cenografia - análise do estilo e obra do cenógrafo português artur pinheiro

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Design de Ambientes Cenografia 2011/2012 3º Ano 5º Semestre Docente: Henrique Ralheta Discente: Deise Costa 3080085 Janeiro/2012

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Page 1: Cenografia - Análise do estilo e obra do cenógrafo Português Artur Pinheiro

Design de Ambientes

Cenografia

2011/2012 – 3º Ano – 5º Semestre

Docente:

Henrique Ralheta

Discente:

Deise Costa – 3080085

Janeiro/2012

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Introdução:

O presente trabalho foi realizado no âmbito da unidade curricular de Cenografia do curso de

Design de Ambientes do 3º ano 2011/2012 do Instituto Politécnico de Leiria – Escola

Superior de Artes e Design, por Deise Costa nº 3080085 tendo por objetivo desenvolver uma

investigação pormenorizada acerca do Cenógrafo Português Artur Pinheiro e respectiva

análise de suas obras cenográficas nomeadamente as peças teatrais “Duração de um

Minuto”(Clara Andermatt e Marco Martins), “Num dia Igual aos Outros”(Marco Martins) e

“Maior” (Clara Andermatt/ Companhia Maior), bem como todo desenvolvimento inerente a

execução de seus projetos cenográficos e toda a sua envolvência.

Além da pesquisa pela internet, foi realizada com o próprio Cenógrafo uma entrevista com

cerca de 24 perguntas abertas, que o permitiu responder explicativamente o processo que

envolve seu trabalho como cenógrafo. Alem disso, o cenógrafo compartilhou parte da sua

experiência, cedendo algumas informações preciosas que de outra forma seria quase

impossível de obtê-las, visto que há escassez de informação acerca do mesmo seja em livros

seja na web. O percurso e trabalhos desenvolvidos pelo Cenografo Artur Pinheiro permitiu-

me conhecer as técnicas aplicadas na execução dos seus projetos e pormenores importantes

que envolvem a criação de sua cenografia.

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O Cenógrafo Artur Pinheiro nasceu em Lisboa em 1972. Desde miúdo seu hobby era fazer

construções e desenhar casas. Gostava de ser Arquiteto.

Em 1990 concluiu o curso Técnico – Profissional de Artes Gráficas na Escola António

Arroio. Em 1993 Terminou o Bacharelato em realização Plástica do Espetáculo na Escola

Superior de Teatro e Cinema do IPL.

Seu percurso iniciou-se como Designer Gráfico em regime de freelancer. Rapidamente,

segundo o próprio, começou a trabalhar em Teatro, Ópera e Cinema deixando para traz as

Artes Gráficas.

O inicio da carreira de um profissional em qualquer área geralmente não é fácil, e para quem

esta relacionado as Artes muito menos, por isso muitas vezes é preciso estar bastante

acessível a oportunidades que surjam quer seja fora da área quer seja na própria área em

atividades secundárias ou até através de postos de trabalho muito próximos daquilo que se

espera alcançar futuramente, até que surja a oportunidade para se estar onde realmente se

deseja.

No caso do cenógrafo Artur Pinheiro os primeiros anos após a ESTC foram de aprendizagem

prática, começando como Pintor e Carpinteiro, evoluindo para assistente de decoração e

aderecista de Plateau ou aderecista de cena que é o “profissional responsável segundo a

orientação do decorador, cenógrafo ou aderecista chefe pela colocação e remoção de todos

os adereços necessário na cena do produto audiovisual a ser realizado, sendo da sua

responsabilidade reunir e devolver os que hajam sido obtidos por empréstimo ou aluguer,

assegura a vigilância e o emprego dos acessórios e moveis que figuram na decoração”,

segundo a página do Centro Profissional de Setor Áudio Visual (CPAV).

Essa importante experiência adquirida permitiu ao Cenógrafo a sensibilidade para organizar

seu método de trabalho através de imperativos cronológicos, isto é por já conhecer os timings

e materiais das outras funções, por já as terem desempenhado (aderecistas, pintores,

carpinteiro), consegue gerir de maneira bastante otimizada os projetos e vai avançando em

função dos prazos.

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Uma particularidade do cenógrafo é que o mesmo sente que sob pressão consegue dar mais de

si produzindo melhores trabalhos e obtendo melhores resultados. Sendo assim sua

metodologia normal segue os seguintes parâmetros:

Leitura /análise do projeto;

Recolha de referências;

Estudos/desenhos;

Maquetas físicas e/ou 3d;

Desenhos técnicos;

Produção e Montagem.

No caso do Cenógrafo Artur Pinheiro o Briefing é elemento essencial, pois é a parti dele que

se poderá verificar a ideia central do encenador, o provável sucesso /fracasso da peça, e se é

realmente viável aceitar desenvolver o trabalho/projeto. A análise do Briefing constitui fator

fundamental para decisão de aceitar ou não determinado Projeto. Outro ponto importante para

bastante considerado em seus projetos é a questão da flexibilidade do encenador, a

possibilidade de realizar certas alterações imprescindíveis para um melhor resultado final, isto

é, caso o encenador seja demasiado fechado e nunca considere outras ideias propostas, prefere

abandonar o projeto por divergências inconciliáveis.

Normalmente o Cenógrafo Artur Pinheiro está sempre a desenhar, esboçando ideias que

surjam diariamente. O desenho lhe serve como uma fonte de inspiração fundamental. E é a

partir dos esboços que determina uma idéia, apresenta ao encenador/realizador/Criador e em

seguida faz o 3D, maquetas e outros. O cenógrafo considera que o desenho é a forma mais

límpida da expressão das suas ideias. Segundo Artur Pinheiro: “ o lado artesanal e manual do

desenho, expressão e erro do traço é inigualável”. Os outros recursos como CAD ou software

3D podem( e fazem) fazer parte do projeto, mas num plano mais secundário, o protagonista

aqui é o Desenho Manual.

Porém a informática não deixa de ser um elemento fundamental para qualquer Profissional e

no caso do Cenógrafo tem um papel de importância fundamental quando refere-se a

apresentação do seu trabalho e seu perfil profissional. Nessas ocasiões, o Cenógrafo recorre

ao dossier, criando um Portfolio bem apresentável com qualidade gráfica, apelativo,

descritivo e coerente que defina suas qualidades e capacidades. O portfolio reflete a

identidade do Cenógrafo, por isso ele considera de grande importância sua qualidade gráfica.

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Em 2001 surgiu o primeiro convite para direção artística de um Telefilme para a SIC “Anjo

Caído” de Jorge Ferreira da Costa. Seguiu-se Decoração de uma Série para a RTP “Sociedade

Anónima” de Jorge Paixão da Costa. Depois destas duas experiências optou pela Direção de

Arte em Filme Publicitário, colaborando estreitamente com Marco Martins e sua Produtora

Ministério dos Filmes durante 3 anos.

A parti de 2004 realizou Direção Artística de Vários Projetos dos quais destaca-se “Alice” e “

Como Desenhar um Circulo Perfeito” ambos de Marcos Martins e “República” uma

minissérie histórica de Jorge Paixão da Costa.

Em Publicidade, criou parcerias com realizadores estrangeiros de renome como Vaughan

Arnell, Ivan Bird, Flora Sigismond e Gerard de Thame.

Nos últimos tempos retornou ao Teatro assinando a Cenografia e Espaço Cénico de alguns

Projetos dos quais destaca-se “ Num dia Igual aos Outros” encenado por Marco Martins e

Duração de um minuto de Clara Andermatte /Marco Martins e “Maior de Clara Andermatt

/Companhia Maior.

“Maior” refere-se a uma proposta em que a experiência, a sabedoria, e a vulnerabilidade de

quem nasceu na primeira metade do Sec. XX são trabalhadas como veículo do belo na relação

dos corpos com os objetos e os sons tendo como suporte dramatúrgicos textos dos próprios

intérpretes.

Em “Maior” as personagens encontram-se fechadas num espaço sem referência, branco,

vazio, com clareza máxima e intemporal: Um espaço despido para que cada ação possa ser

ampliada e pormenorizada de modo que a improvisação dos atores possa dar corpo a peça

teatral.

Quando o entrevistei a Cenografia da Peça Maior estava em execução, fato que impediu ao

cenógrafo tecer comentário mais profundo e falar mais sobre o feedback do seu trabalho,

contudo através das características da idéia e do que se pretedia considero que de forma

bastante, simples e minimalista o Cenógrafo conseguiu reproduzir o espaço ideal para o

desenvolvimento da peça, através de peças lineares, espaços amplos e enfatizando a

monocromia.

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“Maior “de Clara Andermatt/ Companhia Maior

Para Artur Pinheiro no desenvolvimento de um projeto é importante não ter ideias pré

concebidas, nem estar limitado a experiências anteriores e explorar vários pontos de vista

antes de escolher a idéia chave que deseja seguir.

Atualmente o Cenógrafo Artur Pinheiro trabalha tanto com filmes publicitários quanto com

teatro, áreas estas distintas e que tem um time-frame diferentes, portanto considera importante

2 semanas de antecedência para desenvolvimento de um Projeto Publicitário e 2 meses para

Teatro. Para o Cenógrafo os prazos são de suma importância para realização de um bom

trabalho.

Quando falamos em projetos um dos fatores que me vêem a cabeça é acerca dos recursos

financeiros. Como ter a disponibilidade financeira suficiente para desenvolvimento de um

determinado projeto. Mas para o Cenógrafo Artur Pinheiro esse nunca foi um fator limitador

pois até o presente momento nunca recorreu a patrocinadores, geralmente os trabalhos que

tem vindo a desenvolver já possui verba destinada àquele fim, por isso não domina o assunto

e pouco sabe sobre seu funcionamento (no que diz respeito a patrocinadores). Isto é o dinheiro

nunca foi uma barreira para seus projetos, contudo Para o cenógrafo a questão da

sustentabilidade económica acontece quase que imperceptivelmente pelo fator limitativo das

verbas que dispõe para desenvolvimento de determinados trabalhos, é preciso adaptar o

projeto ao recurso financeiro disponível. Por outro lado, a sustentabilidade ecológica no

âmbito dos filmes publicitários e do teatro são pouco relevantes, porém pessoalmente o

Cenógrafo considera “obsceno o desperdício e luta para que isso não aconteça pelo menos nos

meus projetos” Artur Pinheiro.

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E o que dizer acerca da envolvência dos atores no trabalho do cenógrafo Artur Pinheiro. Bom

pelo que pude perceber, essa envolvência é pouca e limitada pois durante a evolução do

trabalho, as informações disponibilizadas aos mesmo são de certa forma controladas pelo

encenador. Segundo o Cenógrafo isso acontece pelo fato de as vezes os Criadores gerirem e

controlarem os Atores através da gestão de informação que lhe são passadas. O saber demais

por parte dos atores pode interferir na sua atuação, portanto só quando a intervenção é algo

que interfere na representação ou adereços é que se discute em conjunto, caso contrário os

Atores limitam-se a explorar o espaço após a intervenção do Cenógrafo no período de ensaios

e experimentação e na altura da representação propriamente dita. Sendo a Cenografia um fator

importante que interfere sempre muito diretamente no espetáculo, o Cenógrafo considera

necessário que em aproximadamente uma semana de antecedência os Atores possam testar o

cenário, sendo este o tempo suficiente e normalmente disponível, pois no teatro os prazos são

bastante limitados.

Normalmente o Cenógrafo inicia o trabalho sozinho porém considera importante a

multidisciplinaridade, o que acontece em parceria com os colaboradores necessários a

execução do projeto e em conjunto com outras áreas criativas nomeadamente Iluminação,

Fotografia (Filmes) e Figurinos. No que se refere a materiais, em seus projetos utiliza

usualmente luzes de LED para criar linha de luz, sendo a Madeira é o material principal em

todos os seus projetos. Atualmente os muitos elementos cenográficos não necessariamente

constituem elementos básicos para criação de um bom cenário, é preciso muita habilidade,

versatilidade e uma boa dose de reinvenção. Particularmente interessa-me os cenários

criativos, minimalistas, desconstruídos e ou até reconstruídos aparti de improváveis materiais,

que nos permite imaginar, criar e “entrar” para a Peça numa envolvência bastante pessoal.

No desenvolvimento dos projetos do Cenógrafo não há uma linha pré determinante que se

deva seguir, cada projeto é um projeto, mas o rigor e o serviço devem ser fatores essenciais e

deve se adequar ao fim a que se propõe. A cenografia pode ser simples e funcional, não

interessa ser fabulosa e pouco funcional.

No trabalho do Cenógrafo Artur Pinheiro, a abordagem dos diferentes espaços é uma

condicionante e um fator a gerir, por exemplo na Peça “Num dia Igual aos Outros” o cenário

foi criado para o Teatro D. Maria II e o público iria estar muito próximo, como o encenador

não tencionava repetir o espetáculo noutros teatros, o cenógrafo criou o espaço só a pensar

na envolvência e proximidade do público. Como resultado a sala onde decorre toda a cena

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estende-se as laterais da plateia e o teto composto por barrotes de madeira que pairam sobre o

espetáculo.

1º Esboço para cenografia da peça

Edição em Photoshop

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Desenho final da cenografia

Maqueta baseada em Desenhos técnicos

Cenografia Final

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No recente espetáculo “ Maior” de Clara Andermatt /Companhia Maior o fator determinante

da cenografia é a sua adaptação em diferentes tipos de espaço, seu transporte e montagens,

por isso foi preciso algumas cedências criativas por parte do Cenógrafo, porém o mesmo

considera que conseguiu chegar a uma cenografia equilibrada, porem só a parti de Janeiro é

que poderemos constatar o trabalho final que é quando estreia o espetáculo.

O volume de trabalho do Cenógrafo Artur Pinheiro é em media 2 cenografias por ano, pois

atualmente a função de cenografia é secundaria, sendo a Direção Artistica dos filmes

publicitários a sua função principal contabilizando em media 1 filme a cada 2 semanas, o que

consiste num elevado volume de trabalho/mes.

Mas a futura intenção do Cenógrafo é remeter a Direção Artística para segundo plano e ter a

cenografia sua função principal, o que também considera uma decisão arriscada nos tempos

que se avizinham.

Um outro trabalho de importante relevância é a Peça “Duração de um minuto “de Clara

Andermatt e Marco Martins.

Em “Durações de Um Minuto” a peça reflete sobre a forma como cada minuto é “consumido”

na vida de cada um de nós, como as pessoas tendem a relacionar-se tanto com o tempo quanto

com as memórias e realiza experiencias sobre o tempo e com o tempo. Com um plano de

fundo recheado de caixas de sonos Retrô e algum mobiliário de cor neutra espalhado por um

Espaço Preto permite aos atores de varias faixa etárias a desempenhar seu papel seja a

carregar um elemento do cenário seja a patinar auxiliado por jogos de luzes que remete as

diferenças do tempo.

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Conclusão:

Após a realização desse trabalho é possível compreender a extrema importância do

Planeamento e da elaboração de métodos e parâmetros organizacionais para desenvolvimento

de um projeto Cenográfico.

O Cenógrafo Artur Pinheiro é um profissional que se dedica por inteiro aquilo que faz. O

resultado dos seus trabalhos é reflexo de uma forma coerente e organizada de se trabalhar a

fim de alcançar o cumprimento das metas pré estabelecidas. Adaptar o projeto ao recurso

financeiro disponível, refletir a ideia do encenador, não é tarefa fácil. O espaço concebido

pelo cenógrafo é de tal forma importante que determina o quanto o público irá ou não

perceber a real mensagem da Peça. Daí a importância de um trabalho equilibrado, em

conjunto com o encenador e que possa permitir que os atores desenvolva seu papel permitindo

e possibilitando a plenitude da percepção do texto pelo público.

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Referências Web gráficas:

http://web.mac.com/art.pinheiro/Artur_Pinheiro/Artur_Pinheiro.html

em 2011.12.27 as 00:58hs

http://www.cpav.pt/profissoes.html

em 02.01.2012

http://www.teatrosaoluiz.pt/catalogo/detalhes_produto.php?id=204

em 2012.01.03 as 18:00hs

http://www.youtube.com/watch?v=rmJiczNjouA

em 2012.01.03 as 19:43

http://www.youtube.com/watch?v=5vxNFyX5LFI em 2011.12.05 as 19:00hs

http://www.youtube.com/watch?v=NBiWQ2UaP4I

em 2011.12.05 as 17:00hs