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CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA IPA CURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS – LICENCIATURA Letícia de Araujo Saraiva ASPECTOS RELEVANTES NA INTERAÇÃO DO PROFESSOR DE BIOLOGIA COM ALUNOS DEFICIENTES MENTAIS PORTO ALEGRE 2009

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CENTRO UNIVERSITÁRIO METODISTA IPACURSO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS – LICENCIATURA

Letícia de Araujo Saraiva

ASPECTOS RELEVANTES NA INTERAÇÃO DO PROFESSOR DE BIOLOGIA COM ALUNOS DEFICIENTES MENTAIS

PORTO ALEGRE2009

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LETÍCIA DE ARAUJO SARAIVA

ASPECTOS RELEVANTES NA INTERAÇÃO DO PROFESSOR DE BIOLOGIA COM ALUNOS DEFICIENTES MENTAIS

Relatório de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Ciências Biológicas – Licenciatura do Centro Universitário Metodista IPA como requisito parcial para obtenção de Grau de Licenciado em Ciências Biológicas.

Orientadora: Gianice Fortes

PORTO ALEGRE2009

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Dedico este trabalho aos meus pais, por todo amor, dedicação, incentivo e por terem contribuído

para a realização de um sonho.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, Raul Souza Saraiva e Valéria Santos de Araujo, à

minha família e ao meu noivo Rafael D'avila por todo apoio, incentivo e

compreensão durante a minha vida acadêmica.

A professora e orientadora Gianice Fortes pela atenção, competência e auxílio

para a elaboração deste Relatório de Conclusão de Curso.

Aos meus colegas, que se tornaram grandes amigos durante o curso de

graduação.

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“Tenho o direito de ter raiva, de manifestá-la, de tê-la como motivação para minha briga tal qual tenho

o direito de amar, de expressar meu amor ao mundo, de tê-lo como motivação

de minha briga porque, histórico, vivo a História como tempo

de possibilidade não de determinação.”

Paulo Freire

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RESUMO

Este Relatório de Conclusão de Curso apresenta aspectos relevantes no

relacionamento de uma professora de Biologia com alunos deficientes mentais e

como base deste trabalho, foram utilizadas as observações e experiências

adquiridas durante a regência no Centro Abrigado Zona Norte – CAZON, em uma

turma de alunos de classe especial. Escolheu-se como metodologia principal à

observação da interação desses alunos com a acadêmica do Curso de Ciências

Biológicas, através do seu relacionamento, forma de trabalho, retorno dos alunos em

relação às atividades e percepção da motivação em relação à turma. Perante essas

colocações, se faz necessário compreender o relacionamento entre professor-aluno,

pois é uma ferramenta essencial no processo de ensino-aprendizagem.

Palavras-chave: Relacionamento, Deficientes mentais, Acadêmica de Biologia

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO.........................................................................................................81.1 OBJETIVOS ........................................................................................................111.1.1 Objetivo geral...................................................................................................111.1.2 Objetivos específicos......................................................................................111.2 JUSTIFICATIVA...................................................................................................122. DESENVOLVIMENTO...........................................................................................133. CONSIDERAÇÕES FINAIS ..................................................................................18REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .........................................................................20

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1. INTRODUÇÃO

Este Relatório de Conclusão de Curso apresenta aspectos relevantes no

relacionamento de um professor de Biologia com alunos deficientes mentais, de

Educação Inclusiva. Como base deste trabalho, foram utilizadas as observações e

experiências adquiridas durante a regência no Centro Abrigado Zona Norte – CAZON, em

uma turma de alunos de classe especial. Neste período, foi possível analisar a interação

da professora de Biologia com seus alunos e também o retorno destes em relação às

atividades propostas. O tema escolhido para este Relatório de Conclusão segue a linha

de formação relacionada a metodologias de ensino, voltada para a prática inclusiva.

O CAZON é uma unidade da Fundação de Articulação e Desenvolvimento de

Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência e Pessoas com Altas Habilidades no Rio

Grande do Sul (FADERS), que atende deficientes mentais utilizando atividades

diferenciadas como oficinas. Cada aluno pode optar entre o turno da manhã ou tarde para

freqüentar o centro. As oficinas ocupacionais oferecidas são: arte e artesanato, culinária,

reciclagem, técnicas agrícolas e educação ambiental, alfabetização, produção e

recreação e lazer. Além de tudo isso, o aluno ainda conta com uma equipe de apoio

pedagógico, educação física e um grupo de psicologia.

Segundo Pletsch e Braun (2008), pessoas com deficiência mental passaram a ser

aceitas no ambiente escolar apenas no século XIX, depois de muitos estudos realizados,

pois até então eram rotuladas como selvagens e consideradas impossíveis de serem

educadas. Atualmente diminuiu muito este tipo de preconceito e muitas escolas estão

atendendo alunos com necessidades especiais e introduzindo-os na nossa sociedade.

Para que um professor consiga atender às diversas necessidades de um aluno, é

preciso que tenha uma formação adequada nesta área. Felizmente muitas universidades

vem trabalhando com freqüência esses pontos, que são essenciais na educação de um

licenciado. É relevante que tenham experiências de inclusão nas suas salas de aula

durante o desenvolvimento do seu estágio, pois contribuirá no seu crescimento e

amadurecimento profissional.

O objetivo principal da inclusão é proporcionar o acesso e participação de todos no

setor educacional, igualando as pessoas e impedindo qualquer forma de exclusão e

preconceito (MITTLER, 2003). Todas essas práticas contribuem muito na interação

professor-aluno, pois sem distinções acabam tornando-se mais próximos e o seu

relacionamento se torna mais agradável. De acordo com Silva e Aranha (2005, p. 376) “A

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construção de uma sociedade inclusiva é de fundamental importância para o

desenvolvimento e a manutenção de um estado democrático”.

No contexto da inclusão de alunos com deficiências mentais, é preciso que as

escolas e os professores estejam capacitados e motivados para atender este público, pois

não é somente importante a inserção deste aluno no ensino regular e sim o seu retorno

escolar e desenvolvimento social (PLETSCH; BRAUN, 2008). “ A escola tem o dever de

não se contentar apenas com o que o aluno já sabe, estimulando-o a prosseguir no

entendimento de um fenômeno, ou de um objeto e de torná-lo capaz de distinguir o que

estuda [...]” (BRASIL, 2006, p. 8).

De acordo com Maciel (2000) a integração do professor com um aluno de

deficiência mental ocorre quando não existe uma barreira de preconceito, e a missão

deste professor é instigar o desenvolvimento do aluno. Este autor relata que o processo

não é fácil, mas quando atingido, se torna inesquecível para os envolvidos (MACIEL,

2000).

Para Paulino e Santos (2008, p. 53), “O professor é, pois, um agente de

encantamento nestes tempos de desencanto. O professor [...] apresenta os limites, e

sobretudo, faz florescer as possibilidades criativas e inclusivas”. Os autores comentam

que o professor dá condições e oportunidades para os alunos construírem seus sentidos

e pensamentos para viverem em uma sociedade (PAULINO; SANTOS, 2008).

Para que o aluno alcance os objetivos propostos durante o seu processo de

ensino-aprendizagem, é preciso que o professor tenha expectativas positivas em relação

a ele. As limitações do aluno com deficiência devem ser reconhecidas, mas não podem

impedir este processo de ensino (FONTES et al., 2007).

Alunos com deficiência mental tem mais dificuldade de construir seu próprio

conhecimento e sua capacidade cognitiva, e as escolas com modelo de ensino

conservador e centralizador alimentam ainda mais essa dificuldade, reforçando a inibição

deste aluno perante o resto da turma (BRASIL, 2006). “A deficiência mental constitui um

impasse para o ensino na escola comum e para a definição do seu atendimento

especializado, pela complexidade do seu conceito e pela grande quantidade e variedades

de abordagens do mesmo” (BRASIL, 2006, p. 10).

De acordo com Tassoni (2000, p.13) “O comportamento do professor, em sala de

aula, expressa suas intenções, crenças, seus valores, sentimentos, desejos que afetam

cada aluno individualmente”. É imprescindível que no processo de ensino de deficientes

mentais sejam utilizadas diferentes formas de linguagem. O professor deve mostrar os

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conteúdos de forma visual e auditiva, instigando o desenvolvimento deste aluno. Pode ser

feito uso de recursos ilustrativos para ele compreender e reconhecer conceitos básicos

(FONTES et al., 2007).

Para melhorar o desempenho do aluno e também do professor, é necessário que

exista um diálogo, mas esse diálogo só acontece quando os dois se respeitam

mutuamente e não assumem posições de superioridade e de dominação sobre o outro.

Essas medidas auxiliam na interação professor-aluno e oportunizam a inserção destes na

sociedade (BRASIL, 2006).

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1.1 OBJETIVOS

1.1.1 OBJETIVO GERAL

Analisar a relação da acadêmica de Ciências Biológicas com alunos de deficiência

mental.

1.1.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

− Observar a interação dos alunos com a acadêmica de Ciências Biológicas;

− Evidenciar se a acadêmica de Ciências Biológicas foi motivada pela experiência na

prática inclusiva;

− Identificar se há retorno significativo dos alunos em relação as atividades propostas em

sala de aula.

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1.2 JUSTIFICATIVA

A Educação Inclusiva é um tema que vem sendo muito discutido atualmente, pois

visa diminuir qualquer tipo de exclusão na nossa sociedade. Por simpatizar com este

assunto e buscando entender a relação professor-aluno, foi desenvolvido no Estágio III –

Educação Inclusiva, um trabalho diferenciado com oficinas de Educação Ambiental para

alunos com deficiências mentais.

Esta temática foi escolhida com o propósito de ampliar o conhecimento sobre

inclusão na prática docente, pois apenas era abordado e trabalhado na teoria. O Relatório

de Conclusão de Curso foi baseado na experiência pessoal obtida com o Estágio III –

Educação Inclusiva, desenvolvido no Centro Abrigado Zona Norte – CAZON. A interação

aprofundada do professor com alunos de deficiências traz muitos benefícios, pois auxilia

tanto na prática do ensino como também facilita na relação de ambos (FARIAS et al.,

2008).

Segundo Vieira (2004, p.141), “o ato de aprender e de ensinar é um processo

interativo. Só ocorre ensino quando alguém se coloca no lugar do aprendiz.” Portanto, se

faz necessário compreender o relacionamento entre professor-aluno, pois é uma

ferramenta essencial no processo de ensino-aprendizagem.

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2. DESENVOLVIMENTO

Durante o Curso de Ciências Biológicas do Centro Universitário Metodista IPA

foram desenvolvidos três estágios curriculares obrigatórios, como requisito parcial para

obtenção de grau. Estes estágios dividiam-se em: Ensino Fundamental, Ensino Médio e

Educação Inclusiva, e todos eles contribuíram muito para a formação de Licenciado em

Ciências Biológicas.

O Estágio I – Ensino Fundamental foi desenvolvido na Escola Estadual Francisco

Antônio Vieira Caldas Júnior, localizada na rua Waldomiro Schapke nº 11, no bairro

Partenon – Porto Alegre, em uma turma de quinta série (novo 5° ano), com trinta e dois

alunos, onde foram abordados os conteúdos sobre ar e água. Neste estágio não foi

possível estabelecer um bom relacionamento com a turma bem como na aplicação das

atividades, pois os alunos não aceitavam a idéia de que a professora titular estava sendo

substituída por uma estagiária. Foram utilizadas várias metodologias durante o período de

regência, mas as que mais despertavam seu interesse eram aulas expositivas e

dialogadas, pois podiam expor as suas opiniões para todos os colegas.

O Estágio II - Ensino Médio foi realizado na mesma escola, em uma turma de

primeiro ano, com 36 alunos, trabalhando conteúdos de citologia. Nesta turma, o

relacionamento com os alunos foi ótimo e eles participavam muito das aulas. Foram

utilizadas diferentes metodologias, mas a que eles se adaptaram melhor foram aulas

práticas e atividades realizadas em grupos. A experiência obtida com este estágio foi

maravilhosa, pois os alunos sempre respondiam bem às aulas propostas e questionavam

os temas abordados, procurando adquirir mais conhecimento.

O Estágio III – Educação Inclusiva foi desenvolvido no Centro Abrigado Zona Norte

– CAZON, localizado na rua Joaquim Silveira nº 200, bairro Parque São Sebastião - Porto

Alegre, em uma turma de Educação Especial, composta por sete alunos com deficiência

mental. Nesta turma era desenvolvida a oficina de recreação e lazer, e durante o estágio

foi possível trabalhar conteúdos de Zoologia, Ecologia e Botânica, utilizando como

ferramenta principal, a Educação Ambiental. A experiência adquirida com este estágio foi

ótima e contribuiu muito para o amadurecimento e aperfeiçoamento como profissional da

educação, pois estes temas eram somente discutidos na teoria e com o estágio foi

possível colocar em prática todo conhecimento adquirido nas aulas de estágio curricular.

A relação com os alunos se deu da melhor forma, pois eles eram afetuosos e

expressavam seus sentimentos em relação às aulas, auxiliando no desenvolvimento das

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atividades e também no desempenho deles.

O CAZON tem um grande significado tanto para os alunos quanto para os pais e

funcionários, pois o trabalhado realizado no centro é um fator importante na melhoria dos

alunos com deficiência mental. Eles tem a oportunidade de realizar tarefas, sendo úteis e

valorizados, e também passam a ser inseridos na sociedade através do trabalho de

socialização que é feito no Centro Abrigado Zona Norte (PITTA; DANESI, 2000).

Este Relatório de Conclusão de Curso compreenderá aspectos observados no

Estágio III – Educação Inclusiva, realizado no CAZON, em uma turma composta por sete

alunos adultos, com deficiência mental, pertencente à faixa etária de 24 a 50 anos.

Durante o período de observações foi possível constatar que os alunos se relacionavam

muito bem entre eles, demonstrando afeto e coleguismo, e também com o professor

regente. Eles tinham necessidade de expressar seus sentimentos em relação ao

professor através do toque e chamando a sua atenção na execução das atividades

propostas. A organização das turmas por temáticas de oficinas, funcionava muito bem,

pois através deste trabalho os alunos tinham a possibilidade de construir o saber, e a

aprendizagem acontecia de forma subjetiva.

O CAZON conta com a ajuda da Associação de Pais e Amigos do Centro Abrigado

Zona Norte – APACAZON, pois é um recurso que colabora com o desenvolvimento do

centro através de doações e contribuições de pais, funcionários e da comunidade. Dentre

as doações estão a maioria dos equipamentos existentes na instituição, como os

materiais utilizados nas oficinas e também eletrodomésticos e materiais de informática,

proporcionando a inclusão digital (PITTA; DANESI, 2000).

De acordo com essas situações descritas, escolheu-se como metodologia principal

a observação da interação desses alunos com a acadêmica do Curso de Ciências

Biológicas, através do seu relacionamento, forma de trabalho, retorno dos alunos em

relação às atividades e percepção da motivação em relação a turma.

Segundo Tassoni (2000, p. 2), “a relação que caracteriza o ensinar e o aprender

transcorre a partir de vínculos entre as pessoas e inicia-se no âmbito familiar.” O mesmo

autor relata que, “no decorrer do desenvolvimento, os vínculos afetivos vão ampliando-se

e a figura do professor surge com grande importância na relação de ensino e

aprendizagem, na época escolar” (TASSONI, 2000, p. 4).

No período de regência realizado na turma, foram desenvolvidas atividades

práticas que pudessem relacionar os conteúdos de Biologia com o cotidiano dos alunos,

facilitando a aprendizagem deles. Na execução das atividades utilizaram-se diferentes

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recursos, como: argila, massinha de modelar, vídeos, jogos, revistas, jornais, folhas

secas, sementes e desenhos. Os assuntos abordados tinham como enfoque a Educação

Ambiental, proporcionando o contato destes alunos com a natureza e conscientizando-os

que os seres vivos também estavam inseridos neste contexto. Uma dificuldade

encontrada neste processo foi a falta de concentração dos alunos para a realização das

atividades, pois eles se dispersavam facilmente e como conseqüência, alguns desistiam

de continuar as tarefas solicitadas.

A tendência dos alunos à dispersão pode ser explicada pelas limitações que

apresentavam devido as suas deficiências. Todos eles eram deficientes mentais, mas o

grau da deficiência variava do mais avançado até o mais leve, e alguns alunos tinham

déficit de atenção, hiperatividade, esquizofrenia, dificuldade de motricidade e

perturbações no comportamento.

O fato de não estarem acostumados a realizar atividades diferenciadas também

contribuía para a sua dispersão, pois o professor regente deixava-os escolher o que

queriam trabalhar no dia e também os liberava para caminhadas e rodas de conversa.

Perante estes fatos, a melhor maneira encontrada para trabalhar com eles foi utilizando

materiais alternativos juntamente com o diálogo, que é a chave principal para o

desenvolvimento e aprimoramento de uma relação. Segundo Vygotsky (2005), a função

principal da fala é estabelecer uma comunicação, proporcionando um intercâmbio social.

Relacionado a esse contexto, pode-se dizer que, “a transmissão racional e intencional de

experiência e pensamento a outros requer um sistema mediador, cujo protótipo é a fala

humana, oriunda da necessidade de intercâmbio durante o trabalho” (VYGOTSKY; 2005,

p. 7).

Na primeira aula foi proposta uma atividade com folhas secas e sementes,

proporcionando o contato dos alunos com a natureza, o objetivo principal era mostrar as

estruturas das folhas e conscientizá-los de que as plantas também são seres vivos. Após

realizar a tarefa,os alunos entregaram seus desenhos para a professora de Biologia,

como demonstração de carinho e gratidão.

O tema da segunda aula foi sobre seres vivos, onde os alunos deveriam utilizar

massinha de modelar para representar qualquer tipo de ser vivo. Nesta atividade apenas

dois alunos criaram esculturas, mostrando-se interessados na temática da aula. Os outros

alunos não quiseram realizar a atividade proposta e preferiram ficar olhando revista e

jornais. Perante essa situação, foi solicitado que eles procurassem nas revistas, gravuras

de seres vivos, como proposta de trazer a atenção deles para a dinâmica da aula.

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Na atividade da terceira aula, os alunos deveriam fazer um desenho utilizando

como tema a preservação da natureza, em uma folha tingida com anilina. Para realizar o

desenho, eles deveriam usar um cotonete embebido em solução de água sanitária,

resultando em um desenho “mágico”, pois com a ação da água sanitária, a anilina seria

descolorida, formando a figura desejada. Na quarta aula, o recurso utilizado foi à argila e,

nesta aula, todos os alunos participaram da atividade, fazendo esculturas de plantas,

animais e seres humanos. Durante a execução das atividades os alunos gostavam de

conversar e sempre diziam que relaxavam e esqueciam dos problemas nas aulas de

Biologia. “A arte é uma forma de expressão, principalmente quando a deficiência mental

afeta a utilização de alguns recursos que possibilitam ao aluno exprimir-se oralmente, ou

pela linguagem escrita” (BRASIL, 2006, p. 61).

O assunto abordado na última aula foi sobre questões de saúde, priorizando a

higiene pessoal. Utilizou-se um vídeo sobre higienização para fixar o conteúdo que havia

sido trabalhado durante a aula. De uma forma geral, o retorno dos alunos nas atividades

desenvolvidas foi ótimo, pois eles conseguiam realizar o que era solicitado e também foi

possível chamar a atenção deles com os assuntos trabalhados. A partir das aulas, eles

conseguiam relacionar os temas abordados com situações do dia-a-dia e faziam questão

de mostrar que haviam entendido o conteúdo trabalhado.

Para Freire (1996) é necessário discutir com os alunos a realidade que vivem,

vinculando com os conteúdos abordados em sala de aula e também acredita que os

saberes curriculares devem estar ligados intimamente com os saberes sociais que cada

um tem como indivíduo. “Quando o aluno cria com liberdade, fazendo seus desenhos e

suas produções, ele levanta hipóteses e imprime sua marca na construção simbólica de

sua história” (BRASIL, 2006, p. 61).

Os alunos trocavam carinhos no decorrer das aulas, tanto com a professora quanto

com os colegas, e essas demonstrações de afeto transcorriam de uma forma tão natural

que auxiliavam na relação professor-aluno e aluno-aluno. A necessidade que eles tinham

em tocar e abraçar as pessoas era compreendida como uma forma de expressar seus

sentimentos e angústias, pois se sentiam seguros e felizes demonstrando os gestos de

carinho. Vygotsky (2005), declara que a comunicação através de movimentos expressivos

é uma efusão afetiva, que pode ser considerada como uma forma de expressão e

comunicação.

No processo de ensino-aprendizagem é importante que exista uma base afetiva

entre professor e aluno, pois a partir da relação estabelecida o aluno passa a confiar no

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professor e, conseqüentemente, o desenvolvimento das atividades torna-se mais

agradável e interativo. Segundo Maturana (2001) as ações humanas são impulsionadas e

realizadas de acordo com o domínio emocional de um determinado instante, ou seja, a

emoção define o comportamento a ser realizado. Perante essas colocações Tassoni

(2000) comenta que Toda aprendizagem está impregnada de afetividade, já que ocorre a partir das interações sociais, num processo vincular. Pensando, especificamente, na aprendizagem escolar, a trama que se tece entre alunos, professores, conteúdo escolar, livros, escrita, etc. não acontece puramente no campo cognitivo. Existe uma base afetiva permeando essas relações (TASSONI; 2000, p. 3).

A interação da acadêmica do Curso de Ciências Biológicas com os alunos da turma

acontecia de forma natural e tranqüila, era possível notar que agia impulsionada pela

emoção, não tinha nenhum tipo de preconceito em relação aos alunos com deficiência

mental. Era uma relação bonita, de cumplicidade e tomada por sentimentos de alegria e

satisfação pelo trabalho desempenhado. Outro aspecto levado em consideração foi à

motivação da professora em relação à turma, que era muito visível, pois conseguia

realizar atividades diferenciadas com facilidade. Em várias aulas chegava a levar

materiais elaborados em casa, e não se importava com isso, pois a principal preocupação

era passar conhecimento para os alunos e adquirir algum retorno, mesmo que fosse com

abraços e beijos.

“Embora os fenômenos afetivos sejam de natureza subjetiva, isso não os torna

independentes da ação do meio sociocultural, pois relacionam-se com a qualidade das

interações entre os sujeitos, enquanto experiências vivenciadas (TASSONI, 2000, p. 4).

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3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Para compreender e analisar as relações existentes entre professor e aluno com

deficiências mentais é preciso estar livre de qualquer tipo de preconceito e ter paciência

para observar a interação estabelecida. O trabalho desenvolvido com estes alunos é

árduo e cansativo, pois o retorno em relação às atividades propostas muitas vezes não é

o esperado, e por esse motivo, alguns professores acabam se desmotivando para seguir

em frente.

É preciso ser persistente para atingir os seus objetivos como educador, pois alunos

com deficiência mental tem um tempo diferente para entender o que está sendo dito e

solicitado, é muito diferente do que ensinar uma criança “normal”, que compreende na

hora o que está sendo questionado. O aluno com deficiência mental precisa ser

estimulado para entender um conteúdo e também necessita saber que apesar das suas

limitações também é capaz de realizar a atividade que está sendo solicitada, e muitas

vezes, com este apoio, consegue percebê-las com facilidade.

A experiência obtida com a educação de alunos deficientes mentais ou com

qualquer tipo de aluno de Educação Inclusiva é muito importante para profissionais da

área da educação. É necessário que todos professores tenham experiências assim, pois

desta forma estarão capacitados para atender qualquer aluno. Os professores de Biologia

devem utilizar recursos diferenciados para facilitar a aprendizagem de seus alunos, e

proporcionar principalmente o contato com a natureza.

Apesar das dificuldades, este trabalho é muito gratificante, pois quando é

estabelecida uma relação entre professor e aluno com deficiências mentais, o

desenvolvimento das aulas se torna mais fácil, e o resultado obtido nesta experiência se

torna inesquecível. Um ponto marcante nesta interação é a afetividade, porque o aluno

tem muita necessidade de expressar seus sentimentos em relação ao professor e faz isso

através de gestos de carinho, demonstrando sua gratidão pela ajuda que está tendo e

também pela confiança que está sendo depositada nele. A afetividade estabelecida entre

ambos pode auxiliar muito no processo de ensino-aprendizagem, pois o aluno passa a

gostar e admirar o seu professor e em troca quer mostrar para ele que está conseguindo

entender o que está sendo estudado. Para Freire (1996), o que o professor não pode

permitir, é que a afetividade que sente em relação a um aluno interfira no seu exercício de

professor e atrapalhe na sua autoridade sob a turma. Ela é um instrumento facilitador no

aprendizado, mas para ser eficiente deve ser utilizada de forma correta e positiva para os

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envolvidos.

Em relação ao estágio realizado no Centro Abrigado Zona Norte – CAZON, os

resultados obtidos com a turma foram os esperados. Eles responderam bem as atividades

propostas e em comparação com o primeiro dia de aula e o último, o progresso deles foi

impressionante. No primeiro dia apresentaram dificuldades para se concentrar e se

expressar, mas no decorrer das aulas foram se acostumando com a metodologia

diferenciada e com a presença da nova professora, e as atividades passaram a ser

desenvolvidas com o mínimo de dificuldades. O tempo de estágio realizado nesta turma

foi relativamente curto, pois durou uma semana e meia. De acordo com o desempenho

dos alunos neste período, acredita-se que se fosse possível estender mais o tempo do

estágio, os resultados obtidos teriam sido superiores aos esperados, pois o processo de

ensino de deficientes mentais é progressivo.

Os alunos deixavam claro nas suas falas, que estavam realizando as atividades por

vontade própria, que gostavam do que estavam fazendo e muitas vezes faziam

comentários sobre como se sentiam desenvolvendo as atividades. Por várias vezes foi

possível escutar eles dizendo que se sentiam bem nas aulas, que com as dinâmicas

abordadas conseguiam superar seus limites e esquecer de todos os problemas que

tinham.

Os estágios obrigatórios que compõem o currículo do Curso de Ciências Biológicas

são fundamentais para a formação de Licenciado em Ciências Biológicas. Com as

experiências obtidas em cada um deles, foi possível crescer muito profissionalmente. Se

for feita uma comparação entre os três estágios, pode-se concluir que a preparação e

segurança entre um e outro foi aumentando, de modo que, ao chegar no Estágio III, a

tranqüilidade e amadurecimento para abordar os diversos conteúdos era significativa.

O Estágio III proporcionou uma experiência maravilhosa, que possibilitou o contato

com alunos deficientes mentais, mostrando que a Biologia está presente na vida de todos

e que é possível ensinar qualquer tipo de aluno, quando se tem curiosidade e força de

vontade. Para conseguir educar estes alunos é necessário ter experiências nesta área, e

isto é uma vantagem que o Centro Universitário Metodista IPA proporciona para seus

alunos, pois na sua graduação têm a possibilidade de desenvolver este tipo de trabalho.

Isso além de melhorar o currículo do professor, deixa-o capacitado para atender a

diversos alunos, que é um requisito necessário na carreira de educador.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BRASIL, Ministério da Educação. Educação Inclusiva: Atendimento Educacional Especializado para a Deficiência Mental. Brasília: MEC/SEESP, 2006. Disponível em <http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/defmental.pdf > Acesso em 15 abril de 2009.

FARIAS, I. M. et al. Interação professor-aluno com autismo no contexto da educação inclusiva: análise do padrão de mediação do professor com base na teoria da Experiência de Aprendizagem Mediada. Revistra Brasileira de Educação Especial, Marília, SP, v. 14, n. 3, 2008. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S141365382008000300004&script=sci_arttext>Acesso em 15 de abril de 2009.

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