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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARAacute
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE DIREITO
LEANDRO ALEXANDRE DA SILVA
TERCEIRIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO
FORTALEZA
2013
LEANDRO ALEXANDRE DA SILVA
TERCEIRIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO
Monografia apresentada ao Centro de
Ensino Superior do Cearaacute ndash Faculdade
Cearense ndash FAC como requisito parcial
para obtenccedilatildeo do grau de Bacharel em
Direito
Orientador Prof Peacutericles Chaves
FORTALEZA
2013
LEANDRO ALEXANDRE DA SILVA
TERCEIRIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO
Monografia como preacute-requisito para
obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharelado em
Direito outorgado pela Faculdade
Cearense - FAC tendo sido aprovada
pela banca examinadora composta pelos
professores
Data de aprovaccedilatildeo ____ ____ ___
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________________
Orientador Prof Peacutericles Chaves
_________________________________________________________________
Professora Ana Maria Tauchman
_________________________________________________________________
Professora Ana Mabel Barbosa Moreira
Dedico este trabalho primeiramente a Deus
por ter me dado agrave vida e por me daacute agrave
oportunidade de viver com sauacutede A minha
famiacutelia que sempre esteve ao meu lado
acreditando em mim
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me dado graccedila proporcionando forccedilas e conhecimento
para a concretizaccedilatildeo deste trabalho
A minha famiacutelia em especial a minha esposa Eneuda a minha matildee
Neuzaas minhas irmatildes Raquel e Leandra ao meu pai e aos meus filhos Gabriel e
Miguelpois sem o apoio e confianccedila deles isto natildeo seria possiacutevel
Aos colegas de graduaccedilatildeo pelo conviacutevio enriquecedor pela parceria e
pela grandiosa amizade conquistada
Ao meu querido professor Peacutericles Chaves por ter me ajudado no
momento que mais precisei pela paciecircncia na orientaccedilatildeo e incentivo que tornaram
possiacutevel a conclusatildeo desta monografia
A todos os professores que contribuiacuteram para a minha formaccedilatildeo
Aos meus companheiros de trabalho pelo apoio e atenccedilatildeo
A todos meu muito obrigado por tudo
ldquoCompetecircncia para servir agrave humanidade deveria ser sem duacutevida o grande objetivo e resultado de todos os estudosrdquo
Bejamim Franklin
RESUMO
O atual estudo objetiva realizar uma anaacutelise do sistema penitenciaacuterio brasileiro valendo-se da objetivaccedilatildeo da pena privativa de liberdade A atual situaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro A falecircncia do sistema prisional eacute que faz ganhar espaccedilo a ideia de passar o gerenciamento dos presiacutedios puacuteblicos agrave iniciativa privada desde sempre pertencente ao Estado Os modelos adotados pelos paiacuteses globalizados Fazemos uma retrospectiva histoacuterica no direito de punir chegando ateacute os tempos modernos Analisamos tambeacutem as vantagens e desvantagens deste novo tipo de gerenciamento bem como a sua constitucionalidade Mostramos que os resultados natildeo satildeo satisfatoacuteriosquanto ao custo e a eficiecircncia
Palavras-chavesistema penitenciaacuterio Direito de punir Pena privativa de liberdade Terceirizaccedilatildeo Execuccedilatildeo penal
SUMAacuteRIO
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA 9
2 JUSTIFICATIVA 13
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO 15
4 OBJETIVOS 18
5 HIPOacuteTESES 19
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS 20
7 INTRODUCcedilAtildeO 21
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO 25
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo 25
82 Sistemas penitenciaacuterios 29
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico 30
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano 30
823 O sistema penitenciaacuterio progressivo 31
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade 33
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO 35
91 Origem e evoluccedilatildeo 35
92 A privatizaccedilatildeo na atualidade 37
93 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios 38
94 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico 39
10 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO 42
101 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo 42
102 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo 45
CONCLUSAtildeO 50
REFEREcircNCIAS 51
9
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA
O maior problema da questatildeo de privatizaccedilatildeo do sistema prisional
brasileiro eacute o fato de este novo modelo vir a transferir o bdquojus puniendi‟ ou seja o
direito que tem o Estado de aplicar a pena para as matildeos de particulares Daiacute natildeo se
pode deixar a anaacutelise em questatildeo sem fazer uma raacutepida retrospectiva na evoluccedilatildeo
do direito de punir A histoacuteria do jus puniendi eacute tatildeo antiga quanto as primeiras
civilizaccedilotildees tendo em vista que desde o comeccedilo dos tempos o homem sempre se
preocupou em punir aqueles que violavam as normas sociais
Nos periacuteodos remotos da humanidade conhecidos especificamente
como fase da vinganccedila privada na ocorrecircncia de alguma conduta considerada
delituosa natildeo havia Estado para impor uma determinada puniccedilatildeo ao infrator A
viacutetima era quem deveria punir o agente delituoso tendo em vista que nesta eacutepoca
aquele era considerado legiacutetimo ao agir ese preciso inclusive com o amparo de
sua famiacutelia e ateacute de seu grupo Entre as penas impostas havia o banimento caso o
agressor fosse membro da mesma tribo e se fosse membro de grupos diferentes
poderia resultar em um conflito entre as tribos
Percebe-se que neste tempo o direito de punir era entatildeo exercido pelo
particular com o intuito de vingar-se do mal cometido pelo infrator sem nenhuma
proporccedilatildeo entre a accedilatildeo do criminoso e a reaccedilatildeo do ofendido visto que natildeo existia
nenhum poder central para administraacute-lo Natildeo existia qualquer preocupaccedilatildeo com a
causa do delito mas tatildeo somente com a puniccedilatildeo de seu autor A vinganccedila privada
constituiacutea uma reaccedilatildeo natural e instintiva por isso foi apenas uma realidade
socioloacutegica natildeo uma instituiccedilatildeo juriacutedica
Duas grandes regulamentaccedilotildees com o evolver dos tempos encontrou a
vinganccedila privada o taliatildeo e a composiccedilatildeo Com o surgimento da lei de Taliatildeo a
vinganccedila privada natildeo desapareceu poreacutem a penalidade imposta ao acusado
comeccedilou a tomar certa proporccedilatildeo com o mal por ele causado tendo em vista que se
mostrou imprescindiacutevel limitar os excessos que ocorriam para a conservaccedilatildeo do
grupo social e da proacutepria existecircncia individual Apesar de se dizer comumente pena
de Taliatildeo natildeo se tratava propriamente de uma penamas de um instrumento
moderador da pena Consistia em aplicar no delinquente ou ofensor o mal que ele
causou ao ofendido na mesma proporccedilatildeo
Mais tarde na fase da vinganccedila direta em que se dizia que o
10
cometimento de um crime importava numa ofensa direta aos deuses a religiatildeo
atinge influecircncia decisiva na vida dos povos antigos A repressatildeo ao delinquente
tinha por fim aplacar a ira da divindade ofendida pelos crimes bem como castigar o
infrator A administraccedilatildeo da sanccedilatildeo penal ficava a cargo dos sacerdotes que como
mandataacuterios dos deuses encarregavam-se da justiccedila Aplicavam-se penas crueacuteis
severas desumanas
A ldquoviscorpolisrdquo era usada como meio de intimidaccedilatildeo No antigo oriente
pode-se afirmar que a religiatildeo confundia-se com o direito e assim os preceitos de
cunho meramente religioso ou moral tornavam-se leis em vigor Legislaccedilatildeo tiacutepica
dessa fase eacute o coacutedigo de Manu mas este princiacutepio foi adotado na Babilocircnia no
Egito na China na Peacutersia e pelo povo de Israel continuando assim o direito de
punir nas matildeos de particulares
Quando surgiu o Estado o bdquojus puniendi‟ passou a ser exercido
exclusivamente por este sem perder entatildeo o intuito de vinganccedila pelo delito como
acontecia antigamente Atualmente eacute sabido que o direitodever de punir bem como
a execuccedilatildeo penal continua pertencente ao ente estatal que materializa o desejo
social de restabelecer a ordem transgredida conforme explicita a lei de execuccedilotildees
penais em seu art10 ao afirmar que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o seu retorno agrave sociedade
Com o passar do tempo o direito penal vem se tornando mais
humanitaacuterio deixando a pena de ser vista como uma vinganccedila tendo como objetivo
principal a readaptaccedilatildeo do preso Foi a partir da Revoluccedilatildeo Francesa que se buscou
a humanizaccedilatildeo das penas atraveacutes da pena de prisatildeo como uma resposta do
Estado para aquele que cometeu o crime sendo sempre proporcional ao delito
cometido adquirindo assim a pena um caraacuteter utilitaacuterio
Foi no fim do seacuteculo XVIII e iniacutecio do seacuteculo XIX que surgiram inuacutemeras
escolas penais que buscavam o verdadeiro fundamento do direito de punir Vale
destacar a escola claacutessica em que trecircs grandes jurisconsultos podem ser
considerados como seus iniciadores Gian Domenico na Itaacutelia Jeremias Bentham
na Inglaterra e Anselmo Von Feuerbach na Alemanha Esta escola que se insurgia
contra o absolutismo contra o arbiacutetrio e via a pena com um fim retributivo e a escola
positivista que encontrava o fundamento do direito de punir na necessidade do
Estado garantir a defesa social com a prevenccedilatildeo do crime
A ideia de privatizar o sistema carceraacuterio jaacute foi antevista por Jeremias
11
Bentham em 1761 que idealizou a estrutura panoacuteptica estrutura prisional que
consagrava o princiacutepio da inspeccedilatildeo total em que os prisioneiros e os agentes
prisionais estariam sob constante e rigorosa vigiacutelia
No Brasil se vecirc um sistema prisional muito defasado tendo em vista as
maacutes condiccedilotildees dos presos como por exemplo a superlotaccedilatildeo falta de assistecircncia
meacutedica falta de alimentaccedilatildeo falta de espaccedilos fiacutesicos etc O condenado sofre muitas
vezes castigos dos companheiros detidos e ateacute mesmo dos agentes O sistema eacute
tatildeo falho que com pouca fiscalizaccedilatildeo efetiva os condenados conseguem comandar
de dentro das penitenciaacuterias o traacutefico de drogas chacinas e outros delitos de
altiacutessima gravidade natildeo cessando o oferecimento de perigo agrave sociedade
Como observa Gracianny Carvalho Cordeiro (2006p 27) os fins da pena
de prisatildeo tecircm-se mostrado contestaacuteveis do ponto de vista da
eficaacuteciaexcepcionando-se apenas o fim retributivo tendo em vista que a pena
privativa de liberdade continua sendo um grande castigo marcado pelos excessos e
abusos aos mais elementares direitos dos presos A pena de prisatildeo vem falhando
nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade na promoccedilatildeo da
ressocializaccedilatildeo do preso bem como na reduccedilatildeo dos iacutendices de reincidecircncia
Com esta defasagem do sistema prisional brasileiro em que os direitos
fundamentais do preso satildeo desrespeitados surge entatildeo acomprovaccedilatildeo da
incapacidade do Estado brasileiro em administrar o sistema prisional por isso vem
ganhando espaccedilo o discurso a favor da privatizaccedilatildeo do nosso sistema inicialmente
levado a efeito pelos Estados Unidos da Ameacuterica Esta tendecircncia privatizadora deve
ser tambeacutem compreendida como reflexo do novo modelo de Estado capitalista
globalizado em que o ente estatal vem perdendo a cada dia o seu caraacuteter
intervencionista inclusive nas aacutereas sociais
O Brasil natildeo resistindo ao sistema americano de privatizar o sistema
penitenciaacuterio vem de forma tiacutemida adotando um novo modelo de gerenciamento
carceraacuterio atraveacutes da terceirizaccedilatildeo de alguns serviccedilos mediante a iniciativa privada
Em 1999 iniciou-se este processo com a inauguraccedilatildeo da Penitenciaacuteria Industrial de
Guarapuava no estado do Paranaacute seguida pela instalaccedilatildeo da Penitenciaacuteria
Industrial do Cariri no municiacutepio de Juazeiro do Norte em 2001 no estado do
Cearaacute
A partir do exposto buscar-se-aacute desenvolver a pesquisa monograacutefica que
responda aos seguintes questionamentos
12
1 a privatizaccedilatildeo das prisotildees eacute constitucionalmente vaacutelida no Brasil
2 quais as vantagens da privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio no Brasil
3 com a privatizaccedilatildeo das penitenciaacuterias poderaacute se aumentar o nuacutemero de
presos
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2 JUSTIFICATIVA
O sistema prisional encontra-se em estado precaacuterio tendo em vista os
presiacutedios superlotados o tratamento desumano e degradante que sofrem os presos
Satildeo 230 mil presos em aproximadamente 100mil vagas isto em 2002 Esse deacuteficit
de vagas eacute um desafio para o nosso governo sem falar do valor exorbitante que
custa uma penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima (aproximadamente 15 milhotildees de
reais) Em 2001o Fundo Nacional Penitenciaacuterio (FUNPEN) repassou para os
estados R$ 253 milhotildees dinheiro destinado agrave reforma e construccedilatildeo de presiacutedios ou
seja o governo brasileiro natildeo tem dinheiro em seus cofres para tal coisa
O sistema estaacute debilitado aproximadamente 30 dos presos encontram-
se com o viacuterus HIV sem falar da tuberculose A privatizaccedilatildeo total dos
presiacutedios(modelo americano) seria de total afronto agrave Constituiccedilatildeo vigente pois
entregaria totalmente o jus puniendi nas matildeos de particulares e o ldquocaputrdquo do art 144
da CF afirma Eacute dever do Estado zelar pela seguranccedila Jaacute no modelo francecircs que
faz uma parceria entre a iniciativa privada e o Estado na administraccedilatildeo dos
presiacutedios seria o mais aceito em nosso ordenamento juriacutedico pois o Estado natildeo
deixaria de participar na puniccedilatildeo dos encarcerados
No Paranaacute e Cearaacute existe um modelo terceirizador de administraccedilatildeo
prisional na qual o administrador privado juntamente com o Estado faz parceria
administrativa inovando o sistema prisional De outro lado com a privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios o Estado seria desafogado tendo em vista que o sistema eacute falho natildeo
possui condiccedilotildees financeiras para arcar com novas construccedilotildees e ainda encontra-se
superlotado
Assim sendo a iniciativa privada seria responsaacutevel por arcar com as
despesas e por consequecircnciamelhoraria a humanizaccedilatildeo dos presos o que ajudaria
muito na ressocializaccedilatildeo e no aumento da autoestima e ainda a reintegraccedilatildeo no
mercado de trabalho pois a iniciativa privada iria proporcionar oportunidades de
trabalho
O que tende a preocupar este modelo de gerenciamento privado eacute que
geraria alto lucro para as induacutestrias aleacutem de uma grande exploraccedilatildeo do trabalho dos
detentos pois sua matildeo de obra seria mais barata aleacutem de que com o grande
crescimento da seguranccedila privada em nosso paiacutes o preso poderia ser visto como
produto ou seja quanto mais presos mais lucro
14
Sendo assim eacute de grande importacircncia fazer uma pesquisa mais
aprofundada sobre o sistema de privatizaccedilatildeo dos presiacutedios verificando se realmente
poderaacute trazer melhoras para a ressocializaccedilatildeo dos presos e diminuiccedilatildeo da
criminalidade que abrange o nosso paiacutes
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3 REFERENCIAL TEOacuteRICO
A lei de execuccedilatildeo penal aprovada pelo Congresso em 1984 acabou
defasada tendo em vista o total descumprimento e omissatildeo dos poderes
constituiacutedos na alocaccedilatildeo de recursos financeiros humanos e materiais necessaacuterios
a sua implementaccedilatildeoNa Constituiccedilatildeo de 1988 os direitos e garantias fundamentais
foram consagrados de forma inovadora Dentre os direitos e garantias fundamentais
a Constituiccedilatildeo proiacutebe as penas crueacuteis em seu art5ordmXLVIICF88
art5ordmXLVII - Natildeo haveraacute pena
a)de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art88XIX
b)de caraacuteter perpeacutetuo
c)de trabalhos forccedilados
d) de banimento
e) crueacuteis
E garante ao cidadatildeo preso o respeito agrave integridade fiacutesica e moral atraveacutes
do art5ordmXLIX CF88 ldquoArt5ordmXLIXeacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade
fiacutesica e moralrdquoEstes dispositivos seratildeo abordados de forma especial partindo-se do
pressuposto de que os direitos fundamentais satildeo os direitos humanos previstos na
Carta Magna em leis e tratados internacionais ou que decorrem da aplicaccedilatildeo
destes que possuem eficaacutecia e aplicabilidade imediata e estatildeo baseados no
princiacutepio da dignidade humana
Nos dias atuais busca-se incessantemente o reconhecimento dos direitos
fundamentais mas a crise vivenciada pelo Estado natildeo se permite cumprir com os
objetivos esculpidos na Constituiccedilatildeo de 1988 Isso reflete em todas as aacutereas sociais
e com grande ecircnfase no acircmbito do Direito Penal pois o Estado passou a utilizar das
penas e das prisotildees como principal forma de controle e manutenccedilatildeo da ordem
esquecendo-se que seu objeto e limite de atuaccedilatildeo estatildeo estabelecidos e vinculados
aos direitos fundamentais
Tratando-se desse sistema penitenciaacuterio defasado sabemos que poucos
dos direitos ou princiacutepios citados satildeo respeitados Grecianny Carvalho Cordeiro
(2006p28) ensina que
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A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
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privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
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4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
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5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
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6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
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deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
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reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
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Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
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forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
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Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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LEANDRO ALEXANDRE DA SILVA
TERCEIRIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO
Monografia apresentada ao Centro de
Ensino Superior do Cearaacute ndash Faculdade
Cearense ndash FAC como requisito parcial
para obtenccedilatildeo do grau de Bacharel em
Direito
Orientador Prof Peacutericles Chaves
FORTALEZA
2013
LEANDRO ALEXANDRE DA SILVA
TERCEIRIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO
Monografia como preacute-requisito para
obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharelado em
Direito outorgado pela Faculdade
Cearense - FAC tendo sido aprovada
pela banca examinadora composta pelos
professores
Data de aprovaccedilatildeo ____ ____ ___
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________________
Orientador Prof Peacutericles Chaves
_________________________________________________________________
Professora Ana Maria Tauchman
_________________________________________________________________
Professora Ana Mabel Barbosa Moreira
Dedico este trabalho primeiramente a Deus
por ter me dado agrave vida e por me daacute agrave
oportunidade de viver com sauacutede A minha
famiacutelia que sempre esteve ao meu lado
acreditando em mim
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me dado graccedila proporcionando forccedilas e conhecimento
para a concretizaccedilatildeo deste trabalho
A minha famiacutelia em especial a minha esposa Eneuda a minha matildee
Neuzaas minhas irmatildes Raquel e Leandra ao meu pai e aos meus filhos Gabriel e
Miguelpois sem o apoio e confianccedila deles isto natildeo seria possiacutevel
Aos colegas de graduaccedilatildeo pelo conviacutevio enriquecedor pela parceria e
pela grandiosa amizade conquistada
Ao meu querido professor Peacutericles Chaves por ter me ajudado no
momento que mais precisei pela paciecircncia na orientaccedilatildeo e incentivo que tornaram
possiacutevel a conclusatildeo desta monografia
A todos os professores que contribuiacuteram para a minha formaccedilatildeo
Aos meus companheiros de trabalho pelo apoio e atenccedilatildeo
A todos meu muito obrigado por tudo
ldquoCompetecircncia para servir agrave humanidade deveria ser sem duacutevida o grande objetivo e resultado de todos os estudosrdquo
Bejamim Franklin
RESUMO
O atual estudo objetiva realizar uma anaacutelise do sistema penitenciaacuterio brasileiro valendo-se da objetivaccedilatildeo da pena privativa de liberdade A atual situaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro A falecircncia do sistema prisional eacute que faz ganhar espaccedilo a ideia de passar o gerenciamento dos presiacutedios puacuteblicos agrave iniciativa privada desde sempre pertencente ao Estado Os modelos adotados pelos paiacuteses globalizados Fazemos uma retrospectiva histoacuterica no direito de punir chegando ateacute os tempos modernos Analisamos tambeacutem as vantagens e desvantagens deste novo tipo de gerenciamento bem como a sua constitucionalidade Mostramos que os resultados natildeo satildeo satisfatoacuteriosquanto ao custo e a eficiecircncia
Palavras-chavesistema penitenciaacuterio Direito de punir Pena privativa de liberdade Terceirizaccedilatildeo Execuccedilatildeo penal
SUMAacuteRIO
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA 9
2 JUSTIFICATIVA 13
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO 15
4 OBJETIVOS 18
5 HIPOacuteTESES 19
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS 20
7 INTRODUCcedilAtildeO 21
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO 25
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo 25
82 Sistemas penitenciaacuterios 29
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico 30
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano 30
823 O sistema penitenciaacuterio progressivo 31
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade 33
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO 35
91 Origem e evoluccedilatildeo 35
92 A privatizaccedilatildeo na atualidade 37
93 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios 38
94 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico 39
10 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO 42
101 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo 42
102 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo 45
CONCLUSAtildeO 50
REFEREcircNCIAS 51
9
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA
O maior problema da questatildeo de privatizaccedilatildeo do sistema prisional
brasileiro eacute o fato de este novo modelo vir a transferir o bdquojus puniendi‟ ou seja o
direito que tem o Estado de aplicar a pena para as matildeos de particulares Daiacute natildeo se
pode deixar a anaacutelise em questatildeo sem fazer uma raacutepida retrospectiva na evoluccedilatildeo
do direito de punir A histoacuteria do jus puniendi eacute tatildeo antiga quanto as primeiras
civilizaccedilotildees tendo em vista que desde o comeccedilo dos tempos o homem sempre se
preocupou em punir aqueles que violavam as normas sociais
Nos periacuteodos remotos da humanidade conhecidos especificamente
como fase da vinganccedila privada na ocorrecircncia de alguma conduta considerada
delituosa natildeo havia Estado para impor uma determinada puniccedilatildeo ao infrator A
viacutetima era quem deveria punir o agente delituoso tendo em vista que nesta eacutepoca
aquele era considerado legiacutetimo ao agir ese preciso inclusive com o amparo de
sua famiacutelia e ateacute de seu grupo Entre as penas impostas havia o banimento caso o
agressor fosse membro da mesma tribo e se fosse membro de grupos diferentes
poderia resultar em um conflito entre as tribos
Percebe-se que neste tempo o direito de punir era entatildeo exercido pelo
particular com o intuito de vingar-se do mal cometido pelo infrator sem nenhuma
proporccedilatildeo entre a accedilatildeo do criminoso e a reaccedilatildeo do ofendido visto que natildeo existia
nenhum poder central para administraacute-lo Natildeo existia qualquer preocupaccedilatildeo com a
causa do delito mas tatildeo somente com a puniccedilatildeo de seu autor A vinganccedila privada
constituiacutea uma reaccedilatildeo natural e instintiva por isso foi apenas uma realidade
socioloacutegica natildeo uma instituiccedilatildeo juriacutedica
Duas grandes regulamentaccedilotildees com o evolver dos tempos encontrou a
vinganccedila privada o taliatildeo e a composiccedilatildeo Com o surgimento da lei de Taliatildeo a
vinganccedila privada natildeo desapareceu poreacutem a penalidade imposta ao acusado
comeccedilou a tomar certa proporccedilatildeo com o mal por ele causado tendo em vista que se
mostrou imprescindiacutevel limitar os excessos que ocorriam para a conservaccedilatildeo do
grupo social e da proacutepria existecircncia individual Apesar de se dizer comumente pena
de Taliatildeo natildeo se tratava propriamente de uma penamas de um instrumento
moderador da pena Consistia em aplicar no delinquente ou ofensor o mal que ele
causou ao ofendido na mesma proporccedilatildeo
Mais tarde na fase da vinganccedila direta em que se dizia que o
10
cometimento de um crime importava numa ofensa direta aos deuses a religiatildeo
atinge influecircncia decisiva na vida dos povos antigos A repressatildeo ao delinquente
tinha por fim aplacar a ira da divindade ofendida pelos crimes bem como castigar o
infrator A administraccedilatildeo da sanccedilatildeo penal ficava a cargo dos sacerdotes que como
mandataacuterios dos deuses encarregavam-se da justiccedila Aplicavam-se penas crueacuteis
severas desumanas
A ldquoviscorpolisrdquo era usada como meio de intimidaccedilatildeo No antigo oriente
pode-se afirmar que a religiatildeo confundia-se com o direito e assim os preceitos de
cunho meramente religioso ou moral tornavam-se leis em vigor Legislaccedilatildeo tiacutepica
dessa fase eacute o coacutedigo de Manu mas este princiacutepio foi adotado na Babilocircnia no
Egito na China na Peacutersia e pelo povo de Israel continuando assim o direito de
punir nas matildeos de particulares
Quando surgiu o Estado o bdquojus puniendi‟ passou a ser exercido
exclusivamente por este sem perder entatildeo o intuito de vinganccedila pelo delito como
acontecia antigamente Atualmente eacute sabido que o direitodever de punir bem como
a execuccedilatildeo penal continua pertencente ao ente estatal que materializa o desejo
social de restabelecer a ordem transgredida conforme explicita a lei de execuccedilotildees
penais em seu art10 ao afirmar que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o seu retorno agrave sociedade
Com o passar do tempo o direito penal vem se tornando mais
humanitaacuterio deixando a pena de ser vista como uma vinganccedila tendo como objetivo
principal a readaptaccedilatildeo do preso Foi a partir da Revoluccedilatildeo Francesa que se buscou
a humanizaccedilatildeo das penas atraveacutes da pena de prisatildeo como uma resposta do
Estado para aquele que cometeu o crime sendo sempre proporcional ao delito
cometido adquirindo assim a pena um caraacuteter utilitaacuterio
Foi no fim do seacuteculo XVIII e iniacutecio do seacuteculo XIX que surgiram inuacutemeras
escolas penais que buscavam o verdadeiro fundamento do direito de punir Vale
destacar a escola claacutessica em que trecircs grandes jurisconsultos podem ser
considerados como seus iniciadores Gian Domenico na Itaacutelia Jeremias Bentham
na Inglaterra e Anselmo Von Feuerbach na Alemanha Esta escola que se insurgia
contra o absolutismo contra o arbiacutetrio e via a pena com um fim retributivo e a escola
positivista que encontrava o fundamento do direito de punir na necessidade do
Estado garantir a defesa social com a prevenccedilatildeo do crime
A ideia de privatizar o sistema carceraacuterio jaacute foi antevista por Jeremias
11
Bentham em 1761 que idealizou a estrutura panoacuteptica estrutura prisional que
consagrava o princiacutepio da inspeccedilatildeo total em que os prisioneiros e os agentes
prisionais estariam sob constante e rigorosa vigiacutelia
No Brasil se vecirc um sistema prisional muito defasado tendo em vista as
maacutes condiccedilotildees dos presos como por exemplo a superlotaccedilatildeo falta de assistecircncia
meacutedica falta de alimentaccedilatildeo falta de espaccedilos fiacutesicos etc O condenado sofre muitas
vezes castigos dos companheiros detidos e ateacute mesmo dos agentes O sistema eacute
tatildeo falho que com pouca fiscalizaccedilatildeo efetiva os condenados conseguem comandar
de dentro das penitenciaacuterias o traacutefico de drogas chacinas e outros delitos de
altiacutessima gravidade natildeo cessando o oferecimento de perigo agrave sociedade
Como observa Gracianny Carvalho Cordeiro (2006p 27) os fins da pena
de prisatildeo tecircm-se mostrado contestaacuteveis do ponto de vista da
eficaacuteciaexcepcionando-se apenas o fim retributivo tendo em vista que a pena
privativa de liberdade continua sendo um grande castigo marcado pelos excessos e
abusos aos mais elementares direitos dos presos A pena de prisatildeo vem falhando
nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade na promoccedilatildeo da
ressocializaccedilatildeo do preso bem como na reduccedilatildeo dos iacutendices de reincidecircncia
Com esta defasagem do sistema prisional brasileiro em que os direitos
fundamentais do preso satildeo desrespeitados surge entatildeo acomprovaccedilatildeo da
incapacidade do Estado brasileiro em administrar o sistema prisional por isso vem
ganhando espaccedilo o discurso a favor da privatizaccedilatildeo do nosso sistema inicialmente
levado a efeito pelos Estados Unidos da Ameacuterica Esta tendecircncia privatizadora deve
ser tambeacutem compreendida como reflexo do novo modelo de Estado capitalista
globalizado em que o ente estatal vem perdendo a cada dia o seu caraacuteter
intervencionista inclusive nas aacutereas sociais
O Brasil natildeo resistindo ao sistema americano de privatizar o sistema
penitenciaacuterio vem de forma tiacutemida adotando um novo modelo de gerenciamento
carceraacuterio atraveacutes da terceirizaccedilatildeo de alguns serviccedilos mediante a iniciativa privada
Em 1999 iniciou-se este processo com a inauguraccedilatildeo da Penitenciaacuteria Industrial de
Guarapuava no estado do Paranaacute seguida pela instalaccedilatildeo da Penitenciaacuteria
Industrial do Cariri no municiacutepio de Juazeiro do Norte em 2001 no estado do
Cearaacute
A partir do exposto buscar-se-aacute desenvolver a pesquisa monograacutefica que
responda aos seguintes questionamentos
12
1 a privatizaccedilatildeo das prisotildees eacute constitucionalmente vaacutelida no Brasil
2 quais as vantagens da privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio no Brasil
3 com a privatizaccedilatildeo das penitenciaacuterias poderaacute se aumentar o nuacutemero de
presos
13
2 JUSTIFICATIVA
O sistema prisional encontra-se em estado precaacuterio tendo em vista os
presiacutedios superlotados o tratamento desumano e degradante que sofrem os presos
Satildeo 230 mil presos em aproximadamente 100mil vagas isto em 2002 Esse deacuteficit
de vagas eacute um desafio para o nosso governo sem falar do valor exorbitante que
custa uma penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima (aproximadamente 15 milhotildees de
reais) Em 2001o Fundo Nacional Penitenciaacuterio (FUNPEN) repassou para os
estados R$ 253 milhotildees dinheiro destinado agrave reforma e construccedilatildeo de presiacutedios ou
seja o governo brasileiro natildeo tem dinheiro em seus cofres para tal coisa
O sistema estaacute debilitado aproximadamente 30 dos presos encontram-
se com o viacuterus HIV sem falar da tuberculose A privatizaccedilatildeo total dos
presiacutedios(modelo americano) seria de total afronto agrave Constituiccedilatildeo vigente pois
entregaria totalmente o jus puniendi nas matildeos de particulares e o ldquocaputrdquo do art 144
da CF afirma Eacute dever do Estado zelar pela seguranccedila Jaacute no modelo francecircs que
faz uma parceria entre a iniciativa privada e o Estado na administraccedilatildeo dos
presiacutedios seria o mais aceito em nosso ordenamento juriacutedico pois o Estado natildeo
deixaria de participar na puniccedilatildeo dos encarcerados
No Paranaacute e Cearaacute existe um modelo terceirizador de administraccedilatildeo
prisional na qual o administrador privado juntamente com o Estado faz parceria
administrativa inovando o sistema prisional De outro lado com a privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios o Estado seria desafogado tendo em vista que o sistema eacute falho natildeo
possui condiccedilotildees financeiras para arcar com novas construccedilotildees e ainda encontra-se
superlotado
Assim sendo a iniciativa privada seria responsaacutevel por arcar com as
despesas e por consequecircnciamelhoraria a humanizaccedilatildeo dos presos o que ajudaria
muito na ressocializaccedilatildeo e no aumento da autoestima e ainda a reintegraccedilatildeo no
mercado de trabalho pois a iniciativa privada iria proporcionar oportunidades de
trabalho
O que tende a preocupar este modelo de gerenciamento privado eacute que
geraria alto lucro para as induacutestrias aleacutem de uma grande exploraccedilatildeo do trabalho dos
detentos pois sua matildeo de obra seria mais barata aleacutem de que com o grande
crescimento da seguranccedila privada em nosso paiacutes o preso poderia ser visto como
produto ou seja quanto mais presos mais lucro
14
Sendo assim eacute de grande importacircncia fazer uma pesquisa mais
aprofundada sobre o sistema de privatizaccedilatildeo dos presiacutedios verificando se realmente
poderaacute trazer melhoras para a ressocializaccedilatildeo dos presos e diminuiccedilatildeo da
criminalidade que abrange o nosso paiacutes
15
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO
A lei de execuccedilatildeo penal aprovada pelo Congresso em 1984 acabou
defasada tendo em vista o total descumprimento e omissatildeo dos poderes
constituiacutedos na alocaccedilatildeo de recursos financeiros humanos e materiais necessaacuterios
a sua implementaccedilatildeoNa Constituiccedilatildeo de 1988 os direitos e garantias fundamentais
foram consagrados de forma inovadora Dentre os direitos e garantias fundamentais
a Constituiccedilatildeo proiacutebe as penas crueacuteis em seu art5ordmXLVIICF88
art5ordmXLVII - Natildeo haveraacute pena
a)de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art88XIX
b)de caraacuteter perpeacutetuo
c)de trabalhos forccedilados
d) de banimento
e) crueacuteis
E garante ao cidadatildeo preso o respeito agrave integridade fiacutesica e moral atraveacutes
do art5ordmXLIX CF88 ldquoArt5ordmXLIXeacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade
fiacutesica e moralrdquoEstes dispositivos seratildeo abordados de forma especial partindo-se do
pressuposto de que os direitos fundamentais satildeo os direitos humanos previstos na
Carta Magna em leis e tratados internacionais ou que decorrem da aplicaccedilatildeo
destes que possuem eficaacutecia e aplicabilidade imediata e estatildeo baseados no
princiacutepio da dignidade humana
Nos dias atuais busca-se incessantemente o reconhecimento dos direitos
fundamentais mas a crise vivenciada pelo Estado natildeo se permite cumprir com os
objetivos esculpidos na Constituiccedilatildeo de 1988 Isso reflete em todas as aacutereas sociais
e com grande ecircnfase no acircmbito do Direito Penal pois o Estado passou a utilizar das
penas e das prisotildees como principal forma de controle e manutenccedilatildeo da ordem
esquecendo-se que seu objeto e limite de atuaccedilatildeo estatildeo estabelecidos e vinculados
aos direitos fundamentais
Tratando-se desse sistema penitenciaacuterio defasado sabemos que poucos
dos direitos ou princiacutepios citados satildeo respeitados Grecianny Carvalho Cordeiro
(2006p28) ensina que
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A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
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privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
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4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
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5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
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6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
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7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
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deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
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reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
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Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
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8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
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natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
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os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
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infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
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No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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LEANDRO ALEXANDRE DA SILVA
TERCEIRIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PRISIONAL BRASILEIRO
Monografia como preacute-requisito para
obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharelado em
Direito outorgado pela Faculdade
Cearense - FAC tendo sido aprovada
pela banca examinadora composta pelos
professores
Data de aprovaccedilatildeo ____ ____ ___
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________________________
Orientador Prof Peacutericles Chaves
_________________________________________________________________
Professora Ana Maria Tauchman
_________________________________________________________________
Professora Ana Mabel Barbosa Moreira
Dedico este trabalho primeiramente a Deus
por ter me dado agrave vida e por me daacute agrave
oportunidade de viver com sauacutede A minha
famiacutelia que sempre esteve ao meu lado
acreditando em mim
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me dado graccedila proporcionando forccedilas e conhecimento
para a concretizaccedilatildeo deste trabalho
A minha famiacutelia em especial a minha esposa Eneuda a minha matildee
Neuzaas minhas irmatildes Raquel e Leandra ao meu pai e aos meus filhos Gabriel e
Miguelpois sem o apoio e confianccedila deles isto natildeo seria possiacutevel
Aos colegas de graduaccedilatildeo pelo conviacutevio enriquecedor pela parceria e
pela grandiosa amizade conquistada
Ao meu querido professor Peacutericles Chaves por ter me ajudado no
momento que mais precisei pela paciecircncia na orientaccedilatildeo e incentivo que tornaram
possiacutevel a conclusatildeo desta monografia
A todos os professores que contribuiacuteram para a minha formaccedilatildeo
Aos meus companheiros de trabalho pelo apoio e atenccedilatildeo
A todos meu muito obrigado por tudo
ldquoCompetecircncia para servir agrave humanidade deveria ser sem duacutevida o grande objetivo e resultado de todos os estudosrdquo
Bejamim Franklin
RESUMO
O atual estudo objetiva realizar uma anaacutelise do sistema penitenciaacuterio brasileiro valendo-se da objetivaccedilatildeo da pena privativa de liberdade A atual situaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro A falecircncia do sistema prisional eacute que faz ganhar espaccedilo a ideia de passar o gerenciamento dos presiacutedios puacuteblicos agrave iniciativa privada desde sempre pertencente ao Estado Os modelos adotados pelos paiacuteses globalizados Fazemos uma retrospectiva histoacuterica no direito de punir chegando ateacute os tempos modernos Analisamos tambeacutem as vantagens e desvantagens deste novo tipo de gerenciamento bem como a sua constitucionalidade Mostramos que os resultados natildeo satildeo satisfatoacuteriosquanto ao custo e a eficiecircncia
Palavras-chavesistema penitenciaacuterio Direito de punir Pena privativa de liberdade Terceirizaccedilatildeo Execuccedilatildeo penal
SUMAacuteRIO
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA 9
2 JUSTIFICATIVA 13
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO 15
4 OBJETIVOS 18
5 HIPOacuteTESES 19
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS 20
7 INTRODUCcedilAtildeO 21
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO 25
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo 25
82 Sistemas penitenciaacuterios 29
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico 30
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano 30
823 O sistema penitenciaacuterio progressivo 31
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade 33
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO 35
91 Origem e evoluccedilatildeo 35
92 A privatizaccedilatildeo na atualidade 37
93 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios 38
94 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico 39
10 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO 42
101 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo 42
102 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo 45
CONCLUSAtildeO 50
REFEREcircNCIAS 51
9
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA
O maior problema da questatildeo de privatizaccedilatildeo do sistema prisional
brasileiro eacute o fato de este novo modelo vir a transferir o bdquojus puniendi‟ ou seja o
direito que tem o Estado de aplicar a pena para as matildeos de particulares Daiacute natildeo se
pode deixar a anaacutelise em questatildeo sem fazer uma raacutepida retrospectiva na evoluccedilatildeo
do direito de punir A histoacuteria do jus puniendi eacute tatildeo antiga quanto as primeiras
civilizaccedilotildees tendo em vista que desde o comeccedilo dos tempos o homem sempre se
preocupou em punir aqueles que violavam as normas sociais
Nos periacuteodos remotos da humanidade conhecidos especificamente
como fase da vinganccedila privada na ocorrecircncia de alguma conduta considerada
delituosa natildeo havia Estado para impor uma determinada puniccedilatildeo ao infrator A
viacutetima era quem deveria punir o agente delituoso tendo em vista que nesta eacutepoca
aquele era considerado legiacutetimo ao agir ese preciso inclusive com o amparo de
sua famiacutelia e ateacute de seu grupo Entre as penas impostas havia o banimento caso o
agressor fosse membro da mesma tribo e se fosse membro de grupos diferentes
poderia resultar em um conflito entre as tribos
Percebe-se que neste tempo o direito de punir era entatildeo exercido pelo
particular com o intuito de vingar-se do mal cometido pelo infrator sem nenhuma
proporccedilatildeo entre a accedilatildeo do criminoso e a reaccedilatildeo do ofendido visto que natildeo existia
nenhum poder central para administraacute-lo Natildeo existia qualquer preocupaccedilatildeo com a
causa do delito mas tatildeo somente com a puniccedilatildeo de seu autor A vinganccedila privada
constituiacutea uma reaccedilatildeo natural e instintiva por isso foi apenas uma realidade
socioloacutegica natildeo uma instituiccedilatildeo juriacutedica
Duas grandes regulamentaccedilotildees com o evolver dos tempos encontrou a
vinganccedila privada o taliatildeo e a composiccedilatildeo Com o surgimento da lei de Taliatildeo a
vinganccedila privada natildeo desapareceu poreacutem a penalidade imposta ao acusado
comeccedilou a tomar certa proporccedilatildeo com o mal por ele causado tendo em vista que se
mostrou imprescindiacutevel limitar os excessos que ocorriam para a conservaccedilatildeo do
grupo social e da proacutepria existecircncia individual Apesar de se dizer comumente pena
de Taliatildeo natildeo se tratava propriamente de uma penamas de um instrumento
moderador da pena Consistia em aplicar no delinquente ou ofensor o mal que ele
causou ao ofendido na mesma proporccedilatildeo
Mais tarde na fase da vinganccedila direta em que se dizia que o
10
cometimento de um crime importava numa ofensa direta aos deuses a religiatildeo
atinge influecircncia decisiva na vida dos povos antigos A repressatildeo ao delinquente
tinha por fim aplacar a ira da divindade ofendida pelos crimes bem como castigar o
infrator A administraccedilatildeo da sanccedilatildeo penal ficava a cargo dos sacerdotes que como
mandataacuterios dos deuses encarregavam-se da justiccedila Aplicavam-se penas crueacuteis
severas desumanas
A ldquoviscorpolisrdquo era usada como meio de intimidaccedilatildeo No antigo oriente
pode-se afirmar que a religiatildeo confundia-se com o direito e assim os preceitos de
cunho meramente religioso ou moral tornavam-se leis em vigor Legislaccedilatildeo tiacutepica
dessa fase eacute o coacutedigo de Manu mas este princiacutepio foi adotado na Babilocircnia no
Egito na China na Peacutersia e pelo povo de Israel continuando assim o direito de
punir nas matildeos de particulares
Quando surgiu o Estado o bdquojus puniendi‟ passou a ser exercido
exclusivamente por este sem perder entatildeo o intuito de vinganccedila pelo delito como
acontecia antigamente Atualmente eacute sabido que o direitodever de punir bem como
a execuccedilatildeo penal continua pertencente ao ente estatal que materializa o desejo
social de restabelecer a ordem transgredida conforme explicita a lei de execuccedilotildees
penais em seu art10 ao afirmar que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o seu retorno agrave sociedade
Com o passar do tempo o direito penal vem se tornando mais
humanitaacuterio deixando a pena de ser vista como uma vinganccedila tendo como objetivo
principal a readaptaccedilatildeo do preso Foi a partir da Revoluccedilatildeo Francesa que se buscou
a humanizaccedilatildeo das penas atraveacutes da pena de prisatildeo como uma resposta do
Estado para aquele que cometeu o crime sendo sempre proporcional ao delito
cometido adquirindo assim a pena um caraacuteter utilitaacuterio
Foi no fim do seacuteculo XVIII e iniacutecio do seacuteculo XIX que surgiram inuacutemeras
escolas penais que buscavam o verdadeiro fundamento do direito de punir Vale
destacar a escola claacutessica em que trecircs grandes jurisconsultos podem ser
considerados como seus iniciadores Gian Domenico na Itaacutelia Jeremias Bentham
na Inglaterra e Anselmo Von Feuerbach na Alemanha Esta escola que se insurgia
contra o absolutismo contra o arbiacutetrio e via a pena com um fim retributivo e a escola
positivista que encontrava o fundamento do direito de punir na necessidade do
Estado garantir a defesa social com a prevenccedilatildeo do crime
A ideia de privatizar o sistema carceraacuterio jaacute foi antevista por Jeremias
11
Bentham em 1761 que idealizou a estrutura panoacuteptica estrutura prisional que
consagrava o princiacutepio da inspeccedilatildeo total em que os prisioneiros e os agentes
prisionais estariam sob constante e rigorosa vigiacutelia
No Brasil se vecirc um sistema prisional muito defasado tendo em vista as
maacutes condiccedilotildees dos presos como por exemplo a superlotaccedilatildeo falta de assistecircncia
meacutedica falta de alimentaccedilatildeo falta de espaccedilos fiacutesicos etc O condenado sofre muitas
vezes castigos dos companheiros detidos e ateacute mesmo dos agentes O sistema eacute
tatildeo falho que com pouca fiscalizaccedilatildeo efetiva os condenados conseguem comandar
de dentro das penitenciaacuterias o traacutefico de drogas chacinas e outros delitos de
altiacutessima gravidade natildeo cessando o oferecimento de perigo agrave sociedade
Como observa Gracianny Carvalho Cordeiro (2006p 27) os fins da pena
de prisatildeo tecircm-se mostrado contestaacuteveis do ponto de vista da
eficaacuteciaexcepcionando-se apenas o fim retributivo tendo em vista que a pena
privativa de liberdade continua sendo um grande castigo marcado pelos excessos e
abusos aos mais elementares direitos dos presos A pena de prisatildeo vem falhando
nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade na promoccedilatildeo da
ressocializaccedilatildeo do preso bem como na reduccedilatildeo dos iacutendices de reincidecircncia
Com esta defasagem do sistema prisional brasileiro em que os direitos
fundamentais do preso satildeo desrespeitados surge entatildeo acomprovaccedilatildeo da
incapacidade do Estado brasileiro em administrar o sistema prisional por isso vem
ganhando espaccedilo o discurso a favor da privatizaccedilatildeo do nosso sistema inicialmente
levado a efeito pelos Estados Unidos da Ameacuterica Esta tendecircncia privatizadora deve
ser tambeacutem compreendida como reflexo do novo modelo de Estado capitalista
globalizado em que o ente estatal vem perdendo a cada dia o seu caraacuteter
intervencionista inclusive nas aacutereas sociais
O Brasil natildeo resistindo ao sistema americano de privatizar o sistema
penitenciaacuterio vem de forma tiacutemida adotando um novo modelo de gerenciamento
carceraacuterio atraveacutes da terceirizaccedilatildeo de alguns serviccedilos mediante a iniciativa privada
Em 1999 iniciou-se este processo com a inauguraccedilatildeo da Penitenciaacuteria Industrial de
Guarapuava no estado do Paranaacute seguida pela instalaccedilatildeo da Penitenciaacuteria
Industrial do Cariri no municiacutepio de Juazeiro do Norte em 2001 no estado do
Cearaacute
A partir do exposto buscar-se-aacute desenvolver a pesquisa monograacutefica que
responda aos seguintes questionamentos
12
1 a privatizaccedilatildeo das prisotildees eacute constitucionalmente vaacutelida no Brasil
2 quais as vantagens da privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio no Brasil
3 com a privatizaccedilatildeo das penitenciaacuterias poderaacute se aumentar o nuacutemero de
presos
13
2 JUSTIFICATIVA
O sistema prisional encontra-se em estado precaacuterio tendo em vista os
presiacutedios superlotados o tratamento desumano e degradante que sofrem os presos
Satildeo 230 mil presos em aproximadamente 100mil vagas isto em 2002 Esse deacuteficit
de vagas eacute um desafio para o nosso governo sem falar do valor exorbitante que
custa uma penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima (aproximadamente 15 milhotildees de
reais) Em 2001o Fundo Nacional Penitenciaacuterio (FUNPEN) repassou para os
estados R$ 253 milhotildees dinheiro destinado agrave reforma e construccedilatildeo de presiacutedios ou
seja o governo brasileiro natildeo tem dinheiro em seus cofres para tal coisa
O sistema estaacute debilitado aproximadamente 30 dos presos encontram-
se com o viacuterus HIV sem falar da tuberculose A privatizaccedilatildeo total dos
presiacutedios(modelo americano) seria de total afronto agrave Constituiccedilatildeo vigente pois
entregaria totalmente o jus puniendi nas matildeos de particulares e o ldquocaputrdquo do art 144
da CF afirma Eacute dever do Estado zelar pela seguranccedila Jaacute no modelo francecircs que
faz uma parceria entre a iniciativa privada e o Estado na administraccedilatildeo dos
presiacutedios seria o mais aceito em nosso ordenamento juriacutedico pois o Estado natildeo
deixaria de participar na puniccedilatildeo dos encarcerados
No Paranaacute e Cearaacute existe um modelo terceirizador de administraccedilatildeo
prisional na qual o administrador privado juntamente com o Estado faz parceria
administrativa inovando o sistema prisional De outro lado com a privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios o Estado seria desafogado tendo em vista que o sistema eacute falho natildeo
possui condiccedilotildees financeiras para arcar com novas construccedilotildees e ainda encontra-se
superlotado
Assim sendo a iniciativa privada seria responsaacutevel por arcar com as
despesas e por consequecircnciamelhoraria a humanizaccedilatildeo dos presos o que ajudaria
muito na ressocializaccedilatildeo e no aumento da autoestima e ainda a reintegraccedilatildeo no
mercado de trabalho pois a iniciativa privada iria proporcionar oportunidades de
trabalho
O que tende a preocupar este modelo de gerenciamento privado eacute que
geraria alto lucro para as induacutestrias aleacutem de uma grande exploraccedilatildeo do trabalho dos
detentos pois sua matildeo de obra seria mais barata aleacutem de que com o grande
crescimento da seguranccedila privada em nosso paiacutes o preso poderia ser visto como
produto ou seja quanto mais presos mais lucro
14
Sendo assim eacute de grande importacircncia fazer uma pesquisa mais
aprofundada sobre o sistema de privatizaccedilatildeo dos presiacutedios verificando se realmente
poderaacute trazer melhoras para a ressocializaccedilatildeo dos presos e diminuiccedilatildeo da
criminalidade que abrange o nosso paiacutes
15
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO
A lei de execuccedilatildeo penal aprovada pelo Congresso em 1984 acabou
defasada tendo em vista o total descumprimento e omissatildeo dos poderes
constituiacutedos na alocaccedilatildeo de recursos financeiros humanos e materiais necessaacuterios
a sua implementaccedilatildeoNa Constituiccedilatildeo de 1988 os direitos e garantias fundamentais
foram consagrados de forma inovadora Dentre os direitos e garantias fundamentais
a Constituiccedilatildeo proiacutebe as penas crueacuteis em seu art5ordmXLVIICF88
art5ordmXLVII - Natildeo haveraacute pena
a)de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art88XIX
b)de caraacuteter perpeacutetuo
c)de trabalhos forccedilados
d) de banimento
e) crueacuteis
E garante ao cidadatildeo preso o respeito agrave integridade fiacutesica e moral atraveacutes
do art5ordmXLIX CF88 ldquoArt5ordmXLIXeacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade
fiacutesica e moralrdquoEstes dispositivos seratildeo abordados de forma especial partindo-se do
pressuposto de que os direitos fundamentais satildeo os direitos humanos previstos na
Carta Magna em leis e tratados internacionais ou que decorrem da aplicaccedilatildeo
destes que possuem eficaacutecia e aplicabilidade imediata e estatildeo baseados no
princiacutepio da dignidade humana
Nos dias atuais busca-se incessantemente o reconhecimento dos direitos
fundamentais mas a crise vivenciada pelo Estado natildeo se permite cumprir com os
objetivos esculpidos na Constituiccedilatildeo de 1988 Isso reflete em todas as aacutereas sociais
e com grande ecircnfase no acircmbito do Direito Penal pois o Estado passou a utilizar das
penas e das prisotildees como principal forma de controle e manutenccedilatildeo da ordem
esquecendo-se que seu objeto e limite de atuaccedilatildeo estatildeo estabelecidos e vinculados
aos direitos fundamentais
Tratando-se desse sistema penitenciaacuterio defasado sabemos que poucos
dos direitos ou princiacutepios citados satildeo respeitados Grecianny Carvalho Cordeiro
(2006p28) ensina que
16
A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
17
privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
18
4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
19
5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
20
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
22
deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
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havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
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sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
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pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
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Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
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O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
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9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
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forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
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Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
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92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
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oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
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de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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Dedico este trabalho primeiramente a Deus
por ter me dado agrave vida e por me daacute agrave
oportunidade de viver com sauacutede A minha
famiacutelia que sempre esteve ao meu lado
acreditando em mim
AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me dado graccedila proporcionando forccedilas e conhecimento
para a concretizaccedilatildeo deste trabalho
A minha famiacutelia em especial a minha esposa Eneuda a minha matildee
Neuzaas minhas irmatildes Raquel e Leandra ao meu pai e aos meus filhos Gabriel e
Miguelpois sem o apoio e confianccedila deles isto natildeo seria possiacutevel
Aos colegas de graduaccedilatildeo pelo conviacutevio enriquecedor pela parceria e
pela grandiosa amizade conquistada
Ao meu querido professor Peacutericles Chaves por ter me ajudado no
momento que mais precisei pela paciecircncia na orientaccedilatildeo e incentivo que tornaram
possiacutevel a conclusatildeo desta monografia
A todos os professores que contribuiacuteram para a minha formaccedilatildeo
Aos meus companheiros de trabalho pelo apoio e atenccedilatildeo
A todos meu muito obrigado por tudo
ldquoCompetecircncia para servir agrave humanidade deveria ser sem duacutevida o grande objetivo e resultado de todos os estudosrdquo
Bejamim Franklin
RESUMO
O atual estudo objetiva realizar uma anaacutelise do sistema penitenciaacuterio brasileiro valendo-se da objetivaccedilatildeo da pena privativa de liberdade A atual situaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro A falecircncia do sistema prisional eacute que faz ganhar espaccedilo a ideia de passar o gerenciamento dos presiacutedios puacuteblicos agrave iniciativa privada desde sempre pertencente ao Estado Os modelos adotados pelos paiacuteses globalizados Fazemos uma retrospectiva histoacuterica no direito de punir chegando ateacute os tempos modernos Analisamos tambeacutem as vantagens e desvantagens deste novo tipo de gerenciamento bem como a sua constitucionalidade Mostramos que os resultados natildeo satildeo satisfatoacuteriosquanto ao custo e a eficiecircncia
Palavras-chavesistema penitenciaacuterio Direito de punir Pena privativa de liberdade Terceirizaccedilatildeo Execuccedilatildeo penal
SUMAacuteRIO
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA 9
2 JUSTIFICATIVA 13
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO 15
4 OBJETIVOS 18
5 HIPOacuteTESES 19
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS 20
7 INTRODUCcedilAtildeO 21
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO 25
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo 25
82 Sistemas penitenciaacuterios 29
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico 30
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano 30
823 O sistema penitenciaacuterio progressivo 31
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade 33
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO 35
91 Origem e evoluccedilatildeo 35
92 A privatizaccedilatildeo na atualidade 37
93 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios 38
94 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico 39
10 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO 42
101 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo 42
102 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo 45
CONCLUSAtildeO 50
REFEREcircNCIAS 51
9
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA
O maior problema da questatildeo de privatizaccedilatildeo do sistema prisional
brasileiro eacute o fato de este novo modelo vir a transferir o bdquojus puniendi‟ ou seja o
direito que tem o Estado de aplicar a pena para as matildeos de particulares Daiacute natildeo se
pode deixar a anaacutelise em questatildeo sem fazer uma raacutepida retrospectiva na evoluccedilatildeo
do direito de punir A histoacuteria do jus puniendi eacute tatildeo antiga quanto as primeiras
civilizaccedilotildees tendo em vista que desde o comeccedilo dos tempos o homem sempre se
preocupou em punir aqueles que violavam as normas sociais
Nos periacuteodos remotos da humanidade conhecidos especificamente
como fase da vinganccedila privada na ocorrecircncia de alguma conduta considerada
delituosa natildeo havia Estado para impor uma determinada puniccedilatildeo ao infrator A
viacutetima era quem deveria punir o agente delituoso tendo em vista que nesta eacutepoca
aquele era considerado legiacutetimo ao agir ese preciso inclusive com o amparo de
sua famiacutelia e ateacute de seu grupo Entre as penas impostas havia o banimento caso o
agressor fosse membro da mesma tribo e se fosse membro de grupos diferentes
poderia resultar em um conflito entre as tribos
Percebe-se que neste tempo o direito de punir era entatildeo exercido pelo
particular com o intuito de vingar-se do mal cometido pelo infrator sem nenhuma
proporccedilatildeo entre a accedilatildeo do criminoso e a reaccedilatildeo do ofendido visto que natildeo existia
nenhum poder central para administraacute-lo Natildeo existia qualquer preocupaccedilatildeo com a
causa do delito mas tatildeo somente com a puniccedilatildeo de seu autor A vinganccedila privada
constituiacutea uma reaccedilatildeo natural e instintiva por isso foi apenas uma realidade
socioloacutegica natildeo uma instituiccedilatildeo juriacutedica
Duas grandes regulamentaccedilotildees com o evolver dos tempos encontrou a
vinganccedila privada o taliatildeo e a composiccedilatildeo Com o surgimento da lei de Taliatildeo a
vinganccedila privada natildeo desapareceu poreacutem a penalidade imposta ao acusado
comeccedilou a tomar certa proporccedilatildeo com o mal por ele causado tendo em vista que se
mostrou imprescindiacutevel limitar os excessos que ocorriam para a conservaccedilatildeo do
grupo social e da proacutepria existecircncia individual Apesar de se dizer comumente pena
de Taliatildeo natildeo se tratava propriamente de uma penamas de um instrumento
moderador da pena Consistia em aplicar no delinquente ou ofensor o mal que ele
causou ao ofendido na mesma proporccedilatildeo
Mais tarde na fase da vinganccedila direta em que se dizia que o
10
cometimento de um crime importava numa ofensa direta aos deuses a religiatildeo
atinge influecircncia decisiva na vida dos povos antigos A repressatildeo ao delinquente
tinha por fim aplacar a ira da divindade ofendida pelos crimes bem como castigar o
infrator A administraccedilatildeo da sanccedilatildeo penal ficava a cargo dos sacerdotes que como
mandataacuterios dos deuses encarregavam-se da justiccedila Aplicavam-se penas crueacuteis
severas desumanas
A ldquoviscorpolisrdquo era usada como meio de intimidaccedilatildeo No antigo oriente
pode-se afirmar que a religiatildeo confundia-se com o direito e assim os preceitos de
cunho meramente religioso ou moral tornavam-se leis em vigor Legislaccedilatildeo tiacutepica
dessa fase eacute o coacutedigo de Manu mas este princiacutepio foi adotado na Babilocircnia no
Egito na China na Peacutersia e pelo povo de Israel continuando assim o direito de
punir nas matildeos de particulares
Quando surgiu o Estado o bdquojus puniendi‟ passou a ser exercido
exclusivamente por este sem perder entatildeo o intuito de vinganccedila pelo delito como
acontecia antigamente Atualmente eacute sabido que o direitodever de punir bem como
a execuccedilatildeo penal continua pertencente ao ente estatal que materializa o desejo
social de restabelecer a ordem transgredida conforme explicita a lei de execuccedilotildees
penais em seu art10 ao afirmar que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o seu retorno agrave sociedade
Com o passar do tempo o direito penal vem se tornando mais
humanitaacuterio deixando a pena de ser vista como uma vinganccedila tendo como objetivo
principal a readaptaccedilatildeo do preso Foi a partir da Revoluccedilatildeo Francesa que se buscou
a humanizaccedilatildeo das penas atraveacutes da pena de prisatildeo como uma resposta do
Estado para aquele que cometeu o crime sendo sempre proporcional ao delito
cometido adquirindo assim a pena um caraacuteter utilitaacuterio
Foi no fim do seacuteculo XVIII e iniacutecio do seacuteculo XIX que surgiram inuacutemeras
escolas penais que buscavam o verdadeiro fundamento do direito de punir Vale
destacar a escola claacutessica em que trecircs grandes jurisconsultos podem ser
considerados como seus iniciadores Gian Domenico na Itaacutelia Jeremias Bentham
na Inglaterra e Anselmo Von Feuerbach na Alemanha Esta escola que se insurgia
contra o absolutismo contra o arbiacutetrio e via a pena com um fim retributivo e a escola
positivista que encontrava o fundamento do direito de punir na necessidade do
Estado garantir a defesa social com a prevenccedilatildeo do crime
A ideia de privatizar o sistema carceraacuterio jaacute foi antevista por Jeremias
11
Bentham em 1761 que idealizou a estrutura panoacuteptica estrutura prisional que
consagrava o princiacutepio da inspeccedilatildeo total em que os prisioneiros e os agentes
prisionais estariam sob constante e rigorosa vigiacutelia
No Brasil se vecirc um sistema prisional muito defasado tendo em vista as
maacutes condiccedilotildees dos presos como por exemplo a superlotaccedilatildeo falta de assistecircncia
meacutedica falta de alimentaccedilatildeo falta de espaccedilos fiacutesicos etc O condenado sofre muitas
vezes castigos dos companheiros detidos e ateacute mesmo dos agentes O sistema eacute
tatildeo falho que com pouca fiscalizaccedilatildeo efetiva os condenados conseguem comandar
de dentro das penitenciaacuterias o traacutefico de drogas chacinas e outros delitos de
altiacutessima gravidade natildeo cessando o oferecimento de perigo agrave sociedade
Como observa Gracianny Carvalho Cordeiro (2006p 27) os fins da pena
de prisatildeo tecircm-se mostrado contestaacuteveis do ponto de vista da
eficaacuteciaexcepcionando-se apenas o fim retributivo tendo em vista que a pena
privativa de liberdade continua sendo um grande castigo marcado pelos excessos e
abusos aos mais elementares direitos dos presos A pena de prisatildeo vem falhando
nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade na promoccedilatildeo da
ressocializaccedilatildeo do preso bem como na reduccedilatildeo dos iacutendices de reincidecircncia
Com esta defasagem do sistema prisional brasileiro em que os direitos
fundamentais do preso satildeo desrespeitados surge entatildeo acomprovaccedilatildeo da
incapacidade do Estado brasileiro em administrar o sistema prisional por isso vem
ganhando espaccedilo o discurso a favor da privatizaccedilatildeo do nosso sistema inicialmente
levado a efeito pelos Estados Unidos da Ameacuterica Esta tendecircncia privatizadora deve
ser tambeacutem compreendida como reflexo do novo modelo de Estado capitalista
globalizado em que o ente estatal vem perdendo a cada dia o seu caraacuteter
intervencionista inclusive nas aacutereas sociais
O Brasil natildeo resistindo ao sistema americano de privatizar o sistema
penitenciaacuterio vem de forma tiacutemida adotando um novo modelo de gerenciamento
carceraacuterio atraveacutes da terceirizaccedilatildeo de alguns serviccedilos mediante a iniciativa privada
Em 1999 iniciou-se este processo com a inauguraccedilatildeo da Penitenciaacuteria Industrial de
Guarapuava no estado do Paranaacute seguida pela instalaccedilatildeo da Penitenciaacuteria
Industrial do Cariri no municiacutepio de Juazeiro do Norte em 2001 no estado do
Cearaacute
A partir do exposto buscar-se-aacute desenvolver a pesquisa monograacutefica que
responda aos seguintes questionamentos
12
1 a privatizaccedilatildeo das prisotildees eacute constitucionalmente vaacutelida no Brasil
2 quais as vantagens da privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio no Brasil
3 com a privatizaccedilatildeo das penitenciaacuterias poderaacute se aumentar o nuacutemero de
presos
13
2 JUSTIFICATIVA
O sistema prisional encontra-se em estado precaacuterio tendo em vista os
presiacutedios superlotados o tratamento desumano e degradante que sofrem os presos
Satildeo 230 mil presos em aproximadamente 100mil vagas isto em 2002 Esse deacuteficit
de vagas eacute um desafio para o nosso governo sem falar do valor exorbitante que
custa uma penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima (aproximadamente 15 milhotildees de
reais) Em 2001o Fundo Nacional Penitenciaacuterio (FUNPEN) repassou para os
estados R$ 253 milhotildees dinheiro destinado agrave reforma e construccedilatildeo de presiacutedios ou
seja o governo brasileiro natildeo tem dinheiro em seus cofres para tal coisa
O sistema estaacute debilitado aproximadamente 30 dos presos encontram-
se com o viacuterus HIV sem falar da tuberculose A privatizaccedilatildeo total dos
presiacutedios(modelo americano) seria de total afronto agrave Constituiccedilatildeo vigente pois
entregaria totalmente o jus puniendi nas matildeos de particulares e o ldquocaputrdquo do art 144
da CF afirma Eacute dever do Estado zelar pela seguranccedila Jaacute no modelo francecircs que
faz uma parceria entre a iniciativa privada e o Estado na administraccedilatildeo dos
presiacutedios seria o mais aceito em nosso ordenamento juriacutedico pois o Estado natildeo
deixaria de participar na puniccedilatildeo dos encarcerados
No Paranaacute e Cearaacute existe um modelo terceirizador de administraccedilatildeo
prisional na qual o administrador privado juntamente com o Estado faz parceria
administrativa inovando o sistema prisional De outro lado com a privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios o Estado seria desafogado tendo em vista que o sistema eacute falho natildeo
possui condiccedilotildees financeiras para arcar com novas construccedilotildees e ainda encontra-se
superlotado
Assim sendo a iniciativa privada seria responsaacutevel por arcar com as
despesas e por consequecircnciamelhoraria a humanizaccedilatildeo dos presos o que ajudaria
muito na ressocializaccedilatildeo e no aumento da autoestima e ainda a reintegraccedilatildeo no
mercado de trabalho pois a iniciativa privada iria proporcionar oportunidades de
trabalho
O que tende a preocupar este modelo de gerenciamento privado eacute que
geraria alto lucro para as induacutestrias aleacutem de uma grande exploraccedilatildeo do trabalho dos
detentos pois sua matildeo de obra seria mais barata aleacutem de que com o grande
crescimento da seguranccedila privada em nosso paiacutes o preso poderia ser visto como
produto ou seja quanto mais presos mais lucro
14
Sendo assim eacute de grande importacircncia fazer uma pesquisa mais
aprofundada sobre o sistema de privatizaccedilatildeo dos presiacutedios verificando se realmente
poderaacute trazer melhoras para a ressocializaccedilatildeo dos presos e diminuiccedilatildeo da
criminalidade que abrange o nosso paiacutes
15
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO
A lei de execuccedilatildeo penal aprovada pelo Congresso em 1984 acabou
defasada tendo em vista o total descumprimento e omissatildeo dos poderes
constituiacutedos na alocaccedilatildeo de recursos financeiros humanos e materiais necessaacuterios
a sua implementaccedilatildeoNa Constituiccedilatildeo de 1988 os direitos e garantias fundamentais
foram consagrados de forma inovadora Dentre os direitos e garantias fundamentais
a Constituiccedilatildeo proiacutebe as penas crueacuteis em seu art5ordmXLVIICF88
art5ordmXLVII - Natildeo haveraacute pena
a)de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art88XIX
b)de caraacuteter perpeacutetuo
c)de trabalhos forccedilados
d) de banimento
e) crueacuteis
E garante ao cidadatildeo preso o respeito agrave integridade fiacutesica e moral atraveacutes
do art5ordmXLIX CF88 ldquoArt5ordmXLIXeacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade
fiacutesica e moralrdquoEstes dispositivos seratildeo abordados de forma especial partindo-se do
pressuposto de que os direitos fundamentais satildeo os direitos humanos previstos na
Carta Magna em leis e tratados internacionais ou que decorrem da aplicaccedilatildeo
destes que possuem eficaacutecia e aplicabilidade imediata e estatildeo baseados no
princiacutepio da dignidade humana
Nos dias atuais busca-se incessantemente o reconhecimento dos direitos
fundamentais mas a crise vivenciada pelo Estado natildeo se permite cumprir com os
objetivos esculpidos na Constituiccedilatildeo de 1988 Isso reflete em todas as aacutereas sociais
e com grande ecircnfase no acircmbito do Direito Penal pois o Estado passou a utilizar das
penas e das prisotildees como principal forma de controle e manutenccedilatildeo da ordem
esquecendo-se que seu objeto e limite de atuaccedilatildeo estatildeo estabelecidos e vinculados
aos direitos fundamentais
Tratando-se desse sistema penitenciaacuterio defasado sabemos que poucos
dos direitos ou princiacutepios citados satildeo respeitados Grecianny Carvalho Cordeiro
(2006p28) ensina que
16
A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
17
privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
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4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
19
5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
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6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
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7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
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deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
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reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
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8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
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natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
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os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
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infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
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No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
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executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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AGRADECIMENTOS
A Deus por ter me dado graccedila proporcionando forccedilas e conhecimento
para a concretizaccedilatildeo deste trabalho
A minha famiacutelia em especial a minha esposa Eneuda a minha matildee
Neuzaas minhas irmatildes Raquel e Leandra ao meu pai e aos meus filhos Gabriel e
Miguelpois sem o apoio e confianccedila deles isto natildeo seria possiacutevel
Aos colegas de graduaccedilatildeo pelo conviacutevio enriquecedor pela parceria e
pela grandiosa amizade conquistada
Ao meu querido professor Peacutericles Chaves por ter me ajudado no
momento que mais precisei pela paciecircncia na orientaccedilatildeo e incentivo que tornaram
possiacutevel a conclusatildeo desta monografia
A todos os professores que contribuiacuteram para a minha formaccedilatildeo
Aos meus companheiros de trabalho pelo apoio e atenccedilatildeo
A todos meu muito obrigado por tudo
ldquoCompetecircncia para servir agrave humanidade deveria ser sem duacutevida o grande objetivo e resultado de todos os estudosrdquo
Bejamim Franklin
RESUMO
O atual estudo objetiva realizar uma anaacutelise do sistema penitenciaacuterio brasileiro valendo-se da objetivaccedilatildeo da pena privativa de liberdade A atual situaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro A falecircncia do sistema prisional eacute que faz ganhar espaccedilo a ideia de passar o gerenciamento dos presiacutedios puacuteblicos agrave iniciativa privada desde sempre pertencente ao Estado Os modelos adotados pelos paiacuteses globalizados Fazemos uma retrospectiva histoacuterica no direito de punir chegando ateacute os tempos modernos Analisamos tambeacutem as vantagens e desvantagens deste novo tipo de gerenciamento bem como a sua constitucionalidade Mostramos que os resultados natildeo satildeo satisfatoacuteriosquanto ao custo e a eficiecircncia
Palavras-chavesistema penitenciaacuterio Direito de punir Pena privativa de liberdade Terceirizaccedilatildeo Execuccedilatildeo penal
SUMAacuteRIO
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA 9
2 JUSTIFICATIVA 13
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO 15
4 OBJETIVOS 18
5 HIPOacuteTESES 19
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS 20
7 INTRODUCcedilAtildeO 21
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO 25
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo 25
82 Sistemas penitenciaacuterios 29
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico 30
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano 30
823 O sistema penitenciaacuterio progressivo 31
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade 33
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO 35
91 Origem e evoluccedilatildeo 35
92 A privatizaccedilatildeo na atualidade 37
93 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios 38
94 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico 39
10 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO 42
101 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo 42
102 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo 45
CONCLUSAtildeO 50
REFEREcircNCIAS 51
9
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA
O maior problema da questatildeo de privatizaccedilatildeo do sistema prisional
brasileiro eacute o fato de este novo modelo vir a transferir o bdquojus puniendi‟ ou seja o
direito que tem o Estado de aplicar a pena para as matildeos de particulares Daiacute natildeo se
pode deixar a anaacutelise em questatildeo sem fazer uma raacutepida retrospectiva na evoluccedilatildeo
do direito de punir A histoacuteria do jus puniendi eacute tatildeo antiga quanto as primeiras
civilizaccedilotildees tendo em vista que desde o comeccedilo dos tempos o homem sempre se
preocupou em punir aqueles que violavam as normas sociais
Nos periacuteodos remotos da humanidade conhecidos especificamente
como fase da vinganccedila privada na ocorrecircncia de alguma conduta considerada
delituosa natildeo havia Estado para impor uma determinada puniccedilatildeo ao infrator A
viacutetima era quem deveria punir o agente delituoso tendo em vista que nesta eacutepoca
aquele era considerado legiacutetimo ao agir ese preciso inclusive com o amparo de
sua famiacutelia e ateacute de seu grupo Entre as penas impostas havia o banimento caso o
agressor fosse membro da mesma tribo e se fosse membro de grupos diferentes
poderia resultar em um conflito entre as tribos
Percebe-se que neste tempo o direito de punir era entatildeo exercido pelo
particular com o intuito de vingar-se do mal cometido pelo infrator sem nenhuma
proporccedilatildeo entre a accedilatildeo do criminoso e a reaccedilatildeo do ofendido visto que natildeo existia
nenhum poder central para administraacute-lo Natildeo existia qualquer preocupaccedilatildeo com a
causa do delito mas tatildeo somente com a puniccedilatildeo de seu autor A vinganccedila privada
constituiacutea uma reaccedilatildeo natural e instintiva por isso foi apenas uma realidade
socioloacutegica natildeo uma instituiccedilatildeo juriacutedica
Duas grandes regulamentaccedilotildees com o evolver dos tempos encontrou a
vinganccedila privada o taliatildeo e a composiccedilatildeo Com o surgimento da lei de Taliatildeo a
vinganccedila privada natildeo desapareceu poreacutem a penalidade imposta ao acusado
comeccedilou a tomar certa proporccedilatildeo com o mal por ele causado tendo em vista que se
mostrou imprescindiacutevel limitar os excessos que ocorriam para a conservaccedilatildeo do
grupo social e da proacutepria existecircncia individual Apesar de se dizer comumente pena
de Taliatildeo natildeo se tratava propriamente de uma penamas de um instrumento
moderador da pena Consistia em aplicar no delinquente ou ofensor o mal que ele
causou ao ofendido na mesma proporccedilatildeo
Mais tarde na fase da vinganccedila direta em que se dizia que o
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cometimento de um crime importava numa ofensa direta aos deuses a religiatildeo
atinge influecircncia decisiva na vida dos povos antigos A repressatildeo ao delinquente
tinha por fim aplacar a ira da divindade ofendida pelos crimes bem como castigar o
infrator A administraccedilatildeo da sanccedilatildeo penal ficava a cargo dos sacerdotes que como
mandataacuterios dos deuses encarregavam-se da justiccedila Aplicavam-se penas crueacuteis
severas desumanas
A ldquoviscorpolisrdquo era usada como meio de intimidaccedilatildeo No antigo oriente
pode-se afirmar que a religiatildeo confundia-se com o direito e assim os preceitos de
cunho meramente religioso ou moral tornavam-se leis em vigor Legislaccedilatildeo tiacutepica
dessa fase eacute o coacutedigo de Manu mas este princiacutepio foi adotado na Babilocircnia no
Egito na China na Peacutersia e pelo povo de Israel continuando assim o direito de
punir nas matildeos de particulares
Quando surgiu o Estado o bdquojus puniendi‟ passou a ser exercido
exclusivamente por este sem perder entatildeo o intuito de vinganccedila pelo delito como
acontecia antigamente Atualmente eacute sabido que o direitodever de punir bem como
a execuccedilatildeo penal continua pertencente ao ente estatal que materializa o desejo
social de restabelecer a ordem transgredida conforme explicita a lei de execuccedilotildees
penais em seu art10 ao afirmar que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o seu retorno agrave sociedade
Com o passar do tempo o direito penal vem se tornando mais
humanitaacuterio deixando a pena de ser vista como uma vinganccedila tendo como objetivo
principal a readaptaccedilatildeo do preso Foi a partir da Revoluccedilatildeo Francesa que se buscou
a humanizaccedilatildeo das penas atraveacutes da pena de prisatildeo como uma resposta do
Estado para aquele que cometeu o crime sendo sempre proporcional ao delito
cometido adquirindo assim a pena um caraacuteter utilitaacuterio
Foi no fim do seacuteculo XVIII e iniacutecio do seacuteculo XIX que surgiram inuacutemeras
escolas penais que buscavam o verdadeiro fundamento do direito de punir Vale
destacar a escola claacutessica em que trecircs grandes jurisconsultos podem ser
considerados como seus iniciadores Gian Domenico na Itaacutelia Jeremias Bentham
na Inglaterra e Anselmo Von Feuerbach na Alemanha Esta escola que se insurgia
contra o absolutismo contra o arbiacutetrio e via a pena com um fim retributivo e a escola
positivista que encontrava o fundamento do direito de punir na necessidade do
Estado garantir a defesa social com a prevenccedilatildeo do crime
A ideia de privatizar o sistema carceraacuterio jaacute foi antevista por Jeremias
11
Bentham em 1761 que idealizou a estrutura panoacuteptica estrutura prisional que
consagrava o princiacutepio da inspeccedilatildeo total em que os prisioneiros e os agentes
prisionais estariam sob constante e rigorosa vigiacutelia
No Brasil se vecirc um sistema prisional muito defasado tendo em vista as
maacutes condiccedilotildees dos presos como por exemplo a superlotaccedilatildeo falta de assistecircncia
meacutedica falta de alimentaccedilatildeo falta de espaccedilos fiacutesicos etc O condenado sofre muitas
vezes castigos dos companheiros detidos e ateacute mesmo dos agentes O sistema eacute
tatildeo falho que com pouca fiscalizaccedilatildeo efetiva os condenados conseguem comandar
de dentro das penitenciaacuterias o traacutefico de drogas chacinas e outros delitos de
altiacutessima gravidade natildeo cessando o oferecimento de perigo agrave sociedade
Como observa Gracianny Carvalho Cordeiro (2006p 27) os fins da pena
de prisatildeo tecircm-se mostrado contestaacuteveis do ponto de vista da
eficaacuteciaexcepcionando-se apenas o fim retributivo tendo em vista que a pena
privativa de liberdade continua sendo um grande castigo marcado pelos excessos e
abusos aos mais elementares direitos dos presos A pena de prisatildeo vem falhando
nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade na promoccedilatildeo da
ressocializaccedilatildeo do preso bem como na reduccedilatildeo dos iacutendices de reincidecircncia
Com esta defasagem do sistema prisional brasileiro em que os direitos
fundamentais do preso satildeo desrespeitados surge entatildeo acomprovaccedilatildeo da
incapacidade do Estado brasileiro em administrar o sistema prisional por isso vem
ganhando espaccedilo o discurso a favor da privatizaccedilatildeo do nosso sistema inicialmente
levado a efeito pelos Estados Unidos da Ameacuterica Esta tendecircncia privatizadora deve
ser tambeacutem compreendida como reflexo do novo modelo de Estado capitalista
globalizado em que o ente estatal vem perdendo a cada dia o seu caraacuteter
intervencionista inclusive nas aacutereas sociais
O Brasil natildeo resistindo ao sistema americano de privatizar o sistema
penitenciaacuterio vem de forma tiacutemida adotando um novo modelo de gerenciamento
carceraacuterio atraveacutes da terceirizaccedilatildeo de alguns serviccedilos mediante a iniciativa privada
Em 1999 iniciou-se este processo com a inauguraccedilatildeo da Penitenciaacuteria Industrial de
Guarapuava no estado do Paranaacute seguida pela instalaccedilatildeo da Penitenciaacuteria
Industrial do Cariri no municiacutepio de Juazeiro do Norte em 2001 no estado do
Cearaacute
A partir do exposto buscar-se-aacute desenvolver a pesquisa monograacutefica que
responda aos seguintes questionamentos
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1 a privatizaccedilatildeo das prisotildees eacute constitucionalmente vaacutelida no Brasil
2 quais as vantagens da privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio no Brasil
3 com a privatizaccedilatildeo das penitenciaacuterias poderaacute se aumentar o nuacutemero de
presos
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2 JUSTIFICATIVA
O sistema prisional encontra-se em estado precaacuterio tendo em vista os
presiacutedios superlotados o tratamento desumano e degradante que sofrem os presos
Satildeo 230 mil presos em aproximadamente 100mil vagas isto em 2002 Esse deacuteficit
de vagas eacute um desafio para o nosso governo sem falar do valor exorbitante que
custa uma penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima (aproximadamente 15 milhotildees de
reais) Em 2001o Fundo Nacional Penitenciaacuterio (FUNPEN) repassou para os
estados R$ 253 milhotildees dinheiro destinado agrave reforma e construccedilatildeo de presiacutedios ou
seja o governo brasileiro natildeo tem dinheiro em seus cofres para tal coisa
O sistema estaacute debilitado aproximadamente 30 dos presos encontram-
se com o viacuterus HIV sem falar da tuberculose A privatizaccedilatildeo total dos
presiacutedios(modelo americano) seria de total afronto agrave Constituiccedilatildeo vigente pois
entregaria totalmente o jus puniendi nas matildeos de particulares e o ldquocaputrdquo do art 144
da CF afirma Eacute dever do Estado zelar pela seguranccedila Jaacute no modelo francecircs que
faz uma parceria entre a iniciativa privada e o Estado na administraccedilatildeo dos
presiacutedios seria o mais aceito em nosso ordenamento juriacutedico pois o Estado natildeo
deixaria de participar na puniccedilatildeo dos encarcerados
No Paranaacute e Cearaacute existe um modelo terceirizador de administraccedilatildeo
prisional na qual o administrador privado juntamente com o Estado faz parceria
administrativa inovando o sistema prisional De outro lado com a privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios o Estado seria desafogado tendo em vista que o sistema eacute falho natildeo
possui condiccedilotildees financeiras para arcar com novas construccedilotildees e ainda encontra-se
superlotado
Assim sendo a iniciativa privada seria responsaacutevel por arcar com as
despesas e por consequecircnciamelhoraria a humanizaccedilatildeo dos presos o que ajudaria
muito na ressocializaccedilatildeo e no aumento da autoestima e ainda a reintegraccedilatildeo no
mercado de trabalho pois a iniciativa privada iria proporcionar oportunidades de
trabalho
O que tende a preocupar este modelo de gerenciamento privado eacute que
geraria alto lucro para as induacutestrias aleacutem de uma grande exploraccedilatildeo do trabalho dos
detentos pois sua matildeo de obra seria mais barata aleacutem de que com o grande
crescimento da seguranccedila privada em nosso paiacutes o preso poderia ser visto como
produto ou seja quanto mais presos mais lucro
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Sendo assim eacute de grande importacircncia fazer uma pesquisa mais
aprofundada sobre o sistema de privatizaccedilatildeo dos presiacutedios verificando se realmente
poderaacute trazer melhoras para a ressocializaccedilatildeo dos presos e diminuiccedilatildeo da
criminalidade que abrange o nosso paiacutes
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3 REFERENCIAL TEOacuteRICO
A lei de execuccedilatildeo penal aprovada pelo Congresso em 1984 acabou
defasada tendo em vista o total descumprimento e omissatildeo dos poderes
constituiacutedos na alocaccedilatildeo de recursos financeiros humanos e materiais necessaacuterios
a sua implementaccedilatildeoNa Constituiccedilatildeo de 1988 os direitos e garantias fundamentais
foram consagrados de forma inovadora Dentre os direitos e garantias fundamentais
a Constituiccedilatildeo proiacutebe as penas crueacuteis em seu art5ordmXLVIICF88
art5ordmXLVII - Natildeo haveraacute pena
a)de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art88XIX
b)de caraacuteter perpeacutetuo
c)de trabalhos forccedilados
d) de banimento
e) crueacuteis
E garante ao cidadatildeo preso o respeito agrave integridade fiacutesica e moral atraveacutes
do art5ordmXLIX CF88 ldquoArt5ordmXLIXeacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade
fiacutesica e moralrdquoEstes dispositivos seratildeo abordados de forma especial partindo-se do
pressuposto de que os direitos fundamentais satildeo os direitos humanos previstos na
Carta Magna em leis e tratados internacionais ou que decorrem da aplicaccedilatildeo
destes que possuem eficaacutecia e aplicabilidade imediata e estatildeo baseados no
princiacutepio da dignidade humana
Nos dias atuais busca-se incessantemente o reconhecimento dos direitos
fundamentais mas a crise vivenciada pelo Estado natildeo se permite cumprir com os
objetivos esculpidos na Constituiccedilatildeo de 1988 Isso reflete em todas as aacutereas sociais
e com grande ecircnfase no acircmbito do Direito Penal pois o Estado passou a utilizar das
penas e das prisotildees como principal forma de controle e manutenccedilatildeo da ordem
esquecendo-se que seu objeto e limite de atuaccedilatildeo estatildeo estabelecidos e vinculados
aos direitos fundamentais
Tratando-se desse sistema penitenciaacuterio defasado sabemos que poucos
dos direitos ou princiacutepios citados satildeo respeitados Grecianny Carvalho Cordeiro
(2006p28) ensina que
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A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
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privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
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4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
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5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
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6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
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7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
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deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
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reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
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Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
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8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
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natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
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sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
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Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
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O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
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9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
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forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
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Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
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de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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Bejamim Franklin
RESUMO
O atual estudo objetiva realizar uma anaacutelise do sistema penitenciaacuterio brasileiro valendo-se da objetivaccedilatildeo da pena privativa de liberdade A atual situaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro A falecircncia do sistema prisional eacute que faz ganhar espaccedilo a ideia de passar o gerenciamento dos presiacutedios puacuteblicos agrave iniciativa privada desde sempre pertencente ao Estado Os modelos adotados pelos paiacuteses globalizados Fazemos uma retrospectiva histoacuterica no direito de punir chegando ateacute os tempos modernos Analisamos tambeacutem as vantagens e desvantagens deste novo tipo de gerenciamento bem como a sua constitucionalidade Mostramos que os resultados natildeo satildeo satisfatoacuteriosquanto ao custo e a eficiecircncia
Palavras-chavesistema penitenciaacuterio Direito de punir Pena privativa de liberdade Terceirizaccedilatildeo Execuccedilatildeo penal
SUMAacuteRIO
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA 9
2 JUSTIFICATIVA 13
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO 15
4 OBJETIVOS 18
5 HIPOacuteTESES 19
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS 20
7 INTRODUCcedilAtildeO 21
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO 25
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo 25
82 Sistemas penitenciaacuterios 29
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico 30
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano 30
823 O sistema penitenciaacuterio progressivo 31
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade 33
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO 35
91 Origem e evoluccedilatildeo 35
92 A privatizaccedilatildeo na atualidade 37
93 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios 38
94 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico 39
10 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO 42
101 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo 42
102 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo 45
CONCLUSAtildeO 50
REFEREcircNCIAS 51
9
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA
O maior problema da questatildeo de privatizaccedilatildeo do sistema prisional
brasileiro eacute o fato de este novo modelo vir a transferir o bdquojus puniendi‟ ou seja o
direito que tem o Estado de aplicar a pena para as matildeos de particulares Daiacute natildeo se
pode deixar a anaacutelise em questatildeo sem fazer uma raacutepida retrospectiva na evoluccedilatildeo
do direito de punir A histoacuteria do jus puniendi eacute tatildeo antiga quanto as primeiras
civilizaccedilotildees tendo em vista que desde o comeccedilo dos tempos o homem sempre se
preocupou em punir aqueles que violavam as normas sociais
Nos periacuteodos remotos da humanidade conhecidos especificamente
como fase da vinganccedila privada na ocorrecircncia de alguma conduta considerada
delituosa natildeo havia Estado para impor uma determinada puniccedilatildeo ao infrator A
viacutetima era quem deveria punir o agente delituoso tendo em vista que nesta eacutepoca
aquele era considerado legiacutetimo ao agir ese preciso inclusive com o amparo de
sua famiacutelia e ateacute de seu grupo Entre as penas impostas havia o banimento caso o
agressor fosse membro da mesma tribo e se fosse membro de grupos diferentes
poderia resultar em um conflito entre as tribos
Percebe-se que neste tempo o direito de punir era entatildeo exercido pelo
particular com o intuito de vingar-se do mal cometido pelo infrator sem nenhuma
proporccedilatildeo entre a accedilatildeo do criminoso e a reaccedilatildeo do ofendido visto que natildeo existia
nenhum poder central para administraacute-lo Natildeo existia qualquer preocupaccedilatildeo com a
causa do delito mas tatildeo somente com a puniccedilatildeo de seu autor A vinganccedila privada
constituiacutea uma reaccedilatildeo natural e instintiva por isso foi apenas uma realidade
socioloacutegica natildeo uma instituiccedilatildeo juriacutedica
Duas grandes regulamentaccedilotildees com o evolver dos tempos encontrou a
vinganccedila privada o taliatildeo e a composiccedilatildeo Com o surgimento da lei de Taliatildeo a
vinganccedila privada natildeo desapareceu poreacutem a penalidade imposta ao acusado
comeccedilou a tomar certa proporccedilatildeo com o mal por ele causado tendo em vista que se
mostrou imprescindiacutevel limitar os excessos que ocorriam para a conservaccedilatildeo do
grupo social e da proacutepria existecircncia individual Apesar de se dizer comumente pena
de Taliatildeo natildeo se tratava propriamente de uma penamas de um instrumento
moderador da pena Consistia em aplicar no delinquente ou ofensor o mal que ele
causou ao ofendido na mesma proporccedilatildeo
Mais tarde na fase da vinganccedila direta em que se dizia que o
10
cometimento de um crime importava numa ofensa direta aos deuses a religiatildeo
atinge influecircncia decisiva na vida dos povos antigos A repressatildeo ao delinquente
tinha por fim aplacar a ira da divindade ofendida pelos crimes bem como castigar o
infrator A administraccedilatildeo da sanccedilatildeo penal ficava a cargo dos sacerdotes que como
mandataacuterios dos deuses encarregavam-se da justiccedila Aplicavam-se penas crueacuteis
severas desumanas
A ldquoviscorpolisrdquo era usada como meio de intimidaccedilatildeo No antigo oriente
pode-se afirmar que a religiatildeo confundia-se com o direito e assim os preceitos de
cunho meramente religioso ou moral tornavam-se leis em vigor Legislaccedilatildeo tiacutepica
dessa fase eacute o coacutedigo de Manu mas este princiacutepio foi adotado na Babilocircnia no
Egito na China na Peacutersia e pelo povo de Israel continuando assim o direito de
punir nas matildeos de particulares
Quando surgiu o Estado o bdquojus puniendi‟ passou a ser exercido
exclusivamente por este sem perder entatildeo o intuito de vinganccedila pelo delito como
acontecia antigamente Atualmente eacute sabido que o direitodever de punir bem como
a execuccedilatildeo penal continua pertencente ao ente estatal que materializa o desejo
social de restabelecer a ordem transgredida conforme explicita a lei de execuccedilotildees
penais em seu art10 ao afirmar que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o seu retorno agrave sociedade
Com o passar do tempo o direito penal vem se tornando mais
humanitaacuterio deixando a pena de ser vista como uma vinganccedila tendo como objetivo
principal a readaptaccedilatildeo do preso Foi a partir da Revoluccedilatildeo Francesa que se buscou
a humanizaccedilatildeo das penas atraveacutes da pena de prisatildeo como uma resposta do
Estado para aquele que cometeu o crime sendo sempre proporcional ao delito
cometido adquirindo assim a pena um caraacuteter utilitaacuterio
Foi no fim do seacuteculo XVIII e iniacutecio do seacuteculo XIX que surgiram inuacutemeras
escolas penais que buscavam o verdadeiro fundamento do direito de punir Vale
destacar a escola claacutessica em que trecircs grandes jurisconsultos podem ser
considerados como seus iniciadores Gian Domenico na Itaacutelia Jeremias Bentham
na Inglaterra e Anselmo Von Feuerbach na Alemanha Esta escola que se insurgia
contra o absolutismo contra o arbiacutetrio e via a pena com um fim retributivo e a escola
positivista que encontrava o fundamento do direito de punir na necessidade do
Estado garantir a defesa social com a prevenccedilatildeo do crime
A ideia de privatizar o sistema carceraacuterio jaacute foi antevista por Jeremias
11
Bentham em 1761 que idealizou a estrutura panoacuteptica estrutura prisional que
consagrava o princiacutepio da inspeccedilatildeo total em que os prisioneiros e os agentes
prisionais estariam sob constante e rigorosa vigiacutelia
No Brasil se vecirc um sistema prisional muito defasado tendo em vista as
maacutes condiccedilotildees dos presos como por exemplo a superlotaccedilatildeo falta de assistecircncia
meacutedica falta de alimentaccedilatildeo falta de espaccedilos fiacutesicos etc O condenado sofre muitas
vezes castigos dos companheiros detidos e ateacute mesmo dos agentes O sistema eacute
tatildeo falho que com pouca fiscalizaccedilatildeo efetiva os condenados conseguem comandar
de dentro das penitenciaacuterias o traacutefico de drogas chacinas e outros delitos de
altiacutessima gravidade natildeo cessando o oferecimento de perigo agrave sociedade
Como observa Gracianny Carvalho Cordeiro (2006p 27) os fins da pena
de prisatildeo tecircm-se mostrado contestaacuteveis do ponto de vista da
eficaacuteciaexcepcionando-se apenas o fim retributivo tendo em vista que a pena
privativa de liberdade continua sendo um grande castigo marcado pelos excessos e
abusos aos mais elementares direitos dos presos A pena de prisatildeo vem falhando
nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade na promoccedilatildeo da
ressocializaccedilatildeo do preso bem como na reduccedilatildeo dos iacutendices de reincidecircncia
Com esta defasagem do sistema prisional brasileiro em que os direitos
fundamentais do preso satildeo desrespeitados surge entatildeo acomprovaccedilatildeo da
incapacidade do Estado brasileiro em administrar o sistema prisional por isso vem
ganhando espaccedilo o discurso a favor da privatizaccedilatildeo do nosso sistema inicialmente
levado a efeito pelos Estados Unidos da Ameacuterica Esta tendecircncia privatizadora deve
ser tambeacutem compreendida como reflexo do novo modelo de Estado capitalista
globalizado em que o ente estatal vem perdendo a cada dia o seu caraacuteter
intervencionista inclusive nas aacutereas sociais
O Brasil natildeo resistindo ao sistema americano de privatizar o sistema
penitenciaacuterio vem de forma tiacutemida adotando um novo modelo de gerenciamento
carceraacuterio atraveacutes da terceirizaccedilatildeo de alguns serviccedilos mediante a iniciativa privada
Em 1999 iniciou-se este processo com a inauguraccedilatildeo da Penitenciaacuteria Industrial de
Guarapuava no estado do Paranaacute seguida pela instalaccedilatildeo da Penitenciaacuteria
Industrial do Cariri no municiacutepio de Juazeiro do Norte em 2001 no estado do
Cearaacute
A partir do exposto buscar-se-aacute desenvolver a pesquisa monograacutefica que
responda aos seguintes questionamentos
12
1 a privatizaccedilatildeo das prisotildees eacute constitucionalmente vaacutelida no Brasil
2 quais as vantagens da privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio no Brasil
3 com a privatizaccedilatildeo das penitenciaacuterias poderaacute se aumentar o nuacutemero de
presos
13
2 JUSTIFICATIVA
O sistema prisional encontra-se em estado precaacuterio tendo em vista os
presiacutedios superlotados o tratamento desumano e degradante que sofrem os presos
Satildeo 230 mil presos em aproximadamente 100mil vagas isto em 2002 Esse deacuteficit
de vagas eacute um desafio para o nosso governo sem falar do valor exorbitante que
custa uma penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima (aproximadamente 15 milhotildees de
reais) Em 2001o Fundo Nacional Penitenciaacuterio (FUNPEN) repassou para os
estados R$ 253 milhotildees dinheiro destinado agrave reforma e construccedilatildeo de presiacutedios ou
seja o governo brasileiro natildeo tem dinheiro em seus cofres para tal coisa
O sistema estaacute debilitado aproximadamente 30 dos presos encontram-
se com o viacuterus HIV sem falar da tuberculose A privatizaccedilatildeo total dos
presiacutedios(modelo americano) seria de total afronto agrave Constituiccedilatildeo vigente pois
entregaria totalmente o jus puniendi nas matildeos de particulares e o ldquocaputrdquo do art 144
da CF afirma Eacute dever do Estado zelar pela seguranccedila Jaacute no modelo francecircs que
faz uma parceria entre a iniciativa privada e o Estado na administraccedilatildeo dos
presiacutedios seria o mais aceito em nosso ordenamento juriacutedico pois o Estado natildeo
deixaria de participar na puniccedilatildeo dos encarcerados
No Paranaacute e Cearaacute existe um modelo terceirizador de administraccedilatildeo
prisional na qual o administrador privado juntamente com o Estado faz parceria
administrativa inovando o sistema prisional De outro lado com a privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios o Estado seria desafogado tendo em vista que o sistema eacute falho natildeo
possui condiccedilotildees financeiras para arcar com novas construccedilotildees e ainda encontra-se
superlotado
Assim sendo a iniciativa privada seria responsaacutevel por arcar com as
despesas e por consequecircnciamelhoraria a humanizaccedilatildeo dos presos o que ajudaria
muito na ressocializaccedilatildeo e no aumento da autoestima e ainda a reintegraccedilatildeo no
mercado de trabalho pois a iniciativa privada iria proporcionar oportunidades de
trabalho
O que tende a preocupar este modelo de gerenciamento privado eacute que
geraria alto lucro para as induacutestrias aleacutem de uma grande exploraccedilatildeo do trabalho dos
detentos pois sua matildeo de obra seria mais barata aleacutem de que com o grande
crescimento da seguranccedila privada em nosso paiacutes o preso poderia ser visto como
produto ou seja quanto mais presos mais lucro
14
Sendo assim eacute de grande importacircncia fazer uma pesquisa mais
aprofundada sobre o sistema de privatizaccedilatildeo dos presiacutedios verificando se realmente
poderaacute trazer melhoras para a ressocializaccedilatildeo dos presos e diminuiccedilatildeo da
criminalidade que abrange o nosso paiacutes
15
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO
A lei de execuccedilatildeo penal aprovada pelo Congresso em 1984 acabou
defasada tendo em vista o total descumprimento e omissatildeo dos poderes
constituiacutedos na alocaccedilatildeo de recursos financeiros humanos e materiais necessaacuterios
a sua implementaccedilatildeoNa Constituiccedilatildeo de 1988 os direitos e garantias fundamentais
foram consagrados de forma inovadora Dentre os direitos e garantias fundamentais
a Constituiccedilatildeo proiacutebe as penas crueacuteis em seu art5ordmXLVIICF88
art5ordmXLVII - Natildeo haveraacute pena
a)de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art88XIX
b)de caraacuteter perpeacutetuo
c)de trabalhos forccedilados
d) de banimento
e) crueacuteis
E garante ao cidadatildeo preso o respeito agrave integridade fiacutesica e moral atraveacutes
do art5ordmXLIX CF88 ldquoArt5ordmXLIXeacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade
fiacutesica e moralrdquoEstes dispositivos seratildeo abordados de forma especial partindo-se do
pressuposto de que os direitos fundamentais satildeo os direitos humanos previstos na
Carta Magna em leis e tratados internacionais ou que decorrem da aplicaccedilatildeo
destes que possuem eficaacutecia e aplicabilidade imediata e estatildeo baseados no
princiacutepio da dignidade humana
Nos dias atuais busca-se incessantemente o reconhecimento dos direitos
fundamentais mas a crise vivenciada pelo Estado natildeo se permite cumprir com os
objetivos esculpidos na Constituiccedilatildeo de 1988 Isso reflete em todas as aacutereas sociais
e com grande ecircnfase no acircmbito do Direito Penal pois o Estado passou a utilizar das
penas e das prisotildees como principal forma de controle e manutenccedilatildeo da ordem
esquecendo-se que seu objeto e limite de atuaccedilatildeo estatildeo estabelecidos e vinculados
aos direitos fundamentais
Tratando-se desse sistema penitenciaacuterio defasado sabemos que poucos
dos direitos ou princiacutepios citados satildeo respeitados Grecianny Carvalho Cordeiro
(2006p28) ensina que
16
A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
17
privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
18
4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
19
5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
20
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
22
deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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RESUMO
O atual estudo objetiva realizar uma anaacutelise do sistema penitenciaacuterio brasileiro valendo-se da objetivaccedilatildeo da pena privativa de liberdade A atual situaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro A falecircncia do sistema prisional eacute que faz ganhar espaccedilo a ideia de passar o gerenciamento dos presiacutedios puacuteblicos agrave iniciativa privada desde sempre pertencente ao Estado Os modelos adotados pelos paiacuteses globalizados Fazemos uma retrospectiva histoacuterica no direito de punir chegando ateacute os tempos modernos Analisamos tambeacutem as vantagens e desvantagens deste novo tipo de gerenciamento bem como a sua constitucionalidade Mostramos que os resultados natildeo satildeo satisfatoacuteriosquanto ao custo e a eficiecircncia
Palavras-chavesistema penitenciaacuterio Direito de punir Pena privativa de liberdade Terceirizaccedilatildeo Execuccedilatildeo penal
SUMAacuteRIO
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA 9
2 JUSTIFICATIVA 13
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO 15
4 OBJETIVOS 18
5 HIPOacuteTESES 19
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS 20
7 INTRODUCcedilAtildeO 21
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO 25
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo 25
82 Sistemas penitenciaacuterios 29
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico 30
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano 30
823 O sistema penitenciaacuterio progressivo 31
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade 33
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO 35
91 Origem e evoluccedilatildeo 35
92 A privatizaccedilatildeo na atualidade 37
93 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios 38
94 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico 39
10 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO 42
101 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo 42
102 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo 45
CONCLUSAtildeO 50
REFEREcircNCIAS 51
9
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA
O maior problema da questatildeo de privatizaccedilatildeo do sistema prisional
brasileiro eacute o fato de este novo modelo vir a transferir o bdquojus puniendi‟ ou seja o
direito que tem o Estado de aplicar a pena para as matildeos de particulares Daiacute natildeo se
pode deixar a anaacutelise em questatildeo sem fazer uma raacutepida retrospectiva na evoluccedilatildeo
do direito de punir A histoacuteria do jus puniendi eacute tatildeo antiga quanto as primeiras
civilizaccedilotildees tendo em vista que desde o comeccedilo dos tempos o homem sempre se
preocupou em punir aqueles que violavam as normas sociais
Nos periacuteodos remotos da humanidade conhecidos especificamente
como fase da vinganccedila privada na ocorrecircncia de alguma conduta considerada
delituosa natildeo havia Estado para impor uma determinada puniccedilatildeo ao infrator A
viacutetima era quem deveria punir o agente delituoso tendo em vista que nesta eacutepoca
aquele era considerado legiacutetimo ao agir ese preciso inclusive com o amparo de
sua famiacutelia e ateacute de seu grupo Entre as penas impostas havia o banimento caso o
agressor fosse membro da mesma tribo e se fosse membro de grupos diferentes
poderia resultar em um conflito entre as tribos
Percebe-se que neste tempo o direito de punir era entatildeo exercido pelo
particular com o intuito de vingar-se do mal cometido pelo infrator sem nenhuma
proporccedilatildeo entre a accedilatildeo do criminoso e a reaccedilatildeo do ofendido visto que natildeo existia
nenhum poder central para administraacute-lo Natildeo existia qualquer preocupaccedilatildeo com a
causa do delito mas tatildeo somente com a puniccedilatildeo de seu autor A vinganccedila privada
constituiacutea uma reaccedilatildeo natural e instintiva por isso foi apenas uma realidade
socioloacutegica natildeo uma instituiccedilatildeo juriacutedica
Duas grandes regulamentaccedilotildees com o evolver dos tempos encontrou a
vinganccedila privada o taliatildeo e a composiccedilatildeo Com o surgimento da lei de Taliatildeo a
vinganccedila privada natildeo desapareceu poreacutem a penalidade imposta ao acusado
comeccedilou a tomar certa proporccedilatildeo com o mal por ele causado tendo em vista que se
mostrou imprescindiacutevel limitar os excessos que ocorriam para a conservaccedilatildeo do
grupo social e da proacutepria existecircncia individual Apesar de se dizer comumente pena
de Taliatildeo natildeo se tratava propriamente de uma penamas de um instrumento
moderador da pena Consistia em aplicar no delinquente ou ofensor o mal que ele
causou ao ofendido na mesma proporccedilatildeo
Mais tarde na fase da vinganccedila direta em que se dizia que o
10
cometimento de um crime importava numa ofensa direta aos deuses a religiatildeo
atinge influecircncia decisiva na vida dos povos antigos A repressatildeo ao delinquente
tinha por fim aplacar a ira da divindade ofendida pelos crimes bem como castigar o
infrator A administraccedilatildeo da sanccedilatildeo penal ficava a cargo dos sacerdotes que como
mandataacuterios dos deuses encarregavam-se da justiccedila Aplicavam-se penas crueacuteis
severas desumanas
A ldquoviscorpolisrdquo era usada como meio de intimidaccedilatildeo No antigo oriente
pode-se afirmar que a religiatildeo confundia-se com o direito e assim os preceitos de
cunho meramente religioso ou moral tornavam-se leis em vigor Legislaccedilatildeo tiacutepica
dessa fase eacute o coacutedigo de Manu mas este princiacutepio foi adotado na Babilocircnia no
Egito na China na Peacutersia e pelo povo de Israel continuando assim o direito de
punir nas matildeos de particulares
Quando surgiu o Estado o bdquojus puniendi‟ passou a ser exercido
exclusivamente por este sem perder entatildeo o intuito de vinganccedila pelo delito como
acontecia antigamente Atualmente eacute sabido que o direitodever de punir bem como
a execuccedilatildeo penal continua pertencente ao ente estatal que materializa o desejo
social de restabelecer a ordem transgredida conforme explicita a lei de execuccedilotildees
penais em seu art10 ao afirmar que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o seu retorno agrave sociedade
Com o passar do tempo o direito penal vem se tornando mais
humanitaacuterio deixando a pena de ser vista como uma vinganccedila tendo como objetivo
principal a readaptaccedilatildeo do preso Foi a partir da Revoluccedilatildeo Francesa que se buscou
a humanizaccedilatildeo das penas atraveacutes da pena de prisatildeo como uma resposta do
Estado para aquele que cometeu o crime sendo sempre proporcional ao delito
cometido adquirindo assim a pena um caraacuteter utilitaacuterio
Foi no fim do seacuteculo XVIII e iniacutecio do seacuteculo XIX que surgiram inuacutemeras
escolas penais que buscavam o verdadeiro fundamento do direito de punir Vale
destacar a escola claacutessica em que trecircs grandes jurisconsultos podem ser
considerados como seus iniciadores Gian Domenico na Itaacutelia Jeremias Bentham
na Inglaterra e Anselmo Von Feuerbach na Alemanha Esta escola que se insurgia
contra o absolutismo contra o arbiacutetrio e via a pena com um fim retributivo e a escola
positivista que encontrava o fundamento do direito de punir na necessidade do
Estado garantir a defesa social com a prevenccedilatildeo do crime
A ideia de privatizar o sistema carceraacuterio jaacute foi antevista por Jeremias
11
Bentham em 1761 que idealizou a estrutura panoacuteptica estrutura prisional que
consagrava o princiacutepio da inspeccedilatildeo total em que os prisioneiros e os agentes
prisionais estariam sob constante e rigorosa vigiacutelia
No Brasil se vecirc um sistema prisional muito defasado tendo em vista as
maacutes condiccedilotildees dos presos como por exemplo a superlotaccedilatildeo falta de assistecircncia
meacutedica falta de alimentaccedilatildeo falta de espaccedilos fiacutesicos etc O condenado sofre muitas
vezes castigos dos companheiros detidos e ateacute mesmo dos agentes O sistema eacute
tatildeo falho que com pouca fiscalizaccedilatildeo efetiva os condenados conseguem comandar
de dentro das penitenciaacuterias o traacutefico de drogas chacinas e outros delitos de
altiacutessima gravidade natildeo cessando o oferecimento de perigo agrave sociedade
Como observa Gracianny Carvalho Cordeiro (2006p 27) os fins da pena
de prisatildeo tecircm-se mostrado contestaacuteveis do ponto de vista da
eficaacuteciaexcepcionando-se apenas o fim retributivo tendo em vista que a pena
privativa de liberdade continua sendo um grande castigo marcado pelos excessos e
abusos aos mais elementares direitos dos presos A pena de prisatildeo vem falhando
nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade na promoccedilatildeo da
ressocializaccedilatildeo do preso bem como na reduccedilatildeo dos iacutendices de reincidecircncia
Com esta defasagem do sistema prisional brasileiro em que os direitos
fundamentais do preso satildeo desrespeitados surge entatildeo acomprovaccedilatildeo da
incapacidade do Estado brasileiro em administrar o sistema prisional por isso vem
ganhando espaccedilo o discurso a favor da privatizaccedilatildeo do nosso sistema inicialmente
levado a efeito pelos Estados Unidos da Ameacuterica Esta tendecircncia privatizadora deve
ser tambeacutem compreendida como reflexo do novo modelo de Estado capitalista
globalizado em que o ente estatal vem perdendo a cada dia o seu caraacuteter
intervencionista inclusive nas aacutereas sociais
O Brasil natildeo resistindo ao sistema americano de privatizar o sistema
penitenciaacuterio vem de forma tiacutemida adotando um novo modelo de gerenciamento
carceraacuterio atraveacutes da terceirizaccedilatildeo de alguns serviccedilos mediante a iniciativa privada
Em 1999 iniciou-se este processo com a inauguraccedilatildeo da Penitenciaacuteria Industrial de
Guarapuava no estado do Paranaacute seguida pela instalaccedilatildeo da Penitenciaacuteria
Industrial do Cariri no municiacutepio de Juazeiro do Norte em 2001 no estado do
Cearaacute
A partir do exposto buscar-se-aacute desenvolver a pesquisa monograacutefica que
responda aos seguintes questionamentos
12
1 a privatizaccedilatildeo das prisotildees eacute constitucionalmente vaacutelida no Brasil
2 quais as vantagens da privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio no Brasil
3 com a privatizaccedilatildeo das penitenciaacuterias poderaacute se aumentar o nuacutemero de
presos
13
2 JUSTIFICATIVA
O sistema prisional encontra-se em estado precaacuterio tendo em vista os
presiacutedios superlotados o tratamento desumano e degradante que sofrem os presos
Satildeo 230 mil presos em aproximadamente 100mil vagas isto em 2002 Esse deacuteficit
de vagas eacute um desafio para o nosso governo sem falar do valor exorbitante que
custa uma penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima (aproximadamente 15 milhotildees de
reais) Em 2001o Fundo Nacional Penitenciaacuterio (FUNPEN) repassou para os
estados R$ 253 milhotildees dinheiro destinado agrave reforma e construccedilatildeo de presiacutedios ou
seja o governo brasileiro natildeo tem dinheiro em seus cofres para tal coisa
O sistema estaacute debilitado aproximadamente 30 dos presos encontram-
se com o viacuterus HIV sem falar da tuberculose A privatizaccedilatildeo total dos
presiacutedios(modelo americano) seria de total afronto agrave Constituiccedilatildeo vigente pois
entregaria totalmente o jus puniendi nas matildeos de particulares e o ldquocaputrdquo do art 144
da CF afirma Eacute dever do Estado zelar pela seguranccedila Jaacute no modelo francecircs que
faz uma parceria entre a iniciativa privada e o Estado na administraccedilatildeo dos
presiacutedios seria o mais aceito em nosso ordenamento juriacutedico pois o Estado natildeo
deixaria de participar na puniccedilatildeo dos encarcerados
No Paranaacute e Cearaacute existe um modelo terceirizador de administraccedilatildeo
prisional na qual o administrador privado juntamente com o Estado faz parceria
administrativa inovando o sistema prisional De outro lado com a privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios o Estado seria desafogado tendo em vista que o sistema eacute falho natildeo
possui condiccedilotildees financeiras para arcar com novas construccedilotildees e ainda encontra-se
superlotado
Assim sendo a iniciativa privada seria responsaacutevel por arcar com as
despesas e por consequecircnciamelhoraria a humanizaccedilatildeo dos presos o que ajudaria
muito na ressocializaccedilatildeo e no aumento da autoestima e ainda a reintegraccedilatildeo no
mercado de trabalho pois a iniciativa privada iria proporcionar oportunidades de
trabalho
O que tende a preocupar este modelo de gerenciamento privado eacute que
geraria alto lucro para as induacutestrias aleacutem de uma grande exploraccedilatildeo do trabalho dos
detentos pois sua matildeo de obra seria mais barata aleacutem de que com o grande
crescimento da seguranccedila privada em nosso paiacutes o preso poderia ser visto como
produto ou seja quanto mais presos mais lucro
14
Sendo assim eacute de grande importacircncia fazer uma pesquisa mais
aprofundada sobre o sistema de privatizaccedilatildeo dos presiacutedios verificando se realmente
poderaacute trazer melhoras para a ressocializaccedilatildeo dos presos e diminuiccedilatildeo da
criminalidade que abrange o nosso paiacutes
15
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO
A lei de execuccedilatildeo penal aprovada pelo Congresso em 1984 acabou
defasada tendo em vista o total descumprimento e omissatildeo dos poderes
constituiacutedos na alocaccedilatildeo de recursos financeiros humanos e materiais necessaacuterios
a sua implementaccedilatildeoNa Constituiccedilatildeo de 1988 os direitos e garantias fundamentais
foram consagrados de forma inovadora Dentre os direitos e garantias fundamentais
a Constituiccedilatildeo proiacutebe as penas crueacuteis em seu art5ordmXLVIICF88
art5ordmXLVII - Natildeo haveraacute pena
a)de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art88XIX
b)de caraacuteter perpeacutetuo
c)de trabalhos forccedilados
d) de banimento
e) crueacuteis
E garante ao cidadatildeo preso o respeito agrave integridade fiacutesica e moral atraveacutes
do art5ordmXLIX CF88 ldquoArt5ordmXLIXeacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade
fiacutesica e moralrdquoEstes dispositivos seratildeo abordados de forma especial partindo-se do
pressuposto de que os direitos fundamentais satildeo os direitos humanos previstos na
Carta Magna em leis e tratados internacionais ou que decorrem da aplicaccedilatildeo
destes que possuem eficaacutecia e aplicabilidade imediata e estatildeo baseados no
princiacutepio da dignidade humana
Nos dias atuais busca-se incessantemente o reconhecimento dos direitos
fundamentais mas a crise vivenciada pelo Estado natildeo se permite cumprir com os
objetivos esculpidos na Constituiccedilatildeo de 1988 Isso reflete em todas as aacutereas sociais
e com grande ecircnfase no acircmbito do Direito Penal pois o Estado passou a utilizar das
penas e das prisotildees como principal forma de controle e manutenccedilatildeo da ordem
esquecendo-se que seu objeto e limite de atuaccedilatildeo estatildeo estabelecidos e vinculados
aos direitos fundamentais
Tratando-se desse sistema penitenciaacuterio defasado sabemos que poucos
dos direitos ou princiacutepios citados satildeo respeitados Grecianny Carvalho Cordeiro
(2006p28) ensina que
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A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
17
privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
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4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
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5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
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6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
22
deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
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sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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SUMAacuteRIO
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA 9
2 JUSTIFICATIVA 13
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO 15
4 OBJETIVOS 18
5 HIPOacuteTESES 19
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS 20
7 INTRODUCcedilAtildeO 21
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO 25
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo 25
82 Sistemas penitenciaacuterios 29
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico 30
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano 30
823 O sistema penitenciaacuterio progressivo 31
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade 33
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO 35
91 Origem e evoluccedilatildeo 35
92 A privatizaccedilatildeo na atualidade 37
93 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios 38
94 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico 39
10 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO 42
101 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo 42
102 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo 45
CONCLUSAtildeO 50
REFEREcircNCIAS 51
9
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA
O maior problema da questatildeo de privatizaccedilatildeo do sistema prisional
brasileiro eacute o fato de este novo modelo vir a transferir o bdquojus puniendi‟ ou seja o
direito que tem o Estado de aplicar a pena para as matildeos de particulares Daiacute natildeo se
pode deixar a anaacutelise em questatildeo sem fazer uma raacutepida retrospectiva na evoluccedilatildeo
do direito de punir A histoacuteria do jus puniendi eacute tatildeo antiga quanto as primeiras
civilizaccedilotildees tendo em vista que desde o comeccedilo dos tempos o homem sempre se
preocupou em punir aqueles que violavam as normas sociais
Nos periacuteodos remotos da humanidade conhecidos especificamente
como fase da vinganccedila privada na ocorrecircncia de alguma conduta considerada
delituosa natildeo havia Estado para impor uma determinada puniccedilatildeo ao infrator A
viacutetima era quem deveria punir o agente delituoso tendo em vista que nesta eacutepoca
aquele era considerado legiacutetimo ao agir ese preciso inclusive com o amparo de
sua famiacutelia e ateacute de seu grupo Entre as penas impostas havia o banimento caso o
agressor fosse membro da mesma tribo e se fosse membro de grupos diferentes
poderia resultar em um conflito entre as tribos
Percebe-se que neste tempo o direito de punir era entatildeo exercido pelo
particular com o intuito de vingar-se do mal cometido pelo infrator sem nenhuma
proporccedilatildeo entre a accedilatildeo do criminoso e a reaccedilatildeo do ofendido visto que natildeo existia
nenhum poder central para administraacute-lo Natildeo existia qualquer preocupaccedilatildeo com a
causa do delito mas tatildeo somente com a puniccedilatildeo de seu autor A vinganccedila privada
constituiacutea uma reaccedilatildeo natural e instintiva por isso foi apenas uma realidade
socioloacutegica natildeo uma instituiccedilatildeo juriacutedica
Duas grandes regulamentaccedilotildees com o evolver dos tempos encontrou a
vinganccedila privada o taliatildeo e a composiccedilatildeo Com o surgimento da lei de Taliatildeo a
vinganccedila privada natildeo desapareceu poreacutem a penalidade imposta ao acusado
comeccedilou a tomar certa proporccedilatildeo com o mal por ele causado tendo em vista que se
mostrou imprescindiacutevel limitar os excessos que ocorriam para a conservaccedilatildeo do
grupo social e da proacutepria existecircncia individual Apesar de se dizer comumente pena
de Taliatildeo natildeo se tratava propriamente de uma penamas de um instrumento
moderador da pena Consistia em aplicar no delinquente ou ofensor o mal que ele
causou ao ofendido na mesma proporccedilatildeo
Mais tarde na fase da vinganccedila direta em que se dizia que o
10
cometimento de um crime importava numa ofensa direta aos deuses a religiatildeo
atinge influecircncia decisiva na vida dos povos antigos A repressatildeo ao delinquente
tinha por fim aplacar a ira da divindade ofendida pelos crimes bem como castigar o
infrator A administraccedilatildeo da sanccedilatildeo penal ficava a cargo dos sacerdotes que como
mandataacuterios dos deuses encarregavam-se da justiccedila Aplicavam-se penas crueacuteis
severas desumanas
A ldquoviscorpolisrdquo era usada como meio de intimidaccedilatildeo No antigo oriente
pode-se afirmar que a religiatildeo confundia-se com o direito e assim os preceitos de
cunho meramente religioso ou moral tornavam-se leis em vigor Legislaccedilatildeo tiacutepica
dessa fase eacute o coacutedigo de Manu mas este princiacutepio foi adotado na Babilocircnia no
Egito na China na Peacutersia e pelo povo de Israel continuando assim o direito de
punir nas matildeos de particulares
Quando surgiu o Estado o bdquojus puniendi‟ passou a ser exercido
exclusivamente por este sem perder entatildeo o intuito de vinganccedila pelo delito como
acontecia antigamente Atualmente eacute sabido que o direitodever de punir bem como
a execuccedilatildeo penal continua pertencente ao ente estatal que materializa o desejo
social de restabelecer a ordem transgredida conforme explicita a lei de execuccedilotildees
penais em seu art10 ao afirmar que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o seu retorno agrave sociedade
Com o passar do tempo o direito penal vem se tornando mais
humanitaacuterio deixando a pena de ser vista como uma vinganccedila tendo como objetivo
principal a readaptaccedilatildeo do preso Foi a partir da Revoluccedilatildeo Francesa que se buscou
a humanizaccedilatildeo das penas atraveacutes da pena de prisatildeo como uma resposta do
Estado para aquele que cometeu o crime sendo sempre proporcional ao delito
cometido adquirindo assim a pena um caraacuteter utilitaacuterio
Foi no fim do seacuteculo XVIII e iniacutecio do seacuteculo XIX que surgiram inuacutemeras
escolas penais que buscavam o verdadeiro fundamento do direito de punir Vale
destacar a escola claacutessica em que trecircs grandes jurisconsultos podem ser
considerados como seus iniciadores Gian Domenico na Itaacutelia Jeremias Bentham
na Inglaterra e Anselmo Von Feuerbach na Alemanha Esta escola que se insurgia
contra o absolutismo contra o arbiacutetrio e via a pena com um fim retributivo e a escola
positivista que encontrava o fundamento do direito de punir na necessidade do
Estado garantir a defesa social com a prevenccedilatildeo do crime
A ideia de privatizar o sistema carceraacuterio jaacute foi antevista por Jeremias
11
Bentham em 1761 que idealizou a estrutura panoacuteptica estrutura prisional que
consagrava o princiacutepio da inspeccedilatildeo total em que os prisioneiros e os agentes
prisionais estariam sob constante e rigorosa vigiacutelia
No Brasil se vecirc um sistema prisional muito defasado tendo em vista as
maacutes condiccedilotildees dos presos como por exemplo a superlotaccedilatildeo falta de assistecircncia
meacutedica falta de alimentaccedilatildeo falta de espaccedilos fiacutesicos etc O condenado sofre muitas
vezes castigos dos companheiros detidos e ateacute mesmo dos agentes O sistema eacute
tatildeo falho que com pouca fiscalizaccedilatildeo efetiva os condenados conseguem comandar
de dentro das penitenciaacuterias o traacutefico de drogas chacinas e outros delitos de
altiacutessima gravidade natildeo cessando o oferecimento de perigo agrave sociedade
Como observa Gracianny Carvalho Cordeiro (2006p 27) os fins da pena
de prisatildeo tecircm-se mostrado contestaacuteveis do ponto de vista da
eficaacuteciaexcepcionando-se apenas o fim retributivo tendo em vista que a pena
privativa de liberdade continua sendo um grande castigo marcado pelos excessos e
abusos aos mais elementares direitos dos presos A pena de prisatildeo vem falhando
nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade na promoccedilatildeo da
ressocializaccedilatildeo do preso bem como na reduccedilatildeo dos iacutendices de reincidecircncia
Com esta defasagem do sistema prisional brasileiro em que os direitos
fundamentais do preso satildeo desrespeitados surge entatildeo acomprovaccedilatildeo da
incapacidade do Estado brasileiro em administrar o sistema prisional por isso vem
ganhando espaccedilo o discurso a favor da privatizaccedilatildeo do nosso sistema inicialmente
levado a efeito pelos Estados Unidos da Ameacuterica Esta tendecircncia privatizadora deve
ser tambeacutem compreendida como reflexo do novo modelo de Estado capitalista
globalizado em que o ente estatal vem perdendo a cada dia o seu caraacuteter
intervencionista inclusive nas aacutereas sociais
O Brasil natildeo resistindo ao sistema americano de privatizar o sistema
penitenciaacuterio vem de forma tiacutemida adotando um novo modelo de gerenciamento
carceraacuterio atraveacutes da terceirizaccedilatildeo de alguns serviccedilos mediante a iniciativa privada
Em 1999 iniciou-se este processo com a inauguraccedilatildeo da Penitenciaacuteria Industrial de
Guarapuava no estado do Paranaacute seguida pela instalaccedilatildeo da Penitenciaacuteria
Industrial do Cariri no municiacutepio de Juazeiro do Norte em 2001 no estado do
Cearaacute
A partir do exposto buscar-se-aacute desenvolver a pesquisa monograacutefica que
responda aos seguintes questionamentos
12
1 a privatizaccedilatildeo das prisotildees eacute constitucionalmente vaacutelida no Brasil
2 quais as vantagens da privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio no Brasil
3 com a privatizaccedilatildeo das penitenciaacuterias poderaacute se aumentar o nuacutemero de
presos
13
2 JUSTIFICATIVA
O sistema prisional encontra-se em estado precaacuterio tendo em vista os
presiacutedios superlotados o tratamento desumano e degradante que sofrem os presos
Satildeo 230 mil presos em aproximadamente 100mil vagas isto em 2002 Esse deacuteficit
de vagas eacute um desafio para o nosso governo sem falar do valor exorbitante que
custa uma penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima (aproximadamente 15 milhotildees de
reais) Em 2001o Fundo Nacional Penitenciaacuterio (FUNPEN) repassou para os
estados R$ 253 milhotildees dinheiro destinado agrave reforma e construccedilatildeo de presiacutedios ou
seja o governo brasileiro natildeo tem dinheiro em seus cofres para tal coisa
O sistema estaacute debilitado aproximadamente 30 dos presos encontram-
se com o viacuterus HIV sem falar da tuberculose A privatizaccedilatildeo total dos
presiacutedios(modelo americano) seria de total afronto agrave Constituiccedilatildeo vigente pois
entregaria totalmente o jus puniendi nas matildeos de particulares e o ldquocaputrdquo do art 144
da CF afirma Eacute dever do Estado zelar pela seguranccedila Jaacute no modelo francecircs que
faz uma parceria entre a iniciativa privada e o Estado na administraccedilatildeo dos
presiacutedios seria o mais aceito em nosso ordenamento juriacutedico pois o Estado natildeo
deixaria de participar na puniccedilatildeo dos encarcerados
No Paranaacute e Cearaacute existe um modelo terceirizador de administraccedilatildeo
prisional na qual o administrador privado juntamente com o Estado faz parceria
administrativa inovando o sistema prisional De outro lado com a privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios o Estado seria desafogado tendo em vista que o sistema eacute falho natildeo
possui condiccedilotildees financeiras para arcar com novas construccedilotildees e ainda encontra-se
superlotado
Assim sendo a iniciativa privada seria responsaacutevel por arcar com as
despesas e por consequecircnciamelhoraria a humanizaccedilatildeo dos presos o que ajudaria
muito na ressocializaccedilatildeo e no aumento da autoestima e ainda a reintegraccedilatildeo no
mercado de trabalho pois a iniciativa privada iria proporcionar oportunidades de
trabalho
O que tende a preocupar este modelo de gerenciamento privado eacute que
geraria alto lucro para as induacutestrias aleacutem de uma grande exploraccedilatildeo do trabalho dos
detentos pois sua matildeo de obra seria mais barata aleacutem de que com o grande
crescimento da seguranccedila privada em nosso paiacutes o preso poderia ser visto como
produto ou seja quanto mais presos mais lucro
14
Sendo assim eacute de grande importacircncia fazer uma pesquisa mais
aprofundada sobre o sistema de privatizaccedilatildeo dos presiacutedios verificando se realmente
poderaacute trazer melhoras para a ressocializaccedilatildeo dos presos e diminuiccedilatildeo da
criminalidade que abrange o nosso paiacutes
15
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO
A lei de execuccedilatildeo penal aprovada pelo Congresso em 1984 acabou
defasada tendo em vista o total descumprimento e omissatildeo dos poderes
constituiacutedos na alocaccedilatildeo de recursos financeiros humanos e materiais necessaacuterios
a sua implementaccedilatildeoNa Constituiccedilatildeo de 1988 os direitos e garantias fundamentais
foram consagrados de forma inovadora Dentre os direitos e garantias fundamentais
a Constituiccedilatildeo proiacutebe as penas crueacuteis em seu art5ordmXLVIICF88
art5ordmXLVII - Natildeo haveraacute pena
a)de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art88XIX
b)de caraacuteter perpeacutetuo
c)de trabalhos forccedilados
d) de banimento
e) crueacuteis
E garante ao cidadatildeo preso o respeito agrave integridade fiacutesica e moral atraveacutes
do art5ordmXLIX CF88 ldquoArt5ordmXLIXeacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade
fiacutesica e moralrdquoEstes dispositivos seratildeo abordados de forma especial partindo-se do
pressuposto de que os direitos fundamentais satildeo os direitos humanos previstos na
Carta Magna em leis e tratados internacionais ou que decorrem da aplicaccedilatildeo
destes que possuem eficaacutecia e aplicabilidade imediata e estatildeo baseados no
princiacutepio da dignidade humana
Nos dias atuais busca-se incessantemente o reconhecimento dos direitos
fundamentais mas a crise vivenciada pelo Estado natildeo se permite cumprir com os
objetivos esculpidos na Constituiccedilatildeo de 1988 Isso reflete em todas as aacutereas sociais
e com grande ecircnfase no acircmbito do Direito Penal pois o Estado passou a utilizar das
penas e das prisotildees como principal forma de controle e manutenccedilatildeo da ordem
esquecendo-se que seu objeto e limite de atuaccedilatildeo estatildeo estabelecidos e vinculados
aos direitos fundamentais
Tratando-se desse sistema penitenciaacuterio defasado sabemos que poucos
dos direitos ou princiacutepios citados satildeo respeitados Grecianny Carvalho Cordeiro
(2006p28) ensina que
16
A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
17
privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
18
4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
19
5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
20
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
22
deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
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8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
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natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
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os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
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infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
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No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
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Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
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forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
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Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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9
1 DEFINICcedilAtildeO DO PROBLEMA
O maior problema da questatildeo de privatizaccedilatildeo do sistema prisional
brasileiro eacute o fato de este novo modelo vir a transferir o bdquojus puniendi‟ ou seja o
direito que tem o Estado de aplicar a pena para as matildeos de particulares Daiacute natildeo se
pode deixar a anaacutelise em questatildeo sem fazer uma raacutepida retrospectiva na evoluccedilatildeo
do direito de punir A histoacuteria do jus puniendi eacute tatildeo antiga quanto as primeiras
civilizaccedilotildees tendo em vista que desde o comeccedilo dos tempos o homem sempre se
preocupou em punir aqueles que violavam as normas sociais
Nos periacuteodos remotos da humanidade conhecidos especificamente
como fase da vinganccedila privada na ocorrecircncia de alguma conduta considerada
delituosa natildeo havia Estado para impor uma determinada puniccedilatildeo ao infrator A
viacutetima era quem deveria punir o agente delituoso tendo em vista que nesta eacutepoca
aquele era considerado legiacutetimo ao agir ese preciso inclusive com o amparo de
sua famiacutelia e ateacute de seu grupo Entre as penas impostas havia o banimento caso o
agressor fosse membro da mesma tribo e se fosse membro de grupos diferentes
poderia resultar em um conflito entre as tribos
Percebe-se que neste tempo o direito de punir era entatildeo exercido pelo
particular com o intuito de vingar-se do mal cometido pelo infrator sem nenhuma
proporccedilatildeo entre a accedilatildeo do criminoso e a reaccedilatildeo do ofendido visto que natildeo existia
nenhum poder central para administraacute-lo Natildeo existia qualquer preocupaccedilatildeo com a
causa do delito mas tatildeo somente com a puniccedilatildeo de seu autor A vinganccedila privada
constituiacutea uma reaccedilatildeo natural e instintiva por isso foi apenas uma realidade
socioloacutegica natildeo uma instituiccedilatildeo juriacutedica
Duas grandes regulamentaccedilotildees com o evolver dos tempos encontrou a
vinganccedila privada o taliatildeo e a composiccedilatildeo Com o surgimento da lei de Taliatildeo a
vinganccedila privada natildeo desapareceu poreacutem a penalidade imposta ao acusado
comeccedilou a tomar certa proporccedilatildeo com o mal por ele causado tendo em vista que se
mostrou imprescindiacutevel limitar os excessos que ocorriam para a conservaccedilatildeo do
grupo social e da proacutepria existecircncia individual Apesar de se dizer comumente pena
de Taliatildeo natildeo se tratava propriamente de uma penamas de um instrumento
moderador da pena Consistia em aplicar no delinquente ou ofensor o mal que ele
causou ao ofendido na mesma proporccedilatildeo
Mais tarde na fase da vinganccedila direta em que se dizia que o
10
cometimento de um crime importava numa ofensa direta aos deuses a religiatildeo
atinge influecircncia decisiva na vida dos povos antigos A repressatildeo ao delinquente
tinha por fim aplacar a ira da divindade ofendida pelos crimes bem como castigar o
infrator A administraccedilatildeo da sanccedilatildeo penal ficava a cargo dos sacerdotes que como
mandataacuterios dos deuses encarregavam-se da justiccedila Aplicavam-se penas crueacuteis
severas desumanas
A ldquoviscorpolisrdquo era usada como meio de intimidaccedilatildeo No antigo oriente
pode-se afirmar que a religiatildeo confundia-se com o direito e assim os preceitos de
cunho meramente religioso ou moral tornavam-se leis em vigor Legislaccedilatildeo tiacutepica
dessa fase eacute o coacutedigo de Manu mas este princiacutepio foi adotado na Babilocircnia no
Egito na China na Peacutersia e pelo povo de Israel continuando assim o direito de
punir nas matildeos de particulares
Quando surgiu o Estado o bdquojus puniendi‟ passou a ser exercido
exclusivamente por este sem perder entatildeo o intuito de vinganccedila pelo delito como
acontecia antigamente Atualmente eacute sabido que o direitodever de punir bem como
a execuccedilatildeo penal continua pertencente ao ente estatal que materializa o desejo
social de restabelecer a ordem transgredida conforme explicita a lei de execuccedilotildees
penais em seu art10 ao afirmar que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o seu retorno agrave sociedade
Com o passar do tempo o direito penal vem se tornando mais
humanitaacuterio deixando a pena de ser vista como uma vinganccedila tendo como objetivo
principal a readaptaccedilatildeo do preso Foi a partir da Revoluccedilatildeo Francesa que se buscou
a humanizaccedilatildeo das penas atraveacutes da pena de prisatildeo como uma resposta do
Estado para aquele que cometeu o crime sendo sempre proporcional ao delito
cometido adquirindo assim a pena um caraacuteter utilitaacuterio
Foi no fim do seacuteculo XVIII e iniacutecio do seacuteculo XIX que surgiram inuacutemeras
escolas penais que buscavam o verdadeiro fundamento do direito de punir Vale
destacar a escola claacutessica em que trecircs grandes jurisconsultos podem ser
considerados como seus iniciadores Gian Domenico na Itaacutelia Jeremias Bentham
na Inglaterra e Anselmo Von Feuerbach na Alemanha Esta escola que se insurgia
contra o absolutismo contra o arbiacutetrio e via a pena com um fim retributivo e a escola
positivista que encontrava o fundamento do direito de punir na necessidade do
Estado garantir a defesa social com a prevenccedilatildeo do crime
A ideia de privatizar o sistema carceraacuterio jaacute foi antevista por Jeremias
11
Bentham em 1761 que idealizou a estrutura panoacuteptica estrutura prisional que
consagrava o princiacutepio da inspeccedilatildeo total em que os prisioneiros e os agentes
prisionais estariam sob constante e rigorosa vigiacutelia
No Brasil se vecirc um sistema prisional muito defasado tendo em vista as
maacutes condiccedilotildees dos presos como por exemplo a superlotaccedilatildeo falta de assistecircncia
meacutedica falta de alimentaccedilatildeo falta de espaccedilos fiacutesicos etc O condenado sofre muitas
vezes castigos dos companheiros detidos e ateacute mesmo dos agentes O sistema eacute
tatildeo falho que com pouca fiscalizaccedilatildeo efetiva os condenados conseguem comandar
de dentro das penitenciaacuterias o traacutefico de drogas chacinas e outros delitos de
altiacutessima gravidade natildeo cessando o oferecimento de perigo agrave sociedade
Como observa Gracianny Carvalho Cordeiro (2006p 27) os fins da pena
de prisatildeo tecircm-se mostrado contestaacuteveis do ponto de vista da
eficaacuteciaexcepcionando-se apenas o fim retributivo tendo em vista que a pena
privativa de liberdade continua sendo um grande castigo marcado pelos excessos e
abusos aos mais elementares direitos dos presos A pena de prisatildeo vem falhando
nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade na promoccedilatildeo da
ressocializaccedilatildeo do preso bem como na reduccedilatildeo dos iacutendices de reincidecircncia
Com esta defasagem do sistema prisional brasileiro em que os direitos
fundamentais do preso satildeo desrespeitados surge entatildeo acomprovaccedilatildeo da
incapacidade do Estado brasileiro em administrar o sistema prisional por isso vem
ganhando espaccedilo o discurso a favor da privatizaccedilatildeo do nosso sistema inicialmente
levado a efeito pelos Estados Unidos da Ameacuterica Esta tendecircncia privatizadora deve
ser tambeacutem compreendida como reflexo do novo modelo de Estado capitalista
globalizado em que o ente estatal vem perdendo a cada dia o seu caraacuteter
intervencionista inclusive nas aacutereas sociais
O Brasil natildeo resistindo ao sistema americano de privatizar o sistema
penitenciaacuterio vem de forma tiacutemida adotando um novo modelo de gerenciamento
carceraacuterio atraveacutes da terceirizaccedilatildeo de alguns serviccedilos mediante a iniciativa privada
Em 1999 iniciou-se este processo com a inauguraccedilatildeo da Penitenciaacuteria Industrial de
Guarapuava no estado do Paranaacute seguida pela instalaccedilatildeo da Penitenciaacuteria
Industrial do Cariri no municiacutepio de Juazeiro do Norte em 2001 no estado do
Cearaacute
A partir do exposto buscar-se-aacute desenvolver a pesquisa monograacutefica que
responda aos seguintes questionamentos
12
1 a privatizaccedilatildeo das prisotildees eacute constitucionalmente vaacutelida no Brasil
2 quais as vantagens da privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio no Brasil
3 com a privatizaccedilatildeo das penitenciaacuterias poderaacute se aumentar o nuacutemero de
presos
13
2 JUSTIFICATIVA
O sistema prisional encontra-se em estado precaacuterio tendo em vista os
presiacutedios superlotados o tratamento desumano e degradante que sofrem os presos
Satildeo 230 mil presos em aproximadamente 100mil vagas isto em 2002 Esse deacuteficit
de vagas eacute um desafio para o nosso governo sem falar do valor exorbitante que
custa uma penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima (aproximadamente 15 milhotildees de
reais) Em 2001o Fundo Nacional Penitenciaacuterio (FUNPEN) repassou para os
estados R$ 253 milhotildees dinheiro destinado agrave reforma e construccedilatildeo de presiacutedios ou
seja o governo brasileiro natildeo tem dinheiro em seus cofres para tal coisa
O sistema estaacute debilitado aproximadamente 30 dos presos encontram-
se com o viacuterus HIV sem falar da tuberculose A privatizaccedilatildeo total dos
presiacutedios(modelo americano) seria de total afronto agrave Constituiccedilatildeo vigente pois
entregaria totalmente o jus puniendi nas matildeos de particulares e o ldquocaputrdquo do art 144
da CF afirma Eacute dever do Estado zelar pela seguranccedila Jaacute no modelo francecircs que
faz uma parceria entre a iniciativa privada e o Estado na administraccedilatildeo dos
presiacutedios seria o mais aceito em nosso ordenamento juriacutedico pois o Estado natildeo
deixaria de participar na puniccedilatildeo dos encarcerados
No Paranaacute e Cearaacute existe um modelo terceirizador de administraccedilatildeo
prisional na qual o administrador privado juntamente com o Estado faz parceria
administrativa inovando o sistema prisional De outro lado com a privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios o Estado seria desafogado tendo em vista que o sistema eacute falho natildeo
possui condiccedilotildees financeiras para arcar com novas construccedilotildees e ainda encontra-se
superlotado
Assim sendo a iniciativa privada seria responsaacutevel por arcar com as
despesas e por consequecircnciamelhoraria a humanizaccedilatildeo dos presos o que ajudaria
muito na ressocializaccedilatildeo e no aumento da autoestima e ainda a reintegraccedilatildeo no
mercado de trabalho pois a iniciativa privada iria proporcionar oportunidades de
trabalho
O que tende a preocupar este modelo de gerenciamento privado eacute que
geraria alto lucro para as induacutestrias aleacutem de uma grande exploraccedilatildeo do trabalho dos
detentos pois sua matildeo de obra seria mais barata aleacutem de que com o grande
crescimento da seguranccedila privada em nosso paiacutes o preso poderia ser visto como
produto ou seja quanto mais presos mais lucro
14
Sendo assim eacute de grande importacircncia fazer uma pesquisa mais
aprofundada sobre o sistema de privatizaccedilatildeo dos presiacutedios verificando se realmente
poderaacute trazer melhoras para a ressocializaccedilatildeo dos presos e diminuiccedilatildeo da
criminalidade que abrange o nosso paiacutes
15
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO
A lei de execuccedilatildeo penal aprovada pelo Congresso em 1984 acabou
defasada tendo em vista o total descumprimento e omissatildeo dos poderes
constituiacutedos na alocaccedilatildeo de recursos financeiros humanos e materiais necessaacuterios
a sua implementaccedilatildeoNa Constituiccedilatildeo de 1988 os direitos e garantias fundamentais
foram consagrados de forma inovadora Dentre os direitos e garantias fundamentais
a Constituiccedilatildeo proiacutebe as penas crueacuteis em seu art5ordmXLVIICF88
art5ordmXLVII - Natildeo haveraacute pena
a)de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art88XIX
b)de caraacuteter perpeacutetuo
c)de trabalhos forccedilados
d) de banimento
e) crueacuteis
E garante ao cidadatildeo preso o respeito agrave integridade fiacutesica e moral atraveacutes
do art5ordmXLIX CF88 ldquoArt5ordmXLIXeacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade
fiacutesica e moralrdquoEstes dispositivos seratildeo abordados de forma especial partindo-se do
pressuposto de que os direitos fundamentais satildeo os direitos humanos previstos na
Carta Magna em leis e tratados internacionais ou que decorrem da aplicaccedilatildeo
destes que possuem eficaacutecia e aplicabilidade imediata e estatildeo baseados no
princiacutepio da dignidade humana
Nos dias atuais busca-se incessantemente o reconhecimento dos direitos
fundamentais mas a crise vivenciada pelo Estado natildeo se permite cumprir com os
objetivos esculpidos na Constituiccedilatildeo de 1988 Isso reflete em todas as aacutereas sociais
e com grande ecircnfase no acircmbito do Direito Penal pois o Estado passou a utilizar das
penas e das prisotildees como principal forma de controle e manutenccedilatildeo da ordem
esquecendo-se que seu objeto e limite de atuaccedilatildeo estatildeo estabelecidos e vinculados
aos direitos fundamentais
Tratando-se desse sistema penitenciaacuterio defasado sabemos que poucos
dos direitos ou princiacutepios citados satildeo respeitados Grecianny Carvalho Cordeiro
(2006p28) ensina que
16
A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
17
privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
18
4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
19
5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
20
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
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deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
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reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
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os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
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infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
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No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
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executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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10
cometimento de um crime importava numa ofensa direta aos deuses a religiatildeo
atinge influecircncia decisiva na vida dos povos antigos A repressatildeo ao delinquente
tinha por fim aplacar a ira da divindade ofendida pelos crimes bem como castigar o
infrator A administraccedilatildeo da sanccedilatildeo penal ficava a cargo dos sacerdotes que como
mandataacuterios dos deuses encarregavam-se da justiccedila Aplicavam-se penas crueacuteis
severas desumanas
A ldquoviscorpolisrdquo era usada como meio de intimidaccedilatildeo No antigo oriente
pode-se afirmar que a religiatildeo confundia-se com o direito e assim os preceitos de
cunho meramente religioso ou moral tornavam-se leis em vigor Legislaccedilatildeo tiacutepica
dessa fase eacute o coacutedigo de Manu mas este princiacutepio foi adotado na Babilocircnia no
Egito na China na Peacutersia e pelo povo de Israel continuando assim o direito de
punir nas matildeos de particulares
Quando surgiu o Estado o bdquojus puniendi‟ passou a ser exercido
exclusivamente por este sem perder entatildeo o intuito de vinganccedila pelo delito como
acontecia antigamente Atualmente eacute sabido que o direitodever de punir bem como
a execuccedilatildeo penal continua pertencente ao ente estatal que materializa o desejo
social de restabelecer a ordem transgredida conforme explicita a lei de execuccedilotildees
penais em seu art10 ao afirmar que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o seu retorno agrave sociedade
Com o passar do tempo o direito penal vem se tornando mais
humanitaacuterio deixando a pena de ser vista como uma vinganccedila tendo como objetivo
principal a readaptaccedilatildeo do preso Foi a partir da Revoluccedilatildeo Francesa que se buscou
a humanizaccedilatildeo das penas atraveacutes da pena de prisatildeo como uma resposta do
Estado para aquele que cometeu o crime sendo sempre proporcional ao delito
cometido adquirindo assim a pena um caraacuteter utilitaacuterio
Foi no fim do seacuteculo XVIII e iniacutecio do seacuteculo XIX que surgiram inuacutemeras
escolas penais que buscavam o verdadeiro fundamento do direito de punir Vale
destacar a escola claacutessica em que trecircs grandes jurisconsultos podem ser
considerados como seus iniciadores Gian Domenico na Itaacutelia Jeremias Bentham
na Inglaterra e Anselmo Von Feuerbach na Alemanha Esta escola que se insurgia
contra o absolutismo contra o arbiacutetrio e via a pena com um fim retributivo e a escola
positivista que encontrava o fundamento do direito de punir na necessidade do
Estado garantir a defesa social com a prevenccedilatildeo do crime
A ideia de privatizar o sistema carceraacuterio jaacute foi antevista por Jeremias
11
Bentham em 1761 que idealizou a estrutura panoacuteptica estrutura prisional que
consagrava o princiacutepio da inspeccedilatildeo total em que os prisioneiros e os agentes
prisionais estariam sob constante e rigorosa vigiacutelia
No Brasil se vecirc um sistema prisional muito defasado tendo em vista as
maacutes condiccedilotildees dos presos como por exemplo a superlotaccedilatildeo falta de assistecircncia
meacutedica falta de alimentaccedilatildeo falta de espaccedilos fiacutesicos etc O condenado sofre muitas
vezes castigos dos companheiros detidos e ateacute mesmo dos agentes O sistema eacute
tatildeo falho que com pouca fiscalizaccedilatildeo efetiva os condenados conseguem comandar
de dentro das penitenciaacuterias o traacutefico de drogas chacinas e outros delitos de
altiacutessima gravidade natildeo cessando o oferecimento de perigo agrave sociedade
Como observa Gracianny Carvalho Cordeiro (2006p 27) os fins da pena
de prisatildeo tecircm-se mostrado contestaacuteveis do ponto de vista da
eficaacuteciaexcepcionando-se apenas o fim retributivo tendo em vista que a pena
privativa de liberdade continua sendo um grande castigo marcado pelos excessos e
abusos aos mais elementares direitos dos presos A pena de prisatildeo vem falhando
nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade na promoccedilatildeo da
ressocializaccedilatildeo do preso bem como na reduccedilatildeo dos iacutendices de reincidecircncia
Com esta defasagem do sistema prisional brasileiro em que os direitos
fundamentais do preso satildeo desrespeitados surge entatildeo acomprovaccedilatildeo da
incapacidade do Estado brasileiro em administrar o sistema prisional por isso vem
ganhando espaccedilo o discurso a favor da privatizaccedilatildeo do nosso sistema inicialmente
levado a efeito pelos Estados Unidos da Ameacuterica Esta tendecircncia privatizadora deve
ser tambeacutem compreendida como reflexo do novo modelo de Estado capitalista
globalizado em que o ente estatal vem perdendo a cada dia o seu caraacuteter
intervencionista inclusive nas aacutereas sociais
O Brasil natildeo resistindo ao sistema americano de privatizar o sistema
penitenciaacuterio vem de forma tiacutemida adotando um novo modelo de gerenciamento
carceraacuterio atraveacutes da terceirizaccedilatildeo de alguns serviccedilos mediante a iniciativa privada
Em 1999 iniciou-se este processo com a inauguraccedilatildeo da Penitenciaacuteria Industrial de
Guarapuava no estado do Paranaacute seguida pela instalaccedilatildeo da Penitenciaacuteria
Industrial do Cariri no municiacutepio de Juazeiro do Norte em 2001 no estado do
Cearaacute
A partir do exposto buscar-se-aacute desenvolver a pesquisa monograacutefica que
responda aos seguintes questionamentos
12
1 a privatizaccedilatildeo das prisotildees eacute constitucionalmente vaacutelida no Brasil
2 quais as vantagens da privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio no Brasil
3 com a privatizaccedilatildeo das penitenciaacuterias poderaacute se aumentar o nuacutemero de
presos
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2 JUSTIFICATIVA
O sistema prisional encontra-se em estado precaacuterio tendo em vista os
presiacutedios superlotados o tratamento desumano e degradante que sofrem os presos
Satildeo 230 mil presos em aproximadamente 100mil vagas isto em 2002 Esse deacuteficit
de vagas eacute um desafio para o nosso governo sem falar do valor exorbitante que
custa uma penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima (aproximadamente 15 milhotildees de
reais) Em 2001o Fundo Nacional Penitenciaacuterio (FUNPEN) repassou para os
estados R$ 253 milhotildees dinheiro destinado agrave reforma e construccedilatildeo de presiacutedios ou
seja o governo brasileiro natildeo tem dinheiro em seus cofres para tal coisa
O sistema estaacute debilitado aproximadamente 30 dos presos encontram-
se com o viacuterus HIV sem falar da tuberculose A privatizaccedilatildeo total dos
presiacutedios(modelo americano) seria de total afronto agrave Constituiccedilatildeo vigente pois
entregaria totalmente o jus puniendi nas matildeos de particulares e o ldquocaputrdquo do art 144
da CF afirma Eacute dever do Estado zelar pela seguranccedila Jaacute no modelo francecircs que
faz uma parceria entre a iniciativa privada e o Estado na administraccedilatildeo dos
presiacutedios seria o mais aceito em nosso ordenamento juriacutedico pois o Estado natildeo
deixaria de participar na puniccedilatildeo dos encarcerados
No Paranaacute e Cearaacute existe um modelo terceirizador de administraccedilatildeo
prisional na qual o administrador privado juntamente com o Estado faz parceria
administrativa inovando o sistema prisional De outro lado com a privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios o Estado seria desafogado tendo em vista que o sistema eacute falho natildeo
possui condiccedilotildees financeiras para arcar com novas construccedilotildees e ainda encontra-se
superlotado
Assim sendo a iniciativa privada seria responsaacutevel por arcar com as
despesas e por consequecircnciamelhoraria a humanizaccedilatildeo dos presos o que ajudaria
muito na ressocializaccedilatildeo e no aumento da autoestima e ainda a reintegraccedilatildeo no
mercado de trabalho pois a iniciativa privada iria proporcionar oportunidades de
trabalho
O que tende a preocupar este modelo de gerenciamento privado eacute que
geraria alto lucro para as induacutestrias aleacutem de uma grande exploraccedilatildeo do trabalho dos
detentos pois sua matildeo de obra seria mais barata aleacutem de que com o grande
crescimento da seguranccedila privada em nosso paiacutes o preso poderia ser visto como
produto ou seja quanto mais presos mais lucro
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Sendo assim eacute de grande importacircncia fazer uma pesquisa mais
aprofundada sobre o sistema de privatizaccedilatildeo dos presiacutedios verificando se realmente
poderaacute trazer melhoras para a ressocializaccedilatildeo dos presos e diminuiccedilatildeo da
criminalidade que abrange o nosso paiacutes
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3 REFERENCIAL TEOacuteRICO
A lei de execuccedilatildeo penal aprovada pelo Congresso em 1984 acabou
defasada tendo em vista o total descumprimento e omissatildeo dos poderes
constituiacutedos na alocaccedilatildeo de recursos financeiros humanos e materiais necessaacuterios
a sua implementaccedilatildeoNa Constituiccedilatildeo de 1988 os direitos e garantias fundamentais
foram consagrados de forma inovadora Dentre os direitos e garantias fundamentais
a Constituiccedilatildeo proiacutebe as penas crueacuteis em seu art5ordmXLVIICF88
art5ordmXLVII - Natildeo haveraacute pena
a)de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art88XIX
b)de caraacuteter perpeacutetuo
c)de trabalhos forccedilados
d) de banimento
e) crueacuteis
E garante ao cidadatildeo preso o respeito agrave integridade fiacutesica e moral atraveacutes
do art5ordmXLIX CF88 ldquoArt5ordmXLIXeacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade
fiacutesica e moralrdquoEstes dispositivos seratildeo abordados de forma especial partindo-se do
pressuposto de que os direitos fundamentais satildeo os direitos humanos previstos na
Carta Magna em leis e tratados internacionais ou que decorrem da aplicaccedilatildeo
destes que possuem eficaacutecia e aplicabilidade imediata e estatildeo baseados no
princiacutepio da dignidade humana
Nos dias atuais busca-se incessantemente o reconhecimento dos direitos
fundamentais mas a crise vivenciada pelo Estado natildeo se permite cumprir com os
objetivos esculpidos na Constituiccedilatildeo de 1988 Isso reflete em todas as aacutereas sociais
e com grande ecircnfase no acircmbito do Direito Penal pois o Estado passou a utilizar das
penas e das prisotildees como principal forma de controle e manutenccedilatildeo da ordem
esquecendo-se que seu objeto e limite de atuaccedilatildeo estatildeo estabelecidos e vinculados
aos direitos fundamentais
Tratando-se desse sistema penitenciaacuterio defasado sabemos que poucos
dos direitos ou princiacutepios citados satildeo respeitados Grecianny Carvalho Cordeiro
(2006p28) ensina que
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A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
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privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
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4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
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5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
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6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
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7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
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deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
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reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
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Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
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8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
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natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
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os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
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infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
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sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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REVISTA CONSULTOR JURIacuteDICORevista Consultor Juriacutedico maio 2006
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SANTOS Jorge Amaral dos A utilizaccedilatildeo das parcerias puacuteblico-privadas pelo
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WACQUANT Loic A privatizaccedilatildeo dos presiacutediosDisponiacutevel em
lthttpdiploorgbr2004-09a989gt Acesso em 26 de outubro de 2012
11
Bentham em 1761 que idealizou a estrutura panoacuteptica estrutura prisional que
consagrava o princiacutepio da inspeccedilatildeo total em que os prisioneiros e os agentes
prisionais estariam sob constante e rigorosa vigiacutelia
No Brasil se vecirc um sistema prisional muito defasado tendo em vista as
maacutes condiccedilotildees dos presos como por exemplo a superlotaccedilatildeo falta de assistecircncia
meacutedica falta de alimentaccedilatildeo falta de espaccedilos fiacutesicos etc O condenado sofre muitas
vezes castigos dos companheiros detidos e ateacute mesmo dos agentes O sistema eacute
tatildeo falho que com pouca fiscalizaccedilatildeo efetiva os condenados conseguem comandar
de dentro das penitenciaacuterias o traacutefico de drogas chacinas e outros delitos de
altiacutessima gravidade natildeo cessando o oferecimento de perigo agrave sociedade
Como observa Gracianny Carvalho Cordeiro (2006p 27) os fins da pena
de prisatildeo tecircm-se mostrado contestaacuteveis do ponto de vista da
eficaacuteciaexcepcionando-se apenas o fim retributivo tendo em vista que a pena
privativa de liberdade continua sendo um grande castigo marcado pelos excessos e
abusos aos mais elementares direitos dos presos A pena de prisatildeo vem falhando
nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade na promoccedilatildeo da
ressocializaccedilatildeo do preso bem como na reduccedilatildeo dos iacutendices de reincidecircncia
Com esta defasagem do sistema prisional brasileiro em que os direitos
fundamentais do preso satildeo desrespeitados surge entatildeo acomprovaccedilatildeo da
incapacidade do Estado brasileiro em administrar o sistema prisional por isso vem
ganhando espaccedilo o discurso a favor da privatizaccedilatildeo do nosso sistema inicialmente
levado a efeito pelos Estados Unidos da Ameacuterica Esta tendecircncia privatizadora deve
ser tambeacutem compreendida como reflexo do novo modelo de Estado capitalista
globalizado em que o ente estatal vem perdendo a cada dia o seu caraacuteter
intervencionista inclusive nas aacutereas sociais
O Brasil natildeo resistindo ao sistema americano de privatizar o sistema
penitenciaacuterio vem de forma tiacutemida adotando um novo modelo de gerenciamento
carceraacuterio atraveacutes da terceirizaccedilatildeo de alguns serviccedilos mediante a iniciativa privada
Em 1999 iniciou-se este processo com a inauguraccedilatildeo da Penitenciaacuteria Industrial de
Guarapuava no estado do Paranaacute seguida pela instalaccedilatildeo da Penitenciaacuteria
Industrial do Cariri no municiacutepio de Juazeiro do Norte em 2001 no estado do
Cearaacute
A partir do exposto buscar-se-aacute desenvolver a pesquisa monograacutefica que
responda aos seguintes questionamentos
12
1 a privatizaccedilatildeo das prisotildees eacute constitucionalmente vaacutelida no Brasil
2 quais as vantagens da privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio no Brasil
3 com a privatizaccedilatildeo das penitenciaacuterias poderaacute se aumentar o nuacutemero de
presos
13
2 JUSTIFICATIVA
O sistema prisional encontra-se em estado precaacuterio tendo em vista os
presiacutedios superlotados o tratamento desumano e degradante que sofrem os presos
Satildeo 230 mil presos em aproximadamente 100mil vagas isto em 2002 Esse deacuteficit
de vagas eacute um desafio para o nosso governo sem falar do valor exorbitante que
custa uma penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima (aproximadamente 15 milhotildees de
reais) Em 2001o Fundo Nacional Penitenciaacuterio (FUNPEN) repassou para os
estados R$ 253 milhotildees dinheiro destinado agrave reforma e construccedilatildeo de presiacutedios ou
seja o governo brasileiro natildeo tem dinheiro em seus cofres para tal coisa
O sistema estaacute debilitado aproximadamente 30 dos presos encontram-
se com o viacuterus HIV sem falar da tuberculose A privatizaccedilatildeo total dos
presiacutedios(modelo americano) seria de total afronto agrave Constituiccedilatildeo vigente pois
entregaria totalmente o jus puniendi nas matildeos de particulares e o ldquocaputrdquo do art 144
da CF afirma Eacute dever do Estado zelar pela seguranccedila Jaacute no modelo francecircs que
faz uma parceria entre a iniciativa privada e o Estado na administraccedilatildeo dos
presiacutedios seria o mais aceito em nosso ordenamento juriacutedico pois o Estado natildeo
deixaria de participar na puniccedilatildeo dos encarcerados
No Paranaacute e Cearaacute existe um modelo terceirizador de administraccedilatildeo
prisional na qual o administrador privado juntamente com o Estado faz parceria
administrativa inovando o sistema prisional De outro lado com a privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios o Estado seria desafogado tendo em vista que o sistema eacute falho natildeo
possui condiccedilotildees financeiras para arcar com novas construccedilotildees e ainda encontra-se
superlotado
Assim sendo a iniciativa privada seria responsaacutevel por arcar com as
despesas e por consequecircnciamelhoraria a humanizaccedilatildeo dos presos o que ajudaria
muito na ressocializaccedilatildeo e no aumento da autoestima e ainda a reintegraccedilatildeo no
mercado de trabalho pois a iniciativa privada iria proporcionar oportunidades de
trabalho
O que tende a preocupar este modelo de gerenciamento privado eacute que
geraria alto lucro para as induacutestrias aleacutem de uma grande exploraccedilatildeo do trabalho dos
detentos pois sua matildeo de obra seria mais barata aleacutem de que com o grande
crescimento da seguranccedila privada em nosso paiacutes o preso poderia ser visto como
produto ou seja quanto mais presos mais lucro
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Sendo assim eacute de grande importacircncia fazer uma pesquisa mais
aprofundada sobre o sistema de privatizaccedilatildeo dos presiacutedios verificando se realmente
poderaacute trazer melhoras para a ressocializaccedilatildeo dos presos e diminuiccedilatildeo da
criminalidade que abrange o nosso paiacutes
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3 REFERENCIAL TEOacuteRICO
A lei de execuccedilatildeo penal aprovada pelo Congresso em 1984 acabou
defasada tendo em vista o total descumprimento e omissatildeo dos poderes
constituiacutedos na alocaccedilatildeo de recursos financeiros humanos e materiais necessaacuterios
a sua implementaccedilatildeoNa Constituiccedilatildeo de 1988 os direitos e garantias fundamentais
foram consagrados de forma inovadora Dentre os direitos e garantias fundamentais
a Constituiccedilatildeo proiacutebe as penas crueacuteis em seu art5ordmXLVIICF88
art5ordmXLVII - Natildeo haveraacute pena
a)de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art88XIX
b)de caraacuteter perpeacutetuo
c)de trabalhos forccedilados
d) de banimento
e) crueacuteis
E garante ao cidadatildeo preso o respeito agrave integridade fiacutesica e moral atraveacutes
do art5ordmXLIX CF88 ldquoArt5ordmXLIXeacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade
fiacutesica e moralrdquoEstes dispositivos seratildeo abordados de forma especial partindo-se do
pressuposto de que os direitos fundamentais satildeo os direitos humanos previstos na
Carta Magna em leis e tratados internacionais ou que decorrem da aplicaccedilatildeo
destes que possuem eficaacutecia e aplicabilidade imediata e estatildeo baseados no
princiacutepio da dignidade humana
Nos dias atuais busca-se incessantemente o reconhecimento dos direitos
fundamentais mas a crise vivenciada pelo Estado natildeo se permite cumprir com os
objetivos esculpidos na Constituiccedilatildeo de 1988 Isso reflete em todas as aacutereas sociais
e com grande ecircnfase no acircmbito do Direito Penal pois o Estado passou a utilizar das
penas e das prisotildees como principal forma de controle e manutenccedilatildeo da ordem
esquecendo-se que seu objeto e limite de atuaccedilatildeo estatildeo estabelecidos e vinculados
aos direitos fundamentais
Tratando-se desse sistema penitenciaacuterio defasado sabemos que poucos
dos direitos ou princiacutepios citados satildeo respeitados Grecianny Carvalho Cordeiro
(2006p28) ensina que
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A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
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privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
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4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
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5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
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6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
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deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
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reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
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II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
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9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
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havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
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sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
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pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
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O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
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9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
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forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
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Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
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de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
REFEREcircNCIAS
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12
1 a privatizaccedilatildeo das prisotildees eacute constitucionalmente vaacutelida no Brasil
2 quais as vantagens da privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio no Brasil
3 com a privatizaccedilatildeo das penitenciaacuterias poderaacute se aumentar o nuacutemero de
presos
13
2 JUSTIFICATIVA
O sistema prisional encontra-se em estado precaacuterio tendo em vista os
presiacutedios superlotados o tratamento desumano e degradante que sofrem os presos
Satildeo 230 mil presos em aproximadamente 100mil vagas isto em 2002 Esse deacuteficit
de vagas eacute um desafio para o nosso governo sem falar do valor exorbitante que
custa uma penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima (aproximadamente 15 milhotildees de
reais) Em 2001o Fundo Nacional Penitenciaacuterio (FUNPEN) repassou para os
estados R$ 253 milhotildees dinheiro destinado agrave reforma e construccedilatildeo de presiacutedios ou
seja o governo brasileiro natildeo tem dinheiro em seus cofres para tal coisa
O sistema estaacute debilitado aproximadamente 30 dos presos encontram-
se com o viacuterus HIV sem falar da tuberculose A privatizaccedilatildeo total dos
presiacutedios(modelo americano) seria de total afronto agrave Constituiccedilatildeo vigente pois
entregaria totalmente o jus puniendi nas matildeos de particulares e o ldquocaputrdquo do art 144
da CF afirma Eacute dever do Estado zelar pela seguranccedila Jaacute no modelo francecircs que
faz uma parceria entre a iniciativa privada e o Estado na administraccedilatildeo dos
presiacutedios seria o mais aceito em nosso ordenamento juriacutedico pois o Estado natildeo
deixaria de participar na puniccedilatildeo dos encarcerados
No Paranaacute e Cearaacute existe um modelo terceirizador de administraccedilatildeo
prisional na qual o administrador privado juntamente com o Estado faz parceria
administrativa inovando o sistema prisional De outro lado com a privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios o Estado seria desafogado tendo em vista que o sistema eacute falho natildeo
possui condiccedilotildees financeiras para arcar com novas construccedilotildees e ainda encontra-se
superlotado
Assim sendo a iniciativa privada seria responsaacutevel por arcar com as
despesas e por consequecircnciamelhoraria a humanizaccedilatildeo dos presos o que ajudaria
muito na ressocializaccedilatildeo e no aumento da autoestima e ainda a reintegraccedilatildeo no
mercado de trabalho pois a iniciativa privada iria proporcionar oportunidades de
trabalho
O que tende a preocupar este modelo de gerenciamento privado eacute que
geraria alto lucro para as induacutestrias aleacutem de uma grande exploraccedilatildeo do trabalho dos
detentos pois sua matildeo de obra seria mais barata aleacutem de que com o grande
crescimento da seguranccedila privada em nosso paiacutes o preso poderia ser visto como
produto ou seja quanto mais presos mais lucro
14
Sendo assim eacute de grande importacircncia fazer uma pesquisa mais
aprofundada sobre o sistema de privatizaccedilatildeo dos presiacutedios verificando se realmente
poderaacute trazer melhoras para a ressocializaccedilatildeo dos presos e diminuiccedilatildeo da
criminalidade que abrange o nosso paiacutes
15
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO
A lei de execuccedilatildeo penal aprovada pelo Congresso em 1984 acabou
defasada tendo em vista o total descumprimento e omissatildeo dos poderes
constituiacutedos na alocaccedilatildeo de recursos financeiros humanos e materiais necessaacuterios
a sua implementaccedilatildeoNa Constituiccedilatildeo de 1988 os direitos e garantias fundamentais
foram consagrados de forma inovadora Dentre os direitos e garantias fundamentais
a Constituiccedilatildeo proiacutebe as penas crueacuteis em seu art5ordmXLVIICF88
art5ordmXLVII - Natildeo haveraacute pena
a)de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art88XIX
b)de caraacuteter perpeacutetuo
c)de trabalhos forccedilados
d) de banimento
e) crueacuteis
E garante ao cidadatildeo preso o respeito agrave integridade fiacutesica e moral atraveacutes
do art5ordmXLIX CF88 ldquoArt5ordmXLIXeacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade
fiacutesica e moralrdquoEstes dispositivos seratildeo abordados de forma especial partindo-se do
pressuposto de que os direitos fundamentais satildeo os direitos humanos previstos na
Carta Magna em leis e tratados internacionais ou que decorrem da aplicaccedilatildeo
destes que possuem eficaacutecia e aplicabilidade imediata e estatildeo baseados no
princiacutepio da dignidade humana
Nos dias atuais busca-se incessantemente o reconhecimento dos direitos
fundamentais mas a crise vivenciada pelo Estado natildeo se permite cumprir com os
objetivos esculpidos na Constituiccedilatildeo de 1988 Isso reflete em todas as aacutereas sociais
e com grande ecircnfase no acircmbito do Direito Penal pois o Estado passou a utilizar das
penas e das prisotildees como principal forma de controle e manutenccedilatildeo da ordem
esquecendo-se que seu objeto e limite de atuaccedilatildeo estatildeo estabelecidos e vinculados
aos direitos fundamentais
Tratando-se desse sistema penitenciaacuterio defasado sabemos que poucos
dos direitos ou princiacutepios citados satildeo respeitados Grecianny Carvalho Cordeiro
(2006p28) ensina que
16
A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
17
privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
18
4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
19
5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
20
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
22
deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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13
2 JUSTIFICATIVA
O sistema prisional encontra-se em estado precaacuterio tendo em vista os
presiacutedios superlotados o tratamento desumano e degradante que sofrem os presos
Satildeo 230 mil presos em aproximadamente 100mil vagas isto em 2002 Esse deacuteficit
de vagas eacute um desafio para o nosso governo sem falar do valor exorbitante que
custa uma penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima (aproximadamente 15 milhotildees de
reais) Em 2001o Fundo Nacional Penitenciaacuterio (FUNPEN) repassou para os
estados R$ 253 milhotildees dinheiro destinado agrave reforma e construccedilatildeo de presiacutedios ou
seja o governo brasileiro natildeo tem dinheiro em seus cofres para tal coisa
O sistema estaacute debilitado aproximadamente 30 dos presos encontram-
se com o viacuterus HIV sem falar da tuberculose A privatizaccedilatildeo total dos
presiacutedios(modelo americano) seria de total afronto agrave Constituiccedilatildeo vigente pois
entregaria totalmente o jus puniendi nas matildeos de particulares e o ldquocaputrdquo do art 144
da CF afirma Eacute dever do Estado zelar pela seguranccedila Jaacute no modelo francecircs que
faz uma parceria entre a iniciativa privada e o Estado na administraccedilatildeo dos
presiacutedios seria o mais aceito em nosso ordenamento juriacutedico pois o Estado natildeo
deixaria de participar na puniccedilatildeo dos encarcerados
No Paranaacute e Cearaacute existe um modelo terceirizador de administraccedilatildeo
prisional na qual o administrador privado juntamente com o Estado faz parceria
administrativa inovando o sistema prisional De outro lado com a privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios o Estado seria desafogado tendo em vista que o sistema eacute falho natildeo
possui condiccedilotildees financeiras para arcar com novas construccedilotildees e ainda encontra-se
superlotado
Assim sendo a iniciativa privada seria responsaacutevel por arcar com as
despesas e por consequecircnciamelhoraria a humanizaccedilatildeo dos presos o que ajudaria
muito na ressocializaccedilatildeo e no aumento da autoestima e ainda a reintegraccedilatildeo no
mercado de trabalho pois a iniciativa privada iria proporcionar oportunidades de
trabalho
O que tende a preocupar este modelo de gerenciamento privado eacute que
geraria alto lucro para as induacutestrias aleacutem de uma grande exploraccedilatildeo do trabalho dos
detentos pois sua matildeo de obra seria mais barata aleacutem de que com o grande
crescimento da seguranccedila privada em nosso paiacutes o preso poderia ser visto como
produto ou seja quanto mais presos mais lucro
14
Sendo assim eacute de grande importacircncia fazer uma pesquisa mais
aprofundada sobre o sistema de privatizaccedilatildeo dos presiacutedios verificando se realmente
poderaacute trazer melhoras para a ressocializaccedilatildeo dos presos e diminuiccedilatildeo da
criminalidade que abrange o nosso paiacutes
15
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO
A lei de execuccedilatildeo penal aprovada pelo Congresso em 1984 acabou
defasada tendo em vista o total descumprimento e omissatildeo dos poderes
constituiacutedos na alocaccedilatildeo de recursos financeiros humanos e materiais necessaacuterios
a sua implementaccedilatildeoNa Constituiccedilatildeo de 1988 os direitos e garantias fundamentais
foram consagrados de forma inovadora Dentre os direitos e garantias fundamentais
a Constituiccedilatildeo proiacutebe as penas crueacuteis em seu art5ordmXLVIICF88
art5ordmXLVII - Natildeo haveraacute pena
a)de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art88XIX
b)de caraacuteter perpeacutetuo
c)de trabalhos forccedilados
d) de banimento
e) crueacuteis
E garante ao cidadatildeo preso o respeito agrave integridade fiacutesica e moral atraveacutes
do art5ordmXLIX CF88 ldquoArt5ordmXLIXeacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade
fiacutesica e moralrdquoEstes dispositivos seratildeo abordados de forma especial partindo-se do
pressuposto de que os direitos fundamentais satildeo os direitos humanos previstos na
Carta Magna em leis e tratados internacionais ou que decorrem da aplicaccedilatildeo
destes que possuem eficaacutecia e aplicabilidade imediata e estatildeo baseados no
princiacutepio da dignidade humana
Nos dias atuais busca-se incessantemente o reconhecimento dos direitos
fundamentais mas a crise vivenciada pelo Estado natildeo se permite cumprir com os
objetivos esculpidos na Constituiccedilatildeo de 1988 Isso reflete em todas as aacutereas sociais
e com grande ecircnfase no acircmbito do Direito Penal pois o Estado passou a utilizar das
penas e das prisotildees como principal forma de controle e manutenccedilatildeo da ordem
esquecendo-se que seu objeto e limite de atuaccedilatildeo estatildeo estabelecidos e vinculados
aos direitos fundamentais
Tratando-se desse sistema penitenciaacuterio defasado sabemos que poucos
dos direitos ou princiacutepios citados satildeo respeitados Grecianny Carvalho Cordeiro
(2006p28) ensina que
16
A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
17
privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
18
4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
19
5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
20
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
22
deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
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sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
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pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
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Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
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O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
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9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
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forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
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Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
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92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
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oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
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Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
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de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
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determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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14
Sendo assim eacute de grande importacircncia fazer uma pesquisa mais
aprofundada sobre o sistema de privatizaccedilatildeo dos presiacutedios verificando se realmente
poderaacute trazer melhoras para a ressocializaccedilatildeo dos presos e diminuiccedilatildeo da
criminalidade que abrange o nosso paiacutes
15
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO
A lei de execuccedilatildeo penal aprovada pelo Congresso em 1984 acabou
defasada tendo em vista o total descumprimento e omissatildeo dos poderes
constituiacutedos na alocaccedilatildeo de recursos financeiros humanos e materiais necessaacuterios
a sua implementaccedilatildeoNa Constituiccedilatildeo de 1988 os direitos e garantias fundamentais
foram consagrados de forma inovadora Dentre os direitos e garantias fundamentais
a Constituiccedilatildeo proiacutebe as penas crueacuteis em seu art5ordmXLVIICF88
art5ordmXLVII - Natildeo haveraacute pena
a)de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art88XIX
b)de caraacuteter perpeacutetuo
c)de trabalhos forccedilados
d) de banimento
e) crueacuteis
E garante ao cidadatildeo preso o respeito agrave integridade fiacutesica e moral atraveacutes
do art5ordmXLIX CF88 ldquoArt5ordmXLIXeacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade
fiacutesica e moralrdquoEstes dispositivos seratildeo abordados de forma especial partindo-se do
pressuposto de que os direitos fundamentais satildeo os direitos humanos previstos na
Carta Magna em leis e tratados internacionais ou que decorrem da aplicaccedilatildeo
destes que possuem eficaacutecia e aplicabilidade imediata e estatildeo baseados no
princiacutepio da dignidade humana
Nos dias atuais busca-se incessantemente o reconhecimento dos direitos
fundamentais mas a crise vivenciada pelo Estado natildeo se permite cumprir com os
objetivos esculpidos na Constituiccedilatildeo de 1988 Isso reflete em todas as aacutereas sociais
e com grande ecircnfase no acircmbito do Direito Penal pois o Estado passou a utilizar das
penas e das prisotildees como principal forma de controle e manutenccedilatildeo da ordem
esquecendo-se que seu objeto e limite de atuaccedilatildeo estatildeo estabelecidos e vinculados
aos direitos fundamentais
Tratando-se desse sistema penitenciaacuterio defasado sabemos que poucos
dos direitos ou princiacutepios citados satildeo respeitados Grecianny Carvalho Cordeiro
(2006p28) ensina que
16
A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
17
privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
18
4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
19
5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
20
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
22
deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
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sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
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Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
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O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
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9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
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forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
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Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
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Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
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de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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15
3 REFERENCIAL TEOacuteRICO
A lei de execuccedilatildeo penal aprovada pelo Congresso em 1984 acabou
defasada tendo em vista o total descumprimento e omissatildeo dos poderes
constituiacutedos na alocaccedilatildeo de recursos financeiros humanos e materiais necessaacuterios
a sua implementaccedilatildeoNa Constituiccedilatildeo de 1988 os direitos e garantias fundamentais
foram consagrados de forma inovadora Dentre os direitos e garantias fundamentais
a Constituiccedilatildeo proiacutebe as penas crueacuteis em seu art5ordmXLVIICF88
art5ordmXLVII - Natildeo haveraacute pena
a)de morte salvo em caso de guerra declarada nos termos do art88XIX
b)de caraacuteter perpeacutetuo
c)de trabalhos forccedilados
d) de banimento
e) crueacuteis
E garante ao cidadatildeo preso o respeito agrave integridade fiacutesica e moral atraveacutes
do art5ordmXLIX CF88 ldquoArt5ordmXLIXeacute assegurado aos presos o respeito agrave integridade
fiacutesica e moralrdquoEstes dispositivos seratildeo abordados de forma especial partindo-se do
pressuposto de que os direitos fundamentais satildeo os direitos humanos previstos na
Carta Magna em leis e tratados internacionais ou que decorrem da aplicaccedilatildeo
destes que possuem eficaacutecia e aplicabilidade imediata e estatildeo baseados no
princiacutepio da dignidade humana
Nos dias atuais busca-se incessantemente o reconhecimento dos direitos
fundamentais mas a crise vivenciada pelo Estado natildeo se permite cumprir com os
objetivos esculpidos na Constituiccedilatildeo de 1988 Isso reflete em todas as aacutereas sociais
e com grande ecircnfase no acircmbito do Direito Penal pois o Estado passou a utilizar das
penas e das prisotildees como principal forma de controle e manutenccedilatildeo da ordem
esquecendo-se que seu objeto e limite de atuaccedilatildeo estatildeo estabelecidos e vinculados
aos direitos fundamentais
Tratando-se desse sistema penitenciaacuterio defasado sabemos que poucos
dos direitos ou princiacutepios citados satildeo respeitados Grecianny Carvalho Cordeiro
(2006p28) ensina que
16
A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
17
privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
18
4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
19
5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
20
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
22
deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
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de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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A constataccedilatildeo a que facilmente se chega em relaccedilatildeo agrave pena prisional eacute que
ela vem falhando nos propoacutesitos de repressatildeo ao aumento da criminalidade
na promoccedilatildeo da ressocializaccedilatildeo do preso e na reduccedilatildeo dos iacutendices de
reincidecircncia daiacute por que vaacuterios autores decretam a falecircncia da pena de
prisatildeo
Aqueles que defendem a privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro se
fortalecem em dizer que o sistema prisional administrado pelo Estado eacute ineficaz e
defeituoso devido ao desrespeito deste com o ordenamento constitucional e os fins
prisionais natildeo serem atingidos da forma desejadaJaacute para aqueles que satildeo contra a
privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro falam que a lucratividade da privatizaccedilatildeo
dos presiacutedios poderaacute levar ao incentivo do nuacutemero da criminalidade e das faixas de
reincidecircncia uma vez que o preso seraacute sinocircnimo de lucrocomo ocorre nos EUA
que mesmo tendo uma economia grandiosa possui a segunda maior populaccedilatildeo
carceraacuteria do mundo
Para Cesar Barros Leal(2001p 74) ldquoeacute preciso discutir a ideia de
privatizaccedilatildeo implantaacutevel em projetos pilotos em regime de cogestatildeo mista e cujas
vantagens muacuteltiplas satildeo de ordem humana operacional legal e financeirardquo
A observaccedilatildeo de Juacutelio Fabrini Mirabete(1993pp 67-70) quando aborda o
tema ldquoA privatizaccedilatildeo dos estabelecimentos diante da lei de execuccedilatildeo penalrdquo no que
diz respeito agrave possibilidade de gestatildeo nos estabelecimentos penais por entidade
privada eacute indiscutiacutevel a afirmaccedilatildeo do doutrinador quando aponta a necessidade de
norma complementar estadual para que ldquoestabelecimentos penais sejam geridos e
operados por empresas privadasrdquo
As demais atividades administrativasou seja natildeo jurisdicionais que satildeo
de ordem administrativa mas apenas de execuccedilatildeo material podem ficar a cargo de
oacutergatildeos oficiais ou de particulares Por forccedila da lei de execuccedilatildeo penal aliaacutes cabe ao
patronato particular natildeo soacute orientar os condenados agrave pena restritiva de direitos
como fiscalizar o cumprimento das penas de prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidade e
de limitaccedilatildeo de fim de semana e colaborar no na fiscalizaccedilatildeo do cumprimento das
condiccedilotildees da suspensatildeo e do livramento condicional atividades marcadamente
administrativas
Cabe ao conselho penitenciaacuterio diligenciar a obtenccedilatildeo de recursos
materiais e humanos para assistecircncia ao preso ou internado etc funccedilotildees tambeacutem
revestidas do mesmo caraacuteter administrativo Desta forma a iniciativa particular eacute
admitida tanto no trabalho interno como no trabalho externo do condenado agrave pena
17
privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
18
4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
19
5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
20
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
22
deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
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sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
REFEREcircNCIAS
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BOLLER Luiacutes Fernando Nova direccedilatildeo privatizar o sistema prisional diminuiraacute as
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BONAVIDES Paulo Ciecircncias poliacuteticas 10ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 1996
BRASIL Constituiccedilatildeo de (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil
Brasiacutelia DFSenado1988
_______Lei nordm 1079203 de 1ordm de dezembro de 2003 Altera a Lei 7210 de 11 de
julho de 1984 Lei de execuccedilatildeo penal e o Decreto Lei nordm 3689 de 3 de outubro
de 1941- Coacutedigo de Processo Penal e daacute outras providencias Diaacuterio Oficial da
Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado Federal 1ordm dez 2003
_______Lei nordm 7210 de 11 de julho de 1984 Instituiu a Lei de execuccedilatildeo penal
Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado Federal1984
_______Lei nordm 9605 de 12 de fevereiro de 1998 Dispotildee sobre as sanccedilotildees penais
e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e daacute
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52
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17
privativa de liberdade no tratamento meacutedico farmacecircutico e odontoloacutegico e na
execuccedilatildeo das penas de interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
Natildeo pode o Poder Executivo como se vecirc ao seu talante sobrepor-se agrave
funccedilatildeo legislativa do Estado ignorando o princiacutepio da triparticcedilatildeo de
poderes(funccedilotildees)Maria Sylvia Zanella de Pietro(1999 pp224-225)observa que
Eacute oportuno lembrar que o entusiasmo pela privatizaccedilatildeo(entendida no
sentido de busca pelo regime juriacutedico de direito privado para a
administraccedilatildeo puacuteblica) natildeo pode chegar ao ponto de tornar letra morta o
princiacutepio da legalidade por que sem este natildeo se pode falar em Estado de
Direito
No Brasil os custos da privatizaccedilatildeo ou cogestatildeo tecircm-se revelados altos
em relaccedilatildeo ao dos estabelecimentos geridos pela administraccedilatildeo puacuteblica o que pode
inviabilizar a implantaccedilatildeo do sistema pelo nosso Estado Existem ademais
problemas intransponiacuteveis como jaacute citados acima dentre eles a possibilidade real
de que as empresas que iratildeo administrar as prisotildees possam cair em matildeos do crime
organizado a identificaccedilatildeo do preso na oacutetica mercantilista como simples matildeo de
obra ecomo decorrecircncia loacutegica a falta de compromisso com a ressocializaccedilatildeo dos
presos a falta de comprovaccedilatildeo de eficiecircncia dos serviccedilos desenvolvidos pelos
particulares na gestatildeo de presiacutedios
18
4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
19
5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
20
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
22
deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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18
4 OBJETIVOS
Geral
Analisar a constitucionalidade e os efeitos deste novo modelo de gestatildeo
prisional que estaacute sendo criticado e ganhando forccedilas cada vez mais com o passar do
tempo
Especiacuteficos
Fazer uma anaacutelise da histoacuteria do jus puniendi e dos sistemas
prisionais
Identificar o modelo de sistema prisional mais adaptado agrave realidade
brasileira verificando se o Estado ainda eacute capaz de suportar o direito
de punir de forma exclusiva
Comparar a realidade brasileira com a de outros paiacuteses que possuem
o modelo de gestatildeo privatizada em suas penitenciaacuterias
19
5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
20
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
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deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
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Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
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8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
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infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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19
5 HIPOacuteTESES
A privatizaccedilatildeo do sistema carceraacuterio natildeo eacute uma ideia nova era
prevista no seacuteculo XVIII quando Bentham ao idealizar o panoacuteptico jaacute
defendia a administraccedilatildeo das prisotildees por particulares mediante ganho
de lucros
As consequecircncias da privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio brasileiro
podem ser preocupantes se vier a ocorrer o mesmo que no EUA ao
privatizarem seu sistema prisional Dando ecircnfase somente ao lucro
deixando de ser uma deficiecircncia social e passando a ser um ramo
industrial lucrativo
Com a privatizaccedilatildeo do sistema prisional o Brasil estaraacute passando para
as matildeos de particulares o jus puniendi deixando sua soberania que
vem sendo exercida desde o surgimento da figura do Estado
20
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
22
deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
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Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
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8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
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natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
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os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
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infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
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No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
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executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
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II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
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9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
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Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
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havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
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sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
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pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
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Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
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O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
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9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
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forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
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Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
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92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
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oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
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de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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20
6 ASPECTOS METODOLOacuteGICOS
A metodologia utilizada no trabalho monograacutefico seraacute realizada atraveacutes de
um estudo descritivo-analiacutetico desenvolvido atraveacutes da pesquisa
I- Quanto ao tipo
Bibliograacutefica procurando explicar o problema atraveacutes da anaacutelise da
literatura publicada em livros dados oficiais pesquisados na internet imprensa
escrita artigos outros enfim dados que abordem direta ou indiretamente o tema em
anaacutelise
II - Quanto agrave utilizaccedilatildeo de resultados
Pura agrave medida que teraacute como uacutenico fim a ampliaccedilatildeo dos conhecimentos
III - Quanto agrave abordagem
Qualitativa buscando apreciar a realidade do tema no ordenamento
juriacutedico paacutetrio
IV - Quanto aos objetivos
Descritiva haja vista que buscaraacute descrever explicar classificar e
esclarecer o problema apresentado e
Exploratoacuteria objetivando aprimorar as ideias atraveacutes de informaccedilotildees
sobre o tema em questatildeo
21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
22
deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
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sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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21
7 INTRODUCcedilAtildeO
O cumprimento das garantias e direitos fundamentais dos presos e a
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade sempre foi responsabilidade do Estado
brasileiro como decorrecircncia da soberania deste Ocorre que o sistema penitenciaacuterio
encontra-se completamente sem estrutura de modo que natildeo consegue garantir de
forma digna e humana aos detentos a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
conforme prevista na Lei de Execuccedilatildeo Penal (LEP) e na Carta Magna de 1988
Em meio agrave crise uma das experiecircncias levadas a termo pelo Estado com
vistas a tentar resgatar os presiacutedios da falecircncia foi a terceirizaccedilatildeo por muitos
chamada de privatizaccedilatildeo dos presiacutediosO tema abordado neste trabalho
monograacutefico cuida exatamente desta intervenccedilatildeo do particular num assunto
exclusivamente estatal qual seja a tutela dos presos durante a execuccedilatildeo de uma
pena privativa de liberdade e a administraccedilatildeo dos presiacutedios
Os direitos dos encarcerados foram reconhecidos na Lei de Execuccedilatildeo
Penal que entrou em vigor no ano de 1984 com vasto conteuacutedo referente ao
tratamento individualizado de cada preso visando o retorno deste ao conviacutevio social
de maneira satisfatoacuteria Natildeo obstante desde muito antes os direitos do condenado
serem desrespeitados pelo proacuteprio Estado brasileiro situaccedilatildeo esta que tem se
agravado ano apoacutes ano ateacute chegar ao caos que hoje se apresenta
Na verdade o Estado brasileiro natildeo tem demonstrado saber tratar do
tema criminalidade em geral tanto no que diz respeito agrave prevenccedilatildeo quanto agrave
repressatildeo Assim estaacute fechado um perigoso circulo vicioso dentro do qual a parte
mais prejudicada eacute a populaccedilatildeo Como o Estado natildeo previne o crime combatendo
suas principais causas este ocorre cada vez mais com o aumento do nuacutemero de
prisioneiros as penitenciaacuterias existentes natildeo datildeo conta de proporcionar uma
ressocializaccedilatildeo eficiente de modo que a sua clientela volta para as ruas praticando
novos delitos para depois retornar novamente agrave penitenciaacuteria
No entanto natildeo eacute soacute a populaccedilatildeo em geral eacute que sofre com a ineficiecircncia
governamental em gerir as penitenciaacuterias mas os condenados e suas famiacutelias
pagam tambeacutem um preccedilo bastante alto que depois seraacute cobrado da sociedade que
os segregou e esqueceu nos calabouccedilos feacutetidos das prisotildees brasileiras
Os presos sofrem diretamente com a estrutura deficiente das prisotildees
atraveacutes de um tratamento desumanodegradantehumilhante que revolta e
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deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
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Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
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8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
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infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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22
deseduca Haacute maus-tratosfalta de higiene violecircncia alimentaccedilatildeo ruim superlotaccedilatildeo
nas celas despreparo dos agentes prisionais e vaacuterios outros fatores que com
certezase devidamente corrigidos permitiria o retorno do egresso agrave sociedade em
condiccedilotildees de boa convivecircncia
Com vista a tentar solucionar este problema no ano de 1999 teve iniacutecio
no Brasil a experiecircncia de um novo modelo de gerenciamento prisional com a
instalaccedilatildeo da prisatildeo em Guarapuava no estado do Paranaacute ou seja a gestatildeo
privada e natildeo mais a puacuteblica De laacute pra caacuteo que se chamou de privatizaccedilatildeo do
sistema penitenciaacuterio tomou grandes proporccedilotildees e se espalhou pelo Brasil afora
chegando inclusive aqui ao estado do Cearaacute em que chegaram a ser instaladostrecircs
presiacutedios geridos pela iniciativa privada um em Juazeiro do Norte um em Sobral e
um na regiatildeo metropolitana de Fortaleza em Itaitinga todos administrados pela
Companhia Nacional de Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)
Atualmente apenas o estado figura como administrador atraveacutes da
Secretaria de Justiccedila e Cidadania do Estado do Cearaacute (SEJUS)O processo de
privatizaccedilatildeo de uma penitenciaacuteria sempre foi alvo de muitas polecircmicaspor vaacuterias
razotildees Em primeiro lugar pelo fato de o Estado construir com recursos puacuteblicos
um estabelecimento prisional e entregaacute-lo a uma pessoa privada que aleacutem de ter
recebido tudo pronto ainda receberia dinheiro para isso
Em segundo lugar questionava-se a possibilidade de um ente privado
poder desempenhar uma atividade eminentemente estadual qual seja a tutela de
presos na fase da execuccedilatildeo penalou seja questionava-se assimse o direito de
punir do Estado estaria sendo entregue a um particular
Satildeo vaacuterias as vertentes para solucionar este problema existindo opiniotildees
contra e a favor da privatizaccedilatildeo do sistema prisional tanto a sua reforma ou outros
tipos de soluccedilotildees Dentre elas a mais aceita ateacute o momento eacute o modelo de cogestatildeo
do sistema prisional que consiste na administraccedilatildeo privada de alguns serviccedilos
carceraacuterios como os de psicologia medicina em geral e hotelaria entre outros mas
ficando a fiscalizaccedilatildeo destes sob a responsabilidade do Estado
Segundo os defensores atraveacutes dele deste sistema seraacute possiacutevel diminuir
o nuacutemero de reincidecircncias nas prisotildees e proporcionar melhores condiccedilotildees ao
encarcerado cumprindo o Estado o papel de ressocializaccedilatildeo do presoe economia
de gastos tendo em vista que iraacute gastar menos dinheiro com os reclusosJaacute os
opositores acreditam natildeo ser este sistema propiacutecio ao Brasil tendo em vista que a
23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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23
reincidecircncia natildeo seraacute atenuada que natildeo traraacute economia ao Estado e propiciaraacute altos
lucros para as empresas privadas
Diante do que foi explicado nos paraacutegrafos acima responder-se-atildeo a
determinados questionamentos tais como
1 A pena privativa de liberdade vem cumprindo seu papel ressocializador
no Brasil
2 Quais os argumentos positivos e negativos da privatizaccedilatildeo
3 Qual seria a saiacuteda mais eficiente para a soluccedilatildeo definitiva do problema
da ressocializaccedilatildeo nos presiacutedios brasileiros
Desta forma a justificativa deste trabalho estaacute na necessidade de se
analisar a questatildeo da privatizaccedilatildeo dos presiacutedios como a viabilidade do modelo
misto ou de cogestatildeo que jaacute pode ser encontrado no Brasil Verificar-se-atildeo
vantagens e desvantagens deste novo sistema ao se conferir de fato a reduccedilatildeo do
custo para o Estado com o encarcerado ou se ainda a empresa privada natildeo estaacute
visando apenas o lucro e explorando o trabalho do detendo
Em relaccedilatildeo aos aspectos metodoloacutegicos as hipoacuteteses foram investigadas
por meio de pesquisa bibliograacutefica e documental No que tange agrave tipologia da
pesquisa isto eacute segundo a utilizaccedilatildeo dos resultados eacute pura visto ser realizada com
o fim de aumentar o conhecimento do pesquisador para uma nova posiccedilatildeo A
abordagem eacute qualitativa procurando aprofundar e abranger os aspectos juriacutedicos
positivos e negativos decorrentes da implementaccedilatildeo deste novo modelo de
gerenciamento prisional
Para melhor organizaccedilatildeo o trabalho teraacute a seguinte ordem no primeiro
capiacutetuloabordaremos a evoluccedilatildeo histoacuterica do direito de punir e do sistema prisional
analisando a mudanccedila ocorrida com o jus puniendi assim como os tipos de sanccedilotildees
aplicadas a cada eacutepoca Analisam-se tambeacutem as mudanccedilas ocorridas como o
objetivo da pena que passou de uma mera vinganccedila chegando a ter o intuito de
recuperar o apenado para o conviacutevio em sociedade
No segundo capiacutetulo abordaremos a privatizaccedilatildeo do sistema
penitenciaacuterio os modelos adotados nos demais paiacuteses assim como a legalidade da
implementaccedilatildeo deste modelo de gerenciamento carceraacuterio no nosso paiacutesanalisando
questotildees importantes como a aplicaccedilatildeo deste modelo de privatizaccedilatildeo na atualidade
bem como a sua evoluccedilatildeo
24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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24
Por fim no terceiro capiacutetulo falaremos das mudanccedilas de gestatildeo no
sistema penitenciaacuterio brasileiro diferenciando terceirizaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo e
analisando qual tipo melhor caberia em nosso paiacutes bem como os proacutes e os contras
deste novo modelo de gerenciamento
25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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25
8 ORIGEM E EVOLUCcedilAtildeO DO JUS PUNIENDI E DO SISTEMA PENINTENCIAacuteRIO
Para melhor compreensatildeo do tema faz-se necessaacuterio uma retrospectiva
histoacuterica analisando as mudanccedilas do direito de punir e assim sucessivamente no
sistema prisional ao longo do tempo
O direito de punir nem sempre foi inerente ao poder do Estado Nos
temposremotos este pertencia ao particular portanto natildeo era aplicado de forma
correta nem tampouco com as devidas proporccedilotildees veremos a seguir como se deu
o avanccedilo desse direito e como hoje ele eacute tido em nosso ordenamento juriacutedico
Veremos tambeacutem que o debate do tema tenta fazer um retrocesso no direito vindo a
buscar a puniccedilatildeo privada nas penitenciaacuterias
81 Direito de punir fases formas e tipos de puniccedilatildeo
Desde muito antigamente ainda nos tempos em que natildeo existia a sociedade a
Justiccedila e o Estado o direito de punir jaacute se fazia presente na humanidade para
solucionar conflitos de interesse Os conflitos acompanham o ser humano desde o
seu surgimento na face da terra Os criminoacutelogos afirmam que o conflito eacute inerente
ao homem de que natildeo haacute sociedade que esteja livre do fenocircmeno do crime Desse
modo afirma CesareBeccaria (2008p18)
Sendo o crescimento do gecircnero humano apesar de lento e pouco
consideraacutevel muito superior aos meios de que dispunha a natureza esteacuteril e
abandonada para satisfazer necessidades que se tornavam cada dia mais
numerosas e entrecruzando-se de mil modos os primeiros homens ateacute
entatildeo em estado selvagem foram forccedilados a agrupar-se
Como natildeo havia um poder organizado para reprimir as condutas violentas
dos indiviacuteduoscada um fazia justiccedila com as proacuteprias matildeos da maneira que lhes
conviesse Trata-seda fase da vinganccedila privada onde o mal causado por um
indiviacuteduo era punido pela proacutepria viacutetima ou pela famiacutelia desta normalmente de uma
forma baacuterbara Na verdade a ideia devinganccedila era tida como sagrada agrave religiatildeo da
eacutepoca resultando muitas vezes em guerras violentas que podiam levar como de
fato aconteceu agrave extinccedilatildeo de grupos inteiros Essa puniccedilatildeo agressiva era resultado
da vinganccedila exercida pela viacutetima ao causador do dano
Dessa forma a resposta dos conflitos era quase sempre desumana e
agressivapois os envolvidos usavam de seus instintos para devolver o dano sofrido
26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
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de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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26
natildeo havendo nenhuma proporccedilatildeo entre o mal causado e a puniccedilatildeo sofrida por quem
o causou soacute se pensava na puniccedilatildeo e ignoravam-se as causas do conflito Ainda na
fase da vinganccedila privada com o intuito de se evitar a subtraccedilatildeo completa dos povos
surgiu no primeiro momento a entatildeo conhecida Lei de Taliatildeo que tinha na sua forma
ldquoOlho por olho dente por denterdquo ensejando uma regra para regulamentar a
vinganccedila sendo esta limitada a um mal idecircntico como compensaccedilatildeo
O segundo momento da fase da vinganccedila privada deu-se pela criaccedilatildeo do
coacutedigo de Hamurabi sendo este conhecido como a fase da composiccedilatildeo em que
aquele que podia ressarcir materialmente o mal causado a outrem ficaria livre de
um castigo maior contra si previsto assim no citado coacutedigo
Coacutedigo de Hamurabi
Art209 Se algueacutem bate numa mulher livre e a faz abortar deveraacute pagar dez
ciclos pelo feto
Art210 Se essa mulher morre entatildeo deveraacute matar o filho dele Assim como
tambeacutem dispotildee a Biacuteblia Sagrada Leviacutetico 24 17 ldquoTodo aquele que ferir
mortalmente um homem seraacute mortordquo Tambeacutem na Lei das XII taacutebuas Taacutebua
VII11- Se algueacutem fere a outrem que sofra a pena de taliatildeo salvo se houver
acordo
Neste coacutedigo o rei da Babilocircnia Hamurabi estabeleceu penas
crudeliacutessimas como queimar o criminoso cortar sua liacutengua cortar os seios as
orelhas as matildeos dentre outras praticas crueacuteis Esta fase perdurou ateacute o final do
seacuteculo XVIIIEm seguida surgiu a fase da ldquovinganccedila divinardquo por volta de 1300 aC
em que os hebreus acreditavam que atraveacutes de uma puniccedilatildeo religiosa a justiccedila seria
feita por Deus e para acalmar a sua ira
A puniccedilatildeo tiacutepica desta fase era o apedrejamento ateacute a morte A pena
variava de acordo com a classificaccedilatildeo do delito contra a divindade contra o seu
semelhante contra a honestidade contra a propriedade e contra a honra Havia
ainda outras formas de execuccedilatildeo como A morte pelo fogo a decapitaccedilatildeo a roda
dentre outras O lanccedilamento ao fogo era para os crimes cometidos por incestuosos
jaacute a lapidaccedilatildeo era o meio mais comum
No periacuteodo tido como da vinganccedila puacuteblicaa pena passou a ter caraacuteter
publico ou sejaera uma resposta da comunidade ao ato cometido pelo agente Neta
fase a Igreja foi aos poucos perdendo sua forccedila em face de uma maior organizaccedilatildeo
social Nesta eacutepoca surgiram alguns pensadores como Martin Lutero surgindo o
pensamento poliacutetico e os primeiros liacutederes que comandariam e ou representariam
27
os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
28
infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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de 2012
WACQUANT Loic A privatizaccedilatildeo dos presiacutediosDisponiacutevel em
lthttpdiploorgbr2004-09a989gt Acesso em 26 de outubro de 2012
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os demais membros do grupo O rei era um soberano advindo de Deus que
concentrava em si todos os poderes
O rei mais marcante do periacuteodo foi o Francecircs Luiacutes XIV que afirmava ldquoO
Estado sou eurdquo relatando assim que poderia fazer o que fosse de seu desejo visto
que a Igreja natildeo tinha mais forccedila para lhe deter sendo o rei dotado de soberania
absoluta
Voltando alguns seacuteculos atraacutes jaacute em 1200 a C no Egito cabia ao faraoacute
a elaboraccedilatildeo das leis Apesar de natildeo ter sido encontrado nenhum coacutedigo sabe-se
que no Egito existia a pena de morte sendo esta aplicada de diversos modos
segundo historiadoresEm seguida cerca de 500 aC surgiu a Lei das 12 taacutebuas
escrita por dez legisladores romanos (decenvirus) e era aplicada nos delitos da
Roma antiga tendo suas regras escritas nas doze taacutebuas das leis
Na era de Jesus Cristo pode-se citar como exemplo a pena aplicada ao
mesmo por Pocircncio Pilatos presidente do impeacuterio romano que condenou julgou e
sentenciou Jesus agrave morte por ir contra a Lei Mosaica dizendo-se filho de Deus e por
ser contra o imperador Tibeacuterio Cesar conforme se encontra no museu da
EspanhaA sentenccedila de Pilatos tinha o seguinte texto
Determino e ordeno por esta que se lhe decirc morte na cruz sendo pregado
com cravos como todos os reacuteus porque congregando e ajuntando homens
ricos e pobres natildeo tem cessado de promover tumultos por toda a Galileia
dizendo-se filho de Deus e REI DE ISRAEL ameaccedilando com a ruiacutena de
Jerusaleacutem e do sacro templo negando os tributos a Ceacutesar tendo ainda o
atrevimento de entrar com ramos e em triunfo com grande parte da plebe
dentro da cidade de Jerusaleacutem Que seja ligado e accediloitado e que seja
vestido de puacuterpura e coroado de alguns espinhos com a proacutepria cruz nos
ombros para que sirva de exemplo a todos os malfeitores e
quejuntamente com ele sejam conduzidos dois ladrotildees homicidas () onde
crucificado e morto ficaraacute seu corpo na cruz como espetaacuteculo para todos
os malfeitores e que sobre a cruz se ponha em diversas liacutenguas este tiacutetulo
JESUS NAZARENUS REX JUDEORUM (CURY2001pp166167)
Percebe-se nesta sentenccedila que a crucificaccedilatildeo era uma pena comum no
impeacuterio romano e que se voltava principalmente a vingar e exemplificarPor volta de
652 dC podemos citar o Alcoratildeo que servia de base organizacional para os
mulccedilumanos ao contraacuterio dos ocidentais que tinham como base de organizaccedilatildeo as
leis e as constituiccedilotildees ou seja quem violasse o Alcoratildeo natildeo soacute cometeria um
pecado como tambeacutem estaria violando um mandamento legal A obediecircncia ao
Alcoratildeo era natildeo soacute um dever social mas uma obrigaccedilatildeo moral e legal No Alcoratildeo
encontram-se penas de mortepenas de Taliatildeo legitimaccedilatildeo para assassinato de
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infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
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No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
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executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
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diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
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alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
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seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
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II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
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9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
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Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
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havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
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sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
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pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
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O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
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9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
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forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
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Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
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de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
REFEREcircNCIAS
ALENCAR MarciaLegislaccedilatildeo de penas alternativas no Brasil deve ser
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infieacuteis penas de chibatadas dentre outras
Natildeo podemos esquecer-nos da fase da inquisiccedilatildeo onde se confundia o
poder religioso com o poder real Nesta fase a Igreja Catoacutelica perseguiu torturou e
matou vaacuterios de seus inimigos tendo o Papa Inocecircncio IV autorizado o uso da
tortura sem faixa etaacuteria marcando as pessoas com ferros deixando a chamada
ldquomarca do diabordquo
Por muito tempo as puniccedilotildees continuaram a ser crueacuteis e desumanas
como vistas no Brasil em 1792 quando Tiradentes conspirou contra o governo de
Minas Gerais e falou sobre a ideia de repuacuteblica sendo enforcado e esquartejado
com vaacuterios de seus membros apregoados em postes altos
Ainda no Brasil durante a Revoluccedilatildeo Francesa em 1789 ocorreu a uniatildeo
do terceiro Estado e do clero formando uma assembleia constituinte a qual votou a
ldquodeclaraccedilatildeo dos direitos do homem e do cidadatildeordquo configurando-se esta a primeira
fase em que se preocupou com os direitos humanos na histoacuteria Mais tarde em
1793 acaba o reinado de Luiacutes XVI sendo aprovada a constituiccedilatildeo pela assembleia
constituinte levando agrave morte do rei na guilhotina depois de julgado e condenado
pelos crimes de conspiraccedilatildeo e atentado
Em 1873 ainda havia penas severas no Brasil assim como previstas no
coacutedigo criminal do impeacuterio Por exemplo ainda era permitida apena de morte de
ldquoGaleacutes perpeacutetuardquo e de prisatildeo com trabalhos forccedilados Soacute em 1855 veio a ocorrer o
uacuteltimo enforcamento legal em nosso paiacutes que foi uma pena cominada ao crime de
homiciacutedio qualificado Apoacutes este fato D Pedro II comeccedilou a comutar todas as
condenaccedilotildees capitais em penas perpeacutetuas por ter ocorrido erro na sentenccedila de
morte por parte do Judiciaacuterio extinguindo-se a pena de morte no Brasil somente em
1890 jaacute no governo republicano
Ocorre nesta eacutepoca a mudanccedila da publicizaccedilatildeo dos castigos para uma
forma de castigo disfarccedilada ou seja oculta que fazia e faz ainda hoje a sociedade
esquecer das pessoas sobre as quais aplicou-se a pena ao contraacuterio dos supliacutecios
em praccedila puacuteblica que valorizavam a barbaacuterie da sociedade sobre o homem ou
melhor do soberano sobre os seus suacuteditos (FOCAULT2005)
Ateacute meados do seacuteculo XIX o poder sobre o corpo natildeo deixou de existir
totalmente como ainda afirma Michael Foucault (2004p 18) ldquoSem duacutevida a
penanatildeo mais se centralizava no supliacutecio como teacutecnica de sofrimento tomou como
objeto a perda de um bem ou de um direitordquo
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No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
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forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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29
No seacuteculo XX veio ao mundo uma nova espeacutecie de criminalidade sem as
conotaccedilotildees individuais do crime claacutessico que merece uma reformulaccedilatildeo dogmaacutetica
em mateacuteria penal Sobretudo esta nova expressatildeo de delinquecircncia impotildee
modificaccedilotildees nas formas de execuccedilatildeo das penas A imputabilidade das pessoas
juriacutedicas foi admitida para os crimes ambientaisde acordo com o Art3ordm da Lei
9605 de 13 de fevereiro de 1998 em seu capiacutetulo I das disposiccedilotildees gerais que
afirmava o seguintein verbis
Art3ordm As pessoas juriacutedicas seratildeo responsabilizadas administrativa civil e
penalmente conforme o disposto nesta lei nos casos em que a infraccedilatildeo seja
cometida por decisatildeo de seu representante legal ou contratual ou de seu
oacutergatildeo colegiado no interesse ou benefiacutecio de sua entidade
Paraacutegrafo uacutenico A responsabilidade das pessoas juriacutedicas natildeo exclui a das
pessoas fiacutesicas autoras co-autoras ou participes do mesmo fato
Essa Lei criou a prestaccedilatildeo pecuniaacuteria e o recolhimento domiciliar em
relaccedilatildeo ao qual natildeo houve veto presidencial Instituiu igualmente a pena restritiva
de suspensatildeo parcial ou total das atividades O art 21 da Lei n960598
estabeleceu as penas para as pessoas juriacutedicas multa restritivas de direitos e
prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave comunidadeO que vemos hoje eacute o fracasso do Estado em
natildeo conseguir gerir os presiacutedios com dignidade humana por natildeo ter porte para tal
coisa conforme explica Argollo Elaina Arauacutejo(2007online)
O sucateamento da maacutequina penitenciaacuteria somada ao despreparo dos que
lidam no universo carceraacuterio e a omissatildeo do Estado e da proacutepria Sociedade
compotildeem o quadro da realidade penal brasileira Os avanccedilos concernentes
a aplicaccedilatildeo de medidas alternativas agrave privaccedilatildeo de liberdade ainda satildeo
diminutos face ao tamanho da crise na execuccedilatildeo penal As penas privativas
de liberdade demonstram que o que se pratica por aiacute eacute um flagrante
desatendimento aos direitos humanos
Atualmente sabe-se que o direito de punir continua sendo exercido pelo
Estado que tem o dever de estabelecer a ordem social conforme a Lei de execuccedilatildeo
penal que afirma em seu artigo 10 que eacute dever do Estado dar assistecircncia ao preso
objetivando o retorno deste a sociedade
Como jaacute dito a finalidade de ressocializaccedilatildeo do detento tendo este o
direito agrave prestaccedilatildeo de alguns serviccedilos do Estado conforme o artigo citado acima
82 Sistemas penitenciaacuterios
O sistema penitenciaacuterio corresponde agrave forma escolhida pelo Estado para
30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
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havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
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sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
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Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
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O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
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9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
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forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
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Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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30
executar as penas privativas de liberdade de seus infratores Os primeiros sistemas
penitenciaacuterios surgiram nos Estados Unidos poreacutem a prisatildeo como ideia de pena soacute
surgiu a partir do seacuteculo XVIIIO sistema americano serviu de fonte de inspiraccedilatildeo
para os sistemas da atualidade podendo estes ser divididos em trecircsnuma
sequecircncia evolutiva dispostos da seguinte forma sistemas pensilvacircnico alburniano
e progressivo
821 O sistema penitenciaacuterio pensilvacircnico
Dentre as treze colocircnias inglesas da Ameacuterica estava a colocircnia da
Pensilvacircnia que fora criada em 168 tendo por finalidade atenuar a severa
legislaccedilatildeo penal inglesa A cominaccedilatildeo da pena de morte foi limitada ao crime de
homiciacutedio e tambeacutem foram substituiacutedas as penas de castigos fiacutesicos e de mutilaccedilotildees
pelas penas privativas de liberdade e de trabalhos forccedilados estas abolidas em 1786
O sistema pensilvacircnico conhecido tambeacutem como filadeacutelfico tinha como
principal caracteriacutestica o isolamento do preso em uma cela natildeo podendo receber
visitas com abstinecircncia total de bebidas alcooacutelicas apresentando a influecircncia das
ideias iluministas de Beccaria
O preso tinha a obrigaccedilatildeo de permanecer calado podendo e devendo
meditar e rezar sendo a Biacuteblia a uacutenica leitura permitida Assevera-se que a religiatildeo
era vista como um instrumento capaz de recuperar o preso
Em 1790 foi aberta a primeira penitenciaacuteria a adotar o modelo
pensilvacircnico conhecida como Walnutstreet Neste presiacutedio o total isolamento soacute era
atribuiacutedo aos detentos mais perigosospodendo os demais presos trabalharem
durante o dia com a observaccedilatildeo de completo silecircncio Adotaram tambeacutem este
modelo poreacutem com algumas peculiaridades as prisotildees Western penitenciary
construiacuteda em 1818 e a EasternPenitenciary esta construiacuteda em 1829
822 O sistema penitenciaacuterio alburniano
Esse sistema surgiu da necessidade de superar as deficiecircncias do regime
supracitadoRecebeu essa denominaccedilatildeo decorrente da criaccedilatildeo da prisatildeo de Auburn
em 1816 onde os presos eram divididos em categorias permitindo o trabalho diurno
apenas para aqueles que possuiacuteam maiores chances de recuperaccedilatildeo Nestas
prisotildees havia isolamento apenas durante o periacuteodo noturno havendo convivecircncia
31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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31
diurna entre os presos
Em meados do seacuteculo XVIII com a crescente industrializaccedilatildeo o mercado
de trabalho foi ficando carente de pessoas preparadas treinadas Desta forma o
sistema alburniano surgiu como forma de adequar matildeo-de-obra penitenciaacuteria aos
intentos do sistema capitalista submetendo o recluso ao seu regime poliacutetico-
econocircmico aproveitando-o como forccedila produtiva estabelecendo a filosofia de que o
trabalho era um instrumento reabilitador do preso e o reformava
O fato de ele se constituir num regime disciplinar excessivamente
rigoroso com a aplicaccedilatildeo de castigos crueacuteis e excessivos e a competiccedilatildeo do
trabalho nas prisotildees com o trabalho livre passou a se tornar um entrave na
economia colonial levado este modelo ao fimA diferenccedila entre o primeiro sistema e
o segundo era basicamente que neste os reclusos permaneciam separados
durante todo o dia jaacute no outro o isolamento se dava apenas no periacuteodo noturno
Percebe-se que a valorizaccedilatildeo do trabalho natildeo se deu pelo caraacuteter
humanitaacuterio mas se deu pelo fato que os Estados Unidos precisavam de matildeo de
obra nesta eacutepoca devido ao crescimento acelerado da industrializaccedilatildeo vendo nisso
a exploraccedilatildeo da matildeo de obra do detento jaacute que era mais barata que a do homem
livre Como a Europa natildeo necessitava dessa matildeo de obra continuou a usar o
primeiro sistema (filadeacutelfico)
Rafael Damasceno de Assis (2007online)comparando os sistemas
supracitados afirma que apesar de se constituiacuterem em sistemas que se baseavam
no isolamento ambos tinham a finalidade da recuperaccedilatildeo dos presos mesmo natildeo
vindo esta a ocorrer de forma eficaz na praacutetica Grecianny Carvalho Cordeiro (2006)
pensa diferentepois diz que eles natildeo tinham o pensamento de reinserccedilatildeo do preso
na sociedade logo a pena natildeo tinha qualquer caraacuteter ressocializador
A segunda opiniatildeo seria mais aceita pois com o silecircncio absoluto e o
isolamento da famiacutelia e outras medidas igualmente radicais o encarcerado natildeo tinha
grandes chances de se recuperar
823 Osistema penitenciaacuterio progressivo
Este tipo de sistema penitenciaacuterio veio a surgir no final do seacuteculo XIX
ganhando forccedilas atraveacutes da Europa somente apoacutes a primeira Guerra Mundial Este
sistema consiste na divisatildeo de periacuteodos de modo que em cada periacuteodo o preso
poderaacute desfrutar de privileacutegios de acordo com o seu comportamento e avanccedilo
32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
REFEREcircNCIAS
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32
alcanccedilado pelo reformador
Assim a pena era dividida em regimes de modo que o preso entrava no
mais gravoso e ia progredindo para o menos que o aproximava mais do conviacutevio
socialConforme Rafael Damaceno de Assis (2007online) a divisatildeo do sistema
dava-se em trecircs periacuteodos onde no primeiro periacuteodo chamado de isolamento celular
diurno e noturno tinha a finalidade de fazer com que o preso refletisse sobre seu
comportamento delituoso
No segundo periacuteodo tinha o trabalho silencioso durante o dia mantendo-
se a segregaccedilatildeo Por fim vinha a fase de liberdade condicional apoacutes a qual senatildeo
fosse determinada sua revogaccedilatildeo o condenado vinha entatildeo a adquirir sua liberdade
de forma definitivaO sistema progressivo tinha dois princiacutepios baacutesicos que era
estimular a boa conduta do recluso e obter sua reforma moral para que este tivesse
condiccedilotildees de retornar a sociedade
Portanto o avanccedilo deste sistema estava ligado agrave vontade do proacuteprio
preso Para Ceacutesar Barros de Leal (2001p37) foi atraveacutes deste sistema que foi dado
ao criminoso o direito de vir a sonhar com a liberdade novamente podendo ele
retornar a sociedade antes do termino da condenaccedilatildeo
Apesar de expandir-se por toda a Europa o sistema progressivo inglecircs
fora logo substituiacutedo pelo irlandecircs tendo este a uacutenica diferenccedila da inserccedilatildeo da fase
intermediaacuteria entre o periacuteodo de trabalho do condenado e o livramento condicional
Neste periacuteodo intermediaacuterio o preso trabalhava ao ar livre e em prisotildees especiais
preferencialmente agriacutecolas sem necessidade de uniformes deixando de sofrer
castigos corporais podendo comunicar-se com a populaccedilatildeo livre e dispor de parte
da remuneraccedilatildeo de seu trabalho
O sistema Irlandecircs mesmo sendo muito questionado ainda vigora em
diversos paiacuteses embora muitos considerem que ele tenha se transformado num
sistema de individualizaccedilatildeo cientiacutefica que eacute adotado pelo sistema penitenciaacuterio
espanholHoje existe uma corrente doutrinaacuteria que entende que o sistema
progressivo estaacute em crise e aponta dois vetores possiacuteveis ldquoPor um lado a
individualizaccedilatildeo penitenciaacuteria e por outro a pretensatildeo de que o regime penitenciaacuterio
permita uma vida em comum mais racional e humana (por exemplo quando se
estimula o regime aberto)rdquo (BITTENCOURT2001p97)
Podemos perceber este tipo de sistema em nosso ordenamento juriacutedico
onde o preso no Brasil cumpre sua pena progressivamente conforme veremos a
33
seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
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II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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seguir
83 O sistema no Brasil e o cumprimento de pena privativa de liberdade
Ainda hoje satildeo utilizadas em todo mundo variantes deste sistema original
progressivoO Brasil por exemplo o preso cumpre sua pena de modo progressivo
prevendo nossa lei trecircs tipos de regimes prisionais que satildeo o fechadoo semiaberto
e o abertoO regime fechado destina-se aqueles condenados agrave penas maiores de
oito anos de reclusatildeo sendo cumpridos em penitenciaacuteria de seguranccedila maacutexima ou
meacutedia o regime semiaberto se destina a condenados a penas intermediaacuterias ou
seja superiores a quatro anos e inferiores a oito anos desde que natildeo sejam
reincidentes e eacute cumprido geralmente em colocircnias agriacutecolas industriais ou em
estabelecimentos similares Jaacute o regime aberto eacute para aqueles condenados natildeo
reincidentes a pena igual ou inferior a quatro anos que deve ser cumprida em casa
de albergado ou estabelecimento adequado
Com a reforma do coacutedigo penal de 1984 as penas alternativas mais
especificamente as restritivas de direito foram introduzidas no nosso ordenamento
juriacutedico com a lei 720984entre eles a prestaccedilatildeo de serviccedilos a comunidade ou a
entidades puacuteblicas a interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos e a limitaccedilatildeo de fim de
semana Essas penas satildeo de caraacuteter substitutivo sendo chamadas de ldquopenas
alternativasrdquo
Como afirma Diogo Marques Machado(2003online) a pena restritiva de
direitos ao contraacuterio daquela explicitada na parte geral do coacutedigo penal natildeo por
objetivo constranger a liberdade de ir e vir do cidadatildeo e sim provocar um abalo na
posiccedilatildeo que esta pessoa desfruta na sociedade ou seja visa alterar seu status
perante o meio que ele vive sem entretanto removecirc-lo ou isolaacute-lo daquela
comunidadepois apesar de a pena restritiva de direitos atingir o prestigio que a
pessoa em questatildeo deteacutem ela visa implicitamenteproteger a dignidade da pessoa
humanaprinciacutepio fundamental esculpido na Constituiccedilatildeo federalque observa a
necessidade de proporcionar a estes condiccedilotildees para uma vida digna com destaque
para o aspecto econocircmico Assim no Art43 o coacutedigo penal dispotildee
Penas restritivas de direitos
Art43-As penas restritivas de direitos satildeo
I-prestaccedilatildeo pecuniaacuteria
34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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34
II-perda de bens e valores
III-VETADO
IV-interdiccedilatildeo temporaacuteria de direitos
VI-limitaccedilatildeo de fim de semana
A pena alternativa de maior interesse social eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilo agrave
comunidade pois esta permite que o condenado tenha consciecircncia dos problemas
sociais sendoportanto mais uacutetil do que a detenccedilatildeo Na prestaccedilatildeo de serviccedilos agrave
comunidade as tarefas satildeo distribuiacutedas conforme as aptidotildees do condenado
devendo ser cumpridas oito horas semanais de serviccedilo podendo ser nos dias uacuteteis
ou aos saacutebados domingos e feriados de modo a natildeo prejudicar a jornada normal de
trabalho fazendo com que o condenado reponha o mal provocado agrave sociedade
Conforme a Agecircncia de Notiacutecias do Estado do Paranaacute (2322010online)
para ser mais eficiente e servir realmente para reduzir as lotaccedilotildees nas prisotildees
brasileiras a legislaccedilatildeo de penas alternativas deve ser modificada A afirmaccedilatildeo foi
feita por Marcia Alencar coordenadora-geral de penas alternativas do Ministeacuterio da
Justiccedilaem Curitiba durante o seminaacuterio Sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees
Segundo ela no modelo brasileiro as alternativas soacute alcanccedilam crimes
com penas ateacute quatro anos de baixo e meacutedio potencial ofensivo e que natildeo tenham
sido praticados com violecircncia ou ameaccedilaMarcia Alencar (2010 online) diz o
seguinte (Seminaacuterio sistema penitenciaacuterio-desafios e soluccedilotildees)
As penas alternativas no paiacutes natildeo se confirmaram como alternativas a
prisatildeo Servem como outro sistema penal com um volume muito superior ao
numero de pessoas presas Explicando que as penas alternativas da forma
como estatildeo natildeo podem resolver a superlotaccedilatildeo das prisotildees brasileiras jaacute
que tratam soacute de penas de curta duraccedilatildeo Um sistema natildeo substitui o outro
porque eles atingem puacuteblicos diferentes Para servir de soluccedilatildeo ao sistema
prisional tem que haver uma alteraccedilatildeo no limite das penas
Nos dias de hoje a prisatildeo natildeo consegue realizar os seus propoacutesitos por
natildeo conseguir ressocializar o preso aleacutem de natildeo prevenir que este cometa crimes
poreacutem mesmo com a negatividade da penada pena privativa de prisatildeo esta ainda eacute
vista como a mais aceita forma de aplicaccedilatildeo ao criminoso sendo indelegaacutevel a
legitimaccedilatildeo do Estado
35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
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O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
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forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
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Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
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de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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35
9 PRIVATIZACcedilAtildeO DO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO
A privatizaccedilatildeo do sistema penitenciaacuterio surgiu pela necessidade urgente
de se buscar melhores resultados na execuccedilatildeo penal tendo em vista a precaacuteria
condiccedilatildeo do sistema penal e os tratamentos desumanos que satildeo conferidos aos
presos Natildeo eacute de hoje essa ideia de privatizar presiacutedios pois esse tipo de prisatildeo
privatizada jaacute existia desde a antiguidade conforme se exporaacute adiante
A seguir veremos o surgimento da privatizaccedilatildeosua evoluccedilatildeo no tempo
ateacute os dias atuais e ainda da sua constitucionalidade ou natildeo
91 Origem e evoluccedilatildeo
Com a revoluccedilatildeo Industrial o homem passou a ser substituiacutedo pela
maacutequina surgindo assim o desemprego que trouxe consigo inuacutemeros problemas
sociais sendo um deles a criminalidadena verdade a criminalidade sempre
acompanhou o homem em sua caminhada sobre a terra mas nesta eacutepoca o crime
ganhou novos contornos tendo em vista a miseacuteria que se abateu sobre os
empregados
Aumentando a criminalidade aumentou o nuacutemero de infratores
condenados e que nessa qualidade precisariam ser recolhidos aos presiacutedios para
cumprimento da pena O Estado jaacute natildeo queria ter em suas matildeos este trabalho de
cuidar dos presos
Conforme anunciamosno comeccedilo da civilizaccedilatildeo humana jaacute havia prisotildees
privadas que eram as cavernas usadas pelos particulares para prender seus
inimigos Jaacute em se tratando de penitenciaacuterias a primeira ideia sobre participaccedilatildeo de
particulares na administraccedilatildeo de presiacutedios foi em penitenciaacuterias industriais sendo o
sistema Panoacuteptico idealizado no seacuteculo XVIII pelo inglecircs Jeremy Bentham com um
propoacutesito mercantilista afim de entatildeo satisfazer seus interesses
Esse tipo de presiacutedio deveria permitir ao Estado ter uma visatildeo do preso
ampla e irrestrita durante 24 horas por diaassim comonessa eacutepoca natildeo havia
sistemas de monitoramentodesenvolveu-se uma arquitetura especiacutefica na
construccedilatildeo de presiacutedios que possibilitava aos gestores responsaacuteveis pela
seguranccedila uma visatildeo geral dos presos sendo estes controlados pelos inspetores
prisionais
36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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36
Vale salientar que estes tambeacutem poderiam ser averiguados por curiosos
ou pelas famiacutelias dos detentos pois se submetiam ao princiacutepio da inspeccedilatildeo total O
Panoacuteptico tinha uma forma circular e as celas atravessavam de uma ponta a outra
permitindo entatildeo a visatildeo geral destafazendo assim com que o preso fosse vigiado a
toda hora ou pelo menos que este tivesse esta sensaccedilatildeo
Segundo Foucault(1997 pp166-169) a finalidade do Panoacuteptico estaacute em
induzir no detido um estado consciente e permanente de visibilidade que assegura o
funcionamento autoritaacuterio do poderFazer com que a vigilacircncia seja permanente nos
seus efeitos e que a perfeiccedilatildeo do poder tenta tornar inuacutetil a atualidade do seu
exerciacutecio
O Panoacuteptico era uma prisatildeo circular com celas individuais e divididas por
paredesTanto a parte frontal como a do fundo eram abertas para observaccedilatildeo Na
parte inferior localizava-se o diretorque ficava no alto de uma torre central dentro de
uma circunferecircnciaNo lado externo do preacutedio ficava a observaccedilatildeo de quem tivesse
o interesse em observar
Na definiccedilatildeo de Jeremy Bentham (2008p18)
O edifiacutecio eacute circularOs apartamentos dos prisioneiros ocupam a
circunferecircnciaVocecirc pode chamaacute-los se quiser das celasEssas celas satildeo
separadas entre si e os prisioneiros dessa forma impedidos de qualquer
comunicaccedilatildeo entre sipor participaccedilotildeesna forma de raios que saem da
circunferecircncia em direccedilatildeo ao Centro ()
Na deacutecada de 80 do seacuteculo passado assistimos agrave maior crise pala qual
jaacute passou o sistema penitenciaacuterio americano tendo os Estados Unidos da Ameacuterica
se deparado com grandes problemas como o da superlotaccedilatildeo dos presiacutedios
resultado da poliacutetica inaugurada naquele paiacutes pelo entatildeo presidente Ronald Reagan
de toleracircncia zero Tratava-se da efetivaccedilatildeo do Direito Penal Maacuteximo ou sistema
retribucionista ou da lei e da ordem que tinha por regra prendersob a exceccedilatildeo ficar
em liberdade
Esta poliacutetica resultou numa poliacutetica negra para os Estados Unidos que no
fim da deacutecada de 80 era o paiacutes com o maior nuacutemero de encarcerados do mundo
todo proporcionalmente a sua populaccedilatildeo Naquela eacutepoca era difiacutecil algum
americano natildeo ter sido preso ou natildeo ter um amigo ou parente que jaacute o esteve
Com o intuito de solucionar esta problemaacuteticaos Estados Unidos
buscaram no sistema de privatizaccedilatildeo das prisotildees uma nova alternativa para as
superlotaccedilotildees e as rebeliotildees que sempre ocorriam Na verdade este mesmo paiacutes jaacute
37
havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
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O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
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9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
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forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
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Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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havia adotado esta opccedilatildeo de gerecircncia das prisotildees no Seacutec XIXdiga-se de
passagem de forma muito insatisfatoacuteria pois quando entregaram a gestatildeo de suas
prisotildees agrave iniciativa privada perceberam que comeccedilou a surgir uma seacuterie de
denuacutencias de maus-tratos e de abuso da matildeo de obra gratuita dos detentos o que
comeccedilou a trazer prejuiacutezo a outras empresas concorrentes uma vez que estes
presiacutedios foram transformados em verdadeiras empresas
No seacuteculo seguinte o aumento do nuacutemero de detentos fez com que os
EUA voltassem a adotar a ideia privatizadoraexportando assim para diversos
paiacuteses com a Inglaterra Aacutefrica do Sul Franccedila e AustraacuteliaJaacute na Espanha podiam-se
encontrar estabelecimentos penitenciaacuterios administrados por religiosos sem
nenhuma interferecircncia do Estado
Devemos lembrar que quando surgiu a privatizaccedilatildeo dos presiacutediosos
presos eram vistos como instrumentos de lucro para os novos gestores que na
verdade eram empresaacuterios Somente a poucos anos os detentos passaram a ser
sujeito de direitosdevendo portanto assegurar-lhes respeito agrave dignidade com um
tratamento humano e justo e visando agravesua ressocializaccedilatildeo
Sabemos que estas natildeo satildeo as realidades dos presos A verdade eacute que
estes vivem em condiccedilotildees precaacuterias e desumanas devido agraves maacutes condiccedilotildees de
nossos estabelecimentos prisionais fazendo com que a pena de prisatildeo natildeo cumpra
o seu papel
11 A privatizaccedilatildeo na atualidade
Com o aumento da criminalidade as organizaccedilotildees criminosas satildeo
formadas muitas vezes dentro dos proacuteprios presiacutedios pelos detentos destes sendo
possiacutevel notar-se ateacute mesmo a corrupccedilatildeo de agentes penitenciaacuterios e policiais
fazendo com que o cidadatildeo fique preso em sua residecircncia e refeacutem de seu medo
Conforme dissemos eacute mais uma tentativa do Estado brasileiro de tornar
o cumprimento da pena privativa de liberdade eficaz sobretudo quanto agrave
reeducaccedilatildeo do condenado No mundo globalizado de hojepodemos perceber que o
Estado vem priorizando negoacutecios econocircmicos mais do que seu objetivo especiacutefico
que eacute gerir a coisa publica e cuidar de seus cidadatildeos Foi com esta mentalidade que
se abriu no Brasil para o setor privado a possibilidade de gerecircncia dos presiacutedios o
que segundo a lei eacute um dever do poder puacuteblico tal qual eacute a prestaccedilatildeo de serviccedilos de
38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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38
sauacutede educaccedilatildeo e seguranccedila puacuteblica Assim algumas penitenciaacuterias passaram a
ser administradas por empresas particulares como mais um de seus negoacutecios
Esse processo jaacute se estabeleceu em diversos outros setores como na
educaccedilatildeo aacuterea da qual o Estado foi se retirando aos poucosde forma que mais de
50 das escolas jaacute satildeo privatizadas Assim a educaccedilatildeo no Brasil atualmente eacute um
negoacutecio que gera lucros exorbitantes O mesmo jaacute se deu com a sauacutede e agora
acontece com a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade
Com esses argumentos de que a privatizaccedilatildeo traz consigo uma melhoria
na administraccedilatildeo a um custo menor para o Estado eacute que o empresariado passa a
almejar o mercado das prisotildees Apesar do argumento natildeo se tem o objetivo
esperado no setor de aacutegua e esgotos e no ano de telefonia todos jaacute praticamente
privatizados
O modelo privado de administraccedilatildeo dos presiacutedios pode ter iniacutecio desde a
construccedilatildeocomo apenas se limitar ao gerenciamento do estabelecimento jaacute
construiacutedo pelo Estado Se for incluiacuteda a construccedilatildeo no contrato com a iniciativa
privada esta deveraacute ser entregue ao Estado no final do prazo de dez anos
Os serviccedilos que eram antes prestados pelo Estado e agora satildeo de
responsabilidade do particular natildeo primam pela qualidade nem tampouco pela
economia natildeo tendo portanto a reduccedilatildeo de gastos puacuteblicos com o crimeGrecianny
Carvalho Cordeiro (2006p60) diz que a privatizaccedilatildeo do sistema prisional natildeo tem
provocado nenhuma economia aos cofres puacuteblicos muito pelo contraacuterio trata-se de
um investimento altiacutessimo cujo retorno eacute questionaacutevel
12 Modelos de privatizaccedilatildeo de presiacutedios
Atualmente haacute trecircs tipos de sistemas penitenciaacuterios no que diz respeito agrave
gestatildeo o estatal o privado e o comunitaacuterio No primeiro sistema a execuccedilatildeo da
pena eacute de responsabilidade uacutenica do Estado natildeo havendo qualquer participaccedilatildeo da
iniciativa privada sendo este o utilizado na maioria dos paiacuteses No sistema prisional
privado o que se vecirc eacute a iniciativa privada interferindo na execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdadepodendo ser elaacutestico o grau de atuaccedilatildeo da mesma
Por fim no uacuteltimo sistema denominado comunitaacuterio a execuccedilatildeo penal eacute
exercida pela proacutepria comunidade atraveacutes de organizaccedilotildees natildeo governamentais e
associaccedilotildees civis sem fins lucrativos promovendo desta forma o cumprimento da
39
pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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SILVA Cosmo Sobral daTerceirizaccedilatildeo dos presiacutedios a partir do estudo de uma
penitenciaacuteria do Cearaacute Disponiacutevel em
lthttpjus2uocombrdoutrinatextoaspid=6541ampp=2gtAcesso em 3 de novembro
de 2012
WACQUANT Loic A privatizaccedilatildeo dos presiacutediosDisponiacutevel em
lthttpdiploorgbr2004-09a989gt Acesso em 26 de outubro de 2012
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pena privativa de liberdade Podemos citar o modelo apaqueano como exemplo
Nos estabelecimentos prisionais brasileiros que satildeo administrados pela
iniciativa privada o estado preocupa-se com a seguranccedila externa do presiacutedio
ficando com o particular a seguranccedila interna e a execuccedilatildeo da pena prisional
referente ao serviccedilo de hotelaria tais como vestimenta meacutedico-odontoloacutegico lazer e
alimentaccedilatildeo
13 A legalidade da privatizaccedilatildeo em nosso ordenamento juriacutedico
Quando se privatiza uma atividade que ateacute entatildeo era desempenhada pelo
setor publicosignifica dizer que estaacute se transferindo para a iniciativa privada a
responsabilidade pela execuccedilatildeo completa por este serviccedilo No que diz respeito aos
presiacutedios ao privatizaacute-los o Estado transfere ao particular a responsabilidade pela
execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade desde que transitada em julgada a
sentenccedila penal condenatoacuteria ateacute a extinccedilatildeo da punibilidade seja qual for o motivo
Assim atraveacutes da privatizaccedilatildeo ocorre uma desvinculaccedilatildeo do
estabelecimento prisional do Estado No Brasil natildeo predomina este tipo de
transferecircncia de encargos pois o que se vecirc aqui eacute o sistema misto mais parecido
com o que se vecirc na Franccedila Aqui predomina um modelo chamado de
gerenciamento privado dos serviccedilos penitenciaacuterios conhecido tambeacutem como
cogestatildeo que se materializa atraveacutes da contrataccedilatildeo por parte do Estado de uma
empresa particular por um determinado periacuteodo de tempo para que esta administre
o estabelecimento prisional recebendo sua devida remuneraccedilatildeo
Estes serviccedilos contratados satildeo apenas de alimentaccedilatildeo vestimentalazer
apoio meacutedico-odontoloacutegico e apoio juriacutedico Impende ressaltar que na maioria das
vezes este tipo de gerenciamento se tem em penitenciaacuterias industriais em que as
empresas instalam-se para utilizar-se da matildeo de obra dos detentos afim
deaumentar seus lucrossob o pretexto de se estar profissionalizando o condenado
A Franccedila e o Brasil tecircm adotado este modelo de gestatildeo
Juacutelio Fabbrine Mirabete (1997p184) ao analisar a Lei nordm 7210
especificamente no art 84 faz comentaacuterio acerca da legalidade da privatizaccedilatildeo dos
presiacutedios
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Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
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O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
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9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
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forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
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Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
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92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
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oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
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Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
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de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
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determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
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CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
REFEREcircNCIAS
ALENCAR MarciaLegislaccedilatildeo de penas alternativas no Brasil deve ser
modificada Disponiacutevel
emltlthttpwwwhistoricoaenprgovbrmodulesnoticiasarticlephpstoryid=54452gt
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40
Em nenhum momento prevecirc a Lei a obrigatoriedade de que os
estabelecimentos prisionais locais sejam de propriedade do
Estadopermitindo com isso que sejam os preacutedios pertencentes agraves
empresas privadasou se puacuteblicos ocupados pela iniciativa privada em
qualquer dos regimes juriacutedicos permitidos em lei
Diferente disso eacute a transferecircncia completa da execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para o particular o que seria inconstitucional pois eacute indelegaacutevel a
execuccedilatildeo penal devendo portanto ser exercida pelo Estado aceitando-se apenas
a terceirizaccedilatildeo como forma de gerenciamento prisional Mirabeti (1997p184) afirma
ainda
Natildeo haacute dispositivo que vede a possibilidade de gerenciamento e
operacionalidade material dos estabelecimentos penais serem exercidos por
entidade privada Em nenhum momento a lei federal dispotildee que o diretor e
o servidor devam ser obrigatoriamente funcionaacuterios puacuteblicos A uacutenica
atividade que natildeo pode ser exercida por particulares nos estabelecimentos
penais eacute a aplicaccedilatildeo das sanccedilotildees disciplinares que por inferir diretamente
no desenvolvimento da execuccedilatildeo penal eacute destinada a oacutergatildeo publico
conforme disponha a lei local
Esta terceirizaccedilatildeo natildeo pode ter por objeto a atividade-fim qual seja a
execuccedilatildeo da penadevendo se ater apenas agraves atividades de suporte como
hotelariavestuaacuterio serviccedilos meacutedicos e odontoloacutegicos manutenccedilatildeo de instalaccedilotildees
dentre outros Conforme explica Sergio Pinto Martins (1995p33) natildeo poderaacute
ocorrer a terceirizaccedilatildeo em relaccedilatildeo agraves atividades-fim do presiacutedio tendo em vista que
neste caso natildeo haveria a prestaccedilatildeo de serviccedilos mas sim a proacutepria realizaccedilatildeo do
negoacutecio
Ocorre que muitas vezes a terceirizaccedilatildeo afronta a lei vigente no paiacutes
como no caso da Penitenciaacuteria Regional do Cariri que natildeo teve licitaccedilatildeo feita para a
contrataccedilatildeo de empresa prestadora de serviccedilo aleacutem de natildeo ter sido publicada a
dispensa daquela no diaacuterio oficial Assim o art175 de CF fora violado
Violam-se pelo exposto acimapelo menos trecircs dos cinco princiacutepios
constitucionais que regem a administraccedilatildeo publica e constante do art37 da CF
quais sejam a legalidade a moralidade e a publicidade
O Ministeacuterio Puacuteblico Federal chegou a entrar com uma accedilatildeo civil publica
junto agrave Justiccedila Federal no Cearaacute sendo apontadas inuacutemeras irregularidades pelos
promotores federais que no entanto natildeo foram identificadas pela JusticcedilaEssa
discussatildeo sobre a terceirizaccedilatildeo prisional se constata na palavra do ministro Gomes
de Barros(1991p113) no RMS nordm 407 - MA
41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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41
O princiacutepio da legalidade da administraccedilatildeo constitui apenas um dos
elementos do postulado do Estado de direito Tal postulado conteacutem
igualmente os princiacutepios da seguranccedila juriacutedica e da paz juriacutedica dos quais
decorre o respeito ao princiacutepio da boa-feacute do favorecido Percebe-se assim
que a supremacia do interesse puacuteblico sobre o privado deixou de ser
absoluto Tal princiacutepio muitas vezes prestou-se a deformaccedilotildeesservindo de
justificativa para implantaccedilatildeo de regimes ditatoriais tornou-se necessaacuterio
temperaacute-lo com velhas regras do direito privado que homenageiam a boa-feacute
e a aparecircncia juriacutedica
O direito de punirassim como a execuccedilatildeo penal eacute indelegaacutevelsendo o
Estado o uacutenico responsaacutevel objetivamente por taltendo que impor sua soberania
Conforme explica Paulo Bonavides (1996p107) o Estado eacute o uacutenico ente
competente para estabelecer regras de comportamento dispondo dos meios
materiais que se fizessem necessaacuterios para que elas sejam garantidas e
observadas exercendo assim a coaccedilatildeo organizada e incondicionada
42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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42
9 MUDANCcedilAS DE GESTAtildeO NO SISTEMA PENITENCIAacuteRIO BRASILEIRO
A nova forma de gerenciamento das prisotildees estaacute erroneamente
recebendo a denominaccedilatildeo de privatizaccedilatildeo Como jaacute dito anteriormente o que ocorre
no caso do Brasil natildeo eacute a privatizaccedilatildeo em si pois assim como na Franccedila eacute adotado
aqui o sistema de cogestatildeo ou terceirizaccedilatildeo diferente do que se vecirc nos EUA onde
as prisotildees satildeo completamente administradas pela iniciativa privada que vai desde a
construccedilatildeo ateacute a execuccedilatildeo da pena privativa de liberdade e agraves vezes a de morte
sem nenhuma interferecircncia do Estado
Como afirma Luiz Flavio DacuteUrso (1999p213)o termo privatizaccedilatildeo eacute
inadequado pois o que se pretende apenas eacute a colaboraccedilatildeo da iniciativa privada
com o Estado conferindo-lhe a funccedilatildeo de gerir as unidades prisionaisO que se
constata facilmente no Brasil eacute que o paiacutes adota na maioria das esferas o modelo
terceirizador notando-se facilmente nos serviccedilos de limpeza cozinha lavanderia ou
sejanos serviccedilos secundaacuterios ou acessoacuterios
91 Privatizaccedilatildeo ou terceirizaccedilatildeo
A terceirizaccedilatildeo teve uma larga aplicaccedilatildeo na Segunda Guerra mundial
quando o setor industrial teve uma grande demanda de produccedilatildeo voltada para a
guerra e sentiu uma enorme carecircncia de pessoas especializadas para tanto Diante
do impasse o Estado teve que transferir aos particulares boa parte da produccedilatildeo
Assim a terceirizaccedilatildeo ganhou forccedila e se consolidou mostrando ser eficaz
na administraccedilatildeo empresarial dando oacutetimos resultados no aspecto administrativo
Luiacutes Flaacutevio Borges DacuteUrso (1999 pp44-46) mostra que a terceirizaccedilatildeo
()Incentiva o surgimento de micros e meacutedias empresas e ainda o trabalho
autocircnomo possibilitando tambeacutem a melhoria e incremento nas empresas
existentes no mercado com ganhos de especialidadequalidade e
eficiecircncia
Eacute o processo de busca de parcerias determinado pela visatildeo empresarial
moderna e pelas imposiccedilotildees do mercado Natildeo mais poderemos passar para
os preccedilos os elevados custos isso tem feito com que os empresaacuterios se
preocupem com a qualidade competitividade agilidade de decisatildeo
eficiecircncia e eficaacutecia que acaba resultando na manutenccedilatildeo de clientes e
consumidores()
Eacute notoacuterio que o sistema penitenciaacuterio brasileiro encontra-se falido e que a
43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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43
forma de administraccedilatildeo dos presiacutedios soacute tem contribuiacutedo para este problemapela
falta de habilidade do Estado na gerecircncia desteUma das consequecircncias mais
maleacuteficas da falta de estrutura administrativa a ser dada pelo Estado eacute o alto iacutendice
de reincidecircncia criminal que gira em torno de 90 quando a meacutedia mundial eacute 70
esta jaacute considerada alta
A deficiecircncia na gestatildeo eacute a causa gerada por vaacuterios fatores como a falta
de assistecircncia total ao preso o desrespeito aos seus direitos constitucionais a
promiscuidade a instalaccedilatildeo dos poderes paralelos dentro dos presiacutedios dentre
outros
Registre-se ainda que dos 90 que voltam a delinquir ao sair dos
presiacutediosapenas cerca de 10 o faz apoacutes os primeiros seis meses de liberdade
devido agraves dificuldades de se reintegrarem de fato agrave sociedade o que se manifesta
principalmente pela dificuldade de encontrar um emprego
Desta formamuito mais prudente e uacutetil se o condenado trabalhaenquanto
preso se aprende um oficio para que ao sair jaacute possa ser absorvido pelo mercado
de trabalho Se natildeo haacute vagas para aqueles despreparados que nunca foram presos
e que dizer em relaccedilatildeo aos egressos
No que se refere ao trabalho do preso haacute de se observar a contrapartida
da remuneraccedilatildeo para que assim natildeo se configure a exploraccedilatildeo de sua matildeo de
obra Ademaisao inveacutes de o Estado pagar agrave famiacutelia do preso bolsas assistenciais o
proacuteprio preso poderiacom o fruto do seu trabalho no caacutercere sustentar ou auxiliar
no sustento de sua famiacutelia haja vista que o seu sustento jaacute deveria ser pago pelo
Estado
Importante eacute saber que nos dois sistemas tanto no privado como no
estatal ambos se obrigam aos preceitos legais mas de grande importacircncia no que
tange agrave superlotaccedilatildeo eacute que no privado existe um divisor bastante significativo
Conforme avisa Gracianny Cordeiro (2006p131) a terceirizaccedilatildeo e a privatizaccedilatildeo de
serviccedilos e bens puacuteblicos foi uma das formas encontradas pela iniciativa privada para
diminuir os obstaacuteculos de um Estado intervencionista o qual natildeo conseguia
desempenhar suas atividades em virtude da burocracia
A denominaccedilatildeo privatizaccedilatildeo no estudo do tema supracitado traz a melhor
definiccedilatildeo como a transferecircncia total das aacutereas relativas agrave execuccedilatildeo da pena privativa
de liberdade para a iniciativa privada ou sejaa transferecircncia total do poder do
Estado para o particular tirando daquele a responsabilidade da execuccedilatildeo da pena
44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
REFEREcircNCIAS
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44
Para Gracianny Cordeiro(2006p131) seria incorreto definir a privatizaccedilatildeo como
uma reduccedilatildeo do Estado social trata-se portanto de uma consequecircncia inerente
produto de uma politica neoliberal que busca reduzir a intervenccedilatildeo estatal em quase
todas as esferas
A privatizaccedilatildeo dos presiacutedios portanto afastaria o Estado e seus
servidores da execuccedilatildeo da pena cabendo entatildeo somente ao particular realizaacute-laA
privatizaccedilatildeo dos presiacutedios pode dar-se em um sentido amplo(modelo EUA)cabendo
ao particular executar completamente a pena imposta ou em sentido restrito(modelo
da Franccedila)no qual o particular fica responsaacutevel somente pelos serviccedilos das
unidades prisionais chamando assim mais corretamente de terceirizaccedilatildeo
Nos Estados Unidos podemos encontrar presiacutedios que adotam um
sistema privatizadorque vai desde a construccedilatildeo dos presiacutedios e a administraccedilatildeo
completa destes ateacute a sua seguranccedila externa ou seja a privatizaccedilatildeo total a
completa entrega da execuccedilatildeo penal ao particular
Jaacute na Franccedilapode encontrar-se o sistema conhecido como cogestatildeo
Neste sistema existe um contrato entre o Estado e a iniciativa privada em que em
determinado tempo se realizem serviccedilos de hotelaria tais como alimentaccedilatildeo
vestuaacuterio lazer e educaccedilatildeo
No Brasil assim como na Franccedila o sistema adotado eacute chamado
terceirizaccedilatildeo Neste sistema o Estado eacute responsaacutevel pela indicaccedilatildeo do diretor-geral
das prisotildees bem como pela seguranccedila externa ficando com o particular a execuccedilatildeo
de serviccedilos e da seguranccedila interna aleacutem de responsabilizar-se pelos trabalhos dos
detentos
A terceirizaccedilatildeo surgiu no Brasil por volta da deacutecada de 50 na induacutestria
automobiliacutestica que passou a contratar outras empresas para construir peccedilas dos
veiacuteculos a serem montados pela tomadora de serviccedilos Sendo assim terceirizar
consiste em uma empresa (tomadora) contratar outra prestadora de serviccedilos para a
realizaccedilatildeo de determinada atividade-meio podendo ser serviccedilos bens ou produtose
a terceirizaccedilatildeo natildeo se relacionar com a atividade-fim da empresapois seria a proacutepria
realizaccedilatildeo do negoacutecio da empresa tomadora
A terceirizaccedilatildeo traz vaacuterias vantagens para ambas as partes do contrato
pois possibilita que a empresa tomadora despenda sua forccedila totalmente na
atividade-fim deixando a atividade-meio para a prestadora de serviccedilo aleacutem de
livrar-se dos custos administrativos
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
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50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
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em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
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Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
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essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
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de 1941- Coacutedigo de Processo Penal e daacute outras providencias Diaacuterio Oficial da
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_______Lei nordm 7210 de 11 de julho de 1984 Instituiu a Lei de execuccedilatildeo penal
Diaacuterio Oficial da Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado Federal1984
_______Lei nordm 9605 de 12 de fevereiro de 1998 Dispotildee sobre as sanccedilotildees penais
e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e daacute
outras providencias Disponiacutevel em
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CARVALHO Priscila Almeida Privatizaccedilatildeo dos presiacutedios problema ou
soluccedilatildeoDisponiacutevel emlthttpwebartigoscom102271Privatizaccedilatildeo-Dos-Presiacutedios-
Problema-Ou-Soluccedilaopagina1htmlgt Acesso em 14de outubro de 2012
COELHO Mirela Accedilatildeo MPF-CE Questiona privatizaccedilatildeo dos presiacutedios no Estado
Disponiacutevel emlthttpnoticiaspgrmpfgovbrnoticias-do-sitegeralmpf-ce-acao-
contra-privatizacao-dos-presidios-sera-intensificada-com-completa-
investigacaogtAcesso em 15 de outubro de 2012
CORDEIRO Grecianny Carvalho A privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro
Rio de Janeiro Freitas Bastos 2006
CURY Augusto O mestre da vida 23ordf ed Satildeo Paulo Atlas 1999
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D‟URSO Luiz Flavio Borges Foacuterum Nacional de debates sobre a prisatildeo especial
e o sistema prisional adequado para o BrasilAcrimesp disponiacutevel em
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D‟URSO Luiz Flaacutevio Borges Privatizaccedilatildeo de presiacutediosConsulexn31 ano III Satildeo
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Disponiacutevel em lthttpconteudojuridicocombrartigosampver=222977gt Acesso em
20 de outubro de 2012
FARACHE Jacob Arnaldo CamposPrisotildees brasileiras a terceirizaccedilatildeo como
alternativa para a gestatildeo do sistema prisional Artigo publicado em4 de fevereiro de
2009 no site Conteuacutedo Juriacutedico Disponiacutevel em
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FOUCAULT Michel Vigiar e punirhistoacuteria das violecircncias nas prisotildees Petroacutepolis
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LEAL Cesar Barros Prisatildeo crepuacutesculo de uma era 2ordf ed Belo Horizonte Del Rey
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53
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REVISTA CONSULTOR JURIacuteDICORevista Consultor Juriacutedico maio 2006
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SANTOS Jorge Amaral dos A utilizaccedilatildeo das parcerias puacuteblico-privadas pelo
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SILVA Cosmo Sobral daTerceirizaccedilatildeo dos presiacutedios a partir do estudo de uma
penitenciaacuteria do Cearaacute Disponiacutevel em
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WACQUANT Loic A privatizaccedilatildeo dos presiacutediosDisponiacutevel em
lthttpdiploorgbr2004-09a989gt Acesso em 26 de outubro de 2012
45
92 Proacutes e contras da terceirizaccedilatildeo
Assim como vaacuterios paiacuteses do mundo o Brasil tambeacutem tem se mostrado
ineficiente no trato da questatildeo penitenciaacuteria de modo que a terceirizaccedilatildeo surgiu
como uma ferramenta positiva para a melhoria da qualidade da execuccedilatildeo penal A
terceirizaccedilatildeo eacute uma forma de se aprimorar a gestatildeo de uma penitenciaacuteria cuja
finalidade preciacutepua eacute ressocializar os condenados a uma pena privativa de
liberdade Assim quando o terceiro particular empresaacuterio assume um presiacutedio o
faz com olhos de comerciantede empresaacuterio logo buscaraacute a excelecircncia na
execuccedilatildeo de sua atividade com vista a obter resultados e o seu lucro
Natildeo se pode exigir que um empresaacuterio atue seja em que tipo de negoacutecio
for sem que persiga o lucro pois disso ele depende para sobreviver e esta eacute a sua
mola impulsionadora Ele tem custos paga os empregados tributos tem despesas
com logiacutestica logo precisa cobri-las e ainda tirar seu sustento Natildeo se pode
confundir o empresaacuterio com o Estado que natildeo tem fins lucrativos e executa o
trabalho com o dinheiro dos tributos arrecadados de seus suacuteditos Na verdade os
governos satildeo nossos empregados trabalham para noacutes
Assim eacute razoaacutevel que um custo de um preso para uma empresa
terceirizada seja maior que o custo de um preso vigiado pelo Estado pois neste
preccedilo estaacute o lucro daquele empresaacuterio e ainda tudo aquilo que o Estado deveria
proporcionar aos presos e natildeo o faz como roupas adequadas condiccedilotildees de
higiene comida adequada assistecircncia juriacutedica e religiosa enfim tudo o que estaacute
previsto na CF e na legislaccedilatildeo ordinaacuteria aplicaacutevel
Vejamos o exemplo do Cearaacute que comeccedilou esta experiecircncia no ano
2000 atraveacutes do Instituto Penal Olavo Oliveira II situado em Itaitinga regiatildeo
metropolitana de Fortaleza sendo administrado pela extinta Companhia Nacional de
Administraccedilatildeo Prisional (CONAP)Esta mesma empresa tambeacutem foi contratada agrave
eacutepoca pelo Governo do Estado do Cearaacute para administrar as penitenciaacuterias
industriais regionais do Cariri e de Sobral cada uma com capacidade para 500
presos
Natildeo havia superlotaccedilatildeo porque o contrato natildeo permitia os presos
recebiam vestimentas adequadas alimentaccedilatildeo adequada e ainda tinham a
seudispor um meacutedico e um dentista pelo menos oito horas por dia O mais
importante os presos das penitenciaacuterias de Cariri e de Sobral tinham a seu dispor
46
oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
REFEREcircNCIAS
ALENCAR MarciaLegislaccedilatildeo de penas alternativas no Brasil deve ser
modificada Disponiacutevel
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de 1941- Coacutedigo de Processo Penal e daacute outras providencias Diaacuterio Oficial da
Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado Federal 1ordm dez 2003
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CURY Augusto O mestre da vida 23ordf ed Satildeo Paulo Atlas 1999
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D‟URSO Luiz Flavio Borges Foacuterum Nacional de debates sobre a prisatildeo especial
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D‟URSO Luiz Flaacutevio Borges Privatizaccedilatildeo de presiacutediosConsulexn31 ano III Satildeo
Paulo Revista Juriacutedica Consulex1999
Disponiacutevel em lthttpconteudojuridicocombrartigosampver=222977gt Acesso em
20 de outubro de 2012
FARACHE Jacob Arnaldo CamposPrisotildees brasileiras a terceirizaccedilatildeo como
alternativa para a gestatildeo do sistema prisional Artigo publicado em4 de fevereiro de
2009 no site Conteuacutedo Juriacutedico Disponiacutevel em
lthttpconteudojuridicocombrartigosampver=222977gt Pesquisa realizada em
1472013
FOUCAULT Michel Vigiar e punirhistoacuteria das violecircncias nas prisotildees Petroacutepolis
Vozes 2005
LEAL Cesar Barros Prisatildeo crepuacutesculo de uma era 2ordf ed Belo Horizonte Del Rey
2001
LIMA Luiacutes Soares Terceirizaccedilatildeo do presiacutedio Universidade Federal do Cearaacute
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MARTINS Seacutergio Pinto Aterceirizaccedilatildeo e o direito do trabalho Malheiros Editores
Satildeo Paulo 1995
MIRABETE Juacutelio Fabrini Execuccedilatildeo penal agrave Lei nordm 7210 de 11-7-84 8ordf ed Satildeo
PauloAtlas1997
PORTAL BRASILlthttpwwwbrasilgovbrnoticiasarquivos20130121inaugurada-
em-minas-gerais-primeira-penitenciaria-privada-do-pais)gtAcesso em 24 de janeiro
de 2013
REVISTA CONSULTOR JURIacuteDICORevista Consultor Juriacutedico maio 2006
Disponiacutevel emlthttpconjurestadaocombrstatictext445791gt Acesso em 11 de
outubro de 2012
SANTOS Jorge Amaral dos A utilizaccedilatildeo das parcerias puacuteblico-privadas pelo
sistema prisional brasileiro em busca da ressocializaccedilatildeo do preso Disponiacutevel
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SILVA Cosmo Sobral daTerceirizaccedilatildeo dos presiacutedios a partir do estudo de uma
penitenciaacuteria do Cearaacute Disponiacutevel em
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de 2012
WACQUANT Loic A privatizaccedilatildeo dos presiacutediosDisponiacutevel em
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oficinas de trabalho industriais em que aprendiam um ofiacutecio produziam e recebiam
pela venda da mercadoria muitas vezes ao saiacuterem da penitenciaacuteria jaacute tinham um
emprego assegurado extramuros
De qualquer sorte natildeo obstante haver esse tratamento diferenciado ao
preso o Ministeacuterio Puacuteblico pediu o cancelamento destas terceirizaccedilotildees no ano de
2005 com base nos seguintes argumentos a contrataccedilatildeo teria sido efetivada sem
licitaccedilatildeo de modo que uma uacutenica empresa administrava os trecircs presiacutedios
questionava ainda os valores pagos a esta empresa para gerir os presiacutedios As trecircs
unidades geridas pela CONAP abrigavam no total 1500 condenados e recebiam
por mecircs R$ 14 milhatildeo Paralelamente os outros dois presiacutedios estaduais e as
vaacuterias cadeias puacuteblicas abrigavam (agrave eacutepoca) 7800 detentos dentre eles os mais
perigosos ao custo total de R$ 16 milhotildees
Em meacutedia um preso custava para a Conap R$ 89000 enquanto numa
penitenciaacuteria do Estado custava R$ 66000 Aleacutem disso o Estado ainda custeava
para as unidades da Conap os remeacutedios e transporte dos presos aleacutem da
infraestrutura interna Vale dizer ainda que os presiacutedios foram construiacutedos pelo
Estado e entregues prontos agrave administradora
Com a devida venia natildeo haacute como se comparar o tratamento dispensado
ao preso em uma penitenciaacuteria terceirizada com aquele dado em um presiacutedio
administrado pelo poder puacuteblico Natildeo haacute que se comparar a estrutura fiacutesica e de
pessoal do IPPS (Instituto Penal Paulo Sarasate) agrave eacutepoca com o IPPO II Natildeo haacute
que se comparar aindaas condiccedilotildees de salubridade dos presiacutedios terceirizados
com a dos administrados pelo Estado
No presiacutedio terceirizado o nuacutemero de agentes eacute bem maior do que o
existente por exemplo no IPPSpois no terceirizadoo nuacutemero de presos eacute de trecircs
para um agente em quanto no IPPS eacute de cerca de 15 para 1 Eacute claro tudo isso
custa dinheiro Infere-se quenatildeo eacute o presiacutedio terceirizado que recebe muito dinheiro
eacute o puacuteblico que recebe pouco
Segundo a defesa oferecida pela empresa e pelo Estado a contrataccedilatildeo
fora feita sem licitaccedilatildeo porque a Conap era na eacutepoca uma das duas uacutenicas
empresas no Brasil aptas a prestar este tipo de serviccedilo sendo que a outra empresa
a Humanitas jaacute prestava este tipo de serviccedilo haacute anos com um sucesso reconhecido
no Brasil inteiro na administraccedilatildeo dos presiacutedios industriais de Guarapuava e
Cascavel (PR)
47
Assim venceu a tese de que a empresa contratada pelo Estado estava
enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
REFEREcircNCIAS
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modificada Disponiacutevel
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enriquecendo ilicitamente de modo que os contratos foram todos rescindidos ainda
no final do ano de 2006De laacute pra caacute quem conheceu o presiacutedio Olavo Oliveira II ou
uma das penitenciarias industriais do Estado a Cariri ou a de Sobral e voltar a uma
destas unidades natildeo os reconheceraacute mais A estrutura fiacutesica estaacute castigada as
fugas satildeo uma constante haacute superlotaccedilatildeo e o iacutendice de reincidecircncia aumentou
consideravelmente
No estado que se encontram os estabelecimentos prisionais brasileiros
fica inquestionaacutevel a precariedade das unidades prisionais e a falecircncia do sistema
carceraacuterio pois o que podemos ver satildeo os presos submetidos a condiccedilotildees precaacuterias
e desumanas violecircncia interna e agrave superlotaccedilatildeo fatores estes que deixaram de
existir quando a terceirizaccedilatildeo foi iniciada
Este modelo se torna mais eficiente no que tange aos problemas
supracitados aleacutem de serviccedilos como fornecimento de vestuaacuterio e alimentaccedilatildeo
trabalho e a garantia de assistecircncia meacutedico-odontoloacutegica Aleacutem de que a higiene
melhorou muito com o sistema chamado cogestatildeo sendo reconhecidos por paiacuteses
como a Franccedila
Neste modelo estatildeo demonstrados os argumentos favoraacuteveis agrave
terceirizaccedilatildeo de modo que existe hoje a certeza de que sem meios alternativos de
gestatildeo como o do Brasil natildeo se solucionaraacute o problema da superlotaccedilatildeo de
presiacutedios e por conseguinte dos altos iacutendices de reincidecircncia Eacute necessaacuterio que a
sociedade entenda que o preso natildeo pode simplesmente ficar esquecido em uma
penitenciaacuteria e maltratado por anos seguidos porque um dia ele voltaraacute para cobrar
o preccedilo de sua fatura e quase sempre este preccedilo eacute muito alto
Podemos afirmar que com a terceirizaccedilatildeo existe notoriamente a
humanizaccedilatildeo do sistema e juntamente com ela torna-se mais faacutecil a obtenccedilatildeo de
alguns dos objetivos da prisatildeo que eacute a ressocializaccedilatildeo do detento inclusive atraveacutes
do trabalho pois o preso pode sair profissionalizado reintegrando-se mais
facilmente agrave sociedade Podemos tambeacutem tirar como fator positivo o exemplo de
outros paiacuteses que adotaram este sistema Franccedila (como jaacute citado anteriormente)
Espanha dentre outros
Para Boller(2006online) os fatores positivos da terceirizaccedilatildeo satildeo os
quepropiciam melhores condiccedilotildees de vida para o condenado beneficiando a
sociedade na medida em que viabiliza o processo de recuperaccedilatildeo do detento aleacutem
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
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CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
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_______Lei nordm 9605 de 12 de fevereiro de 1998 Dispotildee sobre as sanccedilotildees penais
e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente e daacute
outras providencias Disponiacutevel em
52
lthttpwwwplanaltogovbrccivil_03LeisL9605htmgtAcesso em 15 de janeiro de
2013
CARVALHO Priscila Almeida Privatizaccedilatildeo dos presiacutedios problema ou
soluccedilatildeoDisponiacutevel emlthttpwebartigoscom102271Privatizaccedilatildeo-Dos-Presiacutedios-
Problema-Ou-Soluccedilaopagina1htmlgt Acesso em 14de outubro de 2012
COELHO Mirela Accedilatildeo MPF-CE Questiona privatizaccedilatildeo dos presiacutedios no Estado
Disponiacutevel emlthttpnoticiaspgrmpfgovbrnoticias-do-sitegeralmpf-ce-acao-
contra-privatizacao-dos-presidios-sera-intensificada-com-completa-
investigacaogtAcesso em 15 de outubro de 2012
CORDEIRO Grecianny Carvalho A privatizaccedilatildeo do sistema prisional brasileiro
Rio de Janeiro Freitas Bastos 2006
CURY Augusto O mestre da vida 23ordf ed Satildeo Paulo Atlas 1999
D‟URSO Luiz Flaacutevio Borges Direito criminal na atualidade Satildeo Paulo
Atlas1999
D‟URSO Luiz Flavio Borges Foacuterum Nacional de debates sobre a prisatildeo especial
e o sistema prisional adequado para o BrasilAcrimesp disponiacutevel em
lthttpacrimespcombrFF3rum9htmgtAcesso em 19 de outubro de 2012
D‟URSO Luiz Flaacutevio Borges Privatizaccedilatildeo de presiacutediosConsulexn31 ano III Satildeo
Paulo Revista Juriacutedica Consulex1999
Disponiacutevel em lthttpconteudojuridicocombrartigosampver=222977gt Acesso em
20 de outubro de 2012
FARACHE Jacob Arnaldo CamposPrisotildees brasileiras a terceirizaccedilatildeo como
alternativa para a gestatildeo do sistema prisional Artigo publicado em4 de fevereiro de
2009 no site Conteuacutedo Juriacutedico Disponiacutevel em
lthttpconteudojuridicocombrartigosampver=222977gt Pesquisa realizada em
1472013
FOUCAULT Michel Vigiar e punirhistoacuteria das violecircncias nas prisotildees Petroacutepolis
Vozes 2005
LEAL Cesar Barros Prisatildeo crepuacutesculo de uma era 2ordf ed Belo Horizonte Del Rey
2001
LIMA Luiacutes Soares Terceirizaccedilatildeo do presiacutedio Universidade Federal do Cearaacute
2002
53
MACHADO Diogo Marques Penas alternativas Disponiacutevel em
lthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=5757gt Acesso em 2 de novembro de
2012
MARTINS Seacutergio Pinto Aterceirizaccedilatildeo e o direito do trabalho Malheiros Editores
Satildeo Paulo 1995
MIRABETE Juacutelio Fabrini Execuccedilatildeo penal agrave Lei nordm 7210 de 11-7-84 8ordf ed Satildeo
PauloAtlas1997
PORTAL BRASILlthttpwwwbrasilgovbrnoticiasarquivos20130121inaugurada-
em-minas-gerais-primeira-penitenciaria-privada-do-pais)gtAcesso em 24 de janeiro
de 2013
REVISTA CONSULTOR JURIacuteDICORevista Consultor Juriacutedico maio 2006
Disponiacutevel emlthttpconjurestadaocombrstatictext445791gt Acesso em 11 de
outubro de 2012
SANTOS Jorge Amaral dos A utilizaccedilatildeo das parcerias puacuteblico-privadas pelo
sistema prisional brasileiro em busca da ressocializaccedilatildeo do preso Disponiacutevel
emlthttpjus2uolcombrdoutrinatextoaspid=13906gt Acesso em2 de novembro
de 2012
SILVA Cosmo Sobral daTerceirizaccedilatildeo dos presiacutedios a partir do estudo de uma
penitenciaacuteria do Cearaacute Disponiacutevel em
lthttpjus2uocombrdoutrinatextoaspid=6541ampp=2gtAcesso em 3 de novembro
de 2012
WACQUANT Loic A privatizaccedilatildeo dos presiacutediosDisponiacutevel em
lthttpdiploorgbr2004-09a989gt Acesso em 26 de outubro de 2012
48
de desonerar o Estado dos altos custos Com toda a melhoria do sistema revelam
as estatiacutesticas que rebeliotildees e motins satildeo miacutenimos nestes estabelecimentos pois as
boas condiccedilotildees de sobrevivecircncia assim como a ocupaccedilatildeo laboral geram uma
realidade bem diversa da vista nos estabelecimentos prisionais comandados pelo
Estado
Vale salientar que os contratos celebrados pelo Estado natildeo permitem a
superlotaccedilatildeo pois eacute estabelecido um nuacutemero maacuteximo de presos que natildeo pode ser
ultrapassadoNo que tange agrave corrupccedilatildeo podemos ver na terceirizaccedilatildeo um lado
positivo pois um terceirizado sendo pego na corrupccedilatildeo certamente seraacute demitido ao
contraacuterio de um funcionaacuterio puacuteblico que certamente seraacute apenas transferido ou
submetido a sindicacircncias e processos administrativos que quase sempre terminam
em advertecircncias ou suspensotildees
Espelhando-se nos aspectos positivos deste tipo de gerenciamento eacute que
alguns estados da Federaccedilatildeo se motivam e apresentam propostas para adotar o
sistema de cogestatildeo no sistema penitenciaacuterio Podemos citar como exemplo o
Maranhatildeo e o Amazonas
Outra justificativa para este tipo de gestatildeo eacute de seremindelegaacuteveis os
serviccedilos pois a terceirizaccedilatildeo restringe-se apenas a serviccedilos secundaacuterios como os jaacute
citados anteriormente ou seja somente a execuccedilatildeo material da
penapermanecendo com o Estado o direito e o dever de punir tendo em vista este
ser indelegaacutevel
Outro natildeo eacute o entendimento de JulioFabrini Mirabete(1997)pois segundo
afirma natildeo existe oacutebice no gerenciamento das penitenciaacuterias desde que limite-se
ao exerciacutecio material da penaJaacute os que satildeo contra a terceirizaccedilatildeo afirmam que de
nada barateia o custo do preso ao Estado e como o Estado pode pagar este custo
maior por detento ele poderia fazer isto sozinho organizando-se em sua estrutura
administrativa ou seja afirma que o problema estaacute na poliacutetica do Estado na maacute
vontade da administraccedilatildeo na falta de compromisso dos poliacuteticos com a coisa do
povo com o seu paiacutes
De fato o Estado natildeo sabe administrar com a mesma eficiecircncia de uma
empresa privada justamente pela falta de comprometimento dos seus servidores
que sabem que fazendo bem feito ou mal feito ganharatildeo exatamente a mesma
quantia no final do mecircs Natildeo eacute este o pensamento do empresaacuterio e este eacute o
diferencial que o obriga a fazer bem feito a mostrar bons resultados Em
49
determinadas atividades eacute correto ateacute mesmo afirmar que se o Estado colocar a sua
matildeo tenderaacute a destruir a coisa administrada pelos conchavos poliacuteticos Eacute o que
acontece com os presiacutedios
Conforme o socioacutelogo da CaliforniaLoiumlcWacquant (2004online) em artigo
publicado na biblioteca Diplocirc nem as prisotildees escapam da onda de privatizaccedilatildeo
tendo em vista que soacute na Franccedila em 2004 foi lanccedilada uma seacuterie de licitaccedilotildees para a
construccedilatildeo de 30 estabelecimentos sendo o projeto orccedilado em 14 bilhotildees de euros
privatizando o setor tambeacutem conhecido como de hotelaria
O deputado federal Jefferson Campos em questionamento ao temafala
que o senso comum de todos eacute achar que a administraccedilatildeo da iniciativa privada se
sai melhor com pessoas e processos fala ainda do CPI do sistema carceraacuterio em
que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
vida humana
Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
poliacuteticos milhares de presos vatildeo se acumulando nos calabouccedilos dos
presiacutediospuacuteblicos tratados como animais e se revoltando dia apoacutes dia se
aprimorando no crime prontos para voltarem a delinquir tudo com o apoio e o aval
do EstadoAssim os argumentos proacute-terceirizaccedilatildeo sem duacutevida satildeo muito
superiores aos contraacuterios
Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
Estado buscasse a harmonia entre os poderes a fiscalizaccedilatildeo correta por quem
deveria fazecirc-la e natildeo faz pois se a administraccedilatildeo privada consegue gerenciar os
estabelecimentos gerando um alto custo para o Estado por que este natildeo se
organiza e economiza os seus custos
Afirma Coelho (2007 online) que o custo de um preso pela Conap sai por
R$ 92000 reais jaacute nos outros presiacutedios este valor fica em R$ 65000
reaisConforme se percebeu no decorrer do trabalho o que existe eacute a maculaccedilatildeo da
privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
de alguns serviccedilos como deveria ser a terceirizaccedilatildeo
Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
sistema por lhe ser uma atribuiccedilatildeo proacutepria portanto indelegaacutevel natildeo sendo a
privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
brasileiro para isto basta que o Estado trabalhe de forma correta e digna
50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
REFEREcircNCIAS
ALENCAR MarciaLegislaccedilatildeo de penas alternativas no Brasil deve ser
modificada Disponiacutevel
emltlthttpwwwhistoricoaenprgovbrmodulesnoticiasarticlephpstoryid=54452gt
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BECCARIA Cesare Dos delitos e das penas Traduzido por Torrieri Guimaratildees
editado por Martin Claret 2ordf ed Editora Satildeo Paulo 2008
BENTHAM JeremyO panoacuteptico Belo Horizonte Autecircntica 2000
BITENCOURT Cezar Roberto Falecircncia da pena de prisatildeo causas e alternativas
2ordf ediccedilatildeo Satildeo Paulo Saraiva 2001
BOLLER Luiacutes Fernando Nova direccedilatildeo privatizar o sistema prisional diminuiraacute as
rebeliotildees
BONAVIDES Paulo Ciecircncias poliacuteticas 10ordf ed Satildeo Paulo Malheiros 1996
BRASIL Constituiccedilatildeo de (1988) Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica Federativa do Brasil
Brasiacutelia DFSenado1988
_______Lei nordm 1079203 de 1ordm de dezembro de 2003 Altera a Lei 7210 de 11 de
julho de 1984 Lei de execuccedilatildeo penal e o Decreto Lei nordm 3689 de 3 de outubro
de 1941- Coacutedigo de Processo Penal e daacute outras providencias Diaacuterio Oficial da
Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado Federal 1ordm dez 2003
_______Lei nordm 7210 de 11 de julho de 1984 Instituiu a Lei de execuccedilatildeo penal
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Satildeo Paulo 1995
MIRABETE Juacutelio Fabrini Execuccedilatildeo penal agrave Lei nordm 7210 de 11-7-84 8ordf ed Satildeo
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que relatou os horrores das prisotildees em nosso paiacutes desrespeitando a dignidade e a
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Enquanto questiuacutenculas como estas vatildeo sendo debatidas nos gabinetes
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Mas para um tatildeo sonhado sistema prisional de qualidade bastaria que o
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privatizaccedilatildeo pois o que realmente se tem nestes presiacutedios ditos terceirizados eacute a
total transferecircncia da execuccedilatildeo da pena para os particulares e natildeo a transferecircncia
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Diante dos relatos o que se percebe eacute que o Estado eacute quem deve gerir o
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privatizaccedilatildeo a maneira mais propiacutecia para resolver a crise do sistema prisional
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50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
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Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
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comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
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Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
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cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
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possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
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BENTHAM JeremyO panoacuteptico Belo Horizonte Autecircntica 2000
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Brasiacutelia DFSenado1988
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julho de 1984 Lei de execuccedilatildeo penal e o Decreto Lei nordm 3689 de 3 de outubro
de 1941- Coacutedigo de Processo Penal e daacute outras providencias Diaacuterio Oficial da
Repuacuteblica Federativa do Brasil Brasiacutelia DF Senado Federal 1ordm dez 2003
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CARVALHO Priscila Almeida Privatizaccedilatildeo dos presiacutedios problema ou
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20 de outubro de 2012
FARACHE Jacob Arnaldo CamposPrisotildees brasileiras a terceirizaccedilatildeo como
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2009 no site Conteuacutedo Juriacutedico Disponiacutevel em
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FOUCAULT Michel Vigiar e punirhistoacuteria das violecircncias nas prisotildees Petroacutepolis
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MARTINS Seacutergio Pinto Aterceirizaccedilatildeo e o direito do trabalho Malheiros Editores
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MIRABETE Juacutelio Fabrini Execuccedilatildeo penal agrave Lei nordm 7210 de 11-7-84 8ordf ed Satildeo
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PORTAL BRASILlthttpwwwbrasilgovbrnoticiasarquivos20130121inaugurada-
em-minas-gerais-primeira-penitenciaria-privada-do-pais)gtAcesso em 24 de janeiro
de 2013
REVISTA CONSULTOR JURIacuteDICORevista Consultor Juriacutedico maio 2006
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50
CONCLUSAtildeO
Como se pode perceber o sistema penitenciaacuterio mostra-se
completamente falido e natildeo consegue assegurar o seu objetivo que eacute obter a
ressocializaccedilatildeo do preso assegurando uma vida digna dentro e fora dos
estabelecimentos prisionais
Para isto faz-se necessaacuterio que durante seu encarceramento possa
estes detentos ter o miacutenimo de humanizaccedilatildeo necessaacuteria como educaccedilatildeo trabalho e
comida um ambiente limpo e com um miacutenimo de espaccedilo necessaacuterio para o conviacutevio
em harmonia sendo estes meios que poderatildeo assegurar a reintegraccedilatildeo dos presos
agrave sociedade
Portanto o que se vecirc na praacutetica eacute a derrocada do sistema prisional em
que ocorre o total desrespeito aos direitos baacutesicos que satildeo assegurados pela lei
mas que se encontram longe de serem vistos na realidade dos presiacutedios brasileiros
direitos como sauacutede educaccedilatildeo e alimentaccedilatildeo
Diante destes problemas fez-se necessaacuterio procurar uma nova forma de
gerir este sistema falido vislumbrando-se um novo modelo de administraccedilatildeo
carceraacuteria pela iniciativa privada sendo chamada de terceirizaccedilatildeo ou
cogestatildeoEntretanto o que se pode perceber eacute que em relaccedilatildeo ao custo foi visto que
a terceirizaccedilatildeo natildeo traz nenhuma economia para o Estado ao contraacuterio o custo eacute
bem mais elevado do que em estabelecimento gerido somente pelo Estado
Aleacutem dos aspectos relatados acima vale a pena levar em conta os
obstaacuteculos legais agrave adoccedilatildeo deste modelo como o caraacuteter indelegaacutevel bem como a
essencialidade desses serviccedilos intransponiacuteveis agrave privatizaccedilatildeo do sistema prisional
Deve-se perceber que a execuccedilatildeo penal eacute um serviccedilo essencial do Estado devendo
ser exercida por servidores puacuteblicos chamados de agentes penitenciaacuterios e natildeo por
servidores particulares chamados de agentes de disciplina ou monitoresque natildeo
possuem qualquer viacutenculo com a administraccedilatildeo puacuteblica como eacute o caso do presiacutedio
receacutem-inauguradoem Minas Gerais em 28 de janeiro de 2013
51
REFEREcircNCIAS
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