cheque sustado

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Page 1: Cheque Sustado

FACULDADE DE DIREITO MILTON CAMPOS

Maria Renata Fonseca Yarochewsky

A EXIGIBILIDADE DO CHEQUE SUSTADO

Nova Lima

2006

Page 2: Cheque Sustado

Maria Renata Fonseca Yarochewsky

A EXIGIBILIDADE DO CHEQUE SUSTADO

Dissertação apresentada ao Curso de Mestrado da Faculdade de Direito Milton Campos, na área de concentração em Direito Empresarial, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Direito. Orientador: Prof. Dr. Wille Duarte Costa

Nova Lima

Faculdade de Direito Milton Campos

2005

Page 3: Cheque Sustado

Maria Renata Fonseca Yarochewsky

A exigibilidade do cheque sustado

Dissertação elaborada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Direito, na área de concentração em Direito Empresarial, ofertado pela Faculdade de Direito Milton Campos, sendo apresentada perante a banca examinadora composta pelos ilustres juristas abaixo relacionados, na cidade de Nova Lima, em 2006. __________________________________________________ Prof. Dr. Wille Duarte Costa (Orientador) - Milton Campos __________________________________________________ Primeiro Examinador - Milton Campos __________________________________________________ Segundo Examinador - Milton Campos

Page 4: Cheque Sustado

Agradeço a Deus que me dotou de

condições, várias, para chegar aonde cheguei.

No início, de nada dispunha. No entanto,

não me faltou apoio para o meu crescimento,

nem luz bastante para clarear minhas idéias.

Na certeza de ser ainda longo o meu

caminho na busca do conhecimento e da

sabedoria, continuo a agradecer, sempre.

Page 5: Cheque Sustado

“Os animais se salvam pela ignorância e

os anjos, pelo conhecimento; entre eles, o ser humano

vacila, pende,

hesita.” RUMI.

Page 6: Cheque Sustado

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO............................................................................................................... 8

2 DO CHEQUE.................................................................................................................. 11

2.1 Definição e surgimento do crédito ............................................................................ 11

2.2 Origem histórica do cheque....................................................................................... 14

2.3 Conceito ....................................................................................................................... 17

2.4 Requisitos do cheque ................................................................................................. 19

2.5 Legislação aplicável ................................................................................................... 21

2.6 Espécies de cheque ................................................................................................... 22

2.6.1 Cheque visado ......................................................................................................... 22

2.6.2 Cheque administrativo............................................................................................. 23

2.6.3 Cheque cruzado....................................................................................................... 24

2.6.4 Cheque ao portador................................................................................................. 25

2.6.5 Cheque à ordem ...................................................................................................... 25

2.6.6 Cheque nominativo .................................................................................................. 26

2.7 Utilização prática e inadimplência no cheque ......................................................... 27

2.7.1 Cheque sem fundos................................................................................................. 27

2.7.2 Cheque pré-datado.................................................................................................. 28

3 DA FORMA E PROVA DO CHEQUE ........................................................................ 32

3.1 Rigor cambiariforme................................................................................................... 32

3.2 Declarações cambiais no cheque............................................................................. 36

3.3 Apresentação e acatamento da ordem de pagamento.......................................... 39

Page 7: Cheque Sustado

4 CONTRA-ORDEM E OPOSIÇÃO............................................................................... 45

4.1 Revogação ou contra-ordem ..................................................................................... 45

4.2 Eficácia temporal da revogação ............................................................................... 46

4.3 Oposição ou sustação................................................................................................ 47

4.4 Autonomia e independência x sustação: situação conflitante ............................... 49

4.5 Implicações da sustação de cheques....................................................................... 51

4.6 Aspectos comuns e confrontantes entre os institutos da contra-ordem e oposição 52

5 DECLARAÇÕES DE VONTADE NO TÍTULO E FORA DELE............................. 56

5.1 Teoria da vontade ....................................................................................................... 56

5.2 Emissão: declaração de vontade.............................................................................. 58

6 APLICABILIDADE DA SUSTAÇÃO.......................................................................... 63

6.1 Oposição no cheque administrativo.......................................................................... 63

6.2 Dívida de jogo.............................................................................................................. 64

6.3 Morte ou incapacidade do emitente ......................................................................... 66

7 DO NÃO PAGAMENTO DO TÍTULO......................................................................... 68

7.1 Ação cambial............................................................................................................... 68

7.2 Cheque prescrito ......................................................................................................... 72

7.3 Defesa do executado.................................................................................................. 75

8 A RESPONSABILIDADE CIVIL DA INSTITUIÇÃO BANCÁRIA.......................... 77

8.1 Responsabilidade civil - conceito.............................................................................. 77

8.1.1 Da responsabilidade subjetiva ............................................................................... 77

8.1.2 Da responsabilidade objetiva................................................................................. 78

8.2 Da responsabilidade dos estabelecimentos bancários......................................... 78

8.2.1 Prejuízo e dano......................................................................................................... 78

8.2.2 A ilicitude e a culpa.................................................................................................. 79

Page 8: Cheque Sustado

8.3 A atividade bancária à luz do CDC........................................................................... 84

8.4 Da responsabilidade pelo pagamento de cheque sustado................................... 86

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................ 90

REFERÊNCIAS ................................................................................................................ 93

ANEXO A - Lei do Cheque n. 7357/85 (DOU 02/09/85) .............................................. 97

ANEXO B - Resolução 2.747/2000 (BACEN) ............................................................... 114

ANEXO C - Cheque sustado............................................................................................ 121

Page 9: Cheque Sustado

8

1 INTRODUÇÃO

A idéia de se dissertar sobre o presente tema nasceu de um questionamento

eivado de indignação tecido por um estagiário que, com dúvidas, me procurou

buscando auxílio e consolo frente à sua situação de impotência e incapacidade uma

vez que a despeito de ser portador de um cheque, (título executivo, como haviam lhe

ensinado) teria sido o mesmo, vítima do até então desconhecido golpe do não

pagamento por sustação. As dúvidas pairavam na legalidade do ato a ele praticado,

se seria costumeira tal prática, sobre a força executiva que teria tal título, se teria o

mesmo se transformado em apenas mais um papel sem qualquer valor, qual seria o

procedimento dali para frente, etc, etc, etc.

E foi na esteira daquela situação fática tão próxima, que julgando-a verdadeira

afronta não somente ao estagiário perdido mas a toda uma sociedade, é que tratei de

me debruçar sobre o assunto, buscando elucidar incertezas que descobri no meu

parco âmbito de conhecimentos jurídicos também habitarem.

Portanto, tem esta dissertação a função de se analisar, através de

questionamentos e exposições, as hipóteses e cabimentos de impedimento ao

pagamento de cheques, que é sabido poder este ocorrer através dos institutos da

oposição, vulgarmente conhecido por sustação ou da contra-ordem ou revogação, bem

como transcorrer sobre a eficácia do cheque sustado ou revogado, enquanto título

executivo em decorrência da possibilidade de haver se ordenado o não pagamento.

Nosso objetivo é elucidar, ou ao menos suscitar questões ainda por vezes

obscuras e construtoras de divergentes opiniões por parte de nossos doutrinadores e

Page 10: Cheque Sustado

9

juristas - quais seriam os motivos ensejadores da sustação ou revogação do

pagamento do cheque.

Muitos pontos são hoje pacíficos, mas muito ainda está por ser feito!

Desenvolveremos o tema, excursionando por antigas épocas, tão remotas,

onde só o que podemos é nos contentar em reter informações por vezes até

divergentes, no que diz respeito ao nascimento de um documento que há muito

incluíram na categoria de título de crédito e que então passaram a nomear como

Cheque. Citaremos seus requisitos de validade, seus tipos, sua finalidade e forma de

utilização e cobrança, levando sempre em boa conta que é o cheque grande propulsor

de negócios empresarias e econômicos de uma sociedade, principalmente face à sua

complexa circulação que guarda amparo na autonomia e literalidade inerentes.

Discutiremos as hipóteses possíveis, permitidas e proibidas para o não

pagamento, a autorização legal para o ato em si e, para tanto, nos esforçaremos em

destacar o que vem a ser a tão subjetiva relevante razão de direito, enquanto motivo

propício ao não pagamento, o que vem a ser a expressão da vontade e como esta se

manifesta e gera responsabilidades perante as partes e a terceiros. Estudaremos os

dois institutos, na medida em que ambos representam sob o prisma do banco sacado,

uma diligência de caráter urgente, que se reveste da necessidade premente de se

bloquear o pagamento, mas prescinde de outras conseqüências, evidenciando o

aspecto jurisdicional de uma demanda, cujo desfecho, sabemos depender de análise

minuciosa e comprovada de se ter ou não ocorrido um procedimento correto por parte

do sacador, que emitiu a ordem de pagamento.

Da análise das possibilidades de se impedir o não pagamento, certamente

caberá deixar evidente que tal ato não descaracteriza o título enquanto representação

Page 11: Cheque Sustado

10

de um crédito, que poderá, desta feita, ser cobrado em juízo.

Tudo com o intuito único de se demonstrar que a sustação, que nasceu para

tranqüilizar e assegurar direitos dos correntistas, em algum ponto de seu caminho, teve

sua finalidade desvirtuada, passando hoje a ser instrumento fácil e “seguro” de se

fraudar a lei, evitando-se, através de forma legal, seja o nome do emitente de cheques

sem fundos, inserido nos órgãos cadastrais de restrição ao crédito.

Não obstante a isso, acrescentamos ser problemática a situação da sustação

no pagamento do cheque, situação que se tornou corriqueira frente a facilidade da

prática do ato conferida pela lei e aderida pelas instituições bancárias, surgindo daí os

aspectos que ora apresentaremos pelo entrechoque na acirrada disputa entre a

vontade do cliente da instituição e a do portador legitimado do título, e na aferição da

responsabilidade da instituição bancária frente a ambos.

Dissertaremos sempre com o escopo de trabalhar o Direito como um todo; por

certo respeitando a especialização, mas acreditando que o Direito que se vê por um

todo é visto de uma maneira melhor do que aquele que se esforça para ser visto em

específico.

Page 12: Cheque Sustado

11

2 DO CHEQUE

2.1 Definição e surgimento do crédito

“Crédito. (Do lat. Creditu, pelo it. Credito) S.M. 1. Segurança de que alguma

coisa é verdadeira;confiança.... 7. Econ. Cessão de mercadoria, serviço ou

importância em dinheiro, para pagamento futuro”.1

Segundo Luiz Emydio F. da Rosa Jr., a doutrina elaborou alguns conceitos

econômicos de crédito e apresenta o citado autor alguns, citando então Charles Guide,

Stuart Mill e Werner Sombart. Vejamos: “a) crédito é a troca no tempo e não no espaço

(Charles Guide); b) crédito é a permissão de usar capital alheio (Stuart Mill); c)- crédito

confere poder de compra a quem não dispõe de recursos para realizá-lo (Werner

Sombart).”2

Quanto a sua origem etmológica, certo é que o termo crédito deriva do latim

creditum decorrente do italiano credere, que é confiar, acreditar, ter fé. Pode ainda o

termo ter outros significados como por exemplo o direito que alguém tem em receber

de outrem a prestação objeto de uma a obrigação, ou a confiança que uma pessoa

inspira em outra, baseada em seus atributos morais. Significado este último que

sabemos outrora ter sido tão largamente utilizado, quando outros eram os conceitos de

moralidade e honestidade cultuados e na maioria das vezes a palavra bastava. Sob

1 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua

portuguesa. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 575. 2 ROSA JUNIOR, Luiz Emydio Franco da. Títulos de crédito. Rio de Janeiro: Renovar, 2000. p. 1.

Page 13: Cheque Sustado

12

este prisma, o elemento confiança, se analisado objetivamente, poderia se dizer hoje

quase em extinção, já que as instituições financeiras, ao efetivarem operações de

crédito, exigem toda a sorte de garantias a serem prestadas pelo financiado. Curioso

é, o fato de tal elemento, ou seja, a confiança, em situação avessa, ser ainda praticado

na prática da agiotagem, onde por proibição legal, não se institucionaliza a agente

financeira, imperando portanto a confiança desta no financiado, sem nenhum respaldo.

O outro elemento, o tempo, insta dizer, corresponde ao período entre o

momento do cumprimento da prestação atual, por quem concede o crédito e o

momento da prestação futura a ser satisfeita por quem o recebeu. Desta feita, o prazo

decorre da própria noção de crédito.

Ao longo da história da civilização humana, o homem, vivendo em sociedade,

dotado de inteligência e guiado pelas suas necessidades, estabeleceu o conceito de

crédito e a forma de pagamento dos bens cuja aquisição se fazia necessária à sua

subsistência.

Por certo é que, nos idos tempos, o que se operava era o escambo, onde

cada indivíduo trazia à praça o que tinha em excesso e ali postulava o que necessitava.

Desta prática de troca, surgiram e fizeram riqueza os mercadores, que viviam da

comercialização destes excessos.

Contudo, com o tempo, descobriu-se ser o escambo meio impróprio de se

suprirem as necessidades, já que este limitava a troca, implicando, pois numa conexão

de necessidades. Ou seja, quem tinha sal e precisava de açúcar, podia não consegui-

lo, pois quem tinha açúcar poderia não querer sal.

Daí que, diante da instalada necessidade, uma vez mais dotado de

inteligência, de inventividade, descobriu o homem que determinadas mercadorias

Page 14: Cheque Sustado

13

eram de maior necessidade e, portanto de maior e mais fácil comercialização,

passando então a utilizarem-se destas como moeda de troca.

Fruto deste processo evolutivo de troca, surge a utilização do metal e das

elaboradas técnicas de sua fundição, surgem as moedas, cunhadas pelos ourives da

época. Sobre o tema, cita Othon Sidou:

Os trapezitae, gregos, e os argentari, romanos, netos dos fenícios primevos, cujas transações se estendiam à Arábia, à África Central, à Espanha, à Inglaterra e o mar do Norte, incumbiam-se, mais requintadamente, das remessas de dinheiro para as mais diversas e distantes praças, mercê das relações que mantinham com outros banqueiros nelas estabelecidos, e sobre os quais sacavam as somas que lhes eram confiadas. Praticavam contratos de câmbio, mas desconheciam títulos de câmbio.3

Neste momento, interessado, integra à relação o Estado, e a intervenção

Estatal passa a fazer parte direta da distribuição de riquezas, quando, nas cidades

italianas de Gênova e Veneza, os ourives, denominados (trapezitae e argentarii),

entregaram à administração pública suas funções. De posse e responsabilizado pela

confecção, guarda e circulação da moeda, passa então o Estado a fazer uso do papel

e lança à sociedade, notas ou bilhetes, primeiros símbolos do dinheiro. A respeito,

lembra o citado autor que, enquanto os romanos ainda manipulavam apenas o dinheiro

metálico, os assírios, os fenícios, os egípcios e sobre tudo os helenos, já utilizavam a

moeda-papel, sob a forma dos síngrafos, dos quirógrafos, dos bilhetes à ordem, dos

empréstimos a risco, que acabaram sendo absorvidos pelos próprios romanos nas

práticas mercantis em seu vasto império.

Desta feita, a troca, longe de ser instintiva, veio se manifestando como

expressão do raciocínio humano, de se verificar que, seja em forma de mercadorias

como sal, açúcar, especiarias, seja sob a forma de metal, ainda por nós utilizado, a

3 SIDOU, J. M. Othon. Do cheque: lei nacional combinada com a lei uniforme, jurisprudência. 3. ed.

Rio de Janeiro: Forense, 1986. p. 10.

Page 15: Cheque Sustado

14

unidade de valor encontrada foi fruto da sua evolução, e conseqüentemente, como

forma de extinção desta obrigação, surge o crédito e o pagamento.

2.2 Origem histórica do cheque

Antes de iniciarmos nosso estudo sobre o atual instituto do cheque, importante

é que façamos uma viagem aos tempos passados, mais precisamente à idade média,

nas pequenas cidades italianas onde nasceu a atividade mercantil.

Foi com o exercício em grande escala da atividade de mercancia naquelas

cidades que surgiu a necessidade de aquisição de bens para pagamento posterior,

necessidade esta que mais tarde chamariam de crédito. Palavra de origem latina, que

do italiano credere está em seu sentido ligada à idéia de acreditar, confiar, crer que o

pagamento prometido no presente será futuramente realizado. Da observância desta

necessidade de disponibilizar-se no presente, um valor futuro, a fim de que se pudesse

adquirir determinado bem, surgem os documentos escritos, que incorporavam o

crédito, fazendo-o não só garantir o negócio primário mas também possibilitando a

circulação deste crédito confiado.

Segundo a doutrina, os primeiros títulos de crédito foram a letra de câmbio e a

nota promissória, desenvolvidos nas cidades italianas, durante a baixa Idade Média.

Quanto à origem do próprio instituto do cheque, pouco se tem escrito em

nossas doutrinas. Todavia, acredita-se que o documento nasceu derivado da letra de

câmbio, há muito já utilizada, conforme acima citado. Historicamente a letra de câmbio

provém do contrato de câmbio, que era toda permuta, principalmente a de dinheiro. Os

negociantes de praças diferentes, quando da liquidação de suas operações, deviam

Page 16: Cheque Sustado

15

remeter o dinheiro e estavam sujeitos aos riscos de transporte, como a perda ou

roubo. Institui-se então, o hábito de encarregarem-se pessoas para realizar este

transporte por sua conta e risco. Lavrava-se com o notário, um documento que, como

observa Bonelli, “conteneva la menzione della moneta ricevuta e l’obbligo di pagarne

l’iquivalente nel luogo e tempo stabilito per più o personalmente o per mezzo di

mandatário, a colui Che diè il denaro o a um suo mandatário”4.

Era a troca de “pecúnia praesenti cum pecúnia absenti”.

Contudo, esta solução demonstrou-se insatisfatória porque se limitava a

transferir o risco da perda do remetente, ao transportador do dinheiro.

Surge então o câmbio trajetício, que consistia na troca de uma moeda

independentemente de seu transporte. Operava-se a troca à distância, através da

entrega da moeda pelo comprador em determinado local, para receber, em lugar

diverso, outro tipo de moeda. Nesta operação, quatro pessoas tomavam parte: o

devedor, o credor e dois depositários e realizava-se da seguinte maneira: o devedor

de quantia certa (de residência em lugar diverso da do credor) entregava em sua

cidade, a importância devida ao depositário, para efetuar o pagamento. Este, por sua

vez, autorizava o depositário da cidade em que morava o credor, e com quem possuía

dinheiro, a pagar-lhe o mencionado débito. Tal pagamento, naturalmente, deveria ser

feito na moeda do lugar em que morava o credor.

Tal operação, para muitos de nossos doutrinadores é nada mais nada menos

que o nosso cheque em período embrionário, por assim dizer.

Segundo registros históricos, na idade média, tais institutos, os chamados

4 BONELLI, Gustavo. Commentario al codice di commercio. Milão: Ed. Dott. Francesco Villardi,

1914. v. 3, p. 2.

Page 17: Cheque Sustado

16

mandatos de pagamento, eram utilizados pelo poder público, reis ingleses e

imperadores alemães e isto lhes imprimia segurança e poder. Neste período, com o

crescimento do comércio nas cidades italianas, os negociantes, para evitar os

inconvenientes sobrevindos com a guarda e transporte de dinheiro, passaram a

depositá-lo em estabelecimentos seguros, à semelhança de nossos bancos atuais. E

dizem que foi daí que, à medida que tais cidades se desenvolviam comercialmente,

ampliavam-se seus serviços bancários. Desta feita, os bancos lançavam em seus

livros os depósitos e os clientes poderiam deles lançar mão, ou diretamente,

comparecendo em pessoa para receber o dinheiro, ou indiretamente, por meio de

títulos emanados dos bancos ou mandatos diretos dos depositantes.

A despeito de terem sido identificadas origens remotas do cheque em outros

locais, acredita-se que a Inglaterra foi o primeiro país em que o cheque se generalizou,

motivo porque é apontado por muitos como pátria do cheque. Para grande parte dos

doutrinadores, foi a Inglaterra o local de nascimento do título da forma como hoje se

apresenta, com as chamadas Ordens de Pagamento dos Reis contra o Tesouro,

posteriormente denominadas bills of exchequer. Tem-se que a raiz britânica do

instituto evidencia-se por sua própria denominação, relacionada ao verbo inglês to

check, que significa verificar, controlar. Ainda alguns outros doutrinadores sustentam

que o termo cheque vem do francês ècheques, e que seria a França local de origem

do documento de crédito.

Roberto Barcellos de Magalhães, citando Muniz Barreto, assim ilustra: “O

instituto da compensação, como regulamento de liquidações bancárias, já tem longa

tradição da antiguidade, pois desde a Idade Média já desempenhava papel

Page 18: Cheque Sustado

17

considerável nas Feiras de Lyon”5.

Contudo e a despeito de serem vários os autores que discorrem sobre a

origem do título que com propriedade tivemos a oportunidade de pesquisar, insta

mencionar a respeitada opinião do Prof. Wille Duarte Costa, opinião esta da qual

comungamos, e que diz que “[...] na doutrina nada há que com segurança aponte com

exatidão a origem do cheque”6.

Portanto, ainda que não conheçamos com exatidão a origem do título,

reconhecemos sim que certamente este nasceu da necessidade de se transportar com

segurança a moeda da época, garantindo desta forma o pagamento/ recebimento de

um crédito futuro.

2.3 Conceito

Cheque é ordem de pagamento à vista, representada através de um título de crédito, sacada contra um banco e com base em suficiente provisão de fundos depositados pelo sacador em mãos do sacado ou decorrente de contrato de abertura de crédito entre ambos.

Na concepção da vigente lei, o cheque pode ser definido como uma “ordem de

pagamento á vista, dada contra banco, com base em suficiente provisão de fundos,

depositados pelo emitente ou provenientes de contrato de abertura de crédito”.

J. M. Othon Sidou, já propõe a seguinte definição descritiva de cheque:

5 MAGALHÃES, Roberto Barcellos de. Assinaturas falsas no cheque. Rio de Janeiro: Freitas

Bastos, 1982. p. 12. 6 COSTA, Wille Duarte. Títulos de crédito. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 325.

Page 19: Cheque Sustado

18

[...] é uma ordem emitida contra um banco, ou ente assemelhado, para que pague à pessoa, em favor de quem se emite, ou ao portador, importância certa em dinheiro, previamente posta à disposição do emitente e que será levada à sua conta. É rigorosamente um título cambial e subordina-se às regras do direito cambial, notadamente no que toca à transmissibilidade e se refere a seu aspecto autonômico.7

Da ordem contida no documento sempre destinada a um depositário dos

recursos do sacador, revela-se uma peculiaridade da natureza do cheque - a de que o

destinatário da ordem nele contida é o banco depositário que não assume, nem pode

assumir, qualquer obrigação cambial pelo pagamento dessa ordem perante o credor,

mas apenas o ônus de cumpri-la, se existirem fundos. Ou seja, a obrigação do

destinatário instituição bancária existe apenas em relação ao cliente emitente e não

face ao credor, que espera pelo pagamento. Por isso é que para muitos, o cheque

deixa de ser título de crédito próprio, já que não contém real operação de crédito.

Alguns outros autores atribuem ao cheque o caráter de ordem de pagamento à

vista, negando-lhe por isto, a natureza de título de crédito. Contudo, dentre as demais

evidências que adiante mais claramente falaremos, (endosso, aval, etc.) e que fazem

do cheque exemplo claro de título de crédito, temos por certo que se os atributos da

incorporação, da literalidade e da autonomia do direito são aplicáveis ao cheque, sua

natureza outra não é que a de título de crédito. Ademais, se o cheque é documento

necessário para o exercício do direito nele consignado, se perdido o cheque perdido

estará o direito, não há como se ver nisso uma mera forma de pagamento e não um

título de crédito!

Ilustra o entendimento, a citação do renomado Prof. João Eunápio Borges:

7 SIDOU, J. M. Othon. Do cheque: lei nacional combinada com a lei uniforme, jurisprudência. 3. ed.

Rio de Janeiro: Forense, 1986. p. 21.

Page 20: Cheque Sustado

19

Se porém o conteúdo do cheque é uma ordem cujo beneficiário a aceita, a título de pagamento, em dinheiro que lhe deve o emitente, se o cheque substitui - embora por prazo brevíssimo , mesmo que de horas ou minutos - o dinheiro devido, a qualquer título, pelo emitente; se se verificam, pois em relação ao cheque os dois elementos que caracterizam uma operação de crédito - a confiança e o prazo que intervem entre a promessa do devedor e a sua realização futura - é claro que o cheque, apesar de não passar normalmente de mero instrumento de retirada de fundos, ou de movimentação de conta bancária, é também um título de crédito.8

Dentre os respeitados doutrinadores comercialistas, dúvida alguma paira

acerca de ser o cheque verdadeiro título de crédito, dotados dos atributos da

incorporação, literalidade e autonomia do direito nele contido, em perfeita adequação

à definição de Vivante: “Título de Crédito é o documento necessário para o exercício

do direito literal e autônomo, nele mencionado”9.

2.4 Requisitos do cheque

Prova do formalismo de que se reveste o instituto ora em estudo, formalismo

este que mais adiante citaremos sob o título “rigor cambiariforme”, já em seu primeiro

artigo, preocupou-se a lei em elencar os requisitos essenciais à sua forma, sendo eles:

I-a denominação “cheque” inscrita no contexto do título e expressa na língua em que é

redigido; II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada; III - o nome do banco

ou instituição financeira que deve pagar; IV - a indicação da data e do lugar de

emissão; VI - a assinatura do emitente ou de seu mandatário, com poderes especiais.

Sobre o emprego do termo “cheque” na cártula, comenta Othon Sidou:

O obrigatório emprego da expressão ‘cheque’ para personalizar o título, sine qua non de sua existência como tal, deriva dos princípios de escrúpulo do

8 BORGES, João Eunápio. Títulos de crédito. São Paulo: Malheiros Editores, 1971. p. 370. 9 VIVANTE, Cesare apud COSTA, Wille Duarte. Títulos de crédito. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p.

23.

Page 21: Cheque Sustado

20

direito cambiário, cujas obrigações nascem para ter circulação ampla, envolvendo interesses de enésimas pessoas. Prevalece este princípio em todos os títulos cambiários. Nem a letra de câmbio nem a nota promissória vale como tal se no texto estiver omisso o designativo que lhe assegura reconhecimento instantâneo.10

Em relação à ordem de pagar determinada quantia, a lei também exige que

haja provisão de fundos em nome do emitente, em poder do sacado, sejam estes

fundos provenientes de soma de dinheiro depositado, seja através de crédito

concedido àquele, como exemplo o “cheque especial”. Mister esclarecer que não

basta a existência de fundos, mas sim que estes estejam disponíveis, hipótese que, a

ausência de fundos, a despeito de frustrar o pagamento, não descaracteriza o

documento, nem a ordem incondicional nele contida.

Quanto ao banco ou da instituição financeira que deve pagar, insta lembrar e

mais adiante trataremos sobre o tema responsabilidade, que a apresentação para

pagamento ao sacado, constitui o momento crucial da vida do cheque e, é para o

sacado, aquele momento em que se fixa a sua responsabilidade, seja por acolher uma

ordem de pagamento às vezes fraudulentamente emitida, seja por deixar de cumpri-la.

Já quanto a indicação do lugar do pagamento, a folha de cheque deve indicar

o lugar de pagamento do título, que poderá ser o local da agência onde o sacador

emitente possuir conta ou qualquer outra agência do sacado.

O art. 2º da Lei do Cheque esclarece que, na falta de indicação especial, é

considerado o lugar de pagamento o designado junto ao nome do sacado; se

designado vários lugares, o cheque é pagável no primeiro deles; não existindo

qualquer indicação, o cheque é pagável no local de sua emissão, portanto, de se

concluir ser o presente requisito suprível e não essencial.

10 SIDOU, J. M. Othon. Do cheque: lei nacional combinada com a lei uniforme, jurisprudência. 3. ed.

Rio de Janeiro: Forense, 1986. p. 24.

Page 22: Cheque Sustado

21

Dentre os mais importantes requisitos do cheque certo é que a data apresenta

papel relevante já que é ela marco inicial das contagens de prazos de apresentação do

cheque ao sacado, e conseqüentemente da prescrição da ação executiva.

Por fim, no que tange à assinatura do título, no nosso entendimento, a mais

pura manifestação da vontade do emitente, a exigência legal paira sobre a

competência para tal ato, uma vez que esta só poderá ser aposta por quem detenha

poderes para tanto.

Ainda quanto à forma que assume o título, tem-se que é o cheque um título de

crédito de modelo vinculado, ou seja, tem forma específica determinada por lei.

Portanto, um cheque só será tido como tal se lançado em formulário próprio fornecido,

por talão padronizado, pelo próprio banco sacado, atendendo as especificações do

Banco Central do Brasil (BACEN - Anexo B).

2.5 Legislação aplicável

A primeira referência oficial que se fez ao instituto do cheque no Brasil foi em

1845, cujo regulamento, aprovado pelo Decreto n. 438 estabelecia que um dos

objetivos do banco era receber gratuitamente o dinheiro de qualquer pessoa em conta

corrente e efetuar os respectivos pagamentos e transferências.

Não obstante o instituto cheque ter sido tratado e regulamentado através da

Lei n. 1083 em 1860, não com o nome cheque, mas mandato ao portador, foi em 1893

que se atribuiu ao título o nome de cheque.

Após algumas outras legislações esparsas, o cheque veio então a ser

Page 23: Cheque Sustado

22

oficialmente regulado pela Lei n. 2.591 de 1912, que vigorou até 1966, quando o

Decreto n. 57.595/66 incorporou a Lei Uniforme de Genebra sobre cheques, de 1931,

cuja efetiva vigência entre nós só foi aceita após decisão do Supremo Tribunal Federal

(STF) de 1971.

Em setembro de 1985 foi promulgada a atual lei do cheque, Lei n. 7.357/85,

que substituiu a lei Uniforme e passou a disciplinar o instituto no Brasil, sendo certo

que tal lei, nos dizeres de Fran Martins “é na realidade uma consolidação dos

princípios da Lei Uniforme sobre o cheque e das leis que anteriormente regularam este

título”11.

Ou seja, a Lei Uniforme passou a ser fonte residual a ser aplicada e

interpretada em conjunto com a Lei do Cheque, que por sua vez, formou-se pela

orientação da norma de Genebra.

2.6 Espécies de cheque

2.6.1 Cheque visado

É a modalidade de cheque onde por um visto ou outra declaração equivalente,

o banco obriga-se a debitar na conta do emitente a quantia indicada no cheque e

reservá-la em benefício do portador durante o prazo de apresentação, sem que fiquem

exonerados o emitente, endossantes e demais coobrigados.

Importante aqui lembrarmos que o visamento do cheque apresenta-se como

11 MARTINS, Fran. Títulos de crédito. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. v. 2, p. 10.

Page 24: Cheque Sustado

23

mais uma forma de se assegurar o pagamento do título, sendo certo que, se o banco

deixar de proceder a esta obrigação legal de, mediante a manifestação do emitente,

verificar a existência de fundos e apinhar na cártula a sua chancela de modo a

bloquear a importância, que necessariamente fica desvinculada da conta corrente do

emitente e reservada, responderá este pelo pagamento do cheque ao credor. Isto não

significa entretanto, que o sacado tenha obrigação cambial e sim responsabilidade

decorrente da inobservância de determinação legal e não do título de crédito. A

obrigação do banco sacado no caso é contratual.

A legalização desta modalidade apresenta-nos tipificada e regulamentada na

Lei n. 7357/85 no seu art. 7º e respectivos parágrafos:

Art. 7º - Pode o sacado, a pedido do emitente ou do portador legitimado, lançar e assinar, no verso do cheque não ao portador e ainda não endossado, visto, certificação ou outra declaração equivalente, datada e por quantia igual à indicada no título.

§ 1º- A aposição de visto, certificação ou outra declaração equivalente obriga o sacado a debitar à conta do emitente a quantia indicada no cheque e a reserva-la em benefício do portador legitimado, durante o prazo de apresentação, sem que fiquem exonerados o emitente, endossantes e demais coobrigados.

§ 2º - O sacado creditará à conta do emitente a quantia reservada, uma vez vencido o prazo de apresentação; e, antes disso, se o cheque lhe for entregue para inutilização.

2.6.2 Cheque administrativo

É uma ordem de pagamento à vista que um banco emite contra qualquer um

de seus estabelecimentos, de pagamento assegurado e aceitação legalmente

obrigatória, onde sacador e sacado se identificam.

Deste modo, o correntista solicita à instituição financeira que emita o cheque

em seu nome ou seja, diretamente em favor da pessoa na qual irá efetuar o

Page 25: Cheque Sustado

24

pagamento. Na legislação, mais precisamente no Decreto 24.777/1934, assim

menciona-se:

Art. 1º - Os Bancos e firmas comerciais podem emitir cheques contra as próprias caixas, nas sedes ou nas filiais e agências.

Parágrafo único - Estes cheques não poderão ser ao portador, e regular-se-ão, em tudo o mais pela lei do cheque.

Inexiste, pois nesta modalidade de cheque, propriamente uma estrutura de

saque e de ordem de pagamento, posto que o título é emitido pela instituição

financeira contra a sua própria caixa.

2.6.3 Cheque cruzado

Descrito nos arts. 44 e 45 da Lei n. 7357/85, o cheque torna-se cruzado

quando o emitente ou portador apõem dois traços paralelos no anverso do título. Tem

este cheque a função de possibilitar, a qualquer tempo, a identificação da pessoa em

favor de quem foi o título liquidado, já que a sua compensação se dá através de

depósito em conta do favorecido.

Entre os traços transversais pode haver designação de determinado banco

(cruzamento em preto) ou não (cruzamento em branco). O cheque com cruzamento em

branco somente poderá ser pago mediante crédito em conta e o cheque com

cruzamento em preto somente poderá ser pago ao banco cujo nome conste no

cruzamento, ou sendo este também o sacado, a um cliente seu, mediante depósito em

conta. Desta forma, se o credor do cheque não for correntista do banco sacado,

deverá, necessariamente, proceder à liquidação do título (pagamento) mediante

depósito em banco que possua conta.

Page 26: Cheque Sustado

25

O cheque cruzado gera efeitos apenas perante o sacado, que não poderá

pagá-lo sem que sejam observadas tais regras.

2.6.4 Cheque ao portador

É aquele onde, no ato de criação o sacador preenche o espaço destinado ao

beneficiário com a expressão ao portador, ou qualquer outra equivalente, ou

simplesmente deixa em branco o espaço, (abrindo mão do direito de indicar

beneficiário).

A praxe de se emitir cheques ao portador sofreu alteração em virtude da Lei n.

8.021/90, que passou a estipular o pagamento ou resgate de qualquer título ou

aplicação a beneficiário não identificado. Contudo, acreditamos que a citada lei é

norma de caráter fiscal, e com o advento desta, não se teve uma proibição da emissão

do título sem a indicação do beneficiário, nem invalida o mesmo a sua ausência.

Apenas exige-se que para o pagamento do título, o campo do beneficiário esteja

preenchido, fazendo-se clara a identificação deste. Tal requisito, vale acrescentar,

deverá ser apurado na hora da apresentação, sendo lícito ao portador, até então,

preencher o campo vazio.

2.6.5 Cheque à ordem

O cheque emitido à ordem contém explicitado o seu beneficiário, ainda que

ausente na cártula a cláusula expressa à ordem, de acordo com o art. 8º, inciso I, da

Lei n. 7.357/85, sendo certo que não é necessário que a cártula contenha a

Page 27: Cheque Sustado

26

mencionada cláusula, pressupondo-a na ausência da cláusula não à ordem.

Na nomeação do beneficiário, é lícito ao emitente indicar pluralidade de

beneficiários, como bem nos ensina Fran Martins:

[...] ao invés de indicar o cheque apenas uma pessoa como beneficiária, pode fazer a indicação de várias, que agirão conjunta ou disjuntamente, de acordo com os termos da indicação. Assim, se o cheque traz a indicação de ‘pague-se a A, B, e C’, esses beneficiários, para receber ou fazer o cheque circular, agirão conjuntamente; se, entretanto, a indicação for ‘pague-se a A ou B’, qualquer um dos indicados como beneficiários poderá receber ou fazer circular o cheque, dada a disjuntiva ‘ou’ aposta na cláusula.12

Pode ainda a emissão ser feita à ordem do próprio sacador, conforme art. 9º

da Lei n. 7357/85. Em tais casos, o saque, mais do que criar um crédito, corresponde

a uma retirada de fundos depositados, o que lhe é lícito fazer, desde que exista saldo

suficiente para tanto.

2.6.6 Cheque nominativo

Por fim, tem-se o título nominativo, aquele que é sacado a favor de pessoa

nomeada, mas que se faz acompanhar da expressão não à ordem. Nessas

circunstâncias, além de no ato de emissão, o sacador nomear o beneficiário do título,

retira-se o cheque do regime de transferência cambial pelo endosso.

Ou seja, a mencionada cláusula não impede a transferência do crédito; apenas

impede que esta se faça pela forma simplificada do endosso, exigindo então das

partes interessadas na transmissão que utilizem ao procedimento de cessão de

crédito.

12 MARTINS, Fran. Títulos de crédito. 11. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999. v. 2, p. 53.

Page 28: Cheque Sustado

27

2.7 Utilização prática e inadimplência no cheque

Com propriedade, acerca da matéria em questão, comentou Celso Barbi

Filho dizendo que “o cheque é o título de crédito mais utilizado na vida comercial

brasileira”13. Contudo, e por ser assim tão utilizado, surge o inevitável problema da

inadimplência, notadamente acentuada em tempos economicamente recessivos, como

os atuais.

Tempos pelos quais, aliás, parece -nos nunca conseguimos nos ver livres.

Nesse contexto, como novamente bem asseverou o festejado doutrinador, os

problemas jurídicos da inadimplência no pagamento de cheques concentram-se em

situações principais, quais sejam - o cheque sem fundos, os cheques pré-datados, a

sustação e a revogação.

Reservamo-nos, portanto, o direito de primeiramente discorremos sobre as

duas primeiras e costumeiras hipóteses geradoras de problemas, deixando as outras

duas para serem tratadas em capítulo próprio, já que são as mesmas tema principal de

nosso trabalho. Vejamos:

2.7.1 Cheque sem fundos

Como já visto, é o cheque ordem de pagamento à vista dada contra banco

(sacado), que pressupõe depósito em conta. Constatando o banco depositário que

não existem fundos para cumprimento da ordem de pagamento que recebeu, deve

13 BARBI FILHO, Celso. Questões jurídicas sobre a inadimplência no pagamento do cheque. Revista

de Direito Mercantil, São Paulo, n. 115, s.d.

Page 29: Cheque Sustado

28

este devolver o título ao portador/ apresentante, com a comunicação deste fato.

De acordo com o art. 4º da Lei n. 7357/85, a inexistência de fundos

depositados ou de crédito aberto ao emitente não descaracteriza o documento como

cheque, o qual, constituindo título de crédito e portanto título executivo, viabiliza sua

cobrança judicial através de execução contra o emitente. Para esse fim, não há

nenhum requisito especial, não havendo necessidade deste (título) ser protestado e a

rigor, nem mesmo apresentado ao banco.

O protesto cambial do cheque, como veremos adiante, só se faz necessário

para o portador exercer seu eventual direito de regresso contra endossante

coobrigado. Mesmo assim, a providência será obrigatória apenas se o título não

houver sido apresentado ao banco dentro do prazo legal, na forma do art. 47, inciso II

da Lei. Em outras palavras, um cheque sem fundos deve ser protestado pelo credor, no

prazo fixado em lei para sua apresentação a pagamento para fins de conservação do

direito creditício contra os coobrigados. Para o exercício deste direito contra o

emitente e seu avalista, o protesto não é necessário.

2.7.2 Cheque pré-datado

O cheque pós-datado, vulgarmente denominado pré-datado, não possui

amparo legal em nossa legislação, sendo o cheque, conforme exaustivamente

mencionado, ordem de pagamento à vista, tendo como um de seus requisitos formais

a data de sua emissão, também necessária para efeitos de contagem de prazo de

prescrição.

Por outro lado, em razão do corrente uso comercial que se fez dos cheques

Page 30: Cheque Sustado

29

pós-datados, o que de sobremaneira propiciou uma maior circulação de riquezas no

comércio, ainda na vigência da lei Uniforme de Genebra, anterior à atual lei do cheque,

a jurisprudência pátria dominante, podendo-se quase dizer absoluta, há algumas

décadas firmou-se seguindo a doutrina, no sentido de que o cheque, ainda que emitido

com data futura, ou sem data, ou em branco, não se desnatura como título

cambiariforme que é, nem tampouco como título executivo extrajudicial. Está pacificado

que a pós-datação, mais conhecida como pré-datação do cheque, significa uma

convenção entre emitente e tomador, pela qual este se obriga a só apresentar o

cheque na data estipulada, a despeito de pela lei, poder fazê-lo a qualquer tempo.

Enxerga-se aqui o emprego claro e acentuado do elemento confiança, já no início

citado, no seu aspecto subjetivo, quando passa este a consistir na crença que o credor

deposita na pessoa do devedor de que este futuramente aplicará a sua capacidade

econômica no cumprimento da obrigação assumida.

No que diz respeito à matéria apresentação fora da data aprazada, os

tribunais vêm reiteradamente julgando que a devolução de cheque “pré-datado” por

sua apresentação antecipada enseja direito ao dano moral. Como nos casos de

inexistência de fundos na data de apresentação do cheque para pagamento, quando

então o título será devolvido ao portador chegando mesmo até ao encerramento da

conta do emitente e a inscrição do seu nome no Cadastro de Emitente de Cheques

sem Fundos, SERASA, etc.

Vale registrar, por outro lado, que, pela Súmula 246 do STF, não constitui

crime a emissão de cheque pré-datado devolvido sem fundos em decorrência de sua

apresentação prematura, descaracterizando a fraude, na medida em que o portador

sabia que naquela data, os fundos não existiam.

Page 31: Cheque Sustado

30

Em face de grande utilização desta espécie de cheque, pode-se até mesmo

dizer que na prática, o cheque é transformado de instrumento de ordem de pagamento

à vista em instrumento de promessa de pagamento. Nesta linha de raciocínio, mister

se faz atentar para o fato de que na maioria das vezes, quando o consumidor, por

exemplo, adquire uma mercadoria mediante a emissão de um ou mais cheques pós-

datados, está embutido no preço daquele bem um acréscimo referente aos juros

cobrados pelo vendedor, razão pela qual dentre outras, o beneficiário não deveria

poder descontar os títulos recebidos à vista.

Assim sendo, comungamos do entendimento de Roberta Nioac Prado,

quando diz que “não é correto concluir que apesar dos usos e costumes comerciais, do

acordo de vontade entre as partes e ainda da boa-fé do emitente, possa o beneficiário

descontar o cheque pós-datado antes do prazo convencionado”14.

O problema entretanto, reside em duas questões:

? Primeira: a de ser o nosso sistema jurídico essencialmente legal sobrepondo-se a

lei aos usos e costumes e à jurisprudência, a rigor dos dizeres do art. 5º inc. II da

Constituição Federal de 1988: “Art. 5º [...] II - ninguém será obrigado a fazer ou

deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei”.

Ainda nesta pauta, vale acrescentar que, a liberalidade na qual se investe o credor

de apresentar o cheque na data pactuada, e com firmeza acreditamos ser de fato

mera opção deste que, conseqüentemente gera uma atribuição de direito ao

emitente, não tem a característica de infirmar o título com a sua destipificação.

Imprescindível destacar, uma vez mais, que o cheque é pagável a vista e será

14 PRADO, Roberta Nioac. O cheque “pós-datado”: a realidade brasileira e a solução legal Argentina.

Revista de Direito Mercantil, São Paulo, n. 118, s.d. p. 139.

Page 32: Cheque Sustado

31

considerada não escrita qualquer menção em contrário, consoante se infere do art.

32 da Lei n. 7357/85.

? Segunda: para que o emitente possa se ressarcir dos danos sofridos em razão do

desconto prematuro do cheque pós-datado, deverá, com fundamento no art. 186,

do Código Civil provar, em juízo, que houve acordo entre as partes de pagamento

futuro, além do prejuízo sofrido, o que por vezes pode ser difícil, custoso e

demorado.

Desta feita, temos que, ainda que tanto na doutrina quanto na jurisprudência

exista entendimento de que o cheque, por sua natureza é sempre uma ordem de

pagamento à vista, não importando se a data nele consignada é anterior ou posterior à

data de sua real e efetiva criação, representando pois, dívida líquida, certa e exigível,

acreditamos que se o emitente realmente não quiser correr riscos e optar por comprar

a prazo, deverá garantir a sua dívida através de outros meios, que não de cheque pós-

datado ou pré-datado, como é conhecido. Isto porque o beneficiário do cheque pós-

datado (que pela abstração/circulabilidade do instituto nem sempre será este aquele

com quem o emitente contratou) tem amparo legal e doutrinário para desconta-lo

quando bem entender, ainda que em desrespeito ao que pessoalmente pactuou ou ao

que terceiros pactuaram. Resta-nos apenas tentar buscar por uma forma segura de se

fazer cumprir o acordo tácito de futura compensação e tal necessidade leva-nos a

indagar se a emissão de cheque nominativo não seria boa providencia para cercear a

circulabilidade do título, restringindo ao único beneficiário a responsabilidade pelo

cumprimento do avençado.

Page 33: Cheque Sustado

32

3 DA FORMA E PROVA DO CHEQUE

3.1 Rigor cambiariforme

Dentre nós, pode-se dizer que a forma do cheque conhece dois níveis de

tradução normativa: num primeiro nível, que é legal, apresenta-nos a Lei n. 7357/85, a

traduzir a adesão brasileira a uma convenção internacional uniformizadora; num

segundo nível, que passa então a ser o regulamentar, inserem-se diversas normas que

partem do Conselho Monetário Nacional (CMN) e do Banco Central do Brasil e que

têm aplicabilidade em todo o território brasileiro.

O instituto estudado, assim como os demais títulos de crédito, reveste-se de

verdadeiro formalismo cambial, que visa dar segurança à sociedade e ao mercado

financeiro, no sentido de serem estes títulos aceitos e de que com isso possam

cumprir com a sua finalidade de circular. Desta forma, tem-se que o preenchimento

adequado dos requisitos mínimos do cheque é segurança para o emitente, tanto

quanto o é para o (s) beneficiário(s), nomeados ou não, pois somente quando

adequadamente preenchidos estes requisitos que passamos a discorrer é que haverá

emissão válida. Exatamente como preleciona o art. 2º da Lei do Cheque: “Art. 2º - O

título a que falte qualquer dos requisitos enumerados no artigo precedente não

vale como cheque, salvo nos casos determinados a seguir [...]”.

São pois requisitos de validade do cheque:

I) denominação “cheque” inscrita no contexto do título e expressa na língua em que

este é regido;

Page 34: Cheque Sustado

33

A denominação no título representa a cláusula cambiária que dá publicidade

ao título face ao seu portador, que passa a conhecer o tipo de título com o qual opera e

se obriga, sendo importante ainda acrescentar que o rigor cambial exige que a palavra

esteja no texto da ordem de pagar.

II) a ordem incondicional de pagar quantia determinada;

Ou seja, o pagamento do cheque independe de qualquer condição estipulada

entre as partes.

III) o nome do banco ou instituição financeira que deve pagar (sacado).

Daí decorre a responsabilidade do banco quanto ao pagamento do título. A

relação de débito/crédito que nasce com a emissão do título vigora entre emitente e

portador do cheque, sendo certo que é o primeiro quem se obriga diretamente ao

pagamento do título, e não o banco sacado.

Portanto, se o banco ou instituição financeira designada se recusar a cumprir a

ordem de pagamento por qualquer motivo, justo ou não, é o emitente quem responde

diretamente pelo pagamento a ser feito ao portador, considerando-se não escrita

qualquer declaração pela qual se exima o emitente desta garantia, conforme reza o art.

15 da Lei do Cheque.

Contudo, na hipótese de recusa injustificada do pagamento pelo banco,

responde este perante o correntista emitente.

Do citado requisito, vale dizer que não existe relação jurídica alguma advinda

do cheque entre o banco sacado e o terceiro beneficiário do título, desde que não seja

este o correntista. O portador do cheque não traz consigo a qualidade de credor do

sacado, embora possa sê-lo do emitente. De tal modo, mesmo se observado o ato da

apresentação do título sob o aspecto da relação direta que momentaneamente se

Page 35: Cheque Sustado

34

forma entre portador e sacado, não é este quem responde diretamente pelo

pagamento. Portanto, não cabe discussão por parte do banco acerca da legitimidade

do portador em realmente ser o dono do título, se o portador é realmente o credor da

importância contida no cheque. Não se admite a possibilidade de deixar o banco de

pagar a quem apresentar o cheque, salvo por motivos que digam respeito à

regularidade formal do título, especialmente em atenção à assinatura de quem figura

como emitente. Nesta hipótese, sim, responderá este ao emitente caso venha a pagar

sem conferir a autenticidade da assinatura de seu cliente.

IV) a indicação do lugar de pagamento;

Não havendo qualquer indicação do lugar de pagamento, o cheque é pagável

no lugar da emissão, sendo este imprescindível para a validade do cheque.

V) a indicação da data e lugar da emissão;

A data, como anteriormente dito é um dos requisitos mais importantes do

cheque, uma vez que é a partir dela que se conta o prazo para apresentação da ordem

de pagamento ao sacado e conseqüentemente o prazo prescricional da ação para

execução do título. Deve a data ser verdadeira e completa, conforme palavras do

ilustre Prof. Wille Duarte.

O lugar da emissão, requisito suprível, mas essencial, serve para fixar o prazo

para a apresentação do cheque ao sacado, sendo de 30 dias se emitido na mesma

praça do pagamento e de 60 dias se emitido em praça diversa do local de pagamento,

segundo art. 33 da Lei n. 7357/85.

De expressiva relevância, ainda no que se refere ao requisito data, é a

hipótese da apresentação prematura do cheque pré-datado, questão já falada em

capítulo anterior e alvo de tantas discussões processuais.

Page 36: Cheque Sustado

35

VI) a assinatura do emitente (sacador) ou de seu mandatário, com poderes especiais.

Dentre a essencialidade de cada um dos requisitos, figura a assinatura do

emitente como o requisito mais importante para a validade do título, podendo esta ser

também fornecida através de chancela mecânica, que é um meio especial permitido

por lei (p.u. do art. 1º da Lei n. 7357/85) de obrigar-se no cheque através do uso de

máquinas. A chancela mecânica ocorre sob a autorização do Banco Central e só

justifica-se quando é grande o volume de cheques emitidos.

No que concerne à assinatura do cheque, certo é que, seja na hipótese de

ocorrência de assinaturas falsas, assinaturas de pessoas incapazes de se obrigar por

cheque, até mesmo assinaturas de pessoas fictícias, tal fato não onera as demais

obrigações válidas porventura já existentes no título.

Ainda sobre o tema e apenas a título de informação, vale aqui mencionar que

nos cheques de pequenos valores, os bancos já não conferem as assinaturas. Pagam

estes o cheque e assumem o risco de qualquer vício no mesmo, tamanho o volume de

títulos apresentados às câmaras de compensação.

Na falta de qualquer um destes requisitos, com exceção ao lugar de

pagamento, a cártula não produzirá efeitos como cheque; se incompleto algum dado,

existe a presunção de que pode o portador completá-lo, desde que isto ocorra dentro

do convencionado.

Importante ressaltar que se o cheque for completado com inobservância do

acordado com o emitente, tal fato não pode ser oposto ao portador, a não ser que este

tenha adquirido o cheque de má-fé.

Page 37: Cheque Sustado

36

3.2 Declarações cambiais no cheque

Com maestria conceitua o Prof. Wille Duarte Costa, o que são declarações

cambiais quando assim o diz: “declaração cambial é a manifestação de vontade do

signatário no sentido de criar, completar, garantir ou transferir o título de crédito”. E

acrescenta: “toda e qualquer declaração cambial encerra-se pela assinatura do

declarante que, por ela fica obrigado no título de crédito se tiver capacidade para

tanto”. Ainda: “sem assinatura não há obrigação cambial alguma e, conseqüentemente,

não haverá declaração cambial”15.

Assim como nas letras de câmbio, que são títulos cambiais típicos, no cheque,

também ocorrem as declarações cambiais de emissão, endosso, aval, excluído

somente a figura do aceite. Ainda que ocorra a aposição de visto na cártula, tal

procedimento não implica em aceitação por parte do banco sacado.

A emissão, comumente chamada de saque, é declaração através da qual dá-

se origem ao título, e é classificada como declaração cambial originária ou necessária,

onde, preenchidos os requisitos necessários à sua validade, se completa pela entrega

do mesmo ao beneficiário, ainda que tal entrega não seja voluntária, vale dizer.

De se concluir que de uma forma ou de outra, a princípio, responde o emitente

pelo pagamento do cheque. Tão forte é a manifestação do signatário no título, que

ainda nos casos onde ocorra a emissão involuntária, o emitente deve tomar as

providências cabíveis para que tal título não chegue às mãos de um terceiro de boa-fé,

já que este último não está obrigado a restituir o título se não o adquiriu de má-fé,

conforme elucida o art. 14 da Lei do Cheque.

15 COSTA, Wille Duarte. Títulos de crédito. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 131.

Page 38: Cheque Sustado

37

O endosso vem a ser declaração eventual, (ou seja, pode ou não ocorrer) e

sucessiva, (subentende-se a pré-existência de uma emissão), pela qual o signatário

transmite o título e todos os seus direitos dele advindos, a um terceiro, chamado então

de endossatário.

Ou seja, quanto ao portador, o cheque circula pela simples tradição. Mas

constando o nome de um beneficiário no título, já não mais poderá circular o cheque

pela simples tradição, mas só por meio de endosso.

Ao endossar um cheque, o endossante obriga-se como devedor de regresso,

respondendo pelo pagamento do cheque, desde que este tenha sido apresentado ao

banco em tempo hábil.

Com a aprovação da malfadada Lei n. 9311/1997, que instituiu a CPMF, a

qual ironicamente traduzimos por Contribuição Permanente (e não Provisória) sobre

Movimentação Financeira, já em vigor e sendo cobrada há 8 anos, estabeleceu-se em

seu art. 17, a proibição de mais de um endosso no título. Todavia, continua o cheque

sendo transferido a diversas pessoas (sucessivos endossatários) através do endosso

em branco.

Pode o endosso aparecer no título sob duas formas:

? endosso ao portador ou em branco, quando não há indicação do beneficiário;

? endosso nominativo ou em preto, quando se indica o beneficiário.

Como já dito anteriormente, salvo estipulação em contrário, o endossante

garante o pagamento do cheque, de forma que, se o endossante declarar pague-se a

fulano, sem garantia, ele não garante o pagamento a quem o título foi endossado,

exceto na hipótese de ser também o próprio emitente.

Enquanto no endosso sem garantia o endossante nada garante, na proibição

Page 39: Cheque Sustado

38

de novo endosso o endossante continua garantindo o pagamento do título, a não ser

que o cheque seja endossado a terceiro.

O aval é também obrigação eventual e sucessiva aposta no título, obrigação

esta que pode ser prestada por um terceiro ou mesmo por quem já obrigado no título,

na qual seu signatário, o avalista, garante o pagamento do cheque.

Há que se lembrar que não vale o aval prestado pelo banco sacado. Como

bem comenta Prof. Wille Duarte,

o visto que o funcionário geralmente dá no cheque, certificando a autenticidade da assinatura, não obriga o Banco e nem implica em reconhecimento do dever de pagar o cheque. Até mesmo o visto dado pelo gerente, a fim de que o cliente seja atendido de modo especial ou mais prontamente, não implica em qualquer responsabilidade para o Banco.16

O aval no cheque ocorre da mesma forma como nos demais títulos de crédito,

ou seja, letra de câmbio e nota promissória, persistindo até mesmo a figura do aval

parcial, que, a despeito da aventada possibilidade da existência, no título em estudo,

nos parece inócuo.

Se não, vejamos. Tem-se que a obrigação do aval parcial no cheque é

contraditória, uma vez que a própria Lei do Cheque, especificamente em seu art. 31,

determina que o avalista se obriga da mesma forma que o avalizado. Desta feita,

como pode perdurar o aval parcial no cheque se equiparado ao emitente está o

avalista, quando aquele se obriga por todo o valor do cheque? Em palavras mais

claras, responde o emitente pela soma total inserida no título. Se no caso, a

responsabilidade do avalista é a mesma daquela pertencente ao emitente, como pode

este avalista responder pelo crédito parcial?

Contudo, quando relacionamos a responsabilidade de um, comparada à do

16 COSTA, Wille Duarte. Títulos de crédito. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 327.

Page 40: Cheque Sustado

39

outro, é importante deixar claro que a obrigação do avalista (ainda que no valor total do

cheque, assim como a do emitente) é autônoma, ou seja, independe da obrigação do

emitente. Quando se diz que o avalista se obriga da mesma maneira que seu

avalizado, entende-se que a obrigação do avalista é da mesma espécie, do mesmo

nível da do avalizado.

E tanto assim o é que, para se entender melhor a autonomia desta obrigação

face àquela, certo é que obrigando-se o avalizado no título, a obrigação do avalista

(ainda que anterior a esta) passa a subsistir, ainda mesmo que nula a obrigação

garantida. Para tanto, pouco importa que a assinatura do avalizado seja de pessoa

incapaz de se obrigar por cheque, ou seja falsa a assinatura, ou que por qualquer outro

motivo não possa se obrigar o signatário.

Ainda, quanto a limitação do instituto do aval, há que se lembrar que sofrerá

este limitação da outorga uxória ou marital, na hipótese de ser o avalista casado.

3.3 Apresentação e acatamento da ordem de pagamento

Chama-se de apresentação o ato de levar a ordem de pagar, presumindo-se,

ou melhor, pretendendo-se seja esta ordem acatada e cumprida. Ordem esta dada

pelo emitente (sacador) para que se pague estipulada quantia a alguém (ele próprio o

sacador ou outrem), nomeado ou não no título. Aparece como destinatário da ordem o

Banco (sacado) onde o emitente mantenha conta com fundos suficientes para

responder ao pagamento da quantia especificada no título.

Contudo, a lei fixa prazo a esta apresentação para pagamento, sendo este de

30 dias (contados do dia da emissão) quando o local da emissão é o mesmo do lugar

Page 41: Cheque Sustado

40

do pagamento e de 60 dias quando distintos o lugar da emissão do título e a praça de

seu pagamento.

O acatamento da ordem ocorre quando, não havendo qualquer empecilho, o

sacado efetuará o pagamento, isto é, acatará a ordem de saque, entregando ao

portador do título a importância nele determinada e providenciando seu débito na

mesma conta do sacador. Atenção: independente da ordem e das datas em que forem

emitidos os cheques, seus pagamentos se farão na medida em que forem

apresentados ao Banco.

Ao mencionarmos que o título é levado a pagamento, devemos aqui também

esclarecer que este pagamento não obstante trazer à primeira lembrança um saque

(entrega de quantia em espécie), pode também ocorrer através de depósito e daí,

convém ainda que brevemente, trazer ao assunto a responsabilidade da instituição

financeira na guarda e conservação do título. Deve, pois o Banco, a despeito da sua

função de buscar pelo pagamento da cártula, (via compensação), ou pela devolução da

mesma face à recusa motivada de pagamento, guardar e conservar o título em

perfeitas condições, para que cumpra esta seu percurso procedimental, o que inclui a

possibilidade de devolução deste ao portador beneficiário, para que seja então

exercido o direito de ação contra emitente e demais coobrigados.

Pode ainda o Banco por qualquer outra razão que não a falta de fundos

disponíveis, deixar de liquidar o cheque, e então isto será questão a ser resolvida entre

ele Banco e seu cliente o correntista e não entre ele e o possuidor do título. Vale

lembrar que pode o Banco sacado deixar de liquidar o cheque até mesmo por alguma

razão particular.

Contudo, em qualquer hipótese, deve o portador do cheque agir contra o

Page 42: Cheque Sustado

41

emitente do cheque e não contra o banco sacado como já elucidamos, ainda que

posteriormente possível a ação de regresso. Algumas razões legais que permitem ou

ensejam o não pagamento do cheque: falta de apresentação do cheque ao sacado,

insuficiência ou inexistência de fundos disponíveis em poder do sacado, defeito de

forma do título, prescrição, revogação ou contra-ordem, oposição.

Na hipótese de não acatar a ordem de pagamento, deverá o banco indicar o

motivo de sua recusa, registrando, no verso do cheque e com declaração datada, o

código correspondente ao motivo da devolução, sendo certo que no caso de ser o título

apresentado ao caixa, o registro deve ser feito com anuência do beneficiário.

Pela lista elencada na Resolução n.1631/89/BACEN, o cheque poderá ser

devolvido pelos seguintes motivos:

? Cheque sem provisão de fundos:

11- cheque sem fundos - 1ª apresentação.

12- cheque sem fundos - 2ª apresentação.

13- conta encerrada.

14- prática espúria17.

? Impedimento ao pagamento:

20- folha de cheque cancelada por solicitação do correntista.

21- contra-ordem (ou revogação) ou oposição (ou sustação) ao pagamento pelo

emitente ou pelo portador.

22- divergência ou insuficiência de assinatura.

17 Prática espúria ocorre quando há a apresentação no mesmo dia, de mais de três cheques sem

fundos com o valor até o teto do compromisso de pronto acolhimento, que é compromisso que os bancos assumem perante o Banco Central e que pode ser revogável a qualquer tempo, e onde se compromete a não devolver por falta de fundos, cheques até determinado valor.

Page 43: Cheque Sustado

42

23- cheques emitidos por entidades e órgãos da Administração Pública Federal

Direta e Indireta, em desacordo com os requisitos constantes do art. 74, §2º do

Decreto-lei n. 200, de 25/02/1967.

24- bloqueio judicial ou determinação do Banco Central do Brasil.

25- cancelamento de talonário pelo banco sacado.

26- inoperância temporária de transporte.

27- feriado municipal não previsto.

28- contra-ordem (ou revogação) ou oposição (ou sustação) ao pagamento,

ocasionada por furto ou roubo, com apresentação do registro da ocorrência

policial.

29- cheque bloqueado por falta de confirmação do recebimento do talão de

cheques pelo correntista18.

30- furto ou roubo de malotes.

? Cheque com irregularidade:

31- erro formal (sem data de emissão, com o mês grafado numericamente,

ausência de assinatura, não registro do valor por extenso).

32- ausência ou irregularidade na aplicação do carimbo de compensação.

33- divergência de endosso.

34- cheque apresentado por estabelecimento bancário que não o indicado no

cruzamento em preto, sem o endosso-mandato.

35- cheque fraudado, emitido sem prévio controle ou responsabilidade do

estabelecimento bancário, ou ainda com adulteração da praça sacada.

18 Atente-se para o fato de que o Banco Central veda a devolução por falta de desbloqueio nos casos

onde a assinatura do correntista for constatada pelo banco sacado em qualquer cheque do talonário, que por certo confirmará haver o emitente recebido o talonário (Circular n. 2655/96/BACEN).

Page 44: Cheque Sustado

43

36- cheque emitido com mais de um endosso.

37- registro inconsistente - compensação eletrônica.

? Apresentação indevida:

40- moeda inválida.

41- cheque apresentado a banco que não o sacado.

42- cheque não compensável na sessão ou sistema de compensação em que

apresentado.

43- cheque devolvido anteriormente pelos motivos 21, 22, 23, 24, 31, não passível

de reapresentação em virtude de persistir o motivo da devolução.

44- cheque prescrito.

45- cheque emitido por entidade obrigada a realizar movimentação e utilização de

recursos financeiros do Tesouro Nacional mediante ordem bancária.

46- comunicação de remessa, quando o cheque correspondente não for entregue

ao banco sacado nos prazos estabelecidos.

47- comunicação de remessa com ausência ou inconsistência de dados

obrigatórios referentes ao cheque correspondente.

48- cheque de valor superior a R$ 100,00 (cem Reais), emitido sem a identificação

do beneficiário, acaso encaminhado ao SCCOP, devendo ser devolvido a

qualquer tempo.

49- remessa nula, caracterizada pela reapresentação de cheques devolvidos pelos

motivos 12, 13, 14, 20, 25, 28, 30, 35, 43, 44, 45, podendo sua devolução

ocorrer a qualquer tempo.

De se observar que a lista apresentada é exaustiva e que dela não faz parte a

hipótese de não acatamento do pagamento pela morte ou incapacidade do emitente,

Page 45: Cheque Sustado

44

ainda que venha esta a ocorrer após a emissão, nos exatos termos do art. 37 da Lei

do Cheque, e que adiante falaremos a respeito.

Quanto à apresentação como requisito da exigibilidade do título em juízo, e

mais adiante trataremos da matéria, alguns doutrinadores e julgadores entendem que

sendo o cheque uma ordem de pagamento dada ao banco, não teria este

executoriedade contra quem o emitiu sem anteriormente ter sido apresentado e após

devolvido pela instituição financeira. Neste sentido, o STF, pela Súmula 600,

consolidou o entendimento de que “cabe ação executiva contra o emitente e seus

avalistas, ainda que não apresentado o cheque ao sacado no prazo legal, desde que

não prescrita a ação cambiária”.

Para a execução do cheque não pago, portanto, é preciso apenas respeitar-se

o lapso prescricional de 6 (seis) meses, contados do término do prazo de

apresentação, conforme art. 59, da Lei do Cheque, valendo ainda lembrar que o direito

de regresso de um coobrigado contra outro, contra o devedor principal ou seu avalista

prescreve em seis meses contados do pagamento ou da distribuição da execução

judicial.

Cabe observar que, segundo entendimento jurisprudencial do Superior

Tribunal de Justiça (STJ), se o cheque é apresentado no curso do prazo de

apresentação, a prescrição não irá contar-se do término desse prazo, mas sim da data

da apresentação. Decidiu o STJ mais de uma vez que “o termo inicial da prescrição,

previsto no art. 59 da Lei n. 7357/85, pressupõe que o cheque não haja sido

apresentado no prazo legal. Caso contrário, a prescrição passa a correr da data da

primeira apresentação.

Em última hipótese, como se verá, prescrito o cheque caberia ação monitória,

prevista no art. 1102 do CPC.

Page 46: Cheque Sustado

45

4 CONTRA-ORDEM E OPOSIÇÃO

4.1 Revogação ou contra-ordem

De início, é preciso bem compreender o conceito e a distinção legal entre o

instituto da revogação e o da oposição ou “sustação” de cheques.

A revogação, ou contra-ordem, está prevista no art. 35 da Lei n. 7357/85,

segundo o qual “o emitente do cheque pagável no Brasil pode revogá-lo, mercê de

contra-ordem dada por aviso epistolar, ou por via judicial ou extrajudicial, com as

razões motivadoras do ato”. Acrescenta o parágrafo único deste artigo que “a

revogação ou contra-ordem só produz efeito depois de expirado o prazo de

apresentação e, não sendo promovida, pode o sacado pagar o cheque até que

decorra o prazo de prescrição”.

A restrição de que a revogação só possa ser feita após expirado o prazo de

apresentação que é de 30 ou 60 dias da data de emissão, conforme o local desta seja

ou não o mesmo do pagamento, é uma exigência que já constava da Lei Uniforme de

Genebra naquilo que se tratava sobre cheques, mas que foi objeto da reserva adotada

pelo Brasil.

Equivale a revogação a ato cambial que limita ao prazo de apresentação

previsto em lei, a eficácia do cheque como ordem de pagamento à vista. Ou seja, é ato

cambial que limita o pagamento do cheque ao prazo de apresentação, razão pela qual

só produz efeito depois de expirado o prazo de apresentação.

Revogação é, em outras palavras, um cancelamento junto ao banco

Page 47: Cheque Sustado

46

depositário, da ordem de pagamento que lhe fora dada por meio do cheque e o motivo

a ser alegado para que tal cancelamento ocorra diz respeito não ao pagamento em si,

mas à permissão de apresentação do cheque para além do prazo legal específico.

Tanto o é que alguns doutrinadores acreditam ser correto poder o emitente do cheque

fazer constar neste, a advertência de que se emitirá contra-ordem para que não haja

pagamento após decorrido o prazo legal para apresentação.

Bem nos esclarece Gladston Mamede quando discorre seu entendimento

sobre o real fundamento da contra-ordem quando assim diz:

[...] parece-me ser um direito do correntista, quando já expirado o prazo de apresentação dos cheques por ele emitidos, revogar os que ainda não foram apresentados para, então, encerrar sua conta bancária. Em verdade, não seria legítimo pretender que o portador, seja ele quem for, (o beneficiário da emissão originária ou um sucessor) pudesse, fugindo à obrigação de apresentar o título para pagamento no prazo legal, forçar o sacador a manter sua conta bancária por mais seis meses, mormente se consideramos que isso tem um custo (as tarifas de manutenção), que não é desprezível.19

4.2 Eficácia temporal da revogação

Como já antes mencionado, a contra-ordem somente experimenta padrão de

efetiva validade, a partir do momento o qual transcorreu o prazo legal destinado à

apresentação do cheque. Portanto, não fica o sacado vinculado à contra-ordem dentro

do regular prazo concernente à apresentação do respectivo título cambial, nem tão

pouco responde face ao pagamento realizado regularmente.

Se manifestação expressa e motivada do emitente, no sentido de não permitir

o pagamento do cheque, resta-nos, questionar entretanto, qual a duração dessa

19 MAMEDE, Gladston. Títulos de crédito: de acordo com o novo Código Civil, Lei 10.406 de

10/01/2002. São Paulo: Atlas, 2003. p. 285.

Page 48: Cheque Sustado

47

revogação, ou seja, vale por tempo indeterminado ou, contrario sensu, existe alguma

identificação que denote o lapso limitado da sustação do pagamento? Nada

pronunciou o legislador a esse respeito, e, portanto, acreditamos ser plausível que se

sustente que a contra-ordem deve perdurar pelo prazo restante, correspondente à

prescrição do cheque. Isto porque, atingido então o marco prescricional, não haveria

mais motivação para que o sacado mantivesse a contra-ordem dentro do seu controle

de fiscalização.

Perdurará, outrossim, a revogação enquanto não fluir o tempo regular atinente

à prescrição do cheque, de modo que compete ao beneficiário somente a via judicial

para o recebimento do pagamento.

Enfim, a revogação focaliza apenas um determinado problema em razão do

qual é impedido o pagamento, porém tem sua validade limitada, porque somente

traduz os seus efeitos após o decurso do prazo de apresentação do cheque e sua

eficácia subordina-se ao espaço de tempo que se coaduna com a prescrição do

próprio título.

Prazo de validade da revogação:

4.3 Oposição ou sustação

O outro instituto é o da chamada oposição, vulgarmente conhecida como

“sustação” do cheque, onde, mesmo durante o prazo de apresentação, o emitente ou o

portador legitimado pode sustar o pagamento do cheque, manifestando por escrito ao

Termino do prazo para apresentação do cheque

Prescrição do exercício do direito de ação executiva

Page 49: Cheque Sustado

48

banco, oposição fundada em relevante razão de direito, na forma do art. 36 da Lei n.

7357/85, razão esta, cuja relevância, cabe esclarecer, não cabe ao banco julgar. A

apresentação de relevante razão de direito é requisito próprio da sustação, já que na

revogação ou contra-ordem, exige-se do emitente apenas que este apresente as

razões motivadoras do ato.

O termo “sustação” do cheque apresenta-se inadequado já que o que se susta

não é o cheque, mas sim o seu pagamento. A oposição não invalida a ordem contida

no cheque, apenas suspende o seu cumprimento. Outrossim, produz efeitos a partir da

cientificação do banco sacado, desde que anterior à liquidação do título.

Muito se discute na doutrina quais seriam os demais motivos que porventura

justificassem a oposição ao pagamento do cheque, além das clássicas hipóteses de

extravio do título, falência ou incapacidade do portador. Há quem admita que o

desapossamento do título já emitido ou do talão de cheques, são motivos ensejadores

do pedido de oposição. Outros famosos doutrinadores, dentre eles Rubens Requião20,

admitem também o cancelamento do negócio que originou o cheque como causa

justificada para a oposição. Contudo, de forma contrária, a doutrina mais recente

demonstra que o descumprimento da obrigação pelo portador do cheque não autoriza

sua revogação ou sustação, se ele já circulou. Isso porque, sendo o cheque título de

crédito e possuindo este tal característica, já tendo entrado em circulação e estando

nas mãos de terceiro de boa-fé, vincula seu emitente pela declaração unilateral de

vontade que emitiu.

20 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 17. ed. São Paulo: Saraiva, 1997. v. II, p. 136.

Page 50: Cheque Sustado

49

4.4 Autonomia e independência x sustação: situação conflitante

“Autonomia: (Do gr. autonomia). S.f. 1. Faculdade de se governar por si

mesmo. 2. Direito ou faculdade de se reger por leis próprias”.21

Ainda, citando Galvão Ramiz22, Gladston Mamede assim define autonomia:

“Nomós, em grego, traduz a idéia de norma, regra; autos corresponde à idéia de a si

próprio. Autonomia, portanto, como regulamento e governo próprio”23.

Importante característica do título de crédito, a autonomia é no cheque, a

qualidade que este possui de existir por si mesmo, de ser auto-suficiente, ou seja, de

contar este com as prerrogativas da validade e exigibilidade, independentemente do

negócio jurídico que o criou, que propiciou o seu nascimento.

Porém, não só autônomo é o cheque, já que as obrigações assumidas pelos

partícipes da relação cambiária, tais como sacador, avalista, endossante, sacado,

endossatário, soma-se o princípio da abstração, que afirma ser a cártula declaração

unilateral de crédito que independe do negócio que o gerou. Em outros termos, não se

cogita suscitar a causa debendi.

No entanto, apesar de ter o título cheque uma história, um lastro, de ser fruto de

uma transação, a cártula é, para todos os efeitos, melhor dizendo, para ‘quase’ todos

os efeitos, uma declaração autônoma do devedor, que, ao assinar o título e apostar ali

21 FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Aurélio século XXI: o dicionário da língua

portuguesa. 3. ed. rev. e ampl. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1999. p. 236. 22 GALVÃO, Ramiz. Vocabulário etimológico, ortográfico e prosódico das palavras portuguesas

derivadas da língua grega . Rio de Janeiro: Garnier, 1994. 23 MAMEDE, Gladston. Títulos de crédito: de acordo com o novo Código Civil, Lei 10.406 de

10/01/2002. São Paulo: Atlas, 2003. p. 240.

Page 51: Cheque Sustado

50

a sua vontade, como já visto, se compromete, naquele ato, a solver a obrigação então

certificada.

Diz-se obrigação autônoma para quase todos os efeitos face à confusão

gerada pela própria Lei n. 7357/85, onde pela leitura dos artigos 13 e 15,

respectivamente, temos que: “as obrigações contraídas do cheque são autônomas e

independentes” e o “emitente garante o pagamento considerando-se não escrita a

declaração pela qual se exima desta garantia”.

Mais adiante, ainda na mesma citada Lei, rezam os artigos 35 e 36, ser

passível de revogação ou sustação o pagamento do cheque desde que o emitente

indique “as razões motivadoras do ato” e que se apóie a oposição “em relevante razão

de direito”.

Ou seja, o que se descortina é um conflito que advém da própria característica

da autonomia que talvez nem se poderia ser chamada como tal, já que o vocábulo

inspira, traduz idéia de permanência, de imutabilidade, de coisa pertencente a algo

para todo o sempre. Faceta esta que talvez não possa o cheque apresentar, já que por

um lado, o título em nada depende do negócio que o gerou, e por outro lado, o não

pagamento do mesmo título deve, ou melhor, só pode ser suscitado se esclarecidos o

porque da sua recusa, que certamente se funda no negócio por óbvio realizado entre

emitente e beneficiário.

Bem ilustra o contra-senso, já por vezes citado Gladston Mamede quando,

discorrendo sobre a questão faz menção ao julgado em

Recurso Especial 43.513/SP, que mereceu relatoria do Ministro Aldir Passarinho Júnior:’a autonomia e independência do cheque em relação à relação [sic] jurídica que o originou é presumida, porém não absoluta, sendo possível a investigação da causa debendi e o afastamento da cobrança, quando verificado que a obrigação subjacente claramente se ressente de embasamento legal’. Na mesma

Page 52: Cheque Sustado

51

direção o Recurso Especial 221.835/DF, no qual o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira afirmou que ‘a discussão da relação subjacente à emissão do cheque é permitida se houver sérios indícios de que a obrigação foi constituída em flagrante desrespeito à ordem jurídica ou se configurada a má-fé do possuidor do título’. Adiante, emendou o magistrado: ‘a falta de causa que justifique a exigência do título pode ser alegada e provada pelo devedor que participou diretamente do negócio jurídico realizado com o credor’. Acrescentou-se que ‘a demonstração da origem do crédito, exigida pelo art. 82 do DL 7661/45, deve ajustar-se à abstração e autonomia do cheque. Se, de um lado, o título representa, por si só o débito e já denota a obrigação do falido, de outra ponta, a verificação dos créditos, na falência, tem objetivo aferir a legitimidade dos mesmos, de modo a impedir fraudes e abusos’ .24 (grifo nosso).

4.5 Implicações da sustação de cheques

Na prática, a sustação do cheque deve ser feita pessoalmente na agência

bancária do correntista, por carta, e com uma cópia reprográfica do Boletim de

Ocorrência, se o motivo for decorrente de roubo, ainda que tal solicitação já tenha

ocorrido por via telefônica ou e-mail.

De preferência, a carta deve ser feita em duas vias, para que uma fique com o

banco e a outra, devidamente carimbada pelo funcionário, sirva como prova para o

emitente (Anexo C).

É importante frisar que a não confirmação por escrito da sustação do

pagamento faculta ao portador o direito de reapresentação do cheque, tendo curso

normal a sua compensação, onde o cheque poderá ser devolvido por qualquer dos

demais motivos (sem fundos, etc.). No caso de ter o emitente efetivamente confirmado

por escrito a sustação, o cheque deverá ser devolvido pelo motivo 43, que significa

“cheque devolvido anteriormente pelos motivos 21, 22, 23, 24 e 31, não passível de

24 MAMEDE, Gladston. Títulos de crédito: de acordo com o novo Código Civil, Lei 10.406 de

10/01/2002. São Paulo: Atlas, 2003. p. 262.

Page 53: Cheque Sustado

52

reapresentação em virtude de persistir o motivo da devolução”.

A isenção de responsabilidades decorrentes do título, passa então a valer a

partir da data de comunicação, sendo certo que o Banco, conforme já mencionamos, é

obrigado a acatar a ordem de sustação, ainda que nitidamente perceba a má-fé do

emitente. É o disposto no §1º art. 3º, da Resolução 2747 de 28/06/00 do Banco

Central: “[...] não cabendo à instituição examinar o mérito ou a relevância da

justificativa”.

Nos casos de roubo, essa medida não só isenta o emitente de

responsabilidades como também permite que ele tenha condições de defesa num

eventual caso de dívida protestada, processo ou inclusão de nome em órgãos de

proteção e restrição de crédito.

Contudo, se o motivo da sustação foi outro que não roubo, como por exemplo

uma compra não entregue, o emitente deve estar ciente de que corre riscos com a

efetiva sustação do pagamento, tendo a dívida executada e o nome sujo na praça. No

mesmo exemplo, e agora em sentido contrário, para o comerciante, que vendeu e não

recebeu porque o cheque foi sustado, tem este como providência a ser tomada a

cobrança judicial.

4.6 Aspectos comuns e confrontantes entre os institutos da contra-ordem e

oposição

Tanto a revogação ou contra-ordem quanto a oposição ou “sustação”

impedem que o banco cumpra a ordem de pagamento que lhe foi dada quando da

emissão do título. Por isso, elas se excluem. Uma vez praticada uma, a outra é

Page 54: Cheque Sustado

53

incabível, por inócua.

As diferenças entre a revogação e a sustação, resumem-se a quem pode

realiza-las, a forma de sua realização e o momento em que podem ser feitas, como

acima já elucidado, sendo certo que, por força do art. 3º § 3º da Resolução n. 2747/00

do BACEN (Anexo B) as solicitações de sustação e de contra-ordem subordinar-se-ão

à identificação do interessado, consignada mediante assinatura em documento

escrito, senha eletrônica ou dispositivo passível de ser utilizado como prova para fins

legais. O mesmo dispositivo, em seu § 4º, admite que as solicitações de sustação e de

contra-ordem sejam realizadas em caráter provisório, por comunicação telefônica ou

por meio eletrônico, hipótese em que seu acatamento será mantido pelo prazo máximo

de dois dias úteis, após o que, caso não confirmadas, deverão ser consideradas

inexistentes pela instituição financeira.

Em algumas hipóteses, segundo art. 3º § 5º da Resolução do BACEN já

citada, podem os cheques que porventura tenham sido devolvidos por motivo de

sustação e de contra-ordem, uma vez reapresentados, ter de volta seu curso normal.

São as seguintes hipóteses:

a) levantamento da sustação ou da contra-ordem por parte do oponente ou do

emitente;

b) não confirmação da solicitação provisória de sustação ou contra-ordem, realizadas

em caráter provisório, no prazo de dois dias úteis.

Outro aspecto relevante sobre revogação e oposição, como faz lembrar Celso

Barbi25, é o de que ambas produzem o mesmo efeito prático, embora tenham

25 BARBI FILHO, Celso. Questões jurídicas sobre a inadimplência no pagamento do cheque. Revista

de Direito Mercantil, São Paulo, n. 115, s.d.

Page 55: Cheque Sustado

54

requisitos de legitimação, forma e prazos distintos. Daí, há quem sustente na doutrina,

que o Banco deve acatar a revogação mesmo quando dada durante o prazo de

apresentação, pois seu efeito é o mesmo da sustação.

Portanto, certo é que, ao nosso ver, o efeito da suspensão do pagamento

ainda não recebeu dos estudiosos a necessária e imprescindível atenção, decorrendo

daí a ausência de divulgação destas técnicas, o que conseqüentemente faz nascer

problemas que interferem na compreensão dos institutos. Desde o fato motivador da

revogação/sustação do cheque até a formalidade que deve permear a conduta do

interessado, inclusive na fixação da responsabilidade nos casos onde inexistem

condições de procedibilidade do seu pedido, afloram pontos que merecem ser

explorados em análise cuidadosa.

A forma corriqueira com que vem sendo utilizado este instituto, atitude esta

acobertada pelas instituições bancárias que relaxaram na observância desses

preceitos, chegando até mesmo a admitir sustações por telefone, conforme permissão

do próprio Banco Central, nos leva a crer que se tornaram a revogação e a sustação

meios fáceis de se furtar ao cumprimento de uma obrigação assumida, de fraudar ao

pagamento devido, o que com certeza, gera grande preocupação dentre os

comerciantes, que recebem cheques em suas vendas, constituindo questão relevante

nas relações de consumo.

Em apertada síntese, a oposição e a contra-ordem, representam, sob o prisma

do Banco sacado, uma diligência de caráter urgente, revestida da necessidade de se

bloquear o pagamento, mas que prescinde de outras conseqüências, evidenciando o

aspecto jurisdicional de uma demanda, cujo deslinde dependerá da análise e exame

apurado da possibilidade de ter ou não ocorrido procedimento correto por parte do

sacador.

Page 56: Cheque Sustado

55

Todavia, há que se lembrar que a revogação e a oposição impedem apenas

que se efetive a ordem de pagamento contida no cheque, não o descaracterizando

como título de crédito, que pode ser normalmente cobrado em juízo, ocasião em que o

emitente poderá discutir a sua obrigação, ou melhor, o não cumprimento dela.

Importante frisar que a relevância da razão jurídica invocada pelo oponente não é

deixada ao julgamento do banco sacado, mas sim ao juiz. De se notar que, se

consideradas infundadas por decisão judicial, a revogação ou a oposição

caracterizam crime de estelionato previsto no art. 171, § 2º, inciso VI do Código Penal.

Por fim, em se tratando de análise final dos efeitos gerados pelos dois

institutos, inclusive face à instituição financeira, essencial é asseverar que a revogação

do título, pelo próprio prazo a ser respeitado, confere mera expectativa ao dador da

ordem, enquanto a oposição representa direito líquido e certo de que o pagamento não

será executado, sob pena de ser responsabilizado o Banco, comprovando-se a

desorganização deste, quando efetuado o desembolso preterindo a vontade

manifestada pelo correntista ou portador legitimado.

Page 57: Cheque Sustado

56

5 DECLARAÇÕES DE VONTADE NO TÍTULO E FORA DELE

5.1 Teoria da vontade

Na tentativa de traçarmos uma introdução a análise das diversas formas de

manifestação de vontade configuradas num título, optamos por discorrer, ainda que

brevemente, sobre a forma na qual e pela qual esta declaração surge e se apresenta

aos olhos do Direito e conseqüentemente da sociedade.

De acordo com a teoria subjetiva ou da vontade, o ao jurídico é, por sua

essência, um ato de vontade e assim se explica: quando, no exercício de sua

autonomia, constituem-se relações que à ordem jurídica interessam, a vontade é, pelo

Direito, realizada, já que dele recebe a força de produzir efeitos jurídicos de

conformidade com a norma atributiva.

Considerada em si apenas por meio do processo de sua formação, a vontade

é um fato interno, mero fato psíquico que efeitos só pode gerar em sendo por outrem

conhecido, exteriorizando-se. Deve, pois, a vontade, necessariamente, ser

manifestada ou declarada, para que dela, surtam os seus efeitos.

Contudo, se um conflito sobrevier entre a vontade e sua declaração, aquela,

por ser o elemento fundamental do ato jurídico, há que prevalecer sobre esta.

Sem dúvidas, somente quando a vontade é manifestada ou declarada,

tornado-se conhecida de outrem, torna-se capaz de gerar efeitos no mundo

jurídico. Mas do fato de a vontade não ter sido ainda exteriorizada, não se pode

deduzir obrigatoriamente a circunstância de não ser possível ao direito interessar-

Page 58: Cheque Sustado

57

se por ela.

Desta feita, mesmo tendo a teoria subjetiva ou para muitos, teoria da vontade,

sofrido inúmeras e justas críticas, bem como passado por uma série de reformulações

e embora não prevaleça nos dias atuais tal como fora concebida originalmente, ainda

existe a preocupação de se apurar a vontade real do declarante, sempre quando nos

defrontamos com a possibilidade de ter ocorrido algum dos vícios de consentimento.

Segundo seus defensores, o título de crédito se origina na manifestação da

declaração de vontade de seu criador, o emitente. Formalizado o título, preenchidos

pois seus requisitos, individualizado estará seu valor e passa a ser a cártula, fonte de

um direito de crédito, direito este cujo detentor será aquele que tenha o título sob seu

poder, o que obriga o subscritor do título ainda que nos casos de perda ou roubo

deste.

Em sua obra, a qual por vezes neste trabalho fazemos referência, o Prof. Wille

Duarte Costa, cita João Eunápio Borges que explica:

A simples redação do título é fonte de obrigação independente de qualquer acordo exigido pelos contratualistas. Porque - esclarece Valeri - a manutenção da declaração da res, no título, tem função semelhante à aceitação no campo do direito comum. Assim, a perfeição da obrigação depende somente da criação do título. Mas a sua eficácia depende de algo mais, ficando condicionado o nascimento do vínculo obrigatório - a relação de débito e crédito exige dois sujeitos determinados - à aquisição por alguém da propriedade do título, aquisição que é uma conditio juris da obrigação.26

Ou seja, a obrigação do emitente está incorporada ao título e o acompanha,

onde quer que este título esteja, seja nas mãos de pessoa legitimada (fechando o ciclo

obrigacional) ou não. A obrigação persiste ainda que ausente ou contra a vontade do

criador do título. Em síntese, para os adeptos da teoria da criação do título, grupo com

26 COSTA, Wille Duarte. Títulos de crédito. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 143.

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58

o qual ousamos fazer parte, o que importa é a declaração firmada no título e não a real

vontade do subscritor em obrigar-se, podendo este vir a responder por esta obrigação

na hipótese de cair o título sob o domínio de possuidor de má-fé.Corrente esta que, por

outro lado, também vem assegurar direito de quem, de boa-fé seja portador do título,

uma vez que, reitera-se, pode o título já ter circulado.

5.2 Emissão: declaração de vontade

Dentre todos os demais requisitos dos títulos de crédito já apontados,

sobressai aquele que talvez seja, ao nosso sentir o de maior discussão enquanto

confrontado com os requisitos da validade e exigibilidade - o de que seja lícita a sua

emissão, ou seja, de que esta se opere dentro dos limites, dos parâmetros traçados

pelo Direito.

O advento do novo Código Civil (que ainda por hábito insistimos em assim

defini-lo), trouxe consigo relevantes modificações à aplicação do direito e dentre elas a

novidade de incorporar os atos privados a princípios de moralidade pública.

Vejamos. O art. 113 do citado diploma legal traduz que os negócios jurídicos

devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração.

Mais adiante, o art. 122, dispõe que consideram-se ilícitas as condições dos atos

jurídicos que sejam contrários à lei, à ordem pública ou aos bons costumes, incluindo

pois aquelas condições que privarem de todo efeito o negócio jurídico (ainda sob a

anuência bilateral) ou o sujeitarem ao arbítrio de somente uma das partes.

No Capítulo dos Defeitos do Negócio Jurídico, examinando-se os artigos 138

e ss., o que se constata é que para a validade do negócio, faz-se necessária a

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59

adequação entre a vontade do obrigado e o negócio no qual se obriga, tendo-se por

negócios anuláveis aqueles que sejam fruto de situações eivadas de erro ou

ignorância (arts.138 e ss), dolo (arts. 145 e ss.), coação (arts. 151 e ss.), estado de

perigo (arts. 156), lesão enorme ou lesão no contrato (art. 157) e fraude contra

credores (arts. 158 e ss.).

Com isso, o que se observa é que todo o poder atribuído aos particulares para

se obrigarem juridicamente, passa a conhecer novos limites, sendo portanto, nula a

obrigação quando o motivo gerador desta e comum a ambas as partes, for ilícito.

A princípio, tem-se então como não exigível a cártula que seja emitida para

representar negociação desacobertada pelo Direito, e como exemplo podemos citar

as dívidas de jogo ou de aposta que nesta linha traçada e com fulcro no art. 814 do

Código Civil, não obrigam ao pagamento.

É disposição do caput do citado artigo: “as dívidas de jogo ou de aposta não

obrigam a pagamento; mas não se pode recobrar a quantia que voluntariamente se

pagou, salvo se foi ganha por dolo, ou se o perdente é menor ou interdito”.

E tal inexigibilidade alcança esfera maior quando, no art. 815 do diploma civil,

desobriga-se o pagamento ainda que tal quantia tenha se originado de empréstimo

feito por terceiro no ato de jogar ou apostar ou para jogo ou aposta.

Como mencionado no § 1º do art. 814, a regra estende-se a qualquer contrato

que encubra ou envolva reconhecimento, novação ou fiança de dívida de jogo.

Contudo, tal nulidade não pode ser oposta ao terceiro de boa-fé, já que entre os títulos

de crédito e aqui em especial o cheque, tal reserva tem ainda maior repercussão, face

aos famosos princípios da autonomia, abstração e independência, já conhecidos.

Ainda no que tange à cobrança por dívida de jogo ou aposta, há que se

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60

considerar para fins de estudo, a possibilidade de repetição do indébito, ressalvadas

as hipóteses de tal quantia haver sido obtida através de dolo ou se o perdedor

(pagador da quantia) for menor ou interditado, consequentemente incapaz para o ato

realizado.

De tudo, o que se extrai é que, procurou a lei proibir, coibir, o endividamento

pelo jogo e em gritante contra-senso, ao mesmo tempo, preservou o jogo realizado

ainda que em se tratando este de ilícito.

Para muitos doutrinadores, tal conflito de normas seria facilmente resolvido

pelo art. 166, II do Código Civil. No entanto, acreditamos ser tal antítese, ou seja, a

aceitação do ato ilícito já realizado, a mais pura demonstração e exemplo do que

também denota ser o novo Código - a valorização da declaração de vontade do

indivíduo, vontade esta livremente exercida e manifestada através do agir, e

conseqüentemente da aquisição naquele momento específico, de responsabilidades

advindas daquele ato que se sabia ser contrário ao Direito. E mais, nos atrevemos até

a declarar que a aplicabilidade de legislação nestes moldes, seria como atingir a

plenitude de um estado democrático de direito, inerente aos países avançados, onde a

cultura, a informação e os altos níveis de escolaridade, permitem que se atribua ao

cidadão a opção de agir sem a massiva intervenção estatal, infelizmente tão peculiar à

nossa realidade brasileira.

Tal disposição é, ao nosso sentir, a mais clara demonstração da intenção do

legislador em conferir direito ao exercício autônomo da vontade, da liberdade de agir

consciente. Ultrapassa os contornos do aclamado direito subjetivo, refletido no poder

que o ordenamento jurídico concede ao particular para que satisfaça interesse próprio,

ainda que tal direito venha a ferir sua função precípua, de respeitar e preservar sua

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61

função social.

Portanto, excetuando os casos de envolvimento de incapaz, fica vedada a

repetição do indébito no caso em análise, ainda que tenha sido o título entregue pró-

soluto (pagamento realizado). Da mesma maneira, também ilícita a arguição de

oposição de pagamento ao credor, mormente nos casos em que tal título já tenha

chegado em mãos de terceiro de boa-fé, que se beneficia do princípio da

inoponibilidade das exceções pessoais.

Responde sim o emitente pelo ato praticado, pela subscrição do título. E

responde também aquele que emprestou quantia na realização do ato ilícito ou para a

realização do ato ilícito.

Ainda no que tange às declarações de vontade e em se tratando de ilicitude na

emissão do título (e na espécie a possibilidade da sua sustação), há que se atentar

para o fato de se avaliar de que ordem foi a intenção do emitente. Há que se averiguar

se utilizou este da licença legal para atingir fim ilícito e com isso usou de ardil para

aparentemente agir de forma lícita, quando, lá no seu íntimo, na verdade já tinha este

objetivo ilícito. Nestes casos, que não raros, muito antes pelo contrário, citamos como

exemplo a prática corriqueira de quem compra mercadoria e simula pagamento com

cheque pós-datado ou pré-datado e após a compra efetuada, susta ou revoga o

pagamento do título, e em verdadeiro descaramento, acaba por lesar o comerciante.

Sobre o exercício consciente da prática ilícita, encontramos preciosa citação

doutrinária do Prof. Gladston Mamede que de forma maravilhosa traduz a

essencialidade dos atos observados:

a distinção entre o ato contrário à lei e o ato que se destina a fraudar a lei é tratada, em lição já vetusta, por Paulo, no Digesto de Legibus (Livro 29), ao afirmar que ‘opera contra lei quem faz o que a lei proíbe, depois em fraude à lei quem, salvadas as palavras da lei, elude o sentido dela’ (‘contra legem

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62

facit, qui id facit, quod lex prohibet: in fraudem vero, qui salvis verbis legis, setentiam eius circumvenit’).27

Contudo, mais precisa é, ao nosso ver, a citação que faz Ronaldo Brêtas Dias,

em sua obra, do grande mestre Carnelutti, quando então este, em poucas palavras nos

ensina a definição de fraude: “é atividade dirigida a iludir a lei, e se decompõe, por

conseguinte, em dois elementos, violação da lei e ocultação da violação”28.

27 MAMEDE, Gladston. A advocacia e a Ordem dos Advogados do Brasil. Porto Alegre: Síntese,

1999. p. 382. 28 DIAS, Ronaldo Brêtas de Carvalho. Fraude no processo civil. 2. ed. rev., atual. e ampl. Belo

Horizonte: Del Rey, 2000. p. 21.

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63

6 APLICABILIDADE DA SUSTAÇÃO

6.1 Oposição no cheque administrativo

Três são as definições básicas do instituto cheque:

a) constitui, qualquer uma de suas modalidades, ordem de pagamento à vista,

incondicionada dada a um banco, por alguém que disponha de fundos disponíveis

no mesmo, em favor próprio ou de terceiro.

b) o emitente do cheque garante seu pagamento.

c) o cheque possui a função típica de um instrumento/promessa de pagamento.

Todavia, coisa diversa se verifica, quando se esteja diante do chamado

“cheque administrativo”, tendo em vista confundirem-se na mesma pessoa, as figuras

do emitente e do sacado do título, motivo pelo qual, grande parte dos doutrinadores

afasta a possibilidade de contra-ordem no cheque administrativo, já que impossível

ordem que dê uma pessoa a si mesma.

O entendimento majoritário é de que, ainda que tal ordem de revogação fosse

expedida por quem extraiu o cheque, a agência sacada não poderia atender tal

pedido, já que a contra-ordem só pode ser dada pelo emitente e este é o próprio

banco.

Descartada então a hipótese de contra-ordem de pagamento, pela própria

inadequação aos cheques administrativos, cumpre-nos analisar a possibilidade de

oposição ao pagamento deste tipo de cheque.

Com efeito, o caput do art. 36 da Lei n. 7357/85 dispõe que: “Mesmo durante o

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64

prazo de apresentação, o emitente e o portador legitimado podem fazer sustar o

pagamento, manifestando ao sacado, por escrito, oposição fundada em relevante

razão de direito”.

Pela leitura do dispositivo legal, como sacador e sacado confundem-se no

cheque administrativo, poder-se-ia, desde logo descartar a figura do emitente.

Todavia, o emitente pode fazer oposição ao pagamento de cheque administrativo em

face do portador de má-fé dele, tendo em vista que o artigo 25 da Lei do Cheque

expressamente excluiu do rol das exceções causais de que trata e veda a utilização,

aquela relativa ao portador do título que o adquiriu em consciente detrimento do

devedor, na hipótese em análise, a própria instituição financeira.

Neste sentido, ilustra tal entendimento, o acórdão do Tribunal de Alçada de

Minas Gerais, onde em Apelação Cível n. 0303551-0, proferida pela 6ª Câmara

Cível, tendo como Relator o Juiz Belisário de Lacerda, julgou possível a sustação

do pagamento pelo banco no caso de má-fé do portador.

Apelação cível - Execução por título extrajudicial - cheque administrativo -sustação do pagamento - fraude - falsificação de assinatura - embargos do devedor-prova pericial - fraude comprovada - exceção pessoal oposta pelo devedor - exceção de dolo. Se a causa ‘debendi’ provém de meios ilícitos ou inidôneos, desaparecem os motivos do rigorismo do direito cambial, em defesa da circulação dos títulos e do terceiro de boa-fé. (j. 31.8.2000) (grifo nosso).

6.2 Dívida de jogo

Expressa o artigo 814 do Código Civil que a dívida de jogo não obriga ao

pagamento, mas que uma vez efetuado o desembolso voluntário da quantia, exceto se

comprovado o dolo ou nas hipóteses que indiquem o desfavorecimento de menor ou

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65

interdito, inocorre repetição.

Desta feita, aquele que paga uma dívida desta natureza, assim o faz por mera

liberalidade, e seu ato de pagar revela uma conduta intencional de por fim àquele

dever moral. É que para muitos, a obrigação natural vem sendo encarada como um

dever moral, ficando na consciência do responsável o seu cumprimento espontâneo.

Portanto, uma vez que se emite um cheque para pagamento de dívida desta

natureza, demonstrada está a intenção do devedor sacador em liquidar o débito e não

há que se cogitar ser possível a sustação do pagamento. Se em âmbito geral, a

emissão do cheque já traduz a clara manifestação da vontade do emitente que muitas

vezes é, por obrigação legal, compelido a pagar uma dívida, maior ainda será a

demonstração desta vontade, desta intenção, quando nascer esta para saldar dívida

que por meio judicial não se cobra, face à ausência do vinculum iures.

No caso, acreditamos que nem mesmo o argumento da ilicitude da causa que

deu origem à dívida não prospera, já que pela característica da abstração dos títulos

cambiais, o cheque não se vincula à sua causa.

Mister se lembrar que pelo princípio da circulabilidade, pode vir o título a cair

em mãos de terceiro de boa fé e neste caso, por proteção a este, seria defeso ao

emitente se opor ao pagamento.

Ou seja, só nos casos em que o título estiver na posse do beneficiário direto é

que poderia se questionar a origem da dívida que deu causa à emissão do cheque,

sendo certo que o onus probandi no sentido de caracterizar a inexigibilidade da dívida

de jogo, será do próprio sacador.

Ultrapassada a fase probatória que ficou a cargo do emitente, e uma vez

demonstrada a origem da dívida, há quem entenda que desobrigado se encontra o

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66

mesmo de satisfazer o pagamento, já que nasceu este de ato ilícito, vedado pela

legislação em vigor e portanto carente estaria o interessado credor do elemento que

funciona como pressuposto indispensável ao exercício regular da ação.

Em síntese, contrariando os princípios da autonomia e abstração inerentes ao

título em estudo, a inexigibilidade do pagamento da dívida de jogo poderia ser

suscitada, conseqüentemente possibilitando a sustação do cheque.

Sobre o tema, comenta Carlos Henrique Abrão:

Defender tese em sentido diametralmente oposto além de revelar um completo non sense desemboca na perfeita contradição entre o princípio de ordem pública e outro de natureza privada, proveniente da relação jurídica entre os particulares, mormente no aspecto do pagamento que se descortina indevido.29

Contudo, seria aqui prudente, abordar os casos onde a destipificação criminal

se impõe, como no caso de cheque sem fundos emitido com base em causa ilícita.

Neste exemplo, quando o título vem especificando uma causa que por si só é

reprovável ante a ausência de critério normativo a permitir a exigibilidade prestacional

de cunho material, a destipificação se faz presente

6.3 Morte ou incapacidade do emitente

É taxativo o artigo 37 da Lei do Cheque, quando reza que a morte do emitente

ou a incapacidade superveniente à emissão não invalidam os efeitos do cheque;

portanto, a oposição ou sustação só poderá ocorrer nos casos legais previstos.

Diferentemente do sistema anglo-americano, o nosso continua a ter como

29 ABRÃO, Carlos Henrique. Contra-ordem e oposição no cheque . 3. ed. rev. ampl. e atual. São

Paulo: Editora de Direito, 1997. p. 80.

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67

exigível o título cambiário, pelo que, sobrevindo o óbito do emitente, verificando-se a

existência de fundos disponíveis, deve o sacado realizar o pagamento de cheque que

lhe for apresentado. Ainda que ausentes os fundos disponíveis para a satisfação do

crédito, tal fato não desonera os herdeiros que possivelmente, nos limites de seus

quinhões, responderão pela dívida deixada pelo de cujus.

Ultrapassado então o prazo para apresentação do título, essencial que se

proceda à contra-ordem do pagamento, que poderá ser feita pelos herdeiros, através

do inventariante, todos estes legitimados para tal ato, em decorrência da substituição

legal.

Nem mesmo a incapacidade assumida após a emissão do título autoriza a

sustação do pagamento, e caso isso venha a ocorrer, responderá o curador perante o

credor.

Norma esta que se esforça por assegurar o melhor possível a proteção do

incapaz, sem contudo, deixar de atender e dar toda a garantia aos terceiros de boa-fé

que com ele tratam.

Quanto à averiguação das obrigações contraídas pelo incapaz, apenas a título

de ilustração, interessante é a normatização da matéria adotada pelo sistema francês,

onde em seu Código Civil, preleciona-se sobre a redução das obrigações excessivas

contratadas pelo incapaz. Naquele sistema, e em especial nos casos envolvendo

menores de idade, os tribunais têm que apreciar o caráter excessivo da obrigação,

levando em consideração não somente a fortuna do menor e o caráter da despesa,

mas também a boa ou má-fé das pessoas que com ele contratam, protegendo assim o

incapaz da má administração de seu representante.

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68

7 DO NÃO PAGAMENTO DO TÍTULO

7.1 Ação cambial

Sidou distingue pagamento regular e não regular da seguinte maneira:

a despeito da apresentação perfazer-se regular, o pagamento pode ser obstaculizado por contra-ordem ou revogação do emitente ou oposição de terceiros, e pela emergente insuficiência de numerário disponível em mão do sacado.

Assim, o cheque infrutiferamente apresentado há de prosseguir seu iter iures, cabendo ao portador, ou defender-se se a oposição disser com sua conduta ou seu status, ou proceder contra os obrigados pelo título, no caso de insolvência do sacado. Triunfando na primeira hipótese e posteriormente embolsando o valor do saque, ou bem sucedido na segunda, com posterior ressarcimento obtido dos devedores solidários, o portador terá sido satisfeito mediante um pagamento não regular, distinguido do pagamento regular, qualificadamente o que é efetuado pelo sacado imediatamente após a apresentação.30

Na falta de pagamento do título, o art. 47 da Lei do Cheque, prevê a

possibilidade do portador do título, beneficiário direto ou não, ajuizar ação cambial,

podendo a mesma ser dirigida contra o emitente e seus avalistas, (ação direta), ou

contra o endossante e seus avalistas (ação de regresso).

Na hipótese de execução contra os endossantes e seus avalistas, que por

força do art. 21 da Lei n. 7357/85 são responsáveis pelo pagamento da dívida, faz-se

necessária a comprovação de que o cheque foi apresentado ao sacado, dentro do

prazo legal do art. 33 da citada lei, e que houve recusa no pagamento, recusa esta que

será comprovada pelo protesto.

30 SIDOU, J. M. Othon. Do cheque: lei nacional combinada com a lei uniforme, jurisprudência. 3. ed.

Rio de Janeiro: Forense, 1986. p. 195.

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69

Segundo art. 1º da Lei n. 9492/92, protesto é ato formal e solene pelo qual se

prova a inadimplência e o descumprimento de obrigação originada em títulos e outros

documentos de dívida. Desta feita, verifica-se que a importância central do protesto é a

realização de prova da apresentação para aceite ou, nos casos sob estudo, de não

pagamento. Neste contexto, é importante ressaltar que a prova da apresentação, com

o protesto, é inequívoca, absoluta, tendo a doutrina considerado a intimação de que o

protesto se realizará em três dias, como uma apresentação indireta do título devido.

Definindo protesto, Prof. Wille Duarte Costa assim o fez:

Protesto é antes de tudo, prova. Dentro das finalidades legais contidas na legislação que rege os títulos de crédito, ele é prova insubstituível da apresentação do título ao devedor. O resto é conseqüência. Em muitos casos, o devedor nem sabe em mão de quem se encontra o título, que, por isso, deve ser apresentado a ele, obrigatoriamente.31

Alguns doutrinadores entendem ser o protesto dispensável mesmo nas ações

executivas contra os endossantes, podendo apenas com a declaração do sacado no

título se fazer prova da recusa no pagamento. Embasam tal prerrogativa nos dizeres do

§1º do art. 47 da Lei n. 7357/85, que dispõe que as declarações emitidas pela

instituição financeira sacada, ou pela câmara de compensação, dispensam o protesto,

produzindo, para fins cambiários, os mesmos efeitos deste.

Contudo, a grande maioria vai contra a dispensa do protesto, e alguns, como

Restiffe e Neto, chegam mesmo a evidenciar a obrigatoriedade do mesmo em toda e

qualquer situação por ser este meio obrigatório imposto por lei para conservação do

direito de ação. O autor veementemente rechaça a ausência do instituto, alegando que

o que se verifica é a “subestimação ou amenização do rigor da exigência legal do

protesto como insubstituível meio de prova da mora e requisito máximo da

31 COSTA, Wille Duarte. Títulos de crédito. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 223.

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conservação do direito de ação”32.

Contudo, enxergamos a dispensa e desnecessidade do protesto face ao

emitente e seu avalista muito mais como uma questão de valoração da

responsabilidade assumida na emissão do título que uma inobservância ao rigorismo

legal, como pretendeu o doutrinador citado alegar. É preciso, ainda que, e justamente

por se tratar de direito cambial, que se faça distinção entre a responsabilidade do

emitente e a do endossante, que por certo, como já vimos, não é da mesma ordem e,

portanto incabível tratamento equânime às partes.

A diferença entre as responsabilidades do emitente e dos endossantes,

reafirma-se, é de ordem de Direito Cambiário, ainda que com reflexos processuais,

talvez familiares. Portanto, se não há apresentação tempestiva e recusa no pagamento

do cheque, não há responsabilidade dos endossantes, que desta feita, tornam-se

partes ilegítimas à pretensão executiva. No entanto, a obrigação do emitente é

equiparada a esta a de seu avalista, é direta, resultado da emissão da cártula. E tal

obrigação nos faz lembrar as duras palavras de Rubens Requião, quando,

taxativamente diz que: “Quem não quiser pagar o cheque que não o emita”33.

Discorrendo sobre o assunto, Prof. Wille Duarte Costa34 nos ensina que em

ação cambial, o portador do cheque, pode exigir do demandado: a) a importância do

cheque não pago; b) os juros legais computados estes desde o dia da 1ª

apresentação; c) as despesas que fez; d) a compensação pela perda do valor

32 RESTIFFE, Paulo Sérgio; NETO, Paulo Restiffe. Lei do cheque : anotações à nova lei do cheque

nacional, conjugada com a lei uniforme de Genebra. 4. ed. rev., atual., e ampl. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000. p. 184.

33 REQUIÃO, Rubens. Curso de direito comercial. 18. ed. São Paulo: Saraiva, 1992. v. II, p. 224. 34 COSTA, Wille Duarte. Títulos de crédito. Belo Horizonte: Del Rey, 2003. p. 276.

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aquisitivo da moeda. Completa ainda o autor, dizendo que, quem paga pelo cheque,

não sendo o emitente, pode exigir de seus garantes: a) a importância integral que

pagou; b) os juros legais contados do dia do pagamento; c) as despesas feitas; d) a

compensação pelo valor aquisitivo da moeda.

A ação cambial ou executiva, como preferem denominar alguns autores reger-

se-á nos moldes do Livro II do Código de Processo Civil, artigos 566 e seguintes e tem

como objetivo, expropriar os bens do devedor, a fim de tornar imediata a satisfação do

direito do credor, sem que tenha este que discutir a causa da dívida.

Na hipótese de ser promovida ação cambial contra o próprio emitente e contra

seu avalista, se a apresentação do cheque ou seu pagamento, são obstados por fato

inimputável ao sacado a execução poderá ser instruída apenas com a cártula

preenchida com todos os seus requisitos, sendo portanto desnecessário que tenha

havido prévia apresentação ao banco, nem prévio protesto, não se fazendo no caso,

nem prova da inadimplência, nem da mora, mas apenas do direito representado na

cártula.

Pode também o protesto ser dispensado pelo próprio emitente ou endossante

e avalistas quando lançarem estes na cártula, a cláusula “sem despesa” ou “sem

protesto”, conforme reza o art. 51 da Lei do Cheque. Entretanto, tal dispensa

não exclui a necessidade de ser o cheque apresentado em tempo hábil nem

mesmo de ser a recusa do pagamento da ciência do emitente e do endossante.

Os efeitos desta dispensa, porém, surtirão de acordo com quem a realizou. Se

lançada na cártula a dispensa pelo emitente, esta produzirá efeitos em relação a todos

os obrigados no título. Mas se for lançada por endossante ou por avalista, esta só

alcança quem a lançou.

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72

Importante deixar claro que ainda assim, poderá o portador da cártula

protestar o título sendo o proveito e a utilização da dispensa mera liberalidade sua,

podendo mesmo, se quiser, fazer sim prova da impontualidade do devedor.

O protesto, se analisado sob o ponto de vista de seus efeitos práticos, é ato

de suma importância e de relevantes conseqüências jurídicas já que se por acaso o

comerciante já tiver um título de crédito protestado, a partir daí, qualquer pessoa, com

base no mesmo, poderá requerer a falência do devedor.

Ainda em se tratando de protesto, e no que se refere ao seu tramitar, tem-se

que, recebido o título, o oficial intimará o devedor e coobrigados (se houver), para

aceitar, pagar ou justificar porque não o fez, lavrando o protesto em três dias úteis,

contados da protocolização do título no cartório. Lembrando-se que na contagem deste

prazo, há de se excluir o dia da protocolização e incluir o do vencimento, entendendo-

se por dias úteis aqueles em que houver expediente bancário com horário normal.

Demonstrada a responsabilidade do emitente ou do portador legitimado que,

ainda que ausente o motivo ou irrelevante a razão sustou o pagamento, fica este

obrigado a indenizar o prejuízo causado, de forma integral. Necessário também

esclarecer que, aquele que revogou ou sustou indevidamente o pagamento do cheque,

não terá direito a ação de regresso contra os coobrigados no tocante às perdas e

danos, uma vez que a indenização resulta exclusivamente de sua conduta irregular e

prejudicial ao credor.

7.2 Cheque prescrito

O artigo 189 do Diploma Civil, em alusão à pretensão de agir, de exercer tal

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73

direito de ação, assim define prescrição: “ Violado o direito, nasce para o titular a

pretensão, a qual se extingue pela prescrição, [...]”.

É certo que o cheque traz em sua essência a característica primordial de um

título executivo extrajudicial - a de estar sujeito à executoriedade. Daí o porque de seu

prazo de apresentação, ser tão importante para o fim específico da contagem do lapso

prescricional, que é de 6 (seis) meses contados a partir da expiração deste. Prescrito

o título, deverá então o beneficiário ou portador legitimado, ingressar com ação própria

de cobrança visando compelir o obrigado principal e demais coobrigados à satisfação

do crédito de modo integral. O que se deve lembrar é que a prescrição do título,

enquanto declaração de vontade que é, (art. 59 Lei n. 7357/85) não traduz a prescrição

do crédito em si, ou seja, da faculdade que tem o credor de exigir o pagamento. Tem-

se assim, uma prescrição do título, mas não do crédito, o que reconhece-se pelos

dizeres do art. 61 da citada lei, onde prevista está a possibilidade de aforamento de

ação contra aquele (emitente) ou aqueles (emitente e coobrigados) que se

locupletaram injustamente com o não pagamento do cheque, ação esta que tem prazo

prescricional de dois anos contados do dia em que se consumar a prescrição do título.

Diante disso, não é mais o cheque, por si, a razão de ser do procedimento

judicial, mas o fato jurídico no qual foi emitido e, portanto, faz-se imprescindível a

descrição desse fato, passando a ser a cártula agora apenas prova documental desse

fato. Extrapola o objeto da ação o campo do Direito Cambiário e passa a fazer parte

do das Obrigações.

A ação de cobrança, comumente chamada de ação de locupletamento, deixa

então de ser procedimento executório, mas sim cognitivo, que visa formar com a

sentença, um título judicial.

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74

Outrossim, pode se valer o credor do título de via mais célere, introduzida em

nosso ordenamento através da chamada ação monitória, que igualmente poderá ser

utilizada, servindo então o cheque como prova escrita, sem valor de título executivo

judicial.

Relatando o Recurso Especial 36.590/MG para a quarta Turma do

Superior Tribunal de justiça, o Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira teceu

considerações acerca da diferenciação entre a chamada ação de locupletamento

prevista no art. 61 da Lei n. 7357/85, e a ação de cobrança, dizendo que

naquela, o credor cobra o cheque a favor do qual milita presunção iuris tantum de veracidade, estando o autor dispensado de outras provas, incumbindo ao réu abalar tal presunção. [...] na ação de cobrança, de outra parte o que persegue o autor é o cumprimento de uma obrigação, resultante de negócio jurídico bilateral. O cheque, nessa circunstância constitui mero começo de prova escrita, que deve ser reforçado pelo autor por outros meios a seu alcance. [Aduz ainda que:] a diferença fundamental entre ambas está no onus probandi. Enquanto na ação de locupletamento o próprio cheque basta como prova do fato constitutivo do direito do autor, incumbindo ao réu provar a falta de causa do título, na ação de cobrança, necessário se faz que comprove o autor o negócio jurídico gerador do crédito reclamado. Assim, a ação de locupletamento tem portanto, caráter diverso da ação de cobrança, visando aquela à constituição de título executivo judicial que restabeleça a força executiva do cheque, partindo de um locupletamento presumido. (grifo nosso).

Muito se discute (tanto na doutrina quanto nos julgados), sobre a necessidade

de ser apresentada a causa debendi quando da propositura da ação de cobrança.

Contudo, importa destacar que o cheque regularmente preenchido, por si só, dota o

seu portador da presunção juris tantum, sobre a certeza do respectivo crédito. O que

se observa é que a legislação se coloca favoravelmente ao portador da cártula,

minimizando os formalismos para efeito de cobrança, sem a necessidade de se

esmiuçar o negócio jurídico correspondente ao título, de modo a ser necessária a

comprovação documental deste negócio, posto que a cártula, por si só, oferece

condições de procedibilidade, servindo como pressuposto inafastável ao

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75

reconhecimento do crédito nele inserido.

Também de relevante destaque, ainda sobre a cobrança de cheque não pago,

é a redação do § 3º do art. 47 da Lei n. 7357/85, que não deixa dúvidas acerca da

perda da via executória no caso de apresentação tardia do cheque, devendo-se

ressaltar o fato de que a insuficiência de fundos (se ocorrer), se verificou por

circunstância estranha à vontade do correntista. Ou seja, conseqüência lógica da falta

de fundos, no que se refere à apresentação extemporânea, é a não intencionalidade

do emitente para causar situação típica nas condições de frustrar o pagamento do

título.

Uma vez prescrito o cheque, desaparecem as relações cambiais acessórias,

que são as responsabilidades solidárias dos demais partícipes, avalistas e

endossatários preservando-se apenas a obrigação principal, que é a do emitente.

7.3 Defesa do executado

Justamente pela importância da autonomia do título, e da clareza do direito

nele representado, a Lei n. 7357/85 restringe a defesa permitida na ação cambial,

dizendo no seu art. 51 que: “Na ação cambial, somente é admissível defesa fundada no

direito pessoal do réu contra o autor, em defeito de forma do título e na falta de

requisito necessário ao exercício da ação”.

Assim, a ação cambial ou executiva, terá que ter por base um título perfeito,

preenchendo estes todos os requisitos extrínsecos e intrínsecos a que a lei condiciona

à sua natureza de cheque. Deve ainda o título ser exigível, isto é, necessário que esteja

vencido e não prescrito, e que conforme já mencionado, tenha sido oportunamente

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76

protestado, caso se trate de ação de regresso.

Impago o cheque pelo sacado, seja por conta da contra-ordem seja pela

oposição, poderá o beneficiário do título diretamente se dirigir ao emitente, sendo

certo que no processo de execução, a despeito de conciso o art. 51 citado, nada obsta

que o prejudicado suscite matéria relacionada com a revogação ou sustação do

pagamento. A autorização do exame da quaestio iuris encontra respaldo no art. 745

do CPC: “Quando a execução se fundar em título extrajudicial, o devedor poderá

alegar, em embargos, além das matérias previstas no art. 741, qualquer outra que lhe

seria lícito deduzir como defesa no processo de conhecimento”.

Art. 741, do Código de Processo Civil:

Na execução fundada em título judicial, os embargos só poderão versar sobre:

I - falta ou nulidade de citação no processo de conhecimento, se a ação lhe ocorreu à revelia;

II - inexigibilidade do título;

III - ilegitimidade das partes;

IV - cumulação indevida de execuções;

V - excesso de execução ou nulidade desta até a penhora;

VI - qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação com execução aparelhada, transação ou prescrição, desde que supervenientes `a sentença;

VII - incompetência do juízo da execução, bem como suspeição ou impedimento do juiz.

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77

8 A RESPONSABILIDADE CIVIL DA INSTITUIÇÃO BANCÁRIA

8.1 Responsabilidade civil - conceito

Interessante é o conceito dado pelo doutrinador Vilson Rodrigues Alves35, onde

segundo ele, “responsabilidade civil é relação social”, ou seja, decorre desta, sendo

que o conceito jurídico da mesma pressupõe o conceito de personalidade, uma vez

que não se concebe a relação de responsabilidade sem a figuração da pessoa nos

pólos dessa mesma relação. Dentro do assunto, esclarece ainda o citado mestre que

“se a pressupõe, não a supõe”, porquanto há pessoas irresponsáveis civilmente, como

a exemplo os incapazes, mencionados no art. 3º e 4º do Código Civil brasileiro.

8.1.1 Da responsabilidade subjetiva

Nos termos do caput do art. 927 do Código Civil, aquele que, por ato ilícito

(arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repara-lo, sendo patente a

responsabilidade subjetiva como regra do atual diploma. Desta feita, em regra, fica

mantida a necessidade de comprovação da culpa para que o lesado possa assegurar

a condenação em juízo do causador do dano. Ou seja, para a responsabilização do

devedor, via de regra, deve ser comprovada a ocorrência do dano, a “culpa em sentido

amplo”, e verificado o nexo de causalidade entre a ação ou omissão e o evento danoso.

35 ALVES, Vilson Rodrigues. Responsabilidade civil dos estabelecimentos bancários. 2. ed.

Campinas: Bookseller, 1999. v. I.

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78

8.1.2 Da responsabilidade objetiva

Ensina o Código Civil, no parágrafo único do artigo 927, que haverá obrigação

de reparar o dano, independente de culpa, na linha da responsabilidade objetiva:

a) nos casos especificados em lei; ou

b) quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua

natureza, riscos para o direito de outrem.

Quanto à primeira situação do parágrafo único do citado artigo, basta ao

intérprete procurar os casos de responsabilidade objetiva na legislação extravagante

infraconstitucional como por exemplo, o Código de Defesa do Consumidor (CDC, Lei

n. 8.078/90), onde sabido é que o fabricante, o produtor, o construtor, nacional ou

estrangeiro, e o importador respondem, independentemente da existência de culpa,

pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos decorrentes de

projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, manipulação, apresentação ou

acondicionamento de seus produtos bem como por informações insuficientes ou

inadequadas sobre sua utilização e riscos (art. 12).

8.2 Da responsabilidade dos estabelecimentos bancários

8.2.1 Prejuízo e dano

Na responsabilidade civil dos estabelecimentos bancários, assim como nos

demais ramos do direito, é imprescindível a existência do prejuízo.

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Dentre alguns doutrinadores, há entendimento respeitável de que o prejuízo

causado pelo agente é o dano. No entanto, para outros, tal entendimento mostra-se

incorreto, corrente com a qual concordamos e passamos à tentativa de explicar o

porque: o prejuízo implica alteração deficitária ao legitimado ativo, podendo no entanto,

haver prejuízo que não danifica. Desta feita, tem-se que os dois conceitos não são

coextensivos. O dano iminente ou com mais precisão a iminência do dano, é hipótese

típica de prejuízo sem dano. Nesta visão, o dano é algo a mais frente ao prejuízo. A

diferença exposta de dano e prejuízo é de grande sutileza, cabendo esclarecer para

melhor entendimento desta diferença, ser factível de ocorrer, situação onde se

responde civilmente por prejuízo causado, mas não se indeniza.

Segundo Vilson Rodrigues Alves em obra já citada, uma afirmação contrária a

tal entendimento implicaria tomar-se a expressão “responsabilidade civil” por

“indenização”, erronia que cumpre seja afastada.

8.2.2 A ilicitude e a culpa

Por sua vez, é imprescindível que no suporte fático de incidência das regras

jurídicas de responsabilização civil dos estabelecimentos financeiros, haja o dado da

ilicitude, sendo certo que esta só ocorre por que se agiu contrariamente a direito

(subjetivo ou não) ou a Direito (objetivo).

Se há ofensa por concretizar-se ou concretizada, tem de haver satisfação à

pretensão preventiva que impeça a sua concretização, ou à correspondente reparação,

o que gera cumprimento da função sócio adaptativa do Direito.

Em outros termos, a obrigação de indenizar como reflexo da

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80

responsabilização não existe, em regra, só porque o agente causador do dano

procedeu objetivamente mal. É essencial que ele tenha agido com culpa: por ação ou

omissão voluntária, por negligência ou imprudência, nos moldes do Código Civil. Agir

com culpa significa atuar o agente em termos de, pessoalmente merecer a censura ou

a reprovação do direito, sendo que tal circunstância só ocorre quando, em face das

circunstâncias concretas da situação, caiba a ele afirmar que podia e devia ter agido

de modo contrário.

O artigo 186 do Código Civil ao descrever a ocorrência do ato ilícito, define o

que se entende por ato culposo, do seguinte modo: “Aquele que, por ação ou omissão

voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que

exclusivamente moral, comete ato ilícito”.

No entanto, é consenso geral entre os doutrinadores pesquisados, que não se

pode prescindir dos elementos “previsibilidade” e comportamento do homo medius

para a correta e completa conceituação de culpa. Em outras palavras, só se pode

cogitar de culpa quando o evento é previsível, ainda que extremamente difícil a prova

de sua existência, como nos casos da mais nova modalidade de culpa, a chamada

culpa virtual, que vai além da esfera da culpa presumida. Modalidade, aliás já

largamente difundida dentre os tribunais europeus, e quase sempre aplicada aos

casos de lesão por erro médico.

De outra feita, se imprevisível o evento danoso, não há que se cogitar de culpa.

Como exemplo, tem-se as hipóteses de caso fortuito ou força maior, onde não se pode

conferir culpa a ninguém, já que a culpa existirá sempre que houver previsão do dano,

não importando se esta previsão foi grande, quase alcançando uma certeza ou se

sequer cogitada, mas já existia no plano cognitivo do agente.

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O dolo consiste na vontade de cometer ato ilícito, de violar um direito. É a

violação intencional e, portanto, consciente, do dever jurídico. A modalidade de culpa

que mais se assemelha ao dolo é a culpa lata ou grave, sendo esta a falta imprópria ao

comum dos homens.

Culpa leve é a falta evitável, com atenção ordinária, que qualquer um teria e

culpa levíssima é a falta que só poderia ser evitada com atenção extraordinária, com

especial habilidade ou conhecimento específico e singular.

Não obstante a responsabilidade civil fundada na culpa em sentido restrito e

no dolo (culpa latu sensu), tenha persistido ao longo da evolução do pensamento

jurídico através do tempo, em qualquer de suas modalidades, entretanto, a culpa

implica a violação de um dever de diligência, ou, em outras palavras, a violação do

dever de previsão de certos fatos ilícitos e de adoção das medidas capazes de evita-

los.

Com ela, culpa, uma vez mais enfatizando, tem-se que há responsabilização

civil quando ocorrem condutas comissivas ou omissivas do agente, e a já famosa

proporcionalidade - prejuízo à vítima e nexo de causalidade entre a conduta culposa e

o prejuízo.

A responsabilidade subjetiva traz consigo a idéia da existência de culpa, ou

seja, a culpa do agente passa a ser pressuposto necessário do dano indenizável.

Quando, porém, a lei impõe a certas pessoas, em determinadas situações a

reparação de um dano cometido sem culpa, (declarada sob o prisma da esfera

jurídica), a responsabilidade é chamada de objetiva.

Também chamada de teoria do risco, a teoria objetiva tem como postulado

que todo dano é indenizável e passível de reparação, por aquele a quem a ele se liga

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pelo nexo de causalidade. Assume, pois, este nome a teoria objetiva uma vez que a

responsabilidade civil do agente se desloca da noção de culpa para a idéia de risco,

comumente chamado de “risco-proveito”, que se funda no princípio segundo o qual é

reparável o dano causado a outrem em conseqüência de uma atividade realizada em

benefício do responsável, já que para esta teoria toda pessoa que exerce alguma

atividade cria um risco de dano para terceiro.

Ao fazer referência ao sujeito do ato ilícito, para fins de reparação do dano,

permaneceu o novo Código Civil silente, assim como o era no antigo art. 159. Isto é,

em caso de dano causado por um incapaz privado de discernimento, pela leitura do

artigo estaria este compelido ao pagamento de indenização ou a reparar o dano

causado? Alguns doutrinadores, entendem que deveria ser o incapaz

responsabilizado, já que o artigo 186 não faz distinção, mormente nos casos em que o

incapaz tem condições financeiras bem melhores que a vítima. De outro lado, é

entendimento majoritário que, ao citar o artigo, os elementos ação ou omissão

voluntária, ou quando se refere o legislador à ocorrência de negligência ou

imprudência, está claro e implícito o uso da vontade esclarecida para tanto, do

discernimento para a realização do ato ou no mínimo da previsão do dano, caso venha

este a se concretizar.

Ainda que dentro de capítulo diverso, mas em se falando de atribuição de

responsabilidades, vale a pena aqui de se cogitar acerca da verificação da

responsabilidade dos amentais, e dentre estes aqueles que ainda que

temporariamente possam ser classificados como tais.

A hipótese levantada nos traz a estudo a situação daqueles que fazem uso de

drogas, de tóxicos ou mesmo os alcoólatras, que não raras às vezes atingem o estado

de insanidade mental, ainda que transitório. E que neste estado, para adquirirem

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83

substância a eles quase vital, tamanho os seus vícios, fazem uso da prática de furto ou

até do roubo e da falsificação de cheques, no intuito único de adquirir a droga ou a

bebida.

De se salientar que a jurisprudência tem se firmado no sentido de que pela

teoria da culpa anterior, muitos amentais podem e estão sendo responsabilizados. E

assim o estão não em virtude da culpa atual, mas em virtude de uma culpa remota, já

que os atuais insanos mentais teriam podido prever que o uso da droga os levaria para

tal estágio (alienação mental) e que por isso poderiam praticar atos danosos no futuro.

Quanto ao alvo de discussões de nossos tribunais, sobre a culpa presumida

pode-se afirmar que, ao longo dos tempos, a multiplicação das oportunidades e das

causas onde se reclamavam por danos, evidenciou-se que a responsabilidade

subjetiva mostrou-se inadequada para cobrir todos os casos de reparação. Verificou-

se, como se tem já esclarecido, que nem sempre o lado lesado consegue provar estes

elementos. Especialmente a desigualdade econômica, a capacidade organizacional

da empresa, as cautelas do juiz na aferição dos meios de prova que, trazidos ao

processo nem sempre logram convencer da existência da culpa. Em conseqüência

disso, a vítima remanesce não indenizada, ainda que se admita ter sido efetivamente

lesada.

Dentro desta realidade, um dos meios técnicos adotados para a resolução

dessas desigualdades na composição dos conflitos, foi a adoção da teoria da culpa

presumida, esta hoje já fazendo parte da nossa legislação.

Foi sem dúvida a melhor medida adotada, uma vez que com ela, a vítima não

mais se veria na contingência de ter de alegar e comprovar a culpa de seu ofensor.

Essa culpa seria aprioristicamente presumida, no sentido em que tal conduta culposa

Page 85: Cheque Sustado

84

de quem ao agir o fez com déficit à esfera jurídica alheia, em outras palavras feriu

direito alheio, incumbirá ao presumido culpado o ônus probandi em sentido contrário,

já que não se trata de presunção iures et de iure mas sim iures tantum.

Necessário aqui ressaltar que a invocação dessa teoria da culpa presumida,

por sua vez, por óbvio, não implica a mercê do ofendido, ou seja, somente cabe a sua

aplicação nas hipóteses previstas em lei ou naquelas em que a jurisprudência assenta

sua pertinência.

8.3 A atividade bancária à luz do CDC

O estudo dessa questão deve se iniciar com a busca dos fundamentos de

ordem constitucional de defesa do consumidor, que além de direito fundamental

coletivo, previsto no art. 5º, XXXII da Constituição Federal - erigem os consumidores à

categoria de titulares de direitos fundamentais - é princípio constitucional relativo à

ordem econômica (art. 170, inciso V da Constituição Federal), legitimando toda a

intervenção do Estado para assegurar esses ditames.

Como direito fundamental, a proteção do consumidor carrega caráter de

inalienabilidade, imprescritibilidade e irrenunciabilidade, que se traduz basicamente

nos dispositivos elencados no art. 1º do CDC, os quais afirmam tratarem-se de normas

de ordem pública e interesse social.

Desta feita, inaceitável é o não enquadramento dos bancos e demais

instituições financeiras no regime de proteção do CDC, pois são estes facilmente

reconhecidos na definição de fornecedor, de acordo com o conceito trazido pelo

diploma legal mencionado e a sua atividade tem, sem sombra de dúvida, natureza

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85

empresarial.

A caracterização do banco ou instituição financeira como fornecedor sob a

incidência do CDC, há tanto já discutida, é hoje pacífica. Da mesma forma, em sendo

o consumidor destinatário final do serviço, é fácil reforçar a sua posição como tal,

como destinatário final de todos os contratos de depósito, de poupança e de

investimentos que firmar com os bancos.

Contudo, vencida a discussão do enquadramento também das pessoas

jurídicas como consumidoras do serviço bancário, a dificuldade está na caracterização

do consumidor nos contratos de empréstimo, onde há uma obrigação de dar, de

fornecer o dinheiro, que é bem juridicamente consumível. Além disso, haveria, nestes

casos, de se verificar se o tomador do empréstimo, ou seja, o contratante, seria

destinatário fático, não obstante o produto ser insumo para alguma outra atividade

profissional. Nessa hipótese, acreditamos não ser possível se recorrer à tutela do

Código de Defesa do Consumidor.

Porém, observamos, dentre os inúmeros julgados consultados nesta pesquisa,

que o sistema aberto, trabalha com a técnica de equiparação de pessoas à situação

de consumidor quando se constatar o desequilíbrio contratual e a vulnerabilidade da

pessoa que contrata com o fornecedor, seja esta vulnerabilidade técnica, jurídica ou

fática.

Em síntese, apesar das diversas posições contrárias e com o apoio da

doutrina, as operações bancárias no mercado, como um todo, foram consideradas

pela jurisprudência brasileira como submetidas às normas e ao novo espírito do CDC,

princípios estes da boa-fé obrigatória e do equilíbrio contratual.

Page 87: Cheque Sustado

86

8.4 Da responsabilidade pelo pagamento de cheque sustado

A teoria do risco profissional parte do pressuposto de que o banco, ao exercer

a sua atividade com fins de lucro, assume riscos que vier a causar. Neste

entendimento, a responsabilidade deve recair sobre aquele que aufere os lucros da

atividade. O risco profissional do banqueiro no pagamento dos cheques é explicado

pelos juristas pelo fato dos bancos, direta ou indiretamente, terem grandes lucros

graças ao sistema de cheques. A se notar que não se obtém um talão de cheques

senão mediante o depósito de fundos. E que mesmo assim, dependendo da

quantidade de talões contratados com a instituição, existe a cobrança por talonário

extra. Portanto pelo princípio da equidade, onde está o proveito, está o ônus.

Especialmente quando alguns fatores surgem como agravantes à evolução da

idéia do risco profissional, como por exemplo, o desconhecimento por parte do cliente

dos chamados “mecanismos bancários”, que geralmente ocasionam incontestável

situação de inferioridade do cliente em relação à instituição.

Existe ainda, a idéia por parte de alguns juristas, de que a atividade exercida

pelos bancos assemelha-se à dos concessionários dos serviços públicos, que

exercem função delegada do Estado. Para tais juristas, dentre eles podemos citar

Arnold Wald, que diz praticar o banco um verdadeiro serviço público de distribuição de

crédito. Tal idéia encontra fundamentação no texto expresso da lei da reforma

bancária, que define o sistema financeiro nacional, dele fazendo parte, além do

Conselho Monetário Nacional e dos demais bancos oficiais, as demais instituições

financeiras públicas e privadas (art. 1 , inciso V da Lei n. 4595/64).

Daí que, pela própria natureza dos serviços prestados pela instituição

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87

financeira, entende-se que a esta se impõe à responsabilidade objetiva, pelos

mesmos motivos pelos quais se estabeleceu a do Estado, ou seja, justifica-se que a

instituição financeira responda objetivamente pelos danos causados com base na

teoria da culpa do serviço, consolidada e consagrada no campo do direito público.

No momento, no entanto, as diretrizes que norteiam a jurisprudência podem

ser resumidas desta forma:

a) quando o correntista não concorreu para o evento danoso, os prejuízos decorrentes

do pagamento do cheque fraudado devem ser pagos, ou melhor, “suportados” pelo

banco;

b) se, provada pelo banco a culpa do correntista na guarda do talonário, fica aquele

isento de culpa;

c) em caso de culpa concorrente (negligência do correntista na guarda de talonário -

culpa in vigilando, e do banco no pagamento do cheque com assinatura

grosseiramente falsificada), os prejuízos se repartem;

d) não provada a culpa do correntista, nem do banco, sobre este é que deve recair o

prejuízo (culpa objetiva).

Vale aqui ressaltar que o Código de Defesa do Consumidor somente admite a

exclusão da responsabilidade do fornecedor em caso de culpa exclusiva do

consumidor ou de terceiro. Culpa exclusiva, e não concorrente, vale dizer.

A dominante orientação de nossos tribunais no que diz respeito à

responsabilidade contratual dos bancos e instituições afins nos casos de pagamento

de cheque falso ainda que ordenada a sustação é a de que: todas as vezes que um

falsário apresenta ao banco um saque com a assinatura falsificada, a vítima é o banco

e não o correntista, cuja assinatura falsificada é apenas um meio para a consecução

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do fim. Quem recebe o cheque é o banco e não o correntista; quem o examina é o

banco; quem pode exigir ou dispensar provas de identidade é o banco. O correntista

está alheio a tudo, especialmente se não autorizou a sustação, e ignora que alguém se

apresenta com um cheque que, aparentemente, figura a sua assinatura. Nenhuma

providência pode tomar para evitar o êxito do criminoso. Se a falsidade for descoberta

oportunamente, nenhum prejuízo sofrerá o banco; se for bem sucedida é ele a vítima.

Ou seja, de um jeito ou de outro, há de ser o banco o responsável por arcar com o

prejuízo porventura existente.

O ilustre jurista Caio Mário36, em sua obra Responsabilidade Civil, entende

que o banco, ao acatar o cheque falso, efetua o pagamento com dinheiro seu. Assim, o

cheque falso é ato fraudulento montado contra o banco e, portanto, cabe a este

suportar-lhe as conseqüências.

Finalmente, para os fins de responsabilização e conseqüente indenização,

questões ainda de relevada importância devem ser aqui suscitadas. É necessário que

se faça lembrar que há de ser verificada, caso a caso, e que a incidência de caso

fortuito ou força maior não foi incluída no rol de excludentes de responsabilidades do

CDC, bem como uma vez ultrapassada a questão da responsabilidade, há de se fazer

prova do efetivo prejuízo sofrido pelo cliente. Neste caso, cumpre à parte que tem

interesse na demonstração do dano, ministrar-lhe a respectiva prova, já que aqui não

incide a aplicação do inciso VIII do art. 6º do CDC. Considera-se para fins probatórios,

a utilização de provas indiretas, como por exemplo, o bom nome, higidez e integridade

moral do cliente, seu nível e posição social que ocupa, etc, etc, etc.

Em síntese, certo é que a responsabilidade civil tratada no Código Civil

36 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Responsabilidade civil. 9. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1999.

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89

manteve as ponderações acerca da responsabilidade subjetiva, ampliando o rol dos

responsáveis pelos causadores de danos e acolhendo a teoria do risco e da

responsabilidade objetiva.

Neste sentido, de aplicarmos às instituições financeiras tal responsabilidade,

necessário faz-se a observância de conceitos básicos do que vem a ser consumidor,

de fornecedor, do que seria o produto em questão, bem como observar as situações

de má-fé, vulnerabilidade, de necessidade e até de ignorância, em face da

hipersuficiência econômica, situações estas sobrepujadas pelos interesses das partes

envolvidas, sejam estes individuais ou coletivos.

Page 91: Cheque Sustado

90

9 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O trabalho apresentado nasceu de nossa indignação frente a um caso

concreto de sustação do pagamento de um cheque onde, no exercício da fraude, o

emitente utilizou-se do modelo de cheque pré-datado, adquiriu mercadoria e sustou o

pagamento alegando ausência de fundos.

Pela certeza de que o caso que inspirou a pesquisa apresentada foi a

representação de apenas um em meio a milhões, é que nos debruçamos sobre o tema

na tentativa de demonstrar entendimentos legais e doutrinários, bem como o

comportamento dos juristas e julgadores frente a tal prática, que de maneira corriqueira

vem fazendo parte de nosso sistema.

Acreditamos piamente que deve a lei preservar seus olhos bem abertos, e

ouvidos bem atentos aos casos e casos onde se discute a possibilidade de sustação

no pagamento de cheques. Há que se atentar para as oportunidades, não raras, diga-

se de passagem, de quando apresentada a sustação a ser discutida em nossos

tribunais, poder-se aferir os casos onde tal ato foi premeditado, se foi este intencional,

se quando utilizando-se de meio lícito (possibilidade legal da sustação) procurou o

emitente realizar seu objetivo ilícito, consequentemente lesando comerciantes e

desestruturando a credibilidade no instituto do cheque enquanto aceitação que é como

meio de pagamento, como por vezes podemos observar cotidianamente nos

estabelecimentos comerciais. Seja na não aceitação de cheques oriundos de contas

recém abertas, seja na não aceitação de cheques de terceiro, cheques de outra praça,

cheque representando quantias acima deste ou daquele valor, etc. Restrições que

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91

foram impostas ao consumidor e usuário do título que nasceu com o fito único de ser

facilitador de circulação de mercadorias e conseqüentemente gerador de riquezas,

mas que pela desatenção legal, vem sendo utilizado para consecução de projetos

ilícitos. Vale aqui citar a Lei n. 8002/90 que foi revogada pelo art. 92 da Lei n. 8884/94,

onde dispõe esta sobre a prevenção e repressão às infrações contra a ordem

econômica, e que não reproduziu a vedação de recusa de pagamento mediante

cheque visado e bancário. Neste sentido o cheque não é papel de curso forçado

porque ninguém é obrigado a recebe-lo contra a sua vontade. A Lei n. 8002/90

considerava os cheques visados e bancários como moeda corrente.

Portanto, o que se sente é que latente se encontra a necessidade de se criar

mecanismos talvez mais rígidos ou mais práticos, no sentido de prevenir ou não se

podendo mais prevenir, de se punir a prática ilegal do uso da sustação, ainda que com

esta não perca o documento sua característica de dívida, podendo ser cobrado

judicialmente.

De outra feita, certo é que grande parte do ocorrido encontra abrigo no

momento econômico vivido. Momento onde o consumismo desenfreado dita as regras

do jogo, onde a todo e qualquer custo tudo o que se almeja é possuir, por sua vez

gerando descontrole nas finanças daqueles que não hesitam em cada vez mais ter na

ilusão de ser.

Também temos a certeza de que acoberta parcela considerável desta prática

ilegal, a situação particular e peculiar, porque não dizer, de nosso país. Já descrente,

chego mesmo a pensar ser tal situação não mais apenas um momento pelo qual se

atravessa (como quando pequenos ouvíamos assim dizer), mas sim uma característica

adotada e aceita - a de se permitir a corrupção, que descaradamente já se encontra

confortavelmente aqui instalada. Não mais hóspede de passagem, mas moradora fixa,

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92

quase proprietária. Assim como vem tentando ser a imoralidade, que passa a ser

pressuposto para obtenção de vantagens, onde, a contrario senso, os meios justificam

os fins.

Por todo o quadro que se apresenta e que não aparece aqui nestas palavras

pela primeira vez, como inédito, é que se faz imprescindível a análise individualizada

de cada situação onde ocorre a sustação, porque também fruto deste triste quadro é o

roubo, a falsificação, o furto, onde passam a ser agora vítimas, os supostos emitentes

dos títulos, cujo pagamento se pretende sustar.

Estamos seguros de que a presente pesquisa foi gratificante, não só porque

nos acrescentou, mas também porque acreditamos ter encontrado aqui a oportunidade

de, ainda que de forma pequena, invocarmos pela justiça, pela responsabilização sem

embargos, da atitude assumida ao momento da emissão de um título, pela aceitação

da manifestação da vontade do indivíduo, ainda que sob a utopia de se alcançar um

perfeito Estado democrático de direito, onde o direito se reconhece certo e o dever se

pressupõe existir.

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93

REFERÊNCIAS

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_____. NBR 10520: informação e documentação - apresentação de citações em documentos. Rio de Janeiro, 2002. 7 p.

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Page 98: Cheque Sustado

97

ANEXO A - Lei do Cheque n. 7357/85 (DOU 02/09/85)

Dispõe sobre o cheque e dá outras providências.

CAPÍTULO I - DA EMISSÃO E DA FORMA DO CHEQUE

Art. 1º. O cheque contém:

I - a denominação "cheque'' inscrita no contexto do título e expressa na língua em que

este é redigido;

II - a ordem incondicional de pagar quantia determinada;

III - o nome do banco ou da instituição financeira que deve pagar (sacado);

IV - a indicação do lugar de pagamento;

V - a indicação da data e do lugar da emissão;

VI - a assinatura do emitente (sacador), ou de seu mandatário com poderes especiais.

Parágrafo único. A assinatura do emitente ou a de seu mandatário com poderes

especiais pode ser constituída, na forma da legislação específica, por chancela

mecânica ou processo equivalente.

Art. 2º. O título a que falte qualquer dos requisitos enumerados no artigo precedente

não vale como cheque, salvo nos casos determinados a seguir:

I - na falta de indicação especial, é considerado lugar de pagamento o lugar designado

junto ao nome do sacado, se designados vários lugares, o cheque é pagável no

primeiro deles; não existindo qualquer indicação, o cheque é pagável no lugar de sua

emissão;

II - não indicado o lugar de emissão, considera-se emitido o cheque no lugar indicado

junto ao nome do emitente.

Page 99: Cheque Sustado

98

Art. 3º. O cheque é emitido contra banco, ou instituição financeira que lhe seja

equiparada, sob pena de não valer como cheque.

Art. 4º. O emitente deve ter fundos disponíveis em poder do sacado e estar autorizado

a sobre eles emitir cheque, em virtude de contrato expresso ou tácito. A infração

desses preceitos não prejudica a validade do título como cheque.

§ 1º. A existência de fundos disponíveis é verificada no momento da apresentação do

cheque para pagamento.

§ 2º. Consideram-se fundos disponíveis:

a) os créditos constantes de conta corrente bancária não subordinados a termo;

b) o saldo exigível de conta corrente contratual;

c) a soma proveniente de abertura de crédito.

Art. 5º. (VETADO).

Art. 6º. O cheque não admite aceite, considerando-se não escrita qualquer declaração

com esse sentido.

Art. 7º. Pode o sacado, a pedido do emitente ou do portador legitimado, lançar e

assinar, no verso do cheque não ao portador e ainda não endossado, visto,

certificação ou outra declaração equivalente, datada e por quantia igual à indicada no

título.

§ 1º. A aposição de visto, certificação ou outra declaração equivalente obriga o sacado

a debitar à conta do emitente a quantia indicada no cheque e a reservá-la em benefício

do portador legitimado, durante o prazo de apresentação, sem que fiquem exonerados

o emitente, endossantes e demais coobrigados.

§ 2º. O sacado creditará à conta do emitente a quantia reservada, uma vez vencido o

prazo de apresentação; e, antes disso, se o cheque lhe for entregue para inutilização.

Art. 8º. Pode-se estipular no cheque que seu pagamento seja feito:

Page 100: Cheque Sustado

99

I - a pessoa nomeada, com ou sem cláusula expressa "à ordem'';

II - a pessoa nomeada, com a cláusula "não à ordem'', ou outra equivalente;

III - ao portador.

Parágrafo único. Vale como cheque ao portador o que não contém indicação do

beneficiário e o emitido em favor de pessoa nomeada com a cláusula "ou ao portador'',

ou expressão equivalente.

Art. 9º. O cheque pode ser emitido:

I - à ordem do próprio sacador;

II - por conta de terceiro;

III - contra o próprio banco sacador, desde que não ao portador.

Art. 10. Considera-se não escrita a estipulação de juros inserida no cheque.

Art. 11. O cheque pode ser pagável no domicílio de terceiro, quer na localidade em que

o sacado tenha domicílio, quer em outra, desde que o terceiro seja banco.

Art. 12. Feita a indicação da quantia em algarismos, e por extenso, prevalece esta no

caso de divergência. Indicada a quantia mais de uma vez, quer por extenso, quer por

algarismos, prevalece, no caso de divergência, a indicação da menor quantia.

Art. 13. As obrigações contraídas no cheque são autônomas e independentes.

Parágrafo único. A assinatura de pessoa capaz cria obrigações para o signatário,

mesmo que o cheque contenha assinatura de pessoas incapazes de se obrigar por

cheque, ou assinaturas falsas, ou assinaturas de pessoas fictícias, ou assinaturas que,

por qualquer outra razão, não poderiam obrigar as pessoas que assinaram o cheque,

ou em nome das quais ele foi assinado.

Art. 14. Obriga-se pessoalmente quem assina cheque como mandatário ou

representante, sem ter poderes para tal, ou excedendo os que lhe foram conferidos.

Pagando o cheque, tem os mesmos direitos daquele em cujo nome assinou.

Page 101: Cheque Sustado

100

Art. 15. O emitente garante o pagamento, considerando-se não escrita a declaração

pela qual se exima dessa garantia.

Art. 16. Se o cheque, incompleto no ato da emissão, for completado com

inobservância do convencionado com o emitente, tal fato não pode ser oposto ao

portador, a não ser que este tenha adquirido o cheque de má-fé.

CAPÍTULO II - DA TRANSMISSÃO

Art. 17. O cheque pagável a pessoa nomeada, com ou sem cláusula expressa "à

ordem'', é transmissível por via de endosso.

§ 1º. O cheque pagável a pessoa nomeada, com a cláusula "não à ordem'', ou outra

equivalente, só é transmissível pela forma e com os efeitos de cessão.

§ 2º. O endosso pode ser feito ao emitente, ou a outro obrigado, que podem

novamente endossar o cheque.

Art. 18. O endosso deve ser puro e simples, reputando-se não-escrita qualquer

condição a que seja subordinado.

§ 1º. São nulos o endosso parcial e o do sacado.

§ 2º. Vale como em branco o endosso ao portador. O endosso ao sacado vale apenas

como quitação, salvo no caso de o sacado ter vários estabelecimentos e o endosso

ser feito em favor de estabelecimento diverso daquele contra o qual o cheque foi

emitido.

Art. 19. O endosso deve ser lançado no cheque ou na folha de alongamento e assinado

pelo endossante, ou seu mandatário com poderes especiais

§ 1º. O endosso pode não designar o endossatário. Consistindo apenas na assinatura

do endossante (endosso em branco), só é válido quando lançado no verso do cheque

ou na folha de alongamento.

Page 102: Cheque Sustado

101

§ 2º. A assinatura do endossante, ou a de seu mandatário com poderes especiais,

pode ser constituída, na forma de legislação específica, por chancela mecânica, ou

processo equivalente.

Art. 20. O endosso transmite todos os direitos resultantes do cheque. Se o endosso é

em branco pode o portador:

I - completá-lo com o seu nome ou com o de outra pessoa;

II - endossar novamente o cheque, em branco ou a outra pessoa;

III - transferir o cheque a um terceiro, sem completar o endosso e sem endossar.

Art. 21. Salvo estipulação em contrário, o endossante garante o pagamento.

Parágrafo único. Pode o endossante proibir novo endosso; neste caso, não garante o

pagamento a quem seja o cheque posteriormente endossado.

Art. 22. O detentor de cheque "à ordem'' é considerado portador legitimado, se provar

seu direito por uma série ininterrupta de endossos, mesmo que o último seja em

branco. Para esse efeito, os endossos cancelados são considerados não-escritos.

Parágrafo único. Quando um endosso em branco for seguido de outro, entende-se que

o signatário deste adquiriu o cheque pelo endosso em branco.

Art. 23. O endosso num cheque passado ao portador torna o endossante responsável,

nos termos das disposições que regulam o direito de ação, mas nem por isso converte

o título num cheque "à ordem''.

Art. 24. Desapossado alguém de um cheque, em virtude de qualquer evento, o novo

portador legitimado não está obrigado a restituí-lo, se não o adquiriu de má-fé.

Parágrafo único. Sem prejuízo do disposto neste artigo, serão observadas, nos casos

de perda, extravio, furto, roubo ou apropriação indébita do cheque, as disposições

legais relativas à anulação e substituição de títulos ao portador, no que for aplicável.

Art. 25. Quem for demandado por obrigação resultante de cheque não pode opor ao

Page 103: Cheque Sustado

102

portador exceções fundadas em relações pessoais com o emitente, ou com os

portadores anteriores, salvo se o portador o adquiriu conscientemente em detrimento

do devedor.

Art. 26. Quando o endosso contiver a cláusula "valor em cobrança'', "para cobrança'',

"por procuração'', ou qualquer outra que implique apenas mandato, o portador pode

exercer todos os direitos resultantes do cheque, mas só pode lançar no cheque

endosso-mandato. Neste caso, os obrigados somente podem invocar contra o

portador as exceções oponíveis ao endossante.

Parágrafo único. O mandato contido no endosso não se extingue por morte do

endossante ou por superveniência de sua incapacidade.

Art. 27. O endosso posterior ao protesto, ou declaração equivalente, ou à expiração do

prazo de apresentação produz apenas os efeitos de cessão. Salvo prova em contrário,

o endosso sem data presume-se anterior ao protesto, ou declaração equivalente, ou à

expiração do prazo de apresentação.

Art. 28. O endosso no cheque nominativo, pago pelo banco contra o qual foi sacado,

prova o recebimento da respectiva importância pela pessoa a favor da qual foi emitido,

e pelos endossantes subseqüentes.

Parágrafo único. Se o cheque indica a nota, fatura, conta cambial, imposto lançado ou

declaração a cujo pagamento se destina, ou outra causa da sua emissão, o endosso

pela pessoa a favor da qual foi emitido e a sua liquidação pelo banco sacado provam

a extinção da obrigação indicada.

CAPÍTULO III - DE AVAL

Art. 29. O pagamento do cheque pode ser garantido, no todo ou em parte, por aval

prestado por terceiro, exceto o sacado, ou mesmo por signatário do título.

Page 104: Cheque Sustado

103

Art. 30. O aval é lançado no cheque ou na folha de alongamento. Exprime-se pelas

palavras "por aval'', ou fórmula equivalente, com a assinatura do avalista. Considera-se

como resultante da simples assinatura do avalista, aposta no anverso do cheque, salvo

quando se tratar da assinatura do emitente.

Parágrafo único. O aval deve indicar o avalizado. Na falta de indicação, considera-se

avalizado o emitente.

Art. 31. O avalista se obriga da mesma maneira que o avalizado. Subsiste sua

obrigação, ainda que nula a por ele garantida, salvo se a nulidade resultar de vício de

forma.

Parágrafo único. O avalista que paga o cheque adquire todos os direitos dele

resultantes contra o avalizado e contra os obrigados para com este em virtude do

cheque.

CAPÍTULO IV - DA APRESENTAÇÃO E DO PAGAMENTO

Art. 32. O cheque é pagável a vista. Considera-se não escrita qualquer menção em

contrário.

Parágrafo único. O cheque apresentado para pagamento antes do dia indicado como

data de emissão é pagável no dia da apresentação.

Art. 33. O cheque deve ser apresentado para pagamento, a contar do dia da emissão,

no prazo de 30 (trinta) dias, quando emitido no lugar onde houver de ser pago; e 60

(sessenta) dias, quando emitido em outro lugar do País ou no exterior.

Parágrafo único. Quando o cheque é emitido entre lugares com calendários diferentes,

considera-se como de emissão o dia correspondente do calendário do lugar de

pagamento.

Art. 34. A apresentação do cheque à câmara de compensação equivale à

Page 105: Cheque Sustado

104

apresentação a pagamento.

Art. 35. O emitente do cheque pagável no Brasil pode revogá-lo mercê de contra-

ordem dada por aviso epistolar, ou por via judicial ou extrajudicial, com as razões

motivadoras do ato.

Parágrafo único. A revogação ou contra-ordem só produz efeito depois de expirado o

prazo de apresentação e, não sendo promovida, pode o sacado pagar o cheque até

que decorra o prazo de prescrição, nos termos do art. 59 desta Lei.

Art. 36. Mesmo durante o prazo de apresentação, o emitente e o portador legitimado

podem fazer sustar o pagamento, manifestando ao sacado, por escrito, oposição

fundada em relevante razão de direito.

§ 1º. A aposição do emitente e a revogação ou contra-ordem se excluem

reciprocamente.

§ 2º. Não cabe ao sacado julgar da relevância da razão invocada pelo oponente.

Art. 37. A morte do emitente ou sua incapacidade superveniente à emissão não

invalidam os efeitos do cheque.

Art. 38. O sacado pode exigir, ao pagar o cheque, que este lhe seja entregue quitado

pelo portador.

Parágrafo único. O portador não pode recusar pagamento parcial, e, nesse caso, o

sacado pode exigir que esse pagamento conste do cheque e que o portador lhe dê a

respectiva quitação.

Art. 39. O sacado que paga cheque "à ordem'' é obrigado a verificar a regularidade da

série de endossos, mas não a autenticidade das assinaturas dos endossantes. A

mesma obrigação incumbe ao banco apresentante do cheque à câmara de

compensação.

Parágrafo único. Ressalvada a responsabilidade do apresentante, no caso da parte

Page 106: Cheque Sustado

105

final deste artigo, o banco sacado responderá pelo pagamento do cheque falso,

falsificado ou alterado, salvo dolo ou culpa do correntista, do endossante ou do

beneficiário, dos quais poderá o sacado, no todo ou em parte, reaver o que pagou.

Art. 40. O pagamento se fará à medida em que forem apresentados os cheques e se 2

(dois) ou mais forem apresentados simultaneamente, sem que os fundos disponíveis

bastem para o pagamento de todos, terão preferência os de emissão mais antiga e,

se da mesma data, os de número inferior.

Art. 41. O sacado pode pedir explicações ou garantia para pagar cheque mutilado,

rasgado ou partido, ou que contenha borrões, emendas e dizeres que não pareçam

formalmente normais.

Art. 42. O cheque em moeda estrangeira é pago, no prazo de apresentação, em

moeda nacional ao câmbio do dia do pagamento obedecida a legislação especial.

Parágrafo único. Se o cheque não for pago no ato da apresentação, pode o portador

optar entre o câmbio do dia da apresentação e o do dia do pagamento para efeito de

conversão em moeda nacional.

Art. 43. (VETADO).

§ 1º. (VETADO).

§ 2º. (VETADO).

CAPÍTULO V - DO CHEQUE CRUZADO

Art. 44. O emitente ou o portador podem cruzar o cheque, mediante a aposição de dois

traços paralelos no anverso do título.

§ 1º. O cruzamento é geral se entre os dois traços não houver nenhuma indicação ou

existir apenas a indicação "banco'', ou outra equivalente, O cruzamento é especial se

entre os dois traços existir a indicação do nome do banco.

Page 107: Cheque Sustado

106

§ 2º. O cruzamento geral pode ser convertido em especial, mas este não pode

converter-se naquele. A inutilização do cruzamento ou a do nome do banco é reputada

como não existente.

Art. 45. O cheque com cruzamento geral só pode ser pago pelo sacado a banco ou a

cliente do sacado, mediante crédito em conta. O cheque com cruzamento especial só

pode ser pago pelo sacado ao banco indicado, ou, se este for o sacado, a cliente seu,

mediante crédito em conta. Pode, entretanto, o banco designado incumbir outro da

cobrança.

§ 1º. O banco só pode adquirir cheque cruzado de cliente seu ou de outro banco. Só

pode cobrá-lo por conta de tais pessoas.

§ 2º. O cheque com vários cruzamentos especiais só pode ser pago pelo sacado no

caso de dois cruzamentos, um dos quais para cobrança por câmara de compensação.

§ 3º. Responde pelo dano, até a concorrência do montante do cheque, o sacado ou o

banco portador que não observar as disposições precedentes.

CAPÍTULO VI - DO CHEQUE PARA SER CREDITADO EM CONTA

Art. 46. O emitente ou o portador podem proibir que o cheque seja pago em dinheiro

mediante a inscrição transversal, no anverso do título, da cláusula "para ser creditado

em conta'', ou outra equivalente. Nesse caso, o sacado só pode proceder a

lançamento contábil (crédito em conta, transferência ou compensação), que vale como

pagamento. O depósito do cheque em conta de seu beneficiário dispensa o respectivo

endosso.

§ 1º. A inutilização da cláusula é considerada como não existente.

§ 2º. Responde pelo dano, até a concorrência do montante do cheque, o sacado que

não observar as disposições precedentes.

Page 108: Cheque Sustado

107

CAPÍTULO VII - DA AÇÃO POR FALTA DE PAGAMENTO

Art. 47. Pode o portador promover a execução do cheque:

I - contra o emitente e seu avalista;

II - contra os endossantes e seus avalistas, se o cheque é apresentado em tempo hábil

e a recusa do pagamento é comprovada pelo protesto ou por declaração do sacado,

escrita e datada sobre o cheque, com indicação do dia de apresentação, ou, ainda,

por declaração escrita e datada por câmara de compensação.

§ 1º. Qualquer das declarações previstas neste artigo dispensa o protesto e produz os

efeitos deste.

§ 2º. Os signatários respondem pelos danos causados por declarações inexatas.

§ 3º. O portador que não apresentar o cheque em tempo hábil, ou não comprovar a

recusa de pagamento pela forma indicada neste artigo, perde o direito de execução

contra o emitente, se este tinha fundos disponíveis durante o prazo de apresentação e

os deixou de ter, em razão de fato que não lhe seja imputável.

§ 4º. A execução independe do protesto e das declarações previstas neste artigo, se a

apresentação ou o pagamento do cheque são obstados pelo fato de o sacado ter sido

submetido a intervenção, liquidação extrajudicial ou falência.

Art. 48. O protesto ou as declarações do artigo anterior devem fazer-se no primeiro dia

útil seguinte.

§ 1º. A entrega do cheque para protesto deve ser prenotada em livro especial e o

protesto tirado no prazo de 3 (três) dias úteis a contar do recebimento do título.

§ 2º. O instrumento do protesto, datado e assinado pelo oficial público competente,

contém:

a) a transcrição literal do cheque, com todas as declarações nele inseridas, na ordem

Page 109: Cheque Sustado

108

em que se acham lançadas;

b) a certidão da intimação do emitente, de seu mandatário especial ou representante

legal, e as demais pessoas obrigadas no cheque;

c) a resposta dada pelos intimados ou a declarações da falta de resposta;

d) a certidão de não haverem sido encontrados ou de serem desconhecidos o

emitente ou os demais obrigados, realizada a intimação, nesse caso, pela imprensa.

§ 3º. O instrumento de protesto, depois de registrado em livro próprio, será entregue ao

portador legitimado ou àquele que houver efetuado o pagamento.

§ 4º. Pago o cheque depois do protesto, pode este ser cancelado, a pedido de

qualquer interessado, mediante arquivamento de cópia autenticada de quitação que

contenha perfeita identificação do título.

Art. 49. O portador deve dar aviso da falta de pagamento a seu endossante ao

emitente, nos 4 (quatro) dias úteis seguintes ao do protesto ou das declarações

previstas no art. 47 desta Lei ou, havendo cláusula "sem despesa'', ao da

apresentação.

§ 1º. Cada endossante deve, nos 2 (dois) dias úteis seguintes ao do recebimento do

aviso, comunicar seu teor ao endossante precedente, indicando os nomes e

endereços dos que deram os avisos anteriores, e assim por diante, até o emitente,

contando-se os prazos do recebimento do aviso precedente.

§ 2º. O aviso dado a um obrigado deve estender-se, no mesmo prazo, a seu avalista.

§ 3º. Se o endossante não houver indicado seu endereço, ou o tiver feito de forma

ilegível, basta o aviso ao endossante que o preceder.

§ 4º. O aviso pode ser dado por qualquer forma, até pela simples devolução do

cheque.

§ 5º. Aquele que estiver obrigado a aviso deverá provar que o deu no prazo estipulado.

Page 110: Cheque Sustado

109

Considera-se observado o prazo se, dentro dele, houver sido posta no correio a carta

de aviso.

§ 6º. Não decai do direito de regresso o que deixa de dar o aviso no prazo

estabelecido. Responde, porém, pelo dano causado por sua negligência, sem que a

indenização exceda o valor do cheque.

Art. 50. O emitente, o endossante e o avalista podem, pela cláusula "sem despesa,

sem protesto'', ou outra equivalente, lançada no título e assinada, dispensar o portador,

para promover à execução do título, do protesto ou da declaração equivalente.

§ 1º. A cláusula não dispensa o portador da apresentação do cheque no prazo

estabelecido, nem dos avisos. Incumbe a quem alega a inobservância de prazo a

prova respectiva.

§ 2º. A cláusula lançada pelo emitente produz efeito em relação a todos os obrigados;

a lançada por endossante ou por avalista produz efeito somente em relação ao que

lançar.

§ 3º. Se, apesar da cláusula lançada pelo emitente, o portador promove o protesto, as

despesas correm por sua conta. Por elas respondem todos os obrigados, se a

cláusula é lançada por endossante ou avalista.

Art. 51. Todos os obrigados respondem solidariamente para com o portador do cheque.

§ 1º. O portador tem o direito de demandar todos os obrigados, individual ou

coletivamente, sem estar sujeito a observar a ordem em que se obrigaram. O mesmo

direito cabe ao obrigado que pagar o cheque.

§ 2º. A ação contra um dos obrigados não impede sejam os outros demandados,

mesmo que se tenham obrigado posteriormente àquele.

§ 3º. Regem-se pelas normas das obrigações solidárias as relações entre obrigados

do mesmo grau.

Page 111: Cheque Sustado

110

Art. 52. O portador pode exigir do demandado:

I - a importância do cheque não pago;

II - os juros legais desde o dia da apresentação;

III - as despesas que fez;

IV - a compensação pela perda do valor aquisitivo da moeda, até o embolso das

importâncias mencionadas nos itens antecedentes.

Art. 53. Quem paga o cheque pode exigir de seus garantes:

I - a importância integral que pagou;

II - os juros legais, a contar do dia do pagamento;

III - as despesas que fez;

IV - a compensação pela perda do valor aquisitivo da moeda, até o embolso das

importâncias mencionada nos itens antecedentes.

Art. 54. O obrigado contra o qual se promova execução, ou que a esta esteja sujeito,

pode exigir, contra pagamento, a entrega do cheque, com o instrumento de protesto ou

da declaração equivalente e a conta de juros e despesas quitadas.

Parágrafo único. O endossante que pagou o cheque pode cancelar seu endosso e os

dos endossantes posteriores.

Art. 55. Quando disposição legal ou caso de força maior impedir a apresentação do

cheque, o protesto ou a declaração equivalente nos prazos estabelecidos, consideram-

se estes prorrogados.

§ 1º. O portador é obrigado a dar aviso imediato da ocorrência de força maior a seu

endossante e a fazer menção do aviso dado mediante declaração datada e assinada

por ele no cheque ou folha de alongamento. São aplicáveis, quanto ao mais, as

disposições do art. 40 e seus parágrafos desta Lei.

§ 2º. Cessado o impedimento, deve o portador, imediatamente, apresentar o cheque

Page 112: Cheque Sustado

111

para pagamento e, se couber, promover protesto ou a declaração equivalente.

§ 3º. Se o impedimento durar por mais de 15 (quinze) dias contados do dia em que o

portador, mesmo antes de findo o prazo de apresentação, comunicou a ocorrência de

força maior a seu endossante, poderá ser promovida a execução, sem necessidade

da apresentação do protesto ou declaração equivalente.

§ 4º. Não constituem casos de força maior os fatos puramente pessoais relativos ao

portador ou à pessoa por ele incumbida da apresentação do cheque, do protesto ou

da obtenção da declaração equivalente.

CAPÍTULO VIII - DA PLURALIDADE DE EXEMPLARES

Art. 56. Excetuado o cheque ao portador, qualquer cheque emitido em um país e

pagável em outro pode ser feito em vários exemplares idênticos, que devem ser

numerados no próprio texto do título, sob pena de cada exemplar ser considerado

cheque distinto.

Art. 57. O pagamento feito contra a apresentação de um exemplar é liberatório, ainda

que não estipulado que o pagamento torna sem efeito os outros exemplares.

Parágrafo único. O endossante que transferir os exemplares a diferentes pessoas e os

endossantes posteriores respondem por todos os exemplares que assinarem e que

não forem restituídos.

CAPÍTULO IX - DAS ALTERAÇÕES

Art. 58. No caso de alteração do texto do cheque, os signatários posteriores à

alteração respondem nos termos do texto alterado e os signatários anteriores, nos do

texto original.

Parágrafo único. Não sendo possível determinar se a firma foi aposta no título antes ou

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112

depois de sua alteração, presume-se que o tenha sido antes.

CAPÍTULO X - DA PRESCRIÇÃO

Art. 59. Prescrevem em 6 (seis) meses, contados da expiração do prazo de

apresentação, a ação que o art. 47 desta Lei assegura ao portador.

Parágrafo único. A ação de regresso de um obrigado ao pagamento do cheque contra

outro prescreve em 6 (seis) meses, contados do dia em que o obrigado pagou o

cheque ou do dia em que foi demandado.

Art. 60. A interrupção da prescrição produz efeito somente contra o obrigado em

relação ao qual foi promovido o ato interruptivo.

Art. 61. A ação de enriquecimento contra o emitente ou outros obrigados, que se

locupletaram injustamente com o não-pagamento do cheque, prescreve em 2 (dois)

anos, contados do dia em que se consumar a prescrição prevista no art. 59 e seu

parágrafo desta Lei.

Art. 62. Salvo prova de novação, a emissão ou a transferência do cheque não exclui a

ação fundada na relação causal, feita a prova do não-pagamento.

CAPÍTULO XI - DOS CONFLITOS DE LEIS EM MATÉRIAS

Art. 63. Os conflitos de leis em matéria de cheques serão resolvidos de acordo com as

normas constantes das Convenções aprovadas, promulgadas e mandadas aplicar no

Brasil, na forma prevista pela Constituição Federal.

CAPÍTULO XII - DAS DISPOSIÇÕES GERAIS

Art. 64. A apresentação do cheque, o protesto ou a declaração equivalente só podem

ser feitos ou exigidos em dia útil, durante o expediente dos estabelecimentos de

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113

crédito, câmaras de compensação e cartórios de protestos.

Parágrafo único. O cômputo dos prazos estabelecidos nesta Lei obedece às

disposições do direito comum.

Art. 65. Os efeitos penais da emissão do cheque sem suficiente provisão de fundos, da

frustração do pagamento do cheque, da falsidade, da falsificação e da alteração do

cheque continuam regidos pela legislação criminal.

Art. 66. Os vales ou cheques postais, os cheques de poupança ou assemelhados, e os

cheques de viagem regem-se pelas disposições especiais a eles referentes.

Art. 67. A palavra "banco'', para os fins desta Lei, designa também a instituição

financeira contra a qual a lei admita a emissão de cheque.

Art. 68. Os bancos e casas bancárias poderão fazer prova aos seus depositantes dos

cheques por estes sacados, mediante apresentação de cópia fotográfica ou

micrográfica.

Art. 69. Fica ressalvada a competência do Conselho Monetário Nacional, nos termos e

nos limites da legislação específica, para expedir normas relativas à matéria bancária

relacionada com o cheque.

Parágrafo único. É da competência do Conselho Monetário Nacional:

a) a determinação das normas a que devem obedecer as contas de depósito para que

possam ser fornecidos os talões de cheques aos depositantes;

b) a determinação das conseqüências do uso indevido do cheque relativamente à

conta do depositante;

c) a disciplina das relações entre o sacado e o opoente, na hipótese do art. 36 desta

Lei.

Art. 70. Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 71. Revogam-se as disposições em contrário.

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114

ANEXO B - Resolução 2.747/2000 (BACEN)

Altera normas relativas à abertura e ao encerramento de contas de depósitos, a

tarifas de serviços e ao cheque.

O BANCO CENTRAL DO BRASIL, na forma do art. 9º da Lei nº 4.595, de 31

de dezembro de 1964, torna público que o CONSELHO MONETÁRIO NACIONAL, em

sessão realizada em 28 de junho de 2000, com base nos arts. 3º, inciso V, e 4º, incisos

VIII e IX, da referida Lei, e tendo em vista o disposto no art. 69 da Lei nº 7.357, de 2 de

fevereiro de 1985,

R E S O L V E U:

Art. 1º Alterar os arts. 1º, 2º e 12 da Resolução nº 2.025, de 24 de novembro de

1993, que passam a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 1º Para abertura de conta de depósitos é obrigatória a completa

identificação do depositante, mediante preenchimento de ficha-proposta

contendo, no mínimo, as seguintes informações, que deverão ser mantidas

atualizadas pela instituição financeira: (NR)

I - qualificação do depositante:

a) pessoas físicas: nome completo, filiação, nacionalidade, data e local do

nascimento, sexo, estado civil, nome do cônjuge, se casado, profissão,

documento de identificação (tipo, número, data de emissão e órgão expedidor) e

número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas - CPF;

b) pessoas jurídicas: razão social, atividade principal, forma e data de

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115

constituição, documentos, contendo as informações referidas na alínea anterior,

que qualifiquem e autorizem os representantes, mandatários ou prepostos a

movimentar a conta, número de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa

Jurídica - CNPJ e atos constitutivos, devidamente registrados, na forma da lei, na

autoridade competente; (NR)

II - endereços residencial e comercial completos; (NR)

III - número do telefone e código DDD;

IV - fontes de referência consultadas;

V - data da abertura da conta e respectivo número;

VI - assinatura do depositante.

Parágrafo 1º Se a conta de depósitos for titulada por menor ou por pessoa

incapaz, além de sua qualificação, também deverá ser identificado o responsável

que o assistir ou o representar.

Parágrafo 2º Nos casos de isenção de CPF e de CNPJ previstos na

legislação em vigor, deverá esse fato ser registrado no campo da ficha-proposta

destinado a essas informações." (NR)

"Art. 2º A ficha-proposta relativa a conta de depósitos à vista deverá conter,

ainda, cláusulas tratando, entre outros, dos seguintes assuntos:

I - saldo exigido para manutenção da conta; (NR)

II - condições estipuladas para fornecimento de talonário de cheques;

III - revogado;

IV - obrigatoriedade de comunicação, devidamente formalizada pelo

depositante, sobre qualquer alteração nos dados cadastrais e nos documentos

referidos no art. 1º desta Resolução; (NR)

V - inclusão do nome do depositante no Cadastro de Emitentes de Cheques

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sem Fundos (CCF), nos termos da regulamentação em vigor, no caso de

emissão de cheques sem fundos, com a devolução dos cheques em poder do

depositante à instituição financeira; (NR)

VI - informação de que os cheques liquidados, uma vez micro-filmados,

poderão ser destruídos; (NR)

VII - procedimentos a serem observados com vistas ao encerramento da

conta de depósitos, respeitado o disposto no art. 12 desta Resolução. (NR)

Parágrafo único. Revogado."

"Art. 12. Cabe à instituição financeira esclarecer ao depositante acerca das

condições exigidas para a rescisão do contrato de conta de depósitos à vista por

iniciativa de qualquer das partes, devendo ser incluídas na ficha-proposta as

seguintes disposições mínimas: (NR)

I - comunicação prévia, por escrito, da intenção de rescindir o contrato; (NR)

II - prazo para adoção das providências relacionadas à rescisão do

contrato; (NR)

III - devolução, à instituição financeira, das folhas de cheque em poder do

correntista, ou de apresentação de declaração, por esse último, de que as

inutilizou; (NR)

IV - manutenção de fundos suficientes, por parte do correntista, para o

pagamento de compromissos assumidos com a instituição financeira ou

decorrentes de disposições legais; (NR)

V - expedição de aviso da instituição financeira ao correntista, admitida a

utilização de meio eletrônico, com a data do efetivo encerramento da conta de

depósitos à vista. (NR)

Parágrafo 1º A instituição financeira deve manter registro da ocorrência

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117

relativa ao encerramento da conta de depósitos à vista. (NR)

Parágrafo 2º O pedido de encerramento de conta de depósitos deve ser

acatado mesmo na hipótese de existência de cheques sustados, revogados ou

cancelados por qualquer causa, os quais, se apresentados dentro do prazo de

prescrição, deverão ser devolvidos pelos respectivos motivos, mesmo após o

encerramento da conta, não eximindo o emitente de suas obrigações legais."

(NR)

Parágrafo único. Fica estabelecido prazo, até 28 de setembro de 2000,

para adequação dos procedimentos relacionados à abertura, manutenção e

encerramento de contas de depósitos, em decorrência do disposto neste artigo.

Art. 2º Fica alterado o art. 1º da Resolução nº 2.303, de 25 de julho de 1996,

que passa a vigorar com a seguinte redação:

"Art. 1º Vedar às instituições financeiras e demais instituições autorizadas a

funcionar pelo Banco Central do Brasil a cobrança de remuneração pela

prestação dos seguintes serviços:

I - fornecimento de cartão magnético ou, alternativamente, a critério do

correntista, de um talonário de cheques com, pelo menos, dez folhas, por mês,

facultada à instituição financeira a prerrogativa de suspender o fornecimento de

novos talonários de cheques quando: (NR)

a) vinte ou mais folhas de cheque, já fornecidas ao correntista, ainda não

tiverem sido liquidadas; ou (NR)

b) não tiverem sido liquidadas 50% (cinqüenta por cento), no mínimo, das

folhas de cheque fornecidas ao correntista nos últimos três meses; (NR)

II - substituição do cartão magnético referido no inciso anterior, exceto nos

casos de pedidos de reposição formulados pelo correntista decorrentes de

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118

perda, roubo, danificação e outros motivos não imputáveis à instituição emitente;

III - expedição de documentos destinados à liberação de garantias de

qualquer natureza, inclusive por parte de administradoras de consórcio; (NR)

IV - devolução de cheques pelo Serviço de Compensação de Cheques e

Outros Papéis (SCCOP), exceto por insuficiência de fundos, hipótese em que a

cobrança somente poderá recair sobre o emitente do cheque; (NR)

V - manutenção de contas de depósitos de poupança, à ordem do poder

judiciário, e de depósitos em consignação de pagamento de que trata a Lei nº

8.951, de 13 de dezembro de 1994; (NR)

VI - fornecimento de um extrato mensal contendo toda a movimentação do

mês.

Parágrafo 1º A vedação à cobrança de remuneração pela manutenção de

contas de poupança não se aplica àquelas:

I - cujo saldo seja igual ou inferior a R$20,00 (vinte reais); e

II - que não apresentem registros de depósitos ou saques, pelo período de

seis meses. (NR)

Parágrafo 2º Na ocorrência das hipóteses de que trata o Parágrafo 1º, a

cobrança de remuneração somente poderá ocorrer após o lançamento dos

rendimentos de cada período, limitada ao maior dos seguintes valores:

I - o correspondente a 30% (trinta por cento) do saldo existente em cada mês;

II - R$4,00 (quatro reais) ou o saldo existente, quando inferior a esse valor.

Parágrafo 3º Os serviços mencionados neste artigo são de caráter

obrigatório, observadas as características operacionais de cada tipo de instituição

financeira e, quanto ao fornecimento de talonário de cheques, as condições

estabelecidas na ficha-proposta relativa à conta de depósitos à vista." (NR)

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119

Art. 3º A sustação (oposição) e a contra-ordem (revogação) somente se

aplicam aos cheques com as características formais previstas em lei, não sendo

aplicáveis às folhas de cheques em branco roubadas, furtadas ou extraviadas, as

quais devem ser objeto de cancelamento por parte da instituição financeira.

Parágrafo 1º Para a efetivação de sustação e de contra-ordem

de cheques, as instituições financeiras que operam na captação de depósitos à

vista devem exigir, na forma da lei, solicitação escrita do interessado, com

justificativa fundada em relevante razão de direito, não cabendo à instituição

examinar o mérito ou a relevância da justificativa.

Parágrafo 2º Para a efetivação de cancelamento de cheques já entregues

ao correntista, a instituição financeira deve receber solicitação desse último, com

declaração do motivo.

Parágrafo 3º As solicitações de sustação, de contra-ordem e de

cancelamento de cheques devem subordinar-se à identificação do interessado,

consignada mediante assinatura em documento escrito, senha eletrônica ou

dispositivo passível de ser utilizado como prova para fins legais.

Parágrafo 4º Admite-se que as solicitações de sustação, de contra-ordem e

de cancelamento de cheques sejam realizadas em caráter provisório, por

comunicação telefônica ou por meio eletrônico, hipótese em que seu acatamento

será mantido pelo prazo máximo de dois dias úteis, após o que, caso não

confirmadas nos termos dos Parágrafos 1º a 3º, deverão ser consideradas

inexistentes pela instituição financeira.

Parágrafo 5º Os cheques devolvidos por motivos de sustação, de contra-

ordem e de cancelamento, uma vez reapresentados, devem ter curso normal,

verificadas, conforme o caso, as seguintes condições:

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I - levantamento da sustação ou da contra-ordem por parte do oponente ou

do emitente;

II - não-confirmação da solicitação provisória de sustação ou de contra-

ordem, nos termos do parágrafo 4º;

III - não-confirmação da solicitação provisória de cancelamento, nos termos

do parágrafo 4º, desde que comprovada a autenticidade da assinatura do

emitente.

Art. 4º É vedada a cobrança de tarifas a título de renovação de sustação, de

contra-ordem e de cancelamento de cheques, que, uma vez realizados, mediante

o correspondente pedido nos termos da legislação e regulamentação em vigor,

devem produzir os respectivos efeitos legais sem prazo predeterminado.

Art. 5º Fica o Banco Central do Brasil autorizado a baixar as normas e a

adotar as medidas necessárias à execução do disposto nesta Resolução.

Art. 6º Esta Resolução entra em vigor na data de sua publicação.

Art. 7º Fica revogado o art. 2º da Resolução nº 2.537, de 26 de agosto de

1998.

Brasília, 28 de junho de 2000

Luiz Fernando Figueiredo

Presidente Substituto

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ANEXO C - Cheque sustado