central megapro capítulo 7 · paradas aí e eu preciso que ... nem vão se ligar que tu tá indo...

MEGAPRO

Central MEGAPRO Capítulo 7

“Este texto é de propriedade intelectual exclusiva do MEGAPRO e por conter informações confidenciais,

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prévio e expresso consentimento da mesma. No caso de violação do sigilo, a parte infratora estará sujeita

às penalidades previstas em lei e/ou contrato.”

Tribunal de Rua (versão revisada)

Uma minissérie de João Carvalho

Escrita por:

João Carvalho

Isabelle Carvalho

Direção

Lucas Luciano

Emissora

MEGAPRO

Personagens presentes neste capítulo:

APARECIDA

BENÍCIO

CÁTIA

DOGÃO

JORGE

JULIA

LEONORA

LUCAS

MARCELA

MUFASSA

NICE

NICOLAU

PEDRO

PRETA

RONALDO

Tribunal de Rua Capítulo 7 Pag.: 2

2

CENA 01. BORDEL DE MONA. SALÃO. INTERIOR. NOITE.

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA ÚLTIMA CENA DO CAPÍTULO ANTERIOR.

PEDRO E NICOLAU SE AFASTAM E SE ENCARAM.

PEDRO — Preciso dar uma palavrinha contigo...

NICOLAU — Tranquilo. Tio, cê não sabe a felicidade que eu to de tu

ter voltado, cara. Não tem noção.

OS DOIS SORRIEM UM PARA O OUTRO. CORTA PARA:

CENA 02. BORDEL DE MONA. QUARTO. INTERIOR. NOITE.

PEDRO E NICOLAU ENTRAM NO LOCAL. PEDRO FECHA A PORTA. OS DOIS

FICAM EM PÉ, UM DE FRENTE PARA O OUTRO.

NICOLAU — Tio... Eu quero que cê me desculpe por ter tomado o

comando do morro. Eu sei que eu não podia fazer isso,

mas é que tava todo mundo desesperado, o bando tava

com medo e/

PEDRO — / Tu fez o certo, Nicolau. E mostrou pra todo mundo

que tá preparado pra me substituir. Cê foi muito corajoso.

NICOLAU — Mas agora eu faço questão, com orgulho, de passar pra

você de volta o comando do Morro.

PEDRO — Não... Tu continua!

NICOLAU — Ham?!

PEDRO — Tu continua no comando. Eu ainda to resolvendo umas

paradas aí e eu preciso que cê enfrente esse problema pra

mim, pelo menos até tudo ficar resolvido. Posso confiar

em você?

NICOLAU — Claro. Sempre.

PEDRO — É isso que importa... (T) Tem um cigarro?

NICOLAU TIRA UM CIGARRO DO BOLSO E O ENTREGA JUNTO DE UM

ISQUEIRO PARA PEDRO, QUE ACENDE RAPIDAMENTE E COMEÇA A

FUMAR.

PEDRO — Já tenho um trabalho pra tu. Um esquema pra tu

resolver.

NICOLAU — Qual?!


3

PEDRO — Sabe a turma de Angra? O pessoal que fornece as

nossas armas...

NICOLAU — Sei, sei. O que que tem eles?

PEDRO — No tempo que eu tive fora consegui ligar pra lá no

telefone da pensão que eu fiquei e... E eles tão com um

armamento legal pra gente. O preço tá bacana, o lugar

também. A galera é boa. Acho uma boa a gente fechar

com eles.

NICOLAU — Ótimo. Quanto mais barato, melhor pra gente..

PEDRO — É... Mas eu preciso que tu busque esse armamento,

Nicolau. É bom que os caras já te conhecem e nesse

momento não dá pra confiar em ninguém. Só você pode

fazer isso!

NICOLAU — Tranquilo. Mas quando?!

PEDRO — Amanhã... À noite... Mando o Morcego ir até a cidade,

aí ele prepara a lancha com uns amigos meus e tu vai pra

Angra nela. As pessoas tão preocupadas com os protestos

da cidade, nem vão se ligar que tu tá indo pra buscar

armamento. (T) Fica tranquilo que a segurança tá

garantida! Agora vem cá... Dá um abraço nesse teu tio

aqui.

PEDRO E NICOLAU SE ABRAÇAM ALEGRES. CORTA PARA:

CENA 03. RIO DE JANEIRO. EXTERIOR. AMANHECER.

TOMADA RÁPIDA. CORTA PARA:

CENA 04. MANSÃO DE RONALDO. QUARTO DE RONALDO E LEONORA.

INTERIOR. DIA.

A CAM PERCORRE O CÔMODO E MOSTRA TUDO ORGANIZADO, NA MAIS

PERFEITA ORDEM. VEMOS RONALDO, ESTICADO NA CAMA, DORMINDO.

ELE ACORDA LENTAMENTE. SE LEVANTA E FICA SENTADO NA CAMA.

PENSATIVO. NELE. CORTA PARA:

CENA 05. MANSÃO DE RONALDO. SALA DE REFEIÇÕES. INTERIOR. DIA.


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LEONORA COM UM VESTIDO AZUL E DISCRETO. TOMA SEU CAFÉ DA MÃE

SENTADA À MESA, SOZINHA. RONALDO APARECE ALI. SE ENCARAM POR

SEGUNDOS. TEMPO.

RONALDO — (QUEBRA O SILÊNCIO) Hoje eu vou arrumar as

minhas coisas e vou pra casa da minha mãe. A casa é sua!

LEONORA — Vai fugir pra casa da tua mãe sem antes conversar

comigo? (T) Senta aí...

RONALDO SE SENTA À MESA. LEONORA PARA SEU CAFÉ E ENCARA O

MARIDO, QUE FICA SEM GRAÇA.

RONALDO — Me desculpa. Eu não queria fazer você sofrer...

LEONORA — Eu sempre fiz o possível pra manter a boa imagem da

nossa família. Pra quê? (T) De nada serviu me matar pra

tentar consertar o nosso filho, quando na verdade não era

só ele que tava afundando o nosso nome. (T) Eu só quero

saber o porquê, Ronaldo. Só isso. Por que você não foi

sincero comigo desde o início e não evitou tudo isso? Essa

situação constrangedora...

RONALDO — Eu não tinha coragem de contar pra você isso. Leonora,

é difícil pra mim/... Eu não sei como controlar.

LEONORA — (POR CIMA) Não sabe como controlar? (T) Patético,

Ronaldo. Completamente patético. Você é gay!

RONALDO — (POR CIMA) Não fala isso...

LEONORA — E é o que, então? Hein? O teu nome tá estampado nas

capas das revistas. Você me traiu com outro homem

Ronaldo. (TOM) HOMEM. (RECOMPÕE-SE) Olha, eu

não tenho nem um pingo de preconceito, mas você não

pode obrigar que eu tenha uma reação normal ao saber que

o homem que dorme do meu lado, que eu sempre acreditei

que me amava, tem.. (VOZ EMBARGADA) Outro... Não

dá, não dá.

RONALDO — Mas eu te amo...

LEONORA — Ham?! Ama como? Me ama e dorme com outra

pessoa? E aqui eu nem to entrando no mérito se é homem,

se é mulher... Você me traiu. E eu pensava... Só pensava

mesmo, que eu não tava sozinha, que eu tinha alguém por

mim, mas era tudo mentira. Eu não tenho ninguém.

RONALDO — Eu prometo, Leonora. Eu prometo que se você me dá

uma chance, eu aprendo a controlar isso, você me ajuda. A

gente consegue. São mais de vinte anos de casados. A

gente não pode fazer isso com o nosso casamento.


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LEONORA — Você fez isso com o nosso casamento. Não tem mais

motivo pra gente continuar junto. Não tem pretexto. Nem

filho pequeno nós temos mais. Chega. Deu disso tudo. (T)

Eu agradeço por tudo que você já fez por mim. Acredite.

Eu sou grata a você. Mas eu não vou aceitar a ideia de

dormir do teu lado, sabendo que você pode tá me traindo

com qualquer homem que ver pela rua.

RONALDO DESVIA O OLHAR, ENVERGONHANDO. SILÊNCIA. ENCARAM-SE.

RONALDO — Tudo bem. Tem razão. Eu te entendo. Mas eu acho que

a gente já conversou tudo. Tudo o que a gente precisava

conversar.

LEONORA PEGA NA MÃO DE RONALDO. AMBOS COM OLHOS MAREJADOS.

LEONORA — Você é um pai incrível, é um filho maravilhoso! Não

me importa se você é gay ou não. Eu vou sempre te

admirar. Mesmo que não seja mais como meu marido, mas

que seja como meu amigo. Se você quiser, claro.

RONALDO — Eu posso ter feito tudo de errado, Leonora. Tudo. Mas

o que a gente viveu... Foi verdadeiro. (T) Você é incrível.

LEONORA SE LEVANTA E VAI ATÉ RONALDO. OS DOIS SE ABRAÇAM

EMOCIONADOS. CORTA PARA:

CENA 06. CASA DE CÁTIA. SALA. INTERIOR. DIA.

TUDO EM SILÊNCIO. PEDRO E NICOLAU DORMEM CADA UM EM UM SOFÁ.

CÁTIA PASSA POR ALI, VINDO DA COZINHA. VOLTA PARA SEU QUARTO.

BATIDAS NA PORTA. PEDRO E NICOLAU DESPERTAM ASSUSTADOS.

PEDRO — Que porra é essa?

NICOLAU — Que susto!

AS BATIDAS SÃO MAIS FORTES E FREQUENTES. PEDRO SE LEVANTA

RAPIDAMENTE E VAI ATÉ A PORTA. ABRE-A. REVELA-SE DOGÃO,

ASSUSTADO, ENCARA PEDRO. NICOLAU SE LEVANTA.

PEDRO — Que foi, Dogão?! Precisa quase arrebentar a porta?

DOGÃO — Aconteceu uma parada sinistra, Bala!

NICOLAU VAI ATÉ A PORTA, SE INTROMETE.

NICOLAU — Que que aconteceu?

DOGÃO — Mataram o Mufassa...


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NICOLAU — O quê?

DOGÃO — Tá uma galera em volta da casa dele...

PEDRO — Eu vou lá ver isso.

NICOLAU — Eu vou contigo.

NICOLAU E PEDRO SE RETIRAM DALI. CORTE RÁPIDO PARA:

CENA 07. FAVELA. RUA. EM FRENTE A CASA DE MUFASSA. EXTERIOR.

DIA.

VÁRIAS PESSOAS REUNIDAS EM VOLTA DA CASA DE MUFASSA,

HORRORIZADAS. PEDRO E NICOLAU VÃO ATÉ ALI ACOMPANHADOS DE

DOGÃO.

NICOLAU — Eu vou entrar na casa. Fica aí com o Dogão, tio. É

melhor.

PEDRO — Vai lá.

ZÉ (ALTO, 34 ANOS, FORTE, OSTENTANDO) VAI ATÉ PEDRO. ENCARA-O.

PEDRO — Que que foi, Zé? Sai da minha, hein. Não gosto dessas

coisas, não.

ZÉ — Muito engraçadinho, né, rapá?! Acabou de voltar e já

começa a bagunçar tudo. Tu não percebe que quando tu tá

nesse morro tudo começa a desandar pra esse povo.

PEDRO — Tá viajando, hein. Tá falando do quê?

ZÉ — Agora vai falar que não sabe? Bala, Bala... Aqui no

Morro o que a gente mais preza é a coragem. Cadê a tua?

Esqueceu na cadeia?

PEDRO — Se tu continuar me provocando, a única coragem que

vai nascer aqui agora é a minha mão enfiada na tua cara.

ZÉ — Como tu é sonso... Matou o Mufassa e agora vai se

fazer de santo pra esse povo todo? A galera sabe quem tu

é, rapá.

PEDRO — O quê? Eu matei o Mufassa? (GARGALHA) De onde

que tu tirou isso?

ZÉ — (GARGALHA) Engraçadinho. (GRITA/FECHA

EXPRESSÃO) ANDA, CARALHO! Confessa! Foi você

que matou o Mufassa?!


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OS DOIS SE ENCARAM BUFANDO. CORTA PARA:

ABERTURA

TRIBUNAL DE RUA C A P Í T U L O 7

“A derrocada de um herdeiro...”

CENA 08. POSTO DE SAÚDE. CONSULTÓRIO DE SAMIRA. INTERIOR. DIA.

SAMIRA SENTADA À FRENTE DE SUA MESA. CÁTIA SENTADA À SUA

FRENTE. SÉRIAS.

CÁTIA — Vim o mais rápido que pude.

SAMIRA — Me desculpa, eu sei que é bem cedo até, mas é que tem

uma coisa me preocupando e eu pedi pra falar com você

primeiro, pra você passar pro Nicolau ou pra alguém que

possa resolver pra mim.

CÁTIA — Pode falar. O que tá acontecendo?

SAMIRA — As pessoas tão chegando aqui com uns sintomas muito

específicos, sabe?! Febre, dor de cabeça, gripe... Eu to

preocupada com algum surto viral. Eu consegui os

medicamentos, mas eu preciso de vacinas. Pra todos os

vírus. Eu sei que é arriscado, mas a gente precisa testar, ou

senão a gente corre o risco de ter muitas mortes aqui no

Morro.

CÁTIA — Deus que me livre, doutora. Olha, a senhora pode ficar

sossegada. Eu vou falar com o Nicolau ou com o Pedro.

SAMIRA — (HESISTA) Pedro?!

CÁTIA — É... Pedro é quem comandava aqui antes do Nicolau. É

tio dele. Ele tá de volta e logo mais tá voltando a

comandar. Ainda hoje a gente resolve essa situação,

doutora.

SAMIRA — Muito obrigada, Cátia.

AS DUAS SORRIEM. CORTA PARA:

CENA 09. EMPRESA DE ADVOCACIA. RECEPÇÃO. INTERIOR. DIA.


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BENÍCIO SAI DE DENTRO DO ELEVADOR E VAI ATÉ A RECEPCIONISTA.

BENÍCIO — Quem aparecer por aí dê a mesma resposta... Estou em

reunião.

RECEPCIONISTA — Tudo bem.

RONALDO SAI DE DENTRO DO ELEVADOR. BENÍCIO SE VIRA E OLHA

PARA O IRMÃO. SE ENCARAM. TEMPO.

BENÍCIO — Bom te ver, Ronaldo. A gente tem muito o que

conversar!

CLOSES ALTERNADOS. CORTA PARA:


PEDRO SENTADO NO SOFÁ, PENSATIVO. CÁTIA COLOCA ALGUMAS

BOLSAS DE COMPRAS EM CIMA DE UM DOS SOFÁS E SE SENTA NO OUTRO

AO LADO DE PEDRO.

CÁTIA — Então quer dizer que o bando deles lá tão achando que

foi tu que fez o serviço? Mas bem que poderia ter sido

mesmo. Aquele Mufassa não valia o prato que comia.

PEDRO — Eu não dei confiança pro Zé, mas isso me preocupa.

Pode prejudicar o bando e sei não, hein. O Benício pode

usar isso à favor dele.

CÁTIA — E tu acha que depois da morte do Mufassa o teu irmão

volta pro Morro? Eu acho que não.

PEDRO — Meu irmão é capaz de tudo pra me ferrar, Cátia. Isso se

não foi ele que deu um jeito no cabra e agora quer botar

todo mundo contra mim.

NICOLAU ENTRA COM DOGÃO, PREOCUPADO.

NICOLAU — A galera tá achando que tu matou o Mufassa, tio.

PEDRO — Tá vendo. Isso é coisa do Benício. Só pode.

NICOLAU — Fala a verdade, tio. Tu matou mesmo?

PEDRO SE LEVANTA, NERVOSO.

PEDRO — Não, claro que não. Eu posso ser o que for, mas

assassino não. Eu nunca sujei as minhas mãos de sangue,

Nicolau. Nunca.


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CÁTIA — Olha... O que eles querem é isso... Deixar a gente

confuso, sem entender nada, enquanto eles saem de boa

dessa história. Vamo parar de falar nesse assunto. Chega.

Já deu. (T) Pedro, chegou uma médica nova no Posto de

Saúde. Dra. Samira. Ela me disse que o pessoal tá pegando

um vírus estranho, que nem ela sabe direito, e que precisa

de algumas vacinas e tal. Acho legal você ir até lá, até pra

ela te conhecer.

NICOLAU — Melhor mesmo. A Dra. Samira já me conhece. Agora

falta ela te conhecer, tio.

PEDRO — Tranquilo. Resolvo isso rapidinho.

CLOSE EM PEDRO. CORTA PARA:

CENA 11. EMPRESA DE ADVOCACIA. RECEPÇÃO. INTERIOR. DIA.

CONTINUAÇÃO IMEDIATA DA CENA 09.

RONALDO E BENÍCIO SE ENCARANDO.

RONALDO — Não. Eu acho que a gente nem tem muito o que

conversar. Só uma coisa simples. Um único detalhe, que

pra mim já é o necessário.

BENÍCIO — Não vai querer arrumar show aqui, né? Na frente de

todo mundo...

RONALDO — Interessante que foi exatamente isso que você fez

quando ficou sabendo que tem um irmão gay.

BENÍCIO FICA SEM GRAÇA. AJEITA A GRAVATA.

BENÍCIO — É melhor a gente conversar na minha sala. Vamos?

RONALDO E BENÍCIO VÃO EM DIREÇÃO A SALA DE BENÍCIO. CORTA

PARA:

CENA 12. EMPRESA DE ADVOCACIA. SALA DA PRESIDÊNCIA. INTERIOR.

DIA.

RONALDO E BENÍCIO ENTRAM. BENÍCIO SE SENTA EM SUA CADEIRA, DE

FRENTE À SUA MESA. RONALDO FICA EM PÉ.

BENÍCIO — Senta aí...

RONALDO SE SENTA À FRENTE DE BENÍCIO. TEMPO. BENÍCIO O ENCARA.


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RONALDO — E então... O que você tem tanto pra me falar, Benício?

BENÍCIO — Eu quero te pedir desculpas pelo escândalo que eu

arrumei. Eu fiquei fora de mim, mas cê sabe muito bem

como esse assunto mexe comigo. Nós somos irmãos, cara,

e eu não quero continuar nesse clima pesado contigo.

RONALDO — Deveria ter pensado nisso antes de fazer o que fez. (SE

MARTIRIZA) Mas também eu sou um idiota. Um

completo idiota. A vida toda eu fui teu fantoche, Benício.

Mas chega! Deu! Eu não sou mais o babaca de antes. Eu

não vou esperar esse barco afundar pra pular.

BENÍCIO — Cê tá exagerando. Nós temos uma sociedade. Você

nunca foi um fantoche meu. Que isso, Ronaldo? Que que

tá passando pela tua cabeça? Agora não vai me dizer que

tá pensando em acabar com a sociedade? Porque é só o

que falta pra você comprovar o frouxo que cê é.

RONALDO — (DEBOCHA) Realmente sou eu o frouxo, né? Perdeu a

própria mulher pro sobrinho.

BENÍCIO BATE NA MESA E SE LEVANTA IRRITADO.

BENÍCIO — Eu não admito que você fale assim da minha vida

pessoal, Ronaldo!

RONALDO — (ENQUANTO SE LEVANTA) Você é cheio de ego,

né? Inflado... As pessoas inflam teu ego e é por isso que

você tem a ligeira impressão, veja bem, só impressão de

que tá no controle de tudo. Só que aí... (FAZ BARULHO

DE QUEDA DE UMA FRUTA NO CHÃO COM A

BOCA) você cai feito uma manga podre e percebe que

tava sozinho.

BENÍCIO — Cê tá viajando...

RONALDO — Perdeu a mulher, os irmãos, os pais, o sobrinho... O que

mais, Benício? O que mais falta pra você perder?

RONALDO VAI EM DIREÇÃO À PORTA. SE VIRA E ENCARA BENÍCIO.

RONALDO — (CONT’ D) Vou arrumar as minhas coisas e depois

pode ficar tranquilo, que você não vai me ver nunca mais.

(T) Boa sorte, meu irmão! (SORRI)

RONALDO SE RETIRA. EM BENÍCIO COM CARA DE TACHO. CORTA PARA:

CENA 13. APTO DE APARECIDA E JORGE. COZINHA. INTERIOR. DIA.


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APARECIDA COZINHANDO. JORGE APARECE POR TRÁS E DÁ UM BEIJO EM

SEU ROSTO.

JORGE — Mas já tá fazendo almoço?

APARECIDA — To adiantando pra ficar mais fácil depois. To pensando

em fazer um bolo de batata. O que cê acha?

JORGE — E ainda pergunta? (T) To te achando mais animada,

mais tranquila.

APARECIDA — É porque eu decidi entregar tudo nas mãos de Deus,

Jorge. Só ele sabe das nossas necessidades. E eu tenho fé

que ele vai nos ajudar a superar todos os problemas.

(T/DENSA) E o Ronaldo? Falou com ele?

JORGE — (SÉRIO) Ainda não tive com ele... Mas a gente precisa

conversar sim.

A CAMPAINHA TOCA. JORGE ESTRANHA.

JORGE — Ué... Tá esperando alguém?

APARECIDA — Não.

JORGE VAI EM DIREÇÃO À SALA DE ESTAR. CORTE IMEDIATO PARA:

CENA 14. APTO DE APARECIDA E JORGE. SALA DE ESTAR. INTERIOR.

DIA.

TOCA A CAMPAINHA MAIS UMA VEZ. JORGE VEM DA COZINHA EM

DIREÇÃO À PORTA. ABRE-A. REVELA-SE RONALDO. OS DOIS SE ENCARAM

POR SEGUNDOS. RONALDO ENTRA, MAS DESVIA DO OLHAR DE JORGE.

SONOPLASTIA: INSTRUMENTAL DRAMA.

RONALDO — Pai, eu... (RESPIRA/T) Eu quero te pedir desculpa.

JORGE OLHA PARA O CHÃO. ROSTO FECHADO. OLHOS MAREJADOS. ELE

SE APROXIMA DE RONALDO E OLHA EM SEU ROSTO. RONALDO COM OS

OLHOS MAREJADOS TAMBÉM.

JORGE — Do quê, meu filho? Desculpa do quê?

RONALDO — Por fazer vocês passarem por essa vergonha toda.

JORGE — Escuta uma coisa... A maior vergonha que você poderia

me dar na vida é a de ser como os seus irmãos. E essa

vergonha eu sei que você não vai me dar nunca. Mas

nunca! (T/VOZ EMBARGADA) Eu te amo, meu filho!

Eu te amo!


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JORGE E RONALDO SE ABRAÇAM EMOCIONADOS. APARECIDA VEM DA

COZINHA E SE JUNTA A ELES. NOS TRÊS ABRAÇADOS. A CAM VAI SE

AFASTANDO. SONOPLASTIA OFF. FADE OUT:

CENA 15. POSTO DE SAÚDE. RECEPÇÃO. INTERIOR. DIA.

VÁRIAS PESSOAS AGUARDANDO CONSULTA. PEDRO ENTRA E VAI ATÉ A

RECEPCIONISTA.

PEDRO — Bom dia. Eu queria falar com a Dra. Samira.

SAMIRA VEM DE SEU CONSULTÓRIO E VAI ATÉ PEDRO. SORRI PARA ELE.

SAMIRA — Quer falar comigo?

PEDRO ENCARA SAMIRA ENCANTADO COM SUA BELEZA, BOQUEABERTO.

CORTA PARA:

CENA 16. CASA DE AMIR. SALA. INTERIOR. DIA.

MARCELA VARRENDO O CÔMODO. TOCA A CAMPAINHA. ELA LEVANTA

SUA CABEÇA. ESTRANHA. DEIXA A VASSOURA ENCOSTADA NA PAREDE E

VAI ATÉ A PORTA. ATENDE. REVELA-SE LEONORA, SÉRIA. MARCELA SE

ASSUSTA COM ELA.

LEONORA — Marcela, eu sei que você deve tá com muita raiva de

mim e com razão, mas eu preciso muito conversar com

você.

TEMPO EM MARCELA OLHANDO PARA LEONORA. EM SEGUIDA, ELA FAZ

SINAL COM OS OLHOS PARA LEONORA ENTRAR. LEONORA ENTRA.

MARCELA FECHA A PORTA.

MARCELA — O que você tem pra me falar?

LEONORA — Eu vim te pedir desculpa, Marcela. Eu fui uma idiota,

uma babaca... É que eu to cheia de coisas na cabeça e

acabei descontando em você. Me desculpa!

MARCELA — Não foi fácil ouvir tudo aquilo. Principalmente de você,

que é mulher. (T) Olha, se eu pudesse escolher tenha

certeza de que não era isso que eu escolheria pra minha

vida, mas eu não sou covarde e se foi isso que a vida me

reservou, isso que eu vou enfrentar. (T) Sabe qual é a

sensação que eu tenho? É de que você continua uma

criança que não sabe enfrentar os seus problemas e que

fica pra morrer quando vê as outras pessoas vencendo seus

obstáculos.


13

LEONORA — Eu sofri muito na minha vida, eu abdiquei de tudo pelo

meu filho e pelo meu marido e hoje eu to sozinha. Sem

ninguém.

MARCELA — Será que é porque você não entendeu que as pessoas

não são suas máquinas? Elas vivem, Leonora,

independentes de você... Pra que ser grossa, tentar destruir

a vida de outras pessoas? Pra proteger quem não precisa

ser protegido?

LEONORA — Eu entendo a sua raiva, Marcela, e eu não posso fazer

nada a não ser pedir desculpas e pedir pra que a gente

tente conviver melhor por essa criança que você tá

gerando.

MARCELA — Apesar de tudo, eu te desculpo... Mas a humilhação que

eu passei ninguém apaga. Ninguém.

CLOSES EM LEONORA.

LEONORA — Bom, eu preciso ir pra resolver algumas coisas. Fica

bem, tá? E se precisar de mim... Me liga!

LEONORA SE RETIRA DALI. CLOSE EM MARCELA CONFUSA. CORTA

PARA:

CENA 17. POSTO DE SAÚDE. CONSULTÓRIO DE SAMIRA. INTERIOR. DIA.

SAMIRA SE SENTA EM SUA CADEIRA. PEDRO SENTA A SUA FRENTE.

SAMIRA — Então quer dizer que você é o famoso Pedro Bala...

(SORRI) Muito prazer, Dra. Samira. A seu dispor.

PEDRO — Eu sabia que tinham colocado uma médica nova aqui,

mas não imaginava que seria tão linda.

SAMIRA — (SEM GRAÇA) Um galanteador... (RI)

PEDRO — Eu costumo perceber as coisas bonitas da vida, doutora.

Mas, enfim... A Cátia me disse que a senhora...

SAMIRA — / Senhora, não.

PEDRO — (CORRIGE) Que você precisava falar ou comigo ou

com Nicolau. Ela me disse das vacinas.

SAMIRA — Tá me preocupando muito essa situação, Pedro. Tudo

bem que uma gripe é normal, mas o estranho tá é em todos

terem os mesmos sintomas. É melhor fazer uma

campanha, vacinar esse povo todo e ficar livre de qualquer


14

problema. Até porque você sabe que o governo mesmo

pouco tá se importando com a saúde das comunidades

mais pobres. Essa é a verdade...

PEDRO — Eu sei que eu não sou limpo, nem santo, doutora. Mas

esse governo é sujo e o povo só vai poder respirar em paz

quando essa gente toda vazar do poder.

SAMIRA — Olha... Idealista... Gostei! (RI)

PEDRO — Tudo pelo bem dos mais pobres. (SORRI AMARELO)

SAMIRA — Eu também gosto de ajudar. Eu sei que eles lá em cima

não vão fazer nada por essas pessoas e... Eu tenho

dinheiro, tenho condições... O que me custa ajudar, né? Eu

venho até aqui, todos os dias, com sol ou com chuva,

porque eu amo esse contato com essa gente. Você vê

verdade nos olhinhos deles, sabe? Esperança...

PEDRO — Doutora, hoje eu vou fazer um jantar na casa da Cátia.

Pode ser algo muito simples pra senhora, não tá a altura do

que você merece, mas vai ser legal... O povo deve ir e eles

gostam muito de você. Então, eu to te convidando pra esse

jantar.

SAMIRA — Não está a minha altura? Mas eu só tenho um metro e

sessenta e quatro centímetros.

OS DOIS RIEM. CORTA PARA:

CENA 18. BARRACO. INTERIOR. DIA.

LOCAL ESCURO E COM POUCOS OBJETOS. VÁRIOS JOVENS REUNIDOS.

BRUNA FALA NO MICROFONE.

BRUNA — O que nós precisamos é de garra... Garra pra enfrentar

esses porcos que estão no poder! Quem tiver medo que

vaze da organização... A última coisa que a gente precisa

agora é medo... Precisamos é de coragem! Muita coragem

pra enfrentar essa gente!

OS JOVENS OVACIONAM BRUNA, QUE SORRI.

BRUNA — Hoje à noite... Hoje à noite iremos iniciar a maior

manifestação que esse Brasil já viu. Nós vamos mostrar

para esses militares de merda que nós temos voz sim e que

vamos tirá-los do poder. Mesmo que sangue precise ser

derramado! (T) Na praça... Às 20h... Iremos varar a

madrugada, mas vamos mostrar o nosso poder!


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BRUNA COM OS OLHOS ARREGALADOS, FIRME. OS JOVENS A

OVACIONAM NOVAMENTE. LEVANTAM BANDEIRAS DE PARTIDOS

COMUNISTAS. UMA BANDEIRA PASSA PELA CÂMERA. DELA, CORTA

PARA:


PEDRO SENTADO NO SOFÁ. SE LEVANTA RAPIDAMENTE, ANSIOSO. CÁTIA

VEM DA COZINHA.

PEDRO — Pode confirmar o jantar. (ANIMADO) E pode fazer de

tudo, Cátia. Eu compro o que for. Tem que ser uma

verdadeira festa.

CÁTIA — Hum, mas que animação toda é essa?

PEDRO — É que hoje a gente vai receber uma visita especial. A

doutora vem pro jantar.

CÁTIA — (INSINUANDO) Hum, to entendendo tudo. Não vai

me dizer que/

PEDRO — / Que ela é linda, Cátia... Linda, linda, linda...

CLOSE EM PEDRO ENCANTADO. NICOLAU ENTRA. PEDRO OLHA PARA

ELE.

PEDRO — Que bom que tu chegou...

NICOLAU — Tio, to com tudo pronto...

PEDRO — Ótimo... A lancha deve sair lá pras 20h. Dá tempo de tu

jantar e ir. Fica tranquilo, meu sobrinho. Vai dar tudo

certo.

NICOLAU — To bem ansioso!

PEDRO — Depois que tu for uma vez, não vai querer deixar de ir

nunca mais.

CLOSE EM NICOLAU, TENTANDO ESCONDER O MEDO. CORTA PARA:

CENA 20. RIO DE JANEIRO. FAVELA. EXTERIOR. ANOITECER.

TOMADA RÁPIDA. CORTA PARA:

CENA 21. FAVELA. BARRACO. INTERIOR. NOITE.


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HOMENS ARMADOS DAS MAIS VARIADAS IDADES REUNIDOS. DENTRE

ELES ESTÁ ZÉ. BENÍCIO DISCURSA PARA ELES, ANDANDO DE UM LADO

PARA O OUTRO NO LOCAL.

BENÍCIO — A morte do Mufassa faz com que nós precisemos ficar

de olhos mais abertos pras armações do outro bando. É

vigiar vinte e quatro horas por dia. Senão a gente vai ter o

mesmo fim que ele. E eu acredito que não é isso que vocês

querem, né?!

BENÍCIO SE APROXIMA DE ZÉ. O ENCARA.

BENÍCIO — (CONT’ D) Mas nós precisamos colocar um substituto

no lugar de Mufassa. O bando precisa de alguém que

comande, que se encarregue de ficar de olho no que

acontece aqui no Morro. Eu tenho muito trabalho na

cidade e não dá pra ficar me desdobrando entre favela e

cidade, favela e cidade. Não dá. Então... Andei pensando

bastante, levei em conta o perfil de cada um e tomei uma

decisão de quem ficará no lugar do Mufassa.

BENÍCIO SE AFASTA. ELE SE VIRA DE COSTAS PARA AS PESSOAS ALI

PRESENTES E SE VIRA EM SEGUIDA.

BENÍCIO — (CONT’ D) Zé... Você aceita esse desafio?

ZÉ — Aceito tudo o que o senhor me mandar fazer, doutor.

BENÍCIO — Então, pronto... Cê ocupa o lugar do Mufassa. Mas não

se esqueça do principal, do primordial... Fidelidade. Se eu

descobrir que cê tá faltando com fidelidade com o bando, a

coisa vai ficar muito feia pro teu lado.

ZÉ — Não precisa se preocupar, doutor. To aqui pra ajudar o

bando a crescer e vou fazer isso.

BENÍCIO — Ótimo!

CLOSES ALTERNADOS ENTRE BENÍCIO E ZÉ. CORTA PARA:

CENA 22. CASA DE CÁTIA. SALA. INTERIOR. NOITE.

CASA LOTADA. FESTA ROLANDO. MÚSICA AMBIENTE. MONA ENTRA E

PEDRO VAI RECEBÊ-LA. MONA OLHA PARA ELE.

MONA — Ai, Pedro Bala... Você é o macho desse Morro!

PEDRO RI. NICOLAU VEM ATÉ MONA.

MONA — Você também, tá, meu bem? Todos machos...


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NICOLAU — (RI) Fica à vontade, Mona.

MONA — E eu lá sou mulher de ficar em canto? Sou espaçosa.

Vou aproveitar, vou comer, vou dançar... Toda linda!

MONA VAI ATÉ CÁTIA CUMPRIMENTÁ-LA. NICOLAU OLHA PELA JANELA

E VÊ UM CARRÃO PARANDO NA FRENTE DA CASA.

NICOLAU — Carrão! Eu acho que é a Dra. Samira, tio...

PEDRO — O que? Ela veio mesmo?

BATIDAS NA PORTA. PEDRO ABRE. REVELA-SE SAMIRA, DESLUMBRANTE,

COM UM VESTIDO PRETO E BÁSICO, SALTO ALTO. SORRI PARA PEDRO.

ELE SE ENCANTA.

PEDRO — Não to acreditando que tu veio.

SAMIRA — Por quê? Não era pra vim? (RI)

PEDRO — Não. Claro que era, mas é que eu nunca poderia

imaginar que cê viria na festa. Sei lá. A gente se conheceu

hoje, né.

SAMIRA — Não vai me convidar pra entrar?

PEDRO — Claro.

SAMIRA ENTRA. PEDRO OLHA PARA ELA.

SAMIRA — Meus amigos sempre falaram que eu sou “mestra” em

fazer amizades. E não é que eles tinham razão?!

SAMIRA E PEDRO SORRIEM UM PARA O OUTRO. CORTA PARA:

CENA 23. MANSÃO DE RONALDO. QUARTO DE RONALDO E LEONORA.

INTERIOR. NOITE.

SONOPLASTIA: SÓ LOUCO – NANA CAYMMI (INSTRUMENTAL)

LEONORA DEITADA EM SUA CAMA, SOLITÁRIA. A CAM NOS MOSTRA SEU

SOFRIMENTO ESTAMPADO EM SEU SEMBLANTE. ELA PÕE A MÃO NO

PEITO, ASSUSTADA.

LEONORA — Ai, que sensação ruim...

CLOSE NELA. SONOPLASTIA OFF. CORTA PARA:

CENA 24. MANSÃO DE RONALDO. SALA DE ESTAR. INTERIOR. NOITE.


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SONOPLASTIA: INSTRUMENTAL PIANO.

RONALDO VEM DA COZINHA. LEONORA DESCE AS ESCADAS. ELE

ESTRANHA.

RONALDO — Que foi? Tá sentindo alguma coisa?

LEONORA — Eu to com um pressentimento ruim, Ronaldo. E você

sabe como são esses meus pressentimentos...

RONALDO — (PREOCUPADO) Quer uma água? Alguma coisa?

LEONORA — Eu preciso falar com o meu filho... Eu só vou ficar bem

quando eu falar com o Nicolau.

EM LEONORA. CORTA PARA:

CENA 25. APTO DE APARECIDA E JORGE. QUARTO DE APARECIDA E

JORGE. INTERIOR. NOITE.

APARECIDA AJOELHADA EM FRENTE A UMA PRATELEIRA DE SANTOS.

REZA.

APARECIDA — (SUSSURRA) Ave Maria, cheia de graça, o Senhor é

convosco. Bendita sois vós entre as mulheres e bendito é o

fruto do vosso ventre, Jesus... Santa Maria, mãe de Deus...

APARECIDA CONTINUA REZANDO. CORTA PARA:


SLOW MOTION: NICOLAU ABRAÇA PEDRO. TEMPO. PEGA SUA MALA NO

CHÃO. SE DESPEDE DE CÁTIA E SAI DO LOCAL. CORTE IMEDIATO PARA:

CENA 27. RUA. FAVELA. EM FRENTE A CASA DE CÁTIA. EXTERIOR.

NOITE.

SLOW MOTION: NICOLAU ENTRA EM UM CARRO. ARRANCA E SEGUE

CAMINHO. CORTA PARA:


LEONORA CHORANDO. RONALDO TENTA CONSOLÁ-LA.


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LEONORA — Tá acontecendo alguma coisa com o meu filho,

Ronaldo. (T/VOZ EMBARGADA) Eu preciso salvar o

meu filho!

NELES, ABRAÇADOS. CORTA PARA:



APARECIDA CONTINUA REZANDO. ACENDE UMA VELA. JORGE APARECE

NA PORTA. AOS POUCOS A CAM VAI DESFOCANDO E MOSTRANDO ELE

PARADO LÁ.

JORGE — Tá acontecendo alguma coisa, Aparecida?

APARECIDA SE VIRA PARA JORGE COM OS OLHOS LACRIMEJADOS. A

VELA SE APAGA. FADE OUT.

CENA 30. CANAL. EXTERIOR. NOITE.

VÁRIAS LANCHAS E BARCOS PARADOS POR ALI. VEMOS NICOLAU

ANDANDO FIRME ATÉ UM HOMEM DE PRETO QUE O ESPERA PERTO DE

UMA DAS LANCHAS. CHEGA ATÉ ELE. ENCARA O HOMEM.

HOMEM# — Tá tudo no esquema. Trouxe um revólver pra tu se

proteger caso alguém queira fazer graça contigo.

O HOMEM# ENTREGA A ARMA PARA NICOLAU.

NICOLAU — E essa lancha? É segura?

HOMEM# — Mandei uns caras conferirem e tá tudo numa boa. Fica

tranquilo que nada vai acontecer contigo, parceiro.

NICOLAU ENCARA O HOMEM. VEMOS ELE ENTRANDO NA LANCHA. A

LANCHA SEGUE. CORTA PARA:


TODOS DANÇANDO. A CAM MOSTRA SAMIRA E PEDRO BEM

ENTROSADOS, DANÇANDO JUNTOS. CLOSE NELES, QUE FICAM BEM

PERTO E ACABAM SE BEIJANDO. CORTA PARA:

CENA 32. CANAL. EXTERIOR. NOITE.


20

O HOMEM# OBSERVA A LANCHA QUE SEGUE CAMINHO, UNS 100 METROS

LONGE DO CANAL. BARULHO DE BATIDAS DE CORAÇÃO. A LANCHA

EXPLODE NO MEIO DO MAR. O HOMEM# SE DESESPERA. PÕE A MÃO NA

CABEÇA. CORTE RÁPIDO PARA:


PEDRO ARREGALA OS OLHOS E PARA DE DANÇAR. PÕE A MÃO NO PEITO.

SAMIRA TENTA FALAR COM ELE, MAS FICA INCOMUNICÁVEL. CORTE

IMEDIATO PARA:


LEONORA E RONALDO SENTADOS NO SOFÁ ABRAÇADOS. LEONORA

CHORA DESESPERADAMENTE. ARREGALA OS OLHOS E DESMAIA.

RONALDO SE DESESPERA.

RONALDO — Leonora... Fala comigo, Leonora!

RONALDO SE LEVANTA RAPIDAMENTE, PEGA O TELEFONE E DISCA.

RONALDO — (TEL.) Uma ambulância, por favor! Urgente!

CLOSES ALTERNADOS ENTRE RONALDO E LEONORA, DESMAIADA NO

SOFÁ. CORTA PARA:



APARECIDA DEITADA NA CAMA. JORGE DORMINDO. OUVIMOS O SEU

RONCO. CLOSE EM APARECIDA QUE CHORA SILENCIOSAMENTE. CORTA

PARA:


PEDRO OLHA PARA SAMIRA, PÁLIDO, PREOCUPADO.

PEDRO — Eu preciso ver o Nicolau. Eu preciso ver o meu

sobrinho!

PEDRO DEIXA SAMIRA E VAI EM DIREÇÃO A PORTA RAPIDAMENTE.

SAMIRA VAI ATRÁS DELE.

SAMIRA — Espera... Eu vou com você!


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SAMIRA E PEDRO SAEM DALI. CORTA PARA:

CENA 37. CASA DE AMIR. BANHEIRO. INTERIOR. NOITE.

MARCELA SENTADA NO VASO. ELA SE LEVANTA E AO PUXAR A

DESCARGA VÊ QUE TEM SANGUE EM SUA URINA. SE DESESPERA. PÕE A

MÃO NA BOCA. CLOSE NELA, QUE TREME. CORTA PARA:

CENA 38. CANAL. INTERIOR. NOITE.

VÁRIAS PESSOAS REUNIDAS ALI. FOFOCA ROLANDO ENTRE AS PESSOAS

PRESENTES. PEDRO SE APROXIMA DO HOMEM# RAPIDAMENTE COM

SAMIRA. NERVOSO, ELE PEGA O HOMEM# PELO COLARINHO.

PEDRO — Cadê o Nicolau? (GRITA) Cadê o meu sobrinho,

porra?!

HOMEM# — Eu sinto muito, Bala. Eu não sei o que aconteceu. Eu...

Eu juro que eu olhei a lancha, que os caras olharam a

lancha, mas... A lancha explodiu!

SAMIRA PÕE A MÃO NA BOCA. PEDRO PÕE AS MÃOS NA CABEÇA.

ATORDOADO.

PEDRO — (OFF) Agora eu preciso da tua ajuda, Nicolau! A gente

vai encontrar quem fez isso com a Preta. Eu e você! A

partir de agora eu começo a fazer o meu sucessor (T)

Nicolau Bala!

PEDRO CHORA DESESPERADAMENTE E SE AJOELHA NO CHÃO. SAMIRA

TENTA CONSOLÁ-LO.

PEDRO — (GRITA) NÃAAAAAAAAAAAAAAO!

FADE OUT.

SOBE OS CRÉDITOS AO SOM DE POR NÓS – CLASSE A

FIM DO CAPÍTULO

escrito por “BASEADA EM FATOS REAIS”

JOÃO CARVALHO


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direção de

LUCAS LUCIANO

central megapro capítulo 7 · paradas aí e eu preciso que ... nem vão se ligar que tu tá indo...

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