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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA
PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU EM NUTRIÇÃO PARA O FITNESS E ALTO
RENDIMENTO
Avaliação do consumo hídrico de atletas de
Corrida de Aventura em provas de curta duração.
por
Narayana Reinehr Ribeiro - Nutricionista
Brasília
Janeiro/2004
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SUMÁRIO
I. INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 4
II. REVISÃO DA LITERATURA ................................................................................... 7
III. METODOLOGIA................................................................................................. 10
IV. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS.................................. 12
4.1 DIFERENÇA DE PESO......................................................................................................12 4.2 HIDRATAÇÃO/GASTO ENERGÉTICO ................................................................................13
4.3 HIDRATAÇÃO X GASTO ENERGÉTICO..............................................................................14
4.4 HIDRATAÇÃO POR HORA.................................................................................................16
V. CONCLUSÕES ...................................................................................................... 18
VI. RECOMENDAÇÕES .......................................................................................... 19
VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS................................................................... 20
VIII. ANEXOS..................................................... ERRO! INDICADOR NÃO DEFINIDO.
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RESUMO
OBJETIVO: Avaliar o consumo hídrico de atletas de corrida de Aventura de curta
duração
HIPÒTESE: Atletas de Corrida de Aventura têm uma hidratação insuficiente durante as
competições.
METODOLOGIA: Pesquisa de caráter observacional e quantitativo, com a utilização de
instrumentos de entrevista e antropometria. Realizada com 31 voluntários, atletas de
Corrida de aventura de ambos os sexos (9 mulheres e 22 homens), sem limite de idade
ou experiências anteriores nessa modalidade. Em provas de duração de menos de 1
dia, com equipes de 2 a 4 pessoas.
RESULTADOS E DISCUSSÂO: Quando comparados os pesos dos atletas antes e logo
após a prova e o gasto energético desses atletas com o volume hídrico consumido,
observou-se que a maioria dos atletas teve uma hidratação insuficiente, fato que pode
prejudicar o rendimento e causar lesões nesses atletas.
CONCLUSÂO E RECOMENDAÇÂO: Devido ao alto desgaste físico e psicológico
durante provas de Corrida de Aventura, a correta hidratação se torna um
importantíssimo instrumento no rendimento e na saúde dos atletas, que nesse estudo
se hidrataram de forma insuficiente. Com base nos valores encontrados no estudo,
recomenda-se que os atletas carreguem consigo pelo menos 2/3 do líquido que deverá
ser consumido ao longo da prova. Esse cálculo deve ser feito com o valor de 1litro por
hora prevista de prova quando existir postos ou repositores naturais de água (rios,
nascentes,...) ou de no mínimo 600ml por hora quando o atleta tiver que carregar o
volume hídrico total por toda a competição.
PALAVRAS CHAVE: Corrida de Aventura, hidratação, gasto energético, desidratação.
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I. INTRODUÇÃO
A alimentação e hidratação são de fundamental importância para atletas de
Corrida de Aventura que, em minha experiência profissional, constato que não fazem
uma correta reposição desses nutrientes durante a prova, considerando o elevado
gasto energético e perda de líquido pelo suor desses atletas.
Pelo desgaste e exigência física que as Corridas de Aventura impõem ao
atleta, é muito freqüente relatos de gripes ou diarréias no período próximo à prova, de
falta de disposição ou energia e de câimbras durante a prova. Uma alimentação
insuficiente em nutrientes e água pode ser determinante no aparecimento de tais
queixas.
A corrida de Aventura é uma modalidade esportiva em equipe na qual os
participantes recebem um mapa e têm que percorrer distâncias variadas entre
diferentes pontos no mapa. Para percorrer tais trajetos os atletas têm que ter
conhecimento de navegação com bússola e utilizam nesses trechos bicicletas, botes,
cavalos, cordas, caiaques ou nenhum meio de transporte auxiliar (treking). A
organização da prova decide anteriormente como devem ser transpostos cada trecho
da prova.
Essa modalidade esportiva requer muito preparo físico, é muito desgastante,
está sempre levando as pessoas ao limite do corpo e exige muita atenção o tempo
inteiro de prova, pois acidentes são comuns e podem causar de pequenos arranhões a
fraturas, traumas e possível morte.
Existem várias Corridas de Aventura diferentes, na verdade elas nunca são
iguais, mesmo as que acontecem todo ano. Essas provas podem ser de curta duração
(menos que um dia), média duração (entre 1 a 3 dias) ou longa duração (4 a 10 ou mais
dias). O percurso se dá sempre em ambientes naturais, podendo passar por cidades ou
vilarejos; é dividido em PCs (pontos de controle) e ATs (áreas de transição). Os PCs
são pontos no mapa que devem ser alcançados pelas equipes e os ATs são pontos
onde as equipes devem receber um equipamento essencial para o próximo trajeto ou
deixar o equipamento que estavam utilizando anteriormente. Ex: barcos, cavalos,
bicicletas, etc.
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As equipes podem ser formadas por 2, 3 ou 4 pessoas, sendo obrigatório ou
não a presença de um dos membros da equipe do sexo oposto. As equipes
acompanhadas no estudo eram de 2 a 4 pessoas, sempre com 1 a 3 homens e 1
mulher.
Os integrantes das equipes não podem se afastar muito e devem chegar
sempre juntos aos PCs ou ATs, o que torna a velocidade máxima do grupo a maior
velocidade do indivíduo mais lento da equipe, tornando esse esporte um desafio não só
para o limite do corpo de cada um, mas também do relacionamento em grupo e da
ajuda mútua dos integrantes mais fortes e mais fracos. Se um indivíduo da equipe não
está se sentindo bem, seja pela alimentação inadequada, esforço físico exacerbado ou
lesão, os outros devem ajudá-lo, pois uma das regras da Corrida de Aventura é de que
se 1 integrante da equipe desistir, toda a equipe é desclassificada.
Para que todos os integrantes da equipe estejam bem e consigam manter um
ritmo bom de prova existem alguns fatores que são fundamentais, dentre eles a
hidratação e o correto consumo energético, pois o gasto energético nessa modalidade
esportiva é altíssimo e a perda hídrica, principalmente pelo suor, é bastante elevada.
Alguns aspectos inerentes à prova são complicadores a uma correta
alimentação e reposição hídrica. Os atletas devem, durante todo o percurso da prova,
carregar em suas mochilas o seu equipamento de segurança (ítens definidos pela
organização da prova como primeiros socorros e etc), comida e água. Alguns outros
equipamentos são recebidos e devolvidos ao longo da prova (caiaque, bicicleta etc).
Para carregar menos peso e menos volume, os primeiros itens a perderem
espaço nas mochilas são a água e a comida. Eles não são teoricamente obrigatórios,
mas observa-se terem uma importância decisiva na performance de cada atleta, pois a
correta ingestão de líquidos, energia e seu fracionamento ao longo da prova são de
suma importância para manter o rendimento dos atletas, o nível de atenção, a
disposição para transpor obstáculos, como longas subidas, rios ou paredões de
escalada; além de evitar câimbras, lesões musculares, picos de hipoglicemia, que
podem causar graves acidentes e retirar toda a equipe da competição.
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Um problema para a correta hidratação durante a prova é o peso e o volume
que devem ser carregados pelos atletas para repor corretamente a água perdida pelo
suor. A maioria dos atletas carrega “camel backs” (dispositivos feitos com um plástico
bem resistente, no formato de uma bolsa, que tem uma mangueirinha ligando essa
bolsa que fica na parte de dentro da mochila à parte exterior, onde o atleta tem um
acesso mais rápido e prático à água que está carregando). Esses “camel backs” têm
volumes variados e podem carregar de 1 a 3 litros em média. Além desse dispositivo,
muitos atletas utilizam também garrafinhas de água com volume de 500 a 750ml.
Somando o volume total de água, dificilmente o atleta carregará todo o líquido que
deveria consumir ao longo de toda a prova, pois mesmo que o equipamento que ele
possui para carregar água suporte mais de 3litros de líquido, dificilmente o atleta estará
disposto a carregar mais de 3kg de peso nas costas para se hidratar.
Para ajudar na hidratação os atletas muitas vezes repõem suas reservas de
água dos “camel backs” e garrafinhas em rios encontrados pelo caminho. Para tratar
essa água são utilizadas pastilhas de cloro (hipoclorito de sódio na concentração de 1,5
a 2,5mg/l de cloro ativo) ou filtros de carvão vegetal, itens praticamente obrigatórios na
mochila de todo corredor de aventura. Esses dispositivos limpam a água não tratada de
uma boa parte dos parasitas e de bactérias, mas não melhoram o sabor ou cheiro da
água, que pode não estar interessante para o consumo. Também não têm ação
imediata, deve-se esperar de 10 minutos a 1 hora para poder consumir essa água,
podendo atrapalhar todo o plano de hidratação da equipe.
É fundamental que o atleta treine também a hidratação junto dos treinos das
diferentes modalidades presentes nas Corridas de Aventura, pois a sede é tardia à
desidratação e por isso deve ser evitada. Além disso, a desidratação leva a uma
diminuição do apetite, acarretando um menor consumo energético, o que diminui a
vontade de beber água e assim o atleta vai diminuindo seu consumo hídrico e de
energia. Esse fato terá influência direta no rendimento do atleta, no humor, capacidade
de concentração, disposição e outros fatores que complicam a convivência em grupo e
em situações de esforço físico elevado. Uma das causas muito frequentes de
desistência durante a prova é a briga interna na equipe, fato que pode ter relação direta
com uma alimentação e hidratação inadequadas e merece estudos posteriores.
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II. REVISÃO DA LITERATURA
Importância da hidratação em Corridas de Aventura:
Segundo McArdle e colegas em 1996, a água perfaz 40 a 60% da massa
corporal de um indivíduo. Essa água está distribuída em tecidos órgãos e sangue. Para
um bom funcionamento de todo o metabolismo corporal é necessário um estado de
euhidratação, pois a água participa de praticamente todos os processos metabólicos do
corpo, sejam esses anabólicos ou catabólicos.
Um consumo hídrico adequado deve girar em torno de 1 mL de água para
cada kcal gasta sob condições médias de dispêndio energético e exposição ambiental
(National Research Council, 1989). Entretanto, o risco de intoxicação por água é tão
raro, que a necessidade específica para água é aumentada para 1,5mL/kcal para cobrir
as variações dos níveis de atividades, transpiração e uma infinidade de solutos
(Mancuso, 2002). Outra maneira de se calcular o volume de líquido que deve ser
ingerido ao longo de uma atividade física é pelo peso corporal perdido durante a
atividade. Esse peso é utilizado para calcular o percentual de desidratação do atleta
durante a atividade física e serve como base para atingir uma hidratação correta.
“A melhor advertência que pode ser dada em relação ao exercício no calor é
a ingestão de líquidos antes, durante e depois da atividade física. Em seres humanos
isto é uma alteração mais comportamental que fisiológica pois a resposta da sede é
menos desenvolvida. Quando estamos com sede durante o exercício, já nos tornamos
pelo menos parcialmente desidratados. Também, a menos que um esforço consciente
para a reidratação seja feito, a sede será responsável por apenas uma fração da bebida
necessária para uma reposição suficiente de líquidos.” (Wolinsky, 1996).
“A água é um dos nutrientes que mais fácil e rapidamente é absorvido. É de
alta digestibilidade, 20 minutos após penetrar no estômago, já está no intestino. É
absorvida em decorrência de diferenças na pressão osmótica entre o plasma e o
conteúdo inesticial” (Mancuso, 2002).
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“A água no nosso corpo provê o meio, o veículo no qual as reações
bioquímicas acontecem, possibilitando a organização metabólica responsável pela vida.
Sua variação para mais ou para menos afeta decisivamente a fluidez dessas reações e,
portanto, a saúde do indivíduo. A água também tem como função ser meio de
transporte, suprindo as células de substâncias nutritivas, plásticas, vitais e recolhendo
seus resíduos finais metabólicos. É ainda fundamental como lubrificante para o
funcionamento normal de partes em que o organismo é móvel e essencial na regulação
da temperatura corpórea” (Mancuso 2002).
Segundo a American College of Sports Medicine em 1996, uma adequada
reposição de fluidos ajuda a manter a hidratação e, por consequência, promove saúde,
segurança e uma performance otimizada em indivíduos que fazem atividade física
regular.
A desidratação pode causar tendinites, hipertermia, câimbras, perda de
concentração, perda de equilíbrio, perda de controle motor, desmaios, choque
hipovolêmico e morte.
A perda de água no suor é proveniente de todos os compartimentos fluidos
do corpo, incluindo o sangue – hipovolemia (Nose et al, 1988).
“Durante o exercício, o volume plasmático diminui como consequência de um
aumento no suor e de um movimento líquido de água do compartimento vascular para o
compartimento intersticial. A perda de volume plasmático através do suor será
aumentada se o exercício for executado em um ambiente quente. O decréscimo no
volume plasmático tem sido estimado em aproximadamente 2,4% para cada 1% de
perda de peso corpóreo, ocorrendo através de desidratação aguda.” (Wolinsky, 1993).
“Entre as funções homeostáticas que são comprometidas pela perda de
volume plasmático associada ao exercício está a habilidade de dissipar o calor do
corpo.” (Wolinsky, 1995).
“Em humanos, o suor pode exceder 30g por minuto (ou 1,8kg por hora)”
(Gisolfi et al, 1991). “A taxa de sudorese durante exercícios de resistência costuma
variar entre 1 e 2,5 litros por hora, dependendo da intensidade do exercício e condições
ambientais, mas pode chegar em 3,71 litros por hora em maratonistas de elite.” (Sawka
et al, 1990).
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“Mesmo uma pequena desidratação de 1% do peso corporal, pode causar um
aumento na pressão cardiovascular, elevação desproporcional do batimento cardíaco
durante o exercício, e limitar a habilidade corporal de transferir calor dos músculos em
contração à superfície corporal, onde esse calor deveria ser dissipado para o meio
externo” (American College of Sports Medicine, 1996).
“Durante o exercício, humanos tipicamente bebem volumes insuficientes de
líquidos para suprir perdas pelo suor. Essa observação tem sido denominada de
“desidratação voluntária”. (Greenleaf and Sargent, 1965). “A desidratação causada por
reposição insuficiente de líquidos durante o exercício reduz a taxa de esvaziamento
gástrico” (Rehrer et al, 1990).
“Já está bem estabelecido que em um exercício contínuo a desidratação,
mesmo tão pouco quanto a diminuição de 1% do peso corporal, dificulta as respostas
fisiológicas, de termorregulação e de rendimento” (Murray, 1992).
Não existem muitos estudos nessa área, por isso uma investigação de
adequação do consumo de energia e água desses atletas durante as provas é de suma
importância para a compreensão dos agentes causadores das suas queixas e futura
atuação de forma preventiva.
Esse estudo, de caráter observacional, tem por objetivo analisar a hidratação
de atletas de Corrida de Aventura de curta duração é avaliar se a hidratação
apresentada por esses atletas é suficiente para essa atividade esportiva.
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III. METODOLOGIA
A pesquisa tem caráter observacional e quantitativo, contou com a utilização
de instrumentos de entrevista e antropometria.
Realizada com 31 voluntários, atletas de Corrida de aventura de ambos os
sexos (9 mulheres e 22 homens), sem limite de idade ou experiências anteriores nessa
modalidade. Em provas de duração de menos de 1 dia, com equipes de 2 a 4 pessoas.
Foi realizada uma entrevista com os atletas da 3A Etapa do circuito Azimute
Transamérica de Corridas de Aventura no dia 04/08/2002 na noite anterior à da corrida
após a reunião de apresentação das regras e entrega de material. Todos os atletas que
consentiram em participar da pesquisa assinaram um termo de livre esclarecimento.
O questionário de entrevista foi dividido em 2 partes, pré e pós-competição. O
questionário pré-competição obteve informações básicas como: nome, idade, sexo,
experiência em provas de corrida de aventura, conhecimentos de nutrição e qual a
alimentação que o atleta estava levando para a competição (suplementos, alimentos,
volume de água) de forma bem detalhada.
Após a entrevista, o atleta foi pesado e foram aferidas as dobras cutâneas do
tríceps, subescapular, abdominal, suprailíaca e coxa (a dobra da coxa foi aferida
apenas nas mulheres).
Nessa etapa da pesquisa, 4 entrevistadores previamente treinados foram
responsáveis pela coleta dos dados, enquanto uma pessoa ficou responsável,
exclusivamente, pela aferição dos dados antropométricos. A balança utilizada foi digital
com precisão de 100g e o adipometro foi o Lange skinfold.
Ao terminarem a prova, no dia 05/08/02, os atletas foram imediatamente
pesados e foi aplicado o questionário pós-competição pelos mesmos entrevistadores do
questionário pré-competição. Esse questionário obteve informações como: tempo de
prova, ingestão hídrica, utilização dos suplementos e alimentos carregados no início da
prova, perdas alimentares por qualquer motivo, intercâmbio de alimentos entre o grupo
e se o atleta sentiu fome ou sede durante a competição.
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Posteriormente foi calculado o percentual de gordura de cada atleta para que
pudesse ser quantificada a massa magra de cada um. Com esse dado foi calculado o
gasto energético dos atletas durante a competição. Para o cálculo do percentual de
gordura foi utilizada a fórmula do Sloan para homens e mulheres. Para o cálculo do gasto energético foi utilizado a taxa metabólica de repouso
(TMR), que tem como base o valor de massa magra do atleta. O valor da TMR foi
utilizado para o cálculo dos METs gastos durante cada modalidade da prova por cada
atleta. A tabela de MET utilizada para esse cálculo foi o Compendio de Atividades
Físicas: Classificação do custo energético de atividades físicas humanas (Ainsworth et
al, 1993).
Para o cálculo do consumo energético foram utilizadas embalagens dos
produtos e a Tabela para Avaliação de Consumo Alimentar em Medidas Caseiras
(Pinheiro et al, 1996).
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IV. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
O tempo de prova dos diferentes atletas estudados foi muito variado. A
equipe que venceu a competição terminou a prova em 4 horas e 4 minutos. A última
equipe a chegar (inclusive foi desclassificada por ultrapassar o tempo limite da prova),
fez um tempo de 9 horas e 6 minutos. Essa grande distância entre os tempos de prova
dispersa muito ou outros dados como gasto energético e diferença de peso.
Para melhor correlacionar os dados, foram utilizados preferencialmente
alguns valores:
- A diferença de peso (peso antes – peso depois da prova) e o percentual de
perda de peso para medir a desidratação;
- A hidratação relacionada com o gasto energético;
- A relação hidratação/gasto energético para classificar se a hidratação de cada
atleta foi suficiente ou não;
- Hidratação por hora.
4.1 Diferença de peso
A diferença entre o peso antes e o peso logo após a atividade física é muito
utilizada para determinar o grau de desidratação do indivíduo, pois a maior parte desse
peso perdido é de desidratação.
No gráfico 1 está apresentado o peso antes e depois da prova de cada atleta
estudado.
Gráfico 1
020406080
100
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31
Peso antes / depois
P antes(kg)P depois(Kg)
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No gráfico 2 está ilustrada a relação entre a diferença de peso e a hidratação
dos atletas. Não foi possível estabelecer um padrão, mas nota-se bem freqüente
relação inversa entre os dois dados, principalmente entre as maiores hidratações, onde
verifica- se uma menor perda de peso, mostrando uma relação de que o atleta bem
hidratado tende a perder menos peso.
Grafico 2
4.2 Hidratação/Gasto energético
Como a orientação é que a hidratação siga um padrão de 1litro de líquido
consumido para cada 1000 kcal gastas, a divisão da hidratação (em litros) pelo gasto
energético (em kcal vezes 103) deve ser igual ou superior a 1L/kcal.103. Um valor
inferior a 1 indica uma hidratação insuficiente.
A média da hidratação/gasto energético foi de 0,88, indicando que teve um
maior número de atletas se hidratando de forma insuficiente que de forma adequada.
Dos atletas acompanhados, apenas 45% consumiram um volume adequado
de líquidos (Hidratação/gasto igual ou superior a 1). Dos atletas que se hipohidrataram,
16% tiveram um consumo inferior a 50% do esperado (hidratação/gasto inferior a 0,5
L/kcal.103).
No gráfico 3 está ilustrada a relação entre a hidratação/gasto e a diferença de
peso. A diferença de peso será discutida a seguir, mas fica bem claro a percepção de
que os valores se aproximam muito mais do extremo 0 que do 2.
D i f e r e n ç a d e p e s o x h i d r a t a ç ã o
0
2
4
6
8
1 5 9 13 17 21 25 29
D i f e r e n ç a d ep e s o ( k g )H ( L )
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Gráfico 3
4.3 Hidratação x Gasto energético
Quanto maior o gasto energético do atleta, maior a necessidade de
hidratação do organismo desse atleta.
No gráfico 4 está ilustrada a relação da hidratação e do gasto energético de
cada atleta. De uma maneira geral, o consumo de líquidos aumentou com o maior gasto
energético, mas de forma insuficiente.
Gráfico 4
Hidratação/ Gasto x Diferença de peso
0,0000,5001,0001,5002,000
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0
Diferença de peso (em Kg)
Hid
rata
ção/
Gas
to
G a sto c a lo ric o x H id ra ta çã o
0,0
5,0
10,0
15,0
1 5 9 13 17 21 25 29
G as to c a ló ric o x1000H id ra taç ão emlit ros
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Para tornar essas informações mais fáceis de ser analisadas, foi calculado o
percentual de perda de peso de cada atleta, este foi considerado, de forma geral, como
o percentual de desidratação desses atletas, como ilustra o gráfico 5
Grafico 5
A maioria dos atletas desidratou o suficiente para ter prejuízo no rendimento
durante a competição. Segundo Murray, R em 1992, uma desidratação de apenas 1%
já prejudica a termorregulação, respostas fisiológicas e o rendimento do atleta.
No estudo, dos 32 atletas acompanhados, 84% perderam mais de 2% de
peso durante a prova. Dos 14% que perderam menos de 2% de peso corporal, apenas
1 indivíduo teve a relação hidratação/gasto menor de 1 (0,83 L/kcal.103).
A média de perda de peso foi de 3,8%. A menor perda de peso foi de 0,62%;
a maior perda de peso foi de 7,15%. O que implica em grandes riscos à saúde do
atleta, pois segundo Wolinsky em 1996, a perda de 5% de água do corpo pode conduzir
a uma exaustão de calor; a perda de 7% pode conduzir a alucinações; a perda de 10%
pode conduzir a acidente vascular cerebral devido ao calor e óbito.
“Normalmente, quanto maior for a desidratação, maior será o impacto sobre a
performance, mas mesmo uma desidratação moderada (perda de 1 a 5% do peso
corporal), tem sido relatada como responsável por diminuição da capacidade de
trabalho físico em 2 a 48%.” (Sawka , 1990).
Percentual de desidratação
02468
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 22 24 26 28 30 32 34
Atletas
Perc
entu
al
de p
erda
de
peso
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4.4 Hidratação por hora
Como a duração da prova foi diferente para os diversos atletas, esta forma de
verificar a hidratação se tornou mais eficiente que o volume total.
Segundo Richard Kreider em 1991, uma hidratação adequada para exercícios
prolongados deve ser de 100 a 200 ml a cada 5 a 10 minutos de prova.
Com base nesses dados tem-se que a hidratação mínima por hora deve ser
de 600ml. E, com base no volume de esvaziamento gástrico, não ajuda se ultrapassar
muito 1 litro por hora (Wolinsky, 1993).
Dos atletas acompanhados, nenhum superou a hidratação de 1 litro por hora.
A média ficou em 0,58 litros por hora, o que significa que a maior parte dos atletas
ingeriu menos que o mínimo aceitável para uma correta reposição de líquidos corporais.
A melhor hidratração por hora ficou em 0,984 e a menor em 0,226.
No estudo, 48% dos atletas tiveram uma hidratação por hora igual ou superior
a 600ml.
Dos atletas que não atingiram o nível mínimo esperado, 19% ficaram abaixo
de 300ml por hora, quer dizer, não chegaram nem à metade do mínimo esperado.
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V. CONCLUSÕES
A modalidade esportiva Corrida de Aventura é nova e por isso possui poucos
estudos, o que dificulta a comparação dos resultados encontrados com outros da
mesma modalidade.
Por ser uma competição que leva seus participantes ao limite de suas
capacidades físicas, mentais e de tolerância (à dor, a contratempos como estar perdido
na mata ou a um membro mais despreparado da equipe), deve ser minuciosamente
estudada, pois são inúmeras as variáveis que podem fazer uma equipe se tornar
campeã ou ser desclassificada.
De vários aspectos relacionados a essa modalidade esportiva, a nutrição, em
particular, é um dos mais importantes, pois se for bem balanceada vai permitir que o
atleta consiga superar obstáculos e terminar a prova rendendo o máximo que o seu
treino, preparo físico e genética tinham a proporcionar a esse atleta.
Dentro dos aspectos nutricionais, a hidratação tem uma grande importância,
tanto pela sua íntima relação com o rendimento, quanto pela dificuldade encontrada por
atletas de Corridas de Aventura em carregar muita água consigo por causa do seu peso
e volume.
Com base na média de hidratação por hora e o valor de gasto/hidratação que
foram encontrados na população estudada, a conclusão do estudo foi de que a maioria
dos atletas de corrida de aventura não se hidrata corretamente. Isso é um risco para
esses atletas, uma vez que eles se encontram a maior parte do tempo de prova em
ambientes naturais inóspitos e quando desidratam aumentam os riscos de lesões, já
inerentes a esse tipo de competição.
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VI. RECOMENDAÇÕES
As recomendações para provas de Corrida de Aventura de curta duração,
com base nos resultados do estudo, são que os atletas levem consigo pelo menos 2/3
do consumo hídrico adequado. Esse cálculo deve ser baseado no valor de 1 litro por
hora prevista de prova. Se não houverem rios ou pontos de reabastecimento de líquidos
durante a prova, o cálculo deve ser feito com base no valor mínimo de 600 ml por hora
prevista de prova mais um adicional de 20% para possíveis atrasos na previsão de
chegada.
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VII. REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS
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