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Centro Espírita Léon Denis 12 o Encontro Espírita sobre O Céu e o Inferno Tema: “O Céu” NEBULOSA HELIX – OLHO DE DEUS (By NASA – Telescópio Hubble) 27 de novembro de 2016

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Centro Espírita Léon Denis

12o Encontro Espírita sobre O Céu e o Inferno

Tema: “O Céu”

NEBULOSA HELIX – OLHO DE DEUS (By NASA – Telescópio Hubble)

27 de novembro de 2016

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Coordenação Geral: Homero Dias de Carvalho Coordenação Imediata: Maria Lucia Alcantara de Carvalho Organização de Conteúdo: Grupo de Estudos Espíritas Lucia Moreira Finalização: Setor Editorial do CELD

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INFORMAÇÕES GERAIS

8h às 8h30min Chegada / Recepção 8h30min às 9h Abertura / Deslocamento 9h Estudo – Parte conceitual Intervalo Horário do lanche de acordo co m

a necessidade do estudo Retorno Estudo de Casos de O Céu e o

Inferno 13h Encerramento

CENTROS PARTICIPANTES LOCAL Data da Realização

Centro Espí rita Léon Denis Bento Ribeiro 27/11/2016

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Temas estudados até a presente data

Ano Tema

2014 2015

O Futuro e o Nada

Temor da Morte

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Sumário

1a Parte – Conceituação – O Céu

I - Introdução 7 1 - Conceito histórico de Céu 7 1.1 - Etimologia 8 1.2 - Conceito científico 8 1.3 - Conceito religioso 10 1.4 - 1.5 -

Ruptura entre Ciência e Religião Materialismo

10 11

2 -

O Universo: “Há muitas moradas na Casa de meu Pai.”

12

2.1 - A Ciência hoje 12 2.2 - O que diz a Doutrina Espírita 13 3 - Somos Espíritos 17 3.1 - Corpo físico e alma 17 3.2 - Mundo corporal e mundo incorpóreo 18 3.3 - Progresso fruto do trabalho 18 3.3.1 - Progresso intelectual 19 3.3.2 - Progresso moral 19 3.4 - Necessidade da encarnação 20 4 -

Felicidade fruto do progresso

22

4.1 - Felicidade no mundo corpóreo 23 4.2 - Felicidade no mundo incorpóreo 28 5 -

Onde está o Céu?

29

5.1 - Doutrina Espírita – Visão interior de felicidade 29 5.2 - Virtudes e vícios – a escolha da “porta” 30 5.3 - “A cada um segundo suas obras” 31

2a Parte – Estudo de Casos

1 - Os vícios como empecilho à felicidade 33 – Benoist 33 2 - As virtudes como caminho para a felicidade 36 – Viúva Foulon 36 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Objetivo Geral

• Estudar o capítulo III, da primeira parte do livro O Céu e o Inferno , de Allan Kardec.

Objetivos Específicos

• Analisar os conceitos de Céu, dos pontos de vista científico e religioso.

• Reconhecer que os conceitos humanos são limitados ao que sabem.

• Reconhecer que o conceito de Céu sempre esteve ligado ao conceito de felicidade.

• Comparar a visão de felicidade para a Doutrina Espírita com a visão das outras crenças.

• Identificar, na visão espírita, a construção do Céu Interior, fruto do progresso intelectual e moral.

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O Céu I – Introdução. Em 2014, estudamos O Futuro e o Nada – capítulo primeiro da primeira parte de O Céu e o Inferno, onde se buscou, através do raciocínio lógico, refutar a ideia do nada e suas variantes, onde se perde a individualidade, com o advento da morte do corpo físico. Já em 2015 buscamos entender O Receio da Morte em suas origens e “por que os espíritas não temem a morte”. Concluímos o nosso 11o EECI com as seguintes frases: • O temor da morte é inversamente proporcional à co nfiança em Deus. • Precisamos valorizar o presente precioso que é a vida. • Para bem morrer, precisamos bem viver.

Todos nós sabemos que não ficaremos “pra semente”. Uma conhecida e bem-humorada frase do Barão de Itararé diz: “Viva

cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta ” – frase que também utilizamos em nosso 11o EECI. E quando chegar “esse dia”, para onde vamos? Já parou para refletir sobre isto?

E assim, neste ano, vamos estudar O Céu. E perguntamos: Onde está o seu céu?

1 – Conceito histórico de Céu. Para responder a esta pergunta, Kardec, nos itens iniciais deste terceiro capítulo do livro O Céu e o Inferno , desenvolve o conceito histórico de céu com um olhar etimológico, o que já dá uma ideia do saber que se tinha nos primórdios da humanidade, com um saber desenvolvido a partir da observação da Natureza com o único “equipamento” disponível: o olho . Cunhou-se, então, a palavra para descrevê-lo e este conceito alimentou a religiosidade em seu objetivo de ter um local físico de acolhimento dos justos. Neste período, consideravam-se o céu moral e a felicidade como sendo exteriores ao homem. Podemos dizer que, nesta fase embrionária de religiosidade e Ciência, havia uma sintonia de conceitos.

“A história da origem de quase todos os povos antigos se

confunde com a história das suas religiões, é por isso que seus primeiros livros foram livros religiosos. E como todas as religiões se ligam ao princípio das coisas, que é também o da humanidade, elas deram, sobre a formação e a organização do Universo, explicações de acordo com o grau de conhecimentos da época e dos seus fundadores. Daí resultou que os primeiros livros sagrados foram ao mesmo tempo os primeiros livros científicos, como foram também, durante muito tempo, o único código das leis civis.”

A Gênese , cap. IV, item 1.

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1.1 – Etimologia. O professor Hippolyte-Léon-Denizard Rivail, Allan Kardec, no capítulo

tema de nosso 12o EECI, registra:

“Diz-se a palavra céu, em geral, quando nos referimos ao Espaço indefinido que rodeia a Terra, e mais particularmente à parte que está acima do nosso horizonte; ela vem do latim caelum, formado do grego coilos, oco, côncavo, porque o céu parece, aos nossos olhos, uma imensa concavidade.”

O Céu e o Inferno , cap. III, item 1.

1.2 – Conceito científico. Em nossa infância, nesta encarnação, passamos por uma fase que, por motivos óbvios, é chamada “fase do por quê?”. Exploramos nosso redor, nosso corpo e, a cada nova “descoberta”, recorremos àquela em quem depositamos toda a nossa confiança para satisfação de nossa curiosidade. E assim crescemos, sempre em busca de respostas às mais diversas questões. Com o passar dos anos, aprendemos a desenvolver nossas próprias respostas utilizando os recursos disponíveis. A humanidade seguiu um ciclo semelhante de progressão, com as respostas vindas da “Mãe Natureza”, através das observações, desen-volvendo teorias e verificando se correspondiam aos eventos focados. Os primeiros indícios de observação do céu, com o intuito de prever a sorte, datam de 3000 antes de Cristo, na região da antiga Babilônia, entre os caldeus. Mas, entre os sumérios, cerca de 1000 anos antes, ou seja, por volta de 4000 a.C., já havia o hábito de imaginar a ligação entre os pontos brilhantes do céu para formar figuras. Não podemos esquecer que, nesta infância da civilização, os únicos “instrumentos” disponíveis para tal tarefa eram os que a própria Natureza pôs à disposição do homem, ou seja, seus próprios olhos e sua inteligência . Mesmo tendo como recurso único o olho nu, por conseguinte limitado à capacidade da visão humana, a observação do céu produziu prodígios que permitiram o progresso da civilização, como a agricultura e a navegação.

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No século V antes de Cristo, o filósofo grego Filolau já propunha que a Terra girasse em torno de uma “esfera de fogo central”. Esta ideia foi expandida por Aristarco de Samos, no século III a.C., com a crença que este fogo central era o Sol e que outros astros também o circundavam. É o chamado heliocentrismo. Este modelo não obteve sucesso, pois parecia mais lógico, aos olhos dos homens, o conjunto de ideias desen-

volvidas por Aristóteles, no século IV a.C., colocando a Terra no centro do Universo, que era composto por nove esferas concêntricas. No século I a.C., o astrônomo Hiparco desenvolveu estudos sobre a teoria geocêntrica que ajudaram Ptolomeu de Alexandria, no século II da era Cristã, a desenvolver um modelo matemático para explicá-la. Só com o aparecimento de inventos que permitiram ampliar a capacidade da visão humana, foi possível a refutação da ideia geocêntrica. As lentes, em princípio, permitiram que o homem prolongasse a sua capacidade de observação, por um período que ia além daquele em que há a natural degradação da visão, ao longo dos anos de vida. Lentes mais potentes foram desenvolvidas a partir do século XIV da era Cristã, período das grandes navegações, ampliando a observação do céu, distinguindo o que se vislumbrava no hemisfério norte do que se via no hemisfério sul, o que permitiu sedimentar o conceito de Terra redonda, além do avanço de outros ramos da Ciência. No início do século XVII, na Holanda, (supostamente os irmãos Hans e Zacharias Janssen) fabricantes de lentes observaram que a colocação de uma lente diante da outra permitia a observação de detalhes em objetos distantes. Em 1609, Galileu Galilei

desenvolveu esta ideia, construindo o primeiro instrumento destinado a estudar o céu, a luneta, com capacidade de ampliar três vezes a imagem focalizada. Com o sucesso obtido, desenvolveu novo equipamento com capa-cidade de ampliação de trinta vezes, que permitiu descobertas incríveis, como a identi-ficação de novos planetas no Sistema Solar e a presença de satélites. Mas, o significado maior

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foi a resposta a antigos porquês e, por conseguinte, uma avalanche de novos porquês, desta vez com a possibilidade de desenvolvimento tecnológico, permitindo a ampliação do alcance da visão ao infinitamente pequeno e ao infinitamente distante.

1.3 – Conceito religioso. Partindo da visão limitada e insuficiência de conhecimentos astronô-micos, o modelo básico de conceito religioso consiste em colocar o homem como referencial, vivendo na Terra, tendo imediatamente acima o “céu das aves”, acima deste o “céu dos astros” e, mais além, a “morada dos justos” avistando Deus. Estes céus superpostos variam de três, na concepção católica inicial, a nove, na concepção muçulmana, e a onze, para os que compartilharam da visão de Ptolomeu. Diferentemente do que ocorreu com a concepção científica de Céu, o modelo religioso estacionou em seu conceito, mesmo que todas as provas da Ciência indicassem o seu desacordo com as Leis da Natureza. A ideia heliocentrista surgiu primeiro, com o filósofo Filolau; mas o modelo geocentrista, imaginado por Aristóteles, atendia melhor aos desejos dos que comandavam o cristianismo, pois seria natural que, “criado à imagem e semelhança de Deus”, o homem ocupasse uma posição central e privilegiada no Universo. E, assim, atribuindo a Deus o veredito sobre esta questão científica, a ferro e fogo – literalmente, pois a espada e a fogueira foram utilizadas para eliminar não só os opositores, mas também na tentativa de “matar” as ideias: em 1616, o trabalho de Copérnico sobre as Revoluções das Órbitas Celestes foi considerado herege; em 1633, Galileu Galilei foi obrigado a negar a ideia heliocêntrica e condenado à prisão domiciliar perpétua – os comandantes da Igreja fizeram com que a ideia geocêntrica fosse hegemônica, não só no meio religioso.

1.4 – Ruptura entre Ciência e Religião. Este comportamento dogmático provocou o distanciamento da Ciência em relação à Religião, pois, a cada dia, com o progresso dos meios de observação da Natureza e a descoberta das leis que regiam estes fenômenos observados, eles deixaram de ser “milagres” e passaram a ser “ciência”. Um mestre respondeu bem a um aluno, sobre esta relação entre milagre e Ciência, quando disse: “Filho, tudo é milagre. Ciência é o milagre que o homem descobriu como funciona”. Segundo este conceito, milagre não é uma derrogação das Leis de Deus. Simplesmente, ainda não conseguimos, com os meios de que dispomos para a observação, determinar as Leis que o regem.

“A Ciência, portanto, levando suas investigações às entranhas da Terra e às profundezas dos céus, demonstrou, de forma irrefutável, os erros da Gênese mosaica tomada ao pé da letra , e a

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impossibilidade material de que os fatos tenham se passado conforme estão textualmente relatados ali. Assim procedendo, a Ciência desferiu um golpe profundo em crenças seculares. A fé ortodoxa se revoltou, porque acreditou ver arrebatada a sua pedra fundamental. Porém, com quem estaria a razão: com a Ciência, caminhando prudente e progressivamente sobre o terreno sólido dos números e da obser-vação, sem nada afirmar antes de ter a prova nas mãos, ou com uma narrativa escrita em uma época em que inexistiam absolutamente os meios de observação? Ao final das contas, quem deve triunfar: aquele que diz que 2 mais 2 são 5, e se recusa a verificar o resultado, ou aquele que diz que 2 mais 2 são 4 e o prova?” (Grifo nosso)

A Gênese , cap. IV, item 8. E, assim, a Ciência seguiu seu caminho desbravador dos mistérios e a

Religião seguiu atrelada aos conceitos que colocam Deus nos confins da criação e a criatura no centro de tudo.

“As diversas doutrinas que se referem à morada dos bem-

aventurados estão todas estabelecidas sobre o duplo erro de que a Terra é o centro do Universo, e de que a região dos astros é limitada. É para além desse limite imaginário que todas colocaram essa região afortunada e a morada do Todo-Poderoso. Singular anormalidade que situa o autor de todas as coisas, aquele que as governa todas, nos confins da criação, em lugar de colocá-lo no centro de onde a irradiação do seu pensamento podia se estender a tudo!”

O Céu e o Inferno , cap. III item 2.

1.5 – Materialismo. Em O Livro dos Médiuns , o Espírito Erasto diz que “é melhor repelir dez verdades do que admitir uma única mentira, uma única teoria falsa”. Clara e cristalina é a consequência das imposições feitas em nome de Deus: a proliferação dos adeptos do materialismo. Kardec, neste mesmo livro, fala de uma “classe de materialistas” que o são por “falta de coisa melhor”. O divórcio entre a Ciência e a Religião fez com que os adeptos da religião que se dispunham a refletir, raciocinar, vissem o seu alicerce ruir e questionar: se em tal questão a Ciência demonstrou a impossibilidade, como acreditar em todas as outras? E, negando os equívocos pregados por ela, jogaram-na fora e, junto com ela, Deus também. Deslumbrados por seu conhecimento intelectual, o orgulho fez com que se julgassem capazes de caminhar sozinhos, sem Deus (que, aliás, nem existe, segundo eles); crer apenas no presente, que é positivo; negar a transcendência do ser, limitando-o à sua natureza material. A Doutrina Espírita, com perfil científico, filosófico e religioso, veio suprir este hiato e, fundamentando-se na fé raciocinada e nos fatos,

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comprovar a natureza espiritual do ser (sua essência) e evidenciar o erro em que se fundamenta o materialismo. 2 – O Universo: “Há muitas moradas na Casa de meu P ai”. Jesus nos disse, há 2000 anos, o que a Ciência busca, nos dias de hoje, comprovar: “Na Casa de meu Pai há muitas moradas; se não fosse assim, eu vo-lo teria dito”. Está anotado no Evangelho de João, no versículo segundo do capítulo 14. Mas, a busca destas “moradas”, por parte da Ciência, fica prejudicada, em função da ruptura por incompatibilidade entre ela e as religiões, no passado. Muitos fatores ligados exclusivamente ao ambiente científico são aceitos, sem que haja uma comprovação física positiva. Desenvolvem-se sistemas a partir destas ideias e, quando são possíveis experiências que comprovem, ou desmintam, o sistema é ratificado, retificado ou substituído por outro conjunto de ideias. Assim aconteceu no passado com a busca do “centro” do Universo. Hoje a Ciência já comprovou a existência do Bóson de Higgs, “apelidado” de “Partícula de Deus”, e a Ciência acredita que esta partícula seja o que os filósofos gregos chamaram de átomo, que significa o que é indivisível, e, a partir de suas transformações, são produzidas todas as coisas do mundo material. A Doutrina Espírita denomina a partícula elementar como FCU – Fluido Cósmico Universal, que pode ser, ou não, este bóson. Só o tempo e as pesquisas, ou uma revelação direta, dirão se o homem conseguiu chegar ao átomo idealizado pelos gregos e ao FCU revelado pelos Espíritos que inspiraram a Codificação Espírita.

2.1 – A Ciência hoje. No ano de 2009, Ano Internacional da Astronomia, o telescópio espacial Hubble sofreu o que a NASA chama de “última atualização”, antes de ser desativado, o que deveria ter ocorrido em 2014, mas foi adiado para depois de 2020. Está em operação desde 1990 e, desde então, tem proporcionado imagens cada vez mais distantes e nítidas do Universo. Hoje, estima-se a idade do Universo em cerca de 15 bilhões de anos. Acredita-se na existência de 125 bilhões de galáxias. A nossa galáxia, a Via Láctea, que não é das maiores, possui cerca de 200 bilhões de estrelas e o nosso planeta orbita uma delas, situada na periferia. Somente no final do século passado, na década de 90, a Ciência conseguiu comprovar a existência de sistemas planetários, na constelação de Pégaso, a uma distância de 40 Anos Luz. Hoje, já se conhece cerca de 2.300 planetas extrassolares, mas, a primeira observação direta só foi possível em março de 2005 através do telescópio Spitzer. Na edição da revista Superinteressante de agosto 2008, há uma equação proposta pelo astrônomo Frank Drake para estimar a quantidade de civilizações hoje existentes em nossa galáxia, obtendo, como quantidade “otimista”, 900.000 e, como quantidade “conservadora”, 4. Mesmo a quantidade dita conser-

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vadora, multiplicada pela quantidade de galáxias aceitas, tem como resultado 500 bilhões de civilizações no Universo conhecido. Ou seja, a Ciência já admite que “ há muitas moradas na Casa de meu Pai ” .

2.2 – O que diz a Doutrina Espírita. A projeção científica leva em consideração apenas as condições necessárias à manutenção de um corpo físico como o conhecemos. Sendo assim, só perceberia parte das “moradas da Casa do Pai”, não detectando

aquelas em que a depuração do corpo já atingiu patamar que seja invisível aos “olhos” de nossos instrumentos de observação. Para exemplificar esta possibilidade, recorre-mos ao nosso planeta Terra, quando, de forma análoga ao trabalho de Galileu Galilei, o holandês Antonie Van Leeuwenhoek construiu um instrumento ótico que permitiu observar micro-organismos, pertencentes tanto ao Reino Animal quanto ao Reino Vegetal. Foi a invenção do microscópio. Só a partir deste momento, foi possível a investigação das partes diminutas das diversas organi-

zações físicas, vivas ou inertes. Na Doutrina Espírita, temos um entendimento mais amplo de “morada”, não se restringindo apenas ao conceito físico admitido pela Ciência. Mas, mesmo estritamente do ponto de vista físico, já em 1862, o Espírito Galileu dava, na Sociedade Espírita de Paris, através do médium Camille Flammarion, a seguinte mensagem que faz parte do livro A Gênese , em seu capítulo VI, denominado Astronomia Geral:

“O ESPAÇO E O TEMPO 1. Várias definições de espaço foram dadas, a principal é esta: o espaço é a extensão que separa dois corpos. Daí certos sofistas deduziram que onde não havia corpos não havia espaço. Foi nisso que se basearam alguns doutores em Teologia para estabelecer que o espaço era necessariamente finito, alegando que corpos limitados em um certo número não poderiam formar uma série infinita; e que, onde os corpos acabassem, o espaço também acabaria.

Ainda se definiu o espaço como: o lugar onde os mundos se movem, o vazio onde a matéria atua, etc. Deixemos, nos tratados onde repousam, todas essas definições que nada definem.

Espaço é uma dessas palavras que representam uma ideia primitiva e axiomática, evidente por si mesma, e que as diversas definições que lhe possam ser dadas só servem para obscurecê-la. Todos sabemos o que é o espaço e eu apenas quero demonstrar a sua infinidade, a fim de que os nossos estudos posteriores não tenham algum obstáculo se opondo às investigações do nosso olhar.

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Ora, digo que o espaço é infinito, pelo fato de ser impossível imaginar um limite qualquer para ele, e porque, apesar da dificuldade que temos de conceber o infinito, para nós é mais fácil avançar eternamente pelo espaço, através do pensamento, do que parar em um ponto qualquer, depois do qual não encontraríamos mais nenhum espaço a percorrer.

Para imaginarmos o infinito do espaço, tanto quanto as nossas limitadas possibilidades o permitam, suponhamos que, partindo da Terra, perdida no meio do infinito, em direção a um ponto qualquer do Universo, e isso com a velocidade prodigiosa da luz, que percorre milhares de quilômetros a cada segundo, e que, após ter percorrido milhões de quilômetros mal tenhamos deixado este globo, nos achamos em um lugar de onde a Terra apenas nos aparece sob o aspecto de uma pálida estrela. Após um instante, prosseguindo sempre na mesma direção, chegamos a essas estrelas distantes que mal são percebidas da vossa estação terrestre. De lá, não só a Terra desaparece completamente das nossas vistas nas profundezas do céu, como também o vosso próprio Sol, com todo o seu esplendor, é eclipsado pela distância que nos separa dele. Sempre animados pela mesma velocidade da luz, a cada metro que avançamos no espaço, transpomos sistemas planetários, ilhas de luz etérea, estradas estelí-feras, paragens suntuosas onde Deus semeou os mundos com a mesma profusão com que semeou as plantas nas pradarias terrenas.

Ora, há apenas alguns minutos que avançamos, e centenas de milhões de milhões de quilômetros já nos separam da Terra, bilhões de mundos passaram sob o nosso olhar e, entretanto, escutai, na realidade, não avançamos um passo sequer no Universo.

Se continuarmos durante anos, séculos, milhares de séculos, milhões de períodos cem vezes seculares e sempre com a mesma velocidade da luz, também não teremos avançado nem um passo sequer, qualquer que seja a direção para onde nos dirijamos e qualquer que seja o ponto para onde nos encaminhemos, a partir desse grãozinho invisível que nós deixamos e que se chama Terra.

Eis aí o que é o espaço!

2. Tempo, assim como espaço, é um termo que se define por si mesmo; dele podemos fazer uma ideia mais exata estabelecendo sua relação com o todo infinito.

O tempo é a sucessão das coisas. Está relacionado à eternidade, do mesmo modo que essas coisas estão relacionadas ao infinito. Vamos supor que estamos na origem do nosso mundo, na época primitiva em que a Terra ainda não se movia sob a divina impulsão, em uma palavra, no começo da Gênese. Então, o tempo ainda não havia saído do misterioso berço da Natureza, e ninguém

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pode dizer, referindo-se a séculos, em que época estamos, uma vez que o balancim dos séculos ainda não está em movimento.

Mas, silêncio! A primeira hora de uma Terra isolada soa na sineta eterna, o planeta se move no espaço e desde então há tarde e manhã. Para lá da Terra, a eternidade continua impassível e imóvel, ainda que o tempo avance em relação a muitos outros mundos. Sobre a Terra, o tempo substitui a eternidade e durante uma determinada série de gerações serão contados os anos e os séculos.

Transportemo-nos agora ao último dia desse mundo, à hora em que, curvada sob o peso da velhice, a Terra se apagará do livro da vida para não mais reaparecer: então a sucessão dos eventos se detém; os movimentos terrestres que mediam o tempo se interrompem e com eles o tempo chega ao fim.

Esta simples exposição dos fatos naturais que dão nascimento ao tempo, que o alimentam e deixam que ele se extinga, basta para mostrar que, visto do ponto em que devemos nos situar para os nossos estudos, o tempo é como uma gota d’água que cai da nuvem no mar, e cuja queda é medida.

Tantos mundos na vasta amplidão, tantos tempos diferentes e incompatíveis. Ao redor dos mundos, somente a eternidade substitui essas efêmeras sucessões e enche tranquilamente, com a sua luz imóvel, a imensidade dos céus. Imensidade sem limites e eternidade sem limites, essas são as duas grandes propriedades do Universo.

O olhar do observador que penetra as incomensuráveis distâncias do espaço, sem jamais encontrar obstáculos, e o olhar do geólogo, que remonta além dos limites das eras, ou que desce, maravilhado, às profundezas da eternidade, onde eles um dia se perderão, agem de acordo, cada um na sua estrada, para adquirir esta dupla noção de infinito: extensão e duração.

Ora, de acordo com este raciocínio, será fácil entender que, sendo o tempo a relação das coisas transitórias, e dependendo unicamente das coisas que se medem, se, considerando o século terrestre como unidade, nós empilhássemos milhares e milhares deles para formar um número colossal, esse número nunca representará mais do que um ponto na eternidade, do mesmo modo que milhares de quilômetros somados a milhares de quilômetros não são mais do que um ponto na extensão.

Assim, por exemplo, como os séculos estão fora da vida etérea da alma, poderíamos escrever um número tão longo quanto o equador terrestre e supormos que envelhecemos nesse número de séculos, sem que na realidade nossa alma conte um dia sequer a mais. E, somando a esse número indefinível de séculos uma série de números iguais, tão longa como daqui ao Sol, ou ainda maior, se imagi-nássemos viver durante a sucessão prodigiosa de períodos seculares,

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representada pela soma desses números, quando chegássemos ao fim, o inconcebível amontoado de séculos que passaria sobre a nossa cabeça seria como se não tivesse existido: diante de nós sempre estaria toda a eternidade.

O tempo é apenas uma medida relativa da sucessão das coisas transitórias. A eternidade não é suscetível de medida alguma, do ponto de vista da duração; para ela não há começo nem fim: tudo é presente.

Se séculos de séculos são menos do que um segundo em relação à eternidade, o que é a duração da vida humana?”

A Gênese , cap. VI, itens 1 e 2. Na introdução do capítulo III de O Livro dos Espíritos , este conceito

é expandido. “Formação dos mundos – O Universo compreende a

infinidade dos mundos que vemos e dos que não vemos, todos os seres animados e inanimados, todos os astros que se movem no Espaço, assim como os fluidos que o preenchem.”

O Livro dos Espíritos , cap. III, “Criação”.

Continuando neste capítulo de O Livro dos Espíritos , encontramos diversas questões que abordam a Pluralidade dos Mundos e dos Seres que neles habitam:

55. Todos os globos que giram no Espaço são habitados?

“Sim, e o homem da Terra está longe de ser, como o supõe, o primeiro em inteligência, em bondade e em perfeição. Há, no entanto, homens que se acreditam muito fortes, que imaginam que este pequeno globo é o único a possuir o privilégio de conter seres racionais. Orgulho e vaidade! Acreditam que Deus criou o Universo unicamente para eles.”

Deus povoou os mundos de seres vivos que contribuem, todos, para o objetivo final da Providência. Acreditar que os seres vivos estejam limitados unicamente ao ponto que habitamos no Universo, seria colocar em dúvida a sabedoria de Deus, que nada fez de inútil; ele deve ter traçado para esses mundos um objetivo mais sério do que o de recrear nossa vista. Nada há, aliás, nem na posição, nem no volume, nem na constituição física da Terra, que possa, racional-mente, fazer supor que apenas ela tenha o privilégio de ser habitada, com exclusão de tantos milhares de mundos semelhantes.

56. A constituição física dos diferentes globos é a mesma? “Não; eles de modo algum se assemelham.”

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57. Não sendo a mesma para todos a constituição física dos mundos, segue-se que haja para os seres que os habitam uma organização diferente?

“Sem dúvida, assim como no vosso os peixes são feitos para viver na água e os pássaros no ar.”

O Livro dos Espíritos , questões 55 a 57.

3 – Somos espíritos. Na verdade, o distanciamento da Natureza, por parte das religiões, não foi fruto da adoção da ideia geocêntrica, em prejuízo da ideia heliocêntrica. O que fez isso foi a ideia egocêntrica, que colocou o homem, habitante do planeta Terra, como o centro do Universo. Desta forma, priorizou-se o ser perecível, em detrimento do ser imortal. Transferiu-se a bênção da imortalidade para aquilo que veio do pó e ao pó deverá retornar e cumprir a sua missão na Natureza, atendendo ao ciclo da vida. “Eu sou espírito: minha pátria é o espaço, meu futuro é Deus, que resplandece na imensidade”, são as palavras de nosso patrono Sanson , na comunicação de 23 de abril de 1862. Ele resume o que realmente somos, ou seja, espíritos imortais, e nossa destinação. Esta visão diferenciada de “ser” e “ter” é fundamental para direcionar a nossa busca da felicidade. É muito diferente “ser” um corpo e “ter” um espírito, de “ser” espírito e “ter” um corpo. Com esta mudança de paradigma passamos a ter como objetivo guardar nossos tesouros “onde a traça não rói e a ferrugem não corrói”.

3.1 – Corpo físico e alma. Estudando as relações entre o corpo físico e a alma, aprendemos que

existe um elemento que permite a interação de ambos, denominado perispírito. O perispírito conduz as sensações do corpo à percepção do espírito e retorna os comandos do espírito ao corpo físico. Nesta relação, também está presente a dificuldade da Ciência em lidar com fenômenos que ainda não pode comprovar experimentalmente. A Ciência se aproxima do perispírito, quando investiga o sistema nervoso e o sistema circulatório, sem, no entanto, perceber este elemento que se une ao corpo físico molécula a molécula.

“O homem é composto de corpo e espírito; o espírito é o ser

principal, o ser da razão, o ser inteligente; o corpo é o invólucro material que reveste temporariamente o espírito para a realização da sua missão sobre a Terra e a execução do trabalho necessário ao seu adiantamento. O corpo, usado, se destrói, mas o espírito sobrevive à sua destruição. Sem o espírito, o corpo é apenas uma matéria inerte, como um instrumento privado da força que o faz agir; sem o corpo, o espírito é tudo: a vida e a inteligência.”

O Céu e o Inferno , cap. III, item 5.

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Para melhor compreensão desta relação, utilizamos uma estratificação didática, desde o espírito até chegar ao corpo físico, baseada nas informações trazidas por André Luiz, através da mediunidade de Francisco Cândido Xavier:

3.2 – Mundo corporal e mundo incorpóreo. As considerações que fizemos no item 2.2, sobre as limitações da Ciência, ao admitir apenas o que seus instrumentos podem mensurar, se aplicam a este tema também. Mas, os ensinamentos e esclarecimentos dos Espíritos mostram a existência não só deste mundo corpóreo, mas de um mundo incorpóreo, a interagir constantemente. Semelhante ao que foi dito sobre a relação corpo-espírito, o mundo incorpóreo é o principal, preexiste e subsiste sem o mundo corpóreo.

“Qual dos dois, o mundo espírita ou o mundo corporal, é o

principal, na ordem das coisas?” “O mundo espírita; ele é preexistente e sobrevive a tudo.”

O Livro dos Espíritos , questão 85. É neste mundo que sobrevive a tudo que devemos guar dar

nossos tesouros.

3.3 – Progresso fruto do trabalho. Estes tesouros são conquistados ao longo do tempo, através das oportunidades que a vida nos proporciona. Mesmo nas circunstâncias em que essas oportunidades não estão claras, aos nossos olhos, passar a percebê-las como tal, que é o ponto de partida para aproveitá-las, já é um progresso em nossa caminhada evolutiva.

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Esta busca do progresso cabe a cada um de nós, pois, como disse Jesus, é “ a cada um segundo suas obras ”, fazendo uso de nosso livre-arbítrio. É necessário conhecer para progredir. Sem o conhecimento ficamos atrelados aos preconceitos e sujeitos aos equívocos, como o de ver “milagres”, ou coisas “demoníacas”, onde há apenas a manifestação das Leis Naturais, que permitem o intercâmbio entre os filhos de Deus que possuem, temporariamente, um corpo físico e aqueles que estão libertos do cativeiro da carne.

Conhecimento, esta é a chave. “Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará .”

João, 8: 32.

3.3.1 – Progresso intelectual Já, ao longo deste trabalho, ficou claro o quanto é importante a evolução do conhecimento intelectual para o progresso da humanidade. Caso não houvesse a busca do entendimento dos fenômenos naturais, repetimos, viveríamos a ver “milagres” em tudo que nos cerca, atribuindo à manifestação divina as coisas que nos parecem boas, e as coisas que nos parecem más, à manifestação do demônio. Na questão de O Livro dos Espíritos abaixo transcrita, Kardec busca esclarecimento sobre a necessidade, ou a importância, de buscarmos o entendimento das coisas materiais:

Sendo a vida corpórea apenas uma estada temporária neste mundo e devendo o futuro constituir objeto da nossa principal preocupação, será útil nos esforcemos por adquirir conhecimentos científicos que só digam respeito às coisas e às necessidades materiais? “Sem dúvida. Primeiramente, isso vos põe em condições de auxiliar os vossos irmãos; depois, o vosso Espírito subirá mais depressa, se já houver progredido em inteligência. Nos intervalos das encarnações, aprendereis numa hora o que na Terra vos exigiria anos de aprendizado. Nenhum conhecimento é inútil; todos mais ou menos contribuem para o progresso, porque o Espírito, para ser perfeito, tem que saber tudo, e porque, cumprindo que o progresso se efetue em todos os sentidos, todas as ideias adquiridas ajudam o desenvol-vimento do Espírito.”

O Livro dos Espíritos , questão 898.

3.3.2 – Progresso moral. Para que o progresso seja realmente efetivo, há que ser desenvolvida a moralidade. Ela é que faz com que a aplicação dos conhecimentos adquiridos esteja em sintonia com as Leis de Deus. O mesmo conhecimento que produz destruição e sofrimento, quando aplicado em harmonia com a

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vontade do Pai produz bem-estar e felicidade, não só do ponto de vista particular, quanto do coletivo. Um exemplo clássico é a riqueza que, por si só, não é boa nem ruim. A aplicação que se dá a ela, ou mesmo o seu “aprisionamento”, traz, ou não, efeitos benéficos. A segunda parte de O Céu e o Inferno está repleta de exemplos.

“Raramente o progresso intelectual e o progresso moral caminham lado a lado; mas o que o espírito não faz em uma época, ele o fará em uma outra, de maneira que os dois progressos acabam por atingir o mesmo nível. Esta é a razão pela qual frequentemente se veem homens inteligentes e instruídos muito pouco avançados moralmente, e vice-versa.”

O Céu e o Inferno , cap. III, item 7.

“A inteligência é cheia de méritos para o futuro, desde que seja bem empregada. Se todos os homens, que são bem dotados em inteligência, se servissem dela de acordo com a vontade de Deus, a tarefa dos espíritos, para fazer a humanidade avançar, seria fácil. Infelizmente, muitos a transformam em instrumento de orgulho e de perdição para si mesmos. O homem abusa da sua inteligência, como de todas as suas faculdades, entretanto, não lhe faltam lições para adverti-lo de que uma poderosa mão pode retirar-lhe o que ela mesma lhe deu.

(Ferdinando, espírito protetor. Bordeaux, 1862.) O Evangelho Segundo o Espiritismo , cap. VII, item 13.

“Que se deve entender por lei natural?

“A lei natural é a Lei de Deus; é a única verdadeira para a felicidade do homem; indica-lhe o que deve fazer ou não fazer e ele só é infeliz, porque dela se afasta.”

O Livro dos Espíritos , questão 614.

3.4 – Necessidade da encarnação A expectativa de vida do brasileiro é cerca de 74,9 anos, segundo

estatísticas do IBGE divulgadas em 2013. E, mesmo em países em que ela é maior, este período é tão curto que fica impossível conseguir-se todo o progresso intelectual e moral a que a humanidade está destinada. Outro fato a ressaltar é que o tempo de encarnado tem duração diversa para os diferentes filhos de Deus, além de as oportunidades serem as necessárias à evolução de cada um e, portanto, diferentes entre si.

E, neste processo diferenciado e individual, há uma necessidade comum: progredir intelectual e moralmente, através dos relacionamentos em sociedade.

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“A encarnação é necessária ao duplo progresso, moral e intelectual, do espírito; ao progresso intelectual pela atividade que é obrigado a desenvolver no trabalho, ao progresso moral, pela necessidade que os homens têm uns dos outros. A vida social é a pedra de toque das boas e das más qualidades. A bondade, a maldade, a doçura, a violência, a benevolência, a caridade, o egoísmo, a avareza, o orgulho, a humildade, a sinceridade, a franqueza, a lealdade, a má-fé, a hipocrisia, em uma palavra: tudo o que constitui o homem de bem ou o homem perverso tem por causa, por objetivo e por estímulo as relações do homem com os seus semelhantes; para o homem que vivesse só, não haveria nem vícios nem virtudes; se, pelo isolamento, ele se preserva do mal, ele anula o bem.”

O Céu e o Inferno , cap. III, item 8.

“ O espírito progride no estado errante? “Pode melhorar-se muito, sempre conforme sua vontade e seu

desejo; porém, é na existência corporal que ele coloca em prática as novas ideias que adquiriu.”

O Livro dos Espíritos , questão 230. Este processo evolutivo é extenso e complexo, tanto do ponto de vista

material, quanto do moral, sendo impossível consegui-lo numa única encarnação. Com olhar único no progresso material e considerando as ferramentas hoje disponíveis para a busca da informação, ainda assim não conseguimos deter todo o conhecimento disponível. Do ponto de vista moral, a dificuldade aumenta, pois não basta conhecer: tem-se que praticar . O progresso moral só é efetivo, quando, além de possuir o conhecimento das leis morais, somos capazes de aplicá-las, no relacionamento com nossos irmãos de caminhada.

“Uma só existência corporal é evidentemente insuficiente para

que o espírito possa adquirir tudo o que lhe falta em bem e desfazer-se de tudo o que possui de mau.”

O Céu e o Inferno , cap. III, item 9. A solução para esta dificuldade está em repetir-se o processo quantas

vezes forem necessárias, através das reencarnações. Esta é a aplicação da “Justiça Divina Segundo o Espiritismo” e a confirmação das anotações do Profeta Ezequiel:

"Por mim mesmo juro – disse o Senhor Deus – que não quero a morte do ímpio, senão que ele se converta, que deixe o mau caminho e que viva".

Ezequiel , 33:11.

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4 – Felicidade fruto do progresso.

E assim chegamos à felicidade. Felicidade que buscamos em todas as nossas encarnações e que, sempre de acordo com nosso estágio evolutivo, percebemos em alguma intensidade. A felicidade da colheita bem-sucedida e a felicidade da descoberta científica; a felicidade de poder ajudar o próximo e a felicidade de ver este próximo crescer e passar a ajudar; e, mais ainda, a felicidade de já entender as limitações deste próximo e respeitar seu livre-arbítrio incondicionalmente. Logo, a sensação de felicidade tem fontes distintas, sendo algumas oriundas do progresso intelectual e outras, do progresso moral.

“Os espíritos são criados simples e ignorantes, mas com

aptidão para tudo adquirirem e para progredirem, em virtude do seu livre-arbítrio. Pelo progresso eles adquirem novos conhecimentos, novas faculdades, novas percepções, e, por consequência, novos prazeres desconhecidos aos espíritos inferiores; eles veem, ouvem, sentem e compreendem o que os espíritos inferiores não podem ver, ouvir, sentir, compreender. A felicidade está na razão do progresso realizado; de modo que, de dois espíritos, um pode não ser tão feliz quanto o outro, unicamente porque ele não é tão avançado intelectual e moralmente, sem que eles tenham necessidade de estar cada um em lugar diferente. Ainda que estejam ao lado um do outro, um pode estar nas trevas, enquanto que tudo é resplandecente em torno do outro, exatamente como para um cego e uma pessoa que vê que se dão as mãos: ela percebe a luz que não causa nenhuma impressão em seu vizinho. Sendo a felicidade dos espíritos inerente às qualidades que possuem, eles a colhem por toda parte onde se encontram, seja na superfície da Terra, no meio dos encarnados ou no Espaço.

Uma comparação vulgar fará compreender melhor ainda essa situação. Se, em um concerto, se encontram dois homens, um, bom músico, com ouvido experimentado, e outro sem conhecimento de música e o sentido da audição pouco delicado, o primeiro experimenta uma sensação de felicidade, enquanto que o segundo fica insensível, porque um compreende e percebe o que não causa nenhuma impressão sobre o outro. Assim acontece com todos os prazeres dos espíritos, prazeres estes que estão na razão da sua aptidão para senti-los. O mundo espiritual tem por toda parte esplendores, harmonias e sensações que os espíritos inferiores, ainda submissos à influência da matéria, nem mesmo entreveem, e que são acessíveis somente aos espíritos purificados.”

O Céu e o Inferno , cap. III, item 6.

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4.1 – Felicidade no mundo corpóreo. No capítulo V de O Evangelho Segundo o Espiritismo, temos uma

instrução do Espírito Fénelon, intitulada Tormentos Voluntários , que retrata fielmente o maior obstáculo à felicidade no mundo corpóreo:

“O homem está sempre em busca da felicidade que

constantemente lhe foge, porque a felicidade verdadeira não existe sobre a Terra. Entretanto, apesar das vicissitudes que formam o cortejo inevitável desta vida, poderia, pelo menos, desfrutar de uma felicidade relativa, mas ele a procura nas coisas perecíveis e sujeitas às mesmas vicissitudes, isto é, nos prazeres materiais, em vez de buscá-la nos prazeres da alma que são uma amostra dos eternos prazeres celestes; em vez de procurar a paz do coração, única felicidade real neste mundo, ele deseja ardentemente tudo o que pode agitá-lo e perturbá-lo; e, coisa interessante, o homem parece criar para si, propositadamente, tormentos que só a ele pertencia evitar.”

“Existem tormentos maiores do que os causados pela inveja e pelo ciúme? Não, porquanto para o invejoso e o ciumento não há descanso, estão perpetuamente ansiosos; o que eles não têm e os outros possuem causa-lhes insônia; o sucesso de seus rivais dá-lhes vertigens; seu único interesse é sobrepujar os outros; toda a sua alegria se resume em despertar nos insensatos, como eles, a cólera do ciúme da qual são possuidores.”

O Evangelho Segundo o Espiritismo , cap. V, item 23. Em O Livro dos Espíritos , na parte quarta, que trata das

esperanças e consolações, logo no capítulo I, cujo tema é das penas e gozos terrestres, que aborda a felicidade e infelicidade relativas, os espíritos nos trazem os seguintes esclarecimentos, semelhantes ao dado por Fénelon:

920. O homem pode gozar, na Terra, de uma felicidade completa?

“Não, visto que a vida lhe foi dada como prova ou expiação; mas depende dele suavizar seus males e ser tão feliz quanto é possível na Terra.”

921. Concebe-se que o homem será feliz na Terra, quando a Humanidade estiver transformada; mas, enquanto isso, cada um poderá garantir para si uma felicidade relativa?

“O homem é, geralmente, o artesão da sua própria infelicidade. Praticando a Lei de Deus, ele se poupa de muitos males e se proporciona uma felicidade tão grande, quanto o comporta sua existência grosseira.”

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O homem que está bem compenetrado de seu destino futuro não vê na vida corporal senão uma estação temporária. Para ele, é como uma parada momentânea numa hospedaria ruim; ele se consola, facilmente, de alguns aborrecimentos passageiros de uma viagem que deve conduzi-lo a uma posição tanto melhor, quanto melhor tiver feito, antecipadamente, seus preparativos.

Desde esta vida, somos punidos pela infração às leis da existência corporal, com males que são a consequência desta infração e dos nossos próprios excessos. Se remontarmos, gradativamente, à origem daquilo que chamamos de nossas desgraças terrestres, nós as veremos, na grande maioria, como a consequência de um primeiro afastamento do caminho reto. Através desse desvio, enveredamos por um outro caminho mau e, de consequência em consequência, caímos na desgraça.

922. A felicidade terrestre é relativa à posição de cada um; o que basta para a felicidade de um, constitui a infelicidade do outro. Há, entretanto, uma medida de felicidade comum a todos os homens?

“Com relação à vida material, é a posse do necessário; com relação à vida moral, a consciência tranquila e a fé no futuro.”

923. O que é supérfluo para um não é, para outros, o necessário, e reciprocamente, de acordo com a posição?

“Sim, conforme vossas ideias materiais, vossos preconceitos, vossa ambição e todos os vossos equívocos ridículos a que o futuro fará justiça, quando compreenderdes a verdade. Sem dúvida, aquele que possuía cinquenta mil libras de renda e se encontra reduzido a dez, julga-se muito infeliz, porque não pode mais ostentar tanto como antes, manter o que ele chama de sua posição, ter cavalos, lacaios, satisfazer todas as suas paixões, etc. Acredita que lhe falta o necessário; mas, francamente, achas que é digno de lástima, quando, ao seu lado, há aqueles que morrem de fome e de frio, e não têm um abrigo para repousar sua cabeça? O homem prudente, para ser feliz, olha abaixo de si, nunca, acima, a não ser, para elevar sua alma na direção do Infinito.”

O Livro dos Espíritos , questões 920 a 923. Todos nós conhecemos a frase “Fora da Caridade não há

Salvação!”, título do capítulo XV de O Evangelho Segundo o Espiritismo . Mas, antes, no capítulo XIII , as Instruções dos Espíritos falam sobre a caridade material e a caridade moral . Os Espíritos nos mostram o caminho para a felicidade no mundo corpóreo, através de nossos pensamentos, palavras e ações. Mostram a forma de guardarmos tesouros para a vida

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futura, mas que, ainda nesta encarnação, traz as alegrias imperecíveis para alma.

9. “Amemo-nos uns aos outros e façamos aos outros o que queremos que os outros nos façam”. Nessas palavras se acham contidas toda a religião e toda a moral; se elas fossem seguidas aqui na Terra, todos vós seríeis perfeitos: sem ódios e sem desentendimentos. E eu ainda diria mais: sem pobreza, porque do supérfluo da mesa de cada rico, muitos pobres se alimentariam, e não veríeis mais, nos sombrios quarteirões em que habitei durante a minha última encarnação, pobres mulheres arrastando atrás de si crianças miseráveis, carentes de tudo. Ricos, pensai um pouco em tudo isso! Ajudai os infelizes o mais possível; auxiliai para que, um dia, Deus vos retribua o bem que tiverdes feito, para que encontreis, ao deixardes o vosso invólucro terrestre, um cortejo de espíritos agradecidos que vos receberão à entrada de um mundo mais feliz. Se pudésseis imaginar a alegria que senti ao encontrar no Além aqueles a quem pude ajudar na minha última encarnação!... Amai, pois, o vosso próximo; amai-o como a vós mesmos, porque agora já sabeis que esse infeliz que estais repelindo talvez seja um irmão, um pai, um amigo que afastais para longe de vós; e então, ao reconhecê-lo no mundo dos espíritos, que imenso será o vosso desespero! Desejava que compreendêsseis bem o que deve ser a caridade moral, aquela que cada um de vós pode praticar; aquela que nada custa de material, mas, no entanto, é a mais difícil de ser praticada. A caridade moral consiste em se suportar uns aos outros, e é o que menos fazeis nesse mundo inferior em que estais encarnados neste momento. Existe um grande mérito, acreditai no que digo, em alguém saber calar para deixar que fale outro mais tolo, pois essa atitude também é uma forma de caridade. Saber ser surdo quando uma palavra de ironia vos é dirigida por quem está habituado a ridicularizar; não ver o sorriso de menosprezo que vos acolhe quando entrais na casa de pessoas que, frequentemente sem razão, julgam-se acima de vós, enquanto que, na vida espiritual – a única real – algumas vezes estão bem abaixo, eis aí um mérito, não de humildade, mas de caridade, porque não considerar os erros dos outros é caridade moral. Entretanto, esta caridade não deve impedir a prática da outra; pensai principalmente em não desprezar o vosso semelhante; lembrai de tudo o que eu já vos disse: é preciso ter sempre em mente que, no pobre rejeitado desdenhosamente, podeis estar repelindo um espírito que vos foi querido, e que se acha momentaneamente em uma

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posição inferior a vossa. Revi um dos pobres da Terra a quem pude, por felicidade, ajudar algumas vezes e a quem, por minha vez, tenho agora de implorar. Lembrai-vos de que Jesus disse que somos irmãos e pensai sempre nessas palavras, antes de repelir o leproso ou o mendigo. Adeus; pensai nos que sofrem, e orai! (Irmã Rosália. Paris, 1860.) 10. Meus amigos, tenho ouvido muitos dentre vós dizerem: Como posso fazer caridade se muitas vezes não tenho nem o necessário! A caridade, meus amigos, se faz de diversas maneiras; podeis fazê-la por pensamentos, palavras e ações. Por pensamentos, orando pelos pobres abandonados que morreram sem mesmo terem visto a luz; uma prece de coração os alivia. Por palavras, dirigindo aos vossos companheiros de todos os dias alguns bons conselhos; dizendo aos homens irritados pelo desespero, pelas privações, e que blasfemam o nome do Altíssimo: “Eu era como vós, sofria, era infeliz, mas acreditei no Espiritismo e, vede, agora sou feliz.” Aos velhos que vos disserem: “Não adianta, estou no fim da vida e morrerei como vivi”, respondei: “Deus tem uma justiça igual para todos nós; lembrai-vos dos trabalhadores da última hora”. Às crianças, já viciadas pelos exemplos que têm à sua volta, e que vão caminhando pela vida, prestes a serem vencidas pelas más tentações, dizei: “Deus vos vê, meus queridos filhos”, e não vos canseis de lhes repetir frequentemente essas doces palavras; elas acabarão por se desenvolverem em suas jovens inteligências e, em lugar de pequenos vagabundos, fareis deles homens. Isso também é uma forma de caridade.”(...)

(Um espírito protetor) O Evangelho Segundo o Espiritismo , cap. XIII, itens 9 e 10.

Às vezes nos perguntamos como colocar em prática estes

ensinamentos, no mundo em que vivemos; como “ser perfeito”. A resposta está no capítulo XVII de O Evangelho Segundo o Espiritismo , Instruções dos Espíritos, e tem como título “O Homem no Mundo”. Da mesma forma que Kardec nos mostra como aplicar o ensinamento Amai vossos inimigos, perfeitamente possível de ser seguido por todos aqueles que desejarem, este espírito protetor esclarece qual deve ser o nosso comportamento enquanto encarnados, sem nenhuma meta utópica, bastando ter boa vontade:

10. Um sentimento de piedade deve sempre animar o coração daqueles que se reúnem sob os olhos do Senhor e imploram a assistência dos bons espíritos. Purificai, portanto, vossos corações; não deixeis que neles se instale nenhum pensamento mundano ou fútil. Elevai o vosso espírito até aqueles a quem chamais, a fim de

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que, encontrando em vós as disposições necessárias, eles possam lançar em profusão as sementes que devem germinar nos vossos corações e neles produzir os frutos da caridade e da justiça. Não julgueis, entretanto, que ao vos incentivarmos, incessan-temente, à prece e à evocação mental estamos vos convidando a viver uma vida mística, que vos coloque fora das leis da sociedade em que estais condenados a viver. Não! Vivei com os homens; sacrificai-vos às necessidades, e até às frivolidades diárias, mas sacrificai-vos a elas com um sentimento de pureza que possa santificá-las. Sois chamados para entrar em contato com espíritos de naturezas diferentes, de caracteres opostos: não melindreis a nenhum daqueles com os quais vos encontrardes. Sede alegres, sede contentes; mas com a alegria que a consciência limpa proporciona, com a felicidade do herdeiro do céu, contando os dias que o aproximam da sua herança. A virtude não consiste em se assumir um aspecto severo e triste, em repelir os prazeres que vossas condições humanas permitem; basta atribuir todos os atos da vossa vida ao Criador que vos deu a vida; é suficiente, quando se começa ou se acaba uma obra, elevar o pensamento até o Criador e pedir-lhe, num impulso da alma, a sua proteção para triunfar, ou a sua bênção para a obra terminada. Que tudo aquilo que realizardes seja atribuído à fonte de todas as coisas; que nada seja feito sem que a lembrança de Deus venha purificar e santificar os vossos atos. A perfeição está toda inteira, como disse o Cristo, na prática da caridade absoluta; mas os deveres da caridade se estendem a todas as posições sociais desde a mais humilde até a mais elevada. O homem que vivesse só não teria como praticar a caridade; é apenas no contato com os seus semelhantes, nas lutas mais difíceis, que ele encontra oportunidade para praticá-la. Portanto, aquele que se isola, priva-se voluntariamente do mais poderoso meio de perfeição; não tendo em quem pensar, a não ser em si, sua vida é a de um egoísta. Não imagineis, consequentemente, que para viver em comu-nicação constante conosco, para viver sob as vistas do Senhor, seja preciso entregar-se ao martírio e se cobrir de cinzas; não, não, ainda uma vez vos dizemos. Sede felizes segundo as necessidades da humanidade, mas que em vossa felicidade não entre jamais nem um pensamento, nem um ato que possa ofender, ou fazer entristecer a face daqueles que vos amam e dirigem. Deus é amor, e abençoa aqueles que amam santamente. (Um espírito protetor. Bordeaux, 1863.)

O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. XVII, item 10.

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4.2 – Felicidade no mundo incorpóreo. Estamos encarnados. Deixemos, pois, que os Espíritos e a sabedoria

do Mestre Kardec nos indiquem em que consiste a felicidade no Mundo Incorpóreo. Na questão 107 de O Livro dos Espíritos , vemos os caracteres gerais dos bons espíritos, o que nos dá a ideia.

“Predominância do espírito sobre a matéria; desejo do bem.

Suas qualidades e seu poder para fazer o bem estão na razão do grau que atingiram: uns possuem a ciência, outros a sabedoria e a bondade; os mais adiantados reúnem o saber às qualidades morais. Não estando ainda completamente desmaterializados, conservam mais ou menos, conforme sua categoria, os traços da existência corporal, quer na forma da linguagem, quer nos seus hábitos onde se encontram até algumas de suas manias; de outro modo, seriam espíritos perfeitos.

Compreendem Deus e o infinito e já gozam da felicidade dos bons. São felizes pelo bem que fazem e pelo mal que impedem. O amor que os une é para eles a fonte de uma felicidade inefável que nem a inveja, nem os remorsos, nem nenhuma das más paixões, que constituem o tormento dos espíritos imperfeitos, conseguem alterar; todos, porém, têm ainda provas a suportar, até que tenham atingido a perfeição absoluta.

Como espíritos, suscitam bons pensamentos, desviam os homens do caminho do mal, protegem na vida os que disto se tornam dignos e neutralizam a influência dos espíritos imperfeitos, sobre aqueles que não se comprazem em sofrê-la.”

O Livro dos Espíritos, questão 107. Ainda em O Livro dos Espíritos , São Vicente de Paulo nos dá a

orientação de como devemos proceder para atingir este objetivo de felicidade, quando explana sobre Caridade e Amor ao próximo .

“Amai-vos uns aos outros, eis toda a Lei; Lei Divina, através da

qual Deus governa os mundos. O amor é a lei de atração para os seres vivos e organizados; a atração é a lei de amor para a matéria inorgânica.

Nunca vos esqueçais de que o espírito, sejam quais forem seu grau de adiantamento e sua situação como reencarnado ou errante, está sempre colocado entre um superior, que o guia e o aperfeiçoa, e um inferior, com relação ao qual ele tem estes mesmos deveres a cumprir. Sede, pois, caridosos, não apenas com esse tipo de caridade que vos leva a tirar da bolsa o óbolo que, friamente, dais àquele que vo-lo ousa pedir, mas ide ao encontro das misérias ocultas. Sede indulgentes para com os defeitos dos vossos semelhantes; em vez de

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desprezar a ignorância e o vício, instruí-os e moralizai-os; sede bran-dos e benevolentes para com tudo o que vos seja inferior; sede-o para com os seres mais ínfimos da criação e tereis obedecido à Lei de Deus.”

O Livro dos Espíritos , questão 888a.

5 – Onde está o Céu?

“Quando eu era menino, pensava como menino; mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino.”

“Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.”

I Cor., 13: 11 e 12.

Estas palavras de Paulo aos Coríntios mostram a necessidade de adequação dos nossos conceitos à realidade em que vivemos. Os conceitos religiosos que ainda guardamos estão repletos de alegorias que foram úteis na infância da humanidade. Alguns foram distorcidos ao longo dos séculos, outros tantos foram necessários para que se desse um passo maior. Quando a Terra era um Mundo Primitivo, havia as necessidades de um mundo primitivo; no período de provas e expiações, as necessidades de um mundo de provas e expiações; agora, “conhecemos em parte, mas conheceremos plenamente”, como diz o apóstolo.

5.1 – Doutrina Espírita – Visão interior de felicid ade. Nossos Amigos Espirituais, já há algum tempo, nos alertam de que estamos em fase de transição para um Mundo de Regeneração. Por conse-guinte, temos que “acabar com as coisas de menino” e praticar uma fé raciocinada, seguindo os preceitos do Cristo. Reconhecer a impropriedade da ideia de um local restrito, para os poucos “escolhidos” e de outro local restrito, para a imensa maioria dos seres da criação. Devemos repudiar todos os “rótulos” que discriminam e considerar-nos, todos, o que realmente somos: irmãos . Todos nós, sem exceção, somos filhos de um mesmo Pai infinitamente bom, justo, misericordioso, onipotente, onipresente, onisciente, enfim, infinito em todos os seus atributos.

“Todos os homens são iguais, diante de Deus?

“Sim, todos tendem para o mesmo objetivo e Deus fez suas leis para todo o mundo. Frequentemente dizeis: O Sol brilha para todos; e aí está uma verdade maior e mais geral do que pensais.”

Todos os homens estão submetidos às mesmas leis da Natureza; todos nascem igualmente fracos, estão sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. Portanto, Deus a

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nenhum homem concedeu superioridade natural, nem pelo nasci-mento, nem pela morte: diante dele, todos são iguais.

O Livro dos Espíritos , questão 803.

“Nessa vastidão sem limites, onde, então, está o céu? Ele está por toda parte; nenhuma muralha lhe serve de limite; os mundos felizes são as últimas estações que a ele conduzem; as virtudes lhe abrem o caminho, os vícios lhe interditam o acesso.

Diante desse quadro grandioso que povoa todos os cantos do Universo, que dá a todas as coisas da criação um objetivo e uma razão de ser, como é pequena e mesquinha a doutrina que circuns-creve a humanidade sobre um imperceptível ponto do Espaço, que nos mostra essa humanidade começando em um dado momento para, igualmente, um dia acabar, junto com o mundo que a conduz, não abrangendo assim mais que um minuto na eternidade!”

O Céu e o Inferno , cap. III, item 18.

5.2 – Virtudes e vícios – A escolha da “porta”.

“Viva cada dia como se fosse o último. Um dia você acerta.” Em nosso 11o EECI, utilizamos esta frase do Barão de Itararé para

mostrar a necessidade de, a cada dia, buscarmos refletir acerca de nossas atitudes, verificando se estão em sintonia com a Lei de Deus. A escolha da porta, o exercício do livre-arbítrio na decisão do caminho a seguir, a busca de fortalecer nossas virtudes e vencer nossas más incli-nações, são determinantes nas dificuldades ou facilidades na passagem do mundo corpóreo para o incorpóreo. Por conseguinte, definem como será o nosso despertar na vida futura e as sensações que se seguirão a este despertar.

“A perturbação, portanto, pode ser considerada como o estado

normal no instante da morte; sua duração é indeterminada, ela varia de algumas horas a alguns anos. À medida que ela se dissipa, a alma fica na situação de um homem que sai de um sono profundo; as ideias são confusas, vagas e incertas; vê como se o fizesse através de um nevoeiro; pouco a pouco a visão vai se aclarando, a memória retorna, e a alma se reconhece. Esse despertar, porém, é bem diferente conforme os indivíduos; para uns ele é calmo e proporciona uma sensação deliciosa; para outros é pleno de terror e de ansiedade, e produz o efeito de um terrível pesadelo.”

O Céu e o Inferno , Segunda Parte, cap. I, item 6.

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“(...) no homem cuja alma é desmaterializada e cujos pensa-mentos estão desligados das coisas terrestres, o desprendimento é quase completo antes da morte real; o corpo ainda vive a vida orgânica e a alma já entrou na vida espiritual, a alma prende-se ao corpo apenas por um laço tão frágil que este se rompe facilmente com o último batimento do coração. Nessa situação, o espírito já pode ter recuperado sua lucidez e ser testemunha consciente da extinção da vida do seu corpo, sentindo-se feliz por ter se livrado dele; para esse espírito, a perturbação é quase nula; não é mais que um momento de sono pacífico, do qual ele sai com uma indizível impressão de felicidade e de esperança.”

O Céu e o Inferno , Segunda Parte, cap. I, item 9.

As sensações, ao despertar, correspondem à condição e à necessi-dade do Espírito e, também, à fisionomia daqueles que o recebem, variando desde “a alegria do reencontro”, “à cobrança implacável”, de acordo com a “porta” escolhida.

5.3 – “A cada um segundo suas obras”. A porta escolhida nada mais é do que o elo entre a semeadura voluntária e a colheita obrigatória. A morada particular está sendo construída ao longo das diversas reencarnações, com os tijolos das oportunidades que nos são dadas. Nós somos os artífices desta construção. O Grande Arquiteto do Universo nos dá o mesmo ponto de partida e tudo o de que precisamos está latente em nossas consciências. A cada instante recebemos as indicações do andamento desta construção e orientações sobre as correções necessárias. A construção é particular, mas não solitária. Ela é executada em regime de comunhão, uma construção solidária. Com a nossa experiência, ajudamos aqueles menos experientes e somos ajudados por aqueles mais adiantados na construção. A essência da Justiça Divina é “auxilia e serás auxiliado” , conforme já nos dizia o Dr. Bezerra de Menezes.

“Nunca vos esqueçais de que o espírito, sejam quais forem seu

grau de adiantamento e sua situação como reencarnado ou errante, está sempre colocado entre um superior, que o guia e o aperfeiçoa, e um inferior, com relação ao qual ele tem estes mesmos deveres a cumprir.”

São Vicente de Paulo O Livro dos Espíritos , questão 888a.

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Assim, vamos purificando cada vez mais o nosso verdadeiro eu até atingirmos o Céu, aquele mesmo que intimamente construímos, sem temor nem amarras:

“Eu sou espírito: minha pátria é o espaço, meu futu ro é

Deus, que resplandece na imensidade.” Sanson

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SEGUNDA PARTE – ESTUDO DE CASOS

1 – Os vícios como empecilho à felicidade.

“Benoist

Bordeaux, março de 1862. Um espírito se apresenta espontaneamente ao médium, sob o

nome de Benoist, diz ter morrido em 1704 e passar por horríveis sofrimentos. 1. O que fostes quando encarnado? R. Um monge sem fé. 2. A falta de crença foi vosso único erro? R. O suficiente para trazer os outros. 3. Podeis nos dar alguns detalhes sobre vossa vida? A sinceridade das vossas confissões será considerada. R. Sem fortuna e preguiçoso, escolhi a ordem monástica, não por vocação, mas para ter uma posição. Inteligente, consegui um lugar; influente, abusei do poder; vicioso, arrastei para as desordens aqueles a quem eu tinha a missão de salvar; insensível, persegui aqueles que pareciam reprovar meus excessos; as in pace ficaram cheias por conta das minhas decisões. A fome torturou muitas vítimas; seus gritos, frequentemente eram extintos sob a violência. Agora, expio e sofro todas as torturas do inferno; minhas vítimas atiçam o fogo que me devora. A luxúria e a fome não saciadas me perseguem; a sede irrita meus lábios ardentes, sem jamais deixar cair sobre eles uma gota refrescante; todos os elementos se obstinam contra mim. Rogai por mim. 4. As preces que se fazem pelos mortos devem ser dirigidas a vós como aos outros? R. Acreditais que elas possam infundir bons sentimentos? Para mim elas têm o valor daquelas que eu tinha o hábito de fazer. Não realizei minha tarefa, logo, não recebo o salário. 5. Jamais vos arrependestes? R. Há muito tempo; mas o arrependimento veio somente após o sofrimento. Como fui surdo aos gritos de vítimas inocentes, o Mestre está surdo aos meus gritos. Justiça! 6. Reconheceis a justiça do Senhor; então, confiai em sua bondade, pedi a sua ajuda. R. Os demônios berram mais forte que eu; os gritos sufocam em minha garganta; eles enchem minha boca de piche fervente! Eu o fiz, grande... (O espírito não pode escrever a palavra Deus.) 7. Portanto, não estais ainda bastante afastado das ideias terrestres para compreender que as torturas que sofreis são todas morais?

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R. Eu as sofro, eu as sinto; vejo meus carrascos, todos têm um rosto conhecido, todos têm um nome que ressoa em meu cérebro. 8. O que podia ter vos induzido a todas essas infâmias? R. Os vícios que eu possuía, a brutalidade das paixões. 9. Nunca implorastes o socorro dos bons espíritos para vos auxiliarem a sair dessa situação? R. Vejo apenas os demônios do inferno. 10. Quando vivo, tínheis medo deles? R. Não, nenhum, o nada era a minha fé; “a qualquer preço, os prazeres”, esse era o meu culto. Divindades do inferno não me abandonaram, eu lhes consagrei minha vida, elas não me deixarão mais! 11. Não conseguis entrever um fim para os vossos sofrimentos? R. O infinito não tem fim. 12. Deus é infinito em sua misericórdia, tudo pode ter um fim quando ele o quer. R. Se ele pudesse querer!... 13. Por que viestes escrever aqui? R. Não sei; mas eu quis falar, assim como queria gritar para me aliviar. 14. Vossos demônios não vos impediram de escrever? R. Não, mas eles estão diante de mim, e me esperam, eis por que eu não desejaria terminar. 15. É a primeira vez que escreveis assim? R. Sim. P. Tínheis conhecimento de que os espíritos podiam se aproximar dos homens desta maneira? R. Não. P. Então, como pudestes compreendê-lo? R. Eu não sei. 16. Que sensações experimentastes para vir perto de mim? R. Um adormecimento nos meus terrores. 17. Como percebestes que estáveis aqui? R. Como quando se desperta. 18. Como fizestes para entrar em relação comigo? R. Eu não compreendo, mas tu, não o sentiste? 19. Não se trata de mim, mas de vós; tratai de compreender o que fazeis neste momento, quando eu escrevo. R. Tu és o meu pensamento, eis tudo. 20. Então não tivestes a vontade de me fazer escrever? R. Não; sou eu quem escreve, tu pensas por mim. 21. Tratai de compreender; os bons espíritos que nos cercam vos aju-daram nisso. R. Não, os anjos não vêm ao inferno. Tu não estás só? P. Vede à vossa volta.

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R. Eu sinto que me ajudam a pensar em ti... Tua mão me obedece... Eu não toco em ti, e te seguro... Eu não compreendo. 22. Pedi ajuda aos vossos protetores; nós iremos orar juntos. R. Tu queres me deixar? Fica comigo; eles vão tornar a me agarrar. Eu te suplico, fica! fica! 23. Eu não posso ficar mais tempo. Retornai todos os dias; oraremos juntos e os bons espíritos vos ajudarão. R. Sim, eu quero o meu perdão. Pede por mim; eu, eu não posso... O guia do médium: “Coragem, meu filho, o que tu pedes será concedido a ele, mas a expiação ainda está longe de terminar. As atrocidades que esse espírito cometeu são sem nome e sem número; ele tornou-se muito mais culpado porque possuía inteligência, instrução e a luz para se guiar. Portanto, ele falhou com conhecimento de causa; assim, seus sofrimentos são terríveis, porém com o socorro e o exemplo da prece eles se suavizarão, porque Benoist lhes verá o possível fim e a esperança o sustentará. Deus o vê no caminho do arrependimento, e concedeu a ele a graça de poder se comunicar para que seja encorajado e sustentado. Portanto, pensa nesse espírito com frequência, nós o deixamos contigo para fortificá-lo nas boas reso-luções que poderá tomar, ajudado pelos teus conselhos. Ao arrepen-dimento, nele sucederá o desejo da reparação; aí então, ele mesmo pedirá uma nova existência na Terra para praticar o bem em lugar do mal que fez; quando Deus estiver satisfeito com ele, e o vir bem fortalecido, o fará entrever as divinas claridades que o conduzirão ao porto da salvação, e o receberá em seu seio como o filho pródigo. Tem confiança, nós te ajudaremos a concluir tua obra.

Paulin”

“Colocamos esse espírito entre os criminosos, ainda que ele não tenha sido atingido pela justiça humana, porque o crime consiste nos atos, e não no castigo imposto pelos homens.”

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2 – As virtudes como caminho para a felicidade.

“Senhora Viúva Foulon, nascida em Wollis A senhora Foulon, falecida em Antibes no dia 3 de fevereiro de

1865, durante muito tempo morou no Havre, onde adquiriu renome como miniaturista muito hábil. Seu talento notável inicialmente foi para ela apenas uma distração de amadora; mais tarde, porém, quando dias difíceis chegaram, ela soube fazer desse talento um precioso recurso. O que a fazia ser amada e estimada, o que torna sua lem-brança querida a todos aqueles que a conheceram, é, principalmente, a amenidade do seu caráter; são suas qualidades particulares das quais somente os que conhecem sua vida íntima podem apreciar em toda a sua extensão, porque, como todos aqueles em que o senti-mento do bem é inato, ela não fazia ostentação dele, nem mesmo dele suspeitava. Se existia uma pessoa sobre quem o egoísmo não tinha nenhuma ação, sem dúvida alguma essa pessoa era ela; jamais, talvez, o sentimento da abnegação pessoal tenha sido aplicado mais intensamente; estava sempre pronta a sacrificar seu repouso, sua saúde, seus interesses por aqueles a quem ela podia ser útil, sua vida não foi mais que uma longa sequência de atos de dedicação, assim como foi, desde sua juventude, apenas uma longa série de rudes provas diante das quais sua coragem, sua resignação e sua perseverança jamais falharam. Sua visão porém, desgastada por um trabalho minucioso, se enfraquecia pouco a pouco; mais algum tempo e a cegueira, já muito avançada, foi completa.

Quando a senhora Foulon teve conhecimento da Doutrina Espírita, para ela foi como um raio de luz; pareceu-lhe que um véu se levantava de sobre alguma coisa que não lhe era desconhecida, mas da qual ela possuía apenas uma vaga intuição; também estudou com ardor, mas ao mesmo tempo com essa lucidez de espírito, essa exatidão de apreciação que era própria da sua elevada inteligência. Era preciso conhecer todas as perplexidades da sua vida — perplexidades que tinham sempre como causa não ela mesma, mas os seres que lhe eram queridos — para compreender todas as consolações que ela obteve nessa sublime revelação que lhe dava uma fé inquebrantável no futuro, e lhe mostrava a insignificância das coisas terrestres.

Sua morte foi digna da sua vida. Viu a sua aproximação sem nenhuma apreensão desagradável: para ela era a libertação dos laços terrestres, que deveria lhe abrir essa vida espiritual bem-aventurada com a qual se havia identificado pelo estudo do Espiritismo. A senhora Foulon morreu calmamente, pois tinha a consciência de haver realizado a missão que aceitara ao vir para a Terra, cumprindo escrupulosamente seus deveres de esposa e de mãe de família, e

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também porque, durante sua vida, havia renegado todo ressentimento contra aqueles dos quais tinha do que se queixar, e que lhe pagaram com a ingratidão; sempre lhes dera o bem em troca do mal recebido, e deixou a vida perdoando-os, remetendo-os, por ela mesma, à bondade e à Justiça de Deus. Ela morreu, enfim, com a serenidade que uma consciência pura proporciona, e com a certeza de estar menos separada dos seus filhos do que durante a vida corporal, porquanto poderá, daqui em diante, estar com eles em espírito, em qualquer ponto da Terra em que se encontrem, ajudá-los com seus conselhos e cobri-los com sua proteção.

Desde que soubemos da morte da senhora Foulon, nosso primeiro desejo foi o de conversarmos com ela. As relações de amizade e de simpatia, que a Doutrina Espírita havia feito nascer entre ela e nós, explicam algumas das suas palavras e a familiaridade da sua linguagem.

I (Paris, 6 de fevereiro de 1865, três dias após sua morte.)

“Estava certa de que teríeis a ideia de me evocar logo depois da

minha libertação, e mantinha-me pronta para vos responder, porquanto não senti perturbação; somente aqueles que têm medo são envolvidos por essas densas trevas.

Pois bem, meu amigo, agora sou feliz! Estes pobres olhos que se haviam enfraquecido, e que me deixavam apenas a lembrança dos prismas que tinham colorido minha juventude com o seu cintilante brilho, abriram-se aqui, e reencontraram os grandiosos espaços que alguns de vossos grandes artistas idealizam em suas imprecisas reproduções, mas dos quais a existência majestosa, severa, e no entanto cheia de encantos, está marcada pela mais completa realidade.

Há apenas três dias estou morta, e sinto que sou artista; minhas aspirações, em direção ao ideal da beleza na arte, eram apenas a intuição de faculdades que eu havia estudado e adquirido em outras existências e que se desenvolveram na última. Porém, quanto tenho que fazer para reproduzir uma obra-prima digna da grandiosa cena que impressiona vivamente o espírito que está chegando na região da luz! Pincéis! Pincéis! E eu provarei ao mundo que a arte espírita é o coroamento da arte pagã, da arte cristã que está em perigo, e que somente ao Espiritismo está reservada a glória de fazê-la reviver com todo o seu brilho, em vosso mundo deserdado.

É o suficiente para a artista; agora, a volta da amiga. Por que, boa amiga (senhora Allan Kardec), minha morte vos

afetou assim? Principalmente vós, que conheceis as decepções e as amarguras da minha vida, deveríeis, ao contrário, vos alegrar, ao ver

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que não tenho mais que beber no copo amargo das dores terrestres que esvaziei até a lia. Acreditai em mim, os mortos são mais felizes que os vivos, e chorar por eles é duvidar da verdade do Espiritismo. Vós me tornareis a ver, estejais certa disso; parti primeiro porque minha tarefa estava terminada aqui embaixo; cada um tem a sua para cumprir sobre a Terra, e, quando a vossa acabar, vireis repousar perto de mim, para em seguida recomeçar, se for preciso, visto que nada fica inativo na Natureza. Cada um tem suas tendências e a isso obedece; é uma lei suprema que prova o poder do livre-arbítrio; assim, boa amiga, indulgência e caridade, delas todos nós necessitamos reciprocamente, seja no mundo visível, seja no mundo invisível; com essa divisa, tudo vai bem.

Vós não me diríeis para me calar, mas sabeis que, para a primeira vez, estou falando há muito tempo! assim sendo, eu vos deixo; agora, a vez do meu distinto amigo, o senhor Kardec. Quero agradecer-lhe as afetuosas palavras que dirigiu à amiga que o precedeu no túmulo, porque estivemos prestes a partir juntos para o mundo onde me encontro, meu bom amigo! (Alusão à doença da qual falara o Dr. Demeure.) Que teria dito ela, a companheira bem-amada dos vossos dias, se os bons espíritos não tivessem posto ordem nisso? Aí então é que ela teria chorado e gemido, e eu o compreendo; mas também é preciso que ela esteja atenta para que não fiqueis novamente exposto ao perigo antes de haver terminado vosso trabalho de iniciação espírita, sem isso correis o risco de chegar muito cedo entre nós e de ver, como Moisés, a Terra Prometida apenas de longe. Portanto, tende cuidado, é uma amiga que vos previne.

Agora, eu me vou; retorno para perto dos meus queridos filhos; depois vou ver, do lado de lá dos mares, se minha ovelha viajante finalmente chegou ao porto, ou se é joguete da tempestade. (Ela se refere a uma de suas filhas que morava na América.) Que os bons espíritos a protejam, vou juntar-me a eles para o mesmo fim. Voltarei a conversar convosco, porque sou uma conversadora infatigável; disso vós vos lembrais. Portanto, adeus, bons e queridos amigos, até breve.

Viúva Foulon ”

II

P. Querida senhora Foulon, estou muito feliz pela comunicação que me destes outro dia e com a vossa promessa de continuar nossas conversas.

Eu vos reconheci perfeitamente na comunicação; falastes de coisas ignoradas pelo médium e que só podiam vir de vós, pois vossa linguagem afetuosa a nosso respeito é bem aquela da vossa alma amorosa; porém, há em vossas palavras uma segurança, um equilíbrio, uma firmeza que não conheci em vós quando viva. Sabeis

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que a esse respeito tomei a liberdade de fazer-vos mais de uma advertência em certas circunstâncias. R. É verdade, mas, desde que me vi gravemente doente, recuperei minha firmeza de espírito, perdida pelas mágoas e pelas vicissitudes que, por vezes, me haviam tornado temerosa durante a vida. Eu disse para mim: tu és espírita, esquece a Terra; prepara-te para a transfor-mação do teu ser, e vê, pelo pensamento, a senda luminosa que tua alma deve seguir ao deixar teu corpo, e que a conduzirá, feliz e livre, para as esferas celestes onde tu deves viver agora.

Direis que era um pouco presunçoso de minha parte contar com a felicidade perfeita ao deixar a Terra, mas eu tinha sofrido tanto que deveria ter expiado minhas faltas desta existência e de existências precedentes. Essa intuição não me enganara, e foi ela quem me deu a coragem, a calma e a firmeza dos últimos instantes; esta firmeza cresceu naturalmente quando, após minha libertação, vi minhas esperanças realizadas. P. Quereis agora descrever para nós a vossa passagem, o vosso despertar e vossas primeiras impressões? R. Eu sofri, mas meu espírito foi mais forte que o sofrimento material que o desligamento o fazia experimentar. Eu me encontrei, após o último suspiro, como em síncope, não tendo nenhuma consciência do meu estado, nem sonhando com nada, e em uma sonolência indefinida que não era nem o sono do corpo, nem o despertar da alma. Fiquei assim durante muito tempo; depois, como se eu saísse de um longo desmaio, acordei lentamente no meio de irmãos que eu não conhecia; eles me concederam generosamente seus cuidados e seus carinhos, mostraram-me um ponto no Espaço que parecia uma estrela brilhante e me disseram: “É para lá que tu vais conosco; não pertences mais à Terra.” Então, eu me lembrei; apoiei-me neles, e, como um grupo gracioso que se lança em direção às esferas desconhecidas, mas com a certeza de ali encontrar a felicidade, nós subimos, subimos, e a estrela crescia... Era um mundo feliz, um mundo superior, onde vossa boa amiga vai enfim encontrar o repouso; digo repouso em relação às fadigas corporais que sofri, às vicissitudes da vida terrestre, e não à indolência do espírito, porque a atividade para o espírito é um prazer. P. Então vós deixastes definitivamente a Terra? R. Ainda ficam na Terra muitos seres que me são queridos para retirar-me dela definitivamente. Portanto à Terra voltarei, em espírito, porque tenho uma missão a cumprir junto aos meus filhinhos. Aliás, sabeis muito bem que nenhum obstáculo se opõe a que os espíritos que estacionam nos mundos superiores à Terra venham visitá-la. P. A posição em que estais parece que deve enfraquecer vossas

relações com aqueles que deixastes na Terra?

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R. Não, meu amigo, o amor aproxima as almas. Acreditai em mim, na Terra pode-se estar mais perto dos que atingiram a perfeição do que daqueles cuja inferioridade e egoísmo fazem com que se agitem em turbilhão em torno da esfera terrestre. A caridade e o amor são dois motores de uma atração poderosa; atração que é o laço que consolida a união das almas ligadas uma à outra e faz com que essa união continue, apesar das distâncias e dos lugares. A distância só existe para os corpos materiais; não há distância para os espíritos. P. Que ideia fazeis agora dos meus trabalhos referentes ao Espi-ritismo? R. Acho que tendes o encargo de almas e que o fardo é difícil de carregar; mas vejo o objetivo e sei que o alcançareis; eu vos ajudarei, se puder, com meus conselhos de espírito para que possais transpor as dificuldades que aparecerão para vós, induzindo-vos, oportuna-mente, a tomar certas medidas próprias para ativar, durante vossa vida, o movimento renovador que o Espiritismo impulsiona. Vosso amigo Demeure, unido ao Espírito de Verdade, será ainda mais útil para vós; ele é mais sábio e mais sensato do que eu; porém, como eu sei que a assistência dos bons espíritos vos fortifica e vos sustenta no vosso trabalho, acreditai que a minha ajuda vos estará assegurada por toda a parte e para sempre. P. Poderíamos deduzir por algumas de vossas palavras que não dareis uma cooperação pessoal muito ativa à obra do Espiritismo? R. Enganai-vos; porém, vejo tantos outros espíritos mais capazes do que eu para tratar dessa questão importante, que um sentimento invencível de timidez me impede, neste momento, de vos responder segundo vossos desejos. Isso talvez aconteça; terei mais coragem e energia; mas antes é necessário que eu os conheça melhor. Há apenas quatro dias que morri; ainda estou sob o encanto do deslum-bramento que me cerca; não compreendes isso, meu amigo? Não me é possível demonstrar as novas sensações que experimento. Devo me constranger para me arrancar da fascinação que exercem sobre o meu ser as maravilhas que ele admira. Eu só posso adorar e abençoar Deus nas suas obras. Mas isso passará; os espíritos me asseguram que logo estarei acostumada a todas essas magnificências e poderei então, com a minha lucidez de espírito, tratar de todas as questões relativas à renovação terrestre. Depois, com tudo isso, pensai que, neste momento principalmente, tenho uma família para consolar.

Adeus e até breve; vossa boa amiga que vos ama e vos amará sempre, meu mestre, porque é a vós que ela deve a única consolação durável e verdadeira que experimentou sobre a Terra.

Viúva Foulon

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III (A comunicação seguinte foi dada para seus filhos, em 9 de fevereiro.)

“Meus filhos, meus bem-amados, Deus retirou-me de junto de vós, mas a recompensa que ele teve a bondade de me conceder é bem grande em comparação ao pouco que fiz sobre a Terra. Ficai resignados, meus bons filhos, às vontades do Altíssimo; tirai, de tudo o que ele permitiu que fosse recebido por vós, a força para suportar as provações da vida. Tende sempre, firme em vosso coração, esta crença que tanto facilitou minha passagem da vida terrestre para a vida que nos espera ao deixar esse baixo mundo. Após minha morte, Deus estendeu sobre mim sua inesgotável bondade, como se permitiu fazê-lo quando eu estava sobre a Terra.

Agradecei todos os benefícios que ele vos concede; abençoai-o, meus filhos, abençoai-o sempre, em todos os instantes. Jamais perdei de vista o objetivo que vos foi indicado, nem o caminho que tendes para seguir; pensai na utilização que deveis dar ao tempo que Deus vos concedeu sobre a Terra. Aí sereis felizes, meus bem-amados, felizes uns pelos outros, se a união reinar entre vós; felizes por vossos filhos, se vós os levardes pelo bom caminho, aquele que Deus permitiu que vos fosse revelado.

Oh! se vós não podeis me ver, ficai sabendo que o laço que nos unia nesse mundo não foi rompido pela morte do corpo, visto que não era esse invólucro que nos ligava, mas o espírito; é por aí, meus bem-amados, que poderei, pela bondade do Onipotente, guiar-vos ainda e encorajar-vos na nossa jornada para tornarmos a nos unir mais tarde.

Caminhai, meus filhos, cultivai com o mesmo amor esta crença sublime; lindos dias estão reservados para vós que acreditais. Já vos foi dito isto, mas eu não devia ver esses dias sobre a Terra; é do alto que julgarei os tempos felizes prometidos pelo Deus bom, justo e misericordioso.

Não choreis, meus filhos; que estas conversas fortifiquem vossa fé, vosso amor a Deus, que tantos dons tem derramado sobre vós, que tantas vezes enviou socorro para vossa mãe. Orai sempre a Deus, a prece fortifica. Adequai a vida que Deus nos concede às instruções que eu seguia tão ardentemente.

Eu voltarei, meus filhos, mas é preciso que eu dê apoio à minha pobre filha que precisa tanto de mim agora. Adeus, até breve. Acreditai na bondade de Deus: eu o peço por vós. Até a vista.

Viúva Foulon ”

Nota: Todo espírita sério e esclarecido facilmente tirará dessas comunicações os ensinamentos que delas sobressaem, portanto chamaremos a atenção apenas sobre dois pontos. O primeiro é que este exemplo nos mostra a possibilidade de não mais encarnarmos na

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Terra e passar deste mundo para um mundo superior, sem por isso ficarmos separados dos seres a quem temos afeição e que aqui deixamos. Assim, aqueles que temem a reencarnação por causa das misérias da vida, podem livrar-se disso, fazendo o que é preciso, quer dizer, trabalhando para o seu aperfeiçoamento. Assim como aquele que não quer vegetar nas classes inferiores, deve se instruir e trabalhar para subir de grau.

O segundo ponto é a confirmação desta verdade: após a morte estamos menos separados dos seres que nos são caros do que durante a vida. A senhora Foulon, retida pela idade e pela doença em uma pequena cidade do Sul, tinha junto dela apenas uma parte da sua família; estando a maioria dos seus filhos e dos seus amigos espalhados por lugares distantes, obstáculos materiais se opunham a que ela pudesse vê-los tão frequentemente quanto uns e outros desejavam. A grande distância tornava a correspondência rara e difícil para alguns deles. Logo que se libertou do seu invólucro terrestre, rápido se dirigiu para perto de cada um deles, transpôs as distâncias sem fadiga, com a rapidez da eletricidade; ela os vê, assiste às suas reuniões íntimas, envolve-os com a sua proteção e pode, por meio da mediunidade, conversar com eles a todo instante, como durante sua vida. E dizer que, a este pensamento consolador, há pessoas que preferem a ideia de uma separação eterna!”

“Para se preparar um lugar no reino dos céus é preciso abnegação, humildade, caridade em toda a sua perfeita prática, e benevolência para todos; não se pergunta o que fomos, qual a posição que ocupamos, mas o bem que fizemos, as lágrimas que enxugamos.”

O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. II, item 8.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: 3o Encontro Espírita sobre O Céu e o Inferno – O Temor da Morte. Org. Carvalho,

Homero e Moreira, Lúcia. 1. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2007. 4o Encontro Espírita sobre O Céu e o Inferno – A Passagem. Org. Carvalho,

Homero e Moreira, Lúcia. 1. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2007. A Intuição das Penas Futuras . Org. CARVALHO, Homero & MOREIRA, Lúcia. 1.

ed. Rio de Janeiro: CELD, 2006. Atlas do Corpo Humano, vol. 1 e 5 . (Coordenação) Moraes, Isabel. 1. ed. Rio de

Janeiro: Gold Editora Ltda, 2006. Bíblia Sagrada (eletrônica) – Europa Multimedia. CERQUEIRA, Essem P. & SILVA, Adriano F. Atlas Ilustrado do Corpo Humano . 1.

ed. São Paulo: Ciranda Cultural, 2005. Coleção Explorando o Universo , vol. 1, 4, 6 e 7. SP: Gold Editora Ltda., 2007. KARDEC, Allan, O Céu e o Inferno . 1. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2007. _____________, A Gênese . 1. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2009. _____________, O Evangelho Segundo o Espiritismo . 4. ed. Rio de Janeiro:

CELD, 2007. _____________, O Livro dos Espíritos . 1. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2007. _____________, O Livro dos Médiuns . 1. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2010. O Futuro e o Nada . Org. CARVALHO, Homero & MOREIRA, Lúcia. 1. ed. Rio de

Janeiro: CELD, 2005. PALHANO JR, Lamartine. Teologia Espírita – 1. ed. Rio de Janeiro: CELD, 2004.

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