chimpanzÉ
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FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA DA UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
ESTUDO COMPARADO ENTRE A DIETA EM VIDA LIVRE, DIETA EM
CATIVEIRO E A HISTOLOGIA INTESTINAL DO CHIMPANZÉ (Pan) E
DIETA E HISTOLOGIA INTESTINAL DO HOMEM (Homo sapiens sapiens).
ANDRÉIA CRISTINA QUINTO
DÉBORA GONÇALVES DE CARVALHO
IVY TASSO GOMES
MARINA MOLINAS ALCALA
SÃO PAULO
2012
Introdução
Porque Linnaeus, em 1758, os considerou os mais desenvolvidos e sofisticados
de todos os animais, ele chamou os macacos e o homem de primatas. Assim ele os
distinguiu dos secondatas, ou todos os outros mamíferos, dando o nome de terciatas a
todas as espécies não mamíferas (SCOTT, 1992).
A ordem dos Primatas contém ao todo 13 famílias. Os chimpanzés encontram-
se na Família Hominidae que também compreende o homem, e no Gênero Pan,
possuindo duas espécies Pan troglodytes e Pan paniscus. A primeira é dividida ainda
em três subespécies P. t. verus, P. t. troglodytes e P. t. schweinfurthii, sendo essas três
subespécies juntas chamadas, em termos gerais, chimpanzés comuns. A outra espécie é
chamada por vários nomes como bonobo, pigmeu ou chimpanzé anão (KANO, 1992).
Sua distribuição geográfica é centrada principalmente nas florestas tropicais
que vão da Guiné a Uganda, mas também se estende até o mosaico savana-floresta,
incluindo montanhas com até 3.000m (NUNES & CATÂO-DIAS, 2006).
A maioria dos macacos do velho mundo é onívora, alimentando-se
principalmente de plantas, flores, verduras, legumes, frutas, sementes, insetos e, em
alguns casos, vertebrados (NUNES & CATÂO-DIAS, 2006).
È essencial o conhecimento dos hábitos alimentares em vida livre para a
formulação de dietas em cativeiro. O tipo de habitat em que o animal vive e se reproduz
fornece preciosas informações quanto à qualidade da dieta, pois ao escolher
espontaneamente algum item, o animal nos dá uma boa indicação sobre suas
necessidades básicas. Esse conhecimento nos ajuda a fazer escolhas sobre alimentos que
devem ser repetidos ou, dependendo da disponibilidade, substituídos por sucedâneos. O
National Research Council recomenda níveis de 15% de proteína para macacos do velho
mundo (NUNES & CATÂO-DIAS, 2006).
A anatomia e histologia do sistema digestório do animal também pode
contribuir para definir sua dieta, por exemplo, maior quantidade de folhas geralmente
resultam em intestino grosso maior, adaptado para a digestão de fibras e celulose
(NUNES & CATÂO-DIAS, 2006).
Deficiências nutricionais podem ocorrer se faltar, por determinado espaço de
tempo, certo elemento nutritivo na alimentação. A alimentação balanceada e a
administração de suplementos vitamínico-minerais são de fundamental importância para
a manutenção de primatas em cativeiro não apenas por evitar doenças carenciais, mas
por prevenir moléstias infecciosas e parasitárias, além de favorecer a reprodução
(DINIZ, 1997).
Objetivos
Este trabalho tem como objetivo comparar a histologia do intestino do
chimpanzé e sua alimentação em vida livre com as adaptações dietéticas promovidas em
cativeiro. E comparar com o homem.
Materiais e métodos
O presente trabalho foi realizado através de revisão de literatura de livros e
artigos, colheita de dados in loco, em sites institucionais e via e-mail.
Histologia do intestino do Chimpanzé
Considerando os mamíferos em geral, sua principal distinção a partir do
interesse sobre a morfologia do trato digestivo é que espécies que se alimentam
predominantemente de proteína animal têm estômagos simples, intestinos relativamente
curtos, e pequeno ou nenhum ceco; porque os vegetarianos tem menos estomago
simples, intestino longo, e um grande ceco – o estômago deles (e isso inclui alguns
primatas) é particularmente possível de subdividir em fissuras, septos, ou subpartições
(SCOTT,1992).
A estrutura básica do trato digestório é a mesma em humanos e símios. Este está
delineado por uma camada mucosa, suportada por uma zona chamada lâmina própria,
constituída de fibras reticulares e células. Essa, por sua vez, está sobre uma fina camada
de músculo, a muscularis mucosae, que é separada da muscularis mais espessa por uma
camada de tecido conjuntivo frouxo, chamada submucosa. A camada muscular é ela
mesma dividida em uma camada relativamente espessa interna e circular, e uma mais
fina, externa e longitudinal. Esses fatores básicos variam em detalhes de uma parte do
trato para outra em ambos, humanos e os outros primatas, e entre diferentes grupos de
primatas (SCOTT, 1992).
Nos seres humanos, em comparação com os primatas, o intestino é
reorganizado. O tamanho do cólon é muito mais reduzido e o tamanho do intestino
delgado é aumentado. Em chimpanzés, orangotangos e gorilas, o cólon ocupa 52-
54%. Em vez de um cólon maior, os seres humanos têm um intestino delgado, que
representa 56-67% do intestino. Em relação ao chimpanzé, seu cólon é identificado pela
presença de três taeniae coli (camadas musculares circulares, interna, e longitudinais,
externas, condensadas em bandas), que se estendem sobre a maior parte de seu
comprimento. A presença de taeniae coli também se estende sobre o ceco, o qual
termina num apêndice vermiforme (MILTON & DEMMENT, 1989).
Tabela 1: Proporções relativas de volume do intestino para algumas espécies Hominóides (percentual do volume
total). (MCEWEN, 2011)
Como seria de se esperar, o estômago humano é notavelmente semelhante ao
estômago do chimpanzé, tanto em termos histológicos quanto em forma. Usando esse
dado como guia, verifica-se a incontestável influência de uma dieta que consiste
principalmente de frutas e outros vegetais, com um máximo de cerca de 3% de carne.
Ao mesmo tempo, da condição de onívoro, a alimentação muitas vezes se baseia na
disponibilidade, o que pode variar o consumo e suas quantidades. Isso justifica a
extrema adaptabilidade dos organismos onívoros em relação a dieta, visto que esta pode
apresentar grandes variações (USHIDA, 2011).
Figura 1: Comparação entre os tratos gastrointestinais humano e do chimpanzé (WRONG, EDMUNDS, &
CHADWICK,, 1981)
Figura 2: Trato gastrointestinal. A: Chimpanzé; B: Macaco-japonês; C: Macaco-prego. (WRONG,
EDMUNDS, & CHADWICK,, 1981)
A arquitetura microvascular do intestino delgado do chimpanzé foi examinada
com a técnica de injeção de borracha de silicone, e os resultados foram comparados às
observações anteriores em cães e outras espécies de macacos. No chimpanzé, a
vilosidade no intestino delgado contém uma única veia, localizada centralmente e
responsável por drenar um plexo capilar na camada epitelial, convergente no ápice da
vilosidade. Além disso, estas vilosidades também contêm uma única artéria,
excentricamente localizada subindo para o nível médio da vilosidade, onde se ramifica
em capilares epiteliais sobre o resto do seu comprimento. Esta arquitetura vascular mais
se assemelha à observada no intestino de macacos do chamado “Velho Mundo”, em que
a artéria, nas vilosidades, está completamente ausente. Esta observação contrasta a
arquitetura microvascular de vilosidades intestinais em caninos, em que artérias
marginais cercam uma veia com localização central. Estes padrões de anatomia
microvascular são analisados em termos da função do intestino na patogênese de choque
experimental. As diferenças observadas podem ser responsáveis por variações das
espécies conhecidas no canino e em primatas (SWAN, 1978).
Comparando os tratos intestinais humanos e dos chimpanzés conclui-se que, na
verdade, eles são um pouco proporcionais em relação ao comprimento, mas a
semelhança é basicamente essa. Eles diferem muito em função, estrutura e ambiente
bacteriano. Nos seres humanos, o intestino delgado é o local onde a digestão de quase
todos os alimentos e a absorção de nutrientes ocorre, e leva-se 56-67% do volume do
estômago - considerando que, em chimpanzés, o intestino delgado corresponde a apenas
23 - 38% do volume total de intestino. Para os chimpanzés, o intestino grosso ou cólon
é onde muito da repartição de alimentos e absorção ocorre. Uma vez que a dieta dos
chimpanzés é principalmente constituída de alto teor de fibras e material vegetal como
frutos, o intestino delgado não é capaz de quebrar a fibra vegetal para produzir energia
ou nutrientes. No entanto, o intestino grosso de chimpanzés é altamente especializado e
é proporcionalmente mais longo do que nos humanos e, também apresenta mais pregas,
criando maior área de superfície interna de absorção. A flora bacteriana também é
diferente. A principal função desta é a fermentação. O intestino grosso do chimpanzé é
projetado para a fermentação bacteriana de fibras, para dividi-las em açúcares simples
(sacarídeo), que são absorvidos e utilizados para produzir energia. Os seres humanos
têm alguma capacidade ligeira fermentativa, mas não é eficiente. E em geral, a fibra é
indigesta e é eliminada para fora do corpo (MCEWEN, 2011).
O exame do ceco de dois grupos de Cynomolgus e macacos Rhesus, dois
orangotangos e um chimpanzé, bem como uma revisão extensa da literatura disponível,
confirmou que o comprimento do ceco, em relação ao comprimento do cólon, varia em
função da posição das espécies na escala de primatas. Embora ausente em Prossímios
(grupo mais primitivo de primatas), no chimpanzé há evidências de que o apêndice
vermiforme começou a se desenvolver em certos macacos do chamado Velho Mundo e
se tornou totalmente desenvolvido nos macacos Antropóides (subdivisão dos primatas,
com aspeto geral idêntico ao dos seres humanos e que compreendem os macacos ou
simióides, como no caso do chimpanzé), mostrando que, longe de ser um órgão
vestigial, tem realmente desenvolvido progressivamente na grande parte dos primatas
(SCOTT, 1980).
Figura 3: Visão anterior do ceco, do cólon ascendente e do apêndice de um chimpanzé macho e jovem, mostrando a
curta junção cônica entre o ceco e o apêndice. (WRONG, EDMUNDS, & CHADWICK,, 1981)
Um levantamento coprológico (ciência também conhecida como Escatologia) de
parasitas intestinais de chimpanzés selvagens (Pan t. Troglotytes) e gorilas ocidentais
(Gorilla g. Gorila) foi realizado na reserva Lopé no Gabão Central. A maioria das
amostras (69%) foi positiva, mas a prevalência de parasitas intestinais em 61 amostras
de gorilas (84%) foi maior do que as 66 amostras de chimpanzés (56%). Pelo menos
onze espécies de parasitas foram observadas: seis protozoários, um trematódeo e pelo
menos quatro nematóides. Seis das espécies foram encontradas em gorilas e
chimpanzés, mas o restante só ocorreu em chimpanzés. Todos, menos um parasita
ocorreu em baixa prevalência: Entodiniomorph ciliados, que ocorreu com frequência
em ambas as espécies de macacos (particularmente, em gorilas) na pesquisa em Lopé e
em todas as pesquisas anteriores com macacos selvagens. Esse levantamento é
fundamental para a biblioteca de simbiontes envolvidos na digestão da celulose. Por
meio desses parasitas a condição de onívoro, como no caso dos chimpanzés, é
sustentada (LANDSOUD-SOUKATE, 1995).
Alimentação em vida livre
Os primatas, particularmente os Anthropoidea, são frequentemente
considerados como sendo totalmente herbívoros, mas isso não é bem assim. Muitas, se
não a maioria, são carnívoros facultativos, tanto em vida livre quanto em cativeiro.
Chimpanzés vivendo nas savanas opostamente aos das florestas tropicais, adquiriram o
gosto por carne, particularmente pequenos animais ou filhotes de animais maiores,
possivelmente devido à sua relativa disponibilidade e à dificuldade de obter ótima
vegetação. Ocasionalmente, chimpanzés recorrem ao canibalismo, embora isso é
provavelmente o resultado de fatores sociais mais que uma franca escassez de sua
alimentação básica. Babuínos, que são basicamente terrestres também são onívoros e,
mais uma vez, não existe quase nada para distinguir seu ceco e colon do de outros
Anthropoidea do velho mundo (SCOTT, 1992).
Os chimpanzés são primatas de origem africana com hábitos fortemente
frutívoros (45-76%dos alimentos consumidos) devendo se adaptar com a sazonalidade
destes alimentos através do rastreamento de culturas de frutas e contando também com
outros recursos alimentares quando as frutas são escassas (12-45% de folhas, 1-18% de
flores, 1-11% de sementes e 0-5% de presas animais como mamíferos, pequenas aves,
formigas, vespas, larvas, entre outras).
Dos grupos estudados, as frutas, sobretudo os figos, continham a maior parte da dieta.
Algumas observações reforçaram a idéia de que os chimpanzés têm preferência por
frutos maduros. O tempo da alimentação dedicada a figos variou inversamente com a
abundância de outros frutos e com o esforço de forrageamento dedicado a esta fruta; no
entanto os figos contribuíram muito com a dieta na maior parte do ano (WATS et al.,
2012 ).
Alimentação em cativeiro
Estudos sobre o metabolismo do chimpanzé por Bruhn e Benedict(1936)
revelaram um grau de similaridade com o homem que justifica a suposição que eles
devam ter os mesmos requerimentos nutricionais do ser humano, não apenas no que se
refere aos alimentos necessários a qualquer organismo, mas em certos elementos
nutricionais em quantidade e proporções adequadas (YERKES, 1943).
As exigências nutricionais específicas para os chimpanzés ainda não estão
completamente esclarecidas. E sua análise dietética ainda é baseada na (DDR) dose
diária recomendada humana. Tal como acontece com os seres humanos, as exigências
nutricionais mudam com a idade e os vários estados fisiológicos (FULK et al., 1992).
A alimentação tem duas funções em cativeiro. Em primeiro lugar, quando
devidamente projetada, deve atender as necessidades nutricionais da espécie. E também,
quando devidamente projetada, pode ser uma valiosa fonte de enriquecimento ambiental
para o chimpanzé e facilitador educacional para o público (KULK et al., 1992).
Foto 1: chimpanzé da Fundação Parque Zoológico de São Paulo tirada em 31 de agosto de 2012 – acervo pessoal
Uma dieta balanceada deve prover proteínas, lipídios, carboidratos, sais
minerais, vitaminas e água. E para sua ótima utilização, ar luz, e exercícios são
essenciais (YERKES, 1943).
A necessidade de proteínas é suprida por carnes, ovos, leites, e muitos
vegetais. Os lipídios, por carne, manteiga, leite, nozes e vários vegetais; e os
carboidratos por grãos, frutas e vegetais. Minerais essenciais e sais minerais (sódio,
fósforo, ferro, iodo, e traços de vários outros elementos) são encontrados comumente
nos alimentos, assim como várias vitaminas necessárias ao crescimento e à saúde
(YERKES, 1943).
A manutenção de uma espécie em cativeiro, por ocorrer em um meio diferente
do ambiente natural pode comprometer o bem-estar dos animais devido à falta de
estímulos e expressão de comportamentos específicos (escapar de algo que o incomoda
ou amedronta) podendo apresentar agressividade, auto-mutilação. hipersexualidade,
movimentos estereotipados, apatia ou desenvolver quadros depressivos e morte.
Confinar animais em um zoológico exige dos profissionais envolvidos a percepção do
ponto de vista do animal, voltada para o seu bem-estar. O Bem-estar animal refere-se a
uma boa ou satisfatória qualidade de vida que envolve determinados aspectos referentes
ao animal tais como saúde, felicidade e a longevidade ou ainda, pela sua capacidade em
se adaptar ao seu meio ambiente. Para minimizar os efeitos de estresse em animais
cativos recomenda-se à utilização da técnica de enriquecimento ambiental. O
enriquecimento ambiental consiste em uma série de medidas que modificam o ambienta
físico ou social, promovendo desafios e novidades como oferta diferenciada da
alimentação, a colocação de objetos, estimulação dos sentidos (audição e cheiros de
animais ou essências) (NASCIMENTO, 2011).
Foto 2: chimpanzé da Fundação Parque Zoológico de São Paulo tirada em 31 de agosto de 2012 – acervo pessoal
A diversidade de itens dentro de uma dieta chimpanzé e a diversidade nos
modos como os itens são apresentados fornece uma grande quantidade de
enriquecimento ambiental. O forrageamento de itens da dieta, pequenos e dispersos no
ambiente, tende a ocupar longos períodos de tempo, muito mais que quando são
apresentados de forma concentrada. Este longo tempo gasto forrageando é típico das
atividades diárias de um chimpanzé selvagem. O tempo e os comportamentos que
cercam a busca, a preparação e o consumo de itens alimentares são parte integrante das
dinâmicas sociais, fisiológicas, desenvolvimento psicológico e bem-estar do chimpanzé
(FULK et al., 1992).
Foto 3: chimpanzé da Fundação Parque Zoológico de São Paulo tirada em 31 de agosto de 2012 – acervo pessoal
De acordo com as informações coletadas através de e-mail junto à instituição
norte-americana The Suncoast Primate Sanctuary Foundation no dia 26 de agosto de
2012, os chimpanzés acolhido pela SPSFI recebem cinco refeições diariamente. São
compostas por cerca de 21% de proteína, sendo esta oferecida na forma de ração, ovos
cozidos e manteiga de amendoim. Recebem também uma grande variedade de frutas e
legumes, entre outros. E como forma de enriquecimento ambiental são oferecidos
picolés, smoothies, vegetais diferentes e forrageamento.
Já no Santuário de Sorocaba são servidas três refeições diárias. A primeira é
servida bem cedo e é composta de frutas, verduras e legumes. Ás 09:00 horas recebem
uma refeição mais completa, que inclui um prato quente, leite com frutas, pão,
sobremesa láctea, iogurte, bolo, sucos de fruta e de soja e algumas frutas apreciadas por
eles como uvas, pêras e caquis (YNTERIAN, 2012).
Foto 4: Alimentação oferecida aos chimapanzés do Santuário de Sorocaba retirada de
http://www.greatapeproject.org/pt-BR/curiosidade.info/Show/3076,alimentacao-para-os-chimpanzes
O prato quente muda todo dia e pode ser frango,
macarronada, salsicha com molhos em envelopinhos, hambúrgueres
de carne bovina e de frango com os molhos, maionese fresca,
coxinhas, nuggets de frango, etc (YNTERIAN, 2012).
“Cada chimpanzé tem suas preferências. Charles, por
exemplo, chora de alegria quando tem macarronada e Billy
quando tem maionese. Charles um dia chegou a comer 5
potes de macarrão, já que seus vizinhos – Sam e Rakker –
não tocaram em seus potes e ele pediu para eu passa-los a
ele. Pongo, depois do tratamento dentário que recebeu, está
com um apetite quintuplicado. Está sempre aguardando a
refeição quente, pega tudo e leva para comer no recinto
aberto” (YNTERIAN, 2012 ).
Após o meio dia são distribuídas as sobremesas lácteas,
gelatinas e iogurtes líquidos e pastosos, para encerrar o dia.
“As fêmeas têm o costume de guardar frutas para comer no
fim da tarde e podemos ver Carol, Tata, Tuca e Judy levando
bananas e outras frutas para comer antes de dormir. Talvez
seja um costume de quando passavam fome em circos e
zoológicos, onde a alimentação era reduzida e calculada e
onde também tinham que comer tudo o que lhe davam.
O pão é algo que não pode faltar. Geralmente compramos
pão de semolina e francês, variamos entre ambos em cada
refeição. Existem alguns chimpanzés que não ligam muito
para o pão, porém para outros, como Rakker e Sam, o pão é
o alimento preferido e devem receber doses duplas.”
(YNTERIAN, 2012 ).
Segundo informações colhidas in loco junto aos biólogos e tratadores da
Fundação Parque Zoológico de São Paulo no dia 31 de agosto de 2012, os animais
atualmente são alimentados três vezes ao dia aproximadamente às 9:00h, 13.30h e
17:00h, sendo a última reação fornecida na área interna, representando o estímulo para
os animais se recolherem.
Na primeira refeição há grande variedade de frutas (geralmente inteiras),
abacaxi, melão e outras frutas com cascas mais "difíceis" são cortadas; verduras e
legumes: repolho, catalona, pepino e cenoura, como proteína: ovo cozido.
Foto de chimpanzés da Fundação Parque Zoológico de São Paulo tirada em 31 de agosto de 2012 – acervo pessoal
A segunda refeição segue a mesma variedade de frutas (inclui mamão); verduras
e legumes; ovo cozido e ração para primatas (megazoo)
Na terceira refeição tem-se: frutas cortadas; verduras e legumes; e como proteína
carne cozida (coração bovino). À noite não é fornecido ovo nem ração.
De acordo com os funcionários além da reconhecida preferência por bananas,
eles "adoram" melancia.
Discussão
A dieta dos chimpanzés é formada, em média, por 60% de frutas, tipicamente
muito fibrosas e às vezes bem amargas. A dieta humana média, mesmo para os
caçadores ou coletores que consomem alimentos mais fibrosos, é composta de 5% a
10% de fibras não-digeríveis, enquanto que os chimpanzés chegaram a ingerir
aproximadamente 32% dessas fibras; com frequência eles encontram um cacho de frutas
secas e de gosto forte, como frutos de espinheiros, que são mastigados por pelo menos
uma hora. O chimpanzé passa a maior parte de seu dia descobrindo e mascando
alimentos extremamente fibrosos. O corpo humano já não é projetado para lidar com
essas fibras (WRANGHAM, 2010).
Segundo o pesquisador Richard Wrangham, antropólogo, primatologista e
professor de antropologia biológica em Harvard a partir do momento que nossos
ancestrais começaram a comer alimentos cozidos, aproximadamente há 1,8 milhões de
anos, sua dieta se tornou mais suave, segura e muito mais nutritiva dando um grande
impulso para o desenvolvimento humano. A maior densidade calórica obtida dos
alimentos cozidos resultou em grandes diferenciais na conformação corporal
(WRANGHAM, 2010).
O Homo erectus foi a espécie que apresentou a maior redução no tamanho dos
dentes na evolução humana em relação à espécie anterior (Homo habilis); passando a
caminhar ereto suas costelas tornaram-se mais planas, com a barriga mais lisa e os
intestinos tornaram-se menores, ao contrário dos gorilas e chimpanzés quando as
costelas tem que envolver uma grande barriga. Outros pesquisadores argumentam que
os intestinos estariam diminuindo de tamanho nesse período devido ao consumo de
carne, que inclusive pode ser sido aumentado devido ao cozimento já que
comparativamente o consumo de carne crua é bastante insatisfatório, sobretudo quando
se pensa nas presas em condições de estresse contínuo devido à caça ou de animais
abatidos por estar debilitados ou doentes como por exemplo antílopes ou macacos. Há
estudos que demonstram que a digestibilidade da proteína animal aumenta quando é
cozida. Atualmente os humanos têm o intestino grosso e o estômago pequenos,
adaptados para alimentos com alta densidade calórica. A alimentação dos chimpanzés é
pobre em calorias. O maior aporte energético e melhor qualidade do alimento
permitiram um desenvolvimento maior do cérebro (WRANGHAM, 2010).
Assim mesmo compartilhando extensas igualdades genéticas o alimento foi um
fator que possibilitou muitas plataformas adaptativas e evolutivas ao humano em
comparação com o chimpanzé.
Desta maneira, podemos observar que em cativeiro os animais estão sendo
expostos à alimentação mais propriamente humana que sua alimentação típica de vida
livre. Oferecendo alimentos cozidos, mais palatáveis e fáceis de digerir, além de um
aporte maior de proteínas e calorias e menor porcentagem de fibras.
Conclusão
Assim, consideramos que a alteração da dieta em chimpanzés poderá ao longo
do tempo provocar algumas adaptações morfofisiológicas, pois ao
substituir folhas e frutas silvestres, excessivamente amargas, duras e fibrosas por outros
alimentos que necessitem de menor tempo de digestão poderia provocar diminuição no
volume total do tubo digestivo, já que os chimpanzés comem duas vezes mais (em peso)
que os humanos, apesar de pesarmos até 57% a mais. E possivelmente poderia
modificar sua flora intestinal normal, pois necessitaria menos de fermentação de fibras e
estas também estão em menor porcentagem na nova dieta.
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