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CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA
FACULDADE DE DIREITO DE CURITIBA
BARBARA DO AMARAL
A MULTIPARENTALIDADE NO DIREITO DE FAMÍLIA CONTEMPORÂNEO E A
DEMANDA ALIMENTÍCIA
CURITIBA
2019
CENTRO UNIVERSITÁRIO CURITIBA
FACULDADE DE DIREITO DE CURITIBA
BARBARA DO AMARAL
A MULTIPARENTALIDADE NO DIREITO DE FAMÍLIA CONTEMPORÂNEO E A
DEMANDA ALIMENTÍCIA
CURITIBA
2019
BARBARA DO AMARAL
A MULTIPARENTALIDADE NO DIREITO DE FAMÍLIA CONTEMPORÂNEO E A
DEMANDA ALIMENTÍCIA.
Monografia apresentada como requisito parcial à
obtenção do grau de Bacharel em Direito, do
Centro Universitário Curitiba,
Orientadora: Camila Gil Marques Bresolin
CURITIBA
2019
BARBARA DO AMARAL
A MULTIPARENTALIDADE NO DIREITO DE FAMÍLIA CONTEMPORÂNEO E A
DEMANDA ALIMENTÍCIA
Monografia aprovada como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em
Direito do Centro Universitário Curitiba, pela Banca Examinadora formada pelos
professores:
Orientador:
Prof. Membro da Banca
Curitiba de de 2019
À Mara Rubia, Luiz Henrique e Luiz
Felipe, pais e irmão que influenciaram
minhas decisões de vida e que são meus
maiores exemplos.
Em memória à Mara dos Santos, tia
querida que sempre cuidou tanto de mim
quanto da minha família, sempre com
muito amor pra dar.
AGRADECIMENTOS
Gostaria de agradecer primeiramente a Deus, por ter me proporcionado a vida
que tenho hoje, cercada de pessoas maravilhosas, por ter me dado forças e fé
durante essa jornada.
A minha família, meus pais, meu irmão, meus tios, pelo apoio e orgulho
durante essa jornada, pelo carinho em relação ao tema, e pela atenção durante esse
longo processo.
Aos meus pais, Mara Rúbia e Luiz Henrique, que sempre me apoiaram e me
deram forças durante minha formação acadêmica.
Ao meu irmão, Luiz Felipe, o qual mesmo longe, nunca deixou de me apoiar e
me incentivar
Aos meus queridos amigos, que estavam ao meu lado quando eu precisava
de um suporte, que me auxiliaram em vários momentos de indecisão em relação ao
trabalho produzido.
E a minha querida orientadora Camila, pela paciência, pelo auxilio e domínio
dos temas relacionados, por todas as orientações e apoio para esse trabalho se
tornar realidade.
Agradeço a todos que fizeram parte dessa jornada, desse capítulo da minha
vida que se fecha.
“Tenho a impressão de ter sido uma criança
brincando à beira-mar, divertindo-me em descobrir
uma pedrinha mais lisa ou uma concha mais bonita
que as outras, enquanto o imenso oceano da
verdade continua misterioso diante de meus olhos.”
(Isaac Newton)
RESUMO
O presente trabalho de conclusão de curso tem por finalidade analisar a
problemática alimentícia no berço da multiparentalidade. Em um primeiro momento,
será exposta a evolução do conceito de família bem como sua evolução história,
com análise a artigos da Constituição Federal, Código Civil e Estatuto da Criança e
do Adolescente, será demonstrada também, seguindo essa mesma linha de análise,
os diversos modelos de família hoje existentes, e os princípios que as cercam. Em
um segundo momento, far-se-á análise das filiações presentes no ordenamento
jurídico bem como sua evolução história. Na sequência será analisada a
multiparentalidade e o seu surgimento que culturalmente fora consolidado na
sociedade brasileira sendo posteriormente, através de princípios constitucionais,
amparado pelo judiciário brasileiro. Por fim, será analisado o conceito de alimentos,
tanto nas doutrinas quanto nos Ordenamentos Jurídicos Brasileiros, entrando então,
na problemática do trabalho, que sería como funciona a pensão alimentícia no berço
da multiparentalidade.
Palavras chave: Multiparentalidade. Filiação. Família. Afetividade. Socioafetividade.
ABSTRACT
This final project aims to analyze the alimony in the multiparentality domain, in the
first part of this project will be analyzed the history changes in the concept of family
based on the Brazilian Legal System. On this same line of word, will be studied the
types of family that exists today and the principles that surrounds them. On the
second part, will be analyzed the present affiliations in the Brazilian Legal System, as
well as its historical evolution. In the third part of this project, will be studied the
multiparentality and its emergence in Brazilian Society. In the last part of this project,
will be studied the concept of alimony, both is doctrines and in the Brazilian Legal
System, analyzing then, how would be the functioning of the alimony in the cradle of
multiparentality.
Key-words: multiparentality, filiation, family, affectivity, socio-affectivity.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ....................................................................................... 1
2. FAMÍLIA ................................................................................................. 3
2.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE FAMÍLIA; .................... 3
2.2. CONCEITO DE FAMÍLIA ..................................................................... 4
2.3 PLURALIDADE FAMILIAR ................................................................... 8
2.3.1. Matrimonial ................................................................................... 8
2.3.2. Informal ou união estável .............................................................. 8
2.3.3. Monoparental: ............................................................................... 9
2.3.4. Anaparental ou Parental ............................................................... 9
2.3.5. Composta, Mosaico ou Pluriparental: ......................................... 10
2.3.6. Homoafetiva: ............................................................................... 10
2.3.7. Simultânea ou Paralela ............................................................... 11
2.3.8. Poliafetiva ................................................................................... 11
2.3.9. Natural: Extensa ou Ampliada e Substituta: ................................ 12
2.3.10. Eudemonista ............................................................................. 13
2.4 PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA: ........................................... 13
2.4.1 Princípios e Regras; ..................................................................... 13
2.4.2. Proteção da Dignidade da Pessoa Humana; .............................. 14
2.4.3. Igualdade: entre os cônjuges e companheiros e na chefia familiar18
2.4.3.3. Equiparação dos filhos ............................................................. 20
2.4.4. Pluralidade de Entidades Familiares:.......................................... 20
2.4.5. Monogamia ................................................................................. 21
2.4.6. Liberdade ................................................................................... 22
2.4.7. Solidariedade Familiar ................................................................ 23
2.4.8. Proteção Integral a Criança, Adolescente e jovens .................... 23
2.4.9. Melhor Interesse da Criança e do Adolescente. ......................... 25
2.4.10. Vedação ao Retrocesso. ........................................................... 26
2.4.11. Afetividade. ............................................................................... 26
3. FILIAÇÃO ............................................................................................ 28
3.1 CONCEITUAÇÃO .............................................................................. 29
3.2. A FILIAÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO. .......... 30
3.3. ESPÉCIES DE FILIAÇÃO ................................................................. 33
3.3.1. Jurídica ....................................................................................... 33
3.3.2. Biológica ou Natural .................................................................... 36
3.3.3. Socioafetiva ................................................................................ 37
4. MULTIPARENTALIDADE: ................................................................... 39
4.1 CONCEITUAÇÃO .............................................................................. 39
4.2 MULTIPARENTALIDADE NA ADOÇÃO ............................................ 45
4.3 ALIMENTOS ....................................................................................... 46
4.3.1 Conceito ....................................................................................... 46
4.4 ALIMENTOS NA MULTIPARENTALIDADE. ...................................... 51
CONSIDERAÇÕES FINAIS. .................................................................... 54
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 58
1
1. INTRODUÇÃO
O presente trabalho de conclusão de curso, tem por finalidade principal
analisar e demonstrar os diversos conceitos de família com o decorrer do tempo. A
evolução histórica da família que a pouco tempo atrás tinha como base o matrimonio
e unicamente ele. Após a promulgação da Constituição de 1988, a família passou a
ser base da sociedade, assim então, sendo amplamente protegida pela Constituição,
não só a família matrimonial, mas como as demais formações familiares.
Adentrando no trabalho, far-se-á uma análise aos princípios norteadores do
direito, e do direito de família propriamente dito. Para analisar melhor o tema
proposto ao trabalho.
A análise não para apenas em alguns dos tipos familiares que hoje existem,
alguns porque, não é possível exaurir todos os tipos de família, mesmo esses não
sendo expressos em carta legal, todos tem direito a ser garantida proteção.
Nesse sentido, abordado também adiante, a questão da filiação, com uma
breve evolução histórica desta no direito brasileiro onde, durante muitos anos, os
filhos havidos fora do casamento, ou seja, que não fossem filhos biológicos do casal,
ou filhos adotivos, eram considerados ilegítimo.
Será ainda analisado cada espécie de filiação, filiação legal, biológica e por
fim, a filiação socioafetiva. Dando destaque para o entendimento de Luiz Edson
Fachin, o qual afirma que “a paternidade socioafetiva prevalece sobre a biológica”
A partir desse ponto, surge a problemática da multiparentalidade, antes seria
escolhido entre um vínculo ou outro, ou seria o biológico, ou seria o afetivo. A
multiparentalidade traz a possibilidade de reconhecimento de ambas, judicialmente,
sem prejuízo a nenhum dos pais, e muito menos para a criança, visto que, sempre é
levado em conta o melhor interesse da criança para as decisões que versem sobre a
multiparentalidade.
Por fim, a questão da pensão alimentícia. Será analisada como é a pensão
alimentícia hoje protegida pelo Código Civil Brasileiro, o qual traz apenas a
possibilidade de alimentos entre um pai e uma mãe e seus filhos. O propósito do
2
trabalho é, fazer uma análise aos alimentos inseridos no âmbito da
multiparentalidade, analisar se teria alguma diferença entre esse instituto e o já
existente protegido pelo Código.
Far-se-á durante o trabalho, a apresentação de alguns casos acerca da
multiparentalidade para analisar-se como os tribunais brasileiros vem decidindo a
pluriparentalidade na sociedade contemporânea.
3
2. FAMÍLIA
2.1. EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO CONCEITO DE FAMÍLIA;
A Lei 8.069 de 13 julho de 1990 em seu artigo 25, caracteriza a família como
“Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles
e seus descendentes”. Sendo assim, pode-se interpretar como, a família composta
por qualquer um dos pais, não precisando os dois para compor família. Como será
apresentado neste capitulo, o conceito de família sofreu uma grande alteração da
antiguidade até os dias atuais, tendo então, esta classificação apresentada no artigo.
A família surge de um fato natural, assim como conta Nehemias Domingos de
Melo (2014, p.). A família surge como um fato natural, quer dizer, próprio da
natureza humana, baseada fundamentalmente na necessidade de convivência entre
as pessoas.1
No antigo Direito Romano, a família tinha como base o pater família2, tendo
este direito de vida e de morte sobre seus filhos, e o papel da mulher nesse cenário
era apenas um papel de submissão ao pater3. O pater era a figura de autoridade
máxima dentro do núcleo familiar, sendo necessariamente o ascendente mais velho.
Naquela configuração, o pater reunia os descendentes sob sua absoluta
autoridade. Sendo assim, independentemente da idade e da situação conjugal,
todos os descendentes continuavam a lhe dever respeito e obediência. O pater
permanece como o chefe da família até seu falecimento4.
A família nessa época, não tinha como critério predominante, para
determinação de parentesco, a consanguinidade. O que determinava o parentesco
era a sujeição ao pater, quando este falecia, desmanchava-se a família, e seus
descendentes masculinos se tornavam pater de suas respectivas famílias.
1 MELO, Nehemias Domingos de, Lições do direito civil 5: família e sucessões: para concursos,
exame da Ordem e graduação em direito – São Paulo: Atlas, 2014. 2 Pai de Família
3 Pai
4 GAGLIANO, Pablo Stolze, PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil, v. 6 – Direito
de família, 8ª ed., São Paulo, Saraiva Educação, 2018 p. 56
4
Durante a Idade Média, a família era organizada no trabalho agrário, a mulher
continuava em seu “papel” de obediência plena ao marido e sempre a suas ordens.
Nesse cenário, quando a mulher era solteira, essa era submetida ao poder do pai, e
assim que casava, assumia a família do marido, sendo assim, a mulher excluída do
direito sucessório, tendo como justificativa para sua exclusão, o fato que assumiria
outra família quando casada. 5
Com a ascensão do Cristianismo houve uma mudança no que era
previamente considerado como “Família”. A família cristã foi consolidada em um
modelo patriarcal e permaneceu assim até a vinda da revolução industrial no século
XVIII.
Quando o mercado começou a demandar mais mão de obra, as mulheres que
primeiramente eram apenas encarregas dos cuidados da casa e do seu marido,
passaram a ingressar o mercado de trabalho, deixando de ser o homem o único
provedor da família. Com a demanda elevada, os filhos acabavam ajudando o pai
em seus ofícios ou na atividade agropastoril
A partir de um novo modelo econômico mundial já no século XIX, começaram
a surgir rumores de que seria o fim da família, não a família propriamente dita, mas
sim daquele conceito conservador originado na Roma antiga.
2.2. CONCEITO DE FAMÍLIA
Antes da conceituação em si, cabe lembrar que, pela família ter diversas
formatações, o seu conceito também deve ser amplo, com maior abrangência.
Desse modo, observando o que foi apresentado no capítulo anterior, a única forma
de família que era aceita, era aquela constituída pelo matrimonio, ou seja, era
apenas regulamentada pela lei, esse tipo de família, as relações de filiação e
parentesco dela advindos.
5 MELO, Nehemias Domingos de, Lições do direito civil 5: família e sucessões: para concursos,
exame da Ordem e graduação em direito – São Paulo: Atlas, 2014.
5
Com a evolução do conceito de família, houve uma repersonalização das
relações familiares, atendendo novos e mais valiosos interesses das pessoas: a
solidariedade, o afeto, a confiança, lealdade, amor e o respeito. 6
A Família é o elemento que gera maior felicidade, e acaba sendo também o
lugar em que as pessoas passam as maiores angustias, frustações, traumas e
medos.7
Passou de uma concepção onde apenas o pai exercia o poder, para o pátrio
poder, onde ambos lidam e exercem seus poderes dentro da família. Desde 1988,
com a vinda do texto constitucional em seu artigo 226, parágrafo 5º8, foram
equiparados os direitos e deveres entre os cônjuges nas relações matrimoniais,
adicionado recentemente este mesmo conceito no Código Civil em seu artigo 1.5119.
Aquela concepção previamente estabelecida na sociedade brasileira, onde o
homem era o chefe da família, o pater, aquele quem controlava, quem mandava,
aquele que tinha plena autoridade sobre os filhos, desapareceu. Veio uma nova
concepção, uma nova família, tendo como a maior mudança, o fato de a mulher
poder exercer suas atividades plenamente, poder ingressar no mercado de trabalho
e auxiliar nas decisões dentro da casa.
Vendo desse modo, pode-se apresentar dois conceitos de família, um amplo
e um restrito. Se for olhar de modo amplo, a família seria um conjunto de pessoas
unidas por um vínculo de natureza familiar, nesse caso, sendo considerados os
ascendentes, descendentes, colaterais, mesmo do cônjuge, sendo esses chamados
de parentes por afinidade. 10
De um modo restrito, a família é apenas formada por pais e seus filhos, estes
vivendo sob o mesmo pátrio poder ou poder familiar, nesse cenário, também ficam
protegidas aquelas famílias compostas por apenas um dos pais e seus
6 DIAS, Maria Berenice, Manual de direito das famílias -- 10. ecl. rev., atual. e ampl. -- São Paulo:
Editora Revista dos Tribunais, 2015. p. 34 7\GAGLIANO, PAMPLONA FILHO. 2017., p. 44.
8 Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 5º Os direitos e deveres
referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. 9 Art. 1.511. O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na igualdade de direitos e
deveres dos cônjuges. 10
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito Civil: família. 18. Ed. São Paulo. Atlas, 2018. p.1.
6
descendentes, denominada esta entidade familiar de Família Monoparental,11
conforme artigo 226 da Constituição Federal em seu parágrafo 4º: “Entende-se,
também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e por
seus descendentes”.12
Como apresentado, a família tem um sentido muito amplo, não se firmando
mais a aquele conceito de pai, mãe e filhos. A família hoje é composta de inúmeras
maneiras, com uma ampla pluralidade de significados. Pode-se dizer então que a
família, seguindo o princípio constitucional da dignidade da pessoa humana, é um
núcleo existencial integrado por pessoal unidas através de um vínculo afetivo, não
necessariamente uma relação baseada na consanguinidade.
Nesse sentido, não se pode estabelecer à família um conceito específico,
visto que está tem uma pluralidade de concepções. Maria Berenice Dias em seu livro
salienta;
Em face da ampliação do conceito de família, Semy Glanz a define como um conjunto formado por um ou mais indivíduos, ligados por laços biológicos ou sociopsicológicos, em geral morando sob o mesmo teto, e mantendo ou não a mesma residência. Pode ser formada por duas pessoas casadas ou em união livre, de sexo diverso ou não, com ou sem filhos; um dos pais com um ou mais filhos (família monoparental): uma pessoa morando só, solteira, viúva, separada ou divorciada, ou mesmo casada, com residência diversa daquela de seu cônjuge (família unipessoal); pessoas ligadas pela relação de parentesco ou afinidade (ascendentes, descendentes, e colaterais – e estes até o quarto grau.
13
A família é uma construção cultural, cada indivíduo ocupa um lugar, cada um
tem sua função, não necessariamente tendo um laço sanguíneo, não tem a
necessidade desses indivíduos estarem ligados biologicamente, o que pode ser
observado no artigo 25, parágrafo único14 do Estatuto da Criança e do Adolescente,
11
Ibid., p. 7. 12
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado. § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes. 13
DIAS., 2017., p. 145 14
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. Parágrafo único. Entende-se por família extensa ou ampliada aquela que se estende para além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os quais a criança ou adolescente convive e mantém vínculos de afinidade e afetividade. (Incluído pela Lei nº 12.010, de 2009) Vigência
7
que entende por família, algo “além da unidade pais e filhos ou da unidade do casal
... que mantém vínculos de afinidade e afetividade”
Englobando vários aspectos, tais como religiosos, morais, culturais, sexuais e
etc., o perfil da família também sofreu diversas mudanças, ganhando novos
contornos, recebendo uma nova reestruturação, renunciando aspectos formais e
dando lugar a afetividade.
A afetividade é a ligação que há entre os membros da família por decorrência
de sentimentos que os unem; este não é considerada um dever legal, pois de fato,
não é possível obrigar uma pessoa a ter apreço pela outra, é um sentimento que se
tem em relação a determinada pessoa, ou até mesmo por algum bem, significa
identificar-se, ter afeto, amizade ou amor. Os membros de uma família, em sua
maioria, possuem laços de afeição uns com os outros.15
Póvoas traz um entendimento ao “conceito” de família no qual:
A evolução natural das relações interpessoais fez aparecer várias formas de núcleos familiares na sociedade, impossibilitando o reconhecimento como entidade familiar apenas aquilo que o legislador assim o estabelece, porque a família ultrapassa os limites da norma burocrática escrita por homens frequentemente influenciados por ideais pessoais e influências religiosas.
16
Com isso, observa-se que atualmente os pilares dos vínculos familiares são a
cooperação, o afeto e a solidariedade, em busca da felicidade, baseados nos
princípios constitucionais que serão expostos adiante.
Não é possível dar à família um único conceito, um único significado, tendo
em vista as inúmeras modalidades de família apresentadas também neste trabalho.
15
LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil: Direito de Família e Sucessões. 8. ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2013. 16
Póvoas, Maurício Cavallazzi Multiparentalidade: A possibilidade de múltipla filiação registral e seus efeitos, Florianópolis: Conceito Editorial, 2012. pág. 85
8
2.3 PLURALIDADE FAMILIAR
A Constituição Federal de 1988 trouxe uma série de mudanças à sociedade e
à vida das pessoas, foram eliminadas diferenças e discriminações que não tinham
mais justificativa na sociedade atual. No artigo 226 da Constituição Federal,
encontra-se a previsão de algumas entidades familiares, além das constituídas pelo
casamento, porém, tais previsões são meramente exemplificativas.
A seguir, serão apresentados alguns tipos de famílias doutrinariamente
classificados, vale ressaltar que, a família tem vários conceitos e não há como
classificar ou exaurir todos os tipos.
2.3.1 Família Matrimonial
A família matrimonial é advinda do casamento. Como apresentado
anteriormente, por um bom tempo era legitima apenas a constituição de família que
fosse formalizada pelo casamento, sendo marginalizada qualquer outro vínculo
familiar, que não este.17
2.3.2 Família Informal ou união estável
A família denominada por informal foi considerada como “marginal”, pois era
aquela formada por quem não podia mais se casar, visto que ausente o divórcio uma
vez que vitalício o vínculo matrimonial. Com o advento da Constituição Federal de
1988, essa família “marginal” passou a ser conhecida como uma União estável.
Nesse tema, Renata de Almeida e Walsir Edson Rodrigues Junior ensinam
que:
17
MADALENO, Rolf Direito de família. - 8. ed., rev., atual. e ampl. - Rio de Janeiro: Forense, 2018, p. 47
9
A união estável é, grosso modo, uma família conjugal desprovida de solenidade constitutiva. Reúne um casal, que vive como se casados fossem, de maneira ostensiva e per- manente, pela existência de afeto recíproco. uma situação que se cria naturalmente, isenta de iniciativas jurídico-formais.
18
A princípio, vendo assim, a união estável parece ter uma imensa simplicidade,
porém ainda é um assunto rodeado de dúvidas, por um lado tem-se a pretensão de
iguala-la a família matrimonial, e por outro diferencia-la desta, quando tratando-se do
tratamento igualitário.19
2.3.3 Família Monoparental:
Classificada como monoparental, essa família geralmente é aquela que o
progenitor e seus filhos, biológicos ou adotivos. Essas entidades familiares recebem
esse nome com a finalidade de enfatizar que, nessa família, apenas um dos pais
tem a titularidade.
Esse modelo de família está protegido pelo artigo 226, parágrafo 4º da
Constituição Federal de 1988.20
2.3.4 Família anaparental ou parental
Entidade familiar formada por parentes consanguíneos ou não, estando
presente o elemento afetivo e ausente as relações sexuais. Sobre o tema, Dias
ensina que:
A convivência entre parentes ou entre pessoas, ainda que não parentes, dentro de uma estruturação com identidade de propósito, impõe o reconhecimento de uma entidade familiar, que tem o nome de família
18
ALMEIDA, Renata Barbosa de, RODRIGUES JÚNIOR, Walsir Edson. Direito Civil: Famílias, 2ª edição. Atlas, 03/2012. p. 64 19
Ibid., p. 14 20
Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado § 4º Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes.
10
parental ou anaparental. A convivência sob o mesmo teto, durante longos anos, por exemplo, de duas irmãs que conjugam esforços para a formação do acervo patrimonial, constitui uma entidade familiar.
21
Fica então configurada, após o ensinamento de Dias, a ausência de alguém
que ocupe uma posição de ascendentes ou descendentes, como a hipótese de
convivência de apenas irmãos.
2.3.5 Família Composta, mosaico ou pluriparental:
São famílias compostas por uma multiplicidade de vínculos. Famílias que
resultam de uma pluralidade de relações parentais, oriundas de divórcios, re-
casamentos, onde, desses relacionamentos primeiros, um dos dois, ou ambos já
tinham filhos.
Nesse sentido, Dias comenta:
A cada dia surgem novas expressões – composta, mosaico, binuclear -, na tentativa de identificas as famílias que resultam da pluralidade das relações parentais, especialmente fomentadas pelo divórcio, pelo recasamento, seguidos das famílias não matrimoniais e das desuniões
22
Essa espécie da família, não dispõem ainda, de qualquer previsão legal que
lhe imponha deveres ou lhe garanta direitos.23
2.3.6. Família Homoafetiva:
Judicialmente, a Constituição Federal apenas garante segurança jurídica a
família constituída pelo homem e pela mulher, sem falar expressamente, daquelas
uniões compostas por dois homens, ou duas mulheres.
21
DIAS., 2015., p. 140 22
Ibid., p 141 23
Id.
11
O Supremo Tribunal Federal passou a reconhecer essas uniões, como união
estável, garantindo os mesmos direitos e deveres garantidos a um casal “normal” em
uma união estável. A partir dessa, passou a ser convertida a união estável em
casamento. O Superior Tribunal de Justiça admitiu a habilitação para casamento
direto ao Registro Civil, sem antes precisar formalizar a união estável. Por fim, após
o progresso adquirido, o Conselho Nacional de Justiça decretou que fosse proibido a
negativa ao acesso ao casamento. 24
2.3.7 Família Simultânea ou Paralela
A família paralela se configura quando, uma pessoa impossibilitada de
constituir novo vínculo, seja esta impossibilidade pelo casamento ou pela união
estável, e mesmo com tal, constitui novo vínculo.
Ou seja, nesse contexto, família simultânea ou paralela, é quando é mantida
duas ou mais entidades familiares, cada uma com sua autonomia e vivendo em sua
própria residência.
2.3.8 Família Poliafetiva
Na família poliafetiva, diferente da paralela onde é mantida duas ou mais
entidades familiares, é formada uma única família, todas morando sob o mesmo
teto.
Em relação ao tema, Maria Berenice Dias diz:
Alguns tabelionatos passaram a lavrar escrituras públicas de uniões poliafetivas. Por solicitação da ADFAS – Associação de Direito de Família e das Sucessões, a Corregedoria do Conselho Nacional de Justiça, em sede liminar, expediu ofício às Corregedorias Estaduais para que recomendassem aos Tabelionatos de Notas que se abstenham de lavrar essas escrituras enquanto estiver em tramitação o procedimento.
24
DIAS., 2015 p. 276
12
Ainda que se trate de simples recomendação, havendo recusa do tabelionato, possível a formalização do vínculo por instrumento particular, firmado pelas partes e por duas testemunhas, levado a registro no Cartório de Títulos e Documentos.
25
Nessa entidade familiar, tem-se um casamento, contudo, a diferença aqui é o
número de pessoas. Sendo assim, nota-se que o tratamento jurídico á
poliafetividade deve ser o mesmo dado as demais entidades familiares.
2.3.9 Família Natural: Família Extensa ou Ampliada e Família Substituta:
A família natural é trazida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu
artigo 25, “entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou
qualquer deles e seus descendentes”. Ligado esse conceito, ao conceito da família
biológica. A família natural, divide-se em duas outras categorias:
Por extensa ou ampliada, entende-se a família que se estende para além da
unidade pais e filhos ou da unidade do casal, formada por parentes próximos com os
quais a criança mantenha vínculo de afinidade e afetividade26. Antes da criança ou
do adolescente ser inserido em uma família substituta, deve tentar introduzir a
criança ou o adolescente, a um núcleo que esta já conheça, ou seja, sua família
extensa, avós, tios, primos. Nesses casos, vínculo sanguíneo não basta, a criança
ou adolescente deve conviver com estes parentes e possuir vínculos com eles.
Regulada no artigo 28 do Estatuto da Criança e do Adolescente, far-se-á
mediante guarda, tutela ou adoção. Combinado com o artigo 19, parágrafo 3º, o qual
estabelece que a manutenção ou a reintegração da criança ou adolescente à sua
família terá sempre preferência. A criança ou o adolescente só será inserida em uma
família substituta se não for possível recoloca-los na sua família natural ou na
extensa.
25
DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias – 12. ed. ver., atual. e ampl. – São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2017. p. 26
Art. 25. Entende-se por família natural a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes.
13
Apresentado esse contexto, pode-se concluir que a família substitutiva é
aquela que, por casamento ou união estável, se cadastram a adoção27 de uma
criança sem sua família natural, com a intenção de ser pra essa a família que ela
não tem.
2.3.10 Família Eudemonista
Eudemonismo é a busca da felicidade, ou de uma vida feliz, levando em
consideração aspectos globais e particulares. A família eudemonista, baseada nesse
conceito da palavra, é uma família que busca a felicidade individual, pela
emancipação de seus membros. 28
Nessa entidade familiar a base é o amor e o afeto, a igualdade e a liberdade,
a solidariedade e da responsabilidade recíproca. 29
2.4 PRINCÍPIOS DO DIREITO DE FAMÍLIA:
2.4.1 Princípios e Regras;
Antes da apresentação dos princípios do Direito de família, faz-se necessária
a diferenciação entre: Regras e Princípios.
Princípios por definição são mais acentuados do que as regras, o que acaba
deixando mais nítido os valores jurídicos e políticos. Deve tem conteúdo universal,
ou seja, que vale para todas as pessoas, sem distinções e discriminações. Sendo
assim, entende-se que tem que ser generalizadores e servem para balizar as regras.
De acordo com Maria Berenice Dias, para um princípio ser reconhecido como tal,
deve ser subordinante, e não subordinado a regras.
27
MADALENO, 2017, p. 68 28
DIAS, 2015, p. 143 29
Ibid., p 144
14
Por sua vez, as regras não podem, primeiramente, afrontar as diretrizes dos
princípios, uma vez que esses a balizam. Tem-se no Direito, quando duas regras
incidem sobre um mesmo caso, nunca será aplicada ambas, pondera-se qual, entre
critérios hierárquicos, cronológicos ou de especialidades, uma será considerava
válida para aquele caso específico e a outra será considerada invalida.
Sendo assim, há um alto número de regras e princípios para todos os ramos
do direito brasileiro, e em alguns casos há um conflito dos princípios, ou dos direitos
fundamentais.30
Visto a diferenciação entre regras e princípios, será a seguir, elencados
alguns princípios norteadores do Direito de Família.
2.4.2. Princípio da Proteção da Dignidade da Pessoa Humana;
Assegurado pela Carta Magna em seu artigo 1º, inciso III31, a dignidade da
pessoa humana. Sendo assim, o princípio da dignidade da pessoa humana, por sua
grande amplitude, fica difícil de ser exatamente definido. Da mesma maneira que
este princípio é assegurado pela Constituição Federal, ele também é valorizado pelo
Novo Código de Processo Civil, no seu artigo 8º32, o qual estabelece que, “ao aplicar
o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem
comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando
a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência.”
A partir do conceito apresentado por Flavio Tartuce em seu livro, pode-se
entender que a dignidade da pessoa humana é algo que você vê na pessoa, ou seja,
como a pessoa se caracteriza socialmente, analisando seu contato com a sociedade
na qual está inserida. Assim sendo, é analisado então na pessoa, seu modo de ser,
30
DIAS, 2015., p. 41 31
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana; 32
Art. 8º Ao aplicar o ordenamento jurídico, o juiz atenderá aos fins sociais e às exigências do bem comum, resguardando e promovendo a dignidade da pessoa humana e observando a proporcionalidade, a razoabilidade, a legalidade, a publicidade e a eficiência. (Código de Processo Civil)
15
sua fala, sua postura, sua atuação com outras pessoas, é algo que pode ser visto
nos olhos da pessoa. 33
Para exemplificar, há de se exibir algumas aplicações pela jurisprudência
brasileira do princípio da dignidade da pessoa humana, no Direito de Família.
Primeiramente, tem-se um entendimento do TJ-BA em uma apelação cível,
em uma ação de reconhecimento e dissolução de união estável post mortem34. A
união estável pode ser encontrada na Lei Nº 9.278, de maio de 1996, no Código Civil
Brasileiro nos artigos 1.723, 1.727 e 1.790 e também na Constituição Federal da
República em seu artigo 226, parágrafo 3º e 4º ao equiparar a união estável ao
casamento civil.
EMENTA:APELAÇÃO CIVEL. DIREITO DE FAMÍLIA.AÇÃO DE RECONHECIMENTO E DISSOLUÇÃO DE UNIÃO ESTÁVEL POST MORTEM. UNIÃO ESTÁVEL SIMULTANEA. PRINCIPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E DA AFETIVIDADE. PROVA ROBUSTA. POSSIBILIDADE. 1. Ainda que de forma incipiente, doutrina e jurisprudência vêm reconhecendo a juridicidade das chamadas famílias paralelas, como aquelas que se formam concomitantemente ao casamento ou à união estável. 2. A força dos fatos surge como situações novas que reclamam acolhida jurídica para não ficarem no limbo da exclusão. Dentre esses casos, estão exatamente as famílias paralelas, que vicejam ao lado das famílias matrimonializadas. 3. Havendo nos autos elementos suficientes ao reconhecimento da existência de união estável entre a apelante e o de cujus, o caso é de procedência do pedido. SENTENÇA MANTIDA. RECURSO IMPROVIDO. (Classe: Apelação, Número do Processo: 0002396-95.2010.8.05.0191, Relator (a): Maurício Kertzman Szporer, Segunda Câmara Cível, Publicado em: 15/04/2015)
35
Como previamente estabelecido na Lei nº 9.278 de 10 de maio de 1996, a
união estável, é entendida como “a convivência duradoura, pública e continua, de
um homem e uma mulher, estabelecida como objetivo de constituir família”36
No caso do reconhecimento da união estável post mordem, a ação será
proposta em face dos herdeiros do falecido, sendo assim, independe se ele deixou
um ou dois herdeiros, a ação terá de ser proposta contra ambos. Com este
33
TARTUCE, Flávio. Direito Civil - Vol. 5 - Direito de Família, 13ª edição. Forense, 12/2017. p. 8 34
Posterior à morte 35
Disponível em: < https://tj-ba.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/363160671/apelacao-apl-23969520108050191> Acesso em: 02/04/2019 36
Art. 1º é conhecida como entidade familiar a convivência duradoura, pública e contínua, de um homem e uma mulher, estabelecida como objetivo de constituição de família (Lei nº 9.278, de 1996)
16
entendimento, nota-se que, caso seja proposta a ação do reconhecimento da união
estável, e a sentença for favorável, o companheiro começa a fazer parte então, do
inventario e partilha de bens do de cujus.
Aqui então, temos a incidência do princípio a cima explicado, o qual ficou
conceituado como aquilo que se vê na pessoa, o modo com o qual ela se insere na
sociedade, seu modo de agir com os outros, vinculando portanto, este princípio, este
modo de ser, com o modo com o qual o casal estava inserido na sociedade,
constituindo uma união estável, um relacionamento duradouro, público, com a
intenção de construir uma família.
Outro entendimento que podemos observar é um do Supremo Tribunal de
Justiça, versando sobre imóvel em que a pessoa solteira reside, tratando este como
bem de família, portanto, impenhorável. A impenhorabilidade deste bem está
apresentada na Lei 8.009 de 29 de março de 1990, não tratando essa apenas do
imóvel utilizado pela pessoa, mas também de outros bens, como apresentado no
artigo 1º, parágrafo único. 37
Processual. Execução. Impenhorabilidade. Imóvel. Residência. Devedor solteiro e solitário – Lei 8.009/1990. A interpretação teleológica do art. 1.º, da Lei 8.009/1990, revela que a norma não se limita ao resguardo da família. Seu escopo definitivo é a proteção de um direito fundamental da pessoa humana: o direito à moradia. Se assim ocorre, não faz sentido proteger quem vive em grupo e abandonar o indivíduo que sofre o mais doloroso dos sentimentos: a solidão. É impenhorável, por efeito do preceito contido no art. 1.º da Lei 8.009/1990, o imóvel em que reside, sozinho, o devedor celibatário” (STJ, EREsp 182.223/SP, j. 06.02.2002, Corte Especial, Rel. Min. Sálvio de Figueiredo Teixeira, Rel. acórdão Min. Humberto Gomes de Barros. DJ 07.04.2003, p. 209, REVJUR, vol. 306, p. 83; Veja: STJ, REsp 276.004/SP (RSTJ 153/273, JBCC 191/215), REsp 57.606/MG (RSTJ 81/306), REsp 159.851/SP – LEXJTACSP 174/615 –, REsp 218.377/ES – LEXSTJ 136/111, RDR 18/355, RSTJ 143/385).
38
37 Art. 1º O imóvel residencial próprio do casal, ou da entidade familiar, é impenhorável e não
responderá por qualquer tipo de dívida civil, comercial, fiscal, previdenciária ou de outra natureza, contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que sejam seus proprietários e nele residam, salvo nas hipóteses previstas nesta lei. Parágrafo único. A impenhorabilidade compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações, as benfeitorias de qualquer natureza e todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que guarnecem a casa, desde que quitados. (Lei nº 8.009 de 1990)
38 Disponível em:
<https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/255544/embargos-de-divergencia-no-recurso-especial-eresp-182223-sp-1999-0110360-6>
17
Nesse sentido então, tem-se este entendimento do Supremo Tribunal de
Justiça que visa, proteger o bem de família daquele que constitui família sozinho
com base e fundamentos no princípio da dignidade da pessoa humana. Observa-se
então, que a ementa além de proteger o princípio da dignidade da pessoa humana,
assegurado no artigo 1º, inciso III39 da Constituição Federal de 1988, e também o
direito à moradia, também assegurado na Carta Magna, no artigo 6º40.
Com a consolidação deste entendimento proclamado pelo Superior Tribunal
de Justiça teve como resultado a Súmula 364, a qual estabelece que “O conceito de
impenhorabilidade de bem de família abrange também o imóvel pertencente a
pessoas solteiras, separadas e viúvas.”
Há inúmeras jurisprudências relacionando o direito de família ao princípio da
dignidade da pessoa humana, mas ainda se faz necessário observar algumas outras
classificações destes princípios na doutrina brasileira.
Este capitulo começou com a conceituação apresentada por Flavio Tartuce,
apresentando o princípio da dignidade da pessoa humana como algo interno da
pessoa, sua maneira de ser e de agir.
Pablo Stolze por sua vez conceitua o princípio como “o princípio solar”41 do
ordenamento jurídico, o qual traduz um valor fundamental no que diz respeito a
“existência humana, segundo as suas possibilidades e expectativas, patrimoniais e
afetivas, indispensáveis à sua realização pessoal e à busca da felicidade”42.
(STOLZE, PAMPLONA FILHO, 2017., p.83)
Deste conceito então, além de assegurar a sobrevivência, ele também
assegura o direito de viver plenamente sem intervenções de qualquer que seja a
fonte.
Acesso em: 02/04/2019 39
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana; 40
Art. 6º São direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o transporte, o lazer, a segurança, a previdência social, a proteção à maternidade e à infância, a assistência aos desamparados, na forma desta Constituição. 41
GAGLIANO, PAMPLONA FILHO, 2017., p. 80 42
Ibid., p. 83
18
2.4.3. Princípio da Igualdade: entre os cônjuges e companheiros e na chefia familiar
A igualdade vem como princípio constitucional, garantido na Carta Magna em
seu artigo 5º com uma grande abrangência, prevendo que, “Todos são iguais
perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e
aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à
igualdade, à segurança e à propriedade”.
Maria Berenice Dias explica em sua obra, não basta que a lei seja aplicada
em igualdade a todos os cidadãos, precisa de um tratamento com homogeneidade,
protegendo com igualdade a todos. Ainda em seu livro, Berenice classifica em
igualdade formal e igualdade material43
A igualdade formal tem por finalidade atribuir a aqueles de uma mesma
“categoria social” tenham tratamentos idênticos. E a igualdade material afirma que
ainda assim, existem desigualdades44
A seguir, será apresentado mais detalhadamente no direito de família, como
é aplicada a igualdade entre os cônjuges dentro da família e na chefia familiar, e
também a igualdade entre os filhos, sem distinção entre o filho adotado e o
biológico.
Começando por base então, aquilo já estabelecido: A igualdade entre homens
e mulheres. Apresentado na Constituição Federal no artigo 5º, mais especificamente
no inciso I45, no artigo 226, parágrafo 5º46 e o artigo 22747, também da Constituição
Federal.
43
DIAS, 2015., p. 47 44
Id.
45 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta Constituição;
46 Art. 226. A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado § 5º Os direitos e deveres
referentes à sociedade conjugal são exercidos igualmente pelo homem e pela mulher. 47
Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
19
No Código Civil de 2002, evidencia essa igualdade no artigo 1.511,
determinando que “O casamento estabelece comunhão plena de vida, com base na
igualdade de direitos e deveres dos cônjuges.” e no artigo 1.565 estipulando, que
“Pelo casamento, homem e mulher assumem mutuamente a condição de consortes,
companheiros e responsáveis pelos encargos da família.”.
Todos os direitos e deveres provenientes, tanto do casamento, quanto do
poder familiar com seus filhos, são exercidos em conjunto, como estabelecido no
artigo 1.567 do Código Civil.48 Por equiparação, este princípio também é aplicado à
união estável ou outros tipos familiares que forem constituídos.
Iniciando a análise pelo Código Civil Brasileiro, o artigo 1.566 estabelece os
deveres dos cônjuges, e entre os incisos, indica que deve ser mútua a assistência, o
sustendo, a guarda e a educação dos filhos. No mesmo sentido, o artigo 1.634
estipula que “compete a ambos os pais, qualquer que seja a sua situação conjugal, o
pleno exercício do poder familiar, que consiste em, quanto aos filhos”49. Os incisos
seguintes deste artigo determinam quais são as obrigações dos cônjuges para com
os seus filhos no âmbito do poder familiar. Além do Código Civil, a Carta Magna
também salienta este princípio, no artigo 226, parágrafo 5º, este já apresentado
anteriormente.
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
48 Art. 1.567. A direção da sociedade conjugal será exercida, em colaboração, pelo marido e pela
mulher, sempre no interesse do casal e dos filhos. Parágrafo único. Havendo divergência, qualquer dos cônjuges poderá recorrer ao juiz, que decidirá tendo em consideração aqueles interesses.
49Art. 1.634 I - dirigir-lhes a criação e a educação; II - exercer a guarda unilateral ou compartilhada
nos termos do art. 1.584; III - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para casarem; IV - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para viajarem ao exterior; V - conceder-lhes ou negar-lhes consentimento para mudarem sua residência permanente para outro Município; VI - nomear-lhes tutor por testamento ou documento autêntico, se o outro dos pais não lhe sobreviver, ou o sobrevivo não puder exercer o poder familiar; VII - representá-los judicial e extrajudicialmente até os 16 (dezesseis) anos, nos atos da vida civil, e assisti-los, após essa idade, nos atos em que forem partes, suprindo-lhes o consentimento; VIII - reclamá-los de quem ilegalmente os detenha; IX - exigir que lhes prestem obediência, respeito e os serviços próprios de sua idade e condição.
20
2.4.3.3. Princípio da equiparação dos filhos
A família “tradicional” só aceitava como filho “legitimo” aquele que era fruto do
casamento do casal, ou seja, se a criança fosse concebida fora do casamento, ou
adotada, não era aceito como filho, e havia essa descriminação na lei civil e
especial. 50
Hodiernamente, os filhos nascidos no âmbito do casamento, os nascidos fora
e aqueles adotados, são todos iguais perante a lei, e devem ser tratados com total
igualdade dentro da sua esfera familiar51
Pode ser observada essa garantia na Constituição Federal no artigo 227,
parágrafo 6º o qual estabelece que, “os filhos, havidos ou não da relação do
casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações52, proibidas
quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”.
Entende-se então, a absoluta igualdade entre todos os filhos, sendo proibida
a distinção entre filiações. São todos filhos, todos iguais no âmbito familiar, e na
questão de direitos e deveres também.53
2.4.4. Princípio da Pluralidade de Entidades Familiares:
Anteriormente apresentado, a família possui uma ampla gama de conceitos,
não sendo possível mais fazer a classificação em apenas um tipo de família.
De acordo com Renata e Walsir, a família não se restringe a uma
estruturação singular. A família contemporânea compreende uma pluralidade de
formações, baseadas no afeto.54
50
GONÇALVES, Carlos Roberto, Direito civil brasileiro, volume 6 : direito de família – 15. ed. – São Paulo : Saraiva Educação, 2018. p. 23 51
PEREIRA, Caio Mário Silva. Instituições de Direito Civil - Vol. V - Direito de Família, 25ª edição. Rio de Janeiro: Forense, 2017. p. 65 52
53
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil 3 esquematizado, 4ª edição, 4th edição. Editora Saraiva, 2017 p. 304 54
ALMEIDA, RODRIGUES JÚNIOR, Walsir Edson Rodrigues 2012, p. 43
21
O reconhecimento de outros tipos de família, diversos da família matrimonial,
previamente protegida pelo ordenamento jurídico brasileiro, começou com a união
estável e com a família monoparental. Entretanto, também não pode afirmar que o
ordenamento destina tutela exclusivamente aos tipos de família nele apresentado.
Nesse sentido, Walsir e Renata afirmam que, o sistema jurídico tende a
proteger, enquanto conceito de família, a afetiva comunhão, ou seja, independente
da origem esta for formada.55
Assim sendo, o fato dessas famílias estarem protegidas pela Carta Magna,
não abre pretexto para não dar proteção a aquelas não descritas explicitamente na
lei.
A partir do descrito, leva-se em consideração o princípio da pluralidade de
entidades familiares, conforme explicado por Ana Carla Harmatiuk Matos:
Por meio de uma interpretação restrita dos comandos constitucionais pode-se chegar ao entendimento, em nosso entender equivocado, conforme o qual a pluralidade de formas de família é uma pluralidade na esteira da Constituição. Ou seja, nesta linha de pensamento, será apenas possível a variedade de maneiras de formação da família como expressamente estabelecido no texto constitucional. Não assemelha ser essa a extensão devida ao princípio da pluralidade familiar [...]. Num futuro próximo, com novas transformações sociais, outras formas de família deverão produzir efeitos jurídicos, sem a necessidade de uma disposição manifesta do texto constitucional, isto porque as mudanças operadas no Direito Civil transcendem aquelas diretamente estabelecidas nas regras postas.
56
Inegável então, que o rol exemplificativo dos tipos de família apresentado no
Capítulo 2 deste trabalho, merecem a mesma proteção concebida a aqueles
diretamente expressos na lei.
2.4.5. Princípio da Monogamia
55
RODRIGUES JUNIOR., 2012., p. 44 56
ALMEIDA, RODRIGUES JÚNIOR., 2012 apud AT S, Ana Carla Harmatiuk. As famílias não fundadas no casamento e a condição feminina. Rio de Janeiro: Renovar, 2000, p. 113-114.
22
Sabe-se que alguns princípios ficam expressos na lei, e outros são implícitos.
O Princípio da Monogamia nesse contexto se encaixa como um princípio implícito,
utilizado como “um princípio organizador” do Direito de Família. 57
Sendo assim, conceituado por Rodrigo da Cunha Pereira, a monogamia não é
um conceito compreendido unicamente como norma moral ou moralizante, mas sim
como um princípio intrínseco das relações familiares.58
Conceitualizando então, de acordo com Maria Berenice Dias, o princípio da
monogamia não é um princípio propriamente dito, ele se encaixa mais como regra, a
qual impõe uma restrição à múltiplas relações patrimoniais, com proteção estatal. 59
2.4.6 Princípio da Liberdade
Para iniciar a conceituação do Princípio da Liberdade, observa-se o
apresentado por Maria Berenice Dias nesse contexto (2015, p. 46) “só existe
liberdade se houver, em igual proporção e concomitância, igualdade. Inexistindo o
pressuposto da igualdade, haverá dominação e sujeição, não liberdade.”60
A liberdade foi um dos primeiros direitos fundamentais a ser garantido a
comunidade, é um direito de todos, e assim, todos tem direito de escolher com quem
querem estar, como querem se vestir, que carreira querem seguir, tem direito de
expressar sua palavra, e no Direito de Família, todos tem direito de escolher como
será formada sua família.
Em se tratando da liberdade, cada um é livre para constituir uma relação, seja
ela hétero ou homossexual, seja um casamento ou uma união estável, tem direito de
escolher qual será seu regime de casamento, dentro da casamento os cônjuges tem
igual liberdade na chefia familiar, tem liberdade para dissolver ou extinguir o
casamento e a união estável.
57
MADALENO, 2018, p. 97 58
MADALENO, 2018 apud PEREIRA, Rodrigo da Cunha. Princípios fundamentais norteadores do Direito de Família. Belo Horizonte: Del Rey, 2006., p. 108. 59
DIAS., 2015, p. 42 60
Ibid., p. 46
23
Assim como os adultos, as crianças e os adolescentes também tem suas
liberalidades garantidas pela lei. O artigo 45 parágrafo 2º do Estatuto da Criança e
do Adolescente garante a criança de 12 para cima, que este concorde com a
adoção. No artigo 16, inciso II da mesma lei, assegura a liberdade de opinião e de
expressão, e no mesmo artigo, no inciso V, todos tem direito de participar da vida
familiar e comunitária sem descriminação.
2.4.7. Princípio da Solidariedade Familiar
Para termos um ambiente saudável, um ambiente acolhedor, é de suma
importância que se tenha reciprocidade, compreensão e cooperação dentro da
entidade familiar, e é aqui que entra o Princípio da Solidariedade Familiar.
A solidariedade Familiar, conta com o dever de mutua assistência entre os
cônjuges no casamento, assegurado no artigo 1.566 do Código Civil, no inciso III61.
Nesse contexto então, pode-se dizer também que a mutua assistência também se
encaixa na questão alimentícia, sendo então material;
Segundo Rolf Madaleno, o dever imaterial, entre os cônjuges, companheiros e
aqueles que convivem no mesmo ambiente familiar, deve ser solidário e prestativo,
respeitando os direitos de seu companheiro, lhe dando incentivo em suas atividades,
sejam elas culturais, sociais ou profissionais.62
2.4.8. Princípio da Proteção Integral a Criança, Adolescente e jovens
Ao idoso, foi assegurado pelo artigo 230 da Constituição Federal, que “a
sociedade e o estado tem o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua
participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-
lhes o direito à vida.” No Código Civil, é apresentada a questão do regime de
separação de bens, garantido então que seja obrigatória a separação de bens no
61
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges: III mútua assistência; 62
MADALENO, 2017., p. 140
24
casamento, da pessoa maior de 70 anos (inciso II). Além desses dispositivos, tem-se
a lei 10.471 de 1º de outubro de 2003, chamada de Estatuto do Idoso, no artigo 1º
estabelecendo que é considerado idoso aquele com idade igual ou superior a 60
anos, e também o artigo 2º que assegura ao idoso seus direitos fundamentais.63
Em relação ao Jovem, há uma Emenda Constitucional, numerada 65/2010, foi
uma Emenda que alterou o artigo 22764 da Constituição Federal, com o intuito de
cuidar dos interesses da juventude. E também com Legislação própria, Lei 12.852
de 5 de agosto de 2013, é estabelecido então o Estatuto da Juventude, o artigo 1º
em seus dois parágrafos determina que serão “considerados jovens as pessoas com
idade entre 15 e 29 anos de idade.” Porém, aqueles entre 15 e 18 anos, é aplicada a
Lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990 – Estatuto da Criança e do Adolescente, “e
excepcionalmente, este Estatuto, quando não conflitar com as normas de proteção
integral. O artigo segundo da Lei 12.852/2013 indica os princípios às relações de
juventude aplicados.
Por fim, agora em relação as Crianças e os Adolescentes, também fazendo
menção e um link com o Princípio do Melhor interesse da Criança e do Adolescente.
O artigo 227 da Constituição Federal enuncia esses princípios da proteção (artigo já
apresentado na referência 52), o parágrafo 1º tem intenção de promover programas
de assistência integral à saúde da criança, do adolescente e do jovem.
No Estatuto, em seu artigo 2º, é estabelecido o que é considerado criança, ou
seja, aqueles com até 12 anos incompletos e o adolescente entre 12 e 18. O
estatuto então, tem “proteção integral” a criança e ao adolescente e nele fica
assegurado todos os seus direitos e deveres.
63
Art. 2o O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo
da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, para preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade. Lei 10.471 64
"Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
25
2.4.9 Princípio do Melhor Interesse da Criança e do Adolescente.
Inicia-se a conceituação deste princípio com o Dr. Luiz Edson Fachin, que
classifica ele como sendo “um critério significativo na decisão e na aplicação da lei.
Isso revela um modelo que, a partir do reconhecimento da diversidade, tutela os
filhos como seres prioritários nas relações paterno-filiais e não mais apenas a
instituição familiar em si mesma”65
Entrando no Direito de Família, e seguindo os ensinamentos de Caio Mário, o
princípio do melhor interesse da criança ganha um grande espaço no direito de
família, por priorizar os interesses da criança sob o de seus pais.
Caio Mario nesse sentido, apresenta a importância desse princípio e o
classifica como Norteador em algumas questões:
priorizando os laços afetivos entre a criança e os postulantes; competência, entendendo que a apreciação das lides deve ocorrer no local onde os interesses do menor estejam melhor protegidos, mesmo que isso implique em flexibilização de outras normas; guarda e direito de visitação, a partir da premissa de que não se discute o direito da mãe ou do pai, ou ainda de outro familiar, mas sobretudo o direito da criança a uma estrutura familiar que lhe dê segurança e todos os elementos necessários a um crescimento equilibrado; e alimentos, buscando soluções que não se resultem prejudiciais à pessoa em condição peculiar de desenvolvimento
66
Percebe-se dessa maneira que, sempre o que irá importar e o que tem que
ser levado em conta como principal, é o interesse da Criança e do Adolescente. No
caso da adoção por exemplo, é possível que a criança fale se concorda ou não com
aquela adoção. A palavra da criança e do adolescente é de suma importância, e por
este motivo, tem-se este princípio para assegurar proteção, e assegurar que eles
também sejam ouvidos na sociedade.
65
PEREIRA., 2018, p. 68 apud. FACHIN, Luiz Edson. Da Paternidade: Relação Biológica e Afetiva, Belo Horizonte: Del Rey, 1996, p. 125., 66
Ibid., p. 69
26
2.4.10. Proteção da Vedação ao Retrocesso.
J.J. Gomes Canotilho, traduz o princípio como uma ideia de que uma lei
posterior não poderia neutralizar ou minimizar um direito ou uma garantia
constitucionalmente consagrada.67
Levando em conta o que foi apresentado por Canotilho, pode-se dizer que a
Lei nº 9.278 de 1966 não foi totalmente revogada pelo Código Civil de 2002, haveria
inegável retrocesso no que havia sido estabelecido para a união estável na lei.
A vedação ao retrocesso aplica, por consequência e respeita o princípio da
dignidade da pessoa humana.68
2.4.11. Princípio da Afetividade.
O princípio da Afetividade é a base de todo o direito de família, e é em torno
deste que o são analisadas as relações familiares. A afetividade deve estar presente
nos vínculos de filiação, sejam estes biológicos ou resultantes da adoção, ou da
família recomposta, o que diferencia é a intensidade desse vínculo afetivo nas
relações familiares. O princípio da afetividade está diretamente ligado a liberdade, a
liberdade de cada um escolher com quem quer constituir família, seja hétero ou
homoafetiva, seja decorrente do matrimonio ou não.
O artigo 1.596 do Código Civil demonstra explicitamente a importância desse
princípio quando determina que “os filhos, havidos ou não da relação de casamento,
ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer
designações discriminatórias relativas à filiação.”.
Em igual sentido, o artigo 1.593 do mesmo Diploma Legal, reconhece outro
tipo de filiação distinto do sanguíneo, e ainda o artigo 1.597, no inciso V, que
reconhece também como filiação, baseada no afeto os filhos “havidos por
inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.”
67
GAGLIANO, 2017. apud– CANOTILHO, José Joaquim Gomes., Direito Constitucional e Teoria da Constituição, Coimbra, Almedina, 1998., p. 321 68
Ibid., p. 92
27
Por muito se considerava o vínculo biológico como mais importante que os
vínculos afetivos, tendo estes prevalência sobre o último. Porém, doutrinariamente,
como apresentado por Rolf Madaleno, pode-se considerar que o vínculo afetivo
pode ter prevalência sobre os consanguíneos. Madaleno classifica as “interações de
afeto” como sendo “um valor supremo, de necessidade ingente”69 (MADALENO.,
2017, p. 145)
Na visão de Maria Berenice Dias (2015., p. 52), ao ter sido considerada
família a união estável, um laço fundado na afetividade, significa que, este princípio
“une e enlaça duas pessoas [...] houve uma constitucionalização de um modelo de
família, com maior espaço para o afeto e a realização individual”70
Ainda nesse sentido, Berenice afirma:
A família transforma-se na medida em que se acentuam as relações de sentimentos entre seus membros: valorizam-se as funções afetivas da família. A família e o casamento adquiriram novo perfil, voltados muito mais a realizar os interesses afetivos e existenciais de seus integrantes. Essa é a concepção eudemonista da família, que progride à medida que regride o seu aspecto instrumental. A comunhão de afeto é incompatível com o modelo único, matrimonializado, da família. Por isso, a afetividade entrou nas cogitações dos juristas, buscando explicar as relações familiares contemporâneas
71
Assim pode-se concluir que, o afeto realmente é base para todas as relações
familiares, mesmo aquelas derivadas de vínculos sanguíneos. Não basta apenas o
sangue, todas as relações familiares precisam desse vínculo gerado pela
afetividade.
Como analisado nos princípios acima, a criança e ao adolescente passaram a
ser tratados como sujeitos de direitos pelos seus interesses personalíssimos. Os
princípios dão ênfase em especial ao interesse da criança e do adolescente, além de
salientar os deveres dos pais com os filhos, respeitando então, a dignidade da
pessoa humana, a igualdade entre os filhos, bem como garantir-lhe amor, carinho,
cuidado e afeto.
69
MADALENO, 2017., p. 145 70
DIAS., 2015., p. 52 71
Ibid. p. 53
28
Nesse contexto então, é importante fazer a análise da filiação e de seus tipos:
Filiação Biológica, Filiação Socioafetiva e Filiação Jurídica.
3. FILIAÇÃO
29
3.1 CONCEITUAÇÃO
Antes de adentrar propriamente dita a Multiparentalidade no Direito de Família
Brasileiro. Faz-se necessária a conceituação da Filiação e de seus tipos.
Como já havia sido apresentado anteriormente, havia uma grande
desigualdade quando se falava em filhos legítimos e ilegítimos. Legítimos seriam
aqueles nascidos de um casal que constituiu matrimonio, e os ilegítimos seriam os
“derivados” de uma relação extraconjugal.72
O Código Civil de 2002, em seu artigo 1.596, determinou que “os filhos
havidos ou não na relação de casamento, ou por adoção, terão os mesmo direito e
qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas a
filiação.
Sob o aspecto do Direito, a filiação é um fato jurídico do qual decorrem inúmeros efeitos. Sob a perspectiva ampla, a filiação compreende todas as relações e respectivamente sua constituição, modificação e extinção, que tem como sujeitos os pais com relação aos filhos. [...] Sob esse prisma, o direito de filiação abrange também o pátrio poder, atualmente denominado poder familiar, que os pais exercem em relação aos filhos menores, bem
como os direitos protetivos e assistenciais em geral. 73
Em uma breve conceituação, portanto, a filiação, na visão de Pablo Stolze e
Rodolfo Pamplona (2017., p. 629), é uma “situação de descendência direta, em
primeiro grau”74.
O artigo 1.59775 do Código Civil, determina alguns critérios jurídicos de
filiação. Em relação ao artigo apresentado, Walsir e Renata afirmar que o caput
72
MONTEIRO, Washington Barros, SILVA, Regina Beatriz da. Curso de direito civil: direito da família. Volume 2, 43rd edição. Saraiva Educação, 2012. p. 475 73
VENOSA., 2018., p. 249 74
GAGLIANO, PAMPLONA FILHO., 2017. p. 629
75 Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I - nascidos cento e
oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.
30
deste é taxativo, uma vez que só faz menção aos concebidos na constância do
casamento, sem aqui falar da união estável. 76
A filiação, portanto, é o vínculo gerado entre uma criança e sua mãe, ou seu
pai, é a relação de parentesco em linha reta de primeiro grau entre uma pessoa e
seus ascendentes ou no âmbito da adoção.77 Em outras palavras, a filiação seria
então, um vínculo gerado de uma fecundação natural, ou de uma reprodução
assistida, da adoção, ou até mesmo da uma relação socioafetiva 78
Venosa nesse sentido afirma que todos nós temos pais e mais, sejam estes
advindos de uma maneira artificial, porém, mesmo no caso da inseminação artificial,
não dispensa que essa forma de paternidade não seja imediata.79
Em síntese, o sistema jurídico brasileiro não admite qualquer tipo de
discriminação em relação a filiação, portanto, desde a Constituição de 1988, não há
mais distinção entre a filiação legitima, ilegítima, natural, adotiva ou adulterina80.
3.2. A FILIAÇÃO NO ORDENAMENTO JURÍDICO BRASILEIRO.
Como já estabelecido no tópico anterior, o conceito de filiação veio se
formando desde a antiguidade, onde era inaceitável tem filhos fora do casamento. O
Código Civil Brasileiro de 1916 estabelecia em seu artigo 358 que “os filhos
incestuosos e os adulterinos não podem ser reconhecidos.” Ou seja, antigamente, a
própria legislação brasileira fazia essa distinção de filiações.81
Sabe-se também que antigamente o único tipo de família aceito era a formada
através do matrimonio, ou seja, apenas a família assim formada, teria proteção
estatal e reconhecimento. 82
76
ALMEIRA, RODRIGUES JUNIOR., 2012., p. 358 77
FUJITA, Jorge Shiguemitsu. Filiação. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2011. p. 09 78
FUJITA., loc. cit. 79
VENOSA., 2018., p. 249 80
B , Paulo., Direito civil: famílias. – 7. ed. – São Paulo: Saraiva, 2017., p. 213 81
DIAS., 2015. p. 387 82
DIAS., 2015., pag 386
31
Em relação aos filhos legítimos e ilegítimos, Dias faz uma classificação, a qual
foi apresentada no tópico anterior. Porém, nesse mesmo tema, Márcio Antônio
Boscaro define que
E, entre os ilegítimos, houve a distinção entre os naturais (aqueles cujos pais não tinham impedimentos matrimoniais quando o geraram) e os espúrios (subdivididos em adulterinos ou incestuosos, conforme, respectivamente, houvesse impedimentos matrimoniais entre seus pais, quando de sua concepção, relacionados ao fato de um deles ou ambos estar casado com outra pessoa, ou ligados entre si por lados de parentesco [...].) e apenas os filhos naturais poderiam ser reconhecidos, sendo vedada tal possibilidade aos filhos adulterinos e incestuosos.
83
A classificação apresentada tem como finalidade distinguir a situação em que
o filho foi gerado, dentro ou fora do matrimonio. Assim sendo, qual fosse a situação
dos pais no momento da concepção da criança, refletia diretamente neste,
consequentemente em seus direitos. Ou seja, dentro deste contexto, era beneficiado
apenas os filhos naturais, aqueles que vieram do casamento.84
Além desses fatores apresentados, há também um sistema de presunção de
legitimidade e paternidade a ser analisado. Nesse sentido, Dias (2015., p. 386)
analisa como, “filho era exclusivamente o ser nascido 180 dias após o casamento de
um homem e uma mulher ou 300 dias depois do fim do relacionamento.”85 Essas
presunções visavam proteger a família.
Vale ressaltar que esta presunção não é exclusiva da filiação biológica,
aquelas provenientes de uma reprodução assistida também fazem jus a essas
presunções. O artigo 1.597 do Código Civil assegura esses períodos acima
apresentados.86
83 BOSCARO, Márcio Antonio. Direito de filiação. 1.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002. p.63. 84
Id 85
DIAS., op cit.
86 Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I - nascidos cento e
oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido.
32
Após o artigo 358 do Código Civil de 16, o qual definia não ser possível o
reconhecimento dos filhos que fossem adulterinos ou incestuosos. Foi outorgada a
Constituição Federal de 1937, a qual em seu artigo 12687 equiparou os filhos
legítimos e os naturais.
Seguinte Deste, vieram dois Decretos-Lei, o nº 3.200 de 19 de abril de 1941 e
o de nº 4.737 de 24 de setembro de 1942. O primeiro fez uma proibição relativa a
constar na certidão de registro civil se era ou não legitima a filiação. E o segundo,
estabeleceu a possibilidade de reconhecimento dos filhos adulterinos. 88
Em 1949, teve vigência a lei nº 883, a qual “fixou o reconhecimento de filhos
adulterinos após a dissolução da sociedade conjugal”. Entretanto, em se tratando da
herança, só teriam direito a metade da herança os filhos legítimos ou legitimados.89
Sequencialmente a estas leis, veio a Lei do Divórcio, nº 6.515 de 1977, a qual
permitiu a qualquer um dos cônjuges que reconhecessem, ainda na constância do
matrimonio, o reconhecimento de filhos tidos, fora deste. Reconheceu o direito à
herança a qualquer natureza filial. 90
Com Lei nº 7.250 de 1984, houve um acréscimo na Lei nº 883 de 1949, que
facultou o reconhecimento de filho adulterino, uma vez o pai adulterino estivesse
separado de fato de seu cônjuge por um período superior a cinco anos.91
Com essa nítida evolução legislativa, pode-se notar que houve uma grande
diminuição na descriminação dos filhos “ilegítimos”, esse desfavor em torno deles só
desaparece completamente com a mudança da noção de legitimidade92. A
promulgação da Constituição Federal de 1988, finalmente trouxe a igualdade entre
os filhos, acabando, portanto, com a distinção de filiação93, não importa se foi
adotado ou não, se foi concebido dentro do matrimonio ou não, graças a
Constituição, são todos igual e tem os mesmos direitos.
87
Art. 126 - Aos filhos naturais, facilitando-lhes o reconhecimento, a lei assegurará igualdade com os legítimos, extensivos àqueles os direitos e deveres que em relação a estes incumbem aos pais. (Constituição Federal de 1937) 88
FUJITA., 2011. p. 21 89
Ibid., p. 22 90
ibid., p. 24 91
PEREIRA, 2018., p. 396 92
Ibid. p. 84 93
BOSCARO, Márcio Antonio. Direito de filiação. 1.ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002.
33
Após a Constituição, veio a Lei nº 7.841 que revoga o artigo 385 do Código
Civil de 16. Em 1990 foi promulgada a Lei sob número 8.069, mais conhecido como
Estatuto da Criança e do Adolescente, garantindo proteção integral a esses. O
Estatuto da Criança e do Adolescente, com relação aos filhos havidos fora do
casamento, estabelece no artigo 26 que, “os filhos havidos fora do casamento
poderão ser reconhecidos pelos pais, conjunta ou separadamente, no próprio termo
de nascimento, por testamento, mediante escritura ou outro documento público,
qualquer que seja a origem da filiação”94
O artigo 27 estabelece o reconhecimento como sendo um “direito
personalíssimo, indisponível e imprescritível, podendo ser exercitado contra os pais
ou seus herdeiros sem qualquer restrição observado o segredo de justiça.
No artigo 41, é garantido aos filhos adotados os mesmos direitos e deveres,
inclusive os sucessórios, que são garantidos aos filhos naturais.95
Por fim, no atual Código Civil, de início, é assegurado no artigo 1.596 os
mesmos direitos e deveres entre todos os tipos de filiação, ficando, portanto,
proibida, qualquer distinção. Foi inserido também a possibilidade de reprodução
assistida homologa (material genético é de ambos os pais) e heteróloga, desde que
tenha autorização prévia do marido. (material genético somente da mãe)96
3.3. ESPÉCIES DE FILIAÇÃO
3.3.1. Filiação Jurídica
“Filiação jurídica ou legal é o vínculo paterno-filiar reconhecido pela lei.”97.
Essa é a classificação apresentada por Fujita logo no primeiro parágrafo relativo a
filiação. (FUJITA., 2011, p. 61)
94
FUJITA., 2011., p. 27 95
ibid. p. 27 96
Ibid. p. 29 97
FUJITA., 2011., p. 61
34
Sabe-se que a filiação no Código Civil de 1916 era apenas considerada
aquela advinda do casamento, ou seja, era presumido que o filho fosse do marido,
porque naquela época era impossível a mulher ter um filho, que não fosse de seu
marido. Além disso, como também já foi apresentado, a filiação no Código Civil
Brasileiro tinha uma distinção entre filhos legítimos, ou seja, aqueles nascidos na
constância do matrimônio, os legitimados, em virtude do casamento dos pais após
seu nascimento, os ilegítimos, nascidos fora da constância do casamento e os
adotivos.98
O Código de 2002, mesmo mantendo a presunção pater is est, trouxe
algumas novas opções no Artigo 1.59799, em seus incisos. Dentro delas, trouxe a
reprodução assistida, e fez alteração em alguns dispositivos legais os quais dão
direito de constatar paternidade a qualquer tempo. Assim sendo, deixou de ser uma
presunção absoluta de paternidade e passou a ter respaldo na biologia.100
Nessa questão da presunção de paternidade, Gonçalves traz um conceito
claro para o termo pater is est quem justae nuptiae demonstrant101:
Essa presunção, que vigora quando o filho é concebido na constância do casamento, é conhecida, como já dito, pelo adágio romano pater is est quem justae nuptiae demonstrant, segundo o qual é presumida a paternidade do marido no caso de filho gerado por mulher casada. Comumente, no entanto, é referida de modo abreviado: presunção pater is est.
102
Essa presunção, tem como função pacificar, e assim sendo, eliminar
incertezas que venham a ocorrer em relação a gestação de sua esposa, ou seja, pai
98
Id. 99
Art. 1.597. Presumem-se concebidos na constância do casamento os filhos: I - nascidos cento e oitenta dias, pelo menos, depois de estabelecida a convivência conjugal; II - nascidos nos trezentos dias subsequentes à dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial, nulidade e anulação do casamento; III - havidos por fecundação artificial homóloga, mesmo que falecido o marido; IV - havidos, a qualquer tempo, quando se tratar de embriões excedentários, decorrentes de concepção artificial homóloga; V - havidos por inseminação artificial heteróloga, desde que tenha prévia autorização do marido. 100
FIJUTA, 2011., p.64 101
Pai é aquele que as núpcias indicam (presunção de paternidade no casamento) 102
GONÇALVES., 2017., p. 315
35
é aquele que o sistema jurídico define como tal. Dias (2015., p. 393) define nesse
sentido também, “qualquer que seja a origem, o filho é do marido”103
Embora seja presumido do marido, a lei estabelece alguns prazos no Artigo
1.597, incisos I e II, ou seja, aqueles “nascidos cento e oitenta dias, pelo menos,
depois de estabelecida a convivência conjugal e os nascidos nos trezentos dias
subsequentes a dissolução da sociedade conjugal, por morte, separação judicial,
nulidade e anulação do casamento, respectivamente.”
Scalquette afirma e explica que estas duas hipóteses já haviam sido
anteriormente tratadas, tendo por base dados científicos relacionados ao tempo que
pode variar uma gestação humana, entre seis meses de dez meses, por tanto, esta
seria a explicação temporal utilizada pelo legislador no Artigo 1.597, incisos I e II104
Ainda em relação ao artigo 1.597, agora sobre os últimos incisos, faz-se a
diferenciação e apresentação das modalidades homologas e heterólogas;
Classificado na doutrina, primeiramente por Rodrigues (2012., p. 360) como
sendo, “homóloga quando o sêmen e o óvulo utilizados para a realização da técnica
reprodutiva forem do próprio casal que se constituirá por pai e mãe. Será heteróloga,
por sua vez, quando o sêmen e/ou o óvulo utilizado for de um terceiro.”105
Scalquette por sua vez faz a diferenciação de inseminação e fecundação, a
primeira, “significa colocação do sêmen dentro da mulher” e a segunda, traduzindo-
se como “fase de fertilização do óvulo pelo espermatozoide” 106 (SCALQUETTE,
2014 p.88)
Portanto, entende-se que, tanto para aqueles nascidos com o material
genético de ambos, quanto àqueles que nasceram em decorrência da utilização de
material genético de algum doador, há ambos foi atribuída a presunção de ter
ocorrido na constância do casamento.107
103
DIAS., 2015., p. 393 104
SCALQUETTE, Ana Cláudia Silva . Familia e Sucessões, 7ª edição. Atlas, 03/2014. p. 8
105 ALMEIRA, RODRIGUES JUNIOR., 2012., p. 360
106 SCALQUETTE, op. cit., p. 88
107 SCALQUETTE., loc. cit.
36
Por fim, pode-se realmente afirmar que deixou de ser uma presunção
absoluta, passando a ser ela relativa, respaldada na biologia.
3.3.2. Filiação Biológica ou Natural
Com o avanço tecnológico, “a possibilidade de identificar a filiação biológica
por meio de singelo exame do DNA desencadeou uma verdadeira corrida ao
judiciário, na busca pela “verdade real”.”.108 (DIAS, 2015., p. 397)
Contudo, é de suma importância ressaltar que apesar dos avanços da
tecnologia biomédica, nos últimos anos, a paternidade biológica exerce um papel
secundário no Direito de Família. Dias nessa questão afirma que, atualmente, é
muito fácil descobrir a verdade biológica, porém, mesmo com toda a facilidade, essa
verdade biológica passou a ter pequena validade frente a afetividade. 109
Nesse sentido, ainda analisando pela visão de Maria Berenice Dias, pode-se
fazer a construção da diferença entre pai e genitor. Pai é aquele quem cria, que dá
amor, já o genitor é quem apenas gera.110
Portanto, quando a paternidade biológica afronta princípios que impedem a
convivência familiar limpa e harmônica, os princípios se sobrepõem e prevalecem
mesmo sob uma prova concreta de um resultado de DNA.111
Conclui-se então, que a conciliação entre a paternidade jurídica com a
verdade na filiação, podem ser suficientes para a demonstração da origem biológica
do filho. Entretanto, ainda tem outro fator a ser analisado, e não apenas a verdade
na filiação, a origem biológica, este outro sendo a Filiação socioafetiva. Sobre o
tema e referindo-se às bases da Filiação Socioafetiva, Luiz Edson Fachin elucida:
O reconhecimento do fundamento biológico da filiação, com o desenvolvimento das técnicas da engenharia genética, a atenuação da presunção pater is est, a vedação constitucional ao tratamento discriminatório e o consequente acesso dos filhos outrora ilegítimos ao estatuto jurídico da filiação, em patamar de igualdade com os denominados
108
DIAS., 2015., p. 397 109
DIAS., loc. cit. 110
Ibid. p. 398 111
DIAS., loc. cit.
37
filhos legítimos, foram significativos avanços do Direito no que tange a questão do estabelecimento da paternidade. Todavia, sendo a paternidade um conceito jurídico e, sobretudo, um direito, a verdade biológica da filiação não é o único fator a ser levado em consideração pelo aplicador do Direito: o elemento material da filiação não é tão-só o vínculo de sangue, mas a expressão jurídica de uma verdade socioafetiva. O elemento socioafetivo da filiação reflete a verdade jurídica que está para além do biologismo, sendo essencial para o estabelecimento da filiação.
112
Portanto, percebe-se que apenas a origem biológica não é mais suficiente
para estabelecer filiação.
3.3.3. Filiação Socioafetiva
Para começar a conceituação da filiação socio afetiva, Walsir ensina que
quase todas as explicações relacionadas ao critério sócioafetivo vem agregada com
a “posse do estado de filho”113, porém, pode-se entender que, a posse de estado
realmente se insere nesse parâmetro socioafetivo, mas, não o define por completo.
Dias (2012, p. 405) nesse sentido afirma que “a maternidade e a paternidade
nada valem frente ao vínculo afetivo, que se forma entre a criança e aquele que trata
e cuida dela, lhe dá amor e participa de sua vida”114. Dessa forma, pai afetivo é
aquele que ocupa o lugar que o pai biológico deveria ocupar.115
Percebe-se então, que a verdade sociológica de filiação não está apenas
baseada na descendência genética. Pode-se dizer que, na filiação socioafetiva,
inexiste vínculo sanguíneo, é uma união baseada no afeto e no amor, e isso será
melhor analisado adiante.
Rolf Madaleno faz menção ao conceito apresentado por Delinski, a qual
apresenta que:
112
Ibid. p. 63. 113
Posse do Estado de filho: Quando as pessoas desfrutam de situação jurídica que não corresponde à verdade, detêm o que se chama de posse de estado. Em se tratando de vínculo de filiação, quem assim se considera desfruta da posse de estado de filho. A noção de posse de estado de filho não se estabelece com o nascimento, mas num ato de vontade, que se sedimenta no terreno da afetividade, colocando em xeque tanto a verdade jurídica, quanto a certeza científica no estabelecimento da filiação. 114
DIAS, 2015., p. 405 apud. Julie Cristine Delenski, O novo direito da filiação, 96. 115
DIAS., loc. cit.
38
Identifica essa nova estrutura da família brasileira que passa a dar maior importância aos laços afetivos, e aduz já não ser suficiente a descendência genética, ou civil, sendo fundamental para a família atual a integração dos pais e filhos através do sublime sentimento da afeição. Acresce possuírem a paternidade e a maternidade um significado mais profundo do que a verdade biológica, onde o zelo, o amor filial e a natural dedicação ao filho revelam uma verdade afetiva, um vínculo de filiação construído pelo livre-desejo de atuar em interação entre pai, mãe e filho do coração, formando verdadeiros laços de afeto, nem sempre presentes na filiação biológica, até porque a filiação real não é a biológica, e sim cultural, fruto dos vínculos e das relações de sentimento cultivados durante a convivência com a criança e ao adolescente.
116
Rolf afirma que, além do vínculo biológico, deve existir o afetivo, pois é este
quem completa a relação parental. 117. Madaleno (2018, p. 493) prossegue então,
afirmando que “o real valor jurídico está na verdade afetiva e jamais na ascendência
genética” uma vez que, quando esta desliga-se do afeto e da convivência, o fator
biológico é apenas isso, é um efeito biológico, natural.118
A Constituição de 1988 trouxe importantes e necessárias alteração relativas
ao direito de família com os princípios fundamentais, os quais trouxeram grande
destaque e uma mudança de valores nas relações familiares, influenciando
diretamente na determinação de uma nova paternidade, baseada no carinho e
afeto.119
Em termos legislativos, não há expressa codificação da filiação socioafetiva,
porém, esta classificação se mostra presente tanto jurisprudencialmente quanto
doutrinariamente.
Paulo Lobo traz também uma classificação, está para ele, também baseada
na verdade sociológica com conteúdo afetivo e social. Serviria então, para
consolidar um vínculo afetivo, “sociológico, para exprimir a criação de uma família
116
MADALENO, 2018., apud DELINSKI, Julie Cristine. O novo direito da filiação. São Paulo: Dialética, 1997. p. 19.
117 Ibid., p. 493
118 MADALENO, loc. cit.
119 NOGUEIRA, Jacqueline Filgueras. A Filiação que se constrói: o reconhecimento do afeto como
valor jurídico. São Paulo: Memória Jurídica Editora, 2001. p. 56
39
cuja estabilidade a lei resolveria proteger no interesse do filho e no interesse social”
(LOBO, 2004., p. 49)120
Com relação aos elementos que constituem a posse de estado de filho, Walsir
traz uma explicação desses três elementos; “tractatus, nomen e fama”. Em sua
concepção, Tractatus teria relação com o comportamento dos sujeitos entre si.
Nomen compreende a “a utilização do patrocínio do pai ou da mãe”. E por fim.
Fama, o qual seria o conhecimento público da relação paterno-filial. Ainda assim, na
concepção de Rodrigues (2012, p. 364 e 365), há mais um elemento a ser
analisado, que é a “unívoca intenção daquele que age como se genitor (a) fosse de
se ver juridicamente instituído pai ou mãe” 121
Em suma, a filiação sociafetiva é claramente reflexo da sociedade atual. Para
Walter, (2002., p. 136) “o vínculo entre pai e filho, com o advento da Constituição
Federal de 1988, não é de posse e domínio, e sim de amor, ternura, busca da
felicidade mútua, em cuja convivência não há mais nenhuma hierarquia”122
A filiação socioafetiva é a base da intenção da multiparentalidade. Não é
necessário apenas o vínculo de sangue para constituir família, para ter amor, afeto,
carinho pelo outro. A filiação não se trata de posse, não se trata de poder, é uma
relação de amor e é isso que será analisado na Multiparentalidade, a possibilidade
de ter duas mães ou dois pais, baseado no princípio do melhor interesse da criança
ou do adolescente, na afetividade e também no vínculo biológico.
4. MULTIPARENTALIDADE:
4.1 CONCEITUAÇÃO
A Multiparentalidade é a modalidade de família mais recente no âmbito
jurídico.
120
LÔBO, Paulo Luiz Netto. Direito ao Estado de filiação e direito à origem genética: uma distinção necessária. Revista CEJ, Brasília: v.8, n.27, p. 47-56, out./dez. 2004, p. 49. 121
ALMEIDA. RODRIGUES JUNIOR., 2012. p. 364 122
WELTER, Belmiro Pedro. Igualdade entre filiação biológica e socioafetiva. 14. ed. Revista Brasileira de Direito de Família, Porto Alegre: Síntese, 2002, p. 136.
40
Ricardo Calderón traz como conceito que a multiparentalidade são situações
nas quais uma pessoa possui um vínculo de filiação com dois ou mais pais, duas ou
mais mães, concomitantemente123
Walsir (2012., p. 357) ensina como “a cômoda isenção da mãe ou do pai
biológico que encontram terceiros que lhes ocupe o lugar”124
Cassettari acrescenta no mesmo sentido dos autores acima mencionados, a
possibilidade de ter dois pais ou duas mães, totalizando três ou quatro pessoas no
assento do nascimento da pessoa natural125
O objetivo da multiparentalidade, portanto, seria unir, tanto a filiação biológica
quanto a afetiva, sem que uma exclua a outra. Porém, nesse sentido, Cassettari
(2017, p.181) acrescente que a máxima a “parentalidade afetiva prevalece sobre a
biológica” consagrada pela jurisprudência deve ter aplicação ponderada.126
Calderón exemplifica com um caso apresentado em sua obra, se uma pessoa
tem um pai socioafetivo, e durante anos teve este como sua figura paterna, este até
estando registrado e consolidado faticamente como pai. Entretanto, dado certo
momento, a criança descobre que seu pai biológico é outra pessoa, e não aquele
quem o criou. Nesse ponto começa a surgir a multiparentalidade. Seu pai
socioafetivo não é seu ascendente genético, significando então, que a criança a
partir deste momento, passaria a ter um pai biológico e um pai afetivo, gerando a
possibilidade ao filho de ir ao judiciário e ter ambas as paternidades reconhecidas,
ou seja, mantendo ambas. Com este exemplo então, nota-se o que é a
multiparentalidade.127
Ainda no que tange o conceito da multiparentalidade, Mauricio Cavallazzi
ensina no sentido de que; “no que tange a possibilidade da coexistência de vínculos
parentais afetivos e biológicos, essa se mostra perfeitamente viável e, mais do que
apenas um direito, é uma obrigação constitucional na medida em que preserva
123
CALDERÓN, Ricardo. Princípio da Afetividade no Direito de Família, 2ª edição. Forense, 09/2017. p. 211
124 ALMEIRA, RODRIGUES JUNIOR., 2012., p. 357
125CASSETTARI, Christiano. Multiparentalidade e Parentalidade Socioafetiva - Efeitos Jurídicos,
3ª edição. Atlas, 01/2017. p. 181
126 CASSETTARI, loc. cit.
127 CALDERÓN., 2017., p. 212
41
direitos fundamentais de todos os envolvidos, sobretudo, as já debatidas dignidade e
afetividade da pessoa humana.” 128 (CAVALLAZZI, 2012., p.79)
Será apresentado adiante, o voto do Ministro Luiz Felipe Salomão na questão
da multiparentalidade, além de alguns casos no decorrer da conceituação deste
tema.
Luiz Felipe Salomão, registrou o pensamento do STJ em relação a
multiparentalidade com o seguinte voto:
Direito de família. Recurso especial. Ação investigatória de paternidade e maternidade ajuizada pela filha. corrência da chamada “adoção à brasileira”. Rompimento dos vínculos civis decorrentes da filiação biológica. Não ocorrência. Paternidade e maternidade reconhecidos. 1. A tese segundo a qual a paternidade socioafetiva sempre prevalece sobre a biológica deve ser analisada com bastante ponderação, e depende sempre do exame do caso concreto. É que, em diversos precedentes desta Corte, a prevalência da paternidade socioafetiva sobre a biológica foi proclamada em um contexto de ação negatória de paternidade ajuizada pelo pai registral (ou por terceiros), situação bem diversa da que ocorre quando o filho registral é quem busca sua paternidade biológica, sobretudo no cenário da chamada “adoção à brasileira.
129
Em seu voto, Luis Felipe faz menção a tese na qual a paternidade afetiva
sempre prevalece sobre a biológica, porém diz que esta tem que ser analisada com
grande ponderação. De fato, deve-se prevalecer a socioafetiva sobre a biológica
visando garantir os direitos dos filhos, com fundamento no princípio do melhor
interesse da prole.
Nesse sentido, em outro caso apresentado ao STF, Fachin faz algumas
ponderações sobre este mesmo tema. Para Fachin, “diante do vínculo socioafetivo
com um pai e apenas biológico com outro genitor [...] somente o socioafetivo se
impõe juridicamente”
128
PÓVOAS., 2012., p. 79
129 Disponível em:
<https://stj.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/448417046/recurso-especial-resp-1433571-go-2014-0022726-7> Acesso em: 02/04/2019
42
Acompanhando o voto do Ministro Fachin, Zavascki afirma que para ele, a
paternidade biológica não necessariamente gera relação de paternidade num ponto
de vista jurídico. 130
No conceito da multiparentalidade, além dos autores apresentados
anteriormente, segue a ideia de outros autores ainda com relação a conceituação da
multiparentalidade.
Ana Teixeira e Renata de Lima também seguem a linha dos outros autores, a
qual estabelece ser possível a multiparentalidade. Em sua obra, elas apresentam
que, analisando o cenário familiar do brasil hoje, não pode descartar a possibilidade
de uma múltipla vinculação parental das crianças que convivem em um novo arranjo
familiar131. São famílias desconstituídas, provenientes de divórcios e uniões estáveis
dissolvidas. Entra em cena uma nova figura materna ou paterna, ou até mesmo
ambas, mas não tira de questão a filiação consanguínea, apenas acrescenta a
afetividade, o pai afetivo e a mãe afetiva.
Para Renata e Walsir, é permissível a duplicidade de vínculos materno ou
paterno-filiais, principalmente quando um deles for socioafetivo.132
Entende-se que a multiparentalidade ocorre quando se descobre que o pai
registral não é o pai biológico e, quando na ação de anulação de registro e
reconhecimento verifica-se que a criança mantem laços tanto com o pai biológico
quanto com o pai registral, nessas situações, entende-se que, manter o pai registral
e acrescentar o pai biológico atende melhor o princípio do melhor interesse da
criança.
Como analisado, percebe-se que a possibilidade da coexistência dos vínculos
afetivos e biológicos se fazem perfeitamente exequível. Não se pode aceitar
somente o reconhecimento do pai biológico, o qual estaria lesando o menor, que tem
vínculo afetivo com o pai afetivo, da mesma forma que não se pode reconhecer
somente o pai afetivo, pois estaria desprezando o direito do pai e do menor.
130
Disponível em: <http://www.civel.mppr.mp.br/arquivos/File/Informativo_Decisao_STF_responsabilidade_socioafetiva_e_biologica.pdf> 131
CASSETARI, 2017, apud TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; RODRIGUES, Renata de Lima. O direito das famílias entre a norma e a realidade. São Paulo: Atlas, 2010. p. 204. 132
ALMEIDA, RODRIGUES JÚNIOR., 2010., p. 383
43
O Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul (TJ-RS) numa apelação cível,
decidiu pelo reconhecimento da paternidade biológica, porém, mantendo o pai
registral:
[...] paternidade socioafetiva que não exclui a paternidade biológica. Precedentes do STF e STJ. Sentença confirmada. Caso dos autos em que não há óbice para o acréscimo do vínculo biológico no registro de nascimento requerido pela filha, devendo prevalecer o seu interesse, no caso. Existência de relação socioafetiva que não afasta o direito da pessoa em buscar suas origens ancestrais, devendo ser reconhecida a multiparentalidade como reflexo das relações parentais da atualidade [...]
133
Como afirma o caso: “a existência de relação socioafetiva não afasta o direito
da pessoa em buscar suas origens ancestrais”134, não impede que o filho vá atrás da
sua família biológica. 135
A multiparentalidade traz apenas benefícios aos filhos, o que lhe garante
também, todos os direitos que destas relações decorram, alimentos, nome, guarda,
parentesco, visitas, direitos sucessórios.
Outro caso também do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, o qual
reconhece novamente a multiparentalidade:
[...] Multiparentalidade que consiste no reconhecimento simultâneo para uma mesma pessoa, de mais de um pai ou mais de uma mãe, estando fundada no conceito pluralista de família contemporânea. [...] ambas as partes, maiores e capazes, desejam o reconhecimento da filiação socioafetiva e da multiparentalidade, o que, ao que tudo indica, não traria nenhum prejuízo a elas e a terceiros. [...] – Apelação Cível nº 70077198737.
136
Contudo, a lei dos Registros Públicos ainda não prevê essa a
multiparentalidade como uma possibilidade de filiação, não há cabimento ainda para
133
Disponível em: <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/578092009/apelacao-civel-ac-70077173102-rs/inteiro-teor-578092024?ref=juris-tabs> Acesso em: 02/04/2019 134
Id. 135
Id. 136 Disponível em:
<https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/652406308/apelacao-civel-ac-70077198737-rs?ref=serp>
Acesso: 02/04/2019
44
a pluralidade de pais. O artigo 54137 da Lei nº 6.015/73 estabelece quais são as
etapas e requisitos do Registro com algumas alterações da lei original, dada pela lei
nº 13.484 de 26 de setembro de 2017
Antes de discutir os próximos temas deste trabalho, e para fechar a parte
conceitual da multiparentalidade, é necessário fazer menção e uma breve análise ao
Recurso Extraordinário 898.060 com repercussão geral reconhecida sobre a
paternidade socioafetiva e biológica.
No caso em questão, é sustentada a inevitabilidade de reconhecer a
supremacia da paternidade afetiva sob a biológica fundamentadamente nos
seguintes artigos da Constituição Federal: artigos §§ 4º e 7º, 227, caput e §6º, 229 e
230138
Perante o princípio da dignidade da pessoa humana, entende-se que deve ser
respeitada a felicidade e vontade da pessoa. A partir disso, e como já estabelecido
anteriormente neste trabalho, não é possível reconhecer família apenas como o
137
Art. 54. O assento do nascimento deverá conter: 1°) o dia, mês, ano e lugar do nascimento e a
hora certa, sendo possível determiná-la, ou aproximada; 2º) o sexo do registrando; 3º) o fato de ser gêmeo, quando assim tiver acontecido; 4º) o nome e o prenome, que forem postos à criança; 5º) a declaração de que nasceu morta, ou morreu no ato ou logo depois do parto; 6º) a ordem de filiação de outros irmãos do mesmo prenome que existirem ou tiverem existido; 7º) Os nomes e prenomes, a naturalidade, a profissão dos pais, o lugar e cartório onde se casaram, a idade da genitora, do registrando em anos completos, na ocasião do parto, e o domicílio ou a residência do casal. 8º) os nomes e prenomes dos avós paternos e maternos; 9º) os nomes e prenomes, a profissão e a residência das duas testemunhas do assento, quando se tratar de parto ocorrido sem assistência médica em residência ou fora de unidade hospitalar ou casa de saúde; 10º) o número de identificação da Declaração de Nascido Vivo, com controle do dígito verificador, exceto na hipótese de registro tardio previsto no art. 46 desta Lei; 11º) a naturalidade do registrando.
138 Art. 226, § 4º “Entende-se, também, como entidade familiar a comunidade formada por qualquer
dos pais e seus descendentes.” Art. 226, § 7º “Fundado nos princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável, o planejamento familiar é livre decisão do casal, competindo ao Estado propiciar recursos educacionais e científicos para o exercício desse direito, vedada qualquer forma coercitiva por parte de instituições oficiais ou privadas.” Art. 227. “ dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança, ao adolescente e ao jovem, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.” Art. 227, § 6º “ s filhos, havidos ou não da relação do casamento, ou por adoção, terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação.” Art. 229. “ s pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.” Art. 230. “A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.”
45
conceito estabelecido pela legislação. Sendo assim, os vínculos familiares são
inúmeros, devendo então, ser acolhido o laço afetivo e o biológico.
A respeito do conceito de pluriparentalidade, foi apresentado no Recurso
Extraordinário alguns exemplos ocorridos nos Estados Unidos. Será apresentado a
seguir um desses exemplos para verificar como é tratada essa questão em outro
país.
No caso Smith v. Cole (553 So.2d 847, 848), de 1989, o Tribunal aplicou o conceito para estabelecer que a criança nascida durante o casamento de sua mãe com um homem diverso do seu pai biológico pode ter a paternidade reconhecida com relação aos dois, contornando o rigorismo do art. 184 do Código Civil daquele Estado, que consagra a regra “pater ist est quem nuptiae demonstrant”. Nas palavras da Corte, a “aceitação, pelo pai presumido, intencionalmente ou não, das responsabilidades paternais, não garante um benefício para o pai biológico. (...) O pai biológico não escapa de suas obrigações de manutenção do filho meramente pelo fato de que outros podem compartilhar com ele da responsabilidade” (“The presumed father's acceptance of paternal responsibilities, either by intent or 18 default, does not ensure to the benefit of the biological father. (...) The biological father does not escape his support obligations merely because others may share with him the responsibility.”).
139
Em seu voto, Fux traz a ideia de que o fato do legislador brasileiro ser
omissivo em relação às formações familiares não é uma desculpa para negar
proteção nas situações em que a multiparentalidade pode ser aplicada
Ficou entendido então que “A paternidade socioafetiva, declarada ou não em
registro público, não impede o reconhecimento do vínculo de filiação concomitante
baseado na origem biológica, com todas as suas consequências patrimoniais e
extrapatrimoniais”140 (RECURSO EXTRAORDINÁRIO 898060)
4.2 MULTIPARENTALIDADE NA ADOÇÃO
Trazendo essa figura para a adoção, apenas para uma breve apresentação e
análise de possibilidade.
139
Disponível em: http://www.stf.jus.br/arquivo/cms/noticianoticiastf/anexo/re898060.pdf p. 17 140
Ibid. p 19
46
Há uma grande semelhança entre a adoção e a multiparentalidade, não
havendo nenhuma contraposição entre o reconhecimento de ambos os institutos.
Deve, entretanto, haver um vínculo de afeto entre os pais biológicos e a
criança/adolescente, em adição, também é necessária uma convivência harmônica
entre os pais adotivos e os pais biológicos. Como consiste numa multiparentalidade
acrescida da adoção, é necessário que disponha de regras de visitação e guarda.
Em situações como esta, para que haja coerência na adoção, é necessária
que esta seja unilateral. É normal na sociedade atual as famílias reconstituídas,
onde as crianças ou adolescentes crescem e convivem frequentemente com o novo
companheiro do pai/mãe, o que acaba criando uma relação paterno-filial, sem que,
seja destituído o vínculo com o pai/mãe biológicos. Nesse caso, como ainda há a
relação paterno-filial com os pais biológicos, e também há constituída uma relação
afetiva com o companheiro (a) dos pais, não há fundamento para destituir o poder
familiar, sendo então, a situação ideal para que ocorra a multiparentalidade. 141
4.3 ALIMENTOS
4.3.1 Conceito
Em se tratando de alimentos, protegido este pelo Código Civil e pela
Constituição federal em seus artigos: Art. 1.694 a 1.710 e Art. 6º respectivamente,
Venosa (2018., p. 408) classifica como: “tudo aquilo necessário para sua
141
MACIEL, Kátia Regina Ferreira Andrade. Curso de direito da criança e do adolescente : aspectos teóricos e práticos.. págs. 415 a 417
47
subsistência.”142 Acrescenta ainda a esse conceito “a obrigação que tem uma
pessoa de fornecer alimentos a outra “143
Tartuce (2017., p. 1574) por outro lado, baseado nos preceitos de Orlando
Gomes e aria Helena Diniz, classifica alimentos como: “as prestações devidas para
a satisfação das necessidades pessoas daquele que não pode provê-las pelo
trabalho próprio”144
O Código Civil, entretanto, por mais que garanta a proteção a esse direito,
não conceituou pontualmente o que é Alimentos.
Em análise ao artigo 1.920145, localiza-se um “conceito” ao tema tratado, que
engloba o sustento, a cura, o vestuário, casa e educação caso o alimentado seja
menor.
Pablo Stolze (2017., p. 691) classifica alimentos como “conjunto das
prestações necessárias para a vida digna do indivíduo”146
Assim, analisando a doutrina dos três autores acima citados, nota-se que
todos seguem a mesma linha de classificação, assim como a do Código Civil, ou
seja, nessa análise, alimentos seriam prestações necessárias para a subsistência do
indivíduo, estas incluem, não só comida, mas vestuário, casa, educação, saúde,
entre outros itens necessários.
Paulo Nader (2017., p. 503) também comenta sobre a questão de alimentos,
relacionando este, novamente, com a questão de sobrevivência. Para Nader,
alimentos é uma prestação periódica, proveniente do vínculo familiar que concede
ao alimentado, recursos capazes de abastecer as necessidades que este, sozinho,
não poderia prover para si. 147
142
VENOSA., 2018, p. 408 143
VENOSA., loc. cit. 144
TARTUCE, Flávio. Manual de Direito Civil: volume único., 8. ed. rev., atual. E ampl., Rio de Janeiro., Forense, 2018., p. 1574 145
Art. 1.920. O legado de alimentos abrange o sustento, a cura, o vestuário e a casa, enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor. 146
GAGLIANO., PAMPLONA FILHO., 2018, p. 691
147 NADER, Paulo. Curso de Direito Civil - Vol. 5 - Direito de Família, 7 ed. Rio de Janeiro, Forense,
2016. p. 503
48
Popularmente, quando se pensa em Alimentos, a mente automaticamente vai
para “comida”, a produtos que tenham relação com a alimentação. Porém, não se
limita à apenas itens para alimentação do indivíduo. 148
O Código Civil, em seu artigo 1.694, estabelece que parentes, cônjuges e
companheiros são legitimados a propor a ação de alimentos em face de outro
familiar, desde que, seja necessário, ou para que este consiga viver de modo
compatível com a sua condição social, ou até mesmo para atender às necessidades
educacionais do alimentado. 149
No parágrafo primeiro deste mesmo artigo, estipula a proporção da
necessidade com os recursos do obrigado.150 Binômio da relação de alimentos,
assim definido doutrinariamente.
Maria Berenice Dias, especifica onde manifesta-se essa obrigação e como ela
se solidifica:
“O encargo alimentar decorrente do casamento e da união estável tem origem no dever de mútua assistência, que existe durante a convivência e persiste mesmo depois de rompida a união. Cessada a vida em comum, a obrigação de assistência cristaliza-se na modalidade de pensão alimentícia, e permanece até depois de dissolvida a sociedade conjugal pelo divórcio. Basta que um não consiga prover à própria subsistência e o outro tenha condições de lhe prestar auxílio. Ainda que não haja expressa referência legal, é a separação de fato o pressuposto para a fixação de alimentos.”
De acordo com Maria Berenice Dias então, por mais que a lei não especifique qual o
requisito intrínseco para determinar alimentos, ela liga essa obrigação com a
separação de fato.
Para entender melhor a questão alimentícia, é necessário analisar alguns
conceitos que cercam essa obrigação. Começando então com o Binômio
estabelecido no artigo 1.694, parágrafo 2º do Código Civil, o binômio necessidade-
possibilidade. Necessidade de quem pleiteia a ação e possibilidade recursal do
148
VALENTE, Rubem. Direito Civil Facilitado., 1 ed., Rio de Janeiro, Forense., 2017., p. 491 149
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. 150
§ 1o Os alimentos devem ser fixados na proporção das necessidades do reclamante e dos
recursos da pessoa obrigada.
49
requerido. O entendimento feito por Paulo Nader, é que, não seria possível sair
desse binômio, ou seja, não tem como impor o dever de alimentos a alguém que não
tem recursos suficientes para provê-lo, nesse contexto também, não faria sentido
alguém que não necessita de alimentos para sua subsistência receber alimentos. 151
Nessa continuidade, o artigo 1.695152 do Código Civil indica os preceitos
dessa relação obrigacional, e também a questão discutida no parágrafo anterior,
assim então, seriam devidos alimentos a quem os necessita, e quem não tem bens
suficientes para prove-los, e ao reclamado, deve ser aquele que tem condições de
conceder, sem que isso prejudique seu próprio sustento.
Scalquette (2014., p. 104 - 105) traz em seu entendimento algumas
características da obrigação alimentar: ela é irrenunciável, insuscetível,
impenhoráveis, a obrigação é transmissível aos herdeiros do devedor e isso também
é estipulado no artigo 1.700 do Código Civil153, não são reembolsáveis e é
imprescritível (imprescritível quando não se trata de prestações alimentares
atrasadas, conforme artigo 206, §2º154 do Código Civil. A toda regra a uma exceção.
Os artigos 197, II e 198, I155 do Código Civil preveem que: não ocorre a prescrição
entre ascendentes e descentes durante o poder familiar, e também contra os
incapazes tratados no artigo 3º desse mesmo Código).156
Com o exposto até agora, sabe-se então que: para haver a obrigação
alimentícia, é necessário o real vínculo de família, não necessariamente o vínculo
biológico, também é necessária a necessidade do alimentado, e a possibilidade
econômico-financeira daquele que deverá prestar alimentos. Nesse ponto,
151 NADER., 2017., p 504
152 Art. 1.695. São devidos os alimentos quando quem os pretende não tem bens suficientes, nem
pode prover, pelo seu trabalho, à própria mantença, e aquele, de quem se reclamam, pode fornecê-los, sem desfalque do necessário ao seu sustento.
153 Art. 1.700. A obrigação de prestar alimentos transmite-se aos herdeiros do devedor, na forma do
art. 1.694. 154
Art. 206. Prescreve: § 2o Em dois anos, a pretensão para haver prestações alimentares, a partir da data em que se vencerem.
155 Art. 197. Não corre a prescrição: II - entre ascendentes e descendentes, durante o poder familiar;
Art. 198. Também não corre a prescrição: I - contra os incapazes de que trata o art. 3o;
156 SCALQUETTE, 2014., p. 104 – 105
50
entretanto, quando se fala em real vinculo de família, não é apenas pais e filhos, os
cônjuges e companheiros também estão no direito de alimentos.
Quando para Nader existe o binômio necessidade-possibilidade, Stolze faz
uma classificação diferente, ele acredita que existe um trinômio. Continuam os dois
primeiros iguais: necessidade-possibilidade, e então, o terceiro seria o equilíbrio
entre: razoabilidade ou proporcionalidade. Ou seja, é importante que tenha
razoabilidade e proporcionalidade no valor acordado para os alimentos, tanto quanto
deve ser proporcional ao quanto o reclamado pode pagar. A doutrina
contemporânea defende o trinômio acima apresentado.157
O artigo 1.710 do Código Civil estabelece a possibilidade de utilizar o salário
como cálculo para estabelecer pensão alimentícia, e também para suas
atualizações.
Tratar-se-á algumas classificações de alimentos, quanto a sua natureza
podem ser: Naturais: denominado como aqueles necessário para a subsistência. E
civis, que são os alimentos precisos para manutenção da vida social do alimentado.
Tanto os Civis quanto os Naturais estão representados no artigo 1.694, caput e
parágrafo 2º. 158
Quanto a finalidade é possível classificar alimentos como sendo: provisórios
e definitivos. Provisórios, conforme entendimento de Stolze (2017., p. 704), são os
fixados liminarmente, conforme Lei nº 5.478 de 1968 159. E definitivos, fixados por
sentença judicial.
Nessa breve classificação de alimentos, resta-se falar dos alimentos
gravídicos, melhor tratado na Lei nº 11.804 de 05 de Novembro de 2008, o artigo
primeiro160 dessa lei informa a quem estes alimentos são devidos, no caso, a mulher
gestante, como será exercido, e em seu artigo segundo161 informa para que será
usado essa modalidade de alimentos.
157
GAGLIANO, PAMPLONA FILHO., 2017, p. 692 - 693 158
Ibid. p. 701 e 702 159
Ibid. p. 703 160
Art. 1o Esta Lei disciplina o direito de alimentos da mulher gestante e a forma como será exercido.
161 Art. 2
o Os alimentos de que trata esta Lei compreenderão os valores suficientes para cobrir as
despesas adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto, inclusive as referentes a alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames
51
Com as informações acima escritas, resta explorar um último tema a respeito
da obrigação alimentícia, esse sendo não somente a obrigação de alimentos na
multiparentalidade, mas também o objetivo desse trabalho.
4.4 ALIMENTOS NA MULTIPARENTALIDADE.
No capítulo anterior, foi explorado o conceito e algumas características de
alimentos, então, sabe-se que, alimentos é uma obrigação que pode ser requerido
por parentes, cônjuges e companheiros. 162
Nesse ponto o enfoque será nas relações entre pais e filhos, onde os filhos
necessitam dos alimentos para sua subsistência.
O artigo 1.703163 do código Civil estabelece que quando se trata da
manutenção dos filhos, ambos os pais têm que contribuir para o sustento de seu
filho. Dessa maneira, o artigo 1.705, quando o filho for fora do casamento, também
podem pedir alimentos aos pais, dependendo do juiz decidir se o caso tramitará sob
segredo de justiça 164
Assim então, para ter-se mais informações e uma melhor visão do ponto em
questão, far-se-á análise a alguns casos relacionando a multiparentalidade e a
questão alimentícia.
O agravo de instrumento nº 2085348-25.2018.8.26.0000, ocorrido no Tribunal
de Justiça de São Paulo TJ-PR, versa sobre um caso de multiparentalidade onde:
havia o pedido de reconhecimento de paternidade juntamente com o pedido para
anular o registro civil e também um pedido de alimentos.
complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere pertinentes. 162
Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. 163
Art. 1.703. Para a manutenção dos filhos, os cônjuges separados judicialmente contribuirão na proporção de seus recursos. 164
Art. 1.705. Para obter alimentos, o filho havido fora do casamento pode acionar o genitor, sendo facultado ao juiz determinar, a pedido de qualquer das partes, que a ação se processe em segredo de justiça.
52
Foi comprovado pelo pai socioafetivo, a socioafetividade com a menor, e ele
já fazia um pagamento de pensão alimentícia, nesse caso voluntária, à menor no
valor de R$ 350,00 (trezentos e cinquenta reais).
O pai biológico, que também fazia o pagamento de alimentos a ela, porém
tinha outros custos que, combinados com a pensão alimentícia estavam
prejudicando seu sustento, portanto, foi determinado pelo relator José Joaquim dos
Santos, a redução da pensão alimentícia para 18% dos rendimentos do agravante.
165
Outro caso, ocorrido no Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul TJ-RS, foi
um Agravo de instrumento: AI 70075172783 RS.
AGRAVO DE INSTRUMENTO. ALIMENTOS. REDUÇÃO DO VALOR DA OBRIGAÇÃO ALIMENTAR FIXADA EM ANTECIPAÇÃO DE TUTELA. CABIMENTO, NO CASO. Trata-se de situação peculiar de multiparentalidade - genitora do agravado e sua companheira tiveram, cada uma, um filho com o ora agravante -, razão pela qual o rateio das despesas, que normalmente é feito entre os dois genitores, no presente caso, será ser ampliado para os três integrantes do núcleo familiar, o que deve ser considerado.
166
O caso em questão traz a problemática de ter-se três integrantes no núcleo
familiar. Foi fixado alimentos num valor maior que o agravado conseguiria suprir sem
prejudicá-lo, o agravado já auxiliava a família com 15% de seus rendimentos, e a
decisão fixou alimentos, provisórios, também de 15%, os relatores desse caso
decidiram diminuir para 10% o valor a ser pago como pensão alimentícia, tendo em
vista que, o genitor possuía outras duas filhas, pagando 13,5% de pensão a uma
delas, a outra o valor varia entre R$ 200, a R$ 400,00 (duzentos a quatrocentos
reais), além de 5% a ex-esposa. 167
165
Disponível em: <https://tj-sp.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/598328505/20853482520188260000-sp-2085348-2520188260000/inteiro-teor-598328521?ref=juris-tabs> 166
Disponível em: <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/548854294/agravo-de-instrumento-ai-70075172783-rs/inteiro-teor-548854396?ref=juris-tabs> 167
Ibid. Disponível em: <https://tj-rs.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/548854294/agravo-de-instrumento-ai-70075172783-rs/inteiro-teor-548854396?ref=juris-tabs>
53
De qualquer forma, é sempre necessário observar e preservar o binômio
necessidade-possibilidade apresentado anteriormente neste trabalho, a necessidade
do alimentado e possibilidade do alimentando. Sendo assim, é preciso que, tenha
equilíbrio, sem prejudicar ninguém. O artigo 1.699 trata desse equilíbrio, e quando
não houver, pode o interessado reclamar com o juiz a respeito.168
O artigo 1.708 indica que, com o casamento, união estável ou concubinato do
credor, extingue o dever de prestar alimentos. No mesmo sentido que este artigo, o
artigo 1.709 estabelece que, o casamento do cônjuge devedor, não extingue a
obrigação.169
A multiparentalidade foi anteriormente conceituada como sendo a
possibilidade de ter-se uma duplicidade de vínculos, tanto maternos quanto
paternos, biológicos e socioafetivos.
Mauricio Cavallazzi ensina no sentido de que, (2012, p. 79) “No que tange a
possibilidade da coexistência de vínculos parentais afetivos e biológicos, essa se
mostra perfeitamente viável e, mais do que apenas um direito, é uma obrigação
constitucional na medida em que preserva direitos fundamentais de todos os
envolvidos, sobretudo, as já debatidas dignidade e afetividade da pessoa
humana.”170
Com isso em mente, analisa-se novamente o conceito e legitimação de
alimentos. O artigo 1.694171 estabelece que podem os parentes, cônjuges ou
companheiros pedir alimentos quando necessitarem. O artigo 1.696172 afirma que a
prestação é reciproca entre pais e filhos, e estende-se a todos os ascendentes,
recaindo a obrigação no parente de mais próximo grau.
168
Art. 1.699. Se, fixados os alimentos, sobrevier mudança na situação financeira de quem os supre, ou na de quem os recebe, poderá o interessado reclamar ao juiz, conforme as circunstâncias, exoneração, redução ou majoração do encargo. 169
Art. 1.708. Com o casamento, a união estável ou o concubinato do credor, cessa o dever de prestar alimentos. Art. 1.709. O novo casamento do cônjuge devedor não extingue a obrigação constante da sentença de divórcio. 170
PÓVOAS., 2012. p. 79
171 Art. 1.694. Podem os parentes, os cônjuges ou companheiros pedir uns aos outros os alimentos
de que necessitem para viver de modo compatível com a sua condição social, inclusive para atender às necessidades de sua educação. 172
Art. 1.696. O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros.
54
A obrigação alimentar gerada pelo reconhecimento da multiparentalidade é a mesma já existente no caso de biparentalidade, por exemplo, ou seja, tanto em relação ao pai biológico quanto ao pai afetivo, seria observada a disposição contida no artigo 1.696 do Código Civil, que estabelece que “o direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros.”. u seja, os pais/mães biológicos e afetivos seriam credores e devedores de alimentos em relação ao filho, respeitando-se o binômio necessidade/possibilidade. (Art. 1.694, § 1º, do CC). Desta forma, igualmente em relação à verba alimentar, seriam aplicadas as regras ordinárias já previstas, estendendo-as, no entanto, aos múltiplos genitores.
173
A obrigação alimentar advém do respeito aos princípios fundamentais da
Constituição Federal de 1988, como o da dignidade da pessoa humana, pois os
alimentos possuem o condão de subsistência e de uma vida digna. Sendo, portanto,
uma obrigação constitucional174. Além de que, a obrigação alimentar vislumbra o
princípio da solidariedade.
Então, com análise ao apresentado, e também ao exposto na obra de
Mauricio Cavallazzi, resta afirmar que, por mais que haja um caso de
multiparentalidade, a demanda alimentícia continua da mesma forma, ou seja, uma
vez que esta seria proposta em face de um genitor, pode ser proposta em face de
três, ou quatro, sempre contudo, respeitando o melhor interesse da criança e do
adolescente, e também, mais uma vez, a questão da necessidade-possibilidade
apresentada nesse capítulo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS.
O Direito de Família no decorrer do tempo, dentro todos os ramos do Direito,
foi o que teve uma maior mudança. A noção e compreensão de família foi a mais
afetada.
A sociedade atual, não mais espera que a família seja apenas “mãe, pai e
seus filhos”, há hoje, inúmeras modalidades familiares, ainda nem todas protegidas
173
PÓVOAS., op. cit., p. 95 174
TEIXEIRA, Ana Carolina Brochado; RODRIGUES, Renata de Lima. O Direito das Famílias entre a Norma e a Realidade. Atlas, 07/2010. VitalSource Bookshelf Online .p. 207
55
pelos ordenamentos jurídicos. Ainda que tenha ocorrido toda essa mudança, hoje, é
muito mais difícil conceituar o que é o direito de família, quais são as famílias.
Antigamente tinha-se como família, o pai, a mãe e dessa união, os filhos,
aqueles que fossem de fora do casamento eram considerados ilegítimos. Ainda
havia toda a hierarquização dentro da família, a família era moldada em volto do
patriarcalismo, ou seja, o pater citava as regras da família. A formação da família era
única e exclusivamente aceita, se fosse por via do casamento, não havia outra
maneira.
Esse modelo de família acima descrito, perdurou durante a época de pós-
descobrimento até meados do século XX, onde, em passos tímidos, foi conquistando
naturalmente progressos dentro do contexto social e legal, ganhando novos
contornos, recebendo uma nova reestruturação, renunciando aspectos formais e
deixando de ser o modelo culturalmente difundido na sociedade, cedendo lugar à
família ligada, não pela religião, sangue ou pelos padrões ideais da sociedade, mas
sim, pela afetividade.
Esses direitos foram consagrados com a promulgação da Constituição de
1988 e, dentre alguns avanços, merece destaque a possibilidade de formação de
arranjos familiares distintos do casamento; da igualdade entre todos os filhos, caindo
por terra a discriminação dos filhos havidos fora do casamento e que, por um longo
período, foram considerados ilegítimos; da proteção do melhor interesse da criança
e do adolescente; da priorização da afetividade dentro do contexto familiar; da
solidariedade da família, dentre outros.
Essas grandes e importantes mudanças no âmbito familiar, refletiram-se
também, de forma direta, no direito da filiação, trazendo como já mencionado, a
equiparação entre os filhos naturais e „ilegítimos‟, dando-lhes todos os direitos que,
antigamente, apenas os filhos legítimos possuíam. Fixando ainda, deveres ao
Estado, comunidade e família, deveres esses, de garantir à criança e ao
adolescente, com absoluta propriedade, o direito à vida, saúde, alimentação,
educação, lazer, cultura, dignidade, e etc., além de colocá-lo a salvo de todas as
formas de negligência, exploração, violência, crueldade e opressão.
Foram estabelecidos ainda três espécies distintas de critério de filiação: a
filiação legal que se refere à presunção de paternidade trazida por força de lei; a
56
filiação biológica, decorrente do vínculo consanguíneo e a filiação socioafetiva que
decorre do princípio da afetividade, esta é construída pela convivência, marcada por
laços de amor, afeto e comprometimento mutuo entre os envolvidos nesta relação
familiar.
Isto posto, diante dessa situação, o presente trabalho de conclusão de curso
buscou elucidar sobre a possibilidade jurídica de multiparentalidade, ou seja, de
paternidades distintas coexistirem, concomitantemente, sem que uma exclua a
outra, haja vista, ambas poderem desempenhar juntas, a função da maternidade
e/ou paternidade.
Deste modo, evidenciou-se a possibilidade da multiparentalidade, onde um
filho é reconhecido pelo(a) pai(mãe) biológico(a), simultaneamente, pelo(a) pai(mãe)
afetivo(a) quando, à frente de uma situação fática, em que um menor convive com
vários pais e/ou mães.
Os Tribunais Brasileiros já vêm decidindo sempre a favor da
multiparentalidade, visando, como já informado anteriormente, o melhor interesse da
criança.
Além da possibilidade jurídica da multiparentalidade, este trabalho tinha em
vista também, a análise da pensão alimentícia, essa inserida na multiparentalidade.
Buscou-se analisar essa possibilidade, como era ela tratada pelos tribunais
brasileiros.
Os alimentos são amplamente protegidos pelo Código Civil, porém, não se faz
menção ao instituto da multiparentalidade e como poderia lidar nesse caso. O que
pode-se concluir a respeito, com análise a tudo que foi visto no trabalho é que por
mais que haja um caso de multiparentalidade, a demanda alimentícia continua da
mesma forma, ou seja, uma vez que esta seria proposta em face de um genitor,
pode ser proposta em face de três, ou quatro, sempre contudo, respeitando o melhor
interesse da criança e do adolescente, sempre respeitando o binômio necessidade-
possibilidade.
Assim então, resta concluir que, família não tem como ser definida pela lei,
cada um tem seu entendimento do que é família, de como ela se constitui e de quem
faz parte, família não é o que a constituição diz, não é o que o Código Civil
57
estabelece, família é o que a pessoa quer que seja. Família é família, é amigos, é
amor. Família é o coração
58
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