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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC Marcos Roberto Ahorn A dimensão socioambiental das pequenas empresas no contexto da terceirização: fragilidades e alternativas São Paulo 2006

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CENTRO UNIVERSITÁRIO SENAC

Marcos Roberto Ahorn

A dimensão socioambiental das pequenas empresas no contexto da

terceirização: fragilidades e alternativas

São Paulo

2006

MARCOS ROBERTO AHORN

A dimensão socioambiental das pequenas empresas no contexto da terceirização:

fragilidades e alternativas

Trabalho de conclusão de curso

apresentado ao Centro Universitário

Senac – Campus Santo Amaro, como

exigência parcial para obtenção do

grau de Mestre em Gestão Integrada

em Saúde do Trabalho e Meio

Ambiente.

Orientador: Prof. Dr. Jacques

Demajorovic

São Paulo

2006

Ahorn, Marcos Roberto

A dimensão socioambiental das pequenas empresas no

contexto da terceirização: fragilidades e alternativas / Marcos

Roberto Ahorn – São Paulo, 2006.

Trabalho de Conclusão de Curso – Centro Universitário

Senac - Campus Santo Amaro – Mestre em Gestão Integrada

em Saúde do Trabalho e Meio Ambiente.

Orientador: Prof. Dr. Jacques Demajorovic.

1. Pequenas empresas 2. Terceirização 3. Saúde e Segurança

no Trabalho 4. Meio Ambiente.

Título

Aluno: Marcos Roberto Ahorn

Título: A dimensão socioambiental das pequenas

empresas no contexto da terceirização: fragilidades e

alternativas

Trabalho de conclusão de curso

apresentado ao Centro Universitário Senac

– Campus Santo Amaro, como exigência

parcial para obtenção do grau de Mestre

em Gestão Integrada em Saúde do

Trabalho e Meio Ambiente.

Orientador: Prof. Dr. Jacques Demajorovic

A banca examinadora dos Trabalhos de Conclusão de Curso, em

sessão pública realizada em ____/____/______, considerou o

candidato:

1) Examinador(a)

2) Examinador(a)

3) Presidente

Dedico este trabalho àqueles que insistem em estudar e trabalhar árdua e

honestamente, produzir e gerar empregos, numa época em que a ignorância, a

malandragem, a corrupção e a agiotagem oferecem a melhor relação custo-

benefício.

AGRADECIMENTOS

A Deus, companheiro inseparável.

Às minhas duas Glorias, que sempre me apoiaram e ajudaram com amor e

doçura, mesmo que eu não lhes correspondesse à altura.

Ao meu orientador, às vezes amigo, às vezes tirano, companheiro de jornada e

autor de insights, exatamente como deve ser.

Aos empresários que tão amavelmente dedicaram seu escasso tempo à tarefa de

fornecer os subsídios necessários para a elaboração deste trabalho.

RESUMO

Tendo em vista a crescente atenção que a sociedade moderna dedica à

necessidade de adoção de critérios de sustentabilidade por parte das empresas,

este trabalho se concentra na atuação das PME’s (Pequenas e Médias

Empresas) com relação aos seus aspectos ambientais e de saúde e segurança

no trabalho. Graças às suas elevadas flexibilidade e capacidade de inovação,

este tipo de empresa tornou-se cada vez mais presente no mundo inteiro, de tal

forma que em muitos países consiste na parte da economia que apresenta

crescimento mais rápido, com expressiva participação na produção e na oferta de

novos empregos. Atualmente, as pequenas empresas representam a vasta

maioria dos negócios (em quantidade) e são responsáveis por pelo menos

metade dos empregos. Uma das razões mais importantes para o crescimento

deste tipo de empresas é que as grandes organizações transferiram muitos

processos produtivos para as PME’s, de maneira a manterem-se competitivas no

mercado globalizado. As pequenas indústrias, freqüentemente trabalhando como

subcontratadas para as grandes, são particularmente presentes em setores

caracterizados pela alta intensidade no uso de recursos e emissões poluidoras, e

produzem uma importante parcela dos resíduos industriais. A questão é que as

PME’s freqüentemente fazem muito menos que as grandes empresas para tratar

adequadamente seus impactos ambientais. As condições de trabalho nestas

firmas também estão muitas vezes bastante aquém daquelas oferecidas pelas

grandes, de tal forma que os números de acidentes e danos à saúde dos

trabalhadores são maiores nas pequenas empresas. Este trabalho discute as

atuais fragilidades das PME’s no que diz respeito aos seus aspectos ambiental e

de saúde e segurança no trabalho, bem como suas principais razões, e indica

algumas alternativas para suplantá-las, enfatizando o relacionamento entre

pequenas e grandes empresas no contexto da terceirização.

Palavras-chave: Pequenas Empresas; Terceirização; Segurança e Saúde no

Trabalho; Meio Ambiente.

ABSTRACT

Keeping in mind the growing attention the modern society pays to the necessity of

adopting sustainability criteria by the enterprises, this work focuses on the

behavior of the SME’s (Small and Medium Enterprises) concerning their OHS

(Occupational Health and Safety) and environmental aspects. Thanks to their high

flexibility and innovative capacity, this kind of enterprises has become more and

more present worldwide, so that in many countries they are the fastest-growing

part of the economy, accounting for expressive shares of the production and the

bulk of new jobs. Nowadays the small enterprises represent the vast majority of

business (by number) and are responsible for at least half of all jobs. One of the

most important reasons for the growing of this kind of firms is that big enterprises

had transferred many productive processes to the SME’s in order to keep

competitive in the global market. The small industries, frequently working as

subcontracted for the big enterprises, are particularly strong in sectors

characterized by high intensity of resource use and by polluting emissions, and

produce an important share of industrial waste. The question is that SME’s often

do much less than large businesses to address their negative environmental

impacts. The working conditions in this firms are also frequently far from those

offered by the big ones, so the number of accidents and damages to the workers

health are higher in the small enterprises. This work discusses the actual

weaknesses of the small enterprises concerning their OHS and environmental

aspects, the most important reasons for that and appoints some alternatives for

dealing with them, emphasizing the relationship between small and big firms in the

outsourcing context.

Keywords: Small Enterprises; Outsourcing; Occupational Health and Safety;

Environment.

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1: Motivação para investimentos ambientais ......................................... 74

Gráfico 2: Principais dificuldades para a melhoria ambiental............................. 75

Gráfico 3: Registro de controle e monitoramento ambiental .............................. 80

Gráfico 4: Fontes das soluções ambientais ....................................................... 81

Gráfico 5: Principais dificuldades enfrentadas no processo de

licenciamento..................................................................................... 82

Gráfico 6: Principais causas dos problemas de relacionamento com os

órgãos ambientais ............................................................................. 83

Gráfico 7: Principais razões para a adoção de medidas gerenciais

associadas à gestão ambiental ......................................................... 84

Gráfico 8: Medidas de P+L mais adotadas no Brasil ......................................... 93

LISTA DE QUADROS

Quadro 1: Matriz de segurança para fornecimento de matérias-primas ............ 105

LISTA DE TABELAS

Tabela 1: Classificação das PME’s segundo a Comunidade

Econômica Européia ......................................................................... 30

Tabela 2: Classificação das PME’s segundo a OCDE ...................................... 31

Tabela 3: Classificação das PME’s segundo o BNDES .................................... 32

Tabela 4: Classificação das PME’s segundo a Lei 9.841/1999 e

Decreto 5.028/2004 ........................................................................... 33

Tabela 5: Classificação das PME’s segundo o SEBRAE / IBGE....................... 33

Tabela 6: Setor formal versus setor informal..................................................... 36

Tabela 7: Número de pessoas ocupadas nas empresas informais ................... 36

Tabela 8: Crescimento percentual das indústrias segundo o porte, no

período 1996-2002 ............................................................................ 48

Tabela 9: Procedimentos de Gestão Ambiental ................................................ 77

Tabela 10: Empresas que realizaram investimentos ambientais em

1997 .................................................................................................. 78

Tabela 11: Futuros investimentos em Gestão Ambiental .................................... 79

Tabela 12: Benefícios ambientais iniciais do Programa P+L............................... 92

LISTA DE SIGLAS E ABREVIAÇÕES

BN: Banco do Nordeste.

BNDES: Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social.

CEBDS: Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável.

CEMPRE: Cadastro Central de Empresas do IBGE.

CEPAL: Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe.

CETESB: Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental do Estado de São

Paulo.

CIESP: Centro das Indústrias do Estado de São Paulo.

CIPA: Comissão Interna de Prevenção de Acidentes.

CLT: Consolidação das Leis do Trabalho.

CNI: Confederação Nacional da Indústria.

CNTL: Centro Nacional de Tecnologias Limpas.

DIEESE: Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos.

ECINF: Pesquisa da Economia Informal Urbana do IBGE.

ENSR: European Network for SME Research.

EPA: Environmental Protection Agency.

EPI: Equipamento de Proteção Individual.

ETE: Estação de Tratamento de Efluentes.

EUA: Estados Unidos da América.

FGV: Fundação Getúlio Vargas.

FIESP: Federação das Indústrias do Estado de São Paulo.

FINEP: Financiadora de Estudos e Projetos.

FIRJAN: Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro.

GM: General Motors.

IBAMA: Instituto Brasileiro de Meio Ambiente.

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.

ICCA: International Council of Chemical Associations.

INSS: Instituto Nacional de Seguridade Social.

IPT: Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo.

ISO: International Standardization Organization (Organização Internacional para

Normalização Técnica).

LER: Lesão por Esforços Repetitivos.

OCDE: Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico.

OIT: Organização Internacional do Trabalho.

OHSAS: Occupational Health and Safety Assessment Series.

ONU: Organização das Nações Unidas.

P+L: Produção Mais Limpa.

P&D: Pesquisa e Desenvolvimento.

PIB: Produto Interno Bruto.

PME’S: Pequenas e Médias Empresas (muitas vezes, engloba também as

microempresas).

PNUD: Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (UNIDO).

SEBRAE: Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas.

SENAI: Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial.

SINDISUPER: Sindicato da Indústria de Proteção, Tratamento e Transformação

de Superfície do Estado de São Paulo.

SQAS: Safety and Quality Assessment System.

SSO: Segurança e Saúde Ocupacional.

UNEP: United Nations Environmental Programme.

UNIDO: United Nations Industrial Development Organization.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................ 15

1.1 Apresentação e justificativa ......................................................................... 15

1.2 Pressupostos............................................................................................... 24

1.3 Hipótese ...................................................................................................... 26

1.4 Objetivos...................................................................................................... 26

1.4.1 Objetivo geral...................................................................................... 26

1.4.2 Objetivos específicos.......................................................................... 27

1.5 Descrição e organização dos capítulos ....................................................... 28

2 METODOLOGIA ............................................................................................. 29

2.1 Classificação das PME’s no mundo............................................................. 30

2.2 Classificação das PME’s no Brasil............................................................... 32

2.3 As PME’s e a informalidade......................................................................... 34

2.4 Procedimentos metodológicos..................................................................... 37

2.4.1 Construção do referencial teórico ....................................................... 37

2.4.2 Estudo de caso ................................................................................... 38

2.4.3 Análise dos dados coletados .............................................................. 43

3 PME’S, SEU PAPEL SOCIOECONÔMICO E O FENÔMENO DA

TERCEIRIZAÇÃO .......................................................................................... 44

3.1 A importância socioeconômica das PME’s no mundo .................................. 44

3.2 A importância socioeconômica das PME’s no Brasil .................................... 47

3.3 As PME’s, a terceirização e a precarização das relações

trabalhistas ................................................................................................... 49

4 PME’S E OS RISCOS SOCIOAMBIENTAIS .................................................. 59

4.1 PME’s e a segurança e saúde no trabalho .................................................. 59

4.2 PME’s e o meio ambiente............................................................................ 66

4.3 PME’s e a questão sociambiental................................................................ 87

5 ALTERNATIVAS PARA O COMPROMISSO SOCIOAMBIENTAL

EM PME’S...................................................................................................... 89

5.1 Adoção dos princípios de Produção Mais Limpa......................................... 89

5.2 Associativismo............................................................................................. 94

5.3 Grandes empresas como indutoras e apoiadoras ..................................... 101

6 AS PEQUENAS INDÚSTRIAS ESTUDADAS E SEU

POSICIONAMENTO SOCIOAMBIENTAL ................................................... 109

6.1 A empresa “A” ........................................................................................... 110

6.1.1 A empresa “A” e a segurança e saúde no trabalho .......................... 113

6.1.2 A empresa “A” e o meio ambiente .................................................... 116

6.1.3 A empresa “A” e as alternativas para o compromisso

socioambiental.................................................................................. 121

6.1.4 A empresa “A” e a questão socioambiental ...................................... 122

6.2 A empresa “B” ........................................................................................... 124

6.2.1 A empresa “B” e a segurança e saúde no trabalho .......................... 128

6.2.2 A empresa “B” e o meio ambiente .................................................... 131

6.2.3 A empresa “B” e as alternativas para o compromisso

socioambiental.................................................................................. 135

6.2.4 A empresa “B” e a questão socioambiental ...................................... 136

6.3 A empresa “C” ........................................................................................... 138

6.3.1 A empresa “C” e a segurança e saúde no trabalho .......................... 143

6.3.2 A empresa “C” e o meio ambiente .................................................... 146

6.3.3 A empresa “C” e as alternativas para o compromisso

socioambiental.................................................................................. 151

6.3.4 A empresa “C” e a questão socioambiental ...................................... 153

6.4 A empresa “D” ........................................................................................... 155

6.4.1 A empresa “D” e a segurança e saúde no trabalho .......................... 159

6.4.2 A empresa “D” e o meio ambiente .................................................... 162

6.4.3 A empresa “D” e as alternativas para o compromisso

socioambiental.................................................................................. 165

6.4.4 A empresa “D” e a questão socioambiental ...................................... 167

6.5 Consolidação das informações obtidas ..................................................... 168

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................... 173

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................. 184

APÊNDICES:

Apêndice A: Questionário para entrevista.......................................................... 190

15

1. INTRODUÇÃO

1.1 Apresentação e justificativa

Pois está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e aniquilarei a inteligência dos entendidos. 1 Co 1:19

À luz do conhecimento científico acumulado ao longo dos séculos, o qual

conduziu a Humanidade a enormes e inegáveis progressos, esta afirmação,

escrita pelo apóstolo Paulo em sua primeira epístola aos coríntios, há quase dois

mil anos, pode parecer totalmente despropositada. No entanto,

independentemente da discussão sobre crenças e convicções de ordem

eminentemente pessoal, é forçoso reconhecer que aos estudiosos

contemporâneos cabe enfrentar-se com uma quantidade cada vez maior de

questões prementes e desafiadoras, diretamente relacionadas às conseqüências

que a aplicação prática deste conhecimento científico traz sobre o meio ambiente

e as condições de vida dos seres humanos.

Os ecossistemas existentes no globo terrestre sempre constituíram um

sistema em equilíbrio, mantendo-se neste estado de maneira nem sempre

tranqüila. No entanto, mesmo as mais impetuosas manifestações de fúria natural

destruidora revelam-se como forças modificadoras que alteram determinada parte

do sistema com a função de, simplesmente, mantê-lo em equilíbrio. Assim sendo,

estas alterações sistêmicas, ao mesmo tempo em que extinguem espécies,

terminam por criar outras, adaptadas à nova realidade.

Dentro deste contexto, a espécie humana, que em algum momento deu-se

conta de sua capacidade de raciocínio (não importa se ao comer uma

determinada fruta, ou ao perceber que um osso poderia ser usado como arma),

sempre exerceu um embate com o ecossistema que o criou. Seja lutando pela

sua sobrevivência, seja procurando obter uma vida mais confortável, o Homem

sempre modificou o meio ambiente no qual está inserido, de maneira a atender às

16

suas necessidades e anseios. Mesmo aqueles agrupamentos humanos que

exercem menos impactos negativos sobre o meio ambiente, alteram-no para que

o mesmo sirva aos seus interesses. Apesar desta característica, e de sua grande

capacidade de adaptação, a espécie humana sempre se viu à mercê dos

elementos naturais, e, como as demais espécies, sujeita à extinção pela poderosa

força modificadora que mantém o sistema natural em equilíbrio.

O Homem, no entanto, aperfeiçoou seus conhecimentos. Criou e

desenvolveu tecnologias e procedimentos científicos, de tal forma que sua

capacidade modificadora cresceu de maneira exponencial. Extinguiu espécies,

moldou o meio ambiente que o rodeia segundo sua própria concepção. A

sobrevivência deixou de ser uma preocupação cotidiana e o conforto tornou-se

algo muito mais abstrato do que simplesmente ter um cômodo abrigo para se

proteger das intempéries, ou um lugar macio e aconchegante para descansar.

Em pouco mais de 150 anos, o Homem tornou-se a espécie mais veloz, e a

que voa mais alto. Utilizou a ciência como instrumento para criar um sistema

próprio, artificial, que utiliza recursos naturais em escala cada vez maior, para

satisfazer suas necessidades abstratas. Um sistema baseado na produção e

consumo, que neste período se transformou na base da civilização moderna e

que funciona num ciclo cada vez mais rápido. Tal sistema, à guisa dos sistemas

naturais, modifica-se e se recria, mas o faz de maneira cada vez mais freqüente e

profunda simplesmente para funcionar de forma cada vez mais acelerada,

alterando o próprio tecido social no qual opera. Como efeito colateral deste

sistema concebido pela sabedoria humana, tem-se que os ecossistemas já

demonstram que não poderão continuar indefinidamente doando os recursos e

recebendo os resíduos para que ele possa funcionar.

Hoje em dia, a espécie humana, exterminadora das demais espécies e

moldadora da Natureza, continua tendo seus filhos queridos mortos por

terremotos e erupções vulcânicas, furacões e inundações, tsunamis e doenças,

assim como há milhares e milhares de anos atrás. A questão da sobrevivência vai

se deslocando da simples necessidade de alimentação e abrigo contra as

intempéries para a constatação de que é necessário atuar no sentido de que os

ecossistemas continuem a manter-nos vivos. Percebe-se que o enorme e

acelerado progresso da ciência e da tecnologia tem o potencial de conduzir a

espécie humana à extinção, de maneira atomicamente voluntária ou

17

produtivamente involuntária.

Dizem alguns que o Homem está derrotando a Natureza. É difícil aceitar

esta afirmação, tendo em vista que a Natureza sempre se modifica, de maneira a

manter-se como um sistema em equilíbrio. Mesmo que a espécie humana deixe

de voar, flutuar ou rastejar sobre o globo terrestre, ele continuará existindo ainda

por muito tempo. E o fará sem a sabedoria dos sábios e a inteligência dos

entendidos.

Pode-se certamente alegar que a ciência não pode ser culpada por este

estado de coisas pré-apocalíptico, e atribuir à ganância inerente ao Homo sapiens

a construção deste caminho que o leva diretamente a lugar nenhum. No entanto,

há que se usar de pragmatismo e considerar que, tendo em vista que a

organização da civilização atual não permite o abandono abrupto do atual sistema

de produção e consumo, cabe à ciência, que forneceu a contribuição básica para

sua concepção, encontrar formas para mudar este caminho de direção ou, pelo

menos, enchê-lo de curvas. Senão, ao Homem restará contar apenas com a

providência divina.

A questão da gestão integrada, a qual contempla os aspectos sociais e

ambientais relacionados à atividade empresarial como fator de sustentabilidade

dos negócios, é apenas uma das inúmeras dimensões que a ciência deve estudar

para conseguir apontar soluções para o dilema apresentado. Este trabalho

pretende dar uma contribuição, talvez ainda que pequena, neste sentido.

Felizmente, torna-se cada vez mais clara a preocupação da sociedade

atual com os aspectos que relacionam o desenvolvimento econômico à

necessidade de preservação ambiental. Mesmo entre aquelas pessoas menos

instruídas, para as quais expressões como “desenvolvimento sustentável” não

possuem sentido muito claro, detecta-se uma crescente conscientização quanto à

necessidade de se obter crescimento econômico aliado à preservação do meio

ambiente, de forma a garantir a sobrevivência do ser humano.

Os grandes desastres como Bhopal, Exxon Valdez e Chernobyl exerceram

fortes impactos sobre a opinião pública mundial, não somente devido à sua

magnitude, mas também graças à ampla divulgação que mereceram por parte

dos meios de comunicação de massa. Estes desastres tiveram a virtude de alertar

a sociedade quanto aos riscos reais, tanto imediatos como futuros, que

determinadas atividades econômicas oferecem à continuação de sua existência.

18

No entanto, talvez tenham atraído excessiva atenção sobre as grandes empresas,

e feito com que não se atentasse à necessidade de avaliar, também, a atuação

das pequenas empresas em relação à variável socioambiental de seus negócios.

Se, por um lado, despertou-se a consciência da sociedade quanto à

externalização dos impactos ambientais empresariais, por outro lado não se pode

ignorar o fato de que tais organizações consistem, cada uma delas, num

“microambiente” per se, interagindo com um sistema maior, de tal forma que suas

características e processos intrínsecos conduzem a conseqüências

socioambientais, tanto intrínsecas como extrínsecas. Apesar da crescente

automatização, nenhuma organização tem condições de operar sem seres

humanos, os quais são responsáveis tanto pela concepção como pelo

funcionamento deste microambiente, estando portanto inseridos no mesmo e

expostos aos riscos socioambientais inerentes à atividade produtiva que

desenvolvem: são simultaneamente figuras ativas e passivas neste sistema. Sob

este ponto de vista, o Homem é, em última análise, o principal fator dos processos

produtivos e, ao mesmo tempo, integrador do ambiente empresarial ao ambiente

socioambiental externo. Portanto, ao se falar em sustentabilidade dos negócios,

descortina-se a necessidade de adoção de sistemas de gestão integrada da

segurança, saúde e meio ambiente nas empresas. Tais sistemas de gestão

buscam adotar procedimentos social e ambientalmente responsáveis nas

organizações, dando-lhes condições de integrar-se de maneira sustentável no

meio socioambiental em que estão inseridas. A gestão integrada vem sendo

intensamente debatida nos últimos anos, sendo este processo acompanhado por

um crescimento expressivo do número de empresas que adotam os sistemas

baseados nas normas ISO 14001 e OHSAS 18001 (respectivamente International

Standardization Organization e Occupational Health and Safety Assessment

Series), de forma a constituir um Sistema de Gestão Integrado. Deve-se destacar

que, devido à complexidade e aos custos financeiros envolvidos nos processos de

implementação e certificação destes sistemas, as pequenas empresas

encontram-se praticamente ausentes desta questão, tanto no que se refere aos

debates, como na adoção efetiva dos procedimentos necessários para estes

sistemas. Com esta situação em vista, convém analisar a relevância do papel que

as empresas de pequeno porte têm a desempenhar na obtenção de melhores

índices de sustentabilidade.

19

Em todo o mundo desenvolvido, a importância do segmento empresarial

conhecido como PME’s (Pequenas e Médias Empresas) é inquestionável, de tal

forma que o mesmo chega a ser considerado a base da economia de mercado e

do próprio Estado democrático (SEBRAE, 1999). Independentemente do fato de

existir exagero ou não nesta afirmação, as evidências desta importância são

várias, e contundentes. Os países desenvolvidos dedicam-se a estudar este

segmento, a conhecer suas características e a identificar suas necessidades, de

maneira a mobilizar instrumentos de apoio ao seu desenvolvimento. No ambiente

altamente competitivo da atualidade, é cada vez maior o interesse despertado

pela agilidade e flexibilidade inerentes às empresas de pequeno porte. Além

disso, neste ambiente marcado por contínuas transformações na estrutura

produtiva e nas relações de produção, tais empresas consistem numa

interessante alternativa também no que tange à geração de empregos. Estas

organizações, juntamente com as micro-empresas, têm contribuído de forma

significativa para reduzir a concentração de renda e absorver a mão-de-obra

tornada excedente pela automatização, ocorrida tanto nas áreas rurais, como

urbanas (SEBRAE, 1999).

No que diz respeito ao tamanho do setor representado por estas empresas,

existem diferenças de classificação de porte, que impedem uma uniformização

dos dados. No entanto, de acordo com a publicação Industry and Environment

(2003), independentemente da variação existente entre as diferentes

classificações regionais adotadas ao redor do mundo, as PME’s representam

aproximadamente 90% de todas as empresas do planeta, e são responsáveis,

pelo menos, por 50% do número total de empregos. É importante frisar que as

estatísticas, muitas vezes, englobam também as micro-empresas neste grupo.

Enquanto a maior parte das pequenas empresas atua no setor de serviços,

aproximadamente 25% dedicam-se à manufatura, e, desta forma, contribuem

para a geração de resíduos industriais. Referindo-se especificamente ao Brasil,

Barros et al. (2003) mencionam que em nosso país existem aproximadamente 4

milhões de micro e pequenas empresas, sendo que a grande maioria

(aproximadamente 80%) encontra-se no setor de serviços e comércio. A maior

parte delas atua na região Sudeste (55,5%), beneficiando-se de seu mercado

consumidor, infra-estrutura e mão-de-obra qualificada, pois 43% da população

vivem nesta região.

20

Entre as razões para o contínuo crescimento do setor representado pelas

PME’s, em âmbito mundial, a publicação Industry and Environment (2003)

menciona os deslocamentos de mão-de-obra (freqüentemente associados aos

fenômenos de downsizing), o crescimento da quantidade de franquias e os

movimentos de subcontratação e terceirização por parte das grandes empresas.

Portanto, uma das principais explicações para o aumento da importância

socioeconômica das pequenas empresas está na aceleração do processo de

terceirização, implementado pelas grandes empresas com maior ênfase a partir

dos anos 90. Segundo Demajorovic et al. (2001), tendo em vista que as grandes

unidades de produção, baseadas nos princípios de Taylor e Ford, seriam pouco

flexíveis para se ajustar aos choques globais e setoriais, tem-se recorrido a uma

estratégia de redução de custos através da substituição de uma relação

trabalhista por uma relação comercial, na forma de terceirização da produção e de

serviços. Desta forma, boa parte das atividades anteriormente realizadas por

grandes empresas acabaram sendo transferidas para as organizações de

pequeno porte, que buscam o caminho da inovação e da flexibilização para

assegurar maior competitividade no mercado.

Neste quadro, é importante verificar como se comportam as PME’s no que

diz respeito à dimensão socioambiental de seus negócios. No que tange à

segurança e saúde no trabalho, a publicação Industry and Environment (2003)

declara que, em vários países, estas empresas não são cobertas pelas

legislações relativas à saúde e segurança. Além disso, existem setores, como o

da construção civil, nos quais a rotatividade de mão-de-obra é bastante alta, o

que representa um fator dificultador do processo de fiscalização e de

levantamentos relativos a problemas de saúde e segurança ligados ao trabalho.

Nesse contexto, Lapeyre (In: WALTERS, 2002) defende a necessidade de

garantir que os trabalhadores das pequenas empresas não se transformem em

“cidadãos de segunda classe”, mais expostos a riscos de ordem laboral,

insegurança, piores salários e condições de trabalho que aqueles funcionários

das empresas maiores. Menciona que freqüentemente as condições de trabalho

nas pequenas empresas são determinadas pela insegurança financeira, pelos

ciclos de vida limitados e pelas pressões que sofrem por parte dos clientes e

usuários finais. Segundo ele, apesar de que as normas da Comunidade

Econômica Européia estabeleçam as mesmas obrigações básicas para todas as

21

empresas, independentemente de seu porte, os dados disponíveis demonstram

que o cumprimento destas obrigações varia muito de acordo com o tamanho das

organizações.

A OIT (Organização Internacional do Trabalho), em sua página da internet

referente ao seu programa “InFocus”, voltado para a segurança e saúde no

trabalho e ao meio ambiente, declara que as empresas de menor porte

representam mais de 90% das empresas em que as condições laborais são

consideradas muito deficientes, e nas quais os funcionários freqüentemente

vêem-se desprovidos de qualquer proteção trabalhista. Em muitos países em vias

de desenvolvimento, as taxas de mortalidade entre os trabalhadores chegam a

ser de cinco a seis vezes maiores do que nos países desenvolvidos. A OIT

declara que o fenômeno é escassamente documentado e que há pouca vontade

política para solucionar o problema. Além disso, aponta a competição globalizada,

a crescente fragmentação do mercado laboral e as rápidas mudanças em todos

os aspectos do trabalho como responsáveis pelo desafio crescente à proteção do

trabalhador, especialmente nos países em desenvolvimento (ILO, 2005).

Por sua vez, Walters (2002) declara que é evidente que as condições do

ambiente de trabalho de muitas empresas de pequeno porte deixam bastante a

desejar com relação às normas básicas de segurança. A este fator, adiciona-se o

fato de que tanto a intensidade como a duração do trabalho nestas empresas

tendem a ser maiores. Estes fatores, combinados com uma direção geralmente

autocrática, um sistema de comunicação deficiente e a pouca autonomia dos

trabalhadores, geram uma composição que contribui para os maus resultados das

empresas deste porte no que tange à saúde e segurança.

Quanto ao aspecto ambiental, é preciso considerar que as PME’s,

especialmente aquelas dedicadas ao setor industrial, são particularmente

presentes em setores caracterizados pela alta intensidade no uso de recursos e

pela emissão de poluentes, como acabamento de metais, tingimento de couros e

tecidos, limpeza a seco, impressão, processamento de alimentos, fabricação de

tecidos, química e outros (INDUSTRY AND ENVIRONMENT, 2003). Além disso,

estas empresas, tanto individualmente como em grupo, freqüentemente fazem

muito menos para tratar de forma adequada seus impactos ambientais que as

grandes empresas. De acordo com a publicação Industry and Environment,

(2003), as principais razões para esta atitude são:

22

− Insuficientes recursos tecnológicos e deficiências em termos de

conhecimentos, treinamento e capital.

− Falta de iniciativas governamentais especificamente voltadas às pequenas

organizações.

− Entendimento inadequado sobre a relação existente entre o negócio e a

atuação ambientalmente e socialmente responsável.

− Necessidade de tratar com assuntos mais prementes, como o

aperfeiçoamento da tecnologia, dos processos administrativos e de

“marketing”.

− Competição de preços.

− Pouca pressão por parte dos consumidores finais.

Esta mesma publicação informa que existem estimativas indicando que, na

Índia, as PME’s produzem pelo menos 65% dos resíduos industriais. Nos Estados

Unidos e no Canadá, foi constatado que as emissões tóxicas das empresas de

pequeno porte cresceram 32% entre 1998 e 2000, apesar de ter havido uma

redução da poluição industrial atmosférica total de 4%, neste mesmo período.

Uma pesquisa realizada com 116.300 PME’s da província chinesa de Jiangsu

apontou que 67,7% delas geravam grandes níveis de poluição, enquanto 28,5%

geravam níveis moderados. Somente 4% foram consideradas livres de emissões

poluidoras. É importante mencionar que as pequenas empresas também recebem

menos informações a respeito da sustentabilidade dos negócios, e das maneiras

como obtê-la. A maioria dos administradores das pequenas empresas dá

prioridade máxima à atualização tecnológica, gerencial e mercadológica, visando

enfrentar a competição por preços baixos. Desta maneira, a questão da

responsabilidade ambiental tem sido encarada mais como um incômodo do que

como uma oportunidade (INDUSTRY AND ENVIRONMENT, 2003).

Deve-se frisar que Walters (2002) e Industry and Environment (2003)

indicam que uma característica comum às PME’s é a escassa fiscalização

governamental, tanto no que tange às condições de segurança e saúde, como

ambientais. Tal característica é decorrente das dificuldades encontradas pelos

órgãos competentes na tarefa de fiscalizar um conjunto de empresas tão

23

fragmentado e multifacetado, como é o setor representado pelas PME’s.

Obviamente, este aspecto é um fator agravante quando se discute a transferência

de processos produtivos das grandes para as pequenas empresas, e o

conseqüente deslocamento dos riscos socioambientais inerentes a estes

processos.

Tendo em vista que o fenômeno da terceirização consiste num dos

principais vetores que conduzem ao crescimento das PME’s, pode-se concluir que

as grandes empresas, ao repassarem processos produtivos para inúmeros

pequenos fornecedores, não estão apenas se beneficiando da redução de custos

operacionais e abrindo novas possibilidades de negócios para pequenos

empreendedores. Também transferem a responsabilidade e os potenciais riscos

inerentes a estes processos para as pequenas empresas. Por sua vez, as

pequenas empresas, muito menos preparadas para lidar com tais riscos e menos

fiscalizadas pelos órgãos públicos, ampliam a vulnerabilidade de seus

trabalhadores, ao mesmo tempo em que externalizam seus custos ambientais.

Este contexto propicia uma situação paradoxal. De um lado, a sociedade

se beneficia do aprimoramento da gestão integrada em grandes empresas, na

medida em que os sistemas implementados logrem reduzir as possibilidades de

acidentes industriais de grandes proporções, mitiguem seus efeitos em caso de

ocorrência e reduzam a geração de resíduos e emissão de efluentes. De outro,

boa parte destes ganhos pode ser eclipsada, na medida em que se ampliem

acidentes industriais e a geração de resíduos e efluentes nas pequenas

empresas. Ainda que, em termos individuais, as ações das pequenas empresas

para a expansão dos riscos socioambientais não podem ser comparadas em

magnitude às das grandes empresas, a contribuição do conjunto dessas

organizações para a ampliação da vulnerabilidade socioambiental não pode ser

negligenciada. Apesar disso, nota-se que ainda se dispõe de poucos estudos

abordando esta questão.

O mencionado crescimento das pequenas empresas no cenário

socioeconômico atual contribuiu para o desenvolvimento de uma extensa

literatura abordando a questão da sua relevância. A maior parte dos estudos, no

entanto, privilegia questões referentes à sua contribuição social, sua flexibilidade

e adequação a um ambiente em mudança, ou à sua vulnerabilidade,

permanecendo o componente socioambiental relegado a um segundo plano. Esta

24

lacuna contribui para dificultar um melhor entendimento desta importante faceta

relacionada ao processo de terceirização, que é a transferência de riscos

socioambientais.

É sob esta perspectiva que o presente trabalho pretende dar sua

contribuição à evolução do conhecimento sobre este setor econômico. Por meio

de uma análise da evolução do processo de terceirização e da transferência de

riscos socioambientais, tanto baseada na bibliografia disponível, como em

levantamento de dados realizado junto a pequenas empresas, procura-se avaliar

o atual grau de inserção das PME’s nas questões socioambientais, suas

eventuais dificuldades, limitações, vantagens, fatores indutores e possíveis

alternativas para melhorar o tratamento dado às questões socioambientais por

parte destas empresas. Este trabalho objetiva, portanto, contribuir para o

entendimento deste importante setor socioeconômico, demonstrando não apenas

como o fenômeno da terceirização tem influenciado seu crescimento, mas

também as conseqüências da transferência dos processos produtivos e dos riscos

socioambientais das grandes empresas para as pequenas. Pretende fazê-lo sem

deixar de indicar alguns caminhos viáveis para a solução das fragilidades

socioambientais das pequenas empresas. Afinal, é preciso considerar que a

questão da sustentabilidade empresarial implica diretamente na sustentabilidade

da própria sociedade: não poderá ocorrer uma melhora nos índices de

sustentabilidade da sociedade capitalista, se a redução dos riscos

socioambientais por parte das grandes organizações for suplantada por um

aumento destes mesmos riscos por parte das organizações de pequeno porte.

1.2 Pressupostos

Previamente à apresentação da hipótese preliminar da pesquisa, é

conveniente destacar os pressupostos sobre os quais se desenvolveu este

trabalho.

Com base na acelerada depleção dos recursos naturais e dos problemas

ocasionados pela poluição gerada pelos processos produtivos, fato este que está

cada vez mais presente na vida das pessoas, sejam elas habitantes de

25

aglomerações urbanas ou de zonas rurais, a questão ambiental torna-se um fator

gerador tanto de barreiras como de oportunidades produtivas e exerce influência

crescente sobre as políticas públicas e as estratégias empresariais.

O processo de abertura de mercados e de ampliação da concorrência em

escala global constitui fato irreversível, tendo em vista que sua ocorrência foi em

grande parte viabilizada pelo grande desenvolvimento tecnológico nos setores de

transportes, comunicação e informática. Os efeitos da globalização, tais como a

transferência de unidades produtivas para regiões que oferecem melhores

condições de custo, a desverticalização produtiva, o desemprego, o aumento da

pressão por produtividade sobre os que estão empregados, a acirrada competição

por preços baixos, a especulação financeira global em tempo real (somente para

citar poucos exemplos), continuarão a marcar profundamente os aspectos

relacionais, laborais, produtivos e ambientais da sociedade.

Neste marco, a descentralização da produção e a transferência de

processos produtivos das grandes para as pequenas empresas, sob a forma de

terceirização, será um fato cada vez mais comum, tendo em vista as

necessidades de flexibilidade, adaptabilidade e capacidade de inovação que as

condições mercadológicas globais impõe à indústria.

Assim sendo, as pequenas empresas representam um segmento

socioeconômico que estará cada vez mais presente nas nações de todo o mundo,

e seu desenvolvimento passará a ser um dos importantes fatores determinantes

da própria competitividade nacional. Por conseguinte, a atuação destes

empreendimentos exercerá influência cada vez maior sobre as economias, as

condições de trabalho e o meio ambiente dos países.

As pequenas empresas, apesar de suas inerentes vantagens em termos de

agilidade e flexibilidade, as quais lhes propiciam este aumento de importância no

cenário socioeconômico mundial, não deixam, no entanto, de apresentar algumas

limitações. A bibliografia indica que tais organizações enfrentam carências de

ordem financeira e cognitiva, as quais terminam por influenciar negativamente sua

atuação frente às questões de cunho socioambiental. Tendo que operar num

mercado altamente competitivo, sob constante pressão por redução de preços,

com pequeno poder de barganha, sem poder contar com os benefícios da

economia de escala e geralmente não dispondo de expertise no que tange à

gestão socioambiental, de maneira geral as pequenas empresas fazem muito

26

menos para tratar adequadamente esta dimensão de seus negócios, que as

grandes.

Sob estas condições, o adequado entendimento das fragilidades das

pequenas empresas, no que tange à sua atuação socioambiental, é condição

básica para que se encontrem alternativas que, em última análise, contribuirão

não apenas para o aumento da competitividade, mas principalmente para a

melhoria das condições de trabalho e da atuação empresarial frente à questão

ambiental.

1.3 Hipótese

Com base nos pressupostos anteriormente explicitados, parte-se do

princípio de que as PME’s, de forma geral, apresentam diversas carências de

ordem financeira, cognitiva e gerencial, que refletem negativamente em sua

atuação socioambiental. Assim sendo, as mesmas não tratam de forma adequada

as questões referentes aos aspectos de segurança, saúde e meio ambiente

inerentemente ligados aos processos produtivos que executam para as grandes

empresas. Formula-se, portanto, a hipótese de que o processo de terceirização

dos processos produtivos, transferindo-os das grandes para as pequenas

empresas, embute a transferência dos riscos socioambientais para organizações

que não estão adequadamente preparadas para tratá-los, e que os acabam

externalizando, em prejuízo da sociedade.

1.4 Objetivos

1.4.1 Objetivo geral

Tomando como base os pressupostos e a hipótese anteriormente

abordados, o principal objetivo do presente trabalho é analisar a maneira como as

27

PME’s terceirizadas trabalham sua dimensão socioambiental, considerando o

mercado altamente competitivo em que atuam e partindo da premissa de que

recebem a transferência, por parte das grandes empresas, tanto dos processos

produtivos como dos riscos socioambientais a eles associados. Este dado

permitirá avaliar qual o grau de inserção destas organizações no que tange à

questão da sustentabilidade dos negócios, bem como indicar suas

vulnerabilidades neste quesito.

1.4.2 Objetivos específicos

Além do objetivo central deste trabalho, buscam-se objetivos de cunho

específico, com a finalidade de obter maiores subsídios para a interpretação do

relacionamento das PME’s com a variável socioambiental de seus negócios, no

âmbito da terceirização. De maneira hierarquizada, tais objetivos específicos são

os seguintes:

− Averiguar quais são, ou poderiam ser, os fatores indutores para a adoção de

procedimentos de gestão socioambiental responsável por parte destas PME’s.

− Verificar em que medida a legislação e a fiscalização influenciam o

posicionamento socioambiental destas organizações.

− Determinar de que maneira as grandes empresas, clientes das pequenas

empresas terceirizadas, influenciam, forçam ou colaboram para que seus

fornecedores adotem estratégias que contemplem adequadamente a

dimensão socioambiental dos processos produtivos.

− Identificar alternativas já em uso pelas PME’s, visando aliar a competitividade

no curto prazo, diretamente ligada à sua sobrevivência imediata, à

sustentabilidade de seus negócios, determinante de sua existência futura.

28

1.5 Descrição e organização dos capítulos

O presente trabalho está dividido em seis partes principais:

− Capítulo 2, no qual são expostos os procedimentos metodológicos utilizados,

abordando a problemática relativa aos diferentes critérios classificatórios

adotados para o enquadramento das PME’s, bem como o setor econômico

representado pelas pequenas empresas informais.

− Capítulo 3, no qual é feita, com base na bibliografia, uma apresentação do

setor representado pelas PME’s, sua importância socioeconômica, as razões

para seu desenvolvimento e sua relação com o fenômeno da terceirização.

− Capítulo 4, dedicado à análise do posicionamento das PME’s com relação à

dimensão socioambiental de suas atividades, focando a situação dos

aspectos relativos à segurança e saúde no trabalho e ao meio ambiente

nestas organizações. Tal análise também é baseada na bibliografia.

− Capítulo 5, o qual é dedicado à apresentação de três alternativas voltadas a

facilitar a inserção das PME’s nos princípios de gestão socioambiental

sustentável, à luz de estudos e casos reais disponíveis na literatura.

− Capítulo 6, que se dedica à apresentação e análise dos resultados obtidos na

realização do estudo de caso, evidenciando as principais características das

PME’s estudadas, bem como seu posicionamento em relação à dimensão

socioambiental de suas atividades.

− Capítulo 7, destinado às considerações finais, no qual se discutem as

informações colhidas no estudo de caso frente ao referencial teórico que

serviu de guia para a realização do trabalho.

29

2. METODOLOGIA

Aqueles pesquisadores que se dedicam a estudar o universo

extremamente fragmentado e multifacetado das pequenas empresas encontram

diversos fatores limitadores ao seu trabalho, os quais oferecem dificuldades não

apenas para a obtenção de dados a respeito destas organizações, mas

principalmente para a realização de comparações entre as informações

disponíveis.

Primeiramente, há que se considerar que há diferentes entendimentos

acerca de “quão pequena”, ou “quão grande” é uma pequena empresa. Ou seja,

ao redor do globo são adotados diferentes critérios de classificação para o

enquadramento destas organizações, sendo que se podem encontrar diversas

classificações dentro de uma mesma região, ou de um mesmo país. Nota-se,

inclusive, que instituições de um mesmo governo adotam critérios distintos entre

si, para enquadramento de porte empresarial. Esta característica acaba

dificultando sobremaneira a realização de comparações diretas entre dados

empíricos obtidos por diferentes estudos, e, conseqüentemente, limitando a

capacidade de se obter informações conclusivas sobre diversos aspectos

relativos às pequenas empresas.

Outro fator que dificulta não somente a obtenção de dados a respeito deste

segmento econômico, como também a generalização dos mesmos, é o fato de

que muitas pequenas empresas atuam no chamado “setor informal”. Tais

organizações não existem oficialmente, não são reconhecidas pelo poder público

e não são “visíveis” estatisticamente de maneira clara, apesar de contribuírem

para a geração de renda e de postos de trabalho, notadamente nos países em

vias de desenvolvimento.

Tendo em vista estas assertivas, demonstra-se conveniente abordar

primeiramente as questões relativas às classificações de porte das PME’s, bem

como aquelas relacionadas ao setor informal, para somente então proceder à

descrição dos procedimentos metodológicos utilizados para a elaboração deste

trabalho.

30

2.1 Classificação das PME’s no mundo

O uso da nomenclatura “PME’s” (ou “SME’s – Small and Medium-sized

Enterprises”), utilizada genericamente para definir as pequenas empresas, reúne,

na realidade, as Pequenas e Médias Empresas, abarcando, na maioria das vezes,

também as Microempresas. Em termos globais, geralmente restringe-se àquelas

organizações dedicadas às atividades econômicas não-primárias, ou seja, não se

incluem nesta classificação as empresas agrícolas, de pesca ou extrativistas. No

entanto, pequenas firmas ligadas à pesca ou mineração são muito importantes

economicamente para diversos países, especialmente os países em

desenvolvimento (INDUSTRY AND ENVIRONMENT, 2003).

Existem diversas metodologias regionais destinadas a classificar as

empresas de acordo com seu porte, de maneira que é praticamente impossível

uma comparação direta entre dados estatísticos referentes às PME’s de distintos

países. A União Européia, por exemplo, classifica as PME’s da seguinte maneira:

Tabela 1: Classificação das PME’s segundo a Comunid ade Econômica Européia

Porte Número de Funcionários

Faturamento Bruto Anual

Microempresa menos de 10 até € 2 milhões

Pequena Empresa menos de 50 até € 10 milhões

Média Empresa menos de 250 até € 50 milhões

Fonte: Comissão Européia (2006)

Para a OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento

Econômico), as PME’s são classificadas como “muito pequenas” (“very small”),

pequenas e médias:

31

Tabela 2: Classificação das PME’s segundo a OCDE

Porte Número de Funcionários

Empresa muito pequena até 19

Pequena Empresa até 99

Média Empresa até 499

Fonte: Industry and Evironment (2003)

No Canadá, Estados Unidos e México, as classificações das empresas de

pequeno porte variam de acordo com o setor de atuação, e são baseadas no

número de empregados, sendo que o número de 500 funcionários representa o

ponto máximo comum. É preciso destacar, no entanto, que atualmente, devido ao

surgimento da “nova economia”, baseada nas tecnologias de informação e

comunicação, talvez seja irreal classificar o porte das empresas exclusivamente

com base no número de empregados. Na Índia, por exemplo, é considerada

pequena empresa aquela organização que representa um investimento total,

somando fábrica e maquinários, não superior a 7,5 milhão de rúpias* (INDUSTRY

AND ENVIRONMENT, 2003).

Na Europa e em grande parte do mundo, a maioria das PME’s é composta

por microempresas. Na Europa central e do leste, bem como na antiga União

Soviética, muitas pequenas empresas foram criadas como conseqüência da

privatização e do desmantelamento das antigas empresas estatais. Apenas cinco

anos após o início da transição da economia estatal para a de mercado, havia, na

Polônia, cerca de 2,1 milhões de empresas, das quais 92% empregavam 5

pessoas ou menos, 6% possuíam entre 6 e 50 funcionários e somente 2% davam

trabalho a mais de 50 pessoas (INDUSTRY AND ENVIRONMENT, 2003).

Uma pesquisa realizada pelo Observatório das PME’s Européias

(Observatory of European SME’s) indicou que aproximadamente 25% destas

empresas dedicavam-se aos setores manufatureiro e de construção. Por esta

razão, vários países decidiram criar uma sub-categoria para as PME’s,

denominada “SMI’s” (“Small and Medium-sized Industries”), de maneira a

classificar especificamente aquelas empresas de pequeno porte atuantes neste

setor econômico (INDUSTRY AND ENVIRONMENT, 2003).

* À época da publicação desta referência bibliográfica, quantia equivalente a US$ 165.000,00 (Banco Central do Brasil, 2006).

32

2.2 Classificação das PME’s no Brasil

Tendo em vista que, em termos mundiais, não existe uma padronização de

critérios para enquadramento das empresas segundo o seu porte, é conveniente

abordar qual é a situação vigente em nosso país. No que diz respeito à

classificação das PME’s, é preciso destacar que não existe, no Brasil, um critério

único. Desta forma, o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e

Social), conforme determinado em sua Carta Circular n° 64/02, de 14 de outubro

de 2002, enquadra as PME’s segundo a sua receita operacional bruta anual ou

anualizada:

Tabela 3: Classificação das PME’s segundo o BNDES

Porte Receita operacional bruta anual ou anualizada

Microempresa até R$ 1.200.000,00

Pequena Empresa mais de R$ 1.200.000,00 até R$ 10.500.000,00

Média Empresa mais de R$ 10.500.000,00 até R$ 60.000.000,00

Fonte: BNDES (2006)

O Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte (Lei Federal

9.841/1999), atualizado pelo Decreto 5.028/2004, consiste num instrumento de

classificação estabelecido pelo Governo Federal, com o objetivo principal de

delimitar as ações governamentais referentes a apoio técnico e creditício,

simplificação tributária e demais medidas destinadas a beneficiar as micro e

pequenas empresas (note-se que as médias empresas não estão contempladas

por esta regulamentação). O Estatuto determina o porte das empresas de acordo

com seu faturamento anual, no entanto estabelece valores próprios, diferentes

dos parâmetros adotados pelo BNDES. Esta discrepância entre os parâmetros

adotados pelo Governo Federal e pelo BNDES é incompreensível, tendo em vista

que este último consiste num dos principais instrumentos governamentais de

fomento ao desenvolvimento do país.

33

Tabela 4: Classificação das PME’s segundo a Lei 9.8 41/1999 e Decreto 5.028/2004

Porte Receita bruta anual

Microempresa até R$ 433.755,14

Empresa de pequeno porte mais de R$ 433.755,14 até R$ 2.133.222,00

Fonte: SEBRAE (2005)

O SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas),

por sua vez, utiliza a classificação por faturamento anual, de acordo com o

Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte. No entanto, em seus

estudos estatísticos sobre a participação das micro e pequenas empresas na

economia brasileira, adota o critério de classificação de porte por quantidade de

pessoas ocupadas. Isto ocorre porque as estatísticas sobre micro e pequenas

empresas divulgadas pelo SEBRAE baseiam-se nos levantamentos do IBGE

(Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o qual classifica as firmas segundo

faixas de pessoal ocupado em seu Cadastro Central de Empresas - CEMPRE.

Note-se que há diferenciação de porte entre os setores industrial e de comércio e

serviços:

Tabela 5: Classificação das PME’s segundo o SEBRAE / IBGE

Número de pessoas ocupadas Porte

Indústria Comércio e Serviços

Microempresa até 19 até 9

Pequena Empresa de 20 a 99 de 10 a 49

Média Empresa de 100 a 499 de 50 a 99

Fonte: SEBRAE (2005)

Pelo exposto, torna-se clara a dificuldade de comparação ou de unificação

das informações sobre este importante segmento sócio-econômico, representado

pelas PME’s. É importante destacar que bases de dados unificadas e coerentes

representam um vital instrumento de planejamento para a adoção de políticas

públicas eficazes.

Este fato reveste-se de gravidade ainda maior, se considerarmos que as

informações oficiais disponíveis normalmente não abarcam o setor informal, pelas

34

dificuldades inerentes à obtenção de dados junto àquelas empresas que compõe

esta espécie de “zona cinza”. Tais organizações, embora oficialmente

inexistentes, contribuem para a geração de renda e de emprego, e portanto

também deveriam ser objeto de políticas públicas específicas.

2.3 As PME’s e a informalidade

Em muitos países, boa parte do setor econômico informal é composta

justamente pelas PME’s. A sobreposição entre as PME’s formais e informais

dificulta os esforços dedicados ao estudo das empresas deste porte, bem como a

comunicação e a realização de trabalhos específicos visando seu

desenvolvimento. Uma sapataria, na qual trabalha apenas seu proprietário,

poderia ser considerada uma microempresa formalizada, desde que devidamente

registrada junto aos órgãos trabalhistas e fiscais competentes. No entanto, nem

sempre isto ocorre, e naturalmente são encontradas grandes dificuldades em

enquadrar estatisticamente as PME’s informais junto às formais (INDUSTRY AND

ENVIRONMENT, 2003).

Segundo Späth (1993), no início dos anos 70, com a promulgação do

conceito de setor informal pelo Programa Mundial de Emprego da OIT (“World

Employment Programme of the International Labour Office”), tornou-se clara a

preocupação com a relação entre as pequenas empresas e a informalidade.

Constatava-se, com preocupação, que alguns países em desenvolvimento,

apesar de haver atingido altas taxas de crescimento, demonstravam-se incapazes

de integrar a mão-de-obra urbana disponível ao mercado de trabalho. Estudos

dedicados à questão do desemprego e subemprego, associados à acelerada

urbanização, demonstraram que uma boa parte da população urbana havia

encontrado uma forma de subsistência nas atividades econômicas informais, de

pequena escala. Demonstrou-se, inclusive, que várias destas atividades

informais, ao invés de restringirem-se à estagnação e a uma contribuição

produtiva apenas marginal, transformaram-se numa economia pujante por si

mesmas. Desta forma, introduziu-se uma distinção entre setores independentes e

co-existentes. De um lado, um setor formal, com empresas geralmente de grande

35

porte, com status legal, contando com incentivos governamentais, empregando

modernos métodos de produção e tecnologia, nas quais os trabalhadores eram

cobertos pelas leis trabalhistas e para as quais os mercados eram regulados e

protegidos. De outro lado, um setor informal, no qual as empresas geralmente

eram de propriedade familiar, de pequeno porte, utilizando métodos de produção

que demandavam mão-de-obra intensiva e tecnologia adaptada, com poucos

recursos, sem proteção trabalhista e operando em mercados desregulamentados

e altamente competitivos. A autora menciona que a OIT enfatizava desde aquela

época a importância do setor informal na geração de emprego e renda para a

mão-de-obra não absorvida pelo moderno setor formal. Note-se que o setor

informal provê mercadorias e serviços sem os subsídios e apoio governamental

concedidos às empresas formais. Segundo Späth (1993), boa parte das empresas

informais exerce atividades que não são atrativas para os detentores do capital,

de tal forma que o escopo da informalidade depende muito dos nichos de

mercado deixados abertos pelo setor formal. Assim sendo, os governos,

especialmente os do Terceiro Mundo, deveriam adotar uma atitude positiva com

relação às empresas informais, criando políticas para encorajá-las e desenvolvê-

las (SPÄTH, 1993). Constata-se, no entanto, que pouco tem sido feito para

integrá-las à economia “oficial”.

É importante mencionar que as estatísticas disponíveis sobre as PME’s

brasileiras tratam preponderantemente daquelas empresas formalmente

constituídas. Não obstante, é oportuno comparar alguns dados das pesquisas

CEMPRE e ECINF do IBGE (respectivamente Cadastro Geral de Empresas e

Pesquisa da Economia Informal Urbana do Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística), constantes no Boletim Estatístico de Micro e Pequenas Empresas

(SEBRAE, 2005). A tabela a seguir permite comparar o tamanho dos setores

formal e informal, independentemente do porte das empresas:

36

Tabela 6: Setor Formal versus Setor Informal (Empresas de Todos os Portes)

Empresas Formais (2002)

Empresas Informais (2003)

Número de Empresas 4.918.370 10.335.962

Número de empregados 27.561.924 13.860.868

Fonte: Adaptado de SEBRAE (2005)

Nota-se que praticamente 2/3 das empresas do país são consideradas

informais, e cerca de 1/3 da mão-de-obra empregada encontra-se neste tipo de

empresa. Estes dados demonstram claramente a necessidade de inserir estas

organizações na economia formal. A título complementar, indica-se a seguir o

porte das empresas informais:

Tabela 7: Número de Pessoas Ocupadas nas Empresas I nformais

Número de Pessoas Ocupadas Total

1 Pessoa 2 Pessoas

3 Pessoas

4 Pessoas

5 Pessoas

>5 Pessoas

10.335.962 8.281.263 1.264.095 400.267 208.153 103.985 78.199

Fonte: SEBRAE (2005)

Constata-se que a grande maioria destas organizações (80,1%) é

composta por empresas individuais, sendo que 92,3% possuem no máximo 2

pessoas. Trata-se, portanto, de um enorme contingente de empreendedores à

espera de formalização, compondo um universo ainda distante das políticas

oficiais.

À luz dos poucos dados apresentados, conclui-se que o segmento

empresarial informal representa um importante setor socioeconômico, o qual

contribui para a geração de renda e de emprego e que seguramente demanda

ações voltadas à sua formalização, capacitação gerencial, adequação às normas

de segurança, saúde e meio ambiente, etc. Representa não somente um desafio

para os elaboradores de políticas públicas, mas consiste numa demonstração

cabal da grande flexibilidade e adaptabilidade das pequenas organizações.

A questão das empresas informais no Brasil seguramente exige uma ampla

discussão, inclusive tendo em vista as barreiras existentes para a abertura formal

37

de empresas, bem como os complicados trâmites burocráticos e a alta carga

tributária impostos aos empreendimentos formais. Tal discussão, no entanto, não

é o propósito do presente trabalho, o qual se dedica ao estudo das empresas

formais.

2.4 Procedimentos metodológicos

Com base nas informações anteriores, que dão conta dos desafios

encontrados pelos pesquisadores que se dedicam a pesquisar o setor econômico

das pequenas empresas, procede-se, a seguir, à descrição dos procedimentos

metodológicos adotados para a elaboração do presente trabalho. A pesquisa que

resultou no trabalho foi dividida basicamente em três fases: construção do

referencial teórico, realização do estudo de caso e análise dos dados coletados.

2.4.1 Construção do referencial teórico

Para a construção do referencial teórico, que se constitui no alicerce sobre

o qual se baseia o trabalho, consultaram-se estudos sobre:

− As PME’s, sua classificação e sua importância socioeconômica e ambiental,

as variações regionais relativas à sua classificação, razões para seu

desenvolvimento e sua relação com o fenômeno da terceirização;

− O posicionamento das PME’s com relação à sua dimensão socioambiental,

com ênfase nos aspectos relativos a meio ambiente, segurança e saúde no

trabalho;

− Alternativas para a inserção das PME’s nos princípios de gestão

socioambiental responsável.

Isto foi feito por meio do levantamento de material disponível em

bibliotecas, especialmente as dos diversos campi do Senac e da Faculdade de

38

Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo. Além

disso, foi realizada uma extensa pesquisa na internet, principalmente junto aos

sítios de instituições de pesquisa e fomento ligadas à questão das micro,

pequenas e médias empresas, com ênfase naquelas que operam nos âmbitos da

ONU (Organização das Nações Unidas), da Comunidade Econômica Européia, da

América Latina e, naturalmente, do Brasil.

Esta etapa foi de primordial importância para direcionar a pesquisa de

campo, pois identificou o atual “estado da arte” em termos de PME’s no Brasil e

no mundo, evidenciou suas potencialidades e, principalmente, debilidades frente

ao processo de terceirização, bem como suas vulnerabilidades em relação à

questão socioambiental, as quais representam o ponto fundamental deste

trabalho. A etapa de construção do referencial teórico foi muito importante,

também, para a conscientização acerca das principais dificuldades que poderiam

se apresentar por ocasião da realização da pesquisa de campo, além de

evidenciar a escassa disponibilidade de dados empíricos acerca do

posicionamento das PME’s em relação à dimensão socioambiental de suas

atividades. Demonstrou-se claramente a inexistência de dados estatísticos

consolidados, baseados em pesquisas padronizadas e regulares a respeito do

tema, o que acabou confirmando a relevância da proposta do presente trabalho.

2.4.2. Estudo de caso

Inicialmente, é preciso destacar que, conforme muito apropriadamente

indica Yin (2005), o estudo de caso sempre foi considerado como uma espécie de

“parente pobre” entre os métodos de ciência social. Aqueles pesquisadores que

se dedicam à realização de estudos de caso são vistos como se houvessem

rebaixado o nível de suas disciplinas acadêmicas, pois tais trabalhos são

geralmente denegridos, como se não apresentassem precisão, objetividade e

rigor suficientes. No entanto, apesar deste estereótipo, os estudos de caso

continuam a ser utilizados extensivamente, tanto em pesquisas das disciplinas

tradicionais (como psicologia, sociologia, ciência política, antropologia, história e

economia), como por aquelas com vocação prática, ou seja, ligadas ao

39

planejamento urbano, administração pública, política pública, ciência da

administração, trabalho social e educação.

Desta forma, os estudos de caso consistem na estratégia preferida quando

são colocadas questões do tipo “como” e “por que”, quando o pesquisador tem

pouco controle sobre os acontecimentos e quando o foco do trabalho recai sobre

fenômenos contemporâneos inseridos em algum contexto da vida real. O estudo

de caso utiliza várias das técnicas usadas pelas pesquisas históricas, mas

adiciona duas fontes de evidências que na maioria das vezes não constam no

repertório dos historiadores: a observação direta dos acontecimentos que estão

sendo estudados e entrevistas com as pessoas que neles estão envolvidas (YIN,

2005). Estas características de contemporaneidade dos acontecimentos e o tipo

de questões colocadas tornam a metodologia de estudo de caso especialmente

adequada para o presente trabalho, tendo em consideração os questionamentos

e objetivos propostos anteriormente.

Uma das razões para o preconceito existente nos meios acadêmicos em

relação ao estudo de caso é devida à preocupação com a falta de rigor desta

investigação empírica. Sob este aspecto, requere-se do pesquisador que se utilize

desta estratégia características como diligência, seguimento de procedimentos

sistemáticos e não-aceitação de evidências equivocadas ou visões tendenciosas,

de maneira a evitar influências sobre os significados das constatações e

conclusões (YIN, 2005).

Este autor menciona que outra crítica em relação aos estudos de caso é

que eles fornecem pouca base para que se possa fazer uma generalização

científica, devido à possibilidade de utilização, inclusive, de um caso único como

elemento de análise. Torna-se necessário, neste particular, destacar que o estudo

de caso não deve ser comparado com um levantamento de dados visando a uma

análise estatística: seu objetivo é expandir e generalizar teorias por meio da

“generalização analítica”, e não enumerar freqüências com o uso da

“generalização estatística”. Na “generalização estatística”, faz-se uma inferência

sobre uma população (ou um universo determinado), com base nos dados

empíricos que foram coletados de uma amostra. Ou seja, generaliza-se uma

amostragem (desde que devidamente selecionada) a um universo mais amplo. Na

“generalização analítica”, semelhantemente aos experimentos científicos, utiliza-

se uma teoria previamente desenvolvida como modelo, com o qual se devem

40

comparar os resultados empíricos do estudo de caso. Ou seja, o pesquisador

tenta generalizar um conjunto particular de resultados a alguma teoria mais

abrangente. Sob este aspecto, é preciso ressaltar que a construção de um

referencial teórico sólido é fator vital para a execução deste tipo de estudo

empírico, pois viabiliza um processo confiável de generalização analítica.

Esta formulação prévia da teoria relacionada ao tópico de estudo, antes de

se realizar qualquer coleta de dados, é o que diferencia o estudo de caso de

outros métodos relacionados, como a etnografia e a “teoria fundamentada”, pois

estes deliberadamente evitam que se especifiquem quaisquer proposições

teóricas no princípio de uma investigação (LINCOLN & GUBA, 1985, 1986; VAN

MAANEN et al., 1982 e STRAUSS & CORBIN, 1992, apud YIN, 2005). A partir

deste princípio, também é importante determinar se o propósito do estudo de caso

será o de desenvolver ou testar a teoria (YIN, 2005). Tratando-se do presente

trabalho, tendo em vista a existência de uma base teórica, a intenção do estudo

de caso foi a de utilizá-la como fio condutor, como guia para um melhor

entendimento da maneira como a questão socioambiental é tratada nas PME’s

industriais terceirizadas. Portanto, não se trata propriamente de testar a teoria,

mas sim de estabelecer um diálogo entre esta e os dados empíricos obtidos e, se

possível, criar condições para complementá-la e desenvolvê-la.

Outra consideração a ser feita é quanto ao número de casos estudados: as

evidências resultantes de casos múltiplos são consideradas mais convincentes e

o estudo global resultante é visto, por conseguinte, como mais robusto

(HERRIOTT & FIRESTONE, 1983, apud YIN, 2005). Neste sentido, consideram-

se casos múltiplos como se fossem “experimentos múltiplos”, ou seja, segue-se a

lógica da “replicação”, que permite prever resultados semelhantes (replicação

literal) ou produzir resultados contrastantes por razões previsíveis (replicação

teórica). Desta forma, Yin (2005) sugere que, segundo as condições disponíveis

para a execução do trabalho, o pesquisador dê preferência ao estudo de múltiplos

casos: projetos de caso único são vulneráveis porque “apostam-se todas as fichas

num único número”, enquanto que os benefícios analíticos de ter dois ou mais

casos podem ser substanciais, tais como a redução de desconfianças quanto à

unicidade de informações ou à existência de condições “artefactuais”. Por estas

razões, para a realização do presente trabalho optou-se por executar um estudo

de múltiplos casos, com pelo menos quatro casos.

41

Uma vez estabelecida a estrutura básica do estudo de caso, compete

determinar a maneira como serão obtidas as evidências para a elaboração do

mesmo. Ainda seguindo o preconizado por Yin (2005), a fonte principal de

evidências consiste em entrevistas, conduzidas de forma espontânea. Indaga-se

o entrevistado sobre assuntos específicos ligados ao tema em questão, mas se

permite que este emita opiniões próprias ou agregue conceitos e sugestões que

poderão tanto enriquecer o trabalho, como indicar caminhos para pesquisas

futuras. Além desta fonte principal de evidências, no presente trabalho utilizou-se

ainda a observação direta como atividade adicional na coleta de dados. Ou seja,

realizaram-se visitas às empresas utilizadas no estudo, concomitantemente à

realização das entrevistas, de maneira a complementar as informações colhidas.

Estas observações diretas não tiveram caráter formal, no entanto enriqueceram o

conjunto de evidências coletadas, conforme sugerido por Yin (2005).

As empresas utilizadas neste estudo de múltiplos casos consistem em

pequenas indústrias, seguindo dois critérios de classificação: até 99 pessoas

ocupadas (critérios do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, CNI –

Confederação Nacional da Indústria e SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio à

Micro e Pequena Empresa) e faturamento anual bruto de até R$ 10,5 milhões

(critério do BNDES). Optou-se por este procedimento, por considerar-se que o

mesmo comporta adequadamente a categoria de “pequena indústria”, ao aliar

dois critérios de classificação adotados nacionalmente.

Tais empresas são formalmente estabelecidas e atuantes no setor metal-

mecânico, mais especificamente na produção de peças e/ou conjuntos metálicos

pelos processos de usinagem por remoção de material e/ou conformação

mecânica. Atuam como empresas terceirizadas em redes de subcontratação,

fornecendo peças e conjuntos de acordo com as especificações dos clientes, os

quais, em sua maioria, são grandes organizações. As atividades produtivas

relacionadas ao setor metal-mecânico implicam em diversos riscos de ordem

laboral e ambiental, tanto relativos aos processos e insumos utilizados, como aos

resíduos gerados. Além dos já mencionados processos de usinagem e

conformação, utilizam-se geralmente processos de tratamento térmico e

superficial das peças produzidas. Estas atividades produtivas expõem os

trabalhadores aos riscos inerentes à operação de equipamentos e manipulação

de lubrificantes, produtos químicos e metais pesados, entre outros. Além disso,

42

quando inadequadamente gerenciadas, expõem o meio ambiente e a comunidade

à contaminação atmosférica, do solo e da água, além da poluição sonora. O autor

do presente trabalho escolheu este ramo da atividade industrial por atuar há

vários anos neste setor produtivo, o que facilita não somente a obtenção dos

dados empíricos, mas também de informações por meio das observações diretas

efetuadas nas entrevistas.

De maneira a adotar um procedimento metodológico compatível com a

padronização de levantamentos de dados, as questões abordadas nas entrevistas

foram baseadas na Pesquisa Gestão Ambiental na Indústria Brasileira (BNDES,

CNI, SEBRAE, 1998), Relatório da Competitividade da Indústria Brasileira

(BNDES, CNI, SEBRAE, 2001) e Indicadores Ethos de Responsabilidade Social

Empresarial 2005 (INSTITUTO ETHOS, 2005). Esta opção teve o objetivo de

facilitar a comparação das evidências obtidas com alguns dos elementos que

conduziram à formulação da teoria, tendo em vista que os trabalhos citados fazem

parte da bibliografia consultada na fase de construção do referencial teórico. As

entrevistas basearam-se em questionários com perguntas fechadas e abertas, os

quais tiveram o objetivo de obter informações quantitativas e qualitativas, bem

como abrir espaço para comentários e sugestões dos entrevistados. Visou-se,

desta maneira, não apenas a obtenção de dados e evidências pré-definidos, mas

também permitir a obtenção de outras informações relevantes.

As pessoas entrevistadas foram os profissionais ligados à administração do

negócio, em nível de gerência geral, de diretoria, ou o proprietário, conforme o

caso. Isto se deve ao fato de que nas organizações de pequeno porte o número

de patamares hierárquicos é reduzido, e porque se pretendeu coletar informações

que permitissem identificar o posicionamento estratégico das empresas, bem

como obter uma visão ampla de suas vantagens, dificuldades e vulnerabilidades

frente à dimensão socioambiental de seus negócios. Apesar de que Yin (2005)

recomenda que, na medida do possível, divulguem-se os nomes das

organizações que compõe o estudo de caso e das pessoas que cederam as

informações utilizadas no mesmo, preferiu-se manter ambos os dados anônimos.

Isto foi feito para evitar constrangimentos que pudessem dificultar a obtenção das

evidências, ou mesmo a informação de dados “mascarados”, tendo em vista

receios relativos a problemas com a fiscalização, por exemplo. Yin (2005)

confirma que o anonimato é preferível quando o resultado final de um estudo de

43

caso pode interferir nas ações subseqüentes das pessoas ou organizações que

foram estudadas, ou para proteger a sua intimidade.

2.4.3 Análise dos dados coletados

Como já foi mencionado anteriormente, o estudo de caso pressupõe a

generalização analítica, confrontando-se as evidências obtidas por ocasião da

coleta de dados com o referencial previamente construído, o qual foi utilizado

como fio condutor para a realização do estudo de caso. Portanto, além da

organização e devida estruturação dos dados, coube, nesta fase dos

procedimentos metodológicos, compará-los com a hipótese anteriormente

formulada, de maneira a permitir uma melhor compreensão do tema abordado. Da

mesma forma, esperou-se que as evidências obtidas indicassem a necessidade

de realização de outros estudos, com o objetivo de aprofundar a compreensão

sobre o tema.

Este procedimento metodológico buscou, portanto, estabelecer um diálogo

entre a teoria e os dados empíricos obtidos, de maneira a estabelecer

comparações, traçar paralelos, evidenciar contradições e abrir espaço para novas

interpretações, de maneira a contribuir efetivamente para uma melhor

compreensão do tema. Isto foi feito procurando respeitar as características

individuais das empresas participantes do estudo de caso, e mantendo em mente

o fato de que seria inadequado pretender efetuar uma generalização para todo

este setor econômico com base no estudo realizado.

44

3. PME’S, SEU PAPEL SOCIOECONÔMICO E O FENÔMENO DA

TERCEIRIZAÇÃO

Apesar da relativa escassez de informações empíricas e padronizadas a

respeito das PME’s, os dados disponíveis na bibliografia permitem evidenciar que

as pequenas empresas desempenham um relevante papel socioeconômico, o

qual tende a tornar-se cada vez mais importante, tanto nos países desenvolvidos,

como em desenvolvimento.

Um dos principais elementos indutores para a expansão das PME’s é a

terceirização, através da qual as grandes organizações transferem processos

produtivos ou a execução de serviços às pequenas. É possível constatar, no

entanto, que freqüentemente o relacionamento entre grandes e pequenas

empresas em tal contexto é francamente desfavorável a estas últimas,

conduzindo à precarização das relações trabalhistas.

O presente capítulo evidencia tanto a inegável importância socioeconômica

e competitiva ostentada pelas pequenas organizações, como o relacionamento

desigual que predomina entre as grandes e as pequenas empresas no contexto

da terceirização.

3.1 A importância socioeconômica das PME’s no mundo

A par das dificuldades enfrentadas pelos pesquisadores das PME’s e

evidenciadas anteriormente, as quais concentram-se na falta de unificação de

critérios de classificação, na inexistência de bases de dados diretamente

comparáveis e na “intangibilidade” das pequenas empresas atuantes no setor

informal, é possível constatar, com base nas informações atualmente disponíveis,

que as PME’s exercem um importante papel socioeconômico, em escala mundial.

Nota-se, inclusive, que esta importância vem crescendo ao longo do tempo.

De acordo com Späth (1993), durante os últimos anos ocorreu uma

considerável mudança na forma como os elaboradores de políticas públicas e

45

estudiosos encaram o papel das pequenas empresas no desenvolvimento

econômico e social. Historicamente, o papel da pequena indústria na teoria do

desenvolvimento econômico tem sido um tanto quanto ambíguo. Em meados dos

anos 50 do século passado, formularam-se argumentos a favor dos pequenos

empreendimentos, tais como utilização intensiva de mão-de-obra, adaptabilidade,

utilização vantajosa de fatores de produção locais, reduzida dependência de

importações, bem como sua importância na geração de terreno fértil para o

desenvolvimento do empreendedorismo. No entanto, segundo a autora, por parte

dos principais economistas predominava o entendimento de que a rápida

modernização e obtenção de crescimento sustentável somente poderiam ser

obtidos com a utilização de uma estratégia de aceleração da industrialização,

baseada na produção em larga escala, utilização intensiva de capital e moderna

tecnologia. Esta estratégia de desenvolvimento tendia a ignorar o potencial das

pequenas firmas, de tal maneira que os grandes empreendimentos foram

promovidos como fundamentos para o progresso econômico e o crescimento,

conduzindo às necessárias economias de escala, alta produtividade e eficiência.

De acordo com este ponto de vista, na melhor das hipóteses as pequenas

empresas desempenhariam um papel transitório em direção a um estágio de

desenvolvimento mais elevado, de tal forma que seriam importantes apenas para

aqueles países que se encontravam nos estágios iniciais de sua industrialização.

Assim sendo, esperava-se que o amadurecimento econômico trouxesse consigo o

declínio das pequenas organizações.

Durante os anos 80, a opinião relativa às pequenas empresas mudou

radicalmente, quando vários estudiosos constataram que elas eram mais flexíveis

do que as grandes organizações, o que as tornava melhor preparadas para

enfrentar o crescente mercado global e suas incertezas (RAMÍREZ-RANGEL,

2001).

Hoje em dia, decorridos vários anos de intensa industrialização ao redor do

globo, percebe-se que as pequenas empresas multiplicaram-se de maneira

significativa: aproximadamente 90% das empresas do mundo são PME’s,

oferecendo entre 50% e 60% dos empregos. Nos países da OCDE (Organização

para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), 95% dos empreendimentos

são PME’s, sendo que entre 60% e 70% dos empregos são oferecidos por estas

organizações. Ainda no que tange à oferta de empregos, estima-se que, em

46

1998, 66% dos empregos europeus e 46% dos norte-americanos encontravam-se

nas PME’s. Estas empresas respondem por mais da metade do PIB da Índia, e

por 51% das mercadorias manufaturadas e exportadas pelo Japão (INDUSTRY

AND ENVIRONMENT, 2003).

No que diz respeito à área de atuação, boa parte das PME’s atua no setor

terciário, ou seja, de serviços. Uma pesquisa realizada na Europa em 2001 pelo

Observatório Europeu das PME’s (Observatory of European SME’s), o qual é

ligado à Comissão Européia, indicou que 25% das PME’s dedicavam-se à

manufatura e construção, sendo que o restante atuava no comércio, transporte,

comunicações e serviços (INDUSTRY AND ENVIRONMENT, 2003).

Em todo o mundo desenvolvido, a importância do segmento empresarial

composto pelas PME’s é inquestionável, sendo que os países desenvolvidos

dedicam-se a estudar este segmento, a conhecer suas características e a

identificar suas necessidades, de maneira a mobilizar instrumentos de apoio ao

seu desenvolvimento. A agilidade e a flexibilidade das pequenas organizações

despertam um interesse crescente, tendo em vista o ambiente altamente

competitivo da atualidade. Neste ambiente, marcado por constantes

transformações na estrutura produtiva e nas relações de produção, as PME’s

também são uma interessante alternativa para a geração de empregos, pois,

juntamente com as micro-empresas, desempenham um importante papel na

absorção da mão-de-obra tornada excedente pela automatização (SEBRAE,

1999).

Dentre as razões apontadas para o contínuo crescimento do setor

representado pelas PME’s, em âmbito mundial, a publicação Industry and

Environment (2003) menciona:

− deslocamentos de mão-de-obra, freqüentemente associados aos fenômenos

de “downsizing” provocados pela globalização ou pelo desmantelamento de

organizações estatais (principalmente nas economias em processo de

transição do regime socialista para o capitalista), levando os trabalhadores a

criar seus próprios negócios.

− crescimento da quantidade de franquias.

− movimentos de subcontratação e terceirização por parte das grandes

empresas.

47

Portanto, uma das principais razões que explicam o aumento da

importância socioeconômica das pequenas empresas está na aceleração do

processo de terceirização, implementado por parte das grandes empresas com

maior ênfase a partir dos anos 90:

Como a grande unidade de produção taylorista-fordista seria pouco flexível para se ajustar aos choques globais e setoriais, a alternativa tem sido reduzir seus custos, utilizando como uma de suas estratégias a substituição de uma relação trabalhista por uma relação comercial, na forma de terceirização da produção e serviços. Assim, boa parte das atividades anteriormente desenvolvidas por grandes empresas acabaram sendo transferidas para as organizações de pequeno porte, que buscam o caminho da inovação e da flexibilização para assegurar maior competitividade no mercado (DEMAJOROVIC et al., 2001, p. 4).

Os dados apresentados comprovam não somente a relevância do papel

das PME’s no contexto socioeconômico mundial, como também o seu

crescimento. Da mesma forma, tais dados evidenciam que o fenômeno da

terceirização é um importante indutor para o desenvolvimento deste setor

econômico.

Neste quadro, tendo em vista que o Brasil encontra-se inserido no mercado

global, torna-se oportuno avaliar o grau de importância que as pequenas

empresas exercem com relação à economia e ao mercado de trabalho nacionais,

de maneira a estabelecer paralelos com a realidade internacional.

3.2 A importância socioeconômica das PME’s no Brasi l

No que diz respeito às PME’s brasileiras, Barros et al. (2003) mencionam

que existem aproximadamente 4 milhões de micro e pequenas empresas, sendo

que aproximadamente 80% atuam nos setores de serviços e comércio. A maior

parte delas atua na região Sudeste (55,5%), beneficiando-se de seu mercado

consumidor, infra-estrutura e mão-de-obra qualificada, pois 43% da população

brasileira vivem nesta região. Segundo os autores, em muitos casos as micro e

48

pequenas empresas são dependentes ou complementares das empresas médias

e grandes, ou seja, fornecem suprimentos e serviços às organizações de porte

maior, ou atendem a nichos de mercado. São geralmente empresas

subcontratadas (terceirizadas), operando em redes formadas pelas empresas

grandes e médias, seus clientes, fornecedores, subcontratados e concorrentes.

De acordo com o SEBRAE (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e

Pequenas Empresas), no Brasil, as micro e pequenas empresas representam

99,2% das empresas formais na indústria, comércio e serviços. Além disso,

respondem por 20% do PIB (Produto Interno Bruto) e empregam 57,2% da força

de trabalho que possui carteira assinada (SEBRAE, 2001 e 2005), o que

demonstra a relevância das organizações de micro e pequeno porte para a

economia do País. É importante destacar que a participação das micro e

pequenas empresas na massa salarial saltou de 20,1% para 26%, entre 1996 e

2002 (SEBRAE, 2005). Analisando-se o Boletim Estatístico de Micro e Pequenas

Empresas (SEBRAE, 2005), o qual compara os dados estatísticos disponíveis

sobre as empresas brasileiras nos anos de 1996 e 2002, é possível comprovar o

grande crescimento das pequenas organizações em nosso país, crescimento este

espelhado pelas variações percentuais das participações das empresas em

diversos quesitos. Tendo em vista que este Boletim segrega os dados estatísticos

de acordo com o porte das empresas e o setor de atuação, pode-se estabelecer o

crescimento percentual apresentado pelas indústrias durante o período. Esta

informação é de especial relevância para o presente trabalho, uma vez que o

mesmo foca sua análise nas PME’s atuantes no segmento industrial:

Tabela 8: Crescimento percentual das indústrias seg undo o porte, no período 1996-2002

Micro Pequena Média Grande

Número de empresas formais + 32,21% + 37,82% + 2,71% - 5,98%

Número de pessoas ocupadas + 31,63% + 34,19% + 0,59% - 4,53%

Massa de salários e rendimentos pagos

+ 50,12% + 27,22% - 0,36% - 9,75%

Fonte: Adaptado de SEBRAE (2005)

Pelos dados apresentados, é possível notar, por exemplo, que o número de

pequenas indústrias aumentou 37,82% entre os anos de 1996 e 2002, enquanto o

49

número de grandes indústrias diminuiu em 5,98%. É interessante destacar que a

massa de salários e rendimentos pagos pelas pequenas indústrias aumentou

27,22%, enquanto que, nas grandes, houve um recuo de 9,75%. Estes números

indicam uma tendência de elevadas taxas de crescimento do setor representado

pelas micro e pequenas indústrias no Brasil, refletindo a tendência mundial.

Como se sabe, esta situação de crescimento do setor econômico

representado pelas PME’s, em si bastante positiva, encontra uma de suas

principais origens no fenômeno da terceirização. Desta forma, coloca-se a

conveniência de se analisar como ocorre a terceirização de processos produtivos

e de serviços, e, principalmente, quais as características que revestem o

relacionamento entre as grandes as pequenas empresas neste contexto, tendo

em vista a discrepância de poder econômico entre estes dois atores.

3.3 As PME’s, a terceirização e a precarização das relações trabalhistas

De acordo com Amato Neto (1995), a terceirização consiste na

transferência de responsabilidade por um determinado serviço, processo de

produção ou comercialização, de uma empresa para outra. Assim sendo, a

empresa contratante passa a não mais realizar uma ou várias atividades

anteriormente executadas com seus próprios recursos (sejam eles instalações,

pessoal, equipamentos), passando-as para uma empresa contratada, conhecida

como terceira.

A empresa contratante pode, desta forma, delegar a outras empresas

aquelas atividades que não formam parte do “núcleo” de seu negócio, também

conhecido como core business, e que, teoricamente, não agregam valor ao seu

produto ou serviço. Por conseguinte, pode concentrar todos seus recursos e

esforços naquelas atividades que lhe são mais lucrativas, ao mesmo tempo em

que reduz seus custos operacionais. Desta forma, é muito comum a terceirização

de atividades “acessórias”, como serviços de limpeza, de segurança patrimonial e

de alimentação para os funcionários. No entanto, tem sido cada vez mais

freqüente a terceirização sob a forma de transferência de processos produtivos

das grandes para as pequenas empresas, fenômeno este que se intensificou a

50

partir dos anos 90 do último século.

Tal movimento está intimamente ligado à questão da globalização e da

abertura de mercados, pois as empresas passaram a ter que operar num

mercado muito mais amplo. Este, ao mesmo tempo em que abre novas

oportunidades devido à ampliação do acesso a novos consumidores, traz em seu

bojo, também, uma grande ampliação do número de competidores. Desta

maneira, as estratégias de competitividade tiveram de abandonar o enfoque

regional, adotando uma filosofia global: uma empresa de atuação regional pode

facilmente perder participação de mercado para um concorrente sediado no outro

lado do globo. Novos sistemas de gestão e produção, reorganização do trabalho e

aceleração dos processos de inovação passaram a ser temas essenciais para a

sobrevivência empresarial neste mercado globalizado. Assim sendo, segundo

Moniz e Kóvacs (2001), nos anos 90 as estratégias de produção das grandes

empresas foram dirigidas à focalização, controle de custos e competitividade,

instigando à redução do número de empregados. Desta forma, ocorreram

movimentos de diminuição da verticalização e aumento da terceirização.

A grande unidade de produção taylorista-fordista formou a base de

produção no século XX, garantindo um crescimento econômico sem precedentes,

principalmente a partir do final da Segunda Guerra Mundial. Este modelo de

organização teve, segundo Costa (2001), o seu fundamento na obtenção de

economias de escala a partir de um sistema de produção seriada, associada a um

mercado de massas no qual uma demanda não-segmentada se adapta à oferta. A

eficácia produtiva destas empresas dependeu, para seu sucesso, principalmente

do aumento do volume de produção, de forma a alcançar o menor custo médio

unitário. Operando nestas condições, as grandes empresas, dotadas de sistemas

de produção integrados, apresentam uma dimensão de produção ótima. No

entanto, as mudanças no ambiente mercadológico impuseram a exigência de

flexibilização deste sistema e, conseqüentemente, do processo produtivo. Desta

forma, as grandes empresas tiveram que se reorganizar por meio de unidades de

negócios dotadas de autonomia de decisão, e com acordos estratégicos com

outras empresas localizadas em seu território, levando a um sistema de produção

especializada e flexível, o qual tende a descentralizar o processo produtivo. Esta

descentralização permite adaptar-se às variações de mercado sem aumentos de

custos, graças à utilização de tecnologias de comando numérico na produção e à

51

flexibilidade organizacional.

Neste cenário, para produzir a custos competitivos já não são mais

necessários grandes volumes de produção, e as economias de escala deixam de

ser um fator decisivo no dimensionamento da empresa. A expansão deste novo

modelo de industrialização modificou não somente a articulação territorial do

sistema econômico, mas também a relação entre as grandes e pequenas

empresas. Constata-se que os setores mais dinâmicos são os menos

concentrados, nos quais prevalece uma organização industrial baseada na

desverticalização produtiva, na especialização flexível e na difusão territorial.

Desta forma, enquanto a concentração produtiva era uma forma organizacional

que atendia às necessidades da produção estandardizada, os sistemas baseados

na produção descentralizada, feita por PME’s, atendem aos atuais requisitos do

modelo de especialização flexível (COSTA, 2001).

Naturalmente, este movimento em direção à subcontratação e terceirização

por parte das grandes empresas fez com que se estimulasse o crescimento do

número de PME’s. Este crescimento, no entanto, não deixa de apresentar alguns

problemas:

Novas formas de produção, como a especialização flexível, forneceram oportunidades para empresas de todos os tamanhos, tornando, dessa maneira, a desvantagem comparativa das pequenas empresas menos evidente. No entanto, embora o setor dos pequenos negócios tenha experimentado uma agitação inesperada, este continua a encontrar deficiências gritantes em relação aos de maior porte: Se eficiência e dinamismo fossem inerentes a atividades de pequena escala, deveríamos esperar que todas as pequenas empresas se saíssem bem (Ramírez-Rangel, 2001, p. 152).

Como diz Ramírez-Rangel (2001) na realidade nem todas as pequenas

empresas “se saem bem”, sendo que muitas apresentam um desempenho muito

pobre. Segundo o autor, as organizações de menor porte defrontam-se com uma

série de desvantagens em relação às grandes empresas: seus custos financeiros

são mais altos; conseguem exercer pouca ou até mesmo nenhuma influência

sobre os seus fornecedores e clientes; dependem da utilização de empregos

subcontratados, etc. Enquanto as grandes empresas conseguem obter

determinados bens e serviços dentro de suas próprias estruturas, ou a preços

52

vantajosos dos fornecedores, as pequenas empresas vêem-se impedidas de

adquiri-los, ou pagam mais por eles, pois não contam com economias de escala

na mesma proporção que as grandes. Segundo Walters (2002), o Observatório

Europeu das PME’s (Observatory of European SME’s) concluiu que indicadores

como a produtividade da mão-de-obra, custos trabalhistas e rentabilidade

favorecem as grandes empresas. Desta forma,

[...] a rentabilidade alcança seus níveis mais baixos nas pequenas empresas, enquanto as grandes alcançam os níveis mais altos. As pequenas empresas demandam maior intensidade de trabalho que as grandes, e, por conseqüência, empregam maior quantidade de mão-de-obra como fator de produção, para obter o mesmo valor produtivo. Também a produtividade da mão-de-obra aumenta de acordo com o tamanho da empresa, e tende a crescer de forma mais rápida nas empresas grandes (WALTERS, 2002, p. 17).

Tal realidade é ilustrada com o aumento da produtividade alcançado

durante o período recessivo ocorrido entre 1990 e 1993, no qual as grandes

empresas reduziram seus custos diminuindo os quadros de trabalhadores. Numa

tal situação, as pequenas empresas dificilmente podem adotar a mesma medida

para aumentar sua competitividade: o que ocorre é a entrada no mercado de

novas pequenas empresas, mais sintonizadas com as exigências de mercado,

enquanto outras encerram suas atividades ou entram em declínio. Isto explica

também o fato de que o crescimento da oferta de emprego é maior nas micro-

empresas do que nas empresas de pequeno e médio portes do continente

europeu (WALTERS, 2002).

Abordando a questão da terceirização e do correspondente relacionamento

entre as grandes empresas e as PME’s, Moniz e Kóvacs (2001, p. 69) dizem que:

As grandes empresas, com suas alianças estratégicas, tornam-se poderosos centros de poder, enquanto grande parte das PME tendem a ficar sob o controle e a dependência tecnológica, financeira e comercial desses centros. A desintegração vertical ou descentralização operacional leva a uma maior diferenciação entre empresas que compõe a rede, mas pode haver uma grande concentração do poder econômico e da capacidade tecnológica e de inovação.

Os autores afirmam que também a divisão de competências pode ser

53

desigual entre as empresas, originando relações assimétricas entre elas.

Mencionam o fato de que grandes empresas, especialmente as multinacionais,

podem concentrar aquelas atividades principais, de grande valor agregado (como

P&D – Pesquisa e Desenvolvimento, concepção de produtos, planejamento,

marketing e comercialização), externalizar as atividades menos centrais para

empresas especializadas (manutenção, distribuição, segurança) e deslocar

atividades rotineiras (fabricação, transformação) para regiões que apresentam

mão-de-obra barata.

A empresa global, concebida como uma organização transnacional em

rede, é apontada por muitos como uma maneira de obter a distribuição racional

dos recursos, a entrada de recursos e de tecnologia em novas áreas, a criação de

empregos, a difusão de novos modelos de produção e, por conseqüência, o bem-

estar geral. No entanto, Moniz e Kóvacs (2001) indicam que tal assertiva é uma

ilusão, tendo em vista que esta empresa global exige o desenvolvimento de

condições ótimas para sua atividade: liberalização do comércio e do movimento

de capitais, privatização e desregulamentação, o que traz consigo custos sociais

elevados. Ilustram isto com diversos exemplos de transferências de unidades

produtivas de um lugar para outro do globo, criando desemprego num lugar e

gerando postos de trabalho em regiões carentes. Isto é possível graças à

eliminação da limitação de espaço e de tempo proporcionada pelos modernos

meios de comunicação e transporte, o que permite que as grandes organizações

globais obtenham recursos onde eles são mais baratos, refletindo a libertação da

atividade econômica das “amarras” em forma de obstáculos sociais e culturais, de

forma a torná-la mais eficiente do que nunca:

A procura da competitividade pela redução dos custos e a perspectiva a curto prazo tendem a ser o denominador comum nestes processos. As megafusões no setor automobilístico em âmbito mundial têm geralmente provocado diminuições aceleradas nos volumes de emprego, ilustrando muito claramente essa perspectiva de curto prazo (MONIZ e KÓVACS, 2001, p. 71).

Sob este ponto de vista, estes autores apontam que as redes de

subcontratação podem não representar um modelo ideal de substituição do

modelo de produção taylorista-fordista. Neste caso, um grupo de pequenas e

médias empresas encontra-se submetido a uma ou várias grandes empresas

54

centrais, as quais controlam os níveis de produção e de custos dos seus

fornecedores, de tal forma que estes acabam numa relação de dependência de

tipo feudal. Assim sendo, as empresas que se encontram no topo da pirâmide (as

grandes empresas) utilizam o mínimo de recursos humanos no regime de

emprego de contrato permanente, enquanto as empresas da base da pirâmide

arcam com os custos da flexibilidade do modelo. Seus trabalhadores acabam não

desfrutando dos benefícios inerentes ao contrato permanente de trabalho, como

formação qualificadora e proteção social, estando diretamente expostos aos

choques da conjuntura. Tal fato acaba conduzindo a um profundo dualismo entre

os trabalhadores das grandes empresas, e os das PME’s: a focalização da grande

empresa na atividade central conduz à criação de um “núcleo duro” de

trabalhadores com novas competências, inclusive empresariais e de gestão, bem

pagos, com emprego estável, apostando na exploração e desenvolvimento das

suas competências e na sua capacidade de auto-organização. Por outro lado, a

externalização das demais atividades leva à difusão de formas de emprego

periféricas e, em sua maioria, precárias, conduzindo ao crescimento de “uma

força de trabalho fluida e flexível, que pode ser contratada, demitida ou

externalizada de acordo com as necessidades de adaptação ao mercado”

(MONIZ e KÓVACS, 2001, p.73). Tal força de trabalho é considerada um custo a

ser reduzido, ficando sujeita ao desemprego, ao emprego precário e à

deterioração das suas condições de vida e de trabalho.

Um exemplo prático desta precarização do trabalho é dado por Lima

(2001), ao abordar a interiorização industrial e a experiência da criação de

cooperativas de trabalho no Nordeste brasileiro. Alguns estados da região

procuraram atrair empresas do Sul e do Sudeste do país, principalmente daqueles

setores mais afetados pela abertura econômica e o surgimento de produtos

estrangeiros com menores preços, tais como têxteis, calçados e confecções. As

indústrias que operam nestes setores têm no acabamento o seu gargalo de

produção, caso típico da costura e montagem de calçados, e requerem mão-de-

obra pouco qualificada para esta tarefa. Com esta característica em vista, utilizou-

se como atrativo a abundante mão-de-obra barata existente na região, tendo-se

formado cooperativas de trabalho para a execução destas tarefas. O autor, no

entanto, diz que:

55

Existe uma contradição fundante na organização dessas cooperativas de produção. Por definição, elas são uma cooperativa de trabalho na qual os trabalhadores são os donos dos meios de produção e do capital social. Com isso, autonomia, eleição de diretores, determinação de ganhos e distribuição dos lucros, quando existentes, são elementos constituintes desse tipo de organização. Como na região inexiste uma força de trabalho treinada e organizada no trabalho fabril, assim como capitais privados interessados em investir em indústrias no semi-árido, o Estado assume o papel organizador de cooperativas, que de trabalho cooperativado ou associado têm apenas a ausência de direitos trabalhistas, sem a contrapartida da autonomia, ou posse efetiva dos meios de produção. Trata-se, efetivamente, de uma flexibilização das relações de trabalho para as empresas contratantes, que se liberam de custos com a gestão da força de trabalho (LIMA, 2001, p. 409).

De forma geral, este autor diz que as cooperativas mencionadas, em sua

maioria voltadas à fabricação de calçados e roupas, apesar de contarem com o

apoio estatal e de instituições como o SENAI (Serviço Nacional de Aprendizagem

Industrial) para o treinamento, apresentam diversos tipos de problemas:

− Os trabalhadores não contam com direitos trabalhistas.

− Quando não há encomendas, os trabalhadores ficam em casa, sem ganhar

nada.

− As cooperativas são diretamente vinculadas a determinadas empresas, numa

clara relação de dependência.

Da mesma forma, Lima enumera diversos exemplos de cooperativas,

destacando que as empresas contratantes cedem as máquinas em comodato,

enquanto seus funcionários supervisionam a produção das cooperativas,

determinam a organização do trabalho e impõe as normas disciplinares. Tanto

estes funcionários, como as matérias-primas utilizadas na produção, são enviados

de fábricas do sul do país, enquanto o controle da produção é feito por meio de

computadores ligados a elas. A terceirização por meio de cooperativas propicia

uma redução de custos em torno de 50% em relação ao sistema convencional de

assalariamento, o que acaba compensando a descentralização da produção e a

distância (LIMA, 2001).

Abordando o processo de terceirização ocorrido no Brasil, Faria (apud

56

MIRANDA, 2005) demonstrou a existência de duas modalidades de terceirização.

A primeira identifica-se com a reestruturação produtiva que ocorre mundialmente,

caracterizada pela busca de aumento de produtividade, qualidade e

competitividade, a qual inclui a transferência de inovações tecnológicas e de

políticas de gestão da qualidade das empresas contratantes para as terceirizadas.

A segunda modalidade de subcontratação é identificada basicamente pela busca

de redução de custos. Segundo o autor, esta segunda modalidade é

predominante no Brasil, e sua rápida e ampla disseminação tem conduzido a uma

evidente precarização das condições de trabalho e emprego.

Miranda (2005) aponta vários estudos, realizados em diversos setores e

regiões brasileiras, os quais indicam este processo de precarização.

Segundo este autor, um trabalho do DIEESE (Departamento Intersindical de

Estatísticas e Estudos Sócio-Econômicos), realizado com 40 empresas de

diversos ramos econômicos e instaladas na região sudeste do país, revelou que

em 67,5% das empresas os níveis salariais nas subcontratadas eram bem

inferiores aos da empresa contratante. Da mesma forma, em 72,5% dos casos os

benefícios sociais das empresas terceirizadas eram também menores que os

praticados pelas contratantes. Além disso, demonstrou-se que em 32% das

empresas, a terceirização estava associada à ausência de equipamentos de

proteção individual, menor segurança e maior insalubridade.

O Sindicato dos Metalúrgicos do ABC (apud MIRANDA, 2005) pesquisou

12 empresas de sua região de atuação e constatou que todas elas haviam

adotado algum tipo de terceirização. Os principais motivos apontados foram a

redução de custos (75%), a busca de maior eficiência (50%) e especialização

(33%). Tal estudo evidenciou, também, que em 92% dos casos a terceirização

resultou em redução dos salários, sendo que em 58% das empresas houve perda

de benefícios e em 42% ocorreu deterioração das condições de segurança e

saúde no trabalho.

Miranda (2005) menciona um projeto de pesquisa versando sobre as

conseqüências da terceirização sobre o mercado de trabalho no Complexo

Petroquímico de Camaçari. Tal projeto foi desenvolvido em 1994 e 1995 pela

Delegacia Regional do Trabalho da Bahia, em conjunto com o PNUD (Programa

das Nações Unidas para o Desenvolvimento) e o Centro de Recursos Humanos

da Universidade Federal da Bahia (CRH/UFBA). Os resultados apontaram uma

57

drástica redução do número de postos de trabalho, dos salários e dos benefícios

nas empresas químicas e petroquímicas. Os dados obtidos indicaram que entre

1988 e 1994 o quadro de pessoal reduziu-se entre 30% e 40%, sendo que tal

redução de pessoal ocorreu em 92,1% das empresas pesquisadas. Também

constatou-se que ocorreu perda de benefícios em 63,6% dos casos. A

terceirização abrangeu com mais ênfase os serviços de apoio, tais como limpeza

e segurança patrimonial, e as áreas de manutenção. Dentre as empresas

entrevistadas, 97% apontaram a redução de custos, redução de pessoal, maior

produtividade e qualidade como motivos para a adoção da terceirização. Ao

serem indagadas sobre os eventuais problemas decorrentes da terceirização de

atividades, 61% declararam ter sofrido reclamação trabalhista por parte de

empregados das empresas subcontratadas. Em 78% dos casos, as reclamações

relacionavam-se ao reconhecimento de vínculo empregatício e em 65% à

necessidade de assumir compromissos trabalhistas da subcontratada. Tais

informações demonstram que a relação de terceirização abre novos desafios

também sob a ótica da legislação trabalhista.

Druck (apud MIRANDA, 2005), igualmente dedicou-se a estudar a indústria

química e petroquímica da Bahia, tendo assinalado que a terceirização conduziu a

uma quádrupla precarização: do trabalho, da saúde dos trabalhadores, do

emprego e das ações coletivas. Destacou que a terceirização resultou num

processo de precarização intra e extrafabril. No interior da fábrica, tal

precarização evidenciou-se nas condições de trabalho e salariais e na criação de

duas categorias de trabalhadores: os efetivos (de primeira classe) e os

subcontratados (de segunda classe). Fora da fábrica, a terceirização contribuiu

para o crescimento acelerado do mercado informal de trabalho, levando à

precarização dos vínculos empregatícios e ao aumento da quantidade dos

trabalhadores por conta própria.

Os dados apresentados demonstram a relação desigual que vem

imperando e, inclusive, se exacerbando entre as empresas de portes

diferenciados. Neste contexto, é oportuno averiguar como as PME’s se

posicionam frente às questões relativas à segurança, saúde e meio ambiente

concernentes às suas atividades, e em que medida esta situação de desigualdade

exerce influência sobre tal posicionamento, considerando que o foco do presente

trabalho recai sobre as pequenas indústrias do setor metal-mecânico que

58

produzem peças e conjuntos de maneira terceirizada para grandes empresas.

59

4. PME’S E OS RISCOS SOCIOAMBIENTAIS

Mantendo em vista que o setor representado pelas PME’s reveste-se de

crescente importância socioeconômica, e que o fenômeno da terceirização

consiste num relevante elemento indutor para esta expansão, torna-se oportuno

avaliar como estas organizações trabalham os aspectos de segurança, saúde e

ambiental de suas atividades. Afinal, ao executarem processos produtivos para as

grandes empresas, as PME’s do setor industrial não estão assumindo tão-

somente a responsabilidade pela produção em si, mas também os riscos

socioambientais inerentes a estes processos. Coloca-se, portanto, a conveniência

de se analisar a maneira como as pequenas organizações tratam este aspecto de

sua atuação empresarial.

4.1 PME’s e a segurança e saúde no trabalho

A OIT (Organização Internacional do Trabalho), em sua página da internet

referente ao seu programa “InFocus”, declara que anualmente, em todo o mundo,

mais de 2 milhões de pessoas morrem por decorrência de acidentes e

enfermidades relacionados ao trabalho, enquanto outros 160 milhões de

trabalhadores adoecem devido às condições de seu ambiente de trabalho. As

empresas de menor porte compõe mais de 90% das empresas nas quais as

condições laborais são consideradas muito deficientes, e nas quais os

funcionários freqüentemente vêem-se desprovidos de qualquer proteção

trabalhista. A entidade declara que o sofrimento humano não apresenta custos

mensuráveis, ao contrário das perdas econômicas, e menciona estimativas de

países como Estados Unidos, Reino Unido, Alemanha e Noruega, as quais

apontam custos diretos de acidentes de trabalho na casa de bilhões de dólares.

Indicando que, em muitos países em vias de desenvolvimento, as taxas de

mortalidade entre os trabalhadores chegam a ser de cinco a seis vezes maiores

do que nos países desenvolvidos, a OIT declara que este fenômeno é

60

escassamente documentado e que há pouca vontade política para solucionar o

problema. Importante mencionar que esta instituição aponta a competição

globalizada, a crescente fragmentação do mercado de trabalho e as rápidas

mudanças em todos os aspectos do trabalho como responsáveis pelo desafio

crescente à proteção do trabalhador (ILO, 2005). Ainda segundo a OIT (apud

ANDRADE, 2003), 34% do total de acidentes e 41% dos acidentes graves

ocorrem em empresas que possuem menos de 25 pessoas ocupadas.

Walters (2002) destaca que a importância econômica das PME’s tem

crescido constantemente no continente europeu, a ponto de transformar-se

gradativamente numa característica marcante das economias do continente. O

autor enfatiza que, simultaneamente, aumenta a conscientização quanto ao fato

de que tanto o nível de acidentes de trabalho que conduzem a lesões ou até

mesmo à morte dos trabalhadores, bem como o surgimento de enfermidades

decorrentes do trabalho, estão tornando-se inaceitavelmente altos nas empresas

de menor porte. Este autor indica que a gestão da saúde e da segurança nestas

empresas enfrenta grandes desafios, oriundos principalmente de sua própria

organização e da cultura trabalhista deste setor, bem como da relativa

desregulamentação, e dos baixos níveis de fiscalização e aplicação das normas

correspondentes.

De acordo com a publicação Industry and Environment (2003) enquanto em

alguns países as pequenas empresas nem sequer são passíveis de fiscalização

referente à saúde e segurança no trabalho, em outros, onde tal fiscalização é

exigida, a mesma falha por não conseguir cobrir aquelas empresas que operam

na informalidade. Além disso, existem setores, como o da construção civil, nos

quais a rotatividade de mão-de-obra é bastante alta, o que representa outro fator

dificultador do processo de fiscalização e de levantamentos relativos a problemas

de saúde e segurança ligados ao trabalho.

Por sua vez, Walters (2002) concluiu, a partir de levantamento de riscos

trabalhistas em 13 países europeus, que um dos principais obstáculos para os

órgãos de inspeção é a escassez de recursos. Este fato é ampliado devido a uma

certa inacessibilidade das pequenas empresas, tanto na forma de falta de

registros, como pela própria lentidão dos sistemas administrativos, que se

demonstram incapazes de acompanhar com a necessária rapidez a evolução do

ciclo de vida destas empresas. Johansson (apud WALTERS, 2002) menciona que

61

na Suécia, somente 15.000 das 160.000 empresas privadas que davam trabalho

a até 9 pessoas haviam sido visitadas pelos órgãos de fiscalização no ano de

1994. Complementa Walters (2002) apontando que os números referentes a 1997

demonstram que, enquanto as grandes empresas daquele país foram visitadas 3

vezes em um ano, as menores somente recebiam uma visita a cada 10 anos.

Strambi (apud WALTERS, 2002), menciona que os inspetores dos órgãos de

saúde pública da região da Emilia-Romagna, que conta com um dos sistemas de

inspeção mais desenvolvidos da Itália, visitam anualmente apenas 3% das

indústrias de sua jurisdição.

Neste quadro, Lapeyre (In: WALTERS, 2002) diz que é preciso garantir que

os trabalhadores das pequenas empresas não se transformem em “cidadãos de

segunda classe”, mais expostos a riscos de ordem laboral, insegurança, piores

salários e condições de trabalho que aqueles funcionários das empresas maiores.

O autor menciona que as condições de trabalho nas pequenas empresas são

comumente determinadas pela insegurança financeira, pelos ciclos de vida

limitados e pelas pressões que sofrem por parte dos clientes e usuários finais.

Segundo ele, apesar de que as normas européias estabelecem as mesmas

obrigações básicas para todas as empresas, os dados disponíveis demonstram

que o cumprimento destas obrigações varia muito de acordo com o tamanho das

organizações.

Walters (2002), em seu já mencionado estudo sobre os riscos trabalhistas

na Europa, indica a correlação entre tamanho da empresa e a taxa de acidentes

de trabalho. Segundo o autor, na Itália, os números referentes a acidentes mortais

e graves, assim como o número total de acidentes, indicam uma relação

inversamente proporcional entre o número de casos e o tamanho da empresa.

Desta forma, a taxa de acidentes mortais nas grandes empresas corresponde a

um terço daquela correspondente às empresas menores, enquanto a taxa de

ferimentos graves nas grandes empresas equivale à metade daquela encontrada

nas pequenas.

De acordo com Walters (2002), na Espanha, a maior parte dos acidentes

de trabalho também ocorre nas pequenas empresas. Mesmo que tal fato seja

conseqüência do predomínio das empresas deste porte na economia espanhola,

percebe-se que 56% dos acidentes graves e 64% dos acidentes mortais ocorrem

em empresas que possuem menos de 100 funcionários, apesar de que esta

62

categoria empregue somente 54% da mão-de-obra do país. Por outro lado, estas

empresas informam que 68% das jornadas de trabalho perdidas são devidas a

acidentes de trabalho. No que diz respeito às empresas com menos de 10

funcionários, empregam 23% da mão-de-obra, e são responsáveis por 27% de

todos os acidentes mortais.

No que diz respeito à Suécia, os dados referentes a acidentes com

afastamento indicam taxas maiores para as grandes empresas, que para as

menores. No entanto, é surpreendente constatar que aquelas organizações com

menos de 20 trabalhadores reportam 44% dos acidentes mortais, apesar de

ocuparem somente 27% da mão-de-obra do país. Empresas com menos de 10

pessoas ocupadas dão emprego a somente 6,7% da mão-de-obra, no entanto são

responsáveis por 20% dos acidentes que conduzem à morte. Walters (2002)

acredita que esta discrepância, de difícil compreensão, pode ser oriunda de uma

subestimação dos acidentes sem mortes nas pequenas empresas, provavelmente

advinda de lacunas nos informes de acidentes por parte destas organizações.

No Reino Unido, foram realizados vários estudos sobre a incidência de

ferimentos graves ocorridos no ambiente laboral, os quais conduziram à

conclusão de que sua freqüência é maior nas pequenas empresas em relação às

grandes, em setores industriais comparáveis. Cully et al. (apud WALTERS, 2002)

mostram que a taxa de lesões graves decresce de acordo com o aumento do

tamanho da empresa: de 1,6 por 100 empregados nas empresas com 25 a 49

pessoas, a 0,7 por 100 naquelas empresas com mais de 500 funcionários.

Stevens (idem) concluiu que, na indústria manufatureira, as taxas de acidentes

mortais, ou que conduzem a amputações, ocorridos nas unidades produtivas com

menos de 50 trabalhadores correspondem ao dobro daquelas encontradas nas

empresas com mais de 200 funcionários. Este mesmo autor declara que as taxas

de ferimentos graves que requerem tratamento médico imediato é

aproximadamente 25% mais alta nas pequenas indústrias deste setor, que nas

grandes.

Walters (2002) declara, portanto, que é evidente que as condições do meio

ambiente de trabalho de muitas empresas de pequeno porte deixam muito a

desejar com relação às normas básicas de segurança, indicando também que

tanto a intensidade como a duração do trabalho nestas empresas tendem a ser

maiores. De acordo com o autor, estes fatores, aliados a uma direção geralmente

63

autocrática, um sistema de comunicação deficiente e à pouca autonomia dos

trabalhadores, geram uma combinação especialmente propícia à obtenção de

maus resultados das empresas deste porte no que tange à saúde e segurança.

Também os sistemas de pagamentos que envolvem reduções econômicas

contratuais, aliados à pressão por trabalhar dentro de orçamentos e cronogramas

fixos, são características comumente encontradas na subcontratação e na

contratação de mão-de-obra não-pertencente à empresa, situação na qual

operam predominantemente as pequenas empresas e profissionais autônomos

(WALTERS, 2002). Naturalmente, estas características aumentam os riscos

potenciais da atividade produtiva nesta categoria de empresas. O autor diz que os

sistemas de subcontratação normalmente geram matrizes de controle muito

complexas, o que conduz a uma má comunicação e à confusão no que tange à

gestão da saúde e da segurança. Como exemplo, cita a indústria da construção,

que opera desta forma e apresenta historicamente maus resultados no que tange

aos acidentes de trabalho. Nesta mesma linha de raciocínio, Rebitzer (apud

WALTERS, 2002) informa que, na indústria química norte-americana, as

empresas grandes evitavam dirigir e formar os trabalhadores subcontratados, por

temer responsabilidades legais (e potencialmente custosas). No entanto, a

contratação de pessoal externo para as tarefas de manutenção por parte destas

empresas foi responsável por grandes problemas de segurança, incluindo a

ocorrência de explosões.

No caso brasileiro, é de se esperar que a situação não seja muito diferente.

De maneira geral, as PME’s não atendem adequadamente às necessidades de

seus colaboradores, no que tange ao respeito à saúde e segurança no trabalho:

96% destas organizações não cumprem as normas regulamentadoras

correspondentes (SEBRAE apud ANDRADE, 2003).

Em nosso país, tanto as estatísticas relativas a acidentes de trabalho

disponibilizadas pelo Ministério do Trabalho e Emprego, como pela Previdência

Social, não permitem identificar o porte das empresas, o que dificulta

sobremaneira uma correlação entre número de acidentes e tamanho da

organização. Tal correlação poderia fornecer indícios sobre as condições de

saúde e segurança nas PME’s, em relação às empresas de maior porte. No

entanto, com base nos dados anteriormente apresentados, pode-se concluir que

no Brasil as condições de segurança e saúde nas pequenas empresas são piores

64

que nas grandes.

De acordo com Miranda (2005), em nosso país, uma das dificuldades para

se obter informações estatísticas conclusivas a respeito da situação da segurança

e saúde no trabalho é que a comunicação à Previdência Social da ocorrência de

acidente de trabalho ou doença profissional depende basicamente da empresa,

sendo realizada através do preenchimento da CAT (Comunicação de Acidente de

Trabalho). Entretanto, as empresas brasileiras têm resistido em emitir esta

comunicação. A notificação geralmente ocorre somente quando os agravos à

saúde são já irreparáveis e o trabalhador for considerado incapaz para o trabalho

(MIRANDA, 2005). O autor menciona que outra dificuldade é que a principal fonte

de dados estatísticos sobre acidentes de trabalho e doenças profissionais,

composto pelas informações fornecidas pelo INSS (Instituto Nacional de

Seguridade Social), contempla unicamente os eventos registrados entre os

trabalhadores que possuem “carteira assinada”, não incluindo, portanto, os

trabalhadores informais. Desta forma, é evidente que a quantidade de eventos

registrados é inferior que à dos realmente ocorridos. Waldvogel (2002) informa

que, quando a empresa deixa de comunicar o acidente à Previdência Social, por

meio do preenchimento da CAT (formulário expedido pelo INSS, contendo

informações sobre a empresa, o acidentado, o acidente e o laudo de exame

médico), o próprio acidentado pode fazê-lo, bem como seus familiares, a entidade

sindical competente, o médico que o assistiu ou qualquer autoridade pública.

Pode-se inferir, portanto, que este fenômeno do sub-registro de eventos é

decorrente de negligência ou ignorância.

Waldvogel (2002) ressalta que existe grande dificuldade em obter

informações fidedignas sobre acidentes trabalhistas fatais no Brasil, devido à falta

de integração entre os diversos órgãos que detém tais informações. Desta forma,

as estatísticas oficiais apresentam apenas dados quantitativos gerais, que pouco

revelam sobre as características epidemiológicas da população envolvida. Ainda

segundo esta autora, os problemas relativos a estes dados não são exclusividade

do nosso país, mencionando estudos realizados nos Estados Unidos, África do

Sul e Canadá, todos indicando problemas nas bases de dados relativas à saúde

ocupacional e apontando para o sub-registro de eventos.

Abordando a questão da comunicação de acidentes ocorridos com pessoal

terceirizado que exerce atividades dentro das empresas contratantes, Miranda

65

(2005) informa que estas notificam somente aqueles ocorridos entre os

empregados do quadro próprio. Desta maneira, os acidentes e doenças

profissionais que envolvem os trabalhadores das empresas subcontratadas não

são considerados pela contratante e, em geral, nunca são notificados à

Previdência Social.

Souza e Freitas (apud MIRANDA, 2005), ao analisarem as informações

relativas aos acidentes de trabalho ocorridos numa refinaria de petróleo no Rio de

Janeiro, constataram que havia uma ocorrência maior de eventos entre os

trabalhadores terceirizados, e apontaram a necessidade de modificar o sistema

de registro e investigação de acidentes de trabalho por parte da empresa.

Miranda (2002) menciona diversos estudos sobre as condições de trabalho e

acidentes ocorridos com pessoal terceirizado, realizados tanto na indústria

petroquímica, como de distribuição elétrica: todos indicam piores condições de

trabalho e maiores índices de acidentes para o pessoal terceirizado, em relação

aos funcionários das empresas contratantes.

Deve-se recordar que o presente trabalho não se concentra na abordagem

da execução de processos de maneira terceirizada dentro das próprias empresas

contratantes, mas sim no posicionamento socioambiental das pequenas

organizações terceirizadas que produzem itens para as grandes empresas,

externamente a estas. No entanto, considerou-se conveniente abordar a

influência que a terceirização, tanto em sua forma “intra-empresa” como “extra-

empresa”, exerce sobre o posicionamento das PME’s frente às questões

relacionadas à saúde e segurança ocupacional.

Dantas (2002), abordando as condições de trabalho no atual contexto de

reestruturação produtiva, cita:

Os trabalhadores das empresas terceirizadas vão ter suas relações de trabalho precarizadas, sem a negociação de ganhos. As condições de trabalho são precárias e há redução de custos com pessoal, segurança, prevenção e treinamentos. Ocorre também a redução dos benefícios sociais e o descumprimento até mesmo dos preceitos da CLT. É comum o prolongamento das jornadas, o aumento do ritmo de trabalho e a exposição aos riscos ocupacionais. (...) É alta a incidência de acidentes do trabalho, inclusive fatais, e de doenças profissionais clássicas (RIGOTTO apud DANTAS, 2002, p. 147).

66

Para Walters (2002), os problemas relacionados à saúde e à segurança

nas pequenas empresas estão mais ligados à má gestão de riscos, do que à

gravidade absoluta que representam os diversos perigos existentes nas mesmas.

Segundo ele, a carência geral e multifacetada de recursos, leva a uma

vulnerabilidade estrutural, que conduz a:

− um desenvolvimento limitado de recursos para a gestão da segurança;

− uma restrita representação dos trabalhadores; − um uso limitado dos serviços de prevenção; − consciência e experiência insuficientes acerca dos temas de

saúde e segurança, e − escassa freqüência de inspeção e controle (WALTERS, 2002,

p. 34).

O autor destaca que as microempresas são especialmente vulneráveis,

pois suas características dependem intimamente do empreendedor, têm uma

estrutura organizacional pobre, não possuem a função de recursos humanos e a

afiliação sindical é muito baixa.

Para Walters (2002) os modos pelos quais se consegue fazer com que as

grandes empresas adotem boas práticas de gestão raras vezes funcionam nas

pequenas empresas, sendo que alguns deles nem seriam aplicáveis. Destaca que

também existe uma base comum entre a situação das pequenas empresas e

aquela que existe em vários outros exemplos de trabalhos periféricos, ocasionais

e irregulares, cada vez mais associados à “nova economia”. Neste ambiente,

tanto as relações trabalhistas, como a própria estrutura e a organização do

trabalho fazem com que os assuntos relativos à saúde e à segurança sejam

simplesmente ignorados.

4.2 PME’s e o meio ambiente

Ao analisar a atuação empresarial concernente aos impactos ambientais de

suas atividades, é preciso considerar que uma importante característica das

pequenas empresas é que elas apresentam limitações inerentes ao seu próprio

67

tamanho e estrutura organizacional. O tamanho reduzido e a estrutura de caráter

minimalista e polivalente denotam a escassez de recursos financeiros e de

pessoal especializado, o que acaba por dificultar a implementação de políticas

ambientais por parte destas organizações (BARROS et al., 2003 e BNDES, CNI,

SEBRAE, 1998).

Segundo Schreiber (1999), ao se analisar a situação das micro e pequenas

empresas em âmbito mundial, constata-se que as organizações deste porte

localizam-se muitas vezes em meio a regiões habitacionais, e trabalham sob

condições inadequadas, que ameaçam não somente a saúde de seus

funcionários, mas também a de seus vizinhos. De acordo com este autor, é muito

comum que estas empresas atuem de forma não-sistemática, tanto no que diz

respeito à administração em si, quanto no que tange aos fluxos dos processos de

produção. Desta maneira, é óbvio que ocorre o desperdício de matérias-primas,

com a conseqüente geração de resíduos e poluição em geral.

É importante destacar que as PME’s, especialmente aquelas dedicadas ao

setor industrial, são particularmente presentes em setores caracterizados pela alta

intensidade no uso de recursos e pela emissão de poluentes, como acabamento

de metais, tingimento de couros e tecidos, limpeza a seco, impressão,

processamento de alimentos, fabricação de tecidos, química e outros (INDUSTRY

AND ENVIRONMENT, 2003).

A ENSR, ou European Network for SME Research, menciona que a opinião

pública sobre a colaboração das PME’s para a contaminação ambiental e a

produção de resíduos parte do conceito de que os efeitos da atuação de uma

PME sobre o meio ambiente são reduzidos, em relação aos de uma grande

organização. No entanto, em diversos casos estes efeitos podem ser muito

severos sobre o meio ambiente e comunidade locais. Além disso, o impacto

ambiental total, resultante da soma dos impactos das muitas PME’s, pode ser de

grande magnitude. Apesar de não existirem suficientes dados estatísticos a

respeito, estimativas realizadas na Holanda e no Reino Unido indicam que

aproximadamente 50% dos resíduos industriais são gerados por estas empresas

(ENSR, 2002).

Industry and Environment (2003) informa que existem estimativas

indicando que, na Índia, as PME’s produzem pelo menos 65% dos resíduos

industriais. Aponta ainda que, nos Estados Unidos e no Canadá, constatou-se que

68

as emissões tóxicas das empresas de pequeno porte cresceram 32% entre 1998

e 2000, apesar de ter havido uma redução da poluição industrial atmosférica total

de 4%, neste mesmo período. Uma pesquisa realizada com 116.300 PME’s da

província chinesa de Jiangsu indicou que 67,7% delas geravam grandes níveis de

poluição, enquanto 28,5% geravam níveis moderados. Somente 4% foram

consideradas livres de emissões poluidoras (INDUSTRY AND ENVIRONMENT,

2003).

De acordo com a ENSR (2002), em estudo realizado sobre o

comportamento ambiental das PME’s européias, predomina nos meios

acadêmicos e econômicos a concordância de que, no que tange às questões

ligadas ao meio ambiente, as PME’s não podem simplesmente ser analisadas

como versões reduzidas das grandes empresas. Isto, porque as pequenas

organizações apresentam diversas características estruturais e comportamentais

específicas relacionadas à questão ambiental:

− Falta de consciência quanto aos desafios ambientais que estão diante delas.

− A suposição de que as suas atividades empresariais exercem efeitos desprezíveis sobre o meio ambiente.

− Conhecimento insuficiente e parcial sobre as regulamentações relevantes e sobre programas de fomento, de tal forma que estas empresas freqüentemente desempenham um papel apenas secundário no debate sobre o meio ambiente.

− O comportamento relacionado ao meio ambiente é costumeiramente dirigido por determinações ou pressões públicas, e menos por uma ética ambiental.

− Integração deficiente das atividades relacionadas ao meio ambiente nas atividades centrais da empresas.

− Elevada vulnerabilidade aos riscos globais, devido à reduzida diversificação e limitada capacidade de gestão voltada à prevenção (ENSR, 2002, p. 40).

Estas empresas, tanto individualmente como em grupo, freqüentemente

fazem muito menos para tratar de forma adequada seus impactos ambientais que

as grandes empresas. A ENSR (2002) comenta que, apesar da escassez de

informações empíricas sobre o engajamento das PME’s européias em atividades

de cunho ambiental, os dados disponíveis indicam que as ações relacionadas à

gestão ambiental nestas organizações são muito menos freqüentes que nas

grandes. Desta forma, existe uma correlação direta entre porte de empresa e

69

adoção de sistemas de gestão ambiental: apesar de existirem variações

regionais, dados coletados na Europa demonstram que a quantidade de PME’s

que possuem um sistema de gestão ambiental formal (baseado na norma ISO

14001, por exemplo) ou informal é muito menor que entre as grandes

organizações. Na Espanha, por exemplo, a porcentagem de empresas com

menos de 50 pessoas ocupadas que possuem um sistema de gestão formal é de

4,2%, contra 35% daquelas empresas que contam com mais de 250 funcionários.

Confirmando a tendência, constata-se que 93% das microempresas espanholas e

58% das britânicas declaram não possuir qualquer estratégia ambiental

formalizada (ENSR, 2002).

De acordo com a publicação Industry and Environment, (2003), as

principais razões para esta situação das PME’s com relação à preservação

ambiental são:

− Carência de recursos tecnológicos e deficiências em termos cognitivos, de

treinamento e capital.

− Falta de iniciativas governamentais voltadas às pequenas organizações.

− Entendimento inadequado dos gestores das PME’s sobre a relação existente

entre o negócio e a atuação socioambientalmente responsável.

− Os gestores das PME’s priorizam o tratamento de assuntos mais prementes,

como o aperfeiçoamento da tecnologia, dos processos administrativos e de

“marketing”, visando sua competitividade no curto prazo.

− Acirrada competição de preços.

− Pouca pressão exercida por parte dos consumidores finais.

Segundo a ENSR (2002), estas razões para a existência de dificuldades de

implementação de procedimentos de cunho ambiental são reforçadas pela

orientação econômica de curto prazo adotada pela maioria das PME’s. Sob esta

ótica, “as vantagens demoram a se manifestar, mas os custos aparecem rápido”.

A falta de tempo, de recursos financeiros e de pessoal, bem como de expertise

técnica conduzem a uma atitude de ceticismo por parte das PME’s com relação à

sua responsabilidade ambiental. “Tais empresas não estão dispostas a direcionar

seus escassos recursos a investimentos que não sejam absolutamente

70

necessários, cuja justificativa não podem entender totalmente e cujo período de

amortização não é claro” (ENSR, 2002, p. 47).

Deve-se mencionar que as pequenas empresas também recebem menos

informações a respeito da sustentabilidade dos negócios, e das maneiras como

obtê-la. A maioria dos administradores das pequenas empresas dá prioridade

máxima à atualização tecnológica, gerencial e mercadológica, visando enfrentar a

competição por preços baixos. Desta maneira, a questão da responsabilidade

ambiental tem sido encarada mais como um incômodo do que como uma

oportunidade (INDUSTRY AND ENVIRONMENT, 2003).

Cumpre destacar que os instrumentos de gestão ambiental atualmente

disponíveis são, em sua maioria, desenvolvidos para e por grandes empresas. A

inexistência de estruturas gerenciais e organizacionais definidas, situação

encontrada em muitas PME’s, torna a transposição direta destes instrumentos

para estas empresas algo inadequado ou simplesmente impraticável. Alie-se a

este problema o fato de que a implementação de um sistema de gestão

ambiental, por exemplo baseado na norma ISO 14001, representa custos

proporcionalmente muito maiores para as pequenas empresas, que para as

grandes (ENSR, 2002).

Quentin (apud ENSR, 2002) aponta que considerações de ordem ética não

consistem num motivo relevante para a adoção de práticas ambientalmente

responsáveis por parte das pequenas empresas, mencionando um estudo

realizado no Reino Unido. Segundo este trabalho, apesar da elevada consciência

ambiental dos proprietários das PME’s e o seu reconhecimento acerca da

responsabilidade das empresas com relação à proteção do meio ambiente, tal

posicionamento pessoal é simplesmente relegado a segundo plano no dia-a-dia

dos negócios.

Assim sendo, a adoção de sistemas de gestão ambiental, ou mesmo de

estratégias voltadas à preservação do meio ambiente, é motivada principalmente

por fatores externos às empresas. A ENSR (2002) indica que na Europa,

independentemente do porte da empresa, a razão primordial para a realização de

ações de preservação ambiental é o atendimento à legislação. Apesar disto,

segundo estes autores, as PME’s européias estão longe de conhecer todas as

normas e regulamentações correspondentes, estando sempre “relativamente

conformes” no que diz respeito à legislação. Este problema é ampliado pela

71

hesitação demonstrada por estas empresas em solicitar apoio especializado.

Outros elementos motivadores para a adoção de ações de preservação

ambiental por parte das PME’s, citados pela ENSR (2002), são a busca de

melhoria da imagem (2° motivo em ordem de grandeza na Espanha), as

exigências de mercado e a busca de vantagens competitivas. De acordo com esta

instituição, o atendimento às exigências de mercado (3° motivo em ordem de

grandeza na Espanha) é um elemento motivador que tem apresentado uma

importância crescente. A adequação aos requisitos dos clientes finais e,

especialmente, das empresas contratantes no regime de terceirização, conduz à

introdução de soluções ambientais em geral, bem como à adoção de sistemas de

gestão ambiental. Desta maneira, a gestão de cadeias de fornecimento torna-se

uma “mola impulsora” fundamental para o setor ambiental: as grandes empresas

dedicam cada vez maior atenção às melhorias ambientais em sua cadeia de

fornecimento, de tal forma que as indústrias menores são submetidas a pressões

cada vez maiores no sentido de aprimorarem seu comportamento ambiental.

Alguns autores defendem, inclusive, a opinião de que a pressão exercida pela

cadeia de fornecimento é o fator mais importante para a implementação de

sistemas formais de gestão ambiental (ENSR, 2002).

Neste particular, cabe destacar o importante papel exercido pelo apoio do

setor público. Dados obtidos na Áustria revelam que 55% das PME’s que

possuem sistemas de gestão ambiental naquele país jamais teriam conseguido

implementá-los sem o apoio financeiro público (ENSR, 2002).

Com base nestas informações de âmbito mundial sobre as PME’s, pode-se

esperar encontrar diversas semelhanças ao analisar a situação destas empresas

no Brasil. Ao abordar a questão ambiental nas PME’s brasileiras, Barros et al.

(2003) comentam que geralmente as micro e pequenas empresas são aquelas

que apresentam maior dificuldade em tratar o tema. Normalmente, precisam

utilizar escassos recursos de ordem financeira, técnica e humana para

implementar medidas de controle ambiental. Segundo os autores, apesar de

freqüentemente reconhecerem a importância das questões ambientais, a maioria

destas empresas dispõe de poucos conhecimentos sobre gestão ambiental e

jamais adotou práticas de controle ambiental em seus processos produtivos.

Desta forma, os problemas relacionados ao meio ambiente são geralmente

tratados por um gerente que é responsável por muitas outras atividades, o qual

72

não tem tempo disponível, é desprovido de conhecimentos adequados a respeito

e, sobretudo, atribui pouca importância econômica às eventuais oportunidades

ambientais.

Barros et al. (2003) agregam que a opinião pública dedica muito menos

atenção aos assuntos relativos ao meio ambiente, segurança e saúde nas micro e

pequenas empresas, do que nas empresas maiores. Além disso, muitas

pequenas organizações não consideram seus impactos ambientais tão

relevantes, em comparação com os das grandes organizações. De acordo com

estes autores, existe a necessidade de se realizar uma melhor divulgação da

gestão ambiental no Brasil, pois se trata de um assunto pouco conhecido. Devido

a este desconhecimento, muitos empresários são freqüentemente complacentes

com relação aos impactos ambientais de suas organizações, e preferem

simplesmente adotar soluções tipo “fim-de-tubo” do que assumir uma postura

preventiva. Outro problema comum é a resistência que apresentam à idéia de

compartilhar informações sobre suas empresas, bem como à revisão de seus

procedimentos operacionais. Por fim, os autores comentam que, devido ao seu

generalizado sentimento de desconfiança e à necessidade de soluções de curto

prazo, muitos empresários sentem-se desconfortáveis com a idéia de realizar

mudanças visando a melhoria da qualidade ambiental, ou mesmo com o simples

reconhecimento de que determinadas mudanças são necessárias.

Citando o Relatório da Competitividade da Indústria Brasileira (publicado

pelo BNDES, CNI e SEBRAE em 2001), Barros et al. (2003) mencionam que

57,5% das microempresas não haviam adotado qualquer procedimento de gestão

ambiental, contra apenas 5% das grandes empresas. O atendimento a requisitos

legais consiste na principal motivação para o investimento no meio ambiente por

parte das microempresas (56,9%) e médias empresas (65,3%). Para as pequenas

empresas, o principal elemento motivador apontado é a melhoria da imagem

(65,3%). Os autores destacam que muitas destas empresas estão integradas nas

cadeias de fornecimento de grandes organizações, no entanto existe pouca

pressão por parte destes stakeholders (ou “partes interessadas”) no sentido da

adoção de estratégias visando a preservação do meio ambiente. Salientam, no

entanto, que alguns destes grandes clientes começam a exigir que seus

fornecedores atendam a exigências de ordem ambiental.

Em nosso país, não existem dados estatísticos suficientes e plenamente

73

confiáveis abordando a gestão ambiental empresarial. Oliveira (2005) destaca que

as estatísticas ambientais existentes são coletadas em fontes dispersas, as quais

adotam diferentes conceitos e metodologias: “(...) existe ainda a carência de uma

base de dados atualizada periodicamente, representativa e compatível com a

aplicação de classificações ambientais” (p. 7). A autora destaca que ainda não se

dispõe de uma série histórica de dados sobre gastos e investimentos ambientais

realizados pelo setor empresarial brasileiro, comentando que é comum identificar

discordâncias entre os resultados apresentados pelos diversos órgãos e

instituições dedicados a estes estudos. Desta forma, para elaborar seu trabalho

sobre o comportamento ambiental do setor empresarial no Brasil, esta autora teve

que recorrer a diferentes fontes de dados, as quais consistem de estudos não-

periódicos:

− Pesquisa Gestão Ambiental na Indústria Brasileira , realizada em parceria

pelo BNDES, CNI e SEBRAE, em 1998, junto a 1.451 empresas.

− Relatório da Competitividade da Indústria Brasileir a, também realizado em

parceria pelo BNDES, CNI e SEBRAE, em 2001, junto a 1.158 empresas.

− Pesquisa Responsabilidade Social Empresarial: Panor ama e Perspectiva

na Indústria Paulista , realizada pela FIESP (Federação das Indústrias do

Estado de São Paulo) e o Instituto Ethos, em 2003, junto a 4.909 indústrias do

Estado de São Paulo.

− Diagnóstico da Situação da Gestão Ambiental nas Ind ústrias do Estado

do Rio de Janeiro , elaborada pela FIRJAN (Federação das Indústrias do

Estado do Rio de Janeiro) e a FGV (Fundação Getúlio Vargas) em 2002, junto

a aproximadamente 340 empresas.

− Relatório de Sustentabilidade Empresarial , publicado pelo CEBDS

(Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) em

2002.

− Sondagem Especial sobre Meio Ambiente, pesquisa publicada pela CNI em

2004, junto a 1.218 empresas.

De maneira a ilustrar o mencionado problema relativo às discordâncias

entre dados obtidos por estudos distintos, pode-se comparar as razões apontadas

74

pelas indústrias para a realização de investimentos de ordem ambiental. Percebe-

se que entre as pesquisas consultadas há discrepâncias relativas às

porcentagens atribuídas a cada elemento motivador:

Gráfico 1: Motivação Para Investimentos Ambientais (valores percentuais)

0

10

20

30

40

50

60

70

80

90

BNDES/CNI/SEBRAE (2001) 62,4 67,4 29,2 28,4 10

FIRJAN/FGV (2002) 80 44 8 18 4,2

CNI (2004) 83 16 0 40,6 8

Atendimentos a requisitos legais

Melhoria da imagem da empresa

Acesso a novos mercados

Melhoria da gestão/política

social Outros

Fonte: Oliveira (2005)

Os fatores motivadores para a adoção de práticas de gestão e realização

de investimentos de cunho ambiental ainda serão discutidos mais adiante, neste

capítulo.

Ao abordar as principais dificuldades encontradas pelas empresas para

implementar melhorias de ordem ambiental, Oliveira (2005) também realizou uma

junção dos dados disponíveis a respeito, coletados por BNDES/CNI/SEBRAE

(1998) e FIRJAN/FGV (2002), revelando igualmente uma certa inconsistência

entre os mesmos. Apesar disto, é possível depreender que a falta de informações

técnicas sobre o assunto é preponderante para as pequenas empresas. Também

evidencia-se a questão da incerteza acerca dos custos e origem dos recursos

para implementar estas melhorias. A elevada inexistência de dificuldades,

informada pelas pequenas empresas na pesquisa BNDES/CNI/SEBRAE (1998),

pode na realidade comprovar a assertiva de Barros et al. (2003), relativa à

complacência dos pequenos empresários em relação aos problemas de ordem

75

ambiental:

Gráfico 2: Principais Dificuldades para a Melhoria Ambiental (% de empresas)

23

10

16

8

27

20

6

23

7

28

42

29

17

1

16

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20

7

13

0

10

20

30

40

50

60

Não

dis

por

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form

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luçõ

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Não

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esen

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Não

hou

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alqu

erdi

ficul

dade

Pequenas (BNDES/CNI/SEBRAE, 1998)Grandes e médias (BNDES/CNI/SEBRAE, 1998)Pequenas (FIRJAN/FGV, 2002)Grandes e médias (FIRJAN/FGV, 2002)

Fonte: Oliveira (2005)

As divergências de dados não chegam a inviabilizar a análise do

posicionamento empresarial brasileiro frente às questões de ordem ambiental,

pois mesmo assim fornecem subsídios que permitem identificar vários aspectos

relacionados ao tema. No entanto, segundo Oliveira (2005), seria importante

desenvolver uma base de dados atualizada periodicamente, representativa e

compatível com a aplicação de classificações ambientais, nos moldes da CEPA.

Segundo o IBGE (apud OLIVEIRA, 2005), as classificações ambientais ainda

estão em discussão, sendo que existem apenas versões preliminares destas

classificações internacionais. Tais classificações são subdivididas em duas

76

partes: CEPA (Classificação de Atividades e Gastos com Proteção Ambiental) e

CEPF (Classificação de Equipamentos e Instalações de Proteção Ambiental),

sendo compatíveis com outras linhas de trabalhos internacionais na área de

estatísticas ambientais e incluindo recomendações para a coleta de dados sobre

gastos com proteção ambiental. Desta forma, os pesquisadores da área deverão

aguardar até que estas classificações estejam disponíveis, para dispor de dados

mais conclusivos.

Consistindo no primeiro trabalho de porte especificamente voltado para a

análise do posicionamento da indústria brasileira em relação às questões

ambientais, a Pesquisa Gestão Ambiental na Indústria Brasileira foi elaborada em

parceria pelo BNDES, CNI e SEBRAE em 1998 e continua sendo o levantamento

mais completo sobre o tema, disponível em nosso país. Segundo o BNDES, CNI,

SEBRAE (1998), esta pesquisa foi baseada em dados colhidos em 1996 e 1997,

junto a 1.451 indústrias, sendo 57,5% microempresas, 18,5% pequenas, 14,7%

médias e 1,4% grandes empresas (a classificação de porte corresponde à

adotada pela CNI, que coincide com a do IBGE, já mencionada anteriormente). A

região Sudeste participou com 58,2% dos estabelecimentos, a região Sul com

30,9%, a região Nordeste com 4,8% e as regiões Norte e Centro-Oeste com

5,6%.

De acordo com esta pesquisa (BNDES, CNI, SEBRAE, 1998), em torno de

85% das indústrias brasileiras adotam algum tipo de procedimento associado às

questões ambientais de suas atividades. Analisando os dados apresentados, é

possível constatar que a reciclagem e o reaproveitamento de sucatas representa

grande parte das atividades desenvolvidas pelas indústrias, independentemente

de seu porte, o que indica a importância do fator econômico nas ações de cunho

ambiental. Por outro lado, nota-se que as grandes empresas dedicam especial

atenção às atividades de controle de emissões, tais como a redução de gases e

emissões atmosféricas, enquanto as micro e pequenas empresas indicam

interesse por outros procedimentos associados a custos, como a redução do uso

de insumos e reciclagem de sucatas. O controle de ruídos e vibrações, fator

diretamente ligado às condições de trabalho e ao relacionamento com as

comunidades vizinhas, também é um item relevante para as PME’s, e colabora

para indicar a existência de condições de trabalho menos adequadas nestas

organizações, que nas empresas maiores. É relevante destacar que, enquanto

77

99% das grandes empresas, 93% das médias e 91% das pequenas empresas

declaram executar algum procedimento de gestão ambiental, 23% das

microempresas informam não realizar qualquer ação deste tipo:

Tabela 9: Procedimentos de Gestão Ambiental (% de e mpresas)

Porte Procedimentos

Micro Peq. Méd. Gr. Todas

Redução do uso de matéria-prima por quantidade de produto fabricado ou substituição de fonte de energia para reduzir níveis de poluição

19 27 30 38 23

Redução do uso (conservação) de energia por quantidade de produto fabricado 16 22 31 44 21 Redução do uso (conservação, recuperação ou reciclagem) de água por quantidade de produto fabricado 6 16 33 44 15 Mudanças na composição, desenho e embalagem do produto para tornar seu uso menos danoso à saúde humana e ao meio ambiente

5 8 12 14 7

Controle, recuperação ou reciclagem das descargas líquidas da atividade industrial 6 12 42 64 18 Controle ou recuperação dos gases e emissões gasosas da atividade industrial 3 9 20 39 10

Controle de ruídos e vibrações 21 38 39 50 29 Disposição adequada de resíduos sólidos ou lixo da atividade industrial 21 30 46 62 30 Reciclagem ou aproveitamento de sucatas, resíduos ou refugos 34 39 57 68 41 Mudanças nos procedimentos de estocagem, transporte, manuseio, distribuição e disposição final dos produtos ou materiais perigosos e suas embalagens

5 13 16 31 10

Cursos ou treinamento da mão-de-obra para prática dos procedimentos relacionados 7 13 29 35 14 Dar preferência a fornecedores e distribuidores que não têm uma imagem ambiental negativa 13 18 19 23 15

Outros 2 4 3 6 3 Não realiza qualquer procedimento que poderia estar associado à gestão ambiental 23 9 7 1 16

Fonte: BNDES/CNI/SEBRAE (1998)

Com base nos dados apresentados na tabela supra, constata-se também o

despreparo das PME’s para tratar adequadamente os aspectos ambientais de

suas atividades. Ações relativas à correta disposição de resíduos sólidos, controle

de emissões e treinamentos relativos às práticas de gestão ambiental são muito

menos representativas nestas empresas, que nas grandes: enquanto 62% das

grandes empresas tomam medidas visando a disposição adequada de resíduos

sólidos, somente 30% das pequenas fazem o mesmo.

A pesquisa (BNDES, CNI, SEBRAE, 1998) também indica a proporção de

empresas que realizaram investimentos ambientais no ano de 1997. Constata-se

78

que na maioria das empresas que investiram (64%), os investimentos ambientais

representaram, no máximo, 3% do total de investimentos. Percebe-se que a

adoção de práticas de gestão ambiental não está diretamente ligada à realização

de investimentos ambientais, pois, enquanto 84% das empresas declararam

adotar algum tipo de prática neste sentido, somente 50% efetuaram investimentos

correspondentes. Segundo os dados levantados, apenas 9% das grandes

empresas não realizaram qualquer investimento na área ambiental, sendo que

esta proporção se eleva para cerca de 22% nas médias empresas, 32% nas

pequenas e cerca de 65% nas microempresas. Portanto, evidencia-se claramente

a íntima relação entre porte empresarial e ações de cunho ambiental,

comprovando uma das fragilidades das PME’s já apontadas anteriormente, qual

seja a escassez de recursos financeiros para investimento nesta área. Tal

informação confirma, por conseguinte, que o interesse das PME’s por práticas de

gestão ambiental concentra-se em oportunidades que lhes propiciem ganhos

econômicos com reduzidos investimentos, tais como aumento da eficiência no

uso de insumos, reciclagem de sucatas e redução da produção de resíduos,

conforme apontado anteriormente:

Tabela 10: Empresas que Realizaram Investimentos Am bientais em 1997 (% de empresas)

Porte Parcela dos Investimentos

Totais Micro Pequena Média Grande Todas

Menos de 1% 12 25 23 23 16

1 a 3% 14 14 23 24 16

3 a 5% 3 10 14 16 6

5 a 10% 3 10 11 14 6

10 a 20% 1 5 4 8 3

Mais de 20% 2 4 2 6 2

Não investiu 65 32 22 9 50

Fonte: BNDES/CNI/SEBRAE (1998)

É oportuno analisar as informações fornecidas pelas empresas acerca de

seus investimentos futuros: 75% das empresas entrevistadas informaram que

pretendiam realizar investimentos ambientais nos anos vindouros. Enquanto

79

apenas 5% das grandes empresas não pretendiam investir, esta porcentagem

aumenta para 12% nas médias, 14% nas pequenas e 34% nas microempresas.

Nota-se que tais investimentos estão concentrados em sistemas de controle de

emissões, disposição de resíduos e de gestão ambiental nas grandes empresas.

As PME’s, por sua vez, denotam novamente a preocupação com o controle de

ruídos, prática diretamente ligada à melhoria das condições de trabalho.

Importante destacar que boa parte destes investimentos das PME’s está focada

na adoção de tecnologias e procedimentos destinados à redução de perdas e

refugos de materiais e produtos acabados, o que significa, simplesmente, busca

de aumento da eficiência produtiva e de retorno econômico. Ou seja, comprova-

se que a adoção de estratégias de gestão ambiental nas PME’s é fortemente

influenciada pela questão financeira, e que há pouca preocupação com temas

como a redução de emissões, adequada disposição de resíduos sólidos e

implantação de sistemas de gestão ambiental:

Tabela 11: Futuros Investimentos em Gestão Ambienta l (% de empresas)

Porte Investimentos

Micro Peq. Méd. Gr. Todas

Sistema de tratamento e controle de descarga de esgotos e efluentes líquidos industriais 8 23 39 50 18

Sistemas de disposição de resíduos sólidos industriais 16 31 34 43 23 Sistemas de tratamento e controle de emissão de gases atmosféricos e particulados 4 11 28 28 11

Adoção de tecnologias ou procedimentos para reduzir ruídos 25 37 40 25 29 Adoção de tecnologias ou procedimentos para reduzir perdas e refugos de materiais e de produto acabado 28 37 33 18 30 Adoção de tecnologias ou procedimentos de conservação de energia 20 21 22 19 21

Adoção de fontes de energia mais limpas 4 6 8 10 5 Adoção de tecnologias ou procedimentos de conservação ou recuperação de água 3 9 20 30 9 Adoção de tecnologias para melhoria do projeto, design e embalagem do produto 8 11 6 7 8 Mudanças nos procedimentos de transporte e distribuição do produto 3 5 2 2 3 Cursos ou treinamento da mão-de-obra para gestão ambiental 8 15 23 26 13 Sistemas de acompanhamento, monitoramento e gestão ambiental (inclusive de certificação) 4 11 15 35 9 Não pretende realizar qualquer investimento ambiental neste período 34 14 12 5 25

Outros 0 0 1 4 1

Fonte: BNDES/CNI/SEBRAE (1998)

80

Esta preponderância da preocupação das PME’s com a redução de perdas

no processo produtivo é claramente ilustrada pelo registro de controle e

monitoramento ambiental. Os controles de perdas e refugos de materiais e de

produto acabado, bem como da geração de resíduos sólidos industriais,

encontram-se entre as principais preocupações das micro, pequenas e médias

empresas:

Gráfico 3: Registro de Controle e Monitoramento Ambiental (% de empresas)

7

15

3

12

36

28

20 20

5

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23

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8

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5

10

15

20

25

30

35

40

Descarga deesgotos eefluenteslíquidos

industriais

Geração deresíduossólidos

industriais

Emissão deefluentesgasosos

Emissão depoeira ematerial

particulado

Perdas erefugos de

materiais e deprodutoacabado

Emissão deruídos e

vibrações

Micro Pequena Média Grande

Fonte: BNDES/CNI/SEBRAE (1998)

Quanto às fontes que permitem identificar as soluções ambientais, a

maioria absoluta das organizações, independente do seu porte, buscou-as dentro

delas mesmas. A tabela a seguir permite identificar que as PME’s têm menos

acesso a serviços de consultoria especializada, e também contam com menos

apoio técnico dos órgãos ambientais. Nota-se que os órgãos patronais de

assessoria e de assistência técnica (como CNI/SENAI e SEBRAE) tampouco

apóiam tais empresas de maneira substancial. Importante frisar que, nas

81

pequenas empresas, a participação de consultorias é maior do que a dos órgãos

de apoio e governamentais, o que denota deficiências nas políticas de fomento à

adoção de princípios de gestão ambiental nas empresas deste porte. Esta falta de

apoio talvez explique o fato de que, nas PME’s em geral, as iniciativas de controle

de poluição não estejam sendo implementadas, conforme indicado anteriormente.

Os dados a respeito das fontes das soluções ambientais constam do gráfico a

seguir:

Gráfico 4: Fontes das Soluções Ambientais (% de empresas)

71

8

18

7

73

19

11

14

84

36

13

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88

44

14

210

10

20

30

40

50

60

70

80

90

100

Geralmentedesenvolvidas no

próprioestabelecimento

com seus técnicos

Utilizando consultorianacional

Com apoio dosórgãos patronais deassistência técnica

(CNI, SENAI,SEBRAE, etc)

Com apoio técnicodos órgãosambientais

Micro Pequena Média Grande

Fonte: modificado de BNDES/CNI/SEBRAE (1998)

Consistindo na série de dados mais recente disponível sobre as indústrias

brasileiras e o meio ambiente, a Sondagem Especial sobre Meio Ambiente,

publicada pela CNI (Confederação Nacional da Indústria) em 2004, foi elaborada

com a participação de 1.007 pequenas e médias empresas, bem como 211

grandes, distribuídas por todo o território brasileiro. Os dados foram coletados

entre os meses de março e abril de 2004. O trabalho não subdivide a categoria

das PME’s, o que é uma desvantagem para aqueles que buscam um melhor

82

entendimento do setor. Esta sondagem aponta várias informações importantes

sobre o relacionamento da indústria com o meio ambiente e as autoridades

ambientais e sinaliza que a questão ambiental está cada vez mais integrada ao

planejamento das empresas: 80% das empresas pesquisadas declararam realizar

procedimentos gerenciais associados à gestão ambiental (87,7% das grandes e

72,2% das pequenas e médias), o que indica valores bastante próximos daqueles

apontados pela Pesquisa Gestão Ambiental na Indústria Brasileira, apresentados

anteriormente (BNDES, CNI, SEBRAE, 1998).

Dentre as empresas que em alguma oportunidade requisitaram

licenciamento ambiental, 74,5% das grandes e 71,3% das pequenas e médias

informaram haver encontrado dificuldades em obtê-lo. Entre os problemas

apontados, os principais foram a demora na análise dos pedidos de licenciamento

e os altos custos relativos ao atendimento às exigências do órgão ambiental,

problemas igualmente citados na pesquisa de 1998 (BNDES, CNI, SEBRAE,

1998) e que são mencionados por Oliveira (2005) como fonte de incertezas, de

elevação do risco empresarial, e de bloqueio de decisões de investimentos:

Gráfico 5: Principais dificuldades enfrentadas no processo de licenciamento

45%

43,50%

35,90%

34,30%

9,50%

2,90%

Demora na análise dos pedidos delicenciamento

Custos dos investimentos necessários paraatender as exigências do órgão ambiental

Custos de preparação de estudos e projetospara apresentar ao órgão ambiental

Dificuldade de identificar e atender aoscritérios técnicos exigidos

Dificuldade de identificar especialistas noassunto

Outros

Fonte: CNI (2004)

No que diz respeito ao relacionamento com os órgãos ambientais, 62,4%

das grandes empresas informaram haver enfrentado problemas, proporção pouco

83

superior que a parcela de pequenas e médias empresas, que é de 58,9%. Pode-

se supor que este número também indique um alto índice de empresas visitadas

pela fiscalização. No entanto, é preciso destacar que seria necessário um

desmembramento dos dados para que se pudesse avaliar a fiscalização junto às

micro e pequenas empresas. O gráfico a seguir aponta novamente os altos custos

para atendimento às exigências dos órgãos ambientais como principal dificuldade

encontrada pelos empresários:

Gráfico 6: Principais causas dos problemas de relacionamento com os órgãos ambientais

40,6%

39,7%

13,9%

13,9%

12,4%

3,1%

Requisitos exagerados da regulamentaçãoambiental

Regulamentação ambiental com custos muitoelevados de implantação

Regulamentação ambiental muito complexa

Falta de cortesia ou comportamentoinadequado" da fiscalização"

Regulamentação ambiental freqüentementealterada

Outros

Fonte: CNI (2004)

Ao abordar os fatores motivadores para a adoção de procedimentos de

gestão e a realização de investimentos de ordem ambiental, os autores desta

sondagem (CNI, 2004) destacam a grande influência que o atendimento à

regulamentação ambiental e as exigências para licenciamento exercem sobre as

organizações. Tendo em vista que ambos os itens são relativos à legislação e à

fiscalização, somando 83% (como evidenciado por Oliveira no Gráfico 1), os

mesmos chegam a inferir que o número de empresas que adotam procedimentos

gerenciais associados à gestão ambiental está diretamente ligado à seguinte

problemática:

84

Pode-se sugerir, a partir da Sondagem, que as indústrias estão procurando minimizar, por meio da gestão ambiental estratégica, os eventuais conflitos advindos do processo de licenciamento ambiental e as dificuldades encontradas nas relações administrativas com os órgãos ambientais (CNI, 2004, p.3).

Por outro lado, a segunda razão mais relatada, qual seja a conformidade

com a política social da empresa, indica uma possibilidade maior de continuidade

da ação ambiental empresarial, pois assinala que a questão ambiental

progressivamente deixa de ser um tema exclusivamente imposto pelos

stakeholders externos às empresas:

Gráfico 7: Principais razões para a adoção de medid as gerenciais associadas à gestão ambiental

45,2%

40,8%

37,8%

16,0%

15,9%

13,4%

12,7%

6,7%

6,2%

3,3%

2,9%

1,0%

Atender regulamento ambiental

Estar em conformidade com a política social daempresa

Atender exigências para licenciamento

Melhorar a imagem perante a sociedade

Atender o consumidor com preocupaçõesambientais

Reduzir custos dos processos industriais

Aumentar a qualidade dos produtos

Atender reivindicação da comunidade

Aumentar a competitividade das exportações

Atender exigências de instituição financeira oude fomento

Atender pressão de organização nãogovernamental ambientalista

Outra

Fonte: CNI (2004)

Analisando os dados supra apresentados, Oliveira (2005) conclui que o

fator econômico exerce um peso significativo na tomada de decisão. Ressalta que

85

tais dados confirmam que os investimentos são feitos para atender a uma política

ambiental de comando e controle altamente restritiva, ficando para um segundo

momento a visão da competitividade. Segundo a autora, ambos os fatores

indutores, seja o atendimento à legislação, seja a competitividade, representam

fatores de ordem eminentemente econômica.

Ainda com relação ao gráfico anterior, nota-se que ainda não existe uma

grande pressão dos consumidores (sejam eles pessoas privadas ou jurídicas)

para a adoção de medidas gerenciais relacionadas à gestão ambiental.

No que diz respeito à questão dos investimentos destinados à proteção

ambiental, o estudo da CNI (2004) indica que 73% das indústrias brasileiras

destinaram recursos para esta finalidade no ano de 2003, sendo que o mesmo

número era previsto para o ano 2004. Este dado indica uma substancial evolução

em relação ao levantamento feito pelo BNDES/CNI/SEBRAE em 1998, o qual

revelava que 50% das empresas entrevistadas haviam realizado investimentos.

No que toca à participação dos investimentos ambientais no volume total, a maior

parte das indústrias (58,5%) destinou até 2% de seus investimentos totais para

esta finalidade, valor relativamente próximo àquele informado pela pesquisa de

1998 (BNDES,CNI,SEBRAE, 1998).

Quanto à origem dos recursos financeiros destinados a investimentos

ambientais, Oliveira (2005) diz que as empresas utilizam preponderantemente

recursos próprios. Assim sendo, os bancos, tanto governamentais como privados,

contribuem apenas com 20% do total de recursos destinados a este tipo de

investimento (BNDES,CNI,SEBRAE, 2001, apud OLIVEIRA, 2005). Segundo esta

autora, a pesquisa FIRJAN/FGV, publicada em 2002, destaca que somente 3%

das pequenas empresas e 11% das médias e grandes conseguiram obter algum

tipo de financiamento para seus projetos ambientais. Ressalta, ainda, que 85%

das pequenas e 73% das médias e grandes sequer tentaram obtê-lo. De acordo

com Oliveira (2005), esta postura reflete uma grande preocupação por parte das

indústrias em não aumentar o seu grau de endividamento, tendo em vista tanto as

altas taxas de juros praticadas, como a elevada carga tributária vigente no país. A

autora sublinha esta questão, mencionando que 71% das empresas consultadas

nesta pesquisa defendem o aumento de incentivos fiscais como estímulo à

realização de investimentos destinados à melhoria da qualidade ambiental.

Faz-se necessário comentar que não se dispõe de dados claros e

86

convergentes sobre o aumento ou redução dos custos das empresas como

resultado da implementação de procedimentos de gestão ambiental. Desta forma,

a pesquisa BNDES/CNI/SEBRAE (1998) aponta que 65% das indústrias

declararam ter incorrido em custos ambientais de até 5% sobre os produtos

vendidos, enquanto 28% informaram não ter incorrido nestes custos. Por outro

lado, o relatório BNDES/CNI/SEBRAE (2001, apud OLIVEIRA, 2005) indica que

59,9% das indústrias informaram não ter havido alteração no custo final dos

produtos, enquanto 34,4% declararam que ocorreu redução. É preciso ressaltar

que não se obtiveram dados estratificados por porte de empresa.

À luz dos dados apresentados, pode-se concluir, apesar da falta de

estatísticas padronizadas e consolidadas, que a postura das indústrias brasileiras

em relação aos temas ambientais tem evoluído ao longo do tempo. Esta evolução

tem sido marcantemente influenciada por questões de cunho eminentemente

econômico, seja devido a um forte mecanismo de comando e controle imposto

pelos órgãos ambientais, seja pela busca de vantagens econômicas e

competitivas.

As informações disponíveis dão conta de que, principalmente entre as

PME’s, os investimentos ambientais são restritos, sendo as ações de gestão

ambiental fortemente influenciadas pela busca de aumento de eficiência dos

processos produtivos e conseqüente redução do consumo de insumos (e

minoração de custos). Tal característica, seguramente ditada pelo mercado

altamente competitivo em que operam, termina por gerar benefícios ambientais de

maneira indireta. May et al. (2003) também apontam a diminuição de impactos

ambientais como conseqüência benéfica indireta da busca de redução de custos

por parte das empresas brasileiras.

Os autores consultados apontam que, além da escassez de recursos

financeiros, a falta de recursos técnicos e cognitivos também representa uma

importante barreira à adoção de práticas de gestão ambiental pelas PME’s.

Destaque-se, também, uma certa complacência dos pequenos empresários com

relação aos impactos ambientais causados por suas atividades, atitude esta

estimulada pela pouca atenção que a opinião pública lhes dedica.

Tendo em vista o atendimento aos requisitos legais e a escassez de

recursos técnico-financeiros das PME’s, Oliveira (2005) aponta a necessidade de

elaboração de políticas públicas de incentivo aos pequenos e médios

87

empresários, os quais muitas vezes não conseguem arcar com os custos de um

licenciamento ambiental, terminando por operar de forma irregular.

Com base nas informações colhidas, também conclui-se que os

consumidores, sejam eles consumidores finais ou empresas, ainda não exercem

uma pressão efetiva pela adoção de estratégias de preservação ambiental por

parte das PME’s.

4.3 PME’s e a questão socioambiental

À luz das informações obtidas junto à bibliografia consultada, constata-se

que as PME’s, apesar de serem dotadas de alto grau de flexibilidade e

adaptabilidade, representarem um importante segmento socioeconômico em

franco crescimento e consistirem numa importante alternativa produtiva via

terceirização, apresentam diversas limitações e fragilidades, quando analisadas

sob o aspecto de seu posicionamento frente às questões de saúde, segurança e

meio ambiente.

No que tange à saúde e segurança, nota-se que as condições de trabalho

nestas organizações de pequeno porte são geralmente bastante inferiores

àquelas encontradas nas grandes empresas. Insegurança financeira, ciclos de

vida limitados, pressões por preços reduzidos, direção autocrática, sistemas de

comunicação deficientes, falta de consciência e experiência relativos aos temas

de saúde e segurança, deficiências em termos de conhecimentos técnicos e

escassa freqüência de inspeção e controle são alguns dos problemas

encontrados nas PME’s. Estas condições muitas vezes terminam por transformar

os trabalhadores destas empresas em “trabalhadores de segunda categoria”,

sujeitos a jornadas de trabalho mais longas, ritmos de trabalho mais intensos,

baixos salários, ambientes de trabalho mais inseguros e níveis de acidentes

maiores que aqueles encontrados nas empresas de grande porte. Agregue-se a

esta problemática o fato de que os sistemas de fiscalização apresentam

limitações quanto à capacidade de cobrir o universo altamente fragmentado

representado por estas organizações, fato este agravado pela sub-comunicação

de eventos tais como acidentes de trabalho.

88

Quanto ao meio ambiente, as PME’s também enfrentam limitações que

terminam por fazer com que sua atuação seja menos adequada que a das

grandes empresas, chegando a, proporcionalmente, gerar mais impactos

ambientais. Falta de recursos financeiros, técnicos e cognitivos, competição por

preços baixos, falta de apoio governamental, necessidade de priorizar o

aperfeiçoamento tecnológico e a competitividade a curto prazo, falta de

consciência quanto às questões ligadas à sustentabilidade e dificuldade em

reconhecer oportunidades de ordem ambiental são algumas das deficiências

apresentadas pelas empresas menores. Tais deficiências fazem com que as

PME’s realizem poucos investimentos ambientais, focalizando sua atenção

naqueles procedimentos de gestão que aumentem sua eficiência produtiva via

redução do consumo de insumos e geração de sucatas, o que acaba conduzindo

a benefícios ambientais marginais. Constata-se que, no Brasil, a adoção de uma

política ambiental de comando e controle faz com que a principal preocupação

das indústrias seja sua adequação aos requisitos legais.

Considerando os dados apresentados, infere-se que se, de um lado, a

terceirização propiciou novas oportunidades para as pequenas empresas, de

outro, tal processo transferiu, além de novas tarefas, uma série de riscos

socioambientais para um conjunto cada vez maior de organizações, sem que as

mesmas dispusessem do preparo adequado para evitar que fossem causados

danos aos trabalhadores e ao meio ambiente. Contribuem para esta situação a

falta de políticas públicas de apoio e a carência de recursos técnicos, financeiros

e cognitivos das PME’s, o que, muitas vezes, inviabiliza qualquer iniciativa destas

empresas de pequeno porte para implementar uma efetiva gestão socioambiental.

Com este quadro em vista, torna-se clara a necessidade de se buscar

alternativas que viabilizem o adequado tratamento das questões relacionadas à

saúde, segurança e meio ambiente por parte das pequenas empresas. Isto, de

maneira a evitar que o desenvolvimento das PME’s traga, como contrapartida, o

aumento da vulnerabilidade da sociedade aos riscos socioambientais

relacionados às atividades produtivas.

89

5. ALTERNATIVAS PARA O COMPROMISSO SOCIOAMBIENTAL

EM PME’S

Considerando os dados e reflexões apresentados anteriormente, verifica-se

que o processo de transferência de atividades das grandes empresas para as

pequenas implica, simultaneamente, na transferência dos riscos inerentes a estas

atividades a organizações que não possuem as mesmas condições para tratá-los

adequadamente.

Desta forma, coloca-se a necessidade de encontrar alternativas que

possibilitem a inserção das PME’s brasileiras num conjunto de conceitos e

práticas que viabilizem a adoção de princípios de sustentabilidade empresarial.

Neste capítulo, procura-se abordar algumas destas alternativas, com base

em exemplos de casos reais.

5.1 Adoção dos princípios de Produção Mais Limpa

As informações relativas à postura ambiental das PME’s salientam o fato

de que, tendo em vista a escassez de recursos financeiros e a elevada

competitividade por preços baixos, tais empresas adotam mais facilmente aqueles

procedimentos de gestão ambiental diretamente ligados ao aumento da eficiência

operacional. Desta forma, ações ambientalmente positivas, como a redução do

uso de insumos, diminuição na geração de resíduos e reciclagem de sobras de

processo, as quais são diretamente ligadas ao aperfeiçoamento da eficiência

produtiva (implicando em redução de custos) são bastante aceitas pelos

pequenos empresários.

Uma interessante alternativa para a inserção das PME’s nos princípios de

sustentabilidade empresarial é a aplicação dos conceitos de Produção Mais

Limpa (também conhecida como P+L). Tais conceitos, disseminados

mundialmente, visam o aumento da eco-eficiência, ou seja, busca-se a redução

do consumo de insumos e a substituição de insumos potencialmente danosos ao

90

meio ambiente, de tal forma que a organização que deles se utiliza obtenha

melhorias em seu desempenho ambiental. Os conceitos de P+L embutem o

aumento da própria eficiência produtiva, de tal forma que os ganhos de ordem

ambiental refletem-se em redução de custos de produção.

Uma característica interessante é que os princípios de P+L são bastante

simples, podendo ser implementados até mesmo pela própria empresa

interessada, com o uso de seu pessoal e sem a necessidade imperiosa de

contratação de serviços de consultoria, o que é especialmente vantajoso para as

indústrias de pequeno porte. O CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o

Desenvolvimento Sustentável) inclusive edita diversos materiais informativos a

respeito, sob a forma de manuais de fácil utilização por parte das empresas.

Segundo informam Barros et al. (2003), na aplicação dos princípios de P+L,

vários procedimentos são avaliados segundo sua eficácia ambiental e viabilidade

econômica. Medidas simples, como adequada arrumação e organização (“good

housekeeping”) são aquelas mais comumente adotadas. Neste conceito, incluem-

se a organização, limpeza e boas práticas em termos de qualidade e/ou de

processos produtivos. Além de housekeeping, a metodologia de P+L inclui a

otimização de parâmetros de produção, padronização de procedimentos,

otimização da manutenção e realização de treinamentos e processos

informativos. Todas estas características da metodologia de P+L preenchem

diversas lacunas das PME’s, as quais foram anteriormente citadas, tais como a

escassez de recursos financeiros e cognitivos e deficiências em termos de gestão

administrativa e produtiva.

De acordo com Barros et al. (2003), o ponto referencial para a Produção

Mais Limpa no Brasil foi a criação do CNTL (Centro Nacional de Tecnologias

Limpas), ligado à UNIDO/UNEP (United Nations Industrial Development

Organization / United Nations Environmental Programme), em 1996. Entre seus

objetivos, encontram-se a capacitação técnica de especialistas brasileiros da

indústria, empresas de consultoria ambiental e agências governamentais, de

maneira a formar uma rede de instituições e indivíduos comprometidos com a

divulgação dos conceitos de P+L. Esta rede, criada em 1999, é coordenada pelo

CEBDS (Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável) e

sustentada por uma parceria composta por 7 instituições:

91

− Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável

(CEBDS)

− Banco do Nordeste

− Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE)

− Confederação Nacional da Indústria (CNI)

− Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP)

− Programa Ambiental das Nações Unidas (UNEP – United Nations

Environmental Programme)

− Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (UNIDO –

United Nations Industrial Development Organization)

Oliveira (2005) informa que a Rede Brasileira de Produção Mais Limpa é

composta pelo CNTL (Centro Nacional de Tecnologias Limpas, pertencente ao

sistema SENAI/CNI), sediado no Rio Grande do Sul, e sete núcleos estaduais,

localizados nos estados de Minas Gerais, Bahia, Santa Catarina, Mato Grosso,

Rio de Janeiro, Ceará e Pernambuco). Cabe a estes núcleos a difusão da

metodologia, de acordo com o que lhes é transferido pelo Centro.

A Rede de P+L divulga os conceitos de desenvolvimento sustentável junto

às micro e pequenas empresas, dedicando-se a disseminar os conceitos de eco-

eficiência e a metodologia de Produção Mais Limpa como ferramentas destinadas

ao aumento da competitividade, da inovação e da responsabilidade ambiental

(BARROS et al., 2003).

De acordo com o Relatório da Rede Brasileira de P+L, edição 1999-2002

(apud OLIVEIRA, 2005), as instituições patrocinadoras investiram em torno de R$

3,3 milhões na formação da rede. Por sua vez, 77 empresas selecionadas na

etapa-piloto investiram R$ 2,8 milhões na implementação das medidas

recomendadas pelos consultores. Comprometidas com a utilização dos princípios

de Produção Mais Limpa, estas 77 empresas investiram, após a fase piloto, R$

1,1 milhão na implementação de melhorias, valor este que representa apenas

uma parte dos investimentos requeridos, uma vez que os projetos ainda estão em

andamento. De acordo com Barros et al. (2003), a média das empresas

participantes na fase-piloto empregava aproximadamente 30 pessoas, e possuía

um faturamento anual bruto de aproximadamente R$ 10 milhões. É relevante

92

destacar que, como resultado destes investimentos iniciais, as empresas

participantes obtiveram, no total, uma redução de R$ 18 milhões por ano nos seus

gastos com matérias-primas, água e energia. A tabela a seguir demonstra a

importante melhoria do desempenho ambiental obtida com a utilização da

metodologia P+L por estas organizações:

Tabela 12: Benefícios Ambientais Iniciais do Progra ma P+L

Indicadores Total

Redução do consumo de matérias-primas (t/ano) 6.017.836,62

Redução do consumo de água (m3/ano) 351.014,76

Redução do consumo de energia elétrica (kWh/ano) 2.985.019,98

Redução do consumo de gás (m3/ano) 1.089.301,02

Redução das emissões atmosféricas (t/ano) 5.483,71

Redução da geração de efluentes líquidos (m3/ano) 167.099,00

Redução da geração de resíduos sólidos (t/ano) 911.362,15

Redução da geração de resíduos perigosos (t/ano) 3.658,10

Fonte: CEBDS (apud OLIVEIRA, 2005)

Com base nos dados apresentados, é interessante verificar que o valor do

investimento por empresa representa, em média, aproximadamente R$

50.650,00. Este valor não deixa de ser elevado para as micro e pequenas

empresas brasileiras. No entanto, o retorno anual obtido representa uma média

de aproximadamente R$ 233.765,00 por empresa. Desta maneira, torna-se clara

a vantagem econômica representada pelas ações de P+L que foram

implementadas pelas organizações em questão. Não se pode deixar de

considerar a obtenção de benefícios adicionais, tais como a redução de exposição

a sanções de ordem ambiental, melhoria do ambiente de trabalho (e das

condições de saúde e segurança) e aumento da competitividade.

Conforme informado por Barros et al. (2003), entre 1999 e 2003, somaram-

se à iniciativa empresas participantes de 33 diferentes segmentos produtivos.

Aproximadamente 50% delas possuem até 49 funcionários, e cerca de 75%

empregam até 199 pessoas. Os segmentos industriais mais representativos foram

eletro-eletrônica (14% do total de empresas), tingimento (12%) e calçados (8%),

93

todos apresentando considerável potencial de geração de danos ambientais.

Durante este período, os segmentos com maior crescimento em sua participação

foram os de construção (7%), metalurgia (6%), metal-mecânica (6%), alimentação

(4%) e hotéis (3%). Os autores destacam a diversidade de setores representados

pelas empresas participantes da rede de P+L, indicando que as soluções visando

o aumento da eco-eficiência encontram amplas possibilidades de aplicação.

O gráfico a seguir aponta os procedimentos de P+L mais comumente

aplicados pelas empresas brasileiras, demonstrando a prevalência de soluções

simples e de baixo custo:

Gráfico 8: Medidas de P+L mais adotadas no Brasil

1%

2%

7%

6%

15%

20%7%

42%

Modificação de produto

Produção de subprodutos

Mudança na tecnologia deprocesso

Mudança ou substituição deequipamento

Reúso e reciclagem

Melhor controle de processo

Mudança ou substituição dematéria-prima

Housekeeping

Fonte: Barros et al. (2003)

Citando dados do Relatório da Competitividade da Indústria Brasileira,

publicado pelo BNDES/CNI/SEBRAE em 2001, Barros et al. (2003) mencionam

que as grandes empresas aceitam mais facilmente as sugestões oriundas de

seus funcionários, do que as PME’s. Tendo em vista que a participação dos

funcionários é um fator básico para a implementação dos princípios de P+L, os

autores indicam que esta atitude dos empresários pode significar uma barreira

94

para a aplicação destes princípios. Desta maneira, os autores destacam que o

desenvolvimento futuro da P+L nas PME’s do Brasil requer medidas de

divulgação e educação acerca dos princípios da sustentabilidade e seus

benefícios, treinamento de recursos humanos, adequação de procedimentos à

realidade das pequenas empresas, quebra de barreiras de ordem cultural e

incentivos por parte das instituições financiadoras.

5.2 Associativismo

Ao abordarem o fenômeno da globalização e a substituição do tradicional

modelo de produção taylorista-fordista pelo sistema de especialização flexível e

terceirização de processos produtivos, Casarotto Filho & Pires (2001), assinalam

que a competição global não implica tanto em competir individualmente com seu

produto no mercado. Trata-se de uma competição entre sistemas locais, que se

relacionam abertamente com o mundo. Amato Neto (2000), por sua vez, salienta

que as grandes empresas precisam estar apoiadas numa base industrial de

PME’s altamente dinâmicas, de forma a garantir a competitividade do sistema.

Entretanto, o autor diz que é possível constatar que nem todas as empresas de

pequeno ou médio portes têm condições de modernizar-se o suficiente para

sobreviver e competir neste novo contexto da economia.

Lucchi (In: CASAROTTO FILHO & PIRES, 2001) destaca que a pequena

empresa, operando de modo individualizado, não pode mais servir como um

modelo empresarial para o futuro. Assim sendo, ela deve, além de manter os

fatores de sucesso experimentados e utilizados até agora, dar um salto de

qualidade, equipando-se para funcionar num sistema local aberto e investindo em

velocidade e capacidade de resposta aos desafios que este sistema lhe impõe.

Este autor defende que a “auto-formação” ou a “auto-pesquisa” não são mais

suficientes para garantir a sobrevivência das PME’s, sendo necessário que elas

se tornem parte de um sistema, uma rede baseada em relações e comunicações,

sustentada por valores e intenções. Desta forma, é possível potencializar recursos

como conhecimento, experimentação, relacionamento, sistemas logísticos e

comunicativos e garantia financeira, o que permite aumentar a velocidade de

95

reação e a inovação contínua.

No presente trabalho, já se abordou suficientemente a questão da

formação de redes de subcontratação e as relações assimétricas comumente

encontradas quando as PME’s terceirizadas encontram-se dependentes

exclusivamente de um, ou poucos, grandes clientes institucionais. No entanto,

como indicam Moniz e Kóvacs (2001), há várias formas estruturais para as

organizações em rede. Da mesma maneira, o relacionamento entre as empresas

que compõe uma rede pode tomar diversas formas, desde a cooperação baseada

na parceria até a dependência baseada na dominação. Assim sendo, podem-se

encontrar desde empresas subcontratadas completamente dependentes, fato

comum na indústria automobilística, até empresas que exercem o papel de

subcontratadas, mas que direcionam suas capacidades produtivas para mercados

alternativos (MONIZ e KÓVACS, 2001).

Desta forma, estes autores destacam que a idéia básica da organização

em rede consiste na divisão do trabalho entre distintas empresas que se

especializam em determinadas fases da cadeia produtiva, sendo que tal estrutura

pode perfeitamente surgir de uma cooperação entre PME’s, tanto quanto as redes

de terceirização anteriormente abordadas. Segundo estes autores, a empresa em

forma de rede pode constituir um espaço amplo para a inovação tecnológica e a

reorganização do trabalho, desde que funcione segundo a lógica da cooperação e

da autonomia, com uma divisão equilibrada do trabalho entre os participantes da

rede.

Amato Neto (2000) cita como exemplos bem-sucedidos deste tipo de

arranjo em rede os distritos industriais da chamada “Terceira Itália”, os sistemas

produtivos locais na França, na Alemanha e no Reino Unido, o Vale do Silício nos

EUA e as redes de empresas no Japão, na Coréia e em Taiwan.

Moniz e Kóvacs (2001) também apontam a experiência da “Terceira Itália”

como um bom exemplo de relações simétricas entre pequenas empresas. Neste

caso, nota-se uma acentuada divisão de trabalho e especialização entre as

pequenas empresas, as quais são autônomas e cooperam entre si, sem

subordinação a grandes empresas. Os autores destacam as seguintes

características deste sistema:

− Grande flexibilidade e capacidade de inovação

96

− Qualificação da mão-de-obra baseada em tradições artesanais

− Homogeneidade cultural

− Caráter comunitário da vida social

− Fluidez na circulação das idéias e das informações

− Relações de trabalho flexíveis

− Elevada mobilidade social

− A existência de um conjunto de instituições de apoio e políticas públicas

altamente eficazes.

Casarotto Filho & Pires (2001) igualmente mencionam esta região italiana

da Emilia Romagna, na qual organizações associativas de pequenas e médias

empresas têm conseguido competir globalmente, garantindo qualidade de vida e

emprego: “essa região é talvez a mais empreendedora do mundo. São mais de

300 mil empresas para quatro milhões de habitantes, ou seja, uma empresa para

praticamente 13 habitantes” (p. 19). Os autores destacam a existência de um alto

grau de associativismo ou cooperação, “que faz com que pequenas empresas

associadas em consórcios tenham competitividade internacional e que a região

tenha uma renda per capita acima dos 25 mil dólares anuais, com

desenvolvimento sustentado” (p.19).

Amato Neto (2000) aborda as vantagens da cooperação interempresarial,

apontando que esta pode atender a uma série de necessidades das empresas, as

quais não teriam como fazê-lo caso atuassem de forma isolada. O autor menciona

as seguintes vantagens deste tipo de cooperação (p. 42):

− Combinar competências e utilizar know-how já desenvolvido por outras empresas;

− Dividir tanto os custos das pesquisas tecnológicas, como também os benefícios em termos de desenvolvimento e de conhecimentos adquiridos;

− Dividir riscos e custos ao explorar novas oportunidades e fazer experiências em conjunto;

− Tornar possível oferecer uma linha de produtos com qualidade e diversificação maiores;

− Aumentar a pressão sobre o mercado, e, conseqüentemente, a força competitiva;

− Compartilhar recursos, reduzindo ou eliminando a sub-utilização dos mesmos;

− Aumentar o poder de compra; − Fortalecer-se para poder enfrentar o mercado internacional.

97

Sierra (1995, apud AMATO NETO, 2000) aponta como uma das razões

para que empresas dinâmicas e competitivas adotem uma aliança estratégica é a

obtenção de “oportunidades nos negócios mundiais de meio ambiente: a gestão

do meio ambiente representa, de forma geral, uma das maiores oportunidades

para a indústria no futuro” (p. 46). Neste quadro, é oportuno indagar se as

vantagens do sistema em rede do tipo associativista/cooperativista não poderiam

consistir numa alternativa viável para a internalização das questões de cunho

socioambiental nas PME’s: afinal, as vantagens do sistema atendem às

necessidades destas empresas, especialmente no que tange à sua

vulnerabilidade, à falta de recursos financeiros, técnicos e de pessoal e ao baixo

poder de barganha.

A este propósito, a ENSR (2002) indica que um possível caminho para que

as PME’s dediquem maior atenção aos problemas ambientais e vençam algumas

das principais barreiras neste sentido consiste, justamente, na execução de

atividades em redes de empresas que se encontram em situações similares.

Destaca que existem poucas informações sobre a extensão de tais soluções

cooperativas, no entanto menciona alguns dados empíricos obtidos na Áustria,

sobre PME’s que desenvolvem conjuntamente atividades ambientais,

especialmente aquelas relativas à gestão de resíduos. Tais dados apontam como

principais vantagens os atrativos econômicos ligados à redução de custos e à

estabilidade no que toca à disposição final de resíduos. Ainda segundo a ENSR

(2002), há na Europa exemplos de soluções em rede iniciadas ou coordenadas

por órgãos públicos ou semi-públicos, em bases temporárias, com o objetivo de

sensibilizar e acompanhar as PME’s de determinadas regiões no que tange às

ações de cunho ambiental. Em outros casos, as próprias PME’s decidem

organizar-se de maneira a compartilhar os recursos existentes, com a finalidade

de economizá-los.

Tendo em vista esta possibilidade, é relevante abordar como um grupo de

PME’s brasileiras enfrentou e resolveu de maneira original um problema de ordem

ambiental. Segundo a Revista Química e Derivados (2003), no início da década

de 90, com a adoção do Projeto Tietê, o qual visava enquadrar as indústrias

responsáveis pelo lançamento de poluentes no rio, o cerco da CETESB

(Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) começou a fechar-se em

98

torno das empresas da indústria galvânica paulista. Os processos galvânicos, tais

como zincagem, cromeações, niquelações, etc. implicam na manipulação de

metais pesados e geram diversos tipos de resíduos perigosos. Naquela ocasião,

numa decisão radical, o governo estadual impôs uma meta inexeqüível para o

setor: parar de poluir em um mês. Tal imposição alarmou os gestores destas

empresas, tendo em vista que a maioria é composta por organizações de

pequeno e médio portes, as quais não tinham como atender à exigência. O

choque, no entanto, gerou um efeito positivo, pois provocou a união do setor para

a busca de soluções. O SINDISUPER (Sindicato da Indústria de Proteção,

Tratamento e Transformação de Superfície do Estado de São Paulo), o qual é

ligado à FIESP (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo), propôs esta

união e formou uma comissão especial, para discutir o tema e intermediar as

conversações com o poder executivo estadual. Como conseqüência, o prazo

original de adequação aos requisitos do Projeto Tietê foi prorrogado para dois

anos, período durante o qual as empresas representadas pelo sindicato

instalaram suas próprias ETE’s (Estações de Tratamento de Efluentes), com a

finalidade de não contaminar o rio.

De acordo com a Revista Química e Derivados (2003), a partir daí surgiu

outro problema, qual seja a destinação adequada dos resíduos sólidos que

integram a “torta”, ou “lodo galvânico” resultante dos processos das ETE’s,

resíduos estes classificados como perigosos, ou “classe 1”. Tendo em vista a

inviabilidade da incineração ou deposição em aterros específicos por razões

financeiras, num primeiro momento as empresas viram-se obrigadas a estocar os

lodos em galpões próprios, devidamente certificados quanto à sua estanqueidade.

A seguir, procuraram coletivamente uma solução definitiva para a questão: sob a

égide do sindicato setorial, quase 100 empresas do setor criaram, em 1994, a

Centralsuper, uma empresa concebida como central de tratamento para os

resíduos das empresas associadas. Esta, inicialmente, encarregou-se de estocar

os lodos das associadas, chegando a guardar quase 7 mil toneladas do produto.

Concomitantemente, a empresa buscou alternativas para sua destinação,

encontrando uma solução na forma de utilização destes resíduos como

micronutrientes pelas indústrias de fertilizantes da região de Catalão – GO, pois

tais empresas necessitam de metais na fabricação de seus produtos. À busca de

alternativas adicionais, a Centralsuper iniciou, com o apoio do IPT (Instituto de

99

Pesquisas Tecnológicas de São Paulo) e do SEBRAE, o desenvolvimento de um

forno a plasma térmico, com a finalidade de transformar em material inerte os

resíduos em questão. Segundo o IPT, o processo desenvolvido, mundialmente

inédito, opera em temperaturas elevadíssimas, da ordem de 15.000° C, e

“consegue tratar completamente o lodo, permitindo a recuperação de subprodutos

cerâmicos e férreos, ambos inertes, que podem ser aproveitados,

respectivamente, na construção civil e na siderurgia” (IPT, 2002, p. 15). O

equipamento pioneiro foi instalado na cidade de Resende – RJ, e é capaz de

processar 1 tonelada de lodo por hora. Também é possível tratar adequadamente

outros tipos de resíduos, tais como cinzas de incineração e areias de jateamento

e de fundição.

Atualmente, segundo dados veiculados pela própria Centralsuper em seu

sítio na internet, a empresa, além de encarregar-se da destinação adequada de

resíduos, possui:

[...] um centro de atendimento composto por profissionais altamente qualificados e equipamentos da mais alta tecnologia direcionados ao controle ambiental e a área ocupacional visando atender a todas as necessidades de seus Associados e Clientes, mantendo ainda parceiros com comprovada eficiência e idoneidade que desenvolvem serviços em áreas especializadas, estando absolutamente profissionalizada em seu amplo campo de atuação. (CENTRALSUPER, 2005).

Assim sendo, atua também na execução de análises laboratoriais (análise

de efluentes industriais, caracterização de resíduos sólidos, potabilidade de

águas, matérias-primas, banhos galvânicos, etc) e como despachante para

produtos controlados (obtenção de licenças da Polícia Federal, Polícia Civil,

Ministério do Exército e IBAMA), além de vender diversos insumos para a

indústria, tais como recipientes para acondicionamento de resíduos industriais,

insumos para laboratórios e equipamentos de proteção individual (CIESP, 2005 e

CENTRALSUPER, 2005).

O empreendimento acima mencionado, o qual foi criado como solução

emergencial e pontual, por um conjunto formado basicamente por pequenas e

médias empresas, acabou extrapolando sua função original, transformando-se

numa organização que atende não somente às demandas de suas empresas

100

fundadoras, mas também do mercado em geral. Trata-se de um interessante

exemplo, que revela as potencialidades do associativismo como alternativa viável

para o encaminhamento adequado das questões ambientais concernentes às

PME’s.

Deve-se destacar que o associativismo, sob a ótica da obtenção de

sinergia na utilização de recursos e capacidades, tanto financeiras, como

produtivas e cognitivas, pode representar uma alternativa viável não somente

para a internalização das questões de ordem ambiental nas PME’s, mas também

para o adequado tratamento dos aspectos relativos à saúde e segurança no

trabalho. O compartilhamento de conhecimentos e a divisão de gastos

relacionados à obtenção de equipamentos e treinamentos, bem como à

contratação de serviços de consultoria são apenas alguns dos aspectos

contemplados por esta opção.

Ao se considerar esta alternativa, no entanto, é preciso ter em

consideração que, conforme Casarotto Filho & Pires (2001), a questão cultural é

muito importante na adoção de soluções baseadas no associativismo, e está

ligada aos modelos de desenvolvimento regionais e às ações desenvolvidas pelas

associações patronais de pequenas empresas. Precisa-se abandonar a antiga

filosofia de “todos contra todos”, comumente encontrada entre as empresas de

portes semelhantes operando no mesmo setor econômico e região, e adotar uma

filosofia colaboracionista: Stamer et al. (apud CASAROTTO FILHO & PIRES,

2001) dizem que a cooperação implica em abandonar o individualismo, saber

tolerar e ceder e aceitar o concorrente como um semelhante. Sob esta

perspectiva, a questão do relacionamento entre as empresas de uma determinada

região ou setor consiste num fator-chave para o êxito ou o fracasso deste

processo.

Segundo Amato Neto (2000), é necessário destacar um fator que poderia

ser considerado uma séria barreira para a criação e o desenvolvimento de redes

de cooperação:

Tal fator refere-se à cultura empresarial predominante que poderia ser caracterizada, ainda que de forma bastante simplista, por um comportamento empresarial individualista, de perspectivas de curto prazo e de lucros imediatos, e de grande desconfiança com relação ao estabelecimento de alianças estratégicas, parcerias ou de outros tipos e associações interempresariais (AMATO NETO,

101

2000, p. 149).

Constata-se, portanto, que a questão cultural (e o conseqüente

relacionamento interempresarial), pode representar tanto uma importante barreira

como um elemento facilitador para a utilização da alternativa associativista como

solução para as fragilidades das PME’s em relação à dimensão socioambiental de

seus negócios.

Também é conveniente frisar que a criação da Centralsuper, como

resposta coletiva para um desafio de ordem ambiental, consistiu numa solução de

cunho eminentemente reativo num primeiro momento, a qual ao longo do tempo

acabou propiciando a adoção de novas ações de cunho pró-ativo. Coloca-se,

neste caso, a questão da necessidade de ações de ordem pró-ativa, que não

apenas respondam a demandas urgentes e pontuais, mas que estejam focadas

na implementação de estratégias que conduzam à sustentabilidade dos negócios.

Neste aspecto, nota-se que os sindicatos e demais organizações patronais têm

um importante papel a desempenhar.

5.3 Grandes empresas como indutoras e apoiadoras

Mantendo em vista a situação das PME’s que atuam como empresas

terceirizadas numa cadeia de fornecimento ou rede de subcontratação, e o fato de

que o presente trabalho já apontou as exigências dos clientes como uma das

razões para a adoção de ações de caráter ambiental por parte das PME’s,

pretende-se discutir de que maneira as grandes empresas podem contribuir para

viabilizar o adequado tratamento das questões de ordem socioambiental pelas

empresas menores.

A questão do relacionamento entre as pequenas e as grandes

organizações no contexto da terceirização também já foi abordada, constatando-

se que, freqüentemente, tal relacionamento é fortemente marcado pela

desigualdade. Segundo Moniz e Kóvacs (2001), as PME’s muitas vezes

encontram-se numa relação de dependência de tipo feudal, arcando com os

custos da flexibilidade oferecida por este modelo produtivo às grandes empresas.

102

Segundo Kuhndt et al. (2003), no entanto, a relação estabelecida entre as

empresas de grande porte e as de pequeno porte não precisa ser sempre

negativa para as organizações menores. Abordando as cadeias de fornecimento,

estes autores mencionam que os grandes clientes corporativos cada vez mais

requerem que seus fornecedores adotem práticas adequadas em termos

ambientais e de segurança. Esta tendência é reforçada pelo próprio ambiente de

mudança nos mercados e na preferência dos consumidores, bem como pela

internacionalização dos conjuntos de normas. Segundo estes autores, aquelas

empresas que representam os elementos maiores nas cadeias de suprimentos

parecem ser um grupo de interesse que exerce crescente influência sobre a

adoção de práticas de responsabilidade sócio-ambiental por parte das pequenas

e médias empresas. Estes parceiros de grande porte poderiam oferecer suporte

metodológico aos menores, tanto no que tange à elaboração de conjuntos de

indicadores e sistemas de medição, como também promovendo o diálogo com

diferentes stakeholders de sua rede de relacionamentos e buscando aperfeiçoar

os canais de comunicação já existentes, de maneira a tornar mais fácil a

compreensão das necessidades e características de negócios específicas dos

parceiros. Os autores vão mais longe, propondo que as grandes empresas

adotem programas de premiação por melhorias no desempenho corporativo de

seus fornecedores, eventualmente auxiliando-os com incentivos financeiros,

suporte gerencial e outros mecanismos destinados ao desenvolvimento das

pequenas empresas e da gestão da cadeia de suprimentos.

Neste sentido, Amato Neto (2000) aborda o caso da indústria automotiva

japonesa, a qual utiliza a estratégia do diálogo com os fornecedores, resultando

num sistema de subcontratação cooperativo, essencial para o bom funcionamento

do método just in time e contribuindo para a redução dos riscos de investimentos.

Segundo o autor, neste sistema de subcontratação, as grandes montadoras e as

pequenas empresas fornecedoras de autopeças, em conjunto, desenvolvem

novos projetos e/ou aperfeiçoam produtos e peças já existentes. Ocorre a

cooperação entre as empresas, a qual inclui auxílio técnico, utilização em comum

de laboratórios, pessoal, equipamentos para testes, etc. e até mesmo auxílio

financeiro da grande empresa para as pequenas e médias.

Letícia Costa, presidente da consultoria Booz Allen Hamilton, em seminário

sobre o setor automotivo, apontou o sistema desenvolvido pela Toyota como

103

solução para a tensão crescente existente entre as montadoras brasileiras e seus

fornecedores, oriunda da pressão por preços baixos. Tal sistema igualmente

busca custos menores, mas associa uma série de outros pontos. Sendo focado

na eliminação de desperdícios, considera o lucro do fornecedor como um fator

indicativo de sua excelência. Os custos e qualidade são avaliados sob a

perspectiva do ciclo de vida. Sob esta perspectiva, a melhoria dos custos é que

deve conduzir a preços menores, sendo que o desperdício é encarado como um

fator limitador nas negociações e valor adicional nas transações. O sistema

também concentra as compras num pequeno número de fornecedores e enfatiza

o aprendizado constante, buscando construir parcerias de longo prazo (HUNOFF,

2005).

Segundo Kranz (2003), a BASF, um gigante da indústria química mundial,

oferece um interessante exemplo de práticas adotadas por uma empresa de

grande porte, no sentido de estimular a atuação responsável de seus

fornecedores em relação ao meio ambiente, segurança e saúde no trabalho. Esta

empresa produz e comercializa em escala global mais de 8.000 produtos

diferentes, para clientes de 170 países. De forma a reduzir os impactos da

produção, transporte, distribuição, uso e disposição final de seus produtos sobre

as pessoas e o meio ambiente, a BASF adota métodos de trabalho que não

somente atendem a diferentes normas internacionais, mas que também estão

inseridos num sistema de gestão ambiental que extrapola os limites físicos de

suas fábricas. Estes métodos estão baseados nos princípios do Responsible

Care, uma iniciativa lançada pela indústria química canadense nos anos 80 do

século passado. Pouco tempo depois, esta acabou sendo adotada também pelo

ICCA (International Council of Chemical Associations), transformando-se num

programa disseminado por indústrias deste setor em todo o mundo. De forma

sintética, pode-se dizer que o Responsible Care é um programa de melhoria

contínua do desempenho nos quesitos ambiental, de saúde e segurança no

trabalho deste ramo industrial (DEMAJOROVIC, 2003).

Ainda segundo Kranz, a BASF engajou-se nesta iniciativa da indústria

química mundial há bastante tempo, dedicando sua atenção primeiramente às

suas próprias operações. Tal atenção resultou na instalação de estações de

tratamento de água, sistemas de filtragem, estações de geração de energia

altamente eficientes, redução de emissões de CO2 e adoção de programas de

104

segurança ocupacional que reduziram as taxas de acidentes no local de trabalho.

Já foi mencionado que os princípios do Responsible Care adotados pela

BASF foram estendidos para além dos limites exclusivos de suas plantas fabris e

de seu quadro de funcionários. Desta forma, esta empresa adota tais princípios

também em seu relacionamento com empresas de logística, empregados de

empresas prestadoras de serviços que atuam nas fábricas da BASF e

fornecedores de insumos. Segundo a autora, a princípio a empresa deixa a cargo

de seus parceiros de negócios a definição das normas e procedimentos que

deverão ser adotados por eles. No entanto, utiliza diferentes ferramentas que

visam promover o atendimento ao seu próprio conjunto de requisitos.

No que tange aos fornecedores de serviços de logística (leia-se transporte

de produtos), a BASF utiliza-se do SQAS (Safety and Quality Assessment

System), sistema criado pelas indústrias químicas para avaliar o desempenho de

fornecedores de serviços em relação à segurança e qualidade, e que é

considerado um elemento-chave do Responsible Care. Neste sistema,

encontram-se informações sobre os sistemas de gestão, treinamento, tempos de

resposta em caso de emergência, equipamentos veiculares e outros dados sobre

as empresas prestadoras de serviços. Com base nestas informações, a BASF

escolhe somente aqueles fornecedores que atendem às suas exigências.

Quanto aos trabalhadores de empresas prestadoras de serviços que atuam

em suas plantas industriais, executando serviços de manutenção, instalação e

transportes, somam aproximadamente 4.000 pessoas, contando-se somente

aqueles que trabalham na sua matriz em Ludwigshafen - Alemanha. Todos estes

trabalhadores são funcionários de PME’s. De maneira a promover práticas de

trabalho mais seguras junto aos mesmos, a BASF passou a adotar um sistema de

bônus. Nos contratos celebrados com as empresas prestadoras de serviços,

estabelece-se um bônus pela adoção de práticas de trabalho seguras. O

desrespeito às normas de segurança da contratante, bem como a demonstração

de índices de segurança insatisfatórios, fazem com que se retirem determinadas

porcentagens deste bônus, a título de penalidade. Como exemplo, a autora

menciona que a não-utilização de luvas de proteção ocasiona um desconto de

2,5% , enquanto que acidentes com período de afastamento superior a três dias

levam a uma perda de 30% do bônus. Desta forma, a BASF acredita que poderá

atingir a meta de “zero acidentes” que se propôs para 2010, ao mesmo tempo em

105

que promoverá a melhoria dos índices de segurança e saúde de seus parceiros

de negócios.

No que toca ao fornecimento de insumos, é pertinente destacar que, no

ano de 2002, a BASF adquiriu mais de 10.000 diferentes matérias-primas, de

aproximadamente 5.000 fornecedores ao redor do mundo. Kranz aponta, também,

que a parcela de insumos adquirida de países não-pertencentes à OCDE

(Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico) tem

aumentado, refletindo principalmente o crescimento econômico dos países da

Ásia. Além de avaliar critérios referentes a preço, qualidade e confiabilidade de

fornecimento, também são considerados aspectos concernentes a questões

ambientais, de segurança e saúde dos fornecedores. O departamento de compras

da BASF analisa, também, os riscos associados a cada produto e fornecedor,

tendo sido elaborada uma matriz com este propósito:

Quadro 1: Matriz de Segurança para Fornecimento de Matérias-Primas

Risco do Fornecedor

1 2 3

A Região Segura 1 Região Segura 1 Região Segura 2

B Região Segura 1 Região Segura 2 Risco pequeno

Ris

co d

o P

rodu

to

C Região Segura 2 Risco pequeno Risco potencialmente elevado

Fonte: Kranz, 2003, p. 25

As substâncias adquiridas são colocadas nesta matriz segundo uma das

três categorias de risco, de acordo com suas características de segurança em

relação ao meio ambiente, aspectos toxicológicos e de segurança, sendo

classificadas como “A” as de menor risco, e como “C” as de risco mais alto. Desta

forma, cloreto de sódio (sal de cozinha) seria classificado como “A”, etanol (álcool

encontrado em bebidas) como “B” e metanol (tipo altamente tóxico de álcool)

como “C”. Por outro lado, os fornecedores são preliminarmente classificados por

estarem ou não instalados em países pertencentes à OCDE, pois se considera

que o risco de não-atendimento às normas ambientais e de segurança é

provavelmente maior nos países de fora da OCDE. Aquelas combinações de

insumo/fornecedor classificadas como C3 são consideradas como sendo de risco

potencialmente elevado, e são auditadas pelo pessoal de compras e especialistas

106

na área de meio ambiente, segurança e saúde no trabalho, de forma a verificar se

o fornecedor atende aos requisitos do Responsible Care. Em caso afirmativo, o

mesmo passa a ser classificado na categoria C2, o que permite que se adquira

seus produtos.

Kranz menciona que a BASF, visando manter um relacionamento honesto

e duradouro com seus parceiros de negócios, desenvolve planos de ações

corretivas conjuntas para auxiliar aqueles fornecedores que eventualmente

deixarem de atender aos seus requisitos. Uma vez sanados os problemas, os

mesmos voltam a fornecer normalmente à empresa. Da mesma forma, a BASF

busca convencer seus fornecedores que o atendimento às normas internacionais,

além de ser essencial, também representa benefícios para eles. Esta empresa

considera tais ações como parte de sua gestão de riscos, além de representar

uma vantagem competitiva. Tendo em vista que muitos dos seus parceiros de

negócios são pequenas e médias empresas, considera que sua atuação auxilia o

desenvolvimento do setor e a disseminação das boas práticas relativas ao meio

ambiente, à segurança e à saúde no trabalho. Em suma, a BASF parece

corresponder às premissas de Kuhndt et al. (2003), mencionadas anteriormente

no presente trabalho, e atua como elemento indutor da melhoria do tratamento

dado pelas PME’s às questões socioambientais.

A publicação Industry and Environment (2003) menciona que, por diversas

vezes, as grandes corporações percebem que suas normas não podem ser

simplesmente impostas às empresas menores. Desta forma, indica que estão

sendo desenvolvidas novas abordagens, baseadas em educação e consultoria,

algumas delas com a cooperação governamental. Uma destas abordagens foi

implementada nos EUA no início de 2003 pela General Motors e os fornecedores

de autopeças: trata-se da Suppliers Partnership for the Environment, um fórum

onde as empresas podem compartilhar as melhores práticas ambientais

encontradas acima e abaixo da cadeia de suprimentos. Quando a GM e a EPA

(Environmental Protection Agency – agência ambiental norte-americana)

anunciaram esta iniciativa, sublinharam que ela havia sido especialmente

concebida com vistas a beneficiar as empresas menores das cadeias de

suprimentos. No entanto, o sítio da Suppliers Partnership for the Environment na

internet não especifica ações concretas realizadas pelas grandes empresas em

relação à melhoria do relacionamento das PME’s com o meio ambiente: limita-se

107

a destacar a disponibilização de experiências de êxito dos associados, bem como

de informações técnicas abordando a atividade empresarial e o meio ambiente.

Tampouco oferece informações acerca da participação das PME’s na iniciativa,

sendo que na página da internet dá-se destaque apenas a associados que

representam algumas das maiores empresas montadoras e fornecedoras de

peças e subsistemas em nível mundial. Atualmente, a Suppliers Partnership for

the Environment desenvolve programas nas seguintes direções (SP, 2006):

− Desenvolvimento de novos tipos de embalagens, visando a redução dos

custos e impactos ambientais a elas relacionados.

− Desenvolvimento de um método padronizado para medição de progressos

relativos ao desempenho ambiental.

− Desenvolvimento e realização de workshops em conjunto com a EPA e

destinados às PME’s, com o objetivo de auxiliá-las a integrar a dimensão

ambiental nos seus processos produtivos.

− Realização de discussões visando o desenvolvimento de produtos

sustentáveis, com ênfase na reutilização e reciclagem.

Ainda no que diz respeito à transferência de conhecimentos e prestação de

apoio por parte das grandes empresas às pequenas, nota-se que tal prática ainda

tem um longo caminho a percorrer. Sbragia (2003), baseado em seu trabalho

sobre a transferência de conhecimentos das empresas multinacionais para seus

fornecedores no Brasil, declara que o perfil das práticas pesquisadas demonstra

que a transferência efetiva de conhecimentos mostra-se incipiente tanto em

diversidade como em intensidade. Encontra-se uma pequena exceção apenas no

que toca a alguns conhecimentos técnicos relativos ao controle da qualidade dos

itens fornecidos. O autor conclui que as práticas para transferência de

conhecimentos das multinacionais e suas subsidiárias para seus fornecedores

brasileiros teriam ainda que receber muitos aprimoramentos, para que pudessem

contribuir efetivamente para a inserção destes fornecedores locais em suas

cadeias produtivas.

Pelo exposto, nota-se que pode haver uma certa dose de hipocrisia nas

medidas alardeadas pelas grandes empresas no sentido de auxiliarem os

menores componentes de sua cadeia de fornecimento a tratarem adequadamente

108

a questão ambiental em seus processos produtivos. Mesmo no caso da BASF

apontado por Kranz (2003), seria interessante buscar subsídios que permitissem

averiguar se a atuação desta grande empresa é realmente co-responsável ou se,

na verdade, seu relacionamento com os pequenos fornecedores reveste um

sistema meramente punitivo. Também permanece sujeito a averiguação, se os

critérios adotados pela Matriz, na Alemanha, são válidos também para suas

subsidiárias instaladas nos países em desenvolvimento.

A questão da assimetria entre as empresas contratantes e as terceirizadas

exerce, portanto, um papel de peso. A viabilização de um sistema de

relacionamento simétrico e colaborativo depende, em grande parte, da forma

como as grandes empresas encaram seus fornecedores, sob a perspectiva de

fatores de competitividade. Caso considerem o desenvolvimento de um conjunto

de PME’s parceiras, flexíveis, tecnicamente atualizadas, financeiramente

saudáveis, gerencialmente adequadas e sócio-ambientalmente responsáveis

como um elemento importante para elevar sua própria competitividade no

mercado global, as grandes empresas certamente desenvolverão mecanismos

concretos de apoio para os pequenos parceiros da rede.

A discussão acerca da maneira como as PME’s trabalham a dimensão

socioambiental de seus negócios no contexto da terceirização, bem como a

análise de suas correspondentes fragilidades e alternativas, com base nos dados

disponíveis na bibliografia, revela a conveniência da realização de um estudo de

caso. Tal conveniência apóia-se no fato de que há poucos dados empíricos que

permitam confirmar a hipótese formulada, qual seja a transferência, via

terceirização de processos produtivos, dos riscos socioambientais para as

pequenas empresas, as quais acabam externalizando-os, em prejuízo da

sociedade. Tendo em vista o pequeno número de empresas analisadas,

concentradas num setor de atividade específico, o estudo de caso realizado neste

trabalho não poderia pretender confirmar ou refutar a hipótese. No entanto, por

basear-se em dados reais, pode apresentar indícios de que a realidade condiz, ou

não, com as informações colhidas na bibliografia consultada, contribuindo para

lançar novas luzes sobre o estudo das PME’s.

109

6. AS PEQUENAS INDÚSTRIAS ESTUDADAS E SEU

POSICIONAMENTO SOCIOAMBIENTAL

No presente capítulo, procede-se à descrição das atividades exercidas

pelas empresas entrevistadas na realização do estudo de caso, fornecendo

informações acerca de sua estrutura, posicionamento mercadológico,

relacionamento com seus fornecedores e clientes, dificuldades e fragilidades e,

por fim, analisando sua situação frente à dimensão socioambiental de seus

negócios.

As quatro empresas estudadas consistem em pequenas indústrias, de

acordo com os critérios de faturamento anual bruto adotados pelo BNDES e de

número de pessoas ocupadas, conforme o SEBRAE/IBGE. Assim sendo,

apresentam uma receita operacional bruta anual ou anualizada entre R$

1.200.000,00 e R$ 10.500.000,00, e possuem de 20 a 99 funcionários.

Todas trabalham como terceirizadas para grandes organizações,

fornecendo-lhes itens específicos, de acordo com as determinações destes

clientes. Fabricam produtos metálicos, utilizando como matéria-prima ligas de

metais ferrosos e não-ferrosos, na forma de arame, barra ou fita, materiais estes

que são trabalhados tanto com a utilização de processos de usinagem por

remoção de material (torneamento, fresagem, retificação, etc.), como por

conformação mecânica (prensagem, enrolamento, dobra, etc.). Também são

utilizados procedimentos de tratamento térmico (têmpera e revenimento) e

tratamento superficial (zincagem, fosfatização, cromeação), de acordo com a

especialidade de cada empresa.

Os processos mencionados envolvem diversos riscos de ordem laboral,

seja pela manipulação de máquinas e equipamentos diversos, seja pela

movimentação de peças e dispositivos pesados, ou pela exposição a ruídos e

vibrações, partículas em suspensão, emissões gasosas, lubrificantes, produtos

químicos (tais como desengraxantes), metais pesados e outros. As atividades

desenvolvidas por estas empresas também apresentam vários aspectos e

impactos de ordem ambiental, relacionados, por exemplo, ao consumo de energia

elétrica, água, matérias-primas e recursos naturais, combustíveis e lubrificantes,

110

produtos químicos, geração de resíduos sólidos e efluentes líquidos, emissões

gasosas e de ruídos, entre outros.

Com base no exposto nota-se que, apesar de não apresentarem riscos

socioambientais comparáveis em magnitude àqueles das indústrias químicas, por

exemplo, as pequenas indústrias do setor metal-mecânico exercem diversas

atividades, especialmente aquelas ligadas direta ou indiretamente à produção,

que necessitam ser devidamente contempladas, de maneira a não afetar

negativamente as condições de saúde de seus funcionários e das comunidades

vizinhas, bem como o meio ambiente como um todo.

Sendo assim, procede-se a seguir à descrição individual de cada uma das

quatro empresas estudas no presente estudo de caso.

6.1 A Empresa “A”

A empresa “A” localiza-se no interior do estado de São Paulo. Foi fundada

em 1999, possui 30 funcionários e apresenta um faturamento anual bruto

aproximado de R$ 1,5 milhão.

Dedica-se exclusivamente à produção de molas sob encomenda, mais

especificamente molas de torção, tração e compressão, feitas de arame de aço

com alto teor de carbono e diâmetro variando entre 0,2mm e 18mm. Também

produz, em escala menor, molas, presilhas e outras peças de pequeno porte a

partir de fita de aço. Utiliza processos de enrolamento, dobra, prensagem,

retificação, endireitamento, pintura e tratamento térmico (revenimento).

A administração é exercida pelos dois sócios, os quais abriram a empresa

quando a organização na qual trabalhavam, e que atuava no mesmo ramo de

negócios, faliu. A formação de ambos é essencialmente prática, baseada em

vários anos de experiência no setor. Para gerir a empresa, contam com o auxílio

de empresas prestadoras de serviços de consultoria nas áreas contábil,

trabalhista e outras. O questionário foi respondido pelo sócio responsável pela

produção.

Uma característica marcante desta empresa é o interesse que os sócios

demonstram por novas tecnologias de processo, tendências de gestão e

111

atualização em geral. A entrevista foi encarada como uma forma de avaliar qual

seria o estágio evolutivo de sua empresa em relação às expectativas e tendências

de mercado voltadas à questão da sustentabilidade, sendo que o entrevistado

demonstrou vivo interesse em relação ao tema. Nota-se uma grande preocupação

em dotar a empresa de condições competitivas diferenciadas, o que se reflete na

organização e asseio dominantes nas instalações, e na existência de alguns

equipamentos de valor relativamente elevado para o seu porte, concentrados na

área de controle da qualidade.

Sua carteira de clientes é composta por diversas empresas do ramo

metalúrgico, com atividades tão variadas como a fabricação de implementos

agrícolas e de material odontológico, as quais utilizam os componentes

produzidos pela empresa “A” em seus produtos.

Os principais fornecedores da empresa “A” são distribuidores de arames de

aço, tendo em vista que a mesma ainda não possui um volume de consumo tão

alto que a permita negociar diretamente com as usinas fabricantes. Como o

mercado produtivo brasileiro deste tipo de matéria-prima é altamente

concentrado, a margem de negociação com estes fornecedores é muito pequena.

Os concorrentes são principalmente empresas de porte semelhante,

localizadas basicamente na mesma região geográfica. Nota-se que existe uma

constante “guerra de preços” entre os concorrentes, sendo que alguns, segundo

informações do entrevistado, utilizam-se de meios ilícitos para conseguir as

encomendas: estes recorrem à realização de negócios sem emissão de nota

fiscal, ou à utilização de mão-de-obra informal, visando reduzir a influência do

peso dos tributos e dos custos trabalhistas no preço do produto.

A empresa “A” ainda não possui um sistema de gestão da qualidade

certificado, nos moldes da norma ISO 9000. A intenção dos sócios é dotá-la

primeiramente de estrutura e filosofia de trabalho coerentes com a adoção de tal

sistema, para somente então iniciar o correspondente processo de

implementação e certificação. Os proprietários são da opinião de que diversas

empresas certificadas o são apenas “no papel”, e visam suprir somente uma

exigência formal de mercado, sem conseguir atender realmente às demandas por

garantia da qualidade. Desta forma, a empresa “A” privilegia a adoção de critérios

administrativos e produtivos que enfoquem a qualidade, de tal maneira que a

futura implementação de um sistema de garantia da qualidade encontrará um

112

ambiente preparado para tal. Tendo em vista a escassez de recursos financeiros,

acreditam que esta atitude terá a vantagem de reduzir os custos relacionados à

utilização de serviços de consultoria visando à certificação, bem como o tempo

necessário para tanto.

De acordo com o entrevistado, os principais problemas enfrentados pela

empresa “A” são os seguintes:

− Elevada taxa de juros: a empresa conta com escasso capital próprio e a taxa

de juros é um fator que limita muito sua capacidade de desenvolvimento, por

tornar proibitiva a utilização de capital de terceiros;

− Elevada tributação;

− Falta de incentivo governamental para as pequenas empresas;

− Concorrência desleal;

− Margem de lucro muito estreita;

− Falta de mão-de-obra capacitada. Neste aspecto, o empreendedor queixou-se

não apenas da falta de preparo profissional dos trabalhadores, mas apontou

também que reina entre os mesmos uma mentalidade retrógrada e

paternalista, freqüentemente avessa à colaboração e ao trabalho em equipe.

Abordando especificamente a relação com as empresas contratantes no

regime de terceirização, o entrevistado indicou que seus clientes concentram suas

exigências, em ordem decrescente, nos seguintes critérios:

− Condições de preço e atendimento;

− Qualidade;

− Condições de prazo e confiabilidade de fornecimento, bem como tecnologia e

equipamentos utilizados na produção, visando a garantia da qualidade.

Segundo ele, não são comuns indagações acerca do cumprimento das

legislações relativas à SSO e ao meio ambiente. No entanto, informou ser visitado

ocasionalmente por representantes de algumas empresas de grande porte, os

quais demonstram interesse pela documentação legal relacionada à SSO, bem

como pelas condições de trabalho existentes em sua organização. No que diz

113

respeito ao meio ambiente, a preocupação das grandes empresas concentra-se

na existência de licenciamento ambiental.

No que tange aos principais problemas enfrentados por sua empresa no

relacionamento com as empresas contratantes no regime de terceirização, o

entrevistado destacou que o principal é o excesso de exigências por parte dos

clientes, exigências estas nem sempre expressamente delineadas por ocasião da

colocação das encomendas. Outros problemas mencionados foram os seguintes:

− Pouco poder de barganha nas negociações;

− Falta de confiabilidade e fidelidade por parte dos clientes: apesar do grande

número de clientes, há elevada rotatividade e conseqüentemente ocorrem

excessivas oscilações no volume de produção;

− Comunicação deficiente e falta de informações;

− Falta de apoio técnico.

Com base nas informações prestadas, nota-se que a empresa carece de

recursos financeiros e cognitivos, e atua num mercado fortemente marcado pela

competição de preços, com baixo grau de fidelidade dos clientes. Cabe verificar

como estas características influenciam seu posicionamento em relação às

questões ambientais e de segurança e saúde ocupacional.

6.1.1 A Empresa “A” e a segurança e saúde no trabalho

O entrevistado informou que sua empresa não possui uma política ou

sistema formal para a gestão da segurança e saúde no trabalho. No entanto,

considera item primordial o cumprimento da legislação referente ao tema e busca

constantemente melhorar as condições de trabalho oferecidas aos seus

funcionários. Nota-se uma grande preocupação com a prevenção de acidentes de

trabalho, considerados como sendo um elemento altamente prejudicial à

produtividade. Esta atitude justifica-se especialmente devido ao quadro de

funcionários reduzido, no qual a falta de um deles reflete diretamente na

capacidade produtiva. Além disso, a existência de diversos maquinários

114

tecnologicamente ultrapassados e potencialmente perigosos faz com que não se

consiga substituir fácil e rapidamente um funcionário afastado.

A empresa “A” adota os seguintes procedimentos relacionados à gestão de

SSO:

− Identificação dos perigos e riscos e adoção de rotina para sua atualização;

− Medições e avaliações periódicas relacionadas aos perigos e riscos

identificados;

− Execução de treinamentos periódicos do pessoal;

− Programa de prevenção e tratamento para dependência de drogas e álcool.

Este programa foi implementado tendo em vista diversos problemas de ordem

operacional decorrentes do uso de bebidas alcoólicas por alguns funcionários.

A opção da empresa enfoca a recuperação de funcionários estrategicamente

importantes, devido à sua capacitação técnica.

Nota-se que os procedimentos adotados concentram-se nos requerimentos

legais. A adoção do programa para prevenção e tratamento de dependência de

drogas e álcool, que não consiste em obrigação legal, visa basicamente mitigar

problemas de produção, especialmente no que tange ao risco de acidentes e à

ameaça de redução da produtividade e da qualidade dos produtos fabricados.

Não se estabelecem objetivos e metas para SSO, como também não se realizam

exercícios físicos, combate ao estresse, pesquisas de opinião junto aos

funcionários, etc. É importante destacar, no entanto, que a empresa “A” esforça-

se por promover um ambiente de trabalho limpo e saudável, e, apesar de seu

pequeno porte, provê aos funcionários um confortável refeitório dotado de

equipamentos como TV e mesas de jogos para utilização na pausa do almoço.

No ano de 2005 não houve acidentes com afastamento, e em cada um dos

dois anos anteriores ocorreu apenas um acidente deste tipo. Em 2003, sucedeu o

único evento que resultou em mutilação, com afastamento permanente. Tal

evento está diretamente relacionado à elevada porcentagem de atividades

manuais envolvidas nos processos utilizados, para os quais a empresa, de

maneira geral, não conta com equipamentos tecnologicamente atualizados.

Devido à grande variedade e rotatividade de atividades, informou não haver tido

funcionários com problemas de LER (Lesão por Esforços Repetitivos).

115

Segundo o entrevistado, as principais dificuldades encontradas para

implementar ações de SSO concentram-se no alto nível de exigências da

legislação, escassez de recursos técnicos e financeiros próprios e, em menor

grau, na resistência dos funcionários quanto ao uso de EPI’s (Equipamento de

Proteção Individual) e à adoção de procedimentos seguros. Por último, destacou

que o preço dos EPI’s representa um custo considerável para uma empresa de

pequeno porte, como a sua, apesar de não ter realizado levantamento sobre o

impacto deste custo no seu faturamento.

Esta indústria utiliza-se dos serviços de uma empresa de consultoria para

tratar os assuntos relativos à SSO, a qual responsabiliza-se pela documentação e

procedimentos legais e pela instrução dos funcionários. O entrevistado informou

que jamais recebeu qualquer tipo de apoio por parte de instituições como

CNI/SENAI, SEBRAE ou órgãos governamentais para a identificação de soluções

relacionadas à SSO. Indagado se já buscou apoio, declarou ter contatado o

SEBRAE, o qual, no entanto, não correspondeu às suas expectativas, alegando

que esta instituição focaliza sua atenção no atendimento às microempresas. No

que diz respeito aos clientes, já se mencionou anteriormente que alguns

requerem a documentação pertinente e visitam a empresa para verificar as

condições de trabalho, no entanto não promovem qualquer trabalho conjunto

visando aperfeiçoá-las.

No que tange ao relacionamento com os órgãos de fiscalização, a empresa

jamais foi visitada por um fiscal do Ministério do Trabalho. Porém, o entrevistado

destacou que o sindicato dos trabalhadores desenvolve um papel de

acompanhamento das condições de trabalho e demais assuntos de ordem laboral

junto às empresas da região, requerendo inclusive cópias das atas das reuniões

da CIPA (Comissão Interna de Prevenção de Acidentes). Tal trabalho de

acompanhamento tem sido realizado de forma bastante colaborativa, não

havendo conflitos com a empresa.

Todas as soluções relacionadas à segurança e saúde no trabalho adotadas

pela empresa foram bancadas com recursos próprios e de forma paulatina, devido

à escassez dos mesmos. Concentram-se na instalação de dispositivos de

segurança nos equipamentos de produção e aquisição de EPI’s, além de medidas

visando aumentar o conforto dos trabalhadores. A empresa afirma que tais

soluções acarretam aumentos de custos, mas acredita que estes sejam

116

compensados pela melhoria da qualidade e da produtividade.

Segundo o entrevistado, os próximos investimentos relacionados à SSO

serão bancados com recursos próprios e, em maior parte, por financiamento

obtido junto a uma instituição financeira governamental. Tendo em vista a

necessidade de substituição de equipamentos antiquados e potencialmente

perigosos utilizados na produção, tais investimentos concentram-se na aquisição

de novas máquinas, em substituição às atuais. Também pretende-se automatizar

parte da produção, reduzindo os processos manuais e sua influência sobre a

qualidade final dos produtos. Nota-se que se busca primordialmente o aumento

de produtividade e de qualidade, com conseqüências benéficas indiretas para os

aspectos relacionados à SSO.

Este posicionamento confirma-se pela resposta do entrevistado sobre as

iniciativas governamentais que deveriam ser adotadas para auxiliar as empresas

como a sua a aperfeiçoarem suas práticas relacionadas à segurança e saúde no

trabalho: o mesmo opinou que deveria haver incentivos fiscais visando tanto

reduzir os custos para a aquisição de EPI’s como, principalmente, de máquinas

automáticas, que reduzam a exposição do trabalhador aos riscos inerentes aos

processos de fabricação.

6.1.2 A Empresa “A” e o meio ambiente

A empresa “A” não possui uma política ou sistema formal para a gestão

ambiental. O entrevistado defende que o setor produtivo em geral deveria

preocupar-se com as conseqüências ambientais de suas atividades antes de

poluir, no entanto frisou que a questão financeira é um grande empecilho para a

colocação em prática deste princípio. Mencionou que, apesar de procurar

promover um meio ambiente intra-empresa saudável para seu pessoal, acaba

transferindo poluentes para o meio ambiente externo, por não contar com

recursos financeiros ou cognitivos para evitá-lo.

Desta maneira, citou que as emissões sob a forma de partículas metálicas

e de material abrasivo, oriundas do processo de esmerilhamento das peças, são

devidamente coletadas por um sistema de aspiração e reunidas para posterior

117

descarte. Por outro lado, destacou que são lançados à atmosfera os vapores e

micropartículas oriundos da pintura das peças, bem como a fumaça do óleo

existente sobre as peças e que é queimado por ocasião do tratamento térmico

das mesmas. No que tange à pintura, seria necessária a aquisição de um sistema

de filtragem, para a qual ainda não se contam com recursos financeiros. Quanto à

fumaça, a empresa procura uma forma de remover a camada de óleo das peças

antes do tratamento térmico. Testes feitos com desengraxantes não resultaram

satisfatórios, pois acabou ocorrendo oxidação na superfície das peças. De

qualquer forma, o uso de tais produtos traria consigo a possibilidade de

contaminação do solo e da água, o que geraria gastos com a destinação

adequada dos resíduos. Assim sendo, tudo indica que a empresa optará por uma

solução tipo “fim-de-tubo”, com a colocação de um filtro. Tendo em vista que as

emissões não são contínuas e ocorrem em quantidades relativamente pequenas,

até o momento não houve queixas da vizinhança, ou cobrança por parte dos

órgãos fiscalizadores, o que contribui para postergar as medidas mitigadoras.

Continuando a abordar a questão da transferência de poluentes para o

ambiente externo, o entrevistado informou que um dos resíduos sólidos gerados é

estopa embebida em óleo, oriunda da limpeza das peças e equipamentos durante

o processo de produção. A empresa não conseguiu encontrar quem se

dispusesse a recolher este resíduo, que soma uma quantidade aproximada de

100kg/ano. Uma vez que não logra obter informações acerca da destinação

adequada a ser dada ao mesmo, descarta-o como lixo comum.

No que diz respeito aos procedimentos que poderiam ser considerados

como relacionados à gestão ambiental, realiza os seguintes:

− Disposição adequada de resíduos sólidos: especialmente sucata de aço, a

qual gera uma pequena receita;

− Reciclagem de sucatas, resíduos e refugos: na medida do possível, os

materiais restantes da produção de determinados itens são reutilizados na

produção de outros;

− Treinamentos de mão-de-obra: basicamente, realizados em conjunto com os

treinamentos relacionados à SSO.

Considerando os impactos ambientais causados por seus processos, a empresa

118

concentra-se nas exigências da legislação, focando sua ação preventiva naqueles

que oferecem risco à saúde dos funcionários. Não existe um plano de emergência

ambiental que relacione os processos que envolvem situações de risco, e

tampouco são realizados treinamentos neste sentido. Desta forma, o

derramamento acidental de substâncias como óleo e resíduos diversos nem

sequer é cogitado.

A empresa não adota procedimentos relacionados à redução do consumo

de energia e de água nos processos produtivos, exceção feita à instalação de

telhas transparentes para iluminação da fábrica, em curso à época da realização

da entrevista. Tampouco efetua qualquer tipo de controle sobre as emissões

líquidas ou gasosas. O controle de ruídos e vibrações é associado aos

procedimentos de SSO e realizado de acordo com a legislação correspondente.

As questões de cunho ambiental são tratadas basicamente como temas

internos, sendo que os únicos stakeholders externos envolvidos nas mesmas são

os órgãos fiscalizadores e, eventualmente, os clientes. Não se cogita promover

um relacionamento com a comunidade ou com instituições de preservação

ambiental, por exemplo.

O entrevistado tampouco encara a questão ambiental como um item a ser

incluído no planejamento estratégico, pois a principal preocupação da empresa

concentra-se na sobrevivência no curto prazo, nas questões de ordem gerencial e

financeira e nas necessidades de obtenção de maior competitividade via aumento

da eficiência. Desta forma, as preocupações de cunho ambiental são deixadas em

segundo plano, ou encaradas como uma obrigação legal a mais, apesar da

preocupação pessoal dos empreendedores em relação à necessidade de

preservação ambiental. Assim sendo, os procedimentos de preservação

ambiental são primordialmente encarados como custos adicionais do processo, e

somente merecem maior interesse quando oferecem possibilidades de ganhos via

aumento de produtividade ou redução de custos. As ações relacionadas ao

reaproveitamento de refugos, bem como à destinação correta de sucatas e

utilização de iluminação natural, as quais foram anteriormente citadas, refletem

esta abordagem eminentemente econômica.

Tal posicionamento é ilustrado pelos elementos apontados pelo

entrevistado como principais motivadores para a adoção de práticas de gestão

ambiental em sua empresa:

119

− Atendimento aos requisitos da legislação ou órgãos fiscalizadores;

− Estar em conformidade com a política social da empresa;

− Melhorar a imagem perante a sociedade.

Tendo em vista as já comentadas emissões atmosféricas da empresa, nota-se

uma postura reativa e de certa forma contraditória em relação ao último item: uma

vez que a sociedade (leia-se comunidade vizinha) até o momento não se queixou

das emissões atmosféricas da empresa, a solução será postergada até que se

disponha de recursos disponíveis para tanto.

Deve-se destacar que esta indústria não sofre qualquer pressão por parte

de seus clientes no sentido de adotar práticas de gestão ambiental. A

preocupação dos grandes clientes concentra-se na situação da empresa com

relação ao licenciamento ambiental. Segundo o entrevistado, seus clientes,

independentemente do porte, interessam-se pelo produto final, sua qualidade e

preço, e ocasionalmente pelos equipamentos utilizados no processo. Não há

interesse pelos “efeitos colaterais” do processo produtivo utilizado.

De acordo com a empresa, as principais dificuldades para implementar

ações voltadas à preservação ambiental concentram-se na falta de recursos

técnicos e financeiros, e na dificuldade em obter informações sobre as soluções

técnicas e seus respectivos custos. Da mesma forma como ocorre com as

questões relacionadas à saúde e segurança no trabalho, contrata os serviços de

uma empresa de consultoria e tampouco conta com apoio de órgãos

governamentais ou instituições como CNI/SENAI ou SEBRAE.

No que diz respeito ao relacionamento com os órgãos de fiscalização, a

empresa foi visitada uma única vez por um fiscal da CETESB, e isto por ocasião

de seu licenciamento. Naquela ocasião, o técnico daquele órgão apontou apenas

a necessidade de destinação adequada para a estopa embebida em óleo, sem,

contudo, indicar como esta deveria ser realizada. O entrevistado demonstrou-se

desconforme com este posicionamento do órgão ambiental, pois esperava que

este, ao invés de apenas apontar o problema, fosse capaz de indicar-lhe soluções

para o mesmo. Isto, no seu entender, demonstra despreparo técnico por parte do

poder fiscalizador. Tendo em vista que a empresa não conseguiu encontrar uma

alternativa adequada para a destinação correta deste resíduo, teme ser autuada

120

numa eventual visita da fiscalização. É oportuno destacar, ainda, que a empresa

de consultoria contratada tampouco soube orientar a empresa “A” sobre a correta

destinação da estopa contaminada com óleo. Por outro lado, é com alívio que o

entrevistado comentou que o fiscal não fez observações quanto às emissões

atmosféricas oriundas da pintura e do tratamento térmico.

Segundo a empresa, os próximos investimentos relacionados a ações de

preservação ambiental concentram-se basicamente na adoção de procedimentos

para reduzir perdas e refugos de materiais e de produto acabado. A aquisição de

equipamentos mais modernos, conforme já mencionado anteriormente, é fator

importante neste sentido, no entanto pretende-se também implementar alterações

de processos e realizar treinamentos neste sentido. A adoção de tecnologias para

tratamento e controle de emissões atmosféricas e a realização de treinamentos

especificamente voltados para a preservação ambiental são itens a serem

contemplados num futuro mais distante. Nota-se, uma vez mais, que se busca

primordialmente o aumento da eficiência e da qualidade, aliado à redução de

custos, o que acaba gerando conseqüências benéficas indiretas para os aspectos

relacionados ao meio ambiente.

Ao ser indagado sobre as iniciativas governamentais que deveriam ser

adotadas para incentivar as empresas a adotar práticas de gestão ambiental, o

entrevistado apontou as seguintes:

− Investir na capacidade técnica e administrativa dos órgãos ambientais,

capacitando-os não somente a fiscalizar, mas também a apontar soluções;

− Assessoramento às pequenas empresas, no sentido de identificarem

tecnologias e procedimentos ambientalmente adequados;

− Criar incentivos fiscais e linhas de crédito subsidiado para investimentos que

resultem em benefícios ambientais;

− Criar e divulgar um cadastro de empresas que adotam boas práticas

ambientais.

Analisando-se o posicionamento da empresa “A” em relação à dimensão

ambiental de seus negócios, torna-se patente que os empreendedores têm

consciência da necessidade de adoção de procedimentos de gestão ambiental,

no entanto a carência de recursos técnicos, cognitivos e financeiros impede a

121

devida adequação da empresa aos critérios de preservação ambiental.

6.1.3 A Empresa “A” e as alternativas para o compromisso socioambiental

Tendo em vista as limitações e fragilidades apresentadas pela pequena

indústria em questão, descreve-se a seguir a opinião do entrevistado sobre três

alternativas abordadas anteriormente no presente trabalho, as quais visam

auxiliar as pequenas organizações a tratar adequadamente as questões

socioambientais relacionadas às suas atividades. Tais alternativas são a adoção

dos princípios de Produção Mais Limpa (P+L), o associativismo entre pequenas

empresas e a ação de grandes empresas como indutoras e apoiadoras para o

desenvolvimento socioambiental das PME’s:

− Adoção dos princípios de P+L:

Os princípios de Produção Mais Limpa eram totalmente desconhecidos pelo

entrevistado, que demonstrou uma certa surpresa com o conceito de eco-

eficiência, devido à possibilidade de aplicá-lo de maneira a obter

simultaneamente ganhos de eficiência operacional e ambiental. Ao ser

informado sobre a existência de materiais informativos gratuitos a respeito do

tema, e da possibilidade de implantar soluções de eco-eficiência sem a

obrigatoriedade da contratação de pessoal externo especializado,

imediatamente solicitou que lhe fossem fornecidas informações a respeito. Na

sua opinião, a adoção dos conceitos de P+L implica numa mudança de cultura

organizacional, especialmente no que tange à aceitação, por parte do

pequeno empresário, do aumento da participação dos funcionários nos

assuntos de ordem gerencial. Para sua empresa, acredita que a principal

dificuldade neste sentido não seria a questão da participação, uma vez que a

mesma a está buscando, mas sim o baixo nível de instrução dos funcionários,

bem como a necessidade de abandonar velhos hábitos em prol de uma

análise dos processos produtivos focada na eco-eficiência.

− Associativismo entre pequenas empresas:

122

A empresa “A” já havia cogitado associar-se a outras empresas de mesmo

porte, visando, especialmente, o compartilhamento de recursos e

equipamentos. Chegou a iniciar um trabalho em conjunto com uma indústria

do ramo metal-mecânico atuante em outro setor, no entanto o mesmo não foi

adiante, pois a outra empresa tentou “roubar” um de seus funcionários. O

entrevistado acredita que, no Brasil, dificilmente poderia ocorrer um trabalho

de cooperação duradouro entre pequenas empresas, principalmente devido à

mentalidade, a seu ver, retrógrada e predatória reinante no meio empresarial.

− Grandes empresas como indutoras e apoiadoras:

O entrevistado acredita que as condições de mercado não permitiriam a

adoção deste tipo de ação por parte das grandes empresas. Tendo em vista a

constante pressão por redução de custos e a existência de muitos pequenos

fornecedores, a filosofia das grandes empresas tem sido e continuará sendo a

busca de parceiros de negócios que lhes forneçam os produtos a preços

acessíveis, não importando muito em que condições de segurança e saúde ou

ambientais. Declarou que seus grandes clientes sempre pregam a

necessidade de estabelecer parcerias, mas não colocam o discurso em

prática. Segundo ele, não hesitam em trocar de fornecedor por uma questão

de centavos no preço do produto, mesmo após anos de fornecimentos

confiáveis. Da mesma forma, destacou que nenhum deles demonstra

profundo interesse pelas condições de trabalho, instalações, equipamentos e

processos adotados por sua empresa: limitam-se a solicitar relatórios,

documentações ou, no máximo, a realizar uma breve visita às suas

instalações. Nestas, dedicam-se principalmente a verificar se não há

condições de trabalho absurdamente inadequadas, e em nenhum momento

tecem sugestões de melhoria.

6.1.4 A Empresa “A” e a questão socioambiental

Com base nas informações colhidas por ocasião da entrevista, é possível

realizar uma análise do posicionamento global desta empresa, tanto em relação

123

ao ambiente mercadológico na qual atua, bem como, principalmente, às questões

socioambientais relacionadas às suas atividades.

Nota-se que a empresa “A” atua num mercado altamente concorrido, e

conta com pouco poder de barganha junto aos seus fornecedores e clientes, num

cenário em que o preço é o principal fator competitivo. Nestas condições,

necessita concentrar-se permanentemente na busca de aumento de eficiência.

Sob este aspecto, caso logre adquirir equipamentos mais modernos, como

planeja, obterá benefícios marginais em termos socioambientais, tanto devido à

redução da exposição de seus trabalhadores aos riscos inerentes aos processos

produtivos, como também pela diminuição do índice de refugos e retrabalhos.

Neste quadro, é nítida a escassez de recursos financeiros, a qual, aliada à

carência de recursos técnicos e cognitivos, reflete negativamente sobre a atuação

da empresa em termos socioambientais. Se, por um lado, é grande a

preocupação com os aspectos relacionados à SSO, especialmente no que diz

respeito à prevenção de acidentes de trabalho, por outro lado, apesar da

preocupação dos empreendedores com o meio ambiente, a empresa vê-se

obrigada a relegar a segundo plano os aspectos eminentemente ambientais de

suas atividades e polui de maneira consciente, simplesmente por não dispor de

alternativas acessíveis. Desta maneira, os investimentos feitos em SSO ainda são

vistos como uma forma de evitar perdas de produção, enquanto os aspectos

ambientais são principalmente vistos como custos, e não como oportunidade.

Neste aspecto, é preciso questionar, também, a capacitação técnica das

empresas de consultoria que prestam serviços à entrevistada: a questão dos

resíduos em forma de estopa com óleo é um exemplo que conduz a tal

questionamento.

Quanto às grandes empresas que são clientes da empresa “A”, é evidente

que estas não se preocupam sobremaneira com os processos que são utilizados

para a fabricação dos produtos que adquirem, sendo que a questão de preço,

prazo e qualidade suplanta sobejamente qualquer interesse de ordem

socioambiental relativo às suas cadeias de fornecimento. Desta forma, a pressão

dos clientes não é, para a empresa analisada, um fator indutor para a adoção de

procedimentos de gestão socioambientais.

Sendo assim, quanto aos elementos que motivam a empresa a adotar

critérios de atuação sociambientalmente responsáveis, nota-se a influência

124

primordial que o atendimento à legislação exerce sobre a tomada de decisão. Isto,

apesar da escassa freqüência de controle por parte dos órgãos fiscalizadores,

compensada, em parte, pela atuação do sindicato dos trabalhadores no âmbito da

SSO.

Tendo em vista a situação encontrada na empresa “A”, constata-se que a

mesma está “parcialmente conforme” com os requisitos legais relacionados aos

aspectos socioambientais de suas atividades produtivas. A análise dos dados

coletados por ocasião da entrevista comprova as diversas fragilidades apontadas

durante o levantamento bibliográfico, as quais concentram-se basicamente nas

carências de ordem cognitiva e financeira. Dentre as alternativas propostas para o

desenvolvimento do compromisso socioambiental das pequenas empresas,

aparentemente a única que apresenta alguma viabilidade para esta empresa seria

a adoção dos critérios de Produção Mais Limpa.

6.2 A Empresa “B”

Esta empresa localiza-se no interior do estado de São Paulo. Existe há 5

anos, dá emprego a 42 pessoas e apresenta um faturamento anual bruto da

ordem de R$ 3,5 milhões.

A família proprietária já possuía outros negócios, no ramo agropecuário e

de distribuição de ferro e aço. Decidiu iniciar este empreendimento por insistência

de uma grande empresa, a qual é ligada à fabricação de aparelhos

eletrodomésticos e que buscava fornecedores de itens de arame para seus

produtos. Desta forma, a empresa “B” dedica-se à produção de itens aramados,

tais como cestos e prateleiras, feitos de arame de aço com baixo teor de carbono

e diâmetro variando entre 1,0 e 8,0mm. Mais de 80% da produção é destinada a

este grande cliente, sendo o restante composto por produtos de linha própria, a

qual é composta por utensílios domésticos para cuja fabricação também se utiliza

arame. Devido à existência de concorrentes bem estabelecidos no mercado de

utensílios domésticos, vem encontrando dificuldades para expandir esta linha de

produtos e, portanto, apresenta elevado grau de dependência em relação ao seu

maior cliente.

125

Os processos de fabricação utilizados são basicamente endireitamento e

corte de arame, conformação, prensagem, soldagem, montagem, pintura a pó

(eletrostática) e tratamento superficial (cromeação).

A administração é exercida pela família proprietária, a qual, além possuir

experiência em outros negócios, conta com o auxílio de jovens integrantes

dotados de capacitação gerencial formal. O questionário foi respondido pelo

diretor responsável pela administração geral da empresa, o qual é um destes

elementos da nova geração.

A empresa “B” destaca-se pela tendência de verticalização de processos,

visando basicamente concentrar o poder de influência sobre os custos ligados à

produção, bem como a responsabilidade pela produtividade e qualidade do

produto final. Esta filosofia é profundamente marcada pelo elevado nível de

exigências relacionadas à qualidade e durabilidade dos itens fornecidos ao seu

maior cliente, o qual requer que estes ofereçam uma durabilidade bastante

superior à garantia que concede aos seus próprios produtos. Desta forma, à

época da realização da entrevista, a empresa “B” acabava de colocar em

funcionamento uma unidade de tratamento superficial por processo galvânico,

visando responsabilizar-se pela qualidade da cromeação, que anteriormente era

realizada por uma outra empresa. Este tratamento superficial exerce influência

direta sobre a durabilidade dos itens produzidos, especialmente no que se refere

à resistência à corrosão.

No que diz respeito às instalações fabris e equipamentos utilizados, esta

indústria está instalada em galpões que não oferecem condições ideais para sua

atividade produtiva. Além disso, várias máquinas e equipamentos utilizados são

antiquados, pois não se pretendeu investir imediatamente em recursos produtivos

mais modernos, devido às incertezas quanto ao retorno do investimento. Foram

feitas diversas modificações e melhorias ao longo do curto período de

funcionamento da empresa, no entanto as condições estruturais somente serão

efetivamente melhoradas com a mudança da empresa para novas instalações, o

que deverá ocorrer dentro de alguns meses. Os empreendedores também já

analisam os investimentos que serão necessários visando a modernização dos

processos de fabricação, especialmente o endireitamento, a conformação e a

prensagem.

Os principais fornecedores da empresa são distribuidores de arames de

126

aço, de gás e de insumos para pintura eletrostática. Em todos os casos, trata-se

de mercados altamente concentrados, o que faz com que a margem de

negociação junto a estes fornecedores seja bastante estreita.

Quanto aos concorrentes, deve-se destacar que a entrevistada é

fornecedora exclusiva de seu maior cliente. Se, por um lado, esta é uma situação

confortável pela inexistência de concorrentes, por outro expõe a empresa a uma

excessiva dependência das exigências, volumes de encomendas e nível de preço

que lhes são impostos. No que diz respeito à linha de utilidades domésticas, há

vários concorrentes, todos de porte igual ou maior que a empresa “B” e

estabelecidos há bastante tempo no mercado. Seus volumes de produção são

maiores e suas marcas e redes de distribuição já estão consolidadas, o que

dificulta a penetração de mercado da entrevistada. Esta espera que o nível de

qualidade de seus produtos, o qual corresponde à dos itens produzidos de

maneira terceirizada e suplanta a de seus concorrentes, venha a tornar-se um

importante diferencial competitivo. No entanto, neste segmento de mercado o

preço é um fator determinante, sendo que a qualidade é dificilmente avaliável pelo

consumidor no momento da compra, refletindo-se apenas depois de alguns anos

de uso do produto. Desta maneira, ainda há incertezas quanto à possibilidade de

expansão da linha própria.

A empresa “B” não possui um sistema de gestão da qualidade, mas já

assumiu compromisso com seu grande cliente no sentido de implantá-lo no médio

prazo, como atendimento às suas exigências de melhoria contínua. O

entrevistado informou que seu cliente irá fornecer-lhe capacitação neste sentido,

de maneira a facilitar a implementação do sistema e sua certificação, o que revela

um indício de preocupação com o desenvolvimento de parcerias por parte da

grande empresa em questão. A empresa “B” acredita que o sistema para a gestão

da qualidade será muito importante para a expansão de seus negócios,

mencionando que já tentou qualificar-se como fornecedora junto a um outro

grande fabricante de eletrodomésticos, mas foi recusada por não ser certificada.

Ao ser indagado sobre os principais problemas enfrentados por sua

empresa, o entrevistado citou os seguintes:

− Dependência de um só cliente, o qual determina os volumes de produção e o

preço pago pelos produtos;

127

− Escasso poder de barganha junto aos fornecedores, destacando que é forçado

a adquirir volumes de arame demasiadamente grandes para obter alguma

redução de preço;

− Escassez de recursos financeiros próprios: a empresa tem por princípio não

utilizar capital de terceiros e evitar ao máximo o uso dos recursos gerados por

outros negócios da família;

− Concorrência de preços;

− Alta carga tributária;

− Falta de mão-de-obra especializada e interessada em dedicar-se ao trabalho:

o entrevistado queixou-se da elevada quantidade de reclamações dos

empregados quanto às condições de trabalho e ao pouco valor dado por eles

às melhorias implementadas.

No que diz respeito à produção em regime de terceirização, o entrevistado

indicou os seguintes aspectos, com relação aos quais seu cliente apresenta maior

grau de exigência:

− Qualidade;

− Observância de prazos de entrega e confiabilidade de fornecimento;

− Atendimento.

Bem abaixo no rol de exigências, encontram-se o cumprimento da legislação

referente à segurança e saúde no trabalho, a tecnologia utilizada na produção

(mesmo aquela determinante da qualidade do produto final) e o cumprimento da

legislação ambiental. É interessante destacar que as condições de preço foram

mencionadas em último lugar. O entrevistado declarou que os níveis de preço e

formas de reajuste foram pré-determinados contratualmente na época em que sua

empresa estava sendo constituída, de tal maneira que não existem pressões

adicionais por sua redução. No entanto, tal situação impõe, também, barreiras ao

reajuste de preços.

No que diz respeito aos principais problemas enfrentados pela empresa “B”

em seu relacionamento com a empresa contratante, o entrevistado indicou os

seguintes, os quais corroboram seu posicionamento frente às questões

128

anteriormente apresentadas:

− Pouco poder de barganha nas negociações, não somente em termos de

preços, mas principalmente em relação aos critérios de avaliação da

qualidade dos produtos;

− Dependência excessiva da contratante;

− Excesso de exigências.

O entrevistado fez questão de destacar que, apesar desta situação, seu

relacionamento com o cliente é bom, direto e sincero, praticamente livre de

conflitos. Demonstrou, no entanto, grande preocupação com uma eventual

abertura deste cliente para outro fornecedor, de tal forma que aceita determinadas

exigências em nome da exclusividade que lhe é concedida.

As informações acerca da estrutura da empresa “B” e seu posicionamento

mercadológico indicam que a mesma encontra-se numa situação de dependência

de um único cliente, na qual a manutenção de sua rentabilidade é em grande

medida dependente de ganhos em termos de eficiência, dado seu escasso poder

de barganha. Quanto ao esforço realizado no sentido da diversificação, nota-se

que também será grandemente influenciado pela possibilidade de ganhos de

eficiência, tendo em vista que o principal fator competitivo no mercado de

utensílios domésticos é o preço. Deve-se destacar que esta organização

tampouco conta com abundância de recursos financeiros, apesar de não ser a

única empresa da família: o entrevistado deixou bastante claro que cada negócio

deve manter-se com seus próprios recursos. Tal característica limita a capacidade

de modernização da empresa, que opera atualmente em instalações inadequadas

e com equipamentos em sua maioria obsoletos. Com base nestas assertivas, é

conveniente analisar de que forma a empresa entrevistada posiciona-se frente às

questões ambiental e de segurança e saúde ocupacional.

6.2.1 A Empresa “B” e a segurança e saúde no trabalho

De acordo com o entrevistado, sua empresa não possui uma política formal

129

relacionada à gestão dos aspectos referentes à segurança e saúde ocupacional.

Sua atenção recai especificamente sobre o cumprimento dos requisitos legais,

com ênfase nos aspectos relacionados à segurança, demonstrando grande

preocupação com a fiscalização. Desta maneira, adota os seguintes

procedimentos relacionados à gestão de SSO:

− Identificação de perigos e riscos e adoção de rotina para sua atualização;

− Medições e avaliações periódicas relacionadas aos perigos e riscos

identificados;

− Estabelecimento de procedimentos específicos para situações de emergência;

− Realização de treinamentos periódicos dos empregados, voltados

principalmente à prevenção de acidentes no local de trabalho.

Tais procedimentos comprovam a ênfase dada ao atendimento à legislação,

sendo que a empresa estabelece poucos objetivos e metas relacionados à SSO,

sendo que os existentes são todos relacionados a acidentes de trabalho. O

entrevistado informou que está em seus planos a promoção de exercícios físicos

no local de trabalho, pois acredita que com isto será possível obter um ligeiro

aumento da produtividade da mão-de-obra. O mesmo destacou que também tem

investido continuamente na melhoria das instalações fabris no sentido de prover

um maior conforto aos funcionários, e que o ambiente de trabalho será muito mais

confortável na nova fábrica.

A empresa “B” informou que, anualmente, tem ocorrido um acidente de

trabalho que conduz a afastamento temporário e nenhum que tenha levado a

afastamento permanente. Tendo em vista que a maior parte das atividades

produtivas realizadas têm participação manual e que a maioria dos equipamentos

utilizados é bastante arcaica, nos quais o acesso às partes móveis não é

bloqueado ou dotado de dispositivo de segurança, o índice informado pode ser

considerado baixo. O entrevistado informou que não houve, até o momento,

afastamentos motivados por LER. Queixou-se, porém, do elevado índice de

abstenções ao trabalho por motivo de doença, demonstrando irritação com a

facilidade com que os funcionários obtêm atestados médicos “duvidosos” junto ao

seu sindicato.

De acordo com o entrevistado, a principal dificuldade para implementar

130

ações relacionadas à segurança e saúde ocupacional concentra-se no alto nível

de exigências da legislação. Apesar de demonstrar-se convicto da necessidade

de prover condições de trabalho adequadas, considera que algumas vezes as

exigências são excessivas, principalmente tendo em consideração o pequeno

porte da empresa. Destacou, também, os gastos elevados com a aquisição e

reposição de EPI’s, os quais a seu ver deveriam ter preços mais acessíveis.

Neste sentido, mencionou as despesas com aquisição de luvas, as quais devem

ser repostas a cada três dias, devido a desgaste.

A empresa “B” utiliza os serviços de uma empresa de consultoria para

cuidar dos assuntos relacionados à SSO, a qual é encarregada da documentação

e procedimentos legais, bem como pelos treinamentos ministrados aos

funcionários. Desta forma, a identificação de soluções relacionadas ao tema

compete principalmente a esta prestadora de serviços e, em menor grau, ao

pessoal da própria empresa. O entrevistado informou que não conta com apoio

técnico de nenhuma instituição pública ou de órgãos patronais, declarando que

tampouco lhe ocorreu recorrer aos mesmos. No que diz respeito ao seu cliente, o

mesmo solicita-lhe apenas a comprovação de seu enquadramento à legislação,

sendo que não realiza qualquer tipo de trabalho conjunto voltado à gestão da

segurança e saúde ocupacional.

Ao ser questionado sobre seu relacionamento com os órgãos de

fiscalização, o entrevistado informou que a empresa é visitada, em média, duas

vezes por ano por um fiscal do Ministério do Trabalho. Segundo ele, o

comportamento dos fiscais não pode ser classificado como “cortês”, declarando

que o nível de exigências dos mesmos é exagerado e imediatista, com a aparente

intenção de criar dificuldades aos empreendedores. Apesar disso, até o momento

a empresa não foi autuada, pois tem tratado de atender prontamente às

exigências que lhe são feitas. Dentre as últimas, encontram-se o isolamento

térmico da estufa de pintura e a instalação de conduítes reforçados para a fiação

de alimentação elétrica das máquinas.

Todas as soluções relacionadas à melhoria das condições de saúde e

segurança ocupacional são realizadas com recursos próprios, sendo que o

entrevistado informou que as próximas também o serão, devido às elevadas taxas

de juros cobradas quando da utilização de capital de terceiros. Os próximos

desembolsos voltados a ações relacionadas à SSO são a instalação de

131

mecanismos de segurança e bloqueio de acesso nas prensas, complementação

da sinalização, melhoria da ventilação (instalação de exaustores de teto) e

ampliação do treinamento.

Quanto a sugestões a respeito das iniciativas governamentais que

poderiam ser adotadas, de maneira a auxiliar as empresas semelhantes à sua a

melhorarem seus procedimentos de gestão ligados à segurança e saúde

ocupacional, o entrevistado opinou que deveriam ser oferecidas linhas de

financiamento específicas, e que os equipamentos de proteção individual

poderiam contar com isenção fiscal, de maneira a reduzir o custo de aquisição.

O posicionamento da empresa “B” em relação às questões relacionadas à

SSO reflete basicamente a preocupação com o estrito atendimento à legislação,

numa postura reativa, a qual foca principalmente o controle dos custos de

produção. Cabe a indagação se o elevado número de abstenções por motivos de

saúde não é relacionado às condições de trabalho oferecidas, as quais,

reconhecidamente, carecem de melhorias. De qualquer forma, a planejada

mudança para outras instalações e a eventual aquisição de equipamentos mais

modernos para a produção, ambas visando trazer ganhos de produtividade,

deverão contribuir marginalmente para a melhoria dos aspectos relacionados à

saúde e segurança.

6.2.2 A Empresa “B” e o meio ambiente

A empresa em questão não possui uma política formal relacionada à

gestão ambiental, basicamente porque não há exigências específicas por parte da

legislação ou de seu principal cliente. Segundo o entrevistado, a implementação

de um sistema de gestão ambiental somente será efetivada se houver uma

demanda específica de mercado. Destacou que considera uma obrigação das

indústrias a prevenção da poluição, no entanto deixou claro que nem sempre é

fácil encontrar soluções técnicas adequadas e que os custos envolvidos não são

claramente previsíveis, ou razoáveis.

Com base neste posicionamento, a empresa procura atender estritamente

o que determina a legislação e os órgãos de fiscalização. No entanto, sua busca

132

constante de redução no consumo de insumos também resulta em ações

relacionadas à gestão ambiental. Desta forma, adota os seguintes procedimentos:

− Medidas de redução do uso de energia elétrica por quantidade de produto

fabricado, via racionalização de processos;

− Medidas de redução do uso de água por produto fabricado, concentradas na

reutilização;

− Controle de ruídos e vibrações (associado aos procedimentos de SSO);

− Disposição adequada de resíduos sólidos, especialmente sucata de aço;

− Reciclagem de sucatas, resíduos ou refugos.

O entrevistado destacou sua grande preocupação com os aspectos relacionados

à eficiência de processos e economia dos insumos de produção. Segundo ele, a

empresa já não tem mais como reduzir o consumo de matérias-primas, energia e

água, considerando os meios de produção que utiliza atualmente. Tal

posicionamento naturalmente acaba gerando benefícios ambientais marginais,

pela adoção inconsciente de critérios de ecoeficiência. As ações preventivas

relacionadas às questões ambientais têm seu foco voltado à saúde dos

funcionários, sendo que são realizados treinamentos específicos com esta

finalidade. No entanto, não existem planos de emergência ambiental, e o

derramamento acidental de substâncias contaminantes tampouco é contemplado.

As questões ambientais são tratadas eminentemente como temas internos,

sendo que os únicos stakeholders envolvidos são o órgão de fiscalização

(CETESB) e o cliente. É importante destacar que este último discute apenas

superficialmente os aspectos ambientais dos processos produtivos, dando-se por

satisfeito com a demonstração da existência de licenciamento ambiental.

Atualmente, a empresa possui dois problemas de ordem ambiental, para os

quais não encontrou uma solução adequada. Um deles é a destinação do “lodo de

fosfato”, resíduo oriundo do processo de fosfatização pelo qual passam as peças

produzidas. Por não saber como destiná-lo de maneira adequada, a empresa “B”

o está armazenando internamente. Outro problema é a destinação dos resíduos

provenientes do processo de desengraxamento das peças, basicamente

compostos de óleo e ácido, os quais têm sido despejados duas vezes por ano no

133

esgoto comum, que deságua num rio localizado nas proximidades da fábrica.

Segundo o entrevistado, ambos os problemas são de conhecimento do órgão

ambiental (CETESB), cujo fiscal os considerou de pequena gravidade e se

comprometeu a indicar alternativas.

O empreendedor deixou claro que a questão ambiental não constitui num

item a ser incluído no planejamento estratégico de sua empresa, tendo em vista a

necessidade de criar diferenciais competitivos no curto prazo. Assim sendo, os

procedimentos de cunho eminentemente ambiental são encarados como um

custo necessário para enquadrar a empresa às exigências legais. Este

posicionamento é ilustrado pelos elementos apontados como principais

motivadores para a adoção de práticas relacionadas à gestão ambiental em sua

empresa:

− Atendimento aos requisitos da legislação ou órgãos fiscalizadores;

− Estar em conformidade com a política social da empresa;

− Melhorar a imagem perante a sociedade.

Da mesma forma como foi observado com a empresa “A”, nota-se a existência de

uma postura reativa e contraditória em relação aos dois últimos itens, tendo em

vista que o mencionado lançamento dos resíduos no esgoto é tacitamente

considerado como aceitável pelo empresário, dada a anuência do fiscal ambiental

e a ausência de reclamações da comunidade.

Quando indagado acerca das principais dificuldades encontradas para

implementar ações de preservação ambiental na empresa, o entrevistado

destacou a ausência de informações sobre as soluções técnicas e seus

respectivos custos, o que corrobora as informações apresentadas anteriormente.

A empresa “B” também se utiliza dos serviços de uma empresa de consultoria

para tratar das questões ambientais e não procurou o auxílio de instituições

governamentais ou patronais de assistência técnica.

Cabe ressaltar que esta empresa não sofre qualquer pressão, ou recebe

qualquer colaboração, de seu cliente no sentido de adotar práticas de gestão

ambiental, apesar de que ele mesmo possua um sistema de gestão ambiental em

pleno funcionamento, e certificado. É clara a preocupação superficial desta

grande empresa com os aspectos ambientais relacionados à sua cadeia de

134

suprimentos, dado que a mesma se dá por satisfeita com a existência do

licenciamento deste seu pequeno fornecedor.

No que tange ao relacionamento da empresa “B” com os órgãos de

fiscalização, a mesma é visitada por um fiscal aproximadamente a cada dois

anos. É preciso destacar que somente na última visita, ocorrida cerca de seis

meses antes da realização da entrevista para o presente trabalho, o assunto

relativo aos resíduos da fosfatização e do desengraxamento foi abordado. De

acordo com o entrevistado, o fiscal, que se comprometeu a indicar soluções, não

voltou a se manifestar. Tendo em vista que a empresa não foi ameaçada de

autuação, o empreendedor não vê motivos para criticar a atuação do órgão

ambiental. Cabe destacar que a prestadora de serviços de consultoria tampouco

soube indicar alternativas, o que coloca em dúvida sua capacitação técnica.

De qualquer forma, a empresa “B” pretende realizar investimentos no

sentido de eliminar os problemas ambientais abordados, tão logo disponha de

informações correspondentes. Tais investimentos serão realizados com capital

próprio e na medida das possibilidades, tendo em vista a necessidade de

investimentos mais prementes na área produtiva.

Ao ser questionado acerca de sugestões de iniciativas governamentais

visando incentivar empresas como a sua a adotar práticas de gestão ambiental, o

empresário indicou as seguintes:

− Aplicar multas quando do não atendimento à legislação ambiental;

− Criar incentivos fiscais para investimentos de cunho ambiental;

− Ampliar as linhas de crédito subsidiado, visando investimentos ambientais;

− Criar e divulgar um cadastro de empresas que adotam boas práticas

ambientais;

− Investir na capacidade técnica e administrativa dos órgãos ambientais;

− Criar mecanismos de auxílio às pequenas empresas, no sentido de

implementarem procedimentos de gestão ambiental e identificarem

tecnologias ambientalmente adequadas.

Estas sugestões refletem uma postura reativa frente às questões ambientais, de

tal forma que as ações relacionadas a procedimentos de gestão ambiental são

135

induzidos principalmente pelos mecanismos de comando e controle. Também

refletem a opinião de que tais mecanismos deveriam ser complementados por

políticas públicas que subsidiassem os investimentos nesta área, dado que a

empresa “B” precisa concentrar os recursos próprios disponíveis na obtenção de

competitividade no curto prazo.

6.2.3 A empresa “B” e as alternativas para o compromisso socioambiental

Da mesma forma como realizado com a empresa “A”, descreve-se a seguir

a opinião do entrevistado sobre as alternativas visando auxiliar as PME’s a tratar

adequadamente as questões socioambientais concernentes às suas atividades:

− Adoção dos princípios de P+L:

Os princípios da Produção Mais Limpa não eram conhecidos pelo empresário,

e tampouco foram objeto de especial interesse por parte do mesmo. Sua

opinião é de que a filosofia da P+L concentra-se na obtenção de ganhos de

eficiência, os quais se refletem conseqüentemente em ganhos de ordem

ambiental. Segundo ele, seu atual sistema produtivo não comporta maiores

ganhos de eficiência, e por esta razão está investindo em novas instalações e

planeja investimentos em equipamentos mais modernos. Declarou que não vê

como a preservação ambiental possa traduzir-se na obtenção de ganhos

econômicos para uma empresa como a sua, opinando que as questões

ambientais representam oportunidades basicamente para aquelas empresas

dedicadas à prestação de serviços ambientais ou à fabricação de

equipamentos especificamente voltados ao controle da poluição.

− Associativismo entre pequenas empresas:

A empresa “B” não vê possibilidade de associação com empresas de mesmo

porte, basicamente por questões culturais. Acredita que seria muito difícil

estabelecer acordos de cooperação, devido à mentalidade vigente no meio

empresarial, muito focada nas próprias necessidades. No entanto, o

entrevistado informou já realizar uma espécie de trabalho conjunto com uma

136

empresa da família, trabalho este concentrado na aquisição conjunta de

insumos, visando melhores condições de preço.

− Grandes empresas como indutoras e apoiadoras:

O entrevistado opinou que muito dificilmente as grandes empresas adotariam

este tipo de filosofia de trabalho junto aos seus pequenos fornecedores, a não

ser que se vissem constrangidas por razões legais ou devido à escassez de

fornecedores para um determinado produto ou serviço. Informou que receberá

apoio em termos de capacitação para a implementação de um sistema de

gestão da qualidade somente porque se trata de um tema de grande interesse

de seu cliente. Destacou que gostaria de receber maior apoio de sua

contratante, mas tem um grande receio de que o desenvolvimento de um

trabalho conjunto o levasse a expor informações demais a respeito de sua

empresa. Desta forma, teme que o cliente tivesse amplo acesso à sua planilha

de custos, e que se utilizasse disto para determinar sua lucratividade, impor

maiores exigências e investimentos. Em suma, acredita que muito dificilmente

sua empresa poderia lucrar efetivamente com um tal relacionamento, devido à

constante pressão por redução de custos à qual as próprias grandes

empresas estão sujeitas.

6.2.4 A Empresa “B” e a questão socioambiental

Tendo em vista as informações obtidas por meio da entrevista, pode-se

realizar uma análise do posicionamento desta empresa, tanto em relação ao

ambiente mercadológico no qual está inserida, quanto no que tange às questões

socioambientais.

Assim sendo, nota-se que esta empresa é altamente dependente de um

único cliente, o qual consome mais de 80% de sua produção. Apesar de ser

fornecedora exclusiva, seu poder de barganha é bastante limitado, de tal forma

que a lucratividade está diretamente relacionada à obtenção de ganhos de

eficiência. Esta característica é fortemente determinada, também, pela escassa

possibilidade de redução de custos na aquisição dos insumos utilizados na

137

produção. A tentativa de diversificação, baseada na criação de uma linha de

produtos própria, também já demonstrou ser altamente dependente dos eventuais

ganhos de eficiência, dada a competição de preços que vigora no mercado de

utensílios domésticos.

Apesar de não ser o único empreendimento da família proprietária, a

empresa “B” é administrada de maneira individualizada, de tal forma que sua

capacidade de investimento é limitada. Tendo em vista que foi constituída visando

o menor investimento possível, dada a incerteza do retorno à época de sua

constituição, opera em instalações inadequadas e utilizando equipamentos

obsoletos, o que influencia negativamente as condições relacionadas à saúde e

segurança no trabalho.

As questões de cunho socioambiental são primordialmente encaradas sob

a ótica do atendimento à legislação, sendo que os aspectos relacionados à SSO

são vistos parcialmente como elementos ligados à produtividade, enquanto a

preservação ambiental é basicamente considerada como fonte de custos, e não

de oportunidades. Este posicionamento independe das convicções pessoais do

empreendedor, o qual defende a necessidade de prevenção e combate à poluição

industrial. Trata-se, basicamente, de um posicionamento empresarial determinado

por uma questão eminentemente econômica, fundamentada pela escassez de

recursos financeiros e pela necessidade constante de redução dos custos de

produção. Desta maneira, os investimentos que estão sendo realizados na nova

fábrica, bem como a planejada aquisição de novos equipamentos, seguramente

trarão benefícios de ordem socioambiental, mas de forma marginal, pois são

medidas que visam basicamente o aumento da eficiência produtiva.

Este posicionamento é reforçado pela atitude da grande empresa cliente, a

qual, apesar de contar com um sistema de gestão ambiental, revela uma

preocupação muito maior com os aspectos relacionados à qualidade dos produtos

fornecidos pela terceirizada, que com a dimensão socioambiental das atividades

exercidas por este fornecedor.

Desta maneira, a empresa “B” deixa conscientemente de atender a todos

os requisitos que contemplam um adequado posicionamento em relação às

questões de ordem socioambiental. Neste contexto, revela-se a importância dos

mecanismos de comando e controle, os quais, neste caso específico, parecem

mais atuantes em termos de saúde e segurança ocupacional, fato ressaltado pelo

138

relacionamento de certa forma conflitivo com a autoridade responsável pela

fiscalização. Por outro lado, em termos ambientais, nota-se que a fiscalização não

exerce um papel efetivo no sentido de motivar a empresa a evitar poluir,

parecendo um tanto quanto complacente.

É possível constatar, também, que a empresa carece de conhecimentos

técnicos que possibilitem a correta abordagem das questões mencionadas e a

solução dos problemas apresentados, principalmente no que diz respeito àqueles

de ordem ambiental. Neste quadro, é de se indagar se as empresas de

consultoria utilizadas contam realmente com a expertise necessária.

Por fim, destaca-se uma vez mais a assertividade das informações colhidas

na literatura consultada, uma vez que a adoção de ações visando o compromisso

socioambiental da pequena empresa estudada é basicamente limitada por suas

carências de ordem financeira e cognitiva. A julgar pelas opiniões do entrevistado,

nenhuma das alternativas abordadas anteriormente neste trabalho, as quais

visam auxiliar as pequenas organizações a contemplar de maneira adequada as

questões socioambientais, poderia ser aplicada à empresa em questão.

6.3 A Empresa “C”

Esta pequena indústria está instalada num município da Grande São Paulo,

tendo sido fundada há quase 40 anos por um imigrante europeu. Emprega 65

pessoas e gera um faturamento anual bruto de aproximadamente R$ 7,5 milhões.

Até fins da década passada, a administração foi realizada inteiramente por

integrantes da família fundadora. Tendo em vista que a empresa passava por

sérias dificuldades financeiras, a partir daquela data a Gerência Geral foi

assumida por um administrador contratado. O questionário foi respondido por este

gerente.

A nova administração conseguiu recuperar a saúde financeira da empresa,

dando ênfase ao controle financeiro e ao aumento da produtividade. Neste

particular, adotou-se a filosofia de melhoria contínua de processos, com a

finalidade de melhorar a qualidade dos produtos e baixar os custos de produção.

Com este objetivo, implantou um sistema de gestão da qualidade, o qual foi

139

certificado de acordo com a norma ISO 9000/1994 há 5 anos, e pela norma ISO

9000/2000 pouco tempo depois. É importante destacar que tal certificação é uma

exigência básica da maioria dos clientes da empresa.

Ainda de acordo com a filosofia de melhoria contínua, esta indústria tem

implementado de forma constante e gradativa diversos aperfeiçoamentos, tanto

no que se refere a equipamentos como a instalações, visando obter benefícios em

termos produtivos tanto pela utilização de recursos mais modernos, como também

pela melhoria das condições de trabalho oferecidas aos funcionários. Como

exemplo, o amplo galpão em que a empresa está sediada desde sua fundação

tem passado gradativamente por diversas obras visando a melhoria das

condições de iluminação, ventilação e circulação.

A empresa “C” fabrica diversos produtos metálicos em grandes volumes de

produção, tais como anéis de trava, tampas e discos de vedação, arruelas de

contato, molas-prato, pinos elásticos e peças especiais. Também produz alguns

itens com valor agregado mais alto, em pequenos volumes, principalmente peças

para uso em sistemas de geração de energia elétrica. As principais matérias-

primas utilizadas são metais ferrosos e não-ferrosos, sendo o maior volume em

forma de fitas laminadas, embora também se adquira, em menor escala, material

em forma de barras. Utiliza processos de prensagem, estampagem, rolagem e

usinagem por remoção de material (torneamento e retificação), tratamento térmico

(têmpera por sal e por óleo, revenimento) e tratamento superficial (fosfatização).

Esta indústria vende a maior parte de sua produção a diversas empresas

ligadas aos setores automotivo, motociclístico, de transporte rodoviário e de

geração de energia, devendo-se destacar que os clientes mais representativos

são empresas multinacionais. Aproximadamente 30% do volume de produção

consistem de peças “standard normalizadas”, ou seja, fabricadas de forma

padronizada, de acordo com especificações técnicas prescritas em normas

internacionais que visam sua intercambiabilidade, independentemente de sua

origem. Tais produtos são, portanto, considerados commodities. A maioria dos

itens produzidos, cerca de 70%, é composta de peças que são fabricadas

segundo desenhos e especificações dos clientes, ou seja, de forma terceirizada.

Neste aspecto, é importante destacar que as encomendas de 5 grandes

empresas multinacionais são responsáveis por aproximadamente 50% do

faturamento da empresa “C”.

140

Os principais fornecedores são empresas distribuidoras de matérias-primas

ferrosas e não-ferrosas. Trata-se de um mercado altamente concentrado, sendo

que tais materiais são considerados commodities e têm experimentado acentuado

aumento de preços no mercado internacional, o que gera um inevitável acréscimo

nos custos de produção da empresa “C”.

No que diz respeito a concorrentes, o entrevistado estima que possui

aproximadamente 200 concorrentes nacionais diretos e indiretos, sendo que

alguns contam com aporte de capital estrangeiro. Tradicionalmente, a principal

estratégia competitiva adotada pela concorrência tem sido focada em preços, o

que exige a busca constante de eficiência em toda a cadeia de geração de valor.

Ao ser questionado acerca dos principais problemas enfrentados por sua

empresa, o entrevistado enumerou os seguintes:

− Baixa confiabilidade dos fornecedores de matérias-primas, tanto em termos de

qualidade do produto, como de cumprimento de prazos de entrega;

− Pouco poder de barganha junto aos fornecedores;

− Elevada tributação;

− Elevada taxa de juros, que torna proibitiva a utilização de capital de terceiros

para a realização de investimentos produtivos. O entrevistado destacou que

atualmente a empresa utiliza somente recursos financeiros próprios,

preferindo postergar investimentos a tomar empréstimos;

− Concorrência de preços desleal, especialmente por parte de empresas não-

formais;

− Baixa fidelidade dos clientes, que não hesitam em trocar de fornecedor por

uma pequena diferença de preço. O entrevistado frisou que é comum que as

grandes empresas deixem de adquirir seus produtos por esta razão,

retomando as encomendas algum tempo depois porque tiveram problemas de

qualidade com os fornecedores mais baratos;

− Necessidade de elevados investimentos para modernizar a fábrica, fato

agravado pela insegurança relativa ao retorno. Apesar de contar com recursos

próprios que lhe permitiriam adquirir alguns equipamentos produtivos mais

modernos, a instabilidade do mercado no qual atua faz com que a empresa

receie em fazê-lo. Neste sentido, destacou a falta de apoio governamental

141

efetivo para a modernização do parque industrial.

O entrevistado fez questão de frisar que sua rotina profissional consiste em, de

acordo com suas palavras, “matar um leão por dia”. De um lado, sua empresa tem

um poder de barganha muito limitado em relação aos seus grandes fornecedores

e sofre uma pressão constante de seus clientes no sentido de reduzir ou conter os

preços de seus produtos, pressão esta complementada por elevadas exigências

no que diz respeito à qualidade e cumprimento de prazos. Por outro lado, não lhe

faltam concorrentes, todos utilizando tecnologias muito semelhantes e tentando

aumentar sua rentabilidade com a ampliação do volume de produção e a oferta de

um mix de produtos que lhes permita absorver oscilações de preços. Além disso,

destacou que, devido ao seu faturamento, sua empresa não se enquadra no

Estatuto da Microempresa e da Empresa de Pequeno Porte, e portanto não pode

fazer uso da simplificação tributária e facilidades creditícias concedidas por ele.

Neste contexto, ressaltou que busca constantemente otimizar a utilização de seus

recursos, como forma de manter ou aumentar a rentabilidade. Tal rentabilidade

não encoraja a empresa a renovar o parque fabril com a aquisição de máquinas

novas, de tal maneira que tem optado preferentemente pela compra de máquinas

usadas e reforma dos equipamentos existentes.

No que tange especificamente às exigências impostas pelas empresas

contratantes no regime de terceirização, o entrevistado indicou que estas se

concentram nos seguintes aspectos:

− Condições de preço;

− Qualidade;

− Condições de prazo e confiabilidade de fornecimento;

− Atendimento.

Em muito menor grau, alguns clientes demonstram interesse pelos equipamentos

e processos utilizados na fabricação, por considerar que são determinantes da

qualidade do produto final. Este interesse é demonstrado principalmente pelas

empresas que ainda não são clientes habituais. No que diz respeito aos aspectos

relacionados ao meio ambiente e à segurança e saúde no trabalho, os grandes

clientes solicitam apenas a documentação comprobatória do atendimento à

142

legislação.

Ao ser indagado acerca dos principais problemas enfrentados por sua

empresa no relacionamento com as empresas contratantes no regime de

terceirização, o entrevistado mencionou os seguintes:

− Pouco poder de barganha nas negociações;

− Falta de fidelidade e confiabilidade;

− Excesso de exigências;

− Comunicação deficiente e falta de informações.

A empresa “C” conseguiu estabelecer um relacionamento marcado pela

comunicação direta e franca com alguns de seus clientes, mas indicou que

mesmo assim às vezes ocorrem mal-entendidos que conduzem a atritos

desnecessários. Um fator que a preocupa é a constante ameaça de perda de

pedidos por questões de preço, principalmente quando surge a necessidade de

repassar aos preços dos produtos os aumentos ocorridos nos custos de

produção. Neste sentido, o entrevistado destacou que não se consegue

estabelecer uma relação de parceria com os grandes clientes, os quais são

capazes de desconsiderar mais de 30 anos de bons serviços prestados e mudar

para outro fornecedor por uma pequena diferença de preço no produto. De acordo

com ele, esta característica do mercado, qual seja o foco na redução dos preços,

tem-se exacerbado nos últimos anos, a ponto de causar a deterioração do

relacionamento inter-empresarial e contribuir para a “falta de integridade” reinante

no atual ambiente de negócios. Neste quadro, o entrevistado destacou uma vez

mais sua necessidade de manter uma estrita vigilância sobre a eficiência

produtiva, de maneira a manter os preços compatíveis com aqueles praticados

pela concorrência.

As informações apresentadas permitem constatar que a empresa “C” atua

num mercado altamente competitivo, atendendo basicamente a grandes clientes

multinacionais, sob grande pressão pelo cumprimento de requisitos relativos a

preços, à qualidade e ao cumprimento de prazos, com escassa margem de lucro

e restrita disponibilidade financeira. Tais condições obrigam-na a enfatizar a

melhoria contínua de processos com baixos investimentos, focando sua atuação

na busca constante de aumento de eficiência. Trata-se, a seguir, de verificar o

143

posicionamento desta indústria frente às questões socioambientais.

6.3.1 A Empresa “C” e a segurança e saúde no trabalho

De acordo com o entrevistado, sua empresa não possui uma política formal

para a gestão da segurança e saúde no trabalho. No entanto, considera que a

força de trabalho possui importância estratégica, devido à sua especialização e

experiência, as quais avalia como sendo determinantes para a competitividade.

Desta maneira, o entrevistado declarou preocupar-se não apenas com os

aspectos estritamente ligados ao cumprimento da legislação pertinente, mas

busca continuamente a melhoria das condições de trabalho (com ênfase no

ambiente físico) e dos benefícios concedidos aos funcionários.

Assim sendo, a empresa realiza basicamente os mesmos procedimentos

executados pelas empresas “A” e “B”, relativos à identificação de perigos e riscos,

medições e avaliações periódicas, estabelecimento de rotinas para situações de

emergência e outros, visando o atendimento à legislação. Além disso, promove

amplos programas de treinamento e conscientização, visando não apenas a

aplicação de conceitos de segurança e saúde no ambiente de trabalho, mas

também fora da empresa. Também utiliza diversos indicadores para monitorar a

SSO, além de estabelecer vários objetivos e metas, sempre dentro da filosofia de

melhoria contínua. Por fim, deixa aberta a possibilidade de participação dos

funcionários, os quais podem propor sugestões voltadas ao aperfeiçoamento dos

diversos aspectos relacionados ao trabalho. Tal abertura é complementada pela

realização de uma pesquisa de satisfação junto aos empregados, a qual é

realizada anualmente. Nota-se, também, uma grande preocupação com itens

relacionados ao conforto dos funcionários, principalmente sob a forma de medidas

direcionadas à melhoria da ventilação, iluminação, limpeza, isolamento acústico,

uniformes, etc. Além disso, o entrevistado demonstrou procurar constantemente

obter aperfeiçoamentos em termos de benefícios, seja no que tange à assistência

médica, convênios com farmácias, óticas, escolas de idiomas, etc., seja no que

diz respeito ao apoio fornecido pela empresa quando os funcionários enfrentam

problemas ligados ou não à sua atividade profissional. Segundo ele, no entanto,

144

nem sempre tais iniciativas são valorizadas pelos funcionários, os quais

prefeririam receber aumentos de salário ao invés de benefícios. O entrevistado

declarou-se desapontado com o baixo nível de conscientização da mão-de-obra,

exemplificando-o com uma proposta de concessão de convênio odontológico: os

funcionários preferiram ganhar um adicional de R$ 50,00 ao ano, do que o

convênio.

No que diz respeito ao número de acidentes de trabalho, a média anual,

considerando os últimos três exercícios, é de 20, sendo 3 com afastamento

temporário. Neste período, não ocorreram acidentes que tenham resultado em

afastamento permanente ou morte. A média de afastamentos relacionados a

lesões por esforços repetitivos é de 2 ao ano. Nota-se que estes números

resultam em índices bastante superiores aos das empresas apresentadas

anteriormente. Tal característica pode estar relacionada ao fato de que, em

média, os empregados da área produtiva trabalham aproximadamente 4 horas-

extras por dia, enquanto as empresas “A” e “B” procuram evitar horas-extras. A

empresa “C” opta pela extensão do horário de trabalho, em detrimento da

contratação de mais funcionários, como maneira de atender às flutuações de

demanda sem a necessidade de demissões nos momentos em que há queda nos

volumes de pedidos. Segundo o entrevistado, tal opção se justifica em termos

econômicos, mas já rendeu à empresa uma multa aplicada pelo fiscal do

Ministério do Trabalho.

Ao ser indagado sobre as principais dificuldades encontradas por sua

empresa para implementar ações relacionadas à SSO, o entrevistado apontou

apenas uma: resistência por parte dos funcionários. De acordo com ele, apesar

da freqüente realização de programas de conscientização, freqüentemente os

empregados não utilizam os equipamentos de proteção individual. Neste sentido,

é preciso destacar que as duas empresas anteriores exercem um comando

bastante autocrático, sendo que os entrevistados estão freqüentemente presentes

na área produtiva. Na empresa “C”, nota-se que existe uma maior delegação de

tarefas e responsabilidades, não havendo a supervisão intensiva da gerência

sobre cada processo produtivo. Esta característica também pode contribuir para

explicar o maior nível de acidentes encontrado nesta organização, apesar do fato

de que suas condições de trabalho, instalações e equipamentos produtivos sejam

sensivelmente superiores às das encontradas nas empresas “A” e “B”.

145

A empresa “C” utiliza os serviços de uma firma de consultoria para tratar os

assuntos relativos à segurança e saúde ocupacional, a qual cuida da

documentação e dos procedimentos legais e promove os treinamentos dos

funcionários. Da mesma forma que as outras empresas entrevistadas, não conta

com o apoio de instituições governamentais ou patronais, sendo que não buscou

tal apoio. Seus clientes tampouco demonstram qualquer interesse em

desenvolver trabalhos de cooperação visando aperfeiçoar os aspectos

relacionados à SSO.

No que diz respeito ao relacionamento com os órgãos fiscalizadores, a

empresa é visitada duas vezes ao ano pelo fiscal do Ministério do Trabalho.

Apesar de reconhecer que a fiscalização tem a virtude de indicar pontos a serem

corrigidos e melhorados, o entrevistado declarou que, principalmente depois que

a empresa passou a encontrar-se melhor estruturada, o comportamento vem

tornando-se bastante inadequado e voltado à busca de “problemas” para cuja

solução oferecem-se “facilidades” mediante exigência de pagamento de propina.

No entanto, a empresa tem optado por corrigir as deficiências apontadas, sendo

que a única autuação foi relativa ao número excessivo de horas-extras,

mencionada anteriormente.

Segundo o entrevistado, todos os investimentos relacionados à

implementação de melhorias nos procedimentos de SSO são bancados com

recursos próprios. Sua estimativa é de que tais procedimentos acarretam num

aumento dos custos dos produtos finais, sem uma contrapartida em termos de

ganhos de produtividade. Para ele, o uso de EPI’s, por exemplo, é incômodo, o

que acaba por reduzi-la. Ou seja, o entrevistado encara tais investimentos como

indispensáveis à própria adequação tecnológica do empreendimento e à

manutenção da saúde dos funcionários, no entanto considera que dificilmente os

mesmos resultem em algum tipo de ganho direto em termos de produtividade.

Os próximos investimentos em SSO também serão feitos exclusivamente

com recursos próprios. Dentre estes, destacam-se a aquisição de equipamentos

mais modernos para a produção e investimentos relacionados à melhoria das

instalações. Por ocasião da entrevista, a empresa havia acabado de adquirir oito

novas prensas excêntricas de pequeno porte, em substituição a idêntico número

de máquinas antigas, as quais não contavam com sistemas modernos de

proteção ao operador. Deve-se destacar que tanto a reforma dos equipamentos

146

antigos, como a aquisição de equipamentos usados, de fabricação mais recente,

não se demonstraram viáveis financeiramente. O entrevistado informou que

também pretende expandir os programas de conscientização e treinamento dos

colaboradores, inclusive porque acredita que esta é uma forma de desenvolver

uma cultura organizacional voltada à melhoria contínua.

Ao ser indagado sobre as ações governamentais que deveriam ser

implementadas com o objetivo de incentivar as empresas como a sua a adotar

práticas de gestão de SSO, o entrevistado destacou que, acima de tudo, deveria

haver “uma política mais razoável” em relação aos impostos. Explicou que, além

da necessidade de reduzir a carga tributária, é preciso estabelecer mecanismos

de incentivo fiscal voltados à modernização produtiva. Opinou que a

obsolescência tecnológica é o principal entrave para a obtenção de melhores

condições de trabalho.

Com base nas informações colhidas por ocasião da entrevista, nota-se que

a empresa “C” trata as questões ligadas à segurança e saúde ocupacional como

elemento diretamente ligado ao processo de melhoria contínua, procurando

atender não somente aos requisitos da legislação, mas também buscando

oferecer condições de trabalho diferenciadas. Este posicionamento reflete,

também, a tentativa de estabelecimento de uma relação duradoura com os

funcionários e com a valorização do trabalho que realizam, profundamente

marcado por pressões no sentido do atendimento às demandas por qualidade,

preço e prazo de entrega. De acordo com o entrevistado, espera-se que tal

característica faça com que se desenvolva uma cultura organizacional focada no

aperfeiçoamento constante e na qual os funcionários dêem “algo mais de si” no

sentido de resolver os problemas que surgem no dia-a-dia.

6.3.2 A empresa “C” e o meio ambiente

Esta empresa não possui uma política ou sistema formal para a gestão

ambiental, no entanto considera o meio ambiente como um elemento importante

da gestão organizacional. Demonstra basicamente uma grande preocupação com

o atendimento à legislação e com a adoção de práticas preventivas, priorizando

147

aquelas que exerçam influência positiva sobre a eficiência dos processos

produtivos e que reduzam os riscos à saúde de seus funcionários. Além disso,

devido à sua busca constante de aumento de eficiência, adota involuntariamente

diversas medidas relacionadas à melhoria da ecoeficiência. Desta forma, a

empresa “C” realiza os seguintes procedimentos relacionados à gestão ambiental:

− Estudos de redução do uso de matéria-prima por quantidade de produto

fabricado;

− Estudos visando à redução do consumo de energia por quantidade de produto

fabricado;

− Redução do uso de água, via reciclagem da água utilizada nos processos

produtivos (lavagem de peças) e implementação de dispositivos

economizadores (temporizadores) nos banheiros e vestiários;

− Controle de ruídos e vibrações (associado às ações de SSO);

− Disposição adequada de resíduos sólidos ou lixo da atividade industrial;

− Reciclagem ou reaproveitamento de sucatas, resíduos e refugos;

− Cursos e treinamentos da mão-de-obra (associados àqueles relacionados à

SSO).

Percebe-se que a empresa enfatiza os procedimentos relacionados ao meio

ambiente que exerçam influência positiva sobre a eficiência dos processos

produtivos e resultem na redução do consumo de insumos, sendo que são

realizados programas regulares de conscientização do público interno, associados

às abordagens relativas à segurança e saúde ocupacional. Neste sentido,

desenvolve periodicamente campanhas internas dirigidas à redução do uso de

água e energia, ao consumo consciente e à reciclagem de materiais. A empresa

mantém registros e monitora constantemente o consumo de energia,

combustíveis, água e outros insumos, fazendo o mesmo com o volume de

resíduos gerados. Utiliza estes registros e monitoramentos como ferramenta de

controle da produção e como subsídio à detecção de possibilidades de melhoria.

Desta forma, é patente a busca constante de aumento de eficiência dos

processos produtivos, o que acaba resultando em benefícios ambientais

marginais.

148

Considerando os impactos ambientais causados por suas atividades

produtivas, a empresa desenvolve estudos concentrando-se nas exigências da

legislação, focando sua ação preventiva nos processos que oferecem dano

potencial à saúde e risco à segurança dos seus empregados. Esta indústria

contrata uma empresa especializada para recolher e destinar adequadamente os

resíduos dos seus processos de têmpera, fosfatização e lavagem de peças, uma

típica solução tipo “fim de tubo” adotada por não encontrar alternativas

tecnológicas. É importante destacar que os custos incorridos neste procedimento

de descarte não são considerados pelo entrevistado como “custos ambientais”,

mas sim como custos inerentes à produção.

A empresa “C” não possui um plano de emergência ambiental que

relacione seus processos e produtos ou serviços que envolvam situações de

risco, e tampouco treina seus empregados para enfrentar estas situações. Os

planos e treinamentos referentes a emergências destinam-se a situações como

incêndio, falta de energia elétrica ou água, etc. O entrevistado não considera este

um item crítico, pois alega não utilizar processos inerentemente danosos ao meio

ambiente. No entanto, não se pode descartar a eventualidade de derrame

acidental de substâncias como óleo, resíduos e produtos químicos diversos,

situações para as quais simplesmente não se previram planos de emergência.

O entrevistado informou que não realiza o monitoramento das emissões

atmosféricas. A fumaça originada pela queima do óleo utilizado nos processos de

tratamento térmico é retirada do ambiente interno e jogada na atmosfera. A

justificativa dada é a inocuidade dos baixos volumes de emissão e o fato de que

esta emissão não é constante. Por outro lado, a empresa preocupa-se com a

emissão de seus veículos de transporte e realiza procedimentos de manutenção

periódica e preventiva, além de programar cuidadosamente horários e trajetos.

Deve-se destacar que a intenção principal é a economia em termos de tempo,

combustível e peças de desgaste, mas tal prática resulta em benefícios para o

meio ambiente.

A empresa trata as questões ambientais essencialmente como temas

internos, sendo que os stakeholders envolvidos são os órgãos fiscalizadores e os

clientes. Não se pretende estabelecer qualquer relacionamento específico com a

comunidade ou instituições de preservação ambiental, nem tampouco a

participação em programas de preservação ambiental externos à empresa.

149

Ao ser indagado acerca dos elementos motivadores para a adoção de

práticas de gestão ambiental na empresa, o entrevistado indicou os seguintes:

− Atender à exigência da legislação ou dos órgãos fiscalizadores;

− Estar em conformidade com a política social da empresa.

Nota-se, uma vez mais, que o foco é o atendimento à legislação, sendo que a

“consciência ambiental” tem seu campo de atuação claramente delimitado pelas

questões de ordem econômico-financeira. Além disso, evidenciou-se que os

clientes não exercem qualquer pressão efetiva no sentido da adoção de

procedimentos de gestão ambiental, sendo que os mesmos limitam-se a exigir o

cumprimento dos requisitos legais. O entrevistado frisou que esta exigência é

eminentemente burocrática, restringindo-se, no máximo, ao requerimento de

documentação comprovando o licenciamento ambiental. Deve-se destacar que

boa parte destes clientes possuem sistemas formais de gestão ambiental em suas

empresas, o que demonstra que tais sistemas concentram-se nos aspectos e

impactos ambientais intra-organizacionais e dedicam pouca importância à

sustentabilidade de suas cadeias de fornecimento. O entrevistado frisou que a

pressão por preços, qualidade, prazo e atendimento suplanta qualquer outro

interesse apresentado pelas empresas que adquirem seus produtos.

No que diz respeito às principais dificuldades encontradas para a

implementação de ações visando à preservação ambiental, os custos relativos às

soluções foram indicados como a principal barreira. A empresa encara como

justificáveis apenas aqueles investimentos de cunho ambiental que resultem em

ganhos de produtividade, dada a competitividade acirrada dominante no mercado

em que atua. Desta forma, qualquer desembolso voltado à melhoria da qualidade

ambiental que não contemple o aumento de eficiência, ou o atendimento estrito

da legislação, tende a ser postergado.

Neste sentido, nota-se que os atuais investimentos relacionados à melhoria

da qualidade ambiental são diretamente ligados ao aumento da eficiência

produtiva. No momento, a empresa está construindo um sistema de reciclagem da

água utilizada na lavagem das peças, o qual trará benefícios econômicos

associados aos benefícios ambientais.

A empresa “C” utiliza-se unicamente de recursos próprios para a realização

150

de investimentos relacionados às questões de cunho ambiental e se utiliza dos

serviços de uma empresa de consultoria especializada, para tratar de assuntos

relacionados ao meio ambiente. O entrevistado informou que não cogitou em

procurar o auxílio de órgãos governamentais ou patronais.

No que diz respeito à fiscalização, a empresa é fiscalizada pela CETESB e

também pela Polícia Federal e Ministério do Exército. Estas duas últimas

instituições controlam anualmente os volumes de utilização dos produtos

químicos usados nos processos de tratamento térmico e superficial, quais sejam

ácidos muriático, nítrico e sulfúrico, permanganato de potássio e hidróxido de

sódio. Fiscais da CETESB visitam a empresa em intervalos de aproximadamente

2 meses. Segundo o entrevistado, o relacionamento da empresa com os órgãos

de fiscalização é muito bom, apesar da demora na análise dos pedidos de

licenciamento. No passado, no entanto, ocorreram problemas com a CETESB

motivados por descaso por parte da empresa, pois a mesma descumpriu acordos

que haviam sido estabelecidos com este órgão ambiental, relacionados

principalmente à emissão de efluentes líquidos oriundos da lavagem de peças.

Tal conduta fez com que a empresa fosse advertida e tivesse que adotar medidas

de urgência para sanar os problemas apontados.

Ao ser questionado sobre sugestões acerca de iniciativas governamentais

que deveriam ser adotadas para incentivar as empresas como a sua a adotarem

práticas de gestão ambiental, o entrevistado apontou as seguintes:

− Implementação de programas de assessoramento técnico às empresas;

− Investimentos na capacitação técnica e administrativa dos órgãos ambientais,

de tal maneira que os mesmos possam indicar às empresas soluções viáveis

para seus problemas de ordem ambiental;

− Criação e divulgação de um cadastro das empresas que adotam boas práticas

ambientais;

− Criar incentivos fiscais para investimentos ambientais.

Na mesma linha apontada pelas empresas analisadas anteriormente, nota-se que

se espera que os órgãos de fiscalização, além de apontarem os problemas,

também indiquem possíveis soluções para os mesmos. Também nota-se

novamente a importância que o fator econômico exerce sobre as decisões

151

relativas a investimentos de caráter ambiental.

Ao se efetuar a análise do posicionamento ambiental da empresa “C” em

relação às questões ambientais, nota-se que o mesmo é focado no atendimento à

legislação, no ambiente intra-empresa e nas eventuais ameaças à saúde dos

funcionários. Devido à constante busca de aumento de eficiência, considera

justificáveis apenas aqueles investimentos ambientais que resultem em benefícios

neste sentido, ou que atendam estritamente a uma exigência da legislação. Desta

maneira, a empresa obtém uma série de benefícios ambientais marginais,

concentrados na preservação dos recursos naturais, oriundos de suas medidas

relacionadas à racionalização do uso dos insumos. Por outro lado, as emissões

da queima de óleo ocorridas durante a execução dos processos de tratamento

térmico são encaradas como sendo de menor importância, dado seu pequeno

volume, inconstância e, também, porque demandariam um investimento que não

refletiria em ganhos diretos para a produtividade. É patente que a eliminação

destas emissões ocorrerá somente se e quando for exigida pelo órgão

fiscalizador.

6.3.3 A Empresa “C” e as alternativas para o compromisso socioambiental

Foram apresentadas ao entrevistado as três alternativas visando auxiliar as

pequenas empresas a tratarem adequadamente as questões de ordem ambiental,

alternativas estas abordadas anteriormente no presente trabalho. A seguir,

expõem-se suas opiniões a respeito:

− Adoção dos princípios de P+L:

O entrevistado não conhecia os princípios de Produção Mais Limpa, no

entanto considerou que consistem basicamente numa busca de maior

eficiência nos processos produtivos. Na sua opinião, atualmente sua empresa

já adota tais princípios, parecendo-lhe óbvio o fato de que o aumento da

eficiência na utilização dos recursos resulte em aumento da ecoeficiência. No

entanto, não lhe ocorreu que a busca de aumento da ecoeficiência em si

poderia trazer ganhos na forma de redução de custos de produção.

152

Entretanto, destacou que sua empresa tem pouca liberdade para, por

exemplo, substituir determinados tipos de insumos ou processos por outros

ambientalmente menos agressivos, tendo em vista que os mesmos são em

grande parte determinados pelos clientes. De qualquer forma, o entrevistado

frisou que, nas condições em que opera atualmente, qualquer ação

espontânea voltada à preservação ambiental em sua empresa delimita-se

basicamente pela relação “custo-benefício”, dada a restrita margem de lucro

de seus negócios.

− Associativismo entre pequenas empresas:

Apesar de reconhecer as vantagens da cooperação interempresarial, o

entrevistado acredita que esta alternativa não seria viável para sua empresa.

Segundo ele, um elemento limitador é o fato de atuar numa grande região

metropolitana, com empresas “pulverizadas” numa extensa área, de tal

maneira que não existem condições geográficas ideais para este tipo de

iniciativa. No entanto, sua opinião é de que o principal obstáculo reside na

falta de uma mentalidade empresarial progressista, que saiba aproveitar

adequadamente os benefícios oferecidos pelo associativismo. Mencionou a

“lei de Gerson”, qual seja a busca de vantagens próprias em prejuízo dos

demais, como uma barreira intransponível para a cooperação inter-

empresarial no Brasil.

− Grandes empresas como indutoras e apoiadoras:

Há vários anos atrás, a empresa “C” teve um relacionamento bastante

profícuo com uma multinacional de origem japonesa, a qual inclusive chegou

a auxiliá-la na aquisição de equipamentos para a produção. No entanto, tal

relacionamento foi encerrado devido a erros de conduta da empresa “C”. O

entrevistado destacou que, mesmo após a profissionalização da gestão, sua

empresa jamais conseguiu restabelecer o contato com esta grande

organização, apesar de produzir itens para empresas que são fornecedoras

da mesma.

De qualquer maneira, o entrevistado acredita que seria muito difícil, nos dias

de hoje, que uma grande empresa atuasse como indutora e apoiadora do

desenvolvimento de um pequeno fornecedor. Segundo ele, tendo em vista

153

que a questão da redução dos custos é um fator-chave para a competitividade

no mercado global, dificilmente as organizações de grande porte investiriam

no fortalecimento das pequenas empresas de suas cadeias de fornecimento.

Antes disso, prefeririam trocar de fornecedor, eventualmente optando por

algum situado em países onde os custos de produção sejam mais baixos,

independentemente de seu comprometimento com as questões de ordem

socioambiental. Mencionou que recentemente tentou obter ajuda financeira de

um cliente, visando substituir um equipamento-chave para a fabricação de

produtos para os quais a empresa “C” é fornecedora exclusiva. Apesar de

reconhecer a importância de tal equipamento para a garantia da qualidade

dos produtos fabricados por seu único fornecedor, o cliente recusou-se

terminantemente a discutir o assunto. O entrevistado destacou uma vez mais

a falta de confiabilidade e inexistência de atribuição de valor aos

relacionamentos de longo prazo por parte das grandes organizações como um

fator determinante nas relações entre as grandes e as pequenas empresas.

6.3.4 A Empresa “C” e a questão socioambiental

As informações obtidas por ocasião da entrevista revelam que a empresa

“C” atua num cenário mercadológico altamente competitivo, com pouco poder de

barganha tanto junto aos seus fornecedores, como aos seus clientes. Neste

cenário, está sob constante pressão no sentido de atender aos critérios de preço,

qualidade, confiabilidade de fornecimento e atendimento que lhe são impostos.

Desta forma, a empresa adota a busca constante de ganhos de eficiência como

meio para manter ou tentar aumentar sua rentabilidade, que considera baixa.

Neste quadro, tendo em vista a limitação em termos de recursos

financeiros, nota-se que a ênfase em termos socioambientais recai sobre os

aspectos relacionados à segurança e saúde ocupacional, pois a empresa

considera seus funcionários como um importante elemento na busca desse

aumento de eficiência. Neste sentido, busca extrapolar o mero atendimento aos

requisitos impostos pela legislação. As questões de ordem ambiental são

positivamente influenciadas por esta filosofia, no entanto é clara a percepção de

154

que, no que tange especificamente à abordagem ambiental, visa-se estritamente

o cumprimento das exigências legais e dos órgãos fiscalizadores. O trabalho

constante objetivando a melhoria de processos e a economia dos insumos,

motivado por esta contínua busca de aumento de eficiência, é uma característica

de gestão que certamente conduz a ganhos de ordem ambiental, tanto no que

tange à preservação de recursos naturais, como à redução de desperdícios. No

entanto, é preciso frisar que estes são ganhos marginais. Sob este aspecto,

qualquer ação visando especificamente a preservação ambiental é analisado com

a utilização de critérios de investimento versus retorno, notando-se que a

“consciência empresarial” relativa ao meio ambiente é claramente delimitada pela

questão econômico-financeira. Esta é uma das razões porque não se cogita

adotar espontaneamente ações visando eliminar as emissões de fumaça de óleo.

Apesar da ênfase dedicada à melhoria das condições de trabalho, e da

superioridade das condições observadas nesta empresa em relação às

anteriormente analisadas no que tange a este quesito, nota-se que o índice de

acidentes é proporcionalmente maior. A quantidade de horas-extras e a

resistência dos funcionários à utilização de equipamentos de proteção individual

podem ser fatores que contribuem para esta situação, sendo que o gestor espera

corrigi-la insistindo na realização de programas de conscientização e treinamento,

e, inclusive, ampliando-os. No entanto, caberia indagar qual o papel que a

pressão constante por aumento da eficiência produtiva exerce sobre os números

apresentados.

No que diz respeito às exigências que lhe são impostas pelas grandes

empresas contratantes no regime de terceirização, é nítido o desinteresse

demonstrado por estas pela sustentabilidade de sua cadeia de fornecimento, pois

se limitam, quando muito, a exigir da empresa “C” a comprovação do atendimento

aos requisitos legais relacionados ao licenciamento ambiental e à segurança e

saúde ocupacional. Desta maneira, o atendimento aos requisitos dos clientes não

consiste num elemento incentivador para a adoção ou aperfeiçoamento de

procedimentos de gestão socioambiental, tendo em vista que as exigências dos

mesmos concentram-se nos aspectos relacionados a preço, qualidade e

confiabilidade de fornecimento.

Com base neste panorama, ao se analisarem os elementos motivadores

para a adoção de ações voltadas ao aperfeiçoamento do posicionamento frente

155

às questões de ordem socioambiental, destaca-se novamente a importância do

papel exercido pelos mecanismos de comando e controle, tanto no que diz

respeito à segurança e saúde ocupacional, como ao meio ambiente.

Constata-se, também nesta empresa, a carência de elementos cognitivos

relacionados à preservação ambiental, bem como a limitação de recursos

disponibilizados para tanto. Desta maneira, a empresa não dispõe de planos de

emergência ambiental, apesar de lidar com produtos que podem causar impacto

ambiental. Neste aspecto, caberia indagar se a empresa de consultoria utilizada

conta realmente com os conhecimentos necessários para orientar

adequadamente seus clientes.

Com base no exposto, nota-se que o posicionamento socioambiental da

empresa “C” corrobora as informações colhidas na bibliografia, destacando a

orientação da gestão à busca de ganhos de eficiência e competitividade no curto

prazo e ao estrito atendimento da legislação ambiental, principalmente naqueles

quesitos para os quais não se vislumbra a possibilidade de retorno financeiro.

Dentre as alternativas apontadas neste trabalho, visando estimular a adequada

inserção das pequenas indústrias nas questões de cunho socioambiental,

nenhuma parece contemplar as necessidades da empresa “C”, apesar de que a

mesma já tenha tido o apoio de uma grande organização, há vários anos atrás.

6.4 A Empresa “D”

Sediada no interior do estado de São Paulo, esta indústria foi fundada em

meados da década de 90, possui 99 funcionários e um faturamento anual bruto

pouco superior a R$ 10 milhões. Seu quadro de funcionários chegou a ter

recentemente 120 pessoas, e o faturamento anualizado às vezes atinge um valor

maior que os R$ 10,5 milhões, de tal maneira que se encontra no limite do que a

classificação adotada no presente trabalho considera como “pequena indústria”.

No entanto, considerou-se de interesse incluí-la no presente estudo de caso, por

permitir comparar seu posicionamento socioambiental com as demais empresas,

de maneira a detectar semelhanças e diferenças entre as situações encontradas

em empresas de portes diferenciados, mesmo que enquadradas dentro de um

156

mesmo critério classificatório.

A empresa “D” dedica-se à produção de itens para motores elétricos. Estas

peças são inteiramente produzidas de acordo com os desenhos e especificações

técnicas dos fabricantes dos motores, sendo, portanto, produzidas em regime de

terceirização. Os principais processos produtivos utilizados consistem em

estampagem, prensagem, compactação por transferência e usinagem por

remoção de material (torneamento e fresagem).

A administração é exercida pelos sócios, os quais dispõem de larga

experiência profissional e contam com formação acadêmica correspondente. O

questionário foi respondido pelo sócio responsável pela área técnico-comercial.

Esta indústria está instalada em galpões que oferecem espaço suficiente

para eventuais ampliações de produção e que propiciam um ambiente de trabalho

confortável e bem iluminado. Nota-se a preocupação com a organização e a

limpeza, em todas as áreas da fábrica. Os equipamentos utilizados não podem

ser considerados obsoletos, apesar de não representarem o atual “estado da arte”

em termos tecnológicos, e as operações manuais concentram-se nos processos

de carga e descarga das máquinas, montagem de componentes, transferência de

produtos, controle de qualidade, etc.

A carteira de clientes é composta basicamente por empresas atuantes nos

setores automotivo, de ferramentas elétricas e de eletrodomésticos, sendo que os

maiores volumes são consumidos por empresas multinacionais. Estas encontram-

se sob contínua pressão por redução de custos, pois o preço final de seus

produtos é constantemente comparado aos dos concorrentes, e das outras

unidades de seus grupos, distribuídos ao redor do planeta. Desta forma, a

competição global faz com que os clientes da empresa “D” corram o risco

constante de perder encomendas por questões de custos de produção, cambiais,

etc. A sobrevalorização da moeda nacional frente às demais tem afetado

sobremaneira a empresa “D”, pois seus clientes a ameaçam constantemente com

a importação dos itens fabricados por ela, de maneira a manter sua própria

competitividade no mercado global.

Os principais fornecedores da empresa são distribuidores de cobre, aço e

termofixo (tipo de plástico), insumos considerados commodities e cujos preços

são cotados internacionalmente. Desta forma, a mesma não conta com muito

poder de barganha, tendo que negociar volumes de aquisição superiores aos

157

necessários e estocar as matérias-primas, de maneira a conseguir preços

competitivos.

A empresa “D” possui possui pouquíssimos concorrentes locais, sendo que

cada um detém parcelas semelhantes de mercado. A competição entre eles é

basicamente focada em preços, prazos de entrega e atendimento.

Desde o final dos anos 90, a empresa “D” possui um sistema de gestão da

qualidade certificado. Atualmente, tal sistema cumpre os requisitos da norma ISO

9000/2000. Segundo o entrevistado, o mesmo foi implantado unicamente para

atender às exigências dos clientes. Na sua opinião, o sistema não trouxe

quaisquer ganhos em termos de qualidade aos produtos produzidos, afirmando

que o mesmo oferece algumas ferramentas de gestão muito interessantes, no

entanto é muito burocratizado. A empresa atualmente está buscando uma forma

de “personalizá-lo”, reduzindo o seu tamanho.

Ao ser questionado sobre os principais problemas enfrentados por sua

empresa, o entrevistado destacou os seguintes:

− Seus clientes exercem uma pressão extremamente forte no sentido de

redução de custos, de maneira a poder competir com os preços dos produtos

finais praticados por seus concorrentes estrangeiros, principalmente chineses;

− Dificuldade em aumentar a competitividade com relação a preços,

especialmente devido à elevada carga tributária vigente no Brasil, e à atual

situação cambial.

Deve-se mencionar que a empresa “D” encontra-se numa posição financeira

relativamente confortável e não necessita utilizar capital de terceiros. Desta forma,

o entrevistado informou que as elevadas taxas de juros não chegam a constituir

um problema. Por outro lado, destacou que a atual situação faz com que a

rentabilidade da empresa seja continuamente reduzida, de tal forma que os sócios

já avaliam a conveniência de continuar atuando neste ramo de negócios.

No que diz respeito aos aspectos para os quais seus clientes apresentam

maior grau de exigência, o entrevistado enumerou os seguintes:

− Condições de preço;

− Qualidade;

158

− Condições de prazo e confiabilidade de fornecimento.

Seus clientes não demonstram nenhuma preocupação com a tecnologia e os

equipamentos que são utilizados nos processos de fabricação, limitando-se a

avaliar a qualidade do produto final. O entrevistado fez questão de frisar que é

marcante a ausência de exigências no que diz respeito ao cumprimento das

legislações referentes à segurança e saúde ocupacional, e ao meio ambiente.

Segundo ele, seus clientes literalmente “nem sequer se preocupam se utilizamos

ou não mão-de-obra escrava”.

Ao ser indagado acerca dos principais problemas enfrentados por sua

empresa na relação de terceirização, o entrevistado enumerou os seguintes:

− Pouco poder de barganha e dependência excessiva de um pequeno número

de clientes;

− Comunicação deficiente e falta de informações;

− Falta de confiabilidade e fidelidade.

A empresa “D” vê-se submetida a uma situação na qual possui poucos clientes,

sendo que os mais importantes vêem-se compelidos a buscar continuamente

reduções de custos, de maneira a viabilizar sua própria existência frente aos

concorrentes internacionais. Neste sentido, estes clientes impõem as condições

de rentabilidade de seus fornecedores e não hesitam em substituí-los por opções

mais econômicas. Desta forma, não se consegue estabelecer um relacionamento

de parceria entre clientes e fornecedores, o que resulta numa relação um tanto

quanto conflituosa, com negociações marcadas por blefes e ameaças. De acordo

com o entrevistado, esta situação tem se agravado progressivamente nos últimos

anos, especialmente desde que a globalização dos mercados produtivos tornou-

se uma realidade.

Os dados apresentados permitem concluir que a empresa “D” atua num

mercado fortemente influenciado pelas condições impostas pela globalização,

pois suas chances de sobrevivência concentram-se na obtenção de vantagens

competitivas em relação a concorrentes situados em outros países,

especialmente na China. É importante destacar que seus próprios clientes, em

sua maioria grandes empresas multinacionais instaladas no Brasil, têm suas

159

unidades brasileiras sujeitas à perda de competitividade frente às suas “irmãs”

localizadas em outros países que apresentam custos de produção mais baixos.

Neste quadro, é clara a pressão por redução dos custos de produção, num

ambiente em que praticamente não há margens para diminuição dos preços de

aquisição dos insumos e no qual a situação macroeconômica influencia

negativamente a competitividade internacional das empresas brasileiras,

principalmente devido à alta carga tributária e à valorização da moeda nacional

frente às demais.

Com este panorama em vista, passa-se a seguir a analisar o

posicionamento da empresa “D” com relação à dimensão socioambiental de seus

negócios.

6.4.1 A Empresa “D” e a segurança e saúde no trabalho

Esta indústria não possui um sistema ou política formal para a gestão da

segurança e saúde ocupacional. O entrevistado declarou, no entanto, que os

sócios seguem uma política informal, centrada no atendimento integral das

exigências impostas pela legislação e na busca constante de melhores condições

de trabalho para os funcionários. Neste sentido, destacou que a empresa procura,

mais do que apenas melhorar as condições de trabalho, auxiliar seus

colaboradores a obterem melhores condições de vida. Desta forma, realiza

regularmente treinamentos e programas de conscientização, abordando não

somente os aspectos estritamente ligados ao trabalho, mas também à vida extra-

empresa. O entrevistado destacou que a empresa mudou-se para as instalações

autuais há poucos anos, principalmente porque a localização antiga não oferecia

condições de trabalho ideais. Aquela situação acarretou, inclusive, autuações pela

fiscalização do Ministério do Trabalho.

Desta maneira, atualmente a empresa “D” adota todos os procedimentos

relacionados à gestão de SSO exigidos pela legislação, além de realizar

pesquisas de satisfação regulares junto aos seus funcionários. Nota-se, no

entanto, que existem indicadores para monitorar a saúde e segurança, mas não

se estabelecem metas e objetivos visando sua melhoria. Todas as máquinas e

160

equipamentos contam com sistemas de segurança adequados, alguns até mesmo

redundantes. É grande a preocupação com a obtenção de um ambiente de

trabalho bem iluminado, arejado, limpo e organizado. Recentemente, a empresa

providenciou a instalação de sistemas de refrigeração para as áreas produtivas,

pois considerou que o sistema de ventilação não era suficiente para garantir o

conforto dos funcionários nos dias quentes. Também dedica-se grande atenção

aos aspectos ergonômicos, principalmente devido à natureza repetitiva do

trabalho. Desta maneira, nos últimos dois anos procedeu-se a uma

“reestruturação ergonômica” geral, de maneira a evitar lesões por esforços

repetitivos. Este procedimento será complementado brevemente com a introdução

da ginástica laboral.

Nos últimos 3 anos, cada funcionário fez anualmente entre 120 e 150

horas-extras. O entrevistado destacou que a sazonalidade da demanda não

permite a contratação de funcionários para suprir os momentos de maior volume

de produção, concentrados em curtos períodos de tempo. A média de acidentes

de trabalho que tenham resultado em afastamento temporário, nos últimos 3

anos, é de 1 ao ano. Nunca houve acidentes que tenham resultado em mutilação

ou morte. O percentual de afastamentos por LER, no entanto, é relativamente

alto, da ordem de 8% ao ano, o que explica o esforço da empresa em reformular

os aspectos ergonômicos da produção e a intenção de implementar a ginástica

laboral.

De acordo com o entrevistado, a empresa não encontra quaisquer

dificuldades para implementar ações de SSO. No que tange ao uso de EPI’s, não

demonstra tolerância quanto à eventual resistência dos funcionários: aqueles que

não usam seus equipamentos de proteção individual são sumariamente

demitidos. A empresa “D” possui um técnico de segurança próprio, e além disso

contrata uma empresa externa para tratar dos assuntos relacionados à segurança

e saúde ocupacional, especialmente aqueles relativos à documentação legal e

aos treinamentos e programas de conscientização. O entrevistado informou

jamais ter recorrido a instituições como o CNI/SENAI ou órgãos governamentais

para a identificação de soluções relacionadas ao tema.

No que diz respeito ao relacionamento com os órgãos de fiscalização, a

empresa foi autuada por diversas vezes, quando ainda estava ocupando suas

antigas instalações. Tais autuações foram relativas à falta de espaço no vestiário,

161

ausência de refeitório, quantidade insuficiente de banheiros e falta de sapatos de

segurança. O entrevistado demonstrou-se revoltado com a atitude da fiscalização,

a qual autuou a empresa sem qualquer tipo de orientação ou diálogo prévio.

Neste sentido, destacou que a empresa somente foi visitada pela fiscalização por

denúncia do sindicato dos trabalhadores, o qual tampouco se apresentou

previamente para discutir os pontos que deveriam ser corrigidos. Tendo em vista

a atitude “arrogante e truculenta” destas duas instituições, que ao seu ver não se

preocuparam realmente em verificar se as condições oferecidas no ambiente de

produção eram ou não adequadas, a direção da empresa decidiu transferir a

organização para as instalações atuais, as quais suplantam com folga qualquer

requerimento legal. Atualmente, por exemplo, cada funcionário dispõe de dois

armários de roupa no vestiário: um para a roupa de trabalho, outro para a roupa

normal. Também como resposta às autuações, a não-utilização de equipamentos

de proteção individual acarreta sanções imediatas aos funcionários.

Todas as soluções relacionadas à segurança e saúde no trabalho adotadas

pela empresa são realizadas com a utilização de recursos próprios e, segundo o

entrevistado, geram um aumento de custos inevitável. Apesar da pressão por

redução de custos, a empresa não cogita em reduzir os investimentos neste setor.

As futuras soluções também serão bancadas com recursos próprios: além da

implementação da ginástica laboral e busca de outras alternativas para a redução

dos índices de afastamento por LER, o próximo investimento será voltado ao

“encapsulamento” (isolamento acústico) de três prensas, que consistem nas

máquinas que geram maior nível de ruído.

Quando indagado acerca das iniciativas que o poder público deveria adotar

para auxiliar as empresas a aperfeiçoarem suas práticas relacionadas à SSO, o

entrevistado sugeriu que se revisasse a regulamentação. Sua opinião é de que os

critérios de classificação para aplicação das normas legais não deveriam

contemplar apenas o número de funcionários, mas também o setor de atividade.

Em suma, opinou que a legislação deveria ser modernizada, para evitar

autuações como as que foram impostas à sua empresa, ao seu ver absurdas.

As informações colhidas na entrevista denotam a preocupação da empresa

“D” com as condições de trabalho oferecidas aos empregados, especialmente no

que diz respeito ao conforto ambiental. Este posicionamento revela a

preocupação com o desenvolvimento de uma relação de confiança com os

162

funcionários, voltada à obtenção de um ambiente colaborativo e participativo, vital

para a obtenção dos ganhos de eficiência vitais à competitividade. É importante

destacar que a questão dos custos envolvidos nas soluções relacionadas à SSO

não parece ser um fator tão importante como para as empresas analisadas

anteriormente, talvez devido ao porte maior da empresa “D”. Apesar disso, nota-

se uma posição reativa da mesma frente às questões relacionadas à saúde e

segurança ocupacional, espelhada pelas autuações sofridas e pelas medidas um

tanto quanto tardias destinadas a reduzir as lesões por esforços repetitivos.

6.4.2 A Empresa “D” e o meio ambiente

Esta indústria tampouco possui uma política ou sistema formal para a

gestão ambiental, focando sua atuação no estrito atendimento aos requerimentos

legais. O entrevistado opinou que sua empresa desempenha atividades que

exercem poucos impactos de ordem ambiental, deixando claro que somente

implementaria um sistema de gestão caso esta fosse uma exigência de seus

clientes. Assim sendo, prioriza o atendimento estrito ao requerimentos legais e

concentra sua atenção sobre os processos que podem representar risco à saúde

de seus funcionários, adotando, por exemplo, sistemas de aspiração e filtragem

naqueles setores produtivos cujos processos resultam em lançamento de

partículas à atmosfera. Além disso, devido à busca constante de ganhos de

eficiência, via redução de custos, adota diversas ações que exercem influência

positiva sobre seu posicionamento ambiental, via aumento da ecoeficiência.

Assim sendo, os procedimentos de gestão ambiental realizados pela empresa “D”

são basicamente os seguintes:

− Busca contínua de redução do uso de matéria-prima por quantidade de

produto fabricado;

− Mudanças na composição da embalagem: utilização de embalagens plásticas

retornáveis, em substituição às embalagens de isopor e de papelão;

− Disposição adequada dos resíduos sólidos ou lixo da atividade industrial:

como exemplo, restos de baquelite (produto plástico) são coletados

163

separadamente e destinados a um aterro autorizado.

Outras ações ligadas à preservação ambiental, como a substituição de

determinados elementos de amianto por fibra de vidro, foram motivadas por

alterações das especificações técnicas determinadas pelos clientes. Não existe

um plano de emergência ambiental, nem há treinamentos ou programas de

conscientização que contemplem as questões relacionadas ao meio ambiente. A

empresa não adota programas específicos visando redução do consumo de água,

sendo que esta não consiste em insumo de processo e é utilizada apenas nos

banheiros e para a limpeza da fábrica. O entrevistado destacou que a empresa

possui poço artesiano e não monitora o consumo. No que diz respeito à economia

de energia, informou que os processos e equipamentos de fabricação são os mais

econômicos possíveis e que se chegou apenas a cogitar a instalação de

clarabóias no teto da fábrica, visando reduzir os gastos com iluminação. No

entanto, chegou-se à conclusão de que tal medida seria desvantajosa, pois teria

um prazo de amortização muito longo, além de aumentar a temperatura no interior

da fábrica. A empresa controla os volumes de geração de resíduos sólidos,

perdas e refugos de materiais e de produto acabado, mas utiliza os registros

basicamente como ferramenta para verificar a eficiência dos processos

produtivos. Os monitoramentos da emissão de poeira e material particulado e de

ruídos e vibrações são contemplados no âmbito dos controles relativos à

segurança e saúde ocupacional.

A questão ambiental, também na empresa “D”, é encarada como um tema

interno, não havendo interesse em discuti-la com a comunidade, clientes ou

qualquer outro stakeholder além dos órgãos ambientais.

Ao ser indagado sobre quais seriam os elementos motivadores para a

adoção de práticas de gestão ambiental em sua empresa, o entrevistado

destacou o atendimento à legislação ou a demandas por parte dos clientes,

comunidades vizinhas ou entidades de preservação ambiental. Frisou, no entanto,

que até o momento não recebeu qualquer tipo de solicitação ou exigência neste

sentido. Também neste caso, nota-se que os clientes restringem-se a, no

máximo, solicitar documentação comprobatória do licenciamento ambiental da

empresa. Deve-se frisar que alguns grandes clientes possuem sistemas de

gestão ambiental certificados, o que ressalta o fato de que não existe uma

164

preocupação efetiva com a sustentabilidade ambiental das suas cadeias de

fornecimento. O entrevistado destacou que está plenamente convicto da

necessidade de preservação ambiental, mas que as atividades produtivas de sua

empresa causam pouquíssimos impactos de ordem ambiental e que qualquer

novo investimento nesta área somente se justificaria caso representasse um

ganho de eficiência capaz de contribuir para a redução dos custos de produção,

ou consistisse em exigência legal ou mercadológica.

A empresa “D” não tem encontrado dificuldades para tratar os assuntos

relacionados ao meio ambiente e se utiliza de uma empresa de consultoria para

assessorá-la. O entrevistado não acha que valha a pena contatar instituições

como CNI/SENAI ou órgãos patronais à busca de informações sobre o tema. Os

investimentos na área são feitos exclusivamente com recursos próprios e são

concentrados nos sistemas de aspiração e filtragem de partículas sólidas,

redução de ruídos e vibrações e separação e destinação adequada de resíduos e

sucatas. O entrevistado estima que tais investimentos provocam apenas um

pequeno (e inevitável) aumento nos custos dos produtos, mas destacou que isto

representa um “peso” para quem opera sob constante pressão por redução de

preços.

No que tange ao relacionamento com os órgãos de fiscalização ambiental,

o entrevistado declarou que o único problema encontrado consiste na demora na

tramitação dos pedidos de licenciamento, de tal forma que a fábrica chegou a

trabalhar um ano e meio sem licença. Segundo ele, ocorreu apenas uma

fiscalização prévia ao licenciamento, e novas visitas dos fiscais da CETESB são

realizadas somente quando sua empresa requer a renovação da licença. Por fim,

destacou que o custo para a obtenção deste documento é demasiadamente alto,

tendo em vista o serviço prestado pelo órgão responsável. Deve-se mencionar,

também, que a empresa jamais foi autuada por razões ambientais.

Quanto a sugestões relativas a iniciativas governamentais que poderiam

ser adotadas para incentivar as empresas como a sua a adotar práticas de gestão

ambiental, o entrevistado mencionou as seguintes:

− Além da cobrança de multas quando do não atendimento à legislação, instituir

taxas por nível de carga de poluição ou uso dos recursos naturais;

− Simplificação da regulamentação ambiental, de maneira a torná-la mais

165

transparente;

− Criar incentivos fiscais para investimentos ambientais;

− Investir na capacidade técnica e administrativa dos órgãos ambientais, de

maneira a agilizar a concessão de licenças ambientais.

As informações obtidas junto à empresa “D” ressaltam a importância dos

mecanismos de comando e controle para a adoção de medidas de preservação

ambiental por parte das empresas, e confirmam a questão econômico-financeira

como fator preponderante para a adoção espontânea de ações relacionadas à

gestão ambiental. Neste aspecto, cabe destacar que as questões relacionadas ao

meio ambiente são encaradas por esta empresa como ameaças de aumentos de

custos de produção e não como oportunidades: o entrevistado fez questão de

destacar que o respeito ao meio ambiente não é sequer considerado nas

planilhas elaboradas pelos seus clientes para efeito de comparação entre os

diversos fornecedores internacionais. Com este panorama em vista, dificilmente a

empresa “D” admitirá a conveniência da adoção de medidas visando aperfeiçoar o

tratamento dedicado aos aspectos ambientais de suas atividades.

6.4.3 A Empresa “D” e as alternativas para o compromisso socioambiental

Mantendo em vista o posicionamento da indústria em questão, descreve-se

a seguir a opinião do entrevistado sobre as alternativas propostas anteriormente

neste trabalho, visando auxiliar as pequenas organizações a tratarem

adequadamente as questões socioambientais relacionadas às seus negócios:

− Adoção dos princípios de P+L:

Os princípios de Produção Mais Limpa eram totalmente desconhecidos pelo

entrevistado, que demonstrou um certo ceticismo quanto à sua possibilidade

de aplicação. Para ele, tais conceitos enfocam basicamente a busca de maior

eficiência produtiva, mas esbarram no limite da possibilidade de redução no

consumo de recursos e na impossibilidade de substituir determinados tipos de

insumos, principalmente quando as características dos produtos fabricados

166

são determinadas pelos clientes. Na sua opinião, sua empresa já adota

inconscientemente os princípios de P+L, de tal forma que qualquer

aperfeiçoamento do desempenho ambiental implicaria em aumentos dos

custos de produção, e não na sua redução.

− Associativismo entre pequenas empresas:

O entrevistado mencionou que sua empresa jamais cogitou em associar-se, e

declarou que os empresários raramente têm tempo disponível para dedicar-se

à tarefa de aglutinar esforços. A seu ver, as Prefeituras, órgãos patronais,

associações comerciais, etc. deveriam promover o associativismo como

maneira de promover o desenvolvimento regional. Além disso, encara a

questão cultural como uma importante barreira para o sucesso deste tipo de

iniciativa, pois a seu ver não existe uma “cultura cooperativa” no ambiente

empresarial brasileiro.

− Grandes empresas como indutoras e apoiadoras:

A empresa “D” acaba de ser incluída num programa de aperfeiçoamento

implementado por um grande cliente, o qual pretende preparar seus

fornecedores para enfrentarem as demandas do ambiente competitivo

internacional. Tal programa consiste num ciclo de treinamentos que abordam

diversas ferramentas de gestão. Este cliente espera que a iniciativa resulte

numa redução de custos substancial, a qual lhe deverá ser repassada sob a

forma de diminuição dos preços dos itens que lhe são fornecidos. O

entrevistado teme, no entanto, que tal programa o obrigue a expor demais

suas informações gerenciais ao cliente, reduzindo ainda mais sua

rentabilidade. Neste aspecto, a venda de sucatas, por exemplo, a qual gera

uma receita que auxilia a reduzir os custos com a matéria-prima, deveria ser

repassada ao seu cliente sob a forma de redução do consumo de matéria-

prima. O entrevistado opinou que já adota ferramentas de gestão modernas,

de tal forma que a sua competitividade no cenário global está definida

atualmente por um cenário macroeconômico sobre o qual ele não exerce

nenhuma influência. Complementou que, no cenário competitivo atual,

dificilmente as grandes empresas demonstrarão preocupação efetiva com o

desenvolvimento de seus pequenos fornecedores: o foco é a redução de

167

custos para competir no mercado globalizado, e não a construção de uma

sólida cadeia de fornecimento, baseada em relacionamentos de longo prazo.

6.4.4 A Empresa “D” e a questão socioambiental

As informações colhidas por ocasião da entrevista permitem realizar uma

análise do posicionamento desta empresa, tanto em relação ao cenário

mercadológico no qual atua, quanto no que diz respeito às questões

socioambientais.

A empresa “D” opera num mercado profundamente influenciado pelo

fenômeno da globalização. Neste aspecto, vê-se com pouco poder de barganha

junto aos seus fornecedores e clientes, e impelida a competir com empresas de

outros países, as quais contam com condições macroeconômicas que lhes

permitem oferecer seus produtos a preços inferiores. Neste quadro, os próprios

clientes da empresa “D” devem procurar constantemente reduzir os seus custos,

de maneira a viabilizar sua sobrevivência. Desta maneira, a busca constante por

aumentos de eficiência é o caminho apontado pelo entrevistado como a única

forma de manter a competitividade.

Neste panorama, nota-se que os fatores relacionados à segurança e saúde

ocupacional são considerados como elementos que podem contribuir para a

obtenção de ganhos de competitividade, enquanto aqueles relacionados à

questão ambiental são considerados como fontes potenciais de custos, e não de

oportunidades. Desta forma, enquanto busca-se suplantar as regulamentações

relacionadas à SSO, procura-se cumprir com os requerimentos mínimos impostos

pela legislação ambiental. Este posicionamento é reforçado, inclusive, pelo

comportamento dos órgãos de fiscalização, sendo que a decisão pela melhoria

das condições de trabalho foi fortemente influenciada pela atitude intransigente do

Ministério do Trabalho e do sindicato dos trabalhadores.

Com base no exposto, torna-se claro que a atuação dos mecanismos de

comando e controle é o principal elemento motivador para a adoção de ações por

parte da empresa “D”, visando o aperfeiçoamento de seu posicionamento

socioambiental. No que tange aos clientes, é nítida a pouca atenção que os

168

mesmos dedicam a este aspecto quando analisam seus fornecedores,

evidenciando que seus sistemas de gestão não extrapolam os muros de suas

fábricas. Esta é uma demonstração de que a sustentabilidade das cadeias de

fornecimento ainda não consiste num elemento competitivo a ser considerado na

competição globalizada.

O quadro encontrado na empresa “D” expõe a assertividade das

afirmações encontradas na bibliografia, com o agravante de que esta organização

poderia aperfeiçoar seu posicionamento socioambiental, e ambiental em especial,

no entanto não o faz devido às condições mercadológicas na qual atua. Neste

panorama, qualquer medida gerencial é obrigatoriamente voltada ao atendimento

de uma necessidade de curto prazo, e não à sustentabilidade dos negócios no

longo prazo.

6.5 Consolidação das informações obtidas

A partir das informações obtidas por ocasião da realização das entrevistas

junto às quatro pequenas indústrias no estudo de caso, é possível proceder a

uma análise global de seu posicionamento, tanto levando em consideração as

condições mercadológicas nas quais atuam, como sua postura em relação à

dimensão socioambiental de suas atividades.

Desta maneira, constata-se que estas empresas atuam em mercados

altamente disputados, os quais apresentam como característica comum a

concorrência focada em preços. Tendo em vista que seu poder de barganha junto

aos fornecedores e clientes é limitado, vêem-se compelidas a buscar

permanentemente ganhos de eficiência, de maneira a sobreviver numa situação

na qual os custos dos insumos aumentam constantemente, enquanto a pressão

por contenção ou redução nos preços dos produtos fornecidos torna-se cada vez

maior. A empresa “B” goza de uma situação peculiar, devido ao fato de ser

fornecedora exclusiva de seu único grande cliente, o qual enfoca a questão da

qualidade. Tal situação, se não a pressiona tão diretamente quanto as demais no

que diz respeito à questão dos preços de seus produtos, a expõe a uma perigosa

dependência em relação a este cliente e à necessidade de constante vigilância

169

sobre a eficiência de seus processos, de maneira a manter seus custos

equiparáveis aos dos potenciais concorrentes. Além disso, seu esforço no sentido

de reduzir esta dependência, o qual consiste na comercialização de uma linha de

produtos própria, obriga-a a competir num mercado no qual seus concorrentes já

estão bem-estabelecidos e onde o fator preço é elementar. Com este panorama

em vista, nota-se que a empresa “D” apresenta-se como aquela que se encontra

mais exposta à realidade imposta pelo mercado globalizado: apesar de possuir

pouquíssimos concorrentes de peso estabelecidos em território nacional, vê-se

tendo que operar em condições nas quais sua competitividade é diretamente

comparada à de seus equivalentes de outros países. Neste cenário, novamente a

questão do preço é considerada a peça fundamental para a competitividade,

sendo que a situação macroeconômica brasileira impõe limites à sua capacidade

de enfrentar os concorrentes. Tal situação faz com que seus clientes, em sua

maioria subsidiárias de empresas multinacionais, também se vejam ameaçados

por concorrentes estrangeiros, ou mesmo pelas unidades de seus próprios grupos

situadas em outros países. Desta forma, fatores ligados à competitividade

nacional, tais como carga tributária, taxa de câmbio, custos de financiamento,

infra-estrutura e outros afetam a empresa “D” de maneira ainda mais evidente que

as outras três empresas estudadas.

Neste ambiente mercadológico, as exigências apresentadas pelas grandes

empresas aos seus pequenos fornecedores terceirizados concentram-se nos

preços dos produtos fornecidos e, em menor escala, na sua qualidade e

confiabilidade de fornecimento. As entrevistas indicam, inclusive, que tem ocorrido

uma exacerbação das exigências focadas em preço, nos últimos anos. Esta

característica acaba por influenciar decisivamente o relacionamento entre clientes

e fornecedores, de tal maneira que, à exceção do que ocorre com a empresa “B”,

não se consegue estabelecer uma parceria duradoura e confiável, pois uma

pequena diferença no preço do produto pode facilmente representar a perda dos

pedidos para um concorrente. Tal fato caracteriza o relacionamento desigual que

existe entre as grandes empresas e as pequenas indústrias estudadas, marcado

freqüentemente também por pressões pelo estrito cumprimento de prazos,

excesso de exigências e comunicação deficiente. É importante destacar que, de

acordo com as informações obtidas, as grandes organizações não demonstram

um interesse concreto pelo posicionamento socioambiental das pequenas

170

indústrias terceirizadas. Mesmo aqueles clientes que possuem sistemas de

gestão ambiental contentam-se com a simples exibição de documentação que

comprove o atendimento à legislação ambiental por parte do fornecedor.

Com este panorama em vista, aquelas ações das pequenas indústrias que

são relacionadas à melhoria das condições socioambientais são determinadas

principalmente pelo atendimento à legislação e às demandas dos respectivos

órgãos fiscalizadores. Se a força de trabalho chega a ser considerada pelas

empresas estudadas como um elemento diretamente ligado à produtividade e

importante fator para a obtenção do tão desejado aumento de eficiência, as

questões relativas ao meio ambiente são relegadas a segundo plano. Desta

maneira, nota-se que existe uma propensão maior a buscar uma melhoria das

condições relacionadas à segurança e saúde ocupacional, mesmo que os custos

envolvidos possam ser considerados elevados. Deve-se destacar, também, que a

fiscalização referente às condições de trabalho parece ser mais atuante que

aquela relacionada ao meio ambiente. Assim sendo, as ações que podem ser

enquadradas como sendo de gestão ambiental são fundamentalmente

relacionadas à preservação da saúde dos funcionários e ao aumento de eficiência

operacional, via redução no consumo de insumos, reciclagem, reaproveitamento,

etc. Percebe-se que a melhoria das condições de trabalho e ambientais passa

freqüentemente pela aquisição de novos recursos produtivos, algo que depende

das escassas disponibilidades financeiras das pequenas empresas. Mesmo que

estas contem com uma posição mais confortável neste aspecto, percebe-se que

hesitam em investir, devido às dúvidas relacionadas à amortização do

investimento frente à instabilidade do mercado em que atuam. Portanto, tais

investimentos acabam sendo primordialmente definidos por critérios que levam

em conta as possibilidades de ganhos de eficiência nos processos produtivos, os

quais acabam gerando benefícios socioambientais marginais. Desta maneira, é

comum, por parte dos pequenos empreendedores entrevistados, a opção por uma

“conformidade ambiental parcial” proposital, especialmente frente àquelas

soluções ambientais que exigem investimentos com escassas possibilidades de

amortização. Neste sentido, não importa se os pequenos empreendedores são

conscientes a respeito da necessidade de preservação ambiental: sua

consciência tem um campo de influência delimitado por critérios econômico-

financeiros, devido à luta pela sobrevivência de suas organizações no curto prazo.

171

Para complementar este quadro, as empresas entrevistadas demonstram uma

série de deficiências em termos cognitivos, deficiências estas que parecem ser

apresentadas também pelas empresas de consultoria que as assistem. Aliadas a

uma certa ineficiência ou até mesmo permissividade por parte dos órgãos de

fiscalização, tais características contribuem para um posicionamento deficiente

destas organizações, especialmente no que tange à dimensão ambiental de seus

negócios.

Com este panorama em vista, é clara a demanda por apoio oficial para o

devido enquadramento das pequenas indústrias estudadas frente às questões

socioambientais. As entrevistas realizadas demonstram que não basta a simples

existência de um mecanismo de comando e controle: revela-se necessária a

adoção de políticas públicas que fomentem o enquadramento às determinações

deste sistema. Os entrevistados apontaram demandas por capacitação,

fornecimento de informações, concessão de financiamentos específicos,

benefícios fiscais, etc. Neste sentido, nota-se que as instituições públicas ou

patronais de fomento, como CNI/SENAI e SEBRAE, ainda são pouco atuantes e

sequer chegaram a ser consultadas pela maioria dos entrevistados, pois, assim

como ocorre em relação ao poder público em geral, não são considerados por

eles como parceiros potenciais para a busca de soluções.

Tendo em vista o quadro apresentado, é forçoso mencionar que, apesar de

todas as dificuldades e deficiências, as empresas estudadas têm logrado não

apenas manter-se vivas, mas inclusive apresentar algum crescimento: o

entrevistador não encontrou, em nenhuma delas, uma situação de estagnação,

mas sim um cenário de lento, mas consistente, desenvolvimento, obtido graças ao

já mencionado rígido controle exercido sobre a eficiência produtiva. Neste sentido,

é de se indagar se a “conformidade parcial” não consiste num dos fatores que

viabilizam este crescimento.

No que diz respeito às alternativas apontadas anteriormente no presente

trabalho, as quais visam auxiliar as pequenas organizações a aperfeiçoarem seu

posicionamento frente às questões socioambientais, nota-se que os entrevistados

demonstram um grande ceticismo no que diz respeito ao associativismo, sendo

que a empresa “A” inclusive colheu maus resultados com uma tentativa neste

sentido. Pode-se dizer que as principais dificuldades em relação a esta alternativa

concentram-se na cultura empresarial vigente entre os empreendedores

172

brasileiros, a qual, de acordo com os entrevistados, é centrada na busca de

vantagens individuais. No que diz respeito à utilização dos princípios de Produção

Mais Limpa, apesar do interesse demonstrado pela empresa “A”, a opinião

predominante foi de que a busca de ecoeficiência resume-se à busca de aumento

de eficiência produtiva. Sob este ponto de vista, os entrevistados destacaram que

dificilmente poderiam obter ganhos significativos com a utilização destes

princípios, dado que seus processos produtivos já perseguem a maior eficiência

operacional possível. É preciso destacar que estas empresas vêem-se limitadas

em alguns aspectos relacionados às alternativas propostas pelos princípios de

P+L. No que tange à possibilidade de substituição de insumos, por exemplo, sua

atuação é restringida pelas especificações técnicas determinadas pelos seus

clientes. Ao opinarem a respeito da atuação das grandes empresas como

indutoras e apoiadoras para o aprimoramento socioambiental de seus pequenos

fornecedores, os entrevistados, de maneira geral, demonstraram receio de que o

desenvolvimento de um trabalho conjunto exponha em excesso informações a

respeito de suas organizações aos seus grandes clientes, aumentando seu grau

de dependência e reduzindo suas possibilidades de aumento de rentabilidade. Tal

opinião é compartilhada pelas empresas “B” e “D”, que já desenvolvem trabalhos

voltados ao aperfeiçoamento gerencial juntamente a grandes clientes. Todos os

entrevistados acreditam que as grandes empresas geralmente buscam atingir

seus próprios objetivos, não estando muito preocupadas com a constituição de

uma cadeia de fornecimento baseada em relacionamentos de longo prazo,

voltados à parceria. A pressão constante por redução de custos acaba fazendo

com que tais clientes vejam-se compelidos a optar por soluções de baixo custo e

pelos fornecedores que ofereçam seus produtos por preços mais baixos, não

importa sob que condições socioambientais.

173

7. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A crescente preocupação da sociedade quanto à sustentabilidade das

atividades produtivas, preocupação esta despertada principalmente devido à

ocorrência de grandes acidentes como Bhopal, Exxon Valdez e Chernobyl,

desencadeou um movimento de adequação das grandes empresas a uma nova

realidade, na qual devem atentar para as conseqüências sociais e ambientais de

seus negócios, deixando de concentrar-se exclusivamente nas questões de

ordem econômica. De maneira a tratar adequadamente a dimensão

socioambiental de suas atividades, muitas passaram a implementar sistemas de

gestão que buscam conciliar os interesses relacionados aos aspectos

econômicos, sociais e ambientais. Tal movimento é influenciado não somente

pela necessidade de atendimento aos requisitos dos mecanismos de comando e

controle estabelecidos pelo poder público, mas também pelo alto nível de

exposição destas grandes organizações aos meios de comunicação e, por

conseguinte, à opinião pública.

Desta forma, nota-se que a sociedade tende a dedicar uma maior atenção

às atividades desenvolvidas pelas grandes empresas e a desconsiderar o papel

que as pequenas organizações produtivas têm a desempenhar no sentido de

melhorar seus índices de sustentabilidade. Tal atitude deve-se ao fato de que o

porte reduzido e a menor escala produtiva conferem às pequenas empresas uma

menor “visibilidade”, ou uma certa tolerância, com relação às deficiências que

venham a apresentar quanto aos aspectos socioambientais de seus negócios.

Contudo, se tomadas individualmente, estas empresas podem realmente gerar

baixas quantidades de emissões poluidoras e não ocasionar extensos danos em

termos sociais, o cenário transforma-se completamente quando se avaliam as

conseqüências socioambientais da atuação deste setor econômico como um todo.

A bibliografia consultada durante o processo de elaboração do presente

trabalho indica que as PME’s atuam em mercados altamente concorridos,

premidas pela competição por preços e pela necessidade de adotar estratégias

que lhes garantam competitividade no curto prazo. Além disso, contam com

parcos recursos financeiros e cognitivos, e tendem a relegar a segundo plano a

174

dimensão socioambiental de seus negócios, atitude que conduz à obtenção de

um mau desempenho em termos ambientais e de segurança e saúde

ocupacional. Desta forma, a Organização Internacional do Trabalho declara que

as empresas de menor porte compõem mais de 90% das organizações nas quais

as condições laborais são consideradas muito deficientes (ILO, 2005), enquanto

Walters (2002) aponta que a taxa de acidentes de trabalho nas pequenas

empresas é consideravelmente maior do que nas grandes. A publicação Industry

and Environment (2003) menciona diversos estudos demonstrando a significativa

participação das PME’s na geração de resíduos industriais e emissões tóxicas,

indicando inclusive um aumento na participação das pequenas empresas nestas

emissões.

Dados como estes assumem uma relevância ainda maior para a análise da

atuação socioambiental das pequenas empresas, quando se considera que

aproximadamente 90% das empresas do mundo são PME’s, oferecendo entre

50% e 60% dos empregos, e que aproximadamente 25% delas atuam nos setores

de produção e construção (INDUSTRY AND ENVIRONMENT, 2003). Constata-se

que o setor econômico representado pelas organizações produtivas de pequeno

porte encontra-se em plena expansão, sendo que a terceirização produtiva é um

dos principais fatores que contribuem para este fenômeno. A terceirização

consiste na transferência de processos produtivos e serviços das grandes

empresas para as pequenas organizações, recurso utilizado pelas empresas de

grande porte para obter redução de custos e maior flexibilidade. Os autores

consultados indicam, contudo, que o relacionamento entre grandes e pequenas

empresas no regime de terceirização apresenta diversos problemas, devidos

principalmente à assimetria de poder econômico. Moniz e Kóvacs (2001), por

exemplo, apontam que freqüentemente as PME’s vêem-se submetidas a uma ou

várias grandes empresas, as quais controlam os níveis de produção e de custos

dos seus fornecedores, numa relação de dependência de tipo feudal.

Com este panorama em vista, o objetivo central do presente trabalho foi

analisar o posicionamento socioambiental de um grupo de quatro pequenas

indústrias brasileiras que produzem itens para grandes empresas em regime de

terceirização. O estudo de caso realizado com esta finalidade demonstrou que

estas indústrias competem em mercados altamente disputados, cuja

característica comum é a concorrência baseada em preços. Esta característica

175

competitiva vem sendo, inclusive, exacerbada no decorrer dos últimos anos. Uma

vez que são escassas as possibilidades de redução dos custos relativos à

aquisição dos insumos produtivos, e é pequeno o poder de barganha que têm

junto às grandes empresas contratantes, as indústrias estudadas vêem-se

obrigadas a buscar de maneira contínua a obtenção de ganhos de eficiência,

como forma de manter ou aumentar sua rentabilidade. Nota-se também que estas

organizações não contam com recursos financeiros abundantes, o que as impede

de realizar investimentos cujo prazo de amortização seja muito longo ou que não

se traduzam em imediatos ganhos de produtividade. Tal realidade, somada ao

fato de que apresentam deficiências em termos cognitivos, especialmente no que

diz respeito à relação entre o negócio e a atuação socioambientalmente

responsável, faz com que os administradores concentrem suas atenções em

aspectos gerenciais de curto prazo, concentrados especialmente na obtenção de

diferenciais competitivos que lhes garantam a sobrevivência no dia-a-dia. Tais

características alinham-se com as informações colhidas na bibliografia,

especialmente naquela publicada pela ENSR (2002) e Industry and Environment

(2003), e exercem influência marcante sobre o posicionamento socioambiental

destas empresas.

Ao se analisarem as exigências que as grandes empresas clientes impõem

às quatro indústrias em questão, observa-se que se concentram nos preços dos

produtos fornecidos, e, em menor escala, na qualidade dos mesmos e na sua

confiabilidade de fornecimento. Tal característica influencia de maneira decisiva o

relacionamento entre as empresas contratantes e as terceirizadas, marcado pela

imposição do poder econômico exercido pelos grandes clientes e pela constante

ameaça de troca de fornecedor por mínimas diferenças de preço. Uma das

empresas estudadas trabalha, inclusive, sob grande dependência dos pedidos de

um único grande cliente, de tal maneira que os volumes de produção desta

pequena indústria são definidos pelo mesmo. As informações obtidas no estudo

de caso comprovam as assertivas de Moniz e Kóvacs (2001), principalmente

aquelas referentes ao relacionamento desigual existente entre as grandes e as

pequenas empresas no regime de terceirização.

Com base neste cenário, constata-se que o posicionamento socioambiental

das quatro empresas analisadas é basicamente determinado pelo estrito

atendimento às exigências da legislação e dos respectivos órgãos fiscalizadores,

176

buscando-se o menor desembolso possível. Nota-se, no entanto, que as questões

relacionadas à melhoria das condições de saúde e segurança ocupacional

tendem a ser encaradas pelos empreendedores como fatores que podem

contribuir para a obtenção dos necessários ganhos de eficiência e, portanto,

merecem uma atenção maior do que aquelas questões referentes aos impactos

ambientais das atividades produtivas. Se em algumas das empresas analisadas

as condições de trabalho encontradas não pareciam adequadas, notou-se ao

menos o esforço dos empreendedores no sentido de melhorá-las, algo não tão

patente quando se trata da dimensão ambiental de seus negócios. Desta forma,

percebe-se que as ações relacionadas à gestão ambiental são, na realidade,

voltadas basicamente à preservação da saúde dos funcionários e à melhoria da

eficiência operacional, por meio da redução do consumo de insumos, reciclagem,

reaproveitamento e outras medidas similares. Devido à limitada disponibilidade de

recursos financeiros, os investimentos feitos pelas pequenas indústrias estudadas

são definidos basicamente por critérios que levam em conta as possibilidades de

ganhos de eficiência nos processos produtivos, os quais terminam por gerar

benefícios socioambientais marginais. Esta característica demonstra, inclusive, a

opção por uma “conformidade parcial”, notadamente no que diz respeito à

legislação ambiental, quando se fazem necessários investimentos que

apresentam escassas possibilidades de amortização, ou cujo prazo de

amortização é considerado muito longo. Assim sendo, o posicionamento

socioambiental das empresas estudadas condiz com aquele descrito na literatura,

especialmente no que diz respeito às questões ambientais. Neste ponto em

particular, a ENSR (2002) destaca que as pequenas empresas não estão

dispostas a direcionar recursos para atender à realização de investimentos que

não sejam absolutamente necessários, cuja justificativa não entendem totalmente

e para os quais não se define um claro período de amortização. Tendo em vista

que as empresas estudadas demonstraram ter logrado obter um lento, mas

consistente, crescimento, pode-se inferir que esta opção pela “conformidade

parcial” é um dos fatores que têm contribuído para seu desenvolvimento.

Com base no posicionamento das empresas estudadas, recém-descrito,

passa-se a abordar os objetivos específicos do presente trabalho. O primeiro

deles consistiu em identificar os fatores indutores para a adoção de

procedimentos de gestão socioambiental responsável por parte destas PME’s.

177

Neste sentido, nota-se que o principal fator que induz estas pequenas empresas a

aperfeiçoarem sua atuação socioambiental encontra-se no atendimento aos

requisitos da legislação e dos órgãos fiscalizadores. Constata-se, inclusive, que a

fiscalização relacionada à segurança e saúde ocupacional parece ser mais

atuante, ou menos tolerante, do que aquela responsável pelo meio ambiente, o

que pode contribuir para o fato de que estas empresas esforcem-se mais em

aperfeiçoar as condições de trabalho, do que aquelas relacionadas à preservação

ambiental. Este papel dos mecanismos de comando e controle, como principais

indutores do aperfeiçoamento socioambiental, corrobora o que é apontado pela

literatura, tanto aquela que aborda as pequenas empresas européias (ENSR,

2002), como a que trata das brasileiras (CNI, 2004 e OLIVEIRA, 2005). As

entrevistas realizadas junto às quatro indústrias estudadas também permitiram

constatar que considerações de ordem ética não consistem num motivo relevante

para a adoção de práticas ambientalmente responsáveis: apesar do

reconhecimento dos entrevistados quanto à responsabilidade do setor produtivo

com relação à preservação do meio ambiente, tal posicionamento é relegado a

segundo plano no dia-a-dia dos negócios, confirmando o que aponta Quentin

(apud ENSR, 2002). Desta forma, constata-se que eventuais investimentos

espontâneos na melhoria das condições de saúde e segurança ocupacional, bem

como ambiental, são basicamente definidos por critérios que contemplam as

possibilidades de ganhos de eficiência nos processos produtivos.

O segundo objetivo específico do presente trabalho consistiu em verificar

em que medida a legislação e a fiscalização influenciam o posicionamento

socioambiental das organizações estudadas, algo que se tornou bastante claro no

parágrafo anterior. Esta característica revela a grande importância da atuação do

setor público para que a sociedade industrial obtenha melhores índices de

sustentabilidade. Por outro lado, é conveniente repetir que o estudo de caso

indica a “conformidade parcial” das PME’s analisadas, especialmente no que diz

respeito à legislação ambiental, corroborando um fenômeno apontado pela ENSR

(2002) ao abordar as PME’s européias. Tal posicionamento das empresas

estudadas expõe principalmente sua carência de recursos financeiros e

cognitivos, sendo que os entrevistados apontaram demandas por capacitação,

fornecimento de informações, concessão de financiamentos específicos e

benefícios fiscais. Esta situação aponta a conveniência da adoção de políticas

178

públicas que as auxiliem a implementar as necessárias ações visando o

adequado tratamento das questões socioambientais. Neste sentido, deve-se

voltar a mencionar que, na Áustria, 55% das PME’s que possuem sistemas de

gestão ambiental jamais teriam conseguido implementá-los sem o apoio

financeiro público (ENSR, 2002).

Como terceiro objetivo específico deste trabalho, procurou-se determinar

de que maneira as grandes empresas, clientes das pequenas empresas

terceirizadas, influenciam, forçam ou colaboram para que seus fornecedores

adotem estratégias que contemplem adequadamente a dimensão socioambiental

dos processos produtivos. A bibliografia consultada indica que, na Europa, é

possível notar um progressivo aumento da preocupação das grandes empresas

quanto à sustentabilidade de suas cadeias de fornecimento, o que faz com que

alguns autores cheguem a considerar tal preocupação como o fator mais

importante para a implementação de sistemas formais de gestão ambiental nas

indústrias de menor porte (ENSR, 2002). No Brasil, nota-se uma situação

diferente: Barros et al. (2003) destacam que muitas PME’s brasileiras estão

integradas nas cadeias de fornecimento de grandes organizações, mas sofrem

pouca pressão por parte destas no sentido de adotarem estratégias visando a

preservação do meio ambiente. O estudo de caso corroborou esta colocação, pois

as grandes empresas clientes das indústrias analisadas não lhes impõem

exigências relacionadas à preservação ambiental ou à segurança e saúde no

trabalho. O máximo que chegam a requerer é a comprovação documental do

atendimento à legislação. Tendo em vista que várias destas grandes empresas

possuem sistemas de gestão ambiental, ou mesmo integrada, torna-se patente

que o âmbito de atuação destes sistemas restringe-se ao ambiente “intra-muros”

destas organizações, não existindo qualquer preocupação efetiva com a

sustentabilidade das cadeias de fornecimento. Desta forma, apesar de se ter

encontrado, entre as empresas estudadas, duas que recebem auxílio de grandes

clientes para seu aperfeiçoamento gerencial, a ênfase de tal apoio recai sobre os

aspectos econômicos e financeiros das atividades produtivas, não se abordando

as questões sociais e ambientais. Tal situação encontra-se bastante distante dos

exemplos citados na bibliografia, quais sejam os trabalhos desenvolvidos pela

empresa alemã BASF (KRANZ, 2003) e pela General Motors (INDUSTRY AND

ENVIRONMENT, 2003 e SP, 2006) em conjunto com seus pequenos

179

fornecedores. Como já se mencionou anteriormente, a pressão constante por

redução de custos faz com que os grandes clientes das empresas brasileiras

estudadas simplesmente optem por aqueles fornecedores que oferecem produtos

por preços mais baixos, independentemente de seu posicionamento frente às

questões socioambientais.

Como último objetivo específico proposto neste trabalho, buscou-se

identificar alternativas já em uso pelas PME’s, visando aliar a competitividade no

curto prazo, diretamente ligada à sua sobrevivência imediata, à sustentabilidade

de seus negócios, determinante de sua existência futura. A literatura consultada

forneceu alguns exemplos de alternativas neste sentido, quais sejam a atuação

das grandes empresas clientes como indutoras e apoiadoras, a adoção dos

princípios de Produção Mais Limpa e o associativismo entre pequenas

organizações. As informações obtidas a respeito da primeira alternativa,

abordadas no parágrafo anterior, indicam que, pelo menos entre as quatro

indústrias estudadas, é dominante o receio de que o desenvolvimento de um

trabalho conjunto, voltado ao aprimoramento de seu posicionamento

socioambiental, faça-as expor-se em excesso aos seus grandes clientes, o que

poderia aumentar seu grau de dependência e diminuir ainda mais sua

rentabilidade. Nota-se uma grande desconfiança destas pequenas indústrias em

relação às grandes empresas e a crença de que estas não desejam efetivamente

constituir cadeias de fornecimento baseadas em relacionamentos de longo prazo,

e de parceria, com seus fornecedores. Deve-se destacar que estas PME’s

manifestam tal opinião embasadas na experiência de relacionamento que têm

mantido com os seus grandes clientes ao longo dos anos.

No que diz respeito à possibilidade de associação com empresas de

mesmo porte para vencer as dificuldades enfrentadas na implementação de

ações voltadas às questões socioambientais, particularmente no que diz respeito

ao suprimento das carências financeiras e cognitivas, as pequenas indústrias

estudadas apontaram barreiras culturais intransponíveis como justificativa para

sua inviabilização. Uma destas empresas, inclusive, já colheu maus resultados

com uma iniciativa de cunho cooperativo empreendida com uma empresa de

porte idêntico ao seu. Os empresários entrevistados opinaram que a mentalidade

vigente no país é centrada no individualismo e na obtenção de benefícios

próprios, confirmando o que diz Amato Neto (2000) a respeito do principal ponto

180

débil desta alternativa. Cabe ressaltar, no entanto, que o poder público e as

próprias entidades de classe empresariais têm um importante papel a

desempenhar no fomento do associativismo, tendo em vista que Amato Neto

(2000), Moniz e Kóvacs (2001) e Casarotto Filho & Pires (2001) indicam a

relevância de sua participação no estabelecimento de redes cooperativas bem-

sucedidas.

Quanto à utilização dos princípios de Produção Mais Limpa, ou P+L, pelas

pequenas empresas como alternativa de auxílio à sua devida inserção nas

questões socioambientais, constatou-se que, apesar do interesse demonstrado

por uma das empresas estudadas, predominou a opinião de que a busca de

ecoeficiência traduz-se na simples busca de eficiência produtiva. As empresas

estudadas manifestaram já adotar involuntariamente diversos princípios de P+L,

tais como good housekeeping, otimização constante dos parâmetros de produção

e controles de processo, padronização de procedimentos, reuso e reciclagem,

devido à própria pressão por redução de custos e à busca de aumento de

eficiência às quais encontram-se submetidas. Desta maneira, acreditam ser muito

difícil obter benefícios, via redução de custos, comparáveis àqueles mencionados

por Oliveira (2005). Deve-se destacar, no entanto, que as empresas em questão

jamais haviam sido apresentadas aos conceitos de P+L, o que demonstra a

necessidade de melhor divulgação dos mesmos.

Tendo em vista que o estudo de caso realizado envolveu a análise de

apenas quatro empresas, dedicadas a ramos de atividade semelhantes e

localizadas numa região geográfica específica, não se poderia pretender que os

seus resultados refletissem uma realidade generalizada, nem mesmo para este

setor econômico em particular. Para tanto, seria necessário empreender um

estudo muito mais amplo, adotando uma quantidade de amostras tal, que

permitisse inclusive a utilização de ferramentas estatísticas, envolvendo a

comparação de dados quantitativos, além dos dados qualitativos obtidos no

presente trabalho. Havendo abordado um único e específico segmento de

atuação, qual seja o setor metal-mecânico, suas conclusões não podem ser

transpostas para outros segmentos econômicos, deixando em aberto a

necessidade de realização de estudos relacionados a outros setores. Considere-

se que outros ramos da atividade produtiva, como a indústria química, podem

apresentar potenciais de impactos socioambientais consideravelmente maiores do

181

que o setor analisado. Deve-se mencionar que a pretensão do presente trabalho

foi verificar em que medida a hipótese formulada, a qual foi utilizada como fio

condutor para a realização do estudo de caso, demonstra a coerência entre as

informações encontradas na bibliografia e aquelas obtidas por ocasião das

entrevistas junto às empresas analisadas. Tais informações indicam que as

pequenas empresas industriais apresentam diversas limitações no que tange ao

seu posicionamento frente às questões socioambientais. Estas limitações são

decorrentes, principalmente, de suas carências em termos financeiros e

cognitivos, bem como do cenário competitivo em que atuam, fortemente marcado

pela concorrência por preços baixos. Se as grandes organizações produtivas

estão tomando ações no sentido de melhorar seu posicionamento socioambiental,

implementando, por exemplo, sistemas de gestão ambiental, sistemas de gestão

de segurança e saúde ocupacional ou sistemas de gestão integrada, nota-se que

esta preocupação ainda encontra-se distante da realidade das pequenas

organizações. Considerando que o crescimento do setor representado por estas

últimas é incentivado pelo movimento de terceirização implementado pelas

grandes empresas como forma de reduzir custos e obter maior flexibilidade,

constata-se, no âmbito do estudo de caso e da bibliografia consultada, que a

terceirização dos processos produtivos embute a transferência dos riscos a eles

inerentes a organizações que não estão devidamente preparadas para tratá-los

de maneira adequada, acabando por externalizá-los. Cabe indagar em que

medida a terceirização de determinados processos produtivos não tenha

constituído num auxílio à obtenção de melhores índices de sustentabilidade por

parte das grandes empresas, pois estas deixaram de ter que se preocupar com as

questões socioambientais a eles relacionadas. Um fato marcante é o desinteresse

demonstrado pelos grandes clientes das empresas estudadas pela maneira como

as questões ligadas à segurança, saúde e meio ambiente são tratadas pelos seus

pequenos fornecedores. Tal realidade faz supor uma atitude hipócrita por parte

das grandes empresas, que obtém melhoras em seus índices de sustentabilidade

graças à transferência de seus potenciais problemas socioambientais para outras

organizações.

Neste momento, cabe uma fria reflexão acerca dos elementos motivadores

para a adoção do processo de terceirização, pois muito dificilmente o mesmo

ocorreria se não representasse claras vantagens de ordem econômica e

182

financeira para as empresas contratantes. Partindo-se do princípio de que é muito

difícil burlar as regras elementares da administração e dos mecanismos que

regem a economia de mercado, deve-se considerar que um pequeno fornecedor,

que conta com baixa escala produtiva, pouco poder de barganha, reduzida

disponibilidade de recursos, etc. (RAMÍREZ-RANGEL, 2001 e WALTERS, 2002)

terá que prover sua produção à grande empresa contratante por um preço tal, que

a ela compense mais adquiri-lo do que fabricá-lo. Cabe questionar, portanto, qual

a “manobra” adotada pelo pequeno fornecedor para conseguir sair vitorioso nesta

equação. Simplesmente, há que evitar uma série de custos que a grande

empresa teria, e entre eles seguramente encontra-se o adequado tratamento das

questões socioambientais. Caso insira-se como elemento adicional nesta

equação a concorrência global, será possível concluir que o nível de exigências e

de supervisão exercido pelos mecanismos de comando e controle de cada país

consiste num fator que influencia decisivamente a competitividade de suas

empresas, pelos custos que lhes impõe. Deve-se indagar, portanto, se a

sociedade industrial tem condições de obter melhores índices de sustentabilidade

num ambiente de mercado globalizado, no qual não se aborda a isonomia

competitiva em termos socioambientais.

Tal perspectiva apresenta um quadro ainda mais complexo e amplo do que

aquele sobre o qual se desenvolveram os pressupostos e a hipótese que serviram

de fio condutor para a elaboração deste trabalho, pois se descortina a premente

necessidade de ampliar a discussão sobre os riscos socioambientais relacionados

às atividades produtivas. Esta não pode ficar restrita às grandes empresas, ou às

pequenas, a ambas, ou aos órgãos públicos diretamente responsáveis pelo meio

ambiente e pelas condições de trabalho, pois é nítida a abrangência global dos

desafios relacionados à sustentabilidade. Não é possível ser complacente ou

ignorar estes desafios, nem tampouco esperar que o setor produtivo privado seja

o único encarregado de melhorar os índices de sustentabilidade da sociedade,

seja voluntariamente, seja motivado pela atuação dos mecanismos de comando e

controle. É preciso que o conceito de “gestão integrada” extrapole os limites das

empresas, das cadeias de fornecimento, das comunidades e dos próprios

Estados nacionais. Faz-se necessária a participação e a colaboração de uma

multiplicidade de atores: organizações produtivas, poder público, agências de

fomento, organismos internacionais e a própria sociedade civil, no sentido de

183

viabilizar o desenvolvimento de uma cultura voltada à busca da sustentabilidade,

calçada em incentivos e regras de conduta que promovam o comportamento

socioambiental responsável como um fator competitivo por sua existência, e não

por sua ausência.

Se as conclusões obtidas através da análise das informações colhidas

durante a execução do presente trabalho possibilitam inferir a assertividade da

hipótese formulada, não permitem, no entanto, declarar esgotado o tema. Muito

pelo contrário, é extenso o campo de estudo, grande a profusão de temas e

facetas a serem pesquisados, e amplo o leque de desafios impostos aos

pesquisadores, assim como é diversificado e multifacetado o próprio universo das

pequenas empresas em sua luta pela sobrevivência no mundo globalizado.

Pretendeu-se, simplesmente, lançar novas luzes sobre um tema já existente,

incentivando a reflexão e a realização de novos estudos que auxiliem a Ciência a

encontrar soluções para alguns dos problemas resultantes da aplicação prática de

suas descobertas.

184

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190

APÊNDICE A

Questionário para Entrevista

1. Data da entrevista:

2. Empresa: ( ) A ( ) B ( ) C ( ) D

3. Cargo do entrevistado:

4. Número de pessoal ocupado:

Efetivo: Temporário: Terceirizado:

5. Data da fundação:

6. Faturamento anual bruto aproximado:

7. A administração é exercida:

( ) Por sócio(s)/ parente(s) ( ) Por outros ( ) Mista

8. Principais produtos produzidos:

9. Principais processos produtivos utilizados:

191

10. Principais clientes:

11. Principais fornecedores:

12. Principais concorrentes:

13. Possui certificação para Sistema de Gestão da Qualidade?

( ) Sim ( ) Não ( ) Há quanto tempo?

Razões e comentários:

192

14. Possui Sistema de Gestão Ambiental implantado, ou política formal relativa à gestão ambiental?

( ) Sim ( ) Não ( ) Há quanto tempo?

Razões e comentários:

15. Possui Sistema de Gestão de Segurança e Saúde Ocupacional, ou política formal relativa ao tema?

( ) Sim ( ) Não ( ) Há quanto tempo?

Razões e comentários:

16. Quais são os principais problemas e pressões sofridos por sua empresa?

193

17. Na relação de terceirização, quais são os aspectos para os quais as empresas clientes apresentam maior grau de exigência? (Escala crescente de 1 a 5)

1 a 5

a. Condições de preço

b. Condições de prazo e confiabilidade de fornecimento

c. Qualidade

d. Atendimento

e. Tecnologia e equipamentos utilizados na produção

f. Cumprimento da legislação de segurança e saúde

g. Cumprimento da legislação ambiental

h. Outras

Quais?

Comentários:

194

18. Na relação de terceirização, quais são os principais problemas enfrentados por sua empresa? (Escala crescente de 1 a 5)

1 a 5

a. Pouco poder de barganha nas negociações

b. Falta de confiabilidade e fidelidade

c. Comunicação deficiente e falta de informações

d. Atrasos e retenções de pagamentos

e. Excesso de exigências

f. Dependência excessiva da(s) contratante(s)

g. Pouca autonomia na tomada de decisões relativas aos processos produtivos

h. Falta de apoio técnico

i. Outros

Quais?

Comentários:

195

19. A empresa realiza procedimentos de gestão de segurança e saúde ocupacional (SSO) como... Sim Não

a. Procedimentos para identificação dos perigos e riscos de SSO e possui rotina para manter estas informações atualizadas

b. Executa medições e avaliações periódicas para identificar os perigos e riscos ligados à SSO

c. Possui procedimentos específicos para situações de emergência

d. Possui indicadores para monitorar a SSO

f. Possui objetivos e metas de SSO

g. Executa treinamentos periódicos ligados à questão da SSO

h. Possui programas de prevenção e tratamento para dependência de drogas e álcool

i. Promove exercícios físicos no local de trabalho

j. Promove programa de combate ao estresse para os empregados, especialmente para aqueles que desempenham funções mais estressantes

k. Possui normas e processos para evitar e combater situações de assédio moral

l. Possui política expressa de respeito à privacidade dos empregados no que se refere a informações sensíveis (inclusive médicas)

m. Realiza pesquisa de satisfação dos funcionários com relação ao tema SSO

n. Não realiza qualquer procedimento que poderia estar associado à gestão de SSO

o. Outros

Quais?

Comentários:

196

20. Quais são os números relativos a... 2003 2004 2005

a. Média de número de empregados

b. Média de horas-extras por empregado/ano

c. Média de acidentes de trabalho por empregado/ano

d. Porcentual dos acidentes que resultaram em afastamento temporário de empregados ou prestadores de serviço

e. Porcentual de afastamento por LER

f. Percentual dos acidentes que resultaram em mutilação ou danos à integridade física, com afastamento permanente do cargo (incluindo LER)

g. Percentual dos acidentes que resultaram em morte

Comentários:

197

21. Quais as principais dificuldades para implementar ações de SSO na empresa? (Escala crescente de 1 a 5)

1 a 5

a. Alto nível de exigências da legislação e/ ou dos órgãos competentes

b. Resistência por parte dos funcionários (uso de EPI’s, etc.)

c. Não dispor de informações sobre as soluções técnicas

d. Não saber quanto custam estas soluções

e. Não dispor de recursos técnicos e/ou financeiros para implantar soluções

f. Não encontra dificuldades (assinalar com um X)

g. Outros

Quais?

Comentários:

198

22. Que fontes de recursos financeiros são utilizadas na implementação de soluções de SSO na empresa?

X

a. Recursos próprios

b. Instituição financeira privada

c. Instituição financeira governamental

d. Outros

Quais?

Comentários:

23. Caso a empresa pretenda realizar investimentos relativos à SSO nos próximos anos, quais seriam estes?

199

24. Caso a empresa pretenda investir futuramente na implementação de ações de SSO, qual seria a origem dos recursos financeiros?

X

a. Recursos próprios

b. Instituição financeira privada

c. Instituição financeira governamental

d. Outros

Quais?

Comentários:

200

25. Qual a participação que os seguintes elementos exercem na identificação de soluções de SSO na empresa? (Escala crescente de 1 a 5)

1 a 5

a. Própria empresa com seus técnicos

b. Consultoria externa

c. Órgãos patronais de ass. tec. (CNI/SENAI, SEBRAE, etc)

d. Órgãos governamentais

e. Clientes / Fornecedores

f. Outros

Quais?

Comentários:

201

26. A empresa eventualmente teve problemas de relacionamento com os órgãos públicos responsáveis por SSO?

27. Com que freqüência a empresa é fiscalizada?

28. A empresa já foi autuada por motivos ligados às condições de SSO?

202

29. A empresa realiza procedimentos de gestão ambiental tais como... Sim Não

a. Redução do uso de matéria-prima por quantidade de produto fabricado ou substituição de fonte de energia para reduzir níveis de poluição

b. Redução do uso (conservação) de energia por quantidade de produto fabricado

c. Redução do uso (conservação, recuperação ou reciclagem) de água por quantidade de produto fabricado

d. Mudanças na composição, desenho e embalagem do produto para tornar seu uso menos danoso à saúde humana e ao meio ambiente

e. Controle, recuperação ou reciclagem das descargas líquidas da atividade industrial

f. Controle ou recuperação dos gases e emissões gasosas da atividade industrial

g. Controle de ruídos e vibrações

h. Disposição adequada de resíduos sólidos ou lixo da atividade industrial

i. Reciclagem ou aproveitamento de sucatas, resíduos ou refugos

j. Mudanças nos procedimentos de estocagem, transporte, manuseio, distribuição e disposição final dos produtos ou materiais perigosos e suas embalagens

k. Cursos ou treinamentos da mão de obra para prática dos procedimentos relacionados

l. Dar preferência a fornecedores e distribuidores que não têm uma imagem ambiental negativa

m. Possui plano de emergência ambiental que relaciona seus processos, produtos e serviços e treina os funcionários para estas situações?

n. A questão ambiental está incluída no planejamento estratégico?

o. Não realiza qualquer procedimento que poderia estar associado à gestão ambiental

p. Outros

Quais?

Comentários:

203

30. Realiza outros tipos de ações ligadas ao meio ambiente: Sim Não

a. Desenvolve atividades de educação ambiental (além dos treinamentos) com os funcionários?

b. Mantém contato com a comunidade vizinha para tratar assuntos ambientais?

c. Executa alguma atividade, produtiva ou não, relacionada ao meio ambiente em associação ou cooperação com outras empresas?

d. Discute com os clientes algum aspecto ambiental de seus negócios?

e. Outros

Quais?

Comentários:

204

31. Faz registros de controle e monitoramento ambiental tais como... Sim Não

a. Descarga de esgotos e efluentes líquidos industriais

b. Geração de resíduos sólidos industriais

c. Emissão de efluentes gasosos

d. Emissão de poeira e material particulado

e. Perdas e refugos de materiais e de produto acabado

f. Emissão de ruídos e vibrações

g. Outros

Quais?

Comentários:

205

32. Quais são as principais razões para a adoção de práticas de gestão ambiental pela empresa? (Escala crescente de 1 a 5)

1 a 5

a. Atender à legislação

b. Atender a exigências dos clientes

c. Atender às exigências da instituição financeira ou de desenvolvimento que financia o estabelecimento

d. Atender à reivindicação da comunidade

e. Melhorar a imagem perante a sociedade

f. Estar em conformidade com a política social da empresa

g. Reduzir custos dos processos industriais

h. Outras

Quais?

Comentários:

206

33. Quais são as principais dificuldades para implementar ações de preservação ambiental na empresa? (Escala crescente de 1 a 5)

1 a 5

a. Alto nível de exigências da legislação e dos órgãos competentes

b. Não dispor de informações sobre as soluções técnicas

c. Não saber quanto custam estas soluções

d. Não dispor de recursos técnicos e/ou financeiros para implantar soluções

e. Não encontra dificuldades (assinalar com um X)

f. Outros

Quais?

Comentários:

207

34. Que fontes de recursos financeiros são utilizadas na implementação de soluções ambientais na empresa?

X

a. Recursos próprios

b. Instituição financeira privada

c. Instituição financeira governamental

d. Outros

Quais?

Comentários:

35. Caso a empresa pretenda realizar investimentos ambientais nos próximos anos, quais seriam estes?

208

36. Caso a empresa pretenda investir futuramente na implementação de soluções ambientais, qual seria a origem dos recursos financeiros?

X

a. Recursos próprios

b. Instituição financeira privada

c. Instituição financeira governamental

d. Outros

Quais?

Comentários:

209

37. Qual a participação que os seguintes elementos exercem na identificação de soluções ambientais na empresa? (Escala crescente de 1 a 5)

1 a 5

a. Própria empresa com seus técnicos

b. Consultoria externa

c. Órgãos patronais de ass. tec. (CNI/SENAI, SEBRAE, etc)

d. Órgãos ambientais

e. Clientes / Fornecedores

Outros

Quais?

Comentários:

210

38. A empresa eventualmente enfrentou problemas de relacionamento com os órgãos ambientais?

39. Com que freqüência a empresa é fiscalizada pelos órgãos ambientais?

40. A empresa já foi autuada por algum órgão ambiental?

211

41. Quais seriam as iniciativas governamentais que deveriam ser adotadas para incentivar as empresas como a sua para adotar e/ou aperfeiçoar suas práticas de gestão ambiental e de SSO?

42. Sua empresa já cogitou adotar os princípios de Produção Mais Limpa , com o objetivo de aumentar a ecoeficiência de seus processos? Quais seriam as barreiras para sua adoção?

212

43. Sua empresa já cogitou associar-se ou trabalhar em cooperação com outras empresas de mesmo porte, com o objetivo de suplantar deficiências técnicas ou financeiras? Quais seriam as barreiras?

44. Sua empresa acredita que seria possível o apoio de grandes clientes para auxiliar as pequenas empresas a superarem suas deficiências técnicas e financeiras? Quais seriam as barreiras para tal?