cenários do acre versão final
Post on 19-Oct-2014
1.076 views
DESCRIPTION
TRANSCRIPT
Coordenação Geral
Superintendência de Planejamento da Expansão
João Neves Teixeira Filho
Coordenação Executiva
Gerência de Estudos e Projeção de Mercado
José Sarto Souza
Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A - ELETRONORTE
D Diretoria de Planejamento e Engenharia – DE
Superintendência de Planejamento da Expansão - EPE
Gerência de Estudos e Projeção de Mercado - EPEM
CENÁRIOS MACROECONÔMICOS
PARA O ESTADO DO ACRE
2007 – 2027
Versão Técnica
Maio de 2008
SCN Quadra 06, Conjunto “A”, Bloco “B”, Entrada Norte 2 Asa Norte – Brasília/DF
e-mail: [email protected] www.eln.gov.br
Ministério de Minas e Energia
Centrais Elétricas Brasileiras ELETROBRÁS
Centrais Elétricas do Norte do Brasil S/A – ELETRONORTE
Ministro Edison Lobão Presidente José Antônio Muniz Lopes Diretor Administrativo Miguel Colasuonno Diretor de Engenharia Valter Luiz Cardeal de Souza Diretor Financeiro Astrogildo Fraguglia Quental Diretor de Projetos Especiais Desenvolvimento Tecnológico e Industrial Ubirajara Rocha Meira Conselho de Administração Astrogildo Fraguglia Quental - Presidente Jorge Nassar Palmeira Túlio Neiva Rizzo Luiz Alberto dos Santos Wandermilson Jesus Garcez de Azevedo Diretor Presidente Jorge Nassar Palmeira Diretor de Gestão Corporativa Manoel Nazareth Santanna Ribeiro Diretor Econômico Financeiro Antônio Maria Amorim Barra Diretor de Produção e Comercialização Wady Charone Júnior Diretor de Planejamento e Engenharia Adhemar Palocci
Apresentação
APRESENTAÇÃO
A Eletronorte apresenta o relatório final dos Cenários Macroeconômicos do
Estado do Acre 2007 – 2027, trabalho que historicamente, a empresa vem realizando
sobre a Amazônia, visando embasar suas projeções de demanda de energia elétrica e
suas decisões estratégicas e de investimentos.
O primeiro estudo de cenários para Amazônia foi realizado em 1988, e retomado
dez anos mais tarde, com o segundo e terceiro estudos subseqüentes, em 1998 e 2000.
Já durante o ano de 2005 foi realizado o estudo dos Cenários Macroeconômicos para a
Amazônia 2005-2025. E em 2006 foram realizados os cenários para os Estados do
Amazonas e Pará.
Considerando que a projeção da demanda de energia elétrica é o início de todo o
processo de planejamento, a Eletronorte, por meio da Diretoria de Planejamento e
Engenharia, continua realizando estudos prospectivos, antecipando cenários futuros
para subsidiar decisões e ações do presente.
O Ciclo de planejamento energético 2008 – 2018 inicia-se com a edição de mais
três estudos de cenários macroeconômicos estaduais: Acre, Maranhão e Rondônia,
elaborados pela Eletronorte e parceiros estaduais, seguindo a estratégia de conhecer as
potencialidades e os fatos portadores de futuro dos Estados.
Para a realização do estudo no Acre durante o ano de 2007, a Eletronorte contou
com a participação de instituições representativas do governo e empresas estaduais e
de instituições do Governo Federal, entre as quais destacamos: as Secretarias de
Estado SEFAZ e SEMA, ELETROBRÁS, EPE, Banco da Amazônia, ELETROACRE,
FUNTAC, FIEAC, AGEAC e FECOMERCIO, entre outras instituições e órgãos de
classe.
Os estudos de Cenários Macroeconômicos para os Estados do Acre, do
Maranhão e de Rondônia concretizam uma importante contribuição da Eletronorte para
o planejamento governamental, balizando as futuras ações em nível Federal e Estadual,
a fim de contribuir para o desenvolvimento sustentável da região amazônica e de seus
Estados.
Com esses trabalhos, a Eletronorte reafirma a importância da integração cada
vez maior entre os atores relevantes da região, do Acre, do Maranhão e de Rondônia
envolvidos no planejamento de todos os setores e mais especificamente do setor
elétrico. Buscou-se também a otimização permanente dos serviços oferecidos, para que
a qualidade do insumo energia elétrica seja fator de sustentação do desenvolvimento
Apresentação A
presentação Apresentação
regional e nacional e de uma condição efetiva de inclusão social, pela universalização
do acesso a esse bem comum.
Finalmente agradecemos a todas as instituições que fizeram parte da equipe e
aos técnicos que com tanta dedicação desenvolveram mais este importante instrumento
para o planejamento energético do Estado.
Adhemar Palocci
Diretor de Planejamento e Engenharia da Eletronorte
Sumário
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................. 9
2. CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS ......................... ....................................................................... 11
2.1. METODOLOGIA DE CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS ........................................................................ 12
3. ANÁLISE RETROSPECTIVA E DIAGNÓSTICO ............ .......................................................... 16
3.1 TERRITÓRIO E DEMOGRAFIA .......................................................................................................... 17 3.2 ECONOMIA ......................................................................................................................................... 21
3.2.1 Setor Comercial ............................................................................................................ 23 3.2.2 Setor Industrial .............................................................................................................. 26 3.2.3 Setor Pecuário .............................................................................................................. 27 3.2.4 Setor Agrícola ............................................................................................................... 30 3.2.5 Setor Florestal ............................................................................................................... 32 3.2.6 Setor de Turismo .......................................................................................................... 36 3.2.7 Emprego Formal ........................................................................................................... 37 3.2.8 Finanças Públicas ......................................................................................................... 39
3.3 INFRA-ESTRUTURA ........................................................................................................................... 40 3.3.1 Logística de Transportes .............................................................................................. 41 3.3.2 Telecomunicações ........................................................................................................ 43 3.3.3 Energia Elétrica ............................................................................................................. 44
3.4 MEIO AMBIENTE ................................................................................................................................ 47 3.5 DIMENSÃO SOCIAL / SOCIEDADE ................................................................................................... 51
4. CENÁRIOS ALTERNATIVOS .......................... .......................................................................... 57
4.2. CONDICIONANTES DE FUTURO ................................................................................................................. 58 4.2.2 Condicionantes de Baixo Impacto/Incerteza ................................................................ 67
4.4. CENA DE PARTIDA ................................................................................................................................. 70 4.5. CENÁRIO A – ACRE INTEGRAÇÃO SUSTENTÁVEL ....................................................................................... 73 4.6. CENÁRIO B – ACRE INTEGRAÇÃO SELETIVA ............................................................................................. 76 4.7. CENÁRIO C – ACRE INTEGRAÇÃO CONCENTRADA ..................................................................................... 78 4.8. CENÁRIO D – ACRE INTEGRAÇÃO VULNERÁVEL ........................................................................................ 81
5. TRAJETÓRIA DE REFERÊNCIA ....................... ....................................................................... 84
5.1. CENAS ............................................................................................................................................... 85 5.1.1. Cena 1 – 2008 a 2011 ................................................................................................. 85 5.1.2. Cena 2 – 2012 a 2020 ................................................................................................. 88 5.1.3. Cena 3 – 2021 a 2027 ................................................................................................. 92
REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS ........................ ...................................................................... 95
ANEXOS ........................................................................................................................................ 97
Índice de Tabelas e Quadros
FIGURA 2.1 - FONTES BÁSICAS DE INFORMAÇÃO PARA UM ESTUDO DE CENÁRIOS .................................... 14
FIGURA 2.2 - DIAGRAMA DA UTILIZAÇÃO DOS ESTUDOS DE CENÁRIOS NO PLANEJAMENTO ........................ 15
TABELA 3.1 - INDICADORES POPULACIONAIS DOS ESTADOS DA AMAZÔNIA LEGAL E BRASIL ....................... 18
TABELA 3.2 – DEMOGRAFIA NO ACRE E REGIÃO NORTE ......................................................................... 19
FIGURA 3.1 – DIVISÃO TERRITORIAL POR MESORREGIÕES, REGIONAIS E MUNICÍPIOS DO ACRE ................... 19
TABELA 3.3 - PRODUTO INTERNO BRUTO DO ESTADO DO ACRE, 2002 – 2005 ......................................... 21
TABELA 3.4 - PARTICIPAÇÃO DAS ATIVIDADES ECONÔMICAS NO VALOR ADICIONADO BRUTO (%) ................. 22
TABELA 3.5 - BALANÇA COMERCIAL DO ESTADO DO ACRE, 2002 – 2007 ................................................. 24
TABELA 3.6 - EXPORTAÇÃO ACREANA POR FATOR AGREGADO ................................................................ 24
TABELA 3.7 - PRINCIPAIS PAÍSES DE DESTINO DAS EXPORTAÇÕES ACREANAS, 2006 – 2007 ..................... 25
TABELA 3.8 - PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS PELO ACRE .............................................................. 25
TABELA 3.9 - EFETIVO E ABATE DO REBANHO BOVINO ............................................................................ 29
TABELA 3.10 - LEITE CRU OU RESFRIADO ADQUIRIDO .............................................................................. 30
TABELA 3.11 - PRODUÇÃO DE AVES NO ACRE, NA AMAZÔNIA LEGAL E NO BRASIL ..................................... 30
TABELA 3.12 - LAVOURA PERMANENTE SEGUNDO A QUANTIDADE PRODUZIDA ........................................... 32
TABELA 3.13 - LAVOURAS TEMPORÁRIAS DO ACRE ................................................................................ 32
TABELA 3.14 - QUANTIDADE PRODUZIDA DE MADEIRA EM TORA .............................................................. 33
TABELA 3.15 - QUANTIDADE PRODUZIDA E VALOR DA PRODUÇÃO DOS PRINCIPAIS PRODUTOS EXTRATIVOS 35
TABELA 3.17 - DISTRIBUIÇÃO ECONÔMICA DA POPULAÇÃO (MIL PESSOAS) ............................................... 37
TABELA 3.18 - PESSOAS OCUPADAS POR SETOR DE ATIVIDADES .............................................................. 38
TABELA 3.19 - NÚMERO DE EMPREGOS FORMAIS POR ATIVIDADE ECONÔMICA .......................................... 38
TABELA 3.20 - BALANÇO ORÇAMENTÁRIO ESTADUAL – RECEITAS ........................................................... 39
FIGURA 3.2 – RECEITA ARRECADADA POR FONTE DO ESTADO DO ACRE ................................................... 40
TABELA 3.21 - BALANÇO ORÇAMENTÁRIO ESTADUAL DAS DESPESAS ...................................................... 40
TABELA 3.22 - EXTENSÃO DAS REDES RODOVIÁRIAS, POR SITUAÇÃO E TIPO DE LEITO - 2005 ..................... 42
TABELA 3.23 - PORTOS DO ESTADO, SEGUNDO SUA LOCALIZAÇÃO - 2005 ................................................ 43
TABELA 3.24 - NÚMERO DE TELEFONES FIXOS E PÚBLICOS POR MUNICÍPIO ............................................... 44
TABELA 3.26 - PROGRAMAS LUZ NO CAMPO, LUZ PARA TODOS E PRODEEM ........................................ 47
FIGURA 3.3 - MAPA SISTEMA ESTADUAL DE INFORMAÇÕES AMBIENTAIS – ÁREAS NATURAIS PROTEGIDAS . 49
TABELA 3.27 - TAXA ANUAL DE DESMATAMENTO ..................................................................................... 49
TABELA 3.28 - MÉDIA EDUCAÇÃO BÁSICA ACRE / BRASIL ....................................................................... 51
TABELA 3.29 - DADOS GERAIS DA EDUCAÇÃO BÁSICA ............................................................................. 52
TABELA 3.30 - DADOS GERAIS DA EDUCAÇÃO SUPERIOR NO ESTADO ....................................................... 53
TABELA 3.30 - TAXA DE MORTALIDADE INFANTIL (MENORES DE 1 ANO) ..................................................... 54
TABELA 3.31 - INDICADORES DE MORTALIDADE E RECURSOS DISPONÍVEIS ............................................... 54
TABELA 3.32 - DEMONSTRATIVO DE LEITOS EXISTENTES – 2007 ............................................................. 55
TABELA 3.33 – ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO POR UF - (IDHM) .............................................. 55
TABELA 3.34 - PERCENTUAL DE COBERTURA DE SERVIÇOS BÁSICOS ...................................................... 56
TABELA 3.35 - TAXA DE COBERTURA DE SERVIÇOS BÁSICOS - AMAZÔNIA LEGAL ..................................... 56
QUADRO 4.1 - MATRIZ IMPACTO X INCERTEZA ....................................................................................... 57
9
Introdução 1. INTRODUÇÃO
O objetivo central deste estudo dos Cenários Macroeconômicos para o Estado
do Acre é a prospecção do futuro socioeconômico do Estado, com vistas à construção
de cenários alternativos para o planejamento da demanda de energia elétrica do Estado,
no horizonte 2007 a 2027.
Os trabalhos para a elaboração deste estudo iniciaram formalmente em junho de
2007, quando a Diretoria de Planejamento e Engenharia da Eletronorte enviou
correspondência a diversas instituições do Estado convidando para integrarem a equipe
multidisciplinar que construiria os Cenários.
Durante a oficina preliminar de planejamento, realizada nos dias 02 a 05 de julho,
na sede da FIEAC - Federação das Indústrias do Estado do Acre foi realizado
treinamento da equipe na metodologia de desenho de cenários adotada pela
Eletronorte, bem como foram estabelecidos:
� Cronograma do trabalho;
� Termo de referência;
� Elenco de atores a serem entrevistados;
� Conjunto de temas para palestras de especialistas.
Nos meses de julho e outubro foram entrevistados os atores/instituições mais
relevantes, constantes do anexo “Entrevistas de Focalização”, versando sobre questões
fundamentais para o desenvolvimento econômico e social do Acre, tanto na formação do
atual momento, quanto aquelas de grande potencial no desenho do futuro do Estado.
Durante as duas oficinas de trabalho subseqüentes realizou-se um conjunto de
palestras com especialistas, constante do anexo “Palestras de Especialistas”, sobre
temas de importância central para o Acre, abrangendo questões como desenvolvimento
político-institucional do Estado, novas estratégias para o desenvolvimento da Amazônia
Brasileira e o Sudoeste Amazônico, prospecções econômicas da viabilidade para novos
negócios no Estado do Acre, entre outros.
A redação do texto final deste estudo coube à equipe da Eletronorte, por meio da
Gerência de Estudos e Projeção de Mercado (EPEM), o qual foi submetido ao conjunto
dos participantes da equipe de trabalho. Este documento é estruturado em cinco
capítulos; a saber:
� Capítulo 1 – Introdução;
� Capítulo 2 – Construção de Cenários;
� Capítulo 3 – Análise Retrospectiva e Diagnóstico;
10
Introdução
� Capítulo 4 – Cenários Alternativos;
� Capítulo 5 – Trajetória de Referência.
O capítulo 2 apresenta uma breve discussão da metodologia de estudos de
cenários adotada pela Eletronorte e utilizada para o desenvolvimento deste estudo.
O capítulo 3 discorre sobre o comportamento passado da economia do Acre,
buscando apreender os aspectos mais marcantes na conformação do seu momento
atual, e destacando aqueles de maior peso para o desenho do seu futuro.
O capítulo 4 expõe as variáveis de maior impacto no traçado do futuro do Acre,
evidenciando aquelas de maior incerteza quanto ao seu comportamento no horizonte do
estudo, e configura os quatro cenários puros – construídos a partir de hipóteses – a
saber:
� Cenário Acre Integração Sustentável;
� Cenário Acre Integração Seletiva;
� Cenário Acre Integração Concentrada;
� Cenário Acre Integração Vulnerável.
O capítulo 5 contém uma releitura dos cenários alternativos, procurando
assimilar o caminho mais evidente que poderá constituir a trajetória de referência para o
futuro do Estado, dentro do horizonte de 2007 a 2027.
Entre as fontes de informação para a construção de cenários, dentro da
metodologia adotada pela Eletronorte, encontram-se a pesquisa com atores chave, as
palestras ou entrevistas com especialistas em temas relevantes para o estudo, e a
equipe, denominada de cenaristas, que desenvolve o trabalho. Assim, este documento
contém ainda os seguintes anexos, a saber:
� Entrevistas de focalização;
� Palestras de especialistas.
� Equipe técnica e coordenação.
11
Metodologia
2. CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS
Cenário é uma descrição de um futuro possível, imaginável ou desejável para um
sistema e seu contexto, e o mapeamento do caminho ou trajetória que conecta este
futuro com a situação inicial deste sistema.
A construção de cenários consiste, portanto, no desenho de imagens de futuros,
cena por cena, e dos movimentos que ocorrem entre uma cena e outra, a partir da
combinação coerente de hipóteses sobre o comportamento do objeto de estudo.
É uma ferramenta que ajuda a explorar o futuro em um mundo de grandes
incertezas, estabelecendo uma sucessão lógica de eventos de modo que, partindo-se
do quadro presente, denominado cena de partida, enseja que se visualize como chegar,
passo a passo, a uma situação futura.
Vale destacar que o propósito de um estudo de cenário não é o de predizer o
futuro e, sim, organizar, sistematizar e delimitar as incertezas explorando
sistematicamente os pontos de mudança ou de manutenção dos rumos.
Para tanto, parte-se da “Análise Retrospectiva e Diagnóstico”, enquanto
caracterização do objeto de estudo, e dos caminhos que deram origem à sua realidade
atual, bem como do impacto, limitações e condicionantes que essa mesma realidade
impõe aos movimentos futuros que poderão ocorrer, conforme tratado no capítulo 3.
No presente capítulo faz-se uma breve descrição da metodologia de construção
de cenários, sem qualquer pretensão de esgotar esse assunto, mas visando apenas
auxiliar a leitura por parte daqueles que não tenham tido contato anterior com a técnica.
Os demais itens trilham sistematicamente a metodologia de construção de
cenários aprimorada pela Eletronorte, desde 1988, com base na construção
metodológica desenvolvida pelo cientista francês Michel Godet.
12
Metodologia
2.1. METODOLOGIA DE CONSTRUÇÃO DE CENÁRIOS
O desenho de cenários é realizado com base em um arcabouço técnico, cuja
descrição detalhada foge ao escopo do presente trabalho. Esta seção tem a finalidade
de apresentar uma descrição sucinta desse aparato técnico, em linguagem a mais
coloquial possível, visando facilitar o entendimento das pessoas que precisarem fazer
uso desse documento, não dispondo, todavia, de conhecimento prévio da técnica.
O desenho de cenários se inscreve entre as técnicas de prospecção de futuro,
visando antever os possíveis comportamentos de uma determinada realidade. A
antevisão do futuro, por sua vez, possibilita o traçado de estratégias e ações, tanto no
âmbito do planejamento, quanto na antecipação a situações de crise.
O desenvolvimento dessa técnica ocorreu como conseqüência dos processos de
mudanças e rupturas que conduziam a realidade para uma nova direção, diferente
daquela que se poderia extrapolar a partir do comportamento do passado, conformando
configurações e situações nas quais a trajetória de determinada realidade muda de
sentido, de intensidade ou de direção. Tais processos foram denominados,
tecnicamente, pontos de ruptura.
Assim, o paradigma fundamental dessa técnica consiste em considerar que “o
futuro não é mensurável pela simples extrapolação do comportamento passado”.
Entretanto, a técnica não despreza o estudo do comportamento passado do objeto,
realizado por meio da ANÁLISE RETROSPECTIVA e DIAGNÓSTICO, tendo o seu foco
nas seguintes questões:
� Que variáveis são importantes no desenho do futuro de determinado objeto
de estudo - CONDICIONANTES DE FUTURO;
� Desse conjunto de variáveis, quais as que têm comportamento mais
estável, ou de menor variabilidade – CONDICIONANTES DE BAIXA
INCERTEZA;
� Desse mesmo conjunto de variáveis, quais as que têm menor impacto na
formação da realidade do objeto de estudo – CONDICIONANTES DE
BAIXO IMPACTO;
� Dentre tais CONDICIONANTES DE FUTURO, quais as que apresentam,
simultaneamente, maior grau de incerteza quanto ao seu comportamento
futuro e elevado impacto na trajetória do objeto de estudo – INCERTEZAS
CRÍTICAS.
13
Metodologia
A técnica identifica ainda as forças sociais que podem atuar sobre essas
incertezas críticas de modo a conduzi-las em direções específicas, que são os
ATORES.
O conjunto de incertezas críticas é estudado de forma a determinar quais os
comportamentos futuros possíveis para essas variáveis – ESTADOS DAS
INCERTEZAS CRÍTICAS.
Combinando-se, de maneira coerente e consistente, esses estados possíveis
das incertezas críticas, obtêm-se então as realidades futuras que o objeto de estudo
poderá apresentar que são os CENÁRIOS – ou seja, futuros alternativos.
Para cada cenário se analisa ainda a evolução da realidade dentro de uma
escala de tempo – TRAJETÓRIAS. As trajetórias são fragmentadas dentro do horizonte
de estudo, de acordo com a importância e as características de cada período,
configurando as CENAS, em cujo início e fim descreve-se o objeto.
É muito importante repetir que a técnica de cenários não é uma técnica de
projeção, mas de descrição qualitativa de possíveis realidades futuras do objeto de
estudo.
Com base nos diversos estados possíveis do objeto, quantificam-se os
elementos mais importantes de cada cenário, o que se denomina QUANTIFICAÇÃO
DOS CENÁRIOS. Vale lembrar que a quantificação é específica para cada cenário,
podendo indicar modelos e parâmetros diferentes entre os diversos cenários. No
entanto, neste trabalho não serão quantificados os cenários alternativos.
O desenho dos cenários tem como ponto inicial a CENA DE PARTIDA,
construída a partir da análise retrospectiva e diagnóstico, estabelecendo as condições
de contorno da realidade atual do objeto de estudo, os caminhos que deram origem a
essa realidade, como também identificando as limitações e potencialidades existentes. A
análise retrospectiva constitui-se, também, em fonte básica de informação para a
seleção das condicionantes de futuro.
Resumidamente um cenário se compõe de:
� Análise retrospectiva e diagnóstico;
� Seleção dos condicionantes de futuro;
� Escolha dos condicionantes de baixa incerteza;
� Determinação dos condicionantes de baixo impacto;
� Eleição dos condicionantes de alta incerteza e impacto - incertezas críticas;
14
Metodologia
� Identificação das forças sociais que têm poder de influenciar o
comportamento dessas incertezas críticas – atores;
� Descrição dos estados possíveis das incertezas críticas;
� Combinação coerente e consistente dos estados possíveis das incertezas
críticas – cenários;
� Descrição do comportamento dos atores que conduzirá as variáveis a
assumir os estados descritos;
� Estudo do movimento temporal da realidade que conduz a cada um dos
cenários (trajetórias);
� Segregação do horizonte de estudo em períodos, em cujo marco inicial e
final se descreve a situação do objeto do estudo – cenas;
� Estimativa dos elementos mais importantes do objeto de estudo, em cada
cenário específico – quantificação.
A técnica de cenários pode ainda ser utilizada para determinar a trajetória
possível que se pode trilhar no sentido de que a realidade futura possa convergir na
direção do “projeto de futuro”, identificando ainda as ações que se deve tomar para se
obter essa convergência.
A técnica é muito utilizada como base para o planejamento estratégico, tanto
indicando as ações que podem conduzir o objeto na direção desejada, quanto às
medidas adequadas para antecipação de situações de ameaça ou de crise.
Pode-se sintetizar, para facilitar a compreensão, que as fontes básicas de
informação para um estudo de cenário são:
Figura 2.1 - Fontes Básicas de Informação para um E studo de Cenários
15
Metodologia
O objeto do estudo orienta a seleção do elenco de atores, delimita o universo dos
elementos da análise retrospectiva e diagnóstico, guia o conjunto de palestras de
especialistas e direciona as análises da equipe de cenaristas.
A figura a seguir insere o estudo de cenários no processo de planejamento do
Setor de Energia Elétrica.
Figura 2.2 - Diagrama da Utilização dos Estudos de Cenários no Planejamento do Setor de Energia Elétrica
16
Metodologia
3. ANÁLISE RETROSPECTIVA E DIAGNÓSTICO
O estado do Acre está inserido em um contexto de transformações além de suas
fronteiras de abrangência regional e que envolve mudanças em curso na Amazônia sul-
americana e nos estados vizinhos. Destacam-se como mudanças em andamento para o
Estado os investimentos em infra-estrutura e logística de transporte; articulação político-
institucional; instalação de novas empresas; avanços educacionais e qualificação
profissional; valorização do uso sustentável dos recursos naturais; ações de
ordenamento ambiental; modernização da pecuária e a expansão energética – obras do
complexo madeira e a interligação do sistema elétrico ao sistema interligado nacional.
Dentre as principais potencialidades do Estado, este trabalho destaca o
aproveitamento sustentável dos recursos florestais; pecuária; agricultura, agroindústria,
agroenergia; e turismo. Como fatos portadores de futuro a saída para o pacífico; a
verticalização das cadeias produtivas; a interligação multi-modal do Estado; e a
implementação de políticas públicas.
Como principais gargalos foram identificados a precariedade da infra-estrutura e
logística; a dependência do Estado de recursos federais; questão cultural; insuficiência
de mão de obra qualificada; rigor das leis ambientais; burocracia estatal; baixo
investimento em P&D; excesso de carga tributária; problemas sociais; e insuficiência de
fomento aos setores produtivos.
A dinâmica de urbanização e industrialização vivida pelo resto do Brasil vem
ocorrendo na região Norte há apenas pouco mais de duas décadas. Embora a região
ainda registre hoje as menores taxas populacionais do País, seu desenvolvimento
industrial tem alterado o padrão de consumo e exercido forte poder de atração sobre a
população rural para os núcleos urbanos. Esses se concentram ao longo das rodovias e
são separados por extensas faixas de floresta. As unidades de conservação na
Amazônia, incluindo as áreas indígenas, somam hoje quase 33% de todo o território.
Nos últimos anos fortaleceu-se muito a preocupação em torno de mudanças nos
padrões de uso da terra na Região. Enquanto o setor agropecuário expande suas
frentes agrícolas e industriais, sociedades civis e organizações internacionais
pressionam governos e a iniciativa privada em defesa de causas socioambientais.
Território e Demografia
17
Diagnóstico
Diagnóstico
O desenvolvimento da economia do Acre está fortemente ligado aos ciclos de
desenvolvimento da economia nacional e, mais recentemente, à mudanças de escala
regional e global. O Estado apresenta-se hoje como um possível pólo de
desenvolvimento regional, de base eminentemente florestal, com potencial de expansão
ordenada do setor agropecuário, motivado pelos seguintes fatores: o amadurecimento e
aproveitamento das vantagens comparativas do Acre relacionadas à sua posição
geográfica estratégica - fazendo fronteira com países andinos que dão acesso aos
portos do Pacífico e a mercados asiáticos -; o fortalecimento da identidade cultural; a
disposição de legislação própria sobre o aproveitamento, exploração e preservação dos
recursos naturais; o nível de preservação de suas florestas originais – o desmatamento
atual correspondente a 10% do território -; e o ativismo socioambiental, cujas maiores
lideranças hoje ampliam os princípios de desenvolvimento deflagrado pelo líder
seringueiro Chico Mendes.
Para que o Acre tenha uma política definida de produção é necessário
transformar suas potencialidades regionais, seus recursos florestais, em oportunidades
de negócios, investindo em produtos diferenciados, com alto valor agregado e
ampliando escala, de forma que apresentem vantagens comparativas, em relação a
outras regiões e que sejam competitivos, tanto no mercado interno, como no mercado
mundial.
O Plano Plurianual do Estado, 2007-2010, prevê a implantação de programas
estruturantes para o setor produtivo e infra-estrutura física, maior parte dos quais já em
andamento: implantação e consolidação de parques industriais baseados na cadeia
produtiva florestal; programa integrado de manejo florestal de uso múltiplo;
modernização da produção agroindustrial; implementação do ZEE; turismo e valorização
cultural; elevação da renda do produtor rural e fortalecendo as micro e pequenas
empresas; ciência, tecnologia e inovação como fatores de desenvolvimento sustentável
e infra-estrutura como suporte ao desenvolvimento sustentável.
3.1 TERRITÓRIO E DEMOGRAFIA
Desde a década de 70, o Estado do Acre tem sido povoado por imigrantes de
outras regiões do Brasil incentivados pela expansão da fronteira agrícola, o avanço da
pecuária e por políticas do Governo Federal para a ocupação da Amazônia. Nesse
período, a ocupação do território foi marcada pelo aumento do desmatamento e o
crescimento populacional dos centros urbanos.
Território e Demografia
18
Diagnóstico
A população residente no Acre, em 2007, medida pelo IBGE, foi de 655.385
habitantes, sendo assim o terceiro Estado menos populoso da Amazônia, ficando atrás
de Roraima e Amapá. O crescimento populacional foi de 17,61%, desde o censo
demográfico de 2000 e a taxa média de crescimento anual entre 2001 e 2005 foi de
3,58%. As Regionais mais povoadas são a do Baixo Acre, com 366.985 habitantes, e de
Juruá, com 121.392. Tarauacá-Envira, Alto Acre e Purus têm respectivamente 69.518,
52.164 e 45.326 habitantes, segundo o IBGE na pesquisa de contagem da população. A
densidade demográfica do Acre em 1990 era de 2,74 habitantes por km², ampliando
para 3,65 habitantes por km², em 2000, ano em que 66,40% dos acreanos já residiam
nos centros urbanos.
A taxa de urbanização do Acre ocupa o oitavo lugar entre os estados da
Amazônia Legal. Entre 1991 e 2000 o número de não naturais residindo no Estado
passou de 48.029 para 64.952 pessoas. A expectativa de vida do acreano aumentou
1,25% entre 1980 e 2006 em comparação ao crescimento da média nacional registrada
no mesmo período. Em 2005 a esperança de vida ao nascer no Acre subiu para 68,28
entre homens e 73,46 entre mulheres sendo que, em 1991 era menor que a média da
Região Norte, quando a expectativa era de 63,67 anos para homens e 70,33 anos para
mulheres e no Acre de 62,67 e 69,17, respectivamente. A razão de sexos no Acre tem
se mantido estável nos últimos anos com uma leve queda no número de homens. A taxa
de fecundidade apresenta tendência declinante, conforme apresentado na Tabela 3.2.
Tabela 3.1 - Indicadores Populacionais dos Estados da Amazônia Legal e Brasil
Brasil e Estados
População Densidade
Demográfica Taxa de crescimento (%)
1991 2000 2007 1991 2000 1991-2000 2001-2005
Brasil 146.825.475 169.590.693 183.987.291 17,26 19,92 1,64 1,67
Acre 417.718 557.226 655.385 2,74 3,65 3,29 3,58
Amapá 289.397 475.843 587.311 2,02 3,33 5,77 4,52
Amazonas 2.103.243 2.813.085 3.221.939 1,34 1,79 3,31 2,9
Maranhão 4.930.253 5.642.960 6.118.995 14,85 17 1,54 1,58
Mato Grosso 2.027.231 2.502.260 2.854.642 2,24 2,77 2,4 2,31
Pará 4.950.060 6.189.550 7.065.573 4,15 4,96 2,54 2,43
Rondônia 1.132.692 1.377.792 1.453.756 4,76 5,8 2,24 2,18
Roraima 217.583 324.152 395.725 0,96 1,45 4,58 3,85
Tocantins 919.863 1.155.913 1.243.627 3,32 4,17 2,61 2,48
Fonte: IBGE/ Censo Demográfico, contagem populacional e projeções e estimativas demográficas
Território e Demografia
19
Diagnóstico
Diagnóstico
Tabela 3.2 – Demografia no Acre e Região Norte
Demografia
Ano
1991 1996/1997¹ 2001 2004/2005²
Acre Norte Acre Norte Acre Norte Acre Norte
Urbanização¹ 61,89 59,05 65,9 63,1 67,28 64,55 68,96 74,41
Razão de sexos 102,63 103,33 102,22 102,93 101,38 102,49 100,95 102,23
Fecundidade² 4,46 3,99 3,7 3,37 2,8 2,99 2,74 2,53
Fonte: Data SUS - IDB 2006
Notas
¹ Em urbanização usou-se dados de 1997
² Em fecundidade usou-se dados de 2004
Urbanização: porcentagem da população residente nas cidades
Razão de sexos: quantidade de homens a cada 100 mulheres
Fecundidade: número de filhos por mulher
O Estado do Acre é subdivido em duas mesorregiões - Vale do Acre e Vale do
Juruá -, que se subdividem em cinco regionais, conforme Figura 3.1.
A regional do Alto Acre possui média densidade populacional em comparação à
do Estado. Caracteriza-se por sua produção pecuária e agro florestal e pelo forte
intercâmbio econômico e social com as fronteiras do Peru e Bolívia, registrando forte
êxodo além-fronteira. A agricultura temporária não possui assistência técnica suficiente,
as sementes não são de boa qualidade e não há controle de pragas. A área cultivada é
muito pequena, em se comparando com a área total da região e a produção local é
incapaz de abastecer o mercado interno. A lavoura permanente continua a ser
explorada de forma tradicional, sem incorporação de novas técnicas ou manejo, de
maneira a melhorar os níveis de produção e de produtividade.
Figura 3.1 – Divisão territorial por mesorregiões, regionais e municípios do Acre Elaboração: EPEM/Eletronorte
Território e Demografia
20
Diagnóstico
A regional do Baixo Acre tem como principais características a alta densidade
populacional e a concentração de grandes áreas antropizadas. A atividade pecuária tem
predominância, embora a atividade florestal também seja relevante. É a região que
apresenta relações comerciais mais importantes com o centro-sul do país e onde se
concentra a maior parte da infra-estrutura do Estado, integrando-se ao Estado de
Rondônia pela BR-364. A maior produção agropecuária do Estado concentra-se nesta
regional e também as maiores cidades, para onde convergem fluxos migratórios
intraestadual, os maiores projetos de colonização do Estado e onde se registram os
problemas sociais e urbanos mais críticos. Predomina baixo nível de emprego e renda,
sendo o setor público o maior empregador. Os principais produtos agrícolas da região
são arroz, feijão, milho e mandioca e estes não conseguem abastecer suficientemente a
demanda local. A lavoura permanente também é pouco representativa na economia do
setor.
A regional de Tarauacá-Envira possui baixa densidade populacional em
comparação à do Estado, é tipicamente agroflorestal. Marcada pela grande incidência
de população indígena, a regional mantém fortes relações comerciais com Cruzeiro do
Sul, no entanto, na maior parte do ano, fica isolada por via terrestre. O setor secundário
possui poucas e incipientes indústrias, com predomínio do processamento de madeira
em serrarias e movelarias. A lavoura permanente não tem muita representação para a
economia local, o cultivo das espécies é feito apenas para garantir a subsistência dos
agricultores, sem, contudo, se preocupar com a qualidade e com a geração de
excedente para a exportação. A microrregião não conta com linhas de crédito suficientes
para incrementar a base agrícola, sendo que alguns municípios não possuem qualquer
disponibilidade de acesso ao fomento. A produção de culturas temporárias, como arroz,
feijão e milho, também são inexpressivos.
Dentre as principais características da regional do Purus estão a baixa densidade
populacional e a predominância da atividade florestal-extrativista. A agricultura é de
base familiar, onde o produtor local só pode contar com seus próprios recursos
financeiros e materiais, sua produção agrícola está restrita ao cultivo das lavouras
chamadas brancas (arroz, feijão, milho e mandioca), e a exploração de produtos
extrativistas (borracha, carvão vegetal, lenha e madeira). O volume dessa produção,
com exceções da mandioca e do arroz, não são suficientes para o consumo da
população regional. A pecuária participa de forma muito tímida com o rebanho do
Estado. O município de Manuel Urbano fica isolado por um período considerável do ano,
enquanto Santa Rosa é praticamente isolada do restante do Estado. Há uma acentuada
deficiência energética e baixo nível de emprego e renda.
Economia
21
Diagnóstico
Diagnóstico
A regional do Juruá tem média densidade populacional. A economia concentra-
se na atividade agroflorestal e sua produção agropecuária, tem destaque para a cultura
permanente do guaraná. Melhorias recentes na infra-estrutura, especialmente do setor
transporte, aponta novas perspectivas para a região, hoje, ainda é marcada por forte
isolamento com outras localidades do Estado, das quais dependem de transporte
terrestre. Suas principais transações comerciais ainda são mantidas com o estado do
Amazonas e seu comércio se destaca na produção de farinha, considerada a de melhor
qualidade da Região.
3.2 ECONOMIA
A composição da economia do Estado do Acre baseia-se primordialmente na
extração da madeira, da borracha e da castanha-do-brasil, e na atividade pecuária. O
Produto Interno Bruto (PIB) do Estado não possui grande participação na formação do
PIB nacional, e isso se deve principalmente pela concentração da economia em
atividades primárias, com baixa escala e pouca agregação de valor. O Estado contribui
com 0,2% do produto nacional, o que posiciona o Acre em 7º lugar entre os Estados que
formam a Amazônia Legal que, juntos, participam com 7,8% do PIB do país, de acordo
com dados de 2005. No ranking do País, o Acre ocupa a 16ª posição. Os valores
correntes do PIB do Acre estão detalhados na Tabela 3.3, onde se observa um
crescimento de 15%, 19% e 14% entre 2003 e 2005, respectivamente, com taxa real de
variação de 7,3%, em 2005.
O crescimento médio da renda per capita, entre os anos observados, foi maior do
que o crescimento populacional. Conforme o índice de Gini, que mede a desigualdade
entre as pessoas, é possível indicar uma maior distribuição de renda entre os indivíduos
do Estado. No período de 2002 a 2005, o PIB do Acre cresceu 56%, passando de R$
2.868 para R$ 4.482. O crescimento verificado na última década ainda não foi suficiente
para reverter os problemas sociais do Estado.
Tabela 3.3 - Produto Interno Bruto do Estado do Acr e, 2002 – 2005
Ano PIB preços correntes
(R$ Milhões)
Taxa real de variação PIB per capita (R$)
Participação no PIB Brasil PIB Agropecuária Indústria Serviços
2002 2.868 4,6 4,5 9,5 3,2 4.707 0,2
2003 3.305 3,9 10,3 -4,6 4,1 5.278 0,2
2004 3.940 7,6 5,4 12,5 7,3 6.251 0,2
2005 4.482 7,3 5,8 11,3 6,7 6.792 0,2
Fonte: IBGE / Coordenação das Contas Nacionais; SEPLAN – AC / Departamento de Estudos e Pesquisas Aplicada à Gestão
A economia acreana ainda conserva forte dependência do setor público. A
máquina administrativa e os serviços públicos respondem por 33,4% do PIB estadual -,
Economia
22
Diagnóstico
enquanto as demais atividades apresentam a seguinte participação: agricultura e
exploração florestal, 13,8%; o comércio e serviço, 11,9%; as atividades imobiliárias e
aluguéis, 10%; e a pecuária e pesca 6,2%, segundo valores referentes a 2005, sendo
que, essas relações se mantêm para todos os anos avaliados.
Tabela 3.4 - Participação das atividades econômicas no valor adicionado bruto (%)
Atividades Econômicas 2002 2003 2004 2005
Administração, saúde e educação públicas 36 35,6 33,2 33,4
Agricultura, silvicultura e exploração florestal 11,2 12,7 11,7 13,8
Comércio e serviços de manutenção e reparação 10,7 11,1 10,8 11,9
Atividades imobiliárias e aluguel 10,6 10,3 10,5 10
Pecuária e pesca 5,8 7 6,7 6,2
Construção 6,9 5,6 10,1 5,6
Indústria de transformação 2,3 2,3 2,7 3,3
Produção e distribuição de eletricidade e gás, água, esgoto e limpeza urbana 1,3 1,4 1,7 2,6
Intermediação financeira, seguros e previdência complementar 2,7 2,6 2 2,5
Transportes, armazenagem e correio 3,8 2,4 2,7 2,3
Serviços de informação 1,4 1,9 1,9 2
Serviços de alojamento e alimentação 1,9 1,6 1,3 1,6
Serviços prestados às famílias e associativos 1,5 1,8 1,6 1,4
Serviços prestados às empresas 1,9 1,7 1,1 1,3
Serviços domésticos 1,1 1,1 1,1 1,1
Saúde e educação mercantis 0,8 0,9 0,9 0,8
Indústria extrativa mineral 0 0 0 0
Total 100 100 100 100
Fonte: EPEM/ELN com dados do Relatório de Contas Regionais – IBGE
As principais atividades econômicas no Estado estão concentradas na regional
do Baixo Acre, onde se localiza a capital, Rio Branco, sendo responsável por mais da
metade do que é produzido no Estado. A economia desta região apresenta os melhores
níveis de desenvolvimento, oferecendo a maior estrutura de apoio à produção do setor
primário. No entanto, se evidencia a necessidade de um redirecionamento do processo
de desenvolvimento em curso nesta regional, que incorpore questões ambientais,
privilegie a geração de empregos e garanta melhor distribuição de renda, a fim de se
promover uma economia mais sustentável.
Economia
23
Diagnóstico
Diagnóstico
A economia do Alto Acre tem enfrentado dificuldades para conseguir apoio e os
incentivos necessários ao seu pleno desempenho. O comércio demanda há anos pela
instalação da Zona de Livre Comércio, no município de Brasiléia. A fim de fortalecer a
região, o Governo do Estado, através de parcerias públicas, privadas e comunitárias,
construiu dois novos empreendimentos produtivos no município de Xapuri: a fábrica de
tacos e a fábrica de preservativos, com inicio de operação previsto para 2008, que
contribuirão para um processo de verticalização das cadeias produtivas da madeira e da
borracha. Prevista também para 2008 a Usina Álcool Verde, produção de álcool anidro,
com a utilização de terras degradadas para o plantio da cana de açúcar.
A economia da regional Tarauacá-Envira tem forte dependência dos Municípios
de Cruzeiro do Sul no Juruá, e do Envira, no Amazonas, de onde importam produtos de
primeira necessidade. A lavoura de grãos da região, como no restante do Estado, não é
suficiente para abastecer o mercado local, pois adota métodos tradicionais, sem
assistência técnica, sem sementes de qualidade, sem controle de pragas, resultando em
baixa produtividade.
Os três municípios que compõem a regional Purus guardam forte dependência
da capital do Estado, de onde importam a maioria dos produtos de que dependem suas
populações. A produção, de base exclusivamente primária - agropecuária e extrativismo
-, ainda se desenvolve com base em métodos tradicionais e com baixa produtividade.
A regional Juruá, em função de não haver ligação rodoviária efetiva com o
restante do Estado, principalmente com a Capital, mantém relações muito mais estreitas
com o Estado do Amazonas, via Rio Juruá, sendo que o município mais dinâmico é
Cruzeiro do Sul.
3.2.1 Setor Comercial
Os principais entraves para a expansão da produção acreana residem nos
seguintes fatores: precariedade da infra-estrutura; distâncias e logística de escoamento
da produção; baixa profissionalização dos produtores; limitações tecnológicas; alto custo
dos insumos agrícolas; dependência de recursos públicos; baixa capacidade energética;
baixa capacidade de investimentos; insuficiência de mão-de-obra qualificada e de
incentivos e dificuldade de acesso a terra. Além dessas limitações estruturais e
conjunturais, falta ao produtor acreano uma visão empresarial sobre o negócio agrícola
e florestal, principalmente da parte de pequenos e médios produtores.
Um dos principais gargalos ao desenvolvimento do comércio no Estado do Acre
é o isolamento de boa parte dos seus municípios. A expectativa é a de que essa
Economia
24
Diagnóstico
realidade seja alterada com a conclusão da rodovia - 364 nos trechos localizados entre
Sena Madureira e Cruzeiro do Sul, no Vale do Juruá. A maioria dos municípios,
principalmente os que permanecem isolados, tem sua produção voltada à subsistência,
com baixo aproveitamento de suas vantagens comparativas, como o imenso potencial
florestal.
Apesar da pequena participação da produção estadual na composição da
produção regional, as exportações acreanas vêm passando por um processo de forte
expansão, principalmente, a partir de 2003, impulsionada pelo crescimento de produtos
de atividades madeireiras e castanha-do-brasil. As importações não têm seguido o
mesmo ritmo e com isso, o saldo comercial também passou por um período de
crescimento, conforme pode ser visto na Tabela 3.5.
Tabela 3.5 - Balança Comercial do Estado do Acre, 2 002 – 2007
Ano Exportação Importação
Saldo Comercial US$ 1.000 FOB Var. %(1) US$ 1.000 FOB Var. %(1)
2002 3.827 -34,47 3.636 -32,07 191
2003 5.360 40,05 818 -77,51 4.542
2004 9.063 69,09 573 -29,95 8.490
2005 12.787 41,09 501 -12,48 12.286
2006 19.539 52,80 2.022 303,38 17.517
2007 19.372 -0,85 1.651 -18,38 17.721
Fonte: Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio Exterior.
Obs.: (1) Var. % =>Critério de Cálculo: Anual = Sobre o ano anterior na mesma proporção.
A maioria dos produtos exportados são os industrializados. Na Tabela 3.6
apresenta-se o crescimento entre os anos da exportação dos produtos manufaturados e
a distribuição da produção acreana por fator agregado. Entre as importações o destaque
são os produtos manufaturados.
Tabela 3.6 - Exportação Acreana por Fator Agregado Unidade: US$ 1.000 FOB
2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Básico 92 195 373 2.292 3.736 2.909 4.052
Industrializados 5.731 3.632 4.987 6.740 9.002 16.629 15.179
Semimanufaturados 5.368 3.250 3.294 4.151 5.517 10.524 4.552
Manufaturados 363 382 1.692 2.589 3.486 6.106 10.626
Operações Especiais 16 31 49 141
Total 5.839 3.827 5.360 9.063 12.787 19.538 19.372 Elaboração: EPEM / ELN com dados do MDIC
A maior parte do comércio do Estado é feito por via fluvial e os produtos
exportados para o mercado interno se destinam, em quase sua totalidade, aos Estados
Economia
25
Diagnóstico
Diagnóstico
do Amazonas e Pará. Como se observa na Tabela 3.7, o principal destino das
exportações acreanas são os países do Reino Unido, com 39,95% da pauta, com
destaque para a madeira, e, a Bolívia, parceiro comercial histórico do Acre, que absorve
27,95% das exportações acreanas, especialmente a castanha-do-brasil. O crescimento
das exportações para o Reino Unido registrou um aumento de 228% em relação ao
mesmo período de 2006, saindo da terceira para primeira posição na lista de parceiros
comerciais do Estado.
Tabela 3.7 - Principais Países de destino das expor tações acreanas, 2006 – 2007
Países 2007 (Jan/Dez) 2006 (Jan/Dez) Var%
US$ F.O.B. Participação % US$ F.O.B. Participação% 7/jun
REINO UNIDO 7.739.614 39,95 2.359.611 12,08 228
BOLIVIA 5.414.125 27,95 5.258.152 26,91 2,97
CHINA 1.448.302 7,48 4.434.032 22,69 -67,34
ESTADOS UNIDOS 1.195.840 6,17 1.436.475 7,35 -16,75
BELGICA 1.161.205 5,99 314.470 1,61 269,26
TOTAL EXPORTADO 19.371.795 100 19.538.654 99,63 -0,49
Elaboração: EPEM / ELN com dados do MDIC
Assim como a produção local, a pauta de exportação acreana é concentrada na
comercialização de produtos derivados da exploração madeireira e extrativista florestal,
com destaque para a castanha-do-brasil. A produção madeireira tem crescido nos
últimos anos, e o objetivo é a diminuição da exportação de madeira em tora, agregando
valor a cadeia produtiva.
A capital do Estado, Rio Branco, é o município mais representativo na pauta de
exportação, especialmente no comércio de madeiras, já que concentra o único pólo de
beneficiamento madeireiro do Estado. Já o município de Brasiléia concentra sua
exportação na comercialização de castanha-do-brasil.
Tabela 3.8 - Principais Produtos exportados pelo Ac re
Produtos 2007 (Jan/Dez) 2006 (Jan/Dez) Var%
US$ F.O.B. Part% US$ F.O.B. Part% 7/jun
Madeira. Com, Espessura < 6MM 7.652.273 39,5 --- --- ---
Castanha-do-Pará, Fresca ou Seca, com Casca 3.718.077 19,19 2.708.621 13,86 37,27
Outras Madeiras Cortadas 3.583.019 18,5 4.340.867 22,22 -17,46
Outras Madeiras Perf. Etc. Não coníferas 937.596 4,84 --- --- ---
Outras Madeiras Tropicais Serradas / Cort.Fls. 447.371 2,31 401.016 2,05 11,56
TOTAL DOS PRODUTOS 19.371.795 100 19.538.654 100 -0,85
Elaboração: EPEM / ELN com dados do MDIC
Economia
26
Diagnóstico
3.2.2 Setor Industrial
A atividade industrial no Estado do Acre ainda encontra-se em fase de
amadurecimento e formação e concentra-se nos setores de madeira e móveis, produtos
alimentares, gráficos, materiais não metálicos, confecção, olaria e cerâmica e
construção civil entre outras atividades de menor expressão. Atualmente, o setor está
voltado prioritariamente ao atendimento de demandas locais. O Acre exporta
aproximadamente R$ 20 milhões/ano, sendo 78% de produtos industrializados.
As políticas adotadas pelo Governo Estadual têm buscado atrair novas indústrias
para o Estado. Para o alcance dos objetivos estabelecidos em seu planejamento
estratégico, o Governo pretende oferecer condições vantajosas aos investidores, e criar
no Estado condições ótimas de infra-estrutura energética e rodoviária, além de
programas de capacitação de mão-de-obra, em parceria com as empresas, e a garantia
de fornecimento de matéria-prima para suprir as demandas do setor. O objetivo central
desta estratégia é o de ampliar a escala da produção, agregar valor às cadeias já
consolidadas, diversificar a base produtiva, fortalecendo atividades emergentes,
especialmente, no setor florestal, inserindo gradativamente seus produtos em novos
mercados e gerando empregos e renda nos municípios.
Ações governamentais têm sido responsável pela viabilidade dos três distritos
industriais do Estado, localizados nos municípios de Rio Branco, Cruzeiro do Sul e
Xapuri. Asfaltamento, implantação de saneamento básico, criação de leis de incentivo e
apoio na elaboração de projetos para financiamento são algumas das ações que
colaboram para o fortalecimento e atração de indústrias a essas localidades. Tais
empreendimentos estão sendo concebidos segundo princípios de sustentabilidade
econômica e ambiental, com projetos complementares de reaproveitamento de resíduos
industriais, a fim de minimizar os efeitos da poluição e degradação do meio ambiente.
Outro resultado observado é o aumento do aproveitamento da capacidade
instalada da indústria. Na média, as empresas operaram com 78% de suas
capacidades, em 2007. Como no ano anterior essa média havia sido de 60%, verifica-se
uma queda na ociosidade da indústria de transformação (de 40% para 22%), indicando
um aquecimento do ritmo da produção em todos os setores da atuação industrial.
Os indicadores demonstram que a expansão do parque produtivo do Estado está
em curso. Tal crescimento está associado, basicamente, à expansão do crédito e ao
aumento da renda real das famílias (via aumento de gastos correntes e transferências
de renda). Outro fator explicativo é o investimento em obras de infra-estrutura realizado
pelos governos locais, que se mantiveram em patamares suficientes para sustentar os
Economia
27
Diagnóstico
Diagnóstico
aumentos de vendas e empregos em segmentos importantes como o de minerais-não-
metálicos e de madeiras e móveis. Fatores Político-Institucionais, como a captação de
recursos com órgãos de fomento, como o BID, BNDES são ações do governo estadual
para dinamizar este setor, a expectativa de integração regional, com a interligação com
o Pacífico, através da Transoceânica, e na mudança do modelo industrial, substituído
pelo modelo sustentável.
Para os próximos anos estima-se um aumento no investimento privado industrial
da ordem de R$ 400 milhões, pois existem 15 novas plantas em análise no BNDES com
valores totais de 250 milhões, um shopping center, do grupo Iguatemi previsto 2009;
uma fábrica de leite longa vida; um abatedouro de aves em Brasiléia, entre outros
empreendimentos como a instalação de um frigorífico do grupo empresarial Bertin, com
processamento da carne (valor agregado e marca ambiental); instalação da Usina Álcool
Verde; instalação da Brasil Eco-diesel, que atuará com pequenos produtores integrados.
Um aumento nos investimentos em obras públicas, algumas do PAC, tem alimentado a
possibilidade que essas ações resultem na criação de diversos empregos.
Alguns fatores têm contribuído para que a expectativa de desenvolvimento se
concretize. Entre eles, destacam-se os avanços nas obras da BR-364, facilitador do
processo de interiorização de indústrias para municípios do Vale do Juruá; o início das
atividades de construção da Hidroelétrica de Santo Antônio e de licitação da
Hidroelétrica de Jirau, no rio Madeira; o forte apelo ambiental para as empresas que
queiram investir em produção sustentável; e a ligação rodoviária com o Oceano
Pacífico, colocando o Estado em uma posição estratégica em relação ao mercado
andino e asiático. Com a efetivação dessas obras, espera-se um expressivo
crescimento do PIB industrial acreano, com fortalecimento da demanda interna e
aumento de gastos com investimentos tanto privados quanto públicos, com
desdobramentos nos níveis da escala produtiva e na agregação de valor à produção.
3.2.3 Setor Pecuário
Nas últimas três décadas a desestruturação do setor extrativista e políticas do
governo central criaram um ambiente propício para o desenvolvimento da bovinocultura
na Amazônia e no Acre. A atividade hoje tem uma participação relevante no setor
primário do Estado e participação na arrecadação fiscal.
A distribuição do efetivo bovino no Acre ainda é mais concentrada na
mesorregião do Vale do Acre, principalmente na regional do Baixo Acre, mais
especificamente nos municípios de Plácido de Castro, Rio Branco e Senador Guiomard.
Economia
28
Diagnóstico
Os municípios da microrregião do Alto Acre, principalmente os municípios de Brasiléia e
Xapuri também apresentam um alto efetivo bovino. Essa mesorregião responde pelo
maior plantel do Estado, com mais de um milhão e meio de cabeças de gado, segundo
dados de 2006. A densidade de pastagens também está concentrada na mesorregião
do Vale do Acre.
A pecuária é bem difundida entre pequenos, médios e grandes produtores a
alimentação do gado tem por base o pasto e sal mineral e o rebanho é considerado de
boa qualidade. Porém, por seu histórico de baixa incorporação de tecnologia, freqüente
ampliação de pastagens e degradação de solos, a atividade apresenta sérios problemas
de produtividade, com superlotação de pastagens, envolvendo questões ambientais.
Esses problemas têm despertado muita atenção nos últimos anos, tanto da parte do
Governo, quanto de pecuaristas e suas entidades representativas.
Há atualmente um esforço do Governo em transformar sistemas extensivos em
sistemas mais produtivos e rentáveis, incentivando o melhoramento genético e a
recuperação de áreas degradadas. O objetivo é aumentar a população bovina e sua
qualidade, sem aumentar a taxa de desmatamento. De acordo com dados da Embrapa-
Acre, ente 1990 e 2004, o rebanho do Estado aumentou 416%, e a área desmatada
147%. Assim, com investimentos em tecnologia, a tendência é a de aumentar o número
de animais por hectare, racionalizar o uso do pasto, diminuir a idade de abate, e diminuir
os impactos da atividade ao meio ambiente.
A verticalização da cadeia bovina no Estado é indispensável à expansão
sustentável da pecuária de corte e de leite, a fim de substituir as importações de seus
derivados e abrir novos mercados, oportunizando ao máximo a proximidade do mercado
andino e asiático, com a conclusão da Transoceânica. Atualmente, o Estado conta com
apenas dois frigoríficos, mas já estão sendo promovidas ações à ampliação da base
industrial instalada. O Governo do Estado, em parceria com a Federação de Agricultura
do Estado do Acre (Faeac), o Banco da Amazônia e a empresa paulista Bertin já
anunciaram a instalação no Estado de uma unidade agroindustrial do grupo. Os
investimentos são na ordem de R$ 75 milhões e a previsão para a conclusão da
primeira planta é 2010, com a produção de carne e couro. A instalação do Grupo Bertin
é a sinalização de um processo em curso de verticalização da cadeia pecuária no Acre.
Uma vez vencidos os gargalos de infra-estrutura que ainda se apresenta na
atualidade, cujas obras já se encontram em curso, a cadeia bovina do Acre estará apta
a consolidar elos com novos mercados no País e no exterior. O Acre é
internacionalmente reconhecido como zona livre de aftosa com vacinação. Mantendo
Economia
29
Diagnóstico
Diagnóstico
esse desempenho o mercado internacional pode ser muito explorado pelos pecuaristas
do Estado.
A pecuária bovina de corte tem se desenvolvido no Acre acompanhando o
crescimento verificado nos demais estados da Amazônia Legal. Entre os anos de 1995 e
2000, a população bovina do Estado aumentou em 119,18%. No mesmo período, o
crescimento no Brasil foi de 5,36% e na Amazônia Legal de 26,77%, conforme Tabela
3.9, onde o rebanho do Acre assume a 14º posição do Brasil e a 4º na região Norte.
Tabela 3.9 - Efetivo e Abate do Rebanho Bovino
Brasil, Estado e Região Cabeças de gado Abates
2001 2003 2005 2001 2003 2005
Brasil 176.388.726 195.551.576 207.156.696 18.436.299 21.644.403 28.030.409
Acre 1.672.598 1.874.804 2.313.185 204.397 227.387 224.432
Amazônia Legal 51.689.034 64.057.475 74.589.450 4.663.825 6.354.233 8.929.847
Elaboração: EPEM / ELN com dados do IBGE
Fonte: IBGE
Porém este ritmo está desacelerando, Entre 2001 e 2005, o crescimento da
população bovina do Acre foi de 38%, ficando assim abaixo do crescimento observado
na Amazônia Legal (44%). No que se refere à indústria do abate, o Acre cresceu pouco.
Entre 1998 e 2001, o crescimento foi de 39% e, entre os anos de 2002 e 2006, de 23%.
Já os abates na Amazônia Legal cresceram em um ritmo forte: 95% e 89%,
respectivamente, o que indica que o Acre não acompanhou o mesmo nível de
industrialização verificado em outros Estados da região, dentro desta atividade. Sinaliza
ainda a informalidade do mercado interno e a predominância da comercialização do boi
em pé. Em 1995, o Acre tinha 471.434 cabeças de gado. Em 2005, esse número
aumentou para 2.313.185 de cabeças.
A produção de leite cru e resfriado cresceu pouco em relação aos outros Estados
da Amazônia Legal e do Brasil. Entre 1997 e 2001, foi registrado um crescimento de
apenas 2,6% e, entre 2002 e 2006, de 9%. Entre os mesmos períodos analisados, o
crescimento no Brasil foi de 24% e 26%, respectivamente. Em outros Estados da
Amazônia Legal se verificou um crescimento bem acima da média nacional, a exemplo
do Pará, Maranhão e Tocantins, conforme Tabela 3.10. Apesar da lenta expansão,
produção de leite no Acre, em 2005 superou os dez milhões de litros, o que coloca o
Estado como o 4ª maior produtor da região Norte.
Economia
30
Diagnóstico
Tabela 3.10 - Leite cru ou resfriado adquirido
País, Estado Variação (%) Quantidade produzida (litros)
1997/2001 2002/2006 1997 2000 2003 2006
Brasil 23,62 26,04 10.688.279 12.107.741 13.627.205 16.663.872
Acre 2,61 9,16 8.437 8.167 9.898 10.073
Amazonas 160 217 760
Maranhão 100,99 45,98 15.080 22.024 45.766 44.721
Mato Grosso 37,23 36,74 155.479 184.897 260.242 333.710
Pará 276,01 26,99 44.740 137.855 191.831 230.497
Rondônia 47,48 27,04 261.919 384.455 519.639 580.303
Roraima -83,4 1.669 1.138 339 197
Tocantins 370,26 18,41 12.756 45.080 80.570 70.956
Elaboração: EPEM / ELN com dados do IBGE
Fonte: IBGE
A produção de aves no Acre variou bastante nos últimos anos. Entre 1995 e
1999, houve um crescimento de 17%, porém, entre 2000 e 2005, registrou-se queda de
29%. Diferente ocorreu na Amazônia Legal que, no primeiro período, diminuiu a sua
produção em 5,2% e, no segundo, aumentou em 8,7%. O Brasil sempre manteve a sua
produção de aves em nível ascendente, aumentando em 15 e 23% respectivamente,
conforme Tabela 3.11, a seguir.
Tabela 3.11 - Produção de aves no Acre, na Amazônia Legal e no Brasil
País, Estado e Região Variação (%) Quantidade (unidade)
1995/1999 2000/2005 1996 1999 2002 2005
Brasil 15,38 23,24 549.558.943 624.381.496 703.718.166 812.467.900
Acre 17,39 -28,74 904.970 997.171 976.485 722.181
Amazônia Legal -5,22 8,72 40.389.498 38.593.863 40.529.153 42.547.261
Elaboração: EPEM / ELN com dados do IBGE
Fonte: IBGE
3.2.4 Setor Agrícola
O Estado do Acre possui potencial de solo e clima adequados à produção de
uma grande variedade de produtos agrícolas. Entretanto, as informações mais recentes
indicam a pecuária como principal atividade econômica do setor primário, seguida pelo
extrativismo, representado quase totalmente pela borracha, castanha e madeira. Em
terceiro, vem os produtos agrícolas, mostrando a dificuldade de estabelecimento da
atividade no Estado. O solo acreano carece de investimentos tecnológicos para tornar a
agricultura uma atividade, de fato, competitiva. Não há presença de calcário e a planície
possui desníveis que exigem investimentos em processos corretivos que permitam a
mecanização. A terra possui vocações distintas de outras regiões do País, sendo
Economia
31
Diagnóstico
Diagnóstico
bastante sensível a um processo de mecanização mais rigoroso. O cultivo é mais
favorável para culturas permanentes e o solo precisa estar protegido contra a incidência
direta do sol e das chuvas.
A maioria dos produtores do Estado são adeptos da agricultura familiar e
possuem um nível de capitalização muito baixo, tendo dificuldade de adquirir produtos e
equipamentos que tragam maior produtividade à produção. Aliado a este, outros fatores
também representam barreiras ao pleno desenvolvimento agrícola no Estado, entre os
quais os elevados preços dos insumos, conseqüência do alto custo do transporte
rodoviário, em vista das longas distâncias. Isso faz com que produtos de outras regiões,
produzidos em larga escala, cheguem ao mercado acreano com preços competitivos.
Além disso, os riscos inerentes à atividade agrícola acabam desestimulando os
investimentos, devido à falta de garantia de preço e de uma política de seguro agrícola
adequada. A falta de profissionalização dos produtores locais também agrava a contínua
expansão dessa atividade, pois não há tradição em plantio de determinadas lavouras e
a assistência técnica não é permanente. Para reverter essa situação é necessário
maiores investimentos em pesquisa, capacitação e fomento.
Muitos desafios podem ser vislumbrados para que os agricultores acreanos
consigam fortalecer definitivamente esse setor econômico, entre eles está o
aproveitamento de áreas degradadas, o estabelecimento de cultivos auto-suficientes, o
mapeamento de possíveis produtos em que o Estado poderia alcançar vantagens
comparativas e explorar ganhos de mercado, o reforço da estrutura empresarial e
comercial, o fortalecimento do processo das cadeias produtivas e a maior
disponibilidade de base de crédito. Esses fatores seriam facilitadores da melhoria do
beneficiamento, transporte e comercialização.
A prática agrícola no Acre ainda está voltada à subsistência, todavia algumas
lavouras como a de mandioca, a do arroz, da banana e do milho têm importância
econômica, além de serem essenciais para suprir as necessidades da população local.
A lavoura permanente tem uma produção incipiente, tanto em relação à produtividade
quanto à área plantada. Este setor apresenta algumas fragilidades: em relação à área
plantada, a carência de assistência técnica e a baixa oferta de sementes adequadas
gerando, com isso, uma produção insuficiente até mesmo para abastecer o mercado
local. A Tabela 3.12 apresenta o comportamento da produção da lavoura permanente.
Economia
32
Diagnóstico
Tabela 3.12 - Lavoura Permanente segundo a quantida de produzida Produto 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005
Banana 4451 4781 5423 7692 7501 43625 52087 57918 62503 55479
Borracha (látex coag) 205 286 229 243 373 1046 852 750 1329 634
Café (beneficiado) 360 366 374 951 1432 4990 1939 2594 2533 2185
Laranja 22894 23665 24815 26448 26582 4655 4879 5817 7059 5558
Fonte: IBGE
Mesmo com a existência de manchas de solos propícios à agricultura, a
produtividade estadual é muito baixa. O arroz apresentou um aumento, no primeiro
período de análise (1996/2000), e uma leve queda, no segundo (2001/2005), a área
plantada vem crescendo ao longo dos anos. Já o feijão teve queda significativa nos dois
períodos analisados, o contrário do registrado nos outros Estados produtores da
Amazônia. Na Tabela 3.13 pode-se observar que entre os principais produtos da pauta,
a cana-de-açúcar foi o que manteve variação mais positiva. Há expectativa que haja o
aproveitamento do potencial de expansão dessa lavoura com a possibilidade de
produção de álcool no Estado e, para isso, espera-se o crescimento da área plantada e
da produção de cana. A mandioca teve um aumento em todos os períodos analisados,
tanto na área plantada quanto na quantidade produzida.
Tabela 3.13 - Lavouras Temporárias do Acre
Produto Quantidade (Var) % Área plantada (Var) %
1996/2000 2001/2005 1996/2000 2001/2005
Arroz (em casca) 0,78 -0,03 0,49 0,15
Cana-de-açúcar 0,38 1,61 0,08 2,20
Feijão (em grão) 0,36 -0,62 0,40 -0,16
Mandioca 1,12 0,78 0,44 0,73
Milho (em grão) 0,69 0,34 0,39 0,39 Fonte: IBGE
3.2.5 Setor Florestal
A atividade madeireira é uma das atividades econômicas mais importantes e
tradicionais na Amazônia e no estado do Acre não é diferente, a floresta sustenta a
economia acreana e faz da indústria extrativa vegetal a atividade mais relevante para a
população. O valor bruto da produção florestal do Acre, em 1998, representava 7,4% do
valor bruto total da produção do Estado. Em 2004, esse número mais do que dobrou,
elevando-se para 16,8%, de acordo com dados da Secretaria de Planejamento –
Seplan.
O Acre é o segundo maior produtor de borracha do País, sendo a seringueira
encontrada principalmente nas bacias dos rios Purus, Juruá e Madeira. A coleta de
Economia
33
Diagnóstico
Diagnóstico
castanha-do-brasil é também atividade básica, em geral, realizada pelo seringueiro,
como ocupação subsidiária, especialmente na época das chuvas.
Madeira
A produção madeireira do Estado está concentrada na Mesorregião Vale do
Acre. Segundo o Zoneamento Ecológico-Econômico, seus municípios detêm 60% da
produção de madeira serrada do Estado, 48% da produção de móveis, 49% do número
de serrarias, 60% das movelarias e 58% do total de empregos. No entanto, é na
Mesorregião Vale do Juruá que se concentram hoje as maiores reservas florestais, o
potencial econômico da flora tanto do ponto de vista madeireiro, da abundância e
variedades de espécies e uso industrial quanto na existência de plantas medicinais e
ornamentais.
Segundo dados do IBGE, a produção de madeira em toras aumentou 82% no
período de 1996 - 2006, alcançando o total de 397 mil metros cúbicos (Tabela 3.14).
Hoje, mesmo com o aumento da oferta de toras, de um terço, ao longo da última
década, a produção ainda é insuficiente para atender a demanda da capacidade
instalada da indústria florestal.
Tabela 3.14 - Quantidade produzida de Madeira em To ra (metro cúbico) Estados 1996 2001 2006
Acre 218.401 242.845 397.414
Rondônia 380.000 567.330 1.095.466
Amazonas 622.588 851.946 925.973
Roraima 16.593 25.100 128.000
Pará 37.788.555 10.645.334 9.506.602
Amapá 75.726 71.367 149.930
Tocantins 93.697 87.652 77.835
Maranhão 520.071 487.149 246.512
Mato Grosso 4.169.173 2.725.512 2.109.740
Total da Amazônia Legal 43.884.804 15.704.235 14.637.472
Total do Brasil 49.855.821 20.069.287 17.985.901
Fonte: IBGE - Produção Extrativa Vegetal
Até a década de noventa (1998), apenas 4% do suprimento da indústria
madeireira era proveniente de manejo florestal e os restantes 96% provinham de
desmatamentos. Hoje a relação foi invertida, com 84% do total de madeira extraída em
2007 são provenientes do manejo. Esses índices resultam da intervenção do Estado no
ordenamento das atividades produtivas e também do aumento das demandas mundiais
por madeira certificada, segundo a Secretaria de Floresta, que coordena 980 mil
hectares de florestas manejadas em 120 planos.
Com recursos do BNDES foi realizada pelo governo estadual, através de
parcerias públicas, privadas e comunitárias a fábrica de pisos de Xapuri. O consórcio
Economia
34
Diagnóstico
Complexo Industrial de Xapuri produz pisos e decks para exportação, a partir de
madeira manejada e utiliza a serragem produzida na unidade para acionar a caldeira
para produzir energia elétrica. O parceiro privado detém a tecnologia para a confecção
dos tacos. Além dela, são sócias cinco companhias do Acre e a Cooperativa dos
Produtores Florestais Comunitários (Cooperfloresta).
Produtos Não-Madeireiros
Os produtos florestais não madeireiros – PFNM - são amplamente utilizados,
seja na forma de remédios in natura, como cosméticos, ingredientes da culinária
regional, ou como matéria-prima para a confecção de artesanatos e biojóias - bijuterias
originadas de matéria-prima da floresta, tais como, fibras, cascas e sementes.
Muitos destes produtos são até mais valorizados pelo mercado internacional do
que pelo nacional, como o óleo do côco de babaçu, amplamente exportado para a
Europa e o óleo da copaíba que tem despertado o interesse das indústrias farmacêutica
e cosmética devido a suas propriedades cicatrizantes, antiinflamatórias e diuréticas.
Castanha
A castanha-do-brasil é um dos principais produtos da pauta de exportações do
Acre. É base de sustentação de centenas de famílias de seringueiros que ainda vivem
nas antigas colocações de seringais, muitas das quais bastante isoladas, como no Vale
do Acre, ou em pequenas comunidades ribeirinhas, no Vale do Juruá. Atualmente,
estima-se que aproximadamente quatro mil famílias estejam envolvidas com a extração
da castanha no Estado. A coleta da castanha é uma atividade que se desenvolve de
forma sustentável. Para produzir, a árvore necessita estar na floresta nativa.
O Acre é o principal responsável pela produção nacional de castanha-do-brasil in
natura, com uma produção média de 10,2 mil toneladas/ano, como se verifica na Tabela
3.15, que mostra também a comparação entre essa atividade e o total de produtos
explorados. Colhida e pré-selecionada pelos castanheiros, é, posteriormente
processada e industrializada.
Economia
35
Diagnóstico
Diagnóstico
Tabela 3.15 - Quantidade Produzida e Valor da Produ ção dos principais produtos extrativos
Produto extrativo
2002 2004 2006
Produção Valor
Produzido (em mil R$)
Produção Valor
Produzido (em mil R$)
Produção Valor
Produzido (em mil R$)
Madeira em tora (M3) 287.306 10.771 353.861 10.550 397.414 12.533
Lenha (M3) 505.539 3.132 562.748 3.741 646.002 4.242
Borracha (Ton.) 1.598 2.287 1.710 3.234 1.407 2.881
Carvão vegetal (Ton.) 2.118 576 1.743 580 1.698 642
Castanha-do-Brasil (Ton.) 6.674 2.888 5.859 4.940 10.217 12.254
Açaí (fruto) (Ton.) 807 229 741 280 961 393
Copaíba (óleo) (Ton.) 2 23 0 0 Fonte: IBGE - Produção Extrativa Vegetal.
Borracha
Os estados do Amazonas e o Acre são os maiores produtores de borracha
natural coletada em seringais nativos, com 51% e 35% do total nacional,
respectivamente. A produção da borracha está presente em praticamente todo o Estado,
mas é do Alto Acre que provêm a maior parte da borracha produzida, em razão da maior
organização social dos seringueiros que atuam em caráter comunitário, através de
diversas associações.
O forte associativismo dessa região tem contribuído significativamente para a
melhoria do agro-extrativismo de seus municípios. O maior empreendimento do Estado
neste setor localiza-se no município de Xapuri. Em fase final de implantação, a Fábrica
de Preservativos Natex é resultado de uma parceria entre Governo, iniciativa privada e
associações de seringueiros, as chamadas PPC’s – Parcerias Públicas, Privadas e
Comunitárias. O empreendimento tem sua operacionalização prevista para 2008, com
área de cobertura de até um milhão de hectares. A produção deverá atingir 100 milhões
de unidades, com previsão de ampliação para mais 200 milhões de preservativos ao
ano.
O objetivo é consolidar a cadeia produtiva do látex coletado nos seringais nativos
da região e gerar postos de trabalho e renda para fornecedores de 700 colocações, que
ocupam as regiões produtivas em diversos seringais da Reserva Extrativista Chico
Mendes. A indústria vai responder por 150 empregos diretos.
Assim como na maior parte dos novos empreendimentos do Estado, o Governo
estadual tem feito intervenções diretas na obtenção de financiamentos para a expansão
e fortalecimento das cadeias produtivas. A estratégia é consolidar projetos-pilotos
sustentáveis e bem sucedidos, a fim de atrair novos investidores para o Estado,
expandindo as iniciativas e multiplicando os resultados, tanto para a classe empresarial,
como para as comunidades.
Economia
36
Diagnóstico
Nesse segmento de extrativismo vegetal, a produção do látex também está
presente nas regionais de Taruacá-Envira, Purus e Juruá, principalmente no Município
de Marechal Thaumaturgo.
3.2.6 Setor de Turismo
A integração física com os países andinos, através da rodovia transoceânica,
abre amplas perspectivas ao desenvolvimento do setor de turismo do Estado do Acre. O
Estado pretende oportunizar ao máximo a nova logística de transporte representada
pelos 1,4 mil quilômetros da estrada do Pacífico, cuja etapa final consolida-se em 2010.
A estratégia é implantar um circuito turístico, integrando as riquezas naturais e culturais
do Acre às rotas turísticas do Peru, especialmente Machu Pichu, em Cuzco, cidade que,
anualmente, recebe mais de um milhão de turistas de todas as partes do mundo. Com a
nova rodovia, o turista poderá chegar ao Acre em apenas cinco horas, por estrada, ou
em meia hora, por rota aérea, a um custo inferior a US$ 80,00.
A atividade turística no Acre representa uma oportunidade para a geração de
renda e trabalho, com valorização da cultura local. Até 2010, o Governo pretende
investir R$ 46 milhões em programas de fortalecimento do turismo, cumprindo as metas
estabelecidas no Plano Estratégico de Desenvolvimento Sustentável do Estado. A
integração turística com o Peru potencializará a exploração de quatro modalidades de
turismo internacional: o ecoturismo; o turismo natural ou ecológico; o turismo de
pesquisa; e o turismo cultural.
Três roteiros já foram estabelecidos. Um deles é o chamado “Caminhos do
Pacífico”, uma rota Internacional que integrará a Amazônia aos Andes e ao oceano
Pacífico.
A outra rota é a “Caminhos de Chico Mendes”, que inclui visita a todo o acervo
do líder seringueiro mais representativo da luta em defesa do meio ambiente e da
reforma agrária na Amazônia. Através de PPC, a rota já está implantada, sendo a
Pousada do Seringal Cachoeira, local em que Chico Mendes viveu o seu principal
empreendimento.
A terceira rota turística do Estado, “Caminhos da Revolução”, está no Vale do
Acre e resgata a história e a cultura do povo acreano desde a revolução dos
autonomistas, que culminou em conflitos com a Bolívia. Outros roteiros estão sendo
estudados, entre os quais os “Caminhos das Aldeias”, no Vale do Juruá, que inclui
visitas a comunidades indígenas; e os “Caminhos da Biodiversidade”, visitas aos
projetos de produção e negócios ecológicos, que são os resultados práticos do modelo
Economia
37
Diagnóstico
Diagnóstico
de desenvolvimento sustentável adotado pelo Estado. Outro roteiro planejado é o da
gastronomia acreana, iniciando pelo município de Xapuri. A meta é criar e desenvolver
uma série de programas e projetos para o empoderamento de práticas empresariais por
comunidades tradicionais na produção de alimentos e divulgação de pratos típicos
regionais, consolidando assim a rota “Caminhos dos Sabores”.
Outro importante atrativo turístico do Estado são os "geoglifos”, desenhos
geométricos de grandes dimensões que se formam no solo, localizados próximos a
estrada que vai para Boca do Acre (AM), entre os rios Acre e Iquiri, já identificados como
vestígios arqueológicos de grande relevância científica. Desenhos similares são
encontrados em várias partes do mundo. Os mais conhecidos e estudados estão na
América do Sul, principalmente, na região andina do Chile, Peru e Bolívia. A
organização dessa rota turística possibilitará a visualização e visitação desses sítios
arqueológicos. Além deste, outra possibilidade a ser explorada são os "Caminhos do
Misticismo”, rota que visa divulgar os centros religiosos do Santo Daime e das demais
festividades religiosas amazônicas, no Acre.
Atualmente, o Estado analisa a viabilidade econômica de novos
empreendimentos de melhoria e ampliação da infra-estrutura turística, bem como para a
capacitação e treinamento de gerentes e operadores de turismo. Está entre os planos
viabilizar programas de fortalecimento do artesanato acreano, a criação de um centro de
convenções, de parques temáticos na cidade cenográfica da minissérie Amazônia; e a
realização de feiras para a promoção do Estado, no Brasil e no mundo.
3.2.7 Emprego Formal
A população do Estado do Acre é, em sua maioria, jovem. No período de 2002 a
2006, a população economicamente ativa cresceu de 302 mil para 353 mil pessoas,
enquanto as pessoas ocupadas - indivíduos com 10 ou mais anos de idade -
aumentaram de 282 para 307 mil, segundo publicação da Secretaria de Planejamento
do Estado.
Tabela 3.17 - Distribuição Econômica da População (mil pessoas)
Discriminação 2002 2003 2004 2005 2006
População em idade ativa 300 315 473 485 506
População economicamente ativa 183 180 302 327 353
População não economicamente ativa 117 135 171 158 153 Fonte: IBGE / Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD.
A Administração Direta é o setor econômico mais forte na movimentação de
renda no Estado, porém, no total de empregos, não é o que oferece maior
Economia
38
Diagnóstico
empregabilidade, permanecendo na quarta posição, atrás dos setores de Comércio e
Serviço, de Agricultura e Educação e Saúde. Uma parcela importante da população do
Estado ocupa-se de maneira autônoma.
Tabela 3.18 - Pessoas ocupadas por setor de ativida des e posição na ocupação do trabalho principal (mil Pessoas)
Discriminação 2002 2003 2004 2005 2006
Quant. % Quant. % Quant. % Quant. % Quant. %
Setor de Atividade 173 100 167 100 282 100 278 100 307 100
Agricultura 25 14,2 21 12,3 96 34,0 87 31,3 91 29,6
Indústria 11 6,4 13 8,1 15 5,3 23 8,3 28 9,1
Comércio e serviços 61 35,3 92 55,0 118 41,8 111 39,9 113 36,8
Administração pública 20 11,8 19 11,6 22 7,8 26 9,4 32 10,4 Educação, saúde e serviços
sociais 56 32,3 22 13,0 31 11,0 31 11,2 43 14,0
Posição na Ocupação (1) 173 100 167 100 282 100 278 100 307 100
Empregados 93 53,8 91 54,6 121 42,9 128 46,0 141 45,9
Trabalhadores domésticos 16 9,3 17 10,0 24 8,5 21 7,6 18 5,9
Autônomos 40 23,1 40 23,9 76 27,0 69 24,8 74 24,1
Empregadores 4 2,3 5 3,0 7 2,5 8 2,9 8 2,6
Outras 20 11,5 14 8,4 54 19,1 52 18,7 66 21,5 Fonte: IBGE / Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD. (1) Inclusive as pessoas sem declaração de atividade.
Em termos de estoque de empregos anuais, entretanto, o serviço público lidera,
conforme Tabela 3.19, que traz o número de empregos formais por atividade
econômica, seguido pelos setores de comércio, de serviços e pela indústria de
transformação.
Tabela 3.19 - Número de empregos formais por ativid ade econômica
Atividades econômicas 2002 2003 2004 2005
Total 68.439 68.500 73.731 79.431
Administração Pública 38.673 37.213 40.073 41.336
Comércio 9.889 10.783 12.039 13.765
Serviços 11.153 11.000 11.929 12.873
Ind. De Transformação 3.105 3.410 3.654 4.012
Construção Civil 2.882 2.312 2.889 3.958
Agropecuária 1.665 2.648 2.113 2.377
SIUP(1) 996 1.075 975 1.053
Extrativa Mineral 76 59 59 57
Outros - - - -
Fonte: MTE / Relação Anual de Informações Sociais - RAIS. Dados de 31 de dezembro
(1) SIUP: Serviços Industriais de Utilidade Pública.
Segundo o critério de rendimentos, a maior parte da população ocupada acreana
recebe até dois salários mínimos mensais, situação que não foge a característica
nacional, onde os rendimentos de 44,4% dos brasileiros limitam-se a esse mesmo valor.
Economia
39
Diagnóstico
Diagnóstico
Observa-se, no entanto, certas peculiaridades. Entre 2002 e 2006, a parcela da
população que se declara sem rendimentos saltou de 11,5% para 21,5%, o que
representa mais pessoas dependentes dos repasses dos programas de assistência
federais.
3.2.8 Finanças Públicas
Nos últimos dez anos, o Estado do Acre assistiu a profundas mudanças na sua
estrutura financeira e fiscal, conseqüência dos bons resultados de sua estratégia de
desenvolvimento, fundamentada na consolidação das instituições públicas, na
permanente atração de investimentos públicos e privados, via operações de crédito, e
na crescente articulação entre o poder público e a iniciativa privada.
Essas ações garantiram ampliar suas receitas próprias, conseqüência de ajustes
na arrecadação de ICMS do Estado, com a adoção de mudanças nos critérios de
arrecadação optando-se pela tributação na entrada e pela redução do imposto cobrado,
o que fez com que houvesse um aumento de dez vezes na receita e melhoria de
eficiência na arrecadação.
Tabela 3.20 - Balanço Orçamentário Estadual – Recei tas (valores em R$)
Receitas 2001 2002 2003 2004 2005
1. Receitas Correntes 876.362.942 1.055.267.632 1.118.783.142 1.269.906.265 1.608.233.156
1.1 Receitas Próprias 220.134.621 283.001.201 369.006.094 407.268.138 508.521.370
ICMS 135.614.959 150.394.260 208.225.906 227.957.810 292.461.838
IRRF 32.249.037 36.396.465 42.260.360 45.723.781 56.278.072
Outras Receitas Próprias 52.270.624 96.210.476 118.519.828 133.586.547 159.781.461
1.2 Transferências 635.104.683 773.266.925 749.777.048 862.638.126 1.099.711.785
FPE 490.451.593 606.975.014 631.438.208 696.021.348 871.106.401
Outras Transferências 144.653.090 166.291.911 118.338.840 166.616.778 228.605.384
2. Receitas de Capital 61.191.216 104.857.184 69.636.915 94.001.564 233.138.087
Operações de Crédito 15.085.969 41.435.962 8.369.622 8.321.379 120.177.689
Alienação de Bens 0 0 63.262 1.396 0
Outras Receitas de Capital 46.105.247 63.421.222 61.204.031 85.678.788 112.960.398
Total das Receitas (1+2) 937.554.157 1.160.124.816 1.188.420.057 1.363.907.828 1.841.371.242
Déficit 0 2.348.245 5.961.868 0 0
Total 937.554.157 1.162.473.061 1.194.381.925 1.363.907.828 1.841.371.242 Fonte: Balanço Geral do Estado
Economia
40
Diagnóstico
Figura 3.2 – Receita arrecadada por fonte do Estado do Acre Fonte: Sefaz – Balanço Geral 2006
Tabela 3.21 - Balanço Orçamentário Estadual das Des pesas (Valores em R$)
Despesas 2001 2002 2003 2004 2005
3. Despesas Correntes 734.550.453 863.139.201 996.028.305 1.117.364.603 1.301.175.116
3.1 Despesas com Pessoal 477.596.381 564.914.029 642.420.672 720.264.589 836.730.465
Pessoal Ativo 411.534.326 441.870.383 493.857.067 530.208.116 607.161.433
Inativos e Pensionistas 54.069.954 70.826.670 84.133.049 97.870.844 115.787.506
Outras despesas com pessoal 11.992.102 52.216.977 64.430.556 92.185.629 113.781.526
3.2 Outras Despesas Correntes 256.954.071 298.225.172 353.607.633 397.100.014 464.444.651
Juros Pagos 31.695.380 35.691.172 59.716.213 35.342.738 37.282.453
Demais Despesas Correntes 225.258.691 262.534.000 293.891.420 361.757.276 427.162.197
4. Despesas de Capital 201.069.832 299.333.860 198.353.620 231.689.744 369.111.837
Investimentos 140.899.854 222.584.717 139.501.575 183.414.376 311.349.698
Amortizações Pagas 59.030.456 76.542.285 58.772.644 47.994.768 57.602.138
Outras Despesas de Capital 1.139.522 206.859 79.401 280.600 160.000
Total das Despesas (3+4) 935.620.285 1.162.473.061 1.194.381.925 1.349.054.347 1.670.286.953
Superávit 1.933.872 0 0 14.853.481 171.084.290
Total 937.554.157 1.162.473.061 1.194.381.925 1.363.907.828 1.841.371.242
Fonte: Balanços do Estado
3.3 INFRA-ESTRUTURA
A nova logística de infra-estrutura de transportes coloca o Estado do Acre em
uma posição estratégica em relação a potenciais mercados e abre perspectivas à
integração produtiva entre as suas duas mesorregiões.
Infra-Estrutura
41
Diagnóstico
Diagnóstico
Os investimentos em infra-estrutura ainda são considerados um dos maiores
problemas do Estado, até por se tratarem dos principais condutores de transformação
da dinâmica social na região. A infra-estrutura implantada no Acre está mais presente no
Baixo Acre (Rio Branco) e em Cruzeiro do Sul, no Juruá, que são as regiões mais
povoadas. Uma das características do Estado é que a população fica dispersa em
comunidades distantes entre si, ficando no período de chuvas isoladas, o que dificulta o
acesso aos serviços de saúde pública, transportes, energia elétrica, comunicações e
abastecimento comercial, de um modo geral.
3.3.1 Logística de Transportes
O posicionamento do Estado do Acre no contexto de implantação dos novos
eixos de integração física regional ainda não impactou plenamente sua logística de
transportes. Embora o Estado esteja realizando importantes investimentos em sua infra-
estrutura interna, os maiores resultados ainda dependem da conclusão das duas mais
importantes obras em curso: o asfaltamento da BR-364; e a construção da rodovia
transoceânica.
O sistema atual de transportes ainda não consegue atender plenamente às
demandas dos setores produtivos, representando neste momento importante limitação
ao desenvolvimento principalmente dos municípios do Vale do Juruá.
O Estado é fortemente dependente do transporte rodoviário, em vista de contar
com poucos rios navegáveis e, ainda assim, não dispor de portos ou hidrovias
balizadas. A região sul do Estado hoje é bem atendida pela rodovia BR-317, que liga Rio
Branco a Assis Brasil, na fronteira com o Peru. Contudo, os municípios do Vale do Juruá
ainda permanecem praticamente isolados do restante do Estado.
O acesso via terrestre entre as duas mesorregiões é dificultado especialmente no
período de inverno, já que trechos da BR-364 ficam intrafegáveis no período chuvoso. A
maior parte dos municípios do Vale do Juruá permanecem isolados da Capital por falta
de acessibilidade, tendo em vista que os ramais não permitem tráfego ficando a maior
parte dos municípios isolados da capital durante o inverno.
A BR 364, cuja abertura iniciou-se em 1977, está atualmente, com
aproximadamente 410 quilômetros pavimentados, ou seja, 47% de uma extensão total
de 871 quilômetros, segundo dados do ZEE. Cruzeiro do Sul, a maior cidade do oeste,
tem mais ligação com Manaus, no Amazonas, do que com Rio Branco. Outra
característica que dificulta a construção das estradas é que o Estado não tem pedras, o
que dificulta a construção do asfalto.
Infra-Estrutura
42
Diagnóstico
Os principais eixos de integração são as BR-364 e BR-317, sendo as principais
vias de acesso rodoviário dentro e fora do Estado e permitem a comunicação entre as
principais cidades da região. A rodovia BR 364 liga a capital Rio Branco através de
Rondônia e Mato Grosso com o resto do Brasil. Dentro do Acre, atravessa todo o estado
até Cruzeiro do Sul terminando em Rodrigues Alves, no extremo-oeste do Estado.
A BR-317 liga o sul do Amazonas a Rio Branco, estendendo-se aos municípios
de Xapuri, Brasiléia e Assis Brasil, na fronteira com o Peru e a Bolívia. Esta rodovia
também conhecida como Transoceânica ou Rodovia do Pacífico, faz parte do eixo Peru-
Brasil, corredor bioceânico Atlântico/Pacífico, previsto no Programa de Integração da
Infra-Estrutura Regional da América do Sul (IIRSA). Essa integração pretende tornar
possível a conexão para o escoamento da produção das regiões norte e centro-sul do
Brasil. A parte brasileira da BR-317 já está concluída e a parte peruana em construção,
com conclusão prevista para 2010.
Estas duas rodovias (BR-364 e BR-317) têm uma importância estratégica para a
integração econômica, comercial e cultural do Acre com os países andinos, permitindo o
acesso do Brasil aos portos do Pacífico. A tabela que se segue mostra a extensão das
redes rodoviárias no estado do Acre.
Tabela 3.22 - Extensão das redes rodoviárias, por s ituação e tipo de leito - 2005
Extensões totais Rede rodoviária (km)
Federal Estadual Municipal Total
Total 1.613,80 838,00 6.970,55 9.422,35
Planejadas 410,00 196,00 - 606,00
Em obras de implantação - - - -
Não pavimentadas 225,00 305,00 6.823,55 7.353,55
Leito natural 225,00 115,00 4.795,65 5.135,65
Implantadas - 190,00 2.027,90 2.217,90
Em obras de pavimentação 211,50 25,00 - 236,50
Pavimentada 767,30 312,00 147,00 1.226,30
Pista simples 753,30 296,00 147,00 1.196,30
Obras de duplicação - 1,30 - 1,30
Duplicada 14,00 14,70 - 28,70
Fonte: Departamento Estadual de Estradas de Rodagens do Acre - DERACRE.
O estado do Acre dispõe de dois aeroportos, administrados pelo Governo
Federal: Em Rio Branco está localizado o aeroporto Internacional de Rio Branco, e em
Cruzeiro do Sul um aeroporto nacional. O sistema aeroviário é importante no Acre,
devido às grandes distâncias entre o Estado e outras capitais do País, além da falta de
uma ligação terrestre adequada entre a capital, Rio Branco, e os municípios do interior.
Infra-Estrutura
43
Diagnóstico
Diagnóstico
No período chuvoso, quando a BR-364 fica intrafegável, o transporte aéreo representa a
única opção de deslocamento.
O estado do Acre tem como mais importantes os rios Tarauacá, Muru, Embirá,
Xapuri, Juruá, Rio Purus e o Rio Acre. Os portos que escoam a produção acreana estão
no Amazonas: Boca do Acre para a Bacia do Purus e Eirunepé para a do Juruá. Os
principais rios utilizados para o transporte fluvial são os rios Juruá e seus afluentes –
Tarauacá e Envira, mais fortemente na Mesorregião Vale do Acre com Manaus, no
Amazonas.
Tabela 3.23 - Portos do Estado, segundo sua localiz ação - 2005
Localidade Nome do porto Responsável
Rio Branco Terminal fluvial Governo do Estado do Acre
Cruzeiro do Sul Porto fluvial Governo do Estado do Acre
Porto Acre Rampa de embarque e desembarque Governo do Estado do Acre
Fonte: Departamento de Estradas e Rodagens do Acre – DERACRE
3.3.2 Telecomunicações
Segundo informações do governo do Estado, técnicos da Secretaria da Gestão
Administrativa estão trabalhando em um projeto denominado Floresta Digital, que visa
construir redes de banda larga para oferecer acesso grátis à internet sem fio a todos
seus residentes. Tendo como meta a cobertura de todo seu território até 2010. A
primeira fase deve abranger a capital, Rio Branco, e os municípios de seu entorno e
posteriormente se estender aos municípios ao longo da BR-364 e por último, levar a
rede aos demais municípios, previsto inclusive, comunidades indígenas e ribeirinhas.
Devido às condições geográficas e topográficas da Amazônia será necessário
usar conexões via satélite para complementar as redes terrestres, sempre recorrendo a
tecnologias sem fio (WiMAX, Wi-Fi e Wi-Mesh) para a distribuição local do sinal. As
estradas digitais parecem ser a saída mais viável para encurtar as distâncias e diminuir
o isolamento entre os municípios acreanos.
Os serviços de telecomunicações têm registrado melhorias, principalmente em
áreas urbanas com maior renda, onde o acesso a telefonia celular é crescente e conta
atualmente com 41,7% de acessos, sendo que em 2001 era de 21%. Já o acesso ao
telefone fixo é decrescente, conforme demonstrado na Tabela 3.24.
Mesmo tendo melhorado o acesso, os serviços de telecomunicações no Estado
ainda é precário, notadamente, em comunidades mais dispersas, observa-se que em
alguns municípios o meio de comunicação ainda é deficitário. De acordo com o
Infra-Estrutura
44
Diagnóstico
documento Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre Fase II, 2006 inúmeras
comunidades, isoladas por via terrestre, e com acesso restrito à via aérea ou fluvial, têm
no rádio receptor ou amador o único elo de ligação. A tabela a seguir mostra os serviços
de telecomunicações, relativos aos números de telefones fixos e públicos instalados no
estado do Acre, por município.
Tabela 3.24 - Número de telefones fixos e públicos por município
Município 2003 2004 2005 2006 2007*
Fixos Públicos Fixos Públicos Fixos Públicos Fixos Públicos Fixos Públicos
Acre 96.153 4.017 97.066 3.994 91.707 3.983 76.952 3.985 62.169 4.120
Acrelândia 624 45 624 46 573 51 488 50 419 52
Assis Brasil 428 27 428 28 400 28 368 28 369 30
Brasiléia 2.649 85 2.651 87 1.424 86 1.310 86 1.038 93
Bujari 379 32 380 32 348 32 189 32 163 28
Capixaba 343 27 344 28 316 28 299 28 348 25
Cruzeiro do Sul 8.184 358 8.197 373 7.908 356 6.064 352 5.201 353
Epitaciolândia - - - - 1.048 74 974 74 686 74
Feijó 2.032 95 2.032 96 1.774 98 971 96 783 100
Jordão 120 10 120 10 110 10 95 10 97 10
Mâncio Lima 748 54 748 54 700 55 447 57 299 57
Manoel Urbano 380 23 380 23 380 23 241 23 176 23
Marechal Thaumaturgo 180 9 180 9 169 11 162 11 178 13
Plácido de Castro 1.098 100 1.100 104 1.015 101 1.352 124 773 96
Porto Acre 310 23 344 23 288 56 677 56 647 56
Porto Walter 168 9 168 9 173 11 130 11 123 12
Rio Branco 70.386 2.664 71.085 2.598 67.320 2.478 57.623 2.462 46.750 2.616
Rodrigues Alves 343 30 343 32 309 35 217 35 181 35
Santa Rosa do Purus 200 10 200 10 190 10 120 10 110 10
Sena Madureira 2.496 132 2.608 139 2.459 139 1.988 139 1.397 132
Senador Guiomard 1.608 104 1.608 106 1.501 107 1.234 107 851 107
Tarauacá 1.927 101 1.974 105 1.831 114 1.150 114 982 114
Xapuri 1.550 79 1.552 82 1.471 80 853 80 598 84
Fonte: Brasil Telecom.
Nota: Nos anos de 2003 e 2004, o município de Epitaciolândia era atendido pela mesma Estação Telefônica de Brasiléia.
* Dados atualizados até outubro de 2007.
3.3.3 Energia Elétrica
Em relação ao setor energético, o potencial hidrelétrico do estado do Acre é
pequeno, mesmo tendo como os rios mais importantes: Tarauacá, Muru, Embirá, Xapuri,
Juruá, Rio Purus e o Rio Acre, para fins de geração de energia elétrica, os rios não
apresentam condições favoráveis, como a geomorfologia do território, com topografia
Infra-Estrutura
45
Diagnóstico
Diagnóstico
plana e rios de baixa queda e substrato rochoso desfavorável. A capacidade instalada,
disponível e demanda máxima do estado do Acre atual está demonstrada na Tabela
3.25.
O sistema Eletronorte no Acre é integrado ao sistema Acre/Rondônia, que por
sua vez, será interligado ao sistema interligado nacional (SIN), com conclusão prevista
para outubro de 2008. O sistema elétrico Eletroacre/Guascor é composto por sistemas
isolados no interior do Estado, cujo parque gerador é formado por treze usinas
termelétricas. Esse sistema é responsável por 23% do atendimento da demanda no
Acre, e o sistema Eletronorte responde por 77%. Juntos, beneficiam uma população de
aproximadamente 423 mil habitantes, que corresponde a 63% do total da população do
Estado.
A Eletronorte possui 24 unidades geradoras em Rio Branco, que totalizam uma
capacidade efetiva instalada de 78,95 MW. Esse parque, associado ao intercâmbio
energético na linha de transmissão Porto Velho/Rio Branco, é responsável pela geração
e transmissão de energia elétrica na capital do Estado e pelo atendimento a sete
localidades do interior, pertencentes ao sistema Eletroacre: Acrelândia, Bujarí, Plácido
de Castro, Porto Acre, Redenção, Senador Guiomard e Vila Campinas. A partir de
março de 2008 os municípios de Brasiléia e Epitaciolândia passaram a integrar ao
sistema interligado Eletronorte, com a energização da linha de transmissão Rio Branco/
Brasiléia.
Infra-Estrutura
46
Diagnóstico
Tabela 3.25 - Capacidade instalada disponível e demanda máxima re cebida dos parques geradores de Energia Elétrica
Concessionárias e Municípios
Capacidade instalada (kw) Capacidade disponível (kw) Demanda máxima (1) (kwh)
2002 2004 2006 2002 2004 2006 2002 2004 2006
Total Geral 173.562 156.072 309.063 129.159 112.779 267.035 92.415 101.661 111.684
Eletronorte 139.210 116.810 267.450 97.350 76.350 229.350 71.024 76.520 84.060
Rio Branco(2) 139.210 116.810 267.450 97.350 76.350 229.350 71.024 76.520 84.060
Eletroacre/Guascor 34.352 39.262 41.613 31.809 36.429 37.685 21.391 25.141 27.624
Assis Brasil 1.179 1.179 1.179 1.050 1.050 1.050 391 445 593
Brasiléia 4.716 5.716 5.716 4.500 4.600 5.350 3.221 3.703 4.398
Capixaba 672 946 946 672 834 872 404 603 509
Cruzeiro do Sul 13.588 15.735 17.235 12.000 15.000 15.000 9.502 11.220 12.485
Epitaciolândia - - - - - - - - -
Feijó 2.585 2.585 2.585 2.500 2.500 2.500 1.348 1.500 1.735
Jordão 234 234 234 234 234 234 118 128 132
Mâncio Lima - - - - - - - - -
Manoel Urbano 786 1.060 1.086 700 974 970 372 443 466
Mar. Thaumaturgo 287 399 673 287 399 599 164 246 324
Porto Walter 336 448 448 336 336 448 174 189 246
Rodrigues Alves - - - - - - - - -
Sta Rosa do Purus 310 252 252 280 252 252 104 150 192
Sena Madureira 3.930 3.930 4.730 3.750 3.750 4.330 2.485 3.167 3.045
Tarauacá 3.144 4.193 3.944 3.000 4.000 3.580 1.781 1.912 2.033
Xapuri 2.585 2.585 2.585 2.500 2.500 2.500 1.327 1.435 1.466
Fonte: ELETROACRE.
(1) Demanda máxima durante o ano (horário de pico).
(2) Sistema Interligado (Rio Branco, Acrelândia, Bujari, Campinas, Plácido de Castro, Porto Acre, Redenção e Senador Guiomard).
Programa Luz para Todos
A distribuição para os consumidores de energia elétrica por classe de consumo,
como residencial, industrial, comercial, industrial, poder público e outros, é realizada
pelo sistema da Eletroacre. No Acre, 63% de sua população é atendida com energia
elétrica convencional, os 37% não atendidos, geralmente, correspondem à parcela que
vive em pequenas localidades isoladas no interior. O abastecimento dessas localidades
de difícil acesso está sendo atendido por meio de políticas de universalização dos
serviços de energia elétrica - Programa Luz para Todos, que está sob a
responsabilidade do Governo Federal e sendo executado pela concessionária local –
Eletroacre. Esse programa executou 6.235 km de rede, beneficiando 27.117 domicílios
em 20 municípios no Estado até dezembro de 2007, conforme demonstrado na Tabela
3.26 a seguir.
Infra-Estrutura
47
Diagnóstico
Diagnóstico
O Centro de Referência de Energia de Fontes Renováveis implantado na Funtac,
desenvolve pesquisas com biodiesel, inventários para implantação de PCH e MCH e
microgeradores.
Tabela 3.26 - Programas Luz no Campo, Luz Para Todo s e PRODEEM
Município
Luz no Campo1 Luz Para Todos2 PRODEEM3
Rede (Km) Famílias atendidas Rede (Km) Famílias
atendidas Comunidades beneficiadas
Total 680,5 2.013 6.235,5 27.117 169
Acrelândia 101,6 311 302,7 1.341 12
Assis Brasil - - 147,6 313 12
Brasiléia 38,9 97 540,6 1.812 20
Bujari - - 311,3 1.316 9
Capixaba - - 406,1 1.783 6
Cruzeiro do Sul 36,2 168 268,6 1.626 19
Epitaciolândia - - 280,6 890 1
Feijó - - 203,9 1.061 6
Jordão - - - - -
Mâncio Lima - - 113,0 574 -
Manoel Urbano - - 115,3 408 12
Mar Thaumaturgo - - 45,1 275 -
Plácido de Castro 133,5 427 485,3 1.974 13
Porto Acre - - 380,4 1.981 3
Porto Walter - - 95,2 601 -
Rio Branco 139,0 332 915,8 4.322 9
Rodrigues Alves - - 211,1 1.633 3
Sta Rosa do Purus - - - - 3
Sena Madureira 53,2 130 395,2 1.425 5
Senador Guiomard 178,1 548 490,3 2.118 15
Tarauacá - - 249,6 996 10
Xapuri - - 277,8 668 11
Fonte: SEPLANDS/ Programa Luz Para Todos/ PRODEEM.
Nota: A partir do ano de 2006 o PRODEEM não realiza mais novas instalações, e sim revitaliza sistemas que foram instalados nos anos anteriores.
1 - Obras executadas no período de 2001 e 2003.
2 - Obras concluídas entre 2004 e Dezembro de 2007.
3 - Dados referentes ao período de 2000 a 2006. Neste programa, as comunidades são beneficiadas com sistemas de energia solar nas escolas e postos de saúde
3.4 MEIO AMBIENTE
Nos últimos anos, o conceito de Florestania1 tem sido difundido como prioridade
pelo Governo do estado do Acre, no sentido de promover o desenvolvimento baseado
1 Florestania é a união das palavras “floresta” e “cidadania”: um termo novo, criado para descrever os diversos jeitos de se viver na Amazônia. A Florestania é uma tentativa de chamar atenção para o fato de que a humanidade não é o centro,
Meio-Ambiente
48
Diagnóstico
em três pilares de sustentabilidade: econômico, social e ambiental. Dentro desse
conceito, o Estado tem priorizado a gestão de florestas públicas para a exploração
econômica sustentável de produtos madeireiros e não-madeireiros, com base na lei
1.117/26.01.94, que dispõe sobre a política ambiental no Acre. A Floresta Estadual do
Antimari (Decreto 046/97), que entrou em produção em 2002 já passa por esse
processo de gestão.
A opção do Estado pelo modelo de desenvolvimento sustentável tem o
zoneamento econômico ecológico como principal ferramenta para o ordenamento das
atividades produtivas no território acreano. O instrumento de gestão ambiental é
fundamental para o governo identificar os setores produtivos para o fortalecimento da
economia local.
Dos 16.422.136 ha de área do Estado do Acre, 1.622.389 ha são áreas de
proteção integral, correspondendo a 9,88% do seu território. As áreas de uso
sustentável somam 3.685.705 ha, o que corresponde a 22,44% do Estado. As terras
indígenas totalizam 2.767.46 ha, representando 13,10% da área do Acre. Atualmente, o
desmatamento do Estado corresponde a 11,06% de suas reservas naturais, o que
significa 1.817.136 ha de floresta. A Figura 3.3 descreve com mais detalhes a
localização de cada área.
Fonte: SEIAM – Sistema Estadual de Informações ambientais
ZEE-AC – Zoneamento Ecológico Econômico do acre
mas parte integrante e dependente da natureza. É uma mudança de conceitos culturais, sociais e econômicos em resposta a uma consciência emancipadora na relação homem-meio ambiente. (citar corretamente a fonte do conceito). Ver em www.ac.gov.br
Meio-Ambiente
49
Diagnóstico
Figura 3.3 - Mapa Sistema Estadual de Informações A mbientais – Áreas Naturais Protegidas
O Acre registrou forte aumento da taxa anual de desmatamento no período de
1996 a 2003, quando atingiu o seu auge, com 1.061km² desmatados. Entre 2004 a 2006
houve uma desaceleração do processo, caindo para 323km² desmatados em 2006. A
Tabela 3.27 apresenta as taxas anuais de desmatamento dos Estados da Amazônia
Legal, entre 1996 a 2006.
Tabela 3.27 - Taxa anual de desmatamento Km²/ano
Estados Ano
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Acre 433 358 536 441 547 419 762 1.061 729 539 323
Amazonas 1.023 589 670 720 612 634 881 1.587 1.211 752 780
Amapá 18 30 7 0 25 46 33 30
Maranhão 1.061 409 1.012 1.230 1.065 958 1.014 993 755 922 651
Mato Grosso 6.543 5.271 6.466 6.963 6.369 7.703 7.892 10.405 11.814 7.145 4.333
Pará 6.135 4.139 5.829 5.111 6.671 5.237 7.324 6.996 8.521 5.731 5.505
Rondônia 2.432 1.986 2.041 2.358 2.465 2.673 3.067 3.620 3.834 3.233 2.062
Roraima 214 184 223 220 253 345 84 439 311 133 231
Tocantins 320 273 576 216 244 189 212 156 158 271 124
Amazônia Legal 18.161 13.227 17.383 17.259 18.226 18.165 21.238 25.282 27.379 18.759 14.039
Fonte: INPE (Monitoramento do desmatamento em formações florestais na Amazônia - PRODES), 2007
O trabalho do Estado em relação ao manejo de florestas públicas tem o
reconhecimento internacional. Hoje conta com o programa pró-florestania, realizado pelo
Governo do Estado e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O objetivo
do programa é apoiar as populações tradicionais e o uso sustentável dos recursos
naturais do Estado. O Programa pró-florestania é gerido por um Conselho Executivo e
presidido pelo Secretário de Estado de Produção - SEPRO. Os recursos estimados são
de US$ 13.100.000 do BID e US$ 2.400.000 do governo do Acre, segundo o Programa
de Desenvolvimento Sustentável do Acre.
Seguindo as recomendações do Decreto Presidencial n° 99.540, de 21 de
setembro de 1990, o Governo do Acre, através do Decreto Estadual n° 503/99, instituiu
o Plano Estadual de Zoneamento Ecológico-Econômico do Estado. Em sua primeira
fase foi feito um diagnóstico do Estado e um estudo cartográfico detalhado. A segunda
fase, mais extensa, exigiu maior participação da sociedade. O ZEE já foi devidamente
aprovado, com diversos desdobramentos nas políticas ambientais do Acre.
Meio-Ambiente
50
Diagnóstico
O planejamento e a política ambiental têm como objetivo consolidar uma
ocupação racional do território acreano, evitando que áreas de floresta primária sejam
desmatadas e ordenando as atividades produtivas segundo critérios de viabilidade
econômica e sustentabilidade ambiental. Promover o desenvolvimento dos setores
produtivos com responsabilidade ambiental requer base legal e política socioambiental
bem sucedida. Alguns municípios acreanos já elaboraram seu Plano Diretor
Participativo, que é obrigatório a todos depois da criação do Estatuto da Cidade (Lei
Federal n° 10.257, de 10 de julho de 2001). Os muni cípios de Feijó, Rio Branco, Sena
Madureira e todos os municípios da regional do Alto Acre já concluíram seus Planos
Diretores.
A gestão ambiental no Brasil segue uma tendência à descentralização, dando
maiores poderes aos Estados e municípios. A política ambiental do Acre tem o Instituto
de Meio Ambiente do Acre (IMAC) e a Fundação de Tecnologia do Acre (FUNTAC)
como órgãos executores. Os eixos de atuação da política ambiental do Acre são:
educação ambiental, fiscalização, licenciamento, monitoramento e zoneamento
ecológico-econômico.
Dimensão Social
51
Diagnóstico
Para a gestão ambiental do seu território, o Estado do Acre conta com o Sistema
Estadual de Áreas Naturais Protegidas (SEANP), criado em 2001 e sob a
responsabilidade da Secretaria Estadual da Floresta (SEF). Existem três Unidades de
Conservação de Proteção Integral, sendo a maior delas o Parque Nacional da Serra do
Divisor, com plano de manejo já concluído. Existem dezesseis Unidades de
Conservação de Uso Sustentável, mas apenas a Floresta Estadual do Antimari
apresenta plano de manejo concluído. Para outras seis áreas, os planos estão sendo
elaborados. Existem mais de trinta Terras Indígenas reconhecidas e, segundo
informações do ZEE, totalizam 14,55% do território do Estado.
3.5 DIMENSÃO SOCIAL / SOCIEDADE
A evolução dos indicadores sociais no Estado do Acre nos últimos dez anos tem
apresentado uma trajetória de melhoria de alguns dos principais índices. No campo
educacional a evolução da média de anos de estudos passou de 4,96 anos para 5,50,
entre 1994 e 2004. Porém, quase totalidade dos 22 municípios do Acre possui o Índice
de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) abaixo da média nacional. O valor
médio do Estado nesse índice é 3,3 nas primeiras séries do ensino fundamental,
enquanto a média brasileira é de 3,8, sendo que o indicador varia numa escala de zero
a dez.
O Estado aderiu ao programa estadual “Todos pela Educação” que visa
possibilitar o alcance das metas do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). O
objetivo do programa é que o governo estadual e prefeituras se comprometam a seguir
as 28 diretrizes previstas no compromisso, que estabelece medidas como a
alfabetização de todas as crianças até a idade máxima de oito anos e o
acompanhamento individual de cada aluno. Segundo as projeções até o ano 2022 ―
ano do bicentenário da Independência do Brasil ― o Acre deve atingir média de 5,6 no
IDEB.
Tabela 3.28 - Média Educação Básica Acre / Brasil
Fases de Ensino 2005 2005
Acre Brasil
Anos Iniciais do Ensino Fundamental 3,3 3,8
Anos Finais do Ensino Fundamental 3,5 3,5
Ensino Médio 3,0 3,4
Fonte: Saeb 2005 e Censo Escolar 2005 e 2006.
Dimensão Social
52
Diagnóstico
A publicação estadual, “Acre em Números - 2007”, demonstra que a partir de
2001, registrou-se no Acre uma maior universalização do acesso à educação. O número
de matriculas da educação básica teve um crescimento de 4,7% no período 2001/2005.
No entanto, o atendimento escolar não foi acompanhado dos padrões desejáveis de
qualidade. O principal gargalo é de natureza infra-estrutural. Segundo essa mesma
publicação apenas 47% das escolas públicas no Acre tem energia elétrica. Tal
precariedade compromete as taxas de rendimento do ensino fundamental e médio.
Atualmente a taxa de reprovação para o ensino fundamental é de 13,4% e de 6,1% para
o ensino médio. Enquanto a taxa de evasão escolar está em 10,5% e 19% para o ensino
fundamental e médio, respectivamente. Segundo os dados do MEC/INEP, apesar do
aumento na taxa de matrículas na educação básica, conforme pode ser visto na Tabela
3.29, ainda persistem elevados os índices de analfabetismo nas Regionais de Juruá,
Tarauacá-Envira e Purus. A taxa de analfabetismo de pessoas de 15 anos e mais no
Acre mostra-se em tendência de queda quando passa de 34,8% em 1991 para 23,7%
em 2000.
Tabela 3.29 - Dados gerais da educação básica
Discriminação Quantidade
2002 2003 2004 2005 2006
Matrícula Inicial 253.736 258.591 261.556 260.591 258.053
Educação Infantil 25.011 25.460 25.901 26.839 27.244
Ensino Fundamental 149.619 148.007 151.535 153.317 155.829
Ensino Médio 25.024 28.497 29.736 31.288 32.044
Ed. Jovens e Adultos 52.947 55.361 52.455 46.317 40.546
Educação Especial 1.135 1.266 1.104 1.208 1.230
Educação Profissional - - 825 1.622 1.160
Funções Docentes (1) 11.238 11.264 11.442 11.496 11.375
Educação Infantil 1.202 1.206 1.244 1.289 1.299
Ensino Fundamental 6.953 6.920 7.012 7.094 7.157
Ensino Médio 1.224 1.435 1.461 1.464 1.465
Ed. Jovens e Adultos 1.878 1.864 1.801 1.705 1.578
Educação Especial 172 163 172 177 211
Educação Profissional - 74 143 140 52
Estabelecimentos (2) 1.687 1.673 1.695 1.726 1.734
Educação Infantil 313 313 282 284 312
Ensino Fundamental 1.554 1.544 1.552 1.584 1.589
Ensino Médio 57 60 60 68 69
Ed. Jovens e Adultos 666 618 603 616 596
Educação Especial 15 13 16 14 9
Educação Profissional - 2 3 5 5
Indígena 107 121 129 136 -
Fonte: MEC/INEP/Censo Escolar.
Nota: (1) O mesmo docente pode atuar em mais de um nível/modalidade de ensino e em mais de um estabelecimento.
(2) O mesmo estabelecimento pode oferecer mais de um nível/modalidade de ensino.
Dimensão Social
53
Diagnóstico
O acesso à educação superior no Estado, no entanto, ainda é bastante restrita.
Conforme mostra a Tabela 3.30, apesar do número de matriculas estar crescendo nos
últimos anos, muito ainda precisa ser feito para universalizar o acesso ao curso superior.
Além do aumento da oferta de vaga e diversificação de cursos, se faz importante
estudar oportunidades locais para a difusão do conhecimento e das potencialidades.
Tabela 3.30 - Dados gerais da educação superior no Estado
Descrição 2002 2003 2004 2005
Nº de matrículas em cursos de graduação 9.801 12.191 13.888 13.267
Pública 8.571 8.808 8.926 6.981
Privada 1.230 3.383 4.962 6.286
Nº de cursos de Graduação 75 80 85 57
Pública 65 66 66 30
Privada 10 14 19 27
Nº de instituições: 6 6 7 7
Pública 1 1 1 1
Privada 5 5 6 6
Fonte: MEC/Inep/Deaes. 1) Comunitária/Confessionais/Filantrópica
Vários indicadores de saúde têm sido utilizados como instrumento para o
monitoramento da qualidade de vida de populações. Entre estes indicadores, os
coeficientes de mortalidade infantil são, certamente, os mais amplamente empregados
na avaliação do desenvolvimento de distintas regiões. Os dados de mortalidade infantil
têm passado por um processo de redução nos últimos anos. O índice, que mede o
número de óbitos infantis (menores de 1 ano) por mil nascidos vivos, passou de 42,3%,
em 1997 para 31,2%, em 2004, conforme demonstrado na Tabela 3.30 com dados
fornecidos pelo Ministério da Saúde, apresentando uma média superior à brasileira,
22,6% e a da região, 25,5%.
Dimensão Social
54
Diagnóstico
Tabela 3.30 - Taxa de mortalidade infantil (menores de 1 ano)
mortes/1000 nascidos vivos
Estados 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004
Acre 42,29 45,59 39,49 35,66 34,36 33,2 32,15 31,17
Amapá 25,84 25,4 26,85 25,92 25,19 24,51 23,91 23,38
Amazonas 32,14 31,02 30,01 29,12 28,34 27,65 27,06 26,52
Maranhão 50,38 47,5 44,86 42,48 40,33 38,41 36,7 35,18
Mato Grosso 26,7 25,54 24,47 23,49 22,58 21,78 21,04 20,39
Pará 32,74 31,38 30,14 29,01 28 27,09 26,28 25,55
Rondônia 29,36 28 26,74 25,61 24,6 23,68 22,89 22,16
Roraima 26,29 24,81 20,17 22,48 21,46 20,47 19,69 18,99
Tocantins 32,1 31,06 30,18 29,39 28,72 28,14 27,66 27,25
Norte 32,19 31,07 29,78 28,72 27,79 26,98 26,22 25,51
Brasil 31,9 30,43 28,37 26,77 25,63 24,34 23,56 22,58
Fonte: Ministério da Saúde - Data SUS
Os coeficientes de mortalidade perinatal também vêm assumindo um papel de
destaque como indicadores de saúde, principalmente, porque juntamente com a
mortalidade infantil é um indicador bastante sensível a ações preventivas, como
saneamento básico e imunizações. Como conseqüência, à medida que uma região
aumenta seu nível de desenvolvimento, maior será a importância relativa das mortes
ocorridas na primeira semana ou no primeiro mês de vida. A Tabela 3.31 traz a
descrição da redução da taxa de mortalidade neonatal e também o aumento do numero
de profissionais de saúde, tanto de nível médio, quanto de nível superior no Estado.
Tabela 3.31 - Indicadores de Mortalidade e Recursos disponíveis
Indicadores 2002 2003 2004 2005
Taxa de Mort. Neonatal Precoce(2) 9,41 9,88 8,56 8,75
Taxa de Natalidade Geral(1) 26,99 26,62 26,31 26,10
Profis. de saúde (Por 1000 hab.)
Médicos 0,62 0,72 0,71 0,81
Odontólogos 0,40 0,42 0,42 0,52
Enfermeiros 0,61 0,64 0,60 0,75
Técnico em enfermagem (3) 0,12 0,22 - 0,66
Auxiliar de enfermagem (3) 1,92 1,92 - 1,42
Fonte: Ministério da Saúde - CGRH-SUS/SIRH.
(1) - por 1.000 Habitantes.
(2) - por 1.000 Nascidos Vivos.
(3) Informações não disponíveis para 2004.
Outro importante indicador de saúde trata-se do número de leitos existentes no
Estado. No Acre a quantidade de leitos por mil habitantes variou de 2,68 para 2,37, do
ano de 2000 para o ano de 2005.
Dimensão Social
55
Diagnóstico
Tabela 3.32 - Demonstrativo de leitos existentes – 2007
Tipos de Leitos SUS Não SUS Total
Cirúrgico 335 23 358
Clínico 480 32 512
Complementar 548 59 607
Total Geral 1.363 114 1.477
Fonte: Ministério da Saúde / Datasus / CNES.
Dados atualizados até novembro de 2007.
A desigualdade de renda é medida pelo índice de Gini2. Os valores calculados
para o Estado do Acre, para os anos 2001 e 2005, apontam uma redução na
desigualdade, passando de 0,62 para 0,58. A Região Norte apresentou uma variação de
0,57 para 0,53 para mesma série anual, enquanto o Brasil registrou uma redução da
desigualdade de 4,6%, passando de 0,6 para 0,57 de acordo com os dados do Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O índice de Desenvolvimento Humano (IDH) apresenta uma medida do grau de
desenvolvimento humano de uma determinada região e oferece um contraponto ao
Produto Interno Bruto (PIB) per capita, que considera apenas a dimensão econômica do
desenvolvimento. O IDH do Acre apresentou uma evolução de 11,7% entre os anos de
1991 e 2000. O índice que contribui com o maior peso na formação do IDH para dos
municípios acreanos (1991–2000) é a educação, seguido da renda e longevidade.
Porém, mesmo com essa evolução o Estado permaneceu na penúltima colocação da
região Amazônica, ficando a frente apenas do Maranhão. O Estado, assim como a
Região Norte apresenta IDH abaixo da média nacional, conforme Tabela 3.33.
Tabela 3.33 – Índice de Desenvolvimento Humano por UF - (IDHM)
Ranking Estado 1991 2000
1 Mato Grosso 0,685 0,773
2 Brasil 0,696 0,766
3 Amapá 0,691 0,753
4 Roraima 0,692 0,746
5 Rondônia 0,660 0,735
6 Pará 0,650 0,723
7 Amazonas 0,664 0,713
8 Tocantins 0,611 0,710
9 Acre 0,624 0,697
10 Maranhão 0,543 0,636
Fonte: IBGE/Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil
2 O índice de Gini é majoritariamente usado para mensurar a desigualdade de renda. Seu valor varia de 0, quando não há desigualdade (a renda de todos os indivíduos tem o mesmo valor), a 1, quando a desigualdade é máxima (apenas um indivíduo detém toda a renda da sociedade e a renda de todos os outros indivíduos é nula).
Dimensão Social
56
Diagnóstico
Entre os principais indicadores de condições de domicilio estão a cobertura da
rede de água e as coletas de esgotamento sanitário e lixo. Durante o período de
amostragem da Tabela 3.34 os índices de cobertura do abastecimento de água e esgoto
sofreram redução, e apesar de algumas oscilações, a cobertura do serviço de coleta de
lixo permaneceu estável no período.
Tabela 3.34 - Percentual de Cobertura de Serviços B ásicos Anos Água Esgoto Coleta de lixo
1996 60,45 48,61 66,94
1997 64,03 49,58 73,9
1998 57,71 58,42 73,43
1999 57,36 55,8 71,27
2000 34,08 28,68 51,73
2001 55,69 46,87 73,73
2002 61,29 55,62 86,63
2003 62,56 84,06
2004 45,95 39,83 61,5
2005 47,35 40,88 67,65
Fonte: Ministério da Saúde - Data SUS
Nota: Dados de esgoto não disponíveis para 2003
Os dados sobre a rede de esgoto, quando confrontados com os números dos
outros Estados da Amazônia Legal, apresentam uma condição desfavorável para o
Acre, que ocupa a penúltima colocação. Quanto à coleta de lixo, entre 1995 e 2005, o
Estado apresentou crescimento de 33% no período, situando-se numa faixa
intermediária entre os melhores Estados, como mostra a Tabela 3.35.
Tabela 3.35 - Taxa de Cobertura de Serviços Básicos - Amazônia Legal %
Estados 1999 2002 2005
Água Lixo Esgoto Água Lixo Esgoto Água Lixo Esgoto
Acre 57,36 71,27 55,8 61,29 86,63 55,62 47,35 67,65 40,88
Amapá 59,69 89,75 37,77 67,36 89,48 54,82 67,59 89,73 57,15
Amazonas 85,31 81,78 59,58 74,19 87,86 67,4 65,91 73,05 51,47
Maranhão 50,39 28,16 27,34 57,24 48,2 37,72 58,81 56,35 47,78
Mato Grosso 61,03 73,89 28,8 67,23 74,17 47,58 67,52 73,41 44,48
Pará 62,82 76,19 49,82 55,91 85,59 59,65 47,68 72,17 55,67
Rondônia 54,42 87,01 79,14 46,05 87,37 46,49 35,54 67,66 48,56
Roraima 99,22 97,66 88,6 98,08 97,42 74,02 85,96 79,94 74,88
Tocantins 73,02 61,14 13,1 72,98 68,06 19,64 76,7 67,75 22,9
Norte 69,32 50,65 77,52 63,04 55,36 84,71 54,84 51,01 72,22
Elaboração: EPEM / ELN com dados Ministério da Saúde - Data SUS - IDB 2006
Matriz de Impacto e Incerteza
57
Cenários
Cenários
4. CENÁRIOS ALTERNATIVOS
4.1. MATRIZ DE IMPACTO INCERTEZA
Na técnica de cenários, a matriz impacto x incerteza constitui-se de um diagrama
que sintetiza o conjunto das condicionantes de futuro de um objeto de estudo.
As condicionantes são qualificadas segundo o seu grau de impacto, no objeto de
estudo, e segundo o seu nível de incerteza, quanto ao seu comportamento futuro, dentro
de uma classificação relativa, que considera o conjunto dessas condicionantes.
Tais classificações, contudo, não significam dizer que, por exemplo, uma variável
de baixo impacto não tenha importância na construção do futuro, mas que o seu peso
não será suficiente para modificar a trajetória futura do objeto de estudo, produzindo um
cenário diferenciado.
Por outro lado, quando a variável é classificada como de baixa incerteza isso não
significa dizer que ela terá um comportamento determinístico, ou pré-estabelecido, no
horizonte de estudo, mas que, entre as variáveis estudadas, o seu comportamento é
mais claramente previsível, ou que as suas variações no futuro ocorrerão dentro de
limites mais bem definidos.
Neste conjunto destacam-se as variáveis críticas como sendo aquelas
condicionantes que, simultaneamente, têm alto impacto e alto grau de incerteza no
comportamento futuro do objeto de estudo.
Quadro 4.1 - Matriz Impacto X Incerteza
I N C E R T E Z A
IMP
AC
TO
ALT
O
A L T A B A I X A
SUSTENTABILIDADE POLÍTICA
INVESTIMENTOS PÚBLICOS E PRIVADOS
INTEGRAÇÃO PRODUTIVA
MODELO DE DESENVOVIMENTO SUSTENTÁVEL
INVESTIMENTOS EM P&D / QUALIFICAÇÃO
IMPACTOS AMBIENTAIS
DESENVOLVIMENTO SOCIAL
DINÂMICA ECONÔMICA
BA
IXO
AUTONOMIA FINANCEIRA DO ESTADO
IDENTIDADE DA SOCIEDADE CIVIL
QUESTÃO CULTURAL Fonte: Eletronorte / EPEM
Condicionantes de Futuro
58
Cenários
Cenários
4.2. Condicionantes de futuro
As condicionantes são variáveis que detêm maior capacidade de determinar o
futuro. Esta seção objetiva descrever as variáveis constantes da Matriz de Impacto x
Incerteza, as quais serão utilizadas na construção dos cenários alternativos. Na primeira
subseção serão abordadas as Incertezas Críticas - condicionantes de alto impacto e de
alta incerteza, consideradas de maior relevância.
4.2.1 Incertezas Críticas As incertezas críticas têm alto impacto no objeto de estudo e baixa
previsibilidade quanto ao seu comportamento futuro. Para a construção dos Cenários do
Estado do Acre foram selecionadas, de acordo com a metodologia, oito incertezas
críticas, cujos conceitos vêm a seguir.
Sustentabilidade Política
A dimensão política no Estado do Acre poder ser delimitada por três
pressupostos: a formação histórica dos atores políticos e dos movimentos sociais do
Estado estão fortemente relacionadas; a disputa pelo poder é marcada pelos interesses
de duas principais correntes políticas, cujos projetos de desenvolvimento são
significativamente distintos; e o Estado mantém historicamente alta dependência do
poder público.
Nesse sentido, a análise prospectiva do Estado do Acre deve ser feita
considerando três questões fundamentais: a importância das instituições públicas e da
estrutura de poder- nas três esferas e níveis de Governo - como articuladores das
políticas; a relevância estratégica da participação da sociedade na implementação das
ações para o desenvolvimento sustentável; e o papel essencial das parcerias público-
privadas para a efetivação de resultados econômicos e a concretização da integração
produtiva. A primeira é tratada neste conceito e as outras em conceitos subseqüentes.
Sustentabilidade política, neste contexto, deve ser compreendida primeiramente,
como a capacidade de articulação, coesão, cooperação ou antagonismos entre os
atores políticos e lideranças do Estado, no processo de consolidação das instituições
públicas e do projeto de desenvolvimento estadual, bem como os riscos de
fragmentação da unidade em torno de um projeto comum. Diz respeito a fatores
endógenos.
Em segundo lugar, o conceito também diz respeito à capacidade dos grupos de
ampliarem a adesão política ao seu projeto e às suas diretrizes de desenvolvimento, não
só entre atores locais, mas, especialmente, junto a atores nacionais e internacionais. O
conceito, nesse sentido, relaciona-se à estrutura de poder e à capacidade de articulação
Condicionantes de Futuro
59
Cenários
Cenários
dos grupos políticos, nas três esferas (federal, estadual e municipal) e nos três níveis de
governo (executivo, legislativo e judiciário). Analisa os arranjos de forças hegemônicas e
não-hegemônicas, a fim de se entender a natureza das respostas que o Estado
consegue dar aos desafios e às ameaças presentes e futuras, neste campo. Abrange
fatores exógenos.
Em terceiro, sustentabilidade política, para os fins conceituais deste estudo,
relaciona-se à capacidade dos atores políticos e dos governos em superar limitações
históricas e promover maior participação privada nos rumos do desenvolvimento
econômico, superando a dependência pública. Considerando que tal participação é
influenciada pelo processo de consolidação das instituições e amadurecimento,
credibilidade e autonomia da administração pública, a variável considera a capacidade
endógena das instituições públicas de superar problemas, gerenciar conflitos e
demandas e mobilizar oportunidades. Dada a sua importância, este assunto é
destacado também em duas outras incertezas: “investimentos públicos e privados”; e
“integração produtiva”.
No contexto do trabalho e da metodologia de construção dos Cenários, a variável
político-Institucional no Estado do Acre é classificada como a de mais alta motricidade,
capaz de exercer forte influência no conjunto da realidade em estudo, mas também de
alta incerteza quanto ao seu comportamento futuro, especialmente, no que diz respeito
à manutenção e/ou ascensão de grupos políticos, ao longo dos próximos 20 anos.
Investimentos Públicos e Privados
Investimento público e privado, no contexto dos cenários do Estado do Acre, está
relacionado à capacidade do Estado de atrair novos investimentos produtivos, capazes
de dinamizar a economia interna. Tem-se como pressuposto que o potencial de atração
de investimentos produtivos do Acre desdobrar-se a partir de dois condicionantes em
curso, tidos como as principais forças motrizes do desenvolvimento: os investimentos
em infra-estrutura que estão sendo implementados no território acreano, via Programa
de Aceleração do Crescimento – PAC – e operações de crédito do Governo Estadual
junto ao BNDES e ao BID (pavimentação da BR-317 e da BR-364; a abertura e
pavimentação da Transoceânica; a pavimentação de rodovias estaduais; a interligação
ao SIN; a construção das hidrelétricas do rio Madeira, entre outras); e o processo de
fortalecimento político-institucional do Estado.
A estratégia do Governo é conferir maior segurança ao investidor, assegurando a
infra-estrutura básica e credibilidade institucional. Embora esteja em curso um processo
de ampliação dos investimentos, a incerteza diz respeito à magnitude dos impactos que
Condicionantes de Futuro
60
Cenários
Cenários
a infra-estrutura exercerá na atração de novos investimentos privados, em um horizonte
de 20 anos, bem como o nível de participação pública e privada na dinamização da
economia.
O que é incerto é a abrangência do efeito multiplicador dos investimentos
estruturantes sobre o setor produtivo, em território acreano, e também o nível de
participação dos investimentos públicos no financiamento da atividade produtiva.
Atualmente, há uma maior participação pública na promoção do desenvolvimento,
exercendo o Estado um papel de financiador da atividade econômica, frente a uma forte
demanda pelo crescimento da participação privada.
Integração Produtiva
No contexto do estudo de cenários do Estado do Acre, Integração Produtiva
abrange o processo de formação de um mercado ampliado que se beneficia do aumento
da escala de produção, da diversificação das exportações, e da maior especialização,
através da integração das cadeias produtivas, aumento do conteúdo de valor agregado,
fortalecimento dos encadeamentos e diversificação da base produtiva e criação de
novos setores.
Busca-se indicar a trajetória provável desse processo, a partir de uma análise
qualitativa do potencial impacto promovido pelos investimentos em infra-estrutura3 que,
em um primeiro momento, consolidam uma integração física do Estado, tanto dentro do
próprio território, quanto com estados e países vizinhos, via Transoceânica, BR-317 e
BR-364. Parte-se do pressuposto de que a integração física pode impulsionar o
aumento da escala produtiva e o nível de agregação de valor da produção,
condicionadas, por sua vez, à capacidade de coordenação e governança da nova
logística, pelos atores públicos e privados, entre outros fatores endógenos e exógenos.
Dado o grau de dependência da variável, seu comportamento futuro torna-se
incerto, porém de alto impacto, na medida em que o crescimento econômico do Estado
passa, necessariamente, pela inserção econômica de seus produtos em novos
mercados, nacionais e internacionais, dada a limitação de seu mercado interno.
Considerando seu posicionamento geográfico, no extremo noroeste do País, e
sudoeste amazônico, a Integração Produtiva do Acre com mercados regionais e países
vizinhos, com vistas ao mercado mundial, torna-se o seu maior desafio, em um 3 “A infra-estrutura limita ou potencializa a integração produtiva fundamentalmente porque aproxima espaços econômicos distintos e amplia a dimensão dos mercados, ao reduzir as barreiras ao comércio. Seus efeitos mais visíveis podem ser sintetizados da seguinte forma: redução de custos de transportes e de comunicação; redução de custos de transação; e economia de tempo. Os efeitos agregados da dotação de infra-estrutura mais eficaz são: ampliação dos mercados; possibilidades de maior especialização da produção; possibilidades de ampliação de escalas; ganhos de eficiência derivados de melhores localizações da produção e melhores aproveitamentos dos recursos (...)” – in.: Estudo de Avaliação do Potencial de Integração Produtiva dos Eixos de Integração e Desenvolvimento da Iniciativa IIRSA. Informe Final, Parte A, Capítulo II, pág. II-4.
Condicionantes de Futuro
61
Cenários
Cenários
horizonte de médio e longo prazos. O que está em questão é o grau de convergência
entre a matriz econômica do Estado “e a própria ‘trama’ dos elementos da infra-
estrutura”, bem como o grau de maturidade do desenvolvimento local para oportunizar
os projetos de integração física do território, na consolidação de uma nova logística.
Para fins de delimitação do conceito, Integração Produtiva “pode ser definida
como o processo de formação de um mercado regional que se beneficia da
diversificação das exportações intrabloco e para o conjunto da economia internacional,
movida pela reorientação das estratégias empresariais que buscam explorar estes
mercados ou as novas oportunidades de comércio” (IIRSA, 2007), no contexto das quais
o Estado do Acre se inscreve.
Isso significa dizer que para se traçar cenários futuros do Acre é preciso ampliar
a análise para um território regional que avança além dos limites administrativos do
Estado e guarda estreita relação tanto com a macrorregião do sudoeste amazônico,
quanto com o bloco de países andinos e a Amazônia Sul Americana4, no contexto de
uma nova geografia econômica mundial.
Modelo de Desenvolvimento Sustentável
O desenvolvimento sustentável é atualmente a principal estratégia do Governo
do Estado do Acre na definição e operacionalização de políticas públicas de caráter
econômico, social e territorial. O conceito que surgiu em 1980 e foi consagrado
mundialmente em 1987, está hoje cristalizado no discurso dos atores políticos e sociais
do Acre5 e, de certa forma, representa a principal marca do Estado no cenário nacional
e internacional.
O termo “desenvolvimento sustentável”, de acordo com os princípios
internacionais, relaciona-se a todo processo que concilia o crescimento econômico com
a exploração racional dos recursos naturais, de modo que a direção dos investimentos,
a orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança institucional se harmonizam
e reforçam o potencial presente e futuro dos recursos, a fim de atender às necessidades
presentes sem comprometer a possibilidade de as gerações futuras atenderem as suas
próprias necessidades.
Desde que foi consagrado conceitualmente como estratégia de desenvolvimento
mundial, o “modelo de desenvolvimento sustentável” tem desafiado nações, governos e
4 De acordo com Miguel Ignatios, atualmente são 10 pólos de desenvolvimento comercial e industrial instalados na fronteira de todo o Brasil. “O Acre está inserido nesse contexto e já começa a despertar interesses do setor privado, caso contrário não haveria motivo para nós nos instalarmos aqui”, raciocina Ignatios. O presidente reforça o argumento explicando que esse “pólo de desenvolvimento” que o setor privado começa a perceber no Acre tem relação direta com a aproximação com o mercado Andino, via integração com o Peru (ADV, 2007). 5 Pesquisa qualitativa realizada em Rio Branco junto a instituições públicas e privadas, em julho de 2007, demonstra que o conceito é praticamente uma unanimidade entre os entrevistados.
Condicionantes de Futuro
62
Cenários
Cenários
organizações em sua implementação e efetividade. Entre as metas estabelecidas e os
resultados efetivos, tem-se observado avanços e retrocessos, razão pela qual o
“modelo” ainda figura como um processo em construção, tanto em âmbito mundial,
quanto em contextos de nações, regiões e estados.
É com base nestes pressupostos que a variável assume, nos cenários do Estado
do Acre, características de incerteza crítica, dada sua dependência de uma série de
condicionantes endógenos e exógenos para sua efetiva e plena consolidação,
especialmente, em sua dimensão social, e sua abrangência participativa e distributiva. É
também uma variável de alta motricidade pelo impacto que pode promover nos rumos
do desenvolvimento do Estado, influenciando diretamente o comportamento de outros
condicionantes de futuro, como C&T, integração, meio ambiente e setores produtivos.
No Acre, os dois principais desafios do modelo são potencializar suas
experiências pilotos e replicá-las no longo prazo; e garantir a efetiva participação social
e comunitária na construção do desenvolvimento. Isto implica, necessariamente, em
visão de longo prazo, na consideração de todo o ciclo de vida dos projetos, e
especialmente, na abrangência dos benefícios para a população, no campo dos
negócios sustentáveis.
Busca-se, a partir deste conceito, compreender tanto os condicionantes que
movem quanto os que limitam o alcance das metas sustentáveis. A fragilidade da
economia do Estado também é constante ameaça a manutenção dos rumos do
desenvolvimento dentro dos padrões de sustentabilidade [escala; manutenção da oferta
de matéria-prima, gargalos de logística, pequena participação da indústria etc.].
O conceito internacional de “desenvolvimento sustentável” considera quatro
dimensões principais: econômico-financeira, que trata da capacidade de gerar
resultados econômicos e de financiar-se ao longo do tempo; social, que diz respeito aos
benefícios sociais, tais como a redução de desigualdades e erradicação da pobreza;
ambientais, sobre o uso racional dos recursos naturais renováveis e não-renováveis e
preservação do meio ambiente; e político-institucionais, que dizem respeito à
legitimação política das iniciativas (sustentabilidade política) e à consolidação de
instituições permanentes.
Neste conceito duas dimensões serão destacadas, tendo em vista sua relevância
no âmbito das discussões sobre a efetividade de um modelo de desenvolvimento
sustentável para o Acre, quais sejam: a dimensão social, que diz respeito ao nível de
distribuição dos resultados econômicos entre as comunidades envolvidas nos projetos e
iniciativas (nível de distribuição do modelo) e ao grau de participação social na
Condicionantes de Futuro
63
Cenários
Cenários
construção do modelo de desenvolvimento sustentável do Estado (setor privado,
sociedade civil organizada e comunidade); e a dimensão econômico-financeira,
referente à capacidade do Estado de multiplicar projetos-pilotos sustentáveis, a ponto de
gerar renda e distribuir riqueza e de se auto-sustentar no tempo. A dimensão ambiental
e político-institucional, para efeito de conceitos, estão sendo tratadas separadamente.
Investimentos em P&D/Qualificação
Uma das principais limitações à integração produtiva do Estado do Acre é a atual
capacidade de produção científica e de investimentos em P&D. O Estado tem elevada
demanda por mão-de-obra qualificada e recursos humanos especializados,
especialmente, considerando a estratégia atual de desenvolvimento sustentável que
requer permanente monitoramento e avaliação de experiências e constantes
investimentos em produção ou aquisição de produtos e processos inovadores, no
campo de tecnologia florestal e no processo de industrialização de matéria-prima para
exportação.
Para a inserção dos produtos acreanos em novos mercados, os setores
produtivos dependem de investimentos em pesquisa e ensino superior, como
pressupostos para aumento da competitividade da economia regional. Neste contexto, a
variável assume, dentro dos cenários, alto poder de impactar os rumos do
desenvolvimento no Acre, na medida em que não somente acelera o processo de
inserção econômica, como pode criar um ambiente propício a consolidação de novos
ramos de negócios, a exemplo da biotecnologia.
A instalação de novas indústrias no Estado cria novas demandas nos campos do
ensino e da C&T, a exemplo da cadeia dos biocombustíveis, para a qual o Estado detém
poucos recursos humanos qualificados. Investimentos em educação técnica e em
pesquisa básica aplicada são potenciais a serem aproveitados e agregados aos
produtos em todas as cadeias, a exemplo do laboratório de transferência de embriões,
da Embrapa, e das ações da Faeac no campo da inseminação artificial do gado.
.A formação de recursos humanos capacitados para dar suporte ao
desenvolvimento do Estado é demanda dos principais agentes e entidades setoriais,
bem como das instituições de ensino e pesquisa, o que depende da atenção do
Governo e dos empresários. Faltam profissionais qualificados, como pesquisadores e
doutores, para tratar questões mais específicas do Estado.
Dada às limitações históricas de investimentos neste campo, não somente no
Acre, mas em toda Amazônia, a variável tem um alto grau de incerteza quanto ao seu
comportamento futuro, frente a condicionantes de ordem econômica e governamental.
Condicionantes de Futuro
64
Cenários
Cenários
Principalmente, no que se refere ao aporte do volume de recursos necessários para
ampliar a competência do Estado no campo científico, tecnológico e na formação e
capacitação de recursos humanos.
Impactos Ambientais
A principal condição que classifica esta variável como de alta incerteza e alto
impacto está estritamente relacionada com os possíveis impactos ambientais
decorrentes da integração física e produtiva do Estado do Acre, ao longo dos próximos
20 anos, impulsionadas pelas obras de infra-estrutura e pela expansão da fronteira
agropecuária. Mesmo em um ambiente político-institucional alinhado aos princípios de
sustentabilidade, o risco ambiental está presente, incluindo os possíveis impactos do
aquecimento global.
A maior incerteza diz respeito ao nível de vulnerabilidade a que estarão expostos
os recursos naturais no Estado do Acre e qual o nível de controle que o Estado
conseguirá exercer no ordenamento das atividades produtivas no território e na
exploração racional destes recursos.
Entre as principais ameaças a serem monitoradas no Acre estão: a conservação
das áreas de reserva legal nas propriedades privadas; a adoção de critérios ambientais
para novos empreendimentos econômicos; ao controle da expansão agropecuária; a
efetividade do Zoneamento Ecológico-Econômico6 e das leis a ele relacionadas; a
ameaça à biodiversidade, representada pelo avanço produtivo e das migrações; o
controle do desmatamento e das queimadas; e aos desdobramentos da lei de
concessão de florestas públicas, pelo Governo Federal.
Para efeito de delimitação do conceito, este estudo adota os termos dos
indicadores estabelecidos pelo IBGE para avaliação da dimensão ambiental do
desenvolvimento (IBGE, 2000), mais pertinentes à dinâmica ambiental do Estado do
Acre, conforme se segue:
� Terras aráveis – expressa a incerteza da capacidade da agricultura e
pecuária e da tecnologia para satisfazer a crescente demanda de alimentos,
em função do crescimento da população e da pressão que outros usos
exercem sobre as terras disponíveis para a agropecuária;
6 Zoneamento Ecológico-econômico (ZEE) do Estado do Acre - Lei nº. 1.904/2007: fase 1, em 2001, e a fase 2, em 2007 (www.ac.gov.br). O ZEE foi avaliado pela Comissão Coordenadora dos ZEE´s em Brasília, no dia 9/10/07. A partir do ZEE foram criadas a Lei florestal e a Lei dos Recursos hídricos, de âmbito estadual. Outras normas importantes: criação do Instituto Chico Mendes (gestão das Unidades de Conservação); Operacionalização do Plano Nacional de Combate ao Desmatamento e Queimadas da Amazônia, pelo Ibama; Regulamentação do Sistema Estadual de Áreas Naturais Protegidas (O Sistema regulamenta o SNUC em nível estadual, garantindo o cumprimento da lei no que se refere á conservação das unidades de conservação, terras indígenas e reserva legal de propriedades particulares); Plano Estadual de Recursos Hídricos (em construção).
Condicionantes de Futuro
65
Cenários
Cenários
� Queimadas e incêndios florestais – expressa a ocorrência de incêndios
florestais e queimadas em determinado território. No Brasil e em outros
países, o uso do fogo é pratica tradicional para a renovação de pastagens e
para a liberação de áreas para as atividades agropecuárias. As queimadas
e os incêndios florestais destroem, anualmente, grandes áreas de
vegetação nativa no Brasil, sendo uma das principais ameaças aos
ecossistemas brasileiros;
� Desflorestamento – expressa a perda de cobertura florestal no território e as
relações entre o desmatamento e as áreas florestais remanescentes;
� Espécies extintas e ameaçadas de extinção – expressa o estado e as
variações da diversidade de espécies, através da relação entre o número
estimado de espécies nativas e, dentre elas, as espécies ameaçadas de
extinção em um determinado território.Este indicador é um dos mais
adequados para o monitoramento e avaliação da biodiversidade em nível de
espécies, e associado a outros indicadores, informa sobre a eficácia das
medidas conservacionistas;
� Áreas protegidas – expressa a dimensão e distribuição dos espaços
territoriais que estão sob estatuto especial de proteção. O desenvolvimento
sustentável implica na preservação do meio ambiente em condições de
equilíbrio, que depende por sua vez da conservação dos ecossistemas
brasileiros;
� Acesso a sistema de abastecimento de água – expressa a parcela da
população com acesso adequado a abastecimento de água;
Desenvolvimento Social
O Estado do Acre registra um dos mais baixos indicadores de desenvolvimento
social da região amazônica. Apesar de melhorias efetivas no campo da educação
básica, as condições de domicílio (água potável, saneamento básico, energia elétrica,
coleta de lixo, segurança pública, etc); e de inclusão social, renda e emprego ainda
estão longe de serem satisfatórias. O processo de urbanização é outro fator que
ampliam os problemas sociais, com risco de agravamento por possíveis impactos
negativos gerados pela integração física do Estado.
Neste contexto, a variável “desenvolvimento social” estabelece forte dependência
das demais variáveis deste estudo, razão pela qual figura como de alta incerteza quanto
ao seu comportamento futuro. A dúvida central é saber se o crescimento econômico do
Estado será suficientemente distributivo a ponto de elevar seus indicadores sociais e
humanos a um patamar desejável.
Condicionantes de Futuro
66
Cenários
Cenários
Entendido como a melhoria geral das condições humanas e sociais,
desenvolvimento social passa a ser condicionante não somente de inclusão e eqüidade,
como também de crescimento e competitividade, responsável pela melhoria da
qualidade dos processos produtivos e novas ações empreendedoras. Nos últimos dez
anos, o Estado do Acre tem ampliado suas ações em educação básica, mas há gargalos
importantes quanto à qualidade do ensino e a evasão escolar. No campo da educação,
o maior desafio é levar ensino de qualidade às comunidades mais isoladas, sem
provocar êxodo rural.
A geração de emprego e renda é outro gargalo que empurra para baixo os
indicadores do Estado do Acre. A capacidade de absorção de mão-de-obra por parte
das instituições públicas já alcançou o seu limite e, por outro lado, a empregabilidade da
iniciativa privada ainda não absorve toda demanda. Dentro da faixa de pobreza7,
encontra-se aproximadamente 50% da população acreana. A questão da segurança,
ameaçada pelo tráfico de drogas e pela instabilidade da região de fronteira, é outro
desafio a ser superado.
Há uma mudança em andamento no sentido de superar os baixos índices
sociais, sendo esta a principal meta do plano estratégico do governo atual, com foco na
inserção social das comunidades. A preocupação tem sido a de criar mecanismos de
equacionamento da dívida social. Esse processo tem se dado através do incentivo à
criação de mais postos de trabalho, ao avanço na educação e pela promoção de
pequenas obras de infra-estrutura comunitária, nas chamadas “zonas comunitárias”,
com programa integral de energia, educação e saúde e produção. A incerteza é quanto
dessas metas serão alcançadas no horizonte temporal de 20 anos e qual a abrangência
de seu alcance.
Dinâmica Econômica
A variável ‘dinâmica econômica’, na definição dos cenários alternativos do Acre,
está relacionada com o ritmo do crescimento, sendo classificada como uma variável de
resultado, porém responsável por realimentar o sistema econômico. Tem relação com
todas as outras incertezas, porém mais diretamente com o processo de integração
produtiva e a abrangência dos investimentos privados. A variável busca analisar o
crescimento em termos quantitativos, dentro do horizonte estudado.
A incerteza conjuga as principais variáveis macroeconômicas e leva em conta a
influência de fatores internos e externos, de ordens regional, nacional e mundial, nos
resultados da economia acreana. Embora, o ritmo do crescimento econômico do Estado
7 Classificam-se como pertencentes à faixa de pobreza pessoas que vivem com renda per capta média inferior a R$ 75,50. Informações adicionais Censo 2000.
Condicionantes de Futuro
67
Cenários
Cenários
do Acre esteja acima da média nacional e da região amazônica, não significa que a
tendência se manterá no horizonte dos próximos vinte anos. A imprevisibilidade da
dinâmica econômica se mantém no longo prazo, considerando que são grandes os
desafios a serem superados para o pleno processo de inserção econômica dos seus
setores produtivos e à ampliação da participação do PIB estadual no cenário regional e
nacional.
4.2.2 Condicionantes de Baixo Impacto/Incerteza
Autonomia Financeira do Estado
• Capacidade de endividamento e de investimentos do Estado.
Identidade da Sociedade Civil
• Papel do movimento social frente ao atual alinhamento das forças
políticas;
• Posicionamento da sociedade civil junto ao Poder Público;
• Perfil do "novo" movimento social;
• Influxo e refluxo do movimento social – o desafio é a “retomada” da
mobilização social.
Questão Cultural
• Cultura empreendedora empresarial;
• Cultura empreendedora das comunidades;
• Dependência histórica da população ao poder público
Condicionantes de Futuro
68
Cenários
Cenários
4.3. ANÁLISE MORFOLÓGICA
Na técnica de cenários, após a seleção das condicionantes de futuro, e, dentre
elas, discriminadas as variáveis críticas, o estudo requer a exploração dos estados
possíveis que tais variáveis críticas poderão assumir no horizonte de estudo, a partir do
conjunto de informações disponíveis.
O ponto delicado dessa construção fundamenta-se na combinação consistente e
coerente desses estados, produzindo cenários plausíveis para o objeto de estudo.
Dentro da metodologia adotada pela Eletronorte, essa análise é realizada por
meio de um quadro, intitulado “Análise Morfológica”, o qual dispõe as variáveis e as
diversas hipóteses de estados dessas variáveis, onde cada combinação de seus
estados forma um cenário possível.
Neste diagrama, a cada cenário é atribuído um nome, que sintetiza o estado final
do objeto de estudo, construído a partir das hipóteses individuais das variáveis, e que
permita a distinção entre os diversos cenários. A análise morfológica dos cenários do
Acre, 2007-2027, encontra-se a seguir.
Cena de Partida
70
Cenários
Cenários
4.4. Cena de Partida
A cena de Partida é o marco zero dos cenários alternativos e da trajetória de
referência do Estado do Acre. Sintetiza o estágio inicial do objeto de estudo e o
comportamento presente de suas principais variáveis motrizes. Baseia-se no diagnóstico
e nas incertezas críticas e delimita a realidade presente a partir das variáveis que
detenham maior capacidade de condicionar o futuro, apontando tendências e
condicionantes que, no momento atual, representam limitações ao processo de
desenvolvimento do Estado.
Descrição
A cena de partida dos cenários do Acre tem como marco principal três processos
em curso: a integração física do Estado aos portos do Pacífico via rodovia
transoceânica; a articulação político-institucional do Estado na atração de investimentos
públicos e privados; e a opção estratégica pelo desenvolvimento sustentável, baseada
no uso econômico e racional da floresta. São estas as três forças motrizes que maior
peso exercem nas decisões atuais dos atores públicos, privados e sociais do Estado e
sustentam tanto as políticas públicas mais recentes, quanto iniciativas no campo
empresarial.
A dimensão dos impactos de tais forças na trajetória futura do Estado depende,
entretanto, da influência de um conjunto de outros fatores e à própria dinâmica,
abrangência, direção e comportamento que essas variáveis-chave assumirão ao longo
do tempo.
Há uma forte expectativa de que o Acre se beneficie da centralidade que passa a
assumir no contexto do novo eixo de integração. Para os atores públicos e privados, a
posição do Estado em relação aos mercados sul-americanos e asiáticos, via portos de
Ilo e Matarani, no Oceano Pacífico, o insere em uma “nova geografia econômica”.
Espera-se que a integração física desencadeie, por efeito multiplicador, um processo
mais amplo de integração produtiva regional, com progressiva atração de investimentos
e elevação do valor agregado da produção.
Se por um lado, a nova logística de transporte figura como uma de suas
vantagens comparativas, por outro, coloca ao Acre o desafio de assegurar as condições
necessárias à ampliação da escala e especialização de sua base produtiva, que
possibilite a efetiva inserção econômica Estado. Sem o correspondente crescimento
endógeno, o Estado pode não oportunizar plenamente a infra-estrutura em implantação.
Portanto, o primeiro desafio do Estado, no campo econômico, é ampliar o seu parque
Cena de Partida
71
Cenários
Cenários
industrial. Tais demandas também estão condicionadas à capacidade dos atores locais
e nacionais de estabelecerem acordos e tratados com os países vizinhos e de
consolidarem transações comerciais com novos mercados. Isso exige uma ampla
simetria de interesses entre o Estado e os países que compõem a Amazônia Sul-
americana, e os Estados do sudoeste amazônico.
Nos últimos dez anos, o Estado do Acre assistiu a importantes mudanças na
esfera político-institucional, e hoje, se destaca no cenário nacional como um dos mais
articulados do País. O Governo estadual tem adotado a estratégia de criar um ambiente
atrativo ao capital privado, valendo-se da credibilidade das instituições e da elevação
dos investimentos públicos, através da captação de empréstimos junto à instituições
financeiras nacionais e internacionais.
A fim de estimular a expansão da atividade econômica, o governo pôs em
andamento um amplo projeto de estruturação física do Estado que se completa em
2010. A elevação dos investimentos públicos já vem repercutindo no volume de
exportações, e o Estado, atualmente, persegue a meta de ampliar a base industrial dos
setores florestal e agropecuário. Para ampliar a logística de exportação, já encontra em
curso a implantação de um porto seco.
Entretanto, na cena de partida destes cenários, a economia do Estado ainda
apresenta baixos indicadores. Se comparado às economias regional e nacional, o
produto interno bruto do Acre é pouco expressivo, mas é importante considerar a
evolução do seu crescimento endógeno. O PIB vem crescendo a taxas superiores à
média nacional e a taxa de variação real saltou de 4,6% para 7,6%, entre 2002 e 2005.
Hoje, a dependência do Estado aos recursos federais caiu de 90%, em 1999, para 65%,
nos dias atuais. Os índices apontam para a tendência de aceleração do ritmo do
crescimento, em função dos investimentos públicos e do progressivo deslocamento de
capital privado.
Um segundo desafio ao Estado é o de consolidar o seu projeto de
desenvolvimento sustentável, ampliando as possibilidades de inclusão dos setores
comunitários ao processo de formação da renda estadual. Iniciativas pilotos foram
concretizadas, mas ainda são insuficientes para garantir a ampla distribuição de renda e
qualidade de vida que o Estado objetiva alcançar. Neste campo, o Acre esbarra em
limitações de ordem cultural.
Embora haja consenso pela estratégia de sustentabilidade, nem todas as ações
convergem na mesma direção. A participação do setor privado ainda está fortemente
condicionada às iniciativas do setor público, que tem patrocinado a maior parte dos
Cena de Partida
72
Cenários
Cenários
projetos produtivos. O Governo admite que o sucesso das políticas de incentivo à
produção dependem das respostas do setor privado. Caso contrário, o Estado ficará
sempre suscetível à descontinuidade das políticas públicas.
Outra questão de ordem cultural diz respeito à dependência histórica da
sociedade acreana ao poder público, herança do processo de colonização do Estado.
As comunidades tradicionais têm frágil tradição empreendedora e envolvem-se com
dificuldade aos novos projetos e negócios. Em sua cena de partida, as organizações
sociais do Acre tentam construir, em parceria com os governos, instrumentos capazes
de mobilizar as comunidades extrativistas para o empreendedorismo comunitário.
Porém, os resultados ainda são pontuais.
Nesta cena de partida, os investimentos em formação de recursos humanos e
qualificação profissional são pequenos frente às demandas dos setores produtivos. Para
agregar valor à produção e diversificar a base produtiva, o Estado terá que ampliar os
investimentos em ciência e tecnologia, tanto no setor florestal, quanto nos setores
agrícola e pecuário.
Na dimensão ambiental, o Estado do Acre tem a seu favor o baixo índice de
desmatamento de sua floresta. Cerca de 90% de seus recursos florestais estão
conservados. Manter o padrão de conservação em um ambiente de maior dinâmica
econômica apresenta-se como um desafio ao Estado, especialmente considerando que
a abertura de novas estradas sempre representou no Brasil grandes impactos para o
meio ambiente. Tão grande quanto as expectativas econômicas, são os possíveis
impactos socioambientais das obras rodoviárias em curso.
Nos últimos dois anos, o Estado convergiu suas atenções para as demandas
sociais, após oito anos de investimentos concentrados em infra-estrutura. O Governo
propaga a meta de transformar o Acre, nos próximos três anos, no melhor Estado para
se viver, na região amazônica. De um modo geral, o Estado mantém trajetória de
melhoria lenta dos índices, embora seus indicadores ainda mantenham-se entre os mais
baixos da Região. Houve uma maior universalização do acesso à educação básica,
porém o acesso ao ensino superior ainda é restrito. A dinâmica econômica em curso nos
últimos dez anos ainda não repercutiu de forma abrangente na geração de empregos e
de oportunidades para toda população. Em termos de infra-estrutura, o Estado avançou
consideravelmente, mas as condições de domicílio ainda apresentam baixos indicadores
Acre Integração Sustentável
73
Cenários
Cenários
4.5. Cenário A – Acre Integração Sustentável
Filosofia
Neste Cenário, o Acre consolida seu desenvolvimento em bases sustentáveis
efetivas, com ampliação e solidez do processo de integração produtiva, assegurada por
elevados investimentos privados, efeito multiplicador dos investimentos em infra-
estrutura e por um ambiente político-institucional coeso e articulado. A sua principal
característica é a diversificação e ampliação da escala produtiva e a inserção sólida da
produção em novos mercados.
Descrição
No cenário de integração e sustentabilidade, o Estado do Acre consegue superar
suas principais limitações e alcança um estágio de desenvolvimento avançado, tendo
como referência a sua cena de partida. Considerando suas principais forças motrizes -
sustentabilidade política, investimentos privados e integração produtiva -, o Estado
amplia o valor agregado de sua base econômica, expande e diversifica a oferta de
produtos da cadeia florestal-madeireira e amplia e especializa a produção pecuária de
base sustentável.
Tal cenário decorre de um ambiente político institucional de ascendência das
forças hegemônicas presentes na cena de partida, responsáveis pela construção de
acordos e coalizões sólidas, ao longo da trajetória de formação deste cenário.
Fortalecidas e autônomas, as instituições estaduais convergem seus esforços para uma
gestão eficaz das políticas públicas, o que confere aos governos crescente credibilidade
e seriedade junto aos setores privados e organismos internacionais.
Embora se conservem nichos políticos nas diferentes microrregiões do território,
os antagonismos não conseguem suplantar a unidade alcançada em torno do projeto de
desenvolvimento estadual. Ao contrário, a inserção crescente do Estado nas economias
regional e mundial, de certa forma, realinha o discurso de grupos políticos originalmente
antagônicos. Há forte alinhamento e coesão nas três esferas de poder e nos três níveis
de governo, em torno da estratégia de desenvolvimento econômico e social do Estado.
O surgimento de novas lideranças e a alternância de seus representantes nos
poderes constituídos garantem ao bloco hegemônico a continuidade do seu projeto
político, em curso desde a cena de partida. Os atores, mobilizados e coesos, ampliam a
rede de articulação do Acre não somente com o Governo Federal, mas especialmente,
com setores produtivos nacionais e governos e organizações internacionais,
oportunizando as vantagens comparativas do Estado e restringindo sua dependência
Acre Integração Sustentável
74
Cenários
Cenários
Cenários
pública. Ampliam-se e se fortalecem as relações diplomáticas entre Brasil, Peru e
Bolívia, com participação direta dos representantes políticos do Acre.
A segunda força motriz deste cenário são os investimentos públicos e privados
na alavancagem dos setores produtivos do Estado, resultante da combinação dos
fatores políticos favoráveis e do efeito multiplicador dos investimentos em infra-estrutura
realizados ainda em sua primeira cena. Neste cenário, os investimentos em infra-
estrutura no Estado, cuja soma alcança R$ 3 bilhões, até 2010, geram impactos amplos
e efetivos na atração de capital privado e na instalação e fixação de novos
empreendimentos produtivos. Como conseqüência ocorre uma ampliação da escala, o
que se reflete na elevação expressiva do Produto Interno Bruto. Com isto o setor
industrial e de serviços, especialmente, o turismo e o comércio, são os que mais
ganham participação na composição do PIB estadual.
Considerando o papel essencial das parcerias público-privado para a obtenção
de resultados efetivos na expansão da economia, no Cenário de Integração Sustentável,
o Acre as ampliam significativamente, chegando a cena final deste cenário com maior
participação do capital privado e ampla diversificação da base produtiva, com
participações crescentes dos setores florestal madeireiro e não-madeireiro e do setor
agropecuário.
Neste cenário, as atividades florestais não-madeireiras tomam grande impulso,
ampliando os negócios não somente nos ramos de castanha e látex, mas também para
os fármacos e fontes energéticas, como a biomassa e biocombsutíveis. No setor
agropecuário, a indústria de frigoríficos se expande e agrega valor, voltada ao mercado
externo. O turismo assiste a uma forte expansão, após a integração física com Cuzco, e
outras regiões turísticas do Peru.
O Acre oportuniza sua posição geográfica estratégica, após a interligação do
País aos portos do Ilo e Matarani, via Transoceânica e a BR-317, em território acreano.
Gradativamente, a expansão da infra-estrutura interna e a consolidação do Eixo
Rodoviário Peru-Brasil-Bolívia possibilitam a ampliação da escala produtiva, a
agregação de valor aos produtos e ganhos de eficiência e competitividade. Outro
impacto da nova logística criada com a estrada do Pacífico se verifica no setor de
comércio, na medida em que o Acre oportuniza negócios no campo da logística de
transporte e armazenamento para cargas oriundas de outras regiões do País,
especialmente dos estados do Centro-Oeste, Rondônia e Amazonas.
O resultado, ao longo da trajetória de formação deste cenário, é a contínua
intensificação dos fluxos comerciais, ampliação dos mercados e inserção da economia
Acre Integração Sustentável
75
Cenários
Cenários
acreana. O Acre se beneficia de uma ampla e sólida integração produtiva que acontece
em três estágios: inicialmente, de abrangência estadual e regional, com dinamização da
economia florestal do Vale do Juruá e da atividade pecuária, extrativista e madeireira, no
Vale do Acre, com integração dessas duas mesorregiões, através da BR-364 e BR-317
e da instalação de novas indústrias.
Em segundo estágio, ampliam-se as transações com os países da Comunidade
Andina, especialmente, o Peru e a Bolívia; e, em uma terceira dinâmica, a escala se
eleva e a base se diversifica, possibilitando uma integração produtiva com mercados do
nordeste asiático, especialmente, China e países da ex-União Soviética, com a
exportação de madeira, castanha, cosméticos, fármacos e carne bovina e aves.
O crescimento econômico do Estado, neste cenário, se dá de forma plenamente
sustentável, com ampla irradiação de negócios comunitários, com efetiva participação
social e repartição de benefícios. O modelo de desenvolvimento sustentável adotado se
mostra eficaz, sendo replicado em diversas experiências de negócios bem sucedidas
por todo o território, fruto de um processo de crescimento desconcentrado. Ao longo da
trajetória deste cenário, os governos ampliam o leque de participação da sociedade civil
organizada na definição e implementação de políticas públicas, e no estabelecimento de
acordos e contratos comerciais, o que gera reflexos positivos no nível de distribuição de
renda e geração de emprego.
O modelo de desenvolvimento sustentável no Estado do Acre cumpre o seu
papel de fixar as populações em suas localidades originais, promover qualidade de vida
e distribuição de riqueza. A coesão dos atores, a presença do Estado e o
amadurecimento da classe empresarial criam um ambiente favorável ao maior controle
na exploração dos recursos naturais do Estado, registrando-se impactos relativamente
baixos ao meio ambiente e progressiva desaceleração do desmatamento e queimadas.
O Estado consegue ordenar as atividades produtivas no território, em consonância com
o Zoneamento Ecológico-Econômico e ampliar o número de áreas protegidas.
Um dos principais fatores que possibilitam o crescimento sustentado do Acre,
neste cenário, são os avanços alcançados na área de formação de recursos humanos e
qualificação profissional, possível graças a parcerias entre o poder público, a iniciativa
privada e o permanente apoio de organismos internacionais. Neste estágio, o Acre
realiza investimentos importantes em pesquisa e desenvolvimento, especialmente
focadas nos projetos e negócios sustentáveis, valendo-se dos avanços no campo do
ensino superior, modernização das instituições de pesquisa e contratação de
profissionais especializados.
Acre Integração Seletiva
76
Cenários
Cenários
Cenários
Neste contexto, o Estado registra uma elevação expressiva de seus indicadores
sociais, puxados especialmente pela expansão e melhoria da qualidade do ensino
básico, e o aumento da renda da população envolvida na cadeia dos negócios
sustentáveis. As obras de saneamento básico e oferta de água tratada melhoram
significativamente as condições de domicílio do Estado. A Interligação ao Sistema
Interligado Nacional (SIN) garante energia de qualidade, e o sucesso dos projetos de
energias alternativas, em áreas isoladas, elevam a qualidade de vida da população do
Estado. A expansão dos negócios e a progressiva integração produtiva do Estado
resultam em uma dinâmica econômica acelerada e desconcentrada neste cenário.
4.6. Cenário B – Acre Integração Seletiva
Filosofia
No Cenário de Integração Seletiva, o Acre avança no seu processo de
desenvolvimento, porém em ritmo moderado, conseqüência do nível médio de
investimentos e das barreiras enfrentadas no processo de inserção econômica e
integração produtiva, apesar do ambiente político interno favorável. A forte presença do
Estado garante avanços no campo social, mas ainda persistem limitações na
operacionalização de projetos comunitários.
Descrição
Neste cenário, o Acre expande sua escala produtiva e agrega mais valor aos
seus produtos, contudo, os investimentos privados estão mais seletivos. O Estado
amplia suas transações comerciais, mas não consegue superar todos os seus gargalos,
presentes em sua cena de partida. Apesar da integração física concluída, persiste
algumas barreiras importantes a plena integração produtiva do Estado e inserção de
produtos em novos mercados. Os principais limitadores deste cenário são de natureza
econômica e diplomática, envolvendo fatores exógenos, como as relações com países
vizinhos e a concorrência regional. A presença forte do Estado nas parcerias público-
privadas exerce poder regulador sobre a economia e garante avanços no campo social
e comunitário.
Apesar da estabilidade do quadro político local, as forças hegemônicas do
Estado não se encontram plenamente alinhadas nas três esferas de poder e nos três
níveis de governo, o que, de certa forma, também interfere no estabelecimento de
acordos políticos e comerciais e confrontam interesses privados microrregionais. Tais
interesses retardam, mas não interrompem o processo de consolidação das instituições
e do projeto de desenvolvimento estadual.
Acre Integração Seletiva
77
Cenários
Cenários
Os governos alcançam credibilidade ao longo da trajetória de formação deste
cenário, mas como os investimentos públicos têm alcance mediano, a sustentabilidade
política cumpre papel parcial na atração de investimentos privados. Os investimentos
em infra-estrutura realizados no Estado, desde sua cena de partida, também exercem
efeito multiplicador moderado na atração de capital e fixação de novos
empreendimentos produtivos.
Ao longo da trajetória de formação deste cenário, a participação dos
investimentos públicos e do capital privado se equiparam, porém a abrangência dos
investimentos privados não se irradia por todo o território; são feitos de forma cautelosa
em setores e regiões específicas do Estado. Nesse sentido, os investimentos públicos
ainda assumem caráter estratégico na promoção do desenvolvimento econômico, frente
aos desafios exógenos a serem superados. A presença do Estado exerce forte
regulação no ordenamento da atividade econômica.
As relações diplomáticas entre Brasil, Peru e Bolívia, avançam, contudo a
integração produtiva apresenta algumas assimetrias, tendo em vista os vários interesses
econômicos dos países e estados vizinhos, o que sinaliza riscos aos investidores.
Neste contexto, a Integração Produtiva se dá de forma seletiva, porém contínua
e permanente, com moderada ampliação de mercado e de escala, com efeitos parciais
sobre a diversificação e agregação de valor das cadeias produtivas florestal e
agropecuária, razão pela qual destacam-se, dentro destas duas cadeias produtivas, a
indústria madeireira e a frigorífica.
As demais atividades do setor florestal avançam a um ritmo mais lento, porém
persistente, bem como o setor de agroenergia e demais atividades agropecuárias.
Madeira e carne bovina, na primeira cena deste cenário, puxam a elevação do Produto
Interno Bruto, cabendo ao setor industrial maior participação na composição do PIB
estadual. Os negócios nos ramos de castanha, látex, biomassa, biocombustíveis e
turismo mantêm taxas de crescimento positivas, enfrentando gargalos persistentes e
ampliando sua participação de forma mais gradativa.
Uma das marcas deste cenário é o descompasso nos estágio de
desenvolvimento setorial. Enquanto algumas atividades encontram-se em um terceiro
estágio de integração produtiva, consolidando-se em novos mercados, outros ainda
tentam se organizar em um estágio inicial de aperfeiçoamento produtivo e de transações
comerciais.
O crescimento econômico do Estado, neste cenário, se dá, portanto, de forma
parcialmente sustentável, com expansão segmentada de negócios comunitários, com
Acre Integração Concentrada
78
Cenários
Cenários
Cenários
participação social relativa e repartição de benefícios limitada a iniciativas pontuais. As
razões são muito mais de ordem econômico-financeira do que políticas.
O modelo de desenvolvimento sustentável adotado irradia resultados efetivos,
mas não se mostra plenamente eficaz, dada a limitação do Estado em financiar todas as
demandas produtivas e sociais, e replicar com o mesmo grau de sucesso as
experiências de negócios implementadas.
Ao longo da trajetória deste cenário, a sociedade organizada amplia o seu
escopo de atuação, e consegue garantir mediana participação na implementação de
políticas públicas. O modelo de desenvolvimento sustentável no Estado do Acre cumpre
parcialmente o seu papel de fixar as populações em suas localidades originais,
promover qualidade de vida e distribuir riquezas.
Muito embora o Estado não alcance um desenvolvimento sustentável pleno, a
presença de instituições públicas sólidas e articuladas garante o controle eficaz na
exploração dos recursos naturais do Estado, registrando-se impactos relativamente
baixos ao meio ambiente. O Estado ordena as atividades produtivas no território, em
consonância com o Zoneamento Ecológico-Econômico.
Os investimentos em qualificação profissional, formação de recursos humanos e
P&D acompanham o nível dos investimentos produtivos, mantendo-se com aportes
médios de recursos públicos e privados, para o desenvolvimento de projetos
selecionados. O poder público foca na melhoria da competitividade de produtos
florestais e a iniciativa privada na aquisição de tecnologia para melhoria de seus
processos industriais, de logística e comunicação.
Os indicadores sociais melhoram neste cenário, em relação a sua cena de
partida, puxados especialmente pela expansão e melhoria da qualidade do ensino
básico , obras de saneamento e oferta de água tratada. A expansão dos negócios e a
progressiva integração produtiva do Estado resultam em uma dinâmica econômica
moderada.
4.7. Cenário C – Acre Integração Concentrada
Filosofia
No Cenário de Integração Concentrada, marcada por um ambiente político de
instabilidade, a integração física do Estado exerce maior motricidade sobre a atração de
capital privado, porém com expansão limitada de investimentos e reduzida participação
Acre Integração Concentrada
79
Cenários
Cenários
pública, o que cria condições favoráveis às forças de mercado e à concentração de
renda, com avanços limitados no campo social e comunitário.
Descrição
Neste cenário, a expansão da infra-estrutura rodoviária do Estado exerce o maior
peso na atratividade de investimentos privados para o Estado do Acre, mais por efeito
de fatores econômicos exógenos do que pelo desenvolvimento planejado da economia
interna. Os investimentos, neste cenário, oscilam de moderado a baixo, e ocorrem de
forma inconstante, com maior intervenção do setor privado. A instabilidade política
interna, somada às demandas de uma economia mundial assimétrica, cria um ambiente
de vulnerabilidade ao pleno desenvolvimento sustentável do Estado do Acre, no qual
prevalece uma economia concentrada em atividades tradicionais, favorecidas pela
expansão da fronteira agrícola do País.
Considerando que a principal força motriz do Estado, para a determinação de
cenários futuros, seja a sua sustentabilidade política, na ausência de uma articulação
sólida neste campo, o Acre não oportuniza plenamente a nova logística de transporte,
representada pelo eixo Brasil-Peru-Bolívia, aproveitando apenas parte de suas
vantagens comparativas. A economia registra uma expansão de escala, porém seus
efeitos não se irradiam.
Os investimentos são feitos de forma pontual por grupos empresariais regionais
e nacionais, adiantando-se às iniciativas da classe empresarial local, em setores
priorizados pela expansão da fronteira agrícola do País, especialmente, pecuária e
madeira. A cadeia florestal não-madeireira amplia muito lentamente a sua escala e o
nível de agregação de valor de seus produtos.
A concorrência com estados vizinhos, como Rondônia, Mato Grosso e Amazonas
acirra as disputas pelos mercados globais, via Pacífico. Parte dos investidores, atraídos
por este novo eixo de comércio, fixam seus empreendimentos no sudoeste amazônico,
mas fora do território acreano, deixando o Estado em desvantagem, servindo de rota
para a expansão de outras economias regionais.
A integração produtiva, portanto, ocorre de forma assimétrica, privilegiando
apenas alguns produtos específicos da pauta de exportação do Estado e microrregiões
determinadas, com baixos efeitos sobre a agregação de valor das demais atividades
produtivas, especialmente aquelas desenvolvidas em bases comunitárias. Neste
contexto, o crescimento pouco irradia seus benefícios ao conjunto da população.
Neste cenário, de integração concentrada, a base político-institucional está
fragilizada, conseqüência do alinhamento instável nas três esferas do poder e nos três
Acre Integração Concentrada
80
Cenários
Cenários
Cenários
níveis de governo. A vulnerabilidade das forças políticas na construção de acordos e
coalizões desacelera o processo de consolidação das instituições estaduais.
Antagonismos políticos internos e, principalmente, no cenário nacional abalam a
hegemonia dos blocos políticos, prevalecendo um ambiente de instabilidade,
fragilizando o poder regulador do Estado sobre a economia. O cenário caracteriza-se
por uma constante alternância de poder entre grupos antagônicos, o que compromete a
continuidade de políticas públicas e de construção de um projeto comum de Estado que
diversifique sua base produtiva e distribua renda.
No contexto deste cenário, o modelo de desenvolvimento sustentável apresenta-
se inconsistente, reflexo da falta de coesão político-institucional e de recursos
suficientes para replicar projetos sustentáveis em todo o território, em benefício de uma
parcela mais ampla da população.
Os investimentos em qualificação e P&D acompanham o nível dos investimentos
produtivos, e são destinados ao aperfeiçoamento e inovação de processos produtivos
setorizados.
A gestão do meio ambiente, neste cenário, oscila com a descontinuidade das
políticas públicas, resultante dos conflitos de interesse entre grupos antagônicos. A
pressão de organismos internacionais, da sociedade civil organizada, e de forças
políticas locais, todavia, é uma das irrreversibilidades deste cenário, razão pela qual o
Estado exerce um controle difuso dos impactos ambientais, o que, de certa forma, limita
uma maior expansão da fronteira agrícola dentro do Estado, contribuindo, entre outros
fatores, para conservar o nível moderado-baixo dos investimentos privados em território
acreano.
A concentração da economia e a inconsistência dos negócios sustentáveis
limitam o desenvolvimento social, e registram-se pequenos avanços nas condições de
domicílio (saneamento e abastecimento de água). Os indicadores de educação que
aparece como uma tendência de peso na cena de partida, mantém trajetória constante,
em conseqüência da manutenção dos programas federais e da expansão do ensino
superior privado.
O crescimento concentrado da economia tem reflexos no nível de qualificação
profissional, formação de recursos humanos e pesquisa e inovação. Os investimentos
baixos nestes campos são dirigidos a programas e ações localizadas, a fim de otimizar
as ações empresariais em curso. Ao longo da trajetória de formação deste cenário a
dinâmica econômica oscila entre taxas de crescimento médias e baixas, refletindo a
inconstância do mercado.
Acre Integração Vulnerável
81
Cenários
Cenários
4.8. Cenário D – Acre Integração Vulnerável
Filosofia
No Cenário de Integração Vulnerável, as duas principais forças motrizes do Acre
- sustentabilidade política e investimentos públicos e privados - estão em desvantagem.
A conjugação de fatores políticos, diplomáticos, econômicos, sociais e ambientais
controversos, de âmbito local, regional e mundial, adiam a inserção econômica não
somente do Acre, mas da maior parte dos paises da Amazônia Sul-americana, e
mercados globais. A economia acreana expande muito lentamente, limitada pelos
gargalos de competividade produtiva, permanecendo praticamente circunscrita aos
mercados de sua cena de partida.
Descrição
Neste cenário, a infra-estrutura física instalada não exerce a atratividade
esperada sobre os investimentos privados. O Acre não consegue promover a sua
integração produtiva, apesar da integração física, consequência de fatores
interdependentes, entre os quais se destacam: a instabilidade política interna; os
gargalos de competitividade produtiva do Estado – escala, tecnologia e crédito –
questões diplomáticas controversas; instabilidades financeiras regionais; e barreiras
comerciais para o acesso a mercados globais
Neste cenário, o alinhamento nas três esferas de poder e nos três níveis de
governo é instável, o que representa atrasos no processo de consolidação das
instituições públicas estaduais. Apesar da instabilidade política, o Estado tem maior
participação no financiamento das atividades produtivas.
A dificuldade de coesão entre os atores públicos e privados afasta o investidor, e
as incompatibilidades dos regimes macroeconômicos do mercado andino e asiático
dificultam o estabelecimento de acordos comerciais amplos e efetivos, especialmente
em um ambiente em que os atores-chave estão pouco articulados.
As prioridades distintas entre países e regiões do sudoeste da Amazônia
sulamericana representa constante risco de continuidade a projetos produtivos e de
infra-estrutura complementar. Na ausência de uma instituição supranacional pró ativa,
os acordos e intenções entre o Acre, e governos do Peru e Bolívia avançam pouco. As
intenções políticas não conseguem suplantar as diferenças de estágios de
desenvolvimento regional do Acre, estados e países vizinhos.
O cenário caracteriza-se pelos baixos investimentos produtivos, tanto no setor
florestal quanto no setor pecuário. As parcerias público-privadas avançam pouco,
Acre Integração Vulnerável
82
Cenários
Cenários
Cenários
cabendo ao poder público assegurar a maior parte dos recursos necessários à
expansão e manutenção das atividades produtivas, especialmente, no setor florestal e
extrativista, a fim de não agravar os indicadores e garantir alguns avanços no campo
social e comunitário.
Neste contexto, a integração produtiva caracteriza-se por sua fragilidade, tendo
em vista a baixa ampliação da escala de produção e o lento processo de diversificação
e agregação de valor das cadeias produtivas florestal e agropecuária. Os negócios nos
ramos de castanha, látex, biomassa e biocombustíveis apresentam taxas de
crescimento aquém da média histórica, com fortes flutuações sazonais de oferta,
enfrentando gargalos persistentes neste cenário.
Sem recursos suficientes para impulsionar o setor de serviços e de infra-
estrutura turística, a integração física do Estado às regiões turísticas do Peru, não
desdobra-se em grandes avanços para o setor dentro do Estado. As relações
diplomáticas entre Brasil, Peru e Bolívia, avançam muito timidamente neste campo.
Apesar da integração física concluída, persistem barreiras a serem superadas para que
haja plena integração produtiva do Estado e maior inserção de seus produtos em novos
mercados.
A falta de alinhamento entre governos locais e o Governo Federal acirram as
dificuldades econômicas, conservando o Estado numa situação de isolamento. Apesar
das desvantagens econômicas, o Estado assume uma posição defensiva de seu
território, de seus recursos naturais e culturais, em decorrência principalmente da
intervenção de organismos internacionais e da sociedade civil na defesa do meio
ambiente. As pressões neste campo, aliada à baixa atividade econômica garantem um
controle disperso dos impactos ambientais.
O crescimento econômico do Estado, neste cenário, se dá, portanto, de forma
pouco sustentável, com expansão inexpressiva dos negócios comunitários, com
pequena participação social e repartição de benefícios limitada a projetos-piloto.
O modelo de desenvolvimento sustentável adotado não irradia resultados
efetivos, especialmente por conta da limitação dos investimentos públicos e privados
necessários para replicar satisfatoriamente as experiências piloto.
Os investimentos em qualificação profissional, formação de recursos humanos e
P&D acompanham o nível dos investimentos produtivos, mantendo-se com aportes
baixos de recursos públicos e privados. Os indicadores sociais melhoram pouco neste
cenário, em relação a sua cena de partida, especialmente, por conta da expansão e
Acre Integração Vulnerável
83
Cenários
Cenários
melhoria do ensino básico e de obras de saneamento. A lenta expansão dos negócios e
a difícil integração produtiva do Estado resultam em uma dinâmica econômica baixa.
Trajetória de Referencia
84
Trajetória
Cenários
5. TRAJETÓRIA DE REFERÊNCIA
Na metodologia de cenários, a Trajetória de Referência representa o caminho
mais provável que o Estado do Acre irá percorrer, ao longo dos próximos vinte anos, e
como suas principais forças-motrizes podem se comportar dentro das cenas da
trajetória. A definição das cenas baseia-se no comportamento dos quatro cenários
puros, descritos na seção anterior, e delineia o movimento do objeto de estudo e seus
desdobramentos a partir da cena de partida, considerando os fatos e as situações mais
relevantes.
Filosofia
Em sua Trajetória de Referência, o Estado do Acre evolui de uma economia
ainda vulnerável, marcada por baixa escala e reduzida agregação de valor, para um
cenário de progressiva integração produtiva, graças a investimentos privados atraídos
para a rota do pacífico e de um ambiente político interno favorável. Contudo, o ritmo do
crescimento é moderado, sujeito às oscilações que marcam a inserção econômica da
Amazônia Sul-Americana em mercados globais. O Estado parte de iniciativas-pilotos no
campo dos negócios sustentáveis para a consolidação de um modelo de
desenvolvimento que efetivamente agrega resultados econômicos, sociais e ambientais,
na final de sua trajetória.
Descrição
A trajetória de referência do Estado do Acre está dividida em três Cenas, cujos
marcos relacionam-se às três principais forças motrizes do Estado: sustentabilidade
política; investimentos públicos e privados; e integração produtiva, através da expansão
da infra-estrutura. Seus desdobramentos definem o comportamento das demais
variáveis, resultando na dinâmica de evolução do objeto cenarizado. Assim, esta
trajetória tem os seguintes marcos temporais: Cena I, 2008 a 2011; Cena II, 2012 a
2018; e Cena III, 2019 a 2027.
Cena 1: 2008 a 2011
85
Trajetória
Cenários
5.1. CENAS
5.1.1. Cena 1 – 2008 a 2011
A trajetória de desenvolvimento do Estado do Acre tem, em sua primeira cena,
dois importantes marcos: a conclusão das obras de infra-estrutura estadual e da
Transoceânica; e a conservação das forças políticas hegemônicas nas eleições de 2008
e 2010. As duas forças conjugadas produzem efeitos ao longo de toda cena, porém
seus principais desdobramentos somente se cristalizam na cena seguinte desta
trajetória de referência.
A principal demanda crítica desta fase inicial é a ampliação dos níveis de
investimentos privados nos setores produtivos e a gestão social dos projetos
comunitários e dos negócios sustentáveis.
Nesta cena, as forças políticas hegemônicas mantêm trajetória de ascendência,
ampliando as coalizões dentro do Estado e suas representações federais. A forte
participação do Estado na atração de investimentos públicos e privados, via operações
de crédito junto ao BNDES e outras fontes financiadoras, presentes em sua cena de
partida, favorece à consolidação de parcerias também no campo político. Nesta primeira
cena, as forças políticas antagônicas conservam seus nichos, mas não representam
ameaça à coalizão no poder.
O processo de consolidação das instituições acreanas é amplamente favorecido
nesta fase. Acordos entre o Estado, o governo federal e organizações internacionais
possibilitam avanços importantes na qualificação profissional, capacitação e formação
de lideranças. Mas persistem vieses entre os governos e a sociedade civil organizada,
especialmente, no que diz respeito a efetiva participação e autonomia social nos
projetos produtivos.
Os investimentos públicos se ampliam, fruto dos desembolsos do Programa de
Aceleração do Crescimento do Governo Federal e dos empréstimos obtidos junto a
agentes financiadores nacionais e internacionais. O Estado destina maior parte dos
investimentos públicos, nesta primeira cena, à conclusão das obras de infra-estrutura já
em andamento e em fase final de execução, como a BR-364, a pavimentação de
rodovias estaduais, e as obras complementares no setor de saneamento, habitação,
urbanização, aerovias, energia e comunicação. Em 2009, a maior parte do sistema
energético do Acre passa a integrar o Sistema Interligado Nacional – SIN.
Cena 1: 2008 a 2011
86
Trajetória
Cenários
Parte dos investimentos continuam a serem destinados ao financiamento da
atividade produtiva, através das parcerias público-privadas-comunitárias, as PPC´s.
Nesta primeira cena, a presença do Estado na atração de investimentos privados tem
papel estratégico, dada a participação ainda pontual e seletiva da iniciativa privada.
Ao longo dessa cena, os empreendimentos produtivos já implantados na cena de
partida (fábrica de pisos, fábrica de preservativos e usina de alcool) expandem sua
produção, mas ainda persistem gargalos de gestão das parcerias PPC´s e produtividade
da produção. A Usina Álcool Verde entra em operação em 2008, com produção de 30
milhões de litros de álcool e 10 mil sacos de acúçar/dia. O plantio de cana alcança 8 mil
hecatres, no final de 2009. As fábricas de tacos e de preservativos dobram sua
produção no transcurso desta cena. As exportações de castanha conservam as taxas
anuais de crescimento, registradas nos últimos anos.
Embora os investimentos privados mantenham curva ascendente, nesta primeira
cena, o seu volume é ainda insuficiente para promover um amplo desenvolvimento
industrial do Estado e impactar o PIB estadual. A agregação de valor, tanto na cadeira
florestal, quanto na pecuária, segue um ritmo constante, mas os seus resultados ainda
não se completam dentro do horizonte temporal desta cena.
Nesta fase estão sendo implantados novos empreendimentos nos setores de
carnes (frigorífico Bertin e outros), aves, madeira e serviços (Shopping Iguatemi, cuja
obra se conclui no final de 2009). Porém os maiores reflexos destes novos
investimentos só se fazem evidentes na cena seguinte.
A modernização da produção agroindustrial ainda não se irradia por todo o
território e por todos os setores. Os maiores avanços se registram no setor da pecuária.
O rebanho bovino cresceu na ordem de 19% ao ano, no período de 1995 a 2005 e as
exportações para mercados internos mantém níveis crescentes. O volume do abate de
bovinos aumenta após a instalação de novos frigoríficos, porém parte do plantel ainda
migra para estados vizinhos.
O processo de integração produtiva do Estado encontra-se, nesta cena, ainda
em fase embrionária. As obras de pavimentação da transoceânica se completam
somente no final desta cena e ainda não exerce plena atratividade sobre o capital
privado. A expansão dos negócios, embora crescente, não atinge economia de escala,
nesta cena.
Os acordos entre Brasil-Peru e Bolívia avançam mais em termos político-
institucionais do que econômicos, nesta fase. Em escala local e regional, os atores
Cena 1: 2008 a 2011
87
Trajetória
Cenários
estreitam o dialogo, porém assimetrias macroeconômicas entre os países fronteiriços
ainda persistam. Ao longo dos quatro anos desta cena, o setor de turismo se
especializa, mas os avanços são pouco expressivos na formação do PIB estadual.
A produção agrícola também não apresenta crescimentos representativos nesta
primeira cena. O Governo investe na profissionalização do setor, o que só se reflete nas
cenas seguintes. Aumentam os incentivos ao setor de agroenergia, contudo, ao longo
da cena, os resultados não são tão amplos. Há um longo caminho entre as estratégias
desenvolvidas para o setor e sua efetiva expansão no Estado. Os maiores gargalos são
de ordem cultural e ambiental. A ausência de tradição agrícola é um dos fatores que
explicam a baixa dinâmica deste setor, na cena inicial da trajetória.
O Estado implanta novos negócios na cadeia florestal, através do Programa
Integrado de Manejo Florestal de uso Múltiplo, o que responde pela elevação das
exportações de madeira certificada. Porém, o processo se dá a um ritmo lento, dado os
condicionantes de ordem econômica e cultural envolvidos.
Os negócios sustentáveis ainda não irradiam resultados amplos, a ponto de
beneficiarem toda população, razão de divergências microrregionais na gestão dos
projetos comunitários, o que se mantém ainda na cena seguinte. Os aportes de recursos
públicos e privados são insuficientes para a aceleração dos resultados neste campo. A
participação da sociedade na definição e implantação de políticas públicas voltadas aos
negócios comunitários também não se dá de forma plena ao longo desta primeira cena.
Divergências entre Governo e organizações sociais atrasam a solução de processos e
das ações planejadas.
O nível dos investimentos na formação e capacitação de mão de obra qualificada
e processos tecnológicos inovadores também atrasam a expansão de toda base
produtiva, tornando-se um dos principais desafios para a cena seguinte desta trajetória.
A implementação do Zoneamento-Ecológico-Econômico do Estado é prioridade
das políticas públicas estaduais. Nesta primeira cena, o Estado consegue exercer um
controle parcialmente eficaz no ordenamento das atividades produtivas que estão sendo
implantadas no território, com um controle difuso dos impactos ambientais. As taxas de
desmatamento conservam-se baixas, porém crescentes. O Governo cria incentivos
fiscais e financeiros para a conservação e exploração sustentável de reservas legais e
operacionaliza os primeiros contratos para concessão florestal em unidades de
conservação de uso sustentável.
Nesta cena, a manutenção do atual bloco hegemônico na liderança das
instituições públicas favorece a continuidade dos projetos sociais e da efetivação das
Cena 2: 2012 a 2020
88
Trajetória
Cenários
políticas públicas, de forma gradual e constante. Dada a demanda social do Estado, não
é possível solução de todos os problemas neste campo, no intercurso dos quatro anos
da primeira cena, mas são expressivos os avanços nas áreas de educação,
abastecimento de água, saneamento e habitação, considerando os baixos indicadores
presentes em sua cena de partida.
Ao longo dessa cena, a dinâmica econômica do Estado mantém trajetória
ascendente, comparativamente a sua cena de partida, muito embora os indicadores
econômicos ainda sejam pouco representantivos na formação do PIB regional e
nacional. Durante a primeira cena, o PIB estadual apresenta taxa média acima da região
e do Brasil, sem, contudo, alterar a sua participação anual.
5.1.2. Cena 2 – 2012 a 2020
A segunda cena da trajetória de referência do Acre tem como principal força
motriz a elevação dos investimentos privados no Estado, resultado do efeito
multiplicador dos investimentos estruturantes na cena inicial e da maior competitividade
dos produtos locais. A forte presença do Estado como principal financiador da atividade
produtiva, ao longo da primeira cena, cria um ambiente favorável ao investidor neste
estágio.
Principais demandas críticas desta cena: expansão da fronteira agrícola
brasileira em território acreano; a gestão dos recursos naturais do Estado, decorrente da
intensificação dos fluxos comerciais e populacionais, via rota do Pacífico e hidrovias da
Amazônia Oriental; e a ampliação dos acordos e tratados multilaterais com países
vizinhos. Outro importante desafio é a formação de capital social e os investimentos em
C&T, fatores de competitividade ainda baixos no início desta fase.
Embora o ambiente político seja estável e as forças políticas estejam coesas, no
início desta segunda cena, a partir de 2014 a disputa pelo poder pode ser acirrada por
fatores externos, criando um clima de maior arrefecimento dos antagonismos. Nesta
cena, as forças políticas hegemônicas, que vinham ampliando sua coalizão, ao longo da
cena anterior, pode confrontar-se com novas demandas sociais e econômicas que
exijam flexibilização de espaços e maior capacidade de negociar conflitos e interesses
de natureza política. A integração física do Estado também fortalece as forças políticas
do Vale do Juruá, nicho de oposição ao governo central.
A atratividade exercida pela nova logística de transporte sobre o capital privado
nacional impõe ao poder público estadual maiores desafios na gestão das políticas
Cena 2: 2012 a 2020
89
Trajetória
Cenários
públicas voltadas para o setor produtivo e ao ordenamento das atividades econômicas
no território.
Se na primeira cena, as forças políticas se uniram para atrair investimentos,
nesta segunda cena os interesses econômicos crescentes na região podem provocar
divergências mais acentuadas na condução do projeto de desenvolvimento estadual. O
trajetória do cenário, neste ponto, exigirá de seus atores a construção de acordos mais
abrangentes, a fim de garantir a convergência política necessária à integração produtiva
do Estado, em bases sustentáveis.
As disputas políticas não chegam a desestabilizar a consolidação das instituições
públicas do Estado, mas impõem um ritmo mais lento aos processos institucionais em
curso desde a cena de partida. A formação política do Estado e o peso da opinião
pública local e internacional colaboram para a conservação da trajetória institucional,
apesar das turbulências.
Os dilemas operacionais do modelo de desenvolvimento sustentável no Estado,
que marcaram a cena anterior, ainda persistem durante este segundo estágio da
trajetória, porém com resultados muito mais efetivos, conseqüência de mobilização
social permanente e da manutenção do nível dos investimentos nas parcerias público-
comunitárias.
Os investimentos em C&T crescem nesta segunda fase, impulsionados pelos
investimentos privados e pela convergência de projetos de cooperação técnica e
científica entre instituições do Acre e de países vizinhos, com a participação de
organizações internacionais de fomento. As transferências do Governo Federal para
C&T registram evolução moderada, contribuindo para o fortalecimento das instituições
de pesquisa do Estado e a ampliação da oferta de cursos de graduação e pós-
graduação.
No início desta cena, entretanto, os investimentos em C&T são mais seletivos,
ampliando o seu escopo somente ao longo desta cena, quando um maior volume de
recursos são destinados a processos inovadores no âmbito dos projetos produtivos
sustentáveis.
Nesta cena, os investimentos públicos ainda respondem por parcela significativa
dos investimentos produtivos, porém os investimentos privados são relativamente
superiores. Com as principais obras de infra-estrutura já concluídas, o Estado orienta
seus investimentos ao fortalecimento da cadeia produtiva florestal, à especialização de
processos e produtos, e à promoção do setor de turismo, com fortes investimentos em
transporte aeroviário, sistemas de comunicação e capacitação de recursos humanos.
Cena 2: 2012 a 2020
90
Trajetória
Cenários
Os investimentos privados seguem trajetória de crescimento, porém ao longo da
cena há refluxos e riscos de descontinuidades, dadas as assimetrias que ainda marcam
o estágio de integração produtiva sul-americana, no qual o Estado se inscreve. Colabora
para isso a concorrência de estados vizinhos pelos mercados andinos e asiáticos,
especialmente, na comercialização de carne e madeira.
Os acordos entre Brasil-Peru e Bolívia avançam mais em termos político-
institucionais do que econômicos, nesta fase. Em escala local e regional, os atores
estreitam o dialógo, porém assimetrias macroeconômicas entre os países fronteiriços
ainda persistam. Ao longo dos quatro anos desta cena, o setor de turismo se
especializa, mas os avanços ainda são pouco expressivos na formação do PIB estadual.
No transcurso da cena, entretanto, os investimentos privados atraídos para o
Acre puxam a expansão do parque industrial do Estado. Tais investimentos impactam a
formação do PIB estadual que, ao longo desta cena, cresce a uma taxa média anual
bem superior a do Brasil e Região.
Nesta cena, o processo de integração produtiva e a inserção dos produtos
acreanos em novos mercados parte de uma dinâmica primária para uma dinâmica
secundária, caracterizada pela expansão gradual e seletiva dos fluxos comerciais entre
o mercado regional, paises andinos e mercados globais.
Neste estágio, há uma expansão moderada da escala produtiva e média
agregação de valor à produção do Estado, comparativamente a sua cena de partida.
Com o aumento da escala e maior valor agregado, a integração produtiva do Estado
registra um salto importante, conseqüência também da ampliação, no final desta cena,
dos acordos comerciais firmados no âmbito da Comunidade Andina e do Tratado de
Cooperação Amazônica, embora ainda conservadores.
O setor madeireiro, o comércio e industrialização de carne bovina e aves puxam
os indicadores econômicos, neste estágio. Ao longo da cena as atividades florestais
não-madeireiras também consolidam novos empreendimentos, especialmente, no ramo
de alimentos. Projetos de energias alternativas recebem incentivos e iniciam a formação
de uma cadeia de negócios que se consolida na última cena desta trajetória.
O aumento das demandas mundiais e carne bovina e aves reflete no mercado
nacional, desencadeando um novo fluxo de expansão da fronteira agrícola na região
norte, impactando todo o sudoeste amazônico, especialmente os estados de Rondônia e
Acre. A integração física com os portos peruanos, gradativamente, desloca para este
Cena 2: 2012 a 2020
91
Trajetória
Cenários
novo eixo parte dos interesses comerciais deste setor. A instalação de novos frigoríficos
amplia a escala de abate do rebanho.
Ao longo da cena, o Estado convive com importantes desafios na gestão do seu
território e no ordenamento das atividades produtivas induzidas pelos projetos de
investidores privados. O Zoneamento-Ecológico-Econômico do Estado é prioridade das
políticas públicas estaduais, porém, nesta cena, o Estado consegue exercer um controle
parcialmente eficaz no ordenamento das atividades produtivas, com um controle
disperso dos impactos ambientais, refletindo taxas de desmatamento acima da média. O
Governo investe, nesta fase, na criação de áreas protegidas, a fim de conter a expansão
econômica desordenada.
A produção agrícola do Estado apresenta taxas constantes de crescimento,
ainda restrita ao mercado interno. Os biocombustíveis avançam lentamente,
permanecendo circunscrito a poucos empreendimentos. Os gargalos da primeira cena
ainda persistem.
As exportações de madeira certificada registram crescimento mais acelerado
nesta cena, fruto dos investimentos moderados em C&T e expansão dos contratos de
concessão florestal. O nível dos investimentos em mão de obra qualificada e processos
tecnológicos inovadores, embora crescentes, não chegam a atender a demanda
reprimida nestes campos.
O modelo de desenvolvimento sustentável, nesta fase, ainda não está
plenamente consolidado. Há uma maior participação social, porém persistem limitações
de natureza econômica e cultural que inviabilizam replicar, com sucesso, os projetos
sustentáveis por todo o território, beneficiando, assim, apenas parte da população. O
modelo ainda caracteriza-se por sua seletividade.
Neste estágio, a sociedade civil amplia o seu escopo de atuação, intervindo com
maior autonomia junto ao poder público na gestão e operacionalização das políticas
públicas e projetos produtivos, porém barreiras culturais e históricas adiam resultados
mais amplos na consolidação plena do modelo sustentável, especialmente no que se
refere à formação de capital social e à capacidade de replicar parte dos projetos já
implantados.
Nesta cena, momentos de instabilidade política e a seletividade dos
investimentos também limitam a abrangência dos avanços sociais. A intensificação dos
fluxos migratórios no início da cena, fruto da maior integração física e produtiva, exigem
investimentos públicos superiores à capacidade financeira do Estado. Há
descontinuidades nas políticas públicas, durante alguns períodos desta cena. Os
Cena 3: 2021 a 2027
92
Trajetória
Cenários
maiores resultados neste campo somente são alcançados na cena seguinte desta
trajetória, quando há um novo ciclo de realinhamento das forças políticas.
Ao longo da segunda cena, a dinâmica econômica do Estado mantém trajetória
ascendente, comparativamente a sua cena de partida, como PIB crescendo a uma taxa
média real acima do Brasil e Região Norte, contudo mantendo os mesmos índices de
participação na formação do PIB regional e nacional, conseqüência da baixa escala
produtiva em sua cena de partida.
5.1.3. Cena 3 – 2021 a 2027
Na cena final da trajetória de referência do Acre sua principal força motriz é a
progressiva inserção do Brasil em mercados globais, com impactos nos mercados
regionais, e o conseqüente avanço no processo de integração produtiva do Estado, via
Saída para o Pacífico. O Acre oportuniza sua posição estratégica dentro do desenho de
uma nova geografia econômica sul-americana, que tem nos portos do Pacífico e nas
hidrovias do Purus e do Madeira as principais rotas comerciais da Amazônia ocidental.
Contudo, este terceiro ciclo de expansão se dá em fluxos e refluxos, conseqüência das
oscilações do mercado externo e do ritmo em que se firmam os acordos políticos e
comerciais com os países vizinhos.
Neste estágio, a economia do Acre eleva sua escala produtiva a níveis mais
competitivos, com ampla agregação de valor dos produtos acreanos, muitos dos quais
exclusivos no mercado nacional. Superada as turbulências políticas e ambientais da
segunda cena, as forças políticas do Estado entram, neste último estágio, alinhadas nos
três níveis de governo. Há uma ascendência do bloco político hegemônico fortalecido
pelo amadurecimento cultural da sociedade acreana, desde a cena anterior.
Lideranças despontam de um ‘novo’ movimento social focado em garantir
espaços estratégicos na construção de políticas públicas e viabilização econômica de
projetos comunitários. O ambiente de estabilidade política interna e de renovação
cultural que marca esta cena é condição também essencial à consolidação do modelo
de desenvolvimento sustentável.
A adoção desta estratégia de desenvolvimento e de sua implementação
gradativa ao longo de toda trajetória de referência garante crescentes oportunidades ao
Estado no mercado global. A progressiva adesão mundial ao controle das emissões de
carbono e adoção de mecanismos de desenvolvimento limpo criam demandas para as
quais o Acre encontra-se apto, especialmente, no final desta trajetória.
Cena 3: 2021 a 2027
93
Trajetória
Cenários
Ao longo das cenas anteriores, o Acre oportunizou as suas duas principais
vantagens comparativas: sua potencialidade florestal; e sua localização geográfica.
Situado no extremo sudoeste amazônico, nesta fase, o Estado passa a ser um
importante elo entre os três eixos de integração física sul-americana – eixo andino, eixo
do Amazonas e eixo Brasil-Peru-Bolívia.
A plena integração produtiva do Acre, neste estágio, está condicionada também
ao sucesso da integração sul-americana, na qual o Estado se inscreve, o que não
ocorre de forma gradual no horizonte temporal desta trajetória. Ao longo da cena,
governos, iniciativa privada e sociedade civil mobilizam esforços para a criação de uma
instituição supranacional no âmbito dos acordos multilaterias entre Brasil e países Pan-
Amazônicos, porém este processo avança além dos limites deste cenário.
Mesmo sem uma instituição supranacional, acordos comerciais bilaterais são
firmados com paises vizinhos, abrindo caminho para um terceiro estágio de integração
produtiva do Acre, com reflexos nos fluxos comerciais de outras regiões brasileiras,
especialmente, do Centro-Oeste, com o escoamento de grãos e carne, via
transoceânica.
O acesso a mercados andinos e asiáticos continua a exercer atratividade sobre o
capital privado. Neste contexto, os investimentos públicos e privados mantém trajetória
crescente, com ampla participação privada e forte regulação pública.
Neste estágio, o Estado consegue ordenar a atividade agropecuária em bases
sustentáveis, consolidando processo industriais crescentes neste campo. Contudo, as
atividades que mais contribuem para a formação do PIB são as de base florestal,
madeireira e não-madeireira, o comércio, e os serviços, com os avanços dos setores de
logística e de turismo.
Ganham maior participação nesta cena as atividades florestais não-madeireira
nos ramos de fármacos, cosméticos e biomassa. O escala produtiva do manejo
certificado registra saltos expressivos, conseqüência dos investimentos feitos em C&T,
do aumento da demanda mundial e dos bons resultados dos projetos de manejo florestal
de uso múltiplo e de concessão de florestas públicas.
Resultado da forte articulação político-institucional do Estado e das crescentes
demandas mundiais, o Acre insere-se no mercado internacional de crédito de carbono,
consolidando importantes negócios a partir de 2020.
Graças aos seus projetos inovadores no campo dos serviços ambientais e da
expansão da indústria de alimentos, no final desta cena, o Acre assiste à plena
consolidação de um modelo de desenvolvimento sustentável que tem como base a
Cena 3: 2021 a 2027
94
Trajetória
Cenários
ampla irradiação de negócios comunitários, a efetiva participação social, e ampla
repartição de benefícios, por meio das parcerias público-privada-comunitárias, as
PPC´s.
Neste cenário, a governança garante o controle eficaz da exploração dos
recursos naturais do Estado, registrando índices decrescentes de desmatamento e de
ocorrências de queimadas. Os impactos ambientais são minimizados graças à ação
preventiva dos programas governamentais e do nível de consciência da classe
empresarial que, nesta cena, investe cada vez mais em práticas e negócios
sustentáveis.
Neste estágio, a sociedade civil amplia o seu escopo de atuação, intervindo com
maior autonomia junto à iniciativa privada e o poder público na gestão e
operacionalização das políticas públicas e projetos produtivos. Limitações de caráter
cultural, em sua maior parte, são superadas, permitindo que o modelo de
desenvolvimento sustentável alcance um estágio de amplos e efetivos resultados.
Há um maior empoderamento social, embora persistam certos gargalos na
gestão dos negócios comunitários, dada a herança histórica de forte dependência da
população ao poder público. Muitos segmentos se profissionalizam, enquanto algumas
comunidades ainda permanecem dependentes do apoio governamental, o que não
compromete os principais elos da cadeia de negócios sustentáveis. Neste estágio, o
processo de distribuição da renda e universalização dos benefícios é crescente.
Apesar do crescimento econômico registrado e dos avanços dos projetos
comunitários, o Estado ainda conserva nesta cena parte do seu passivo social. Os
investimentos feitos neste campo desde a sua primeira cena não são suficientes para
equacionar todas as novas demandas criadas ao longo do período, representadas pelo
aumento populacional e fluxos migratórios para a região de fronteira, que marcaram a
sua cena anterior.
Nesta cena final, a dinâmica econômica do Estado mantém ritmo ascendente,
comparativamente a sua cena de partida, com o PIB crescendo a uma taxa média real
acima do Brasil e Região Norte, com maior participação na composição do PIB regional,
conservando a participação na formação do PIB nacional.
95
Trajetória
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ACRE. Governo do Estado do Acre. Zoneamento Ecológico-Econômico do Acre Fase II:
documento Síntese. Rio Branco: SEMA, 2006.
BECKER, Bertha K. - “Amazônia: geopolítica na virada do III milênio” - Ed. Garamond -
Rio de Janeiro, 2004.
BECKER, B. K. Estudo Envolvendo Proposta de Política em Ciência e Tecnologia para a
Amazônia. Centro de Gestão de Estudos Estratégicos – CGEE. Brasília-DF, 2004.
CONGRESSO NACIONAL – I Simpósio “Amazônia e Desenvolvimento Nacional” -
Relatório – novembro de 2007.
ELETRONORTE – Metodologia de Estudos de Cenários, Brasília, junho de 2007.
ELETRONORTE – Cenários Macroeconômicos para a Amazônia – 2005 – 2025. 2005
EPE – Cenários macroeconômicos para projeção do mercado de energia elétrica – 2007
– 2017, Rio de Janeiro, 2007.
EMBRATUR – Estatísticas Básicas do Turismo Brasil. Abril/2005.
FIEAC – Revista Acre Industrial, ano 02, número 03, maio de 2007.
FÓRUM DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL – Investimentos Potenciais Acre e
Região – Portifólio – Rio Branco – dezembro de 2004.
GODET, Michel. “Manuel de Prospective Stratégique” – Vol I: “Une indiscipline
intelectuel”. Editora Dunod – Paris – 1997.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Diretoria de Geociências –
Zoneamento Geoambiental do Estado do Maranhão – Diretrizes Gerais para o
Ordenamento Territorial. Salvador-BA, 1997
_____. Indicadores IBGE - Estatística da Produção Pecuária, mar/2007.
_____. Sistema de Contas Nacionais, SCN. Contas Regionais 2002-2005, referência
2002. Rio de Janeiro, 2007.
_____. Sistema de Contas Nacionais – SCN 2000, Contas Regionais 2004, referência
1985.
IPEADATA. Série Dados Regionais, por Estado, do Brasil, de 1985 a 2005.
MINISTÉRIO DA INTEGRAÇÃO – Plano Amazônia Sustentável (PAS), junho 2006
96
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Secretaria de Políticas para o Desenvolvimento
Sustentável. Programa Zoneamento Ecológico Econômico – PZEE – ZEE na
Amazônia Legal: projetos e resultados. Brasília - MMA, 2007.
MINISTÉRIO DAS MINAS E ENERGIA, EPE – Plano Decenal de Expansão de Energia
2007/2016. Rio de Janeiro, 2007.
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria Executiva – Caderno de Informações de Saúde.
Brasília.
NOTÍCIAS DO ACRE. Rio Branco – Acre. Acessado em 12 de agosto de 2007.
REVISTA DO ACRE. Ano I. Nº. 04. Julho de 2007.
SECEX, Secretaria de Comércio Exterior, MDIC - Ministério do Desenvolvimento, da
Indústria e do Comércio. Indicadores e Estatísticas, Balança comercial – Unidade
das da Federação.
SEPLAN: Secretaria de Planejamento do Estado do Acre ––– “Acre em Números”,
2007/2008.
Anexos
97
Trajetória
Atores
ANEXOS
PALESTRAS TÉCNICAS E OFICINAS 1ª Oficina: 02 a 06 de julho de 2007 2ª Oficina: 08 e 09 de outubro de 2007 3ª Oficina: 05 a 07 de dezembro de 2007
PALESTRAS DE ESPECIALISTAS
DESENVOLVIMENTO POLÍTICO-INSTITUCIONAL DO ESTADO DO ACRE E OS DESAFIOS PARA O FUTURO
Palestrante: Profº. Dr. Ermicio Sena (Universidade Federal do Acre – UFAC)
NOVAS ESTRATÉGIAS PARA O DESENVOLVIMENTO DA AMAZÔNIA BRASILEIRA – A SUB-REGIÃO SUDOESTE AMAZÔNICO
Palestrante: Júlio Flávio G. Miragaya – Coordenador-Geral de Planejamento e
Gestão Territorial da Secretaria de Políticas de Desenvolvimento
Regional, do Ministério da Integração Nacional.
PROSPECÇÕES ECONÔMICAS DA VIABILIDADE PARA NOVOS NEGÓCIOS NO ESTADO DO ACRE
Palestrante: Profª. Drª. Mônica Alves Pinto (União Educacional do Norte -
Uninorte)
ENTREVISTAS DE FOCALIZAÇÃO
AGÊNCIA ESTADUAL REGULADORA DE SERVIÇOS PÚBLICOS – AGEAC
Francisco Eulálio Alves dos Santos
ASSOCIAÇÃO COMERCIAL E INDUSTRIAL DO ESTADO DO ACRE – ACISA
Pedro Ferreira Silva
BANCO DA AMAZÔNIA
Marivaldo Gonçalves de Melo
CONSELHO NACIONAL DOS SERINGUEIROS – CNS
Júlio Barbosa
Anexos
98
Atores
COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ACRE – ELETROACRE
Celso Santos Matheus
COOPERATIVA DOS PRODUTORES FLORESTAIS COMUNITÁRIOS – COOPERFLORESTA
Adriano Trent Faccini
DEPARTAMENTO DE ESTRADAS DO ACRE – DERACRE
Marcus Alexandre Médici Aguiar
EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA – EMBRAPA
Marcus Vinício N. d’ Oliveira
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO ACRE – FIEAC
João Francisco Salomão
FEDERAÇÃO DO COMÉRCIO DO ESTADO DO ACRE – FECOMÉRCIO
Leandro Domingos Teixeira Pinto
FEDERAÇÃO DA AGRICULTURA DO ESTADO DO ACRE – FAEAC
Assuero Doca Veronez
FÓRUM DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO ACRE
Jorge Viana
IBGE - UNIDADE ESTADUAL DO ACRE
Adão Delfino dos Santos
INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVÁVEIS
IBAMA /AC
Anselmo Alfredo Forneck
MINISTÉRIO PÚBLICO DO ACRE
Sammy Barbosa Lopes
PREFEITURA DE RIO BRANCO
Antônia Francisca de Oliveira
Anexos
99
Trajetória
Atores
SEBRAE – ESTADO DO ACRE
Dilermando Leandro Martins
SECRETARIA DE DESENVOLVIMENTO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA – SDCT/ FUNTAC
Nadma Farias Kunrath
SECRETARIA DE EDUCAÇÃO – SEE
Maria Corrêa da Silva
SECRETARIA DE ESTADO DA AGROPECUÁRIA – SEAP
Lourival Marques de Oliveira Filho
SECRETARIA DE ESTADO DE FAZENDA E GESTÃO PÚBLICA – SEFAZ
Mâncio Cordeiro
SECRETARIA DE ESTADO DO PLANEJAMENTO – SEPLAN
Gilberto do Carmo Lopes Siqueira
SECRETARIA DE EXTENSÃO E PRODUÇÃO FAMILIAR – SEATER
Nilton Cosson
SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS NATURAIS - SEMA
Carlos Edgard de Deus
SINDICATO DAS INDÚSTRIAS MADEIREIRAS DO ESTADO DO ACRE – SINDUSMAD
Adelaide de Fátima
SUPERINTENDÊNCIA DA ZONA FRANCA DE MANAUS – SUFRAMA
Francisco de Assis
UNIÃO EDUCACIONAL DO NORTE - UNINORTE
Ricardo Leite
UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE – UFAC
Jonas Pereira de Souza Filho
Anexos
100
Cenaristas
COORDENAÇÃO E EQUIPE TÉCNICA
COORDENAÇÃO EXECUTIVA DO TRABALHO
CENTRAIS ELÉTRICAS DO NORTE DO BRASIL – ELETRONORTE
GERÊNCIA DE ESTUDOS E PROJEÇÃO DE MERCADO - EPEM
JOSÉ SARTO SOUZA
COORDENAÇÃO TÉCNICA DO TRABALHO
MARGARETH MARINHO
RAQUEL ALVES RABELO
ZULEICA MOURA (CONSULTORA)
EQUIPE TÉCNICA
ANA CLAUDIA BATISTA DE OLIVEIRA EPEM
FERNANDO GOMES FERNANDES EPEM
JOSÉ BENEDITO INOCÊNCIO EPEM
JOSÉ SARTO SOUZA EPEM (GERENTE)
MARCELO GOMES ALENCAR EPEM
MARGARETH MARINHO EPEM
MARLON RESENDE JÚNIOR EPEM
NÉLIA ROSA DOS SANTOS EPEM
RAQUEL ALVES RABELO EPEM
VIRGÍNIA ZERBA GRASSO EPEM (SECRETÁRIA)
DANILLO RAMOS MENDES EPEM (ESTAGIÁRIO)
ZULEICA MOURA (CONSULTORA)
Anexos
101
Trajetória
Cenaristas
INSTITUIÇÕES PARTICIPANTES
CENTRAIS ELÉTRICAS DO NORTE DO BRASIL S.A. – ELETRONORTE/AC
JORGE LUÍS B. FERNANDES RAFAEL PEREIRA NISHIHIRA
CENTRAIS ELÉTRICAS BRASILEIRAS S.A. – ELETROBRÁS
CARINA CAVALVANTE COELHO
EMPRESA DE PESQUISA ENERGÉTICA – EPE
LETÍCIA FERNANDES RODRIGUES DA SILVA
BANCO DA AMAZÔNIA – SUPERINTENDÊNCIA REGIONAL DO ACRE
MÁRLEN SARA DE MELO SILVA SÉRGIO LUIZ FIGUEIREDO GALLO
COMPANHIA DE ELETRICIDADE DO ACRE – ELETROACRE
MARIA APARECIDA DOS SANTOS DAMIÃO DE OLIVEIRA MAIA JUNIOR
SECRETARIA DE ESTADO DE FAZENDA E GESTÃO PÚBLICA – SEFAZ
MARIA JEIGIANE PORTELA DA SILVA SÂMIA RAQUEL MAIA DE LIMA
FUNDAÇÃO DE TECNOLOGIA DO ESTADO DO ACRE – FUNTAC
NADMA FARIAS KUNRATH CARLOS EDUARDO GARÇÃO DE CARVALHO
FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO ESTADO DO ACRE – FIEAC
CARLOS ESTEVÃO F. CASTELO LUCIANA MANSOUR
AGÊNCIA ESTADUAL REGULADORA DE SERVIÇOS PÚBLICOS – AGEAC
ANTONIA MÁGIRA F. DE O. BEIRUTH NATALIE DE LIMA MESSIAS JOÃO SEBASTIÃO FLORES DA SILVA
SECRETARIA DE MEIO AMBIENTE E RECURSOS NATURAIS - SEMA
GILMARA RODRIGUES DUARTE CONCEIÇÃO MARQUES DE SOUZA
FEDERAÇÃO DO COMÉRCIO DO ESTADO DO ACRE – FECOMÉRCIO
ROBERVAL RAMIREZ