cerrado em rede -...

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ACONTECEU NO JOEL ... Há dez anos atrás, o baru, um fruto típico do cerrado, ganhou não só as mesas das famílias brasileiras, mas tornou-se símbolo da luta para a inclusão de produtos da sociobiodiversidade do Cerrado na alimentação escolar. Essa castanha nobre, bastante conhecida pelas populações tradicionais, foi o elo e a riqueza do Cerrado transformada em produtos que regionalizou o cardápio da alimentação escolar de Goiânia em 2001 e fortaleceu a organização da Rede de Comercialização Solidária de Agricultores familiares e Extrativistas do Cerrado (RCS). Com a nova Unidade de Beneficiamento de Baru com 780m², inaugurada em novembro de 2009 em Goiânia(GO), com apoio de diversos parceiros (a Fundação Banco do Brasil, BNDES, Prefeitura de Goiânia, CONAB e MDA) espera-se aumentar a capacidade de produção anual para 25 toneladas de castanha, 390 toneladas de cookies, 100 toneladas de granola e 13 toneladas de barra de cereais. O presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena, esteve presente na solenidade de inauguração. Pena afirmou que o modelo de produção da RCS corresponde aos interesses de investimento da Fundação: "Aqui, existe geração de renda vinculada à preservação ambiental. No mundo afora, existem hoje dois lemas importantes: outro mundo é possível e pensar global e agir local. A RCS tem tudo a ver com isso. Vocês estão pensando no planeta e cuidando do pé de baru", disse. Segundo o presidente, o projeto conduzido pela cooperativa corresponde a um dos principais grupos de trabalho da Fundação. "Há cinco anos, a Fundação conduz cerca de mil projetos anuais. Eu diria que esse está entre os 10 principais projetos da Fundação", afirmou. Baru: A Riqueza Alimentar Valorizada Na Organização Comunitária Em Rede Inauguração da primeira Unidade do Complexo de Empreendimentos Agroextrativista do Cerrado. 3 Editorial 3. Sindicato de Trabalhadores Rurais consagra parceria com Rede 4. Mudança na alimentação escolar beneficia agricultura familiar 5. Extrativismo no Cerrado além da Sobrevivência 6. Agroextrativista 7. Fundo Solidário abre demanda de apoio a agroextrativistas 8. Caiu na Rede LEIA NESTA EDIÇÃO CERRADO EM REDE OUTUBRO 2010 www.emporiodocerrado.org.br EDIÇÃO Nº 2

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ACONTECEU NO JOEL ...

Há dez anos atrás, o baru, um fruto típico do cerrado, ganhou não só as mesas das famílias brasileiras, mas tornou-se símbolo da luta para a i n c l u s ã o d e p r o d u t o s d a sociobiodiversidade do Cerrado na al imentação escolar. Essa c a s t a n h a n o b r e , b a s t a n t e conhecida pelas populações tradicionais, foi o elo e a riqueza do C e r ra d o t ra n s fo r m a d a e m produtos que regionalizou o cardápio da alimentação escolar de Goiânia em 2001 e fortaleceu a o r g a n i z a ç ã o d a R e d e d e Comercialização Solidária de A g r i c u l t o r e s f a m i l i a r e s e Extrativistas do Cerrado (RCS).C o m a n o v a U n i d a d e d e Beneficiamento de Baru com 780m², inaugurada em novembro de 2009 em Goiânia(GO), com apoio de diversos parceiros (a Fundação Banco do Brasil, BNDES, Prefeitura de Goiânia, CONAB e MDA) espera-se aumentar a

capacidade de produção anual para 25 toneladas de castanha, 390 toneladas de cookies , 100 toneladas de granola e 13 toneladas de barra de cereais. O presidente da Fundação Banco do Brasil, Jacques Pena, esteve presente na solenidade de inauguração. Pena afirmou que o modelo de produção da RCS corresponde aos interesses de investimento da Fundação: "Aqui, existe geração de renda vinculada à preservação ambiental. No mundo afora, existem hoje dois lemas importantes: outro mundo é possível e pensar global e agir local. A RCS tem tudo a ver com isso. Vocês estão pensando no planeta e cuidando do pé de baru", disse. Segundo o presidente, o projeto conduzido pela cooperativa corresponde a um dos principais grupos de trabalho da Fundação. "Há cinco anos, a Fundação conduz cerca de mil projetos anuais. Eu

diria que esse está entre os 10 principais projetos da Fundação", afirmou.

Baru: A Riqueza Alimentar Valorizada Na Organização Comunitária Em Rede

Inauguração da primeira Unidade do Complexo de Empreendimentos Agroextrativista do Cerrado.

3 Editorial

3. Sindicato de Trabalhadores Rurais

consagra parceria com Rede

4. Mudança na alimentação

escolar beneficia agricultura

familiar

5. Extrativismo no Cerrado além da

Sobrevivência

6. Agroextrativista

7. Fundo Solidário abre demanda

de apoio a agroextrativistas

8. Caiu na Rede

LEIA NESTA EDIÇÃO

CERRADO EM REDEOUTUBRO 2010 www.emporiodocerrado.org.brEDIÇÃO Nº 2

Expediente:

Cerrado em Rede. Boletim Informativo. Uma publicação da Rede de Comercialização Solidária de Agricultores Familiares e Extrativistas do Cerrado em parceria com o CEDAC- Centro de Desenvolvimento Agroecológico do Cerrado.

Endereço: Rodovia BR 153, Km 4, área GMA, casa 05, Chácara Retiro, Goiânia-Go. CEP 74675-090. Tel. 62 3202 7515.

[email protected]. www.emporiodocerrado.org.br.

Conselho Editorial:Orélio Araújo da Silva. Goiás-GOFlávio Cardoso. Goiás-GOTerezinha de Paiva. Goiás-GOAntônio Francisco da Mata. Jandaia-GOOsmar Alves. São Domingos-GOGualdino Pereira. São Domingos-GOCláudia de Jesus Nonato. São João D’Aliança-GOAdalberto Gomes dos Santos. Lassance-MGIdelfonso Rodrigues Duarte. Ibiaí-MG

Editora: Alessandra Karla da SilvaProdução Executiva: Marcelo do Egito

Jornalista Responsável: Maurício de Freitas Rodrigues ValleFotos: Marcelo do Egito, Adalberto Gomes dos Santos e Ronicléber Miranda.

Projeto Gráfico e Diagramação: Planetta Design e Comunicação LTDA

Apoio:

O diretor de florestas do

Ministério do Meio Ambiente,

João de Deus Medeiros, lembrou

que, atualmente, muito se fala

de sustentabilidade, mas pouco

se tem feito a respeito. A

experiência da RCS representava,

assim, o oposto dessa postura.

"Essa ação prova que existe sim

uma alternativa ao modelo

e c o n ô m i c o i n s u s t e n t áv e l

existente nos últimos anos, onde

uma minoria da sociedade se

apropriava dos recursos naturais

e impunha, à maioria, uma

condição de subsistência. Aqui,

vemos um exemplo de como se

consegue sociabilizar de maneira

justa os recursos retirados da

natureza", colocou.

Já o Diretor de Logística e Gestão

Empresarial da Conab, Silvio

Por to, a f i rmou que esse

empreendimento do Cerrado irá

inserir as famílias locais em outro

patamar de articulação. "Nesse

momento, a Conab tem o papel

de articular ainda mais com o

mercado governamental", disse.

O diretor enfatizou ainda o valor

"imaterial" da ação realizada

pela RCS. "Essa experiência tem a

característica não só de resgatar

a transformação do baru em

produtos para consumo, como

t a m b é m d e r e s g a t a r a

manutenção da cultura popular,

de conservação da natureza. O

extrativismo representa uma das

simbologias e uma das lutas mais

importantes do nosso País.

Especialmente no Cerrado, que

se tornou uma enorme fronteira

agrícola", afirmou.

A Secretária de Desenvolvimento

Econômico Municipal, Neide

Aparecida, reafirmou a parceria

da Prefeitura de Goiânia junto ao

empreendimento. "Esse projeto

tem uma filosofia de que o

desenvolvimento não está

vinculado à derrubada de

árvores, e sim ao plantio de mais

árvores", adicionou.

A Unidade de Baru é a primeira

das oito agroindústrias a serem

implantadas no complexo de

e m p r e e n d i m e n t o s

agroextrativistas da RCS em

Goiânia. A Usina de Óleos

Vegetais e o Entreposto Apícola

serão as próximas a serem

construídas com apoio do

SDT/MDA e Prefeitura de

Goiânia, com previsão de

funcionamento em março de

2011.

CERRADO EM REDE

2

SINDICATO DE TRABALHADORES RURAIS CONSAGRA PARCERIA COM A REDE

Em 2001, uma experiência inovadora mostrou um novo caminho para a sustentabilidade baseado na inter-relação entre o campo e a cidade, aproximando quem produz e maneja de quem consume. Agroextrativistas organizados em rede deram início a valorização das riquezas do cerrado levando hábitos a l imentares regionais para jovens e crianças da cidade que não conheciam o sabor e a importância do manejo sustentável d o C e r r a d o . P r a t i c a m e n t e desconhecido, a farinha da castanha de baru foi o primeiro produto agroextrativista a fazer parte do cardápio alimentar de escolas da região metropolitana de Goiânia, atingindo 114 mil alunos por ano até 2005, possibilitando a estruturação de uma densa rede comunitária no Cerrado, a Rede de Comercialização Solidária de Agricultores Familiares e Extrativistas do Cerrado. Com a estruturação do PAA - Programa de Aquisição de Alimentos do governo federal instituído em 2003, a

A parceria da Rede de Comercialização Sol idár ia com o S indicato de Trabalhadores Rurais de Lassance (MG) trouxe avanços para os agricultores familiares da região. Em 2002 foi firmada uma parceria com Sindicado Trabalhadores Rurais do município de Lassance em Minas Gerais (MG). De lá para cá o número de filiados mineiros cresceu. Hoje já são 65 famílias que comercializam seus produtos com um preço mais justo através da Cooperativa Mista de Agricultores Familiares, Extrativistas, Pescadores, Vazanteiros e Guias Turísticos do Cerrado (Coopcerrado). O conselheiro da Rede do município de Lassance, Adalberto Gomes dos Santos, disse que a parceria beneficiou as duas partes. Segundo ele, o Sindicato propiciou uma estrutura melhor para atender os extrativistas e os agricultores da região. Isso ampliou e fortaleceu a atuação da Rede e facilitou o diálogo com a prefeitura da

cidade sobre aquisição dos produtos da agricultura familiar dentro dos 30% previsto na nova lei da alimentação escolar. Por outro lado, o sindicado ganhou novos integrantes e fortaleceu sua atuação rural no município. O trabalho da Rede fortalece os agricultores e ajuda na comprovação da condição de segurado especial, através das notas fiscais. “Fica mais fácil para o trabalhador cooperado comprovar sua condição, facilitando o trabalho do Sindicato e permitindo que essas pessoas tenham acesso, a aposentadoria e outros benefícios”, complementa Adalberto. Neste caminho outros sindicatos começam a compreender a importância da atuação conjunta, a exemplo do STR do município de Jandaia, (GO). O vínculo foi formado em 2009 e esta aliança proporcionou uma estrutura melhor para os integrantes da Rede através de uma sala para reuniões dentro do sindicato. O fortalecimento na região

fez com que Jandaia entrasse para o Pólo Sindical da região Rio dos Bois. A reunião aglomera 14 sindicatos de trabalhadores rurais do estado. O Secretário Geral do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Jandaia e membro da Rede Antônio Francisco da Mata, fala que a grande vantagem do pólo, é a possibilidade de passar para mais pessoas o que já é sucesso na Rede. “O trabalho é correto e esse é um bom motivo para atra ir mais sindicatos” comenta o cooperado. Para ele o trabalho em conjunto facilita para as duas partes e atrai ajuda da prefeitura local. “O Sindicato é nossa ferramenta para garantir nossos direitos e a Rede fortalece a organização comunitária, a renda das famílias e a produção agroecológica. Um sindicato mesmo que forte não consegue sozinho melhorar a vida dos trabalhadores rurais, por isso a Rede é fundamental” conclui Antônio.

Mercado institucional, um caminho responsável para segurança alimentar e nutricional no campo e na cidade.

Coopcerrado amplia o acesso ao c o n s u m o d e a l i m e n t o s agroextrativistas do Cerrado doando alimentos a escolas, creches e asilos em parceria com a CONAB Goiás. A nova lei de alimentação escolar (nº 11.947/2009 ) representou um grande avanço em relação à interface entre as políticas públicas de educação e de fortalecimento da agricultura familiar, principalmente porque promove a segurança alimentar e nutricional, a produção de alimentos da agricultura familiar, que respeita as tradições alimentares l o c a i s , o d e s e n v o l v i m e n t o sustentável, a articulação das políticas públicas e o controle social.No universo da agricultura familiar b r a s i l e i r a t e m o s 4 . 1 3 0 . 7 8 8 agricultores familiares, de acordo com Censo Agropecuário 95/96, dos quais a p e n a s 2 . 4 6 2 . 2 0 6 p o s s u e m Declaração de Aptidão, o DAP junto ao Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf). Ou seja, 59,6% dos agricultores familiares

estão aptos a participar da nova lei. Com base no último censo escolar de 2 0 0 8 , o F u n d o N a c i o n a l d e Desenvolvimento Escolar (FNDE) repassou cerca de dois bilhões e cinqüenta e dois milhões de reais para alimentação escolar no Brasil. Considerando 30% deste valor a partir da nova lei apenas 2,8% dos agr icu l tores com DAP ser iam atendidos. Mesmo não sendo uma saída para abranger todos os pequenos agricultores no Brasil, o programa tem grande potencial para estimular a organização da agricultura familiar. Esta edição concentra-se na reflexão desta política que envolve a agricultura familiar com alimentação escolar e consolida novas perspectivas para os agroextrativistas que constroem a Rede, além de mostrar experiências que criam alternativas que escapam a lógica mercantil e valorizam o fortalecimento da organização comunitária.

Alessandra Karla da Silva

EDITORIAL

3

Cerca de 47 milhões de jovens e

adultos são atendidos pelo

Programa Nacional de Alimentação

Escolar, desde 1955, através de

c o m p r a s g o v e r n a m e n t a i s

realizadas por municípios e

estados. Imaginem este universo de

p e s s o a s co m p re e n d e n d o a

importância da origem e qualidade

destes alimentos, que ocasionam

na verdade serviços ambientais

responsáveis pela manutenção da

disponibilidade, da qualidade da

água, do clima regional e global ou

da biodiversidade. Será que

continuaríamos deixando as

decisões serem tomadas sem a

part ic ipação da soc iedade,

utilizando como referência apenas

o preço do produto e seus

atestados sanitários? O que

estamos deixando para os nossos

filhos, quando consumimos sem a

responsabilidade de educar? Os

nossos filhos desconhecem o modo

de vida de grupos diversos como

agricultores familiares, assentados,

e x t r a t i v i s t a s , p e s c a d o r e s ,

vazanteiros, quilombolas entre

o u t r o s r e s p o n s á v e i s p e l a

diversidade e qualidade dos

produtos que atendem nossas

necessidades, também diversas

desde alimentos, fibras e remédios.

Se compreendermos que estas

famílias são responsáveis pela

manutenção da vida, ou seja, pelo

alimento que chega a nossa mesa

s e m c a u s a r

dest ru ição/envenenamento,

gerando mais saúde e vida,

p o d e r e m o s c o n t i n u a r

usufruindo/convivendo/habitando

este planeta.

A partir desse ano, 30% dos recursos repassados à alimentação nas escolas da rede pública deverão ser destinados à compra de produtos da agricultura familiar. A medida segue determinação da nova lei de alimentação escolar (nº 11.947/2009 ), aprovada no segundo semestre de 2009. Com a novidade os agricultores familiares terão garantias de comercialização e uma oportunidade de se estruturar de forma mais completa, além de inserir no mercado abrindo a possibilidade de incorporação de produtos orgânicos/agroecológicos n a a l i m e n t a ç ã o e s c o l a r d i s s e m i n a n d o s i s t e m a s d e produção de menor impacto ambiental. A agricultora assentada, Terezinha Paiva, conselheira da Rede de Comercialização Solidária comemora ”para nós a lei é resultado de uma luta, com a nossa experiência de organização em rede temos demonstrado que é viável adquirir nossos produtos. Desde 2001 trabalhamos com a farinha de baru na alimentação escolar de Goiânia e em 2005 ampliamos a comercialização para outros municípios com o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) através da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab)”. Com o PAA a Coopcerrado de 2005 a 2010 realizou a doação simultânea de cookies, granolas, barras de cereais a base da castanha de baru, mel, gergelim e farinha de jatobá a 931 instituições entre elas escolas, creches e asilos em 24 municípios no estado de Goiás e 5 municípios no estado de Minas Gerais beneficiando 541.555 pessoas em situação de vulnerabilidade e insegurança nutricional. Para o extrativista Gualdino de Morais, da Resex Recanto das Araras de São Domingos/GO, “já temos o que

PARE E PENSE... MUDANÇA NA ALIMENTAÇÃO ESCOLAR BENEFICIA AGRICULTURA FAMILIAR

comemorar, pois os parceiros que receberam nossos produtos pelo PAA, hoje nos procuram para adquirir, devido a confiança e qualidade de nosso trabalho“. E os primeiros a colocarem em prática a nova lei são as secretarias de educação dos municípios de Senador Canedo e Anapólis, no estado de Goiás, adquirindo barras de cereais, mel, cookies e castanhas de baru atingindo em conjunto 52.490 alunos. O assessor técnico do Centro de Desenvolvimento do Cerrado(Cedac), Marcelo do Egito, explica que a experiência com o PAA/CONAB foi fundamental para garantir a estruturação dos empreendimentos das famílias cooperadas, pois proporcionou um grande aprendizado e contribuiu para vencer preconceitos sobre a incapacidade da agricultura f a m i l i a r e m a b a s t e c e r a alimentação escolar. “Isto ocorre em especial por ser um mercado que possui dono, ou seja, os atravessadores que já têm feito a ponte entre o agricultor familiar e a compra da alimentação escolar há muitos anos” disse o assessor M a r c e l o . A R e d e d e Comercial ização Sol idár ia é formada por duas cooperativas, a citar Coopcerrado e a Rede Cred que atua em Goiás, Minas e Bahia, reunindo cooperados de 34 municípios, possibilitando que um crescente número de escolas seja participante do projeto.

Escola em São Domingos(GO) recebe doação de barra de cereais

4

A descoberta do efeito estufa já

completou 151 anos, mas nunca se

falou tanto em preservação

ambiental e sustentabilidade como

agora. É certo que os danos

causados ao meio ambiente

começaram a despertar olhares e

atenção da mídia. Levantamento de

satélites demonstra que entre 2002

a 2008, cerca de 20 mil

Em contrapartida, a sociedade civil

está se movimentado para impedir

que o patrimônio ecológico não

seja destruído. Já o Governo

Federal prometeu direcionar até

2011 cerca de R$ 400 milhões para

barrar o desmatamento no

Cerrado. Na outra ponta dessa luta

estão às pessoas que dependem da

natureza para sobreviver. Elas se

j u nta ra m a e nt i d a d e s n ã o

governamentais para aprimorar a

técnica de agroecologia mantendo

a cadeia sócio-produtiva do bioma

que ocupam. Nessa caminhada, os

extrativistas estiveram atrás por

muito tempo. Sem uma terra para

plantar, eles se deslocam para as

extensas áreas não ocupadas e

fazem a extração tanto do que

serve para a alimentação diária

como para a comercialização.

Após um longo processo de luta em

rede, em 2006, os extrativistas

obtiveram reconhecimento através

da criação de duas reservas

extrativistas (Resex) no estado de

Goiás pelo Governo Federal. Entre

os municípios de São Domingos e

Guarani de Goiás está a Resex’s

Recanto das Araras da Terra Ronca.

Já em Aruanã, a Reserva Extrativista

Lago do Cedro. Esses dois

Km² de

C errad o fo ram d egrad ad o s

anualmente. O número é o dobro

do que foi registrado na Amazônia.

territórios reúnem cerca de 100

famílias vinculadas a Rede de

Comercialização Solidária. A

organização dos grupos facilita a

luta pelo bem comum e promove o

trabalho de sustentabilidade e

conservação do bioma Cerrado.

Após 4 anos da criação dessas

U n i d a d e s d e C o n s e r v a ç ã o

Sustentável no Cerrado, ainda não

houve a regularização fundiária,

que permitisse o acesso as áreas

que são de posse privada,

dificultando a sobrevivência e

estamos nessa luta. Quando

conseguimos a Resex pensamos

que fosse melhorar, mas piorou.

Até o número de queimadas

aumentou na região. Os

fazendeiros pensam que assim o

governo fica pressionado, mas

quem sofre somos nós”, desabafa

Osmar.

O Superintendente do Instituto

Brasileiro de Meio Ambiente de

Goiás (Ibama-GO), disse em reunião

com os representantes da Rede, e

do Instituto Chico Mendes de

Conservação da Biodiversidade

(ICMBio), que “esse é um momento

de se posicionar e cobrar do

presidente”. Para a representante

do ICMbio, Juliana Alves é preciso

maior “celeridade dos órgãos para

indenizar os proprietários das

terras” dentro das Resex. Segundo

ela, às vezes é uma questão simples

e que não se concretiza.

EXTRATIVISMO NO CERRADO: ALÉM DA SOBREVIVÊNCIA

5

EntrevistaDepois de seis anos o boletim mensal Cerrado em Rede volta a ser produzido. Muitas coisas são esperadas nessa nova fase pelos co l a b o ra d o re s d a Re d e d e Comercialização Solidária. O C e r ra d o e m Re d e o u v i u a a s s e n t a d a , e x t r a t i v i s t a e conselheira da Cooperativa Claudia Nonato de 37 anos e quatro filhos. Ela já está na Rede há seis anos e lembra quando saiu a primeira edição do boletim em dezembro de 2004. Em uma breve entrevista Cláudia contou suas expectativas e revelou o que gostaria de ver na nova fase do informativo.Cerrado em Rede: Por que é importante ter um jornal que fale das ações da Rede e do Centro de Desenvolvimento Agroecológico do Cerrado (Cedac) como todo?Claudia Nonato: Através do jornal mais pessoas vão se conscientizar de que é possível usar o cerrado sem desmatar. Além disso, elas poderão ajudar esse trabalho tão digno, feito pela Rede.

AGROEXTRATIVISTA FALA

Você tem alguma pergunta para

qual precise de uma resposta? Você

tem alguma informação que ache

que seria útil para outras pessoas?

Se a sua resposta para qualquer uma

destas perguntas for ”sim”, entre em

contato conosco!

Por favor, escreva para:

O Editor,

Rodovia BR 153, km 4, Qd GMA.

Chácara Retiro.Goiânia-GO.

CEP.74.675-090

Ou envie um e-mail para

[email protected]

I Cavalgada Ecológica

Perguntas e RespostasJovens e velhos motivados pelo

resgate da tradição se encontram

todos os sábados na comunidade

Santa Maria, Lassance(MG) para

aulas de violão ministradas pelo

professor Marcinho.

Troca de saberes

Seguindo uma tradição, passada de

pai para filho, a comunidade de

Sa nta M a r ia , mu n ic íp io d e

Lassance(MG), se reúne todos os

anos rea l i zando uma longa

Cavalgada, entre a comunidade e a

Serra do Cabral revisitando locais de

uso comum de várias gerações que

criavam o gado a solta nos gerais e

praticavam o extrativismo das flores

sempre vivas. Neste ano, esta

tradição ganha um novo significado,

de chamar atenção da sociedade

para o que vem ocorrendo com a

natureza nessa região de grande

importância para biodiversidade e a

água. Assim foi realizada a primeira

C a v a l g a d a E c o l ó g i c a d a

Comunidade Santa Maria, no

período de 15 a 17 de outubro, com

a presença de mais de 20 cavaleiros

da comunidade. Pedro Santana e

João de Duca disseram: “há muitos

anos atrás havia uma Vereda na

cabeceira do córrego Palmeiras, que

ninguém atravessava. Com o

plantio do pinho na serra do Cabral

ela secou. Depois de cinco anos do

corte do reflorestamento, a

natureza se recuperou e vereda

voltou à vida.”

CR: A Rede te ajudou enquanto mulher trabalhadora?CN: Claro! Antes eu era explorada por que entregava tudo para o atravessador (uma pessoa que pega toda coleta dos agricultores e extrativistas por um preço muito baixo), posso dizer que com a Rede a minha renda subiu mais de 600%. Antes o atravessador me pagar 20 centavos por um quilo de favela. Hoje a comercialização é feita por 1,26 centavos o quilo. Além disso, tenho a nota fiscal emitida em meu nome, o que me garante uma renda separada do meu marido e uma maior facilidade na hora de aposentar.CR: O que não pode faltar no Cerrado em Rede?CN: Fotos! Fotos de mulheres, várias mulheres! Para que o serviço dela seja reconhecido no Brasil. É importante valorizar a auto-estima da mulher, garantir o futuro dela. Temos um papel fundamental na sociedade. O boletim pode passar essa mensagem.

Pais e filhos, aprendendo e ensinando

NOTÍCIAS. OPINIÕES. INFORMAÇÕESNOTÍCIAS. OPINIÕES. INFORMAÇÕES

CARTASCARTAS

6

Em 2007, Centro de Desenvolvimento Agroecológico do Cerrado (Cedac) foi

o vencedor da 5° edição do Prêmio Fundação Banco do Brasil de Tecnologia

Social da região centro-oeste com o projeto “Agroextrativismo Sustentável

da Favela”. Com o prêmio conquistado de R$ 50 mil reais o CEDAC e a Rede

constituíram um Fundo Solidário dos Agroextrativistas do Cerrado para

financiamento de meios de transporte para as famílias. O agricultor e

extrativista do assentamento Areal em Ibiaí (MG) Idelfonso Duarte, explicou

que foram adquiridas 30 carroças com arreata e financiadas as famílias que

trabalham com manejo sustentável da favela. Essas famílias ganharam um

prazo de cinco anos para pagar o investimento. A escolha dos 30

participantes da primeira etapa foi realizada em reuniões nos territórios que

a Rede atua junto com os monitores e conselheiros. Como a demanda era

superior a quantidade de carroças a serem adquiridas, foram estabelecidos

alguns critérios de participação, a citar: interesse em participar do fundo; ser

coletor de favela; ter um monitor com as atividades em dia; o tempo de

cooperado que cada um tem na Rede. O conselheiro destaca que o prêmio foi

fundamental para a continuidade do manejo da favela, pois o valor anual

arrecadado no pagamento das carroças possibilitará a compra de seis

equipamentos completos a cada ano, garantindo a continuidade do fundo.

“Já a boa aplicação do dinheiro possibilitará, que mais famílias com

dificuldade de locomoção sejam beneficiadas”, observou o conselheiro. Este

ano o Fundo abre para outras famílias serem beneficiadas. As famílias

interessados devem entrar em contato com o seu monitor para a inscrição.

É fruto típico do Cerrado, explorado

a cerca de 60 anos pelas indústrias

farmacêuticas. Deste fruto ainda

v e r d e é e x t ra í d o d i v e r s a s

substâncias com propriedades

medicinais, entre elas a rutina ou a

vitamina P, a quercetina e a

ramnose. Os efeitos produzidos

podem ser resumidos em atividade

antioxidante, cardiovascular,

efeitos na oxidação de lipídios,

a n t i i n f l a m a t ó r i a ,

anticarcinogênica, radioproteção, e

outros efeitos. As substâncias são

FUNDO SOLIDÁRIO ABRE DEMANDA DE APOIO A AGROEXTRATIVISTAS

Saiba mais

Conheça a Favela, Faveira ou fava d’anta

u s a d a s n o t r a t a m e n t o d e

hipertensão, arteriosclerose,

diabetes melitus e em diversas

hemorragias. Segundo dados do

Cedac 2007, nos últimos 12 anos a

exportação de rutina movimentou

cerca de onze milhões de dólares

p o r a n o , c u j o s p r i n c i p a i s

compradores são: a França, Itália,

Alemanha e Bélgica.

Núcleo do monitor Adélio de Mambaí/GO recebe carroça

7

CAIU NA REDECAIU NA REDECOMERCIALIZAÇÃO. DEMANDAS. BANCO DE SEMENTESCOMERCIALIZAÇÃO. DEMANDAS. BANCO DE SEMENTES

Veja as últimas informações sobre

comercialização de produtos,

aquisição e oferta de sementes,

elaboração de projetos para os

cooperados, fundo rotat ivo

solidário, festas e eventos, PAA -

município entre outros.

D i s c u t a c o m s e u n ú c l e o

comunitário e encaminhe suas

respostas pelo monitor a Rede.

Fortaleça a sua renda familiar

participando comunitariamente.

Caso você tenha alguns dos produtos abaixo citados, informe ao monitor para comercialização imediata junto a Rede.Pimenta malagueta em conservafrutos de barufruto buchinha paulistasemente de sucupirasemente de urucumsemente de imburanafolha de chapéu de courofolha de douradinhafolha de congonha de bugrepequi em conservacasca de tingui casca de capitão do campo casca de catuabacasca de imburanacasca mulungucasca de mangabacasca de jatobácasca de aroeiracasca de barbatimãocasca de ipê roxocasca de sucupiracasca de murici vermellhocasca de mussambéraiz de calungaraiz de batata de purgaraiz de pára-tudo

Faça parte desta iniciativa junto a

seu núcleo comunitário organize a

produção voltada para as escolas e

creches do seu município. A Rede

em parceria com CONAB está

r e a l i z a n d o p r o j e t o s d e

comercialização para escolas e

creches a partir de produtos

diversificados como hortaliças,

frutas e cereais fornecidos pelos

núcleos comunitários. Para isso é

necessário que as famílias do

núcleo levantem a capacidade de

produção atual e a freqüência de

entrega para elaboração de

projetos para PAA/CONAB.

Garanta a comercialização para

alimentação escolar no seu

município no valor de R$4.500,00

por ano em produtos. Entre em

contato com a rede.

Fundo Rotativo Solidário

PAA - MUNICÍPIO

Área necessária: 360m²Número de plantas: 407Investimento: R$485,00Receita bruta mensal: R$136,34Carência: 4 mesesPrazo: 10 parcelas de R$52,00Como funciona: a rede implanta a UPP junto a famílias que se comprometem em pagar o fundo solidário e comercializar a produção em rede, através de contrato. Caso tenha interesse apresente sua demanda ao monitor.

A Rede renovou e ampliou o convênio de Assistência Técnica com o Banco do Brasil para todos os municípios de abrangência de atuação da Rede em Goiás e Minas Gerais. Assim podemos elaborar de forma mais ágil e com menos custo para os cooperados projetos de custeio e investimento de forma gratuita (somente quando a produção for comercializada na Rede, caso não seja, será cobrado 1,5% do valor do projeto). Procure seu monitor e informe suas demandas, o mais rápido possível. Não esqueçam, os cooperados devem ter conta governamental no Banco do Brasil, DAP- Declaração de Aptidão ao Pronaf válida e estar adimplente com o s istema financeiro. Neste período a prioridade é para o custeio agrícola.

Nesta Seção Especial, saiba das novidades da Rede. Em 2009 foi iniciado um banco de

sementes e mudas pela Rede, com o compromisso de fornecer aos cooperados sementes crioulas adaptadas a realidade local. Dentre elas, foram fornecidos açafrão, pimenta, gergelim, adubos verdes e milho. Para que outras famílias sejam beneficiadas o banco de sementes é alimentado pela devolução em dobro pe los participantes. A cada 1kg fornecido pelo banco de sementes após a produção o cooperado devolve 2kg. I n f o r m a m o s a t o d o s o s participantes de 2009 que estamos abertos a devolução das sementes.ALERTA: no caso do AÇAFRÂO.Neste ano 2010 as famílias devem colher à metade da área e plantar novamente. Para que a partir de 2011 todos possam colher açafrão de 2 anos, que apresenta uma maior produtividade.Caso tenha sementes antigas de algodão, milho, fei jão e de hortaliças informe a Rede.

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Produtos com venda certa na Rede.

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Banco de Sementes

Área de Açafrão fomentada pela Rede do assentado Juarez do PA Rancho Grande, município de Goiás.

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