centro de ensino superior do cearÁ curso de … · o ser humano está sempre descobrindo e...
TRANSCRIPT
CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO CEARÁ
FACULDADE CEARENSE
CURSO DE PEDAGOGIA
LEILANE PATRÍCIO DOS SANTOS
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: BRINCAR E JOGAR, UMA FORMA DE
EDUCAR
FORTALEZA
2013
LEILANE PATRÍCIO DOS SANTOS
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: BRINCAR E JOGAR, UMA FORMA DE
EDUCAR
Monografia submetida à aprovação do Curso de Pedagogia da Faculdade Cearense, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação.
Orientadora: Profa. Luiza Lúlia Feitosa Simões.
FORTALEZA
2013
LEILANE PATRÍCIO DOS SANTOS
O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL: BRINCAR E JOGAR, UMA FORMA DE
EDUCAR
Monografia como pré-requisito para obtenção do título de Licenciatura em Pedagogia, outorgado pela Faculdade Cearense – FaC, tendo sido aprovada pela banca examinadora composta pelos professores.
Data de aprovação: ____/ ____/____
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________________
Prof.a Ms. Luiza Lúlia Feitosa Simões
____________________________________________________
Prof.a Ms. Márcia Maria Siqueira Vieira
____________________________________________________
Prof.a Ms. Silvana Holanda da Silva
Aos meus amados pais, familiares e amigos que
de muitas formas me incentivaram e acreditaram
em mim. Dedico-lhes essa conquista com
gratidão e amor.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, por ter-me dado força e sabedoria, me
iluminando e me dando a graça de superar cada obstáculo.
Aos meus pais que sempre acreditaram em mim e me ajudaram. À minha irmã
Lina, que sempre acompanhou cada passo meu, me ajudou e me incentivou. Às
minhas irmãs Meliana e Lílian que mesmo longe sempre me apoiaram e estiveram
dispostas para o que eu precisasse.
À minha amiga Flavia, que primeiro me incentivou para a realização desse
sonho; pela amizade fiel, palavras de incentivo e prontidão em sempre me ajudar.
Aos meus colegas da turma de 2008.2 de Pedagogia, em especial à Vânia, à
Evelyn e ao Ednardo, que foram grandes presentes que Deus me deu. Amizade pra
vida toda!
À professora Luiza Simões, a qual tenho muita admiração; pela orientação e
apoio durante todo o curso.
A todos os professores que foram tão importantes na minha vida acadêmica e
no desenvolvimento desta monografia.
“A atividade lúdica é o berço obrigatório das
atividades intelectuais da criança sendo por isso,
indispensável à prática educativa.”
(Jean Piaget)
RESUMO
A presente monografia aborda o tema do lúdico, nos aspectos do brincar e do jogar,
como instrumentos eficazes na prática pedagógica. Por meio das atividades lúdicas, a
criança comunica-se consigo mesma e com o mundo, estabelece relações sociais,
constrói conhecimentos, desenvolve-se integralmente. O trabalho tem como ponto de
partida o conceito do lúdico, sua contribuição na construção do conhecimento e do
desenvolvimento da criança nos seus primeiros anos e um breve histórico, até chegar
atualmente de forma mais significativa nas escolas. A brincadeira é uma linguagem
infantil, que deve fazer parte do cotidiano escolar e o professor precisa compreender
que nesses momentos da vida da criança existem objetivos didáticos. Além disso,
enfoca também o lúdico e o desenvolvimento infantil, sob a concepção dos teóricos:
Piaget, Vigotsky, Wallon e Friederich Froebel. Por fim, o lúdico e a escola, uma relação
que deve ser construída por todos os envolvidos com a educação e algumas
considerações sobre os brinquedos e a brinquedoteca que influenciam e favorecem a
socialização das crianças.
Palavras Chaves: Lúdico. Brincar. Jogar. Desenvolvimento Infantil.
ABSTRACT
The purpose of this study is to examine the use of ludic pedagogy, play and games, as
an effective teaching method. Through the use of ludic activities, a child can
communicate with herself and with her surrounding world, can establish social relations,
build knowledge, and fully develop. This study begins by defining ludic pedagogy and its
contributions to knowledge building. It explores its use in early childhood development
and its incorporation into schools curricula. Play is the universal language of childhood
and it must be incorporated to schools environments. The study proposes tha teachers
need to incorporate playful activities to classroom routines to optimize student learning.
This study analyzes the concepts of ludic and child development, under the theories of
Piaget, Vigotsky, Wallon, and Friederich Froebel. It investigates the relationship between
ludic pedagogy and schools, and explores the use of toys and playrooms in children
socialization.
Keywords: Ludic. Play. Game. Child development.
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
LDB Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira
PCN Parâmetros Curriculares Nacionais
EI Educação Infantil
RCNEI Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO _____________________________________________________ 11
2 O LÚDICO ________________________________________________________ 13
2.1 Conceito de Lúdico _________________________________________________ 13
2.2 O Lúdico ao longo da história _________________________________________ 14
2.2.1 Histórico do Lúdico no Brasil ________________________________________ 16
2.3 O brincar e a construção do conhecimento ______________________________ 18
2.4 O Lúdico e o Jogo _________________________________________________ 21
2.5 A Educação Infantil nos dias de hoje ___________________________________ 23
2.6 O Lúdico e a formação Docente _______________________________________ 25
3 O LÚDICO E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL __________________________ 28
3.1 O lúdico na concepção de Piaget ______________________________________ 28
3.2 O lúdico na concepção de Vygotsky ___________________________________ 29
3.3 O lúdico na concepção de Wallon _____________________________________ 31
3.4 O lúdico na concepção de Friedrich Froebel _____________________________ 32
4 ESPAÇO LÚDICO ___________________________________________________ 34
4.1 O Lúdico e a Escola: Uma relação a ser construída _______________________ 34
4.2 A criança: Um ser social _____________________________________________ 35
4.3 Brinquedos _______________________________________________________ 36
4.4 Brinquedoteca ____________________________________________________ 38
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ___________________________________________ 41
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS _____________________________________ 43
11
1 INTRODUÇÃO
O ser humano está sempre descobrindo e aprendendo coisas novas pelo
contato com seus semelhantes e pelo domínio sobre o meio em que vive. Na fase da
infância a criança descobre esse mundo através da brincadeira, como meio de
conseguir interpretar e assimilar o mundo, os objetos, a cultura, as relações e os afetos.
A escola é um dos principais espaços que proporciona, entre outras, a
vivência do brincar e do jogar, atos indispensáveis à saúde física, emocional e
intelectual e que sempre fizeram parte de qualquer povo, desde a antiguidade. O
mundo do lúdico é o mundo da fantasia, da imaginação, do faz de conta, do jogo e da
brincadeira, que merece toda atenção dos pais e educadores, pois é através dele que
ocorrem experiências inteligentes e reflexivas, praticadas com emoção, prazer e
seriedade. A função educativa do jogo, por exemplo, oportuniza a aprendizagem do
indivíduo, seu saber, seu conhecimento e sua compreensão de mundo. O jogo são
regras, como reconhece Piaget (1991), sendo assim a atividade lúdica do ser
socializador.
O tema escolhido “O Lúdico na Educação Infantil – brincar e jogar, uma
forma de educar” desperta o interesse dos educadores pois é um assunto que faz parte
da prática educacional, uma vez que é através do lúdico que a criança vai
gradualmente construindo sua aprendizagem, formando suas habilidades de
coordenação motora, compreensão e companheirismo. Além de se comunicar através
de gestos, sons ou movimentos, manipular objetos, desenvolver a atenção, a memória
e a imaginação.
Inserir o lúdico na prática educativa não significa tirar a seriedade e a
importância dos conteúdos. Contudo, é algo que se torna indispensável na educação,
pois as atividades lúdicas permitem que o indivíduo aprenda, crie, imagine, ordene,
desorganize, construa, destrua e reconstrua o mundo ao seu redor. Sendo assim, o
presente estudo contribuirá bastante na formação e prática de profissionais da
educação, que direta ou indiretamente trabalham com o público infantil.
12
Diante desses relatos, levanta-se a seguinte problemática: qual a importância
e os efeitos do lúdico sobre a construção da aprendizagem da criança, nos seus
primeiros anos?
Dessa forma, realizou-se um estudo bibliográfico, onde a coleta de dados foi
realizada na Biblioteca da Faculdade Cearense – FAC, Universidade Federal do Ceará
– UFC e Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel. Os dados foram coletados
e, após uma leitura prévia, foram fichados, analisados e sintetizados. Os principais
autores que referenciaram o estudo foram Piaget e Vigotsky, além do documento
denominado Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil – RCNEI
(BRASIL, 1998) e os Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil
(BRASIL, 2001) e Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN (BRASIL, 1997).
Para um completo entendimento deste trabalho e para atingir o objetivo
proposto, de investigar a importância e as contribuições do lúdico na construção da
aprendizagem da criança, o mesmo foi dividido em três capítulos.
No primeiro capítulo é explicitado o conceito de lúdico; o histórico do lúdico
na Educação Infantil e no nosso país; alguns aspectos importantes no processo de
ensino e aprendizagem, e sua relação com a formação docente. O segundo capítulo
aborda o lúdico e o desenvolvimento infantil a partir da visão de alguns teóricos: Piaget,
Vygotsky, Wallon e Friedrich Froebel, ressaltando o que os mesmos pensam sobre o
desenvolvimento infantil e sobre o lúdico na aprendizagem da criança.
Por fim, o terceiro capítulo apresenta o espaço lúdico e a importância de se
construir na escola esse espaço; a criança como um ser social e que por isso necessita
dessa relação com o “brincar”. Destacando assim, alguns pontos essenciais para a
construção do espaço lúdico, como os brinquedos, a brinquedoteca, etc.
13
2 O LÚDICO
2.1 Conceito de Lúdico
A origem da palavra “lúdico” vem do latim ludus, que significa “brincar”; o
lúdico faz parte da atividade humana e caracteriza-se por ser espontâneo, funcional e
satisfatório, ou seja, na atividade lúdica não importa somente o resultado, mas a ação,
o movimento vivenciado. Ludicidade é, portanto, tudo quanto diverte e entretém o ser
humano e envolve uma ativa participação.
O lúdico se processa tanto em torno de grupos como também
individualmente e orientar de forma lúdica, na educação, consiste em suscitar prazer
por atividades recreativas com a finalidade de desenvolver ao máximo o potencial da
criança, do adolescente ou do jovem.
Na educação infantil, em especial, o meio que a criança se utiliza para
comunicar-se, desenvolver-se e reproduzir o seu cotidiano é através do brincar. Através
da brincadeira, a criança aprende melhor e se socializa com facilidade, apreendem o
espírito de grupo, aprendem a tomar decisões e percebem melhor o mundo dos
adultos.
Sobre esse mesmo assunto corrobora Froebel (1912, pp. 54-55): “Brincar é a
fase mais importante da infância – do desenvolvimento humano neste período – por ser
a auto-ativa representação do interno – a representação de necessidades e impulsos
internos”.
Sistematizar o brincar significa uma reorganização da prática pedagógica
desempenhada pelo professor, prática que deve abandonar os moldes da educação
tradicional e absorver o lúdico através dos jogos como o instrumento principal para o
desenvolvimento da criança. O jogo, e a maneira como o professor dirigem o brincar,
desenvolverão psicológica, intelectual, emocional, físico-motora e socialmente as
crianças, e por isso os espaços para se jogar são imprescindíveis nos dias de hoje.
Segundo Vygotsky (1988, p.81), “o lúdico influencia muito no
desenvolvimento da criança. É através do lúdico que a criança aprende a agir sua
curiosidade e estimulada, adquire iniciativa e autoconfiança, proporciona o
desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração”.
14
O lúdico oferece condições do educando vivenciar situações problemas, a
partir do desenvolvimento de jogos planejados e livres, permitindo atividades físicas e
mentais, que favorecem a socialização, estimulando reações afetivas, cognitivas,
morais, culturais e linguísticas.
A capacidade para imaginar, fazer planos, apropriar-se de novos
conhecimentos, surge através do brincar. Nesse sentido, há uma relação muito estreita
entre o lúdico e a educação de crianças para favorecer o ensino de conteúdos
escolares e das necessidades infantis.
2.2 O Lúdico ao longo da história
Os jogos e as brincadeiras tiveram ao longo da história um papel primordial
na aprendizagem e no desenvolvimento de habilidades sociais, necessárias ao homem,
principalmente na fase da infância. Esse aspecto podemos dizer que sempre foi até
essencial para a sobrevivência humana. São práticas muito antigas que assumiram
uma função educativa com o passar do tempo.
Desde a Antiguidade, filósofos da era cristã acreditavam que todo ser
humano sempre teve inclinação para os jogos, para a diversão, como por exemplo, as
danças, a pesca, as lutas, que em cada tempo da história eram meios de diversão e
prazer natural. Os gregos também já consideravam de grande importância os esportes
como elemento fundamental na construção do homem.
Dessa maneira, para uma melhor compreensão da história do lúdico na
educação infantil, é importante entender a evolução da sociedade acerca da criança, de
como a mesma era vista há muitos anos atrás, até os dias de hoje. A criança no
passado praticamente não tinha vida social. Isso dependia do poder aquisitivo de sua
família, ou seja, se pertencesse a uma família de classe alta, era educada para um
futuro promissor. Se fosse de classe baixa, era preparada para o trabalho, como
confirma Craidy e Kaercher:
15
Durante muito tempo a educação da criança foi considerada uma responsabilidade das famílias ou grupo social ao qual ela pertencia. Era junto aos adultos e outras crianças com os quais convivia que a criança aprendia a se tronar membro deste grupo, a participar das tradições que eram importantes para a sua sobrevivência material e para enfrentar as exigências da vida adulta. Por um bom período na história da humanidade, não houve nenhuma instituição responsável por compartilhar esta responsabilidade pela criança com seus pais e com a comunidade da qual estes faziam parte. Isso nos permite dizer que a educação infantil, como nós a conhecemos hoje, realizada de forma complementar à família, é uma fato muito recente. Nem sempre ocorreu do mesmo modo, tem, portanto, uma história. (CRAIDY E KAERCHER, 2001, p. 13)
Com base nos dados narrados, deduz-se que a criança não tinha escolha,
era considerada um adulto, porém em tamanho menor. Desde muito cedo aprendia a
lutar pelo seu sustento e seus sonhos, desejos e fantasias não eram notados pelos
adultos. Sobre esse aspecto, Porto (1998, p. 172) afirma ainda que:
Até o século XII, a infância era concebida de forma bem diferente da sua representação atual. Na Idade Média, os “brinquedos” eram um produto secundário das diversas indústrias manufatureiras. Nasciam das mãos dos entalhadores de madeira, dos produtos de vela, dos caldeireiros e demais artesãos[...]
Somente a partir do Renascimento os jogos passaram a ter importância de
caráter educativo, sendo reconhecidos como instrumentos eficazes no desenvolvimento
cognitivo e no processo educacional da criança. O brinquedo, enquanto objeto, foi aos
poucos substituindo as brincadeiras que eram realizadas em coletivo (adultos e
crianças). Tornou-se, então, o modo mais comum de brincadeira desfrutada pelas
crianças, como um meio de ligação entre a criança e o mundo.
Séculos depois surgem as escolas - a educação passa a não ser somente
responsabilidade dos pais, mas agora também, de uma instituição educacional. A
formação do aluno começa a acontecer de forma mais complexa, devido às
intervenções, mudanças e conquistas ocorridas ao longo da história educacional.
Craidy e Kaercher (2001) afirmam que:
16
A criança expressa-se pelo ato lúdico e é através desse ato que a infância carrega consigo as brincadeiras. Elas perpetuam e renovam a cultura infantil, desenvolvendo formas de convivência social, modificando-se e recebendo novos conteúdos. É pelo brincar e repetir a brincadeira que a criança saboreia a vitória da aquisição de um novo fazer, incorporando-o a cada novo brincar. (CRAIDY E KAERCHER, 2001, p.103).
Alguns teóricos que contribuíram com a educação nesse período deram
grande importância à construção de brinquedos, pois para eles, desenvolvia com isso, a
criatividade e a imaginação da criança. Atualmente as crianças não desfrutam das
brincadeiras culturais como no passado. Não existe mais praticamente a brincadeira de
transformar objetos em brinquedos e até mesmo as cantigas de rodas. As brincadeiras
vêm se modificando, os brinquedos tornaram-se industrializados e o lúdico vem
resgatar a essência da brincadeira e fazer parte da vida social da criança. Sobre esse
assunto, Porto (1998, p. 173), diz que “a sociedade Ocidental moderna dá ao brinquedo
um lugar e uma difusão sem precedentes, por meio de um desenvolvimento industrial
que instituiu a produção, a venda e o consumo sistemáticos desses objetos”.
A escola de educação infantil, portanto, pode ser um espaço de resgate do
lúdico, gerando o prazer e a magia do brincar, proporcionando o desenvolvimento da
criança nos diversos processos de aprendizagem.
2.2.1 Histórico do Lúdico no Brasil
O Brasil é um país originário da miscigenação de povos, predominante dos
portugueses, negros e índios. Herdamos muito da cultura produzida por esta mistura,
portanto podemos falar também dessa influência nas brincadeiras infantis.
Kishimoto (1999) relata que:
[...] tradicionalidade e universalidade dos jogos assenta-se no fato de que povos distintos e antigos como os da Grécia e Oriente brincaram de amarelinha, de empinar papagaios, jogar pedrinhas e até hoje as crianças o fazem quase da mesma forma. Esses jogos foram transmitidos de geração em geração através de conhecimentos empíricos e permanecem na memória infantil. (KISHIMOTO, 1999, p. 15).
17
Muitas brincadeiras que até hoje vemos das crianças brasileiras, trazem a
influências de outras etnias, em especial dos índios. As brincadeiras indígenas, na sua
grande parte, sempre estiveram inseridas no fazer cotidiano, no aprender fazendo, a
partir das atividades diárias realizadas pelos pais. Seja nas correrias perseguindo
animais com seus arcos e flechas, nos seus banhos nos rios e lagos ou nas atividades
que acontecem nas roças e nos rituais. A natureza é o espaço do brincar cotidiano e o
lúdico acontece com o aprendizado das regras sociais, que fluem naturalmente.
No Brasil da Idade Média os jesuítas ensinavam utilizando brincadeiras para
a aprendizagem. Desde os primórdios, a metodologia lúdica foi valorizada pelos povos,
em suas devidas épocas.
Os jogos são criados e recriados pelo homem, como afirma Kishimoto (1999,
p. 28): “A criança é um ser em pleno processo de apropriação da cultura, precisando
participar dos jogos de uma forma espontânea e criativa”. Dessa maneira é possível
afirmar que os jogos desenvolvem a curiosidade, a criticidade, a confiança e
desenvolverão capacidades para solucionar problemas relacionados ao conhecimento,
necessário para a apropriação do mundo da cultura.
Um dos grandes estudiosos da cultura indígena Baldus (1970, p.5), afirma
que entre os brinquedos feitos por algumas etnias destacam-se os bakairis com as
bolas de palha, os paresis com as de seiva, os piões entre os tapirapés, as petecas e
bonecas de barro entre os karajás, apitos e bonecas de algodão feitos por rikbaktsas e
as flechas de buriti feitas pelos xavantes, entre outras. A prática de jogos entre os
índios brasileiros ainda é uma atividade viva e exerce um importante papel na
socialização dos membros das comunidades indígenas.
Os negros também trouxeram seus costumes, semelhante aos dos índios, de
construir seus próprios brinquedos, saber pescar, nadar, caçar. Cultura, educação e
tradição desenvolvidas de forma criativa, lúdica e que ao mesmo tempo supria suas
reais necessidades de sobrevivência.
Os filhos dos portugueses quando vieram para o Brasil não utilizavam a
ludicidade para a sua sobrevivência, mas, como ato e lazer e para o enriquecimento
intelectual. Seus costumes eram totalmente diferentes dos que já existiam no país,
herança trazida pelos índios e negros.
18
Já no final da Idade Média e início da Idade Moderna, em meados do século
XV, a Igreja Católica considera os jogos como algo profano e decide extinguir os jogos
da educação. Seu uso para o ensino foi resgatado pelos jesuítas mas, logo em 1758,
com a expulsão dos mesmos, o Brasil fica sem nenhum sistema organizado de ensino.
Contudo diante de todas as contribuições históricas, cada qual em sua
época, e com o objetivo de atingir um melhor ensino, o uso do lúdico, principalmente na
área da matemática, onde se iniciou pelo uso dos jogos e dos métodos utilizados para
simplificar a matemática, foi se tornando algo necessário para a prática do ensino.
Nas últimas décadas do século XX, com o Movimento de Educação
Matemática e com a contribuição das Ciências Humanas, o uso do lúdico para o ensino
da matemática se tornou mais valorizado como instrumento metodológico. Com ênfase
total a partir de sua inserção nos Parâmetros Curriculares Nacionais, em 1997,
publicação que passou a nortear o atual modelo de ensino no Brasil: “Recursos
didáticos como jogos, livros, vídeos, calculadora, computadores, e outros materiais têm
um papel importante no processo de ensino aprendizagem” (BRASIL, 1997).
2.3 O brincar e a construção do conhecimento
As brincadeiras e os jogos fazem parte do cotidiano da criança
desempenhando importante papel em seu desenvolvimento. É o momento no qual ela
poderá expressar, de modo simbólico, suas fantasias, seus desejos, medos,
sentimentos e os conhecimentos que vai construindo a partir das experiências que vive.
Nesse sentido, Kishimoto diz que:
Os jogos e brincadeiras educativas, estão orientados para estimular o desenvolvimento cognitivo e são importantes para o desenvolvimento do conhecimento escolar. São fundamentais para a criança por iniciá-la em conhecimentos e favorecer o desenvolvimento mental. (KISHIMOTO, 1999, p. 104).
Segundo Piaget (1971), quando a criança brinca, assimila o mundo à sua
maneira, sem compromisso com a realidade. Ela reflete, ordena, desorganiza,
reconstrói o mundo da sua forma, aprende a decidir, a pensar, ter sua opinião própria,
19
descobre seu papel e seus limites. O brincar representa uma fase no desenvolvimento
da inteligência, marcada pelo domínio da assimilação sobre a acomodação, sempre
consolidando a experiência passada. Após esse processo, o indivíduo chega a
equilibração, que é a fase onde ele atinge o conhecimento.
Com base nessa informação, Piaget (1982) diz que a inteligência é, pois, o
resultado da experiência do indivíduo, e é através da experiência que o indivíduo
incorpora o mundo exterior e o transforma ao longo de sua vida. Para que haja,
portanto, o desenvolvimento da inteligência, o autor admite a necessidade de o
indivíduo se adaptar ao meio e, a partir do contato com o mesmo, garantir a construção
do seu próprio conhecimento, do ato de conhecer.
Enquanto que Piaget (1982) diz que o desenvolvimento precede a
aprendizagem, Vygotsky (1988) afirma que a aprendizagem deve anteceder o
desenvolvimento. Os processos psicológicos são construídos a partir de injunções do
contexto sociocultural e suas concepções para explicitar a brincadeira infantil estão
ligadas ao modo de vida da sociedade e também a forma que o ser humano pensa. A
partir disso, conclui-se que Piaget enfatiza a interação com os objetos e Vygotsky
enfatiza a interação social, como instrumentos eficazes na construção do conhecimento
da criança, em seus aspectos cognitivos.
Ainda sobre esse assunto, Moura (1991) afirma que a importância do jogo,
do brincar, está nas possibilidades de aproximar a criança do conhecimento científico,
levando-a a vivenciar situações de solução de problemas que a aproximem daquelas
que o homem enfrenta ou enfrentou. E Antunes (2000), enfoca que as brincadeiras
constituem um extraordinário instrumento de motivação, transformam o conhecimento a
ser assimilado em recurso de ludicidade e em sadia competitividade.
Destaca também que os jogos lúdicos, se praticados ocasionalmente ou em
desacordo, representam apenas inocentes e inconsequentes momentos de alegria.
Mas, se visam um plano específico e são propostos em gradativos níveis de dificuldade,
podem contribuir bastante para aprimorar conhecimentos, pois entende que a criança,
ainda que dotada de instintos, é um ser em permanente busca de aprimoramento e que
tais aprimoramentos somente são eficientes se propostos de forma agradável,
envolvente, mas, sobretudo motivador (ANTUNES, 2000).
20
De Acordo com o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil
(BRASIL, 1998, p. 27), “Nas brincadeiras, as crianças transformam os conhecimentos
que já possuíam anteriormente em conceitos gerais com os quais brinca”. O brincar
portanto, assume um importante papel na construção do conhecimento, adquirindo de
forma significativa, novos conceitos e habilidades.
Estudos mostram que na psicologia cognitiva a criança constrói um conceito
através de um processo lento e gradual. Daí a necessidade de iniciá-la informalmente,
desde cedo, por meio de jogos, em atividades manipuláveis e de exploração
espontâneas e intuitivas. Quando a criança brinca livremente com objetos e materiais
diversos, assimila diferenças e semelhanças, podendo assim, aprender enquanto joga e
brinca.
Atitudes e situações como expor desafios, atingir princípios, construir e
desenvolver a inteligência, estimulam a criança a pensar por si própria e a elaborar
cada vez mais o seu conhecimento. Sobre isso, Piaget (1975) diz que os jogos e
brincadeiras facilitam a construção do conhecimento, tornando-se prazeroso e
desejável por todos. A criança se sente segura em relação às outras e a ela mesma,
capaz e lançar hipóteses e curiosidades sobre o meio; o jogo e a brincadeira permitem
o relacionamento da criança com o objeto num processo interacionista, onde é o
desenvolvimento progressivo das estruturas intelectuais que torna a criança capaz de
aprender.
Dessa forma, atividades lúdicas têm conquistado um grande espaço na
educação infantil. O Brinquedo é a essência da infância e permite um trabalho
pedagógico que possibilita a produção de conhecimento da criança.
Ainda Santos (2002, p. 12), relata sobre a importância da ludicidade para o
conhecimento como sendo:
(...) uma necessidade do ser humano em qualquer idade e não pode ser vista
apenas como diversão. O desenvolvimento do aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, prepara para um estado interior fértil, facilita os processos de socialização, comunicação, expressão e construção de conhecimento.
21
O processo de ensino e aprendizagem na escola deve ser construído então,
tomando como ponto de partida o nível de desenvolvimento real da criança, num dado
momento e com sua relação a um determinado conteúdo a ser desenvolvido, e como
ponto de chegada, a assimilação do aluno e os objetivos propostos na prática
pedagógica.
2.4 O Lúdico e o Jogo
O lúdico tem o poder de atrair o interesse do aluno, que passa a aprender de
forma prazerosa. Vivemos uma época que a tecnologia avança aceleradamente
inclusive na educação, mas o educador não deve esquecer as atividades lúdicas no
cotidiano escolar. E uma dessas atividades que despertam o interesse do aluno e
facilitam na sua aprendizagem é o jogo. Neste sentido, afirma Carvalho (1992, p. 14):
(...) desde muito cedo o jogo na vida da criança é de fundamental importância,
pois quando ela brinca, explora e manuseia tudo aquilo que está a sua volta, através de esforços físicos e mentais e sem se sentir coagida pelo adulto, começa a ter sentimentos de liberdade, portanto, real valor e atenção as atividades vivenciadas naquele instante.
O jogo apresenta-se como uma alternativa significativa e importante na
prática pedagógica e a possibilidade de incluir o jogo como método educativo é pensar
na educação numa perspectiva criadora, autônoma, consciente. Através do jogo, não
somente abre-se uma porta para o mundo social e para a cultura infantil como se
encontra uma rica iniciativa de incentivar o seu desenvolvimento, pois o jogo é o canal
através dos quais os pensamentos e sentimentos são comunicados pela criança, por
isso facilita o desenvolvimento da linguagem e também interfere no desenvolvimento
infantil, motor e moral da criança.
Outro fator importante é a interação social, que é indispensável para o
desenvolvimento moral e cognitivo. As crianças, através dos jogos, se desenvolvem não
apenas social; moral e cognitivamente, mas também política e emocionalmente. O jogo
implica para a criança muito mais do que o simples ato de brincar. Através do jogo, ela
está se comunicando com o mundo e também está se expressando. Sobre isso,
Macedo (1991) diz que o jogo é uma necessidade infantil, porque tem uma finalidade
22
educacional que começa como exercício funcional. A criança que joga, torna-se um
adulto preparado. O jogo tem um papel amplo: leva a criança a pensar.
Segundo o RCNEI (BRASIL, 1998, p. 28), “[...] os jogos de construção e
aqueles que possuem regras, como os jogos de sociedade (também chamados de
jogos de tabuleiro), jogos tradicionais, didáticos, corporais, etc., propiciam a ampliação
dos conhecimentos infantis por meio da atividade lúdica.”
Os jogos não são apenas uma forma de entretenimento para gastar a
energia das crianças, mas meios que enriquecem o desenvolvimento intelectual e que
podem contribuir significativamente na educação, a partir do significado que o educador
dá ao jogo.
O jogo como promotor da aprendizagem e do desenvolvimento, passa a ser considerado nas práticas escolares como importante aliado para o ensino, já que colocar o aluno diante das situações lúdicas como jogo pode ser uma boa estratégia para aproximá-lo dos conteúdos culturais a serem veiculados na escola. (KISHIMOTO 1994, p.13).
Dessa forma, os jogos são considerados recursos favoráveis ao processo de
ensino e aprendizagem da criança, pois auxiliam no desenvolvimento de habilidades
físicas e mentais. Além de ser instrumento de diversão, é também uma fonte de
descoberta para a criança, não sendo apenas uma forma de entretenimento para gastar
a energia das crianças, mas meios que enriquecem o desenvolvimento intelectual e que
podem contribuir significativamente na educação, a partir do significado que o educador
dá ao jogo.
Numa sociedade cada vez mais individualista e competitiva em que vivemos,
o jogo também é visto normalmente como uma forma de disputa, onde existem
ganhadores e perdedores. Esta visão é desmistificada por muitos educadores
atualmente, pois o jogo pode ser trabalhado em sala de aula de uma forma prazerosa,
utilizando o lúdico como berço obrigatório das atividades sociais e intelectuais.
O jogo e a brincadeira exigem partilhas, confrontos, negociações e trocas,
promovendo conquistas cognitivas, emocionais e sociais. Facilita o desenvolvimento
das habilidades motoras, pois possui uma linguagem corporal que não é estranha à
criança e seu desenvolvimento não apresenta características de monotonia ao contrário
23
de exercícios propostos por alguns autores que não são adequados ao universo da
cultura infantil.
Vários autores se dedicaram ao estudo do jogo, entretanto Piaget elaborou
uma “classificação genética baseada na evolução das estruturas” (PIAGET apud RIZZI,
1997). Piaget classificou os jogos em três grandes categorias que correspondem às três
fases do desenvolvimento infantil:
Fase sensório-motora (do nascimento até os dois anos
aproximadamente): a criança brinca sozinha, sem utilização da noção de regras.
Fase pré-operatória (dos dois aos cinco ou seis anos aproximadamente):
as crianças adquirem a noção da existência de regras e começam a jogar com outras
crianças jogos de faz-de-conta.
Fase das operações concretas (dos sete aos onze anos
aproximadamente): as crianças aprendem as regras do jogo e jogam em grupos. Esta é
a fase dos jogos de regras, como futebol, damas, etc.
Existem ainda os jogos computadorizados, criados com a finalidade dupla de
entreter e possibilitar a aquisição de conhecimento. Nesse contexto os jogos de
computador educativos ou simplesmente jogos educativos devem tentar explorar o
processo completo de ensino-aprendizagem. E eles são ótimas ferramentas de apoio
ao professor na sua tarefa. Basicamente bons jogos educativos apresentam algumas
das seguintes características (PIAGET apud RIZZI, 1997):
Trabalham com representações virtuais de maneira coerente.
Exigem concentração e uma certa coordenação e organização por parte
do usuário.
Trabalham com a disposição espacial das informações, que em alguns
casos pode ser controlada pelo usuário.
Têm uma paciência infinita na repetição de exercícios.
Estimulam a criatividade do usuário, incentivando-o a crescer, tentar, sem
se preocupar com os erros.
O jogo apresenta ainda, objetivos indiretos como memória, orientação
temporal e espacial, coordenação motora, percepção auditiva e visual, raciocínio lógico-
matemático, expressão linguística, planejamento e organização. O educador pode,
24
portanto, utilizar-se do jogo para o desenvolvimento da criança, em qualquer fase e
faixa etária em que ela se encontra.
2.5 A Educação Infantil nos dias de hoje
A educação e o cuidado na primeira infância vêm sendo tratados assuntos
prioritários de governo, organismos internacionais e organizações da sociedade civil.
No Brasil, a Educação Infantil, isto é, o atendimento a crianças de zero a seis anos em
creches e pré-escolas, é um direito assegurado pela Constituição Federal de 1988. A
partir da aprovação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996, a
Educação Infantil passa a ser definida como a primeira etapa da Educação Básica.
Nesse sentido, várias pesquisas realizadas, já mostravam que os seis
primeiros anos de vida são fundamentais para o desenvolvimento humano, e a
formação da inteligência e da personalidade. Segundo a LDB, “a EI tem como finalidade
o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade em seus aspectos físico,
psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade.”
(BRASIL 1996, art. 29). Isso faz com que a EI no Brasil comece a conquistar o seu
espaço e dar importância ao lúdico no cotidiano escolar:
Dar visibilidade à ludicidade na escola é perceber a criança como um ser que
possui uma linguagem própria de expressão, é permitir-lhe experienciar um
envolvimento mais profundo com que está sendo proposto. (BONFIM 2010,
p.21).
Os professores e os demais profissionais que atuam nessas instituições
devem, portanto, valorizar igualmente atividades de leitura de histórias, troca de fraldas,
alimentação, desenho, música, banho, jogos coletivos, brincadeiras, sono, descanso,
entre outras propostas que devem fazer parte do cotidiano da criança.
De acordo com a RCNEI (BRASIL 1998), a concepção de criança é uma
noção historicamente construída e consequentemente vem mudando ao longo dos
tempos, não se apresentando de forma homogênea nem mesmo no interior de uma
25
mesma sociedade e época. Diante disso, a educação precisa acompanhar as
mudanças ocorridas na sociedade, para que possa atingir o seu objetivo.
A Educação Infantil hoje, mais do que antes, é vista como uma educação
que visa o desenvolvimento integral da criança, como confirma Bacelar (2009), onde ele
enfatiza que no início a mesma era vista como um atendimento assistencialista no
Brasil, mas observa que, ao longo dos anos, foi se expandindo, foram surgindo outras
perspectivas que visavam atender a outras necessidades que não fossem apenas
aquelas das mães que tinham que trabalhar e por isso, precisavam de um local para
deixarem seus filhos. Hoje percebe-se a importância de cada atividade do cotidiano da
criança, inclusive das atividades lúdicas que devem fazer parte do processo do
desenvolvimento infantil.
2.6 O Lúdico e a formação Docente
O lúdico enquanto recurso pedagógico deve ser encarado de forma séria e
usado de maneira correta, pois como afirma Almeida (1994, p. 21), “o sentido real,
verdadeiro, funcional da educação lúdica estará garantida, se o educador estiver
preparado para realizá-lo”.
A socialização é um dos principais objetivos da escola. Por esse motivo,
cabe ao educador não isolar as crianças numa carteira, mas, possibilitar a ação dos
alunos em sala de aula, proporcionando situações diversas de ludicidade. Para isso, a
formação do(a) professor(a) não deve limitar-se somente ao conhecimento de
conteúdos, pois na prática pedagógica, existe a necessidade de se utilizar outras
formas de ensino, no estudo de caso, através do lúdico – jogos e brincadeiras.
As escolas de Educação Infantil de hoje, tornaram-se um lugar onde as
crianças passam boa parte do seu tempo, no entanto, esse tempo é usado para
atividades propostas pelos adultos, o que faz com que a criança comece a enxergar a
escola como um local “de trabalho” e não de aprendizagem ou de ludicidade. Nesse
contexto, cabe ao educador além de acompanhar as atividades, promover
oportunidades em que a criança possa se desenvolver.
26
O(a) professor(a) de EI enquanto promotor e mediador da aprendizagem,
possui o papel de estimular a construção, a criação, a aprendizagem. E assim,
transformar a sala de aula num ambiente prazeroso e desafiador. Como diz Kishimoto
(2003, p. 54): “se desejarmos formar seres criativos, críticos e aptos para tomar
decisões, um dos requisitos é o enriquecimento do cotidiano infantil com a inserção de
contos, lendas, brinquedos e brincadeiras”.
A necessidade de uma formação mais abrangente e unificadora para
profissionais, tanto de creches como de pré-escolas, e de uma reestruturação dos
quadros de carreira que levem em consideração os conhecimentos já acumulados no
exercício profissional, bem como possibilite a atualização profissional. Em relação a
esse assunto, a LDB dispõe que:
A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível superior, em curso de licenciatura, de graduação plena, em universidades e instintos superiores de educação admitida, como formação mínima para o exercício do magistério da educação infantil e nas quatro primeiras séries do ensino fundamental, a oferecida em nível médio, na modalidade normal. (BRASIL 1996).
A EI ainda é um espaço de inúmeras discussões. Ainda hoje encontramos
muitas opiniões sobre como essa educação vem sendo desenvolvida na prática, alguns
por exemplo, ainda pensam que nessa fase a escola não tem tanta importância para a
criança, acreditam que seja um ambiente somente para passar o tempo todo brincando.
Por isso, o professor deve dar alguns passos em direção a um ensino de qualidade, já
que desde a EI se constrói cidadãos menos individualistas e mais críticos e
participativos na sociedade.
Segundo Freire (1997), a melhor forma de construir sua aprendizagem é
brincando, pois é na brincadeira que a criança faz suas descobertas e vivencia
situações de aprendizagem com prazer. Diante disso, o professor deve entender que o
lúdico faz parte do desenvolvimento do ser humano e que não significa uma perda de
tempo, como era visto há anos atrás. Deve também descobrir e trabalhar a dimensão
lúdica que existe em sua essência, no seu trajeto cultural, de forma que venha
aperfeiçoar a sua prática pedagógica.
27
A ludicidade poderia ser a ponte facilitadora da aprendizagem se o professor pudesse pensar e questionar-se sobre sua forma de ensinar, relacionando a utilização do lúdico como fator motivante de qualquer tipo de aula. Campos (1986, p. 15).
No entanto para que isso aconteça é necessário que ele busque resgatar a
ludicidade, os momentos lúdicos que com certeza permearam seu caminhar. Além
disso, o educador precisa buscar estar em constante formação, pois assim terá a
oportunidade de “construir” e “reconstruir” sua prática pedagógica. Não esquecendo
que, o maior meio de se ter uma formação continuada é na prática, no cotidiano
escolar.
A dimensão lúdica, portanto, na formação do professor, permite a ele
questionar-se quanto a sua postura e conduta em relação ao objetivo prioritário de
proporcionar aos alunos um desenvolvimento integral, na qual competência na técnica
combina com o seu compromisso com a educação.
28
3 O LÚDICO E O DESENVOLVIMENTO INFANTIL
3.1 O lúdico na concepção de Piaget
Segundo Piaget (1998), o desenvolvimento da criança acontece através do
lúdico, ela precisa brincar para crescer. Através dele se processa a construção do
conhecimento, principalmente nos períodos sensório-motor e pré-operatório, quando a
linguagem e a representação mental começam a fazer parte da vida da criança com
maior intensidade, ou seja, a criança começa a fazer e também a compreender. Para
Piaget (1978) as origens das manifestações lúdicas acompanham o desenvolvimento
cognitivo. Cada etapa do desenvolvimento está relacionada a um tipo de atividade
lúdica que se sucede da mesma maneira para todos os indivíduos.
Com relação ao jogo, Piaget (1998) acredita que inicialmente tem-se o jogo
de exercício que é aquele em que a criança repete uma determinada situação por puro
prazer, por ter apreciado seus efeitos. Em torno dos dois a três anos e dos cinco a seis
anos, nota-se a ocorrência do jogo simbólico/dramático, que satisfazem a necessidade
da criança de não somente relembrar mentalmente o acontecido, mas, de executar a
representação. Na próxima fase surgem os jogos de construção e de regras, que são
transmitidos socialmente de criança para criança.
O valor do conteúdo de um jogo deve ser considerado em relação ao estágio
de desenvolvimento em que a criança se encontra, isto é, como a criança adquire
conhecimento e como raciocina. Brinquedo é tudo que for utilizado para o uso da
brincadeira, algo que a criança se envolve, emocionalmente, e interage de forma viva e
real. Através dos objetos as crianças agem, são capazes de estruturarem seu espaço,
seu tempo, desenvolvem noções de casualidade chegando a representação e a lógica.
O jogo, para Piaget (1998), constitui-se em expressão e condição para o
desenvolvimento infantil, já que as crianças quando jogam assimilam e podem
transformar a realidade. Ferramenta que auxilia no processo de ensino e
aprendizagem, tanto no desenvolvimento psicomotor, isto é, no desenvolvimento da
motricidade fina e ampla, bem como no desenvolvimento de habilidades do
pensamento, como a imaginação, a interpretação, a tomada de decisão, a criatividade,
o levantamento de hipóteses, a obtenção e organização de dados e a aplicação dos
29
fatos e dos princípios a novas situações que ocorrem quando jogamos, quando
obedecemos a regras, quando vivenciamos conflitos numa competição.
Piaget (1967), afirma que “o jogo não pode ser visto apenas como
divertimento ou brincadeira para desgastar energia, pois ele favorece o
desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo e moral.” Através dos objetos as crianças
agem, são capazes de estruturarem seu espaço, seu tempo, desenvolvem noções de
casualidade chegando a representação e a lógica. Portanto, o jogo não é simplesmente
um “passatempo” para distrair os alunos, mas é um instrumento eficaz quando utilizado
também no ambiente escolar. Piaget (1996, p.173) considera que “o lúdico é uma
característica fundamental do ser humano.” Portanto, não é um comportamento
herdado, ele é adquirido pelas influências que recebemos no decorrer da nossa vida, no
contexto social o qual somos inseridos, desde que nascemos.
3.2 O lúdico na concepção de Vygotsky
Vygotsky (1988), diferentemente de Piaget (1998), considera que o
desenvolvimento ocorre ao longo da vida e que as funções psicológicas superiores são
construídas ao longo dela. Ele não estabelece fases para explicar o desenvolvimento,
sendo o indivíduo nem ativo nem passivo, mas sim interativo. Segundo Vygotsky
(1988), as crianças, ao brincarem, constroem a consciência da realidade e, ao mesmo
tempo, vivenciam a possibilidade de transformá-la. A brincadeira pode ter papel
fundamental no seu desenvolvimento, onde o aprendizado se dá por interações, o jogo
lúdico e o jogo de papeis, como brincar de “mamãe” e “filhinha”. O lúdico cria condições
para que determinados conhecimentos e/ou valores sejam consolidados ao exercitar no
plano imaginativo – capacidades de imaginar situações, representar, seguir regras de
conduta de sua cultura e outros.
Assim, a criança se projeta no mundo dos adultos, ensaiando atividades,
comportamentos e hábitos nos quais ainda não está preparada para tal, mas que na
brincadeira permite com que sejam criados processos de desenvolvimento,
internalizando o real e promovendo o desenvolvimento cognitivo.
30
De acordo com Vygotsky (1993):
Na brincadeira a criança comporta-se de forma mais avançada do que nas atividades da vida real. Além disso, a brincadeira fornece ampla estrutura para mudanças das necessidades e da consciência, pois nela as crianças ressignificam o que vivem e sentem. (VYGOTSKY, 1993, p.10).
O ato de brincar é de suma importância na constituição do pensamento
infantil, pois é no brincar, no jogar que a criança revela seu estado cognitivo, visual,
auditivo, tátil e motor. Ou seja, por meio das brincadeiras as crianças podem manifestar
certas habilidades que não seriam esperadas para a sua idade. Afirma Vygotsky (1998),
que a partir dessa manifestação de habilidades cria-se o conceito de “zona de
desenvolvimento proximal” que consiste na distância entre aquilo que a criança
consegue e sabe fazer sem o auxílio de um adulto (desenvolvimento real) e o que é
capaz de realizar com a ajuda de um adulto ou uma criança mais velha
(desenvolvimento potencial), conseguindo depois realizar sozinha.
O brinquedo cria na criança uma zona de desenvolvimento proximal, que é por ele definida como a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se costuma determinar através da solução independente de problemas, e o nível de desenvolvimento potencial, determinado através da solução de problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes (VYGOTSKY, 1998, p. 112).
Dessa forma, o nível de desenvolvimento real refere-se a tudo aquilo que a
criança já tem consolidado em seu desenvolvimento, e que ela é capaz de realizar
sozinha sem a interferência de um adulto ou de uma criança mais experiente. Já a
“zona de desenvolvimento proximal” refere-se aos processos mentais que estão em
construção na criança, ou que ainda não amadureceram. A “zona de desenvolvimento
proximal” é, pois, um domínio psicológico em constantes transformações, aquilo que a
criança é capaz de fazer com a ajuda de alguém hoje, ela conseguirá fazer sozinha
amanhã. É nesse sentido que a brincadeira pode ser considerada um excelente recurso
a ser usado quando a criança chega na escola, por ser parte essencial de sua natureza,
podendo favorecer tanto aqueles processos que estão em formação, como outros que
serão completados.
31
Sobre o desenvolvimento da criança, Vygotsky (1979) afirma que:
No desenvolvimento a imitação e o ensino desempenham um papel de primeira importância. Põem em evidência as qualidades especificamente humanas do cérebro e conduzem a criança a atingir novos níveis de desenvolvimento. A criança fará amanhã sozinha aquilo que hoje é capaz de fazer em cooperação. Por conseguinte, o único tipo correto de pedagogia é aquele que segue em avanço relativamente ao desenvolvimento e o guia; deve ter por objetivo não as funções maduras, mas as funções em vias de maturação (Vygotsky, 1979, p. 91).
Contudo, não é a espontaneidade do jogo que o torna uma atividade
importante para o desenvolvimento da criança, mas sim, o exercício no plano da
imaginação da capacidade de planejar, imaginar situações diversas, representar papeis
e situações do cotidiano, como o caráter social das situações lúdicas, os seus
conteúdos e as regras inerentes à cada situação.
Vygotsky (1999), caracteriza o brincar da criança como imaginação em ação,
afirmando que a imaginação é um dos elementos fundamentais das brincadeiras e
jogos. O brinquedo que comporta uma situação imaginária também comporta uma regra
relacionada com o que está sendo representado. Assim, quando uma criança brinca de
médico, busca agir de forma muito próxima daquele q ela observou no contexto real. A
criança cria e se submete às regras do jogo ao representar diferentes papeis.
3.3 O lúdico na concepção de Wallon
Segundo Wallon (1981), o fator mais importante para a formação da
personalidade não é o meio físico, mas sim o social. Destaca o emocional, o afetivo e
elege a afetividade como algo intimamente ligada a motricidade, como desencadeadora
da ação e do desenvolvimento da ação e do desenvolvimento psicológico da criança.
Através do seu corpo e de sua projeção motora, a criança estabelece a primeira
comunicação (diálogo tônico) com o meio, apoio fundamental do desenvolvimento da
linguagem. Ou seja, a motricidade é ligada as emoções, que leva a representação e
que, simultaneamente, precede a construção da ação, na medida em que significa um
investimento, em relação ao mundo exterior.
32
Na concepção de Wallon (1934), infantil é sinônimo de lúdico. Toda atividade
da criança é lúdica, no sentido que se exerce por si mesma antes de poder integrar-se
em um projeto de ação mais extensivo que a subordine e a transforme em meio. A
personalidade humana é um processo de construção progressivo, onde se realiza a
integração de duas funções principais: a afetividade, vinculada à sensibilidade interna e
orientada pelo social e a inteligência, vinculada às sensibilidades externas, orientada
para o mundo físico, para a construção do objeto.
Ao classificar os jogos infantis, Wallon (1981), apresenta quatro categorias
de jogos:
Jogos funcionais: caracterizam-se por movimentos simples de exploração
do corpo, através dos sentidos.
Jogos de ficção: atividades lúdicas caracterizadas pela ênfase no faz-de-
conta, na presença da situação imaginária.
Jogos de aquisição: inicia desde que o bebê, “todo olhos, todo ouvidos”,
como descreve Wallon, se empenha para compreender, conhecer, imitar canções,
gestos, sons, imagens e histórias.
Jogos de fabricação: jogos onde a criança se entretém com atividades
manuais de criar, combinar, juntar e transformar objetos.
3.4 O lúdico na concepção de Friedrich Froebel
Froebel foi o primeiro educador a enfatizar o brinquedo, a atividade lúdica, a
apreender o significado da família nas relações humanas. Em 1840, Froebel funda o
primeiro “jardim de infância, para crianças menores de seis anos de idade, constituído
por um centro de jogos organizado segundo suas concepções. O educador comparava
as crianças às plantinhas e os professores aos jardineiros.
Seu propósito residia em guiar, orientar e cultivar nas crianças suas tendências divinas, sua essência humana através do jogo, das ocupações e das atividades livres, tal como Deus faz com as plantas da natureza (ARCE, 2002, p. 67).
33
A criança, segundo Froebel, citado por (ARCE, 2002, p. 59) trazia em si a
semente divina de tudo o que há de melhor no ser humano. Cabia à educação
desenvolver esse germe e não deixar que se perdesse.
O jogo seria o trabalho na educação da criança e os brinquedos criados para
esse fim foram denominados de “dons”. Ele assim os chamava porque acreditava que
seriam uma espécie de presentes dados as crianças, ferramentas para ajudá-las a
descobrirem seus próprios dons, descobrir o que Deus havia dado a cada uma delas.
Todos os dons eram chamados por Froebel de ocupações, “[...] que nada mais são do
que jogos nos quais a criança simula atividades do seu dia-a-dia, ou complementa
através das artes plásticas as criações feitas com os dons.” (ARCE, 2002, p.65)
Em seu Livro “A Educação do Homem”, afirma que “[...] a representação livre
e espontânea do divino no homem dá-se através da vida do homem, o que como vimos,
é o objetivo último e a razão de toda educação, tanto quanto o destino último do
homem”. (FROEBEL, 1887, P.10). Segundo ele, a educação da criança se dava
gradativamente, através de três tipos de operações: a ação, o jogo e o trabalho. Os
materiais eram sistematizados para as crianças de expressarem: blocos de construção
que eram utilizados pelas crianças para atividades criativas, papel, papelão, argila, etc.
Sua teoria valorizava também a utilização de contos e fábulas, assim como
as excursões e o contato com a natureza. A criança se expressaria através das
atividades de percepção sensorial, da linguagem e do brinquedo e as atividades e o
material escolar eram determinados principalmente para tirar o máximo de proveito
educativo da atividade lúdica.
34
4 ESPAÇO LÚDICO
4.1 O Lúdico e a Escola: Uma relação a ser construída
As escolas preocupadas em formar futuros profissionais esquecem que o
brincar faz parte da construção do conhecimento e determinam que as crianças devem
aprender através de um programa já definido, não levando em conta a necessidade de
cada criança. Para Almeida (2003) os métodos escolhidos pelos profissionais que lidam
com a educação são muitos, porém, estes esquecem do mais importante, despertar o
desejo na criança de querer aprender, aprender a ler e a escrever.
Muitas vezes as crianças nas escolas são transformadas em adultos,
recebendo altas cargas de responsabilidade, isto porque muitos professores e diretores
ainda continuam seguindo o sistema educacional tradicional, mantendo a imposição
ideológica do sistema de poder em primeiro lugar, distanciando assim, cada vez mais o
professor do aluno.
Outro fator que influencia também nessa “posição tradicional” da escola, é a
busca dos pais, na maioria das vezes, de uma escola que transforme seus filhos/alunos
em unidades produtivas. O diálogo em casa está sendo esquecido, muitas escolas não
sabendo lidar com a situação, colocam esse método a frente e acabam até
esquecendo a relação “professor e aluno”.
A escola tem um papel muito importante no desenvolvimento humano de
forma integral. Partindo desse pressuposto, surge a necessidade cada vez mais da
escola, enquanto instituição, compreender sua função que é complementar a educação
dada pelos pais, visando o desenvolvimento do aluno na sua totalidade. Não deve,
portanto, seguir apenas um planejamento e transmitir conhecimentos.
Nesse aspecto, entra o espaço lúdico que deve ser prioridade na escola,
uma vez que é um grande instrumento que proporciona o desenvolvimento e a
socialização da criança. Por isso, o educador deve oferecer oportunidades
pedagógicas, permitindo ao indivíduo sentir-se seguro, protegido e estimulado a fazer
novas descobertas e a socializar-se.
35
4.2 A criança: Um ser social
A criança desde o seu nascimento encontra-se inserida em uma sociedade
com uma cultura própria, que vem desde o modo de vestir, se expressar (linguagem),
se alimentar, até os mais abrangentes aspectos, tais como: as músicas, as festas, as
crenças, etc.
Por muito tempo acreditou-se que a criança trazia características
semelhantes aos pais, levando em conta somente a genética. No entanto, estudos
realizados sobre o desenvolvimento individual e em grupo, mostra que as ações de um
indivíduo estão estritamente ligadas ao modo de vida que leva, percebe-se que mais do
que a condição biológica a personalidade é uma questão social. Como é possível
perceber na afirmação de Oliveira:
O desenvolvimento humano não decorre da ação isolada de fatores genéticos que buscam condições para o seu amadurecimento nem de fatores ambientais que agem sobre o organismo, controlando seu comportamento. Decorre antes, das trocas recíprocas que se estabelecem durante toda a vida entre organismos vivos, o humano inscreve-se em uma linha de desenvolvimento condicionada tanto pelo equipamento biocomportamental da espécie quanto pela operação de mecanismos gerais de interação com o meio. (OLIVEIRA, 2002, p. 101).
Socialização é o processo de integração do indivíduo numa sociedade. A
criança também necessita desde cedo socializar-se com o meio em que faz parte, por
ser um ser total, completo, aprende a ser e a conviver consigo, com o outro e com o
ambiente que a cerca de maneira gradual e articulada.
Socializar é uma prática cotidiana em que o meio influencia na formação da
pessoa e, como consequência, sofre influência dela. Oliveira (2002, p. 126) afirma que
“ao mesmo tempo em que a criança modifica seu meio, é modificada por ele”.
Podemos, dessa forma, dizer que a socialização é uma significativa construção de
saberes, onde o sujeito e objeto se interagem.
Vygotsky, citado por Oliveira (2002) foi um dos estudiosos do processo de
construção de conhecimentos nas crianças em situações de interação social. A autora
afirma que “a construção do pensamento e da subjetividade é um processo cultural, e
não uma formação natural e universal da espécie humana” (OLIVEIRA, 2002, p. 127).
36
A concepção sobre o desenvolvimento da criança foi se modificando ao
longo da história. A criança é sujeito e objeto no mundo, recebe as informações, as
assimila e as transforma em novas informações. Seu cognitivo se desenvolve a partir da
sua interação com o meio e à medida que ela se desenvolve biologicamente. O
conhecimento é, portanto, fruto de um intenso trabalho de criação, significação e
recriação da realidade.
No aspecto familiar, Vygotsky (2002) aponta a família como o primeiro grupo
social que a criança pertence e é na família que ela adquire a linguagem, condição
básica para o processo de socialização e aquisição de cultura. E a aquisição de
conceitos, valores, linguagem e o próprio conhecimento são produzidos pelo processo
de internalização de materiais simbólicos na criança que ocorrem a partir de suas
interações sociais. Daí a importância da socialização para a criança, como algo
essencial para o seu desenvolvimento.
4.3 Brinquedos
As brincadeiras possibilitam a compreensão da realidade por meio da
representação simbólica do ato de brincar. A criança imagina situações, cria, inventa,
porém todas as suas criações possuem base em sua realidade ou seja, em algo que a
criança já conhece, comenta Oliveira:
Numa situação imaginária com a brincadeira de faz de conta (...) a criança é
levada a agir num mundo imaginário (o ônibus que ela está dirigindo na
brincadeira, por exemplo) em que a situação é definida pelo significado
estabelecido pela brincadeira (o ônibus, o motorista, o passageiro etc) e não
pelos elementos reais concretamente presentes (as cadeiras da sala onde está
brincando de ônibus, as bonecas, etc). (...) Mas além de ser uma situação
imaginária, o brinquedo é também uma atividade regida por regras. Mesmo no
universo de faz de conta, há regras que devem ser seguidas (OLIVEIRA,1993,
p.172).
37
O brinquedo tem intrínseca relação com o desenvolvimento infantil,
especialmente na idade pré-escolar. Sobre isso, Vygotsky (1998), diz que o brinquedo
proporciona o maior avanço na capacidade cognitiva da criança e é por meio dele que a
criança se apropria do mundo real, domina conhecimentos, se relaciona e se integra
culturalmente. Nessa fase o brinquedo torna-se a atividade principal, a qual se
caracteriza como uma atividade cujo motivo reside no próprio processo e não no
resultado da ação.
A evolução da brincadeira, conforme Vygotsky (1998) vai desde uma
situação imaginária com regras ocultas, para um jogo com regras às claras, contendo
uma situação imaginária oculta. Toda situação imaginária criada pela criança no início
da idade pré-escolar possui regras de comportamento implícitas, evoluindo para o jogo
com regras explícitas e uma situação imaginária implícita. O interesse da criança pelo
jogo com regras inicia-se no fim da idade pré-escolar e desenvolve-se durante os anos
escolares.
O brinquedo é um instrumento eficaz na escola, que pode ser adaptado aos
conteúdos e orientado pelo educador. Porém é importante que a criança fique livre para
manusear o brinquedo, descobrir e compreender. O brincar é oportunidade de
desenvolvimento, pois brincando a criança experimenta, descobre, inventa aprende e
confere habilidades. Além de estimular a curiosidade, a autoconfiança e a autonomia,
proporciona o desenvolvimento da linguagem, do pensamento e da concentração e
atenção.
Os melhores brinquedos são geralmente os que a criança pode usar de
várias formas. Os brinquedos que mais ajudam as crianças a se desenvolverem são
aqueles adequados aos seus interesses e às suas necessidades de aprendizagem.
As atividades livres desenvolvem a criatividade e a fantasia da criança, como
por exemplo, os blocos e as peças de encaixe. Já o brinquedo organizado, que tem
uma proposta, como os jogos de quebra-cabeça, dominó e outros, constituem um
desafio que promove a motivação e facilita escolhas e decisões da criança. Brincando,
a inteligência e sensibilidade da criança estão sendo desenvolvidas.
As situações problemas encontradas na manipulação dos jogos e
brincadeiras fazem a criança crescer através da procura de soluções e de alternativas.
38
O desempenho psicomotor da criança alcança níveis que só mesmo a motivação
intrínseca consegue. Ao mesmo tempo, desenvolve a concentração, a atenção, o
engajamento, e a imaginação. No brincar a criança fica mais calma, relaxada e aprende
a pensar, estimulando sua inteligência.
Uma boneca ou bichinho de pelúcia pode ser um companheiro, uma bola
favorece o exercício motor, um quebra-cabeça desafia a inteligência e um colar faz a
menina sentir-se bonita e importante como sua mãe. Para que o brinquedo seja
significativo para a criança é preciso que tenha pontos de contato com a sua realidade.
O educador pode ainda, através da observação do desempenho da criança ao brincar,
avaliar o nível do seu desenvolvimento motor e cognitivo. No lúdico manifestam-se suas
potencialidades e ao brincar a criança automaticamente está se desenvolvendo.
4.4 Brinquedoteca
O lúdico deve ser visto como algo favorável e imprescindível à necessidade
do ser humano e como meio que facilita a avaliação do professor – conhecer, observar,
saber as potencialidades e limitações de seus alunos. Mas para que a escola trabalhe
de várias formas o lúdico, deve oferecer espaços que facilitem essa prática.
A brinquedoteca é o espaço que visa estimular a brincadeira livre, ponde em
prática sua própria criatividade e aprendendo a valorizar as atividades lúdicas. Ou seja,
tem como proposta o brinquedo, o objeto e sua função é ampliar e preservar as
possibilidades de vivência do lúdico.
Em 1981, em São Paulo, a professora Nylse Cunha fundou a primeira
brinquedoteca brasileira, baseada em atividades lúdicas, humanizadas, para oferecer
as crianças o desenvolvimento em vários aspectos: cognitivo, motor, afetivo e social,
estimulando a criatividade, auto-confiança e a autonomia. Através da construção
desses conhecimentos a criança aprende e se desenvolve com mais facilidade e de
maneira satisfatória.
39
Santos (1997), afirma que:
A principal implicação educacional da brinquedoteca é a valorização da atividade lúdica que tem como consequência o respeito às atividades afetivas da criança. Promovendo o respeito à criança contribui para diminuir a opressão dos sistemas educacionais rígidos ( SANTOS, 1997, p. 14).
Para Santos (2000), uma sala cheia de brinquedos não significa ser uma
brinquedoteca, pois necessita de um profissional com formação e que se identifica com
o trabalho com crianças, permitindo que a criança solte a sua imaginação sem medo de
ser punida por alguma falha. A escola deve se dispor de um espaço organizado com
vários jogos e brinquedos, para que a criança possa frequentar por livre e espontânea
vontade, vivenciar situações do seu cotidiano, criar e desenvolver sua própria
personalidade, valores, ética e atitudes diante de outras crianças. Nesses espaços, o
educando poderá também expressar suas vontades: alegria, medo, proteção,
descoberta, liberdade, etc.; este espaço deve favorecer a socialização, onde serão
realizadas atividades planejadas e mediadas pelo(a) professor(a).
A brinquedoteca é, antes de mais nada, um espaço criado para que a criança possa brincar livremente. Com isso, propicia-se o verdadeiro brincar, aquele que possibilita a expressão das atividades mais profundas do ser humano; aquelas que embora desconhecidas pode estar bloqueando a liberação de potencialidades ou impedindo o acesso à felicidade (SANTOS, 2000, p. 31).
Na brinquedoteca deve prevalecer a preferência da criança para a livre
escolha da atividade a ser desenvolvida de maneira livre ou dirigida, ou com os demais
companheiros e, deve conter brinquedos para todas as faixas etárias e com livre
acesso. Cunha (2001, p. 15) afirma que: “[...] a brinquedoteca é um espaço criado para
favorecer a brincadeira, [...] aonde a criança (e os adultos) vão para brincar livremente,
com todo o estímulo à manifestação de potencialidades e necessidades lúdicas”.
Sendo um ambiente para estimular a criatividade, deve ser preparado de
forma criativa, com espaços que incentivem a brincadeira do “faz de conta”, a
construção de brinquedos e a socialização. No RCNEI, consta que:
40
Na instituição de educação infantil o professor constitui-se, portanto, no parceiro mais experiente, por excelência, cuja função é propiciar e garantir um ambiente rico, prazeroso, saudável e não discriminatório de experiências educativas e sociais variadas”.(BRASIL 1998, v. 1, p. 30).
Se a criança aprende também brincando então é fundamental que todas as
crianças possam ter oportunidades educativas voltadas para satisfazer suas
necessidades básicas de aprendizagem na construção do conhecimento e socialização
com os demais. Assim, a brinquedoteca propicia essa construção do saber e da
interação, sendo uma forma de aprendizagem diferenciada e prazerosa.
41
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
A realização desse trabalho justificou-se pela importância do lúdico na área
da educação, como um instrumento que favorece o desenvolvimento psicológico, social
e cognitivo do aluno. Na educação infantil, em especial, busca-se muito mais do que
apenas aplicação de conteúdos, pois se trata do início da vida escolar e também o
início da formação das crianças.
A brincadeira é uma ação espontânea da vida infantil, que pode ser utilizada
pelo educador como um importante elemento no processo de desenvolvimento e
aprendizagem. A criança estabelece com as brincadeiras e os jogos uma relação
natural, expressa seus sentimentos, entusiasmos, passividades e agressividades; é por
meio da brincadeira que a criança envolve-se no jogo e partilha com o outro, se
conhece e conhece o outro.
Com o objetivo de investigar a importância e contribuições do lúdico na
construção da aprendizagem da criança, o presente estudo revela o quanto esse tema
é de grande relevância para a prática pedagógica. Por muito tempo a escola ainda não
tinha despertado para a verdadeira contribuição que o lúdico pode dar na educação da
criança. Acreditava-se que a transmissão de conteúdos para a aprendizagem dos
alunos era o mais importante, como se quanto mais conteúdos fossem passados, mais
os alunos se desenvolveriam. As brincadeiras aconteciam somente de forma
espontânea, em cada tempo histórico, sem ser lhes dado um real significado e valor.
Percebe-se que o educador deve diminuir a distância que ainda existe entre
a teoria e a prática concreta em sala de aula. Muitos ainda não se despertaram para a
criatividade e por isso suas aulas são sempre as mesmas, não conseguindo atingir
muitas vezes o objetivo que se espera. Principalmente aquele que lida com a criança
nos primeiros anos, deve compreender que brincadeira e aprendizagem não ocupam
momentos distintos na vida da criança, ou seja, lazer, escola e processo educativo
estão interligados.
Estudiosos como Piaget, Vygotsky, Wallon e Froebel, contribuíram bastante
para a realização do presente estudo, a compreensão sobre o desenvolvimento infantil
e como a criança aprende é de suma importância, antes que seja aplicada qualquer
42
metodologia de ensino. O lúdico, portanto, acontece dentro da escola se todos os que
estão envolvidos com a educação estiverem preparados para entenderem seu
significado e importância, e colocarem em prática.
Assim, a proposta apresentada serve como direcionamento para outros
estudos em relação ao uso de atividades lúdicas no contexto ensino-aprendizagem,
para que o tema seja ainda mais aprofundado, objetivando buscar novas formas de
ensinar, em busca de uma educação de qualidade que realmente possa ir de encontro
as necessidades da criança, da sociedade e da formação docente.
43
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. 5a edição.
São Paulo: Loyola, 1994.
ALMEIDA, Paulo Nunes de. Educação Lúdica: técnicas e jogos pedagógicos. São
Paulo: Loyola, 1995.
ANTUNES, Celso. Manual de técnicas de dinâmica de grupo. Petrópolis: Vozes, 2000.
ANTUNES, Celso. O jogo e a educação infantil. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes,
2003.
ARCE, Alessandra. Friederich Froebel: o pedagogo dos jardins de infância. Petrópolis:
Vozes, 2002.
BEZERRA, Edson Alves. Por que trabalhar o lúdico na educação infantil. Disponível em
<http://www.webartigos.com/artigos/porque-trabalhar-o-ludico-na-educacao-
infantil/2985/#ixzz2MProcTgg>, acesso em 28 de junho de 2013.
BRASIL. Lei n° 9.304. Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) de 26 de dezembro
de 1996.
BRASIL. Ministério da Educação e do Desporto. Referencial Curricular Nacional para a
Educação Infantil – Brasília; MEC/SEF, 1998, vol. 1.
BRASIL. Parâmetros Nacionais de Infra-estrutura para Instituições de Educação Infantil.
Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica/DPE/COEDI, 1997.
BRASIL. Parâmetros Nacionais de Infra-estrutura para Instituições de Educação Infantil.
Brasília: MEC/Secretaria de Educação Básica/DPE/COEDI, 1997.
CRAIDY, Carmem Maria (org.); KAERCHER, Gládis Elise p. da Silva. (org.). Educação
Infantil: pra que te quero? Porto Alegre: Artmed, 2001.
FREIRE, João Batista. Educação de corpo inteiro: teoria e práticas da educação. São
Paulo: Scipione, 1997.
GARCIA, Carlos Macedo. Os professores e sua formação. Lisboa: Dom Quixote, 1992.
44
KISHIMOTO, T. M. (org.). O brincar e suas teorias. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2002.
KISHIMOTO, T. M. Brinquedo e brincadeira – Usos e sinificações dentro de contextos
culturais. In: SANTOS, S. M. P., (org) Brinquedoteca: O lúdico em diferentes contextos.
3° ed. Petrópolis, Vozes, 1998.
KISHIMOTO, T. M. Jogo, brinquedo, brincadeira e a educação. São Paulo: Cortez,
2000.
MACEDO, Lino de. O jogo como elo entre o culto e a cultura. Disponível em
<http://revistaescola.abril.com.br/gestao-escolar/jogo-como-elo-culto-cultura-
663174.shtml?page=3>, acesso em 18 de maio de 2013.
MAURÍCIO, Juliana Tavares. Aprender brincando: O lúdico na Aprendizagem.
Disponível em HTTP://www.profala.com/arteducesp140.htm, acesso em 27 de Junho de
2013.
MOURA, M. O. de. O jogo na educação matemática. In: Ideias. O jogo e a construção
do conhecimento na pré-escola. São Paulo: FDE, n 10, p. 45 – 53, 1991.
OLIVEIRA, Marta Kohl. Vygotsky. Aprendizado e Desenvolvimento. Um processo sócio-
histórico. São Paulo: Scipione, 1993.
PIAGET, Jean. Seis estudos de Psicologia. ed. 18. Rio de Janeiro: Forense
Universitária, 1991.
PIAJET, J. A formação do símbolo na criança. Rio de Janeiro; Zahar, 1976.
REVISTA NOVA ESCOLA: Gestão Escolar: os desafios da educação infantil. São
Paulo, 2012.
SANTOS, Santa Marli Pires dos. (org) Brinquedoteca: a criança, o adulto e o lúdico. 4
ed. Petrópolis; Vozes, 2003.
SANTOS. S. Marli P. O lúdico na formação do educador. Petrópolis, Rio de Janeiro:
Vozes, 1997.