The third reason is that individuals appointed to public office rarely subordinate their personalities to the definitions of the role that they are expected to perform. 106 War was the principal instrument for the establishment and extension of political authority over subject people and foreign territory, and for the organization, maintenance, and reinforcement of that authority. 107 “The easiest way to describing the economy of affection is to suggest that it is constituted by personal investments in reciprocal relations with other individuals as a means of achieving goals that are seen as otherwise impossible to attain.”

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Como ressaltado anteriormente, a China tem se adaptado as preocupações africanas

(ALDEN, 2007, p. 137). Somando-se a isso, Xavier (2008, p. 55) ressalta que, como aspectos

positivos da presença chinesa na região estão: o aumento das taxas de crescimento

econômico dos países africanos, impulsionadas pelo aumento da quantidade e do preço das

commodities exportadas, a melhoria da infraestrutura e também da condição de vida da

população africana. Contudo, também existem pontos negativos, como o aparecimento de

balanças comerciais deficitárias em alguns países, devido à importação de manufaturados, e,

por vezes, à semelhança entre a ação chinesa e o imperialismo na região, o que se dispõe

também no discurso das potências tradicionalmente inseridas no continente (XAVIER, 2008,

p. 155).

Sendo assim, atear-se-á, nesta seção, a alguns pequenos diagnósticos das

consequências das ações chinesas para o continente africano, com base na discussão sobre

as dificuldades africanas em termos de capacidades estatais. Tendo como objetivo avaliar de

forma mais criteriosa, baseando-se na teoria da construção dos Estados africanos, os efeitos

da atuação chinesa no continente. Um debate já proposto pelo professor Igor Castellano, em

seu artigo na revista InterAção, em 2013:

Em relação à análise da penetração extrarregional no continente africano, mais do que descrever como cada processo particular se desenvolve, importa compreender como cada um deles é capaz de refletir nos desafios de desenvolvimento e segurança, na soberania e na autonomia dos países africanos. (CASTELLANO, 2013, p. 78)

Para isso, se compara dados de quatro países principais: Angola, Burkina Faso,

Nigéria e Serra Leoa, tendo como secundários, África do Sul e Sudão. A escolha desses países

segue as considerações de Visentini (2013), uma vez que o autor expõe que, Angola e Sudão

são, hoje, os principais parceiros chineses no continente africano; Burkina Faso, a qual é um

dos quatro países que mantém reconhecimento de Taiwan, portanto, não possuem relações

diplomáticas com a China; e, Nigéria e Gabão, países que possuem relações com a China,

mas que mantêm as potências ocidentais como os principais parceiros (VISENTINI, 2013, p.

19). Contudo, a escolha desses países também se deu através da análise dos dados de

comércio entre os países africanos e a China, levando-se em consideração, principalmente as

exportações, devido aos seus números mais significativos. Dessa forma, Angola se corrobora

como principal parceiro da China, sendo seguida pela África do Sul. Burkina Faso é um dos

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quatro países108 que não possui relações diplomáticas com a China, mas que dos quatro

ainda apresenta o maior comércio com Pequim. Nigéria109 é o país mediano em relações as

exportações para a China e, por fim, Serra Leoa é o país em que as exportações para China

representam a maior porcentagem sobre suas o total de suas exportações.

Essa analise se dará através da apreciação de dados quantitativos e qualitativos,

sendo analisados índices e valores referentes a cada uma das áreas de implicação da

presença chinesa, estando entre eles: Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), Produto

Interno Bruto (PIB), Index of State Capability (CINC), State Fragility Index (SFI), gastos

militares, Investimento externo direto (IED).

3.5.1. O comércio China-África

O volume de comércio entre a China e a África tem crescido rapidamente desde o

início do século XXI, sendo que entre 2000 e 2010, Pequim se tornou um dos mais

importantes parceiros comerciais da região (BROICH; SZIRMAI, 2014, p. 64). É característica

do mesmo que a maior parte das exportações chinesas para a África seja de manufaturados,

enquanto que as exportações africanas estão concentradas nos setores de extração de

recursos energéticos e minerais110 (BROICH; SZIRMAI, 2014, p. 67). Dessa forma, a China

impacta de maneiras diferentes de acordo com o tamanho da economia, a estrutura

econômica e as instituições econômicas, sendo seu impacto, provavelmente maior em

economias ricas em recursos, as quais obtêm benefícios da grande demanda chinesa

(SCHIERE, 2011, p. 9):

Países que exportam petróleo se beneficiam da demanda chinesa, sem enfrentar a concorrência das mercadorias chinesas nos mercados globais. Por outro lado, os

108 Burkina Faso, Gâmbia, São Tomé e Príncipe e Suazilândia (MENEZES, 2013, p. 309). 109 Para se encontrar a Nigéria como país de comércio mediano, foram somados todos os dados dos valores das exportações e dividido pelo número de países da tabela 1, onde foi encontrado o valor de 1.509.431, sendo este país o que mais se aproximou do valor. 110 Esse tipo de trocas comerciais, embora seja denominado de relação Sul-Sul, representa, na verdade, o típico comércio entre países Norte-Sul (BROICH; SZIRMAI, 2014, p.68).

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países africanos que exportam manufaturas [...] enfrentam a concorrência chinesa no mercado global, mas pouca demanda por parte da China. (SCHIERE, 2011, p. 9-10, TRADUÇÃO LIVRE)111

Neste contexto, os principais parceiros comerciais africanos da China são Angola e

África do Sul (BROICH; SZIRMAI, 2014, p. 70) como pode ser observado nos quadros 1 e 2.

Tabela 1 - Exportações africanas para China

País Exporta para China (2013)

Variação em valor de 2009-

2013 em %

Participação no total das Exp. do

país

Total das exportações do

país

África do Sul $ 12.058.975,00 19,00% 12,70% $ 95.224.783,00

Angola $ 31.955.188,00 21,00% 45,00% $ 70.980.071,00

Argélia $ 2.181.280,00 30,00% 3,30% $ 65.998.138,00

Benin $ 119.385,00 18,00% 18,80% $ 635.218,00

Bowtsuana $ 59.035,00 -5,00% 0,80% $ 7.712.623,00

Burkina Faso $ 186.843,00 17,00% 34,50% $ 542.041,00

Burundi $ 1.159,00 32,00% 0,60% $ 208.772,00

Cabo Verde - - - $ 69.228,00

Camarões $ 366.152,00 5,00% 7,40% $ 4.928.255,00

Chade $ 103.500,00 1,00% 3,30% $ 3.105.304,00

Costa do Marfim $ 257.483,00 36,00% 2,90% $ 8.864.033,00

Djibouti $ 274,00 19,00% 0,60% $ 46.550,00

Egito $ 560.000,00 -5,00% 1,90% $ 28.779.409,00

Eritréia $ 51.490,00 166,00% 20,30% $ 253.580,00

Etiópia $ 315.702,00 9,00% 17,00% $ 1.862.406,00

Gabão $ 896.981,00 - 9,30% $ 9.695.088,00

Gana $ 1.201.221,00 103,00% 12,80% $ 9.419.830,00

Guiné $ 84.612,00 43,00% 4,50% $ 1.862.171,00

Guiné Equatorial $ 2.469.745,00 3300,00% 17,20% $ 14.396.333,00

Guiné-Bissau $ 16.825,00 69,00% 9,50% $ 177.280,00

Gâmbia $ 77.944,00 95,00% 58,10% $ 134.080,00

Lesoto $ 13.413,00 54,00% 1,50% $ 914.018,00

Libéria $ 165.509,00 166,00% 13,40% $ 1.239.150,00

Líbia $ 2.019.914,00 -5,00% 4,80% $ 41.901.267,00

111 Countries that export primarily oil benefit from Chinese demand without facing competition from Chinese exports in global markets. On the other hand, African countries that export manufactures […] faced Chinese competition on the global market but little demand from China.

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69

Madagascar $ 133.710,00 28,00% 6,90% $ 1.928.104,00

Malawi $ 62.183,00 22,00% 5,20% $ 1.194.448,00

Mali $ 153.682,00 55,00% 38,30% $ 401.511,00

Marrocos $ 346.401,00 20,00% 1,60% $ 22.178.222,00

Mauritânia $ 1.751.848,00 20,00% 60,60% $ 2.889.169,00

Maurícia $ 13.498,00 18,00% 0,60% $ 2.344.575,00

Moçambique $ 104.980,00 32,00% 2,60% $ 4.023.719,00

Namíbia $ 143.265,00 -14,00% 2,30% $ 6.337.216,00

Niger $ 83.176,00 103,00% 6,20% $ 1.337.151,00

Nigéria $ 1.543.016,00 13,00% 1,60% $ 96.276.469,00

Quênia $ 52.870,00 16,00% 1,00% $ 5.201.226,00

Rep. Centro Africana

$ 9.097,00 12,00% 18,80% $ 48.322,00

Rep. Dem. Do Congo

$ 2.756.655,00 24,00% 53,60% $ 5.143.987,00

Rep. Do Congo $ 4.233.346,00 20,00% 40,40% $ 10.470.889,00

Ruanda $ 336,00 -57,00% 0,10% $ 620.469,00

Senegal $ 20.953,00 -3,00% 0,80% $ 2.486.319,00

Serra Leoa $ 1.432.819,00 292,00% 76,80% $ 1.865.647,00

Seychelles $ 402,00 129,00% 0,10% $ 551.495,00

Somália $ 16.270,00 109,00% 8,60% $ 189.217,00

Suazilândia $ 115.524,00 117,00% 5,70% $ 2.012.429,00

Sudão $ 4.623.562,00 -11,00% 75,10% $ 6.158.852,00

Tanzânia $ 309.420,00 -7,00% 7,00% $ 4.412.549,00

Togo $ 16.270,00 -32,00% 1,60% $ 1.002.253,00

Tunísia $ 41.392,00 -4,00% 0,20% $ 17.060.465,00

Uganda $ 37.983,00 21,00% 1,60% $ 2.407.736,00

Zâmbia $ 2.275.374,00 40,00% 21,30% $ 10.700.492,00

Zimbábue $ 30.903,00 -19,00% 0,90% $ 3.507.296,00

Fonte: ITC Autor(a): GREGIS, 2014

Tabela 2 - Importações africanas oriundas da China

Países Importa da

China (2013)

Variação em valor de 2009-

2013 em %

Participação no total das Imp. Do país em %

Total das importações do

país

África do Sul $ 16.010.648,00 17,00% 15,50% $ 103.461.277,00

Angola $ 3.965.044,00 19,00% 17,90% $ 22.099.379,00

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70

Argélia $ 6.827.545,00 10,00% 12,40% $ 54.909.973,00

Benin $ 249.093,00 4,00% 6,80% $ 3.683.918,00

Bowtsuana $ 108.072,00 -9,00% 1,40% $ 7.535.522,00

Burkina Faso $ 103.404,00 24,00% 5,30% $ 1.940.004,00

Burundi $ 64.253,00 20,00% 8,80% $ 734.005,00

Cabo Verde $ 22.560,00 9,00% 3,10% $ 726.367,00

Camarões $ 1.512.897,00 39,00% 25,90% $ 5.843.940,00

Chade $ 383.721,00 14,00% 35,80% $ 1.071.585,00

Costa do Marfim $ 955.690,00 18,00% 15,40% $ 6.204.453,00

Djibouti $ 1.019.313,00 38,00% 38,30% $ 2.659.564,00

Egito $ 7.002.779,00 16,00% 10,50% $ 66.666.449,00

Eritréia $ 137.956,00 33,00% 33,60% $ 410.515,00

Etiópia $ 1.867.027,00 11,00% 28,50% $ 6.553.934,00

Gabão $ 433.474,00 32,00% 12,10% $ 3.587.455,00

Gana $ 3.945.734,00 32,00% 28,00% $ 14.082.449,00

Guiné $ 906.200,00 34,00% 25,30% $ 3.582.860,00

Guiné Equatorial $ 357.430,00 -2,00% 12,10% $ 2.947.272,00

Guiné-Bissau $ 11.770,00 -8,00% 4,10% $ 289.813,00

Gâmbia $ 307.753,00 17,00% 32,20% $ 956.739,00

Lesoto $ 89.913,00 18,00% 5,40% $ 1.668.751,00

Libéria $ 2.335.497,00 2,00% 17,80% $ 13.150.856,00

Líbia $ 2.822.361,00 9,00% 11,90% $ 23.780.269,00

Madagascar $ 487.644,00 9,00% 14,60% $ 3.344.955,00

Malawi $ 264.670,00 21,00% 9,40% $ 2.824.990,00

Mali $ 274.568,00 13,00% 12,50% $ 2.193.172,00

Marrocos $ 3.166.506,00 4,00% 6,90% $ 45.615.660,00

Mauritânia $ 597.281,00 26,00% 17,10% $ 3.500.054,00

Maurícia $ 792.165,00 16,00% 14,70% $ 5.397.637,00

Moçambique $ 644.121,00 44,00% 6,40% $ 10.099.147,00

Namíbia $ 235.248,00 -3,00% 3,10% $ 7.574.548,00

Niger $ 406.253,00 -13,00% 23,70% $ 1.714.076,00

Nigéria $ 12.044.893,00 21,00% 25,20% $ 47.770.521,00

Quênia $ 3.221.128,00 26,00% 19,90% $ 16.221.607,00

Rep. Centro Africana

$ 8.933,00 -12,00% 6,90% $ 129.151,00

Rep. Dem. Do Congo

$ 952.494,00 32,00% 17,70% $ 5.380.048,00

Rep. Do Congo $ 427.191,00 31,00% 5,10% $ 8.358.750,00

Ruanda $ 267.106,00 26,00% 15,70% $ 1.701.435,00

Senegal $ 494.082,00 4,00% 8,10% $ 6.065.547,00

Serra Leoa $ 151.392,00 35,00% 12,30% $ 1.227.198,00

Seychelles $ 38.669,00 31,00% 4,80% $ 799.324,00

Somália $ 133.460,00 19,00% 13,40% $ 993.238,00

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71

Suazilândia $ 24.762,00 7,00% 1,40% $ 1.709.167,00

Sudão $ 2.472.375,00 9,00% 31,90% $ 7.751.697,00

Tanzânia $ 1.595.863,00 22,00% 12,70% $ 12.525.411,00

Togo $ 314.448,00 17,00% 15,70% $ 2.002.178,00

Tunísia $ 1.533.198,00 12,00% 6,30% $ 24.266.395,00

Uganda $ 622.044,00 16,00% 10,70% $ 5.817.510,00

Zâmbia $ 967.126,00 57,00% 9,40% $ 10.271.653,00

Zimbábue $ 438.686,00 29,00% 5,70% $ 7.704.178,00

Fonte: ITC Autor(a): GREGIS, 2014

Através desses dados é possível perceber, não apenas o crescimento da participação

do comércio da China com os países africanos, mas que os valores das exportações africanas

para a China são os mais significativos, em comparação as importações.

É importante ressaltar que a China também prove suporte para a diversificação das

exportações africanas através da implementação das Zonas Econômicas Exclusivas. Contudo,

para que os Estados africanos consigam obter ganhos é necessário que os investimentos

chineses em industrialização sejam integrados a cadeia de produção:

[…] Para que essas zonas promovam a industrialização de forma eficaz, é necessário integrar os investimentos chineses na cadeia de produção nacional por meio de ligações para trás e para frente. Enquadramentos políticos fortes, incluindo governança forte, um ambiente econômico competitivo, disponibilidade de trabalhadores qualificados, são essenciais para incentivar tais ligações e permitir que as economias africanas subam na cadeia de valor. (SCHIERE, 2011, p. 10, TRADUÇÃO LIVRE)112

3.5.2. Implicações da relação sino-africana no desenvolvimento socioeconômico

112 [...] for these zones to promote industrialization effectively requires integrating Chinese investments in the national production chain through backward and forward linkages. Strong domestic policy frameworks, including strong governance, a competitive economic environment, and the availability of skilled workers, are essential to encourage such linkages and enable African economies to move up the value added chain.

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72

Sob este prisma irá se prospectar se as relações com a China têm proporcionado

melhorias no desenvolvimento africano, humano e econômico. Tem-se, dessa forma, como

desenvolvimento humano, o que é identificado pelo Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNDU), como a ampliação das escolhas disponíveis as pessoas, para que

as mesmas sejam capazes, bem como tenham oportunidades, de se tornarem aquilo que

desejam, levando em consideração a qualidade de vida, além de fatores sociais, culturais e

políticos que influenciam na mesma. Já o desenvolvimento econômico, também definido

pela PNUD, se refere ao crescimento econômico, o qual pode ser mensurado através de

dados quantitativos como o produto interno bruno (PIB) e o PIB per capta. Contudo, quando

se trata de desenvolvimento deve resultar do crescimento econômico concomitantemente a

melhoria na qualidade de vida (OLIVEIRA, 2002, p. 38).

Assim sendo, o primeiro dado analisado será da evolução do IDH113 africano – gráfico

1. Ao se analisar este dado, percebe-se uma progressão continua do IDH africano,

demonstrando uma inflexão em 2010, provavelmente fruto da crise econômica mundial de

2008, e, logo, a retomada do crescimento. É difícil afirmar que tal progressão é

exclusivamente um “efeito China”, contudo, cabe ressaltar que, levando em consideração as

áreas em que a China tem atuado no continente, como exposto no primeiro capítulo:

educação, saúde, comércio e investimentos, em variados setores, o IDH pode se mostrar

como um reflexo de tal relação.

113 O IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) foi criado por Mahbub ul Haq, com colaboração do economista Amartya Sem, com a finalidade de ser uma medida geral e sintética do desenvolvimento humano. Dessa forma, esse índice é composto pela análise de três pilares: educação, saúde e renda (PNUD, 2014).

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73

Gráfico 1 - IDH África Subsaariana

Fonte: PNUD (2014) Autor(a): GREGIS, 2014

Ao mesmo tempo, ao se analisar a evolução do IDH dos países determinados, é possível

notar que os principais parceiros chineses se encontram com os maiores índices de IDH, em especial

o crescimento do índice de Angola, como explícito no gráfico 2, o que não representa, contudo,

necessariamente uma causa.

0,464 0,4680,515

0,4930,514

0,389

0,4750,502

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

1998 2001 2003 2005 2007 2010 2012 2013

IDH África Subsaariana

IDH

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74

Gráfico 2 - Evolução do IDH

Fonte: AFDB Autor(a): GREGIS, 2014

O segundo dado a ser analisado é o PIB (Produto Interno Bruto), um conceito

internacional de medida de desempenho e riqueza de um país ou região – gráfico 3.

0,25

0,30

0,35

0,40

0,45

0,50

0,55

0,60

0,65

2005 2007 2009 2011 2012

Evolução do IDH africano

África do Sul

Angola

Nigéria

Sudão

Serra Leoa

Burkina Faso

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75

Gráfico 3 - Evolução do PIB dos países africanos

Fonte: World Bank Autor(a): GREGIS, 2014

Através desses dados é possível compreender o notável crescimento do PIB dos

países africanos. Contudo, fica claro o grande crescimento do PIB de Angola, o mesmo

também pode ser dito do Sudão, principais parceiros comerciais chineses.

Outro elemento a ser observado é o IED. Esse tipo de investimento era dominado

pelos países desenvolvidos, contudo, contemporaneamente, as economias emergentes têm

angariado proeminência (BROICH; SZIRMAI, 2014, p. 39). Dessa forma, ao se analisar o fluxo

de IED (Investimento Externo Direto), gráfico 4, percebe-se que o IED recebidos pela África

aumentou exponencialmente desde 1990, o que significa que o continente tem se mostrado

mais propicio e lucrativo a investimentos externos. Somando-se a isso, ressalta-se que o

fluxo de IED feito pela África, também cresceu, embora de forma mais modesta, o que

representa a reinserção do continente na economia mundial, refletindo no PIB dessa região

e, talvez um efeito da presença chinesa. Entre os investidores da África, a China se encontra

na terceira posição, sendo o setor primário, particularmente o extrativo, o mais atrativo,

$-

$100,00

$200,00

$300,00

$400,00

$500,00

$600,00

$-

$20,00

$40,00

$60,00

$80,00

$100,00

$120,00

$140,00

1980 1990 2000 2010 2013

Evolução do PIB (em bilhões de US$)

Angola Burkina Faso Serra Leoa Sudão Nigéria

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76

embora a indústria também tenha recebido grandes investimentos (BROICH; SZIRMAI, 2014,

p. 44-55). Em contraposição, a África é o terceiro maior destino dos fluxos de IED chineses,

como pode ser observado no gráfico 5.

Gráfico 4 - Fluxo de IED África

Fonte: UNCTAD Autor(a): GREGIS, 2014

1266 400 2846

9621

47034

57239

191097 659 1534

665912418

0

10000

20000

30000

40000

50000

60000

1970 1980 1990 2000 2010 2013

Fluxo de IED África (milhões de dólares)

Recebidos Enviados

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77

Gráfico 5 - Fluxo de IED chinês por região

Fonte: Statistical Bulletin of China's outward FDI Autor(a): GREGIS, 2014

Sendo que dos investimentos externos diretos feitos pela China na África, os

principais destinos são: África do Sul, rica em recursos naturais; Nigéria, a qual possui duas

ZEEs; Argélia, abundante em recursos naturais; e Zâmbia, onde se localiza uma das ZEEs,

como exposto na tabela 3, demonstrando que a segurança no acesso a matérias-primas,

também está ligado à distribuição do IED chinês (BROICH; SZIRMAI, 2014, p.63).

Tabela 3 - IED da China destinado aos países africanos

IED da China destinado aos países africanos

País 2003 2004 2005 2006 2007

África do Sul 8,86 17,81 47,47 40,74 454,41

Argélia 2,47 11,21 84,87 98,93 145,92

Angola 0,19 0,18 0,47 22,39 41,19

0

5000

10000

15000

20000

25000

30000

0

200

400

600

800

1000

1200

1400

1600

1800

2003 2004 2005 2006 2007

Fluxo de IED chinês por região (em milhões de US$)

África

Europa

América do norte

Oceania

América Latina

TOTAL

Ásia

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78

Benin 2,09 13,77 1,31 0 6,32

Botswana 0,8 0,27 3,69 2,76 1,87

Camarões 0,28 0,37 0,19 0,73 2,05

Cabo Verde - - 0,32 0,23 0,09

Chad - - 2,71 1,61 0,75

Rep. Dem.Congo 0,06 11,91 5,07 36,73 57,27

Congo 0,51 8,11 13,24 2,5

Costa do Marfim 0,62 6,75 8,74 -2,91 1,74

Djibouti - - - - 1

Egito 2,1 5,72 13,31 8,85 24,98

Eritrea - - - 0,01 0,45

Etiópia 0,98 0,43 4,93 23,95 13,28

Gabão - 5,6 2,08 5,53 3,31

Gâmbia 0,04 - - - -

Gana 2,89 0,34 2,57 0,5 1,85

Guiné 1,2 14,44 16,34 0,75 13,2

Guiné Equatorial 0,48 1,69 6,35 10,19 12,82

Quenia 0,74 2,68 2,05 0,18 8,9

Lesoto - 0,03 0,6 - -

Libéria 0,4 0,58 8,65 -7,03 -

Libia 0,1 0,06 0,25 -8,51 42,26

Madagascar 0,68 13,64 0,14 1,17 13,24

Malawi - - - - 0,2

Mali 5,41 - - 2,6 6,72

Mauritânia 1,7 0,09 0,36 4,78 -4,98

Maurício 10,27 0,44 2,04 16,59 15,58

Marrocos 0,19 1,8 0,85 1,78 2,64

Moçambique - 0,66 2,88 0 10,03

Namíbia 0,62 0 0,18 0,85 0,91

Niger - 1,53 5,76 7,94 100,83

Nigéria 24,4 45,52 53,3 67,79 390,35

Ruanda - - 1,42 2,99 -0,41

Senegal 0,65 - - - 0,24

Seychelles - - 0,05 0,06 0,09

Serra Leoa - 5,92 0,49 3,71 2,85

Sudão - 146,7 91,13 50,79 65,4

Tanzânia - 1,62 0,96 12,54 -3,82

Togo 0,03 1,85 0,31 4,58 2,7

Tunísia - 0,22 - 1,73 -0,34

Uganda 1 0,15 0,17 0,23 4,01

Zâmbia 5,53 2,23 10,09 87,44 119,34

Zimbabue 0,03 0,71 1,47 3,42 12,57

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79

Fonte: Statistical Bulletin of China’s outward FDI Autor(a): GREGIS, 2014

Além disso, a distribuição do IED chinês na África é caracterizada pelo

direcionamento a países com abundância em recursos naturais, acesso ao mar e mercados

em larga expansão (BROICH; SZIRMAI, 2014, p. 64).

3.5.3. Implicações da relação sino-africana na segurança da região

A segurança114 é uma questão primordial para os países de terceiro mundo, segundo

Ayoob (1995, p. 16), sendo entendida como,

Em outras palavras, a segurança-insegurança é definida em relação a vulnerabilidades internas e externas – que ameaçam ou tem o potencial para derrubar ou enfraquecer as estruturas do Estado, tanto territoriais quanto institucionais, e os regimes que as regem. (AYOOB, 1995, p. 9, TRADUÇÃO LIVRE)115

Dessa forma, os gastos militares são uma boa forma de equacionar esse binômio

segurança-insegurança. Dessa forma, o gráfico 6 aponta uma situação contrária, à medida

que os principais parceiros da China tiveram um aumento nos gastos militares, contudo,

cabe ressaltar que no Sudão116, por exemplo, tem havido um recrudescimento do conflito

interno (HOUSER; LEVY, 2008, p. 69), ou seja, diante de sua política de não intervenção em

assuntos internos, a China pode ter uma implicação menos relevante nesse ponto, embora

114 Neste estudo se trabalha através dos conceitos de segurança humana e segurança estatal, sendo a primeira como a abstenção de ameaças para os valores humanos mais básicos, como segurança individual (HAMPSON, 2008, p. 231). Já a segurança estatal/nacional diz respeito a uma condição relativa de proteção coletiva e individual, diante de ameaças a sobrevivência e autonomia (CEPIK, 2001, p. 3). Contudo, cabe ressaltar que o próprio conceito de segurança humana e estatal é problemático, podendo acarretar generalizações e degeneração, como é o caso de abuso dos meios de coerção sob o discurso da segurança nacional. 115 “In other words, security-insecurity is defined in a relation to vulnerabilities both internal and external – that threaten or have the potential to bring down or weaken state structures, both territorial and institutional, and governing regimes.” 116 Os últimos dois dados deste país foram o resultado de uma média, devido à falta de dados.

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seja, como ressaltado no primeiro capítulo, também uma fornecedora de armamento para

os países africanos.

Gráfico 6 - Gastos militares dos países africanos

Fonte: SIPRI Autor(a): GREGIS, 2014

No entanto, embora a política externa chinesa seja guiada, entre outros princípios,

pela não intervenção interna, é importante expor que o país tem aumentado sua

participação em missões de paz pela ONU (ROGERS, 2007, p. 72). Essa atuação representa

uma mudança, uma vez que o país era relutante em participar de tais ações devido a sua

crença na soberania dos Estados. Da mesma forma, para evitar constrangimentos

internamente, segundo Rogers (2007, p. 75), e porque o país, segundo Ayenagbo, Njobvu,

Sossou e Tozoun (2012, p. 24), era cético em relação as operações de paz na ONU. Contudo,

essa mudança se deu depois do fim da Guerra Fria, quando a política externa chinesa passou

a ser guiada pela estabilidade e cooperação internacional (AYENAGBO; NJOBVU; SOSSOU;

TOZOUN, 2012, p. 23-24):

$-

$1.000,00

$2.000,00

$3.000,00

$4.000,00

$5.000,00

$6.000,00

$7.000,00

$-

$100,00

$200,00

$300,00

$400,00

$500,00

$600,00

$700,00

$800,00

$900,00

1990 2000 2010 2013

Gastos militares (em mi US$)

Burkina Faso

Serra Leoa

Sudão

Angola

Nigéria

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Como a China emerge como um poder global, seus cidadãos também esperam que seu governo olhe além de seus interesses econômicos e trabalhe de forma ativa para contribuir com desafios humanitários em outras partes do mundo. Isso já começou a se manifestar nas contribuições chinesas para as missões de paz na África [...]. (HOUSER; LEVY, 2008, p. 70, TRADUÇÃO LIVRE)117

Atualmente, a participação da China nas missões de paz na ONU são um meio para a

sua diplomacia pública, a qual visa aprimorar a imagem da China como uma potência

responsável, sendo, depois de 2006, o país de maior contribuição, dentre os membros do

Conselho de Segurança (LING, 2007, p. 48). Além disso, essa atuação nas missões de paz

também é parte da projeção de soft power chinês. Seus objetivos, através dessa nova

orientação são:

[...] reforçar a cooperação multilateral de segurança, para ajudar a garantir um ambiente internacional estável; tranquilizar os vizinhos sobre as intenções pacíficas da China; e equilibrar a influência dos EUA e das potências ocidentais, enquanto estabelece mais firmemente a imagem da China como uma grande potência na comunidade irtenacional. (GILL; HUANG, 2009, p. 107)118

No momento, a China participa de 11 operações de paz da ONU, sendo que 6 delas

são na África, sendo o 15º em fornecimento de pessoal119 (POLICY BRIEF, 2011, p. 2-5): Costa

do Marfim (UNOCI); Libéria (UNMIL); Saara Ocidental (MINURSO); República Democrática do

Congo (MONUC); e duas no Sudão (UNMIS e UNAMID) (ROGERS, 2007, p. 80).

Outro indicador importante para se analisar a questão securitária no continente

africano é o número de mortes por mil habitantes – gráfico 6:

117 “As China emerges as a global power, Chinese citizens will also begin to expect their government to look beyond narrow economic interests and work to actively address humanitarian challenges in other parts of world. This is already beginning to manifest in Chinese contributions to peacekeeping missions in Africa […].” 118 “[...] enhance multilateral security cooperation to help secure a stable international environment; reassure neighbors about China’s peaceful intentions; and balance U.S and Western influence while gradually but more firmly establishing China’s Great Power image within the international community.” 119 Entre os cinco membros permanentes do Conselho de segurança da ONU, a China foi a que mais contribuiu, em termos de contingente, para as missões de paz da ONU na África, com 1.588 homens (BOUZANDA, 2012, p. 153).

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Gráfico 7 - Número de mortes por mil habitantes

Fonte: World Bank Autor(a): GREGIS, 2014

Os dados trazidos por este gráfico, embora representem um grande incremento para

a questão securitária no continente africano, pouco representa para a confirmação da

hipótese do trabalho, pois todos os países possuem uma taxa decrescente. A maior variação

é a de Burkina Faso, com uma queda de 59,7%, seguido por Nigéria, com 46,1%, e Sudão,

45,8%, Serra Leoa, 45,4% e, por último, Angola, 27,8%. Por fim, o comércio de armamentos é

outro indicativo para a questão securitária – gráfico 8:

0

50

100

150

200

250

300

350

Angola Burkina Faso Serra Leoa Nigéria Sudão

Taxa de mortalidade (por 1000 habitantes)

1980 1990 2000 2010 2013

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Gráfico 8 - Importação de armas

Fonte: World Bank Autor(a): GREGIS, 2014

Outro dado a ser analisado é a importação de armamentos pelos países africanos.

Neste gráfico fica claro a grande queda na importação de armas de Angola; já Sudão têm um

grande acréscimo, devido, ao recrudescimento do conflito interno. Nigéria também tem

decrescido. Nesse sentido cabe ressaltar que há uma grande importância da cooperação

militar na relação sino-africana (MENEZES, 2014, p. 140), principalmente porque a

cooperação militar chinesa para com os países africanos está ligada a dois fatores principais:

assegurar seus recursos energéticos e também suas rotas comerciais (MENEZES, 2014, p.

143). No entanto, segundo Manji e Marks (2007, p. 47), a venda de armas chinesas para

países africanos é problemática, pois também não impõe condicionalidades e são mais

baratas, o que incrementa suas vendas, como por exemplo, no Sudão120.

Através, então, da análise desses dados, percebe-se que, se comparado aos índices

socioeconômicos, na questão securitária, a implicação da relação Pequim-África se mostra

120 A transferência de armas da China para o Sudão tem sido feita através da troca “armas por petróleo” (SIPRI, 2013, p. 46).

$-

$100.000.000,00

$200.000.000,00

$300.000.000,00

$400.000.000,00

$500.000.000,00

$600.000.000,00

$700.000.000,00

1970 1980 1990 2000 2010 2013

Importação de Armas (US$)

Angola

Nigeria

Sudan

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menos evidente, devido as distorções proporcionadas por questões internas aos países, bem

como algumas variações diferenciadas nos dados. Contudo, a participação da China em

missões de paz, em sua maioria na região, representa um incremento da questão securitária

para os países africanos. Além disso, contribuindo para o desenvolvimento, pode-se estar

contribuindo para a segurança, principalmente se a mesma é identificada como segurança

humana, onde pobreza e insegurança são sinônimos, possuindo um efeito de causalidade

mútua (THOMAS, 2008, p. 246), e ao processo mais amplo de construção dos Estados

africanos.

3.5.4. Implicações da relação sino-africana na construção dos Estados Africanos

O desenvolvimento tardio e fraco dos Estados da África acarreta algumas condições

negativas para esses: “[...] falta de legitimidade das fronteiras estatais, instituições e regimes

do Estado; coesão social inadequada; e ausência de consenso social em questões

fundamentais da vida econômica, social e política” (AYOOB, 1995, p. 28, TRADUÇÃO

LIVRE)121

Dessa forma, para analisar a influência da relação China-África, neste ponto, três

indicadores são analisados. O primeiro deles é o Index of National Capability122 (CINC) –

gráfico 9:

121 “[…] lack of unconditional legitimacy for state boundaries, state institutions, and regimes; inadequate societal cohesion; and the absence of societal consensus on fundamental issues of social, economic, and political organization.” 122Esse índice analisa, através de seis componentes (tamanho da população, total da população urbana, produção de aço e ferro, consumo total de energia primária, total de militares e o orçamento militar), a capacidade estatal.

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Gráfico 9 - CINC

Fonte: COW Autor(a): GREGIS, 2014

Nota: neste gráfico foi separado em dois eixos de análise, o da direita (colunas) e o da esquerda

(linhas), devido à grande variação nos dados requeridos.

Neste gráfico é possível perceber que os países que são os principais parceiros da

China no continente africano, Angola e Sudão (VISENTINI, 2013), tem vivenciado um

continuo crescimento no índice CINC. Somando-se a isso, nota-se que Burkina Faso, Estado

que mantém relações com Taiwan, também possui uma taxa crescente, sendo o país, entre

os que não possuem relações diplomáticas com Pequim, com maior comércio com a China.

Contudo, a Nigéria, ainda desponta como a de maior capacidade estatal, a qual, embora

mantenha relações com a China, seus principais parceiros são a UE e os EUA (VISENTINI,

2013).

O segundo é o State Fragility Index123 (SFI) – gráfico 10:

123 O SFI é um ranking anual, de 178 países, o qual leva em consideração os seus níveis de estabilidade e as pressões que o Estado enfrenta. O SFI é baseado em 12 indicatores, políticos, sociais e econômicos, os quais se

0,001

0,002

0,003

0,004

0,005

0,006

0,007

0,008

0,009

0

0,0005

0,001

0,0015

0,002

0,0025

0,003

0,0035

1970 1975 1980 1990 2000 2007

Index of National Capability

Burkina Faso

Serra Leoa

Angola

Sudão

Nigéria

África do Sul

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Gráfico 10 - SFI

Fonte: Politic IV Autor(a): GREGIS, 2014

Através desses dados pode-se notar que quase todos os países têm se mantido

constantes nos últimos anos, perante esse índice, contudo, o dado mais significativo é o

decaimento de Serra Leoa, país em que as exportações para a China representam mais de

70% das suas exportações totais.

Por fim, o último indicador de capacidade estatal apresentado é a densidade de

ferrovias nesses Estados, gráfico 11:

desenvolvem em outros 14 indicadores derivados do primeiro, estando entre eles: pressões demográficas, refugiados, pobreza, legitimidade estatal, intervenção externa.

0

5

10

15

20

25

30

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

State Fragility Index

Angola

Burkina Faso

Serra Leoa

Nigéria

África do Sul

Sudão

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Gráfico 11 - Densidade de Ferrovias

Fonte: World Bank Autor(a): GREGIS, 2014

Esses dados são mais representativos para se perceber a presença chinesa,

principalmente quanto a seus investimentos em infraestrutura, pois embora esteja

decaindo, o Sudão é o país com maior densidade de ferrovias124.

Novamente, afirmar que as variações nos dados apresentados sejam somente uma

consequência da relação Pequim-África é difícil, contudo, principalmente, quando se está

tratando de aumento da capacidade estatal, o índice CINC se mostra mais expressivo,

demonstrando que as melhores variações entre os países, são dos dois os quais são os

principais parceiros chineses no continente. Além disso, quando se trata de capacidade

estatal, Menezes (2013, p. 198) ressalta que a China tem contribuído para o incremento da

capacidade de autogestão dos países africanos.

124 Os dados 1980, 1990 e 2000, para Burkina Faso estavam ausentes, então se fez uma média dos dois anos posteriores. O mesmo ocorreu com os dados da Nigéria, em 1990, 2010 e 2012.

18000

19000

20000

21000

22000

23000

24000

0

1000

2000

3000

4000

5000

6000

1980 1990 2000 2005 2010 2012

Densidade de ferrovias (km)

Burkina Faso Nigéria Sudão África do Sul

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88

3.6. Barganha: a relação com a China como impulsionadora dessa condição para os

países africanos

Os países africanos, como países do terceiro mundo (AYOOB, 1995) enfrentam

questões como construção tardia dos Estados, marginalização no sistema internacional

(VISENTINI, 2013), insegurança (AYOOB, 1995), o que se tem como hipótese desse trabalho é

que, a China, com sua relação diferenciada com a região, beneficia o continente africano

diante das mazelas que esse possui. Somando-se a isso, os interesses conflitantes entre as

potências tradicionalmente inseridas no continente africano, EUA, França e Reino Unido, as

quais agora possuem um novo competidor, a China, que parece criar uma brecha para que

os países africanos possam barganhar e alcançar seus próprios objetivos, uma vez que essa

tem incrementado as condições dos países africanos, na medida em que Ayoob (1995, p. 2)

ressalta que:

Limites econômicos e tecnológicos restringem severamente a capacidade do Terceiro Mundo para negociar de maneira eficaz com os países desenvolvidos da América do Norte e da Europa ocidental, contribuindo para a dependência multifacetada do sul para com o norte, como estados individuais e em grupo. (AYOOB, 1995, p. 2, TRADUÇÃO LIVRE)125

Para se avaliar tal afirmação, então, se analisará o conceito de barganha e como o

incremento das capacidades Estatais, desenvolvimento e melhoria nas condições de

segurança africanas, possibilitados pela relação com a China, tem garantido aos países

africanos uma condição de barganha no sistema internacional.

3.6.1. Barganha: condições assimétricas, poder de barganha e alteração do status quo

125 “Economic and technological limits severely constrain the Third World’s capacity to bargain effectively with the developed countries of North America and Western Europe, and they contribute to the South’s multifaceted dependence on the North, as an individual states and as a group.”

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Segundo Knight (2004, p. 124), a sociedade é assimétrica e alguns atores sociais são

mais poderosos do que outros, o que permite a possibilidade de barganha, a qual consiste,

segundo Muthoo (2000, p. 146):

[...] uma situação de barganha é uma situação onde dois ou mais jogadores possuem um interesse comun para cooperar, mas possuem conflito de interesses sobre de que maneira, exatamente, cooperar […] barganha é qualquer processo em que jogadores tentam chegar a um acordo. (MUTHOO, 2000, p. 146, TRADUÇÃO LIVRE)126

Sendo que, uma situação de barganha é caracterizada por uma série de propostas e

contrapropostas, onde a estrutura da sequência das mesmas altera os resultados da

barganha (KNIGHT, 2004, p. 129). Contudo, para Knight (2004, p. 130) a capacidade dos

atores de alcançar benefícios nessa situação é consequência de sua própria estratégia, mas

que assimetrias de poder entre os “jogadores” e suas diferenças de recursos afetam os

resultados da barganha de várias maneiras.

Nessa situação assimétrica, vários fatores podem determinar o poder de barganha de

cada parte, sendo alguns deles: os recursos de cada ator, a sua inteligência e informação, e

suas experiências prévias (KNIGHT, 2004, p. 130). Contudo, uma questão também pode

afetar o poder de barganha: a competição, pois isso afeta as possibilidades disponíveis de

escolha para os atores (KNIGHT, 2004, p. 130).

Sendo assim, transmitida esta lógica ao sistema internacional, é através da

competição entre os atores extrarregionais, abrindo novas possibilidades para os Estados

africanos de escolha, somando-se ao incremento de seus recursos, devido a nova relação

entre a China e a África, estando entre eles uma maior capacidade Estatal e

desenvolvimento econômico, que os países africanos alcançam uma melhor condição de

barganha no sistema internacional. Podendo-se, até mesmo, segundo Knight (2004, p. 146),

devido as mudanças nos poderes de barganha de cada ator, se precipitar mudanças

institucionais. Knight (2004, p. 148) defende que se há o aumento do poder de barganha dos

mais poderosos atores, se mantém o status quo, aumentando sua estabilidade. Contudo, se

há o aumento do poder de barganha dos menos poderosos, isso faz com que se reduza o

126 “[…] a bargaing situation is a situation in which two or more players have a common interest to co-operate, but have conflicting interests over exactly how t oco-operate [...] Bargaing is any process through wich players try to reach an agreement.”

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limiar para que se altere o status quo (KNIGHT, 2004, p. 148, TRADUÇÃO LIVRE)127: “[...]

mudanças no poder de barganha podem irão fazer uma das duas coisas: reforçar o status

quo ou mudar as assimetrias de barganha em direção das formas institucionais

favoravelmente aos grupos menos poderosos do status quo”.

Essa alteração do status quo, abstraindo-se para o ambiente internacional, pode

acabar com a dicotomia que Ayoob (1995, p. 75) ressalta como a divisão entre dois tipos de

atores internacionais, as superpotências e os países do Terceiro Mundo.

Um exemplo disso é que após a entrada da China, Angola obteve mais acesso a

fontes de financiamento, renovando a confiança do país, além de reforçar sua posição no

cenário internacional (MENEZES, 2013, p. 160): “Cada grande ator envolvido na África

conduz suas políticas e seus negócios de forma atenta sobre os progressos alcançados por

parte dos outros atores, o que de certa forma vem sendo explorado pelos próprios governos

africanos” (MENEZES, 2013, p. 185).

O necessário, a partir de então, é que os Estados africanos devem organizar o que os

chineses têm trazido para o continente, de maneira a se tornar mais independente dos

mesmos, além de algumas ações visando ter mais alcance aos seus próprios interesses,

como: estabelecer políticas quanto a importação de trabalhadores chineses, a fim de esses

não competirem com o nativos; o estabelecimento de taxações especiais que privilegiem, ou

não, as empresas chinesas; a inclusão de tarifas adaptadas ao incremento do comercio; além

da proteção para produtos nacionais (ROTBERG, 2008).

Também seria propício que esses países escolhessem outras fontes de

financiamento, investimentos e perfis de cooperação, uma vez que novos atores ascendem

ao sistema internacional como fontes, como Brasil, Índia, Coréia do Sul (SCHWELLER, 2011,

p. 285).

Os Estados africanos também devem examinar qual a melhor maneira de reagir as

mudanças originadas do engajamento chinês (MANJI; MARKS, 2007, p. 53), bem como

coordenar todas essas ações (SCHIERE, 2011, p. 10).

127 “[...] changes in bargaing power will do one of two things: reinforce the status quo or shift the relative bargaining asymmetries in the direction of those institutional forms more favorable to the less powerful groups under the status quo.”

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91

3.7. Conclusão do capítulo 3

Este capítulo, primeiramente abordou a inserção diferenciada que a China tem

oferecido ao continente africano, principalmente devido a sua política de não

condicionalidades e de não intervenção nos assuntos internos de cada Estado. Essa postura,

no entanto, tem gerado uma série de críticas, por parte das potências ocidentais, de que

Pequim estaria atuando de forma neocolonialista e sendo complacente com governos

autoritários e violações de Direitos Humanos. Contudo, essas alegações se mostram muito

simplistas, pois a relação sino-africana é muito mais complexa, não se tratando apenas da

busca por recursos naturais. Tendo Pequim, adotado uma política de exaltação dos pontos

positivos de sua interação com o continente africano, para se defender das acusações lhe

infringidas.

Deve-se levar em consideração, da mesma forma, que em geral, os africanos têm

recebido positivamente essa dinâmica, embora existam alguns pontos de fricção, como nas

indústrias, devido à grande competição chinesa; no setor trabalhista, devido a utilização de

mão-de-obra chinesa em empreendimentos na África; e no campo ambiental, devido à

grande degradação do meio-ambiente. Contudo, as respostas africanas são bem variadas.

Ressaltou-se, da mesma forma, neste capítulo, que os Estados africanos, por serem

países do terceiro mundo, lidam com algumas questões como insegurança, falta de

desenvolvimento e falhas no processo de construção estatal, objetivando-se analisar,

através dos dados apresentados, se a China e sua competição com as potências ocidentais,

tem influência nas condições africanas.

Dessa forma, o efeito-China, embora não se possa afirmar categoricamente, pode ser

percebido pelas variações analisadas através dos dados expostos. Fica claro, então que, em

maior ou menor ou maior grau, Pequim parece influenciar nas capacidades estatais

africanas, bem como nas suas condições de desenvolvimento, humano e econômico, e de

segurança. Ao fazer isso, e ao se expor como um novo competidor na região, a China parece

também aumentar o poder de barganha africano diante do sistema internacional,

necessitando, os africanos, saber coordenar tais aspectos para se fortalecerem interna e

externamente.

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92

CONCLUSÃO

A emergência da China como potência mundial é inegável. O país tem gozado de um

notável crescimento econômico, o qual também tem lhe proporcionado uma grande

projeção mundial e tem alterado as dinâmicas de poder no sistema internacional. Mas esse

não é apenas o caso da China, a crise financeira de 2008 explica, de certa forma, a

revitalização de países periféricos no sistema internacional, uma vez que os mesmos não

sofreram de maneira tão drástica com o colapso econômico. Sendo hoje, um traço

característico da política externa chinesa o respeito à soberania estatal, a primazia ao

desenvolvimento econômico e sua busca por laços com países do sul.

Essa aproximação chinesa com os países do Sul busca dois objetivos principais: o

fornecimento de matérias-primas necessárias para a manutenção de seu crescimento, além

de mercados para a absorção de sua grande produção; e, marginalizar Taiwan, no sistema

internacional, uma vez que se busca a One China Policy. Para alcançar seus objetivos a China

tem combinado o uso de soft power e hard power em suas relações externas, sendo um dos

seus focos, a relação de Pequim com os países africanos.

Na verdade, as relações sino-africanas não são novas, podendo ser percebida séculos

atrás. Mas a relação da China com a região transpassou o tempo, sendo importante durante

os movimentos de libertação nacional, quando a China propiciava treinamento militar aos

africanos. E tendo se afastado do continente durante os anos 80, devido a sua introspecção

no momento da Revolução Cultural. É importante ressaltar que durante a década de 80, os

países africanos tiveram sua situação no sistema internacional deteriorada, sendo o

continente marginalizado na economia global.

A reaproximação se deu nos anos 90, quando a China inaugura um novo tipo de

relação com a África, não mais baseada na disputa ideológica da Guerra Fria, mas possuindo

como premissas: uma amizade confiável, igualdade soberana, a não intervenção, o

desenvolvimento mutuamente benéfico e a cooperação internacional. Sendo o ponto

culminante dessa nova política a criação do FOCAC em 2000, um símbolo institucional das

relações de Pequim com a África.

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93

As interações entre a China e a África possuem algumas características que

aproximam os dois parceiros: a não imposição de condicionalidades, o que atrai os Estados

africanos, deixando, os mesmos, de necessitar empréstimos do FMI; os investimentos em

infraestrutura, educação, bem como, uma política cultural por parte da China, através dos

Institutos Confúcio, e o turismo; o fornecimento de armas, transferência de tecnologia,

principalmente agrícola. Sendo essa dinâmica denominada de “win-win”. Entretanto, ainda a

China é o terceiro parceiro comercial do continente, atrás de EUA e França.

Dessa forma, a China se coloca na região africana como uma nova potência

extrarregional, que entra em competição com potências tradicionalmente inseridas no

continente africano, Reino Unido, França e EUA, sendo vista como capaz de dirimir a

influência dos mesmos na África. Sendo assim, esses países têm alterado suas políticas

externas para a África, em função desse novo contexto.

Durante todo o período colonial, a África foi de extrema importância para o Reino

Unido, um império colonial, contudo, o fim da Guerra Fria representou a marginalização do

continente perante os olhos ingleses. A partir de então, a região africana passou a ser

assolada por questões humanitárias, passando a atrair novamente a atenção ocidental em

geral, uma vez que tais questões trariam consequências para a segurança internacional.

Logo, novamente a África passa a atrair atenções internacionais, incluindo do Reino Unido,

interessada também nos recursos naturais africanos, o que foi incrementado pela mudança

do governo inglês, e a ascensão do partido trabalhista, para o qual, a região passa a ser

prioritária.

Contudo, novos focos emergiram como fonte de preocupação do Reino Unido para

com a África, entre eles: proliferação nuclear, terrorismo, surto de epidemias, aquecimento

global, migrações em massa, bem como o rápido crescimento da China como competidor na

região.

Em relação a China, então, o Reino Unido reconhece Pequim como um novo

competidor, mas tem agido de forma proativa com a China, buscando o diálogo. Contudo, a

política externa sofre mais uma inflexão, principalmente devido à presença chinesa na

África, buscando agora uma maior aproximação com os antigos países da Commonwealth,

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tendo sido bem sucedida até então; e um novo intervencionismo, juntamente a França, o

qual busca legitimação através da retórica do multilateralismo.

Já a França, uma das potências ocidentais mais envolvidas no continente, uma vez

que seu status internacional está diretamente ligado a sua posição da região, sempre teve

sua política externa em direção a África marcada por duas características principais: poder

exclusivo do Presidente nas questões de política externa, sendo a mesma marcada por

personalismos; e a condução da política externa como uma política de Estado. Sendo seu

principal objetivo a manutenção de influência na região, principalmente através da

Françafrique, para a manutenção de seu status de potência, somando-se a sua necessidade

por recursos.

Dessa forma, segundo Utley (2002), a parte principal da relação francesa com a África

era na aplicação e defesa de acordos militares. Contudo, uma série de acontecimentos

encorajaram uma reforma dessa postura nos anos 90: retrocessos da política francesa no

continente africano; mudanças governamentais; e escândalos na elite política francesa.

A partir de então a França passou a propor uma nova política para a região, onde a

política externa francesa para a África passa a ser integrada a política europeia, multilateral,

onde foi reduzida a ajuda encaminhada ao continente, por exemplo. Contudo, atualmente, a

França enfrenta também a China como um novo competidor, a qual tem ameaçado

interesses franceses, e, consequentemente, tem justificado novos movimentos estratégicos

da França na região, como a intervenção francesa na RCA, na Costa do Marfim e na Líbia,

renovando seu intervencionismo no continente.

Ao mesmo tempo, os EUA também são um ator importante na África, mesmo que

durante o período pós-Guerra Fria, os norte-americanos tenham se afastado do continente,

não sendo a África o foco da política externa de Washington. Contudo, nesse período, os

EUA continuaram se envolvendo em missões humanitárias na região, sendo a mais

emblemática delas na Somália. Contudo, três ações foram responsáveis pela alteração da

política externa norte-americana para a África: os ataques terroristas de 11 de setembro,

quando a região passa a ser vista como foco de células terroristas; a busca por novas fontes

de matérias-primas, devido à instabilidade do Oriente Médio; e, a emergência de novos

competidores na região, principalmente a China.

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Com o aumento da presença de Pequim na região, somando-se a sua demanda por

petróleo, os EUA têm intensificado suas ações militares e diplomáticas na África, sendo o

AFRICOM o ponto culminante dessa política. Essa iniciativa, contudo, nada mais do que o

reflexo dos interesses norte-americanos no continente, tendo como consequência a

militarização e securitização das relações entre os EUA e a África.

O ponto essencial dessa dinâmica é que a China parece possuir uma inserção

diferenciada, uma vez que o relacionamento com os países africanos fundamenta-se em

igualdade, respeito pela soberania e não ingerência em assuntos internos, desenvolvimento

comum, benefícios mútuos e, aumento das consultas e cooperação internacional. A ajuda

chinesa para o continente africano também é singular, porque se concentra, sobretudo,

através do incremento em infraestrutura.

Contudo, o continente africano ainda sofre com mazelas como: falta de coesão

interna, fissuras étnicas e regionais; falta de legitimidade das fronteiras, instituições e elites

governamentais; vulnerabilidade a conflitos internos e externos; desenvolvimento

destorcido e dependente; marginalização; e, por fim, grande fragilidade a atores

extrarregionais, sendo a insegurança uma condição. Sendo tais mazelas consequências da

falta de um Estado forte e coeso, falta de segurança e de desenvolvimento.

Os Estados africanos têm sido descritos como variando entre fracos e soft, uma vez

que seu processo de construção estatal foi pífio, o que implica, segundo Ayoob (1995) na

falta de controle centralizado sobre seu território e população, falta de legitimidade, não

concentração dos meios de coerção, bem como a falta de capacidade de permear os

diversos âmbitos da sociedade, o que implica na falta de desenvolvimento e segurança

desses Estados.

O objetivo deste trabalho, então, foi, estudar a recente inserção chinesa na África,

focando-se no período pós-Guerra Fria, as reações ocidentais, e seus impactos mais gerais

no desenvolvimento, segurança, e construção dos Estados africanos e na capacidade de

barganha para destes Estados.

Em se tratando das críticas ocidentais, a primeira delas é de que a China não impõe

condicionalidades e não interfere internamente nos assuntos africanos, corroborando com

situações de desrespeito à democracia e aos Direitos Humanos (Darfur), corrupção (Angola),

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falhas na boa governança, padrões trabalhistas e sociais injustos, políticas ambientais

ineficientes. A segunda crítica é de que a China reproduz na África uma política

neoimperialista. Contudo, muitas dessas pressuposições são simplistas demais, sendo que,

por exemplo, as interações chinesas com o continente africano, são bem mais complexas,

abarcando muito mais questões, como: comércio, migrações, ajuda, IED e transferência de

tecnologia, do que apenas uma busca desenfreada por fontes energéticas, o que poderia

justificar a denominação de neoimperial.

Sendo que Pequim busca se defender dessas críticas através de discursos, artigos

acadêmicos e na imprensa do país, salientando os pontos positivos e as características em

que se baseiam as relações sino-africanas.

Já os africanos, em geral, recebem positivamente a presença chinesa na África,

embora alguns pontos de fricção sejam explícitos, como em setores empresariais que veem

sua competitividade diminuída perante a competição chinesa, como no caso nigeriano; e, a

política da China de buscar seus próprios trabalhadores, motivo de protestos, na Zâmbia, por

exemplo. Contudo, nota-se que as respostas africanas são bem variadas e complexas.

O recebimento positivo por parte dos africanos pode ser explicado pela análise dos

dados apresentados, os quais corroboram parcialmente a hipótese de que: a inserção

chinesa é diferenciada e têm como consequências avanços no desenvolvimento, segurança e

construção estatal africana, além de incentivar uma maior condição de barganha

internacional de países do continente. Tal pressuposição é corroborada, por exemplo, pelos

números do comércio, em que a China, é hoje, o terceiro maior parceiro comercial da

continente, sendo que seus principais parceiros econômicos, Angola, África do Sul possuem

uma progressão continua do IDH, (gráfico 2); grande crescimento do PIB, (gráfico 3); Angola,

obteve um crescimento continuo no índice CINC, (gráfico 9); e, ambos obtiveram queda no

seu índice SFI.

Ou seja, a relação com a China possui, direta ou indiretamente, parece ter efeitos nos

âmbitos de desenvolvimento, segurança e construção estatal dos Estados africanos, embora

os dados analisados sejam multifatoriais, fica claro a progressão, nesse sentido, dos países

com grandes relações com a China.

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Mas Pequim também parece alterar o número de escolhas que os países africanos

possuem no sistema internacional, aumentando o poder de barganha africano, uma vez que

se tem uma sociedade assimétrica, em que atores sociais são mais ou menos poderosos, o

que permite a barganha. Nessa sociedade, o poder de barganha é variado, sendo que a

competição pode alterar esse poder, uma vez que existem mais possibilidades de escolhas.

Sendo assim, a pergunta de pesquisa que guiou o trabalho: quais são as principais

consequências para a África, nos âmbitos de desenvolvimento (humano e econômico),

segurança e construção estatal, da inserção chinesa e da competição entre essa e as

potências Ocidentais (EUA, França e Inglaterra)? Evidenciou-se de forma preliminar que a

China, de forma direta ou indiretamente, parece acrescentar para os países africanos em

questões essências para a região, como desenvolvimento, humano e econômico, segurança

e construção estatal. Bem como, que, a competição entre as potências tradicionais

presentes na África com a China, contextualizando uma nova dinâmica, propicia a África,

maiores escolhas e, consequentemente, aumenta o poder de barganha da mesma, diante do

sistema internacional.

O que se torna essencial, a partir de então, é que os africanos saibam organizar e

coordenar essas novas dinâmicas, de maneira a se tornarem mais independentes e fortes, e,

ao mesmo tempo, para que essa competição não tenha como consequência, uma maior

probabilidade de conflito. Da mesma forma, deve definir seus próprios interesses e negociar

de maneira mais firme, para assegurar benefícios dessa relação de competição (ADEBAJO,

2010, p. 189).

Por fim, como em muitas partes o estudo se mostra exploratório, o mesmo buscou

acrescentar ao conhecimento acadêmico, estando abertos a novos aprimoramentos sobre o

assunto, bem como novos focos de pesquisa, como a busca por estudos de caso em que se

analise de modo mais aprofundado os resultados da presença chinesa nas capacidades

estatais e nesse novo poder de barganha africanos.

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