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CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA

ENTIDADE MANTENEDORA:INSTITUTO FILADÉLFIA DE LONDRINA

Diretoria:Sra. Ana Maria Moraes Gomes ................................. PresidenteSr. Getulio Hideaki Kakitani .................................... Vice-PresidenteSra. Edna Virginia Castilho Monteiro de Mello ....... SecretáriaSr. José Severino ....................................................... TesoureiroDr. Osni Ferreira (Rev.) ............................................ ChancelerDr. Eleazar Ferreira .................................................. Reitor

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Revista & Cultura: cadernos de ensino e pesquisa/Centro UniversitárioFiladélfia.–Londrina,PR,v.1,n.1(1985-).v.29,n.56,jan./jun.2013

Semestral.

ISSN1004-8112

1.Educaçãosuperior-Periódicos.I.UniFil–CentroUniversitárioFiladélfia.

CDD378.05

Bibliotecária Responsável ErmindadaConceiçãoSilvadeCarvalhoCRB9/1756

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CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA

REITOR Dr. Eleazar Ferreira

PRÓ-REITOR DE ENSINO DE GRADUAÇÃOProf.º Ms. Lupercio Fuganti Luppi

PRÓ-REITORA DE PÓS GRADUAÇÃO E INICIAÇÃO À PESQUISAProfª. Dra. Damares Tomasin Biazin

PRÓ-REITOR DE EXTENSÃO E ASSUNTOS COMUNITÁRIOSProf.º Dr. Mario Antônio da Silva

Coordenadores de Cursos de Graduação

Administração Prof.º Dr. Edgard José Carbonell Menezes Prof.ª Esp. Denise Dias Santana Agronomia Prof.º Dr. Fabio Suano de Souza Arquitetura e Urbanismo Prof.º Ms. Ivan Prado Junior Biomedicina Prof.ª Ms.Karina de Almeida Gualtieri Ciência da Computação Prof.º Ms.Sergio Akio Tanaka Ciências Contábeis Prof.º Ms. Eduardo Nascimento da Costa Direito Prof.º Dr. Osmar Vieira da SilvaEducação Física Prof.ª Ms. Joana Elisabete Ribeiro Pinto Guedes Enfermagem Prof.ª Ms. Rosângela Galindo de Campos Engenharia Civil Prof.º Dr. Paulo Adeildo Lopes Estética e Cosmética Prof.ª Esp. Mylena C. Dornellas da Costa Farmácia Prof.ª Dra. Gabriela Gonçalves de Oliveira Fisioterapia Prof.º Ms. Luiz Antonio Alves Gastronomia Prof.ª Esp. Cláudia Diana de Oliveira Gestão Ambiental Prof.º Dr. Tiago Pellini Logística Prof.º Esp. Pedro Antonio Semprebom Medicina Veterinária Prof.ª Drª. Kátia Cristina Silva SantosNutrição Prof.ª Esp. Lucievelyn MarronePedagogia Prof.ª Ms. Ana Cláudia Cerini Trevisan Psicologia Prof.ª Dra. Denise Hernandes Tinoco Sistema de Informação Prof.º Ms. Sergio Akio Tanaka Teologia Prof.º Dr. Mário Antônio da Silva

Rua Alagoas, nº 2.050 - CEP 86.020-430Fone: (43) 3375-7401 - Londrina - Paraná

www.unifil.br

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ISSN 0104-8112

TERRA E CULTURAAno XXIX - nº. 57 - Julho a Dezembro de 2013

CONSELHO EDITORIAL

PRESIDENTEProf.ª Drª. Damares Tomasin Biazin

CONSELHEIROS

Conselho Editorial Interno

Prof.ª Ms. Ana Claudia Cerini TrevisanProfª. Drª. Damares Tomasin BiazinProf.ª Drª. Denise Hernandes TinocoProfª. Ms. Elen Gongora MoreiraProf.º Dr. João Antonio ZequiProf.º Dr. João JulianiProf.º Dr. Leandro Henrique MagalhãesProf.º Ms. Marcos Roberto GarciaProf.ª Ms. Maria Eduvirge MarandolaProf.ª Drª. Miriam Ribeiro Alves MaiolaProf.ª Drª. Mirian Cristina MarettiProfª Ms. Mirian Maria Bernardi MiguelProf.ª Ms. Patricia Martins C. BrancoProf.º Ms. Sérgio Akio TanakaProf.ª Ms. Silvia do Carmo Pattarelli FachinelliProf.ª Drª. Suzana Rezende LemanskiProf.º Drº. Tiago Pellini

Conselho Editorial Externo

Prof.º Ms. Adalberto BrandalizeProf.ª Ms. Angela Maria de Souza LimaProf.º Ms. Eduardo Meinberg de Albuquerque Maranhão Fo.Prof.º Drº. Fábio Suano de SouzaProf.ª Drª. Gislayne Fernandes L. Trindade Vilas BoasProf.º Ms.José Antônio BaltazarProf.º Ms. José Augusto Alves NettoProf.º Dr. José Miguel Arias NetoProf. ª Ms. Karina de Toledo AraújoProf.º Dr. Laurival Antonio Vilas BoasProf.º Ms. Marcelo Caetano de Cernev RosaProf.ª Ms. Maria Elisa PachecoProf.ª Ms. Patricia QueirozProf.º Ms. Pedro Lanaro FilhoProf.º Dr. Rovilson José da SilvaProf.ª Drª. Selma Frossard CostaProf.ª Ms. Silvia Helena Carvalho

REVISORESThiago Tomasin Biazin

Profª. Priscila Tomasin Biazin

SECRETARIAAna Amélia de Oliveira

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EDITORIAL

Estamos levando a público a edição 55 da Revista Terra e Cultura: Cadernos de Ensino e Pesquisa. Este periódico mantém sua tradição multidisciplinar, com artigos organizados em três núcleos: o Núcleo de Ciências Biológicas e da Saúde, o Núcleo de Ciências Humanas e Sociais e o Núcleo de Ciências Sociais Aplicadas. No que se refere ao núcleo de Ciências Biológicas e da Saúde, apresentamos artigos que abordam a área de entomologia, nutrientes funcionais e seus benefícios, entre outros. Já no âmbito das Ciências Humanas e das Sociais Aplicadas, temos artigos da área de qualidade de vida, educação, dentre outros.

Desejamos a todos uma ótima leitura. Lembramos ainda que o envio de artigos para a revista é contínuo, e podem ser encaminhado para o e-mail [email protected], respeitando-se as normas do periódico, que podem ser encontradas no final da mesma.

Boa Leitura.

Prof. Dr. Fernando Pereira dos Santos Editor da Revista Terra e Cultura

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SUMÁRIO

NÚCLEO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE – NCBS

ATUALIZAÇÃO TERAPÊUTICA SOBRE A CAFEÍNA: EFEITOS BENÉFICOS E COLATERAIS Carolina Balera Trombini, Gabriela Gonçalves de Oliveira ...................................................... 11

AVALIAÇÃO DOS EFEITOS MUTAGÊNICOS E ANTIMUTAGÊNICOS DO FATOR DE CRESCIMENTO CHLORELLA GROWTH FACTOR (CGF) PELO ENSAIO DE ALLIUM CEPA Nádia Calvo Martins Okuyama, Bruna Isabela Biazi,Thiago Cezar Fujita, Karina de Almeida Gualtieri, Rodrigo Juliano Oliveira ................................................................................................... 23

COMPARAÇÃO DO CUSTO E BENEFÍCIO ENTRE A UTILIZAÇÃO DE CATETER CENTRAL DE INSERÇÃO PERIFÉRICA E CATETER VENOSO CENTRAL – SOB AGULHA – INTRACATH Maria Francisca Vieira, Magali Godoy Pereira Cardoso, Maria Lúcia da Silva Lopes ............... 31

ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES DE PÓS OPERATÓRIO TOTAL (POT) DE BALÃO INTRAGÁSTRICO EM UMA CLINICA PARTICULAR DE LONDRINA, PR. Anne Kamilla S. Molina de Almeida, Camila Caroline Silva, Dâmaris Baldassare Cortez ............... 39

ESTATÍSTICA MULTIVARIADA EM MICROBIOLOGIA DO SOLO: REVISÃO SISTEMÁTICA DO PANORAMA, FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES Higo Forlan Amaral, Maria Elizabeth da Costa Vasconcellos, Inês Fumiko Ubukata Yada .......... 49

LEVANTAMENTO DA ARBORIZAÇÃO DAS AVENIDAS BRASIL E SÃO PAULO DO MUNICÍPIO DE ITAÚNA DO SUL-PR Tatiane Alves de Moura, Giseli Correia dos Santos Gimenes, Marilene Mieko Yamamoto Pires ...... 59

QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE FEIJÃO (Phaseolus vulgaris L.) COM ABORTAMENTO DE VAGENS Jean Patrick Gasparin, Manoela Andrade Monteiro, Nicanor Pilarski Henkemeier, Esmael Lopes dos Santos ..................................................................................................... 69

NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – NCHS E NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS – NCSA

A ARTE DE PESQUISAR Eliziane Sasso dos Santos ................................................................................................... 77

A INFLUÊNCIA DAS EMBALAGENS NA DECISÃO DE COMPRA DO CONSUMIDOR Edleisse Paes de Camargo, Thiago Spiri Ferreira, Cláudio Luiz Chiusoli .................................. 83

A PRÁTICA DA PSICOLOGIA EM UMA UNIDADE PENAL: EXPERIÊNCIA DE UM ESTÁGIO Silvia do Carmo Patarelli, Natalia Zanuto de Oliveira, Renata Saravy de Carvalho ..................... 99

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FATORES APONTADOS COMO DETERMINANTES PARA IMPLANTAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS: UM ESTUDO COM EMPRESÁRIOS DE LONDRINA-PR. Maria Eduvirge Marandola, Jociane do Nascimento Marçal Lupatelli, Cintia Aparecida Martins Harmatiuk, Luanda Vieira Diniz .......................................................................................... 109

IDENTIDADE COMO RELAÇÃO DE CONFLITO NA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDIGENA Flávia Roberta Busarello, Ernesto Jacob Keim ...................................................................... 123

TENDÊNCIAS DA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA Agnaldo Kupper ............................................................................................................... 135

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NÚCLEO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E SAÚDE - NCBS

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ATUALIZAÇÃO TERAPÊUTICA SOBRE A CAFEÍNA: EFEITOS BENÉFICOS E COLATERAIS

THERAPEUTIC UPDATE ON CAFFEINE: BENEFICIAL EFFECTS AND SIDE

Carolina Balera Trombini 1

Gabriela Gonçalves de Oliveira 2

RESUMO:A cafeína, devido ao seu grande consumo mundial por pessoas de todas as classes sociais, desperta interesse não somente nutricional, mas também farmacológico. Dentre os vários empregos farmacológicos da cafeína, nota-se que o mais conhecido seja como estimulante do sistema nervoso central, que se apresenta pelo fato da mesma antagonizar vários efeitos da adenosina, atuando sobre receptores A1 e A2. As empregabilidades benéficas da cafeína vão além das exploradas popularmente, estudos comprovam que há vários outros efeitos positivos, como melhora no controle da glicemia na diabetes mellitus do tipo 2; efeito diurético; tratamento de apnéia na prematuridade; profilaxia e/ou tratamento inicial da doença de Alzheimer; tratamento cosmético tópico de paniculopatia esclero edematosa, popularmente conhecida por celulite; tratamento e/ou profilaxia da doença de Parkinson; melhoria no desempenho durante os exercícios. A ingestão moderada ou mesmo o uso ponderado da cafeína, promove uma qualidade de saúde, porém, como toda substância ativa, a cafeína é reconhecidamente nociva sob certos padrões de uso. Portanto, o presente trabalho teve como objetivo analisar, verificar e caracterizar essas propriedades farmacêuticas benéficas, colaterais e tóxicas da cafeína em estudo bibliográfico, gerando material informativo atualizado sobre as características gerais deste princípio ativo. PALAVRAS-CHAVE: Café; Cafeína; Adenosina; Estimulantes.

ABSTRACT:Caffeine, due to its large consumption worldwide by people of all social classes, arouses interest not only nutrition but also pharmacological. Among several pharmacological jobs caffeine, note that the most well known is as stimulating the central nervous system, which is presented by the fact that it antagonize several effects of adenosine acting on A1 and A2 receptors. The empregabilidades beneficial caffeine go beyond popularly exploited, studies show that there are several other positive effects such as improved glycemic control in type 2 diabetes mellitus; diuretic effect; treatment of apnea in prematurity; prophylaxis and / or treatment of initial disease Alzheimer’s; cosmetic treatment topic paniculopatia edematous sclerosis, popularly known as cellulite, treatment and / or prophylaxis of Parkinson’s disease, improvement in performance during exercise. Moderate intake or even the judicious use of caffeine, promotes quality health care, however, as every active ingredient, caffeine is known to be harmful under certain usage patterns. Therefore, this study aimed to analyze, verify and characterize these beneficial pharmaceutical properties, and toxic side effects of caffeine in bibliographic generating updated information material on the general characteristics of this active ingredient.KEYWORDS: Coffee, Caffeine, Adenosine; Stimulants.

1. INTRODUÇÃO

A cafeína, devido ao seu grande consumo mundial, por pessoas de todas as classes sociais, desperta interesse não somente nutricional, mas também farmacológico (PENAFORT, 2008).

A empregabilidade ativa da cafeína é amplamente utilizada pela população em geral nas mais diversas formas, seja pelo efeito estimulante do sistema nervoso central quando ingerida, ou mesmo de utilizações cosméticas com objetivo de promover lipólise local (ALTERMANN et al., 2008). No entanto novas ações terapêuticas, além das usuais, estão sendo rotineiramente estudadas e atribuídas ao consumo da cafeína, assim mostrando-se necessário o aprofundamento literário neste assunto.

Considerada uma substância psicoativa, por ter ação no sistema nervoso central, a cafeína se classifica como uma droga ativa que pode ser explorada em qualquer ambiente informalmente, sendo oferecido sem preconceitos no intuito de ser hospitaleiro, porém assim como tudo que promove o deleite, esse princípio ativo pode desenvolver no consumidor uma dependência química, quando usado em excesso (NOSCHANG,

1 Acadêmica do Curso de Farmácia do Centro Universitário da Filadélfia - UniFil. (E-mail: [email protected])2 Orientadora docente curso de Farmácia do Centro Universitário Filadélfia – UniFil. (E-mail: [email protected])

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2009). Dentre os efeitos da dependência evidencia-se a abstinência quando cessado o consumo; tolerância à dose usual, desenvolvendo uma necessidade de doses crescentes para um determinado efeito; e até mesmo o abuso desta droga lícita, a fim de explorar e potencializar seu efeito estimulante (MORATALLA, 2008).

A cafeína está ganhando status de “droga de rua”, utilizada pelos consumidores de outros estimulantes, como anfetamina e cocaína, sendo uma alternativa econômica e farmacologicamente viável, pelo fácil acesso. As vias mais utilizadas são por aspiração nasal do pó e via injetável, explorados principalmente pelos efeitos estimulantes imediatos e mais intensos que a cafeína, nesse tipo de via, proporciona (OGA; CAMARGO; BITISTUZZO, 2008). Além da dependência química, a cafeína pode apresentar em pessoas sensíveis ou em doses acima da terapêutica, efeitos colaterais como náuseas, insônia, taquicardia entre outros (RANG et al., 2007).

Portanto, o presente trabalho teve como objetivo suprir as necessidades expostas, gerando material informativo atualizado sobre as características gerais deste princípio ativo. Foi realizado um estudo bibliográfico do tipo descritivo sistemático, através de leitura analítica com julgamento do conteúdo na forma qualitativa, com ênfase nos efeitos farmacológicos e toxicológicos da cafeína, no sentido de elucidar o potencial benéfico, de dependência e de risco que a mesma pode proporcionar.

2. METODOLOGIA

Este trabalho foi realizado através de pesquisa bibliográfica utilizando-se de artigos científicos, livros e revistas relacionadas ao assunto abordado. O levantamento bibliográfico foi realizado entre Abril de 2011 a Março de 2012.

3. DESENVOLVIMENTO

3.1 Fontes de Cafeína

De origem natural, a cafeína é um alcalóide encontrado principalmente em alimentos, tais como o café, o chá, o guaraná e a cola (SILVA, 2006). Contudo existem mais de 60 espécies de plantas que contêm cafeína. A “ilex paraguariensis” é utilizada no preparo do mate, consumida na forma de chimarrão no sul do Brasil, e também apresenta níveis importantes de cafeína (WENDT, 2007).

Os níveis de cafeína nos alimentos apresentam-se significativamente variados, sendo que o café caracteristicamente contém mais cafeína, e o chá contém concentrações intermediárias (NOSCHANG, 2009).

A cafeína vem sendo incorporada também em outros alimentos como sorvetes, iogurtes e sucos de laranja (BEZERRA et al., 2009). Ela também pode ser encontrada na formulação de medicamentos, sendo principalmente adicionada em medicamentos contra gripe, como por exemplo, analgésicos e medicamentos utilizados para estimular a capacidade mental (LACORTE, 2008).

3.2 Aspectos Farmacológicos

3.2.1 Sistema Nervoso Central

Dentre os vários empregos farmacológicos da cafeína, nota-se que o mais conhecido seja como estimulante do sistema nervoso central, que se apresenta pelo fato da

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Atualização terapêutica sobre a cafeína: efeitos benéficos e colaterais

mesma antagonizar vários efeitos da adenosina, atuando sobre receptores A1 e A2 (RANG et al., 2007). O receptor com maior afinidade pela cafeína é o subtipo A2A, seguido dos receptores A2B e A1. O consumo normal de cafeína, equivalente a duas ou três xícaras de café é o suficiente para o bloqueio destes receptores (SILVA, 2005).

O mecanismo estimulante da cafeína acontece devido à localização cerebral destes receptores alvo. Os receptores A1 e A2A estão em maior concentração em áreas dopaminérgicas do cérebro, entretanto co-localizados com receptores distintos, os receptores A1 com receptores D1, e os receptores A2A co-localizados pós-sinapticamente com receptores D2. Visivelmente, a principal função dos receptores purinérgicos é inibir a liberação de neurotransmissores excitatórios, e desta forma evidenciando que a adenosina age como um dos mais potentes inibidores. Assim a redução da atividade da adenosina pela ação antagonista da cafeína resulta no aumento de atividade e transmissão de dopamina (MIJARES, 2005). Além da dopamina, a adenosina apresenta uma ação neurodepressora, por inibir também a liberação de noradrenalina, GABA e glutamato (CAVALCANTE, et.al., 2000).

A ligação aos receptores purinérgicos não é a única forma da cafeína modular mecanismos celulares no sistema nervoso, a mesma também pode aumentar os níveis de adrenalina no cérebro. No caso da adrenalina, ocorre pelo bloqueio da enzima fosfodiesterase, responsável por metabolizar AMPc intracelular, assim aumentando a concentração do AMPc dentro da célula. Desta forma o efeito da adrenalina acontecerá por um tempo mais prolongado e, com a amplificação do desempenho neuronal, a glândula pituitária exacerba a liberação de hormônios que induzem à liberação de adrenalina pelas supra-renais. (MANDEL, 2002 apud LACORTE, 2008).

Outro efeito da cafeína sobre o sistema celular envolve os níveis de Ca++ citosólicos. No retículo endoplasmático existem receptores chamados receptores rianodínicos. Estes canais são abertos em virtude a um aumento das concentrações de Ca++ citosólico advindos de canais de Ca++ acoplados à membrana plasmática, desta forma liberando os íons armazenados no interior do retículo endoplasmático. O aumento nos níveis deste íon no meio intracelular resulta na indução de vias ativadas pelo Ca++ atuando como segundo mensageiro. Existem ainda evidências que demonstram a modulação do sistema GABAérgico pela cafeína, de forma a diminuir a atividade do receptor GABA também pelo aumento dos níveis de Ca++ intracelular (MIRANDA, 2011).

3.3.2 Sistema Cardiovascular

A cafeína pode desempenhar vários efeitos sobre o sistema cardiovascular, dependendo da quantidade consumida e se o uso é feito por uma pessoa que não ingere rotineiramente essas bebidas que contém cafeína (LIMA, 2000).

De acordo com Lima et al. (2010), o antagonismo da cafeína nos receptores da adenosina, acarreta em um aumento agudo da pressão arterial, e em um aumento da velocidade metabólica e da diurese, devido o efeito estimulante exercido no SNC. No sistema cardiovascular, produz aumento agudo do débito cardíaco, vasoconstrição e aumento da resistência vascular periférica.

Quanto à agregação plaquetária, a cafeína, por bloquear a fosfodiesterase, impede a conversão da adenosina monofosfato cíclico em 5-adenosina monofosfato, desta forma acarretando no aumento da adenosina monofosfato cíclico e conseqüente inibição da agregação plaquetária. Entretanto, a cafeína ao bloquear os receptores A2 da adenosina que estão presentes nas plaquetas, provoca a agregação plaquetária, demonstrando controvérsias sobre o assunto (CAVALCANTE et al., 2000).

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3.3.3 Sistema Respiratório

Vários mecanismos de ação podem explicar o estímulo respiratório após a administração da cafeína. Segundo Dallo e Saraiva (2007), a cafeína estimula os neurônios do centro respiratório do cérebro proporcionando um aumento da freqüência e a intensidade da respiração juntamente com um efeito local nos brônquios, produzindo um satisfatório efeito bronco dilatador.

De acordo com Hentges (2009) este efeito estimulador acontece também pelo fato da cafeína promover uma melhora na contração de músculos respiratórios e pelo bloqueio da adenosina, a qual apresenta efeito inibitório sobre a respiração.

3.3.4 Sistema Urinário

A ingestão em dose elevada de cafeína causa um moderado aumento no volume de urina e na excreção urinária de sódio no ser humano, exercendo efeito nos túbulos renais, desta forma reduzindo a reabsorção de sódio e água (LIMA, 2000). Este efeito diurético advém dos níveis elevados de catecolaminas plasmáticas que a cafeína proporciona, entretanto não causa alteração significativa na temperatura corporal e no balanço hidro-eletrolítico (BASSINI et al., 2005).

3.3.5 Sistema Digestivo

A cafeína induz a secreção gástrica de acido clorídrico e da enzima pepsina no ser humano, em doses acima de 250mg, ou seja, duas xícaras de café forte. Desta forma, sendo contra indicada no caso de úlcera digestiva (DALLO; SARAIVA, 2007). Os distúrbios gástricos e úlceras ocorrem em uma grande freqüência, atingindo cerca de 40% dos indivíduos que consomem o café regularmente (OGA; CAMARGO; BITISTUZZO, 2008).

3.3.6 Sistema Endócrino

A cafeína possui uma série de efeitos sobre o metabolismo humano, regulado pelo sistema endócrino. Estudos experimentais e epidemiológicos indicam que a cafeína pode promover a perda e a manutenção do peso corpóreo pela ampliação da termogênese, oxidação de gordura e lipólise (PENAFORT, 2008).

Esses efeitos da cafeína sobre o sistema endócrino podem acontecer de duas maneiras: 1) a cafeína atuando diretamente sobre o tecido adiposo; 2) a cafeína agindo indiretamente pela estimulação e liberação de catecolaminas (adrenalina) pela glândula supra-renal.

A adrenalina é uma catecolamina que age como antagonista dos receptores da adenosina nas células dos adipócitos. Fisiologicamente esses receptores suprimem a lipólise. A inibição dos receptores da adenosina pela cafeína/catecolamina faz aumentar os níveis celulares do AMPc. A seguir, o AMPc ativa as lípases para promover a lipólise. Esse efeito acarreta a liberação de ácidos graxos livres que são lançados no plasma. Os níveis elevados de ácidos graxos livres aceleram a oxidação das gorduras (FRANÇA, 2010).

Outro efeito atribuído a cafeína sobre o sistema endócrino, foi no controle da glicemia na diabetes mellitus do tipo 2, pela ação inibidora da enzima glucose-6-fosfatase, que controla

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Atualização terapêutica sobre a cafeína: efeitos benéficos e colaterais

o nível de glicose circulante no sangue (RANHEIN & HALVORSEM, 2005 apud LACORTE, 2008). No entanto, Ambrósio (2010) descreve outras hipóteses pela qual a cafeína exerce efeito na diminuição da diabetes mellitus do tipo 2, essas são: a estimulação da secreção pancreática; o aumento do metabolismo energético; a estimulação da oxidação lipídica; a mobilização de glicogênio no músculo e a perda de peso.

3.3.7 Tolerância/Dependência

O desenvolvimento de tolerância a uma droga é uma marca do abuso e dependência de substâncias. A tolerância é definida como uma necessidade de quantidades progressivamente maiores para alcançar o efeito desejado (TEMPLE, 2009).

De acordo com Oga, Camargo e Bitistuzzo (2008), o desenvolvimento de tolerância aos efeitos da cafeína manifesta-se em analogia a alterações hemodinâmicas, renal e tempo de sono. Recentemente, foi verificado tolerância para as diversas atividades estimulantes do SNC. As células nervosas de pessoas que consomem regularmente cafeína tendem a se adaptar a contínua exposição ao fármaco, aumentando a quantidade de receptores de adenosina. Este aumento de receptores torna o consumidor mais sensível à adenosina e desta forma faz com que os efeitos estimulantes sejam diminuídos, causando tolerância.

Em adultos, três a cinco dias de consumo de doses moderadas a doses elevadas de cafeína (300 - 1000mg) conduz a uma redução de 90% nas alterações fisiológicas induzidas pela cafeína (TEMPLE, 2009).

A cessação do consumo de cafeína produz uma síndrome de abstinência composta por sintomas subjetivos e comprometimento funcional, incluindo dor de cabeça, cansaço, fadiga, diminuição do estado de alerta, diminuição da energia e dificuldade de concentração (SIGMON et al., 2009). Os sintomas de abstinência geralmente começam a aparecer após o período da noite, e com picos entre 20 a 51 horas. Os sintomas podem ocorrer depois de apenas 3 dias de uso e de doses tão baixas como 100mg/dia (ADDICOTT; LAURIENTI, 2009).

3.4 Efeitos Benéficos

3.4.1 Doença de Parkinson

A doença de Parkinson é uma enfermidade neurodegenerativa relacionada à idade caracterizada especialmente por seus sintomas motores e cognitivos. Os sintomas motores da doença de Parkinson são a bradicinesia, rigidez muscular, tremores de repouso, perda do reflexo postural e episódios de paradas motoras. Já os sintomas cognitivos são perda de memória, depressão, e em casos avançados, demência (GAMA, 2008).

Penafort (2008) relata que, os distúrbios neuropatológicos apresentados na doença de Parkinson envolvem a perda de neurônios dopaminérgicos, e com isso consequente redução nos níveis de dopamina no SNC.

Desta forma a cafeína atua no tratamento e/ou profilaxia da doença de Parkinson, pela capacidade de se ligar aos receptores A2A e, subsequentemente, promover uma atração deste receptor a um receptor dopaminérgico adjacente. Esta ligação resulta em uma cascata de reações que estimula receptores dopaminérgicos a liberarem dopamina, com isso atuando de forma benéfica no tratamento da doença de Parkinson (GAMA, 2008).

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3.4.2 Rendimento Físico

O desenvolvimento do interesse pelo esporte, em todo o mundo, tem levado muitos pesquisadores a estudarem diferentes aspectos relacionados ao desempenho atlético, que possam colaborar na melhoria do rendimento físico. Nesse sentido, uma das substâncias que têm recebido grande atenção mais recentemente tem sido a cafeína, devido ao seu efeito ergogênico advindo de suas ações periférica e central (PEREIRA et al., 2010).

Esse potencial ergogênico que a cafeína proporciona perifericamente no músculo, durante o exercício, ocorre pela ação lipolítica característica da mesma. A ação lipolítica que a cafeína promove se deve a inibição da fosfodiesterase e consequente ampliação da ação do AMPc a nível celular. Como resultado da ação do AMPC, há uma maior disponibilidade de ácidos graxos livres, possibilitando que haja um aumento na oxidação das gorduras e, deste modo, fazendo com que a célula exerça efeito poupador sobre o glicogênio. Em decorrência fisiológica dessas reações, acontece uma redução da fadiga muscular, acarretando menor cansaço durante o exercício físico, ou seja, um melhor rendimento físico (ALTERMANN et al., 2008).

3.4.3 Melhoria da Atenção

Efeitos benéficos relacionados com o uso da cafeína em doses moderadas são rotineiramente explorados, os mais empregados pela população são para redução do cansaço, com melhora de atenção e fluxo de pensamento mais direto e objetivo; melhora de desempenho em tarefas que exigem coordenação motora, como digitar e dirigir; facilitação da aprendizagem (RANG et al.,2007).

Lima (2000) relata que, uma maior capacidade intelectual e uma melhor associação das idéias é um efeito notado no consumidor crônico de café, podendo até mesmo haver estimulação da habilidade e velocidade de ler, sem aumento na ocorrência de erros de leitura. Estudos mais atualizados descobriram que a cafeína atua diretamente em células ligadas ao estado de ânimo das pessoas.

A cafeína pode, assim, apresentar um papel importante em tarefas em que a concentração, o tempo de reação e as características técnicas e tácticas desempenhem um papel fundamental, como no caso de jogos de raciocínio e vestibulares, ou mesmo em atividades relacionadas ao cotidiano, como para estudantes e trabalhadores (LIMA, 2010).

3.4.4 Doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer é uma patologia neurodegenerativa progressiva e irreversível que inicia atingindo a memória e com a evolução acaba por afetar outras funções mentais, conduzindo o doente à completa dependência de terceiros (SANTOS, 2011).

Esta doença pode surgir por herança genética, ou ao acaso por uma mutação de genes, no gene precursor do peptídeo β-amilóide localizada no cromossomo 21. É uma patologia que envolve a deposição de placas de peptídeo β-amilóide, culminando em neurotoxicidade, assim diminuindo substancialmente o desempenho em testes que avaliam memória. O déficit cognitivo induzido pelo peptídeo β-amilóide é diminuído após a administração de cafeína, quando comparado a controles (MIRANDA, 2011). A cafeína vem sendo explorada na profilaxia e/ou tratamento inicial da doença de Alzheimer,

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dado ao efeito neuroprotetor de antagonizar receptores do tipo A2a (CUNHA, 2008). O bloqueio de A2a previne amnésia induzida pelo peptídeo β-amilóide, além de reduzir a toxicidade induzida por estes peptídeos em culturas neuronais (MIRANDA, 2011).

3.4.5 Apnéia do Recém Nascido

A Acadêmia Americana de Pediátria define apnéia neonatal como cessação dos movimentos respiratórios por mais de 20 segundos, ou episódios menores associados com cianose, bradicardia ou palidez. Essas apnéias devem ser diferenciadas da respiração periódica, em que pausas respiratórias se alternam em forma de ciclos com os movimentos respiratórios e não estão associados com bradicardia (<100 batimentos por minuto) ou com queda significativa na saturação de hemoglobina (<80%) (VIZCARRA, 2007).

A cafeína vem sendo aliada ao tratamento da apnéia na prematuridade, demonstrando uma estimulação do sistema nervoso central, que origina uma estabilização de padrão na respiração, e aumento da ventilação alveolar (HENTGES et al., 2010).

3.4.6 Aplicabilidade em Cosméticos

A cafeína, como princípio ativo dermatológico, exerce ação no tecido adiposo subcutâneo, por meio da inibição da fosfodiesterase, apresentando um efeito lipolítico. Ela também ocasiona uma redução da espessura da hipoderme devido ao achatamento nos lóbulos de tecido adiposo, entretanto, para que a molécula atravesse a principal barreira, a penetração cutânea, a mesma deve ser integrada a promotores de absorção cutânea ou veiculada através de lipossomas (TASSINARY et al., 2011).

As metilxantinas, como a cafeína, são classificadas como β -agonistas e, constituem a principal classe de substâncias com ações documentadas no tratamento da celulite. Por ser um alcalóide que penetra na pele humana, a cafeína exibe boa tolerância geral e local, porque se difunde muito pouco no sangue (BELONI, 2010).

3.4.7 Dores de Cabeça

A cafeína tem sido incorporada na composição de diversas especialidades analgésicas, antipiréticas e antigripais, associada com ácido acetilsalicílico, paracetamol, codeína, e com diidroergotamina, no alívio ou abortamento de crises de enxaqueca (CASTRO,2009). Sawynok (2011) afirma que, a adição de cafeína aos analgésicos provavelmente se originou com o intuito de minimizar os possíveis efeitos sedativos dessas drogas.

Por ter a propriedade de contrair os vasos sanguíneos, a cafeína compensa a dilatação dos vasos do crânio que normalmente causa a dor de cabeça, aliviando esse desagradável sintoma. (VILELA et al., 2007). No entanto, o uso crônico e repetitivo da cafeína aumenta o risco de desenvolver dependência física e consequente cefaléia crônica diária. A cessação do uso da cafeína leva a uma síndrome de retirada, sendo a cefaléia o sintoma dominante (MAIA et al., 2009). Desta forma é recomendável que pacientes que apresentam cefaléia tipo enxaqueca crônica parem de tomar café por algum tempo, para que o organismo “desacostume” e assim, quando estiverem sofrendo de crise de enxaqueca e não quiserem tomar um medicamento específico, possam utilizar a cafeína para obter o alívio, sem riscos de sintomas adversos (RANG et al., 2000 apud VILELA et al., 2007).

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3.5 Toxicologia

A ingestão moderada ou mesmo o uso ponderado da cafeína, promove uma qualidade de saúde, porém, como toda substância ativa, a cafeína é reconhecidamente nociva sob certos padrões de uso. Doses elevadas ou mesmo doses normais, consumidas em curto período de tempo de forma repetitiva, através das suas diversas formas de apresentação, estão relacionadas com acidentes e casos de intoxicações sejam de forma leve, aguda ou mesmo letais (OGA, et al., 2008).

Os efeitos adversos da cafeína são simbolizados por náuseas, dores de cabeça e insônia. As doses intensas tendem a causar inquietude, excitação, tremores musculares, escotoma, taquicardia e extra-sístole. Promove um aumento de secreção gástrica podendo, causar ulceras gástricas. A dose letal da cafeína é cerca de 10g (RANG et al.,2007). Essa dose é equivalente a se tomar 100 xícaras de café ou 200 latas de Coca-Cola ou ingerir 50kg de chocolate (OTTEWILL, 1999 apud BRENELLI, 2003).

A ingestão de produtos cafeínados por grávidas acarreta efeitos indesejáveis para o feto, tais como baixo peso ao nascer, aborto espontâneo, retardo de crescimento uterino e aumento do risco de ruptura precoce das membranas, originando elevação das taxas de morbidade e mortalidade perinatal e neonatal. Esses efeitos sobre o feto são devido, à ausência de enzimas necessárias para a demetilação da cafeína, deixando o mesmo exposto por um longo período da vida intra-uterina a está substância. Durante a gestação, a cafeína aumenta os níveis de catecolaminas no sangue e esses hormônios acarretam efeitos negativos para o feto, devido à vasoconstrição e à hipóxia fetal (PACHECO et al., 2008).

A cafeína aumenta a excreção de cálcio pela urina, tanto em jovens quanto em adultos, fato que recomenda impacto negativo no metabolismo do cálcio e ósseo, podendo ser um fator de risco para osteoporose (LIMA, 2000 apud VILELA et al., 2007).

Dentre outros efeitos tóxicos, a atividade tumoral da cafeína tem sido muito pesquisada. Cisto de mama, câncer de pâncreas e de bexiga são relacionados ao consumo exagerado da mesma (OGA et al., 2008).

O uso periódico ou tratamento prolongado com cafeína, por ser uma substância psicoativa, pode produzir além de efeitos adversos ou tóxicos, a tolerância, a dependência e a síndrome de abstinência, dependendo do regime de dosagem (MORATALLA, 2008).

3.5.1 Esquizofrenia

A esquizofrenia é uma doença caracterizada por distorções do pensamento, delírios bizarros, alterações na percepção e respostas emocionais inadequadas. Juntamente com os fatores genéticos, os fatores ambientais também estão envolvidos na etiologia da doença (MASCARENAS, 2010).

As teorias neuroquímicas para a esquizofrenia baseiam-se em alterações em sistemas de neurotransmissores, estando os principais achados envolvidos à dopamina, adenosina e ao glutamato (OTTONI, 2004). Os antagonistas de receptores de adenosina, como a cafeína, mimetizam determinadas características da doença. Em humanos, altas doses de cafeína podem produzir psicose e outros sintomas comumente encontrados na esquizofrenia, além de piorar a psicose e sintomas cognitivos observados em pacientes esquizofrênicos. Isso se deve ao mecanismo de bloquear os receptores A1 e A2A (OLIVEIRA, 2005).

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4 CONCLUSÃO

Por meio da pesquisa bibliográfica realizada, concluiu-se que a cafeína apresenta uma rica variedade de efeitos benéficos, como melhora da atenção; melhora no rendimento físico; quebra de gorduras; aumento da ventilação alveolar; entre outros. Desta forma englobando várias aplicabilidades.

Embora a cafeína apresente efeitos benéficos, seu uso deve ser feito de maneira cautelosa, pois como toda droga, a cafeína, também apresenta efeitos colaterais, de dependência e tóxicos. Demonstrando ser indispensável o conhecimento deste ativo como um todo.

Assim, pode-se concluir que a cafeína é uma substância muito consumida, entretanto necessita de mais estudos para caracterizar seus diversos efeitos. O aprofundamento literário em alguns aspectos pode contribuir para a elucidação de mecanismos ainda desconhecidos ou controversos, pelo qual a cafeína interage com os diversos sistemas fisiológicos.

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AVALIAÇÃO DOS EFEITOS MUTAGÊNICOS E ANTIMUTAGÊNICOSDO FATOR DE CRESCIMENTO Chlorella Growth Factor (CGF)

PELO ENSAIO DE Allium cepaEVALUATION OF MUTAGENIC AND ANTIMUTAGENIC EFFECTS OF CHLORELLA

GROWTH FACTOR (CGF) USING ALLIUM CEPA TEST

Nádia Calvo Martins Okuyama 1

Bruna Isabela Biazi 2

Thiago Cezar Fujita 3

Karina de Almeida Gualtieri 4

Rodrigo Juliano Oliveira 5

RESUMO:O desenvolvimento do câncer está diretamente relacionado ao estilo de vida, histórico familiar, hábitos alimentares, idade, sexo, entre outros. Uma hiper-alimentação, consumo reduzido de frutas e hortaliças, bem como o consumo excessivo de gorduras e carnes seriam as causas alimentares mais prováveis do câncer. A Chlorella, alga unicelular de água doce, pertence à categoria de células eucarióticas. Esta alga contém uma substância chamada de Fator de Crescimento (Chlorella Growth Factor - CGF). A este Fator de Crescimento pertencem glicoproteínas as quais possuem efeitos inibidores contra o câncer.PALAVRAS-CHAVE: câncer, Chorella, habitos alimentares.

ABSTRACT:The development of cancer is directly related to lifestyle, family history, dietary habits, age, gender, among others. A hyper-power, low consumption of fruits and vegetables, and excessive consumption of fats and meats are the most likely dietary causes of cancer.Chlorella, unicellular algae fresh water belongs to the category of eukaryotic cells. This algae contains a substance called Growth Factor (Chlorella Growth Factor - CGF). This growth factor contains glycoproteins which have inhibitory effects against cancer.KEYWORDS: cancer, Chlorella, dietary habits.

INTRODUÇÃO Câncer é o nome dado a um amplo conjunto de doença que têm em comum o crescimento

descontrolado de células transformadas, que podem invadir todos os tecidos e orgãos por meio de mestástases, prejudicando suas funções básicas. Segundo Beltran – Ramirez e col. (2006), mais de um milhão de pessoas desenvolvem câncer a cada ano sendo citados como principais fatores de risco para o desenvolvimento da patologia, a idade, o sexo, a raça, estilo de vida incluindo histórico familiar e habitos de vida, como exposição ao sol, por exemplo, e alimentares.

Atualmente, existe uma grande preocupação com relação à existência de substâncias às quais o homem se expõe constantemente em função da sua interação com o ambiente. Essas substâncias podem gerar danos ao DNA e levar ao desenvolvimento de doenças, dentre elas o câncer, hoje considerado uma doença genética, uma vez que resulta de alterações em genes que controlam a proliferação e a diferenciação celular (protooncogenes e genes supressores

1 Graduada em Biomedicina pelo Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL). – [email protected] Graduada em Biomedicina pelo Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL). – [email protected] Graduado em Biomedicina pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Mestre em Patologia Experimental, UEL. Docente no Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL). – [email protected] Graduada em Ciencias Biologias pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Mestrado em Patologia Experimental (UEL). Doutoranda em Patologia Experimental. Professora titular e coordenadora do curso de Biomedicina no Centro Universitário Filadélfia (UNIFIL). – [email protected] Graduado em Ciências Biológicas (Bacharelado/Licenciatura), Instituto de Biociências de Botucatu, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho” – IBB/UNESP, Botucatu, São Paulo, Brasil. Especialista em Análises Clínicas UNESP, Botucatu, São Paulo, Brasil. Mestre em Genética e Biologia Molecular, Centro de Ciências Biológicas, Estadual de Londrina – CCB/UEL, Londrina, Paraná, Brasil. Doutor em Biologia Celular e Molecular, Instituto de Biociênciasde Rio Claro, Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”, IBRC/UNESP, Rio Claro, São Paulo, Brasil. Professor Adjunto I da Faculdade de Medicina “Dr. Hélio Mandetta”, Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS, Campo Grande, Mato Grosso do Sul, Brasil – [email protected]

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Nádia Calvo Martins Okuyama, Bruna Isabela Biazi,Thiago Cezar Fujita, Karina de Almeida Gualtieri, Rodrigo Juliano Oliveira

tumorais), ou de alterações em genes comprometidos com os mecanismos de reparo do DNA (MEIRELES et al., 2006).

O câncer é um problema de saúde pública, quando detectado precocemente pode ter cura, entretanto fato este que não acontece em todos os casos. Assim, faz-se necessário mobilizar os esforços na prevenção e na cura da doença. Nesta busca, incluem-se substâncias quimioprotetoras que não permitam que a doença se instale ou progrida razão pela qual têm sido extraídos diferentes extratos de plantas, já descritas como medicinais.

Os alimentos que possuem agentes antioxidantes constituem um dos principais grupos de alimentos com propriedades funcionais, conhecidos também como nutracêuticos ou fármaco-alimentos (FERRARI & TORRES, 2002). A dieta pode modular funções orgânicas reduzindo o risco do surgimento de patologias (BORGES, 2001).

A Chlorella é uma alga unicelular de água doce e pertence à categoria de células eucarióticas. Cultivada em larga escala na Ásia, ela contém uma substância denominada Chlorella Growth Factor (CGF) composta por glicoproteínas (NODA et al., 1996) as quais possuem efeitos inibidores contra o câncer. É utilizada como suplemento alimentar e pode ser incorporada a alimentos como cereais.

Para a triagem de compostos a espécie Allium cepa tem sido utilizada como organismo teste em diversos trabalhos para a identificação químicos genotóxicos e mutagênicos. As caracteristicas celulares desta espécie credenciam-nas como um eficiente material para estudos citogenéticos, sendo indicadas para ensaio de aberrações cromossômicas (MAZZEO & MARIN-MORALES, 2009).

MATERIAIS E MÉTODOS

Para induzir danos ao DNA, utilizou-se o metilmetanosulfonato (MMS) na concentração de 10x10-3mg/mL (Acros Organics®; CAS 156890050). O metilmetanosulfonato foi escolhido como agente indutor de dano, pois causa alquilação, isto é, adiciona radicais alquil substituindo as bases da molécula de DNA em várias posições (OGA et al., 2008). Os danos causados por este agente indutor podem ser cross-links, quebras e aductos no DNA, os quais se expressam como aberrações cromossômicas (JENKINS et al., 2005), portanto, podem ser avaliadas no teste de Allium cepa. No experimento, utilizaram-se sementes de Allium cepa (Agristar do Brasil LTDA; Lote: 19870E).

O Fator de Crescimento da Chlorella (CGF) (Green Gem Paversul; Lote: 1021), foi testado nas três concentrações seguintes: 0,075; 0,15 e 0,30 mg/mL. A substância foi diluída em água destilada e, para a realização da cultura das raízes de Allium cepa, foram utilizados 3 mL de cada uma das concentrações citadas anteriormente.

Na observação da mutagenicidade, as sementes foram cultivadas por 120 horas, seguindo-se os seguintes protocolos: (A) controle negativo, onde as células meristemáticas foram cultivadas somente em 3 mL de água destilada; (B) controle positivo, onde as células foram cultivadas em 3 mL de água destilada por 72 horas e transferidas para outra placa de Petri e embebidas em solução aquosa de MMS na concentração de 10x10-3mg/mL, por 48 horas; (C) solução aquosa do Fator de Crescimento da Chlorella (CGF), as células meristemáticas foram cultivadas em água destilada por 72 horas e transferidas para outra placa, onde foram embebidas em solução aquosa de CGF nas três concentrações a serem testadas (0,075, 0,15 e 0,30mg/mL) por 48 horas.

Para a observação da antimutagenicidade, a solução aquosa do Fator de Crescimento da Chlorella foi adicionada ao MMS de acordo com os seguintes protocolos:

(A) Pré-tratamento: As sementes foram cultivadas em água destilada por 24 horas,

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submetidas à 3 mL de solução aquosa do Fator de Crescimento da Chorella nas três diferentes concentrações por 48 horas, em seguida lavadas duas vezes em água destilada e embebidas em 3 mL de solução aquosa de MMS por 48 horas.

(B) Simultâneo Simples: As sementes foram cultivadas em 3 mL de água destilada por 72 horas e em seguida, embebidas em solução contendo simultaneamente 1,5 mL da solução aquosa do Fator de Crescimento da Chlorella e 1,5 mL de solução aquosa de MMS por 48 horas.

(C) Simultâneo com Pré-incubação: As sementes foram cultivadas em 3 mL de água destilada por 72 e em seguida, embebidas por 48 horas em solução contendo simultaneamente 1,5 mL de solução aquosa do Fator de Crescimento da Chlorella e 1,5 mL de solução aquosa de MMS encubados a 37°C durante 1 hora.

(D) Pós-tratamento: As sementes foram cultivadas em 3 mL de água destilada por 24 horas e em seguida, foram transferidas para outra placa e embebidas em 3 mL de solução aquosa de MMS por 48 horas. Logo após, as sementes foram lavadas duas vezes em água destilada e, novamente, transferidas para outra placa de Petri onde foram submetidas à 3 mL de solução aquosa do Fator de Crescimento da Chlorella por 48 horas.

Os tratamento e protocolos foram realizados em triplicata. As células meristemáticas de Allium cepa foram cultivadas sempre na concentração de 10x10-

3mg/mL para o MMS e nas três concentrações 0,075, 0,15, 0,30 mg/mL para o Fator de Crescimento da Chlorella.

Após o período de 120 horas de cultivo, as raízes de Allium cepa foram coletadas ao meio-dia, devido ao índice mitótico ser maior neste período. Fez-se então, a fixação das raízes em solução de Carnoy (3 etanol em solução: 1 ácido acético glacial) por 6 horas.

As raízes foram hidrolisadas em HCl 1N por 6 minutos a 60° C e em seguida, foram submetidas a coloração por reativo de Schiff durante 2 horas em frascos escuros. As pontas das raízes foram seccionadas com o auxílio de lâminas de corte para a extração da região meristemática. Para a coloração do citoplasma das células meristemáticas, foi utilizada uma gota de Carmim acético 2%. Em seguida, colocou-se uma lamínula sobre a raíz, onde se fez uma leve pressão para que as células meristemáticas se espalhassem para melhor visualização. As lâminas foram submetidas a nitrogênio líquido para auxiliar na remoção da lamínula e então, o material ficou em temperatura ambiente para secagem por 24 horas. Posteriormente, uma nova lamínula foi colada sobre o material biológico com o auxílio de resina sintética Permout® e novamente, aguardou-se 24 horas para o início das análises.

Analisou-se 15 mil células/tratamento, sendo 1000 células/lâminas em 3 repetições, em microscopia de luz em aumento de 40X. Para obter o índice mitótico, dividiu-se o número de células em divisão (prófase, metáfase, anáfase e telófase) pelo total de células analisadas e entre elas verificou-se também as aberrações cromossômicas existentes. Para a obtenção da freqüência total de aberrações cromossômicas, dividiu-se o numero total de aberrações pelo numero total de células. Já a porcentagem de redução de danos (%RD) foi obtida pelo seguinte cálculo:

X = Média do controle positivo – média do grupo associado Média do controle positivo – média do controle negativo %RD = X x 100

A análise estatística foi realizada por ANOVA/Tukey. As diferenças significativas foram consideras quando p<0,005.

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RESULTADOS E DISCUSSÃO

TABELA 1 – Células com danos e porcentagem de redução de danos referentes ao ensaio de Allium cepa.

Tratamentos% RDMutagênicidade

Células com danos

Controle– 37a

MMS– 274b*

CGF [1]– 16a

CGF [2]– 26a

CGF [3]– 7a

Antimutagênicidade Células com danos

Pré – Tratamento [1]99,95 34b*

Pré- Tratamento [2]97,91 41b*

Pré- Tratamento [3]92,98 51b*

Tratamento Simultâneo Simples [1]96,00 42b*

Tratamento Simultâneo Simples [2]91,17 49b*

Tratamento Simultâneo Simples [3]90,46 57b*

Tratamento Simultâneo com Pré - Incubação [1]96,96 43b*

Tratamento Simultâneo com Pré - Incubação [2]93,10 50b*

Tratamento Simultâneo com Pré - Incubação [3]90,24 57b*

Pós- Tratamento [1]108,24 15b*

Pós- Tratamento [2]104,44 24b*

Pós- Tratamento [3]100,13 34b*

Legenda: [1] – 0,075 g/L; [2] – 0,15 g/L; [3] – 0,3 g/L. Controle – H2Odestilada; MMS - H2Odestilada por 72h + MMS (0,010g/L) por 48h; CGF – H2Odestilada por 72h + CGF por 48h; Pré- Tratamento – H2Odestilada por 24h + CGF por 48h + MMS 48h; Tratamento Simultâneo Simples- H2Odestilada por 72h + MMS (0,010g/L) + CGF por 48h; Tratamento Simultâneo com Pré- Incubação – H2Odestilada por 72h + MMS (0,010g/L) + CGF incubados por 1h a 370C por 48h; Pós- Tratamento – H2Odestilada por 24h + MMS por 48h + CGF por 48h. a Comparado com o Controle; b Comparado com o MMS; * Diferença estatisticamente significativa (Teste estatístico - Qui- Quadrado – p < 0,05).

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As células possuem mecanismos complexos de controle de sua proliferação. Sabe-se que mutações ocorridas em genes que controlam estes mecanismos podem levar a um descontrole da atividade celular, desregulando vias importantes como a divisão e proliferação celular e a apoptose, que podem levar ao surgimento de neoplasias.

Segundo Lee & Park (2003) um terço de todos os cânceres humanos estão relacionados à dieta. Diante deste contexto, salienta-se a importância de compreender melhor o processo de mutagênese, onde as alterações genéticas acompanham modificações no fenótipo das células levando ao desenvolvimento neoplásico. A quimioproteção baseia-se na interrupção dos eventos biológicos envolvidos nas alterações do matérial genético através de substâncias naturais ou sintéticas (BELTRAN-RAMIREZ Y COL, 2006).

Substâncias bioantimutagênicas são moduladoras do reparo e replicação do DNA e agem em nível celular. Estas substâncias têm a capacidade de inibir sistemas de reparo que estão sujeitos a erros e manter fidedigna a replicação do material genético. Já as substâncias desmutagênicas, são capazes de inativar um agente mutagênico por ação direta ou através de enzimas moduladoras após a metabolização ou então, através do sequestro de agentes mutagênicos e radicais livres impedindo sua ligação ao DNA.

Uma vez elucidados os mecanismos pelos quais pode agir o composto testado, a literatura sugere que para o estudo da antimutagenicidade, podem ser utilizados diferentes protocolos como o pré-tratamento, simultâneo simples, simultâneo com pré-incubação e o pós-tratamento. Para tanto, é necessário saber que o protocolo de pré-tratamento bem como o pós-tratamento atuam através da bioantimutagênese, o protocolo simultâneo simples tem atividade desmutagênica e bioantimutagênica e o protocolo simultâneo com pré-incubação indique atividade desmutagênica (OLIVEIRA et al., 2006; OLIVEIRA et al., 2007).

Fazendo uma análise dos protocolos, o protocole pré-tratamento obteve porcentagem de redução de danos (%RD) que variou entre 99,95% a 92,98%. Para este protocolo pode-se pensar em dois modos de ação: (a) os compostos bioativos do Fator de Crescimento da Chlorella tem a capacidade de interagir diretamente com o MMS impedindo que este exerça sua ação mutagênica e assim o mecanismo de ação seria por desmutagenese e/ou (b) os compostos bioativos do Fator de Crescimento seriam capazes de modular o sistema enzimático de reparo do DNA que reduziria os danos causados pelo MMS o que indicaria uma atividade por bioantimutagenese.

No protocolo simultâneo simples, O CGF modularia o sistema de reparo do DNA, uma vez que o agente mutagênico já estaria no interior do núcleo celular (mecanismo de bioantimutagênese). A %RD variou entre 96,00% a 90,46%.

No protocolo simultâne com pré-incubação, o MMS quando incubado com o CGF é inativado pela substância em teste antes de entrar em contato com a célula. Este protocolo age preferencialmente por desmutagênese e teve %RD entre 96,96% e 90,24%.

Por fim, no protocolo de pós-tratamento sabe que a atividade quimioprotetora é por bioantimutagênese. O CGF seria capaz de modular o sistema de reparo aumentando sua eficiência e sua fidelidade. Neste protocolo houve uma importante porcentagem de redução de danos que variou de 108,24 a 100,13%.

Sendo assim, podemos inferir que a melhor forma de quimioproteção do Fator de Crescimento da Chlorella é por bioantimutagenese uma vez que este protocolo age preferencialmente por este mecanismo.

Com relação ao índice mitótico, Segundo Fiskesjö (1993a), é considerado normal quando há uma inibição na divisão celular em até 36% e que a mitose reduzida em valores acima de 50%, a substância em análise é considerada tóxica as células. Levando-se em consideração os dados deste autor e quando comparados aos dados

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da pesquisa com o CGF, infere-se que este alimento funcional não é citotóxico para a cultura das células de Allium cepa. As porcentagens de redução do índice mitótico encontrados nos protocolos de mutagenicidade foram de 3,52; 3,26 e 3,55% para as concentrações de 0,075; 0,15 e 0,3mg/mL, respectivamente.

Nos protocolos de antimutagenicidade pré-tratamento, simultâneo simples e simultâneo com pré-incubação, não houve variações significativas ficando em média na taxa de 1% entre as três diferentes concentrações.

A Chlorella vem sendo aplamente estudada a fim de se conhecer o mecanismo antioxidante desta alga. O CGF tem importante efeito carcinostático contra vários tipos de tumores em cobaias. Acredita-se que este efeito seja através da correção do material genético uma vez danificado anteriormente promovendo renovação dos tecidos, além de estimular as células do sistema imunológico para que ataquem as células cancerígenas.

Pesquisadores brasileiros avaliaram o efeito terapêutico/profilático do extrato da Chlorella sobre a resposta imunohematopoiética de animais normais e portadores do tumor ascítico de Ehrlich (TAE). Houve aumento significativo da atividade das células NK na produção de citocinas IL-2 e INF-g e na liberação de TNF-a por células esplênicas, proteção da mioelosupressão agindo na manutenção do estroma medular e estimulando a produção de citocinas reguladoras IL-6 e IL-1a (RODRIGUES, 2001).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

É importante ressaltar que a identificação de agente inibidores de mutações, é útil para a descoberta de substâncias anticarcinogênicas, uma vez que os agentes mutagênicos estão ligados a carcinogênese direta ou indiretamente.

Verificou-se na presente pesquisa que o Fator de crescimento da Chlorella, possui dois mecanismos que melhor agem no interior da célula para prevenir danos no DNA: desmutagênese e bioantimutagênese. Os protocolos que melhor demostraram este mecanismo de ação foram o pré-tratamento e o pós-tratamento.

A inclusão de produtos antimutagênicos e anticarcinogênicos na dieta pode ser uma forma de prevenção do câncer e outras doenças crônico-degenerativas.

De acordo com os experimentos discutidos anteriormente e os resultados desta pesquisa, pode-se inferir que a atividade antioxidante do Fator de Crescimento da Chlorella, pode ter favorecido a alta %RD nos protocolos de antimutagenicidade, uma vez que as células meristemáticas de Allium cepa foram submetidas a estresse oxidativo causado pelo tratamento com o metilmetanosulfonato (MMS) que pode ter resultado na formação de espécies reativas de oxigênio (EROS).

REFERÊNCIAS

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COMPARAÇÃO DO CUSTO E BENEFÍCIO ENTRE A UTILIZAÇÃO DE CATETER CENTRAL DE INSERÇÃO PERIFÉRICA E CATETER VENOSO

CENTRAL – SOB AGULHA – INTRACATH 1 BENEFIT AND COST COMPARISON BETWEEN THE USE OF CATHETER CENTRAL AND

PERIPHERAL INSERTION CATHETER CENTRAL - UNDER NEEDLE

Maria Francisca Vieira2

Magali Godoy Pereira Cardoso3 Maria Lúcia da Silva Lopes4

RESUMO:Este estudo teve por objetivo analisar o custo e benefício na utilização de dois dispositivos venosos cateter central de inserção (CCIP) e sob agulha (intracath). Foi desenvolvido em um hospital escola de Londrina – Paraná, de grande porte, no período de janeiro a abril de 2011 através de levantamento de custo do cateter central de inserção periférica e sob agulha (intracath), marca e modelo já utilizado pelo hospital. Procedeu-se a associação de descrição detalhada como: valor unitário, tempo de permanência de cada cateter, valor da hora trabalhada dos profissionais responsáveis como médico, enfermeiro e técnico de enfermagem. Os resultados demonstraram que no cateter central sob agulha, o valor gasto é maior, quando comparado com cateter central de inserção periférica (CCIP). Conclui-se que, na literatura e na experiência das autoras, o cateter central de inserção periférica (CCIP) é um cateter de alto custo, mas representa uma economia, pela qualidade do material e maior durabilidade até o término do tratamento, com diminuição do índice de infecção e redução do estresse do paciente contribuindo com a assistência humanizada.PALAVRAS-CHAVE: Cateter central de inserção periférica e sob agulha (intracath), Levantamento de custo/benefício.

ABSTRACT:This study aimed to analyze the cost and benefit in the use of two intravenous devices: (CCIP) central catheter insertion needle and under (intracath). It was developed at a teaching hospital in Londrina-PR, large, in the period January-April 2011 through a survey of the cost (CCIP) peripherally inserted central catheter needle and under (intracath), make and model already used by hospital. We carried out a detailed description of the association as a unit value, length of stay of each catheter, the value of hours worked of professional responsibility as physicians, nurses and nursing technicians. The results showed that under the central catheter needle, the amount spent is larger as compared with CCIP (peripherally inserted central catheters). We conclude that, in literature and the authors’ experience, the PICC lines (peripherally inserted central catheter) catheter is a high cost, but because it represents a savings of durability for the quality of the material until the end of treatment, with decreased the infection rate and reduction of stress contributing to the patient’s humanized.KEYWORDS: Peripherally inserted central catheter needle and under (intracath). Survey of cost/benefit.

1 INTRODUÇÃO

Estudos demonstram que, a inserção do cateter central como o cateter central de inserção periférica (CCIP), tem a garantia de um acesso venoso seguro e com maior durabilidade em caso de necessidade de ampliar a terapia, e com redução de custo de materiais médico hospitalar mesmo em caso de internação hospitalar ou domiciliar. Preocupados com a qualidade da assistência do cuidado humanizado de enfermagem ao paciente, o enfermeiro é comprometido com o monitoramento e avaliação diária dos pacientes com uso cateter venoso central (CVC) que permite saber com exatidão

1 Texto classificado como relato pesquisa. Elaborado a partir da monografia apresentada ao curso de especialização em “Auditoria em Saúde” do Centro Universitário Filadéfia (Unifil)2 Enfermeira graduada em Enfermagem no Centro Universitário Filadélfia (UniFil). Pós graduada em Enfermagem do trabalho no Instituto Brasileiro de Estudos e pesquisas Socioeconômicas (Inbrape), Londrina. Pós-graduada em Auditoria em Saúde no Centro Universitário Filadélfia de Londrina (UniFil).3 Enfermeira graduada em Enfermagem e Obstetrícia – Universidade Estadual de Londrina (UEL). Mestre em Ciências da Saúde -Universidade Estadual de Londrina, Doutorada em Ciências da Saúde. UEL.4 Enfermeira da Secretaria Estadual de Saúde do Paraná, docente da pós-graduação do Centro Universitário Filadélfia (UniFil) e doutoranda pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

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Maria Francisca Vieira, Magali Godoy Pereira Cardoso, Maria Lúcia da Silva Lopes

quais foram os procedimentos e, quantas vezes o mesmo foi realizado pelo profissional responsável pela inserção cateter venoso central (NUNES & CARVALHO, 2006); BITTAR & NOGUEIRA, (2001).

O CCIP é um material com menor risco de quebrar, por ser um dispositivo flexível, produzido com poliuretano ou silicone, utilizado em infusão de longa permanência (OLIVEIRA; SILVA, 2006). Sendo permitido tracionar ou mesmo reposicionar repassando o cateter caso ele não progrida, garantindo o conforto e durabilidade do acesso venoso ao paciente em seu período de hospitalização. Representando um ganho na prestação de serviços referente ao controle de qualidade minimizando o desperdício de veia por múltiplas punções. (PHILLIPS, 2001; LUZ; MARTINS; DYNEWICZ, 2007)

Ao mesmo tempo em que possibilita a redução de custos com a cateterização, pela permanência que varia em média 10 a 73 dias, chegando a ser utilizado num período superior a 300 dias e por ser menos agressivo, diminuído o estresse do paciente e a família (TIAN et al., 2010)

O CCIP é um procedimento de alta complexidade que requer conhecimento em anatomia, fisiologia, bem como domínio e habilidade psicomotora; recurso utilizado por enfermeiros previamente treinados, amparados pela resolução do COFEN nº 258 12 de julho de 2001 (OLIVEIRA et al., 2006; LAMBLET et al., 2005).

Implementar o uso do CCIP hospital escola público, localizado no município de Londrina-Paraná como instrumento de trabalho, reflete maior conforto ao paciente e a garantia da equipe multiprofissional acesso venoso seguro até término do tratamento.

Outro dispositivo utilizado é o CVC, de curta permanência tipo sob agulha (intracath), realizada por médicos. É um cateter não tunelizado, com material rígido e vida útil menor, considerando a eventual interrupção da via de acesso e a necessidade de nova punção venosa (FREITAS, 2006). Material de proteção plástica, radiopaco, com calibre entre 14 a 19 Gauge, prolongamento é menos flexível e possui durabilidade de 15 dias (PHILLIPS, 2001).

Para Araujo (2003) a indicação CVC sob agulha (intracath), para tratamento terapêutico de infusão de drogas e de solução contínua, representa um custo maior, quando necessita de nova intervenção por ter vida útil menor interferindo no conforto do paciente.

Entretanto o gasto relativo à bem e serviço utilizado na produção de outro bem, e a avaliação destes custos não se prende somente ao controle de gasto com material descartável, estendendo-se para a eficiência e a eficácia de um produto/serviço (BRITO; FERREIRA, 2006).

Ao analisar alternativas para a introdução CVC em um serviço de saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), possibilita calcular o tempo necessário para o procedimento e o custo deste, pois estimar o custo de serviço é também se preocupar com desperdícios no processo produtivo, se tratando do CVC como terapêutica em longo prazo (MARGARIDO; CASTILHO, 2006).

Baseado neste contexto considerando todos os benefícios citados na literatura em relação ao CCIP, comparados com sob agulha (intracath), optou- se por realizar este estudo com o objetivo de identificar a melhor opção CVC.

2 OBJETIVOS

2.1 Objetivo Geral

Analisar o custo benefício na utilização do CCIP, e sob agulha (intracath), em um hospital escola no Município de Londrina.

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Comparação do custo e benefício entre a utilização de cateter central de inserção periférica e cateter venoso central– sob agulha – intracath

2.2 Objetivos Específicos

Estimar o custo da utilização CCIP, e do dispositivo sob agulha (intracath), em adultos;Avaliar custo e benefício da utilização CCIP, e do dispositivo sob agulha ( intracath), em adultos;Comparar custo e benefício da utilização CCIP, e do dispositivo sob agulha (

intracath), em adultos.

3 METODOLOGIA

O estudo foi desenvolvido em um hospital escola público de grande porte, com 316 leitos, que oferece especialidades em clinica médica, cirúrgica, transplantes e centro de tratamentos em queimados, unidade de terapia intensivas (UTIs) de adultos, infantil e neonatal. Foi realizado um estudo de avaliação de custo/benefício, caracterizado por análise que expressam valores positivos (benefício) e negativos (gastos), que indicam valores significativos na contabilidade final.

Para as análises foram percorridas as etapas: busca pela literatura relacionada aos CsVC, exploração, interpretação e a comparação na utilização destes materiais utilizados pelos profissionais durante a internação de pacientes adultos nas mais diversas clínicas. Visa planejar assistência de enfermagem com a finalidade de prestar atendimento de média e alta complexidade curativa e preventiva aos portadores de afecções (MECINA et al.,2007).

Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica sobre o tema acesso venoso central, onde se buscou artigos em MEDLINE, SCIELO, LILACS, BIBLIOTECA VIRTUAL e BIREME, na língua estrangeira e brasileira, nos anos entre 2001 a 2010 com os seguintes descritores: levantamento de custos cateteres centrais, CCIP e sob agulha (intracath), acesso venoso central, custos hospitalares.

A comparação de custo foi realizada com abordagem de materiais hospitalares para punção endovenosa, posteriormente efetuou-se um levantamento de custo e desenvolveu-se um sistema de catalogação de aquisição de materiais, com acompanhamento do registro dos dispositivos intravenosos: CCIP e sob agulha (intracath). Após, procedeu–se a associação de descrição detalhada como: valor unitário, tempo de permanência de cada cateter e o valor da hora trabalhada dos profissionais responsáveis como médico enfermeiro e técnico de enfermagem e material utilizado na inserção. Considerando que a crescente tecnologia será importante para os critérios na utilização da escolha do material ideal para, após estimar o custo, comparar os dois métodos de acessos venoso central, quanto a custo e benefício para a inserção CVC.

Foram obtidos dados de levantamentos de custos dos materiais descartáveis utilizados no CCIP e sob agulha (intracath), através da triagem do setor de custo e da Assessoria do Controle de Material Médico Hospitalar(ACMMH), para identificar os gastos no período de janeiro a abril de 2011 referentes ao consumo para inserção dos dois dispositivos centrais intravenosos.

O projeto de pesquisa foi encaminhado e aprovado pela Comissão de Ética em Pesquisa (CEP) da Universidade Estadual de Londrina (UEL), conforme recomendação da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (CONEP).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Mostrou valores compatíveis do custo/hora para a inserção do CsVC contabilizados de acordo com a categoria profissional estão representados abaixo:

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TABELA 1 ─ Valores referente à mão-de-obra de enfermagem para inserção CCIP.

Custo/Hora Trabalhada Valor unitárioCusto/hora enfermeiro R$ 18,24C/hora/hora Técnico enfermagem R$ 10,00Total R$ 28,24

Fonte: Hospital Universitário de Londrina (2011).

TABELA 2 ─ Valores referente à mão - de - obra de médico e técnico de enfermagem para inserção sob agulha (intrcath).

Custo/Hora Trabalhada Valor unitárioCusto/hora médico R$ 18,24C/hora/hora Técnico enfermagem R$ 10,00Total R$ 28,24

Fonte: Hospital Universitário de Londrina (2011). Os valores obtidos nas tabelas acima 1 e 2 mostram a equivalência dos gastos

quanto à mão-de-obra para inserção do CCIP, como do sob agulha (intracath), paga a estes profissionais para a realização deste procedimento.

Vimos também que a manutenção do sob agulha (intracath) tem mostrado um custo ainda maior pela utilização de vários instrumentos como fio de sutura e material de corte (bisturi); e solução endovenosa (MECINA et al., 2007).

Estudos demonstram que a utilização do CCIP em pacientes críticos internados em terapia intensiva, proporciona maior segurança, menores trauma à rede venosa do paciente e possibilitando o uso prolongado, podendo ser utilizado por 180 dias, e menor custo (LAMBLET et al., 2005).

Encontra-se outro fator relevante que devem ser comparados como custo e efetividade quanto ao risco de infecção associado com a terapia intravenosa. Porém a morbidade relacionada a CCIP, incluindo infecções sistêmicas e locais representa consideravelmente um índice menor relacionado a outros cateteres centrais, por ser um material menos agressivo e manipulação mínima por não ter a necessidade da troca de curativos diária, realizando em intervalos maiores e que facilita a monitorização (MATUHARA et al., 2008).

Entretanto o consumo de materiais para inserção de CVC neste mesmo período aponta valores diferentes quando se refere ao cateter e a quantidade do material utilizado. Portando os dados e resultados de custos obtidos de materiais utilizados para procedimentos CVC como: CCIP e sob agulha (intracath) estão ilustrados abaixo:

TABELA 3 ─ Distribuição e valores de materiais descartáveis para inserção (CCIP) cateter central de inserção periférica.

Material Quantidade Valor unitárioCcip - 5 fr - cateter central de inserção periférica 1 R$ 175,00Luva cirúrgica 1 R$ 0,70Seringa 10 ml 1 R$ 0,20PVPI tópico 50 ml 3 R$ 1,10

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Comparação do custo e benefício entre a utilização de cateter central de inserção periférica e cateter venoso central– sob agulha – intracath

Soro fisiológico ampola 10 ml 1 R$ 0,16Gazes (pacotes 5 unidades) 3 R$ 1,00Lamina de bisturi n 15 1 R$ 1,17Curativo transparente estéril 1 R$ 0,41Total R$ 179,74

Fonte: Hospital Universitário de Londrina (2011).

TABELA 4 ─ Distribuição e valores de materiais descartáveis para inserção sob agulha (intracath).

Material Quantidade Valor unitário Dispositivo sob agulha (intracath) 1 R$ 19,50Luvas cirúrgica 1 R$ 0,70Seringa 10 ml 1 R$ 0,20Seringa 5 ml 1 R$ 0,10PVPI tópico 1 R$ 1,10Agulha descartável 40X12 1 R$ 0,03Agulha descartável 25X8 1 R$ 0,03Soro fisiológico 250 ml 1 R$ 1,85Soro fisiológico ampola 10 ml 2 R$ 0,16Equipo simples 1 R$ 0,52Fio de sutura algodão agulhado 1 R$ 7,65Curativo transparente estéril 1 R$ 0,41Pacotes de gazes 5 R$ 1,00Total R$ 33,25

Fonte: Hospital Universitário de Londrina (2011).

Ao analisar os gastos com procedimentos e materiais utilizados para CVC encontramos que o CCIP no período de quatro meses o custo total para inserção é de duzentos e sete reais e noventa e oito centavos (RS207, 98) com média de permanência do cateter de 120 dias, com custo de um real e setenta e três centavos (RS 1,73) /dia. O CVC sob agulha (intracath) em sua totalidade possui um gasto sessenta e um reais e quarenta e nove centavos (RS61, 49), com duração média entre 7 a 14 dias o que equivale a cento e vinte e dois reais e noventa e oito centavos/mês (RS122,98), sendo necessária nova intervenção por ser um cateter de tempo de vida útil menor. Quando calculado o custo no mesmo período de internação de 120 dias, gera um gasto final de quatrocentos e noventa e um reais e noventa e dois centavos (R$ 491,92), em procedimentos e materiais, com um custo de quatro reais (RS4,099)/dia.

É fundamental que os hospitais avaliem seus custos, de modo que mantenha-se a qualidade assegurada, evitando qualquer tipo de desperdício, visando à otimização da qualidade prestada (MECINA et al., 2007).

Ao se relacionar o consumo de material médico hospitalar entre a inserção do CCIP e do sob agulha (intracath), no que se refere a gastos tem um custo direto menor. O custo direto pode ser diretamente apropriado ao produto, basta que haja uma medida de consumo como mão-de-obra e de materiais que podem ser medidos facilmente (PSALTIKIDIS; GRAZIANO; FREZATTI, 2006).

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No entanto, o (CCIP) cateter central de inserção periférica, de custo direto maior, proporciona menor probabilidade de complicações, com tempo de permanência do cateter até o término do tratamento na terapia endovenosa com menor risco de infecção e a correta infusão de soluções endovenosas. (CÂMARA; TAVARES; CHAVES, 2007).

Ainda considerando que muitos pacientes pesquisados na literatura concluíram sua terapia em cuidados domiciliares, onde traduz que CCIP contribui com menos custos quando comparado ao sob agulha (intracath).

Vale ressaltar que as complicações referentes ao CVC, geram custos indiretos. O custo indireto é feito de maneira estimada e pode ser classificado como gastos referentes a serviços prestados, controle de qualidade e não oferece condição de medida objetiva (PSALTIKIDIS; GRAZIANO; FREZATTI, 2006).

7 CONCLUSÃO

Deste estudo conclui-se que o CCIP tem menor consumo de material descartável e a diminuição de números de procedimento dos profissionais envolvidos para inserção, representa uma economia por manter o prazo exigido para terapia endovenosa de longa permanência, como também o tratamento humanizado. A opção pelo intracath (sob agulha) elevou os custos de matérias descartáveis, pela necessidade de mais de um procedimento invasivo/mês no tratamento em longo prazo, expondo o paciente a riscos, consequentemente elevando o custo hospitalar.

Conclui-se, portanto que, apesar do CCIP, apresentar um custo maior, quando bem indicado,nas terapias a longo prazo apresenta melhor custo benefício.

REFERÊNCIAS

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Comparação do custo e benefício entre a utilização de cateter central de inserção periférica e cateter venoso central– sob agulha – intracath

v. 9, n. 2, p. 344-361, 2007. Disponível em: <http://www.fen.ufg.br/revista/v9/n2/pdf/v9n2a05.pdf> . Acesso em: 24 out. 2010.

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ESTADO NUTRICIONAL DE PACIENTES DE PÓS OPERATÓRIO TOTAL (POT) DE BALÃO INTRAGÁSTRICO EM UMA

CLÍNICA PARTICULAR DE LONDRINA, PR.NUTRITIONAL STATUS OF PATIENTS AFTER SURGERY TOTAL (POT) OF

INTRAGASTRIC BALLOON IN A PRIVATE CLINIC LONDRINA, PR.

Anne Kamilla S. Molina de Almeida1

Camila Caroline Silva2

Dâmaris Baldassare Cortez3

RESUMO:O avanço da obesidade e das doenças associadas a ela é cada vez mais comum e vem aumentando a cada ano. Dessa forma a alimentação saudável é essencial na prevenção e é incentivada cada vez mais pelos profissionais da saúde. O objetivo do presente trabalho foi analisar a efetividade do Balão intragástrico (BIG), quanto ao hábito de vida e a ingestão dietética verificando se é saudável, contribuindo para melhor qualidade de vida pós-procedimento. O BIG, é uma técnica não considerada cirúrgica, procedimento restritivo que é realizado via endoscópico onde é inserido um dispositivo de silicone e insuflado aproximadamente 500 ml de soro. De acordo com a população estudada 25% retirou o BIG em 2010, foi relatado por os entrevistados, satisfação em 50% e a outra metade relata arrependimento. O consumo de açúcar e gordura, refrigerantes, doces, guloseimas e frituras são realizados até duas vezes na semana. Doze pessoas realizaram o procedimento, onde todas alcançaram o objetivo mínimo de perda de peso pós procedimento. Porém apenas 11% estão eutróficos, sendo assim pode-se dizer que os mesmos não mudaram seus hábitos errôneos, e consequentemente mantiveram ou em alguns casos até aumentaram o peso, como é o caso da Obesidade Grau II que antes não estava entre os estudados e atualmente 33% são classificados. Portanto, não adianta recorrer ao procedimento se, paralelamente, os hábitos alimentares não forem alterados. É de extrema importância recorrer ao profissional nutricionista para acompanhamento, perda de peso e melhoria da qualidade de vida.PALAVRAS-CHAVES: Balão intragástrico, obesidade, intervenções cirúrgicas.

ABSTRACT:The development of obesity and associates diseases is too much normal and grows every year. By the way the healthy diet is essential in preventing and is encouraged every more by health professionals. The objective of this study was to analyze the effectiveness of Intragastric balloon (IGB), as the habit of life and dietary intake by checking whether it is healthy, contributing to improved quality of life after the procedure. The IGB is a not surgery technique, restrict procedure that is make by endoscope which is inserted a silicon device and inflated approximately 500 ml of serum. According to the study population withdrew IGB 25% in 2010, it was reported by the respondents, satisfaction by 50% and the other half says repentance. The consumption of sugar and grease, soda, candies, sweets and fried foods are made up twice a week. Twelve people performed the procedure, which all reached the minimum goal of weight loss after the procedure. But only 11% are eutrophic, and thus it can be said that they did not change his habits erroneous, and consequently in some cases maintained or even increased weight, as is the case with Grade II obesity that before was not among those studied and 33% are currently classified. Therefore you can’t resort to procedure if you don’t break the diet habits. It is extremely important to use professional nutritionist to follow, weight loss and improved quality of life.KEYWORDS: Intragastric Balloon, Obesity, Surgeries.

1. INTRODUÇÃO

O avanço da obesidade e das doenças associadas a ela é cada vez mais comum, cuja prevalência atinge proporções epidêmicas (DUARTE, 2007). Dados coletados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009, realizada pelo IBGE em parceria com o Ministério da Saúde, afirma que o peso dos brasileiros vem aumentando a cada ano. Dados mostram que os homens adultos foram os que

1 Discente do Curso de Nutrição da Unifil. Orientanda do Trabalho de Conclusão de Curso (e-mail: [email protected]).2 Discente do Curso de Nutrição da Unifil. Orientanda do Trabalho de Conclusão de Curso (e-mail: [email protected]). 3 Docente do Departamento de Nutrição da UniFil (Centro Universitário Filadélfia) (e-mail: [email protected]).

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mais engordaram, o percentual dos considerados acima do peso subiu de 18,5%, (1974-1975) para 41,4% (2002-2003), chegando a 50,1%, em 2008-2009. Entre as mulheres a situação é menos crítica, mas ainda preocupante, passou de 28,7 para 40,9% e 48%, nos mesmos períodos anteriores (IBGE, 2010).

A obesidade é uma doença crônica, progressiva e fatal (MALTA et al., 2006) que faz parte do grupo de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT) onde representam a maior causa de morbidade em países industrializados e sua incidência está aumentando, rapidamente, nos países em desenvolvimento devido à transição demográfica e às mudanças nos estilos de vida da população (LESSA, 2004). Nesta classe, incluem-se o diabetes mellitus e as doenças cardiovasculares. Vários autores indicam que as DCNT são resultados da ligação de fatores genéticos e ambientais, entre esses o estilo de vida tem papel importante, referem-se à alimentação pouco saudável durante longo período de tempo, tabagismo, sedentarismo, a obesidade e o consumo exagerado de álcool (OTERO; ZANETTI; TEIXEIRA, 2007).

Estabelecer um programa alimentar saudável, de acordo com a necessidade individual de cada paciente têm por base o reconhecimento de que um nível ótimo de saúde depende da nutrição. As dietas propostas devem estar ao alcance da sociedade como um todo, inclusão de frutas e verduras e estimular o consumo de arroz e feijão são estratégias de proposições que preenchem estes requisitos (SILVA; RECINE; QUEIROZ, 2002).

As técnicas cirúrgicas são sugeridas somente quando pacientes com obesidade mórbida não obtiveram sucesso com os princípios dietéticos (NIX, 2010). Segundo Zilberstein e Carreiro (2004), as cirurgias diferenciam-se pelo mecanismo de funcionamento. Dentre elas existem as cirurgias disabsortivas, atualmente não mais utilizada, por ter apresentado várias complicação como desnutrição devido à diminuição do percurso do alimento pelo intestino delgado. As cirurgias restritivas que diminuem a quantidade de alimentos que o estômago é capaz de comportar e promove a perda de peso por causar saciedade precoce e restringem a ingestão de alimentos calóricos. Já a mista ocorre um pequeno grau de restrição e desvio curto do intestino promovendo a disabsorção de parte de nutrientes ingeridos.

O Balão Intragástrico (BIG) é indicado para pacientes com obesidade mórbida que apresentam contra indicações ou recusem a cirurgia bariátrica ou pacientes superobesos com Índice de Massa corporal (IMC) > 50kg/m2 a fim de minimizar os riscos anestésico-cirurgicos. Para pacientes com obesidade grau I ou II só é indicado se existir co-morbidades significativas que possam melhorar com a redução do peso (CARVALHO et al., 2011).

O BIG é uma técnica não considerada cirúrgica, procedimento restritivo que é realizado via endoscópico. Dentro do estômago, o dispositivo de silicone é imediatamente insuflado com soro (aproximadamente 500 ml) por um pequeno tubo de enchimento (cateter). Causa uma sensação de plenitude, mas não há sensação de saciedade, desta forma a perspectiva do alimento é alterada, assim um estilo de vida mais saudável é proporcionado. Com isso, é necessário seguir as recomendações dietéticas pós-procedimento (CFM, 2005).

O tempo de procedimento pode variar de 20 a 30 minutos. É possível que após o procedimento o paciente apresente alguns efeitos colaterais como náuseas, vômito, inchaço, diarreia e cólicas, até o estômago se acostumar com o BIG. Os efeitos podem ser controlados com medicamento prescritos por o médico (ALMEIDA et al., 2006).

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Estado nutricional de pacientes de Pós Operatório Total (POT) de balão intragástrico em uma clinica particular de Londrina, Pr.

O objetivo do presente trabalho foi analisar a efetividade do BIG, quanto ao hábito de vida e a ingestão dietética verificando se é saudável, contribuindo para melhor qualidade de vida pós-procedimento.

2. METODOLOGIA

Este estudo caracterizou-se como uma pesquisa qualitativa exploratória, com 12 pacientes de uma clínica particular de Londrina/Pr, sendo 91,7% mulheres e 8,3% homens, na faixa etária de 30 a 69 anos se destacando o maior percentual com 33,3% entre 30 a 39 anos, que colocaram o balão intragástrico no período de 2002 a 2012 e completaram o ciclo de 6 meses. Após o contato por telefone para seleção dos participantes foi entregue em domicílio o questionário de frequência alimentar, tabela de acompanhamento de peso, onde foi solicitado idade, altura, peso atual, habitual e pós procedimento e hábitos de vida que continha questões sobre atividade física, ingestão de água e habito intestinal.

Todos os pacientes que fi zeram parte deste estudo, após serem informados sobre o propósito desta pesquisa e os procedimentos adotados, assinaram um Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Este estudo foi desenvolvido em conformidade com as instruções contidas na Resolução 196/96 do Conselho Nacional de Saúde que normatizou a pesquisa com seres humanos, sendo submetido à aprovação pelo Comitê de Ética em Pesquisa do Centro Universitário Filadélfi a – UniFil.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste comparativo de IMC (Figura 1), foram excluídos três pacientes que fi zeram a redução do estômago, e pode-se observar que antes do procedimento 67% dos pacientes estavam classifi cados com obesidade grau I, reduzindo assim, para 22% considerando que nenhum estava eutrófi co. Entretanto, comparando o IMC atual, observa-se que antes não havia obesidade grau II e atualmente tem 33%. Também aumentou para 33% os pacientes com sobrepeso.

FIGURA 1 - Comparativo IMC antes da colocação do balão intragástrico e com IMC atual.

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Para Silva e Mura (2007), a mudança do estilo de vida se destaca como pilar no tratamento da obesidade, incluindo no cotidiano a prática de exercício físico para aumentar o gasto energético e reduzir o aporte calórico. Consequentemente o envolvimento positivo familiar, educação nutricional e apoio psicológico ajudará a manter um novo hábito alimentar.

A busca por tratamentos antes do procedimento, como acompanhamento com nutricionista, shakes, medicamentos e a prática de exercícios físicos, foi consideravelmente utilizado com 75%. Atualmente, após o procedimento 58,3% dos participantes praticam exercício físico, sendo a caminhada a mais exercitada com 42,9% (Tabela 1).

Em relação a efeitos maléficos em consequência do balão intragástrico, conforme mostra à Tabela 1, o balão intragástrico trouxe incomodo para 41,7% dos participantes, relatado com 25% a azia e gastrite, 25% enjoo, 25% vômitos e 25% sensação de deslocamento dentro do estômago. Também deixou sequela em 16,7%, sendo relatado gastrite e colelitíase.

Segundo Benchimol et al. (2007), a permanência do balão intragástrico pode ocasionar náuseas e vômitos, principalmente nos três primeiros dias após a colocação em até 42%. Por isso é importante na primeira semana o paciente ingerir dieta líquida, na segunda semana evoluirá para dieta pastosa e conforme aceitação ira progredir até a dieta geral (CARVALHO et al., 2011).

De acordo com Bonazzi, Valença e Bononi (2007), afirmam que permanência do balão deve ser no máximo seis meses, para evitar algumas complicações como esvaziamento espontâneo do BIG, passagem para o duodeno e obstrução intestinal por migração do balão.

Segundo o ponto de vista dos entrevistados, os resultados da satisfação pelo procedimento ficaram paralelos sendo, 50% relataram satisfação com a perda de peso e os outros 50% relataram arrependimento, conforme representado na tabela 1.

TABELA 1 – Perguntas sobre o procedimento BIG e hábito de vida.

PERGUNTAS SIM NÃO

Faz algum exercício físico? 58,3% 41,7%

Antes da introdução do balão, buscou tratamento para perda de peso? 75% 25%

O resultado foi satisfatório? 50% 50%

O balão trouxe algum incomodo? 41,7% 58,3%

O balão deixou alguma sequela? 16,7% 83,3%

Quanto ao hábito de vida relacionado à alimentação e qualidade alimentar observa-se na Figura 2, somente 25% corresponde aos que se alimentam 5 a 6 vezes por dia que é o recomendável segundo Silva e Mura (2007). É preocupante o demonstrativo na figura 2, onde 8,3% dos entrevistados se alimentam 1 a 2 vezes por dia, pois se sabe da importância do fracionamento alimentar. Segundo Brasil (2005), a recomendação é que pelo menos 3 refeições por dia sejam realizadas e intercaladas por pequenos lanches.

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FIGURA 2 - Fracionamento das refeições dos pacientes que colocaram o BIG

Quanto ao hábito intestinal dos pacientes, 25% evacuam de 2 a 3 vezes por semana e 8,3% de 1 a 2 vezes por semana (Figura 3). Desta forma, segundo os autores André, Rodriguez e Moraes Filho (2000), a constipação intestinal ocorre devido a um distúrbio, pois a frequência de evacuações é diminuída em intervalos maiores á 48 horas. Sendo assim acontece o aumento da absorção da água nas paredes do cólon, tendo com resultado fi nal fezes que pesam menos de 200 gramas, e de consistência dura.

O consumo de fi bras e a ingestão de água está interligado diretamente com o hábito intestinal, como mostra o resultado, 25% dos entrevistados ingerem mais de 6 copos de água por dia. Já a Figura 3 representa que 75% dos entrevistados evacuam fezes com consistência dura, como consequência pode ser explicado como baixa ingestão de fi bras e água.

A recomendação diária para atingir um nivel laxativo normal a ingestão deve ser entre 25 a 38g/dia pois as fi bras auxiliam na formação do bolo fecal. Também deve se ingerir no mínimo 1500ml de água por dia e praticar exercícios físicos para estimular a atividade muscular intestinal (BRASIL, 2005; MAHAN; ESCOTT-STUMP, 2010).

FIGURA 3 – Hábito intestinal e a consistência das fezes dos pacientes que colocaram BIG

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O Questionário de Frequência Alimentar (QFA) desde a década de 60 é o método de avaliação de ingestão dietética conhecido por sua maior praticidade, sendo método informativo, econômico e capaz de distinguir os diferentes padrões de consumo entre os indivíduos. Um dos objetivos implícitos do QFA é conhecer o consumo habitual de alimentos por um grupo populacional e, neste estudo, identificar se o hábito alimentar é saudável (SLATER et al., 2003).

Coforme a Tabela 2 se observa que consumo de arroz, feijão é frequente entre a maior parte dos indivíduos. Saladas frutas e verduras são consumidas diariamente por mais da metade da população estudada. Entre o grupo de proteínas de origem animal nota-se menor consumo, uma vez que não são consumidas diariamente, e sim na maior parte 2-3 vezes na semana, exceto ovo onde é consumido 1-2 vezes na semana por 87,5% dos indivíduos. De acordo com o índice de alimentação saudável como base ao Guia Alimentar para a População Brasileira, que tem como objetivo a manutenção o equilíbrio energético e o peso saudável apresenta que é importante consumir frutas, legumes e verduras diariamente, como realizado pelos participantes (MOTA et al., 2008).

Porém é necessário limitar a ingestão energética procedentes de açúcar e gordura, já a maior parte dos indivíduos relata consumir refrigerantes, doces, guloseimas e frituras até duas vezes semanalmente (Tabela 2). Segundo Rombaldi et al. (2011) consumo de refrigerantes implica no aumento na ingestão calórica de alimentos de baixo valor nutricional, além de estarem relacionados a outros hábitos alimentares não saudáveis.

TABELA 2 – Questionário de Frequência alimentar

ALIMENTO 1-2 vezes/semana 2-3 vezes/semana Todos os dias

Arroz 25% 8,3% 66,75%

Arroz Integral 75% 25% 0%

Feijão 40% 10% 50%

Frutas 16,7% 16,7% 66,7%

Saladas 16,7% 25% 58,3%

Legumes 8,3% 16,7% 75%

Ovos 87,5% 12,5% 0%

Carne Vermelha 20% 70% 10%

Carne Branca 9,1% 81,8% 9,1%

Queijo 30% 40% 30%

Doces e guloseimas 54,5% 36,4% 9,1%

Refrigerante 66,7% 33,3% 0%

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A obesidade sempre foi destacada como uma epidemia do século XXI, afetando crianças e adultos, com isso a população fi ca mais atenta e preocupada em emagrecer, tanto por estética como para adquirir melhor qualidade de vida (PEGO-FERNANDES; BIBAS; DEBONI, 2011). Os comportamentos do comer e a noção de imagem corporal interferem de maneira prejudicial na vida do obeso. Estes em sua maioria respondem insatisfatoriamente a tratamento convencional medicamentoso, associado à dieta hipocalórica e atividade física controlada. Enfrentam tentativas frustradas de perda de peso e/ou manutenção deste, uma vez emagrecem e recuperam o peso novamente porém em mais de duas vezes ao anterior, se tornando, assim, um dos grandes temores do paciente (ZAMBOLIN, 2007).

Sem dúvida o maior desejo da grande parte dos obesos é emagrecer rápido, ainda que passem por cima da própria saúde como é o caso dos que se submetem á medicamento para emagrecer. Criado há cerca de 27 anos, o BIG voltou a chamar a atenção, uma vez que a população soube em meados de 2010 que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) anunciou que pretendia proibir o consumo e a venda de sibutramina e outros inibidores de apetite derivados de anfetaminas (RDC Nº25, 2010; ZEVE et al., 2012). Acreditamos então que o método de emagrecimento não-cirúrgico teve maior destaque devido ao ocorrido. Conforme demonstra a fi gura 4, onde 25% da população retirou o BIG no ano de 2010.

Indivíduos que não enfrentam a dieta e atividade física, que é a regra básica para chegar ao peso desejado sem nenhum risco, veem no BIG um procedimento menos invasivo do que cirurgias do estômago, uma saída fácil e rápida para reduzir o excesso de peso (MORAES; SELL; LIZ; 2007). Porém sabe-se que o procedimento é valido por até 6 meses, sendo assim se não adotadas medidas corretas de alimentação e pratica diária de atividade física este não exerce o efeito benéfi co esperado. E se não realizado essas medidas permanentemente é possível que o indivíduo ganhe peso novamente (BENCHIMOL, 2007).

FIGURA 4 – Período de retirada do BIG

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4. CONCLUSÃO

Assim, diante dos resultados este estudo mostra que todos os pacientes que colocaram o BIG perderam 10% do peso, cumprindo então a meta mínima. Verificou-se que apenas 11% dos pacientes alcançaram a eutrofia, ou seja, não adianta recorrer ao procedimento se, paralelamente, os hábitos alimentares e de vida não forem alterados. A colocação é apenas um tratamento auxiliar, não uma cirurgia, e deve ser passageira, pois o balão permanece no estômago por seis meses, tem eficácia limitada, uma vez que não provoca mudanças fisiológicas e hormonais capazes de controlar as doenças associadas à obesidade, como diabetes.

O BIG é um procedimento seguro e desempenha um papel na redução de peso temporário, porém pode trazer incomodo e deixar sequela. Nenhum procedimento é milagroso, emagrecer requer uma reeducação alimentar.

Pode-se afirmar a base para ter saúde e qualidade de vida é a alimentação. Sendo assim, o profissional nutricionista é habilitado para orientar corretamente sobre quais alimentos devem ser restritos e aqueles alimentos que devem ser ingeridos, direcionando a um plano alimentar individual específico, mantendo o equilíbrio do organismo e um maior controle da doença crônica, evitando o agravamento e suas consequências. Mais do que ajudar o indivíduo a emagrecer, o papel do nutricionista é levar a alimentação como um dos caminhos para uma vida duradoura e mais saudável.

REFERÊNCIAS

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ESTATÍSTICA MULTIVARIADA EM MICROBIOLOGIA DO SOLO: REVISÃO SISTEMÁTICA DO PANORAMA, FUNDAMENTOS E APLICAÇÕES

MULTIVARIATE ANALYSES IN SOIL MICROBIOLOGY: SYSTEMATIC REVIEW OF OVERVIEW, FUNDAMENTALS AND APPLICATIONS

Higo Forlan Amaral 1

Maria Elizabeth da Costa Vasconcellos 2

Inês Fumiko Ubukata Yada 2

RESUMO: Os microrganismos do solo têm papel-chave na biosfera terrestre, atuando fundamentalmente na decomposição da matéria orgânica e na ciclagem dos nutrientes às plantas, por estas razões, suas atividades são essenciais ao equilíbrio do meio ambiente. Na Microbiologia do Solo, assim como, todas as áreas da pesquisa científica exigem-se ferramentas eficientes e capazes de abranger o máximo de inferências, respostas e conclusões dos trabalhos científicos. Universalmente difundida, a estatística tornou-se ferramenta essencial para as ciências biológicas e agrárias, em algumas de suas subáreas científicas tal aceitação desencadeou um aumento correspondente no número e variedade de procedimentos estatísticos disponíveis. Os objetivos deste estudo foram avaliar o panorama e revisar os fundamentos estatísticos multivariados e suas aplicações em artigos científicos relacionados à Microbiologia do Solo, publicados no Brasil. Realizou-se uma Revisão Sistemática pelo tema “microbiologia do solo” no periódico científico Pesquisa Agropecuária Brasileira, entre os anos de 1999 a 2009. Do total de artigos avaliados, 15% do percentual dos artigos apresentaram um tipo análise multivariada, sendo que a análise de Agrupamento foi a mais utilizada, que focaram suas investigações em grupos de microrganismos funcionais do solo. Menos de 1% destes artigos apresentavam análises multivariadas com modelos matemáticos e testes de significância. Maior parte das análises multivariadas é de caráter exploratório, sendo que as perspectivas de análises com modelos matemáticos mais elaborados são amplas, que possam aplicar testes de significância e validarem matematicamente as hipóteses questionadas.PALAVRAS-CHAVE: ecologia numérica; ferramentas estatísticas; pesquisa científica.

ABSTRACT: Soil microorganisms have key role in the biosphere, primarily, on decomposing organic matter and cycling of nutrients for plants, for these reasons, their activities are essential to balance of the environment. In the scientific research, including Soil Microbiology requires tools efficient and able to cover as much of inferences responses and conclusions of the work. The statistic has become an essential tool for agricultural and biological sciences, and in some subareas such acceptance has triggered a corresponding increase in the number and variety of available statistical procedures. The objective this study was to evaluate multivariate the overview and applications of statistics models in Soil Microbiology scientific papers published in Brazil. A systematic review was held for the theme “soil microbiology” in the journal Pesquisa Agropecuária Brasileira scientific journal, between the years 1999 to 2009. Approximately, 15% applied multivariate model, mainly, Cluster exploratory analysis was performed in “microbial functional” studies and unless 1% of paper not used multivariate models and significant test. The most multivariate models is exploratory analysis with large panorama to use multivariate models with mathematical and significance test, and thus univariate models need of experimental planning to appropriate application. KEYWORDS: numerical ecology, scientific research, statistical tools.

INTRODUÇÃO

Os microrganismos do solo têm papel-chave na biosfera terrestre, atuando primariamente na decomposição da matéria orgânica e na ciclagem dos nutrientes às plantas, por estas razões, suas atividades são essenciais ao equilíbrio do meio ambiente e da biosfera terrestre (Moreira; Siqueira, 2006).

Com a vigente preocupação mundial para processos produtivos sustentáveis, a microbiota do solo contribui essencialmente para o equilíbrio da rede trófica ecológica por ser chave na reciclagem da matéria orgânica, e também, pelas interações harmônicas

1 Professor Doutor do departamento de agronomia do Centro Universitário Filadélfia (UniFil), Av. Juscelino Kubitschek, 1626 - Cx Postal 196. CEP: 86.020-000, Londrina, PR. E-mail: [email protected] (autor para correspondência).2 Pesquisadora Mestre do departamento de Biometria (ABI) do Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR), Cx Postal 481, Londrina, PR, Brasil. E-mails: [email protected], [email protected].

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com as plantas, que dentre muitos benefícios auxiliam na produção de alimento sem o maior desgaste dos recursos naturais, colaborando diretamente com a fertilidade dos solos, e consequentemente, para a produção agrícola. Assim, a microbiologia, bioquímica e biotecnologia do solo são consideradas atualmente fundamentais áreas das ciências biológicas e agrárias. Diferentes métodos e metodologias são empregados para avaliar estudos microbiológicos no solo, desde simples quantificações numéricas de biomassa até avançadas caracterizações genéticas em determinado solo (Kassem; Nannipieri, 1995; Ramette, 2007).

Na Microbiologia do Solo, assim como, todas as áreas da pesquisa científica exigem ferramentas eficientes e capazes de abranger o máximo de inferências, respostas e conclusões dos estudos e trabalhos. Os profissionais da área avaliam rotineiramente interações complexas da ecologia e dinâmica microbiana no solo entre diferentes componentes bióticos, como as plantas, e componentes abióticos, como nutrientes do solo, e que posteriormente, resultarão em tomadas de decisões para ações em benefício ao meio ambiente e à agricultura.

O real objetivo da Estatística transcende à sua história e aos estudos de dados, o desenvolvimento desta ciência teve origem com aplicações práticas. Possivelmente, a Estatística firmou-se como nenhuma outra ciência, interagindo com diferentes áreas científicas, devido, principalmente, a sua característica e utilidade em analisar numericamente as problemáticas de diferentes áreas. Atualmente, as ferramentas estatísticas exploram diferentes faces da vida do homem, através de análises de dados para: censos e dinâmicas populacionais, na área da saúde auxiliando no desenvolvimento de novos fármacos, em fenômenos da biosfera, na experimentação agropecuária, na ecologia de organismos terrestres e aquáticos entre outros inúmeros exemplos.

Na Microbiologia do Solo existem diferentes e variados procedimentos e técnicas estatísticas utilizadas em estudos laboratoriais (in vitro) e/ou em campo (in situ). Embora tal diversidade indique ampla gama de “soluções” estatísticas para muitos dos questionamentos científicos, também se aumenta a dificuldade de adequar e utilizar corretamente os modelos e esquemas estatísticos, desencadeando, consequentemente, aplicações errôneas ou falta aprimoramento analítico (Hair et al., 1998).

Importante ressaltar que para alcançar a sustentabilidade ambiental e social exigida atualmente, necessita-se de interações entre tecnologias, políticas e outras atividades integradas, que aliem princípios sócio-econômicos e ambientais, a proteção dos recursos naturais, prevenção contra degradação do solo e da água (Smyth; Dumanski, 1993). O estudo de ciências básicas é alicerce para o desenvolvimento e aplicabilidade de novas tecnologias, mesmo que aparentemente distante dos avanços tecnológicos.

Os objetivos deste estudo foram avaliar o panorama e revisar os fundamentos estatísticos multivariados e suas aplicações de em artigos científicos relacionados à Microbiologia do Solo, publicados no Brasil entre os anos de 1999 a 2009.

MATERIAL E MÉTODOS

A abordagem metodológica deste trabalho fundamentou-se em uma Revisão Sistemática de artigos que abordam diferentes subáreas da Microbiologia do Solo.

Uma RS é definida por:

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Estatística multivariada em microbiologia do solo: revisão sistemática do panorama, fundamentos e aplicações

[...] revisão planejada para responder a uma pergunta específica e que utiliza métodos explícitos e sistemáticos para identificar, selecionar e avaliar criticamente os estudos, e para coletar e analisar os dados destes estudos incluídos na revisão (Castro, 2001, p. 1).

Utilizou-se o Portal Brasileiro da Informação Científica disponibilizado pela Coordenação de Desenvolvimento de Pessoas de Nível Superior (CAPES) do Ministério da Educação Brasileira (Brasil, 2009), devido à acessibilidade para as Instituições de Educação de Nível Superior e a Institutos de Pesquisas. Pelo tema “Microbiologia do Solo” ser interdisciplinar e de grande abrangência nas ciências biológicas e agrárias, delimitou-se esta RS no periódico científico Pesquisa Agropecuário Brasileira (PAB) entre os anos de 1999 a 2009, disponibilizado pela base “Scielo Brasil”, que tem o objetivo de:

[...] proporcionar um amplo acesso a coleções de periódicos como um todo, aos fascículos de cada título de periódico, assim como aos textos completos dos artigos, onde acesso aos títulos dos periódicos e aos artigos pode ser feito através de índices e de formulários de busca (Scielo, 2010).

Neste acervo de periódicos eletrônicos, do total de 209 listados como títulos correntes, 16 são correlacionados com ciências biológicas e/ou agrárias. O periódico PAB tem maior número de exemplares publicados entre os demais relacionados à área desta RS, com ISSN/2009 = 0,681 – o segundo maior índice também entre os periódicos que abrangem tais áreas. Complementou-se o estudo com outras bibliografias relevantes ao assunto disponibilizados pelos acervos das bibliotecas públicas universitárias, centros de pesquisa e também disponível na base de Periódicos da CAPES.

A seleção dos artigos baseou-se: na seção de Microbiologia do periódico, termos indexados no título e nas palavras-chave, contendo algum termo relacionado à Microbiologia do Solo. Outras formas de busca também foram realizadas com em seções de Genética, Solo, Notas Científicas e outras por termos de indexação e palavras-chave relacionadas à área.

Para apresentação, análises e interpretações da RS utilizou-se estatística descritiva, haja vista, o não aprofundamento do trabalho para metanálise, que demandaria o detalhamento dos dados junto aos autores e não sendo o objetivo da RS (Castro, 2001). As abordagens analíticas dos artigos científicos foram realizadas segundo a natureza e aplicação dos modelos multivariados, sendo analisada a adequação das técnicas utilizadas, suas aplicações e possíveis perspectivas a trabalhos científicos relacionados à Microbiologia do Solo.

Resultados e Discussão

Do total de 134 artigos analisados, entre 1999 e 2009, apenas 10% utilizaram análises multivariadas em estudos relacionados a grupos de “microrganismo funcional”, tais como: Rhizobium spp. e fungos micorrízicos arbusculares (Amaral, 2010). As Análises Multivariadas com cunho Exploratório (AME) foram observadas com maior frequência nesta RS, sendo onze artigos que empregaram Análise de Agrupamento (AAg) (ou Cluster) e três que utilizaram análise de Componentes Principais (ACP) (Tabela 1).

Apenas dois trabalhos utilizaram Análise Multivariada com Teste de Significância (AMTS) do tipo: Análise de Correlação Canônica (ACC) e Análise Linear Discriminante (ALD) (Tabela 2).

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TABELA 1 – Número de modelos estatísticos multivariados exploratórios empregados em artigos relacionados à Microbiologia do Solo publicados no Brasil, no periódico Pesquisa Agropecuária

Brasileira entre os anos de 1999 a 2009.

Abordagem de investigação microbiológica

Modelos estatísticos multivariados exploratórios

AAg ACP AEM ACoP AC

Quantificação 0 1 0 0 0Atividade 0 0 0 0 0Diversidade 3 1 0 0 0Microrganismos funcionais 8 1 0 0 0Outros 0 0 0 0 0

Total 11 3 0 0 0

Sendo: AAg: Análise de Agrupamento (ou Análise de Cluster), ACP: Análise de Componentes Principais, AEM: Análise de Escalas Multidimensionais, ACoP: Análise de Coordenadas Principais, AC: Análise de Correspondência.

Nesta última década, os estudos em Microbiologia do Solo publicados no Brasil têm aprofundando e abrangido grande número de variáveis respostas, principalmente pelas complexidades experimentais. Os estudos nesta área podem combinar múltiplas variáveis microbiológicas, e suas interações com plantas, elementos químicos e físicos do solo, além de diferentes condições experimentais in vitro e in situ, que, consideravelmente, aumentam a combinação dos tratamentos a serem considerados estatisticamente.

O conjunto de dados gerados nos estudos que abordam múltiplas variáveis, diferentes espaços amostrais e tratamentos experimentais geram uma complexa matriz de dados, tornam difíceis de analisar devido o grande número de medidas e “fatores” a serem considerados (Ramette, 2007). Embora as análises e modelos multivariados sejam amplamente difundidos nas ciências exatas, observou-se que suas aplicações em estudos de Microbiologia do Solo necessitam de maior exploração nas publicações brasileiras.

Principais Modelos Multivariados

Análise de agrupamento (ou análise de cluster)

Os artigos que utilizaram Análise de Agrupamento (AAg) ou Cluster tiveram enfoque em análise de dados com características genéticas, com caráter matemático-estatístico qualitativo ordinal (Amaral et al., 2010).

Análise de Agrupamento (AAg) é uma técnica analítica para desenvolver subgrupos significativos de indivíduos ou objetos. Especificamente, o objetivo é classificar uma amostra de entidades (indivíduos ou objetos) em um pequeno número de grupos mutuamente excludentes, com base nas similaridades entre as entidades (Hair et al., 2005).

Geralmente, estes “perfis genéticos” são analisados com matrizes de presença e ausência, baseado em índices ou coeficientes de similaridade ou distâncias. O índice de Jaccard foi mais utilizado para avaliar similaridades ou distâncias dos grupos e objetos de estudos como Souza et al. (2008), Ferreira et al. (2008), Jesus et al. (2005), Junior et al. (2006), Lima et al. (2005) que utilizaram o método da média aritmética não ponderada,

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conhecido pela sigla UPGMA. Outros índices (ou coeficientes) foram observados, como: índice de Bray Curts no estudo de Perin et al. (2004) e coeficiente “Simple Matching” em Rodrigues et al. (2006).

Existe relativa subjetividade na escolha de uma “medida” de similaridade, importante ressaltar, que esta escolha, demanda planejamento prévio considerando a natureza das variáveis (discreta, contínua, qualitativa, quantitativa e etc.) ou as escalas de medida (nominal, ordinal, intervalar e etc.) e o objetivo do estudo. Geralmente, uma AAg requer “medidas” com propriedades matemáticas específicas; acessibilidade computacional – a escolha da “medida” requer a disponibilidade pelo “software” utilizado ou a facilidade de cálculo.

Análise de componentes principais

A Análise de Componentes Principais (ACP) é amplamente empregada em estudos fenotípicos, genotípicos, padrões geográficos e sazonalidade, assim como, avaliação de múltiplos ambientes com múltiplas variáveis (Ramette, 2007). A ACP pode ser útil nos trabalhos que envolvem matrizes mais complexas de dados. Investigando comunidades bacterianas na rizosfera de diferentes cultivares de batata, Ferreira et al. (2008) demonstraram boa aplicabilidade de ACP, combinando variáveis microbianas de caráter matemático qualitativo e discreto. Estes autores conseguiram explorar o perfil bacteriano destes solos rizosféricos, com múltiplas combinações de tratamentos e variáveis. Já Silva et al. (2009) investigaram diferentes variáveis do solo de caráter matemático quantitativo contínuo, avaliaram o funcionamento biológico e microbiano de solos do cerrado brasileiro com plantios florestais, utilizando ACP para ordenar e explorar tais ambientes com múltiplas variáveis de caráter edáfico distinto, dessa maneira, demonstraram quais variáveis foram mais significativas em cada ambiente.

A ACP baseia-se em combinações de variáveis lineares aleatórias, que representa uma seleção de um sistema de coordenadas geométricas a partir dos dados originais. Tais coordenadas geram novos eixos denominados componentes principais, que simulam direções com máxima variabilidade e fornecem uma descrição simplificada e parcimoniosa da variância total do conjunto de dados (matriz de variância ou correlação) (Johnson; Wichern, 1988). A ACP pode resumir os componentes principais, condensando o maior número de informações possíveis em menor número de dimensões, e dessa forma, podem aprimorar as conclusões e tomadas de decisões a respeito do conjunto de dados. O total de variância explicada pelos Eixos Principais ou Autovalores (“Eigenvalues”) condensa o percentual de variância do conjunto de dados em cada plano geométrico dos n planos gerados (Legendre; Legendre, 1998; Ramette, 2007).

Deve-se focar em alguns pontos importantes para não incorrer em possíveis erros de interpretação neste tipo de análise, primeiro, observar o maior percentual acumulativo de variância explicado pelos autovalores, quanto maior percentual em menor número de autovalores, menores serão as combinações dos n planos geométricos e suas representações gráfica se tornarão simplificadas. E Segundo, analisar cuidadosamente como os objetos foram distribuídos graficamente e suas relevâncias em cada autovalor, neste ponto é importante o conhecimento do pesquisador a respeito das variáveis explicativas originais e dos tratamentos aplicados, pois auxilia em determinar qual objeto ou “descritor” será mais relevante no estudo. Por último, atribuir “denominações” aos autovetores plotados, considerando as observações das variáveis originais, das variáveis sintéticas, dos tratamentos estatísticos e condições de estudo.

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Análise de correlação canônica

A Análise de Correlação Canônica (ACC) consideram dois ou mais conjuntos de matrizes de dados, é uma análise vantajosa em verificar a relação entre os conjuntos de dados, como condições ambientais podem afetar determinada distribuição de espécies de microrganismo (Legendre; Legendre, 1998). Neste tipo de análise, encontrou-se apenas um artigo (Maluche-Baretta et al., 2006) com aplicação de ACC (Tabela 3). Os princípios da ACC baseiam-se em correlação entre combinações lineares de variáveis de uma matriz de dados com combinações lineares de variáveis de outra matriz, gerando pares de combinações lineares – “variáveis canônicas” e suas correlações denominadas “correlações canônicas” (Johnson; Wichern, 1988). Contudo, ACC deve ser aplicada cuidadosamente, segundo Legendre e Legendre (1998) quando os objetos em estudo são descritos por dois conjuntos (matrizes) de descritores quantitativos, pela dificuldade em explorar a estrutura multidimensional do conjunto de dados e demonstrar a correlação entre as funções lineares das matrizes de descritores.

Análise linear discriminante

A Análise Linear Discriminante (ALD) é um método de modelagem linear, que inicia agrupando um conjunto de objetos, já conhecido, e tenta determinar a extensão de outros descritores. Pode-se iniciar com uma análise exploratória, como agrupamento e verificar por análise de variância, se confirmado o teste de significância aplica-se “funções discriminantes” para testar o peso discriminante dos “descritores” (Legendre; Legendre, 1998). Podem-se considerar duas aplicações básicas para ALD: (i) obter uma equação linear para aplicar novos objetos para um dos estádios de classificação; (ii) determinar a contribuição dos “descritores” explorados no estudo;

Análises multivariadas são métodos estatísticos que exploram simultaneamente múltiplas medidas sobre cada objeto sob investigação, na qual, qualquer análise simultânea de mais de duas variáveis, de certo modo, pode ser considerada análise multivariada (Hair Jr et al., 2005). Muitas técnicas multivariadas são extensões das análises univariadas e bivariadas, sendo ferramentas complementares para auxiliar pesquisadores a extrair o máximo das inferências e conclusões do problema em questão. Análise de dados originados de estudos experimentais e/ou pesquisa científica normalmente sugere uma explicação de um fenômeno ou “objetos de estudos”. Ao longo deste processo interativo de análise dados, algumas variáveis podem ser adicionadas ou excluídas do estudo, decorrente da necessidade de compreender as relações entre muitas variáveis, o que torna a análise multivariada um sujeito inerentemente trabalhoso e complexo (Johnson; Wichern, 1988).

Entre poucos trabalhos avaliados nesta RS o estudo realizado por Maluche-Baretta et al. (2006) utilizou ACC para investigar atributos microbiológicos e químicos do solo entre diferentes sistemas de produção de macieiras, utilizou análises multivariadas com teste de significância (Tabela 2). Neste estudo, os autores conseguiram pela ACC avaliar quais variáveis microbiológicas mais contribuíram para discriminar os ambientes estudados. Complementarmente, estes autores utilizaram Análise Canônica Discriminante (ACD) para representar graficamente os padrões gerados pelas Funções Canônicas, também conhecidas como Análise Linear Discriminante (ALD), entre os atributos do solo e diferenciá-los entre os ambientes estudados, além das representações ALD demonstra a relevância (ou peso) de cada atributo através de diferentes coeficientes. Maluche-Baretta et al. (2006) avaliando atributos microbiológicos e químicos do solo, como

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descrito anteriormente, utilizaram as contribuições de cada atributos para “discriminar” os ambientes, e assim, pontuar sobre as variáveis utilizadas.

Outras técnicas multivariadas com teste de significância em perspectiva na microbiologia do solo

De maneira geral, as técnicas multivariadas de análises de dados devem basear-se nas características das variáveis, na qualidade dos dados e no prévio planejamento experimental, sendo quando atingido os embasamentos matemáticos e estatísticos pode-se aplicar uma modelagem estatística aprimorada (Tabela 2). Ressaltando que se deve considerar a particularidade de cada conjunto de dados em determinada pesquisa (Hair et al., 2005).

Análise de fatores (ou fatorial)

A Análise de Fatores (ou Fatorial) (AF) é uma técnica de interdependência, que considera todas as variáveis simultaneamente e relacionado-as entre si, empregando ainda o conceito da variável estatística, a composição linear. Examina-se pela AF os padrões ou relações latentes, denominado de “fatores”, para um grande número de variáveis e determinar se a informação pode-se reduzir a um conjunto menor de fatores ou componentes. Nesta técnica multivariada, identifica-se as dimensões separadas da estrutura dos dados e determina-se o grau em que cada variável é explicada em cada dimensão. Complementarmente, resumi-se os dados obtendo os fatores (dimensões latentes) que os descrevem em um número menor de conceitos do que as variáveis originais (Hair et al., 2005). Importante ressaltar uma diferença matemática entre a AF e Análise de Componentes Principais (ACP). Em ACP considera a variância total e determina fatores que contêm pequenas proporções de variância única. Em AF considera a variância comum entre as variáveis (comunalidades), sendo esta parte da variância total, na qual não considera a específica e de erro (Hair et al., 2005). A aplicabilidade deste tipo de variável foi demonstrada por Amaral, H. F. (2010) quando estudado o potencial de inóculo de fungos micorrízicos arbusculares (FMAs) e suas interações com características químicas de macro e microelementos em solos com diferentes cultivos de videira. Neste trabalho, relata-se a redução do número de variáveis para dois fatores que maximizaram a correlação entre as variáveis microbiológicas com as químicas do solo.

TABELA 2 – Número de modelos estatísticos multivariados com teste de significância empregados em artigos relacionados à Microbiologia do Solo publicados no Brasil, no periódico Pesquisa Agropecuária

Brasileira entre os anos de 1999 a 2009.

Abordagem de investigação microbiológica

Modelos estatísticos multivariadoscom teste de significância

AF MANOVA ACC ALD ARMQuantificação 0 0 1 1 0Atividade 0 0 0 0 0Diversidade 0 0 0 0 0Microrganismos funcionais 0 0 0 0 0Outros 0 0 0 0 0TOTAL 0 0 1 1 0

Sendo: AF: Análise de Fator, MANOVA: Análise de Variância Multivariada, ACC: Análise de Correlação Canônica, ALD: Análise Linear Discriminante, ARM: Análise de Regressão Multivariada.

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Análise multivariada de variância (MANOVA)

A MANOVA é uma extensão da análise de variância (ANOVA) para estudar simultaneamente mais de uma variável dependente, e dessa forma, avaliar as diferenças entre médias de grupos. É uma técnica de dependência que mede as diferenças para duas ou mais variáveis dependentes numéricas, com base em um conjunto de variáveis categóricas (não-métricas) que resultaram em variáveis independentes. Na prática, a MANOVA servirá como extensão da ANOVA possibilitando avaliar as diferenças entre médias de grupos (HAIR et al., 2005).

Quando se deseja verificar diferentes variáveis dependentes de um mesmo experimento através da ANOVA, mesmo com o controle experimental, pode gerar-se uma taxa significativa de erro Tipo I. Aplicando a MANOVA pode manter-se o controle sobre a taxa de erro experimental. Esta técnica também pode detectar possíveis combinações entre variáveis dependentes, que outras técnicas simples excedem o nível de análise (HAIR et al., 2005). Suponha-se que para verificar o efeito do tipo de vegetação, ou cobertura de solo na composição de determinadas espécies de microrganismos pode-se aplicar a MANOVA, pois permite analisar grupos distintos e a significância da variância entre si.

Análise de regressão multivariada (ARM)

Entre as estratégias para elaboração de índices de qualidade de solo está a construção de modelos orientados por análises de componentes principais (ACP) (Andrews et al., 2002) ou de regressão múltipla (Trasar-Cepeda et al., 1998; Chaer et al., 2009).

Por exemplo, Trasar-Cepeda et al. (1998) sugeriram que a matéria orgânica de solos não perturbados (sob vegetação nativa) está em equilíbrio com várias propriedades biológicas e bioquímicas do solo. Esse equilíbrio pôde ser expresso por uma equação de regressão linear múltipla que estimou o conteúdo total de N do solo em função do C da biomassa microbiana, da capacidade de mineralização de N e das atividades de fosfatase, β- glucosidase e urease (R2=0,97). Desse modo, esses autores propuseram um índice bioquímico de qualidade de solo calculado a partir dos teores reais e estimados de N do solo (relação N-medido/ N-estimado).

Estudos posteriores corroboram a validade desse índice para indicar a degradação ou o distúrbio de solos afetados pelo manejo, mineração ou contaminação com efluentes orgânicos e metais pesados (Leiros et al., 1999; Trasar-Cepeda et al., 2000). Utilizando a mesma estratégia proposta por Trasar-Cepeda et al. (1998) Chaer et al. (2009) observaram ligação entre os teores de variáveis química do solo correlacionadas com variáveis microbiológicas em diferentes condições ambientais, ou seja, por ARM conseguiram aperfeiçoar seus estudos abrangendo matrizes de dados de diferentes características.

Os estudos em Microbiologia do Solo necessitam de alternavas de análises que auxiliem no aprofundamento dos resultados de pesquisa. Nesta RS (entre 1999 e 2009) os modelos estatísticos multivariados são pouco explorados nos artigos relacionados à Microbiologia do Solo, sendo que apenas dois artigos apresentaram análises com modelo matemático definido e/ou com teste de significância, tais como: Análise Fatorial, Análise Multivariada de Variância e de Regressão Multivariada. As principais análises utilizadas são de cunho exploratório que fornecem informações relevantes para estudos subsequentes, porém, análises mais elaboradas com testes de significâncias que demandam modelos matemáticos poderiam ser utilizadas com maior frequência.

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CONCLUSÕES

A pesquisa científica com enfoque na Microbiologia do Solo necessita de aperfeiçoamento em suas aplicações estatísticas. O planejamento e a análises de dados são decisivos para tal melhoria, pois são bases para estudos bem sucedidos.

O uso restrito de técnicas multivariadas reside no fato de que esse tipo de análise requer conhecimento de álgebra de matrizes e funções matemáticas para aplicação e interpretação dos resultados. Além de demandarem de planejamento para adequada aplicação.

Evidencia-se a importância de aplicações e aprofundamento de técnicas estatísticas e do trabalho multidisciplinar para evolução do emprego de análises multivariadas em estudos de Microbiologia do solo.

REFERÊNCIAS

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LEVANTAMENTO DA ARBORIZAÇÃO DAS AVENIDAS BRASIL E SÃO PAULO DO MUNICÍPIO DE ITAÚNA DO SUL-PR

SURVEY OF THE AFFORESTATION AVENUES OF SÃO PAULO AND BRASILOF THE CITY OF ITAÚNA DO SUL-PR

Tatiane Alves de Moura 1

Giseli Correia dos Santos Gimenes 2

Marilene Mieko Yamamoto Pires 3

RESUMO:A arborização urbana é uma atividade realizada para a melhoria do espaço físico e biológico das cidades, o bom planejamento na implantação das espécies auxilia na redução da poluição visual e ambiental proporcionando melhores condições de vida. O objetivo desse estudo foi analisar a situação em que se encontram as espécies vegetais implantadas nas Avenidas Brasil e São Paulo no município de Itaúna do Sul. Foram identificados 302 indivíduos, nativos e exóticos de 17 espécies diferentes: Licania tomentosa (oiti) com 40,73% do total, seguida por Caesalpinia pluviosa (sibipiruna), com 39,40%, Pachira aquatica (monguba) com 9,93%, Tibouchina granulosa (quaresmeira) com 1,65%, Schinopsis brasiliensis (braúna) com 1,32%, Ceiba speciosa (paineira-rosa) com 1,32%, Schinus molle (salsa) com 1,32%, seguida por duas arbóreas exóticas que são: Fícus benjamina (figueira benjamina) com 0,99%, Terminalia catappa (castanhola) com 0,66%, Chloroleucon tortum (tataré) e Clitoria fairchildiana (sombreiro) ambas nativas com 0,33%, Delonix regia (flamboyant), Bauhinia variegata (pata de vaca), Grevillea robusta (grevilha), Punica granatum (romã) e Mangifera indica (mangueira) espécies exóticas, com 0,33% cada. Observou-se que 67,22% das espécies não apresentaram nenhum tipo de fiação adjacente e 32,68% apresentaram conflitos com a fiação de rede elétrica. 62,59% não apresentaram problemas com o afloramento das raízes. A poda leve ocorreu em 14,25% das espécies, poda pesada em 37,41%, e 48,34% não apresentou nenhum tipo de poda. De acordo com a condição fitossanitária, 57,61% dos indivíduos foram categorizados no nível bom, 34,76% razoável e 7,63% ruim. Os resultados demonstraram que a arborização dessas avenidas apresentou grande diversidade de espécies arbóreas e que o planejamento inadequado na exposição das mesmas, interfere negativamente no ambiente urbano.PALAVRAS-CHAVES: Arborização urbana, espécies nativas brasileiras, Itaúna do Sul-Pr. ABSTRACT: The urban forestry is an activity undertaken to improve the biological and physical space of cities, good planning in the deployment of the species helps reduce visual and environmental pollution by providing better living conditions. The aim of this study is to analyze the situation in which plant species are planted in Brasil and São Paulo Avenues in Itaúna do Sul were identified 302 individuals of 17 native and exotic species: Licania tomentosa with 40, 73% of the total, followed by Caesalpinia rainy, with 39.40%, Pachira aquatica with 9.93%, Tibouchina granulosa at 1.65%, Schinopsis brasiliensis with 1.32 %, Ceiba speciosa with 1.32%, Schinus molle with 1.32%, followed by two exotic trees that are: Ficus benjamina with 0.99%, Terminalia catappa with 0.66% ,Chloroleucon Tortum and Clitoria fairchildiana with both native 0.33%, Delonix regia, Bauhinia variegata, Grevillea robusta, Punic granatum and Mangifera indica exotic species, with 0.33% each.It was observed that 67.22% of species not present any adjacent wiring and 32.68% had conflicts with the mains wiring. 62.59% had no problems with the outcrop of the roots. A light pruning occurred in 14.25% of the species, heavy pruning in 37.41% and 48.34% did not show any type of pruning. According to the phytosanitary status, 57.61% of the patients were categorized at level good, reasonable, and 34.76% 7.63% bad. The results showed that the trees in the avenues of the city showed great diversity of tree species and inadequate planning in the exhibition end of the same negative effect on the urban environment.KEYWORDS: urban afforestation, Brazilian native species, Itaúna do Sul-Pr.

1. INTRODUÇÃO

O crescimento desordenado nas populações das cidades e municípios em todo o território brasileiro tem aumentado gradativamente, e por consequência a vegetação nativa e exótica do país tem desaparecido continuamente dentro do setor urbano. Com a necessidade

1 Acadêmica do Curso de Ciências-Licenciatura Plena. Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí. Pesquisadora do PIC/UNESPAR-FAFIPA. E-mail: [email protected] Acadêmica do Curso de Ciências-Licenciatura Plena. Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí. Pesquisadora do PIC/UNESPAR-FAFIPA. E-mail: [email protected] Professora Adjunto do Colegiado de Ciências e Ciências Biológicas. Faculdade Estadual de Educação, Ciências e Letras de Paranavaí. Orientadora do PIC/FAFIPA. E-mail: [email protected].

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de espaço para a construção civil houve aumento na poluição atmosférica, visual e sonora, afetando a vida social dos habitantes.

O espaço urbano é considerado como espaço fragmentado, porém articulado, em cada uma de suas partes mantém relações espaciais com as demais. É nele, onde as diversas classes sociais vivem e se reproduzem, sendo mesmo, cenário e objeto de lutas sociais, além de ter caráter simbólico para a sociedade (VIETRO, 2011).

Algumas das mudanças físicas que ocorrem no ambiente natural das áreas urbanas são condicionadas pelos seres humanos, que mesmo sem intenção, causam uma série de danos que afetam tanto o meio quanto a si mesmo, comprometendo todo o patrimônio futuro, por este e outros motivos, é importante ter um bom planejamento quando se pensar em arborização urbana.

Segundo Pedrosa, apud Toná (2009), a arborização das vias públicas consiste em trazer para as cidades, mesmo que simbolicamente, um pouco do ambiente natural e do verde das matas, com a finalidade de satisfazer as necessidades mínimas do ser humano, o qual não se sente bem sob as condições de vida presentes nas cidades modernas, muitas vezes com intenso calor ou ar seco.

Sempre que possível, a arborização deve ter como objetivo amenizar os aspectos negativos do entorno urbano, transformando os locais insalubres e desagradáveis em hospitaleiros e aconchegantes aos usuários. Portanto planejar a arborização é indispensável para o desenvolvimento urbano, para não trazer prejuízos para o meio ambiente (POTRICH, 2009).

Diante disso, pode se concluir que o meio ambiente precisa ser analisado pela ótica da totalidade, isenta de ações paliativas que, invariavelmente, apresentam resultados “maquiados” e insatisfatórios do ponto de vista do interesse geral. O ser humano é parte da natureza e dela não pode ser abstraído (OLIVEIRA, 2011).

A falha da comunidade, e a deficiência por parte dos órgãos competentes podem gerar estragos graves nos programas de arborização, no entanto, é conveniente deixar claro a todos os envolvidos no processo de desenvolvimento sustentável, que por obrigação, providências cabíveis devem ser tomadas, para a melhoria no espaço físico e urbano das cidades e municípios.

O presente trabalho teve como foco, fazer o levantamento do número, e da condição em que se encontram as espécies arbóreas presentes na arborização das avenidas Brasil e São Paulo na cidade de Itaúna do Sul-Paraná, tendo como objetivo, colaborar na elaboração de projetos para a melhoria e aproveitamento do ambiente urbano.

2. MATERIAIS E MÉTODOS

2.1. Área de Estudo

O município de Itaúna do Sul está situado na mesorregião do noroeste paranaense, na microrregião de Paranavaí, a 588 km da capital do estado: Curitiba, fundada no dia 25 de janeiro de 1961, a cidade possui uma área de 136.061 Km², com aproximadamente 4.000 habitantes a uma altitude de 482 metros acima do nível do mar, nas coordenadas latitude 22°43’30” ao sul e longitude 52°53’40” a oeste de Greenwich (Rodrigues, 2011) (Figura 1).

O clima regional é subtropical úmido mesotérmico de acordo com a classificação de Koeppen-Geiger: Cfa (1948), com verões quentes, geadas menos freqüentes e sem uma estação seca definida, a temperatura média anual é de 22°C, tendo uma média anual que varia entre a máxima de 25,5°C e mínima de 19,5°C (IBGE, 2010). Itaúna do Sul faz limite com as

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cidades de: Diamante do Norte: ao norte, Nova Londrina: ao sul, Terra Rica: ao leste e Nova Londrina: ao oeste (Rodrigues, 2011).

O município possui período de chuvas intensas e de seca prolongada, com meses mais chuvosos como setembro, outubro e novembro. A cidade apresenta dois grandes grupos principais de solo: latossolo vermelho escuro, que fora desenvolvido sob a formação do arenito Caiuá e solos aluviais, que se originam das rochas sedimentares e dão origem ao latossolo vermelho (Rodrigues, 2011).

As avenidas São Paulo e Brasil são de grande importância para a localidade, apesar da falta de estrutura na distribuição das espécies arbóreas presentes nas calçadas em frente aos inúmeros comércios distribuídos ao longo das avenidas, que estão sujeitas a diferentes danos, tanto físico quanto biológico.

(Google earth, 2012)FIGURA 1 – Localização da cidade de Itaúna do sul – PR.

2.2. Metodologia

O levantamento dos dados teve início no mês de junho de 2011 a dezembro de 2011, tendo como área de estudo as avenidas Brasil e São Paulo no município de Itaúna do Sul, na qual foram pesquisadas as seguintes informações:

• Número de árvores a serem analisadas; • Nome popular;• Nome científi co;• Distância do colo até a face interna do meio fi o; • DAP (diâmetro a altura do peito tomada a 1,30 m do solo) dado em cm;• Afl oramento de raízes;• Distância até a face externa do muro ou imóvel em frente; • Distância de uma árvore à outra;• Altura da árvore (nível do solo até a parte mais alta da copa) em metros; • Tipo de fi ação adjacente a árvore; • Condição fi tossanitária;• Ocorrência de epífi tas vasculares.

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As informações foram registradas e as espécies foram identificadas, com relação ao nome científico, nome popular, família e a categoria (nativa ou exótica).

A distância medida do colo de um indivíduo ao colo do outro, do colo a face interna do meio fio e do colo ao muro ou imóvel em frente, foi medida através de uma trena centimetrada de 30M. O afloramento das raízes foi categorizado segundo os seguintes fatores, se o afloramento das raízes estivesse muito exposto e danificando as calçadas, este seria definido como afloramento alto, se mesmo exposto esse não estivesse causando conflitos, como médio, e sem afloramento aquele que não apresentou nenhum dos fatores acima.

A poda por sua vez foi enquadrada em: leve aquela em que foram retirados ramos secos, doentes ou malformados, sem alterar a estrutura típica da espécie; pesada, quando se retira grande quantidade de ramificações alterando a estrutura típica da espécie e sem poda. Observou-se ainda o diâmetro a altura do peito (DAP), tomada a 1,30 metros do solo dado em centímetros, onde se utilizou como ferramenta uma fita métrica centimetrada de 1,5m. Para medir a altura de cada árvore foi necessário o uso de uma trena centimetrada de 30m.

No que se refere à condição fitossanitária foram classificadas como: bom, indivíduo sadio, sem sinais de ataque de pragas, doenças ou qualquer tipo de injúrias mecânicas; razoável, indivíduo com boas condições de desenvolvimento e com alguns sinais de deficiência superficial, mas apresentando pragas como cupins e outros tipos de insetos, ou algum tipo de doença e injúrias mecânicas superficiais; e ruim, indivíduo com estado geral de declínio e com severos danos de pragas, doenças, danos físicos sério, apresentando estado de morte eminente.

Resultados e Discussão

Foram identificadas 302 árvores e 17 espécies distribuídas em 12 famílias botânicas, dessas 10 são nativas do Brasil e outras 7 são exóticas, como demonstra a (Tabela 1).

TABELA 1. Distribuição das espécies identificadas nas Avenidas Brasil e São Paulo- Itaúna do Sul-PR.

Nome científico Nome popular Família Categoria Frequência

Licania tomentosa Oiti Chrysobalanaceae Nativa 40,73%Caesalpinia pluviosa Sibipiruna Caesalpinioideae Nativa 39,40%Pachira aquática Monguba Malvaceae Nativa 9,93%Tibouchina granulosa Quaresmeira Melastomaceae Nativa 1,65%

Schinopsis brasiliensis Braúna Anacardiaceae Nativa 1,32%

Ceiba speciosa Paineira-rosa Malvaceae Nativa 1,32%Schinus molle Salsa Anacardiaceae Nativa 1,32%

Ficus benjamina Figueira benjamina Moraceae Exótica 0,99%

Terminalia catappa Castanhola Combretaceae Exótica 0,66%Delonix regia Flamboyant Caesalpinioideae Exótica 0,33%Grevillea robusta Grevilha Proteaceae Exótica 0,33%Inga vera Ingá do brejo Fabaceae Nativa 0,33%

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Mangifera indica Mangueira Anacardiaceae Exótica 0,33%Bauhinia variegata Pata de vaca Caesalpinioideae Exótica 0,33%Punica granatum Romã Punicaceae Exótica 0,33%Clitoria fairchildiana Sombreiro Faboideae Nativa 0,33%Chloroleucon tortum Tataré Mimosoideae Nativa 0,33%

Por meio dos fatores provenientes na implantação inadequada das arbóreas presentes ao longo das avenidas, pode-se identificar e categorizar cada uma das espécies seguindo alguns critérios.

Foram encontradas na identificação dos dados espécies vegetais parasitas como: o fungo, e não parasitas como: epífitas vasculares, liquens e musgos, e algumas espécies animais como: formigas e cupins que são insetos, e a aranha que é um aracnídeo, não havendo a necessidade de uma análise mais específica pelo fato dos mesmos se tratarem de espécies conhecidas popularmente.

De acordo com os dados obtidos na análise fitossanitária, constataram-se variações quanto ao estado físico e biológico das espécies vegetais, pode-se observar a presença de 1,32% do fungo Pycnoporus sanguineus, sendo este conhecido popularmente como orelha-de-pau, encontrado no tronco das árvores que se apresentam em estado de declínio. Observou-se também o aparecimento de 48,67%, de diferentes espécies de liquens, que podem ser associações entre fungos e algas ou fungos e cianobactérias (Figura 2).

Os musgos representam 39,07% dos dados levantados. As epífitas vasculares correspondem a 4,97% do total. Constatou-se que a Sibipiruna, apresentou o maior índice de injurias mecânicas 76,27% (Figura 2).

Na distribuição das arbóreas foram observadas variedades de insetos, destacando-se as formigas da família Formicidae com 56,95%, que estão presentes na maioria das árvores devido ao fato das mesmas utilizarem das folhas para alimentar o fungo que está presente no interior do formigueiro, e que são a base de sua alimentação. Segue-se o cupim com 11,26%, localizados em espécies arbóreas próximas a residências antigas de madeira (Figura 2).

A presença de fungos decompositores ocorreu apenas em algumas sibipirunas, que se encontra em péssimas condições de desenvolvimento. O alto índice de aparecimento de musgos e liquens está vinculado à baixa poluição e a umidade do ar, fatores que favorecem na proliferação dos mesmos.

Figura 2. Análise fitossanitária das espécies ocorrentes nas Avenidas Brasil e São Paulo de Itaúna do Sul-PR.

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Cada espécie apresenta uma estrutura típica e uma altura que varia entre uma altura mínima e uma máxima, medida em metros do solo até a copa, dessa forma cada indivíduo foi observado isoladamente, levando em consideração suas características naturais (Tabela 2).

TABELA 2. Altura média dos indivíduos presente nas avenidas Brasil e São Paulo – Itaúna do Sul – PR.

Nome científico

Nome Popular N0 de Árvores Altura

MínimaAltura

MáximaAltura Média

Licania tomentosa Oiti 123 6m 15m 6,19m

Caesalpinia pluvios Sibipiruna 119 8m 16m 12m

Pachira aquática Monguba 30 6m 14m 6,54m

Tibouchina granulosa Quaresmeira 5 8m 12m 1,04m

Schinopsis brasiliensis Braúna 4 10m 12m 11,75m

Ceiba speciosa Paineira-rosa 4 15m 30m 9m

Schinus molle Salsa 4 4m 8m 7m

Ficus benjamina Figueira benjamina 3 10m 15m 14m

Terminalia catappa Castanhola 2 12m 15m 14,50m

Delonix regia Flamboyant 1 10m 12m 12m

Grevillea robusta Grevilha 1 15m 20m 18m

Inga vera Ingá do brejo 1 5m 10m 7m

Mangifera indica Mangueira 1 35m 40m 12m

Bauhinia Variegata Pata de vaca 1 7m 10m 4m

Púnica granatum Romã 1 3m 4m 4m

Clitoria fairchildiana Sombreiro 1 6m 12m 8m

Chloroleucon tortum Tataré 1 6m 12m 12m

O transtorno ocasionado no trânsito se deve aos galhos baixos provenientes da má formação ou da poda incorreta. A poda de cada indivíduo é realizada por funcionários da Prefeitura Municipal de Itaúna do Sul de seis em seis meses, mas sem acompanhamento técnico especializado (Figura 2).

Foram observadas irregularidades no que se refere ao espaçamento entre as arbóreas implantadas. É recomendada uma distância apropriada entre uma árvore e outra que varia entre 5 e 6 metros (SEMA/UBERABA-MG), 87,92% não teve o devido espaçamento necessário para um bom planejamento urbano, pois 27,17% estavam

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abaixo desta média e 60,75% acima, algumas delas foram plantadas num mesmo espaço, alterando a sua estrutura típica e o seu desenvolvimento.

O recuo mínimo permitido entre o colo da árvore e a face interna do meio é de 50 centímetros, de acordo com esse dado apenas 3,97% não se encaixaram nesse aspecto, 88,74% estão dentro e acima da medida permitida e 7,28% é a porcentagem de árvores que estão localizadas em áreas da avenida que não tiveram pavimentação asfáltica. A distância mínima do colo da árvore até o muro é de 1,20 metros, sendo necessária para que ocorra a passagem de pedestres e cadeirantes, todas as árvores analisadas estão dentro da faixa permitida. (SEMA/UBERABA-MG).

Figura 2. Confl itos existentes entre as arbóreas e a rede elétrica que teve como conseqüência poda irregular.

A distribuição inadequada das espécies acarreta a poluição visual e a necessidade em respeitar o espaço entre as mesmas auxiliam na formação de um ambiente mais harmônico, proporcionando sombra em dias mais quentes, e a incidência de raios solares em dias frios.

De acordo com a fi ação adjacente, sendo as mais comuns: rede elétrica, rede telefônica e fi os de internet, 67,22% das espécies categorizadas não apresentaram nenhum confl ito, 32,68% das arbóreas tiveram problemas com relação a rede elétrica. A grande incidência de árvores altas como a sibipiruna que se encontram entre 7 e 15 metros de altura são afetadas pela rede elétrica por este se tratar de um sistema convencional aéreo, sendo necessário poda constante com apoio técnico (Gráfi co 3).

Nos dados referentes ao afl oramento das raízes, que por muitas vezes acabam comprometendo as calçadas e as vias públicas, observo-se que os oitis foram as que menos apresentaram confl itos com 14,63%, pois se tratam de árvores jovens com sistema radicular apropriado que não danifi cam as calçadas, em contrapartida as sibipirunas com 61,34%, foram as que mais apresentaram problemas nesse aspecto (Gráfi co 3).

O indivíduo que não apresentou sinais de ataque de pragas, doenças ou qualquer tipo de injúrias mecânicas foi considerado bom com 57,61%, aquele que se encontra em boas condições de desenvolvimento, mas com defi ciências mecânicas superfi ciais, ou

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algum tipo de doença, e apresentando pragas como cupins e outros tipos de insetos, como razoável com 34,76%, e por fi m o indivíduo ruim com 7,63%, em estado avançado de declínio, com danos físicos severos, doenças, e ataques de pragas, condenando-o a morte.

O convívio harmonioso entre a população e o “verde” somente se concretizará quando as planifi cações dos espaços permitirem a presença da vegetação e as arborizações forem efetivamente implantadas, monitoradas e preservadas (SANTOS & TEIXEIRA, 2001).

Figura 3. Confl itos existentes na arborização das avenidas Brasil e São Paulo, da cidade de Itaúna do Sul-PR.

O DAP (diâmetro tomada a altura do peito), revelou que apenas 21,52% dos indivíduos expostos nas avenidas Brasil e São Paulo é inferior a 0,40cm tendo em destaque as oitis, e que a sua maioria é superior a esse valor por se tratar de arbóreas adultas,como por exemplo as sibipirunas (Tabela 3).

TABELA 3. Fisionomia dos indivíduos ocorrente nas avenidas Brasil e São Paulo – Itaúna do Sul – PR

Classe de DAP (cm)

Numero de Indivíduos

Indivíduos%

0,00 - 0,40 65 21,520,41 - 0, 80 37 12,250,81 - 1,20 62 20,531,21 - 1,60

1,61 – 2,00

66

72

21,85

23,84TOTAL 302 100

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os estudos efetivados mostraram que há diversidade de espécies arbóreas nas avenidas Brasil e São Paulo, mas que não ocorreu um planejamento adequado na distribuição das mesmas, ou seja, observou-se que o plantio de algumas árvores foi realizado pelos próprios moradores do município sem que houvesse qualquer forma de orientação quanto à escolha e a localização de cada uma delas.

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Após a analise dos dados coletados foi possível verificar que grande parte das arbóreas está em péssimas condições de desenvolvimento, e que os fatores que as levam a este estado provem de várias situações a qual estão submetidas.

Para que se tenha melhoria no espaço urbano das cidades e municípios e uma diminuição considerável dos conflitos existentes na relação homem natureza é necessário a elaboração de um bom planejamento, tendo como base um manual que indicasse as espécies apropriadas para o plantio em ruas e avenidas sem que as mesmas sofressem ou ocasionassem danos físicos e econômicos.

REFERÊNCIAS

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OLIVEIRA, E. C. A questão ambiental no contexto da urbanizão. Geojandaia: revista de geografia, v. 6, (jan./dez. 2006), p. 53-69, 2011.

POTRICH, A. M. M.; ARAÚJO, L. S.; PAIXÃO, U. O.; PIRES, M. M. Y. Alteração das paisagens através do planejamento e manutenção da arborização urbana das avenidas Paraná e Distrito Federal, no município de Paranavaí – PR. Acta ambiental, v.2, (maio. 2009), p. 5-10, 2009.

RODRIGUES, N. B. Itaúna do Sul: 50 anos de emancipação político administrativa e 60 anos de sua colonização. 1. ed. Maringá, PR: Massoni, 2011. p. 57-65.

SANTOS, N. R. Z.; TEIXEIRA, I. F. Arborização de Vias Públicas: Ambiente x Vegetação. RS: Clube da árvore, 2001. 135p.

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QUALIDADE FISIOLÓGICA DE SEMENTES DE FEIJÃO(Phaseolus vulgaris L.) COM ABORTAMENTO DE VAGENS

PHYSIOLOGICAL QUALITY SEEDS BEANS(Phaseolus vulgaris L.) WITH ABORTING PODS

Jean Patrick Gasparin1 Manoela Andrade Monteiro1

Nicanor Pilarski Henkemeier1

Esmael Lopes dos Santos2

RESUMO:A disponibilidade de nutrientes influencia a formação do embrião e dos cotilédones com resultados eficazes sobre o vigor e a qualidade fisiológica, desta forma, o objetivo do trabalho foi avaliar qualidade fisiológica de sementes de feijão (Phaseolus vulgaris L.) com abortamento artificial de vagens em duas cultivares. O trabalho foi conduzido no campo experimental da Fazenda Escola da Faculdade Assis Gurgacz (FAG), em Cascavel, PR, na safra 2011/2012. Os cinco tratamentos foram e determinados conforme a porcentagem de vagens retiradas (VR) em: (T1 - testemunha, T2 - 20% de VR, T3 - 40% de VR, T4 - 60% de VR e T5 - 80% de VR), e, distribuídos em delineamento inteiramente casualizado com quatro repetições. As vagens foram retiradas manualmente com corte do pedúnculo por tesoura, no estádio R2 das duas cultivares de feijão (IPR Tiziu e Jalo-EEP 558). Para avaliação do potencial fisiológico, foram realizados os testes descritos a seguir. A avaliação do potencial fisiológico das sementes foi determinada pelo teste de germinação com as avaliações efetuadas aos cinco dias após a instalação do teste. Após o teste de germinação foi medido o comprimento de hipocótilo e de raízes de 10 plântulas por repetição de cada tratamento, e, após determinado à matéria seca das mesmas. Quando houve o abortamento das vagens houve maior qualidade das sementes, expressado na maior germinação e maior vigor pelo comprimento de hipocótilo e de raiz e matéria seca das plântulas. As cultivares estudadas também apresentaram diferenças entre elas na germinação sendo que a de maior porcentagem IPR Tiziu apresentou menor comprimento de hipocótilo e de raiz e matéria seca das plântulas em relação a cultivar Jalo-EEP 558.PALAVRAS CHAVE: estress abiótico, vigor, germinação e fisiologia de sementes.

ABSTRACT:The availability of nutrients influences the formation of the embryo and cotyledon with effective results on the force and vigor, thus the aim of this study was to evaluate the physiological quality of bean (Phaseolus vulgaris L.) with artificial abortion of pods in two cultivars. The work was conducted in the experimental farm of the Faculdade Assis Gurgacz (FAG), in Cascavel, in the 2011/2012 season. The five treatments and were determined as the percentage of pods removed (VR) in: (T1 - control, T2 - 20% of VR, T3 - 40% of VR, T4 - 60% of VR and T5 - 80% VR) and distributed in a completely randomized design with four replications. The pods were removed manually with scissors by cutting the stalk at the R2 stage of both cultivars (IPR Tiziu and Jalo EEP 558). To assess the physiological, tests were performed as follows. Evaluation of seed vigor was determined by germination test with the tests conducted at five days after planting. After germination test was measured hypocotyls and roots of 10 seedlings per replication of each treatment, and after a certain dry matter thereof. When the abortion of pods was was higher seed quality, expressed in higher germination and vigor by hypocotyls and roots dry matter of seedlings. The cultivars also showed differences in germination between them being that the largest percentage of IPR Tiziu showed lower hypocotyls and roots dry matter of seedlings in relation to cultivar Jalo EEP-558.KEY WORDS: abiotic stress, vigor, germination and seed physiology.

INTRODUÇÃO

O feijão é cultivado no Brasil para abastecer o setor alimentício interno, sendo praticado por pequenos, médios e grandes produtores. A cultura representa uma importante fonte de proteínas, principalmente para população de baixa renda pelos baixos custos de produção.

A cultura do feijão desenvolve-se bem entre uma faixa de temperatura de 18 a 30º C, onde valores altos de temperaturas diurnas ou noturnas, em estádios fonológicos

1 Acadêmicos do Curso de Agronomia da Faculdade Assis Gurgacz – FAG. Avenida das Torres, 500, CEP: 85.806-095 - Cascavel, PR, Brasil.2 Docente da disciplina de Produção, Tecnologia e Armazenamento de Sementes – Curso de Agronomia da Faculdade Assis Gurgacz – FAG. Avenida das Torres, 500, CEP: 85.806-095 - Cascavel, PR, Brasil – [email protected]

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R5/R6, normalmente ocasionam quedas acentuadas no rendimento de grãos (AIDAR et al., 2002). Como conseqüência de altas temperaturas há queda das flores e abortamento das vagens (PORTES, 1996).

A qualidade da semente, caracterizada pelos atributos genético, físico, sanitário e fisiológico, é fundamental no processo de produção de qualquer espécie vegetal multiplicada por sementes (GOMES JÚNIOR & SÁ, 2010). O componente fisiológico é influenciado pelo ambiente em que as sementes se formam (VIEIRA et al., 1993).

Entre os fatores ambientais a disponibilidade de nutrientes influi na formação do embrião e dos órgãos de reserva, assim como na composição química da semente e, dessa forma, influenciar o seu vigor e a sua qualidade (GOMES JÚNIOR & SÁ, 2010).

Outro fator que pode limitar a produção é a quantidade de água disponível para a cultura, acarretando na redução nos componentes de produtividade em feijoeiro pela redução no tamanho da plantas, tamanho das vagens e o número de vagens (FIEGENBAUM et al., 1991). Isto ocorreu porque a água interfere diretamente no crescimento e desenvolvimento e, indiretamente, na produção, por ser responsável pela absorção e translocação de nutrientes, além de participar da fotossíntese e translocação de assimilados, transpiração e respiração das plantas. Neste sentido torna-se importante escolher um período de cultivo ideal para que a cultura se desenvolva e produza bem, desfrutando do potencial produtivo do cultivar utilizado e do beneficio de tecnologias adotadas (ANDRADE et al., 2008).

Algumas culturas como a soja, podem compensar a menor quantidade de vagens aumentando o tamanho das sementes, pela menor competição por carboidratos produzidos (CONFALONE & DUJMOVICH, 1999), como isso as sementes podem apresentar-se mais pesadas e com diferenças na composição química e em conseqüência variação na qualidade de sementes.

Desta forma, o objetivo do trabalho foi avaliar qualidade fisiológica de sementes de feijão (Phaseolus vulgaris L.) com abortamento artificial de vagens em duas cultivares.

MATERIAL E MÉTODOS

O trabalho foi conduzido em ambiente protegido no campo experimental da Fazenda Escola da Faculdade Assis Gurgacz (FAG), localizada no município de Cascavel, Paraná, com as coordenadas geográficas correspondentes à latitude 24°56’09”S, longitude 53°30’01”W e 712 m de altitude. De acordo com a classificação climática de Koppen, o clima da região é do tipo Cfb.

As plantas foram cultivadas em vasos plásticos com 3 dm3 de solo, com duas plantas por vaso, na safra 2011/2012. Os tratamentos foram distribuídos na estufa em delineamento inteiramente casualizado com cinco tratamentos e quatro repetições. Os tratamentos foram determinados conforme a porcentagem de vagens retiradas (VR) manualmente com corte do pedúnculo por tesoura, no estádio R2 das duas cultivares de feijão (IPR Tiziu do grupo preto e Jalo-EEP 558), sendo os tratamentos formados das seguintes formas: T1 (testemunha), T2 (20% de VR), T3 (40% de VR), T4 (60% de VR) e T5 (80% de VR).

As plantas permaneceram nestas condições até a maturação fisiológica das sementes, e, após foram colhidas e trilhadas manualmente e secadas à sombra até atingir 14% de umidade. A avaliação do potencial fisiológico das sementes foi realizada no laboratório de tecnologia de sementes da FAG em Cascavel – PR, conforme o teste de germinação descrito abaixo:

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Qualidade fisiológica de sementes de feijão (phaseolus vulgaris l.) com abortamento de vagens

O teste de germinação foi conduzido com quatro repetições de 50 sementes distribuídas entre folhas de papel, umedecidas com água destilada, na proporção de 2,5 vezes o peso do papel seco, e colocadas para germinar a 25ºC. As avaliações foram efetuadas aos cinco dias após a instalação dos testes seguindo os critérios estabelecidos pelas Regras para Análise de Sementes (BRASIL, 2009). Após o teste de germinação foi medido o comprimento de hipocótilo e de raízes de 40 plântulas por tratamento sendo dez de cada repetição, e, destas foi determinado à matéria seca, pela secagem em estuda de circulação forçada de ar a 60º C até atingir peso constante, obtendo-se dados médios em g.plantula-1.

Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância, sendo as médias dos tratamentos comparadas pelo teste de Tukey a 5% de probabilidade, através do programa SISVAR®.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Respostas significativas foram expressas na germinação das sementes de feijão para as duas cultivares estudadas para todos os níveis de vagens retiradas (Tabela 1). A cultivar IPR Tiziu foi a que apresentou maior porcentagem de germinação quando comparada com a cultivar Jalo-EEP 558 em função da retirada das vagens. No entanto, entre genótipos de feijão existe variabilidade genética tanto para caracteres fenotípicos quanto relacionados à qualidade fisiológica de sementes, a qual pode ser utilizada em programas de melhoramento genético (ESTEVES et al., 2002).

A diferença entre as duas cultivares também pode estar relacionadas às características do tegumento de cada cultivar, pois obtenção de sementes com elevado potencial fisiológico pode estar relacionada como a impermeabilidade do tegumento à água, a cor e ao teor de lignina (RIBEIRO et al., 2007).

A porcentagem de germinação foi maior à medida que houve maior nível de retirada de vagens. A cultivar Jalo-EEP 558 apresentou a maior porcentagem de germinação das sementes quando houve retirada de 80% das vagens, e não foi diferente estatisticamente somente da retirada de 60% das vagens, enquanto que a cultivar IPR Tiziu diferiu estatisticamente da testemunha e da retirada de 20% das vagens.

TABELA 1. Valores médios (%) obtidos no teste de germinação em duas cultivares de feijão em função do número de vagens. Cascavel - PR, 2013.

CultivarQuantidade de vagens retiradas (VR)

médiaTestemunha 20% 40% 60% 80%

Jalo-EEP 558 67 B1 d 73 B c 78 B bc 83 B ab 85 B a 77

IPR Tiziu 75 A c 82 A b 89 A a 89 A a 91 A a 85

CV (%) = 2.76

1 = Médias seguidas de mesma letra, maiúscula na coluna e minúscula na linha, não diferem a 5% de probabilidade pelo Teste de Tukey.

Na avaliação do comprimento de hipocótilo e de raízes das plântulas de feijoeiro (Tabela 2), houve diferença entre as cultivares quanto à quantidade de vagens retiradas (VR), e, a cultivar Jalo-EEP 558 foi a que apresentou as maiores médias, porém não houve diferença estatística em 40% e 60% de VR.

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Quando analisado a cultivar em relação à quantidade de vagens retiradas, na cultivar Jalo-EEP 558 a testemunha foi a de menor comprimento de hipocótilo e de raiz, porém quando houve retirada das vagens a diferença foi somente para a 20% VR em relação às outras porcentagens. Enquanto que na cultivar IPR Tiziu a testemunha foi a que apresentou o menor comprimento enquanto que a maior retirada de vagens (80% de VR) foi a de maior comprimento, e não diferiu somente da 60% de VR.

A determinação do comprimento médio das plântulas normais é realizada, tendo em vista que as amostras que expressam os maiores valores são mais vigorosas (NAKAGAWA, 1999). De acordo com Dan et al. (1987), isso ocorre devido ao fato das sementes mais vigorosas originarem plântulas com maior taxa de crescimento, em função da maior translocação das reservas dos tecidos de armazenamento para o crescimento do eixo embrionário.

TABELA 2. Valores médios do comprimento de hipocótilo e de raiz de plântulas (cm) obtidos no teste de Germinação em duas cultivares de feijão em função do número de vagens. Cascavel - PR, 2013.

CultivarQuantidade de vagens retiradas (VR)

médiaTestemunha 20% 40% 60% 80%

Jalo-EEP 558 13,5 A c 14,9 A b 15,4 A ab 16,3 A a 16,9 A a 15,4

IPR Tiziu 12,1 B d 13,7 B c 14,9 A bc 16,2 A ab 15,9 B a 14,6

CV (%) = 9.79

1 = Médias seguidas de mesma letra, maiúscula na coluna e minúscula na linha, não diferem a 5% de probabilidade pelo Teste de Tukey

Na variável matéria seca das plântulas (Tabela 3), houve diferença entre as cultivares quanto à quantidade de vagens retiradas (VR), e a cultivar Jalo-EEP 558 foi a que apresentou as maiores médias, em todos os níveis de retirada de vagens.

Na cultivar Jalo-EEP 558 quando analisado a matéria seca em relação à quantidade de vagens retiradas, não houve diferença estatística entre a testemunha e os níveis de retirada de vagens 20% e 40%, sendo as diferenças apresentadas entre os níveis de 60% e 80% de VR, sendo esta ultima a de maior média. Para a cultivar IPR Tiziu também não houve diferença entre a testemunha e os níveis de retirada de vagens 20% e 40% e os maiores valores foram expressados nos níveis 60% e 80% que não diferiram de 20% de VR.

A análise do crescimento de plântulas pode ser mensurada por meio de duas grandezas físicas, o comprimento e a matéria seca. Ambas impossibilitam a subjetividade do analista na inferência dos resultados.

No entanto, de acordo com a (AOSA, 1983) as informações obtidas nos testes de vigor de lotes de sementes devem ser interpretadas levando-se em consideração, além do comprimento de plântula ou parte dela, também o percentual de germinação. Isto se deve ao fato que alguns lotes podem apresentar germinação maior, cujas plântulas são de tamanho menor e vice-versa (GUEDES et al., 2009). De acordo com os resultados, verifica-se que de maneira geral a cultivar Jalo-EEP 558 que obteve menor porcentagem de germinação apresentou maior vigor nas sementes expressado pelo maior comprimento de hipocótilo e de raiz e matéria seca das plântulas.

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Qualidade fisiológica de sementes de feijão (phaseolus vulgaris l.) com abortamento de vagens

TABELA 3. Valores médios da matéria seca (g.plantula-1) obtidas no teste de germinação em duas cultivares de feijão em função do número de vagens. Cascavel - PR, 2013.

CultivarQuantidade de vagens retiradas (VR)

médiaTestemunha 20% 40% 60% 80%

Jalo-EEP 558 0,147 A c 0,143 A c 0,147 A c 0,160 A b 0,193 A a 0,158

IPR Tiziu 0,110 B b 0,113 B ab 0,110 B b 0,120 B a 0,120 B a 0,115

CV (%) = 1.89

1 = Médias seguidas de mesma letra, maiúscula na coluna e minúscula na linha, não diferem a 5% de probabilidade pelo Teste de Tukey.

A exigência nutricional das culturas, em geral, torna-se mais intensa com o início da fase reprodutiva, sendo mais crítica na época de formação das sementes, quando consideráveis quantidades de nutrientes são para elas translocadas. Essa maior exigência se deve ao fato de os nutrientes serem essenciais à formação e ao desenvolvimento de novos órgãos de reserva (CARVALHO e NAKAGAWA, 2000). Desta forma, a disponibilidade de nutrientes influencia a formação do embrião e dos cotilédones com resultados eficazes sobre o vigor e a qualidade fisiológica, portanto, quando houve a maior retirada de vagens, houve também maior direcionamento de fotoassimados para uma menor quantidade de semente e com isso as sementes remanescentes puderam se beneficiar de maior quantidade de nutrientes essenciais à formação e ao seu desenvolvimento, e, consequentemente apresentar melhor qualidade de semente.

CONCLUSÃO

Quando houve o abortamento das vagens houve maior qualidade das sementes, expressado na maior germinação e maior vigor pelo comprimento de hipocótilo e de raiz e matéria seca das plântulas.

As cultivares estudadas também apresentaram diferenças entre elas na germinação sendo que a de maior porcentagem IPR Tiziu apresentou menor comprimento de hipocótilo e de raiz e matéria seca das plântulas em relação a cultivar Jalo-EEP 558.

REFERÊNCIAS

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DAN, E. L., et al. Transferência de matéria seca como método de avaliação do vigor de sementes de soja. Revista Brasileira de Sementes, Brasília, v. 9, n. 3,p. 45-55, 1987.

ESTEVES, A. M., et al. Comparação química e enzimática de seis linhagens de feijão (Phaseolus vulgaris L.). Ciência e Agrotecnologia, Lavras, v. 26, n. 5, p. 999-1005, 2002.

FIEGENBAUM, V., et al. Influência do déficit hídrico sobre os componentes do rendimento de três cultivares de feijão. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.26, n.2, p.275-80, 1991.

GOMES JUNIOR, F. G.; SÁ, M. E. Proteína e qualidade de sementes de feijão (Phaseolus vulgaris L.) em função da adubação nitrogenada em plantio direto. Revista Brasileira de Sementes, vol. 32, nº 1 p. 034-044, 2010.

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NÚCLEO DE CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS – NCHS

E NÚCLEO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS - NCSA

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A ARTE DE PESQUISAR

Eliziane Sasso dos Santos1

A Dra. Mirian Goldenberg é antropóloga e professora do Departamento de Antropologia Cultural e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entre tantas obras publicadas está A arte de pesquisar, livro que alcançou a 8ª edição em 2004. Esta obra apresenta linguagem bastante acessível com bom embasamento teórico e divide-se em 17 capítulos.

A obra A arte de pesquisar enfoca a importância da postura científica do pesquisador, onde a autora propõe uma nova visão de mundo indo muito além de técnicas de pesquisa. Ela destaca a relevância de se ter um olhar científico na pesquisa. O livro está dividido em pequenos capítulos e o primeiro ressalta a importância para não se deter apenas em processos metodológicos, mas ter sensibilidade, criatividade, ser modesto e reconhecer que não detemos todo saber.

A autora descreve sobre a pesquisa qualitativa e do que ela representa no campo científico, também do que ela significa. Lança um desafio a todos para aprenderem a pensar e se mostra contrária às pesquisas quantitativas.

O segundo capítulo refere-se à pesquisa qualitativa em ciências sociais, ela defende a idéia de que as ciências sociais têm uma metodologia própria de pesquisa, não podendo generalizar com resultados quantificáveis. A autora faz uma revisão bibliográfica para elucidar o que os grandes pensadores do século passado defendiam no que diz respeito aos métodos de pesquisa.

Segundo a autora, Durkhein (1858-1917) defendia que as ciências sociais deveriam fazer parte do mesmo universo das demais ciências, achava que as ciências sociais deveriam ser neutras e objetivas. Na segunda metade do século passado, alguns pensadores se mostraram contrários às idéias de Kant, divergindo a idéia de que as ciências sociais usassem o mesmo método de pesquisa das demais ciências, sendo que isso poderia descaracterizar totalmente os resultados, ou seja, a realidade dos fatos.

Dilthey, por exemplo, defende a idéia que os fatos sociais não são passíveis de quantificação. Por se tratarem de casos singulares, impossibilitando a generalização como acontecem nas ciências naturais. Max Weber (1864-1920) se utilizou das idéias de Dilthey e defendeu que o principal interesse das ciências sociais é o comportamento dos indivíduos. Esses cientistas sociais ao discutirem a diferenciação das ciências sociais das demais ciências fizeram com que surgissem as técnicas e métodos qualitativos de pesquisa social.

A partir de pesquisas de antropólogos em meio a sociedades primitivas, se consagrou a idéia de trabalho de campo, ou seja, onde o pesquisador vai conviver com o objeto de estudo, ou meio ao qual quer pesquisar. Boas se destacou como antropólogo a usar pesquisa de campo e com métodos qualitativos.

Na década de 1970, nos EUA a partir de idéias Weberianas, constata-se que os fatos sociais devem ser compreendidos pelo pesquisador ao longo da pesquisa como parciais e provisórios. Geertz inspirou a tendência atual, chamada antropologia reflexiva. Esta pesquisa se caracteriza pela relação pesquisador e objeto pesquisado.

O terceiro capítulo se refere a influência da escola de Chicaco na pesquisa

1 Mestranda em Educação pela Universidade Federal do Pampa – Campus Jaguarão/RS - [email protected]

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qualitativa, destacando-se pelo uso de métodos e técnicas qualitativos na investigação e serviu como espelho para as pesquisas sociais em grandes centros urbanos. Mead enfatiza que a natureza simbólica da vida social é que dá significado social, ele defende a idéia de que o pesquisador precisa interagir em meio ao contexto pesquisado para compreender esses significados.

A escola de Chicago preocupou-se com a pesquisa empírica, contribuindo fortemente para os métodos e técnicas de pesquisa qualitativa através de análises de documentos pessoais e exploração de diversas fontes documentais. A referida escola foi expoente em pesquisas sobre rivalidades raciais, conflitos entre gangues jovens e criminalidade.

Vários cientistas sociais, entre eles Stoufer defendem o método qualitativo de pesquisa como o mais eficaz em pesquisas sociais. Já E. Burgess, em 1927, defendeu que os métodos de pesquisa estatísticos e qualitativos são complementares. A escola de Chicago abriu caminhos para a sociologia, principalmente no que diz respeito à utilização do método de pesquisa qualitativo, como também a prática do trabalho de campo. Também se dá ênfase à fenomenologia e a etonometodologia que se inserem na pesquisa qualitativa a fim de ver o mundo através dos olhos dos atores sociais.

O quarto capítulo descreve a origem do método de estudo de caso. O estudo de caso advém do meio da medicina e psicologia, onde era pesquisado e detalhado um único caso patológico, mas no decorrer do tempo tornou-se uma modalidade de pesquisa qualitativa muito explorada meio às ciências sociais. O estudo de caso possibilita uma análise mais profunda de uma determinada realidade que a pesquisa estatística não consegue atingir.

Moacir Palmeira destaca que a pesquisa estatística padroniza a realidade, sendo que cada indivíduo que compõe tal realidade é diferente, por isso a importância de se usar a metodologia qualitativa, pois permite ao pesquisador um olhar diferenciado para cada aspecto. Umas das características marcantes do método de estudo de caso é a observação participante e as entrevistas em profundidade, tendo suas origens nas pesquisas antropológicas em sociedades primitivas.

Não há uma regra geral para a técnica de pesquisa de estudo de caso, tudo depende do pesquisador, pode ser por curto espaço de tempo ou por longo prazo. Pierre Bourdieu, em a Introdução a uma sociologia reflexiva, nos permite pensar o estudo de caso como algo singular e extrair dele propriedades invariantes.

O método biográfico em ciências sociais compõe o capítulo cinco, esse método discute a questão da singularidade do indivíduo, o contexto e o histórico social ao qual está inserido. Para Franco Ferrarote é possível estudar um contexto social através do estudo de uma biografia individual, por ser o indivíduo parte de integrante desse contexto.

As histórias de vida permitem a criação de documentos em que se misturam histórias individuais com contextos históricos e sociais. O método biográfico ajuda a elucidar como as pessoas universalizam através de suas histórias de vida o contexto histórico em que vivem.

O capítulo seis evidencia a objetividade, representatividade e controle de bias a pesquisa qualitativa. Há alguns pesquisadores acusam o método qualitativo de pesquisa, de ser pouco fidedigno. Max weber, Pierre Bourdieu e Howard Becker acreditam ser essencial descrever todos os passos da pesquisa para que o objeto pesquisado possa buscar a objetivação. O pesquisador na pesquisa qualitativa deve manter a imparcialidade a fim para que não interferir nos resultados.

Becker defende a pesquisa qualitativa por se tratar de um estudo a longo prazo, pois há condições de conhecer o cotidiano impossibilitando qualquer tipo de alteração

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A arte de pesquisar

nos resultados. A autora ainda se refere a Becker que fala da importância do pesquisador explicitar tanto os pontos negativos quanto os positivos.

A pesquisa estatística mostra em tabelas os passos e resultados, já na pesquisa qualitativa os resultados são abordados de forma subjetiva, por isso é importante a descrição passo a passo para que quem não participou do processo possa entender as análises. Nas pesquisas qualitativas prima-se pela densa interpretação dos fatos em sua singularidade ao invés de se quantificar através de tabelas numéricas. O pesquisador deve ter o cuidado de não se envolver emocionalmente no objeto de estudo.

No capítulo sete a autora disserta sobre a pesquisa qualitativa: problema teórico – metodológico. Para ela na pesquisa qualitativa não há uma regra única a seguir, pois depende do enfoque que o pesquisador dá ao objeto, precisa ser muito crítico e profundo na sua análise, sempre tendo o cuidado para não deixar o bias do pesquisador tomar o rumo da pesquisa.

A autora apresenta as opiniões das pesquisadoras Ruth Cardoso, Eunice Durham e Aaron Circiourel a respeito da pesquisa qualitativa, segundo a autora elas se mostram contrárias a este método de pesquisa por acreditarem que há ausência de uma crítica teórico-metodológica em relação a esse método, pode–se correr o risco de cometer erros como falta de criticidade para o aprofundamento das análises. Umas das preocupações do método qualitativo é a contaminação dos resultados devido à personalidade do pesquisador.

A autora cita Becker que defende que na pesquisa qualitativa é impossível estabelecer uma teoria metodológica única, pois cada contexto é único, cabe ao pesquisador ser criativo e sensível para saber como obter êxito em sua pesquisa. O pesquisador deve ter o cuidado para não naturalizar certas atitudes que no primeiro momento lhe causou estranheza e que poderiam ser significativas.

No oitavo capítulo a autora aborda a integração entre análise quantitativa e qualitativa. Alguns pesquisadores afirmam que as pesquisas quantitativas em ciências sociais generalizam os fatos, impossibilitando uma compreensão profunda dos mesmos. Max weber acredita que se pode usar a quantificação em ciências sociais desde que se tenha o cuidado para não generalizar. Como já foi mencionado anteriormente, depende de cada pesquisador a decisão de quais métodos usar no decorrer de uma pesquisa, como também pode optar pelo quantificável e o qualitativo por achar que tenham certa interdependência ou por acreditar que esses dois métodos poderão ajudar a esclarecer mais o estudo realizado.

A pesquisa qualitativa permite estudar pontos obscuros deixados na pesquisa quantitativa, pois nos possibilita ir além de números, através do referido método é possível aprofundar explicações, sentimentos e atitudes individuais, ou seja, nessa perspectiva esses dois métodos podem a ser vistos como complementares. A autora defende que um bom pesquisador deve lançar mão de todos os métodos que estiverem ao seu alcance para ajudar a entender o problema estudado.

O capítulo nono trata de como elaborar a pergunta certa para o problema em questão. Neste capítulo a autora propõe a construção de um projeto de pesquisa. Para ela não há tema de maior ou menor relevância, tudo depende da criatividade do pesquisador em conduzir o assunto, ela chama atenção para o olhar científico do pesquisador. A autora ainda destaca a importância de alguns fatores internos e externos, ou seja, são considerados fatores internos a sensibilidade, criticidade e criatividade e externos são o bom domínio da teoria, saber relacionar dados empíricos com a teoria, enfim, para propormos uma pesquisa precisamos formular um problema e elaborar um projeto de pesquisa.

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Eliziane Sasso dos Santos

No item dez a autora se refere à formulação do projeto de pesquisa, este compreende várias fases. No início se verifica o campo a ser estudado, logo após o pesquisador toma conhecimento de todo o cotidiano e a fase final haverá uma ruptura entre o pesquisador e o objeto de estudo, em que serão feitas análises profundas a fim de se chegar a certas conclusões.

Ainda se tratando da construção do projeto de pesquisa, este deve atender o interesse do pesquisador, ser acessível para qualquer público, aprofundar o assunto de forma que todos compreendam a linguagem utilizada. Saber formular a pergunta do problema para que se atinja uma resposta a altura do que se quer saber. Fazer uma boa revisão da literatura que vá embasar a pesquisa.

A construção de um projeto é a fase mais importante da pesquisa. É o momento em que o pesquisador irá delimitar o problema, o tempo a ser usado, como também, ter o cuidado para não coletar dados que favoreçam um certo ponto de vista, ser o mais imparcial possível, evitar o bias e prever as etapas a serem seguidas, mesmo sendo sujeitas a mudanças.O projeto de pesquisa deve conter algumas passos: introdução, justificativa, hipóteses, discussão teórica, metodologia, cronograma e referências bibliográficas.

Ainda se tratando dos passos da pesquisa a autora delimita alguns passos que compreende em primeiro lugar a delimitação do tema, objetivos, objeto a ser pesquisado, hipóteses levantadas e métodos de levantamento de dados. O projeto não é um processo estático, ou seja, deve ser flexível ao longo de sua trajetória, nada é estanque em um projeto. Deve também se preocupar com uma boa fundamentação teórica e colocá-la de maneira crítica.

No capítulo 14 dá-se um destaque para importância do fichamento da teoria. O pesquisador deve manter-se organizado com seu material empírico e as idéias, das obras lidas, a autora enumera como fator essencial o debate de idéias com os autores, questionamento e análise. Ela também salienta a importância de várias leituras reflexivas para a elaboração do fichamento. Também a criticidade no momento do fichamento ajuda a aprimorar a análise.

No fichamento deve haver o propósito de analisar a obra como seus objetivos, relevância, método de pesquisa utilizado e importância do estudo realizado. Através do fichamento nos tornamos conhecedores das idéias dos autores e nossos argumentos se tornam mis consistentes e isso denota nosso domínio sobre o assunto.

O capítulo 15 trata das entrevistas e questionários. Ela aborda as diferenças, vantagens e desvantagens entre entrevistas e questionários como forma de coleta de dados de uma pesquisa. Ao entrevistarmos não devemos priorizar um ou outro grupo a fim de delinear um parâmetro de respostas, elas precisam atingir todos os públicos, para não corrermos o risco de conduzir os resultados.

As entrevistas podem ser padronizadas e subdividas em abertas e fechadas. As entrevistas fechadas são de fácil análise, pois se resumem em alternativas únicas, já as abertas, o entrevistado fica livre para responder sobre o tema proposto. As entrevistas também podem ser assistemáticas e projetivas com uma análise muito mais complexa.

Os questionários têm vantagens e desvantagens, suas vantagens são que podem ser de fácil acesso às pessoas via correio ou meio eletrônico, mas também restringe quem irá responder, pois precisa ser escrito e demanda de tempo disponível, sua uniformidade facilita a mensuração, pode atingir um grande número de pessoas ao mesmo tempo, já como desvantagem a autora enumera a repressão de sentimentos dificultando algumas análises. Na visão da autora, as entrevistas surtem maior efeito podendo enriquecer com maiores detalhes e ênfase nos assuntos abordados na escrita, sendo necessário manter postura e olhar científico, não se deixando envolver emocionalmente com a situação.

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A arte de pesquisar

O pesquisador deve ter alguns critérios ao organizar os questionários e entrevistas, saber selecionar o assunto, sua relevância para o estudo proposto, clareza, fácil compreensão por parte do entrevistado, sempre ter em mão um rascunho para se guiar e tornar o trabalho mais organizado. Ao realizar essa etapa da pesquisa o proponente precisa antes de tudo conhecer muito bem o assunto a ser questionado, buscar com este instrumento informações desconhecidas em quaisquer outras fontes.

Já no capítulo 16, a autora salienta a necessidade do pesquisador pensar cientificamente. Depois da aplicação das entrevistas ou questionários é chegada a hora mais relevante da pesquisa, a análise dos resultados empíricos baseados nos conhecimentos teóricos, momento crucial para os resultados da pesquisa, pois é nesse momento que o pesquisador vai fundamentar dados empíricos com teorias estudadas e chegar a um resultado final. Isso demanda muito conhecimento e sensibilidade, ou seja, um olhar científico para cada detalhe.

No capítulo 17, a autora aborda algumas considerações sobre a análise e relatório final. Esse processo requer calma e conhecimento, nenhuma análise feita de imediato terá o mesmo enfoque e a riqueza de um trabalho feito em longo prazo, o ideal é a cada entrevista ou questionário aplicado, para que se faça já uma análise prévia para não acumular trabalho. O relatório final da pesquisa nada mais é que a retomada dos passos do projeto de pesquisa, buscando a introdução, objetivos, hipóteses levantadas, relevância do estudo para a comunidade onde se está inserida, em seguida a discussão teórica, mas deve-se ter o cuidado para que essa discussão não se torne mero acúmulo de citações, mas sim um diálogo com as principais idéias dos autores, por isso o fichamento e análise das obras.

Logo após iremos situar o leitor do local, sujeitos da nossa pesquisa, descrever como se sucedeu a mesma, os pontos positivos e também os negativos, tentando entender o que deu errado porque esses aspectos também fazem parte do processo.

Ao relatarmos as dificuldades encontradas na realização da pesquisa é uma maneira de enriquecer o trabalho, nem sempre atingimos cem por cento dos nossos objetivos. O relatório final deve abordar de maneira clara os resultados, em que todos tenham entendimento com um vocabulário acessível, também não podemos esquecer um item importante que se trata da postura ética ao apresentar os resultados de modo a não prejudicar o público pesquisado.

A autora em toda a sua exposição demonstra um enorme conhecimento sobre o assunto e conseguiu transmitir uma idéia simples do que é uma pesquisa científica, também abordou de forma clara o que devemos levar em consideração ao propormos um trabalho científico através de uma linguagem acessível, mas ao mesmo tempo não deixando de enfocar os subsídios necessários para um bom projeto de pesquisa. Percebemos que a credibilidade da pesquisa está na seriedade como se conduz todo processo. Qualquer etapa que for suprimida comprometerá o resultado final.

REFERÊNCIAS

GOLDENBERG, Mirian. A arte de pesquisar: como fazer pesquisa qualitativa em ciências sociais. 8. ed. Rio de Janeiro: Record, 2004.

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A INFLUÊNCIA DAS EMBALAGENS NA DECISÃO DE COMPRA DO CONSUMIDOR

THE INFLUENCE OF PACKAGING IN CONSUMER PURCHASE DECISION

Edleisse Paes de CamargoThiago Spiri FerreiraCláudio Luiz Chiusoli

RESUMOA embalagem tem como funções proteger, conservar, vender e viabilizar o transporte e é também uma das melhores formas de se mostrar o produto conquistando o consumidor. A temática deste trabalho teve como objetivo identificar o poder que as embalagens possuem sobre a decisão de compra do consumidor. Como levantamento teórico foi abordado sobre comportamento do consumidor e o mercado das embalagens. Quanto ao método utilizado para delinear a pesquisa foi pesquisa exploratória, que foi realizada através de questionário, e como meios de investigação utilizou-se pesquisa bibliográfica. Segundo dados da pesquisa pode-se identificar que o consumidor acredita que a embalagem influencia diretamente no processo de compra, principalmente quando o produto abordado é alimentício, cosmético e limpeza. Apesar do público não definir a embalagem como um dos fatores primordiais em um produto, observou-se que o consumidor acredita que a embalagem possa influenciar na decisão de compra, sendo as principais características de atração em uma embalagem o design, a imagem, figura e a proteção do produto.PALAVRAS-CHAVES: Embalagem. Consumidor. Persuasão.

ABSTRACTThe packaging has the function to protect, conserve, sell and facilitate the transmission and is also one of the best ways of showing the winning product the consumer. The theme of this work was to identify the power packs have on the consumer’s purchase decision. The method used to delineate the research was exploratory research that was conducted by questionnaire, and as a means of investigation used the literature search. According to the study can identify that the consumer believes the packaging directly influences the buying process, especially when the product discussed is food, cosmetic and cleaning. Although the public does not define the package as a primary factor in a product, it was observed that the consumer believes that the packaging can influence the purchase decision, and the main features of attraction in a packaging design, image, figure and product protection.KEYWORDS: Packaging. Consumer. Persuasion.

1. INTRODUÇÃO

As primeiras embalagens surgiram há mais de 10.000 anos, a matéria-prima mais utilizada para embalagens era o vidro, a que poderia ser atribuído várias formas, tamanhos e espessuras, porém ao longo do tempo foram adotados outros materiais como madeira, metal, papel e papelão e plástico, afirma a ABRE (2010), com o fim de possibilitar maior versatilidade ao produto. Atualmente estas são ainda mais evoluídas, podendo se adaptar dependendo do produto a ser armazenado.

A demanda por embalagens cresceu no Brasil depois da Segunda Guerra Mundial, quando o processo de industrialização possibilitou a substituição das importações. A partir daí houve a necessidade de se desenvolver cada vez mais embalagens e dos mais variados materiais. A embalagem é um recipiente ou envoltura que armazena produtos temporariamente e serve principalmente para agrupar unidades de um produto, com vista a sua manipulação, transporte ou armazenamento. É o contenedor de um produto material, para configurar como a embalagem tem que ter um produto dentro, conforme as definições da Associação Brasileira de Embalagens (ABRE, 2010). S e g u n d o Hime (1997 apud Camilo 2004), as pessoas são influenciadas pelas embalagens de uma maneira que elas não entendem conscientemente, palavras e números são captadas pelo racional, mas formas, cores e imagens ultrapassam a mente e atingem as emoções do consumidor. O consumidor faz suas escolhas no ponto de venda, a imagem de uma embalagem é identificada com o produto por associação e assim a embalagem torna-se um símbolo para o indivíduo.

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Edleisse Paes de Camargo, Thiago Spiri Ferreira, Cláudio Luiz Chiusoli

A embalagem representa a marca no ponto de venda, é a identidade da empresa, o objeto que identifica simbolicamente o produto e torna-se a única forma tangível de expressar a marca, sendo em muitos casos o único meio de comunicação do produto, a manter contato material com o cliente. O design da embalagem garante boa comunicação, informando e expondo sobre o caráter do produto. Além das funções de proteger, conservar, vender e viabilizar o transporte é também a melhor forma de se mostrar o produto conquistando o consumidor. As embalagens são importantes para fortalecer a marca, pois agregam valores, tendo como função a apresentação do produto, comunicando e estimulando a venda. As empresas estão utilizando as embalagens como um forte veículo de comunicação, informação e sedução.

A temática deste trabalho apresenta a embalagem como forma de persuadir o consumidor perante o ponto de venda, demonstrar as estratégias utilizadas pelas empresas na hora de elaborá-las, além de realizar uma análise sobre as novas tendências do setor, através da sustentabilidade. Através do tema abordado, pretende-se analisar a questão da embalagem, pois se acredita que muitas empresas investem altos valores na busca de tentar atrair e manter seus clientes buscando cumprir as exigências para que seus produtos venham a se tornar objetos de consumo. Portanto, busca-se esclarecer se os consumidores compram os produtos atraídos pela embalagem ou se esse fator torna-se irrelevante na decisão de compra. Considerando a importância da presença das embalagens nos produtos, partiu-se da curiosidade de saber se estas realmente têm a capacidade de influenciar diretamente na decisão de compra dos jovens universitários, além de analisar para quais produtos as embalagens influenciam diretamente de acordo com a opinião dos entrevistados, podendo analisar os atrativos da mesma perante o público-alvo. Já que atualmente há muito apego estético em todos os âmbitos, este trabalho buscou sanar a hipótese, se realmente as embalagens, apenas pelos seus apelos estéticos seria capaz de atrair, influenciar e persuadir o consumidor.

2. OBJETIVO

Identificar as influências das embalagens no processo de decisão de compra do consumidor.

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Como levantamento teórico, diversos autores foram consultados e os temas abordados são: comportamento do consumidor e o mercado das embalagens:

3.1 Comportamento do consumidor

Através da socialização, as pessoas adquirem valores culturais que auxiliam no desenvolvimento de crenças, valores e personalidade, familiarizando-se com as ideologias de organizações. Isso pode ser carregado através da cultura de um lugar e transmitido de uma geração para outro. Segundo, Shimp (2002), a partir do momento que uma pessoa toma ciência de um objeto ou nova marca, adquire informações e estabelece suas crenças sobre a capacidade do produto ou marca satisfazer sua necessidade de consumo, sendo definido pelo autor como um componente cognitivo (que se refere às crenças da pessoa). A partir do desenvolvimento da crença são gerados sentimentos e avaliações sobre um produto, definido como componente afetivo, e é com base nessas avaliações e sentimentos que se formará a intenção de compra, estabelecido como componente conativo.

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A influência das embalagens na decisão de compra do consumidor

Com base nisso, leva-se a ideia de atitude, que é caracterizada ao se progredir do pensamento, para o sentimento e para o comportamento. Para isso, são utilizados artifícios que auxiliam na atitude do consumidor. Muitos esforços são realizados pelas empresas para aplicar os meios de comunicação do produto como difrentres cores, tamanhos, formatos, designs, imagens, tipografias entre outros, a fim de agradar, satisfazer e atender as necessidades dos clientes.

Segundo Cobra (2006), as empresas buscam analisar o comportamento do consumidor e isso inclui entender suas atividades físicas e mentais, que envolvem sempre de alguma maneira, um tipo de produto ou serviço. As necessidades diárias de consumo de determinado item da vida moderna praticamente dirigem a vida das pessoas. O comportamento do consumidor pode ser definido como o estudo das unidades compradoras e dos processos de troca envolvidos na aquisição, no consumo e na disposição de mercadorias, serviços, experiências e ideias [...] Com a definição de comportamento do consumidor revela o processo de troca que envolve uma serie de fases, a começar com a fase de aquisição, passando pelo consumo e finalizando com a disposição do produto. (MOWEN, 2003, p. 3).

Já Schiffman (2000), diz que “o comportamento do consumidor, engloba estudo de o que compra, porque compram, quando compram, onde compram com que frequência compra e com que frequência usa o que compram”.

Solomon afirma a respeito do comportamento do consumidor que é o estudo dos processos envolvidos quando indivíduos ou grupos selecionam, compram, usam ou descartam produtos, serviços, ideias ou experiências para satisfazer necessidades e desejos (SOLOMON, 2008).

Para atrair o público alvo, as empresas utilizam-se de estímulos externos através de uma série de canais. É através da imagem que a empresa transmite junto com a percepção do consumidor e a sensação gerada que poderá se identificar com o produto. Pode-se definir segundo Solomon (2008), a percepção como o processo pelo qual as pessoas selecionam, organizam e interpretam essas sensações, concentrando-se no que se acrescenta a essas sensações em estado bruto a fim de lhes dar significado. O consumidor desempenha três papéis ao longo do dia, da semana e do mês, mas em todos eles: sendo usuário, desde o inicio ao final do dia, consumindo diversos produtos, mesmo não os tendo comprado. O comprador, nem sempre é pagador, nem sempre o usuário e pagador é o chefe da família, podendo ser tanto o homem quanto a mulher, a função de suprir as necessidades do lar, paga por produtos e serviços, quer os consumam ou não. O pagador é o supridor de necessidades, mas nem sempre a função de pagador coincide com a de consumidor, assegura COBRA (2006).

De acordo com Amanhã (1997 apud SPDesign 2003), cerca de 70% de todas as compras resultam de decisões tomadas no ponto de venda, 50% são feitas por impulso, e o tempo que o consumidor dedica à decisão de compra é de aproximadamente 4 segundos. A embalagem além de propiciar a venda do produto, também “vende a imagem da empresa” que comercializa o produto nela acondicionado. Todos esses fatores conjuntamente refletem a importância e a complexidade que envolve a concepção de um projeto de embalagem e a relevância do design como ferramenta das empresas para evitar que, ante o acirramento da concorrência, os seus produtos fracassem.

Em busca de melhores resultados as empresas procuram se sobressair, já que se vive em um mundo hipercompetitivo, com um mercado publicitário saturado. Cabem as empresas a incessante busca por meios que realmente envolvam e conquistem seus clientes não apenas momentaneamente, mas com a intenção de fidelizar, ganhar seu respeito

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e admiração. Para isso as empresas precisam trabalhar seus meios de comunicação de forma a atrair o público correto, para o produto correto a fim de criar um vínculo, uma conexão com o cliente que o leve a ver a empresa com maior destaque em comparação com suas concorrentes.

Dados da revista HSM afirmam que no ritmo de vida atual, uma pessoa comum vê mais de três mil anúncios publicitários por dia; nesse verdadeiro emaranhado, somente as experiências reais que envolvem mais que um sentido se destaca. De fato, uma pesquisa do departamento e estudos cognitivos da University of Califórnia indica que as pessoas se lembram de mais ou menos 20% do que ouvem. Ouvem-se e veem, o nível de recordação aumenta para 80% (MCKINLEY; 2008).

De acordo com Mckinley (2008), vice-presidente de marketing da DMX, organização líder em marketing sensorial, explica que as imagens, os sons e os odores estimulam não apenas os sentidos, como também fortes recordações, que são elementos-chave na construção de uma personalidade para cada marca. Salienta ainda que, usar os sentidos para definir o espaço de um negócio deixou de ser desejável para se tornar imprescindível.

Mestriner (2002) afirma que o comportamento do consumidor frente à embalagem é cheio de sutilezas que podem enganar até os designers mais experientes. A pesquisa da embalagem é sempre uma forma de tomar decisões mais seguras e principalmente de saber mais sobre o produto, sobre a embalagem e sobre o consumidor.

3.2 A persuasão e suas influências

Para atrair a atenção e fidelizar o público das novas gerações, que são conhecidos por sua mobilidade e volatilidade, é necessário que as empresas coloquem em prática técnicas persuasivas muito mais dinâmicas e inteligentes que as da década passada, para conseguir influenciá-los e levá-los a crer que determinada marca, produto ou serviço é superior. Uma das formas utilizadas para persuadir o cliente é através da atitude, que segundo, Shimp (2002), significa um sentimento duradouro, positivo ou negativo, ou julgamento avaliador em relação a uma pessoa, um objeto ou um assunto.

Outra forma defendida, por Cialdini (2001) refere-se as práticas de persuasão, sendo elas:

a) Reciprocidade: este princípio define que as pessoas estão mais dispostas á anuir com algum pedido quando algo lhes foi “dado” em primeiro lugar.

b) Consistência: as pessoas sentem-se mais dispostas a atuar de certa forma se encararem isso como sendo consistente com o seu comportamento prévio.

c) Prova social: quanto mais popular for percebido ser um comportamento, maior será a tendência para que alguém se comporte dessa forma.

d) Afeição: as pessoas estão mais dispostas a ajudar ou concordar com aqueles de quem gostam, têm uma relação de amizade, por quem se sentem atraídos ou consideram ser similares a si.

e) Autoridade: de acordo com este princípio, a autoridade ou perícia percebida do comunicador é um fator importante para que as pessoas se sintam dispostas a concordar ou fazer algo.

f) Escassez: atratividade de um dado objeto/serviço/situação é inversamente proporcional à sua disponibilidade.

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A influência das embalagens na decisão de compra do consumidor

Shimp (2002) afirma que, em decorrer da forma automática do comportamento de compra, nota-se que as táticas citadas acima, realmente funcionam, ou seja, devido as limitações na capacidade de processamento de informações e as pressões do tempo, normalmente se faz julgamentos e escolhas sem pensar muito no assunto.

Segundo Cialdini (2001) esse impulso pode ser conhecido também como comportamento movido por um clique. Este termo é utilizado em referência aos modelos comportamentais que aparecem em todo o reino animal, onde sob circunstâncias especiais irão aderir a modelos de comportamento já estabelecidos em resposta a alguma caracteristica que acione esse comportamento.

As ferramentas de persuasão são amplamente compreendidas por muitos persuadores, ainda que apenas tacitamente. E os consumidores, que são os persuadidos, muitas vezes conhecem esses métodos, mesmo que de maneira tácita, formando um esquema de conhecimento sobre as formas de persuasão do persuasor, afirma (SHIMP; 2002).

Para persuadir clientes, segundo Mckinley, (2008), a música é o caminho mais curto, afirmando que a música afeta o humor, e o humor afeta o comportamento. Por isso, uma seleção musical apropriada pode contribuir para promover maior rotatividade dos clientes ou criar um ambiente relaxante no qual eles queiram permanecer.

É utilizado também como forma de persuasão imagens e fragrâncias, o que é um fator considerável para as embalagens como decisão de compra, já que na embalagem pode constar ter variadas imagens, que muitas vezes servem para divulgar e afirmar a identidade da marca, assimilando assim o carisma, respeito, admiração e desejo do cliente pela marca ou produto. Há muito tempo as pessoas são influenciadas em todos os âmbitos, sejam eles políticos, valores, ideais e até mesmo no consumo diário. Desenvolver uma marca influente é um desafio que pode proporcionar bons dividendos. Entretanto, apenas as marcas que conseguem entregar uma experiência inesquecível em cada um de seus pontos de venda mantêm realmente vivo o negócio. Por isso as organizações precisam elaborar estratégias que possam atingir e persuadir o público alvo, que devido à realidade mercadológica atual está cada vez mais competitivo. Sendo assim necessário que as empresas estejam sempre inovando e lançando novos produtos que agreguem valor para obter uma maior satisfação, influenciando o público. Frade, (2001) cita que o discurso persuasivo parte sempre, em primeira mão, de uma desqualificação mais ou menos assumida das capacidades e dos propósitos do outro. Porque na interação a dois a persuasão não tem que significar a desqualificação do persuadido, mas sim um confronto de opiniões, onde os argumentos ou razões invocadas tanto podem merecer acolhimento como serem liminarmente refutados.

Etimologicamente, persuasão se originou de “persuadere”, “per mais suadere”. O prefixo “per” significa de modo completo, “suadere”, aconselhar (não impor), sendo, portanto o emprego de argumentos, legítimos e não legítimos, com o propósito de se conseguir que outros indivíduos adotem certas linhas de conduta, teorias ou crenças. (Polis – Enciclopédia Verbo da Sociedade e do Estado). Segundo Aristoteles a retórica não pertence a um gênero particular e definido, mas assemelha-se a dialética. Utilidade da retórica. Seu fim não é persuadir, mas ensinar o possível, com a finalidade da retórica consiste em aduzir provas. Vê-se, pois, que a retórica não se enquadra em um gênero particular e definido, mas que se assemelha a dialética. Igualmente manifesta é sua utilidade. Sua tarefa não consiste em persuadir, mas em discernir os meios de persuadir a propósito de cada questão, como sucede com todas com todas as demais artes. Conforme Shimp, (2002) há muitas formas diferentes de se usar a persuasão e identifica quatro fatores que são fundamentais no processo de persuasão, sendo eles: argumentos da mensagem e sugestões periféricas, são meios de persuasão sob controle do comunicador de marketing; e os outros dois envolvimento e

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posição inicial do receptor, se aplicam as características do persuadido. A persuasão torna-se então uma prática de comunicação “calculada” em função de um resultado. Ela se enquadra no pensamento estratégico, leva em conta as vulnerabilidades do outro, ao mesmo tempo em que pensa e administra seu próprio arsenal de meios. Abastece-se no armazém da retórica, muito bem fornecido por diferentes correntes, desde os sofistas, Aristóteles e os mestres da arte retórica. Recorre à psicologia das profundezas, que a informa sobre os sistemas de defesa do eu, os processos de identificação, a teoria das emoções, o jogo dos desejos e das necessidades, ou as molas da ansiedade, (BELLENGER; 1987). Shimp (2002), afirma que a persuasão é a essência da comunicação de marketing, pois são eles que tentam guiar as pessoas em direção a aceitação de algumas crenças, atitudes ou comportamentos apelando para o sentimental ou racional.

3.3 O mercado das embalagens

Com o aumento da complexidade do mercado, originado pelo desenvolvimento do capitalismo, deslocou-se o núcleo de interesse na resolução do problema embalar, proteger, auxiliar no transporte do produto entre outros, a embalagem passou a ser visto como parte do produto.

Para Mestriner (2002), a partir da embalagem o consumidor forma a imagem da empresa, vê a empresa através da embalagem. Na era da propagação de empresas de autosserviço, como supermercados, restaurantes, livrarias e caixas eletrônicos, onde cabe ao consumidor escolher os produtos, com a finalidade de baixar custos ou obter melhor disponibilidade no mercado, o vendedor não atua como forma de persuasão, o produto é também qualificado pela embalagem que se torna cada dia mais elaborado, a fim de atrair o cliente pelos seus atributos. Cabe a embalagem vender o que protege tanto quanto proteger o que vende, afirma Paine (apud Secretaria de Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria e do Comércio; Instituto de Desenho Industrial do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, 1976). Segundo informações do próprio setor levantadas pela Associação Brasileira de Embalagem (ABRE, 2010) o setor de embalagens registrou uma receita em 2009 de R$ 36,2 bilhões, movimentando em exportações no primeiro semestre do mesmo ano US$ 159.599 mil e exportações de US$ 203.848 mil. Já o valor da produção nacional de embalagem é representado pela receita de cada segmento da indústria onde o setor plástico representa 37,13% do total faturado no ano, seguido por papelão ondulado e papel cartão com 28,3% de participação, metálicas (17,58%), papel (7,01%), vidro (5,47%), madeira (2,56%) e têxteis (1,94%). O estado de São Paulo é o que abriga a maior concentração de produção do setor: 50,49%; em 2° o estado do Paraná com pouco mais de 9% da produção. Conforme dados do portal de notícias de economia, finanças e negócios, Investimentos e notícias, no setor de embalagem, as de plástico são as que possuem maior participação no mercado, com 37,694% e produção de R$ 13,8 bilhões no ano passado, seguida pelo papelão ondulado e papel cartão, com 28% e R$ 10,27 bilhões. As metálicas têm 16,94% (R$ 6,21 bilhões) e as de vidro, 5,23% (R$ 1,91 bilhão). Em 2008, a indústria farmacêutica esteve no topo dos setores que movimentaram o mercado de embalagens. A produção para essa área foi de 12,66% maior do que em 2007. Em segundo lugar aparece a indústria de vestuários e acessórios, com crescimento de 3,46% em relação a 2007. Na conceituação de embalagem Mestriner (2002), estabelece funções básicas a serem cumpridas, como o armazenamento, proteção, transporte e exposição. Mas as embalagens falam também da aristocracia, linhagem, eficiência, modernidade, segurança e outras atribuições do produto, assim como da tradição de qualidade do produto. (Secretaria de

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Tecnologia Industrial do Ministério da Indústria e do Comércio; Instituto de Desenho Industrial do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro).

Mesmo com a constante procura por melhorias, devido à atual situação ambiental do planeta, o setor de embalagens sofrerá fortes mudanças, já que grande parte das mudanças estipuladas como ambientalmente sustentáveis interferem no setor, seja pelas tendências no material utilizado, durabilidade (vida útil), reciclabilidade (capacidade para a reciclagem de um produto), ergonomia (aplica teoria, princípios, dados e métodos para projetar a fim de aperfeiçoar o bem-estar humano e o desempenho geral de um sistema) ou muitas outras. Mas com o aumento do poder aquisitivo, consecutivamente um aumento no consumo, diminuição do ciclo de vida e lançamento de novos produtos, perfil consumista da população e aumento na produção de industrializados, considerando que tudo que se compra está envolto por algum material, concebido como embalagem, pode-se ter uma ideia no aumento de resíduos em decorrência desses atos. Segundo a pesquisa do IBGE de 2000 a produção diária de lixo chegava a 125.281 toneladas. Em torno de 800 gramas por habitante.

Para tanto, cabe lembrar a necessidade da logística reversa para que todos saiam ganhando, um bom exemplo desse caso é a reciclagem de latas de alumínio que podem ser 100% recicladas. Têm-se a informação de que entre os materiais utilizados em embalagens, as latas têm o maior índice de reciclagem. Seguida das garrafas de plástico (54,8%), vidro (47%) e papel cartão, usadas para sucos e chás (26,6%).

3.4 Embalagens e suas funções

Para Cobra (2006) o objetivo original de uma embalagem é a proteção e preservação do produto. Um produto é manuseado diversas vezes até ser efetivamente consumido. Desde a produção, passando pela armazenagem, transporte e colocação no ponto-de-venda até chegar à casa do consumidor, são inúmeros manuseios que podem comprometer a integridade física do produto. Há embalagens para suportar choques, temperaturas altas e baixas, sensibilidade a luz e ainda assim ser fácil de abertura. Para Legrain e Magain (1994), o papel da embalagem é múltiplo, como apoio a marca, deve ser vista e reconhecida; como base a venda, deve ser atrativa e volumosa; como invólucro do produto, deve ser prática quanto ao transporte, à estocagem, a utilização; para ligação entre o comprador e o produto, deve conter todas as indicações sobre a utilização do produto, sendo considerada a única característica do produto que se enquadraria como diferencial.

Shimp (2002) alega que além da função de proteger o produto, a embalagem também serve para: chamar a atenção para uma marca, romper a confusão competitiva no ponto de venda, justificar preço/valor para o consumidor, representar características e benefícios da marca e motivar as escolhas do consumidor. Portanto, as embalagens desempenham um papel importante para aumentar o valor de marca criando ou fortalecendo a consciência da marca e, junto com outras ferramentas de comunicação de marketing, construindo imagens da marca. Cabe a embalagem adaptar-se as necessidades de consumo, sendo de fácil manuseio e abertura, que facilite o transporte do produto pelo consumidor até o local de consumo e promova uma utilização prolongada do produto, deve conter informações a respeito dos componentes, peso bruto e peso líquido do produto e validade do produto e a data de fabricação. Mas principalmente para ser considerada como um diferencial estratégico deve ajudar a vender o produto, por meio de boas escolhas estéticas, cores, etiquetas, papel de diferenciação do produto, assim como buscando sempre ser mais persuasiva frente aos concorrentes, valorizando ao máximo o produto.

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Pelo Código de Defesa do Consumidor (1990), as embalagens devem descrever os ingredientes que foram utilizados na fabricação, deve ter ainda clara especificação do peso e volume, data de fabricação e o prazo de validade, com anotação da data máxima para o consumo, assim como expor dizeres ou sinais ostensivos sobre a nocividade ou periculosidade de produtos, nas embalagens, nos invólucros, recipientes ou publicidade. Como suporte a venda, é devido à embalagem que o consumidor pode fazer a identificação do produto. Deverá, portanto, possuir certo volume, que da ao consumidor a ideia da quantidade aparente. Possuir uma forma que permita a identificação do produto, mais que facilite também seu manuseio; reproduzir as promessas feitas na propaganda, e ressaltar a característica diferencial do produto; respeitar regras da legibilidade, como letras, cores, etc. (LEGRAIN e MAGAIN, 1994).

4. METODOLOGIA

O método utilizado no presente projeto para se delinear a pesquisa quanto aos seus fins foi de pesquisa exploratória, que pode ser realizada através de questionário, entrevista e observação, segundo Cervo (2007), a pesquisa exploratória realiza descrições precisas da situação e quer descobrir as existentes entre seus elementos componentes. Escolheu-se este tipo de pesquisa, pois há pouco conhecimento há respeito do problema a ser estudado. A pesquisa exploratória não requer a elaboração de hipóteses significativas posteriores à pesquisa, portanto, restringe-se apenas aos objetivos e buscar mais informações sobre o assunto abordado. Já o método utilizado, referente aos meios de investigação que o estudo foi apresentado é através de pesquisa bibliográfica. Conforme Gil (2002), a pesquisa bibliográfica é desenvolvida com base em material já elaborado, constituído principalmente de livros e artigos científicos. O presente projeto tem como meios de pesquisa bibliográfica, embasada principalmente em livros direcionados ao assunto e artigos publicados em revistas renomadas. Adotou-se esse tipo de pesquisa, pois se pretende obter conclusões correspondentes aos dados que foram coletados. O estudo foi realizado com o intuito de identificar se a embalagem possui grande influência com o público da geração Y, que são pessoas entre 18 e 27 anos. Essa geração cresceu em uma década de valorização intensa da infância, com internet, computador e educação mais sofisticada que as gerações anteriores. Ganharam autoestima e não se sujeitam a atividades que não fazem sentido em longo prazo. Sabem trabalhar em rede e lidam com autoridades como se eles fossem um colega de turma, afirma Rita Loiola (2009), revista Galileu. Quanto ao processo de amostragem foi não probabilística por conveniência. Os dados foram coletados durante dois dias do mês de Outubro do ano de 2010. Para sua análise utilizou-se de pesquisa quantitativa, onde se obteve uma amostra de 250 pessoas para a aplicação do questionário. A coleta de dados ocorreu através pesquisa de campo, utilizando como instrumento de coleta de dados primários o questionário que para Vergara (2007) caracteriza-se por uma série de questões apresentadas ao responder por escrito. O questionário pode ser aberto, pouco ou não estruturado, ou fechado e estruturado. Por causa de sua flexibilidade, o questionário é, de longe, o instrumento mais usado para coleta de dados primários. O levantamento dos dados foi obtido através da aplicação de questionários mistos, utilizando-se de questões fechadas e apenas uma aberta, sendo considerado também como estruturado. Para sua aplicação adotou-se como forma de aplicação, auto preenchimento, no qual o próprio entrevistado responde por conta própria as questões. Os dados coletados foram tratados por meio de processo manual. Neste caso, para a sua tabulação, utilizou-se o software Excel. O método escolhido para o estudo apresenta certas limitações como: No início, o estabelecimento de relação de contato prévio com o público alvo. Após o primeiro contato pode ocorrer a rejeição do

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mesmo, a não abertura para responder com devida seriedade que o questionário exige. Outro fator que infl uencia diretamente é o tempo disponível para aplicá-lo interferindo na difi culdade para atingir o número mínimo estipulado com base na amostra.

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Nessa parte do estudo relata-se os resultados alcançados na pesquisa por meio de 9 gráfi cos. O Gráfi co 1 a 4 apresenta o perfi l do respondente. O Gráfi co 5 reporta sobre se a embalagem é um fator de infl uência na decisão de compra do produto. Já o Gráfi co 6 associa qual é categoria que a embalagem infl uencia na decisão de compra. O Gráfi co 7 apresenta a ordem de importância na escolha de um produto. O Gráfi co 8 responde quais produtos a embalagem é um fator determinante no processo de compra. E por fi m o Gráfi co 9 aponta os critérios que são atraentes em uma embalagem.

Gráfi co 1 - Sexo Fonte: da pesquisa (2010).

Para se obter um levantamento de dados mais verídico e parcial analisando ambos os sexos, suas opiniões e suas contradições, buscou-se aplicar um questionário misto, tentando atingir ao máximo 50% de cada sexo, porém após o levantamento dos dados obteve-se o sexo feminino predominando representando 53,3% dos entrevistados.

Mesmo com a maioria sendo do sexo feminino, podem-se obter dados consideráveis de ambos os sexos, que possibilitaram a analise considerável (Gráfi co 1).

Gráfi co 2 – Faixa etáriaFonte: da pesquisa (2010).

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A faixa etária predominante foi de 17 a 25 anos, entretanto, buscou-se entrevistar pessoas com mais idade, para poder realizar uma comparação entre as opiniões se elas se divergem ou não. Após o levantamento de dados constatou-se que os mais velhos ainda são uma minoria, representando apenas 8,9% de 26 a 30 anos e 8,9% com mais de 31 anos (Gráfi co 2) e ainda pelo perfi l do grupo de entrevistados 93,1% são solteiros (Gráfi co 3).

Gráfi co 3 – Estado CivilFonte: da pesquisa (2010).

Gráfi co 4 – Renda média familiarFonte: da pesquisa (2010).

Pelo fato do questionário ter sido aplicado em uma universidade particular, onde a classe média alta predomina, a análise de dados referente à renda se deu com 34,1% acima de R$ 7.650,01, fator que não poderia ser diferente devido ao questionário ter sido aplicado ao público pertencente a esta universidade (Gráfi co 4).

Gráfi co 5 – A embalagem é um fator de infl uência na decisão de compra do produto.Fonte: da pesquisa (2010).

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Mesmo sendo um dos fatores avaliado como de menor importância em um produto, a embalagem representa, para 76% dos entrevistados um fator que infl uencia diretamente na decisão de compra (Gráfi co 5). Mestriner (2002), afi rma que a venda direta é considerada um item muito importante do produto, pois caberá a ela a função de vendedor, silencioso, mas que ainda sim tem muito a expressar. Todavia além das funções de invólucro e preservação do produto pode ter design atraente para estimular o consumo, facilitando a promoção da compra. Dessa maneira, fazendo parte da estratégia de marketing do produto. Os atrativos visuais das embalagens enviam uma mensagem clara, facilmente reprodutível na mídia visual, por isso é de essencial aceitação por parte dos clientes, pois ela se comunica com o cliente. Para isso são necessários conteúdos e designs adequados que estimulam a curiosidade, atraem atenção e transmitem a real imagem da marca ou produto, para que o comprador possa se identifi car. Pode-se entender então, que a embalagem é uma das ferramentas de marketing que se dá através do próprio produto, pois uma embalagem marcante fará na hora da decisão de compra, com que o consumidor se recorde da mesma e acabe optando por ela ao invés de outras que não possuem uma embalagem marcante.

Gráfi co 6 – Categoria que a embalagem tem maior infl uência.Fonte: da pesquisa (2010).

Os entrevistados foram questionados com base na pergunta anterior, a respeito do produto que recordava no momento em que responderiam se a embalagem é realmente para ele, um fator de infl uência na decisão de compra do produto. Para 46,3% o setor alimentício é o de maior relevância (Gráfi co 6). Segundo defi nição de Cobra (2006) o objetivo original de uma embalagem é a proteção e preservação do produto. Justifi ca-se então a relação que as pessoas observam entre alimentos e embalagem, pois buscam nela segurança para preservar e acondicionar corretamente os alimentos que serão consumidos. Uma embalagem que não transmita segurança nesse caso não será bem aceita por parte dos consumidores que buscam justamente. Além da segurança que o consumidor busca nas embalagens para alimentos, o setor alimentício ganha a mente dos consumidores. Através das embalagens, pois com suas cores e marcas fortes é muito mais fácil de serem lembradas pelos consumidores. O produto alimentício mais citado foi a Coca-Cola.

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Gráfi co 7 – Critério Vs. Ordem de ImportânciaFonte: da pesquisa (2010).

A análise do Gráfi co 7 foi calculada com base no cálculo de média ponderada, portanto, os menores valores são considerados os mais relevantes, consequentemente o maior valor como o menor relevante. Na análise dos aspectos relevantes no processo de compra se destacou como os mais importantes a qualidade com 3,11%, preço com 6,49% como segundo colocado e marca com 8,96% como terceiro fator mais relevante. A embalagem fi cou na oitava posição de fator mais relevante para o processo de compra, classifi cando-se com 11,71%. Acredita-se que a embalagem ocupou essa posição devido ao fato de estar sendo comparada com outros requisitos que são essenciais na composição de um produto, como a qualidade. Quando o consumidor se depara com a situação de ter que optar entre a embalagem e itens essenciais de um produto, ele optará pelos fatores que estão inseridos intrinsecamente. Porém, há certa contradição do Gráfi co 7 em relação ao Gráfi co 5, pois 76% dos entrevistados acreditam que a embalagem é um fator infl uenciador na decisão de compra. Percebe-se que os fatores identifi cados como os mais importantes, estão inseridos na própria embalagem, como o caso da marca.

A marca está diretamente relacionada com a embalagem, pois segundo Hime, (1997), a embalagem representa a marca no ponto de venda, é a identidade da empresa, o objeto que identifi ca simbolicamente o produto e torna-se a única forma tangível de expressar a marca, sendo em muitos casos o único meio de comunicação do produto, a manter contato material com o cliente.

Gráfi co 8 - Para quais produtos a embalagem é um fator determinante no processo de compra.Fonte: da pesquisa (2010).

Em primeiro lugar, classifi caram-se os cosméticos, com 31,9%, conforme demonstra o Gráfi co 8. Acredita-se que isso ocorra em decorrência do fato das pessoas estarem cada vez

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mais vaidosas e se preocuparem com sua aparência, muitas vezes os cosméticos são utilizados para melhorar, manter ou desenvolver a auto estima. Quando adquirem um produto do setor de cosméticos buscam a inovação, uma embalagem mais atrativa, que chame a atenção, que seja o diferencial do produto. Artigos para presente classifi cam-se em segundo lugar com 28,3%, em consequência da cultura brasileira que se têm na qual, quando se presenteia, a embalagem deva ter presença, charme e um diferencial atrativo. Os alimentos novamente ganham destaques por parte de 17% dos entrevistados que julgam como fator determinante na decisão de compra. Justamente por ser o setor alimentício que os consumidores procuram cada vez mais segurança e até mesmo praticidade para o consumo. Pelo Código de Defesa do Consumidor, as embalagens devem descrever os ingredientes que foram utilizados na fabricação, deve ter ainda clara especifi cação do peso e volume, data de fabricação e o prazo de validade, com anotação da data máxima para o consumo.

Gráfi co 9 – Critérios atraentes em uma embalagemFonte: da pesquisa (2010).

Muitos esforços são realizados pelas empresas para aplicar os meios de comunicação do produto como difrentres cores, tamanhos, formatos, designs, imagens, tipografi as entre outros, a fi m de agradar, satisfazer e atender as necessidades dos clientes, segundo Cobra (2006), portanto, 26,2% avalia o design como o item mais atrativo em uma embalagem, as formas diferenciadas fazem o atrativo do produto (Gráfi co 9).

O design se destaca, pois agrega valor, de forma a adequá-las aos anseios do consumidor, garante boa comunicação, informando e expondo sobre o caráter do produto. Isso defi ne muitas vezes o posicionamento de mercado do produto, atraindo o cliente certo, que não se identifi que apenas com a embalagem, mas com conteúdo do produto, a marca, suas políticas, valores e ideologias. Além das funções de proteger, conservar, vender e viabilizar o transporte, é também a melhor forma de se mostrar o produto conquistando o consumidor. Em segundo lugar, aparecem as imagens e fi guras contidas na embalagem, representando 15,4%. A imagem acaba se tornando um diferencial no produto, se ela é fácil de recordar, facilitará na hora da compra. A utilização da imagem é um das estratégias de marketing, como a utilização de imagens de personagens conhecidos, por exemplo, criam nas crianças desejo, devido a sua identifi cação e aceitação com o personagem. Para Cobra (2006) o objetivo original de uma embalagem é a proteção e preservação do produto. Um produto é manuseado diversas vezes até ser efetivamente consumido. Desde a produção, passando pela armazenagem, transporte e colocação no ponto-de-venda até chegar à casa do consumidor, são inúmeros manuseios que podem comprometer a integridade física do produto. Há embalagens para suportar choques,

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temperaturas altas e baixas, sensibilidade a luz e ainda assim ser fácil de abertura. Como as cores estão diretamente ligadas as embalagens cabem a elas auxiliar no ato de atração e convencimento do cliente. Porém, servem também para indicar um diferencial de um produto para outro, que tenham características similares. Farina (1975) define a cor como fator que em primeiro lugar, atinge o olhar do consumidor. Já a praticidade representa para 12,4% dos entrevistados, um dos critérios mais atraentes na embalagem. Acredita-se que busca na embalagem a rapidez do dia a dia, se a embalagem for complicada para sua abertura e manuseio, o consumidor poderá optar por algo mais pratico. O manual de gestão de design (1997) fomenta essa ideia e define que, os consumidores em geral revelam preferência pela embalagem que facilita a utilização do produto, como o material utilizado em sua manufaturação - assim como os tetra-packs - sistema de abertura simplificado, tampas dosadoras, sprays de todo o tipo, como as utilizadas em leites e sucos.

6. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este trabalho teve como objetivo identificar se as embalagens influenciam o consumidor na decisão de compra, detectando a opinião do consumidor, com relação ao nível de relevância da embalagem, em relação a outras variáveis do produto descritos no trabalho. Buscando estabelecer quais são os atributos que mais atraem os clientes em uma embalagem; e determinando quais produtos, os consumidores estão mais suscetíveis à influência de suas embalagens, como fator determinante de compra. Na realização do trabalho foi utilizado método de pesquisa exploratória, empregando como meio de investigação a pesquisa bibliográfica. A coleta de dados ocorreu através da pesquisa de campo optando pelo questionário como instrumento.

Para que a embalagem realmente atraia o consumidor, a fim de impulsionar vendas, há certos atributos que são facilmente intuídas, sendo estes: cor, forma, desenhos, imagens, praticidade, conforto, segurança, proteção do produto, entre outros citados neste trabalho. Pode-se observar, através da pesquisa realizada neste trabalho, que os atributos que mais atraem o consumidor na embalagem são: o design, imagens, figuras e a proteção do produto. O principal atributo de uma embalagem, definido nesta pesquisa é o design, pois pode agregar valor, de forma a adequá-las aos anseios do consumidor, definindo, muitas vezes, o posicionamento de mercado do produto, atraindo o cliente certo, que não se identifica apenas com a embalagem, mas com conteúdo do produto e muitas vezes até com as ideologias da empresa.

Os participantes da pesquisa informaram que estão mais suscetíveis à influência das embalagens em produtos alimentícios, cosméticos e artigos para presentes.

Segundo o público pesquisado as embalagens possuem, sim, influência sobre o processo de decisão de compra do consumidor. Apesar do reconhecimento, da embalagem como fator influente, não é o suficiente para o consumidor reconhecê-la como fator mais influente, pois se posiciona atrás de elementos como qualidade, preço, marca e tradição, por exemplo. Mas apesar de não ser o fator mais influenciador, nesta pesquisa, pode auxiliar na construção de uma marca renomada, que faça o produto ser reconhecido por sua embalagem, com fins de atração e identificação. Pode auxiliar também como indicador de tradição, como ocorre com a Maisena (amido de milho). Enfim, por mais que a embalagem não seja considerada determinante, de certa forma ela está contida nos elementos mais votados, pois muitas vezes não é possível ver o produto através da embalagem, portanto cabe a ela garantir um produto de qualidade. Muitas vezes o

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material utilizado nas embalagens dos produtos é o responsável pelo custo do produto acabado ser um pouco mais elevado. Portanto por falta de reconhecimento a embalagem é considerada, pelo público pesquisado, como apenas um atributo a mais. Os resultados encontrados podem não refletir uma realidade em sua totalidade, já que a pesquisa foi realizada com uma população reduzida, onde os fatores demográficos como faixa etária, estado civil e renda familiar seguem um padrão, portanto para melhores análises indica-se trabalhar com uma população maior, a fim de obter a veracidade de os dados ocorrem como descritos neste trabalho, na prática. A embalagem pode ser um forte elo entre o produto e o cliente, pois ela poderá comunicar a marca, seus produtos, valores, políticas e identidades ao consumidor.

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A PRÁTICA DA PSICOLOGIA EM UMA UNIDADE PENAL: EXPERIÊNCIA DE UM ESTÁGIO

THE PRACTICE OF PSYCHOLOGY IN A CRIMINAL UNIT: EXPERIENCE OF A STAGE.

Silvia do Carmo Patarelli 1

Natalia Zanuto de Oliveira 2 Renata Saravy de Carvalho 3

RESUMO: O presente trabalho tem como objetivo apresentar a vivência prática de estudantes de Psicologia em um estágio extracurricular realizado na PEL (Penitenciaria Estadual de Londrina). Essa instituição é uma unidade penal localizada na cidade de Londrina - Paraná e sua população é formada por internos do sexo masculino. Pretende-se neste artigo, expor também, o histórico da instituição, a qual foi fundada em 1994 e tinha como proposta inicial a reclusão de internos condenados. Porém há quatro anos alojam-se presos provisórios que aguardam seu julgamento. A unidade é dividida em setores, para melhor operacionalização do trabalho e alguns destes são: o Setor Jurídico, Setor da Psicologia, Serviço Social, Segurança, entre outros. A unidade na época, contava com o trabalho de duas psicólogas e estagiárias de graduação do curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia. Alguns dos trabalhos desenvolvidos por nós no setor embargam a entrevista inicial, o atendimento de apoio, o acompanhamento psicológico, e o grupo de apoio e orientação na dependência química. Pelo viés psicanalítico o trabalho é conduzido no sentido da expressão da subjetividade, diante do espaço ofertado para a escuta e o acompanhamento psicológico. A relação que o indivíduo tem com a adicção é notável, considerando o elevado índice de internos usuários de substância química, e a ocorrência de delitos em função de tal relação. Propomos também, apresentar o conceito de adicção, e a necessidade do individuo de lançar mão de objetos externos para se expressar enquanto sujeito. Segundo Marta Conte (1995), de acordo com a realidade do individuo que faz uso da droga, ele a escolhe com o objetivo de estar num lugar de exceção. Ela é encontrada num ambiente de criminalidade, pois se sabe que as mais procuradas são de ordem ilícita, e dessa forma, a criminalidade é o meio escolhido para adquiri-la.PALAVRAS CHAVES: psicologia jurídica, unidade penal, estágio extracurricular e adicção

ABSTRACT:This work aims to present the living practice of psychology students in an extracurricular internship conducted in PEL (Londrina State Penitentiary). This institution is a criminal unit in the city of Londrina - Paraná and its population is made up of internal male. This article is intended to also display the history of the institution, which was founded in 1994 and had the initial proposal of inmates sentenced to imprisonment. But four years ago to lodge provisional prisoners awaiting their trial. The unit is divided into sectors, to better carry out the work and some of these are: the Legal Sector, Division of Psychology, Social Security, among others. The unit at the time, had the work of two psychologists and interns undergraduate psychology students of the University Center Philadelphia. Some of the work undertaken by us in the industry embargam the initial interview, the supportive care, mental health counseling, and group support and guidance in addiction. By psychoanalytical work is conducted towards the expression of subjectivity, before the space offered for listening and counseling. The relationship that the individual has with addiction is remarkable considering the high rate of internal users of chemicals and the occurrence of crimes on the basis of such a relationship. We also propose, introduce the concept of addiction, the individual and the need to resort to external objects as subject to express yourself. According to Marta Conte (1995), according to the reality of the individual who makes use of the drug, he chooses in order to be in a place of exception. It is found in an environment of crime, it is known that the most sought after are illegal order, and thus the crime is the means chosen to acquire it.KEYWORDS: forensic psychology, criminal unit, extracurricular and addiction stage

1. INTRODUÇÃO

A PEL (Penitenciaria Estadual de Londrina) é uma unidade penal localizada na cidade de Londrina - Paraná, fundada em 1994, inicialmente destinada à reclusão de

1 Mestre em Psicologia, Docente do curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia - UniFil e Orientadora do Projeto e do artigo. 2 Discente do terceiro ano do curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia - UniFil e estagiária da PEL. R: Lyda Monteiro da Silva, 93. Jd. Santa Mônica Londrina – PR. CEP: 86079-410; [email protected] Discente do quinto ano do curso de Psicologia da Unifil e estagiária da PEL. R: Paranaguá, 803. Londrina – PR, CEP: 86020-912, [email protected].

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presos condenados, mas que atualmente abriga presos do sexo masculino em regime fechado e em regime semi-aberto. Esta unidade foi por um período de dois anos o local em que realizamos um estagio extracurricular, do qual o presente trabalho tem como objetivo apresentar esta vivência prática.

A unidade é dividida em setores, para melhor operacionalização do trabalho e alguns destes são: o Setor Jurídico, Setor da Psicologia, Serviço Social, Segurança, entre outros. O estágio foi realizado de 2009 à 2011, porém estivemos trabalhando juntas no ano de 2010, nesse período a unidade contava com o trabalho de duas psicólogas e estagiárias de graduação do curso de Psicologia do Centro Universitário Filadélfia.

Algumas atividades do setor de psicologia são base para a realização de um bom trabalho, atividades estas que nós tivemos oportunidade de realizar durante nosso estágio. Alguns desses trabalhos foram: entrevista inicial, o atendimento de apoio, o acompanhamento psicológico, e o grupo de apoio e orientação na dependência química.

Um aspecto muito percebido durante o trabalho foi à relação que o indivíduo tinha com a adicção1, levando-se em conta o elevado índice de internos usuários de substância química, e a ocorrência de delitos em função de tal relação. Através do conceito de adicção é possível entender como o individuo lança mão de um objeto externo para poder se expressar enquanto sujeito. Segundo Marta Conte (1995), de acordo com a realidade do individuo que faz uso da droga, ele a escolhe com o objetivo de estar num lugar de exceção. O meio escolhido para a aquisição da droga é a criminalidade, uma vez que as mais procuradas são de ordem ilícita.

2. A INSTITUIÇÃO

A Penitenciária Estadual de Londrina, mais conhecida como PEL, foi fundada em 1994, destinada à Unidade Penal para internos condenados. No ano de 2007 passou a comportar pessoas presas em estágio provisório, indivíduos que são transferidos de Distritos e Delegacias e que aguardarão a definição de seus processos na unidade. Recebe internos que foram presos pela primeira vez – primários – e que esperarão por seu julgamento, condenação ou o alvará de soltura na unidade. Recebe também reclusos reincidentes, que já estiveram presos anteriormente, estavam em liberdade e são detidos novamente por um novo delito ou por descumprimento de ordem judicial relativo à pena anterior. (DEPEN, 2010)

Na época da realização do estagio, a população da unidade como um todo era de aproximadamente 569 (setembro de 2010) pessoas presas do sexo masculino. Entretanto, em abril de 2010, criou-se o projeto de Regime Semi-aberto em Londrina - e a PEL escolhida para a implantação deste - uma vez que no estado do Paraná a única unidade capaz de receber internos no cumprimento deste tipo de medida localiza-se em Curitiba.

O projeto é oferecido aos internos que são condenados em regime semi-aberto e àqueles que adquirem progressão do regime fechado para o regime semi-aberto, de acordo com o prescrito em sua condenação. Desta forma, a Unidade foi dividida em dois ambientes, já que os internos em regime semi-aberto não podem ter contato com os que ainda estão em regime fechado. Os profissionais foram divididos, para que o trabalho fosse distribuído e executado diariamente sem acúmulo de serviço. O presente trabalho atém-se à nossa experiência de atuação enquanto estagiárias do Setor de Psicologia, com os internos em regime fechado, por esse motivo nos limitaremos a falar desta vivência.

1 Relativo ao sujeito que lança mão de um objeto externo (neste caso a droga) na tentativa de se defender de sentimentos depressivos e/ou de um vazio existencial derivado de experiências precoces de desamparo. (Zimerman, 2001; Gurfinkel, 1995)

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Na época, a população era de aproximadamente 378 internos em regime fechado, distribuídos em sete galerias, destas, seis com 10 cubículos e uma com sete cubículos. Em cada alojamento há seis camas, mas devido à demanda da cidade de Londrina e região metropolitana, aloja até oito internos, sendo esta a lotação máxima por cela. Há uma galeria destinada a internos que cumpre medida disciplinar por desrespeito a alguma norma da instituição, em que são cubículos pequenos com duas camas em cada, sendo que sua capacidade máxima é de quatro internos por cubículo, de acordo com a demanda da Unidade.

Dentre os vários setores que existem na Unidade, encontram-se a DIOQ, DISED, Setor de Psicologia, Setor de Serviço Social, CPD, Setor Jurídico, Setor médico entre outros.

No período de realização do estágio, o setor de Psicologia era formado por uma profissional concursada, para o regime fechado, e por três estagiarias, duas presentes diariamente e uma voluntária, presente duas vezes na semana, todas cursando graduação em Psicologia.

Alguns dos trabalhos realizados pelo setor de psicologia eram: a Entrevista Inicial, o Atendimento de Apoio, o Acompanhamento Psicológico Individual e os Grupos de Apoio e Orientação na Dependência Química. A entrevista inicial, também chamada de Triagem, é feita assim que o interno chega à Unidade. Durante a triagem, os internos se mantêm por um período de 20 dias à disposição dos setores, para que todos possam fazer uma entrevista inicial. Nela colhemos os dados históricos pessoais sobre a vida familiar, conjugal, escolar, dados de atividades laborativas, a vida pregressa do interno, sua condição em liberdade, o histórico de delitos na menoridade e na maioridade, histórico de contato com drogas, com o intuito de conhecer um pouco do antecedente de vida daquele individuo. Uma triagem bem feita norteia o trabalho e garante na maioria das vezes subsídio para estudos de casos e avaliações futuras mais dignas e próximas da realidade individual de cada interno.

Com a triagem feita, o interno é aconselhado a mandar bilhetes para o setor de Psicologia quando necessitar. Neste caso caracteriza-se o e atendimento de apoio quando o interno solicita o atendimento ao setor, mas sua demanda não é necessariamente psicológica, nesta modalidade é oferecido o trabalho de escuta e acolhimento. A forma escolhida para uma comunicação mais fácil e pratica dos internos para com os setores, é através de bilhetes destinados a cada setor de sua necessidade, identificando-se com seu nome e número da cela. Dessa maneira consegue-se saber quando o interno requer ser chamado. Também é chamado de atendimento de apoio quando o recluso é encaminhado a pedido de outro setor da Unidade. Por exemplo, à orientação em casos de tuberculose, noticias de óbito de familiares junto ao Serviço Social, e outros.

Além do atendimento de apoio, há os acompanhamentos psicológicos individuais, que ocorre quinzenalmente por nós estagiarias, e pela profissional de psicologia, em alguns eventuais casos o atendimento acontece semanalmente ou mensalmente. Tais acompanhamentos são divididos, durante o estudo de caso que é feito sobre cada indivíduo, em comunhão com a psiquiatria. Então, cada uma de nós possui contratos firmados com os internos em que se percebe a necessidade, ou para aqueles que se interessem pelo acompanhamento. A média de internos atendidos nos acompanhamentos individuais era de aproximadamente 50 reclusos. Nos atendimentos individuais, foram prestados os serviços de escuta, acolhimento e psicoterapia breve e focal de acordo com a demanda de cada interno.

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Sobre os grupos de Apoio e Orientação na Dependência Química, faremos um breve relato de como se iniciou e se manteve esse trabalho. Em meados de 2006, a Psicóloga, a Psiquiatra e a então estagiária de Psicologia da Unidade, percebendo a alta demanda de internos dependentes químicos e a necessidade de que o tema fosse trabalhado, estruturaram reuniões em que se tratava sobre as diversas drogas, sobre dependência química e outros temas referentes. Algum tempo depois, em virtude da mudança da legislação de tóxicos (lei de drogas ou antidrogas) e do novo artigo 28 da Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006, uma juíza do Juizado Especial Criminal (JEC) da cidade de Londrina, se interessou pela forma como o tema vinha sendo trabalhado e, então, oficializou as reuniões como uma forma do cumprimento desta pena enquanto o sujeito estiver na unidade respondendo outro delito.

O artigo 28 da Lei nº 11.343/06 revogou o artigo 16 da antiga Lei nº 6.368/76 que previa detenção de seis meses a dois anos aos indivíduos que fossem pegos, portanto substancia ilícitas em quantidade que caracterizasse consumo próprio.

Segundo Silva (2006), “A conduta de “posse” de drogas para consumo próprio continua sendo um fato típico, antijurídico, culpável e punível.”. Houve a despenalização mista desta posse de drogas, mas a conduta descrita no artigo 28 da Lei 11.343/06 continua sendo ilícita – infração, mas sem natureza penal. Isso significa dizer que a sanção aplicada não inclui detenção ou reclusão do sujeito, mas que o fato de estar em posse de substância ilícita ainda configura uma ação da mesma natureza.

Deste modo, o trabalho que se desenvolve na unidade refere-se à pena sob forma de “III- medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.”, de acordo com a lei e sanção aplicada pelo Juizado Especial Criminal.

Com o estabelecimento desta parceria, houve a adaptação dos temas de modo que viessem a contemplar a necessidade da nova lei vigente. As reuniões são divididas em assuntos relativos à dependência química e sua classificação, desenvolvimento do comportamento dependente, formas de tratamento, e as diversas drogas, sua origem, atuação e conseqüências.

O grupo do Programa Saiba, como é conhecido, tem sido perene na unidade, e com numero variável de reclusos que respondem a sanção de medida educativa, já que todo mês são incluídos novos membros e há, também, aqueles que encerram sua sanção. O tempo de participação do grupo varia de 2 (dois) à 5 (cinco) meses, de acordo com determinação judicial, ocorre semanalmente e são enviados relatórios mensais ao Juizado Especial Criminal, sobre a freqüência e participação dos internos. Neste grupo, em especial, há, também, um trabalho de sensibilização dos participantes para o trabalho com dependência química, já que a característica de o grupo ser obrigatório e a condição de usuário de drogas de parte dos membros dificultam, em alguns momentos, o trabalho.

Há, também, mais dois grupos de demanda espontânea, ou seja, internos que tiveram contato com drogas quando estavam em liberdade, fazendo seu uso ou os interessados em ter conhecimento sobre substâncias químicas que causam dependência, sua origem, atuação e conseqüência. Cada grupo é formado por até 15 participantes e os grupos ocorrem quinzenalmente.

No entanto, qualquer tipo de atendimento prestado na unidade necessita do consentimento da segurança, tendo em vista que se trata de uma unidade penal de segurança máxima, onde primordialmente enfatiza-se um ambiente em segurança para o trabalho.

Existe o trabalho multidisciplinar dentro da Unidade, onde os setores mantêm a troca de informações diariamente. Acredita-se na importância que essa característica

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possui e que seja preservada em se tratando de uma unidade penal, onde as exigências são maiores e a necessidade de que todos estejam dispostos a trabalhem em conjunto permaneça para poder diminuir as dificuldades que certamente fazem parte da rotina dos funcionários.

3. A RELAÇÃO INDIVÍDUO - DROGA – DELITO

A maioria dos que estão presos na Penitenciária tiveram pelos menos uma vez algum contato com substâncias ilícitas em sua vida pregressa. Em nossa vivencia, de acordo com os relatos ouvidos, pudemos perceber que os primeiros contatos com substâncias ilícitas ocorrem no inicio da adolescência, e a primeira droga ilícita que experimentam na maioria das vezes é a maconha. Posteriormente passam a conhecer os outros tipos de drogas, até chegarem ao crack, considerado por eles a química mais devastadora de todas.

Pesquisas indicam que a adolescência configura o período critico para a experimentação e iniciação do uso de drogas ilícitas. De acordo com Pratta e Santos (2012) a literatura indica que:

o primeiro contato com a droga geralmente ocorre na adolescência, uma vez que esse é um período marcado por muitas e profundas mudanças, tanto físicas quanto psíquicas, que tornam o adolescente mais vulnerável.

Esse dado pode ser evidenciado em outra pesquisa realizado pelo Centro de Referência em Álcool, Tabaco e Outras Drogas (Cratod), órgão ligado a Secretaria de Estado da Saúde do Estado de São Paulo, aponta que 40% dos jovens atendidos iniciam o uso de drogas entre os 7 e 11 anos. (SAUDE, 2012)

Em relação à primeira substância a ser utilizada, o observado no campo de estagio pôde ser confirmado através da pesquisa realizada por Sabino e Cazenave (2012) com dependentes químicos em tratamento, em que foi constatado que as “primeiras drogas usadas pelos participantes foram álcool e maconha”.

Durante os atendimentos na Pel pudemos perceber que o interno nasce num contexto onde a droga existe com abundância, portanto, a facilidade com que ele chegue até ela é relativamente maior. Infelizmente essa é a realidade da maioria dos que estão presos na Pel. Em decorrência disso, percebemos que o envolvimento com a droga, traz muitos prejuízos, além de complicações com a justiça.

Há internos que são presos contendo consigo drogas, comprada para uso próprio, mas que podem – muitas vezes vão – ser presos e responder pelo tráfico de drogas, e não como usuário. Ou seja, seu problema com a justiça agrava-se. Por se tratar de crime hediondo, a condenação imposta pelo artigo 33 da Lei nº 11.343/06 – tráfico de drogas – é maior; isto implica que o indivíduo fique preso por mais tempo do que em delitos considerados de menor gravidade.

Não podemos deixar de relacionar o uso de drogas com os delitos cometidos pelos internos, pois muitos usuários diante da deficiente condição financeira acabam por cometer furtos, roubos, assaltos, para conseguirem dinheiro para a compra da substância. Winnicott (1999, p. 130) deixa claro que existe uma relação direta entre a privação, indivíduo e a delinquência: “A criança anti-social está simplesmente olhando um pouco mais longe, recorrendo à sociedade em vez de recorrer à família ou à escola para lhe fornecer a estabilidade (...)”.

A criança que não possuiu oportunidade de criar um ambiente bom e sadio em

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seu interior necessitará sem dúvidas de um controle externo se quiser ser feliz e capaz de brincar e trabalhar. É aí que surge a tendência anti-social da qual Winnicott (1999) fala com propriedade. Um exemplo dessa tendência é a procura da criança por sua mãe, e pela autoridade paterna através do roubo, em que a criança está mergulhada na frustração e necessitando encontrar os limites. Winnicott (1999, p. 139) é preciso ao confirmar que: “A tendência anti-social implica esperança”, pois acredita que a busca pela reparação é um aviso de que algo não está bem, e algo falta à criança. A maneira como ela encontrou para se destacar e pedir ajuda, neste caso, é tendo comportamentos anti-sociais.

No entanto:

Quando existe uma tendência anti-social, houve um verdadeiro desapossamento (não uma simples carência); quer dizer, houve perda de algo bom que foi positivo na experiência da criança até uma certa data, e que foi retirado; a retirada estendeu-se por um período maior do que aquele em que a criança pode manter viva a lembraça da experiência. (WINNICOTT, 1999, p. 140)

Durante os acompanhamentos individuais, escutamos a dor e os pedidos de ajuda dos que perceberam o quanto foram prejudicados pelo uso de drogas, o quanto as perdas foram reais. Assim como sentimos que o arrependimento vem à tona. Quando se fala de drogas e de seu uso, não se pode deixar de pensar na toxicomania e na adicção, termos dos quais discorreremos abaixo.

Segundo Marta Conte (1995), a toxicomania é o paradigma do que é a tendência do mundo no que diz respeito às relações Sujeito – Objeto. O que se torna interessante compreender é o sintoma toxicomaníaco como resposta a um imperativo violento de consumo, e a partir daí inserir esse individuo na cultura. A autora fala da toxicomania como efeito e não como causa da violência social, e que o problema da adicção não é algo que está especialmente reservado aos toxicômanos, pois todos nós estamos em estados de adicção. O ser humano depende da sua relação com os objetos simbólicos para viver, sobreviver e se comunicar. A diferença é que na toxicomania esse objeto é real. O toxicômano capta o que esta nas entrelinhas do discurso dominante, tornando-se do ponto de vista manifesto, o anti-herói, e do ponto de vista latente, o herói da nossa sociedade. Depende do ângulo no qual esta sendo observado. Da mesma forma como coloca Melman citado pela autora onde: “a sociedade capitalista sustenta como ideal o consumo, e ignora que é o toxicômano que o realiza plenamente”.

Hoje temos um mercado que impõe a qualquer custo o fato de que devemos sempre estar consumindo, gozando, e nos fazendo em cima do ter, e não do ser. É um discurso dominante que ultrapassa os limites, sem se preocupar como os formadores dessa sociedade lidarão com tudo isso. O ser humano perde-se num mar de interrogações sem respostas e fica sempre à procura delas. A droga é uma das respostas à essa imposição, já que na nossa sociedade o sujeito é a medida de todas as coisas e é obrigado a fazer-se. No caso das drogas, elas tornam o homem seu super-herói, pois ele é a droga que consome, na tentativa da criação e introjeção de uma identidade.

Gurfinkel (1995, p. 39) fala com propriedade sobre o tema:

(...) Devemos partir, inicialmente, de uma observação fenomenológica. Considero fundamental, em primeiro lugar, reconhecermos a diversidade de usos de drogas conhecidos – tanto historicamente quanto no interior de nossa sociedade – no sentido de não reduzir um fenômeno tão variado a uma “doença”

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ou a um “quadro psicopatológico”. Por outro lado, a clínica mostra, de forma evidente, como em determinados casos de ingestão compulsiva de drogas se dá um tal grau de desorganização psíquica que caracteriza uma personalidade grandemente perturbada, aproximando-se fenomenologicamente aos quadros limítrofes.

Através desse conteúdo pode-se observar que um sujeito adicto requer um olhar diferenciado de um ‘doente’, além de atenção relevante, pois se precisa, junto dele, tentar identificar qual a relação que foi estabelecida com este objeto, e o mantém tal relação, ou seja, o que o levou a procurá-la, e o que ele encontra quando a utiliza. E é importante também que seja considerado o contexto de vida do sujeito de maneira holística, pois, a relação que ele estabelece com a droga tem vínculo direto com sua formação física, biológica, espiritual, social, psíquica e mental.

Gurfinkel (1995) cita o trabalho detalhado de Joyce McDougall, a qual tem escritos sobre o sujeito adicto que ajudam a compreender melhor a personalidade do mesmo. Segundo Gurfinkel (1995, p. 45):

A adicção pode ser compreendida, então, como um modelo de funcionamento, que pode se dar com diferentes objetos e em diferentes contextos; esta forma de trabalhá-la abre certamente um importante campo de investigação. (...) Para Joseph, a adicção tem um valor defensivo, sendo uma forma de tortura mas também de sobrevivência: a adicção tem a função básica de evitar uma dor depressiva insuportável (...).

A observação feita por nós é que o sujeito é passível de acolhimento em qualquer circunstancia, e que o desejo para o trabalho está presente sempre. O que diferencia um atendimento do outro é a maneira como este sujeito será acolhido considerando sua individualidade, sua história de vida, e quais são os recursos que possui para o desenvolvimento do trabalho. O manejo é uma questão de trato, e principalmente de consciência, comprovando que o mínimo que possa ser feito, deve ser feito e da melhor maneira possível.

Embora a frustração e os impasses sejam acentuados no ambiente em questão, o atendimento é voltado aos internos, e ter isso como meta propicia a eles – e a nós – a garantia de que o possível será feito. Pudemos perceber que o pouco feito – na visão de alguns – é muito, perto de quem provavelmente obteve quase nada em sua vida. Nossa função na instituição não era amenizar as responsabilidades dos internos, trabalhando sob um olhar de compaixão. Tão pouco, estávamos lá para duplicar vossas penas, apontando o quanto erraram e quantos prejuízos causaram. Estávamos lá para fazer um trabalho de acolhimento da dor, do sofrimento, da raiva, do desespero, e dos prazeres sentido por eles.

A supervisão do estágio era feita pela psicóloga da unidade – supervisora de campo – e pela supervisora da Unifil, uma professora da faculdade. As supervisões ocorrem mensalmente, e os casos atendidos eram sempre supervisionados. A experiência é única, embora recheada de dificuldades e frustrações, implica uma troca que vai além dos pontos negativos. Com certeza foi inesquecível bem como insubstituível.

4. CONCLUSÃO Durante os dois anos em que estivemos atuando como estagiarias da Pel no regime

fechado pudemos perceber o quanto pode ser rico o campo de atuação da psicologia em uma instituição penal. Sempre tendo em vista o referencial psicanalítico, o trabalho era conduzido no sentido de oportunizar a fala e expressão subjetiva dos sujeitos atendidos.

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Nas entrevistas iniciais além da coleta de dados sobre a vida do sujeito, o acolhimento daqueles que vinham, muitas vezes, angustiados pela situação de aprisionamento. Nos atendimentos de apoio, a oferta de escuta. Durante os atendimentos individuais, acolhimento e auxilio a resolução de conflitos focais. Nos grupos de Apoio e Orientação na Dependência Química o trabalho de conscientização e sensibilização dos apenados em relação ao tema.

Pudemos perceber durante os atendimentos a grande relação que há entre o uso de drogas e os delitos cometidos pelos internos. Frente à realidade vivida, a dor e o pedido de ajuda daqueles que se dão conta do quanto às perdas foram reais. Através da fala do sujeito e da analise de sua historia e realidade de vida, nosso papel era de acolhê-los e propiciar condições para que se conscientizassem de sua realidade e responsabilizassem por suas escolhas.

A troca entre os setores no trabalho multidisciplinar também oferece rica experiência de trabalho, uma vez que essa é uma pratica priorizada para o trabalho na unidade. Os setores dispostos a trabalharem em conjunto, atenuam as dificuldades da rotina diária dos funcionários. Além do aspecto multidisciplinar, há a priorização do ambiente seguro para o trabalho, em se tratando de uma unidade penal, assim, o setor da segurança sempre a par do tipo de atendimento realizado.

Consideramos o trabalho multidisciplinar entre os setores e a segurança, uma rica experiência no sentido de troca de conhecimentos e também de mediação de conflitos, uma vez que o trabalho só se realiza se as dificuldades forem superadas a cada dia.

Parte importante para a realização de nosso estagio foram as supervisões, em que podíamos contar com o respaldo teórico profissional para os casos atendidos por nós. Mesmo com tantas dificuldades e frustrações, era também neste espaço que fortalecíamos nosso desejo de estar na unidade e de que o trabalho era voltado aos internos, propiciando que o melhor possível fosse feito.

Desta forma, o período de dois anos em que estivemos atuando como estagiarias na Pel se tornou para nós uma experiência única como futuras profissionais de psicologia e também como pessoa. De lá trazemos não só os muitos aprendizados com as situações difíceis, mas também um olhar que ultrapassa os limites dos pontos negativos, como uma flor que brota do asfalto, lembrando Drummond, tornando a experiência enriquecedora e inesquecível.

REFERÊNCIAS

CAPEZ, Fernando. Nova Lei de Tóxico – Das modificações legais relativas à figura do usuário. 17 de dezembro de 2006. Disponível em: <http://www.oabsp.org.br/noticias/2006/12/07/3962>. Acesso em: 20 out. 2010.

CONTE, Marta. Os efeitos da modernidade: o consumo de álcool, drogas e ilusões. In: Revista da Associação Psicanalítica de Porto Alegre, ano VI, n. 12, 1995.

DEPEN. Disponível em: http://www.depen.pr.gov.br/modules/conteudo/conteudo.php?conteudo=14 Acesso em: 12 out. 2010.

GURFINKEL, Decio. A Pulsão e seu objeto-droga: estudo psicanalítico sobre a toxicomania. Petrópolis, RJ: Vozes, 1995.

Lei nº 11.343 de 23 de agosto de 2006. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm>. Acesso em: 23 out. 2010.

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A prática da psicologia em uma unidade penal: experiência de um estágio

PRATTA, Elisângela M. M. e SANTOS, Manoel A. Levantamento dos motivos e dos responsáveis pelo primeiro contato de adolescentes do ensino nédio com substâncias psicoativas. Disponível em: http://www.revistasusp.sibi.usp.br/scielo.php?pid=S1806-69762006000200005&script=sci_arttext Acesso em 11 de fev. de 2012.

SABINO, Nathalí Di M. e CAZENAVE, Sílvia de O. S. Comunidades terapêuticas como forma de tratamento para a dependência de substancias psicoativas. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-166X2005000200006 Acesso em: 11 de fev. de 2012.

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ZIMERMAN, David E. Vocabulário Contemporâneo de Psicanálise. Porto Alegre: Artmed, 2001.

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FATORES APONTADOS COMO DETERMINANTES PARA IMPLANTAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS:

Um estudo com empresários de Londrina-Pr. 1

FACTORS POINTED OUT AS DETERMINANTS TO THE IMPLANTATION AND CONSOLIDATION OF MICRO AND SMALL COMPANIES:

a study with businessmen from Londrina- Pr.

Maria Eduvirge Marandola 2

Jociane do Nascimento Marçal Lupatelli 3

Cintia Aparecida Martins Harmatiuk, Luanda Vieira Diniz 4

RESUMO:Este estudo teve por objetivo de forma ampla identificar os fatores endógenos e exógenos apontados por empresários de micro e pequenas empresas de Londrina, como determinantes para implantação e consolidação de suas empresas. Realizou-se uma pesquisa de campo que entrevistou uma amostra aleatória de empresários, considerando uma margem de erro de 10%. As entrevistas foram efetuadas no ano de 2011. Os resultados revelaram que a maioria dessas empresas está no mercado há mais de três anos, a maior parte dos recursos utilizados para sua implantação foi próprio. Os empresários foram movidos pelo desejo de realização pessoal e busca por melhores condições econômicas, muito embora apontem alguns fatores como preocupantes, estão otimistas em relação ao futuro dos negócios. Na maioria são profissionais com curso superior e pós-graduação, têm consciência sobre as variáveis conjunturais que podem afetar a sua empresa, conhecem as suas limitações e adotam estratégias para se manter no mercado. PALAVRAS-CHAVE: Desenvolvimento econômico; empresário inovador; micro e pequenas empresas;

ABSTRACT: This study has for wide objective to identify the endogenous and exogenous factors pointed out by entrepreneurs of micro and small companies from Londrina, as determinants to the implantation and consolidation of their companies. A field research was held, that interviewed a random sample of businessmen, considering an error margin of 10%. The interviews were performed in the 2011 year. The results showed that most of these companies are in the Market for over 3 years; most of their resources were used for the own implantation. The entrepreneurs were moved by the desire of personal achievement and the demand for better financial conditions, despite they point out some factors as concerning, they are optimists about the future of the business. Most of them are professionals with superior degree and post-graduations, have consciousness about the conjunctural variables that can affect their companies, know their limitations and adopt strategies to keep themselves in the market.KEYWORDS: economic development; innovative businessman; micro and small companies;

1 INTRODUÇÃO

A empresa é o agente econômico responsável pela produção, visto que emprega trabalho e coloca no mercado bens e serviços que a sociedade necessita. As empresas classificadas como micro e pequenas - dado o número de estabelecimentos e a quantidade de empregos gerados - são as maiores responsáveis pela mobilidade social, pois é através delas que a maioria das pessoas chega ao mercado de trabalho. Como agentes de mudança contribuem com o aumento da competitividade e eficiência econômica, tornando-se importantes instrumentos para o desenvolvimento econômico. Dados pesquisados sobre a economia local apontaram a representatividade dessas empresas, entretanto, sua implantação e consolidação estão associadas a fatores endógenos e exógenos. Os fatores endógenos ou nucleares são entendidos como aqueles ligados aos aspectos inerentes ao

1 Projeto financiado pelo Instituto Filadélfia de Londrina e apoiado pela Fundação Araucária.2 Economista, Mestre em Teoria Econômica, docente do Unifil. e-mail: [email protected] Acadêmica do Unifil, curso Administração Gestão Empresarial, bolsista da Fundação Araucária4 Acadêmicas do Unifil, curso Administração Gestão Empresarial

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indivíduo empresário, e seus recursos para iniciar um negócio. Os fatores exógenos ou conjunturais não dependem do empreendedor, referem-se ao ambiente onde está inserido, barreiras a entrada, aspectos tributários, política macroeconômica, dentre outros. Esta pesquisa teve por objetivo de forma ampla identificar os fatores endógenos e exógenos apontados por empresários de micro e pequenas empresas de Londrina como determinantes para a implantação e consolidação de seus empreendimentos. Cabe aqui tecer algumas considerações sobre o foco dado ao trabalho, partiu-se da premissa de que embora haja muitas variáveis envolvidas no processo de abertura e consolidação de uma empresa, buscou-se identificar aqueles que foram percebidos pelos micro e pequenos empresários.

1.1 Desenvolvimento Econômico e o Empresário Inovador

A Teoria do Desenvolvimento Econômico de Schumpeter1, publicada no início deste século, possibilitou um novo entendimento da dinâmica nas economias capitalistas. Essa obra destaca a transformação que ocorre quando se introduz no processo produtivo uma inovação de grande relevância. A introdução de uma inovação provoca mudanças no comportamento do sistema econômico, pois por um lado, destroem-se métodos tradicionais de produção e, por outro, provoca-se mudanças qualitativas na sua estrutura. Para esse autor, o empresário inovador é o responsável pela modificação ou pelo processo de novas combinações, pois através dessas inovações, ele consegue auferir lucros extraordinários e consequentemente, colocar-se em vantagem. Conforme ressalta Souza (1999) o dinamismo e o conseqüente crescimento econômico é sustentado pelos novos produtos e novos processos de produção, combinados pelo empresário inovador, e com o auxílio do crédito bancário. De maneira simplificada pode-se descrever esse processo da seguinte forma:

O empresário descobre novas maneiras de expandir a produção e de reduzir custos. Novos produtos e bens já conhecidos com menor preço encontrarão sempre uma demanda adicional. As empresas dinâmicas, impulsionadas por empresários ousados, criam mercado ao aumentar a produção e ao reduzir os gastos com insumos, máquinas, equipamentos e com pessoal produtivo e administrativo (SOUZA, 1999, p. 174).

Nesse processo dinâmico assumido pela economia através das inovações tecnológicas, observa-se a importância do empresário inovador. De forma intrigante, esse indivíduo passou a despertar curiosidade no que se refere ao seu perfil. Filion (1999, p. 24) apresenta uma discussão buscando identificar os elementos centrais do conhecimento sobre empreendedores e proprietários-gerentes de pequenos negócios. O estudo indica que o “campo do empreendedorismo tem sido explorado por quase todas as disciplinas das áreas das ciências humanas.” Aponta ainda, que coube aos economistas identificar o empreendedorismo, no primeiro momento, para a compreensão do desenvolvimento econômico. Outros estudos que se seguiram buscaram traçar o perfil do empreendedor como pessoa. Essa corrente de estudiosos foi denominada de comportamentalista e apresenta algumas das principais características inerentes a esse indivíduo. Essas características podem ser observadas no quadro a seguir:

1 Joseph Alois Schumpeter, (1883-1950) publicou a Teoria do Desenvolvimento Econômico originalmente em língua alemã em 1912. No Brasil essa obra foi publicada pela Nova Cultural, Série os Economistas, (1985).

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QUADRO 1 – Características mais frequentes atribuídas aos empreendedores pelos comportamentalistas.

CARACTERÍSTICAS DOS EMPREENDEDORES

Inovação Otimismo Tolerância a ambigüidade e à incerteza

Liderança Orientação para resultados Iniciativa

Riscos moderados Flexibilidade Capacidade de aprendizagem

Independência Habilidade para conduzir situações

Habilidade na utilização de recursos

Criatividade Necessidade de realização Sensibilidade a outros

Energia Autoconsciência Agressividade

Tenacidade Autoconfiança Tendência a confiar nas pessoas

Originalidade Envolvimento a longo prazo Dinheiro como medida de desempenho

Fonte: Hornaday (1982); Meredith, Nelson & Neck (1982); Timmons (1978), apud Filion (1999, p. 5).

Conforme já indicado, as discussões a partir de Schumpeter (1985) apontam que o empresário inovador é o responsável pelas inovações tecnológicas. Estas podem ser implementadas através da introdução de um novo bem ou a qualidade do mesmo; um novo método de produção, de comercializar uma mercadoria ou serviço; abertura de novo mercado; obtenção de nova fonte de matérias primas dentre outras formas de organização inovadora. Como resultado dessas inovações ocorre o rompimento do estado estacionário da economia para o processo dinâmico, promovendo o desenvolvimento econômico.

Junior Carvalho e Ruiz (2008) realizaram um estudo propondo avaliar empiricamente algumas propostas teóricas que privilegiam as capacitações e estruturas das firmas como determinantes do seu desempenho setorial. Um dos resultados apontados pelo estudo indica que a capacitação tecnológica e o desempenho inovador estão diretamente relacionados com o desempenho e eficiência da unidade produtora. O estudo apontou ainda que outro elemento que soma ao desempenho de uma empresa refere-se à contratação de mão-de-obra especializada ou ainda programas que permitam aos trabalhadores buscarem qualificação.

Uma pesquisa denominada “perfis empreendedores: análise comparativa das trajetórias de sucesso e do fracasso empresarial no Município de Maringá – Pr”, realizado por Creatti (2005, p. 81) apontou que “[...] o que permite a presença da atividade empreendedora é o indivíduo com suas competências, habilidades e características pessoais, que em conjunto formam um perfil empreendedor”. O estudo mostra ainda que ao comparar empresas ativas com extintas as características empreendedoras estavam presentes em proporções maiores nas empresas ativas. Porém, além do fator apontado acima, há de se considerar outros que também exercem influencia para o sucesso e fracasso dos empreendimentos. O quadro abaixo apresenta causas de sucesso e fracasso das micro e pequenas empresas no Estado do Paraná. Observa-se que uma proporção maior de controles internos, planejamento das ações, informatização e utilização de recursos tecnológicos atualizados, busca por orientação junto a órgão especializado, bem como a realização do pós-venda, se constituíram em fatores favoráveis para o sucesso dessas empresas.

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QUADRO 2 - Causas do sucesso ou do fracasso de micro e pequenas empresas no Estado do Paraná

Causas entre as empresas que encerraram suas atividades Causas entre as empresas de sucesso

Planejaram pouco suas ações; Suas ações são mais planejadas e pensadas;

Os empresários eram imediatistas;Controlam tudo que podem, propiciando a informação certa, na hora certa, para tomada de decisão;

Os sistemas de controles eram limitados e pouco técnicos;

Procuram atualizar-se com as evoluções tecnológicas do mercado;

Não utilizam programas de qualidade; Realizam pós-venda;

As empresas não eram informatizadas; Estão procurando cada vez mais informatizar seus processos;

Preferiram resolver os problemas na empresa, individualmente, a recorrer à ajuda especializada.

A maioria conhece SEBRAE Paraná.

Fonte: Elaborado com base em FONTANINI, C. A. C., Programa de formação de novos empreendedores. Apud Creatti (2005, p.73)

1.2 Algumas Considerações Sobre a Economia Local

O estudo focou os empresários das micro e pequenas empresas do Município de Londrina Estado do Paraná, esse Município ocupa o 4º lugar em participação no Produto Interno Bruto (PIB) do Estado o que representa 5%, conforme pode ser observado no gráfi co a seguir.

GRÁFICO 1 - Participação de municípios selecionados no Produto Interno Bruto do Paraná.

Fonte: Dados reelaborados a partir de IPARDES, 2012. * Dados de 2009

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O censo das empresas e entidades públicas e privadas brasileiras, denominado de EMPRESÔMETRO, publicado pelo Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário (IBPT), (2012) apontou que em relação a abertura de empresas, o Paraná apresenta a 5ª posição no ranking nacional, com 6% de representatividade da unidade da federação, e o registro de 34.230 novas empresas no ano de 2012, conforme apresentado na tabela a seguir.

TABELA 1 – Ranking selecionado das Ufs que mais registraram novas empresas nos períodos de janeiro a abril dos anos de 2011 e 2012.

Ranking Estado Total 2011

Total 2012 % Representatividade da UF em 2012

1 São Paulo 132.617 159.106 27,70%

2 Minas Gerais 42.566 61.512 10,70%

3 Rio de Janeiro 43.288 52.213 9,10%

4Rio

Grande do Sul

28.630 36.153 6,30%

5 Paraná 30.699 34.230 6,00%

Fonte: IBPT, 2012.

O estudo do IBPT (2012) aponta ainda os municípios mais empreendedores por Estado; o Município de Londrina ocupa a segunda posição, representando 5% do total como pode ser observado na tabela abaixo.

TABELA 2 – Municípios mais empreendedores do Estado Paraná.

Município Total de Empresas Percentual (%)

Curitiba 6.600 19%

Londrina 1.818 5%

Maringá 1.529 4%

Cascavel 1.249 4%

Ponta Grossa 990 3%

São Jose dos Pinhais 824 2%

Fonte: IBPT, 2012.

O aumento de atividades empreendedoras está diretamente ligado ao aumento nas unidades de menor porte, que são as mais representativas na economia. Dados tabulados a partir do MTE para ano de (2010) apontaram que no Município de Londrina as empresas

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micro representavam 92,25% do total de firmas, e geravam 35,38% de empregos, seguido pelas empresas pequenas com 6,62% de estabelecimentos e 27,09% do emprego, portanto 62,47 % dos postos de trabalho são gerados pelas micro e pequenas. Observou-se que 42,23% do total dos estabelecimentos pertenciam às atividades relacionadas ao comércio, reparação de veículos automotores, objetos pessoais e domésticos, seguido por atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados às empresas. (MARANDOLA e LEMANSKI, 2011).

TABELA 3 - Participação percentual dos estabelecimentos e emprego por porte da empresa, município de Londrina, 2010.

PORTE DA EMPRESA*

ESTABELECIMENTOS(%)

EMPREGO(%)

MICRO 92,25 35,39

PEQUENO 6,63 27,08

MÉDIO 1,04 21,54

GRANDE 0,09 15,99

Fonte: RAIS/Ministério do Trabalho e Emprego – MTE, 2010.

* Classificação por porte de estabelecimento com base no número de trabalhadores formais e empregados, de acordo com NAJBERG e PUGA (2000): até 19 (micro), 20 a 99 (pequenos), 100 a 499 (médios) e mais de 500 (grandes).

Os dados apresentados apontam a representatividade e importância das micro e pequenas empresas no montante de estabelecimentos e geração de empregos, para a economia do município de Londrina. Porém, essa característica se estende também ao panorama nacional, que exibe dados com a mesma tendência, o que evidencia a importância dos estabelecimentos desse porte e os estudos acerca de sua implantação e consolidação.

Abaixo apresenta se a taxa de crescimento dos estabelecimentos micro e pequenos em Londrina para o período de 1999 a 2010, as empresas classificadas como micro e pequeno obtiveram taxa de crescimento médio de 4,2% e 5.1% respectivamente.

TABELA 4 – Taxas de crescimento dos estabelecimentos micro e pequenos em Londrina no período de 1999 a 2010.

Tamanho 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 ∆ x-

Micro (0-19) 5,7 6,1 3,3 2,4 3,3 4,1 4,4 2,4 3,2 5,1 5,9 4,3 4,2

Pequeno (20-99) 3,3 6,2 4,1 5,4 7,0 5,2 1,1 6,8 10,2 7,0 (5,0) 10,0 5,1

FONTE: Taxas calculadas a partir de dados da RAIS, Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 1998 a 2010.* Inclui RAIS negativa e exclui as seguintes categorias: Agricultura, pecuária, silvicultura, exploração florestal, pesca, serviços domésticos e organismos internacionais e outras instituições extraterritoriais.

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2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Foi entrevistada uma amostra de 120 empresários de micro e pequenas empresas da cidade de Londrina, no período de 29/03/2011 a 26/06/2011. Aplicou-se um questionário contendo 16 perguntas fechadas e 8 abertas, utilizando-se o método de abordagem direta aos proprietários. Para estudo e análise dos dados, os mesmos foram organizados utilizando-se a estatística descritiva, de forma a proporcionar um grande número de informações, permitindo assim reflexões e formulações de hipóteses de trabalho. Considerou-se uma margem de erro de 10% para as análises estatísticas. As perguntas buscaram traçar a caracterização do empresário; natureza jurídica, tempo de mercado das empresas, razões que os levaram abrir a mesma, escolha do produto, principais dificuldades encontradas do ponto de vista endógeno e exógeno, dificuldades e preocupações no momento, sentimento em relação aos negócios e atitudes inovadoras tomadas e que gostariam de adotar. As micro e pequenas empresas pesquisadas pertencem aos ramos de comércio e indústria, exceto produtos farmacêuticos. Visando homogeneizar as informações, adotou-se a seguinte classificação para o tamanho do estabelecimento: o porte foi considerado a partir do número de trabalhadores formais e empregados, de acordo com NAJBERG e PUGA (2000): até 19 (micro), 20 a 99 (pequenos), 100 a 499 (médios) e mais de 500 (grandes).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados revelaram que, em relação à natureza jurídica, 56% referem-se sociedade Ltda, 40% empresa individual e apenas 4% sociedade anônima. Dessas empresas 39% estão no mercado há mais de cinco anos e 39% com mais de três anos e menos que cinco, apenas 22% com menos de 1 ano, sendo 65% dos proprietários do gênero feminino e 35% masculino. A presença da maioria de mulheres empreendedoras evidencia uma mudança que reflete uma tendência conforme apontam algumas pesquisas. A pesquisa Global Entrepreneurship Monitor 2012 (GEM), realizada pelo Sebrae em parceria com o Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade (IBQP), mostra que as novas empresas instaladas em todo o Brasil são gerenciadas por homens e mulheres na mesma proporção, e no sul elas são a maioria no comando com (52%), IBQP (2012).

Quanto a escolaridade, 36% possuem ensino superior completo, seguido por superior incompleto 21%, ensino médio 24% e 15% dos entrevistados possuem pós-graduação. Esses dados estão apresentados no gráfico 1.

GRÁFICO 2 - Grau de Escolaridade dos micro e pequenos empresários de Londrina.

Ensino Fundamental 4,17% EnsinoMédio

23,96%

Superior Incompleto 20,83%

Superior Completo 36,46%

PósGraduado 14,58%

Fonte: Pesquisa de campo, 2011.

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Somando-se o percentual de micro e pequenos empresários que possuem graduação e pós-graduação tem-se 51% do total, o que aponta elevado nível educacional. Pesquisas indicam que houve uma mudança no perfil dos pequenos empresários, relacionado ao aumento da escolaridade, e esse fator tem uma relação direta com o índice de sobrevivências de firmas no país. Observou-se que 73,1% dos empreendimentos pequenos mantêm-se abertos depois de dois anos. SEBRAE (2011). Fazendo-se uma inferência entre o resultado nacional e a economia local evidencia-se esse fator, pois 39% das empresas estão no mercado há mais de 5 anos enquanto que 14%, entre mais de 3 anos e menos que 5.

Buscou-se identificar sobre o incentivo externo recebido para implantação da empresa. 94% dos entrevistados apontaram não ter recebido nenhum incentivo, enquanto que, 4% receberam isenção de aluguel e 2% incentivo fiscal. Como dificuldade encontrada para implantação destaca-se o pouco capital próprio (41%), falta de conhecimento na área (21%), dificuldade de acesso ao crédito (14%), seguido pela burocracia (14%). Foi apontado como a maior dificuldade no momento o capital de giro (41%), prática de preços da concorrência e mão de obra qualificada respectivamente com (33%), (19%). Relacionado ao capital de terceiros investigou-se sobre a existência de financiamento bancário, 55% não possui e 34% possui, mas em proporções consideradas normais. Relacionado ao capital de giro cabe ressaltar a importância do fator crédito para o desenvolvimento e dinâmica das economias capitalistas, conforme apontado por Schumpeter (2005). Esta pesquisa não teve por objetivo identificar aspectos ligados a obtenção de crédito, o que torna necessária outras investigações.

GRÁFICO 3 – A maior dificuldade apontada no momento por micro e pequenos empresários de Londrina.

Prática de preços da concorrência

33,00%

Capital de giro 41,00%

Mão de Obra qualificada

19,00%

Divulgação do produto 7,00%

Outros 0,00%

Fonte: Pesquisa de campo, 2011.

Os motivos que levaram a abrir a empresa são realização pessoal (41%) e tentativa de obtenção de maiores ganhos (33%), sendo que a expectativa é otimista para 61%; muito otimista 29%; 9% estão preocupados e, apenas 1% muito inseguro. Cabe enfatizar que o otimismo, é uma das principais características de um empreendedor, conforme apontado por Hornaday (1982); Meredith, Nelson & Neck (1982); Timmons (1978), apud Filion (1999, p. 9). Observou-se que 49% dos entrevistados já possuía experiência empresarial, 39% fez curso de aperfeiçoamento sobre gestão e 46% montou equipe qualificada de trabalho.

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Para a implantação da empresa foi indicada como maior dificuldade, por 41% dos entrevistados, o excesso de encargos e tributos e por 52% a concorrência com marcas já estabelecidas.

Conforme apontado por diversas pesquisas do SEBRAE com o aquecimento da economia brasileira, os avanços na legislação como a criação da Lei Geral da Micro e Pequena Empresa, o Super Simples que reduz a carga tributária em 40% a criação da figura de microempreendedor individual que facilita a formalização dos pequenos empreendimentos, o aumento da escolaridade e o crescimento do mercado consumidor interno, bem como a busca por conhecimentos através de cursos de aperfeiçoamento, são fatores que aumentam a expectativa de vida das micro e pequenas empresas locais. SEBRAE, (2011 e 2012)

GRÁFICO 4 – Razões que levaram a abrir a empresa.

Estavadesempregado 12,12%

Realizaçãopessoal 41,41%

Tentativa de obtenção demaioresganhos

33,33%

Obter Status 2,02%

Tentativa de buscar melhoraposentadoria

2,02%

Oportunidade de implantação

9,09%

Outros 0,00%

Fonte: Pesquisa de campo, 2011.

Os micro e pequenos empresários de Londrina apontaram adotar estratégias para se manter no mercado, são elas, divulgações, melhoria na qualidade do atendimento, diversificação de mercadorias, contratação de consultoria especializada, dedicação à empresa e cursos de especialização. No futuro esses empresários gostariam de abrir mais lojas em local estratégico, vender pela internet, ter maior capital de giro para investir em novas marcas.

4 CONCLUSÃO

A maioria das micro e pequenas empresas de Londrina estão no mercado há mais de três anos, a maior parte dos recursos utilizados para sua implantação foi próprio. Os empresários foram movidos pelo desejo de realização pessoal e busca por melhores condições econômicas, muito embora apontem alguns fatores como preocupantes, estão otimistas em relação ao futuro dos negócios. Na maioria são profissionais com curso superior, têm consciência sobre as variáveis conjunturais que podem afetar a sua empresa, conhecem as suas limitações e adotam estratégias para se manter no mercado. Embora tivessem mencionado os aspectos exógenos observa-se que os fatores endógenos foram mais evidentes e sentidos pelos entrevistados. Tendo em vista esse aspecto sugere que o nível educacional, a experiência anterior como empresário, conhecimento prévio com o produto, curso de aperfeiçoamento sobre gestão, montagem de equipe de trabalho e as estratégias adotadas podem ter se constituído em elementos favoráveis para a abertura e permanência dessas empresas no mercado.

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ANEXO

INSTRUMENTO PARA ENTREVISTA A SER APLICADO A PROPRIETÁRIOS DE MICROS E PEQUENAS EMPRESAS DE QUALQUER RAMO DE ATIVIDADE, EXCETO FARMÁCIAS, LABORATÓRIOS FARMACEUTICOS OU EMPRESAS LIGADAS AO SETOR DA SAÚDE.

1) Natureza jurídica: ( ) empresa individual ( ) Sociedade Ltda. ( ) S/A

2) Tempo de mercado: ( ) 0 a 1 ano ( ) de 1 a 3 anos ( ) de 3 a 5 anos ( ) mais de 5 anos

3) Gênero: ( ) masculino ( ) feminino

4) Qual o seu grau de escolaridade: ( ) Ensino fundamental ( ) Ensino médio ( ) Superior incompleto ( ) Superior completo ( ) Pós-graduado

5) Se graduado qual a área de formação? _____________________________

6) Para implantação da empresa qual foi o incentivo mais relevante recebido? ( ) Incentivos fiscais ( ) Financiamento governamental ( ) Doação de terreno ( ) Isenção de aluguel ( ) Nenhum Outros quais? ___________________________________________________

7) A maior dificuldade encontrada para implantação da empresa (internamente):

( ) Falta de conhecimento na área ( ) Dificuldade de acesso ao crédito ( ) Pouco capital próprio ( ) Espaço insuficiente para a estrutura produtiva ( ) Introdução do produto (barreiras a entrada) ( ) Burocracia para a abertura do negócio

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Fatores apontados como determinantes para implantação e consolidação de micro e pequenas empresas: um estudo com empresários de Londrina - Pr

8) A maior dificuldade encontrada para implantação da empresa (fatores externos):

( ) Concorrência com marcas já estabelecidas ( ) Excesso de tributos/encargos sociais ( ) Limitação da produção (em função do tamanho da empresa) ( ) Outros quais? ______________________________________________

9) O Fator mais relevante para a escolha desse produto: ( ) Experiência prévia com o produto ( ) Pesquisa de mercado ( ) Proximidade e/ou fácil acesso com fornecedores ( ) Possibilidade rápida de retorno financeiro do capital investido ( ) Boas perspectivas de lucratividade

10) Antes de abrir essa empresa:

Assinale sim ou não para as perguntas a seguir sim não

Já possuía experiência empresarial?

Fez curso de aperfeiçoamento sobre gestão?

Montou equipe de trabalho qualificada?

11) O motivo principal que o levou a abertura da empresa: ( ) Estava desempregado ( ) Realização pessoal ( ) Tentativa de obtenção de maiores ganhos ( ) Obter “status” ( ) Tentativa de buscar melhor aposentadoria ( ) Oportunidade de implantação (convite para se associar a alguém) Outros quais? ___________________________________________________ 12) A Maior dificuldade no momento: ( ) Prática de preços da concorrência ( ) Capital de giro ( ) Mão de obra qualificada ( ) Divulgação do produto Outros quais ? ___________________________________________________

13) Em relação a financiamento bancário sua empresa atualmente? ( ) Não possui ( ) Possui mas em proporções normais no ramo empresarial ( ) Possui médio endividamento ( ) Está muito endividada

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Maria Eduvirge Marandola, Jociane do Nascimento Marçal Lupatelli, Cintia Aparecida Martins Harmatiuk, Luanda Vieira Diniz

14) Em relação a outras dívidas aponte a mais preocupante: ( ) Não possui ( ) Somente com fornecedores (mas estão sobre controle) ( ) Somente com fornecedores (e estão fora de controle) ( ) Encargos trabalhistas ( ) Impostos Outros quais? ___________________________________________________

15) Sua expectativa em relação a essa empresa é: ( ) Muito otimista ( ) Otimista ( ) Preocupado ( ) Muito Inseguro

16) Quanto aos aspectos econômicos conjunturais que podem vir a afetar a sua empresa, qual a sua maior preocupação?

( ) Elevação da taxa de juros ( ) Aumento da inflação ( ) Reforma tributária ( ) Mudanças na taxa de câmbio ( ) Possíveis alterações na Legislação Trabalhista ( ) Fatores climáticos

17) Fez algo de diferente que foi fundamental para o sucesso da sua empresa? ( ) Não ( ) Sim, o que? _________________________________________________

18) O que gostaria de fazer e ainda não Conseguiu? ____________________________________________________

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REFERÊNCIAS

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SOUZA, N. de J. Desenvolvimento Econômico. 4 ed. São Paulo: Atlas, 1999.

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IDENTIDADE COMO RELAÇÃO DE CONFLITO NA EDUCAÇÃO ESCOLAR INDIGENA

IDENTITY AS A RATIO OF CONFLICT INDIGENOUS EDUCATION IN SCHOOL

Flávia Roberta Busarello1*

Ernesto Jacob Keim2**

RESUMO:Este texto tem como objetivo analisar as relações identitárias, para compreender como elas podem gerar conflitos e preconceitos e como a educação pode interagir como agente de superação dessas reações que muitas vezes atentam contra a dignidade da vida. Este artigo foi realizado com base em revisão bibliográfica e em argumentos desenvolvidos nas reuniões de estudo e debate do Grupo de Pesquisa Filosofia e Educação EDUCOGITANS e também de reuniões referentes à pesquisa financiada pela CAPES/FINEP, “Planejamento Pedagógico-Didático e Formação Intercultural de Professores para a Revitalização da Língua e da Cultura Xokleng nas Escolas Indígenas Laklãnõ e Bugio em Santa Catarina”, vinculada ao Observatório Educação Escolar Indígena. Ele trata das formas como a identidade é mantida, bem como debate algumas conseqüências que podem ser decorrentes das relações identitárias num grupo social etnicamente constituído, mas com relações permanentes com grupos diferentes, os quais interferem diretamente em seu cotidiano. Essas relações e interações se manifestam em diferentes momentos da vida de cada pessoa, mas nas relações escolares, elas se revestem de especial importância pelo fato de ali se desenvolver a matriz de conhecimento e de pensamento das pessoas, com a qual se consolidam posturas que se manifestam durante toda a vida das pessoas.PALAVRAS-CHAVE: Identidade; Relação; Diferenças étnicas; Educação Escolar Indígena.

ABSTRACT:This paper aims to analyze the relationship of identity, to understand how they can generate conflicts and prejudices and how education can interact as an agent to overcome these reactions that often undermine the dignity of life. This article was based on literature review and arguments in meetings for study and discussion of the Research Group EDUCOGITANS Philosophy and Education as well as meetings related to research funded by CAPES / FINEP, “Pedagogical-Didactic Planning and Intercultural Training of Teachers for the revitalization of the language and culture in Indigenous Schools Xokleng Laklãnõ and howler in Santa Catarina, “linked to the Centre for Indigenous Education. It addresses ways in which identity is maintained, and discusses some consequences that may result from social relationships in a group identity composed ethnically, but with permanent relations with different groups, which interfere directly in their daily lives. These relationships and interactions manifest themselves in different moments in the life of each person, but school relations, they are of particular importance because they have developed a matrix of knowledge and thinking of people with which to consolidate positions that manifest throughout people’s lives.KEYWORDS: Identity, Relationship, Ethnicity, Indigenous Education.

INTRODUÇÃO

O propósito deste artigo é debater a relação que se estabelece entre diferentes identidades para analisar como se formam e são gerados conflitos e quais suas consequências no contexto de uma sociedade multi-étnica. Pretende também analisar as maneiras como são formadas as representações que normalizam, as situações decorrentes. Portanto a proposta deste artigo é justamente analisar como a identidade é construída, e como se estabelecem as relações entre identidade e seus conflitos inter-pessoais, pois a apropriação de uma identidade remete a uma diferenciação perante os demais, e por extensão gera tensões e conflitos identitários. Essas situações de tensões e conflitos movimentam e dinamizam a sociedade humana, na medida em que englobam os grupos, no sentido de convivência com o outro.

A construção deste artigo é justificada pela forma como a afirmação de uma identidade influencia e age nas relações pessoais e também nas interações entre nações

* Graduada em História pela Universidade Regional de Blumenau, e atualmente acadêmica do curso de Psicologia da FURB.** Doutor e Mestre em Educação e um dos coordenadores do Grupo de Pesquisa Filosofia e Educação EDUCOGITANS que atua junto ao Programa de Mestrado em Educação da Universidade Regional de Blumenau - FURB. Coordenador de pesquisa financiada pela CAPES-FINEP – Observatório Educação Escolar Indígena.

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e entre povos. Entende-se a tendência que existe em normalizar a existência de uma identidade como se fosse algo incutido no código genético de cada pessoa, como se fosse algo pré-estabelecido e pré-determinado.

As linhas que seguem nesse artigo são fruto de debates que permearam o grupo de pesquisa Filosofia e Educação EDUCOGITANS, onde se debatem temas como multiculturalismo, interculturalismo e identidade em uma perspectiva de educação do ser, e em especial nas reuniões referentes à pesquisa financiada pela CAPES/FINEP, “Planejamento Pedagógico-Didático e Formação Intercultural de Professores para a Revitalização da Língua e da Cultura Xokleng nas Escolas Indígenas Laklãnõ e Bugio em Santa Catarina”, vinculada ao Observatório Educação Escolar Indígena.

Para a elaboração deste artigo, além dos debates realizadas no grupo de pesquisa, foram realizadas visitas à Terra Indígena Laklãnõ, em José Boiteux, Santa Catarina, para fins de conhecimento empírico. Metodologicamente, esse artigo se constrói a partir de discussões qualitativas de teóricos que se debruçam sobre as temáticas identidade e educação.

Assim a proposta deste artigo é realçar as relações existentes entre a identidade e também problematizar o conflito existente entre elas, principalmente quando o agente de diferenciação se mostra na perspectiva da etnicidade.

IDENTIDADE E RELAÇÕES DE CONFLITO

Ao analisarmos a ideia de “ser humano”, comumente se compreende este como algo pronto e acabado. Por outro lado, compreendo-se que o ser é, mais do que um corpo biológico e um corpo cultural, construído a partir e em meio às interações sociais e culturais vivenciadas. Estas relações influenciam, transformam e compõem os seres humanos e suas compreensões de mundo e de realidade. Para exemplificar isto, Leda Bernardino relata o caso de um bebê, que quando nasce é inserido em um campo simbólico de linguagem e seu psiquismo se desenvolve de forma ampliada a partir desse encontro1. Mas cada ser é único e singular, e a partir premissa irá interagir com seu meio, com seu contexto e assim, inicia a instauração de sua identidade como ser social.

A identidade é relacional e relativa ao meio no qual a pessoa está imersa, e por isso é marcada pela diferença. Algumas destas diferenças identitárias podem parecer mais importantes que outras, dependendo do tempo e lugar, e também das relações de poder que a permeiam. Estas configurações sócio-temporais selecionam as diferenças identitárias, elegendo aspectos mais ou menos representativos para o grupo onde esse processo se estabelece. Tais diferenças permearão várias áreas culturais, podendo gerar conflitos de diferentes graus, violentos ou não, mas que podem se assemelhar a compreensões hierárquicas e/ou racistas das diferenças identificadas entre os grupos históricos2.

A respeito da dinâmica entre identidades e diferenças, Tomaz Tadeu da Silva argumenta que “somos nós que as fabricamos, no contexto de relações culturais e sociais”3, portanto frutos de construções sociais e culturais de grupos específicos. A cultura, neste sentido, também pode ser entendida como um sinal de diferenciação entre grupos. Afinal,

1 BERNARDINO, Leda. Aspectos psíquicos do desenvolvimento infantil. In: WANDERLEY, Daniele de Brito. O cravo e a rosa - A psicanalise e a pediatria: um diálogo possível? Salvador: Álgama, 2005p. 582 O imperialismo, fenômeno localizado temporalmente nos séculos XIX-XX, caracterizava-se pela justificação racial da dominação europeia sobre os povos africanos e asiáticos, principalmente.Ver, entre outros, HOBSBAWM, Eric. A era dos impérios.....3 SILVA, Tomaz Tadeu da, A produção social da identidade e da diferença In ______. Identidade e Diferença. 2. ed.Petrópolis, RJ: Vozes. 2003. p.76

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quando uma identidade é afirmada, outras são excluídas, um grupo é e outro não é. O que é criado por um em suas relações sociais e culturais, não será igual a outro. Com efeito surge a diferenciação, por meio da qual o ser que é, e aquele que não é, movem em um campo simbólico que cria e categoriza e por conseguinte diferencia. Dessa forma a identidade e o processo identitário criam um campo de exclusão e inclusão, como de um grupo fechado que relaciona o seu meio, suas relações inter-pessoais e seu contexto aos aspectos que julga como norma.

Já no campo da identidade étnica, Cledes Markus apresenta, a partir das reflexões de Fredrik Barth, uma concepção dinâmica e não-estática das identidades, por serem construídas a partir das interações inter-grupais: “Ela sempre é construída e transformada na interação de grupos sociais por meio de processos que estabelecem limites entre tais grupos, definindo os que os integram ou não”1. Mas é possível ainda acrescentar o fator de interação como um meio e como um elemento dinamizador das identidades.

Portanto, a identidade como um todo é fruto de uma construção social, da interação de grupos e, por conseguinte, uma criação da produção cultural e como Tomaz Tadeu da Silva afirmou, é uma fabricação. Essa identidade, fruto de uma fabricação de um grupo específico, gera uma diferenciação e desta pode haver um conflito entre aqueles integrados ou não.

Em se tratando da identidade étnica, a mesma é “processo em construção permanente, numa dinâmica que afirma ou nega pertencimentos, que recria e modifica significados, que denotam propósitos e intencionalidades”2. Assim a identidade étnica é dinâmica por seu caráter ambíguo, sendo que no “critério de pertença étnica, a cultura [...] age na manutenção e persistência das fronteiras”3. Portanto, a cultura age como agente de manutenção de diferenças, excluindo ou normatizando o ser instituído como diferente.

Nesse caso, a identidade aparece como um modo de criar ou excluir pertencimentos, possibilitando assim uma reação de dependência entre construção cultural, interação social e identidade. Assim, Markus também define etnicidade dizendo:

A etnicidade não é um conjunto intemporal e imutável de traços culturais transmitidos da mesma forma de geração a geração na história do grupo; ela provoca ações e reações entre esse grupo e os outros em uma organização social, num processo contínuo e dinâmico.4

Ainda em relação à identidade, é importante elucidar que,

as culturas nacionais em que nascemos se constituem em uma das principais fontes de identidade cultural. Ao definirmos, algumas vezes dizemos que somos ingleses ou gauleses ou indianos ou jamaicanos. Obviamente, ao fazer isso estamos falando de forma metafórica. Essas identidades não estão literalmente impressas em nossos genes. Entretanto, nós efetivamente pensamos nelas como se fossem parte de nossa natureza essencial.5

A identidade dessa feita é admitida tão facilmente, que aparenta ter nascido

conosco, sendo simples e do cotidiano, as pessoas dizerem que somos brasileiros, mas não pensamos no verdadeiro significado disto; afinal não é algo genético, mas subjetivo,

1 MARKUS, Cledes. Identidade étnica e educação escola indígena. 2006. 156f. Dissertação (Mestrado em Educação) Universidade Regional de Blumenau, 2006. p.192 Idem p.323 Idem. p.284 Idem p.225 HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade.7 Ed.Rio de janeiro RJ: Dpea editora, 2003 p.47

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metafórico, uma construção, carregada com inúmeras, complexas e contraditórias representações, com significados de exclusão ou inclusão. À semelhança de um rótulo com informações sobre o identificado, designa o que você é, a que pertence ou não, e justifica uma série de ações como “italiano gosta de polenta” ou “índio não tem vontade de trabalhar”, estereótipos presentes no senso comum e reproduzido de geração a geração.

Deste modo, quando se fixa uma identidade como “a norma”, é constituída uma hierarquização das identidades, ou seja, uma normalização1, e consequentemente observamos as outras identidades como negativas, muitas vezes produzindo preconceitos2.

A partir do exposto até aqui, pode-se compreender que identidade e diferença possuem uma ligação que acarreta em dependência. Mas a forma positivada com que se afirma a identidade esconde essa relação. Dessa forma no momento em que uma pessoa afirma sua identidade, determina uma relação com as demais, ao descartar automaticamente a possibilidade de outras3. Ou seja, a identidade não existe sem diferença, e esta gera conflitos como preconceitos e como interações. Esta relação é difícil de ser observada, pois a afirmação de uma identidade se tornou normal e faz parte do cotidiano dizer o que se é ou não é, ao que se pertence, da onde se veio, como constituintes da identidade que diferencia e ao mesmo tempo recria, categoriza o ser, mostrando seu sentido ambíguo, pois ao mesmo tempo que nega, afirma algo.

As diferenças, na forma de preconceitos e interações permeiam um determinado local constituindo desigualdades entre os grupos. Nesse contexto a produção da identidade também é uma questão política e hierárquica, exemplificada por Barth de tal forma que “um grupo pode controlar os meios de produção de outros grupos, exercer o domínio territorial e impor significados, sendo que o extremo é a situação de colonização em que se usa o aparato repressor sobre uma identidade para a sua negação”4. Dessa forma, partindo do pressuposto de que a identidade é construída nas relações e interações sociais, tem-se a consequência de ser conduzida para um sentido político, caracterizado pela consciência, pelo debate e pela responsabilização das ações que podem levar a situações de injustiças e marginalização, como de justiça e inclusão. Se nos voltarmos para o período em que no Brasil imperava a escravidão dos indígenas e depois dos africanos, sob a égide de organização e consolidação das classes sociais no Brasil, se tem registros da hierarquização das diferenças na forma como ocorriam imposições de poder que mostram o que Barth nos aponta como repressão sobre uma identidade, no caso a escravizados e todos os demais desumanizados.

Tomando as diferenças e fricções existentes entre as identidades, conseguimos fazer uma reflexão com o que Roberto Machado exaltou sobre Foucault e o poder ai dizer que “não existe de um lado os que têm poder e de outro aqueles que se encontram dele alijados. Rigorosamente falando, o poder não existe; existem práticas ou relações de poder”5. A partir disto, em se tratando das relações hierárquicas e de poder no âmbito da identidade, se tem o etnocentrismo. Como fruto desta relação de diferenciação apresentado

1 Entendendo o termo normalizar o que Tomaz Tadeu da Silva apresenta no livro Identidade e Diferença “ normalizar significa eleger- arbitrariamente- uma identidade especifica como o parâmetro em relação ao qual as outras identidades são avaliadas e hierarquizadas” p. 832 Por preconceito é compreendidoo que Maria Lúcia Monte apresenta no livro Raça e Diversidade de Lilia Moritz Schwarcz e Renato da Silva Queiroz : “dentro de limites dados por um continuum da natureza. (...) O preconceito efetivamente se funda nos estereótipos que derivaram desse imaginário, criado em torno de certa versão da questão da raça e da identidade”.p.53-543 Silva, Tomaz Tadeu da. Op. Cit. p. 754 Idem. p.335 FOUCAULT, Michel. Microfisica do poder.22ed- Rio de janeiro: Graal. 2006 p. XIV

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por Barth se tem esse processo como uma prática de poder, gerador de desigualdades, injustiças e repressões. Referente aos indígenas, o etnocentrismo colonial tende “a transformar a consciência indígena numa ‘consciência infeliz’ [...] e que descreve essa consciência como cindida em duas, levando ‘o índio a se ver com os olhos do branco’, do colonizador.”1

Dessa forma a identidade apropriada pelo sujeito pode gerar um conflito, que consequentemente é demonstrado através do preconceito e do etnocentrismo. Sobre esses encontros conflituosos, Roberto Cardoso de Oliveira escreve, em Os índios e o mundo dos brancos:

Chamamos Fricção interetnica o contato entre grupos tribais e segmentos da sociedade brasileira, caracterizados por seus aspectos competitivos e, no mais das vezes, conflituosos, assumindo esse contato muitas vezes proporções ‘totais’, isto é, envolvendo toda a conduta tribal e não-tribal que passa a ser moldada pela situação de fricção interétnica.2

Esse autor ressalta que o contato interétnico será alcançado de forma mais completa se compreendermos as relações interétnicas como relações de fricção. Mais uma vez, é possível transcender os conceitos expostos, para o conceito de identidade como um todo, porque as relações inter-pessoais pautadas nesta posição, geram um estado de conflito que pode ser caracterizado como uma fricção, que pode gerar situações agressivas ou de sobreposição entre ambas.

Dessa forma a partir do que já foi exposto, as identidades são reafirmadas para o grupo e ganham sentido, “por meio da linguagem e dos sistemas simbólicos pelos quais elas são representadas”3. Ao ser produzida uma linguagem e uma série de simbolismos, a identidade é definida e reafirmada e ganha, desta forma sentido. Assim, Stuart Hall defende que “as culturas nacionais, ao produzir sentidos sobre ‘a nação’, sentidos com os quais podemos nos identificar, constroem identidades”4. Portanto, para existir a identidade precisa de algo que lhe signifique, e proporcione uma identificação para o grupo. Geralmente esta função é localizada na cultura, cujas manifestações permitem o sujeito se voltar ao simbólico para encontrar algo que se encaixe em si, que o caracteriza como um ser que é e também que inspire seu sentimento de pertença.

Assim, na construção da identidade, além da língua e de símbolos, Woodward também destaca os “mitos fundadores, [...] que remetem a um momento crucial do passado em que alguns gestos e também algum acontecimento, [...] inaugurou as bases de uma suposta identidade nacional”5. Essa narrativa histórica cria um elo entre o sujeito e o passado, com a intenção de exaltar aspectos épicos desse passado e, consequentemente, conferir sentido ao presente. A isto se nomeia Tradição Inventada, o que se mostra como “conjuntos de regras tácitas ou abertamente aceitas; tais práticas, de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de comportamento por meio da repetição”6.

1 OLIVEIRA, Roberto Cardoso de, Os (Des) caminhos da identidade, disponível em: < http://www.scielo.br/pdf/rbcsoc/v15n42/1733.pdf> acesso 29 de nov de 20102 OLIVEIRA, Roberto Cardoso de. O índio e o mundo dos brancos. 4 ed.Campinas, SP: Editora da UNICAMP, 1996. p.1743 WOODWARD, Katryn, Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual In: SILVA, Tomaz Tadeu da. (org). Identidade e Diferença. 2. ed.Petrópolis, RJ: Vozes. 2003.p 84 HALL, Stuart. Op. Cit. p.515 SILVA, Tomaz Tadeu da.Op. cit . p.856 HOBSBAWM, Eric. Invenção das tradições, In ______; RANGER, Terence. A Invenção das Tradições. Paz e Terra: São Paulo, 2008. p 9

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Neste sentido, se entende que o processo identitário é marcado pela ambiguidade, que é fruto de relações sociais e culturais. Em se tratando de identidades étnicas, Barth comenta que “na medida em que os sujeitos usam identidades étnicas para categorizar a si mesmos e outros, com o objetivo de interação, eles formam grupos étnicos neste sentido organizacional.”1 Dessa forma o sujeito categoriza a si mesmo e o outro, procurando assim, uma interação entre si.

Apesar da relação identitária gerar conflito, também cria novos aprendizados, novos costumes e hábitos. Essa posição pode se mostrar como uma ambigüidade, mas também como uma miscigenação entre os povos, e pode levar ao preconceito e ao etnocentrismo. Portanto a identidade é e não é ambígua na medida em que promove a interação, inclui e excluí, cria e categoriza.

IDENTIDADE E EDUCAÇÃO

Sendo a identidade assumida pelo indivíduo, esta postura irá interagir socialmente como meio e, por conseguinte terá suas implicações na educação. Este homem é um ser pensante e ativo no mundo, que se relaciona com outros seres e com a realidade, por isso a educação não foge disto, uma vez que esse indivíduo irá se posicionar perante os outros, podendo sofrer diferenças ou não. Assim, a educação pode se tornar um campo de fricção identitária.

A educação nesse sentido é um exercício de relação entre os seres humanos, pois “ninguém educa ninguém, ninguém educa a si mesmo, os homens se educam entre si, mediatizados pelo mundo”2, de tal forma que todos se educam e educam à todos. Apesar dessa configuração social da educação, sua implantação e utilização na sociedade se confronta, com diversas e complexas relações de poder, sendo a mais evidente a do educador, que se mostra como um ser sobrenatural capaz de “civilizar” o educando. A educação nesse foco não foi planejada com o educando mas sim para o educando.

Da mesma forma a educação escolar indígena, em geral não construída com o indígena e sim para ele, o que ocorre desde os livros didáticos e as salas de aula e demais ambientes físicos e simbólicos das escolas que não foram planejadas junto aos sujeitos indígenas: apenas foram pensadas e aplicadas. Essa é uma problemática já explicitada junto a outros povos indígenas, como por exemplo no Equador, estudado por Patricia Perez Morales, ao dizer que:

Intervenção que não se importaria com propor uma aproximação às reais necessidades, nem uma construção conjunta de soluções, foi muito mais bem uma imposição de instituições e de políticas pensadas pelos outros e aplicadas para as e nas comunidades indígenas, e não com as comunidades indígenas.3

Deste modo o Estado aplica uma educação que revalida o contexto de dominado e dominador implantado há muitos anos e a educação, se torna em meio para que isto seja legitimado.

Esta prática remonta ao colonialismo português praticado em terras brasileiras, principalmente pela via da religião. A metáfora ideal para esse exemplo pode ser

1 Apud MARKUS, Cledes p.232 FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987 p.683 MORALEZ, Patricia. Os espaços-tempo e ancestralidade na educação ameríndia, disponível em: <http://www.proceedings.scielo.br/scielo.php?pid=MSC0000000092008000100012&script=sci_arttext&tlng=pt> Acesso 14 de Abril de 2011

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encontrado na reprodução do momento fundante do país, A primeira missa no Brasil, de Victor Meirelles. No quadro, vemos um padre celebrando uma missa para os portugueses recém-chegados ao território “descoberto” e centenas de indígenas observando a cena. É por meio da religião cristã que se dá a tentativa de dominação do branco sobre o indígena: a catequese cristã era justificada como necessária para garantir o “salvamento” deste povo.

Ao sul das terras colonizadas pelos portugueses e também espanhois, desenvolveram-se missões jesuítas em meio aos povos indígenas. Essas iniciativas tiveram grande importância no sentido da proteção e preservação da vida desses indígenas em relação aos colonizadores. Mas ao mesmo tempo, buscavam produzir novos comportamentos e culturas entre os povos indígenas. Através da catequização, os jesuítas educavam os indígenas no meio de vida brancos, impondo regras, comportamentos e modos de visão estranhos aos indígenas.

Outro modo de integrar o indígena na sociedade branca eram as encomiendas, mecanismo utilizado na sociedade colonial, onde o indígena era obrigado ao trabalho durante um período demarcado e em troca era educado na fé cristã. O sistema de encomienda era, na prática, um sistema de cunho escravista, que além de forçar os indígenas ao trabalho, ainda procurava produzir uma nova subjetividade e identidade aos submetidos nesse sistema.

A expulsão dos jesuítas no século XVIII estabelece um novo momento da história brasileira no que diz respeito à dinâmica entre não indígenas e indígenas com a estratégia de promover a assimilação dos povos indígenas à sociedade não indígena por meio dos aldeamentos.

Além da via religiosa, outros elementos foram utilizados pelos não indígenas para redefinir a identidade indígena, ou mesmo eliminar o portador de uma identidade estranha à dos não indígenas. Caio Prado Jr.1 elenca o incentivo ao cruzamento entre portugueses e mulheres indígenas: os chamados mestiços negavam sua ascendência indígena, sendo absorvidos na sociedade branca. Mas além da dominação por meio de práticas já citadas acima, o índio também foi eliminado por doenças de diferentes matizes, vícios e maus tratos.

Ainda a partir da perspectiva de assimilar os grupos indígenas à sociedade não indígenas e consequentemente anular sua identidade indígena, foi criado, em 1973, o Estatuto do Índio. Expressando claramente o objetivo assimilacionista do indígena, o Estatuto em seu artigo 4º classifica a tipologia dos indígenas:

Os índios são considerados: I - Isolados- Quando vivem em grupos desconhecidos ou de que se possuem poucos e vagos informes através de contatos eventuais com elementos da comunhão nacional; II - Em vias de integração - Quando, em contato intermitente ou permanente com grupos estranhos, conservem menor ou maior parte das condições de sua vida nativa, mas aceitam algumas práticas e modos de existência comuns aos demais setores da comunhão nacional, da qual vão vez mais para o próprio sustento; III - Integrados- Quando incorporados à comunhão nacional e reconhecidos no pleno exercício dos direitos civis, ainda que conservem usos, costumes e tradições característicos da sua cultura.2

Deste modo fica claro a tentativa de integrar os indígenas à sociedade não indígena, pois os estágios apresentados no Estatuto expõem um processo de assimilação deste indígena na sociedade, que progressivamente deveria transformar o indígena de isolado à integrado.

1 PRADO JUNIOR, Caio. Formação do Brasil contemporâneo: colônia. 23ed. São Paulo: Brasiliense, 1999 2 BRASIL. Lei nº 6.001 de 19/12/73. Estatuto do Índio. Fundação Nacional do Índio. Brasília: FUNAI, 1993.

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O ponto de ruptura da relação do Estado brasileiro com os povos indígenas e sua identidade própria é a Constituição Federal de 1988. Pela primeira vez, o indígena aparece em um texto constitucional como um agente ativo, que não precisa ser integrado à sociedade, e portanto, com o direito de permanecer como tal. Um capítulo é especificamente dedicado aos povos indígenas, o capítulo VIII, que em seu primeiro artigo afirma:

Art. 231. São reconhecidos aos indíos sua organização social, costumes, línguas, crenças e tradições, e os direitos originários sobre as terras que tradicionalmente ocupam, competindo à União demarca-las, proteger e fazer respeitar todos os seus bens.1

Enquanto no Estatuto de 1973 previa um indígena como um vir-a-ser integrado, a Constituição de 1988 percebeu este como um ser em-si, reconhecendo à suas culturas, costumes, crenças etc, e prevendo sua proteção e respeito. Deste modo houve uma mudança na dinâmica sobre a figura indígena. Nas palavras de Ana Araújo,

A Constituição de 1988 estabeleceu uma nova forma de pensar a relação com os povos indígenas em nosso território, reconhecendo serem eles coletividades culturalmente distintas, os habitantes originais desta terra chamada Brasil, por isso mesmo, detentores de direitos especiais. Ao afirmar o direito dos índios à diferença, calcado na existência de diferenças culturais, o diploma constitucional quebrou o paradigma da integração e da assimilação que até então dominava o nosso ordenamento jurídico, determinando-lhe um novo rumo que garanta aos povos indígenas permanecerem como tal, se assim o desejarem, devendo o Estado assegurar-lhes as condições para que isso ocorra. A verdade é que, ao reconhecer aos povos indígenas direitos coletivos e permanentes, a Constituição abriu um novo horizonte para o país como um todo, criando as bases para o estabelecimento de direito de uma sociedade pluriétnica e multicultural, em que povos continuem a existir como povos que são, independente do grau de contato ou de interação que exerçam com os demais setores da sociedade que os envolve.2

Pela via constitucional reconheceu-se o direito dos indígenas de manterem-se como tais, preservando seus modos de vida, línguas, culturas, identidades. Ainda, responsabiliza-se o Estado em proteger e dar garantias à realização desse preceito constitucional. Um dos mecanismos utilizados nesse sentido foi a educação pública.

A partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, promulgada em 1996, procura-se desenvolver um sistema nacional de educação que acolha a especificidade e identidade indígena.

A partir disto foi criado o Art 78 e 79 que proporcionava ao indígena a recuperação de suas memórias históricas e identidades, ao mesmo tempo que é garantido o acesso ao conhecimento ocidental e indígena. Também é reconhecida a língua materna na educação escolar indígena, e os planejamentos dos programas de ensino terão a comunidade indígena presente.

Art. 78. O Sistema de Ensino da União, com a colaboração das agências federais de fomento à cultura e de assistência aos índios, desenvolverá programas integrados de ensino e pesquisa, para oferta de educação escolar

1 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. 12. ed. São Paulo: Ática, 1995.2 ARAÚJO, Ana Valéria et al. Povos Indígenas e a Lei dos “Brancos”: o direito à diferença. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade; LACED/Museu Nacional, 2006. P. 45

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bilingüe e intercultural aos povos indígenas, com os seguintes objetivos:I - proporcionar aos índios, suas comunidades e povos, a recuperação de suas memórias históricas; a reafirmação de suas identidades étnicas; a valorização de suas línguas e ciências;II - garantir aos índios, suas comunidades e povos, o acesso às informações, conhecimentos técnicos e científicos da sociedade nacional e demais sociedades indígenas e não-índias.Art. 79. A União apoiará técnica e financeiramente os sistemas de ensino no provimento da educação intercultural às comunidades indígenas, desenvolvendo programas integrados de ensino e pesquisa.§ 1º Os programas serão planejados com audiência das comunidades indígenas.§ 2º Os programas a que se refere este artigo, incluídos nos Planos Nacionais de Educação, terão os seguintes objetivos:I - fortalecer as práticas sócio-culturais e a língua materna de cada comunidade indígena;II - manter programas de formação de pessoal especializado, destinado à educação escolar nas comunidades indígenas;III - desenvolver currículos e programas específicos, neles incluindo os conteúdos culturais correspondentes às respectivas comunidades;IV - elaborar e publicar sistematicamente material didático específico e diferenciado.1

É preciso deixar claro que a escola e a educação são, entre todos os elementos presentes na sociedade, importantes meios de homogeneização cultural e, consequentemente, de produção e transmissão de identidades. Nas palavras de Gimeno Sacristán, “os padrões de funcionamento da escolarização tendem à homogeneização. A escola tem sido e é um mecanismo de normalização”2, entendida como manutenção da ordem estabelecida. No que toca aos povos indígenas brasileiros, é justamente com essa intencionalidade que se vislumbra, o que ocorreu nos diversos processos educativos que tiveram curso até 1988. Seja na educação catequista, que buscava produzir um indígena cristão, seja na perspectiva de educação social e inserção na sociedade colonizadora expressos nos aldeamentos e mesmo no Estatuto do Índio, de 1973, há uma clara vontade de transformar o indígena em um não-indígena, inserido na sociedade ocidental.

Assim, a educação, formal ou não-formal, se mostra como um espaço de execução do poder. Poder de definir um objetivo para essa educação e para o educando. Poder de selecionar saberes, técnicas e competências que vigorarão nesse processo educativo. Poder de definir identidades a serem normalizadas. Um sinônimo frequentemente utilizado para educação dá a tônica dessas intencionalidades presentes nesse espaço que se mostram como formação, ou seja, com algo determinado a dar forma e construir algo a partir da matéria-prima disponível.

Nesse contexto, identidades vistas como desajustadas e, portanto, categorizadas como tendo que ser formadas, para se integrarem a uma sociedade que lhes é estranha, mas que se impõem como identidades sobre as quais é investido o poder educativo.

É evidente que essa vontade assimiladora não se concretizou de acordo com o planejado, pois vivemos, em fins do século XX, o qual se mostra como um momento de reconstrução de identidades minoritárias. E se caracteriza dentre outros aspectos com a participação de indígenas nos trabalhos da Assembléia Constituinte a qual teve grande peso

1 Brasil. Lei nº 9.394-96 - Diretrizes e Bases da Educação. Ministério da Educação e doDesporto. Brasília: Congresso Nacional, 1996. 2 SACRISTÁN, J. Gimeno. Currículo e diversidade cultural. In: SILVA, Tomaz Tadeu da; MOREIRA, Antonio Flávio (orgs.). Territórios contestados: o currículo e os novos mapas políticos e culturais. Petrópolis: Vozes, 1995. p. 83

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na inserção de direitos para esses povos na Carta de 19881. Se houve o reconhecimento das culturas indígenas e certa expressão de respeito e proteção a estas, não foi por benesse do Estado, mas pelos próprios esforços dos grupos indígenas, que perceberam que seu modo de ser estava ameaçado e por isso se organizaram politicamente para se afirmar como tal e exigir a garantia de permanecer diferente em relação à forma ocidentalizada de existência.

CONSIDERAÇÕES CONCLUSIVAS

A partir das considerações feitas neste artigo, compreendemos que a identidade não é apenas algo incutido no ser, mas uma apropriação feita pelo indivíduo a partir do seu meio e do grupo em que está inserido. A identidade é relacional, à medida que só existe a definição e delimitação de uma identidade quando posta em contato com outra, divergente e alteritária, numa configuração, pela qual um sujeito ou um grupo necessitam da percepção da diferença, por meio da qual se afirma de forma positiva e negativa, as identidades envolvidas.

O caráter ambíguo da identidade reside nesse fato: não se pode prescindir de outras identidades para afirmar uma; esta é dependente da existência de outras, que não são esta, pois diferentes. Mas ao reivindicar uma identidade se incorre na desafirmação e na não-reivindicação das outras e nessa perspectiva, devido às assimetrias inerentes às relações de poder instituídas, ocorre o que chamamos de atravessamento dessas identidades, as quais podem existir como possibilidade de atritos identitários, e mesmo como relações de dominações entre essas identidades.

As formas de transmissão e re-elaboração das identidades passam, nas sociedades contemporâneas, principalmente pelos espaços formais de educação. Por meio da instituição escola os sujeitos aprendem as regras e códigos de funcionamento das culturas e a identidade apropriada pelos indivíduos, poderá influenciar na consolidação da postura de cada um perante os demais. Dessa forma o campo escolar é um ambiente de socialização, e como tal, os sujeitos irão se posicionar e sofrer diferenciações, o que pode influir nas relações de dominação, por parte de outros, que se caracterizam como seres dominados.

Assim se tem que a partir da normalização de uma identidade se constrói um discurso do que se julga ser normal ou correto, corroborado pelo senso comum que se apropria e reproduz de geração a geração. Esta posição de ser reforça a posição desta identidade como para um individuo, colocando este em uma posição de dominador, e coloca as demais identidades em uma situação de dominadas.

No caso brasileiro, as identidades indígenas foram alvos privilegiados de tentativas de normalizações, que duraram até o final do século XX. Novos posicionamentos políticos foram responsáveis por o Estado brasileiro abandonar sua perspectiva assimilacionista em relação aos indígenas e reconhece-los como grupos com identidades próprias, diferenciadas. Nesse sentido, novas diretrizes educacionais foram introduzidas no sistema nacional de educação, reconhecendo a legitimidade das línguas indígenas no processo educativo e na existência de um paradigma diferenciado de ensino para os grupos indígenas. Essa nova orientação do Estado buscou fortalecer as identidades indígenas para produz materiais didáticos e capacitando professores indígenas para conduzirem seu processo de emancipação identitária por meio da educação escolar.

1 Sobre isso, ver CALEFFI, Paula. “O que é ser índio hoje?” A questão indígena na América Latina/Brasil no início do século XXI. In: SIDEKUM, Antônio (Org.) Alteridade e multiculturalismo. Ijuí: Unijuí, 2003

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TENDÊNCIAS DA FAMÍLIA CONTEMPORÂNEATRENDS OF THE FAMILY CONTEMPORARY

Agnaldo Kupper1

RESUMO:A família é a mais antiga e mais difundida das instituições sociais. Marcada por rupturas históricas e transformações, a família, enquanto instituição social, passa por mudanças significativas. No mundo moderno, casa-se cada vez menos e cada vez mais tarde. As uniões são diversas e menos duráveis. O número de membros da família diminui. Os nascimentos extraconjugais são mais comuns, com significativa tendência de famílias em que pai e mãe são um só (boa parte das vezes, mãe solteira ou divorciada). Há muito o filho não é mais a finalidade do casamento. Os tempos da família patriarcal já foram ultrapassados, assim como estão cessando a divisão de tarefas dentro de uma união. À mãe não cabe mais apenas as tarefas da casa. Os filhos não seguem mais, obrigatoriamente, a profissão paterna. O amor torna-se mais importante do que a aliança. Em caso de uma separação de casal com filhos, a tendência é a guarda compartilhada ou que o(s) filho(s) fique(m) com a parte mais estável. No entanto, por mais que não seja mais a mesma do século XIX, em que tinha padrões rígidos e o dever de formar bons cidadãos que dessem moldes às expansões nacionalistas, a família, enquanto instituição social, está intimamente ligada ao contexto social vivido em nosso mundo contemporâneo . Desta forma, mudanças nos padrões familiares refletem sobre toda a sociedade, assim como as transformações sociais repercutem sobre as estruturas familiares. PALAVRAS-CHAVE: família; mudanças; novas estruturas. ABSTRACT:The family oldest and more is spread out of the social institutions. Marked for historical ruptures and transformations, the family, while social institution, passes for significant changes. In the modern world, it is less married each time and each time later. The unions are diverse and less durable. The number of members of the family diminishes. The extramarital births are more common, with significant trend of families where father and mother are one only (good part of the times, single or divorced mother). It has very the son is not more the purpose of the marriage. The times of the patriarcal family already had been exceeded, as well as are ceasing the division tasks inside of an union. To the mother it does not fit more only the tasks of the house. The children do not follow more, obligatorily, the paternal profession. The love becomes more important of what the alliance. In case of a separation of couple with children, the trend is the shared guard or that (s) the son (s) is (m) with the part most steady. However, no matter how hard she is not more same of century XIX, where it had rigid standards and the duty to form the good citizens who gave molds to the nationalistic expansões, family, while social institution, is closely on to the social context lived in our world contemporary. In such a way, changes in the familiar standards reflect on all the society, as well as the social transformations re-echo on the familiar structures. KEY WORDS: family; changes; new structures.

A FAMÍLIA ENQUANTO INSTITUIÇÃO SOCIAL

Devemos entender como instituição social toda forma social constituída e sedimentada em uma sociedade. As instituições sociais são formadas para atender às necessidades de uma sociedade, funcionando como instrumento de regulação e controle das atividades dos indivíduos que a compõe.

Desta forma, a família constitui uma instituição social relevante. É através dela que o indivíduo se relaciona com a sociedade em que está inserido. Isto significa dizer que é a família quem faz a intermediação entre as esferas privada e pública e é através da instituição familiar que o indivíduo constrói o seu conceito de cidadania a partir dos valores que lhe são aplicados, recebendo um nome, noção de seus direitos e obrigações e os princípios políticos e civis básicos.

É na família que a pessoa encontra sua primeira socialização e absorve as regras básicas necessárias para a vida social, mesmo que nem todos os grupos familiares sigam o mesmo padrão de organização. Qualquer mudança que ocorra na família ou

1 Professor de ensino superior e de pós-graduação; escritor; historiador.

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na sociedade, traz reflexos de uma sobre a outra. Ou seja, qualquer modificação ou transformação no mundo do trabalho ou da economia, ou mesmo no curso da história ou das evoluções sociais, recaem sobre a família, uma vez que passam a exigir adaptações da mesma.

Levando em consideração conceitos sociológicos, podemos afirmar ser a família uma instituição primária. Isto significa dizer que seus componentes, em estado de normalidade, expõem-se mais intensamente enquanto indivíduos e pessoas, trocando confissões, expondo sentimentos e conflitos e deixando transparecer indignações.

Muitos estudiosos da família utilizam alguns conceitos classificatórios que permitem a observação das tendências familiares a partir da elevação do grau de complexidade das relações sociais.

Assim, quanto à forma de observação de uma família moderna, a mesma pode ser classificada quanto à forma de integração entre seus componentes.

A família vista como disciplinada – própria de nosso dias de intensa vida urbana, em que cada um dos componentes possui atividades diversas e diversificadas -caracteriza-se por um convívio nem sempre contínuo. Há pequena rigidez nos encontros, porém permanente preocupação entre seus membros. Ou seja, fruto da correria do dia-a-dia, os componentes familiares mal se encontram durante as refeições, nos programas de lazer e nas atividades culturais. Isto não significa dizer que não haja preocupação de um para os demais (mesmo que não façam as refeições conjuntamente, por exemplo, há a preocupação com o fato de um membro tê-la feito ou não; mesmo que as atividades de lazer sejam diferentes, há a preocupação com o local em que cada um está e se está bem).

A família devotada, por sua vez, é caracterizada pelo elevado nível tradicional, com preocupação excessiva de um membro para com os demais. Nela, as normas e padrões de comportamento são rígidos, tais como a realização de refeições conjuntas e freqüência obrigatória dos componentes familiares a rituais religiosos e festivos, por exemplo.

Já a família relaxada caracteriza-se pela ausência de preocupação de um para os demais membros. Ou seja, cada membro familiar, em uma postura claramente individualista, não interfere na vida pessoal do outro, tornando as ligações pouco consistentes e o convívio pouco freqüente.

AS NOVAS TENDÊNCIAS DA FAMÍLIA BRASILEIRA

A história da família enquanto instituição social é longa e apresenta sucessivas rupturas.

Foi-se o tempo em que a principal função da família esteve ligada à transmissão de valores e tradições. Atualmente, sua tendência é a de privilegiar a construção da identidade do indivíduo enquanto pessoa.

Isto não significa dizer que a família ocidental, tal qual a herdamos do século XIX, está em decadência. Está, sim, em transformação contínua.

O desenvolvimento urbano e industrial, as novas necessidades de consumo, as recentes transformações morais, a proliferação de uso contraceptivos, a maior inserção da mulher no mercado de trabalho, as crises constantes da economia, o temor da Aids, entre outros, têm trazido modificações significativas na estrutura familiar. Ou seja, a família celebrada na figura do pai enquanto chefe e comandante-mor, representante do grupo familiar e seus interesses, está obsoleta. Da mesma forma, a

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Tendências da família contemporânea

idéia tradicional de se encontrar a esposa dedicada e propulsora da administração da casa, está ultrapassada. Os tempos em que as escolhas matrimoniais eram previamente encomendadas e determinadas também já ficaram para trás. As escolhas profissionais dos filhos já não são mais ditadas pelo patriarca. A necessidade do sexo seguro virou sinônimo de estabilização e segurança individual.

Difícil calcular com exatidão os benefícios e as desvantagens das transformações ditadas pela vida moderna. Certamente, um dos prejuízos trazidos pelo individualismo é a solidão que faz com que as separações e rupturas tornem-se cada vez mais numerosas e comuns entre os indivíduos.

E se as transformações familiares são intensas e contínuas em nosso mundo ocidental moderno, o Brasil, claro, não foge à regra. Vejamos:

• tendência à nuclearização - Uma família numerosa. Esta era a tendência de algumas décadas atrás, quando à mulher cabia gerar vários filhos. Na atualidade, a diminuição do tamanho médio da família é progressiva, embora o número de famílias cresça. Um bom exemplo dessa tendência pode ser encontrado no Brasil. Basta que observemos a taxa de fecundidade (relação entre o número médio de crianças nascidas vivas por mulher em idade reprodutiva) brasileira por período:

Brasil e regiões: taxa de fecundidade

Grandes Regiões 1970 1980 1991 2000 2010

Brasil 5,76 4,35 2,85 2,38 1,9Norte 8,15 6,45 4,18 3,17 2,47Nordeste 7,53 6,13 3,71 2,69 2,06Sudeste 4,56 3,45 2,39 2,1 1,7Sul 5,42 3,63 2,52 2,24 1,78Centro-Oeste 6,42 4,51 2,66 2,25 1,92

Fonte: IBGE, Censo Demográfico 2000/2010. Até 1980: Estatísticas do Século XX no Anuário Estatístico do Brasil, 1985, vol. 46 , 1985; 2. Até 2000: Tendências demográficas: uma análise dos resultados do

Censo demográfico 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2004. p.83.

A diminuição do número de filhos e, por sua vez, do número dos componentes familiares, segue uma disposição histórica de queda desde os anos 1960, no Brasil e no planeta como um todo.

Segundo estudos realizados em 2012 pelo Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome (MDS), as mulheres de menor renda (considerando renda per capita menor que R$ 70), foram as principais responsáveis pela acentuada queda da taxa de fecundidade total no Brasil entre os anos 2000 e 2010. Assim, se no ano 2000 o número médio de filhos por mulher nessa faixa era de 5,10, em 2010 tal taxa caiu para 3,56. Mesmo entre as mulheres de maior renda per capita, que já apresentavam uma baixa taxa de fecundidade, os números apresentaram uma ligeira queda expressiva: de 1,17 em 2000 para 1,11 em 2010. Vale salientar, a título de curiosidade, que mulheres mais favorecidas econômica e financeiramente, tendem a ser mães em idades mais prolongadas (idade média de 31,9 anos entre as mulheres com renda superior a cinco salários e de 25,7 anos para as mulheres sem qualquer rendimento.

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• diminuição no número de casamentos religiosos – Desde a instituição do casamento civil no Brasil (1890), assiste-se a uma diminuição dos enlaces em igrejas ou templos religiosos em geral. Uma das principais razões é econômica (despesas com um evento deste tipo costuma ser oneroso). Assim, nas últimas décadas, assistimos a um crescimento de uniões civis e livres. No Brasil, o número de casais em união consensual, teve um aumento significativo entre 2000 a 2010. Considerando as pessoas casadas, as que viviam em união consensual representam nos dias atuais mais de um terço dessa parcela da população, segundo dados divulgados em outubro de 2012 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística em seu relatório sobre taxa de nupcialidade.

Já os casamentos formais apresentaram queda no Brasil. Em números e percentuais: em 2010, 36,4% das pessoas casadas viviam em união consensual, contra 28,5% em 2000. Já o percentual de pessoas unidas por casamento civil e religioso caiu de 49,4% para 42,9% no mesmo período. Por sua vez, as uniões realizadas apenas na esfera religiosa diminuíram de 4,4% para 3,4% e o número de casamentos realizados apenas na dimensão civil pouco variou: de 17,5% em 2000 para 17,2% em 2010.

O relatório aponta, também, que os solteiros continuam sendo mais da metade da população do país (54,8% em 2000 e 55,3% em 2010).

Apesar de não haver dados específicos sobre a evolução das uniões entre indivíduos do mesmo sexo, o relatório sobre a taxa de nupcialidade revela que 99,6% vivem em união consensual, com predominância de católicos (47,4%), seguida por pessoas sem religião definida (20,4%).

• quando da união prevalecem os “iguais” em raça – apesar das políticas de igualdade das etnias, o casamento inter-racial não avançou de 2000 a 2010. O total de mulheres e homens brancos que se casavam com pardas e pardos cresceu. Um exemplo mais claro vem dos percentuais: 75,3% dos homens brancos e 73,7% das mulheres brancas casaram-se, em 2010, com pessoas da mesma etnia, considerando todos os tipos de união (casamento civil, religioso ou união consensual). Por outro lado, caíram numa proporção semelhante as uniões de homens e mulheres pardos com brancos e brancas, paralisando uma tendência de ampliação dos casamentos entre as etnias nas décadas anteriores. Dados, no entanto, chamam a atenção, como a realidade das mulheres pretas casarem-se mais com homens brancos (25,5% das uniões desse grupo) do que com pardos (22,9%). Entre aqueles que se declaram pardos, 69% de homens e 68,1% das mulheres tinham parceiros com a mesma cor da pele. Em relação aos pretos (cerca de 10% da população brasileira), o menor contingente dificulta a escolha de pessoas no mesmo grupo para se relacionar e casar, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística ( IBGE, Censo 2010).

Homens que se unem com mulheres de determinada raça (em %)

Homem \ Mulher Brancos Pretos Amarelos Pardos IndígenasBrancas 75,3 26,4 24 26,1 16,6Pretas 3,6 39,9 6,8 3,9 3,1Amarelas 0,6 1,4 44,2 0,9 1Pardas 20,4 32,1 24,7 69 13,9Indígenas 0,1 0,2 0,3 0,1 65,4

Fonte: IBGE, 2010.

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Mulheres que se unem com homens de determinada raça (em %)

Mulher \ Homem Brancas Pretas Amarelas Pardas IndígenasBrancos 73,7 25,5 22 24,4 16,9Pretos 4,6 50,3 9,8 6,8 3,9Amarelos 0,5 1,1 38,8 0,7 0,8Pardos 21,1 22,9 29,2 68,1 13,8Indígenas 0,1 0,2 0,3 0,1 64,3

Fonte: IBGE, 2010.

• cresce o número de mulheres chefes de família – a maior participação da mulher no mercado de trabalho, as constantes oscilações na economia, o progressivo reconhecimento social (que garante à mulher maior autonomia e direitos) e as imposições de consumo – em que a soma de salários torna-se quase imperativa -, apontam para um crescimento significativo da mulher enquanto chefe de família.

No Brasil, segundo dados do último censo realizado no país (IBGE, 2010), em famílias chefiadas por mulheres, normalmente os filhos possuem mais de quinze anos de idade. Esta tendência mostra-se preocupante, uma vez que, se a participação da mulher no mercado de trabalho é cada vez mais significativa, os salários percebidos por elas, de forma geral, ainda são menores se comparados aos obtidos pelos homens que realizam as mesmas funções.

Os dados divulgados pelo IBGE em seu Anuário Estatístico de 2012 apontam que 37,3% das famílias brasileiras são chefiadas por mulheres (em 2000, eram apenas 22,2%) e 62,7% dos casais que vivem juntos no Brasil são formados por homens e mulheres com fonte de renda própria (em 2000 esse percentual era de 4l,9%). Os números apontam, ainda, que em famílias mais estáveis em termos de renda, prevalece a chefia da figura masculina.

• aumento do número de separações -Os índices de dissociação e divórcio têm crescido consideravelmente em países ocidentais, caso do Brasil. Segundo o Censo Demográfico de 2010, que investigou pela primeira vez o tema, quase um sexto (16,2%) das residências habitadas por casais com filhos contam com a presença de filhos de relacionamentos anteriores. Ainda segundo dados do IBGE, divulgados em 2012, o número de divórcios chegou a 3,1% em 2010 (quase o dobro dos 1,7% de 2000).

As rupturas familiares a que assistimos hoje são um processo de dissociação

iniciado a partir da segunda metade do século XX. Tal transformação está ligada, particularmente, ao desenvolvimento do individualismo e à busca da felicidade contínua e constante. Ou seja, o desejo de escolha da atividade profissional, das paixões e dos amores tem provocado separações e novas uniões. Assim, as denominadas “famílias mosaico”, em que unidades domésticas são formadas por casais separados com filhos de outras uniões, tem se tornado comuns. No Brasil e no mundo ocidental em geral, estes arranjos familiares proliferam nas últimas décadas.

O que temos assistido nos dias atuais é a proliferação das chamadas famílias “reconstituídas”, uma vez que se tornam comuns as uniões que venham com um

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“pacote”, gerando a formação da fi gura dos “coirmãos” que, diferentemente dos meio-irmãos, não têm laços sanguíneos, mas são criados de forma conjunta, o que exige uma fase de adaptação e conquista.

Juntar os “meus”, os “seus”, os “nossos”, tem despertado a atenção de profi ssionais especialistas, que consideram o entendimento entre membros de uma “família associada” complexo e que exige muita conversa e compreensão.

• estabelecimento dos direitos de casais homossexuais - no Censo de 2010 (primeiro que indagou a respeito da união entre pessoas do mesmo sexo), um número maior de mulheres declarou manter união homossexual no Brasil. Dentre os casais homossexuais, 53,8% mostraram-se constituídos por mulheres e 46,2% por homens. Não existiam, até 2012, dados ofi ciais da população homossexual no Brasil nem do total de uniões registradas em cartório ou aprovadas na Justiça. Segundo tais dados censitários, entre os lares com casais homossexuais contabilizados, a grande maioria (52,6%) estava na região Sudeste, principalmente nas regiões metropolitanas de São Paulo e Rio de Janeiro.

No entanto, algo é claro: formação de famílias a partir da união de indivíduos do mesmo sexo tem se proliferado em países como o Brasil.

O Instituto Brasileiro de Geografi a e Estatística, IBGE, pesquisou, pela primeira vez, casais do mesmo sexo no Censo de 2010.

Foram contados sessenta mil cônjuges de igual sexo do chefe do domicílio. Ou seja, sessenta mil casais gays. Apenas 0,2% do total ou das pessoas casadas ou que viviam juntas declaram ter como companheiro pessoa do mesmo sexo.

A tendência é que este percentual aumente nos próximos censos à medida que a legislação brasileira avance, como com o reconhecimento dessas uniões pela Previdência Social do Brasil.

Em especial a partir desta segunda década do século XXI, a maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) tem sinalizado posição favorável no reconhecimento

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de união estável entre homossexuais e todos os direitos dela decorrentes, como a concessão de pensão e mesmo para a adoção de crianças.

Mesmo com a falta de sintonia entre as definições e decisões dos tribunia estaduais e a de juízes das diversas unidades federativas do Brasil, o reconhecimento da união estável e de entidade familiar entre indivíduos homossexuais é prevista nos Estados de Goiás e Rio Grande do Sul. Algumas decisões favoráveis têm ocorrido em Minas Gerais. Já o direito à partilha de bens em caso de separação do casal homossexual é prevista no Rio Grande do Sul, Paraná, Brasília e Rio de Janeiro.

O direito à pensão por morte de um dos membros do casal é previsto no Acre, Espírito Santo, Minas Gerais, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Em Santa Catarina, há o reconhecimento do direito de inscrição do(a) companheiro(a) como dependente em plano de saúde.

Algo no entanto, é certo: as discriminações sofridas pelos homossexuais estão em desacordo com o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana e da igualdade e a união homoafetiva em países como o Brasil mostra-se como uma realidade. Embora diversos países do planeta já tenham alterado seu sistema de direito para possibilitar a inclusão da união estável familiar entre pessoas do mesmo sexo, muito ainda se discute em relação à questão no Brasil, colocando de um lado setores mais conservadores da sociedade e de outro setores mais liberais.

• refúgio na família por mais tempo - a flexibilização da rigidez familiar, (com o desprezo a normas impositivas provenientes do século XIX) aponta para uma maior suavidade, compreensão e cumplicidade nas relações familiares contemporâneas. Sendo assim, se já houve uma época em que um jovem adolescente tinha como plano sair de casa, buscando vida própria e independente, os tempos tem se mostrado diferentes, já que um fenômeno tem se alastrado pelo mundo moderno ocidental: o prolongamento da estada na casa dos pais ou responsáveis, em especial entre jovens de classe média, classe média alta e classe alta. Afinal de contas, o lar propicia, dentro de uma sociedade competitiva e com uma formação familiar individualista, proteção e refúgio certo, permitindo que se concilie liberdade individual e solidariedade em âmbito familiar.

É como se o prolongamento da adolescência estivesse sendo ditado pelos fenômenos urbanos que transformaram as últimas décadas. Ou seja, o casamento institucionalizou-se como tardio, buscar capacitação técnica tornou-se prerrogativa em uma sociedade competitiva e a proliferação da violência social assusta (especialmente a urbana).

Para os pais, a sensação de que o tempo não passa. Afinal, um filho dentro de casa ou por perto pode significar a manutenção do espírito da juventude (um filho sempre requer atenção e a sensação para os pais de que o envelhecimento é um fenômeno distante passa a prevalecer). Para os filhos, a comodidade do lugar seguro, pois, vale lembrar, que ficar na casa dos pais significa conforto: comida pronta, roupas lavadas, contas pagas e o mesmo padrão de vida que eles levaram muitos anos para conquistar, que, saindo de casa, provavelmente seria reduzido.

Casas ou apartamentos maiores têm se mostrado objeto de interesse e procura nas médias cidades e metrópoles. Isto para as famílias mais abastadas. Àqueles que mantêm a pretensão de sair de casa o mais rápido, estudos apontam para a necessidade de um cálculo preciso (afinal, sair de casa requer custos) e o estabelecimento de um plano B (que não

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inclua o retorno à casa dos pais ou familiares) para que a “aventura” não se inviabilize. A experiência do retorno à casa dos pais depois da estada mais livre e individualizada, segundo especialistas, pode causar choques com os demais membros da família.

Como podemos perceber, a família, enquanto instituição social, passa por mudanças consideráveis. Não cabe mais à figura masculina o papel de provedor e não cabe mais à mulher o papel de “organizadora do lar” (pesquisas recentes afirmam que as tarefas domésticas estão divididas entre homens e mulheres em pelo menos dois terços das unidades familiares). Mesmo em caso de separações, a tendência é que o(s) filho(s) do então casal fique(m) com a parte mais estável ou, de preferência, em guarda compartilhada.

Fato é que a família tornou-se lugar de uma negociação duradoura. Atualmente, tudo acontece num registro puramente afetivo e não mais simbólico, com a família deixando de ser uma instituição para converter-se em uma associação.

• maior presença feminina no mercado de trabalho – no Brasil, com seus 190.755.799 habitantes (segundo o Censo Demográfico de 2010), faltam quatro homens para cada grupo de cem mulheres (ou seja, 96 homens para cada 100 mulheres). O crescimento mais acelerado da população feminina está ligado ao envelhecimento, já que as mulheres vivem, em geral, mais do que os homens. Mas, mesmo sendo maioria, as mulheres ainda têm um longo caminho a percorrer na luta pela igualdade de gênero. Portanto, caracterizam-se como minoria na sociedade.

O conceito de minoria não envolve números. Leva em consideração indivíduos de uma estrutura social que não têm seus direitos plenamente reconhecidos ou aplicados. Isto significa dizer que estas pessoas possuem direitos como quaisquer outros, porém a elas é negada a plena cidadania por fatores como discriminação e marginalização social.

As mulheres só passaram a ter direito ao voto e à participação política no Brasil a partir da década de 1930. Nos anos 1970, próprio da luta pela redemocratização do país, algumas conquistas foram obtidas, como a criação de leis de proteção, de Conselhos da Condição Feminina e de Delegacias da Mulher. Como consequência do processo, a Constituição de 1988 estabeleceu o princípio de que “homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações” (artigo 5°, inciso I).

No mercado de trabalho atual, no entanto, as mulheres – dentro de um quadro de geral – ainda têm remuneração inferior ao exercerem as mesmas atividades que os homens e os afazeres domésticos ainda apresentam maior responsabilidade da ala feminina de nossa sociedade. No setor educacional, a participação da mulher supera à dos homens, porém estes ainda ocupam as vagas mais concorridas dos cursos superiores. No plano familiar, mulheres ainda são submetidas à violência, seja física ou emocional, por parte dos parceiros.

Dados da Síntese de Indicadores Sociais (IBGE, 2012), confirmam a ampliação da presença feminina no mercado formal de trabalho e no campo educacional. Essas tendências têm trazido consequências significativas para o país: as mulheres passaram a chefiar um número maior de famílias, passaram a ter menos filhos e a adiarem a maternidade em todas as faixas etárias da fase reprodutiva (contribuindo para o maior envelhecimento da população do Brasil).

Se, em 2001, 43,2% das mulheres estavam ocupadas formalmente no mercado de trabalho, em 2011 o índice subiu para 54,8%. Na faixa etária de 25 a 29 anos, 31% das mulheres não tinham filhos em 2001. Em 2011, o percentual elevou-se para 40,8%. A tendência comportamental feminina trouxe queda na taxa de fecundidade do Brasil que caiu para 1,90 filhos por mulher em 2011, ou seja, um índice insuficiente

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para evitar o decréscimo de habitantes em um futuro próximo (2,1 filhos por mulher, segundo estimativas do IBGE, é o índice de reposição populacional para que haja relativo equilíbrio). O recuo nas taxas de fecundidade, o adiamento da maternidade (em 2006 foram 550.425 nascidos vivos de mães entre 15 e 19 anos e 637.432 de mães entre 30 e 39 anos; em 2011 os mesmos dados foram alterados para 496.010 e, 756.8860 nascidos vivos, respectivametne) e a maior inserção feminina no mercado de trabalho têm como causas o avanço dos índices de escolaridade da mulher e a maior taxa de urbanização do Brasil, que supera a casa dos 80% (84,4% segundo o último censo).

A realidade das mulheres brasileiras apresenta ainda outros dados importantes:

• a quantidade de homens para cada grupo de cem mulheres na faixa etária de 20 a 39 anos, em 2011, era de 94,7, segundo dados do último levantamento do IBGE;

• a proporção de casais sem filhos, nos quais marido e mulher possuem rendimento próprio, elevou-se de 18,8% em 2001 para 21,7% em 2011;

• o tempo gasto pelas mulheres em afazeres domésticos (em horas semanais) passou de 30,9 em 2001 para 27,7 em 2011 (enquanto o dos homens manteve-se na faixa das 11,2 horas no mesmo período) *;

• apesar da maior participação das mulheres no mercado de trabalho, da dedicação maior no campo educacional e instrutivo e do crescimento feminino na chefia de lares (em sua maioria, sem a presença do pai), a renda das mulheres correspondia, em 2011, a 73,3% da dos homens (importante destacar que esta tendência não se restringe ao Brasil. Ela ocorre mesmo em países desenvolvidos)*;

Apesar da ampliação da jornada de trabalho profissional da figura feminina entre

2001 e 2011, as mulheres continuaram a dedicar um tempo menor ao trabalho produtivo do que os homens. No entanto, somando-se o tempo gasto com as tarefas domésticas os trabalhos profissionais de produção, a jornada de trabalho semanal feminina foi, no período, superior em dez horas à jornada semanal masculina.

RENDA DESIGUAL

% média do rendimento das mulheres em relação ao dos homens2001........................69% do rendimento masculino2011........................ 73,3% do rendimento masculino

% média do rendimento dos pretos e pardos em relação ao dos brancos2001.................. 50,5% do rendimento dos brancos2011.................. 60% do rendimento dos brancos

Fonte: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, 28.11.2012.

A CULTURA DO INDIVIDUALISMO

A idéia da individualidade é historicamente constituída. Ou seja, cada sociedade, em determinado momento histórico, apresenta uma visão própria a respeito do problema da individualidade.

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Para o mundo ocidental, com o fim da sociedade feudal européia e a constituição paulatina da sociedade capitalista, desenvolveu-se a ideia de que os indivíduos são plenamente autônomos. Para a sociedade capitalista, a existência de uma estrutura mercadológica no qual proprietários individuais vendem seus produtos, criou-se condições para que a sociedade seja pensada apenas como o conjunto de interesses individuais. Porém, por mais individualistas que tenhamos nos tornado, não há como eliminar o problema da relação entre indivíduo e sociedade, uma vez que nossas ações individuais influenciam quem nos cerca.

Assim, o ato de votar e eleger, por exemplo, pode ser um ato individual e autônomo, porém não deixará de afetar a sociedade em que se vive como um todo. Isso pode significar que os homens são condicionados socialmente,

Ao reconhecermos as forças que atuam sobre nossa existência, passamos a nos reconhecer capazes do exercício da vontade. Isto significa dizer que a liberdade não é algo dado, mas resultado de um projeto de ação, ou seja, que a liberdade não é um trabalho solitário realizado por indivíduos isolados. Os grupos sociais do qual fazemos parte (caso da família) são importantes como formadores de consciência e instigadores da ação coletiva que garanta a expressão das liberdades de cada um.

O avanço da industrialização, a transformação dos indivíduos em agentes do trabalho (proletarização) e a urbanização crescente, tem dado à família um caráter nuclear e residencial.

As tradições familiares passaram a dar lugar a modificações sistemáticas, uma vez que o processo de industrialização e urbanização não se desenvolveu contra a família, mas com ela. A incerteza da segurança, por exemplo, trazida por uma sociedade que extrapola o valor aos valores econômicos e financeiros, tem valorizado as cercas eletrificadas, os portões automáticos, os vidros escuros e mesmo os condomínios fechados. Isso forma um mundo à parte, que segrega e individualiza ainda mais.

O fato é que, se a família tem diminuída sua influência sobre seus membros, tem se mostrado, paradoxalmente, fonte segura de convívio, mesmo com a tendência de casamentos cada vez mais tardios, com a diminuição do número de filhos, aumento das separações conjugais e formação de novas formas de associação entre os indivíduos.

Caso a tendência do individualismo prevaleça, também prevalecerá a proliferação de posturas individualistas, o que traz o risco de formação de uma sociedade menos solidária e de pessoas cada vez mais egoístas e sistemáticas, que consideram o convívio um incômodo às suas manias.

Mas por que tantas pessoas vêm optando por uma vida solitária?Talvez não seja questão de mera opção, afinal as pessoas estão casando menos

e cada vez com mais idade, os divórcios tornaram-se comuns trazendo com eles a necessidade de cada membro procurar seu próprio espaço, o indivíduo vive cada vez mais, as cidades crescem (com elas a insegurança que isola) e o consumo e competição desenfreada - próprio da economia capitalista dinâmica e tecnologicamente apressada -reforçam a cultura do individualismo, do isolamento e do egocentrismo. Tudo isso faz com que os indivíduos busquem apenas satisfazer necessidades e impulsos individuais.

Perante ao crescimento dos comportamentos individualistas ocidentais, o sociólogo francês Gilles Lipovetsky criou o conceito de hipomodernidade, termo que pretende definir a sociedade contemporânea, caracterizada pelo crescimento da economia e sociedade de mercado e por relações sociais que passaram a ser identificadas pelo consumo, pela busca do prazer e pela felicidade egoísta.

Segundo Lipovetsky, nestas condições, as pessoas ficam desorientadas. O

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fenômeno ocorre devido à perda, desde há algumas décadas atrás, das tradições familiares e religiosas consistentes. Nos dias contemporâneos globalizados, os laços sociais horizontais e os ideais teriam sido pulverizados. Ou seja, Lipovetsky afirma que antes o problema existencial dos indivíduos era “como vou chegar lá?” e hoje passou a ser “onde devo ir?”.

Este francês indica o caminho da sociologia e da filosofia como armas para que a pessoa encontre a compreensão do mundo, distinguindo o que é essencial do que não é.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Por permitir que o indivíduo se relacione de forma mais segura com a sociedade, ao estabelecer a relação entre o que nos é público e o que nos é privado, a família consolida-se como uma instituição social extremamente relevante.

Fato é que a família tornou-se lugar de uma negociação duradoura. Atualmente, tudo acontece num registro puramente afetivo e não mais simbólico, com a família deixando de ser uma instituição para converter-se em uma associação. Dentro de um processo em que há a busca da felicidade pessoal, não cabe mais ao pai o papel de provedor exclusivo, assim como não cabe mais exclusivamente à mulher a função de “organizadora do lar”. Segundo indicativos de pesquisas recentes, as tarefas domésticas estão divididas pelo casal em pelo menos dois terços das unidades familiares e, em caso de separação, a tendência aponta para a guarda compartilhada (em que os pais “dividem” a atenção e cuidados dos filhos gerados ou herdados pela relação).

Nuclear, heterossexual, monógama, patriarcal: eis as características da família até meados do século XX, responsável pela estabilidade dos interesses de pequenos grupos e do Estado, tais como a transmissão de valores, o bom funcionamento econômico e a formação de mão-de-obra.

No entanto, novas formas familiares vão desenhando contornos e estabelecendo novas relações. Não há a transmissão obrigatória de profissão, de crenças, de saberes e mesmo de patrimônio material. Mesmo a bioética, através das técnicas de procriação de laboratório, permite que se faça um filho sem que sejam conhecidos homem e mulher.

Embora assistamos às transformações estruturais familiares, à maior participação da mulher no mercado de trabalho e à proliferação do individualismo em nossa sociedade moderna (em que o indivíduo percebe precisar contar, antes de tudo, consigo mesmo), a família ainda é sido o porto seguro que nos torna menos sós e minimamente solidários.

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SANTOS, José V. T. dos. Violência e conflitualidades. Porto Alegre: Tomo Editorial, 2009.

TRINDADE, Liana M.S. As raízes ideológicas das teorias sociais. São Paulo: Ática, 1978.

SITES:http://seriesestatisticas.ibge.gov.br/series.aspx?no=10&op=2&vcodigo=POP263&t=taxa-fecundidade-total

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NORMAS PARA PUBLICAÇÃO

A Revista TERRA E CULTURA é uma publicação semestral da UniFil, que tem por finalidade a divulgação de artigos científicos e/ou culturais que possam contribuir para o conhecimento, o desenvolvimento e a discussão nos diversos ramos do saber. Um artigo encaminhado para publicação deve obedecer às seguintes normas:

1 – Estar consoante com as finalidades da Revista.

2 – Ser escrito em língua portuguesa e digitado em espaço 1 ½, papel A 4, mantendo margens superior e esquerda 3 cm, e inferior e direita, 2 ½. Recomenda-se que o número de páginas não ultrapasse a 15 (quinze).

3 – Tabelas e gráficos devem ser numerados consecutivamente e endereçados por seu título, sugerindo-se a não repetição dos mesmos dados em gráficos e tabelas conjuntamente. Fotografias poderão ser publicadas.

4 – Serão publicados trabalhos originais que não tenha sido publicado ou submetidos a outro periódico, e que se enquadrem em uma das seguintes categorias:

4.1 – Relato de Pesquisa: apresentação de investigação sobre questões direta ou indiretamente relevantes ao conhecimento científico, através de dados analisados com técnicas estatísticas pertinentes.

4.2 – Artigo de Revisão Bibliográfica: destinado a englobar os conhecimentos disponíveis sobre determinado tema, mediante análise e interpretação da bibliografia pertinente.

4.3 – Análise Crítica: será bem-vinda, sempre que um trabalho dessa natureza possa apresentar especial interesse.

4.4 – Atualização: destinada a relatar informações técnicas atuais sobre tema de interesse para determinada especialidade.

4.5 – Resenha: não poderá ser mero resumo, pois deverá incluir uma apreciação crítica.

4.6 – Atualidades e informações: texto destinado a destacar acontecimentos contemporâneos sobre áreas de interesse científico.

5 – Redação – No caso de relato de pesquisa, embora permitindo liberdade de estilos aos autores, recomenda-se que, de um modo geral, sigam à clássica divisão:

Introdução – proposição do problema e das hipóteses em seu contexto mais amplo, incluindo uma análise da bibliografia pertinente;

Metodologia – descrição dos passos principais de seleção da amostra, escolha ou elaboração dos instrumentos, coleta de dados e procedimentos estatísticos de tratamento de dados;

Resultados e Discussão - apresentação dos resultados de maneira clara e concisa, seguidos de interpretação dos resultados e da análise de suas implicações e limitações.

Nos casos de Revisão Bibliográfica, Análises Críticas, Atualizações e Resenhas, recomenda-se que os autores observem às tradicionais etapas:

Introdução, Desenvolvimento e Conclusões.

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6 – O artigo deverá apresentar título, resumo e palavras chave em português e inglês.

6.1 – o resumo e o abstract não poderão ultrapassar a trinta linhas;6.2 – as palavras chave e keywords deverão ser de no mínimo três, e no máximo

cinco.

7 – Caso haja necessidade de agradecimentos, o mesmo deve estar ao final do artigo, antes das referências.

8 – Não serão publicados artigos de caráter propagandísticos ou comerciais;

9 – Os artigos deverão ser encaminhados para o e-mail:[email protected].

10 – As Referências deverão ser listadas por ordem alfabética do último sobrenome do primeiro autor, respeitando a última edição das Normas da ABNT.

11 – Indicar, por uma chamada de asterisco, em nota de rodapé, a qualificação técnico profissional do(s) autor(es), assim como sua filiação institucional.

12 – Identificar a ordem das autorias: autor principal e co-autores;

13 – Informar o e-mail do autor ou dos co-autores que deverão ser contatado pelo público leitor.

14 – Será publicado no máximo um artigo por autor, em cada edição da revista;

15 – O artigo que envolva seres humanos ou animais, deverá ser acompanhado, OBRIGATORIAMENTE, uma cópia da Autorização do respectivo Comitê de Ética.

A publicação do trabalho nesta Revista dependerá da observância das normas acima sugeridas, da apreciação por parte do Conselho Editorial e dos pareceres emitido pelos Consultores. Serão selecionados os artigos apresentados de acordo com a relevância a atualidade do tema, com o n° de artigos por autor, e com a atualidade do conhecimento dentro da respectiva área.

Os artigos encaminhados são de total responsabilidade dos autores, sendo que as opiniões expressas são de sua inteira responsabilidade, e não do corpo editorial.

Fica cedido os direitos autorais quando do envio do artigo para publicação.

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