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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ FACULDADE CEARENSE LUCIANO COSTA PONTE LOPES ALIENAÇÃO PARENTAL E SUA INFLUÊNCIA NAS RELAÇÕES FAMILIARES FORTALEZA-CE 2014

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CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ

FACULDADE CEARENSE

LUCIANO COSTA PONTE LOPES

ALIENAÇÃO PARENTAL E SUA INFLUÊNCIA NAS RELAÇÕES FAMILIARES

FORTALEZA-CE

2014

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LUCIANO COSTA PONTE LOPES

ALIENAÇÃO PARENTAL E SUA INFLUÊNCIA NAS RELAÇÕES FAMILIARES

Monografia apresentada no curso de

graduação, submetida ao Centro de

Ensino Superior do Ceará - Faculdades

Cearenses, como exigência final para

obtenção do título de Bacharel em

Direito, sob a orientação do Prof.

Giovanni Augusto Baluz Almeida.

FORTALEZA-CE

2014

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DEDICATÓRIA

“Dedico esse obra a Deus, o qual me mostrou

no decorrer dos anos que nunca estaremos

livres das tempestades de nossa vida mortal,

porém Ele nos dá força e resistência, através

de nossa fé, para encará-las como um

chuvisco; e que é por meio delas que

adquirimos nossas maiores experiências,

fazendo com que entendamos que somos,

com Ele, o próprio milagre. Obrigado Deus!”

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus, por estar sempre ao meu lado em todos os

momentos da minha vida, que ao longo da vida me preparou, concedendo-me forças

através das experiências, para vencer quaisquer tempestades que tentou e tentará

prejudicar a minha vida e que tem um amor condicional por todos nós e que nos

ensina a amar nossos irmãos.

A minha esposa Raphaela, que foi a precursora desse desafio, com muita

paciência me ajudou a chegar até aqui, a quem agradeço muito e posso contar

sempre; que gastou muitos dias e noites de sono para me ajudar a chegar até aqui,

Louvo a Deus pela sua vida e pelo Senhor ter escolhido ela para viver ao meu lado

para sempre. Mãe dos meus dois filhos, Ana Luiza e João Pedro, ambos têm sido

um presente de Deus na minha vida e tenho muito orgulho de fazer parte desta

família abençoada por Deus.

Aos meus grandes irmãos e minha mãe que apostou em mim e me ajudou

muito a conquistar este sonho e que, além disso, somos principalmente os melhores

amigos; companheiros para todas as horas, especialmente nos momentos negros,

normais da vida.

Aos meus amigos Lucivan Costa e Vanessa Régia, dentre outros, que me têm

como amigo de verdade, que me deram forças para terminar este trabalho de

conclusão de curso, através de seus contínuos elogios e certezas em minhas

conquistas.

Ao meu orientador, professor Giovane, que usou de toda a sua paciência,

atenção e inteligência para nortear-me em caminhos que aumentariam meu

aprendizado, tornando este trabalho o mais completo possível.

Aos meus colegas e amigos de curso, Gustavo Magalhães, Ana Paula e

Marcelo, Leidiane e Creuza, dentre outros (que sofremos muito no trajeto do

exame), dentre outros, que me proporcionaram uma convivência única, fornecendo-

me conhecimentos de todo o tipo.

Por fim, à Faculdade Cearense e a todos os professores que compõem o

curso de Direito da instituição, pelos conhecimentos que utilizarei com êxito na

minha vida prático-profissional.

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“Deus é a lei e o legislador do

Universo.”

(Albert Einstein).

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RESUMO

A presente monografia tem por objetivo destacar as causas, efeitos e consequências, bem como os principais aspectos da alienação parental e sua influência nas relações familiares, com base na Lei 12.318/10 (Lei da Alienação Parental), que a regulamenta. Serão abordados os relacionamentos entre pais e filhos no determinado contexto das transições familiares, ressaltando-se principalmente os danos psicológicos de crianças e adolescentes vítimas da tão conhecida SAP (síndrome da alienação parental), bem como a implantação de falsas memórias e as necessidades de serem combatidas tais posturas por parte dos genitores, que detêm geralmente a guarda física sobre os filhos, desequilibrando o relacionamento entre eles e outro genitor, porém, quando não identificada a tempo pelo Poder Judiciário a SAP, pode instalar-se e prejudicar o seu desenvolvimento com sequelas se não trabalhadas irreversíveis. Será relatado o advento da mulher, seu crescimento e com isso a inversão de papéis, onde o a esposa trabalha fora e o homem ocupa seu posto cuidando dos filhos e da casa, muitas vezes, por conta dessa confusão de papéis, originam-se as crises conjugais, onde as crianças são as principais vítimas, o processo da Alienação Parental, é instalado naquele núcleo familiar, mesmo antes dos pais estarem separados. O divórcio também será abordado não só com uma perspectiva negativa para a família, mas, como uma forma de minimizar conflitos e com isso cada genitor dedicar tempo de qualidade para seus filhos. Todavia, na maioria das vezes não é bem assim que acontece, pois, com a facilidade com que estão acontecendo os divórcios, acabam os pais recasando com mais facilidade e a partir desses recasamentos, encontros e desencontros, tristezas, frustações e crises, onde a criança não sofre mais com a Alienação parental, e sim com a Síndrome da Alienação Parental, onde o genitor que detém a guarda já não se preocupa com o bem estar psíquico de seus filhos e sim consigo próprio, sempre acusando o outro genitor que não detém a guarda, como já relatado acima, fazendo de tudo para prejudicar o outro, muitas vezes implantando falsas memórias, causando danos irreversíveis, haja vista, a criança na formação de sua personalidade, muitas vezes não diferencia entre o real do imaginário.

PALAVRAS-CHAVE: síndrome de alienação parental (SAP), conceito de família e divórcio, direito de família.

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ABSTRACT

This monograph aims to highlight the causes, effects and consequences , as well as key aspects of parental alienation and its influence on family relationships , based on Law 12.318/10 ( Parental Alienation Act ) , which regulates . Relationships between parents and children will be addressed in the specific context of family transitions , emphasizing mainly the psychological damage to children and adolescents victims known as SAP ( parental alienation syndrome ) , as well as the implantation of false memories and needs to be tackled such attitudes on the part of parents , who generally hold physical custody over their children, unbalancing the relationship between them and the other parent , however, are not identified in time by Judiciary SAP may settle and compromise their development with irreversible sequela e if not worked . The advent of women, their growth and this role reversal, where the the wife works outside and the man takes his job taking care of the children and the home, often because of this confusion of roles, originate marital crises will be reported where children are the main victims, the process of parental Alienation, is installed in that household , even before parents are separated . The divorce will be investigated not only with a negative outlook for the family, but as a way to minimize conflicts and thus each parent devote quality time to their children. However , most often not quite what happens , because with the ease with which divorces are happening , eventually remarrying parents more easily and is starting these remarriages , and disagreements , sorrows , frustrations and crises , where child no longer suffers with parental Alienation , but with the parental Alienation Syndrome , where the parent who has custody is no longer concerned with the psychological well-being of their children , but with himself , always accusing the other parent who does not hold custody , as reported above , doing anything to harm another , often implanting false memories , causing irreversible damage , considering the child in the formation of his personality often does not differentiate between the real and the imaginary. Keywords: syndrome (sap): parental alienation: concept of family: divorce, family law.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................ 9

1 O CONCEITO DE FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA E SUAS DIVERSAS

FACES NA ATUALIDADE...............................................................................

11

1.1 Considerações iniciais ............................................................................. 11

1.2 O direito de família brasileiro ................................................................ 13

2 ALIENAÇÃO PARENTAL X SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL.... 14

2.1 Formas de enfrentamento à alienação parental...................................... 17

2.2 Síndrome de alienação parental (SAP)...................................................... 19

2.3 Efeitos e consequências........................................................................ 22

2.4 As comparações das falsas denúncias com a síndrome de alienação

parental................................................................................. ....................

26

3 ALIENAÇÃO PARENTAL DENTRO DO CONTEXTO FAMILIAR............... 27

3.1 Divórcio....................................................................................................... 29

3.2 atuações do direito de família em casos de alienação parental................. 33

CONCLUSÃO................................................................................................... 37

REFERÊNCIAS................................................................................................ 38

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INTRODUÇÃO

O conceito de família desde os primórdios da humanidade mostrou que, para

viver mais, tinha que se viver em comunidade, por isso, sempre se andava em

grupos, até como forma de proteção. Desta junção de pessoas nasce a ideia de

família. Hoje, a realidade, tanto no âmbito social quanto no jurídico, depara com a

mudança do conceito de família, que atualmente está muito distante do conceito

descrito em nosso ordenamento jurídico, ou seja, o conceito de família não está

restrito ao modelo convencional.

A mudança do conceito de família vem juntamente com a nova formação de

outros modelos dentro do âmbito familiar, como, por exemplo: a convivência com

famílias recompostas, mono parentais, homo afetivas, entre outras. De acordo com a

Lei 12.318/10, em seu art. 3º, o conceito de alienação parental é a interferência

promovida por um dos genitores na formação psicológica da criança, para que

repudie o outro, bem como atos que causem prejuízos ao estabelecimento ou à

manutenção de vínculo com este (OLIVEIRA, 2008).

De acordo com Zeanah e Scheeringa (1997), os efeitos do conflito conjugal

eram principalmente determinados pela exposição criança/adolescente a episódios

de discórdias familiares e não somente a uma alteração das práticas educativas por

parte dos pais.

Porém, a síndrome de alienação parental também pode ser provocada pelo

genitor não guardião, que manipula afetivamente a criança nos momentos das

visitas para influenciá-la a pedir para ir morar com ele, a fim de requerer a reversão

judicial da guarda como forma de vingança contra o ex-cônjuge e/ou para afirmar-se

socialmente como “bonzinho” (PERISSINI, 2007).

A Lei como dispositivo legal que constitui nítido avanço ao ordenamento

jurídico, pois veio para resguardar direitos à criança e ao adolescente que

representam o futuro do nosso país, ou melhor, da humanidade. Por outro lado, a

Lei não consegue resguardar a criança ou adolescente dos danos psíquicos

causados pelo alienante no seu ambiente familiar.

Contudo, os arts. 1.583 e 1.584 do Código Civil, que vieram a disciplinar a

guarda compartilhada que veda a monopolização do genitor que detém a guarda

sobre os filhos, contribuindo, assim, para a saúde psíquica das pessoas envolvidas

no processo de separação. Relatarei também sobre uma visão diferenciada, ou seja,

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positiva a respeito do divórcio parental quando se trata de um tema que causa tantos

danos psíquicos que é a SAP. (síndrome da alienação parental).

Nesse sentido, este trabalho monográfico tem o objetivo tratar sobre a

alienação parental, não só para âmbito jurídico, mas também sobre os danos

psíquicos causados em crianças e adolescentes envolvidos no processo de litígio.

Esta temática é de grande importância para a sociedade nos dias atuais, pois mostra

acima de tudo os benefícios trazidos com a criação e a evolução da Lei 12.318/10

(Lei da alienação parental) ao longo dos anos, haja vista sempre ocorrerem casos

de alienação parental, porém, nunca antes tinham sido trabalhados com tanta

eficiência e eficácia por parte do âmbito jurídico, embora ainda se haja muitas

dificuldades de comprovação por parte dos familiares envolvidos.

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1 O CONCEITO DE FAMÍLIA CONTEMPORÂNEA E SUAS DIVERSAS FACES NA

ATUALIDADE

1.1 Considerações iniciais

O crescimento da economia colaborou grandiosamente com a pressão pelo

consumo de bens e serviços, características típicas do capitalismo, antes produzidas

no espaço domiciliar. Passou a apertar os orçamentos familiares e o trabalho passou

a ser um instrumento também utilizado pelas mulheres. Logo, os costumes que

marcaram época podem ou não estar longínquos dos atuais, pois, os conceitos

evoluíram ou, até mesmo, mudaram de denominação. Podemos até assegurar que

existem novas configurações de arranjos familiares, ou seja, formas de constituir-se

família dentro de uma sociedade. Porém, percebemos que permanece ainda o

desenho de organização nuclear da família, ou seja, o casamento monogâmico

ainda predomina.

Mesmo no século XXI, ainda podemos observar a discriminação e a opressão

feminina das maneiras mais diversas, camufladas, especialmente dentro da

instituição que busca a modernização a cada dia mantendo o seu conservadorismo,

a família. As modificações sociais ocorridas na segunda metade do século XX e

refeitas nesse início do século XXI redefiniram também os laços familiares. A

afirmação da individualidade pode resumir o sentido de tais mudanças, com

implicações nas relações familiares atuais.

Na sociedade moderna, o casamento, muitas vezes, não é verdadeiro. O que

encontramos normalmente é uma busca incessante pela estabilidade financeira, a

satisfação individual e a realização de um sonho: casar-se, o que acaba conduzindo

a um casamento no qual os projetos individuais são esquecidos, em que um se

anula em relação ao outro.

O problema está em compatibilizar a personalidade e a recíproca dos

familiares, ou seja, ao abrir espaço para ser um indivíduo único com seus sonhos e

projetos individuais, faz-se com que se renovem as concepções das relações

familiares. O conflito dessas novas batalhas diárias influencia diretamente no

cotidiano das relações, trazendo diversas consequências.

Podemos ainda dizer que existe uma brusca alteração no núcleo familiar, nas

relações de familiares e na feição das relações na família, novas ações que trazem

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consequências de modelos familiares e também no convívio social, gerando impacto

profundo na construção do eu de cada membro da família.

A construção da nova identidade formada irá se refletir em todos os outros

tipos de relações sociais ampliadas, não apenas no âmbito familiar. Neste contexto,

encontramos a nova nomenclatura para a “família moderna”, que se distingue pelos

diferentes tipos de reestruturação.

As novas configurações familiares diferenciadas podem ser propostas de

diversas formas, renovando considerações preestabelecidas, redefinindo os papéis

de cada membro do núcleo familiar. Segundo Ferrari & Kaloustian (2002, p.14), cada

vez mais são encontradas famílias cujos papéis estão confusos e difusos se

relacionados com os modelos tradicionais, rigidamente definidos. As relações,

comparadas com as estabelecidas no modelo tradicional estão modificadas, os

próprios membros integrantes da nova família estão diferenciados, a composição

não é mais a tradicional, as pessoas também estão em processo de transformação,

na forma de pensar, nos questionamentos, na maneira de viver no mundo em

constante processo de mudança.

Atualmente, no Brasil, o novo organograma familiar coloca os profissionais

que trabalham com a família e seus próprios membros tentam compreender tal

fenômeno social. Após a legalização do divórcio e com o começo de uma nova

abertura para a discussão referente aos clusters (papeis sociais) de cada

composição de família, têm proporcionado grandes mudanças que nos levam a

pensar e a fazer questionamentos sobre o valor do casamento e da instituição

família como: “indissolúvel e inquestionável”.

Este é a penas um dos fatores que nos mostram as alterações mais intensas

e profundas na estrutura da família brasileira. Não podemos negar o fato de que,

depois de instituído o divórcio, a lei passou a permitir quantos divórcios e posteriores

novos casamentos o homem e a mulher desejassem o que ocasionou profundas

mudanças no âmbito familiar.

A situação atual da família também pode ser observada a partir de um olhar

diferenciado a respeito das transfigurações das diversas formas de vida conjugal,

dos modos de gerenciar a natalidade e no modo de divisão dos papéis para cada

membro da família e principalmente a forma pela qual ela é visualizada atualmente.

Apesar de vários conceitos e temas abordando a família terem passados por

releituras, revisões e aprimorados, ainda estão imersos dentro da realidade dura de

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cada época. Nos dias de hoje, ainda podemos encontrar determinados conceitos

que se repetem simplesmente com outra roupagem.

Para Roudinesco (2003), a organização familiar contemporânea repousa em

três fenômenos sociais marcantes: a revolução da afetividade, a “maternalização” da

célula familiar, ao conceder um lugar especial para os filhos e a prática sistemática

da contracepção, que permite a organização mais individualizada da família. Os

casamentos são mais tardios e os casamentos arranjados praticamente

desapareceram. Em decorrência destas mudanças, a família nuclear tradicional

começa a tornar-se uma exceção em um universo marcado pelo trinômio:

casamento, separação e recasamento.

1.2 O direito de família brasileiro

O direito de família aqui no Brasil baseia-se em normas de Direito Público e

Privado, que trata a família como um organismo social intermediário entre o Estado

e o indivíduo, o que limita a autonomia da vontade e impõe “normas cogentes,

objetivando uma regulamentação uniforme para as relações que se estabelecem no

âmbito do direito de família.” (CACHAPUZ, 2003, p. 90).

O casamento, apesar de tudo, ainda faz parte da subjetividade da maioria dos

indivíduos que mantêm o sonho de uma união feliz. Quando, porém, um casal

decide-se pela separação, esta escolha representa a resposta final a um conjunto de

frustrações pessoais provocadas pela não realização de esperanças e anseios

mútuos. Estes acontecimentos, durante o processo de divórcio, passam a

desencadear falhas na comunicação e interpretações errôneas permeadas de

mágoas e ressentimentos, gerando, deste modo, conflitos responsáveis pelas

disputas pela guarda, visitas e discussões em torno da pensão de alimentos.

Embora na sociedade brasileira ainda prevaleça a crença de que o Estado,

em sua função jurisdicional, tem capacidade para dirimir os conflitos, também é

verdade que, “no fundo, estamos cada vez mais inclinados a viver segundo o

predomínio social sobre o estatal, preferindo sempre que possível, resolver nossas

questões por nós mesmos.” (REALE, 1996, p. 2).

Atualmente, o modelo cartesiano e tradicional de família, onde os papéis já

estavam definidos, deu espaço a uma gama de outros modelos e formas de

relacionamentos familiares e que têm muitas diferenças do modelo tradicional.

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Essas mudanças são partes de nossas histórias, partes de nossa sociedade, partes

de nossas vidas.

2 ALIENAÇÃO PARENTAL X SÍNDROME DE ALIENAÇÃO PARENTAL

Aqui no Brasil a Lei n. 12.318/2010 dispõe sobre a alienação parental. De

acordo com essa lei, alienação parental é a interferência na formação psíquica da

criança ou do adolescente, criada por quem tem autoridade parental sobre ela, com

a intenção de prejudicar o vínculo afetivo do menor com seu parente que não detém

a guarda (artigo 2º, caput, da Lei n. 12.318/2010).

A lei demonstra algumas maneiras pelas quais a alienação parental pode

evidenciar-se. Entre elas, pode-se citar: uma má-interpretação sobre a conduta do

genitor, com a finalidade de apagar toda a referência deste no imaginário infantil;

interromper alguma forma de contato da criança ou adolescente com seu genitor,

bem como o exercício do direito de convivência familiar; alteração de residência,

podendo muitas vezes mudar de bairro ou até mesmo de cidade imotivadamente,

visando atrapalhar o convívio da criança ou adolescente com o outro genitor, com

familiares deste ou com avós e outros (artigo 2º, parágrafo único, da Lei n.

12.318/2010).

Todavia, o comportamento alienante de quem provém a autoridade parental

sobre esses menores não é novidade, pois acontece com muito mais frequência do

que imaginamos. Quem nunca escutou amigos, colegas ou pessoas próximas que

dizem: A culpa é do seu pai ou mãe, sempre tratando com desrespeito a figura de

autoridade do outro para o menor? No entanto, a publicação da Lei n. 12.318/2010 é

uma arma a mais que possibilitou identificar e coibir este tipo de conduta alienante,

conservando a integridade psicológica da criança ou do adolescente que está sendo

alienado pela autoridade parental.

O responsável pela guarda do filho está condicionado aos seus interesses. De

acordo com Paulo Lôbo, “o poder familiar é o exercício da autoridade dos pais sobre

os filhos, no interesse destes.”

No entanto, Maria Berenice Dias sustenta que:

o poder familiar é, na verdade, um dever familiar, sendo que a melhor denominação para esse dever seria “autoridade parental”, que deve ser exercida por ambos os genitores, observado o princípio da proteção integral de crianças e adolescentes (artigo 227 da Constituição Federal/88), ou seja,

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o interesse dos pais fica subordinado ao interesse do filho, que deve sempre prevalecer.

Com a separação dos genitores, mesmo que o filho passe a morar com

apenas um deles, não interrompe o poder familiar e o direito da convivência com o

núcleo familiar. Ainda que o genitor que detém a guarda contraia novas núpcias ou

união estável, o novo cônjuge ou companheiro não pode interferir no poder familiar

(artigo 1.636 do Código Civil). Segundo Paulo Lobo,

A formação da criança em sua qualidade de sujeito de direitos fortaleceu o

princípio constitucional da prioridade absoluta (art. 227 da Constituição/88)

de sua dignidade, de seu respeito, de sua convivência familiar, que não

podem ficar comprometidos com a separação de seus pais. Porém, Maria

Berenice Dias sustenta que: “A dissolução dos vínculos afetivos não se

resolve simplesmente indo um para cada lado, quando da união nasceram

filhos”.

O fim do relacionamento dos pais não leva à cisão dos direitos quanto aos

filhos. O rompimento da relação de conjugabilidade dos genitores não pode

comprometer a continuidade dos vínculos parentais, pois o exercício do poder

familiar em nada é afetado pela separação. O estado de família é indisponível.

A afetividade nos laços familiares é a tendência que se busca seguir. De certa

forma, é assim que o legislador constituinte atribuiu ao filho adotivo os mesmos

direitos dos filhos biológicos, vedadas quaisquer designações discriminatórias (artigo

227, § 6º, da Constituição Federal/88).

O direito da criança e do adolescente à convivência familiar está atribuído não

só no Estatuto da Criança e do Adolescente (artigos 4º, caput, 16, inciso V, e 19,

caput), como também está elevado à esfera constitucional, como princípio

fundamental (artigo 227, caput, da Constituição Federal/88).

Sendo assim, a criança ou adolescente que passa pelo processo de alienação

parental sofre desrespeito e grave violação por parte de seus superiores, privando

seus interesses da convivência daquele parente por quem alimenta afetos. Segundo

o artigo 17 do Estatuto da Criança e do Adolescente,

O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.

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Com frequência, a principal vítima da alienação parental é a criança, tendo

em vista que é mais fácil receber as influências daquele genitor que detém a guarda

e está sempre ao seu lado, pois, a criança ainda não tem o discernimento

necessário para diferenciar a fantasia da realidade. Contudo, nada impede que um

adolescente também seja vítima de alienação parental.

Dentre os principais danos causados pela alienação parental, além da perda

da convivência familiar, a criança pode sofrer depressão, baixo rendimento escolar,

introversão ou comportamento antissocial, sentimento de culpa, como se fosse a

causadora do problema entre seus familiares, rebeldia, dentre outros.

As causas da alienação parental são as mais variadas, desde um simples

conflito entre os genitores, ou ciúmes do outro genitor com a criança, até questões

mais complexas, como a quebra de uma relação contra a vontade do alienante ou

uma manipulação para o genitor.

Todavia, em qualquer das hipóteses não se pode perder de vista o melhor

interesse da criança. Se o genitor alienante tem a capacidade de submeter a criança

a traumas psicológicos tão profundos, deve ser culpada e ampliada a convivência da

criança com o genitor alienado e seus demais parentes.

A alienação parental pode ser caracterizada através de uma avaliação

multiprofissional, formada por especialistas na área, como psicólogos e assistentes

sociais do juízo familiar. Estes profissionais devem acompanhar os envolvidos e

observar a convivência entre genitor alienado e a criança, bem como prestar

atenção no discurso e nas ações do genitor alienante, apontando em seus laudos e

pareceres técnicos suas impressões a respeito de eventual alienação parental e as

consequências desta na criança.

Esses profissionais são auxiliares do juiz e estão habilitados a elaborar laudos

técnicos que possibilitam ao juiz analisar o contexto que envolve as partes.

Verificada a ocorrência de alienação parental, o juiz deve adotar as medidas

autorizadas pela Lei n. 12.318/2010 ou outras que se fizerem necessárias, com base

no seu poder geral de cautela, para restabelecer a convivência da criança com o

genitor alienado.

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2.1 Formas de enfrentamento à alienação parental

Como já dito, a alienação parental pode ser identificada com o auxílio de uma

equipe multiprofissional, da confiança do juízo, que atuará diretamente com as

partes envolvidas, procurando analisar o contexto social e psicológico do caso.

Segundo o artigo 151 do Estatuto da Criança e do Adolescente, compete à equipe

Inter profissional, dentre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação

local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiência,

e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação,

encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação à

autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista técnico.

Pautando-se nos laudos técnicos que apontam a ocorrência de alienação

parental, o juiz deve agir o quanto antes para corrigir as distorções causadas pela

conduta alienante, buscando assegurar à criança o restabelecimento do contato com

o genitor e os demais parentes alienados e do convívio familiar amplo.

Em qualquer ação que haja menor envolvido, o que se pretende é garantir os

superiores interesses da criança e, acima de tudo, sua dignidade (artigo 3º do

Estatuto da Criança e do Adolescente e artigo 227, caput, da Constituição Federal).

Pelo princípio da paternidade responsável (artigo 226, § 7º, da Constituição Federal

combinado com o artigo 3º do Estatuto da Criança e do Adolescente), os pais são

responsáveis pela educação, criação e assistência dos filhos.

Aquele que detém a guarda possui os deveres de prestar à criança ou ao

adolescente assistência material, moral e educacional (artigo 33, caput, do Estatuto

da Criança e do Adolescente). A assistência material visa a suprir as necessidades

básicas do menor, dando-lhe alimentação, saúde, vestuário, lazer, dentre outros. A

assistência educacional consiste no dever de matricular o filho menor em escola de

ensino fundamental ou médio, de lhe fornecer todo o material necessário e de

orientá-lo, com a finalidade de ajudá-lo a construir sua personalidade. Por fim, a

assistência moral relaciona-se com a formação psíquica e social do indivíduo. Nesse

aspecto, a convivência familiar exerce enorme importância, pois é com base nela

que a criança formará sua personalidade.

Se o genitor que detém a guarda não cumprir com seu poder-dever de prestar

ao menor assistência material, moral e educacional, a guarda pode ser revogada

(artigo 35 do Estatuto da Criança e do Adolescente). Dessa forma, havendo

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embaraços à visitação do outro genitor, ficando comprovada a alienação parental, o

genitor alienante pode ter a guarda revogada, uma vez que o guardião não está

respeitando um dos direitos fundamentais deste indivíduo em formação, que é o

direito à convivência familiar em seu sentido mais amplo, que engloba os parentes

do genitor alienado.

Considerando que a alienação parental compromete o desenvolvimento

psíquico do menor, qualquer prática que vise a impedir o convívio da criança com o

genitor alienado e seus parentes deve ser imediatamente coibida. Jorge Trindade,

doutor em Psicologia Clínica, aponta como sintomas da alienação parental na

criança a mudança de seu comportamento, passando a apresentar sentimentos,

falta de organização, dificuldades escolares, culpa, dentre outros, podendo até

chegar a comportamento suicida.

Mesmo os profissionais mais qualificados têm dificuldade de identificar logo

de início um caso de alienação parental. Por vezes, o genitor alienante faz

denúncias falsas de maus-tratos ou de abusos sexuais sofridos pela criança. Esses

casos demandam uma atenção especial. Na dúvida sobre a ocorrência ou não de

maus-tratos ou abuso sexual, para resguardar a integridade física e psicológica da

criança, o juiz prefere afastá-la do convívio.

O falso abuso e as falsas memórias tornam-se reais na psique da criança,

que se torna incapaz de discernir o que de fato ocorreu. Nesse sentido, Maria

Berenice Dias explica que:

Nem sempre a criança consegue discernir que está sendo manipulada e acaba acreditando naquilo que lhes foi dito de forma insistente e repetida. Com o tempo, nem a mãe consegue distinguir a diferença entre verdade e mentira. A sua verdade passa a ser verdade para o filho, que vive com falsas personagens de uma falsa existência, implantando-se, assim, falsas memórias.

Verificada a ocorrência de alienação parental, após a realização de todas as

provas, inclusive os laudos técnicos elaborados pelos peritos, com a oitiva da

criança e de seus genitores, o juiz pode aplicar as medidas previstas no artigo 6º da

Lei n. 12.318/2010. São elas: declarar a ocorrência de alienação parental e advertir

o alienador; ampliar o regime de convivência familiar em favor do genitor alienado;

estipular multa ao alienador; determinar acompanhamento psicológico e/ou

biopsicossocial; determinar a alteração da guarda para guarda compartilhada ou sua

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inversão; determinar a fixação cautelar do domicílio da criança ou adolescente e

declarar a suspensão da autoridade parental.

Estas medidas podem ser aplicadas cumulativamente ou não, sem prejuízo

de eventual responsabilização civil ou criminal do genitor alienante e têm como

objetivo a manutenção dos laços familiares e de afeto entre pais e filhos. Tanto é

assim que o artigo 7º da Lei n. 12.318/2010 dispõe que “a atribuição ou alteração da

guarda dar-se-á por preferência ao genitor que viabiliza a efetiva convivência da

criança ou adolescente com o outro genitor nas hipóteses em que seja inviável a

guarda compartilhada.”

Não se trata de aplicar uma punição ao genitor alienante, pois o que se busca

é atender ao melhor interesse da criança. Contudo, deve-se reconhecer que o

rompimento brusco da convivência paterno-filial caracteriza um grave desrespeito

aos direitos daquele que precisa ser prioritariamente protegido.

Uma forma que pode se mostrar efetiva para o restabelecimento da

convivência familiar é através da mediação e de programas institucionais que tentam

conscientizar o genitor alienante dos malefícios da alienação parental para a

formação da criança. Se esta tentativa não se mostrar eficaz, dependendo do grau

de alienação parental, resta ao juiz partir para medidas mais drásticas, como, por

exemplo, a inversão da guarda.

Entretanto, deve-se ressaltar que a inversão de guarda, embora admitida

(artigo 6º, inciso V, da Lei n. 12.318/2010), deve ser utilizada em último caso, pois a

modificação brusca na guarda da criança pode causar-lhe mais prejuízos do que a

falta de convivência com o genitor alienado, tendo em vista a mudança em sua

rotina e os conflitos psicológicos que já vivencia.

Contando com o apoio de equipes multidisciplinares habilitadas para tratar

deste problema, o Judiciário aparece como um importante personagem na luta pela

defesa dos direitos das crianças e adolescentes vítimas de alienação parental,

buscando a aproximação entre estes e os genitores alienados.

2.2 Síndrome de alienação parental (SAP)

A síndrome de alienação parental (SAP) foi definida pela primeira vez nos

Estados Unidos por Richardn Gardner em 1987, anos depois passou a ser

disseminada pela Europa por F. Podevyn em 2001. Despertou mais tarde um

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interesse na área de psicologia e do direito, por tratar-se de um problema que afeta

as duas áreas. A psicologia jurídica se une para um melhor entendimento dessa

série de fenômenos emocionais que acontecem com os atos processuais, que no

caso seriam os envolvidos no divórcio ou separação, os filhos.

Depois das ideias de Podevyn, entende-se a síndrome de alienação parental

como um processo que consiste em programar uma criança para que odeie o outro

genitor, sem justificativa, fazendo uma espécie de campanha para a desmoralização

deste. Após um olhar histórico no qual Jorge Trindade relata que a mulher sempre

foi mais habilidosa do que o homem para o cuidado com os filhos, atribuindo-se ao

homem a tarefa de subsistência econômica.

Porém, foi em meados da década de 60 que tudo começou a modificar-se; foi

acontecendo vagarosamente, porém, radical, a transformação destes novos papéis

assumidos pelo sexo antes frágil e sem condições para assumir posições ligadas ao

mercado de trabalho. As mulheres foram se aperfeiçoando no conhecimento formal

e na carreia profissional, competindo, nestes aspectos, lado a lado, com os homens

que, por sua vez, envolveram-se mais nas atividades de casa.

Com o divórcio se tornando mais comum, a mulher obteve mais liberdade no

seu agir e um maior tempo para se dedicar a outras atividades não apenas restritas

ao núcleo familiar. E, então, neste contexto, as disputas judiciais pelas guardas dos

filhos se tornaram mais frequentes nos tribunais.

François Podevyn esclarece que, normalmente, a síndrome irá se manifestar

principalmente no ambiente da mãe, por conhecer historicamente que a mulher é a

mais indicada para exercer a guarda dos filhos: a síndrome se manifesta,

geralmente, no ambiente feminino, melhor dizendo na casa da mãe das crianças,

claramente porque sua instalação necessita muito tempo e porque é ela que tem a

guarda na maior parte das vezes. Todavia, pode se apresentar em ambientes de

pais instáveis, ou em culturas onde tradicionalmente a mulher não tem nenhum

direito concreto.

No final dos anos 90, o pai, antes ausentes por funções do trabalho, agora

passam cada vez mais tempo com seus filhos, oferecendo-lhes tempo de qualidade.

Nas hipóteses de guarda compartilhada, não resta dúvida que a síndrome de

alienação parental é uma forma de maltrato e abuso a qual devemos estar atentos,

principalmente os praticantes e estudiosos do direito.

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A alienação é um processo que consiste em programar uma criança para que

odeie o outro genitor e normalmente acontece sem uma justificativa plausível. A

primeira manifestação ocorre com um dos pais fazendo campanha para difamar o

outro genitor, é uma combinação de ensinamentos sistemáticos com intervenções

na vida da criança e no seu modo de agir ou pensar.

Esta síndrome se caracteriza por um elevado número de separações e

divórcios da sociedade atual, na qual Rada Kepes em seu estudo sobre o assunto

enaltece: “Geralmente, ela costuma ser desencadeada nos movimentos de

separações ou divórcios dos casais, mas sua descrição ainda constitui uma

novidade, sendo pouco conhecida por grande parte dos profissionais da área do

direito.”

Após separações complicadas, os pais, por quererem mostrar superioridade

ao outro genitor, transformam a consciência dos seus filhos, com formas de agir

muito especificas, muitas vezes por estratégia e com o desejo de obstruir e tirar todo

o vinculo da criança para o outro pai e obter a guarda definitiva somente para si.

“Dessa maneira, podemos dizer que o alienador educa seus filhos no ódio contra o

outro genitor, seu pai ou sua mãe, até conseguir, que eles, de modo próprio, levem a

cabo esse rechaço.”

Com uma maior frequência que se supõe, reiteradas barreiras colocadas pelo

guardião com relação às visitas, estes artifícios e manobras vão desde

compromissos de última hora, doenças inexistentes e o pior disso tudo é que ocorre

por um egoísmo fruto da animosidade dos ex-cônjuges, com a criança sendo

utilizada como um instrumento de vingança.

A criança, que está sofrendo dessa alienação, irá se negar a manter contato

com o seu genitor, sem um motivo aparente. E isso pode ocorrer por vários anos

seguidos com gravíssimas consequências de ordem comportamental e psíquica,

como veremos adiante e geralmente a superação acontecerá somente quando a

criança e o adolescente alcançarem a independência e se derem conta do que

aconteceu.

Enquanto na síndrome a criança terá condutas de recusas ao contato de um

dos genitores, a alienação parental será no caso de um processo de um genitor para

afastar o outro genitor da vida do filho.

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2.3 Efeitos e consequências

Como a criança é levada a odiar o outro genitor, acaba perdendo um vínculo

muito forte com uma pessoa importante para a sua vida, com consequências para si

e também para o pai vítima. Segundo Podevyn, “o vínculo entre a criança e o genitor

alienado será irremediavelmente destruído.” Com efeito, não se pode reconstruir o

vínculo entre a criança e o genitor alienado se houver um hiato de alguns anos. O

genitor alienado acabará se tornando alguém estranho para a vida de criança,

podendo desenvolver diversos sintomas e transtornos psiquiátricos. Sem tratamento

adequado, poderão aparecer sequelas capazes de perdurar para o resto da vida,

implicando em um comportamento abusivo para a criança.

Jorge Trindade define que esta síndrome vai também gerar uma identificação

com o abuso e a negligência, até os mal tratos e abuso infantil:

a síndrome de alienação parental tem sido identificada como uma forma de negligência contra os filhos. Para nós, entretanto, longe de pretender provocar dissensões terminológicas de pouca utilidade, a síndrome de alienação parental constitui uma forma de maltrato e abuso infantil.

Alguns outros efeitos comuns que podem ser provocados na criança poderão

variar de acordo com a idade, sua personalidade e o tipo de vínculo que ela possuía

com os pais. Normalmente, os conflitos gerais que aparecem: ansiedade, medo e

insegurança, isolamento, depressão, comportamento hostil, falta de organização

dificuldades na escola, dupla personalidade, entre outros. Mas isso não permanece

para sempre, de acordo com o psicólogo Cuenca:

A angústia e ansiedade pelas quais as crianças passam em todos os processos de separação e divórcio tende a desaparecer à medida que elas retornam à rotina de suas vidas. É o grau do conflito e o envolvimento das crianças neste conflito, que determinam o tipo e o nível de consequências da separação da família, na criança.

Pais que induzem a esta síndrome normalmente deixam as crianças com

vizinhos, babás, amigos, mas evitam deixar com o outro pai, usando desculpas, não

aceitando deixar os filhos porque está fora do horário pré-determinado, ou dizendo

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que o pai poderá deixar em risco a família e outras coisas deste gênero, que irão

cada vez mais afastar os filhos, tanto de um quanto do outro genitor.

A criança, além do fato de perder um contato, um vinculo com o genitor

alienado, terá seus pensamentos interrompidos e coagidos em direção a

determinados padrões patológicos, que não irão parar até os próprios pais agirem

contra isso. Mas, caso não aconteça, estes abusos emocionais e psicológicos irão

passar de geração a geração, ou seja, quando o menor chegar à fase adulta, poderá

padecer de um grave complexo de culpa, por ter sido fruto de uma injustiça e o

genitor alienante, papel de principal e único modelo para a criança, poderá fazer que

no futuro que ela repita o mesmo comportamento.

Por estas razões, instigar a alienação parental em criança é considerado por

muitos como um comportamento abusivo, comparado a abuso sexual e físico e não

apenas o genitor alienado irá sofrer com isso, mas todos os que fazem parte da vida

da criança, como os familiares, amigos, privando o menor de uma convivência

afetiva e que deveria permanecer integrada.

Síndrome de alienação parental exige uma abordagem terapêutica específica

para cada uma das pessoas envolvidas, havendo a necessidade de atendimento da

criança, do alienador e do alienado. O filho pode assumir uma postura de se

submeter ao que o alienador determina, pois teme que se desobedecer ou

desagradar, poderá sofrer castigos e ameaças.

A criança criará uma situação de dependência e submissão às provas de

lealdade, ficando com medo de ser abandonada do amor dos pais. Ocorre um

constrangimento para que seja escolhido um dos genitores, trazendo dificuldades de

convivência com a realidade, entrando num mundo de duplas mensagens e vínculos

com verdades censuradas, favorecendo um prejuízo na formação de seu caráter.

Para identificar uma criança alienada é mostrado como o genitor alienador

confidencia a seu filho seus sentimentos negativos e às más experiências vividas

com o genitor ausente. Dessa forma, o filho vai absorvendo toda a negatividade que

o alienador coloca no alienado, levando-o a sentir-se no dever de proteger, não o

alienado, mas, curiosamente, o alienador, criando uma ligação psicopatológica

similar a uma “folie a deux”. Forma-se a dupla contra o alienado, uma aliança

baseada não em aspectos saudáveis da personalidade, mas na necessidade de dar

corpo ao vazio.

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Entre as patologias psíquicas verificadas nos adultos, está a síndrome de

alienação parental. Quando não consegue elaborar adequadamente o luto da

separação, desencadeia um processo de destruição, de desmoralização, de

descrédito do ex-cônjuge. Ao ver o interesse do pai em preservar a convivência com

o filho, quer vingar-se, afastando este do genitor. Para isto, cria uma série de

situações, visando dificultar ao máximo ou a impedir a visitação. Leva o filho a

rejeitar o pai, a odiá-lo.

Tal síndrome até poderia se limitar a um tipo de conduta, que é gerar o

afastamento do progenitor no guardião da prole, mas, geralmente, quando acontece

um quadro mais patológico, os efeitos são mais nocivos. A pessoa alienante vai

além, por um sentimento de ódio e raiva, com um desejo de vingança, acaba

acusando o outro de abuso sexual ou agressões físicas, sem isto ter ocorrido (falsas

memórias).

Essa falsa denúncia irá relatar um lado mais pesado da vingança, pois

sacrifica o próprio filho e lamentavelmente ocorre nos casos de separação mal-

resolvidos, em que surge uma tendência vingativa muito grande. No universo

jurídico, diante de uma denúncia de abuso, o juiz poderá assegurar uma proteção

integral para a criança, não tendo muitas alternativas a não ser expedir uma ordem

em que se determine no mínimo uma suspensão temporária das visitas, ou com elas

reduzida, mediante o monitoramento por uma terceira pessoa. E, com isso, o genitor

alienador consegue parcialmente uma vitória, pois o tempo e a limitação de contato

entre o genitor alienado e o filho jogam a seu exclusivo favor.

O processo acabará operando a favor de quem fez a acusação, pois até que

se esclareça a verdade, mesmo com urgência na avaliação e na perícia, a demora

prejudicará quem for inocente. Primeiramente, com o abuso sexual deverá ser

constatado o que aconteceu, pois ele é uma forma de violência doméstica contra os

menores e como nem sempre deixa marcas físicas é muito complicado de ser

percebido.

Jorge Trindade esclarece e conceitua o abuso: “A criança não tem

capacidade de consentir na relação abusiva, porque o elemento etário desempenha

papel importante na capacidade de compreensão e de discernimento dos atos

humanos.” O abuso acontece em todas as classes e etnias e normalmente não

depende do nível cultural que os envolvidos se encontram e como existe no meio

familiar.

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Em contrapartida, não se pode esquecer que muitos abusos realmente

acontecem e merecem especial atenção, necessitando sempre de uma investigação.

Não obstante, o fato de imputar falsamente a ocorrência de abuso, com o objetivo de

prejudicar a imagem do outro, por si só merece reprimenda social, a par de também

ser um forte indicativo de alienação, porque, em última instância, produz um

sentimento de abuso na medida em que a criança passa a vivenciar situações antes

comuns e aceitas como abusivas.

Ao perceber a possibilidade de o genitor estar realizando uma implantação de

falsas memórias, tirando uma realidade inexistente, nota-se a outra forma de abuso,

extremamente grave que com certeza prejudicará o desenvolvimento da criança,

criando uma confusão psíquica irreversível. Maria Berenice Dias esclarece muito

bem esta questão, na qual as crianças são submetidas a uma mentira, sendo

emocionalmente manipuladas e abusadas e por causa disso deverão enfrentar

diversos procedimentos como análise, tanto psiquiátrica quanto judicial: nem sempre

a criança consegue discernir que está sendo manipulada e acaba acreditando

naquilo que lhes foi dito de forma insistente e repetida.

Com o tempo, nem a mãe consegue distinguir a diferença entre verdade e

mentira. A sua verdade passa a ser verdade para o filho, que vive com falsas

personagens de uma falsa existência, implantando-se, assim, falsas memórias. Além

do prejuízo da falsa denúncia, nunca se terá certeza sobre o ocorrido e essas

pessoas adultas são doentes o suficiente para expor os filhos a tal situação,

submetendo-os a exames, entrevistas e acabam também os privando da

convivência normal e elas mesmas acabam acreditando na sua versão, ficando

convencidos de sua posição, acabam angariando amigos e profissionais como

advogados, psicólogos e juízes sobre a falsa implantação.

O abuso emocional, de falsas memórias, por ter dificuldade de avaliação,

torna difícil a convivência com o genitor alienado, inclusive gerando um medo por

parte dos filhos. Estas notícias inclusive desencadeiam na pior situação que o

profissional irá investigar e enfrentar, pois terá o dever de tomar uma atitude, pois

caso se verifique que a denúncia não seja verdadeira, será traumática para a criança

envolvida, pois ela foi levada a um jogo.

Ressalta Jorge Trindade: “Tudo isso traz dificuldade para a criança conviver

com a verdade, pois sendo constantemente levada a um jogo de manipulações,

acaba por aprender a conviver com a mentira e a expressar falsas emoções”. A

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criança entra num mundo de duplo ambiente, com verdades censuradas, e não é

raro que às vezes ela toma um partido desse conflito, pois essa noção de certo e

errado fica incerta, o que favorece ao prejuízo do caráter.

2.4 As comparações das falsas denúncias com a síndrome de alienação

parental

A psicologia forense no Poder Judiciário na questão da síndrome de

alienação parental, um aspecto muito importante a ser observado é a utilização do

perito, conforme verificamos nas jurisprudências citadas e normalmente eles são

assistentes sociais, psicólogos, psiquiatras e que são chamados especialistas da

área de psiquiatria forense.

Os profissionais dessa área atuam como peritos, por designação formal de

autoridade judicial ou administrativa, ou como assistentes ou assessores técnicos,

contratados pelas partes interessadas. Para propiciar o exercício destas funções, a

psiquiatria forense utiliza conhecimento científico e clinico (mais que terapêutico),

visando a fornecer noções técnicas indispensáveis à solução de questões de ordem

técnica psiquiátrica ou afins nos procedimentos jurídicos.

Como vimos, exige-se deste perito uma competência técnica e específica

para esta tarefa, este problema. Para Denise Maria, deve-se ter conhecimento

teórico e também prático sobre a psicologia infantil, a saúde mental da criança e do

adolescente e sua família: um bom perito deve ser, antes de tudo, um bom médico

(psiquiatra) ou psicólogo, com no mínimo dois anos de prática clínica, a fim de

conhecer o diagnóstico. A partir daí, saber articular o discurso médico ou psicológico

com o forense.

No próximo passo, iremos verificar os direitos fundamentais da criança, como

liberdade, o respeito e a dignidade, conforme os artigos do ECA (Estatuto da

Criança e do Adolescente) abaixo:

Artigo 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao respeito e à dignidade como pessoas humanas em processos de desenvolvimento e como sujeitos de direito civis, humanos e sociais garantidos na Constituição e nas leis. Artigo 16. O direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: I – Ir, vir e estar nos logradouros públicos e espaços comunitários ressalvados as restrições legais;

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II – opinião e expressão; III – crença e culto religioso; IV – brincar, praticar esportes e divertir-se; V – participar da vida familiar e comunitária, sem discriminação; VI – participar da vida política, na forma da lei; VII – buscar refúgio, auxílio e orientação. Artigo 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente, abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais. Artigo 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

3 ALIENAÇÃO PARENTAL DENTRO DO CONTEXTO FAMILIAR

Atualmente, a alienação parental se dá com a criação de uma relação de

caráter exclusivo entre a criança e o genitor que detém a sua guarda física, com o

objetivo de deixar o outro genitor “de fora” do convívio com o menor. A criança,

quando alienada, não quer ter qualquer tipo de contato com um dos progenitores,

devido às influências de um deles contra o outro, tendo sentimentos positivos por

aquele que está diariamente ao seu lado e sentimentos negativos por aquele que

não faz parte do seu convívio diário. Assim, perde totalmente o vínculo, apego,

confiança e a sensibilidade do afeto natural que deveria existir por ambos os

genitores (SOUZA, 2003).

A guarda permite ao genitor monopolizar o controle sobre a pessoa do filho,

como um “manipulador”, tratando-o como um fantoche, com o intuito de exercer um

poder excessivo, desequilibrando o relacionamento entre este e o outro genitor. Na

maioria das vezes, pelos mais variados motivos, aquele que detém a guarda resolve

adotar diferentes medidas que dificultam a convivência do outro genitor com o filho

menor. Logo que isso acontece, o maior prejudicado é o filho menor. A violência que

este sofre não é física nem facilmente perceptível. Muitas vezes, nem mesmo o

genitor que causa a alienação parental tem noção das trágicas consequências para

seu filho.

É estabelecido o direito à convivência familiar e aparece em diversas normas

do Estatuto da Criança e do Adolescente, como direito fundamental (artigos 4º, 16,

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inciso V, e 19, caput, do Estatuto da Criança e do Adolescente) e também no artigo

9.3 da Convenção dos Direitos da Criança, segundo o qual “Os Estados Partes

respeitarão o direito da criança que esteja separada de um ou de ambos os pais de

manter regularmente relações pessoais e contato direto com ambos, a menos que

isso seja contrário ao interesse maior da criança.”

Conforme o artigo 3º da Lei n. 12.318/2010, o menor vítima de alienação

parental sofre violação em seu direito fundamental de convivência familiar, prejuízo

nas relações afetivas com a família e abuso moral. O genitor alienante descumpre

gravemente os deveres inerentes à autoridade parental. Havendo indícios de

alienação parental, o genitor alienado deve, o quanto antes, buscar socorro no

Judiciário, que tomará as medidas necessárias para preservar a integridade

psicológica do menor e permitir a convivência familiar.

A força do conflito conjugal sobre a experiência de segurança emocional

ocorre na medida em que as situações de discórdia geram estados de ansiedade na

criança, medo e insegurança (DAVIES & CUMMINGS, 1994). A exposição ao

conflito conjugal teria o papel de interferir na qualidade destas representações

familiares, no momento em que se associam experiências de estresse ligadas às

figuras parentais, fonte das vivências afetivas de estabilidade da criança.

Em termos gerais, o construto segurança emocional corresponde a um

processo dinâmico envolvendo subsistemas regulatórios compostos pelos

componentes (a) de regulação emocional, ou a capacidade da criança em reduzir,

aumentar e manter seu estado emocional quando frente a conflitos; (b) de

representações das relações familiares, ou o significado dos acontecimentos na

família em relação à experiência de segurança emocional e (c) de regulação da

exposição ao afeto, ou dos comportamentos regulatórios que controlam a exposição

da criança aos afetos resultantes das discórdias familiares.

Desta maneira, quando face às situações estressantes envolvendo discórdias

e conflitos familiares, a criança reage ao afeto negativo e à ansiedade, esforçando-

se por criar mecanismos mediadores de controle, tanto em nível de seus próprios

estados de ansiedade interna, como também do controle do comportamento dos

próprios adultos envolvidos na disputa.

Assim, o estado emocional negativo, ativado pela exposição ao conflito

conjugal, perturba o sentido de segurança emocional interna, fazendo com que a

criança procure acionar mecanismos que restabeleçam a segurança emocional.

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Podem ocorrer tentativas de controle da disputa parental, por meio de interferência

direta da criança ou de condutas de mau comportamento, de agressividade ou de

choro (SMITH, BERTHELSEN & O´CONNOR, 1997).

A capacidade de regulação emocional é determinante da experiência da

criança face ao conflito. Portanto, os efeitos negativos da exposição não resultam

diretamente das características menos ou mais intensas do conflito parental, mas,

sim, da percepção de ameaça à capacidade de manutenção da segurança

emocional interna da criança, alterada pelo conflito. São várias as formas de

alienação parental consideradas, devido à manipulação pelo genitor guardião no

comportamento da criança, bem como, pelo comportamento do próprio genitor, que

age de forma a realizar campanha de desqualificação da conduta do genitor não

guardião no exercício da paternidade ou maternidade; que dificulta o exercício do

poder familiar; o contato da criança com o outro genitor; que dificulta o exercício do

direito regulamentado de visita; que omite deliberadamente informações pessoais

relevantes sobre a criança ao outro genitor; que apresenta falsa denúncia contra o

outro genitor; que muda de domicílio para locais distantes sem justificativa visando

com isso dificultar a convivência do outro genitor; além dos atos assim declarados

pelo juiz ou constatados por equipes multidisciplinares e os praticados diretamente

ou com auxílio de terceiros (OLIVEIRA, 2008).

3.1 Divórcio

A separação dos pais muitas vezes implica em descontinuidades, rupturas no

holding familiar, gerando sentimentos de perda e desamparo. No entanto, essa

concepção deve ser distinguida do modelo de déficit, como já foi citado, contido nas

pesquisas iniciais sobre divórcio, que trazia implícita uma ideia preconcebida e

determinista a respeito das consequências do divórcio.

No entanto, em certos casos, os efeitos do divórcio não são necessariamente

adversos; muitos filhos se envolvem em uma situação familiar conflituosa para uma

situação mais harmônica e mostram inclusive uma diminuição de problemas após a

separação dos pais. Não é necessariamente a presença do casal parental vivendo

juntos que promove a saúde mental. Às vezes, conviver com pais em constante

conflito prejudica o desenvolvimento dos filhos. Uma das alternativas que alguns

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estudos apontam é a guarda compartilhada, referida como fator de proteção,

proporcionando para os filhos um melhor ajustamento emocional e comportamental.

O divórcio trouxe um leque de novas configurações e organizações familiares.

Em relação à frequência, nos EUA, o divórcio parental é experienciado por 1,5

milhão de crianças a cada ano (WOLCHIK et al, 2002). No Brasil, o IBGE aponta

que em 2005 foram registrados 717.650 casamentos e 150.714 divórcios. Neste

mesmo ano, o registro total de filhos de casais envolvidos em divórcios somou

227.580.

Sabemos que estes são os dados notificados, mas também temos

conhecimento de uniões e separações não oficializadas que não estão enquadradas

nestas estatísticas. Numa revisão de pesquisas realizadas nas décadas de 1960 e

1970, Hetherington e Stanley-Hagan (1999) constataram que eram baseadas no

modelo de déficit; ou seja, o divórcio era encarado como um evento traumático,

partindo-se do pressuposto de que a saída de um dos pais do lar implicaria em uma

séria consequência para os filhos.

Algumas pesquisas mostram também que com o divórcio, determinadas

crianças amadurecem mais cedo, pois recebem responsabilidades adicionais na

falta da convivência com um dos progenitores, têm maior independência e,

consequentemente, aumenta o poder de decisão (WALSH, 1993). É perfeitamente

compreensível também que a maioria dos filhos sintam-se muito melhor com os pais

separados ou em novas uniões, do que num casamento infeliz, que ocasiona

tensões e desconfortos dentro da família (MALDONADO, 1987).

Nota-se que as consequências do divórcio nos filhos estão diminuindo, à

medida que este está se tornando, a cada dia, mais comum e aceitável. Em seu

estudo, Mazur (1993) constatou que não existem diferenças entre as opiniões de

crianças, com pais divorciados ou não, sobre casamento, divórcio e recasamento.

Algumas pesquisas comparativas entre filhos de famílias divorciadas e

famílias originais revelam que:

- existem mais problemas de ajuste psicológico e social nos

filhos de famílias divorciadas do que nos de famílias originais

(WALSH, 1993);

- ainda que os adolescentes de famílias divorciadas

apresentem atitudes de amor para com seus pais, os de

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famílias originais tendem a ser mais carinhosos (PARISH &

NECESSARY, 1994).

Por outro lado, nota-se que as consequências do divórcio nos filhos estão

diminuindo, à medida que este está se tornando, a cada dia, mais comum e

aceitável. Em seu estudo, Mazur (1993) constatou que não existem diferenças entre

as opiniões de crianças, com pais divorciados ou não, sobre casamento, divórcio e

recasamento.

Ainda que a complexidade do relacionamento do núcleo familiar reconstituído

seja maior, devido a fatores relativos às experiências prévias de vida matrimonial

dos cônjuges, a necessidade de harmonizar visões educacionais de filhos já

existentes e a interferência dos ex-cônjuges sobre os respectivos filhos, o

recasamento pode ser a construção de uma forma relacional nova e não

simplesmente a repetição e a tentativa de reconstrução de uma relação rompida

(MALDONADO, 1987; PENSO, COSTA & CARNEIRO, 1992).

Especificamente no que se refere às famílias reconstituídas com filhos

adolescentes, encontram-se na literatura padrões de relacionamento peculiares que

caracterizam estes núcleos familiares. Diante dos novos parceiros da mãe e do pai,

a reação inicial dos adolescentes costuma ser bastante ambivalente. Inicialmente,

aparece a relutância em aceitar os novos parceiros dos pais, o que, algumas vezes

se deve ao medo de começar a gostar destas novas pessoas e voltar a perdê-las,

caso elas desfaçam o relacionamento conjugal. Por outro lado, o jovem também se

sente ameaçado e enciumado pelo fato de ter seus pais menos disponíveis para ele.

Nesta mistura de sentimentos, o fato de refazer-se o vínculo conjugal de um

de seus progenitores também faz diminuir a esperança do adolescente em ver seus

pais unidos novamente (MALDONADO, 1987; BARBER & LYONS, 1994; CARTER &

MCGOLDRICK, 1995; TEYBER, 1995).

O papel crucial da família, como responsável pela construção dos projetos de

vida do adolescente, assim como dos seus valores e crenças, se dá na medida em

que ela é o palco onde se vivem e aprendem as primeiras cenas, buscando o

equilíbrio entre o real e o imaginário. Deste modo, à luz da compreensão sistêmica,

em que cada sujeito somente pode ser entendido no contexto familiar, considerando

que qualquer mudança na família afeta todo o sistema, procuramos entender neste

estudo quais as relações existentes entre as crenças e valores dos adolescentes a

partir da configuração dos seus núcleos familiares.

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A disparidade de papéis pode ser vivenciada pelas mulheres de forma

bastante dolorosa, uma vez que quebra a promessa de igualdade de funções,

alimentada por atitudes dos próprios homens, o que se constitui em uma fonte

adicional de conflitos, numa área já carregada de problemas. Para as mulheres,

mais diretamente as de classe média, em contexto urbano, isoladas, com poucos

parentes e tendo como companhias constantes apenas vizinhos quase que

indiferente o que resulta é um agravamento de sentimentos negativos: solidão, tédio,

aborrecimento, cansaço e tensão (COONTZ, 1997; JABLONSKI, 1998).

A discussão em torno da nova identidade masculina vem crescendo, dentro e

fora do âmbito acadêmico, tornando-se alvo de debates na sociedade

contemporânea. As demandas agora parecem estar mudando o modelo tradicional

de pai distante, provedor e autoritário, dando lugar a alguém participativo, envolvido

nas questões de sua prole. São transformações significativas, que remexem

sentimentos e relacionamentos e fazem com que, ao se tornar pai, o homem procure

resgatar a experiência que teve com o seu próprio pai, o que pode gerar sofrimento

e desconforto (DANTAS, 2003).

Até algum tempo atrás, os relacionamentos entre pais e filhos eram marcados

pelo distanciamento e por uma postura autoritária dos pais. Hoje, assiste-se a uma

proximidade do contato, incentivando a demonstração de afeto e a participação

ativa, durante o crescimento das crianças. Ainda segundo a autora, estar-se-ia

presenciando maior flexibilidade nos papéis paterno e materno, que podem sair dos

estereótipos rígidos e experimentarem-se novas situações.

Com isso, a expectativa de permanência conjugal deu lugar a um padrão de

sucessões conjugais, já que a maioria dos indivíduos irá casar-se novamente, dados

plenamente confirmados por pesquisas mais recentes, tanto no que diz respeito aos

índices de separação quanto aos de recasamento (COONTZ, 1997).

O relacionamento precisa ser alimentado e a criança ter o seu lugar

assegurado e respeitado. Almeida, Wethington e McDonald (2001) afirma que o

relacionamento entre pai e filho é bem mais forte, quando ambos se encontram

frequentemente, sendo que a continuidade desses encontros proporciona ao pai a

capacidade de impor disciplina ao filho. Como auxiliar pais e filhos no processo de

separação de forma a conscientizá-los sobre os danos causados aos seus filhos e a

eles próprios em casos de alienação parental?

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No âmbito jurídico iniciam-se com um processo com a mediação em ambas

as partes, quando identificado alienador e alienado através de laudo técnico por

parte de uma equipe multidisciplinar, já no âmbito psicológico geralmente é iniciado

o tratamento psicoterápico principalmente se no caso o alienado for criança.

3.2 ATUAÇÕES DO DIREITO DE FAMÍLIA EM CASOS DE ALIENAÇÃO

PARENTAL

O direito de família, entre todos os ramos do direito civil, é aquele que mais

envolve nossa afetividade e abarca nossas relações e vidas. Para o direito de

família, o núcleo familiar é a célula mãe da sociedade humana cuja importância é

revelada pela própria tutela oferecida pela atual e vigente Constituição Federal

Brasileira. Muito embora que, a família não se reconheça personalidade jurídica,

sendo uma entidade amorfa e não possa sofrer a desconsideração da personalidade

jurídica.

Clóvis Beviláqua definiu o direito de família como: “é complexo das normas

que regulam a celebração do casamento, sua validade e os efeitos que dele

resultam, as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, a dissolução

desta, as relações entre pais e filhos, o vínculo de parentesco e os institutos

complementares da tutela e curatela”.

No direito de família vão repercutir aqueles graves problemas que atraem as

atenções de sociólogos e políticos ante o crescimento demográfico e a disparidade

entre o aumento populacional e dos meios de produção alimentícia, o que faz surgir

em debate a questão do controle de natalidade, preocupa também o Estado, é há

uma disposição constitucional no art. 226, sétimo parágrafo que informa que o

planejamento familiar é livre decisão do casal, duna dado nos princípios da

dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável. Portanto,

contemporaneamente o Direito de Família ampliou definitivamente sua incidência

não se limitando a disciplinar apenas as famílias inauguradas pelo casamento mas

também todo e qualquer arranjo familiar (tipificado ou não).

Com o advento da Constituição Federal Brasileira de 1988 é defendida a

prevalência do direito de família constitucional. Principalmente porque o Código Civil

de 191,6 eivado do espírito patrimonialista, matrimonia lista e patriarcal foi superado

pelo vigente Código Civil de 2002, o que corrobora com a assertiva de Cristiano

Chaves de Faria:

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A entidade familiar deve ser entendida, hoje como grupo social fundado, essencialmente, em laços de afetividade, pois outra conclusão não se pode chegar à luz do Texto Constitucional, especialmente do art. 1º, III que preconiza a dignidade da pessoa humana como princípio vetor da República Federativa do Brasil.

Muito embora permaneça a discriminação quanto à concubina seja na seara

do direito de família como na sucessória, quanto a prole não vige mais essa injusta

distinção. Embora o direito de família de fato contenha preceitos de ordem pública

não se identifica com o direito público, tanto que a família, por toda sua extensa

importância social por ser a base de toda a sociedade, o que requer certa

intervenção de natureza institucional, em obediência aos interesses maiores de

preservação dos direitos provenientes das relações jurídico-familiares.

Tal distúrbio pode afetar tanto crianças como adolescentes que são vítimas

de interferência psicológica indevida realizada por um dos pais com o propósito de

fazer com que repudiem o outro genitor. Há um jogo de lealdade e a criança é

manipulada para rejeitar o outro e provar seu amor e admiração ao outro genitor.

Porém, com esta não se confunde, vez que a alienação está ligada a

situações envolvendo a guarda de filhos ou a algo análogo por pais divorciados ou

em via de separação litigiosa, ao passo que a AFH ou ambiente hostil familiar seria

mais abrangente e presente em quaisquer situações em duas ou mais pessoas

ligadas à criança ou adolescente e que estejam divergindo sobre educação, valores,

religião etc.

A doutrina estrangeira também menciona a HAP (hostile aggressive

parenting), o que veio a ser denominada por AFH ou ambiente familiar hostil que é

uma situação muitas vezes tida como sinônima de alienação parental ou síndrome

do pai adversário. Enfim, divergem sobre o que seria o melhor para a criança ou

adolescente. Na doutrina internacional, uma das principais diferenças apontadas

reside no fato que o AFH estaria ligado a decisões concretas que afetam crianças e

adolescentes, ao passo que a síndrome SAP se verifica relacionada com as

questões voltadas à mente e ao fator psicológico. E, por causa de seus

devastadores efeitos, o legislador aprovou em 26 de agosto de 2010 a Lei 12.318,

que dispõe sobre a alienação parental no Brasil.

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Adiante expõe o art. 3º que a prática de ato de alienação parental fere direito

fundamental de ter convivência familiar saudável, prejudica a realização do afeto e

constitui abuso moral contra a criança e o adolescente, além de significar grave

descumprimento dos deveres inerentes à autoridade parental ou decorrente da

tutela ou guarda.

Exemplifica a lei quais condutas podem ser caracterizadas como alienação

parental, seja direta ou indiretamente realizada (por meio de terceiros), sem prejuízo

de outros comportamentos ainda que não delineados em lei e reconhecidos pelo juiz

ou por perícia. São atos de alienação parental: realizar campanha de

desqualificação da conduta do genitor no exercício da paternidade ou maternidade,

dificultar o exercício da autoridade parental ou o direito de visitação, à convivência

familiar, ou omitir deliberadamente informações sobre o genitor, apresentar falsa

denúncia contra o genitor, ou contra seus familiares, com o fito de obstar ou dificultar

o contato com a criança ou adolescente. Mudar de domicílio para local distante, sem

justificativa, visando dificultar a convivência da criança ou adolescente com o outro

genitor e com demais familiares.

Em nível processual, a fim de se aplicar sanções legais, não exigiu a lei prova

suficiente da ocorrência dos atos de alienação parental que passam a ser ilícitos, se

contentando com meros indícios. É assegurada à criança e ao adolescente a

garantia mínima da visitação assistida, ressalvados os casos em que há riscos à sua

integridade física ou psíquica ou mediante atestado profissional eventualmente

designado pelo juiz para o acompanhamento de visitas.

A priori, a exigência legal de mera matéria indiciária poderia parecer que

afrontaria nosso sistema constitucional, que prevê a ampla defesa, mas não procede

tal entendimento, posto que se objetiva dar a mais absoluta prioridade à defesa da

própria criança e adolescente, que são vítimas de terrível programação psicológica e

que tanto dificulta a reconstrução fática da prova em juízo.

Cuidou ainda a nova lei de fixar as sanções cabíveis a serem impostas ao

alienador, sem prejuízo de se buscar sua responsabilização civil e criminal cabível.

São especificadas tais sanções nos incisos do art. 6º, que vão desde a advertência

ao alienador até ao máximo da suspensão da autoridade parental. Mesmo que

inverta a obrigação de levar ou retirar a criança ou adolescente da residência do

genitor. De qualquer forma, será igualmente garantido o contraditório e a ampla

defesa sob pena de nulidade processual.

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Não prevê a lei o mínimo prazo para suspensão do poder familiar, o que faz

presumir que pode perdurar até que o filho venha a galgar a plena capacidade civil,

caso em que se extingue o próprio poder familiar. Também há a estipulação

pecuniária de multa que não conta com apoio de Pablo Stolze e Rodolfo Pamplona

Filho, até porque não surge o efeito sócio-afetivo esperado.

O que se visa com a aplicação da multa ao alienador é que deixe de praticar o

comportamento nocivo. Mais uma vez procurou-se a tutelar a criança e o

adolescente e principalmente a necessidade de se ter uma convivência saudável

mesmo no caso do rompimento das relações conjugais dos pais, prestigiando-se

novamente o princípio da afetividade e da paternidade ou maternidade responsável.

E, nesses casos é indispensável a atuação do Ministério Público do Trabalho,

principalmente em razão dos interesses dos filhos menores que todas tinham,

principalmente para garantir equânime divisão entre os dependentes e o justo

cálculo da meação. O que nos remete ao tema complexo que é saber se a

monogamia pode ser considerada como princípio em nosso ordenamento jurídico

concerne às relações familiares. Em verdade, refletimos a fidelidade em um valor

juridicamente tutelado e tanto o é que o mesmo é erigido como dever legal seja

decorrente de casamento ou união estável.

Ademais, a violação do dever de fidelidade aliada à insuportabilidade da vida

em comum não somente pode resultar na dissolução da união conjugal ou estável

como pode também admitir compensações indenizatórias. Outra parte da doutrina,

no entanto, propõe situar a monogamia como princípio do direito de família, sendo

um ponto crucial para as conexões morais e organizadores das relações conjugais

(In Pereira, Rodrigo da Cunha. Uma Principiologia para o Direito de Família – Anais do V Congresso

Brasileiro do Direito de Família, Belo Horizonte, IBDFAM, 2006, p. 848-9).

Todavia, em respeito da intervenção mínima do estado no direito de família,

não há de impor coercitivamente a estrita observância da fidelidade recíproca.

Portanto, é recomendável, mormente entender a monogamia apenas como nota

característica do nosso sistema jurídico, não a colocando como princípio em face

principalmente de sua intensa carga normativa.

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CONCLUSÃO

A vida é sempre dinâmica e constantemente evolutiva e às vezes aparecem

situações que o direito não pode conter dentro de sua normalidade. Dessa forma, é

preciso a criação de técnicas no mundo jurídico para alcançar situações de

anormalidade. A Lei como dispositivo legal que constitui nítido avanço ao

ordenamento jurídico, veio para resguardar direitos à criança e adolescente que

representam o futuro do nosso país, ou melhor, da humanidade. Por outro lado, a

Lei não consegue resguardar esta criança ou adolescente dos danos psíquicos

causados pelo alienante no seu ambiente familiar.

Conclui-se que alienação parental é um tema bastante complexo e ainda está

em constante evolução, principalmente dentro do âmbito judiciário. Pudemos

observar após esse trabalho que apesar do surgimento da Lei 12.318/10,

ferramentas, técnicas e profissionais capacitados estamos diante uma síndrome que

ultrapassa os tribunais e consultórios e a não identificação dessa síndrome traz

danos irreversíveis ao ser humano. Cabe a nós profissionais do Direito estarmos

cada vez mais familiarizados com o tema, nos aprimorando e ampliando o universo

de estudo, para que com isso possamos ajudar as famílias, principalmente das

crianças e adolescentes que passam por traumas com sequelas irreparáveis.

Nosso trabalho, como operadores do Direito, visou, juntamente com a equipe

multidisciplinar, procurar reparar os danos causados por quem sofre a síndrome da

alienação parental, pois sabemos que as crianças e adolescentes são o futuro do

país e como estaremos com estes pais e mães no futuro, se não passaram por um

tratamento adequado com relação à SAP?

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___________________. Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver / Maria Berenice Dias, coordenação. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2007. KÉPES, Rada. A síndrome de alienação parental: um estudo exploratório LÔBO, Paulo. Famílias. São Paulo: Saraiva, 2008. OLIVEIRA, NHD. Recomeçar: família, filhos e desafios [online]. São Paulo: Editora UNESP; São Paulo: Cultura Acadêmica, 2009. 236 p. ISBN 978-85-7983-036-5. PODEVYN, François (04/04/2001). Tradução para português: Apase – Associação de Pais e Mães Separados (08/08/2001): Associação Pais para Sempre: disponível em http://www.paisparasemprebrasil.org> . http://pediatriasaopaulo.usp.br/upload/html/1174/body/03.htm. SILVA, Denise Maria Perissini. Psicologia jurídica no processo civil brasileiro: a interface da psicologia com direitos nas questões de família e infância. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2003. 259 p. TRINDADE, Jorge. Síndrome de alienação parental (SAP). In: DIAS, Maria Berenice (Coord.). Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver. 2ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2010. __________ Incesto e alienação parental: realidades que a justiça insiste em não ver / Maria Berenice Dias, coordenação – São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2007. _________ Manual de psicologia jurídica para operadores do direito. Porto Alegre: Livraria do Advogado, editora, 2004. _________ Delinquência juvenil: uma abordagem transdisciplinar. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 1996. _________ Palestra feita na Escola Superior de Advocacia do Brasil: ESA. Disponível em: http://www.oab.org.br. Acesso em: 29.11.13. (citação incompleta).