chimpanzÉ

26
FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESTUDO COMPARADO ENTRE A DIETA EM VIDA LIVRE, DIETA EM CATIVEIRO E A HISTOLOGIA INTESTINAL DO CHIMPANZÉ (Pan) E DIETA E HISTOLOGIA INTESTINAL DO HOMEM (Homo sapiens sapiens). ANDRÉIA CRISTINA QUINTO DÉBORA GONÇALVES DE CARVALHO IVY TASSO GOMES

Upload: marina-alcala

Post on 31-Jul-2015

144 views

Category:

Documents


69 download

TRANSCRIPT

FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO

ESTUDO COMPARADO ENTRE A DIETA EM VIDA LIVRE, DIETA EM

CATIVEIRO E A HISTOLOGIA INTESTINAL DO CHIMPANZÉ (Pan) E

DIETA E HISTOLOGIA INTESTINAL DO HOMEM (Homo sapiens sapiens).

ANDRÉIA CRISTINA QUINTO

DÉBORA GONÇALVES DE CARVALHO

IVY TASSO GOMES

MARINA MOLINAS ALCALA

SÃO PAULO

2012

Introdução

Porque Linnaeus, em 1758, os considerou os mais desenvolvidos e sofisticados

de todos os animais, ele chamou os macacos e o homem de primatas. Assim ele os

distinguiu dos secondatas, ou todos os outros mamíferos, dando o nome de terciatas a

todas as espécies não mamíferas (SCOTT, 1992).

A ordem dos Primatas contém ao todo 13 famílias. Os chimpanzés encontram-

se na Família Hominidae que também compreende o homem, e no Gênero Pan,

possuindo duas espécies Pan troglodytes e Pan paniscus. A primeira é dividida ainda

em três subespécies P. t. verus, P. t. troglodytes e P. t. schweinfurthii, sendo essas três

subespécies juntas chamadas, em termos gerais, chimpanzés comuns. A outra espécie é

chamada por vários nomes como bonobo, pigmeu ou chimpanzé anão (KANO, 1992).

Sua distribuição geográfica é centrada principalmente nas florestas tropicais

que vão da Guiné a Uganda, mas também se estende até o mosaico savana-floresta,

incluindo montanhas com até 3.000m (NUNES & CATÂO-DIAS, 2006).

A maioria dos macacos do velho mundo é onívora, alimentando-se

principalmente de plantas, flores, verduras, legumes, frutas, sementes, insetos e, em

alguns casos, vertebrados (NUNES & CATÂO-DIAS, 2006).

È essencial o conhecimento dos hábitos alimentares em vida livre para a

formulação de dietas em cativeiro. O tipo de habitat em que o animal vive e se reproduz

fornece preciosas informações quanto à qualidade da dieta, pois ao escolher

espontaneamente algum item, o animal nos dá uma boa indicação sobre suas

necessidades básicas. Esse conhecimento nos ajuda a fazer escolhas sobre alimentos que

devem ser repetidos ou, dependendo da disponibilidade, substituídos por sucedâneos. O

National Research Council recomenda níveis de 15% de proteína para macacos do velho

mundo (NUNES & CATÂO-DIAS, 2006).

A anatomia e histologia do sistema digestório do animal também pode

contribuir para definir sua dieta, por exemplo, maior quantidade de folhas geralmente

resultam em intestino grosso maior, adaptado para a digestão de fibras e celulose

(NUNES & CATÂO-DIAS, 2006).

Deficiências nutricionais podem ocorrer se faltar, por determinado espaço de

tempo, certo elemento nutritivo na alimentação. A alimentação balanceada e a

administração de suplementos vitamínico-minerais são de fundamental importância para

a manutenção de primatas em cativeiro não apenas por evitar doenças carenciais, mas

por prevenir moléstias infecciosas e parasitárias, além de favorecer a reprodução

(DINIZ, 1997).

Objetivos

Este trabalho tem como objetivo comparar a histologia do intestino do

chimpanzé e sua alimentação em vida livre com as adaptações dietéticas promovidas em

cativeiro. E comparar com o homem.

Materiais e métodos

O presente trabalho foi realizado através de revisão de literatura de livros e

artigos, colheita de dados in loco, em sites institucionais e via e-mail.

Histologia do intestino do Chimpanzé

Considerando os mamíferos em geral, sua principal distinção a partir do

interesse sobre a morfologia do trato digestivo é que espécies que se alimentam

predominantemente de proteína animal têm estômagos simples, intestinos relativamente

curtos, e pequeno ou nenhum ceco; porque os vegetarianos tem menos estomago

simples, intestino longo, e um grande ceco – o estômago deles (e isso inclui alguns

primatas) é particularmente possível de subdividir em fissuras, septos, ou subpartições

(SCOTT,1992).

A estrutura básica do trato digestório é a mesma em humanos e símios. Este está

delineado por uma camada mucosa, suportada por uma zona chamada lâmina própria,

constituída de fibras reticulares e células. Essa, por sua vez, está sobre uma fina camada

de músculo, a muscularis mucosae, que é separada da muscularis mais espessa por uma

camada de tecido conjuntivo frouxo, chamada submucosa. A camada muscular é ela

mesma dividida em uma camada relativamente espessa interna e circular, e uma mais

fina, externa e longitudinal. Esses fatores básicos variam em detalhes de uma parte do

trato para outra em ambos, humanos e os outros primatas, e entre diferentes grupos de

primatas (SCOTT, 1992).

Nos seres humanos, em comparação com os primatas, o intestino é

reorganizado. O tamanho do cólon é muito mais reduzido e o tamanho do intestino

delgado é aumentado. Em chimpanzés, orangotangos e gorilas, o cólon ocupa 52-

54%. Em vez de um cólon maior, os seres humanos têm um intestino delgado, que

representa 56-67% do intestino. Em relação ao chimpanzé, seu cólon é identificado pela

presença de três taeniae coli (camadas musculares circulares, interna, e longitudinais,

externas, condensadas em bandas), que se estendem sobre a maior parte de seu

comprimento. A presença de taeniae coli também se estende sobre o ceco, o qual

termina num apêndice vermiforme (MILTON & DEMMENT, 1989).

Tabela 1: Proporções relativas de volume do intestino para algumas espécies Hominóides (percentual do volume

total). (MCEWEN, 2011)

Como seria de se esperar, o estômago humano é notavelmente semelhante ao

estômago do chimpanzé, tanto em termos histológicos quanto em forma. Usando esse

dado como guia, verifica-se a incontestável influência de uma dieta que consiste

principalmente de frutas e outros vegetais, com um máximo de cerca de 3% de carne.

Ao mesmo tempo, da condição de onívoro, a alimentação muitas vezes se baseia na

disponibilidade, o que pode variar o consumo e suas quantidades. Isso justifica a

extrema adaptabilidade dos organismos onívoros em relação a dieta, visto que esta pode

apresentar grandes variações (USHIDA, 2011).

Figura 1: Comparação entre os tratos gastrointestinais humano e do chimpanzé (WRONG, EDMUNDS, &

CHADWICK,, 1981)

Figura 2: Trato gastrointestinal. A: Chimpanzé; B: Macaco-japonês; C: Macaco-prego. (WRONG,

EDMUNDS, & CHADWICK,, 1981)

A arquitetura microvascular do intestino delgado do chimpanzé foi examinada

com a técnica de injeção de borracha de silicone, e os resultados foram comparados às

observações anteriores em cães e outras espécies de macacos. No chimpanzé, a

vilosidade no intestino delgado contém uma única veia, localizada centralmente e

responsável por drenar um plexo capilar na camada epitelial, convergente no ápice da

vilosidade. Além disso, estas vilosidades também contêm uma única artéria,

excentricamente localizada subindo para o nível médio da vilosidade, onde se ramifica

em capilares epiteliais sobre o resto do seu comprimento. Esta arquitetura vascular mais

se assemelha à observada no intestino de macacos do chamado “Velho Mundo”, em que

a artéria, nas vilosidades, está completamente ausente. Esta observação contrasta a

arquitetura microvascular de vilosidades intestinais em caninos, em que artérias

marginais cercam uma veia com localização central. Estes padrões de anatomia

microvascular são analisados em termos da função do intestino na patogênese de choque

experimental. As diferenças observadas podem ser responsáveis por variações das

espécies conhecidas no canino e em primatas (SWAN, 1978).

Comparando os tratos intestinais humanos e dos chimpanzés conclui-se que, na

verdade, eles são um pouco proporcionais em relação ao comprimento, mas a

semelhança é basicamente essa. Eles diferem muito em função, estrutura e ambiente

bacteriano. Nos seres humanos, o intestino delgado é o local onde a digestão de quase

todos os alimentos e a absorção de nutrientes ocorre, e leva-se 56-67% do volume do

estômago - considerando que, em chimpanzés, o intestino delgado corresponde a apenas

23 - 38% do volume total de intestino. Para os chimpanzés, o intestino grosso ou cólon

é onde muito da repartição de alimentos e absorção ocorre. Uma vez que a dieta dos

chimpanzés é principalmente constituída de alto teor de fibras e material vegetal como

frutos, o intestino delgado não é capaz de quebrar a fibra vegetal para produzir energia

ou nutrientes. No entanto, o intestino grosso de chimpanzés é altamente especializado e

é proporcionalmente mais longo do que nos humanos e, também apresenta mais pregas,

criando maior área de superfície interna de absorção. A flora bacteriana também é

diferente. A principal função desta é a fermentação. O intestino grosso do chimpanzé é

projetado para a fermentação bacteriana de fibras, para dividi-las em açúcares simples

(sacarídeo), que são absorvidos e utilizados para produzir energia. Os seres humanos

têm alguma capacidade ligeira fermentativa, mas não é eficiente. E em geral, a fibra é

indigesta e é eliminada para fora do corpo (MCEWEN, 2011).

O exame do ceco de dois grupos de Cynomolgus e macacos Rhesus, dois

orangotangos e um chimpanzé, bem como uma revisão extensa da literatura disponível,

confirmou que o comprimento do ceco, em relação ao comprimento do cólon, varia em

função da posição das espécies na escala de primatas. Embora ausente em Prossímios

(grupo mais primitivo de primatas), no chimpanzé há evidências de que o apêndice

vermiforme começou a se desenvolver em certos macacos do chamado Velho Mundo e

se tornou totalmente desenvolvido nos macacos Antropóides (subdivisão dos primatas,

com aspeto geral idêntico ao dos seres humanos e que compreendem os macacos ou

simióides, como no caso do chimpanzé), mostrando que, longe de ser um órgão

vestigial, tem realmente desenvolvido progressivamente na grande parte dos primatas

(SCOTT, 1980).

Figura 3: Visão anterior do ceco, do cólon ascendente e do apêndice de um chimpanzé macho e jovem, mostrando a

curta junção cônica entre o ceco e o apêndice. (WRONG, EDMUNDS, & CHADWICK,, 1981)

Um levantamento coprológico (ciência também conhecida como Escatologia) de

parasitas intestinais de chimpanzés selvagens (Pan t. Troglotytes) e gorilas ocidentais

(Gorilla g. Gorila) foi realizado na reserva Lopé no Gabão Central. A maioria das

amostras (69%) foi positiva, mas a prevalência de parasitas intestinais em 61 amostras

de gorilas (84%) foi maior do que as 66 amostras de chimpanzés (56%). Pelo menos

onze espécies de parasitas foram observadas: seis protozoários, um trematódeo e pelo

menos quatro nematóides. Seis das espécies foram encontradas em gorilas e

chimpanzés, mas o restante só ocorreu em chimpanzés. Todos, menos um parasita

ocorreu em baixa prevalência: Entodiniomorph ciliados, que ocorreu com frequência

em ambas as espécies de macacos (particularmente, em gorilas) na pesquisa em Lopé e

em todas as pesquisas anteriores com macacos selvagens. Esse levantamento é

fundamental para a biblioteca de simbiontes envolvidos na digestão da celulose. Por

meio desses parasitas a condição de onívoro, como no caso dos chimpanzés, é

sustentada (LANDSOUD-SOUKATE, 1995).

Alimentação em vida livre

Os primatas, particularmente os Anthropoidea, são frequentemente

considerados como sendo totalmente herbívoros, mas isso não é bem assim. Muitas, se

não a maioria, são carnívoros facultativos, tanto em vida livre quanto em cativeiro.

Chimpanzés vivendo nas savanas opostamente aos das florestas tropicais, adquiriram o

gosto por carne, particularmente pequenos animais ou filhotes de animais maiores,

possivelmente devido à sua relativa disponibilidade e à dificuldade de obter ótima

vegetação. Ocasionalmente, chimpanzés recorrem ao canibalismo, embora isso é

provavelmente o resultado de fatores sociais mais que uma franca escassez de sua

alimentação básica. Babuínos, que são basicamente terrestres também são onívoros e,

mais uma vez, não existe quase nada para distinguir seu ceco e colon do de outros

Anthropoidea do velho mundo (SCOTT, 1992).

Os chimpanzés são primatas de origem africana com hábitos fortemente

frutívoros (45-76%dos alimentos consumidos) devendo se adaptar com a sazonalidade

destes alimentos através do rastreamento de culturas de frutas e contando também com

outros recursos alimentares quando as frutas são escassas (12-45% de folhas, 1-18% de

flores, 1-11% de sementes e 0-5% de presas animais como mamíferos, pequenas aves,

formigas, vespas, larvas, entre outras).

Dos grupos estudados, as frutas, sobretudo os figos, continham a maior parte da dieta.

Algumas observações reforçaram a idéia de que os chimpanzés têm preferência por

frutos maduros. O tempo da alimentação dedicada a figos variou inversamente com a

abundância de outros frutos e com o esforço de forrageamento dedicado a esta fruta; no

entanto os figos contribuíram muito com a dieta na maior parte do ano (WATS et al.,

2012 ).

Alimentação em cativeiro

Estudos sobre o metabolismo do chimpanzé por Bruhn e Benedict(1936)

revelaram um grau de similaridade com o homem que justifica a suposição que eles

devam ter os mesmos requerimentos nutricionais do ser humano, não apenas no que se

refere aos alimentos necessários a qualquer organismo, mas em certos elementos

nutricionais em quantidade e proporções adequadas (YERKES, 1943).

As exigências nutricionais específicas para os chimpanzés ainda não estão

completamente esclarecidas. E sua análise dietética ainda é baseada na (DDR) dose

diária recomendada humana. Tal como acontece com os seres humanos, as exigências

nutricionais mudam com a idade e os vários estados fisiológicos (FULK et al., 1992).

A alimentação tem duas funções em cativeiro. Em primeiro lugar, quando

devidamente projetada, deve atender as necessidades nutricionais da espécie. E também,

quando devidamente projetada, pode ser uma valiosa fonte de enriquecimento ambiental

para o chimpanzé e facilitador educacional para o público (KULK et al., 1992).

Foto 1: chimpanzé da Fundação Parque Zoológico de São Paulo tirada em 31 de agosto de 2012 – acervo pessoal

Uma dieta balanceada deve prover proteínas, lipídios, carboidratos, sais

minerais, vitaminas e água. E para sua ótima utilização, ar luz, e exercícios são

essenciais (YERKES, 1943).

A necessidade de proteínas é suprida por carnes, ovos, leites, e muitos

vegetais. Os lipídios, por carne, manteiga, leite, nozes e vários vegetais; e os

carboidratos por grãos, frutas e vegetais. Minerais essenciais e sais minerais (sódio,

fósforo, ferro, iodo, e traços de vários outros elementos) são encontrados comumente

nos alimentos, assim como várias vitaminas necessárias ao crescimento e à saúde

(YERKES, 1943).

A manutenção de uma espécie em cativeiro, por ocorrer em um meio diferente

do ambiente natural pode comprometer o bem-estar dos animais devido à falta de

estímulos e expressão de comportamentos específicos (escapar de algo que o incomoda

ou amedronta) podendo apresentar agressividade, auto-mutilação. hipersexualidade,

movimentos estereotipados, apatia ou desenvolver quadros depressivos e morte.

Confinar animais em um zoológico exige dos profissionais envolvidos a percepção do

ponto de vista do animal, voltada para o seu bem-estar. O Bem-estar animal refere-se a

uma boa ou satisfatória qualidade de vida que envolve determinados aspectos referentes

ao animal tais como saúde, felicidade e a longevidade ou ainda, pela sua capacidade em

se adaptar ao seu meio ambiente. Para minimizar os efeitos de estresse em animais

cativos recomenda-se à utilização da técnica de enriquecimento ambiental. O

enriquecimento ambiental consiste em uma série de medidas que modificam o ambienta

físico ou social, promovendo desafios e novidades como oferta diferenciada da

alimentação, a colocação de objetos, estimulação dos sentidos (audição e cheiros de

animais ou essências) (NASCIMENTO, 2011).

Foto 2: chimpanzé da Fundação Parque Zoológico de São Paulo tirada em 31 de agosto de 2012 – acervo pessoal

A diversidade de itens dentro de uma dieta chimpanzé e a diversidade nos

modos como os itens são apresentados fornece uma grande quantidade de

enriquecimento ambiental. O forrageamento de itens da dieta, pequenos e dispersos no

ambiente, tende a ocupar longos períodos de tempo, muito mais que quando são

apresentados de forma concentrada. Este longo tempo gasto forrageando é típico das

atividades diárias de um chimpanzé selvagem. O tempo e os comportamentos que

cercam a busca, a preparação e o consumo de itens alimentares são parte integrante das

dinâmicas sociais, fisiológicas, desenvolvimento psicológico e bem-estar do chimpanzé

(FULK et al., 1992).

Foto 3: chimpanzé da Fundação Parque Zoológico de São Paulo tirada em 31 de agosto de 2012 – acervo pessoal

De acordo com as informações coletadas através de e-mail junto à instituição

norte-americana The Suncoast Primate Sanctuary Foundation no dia 26 de agosto de

2012, os chimpanzés acolhido pela SPSFI recebem cinco refeições diariamente. São

compostas por cerca de 21% de proteína, sendo esta oferecida na forma de ração, ovos

cozidos e manteiga de amendoim. Recebem também uma grande variedade de frutas e

legumes, entre outros. E como forma de enriquecimento ambiental são oferecidos

picolés, smoothies, vegetais diferentes e forrageamento.

Já no Santuário de Sorocaba são servidas três refeições diárias. A primeira é

servida bem cedo e é composta de frutas, verduras e legumes. Ás 09:00 horas recebem

uma refeição mais completa, que inclui um prato quente, leite com frutas, pão,

sobremesa láctea, iogurte, bolo, sucos de fruta e de soja e algumas frutas apreciadas por

eles como uvas, pêras e caquis (YNTERIAN, 2012).

Foto 4: Alimentação oferecida aos chimapanzés do Santuário de Sorocaba retirada de

http://www.greatapeproject.org/pt-BR/curiosidade.info/Show/3076,alimentacao-para-os-chimpanzes

O prato quente muda todo dia e pode ser frango,

macarronada, salsicha com molhos em envelopinhos, hambúrgueres

de carne bovina e de frango com os molhos, maionese fresca,

coxinhas, nuggets de frango, etc (YNTERIAN, 2012).

“Cada chimpanzé tem suas preferências. Charles, por

exemplo, chora de alegria quando tem macarronada e Billy

quando tem maionese. Charles um dia chegou a comer 5

potes de macarrão, já que seus vizinhos – Sam e Rakker –

não tocaram em seus potes e ele pediu para eu passa-los a

ele. Pongo, depois do tratamento dentário que recebeu, está

com um apetite quintuplicado. Está sempre aguardando a

refeição quente, pega tudo e leva para comer no recinto

aberto” (YNTERIAN, 2012 ).

Após o meio dia são distribuídas as sobremesas lácteas,

gelatinas e iogurtes líquidos e pastosos, para encerrar o dia.

“As fêmeas têm o costume de guardar frutas para comer no

fim da tarde e podemos ver Carol, Tata, Tuca e Judy levando

bananas e outras frutas para comer antes de dormir. Talvez

seja um costume de quando passavam fome em circos e

zoológicos, onde a alimentação era reduzida e calculada e

onde também tinham que comer tudo o que lhe davam.

O pão é algo que não pode faltar. Geralmente compramos

pão de semolina e francês, variamos entre ambos em cada

refeição. Existem alguns chimpanzés que não ligam muito

para o pão, porém para outros, como Rakker e Sam, o pão é

o alimento preferido e devem receber doses duplas.”

(YNTERIAN, 2012 ).

Segundo informações colhidas in loco junto aos biólogos e tratadores da

Fundação Parque Zoológico de São Paulo no dia 31 de agosto de 2012, os animais

atualmente são alimentados três vezes ao dia aproximadamente às 9:00h, 13.30h e

17:00h, sendo a última reação fornecida na área interna, representando o estímulo para

os animais se recolherem.

Na primeira refeição há grande variedade de frutas (geralmente inteiras),

abacaxi, melão e outras frutas com cascas mais "difíceis" são cortadas; verduras e

legumes: repolho, catalona, pepino e cenoura, como proteína: ovo cozido.

Foto de chimpanzés da Fundação Parque Zoológico de São Paulo tirada em 31 de agosto de 2012 – acervo pessoal

A segunda refeição segue a mesma variedade de frutas (inclui mamão); verduras

e legumes; ovo cozido e ração para primatas (megazoo)

Na terceira refeição tem-se: frutas cortadas; verduras e legumes; e como proteína

carne cozida (coração bovino). À noite não é fornecido ovo nem ração.

De acordo com os funcionários além da reconhecida preferência por bananas,

eles "adoram" melancia.

Discussão

A dieta dos chimpanzés é formada, em média, por 60% de frutas, tipicamente

muito fibrosas e às vezes bem amargas. A dieta humana média, mesmo para os

caçadores ou coletores que consomem alimentos mais fibrosos, é composta de 5% a

10% de fibras não-digeríveis, enquanto que os chimpanzés chegaram a ingerir

aproximadamente 32% dessas fibras; com frequência eles encontram um cacho de frutas

secas e de gosto forte, como frutos de espinheiros, que são mastigados por pelo menos

uma hora. O chimpanzé passa a maior parte de seu dia descobrindo e mascando

alimentos extremamente fibrosos. O corpo humano já não é projetado para lidar com

essas fibras (WRANGHAM, 2010).

Segundo o pesquisador Richard Wrangham, antropólogo, primatologista e

professor de antropologia biológica em Harvard a partir do momento que nossos

ancestrais começaram a comer alimentos cozidos, aproximadamente há 1,8 milhões de

anos, sua dieta se tornou mais suave, segura e muito mais nutritiva dando um grande

impulso para o desenvolvimento humano. A maior densidade calórica obtida dos

alimentos cozidos resultou em grandes diferenciais na conformação corporal

(WRANGHAM, 2010).

O Homo erectus foi a espécie que apresentou a maior redução no tamanho dos

dentes na evolução humana em relação à espécie anterior (Homo habilis); passando a

caminhar ereto suas costelas tornaram-se mais planas, com a barriga mais lisa e os

intestinos tornaram-se menores, ao contrário dos gorilas e chimpanzés quando as

costelas tem que envolver uma grande barriga. Outros pesquisadores argumentam que

os intestinos estariam diminuindo de tamanho nesse período devido ao consumo de

carne, que inclusive pode ser sido aumentado devido ao cozimento já que

comparativamente o consumo de carne crua é bastante insatisfatório, sobretudo quando

se pensa nas presas em condições de estresse contínuo devido à caça ou de animais

abatidos por estar debilitados ou doentes como por exemplo antílopes ou macacos. Há

estudos que demonstram que a digestibilidade da proteína animal aumenta quando é

cozida. Atualmente os humanos têm o intestino grosso e o estômago pequenos,

adaptados para alimentos com alta densidade calórica. A alimentação dos chimpanzés é

pobre em calorias. O maior aporte energético e melhor qualidade do alimento

permitiram um desenvolvimento maior do cérebro (WRANGHAM, 2010).

Assim mesmo compartilhando extensas igualdades genéticas o alimento foi um

fator que possibilitou muitas plataformas adaptativas e evolutivas ao humano em

comparação com o chimpanzé.

Desta maneira, podemos observar que em cativeiro os animais estão sendo

expostos à alimentação mais propriamente humana que sua alimentação típica de vida

livre. Oferecendo alimentos cozidos, mais palatáveis e fáceis de digerir, além de um

aporte maior de proteínas e calorias e menor porcentagem de fibras.

Conclusão

Assim, consideramos que a alteração da dieta em chimpanzés poderá ao longo

do tempo provocar algumas adaptações morfofisiológicas, pois ao

substituir folhas e frutas silvestres, excessivamente amargas, duras e fibrosas  por outros

alimentos que necessitem de menor tempo de digestão poderia provocar diminuição no

volume total do tubo digestivo, já que os chimpanzés comem duas vezes mais (em peso)

que os humanos, apesar de pesarmos até 57% a mais. E possivelmente poderia

modificar sua flora intestinal normal, pois necessitaria menos de fermentação de fibras e

estas também estão em menor porcentagem na nova dieta.

Referências bibliográficas:

DINIZ, Lilian de Stefani Munaó. Primatas em cativeiro: manejo e problemas

veterinários: enfoque para espécies neotropicais. São Paulo; Ícone, 1997

FULK, R.; LOOMIS, M; GARLAND, C. Nutrition of captive chimpanzees. In: The

care and management of chimpanzees in captive environments. Chimpanzee

Species Survival Plan – Husbandry Manual. Fulk, R. and C. Garland, Eds. American

Association of Zoos and Aquariums, 1992. disponível em:

http://www.nagonline.net/HUSBANDRY/Diets%20pdf/Chimpanzee%20Nutrition.pdf

visualizado em: 03/09/2012

KANO, Takayoshi. The Last Ape: pygmy chimpanzee behabior and ecology.

California: Standford University Press, 1992.

LANDSOUD-SOUKATE, J.; TUTIN, C. E.; FERNANDEZ, M. Intestinal parasites of

sympatric gorillas and chimpanzees in the Lopé Reserve, Gabon. 1995. disponível

em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/7741597 visualizado em: 04/09/2012

MCEWEN, Melissa. The Human Colon in Evolution: Part 1, comparative anatomy.

2011. disponível em: http://huntgatherlove.com/node/566/ visualizado em: 04/09/2012

MILTON, K. and DEMMENT, M. Features of meat digestion by captive chimpanzees,

Pan troglodytes. In: American Journal of Primatology. vol. 18. Wiley Online Library.

1989. p. 45–52 disponível em: http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1002/(SICI)1098-

2345(1997)42:1%3C1::AID-AJP1%3E3.0.CO;2-0/abstract visualizado em: 02/09/2012

NASCIMENTO, L. R., SANTOS, M. S., ALMEIDA, L. A.,MATTOS, J. F. A.,

SALGADO, A. P. B. Importância do enriquecimento ambiental para o bem-estar

dos animais no zoológico Vale dos Bicho– Thermas do Vale. disponível em:

http://www.inicepg.univap.br/cd/INIC_2011/anais/arquivos/0597_1165_01.pdf

visualizado em: 04/09/2012

NUNES, Adauto Luis Veloso; CATÃO-DIAS, José Luiz. Primates – Primatas do Velho

Mundo (Babuíno, Mandril, Chimpanzé, Orangotango) in: Tratado de Animais

Selvagens – medicina veterinária. São Paulo: Rocca, 2006.

SATURDAY, G.A.; LASOTE, J.; FROST, D.; BRASKY, K.B.; HUBBARD, G.;

MIETTINEN,M. KIT-positive gastrointestinal stromal tumor in a 22-year-old male

chimpanzee (Pan troglodites). 2005. disponível em:

http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/15872385 visualizado em: 03/09/2012

SCOTT, G. B. D. Comparative Primate Pathology. Oxford: Oxford University Press,

1992.

SCOTT, G. B. D. The primate caecum and appendix vermiformis: a comparative

study. 1980. disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1233252/

visualizado em: 03/09/2012

SWAN, K.G.; SPEES, E.K.; REYNOLDS, D.G.; KERR, J.C.; ZINNER, M.J.

Microvascular architecture of anthropoid primate intestine.

1978. disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/110488 visualizado em:

03/09/2012

USHIDA, Kazunari. Intestinal Bacteria in Chimpanzees in Bossou: A Preliminary

Study of Their Nutritional Implication. In: The Chimpanzees of Bossou and Nimba:

Primatology Monographs. Springer: Springer, 2011. pp 347-352

WATS, D. P.; POTS, K.B.; LWANGA, J.S.; MITANI J.C. Diet of chimpanzees (Pan

troglodytes schweinfurthii) at Ngogo, Kibale National Park, Uganda, 1. Diet

composition and diversity. Am J Primatol; 2012 Feb;74(2):114-29

WRANGHAM, Richard. Pegando Fogo - Por Que Cozinhar Nos Tornou

Humanos. Rio de Janeiro:  Zahar, 2010.

YERKES, Robert M. CHIMPANZEES: A Laboratory Colony. New Haven; Yale

University Press, 1943.

YNTERIAN, Pedro A. Alimentação para os chimpanzés: Santuário de Sorocaba.

Disponível em:

http://www.greatapeproject.org/pt-BR/curiosidade.info/Show/3076,alimentacao-para-

os-chimpanzes visualizado em: 04/09/2012