cérebro 2ºperíodo

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Externato Frei Lus de Sousa

rea de Projecto 2010/2011

ndiceIntroduo .... 4

Estrutura do Crebro Macroscpica 6 Microscpica ... 16

O Crebro ligado Psicologia Mente vs Crebro ... 26 A Memria ... 30 Os Sonhos ... 38 Os Sentimentos .. 42

O Crebro ligado CinciaAs doenas Doena de Alzheimer 47 Doena de Huntington ... 59 Doena de Parkinson 71 Epilepsia .. 90 Esclerose Mltipla .. 98

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O Crebro 2

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As reas da Neurologia Neurocincia . 106 Neurologia . 107 Neurocirurgia 109

Trabalho de Campo . 112

Concluso .................................................................................................. 119

Bibliografia .. 120

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IntroduoPara o nosso projecto da disciplina de rea de Projecto escolhemos como tema O Crebro. A escolha do tema foi feita com base nos interesses profissionais de cada um e, por isso, tornou-se bastante interessante a pesquisa e a execuo do mesmo. Deparmo-nos com inmeros subtemas que poderamos tratar e aprofundar, por conseguinte, decidimos numa primeira parte trabalhar na estrutura (tanto macro como microscpica) do crebro humano e, de seguida, tratar de assuntos mais relacionados com as reas da cincia e psicologia. Ento, na parte do crebro relacionado com a rea da Psicologia iremos fazer a distino entre mente e crebro, um tema bastante polmico, e iremos igualmente trabalhar no aparecimento e alterao dos sentimentos, emoes e sonhos. Esta ser a segunda parte do projecto enquanto que, na terceira e ltima parte relacionaremos o tema principal com a rea da medicina responsvel pelo estudo do crebro humano, a neurologia e com uma rea no muito conhecida responsvel tambm pelo estudo do mesmo. Nesta ltima fase do projecto, vamos trabalhar em vrias doenas neurolgicas e vamos aprofundar e dar a conhecer algumas sub-reas da neurologia. Paralelamente, no mbito do trabalho de campo, fizemos uma entrevista ao conceituado neuropediatra Dr. Nuno Lobo Antunes. O nosso grupo foi at ao CADin, em Cascais, e exps algumas dvidas e questes referentes ao projecto. Foi muito esclarecedor e interessante e tornou-se mais fcil entender alguns contedos pois a informao na internet nem sempre muito fidedigna. Temos, ento, numa das partes do projecto, a entrevista completa ao Dr. Nuno Lobo Antunes, por escrito. De seguida, temos as concluses que retirmos das respostas s nossas questes que nos ajudaram muito em alguns sub-temas do projecto.

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O objectivo do nosso projecto ficarmos e darmos a conhecer a toda a comunidade escolar mais sobre o nosso crebro. Queremos que todos conheam a complexidade do seu funcionamento e da sua estrutura. Queremos igualmente explicar o que ocorre interiormente no crebro quando temos uma determinada doena (por exemplo, Alzheimer) e, paralelamente, queremos tambm desvendar alguns temas que no so muito falados como os sonhos e os sentimentos.

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Estrutura do CrebroPara melhor estudarmos a estrutura do crebro humano decidimos dividir este subtema em macroscpico e microscpico. Na estrutura macroscpica vamos tratar dos ossos constituintes do crnio, dos hemisfrios cerebrais, dos lobos, e outras estruturas constituintes deste. Por outro lado, na estrutura microscpica vamos tratar da conhecida massa cinzenta, da massa branca e das sinapses. Vamos comear, ento, pela estrutura macroscpica.

Estrutura MacroscpicaA nvel macroscpico, o crebro tem um conjunto de ossos que formam o rosto e tm como principal funo a proteco deste. Este conjunto de ossos denomina-se por crnio e formado por 22 ossos independentes e separados, desenvolvendo-se deste modo com maior eficcia, mantendo a sua forma. Esta caixa craniana composta maioritariamente por ossos e/ou cartilagens desenvolvendo assim uma concavidade destinada para o crebro. A maioria dos ossos cranianos formam pares, isto , para cada osso do lado direito h um correspondente seu no lado esquerdo e para cada osso do lado esquerdo haver tambm correspondnciaFig.1 Ossos do crnioin http://corporalclinica.com.br/site/?p=OSSOS _-_CR%C2NIO03879

a no

sua lado

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direito. Deste modo, alguns destes pares fundem-se num nico osso (como os ossos frontais, occipitais e esfenides) de forma a conferir maior consistncia. Ao nvel destes 22 ossos que constituem o crebro humano, os que so considerados mais importantes e essenciais so os parietais, os temporais, os maxilares, os zigomticos, os nasais e os platinos. Os ossos cranianos so finos mas devido ao seu formato curvo, so muito resistentes. Outra das estruturas constituintes do nosso crebro o bulbo raquidiano que pode ser tambm designado como bolbo raquidiano, medula oblongata, medula oblonga ou somente bulbo. a rea inferior do encfalo e tem trs centmetros e gere funes independentes e autnomas, retransmitindo os sinais entre o crebro e a medula espinal. Este rgo faz parte do tronco enceflico ou tronco

cerebral, que parte do sistema nervoso central (entre a medula espinal e o crebro). No interior do bulbo raquidiano existem dois tipos de substncias: a massa branca e aFig.2 Representao do crebro humanoin http://www.webciencia.com/11_04cerebro.htm

massa quais

cinzenta vamos falar

(das na

estrutura

microscpica).

Este rgo apresenta uma estrutura fechada sendo caudal, onde contm o canal central, onde faz ligao com o da espinal medula, e apresenta uma estrutura aberta, onde o canal central se difunde com o quarto ventrculo. O bulbo um rgo dirigente de impulsos nervosos mas tambm se relaciona com outras funes vitais como a respirao, batimentos cardacos, fala, movimentos involuntrios, secreo lacrimal, entre outros. Se esta rea for afectada ocorre, ento, morte imediata devido paralisia das actividades cardacas e respiratrias.

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Um pouco mais frente situa-se a ponte que constituda principalmente por fibras nervosas que ligam o crtex cerebral ao cerebelo. Localiza-se entre o bulbo raquidiano e o mesencfalo e, tal como o nome indica, a ponte serve de passagem de impulsos nervosos que vo ao crebro. A ponte est igualmente relacionada com reflexos associados s emoes, como o riso e as lgrimas. Nesta estrutura, existem tambm centros coordenados da movimentao dos olhos, do pescoo e do corpo em geral. Alm disso, a ponte participa na manuteno da postura corporal, no equilbrio do corpo e na tenso muscular.

o Lobos CerebraisAcima ento, do o cerebelo crtex temos, cerebral

dividido em quatro partes, cada uma com funes

especializadas e diferenciadas. Estas partes denominam-se

por lobos cerebrais e esto presentes em ambos os

hemisfrios. Os lobos cerebrais so denominados deste modo pelos ossos cranianos que os avizinham: o lobo frontalFig.3 Representao do crebro humano dividido em lobosin http://amentehumana12.blogspot.com/2009/01/loboscerebrais.html

localiza-se perto da testa, o lobo occipital perto da nuca, o

lobo temporal posicionado lateralmente ao crebro e na zona superior s orelhas, e por fim, o lobo parietal na zona central e superior da cabea. O lobo frontal considerado a parte mais activa do crebro quando estamos acordados. Contm o crtex motor, o crtex pr-motor e o crtex prfrontal. Todos estes esto intimamente ligados com a coordenao dos

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movimentos e aces. Este lobo tem, portanto, como cargo a funo motora e o arranjo de estratgias de modo a desempenhar o movimento (crtex prfrontal). Este planeia a aco/movimento antes deste acontecer. Em caso de trauma, o mais afectado ser o crtex pr-frontal pois far com que a pessoa planeie aces de modo mais retrgrado e deste modo no consiga haver continuidade nas aces. Por outro lado, o lobo occipital est localizado na parte inferior do crebro e coberto pelo crtex cerebral (onde ocorre processamento neuronal de memrias, vises, entre outros) e deste modo processa os estmulos visuais. Depois de visualizados, os dados passam pelo tlamo onde a imagem processada vai ser estudada (rea visual primria) e posteriormente vai ser comparada com dados aparentemente idnticos (rea visual secundria), podendo assim ser identificada e adjectivada. Se ocorrer leso nesta rea haver agnosia, que consiste na no identificao dos objectos. O lobo temporal est situado na zona lateral da cabea e na zona superior das orelhas para poder captar estmulos auditivos. Ao serem captados (rea auditiva primrio) so associados a outros estmulos (rea auditiva secundria), podendo assim identificar uma interpretao do som. Por fim, o lobo parietal est situado na zona central e superior da cabea e tem como funes a recepo de sensaes como o frio, a dor, o calor entre outras. Este lobo constitudo por duas subdivises: a zona anterior e a zona posterior. A primeira denominada como crtex somatossensorial e tem como funo a recepo de sensaes. Nesta rea esto representadas todas as reas corporais que captam sensaes corporais. A rea secundria est localizada posteriormente ao lobo parietal e interpreta e recolhe informaes para poder localizar o local de onde se expressa o estmulo.

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Externato Frei Lus de Sousa o Hemisfrios CerebraisTambm possvel

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dividirmos o nosso crebro em dois hemisfrios: o hemisfrio esquerdo e o hemisfrio direito. Em 98% dos casos humanos o hemisfrio dominante o

esquerdo e controla a parte direita do nosso corpo. Apenas em 2% dos casos, o o hemisfrio direito. PorFig.4 Representao do crebro humano dividido em dois hemisfriosin http://carolvillefort.blogspot.com/2007/04/encfalocrebro.html

dominante

exemplo, o caso dos canhotos, o hemisfrio direito o dominante,

controlando assim o lado esquerdo do corpo. Naturalmente, os hemisfrios no tm s como funo a coordenao dos movimentos corporais de cada lado do corpo, mas tambm a coordenao da fala, da escrita, criatividade, entre outros. Existem vrias habilidades que diferenciam cada hemisfrio:

Hemisfrio esquerdoEscrita mo (conforme o dominante) Smbolos Linguagem Leitura Fontica Localizao de fatos e detalhes Conversao e recitao Seguimento de instrues Escuta Associao auditiva

Hemisfrio direitoEscrita mo (conforme o dominante) Relaes espaciais Figuras e padres Computao matemtica Sensibilidade a cores Canto e msica Expresso artstica Criatividade Visualizao Sentimentos e emoes

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Como podemos entender atravs da tabela, o hemisfrio direito est intuitivamente relacionado com a criatividade e sentimentos, enquanto o hemisfrio esquerdo est ligado com a comunicao e expresso e o pensamento lgico. Os dois hemisfrios cerebrais esto unidos pelo corpo caloso, localizado no fundo da fissura inter-hemisfrica. Esta estrutura composta por fibras de cor branca (pores de axnios, envolvidos em bainha de mielina). Alm de ter a funo de unir os dois hemisfrios cerebrais tambm responsvel pelas trocas de informao entre as distintas reas do crtex cerebral. O crtex motor o responsvel pela coordenao de cada hemisfrio. Assim, como j referido anteriormente, o crtex motor o responsvel pelo hemisfrio esquerdo controlar a parte direita do nosso corpo e o crtex motor do hemisfrio direito controlar a parte esquerda do corpo humano. Cada crtex motor est distribudo ao longo do corpo de maneira a controlar os msculos, e os movimentos. O crtex pr-motor o responsvel pela aprendizagem motora e at da aprendizagem da linguagem. Quando imaginamos um movimento, mas sem o executar, a rea pr-motora fica mais activa do que o resto do crebro. Esta rea responsvel pela sequncia dos movimentos de ambos os lados do corpo. Em caso de paralisia, esta rea no fica afectada, mas a agilidade dos movimentos ou fala fica perturbada.

o EncfaloO encfalo em conjunto com a espinal medula forma o sistema nervoso central, controlando tambm as clulas nervosas. Este rgo divide-se em duas partes: a parte superior e a parte inferior. A primeira onde se aloja o crebro, ocupando as fossas cerebrais, anterior e mdia, sendo sustentado pela tenda do cerebelo. A segunda seco onde se localiza o tronco cerebral e o cerebelo, na zona traseira, na loca cerebelosa. Este rgo est

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protegido pelo interior do crnio e assim como a medula espinal envolvido por trs membranosas, as meninges, e controlado pelo crtex cerebral, sendo deste modo muito desenvolvido. composto por vasos sanguneos e tambm por milhes de clulas nervosas interligadas por uma clula de suporte. Relativamente s meninges, a nvel do encfalo existem trs invlucros: Meninge dura-mter Meninge pia-mter Meninge aracnide-mter

A meninge dura bastante resistente e adere facilmente caixa craniana, apresentando extenses que separam os dois hemisfrios. A primeira separa os dois hemisfrios (foice do crebro) e a outra extenso a que isola o cerebelo (tenda do cerebelo). A meninge pia-mter recobre as formaes nervosas e, por ltimo, a meninge aracnide-mter est situada entre a duramter e a pia-mter.

o CerebeloO cerebelo formado por 2 hemisfrios (tal como o crebro) cerebelosos e por uma parte central, o Vermis. O termo cerebelo deriva do latim e significa pequeno crebro, pois parece o crebro mas em ponto pequeno. Esta estrutura tem mais neurnios que os hemisfrio esquerdo e direito e pesa mais 10% que oFig.5 Localizao do cerebeloin http://www.umm.edu/esp_imagepages/18 008.htm

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encfalo. o responsvel pelo controlo e pela regulao normal da contraco muscular, ou seja, pela coordenao de todo o movimento do nosso corpo. Esta estrutura situa-se abaixo do crebro, ligeiramente para trs. Para que um movimento seja executvel, necessrio que haja contraces dos msculos agonistas, antagonistas, sinergistas e de fixao, pois os seus movimentos devem ser adequadamente coordenados. Assim, para iniciar um movimento, os agonistas contraem-se e os antagonistas relaxam ou modificam o seu estado de tenso elstica (pois os msculos antagonistas tm a funo de contrariarem o movimento dos msculos agonistas), os sinergistas reforam os agonistas e os msculos de fixao impedem postura deslocamentos e mantm a apropriada do membro. Para

terminar o movimento, os antagonistas contraem-se e os agonistas relaxam. O cerebelo funciona como um maestro que dirige uma orquestra, regulando com

preciso e coordenao a aco de cada um. Concluindo, sem o cerebelo era impossvel desejaramos. movimentarmo-nos Seriamos um ser com sem

coordenao ou vontade de movimento.

Fig.6 Cartoon a representar a funo do cerebeloin http://www.canalkids.com.br/saude/cerebr o/partindo2.htm.htm

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o Mesencfalo e DiencfaloO mesencfalo responsvel pelos reflexos visuais e auditivos (colculos superior e inferior) e os seus ncleos participam no controlo da postura e dos movimentos. O diencfalo a poro do encfalo situada profundamente entre os hemisfrios cerebrais, que compreende o hipotlamo, o epitlamo e o tlamo, dispostos em volta de uma cavidade central, o terceiro ventrculo. O terceiro ventrculo o que liga todos os constituintes. Este ventrculo comunica tambm com o quarto ventrculo atravs do aqueduto cerebral e, tambm, com os ventrculos laterais atravs de uns canais chamados forames interventriculares.

Fig.7 Representao dos ventrculosin http://www.auladeanatomia.com/neurologia/liquor.htm

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o Gnglios Basais e Sistema LmbicoO sistema lmbico

composto por vrias estruturas como o hipotlamo, o tlamo, a hipfise e outras que se pode observar na Figura 8. pelo apenasFig.8 Representao do Sistema lmbico e do gnglio basalin http://www.oocities.org/empiricu/home7.html

Comeando hipotlamo, pesa

algumas gramas e no maior que a ponta de um polegar, mas regula todo o sistema endcrino,

atravs da hipfise. Quando os nveis de acar no sangue baixam, o hipotlamo desperta o nosso desejo de comer. Se o tempo aquece repentinamente, o hipotlamo baixa o nosso termstato interno. As hormonas regulam quase todas as nossas funes biolgicas e cerca de 20 a 200 hormonas do organismo humano so produzidas no crebro. Controla igualmente as funes metablicas como a temperatura corporal, digesto, respirao, presso sangunea, sede, fome, instinto sexual, dor, e tambm certas hormonas. Ligeiramente mais abaixo do hipotlamo temos a hipfise. Esta estimula o crescimento dos ossos, influencia o desenvolvimento sexual e a actividade de outras glndulas. Esta glndula, do tamanho de uma ervilha, funciona como estrutura intermdia que dirige directamente o funcionamento das outras glndulas. Quando, por exemplo, o hipotlamo detecta a necessidade de elevar o nvel da hormona tiroideia no sangue, envia para a hipfise uma hormona que lhe d instrues para, por sua vez, enviar atravs da circulao sangunea outra hormona que estimula directamente a glndula tiroideia. Ao receber aquela mensagem qumica, a tiroideia produzida em vrios rgos e sistemas.

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Outra das estruturas o tlamo. uma regio de substncia cinzenta (ncleos de neurnios) e o centro de organizao cerebral onde h uma encruzilhada de vias neuronais que se podem influenciar mutuamente antes de serem redistribudas. A principal funo do tlamo servir de estao de reorganizao dos estmulos vindos da periferia, do tronco cerebral e de centros superiores. Nesta estrutura ocorrem sinapses e os estmulos nervosos partem para novos axnios que vo efectuar ligaes com outros centos superiores, principalmente o crtex. Assim, quase todos os sinais que vo para o crtex fazem sinapse nos ncleos do tlamo onde so reorganizados e/ou controlados (com excepo do sentido do olfacto). Por ltimo, os gnglios basais, estes regulam movimentos involuntrios como os associados postura e forma de andar, tambm aos tremores e a outras irregularidades. aqui que se pode desenvolver a doena de Parkinson.

Estrutura MicroscpicaNo crebro humano, nomeadamente no crtex cerebral, podemos distinguir dois tipos de massas: a massa cinzenta e a massa branca. A massa cinzenta constituda pelas clulas gliais e pelos neurnios, e a massa branca constituda pelas fibras que ligam os axnios entre si. Nas duas grandes classes de clulas que, no crtex, constituem a massa cinzenta, aquelas que tm maior importncia so os neurnios, mas por outro lado aquelas que so mais frequentes so as clulas gliais, existindo na proporo de pelo menos 10 clulas gliais para 1 neurnio. Em relao s clulas gliais, estas so clulas neuronais do sistema nervoso central, e podem ser de vrios tipos e realizar diferentes funes como suporte estrutural, suporte metablico, isolamento, e guia para o

desenvolvimento (nutrio). So geralmente arredondadas e, ao contrrio dos

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neurnios, que so amniticos, nestas clulas ocorre a mitose (processo em que se formam clulas-filhas geneticamente idnticas clula-me, ou seja, formam-se clones). Relativamente s funes das clulas gliais, estas cercam os neurnios mantendo-os no seu lugar, fornecem nutrientes e oxignio para os mesmos, isolam um neurnio de outro, destroem agentes patognicos e removem tambm neurnios mortos. Mantm igualmente a homeostasia (estado de equilbrio e bem-estar), formam mielina e participam na transmisso de sinais no sistema nervoso. So importantes para produzir molculas que modificam o crescimento das dendrites e axnios e, estudos recentes indicam que participam activamente nas transmisses sinpticas, que iremos tratar posteriormente. Estas clulas regulam a libertao de neurotransmissores e libertam ATP (energia) que regula as funes pr-sinpticas. As clulas gliais podem ser divididas em clulas da microglia e da macroglia, em que as clulas da microglia so macrfagos (clulas que resultam da diferenciao de moncitos e tm capacidades fagocticas) especializados que protegem os neurnios. Estas clulas correspondem a 15% de todas as clulas do tecido nervoso e so as mais pequenas das clulas gliais. Por outro lado, as clulas da macroglia esto divididas em astrcitos, oligodendrcitos e os glioblastos. Os astrcitos tm uma forma estrelada, tm importncia na sinalizao celular, e os ps dos astrcitos ligam neurnios e vasos sanguneos e, para estes tm funo nutritiva. Os oligodendrcitos tm um papel importante na fabricao da mielina a partir de lpidos e protenas e tambm podem revestir os

neurnios. Os glioblastos ou clula radial, encontram-se na retina e participam na

comunicao bidireccional dos

Fig.9 Clulas gliaisin http://www.uff.br/fisiovet/imagens/sistema _nervoso_6.JPG

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Externato Frei Lus de Sousaneurnios.

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Durante algum tempo os neurocientistas acreditaram que os neurnios eram os responsveis por toda a comunicao no crebro e sistema nervoso e que as clulas gliais apenas os alimentavam, mas novas tcnicas provaram que as clulas gliais comunicam com os neurnios e entre si, sobre as mensagens trocadas pelas clulas nervosas. As clulas gliais so capazes de modificar esses sinais nas fendas sinpticas entre os neurnios e podem at mesmo influenciar o local da formao das sinapses. Devido a essa proeza, as clulas gliais podem ser essenciais para a construo de lembranas, alm de serem importantes na recuperao de leses neurolgicas. Em relao s clulas que tm maior importncia na massa cinzenta, ou seja, os neurnios, estes so formados pelos axnios que transmitem sinais para outros neurnios, ou para clulas no neuronais, atravs de uma juno especializada chamada sinapse. Um nico axnio pode realizar diversas conexes sinpticas. O processo de comunicao entre as clulas nervosas, nomeadamente os neurnios, a base fundamental da compreenso de qualquer funo ou

Fig.10 Representao de um neurnioin tecnologiasdeultimogrito.com

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disfuno do crebro humano, as sensaes, os sentimentos, os pensamentos, as respostas motoras e emocionais, a aprendizagem, a memria, entre outros. Os neurnios precisam de armazenar continuamente informaes sobre o estado interno do organismo e de seu ambiente externo, avaliar essas informaes e coordenar actividades apropriadas situao e s necessidades actuais da pessoa. Os neurnios processam as informaes devido aos impulsos nervosos. Um impulso nervoso a transmisso de um sinal codificado de um estmulo dado ao longo da membrana do neurnio, a partir do seu ponto de aplicao. Os impulsos nervosos podem passar de uma clula a outra, criando assim uma cadeia de informao dentro de uma rede de neurnios. Os dois tipos de fenmenos que esto envolvidos na propagao do impulso nervoso so os fenmenos elctricos e os

fenmenos qumicos. Os fenmenos elctricos propagam o sinal dentro de um neurnio, e os fenmenos qumicos transmitem o sinal de neurnio a outro ou para uma clula muscular. O processo qumico de interaco entre os neurnios e, entre neurnios e clulas efectorasFig.11 Sinapsein http://neurocienciaeducacao.pbworks.com/f/sinapse.jpg

acontecem na terminao do neurnio, designando-se sinapse. Quando o axnio se aproxima das dendrites de outra clula (sem continuidade material entre ambas as clulas), liberta substncias qumicas chamadas

neurotransmissores, que se ligam aos receptores qumicos do neurnio seguinte, o que promove mudanas excitatrias ou inibitrias na sua membrana. Ento, os neurotransmissores possibilitam que os impulsos nervosos de uma clula influenciem os impulsos nervosos de outra, permitindo assim que as

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clulas do crebro comuniquem entre si. O corpo humano desenvolveu um grande nmero desses mensageiros qumicos para facilitar a comunicao interna e a transmisso de sinais dentro do crebro. Quando tudo funciona adequadamente, as comunicaes internas acontecem sem que sequer tomemos conscincia delas. Uma compreenso da transmisso sinptica a chave para o entendimento das operaes bsicas do sistema nervoso a nvel celular. O sistema nervoso controla e coordena as funes corporais e permite que o corpo responda, e aja sobre o meio ambiente. A transmisso sinptica o processo chave na aco interactiva do sistema nervoso. Dado que os neurnios formam uma rede de actividades elctricas, eles de algum modo tm que estar interligados. Quando um sinal nervoso, ou impulso, alcana o final de um axnio, ele propagou-se como um potencial de aco ou pulso de electricidade. As membranas das clulas emissoras e receptoras esto separadas entre si pelo espao sinptico, preenchido por um fluido. O sinal no pode ultrapassar Assim, os electricamente substncias esse

espao. especiais,

qumicas

neurotransmissores, esse papel. Os pela

desempenham

neurotransmissores so libertados

membrana emissora, onde se difundem atravs do espao, para os receptores da membrana do neurnio receptor, pssinptico. A direco normal do fluxo de informao do axnio terminal para o neurnio alvo, assim o axnio terminal chamado de pr-sinptico (que conduz a informao para a sinapse) e o neurnio alvo chamado de ps-sinptico (que conduz a informao a partir da sinapse). Existem vrios tipos de sinapse, em que as sinapses mais frequentes so aquelas em que o axnio de um neurnio conecta-se a um segundoFig.12 Sinapse e neurotransmissoresin http://www.uff.br/fisiovet/imagens/sistema_nerv oso_6.JPG

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neurnio atravs do estabelecimento de contactos entre as suas dendrites ou com o corpo celular. Existem duas maneiras pelas quais isso pode acontecer: as sinapses elctricas e as sinapses qumicas. As sinapses elctricas ocorrem em locais especializados chamados de junes. As junes formam canais que permitem que os ies passem directamente do citoplasma de uma clula para o citoplasma da outra. A transmisso nas sinapses elctricas muito rpida, assim, um potencial de aco no neurnio pr-sinptico, pode produzir quase que instantaneamente um potencial de aco no neurnio ps-sinptico. As sinapses qumicas consistem na libertao de um neurotransmissor, para a fenda sinptica por um neurnio, quando o sinal de entrada transmitido. Este sinal detectado por um segundo neurnio atravs da activao de receptores situados do lado oposto da libertao do

neurotransmissor. Quimicamente, os neurotransmissores so molculas relativamente pequenas e simples. Diferentes tipos de clulas apresentam diferentes neurotransmissores. Cada substncia qumica cerebral funciona em reas bastante espalhadas mas muito especficas do crebro e podem ter efeitos diferentes dependendo do local de activao. Cerca de 60 neurotransmissores foram identificados e podem ser classificados, como a dopamina, a serotonina, a acetilcolina, a noradrenalina, o glutamato, e encefalinas e endorfinas. Alguns tipos de receptores neuronais aumentam a frequncia dos potenciais de aco na clula alvo, enquanto por outro lado, outros receptores so inibitrios, ou seja, diminuem a frequncia dos potenciais de aco e outros tem efeitos efeitos modulatrios complexos na clula alvo. Os potenciais de aco duram menos que um milsimo de segundo e viajam atravs do axnio numa velocidade de 1 a 100 metros por segundo. Alguns neurnios emitem potenciais de aco constantemente, 10 a 100 vezes por segundo, normalmente em padres temporais irregulares, enquanto outros ficam em repouso a maior parte do tempo, emitindo ocasionalmente uma grande quantidade de potenciais de aco.

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Uma das caractersticas do axnio estar envolvido pelas clulas de Schwann (clulas que produzem a mielina que envolve os axnios dos neurnios, e que isolam electricamente os nervos para uma propagao mais rpida dos potenciais de aco) no sistema nervoso perifrico e, pelos oligodendrcitos (clulas que so responsveis pela formao e manuteno das bainhas de mielina dos axnios) no sistema nervoso central. A sobreposio de camadas de oligodendrcitos e de clulas de Schwann originam a bainha de mielina. Os esfingolipdios so constituintes dos neurnios pois revestem a bainha de mielina, que tem cor branca. Cada neurnio possui um nico axnio, que nasce do cerne de implantao, localizado na regio do pericrio do neurnio. A poro final do axnio ramificada e tem o nome de telodendro. Podemos observar dois tipos de fluxos nos axnios: o antergrado, onde o fluxo segue do corpo celular para o axnio; e o retrgado, onde o axnio leva molculas diversas de utilizao variada pelo corpo celular. Esse fluxo deve-se aos microtbulos e protenas motoras, tambm observadas noutras clulas. Constata-se que os axnios ocupam a grande parte do espao do crebro, viajando juntos em grandes grupos de aglomerados chamados tratos de fibras nervosas. Podemos ainda especificar um tipo de neurnios, os neurnios piramidais, que ligam as vrias camadas entre si e representam cerca de 85% dos neurnios no crtex. Estes neurnios esto interligados uns aos outros atravs de ligaes excitatrias e pensa-se que a sua rede o esqueleto da organizao cortical. Podem receber entradas de milhares de outros neurnios e podem transmitir sinais a grandes distncias, na ordem dos centmetros e atravessando vrias camadas do crtex cerebral. Estudos realizados indicam que cada neurnio piramidal est ligado a tantos outros neurnios piramidais quanto as suas sinapses, cerca de 4 mil, o que implica que nenhum neurnio est a mais de um nmero pequeno de sinapses de distncia de qualquer outro

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neurnio no crtex. Estes neurnios tambm tm a funo de nutrir, isolar e proteger outros neurnios. A substncia cinzenta tem, ento, um aspecto acinzentado devido aos corpos celulares dos neurnios que a constituem. A substncia branca, correspondente s vias nervosas, formada por fibras nervosas e tem um aspecto branco por possuir um grande nmero de fibras mielinas, ou seja, fibras que so formadas pelo axnio, que est envolvido pela bainha de mielina que realiza sobre este dobras concntricas. Esta situa-se na parte interna do encfalo e externa da medula ssea, disposio esta que explicada pelo predominante carcter transmissor dessa substncia. As fibras nervosas conduzem os impulsos nervosos para o sistema nervoso central, e tambm no sentido inverso, e so formadas pelos prolongamentos dos neurnios (dendrites ou axnios) organizando-se em feixes, em que cada feixe forma um nervo. Cada fibra nervosa envolvida por uma camada conjuntiva denominada endoneuro, e cada feixe envolvido por uma bainha conjuntiva feixes denominada agrupados

perineuro.

Vrios

paralelamente formam um nervo e o nervo tambm envolvido por uma bainha de tecido conjuntivo chamada epineuro. No nosso corpo existe um nmero muito grande de nervos e o seu conjunto forma a rede nervosa.Fig.13 Representao do Perineuro

Existem nervosas, que

vrios

tipos

de

fibras

in http://neurocienciaeducacao.pbworks.com/f/sinapse.jpg

desempenham

diferentes

funes, como por exemplo:

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Fibras de associao, que estabelecem a comunicao entre reas do mesmo hemisfrio. Estas podem ter um sub-conjunto que so as fibras arqueadas curtas e as fibras arqueadas longas. As fibras arqueadas curtas ligam circunvolues adjacentes e as fibras arqueadas longas ligam circunvolues distante que podem ir do lobo frontal ao lobo occipital.

Fibras de projeco, que ligam o crtex cerebral e as partes inferiores do encfalo e medula espinhal. Estas fibras tambm podem ter um subconjunto de fibras corticofugas, de fibras corticopetas e por fim, fibras comissurais que interligam o hemisfrio esquerdo e o hemisfrio direito. O crtex cerebral apresenta vrios tipos de clulas como os neurnios

piramidais, que j foram referidos anteriormente, que se apresentam em maior nmero no neocrtex. O seu dimetro pode variar entre 10 micrmetros a 70 ou at mesmo 100 micrmetros. Apresentam um corpo celular de forma cnica do qual saem numerosas dendrites ricas em espinhas, entre elas uma dendrite apical, que abandona o corpo celular para ascender verticalmente pela superfcie cortical, denominando-se as restantes dendrites de dendrites basais que emergem de perto da base da clula e se espalham horizontalmente. Designam-se de neurnios piramidais porque aps o nascimento verifica-se um crescimento acentuado da rvore dendrtica e o aumento das espinhas dendrticas, sendo o seu axnio mais longo. Tambm apresentam clulas no piramidais, que podem ser: Clulas estreladas ou granulares, que podem apresentar axnios curtos e que permanecem no crtex cerebral (interneurnios). Clulas em cesto do crtex, em que o axnio curto e vertical e dividese em diversos colaterais horizontais. Estas clulas realizam sinapses com os corpos celulares e dendrites das clulas piramidais. Clulas em candelabro, em que os seus terminais axnicos apresentamse dispostos verticalmente.

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Clulas de Martinotti, que so pequenas, multipolares, com campos dendrticos localizados e axnios longos. Clulas fusiformes. Clulas neurogligormes.

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O Crebro ligado PsicologiaNa rea da Psicologia, o crebro o rgo privilegiado de estudo. Muitos dos trabalhos feitos neste campo esto relacionados com a memria, a mente e os sentimentos, por exemplo. Devido a este facto, quisemos incluir no projecto alguns destes subtemas no to cientficos e precisos mas mais dinmicos e moldveis. Comecemos ento pela Mente vs Crebro. Em seguida, trataremos a Memria e depois os Sonhos. Por ltimo, os Sentimentos.

Mente vs CrebroDesde humanidade o os primrdios homem tem da se

questionado sobre a sua conscincia. Mas igualmente se questiona na

origem daquilo que hoje denominamos mente, mas que outrora era designado de alma ou esprito pelos filsofos primordiais. A dualidade entre o corpo e a mente tem sido um assunto recorrente na pauta dos mais diversos pensadores, quer sejam eles filsofos, religiosos ou psiclogos. Por se tratarFig.14 Crebro vs Mentein 12dimensao.wordpress.com

de um assunto muito subjectivo e pouco quantificvel, a cincia relutou durante anos em conceder ateno aos fenmenos mentais. Contudo, muito gradativamente as cincias que estudam o crebro foram desenvolvendo tecnologias pautadas em imagens cerebrais (ressonncia magntica funcional,

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tomografia por emisso de psitrons, entre outros), que permitem a aferio detalhada de fenmenos mentais outrora imensurveis, tais como as emoes humanas, os valores morais e a tica. Essa rea do conhecimento humano chamada, actualmente, de neurocincia. Desde o aparecimento dos trabalhos de Ramn e Cajal, nenhuma outra disciplina se desenvolveu tanto no sculo XX quanto a neurocincia (da qual falaremos mais frente). Dispomos hoje de um conhecimento bastante preciso do funcionamento cerebral e das suas unidades bsicas, bem como das reaces qumicas que nele ocorrem. Sabemos que o crebro uma mquina complexa resultante da reunio de elementos fundamentais: o neurnio ou unidade bsica, as sinapses ou conexes e entre os

neurnios

as ligaes

qumicas que ali ocorrem, atravs neurotransmissores receptores. combinaes uma de e Essas tornam-no mquina

extremamente poderosa, na medida em que so capazes de gerar configuraes e arranjos variados numFig.15 Cartoon (crebro vs mente)in http://www.taringa.net/posts/cienciaeducacion/8383769/El-Problema-Mente-Cuerpo.html

nmero astronmico. Contudo, o grande desafio que a neurocincia ainda enfrenta a dificuldade (ou impossibilidade) de relacionar o que ocorre no crebro com aquilo que ocorre na mente, ou seja, de encontrar algum tipo de traduo entre sinais elctricos das clulas cerebrais e aquilo que percebo ou sinto como sendo os meus pensamentos. A observao da actividade elctrica do crebro no permite saber se um indivduo est a pensar em estrelas coloridas ou

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numa vaca amarela. Se ningum pode observar os fenmenos que ocorrem naquele crebro e se ningum os consegue igualmente observar no crebro, ento possvel formular duas perguntas: Onde estaro eles a ocorrer?; e O que sero eles se pelo menos inicialmente no se pode supor que sejam objectos como quaisquer outros que se apresentam diante de ns, como parte da natureza? Estas duas questes esto na origem da determinao daquilo a que chamamos subjectividade. As estrelas coloridas e cintilantes, bem como as vacas amarelas, existem para o dado indivduo, pelo menos

momentaneamente. Se ningum mais pode observ-las, pode-se ento dizer que estes so estados subjectivos. Os estados subjectivos encontram-se na nossa mente, mas no na natureza. Eu preciso de uma mente para ter estados subjectivos, j que esses no se podem encontrar nem mesmo no meu crebro. Surge ento uma pergunta preliminar: mas o que so as mentes? Se as mentes se caracterizam por ter estados subjectivos e esses no se podem encontrar no meu crebro, estaremos ento a afirmar que no precisamos de crebros para ter mentes? Algumas pessoas sustentam tal ponto de vista, quase sempre a partir de crenas religiosas de vrios tipos. Esse ponto de vista , entretanto, contra-intuitivo: sabemos que, se danificarmos o crebro de uma pessoa, muitas das suas actividades mentais sero tambm afectadas. Sabemos tambm que, se bebermos vrias doses de lcool, a nossa mente ficar alterada. O mesmo ocorre quando tomamos algum tipo de droga. Altero a minha mente porque alterei o meu corpo sabemos que tanto o lcool como as drogas actuam sobre regies do crebro, alterando o seu equilbrio qumico. Os problemas que enfrentamos consistem em definir que tipo de relao existe entre a mente e o corpo ou entre a mente e o crebro. Podemos comear por considerar que tipo de estratgia se poderia adoptar para abordar este problema. Uma delas consiste em apostar no avano progressivo da cincia e supor que o problema da relao mente e crebro seja um problema emprico, ou seja, um problema cientfico como

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qualquer outro que algum dia acabar por ser desvendado. O grande avano da neurocincia nos ltimos anos e a progressiva e tentadora possibilidade de explicar a natureza do pensamento atravs da estrutura qumica do crebro seria uma boa razo para adoptar essa estratgia. Outra estratgia consiste em apostar que este um problema que ultrapassa os limites daquilo que a cincia pode vir a esclarecer. Qualquer uma das estratgias significa uma aposta. Uma aposta que, de uma forma ou de outra, envolve uma tomada de deciso em favor de algum tipo de imagem do mundo. Um exame preliminar de como a relao entre mente e crebro poderia ser concebida parece forar a optar por dois tipos de alternativas bsicas: ou os estados mentais (e estados subjectivos) so apenas uma variao ou um tipo especial de estados fsicos (monismo); ou os estados mentais e subjectivos definem um domnio completamente diferente e talvez parte dos fenmenos fsicos (dualismo). Essas duas alternativas so apenas a transcrio das apostas que possvel fazer, seja em favor de uma imagem do mundo ou de outra. A primeira sugere que existem apenas crebros e que os estados subjectivos podem ser apenas uma iluso a ser desfeita pela cincia. A segunda, aposta na existncia de algo a que chamamos "mentes" que, para alguns, s poderia ser explicado pela religio ou pela adopo de uma viso mstica do mundo. nesse sentido que o problema mente-crebro tambm visto como um problema ontolgico: preciso saber se o mundo composto apenas de um tipo de substncia, ou seja, a substncia fsica, e se a mente apenas uma variao desta ltima, ou se, na verdade, nos defrontamos com dois tipos de substncias totalmente distintas, com propriedades irredutveis entre si. Concluindo, impossvel, pelo menos actualmente, distinguirmos terica e metodicamente mente e crebro. Mas, com os avanos da cincia, mais concretamente da neurocincia que trabalha neste assunto esperamos que um dia seja possvel explicar e determinar as diferenas entre estes dois conceitos.

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MemriaA memria o processo de manuteno do passado e graas memria que possvel estruturarmos o presente e o futuro. Este processamento retm informaes, juzos, valores, encontros, entre outros, salvaguardando a identidade pessoal de cada indivduo, assegurando assim a continuidade da aprendizagem de novos conhecimentos, conceitos e de novas experincias. Esta tambm muito importante quando necessitamos de actualizar e relembrar algo. atravs desta que actualizamos a informao necessria de maneira a darmos resposta aos desafios em que o meio nos coloca. Por exemplo, no colocamos a mo numa chapa quente, pois j sabemos a consequncia daquela aco e isto s possvel devido ao processo de recordao. A aprendizagem com o meio que nos rodeia deve-se essencialmente capacidade de nos lembrarmos dos nossos actos passados e assim construir o presente e futuro. Durante muitos anos, a memria foi um termo de comparao com a inteligncia, mas actualmente esta ideia j est totalmente desfigurada. Com base na psicologia tm sido efectuadas experincias e tem sido possvel provar que a memria est na base de todos os processos cognitivos, memria. Este processo de recordao so tambm imagens de representaes, isto , quando nos referimos ao nome de algum lugar ou de algum temos recordaes eFig.16 Imagens da mentein http://filosofiacienciaevida.uol.com.br/ESFI/Edicoes/47/ artigo174296-1.asp

no

havendo

cognio

sem

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passam-nos imagens pela cabea desse stio ou pessoa. Estas imagens so representaes que substituem os locais e pessoas, sendo cpias fiis reproduzidas pelo nosso crebro. A memria , ento, um processo psicobiolgico estruturante, que se elabora durante trs fases. Estas fases denominam-se por, numa primeira instncia, codificao; a segunda fase por armazenamento; e, por ltimo, a recuperao. A codificao a traduo de um dado num cdigo, traduzindo as operaes sensoriais para serem traduzidas, depois, pelo crebro. Este processo relaciona-se tambm com uma aprendizagem de algo a memorizar, implicando assim uma codificao mais profunda e intensa. Aps as experincias serem codificadas, estas so armazenadas. O armazenamento de experincias vividas um dos estudos mais inquietantes sobre a memria. Por exemplo, se recordarmos um acontecimento que tenhamos vivido, as recordaes que teremos desta no esto armazenadas num lugar do crebro, como uma gaveta pronta para abrir assim que necessitamos. Estas informaes esto dispostas em vrias zonas do nosso crebro e, por isso, muitas vezes nos bastante difcil recordar com exactido algumas experincias anteriormente vividas. Por ltimo, temos a recuperao, sendo a ltima etapa, e nesta que se recupera a informao pedida. quando encontramos respostas para as nossas perguntas, como por exemplo: Em que dia faz anos?, Qual foi a matria da aula passada?. Quando nos deparamos com este tipo de perguntas vamos obrigar o nosso crebro a recuperar informao armazenada. Depois desta exposio podemos interpretar memria como um total de processos que codificam, armazenam e recuperam experincias.

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Fig.17 Recordao de memriasin http://esquecime-ap.blogspot.com/2009/12/jogos-de-raciocinios-ememoria.html

A memria , ento, uma recordao varivel, pois pode conservar-se com grande nitidez ou no. Geralmente o que determina isto, alm da importncia tambm a durao dos acontecimentos. Existe a memria a curto prazo e a memria a longo prazo.

Fig.18 Quadro com o tipo de memriain http://serhumano-psicologia.blogspot.com/2009/11/processos-dememoria.html

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A memria a curto prazo conservada durante um curto perodo de tempo ou pode transformar-se numa memria a longo prazo. Mas, no caso da informao processada se perder, nunca mais se recupera. No caso de se conservar uma memria de curto prazo existem dois processos: Memria Imediata: a informao recebida fica guardada durante cerca de 30 segundos, e podemos guardar at sete elementos. Memria de trabalho: quando repetimos uma informao durante muitas vezes, como por exemplo uma matria, um nmero de telefone, uma matricula, entre outras coisas.

A memria a longo prazo retm alguns elementos da memria a curto prazo. Estes elementos ficam guardados na memria durante muito tempo ou at para a vida toda. Mas existem quatro tipos de memria a longo prazo: Memria no declarativa: este tipo de memria responsvel por comandar aces automticas que temos na nossa vida do quotidiano, como: conduzir um automvel, comer, lavar os dentes etc. Quando executamos estes comportamentos to automtico, que nem temos conscincia do seu processo de realizao. Muitas destas aces so essenciais para a vida. A memria declarativa tambm conhecida como memria implcita ou sem registo. Memria declarativa: tambm conhecida por memria explicita ou memria com registo. devido a este tipo de memria que conseguimos descrever um local ou uma pessoa. Mas ainda dentro desta memria distinguem-se: o Memria semntica: refere-se ao conhecimento em geral, leis da Fsica e da Qumica, conhecimentos matemticos, filsofos, entre outros o Memria episdica: descreve com exactido as coisas observveis nossa volta (rostos, locais etc.)

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Externato Frei Lus de SousaActualmente, no se sabe o que desencadeia o armazenamento de acontecimentos experienciados em vida (memria) porm, suspeitase que o LTP (Long-Term Potential) ou Potncia de Longa Durao seja a melhor explicao para que tal acontea. Esta descoberta foi feita por Tim Bliss e Terje Lomo num estudo para de descobrir a

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capacidade

armazenamento

Fig.19 Representao das estruturas utilizadas na memriain http://www.guia.heu.nom.br/memoria.htm

entre as sinapses e os neurnios do

hipocampo. Descobriu-se que num curto espao de tempo se se aplicar uma alta frequncia (de modo artificial) e uma conduta do hipocampo, aumentava a efectividade sinptica. Este acontecimento denominado por LTP e os seus mecanismos de induo podem ser associativos ou no associativos. Este mecanismo pode ser um forte candidato para explicar a memria a longo prazo, uma vez que acontece em cada uma destas trs vias, mediante a informao que est do hipocampo: via perfurante, a via das fibras musgosas e a via das colaterais de Schaffer e tambm porque induzida e aps o ser, torna-se estvel. Assim, a LTP mostra os mesmos processos da memria, formando-se de modo rpido e eficaz atravs de sinapses e dura um longo perodo de tempo. Porm, no se consegue que este seja o processo de armazenamento da memria. A nossa memria caracterizada por reter acontecimentos que nunca mais nos esqueceremos, porm nem todas as experincias vividas por ns ficam gravadas no nosso crebro. Esta distino sobre o que ou no importante e relevante para o ser humano em causa depende da activao do sistema hormonal, por via do crebro, durante o processo de armazenamento. Conclui-se, aps experincias realizadas que a -endorfina a substncia que activada e libertada atravs do sistema neuro-hormonal, o que provoca o

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Externato Frei Lus de Sousaesquecimento acontecimentos. de certos Em

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situaes de stress extremo h maior facilidade da de -

ocorrer

libertao

endorfina, podendo atingir a amnsia afectando posteriores, anteriores. retrgrada, as no

lembranas mas as da -

Alm

endorfina, existem tambm a libertao por parte do sistema ACTH, neuro-hormonal noradrenalina,Fig.20 Representao do ciclo das hormonas serotonina, noradrenalina e dopaminain http://quimicosinteligentesecriativos.blogspot.com/

dopamina e acetilcolina, que so substncias libertadas em doses relativamente altas e quando as experincias vividas so realmente fortes e importantes no so afectadas por estas. Porm, quando existe uma excessiva libertao destas, existe um bloqueamento dos canais inicos. A serotonima, um neurotransmissor, executa um papel fundamental no armazenamento da memria a longo prazo, uma vez que est relacionada com a sntese proteica. Este neurotransmissor aumenta o grau de AMPcclico, fazendo com que ocorra uma cascata de fosforilao de quinases, aumentando a transcrio do DNA que, por consequncia, aumenta a sntese proteica. Por fim, os neuropeptdicos e o GABA (cido gama-aminobutrico do grupo amina) so da substncias memria. Os tambm GABA muito podem importantes ser para o ao

armazenamento

prejudiciais

armazenamento da memria caso tenham contacto com substncias psicotrpicas (drogas) que minimizem o efeito do cido e provoquem esquecimento. Os primeiros podem ser benficos, quando apresentados em

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doses subconvulsantes ocorre um bloqueio, parcial ou total, da aco do GABA, podendo produzir ansiedade, alta actividade locomotora e convulses. Por vezes, acontecem acidentes que podem ter consequncias extremamente graves, como a perda da nossa faculdade cognitiva: a memria. Com a perda desta, perdemos a capacidade de planear e de procedermos aprendizagem. Existem vrios casos de perdas de memria, sendo os mais conhecidos a Amnsia e a doena de Alzheimer (da qual trataremos mais frente). A amnsia a perda total ou parcial de memria e a maior parte das vezes temporria. Pode ser causada por doenas neurodegenerativas (doenas onde ocorre destruio irreversvel de neurnios), consumo de drogas e alcoolismo, traumas fsicos e infeces que atinjam o tecido cerebral. Esta doena pode ser classificada em dois tipos: amnsia antergrada e amnsia retrgrada. A primeira talvez a menos prejudicial. Ocorre devido a um trauma e a pessoa lembra-se de tudo antes do trauma mas tem dificuldade ao recordar-se dos acontecimentos aps este. J no segundo, a pessoa tem dificuldades em lembrar-se de acontecimentos antes do trauma, mas no existe qualquer problema em recordar o que aconteceu depois do trauma. Este segundo caso mais doloroso para a pessoa que sofre o traumatismo e para os que o rodeiam, pois muitas vezes os doentes no se recordam da famlia e amigos. Existem vrios tipos de amnsia: Amnsia Global Transitria: a pessoa tem uma perda de memria mas apenas durante umas horas, no mximo durante um dia. Este tipo de amnsia pode encaixar na amnsia antergrada. O indivduo lembra-se de tudo, apenas no retm nenhuma informao daquele

acontecimento. Amnsia psicognica: pode ocorrer devido a traumas e pode ser considerada tanto do tipo antergrada como do tipo retrgrada.Antnio Pereira, Ins Almeida, Ins Santos, Joo Diogo, Patrcia Roque

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Normalmente, a memria regressa aps alguns dias. Em alguns casos, pode acontecer que a pessoa perca algumas passagens da sua vida. Sndrome de Korsakoff: a sua causa principal o alcoolismo. H um esgotamento de vitamina B1 e por este motivo que ocorre a sndrome. A pessoa consegue fazer movimentos que tenha aprendido antes da sndrome incidir mas no consegue adquirir novos movimentos, sendo considerada antergrada. Quando causado devido ao alcoolismo, os sintomas so a descoordenao motora. Amnsia Alcolica: causado quando a pessoa bebeu demasiado. O indivduo no privado de nenhum movimento mas quando o efeito alcolico passa no se lembrar de nada, enquanto esteve alcoolizado. O nico tratamento para a doena diagnosticar o tipo de amnsia e geralmente so aconselhados tratamentos que ajudem o paciente com os distrbios.

Fig.21 Imagem a ilustrar a perda de memriain http://travancalternativa.blogspot.com/

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Os SonhosOs sonhos so actividades mentais que ocorrem durante o sono. A maioria destes ocorre em conjunto com movimentos rpidos dos olhos, surgindo da a fase REM (Rapid Eye Movements) que ocupa, normalmente, 20 a 25% do tempo em que estamos a dormir, no caso dos adultos. No caso das crianas, pensa-se que esta fase dure cerca de 50% do sono. Tambm ocorrem sonhos durante os perodos no-REM, dizendo que ocorrem no sono NREM. Os investigadores que estudam o sono dividem-no em cinco estdios definidos pela actividade elctrica dos neurnios que pode ser representada por ondas num eletroencefalograma elctrodos na (EEG) do ligando crnio do

superfcie

indivduo. Observa-se que os estdios no sono ocorrem em sequncia e voltam para o estdio 1 de sono REM cerca de 90 minutos aps adormecermos, repetindo-se os ciclos durante o sono, com o perodo de REM cada vez mais longo. Na maioria dos casos, uma pessoa tem 4 ou 5 perodos REM durante a noite tendo cada uma, uma durao entre 5 a 45 minutos. Este estado REM um estado tanto neurolgico como fisiologicamente activo. Quando nos encontramos no sono profundo no h sonho e as ondas (neste caso Delta) ocorrem em 3 por segundo. Pelo contrrio, no sono REM, as ondas ocorrem em cerca de 60 a 70 por segundo e o crebro geraFig.22 Eletroencefalogramain http://greentheo.scroggles.com/2010/0 1/18/diy-eeg-machines/

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aproximadamente cinco vezes mais electricidade do que quando estamos acordados. Mas tambm a presso arterial, as batidas do corao e a respirao pode alterar-se drasticamente durante o sono REM. Visto no haver causas fsicas externas que justifiquem a alterao destes estados, o estmulo tem de ser interno, no crebro, ou externo e no-fsico. Esta ltima explicao, em que o estmulo externo e no-fsico est relacionado com os sonhos serem uma passagem para o paranormal ou sobrenatural, mas actualmente uma teoria que no tem qualquer valor.

Fig.23 Ondas Delta durante o sonoin http://www.umsl.edu/~neurodyn/projects/eeg.html

Est provado que o sono no um estado de conscincia mas sim de inconscincia. As ondas cerebrais no representam, ento, estados de conscincia, mas sim actividade elctrica no crebro. Esta actividade cerebral durante o sono bastante curiosa e alvo de estudo por parte de muitos mdicos. Enquanto sonhamos, no s experienciamos o equivalente a

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O Crebro 39

Externato Frei Lus de Sousaalucinaes (que nos classificariam como psicticos se as tivssemos acordados) mas tambm sentimos que nos movemos fisicamente como se o corpo se movesse mesmo. Contudo, na maioria dos casos a movimentao fsica que sentimos s aparente e resulta do subconsciente devido a mecanismos no crebro que nos

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protegem durante o sono destas actividades motoras que poderiam levar a ferir-nos ou a ferir terceiros. Ou seja, a grande maioria dos indivduos est paralisado durante o sono mas h excepes. Algumas pessoas sofrem de um problema neste mecanismo que as faz falar e andar como se

Fig.24 Sonmbulismoin http://naftamor.blogspot.com/2008_10_ 12_archive.html

estivessem acordadas, tornando-se um perigo para si prprias e para os outros, os chamados sonmbulos. Outra curiosidade dos sonhos que quase todos so esquecidos. Este facto no se deve a nada paranormal ou sobrenatural como muitos estudiosos defendem mas deve-se a uma codificao fraca. A memria, da qual falmos anteriormente, depende de uma codificao dos dados da experincia vivida. A codificao depende das conexes entre partes do crebro, que por sua vez dependem das conexes da experincia. Um facto com forte carga emocional mais provvel de ser recordada que outra sem essa carga emocional porque as memrias emocionais so registadas numa parte do crebro e as visuais noutra. O que as liga so as conexes neuronais. Podemos, ento, recordar sonhos se acordamos logo aps ele ocorrer. Outro aspecto curioso do sonho que a maioria de ns no tem conscincia de que sonha enquanto est a sonhar. PET scans durante o sonho mostram reduzida actividade no crtex prfrontal durante o sono REM, o que

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pode explicar vrias caractersticas do estado sonho. No havendo actividade nesta regio do crebro, o indivduo pode no conseguir compreender que factos bizarros ou at mesmo impossveis que ocorrem no sonho, so irreais. Esta , ento, uma explicao para as distores na percepo do tempo e para a incapacidade de o sonhador reflectir sobre o que ocorreu no seu sonho e consequentemente, explicado tambm o esquecimento que se segue aps o acordar. Alguns investigadores afirmam que a falta de actividade prfrontal um sinal de que a funo do sono uma funo reparadora. O sono permite assim o repouso dos lobos frontais, que a regio mais activa do crebro quando estamos acordados. Em alguns casos, algumas pessoas dizem ter conscincia de que esto a sonhar enquanto sonham, e chamamos a esses sonhos, sonhos lcidos. Isto deve-se pois os lobos frontais no repousam completamente. muito provvel que os sonhos sejam o resultado de activaes elctricas que estimulam memrias localizadas em diferentes partes do crebro. O que ainda no se sabe porque que o crebro apenas estimula e confabula as memrias, isso ainda um mistrio. Sobre o ritmo dos sonhos, h vrias teorias mas a mais aceite que um modo do crebro desligar o crtex de sinais sensoriais. Enquanto dormimos os neurnios do tlamo impedem a penetrao de informao sensorial para o crtex e isso d-lhe a possibilidade de repousar.

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Os SentimentosTodos os nossos sentimentos e emoes tm a sua origem no interior do crebro no sistema lmbico. Uma leso nesta zona do crebro no nos permite distinguir os sentimentos expressados pelos outros que nos rodeiam e temos mais medo do que o comum. As emoes tm por base os sinais nervosos a partir dos sentidos. O sistema lmbico o responsvel pelas emoes e pelos variados comportamentos, dos quais o ser humano vtima. L, so realizadas conexes com o hipotlamo, com o complexo amigdalide (local onde ocorrem simulaes dos efeitos provenientes do hipotlamo), com os ncleos septais (rea septal) com os e corpos mamilares. Quando o hipocampo (zona onde se localiza o hiptalamo) torna-se hiper-excitvel, este fica sujeito a convulses com alucinaes sensoriais. Por exemplo, a dor uma sensao no desejada e por isso evitada pela grande maioria das pessoas.Fig.25 Depressoin http://www.spectrumgothic.com.br/im ages/gothic/depressao01.jpg

Alguns indivduos no conseguem sentir a dor, porque o sistema nervoso dos sentidos para o crebro no funciona. Estas pessoas destroem os seus corpos porque no conseguem reagir dor. Por exemplo, a dor faz-nos a afastar o nosso p de um pedao de vidro ou a parar quando a faca nos corta o dedo. Quanto maior for o perigo para o corpo, maior a dor que sentimos. Neste caso, como o indivduo no sente dor, tambm no ir sentir o perigo o que por vezes pode levar morte. As emoes surgem antes da linguagem como um meio eficaz de comunicao: desempenham um papel fundamental no incio da vida,

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acabando por ser vital, pois o ser humano quando nasce no consegue sobreviver sozinho e necessita de comunicar com o exterior as suas necessidades e desejos. Nos seres humanos as emoes so mais complexas pois a partir da sua capacidade cognitiva, ou seja, racional e conceptual, juntamente com a sua histria de vida, atribuem significados a situaes, a objectos ou a pessoas, provocando o aparecimento de certas emoes. Por exemplo, quando ouvimos uma msica que nos lembra um amigo de quem sentimos saudade, ficamos nostlgicos e tristes, pois atribumos significados a essa msica ao associ-la a algum. Vamos agora dar a conhecer casos bastante controversos e conhecidos que despertou muito interesse nos psiclogos. Os seguintes casos servem de aprendizagem sobre o funcionamento das reas pr-frontais e a sua influncia no lado emocional e sentimental dos seres humanos. Phineas Gage era um funcionrio dos caminhos-de-ferro americanos, que viveu no sculo XIX (1823-1861). Em 1848, com 25 anos, sofreu um acidente de trabalho que, de certa forma, acabou por torn-lo famoso. Quando tentava colocar explosivos para abrir um caminho numa rocha, provocou uma exploso. A barra de ferro usada para empurrar os explosivos

atravessou-lhe a cabea, penetrando no queixo e arrancando-lhe o olho esquerdo, e saiu pela parte superior do crnio, onde afectou as reas prfrontais do crebro. Depois de

Fig.26 Localizao da barra de ferro no crnio de Phineas Gagein http://www.cerebromente.org.br/n02/historia/phine as_p.htm

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assistido no hospital, recuperou e acabou por sobreviver por mais 12 anos. Apesar das crises de epilepsia espordicas, as capacidades intelectuais e motoras foram mantidas. Embora estivesse recuperado, perdeu o olho esquerdo e a barra de ferro foi apenas cortada no exterior, permanecendo parte dela no crebro. Mas, devido s zonas cerebrais afectadas, a sua personalidade sofreu mudanas drsticas a nvel sentimental e emocional. Antes do acidente, era descrito como um homem exemplar: educado, trabalhador, sereno, simptico e gentil. Contudo, aps o acidente, passou a demonstrar comportamentos totalmente diferentes: irritava-se com facilidade, era mal-educado, enfurecido e moribundo. Devido a esta mudana emocional, perdeu o emprego e passou o resto da vida a deambular pelas ruas de Nova Iorque e Califrnia. Morre em 1861, com 38 anos, ainda com a barra de ferro na cabea.

Fig.27 Phineas Gage com a barra de ferroin http://pt.wikinoticia.com/estilo%20de%20vida/psicologia/3888-o-incrivel-caso-dephineas-gage-calibrador

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O seu crebro foi conservado no Museu da Escola Mdica de Harvard e, nos anos 90, foi objecto de estudo dum casal portugus: Antnio e Hanna Damsio. Atravs de tcnicas de simulao informtica, foi possvel reconstruir as consequncias do acidente, verificando que as reas responsveis pelos movimentos e pela linguagem no apresentaram qualquer dano sofrido, o que compreende a preservao da motricidade e da linguagem. A zona que fora verdadeiramente afectada era a zona frontal do crebro.

Fig.28 Crebro de Phineas Gage conservado no Museu da Escola Mdica de Harvardin http://lendasemisteriosdomundo.blogspot.com/2010_05_01_archive.html

Dois investigadores portugueses compararam este caso com o de um homem chamado Elliot. O doente, de 30 anos de idade, foi forado a retirar parte do crtex devido a um tumor. A sua personalidade sofreu enormes transformaes que se manifestavam principalmente numa indiferena de sentimentos. Quer face famlia ou a amigos, este no mostrava nenhum

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sentimento: nem alegria, nem amor, nem ansiedade ou tristeza. Conclui-se que Elliot perdera a capacidade de gerir a sua actividade pois, tanto perdia imenso tempo com questes insignificantes, como tambm se esquecia de actividades essenciais. Atravs destas investigaes, Antnio Damsio (psiclogo portugus) pode concluir que as relaes com o crtex pr-frontal e com as emoes ou sentimentos so, no fundo, duas faces da mesma moeda: o crtex apoia-se nas emoes e sentimentos para tomar decises adaptadas. Por outro lado, tem um papel inibidor de emoes. Portanto, as reas pr-frontais do crtex controlam os impulsos e estmulos que nos obrigam a agir de uma forma consciente por exemplo, no beber antes de conduzir ou tomar uma deciso racional em vez de emocional

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O Crebro ligado CinciaAgora, que j tratmos de assuntos onde o nosso tema est interligado com a rea da Psicologia vamos passar aos subtemas onde o mesmo se relaciona com a cincia. Nesta fase do nosso projecto, vamos abordar algumas das doenas neurolgicas mais comuns e mais conhecidas na actualidade e, tambm, algumas das reas cientficas responsveis pelo estudo do crebro humano. Vamos comear, ento, pelas doenas. Estas so a doena de Alzheimer, a doena de Huntington, a doena de Parkinson, a Epilepsia e a Esclerose Mltipla.

As doenas Doena de AlzheimerA doena de Alzheimer uma doena degenerativa do crebro, caracterizada por uma perda das faculdades cognitivas superiores. Esta manifesta-se inicialmente por alteraes da memria, sendo a causa mais comum de demncia nos idosos, ou seja, uma doena que destri as clulas do crebro lenta e progressivamente.

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Externato Frei Lus de SousaDenomina-se demncia decadncia

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progressiva das capacidades mentais em que pode haver uma deteorizao da

personalidade do doente em que a memria, o juzo, a concentrao e a capacidade de aprender esto muitoFig.29 Imagem da demnciain cristinasales.pt

reduzidas. A demncia afecta geralmente as pessoas com

mais de 60 anos, mas tambm pode surgir subitamente em pessoas mais jovens. Contudo, a demncia no parte do processo de envelhecimento, pode afectar pessoas mais jovens como j referimos anteriormente, e a demncia no afecta as funes normais de um indivduo (como andar, respirar, entre outras). A demncia um dos sintomas da doena de Alzheimer e de doenas cerebrais que so causadas pela destruio e perda de clulas cerebrais, que apesar de ser um processo natural, nestas doenas a perda de clulas cerebrais ocorre mais rapidamente, o que faz com que o crebro do indivduo no funcione de uma forma normal. Os sintomas da demncia geralmente so irreversveis, ou seja, nunca melhora. Mas existem casos de tipos degenerativos da demncia em que por vezes o estado da pessoa pode melhorar ou estabilizar num determinado espao de tempo. Na maioria dos casos a esta leva morte. Apesar da forma mais comum de demncia ser a doena de Alzheimer existem vrios e diferentes tipos de demncia. Podemos afirmar que entre cinquenta a setenta por cento das pessoas que apresentam demncia tm a doena de Alzheimer. A doena de Alzheimer foi descoberta no ano de 1906 pelo psiquiatra e neuropatologista alemo Alois Alzheimer (de onde provm o nome da doena).

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Este psiquiatra foi o primeiro a descrever os sintomas da doena, bem como os seus efeitos neuropatolgicos. A doena afecta a memria e o funcionamento mental, como j foi referido, mas consequentemente pode levar a outro tipo de problemas como a confuso, as mudanas de humor, desorientao no tempo e no espao. Os seus sintomas (como a perda de memria e capacidades intelectuais) inicialmente podem passar despercebidos, pelo facto de serem subtis, mas a medida que a doena evolui os sintomas tornam-se cada vez mais notrios pois comeam a interferir com o trabalho, a rotina e as actividades sociais.Fig.30 psiquiatra Alois Alzheimerin hapassos.blogspot.com

Esta doena no contagiosa nem infecciosa, uma doena terminal que causa deteriorao geral da sade do doente. Isto deve-se pois medida que a doena progride o sistema imunolgico deteriora-se, h perda de peso e maior risco de infeces na garganta e pulmes (que pode levar pneumonia, uma das doenas mais frequentes nos doentes de Alzheimer). Algumas pessoas so mais propensas doena de Alzheimer do que outras, uma vez que a causa desta doena provavelmente uma combinao de factores, que variam de pessoa para pessoa, e que desencadeiam a progresso da doena. Estes factores so a idade, o sexo, factores genticos ou hereditrios, traumatismos

cranianos, entre outros. Em relao idade, cercaFig.31 Imagem relativa de maior incidncia da doenain aircrap.org.

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de uma entre vinte pessoas com mais de sessenta e cinco anos de idade e cerca de uma em mil pessoas com menos de sessenta e cinco anos, tm a doena de Alzheimer. Apesar de com a idade aumentar a probabilidade de se ter esta doena, no quer dizer que o facto de ter uma idade avanada que provoca a doena pois existem casos de pessoas com mais de oitenta anos que permanecem completamente lcidas. No entanto, dado que

actualmente as pessoas vivem mais tempo do que no passado, o nmero de pessoas com demncia e com a doena de Alzheimer visa a aumentar. Em relao ao sexo, certos estudos sugerem que esta doena afecta mais as mulheres do que os homens. No entanto, as mulheres vivem mais tempo do que os homens, o que sugere que se os homens vivessem tanto tempo como as mulheres, o nmero de indivduos masculinos afectados por esta doena seria prximo ou igual ao das mulheres. Na doena de Alzheimer os factores genticos e a hereditariedade so bastante importantes pois para um

limitado nmero de famlias esta doena uma disfuno gentica, ou seja, os membros dessas famlias herdam de um dos progenitores a parte do DNA que provoca a doena. Para os membros dessasFig.32 Cadeia de DNAin elusion-pedion.blogspot.com

famlias que desenvolvem a doena de Alzheimer, a idade de incidncia da doena relativamente baixa, por volta dos trinta e cinco e sessenta anos de idade. Foi descoberta uma ligao entre o cromossoma 21 e esta doena, o que indica que crianas que tm a sndrome de Down iro desenvolver Alzheimer se chegarem a alcanar a idade mdia (uma vez que a sndrome de Down provocada por uma anomalia no cromossoma 21). Por outro lado, os

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traumatismos cranianos tambm so um factor pois suspeita-se que um indivduo que tenha sofrido um traumatismo craniano grave, ou severo, tenha uma maior probabilidade de desenvolver a doena de Alzheimer. Se esse indivduo tiver mais de cinquenta anos de idade o risco de vir a ter a doena muito maior. Existem tambm dados que sugerem que pessoas com maior nvel de educao tm menos riscos de adquirir a doena do que pessoas com menor nvel de educao. Isto deve-se pois as pessoas com maior nvel de educao, na maioria dos casos, exercita com mais frequncia o seu crebro (a fazer contas, problemas lgicos, entre outras) enquanto que os indivduos com um nvel de educao mas baixo no tm tanta tendncia para este tipo de exerccio mental. Outros factores como a raa, profisso, situaes geogrficas e socioeconmicas no tm provas de que sejam factores que desencadeiem o desenvolvimento da doena de Alzheimer.

o Diagnstico A causa desta doena praticamente desconhecida. No existe um teste que determine logo se uma pessoa tem a doena de Alzheimer ou no, esta ento diagnosticada atravs de um processo de eliminao de hipteses e de um exame minucioso do estado mental e fsico da pessoa em questo. No exame ao estado mental e fsico necessrio que se providencie informao sobre o comportamento da pessoa (se tem dificuldades em movimentar-se, a cumprir compromissos, entre outros), faz-se uma avaliao neuropsicolgica (onde se descobrem possveis problemas da memria, linguagem, entre outros) e faz-se um teste denominado de Mini Avaliao do Estado Mental em que se fazem perguntas como qual a data de hoje?, em que cidade estamos?. Devem ser feitos, paralelamente, testes como anlises ao sangue e urina para retirar a hiptese de ser outra doena e, tambm devem ser feitos testes com a visualizao do crebro. Estes ltimos tm vindo

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a ser desenvolvidos e mostram imagens do crebro do indivduo e um mtodo em que no h risco para o paciente, sendo igualmente indolor. Apesar destes exames no conduzirem a um diagnstico exacto, so utilizados para reforar a hiptese de estarem na presena da doena de Alzheimer. Os mtodos de imageolofia cerebral so a ressonncia magntica que possibilita uma imagem detalhada da estrutura do crebro. E quando uma imagem colocada em cima de outra que foi registada algum tempo atrs, possvel observar as mudanas numa determinada parte do crebro, no caso de ter Alzheimer. Outro dos mtodos pela TAC, onde se mede a espessura de uma parte do crebro, sendo que nas pessoas com Alzheimer essa parte do crebro encontra-se mais delgada. Por ltimo, a tomografia por emisso de fotes nicos mede o fluxo de sangue no crebro, em que nas pessoas com Alzheimer esse fluxo reduzido e consequncia do mau funcionamento das clulas nervosas. A tomografia por emisso de positres detecta padres anormais do consumo de glicose no crebro, ou seja, detecta mudanas no modo como este funciona.

Fig.33 Diferena entre um crebro de um doente de Alzheimer e de um indivduo saudvelin http://amorporenfermagem.blogspot.com/2010/11/pesquisasbuscam-identificar-primeiros.html

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Outras possibilidades de diagnstico para a doena de Alzheimer podem ser: o O diagnstico possvel, que se baseia-se na observao de sintomas clnicos e na deteriorao das funes cognitivas. Este diagnstico no certo pois existem mais doenas que causam demncia; o O diagnstico provvel, que igual ao diagnstico da doena de Alzheimer possvel mas j sem a hiptese de haver uma segunda doena que cause demncia; o O diagnstico definitivo, onde so identificadas as placas e entranados caractersticos, no crebro, que so a nica forma de confirmar o diagnstico da doena de Alzheimer. Este diagnstico s pode ser feito atravs de uma biopsia ao crebro.

Existem doenas semelhantes ao Alzheimer, que devem ser excludas para confirmar o diagnstico da mesma. Para tal, fazem-se diagnsticos diferenciais para excluir essas doenas. Desses diferenciais fazem parte sintomas como neurocisticercose (calcificaes cerebrais), tumores cerebrais, hemorragias cerebrais, arteriosclerose, intoxicaes a medicamentos, atrofia cerebral (provocada por alcoolismo), sndrome de Korsakoff, deficincias de vitamina B, anemia grave, depresso (pseudo-demncia).

o Principais caractersticas da doena A perda de memria, como j foi referida vrias vezes, a principal caracterstica desta doena. Isto tem consequncias na vida diria e pode conduzir a problemas na comunicao e comportamento.

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Como neste trabalho j foi referido e explicado no tema da memria podemos ento dizer que os doentes de Alzheimer, no incio da doena, no tm problemas em recordar acontecimentos distantes mas, no entanto, podem esquecer-se do que fizeram momentos atrs. Isto prejudica o dia-a-dia do doente (memria episdica afectada) e o doente pode esquecer-se do significado das palavras o que impossibilita s pessoas de terem conversas com significado (memria semntica afectada). Pode ter tambm dificuldade em efectuar as suas rotinas, ou seja, certas aces que eram automticas deixaram de o ser pois o doente perdeu a memria de procedimento.

Fig.34 Consequncias da doenain http://www.facafisioterapia.net/2009/01/doenca-de-alzheimer-etratamento.html

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Externato Frei Lus de SousaOutra das

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caractersticas a apraxia, que a incapacidade de efectuar voluntrios, movimentos apesar da

coordenao, sensibilidade e fora dos msculos

estarem intactas. Tambm ocorre afasia e a agnosia, sendo a primeira ou de perda falar, a da deFig.35 Placas Senisin sistemanervoso.com

dificuldade capacidade

compreender a linguagem, quer falada, escrita ou

gestual (resultado de uma leso no centro nervoso) e a segunda a perda da capacidade de reconhecer o que so e para que servem os objectos. Igualmente acontece uma mudana de personalidade onde os doentes comeam a comportar-se de maneira completamente distinta quela quando estavam saudveis (uma pessoa que toda a vida tenha sido calma, afvel pode de repente tornar-se agressiva), tambm frequente as mudanas bruscas de humor e de comportamento (a deambulao, incontinncia, comportamento agressivo, desorientao no tempo e no espao). Por fim, de notar tambm mudanas fsicas onde esto includas a perda de peso (podem-se esquecer de mastigar ou engolir os alimentos), a reduo da massa muscular e vulnerabilidade a infeces (pneumonia).

o Estgios de desenvolvimento da doena Existe um padro geral da evoluo da doena, o que permite descrever trs estgios de desenvolvimento da mesma. As pessoas com a doena de Alzheimer no sofrem os mesmos sintomas pela mesma ordem ou com o

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mesmo grau de gravidade, portanto, estes estgios ajudam os cuidadores dos doentes a prepararem-se para a evoluo desta. Estgio 1: caracterizado pelas perdas moderadas de memria que podem no ser imediatamente detectadas. A orientao no tempo no muito afectada neste estdio, mas os pacientes comeam a mostrar indcios de desorientao no espao (delirando, e at mesmo perdendo-se num ambiente familiar, como a sua prpria casa). Podem mostrar uma falta de aco e desenvolvem uma tendncia para olhar fixamente em frente, com uma incapacidade para mudar a posio dos olhos. Por ltimo, os pacientes comeam a ter problemas com a representao abstracta. Estes problemas podem ser mais ou menos notrios pois dependem de vrios factores como o trabalho do doente, da famlia, o estilo de vida e a personalidade do doente. Se o doente tiver a percepo do que se est a passar, este estgio pode ser bastante desgastante para o mesmo.

Estgio 2: H um agravamento do estado de sade e dos sintomas dos doentes, que tm de abandonar os seus empregos pois tornam-se cada vez mais dependentes de terceiros. Agravam-se os problemas de memria, onde a memria que permanece intacta a memria para acontecimentos distantes. Acresce o facto de os pacientes terem, frequentemente, dificuldade em reconhecer a sua prpria famlia, uma vez desaparecida a associao entre o rosto e o nome. Torna-se mais difcil interpretar os estmulos (tacto, paladar, vista e audio). Isto tem repercusses na vida diria, sob a forma de perda de apetite, incapacidade para ler e alucinaes. Tambm pode ocorrer insnia (devido ao facto de o dia e da noite ter perdido o significado para o doente). A noo de tempo e de espao afectada, os movimentos passam a ser menos

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Externato Frei Lus de Sousaprecisos, menos coordenados, h uma menor estabilidade na postura

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corporal, viso dupla e incontinncia, mudanas de humor e podem-se tornar agitados e agressivos. Os problemas de linguagem surgem mais marcados, incluindo a incapacidade para compreender a

palavra falada e escrita, assim como a dificuldade em falar e escrever. Neste estdio, os pacientes repetemFig.36 Evoluo da doena de Alzheimerin oocities.com

constantemente as mesmas palavras ou frases.

Estgio 3: No terceiro e ltimo estgio, pode-se dizer que o paciente sofre de demncia grave pois as funes cognitivas desapareceram quase por completo. O paciente perde a capacidade de entender ou utilizar a linguagem e pode simplesmente repetir os finais das frases, sem compreender o significado das palavras. O paciente est cada vez mais incapacitado e vulnervel a uma pneumonia, incontinncia. tendo Perdem os tambm reflexos,

tornam-se rgidos e necessitam de um acompanhamento constante. Enquanto a doena de AlzheimerFig.37 Indivduo com sintomas de Alzheimerin islam-guide.com

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se espalha atravs do crtex cerebral (a camada exterior do crebro), a capacidade de crtica e julgamento ficam reduzidas, proporcionam-se, ento, crises emocionais. A progresso da doena conduz morte de maior parte do tecido nervoso, proporcionando expressivas mudanas do comportamento, tais como vaguear sem rumo e agitao.

o Tratamento No existe um padro tpico de tratamento mas deve ser feita uma interveno multidisciplinar, preventiva e sintomtica. Para melhorar a qualidade de vida do paciente, para retardar a sua dependncia e a sua deteorizao cognitiva e facilitar a vida de quem toma conta do paciente deve ser feito ou um tratamento psicossocial, uma terapia comportamental ou um tratamento atravs de medicamentos (anti-depressivos essencialmente). O diagnstico precoce desta doena pode levar a uma melhor qualidade de vida para os doentes que tm de ser acompanhados devidamente pois a doena pode evoluir para o terceiro estgio que pode levar morte por pneumonia ou por outras complicaes.

Fig.38 Desenvolvimento da doena de Alzheimer no crebroin http://www.zmescience.com/research/studies/d etecting-alzheimer-disease-16112010/

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Doena de HuntingtonA histria desta doena comea com um mdico chamado George Huntington que nasceu em 1850, num povoado de East Hampton, Long Island, EUA. O seu pai e o seu av tambm tinham exercido medicina antes dele e, depois de formado mdico, o Dr. Huntington decidiu estabelecer-se por sua conta em Pomeroy, Ohio. Durante a sua actividade profissional descreveu uma doena bastante rara que j o seu pai e o seu av tinham reconhecido em alguns pacientes. A descrio sobre esta doena teve uma ampla difuso porm a informao realmente slida e credvel eraFig.39 Dr. George Huntingtonin http://sandrabio12.blogspot.com/2008/01/doena-dehuntington.html

mnima at meados do sculo XX. Faziam-se autpsias nos crebros das vtimas da doena e verificava-se que estavam notoriamente diminudos, parecidos com meles podres (citao de Dr. Whittier). Porm, no se tinha nenhuma ideia clara sobre qual era a causa da morte das clulas cerebrais ou sequer da forma em que algumas clulas eram afectadas. Assim, a investigao s famlias que sofriam desta doena despertou bastante interesse e foram estudados os seguimentos genticos. Em 1916, os mdicos C.P. Davenport e E. Muncie trataram 962 doentes em Inglaterra. Em 1932, outro mdico, o Dr. P.R. Vessie realizou uma investigao mais profunda numa das famlias. E chegou concluso que a doena provinha de trs homens que tinham chegado Amrica vindo de Bures, Inglaterra, em 1630. Este mdico constatou que muitas mulheres descendentes desta famlia acabaram por ser queimadas nas fogueiras, pois eram consideradas bruxas.

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Portanto, a doena de Huntington deve o seu nome ao mdico norteamericano George Huntington que a descreveu em 1872. Inicialmente esta doena ficou conhecida como Coreia de Huntington, uma vez que Coreia (palavra de origem grega que significa dana) descreve um dos sintomas da doena.

Fig.40 Cpia da pgino do livro ou jornal onde George Huntington descreveu a doenain http://atlasfolding.com/?page_id=51

Esta doena, tem uma ocorrncia de 3 a 7 casos por 100.000 habitantes, sendo hereditria e rara. Nos EUA, existem actualmente cerca de 30 mil doentes, estando outras 150 mil pessoas em risco. Por outro lado, em Portugal, estima-se que existam 1200 doentes com Huntington, alm de um nmero bastante significativo de pessoas em risco. E, por isso, o descendente tem 50% de probabilidade de a desenvolver pois trata-se de uma doena dominante. Relativamente s caractersticas das pessoas afectadas, um estudo provou que apesar de haver a mesma probabilidade de se desenvolver em ambos os sexos mais frequente ocorrer em homens do que em mulheres e apesar de poder afectar todos os grupos tnicos tambm tem sido mais frequente a ocorrncia em descendentes europeus. Tem sido bastante investigada nas ltimas dcadas tendo sido possvel descobrir o gene causador da doena em 1993. A doena de Huntington causada, ento, por uma

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mutao no gene que codifica uma protena chamada huntingtina (Htt). Esta mutao vai produzir uma forma alterada desta protena o que vai causar uma disfuno e morte das clulas nervosas em determinadas regies do crebro. Afectando o sistema nervoso central, faz com que algumas das sinapses no se efectuem com total eficincia o que provoca movimentos rpidos, involuntrios e bruscos dos membros (tanto superiores como inferiores) e do rosto, afectando alguns aspectos relacionados com a personalidade. Voltemos ento um pouco atrs e veremos que o lobo frontal o que se ocupa das funes motoras ento sabemos que a que o nosso crebro afectado. Mas, a