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18 Redes porosas e contextos sobrepostos Desafios metodológicos no estudo da comunicação social e comportamento político Scott D. McClurg Department of Political Science Southern Illinois University A característica distintiva da pesquisa em comunicação social é a presunção de que os cidadãos estão influenciados pelos ambientes que habitam. Em contraste com a pesquisa em comunicação política de raízes racionalistas ou psicológicas, toma como problema fundamental como os ambientes variam e as consequências disso para os cidadãos, sejam indivíduos ou grupos. Uma linha de pesquisa significativa nesse subcampo focaliza especificamente nas redes de comunicação, que abrangem a informação disponível aos cidadãos das unidades sociais formais e informais, incluindo redes interpessoais, contextos geográficos, instituições religiosas, o local de trabalho e outras agrupações sociais. 1 Apesar de suas origens remontarem pelo menos ao marco das análises de Berelson e colegas (1954) em Elmira, NY, a pesquisa em comunicação social não esteve em voga por muito tempo ao longo do século vinte. 2 Contudo, a pesquisa em comunicação social vem se situando novamente à frente das disciplinas das ciências políticas e da comunicação. Conseqüentemente, há boas razões para considerar e avaliar os desafios metodológicos desta área de pesquisa promissora. Neste capítulo, estreito o foco sobre três questões relacionadas ao desenho de pesquisa particularmente importantes na pesquisa em comunicação social: (1) a escolha dos níveis da análise, (2) negociações entre ambientes de amostragem de profundidade ou abrangentes, e (3) dificuldades em demonstrar relações causais. 3 Ainda que não seja de forma alguma exaustiva, esta lista serve como ponto de partida para uma discussão mais ampla sobre como as suposições específicas da pesquisa em comunicação social impõem desafios inferenciais específicos, afetando o avanço do conhecimento. Tendo definido os termos chaves neste campo do estudo, passo a esboçar cada problema, discutindo suas consequências, e proponho caminhos para avançar. Minha tese, ao longo da discussão, é que os pesquisadores da comunicação social devem dar prioridade à medição de

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Redes porosas e contextos sobrepostos

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Redes porosas e contextos

sobrepostosDesafios metodológicos no estudo da comunicação

social e comportamento político

Scott D. McClurgDepartment of Political Science

Southern Illinois University

A característica distintiva da pesquisa em comunicação social é a presunção de que os cidadãos estão influenciados pelos ambientes que habitam. Em contraste com a pesquisa em comunicação política de raízes racionalistas ou psicológicas, toma como problema fundamental como os ambientes variam e as consequências disso para os cidadãos, sejam indivíduos ou grupos. Uma linha de pesquisa significativa nesse subcampo focaliza especificamente nas redes de comunicação, que abrangem a informação disponível aos cidadãos das unidades sociais formais e informais, incluindo redes interpessoais, contextos geográficos, instituições religiosas, o local de trabalho e outras agrupações sociais.1

Apesar de suas origens remontarem pelo menos ao marco das análises de Berelson e colegas (1954) em Elmira, NY, a pesquisa em comunicação social não esteve em voga por muito tempo ao longo do século vinte.2 Contudo, a pesquisa em comunicação social vem se situando novamente à frente das disciplinas das ciências políticas e da comunicação. Conseqüentemente, há boas razões para considerar e avaliar os desafios metodológicos desta área de pesquisa promissora. Neste capítulo, estreito o foco sobre três questões relacionadas ao desenho de pesquisa particularmente importantes na pesquisa em comunicação social: (1) a escolha dos níveis da análise, (2) negociações entre ambientes de amostragem de profundidade ou abrangentes, e (3) dificuldades em demonstrar relações causais. 3 Ainda que não seja de forma alguma exaustiva, esta lista serve como ponto de partida para uma discussão mais ampla sobre como as suposições específicas da pesquisa em comunicação social impõem desafios inferenciais específicos, afetando o avanço do conhecimento.

Tendo definido os termos chaves neste campo do estudo, passo a esboçar cada problema, discutindo suas consequências, e proponho caminhos para avançar. Minha tese, ao longo da discussão, é que os pesquisadores da comunicação social devem dar prioridade à medição de variáveis independentes com tanta profundidade quanto for possível, em diferentes níveis de análise. Tal como a discussão a seguir deixa claro, isto traz implicações para outras questões metodológicas, incluindo a seleção, análise estatística e a capacidade de extrair conclusões com validade externa. Em termos amplos, minha justificação é que mesmo sob condições favoráveis, é difícil extrair conclusões de diferentes ambientes sociais simultaneamente. Conseqüentemente, maior atenção deve ser dada à compreensão de ambientes específicos, às propriedades teóricas desses ambientes, e às relações potenciais entre eles. Isto exige, por sua vez, a medição cuidadosa e profunda de tais ambientes, com base em conceitos robustos, teoricamente motivados. Atender a esta solicitação incentiva a atenção à diversidade social, ao desenvolvimento de modelos que atendam melhor a essa diversidade e ao reconhecimento de ambiguidades teóricas subjacentes a efeitos sociais complexos.

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REDES POROSAS E CONTEXTOS SOBREPOSTOS

AMBIENTES PARA UMA COMUNICAÇÃO SOCIAL: REDES E CONTEXTOS

O desenvolvimento conceitual é uma tarefa intelectual situada entre a construção teórica e metodológica (Adcock & Collier, 2001; Chaffee, 1991; Collier & Mahon, 1993; Gerring, 2001). É, portanto, um elemento crucial para a compreensão dos desafios da pesquisa. Neste capítulo, concentro a atenção especificamente em dois tipos de ambientes de comunicação social: redes e contextos. Em termos gerais, a pesquisa de redes sociais examina a comunicação interpessoal, enquanto que a pesquisa contextual investiga o relacionamento entre pessoas e grupos sociais de uma forma mais geral.4

Redes sociais

Definição. O elemento chave para a definição de rede social é a presença de relações identificáveis entre pessoas, onde as conversações criam oportunidades para a transferência da informação política relevante, tal como fatos políticos pertinentes, perspectivas gerais sobre política, normas e costumes políticos, entre outros. Do ponto de vista analítico, isto significa que o trabalho por esse caminho focaliza frequentemente questões tais como a frequência com que as pessoas falam sobre política e que conteúdo político tais conversas envolvem. Entre as questões tratadas nessas pesquisas incluem-se o reconhecimento de diferenças políticas entre as pessoas, e as consequências que tais relações impõem para o comportamento político (Finifter, 1974; Huckfeldt, Johnson, & Sprague, 2004, 2002; Huckfeldt, Mendez, & Osborn, 2004; Leighley, 1990; McClurg, 2006a, 2006b; Mutz, 2006; Mutz & Martin, 2001; Preço, Cappella, & Nir, 2002; Walsh, 2004).

Outra linha de análise investiga como a estrutura das relações sociais influencia os fluxos de informação entre as pessoas. Dito de outra forma, o interesse aqui está em como a substância das relações entre as pessoas - familiar, profissional, hierarquias sociais - está relacionada às trocas e à influência da informação. Nessas linhas, alguns pesquisadores examinam como o isomorfismo social em termos de raça, classe, renda, instrução e gênero afeta a aquisição de informação e de comportamentos políticos eventuais (ver, por exemplo, Brickell, Huckfeldt, & Sprague, 1988; Djupe, Sohkey, & Gilbert, 2007; Levine, 2005; Mendez & Osborne, 2005). Outros se concentram em níveis de intimidade entre as partes numa relação social, como laços filiais e/ou o conceito um pouco mais amorfo de "proximidade", que se refere à estimativa pessoal do entrevistado sobre o grau de intimidade da relação (Huckfeldt & Sprague, 1991; Kenny, 1994). Finalmente, há a idéia da força social do laço identificada por Grannovetter (1973), que focaliza em quão integrado um parceiro de discussão está com outras pessoas em uma rede. De particular interesse para a pesquisa em comunicação política são como a força do laço influencia a exposição a pontos de vista diversos (Huckfeldt, Johnson, & Sprague, 2004) e a capacidade para a ação coletiva que emerge do capital social (Coleman, 1988; Putnam, 2000).

Tipos de redes sociais. Como sugerem esses exemplos, os estudos das redes sociais englobam um conjunto diversificado de questões substantivas. Por conseguinte, uma ampla variedade de estratégias é empregada para identificar redes e medir suas propriedades. Para ajudar categorizar tanto quanto possível tal diversidade, utilizo

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uma tipologia que classifica as redes ao longo de duas dimensões: (1) completude, que diz respeito a ao grau em que as redes são identificadas e mapeadas; e permanência (2), que diz respeito à natureza das relações entre as pessoas em uma rede. A figura 18.1 fornece uma representação visual desse espaço conceitual, mostrando estudos ilustrativos em pontos diferentes nesse espaço. Esta figura demonstra como uma variedade larga de uma comunicação ambiente - dos protestos às organizações da reforma da escola ao família - pode útil ser estudado de um perspective da rede. Com este espaço conceitual geral em mente, vejamos cada dimensão com maior detalhe.

Completude. Em um extremo da dimensão completude está a pesquisa que examina somente as partes de uma rede identificável, tipicamente através dos olhos de um único indivíduo. A aproximação mais comum nesta abordagem é o estudo das redes egocêntricas, onde as relações sociais são definidas nos termos de uma pessoa em particular (ego) e das pessoas com as que ela conversa (os demais). Esta definição de rede é particularmente útil para estudos com amostras grandes, pois permite o uso de "geradores de nomes" - perguntas de pesquisa que indagam por nomes de familiares, amigos e conhecidos, identificando assim parceiros conversacionais imediatos do pesquisado (Burt, 1985, 1984; Huckfeldt & Sprague, 1995; Marsden, 1987). Tais perguntas de pesquisa produzem dados de rede parciais, o que significa que somente uma porção específica das relações do pesquisado está sendo capturada.

No outro extremo do espectro de completude está a pesquisa que investiga as redes como totalidades, onde o analista geralmente identifica uma organização social específica e coesa (formal ou informal), medindo então todas as relações nela contidas.5 Mais do que se apoiar na identificação pessoal de parceiros relevantes, o objetivo aqui é identificar todas as pessoas que fazem parte na rede, e encontrar então que ligações existem a partir de todas as interações possíveis (Scott, 2000). Os estudos que seguem esta abordagem costumam tomar como unidade de análise a estrutura da rede, e não o comportamento individual (ver, contudo, Lazer e outros. 2007). Dessa forma, a natureza da pergunta da pesquisa muitas vezes passa da influência individual para a compreensão dos fluxos de informação e dinâmicas de grupo.

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REDES POROSAS E CONTEXTOS SOBREPOSTOS

Participantes de protestos (Heaney & Rojas, 2007)

Organização demovimentos sociais locais (Ansell, Kelly & Reckhow, 2007)

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Ação

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Familiares e amigos mais próximos (Huckfeldt & Sprague, 1995)

Membros do programa de mestres (Lazer, Rubirean, Katz & Chetkovich, 2007)

Pares

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REDES POROSAS E CONTEXTOS SOBREPOSTOS

Parcial

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Inteira

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Completude

FIGURA 18.1 Mapeamento conceitual dos tipos de redes sociais, com exemplos.

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Permanência. Como qualquer pessoa que mudou de emprego, mudou-se ou se engajou em ações políticas sabe, as relações interpessoais variam em termos de duração e intensidade ao longo do tempo. Somos influenciados, indubitavelmente, de diferentes maneiras pela variedade de relações que mantemos (por exemplo, pensemos na diferença entre o chefe e a esposa). Conseqüentemente, pode ser útil distinguir as redes em termos de duração dos relacionamentos. Em uma das extremidades desta dimensão estão as redes de pares, frequentemente foco da pesquisa em comunicação social sobre política. Aqui as relações são relativamente duradouras porque eles estão com cônjuges, familiares e conhecidos de longa data. 6 Na outra extremidade estão as redes normalmente mais funcionais e menos estáveis. Conhecidas como redes de ação, são os relacionamentos que surgem em resposta a estímulos particulares e depois se dissipam.7

Estão incluídos aqui os agrupamentos sociais provisórios, tais como classes e/ou grupos de trabalho, e as redes dirigidas a finalidades específicas, que as pessoas consultam por sua expertise ou situação particular.

As redes de pares e as redes de ação podem ser distinguidas com base em como as pessoas entram e saem delas. Enquanto que as redes de pares apresentam menor probabilidade de serem selecionadas com base em critérios relevantes para a análise política, as redes de ação são mais prováveis ser selecionadas por fatores políticos. É importante que os analistas conheçam os processos de seleção em ambos os casos, mas os tipos de pesquisa variarão claramente dependendo do tipo de rede. Por exemplo, os estudos de uma rede na qual as pessoas se juntam quando se inscrevem em um movimento social devem estar mais atentos aos processos de formação do que os estudos sobre como os pais influenciam o ponto de vista político, simplesmente porque pode-se escolher os amigos e não os pais.

Contextos sociais

Definição. A pesquisa em comunicação social interessa-se também pelos efeitos de contexto. Enquanto que a pesquisa sobre redes sociais concentra-se em padrões específicos e observáveis de interação humana, a pesquisa de contexto pensa a comunicação social através das lentes dos cidadãos, que reagem às informações de ou sobre grupos de pessoas (por exemplo, instituições religiosas, locais de trabalho, irmandades, bairros e assim por diante). Embora tais contextos sociais sejam os grupos onde a interação social pode- mas não necessariamente ocorre - ocorrer, a pesquisa de contexto não foca somente nas conversas observáveis entre as pessoas. Ao invés disso, o foco está no relacionamento entre indivíduos e agrupações de pessoas. É um conceito mais difícil de definir do que o de rede social. Para poder avançar, considero os contextos sociais como os espaços sociais específicos e identificáveis (isto é, espaços com limites físicos ou sociais reais) dos quais os cidadãos podem receber informação relevante do ponto de vista político. O que importa em contextos específicos, portanto, são suas propriedades sociais e políticas e como as pessoas são (ou não) influenciadas por essas propriedades. Portanto, quando falamos de efeito social do contexto estamos nos referindo a como as pessoas são influenciadas por suas propriedades composicionais, tais como o nível de instrução ou atitudes políticas das pessoas no contexto.

Excluir a interação social como elemento principal que define os efeitos contextuais conduz a uma pergunta importante: Dado que as pessoas vivem em muitos contextos ao mesmo tempo, como são influenciados por eles? Por exemplo, se alguém se mudasse de um bairro altamente republicano para outro altamente democrático, que influência o novo contexto ambiental teria no comportamento político dessa pessoa e por quê? Um modelo comum de efeitos contextuais está baseado no trabalho de McPhee (1963) e elaborado por Huckfeldt e Sprague (1995). Neste modelo, os contextos influenciam cidadãos determinando probabilisticamente o intervalo de pessoas com quem terão interações sociais. Em outras palavras, os contextos importam na medida em que influenciam as redes sociais. Tomando nosso exemplo como base, isto significa que quando alguém se muda para um bairro democrático estará mais propensos a ter conversas e fazer amigos que fornecem informações favoráveis ao voto democrático do que o que experimentaram no antigo bairro republicano. Esta aproximação tem duas vantagens importantes: (1) fornece um modelo conceitual concreto para pensar sobre os efeitos de contexto, e (2) cria unidade entre as aproximações contextuais e de redes no estudo dos efeitos sociais da comunicação.

Contudo, como implica a discussão acima, isto pode ser uma maneira excessivamente restritiva de pensar sobre efeitos de contexto.8 Adotar tal aproximação restringiria o campo da comunicação social somente àquelas áreas nas quais as redes e os contextos se sobrepõem. As pessoas podem sofrer influência do contexto de muitas maneiras,contudo, mesmo na ausência de efeitos de rede. Uma alternativa óbvia às

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redes sociais, particularmente para os pesquisadores da comunicação, são meios de notícia (Mutz, 1998). As pistas de nível baixo são menos óbvias, como as observações pessoais, que conduzem as pessoas a fazer inferências sobre os contextos em que se encontram. Nessas linhas, Huckfeldt e Sprague (1992) encontram que o julgamento das pessoas sobre as inclinações políticas de seus bairros está influenciado em parte pelos sinais políticos presentes nas proximidades. Da mesma forma, Baybeck e McClurg (2005) encontraram que os moradores sabem muito sobre seus bairros (por exemplo, quanto sabem sobre seus vizinhos) que não é função de pertencer às organizações da vizinhança ou de ler o jornal local. Seja qual for o caso, os analistas devem ter em conta quais tipos de mecanismos causais são relevantes para o tipo de contexto eles estão examinando e reunir informações adequadas para triagem através de diferentes mecanismos causais. Não é preciso que os efeitos de contexto sejam vistos simplesmente como o equivalente aos efeitos da rede; quando os dois conceitos se sobrepõem na realidade, não são necessariamente os mesmos.

Tipos de contextos sociais. Deixando de lado a questão dos mecanismos causais que unem contextos ao comportamento político, precisamos ainda de um quadro no qual delinear os tipos de contextos sociais. A questão mais importante neste aspecto envolve a definição dos limites do contexto . Para identificar os universos de diferentes conceitos e medir as propriedades de contextos individuais, é preciso identificar claramente as fronteiras que delineiam e separam um contexto do outro. As ambiguidades potenciais neste processo são muito bem ilustradas pela ideia de "efeitos da vizinhança". Decidir que as pessoas na rua, por exemplo, são "do" bairro enquanto outras em locais adjacentes não são é uma parte necessária do estudo da influência dos contextos de bairro. Entretanto, estes tipos das determinações envolvem claramente julgamentos.

Dois métodos convenientes são usados tipicamente para delimitação dos limites contextuais. O primeiro, a aproximação a mais comum em minha experiência, é uso de limites geográficos disponíveis (Marrom, 1981; Huckfeldt, 1996; Johnston, Jones, apropriado, & Burgess, 2007; Putnam, 1966; Wright, 1977). São convenientes porque são amplamente aceitos como significativos e permitem a delineação clara dos contextos pela referência ao espaço físico. Por exemplo, quando os eleitores se referem à sua zona eleitoral, as linhas de demarcação costumam estar mais claras do que quando se referem às vizinhanças. Mas embora tais limites possam ser mais claramente compreendidos, são, a um grau significativo, arbitrários, ou pelo menos baseados em critérios irrelevantes para as teorias contextuais. Quando o que se procura é compreender como as pessoas respondem a seus vizinhos, fica pouco claro o que deveria guiar a escolha no menu de opções geográficas. Seria o grupo censal a escolha apropriada? Ou deveria ser a cidade? Infelizmente, as necessidades de coleta de dados implicam que tais ambiguidades estão frequentemente presentes nos processos da pesquisa em comunicação social.

O segundo método de definição de contextos está nos limites organizacionais. Os exemplos paradigmáticos são igrejas e locais de trabalho (por exemplo, Djupe & Gilbert, 2006; Huckfeldt, Plutzer, & Sprague, 1993; Mutz & Mondak, 2006). Assim como ocorre com os limites geográficos, usar organizações sociais formais para delimitar os contextos pode ser conveniente. São não somente os referentes como as igrejas e os lugares de trabalho que interessam substantivamente. Está também relativamente claro quem está "dentro" e quem está "fora" do contexto. Ao contrário dos contextos geográficos, os limites das unidades sociais formais não são extraídos arbitrariamente. Ainda que esta força envolva também vantagens e desvantagens, o mais importante é que como as fronteiras são significativas para as pessoas comuns, a auto-seleção para o contexto é uma preocupação ainda mais aguda. Além disso, esses contextos são vistos tipicamente como exclusivos e/ou especializados, limitando desse modo como as conclusões extraídas são dadas como certas e ampliadas para outros contextos.

QUESTÕES METODOLÓGICAS: ESCOLHA DO NÍVEL DE ANÁLISE

Problema

A primeira escolha metodológica que todo pesquisador enfrenta para testar hipóteses em comunicação social diz respeito ao nível de análise adequado para medir um efeito ambiental. Os problemas de nível de análise fora da pesquisa em comunicação política geralmente se centra na medida adequada das variáveis dependentes (por exemplo, para evitar a falácia da inferência ecológica), mas o agregado característico da

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maioria das variáveis independentes na pesquisa em comunicação política significa que as escolhas importantes devem ser feitas lá também. Quase toda a hipótese em comunicação social poderia ser formulada em tal maneira para ser testada em diferentes redes e contextos. Mas qual desses ambientes sociais é a unidade de análise mais adequada? Em algumas situações a decisão não é assustadora porque a questão substantiva restringe as escolhas analíticas, tais como estudos de influência de membros da família ou cônjuges no comportamento eleitoral (Brickell, Huckfeldt, & Sprague, 1988; Stoker & Jennings, 2005; Zuckerman, Fitzgerald, & Dasovic, 2005). Contudo, as expectativas teóricas não são frequentemente suficientemente precisas para tornar a escolha óbvia.

Pensemos, por exemplo, na questão sobre como o contexto racial afeta as atitudes dos eleitores brancos em relação aos afroamericanos. Key (1949) argumenta que os brancos poderiam ser mais hostis com os negros nas áreas onde a "ameaça racial" - medida pela proporção de negros em um condado em particular - fosse mais alta. Ainda que o argumento de Key seja simples, a questão de compensação de se a proporção das minorias na localidade imediata a uma pessoa branca a torna mais tolerante também é plausível (Branton & Jones, 2005; Giles & Buckner, 1993, 1996; Giles & Hertz, 1994; Oliver & Mendelberg, 2000; Voss, 1996a, 1996b). Resumindo, o problema é que os resultados dependem da unidade contextual adotada. Como as análises de Baybeck (2006) de dados de sondagem e censo de St. Louis e Indianapolis mostram, o impacto do contexto racial no comportamento difere quando a unidade da análise da variável independente é o grupo censal ou o município no qual as pessoas residem. Embora ambos os contextos sejam escolhas razoáveis, o fato de que os resultados dependam da escolha demonstra o problema subjacente - o nível ambiental do problema em análise pode estar entre as decisões mais significativas que o pesquisador deve tomar em relação ao desenho de projeto.

Implicações

Ignorar o problema da unidade de análise pode levar a uma grande variedade de mal entendidos substantivos. O primeiro é que os resultados do estudo não correspondam à escolha do ambiente. As decisões sobre quais 9 redes e/ou contextos analisar são significativas porque dão prioridade a certos tipos de ligações teóricas entre ambientes sociais e o comportamento político. Se tivéssemos que acreditar, por exemplo, que o debate político carregado de aspectos raciais é a fonte da hostilidade racial entre brancos e negros, seria inadequado escolher bairros ou redes como unidades de análise. No exemplo anterior, os bairros não constituem arenas de debate político significativas. No último exemplo, é possível que o debate político ocorra entre conhecidos, mas essas discussões provavelmente não sejam função das interações inter-raciais em resposta do isomorfismo racial nas redes interpessoais. Em vez disso, faria muito mais sentido focar na diversidade social nos limites de governo como municípios, zonas eleitorais e afins, já que são as unidades que restringem o debate político nas campanhas eleitorais e políticas.

Outra questão relacionada é que os efeitos da comunicação social podem ser incorretamente tratados como constantes nos diferentes níveis de análise. Isto levanta a questão da heterogeneidade causal , onde o efeito de uma variável independente depende pelo menos em parte de como a variável independente se combina com outras variáveis independentes para influenciar a variável dependente ou o resultado de interesse.10 Por exemplo, McClurg (2006b) mostra que o desacordo político em redes sociais desmobiliza as pessoas que são também minoria política no bairro, sendo que não tem nenhum efeito para as pessoas que pertencem à maioria no bairro (veja Djupe & Gilbert, 2009, para uma aplicação desta ideia às instituições religiosas). Como é menos provável que os cidadãos façam as mesmas distinções entre os ambientes sociais que os acadêmicos para assegurar uma análise empírica adequada, os acadêmicos devem ser conscientes de que as conclusões empíricas são vulneráveis a mudanças quando outros níveis de análise são incorporados. Certamente, a possibilidade de heterogeneidade entre ambientes é o que torna a pesquisa em comunicação social interessante. Contudo, a maioria dos estudos olha para uma porção da vida social, de forma que os analistas devem ser sensíveis à heterogeneidade não explorada em parâmetros causais.

Uma última questão é que os problemas do nível de análise podem surgir simplesmente porque os ambientes são escolhidos em função da conveniência e não de razões teóricas. Mesmo que muitas hipóteses sobre a comunicação social não sejam suficientemente precisas para fornecer expectativas claras sobre diferentes redes e contextos, a falta de precisão não implica que determinados ambientes não possam ser controlados, tornando-se inadequados para perguntas de pesquisa específicas. Se a hipótese da pesquisa sugere que a interação face a face é necessária para os efeitos da comunicação social, usar o

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bairro ou a igreja para medir o ambiente social é menos apropriado do que redes de pares, porque há variação considerável entre indivíduos no que diz respeito à quantidade de interação face a face nesses ambientes. Da mesma forma, se a hipótese de pesquisa sugerir que o comportamento depende da diversidade social, é pouco provável que o estudo da rede seja significativo se focalizar em redes nucleares e não em redes amplas, já que as redes nucleares tentem a ser socialmente, economicamente, racialmente e politicamente homogêneas.

Sugestão

Idealmente, a melhor maneira de enfrentar as questões pertinentes a diferentes níveis de análise é clara: confiar na teoria. Contudo, o avanço nesta área está limitado pela ausência de desenvolvimento conceitual que distingue entre a multiplicidade de ambientes sociais e suas propriedades teóricas. Huckfeldt e Sprague (1995) oferecem uma fundamentação sólida para pensar sobre os mecanismos que unem contextos sociais agregados às redes, enquanto que Books e Prysby (1991) discutem as questões de causalidade em algum detalhe para contextos sociais agregados. Contudo há muito pouco trabalho que expanda esses primeiros passos ou explore empiricamente distinções conceptuais importantes, tais como que mecanismos causais que prevalecem em ambientes sociais diferentes (ver Djupe, Gilbert, & o Sohkey, 2007; Huckfeldt, Johnson, & Sprague, 2004; McClurg, 2006b). Para ajudar a aliviar essas preocupações, as pesquisas futuras devem tentar controlar a introdução e eliminação de diferentes mecanismos causais que conectam ambientes sociais ao comportamento político.

Ao invés de definições conceituais mais refinadas que pode orientar as escolhas sobre unidades de análise adequadas, pode ser benéfico testar a robustez dos pressupostos subjacentes aos desenhos de pesquisa de comunicação social com dados. Em um exemplo paradigmático, Branton e Jones (2005) mostram que o efeito comum do contexto racial e socioeconômico sobre as atitudes políticas se mantém em diferentes contextos geográficos, construindo simultaneamente alguma sustentação para uma reivindicação de generalidade e proporcionando fortes evidências sobre o escopo de tal reivindicação.

QUESTÕES METODOLÓGICAS: AMOSTRAGEM

Problema

A segunda escolha metodológica na pesquisa em comunicação social diz respeito à amostragem. Aqui, duas questões relacionadas vêm à tona. A primeira refere-se à seleção dos casos ambientais sobre os quais colher dados, uma escolha importante porque a amostragem aleatória não está disponível como método no nível agregado. A segunda refere-se aos diferentes tipos de unidades sociais (inter unidades de amostragem) a selecionar em relação à quantidade de informação a coletar sobre cada unidade na série de dados (intra unidade de amostragem ). Enquanto que a substância das perguntas da pesquisa pode uma vez mais oferecer orientação para lidar com problemas de amostragem, estas duas questões criam uma tensão natural entre a amplitude e a profundidade da análise, fundamental à pesquisa em comunicação social. Em essência, quanto maior a variedade e maior o número de ambientes medidos — sejam eles redes ou contextos, menos pode-se aprender sobre um ambiente específico. O resultado final dessa tensão é que, mesmo com muitos recursos, o levantamento de dados originais enfrentará dificuldades para obter uma compreensão profunda e generalizável de qualquer efeito da comunicação social.

Para compreender os problemas, consideremos primeiramente o caso contrastante de uma sondagem com amostragem aleatória. Todo cientista social compreende que as amostras de sondagens têm que estar compostas dos pesquisados selecionados de maneira independente do estudo em si, a fim de não incorrer em desvios da seleção.11 Da mesma forma, os cientistas sociais reconhecem que as estimações de relações entre quaisquer duas características no nível individual são menos certas quando baseadas em várias observações do que quando estão baseadas em milhares (por exemplo, Gill 1999). Nesse sentido, bons pesquisadores que utilizam sondagens projetam grandes amostras aleatórias de indivíduos de populações bem definidas para evitar o viés de seleção e a ineficiência estatística, enquanto maximiza a capacidade de fazer afirmações generalizáveis sobre a população.

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Para adotar esse tipo do procedimento, é necessário ter uma população bem definida e um grande número observações nessa população. Infelizmente, as perguntas perseguidas na pesquisa em comunicação social geralmente dificultam o cumprimento dessas condições, especialmente quando vários indivíduos estão presentes em um mesmo ambiente.12 A referência a um único ambiente, por exemplo um tipo específico de rede ou contexto, não só raramente é uma lista bem definida de componentes dos quais colher a amostra, mas a "população" subjacente das unidades ambientais pode não ser suficientemente grande para tornar a amostragem aleatória útil. Ao mesmo tempo, é frequentemente pouco prático recolher a informação em todas as unidades ambientais. Isto significa que os analistas geralmente contam com duas opções quando tentam determinar a quantidade de informação a coletar no ambiente: alguns ou tudo, sendo que a segunda opção envolve menos unidades individuais por ambiente de comunicação.

Ao passo que isto sugere que a escolha de "alguns" ambientes para a análise deve ser propositiva, há uma segunda decisão sobre amostragem que diz respeito a quantos ambientes devem ser incluídos num estudo. Se o objetivo é examinar o maior número possível de bairros, igrejas ou tipos de relações de redes, amostras ambientais grandes (por indivíduo ou com todos os indivíduos) tem como consequência a redução da informação específica sobre um ambiente específico em si mesmo.

Huckfeldt e Sprague (1995) ilustram estes tipos de negociações em seu estudo de como os bairros afetam o comportamento político. Para medir sua variável independente, composição política do bairro, era necessário agregar as respostas à sondagem em cada bairro. Ao fazê-lo, os autores não apenas tiveram que decidir quantos indivíduos selecionar por bairro (fixaram-se cerca de 100), mas tiveram também que identificar os bairros específicos onde aplicar os questionários (fixaram-se 16). Ao passo que era possível fazer a seleção aleatória em cada bairro evitando-se assim o erro sistemático de medida, o tamanho da imprecisão nas medidas (erro de medida não sistemático) era uma função direta do tamanho da amostra do bairro. Assim, a capacidade para extrair conclusões sobre como o bairro influencia o comportamento apresenta incerteza em termos de generalização.13

No nível mais básico, essas preocupações de amostragem significam que a pesquisa em comunicação social - e provavelmente a pesquisa em comunicação política inclui uma negociação inerente entre boa medida das variáveis independentes e possibilidade de generalizar a amostra. Para um psicólogo político que utilize dados de sondagem, as principais preocupações com a medida têm pouco a ver com a validade externa da população, exceto no grau em que os entrevistados selecionaram a si mesmos para sondagens e experimentos. Em compensação, qualquer estudo sobre redes sociais ou contexto terá que definir se será mais importante examinar vários ambientes ou compreender os ambientes que podem ser medidos com maior profundidade. Ao mesmo tempo, esse trabalho ainda assim deverá se preocupar com os mesmos problemas de auto-seleção enfrentados por outros pesquisadores.

Implicações

Que conseqüências esses problemas de amostragem trazem para a pesquisa em comunicação social? Ao aceitar a importância do contexto, os resultados são necessariamente contingentes ao grupo de pessoas específico incluídos na análise. O ganho em validade externa inter e intra ambiente dependerá particularmente das decisões de amostragem ambiental. Tenha em mente que isso não é uma falha da pesquisa em comunicação social, mas sim reflexo da complexidade provocada pela multiplicidade de ambientes sociais que se sobrepõem, envolvendo as pessoas o mundo moderno.

Baseando-nos nessa perspectiva, uma implicação do problema da amostragem é que os pesquisadores da comunicação social devem tomar decisões propositivas sobre o que observar. Neste sentido, a pesquisa nesta área difere dos volumes da outra pesquisa sobre o comportamento político que emprega eficazmente estratégias de amostragem aleatória. Mas, como mencionado antes, decidir quais ambientes incluir no estudo e quais componentes desses ambientes incluir na análise não se resolve prontamente com a amostragem aleatória. Isto pode introduzir desvios de seleção induzidos pelo pesquisador em dados de comunicação social. A última questão, que o desvio é função das escolhas do pesquisador, não apenas o distingue dos desvios de seleção induzidos pelo comportamento dos pesquisados (ver abaixo), mas destaca um problema potencial sério para a pesquisa em comunicação social. Embora toda a pesquisa seja afetada provavelmente em algum grau pelos desvios do pesquisador, particularmente no que diz respeito às perguntas formuladas, há umas técnicas para reduzir a polarização do processo de seleção da amostra. Quase por definição, essas preocupações são mais agudas na pesquisa em comunicação social.

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A segunda implicação é que essas questões de amostragem podem conduzir os pesquisadores a ignorar questões de pesquisa específicos sobre o ambiente de amostragem, ao invés de selecionar aleatoriamente os indivíduos e confiar em suas percepções do ambiente ou usar a informação externa (por exemplo, dados de censos) como medida do contexto. Na minha opinião, enquanto as duas estratégias podem render algumas informações úteis sobre os efeitos da comunicação social, também não é satisfatória como uma panacéia para os problemas de amostragem.

Em primeiro lugar, consideremos uma aproximação que meça somente o contexto através das percepções do cidadão. Compreender as crenças das pessoas sobre ambientes sociais é claramente uma parte necessária da pesquisa nesta área, e evita problemas complicados de amostragem nas variáveis dependentes e independentes simultaneamente. Contudo, as percepções que as pessoas têm do ambiente são totalmente precisas, pois são em parte uma projeção das características (Baybeck & McClurg, 2005; Huckfeldt & Sprague, 1988, 1992; Mutz & Martin, 2001). E, ainda que devamos estudar tais erros de percepção, ignorar o ambiente social real da comunicação significa atender somente ao membro da equação que diz respeito ao indivíduo. Isto é semelhante a ignorar a fonte somente à demanda do estudo na economia, de forma que só estaríamos examinando a parte do processo ambiental (as opiniões das pessoas sobre o ambiente), negligenciando o papel da fonte informativa (a composição do ambiente). Uma aproximação tão simples reformataria completamente as perguntas centrais do campo, conduzindo-as para a psicologia social, com menos ênfase na comunicação e na exposição à informação. Como definido antes, a pesquisa sobre rede e contexto necessariamente se preocupa por ambos os processos.

Como seria usar dados agregados para medir contextos e vinculá-los à amostragem aleatória de indivíduos? Há inconvenientes nesta aproximação? Assim como ocorre com os estudos que se apoiam unicamente nas percepções, tal aproximação tem algum mérito como uma entre muitas porque proporcionaria boa informação em diferentes ambientes. Entretanto, a amostragem limitada ao contexto significaria que as estimativas do efeito causal associado seriam limitadas. Em seu nível mais básico, o problema é óbvio - se tivermos somente uma pessoa por zona, a variabilidade em torno das estimativas de efeitos do nível zona seriam muito maiores do que se tivéssemos 1000 pessoas por zona. Seria muito difícil manter muita confiança em tais resultados, já que os erros padrão estariam baseados na variação entre indivíduos quando o que importa é a variância entre indivíduos no contexto. Além disso, este tipo de abordagem é naturalmente limitado a apenas certos tipos de perguntas — aqueles para os quais dados agregados estão disponíveis — que não são necessariamente motivados por preocupações teóricas.

Sugestão

Minha inclinação inicial ao escrever sobre a amostragem do ambiente e as negociações necessárias é sugerir levantar as mãos para o ar, simplesmente porque parecem sobrecarregadas. Minha segunda inclinação é advogar por manter-se o mais próximo possível às práticas anteriores, principalmente porque isso apressaria a acumulação de conhecimento que problemas como estes costumam retardar. Ao invés disso, defendo que se dê prioridade ao critério intra-ambiental na pesquisa em comunicação social. O fio condutor desta discussão é que a generalização não só é difícil de alcançar, mas se excessivamente enfatizada, leva a estratégias que provavelmente não facilitem o acúmulo de conhecimento a longo prazo.

Nesse sentido, meu principal conselho para a coleta de novos dados é concentrar-se primeiro e principalmente na definição do tipo específico de rede ou contexto apropriado para depois reunir observações suficientes nessa unidade social para medi-la com precisão. Feito isso, e somente então, deve-se dar atenção a quantos ambientes diferentes deverão ser considerados na coleta de dados. Embora isto certamente prioriza a amostragem orientada à medição em detrimento da validade externa, enriquecerá os detalhes sobre como os ambientes sociais estruturam o comportamento individual. A justificação para este conselho é simplesmente que tentar medir ambientes de forma ampla (mas rasa) é fútil - não importa o esforço dedicado, o resultado provavelmente não irá capturar o fenômeno social mais interessante de forma suficientemente boa para que valha a pena perseguir a quota extra de validade externa.

Na busca da medição em profundidade e rica de unidades sociais, precisamos não apenas, e de forma acrítica, adotar por padrão técnicas convencionais, tais como o gerador de nomes (pedir para o entrevistado citar as pessoas com quem discute questões importantes) ou amostras hierarquicamente estratificadas para a coleta de dados contextuais. Em vez disso, deve dar-se especial prioridade ao desenvolvimento de estratégias novas e criativas, adequadas para uma ampla variedade de unidades. Por exemplo, os acadêmicos interessados em como o desacordo influencia as atitudes podem considerar a

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REDES POROSAS E CONTEXTOS SOBREPOSTOS

manipulação de ambientes de discussão e a composição de grupos focais para ganhar controle teórico sobre propriedades ambientais (Druckman & Nelson, 2003; Fishkin, 1997). Da mesma forma, pesquisadores contextuais podem considerar a escolha propositiva de unidades contextuais para maximizar a variação nas principais variáveis independentes, muito na maneira em que os estudiosos da política comparada escolhem nações para fornecer a máxima vantagem empírica de um punhado de casos. De fato, prestar mais atenção às estratégias desenvolvidas nos campos da política e da comunicação comparada, onde a pesquisa grande de VV frequentemente não é viável pode proporcionar alguns dos melhores conselhos para lidar com a seleção intencional de casos ambientais para inclusão na análise.

Embora estas sugestões signifiquem basicamente que o conhecimento será mais difuso na área da comunicação social do que em alguns outros campos de estudo, fazem jus a questões teóricas fundamentais que abordam como o comportamento individual é influenciado por agrupamentos sociais, incluindo redes e contextos. Se levado a sério, este conselho aponta para a inevitabilidade de haver apenas um punhado de ambientes propositalmente escolhidos, incluídos em qualquer estudo específico, cuidadosamente medidos e representativos da diversidade social, mas não necessariamente generalizáveis a alguma população bem definida de unidades sociais.

QUESTÕES METODOLÓGICAS: ESTABELECIMENTO DE VALIDEZ INTERNA

Problema

Enquanto de forma alguma é certo que todo estudo em comunicação social está baseado na crença de que o ambiente exerce um impacto direto e coercitivo sobre indivíduos, as questões pertinentes à causalidade continuam no centro do campo. A pergunta sobre se os ambientes sociais exercem efeitos causais é muito bem indicada por Michael Laver em sua revisão A lógica social da política, volume editado por Alan Zuckerman. Ainda que de acordo com o livro, Laver (2005, P. 933) escreve que,

Evidentemente, existe sempre potencial para desvios na seleção... na evidência da sondagem sobre "contatos da rede" dos entrevistados. Parece ao menos plausível que aqueles nomeados explicitamente pelos entrevistados, como as pessoas com quem falam de política, pode originar uma seleção tendenciosa daqueles com quem a política é realmente discutida - pessoas que são mais parecidas em pontos de vista ou mais persuasivas, talvez.

Como consequência, os pesquisadores da comunicação social interessados em efeitos causais enfrentam desafios sérios para o estabelecimento da causalidade, difíceis de analisar porque as características dos ambientes sociais são difíceis de desvencilhar das características individuais que guiam as pessoas diferentes em ambientes. 14 Os processos da comunicação social, como a maioria dos fenômenos políticos, são inerentemente endógenos, com agregados sociais que influenciam indivíduos e que evoluem como aqueles que tomam as decisões que influenciam o ambiente. Dado que há feedback entre as pessoas nas redes e contextos, esses processos podem mesmo ser de interesse empírico e teórico específico.15

A comparação dos desenhos de pesquisa em comunicação social com desenhos experimentais clássicos esclarece o problema. Se quiséssemos adotar um experimento para saber se um contexto ou rede são o autor de uma ciência social misteriosa, teríamos que cumprir ao menos duas condições: (1) atribuição aleatória dos indivíduos aos ambientes, e controle (de 2) sobre o estímulos ambientais. Começando com a primeira condição, poderíamos contornar muitos dos problemas sobre estabelecimento de causalidade porque poderíamos eliminar quaisquer explicações individuais ao poder atribuir aleatoriamente pessoas às redes, bairros, igrejas e assim por diante. Isso permitiria isolar fatores ambientais como explicações para o comportamento. Tal controle é, naturalmente, a principal força dos experimentos.

A segunda condição, contudo, é também importante e provavelmente negligenciada. Consideremos o exemplo hipotético da figura 18.2, que traça duas relações possíveis entre como o partidarismo de bairro (representado pelo eixo X) é relacionado à probabilidade de que um indivíduo participe na política (representada pelo eixo Y). Em ambos os casos podemos ver que existe uma relação parabólica, com participação maior em bairros mais competitivos e mais baixa em contextos não competitivos onde há uma vantagem significativa para uma das partes sobre a outra. A diferença principal entre as duas curvas

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está na força do efeito da vizinhança. Em uma situação experimental, a capacidade de controlar o tamanho das divisões partidárias no bairro permitiria distinguir exatamente entre as duas situações. m suma, facilitaria uma estimativa mais precisa do efeito causal verdadeiro. Entretanto, por causa dos processos pelos quais as pessoas escolhem os bairros, os contextos observáveis reais raramente alcançam tais extremos, limitando

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^ Contextos observáveis

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• .

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0 50

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Porcentagem de republicanos

FIGURA 18.2 Importância de controlar os estímulos ambientais.

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o que pode ser examinado como efeitos causais. Uma vez introduzida a variabilidade da amostragem, os pesquisadores só deveriam ser capazes de detectar os efeitos ambientais mais fortes. Nossa capacidade de discernir a força dos efeitos causais será limitada pelos processos de seleção.

Implicações

Uma conseqüência irritante destes problemas de validade interna é a dificuldade em distinguir empiricamente entre efeitos verdadeiros da comunicação social e os processos pelos quais os indivíduos estão expostos à comunicação em primeiro lugar. Se observamos instituições religiosas, o espaço de trabalho, círculos de amizade ou qualquer outro ambiente social, as pessoas geralmente exercitam algum tipo de controle sobre sua entrada nesse ambiente social e os tipos de informação disponíveis. Além disso, as razões para selecionar tais contextos e receber informações específicas podem estar fortemente correlacionadas com as crenças pessoais, especialmente no que diz respeito à política. 16 Tais problemas são similares às questões da comunicação seletiva, geralmente reconhecida na pesquisa orientada à comunicação de massas, onde as pessoas têm controle considerável sobre que mensagens vêm - ou não - em ambientes midiáticos modernos (por exemplo, Slater , 2007; Stroud, 2007).

Por exemplo, se um jovem profissional das cidades vota na maioria das eleições e se identifica como democrata, o desejo de evitar conflito com a família e amigos, bem como a necessidade de apoio social podem levar a discussões intencionalmente limitadoras com republicanos. Se observarmos então que sua rede ou bairro são altamente democráticos, ainda não saberemos se escolheu esse ambiente porque era democrata, se desenvolveu as preferências democráticas devido a seu desvio partidário ou ainda se o ambiente desempenha um papel importante na sustentação de sua preferência original.

É importante reconhecer que não se trata de um problema da técnica analítica, mas da teoria e dos dados. Existem métodos estatísticos bem estabelecidos para lidar com diferentes tipos de desvios de seleção, tais como o modelo de seleção de Heckman e técnicas de modelagem aparentemente independentes (Heckman, 1976; ver King, 1989, capítulo 9, para uma visão geral dessa classe de modelos estatísticos).

Contudo, tais métodos estatísticos só são uma opção de compra quando as variáveis disponíveis predizem de forma independente o processo de seleção, algo muito difícil na pesquisa em comunicação social dada a presunção de que a política e as interações sociais estão interligadas (Kenny, 1992, 1994).

A segunda conseqüência é a possível causação recíproca. Tal como ocorre no desvio de seleção, a preocupação central aqui é que as estimações dos efeitos da comunicação social não são exatas porque dados subjacentes geram o processo. Supondo por um momento que provavelmente não haja efeito de seleção presente — por exemplo, se estivéssemos estudando as relações empregado-supervisor e seu impacto na política — ainda existiriam sérias dúvidas sobre a direção e a força do impacto causal. Se a funcionária doa dinheiro para um candidato específico à presidência, assim como seu supervisor, é porque o chefe a persuadiu a fazê-lo para não enfrentar reveses profissionais? Tal argumento é levantado frequentemente em discussões sobre as reformas das campanhas. Entretanto, é igualmente possível que a funcionária, ansiosa por demonstrar sua perspicácia política, explique a seu supervisor a importância de fazer a contribuição a fim avançar os interesses da companhia. É também possível que ambos os processos estejam agindo simultaneamente para produzir o comportamento de interesse. Outra possibilidade é que não existem efeitos sociais com características individuais, apenas comportamento guiados por características individuais.

O problema enfrentado pelos estudiosos da comunicação social em distinguir entre um efeito de comunicação e o nexo de causalidade recíproca, como sugerido acima, é novamente que as observações mais potentes que podem ser feitas constituíam provas para qualquer explicação. Além disso, a sondagem em profundidade de partidos para a interação não daria as respostas necessárias; em suma, um procedimento equivalente ao rastreamento de processo na pesquisa qualitativa não ajudaria. Por quê?

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Mesmo que os chefes estivessem influenciados por seus funcionários, muitas outras variáveis poderiam produzir nele a impressão de que não ter sido influenciado - diferenças de gênero, de status e assim por diante. E, uma vez mais, as variáveis necessárias para identificar corretamente modelos estatísticos da simultaneidade são difíceis de encontrar.

Sugestão

Existem três maneiras de estabelecer a validade para reivindicações causais na pesquisa em comunicação social. A mais óbvia, mas para alguns menos útil, é o uso de técnicas estatísticas avançadas. Como observado acima, existem técnicas estatísticas adequadas para provar a causalidade. Para problemas de viés ou simultaneidade de seleção, essas técnicas exigem que o analista identifique variáveis que predizem independente tanto valores da variável dependente quanto do ambiente social sob investigação. Por exemplo, poderíamos estabelecer um modelo do tipo de bairro que alguns escolhem em da distância do trabalho, dos valores dos imóveis e da qualidade das escolas. Cada uma destas variáveis seria independente da maior parte dos resultados e comportamentos políticos de interesse, tais como vontade de participar ou de escolher o voto. Do mesmo modo, poderíamos estimar a variação nas variáveis dependentes com informação sobre a base da família, opção de carreira e estímulos de campanha.

Infelizmente, tais soluções são freqüentemente intratáveis e pouco práticas, já que a teoria da comunicação social está pouco desenvolvida com respeito aos processos de seleção e causação recíproca. Mesmo admitindo que uma teoria é suficientemente especificada para identificar boas variáveis exógenas para modelar processos que confundem causalidade, introduzir tais variáveis no processo de coleta de dados seria restringir ainda mais a profundidade de informações que podem ser recolhidas sobre os ambientes sociais. Por estas razões, as soluções estatísticas muitas vezes oferecem apenas estimativas imprecisas e pouco refinadas sobre os efeitos causais, implicando que é preciso empregar certa dose de cautela ao usar esses métodos.

Uma segunda abordagem para estabelecer o nexo de causalidade é a utilização de estratégias analíticas criativas. Em particular, há variações naturais nos dados do mundo real que podem nos permitir pelo menos a formulação de um caso circunstancial contra algumas ameaças à validade interna. Por exemplo, as pessoas não podem escolher seus pais e irmãos com base na política, mas poderiam estruturar a extensão de suas interações e discussões políticas como consequência dos pontos de vista políticos. Os analistas que dispõem de informação suficiente para analisar seus dados em grupos de relações que interagem com muita ou pouca frequência podem fazer novas estimações de modelos causais, comparando parâmetros com o fim de obter alguma ideia da quantidade de efeito que os processos de seleção exercem sobre as estimativas.

Enquanto esta abordagem baseia-se em última análise, na criatividade dos pesquisadores em particular, também têm limitações naturais que nem o mais criativo entre nós deve considerar. Para usar uma metáfora experimental, esta aproximação é semelhante à construção de um caso circunstancial. Não é tão definitivo quanto as provas de DNA, mas contribuem para o veredicto de culpado. Além disso, o fato de que essa abordagem requer a análise de dados aumenta as chances de que o erro de amostragem seja responsável por resultados nulos. Em outras palavras, a utilidade de tais estratégias correlaciona positivamente com o número das observações. Como os conjuntos de dados mais amplamente disponíveis para analisar a comunicação social têm menos de 1.500 observações,estratégias analíticas de partição da amostra tornam-se impraticáveis muito rapidamente.

Uma última maneira de abordar estas questões é através do uso de desenhos de pesquisa inovadores que abordam explicitamente problemas internos de validade. Alguns dos esforços mais promissores a esse respeito utilizam experimentos naturais e de campo. Por exemplo, Klofstad (2007) examina efeitos do colega de quarto que se desenvolve naturalmente entre os calouros da faculdade. Como os estudantes são atribuídos aleatoriamente aos dormitórios, ele considerou que qualquer mudança no comportamento político do início do outono ao final do período seria causado pelo nível das discussões políticas que ocorrem entre os colegas de quarto. De forma similar, Nickerson (2008) mostra que os cônjuges das pessoas contatadas em experimentos de votação tradicionais são muito mais propensos a votar do que os cônjuges de um grupo não contatado. Embora isto não seja evidência definitiva de efeito da comunicação social em si, pode-se argumentar com certa razão que o laço social é o responsável.

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Estes dois exemplos mostram o poder de desenhos de pesquisa inteligentes para o estabelecimento de inferências robustas sobre o impacto dos ambientes sociais no comportamento político. Entretanto, estes desenhos não são apenas difíceis de especificar e executar: nem sempre são igualmente úteis para todos os tipos de problemas. Ainda que possamos encontrar situações que permitam a aleatorização adequada do estímulo (como em Nickerson, 2008) ou nas quais a atribuição a novos ambientes é independente do conteúdo social (como em Klofstad, 2007), há uma variedade limitada de ambientes nos quais essas situações ocorrem. E, infelizmente, estas situações podem ser originais e não necessariamente de amplo interesse. Por exemplo, a pesquisa de Nickerson não pode falar à influência dos amigos, congregados e outros sem um exame extensivo de todos os partidos envolvidos. Isto aumentaria significativamente os custos e os problemas práticos deste tipo da pesquisa, somando-se também estímulos de pesquisa como explicações alternativas plausíveis para resultados políticos. Além disso, Klofstad restringiu-se a um estudo dos calouros da faculdade, uma população claramente única no que diz respeito à abertura à persuasão. Não obstante, essas "deficiências" mostram por que necessitamos mais desenhos de projeto como esses e não menos, já que contêm a promessa de acumular evidências sobre os efeitos causais da comunicação social em uma ampla variedade de ambientes.

Como deveria ser evidente a partir desta discussão, não existe uma maneira de evitar problemas quando se buscam inferências causais. E ainda que cada abordagem possa ser útil, nenhuma carrega a promessa de resolver esses problemas "de uma vez por todas" no campo da comunicação social. Isto sugere, uma vez mais, que o progresso saudável no subcampo da comunicação social depende profundamente do uso de diferentes métodos múltiplos e da acumulação lenta de evidências e conhecimento, e não de um único conjunto de soluções metodológicas que possa resolver as questões da validade causal.

CONCLUSÃO

Como o interesse no estudo dos efeitos da comunicação social vem crescendo, dedica-se cada vez mais energia à coleta de novos dados para explorar a variedade de contextos e redes que rodeiam o cidadão comum. Ainda que devamos estar entusiasmados com tais esforços, o desejo de avançar no conhecimento não deveria se sobrepor à compreensão sóbria dos desafios que enfrentam os pesquisadores da área. Visto que a maior parte da pesquisa sobre comportamento político pode fazer bom uso de princípios metodológicos fundamentais para a coleta de dados com base no processo dependente que está sendo estudado, os acadêmicos interessados em compreender como os sistemas sociais influenciam os cidadãos também devem ser conscientes de como coletar informações nesses sistemas. Usar dados tradicionais orientados à variável dependente não é suficiente, pois não estão orientados por questões centrais da pesquisa da comunicação social, geralmente centrada em se e até que ponto o comportamento individual é função das forças sociais que estão além do controle individual.

Em resumo, neste capítulo defendo a compreensão em profundidade de contextos específicos para poder avaliar de maneira mais efetiva os efeitos da comunicação social. A preocupação indevida por capturar as múltiplas influências sociais que envolvem as pessoas conduzirá a desenhos e projetos de pesquisa fora de foco, sem a profundidade de medição necessária e, finalmente, incapazes de satisfazer o desejo de compreender amplamente a natureza dos processos de comunicação social.. Ao invés de tentar resolver todas as questões levantadas neste capítulo em um único estudo, parece-me muito mais prudente abraçar a natureza incremental deste programa de pesquisa, em grande parte porque reflete a natureza lenta e incremental de influência social em si.

NOTAS

1. No restante deste capítulo, utilizo o termo "comunicação política" para referência à matriz mais ampla de assuntos cobertos neste volume e "comunicação social" para referência específica à pesquisa que focaliza na comunicação política em redes, grupos e contextos.

2. Zuckerman (2005) oferece uma visão geral excelente da linhagem das análises políticas orientadas socialmente.3. Observe que este capítulo se concentra em questões pertinentes ao desenho de projeto de pesquisa em comunicação e não em questões de modelagem estatística, abordadas em outro lugar neste volume (ver capítulos 22-24).

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4. Deixo o termo ambiente intencionalmente sem definição, ainda que seja frequentemente usado nesta literatura, especialmente com o fim de abranger a noção geral de influências externas sobre as pessoas. Faço isso por duas razões. Primeiramente, porque a pesquisa em comunicação política está geralmente interessada em tais influências externas.Quase toda a pesquisa nesta área se ocupa dos ambientes que atuam sobre os indivíduos. Em segundo lugar, na medida em que é possível distingui-lo de um contexto ou rede, nem todo ambiente é necessariamente fonte de comunicação social. Por conseguinte, uso o termo neste capítulo referindo-me amplamente a qualquer tipo de conglomerado social que pode ser fonte de informação fornecida socialmente e politicamente relevante.

Há também camadas de interação social que podem existir entre as redes e contextos - ex. grupos pequenos, que apresentam algumas propriedades de ambos. Por exemplo, ser parte de grupos pequenos envolve claramente a conversação e a interação pessoal. Ao mesmo tempo, as relações entre indivíduos não podem constituir a influência inteira do grupo. Um bom exemplo desse trabalho pode ser visto em Djupe & Gilbert (2009). Uma discussão mais ampla sobre questões metodológicas pode ser encontrada no capítulo 17 por Black, Burkhalter, Gastil, & Stromer-Galley, neste volume.

5. Naturalmente, pessoas diferentes - nós - na rede podem ser percebidas, stricto senso, como "egos" e "alters". Da mesma forma, os indivíduos que constituem a base dos estudos de rede completa estão indubitavelmentetambém em outras redes, implicando que a "completude" de uma rede não é uma propriedade das pessoas,mas do grupo social ou organização. Portanto, esta aproximação distingue-se pelo foco nas redes como fenômenoholístico e em questões diferentes das questões próprias dos estudos centrados no indivíduo, como por exemplo a presença de "buracos" na rede que possam mermar a comunicação (Burt, 1985).

6. Existem algumas dúvidas sobre se as pessoas realmente pertencem a "redes de pares" significativas do ponto de vista político, pois ou elas mesmas selecionam redes de especialistas ou simplesmente falam com pessoas com quem já compartilham pontos de vista políticos. Enquanto há pouca evidência abordando esta questão específica, Klofstadt, McClurg e Rolfe (2007) encontraram que geradores de nomes baseados em sondagens tendem a produzir redes muito semelhantes, independentemente de se pediram às pessoas para identificar os "assuntos mais importantes" ou "questões políticas", implicando que muitas pessoas têm um conjunto de relações que consultam para uma ampla gama de assuntos, ao invés de amizades especializadas para fins políticos. Não obstante, esta área está pronta para pesquisa adicional.

7. A distinção entre redes de pares e de ação não é simples e rápida, já que as relações que as formam originalmente respondem a estímulos externos, como a necessidade de ação comunitária, por exemplo, podendo de fato evoluir para relações estáveis.

8. Mesmo os que defendem este deste modelo não sugerem que as influências contextuais operam somente através das redes sociais (Huckfeldt & Sprague, 1995). A fluidez dos efeitos de aprendizagem reforça dois pontos subjacentes à discussão neste capítulo. Primeiramente, há os níveis múltiplos da realidade social que podem operar simultaneamente sobre os indivíduos, complicando o nível das perguntas no desenho do projeto de pesquisa. Em segundo lugar, esses diferentes níveis da realidade social não são necessariamente equivalentes uns aos outros em composição e consequências (Huckfeldt, Plutzer, & Sprague, 1993; Huckfeldt & Sprague, 1988).

9. Na Geografia, esta preocupação metodológica é conhecida como problema da unidade de área modificável, embora esteja ampliado aqui para incluir não somente o contexto geográfico adequado, mas a escolha dos tipos de redes e contextos.

10. Ragin (2000) oferece uma discussão excelente e ampla sobre a heterogeneidade causal. Uma discussão mais relevante para este capítulo são os argumentos de Iversen (991) sobre efeitos entre níveis na análise contextual.11. Por exemplo, se quiséssemos estudar as relações entre pontuações estandardizadas do teste e desempenho na faculdade, teríamos que considerar o fato de que as pessoas com pontuações baixas não são admitidas na faculdade, para começar (ex. King,1989, capítulo 9).12. Há algumas exceções a este tipo da indicação, por exemplo, em projetos de amostragem por conglomerados, onde as unidades agregadas estão selecionadas aleatoriamente. Contudo, esses desenhos não são sempre viáveis para estudos de contextos específicos para os quais não há quadros de amostragem disponíveis.13. O exemplo ilustra também o primeiro grupo de preocupações sobre amostragem, já que tiveram que escolher sistematicamente entre todos os bairros de South Bend como subconjunto no qual conduzir a amostragem aleatória. Entre as muitas escolhas que fizeram, decidiram estreitar o foco nos bairros predominantemente brancos (1995, P. 37). As escolhas que fizeram eram todas razoáveis ou respondiam a necessidades, ilustrando as dificuldades de desenhar um estudo generalizável mesmo para South Bend.14. Observe que se trata de um desvio de seleção diferente do discutido na seção sobre amostragem, pois representa um processo substantivo, e não metodológico.15. Ver Mark Buchanan, The Social Atom (2007) para uma aproximação conhecida de como o feedback positivo e negativo são centrais para a compreensão dos fenômenos sociais.

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16. O grau em que os processos de seleção e comunicação estão correlacionados não é constante em todos os ambientes. Por exemplo, a maioria das pessoas não vai à igreja nem aceitam um emprego por razões políticas, embora podem, de fato, escolher seus amigos nessas bases.

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