ces relatÓrio sobre o patrimÓnio cultural tete iron ore portuguese cb127... · dezembro de 2014...

122
DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL

Upload: dangkhue

Post on 17-Nov-2018

230 views

Category:

Documents


5 download

TRANSCRIPT

Page 1: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

DEZEMBRO DE 2014

CES

RELATÓRIO SOBRE O

PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL

Page 2: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda
Page 3: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

DEZEMBRO DE 2014

CES

RELATÓRIO SOBRE O

PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL

ENDEREÇO COWI Lda.

Av. Zedequias

Manganhela, 95, 1o andar

C.P. 2242

Maputo

Moçambique

TEL +258 21 358 300

FAX +258 21 307 369

WWW cowi.co.mz

PROJECTO NR. 14002-A

DOCUMENTO NR. 1

VERSÃO 3

DATA DE EMISSÃO 19/02/2015

ELABORADO POR: Hilário Madiquida, IPCA

REVISTO POR: CSCR

APROVADO POR: CSCR

Page 4: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda
Page 5: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

5

ÍNDICE

Lista de Acrónimos 9

1 Introdução 10

1.1 Resumo 10

1.2 Contexto do Projecto 10

1.3 Área Afectada pelo Projecto 13

1.4 Estrutura do Relatório 15

2 Quadro Legislativo 16

2.1 Contexto 16

2.2 Quadro Institucional de Moçambique 16

2.3 Legislação Moçambicana 16

2.4 Legislação e Directivas Internacionais 21

3 Metodologia 26

3.1 Contexto 26

3.2 Planeamento e Preparação 26

3.3 Identificação da Área de Estudo 26

3.4 Recolha de Dados 28

3.5 Análise de Dados 31

3.6 Limitações 32

3.7 Suposições 33

4 O Contexto Cultural da Província de Tete 34

4.1 Contexto 34

4.2 Contexto Arqueológico, Histórico e Sociocultural da Província de Tete 34

5 Resultados 39

5.1 Resumo 39

Page 6: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

6 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

6 Impactos Potenciais Associados ao Desenvolvimento 54

6.1 Visão geral 54

6.2 Resumo dos Impactos Identificados 54

6.3 Impactos Negativos 55

6.4 Impactos Positivos 61

7 Conclusões 63

8 Referências 65

Anexo A: Mapeamento do Património Cultural na Área de Projecto 67

A. Sítios arqueológicos 68

B. Sítios Históricos 70

C. Sacred Places and Forests 72

D. Cemitérios 77

Anexo B: Metodologia de Avaliação de Impacto 79

Anexo C: Instrumentos de Recolha de Dados Qualitativos 82

Anexo D: Matriz de Dados Qualitativos 83

Anexo E: Mapas produzidos 115

Lista de tabelas

Tabela 1: Comunidades afectadas pelo Projecto 14

Tabela 2: Legislação Nacional para a proteção do Património Cultural 19

Tabela 3: Directivas Internacionais para a proteção do Património

Cultural 23

Tabela 4: Resumo dos exercícios participativos (discussão do grupo

focal) 30

Tabela 5: Locais arqueológicos na área do projecto 40

Tabela 6: Locais históricos na área do projecto 43

Tabela 7: Locais sagrados identificados na área do projecto 47

Tabela 8: Cemitérios e sepulturas isoladas identificados na área do

projecto 50

Tabela 9: Resumo da classificação da significância dos impactos

identificados 62

Tabela 10: Georreferenciamentos e fotografias de sítios

arqueológicos 68

Page 7: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

7

Tabela 11: Georreferenciamentos e fotografias de sítios históricos 70

Tabela 12: Georeferenciamentos e fotografias de locais sagrados 72

Tabela 13:Georreferenciamentos de cemitérios 77

Tabela 0-1: Classificação dos critérios de avaliação 79

Tabela 0-2: Matriz de classificação para fornecer uma significância

ambiental 80

Tabela 16: Sumário dos dados qualitativos recolhidos 105

Lista de figuras

Figura 1: Local da área do projecto na Província de Tete 12

Figura 2: Localização das comunidades identificadas para o estudo 27

Figura 3: Locais arqueológicos na área do projecto 42

Figura 4: Locais históricos na área do projecto 44

Figura 5: Local de reunião com a comunidade, Mbuzi 46

Figura 6: Locais sagrados na área do projecto 48

Figura 7: Cemitérios na área do projecto 52

Figura 8: Locais sagrados e cemitérios mencionados pelas

comunidades como intransferíveis 53

Figura 9: Artefactos microlíticos 68

Figura 10: Amostras recolhidas in situs da Superfície 68

Figura 11: Artefactos microlíticos in situ 68

Figura 12: Amostras recolhidas da Superfície 68

Figura 13: Algumas amostras recolhidas da Superfície 68

Figura 14: Algumas amostras recolhidas da superfície 68

Figura 15: Moldes de Olaria in situ 68

Figura 16: Amostras recolhidas da superfície 69

Figura 17: Moldes de Olaria in situ 69

Figura 18: Amostras de olarias recolhidos da Superfície 69

Figura 19: Ruínas de Muchena - sítio 1 70

Figura 20: Ruínas de Muchena - sítio 2 70

Figura 21: Cisterna subterrânea e antiga administração colonial 70

Figura 22: Primeiro poço colonial 70

Figura 23: Primeiro Automóvel a vapor Colonial 71

Figura 24: Ruínas de Mbuzi 71

Figura 25: Lugar sagrado da cerimónia da chuva em Nhampumbuza 72

Figura 26: Lugar sagrado da cerimónia da chuva em Nhampondoro 72

Figura 27: Lugar sagrado em Kagoma 72

Figura 28: Lugar onde habita a Tsato 72

Figura 29: Floresta Sagrada para ritos de Iniciação em Nyau 73

Figura 30: Lugar Sagrado para a cerimónia da chuva em Kaningue 73

Figura 31: Lugar Sagrado da cerimónia da chuva em Ntumbwi 73

Figura 32: Floresta Sagrada Associada 73

Page 8: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

8 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

Figura 33: Lugar para a cerimónia da chuva em Kachere 74

Figura 34: Floresta sagrada associada 74

Figura 35:Lugar para a cerimónia da chuva em Chitongue 74

Figura 36: Lugar para a Iniciação dos rapazes 74

Figura 37: Lugar em Chitongue para cerimónia da chuva 74

Figura 38: Lugar onde habita aTsato 74

Figura 39: Lugar da cerimónia da chuva em Massamba 75

Figure 40: Floresta sagrada associada 75

Figura 41: Lugar da cerimónia da chuva em Chimuala 75

Figura 42: Floresta sagrada associada 75

Figura 43: Lugar da cerimónia da chuva em Mulambe 75

Figura 44: Floresta sagrada associada 75

Figura 45: Lugar da cerimónia da chuva em Ntowe 75

Figura 46: Floresta sagrada associada 75

Figura 47: Lugar da cerimónia da chuva em Ntenje 75

Figura 48: Floresta sagrada associada 76

Page 9: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

9

Lista de Acrónimos

AD Anno Domini

ARPAC Arquivo do Património Cultural

PC Património Cultural

AC Antes de Cristo

CES Coastal & Environmental Services

CdI Corredor de Impacto

DNPC Direcção Nacional do Património Cultural

DAA Departamento de Arqueologia e Antropologia

MEC Ministério da Educação e Cultura

MICOA Ministério para a Coordenação da Acção Ambiental

IFI Idade do Ferro Inferior

AIASS Avaliação do Impacto Ambiental, de Saúde e Social

IFC International Finance Corporation

IFS Idade do Ferro Superior

IPS Idade da Pedra Superior

MAA Milhões de Anos Atrás

PD Padrão de Desempenho

UNESCO United Nations Educational, Scientific and Cultural

Organisation/ (Organização das Nações Unidas para a

Educação, Ciência e Cultura) – Acrónimo em Inglês.

Page 10: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

10 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

1 Introdução

1.1 Resumo

O presente relatório estuda e avalia os potenciais impactos que o projecto

proposto de mineração do minério de ferro da Capitol Resources possa causar

nos recursos de património cultural existentes na área de estudo. Estes recursos

incluem as componentes arqueológica, histórica e sociocultural do património

cultural.

A área do projecto abrange os distritos de Moatize e Chiúta na Província de Tete,

região Centro de Moçambique. A área de estudo é caracterizada por uma

composição ecológica complexa, formada por rios, montanhas e biomas de

floresta semi-aberta e de savana. A parte central da área do projecto ocupa ambas

margens do leito do rio Revúboé e montanhas adjacentes.

A proponente do projecto, Capitol Resources, pretende obter a autorização

ambiental para o projecto proposto, a partir do Ministério para a Coordenação da

Acção Ambiental ou MICOA. Com vista a obter a Licença Ambiental para o

projecto, a proponente deve realizar uma Avaliação do Impacto Ambiental, Social

e de Saúde (AIASS) para o projecto proposto.

A Coastal & Environmental Services (CES) contratou a COWI para levar a cabo o

Estudo de Património Cultural para o projecto. De acordo com os Termos de

Referência (TdR) prescritos, o Estudo de Património Cultural deve:

› Rever as estratégias e políticas nacionais, provinciais e distritais no que diz

respeito ao património cultural em Moçambique;

› Rever as estruturas ou elementos relacionados com o património cultural na

área afectada pelo projecto, e o seu contexto dentro do quadro nacional,

provincial e distrital aplicável;

› Rever o perfil cultural da área afectada pelo projecto, incluindo quaisquer

locais ou áreas que possam ser sagradas para a população local;

› Fazer o mapeamento dos locais sagrados e de património dentro da área

afectada pelo projecto, identificar a sua relevância e os usos associados com

estes;

› Fornecer uma avaliação da sensibilidade e significância dos vestígios

arqueológicos e locais culturais na área do projecto; e

› Identificar e avaliar os aspectos ou actividades do projecto que possam

causar impacto nos recursos de património cultural na área afectada pelo

projecto.

1.2 Contexto do Projecto

A Capitol Resources pretende desenvolver um projecto de Minério de Ferro nos

distritos de Chiúta e Moatize, na Província de Tete, no região Centro de

Moçambique. O projecto estende-se por três áreas de licença (1032L, 1033L e

1035L) de propriedade integral da Capitol Resources.

Page 11: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

11

A primeira fase da actividade mineira está prevista para decorrer na Área de

Prospecção de Tenge-Ruoni, que equivale à área de licença 1035L. Como tal, a

actual fase do projecto está concentrada somente na área de licença 1035L. A

Área de Prospecção de Tenge-Ruoni é uma área de mineralização extensiva e

contém depósitos de magnetite, titânio e vanádio dentro dum grupo de prospectos

conhecido como o Grupo Massamba.

O projecto proposto tem o potencial de causar impacto na dinâmica sociocultural

das comunidades potencialmente afectadas, como também nos recursos

arqueológicos e de património cultural presentes na área do projecto, como

resultado da actividade de mineração e da construção da estrada de transporte e

estruturas para a linha de energia que são necessárias ao projecto. Com vista a

cumprir com os requisitos legais de Moçambique, a Capitol Resources está neste

momento a requerer uma Licença Ambiental ao MICOA após ter conduzido as

actividades necessárias de prospecção no local. A Capitol Resources iniciou o

processo de AIASS requerido, do qual este relatório faz parte.

De acordo com os Termos de Referência acima descritos, o presente estudo foi

elaborado com vista a identificar e avaliar os impactos potencialmente

significantes nos recursos de património cultural dentro da área do projecto, e

recomendar medidas de mitigação e/ou maximização dos mesmos. A localização

do projecto, na Província e Tete, é apresentado na Figura 1 abaixo.

Page 12: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

12 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

Figura 1: Localização da área do projecto na Província de Tete

Page 13: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

13

1.3 Área Afectada pelo Projecto

Para a definição da área do projecto, e a identificação das comunidades afectadas

pelo projecto, foram aplicadas três zonas de proteção ou zonas tampão.

Inicialmente, foi estabelecida uma zona tampão de 10 km em volta da Área de

Prospecção de Tenge-Ruoni 1035-L, onde irá ocorrer a primeira fase de

mineração, de forma a identificar as comunidades a serem incluídas no estudo de

AIASS.

Em segundo lugar, foi estabelecida uma zona tampão de 5 km ao redor da área de

prospecção 1035L e de 140 m ao longo das rotas propostas para a estrada de

transporte (daqui em diante referida como “Corredor de Impacto” ou CdI), com

vista a identificar quaisquer recursos de património cultural existentes que possam

estar a ser actualmente usados pelas comunidades na área do projecto. A zona

tampão de 5km foi sugerida pelos Serviços Distritais de Actividades Económicas

de Moatize1 como a mais adequada para salvaguardar as comunidades contra os

impactos das detonações e ruído das actividades mineiras, de acordo com as

suas experiências com operações doutras companhias mineiras até a data.

Embora esta recomendação, de zona tampão, feita pelo Governo do Distrito de

Moatize seja informada pelas potenciais considerações de reassentamento físico,

também pode ser relevante para garantir o acesso contínuo aos locais sagrados

(um elemento do património cultural) das comunidades ou famílias que tenham

que ser reassentadas devido à proximidade das actividades propostas de

construção e operação do projecto. Como tal, a equipa de estudo adoptou uma

zona tampão de 5 km com vista a definir a área que provavelmente será

indirectamente afectada pelo projecto no que diz respeito aos seus recursos de

património.

Por último, foi aplicada uma zona tampão de 1,020 m com vista a indicar a

provável área máxima de impacto das actividades de detonação, i.e. a área dentro

da qual os impactos das explosões causadas pela actividade de mineração

provavelmente serão sentidos. Esta área, daqui em diante referida como área de

detonação mineira, é considerada como sendo a área que será directamente

afectada pelo projecto. Os recursos de património cultural localizados dentro desta

zona tampão são considerados como sendo directamente afectados, no sentido

de que é provável que o acesso livre ou sem restrições da comunidade para estas

áreas seja perdido ou restrito, caso não sejam aplicadas medidas de mitigação

adequadas.

As delineações de zona tampão acima descritas foram similarmente aplicadas

para os estudos de Avaliação de Impacto na Saúde e Avaliação do Impacto Social

conduzidos para o projecto. Isto foi implementado com vista a garantir que o

estudo de Património Cultural tenha como alvo as mesmas comunidades

potencialmente afectadas que foram incluídas nestes dois outros estudos.

1 Entrevistadas como parte da Avaliação do Impacto Social, em Julho de 2014.

Page 14: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

14 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

Com base nestas zonas tampão, foram identificadas oito comunidades para

estudo: as povoações de Matacale, Muchena, Mbuzi, Nhambia, Chianga, Tenge,

Mboza e Massamba. Todas estas povoações localizam-se fora da área de

detonação da mina (faixa de 1,020m), i.e. todas encontram-se na área

indirectamente afectada pelo projecto. Destas comunidades, sete (7) localizam-se

na Área de Prospecção 1035-L de Tenge-Ruoni e uma localiza-se ao longo da

estrada de transporte. A comunidade de Massamba localiza-se fora do CdI mas

dentro da zona de amortecimento de 10 km. A informação recolhida nesta

comunidade foi usada para informar o perfil cultural da área do projecto, mas não

foi considerada para o exercício de identificação e avaliação de impactos, dado

que a comunidade e os seus recursos de património localizam-se fora da zona

tampão de 5 km. A informação recolhida nas sete (7) comunidades

remanescentes foi usada tanto para a descrição do perfil cultural da área do

projecto como para o propósito de identificação e avaliação dos impactos do

projecto.

A Tabela 1 abaixo apresenta as comunidades afectadas pelo projecto de acordo

com a sua localização, e conforme estas sejam directa ou indirectamente

afectadas pelo projecto:

Tabela 1: Comunidades afectadas pelo Projecto

Componente do

Projecto

Nr. de

comunidades Comunidades

Área de Prospecção

1035-L de Tenge-

Ruoni

7 Massamba, Matacale, Muchena,

Mbuzi, Nhambia, Chianga e Tenge

Estrada de transporte 1 Mboza

Para mais informação sobre a localização e descrição das comunidades afectadas

pelo projecto incluídas no estudo, por favor consulte a Secção 3.3

As comunidades identificadas localizam-se nas margens do Rio Revúboé e seus

afluentes, onde, de acordo com a informação recolhida no campo, abundam

recursos hídricos e solos férteis. Alguns assentamentos somente são habitados

sazonalmente, geralmente na época seca quando os residentes dedicam-se à

pesca ou agricultura nestes locais (Madiquida, 2007: 56). De acordo com

observações feitas no campo, as famílias na área do projecto geralmente têm

duas residências, uma em áreas elevadas onde vivem permanentemente e outra

nas planícies de inundação onde fazem as suas machambas. A área de

Massamba-Ntenge é uma das mais férteis e ricas em recursos naturais no Vale de

Revúboé e é extensivamente usada pelas comunidades residentes naquele local

(água, floresta e recursos animais). A área é adequada para cultivar a maioria das

culturas (Macamo, 2006). As principais fontes de receita das famílias são a

agricultura, pesca e criação de animais (gado, cabritos, porcos e galinhas). As

culturas de subsistência primária são o milho (Zea mays), sorgo (Sorghum bicolor),

mexoeira (Pennisetum glaucum), feijão (Phaseolus vulgaris), feijão manteiga

Page 15: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

15

(Phaseolus lunatus), amendoim (Arachis hypogaea) e tubérculos como inhame

(Colocasia esculenta), batata-doce (Ipomoea batatas) e mandioca (Manihot

esculenta) (Macamo & Madiquida 2004).

A informação socioeconómica recolhida para o estudo de Avaliação do Impacto

Social (COWI, 20142) do projecto, junto com as observações feitas no campo para

o relatório de Património Cultural, indica que, de forma geral, as famílias

residentes na área do projecto têm um padrão de vida modesto, e com poucas

oportunidades de emprego formal. As comunidades na área do projecto têm altas

expectativas de que o projecto proposto crie oportunidades locais de trabalho.

1.4 Estrutura do Relatório

O presente relatório está estruturado em oito capítulos, incluindo a referência

bibliográfica, conforme apresentado a seguir:

› Capítulo 1 introduz os objectivos do presente estudo;

› Capítulo 2 descreve o quadro legal e políticas para Gestão de Recursos

Culturais em Moçambique que são aplicáveis ao projecto, junto com as

directivas internacionais relevantes;

› Capítulo 3 descreve a metodologia aplicada para conduzir o presente

estudo;

› Capítulo 4 descreve o contexto cultural da província de Tete, incluindo um

breve historial da província e uma descrição dos antecedentes

arqueológicos, históricos e socioculturais da província;

› Capítulo 5 descreve os resultados do estudo de acordo com as categorias

de património cultural identificadas na área do projecto;

› Capítulo 6 fornece uma avaliação dos potenciais impactos associados com

o projecto, e descreve as medidas de mitigação/mitigação para cada

impacto;

› Capítulo 7 apresenta as conclusões do estudo; e

› Capítulo 8 lista as referências bibliográficas consultadas para o presente

estudo.

2 COWI (2014). Avaliação de Impacto Social para o Projecto de Minério de Ferro da Baobab, Tete, Moçambique. Produzido

em simultâneo com o Relatório de Património Cultural.

Page 16: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

16 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

2 Quadro Legislativo

2.1 Contexto

O quadro legal Moçambicano fornece inúmeras ferramentas e políticas legislativas

que regulam as actividades de desenvolvimento em áreas de significância cultural

conhecida. A presente secção descreve o quadro institucional e legal relevante

para os recursos de património cultural em Moçambique.

2.2 Quadro Institucional de Moçambique

Em Moçambique existem duas instituições principais para a gestão dos recursos

de património cultural: o Ministério de Educação e Cultura (MEC), que por sua vez

é apoiado pelo Departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade

Eduardo Mondlane. Juntas, estas instituições são actualmente responsáveis pela

prospecção arqueológica e pela gestão do património cultural em Moçambique. O

MEC foi criado em 1975 após a Independência nacional do regime colonial. O

Departamento de Monumentos foi criado dentro do MEC com vista a identificar e

classificar o património cultural do país, com o apoio da Universidade Eduardo

Mondlane. A universidade foi criada em 1978 e o Departamento de Arqueologia e

Antropologia simultaneamente estabelecido. Dentro deste departamento, a

Secção de Arqueologia conduz pesquisas arqueológicas a nível nacional.

2.3 Legislação Moçambicana

A Legislação Moçambicana chave para a proteção do património cultural é a

seguinte:

› Artigos 54 e 98 da Constituição da República de Moçambique;

› Lei 10/88 de 22 de Dezembro: especifica a proteção legal de activos

materiais e imateriais do património cultural Moçambicano;

› Decreto 27/94 de 20 de Julho: regula a Proteção do Património

Arqueológico;

› Lei 10/99 de 07 de Julho sobre a Proteção de Florestas e Fauna Bravia;

› Resolução no 11/2010 do Conselho de Ministros: aprova a política aplicável

aos Museus;

› Resolução no 12/2010 do Conselho de Ministros: aprova a política aplicável a

Monumentos;

› Resolução 17/82 do Conselho de Ministros: aprova a adesão de

Moçambique à Convenção da UNESCO relativa à Proteção do Património

Cultural e Natural do Mundo.

2.3.1 Quadro Geral para a Proteção do Património Cultural

A Constituição da República de Moçambique de 2004 (Artigo 98) reforça os

estatutos de domínio público das zonas marítimas, espaço aéreo, recursos

Page 17: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

17

energéticos, património arqueológico, áreas de conservação da natureza, estradas

e caminhos-de-ferro, depósitos de minerais e outros recursos do país classificados

como tal pela lei Moçambicana. Por conseguinte, todos estes activos são de

propriedade do Estado Moçambicano e devem ser usados ou utilizados para o

interesse público. A Constituição mais afirma sobre a proteção de locais de culto

(veneração) no seu Artigo 54.

Lei 10/88 de 22 de Dezembro 22 confere proteção legal aos activos de património

cultural tangíveis e não tangíveis de Moçambique. Esta lei define 'património

cultural' como o legado de artefactos tangíveis (físicos) (objectos, edifícios, locais,

recursos naturais), bem como os atributos intangíveis do povo do país (história e

conhecimento oral, folclore). Esta proteção tem por objectivo garantir a

subsistência do legado histórico, cultural e artístico do passado para as futuras

gerações, como também as realizações, conquistas e valores contemporâneos

que reflectem o contexto nacional.

A lei requer a identificação, registo, preservação e valorização dos artefactos

espirituais e materiais que constituem o património cultural nacional. Esta lei é

aplicável aos recursos de património cultural de propriedade do estado, entidades

públicas e individuais, mas sem prejuízo a quaisquer direitos de propriedade dos

respectivos proprietários de terra ou com detentores de direito de uso das

mesmas. A lei também abrange todos os bens culturais que possam ser

descobertos no futuro. O Conselho de Ministros é responsável pela definição dos

procedimentos legais para a exploração do património cultural, como também das

responsabilidades da comunidade hospedeira e do Estado nestes processos.

Apesar da existência dum vasto e rico património e tradição cultural em

Moçambique, estes recursos culturais podem estar expostos a deterioração parcial

ou total, desaparecimento ou destruição. Isto constitui obviamente uma perda

insubstituível para o património cultural, e portanto é importante garantir a

necessária proteção dos recursos de património cultural. As organizações públicas

e privadas (e os cidadãos em geral) são responsáveis por lei pela proteção do

património cultural do país.

Os seguintes recursos são classificados como de património cultural nos termos

do seguinte estatuto: monumentos e recursos arqueológicos, imóveis e edifícios

erguidos antes de 19203, bens culturais móveis fabricados e construídos antes de

1900, e principais bases operacionais da Frente de Libertação de Moçambique

(FRELIMO) durante a luta de libertação nacional.

O Decreto 27/94 de 20 de Julho regula a conservação dos recursos do

património arqueológico, como também a composição do Conselho Nacional de

Património Cultural. O decreto almeja duas categorias de património,

nomeadamente os recursos materiais móveis e imóveis, que pelo seu valor

arqueológico são considerados de significância cultural para Moçambique.

3 1920 marca o fim da primeira fase de resistência armada à ocupação colonial.

Page 18: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

18 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

2.3.2 Legislação Específica para a Proteção do Património Cultural

A Lei 10/99 de 07 de Julho sobre a Proteção de Florestas e Fauna Bravia (Artigo

13) introduz o conceito de “zonas de uso e de valor histórico-cultural”. Estas são

áreas reservadas para a proteção de florestas com significância religiosa, bem

como outros locais de importância histórica e uso cultural, de acordo com as

normas e práticas costumeiras das comunidades locais que usam estas áreas. Os

recursos florestais e de fauna existentes nestas zonas podem ser explorados

pelas comunidades locais, com respeito pelas práticas acima mencionadas.

A proteção referida neste estatuto não implica necessariamente a delimitação

duma área a ser protegida. Esta proteção também pode ser garantida através da

transferência de locais sagrados importantes para um novo local com vista à sua

preservação e proteção, junto com a escavação de estações arqueológicas e a

recolha científica dos artefactos antes do início duma actividade de

desenvolvimento que possa causar impacto em tais locais. Isto é relevante para as

florestas sagradas, ou locais sagrados e cemitérios associados, identificados na

área do projecto até a data, que se encontram detalhados na Secção 5.

O Decreto 27/94 de 20 de Julho declara que quem descobre ou é proprietário do

imóvel (i.e. para este estudo, a proponente do projecto) onde ocorre a descoberta

do património cultural, é co-responsável pela conservação dos elementos

descobertos. Esta entidade/indivíduo é também responsável por arcar com as

necessárias despesas pelas acções necessárias para proteger e transferir (se

prático e necessário) o património e os recursos definidos pelo MEC e o Conselho

Nacional de Património Cultural (nos termos do Artigo 10). O decreto mais

específica que todos projectos envolvendo escavação, remoção ou extensão de

terra, ou a remoção de objectos submersos ou enterrados, devem conduzir

estudos arqueológicos preliminares e implementar medidas de proteção na área a

ser abrangida pela actividade de desenvolvimento. A proponente do projecto

também é responsável por financiar estas iniciativas. Para este efeito, o dono do

projecto deve incluir no orçamento do seu projecto uma quantia equivalente a

0.5% dos custos capitais totais do projecto com vista a satisfazer esta norma

(Artigo 12).

A Resolução 11/2010 do Conselho de Ministros fornece prescrições políticas

aplicáveis a museus. Os museus Moçambicanos são responsáveis pela

preservação, gestão e disseminação de património cultural e natural, quer seja

móvel, tangível ou intangível. Esta resolução garante a preservação, promoção e

disseminação de bens culturais sob custódia de museus.

Neste âmbito a proponente do projecto é responsável pela preservação do

património cultural encontrado na área do projecto, em coordenação com a

Direcção Provincial de Cultura de Tete. O projecto pode contribuir para a

preservação, como também a disseminação, do património cultural encontrado na

área do projecto através da criação de centros de interpretação. A criação de tais

centros deve ser feita em coordenação com a Direcção Provincial de Cultura e em

ligação com os museus existentes a nível provincial, regional ou nacional.

Page 19: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

19

A Resolução 12/2010 do Conselho de Ministro especifica a política aplicável aos

monumentos. A mesma considera os monumentos como sendo propriedade

imóvel e elemento da memória colectiva4. Estes podem ser elementos naturais

como locais e paisagens com significância cultural ou científica. Esta resolução

reconhece que o património cultural Moçambicano inclui os locais arqueológicos,

locais históricos, edifícios e áreas edificadas que testemunhem a coexistência de

diferentes culturas e civilizações no território nacional com o passar do tempo. Na

área do projecto existem alguns monumentos que irão necessitar de gestão nos

termos desta política, como recomendado na Secção 6 deste relatório.

A Resolução 17/82 do Conselho de Ministros aprova a ratificação por

Moçambique da Convenção das Nações Unidas relativa à Proteção do Património

Natural e Cultural Mundial.

A Tabela 2 abaixo resume as questões-chave da legislação para a proteção do

património cultural.

Tabela 2: Legislação Nacional para a proteção do Património Cultural

Legislação Breve Descrição Relevância

Proteção do Património Cultural

Constituição da República de Moçambique de 2004

Define que a área marítima, espaço aéreo, potencial de energia, património arqueológico, áreas de proteção da natureza, estradas e caminhos-de-ferro, depósitos de mineração e outros recursos classificados pela lei Moçambicana como propriedade do Estado Moçambicano e que podem ser usados para o interesse público. (Artigo 98). Define também a proteção dos locais de culto. (Artigo 54).

A propriedade de património cultural encontrada em território Moçambicano é de propriedade do Estado Moçambicano.

Locais de culto, incluindo locais sagrados costumeiros, são áreas protegidas.

Lei 10/88 de 22 de Dezembro – Lei de Proteção de Património Cultural

Estabelece a proteção legal dos recursos tangíveis e intangíveis do património cultural Moçambicano.

A proteção legal inclui a identificação, registo, preservação e valorização dos bens espirituais e materiais que compreendem o património cultural Moçambicano.

O Conselho de Ministros é responsável pela definição dos procedimentos legais para a exploração do património cultural. Contudo, as organizações públicas e

Recursos culturais tangíveis e intangíveis encontrados no solo, subsolo e plataforma continental Moçambicana, são protegidos por lei.

As organizações privadas, entre outras entidades, são responsáveis pela proteção do património cultural.

4 O termo 'memória colectiva' refere-se ao conjunto de informação partilhada (estórias, artefactos, símbolos, tradições, imagens) mantida na memória de dois ou mais membros dum grupo. É construída ao longo do tempo através da interpretação de eventos passados (no presente, pelos membros do grupo). Pela virtude de ser partilhada pelos membros do grupo, esta cria uma identidade de grupo social no sentido de que forma os laços que juntam os membros do grupo.

Page 20: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

20 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

privadas, e os cidadãos em geral, são responsáveis pela proteção do património cultural.

Decreto 27/94 de 20 de Julho – Regulamento da Proteção do Património Arqueológico

Regula a proteção do património arqueológico e a composição do Conselho Nacional de Património Cultural. O decreto protege os recursos materiais móveis e imóveis, que pelo seu valor arqueológico são considerados património cultural.

Define as responsabilidades, medidas e financiamento para os trabalhos de prospecção e salvaguarda arqueológica.

Regula a proteção do património arqueológico, incluindo os recursos materiais móveis e imóveis.

A proponente do projecto deve alocar 0.5% do orçamento total do projecto para os trabalhos de prospecção e salvaguarda arqueológica.

Lei 10/99 – Lei de Proteção de Florestas e Fauna Bravia

Introduz o conceito de “zonas de uso e de valor histórico-cultural”: áreas reservadas para a proteção de florestas com interesses religiosos, como também outros locais de importância histórica e de uso cultural, de acordo com as normas e práticas costumeiras das comunidades locais que usam estas áreas.

Os recursos florestais e de fauna existentes nestas zonas podem ser explorados, com respeito pelas práticas costumeiras das comunidades que as usam.

“Zonas de uso e de valor histórico-cultural”, tais como as florestas sagradas associadas a locais sagrados e cemitérios encontrados na área do projecto, são reservadas para a proteção de florestas com interesses religiosos, e outros locais de importância histórica e de uso cultural.

Resolução 11/2010 – Política de Museus

Esta resolução garante a preservação, promoção e disseminação de bens culturais através da custódia dos museus.

O projecto proposto pode contribuir para preservar o património cultural encontrado na área do projecto, através da associação com museus a nível provincial, regional ou nacional.

Resolução 12/2010 – Política de Monumentos

Declara os monumentos como propriedade imóvel e como também elementos da memória colectiva.

Reconhece que o património cultural inclui os locais arqueológicos, locais históricos, e edifícios e construções que testemunham a coexistência de diferentes culturas e civilizações no território nacional com o andar do tempo.

Na área do projecto existem alguns monumentos que requerem medidas de proteção no âmbito desta resolução.

Resolução 17/82 - Convenção relativa à Proteção do Património Cultural e Natural Mundial

Aprova a Convenção Sobre a Proteção do Património Cultural e Natural Mundial.

Os requisitos para a proteção do património cultural e natural encontram-se reflectidos na lei 10/88.

Os requisitos da Convenção são aplicáveis ao presente projecto.

Page 21: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

21

2.4 Legislação e Directivas Internacionais

A Convenção da UNESCO5 relativa às Medidas a Adoptar para Proibir e

Prevenir a Importação, Exportação e Transferência de Propriedade Ilícita de

Bens Culturais (adoptada em 1970, em vigor desde 1972) define a 'bem cultural'

como a propriedade que, por motivos religiosos ou seculares, é designada por

cada Estado como sendo de importância arqueológica, pré-histórica, histórica,

literária, de arte ou ciência. Os Estados-parte são chamados para implementar um

número de medidas com vista a proibir e prevenir o uso ilícito de bens culturais,

incluindo a sua importação, exportação e transferência de posse. Esta convenção

ainda não foi ratificada por Moçambique; contudo as medidas de proteção da

propriedade cultural encontram-se reflectidas na lei 10/88.

A Convenção da UNESCO Sobre a Proteção do Património Cultural e Natural

Mundial (adoptada em 1970, em vigor desde 1972) reconhece que o património

cultural e natural é cada vez mais ameaçado de danificação e destruição devido a

causas tradicionais de degradação e a mudança agravante das condições sociais

e económicas. Os Estados-parte são responsáveis por garantir a identificação,

proteção, conservação, apresentação e transmissão às gerações futuras do

património cultural e natural situado em território nacional, que são em primeiro

lugar de propriedade do Estado. Os Estados-parte são chamados a fazer tudo ao

seu alcance para cumprir com esta responsabilidade, fazendo maior uso dos seus

recursos e com assistência internacional. A convenção foi ratificada por

Moçambique em 1982. A responsabilidade do Estado perante a proteção do

património cultural encontra-se reflectida na lei 10/88.

A Convenção da UNESCO para salvaguardar o Património Cultural

Intangível6 (adoptada 2003, em vigor desde 2006) tem como objectivo

consciencializar sobre a importância do património cultural intangível e as

ameaças a que este está sujeito a nível global. A mesma encoraja os Estados-

Parte a identificar, proteger e gerir os elementos de património cultural intangíveis

presentes nos seus territórios, garantindo respeito pelo indivíduo e comunidades

em questão. Também promove a cooperação e assistência internacional para

salvaguarda deste património cultural.

Os Estados-Parte são responsáveis por levar a cabo um inventário do património

cultural intangível presente no seu território, a ser actualizado regularmente. Estes

também são responsáveis por adoptar uma política almejando a promoção da

função do património cultural intangível na sociedade, estabelecer um corpo

competente para salvaguardar o património cultural intangível nacional, incentivar

estudos científicos, técnicos e artísticos com vista a salvaguardar este património,

promover a educação para a promoção dos locais de património cultural intangível

e adoptar medidas para promover o acesso a tais locais e a sua documentação. A

convenção foi ratificada por Moçambique em 2007.

5A UNESCO é a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. 6A convenção define "o património cultural intangível" como as práticas, representações, expressões, conhecimento e habilidades reconhecidas por comunidades, grupos e indivíduos como parte do seu património cultural. É transmitido de geração a geração em constante recreação, conferindo às comunidades um sentido de identidade (Artigo 2).

Page 22: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

22 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

Padrão de Desempenho 8 sobre o Património Cultural, da International

Finance Corporation (IFC)

Várias directivas internacionais sobre Património Cultural fornecem orientações

úteis para o projecto, particularmente as requeridas pelos principais credores

internacionais tais como o Banco Mundial e a International Finance Corporation

(IFC). No caso de projectos do sector privado estas directivas são estabelecidas a

partir dos padrões de desempenho (PD) do IFC no que diz respeito à

sustentabilidade social e ambiental. O PD complementa, mas não substitui, os

requisitos da lei nacional aplicável.

O PD 8 (Património Cultural) é aplicável ao projecto proposto, estando alinhado

com a Convenção da UNESCO relativa à Proteção do Património Cultural e

Natural Mundial acima mencionado.

O PS 8 tem como objectivo proteger o património cultural dos impactos adversos

das actividades do projecto, apoiar a sua preservação e promover a partilha

equitativa de benefícios do uso deste património cultural. O Património Cultural

inclui os recursos tangíveis (objectos, propriedades, locais, estruturas móveis ou

imóveis), recursos naturais que incorporam os valores culturais (bosques, pedras,

lagos e cascatas sagradas) e certas formas intangíveis de cultura (conhecimento

cultural, inovações, práticas e estilo de vida tradicional). Os requisitos do PD 8

aplicam-se ao património cultural independentemente deste estar ou não

legalmente protegido ou previamente perturbado.

A necessidade da aplicação do PD 8 é identificada no processo de avaliação dos

riscos ambientais e sociais (a decorrer no momento). Se accionado pelas

actividades do projecto, o PD 8 requer que o Cliente siga vários requisitos:

1 Identificar e proteger o património cultural garantindo que sejam

implementadas as práticas internacionalmente reconhecidas para a proteção,

estudo de campo e documentação do património cultural;

2 Conceber um projecto de forma a evitar impactos adversos significantes para

o património cultural durante as fases de construção ou operação, como

identificado no processo de avaliação de risco ambiental e social e de

impacto. O cliente deve desenvolver provisões para a gestão de descobertas

fortuitas através dum procedimento de descobertas fortuitas, que será

aplicado na eventualidade que o património cultural seja subsequentemente

descoberto;

3 Consultar com as comunidades afectadas (que usam ou têm usado, dentro

da sua memória viva, o património cultural para propósitos culturais) de forma

a identificar o património cultural relevante e incorporar no processo de

tomada de decisões do projecto as suas opiniões sobre tal património

cultural. A consulta também envolve agências reguladoras nacionais ou locais

relevantes responsáveis pela proteção do património cultural;

4 Permitir às comunidades afectadas (com memória viva de propósitos culturais

de longa duração) o acesso contínuo aos locais culturais dentro da área do

projecto, ou fornecer uma via de acesso alternativa, sujeita às considerações

de saúde, segurança, e proteção;

5 Onde for encontrado património cultural tangível na área do projecto que

possa ser replicável e não seja crítico, devem ser aplicadas medidas de

Page 23: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

23

mitigação que evitam o património. Onde isto não for viável, o cliente deve

aplicar a seguinte hierarquia de medidas de mitigação:

5.1 Minimizar os impactos adversos e implementar medidas de restauração,

in situ, que garantam a manutenção e funcionalidade do património

cultural;

5.2 Se a restauração in situ não for possível, deve ser restaurada a

funcionalidade do património cultural num local diferente, incluindo o

ecossistema necessário para o apoiar;

5.3 Levar a cabo a remoção permanente dos artefactos e estruturas

históricos e arqueológicos de acordo com princípios específicos; e

5.4 Somente quando as medidas de mitigação não forem possíveis, e onde

as Comunidades Afectadas estiverem a usar o património cultural

tangível para propósitos culturais de longa duração, deve-se compensar

pela perda do património cultural tangível;

6 Evitar a remoção de qualquer património cultural não reproduzível, onde o

património cultural estiver melhor protegido através da preservação no seu

local (i.e. a remoção provavelmente irá resultar em danos ou destruição

irreparáveis), a não ser que:

6.1 Não existam alternativas tecnica ou financeiramente viáveis para a

remoção;

6.2 Os benefícios gerais do projecto pesam conclusivamente mais que a

perda antecipada de património cultural da vinda da remoção; e

6.3 A remoção do património cultural seja feita com a melhor técnica

disponível;

7 Onde for encontrado um património cultural crítico (património

internacionalmente reconhecido ou áreas de património cultural legalmente

protegidas), abster-se de removê-lo, alterá-lo significativamente ou danificá-

lo. Quando, em circunstâncias excepcionais, os impactos no património

cultural crítico forem inevitáveis, o cliente deve usar um processo de Consulta

e Participação Informada das Comunidades Afectadas7, com negociações de

boa-fé que resultem num resultado documentado. A avaliação e proteção de

tal património devem ser assistidas por peritos externos.

O PD 8 descreve os potenciais riscos e impactos dum dado projecto sobre o

Património Cultural que requerem particular atenção, e estabelece os requisitos

para evitar, minimizar e (onde os impactos permanecerem) compensar pelos

riscos e impactos às comunidades afectadas, trabalhadores e ambiente

sociocultural. A Tabela 3 abaixo resume as principais directivas internacionais

para a proteção do património cultural:

Tabela 3: Directivas Internacionais para a proteção do Património Cultural

Legislação Breve Descrição Relevância

Proteção de Património Cultural

Convenção da UNESCO de 1970 sobre os Meios para Proibir e Prevenir a Importação, Exportação e Transferência de Propriedade Ilícita de

Define o 'bem cultural' e regula a proibição e prevenção do uso ilícito de bens culturais, incluindo a sua importação, exportação e transferência de propriedade, pelos Estados-

O património cultural encontrado na área do projecto deve ser respeitado em conformidade com a lei 10/88.

7Descrito do PD 1 Avaliação e Gestão de Riscos e Impactos Ambientais e Sociais.

Page 24: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

24 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

Bens Culturais. parte.

Ainda não foi ratificada por Moçambique, contudo as medidas de proteção de bens culturais estão reflectidas na lei 10/88.

Convenção da UNESCO de 1970 Sobre a Proteção do Património Cultural e Natural Mundial

Reconhece a crescente ameaça do património cultural e natural aos danos e destruição.

Apela aos Estado-parte a identificar, proteger, conservar apresentar e transmitir às futuras gerações o património cultural e natural situado no território nacional.

Ratificada por Moçambique em 1982; a responsabilidade do Estado encontra-se reflectida na lei 10/88.

Os recursos tangíveis e intangíveis são protegidos pela Lei 10/88.

As organizações privadas, dentre outras entidades, são também responsáveis pela proteção do património cultural.

Convenção da UNESCO de 2003 para Salvaguarda do Património Cultural Intangível

Os Estados-parte são responsáveis por levar a cabo um inventário do património cultural intangível presente no seu território (a ser actualizado regularmente) e adoptar uma política de promoção do património cultural na sociedade. A política inclui uma entidade para salvaguardar o património cultural intangível nacional; estudos científicos, técnicos e artísticos para salvaguardar este património; educação para a proteção dos locais de património cultural intangível e promoção do acesso a tais locais e a sua documentação.

Ratificada por Moçambique em 2007.

PD 8 do IFC – Património Cultural

Em conformidade com a Convenção da UNESCO Sobre a Proteção do Património Cultural e Natural Mundial.

Tem como objectivo proteger o património cultural e todos seus recursos dos impactos adversos de actividades de projectos, apoiar a sua preservação e promover a partilha de benefícios equitativa no uso dos recursos do património culturais.

Aplica-se ao património cultural independentemente de estar ou não legalmente protegido ou previamente

A avaliação dos riscos ambientais e sociais encontra-se em vigor e os requisitos do PD 8 podem informar a avaliação de risco ambiental e social e a tomada de decisões do projecto.

Page 25: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

25

perturbado.

O PD 8 é accionado no processo de avaliação de riscos sociais e ambientais, e inclui uma série requisitos a serem seguidos.

Page 26: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

26 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

3 Metodologia

3.1 Contexto

A área de estudo do projecto é caracterizada por um terreno acidentado e com

densa vegetação em muitas áreas, o que em alguns casos limitou o acesso aos

locais de pesquisa. Esta limitação informou portanto a selecção das metodologias

de trabalho de campo. Os métodos de pesquisa seleccionados para a recolha e

análise de dados incluem a revisão bibliográfica, discussões com grupos focais8 e

uma prospecção arqueológica na área do projecto.

3.2 Planeamento e Preparação

Foi enviada uma equipa de pesquisa constituída por um arqueólogo sénior e dois

antropólogos com vista a recolher dados sobre a área do projecto para o presente

estudo. Enquanto o arqueólogo conduzia a revisão bibliográfica antes da

prospecção arqueológica da área do projecto, os antropólogos desenvolviam as

metodologias de discussão do grupo focal a serem aplicadas nas comunidades

afectadas.

A revisão bibliográfica permitiu a concepção da metodologia de pesquisa, e com

base nesta, os instrumentos de recolha de dados. Estes foram concebidos para a

prospecção arqueológica (ferramenta de mapeamento e guião de entrevista semi-

estruturada para lideranças locais) e as discussões de grupo focal (métodos de

exercícios participativos de grupo focal – incluindo um manual de campo). Este

manual é apresentado no Anexo C: .

Antes do início do trabalho de campo, foi estabelecido o contacto com a Direcção

de Educação e Cultura Provincial de Tete de forma a introduzir a equipa e os

objectivos do estudo. Adicionalmente, os antropólogos receberam formação para

aplicação da metodologia de trabalho de campo.

3.3 Identificação da Área de Estudo

Como explicado na Secção 1.3 acima, com base na análise de fotografias aéreas

e de informações fornecidas pelo cliente foram identificadas para o presente

estudo oito (8) comunidades localizadas na área do projecto (com uma zona

tampão de 10 km). Esta demarcação também esteve alinhada com outros estudos

de especialidade, tais como a Avaliação do Impacto na Saúde e a Avaliação do

Impacto Social.

A Figura 2 abaixo mostra a localização das comunidades identificadas para o

estudo.

8 As discussões do grupo focal também recolheram informação para a Avaliação do Impacto Social.

Page 27: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

27

Figura 2: Localização das comunidades identificadas para o estudo

Page 28: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

28 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

Cada uma destas comunidades foi visitada pela equipa de estudo. Aquando da

sua chegada à comunidade, a equipa solicitou apoio do líder comunitário para

identificar a localização dos locais de património cultural e mobilizar os membros

da comunidade para as discussões de grupo focal.

Com a ajuda dos líderes comunitários, os locais de importância arqueológica

(daqui em diante referidos como 'estações arqueológicas'), de importância

histórica (daqui para frente referidos como 'locais históricos'), e os considerados

como sendo sagrados (daqui para frente referidos como 'lugares sagrados' e

'cemitérios') foram identificados e subsequentemente mapeados para cada uma

das comunidades. O exercício de mapeamento considerou o mesmo CdI aplicado

para o estudo de Avaliação do Impacto Social, i.e. área de prospecção 1035L com

uma zona tampão de 5 km e a estrada de transporte projectada com uma zona

tampão de 70 m de cada lado.

Foram tiradas coordenadas e fotografias para todas as estações arqueológicas,

locais históricos e lugares sagrados. Para os cemitérios e campas, os líderes

comunitários que acompanhavam a equipa de estudo pediram que não fossem

tiradas fotografias. Por conseguinte somente foram tiradas coordenadas, mas não

fotografias, dos cemitérios e campas isoladas.

3.4 Recolha de Dados

A recolha de dados iniciou com a revisão bibliográfica, seguida do trabalho de

campo para a prospecção arqueológica e as discussões de grupo focal, que

ocorreram simultaneamente entre 30 de Junho e 10 de Julho de 2014.

Nos parágrafos que se seguem descrevemos os processos de revisão

bibliográfica, prospecção arqueológica e discussões de grupo focal levados a cabo

para este estudo.

Revisão Bibliográfica

Existem poucas fontes bibliográficas sobre o património cultural na área do

projecto. Apesar disso, foi revista toda a literatura disponível com vista a ajudar o

desenho dos instrumentos de recolha de dados e a subsequente análise, de

acordo com os diferentes períodos de ocupação humana na área do projecto. Foi

revista a seguinte bibliografia:

› Pesquisa de arquivo de documentos do período colonial Português;

› Monografias e artigos de pesquisas arqueológicas anteriores sobre a área

do vale do Zambeze; e

› Entrevista com o Chefe do Departamento Provincial de Cultura de Tete e os

Chefes dos Serviços Distritais de Cultura de Chiúta e de Moatize.

Page 29: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

29

122

Prospecção arqueológica

O objectivo principal da prospecção arqueológica não era somente localizar e

mapear os locais de importância arqueológica, mas também avaliar a sua

significância dentro da área de estudo.

A prospecção arqueológica consistiu em duas fases. Na primeira, foi conduzida

uma pesquisa a pé ao longo dos trilhos existentes, apoiada pelas entrevistas com

informantes-chave (líderes comunitários e anciãos) para certificar se eles tinham

qualquer conhecimento de vestígios históricos ou arqueológicos ou de artefactos

(tais como cacos de cerâmica ou olaria e outras relíquias).

Em segundo lugar, foram visitadas áreas com alta concentração de recursos

naturais (água, florestas e recursos animais) e áreas topográficas ligeiramente

elevadas (suspeitas de conter locais de importância arqueológica). Estas áreas

foram previamente identificadas através da análise de fotografias aéreas e mapas

topográficos. A prospecção arqueológica foi na sua maioria feita a pé ao longo das

estradas e trilhos existentes, guiada pelos líderes comunitários locais. As áreas

arborizadas e campos cultivados foram sistematicamente pesquisados através de

prospecção transversal a pé. Esta fase da pesquisa não envolveu quaisquer

métodos de amostragem de escavação, mas todas as descobertas na superfície

foram recolhidas para análise preliminar.

Durante o estudo, foi pesquisada uma série de zonas ribeirinhas (entre as

margens). Estas margens de rio situam-se ao longo de estradas, áreas de

planícies (savana) e planaltos onde foi encontrado um número considerável de

evidências arqueológicas (artefactos líticos e cerâmica). Todas as amostras

recolhidas foram armazenadas em sacos separados com a descrição do tipo de

artefacto e coordenadas geográficas, para subsequente análise preliminar. Os

dados recolhidos foram na sua maioria olaria e artefactos microlíticos, tais como

pontas, raspadores, lâminas e Microlíticos com o dorso desbastado.

Adicionalmente à identificação das estações arqueológicas, com apoio dos líderes

comunitários locais foram identificados de importância histórica (locais históricos) e

locais considerados pelas comunidades como sendo sagrados e importantes

(locais sagrados e cemitérios). Tal como feito para as estações arqueológicas,

estes locais históricos, sagrados e cemitérios foram mapeados com coordenadas

e foram tiradas fotografias dos locais históricos e sagrados.

Os locais de importância arqueológica, histórica, sagrada e cemitérios

identificados são apresentados em detalhe no capítulo dos resultados (Secção 5)

e no capítulo da avaliação de impacto (Secção 6) deste relatório.

Discussões de Grupo Focal

As discussões de grupo focal foram conduzidas em cada uma das oito

comunidades identificadas para o estudo. As discussões em grupo seguiram

temáticas específicas que enfocavam as relações interpessoais, familiares e de

vizinhança, bem como a dinâmica cultural prevalecente no contexto do projecto.

Considerando o baixo nível de escolaridade da população dos distritos no qual o

Page 30: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

30 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

projecto se localiza (INE 2013 e 2013b), as discussões foram estimuladas através

de exercícios participativos baseados na expressão visual.

As discussões de grupo focal permitiram recolher dados qualitativos acerca da

história da comunidade, mapear os locais históricos, arqueológicos e sagrados e

os interesses, preocupações e recomendações das comunidades para o projecto.

Os exercícios participativos aplicados, e os seus objectivos de estudo, encontram-

se descritos na Tabela 4 abaixo.

Em cada comunidade foi conduzida uma discussão de grupo focal com membros

da comunidade e líderes locais, mobilizados pelo Secretário de Bairro.

Tabela 4: Resumo dos exercícios participativos (discussão de grupo focal)

Exercício Objectivo da recolha de dados

1. Mapeamento do

agregado e vizinhança

Mapear a composição do agregado típico e perceber

as relações de vizinhança.

2. Histograma Perceber as origens históricas da comunidade e os

eventos importantes que marcaram a sua existência,

desde um ponto de vista interno.

3. Mapeamento de locais

culturais e sagrados

Identificar e mapear visualmente os principais locais

culturais e religiosos/sagrados na comunidade,

perceber a relevância de cada local e os usos actuais

associados a estes.

4. Matriz de autoridade Mapear os níveis de autoridade dentro da

comunidade, a sua hierarquia, inter-relações e

influência.

5. Mapeamento de

serviços e recursos

comunitários

Identificar os serviços sociais existentes na

comunidade, e como, porquê e quando os membros

da comunidade recorrem a tais serviços.

6. Mapeamento de

mobilidade

Perceber as dinâmicas de mobilidade da comunidade

e discutir como o projecto pode afectar a sua

mobilidade.

7. Árvore de análise do

problema

Identificar as principais questões relacionadas com o

projecto que, da perspectiva da comunidade, possam

ser problemáticas ou causa de preocupação. Discutir

a relação causa-efeito entre as questões e o projecto,

e perceber como tais questões podem ser resolvidas.

As discussões do grupo focal foram conduzidas pelos antropólogos (um no papel

de moderador e o outro como tomador de notas), na língua Portuguesa com

Page 31: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

31

122

tradução simultânea para a língua local falada na comunidade. Foram tiradas fotos

e notas para cada discussão em grupo. A Tabela 16 no Anexo C resume a recolha

de dados qualitativos através dos exercícios participativos acima descritos.

3.5 Análise de Dados

Para a prospecção arqueológica, cada categoria de descoberta arqueológica

requereu uma análise detalhada com vista a definir o seu período cronológico,

como também as sequências do processo de formação individual das estações

arqueológicas. Durante a pesquisa, foi usado um método de datação tipológica

comparativa (análise tipológica) de forma a fazer uma determinação preliminar do

tipo de artefactos microlíticos e tradições de cerâmica que foram recolhidos. Esta

análise é baseada na forma das lascas de quartzo e cerâmica, os seus padrões

decorativos, a forma do recipiente (na sua maioria panelas), as tecnologias e

matérias-primas usadas para o fabrico das mesmas, com a finalidade de definir as

tradições de cerâmica e, através desta, a diversidade cultural que caracterizou as

comunidades históricas ou culturas que residiam na área.

Os artefactos da Idade da Pedra Superior (IPS) encontrados nesta área

caracterizam-se por lascas microlíticas de quartzo de diferentes tamanhos e

formas, e são indicativos da anterior ocupação da região por caçadores-

colectores, antes do seu povoamento pelos grupos falantes da língua Bantu. A

maioria das lascas de quartzo foi encontrada nos terraços do Quaternário com alta

concentração de conglomerados (pudding-stones)9, na sua maioria de quartzo. A

análise cuidadosa destes artefactos microlíticos indica semelhanças com alguns

artefactos encontrados nas proximidades de Nampula (Riane 1, Nakwaho 1,

Chakota e Muse 1) que datam de 5.000 a 1.000 B.C. (Adamowicz 1987)

Durante esta época, a África Austral já havia sido povoada pelo povo Khoisan

(Adamowicz 1987), o que implica que a área do projecto não estava

necessariamente isenta deste povo caçador-colector. Parece que toda a produção

de quartzo dos LIP, encontrada na área do projecto, faz parte dum conjunto de

indústrias microlíticas da África Austral conhecidas como indústrias Wilton. Os

artefactos microlíticos de Wilton foram primeiramente encontrados na caverna

Wilton, África do Sul no início do século 20 e são caracterizados por lâminas

curtas e largas e raspadores de ponta convexa.

Em termos de cerâmica, a olaria recolhida é na sua maioria desprovida de

padrões decorativos. Esta partilha algumas características de fabrico com a olaria

do local Nkope (Malawi do Sul), cerâmicas das camadas superiores da estação da

Matola (Sul de Moçambique) e cerâmicas da caverna de Chifumbazi (província de

Tete) (Robinson 1973; Morais 1988). Também partilha alguns elementos

decorativos, nomeadamente a incisão, ranhura cruzada e estampagem com

alguns locais do interior, que datam dos séculos 4 e 5 A.D. (Rodrigues 2006). Pois

9 O conglomerado (Pudding-stone) é o nome popular aplicado ao conglomerado de seixos

distintivamente redondos em que as suas cores contrastam com a cor da matriz ou cimento de grão

fino, geralmente arenoso que as cerca. Os seixos redondos e o contraste acentuado na cor dá este tipo

de aparência de conglomerado de uva passa ou de pudim de Natal (Prothero & Schwab, 2003).

Page 32: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

32 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

que são locais do interior que se desenvolviam ao longo das rotas de comércio,

estas características indicam em certa medida a interacção histórica entre

diferentes elementos culturais outrora residentes na área de estudo.

3.6 Limitações

O Estudo de Património Cultural enfrentou quatro limitações principais,

nomeadamente a restrição de acesso como resultado da vegetação grossa, a

revisão contínua da área do projecto e da estrada de transporte e estruturas para

a linha de energia, a falta de bibliografia publicada sobre o património cultural na

área do projecto, e finalmente a falta de mapas topográficos para a área do

projecto.

A vegetação grossa reduz a visibilidade dos artefactos arqueológicos espalhados

na superfície. Existe uma alta probabilidade que existam mais estações

arqueológicas que não puderam ser identificadas, como resultado da vegetação

grossa ou cobertura do solo.

Durante a realização do estudo de Património Cultural foi proposto um

alinhamento alternativo da estrada de transporte. Adicionalmente, decorria no local

do projecto o mapeamento de recursos geológicos (ou minerais). Devido a isto, a

área total ocupada pelo projecto ainda não foi totalmente estabelecida. Não

obstante, o presente estudo concentrou-se na Área de Prospecção 1035-L de

Tenge-Ruoni onde irá ocorrer a primeira fase da actividade mineira, como

previamente acordado com o cliente.

Por outro lado, apesar de terem sido descobertas estações arqueológicas

significantes nesta província, a zona encontra-se pobremente pesquisada no que

diz respeito aos seus recursos de património arqueológico e cultural.

Por último mas não menos importante, existe uma falta de mapas topográficos

para a área do projecto, o que a torna difícil identificar a localização de lagos, rios,

montanhas ou terraços quaternários onde possam existir estações arqueológicas

importantes. Idealmente estes indicariam a localização de potenciais estradas de

acesso ou trilhos levando a tais locais10

. Embora tenham sido consultadas as

imagens aéreas existentes (Google Earth) para estes propósitos, a resolução

destas imagens é frequentemente inadequada ou, alternativamente, ultrapassada

(5-10 anos em alguns locais).

10 A área do projecto é uma área nova e a localização da mina ainda não foi representada nos mapas ou imagens de satélite

disponíveis. O Departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade Eduardo Mondlane tem mapas de todo país nas

escalas de 1:50,000 e 1:250,000, complementadas com imagens de satélite; que poderiam ser usadas para a área do

projecto. Contudo, de forma a analisar uma área particular é necessário um datum point ou ponto de referência (em latitude

sul e longitude este). Para o projecto proposto, o datum point deve localizar-se no centro da mina de onde as projecções

possam ser feitas. Tal datum point não esteve então disponível na altura em que a pesquisa tomou lugar.

Page 33: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

33

122

3.7 Suposições

A região localizada entre os rios Zambeze e Chire na região Centro de

Moçambique, atraiu o assentamento humano no passado, como evidenciado pelas

estações arqueológicas existentes na área de estudo e região imediata. Em

conformidade com isto, e considerando a geomorfologia e os diferentes

ecossistemas (aquáticos e terrestres) que constituem a área do projecto, o

presente estudo assumiu que estações arqueológicas de diferentes períodos de

ocupação iriam existir na área do projecto; apesar da falta de informação pública

em relação a este assunto.

Há uma alta probabilidade de existirem mais estações arqueológicas na área do

projecto, para além das já identificadas no estudo.

Page 34: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

34 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

4 O Contexto Cultural da Província de Tete

4.1 Contexto

A Província de Tete localiza-se na parte inferior do Vale do Zambeze, e é

atravessada por vários dos diferentes afluentes do Rio Zambeze. Desde 1000

A.D., o Rio Zambeze desempenhou um papel fundamental na rota de

comunicação/comércio da costa do Oceano Índico até as áreas interiores, que

permitiria o estabelecimento de assentamentos humanos nos terraços elevados do

Zambeze. Como tal, com o tempo a localização estratégica da região permitiu a

interacção de diferentes elementos culturais, nomeadamente Cheua, Sena,

Marave, Shona, Nhungue e Nhanja.

Apesar desta riqueza cultural e das estações arqueológicas significantes que se

localizavam nesta província, a área encontra-se pobremente estudada em termos

de arqueologia e património cultural.

4.2 Contexto Arqueológico, Histórico e Sociocultural da Província de Tete

4.2.1 Arqueologia

A prospecção arqueológica conduzida na região de Tete em geral, e no Vale do

Zambeze em particular, pode ser dividida em dois períodos: o período colonial e o

período pós-independência.

O período colonial é caracterizado por pequenas escavações e trabalhos mais

descritivos que começaram com a Missão Antropológica para Moçambique na

década de 1930, liderada por Santos Júnior (Santos Júnior, 1940). Somente foram

feitas escavações de forma a recolher artefactos, sem que houvesse uma

descrição e análise cuidadosa da estratigrafia dos locais. Antes desta expedição

alcançar o Vale do Zambeze, havia sido conduzida uma escavação na caverna de

Chifumbazi, no norte da província de Tete, que foi a primeira escavação

arqueológica em Moçambique (1907), pelo arqueólogo Alemão Carl Wiese. Ele

recolheu fragmentos de olaria que posteriormente foram classificadas ou

categorizadas como o Complexo Chifumbazi11

(Philipson1977).

Em 1936 Santos Júnior começou a trabalhar na pré-história de Moçambique, que

culminou com a identificação de várias estações arqueológicas, incluindo pinturas

rupestres (Santos Júnior 1947) em vários locais. Durante 1937 Santos Júnior fez

uso das tradições orais de forma a descrever o amuralhado de pedra seca (na

tradição Zimbabueana) em Songo, na província de Tete. Santos Júnior (1947)

11 O Complexo Chifumbazi é um estilo de olaria das Primeiras Comunidades Agrícolas com uma ampla distribuição espacial. Foi primeiro escavada na África Austral em 1907, por Karl Wiese, na caverna de Chifumbazi, na província de Tete, Moçambique

Page 35: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

35

122

também estudou as pinturas rupestres em Malembué e outros locais de indústria

lítica na Província de Tete, onde ele recolheu vários artefactos. Em 1941 Santos

Júnior descobriu a estação da Idade da Pedra de Marissa, também localizada na

Província de Tete. Como anteriormente explicado, estas pesquisas permitiram que

ele desenvolvesse o primeiro mapa pré-histórico de Moçambique, que apresentou

todas as estações arqueológicas identificadas no país, principalmente locais da

Idade da Pedra.

Outro estudo importante no período colonial foi conduzido durante a construção da

barragem de Cahora Bassa entre 1972 e 1973, pelo geólogo Miguel Ramos que

escavou o Amuralhado do Songo. Isto desenterrou artefactos líticos, cerâmica

com decorações geométricas e escória de ferro das indústrias históricas de

produção de ferro (Ramos 1980). Além disso, nos anos 70, Rosa de Oliveira

(1973,1975) continuou a estudar as formações de arte rupestre e amuralhados na

província de Tete, culminando com a recolha de várias ferramentas de pedra e

cerâmica reflectoras da Tradição Zimbabueana em Moçambique (datando do

século 12 a 17 AD).

A pesquisa feita no pós-independência iniciou com Ramos e Rodriguez em 1978,

que trabalharam nas instituições coloniais Portuguesas de Cachomba e Zumbo

(Província de Tete), localizadas no Baixo Zambeze. Após um longo período de

pausa, na segunda metade da década de 1990, Solange Macamo (Duarte e

Macamo 1996, Macamo 2006) continuou com as pesquisas e escavações no Vale

do Zambeze. Foram escavados vários locais arqueológicos em Tete e Manica,

incluindo o local de Degue-Mufa que forneceu artefactos interessantes indicativos

de comércio à longa distância na área, na forma de artefactos tais como vidro e

missangas de ouro, como também porcelana Chinesa, depositadas no Vale do

Zambeze durante a era de ocupação colonial Portuguesa (Macamo 2006).

Um outro importante estudo arqueológico em Tete foi conduzido por Tore

Sætersdal em 2000 (Sætersdal 2004). Este arqueólogo Norueguês estudou em

detalhe a arte rupestre e descreveu os mecanismos comunitários ou tradicionais

para a proteção de locais de arte rupestre – isto é, as comunidades designando-os

de locais sagrados. Ele escavou vários locais arqueológicos com pinturas

rupestres e recolheu vários tipos de dados, na sua maioria amostras de artefactos

líticos, cerâmica e carvão vegetal para a aplicação de técnicas de datação com

carbono 14 (C14).

Estudos mais recentes em Sena, no Baixo Zambeze, feitos por Hilário Madiquida

(Macamo e Madiquida, 2004) identificaram evidências de rotas de comércio à

longa distância tais como missangas de vidro, porcelana Chinesa e Europeia,

vidro, cerâmica Swahili pintada com grafite e ocre, e vários objectos de ferro. Esta

evidência projecta o Vale do Zambeze inteiro como umas das áreas de comércio

historicamente mais activas no país. Visto que a área do projecto localiza-se na

área triangulada de três importantes estações arqueológicas da Idade do Ferro

Superior12

, é possível assumir a existência, dentro da área do projecto, de locais

que outrora estiveram activos nesta rede de comércio à longa distância.

12 Degue-Mufa a norte, Sena a Sul, Culturas Kapeni e Msulusi no Sudeste do Malawi.

Page 36: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

36 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

4.2.2 Contexto Histórico

A área de estudo localiza-se na continuidade a sul do Grande Vale do Rift e é de

grande interesse para o estudo da origem do homem durante o período

Cenozóico, como também o Plioceno e Pleistoceno13

. No Vale do Rift existem

rastros bem conhecidos dos primeiros hominídeos (Australopithecus e Homo

genus) encontrados no desfiladeiro de Olduvai (Tanzânia) e, até ao norte, em

Quénia e Etiópia.

A idade do ferro desenvolveu-se nesta região desde os primeiros séculos AD,

ligada aos inícios da vida sedentária, agricultura e desenvolvimento de produção

de pequena escala, como demonstrado (desde um ponto de vista de importância

arqueológica) pelo início da produção de cerâmica. As características desta

cerâmica, em particular a sua decoração, permitem a distinção entre diferentes

tradições que os arqueólogos relacionam com diferentes grupos populacionais

durante a Idade do Ferro Inferior. Estas populações são categorizadas por

períodos; sendo os primeiros séculos AD 0-150 para as tradições Urewe e Kwale

Matola, e por volta de 200 500 AD para outras tradições tais como Nkope,

Gokomere, e Lydenburg (Duarte 1996, Morais 1988).

Os artefactos mais antigos para a tradição Urewe – como também os artefactos

para a tradição costeira (Kwale - Matola) – são atribuídos ao período do primeiro-

segundo século AD. O local da Matola localiza-se na região Sul de Moçambique

(Morais 1988), próximo de Maputo. Os assentamentos dos planaltos interiores,

pertencentes às tradições Nkope, Gokomere/Ziwa e Lydenburg são

cronologicamente mais recentes. A tradição Nkope (correspondente à zona Este

da área de estudo) é atribuída ao ano 300 AD.

Com vista a perceber a história recente da área de estudo, desde o início do

segundo milénio AD, deve-se ter em conta que a área localiza-se entre dois

grandes vales: o Vale do Zambeze e o Vale de Chire, que no passado serviram de

corredores de comunicação entre a costa e o interior.

Ao longo do vale do Rio Chire ao Sul de Malawi, Juwayeyi localizou e escavou

vários locais arqueológicos das culturas Kapeni e Msulusi (Juwayeyi, 1993), a

maioria das quais estavam associadas ao comércio a longa distância. Várias

actividades foram desenvolvidas nesta região como resultado deste comércio, tais

como a caça em larga escala, escravatura e mineração com ênfase na produção

tradicional de ferro, na qual os Maraves eram artesãos habilidosos como reportado

por Gamitto na sua interessante descrição duma expedição feita em 1831 e 1832

da cidade de Tete até o reino de culturas Mwata Kazembe / Lunda (Gamitto 1854:

76):

“Os minerais aqui conhecidos são o ouro, estanho, e ferro; este último é

encontrado em grande abundância em pedaços na superfície da terra, em que não

é necessário cavar para recolher; o ouro é usado principalmente para fazer

13O período cenozóico, também conhecido como Idade dos Mamíferos, é o período em que os continentes moveram-se para

as suas actuais posições. Cobre o período de tempo desde 66 milhões atrás até a presente data. Está subdividido em seis épocas geológicas, das quais duas são a Plioceno e Pleistoceno. O Plioceno estende-se de 5.333 milhões a 2.58 milhões de anos atrás. O Pleistoceno, que segue a época Plioceno, estende-se de cerca de 2,588,000 a 11,700 anos atrás.

Page 37: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

37

122

enxadas, machados, facas, lanças e azagaias; os artefactos de ferro são

produzidos por ferreiros Maraves e são tão polidos como se fossem produzidos

por ferramentas Europeias”.

Desde os inícios do segundo milénio AD o Rio Zambeze estabeleceu-se como um

meio importante para penetração do mercado para o interior. Este facto esteve

ligado ao desenvolvimento da cidade de Tete, que localiza-se no final do curso

navegável deste grande rio (a montante desta área encontra-se o Desfiladeiro de

Lupata, que veda a passagem ou navegação via barco).

A segunda metade do segundo milénio foi caracterizada por uma interacção

intensa entre diferentes grupos populacionais (Tonga, Nyungwe e um pequeno

grupo de Muçulmanos) e colonos locais, que levou à construção de inúmeras vilas

fortificadas tais como os amuralhados de pedra seca do Zimbabwe (notavelmente

Aringa e Muti) quer em pedra ou em paliçada. Estas vilas eram centros

prestigiosos de comércio com importantes funções defensivas, onde dentro do

amuralhado o rei vivia e consumia produtos exóticos da Ásia (Macamo 2006).

Dentre estes encontra-se um importante monumento arqueológico na província de

Tete, a construção Zimbabweana do amuralhado de pedra do Complexo de

Songo14

, reportado como sendo indicativo da expansão do povo Shona nesta área

(Duarte e Macamo, 1996). Alguns destes assentamentos também são descritos

por Gamitto nos seus relatos da expedição de 1831-1832 (Gamitto, 1854).

4.2.3 Práticas Socioculturais

A província de Tete contém tradições culturais muito ricas que reflectem a

interacção de diferentes elementos culturais, indicando a influência de vários

grupos étnicos com o passar do tempo. Por exemplo, os presentes e orações para

a chuva feitos para a piton africana (Python sebae), ou cerimónia Tsato15

, indicam

uma origem Marave (Isaacman 1972b). Esta cerimónia é considerada mais

importante do que a cerimónia de veneração do espírito ancestral, e as florestas

em volta dos lugares sagrados onde a cerimónia de Tsato toma lugar são

protegidas pelas comunidades locais.

A área de estudo está associada a vários mitos e cerimónias mágico-religiosas

baseadas em várias crenças. De acordo com os dados recolhidos no campo com

líderes comunitários para o presente estudo, quarto cerimónias são consideradas

como sendo de maior importância pela população local. Para executar estas é

necessário um líder, ou líderes, que são responsáveis pela sua implementação.

Abaixo segue a descrição de cada cerimónia, com base no testemunho dos

líderes comunitários:

1. Cerimónia da Chuva: esta cerimónia é considerada a mais importante de todas

porque a área é habitada na sua maioria por camponeses, cuja subsistência é

14Zimbabwe-dzimba-dza-mabwe, ou "casas grandes de pedra" são locais arqueológicos com larga distribuição na África Austral. Estes caracterizam-se por edifícios de amuralhados de pedra justapostos sem qualquer argamassa. Em Moçambique existem vários locais arqueológicos com esta tradição, tais como os locais de Songo (Província de Tete), Niamara (Província de Manica) e Manyikeni (Província de Inhambane). 15Tsato é o nome local para a piton Africana cujo espírito acredita-se ser um totem poderoso para a cerimónia de chuva (Isaacman 1972b).

Page 38: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

38 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

baseada na agricultura de subsistência praticada a nível familiar. A cerimónia é

realizada pelos membros da comunidade, na sua maioria homens, que vão ao

local sagrado onde eles acreditam que a Tsato vive, carregados de ofertas para o

espírito. Aquando da sua chegada ao local sagrado, o líder da cerimónia oferece a

bebida e comida tradicional ao Tsato e começa a invocar o seu espírito. Minutos

depois ele entra em transe para comunicar com o espírito, que depois pede pela

chuva. A comunidade acredita neste espírito pois a cobra Tsato vive na água e o

seu espírito está conectado com a água, portanto onde esta vive, a água nunca

secará;

2. Cerimónia fúnebre para uma pessoa falecida: a cerimónia fúnebre é orientada

por três pessoas que realizam os serviços e marcam a campa para o enterro do

falecido. A cova tem a profundidade de aproximadamente 2-3 metros onde o

falecido é colocado. O buraco é coberto por paus, esteiras e capim depois das

quais é tapado com areia. Após o funeral ter sido realizado, as mesmas três

pessoas vão ao domicílio do falecido, onde realizam vários rituais para espantar

os maus espíritos da família do enlutado. Após o funeral a campa não é mais

visitada, e sim é abandonada para sempre. Contudo, os cemitérios continuam a

ser usados para novos enterros e são considerados locais sagrados pelas

comunidades locais. Apesar da prática de abandono de campas, os membros da

comunidade acreditam que os espíritos ancestrais estão presentes na vida diária

e, de forma a obter a sua proteção e boa sorte, são necessárias cerimónias de

veneração destes espíritos;

3. Cerimónia de veneração dos espíritos ancestrais: de acordo com os membros

da comunidade contactados na área de estudo, esta cerimónia é menos

importante do que as duas primeiras. A cerimónia é realizada a nível domiciliar

quando a família é afectada por qualquer enfermidade ou doença. A cerimónia

toma lugar no quintal da casa, num lugar seleccionado para cada cerimónia,

nomeadamente uma árvore ou palhota construída para este propósito. A

transferência destes locais de cerimónia é simples – a areia do local sagrado ou

palhota é removida e transferida para um novo local, com a evocação dos

espíritos adorados; e

4. Rito de iniciação Nyau: Nyau é uma dança tradicional associada a vários mitos.

Nos dias que precedem dança, os dançarinos (as crianças a serem iniciadas e o

seu mestre) fingem viajar e desaparecem da comunidade com o propósito de não

serem reconhecidos no dia da dança. A iniciação começa e as crianças são

isoladas numa floresta sagrada onde ficam vários meses com o Mestre Nyau, que

lhes ensina a dança e eles incorporam o espírito do dançarino de Nyau. A entrada

de qualquer pessoa ao local de iniciação, para além do mestre e seus iniciados, é

estritamente proibida.

Page 39: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

39

122

5 Resultados A presente secção apresenta os resultados do estudo, de acordo com os dados

recolhidos nas oito comunidades pesquisadas na área do Projecto (Massamba,

Matacale, Muchena, Mbuzi, Nhambia, Chianga, Tenge e Mboza, todas

indirectamente afectadas).

5.1 Resumo

A pesquisa conduzida na área do projecto permitiu a identificação de quatro

categorias de locais de património cultural:

1 Estações arqueológicas;

2 Locais de Património Histórico/ Construído;

3 Lugares e florestas sagradas;

4 Cemitérios e florestas.

Todos os locais de património cultural mapeados foram identificados e localizados

com o apoio dos líderes comunitários. Para as comunidades afectadas pelo

projecto, os resultados de mapeamento fazem uma distinção entre os locais

directamente afectados (i.e. localizados dentro da zona tampão da área de

detonação da mina) e locais indirectamente afectados (i.e. localizados desta e

dentro do CdI).

5.1.1 Estações arqueológicas

A área de estudo apresenta uma geologia granítica da Idade Pan-africana da Era

Proterozóica. Encontram-se algumas formações de quartzo em diferentes áreas

sob forma de conglomerados (pudding-stones), como resultado dos processos

deposicionais aluviais que formaram os terraços ribeirinhos (Tucker, 1982). As

áreas pesquisadas têm uma alta concentração de artefactos microlíticos com

diferentes formas e tamanhos. Durante a prospecção arqueológica foram

identificadas seis estações arqueológicas importantes: duas estações da Idade da

Pedra Superior (IPS) e quatro estações da Idade do Ferro (IF).

Os locais de IPS caracterizam-se por artefactos microlíticos feitos de quartzo e

datados de 7.000 a 5.000 AC através da análise tipológica (Adamowicz 1987).

Os locais da Idade do Ferro dividem-se em dois períodos principais, Idade do

Ferro Inferior, datada de 400 AD, com características cerâmicas da olaria da

caverna de Chifumbazi; e Idade do Ferro Superior datada entre os séculos 14 e

17, com características cerâmicas encontradas na costa de Moçambique.

As descobertas arqueológicas na área de estudo são de grande importância pois

são a primeira evidência arqueológica de espécimes identificados nesta área, e

mostram uma diversidade significante no material encontrado. A identificação de

estações arqueológicas é frequentemente um processo complexo e raramente

acontece que, em áreas tão pequenas como a área de estudo, sejam identificadas

várias estações arqueológicas, variando da Idade da Pedra à Idade do ferro. A

Page 40: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

40 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

identificação das seis estações arqueológicas (duas estações da Idade da Pedra

Superior e quatro estações da Idade do Ferro) mostra o grande potencial

arqueológico da área de estudo.

Existe uma estação arqueológica com potencial de ser directamente afectada pelo

projecto. Este é a estação arqueológica da Idade do Ferro Inferior, localizada na

comunidade de Tenge-Makodwe, no centro da área preliminar de mineração (vide

Tabela 5 abaixo). Este local será inevitavelmente destruído pela actividade mineira

de acordo com o actual desenho do projecto, e é importante garantir que sejam

implementadas medidas de investigação e resgate adequadas, conforme discutido

na Secção 6.

Isto implica que a área de estudo tem um considerável potencial arqueológico,

embora a identificação e estudo de estações adicionais esteja impedida pela

grossa vegetação que caracteriza a área de estudo, como previamente discutido.

Dos locais de património cultural identificados na área do projecto, um local – a

estação arqueológica de Tenge-Makodwe – localiza-se dentro da área tampão de

detonação da mina e é portanto directamente afectada pelo projecto, requerendo a

proteção prevista na Constituição da República de Moçambique de 2004 e na Lei

10/88, como explicado na Secção 2. Todos os locais de património cultural

remanescentes localizam-se fora da área de detonação da mina e somente são

indirectamente afectados pelo projecto.

A proteção referida nestas ferramentas legais não implica necessariamente a

delimitação duma área a ser protegida. Esta proteção também pode ser garantida

através da transferência de artefactos ou relíquias importantes para um novo local

com vista à sua preservação e proteção, junto com a escavação de estações

arqueológicas e recolha científica de artefactos antes da ocorrência duma

actividade que irá causar impacto em tais locais.

A Tabela 5 abaixo apresenta as estações arqueológicas identificadas na área do

projecto, conforme estejam directa ou indirectamente afectadas pelo projecto:

Tabela 5: estações arqueológicas na área do projecto

Nº Local Evidência

encontrada

Dentro da área de

detonação

Dentro do CdI

Fora do CdI (5km-10km)

1 Estação Arqueológica Microlítica de Mbuzi

Micrólitos

Não Sim

Nenhuma

2

Estação Arqueológica Microlítica de Mbuzi/Chianga

Não Sim

3 Estação Arqueológica de Chindije

Cerâmica

Não Sim

4 Estação Arqueológica de Chindije 2

Não Sim

5 Estação Arqueológica de Tenge

Sim Sim

6 Estação Arqueológica de Muchena

Não Sim

Total

6 0

Page 41: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

41

122

A Figura 3 abaixo ilustra as estações arqueológicas identificadas na área do

projecto.

Page 42: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

42 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

Figura 3: Estações arqueológicas na área do projecto

Page 43: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

43

122

5.1.2 Locais Históricos

Foram encontrados inúmeros locais históricos na área do projecto, incluindo

edifícios do governo colonial Português, um carro a vapor e várias ruínas

históricas na área de Muchena e ruínas duma cantina colonial na área de Mbuzi.

Estes locais encontram-se ilustrados na Figura 4 abaixo.

As ruínas históricas de Muchena incluem vários monumentos que datam do século

18, quando o Português Gonçalo Caetano Pereira, nascido em Goa (Índia),

estabeleceu-se nas margens do Rio Revúboé em 1760. Todos os edifícios

encontram-se actualmente em ruínas.

Provavelmente já no primeiro século AD, o Vale do Zambeze serviu de corredor de

comunicação entre a costa e o interior, desenvolvendo vários postos de comércio

ao longo das suas margens. De acordo com Lobato (1996: 169), por volta de 1760

Gonçalo Caetano Pereira estabeleceu-se nas margens do Rio Revúboé

(Muchena), ao norte da Província de Tete. Ele consolidou o seu poder sob o

patronato do estado Undi e outros líderes Maraves, e iniciou relações comerciais

com o estado de Lunda sob o domínio de Mwata Kazembe, que teoricamente ficou

subjugado a Gonçalo Caetano Pereira. O trabalho de Lobato (1996) descreve a

importância das ruínas de Muchena no estudo do comércio a longa distância e a

dinâmica da rede mercantil no vale do Baixo Zambeze. Tendo isto em

consideração, as ruínas de Muchena são o local histórico mais importante

identificado na área do projecto.

Como explicado na Secção 2, os locais de património cultural são protegidos pela

Constituição da República de Moçambique de 2004 e pela Lei 10/99 de Proteção

de Florestas e Fauna Bravia. A proteção referida nestas ferramentas legais não

implica necessariamente a delimitação duma área a ser protegida e pode também

ser garantida através da transferência de locais importantes para um novo local,

escavação de estações arqueológicas e recolha científica de artefactos. Apesar

disto, nenhum dos locais históricos identificados na área do projecto localizam-se

dentro da zona tampão de detonação da mina. Todos os locais históricos,

incluindo as ruínas históricas de Muchena, localizam-se fora da área de impacto

directo (área de detonação da mina) e dentro da zona tampão de 5km.

A Tabela 5 abaixo apresenta os locais históricos identificados na área do projecto,

conforme estes estejam directa ou indirectamente afectados pelo projecto:

Tabela 6: Locais históricos na área do projecto

Nº Local

Dentro da área de detonação

Dentro do CdI

Fora do CdI (5km-10km)

1 Ruínas de Muchena – local 1 Não Sim

Nenhuma

2 Ruínas de Muchena - local 2 Não Sim

3 Antigas Cisterna e Administração Colonial Não Sim

4 Primeiro poço Colonial Não Sim

5 Primeiro carro a vapor colonial Não Sim

6 Ruínas de Mbuzi Não Sim

Total 6 0

Page 44: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

44 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

Figura 4: Locais históricos na área do projecto

Page 45: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

45

122

5.1.3 Lugares sagrados

As florestas ao redor dos lugares sagrados onde ocorre a cerimónia Tsato, são

protegidas pelas comunidades locais. Os líderes comunitários entrevistados

disseram que é importante preservar estes locais sagrados, porque é difícil

identificar novos locais onde existe a Tsato. Os lugares sagrados não são áreas

extensas (em alguns casos, apenas uma única árvore) e a sua preservação não

seria difícil. A lei Moçambicana exige a proteção e a preservação dos locais de

culto, se estes forem muito importantes para as comunidades locais que os usam.

No entanto, a transferência de tais locais ou lugares para uma nova localização

poderia ser discutida com a comunidade que os usa, com vista a transferi-los para

uma localização segura e, ao mesmo tempo, manter o seu significado.

Os lugares sagrados situados na área do projecto são considerados lugares

secundários para as cerimónias Tsato. As comunidades têm outros lugares

sagrados principais onde realizam cerimónias da chuva importantes. Enquanto os

lugares sagrados secundários estão localizados mais próximos das comunidades,

os lugares sagrados principais estão mais distantes, a uma distância aproximada

de 20 km para a maioria das comunidades, compostos principalmente por

montanhas com florestas sagradas associadas. As comunidades viajam para os

lugares sagrados principais para realizar as cerimónias de chuva, quando a chuva

não é propiciada pelas cerimónias realizadas nos lugares secundários.

As discussões de grupo focal indicaram que a socialização, ou as relações e

interacções sociais quotidianas, são uma parte importante da vida da comunidade

na área do projecto. Esta é acentuada pelas cerimónias sagradas e rituais sociais,

mas também ocorre no dia-a-dia. Este facto sublinha os fortes laços sociais das

comunidades na área do projecto.

As árvores sagradas também servem de locais de reunião da comunidade (tal

como exemplificado na Figura 1 abaixo). Além disso, mulheres de todas as idades

socializam na moageira comunitária, enquanto cultivam as suas parcelas agrícolas

e quando vão buscar água, tomar banho ou lavar roupa no rio; e os homens

socializam nas barracas de bebida.

Page 46: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

46 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

Figura 1: Local de reunião da comunidade, Mbuzi

As discussões de grupo focal revelaram que as cerimónias sagradas e sociais, tais

como a cerimónia de chuva Tsato, são geralmente conduzidas pelo líder da

comunidade e muitas vezes envolvem todos os membros da comunidade na sua

preparação e execução. A decisão de realizar tal cerimónia é também tomada de

forma colectiva, como explicado na Secção 4.2.3.

O líder comunitário também mobiliza os membros da comunidade para apoiar

famílias em momentos de sofrimento (por exemplo, em caso de funeral ou casa

incendiada); e os membros da comunidade são prestativos. Apesar das suas

limitações em recursos materiais, estas redes activas de apoio social são

importantes para dar resposta à vulnerabilidade temporária ou permanente de

membros da comunidade nas comunidades em estudo.

A Tabela 7 abaixo apresenta os lugares sagrados identificados na área do

projecto, conforme sejam directa ou indirectamente afectados pelo projecto:

Page 47: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

47

122

Tabela 7: Lugares sagrados identificados na área do projecto

Nº Local Evidência

encontrada

Dentro da área de

detonação

Dentro do CdI

Fora do CdI

1 Lugar Sagrado de Nhampumbuza (cerimónia de chuva)

Árvore (Baobá) Potes de Água

Não Sim

2 Lugar Sagrado de Nhampondoro (cerimónia da chuva)

Não Sim

3 Lugar Sagrado de Kagoma (cerimónia da chuva)

Não Sim

4 Floresta Sagrada para Iniciação Nyau

Não Sim

5 Lugar Sagrado de Kaningue (cerimónia da chuva)

Não Sim

6 Lugar Sagrado de Ntumbwi (cerimónia da chuva) Não Não

7 Lugar Sagrado de Kachere (cerimónia da chuva) Não Não

8 Lugar Sagrado de Chitongue (cerimónia da chuva) Não Não

9 Local Sagrado de Iniciação para Rapazes Não Não Sim

10 Lugar Sagrado de Kanjetsa (cerimónia da chuva)

Não Sim

11 Lugar Sagrado de Massamba (cerimónia da chuva)

Não

Sim

12 Lugar Sagrado de Chimuala (cerimónia da chuva)

Não Sim

13 Lugar Sagrado de Mulambe (cerimónia da chuva)

Não Sim

14 Lugar Sagrado de Ntowe (cerimónia da chuva)

Não Sim

15 Lugar Sagrado de Ntenje/Macodwe (cerimónia da chuva)

Não Sim

Total 13 2

A Figura 5 abaixo ilustra a localização dos lugares sagrados identificados na área

do projecto.

Page 48: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

48 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

Figura 5: Lugares sagrados na área do projecto

Page 49: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

49

122

5.1.4 Cemitérios e Florestas sagradas

Na área do projecto, os cemitérios não são mantidos: após o enterro a campa é

completamente abandonada e a floresta circundante, que se torna associada ao

cemitério, é considerada sagrada e não é permitido o derrube de árvores nestas

áreas.

Tradicionalmente, os cemitérios são divididos em três grupos: de adultos, de

crianças e de recém-nascidos. É estritamente proibida a entrada de homens no

cemitério de recém-nascidos: quando as mulheres enterram o feto morto ou a

criança recém-nascida, elas realizam uma cerimónia para garantir que tal

"crueldade" não aconteça novamente. Acredita-se que se um homem passar por

tal lugar ele pode transportar consigo uma malícia e transmiti-la à sua família.

Tal como para os locais sagrados, os cemitérios e florestas sagradas associadas

são protegidos pela Constituição da República de Moçambique de 2004 (o Artigo

54 assegura a proteção aos locais de culto) e pela Lei 10/99 sobre a Proteção dos

Recursos Florestais e da Vida Selvagem (o Artigo 13 defende as áreas reservadas

para a proteção das florestas com um interesse religioso e outros locais de

importância histórica e de uso cultural).

Os cemitérios não são limpos nem visitados pelos familiares. Este aparente estado

de abandono no qual se encontram torna difícil localizar as campas existentes,

porque estas estão cobertas com capim muito alto ou processos naturais de

deposição. Apesar do seu aparente estado de abandono, os cemitérios são

importantes para as comunidades locais, porque é onde descansam os espíritos

dos seus antepassados.

Na área de estudo as florestas sagradas são divididas em três grupos: 1) florestas

sagradas associadas a cemitérios, 2) florestas sagradas para ritos de iniciação

Nyau e 3) florestas sagradas associadas a lugares sagrados. No entanto, o

trabalho de campo realizado para este estudo indica que nenhum cemitério ou

lugar sagrado está localizado dentro da zona tampão da área de detonação da

mina.

A Tabela 8 abaixo detalha os cemitérios e campas isoladas identificadas na área

do projecto, conforme sejam directa ou indirectamente afectados pelo projecto:

Page 50: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

50 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

Tabela 8: Cemitérios e campas isoladas identificadas na área do projecto

Nº Local Evidência

encontrada

Dentro da

área de

detonação

Dentro

do CdI

Fora do CdI

(5km-10km)

1 Cemitério para Adultos em Kagoma Campas Não Sim

2 Cemitério para Adultos em Muchena Não Sim

3 Cemitério para Crianças em Muchena Não Sim

4 Cemitério para Adultos em Ntenje Não Sim

5

Cemitério Abandonado para Adultos

em N’siga Não Sim

6 Cemitério para Adultos em Chissi Não

Sim

7 Campa Isolada de Adulto Não Sim

8 Duas Campas Isoladas de Adultos Não Sim

9

Novo Cemitério para Adultos com

Duas Campas Não Sim

10

Cemitério para Recém-nascidos

(Floresta Sagrada em Mbuzi) Não Sim

11 Cemitério para Crianças em Njenjema Não

Sim

12

Cemitério Familiar para Adultos em

Matsitsi Não

Sim

13 Cemitério para Adultos em Kachenga Não Sim

14

Cemitério para Crianças em

Kachenga Não

Sim

15 Cemitério para Adultos em Mbuzi Não Sim

16 Cemitério para Adultos em Mitumbwi Não Sim

17 Cemitério para Adultos em Mitole Não Sim

18 Cemitério para Crianças em Nhatsitsi Não Sim

19 Cemitério para Crianças em Ntenje Não Sim

Total 15 4

A Figura 6 abaixo ilustra os cemitérios e as campas isoladas identificadas na área

do projecto.

As discussões de grupo focal revelaram que as comunidades inquiridas têm

sentimentos contraditórios em relação à transferência física de locais sagrados.

Duas comunidades, Matacale e Mbuzi (ambas indirectamente afectadas pelo

projecto), explicaram claramente que não é possível mover os cemitérios ou as

campas para outra localização física, visto que isso mandaria embora os espíritos

dos antepassados – e a sua proteção decorrente que lhes concede uma vida bem-

sucedida. No entanto, as restantes comunidades afirmaram poder ser possível

transferir as campas, aguardando primeiramente a autorização da família afectada

e a execução de cerimónias rituais específicas relevantes à realocação de

campas, e oferecendo ainda alguma forma de compensação à família afectada.

Adicionalmente, duas comunidades, Matacale e Mboza (também indirectamente

afectadas pelo projecto) também afirmaram que não é possível transferir os locais

sagrados associados com a cerimónia da chuva Tsato (árvore e montanha

Page 51: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

51

122

sagradas) para outro local, visto que isso vai diminuir a sua capacidade cerimonial

de atrair a chuva.

A comunidade de Mbuzi mencionou espontaneamente que os investidores

estrangeiros devem procurar obter a autorização das lideranças locais para

implementar o seu investimento, antes de iniciá-lo. Esta autorização é geralmente

concedida através da realização de cerimónias rituais.

A Figura 7 abaixo mostra a localização destes locais na área do projecto.

Page 52: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

52 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

Figura 6: Cemitérios na área do projecto

Page 53: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

53

122

Figura 7: Locais sagrados e cemitérios mencionados pelas comunidades como intransferíveis

Page 54: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

54 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

6 Potenciais Impactos Associados ao Projecto

6.1 Visão geral

Esta secção refere-se às conclusões elaboradas a partir do estudo das oito

comunidades localizadas dentro do CdI, afectadas tanto directa como

indirectamente pelo projecto, como indicado na Tabela 10 abaixo. Tal como

anteriormente explicado nas Secções 1.3 e 3.3, apenas as comunidades e os

bens culturais a serem potencialmente afectados pelo projecto, mesmo que

indirectamente, foram considerados para efeitos de avaliação de impacto. Uma

descrição detalhada da metodologia aplicada para a avaliação dos potenciais

impactos induzidos pelo projecto é disponibilizada no Anexo B.

6.2 Resumo dos Impactos Identificados

O estudo identificou um rico património cultural e estações arqueológicas dentro

da área do projecto. No entanto, extensas áreas não foram pesquisadas devido a

limitações causadas pela densa vegetação, principalmente nos terraços fluviais

perto dos rios, onde provavelmente existem estações arqueológicas importantes.

Os principais impactos potenciais do projecto aqui identificados são referentes ao

património construído de valor histórico, vestígios arqueológicos e locais sagrados

tais como aqueles utilizados para a realização de cerimónias da chuva (por favor,

consulte a Secção 4.2.3). Estes impactos do projecto relacionam-se com a

destruição e perda de ruínas históricas, normas ou valores culturais e vestígios

arqueológicos, campas / cemitérios e locais sagrados.

Adicionalmente, todos os lugares sagrados e cemitérios identificados têm florestas

sagradas ou locais no mato a eles associados. Os dados recolhidos no campo

mostram que todos os locais sagrados e cemitérios identificados são actualmente

usados pelas comunidades da área do projecto. A cerimónia da chuva é realizada

no período chuvoso e os cemitérios são visitados quando falece um membro da

comunidade. Alguns lugares sagrados estão localizados a uma distância de 20 km

das comunidades que os utilizam, o que revela a importância destes locais (e as

cerimónias neles realizadas) para as comunidades locais. Além disso, algumas

das comunidades inquiridas afirmam que esses locais não são transferíveis para

um novo lugar, porque os espíritos a eles associados (quer a cobra Tsato, para a

cerimónia da chuva ou o espírito dos antepassados, para culto) não se deslocam

para outros locais e, assim, um novo local perde a força espiritual ou a capacidade

para realizar cerimónias.

Page 55: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

55

122

6.3 Impactos Negativos

6.3.1 Impactos sobre o Património Construído

Impacto: Remoção de Património Cultural Não Replicável

As ruínas históricas são monumentos que não podem ser realocados, devido à

sua natureza e origem. As ruínas históricas de Muchena, localizadas na área do

projecto, consistem de edifícios do período colonial Português. Actualmente as

ruínas estão num estado tão degradado que não podem ser transferidas para uma

nova localização. Sendo assim, a medida mais adequada para lidar com estas

ruínas seria de reabilitá-las in situ (isto é, no local onde se encontram), porque

uma vez destruídas, não será possível reconstruí-las.

As ruínas de Muchena estão localizadas fora da zona tampão estabelecida para a

área de detonação da mina. Sendo assim, conforme o desenho do projecto e os

resultados da avaliação da detonação para a área de mineração, as ruínas de

Muchena não serão directamente afectadas pela actividade de mineração. No

entanto, se ocorrerem mudanças futuras no desenho do projecto (incluindo a

mineração nas áreas licenciadas 1032-L e 1033-L), deve ser feita uma avaliação

do seu potencial impacto sobre este local de património cultural.

Além disso, a reabilitação in situ das ruínas de Muchena daria um forte contributo

para a preservação do património cultural na área do projecto e, em última análise,

na Província de Tete. Sendo assim, a recomendação para reabilitar as ruínas in

situ é feita com o objectivo de torná-las num centro educacional sobre a história da

região.

Sem mitigação

De acordo com o desenho do projecto e a avaliação da detonação para a área de

mineração, as ruínas de Muchena não serão afectadas pela actividade de

mineração (veja a Secção 5.1.2 para localizar as ruínas em relação à área de

detonação). Diante disto, e do estado degradado das ruínas, se não forem

implementadas as medidas de mitigação propostas, o impacto terá uma

significância "negativa baixa".

Com mitigação

A conservação das ruínas históricas poderia ajudar a actividade de pesquisa

dedicada à reconstrução da história local e ao estudo das dinâmicas comerciais

entre os Portugueses e o povo Marave. Além disso, alguns compartimentos das

ruínas poderiam ser usados para a exposição do material arqueológico encontrado

na área, no Centro Educacional proposto abaixo. Com a implementação das

medidas de mitigação propostas (ruínas protegidas e conservadas no seu

contexto original), o impacto vai ter uma significância "positiva alta".

Declaração de significância

Page 56: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

56 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

Impacto Efeito Risco ou

probabilidade

Significância

geral Temporal Espacial Severidade

Fase de Construção

Sem

mitigação Permanente Localizado Ligeiro Improvável BAIXA

Com

mitigação Médio Prazo Regional Benéfico Provável ALTA

Fase de Operação

Sem

mitigação Permanente Localizado Ligeiro Improvável BAIXA

Com

mitigação Longo Prazo Regional Benéfico Provável ALTA

Medidas de mitigação

São recomendadas as seguintes medidas de mitigação:

› Classificação das ruínas históricas localizadas na área do projecto como

monumentos históricos, pelo Conselho Nacional do Património Cultural, a

fim de evitar a sua destruição;

› Criação de um Centro Educacional sobre a história da região, baseado nas

ruínas de Muchena. O centro educacional pode incluir exposições do

património arqueológico e etnológico encontrado na área do projecto, tais

como artefactos arqueológicos, máscaras Nyau e potes cerimoniais

sagrados tradicionais;

› Garantir acesso público aos vestígios arqueológicos, mediante autorização

emitida pela entidade mineradora, respeitando os procedimentos de

segurança de mineração.

6.3.2 Impactos sobre os Vestígios Arqueológicos

Impacto: Remoção de Património Cultural Não Replicável

As estações arqueológicas localizadas na área do projecto são locais ao ar livre, o

que implica que, uma vez removidas não será possível reconstruí-las no novo

local. A única medida de mitigação possível de se aplicar a estes locais é a

remoção, por meio de técnicas internacionalmente aceites.

É importante notar que, das seis estações arqueológicas identificadas na área do

projecto, apenas uma está directamente afectada pelo projecto, pois está

localizada dentro da área de detonação da mina (zona tampão de 1,020 m) e

requer medidas de mitigação. Esta é a estação arqueológica localizado na

comunidade de Tenge Makodwe, mostrado na Secção 5.1.1 e no Anexo A: As

restantes cinco estações arqueológicas estão localizadas fora da área de

detonação da mina e não serão afectadas pela actividade mineradora, portanto,

não se consideram como sendo directamente afectadas pelo projecto.

Page 57: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

57

122

Como referido acima, o processo de mineração é baseado em técnicas de

escavação profunda. As camadas (arqueológicas) culturais16

são geralmente

camadas superficiais (subsolo) e isso torna-as facilmente vulneráveis à destruição.

Como argumentado anteriormente, a prospecção realizada para o presente estudo

mostra um elevado potencial de artefactos arqueológicos de diferentes períodos

de ocupação humana, nomeadamente da Idade da Pedra Superior, Idade do Ferro

Inferior e Idade do Ferro Superior, na área do projecto. Devido à densa vegetação

da área de estudo, é muito provável que sejam descobertos locais de património

cultural adicionais ou que sejam identificados quando começar o processo de

desmatamento para a actividade mineradora ou a construção da infra-estrutura

associada. O mesmo aplica-se para a mineração futura nas áreas de concessão

1032-L e 1033-L. Sendo assim, as medidas de mitigação aplicáveis à estação

arqueológica de Tenge-Makodwe podem também aplicar-se a locais de património

cultural adicionais identificados no processo de desmatamento.

Sem mitigação

Os vestígios arqueológicos serão definitivamente destruídos e as camadas

culturais misturadas, devido à maquinaria pesada que irá realizar escavações

profundas durante a fase de construção e no curso da actividade mineradora (fase

de operação). Sem a implementação das medidas de mitigação propostas, o

impacto terá uma significância "negativa alta".

Com mitigação

Quando encontrados vestígios arqueológicos através das operações de

mineração, estes devem ser cientificamente escavados à superfície e quaisquer

camadas encontradas abaixo destes devem ser estudadas mais tarde. Os

artefactos arqueológicos recuperados podem ser utilizados para exposição nos

museus locais ou para fins científicos, por exemplo, os vestígios históricos

mencionados acima. Com a implementação das medidas de mitigação propostas,

o impacto terá uma significância "negativa moderada”.

Declaração de significância

Impacto Efeito Risco ou

probabilidade

Significância

geral Temporal Espacial Severidade

Fase de Construção

Sem

mitigação Permanente

Área de

estudo Severo Efectivo ALTA

Com

mitigação Permanente

Área de

estudo Moderado Efectivo ALTA

Fase de Operação

Sem

mitigação Permanente

Área de

estudo Severo Efectivo ALTA

Com

mitigação Permanente

Área de

estudo Moderado Provável MODERADA

16

O termo "camada cultural" refere-se às camadas de sedimentos formadas como resultado da actividade humana.

Page 58: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

58 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

Medidas de mitigação

O processo de mineração exigirá métodos específicos de monitoria arqueológica:

› É aconselhável começar com a escavação imediata das estações / vestígios

arqueológicos identificados na área de mineração, antes do início da

construção do projecto e / ou actividades mineradoras;

› Um arqueólogo baseado permanentemente na área do projecto deve

monitorar e realizar escavações durante a fase de construção. Deve ser feita

monitoria contínua durante a fase de operação por pessoal competente e

adequadamente formado, a fim de evitar a destruição das camadas culturais

e a perturbação de artefactos arqueológicos que se encontram no seu

contexto primário.

6.3.3 Impactos sobre as Práticas Socioculturais

Impacto: Acesso reduzido a campas familiares e aos locais sagrados da comunidade

Como já foi explicado, a área do projecto abrange um número de comunidades

com locais sagrados e religiosos que são importantes para o bem-estar espiritual

da população local. Estes incluem campas familiares, cemitérios comunitários e

locais sagrados tais como locais de ritos de iniciação, montanhas sagradas e

locais sagrados onde a cerimónia da chuva é realizada. Estes locais estão

localizados perto das comunidades, exceptuando os locais para ritos de iniciação

que poderão estar mais distantes.

As discussões de grupo focal revelaram que a maioria das comunidades

acreditam que os antepassados das famílias actuais estão presentes nestes

locais, e oferecem proteção e sorte para as famílias e comunidades, por meio de

cerimónias realizadas nos locais sagrados pelos anciãos da comunidade.

Portanto, uma relação harmoniosa com os antepassados é um factor importante

para o bem-estar e sucesso na vida quotidiana. As comunidades ainda realizam

regularmente cerimónias nos locais sagrados, e contam com os seus líderes

locais, anciãos e líderes tradicionais para mediar a relação com os espíritos dos

antepassados e obter felicidade na vida quotidiana (Anexo D, no âmbito dos temas

de locais históricos e sagrados e coesão social).

Nenhuma das campas, cemitérios e locais sagrados identificados, usados

actualmente pelas comunidades inquiridas, estão localizadas dentro do CdI da

estrada de transporte de carga ou dentro da área de detonação da mina. Assim

sendo, não há campas, cemitérios ou locais sagrados directamente afectados pelo

(ou perdidos devido ao) projecto.

No entanto, a aquisição de terra para o projecto pode implicar a redução do

acesso a tais locais durante a fase de construção do projecto, e o acesso

reduzido/ impedido durante a fase de operação. As famílias reassentadas podem

ser particularmente afectadas por isto, se forem transferidas para um local que

Page 59: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

59

122

está mais distante das campas, cemitérios e locais sagrados que elas usam,

comparativamente à sua localização actual. Isto pode ter um impacto negativo

sobre o bem-estar comunitário (ou de cada agregado) e a aceitação do projecto –

por parte das comunidades afectadas em geral, e das famílias reassentadas em

particular. Além disso, há campas, cemitérios e locais sagrados situados dentro da

zona tampão de 5 km ao redor da área de concessão 1035-L, que poderiam ser

afectados pelo projecto no futuro, quando iniciar a mineração nas áreas de

concessão 1032-L e 1033-L (veja-se a Error! Reference source not found. na

ecção 5.1.3 e a na Secção 5.1.4).

Até à presente data, as comunidades na área do projecto não têm nenhuma

experiência de transferência de locais sagrados. Os líderes tradicionais

concordam com a possibilidade de se transferir campas e cemitérios se forem

realizadas cerimónias apropriadas para propiciar o espírito da pessoa falecida e

mover fisicamente a campa para outro local. As campas transferidas devem

permanecer perto da residência da família da pessoa falecida.

Duas comunidades afirmaram claramente que para elas não é concebível

transferir cemitérios ou campas para outro local, pois isso fará partir os espíritos

dos antepassados – e a sua proteção (comunidades Matacale e Mbuzi). No

entanto, as restantes comunidades afirmaram que pode ser possível mover as

campas mediante autorização da família proprietária, realização antecipada de

cerimónias rituais específicas e fornecimento de alguma forma de compensação à

família afectada.

Duas comunidades (Matacale e Mboza) também afirmaram que não é possível

transferir os locais sagrados associados com a cerimónia da chuva Tsato (árvore e

montanha sagradas) para outro local, pois isso irá diminuir a força da cerimónia

para atrair a chuva. A na Secção 5.1.4 mostra a localização dos activos que foram

mencionados como não podendo ser transferidos para outro lugar.

Sem mitigação

Dado que não há campas, cemitérios ou locais sagrados directamente afectados

pelo projecto, sem a implementação de medidas de mitigação a significância do

impacto será "negativa alta", mas continuando a ter o potencial de causar a

rejeição do projecto ou dificultar a adaptação pós-reassentamento por parte das

famílias reassentadas.

Com mitigação

Com a implementação de medidas de mitigação o impacto será de significância

"negativa baixa", pois é pouco provável que a construção e a operação da mina

alterem significativamente o bem-estar espiritual e a estabilidade das

comunidades afectadas.

Page 60: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

60 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

Declaração de significância

Impacto Efeito Risco ou

probabilidade

Significância

geral Temporal Espacial Severidade

Fase de Construção

Sem mitigação Curto Prazo

Área de

estudo Muito severa Pode ocorrer MODERADA

Com mitigação Curto Prazo Localizado Ligeira Improvável BAIXA

Fase de Operação

Sem mitigação Longo Prazo

Área de

estudo Muito severa Pode ocorrer ALTA

Com mitigação Curto Prazo Localizado Ligeira Improvável BAIXA

Medidas de mitigação

São recomendadas as seguintes medidas de mitigação:

› A entidade mineradora deve estabelecer um posto de Oficial de Ligação com

a Comunidade, responsável pela resolução de todas as preocupações ou

queixas relacionadas com questões culturais que afectem as comunidades

na área do projecto. Esta pessoa deve ser treinada para reconhecer e

identificar os locais e espaços potencialmente importantes pelo seu valor

arqueológico e cultural;

› Limitar ao mínimo a transferência de campas (cemitério familiar/ comunitário)

e locais sagrados, ajustando o CdI conforme necessário (concebendo a cova

da mina de forma a evitar isto);

› Se a transferência de campas é inevitável, o processo a seguir deve ser

empreendido:

› Consultar a comunidade sobre como lidar com os impactos do projecto

em locais sagrados, antes de realizar qualquer actividade do projecto;

com o objectivo de chegar a um consenso sobre as exigências

cerimoniais e compensatórias necessárias;

› Durante a implementação do Plano de Acção de Reassentamento,

chegar a acordo quanto aos locais de transferência de campas e

planificar este processo com as famílias proprietárias e os membros da

comunidade, através dos líderes tradicionais e autoridades locais;

› No caso de apenas serem transferidas campas e não ocorrer

reassentamento humano, transferir as campas para um local acordado

com os proprietários em coordenação com os líderes comunitários e, se

possível, perto da família proprietária;

› No caso de haver reassentamento (tanto as campas como o agregado são

transferidos para um novo local), definir uma área para um cemitério público

no local de reassentamento, com capacidade para acomodar a população

reassentada, bem como as campas realocadas. As campas afectadas

Page 61: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

61

122

devem ser transferidas para este cemitério, após o acordo com os

proprietários reassentados.

› Conduzir cerimónias e ritos para a transferência de campas de acordo com a

cultura local e crenças religiosas locais. Embora devam ser obtidos acordos

para a transferência de campas individualmente com cada família

proprietária, a negociação sobre como conduzir o processo de exumação e

transferência da campa deverá ser discutida e acordada colectivamente com

todas as famílias proprietárias afectadas e os líderes comunitários, de modo

que uma solução comum (por exemplo, cerimónias e rituais a realizar) seja

acordada e aplicada para todas as famílias proprietárias. O proponente do

projecto deve suportar os custos materiais do processo acordado para a

transferência de campas;

› Se for necessário o reassentamento da comunidade, a selecção do local (ou

locais) de reassentamento deve considerar o acesso contínuo aos locais

sagrados existentes (em especial dos locais onde se realiza a cerimónia da

chuva) a pé.

6.4 Impactos Positivos

Nenhum impacto positivo directo foi identificado no que respeita ao património

cultural associado ao projecto. No entanto, com a implementação das medidas

recomendadas os impactos negativos associados com o projecto podem ser

transformados em experiências positivas de investigação, proteção e divulgação

do património cultural.

Por um lado, serão criadas capacidades a nível local para a identificação e

preservação de artefactos arqueológicos, que serão garantidas por funcionários /

trabalhadores mineiros locais e com formação adequada, sem a necessidade da

presença permanente de um arqueólogo formado.

Por outro lado, as eventuais descobertas arqueológicas permitirão aprofundar a

investigação sobre o património cultural na área do projecto, o que vai ampliar o

conhecimento existente sobre este tema na área do projecto e, possivelmente, nos

seus arredores.

O proponente do projecto é responsável pela preservação do património cultural

encontrado na área do projecto, em coordenação com a Direcção Provincial da

Cultura de Tete. O projecto pode contribuir para a preservação, bem como a

difusão, do património cultural encontrado na área do projecto, através da criação

de centros de interpretação. A criação de tais centros deve ser feita em

coordenação com a Direcção Provincial da Cultura e em ligação com os museus

existentes a nível provincial, regional ou nacional.

A Tabela 9 a seguir resume os principais impactos do projecto sobre a herança

cultural existente na sua área.

Page 62: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

62 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

Tabela 9: Resumo da classificação da significância dos impactos identificados

Fase do

projecto

Sem Mitigação Com Mitigação

Escala

temporal

Escala

espacial Severidade Probabilidade Significância Probabilidade Significância

Impacto 1: Remoção de Património Cultural Não Replicável

Construção Permanente Localizada Ligeira Improvável NEGATIVA

BAIXA

Improvável POSITIVA

ALTA

Operação Permanente Localizada Ligeira Improvável NEGATIVA

BAIXA

Provável POSITIVA

ALTA

Impacto 2: Remoção de Património Cultural Não Replicável

Construção Permanente Área de

estudo

Severa Efectiva NEGATIVA

ALTA

Efectiva NEGATIVA

ALTA

Operação Permanente Área de

estudo

Severa Efectiva NEGATIVA

ALTA

Provável NEGATIVA

MODERADA

Impacto 3: O acesso reduzido às sepulturas familiares e aos locais sagrados da comunidade

Construção Curto Prazo Área de

estudo

Muito severa Pode ocorrer NEGATIVA

MODERADA

Improvável NEGATIVA

BAIXA

Operação Longo Prazo Área de

estudo

Muito severa Pode ocorrer NEGATIVA

ALTA

Improvável NEGATIVA

BAIXA

Page 63: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

63

122

7 Conclusões O estudo do património cultural recuperou vestígios potenciais de artefactos

arqueológicos significativos da área do projecto, que eram até agora

desconhecidos. Os artefactos líticos e os cacos de cerâmica (olaria) recuperados

pela equipa do estudo fornecem evidências de ocupação humana dos caçadores-

colectores (7.000-5.000 BP), nos períodos da Idade do Ferro Inferior (400 AD) e

da Idade do Ferro Superior (século 14 a 17 AD).

A prospecção arqueológica identificou seis estações arqueológicas potencialmente

significativas, o que exigirá escavação e estudo antes do início do processo de

mineração. Serão necessárias novas escavações, a fim de determinar se esses

artefactos espalhados pela superfície estão associados a quaisquer características

ou horizontes relevantes do subsolo, conforme recomendam as medidas de

mitigação previstas na Secção 6, e de acordo com o Decreto 27/94 (o projecto

deve financiar as actividades para estudo, escavação (se necessária) e

recuperação dos vestígios arqueológicos - o Ministério da Cultura é responsável

pela sua execução).

Em termos do património construído, foi identificada uma série de monumentos na

área de Muchena, que datam do século 18, indirectamente afectados pelo

projecto. Todos os edifícios estão em ruínas, no entanto, o edifício principal

(Administração Colonial) pode ser reabilitado e usado para exposição permanente

do material arqueológico ou etnográfico encontrado nesta área, para fins

científicos, educacionais e até mesmo turísticos.

As práticas socioculturais a Norte do Rio Zambeze são dominadas pelas tradições

Marave. As comunidades estudadas consideram a cerimónia da chuva associada

ao espírito da cobra Tsato como a cerimónia mais importante da vida comunitária,

ainda mais importante do que a cerimónia de culto dos espíritos ancestrais. Isso

explica porque os cemitérios locais estão abandonados - porque o espírito dos

mortos é menos importantes do que o espírito da Tsato.

Dos locais do património cultural identificados na área do projecto, apenas um

está localizado dentro da área de detonação da mina e será directamente afectado

pelo projecto e definitivamente perdido durante o processo de mineração. Como

medida de mitigação imediata, recomenda-se que sejam realizadas escavações

adicionais das estações arqueológicas afectadas na área do projecto, antes do

início da actividade de mineração ou de construção.

No que diz respeito a cemitérios e locais sagrados, devido à sua importância para

as comunidades locais é importante realizar consultas contínuas à comunidade

para definir como evitar a redução do acesso a esses locais, antes do início das

actividades do projecto.

A atividade de mineração proposta é susceptível de remover e destruir a estação

arqueológica identificada e reduzir o acesso aos locais sagrados na área do

projeto, se não forem tomadas em consideração as medidas de mitigação

propostas. No entanto, se as medidas de mitigação propostas forem

Page 64: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

64 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

implementadas adequadamente pelo proponente do projecto, os impactos do

projeto descritos acima podem ser mitigados e geridos com sucesso.

Page 65: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

65

122

8 Referências Adamowicz, L. 1987. “Projecto Cipriana”, 1981-1985: contribuição para o

conhecimento da arqueologia Entre-Os-Rios Lúrio e Ligonha, Província de

Nampula. In: Departamento De Arqueologia E Antropologia.

Castro, S. 1956. Pinturas rupestres do Niassa. In Boletim da Sociedade de

Estudos de Moçambique. Lourenço Marques, 26 (98): 29-36

Deacon, H.J. e Deacon, J. 1999. Human beginnings in South Africa: uncovering

the secrets of the Stone Age. Cape Town: David Philip Publishers

Duarte, R.T. & Solange L. Macamo, 1996. Oral Tradition and The Songo Ruins,

Aspects of African Archaeology: papers from the 10th congress of the Panafrican

Association for prehistory and related studies / University of Zimbabwe

Publications. Harare: Gilbert Pwiti: Robert Soper, 1996, 561-563

Gamitto, A.P., 1854. O Muata Cazembe e os povos Maraves, Chévas, Muizas,

Muembas, Lundas e outros da Africa Austral. Lisbon: Imprensa Nacional

Huffman, T. 2007. Handbook to the Iron Age: The Archaeology of Pre-colonial

Farming Societies in Southern Africa. University of KwaZulu-Natal Press.

Instituto Nacional de Estatística (INE) (2013). Estatísticas do Distrito de Chiúta –

Novembro 2013.

INE (2013b). Estatísticas do Distrito de Moatize – Novembro 2013.

Isaacman, A. 1972b. The origin, formation and early History of the Chikunda.

Journal African History 13 (3), 443-461. London.

Juwayeyi, Y. M. 1993. Iron Age Settlement and subsistence patterns in Southern

Malawi. In: The Archaeology of Africa: Food, metal and towns, Shaw, T., P. J. J.

Lobato, M. 1996. Redes mercantis e expansão territorial. A penetração portuguesa

no Vale do Zambeze e na África Central durante o século XIX (1798-1890). In

revista Studia 54/ 55 (1996): 165-210.

Macamo, S. 2006. Privileged places in South Central Mozambique. Uppsala:

Uppsala University

Macamo, S. and Madiquida, H. 2004. An archaeological investigation of the

western and eastern Zambezi river basin, Mozambique. In The African

Archaeology Network, reports and review, Chami, F., Gilbert Pwiti & C. Radimilahy

(eds), 102-115. Studies in the African Past 4. Dar es Salaam: Dar es Salaam

University Press Ltd.

Madiquida, H. 2007. The Iron-using Communities of the Cape Delgado Coast from

AD 1000. Studies in Global Archaeology 8. Uppsala, Department of Archaeology

and Ancient History

Page 66: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

66 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

Mitchell, P. 2002. The archaeology of southern Africa. Cambridge: Cambridge

University Press

Morais, J. 1978. Tentativa de definição de algumas formações sócio-económicas

em Moçambique de 0 à 1.500 AD. Maputo: Universidade Eduardo Mondlane-

C.E.A.- C.H.

Morais, J. 1988. The Early Farming Communities of Southern Mozambique.

Stockholm, Ed. Central Board of National Antiquities-UEM-DAA

Oliveira, O.R.1973. Zimbabwes de Moçambique: Proto-história africana.

Monumenta 9, 31- 64

Phillipson, D. W.1977. The Later Prehistory of Eastern and Southern Africa.

London, Heinemann

Prothero, D. & Schwab, F. 2003. Sedimentary geology: An introduction to

sedimentary rocks and stratigraphy, 2nd edition. Publisher: W. H. Freeman.

Ramos, M.,1980. Une enceinte (Monomotapa?) peu connue du Songo,

Mozambique. In Proceedings, VIIIth Panafrican Congress of Prehistory and

Quaternary Studies (eds. Leakey, R.E.F. and Ogot, B.A.). Nairobi: TILLMIAP, 355-

356

Robinson, K. R. 1973. The Iron Age of the Upper and Lower Chire, Malawi. Malawi

Gov. Dep. Antiq. Publ 13:1-167

Rodrigues, M. C. 2006. O primeiro sítio com vestígios de utilização do ferro e

cerâmica “tradicional” da Early Iron Age localizado em Moçambique – Província da

Zambézia. Revista Portuguesa de Arqueologia. Volume 9. Número 2. 2006, pp.

415-449

Saetersdal, T. 2004. Places, people and ancestors. Archaeology and society in

Manica, Mozambique. Bergen: University of Bergen.

Santos Júnior, J. R. 1947. Alguns aspectos da IV Campanha da Missão

Antropológica de Moçambique. Bulletin de la Société Portugaise des Sciences

Naturelles 15 (23) 128-51. Lisbon

Santos Júnior, J. R., 1940. Carta da Pré-História de Moçambique, Porto:

Universidade do Porto

Tucker, M.E. 1982. The Field Description of Sedimentary Rocks: Geological

Society of London Handbook Series. U.K.: Open University Press, Milton Keynes

Page 67: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

67

122

Anexo A: Mapeamento do Património Cultural na Área de Projecto

Anexo A está subdividido em quatro categorias de património cultural encontradas

na área do projecto, como se segue:

› A: Estações Arqueológicas

› B: Locais Históricos

› C: Florestas e Lugares Sagrados

› D: Cemitérios

A seguir são apresentados as coordenadas geográficas e fotografias dos locais

identificados em cada categoria, excepto para a categoria D: Cemitérios. Como

explicado na Secção 3, os líderes comunitários que acompanharam o arqueólogo

recomendaram que não se tirasse fotografias dos cemitérios e das campas. Sendo

assim, apenas as coordenadas, e nenhuma fotografia, foram registadas para os

cemitérios e campas isoladas.

Page 68: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

68 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

A. Estações arqueológicas

Tabela 10: Coordenadas geográficas e fotografias de estações arqueológicas

Nr Nome da

estação

Fotografias

1 Estação

Arqueológica

com

Microlíticos em

Mbuzi

Figura 2: Artefactos microlíticos in situ Figura 3: Amostras recolhidas da superfície

Latitude:

15o41’01.1’’S

Longitude:

33o46’45.8’’E

2 Estação

Arqueológica

com

Microlíticos em

Mbuzi/Chianga

Figura 4: Artefactos microlíticos in situ Figura 5: Amostras recolhidas da superfície

Latitude:

15°40'03.0"S

Longitude:

033°44'55.8"E

3 Estação

Arqueológica

em Chindije

Figura 6: Algumas amostras recolhidas da superfície

Latitude:

15o44’46.6’’S

Longitude:

33o44’28.9’’E

4 Estação

Arqueológica

em Chindije 2

Figura 7: Algumas amostras recolhidas da superfície

Latitude:

15o44’47.9’’S

Longitude:

33o44’45.4’’E

Page 69: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

69

122

Nr Nome da

estação

Fotografias

5 Estação

Arqueológica

Figura 8: Moldes de Olaria in situ Figura 9: Amostras recolhidas da

superfície

Latitude:

15o43’00.1’’S

Longitude:

33o45’53.3’’E

6 Estação

Arqueológica

em Muchena

Figura 10: Moldes de Olaria in situ Figura 11: Amostras de olaria recolhidas da superfície

Latitude:

15o40’29.5’’S

Longitude:

33o48’34.4’’E

Page 70: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

70 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

B. Locais Históricos

Tabela 11: Coordenadas geográficas e fotografias de locais históricos

Nr Nome do local Fotografias

1 Ruínas de

Muchena –

local 1

Figura 12: Ruínas de Muchena - local 1

Latitude:

15o40’47.7’’S

Longitude:

33o48’02.1’’E

2 Ruínas de

Muchena -

local 2

Figura 13: Ruínas de Muchena - local 2

Latitude:

15o40’47.3’’S

Longitude:

33o48’02.5’’E

3 Cisterna Subterrânea e Antiga Administração Colonial

Figura 14: Cisterna subterrânea e antiga administração colonial

Latitude: 15

o40’51.4’’S

Longitude: 33

o48’02.1’’E

4 Primeiro Poço

colonial

Figura 15: Primeiro poço colonial

Latitude:

15o40’29.5’’S

Longitude:

33o48’34.4’’E

Page 71: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

71

122

Nr Nome do local Fotografias

5 Primeiro

Automóvel

Colonial a

vapor

Figura 16: Primeiro Automóvel Colonial a vapor

Latitude:

15o41’09.7’’S

Longitude:

33o48’02.2’’E

6 Ruínas de

Mbuzi

Figura 17: Ruínas de Mbuzi

Latitude:

15o41’41.7’’S

Longitude:

33o46’30.4’’E

Page 72: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

72 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

C. Lugares e Florestas Sagradas

Tabela 12: Coordenadas geográficas e fotografias de locais sagrados

Nr Nome do local Fotografias

1 Lugar Sagrado de

Nhampumbuza

(cerimónia da chuva)

Figura 18: Lugar sagrado da cerimónia da chuva em Nhampumbuza

Latitude: 16o01’38.7’’S

Longitude:

33o48’40.9’’E

2 Lugar Sagrado de

Nhampondoro

(cerimónia da chuva)

Figura 19: Lugar sagrado da cerimónia da chuva em Nhampondoro

Latitude: 16o03’43.6’’S

Longitude:

33o46’57.4’’E

3 Lugar Sagrado de

Kagoma (cerimónia

da chuva)

Figura 20: Lugar sagrado em Kagoma Figura 21: Lugar onde habita a Tsato

Latitude: 16o01’52.1’’S

Longitude:

33o46’52.1’’E

Page 73: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

73

122

4 Floresta Sagrada para

ritos de iniciação

Nyau

Figura 22: Floresta Sagrada para ritos de iniciação Nyau

Latitude:15o41’09.0’’S

Longitude:33o48’34.5’’E

5 Lugar Sagrado de

Kaningue (cerimónia

da chuva)

Figura 23: Lugar Sagrado para a cerimónia da chuva em Kaningue

Latitude: 15o41’43.3’’S

Longitude:

33o48’58.3’’E

6 Lugar Sagrado de

Ntumbwi (cerimónia

da chuva)

Figura 24: Lugar Sagrado da cerimónia da chuva em Ntumbwi Figura 25: Floresta Sagrada Associada

Latitude: 15o43’03.8’’S

Longitude:

33o42’11.0’’E

Page 74: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

74 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

7 Lugar Sagrado de

Kachere (cerimónia

da chuva)

Figura 26: Lugar para a cerimónia da chuva em Kachere Figura 27: Floresta sagrada associada

Latitude: 15o42’40.2’’S

Longitude:

33o40’21.3’’E

8 Lugar Sagrado de

Chitongue (cerimónia

da chuva)

Figura 28:Lugar para a cerimónia da chuva em Chitongue

Latitude: 15o41’01.1’’S

Longitude:

33o41’49.6’’E

9 Lugar Sagrado para

ritos de iniciação de

Rapazes

Figura 29: Lugar para a iniciação de rapazes

Latitude: 15o39’11.7’’S

Longitude:

33o41’33.8’’E

10 Lugar Sagrado em

Kanjetsa (cerimónia

da chuva)

Figura 30: Lugar para cerimónia da chuva em Kanjetsa Figura 31: Lugar onde habita aTsato

Latitude: 15o40’00.6’’S

Longitude:

33o41’38.8’’E

Page 75: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

75

122

11 Lugar Sagrado em

Massamba (cerimónia

da chuva)

Figura 32: Lugar da cerimónia da chuva em Massamba Figure 33: Floresta sagrada associada

Latitude: 15o38’41.3’’S

Longitude:

33o41’50.9’’E

12 Lugar Sagrado em

Chimuala (cerimónia

da chuva)

Figura 34: Lugar da cerimónia da chuva em Chimuala Figura 35: Floresta sagrada associada

Latitude: 15o40’26.2’’S

Longitude:

33o45’48.1’’E

13 Lugar Sagrado em

Mulambe (cerimónia

da chuva)

Figura 36: Lugar da cerimónia da chuva em Mulambe Figura 37: Floresta sagrada associada

Latitude: 15o41’01.4’’S

Longitude:

33o46’05.8’’E

14 Lugar Sagrado em

Ntowe (cerimónia da

chuva)

Figura 38: Lugar da cerimónia da chuva em Ntowe Figura 39: Floresta sagrada associada

Latitude: 15o44’56.2’’S

Longitude:

33o45’04.9’’E

Page 76: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

76 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

15 Lugar Sagrado em

Ntenje/Macodwe

(cerimónia da chuva)

Figura 40: Lugar da cerimónia da chuva em Ntenje Figura 41: Floresta sagrada associada

Latitude: 15o41’55.5’’S

Longitude:

33o48’23.2’’E

Page 77: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

77

122

D. Cemitérios

Tabela 13: Coordenadas geográficas de cemitérios

Nr Local Coordenada 1 Coordenada 2 Coordenada 3 Coordenada 4

Latitude Longitude Latitude Latitude Latitude Longitude Latitude Longitude

1 Cemitério para Adultos em Kagoma

16o00’11.6’’S 33

o49’51.6’’E 16

o00’11.9’’S 33

o49’50.8’’E 16

o00’10.9’’S 33

o49’50.3’’E 16

o00’11.1’’S 33

o49’51.8’’E

2 Cemitério para Adultos em Muchena

15o41’40.6’’S 33

o48’50.6’’E 15

o41’37.9’’S 33

o48’58.4’’E 15

o41’40.1’’S 33

o49’02.5’’E 15

o41’33.3’’S 33

o49’05.7’’E

3 Cemitério para Crianças em Muchena

15o41’10.1’’S 33

o48’35.8’’ 15

o41’14.5’’S 33

o48’38.3’’ 15

o41’12.1’’S 33

o48’31.8’’ - -

4 Cemitério para Adultos em Ntenje

15o41’41.0’’S 33

o48’20.1’’E 15

o41’31.9’’S 33

o48’12.0’’E 15

o41’36.1’’S 33

o48’21.6’’E - -

5 Cemitério para Adultos abandonado em N’siga

15o42’58.0’’S 33

o41’48.5’’E 15

o42’58.4’’S 33

o41’49.0’’E 15

o43’00.6’’S 33

o41’46.8’’E 15

o43’01.0’’S 33

o41’47.1’’E

6 Cemitério para Adultos em Chissi

15o41’49.6’’S 33

o41’33.2’’E 15

o41’48.6’’S 33

o41’31.1’’E 15

o41’52.8’’S 33

o41’32.9’’E 15

o41’52.2’’S 33

o41’34.4’’E

7 Campa de Adulto Isolada

15o42’57.3’’S 33

o41’47.1’’E - - - - - -

8 Duas campas de Adultos Isoladas

15o42’56.4’’S 33

o41’47.7’’E - - - - - -

9 Novo Cemitério para Adultos com duas Campas

15o42’55.5’’S 33

o41’48.3’’E - - - - - -

10 Cemitério para Recém-nascidos (Floresta Sagrada de Mbuzi)

15o41’34.8’’S 33

o47’08.9’’E - - - - - -

Page 78: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

78 RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

Nr Local Coordenada 1 Coordenada 2 Coordenada 3 Coordenada 4

Latitude Longitude Latitude Latitude Latitude Longitude Latitude Longitude

11 Cemitério para Crianças em Njenjema

15o42’23.4’’S 33

o41’36.7’’E 15

o42’23.8’’S 33

o41’36.9’’E 15

o42’22.3’’S 33

o41’37.5’’E 15

o42’22.3’’S 33

o41’37.8’’E

12 Cemitério Familiar para Adultos em Matsitsi

15o39’16.4’’S 33

o41’47.6’’E 15

o39’17.8’’S 33

o41’46.6’’E 15

o39’16.3’’S 33

o41’45.2’’E 15

o39’19.0’’S 33

o41’44.7’’E

13 Cemitério para Adultos em Kachenga

15o38’24.3’’S 33

o41’03.2’’E 15

o38’19.7’’S 33

o41’09.5’’E 15

o38’30.4’’S 33

o41’13.6’’E 15

o38’30.3’’S 33

o41’07.7’’E

14 Cemitério para Crianças em Kachenga

15o38’19.7’’S 33

o41’09.5’’E 15

o38’18.6’’S 33

o41’11.0’’E 15

o38’19.5’’S 33

o41’11.7’’E 15

o38’20.3’’S 33

o41’10.4’’E

15 Cemitério para Adultos em Mbuzi

15o41’38.0’’S 33

o46’18.5’’E 15

o41’38.1’’S 33

o46’14.4’’E 15

o41’31.5’’S 33

o46’13.7’’E 15

o41’32.4’’S 33

o46’18.5’’E

16 Cemitério para Adultos em Mitumbwi

15o41’34.8’’S 33

o47’08.9’’E 15

o41’33.7’’S 33

o47’17.5’’E 15

o41’35.6’’S 33

o47’17.3’’E 15

o41’40.9’’S 33

o47’13.3’’E

17 Cemitério para Adultos em Mitole

15o44’36.2’’S 33

o44’22.8’’E 15

o44’35.2’’S 33

o44’21.8’’E 15

o44’38.6’’S 33

o44’17.4’’E 15

o44’36.2’’S 33

o44’22.8’’E

18 Cemitério para Crianças em Nhatsitsi

15o44’40.4’’S 33

o45’19.5’’E 15

o44’39.8’’S 33

o45’20.0’’E 15

o44’38.0’’S 33

o45’20.3’’E 15

o44’38.4’’S 33

o45’18.2’’E

19 Cemitério para Crianças em Ntenje

15o41’47.3’’S 33

o48’28.8’’E 15

o41’49.1’’S 33

o48’26.3’’E 15

o41’42.7’’S 33

o48’21.6’’E - -

Page 79: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

Anexo B: Metodologia de Avaliação de Impacto

Para garantir um modo equilibrado e justo de avaliar a significância dos potenciais impactos, foi adoptada uma escala de avaliação padronizada na fase da AIA, fornecida pela CES. A escala de classificação adopta quatro factores-chave que são geralmente recomendados como melhores práticas em vigor em todo o mundo, que incluem:

1. Escala temporal: Esta escala define a duração de qualquer impacto ao longo do tempo. Esta pode estender-se desde um curto prazo (menos de 5 anos ou o período da fase de construção) até permanente. Geralmente quanto maior for o tempo de ocorrência do impacto, maior é a sua significância.

2. Escala espacial: Esta escala define a extensão espacial de qualquer impacto. Esta pode se estender desde a área local até um impacto que atravessa fronteiras internacionais. Quanto maior for a extensão do impacto, maior será a sua significância.

3. Escala de Severidade/Benefícios: Esta escala define como seriam severos os

impactos negativos, ou como seriam benéficos os impactos positivos. Esta escala negativa/positiva é fundamental para determinar a significância geral dos impactos. A Escala de Severidade/Benefícios é utilizado para avaliar a potencial significância dos impactos, antes e depois da mitigação, a fim de determinar a eficácia geral das medidas de mitigação

4. Escala de Probabilidade: Esta escala define o risco ou a chance de qualquer

impacto ocorrer. Enquanto muitos impactos geralmente ocorrem, existe uma incerteza considerável em relação a outros. A escala varia de improvável a definitivo, com o aumento da significância geral dos impactos à medida que probabilidade aumenta.

Estas quatro escalas são classificadas e recebem pontuações, conforme

apresentado na Tabela 0-1, para determinar a significância geral dos impactos. A

pontuação total é combinada e considerada em comparação com a Tabela 0-2

abaixo para determinar a significância geral dos impactos.

Tabela 0-1: Classificação dos critérios de avaliação

EF

EIT

O

Escala temporal Pontuação

Curto prazo Menos de 5 anos 1

Médio prazo 5 – 20 anos 2

Longo prazo 20-40 anos (uma geração), e quase permanente do ponto de vista humano

3

Permanente Mais de 40 anos, resultando numa mudança permanente e duradoura, que vai estar sempre presente

4

Escala espacial

Localizada Em escala localizada, com poucos hectares de extensão. 1

Área de estudo O local proposto e o meio ambiente imediato 2

Regional Nível distrital e provincial 3

Nacional País 3

Internacional Internacionalmente 4

Page 80: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

80

122

* Severidade Beneficio

Ligeira Impacto ligeiro no sistema afectado (s) ou parte (s)

Ligeiramente benéfico no sistema afectado (s) ou parte (s)

1

Moderada Impacto moderado no sistema afectado (s) ou parte (s)

Um impacto com verdadeiro benefício para o sistema afectado (s) ou parte (s)

2

Severa/ benéfica Impacto severo no sistema afectado (s) ou parte (s)

Um benefício substancial para o sistema afectado (s) ou parte (s)

4

Muito severa/

muito benéfica

Mudança muito severa para o sistema afectado (s) ou parte (s)

Um benefício muito importante para o sistema afectado (s) ou parte (s)

8

Probabilidade

PR

OB

AB

ILI

DA

DE

Improvável A probabilidade destes impactos ocorrerem é ligeira 1

Pode ocorrer A probabilidade destes impactos ocorrerem é possível 2

Provável A probabilidade destes impactos ocorrerem é provável 3

Definitivo A probabilidade destes impactos vai ocorrer com certeza 4

* Em certos casos, pode não ser possível determinar a severidade do impacto,

portanto, pode ser determinado como: Não se sabe / Não é possível saber

Tabela 0-2: Matriz de classificação para fornecer uma significância ambiental

Significância ambiental Positiva Negativa

Baixa Um impacto aceitável para o qual a mitigação é desejável, mas não essencial. O impacto por si só é insuficiente para evitar o desenvolvimento, mesmo em combinação com outros impactos baixos.

Esses impactos resultaram em efeitos tanto positivos ou negativos de médio a curto prazo sobre o ambiente social e /ou natural.

4-7 4-7

Moderada Um impacto importante, que requer mitigação. O impacto é insuficiente por si só para evitar a implementação do projecto, mas em conjunto com outros impactos pode impedir a sua execução.

Esses impactos normalmente resultaram em efeitos positivos ou negativos de médio a longo prazo sobre o ambiente social e /ou natural.

8-11 8-11

Alta Um impacto grave que, se não for mitigado, pode impedir a implementação do projecto.

Estes impactos seriam considerados pela sociedade como constituintes de uma grande mudança de longo prazo para o ambiente natural e / ou social e resultariam em efeitos negativos ou benéficos graves.

12-15 12-15

Muito Alta Um impacto muito sério que pode ser suficiente por si só para prevenir a execução do projecto.

O impacto pode resultar numa mudança permanente. Muitas vezes, estes impactos não são mitigáveis e geralmente resultam em efeitos muito graves ou efeitos muito benéficos.

16-20 16-20

Pressupostos e Limitações

As seguintes limitações são inerentes à metodologia de classificação:

Componentes do projecto

Page 81: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

81/122

122

A avaliação de impacto feita foi baseada nos detalhes do projecto fornecidos pela

CES. Diante da falta de informação sobre os componentes do projecto, assumiu-

se que todas as actividades de construção serão concluídas dentro de um prazo

de 5 a 20 anos.

Juízos de valor

Esta escala tenta fornecer um equilíbrio e um rigor para avaliar a significância dos

impactos. No entanto, a avaliação da significância dum impacto depende

fortemente dos valores da pessoa que faz o julgamento. Por esta razão, os

impactos de natureza social, em particular, precisam reflectir os valores da

sociedade afectada.

Impactos Cumulativos

Os impactos cumulativos afectam a classificação da significância dum impacto,

porque consideram o impacto de acordo com fontes locais e não locais. Isto é

particularmente problemático em termos de impactos que estão além do âmbito do

desenvolvimento proposto e da AIA. Por esta razão, é importante considerar os

impactos em termos da sua natureza cumulativa.

Sazonalidade

Alguns impactos irão variar em significância com base na mudança de estação,

portanto, é difícil fornecer uma avaliação estática. A sazonalidade precisará estar

implícita na escala temporal e, com as medidas de gestão a serem impostas em

conformidade (ou seja, medidas de supressão de poeiras sendo implementadas

durante a estação seca).

Page 82: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

82

122

Anexo C: Instrumentos de Recolha de Dados Qualitativos

Page 83: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

83/122

122

Instrumentos Qualitativos para Estudo de Impacto Social

1 Introdução

A componente de pesquisa que se descreve no presente documento faz parte do

Estudo de Impacto Social e Ambiental (ESIA) para Projecto de Ferro-Guza17

a ser

implementado pela Capitol Resources nos Distritos de Chiúta e Moatize.

O estudo visa enriquecer a compreensão sobre a situação actual das

comunidades existentes na área do Projecto de Mineração de Ferro, bem como

identificar as suas expectativas, necessidades e posicionamentos perante o

projecto de modo a compreender o impacto que o projecto poderá ter sobre elas.

A componente social do ESIA pretende investigar:

O ambiente socio-economico local;

Os dados demográficos da população afectada pelo projecto;

As actividades económicas e de rendimento disponíveis na área;

As práticas de uso da terra;

Os modos de vida e posses materiais;

A mobilidade;

Os aspectos de género;

Os grupos vulneráveis;

A saúde, incluindo questões relacionadas com HIV/SIDA;

Os serviços sociais disponíveis (educação, transporte, água e

saneamento, etc.), bem como estruturas sociais (grupos comunitários,

locais de culto e congregações, etc.).

O estudo da componente social também terá em conta questões relacionadas com

a herança cultural. Por questões práticas a recolha de campo para as duas

components (social e herança cultural) decorrerá ao mesmo tempo e de forma

complementar.

A componente cultural visa os seguintes aspectos:

Revisão das políticas e estratégias de herança culturais nacionais e locais;

Revisão das estruturas de herança cultural na area do projecto e a sua

contextualização dentro do enquadramento legal nacional e local;

17

Gusa é uma liga de Ferro e Carbono.

Page 84: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

84

122

Revião do perfil cultural da area do projecto, incluindo locais sagrados

para a população;

O mapeamento dos locais sagrados, a sua relevência e os usos

associados a eles;

Avaliação da sensibilidade e significado dos artefactos arqueológicos e

locais culturais;

Identificação e avaliação de questões do projecto que podem impactar na

área do projecto.

O estudo qualitativo (que combina a pesquisa social e de herança cultural) irá se

centrar na história e locais sagrados da comunidade, hierarquias de autoridade,

dinâmicas de mobilidade, acesso a serviços e recursos, relacionamento com o

espaço e impactos do projecto, nas comunidades alvo.

A parte quantitativa (inquérito social por questionário) complementará a

compnente qualitativa através de informação obtida pelo cadastro e pelo estudo

sócio-económico.

2 Área do Projecto

A área do projecto é composta por uma área de concessão mineira e uma estrada,

nos distritos de Chiúta e Moatize, província de Tete. Na área do projecto, onde o

padrão de povoamento é disperso, foram identificas dez (10) comunidades ou

assentamentos humanos para a recolha de dados qualitativos, nomeadamente:

concessão mineira: seis (6) comunidades: Tenge-Makodwe, Nhamidima,

Nhambia, Matacale, Nkakame e Tchissi

estrada: fuas (2) comunidades identificadas por análise de imagem aérea,

cujo nome ainda está por identificar com ajuda das autoridades

distritais

3 Métodos de recolha de dados

Serão aplicados os seguintes métodos de recolha de dados

qualitativos:

1. Levantamento bibliográfico e de arquivo de pesquisas anteriores:

principalmente para a componente de herança cultural, mas também para

a descrição socio-demográfica da área em estudo.

2. Análise Cartográfica: através de observação de imagens de satélites e as

fotografias aéreas para inventariar os recursos existentes e tentar

localizar áreas com possíveis existências de estações arqueológicas.

Page 85: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

85/122

122

3. Entrevistas individuais a autoridades governamentais: para recolha de

dados sobre o desenvolvimento sócio-económico do distrito, ligação entre

a planificação do distrito e o projecto, desafios e oportunidades do

projecto para o distrito, bem como expectativas, preocupações e

recomendações da província/ distrito em relação ao projecto. Deverão ser

entrevistados:

a. Direcção Provincial de Obras Públicas e Habitação de Tete;

b. Direcção Provinial de Cultura de Tete

c. Serviço Distrital de Planificação e Infra-Estruturas de Chiúta;

d. Serviço Distrital de Planificação e Infra-Estruturas de Moatize;

e. Serviço Distrital de Actividades Económicas de Chiúta;

f. Serviço Distrital de Actividades Económicas de Moatize;

g. Servicços de Educação e Cultura de Chiúta;

h. Serviços de Educação e Cultura de Moatize.

4. Discussões de grupo focal com líderes locais das nove comunidades da

área do projecto, havendo em cada comunidade um grupo focal com

líderes tradicionais (chingore, n’fumo) e um grupo focal com líderes

comunitários (Secretário de Bairro, Chefe de Quarteirão):

a. grupo focal com líderes tradicionais: para recolha de dados sobre

1) a história e dinâmicas sócio-económicas e culturais das

comunidades, 2) recursos culturais e sagrados das comunidades

e 3) expectativas, preocupações e posicionamento face ao

projecto;

b. grupo focal com líderes comunitários (Secretário de Bairro, Chefe

de Quarteirão): para recolha de dados locais sobre 1) a hierarquia

de autoridade, 2) serviços e recursos sócio-económicos

importantes, 3) mobilidade populacional e 4) expectativas,

preocupações e posicionamento face ao projecto.

Em resumo, com as entrevistas e grupos focais, pretende-se abordar os temas:

Líderes tradicionais Líderes comunitários Autoridades

governamentais

História e dinâmicas sócio-económicas e culturais das comunidades;

Recursos culturais e sagrados das comunidades;

Expectativas, preocupações e

Hierarquia da autoridade local;

Serviços e recursos sócio-económicos importantes;

Mobilidade da população local;

Expectativas, preocupações e

Desenvolvimento sócio-económico do distrito;

Desafios e oportunidades do projecto para o distrito;

Expectativas, preocupações e

Page 86: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

86

122

posicionamento face ao projecto.

posicionamento face ao projecto.

recomendações para o projecto.

Todas as entrevistas serão semi-estruturadas e seguirão um guião para

orientação da exploração dos temas definidos.

Para as discussões de grupo focal, de modo a estimular participação activa na

discussão serão elaborados guiões para condução de exercícios participativos.

Para os grupos focais com líderes tradicionais serão aplicados os exercícios:

1. História da comunidade;

2. Mapeamento dos locais culturais e sagrados; e

3. Árvore de análise de problemas (impactos do projecto e recomendações).

Para os grupos focais com líderes comunitários serão aplicados os exercícios:

1. Matriz da hierarquia de autoridade;

2. Mapeamento da mobilidade;

3. Mapeamento dos serviços e recursos importantes à comunidade;

4. Árvore de análise de problemas (impactos do projecto e recomendações).

Cada discussão de grupo focal deverá ser feita com um número limitado de

participantes (idealmente 8-10), conduzida por um moderador com o apoio de um

tradutor local que deverá ser fluente na língua falada na comunidade. O

moderador deverá tomar notas escritas e fotografia de cada grupo focal.

Considerando o nível baixo de alfabetização da população da área do projecto,

vai-se privilegiar a expressão visual. Tendo em conta a divisão cultural de papéis e

tarefas dentro de agregado familiar, as opiniões e as necessidades podem diferir

entre homens e mulheres. Isto é particularmente importante no que toca às

questões culturais. Por isso, no exercício de mapeamento dos locais culturais e

sagrados, sempre que o número de participantes o permitir, serão feitas

discussões em separado com homens e com mulheres.

5. Acesso preliminar do potencial arqueológico na área de concessão. As

áreas serão prospectadas a pé. Como a área é muito extensa é

conveniente que o trabalho seja faseado, seguindo a progressão do

projecto. O presente levantamento refere-se apenas ao período anterior

aos trabalhos. Não contempla trabalhos adicionais necessários na fase de

construção, operação e encerramento do projecto.

6. Registo dos achados e das estações localizadas. Todas as estações

localizadas serão marcadas com o GPS usando o Sistema de

coordenadas geográficas de África do Sul (WGS 84) em cartesianas e

UTM compatível com o sistema de registo de base de dados, existente no

Page 87: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

87/122

122

Departamento de Arqueologia e Antropologia da Universidade Eduardo

Mondlane.

7. Lavagem e processamento do material. Todo o material será lavado,

marcado e fotografado para o registo informático em preparação do

relatório e seguindo a base de dados de Departamento de Arqueologia e

Antropologia da Universidade Eduardo Mondlane.

4 Documentos a recolher

No mínimo, aquando das visitas às instituições governamentais, os seguintes

documentos devem ser recolhidos: PESOP, PESOD, Relatório do Distrito,

Relatório de actividades dos serviços de educação e cultura, e Relatório de

actividades dos serviços de saúde.

Outros documentos que provem de relevância, podem ser recolhidos também.

A tabela que se segue apresenta o roteiro para a condução de discussões de

grupo focal:

Page 88: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

Nr Método Objectivos Temas a serem abordados Duração Material

1. História da

comunidade

Relatar a história da comunidade;

Recolher os principais movimentos migratórios que marcaram a comunidade;

Recolher os grandes acontecimentos que marcaram a história da comunidade (secas, doenças, conflitos);

Identificar possíveis experiências prévias da comunidade com projectos de mineração.

Origem (mítica) de comunidade

Dinâmica populacional e fluxos migratórios

Conflitos locais

Grandes crises

Experiência prévia com projectos de mineração

45 min.

Folhas de flipchart

Marcadores de várias

cores

Post-it

Caderno

Máquina fotográfica

2. Mapa da mobilidade Identificar as principais dinâmicas de mobilidade da população local (emi/ imigração, migração sazonal)

Origem da comunidade

Dinâmicas populacionais e fluxos migratórios

20 min.

3. Mapa dos serviços e

recursos importantes

à comunidade

Identificar e delimitar a área que corresponde à comunidade (bairro, aldeia)

Identificar as organizações, serviços e outros recursos importantes para a vida da comunidade

Identificar as principais formas de uso do espaço

Que organizações / serviços ou recursos são importantes para a vida da comunidade?

Onde se localizam os mesmos, na comunidade e arredores?

Porque são importantes?

Que recursos provocam conflito/ disputa na comunidade?

45 min. Folhas de flipchart

Marcadores de várias

cores

Caderno

Máquina fotográfica

GPS

4. Mapa dos locais

culturais e sagrados

Identificar os locais culturais e sagrados importantes para a comunidade (locais de cerimónia/ realização de eventos comunitários, locais de reunião, locais sagrados, cemitérios, etc.);

Identificar as práticas, rituais e actores associados a cada local;

Identificar a importância de cada local.

Mapeamento e definição da importância dos locais culturais e sagrados importantes para a comunidade

Práticas e actores associados aos locais culturais e sagrados

Momentos/ situações de realização dessas práticas/ rituais

20 min.

Page 89: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

89/122

122

5. Mapa da casa e

vizinhança

Definir a tipologia habitacional típica

Identificar os elementos importantes do quintal e vizinhança

Definir a relação com o espaço físico

Definir a relação com a vizinhança

Divisões e uso das divisões

Outras construções no quintal

Vedação

Relação com a vizinhança

Apoio a grupos vulneráveis

20 min

6. Matriz da hierarquia

de autoridade

Identificar os principais níveis de autoridade a nível local

Identificar a hierarquia entre os diferentes níveis de autoridade

Quem são os líderes na comunidade?

Dentre estes líderes, quem responde a quem?

Qual é a responsabilidade de cada nível/ tipo de líder?

20 min. Folhas de flipchart

Marcadores de várias

Cores

Caderno

Máquina fotográfica

7. Árvore de análise de

problemas

Identificar as expectativas e preocupações da comunidade em relação ao projecto

Compreender o impacto do acesso às infraestruturas, serviços e actividades importantes face ao cenário actual e face ao futuro

Identificar os campos de força que podem facilitar e também dificultar o acesso às infraestruturas, serviços e actividades importantes .

Expectativas, preocupações e recomendações da comunidade em relação ao projecto

Visão versus desejo do futuro da comunidade

Papel do projecto (de mineração) na projecção desse futuro

Materialização do futuro desejado?

Uma vez implementado o projecto: o que pode fazer com que tenha impactos positivos para a comunidade, e o que pode fazer com que tenha impactos negativos.

45 min. Folhas de flipchart

Marcadores

Pedrinhas (10+10)

Máquina fotográfica

Page 90: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

90

90

A tabela abaixo sumariza as entrevistas e grupos focais que vão ser conduzidos no âmbito do estudo

qualitativo:

Actividade Localização Grupo-alvo

Entrevistas Cidade de Tete 1) Direcção Provincial de Obras Públicas e

Habitação (DPOPH) de Tete

2) Direcção Provincial da Cultura

Distrito de Chiúta,

Vila de Manje

3) Serviço Distrital de Planificação e Infra-

Estruturas (SDPI)

4) Serviço Distrital de Actividades Económicas

(SDAE)

5) Direcção Distrital de Cultura

Distrito de Moatize,

Vila de Moatize

6) Serviço Distrital de Planificação e Infra-

Estruturas (SDPI)

7) Serviço Distrital de Actividades Económicas

(SDAE)

8) Direcção Distrital de Cultura

Total de entrevistas 08

Discussões de Grupo

Focal (GF)

Área de Concessão de

Tenge-Ruoni (1035 L)

1) Comunidade 1 Massamba

2) Comunidade 2 Nkakame

3) Comunidade 3 Muchena

4) Comunidade 4 Pondandue

5) Comunidade 5 Matakale

6) Comunidade 6 Mbuzi

7) Comunidade 7 Tenge

8) Comunidade 8 Nambia

Estrada 9) Comunidade 9 (AD)

10) Comunidade 10 (AD)

Total discussões de grupo focal 20

O plano de visitas será feito consoante o mapa abaixo.

Page 91: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

91/122

91

Page 92: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

92

92

5 GUIÃO DE ENTREVISTA: DPOPH E SDPI Entrevistador(a): ____________________________________________________ Data: _____/_____/2014

Instituição contactada/ Distrito: _____________________________________________________________

Nome de Entrevistado: ___________________________________________________________________

Título de Entrevistado: ____________________________________________________________________

Telefone do Entrevistado:___________________ Email do Entrevistado:____________________________

Introdução

Bom dia (boa tarde), o meu nome é _________________________________ e trabalho com a COWI, Lda.,

uma empresa de pesquisa moçambicana. Estamos a conduzir um Estudo de Impacto Social, requerido pela

empresa CES, para um projecto de mineração de ferro nos distritos de Chiúta e de Moatize, da empresa

Capitol Resources . Para tal um dos objectivos deste estudo é conhecer melhor as dinâmicas sócio-

económicas das comunidades que se localizam na área do projecto.

Especificamente,estamos interessados em conhecer quais são os principais serviços e recursos existentes

nestas comunidades.

É nesse contexto, que gostaríamos de entrevistar o/a Sr/a para obter informações sobre o sector de infra-

estruturas sociais neste Distrito.

A informação fornecida nesta entrevista só será utilizada para o propósito da análise aqui em estudo, não

sendo os dados do entrevistado divulgados ou utilizados para outros fins.

Page 93: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

93/122

93

Prestação de serviços

1. Para iniciar gostaríamos de saber quais são os tipos de infra-estruturas e serviços sociais existentes (educação, saúde, água, saneamento, electricidade) na área do projecto (Tenge-Ruoni, P.A.)?

2. Beneficiários: Quais são os indicadores chave de cobertura da população (rácio infra-estruturas; recursos humanos dos diferentes serviços /Pop.)? Quem utiliza os serviços? Quem não os utiliza?

3. Qualidade: como avalia a qualidade dos serviços prestados? Dificuldades/obstáculos encontrados

na prestação de serviços de qualidade? Para além desta Instituição, quem mais presta este tipo de serviço neste posto administrativo?

Planos para o futuro

4. Serviços futuros: quais são os objectivos a médio e a longo prazo do seu sector ao nível do Posto

Administrativo de Kazula? Metas? Planos de aumento de cobertura? Novas infra-estruturas? Onde? Quando?

5. Desafios: quais são os principais desafios para atingir estes planos futuros? Como pensam responder aos desafios? Com o apoio de quem?

Expectativas face ao projecto

6. Já ouviu falar deste projecto de mineração de ferro da empresa Capitol Resources, na zona de

Tenge-Ruoni?

7. Qual é a sua opinião geral sobre este projecto de mineração de ferro? Porquê?

8. Quais são as suas expectativas sobre o projecto?

9. Quais são as suas maiores preocupações sobre o projecto?

10. Quais são as suas recomendações para o projecto?

Page 94: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

94

94

6 GUIÃO DE ENTREVISTA: SDAE Entrevistador(a): ____________________________________________________ Data: _____/_____/2014

Instituição contactada/ Distrito: _____________________________________________________________

Nome de Entrevistado: ___________________________________________________________________

Título de Entrevistado: ____________________________________________________________________

Telefone do Entrevistado:___________________ Email do Entrevistado:____________________________

Introdução

Bom dia (boa tarde), o meu nome é _________________________________ e trabalho com a COWI, Lda.,

uma empresa de pesquisa moçambicana. Estamos a conduzir um Estudo de Impacto Social, requerido pela

empresa CES, para um projecto de mineração de ferro nos distritos de Chiúta e de Moatize, da empresa

Capitol Resources . Para tal um dos objectivos deste estudo é conhecer melhor as dinâmicas sócio-

económicas das comunidades que se localizam na área do projecto.

Especificamente,estamos interessados em conhecer quais são os principais serviços e recursos existentes

nestas comunidades.

É nesse contexto, que gostaríamos de entrevistar o/a Sr/a para obter informações sobre o sector de infra-

estruturas sociais neste Distrito.

A informação fornecida nesta entrevista só será utilizada para o propósito da análise aqui em estudo, não

sendo os dados do entrevistado divulgados ou utilizados para outros fins.

Page 95: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

95/122

95

Principais actividades económicas

1. Para iniciar gostaríamos de saber quais são as actividades económicas principais da população no distrito e na área do projecto (Posto Administrativo Kazula, zona de Tenge-Ruoni)? Onde são praticadas? Percentagem da população envolvida?

2. Quais são as principais formas de uso da terra, no distrito e na área do projecto (Posto Administrativo Kazula, zona de Tenge-Ruoni)?

Planos para o futuro

3. Serviços futuros: quais são os objectivos a médio e a longo prazo do seu sector (Actividades

Económicas) ao nível da área do projecto (Posto Administrativo de Kazula e zona de Tenge-Ruoni)? Metas? Onde? Quando?

4. Desafios: quais são os principais desafios para atingir estes planos futuros? Como pensam responder aos desafios? Com o apoio de quem?

Estrutura Administrativa

5. Qual é a estrutura administrativa da área do projecto (Posto Administrativo de Kazula/ fronteira com

distrito de Moatize)?

6. Quantos regulados e quantos povoados existem na área do projecto? Quantos habitantes têm?

Percepções face ao projecto

7. Já ouviu falar deste projecto de mineração de ferro da empresa Capitol Resources, na zona de

Tenge-Ruoni??

8. Qual é a sua opinião geral sobre este projecto de mineração de ferro? Porquê?

9. Quais são as suas expectativas sobre o projecto?

10. Quais são as suas maiores preocupações sobre o projecto?

11. Quais são as suas recomendações para o projecto?

Page 96: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

96

96

7 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - HISTÓRIA DA COMUNIDADE

Data:___/____/2014 Comunidade/ Distrito:_______________________________________

Total participantes:_________ Homens__________ Mulheres__________

Grupo-alvo: líderes locais (chingore, n’fumo, outros)

Objectivos:

Relatar a história da comunidade;

Recolher os principais movimentos migratórios que marcaram a comunidade;

Recolher os grandes acontecimentos que marcaram a história da comunidade (secas,

doenças, conflitos);

Metodologia: O moderador inicia expondo os objectivos do exercício.

Para iniciar a “conversa” o moderador deverá dizer que está interessado em conhecer a história

da comunidade: em conhecer quando é que eles para ali vieram, por que razão, como ali se

instalaram; quais os acontecimentos que mais marcaram aquela comunidade, e de que forma

deixaram essa marca.

Essas questões servirão para lançar a conversa que o moderador deixará seguir, colocando

outras questões exploratórias, como por exemplo:

Origem (mítica) de comunidade:

Quem eram os primeiros habitantes da comunidade?

De onde vieram? Porquê saíram de lá?

Porque se instalaram aqui?

Dinâmica populacional e fluxos migratórios:

Que tipo de grupos populacionais vivem aqui (homogeneidade)? Porque vieram para cá?

Como foram recebidos aqui?

As pessoas ainda se deslocam muito – vão para outros lugares? Vêm para aqui?

Conflitos locais:

Houve algum grande conflito na comunidade?

Que tipo de conflito era?

O que causou o conflito? Quais as razões para o conflito?

Quem esteve envolvido no conflito?

Como foi solucionado o conflito? Quem esteve envolvido na solução (pessoas, instituições)?

Hoje em dia, quando há conflitos na comunidade, como se resolvem?

Grandes crises:

Page 97: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

97/122

97

A comunidade passou por alguma grande crise?

Que tipo de crise foi – doença grave, seca, fome, guerra…

O que esteve na origem da crise?

Quem esteve envolvido na crise?

Como foi ultrapassada a crise?

Que consequências deixou para a comunidade? No início do exercício o moderador desenha uma linha numa folha de flipchart, colocada na horizontal, e explica aos participantes que o início da linha marca o início da história da comunidade, e que o fim da linha marca o ano actual (2014). Explica também que vai querer mostrar ao longo da linha os principais acontecimentos que marcaram a vida da comunidade. À medida que os participantes vão narrando a história da comunidade (origem mítica, dinâmica populacional, conflitos, crises), o moderador escreve cada um dos episódios narrados num post-it e coloca-o o mais perto possível do período temporal mencionado pelos participantes. Se, no decurso da discussão, os participantes falarem de experiências com projectos de mineração, estas devem ser anotadas no post-it e colocadas na linha da história da comunidade. Se os participantes não falarem disto espontaneamente, no fim da discussão sobre a história da comunidade o moderador deve introduzir estes temas e tomar notas escritas, no caderno, sobre a discussão:

Mineração: o Aqui na comunidade, ou perto, já houve pessoas que vieram praticar

mineração? o Quando foi isso? o Quem eram essas pessoas? o Como foi essa experiência (de mineração) para a comunidade (explorar

consequências positivas e negativas? o Essa experiência de mineração trouxe problemas à comunidade? Que tipo de

problemas? o Como foram resolvidos os problemas?

Deslocação (devido por exemplo a calamidades naturais): o Aqui na comunidade, ou perto, já houve pessoas que tiveram de deixar as suas

casas para ir morar noutro sítio? o Porque (causas/ razões) tiveram de deixar as suas casas? o Quando foi isso? o Para onde foram? o Como isso aconteceu? o Como ficaram as pessoas, depois de terem ido para o novo sítio? (explorar se

os padrões de vida mantiveram-se, melhoraram ou deterioraram, e se mantiveram ou não os laços com o local ou a comunidade de origem)

Page 98: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

98

98

8 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - MAPA DOS LOCAIS CULTURAIS E SAGRADOS

Data:___/____/2014 Comunidade/ Distrito:_______________________________________

Total participantes:_________ Homens__________ Mulheres__________

Grupo-alvo: líderes locais (chingore, n’fumo, outros)

Objectivos:

Identificar e delimitar a área que corresponde à aldeia/comunidade;

Identificar os locais religiosos e sagrados importantes para a comunidade;

Atribuir a importância de cada local identificado;

Identificar as práticas, actores e momentos associados a esses locais.

Metodologia: O moderador começa por explicar os objectivos da actividade.

De seguida o moderador coloca uma folha de flipchart em branco no chão, visível a todos os

participantes. Pede aos participantes que imaginem que a folha seja a sua

comunidade/bairro/aldeia. Pergunta pelos limites da comunidade (onde termina a comunidade,

em cada direcção) e pede aos participantes para marcarem os limites nos extremos da folha. De

seguida, pergunta qual é o lugar mais importante da comunidade, onde fazem cerimónias ou

eventos da comunidade, e pede aos participantes que situem esse lugar no mapa. Em seguida,

pede-lhes que identifiquem outros lugares importantes e que os situem igualmente no mapa.

Após explorar os lugares cerimoniais da comunidade, faz o mesmo para os lugares onde só

algumas pessoas podem ir (ex. cemitérios, matas sagradas para curandeiros, ritos de iniciação)

ou lugares onde ninguém pode entrar. O moderador deixa o grupo fazer o exercício sem intervir.

Por fim, moderador pede ao grupo que apresente o mapa em plenária e discute o seguinte:

Quais são os limites de comunidade?

Por que razão cada um destes lugares é importante? O que se faz nesses lugares?

(explorar práticas e rituais)

o Quem organiza, participa ou orienta a cerimónia/ evento?

o A cerimónia/evento deve ser praticada apenas nesse local ou pode ser feito

noutro local?

Quem tem acesso (pode entrar) nesses lugares sagrados?

Quem não tem acesso (não pode entrar) nesses lugares sagrados? Porquê?

Onde é que os membros de comunidade (mulheres / homens / jovens) se costumam

encontrar? Em que momentos (no dia-a-dia)?

Cemitérios:

o Existem cemitérios formais (públicos/ geridos por um serviço local) e cemitérios

familiares? (tentar localizar alguns e georreferenciar)

o Os cemitérios são utilizados ou actualmente estão fechados?

o Quem controla o uso dos cemitérios?

o Quem usa os cemitérios?

o Se o cemitério ou uma campa tiver de sair desta zona, como isso deve ser feito?

Page 99: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

9 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - MATRIZ DA HIERARQUIA DE AUTORIDADE

Data:___/____/2014 Comunidade/ Distrito:______________________________

Total participantes:_________ Homens__________ Mulheres__________

Grupo-alvo: líderes comunitários (Secretário de Bairro, Chefe do Quarteirão)

Objectivos:

Identificar a organização administrativa da comunidade;

Identificar os líderes da comunidade, aos diferentes níveis, e como eles se

relacionam (quem responde a quem);

Compreender as responsabilidades gerais de cada nível de liderança.

Metodologia: O moderador começa por explicar os objectivos da actividade.

De seguida o moderador coloca uma folha de flipchart no chão, na vertical, no

meio dos participantes, e pergunta:

Organização administrativa:

o quantos bairros ou (se não houver bairros) zonas compõem a

aldeia?

o Quantas pessoas ou famílias moram em cada bairro ou zona?

Hierarquia da autoridade:

o Quem são os líderes que representam a população?

o Como estão organizados os líderes? (a quem responde cada um?

Explorar de baixo para o topo)

o Qual o papel/ responsabilidade de cada líder?

o Quando possível, diferenciar as autoridades políticas (ex. chefe

de célula, secretária da OMM) das autoridades locais (Secretário

de Bairro, Chefe de Quarteirão, Chefe de 10 Casas, etc)

À medida que a discussão avança, o moderador toma notas escritas sobre a

organização administrativa e desenha, no flipchart, a hierarquia da autoridade. No

final confirma com os participantes se a hierarquia desenhada está correcta, nível

por nível.

Page 100: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

10 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - MAPA DOS SERVIÇOS E RECURSOS DA COMUNIDADE

Grupo-alvo: líderes comunitários (Secretário de Bairro, Chefe de Quarteirão)

Objectivos:

1. Identificar e delimitar a área que corresponde ao bairro ou à aldeia;

2. Identificar os locais considerados importantes para a comunidade

(machambas, mercados, florestas, rios, locais sagrados, cemitérios, etc.) e

a razão da sua importância;

3. Identificar o tipo de relação que a comunidade tem com o espaço físico.

Metodologia:

O moderador inicia explicando os objectivos da actividade.

De seguida o moderador coloca uma folha de flipchart em branco no chão, visível

a todos os participantes. O moderador pede aos participantes que imaginem que a

folha seja a sua comunidade/bairro/aldeia. Pergunta pelos limites da comunidade

(onde termina a comunidade, em cada direcção) e pede aos participantes para

marcarem os limites nos extremos da folha. De seguida, o moderador pergunta

qual é o lugar mais importante da comunidade e pede aos participantes que

situem esse lugar no mapa. Em seguida, pede-lhes que identifiquem outros

lugares importantes e que os situem igualmente no mapa. O moderador deve

deixar o grupo fazer o exercício sem intervir.

Por fim, moderador pede ao grupo que apresente o mapa em plenária e discute o

seguinte:

Por que razão os lugares apresentados são importantes? O que se faz nesses lugares?

Quando adequado, perguntar sobre os recursos associados a esses lugares (ex. o que se cultiva na machamba?)

Uso da terra: onde são as áreas residenciais? As áreas de cultivo (machamba)? As áreas de pastagem? As áreas de pesca? As áreas de extracção de recursos naturais (carvão, lenha, minas)?

Onde é que os membros de comunidade (mulheres / homens / jovens) se costumam encontrar? Em que momentos (no dia-a-dia)?

Durante a discussão em plenária o moderador toma notas escritas da discussão..

Page 101: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

101/122

101

11 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - MAPA DA MOBILIDADE

Grupo-alvo: líderes comunitários (Secretário de Bairro, Chefe de Quarteirão)

Objectivos:

1. Identificar as dinâmicas populacionais e fluxos migratórios do passado e

presente da comunidade;

2. Identificar a atitude da comunidade perante a emigração e a imigração;

3. Identificar possíveis conflitos associados à migração, em particular

experiências passadas vividas pela comunidade/ membros desta com

novos membros na comunidade ou em comunidades para onde membros

da comunidade tenham migrado.

Metodologia:

O moderador inicia explicando os objectivos da actividade.

De seguida o moderador inicia uma discussão em plenária, da qual toma notas

escritas. Explica que, depois de mapear os serviços e recursos importantes para a

comunidade, quer falar sobre as pessoas que entram e saem da comunidade e de

que modo isso afecta a comunidade.

O moderador pode usar perguntas exploratórias, como por exemplo:

Origem (mítica) da comunidade:

o Quem eram os primeiros habitantes da comunidade?

o De onde vieram?

o Porque se instalaram aqui?

o Desde que a comunidade foi criada até hoje, houve momentos em

que a comunidade/ membros da comunidade teve de:

receber pessoas de fora? Que momentos? (ex. cheias,

guerra pós-indepedência)? Que pessoas? (de perto, de

longe, de outros distritos, de outras províncias)

sair para outra zona? Que momentos? Para onde foram?

Ficaram lá para sempre ou regressaram?

Dinâmica populacional e fluxos migratórios:

o Hoje em dia, a comunidade é composta basicamente por pessoas

da zona ou há pessoas que vieram de fora?

o (as pessoas que vieram de fora) Porque vieram para ali? Estão na

comunidade há muito tempo?

o Quando/como é que uma pessoa deixa de ser “de fora”?

o Hoje em dia, os membros da comunidade ainda saem muito para

fora? Para onde vão? O que vão fazer? Voltam?

o Como são recebidas as pessoas que vêm de fora, quando se

instalam na comunidade?

o O que deve fazer a pessoa que vem de fora, para ser bem

recebida na comunidade?

Page 102: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

102

102

12 GUIÃO PARA GRUPO FOCAL - ÁRVORE DE ANÁLISE DE PROBLEMAS

Grupo-alvo:

líderes locais locais (chingore, n’fumo, outros)

líderes comunitários (Secretário de Bairro, Chefe de Quarteirão)

Objectivos:

1. Identificar os principais problemas vividos na comunidade;

2. Identificar as expectativas, preocupações e recomendações, do ponto de

vista da comunidade, em relação ao projecto;

3. identificar soluções/ medidas que podem mitigar os impactos negativos do

projecto e potenciar os seus impactos positivos, bem como o papel da

comunidade no processo.

Metodologia:

O moderador inicia explicando os objectivos da actividade.

De seguida o moderador explica que, após se falar a mobilidade na comunidade,

gostaria de ter uma última conversa sobre o projecto de mineração do ferro que se

pretende implementar na zona.

O moderador coloca uma folha de flichart no chão, na horizontal, de modo visível

aos participantes. Divide-a em quatro colunas. Pede aos participantes que digam

quais são os principais problemas que afectam/ reduzem a qualidade de vida na

comunidade, e lista-os na primeira coluna à esquerda (“Problemas”).

Após completar a coluna “Problemas”, o moderador explica que a segunda coluna

indica o número de pessoas afectadas pelo problema (“Volume da população

afectada”) e a terceira coluna a gravidade do problema para a comunidade

(“Gravidade do problema”). Os participantes devem completar a 2ª e 3a colunas,

para cada problema listado. Para tal, devem-lhe ser dadas 10 pedrinhas e

explicado que, para cada problema, devem marcar na coluna 2 com as pedrinhas

o número de pessoas afectadas pelo problema, numa escala de 1 a 10 em que 1 é

“quase nenhuma pessoa da comunidade” e 10 “muitas pessoas da comunidade”.

Tendo completado a coluna 2, sempre no mesmo problema, passam para a

coluna 3: são-lhes dadas mais 10 pedrinhas e explicado que devem marcar com

as pedrinhas a gravidade do problema para a comunidade, numa escala de 1 a 10

em que 1 é “pouco grave” e 10 “muito grave”. Após completadas as colunas 2 e 3,

o moderador faz a soma das pedrinhas na coluna 2 e escreve o total dentro da

célula, repete o mesmo para a coluna 3. Após isto soma o total de 2 e 3 para obter

a pontuação total do problema e anota-o na respectiva célula da coluna 4.

O moderador repete estes passos para cada um dos problemas listados, sem

interferir com o processo de pontuação problema a problema pelos participantes.

No fim do exercício, obtém-se uma tabela como exemplificado abaixo. O

moderador explica como interpretar o resultado da tabela: as pontuações totais

Page 103: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

103/122

103

mais altas indicam que esses são os problemas mais sérios, e as mais baixas os

problemas menos sérios. De seguida o moderador pergunta aos participantes se

concordam com o resultado final da tabela. Caso não concordem com algum

resultado, o moderador deve explorar porquê e tomar notas escritas da discussão.

1.Problema 2.Volume da

população

afectada

3.Gravidade do

problema

4.Pontuação

(2+3)

Furos de água estão

avariadas

13

Não há Posto de

Saúde

20

Quando chove a

estrada fica má e

não se passa

12

Desemprego

15

Posto isto o moderador pergunta de que maneira o projecto de mineração de ferro

pode afectar cada um dos problemas listados, de modo positivo (resolvendo-os ou

mitigando-os) e de modo negativo (aumentando-os).

Por fim o moderador pergunta e toma notas escritas das respostas:

O que deve ser feito para impedir que o projecto de mineração do ferro

agrave os problemas da comunidade? Quem é responsável por isso? Que

papel a comunidade pode ter no processo?

O que pode ser feito para garantir que o projecto de mineração de ferro

ajuda a resolver os problemas da comunidade? Quem é responsável por

isso? Que papel a comunidade pode ter no processo?

Quais são as principais preocupações da comunidade em relação ao

projecto? (explorar questões/ problemas não listados anteriormente)

Que recomendações a comunidade tem para o projecto, para que este

seja bem-sucedido e traga benefício à comunidade?

(perspectiva) Como é que vêm a comunidade daqui a 5-10 anos?

(desejo) Como é que gostariam que fosse a comunidade daqui a 5 – 10 anos?

O que é preciso para que estas mudanças se tornem reais?

Page 104: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

104

104

Anexo D: Matriz de Dados Qualitativos

Page 105: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

105/122

105

Tabela 16: Sumário dos dados qualitativos recolhidos

Comunidade Distrito Localização Afectada História da Comunidade Mapeamento da Mobilidade

Mapeamento de Serviços e Recursos

Uso do Solo Locais Históricos e Sagrados

Socialização

Mboza

Moatize

Estrada de transporte Indirectamente

- Origem: migrantes de Macanga, à procura de solo fértil. Cresceram após a guerra de 1976-1992, refugiados internos à procura de solo fértil. - Etnicamente diversificados Nhungwe, Sena, Malawiano, descendentes de colonos portugueses). - Crises: seca, fome, doenças. - Nenhuma experiência em mineração ou reassentamento.

- Passado e Presente da Imigração: Cresceram após a guerra de 1976-1992, refugiados internos à procura de solo fértil.

- Estrada para Moatize - rio (Revubue) e regos (consumo de água, irrigação, pesca, água para o gado) - igreja católica - machamba - estábulo

- Principal: agricultura - separação de areas para a agricultura e para a pastagem de gado + extração de lenha

- Montanhas sagradas para cerimónia da chuva, cerimónia da agricultura e culto aos antepassados. Entrada proibida. - Locais sagrados não podem ser transferidos para outros locais (as cerimónias não irão funcionar). - cemetérios: apenas para membros da comunidade (montanha sagrada), outro público.

- Todos: local e ponto de encontro da comunidade - Mulheres: rio

Tenge-Makodwe

Área de Concessão

Indirectamente

- Origem: trabalhadores migrantes de Manica, alojados e satisfetios com o solo fértil - crises: Guerra de 1976-1992 ('83), luta de libertação, doenças (malária, cólera, disenteria, unidade hospitalar distante), secas e cheias. - experiência temporária de desajolamento devido à Guerra, mas nenhum alojamento permanente. - experiência de mineração: Capitol 2011.

- Imigração faz parte da história da comunidade - presente: mais imigrações (agricultura) do que a emigração (busca de emprego)

- Rio Revubue (consumo de água, terreno de irrigação agrícola, pesca) - montanha sagrada - área abastecimento de água - floresta (terreno, caça, precipitação) - escola - moinho

- Principal: agricultura - separação de áreas para a agricultura e para a pastagem de gado + extração de lenha

- Árvore e Montanha sagrada (cerimónia de chuva com Tsato, cerimónia da madeira). Nova árvore cerimonial poderá ser escolhida se a árvore anterior for queimada. - cemitérios públicos (separação de áreas para adultos/ crianças). Sepulturas poderão ser transferidas com autorização do chefe comunitário. . - igreja

- Mulheres: machamba, rio/fonte de abastecimento de água, moinho, floresta/ extração de lenha. - homens: barracas

Mbuzi Chiúta Indirectamente

- Origem: migrantes de Chidzolomondo, à procura de solo fértil, área inabitada - crises: guerra (luta de libertação de '71, 1976-1992 guerra de '82), fome ('83), seca ('89), disenteria ('94), cheias (2005), ataques de elefantes (recentemente). - experiência prévia de prospecção de recursos minerais, mas sem

- As pessoas partiram para a cidade de Tete, Malawi, Zâmbia, Zimbábue devido à guerra pós independência. Retornando depois de '92 - Actualmente:

- Escola primária (1

a e 2

a classe)

- poço (actualmente quebrado) - moinho - machamba (comida e lenha) - rio (pesca, água para o gado, irrigação) - encontro da

- Principal: agricultura. Terrenos agrícolas próximos ao rego. Comida e lenha. - conflito homem/animal, embora não haja disputa de terreno.

- Igrejas - cemitérios (2 para adultos e 2 para crianças). Cemitérios não poderão ser transferidos. - locais sagrados (rocha, baobá, monte dos leões, montanha Muniamba): cerimónia da chuva com Tsato, autorização concedida

- Na sua totalidade: grande árvore nteme, moinho - mulheres: machamba, rio, igreja - homens: machamba, momentos de celebração.

Page 106: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

106

106

Comunidade Distrito Localização Afectada História da Comunidade Mapeamento da Mobilidade

Mapeamento de Serviços e Recursos

Uso do Solo Locais Históricos e Sagrados

Socialização

mineração. - experiência prévia de desalojamento devido à fome e as cheias, mas sem assentamento permanente.

recebe imigrantes à procura de solo fértil.

comunidade na árvore - igrejas

para os estrangeiros exercerem mineração.

Chianga Indirectamente

- Origem: migrantes de Mbuzi à procura de solo fertile, satisfeitos com o solo e a proximidade com o rego de Chianga.O nome provém do rego. - Crises: guerra (1976-1992), fome ('83, '92, '05), disenteria ('93), malária (2012) e conflitos homem-animal (ataques de elefantes aos terrenos agrícolas, 2014), cheias (inundações às machambas 2008) - experiência prévia de prospecção de recursos minerais, mas sem mineração. - experiência prévia de desalojamento devido à fome e as cheias, mas sem reassentamento permanente.

- As pessoas partiram para Tete, Malawi, Zâmbia, Zimbábue devido à guerra pós independência. Retornando depois de '92

- Terrenos agrícolas (próximos aos regos) - rio (pesca, água para a irrigação) - floresta (consumo e venda de Madeira)

-Principal: agricultura. Terrenos agrícolas localizados junto aos quintais da casa e aos regos - conflito homem-animal (ataques de elefantes aos terrenos agrícolas, 2014).

- Igreja Abdulahamu - Montanha (cerimónia da chuva Tsato,relação da cobra com os antepassados) - árvore ceremonial Ntalala (também é ponto de encontro da comunidade) - cemitérios públicos de Massamba and Mbuzi (próximos)

- todos: árvore Ntalala - mulheres: terrenos agrícolas e na recolha de água ao rio - homens: nas barracas ou na casa do amigo

Muchena Indirectamente

- Origem: migrantes de Zumbo/ Macanga, satisfeitos com a boa zona de habitação. - Presença Colonial, luta de libertação ('71), 1976-1992 guerra ('82). - crises: Guerra, cólera. Não há conflitos de terreno. - não há experiência de mineração - não há experiencia de reassentamento involuntário (desalojamento temporário devido à guerra mas sem reassentamento permanente)

- As pessoas partiram para a cidade de Tete, Malawi, Zâmbia, Zimbábue devido ao tratamento de doenças (regime colonial / ataques armados/ guerra). Retornando depois de '92 - imigração (trabalho/Tete) e emigração (agricultura)

- Próximos ao: regos de Revubuè - bomba manual de água - mercado - rio (água para consumo, irrigação, pesca) - posto de saúde (para além da casa do Chefe da Localidade) - madeira: lenha (e carvão) e materiais de construcção.

- separação de áreas para a agricultura e para a pastagem de gado (proteção das plantações contra animais) - madeira: lenha (e carvão) e materiais de construcção - posse da terra: customizada

- Ruínas de prisões coloniais - carro à vapor - igrejas - árvores sagradas dentro do cemitério (cerimónia da chuva Tsato, culto aos antepassados, anualmente) - local de ritos de iniciação (entrada proibida na floresta) - lago (punição) - cemitérios (público, próximo ao rio e aos terrenos agrícolas) - sepulturas (antepassados):poderão

- todos: árvore (ntowe), encontros da comunidade - mulheres: terrenos agrícolas, bombas manuais de abastecimento de água - homens: locais de consumo de bebidas

Page 107: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

107/122

107

Comunidade Distrito Localização Afectada História da Comunidade Mapeamento da Mobilidade

Mapeamento de Serviços e Recursos

Uso do Solo Locais Históricos e Sagrados

Socialização

acontecendo ainda - Chewa (local) e Nhugue (viente)

ser transferidos, mas nunca terá acontecido. Deverão ser feitas cerimónias.

Nhambia Indirectamente

- Origem: migrantes do Chipire, à procura de solo fértil. - Luta de libertação, 1976-1992 guerra ('85). - crises: guerra, seca - conflictos man/animal. Sem disputa de território. - experiência de desalojamento voluntário e forçado (seca e guerra) mas sempre retornado. - experiência prévia de prospecção mineral (2008). Qualidade fraca do carvão fez com que a mineração terminasse. Foi postivo devido a possibilidade de empregar mão-de-obra local. - nenhuma experiência de reassentamento permanente.

- '85: desalojamento forçado para Kazula. Ataques armados, as pessoas partiram para Tete, Malawi, Zâmbia, Zimbábue - Imigração: solo fértil (passado e presente), seca, guerra (passada) provenientes de localidades próximas. - hoje em dia: emigração temporária (casamento)

- Machamba - montanhas e árvores sagradas - cemitérios - Escola - rio, regos (consumo de água, irrigação, pesca, água para o gado) - igrejas - área de pastagem - estábulos

- Terreno: agricultura, pastagem de gado, lenha - separação da área para agricultura e da área para pastagem + extração de lenha

- Montanhas e árvores sagradas para cerimónia da chuva Ndzingoe com Tsato. Locais cerimoniais não deverão ser transferidos. - cemitérios (2): um para adultos, um para crianças. Públicas. Sepulturas poderão ser removidas dependendo da concordância da família, culto aos antepassados e compensação financeira. - igrejas

- ponto de encontro das mulheres: machamba, rio/ recolha de água. - ponto de encontro dos homens: barracas

Matacale Indirectamente

- Origem: migrantes de áreas próximas, à procura de solo fértil - Presença colonial, luta de libertação, guerra de1976-1992. Ataques armados: as pessoas partiram para a cidade de Tete, Malawi, Zâmbia, Zimbábue - Crises: guerra, cólera, fome, seca - conflito territorial devido ao projecto. Matacale proclamou ser proprietário do local mas não terá sido beneficiado, ao contrário de Massamba. O Chefe do Posto

- Parte de origem mítica - hoje-em-dia: maior imigração (trabalho) do que emigração (casamento, trabalho)

- Estrada para a cidade com pontes. - rio (consumo de água,pesca, água para o gado, irrigação) - escola - igreja (fonte de ajuda) - Posto de Saúde Kazula (medicação, cloro para surtos de cólera) - floresta (chuva, paus de madeira para construcção, lenha).

- Machambas nas margens dos rios, regos. - duas empresas activas de Madeira serrada na área. - Montanhas Chitongue: mineração (Capitol)

- Montanhas Chitongue com Tsato: cerimónia da chuva Colole (participação de toda a comunidade). - Locais cerimonias não podem ser transferidos. – cerimônias da chuva também são realizadas nos regos. -cemitérios: um para adultos e um para crianças. Públicas. - Sepulturas não devem ser transferidas.

- Ponto de encontro de mulheres: machamba e nas fontes de água. - ponto de encontro de homens: mercado, barracas. - todos: nas sombras das mangueiras.

Page 108: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

108

108

Comunidade Distrito Localização Afectada História da Comunidade Mapeamento da Mobilidade

Mapeamento de Serviços e Recursos

Uso do Solo Locais Históricos e Sagrados

Socialização

Administrativo verificou os limites territoriais e provou que o local pertencia ao Matacale, que agora está a beneficiar com o projecto. - 2009: Capitol inicia a mineração. Boa experiência, empregou-se mão-de-obra local (embora tenha havido conflitos com Massamba). - experiência temporária de desalojamento (guerra), sem reassentamento involuntário permanente.

- montanha com recursos minerais (atraem companhias mineiras que empregam mão-de-obra local) - mercado - bomba de água - cemitério público(1 para adultos, 1 crianças)

Massamba Indirectamente

- Origem: migrantes Sena, satisfeitos com a fertilidade do solo e com os animais de caça - crises: cheias, fome, guerra (luta de libertação '63, guerra de 1976-1992), anemia - experiência de prospecção mineral: prospecção (Gondwana, 2009), exploração (Capitol, 2010) - não há experiência de reassentamento permanente

- Passado: emigração para fazendas Zimbabweanas, desalojamento devido à guerra civil - hoje-em-dia: procura de emprego na cidade de Tete, Malawi.

- Escola primária completa - Machamba - lagoa e regos (consumo de água, pesca e irrigação) - Floresta (lenha, paus de madeira)

- Principal: agricultura - separação do terreno para agricultura, pastagem de gado e extração de lenha. - Floresta: lenha e paus de madeira

- Cemitério público - cemitério familiar/ ritos de iniciação para rapazes. - árvores Mteme / ritos de iniciação para meninas - Rego Canditi / culto dos antepassados - É possível remover sepulturas após autorização, rituais e compensação monetária.

Todos: sombra das magueiras/ Madgiga

Page 109: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

109/122

109

Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas

Matriz de Hierarquia de Autoridade

Grupos Vulneráveis

Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas

Mboza

Moatize

Estrada de transporte Indirectamente

- Principal: agricultura (milho, amendoim, milho-miúdo, feijão-frade, batata doce, cassava) - criação de gado - pesca - produção e venda de carvão, lenha,esteiras

4 bairros - matriz de autoridade: 1. líder da comunidade nfumo (solucionador de problemas) 2. Vice-líder 3. Chefe da Zona (divulgação de informação) 4. Chefe de Quarteirão (resolve problemas diários) 5. Chefe da OMM Havia um juíz mas após a sua reforma, não foi substituído.

Crianças órfãs - 3 quartos (sala de estar + 2 quartos de dormir). Feitos com lama e paus de madeira. - quintal: cozinha, celeiro (parte dianteira), latrina, casa-de-banho, curral (galinha, goat, porco, vaca) (traseiras)Tudo feito de caniço excepto a cozinha (lama e paus de madeira) - vizinhos: parentes, boas relações

- Conflitos (domésticos, violência, embriaguez), resolvidos internamente. - parentes contribuiem em espécie em momentos difíceis

- Projecto deve comunicar e coordenar com a comunidade. - comunidade: preocupação acerca do reassentamento (querem proteção, não querem ser afastados). - projecto: prioritizar empregos para a mão-de-obra local e abordar as necessidades sociais. Evitar falsas promessas. - necessidades de infra-estruturas sociais: hospital, escola, fontes de abastecimento de água, mercado.

Tenge-Makodwe

Área de Concessão Indirectamente

- Principal: agricultura (cebola, tomate, milho, feijão, alface, cana de açúcar, banana, batata, batata doce, tabaco) - criação de gado - pesca

5 bairros 608 residentes Matriz de autoridade vertical: 1. Líder comunitário 2. Chefe do bairro 3. Chefe 10 casas 4. Secretário partido + Adjunto Secretário 5. Polícia comunitária (abaixo do líder comunitário) 6. Chefe da OMM & adjuntos.

Idosos, órfãos, deficientes

- 4 quartos (sala de estar, quarto dos pais, quarto das crianças, despensa). Feitos com paredes de lama e paus de madeira. - sem vedação, mas com árvores - vizinhos: parentes, membros comunitários. Boas relações.

- Conflitos e crises resolvidas internamente. - parentes contribuiem em espécie em momentos difíceis

- Abordar necessidades sociais da comunidade. - uma pessoa deverá tomar conta da outra (respeito mútuo) - Evitar falsas promessas - Mostrar uma attitude "Até aqui tudo bem" perante o projecto.

Page 110: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

110

110

Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas

Matriz de Hierarquia de Autoridade

Grupos Vulneráveis

Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas

Mbuzi

Chiúta

Indirectamente

- Principal: agricultura (milho, repolho, alho, tomate, cebola, feijão-frade, feijão manteiga, mandioca, amendoim, quiabos, alface, batata-doce, caphodza, tabaco) - Pesca - Produção e venda de carvão

5 bairros Matriz de autoridade vertical: 1. Líder comunitário (governa). 2. Líder religioso/ vice-líder comunitário (resolve conflitos). 3. 1º Secretário Partido (propaganda) 4. Chefe da OJM (mobilizar os jovens) 5. Chefe do quarteirão (resolver problemas diários) 6. Chefe 10 casas (disseminar informação)

Idosos - 4 quartos (sala de estar, quarto dos pais, quarto das meninas, quarto dos meninos). Rapazes com mais de 9 anos vivem em quartos separados fora no quintal. Feitos com paus de madeira. Quintal: área de refeições, celeiro (frente), casa de banho c / latrina, curral (cercado com porcos, cabras, patos, frango, vaca), galinha (traseiras). - Vizinhos: parentes. Boas relações.

- Conflitos e crises resolvidos internamente. - Contribuição em espécie por familiares em momentos de dor.

- Respeito mútuo - Comunicação clara, regular e de antemão e consulta à comunidade (estabelecer as necessidades, o papel da empresa, e a contribuição da comunidade) - Marcar uma reunião inicial com a comunidade, com agenda pré-definida - Empresa: priorizar a mão-de-obra local e abordar as necessidades sociais (posto de saúde, bomba de água) - Se surgirem problemas: identificar as causas e as soluções em conjunto

Chianga Indirectamente

- Agricultura (consume principal) - Criação de gado - Pesca (consumo) - Produção e venda de carvão

3 Bairros Matriz de autoridade vertical: - Chefe (n'fumo), - Líder com Vice-líder. - Chefe de Quarteirão - 10 Casas.

- Idosos, jovens desempregados

- 3 quartos, construídos com paredes feitas com lama e paus de madeira ( quarto dos pais, quarto das criança, sala de estar). Crianças com 9 anos ou mais velhas: quarto separado no quintal. - fora do quintal:

- Funeral: apoio em espécie ou em dinheiro dos membros da comunidade - Cheias de 2008: membros da comunidade contribuíram e compraram milho juntos

- Respeito mútuo - Comunicação antecipada e realizar consulta à comunidade (estabelecer as necessidades, o papel da empresa, e a contribuição da comunidade) - Respeitar as datas de início da actividade mineradora - Empresa deve resolver as necessidades da

Page 111: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

111/122

111

Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas

Matriz de Hierarquia de Autoridade

Grupos Vulneráveis

Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas

cozinha, latrina, quarto de banho, curral (com cabras, vacas, porcos) (traseiras), celeiro, galinha (frente). - Quintal não cercado (mas limitado por árvores) - Vizinhos: parentes. Boas relações.

comunidade - Comunidade deve contribuir com o trabalho

Muchena Indirectamente

- Principal: agricultura (homens, mulheres, crianças)

2 bairros, blocos(40 casas) Matriz de autoridade vertical: 26 Lideres locais: 1 nfumo/ 1º escalão 3 nhankawa/ 2º escalão 10 Nhankawa/ 3º escalão 1 chefe + 12 chefes de quarteirão

Idosos, deficientes, pessoas 'preguiçosas'

- Casa com 2 quartos (sala de estar + quarto), feitos com paredes de lama e paus de madeira com telhado de palha - Crianças +7 anos: casa separada (1 quarto), rapazes & raparigas separados - Fora do quintal: cozinha (c/armazenamento de água), latrina, casa de banho, celeiro, aterro sanitário, curral (tudo caniço) - Quintal cercado com plantas

- Comunidade unida, os vizinhos se reúnem para conversar à noite, e dar apoio nos momentos de tristeza - Seguir os líderes, contar com a sua orientação

- Projecto: responder as necessidades da comunidade (escola, hospital, pontes, rede de telefonia celular, furos, posto policial) - Governo deve contribuir com recursos humanos para construção de serviços sociais - Empregar mão-de-obra local - Respeito as tradições locais - Atribuir subsídios aos líderes (apoiam os interesses da empresa)

Page 112: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

112

112

Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas

Matriz de Hierarquia de Autoridade

Grupos Vulneráveis

Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas

- Vizinhos: boas relações

Nhambia Indirectamente

- Principal: agricultura (sorgo, milho, amendoim, feijão-frade, abóbora, quiabos, repolho, tabaco, batata, batata-doce). - criação de gado - pesca

4 Bairros 213 residentes Matriz de autoridade vertical; 1. Líder comunitário (Nhakwawa, governa) e chefe do tribunal (resolve conflitos). 2. Vice-líder (documenta) 3. Chefe do quarteirão (vice-líder) 4. Chefe 10 casas (4): mobiliza a população

Idosos, crianças órfãs, deficientes.

- 3 Quartos, com paredes feitas de lama e paus de madeira (quarto dos pais, quarto das crianças, sala de estar) - Quintal: cozinha, latrina, quarto de banho, currais (com cabra, vaca, porco) (nas traseiras), celeiro, galinha (parte da frente). - Quintal não cercado (limitado por árvores) - Vizinhos: parentes. Boas relações.

- Conflitos resolvem-se através do tribunal de costumes e direitos - Toda a comunidade participa e contribui para as cerimónias sagradas e celebrações - Apoio em espécie dos membros da comunidade em tempos de dor (morte, incêndio)

- Projecto; priorizar o emprego de mão-de-obra local, fornecer infra-estruturas sociais (escolas, estradas, bombas de água, apoio a crianças órfãs e idosos) - Papel da comunidade: fornecer trabalho para a construção de infra-estrutura social. - Preocupação em relação ao reassentamento (há terra fértil, e o rio por perto - não querem deixar a menos que o novo local tenha as mesmas condições)

Page 113: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

113/122

113

Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas

Matriz de Hierarquia de Autoridade

Grupos Vulneráveis

Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas

Matacale Indirectamente

- Principal: agricultura (sorgo, milho-miúdo, feijão manteiga, abóbora, piri-piri, pepino, mandioca, batata doce, amendoim). - Mas a seca: fome, crianças saíram das escolas; HH compra comida em Tete. - pesca

5 Bairros 582 residentes Matriz de autoridade vertical: 1. Líder comunitário (Nhakwawa, recolhe/ dissemina informação) e chefe de tribunal (nkulo wa kote, resolve conflitos). 2. Vice-líder (documenta) 3. Chefe do quarteirão (resolve problemas) 4. Chefe 10 casas: mobiliza a população

- Idosos, crianças órfãs, viúvas e deficientes

- 3 quartos, com paredes feitas de lama e paus de madeira (quarto dos pais, quarto das crianças, sala de estar) com varanda - Fora do quintal: cozinha, latrina, quarto de banho, curral (s) (com cabra, vaca, porco) (traseiras), celeiro, galinha (parte da frente). - Quintal com cerca (de caniço, e paus de madeira) - Vizinhos: membros da comunidade, não parentes. Boas relações.

- Membros da comunidade participam e contribuem para as cerimónias sagradas e celebrações - Celebrações - Apoio em espécie dos membros da comunidade em tempos de dor (morte, incêndio) - Conflitos resolvem-se através do tribunal de costumes e direitos

- Projecto: consultar a comunidade sobre 'coisas que eles precisam' - Preocupação com a falta de comunicação com a Capitol. Devem tratar os Matacale da mesma forma que tratam os Tenge e Massamba (emprego, infra-estrutura social) - Infra-estruturas sociais: escolas, bombas de água, hospital, estradas para mercado cobertura de telefonia celular, transporte, apoio aos idosos, banco - Papel da comunidade: fornecer mão-de-obra (pedreiros, carpinteiros disponíveis)

Massamba Indirectamente

- Principal: agricultura(milho, sorgo, milho-miúdo, amendoim, feijão-frade, cana-de-açúcar, feijão boer., cassava) - Criação de gado - Pesca - Produção e venda de carvão

4 bairros Matriz de autoridade vertical; 1. Líder comunitário 2. Polícia comunitária 3. Secretário do bairro 4. 1º Secretário partido 5. Chefe da OMM 6. Chefe do

Deficientes - 2 quartos (sala de estar + quarto) - Quintal: cozinha, celeiro (na frente), latrina, banheiro, curral (com porco, cabra, vaca), galinha (nas traseiras). - Sem vedação - Vizinhos: em sua maioria parentes,

- Conflitos são resolvidos internamente (fome, embriaguez, problemas domésticos) - Toda comunidade participa, e contribui para as cerimónias sagradas e celebrações - Apoio em espécie

- Consulta e coordenação - Projecto deve abordar as necessidades da comunidade (posto médico, estradas, cobertura de telefonia celular). - Evitar falsas promessas. - Respeitar as lideranças locais - A comunidade está preocupada com a ocupação das locais

Page 114: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

114

114

Comunidade Distrito Localização Afectada Actividades Económicas

Matriz de Hierarquia de Autoridade

Grupos Vulneráveis

Casa e vizinhança Coesão Social Árvore de análise de Problemas

quarteirão 7. Chefe de 10 casas

boas relações dos membros da comunidade em tempos de dor (morte, incêndio)

sagrados devido as actividades do projecto - Comunidade irá contribuir com trabalho

Page 115: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

115/122

115

Anexo E: Mapas produzidos

1 – Localização do Projecto

2 – Comunidades Afectadas

3 – Estações Arqueológicas na Área do Projecto

4 – Cemitérios na Área do Projecto

5 – Locais Históricos na Área do Projecto

6 – Lugares Sagrados na Área do Projecto

7 – Locais de Património Cultural Mencionados pelas Comunidades Como

Intransferíveis

Page 116: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

116

116

Page 117: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

117/122

117

Page 118: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

118

118

Page 119: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

119/122

119

Page 120: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

120

120

Page 121: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

121/122

121

Page 122: CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL Tete Iron Ore Portuguese CB127... · DEZEMBRO DE 2014 CES RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL RELATÓRIO FINAL ENDEREÇO COWI Lda

RELATÓRIO SOBRE O PATRIMÓNIO CULTURAL

122

122