cemitérios fontes potencialmente poluidoras -...
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UNIVERSIDADE DE PASSO FUNDO
FACULDADE DE ENGENHARIA E ARQUITETURA
CURSO DE ENGENHARIA AMBIENTAL
Cassiê Cristine Bortolassi
Cemitérios: Fontes Potencialmente Poluidoras
Passo Fundo, novembro de 2012.
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Cassiê Cristine Bortolassi
Cemitérios: Fontes Potencialmente Poluidoras
Trabalho de conclusão de curso apresentado ao curso de
Engenharia Ambiental da Faculdade de Engenharia e
Arquitetura da Universidade de Passo Fundo, como parte
dos requisitos exigidos para obtenção do título de
Engenheiro Ambiental.
Orientador: Profª. Drª Aline Ferrão Custódio Passini
Passo Fundo, novembro de 2012.
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Cassiê Cristine Bortolassi
Cemitérios: Fontes Potencialmente Poluidoras
Trabalho de Conclusão de Curso como requisito parcial para a obtenção do título de
Engenheiro Ambiental – Curso de Engenharia Ambiental da Faculdade de Engenharia e
Arquitetura da Universidade de Passo Fundo. Aprovado pela banca examinadora:
Orientador:__________________________
Aline Ferrão Custodio Passini, Dra.
Faculdade de Engenharia e Arquitetura
___________________________________
Norimar D'Avila Denardin, Dra.
Faculdade de Engenharia e Arquitetura, UPF
___________________________________
Patrícia de Almeida Martins, Profa.
Faculdade de Engenharia e Arquitetura, UPF
Passo Fundo, 7 de novembro de 2012.
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Dedico este trabalho primeiramente a Deus por nunca ter
me desamparado perante esta caminhada, também a toda
minha família, minha irmã Jéssica, meus avós Lourdes e
José Bortolassi, meu namorado Cleomar e em especial,
dedico à meus pais Doraci e Ires Bortolassi que me
fortaleceram em todos os passos de mais esta conquista e
ainda iluminaram o caminho de minha vida, me dando
suporte e apoio para continuá-la e chegar até aqui.
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AGRADECIMENTOS
A minha amiga, professora e orientadora Drª Aline Ferrão Custódio Passini, coordenadora do
curso de Engenharia Ambiental, por ter me acolhido e ajudado com suas preciosas e incisivas
pontuação, conhecimento e apoio.
Ao professor Drº Antônio Thomé pelo apoio prestado, bem como pelo presente que recebi
deste com maior alegria, o livro de Fábio Remedi Trindade e Alcindo Neckel – Meio
Ambiente e Cemitérios ao qual obtive grandes experiências que me auxiliaram no
desenvolvimento deste trabalho.
A minha mais nova amiga, Marilda Ferreira dos Santos responsável pelo Laboratório da
Engenharia Ambiental, por ter me auxiliado em todos os momentos da realização das análises,
sua compreensão e apoio.
A Universidade de Passo Fundo, incluindo em especial o curso de Engenharia Ambiental bem
como os colegas que incentivaram e acompanharam esta pesquisa e pelo progresso deste
trabalho.
A Secretária Municipal de Meio Ambiente de Erechim, em parceria com a Prefeitura
Municipal desta cidade, em especial minha amiga, comadre e chefe Carla Uso e ao Secretário
de Meio Ambiente, amigo Mário Rossi, por terem me amparado com envio de dados bem
como a disposição de materiais aos quais me baseei para realização deste trabalho.
A todos os funcionários e responsáveis pelo Cemitério Pio XII, onde sempre que necessário
me recebeu no local de estudo para coleta das amostrar, acompanhamentos de translado, tirar
dúvidas, entre tantos outros auxílios
E a todas as outras pessoas que direta ou indiretamente colaboraram com o sucesso deste
trabalho.
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RESUMO
Este trabalho enfoca a relação entre cemitérios e meio ambiente. Devido à falta de proteção
ambiental com a qual o procedimento de enterrar os corpos foi conduzido ao longo das
décadas, muitos dos cemitérios se tornaram áreas contaminadas, sendo observado pelos
órgãos ambientais e de saúde pública como um aspecto ambiental urbano importante e que
deve ser recuperado, contaminam os laçais por meio de substâncias orgânicas e inorgânicas, e
microrganismos patogênicos presentes no líquido da decomposição de cadáveres, denominado
de necrochorume. E tudo isso devido a localização e operação inadequada de necrópoles em
meios urbanos que podem provocar a contaminação dos mananciais bem como a
contaminação do solo. A contaminação do aqüífero freático na área interna do cemitério pode
fluir para regiões próximas, principalmente com as infiltrações causadas pelas águas das
chuvas, comprometendo a saúde das pessoas que venham a utilizar a água captada por meio
de poços de pouca profundidade ou cisternas localizadas na região da necrópole. Como os
cemitérios apresentam risco potencial de impactos ambientais, o Conselho Nacional do Meio
Ambiente –CONAMA, dispôs na Resolução 335/2003 algumas normas a serem seguidas para
a adequação destes. Buscando investigar, mitigar e alertar para os problema advindos das
necrópoles, o presente trabalho teve o estudo embasado em literaturas concernentes ao
assunto, análise de solo envolvendo os meios físicos, químicos e microbiológios, visitas in
loco e investigações realizadas com o propósito de levantar o maior número possível de
dados, por meio de recursos fotográficos, entrevistas, conversas, revisão bibliográfica de
teses, artigos, entre outros.
Palavras Chaves: Cemitérios – Contaminação – Necrochorume
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ABSTRACT
This work focuses on the relationship between environment and cemeteries. Due to lack of
environmental protection with which the procedure of burying the bodies was conducted over
the decades, many cemeteries have become contaminated areas, being observed by the
environmental and public health as an important urban environmental aspect and must be
recovered , contaminate laçais by means of organic and inorganic substances, and pathogenic
microorganisms present in the liquid decomposition of corpses, called necrochorume. And all
this because of the location and operation of cemeteries in poor urban areas that may result in
contamination of water sources and soil contamination. The contamination of the unconfined
aquifer in the inner area of the cemetery can flow into nearby regions, mainly caused by the
infiltration of rain water, jeopardizing the health of people who will use the collected water
through shallow wells or cisterns located in the region the necropolis. As the cemeteries are at
risk of potential environmental impacts, the National Council on the Environment,
CONAMA, arranged in Resolution 335/2003 some rules to follow to the suitability of these.
Seeking to investigate, mitigate and warn of the coming issue of the necropolis, the present
work was to study grounded in literature concerning the matter, involving the analysis of soil
physical, chemical and microbiologist, site visits and investigations with the purpose of
raising largest possible number of data through photographic capabilities, interviews,
conversations, literature review of theses, articles, among others.
Key Words: Cemeteries - Contamination - Necrochorume
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LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1: Cemitério Horizontal............................................................................................. 16
Figura 2: Cemitério Parque dos Ervais - Erechim RS ........................................................... 17 Figura 3: Memorial de Santos - SP ....................................................................................... 17
Figura 4: Diagrama das Substâncias componentes do Ncrechorume ..................................... 23 Figura 5: Vazamento de Ncrochorume ................................................................................. 24
Figura 6: Vulnerabilidade das áreas dos cemitérios e a contaminação ambiental X estrutura
dos materiais do solo e da posição das covas em relação ao nivel lençol freático .................. 26
Figura 7: Risco de contaminação de águas subterrâneas ....................................................... 27 Figura 8: Mapa da Localização dos dois Cemitérios em estudo ............................................ 32
Figura 9: Mapa via foto de satélite da Localização dos dois Cemitérios em estudo ............... 32 Figura 10: Entrada e Saída Principal do Cemitério ............................................................... 33
Figura 11: Vista Superior (foto aérea) do Cemitério Municipal Pio XII de Erechim ............. 33 Figura 12: Organização do Cemitério PIO XII por quadras e setores .................................... 34
Figura 13: Exumação de um Corpo ...................................................................................... 35 Figura 14: Ossuário de uma pessoa sepultada a mais de 5 anos resultantes da exumação ...... 35
Figura 15: Acondicionamento de Resíduos Sólidos nos Cemitérios ...................................... 36 Figura 16: Caixa de Brita e areia e Sistema de Drenos em gavetas........................................ 37
Figura 17: Trado Holandês ................................................................................................... 38 Figura 18: Amostragem dos pontos de coleta ....................................................................... 39
Figura 19: Demonstração da divisão exata das áreas de construções e sepulturas antigas e
recentes do cemitério ........................................................................................................... 40
Figura 20: Curva Padrão Mátéria Orgânica e sua respectiva fórmula .................................... 45 Figura 21: Curva Padrão do Zinco (Zn) ................................................................................ 49
Figura 22: Curva padrão do Chumbo (Pb) ............................................................................ 50 Figura 23:Curva Padrão Cobre (Cu) ..................................................................................... 50
Figura 24: Adereços de metais presentes nos caixões ........................................................... 52 Figura 25: Curva Padrão Fósforo e sua respectiva equação ................................................... 53
Figura 26: Urnas para depósito das cinzas de cremação ........................................................ 55 Figura 27: Forno de cremação .............................................................................................. 56
Figura 28: Esquema de um enterro comum e o natural ......................................................... 58 Figura 29: Cemitérios e caixões ecologicamente corretos. .................................................... 58
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LISTA DE TABELAS
Tabela I: Composição Necrochorume (corpo humano) ......................................................... 22
Tabela II: Valores Matéria Orgânica .................................................................................... 46 Tabela III: Valores da umidade no solo em estudo ............................................................... 47
Tabela IV: Classificação para Ph no solo.............................................................................. 47 Tabela V: Valores de Ph do solo .......................................................................................... 48
Tabela VI: Valores para análises de coliformes .................................................................... 48 Tabela VII: Valores dos resultados obtidos para cada um dos metais analisados ................... 50
Tabela VIII: Valores de referência para metais no solo ......................................................... 51 Tabela IX: Valores obtidos de P no solo ............................................................................... 53
Tabela X: Valores obtidos de N no solo ............................................................................... 53
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SUMÁRIO
RESUMO .............................................................................................................................. 6
ABSTRACT .......................................................................................................................... 7
LISTA DE ILUSTRAÇÕES .................................................................................................. 8
LISTA DE TABELAS ........................................................................................................... 9
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................... 12
1.1 Objetivos ............................................................................................................... 13
1.1.1 Objetivo Geral ................................................................................................ 13
1.1.2 Objetivos Específicos...................................................................................... 13
1.2 Justificativa ............................................................................................................ 13
2 DESENVOLVIMENTO ............................................................................................... 14
2.1 Referencial Teórico ................................................................................................ 14
2.1.1 Origem da palavra Cemitério .......................................................................... 14
2.1.2 Origem dos Cemitérios ................................................................................... 14
2.1.3 Os cemitérios no Brasil ................................................................................... 15
2.1.4 Tipos de Cemitérios ........................................................................................ 16
2.1.5 As necrópoles como Fontes Poluidoras ........................................................... 17
2.1.6 Formas Legais para as questões Funerárias. .................................................... 27
2.1.7 Planejamento Municipal ................................................................................. 29
2.2 Materiais e Métodos ............................................................................................... 31
2.2.1 Localização e caracterização da área de estudo. .............................................. 31
2.2.2 Coleta de dados ............................................................................................... 38
2.2.3 Procedimentos Laboratoriais ........................................................................... 40
2.3 Resultados e Disussões .......................................................................................... 45
2.3.1 Matéria Orgânica no Solo. .............................................................................. 45
2.3.2 Umidade ......................................................................................................... 46
2.3.3 Ph ................................................................................................................... 47
2.3.4 Coliformes Totais e Fecais .............................................................................. 48
2.3.5 Metais Pesados ............................................................................................... 49
2.3.6 Nitrogênio e Fósforo ....................................................................................... 52
2.4 Medidas Mitigadoras e Possiveis Soluções ............................................................. 54
2.4.1 Cremação........................................................................................................ 54
2.4.2 Compostagem Póstuma ................................................................................... 56
2.4.3 Cemitérios Ecológicos e Sustentáveis ............................................................. 57
3 CONCLUSÕES ........................................................................................................... 59
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................................. 61
ANEXOS ............................................................................................................................. 63
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1 INTRODUÇÃO
O controle ambiental em cemitérios é uma questão que ainda é posta de lado pela
população e até mesmo pelos próprios administradores de cemitérios, pois alguns
desconhecem até mesmo as fases de decomposição do corpo humano, desconsiderando,
muitas vezes o risco de contaminação do meio ambiente.
Sabe-se que o corpo humano quando em decomposição expele um liquido conhecido
como necrochorume, líquido esse altamente contaminante, que penetra no solo, e dependendo
da distância do fundo de uma cova até o lençol d’água e do tipo de solo, acaba por contaminar
o lençol, que pode levar esta água contaminada até os rios ou até mesmo a um poço em nossas
casas. Assim, teve por objetivo avaliar dois cemitérios mostrando seus impactos ambientais,
contaminação de solo, subsolo e águas superficiais. Abordando aspectos técnicos.com o
intuito de analisar a possível contaminação.
A localização de cemitérios no território ocorre, preferencialmente, em áreas afastadas
dos centros urbanos. Em cidades maiores, devido a um processo de urbanização intenso e
descontrolado, hoje é comum encontrar cemitérios totalmente integrados à malha urbana, até
mesmo em áreas mais centrais como é o caso do Município de Erechim, interior do Rio
Grande do Sul.
Considerando que na construção destes cemitérios não foram levados em conta
estudos geológicos, hidrogeológicos e de saneamento eles podem constituir um alto potencial
de impactos ambientais, certamente, a maioria das cidades brasileiras sofre com este
problema, mesmo sem a comprovação científica.
Tratando-se de locais para disposição de corpos, as necrópoles atuam como aterros
controlados, possuindo suas características, a começar pela produção de gases como o metano
(que contribui para o Efeito Estufa), produção de necrochorume, organismos patógenos,
poluição visual entre outros.
Tomando por base a atual sociedade, torna-se cada dia mais importante e urgente a
busca de possíveis soluções que sejam viáveis para amenizar ou solucionar os mais diversos
problemas ambientais que afetam a qualidade de vida de uma cidade.
Neste sentido, o presente estudo torna-se necessário para que órgãos competentes e a
sociedade saibam dos problemas ambientais provocados por cemitérios, informando e
buscando a sensibilização, propondo medidas de gerenciamento ambiental em relação a
implantação e manutenção de cemitérios na área urbana.
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1.1 Objetivos
1.1.1 Objetivo Geral
Abordar, pesquisar, discutir e analisar de forma ampla os impactos ambientais
relacionados aos processos de sepultamento de cadáveres, bem como, obter estas informações
sobre o cemitério Pio XII instalado no centro da cidade de Erechim – RS.
1.1.2 Objetivos Específicos
Verificar se é tangível que as necrópoles causam problemas impactantes ao meio
ambiente e quais seriam estes;
Demonstrar e conhecer as legislações específicas com base na área ambiental, algumas
de abrangência nacional, estadual e municipal, onde todos os cemitérios deverão
adequar-se;
Obter informações e conhecer num todo, o cemitério Municipal Pio XII da cidade de
Erechim, Rio Grande do Sul com visitas, entrevistas e imagens dos mesmos;
Analisar o nível de contaminação do solo deste cemitério em estudo;
Pesquisar e sugerir possíveis soluções as necrópoles que possam minimizar ou
melhorar a situação dos cemitérios;
1.2 Justificativa
O estudo em si, se faz importante para que todo e qualquer ser humano entenda que os
cemitérios mesmo não sendo muito lembrados podem provocar a contaminação dos solos e
mananciais hídricos por microorganismos que se proliferam no processo de decomposição dos
corpos, gerando fenômenos transformativos e destrutivos do cadáver. Não obstante, existem
outras questões ambientais relevantes, como a disposição dos resíduos sólidos advindos das
visitas pelos amigos e familiares aos cemitérios, a poluição muitas vezes visual causada pela
negligência aos túmulos e também pelos resíduos de construção (muitas vezes abandonados
nas proximidades da sepultura). Ainda inclui-se como problema ambiental o manejo
inadequado das espécies zoológicas constantemente presentes em cemitérios, como as
formigas (principalmente saúvas, Atta sp) e, em vários lugares, os tatus (Eupharactus
sexcinctus) que violam túmulos para se alimentarem de restos mortais humanos. Estes animais
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podem servir como vetores de doenças, uma vez que há o contato direto entre eles e os
cadáveres e a população vizinha. É importante saber que a polêmica em torno das
possíveis contaminações que as necrópoles causam ao meio ambiente forçou os órgãos
responsáveis a fiscalizar e multar os cemitérios públicos e privados no Brasil que não se
adequarem às novas normas da legislação.
Legislação é o conjunto de leis, ou seja, conjunto de normas impostas, resultante da
vida em sociedade, onde o direito de um deve ir até onde não prejudique o próximo. Hoje,
este conceito se amplia a esfera ambiental, procurando o uso racional dos recursos naturais.
Tomando por base a atual sociedade, torna-se cada dia mais importante e urgente a
busca de possíveis soluções que sejam viáveis para amenizar ou solucionar os mais diversos
problemas ambientais que afetam a qualidade de vida de uma cidade podendo-se sim,
começar pelos cemitérios.
2 DESENVOLVIMENTO
2.1 Referencial Teórico
2.1.1 Origem da palavra Cemitério
A palavra cemitério vem do grego Koumetérion, de Kcmão, que significa eu durmo
(Bayard, 1974). Segundo Pacheco (1986), há pelo menos 10.000 anos a.C. o sepultamento de
cadáveres humanos começa a agrupar esses mortos e, assim, surgem os primeiros cemitérios.
“Os cemitérios recebem vários nomes, como carneiro, campo-santo,
necrópole, além de apelidos como, cidade dos pés juntos ou a famosa
última morada”. (MATTOS, 2001, p.11)
2.1.2 Origem dos Cemitérios
Segundo Pacheco (1986), a partir da Idade Média é que o termo cemitério começou a
ser utilizado. Por que os mortos começaram a ser sepultados no interior das igrejas e áreas
externas abertas. Mas só depois no século XVIII, é que por razões de higiene e exigências da
saúde pública o processo foi definitivamente implantado em áreas abertas e foram proibidos
os sepultamentos no interior de igrejas ou outros templos religiosos, isto obrigou a
implantação de cemitérios campais construídos nas periferias de áreas urbanas.
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Já para protestantes, judeus, chineses, japoneses entre outros, essa prática era
tradicional. No entanto para os povos católicos essa mudança foi bastante discutida. Os
enterros no Brasil feitos fora das igrejas eram para os não católicos ou seja, protestantes,
judeus, muçulmanos, escravos e condenados. (SILVA et.al., 2006).
Outro motivo que acelerou a instalação dos cemitérios foi o crescimento acelerado da
urbanização, por não haver mais espaço nas capelas e igrejas as quais não comportavam o
aumento desenfreado de mortes (ALGRAVE, 1999).
2.1.3 Os cemitérios no Brasil
Os problemas sanitários no Brasil chamam atenção desde o século XIX, entre eles à
não existência de cemitérios e a falta de enterros adequados, a precariedade dos hospitais, as
péssimas condições das cadeias entre outros problemas. O costume nessa época era enterrar
os mortos nas igrejas o que também causava inconvenientes sanitários SINCEP - Sindicato
dos cemitérios particulares do Brasil (1999).
De acordo com Silva e Suguio (2005), os cemitérios no Brasil hoje constituem uma
necessidade social onde não se pode hesita sobre o local mais adequado a colocação dos
cadáveres. A estrutura de implantação inadequada dos cemitérios está causando problemas
sanitários e ambientais devido à rápida decomposição dos corpos.
Devido à existência dos cemitérios estarem em locais inadequados desde o século XIX
e agora já fazem parte do centro da maioria das cidades, deverá ser feita uma avaliação
ambiental preliminar para comprovação de possível contaminação.
Os sepultamentos em cemitérios construídos não eram bem vistos nem pela população
nem pela os religiosos, mesmo que os sepultamentos dentro das igrejas causassem muito mau
cheiro e mal estar nas pessoas durante as missas. Devido a não adequação desses locais sendo
que as paredes não tinham espessura necessária para conter o cheiro e vedar as catacumbas
(SINCEP, 1999).
Como não se utilizavam os caixões para o sepultamento eles eram alugados, sendo que
vários corpos utilizavam o mesmo caixão podendo transmitir doenças contagiosas aos
familiares provenientes do indivíduo colocado anteriormente. Eram forrados somente com
panos onde os corpos passavam muitas horas e até mesmo dias (SINCEP, 1999).
De acordo com SINCEP (1999), foi a partir do século XIII é que foram
individualizados os cadáveres, os caixões e os túmulos, por razões políticas visando à
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melhoria da qualidade de vida dos vivos em relação o mau cheiro e contaminação proveniente
dos cadáveres.
A implantação dos cemitérios no Brasil não considerava, até bem pouco tempo,
aspectos geológicos e hidrogeológicos intrínsecos ao meio físico, o que se tornava fonte
geradora de impactos ambientais e alteravam a qualidade de vida das populações (BRAZ e
LOPES, 2005).
A população na sua maioria ainda não aceita muito bem os cemitérios. Em 1849
ocorreu uma epidemia de febre amarela que obrigou a utilização do cemitério mesmo contra a
vontade da maioria. Já em 1856 devido a epidemia do Cólera Morbus morreram mais de cem
pessoas por dia em Recife o que incorporou definitivamente o cemitério na vida dos
pernambucanos (SINCEP, 1999).
2.1.4 Tipos de Cemitérios
O cemitério é a área destinada a sepultamentos. Podem ser construídos em
vários formatos como:
a) Cemitério horizontal: localizado em área descoberta compreendendo os
tradicionais (Figura 1);
Figura 1: Cemitério Horizontal
FONTE: http://www.google.com.br/imgres=cemitérios+horizontais
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b) Cemitério parque ou jardim: predominantemente recoberto por jardins,
isento de construções tumulares, e onde as sepulturas são identificadas por uma
lápide, ao nível do chão, e de pequenas dimensões (Figura 2);
Figura 2: Cemitério Parque dos Ervais - Erechim RS
c) Cemitério vertical: é um edifício de um ou mais pavimentos dotados de
compartimentos destinados a sepultamentos, um exemplo de Cemitério Vertical é
o Memorial de Santos em São Paulo (Figura 3);
Figura 3: Memorial de Santos - SP
FONTE: http://www.google.com.br/imgres?q=memorial+de+santos+cemitério
d) Cemitérios de animais: cemitérios destinados a sepultamentos de
animais CONAMA – Conselho Nacional do Meio Ambiente (2008).
2.1.5 As necrópoles como Fontes Poluidoras
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Os cemitérios podem atuar como fontes geradoras de impactos ambientais quando sua
localização e manejo são inadequados. Podendo ainda provocar a contaminação dos solos e
mananciais hídricos por microorganismos que proliferam no processo de decomposição dos
corpos, gerando fenômenos transformativos e destrutivos do cadáver.
Não obstante, existem outras questões ambientais relevantes, como a disposição dos
resíduos sólidos advindos das visitas pelos amigos e familiares aos cemitérios, a poluição
muitas vezes visual causada pela negligência aos túmulos e também pelos resíduos de
construção (muitas vezes abandonados nas proximidades da sepultura).
Ainda inclui-se como problema ambiental o manejo inadequado das espécies
zoológicas constantemente presentes em cemitérios, como as formigas (principalmente
saúvas, Atta sp) e, em vários lugares, os tatus (Eupharactus sexcinctus) que violam túmulos
para se alimentarem de restos mortais humanos. Estes animais podem servir como vetores de
doenças, uma vez que há o contato direto entre eles e os cadáveres e a população vizinha.
Contudo, todos os olhares são mais clínicos no que se refere à contaminação das
necrópoles ao solo e às águas subterrâneas. Isso acontece devido a falta de um projeto
geoambiental e hidrogeográfico reforçados pela inexistência de políticas de manutenção e
fiscalização nestes locais. Assim, as necrópoles como elemento do meio urbano, podem se
classificar como pontos poluidores, encaixando-se tanto na poluição visual quanto ambiental.
Por uma abordagem ambiental, esta preocupação se dá porque logo ao entrar em óbito
um organismo inicia o processo de decomposição (putrefação) e ao ser disposto em seu
túmulo (jazigo) ou no solo (inumação) esta putrefação continua. Esta se inicia com as
enterobactérias, que penetram na corrente sanguínea. Nesta fase também surgem bactérias
aeróbias-anaeróbias facultativas e anaeróbias (Neisseriaceae, Pseudomonadaceae e
Clostridium, respectivamente), que à medida que o potencial redox dos tecidos diminui, vão
substituindo os microrganismos aeróbios. (UCISIK E RUSHBROOK, 1998) Pacheco (1986)
complementa que o processo de putrefação é composto por dois períodos principais: o gasoso
e o coliqüativo.
No primeiro, desenvolvem-se gases internos (como o metano CH4), responsáveis pelo
arrebentamento do corpo, ocorrendo posteriormente a produção de um composto químico
chamado chorume (porém, por ser derivado de cadáveres, costuma-se denominá-lo de
necrochorume), que pode atingir valores na ordem de 7 a 12 litros, num período de 1 a 4
semanas.
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Os gases formados podem, eventualmente, ser lançados ao ar livre, provocando odores
que, de acordo com a velocidade dos ventos, espalham-se por toda uma região. O segundo
período do processo, de duração mais longa, de 2 a 8 anos, tem lugar a dissolução pútrida.
Tanto o necrochorume quanto os microorganismos provenientes da decomposição
podem contaminar o solo, a água subterrânea e, conseqüentemente, o lençol freático e toda a
população que vier a consumir esta água. Em geral, estas doenças causam fortes distúrbios
gastrintestinais, tais como vômitos, cólicas e diarréias.
No Brasil, as principais doenças de veiculação hídrica são a hepatite, a leptospirose, a
febre tifóide e o cólera, podendo ainda ocorrer a contaminação da poliomielite. Normalmente
o transporte do necrochorume e patógenos é acelerado com as águas das chuvas.
Os cemitérios podem ser comparados a aterros controlados para lixos domésticos
(composto basicamente por matéria orgânica) mas com um agravante, é um “aterro” com
muito “lixo hospitalar” misturado e a maioria das “matérias orgânicas” enterradas carregam
consigo bactérias e vírus de todas as espécies e que foram, provavelmente, a causa mortis.
Além disso, é importante considerar que metais pesados, advindo de próteses, materiais das
urnas e outros, vão dar também, sua contribuição poluidora, visto que os ácidos orgânicos
gerados na composição cadavérica irão reagir com esses metais, sem levar em conta, os
resíduos nucleares advindos das aplicações recebidas pelo ser em vida. Contudo isso, o solo,
que recebe esses ingredientes de uma forma direta ou indireta, irá se saturar e apesar de sua
capacidade de autodepuração (resiliência) propiciará que neles se infiltrem tais ingredientes.
No cemitério instalado no centro da cidade de Erechim, esta realidade não é diferente,
pois a localização, o manejo inadequado e a falta de um planejamento de gestão ambiental faz
com que haja uma preocupação sobre possível contaminação provocada pelo mesmo, tanto
por vias eólicas quanto por vias hídricas.
2.1.5.1 Indicadores de Contaminação das Necrópoles
De acordo com Pacheco (1986), os organismos suscetíveis de transmitir doenças pela
água são o Clostridium (tétano, gangrena gasosa, toxi-infecção alimentar), Mycobacterium
(tuberculose), enterobactérias como a Salmonella (febre tifóide), Shigella (disenteria bacilar)
e o vírus da hepatite A, sendo que os indicadores de contaminação mais usualmente utilizados
são os coliformes, principalmente do grupo dos coliformes fecais ou termotolerantes e os
estreptococos.
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Estes coliformes fecais são os mais utilizados na avaliação da qualidade da água,
contudo, possuem um tempo muito curto de sobrevivência, tanto no solo como nas águas
subterrâneas. Os estreptococos fecais podem sobreviver por mais tempo em águas
subterrâneas, mantidas naturalmente a temperaturas baixas.
Além de todos os microorganismos, há também a determinação de alguns parâmetros
físico químicos (Ph, condutividade, oxidabilidade, DBO, etc) e alguns íons (cloretos, sulfatos,
fosfatos, sódio, potássio e cálcio), na medida em que podem indicar uma possível
contaminação.
No que diz respeito a contaminação do solo, sabe-se que o necrochorume atinge a
zona vadosa dependendo da estrutura hidrogeológica do local.
Os solos Argilosos caracterizam-se por apresentarem teores de argila acima de 35%,
esses solos, com exceção dos de cerrado, cuja fração de argila é representada com óxidos
hidratados de ferro e alumínio, com elevado poder de floculação, apresentam baixa
permeabilidade e alta capacidade de retenção de água, são solos de profundidade variável,
desde forte a imperfeitamente drenados, o que favorece a compactação de cores avermelhadas
ou amareladas, e mais raramente, brunadas ou acinzentadas. (EMBRAPA, 1999).
Nos solos arenosos, os teores de areia superiores a 70% e o de argila inferior a 15%.
São solos permeáveis, de baixa capacidade de retenção de água e de baixos teores de matéria
orgânica.
“Para uma decomposição segura e total dos corpos sepultados, devem ser evitados
os solos muito permeáveis como areia, cascalho e as misturas, os solos constituídos
por materiais de granulação muito fina (areia finíssima, siltes e argilas) e os terrenos
formados pelo intemperismo de rochas cáusticas, calcossilicatadas ou muito fina
(COMPANHIA DE TECNOLOGIA DE SANEAMENTO AMBIENTAL, 1999, p.
6)”
2.1.5.2 Impactos Ambientais
Segundo Pires (2008) os cemitérios são potenciais fontes geradoras de impactos
ambientais. Pois, a localização e operações inadequadas de necrópoles em meios urbanos
podem provocar a contaminação de mananciais hídricos por microrganismos que proliferam
no processo de decomposição dos corpos.
Os cemitérios podem trazer sérias conseqüências ambientais, em particular sobre
qualidade das águas subterrâneas adjacentes. A infiltração e percolação das águas pluviais
através dos túmulos e solo provocam a migração de uma série de compostos químicos
orgânicos e inorgânicos através da zona não saturada, podendo alguns destes compostos
atingirem a zona saturada e, portanto poluir o aqüífero.
21
Devido a isto, o monitoramento das águas subterrâneas na vizinhança dos cemitérios é
da maior importância nos estudos ambientais. O impacto físico mais importante está no risco
de contaminação das águas subterrâneas por microorganismos que proliferam durante o
processo de decomposição dos cadáveres e posteriormente o uso destas águas pelas
populações. Se considerar que, de maneira geral, na localização de Cemitérios não se levam
em conta os aspectos geológicos e hidrogeológicos, estes, por efeito da inadequação do tipo
de construção, poderão se constituir em unidades de alto potencial de risco para as águas.
O maior impacto causado ao meio físico é o extravasamento do necrochorume e o seu
aporte no nível hidrostático, onde a contaminação até então, poderá disseminar-se
(ROMANÓ, 2010).
2.1.5.3 Contaminação por Necrochorume
Cessada a vida, anulam-se as trocas nutritivas das células e o meio acidifica-se,
iniciando-se o fenômeno transformativo de autólise. Enterrado o corpo (inumação ou
entumulamento), instalam-se os processos putrefativos de ordem físico-química, em que
atuam vários microorganismos. A putrefação dos cadáveres é influenciada por fatores que
pertencem ao próprio corpo (idade, constituição física, causa-mortis, etc) e por fatores que
são pertinentes ao meio onde o corpo foi depositado (temperatura, umidade, aeração,
constituição mineralógica do solo, permeabilidade, etc.). Com a decomposição dos corpos há
a geração dos chamados efluentes cadavéricos, cujos primeiros a surgirem são os gasosos,
seguindo-se os líquidos.
O termo necrochorume, conhecido na medicina legal por liquame funerário ou
putrilagem, designa o líquido liberado intermitentemente pelo corpo em decomposição.
Foi criado por analogia com o termo chorume, líquido proveniente da decomposição
da matéria orgânica doméstica. Abaixo a tabela demonstra a composição aproximada do
necrochorume do corpo de um homem adulto de 70 kg. A da mulher situa-se entre um quarto
e dois terços da do homem. A tabela 1 demonstra a composição aproximada do necrochorume
após decomposição de um corpo.
22
Tabela I: Composição Necrochorume (corpo humano)
COMPOSIÇÃO DO NECROCHORUME
SUBSTÂNCIA QUANTIDADE
CARBONO 1.600 g
NITROGÊNIO 1.800 g
CÁLCIO 1.100 g
FÓSFORO 500 g
ENXOFRE 140 g
POTÁSSIO 140 g
SÓDIO 100 g
CLORETO 95 g
MAGNÉSIO 19 g
FERRO 4,2 g
ÁGUA 70 - 74 %
Fonte: Dent e Knigth citado por Matos (2001)
A contaminação em um cemitério pode ser química, microbiológica e/ou radioativa. O
principal fator de contaminação é o produto da coliquação (necrochorume), que os corpos em
decomposição liberam. Um cadáver adulto de 70 kg libera em média 30 L de necrochorume.
Ocorre de forma intermitente e mais significativa durante os primeiros 5 a 8 meses de
sepultamento (Figura 4).
23
Figura 4: Diagrama das Substâncias componentes do Ncrechorume
Essas substâncias são moléculas orgânicas tóxicas que apresentam o grupo funcional
amina. Também são conhecidas como alcalóides cadavéricos. Essas substâncias são
produzidas pela hidrólise protéica durante a putrefação de tecidos orgânicos. Ambas têm
odores muito desagradáveis e são solúveis em água, sendo um meio ideal para a proliferação
de microorganismos e de doenças.
Podem estar presentes no necrochorume também os patogênicos, como bactérias e
vírus, agentes transmissores de doenças (febre tifóide, paratifóide, hepatite infecciosa e
outras).
O produto de coliquação proveniente dos cemitérios pode contaminar o subsolo se o
meio físico local for vulnerável, o que dependerá de suas características geológicas e
hidrogeológicas.
Os necrochorume, são mais viscosos que a água, de cor acinzentada a acastanhada,
com cheiro acre e fétido, constituído por 60% de água, 30% de sais minerais e 10% de
substâncias orgânicas degradáveis. Ao longo do tempo, o necrochorume no meio natural
decompõe-se e é reduzido a substâncias mais simples e inofensivas. Entretanto, em
determinadas condições geológicas, o necrochorume atinge o lençol freático desencadeando a
sua contaminação e poluição (ROMANÓ, 2010).
Segundo os estudos do hidrogeólogo Leziro Marques, o cadáver humano pode pôr em
risco a saúde dos vivos.
NECROCHORUME
60% H2O30% Sais Minerais
10% Substâncias Orgânica
Altamente Tóxicas
Putrescina
C4H12N2
Cadaverina
C5H14N2
24
Porque o necrochorume é vertido pela matéria orgânica em decomposição, ele é rico
em nutrientes que proliferam uma assembléia de vírus e bactérias, inclusive as
bactérias patogênicas, que são as causadoras da maior parte dos óbitos. Se esse necrochorume escapa do túmulo, entra na circulação do lençol freático (Figura 5).
Se você tem no caminho desse lençol freático um poço escavado, uma captação,
uma fonte, uma pessoa que inadvertidamente consuma essa água, e se ela tiver com
imunidade natural baixa, ela pode ser acometida por uma dessas doenças
infectocontagiosas (MARQUES, 2007, p.30).
Figura 5: Vazamento de Necrochorume
Segundo (Migliorini, 2002), além da contaminação pelo necrochorume outro fator
preocupante é o sepultamento de corpos que sofreram moléstia contagiosa, epidemia ou foram
tratados com elementos radioativos.
Entre os riscos de contaminação das águas por cemitérios, estão presentes aqueles
causados por compostos nitrogenados. Os compostos nitrogenados são responsáveis por
doenças como a methaemoglobinemia (síndrome do bebê azul).
Esta doença foi verificada especialmente em crianças, onde a ingestão de nitrato em
excesso provoca a transformação da hemoglobina em metaemoglobina, forma sob a qual esta
molécula é incapaz de transportar oxigênio (GOODMAN & GILMAN, 1947, apud
MIGLIORINI, 1994).
Em publicação relativamente recente Konefes (1991 apud Migliorini, 2002), foi
levantada a suspeita de que traços de arsênico, encontrados em águas subterrâneas da costa
leste dos Estados Unidos em local próximo a um cemitério da época da guerra civil
americana, fossem produtos da lixiviação de túmulos. Nesse período era prática comum uma
técnica de embalsamamento dos corpos (proibida apenas a partir de 1910) que utilizava cerca
de um quilo e meio de arsênico em cada corpo.
25
Berlim, no período de 1863 a 1867, com a proliferação de febre tifóide. Menciona
também a captação de águas subterrâneas malcheirosas e de sabor adocicado nas
proximidades de cemitérios de Paris, em especial em épocas quentes.
Estudos de Schrops, (1972 apud Bower, 1978), realizados na Alemanha Ocidental em
um cemitério localizado em terrenos de aluvião não consolidados, comprovaram a existência
de contaminação bacteriológica.
Segundo Person (1979 apud Migliorini 2002), higienistas franceses correlacionaram
na França a endemia da febre tifóide com a localização das águas de abastecimento em
localidades próximas a cemitérios.
A África do Sul também enfrenta problemas decorrentes da contaminação das águas
subterrâneas pelos cemitérios.
2.1.5.4 Contaminação do Solos
O solo pode ser dividido, de modo simplificado, em duas zonas. A zona não saturada
(ou de aeração) é composta de partículas sólidas e de espaços vazios, ocupados por porções
variáveis de ar e água. Já a zona saturada é aquela em que a água ocupa todos os espaços. O
limite entre essas zonas é definido pelo nível do lençol freático. O movimento da água tende a
ser vertical na primeira e horizontal na segunda.
Para a construção dos cemitérios é necessário um conhecimento das condições físicas
e do comportamento do solo em questão, Pacheco ET al. (1986) argumenta que o tipo de solo
é um fator importante em projeto de construção de cemitérios, visto que os processos
transformativos estão relacionados com o meio onde o corpo se encontra: terra, água e ar.
A zona não saturada atua como um filtro, por apresentar um ambiente (solo, ar e água)
favorável à modificação de compostos orgânicos e inorgânicos e à retenção e eliminação de
bactérias e vírus. A eficácia na retenção de microorganismos depende de fatores como tipo de
solo, aeração, baixa umidade, teor de nutrientes e outros.
Para reter organismos maiores, como as bactérias, o mecanismo mais importante é o
de filtração, relacionado à permeabilidade do solo. Para reter vírus, bem menores, e evitar que
atinjam o lençol freático, é mais relevante a adsorção (adesão de moléculas de um fluido a
uma superfície sólida), que depende da capacidade de troca iônica da argila e da matéria
orgânica do solo.
Nos terrenos destinados à implantação de cemitérios, a espessura da zona não saturada
e o tipo de material geológico são fatores determinantes para a filtragem do necrochorume. A
26
proporção de argila no solo deve ficar entre 20% e 40%, para favorecer os processos de
decomposição (que dependem da presença de ar) e as condições de drenagem do produto de
coliquação. Na Figura 6, pode-se perceber a vulnerabilidade em relação à contaminação do
solo com a posição das covas dentro de cemitério.
Figura 6: Vulnerabilidade das áreas dos cemitérios e a contaminação ambiental X estrutura
Dos materiais do solo e da posição das covas em relação ao nível lençol freático
Ao estabelecer que o lençol freático deve estar, no mínimo, a 1,5 m do fundo das
sepulturas, a resolução do CONAMA ainda prevê que, se não for possível manter essa
distância ou se as condições do solo não forem apropriadas, os sepultamentos devem ser feitos
acima do nível natural do terreno, para reduzir o risco de contaminação. A posição do lençol
freático, as características do solo e outros aspectos (entre eles as rachaduras nas sepulturas)
influenciam (Figura 6) os riscos de contaminação das águas subterrâneas.
Quando o solo apresenta média permeabilidade e alta capacidade de adsorção e
retenção do material argiloso, associada à grande distância até o lençol freático, o
necrochorume move-se lentamente e as substâncias do contaminante são interceptadas na
zona não saturada. Essa situação é classificada como de médio risco de contaminação de
águas subterrâneas. Se a sepultura estiver abaixo do nível freático, pode ser inundada, gerando
uma situação de extremo risco, já que, em geral, os caixões não são impermeáveis.
Quando o solo tem elevada permeabilidade, o que permite a infiltração profunda do
necrochorume, ou a distância para o lençol freático é inadequada, a situação é de alto risco,
porque os contaminantes chegam facilmente às águas subterrâneas (Figura 7). Nesses casos,
para diminuir a possibilidade de contaminação do aqüífero, o sepultamento deve ocorrer
acima do nível natural do terreno.
27
Figura 7: Risco de contaminação de águas subterrâneas
2.1.5.5 Transmissão de Organismos Patogênicos
Os excretas humanos podem conter quatro tipos de organismos patogênicos: ovos de
helmintos, protozoários, bactérias e vírus. Estes organismos geralmente são excretados em
grande número, dependendo da idade e estado de saúde do indivíduo.
Bactérias e vírus podem ser transportados pela percolação do efluente para a água
subterrânea e, se ingeridos, estes organismos podem causar infecções. O contágio ou não do
indivíduo dependerá da concentração e persistência do organismo patogênico nas águas
subterrâneas e da dose infecciosa necessária para iniciar as doenças, (Fixem ET al., apud
Lewis, 1986).
Em geral, os vírus excretados apresentam baixas doses infecciosas, menos de 100
organismos, enquanto a dose infecciosa média para a bactéria é de 10.000 ou mais
organismos, mas, as bactérias, ao contrário dos vírus, são capazes de se multiplicar fora de
seus hospedeiros.
2.1.6 Formas Legais para as questões Funerárias.
Toda a pesquisa em si, trouxe vários resultados que comprovam que a área onde se
localizam os cemitérios podem ser muitas vezes impactantes ao meio ambiente.
Segundo Jornal Zero Hora de setembro de 2011, os cemitérios acabam se tornando um
problema para os municípios quando mal planejados e estruturados.
Em entrevista dada ao jornal o Professor Engenheiro Civil da Universidade Católica
do Paraná (PUC) diz que “Este é um assunto no qual os gestores tem de estar muito focados e
28
preocupados, pois as cidades estão pagando um preço muito alto por causa do mau
planejamento tanto da locação quanto da operação dos cemitérios.”
Muitos cemitérios não estão preparados para administrar os resíduos que geram. Existe
um processo de licenciamento para o funcionamento que, freqüentemente, não é respeitado.
Os serviços funerais são de competência municipal, por dizer respeito a atividades
de precípuo interesse local: confecção de caixões, a organização de velórios, o transporte de cadáveres e a administração de cemitérios. As três primeiras podem ser
delegadas pela Municipalidade, com ou sem exclusividade, a particulares que se
propunham executá-las mediante concessão ou permissão, como pode o município
realizá-las por suas repartições. (MEIRELLES, 1994, p.330)
No que tange as necrópoles de domínio privado, não pode o Poder Municipal vedar
sua implantação. Não obstante, pode a Administração Publica limitar sua ocorrência através
de normas administrativas no âmbito da competência do interesse local. È certo que a
implantação destes cemitérios esta condicionada a autorização do Poder Publico Municipal
através do ato de permissão.
Permissão é o ato administrativo negocial, discricionário e precário, pelo qual o
Poder Publico faculta a execução de serviços de interesse coletivo, ou o uso de bens
públicos, à titulo gratuito ou remunerado, nas condições estabelecidas pela
administração. (MEIRELLES, 1994, p.335)
A permissão administrativa será outorgada contanto que sejam preenchida os
requisitos legais. E, não se pode olvidar que são Leis Munipais que especificam tais diretrizes
ou condições.
A resolução 335 de 03 de abril de 2003 do CONAMA, dispondo sobre o
licenciamento ambiental dos cemitérios (modificada pela Resolução 368 de 28 de março de
2006, estabelece que os cemitérios deverão ser submetidos ao processo de licenciamento
ambiental, nos termos desta Resolução, sem prejuízo de outras normas aplicáveis à espécie.
Ainda nesta, Art. 3 - § 1 É proibida a instalação de cemitérios em Áreas de
Preservação Permanente ou em outras que exijam desmatamento de Mata Atlântica primaria
ou secundária, em estágio médio ou avançado de regeneração, em terrenos
predominantemente cársticos, que apresentam cavernas, sumidouros ou rios subterrâneos, em
áreas de manancial para abastecimento humano, bem como naquelas que tenham seu uso
restrito pela legislação vigente, ressalvadas as exceções legais previstas.
Art. 8 o Os corpos sepultados poderão estar envoltos por mantas ou urnas constituídas
de materiais biodegradáveis, não sendo recomendado o emprego de plásticos, tintas, vernizes,
metais pesados ou qualquer material nocivo ao meio ambiente.
29
Parágrafo único. Fica vedado o emprego de material impermeável que impeça a troca
gasosa do corpo sepultado com o meio que o envolve, exceto nos casos específicos previstos
na legislação.
Art. 9 o Os resíduos sólidos não humanos, resultantes da exumação dos corpos
deverão ter destinação ambiental e sanitariamente adequada.
Para o encerramento da atividade de sepultamento o Art.12 da Resolução diz que, o
empreendedor deve, previamente, requerer licença, juntando Plano de Encerramento da
Atividade, nele incluindo medidas de recuperação da área atingida e indenização de possíveis
vítimas.
Parágrafo único. Em caso de desativação da atividade, a área deverá ser utilizada,
prioritariamente, para parque público ou para empreendimentos de utilidade pública ou
interesse social.
Por fim, o descumprimento das disposições desta Resolução, dos termos das Licenças
Ambientais e de eventual Termo de Ajustamento de Conduta, sujeitará o infrator às
penalidades previstas na Lei n o 9.605, de 12 de fevereiro de 1998, e em dispositivos
normativos pertinentes, sem prejuízo do dever de recuperar os danos ambientais causados, na
forma do art. 14, § 1 o , da Lei n o 6.938, de 31 de agosto de 1981.
2.1.7 Planejamento Municipal
Cada município é dotado de diferenças naturais e por isto deve-se levar em conta suas
particularidades na hora de se estabelecer diretrizes de ação. Por outro lado, não basta dispor
de uma legislação completa e perfeitamente adequada à realidade municipal se não houver
uma fiscalização que garanta sua aplicação, com vistas aos objetivos a que se propõe.
“Planejar é decidir o que fazer, e em que ordem de prioridade, tomando-se em consideração as
necessidades e os recursos disponíveis” (DPU/SURBAM,1988).
O planejamento visa estabelecer a organização das tarefas da prefeitura, a partir de
metas pré estabelecidas, ou seja, aquelas que normalmente, subsidiam a elaboração de planos
de governo. O Plano de Governo é o caminho para concretizar, no período de um mandato
governamental ou em período menor, as decisões-chave sobre os problemas municipais,
devendo-se inserir neste, os cemitérios.
Para um bom planejamento das ações da prefeitura, seja em que área for, as metas
estabelecidas nos Planos de Governo devem estar refletidas no orçamento e nestas metas
30
acredita-se que as necrópoles merecem seu espaço pela complexidade de sua problemática,
envolvendo várias áreas da gestão pública.
A Constituição Federal de 1988 remeteu a prestação, responsabilidade e controle dos
Serviços Funerários e Cemiteriais à Administração Municipal que deverá através de Leis e
Licitações estabelecer as condições para que todos os Munícipes, independentemente, de
credo político, religioso, classe social ou cor tenham direito a um sepultamento digno e
respeitoso.
Em 1995 entrou em vigor na cidade de Erechim a Lei 2747 de 28 de novembro que
instituiu normas para a concessão de direito de uso do espaço físico das necrópoles
municipais. onde o prefeito da época Antonio Dexheimer, tendo o Poder Legislativo aprovado
sancionou e promulgou a seguinte Lei:
Art. 1º - A concessão de uso do espaço físico das necrópoles municipais, para o
sepultamento de pessoas ou organismos humanos, fica condicionado à observância das
seguintes regras:
a) O prazo de concessão de uso do espaço físico será de 20 (vinte) anos, contados da
data de sepultamento do "de cujus", mediante a remuneração de taxa prevista no Código
Tributário.
b) A concessão poderá ser renovada por mais 5 (cinco) anos e, sucessivamente,
mediante o pagamento de nova contribuição tributária.
c) O não recolhimento da taxa nos 180 (cento e oitenta) dias seguintes ao vencimento
da cessão de uso, libera a Municipalidade para transladar os restos mortais, ali sepultados,
para o ossuário universal, preservando-se apenas os dados de identificação, que serão afixados
no mural do mesmo.
Art. 2º - Os alvarás de concessão de uso do Cemitério Público Municipal, concedidos
até a data de 23 de dezembro de 1993, continuarão a ter validade, desde que os proprietários,
descendentes, ascendentes, parentes ou afins, dêem a devida conservação às sepulturas.
§ 1º - Será caracterizada a falta de conservação, quando as necrópoles estiverem
nitidamente abandonadas, com sinais característicos como:
a) alvenaria com rebocos avariados;
b) terreno tomado pela capoeira;
c) em véspera ou logo após o dia de finados, sem nenhum sinal de conservação, ou de
lembrança dos que já foram, ficando estes no esquecimento.
§ 2º - Em caso de inobservância das disposições supra, os interessados serão
notificados por correspondência, seguindo o endereço constante na Prefeitura Municipal, não
31
encontrados, por edital com prazo de 30 (trinta) dias, para cumprimento, não o fazendo, os
restos mortais serão transladados ao ossuário universal.
Art. 3º - Anualmente, a partir de 1996, serão relacionados todos os sepultamentos que
completarem 20 (vinte) anos de ocupação do espaço físico, e os que não atenderem à
renovação da concessão, serão automaticamente transladados para o ossuário universal.
Art. 4º - Revogadas as disposições em contrário, esta Lei entrará em vigor na data de
sua publicação.
Já em 12 de julho de 2006 O Prefeito Municipal de Erechim, Estado do Rio Grande do
Sul, no uso de atribuições conferidas pelo Artigo 64, Inciso V da Lei Orgânica do Município,
com a aprovação do Poder Legislativo, sancionou e promulgou à Lei nº 4004/2006 que
Consolida a Legislação, Regulamenta as Atividades, Uso e Prestação dos Serviços
Cemiteriais e Funerários no âmbito do Município. (Anexo 1).
2.2 Materiais e Métodos
2.2.1 Localização e caracterização da área de estudo.
Este trabalho foi conduzido no Cemitério Pio XII de Erechim – RS localizado sob as
coordenadas 27°38'23"S e 52°15'26"W na Avenida XV de Novembro, 1180 centro (Figuras 8
e 9).
32
Figura 8: Mapa da Localização dos dois Cemitérios em estudo
Figura 9: Mapa via foto de satélite da Localização dos dois Cemitérios em estudo
O Cemitério PIO XII foi fundado em 1918, portanto a 93 anos de história contendo, 6
setores, 16 quadras, 107 filas e 2.596 gavetas mortuárias. Nestes anos, até 30 de maio
passado, foram sepultadas 42.567 pessoas nesta Necrópole. Só de 1º de janeiro a 30 de maio
de 2011 foram mais de 180 sepultamentos.
As Figuras 10 e 11 demonstram a entrada principal do Cemitério Pio XII bem com a
vista superior do mesmo.
33
Figura 10: Entrada e Saída Principal do Cemitério
Figura 11: Vista Superior (foto aérea) do Cemitério Municipal Pio XII de Erechim
Localiza-se em uma das regiões mais altas da cidade, cercado de residências, escola e
pequenos pontos de comércio. É regido pela Lei nº 4.004, de 12 de julho de 2006. (Anexo1)
Em 2003 a cidade fez o recadastramento deste cemitério que foi a única forma
encontrada de obter-se dados confiáveis que permitam melhorar os serviços oferecidos e
detectar irregularidades cuja existência vem ocorrendo há dezenas de anos. Antes deste
34
levantamento quadra a quadra pediu-se que as pessoas que tinham familiares sepultadas,
principalmente, aquelas cujos túmulos ou gavetas mortuárias não tem nome que se dirijam ao
Cemitério, levando consigo uma cópia Xerox do Alvará emitido pela Prefeitura ou então uma
cópia Xerox do Atestado de Óbito de seu parente. O não comparecimento, após um tempo,
perante autorização da Secretaria Municipal de Saúde e Prefeitura, permitiu que fossem
abertos este túmulos o que resultou em aproximadamente 4.000 mil sepulturas a mais para o
uso dos Erechinenses.
Com o recadastramento ao visitar o cemitério pode-se encontra o ente querido em
questão de segundos, todos os dados foram salvos num computador que quando necessário
identifica a quadra, o setor, a fila e o numero onde esta enterrado o falecido (Figura 12).
Figura 12: Organização do Cemitério PIO XII por quadras e setores
Após se passar cinco anos de sepultamento, faz-se a exumação dos corpos (translados)
demonstrada na Figura 13. A exumação consiste em condicionar os restos mortais, após a
decomposição natural dos tecidos, em uma caixa, geralmente de fibra ou em sacos. Este ato é
realizado por três motivos principais:
pela necessidade de liberar gavetas nos jazigos para novos sepultamentos;
pela necessidade ou opção de transferência de jazigos ou mesmo de mudança
de cemitério e,
por ordem judicial;
35
Figura 13: Exumação de um Corpo
Figura 14: Ossuário de uma pessoa sepultada a mais de 5 anos resultantes da exumação
Os funcionários deste descartam os resíduos sólidos não humanos, resultantes da
exumação de corpos, (restos de caixão, roupas, véus, flores artificiais, coroas, etc) que
precisam ter destinação ambiental e sanitária adequadas, geralmente são retirados sem
nenhuma precaução em relação a EPIs diferentes, como, por exemplo: máscaras, luvas,
36
uniformes e sapatos fechados. Assim também agem os pedreiros sem nenhuma proteção
cavando, construindo, etc.
Os resíduos, das sobras da exumação são carregados em caminhões da própria
Prefeitura da cidade e encaminhados ao aterro sanitário da mesma onde estes são queimados
ao ar livre.
Já os resíduos considerados orgânicos bem como os recicláveis, oriundos das flores
não artificiais, limpeza pública do local, restos de comidas dos funcionários, papeis, plásticos
entre outros, são separados acondicionados e lixeiras, latões (Figura 15) e recolhidos nos dias
específicos da coleta que ocorre na cidade.
Figura 15: Acondicionamento de Resíduos Sólidos nos Cemitérios
Além destes resíduos, os que são gerados por construções são depositados nos cantos
do cemitério. De tempo em tempo, são recolhidos por setores capacitados como tele -
entulhos.
Para manter a organização e a limpeza destes, cada familiar paga por mês uma taxa no
valor R$ 13,20 recolhida pelas funerárias e repassadas aos cemitérios. O não cumprimento
desta acarreta multa aplicada pela prefeitura e resulta em divida ativa.
Em geral é impossível a identificação da contaminação destas necrópoles uma vez que
não foram feitas análises de solo e água, porem conforme funcionários e vizinhança ao redor
em dias de calor o odor exalado por sepulturas recentemente fechadas se torna desagradável,
porem como fazem anos que ali residem acostumaram-se com a rotina.
Por fim ambos funcionários e vizinhança entrevistados acharam viável a divulgação
sobre os impactos ambientais que os cemitérios não sustentáveis causam para a população,
cobrando assim o cuidado com as sepulturas dos familiares e a mobilização pela regularização
dos mesmos, com base nas leis, ainda, funcionários exaltaram a preocupação em não terem
37
tido estas informações que segundo eles não tinham conhecimento das contaminações que os
cemitérios poderiam causar no Meio Ambiente e que por muitas vezes ao exumar um cadáver
o solo se apresentava com aspecto “disforme”, e após o serviço sentiam coceira nas mãos
A cada construção de uma nova sepultura sejam elas gavetas ou túmulos é instalado
um dreno juntamente a um sumidouro normalmente no canto inferior direito de cada um
sendo as paredes revestidas de concretos e preenchimento no fundo de cascalho, pedra britada
e também se faz o uso de areia grossa (Figura 16). Estes tem a função de poços absorventes
filtrantes, recebendo os efluentes (necrochorume) e permitindo apenas a infiltração do liquido
no solo.
Figura 16: Caixa de Brita e areia e Sistema de Drenos em gavetas
Para as sepulturas já construídas mesmo há muitos anos atrás, o Cemitério Publico
aproveita a oportunidade e quando abertas para o sepultamento de um novo familiar, faz-se a
instalação deste sistema, o que não ocorre com as gavetas, estas recebem apenas o tubo dreno
que permite a percolação do necrochorume da primeira até a ultima gaveta em contato com o
solo.
Por fim, infelizmente é possível que se identifique que haja ou não uma contaminação,
isso somente pode se concretizar, se houverem avaliações e analises do solo e água a uma
profundidade relativamente alta uma vez que funcionários informaram que o cemitério já esta
38
em sua segunda camada sepultante, ou seja, nos início do cemitério lá em 1918 uma parte já
existente teria sido aterrada para construção deste atual.
2.2.2 Coleta de dados
Os dados foram coletados através de análises documentais, aplicação de questionário
junto aos funcionários e diálogo informal.
Os questionamentos aplicados aos funcionários foram realizados devido a uma
conversa informal que deixou duvidas sobre o conhecimento de alguns parâmetros de
legislação, contaminação e encaminhamentos cotidianos de um cemitério. As abordagens
estão disponíveis no anexo 2.
As amostras de solo foram coletas com auxílio dos funcionários do cemitério, e o
acompanhamento do responsável e funcionário pelo mesmo. Para o processo de coleta,
utilizou-se uma pá e um trado holandês como mostra a Figura 17.
Figura 17: Trado Holandês
O trado utilizado é de formato caveira que com diâmetro de 63,5 mm, sendo as
amostras foram coletadas na profundidade de 15 cm.
As amostras foram coletadas a uma profundidade aproximada de 20 cm a 50 cm , por
não se ter parâmetros a serem seguidos e por sugestão sendo assim, cada amostra coletada foi
armazenada em sacos plásticos e recebeu identificação correspondendo à localização do ponto
de amostragem e a profundidade da coleta.
39
Para evitar alterações nos resultados o trado era lavado com água destilada ao fim de
cada coleta de amostra.
A Figura 18 seqüencial abaixo, mostra os pontos de cada coleta realizada em uma
seqüência de ponto dois (P1), ponto dois (P2), ponto três (P3) e ponto quatro (P4). A fácil
identificação dos pontos se dá pelo motivo de que o cemitério me estudo está sobre um
terreno plano e ainda por estar em uma metragem perfeita de um quarteirão.
Figura 18: Amostragem dos pontos de coleta
Os pontos 1 e 2 foram coletados do lado direito de quem entra no cemitério pois esta é
a parte de construções e sepulturas mais antiga do mesmo e como visto a cima os pontos de
40
coletas 4 e 5 tiveram uma localização de coleta ao lado esquerdo de quem entra no cemitérios
sendo esta a área mais recente do mesmo (Figura 19).
O ponto cinco (P5), foi coletado dentro da casa de armazenamento de resíduos
identificado na Figura 18, mais especificamente o solo desta amostra foi raspado com uma
colher de pedreiro debaixo de um fundo de caixão velho retirado durante um translado
chamado assim de Ponto Especial por estar diretamente em contato com o corpo e com o solo.
Figura 19: Demonstração da divisão exata das áreas de construções e sepulturas antigas e
recentes do cemitério
2.2.3 Procedimentos Laboratoriais
As determinações das propriedades físicas e químicas foram realizadas no Laboratório
de Ensinos da Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade de Passo Fundo, tendo
como responsável a funcionária Marilda Ferreira dos Santos, já as análises microbiológicas
foram realizadas no CEPA (O Centro de Pesquisa em Alimentação da Universidade de Passo
Fundo) para as análises foram realizadas no primeiro laboratório aqui citado porém estes
foram lidos no Laboratório de Solos, Plantas, Adubos e Corretivos da Faculdade de
Agronomia.
Algumas análises tiveram umas mudanças em termos de quantidade, por
exemplo, apenas Matéria Orgânica e Metais foram analisados os 5 pontos em triplicata
(P1,P2,P3,P4 e PE), para as demais análises foi juntado o material total de coleta dos quatro
pontos em estudo por falta do mesmo e impossibilidade de maior coleta pelos responsáveis do
local de estudo.
41
2.2.3.1 Determinação da Matéria Orgânica
A matéria orgânica provém da acumulação de plantas parcialmente destruídas e de
animais decompostos esta pode atingir dimensões coloidais (menores que 0,002 mm)
que, juntamente com a argila, constitui a parte ativa do solo. Segundo PINILLA
(1998) favorece a formação e estabilização de agregados, aumentando a porosidade, ela
também exerce grande influencia sobre microrganismo do solo como o tempo de permanecia,
pois é ela quem é fonte de nutrientes.
A porosidade por sua vez, favorecida pela M.O do solo facilita a infiltração da água e
a circulação do ar na zona radicular, promove a adsorção eletrostática de nutrientes catiônicos.
Constitui importante componente do solo, contribuindo de forma direta para o
aumento da fertilidade. Existem diversos métodos para quantificar o teor de matéria orgânica
no solo, o mais simples, seria a queima da matéria orgânica em uma mula (4h a 650). A
diferença da massa do solo antes e depois da queima seria a matéria orgânica (LUCHESE,
2002).
Para obtenção dos resultados da concentração de Matéria Orgânica no solo, foi
utilizado o Método de Tedesco, 1985, por solução Sulfocrômica com calor externo e
determinação espectrofotométrica.
2.2.3.2 Umidade do Solo
Segundo Sousa (2005 p. 29) “o movimento da água é mais lento e a retenção de água e
adsorção de soluto são maiores em solos de textura fina”, ou seja, os argilosos e estes por
suavez tem a capacidade de armazenar uma porcentagem maior de água que os arenosos
favorecendo a sobrevivência e microrganismos.
Com maior conteúdo de argila este diminui a permeabilidade do solo que é a
facilidade da água e o ar passar.Assim baixa permeabilidade e umidade alta ocorre a redução
da infiltração que pode fazer com que o necrochorume sofra um processo de digestão
anaeróbia podendo haver problemas com odor e aumento na proliferação de insetos
A umidade Segundo Pinilla (1998), é o parâmetro que mais influencia a eliminação de
microrganismo em qualquer tipo de solo. Assim o comportamento dos microrganismo podem
variar em regime de solo saturado e não saturado. Segundo Sousa (2005) o teor de umidade
do solo é responsável pelas modificações das trocas gasosas e pelo transporte de nutrientes
utilizados pelos microrganismo para seu crescimento, assim condições de baixa temperatura e
42
umidade elevada favorecem a sobrevivência de bactérias. Pinilla (1998) citado por Santos
(2005) fez um trabalho que mostrou que a concentração mais elevada de coliformes fecais foi
onde a porcentagem de umidade corresponde a 18 %.
Assim como a obtenção da M.O, para a determinação da umidade do solo do
Cemitério Municipal Pio XII de Erechim – RS foi feito através do Método Tedesco 1985,
onde este foi secado em estufa a 105º C por 2 horas sendo o resultado deste a diferença de
pesagem do solo úmido e o seco, dividido pelo peso seco e multiplicando por 100%
.
2.2.3.3 Determinação do Ph
Para a sobrevivência dos microrganismos os valores do Ph, não podem ser extremos,
nem muito acido nem muito básico, pois Segundo Sousa (2005) este influencia indiretamente
na disponibilidade de nutrientes. Kiehl (1979) faz a seguinte colocação solo com Ph 4,0
contém ácidos livres como o acido sulfúrico. Abaixo de 5,5 contém alumínio trocável. A faixa
de Ph 7,8 a 8,2 indica a presença de carbonato de cálcio e, acima disso predomínio de Na+.
Pelo Método Tedesco foi feita a determinação de potencial hidrogeniônico (Ph), foram
diluídos 10g de solo em 10ml de água destilada para cada amostra, colocados no aparelho
denominado peagâmetro, o qual mede se o valor está acima ou abaixo de 7, que é considerado
um valor básico.
As análises de Ph foram feitas com a junção do material coletado nos 4 pontos de
estudos (p1, p2, p3, p4), infelizmente, pela impossibilidade se conseguir maior quantidade
deste material feito em triplicata de análise e chamado de ponto normal (PN). O ponto P.E,
também com análise em triplicata é o ponto especial oriundo das raspas debaixo do caixão.
2.2.3.4 Coliformes Totais e Fecais
Os “coliformes totais formam um grupo abrangente do qual se enquadram
a Escherichia, Citrobacter, Klebsiela, Enterobacter, Serratia e Hafnia e fermentam lactose em
24 horas a uma temperatura de 35º a 37º C” (WHO, 2004 citado por SOUZA, 2005 p. 70).
Os coliformes fecais são um subgrupo dos totais e sua principal diferença é que
fermentam lactose a 44,5 º C. O principal componente deste grupo é a Escherichia Coli.
Segundo os referidos autores, a maioria das bactérias deste subgrupo pode ser
encontrada na ausência de poluição fecal com exceção da Escherichia Coli,que é considerada
o indicador de contaminação fecal mais adequado por ser uma espécie encontrada em número
43
elevado nas fezes de animais de sangue quente e na flora intestinal humana. Segundo Bitton
(1987) citado Burbarelli (2004) bactérias como E. coli e Salmonella typhosatem mostrado
maior sobrevivência durante as estações chuvosas, em solo com alta capacidade de retenção
de água como os argilosos, onde esses organismos podem sobreviver mais que 42 dias. De
acordo com a Cetesb (1996) citado por Matos (2001) as bactérias do grupo coliformes, apesar
de serem bons indicadores de contaminação fecal humana ou animal, não são tão resistentes
ao meio ambiente e podem ser inibidas na presença de outras bactérias
O solo é um dos melhores agentes naturais filtrantes que se conhece. O destino do
transporte dos microrganismos depende da capacidade do solo retê-lo. A maior remoção de
microrganismos se dá na superfície nos primeiros milímetros de solo, principalmente as
bactérias, que são microrganismos maiores em comparação
aos vírus. “Essa acumulação de microrganismos na superfície aumenta o poder de filtragem
do meio” (MATOS, 2001, p. 11).
As análises microbiológicas dos coliformes foram realizadas no laboratório do CEPA
(Centro de Pesquisa e Alimentação) pelo método da contagem de microorganismos adaptado
de Standard Méthods for the examination of water and wastewater, 2005 tendo como unidade
NMP/g.
2.2.3.5 Metais Pesados
Os teores naturais de metais pesados nos solos são fortemente influenciados pelo
material de origem (Davis, 1990; Ker et al., 1993). Em Latossolos originados de diferentes
rochas, como é o caso do solo encontrado na região de Erechim – RS, mais especificamente
no local de estudo (Cemitério Municipal da Cidade).
Ker et al. (1993) obtiveram teores de Pb entre 24 e 184 mg kg-1
. Melo (1998)
observou que os maiores teores totais de Cr (máximo de 115,1 mg kg-1
) estavam associados a
solos originados de rochas básicas.
Os caixões construídos de madeira não se apresentam como a principal fonte de
contaminação do solo, a menos que conservantes da madeira fontes de metais pesados,
principalmente Cr, ou à base de organoclorados, como o pentaclorofenol, estejam presentes.
Entretanto, madeiras não tratadas se decompõem rapidamente, permitindo uma rápida
disseminação de líquidos humurosos. Caixões de metal, normalmente não utilizados em
sepultamentos, podem causar contaminação do solo por Fe, Cu, Pb e Zn durante vários anos,
especialmente em solos com baixo pH (Spongberg & Becks, 2000). Contaminantes químicos,
44
como As e Hg, usados em práticas de embalsamento de corpos com formaldeído, podem ter
sido responsáveis, no passado, pela contaminação do solo e da água em cemitérios.
Atualmente, constituem-se em fontes de contaminantes químicos o verniz e
conservantes da madeira e as partes metálicas dos caixões, como alças e adereços, que podem
liberar Pb, Zn, Cu, Cr e Ni e Fe (Spongberg & Becks, 2000).
Os resultados obtidos por esses autores em cemitério de Ohio, USA, mostraram que os
metais no solo estavam associados com os caixões de corpos sepultados desde o século XVIII.
Os solos apresentavam maiores teores de Fe, Pb, Cu, Zn, Cr na profundidade dos
sepultamentos.
Para determinação dos metais pesados presentes no solo, foi utilizado o método
conhecido como 3050B – U.S Environmental Protection Agency. Sendo Cr, Cu, Pb, Zn, Ba e
os metais analisados neste estudo no laboratório dos Solos da Agronomia.
2.2.3.6 Fósforo e Nitrogênio
A principal causa da poluição ambiental pelos cemitérios é o líquido liberado
intermitentemente pelos cadáveres em putrefação, denominado de necrochorume.
Na putrefação são liberados os gases funerários, principalmente o gás sulfídrico
(H2S), o dióxido de carbono (CO2), as mercaptanas, o gás metano (CH4), a amônia (NH3) e
o fosfina (PH3) – hidrato de fósforo, incolor e inflamável.
Atualmente vem sendo usada a técnica de tanatopraxia, que é a técnica de preparar,
maquiar e, restaurar partes do falecido, por meio de cosméticos, corantes, enrijecedores, etc.
O necrochorume pode veicular além de microrganismos oriundos do corpo, restos ou
resíduos de tratamento químicos hospitalares (quimioterapia) e os compostos decorrentes da
decomposição da matéria orgânica juntamente com esta técnica de tanatopraxia. Todos esses
contaminantes incorporados ao fluxo de necrochorume são prejudiciais ao solo e águas
subterrâneas.
Diante disto então, ocorre um aumento na presença de compostos inorgânicos que
impcatam o meio ambiente como é o caso do nitrogênio e do fósforo, na concentração de sais
(Cl-, HCO3, Ca+2, Na+) e conseqüentemente na condutividade elétrica, no pH e alcalinidade,
e dureza da solução do solo.
Para a análise da quantidade de fósforo e nitrogênio presentes no solo também foi
utilizado o método de Tedesco 1985.
45
2.3 Resultados e Discussões
2.3.1 Matéria Orgânica no Solo.
Segundo Lopes (2005), quando um indivíduo vem a falecer ocorrem mudanças em seu
corpo. Ele passa a formar populações de microrganismos patogênicos como bactérias que
destroem a matéria orgânica formando um ecossistema dentro do corpo do defunto. Tornando
o local onde foi sepultado o corpo um risco potencial de contaminação a saúde pública e ao
meio ambiente.
Com a baixa da matéria orgânica no solo pode demonstrar a presença de bactérias no
solo decompondo a matéria ali existente (ENASA, 2008). Já alta quantidade de Matéria
Orgânica no solo favorece a produção de Nitrogênio e ainda a percolação do fósforo nos solo.
Veremos a seguir com as análises deste elementos se houve alguma influência da M.O no
concentração total de N e P nas amostras analisadas.
Os valores obtidos da quantidade de matéria orgânica no solo são resultado da equação
gerada na curva padrão (Figura 20).
Figura 20: Curva Padrão Matéria Orgânica e sua respectiva fórmula
Assim os valores encontrados são demonstrados na tabela II abaixo:
y = 170,4x
R² = 0,976
0
50
100
150
200
250
0 0,5 1 1,5
Co
nce
ntr
ação
Absorbância
Curva Padrão Matéria Orgânica
Série1
Linear (Série1)
46
Tabela II: Valores Matéria Orgânica
MATÉRIA ORGÂNICA
P1 56,7
P2 61,3
P3 40,2
P4 47,8
PE 42,2
2.3.2 Umidade
Os microorganismos não podem se desenvolver na ausência de água, sofrendo
igualmente a influência da presença do ar atmosférico. Deste modo, em todo os casos, suas
atividades dependem preponderantemente da espessura do filme d’água. Elevados teores de
água no solo estimulam os processos anaeróbios, indicando que os processos oxidativos que
degradam a matéria orgânica se desenvolvem melhor nos solos relativamente seco.
O teor de água do solo afeta a temperatura deste, uma vez que a água possui um calor
específico mais alto que a maioria das substância sólidas. Os solos frios tendem a se
enriquecer em matéria orgânica, por ser mais lento o processo de decomposição.
Conforme análises geotécnicas realizadas junto a Universidade Regional Integrada do
Alto Uruguai e das Missões/URI – RS, este solo apresenta: granulometria com 75,58 % de
argila, 11,42 % de silte, 12,21 % de areia fina, 0,47 de areia media e 0,32 % de areia grossa;
enquadra-se como argila no gráfico triangular e apresenta média/baixa permeabilidade.
A reduzida permeabilidade destes solos não permite o arejamento das sepulturas
(prolongando o processo de putrefação) e em períodos chuvosos ocorre a saturação dos solos
o que propicia a saponificação dos corpos.
Segundo Dias apud Pacheco (1986 p. 52) “um cemitério em terra de argila pura com
este produto em elevada percentagem e sujeita a ação da umidade e das águas, é
absolutamente inadmissível. No entanto este solos impedem que os maus odores atinjam a
superfície.”
Conforme o Método de Tedesco os valores de umidade foram obtidos através da
equação (1), resultando então na porcentagem de umidade apresentada (tabela III).
𝑈𝑚𝑖𝑑𝑎𝑑𝑒 =𝑝𝑒𝑠𝑜𝑠𝑜𝑙𝑜 ú𝑚𝑖𝑑𝑜 −𝑝𝑒𝑠𝑜𝑠𝑜𝑙𝑜𝑠𝑒𝑐𝑜
𝑝𝑒𝑠𝑜𝑠𝑜𝑙𝑜𝑠𝑒𝑐𝑜× 100 (1)
47
Tabela III: Valores da umidade no solo em estudo
UMIDADE W%
Pontos Normais 0,42 42%
Ponto Especial 0,34 34%
Estes valores demonstram uma quantidade grande de umidade no material de estudo,
pouco mais de 40% deste é água, o que facilita a percolação dos contaminantes, vírus e
bactérias podendo além de contaminar e transportar pelo solo fazer com que cheguem ao
lençol freático.
2.3.3 Ph
Os excretas humanos provenientes do necrochorume podem conter quatro tipos
de organismos patogênicos: ovos de helmintos, protozoários, bactérias e vírus. Estes
organismos geralmente são excretados em grande número, dependendo da idade e estado de
saúde do indivíduo. A matéria fecal contém, em média, 109 bactérias por grama, não
necessariamente patogênicas, e, no caso de indivíduos infectados, 106 vírus por grama
(National of Sciences, 1977, apud Lewis, 1986).
Alguns autores com Gerba & Bitton, op.cit.; Yates, (1998 apud Matos, 2001)
ressaltam que as bactérias em geral, sobrevivem por mais tempo em temperaturas mais baixas,
em solos mais úmidos, com menor atividade microbiana, em ambiente levemente alcalino.
A presença de matéria orgânica e de cátions também pode prolongar a sobrevivência
por adsorção, em alguns casos. Os vírus são mais persistentes em ambiente mais úmido e em
Ph próximo a neutro que é o caso do PE, a amostra especial vinda debaixo da raspa do caixão
relacionando este valor a tabela de classificação utilizada pela Embrapa Trigo.
Tabela IV: Classificação para Ph no solo
CLASSES DE INTERPRETAÇÃO PARA ACIDEZ DO SOLO
Acidez
Muito elevada
Acidez
Elevada
Acidez
Média
Acidez
Fraca
Neutra Alcalinidade
Fraca
Alcalinidade
Elevada
> 4,5 4,5 - 5,0 5,1 -6,0 6,1 -6,9 7,0 7,1 - 7,8 > 7,8
FONTE: Embrapa Trigo
48
Portanto em comparação com tabela de classificação de Ph da Embrapa Trigo com os
valores obtidos através da análise de Ph o (tabela IV), pode-se concluir que o solos em estudo
além de possuir um alto teor de umidade é considerado ainda alcalinidade fraca entre 7,1 –
7,8 que é favoráveis para a sobrevivência dos microorganismo, uma vez que em solos secos,
nenhuma bactéria sobrevive mais do que 20 dias bem como em solos ácidos, que este tempo
se reduz à dez dias. (LEWIS,1986).
Tabela V: Valores de Ph do solo
PH
Pontos Normais PN 6,9 Próximo a nêutro
Ponto Especial PE 7,11 Levemente alcalino
2.3.4 Coliformes Totais e Fecais
No intestino dos seres humanos e animais predomina em grande número os coliformes
fecais. Para se ter uma idéia, um indivíduo elimina, em média, 10 bilhões de coliformes fecais
por dia. Além dos coliformes, existem, no meio intestinal, outras bactérias, vírus, protozoários
e vermes, em números significativamente menores.
As análises laboratoriais indicaram a presença de coliformes totais e fecais nas
amostras analisadas (tabela VI).
Tabela VI: Valores para análises de coliformes
COLIFORMES
Pontos Normais Ponto Especial
Coliformes Totais 1.100 NMP/g 130.000 NMP/g
Coliformes Fecais Ausência Ausência
Coliformes Termotolerantes > 180 >180
De acordo com Pacheco (1986), os organismos suscetíveis de transmitir doenças
através da percolação pelo solo chegando a água são o Clostridium (tétano, gangrena gasosa,
toxi-infecção alimentar), Mycobacterium (tuberculose), enterobactérias como a Salmonella
(febre tifóide), Shigella (disenteria bacilar) e o vírus da hepatite A, sendo que os indicadores
49
de contaminação usualmente utilizados são os coliformes, principalmente do grupo dos
coliformes fecais ou termotolerantes e os estreptococos.
Observa-se a ocorrência somente de coliformes totais e termotolerantes nas amostras
das sepulturas no cemitérios, sendo que a amostra especial vinda das raspas do fundo do
caixão mostra uma grande quantidade de coliformes totais.
Por fim segundo a Resolução do CONAMA nº 020/86, que estabelece um limite para
coliformes totais (CT) de 5000 NMP/g e para coliformes fecais (CF) de 1000 NMP/g. Com
isto nota-se apenas uma alta contaminação por coliformes totais na amostra especial que
ultrapassa o valor limite estabelecido pela norma uma vez que os valores dos coliformes
termotolerantes também ficaram abaixo do limite de 180 NMP/g.
2.3.5 Metais Pesados
Os valores obtidos para os metais seguiram o mesmo padrão de análise para o fósforo
e o nitrogênio bem com para Matéria Orgânica. Foi construído o gráfico com a curva padrão
de cada um dos metais analisados gerando assim a equação respectiva de cada um destes
gráficos (Figuras 21 à 23).
Figura 21: Curva Padrão do Zinco (Zn)
y = 0,011x - 0,455R² = 0,984
-2
0
2
4
6
8
10
12
0 500 1000
Co
nce
ntr
ação
Absorbância
Curva Padrão Zinco
Série1
50
Figura 22: Curva padrão do Chumbo (Pb)
Figura 23:Curva Padrão Cobre (Cu)
Da equação gerada no gráfico conforme leitura no espectrofotômetro de absorbância e
concentração chegou-se a tabela VII com seus isolados valores.
Tabela VII: Valores dos resultados obtidos para cada um dos metais analisados
CONCENTRAÇÃO DE METAIS mg/kg
PONTOS ANALISADOS Ba Cu Cr Pb Zi
Ponto 1 0 72,5 0 68,4 272,5
Ponto 2 0 101,5 0 37,8 69,6
Ponto 3 0 140,0 0 60,7 107,4
Ponto 4 0 169,1 0 76,0 96,4
Ponto Especial 0 140,0 0 76,0 280,5
Foram determinadas as concentrações totais dos metais: bário (Ba), cobre (Cu), cromo
(Cr), chumbo (Pb) e zinco (Zn), que possuem valor de referência propostos pela Resolução
CONAMA nº 420/2009 mostrados na tabela VIII.
y = 0,229x - 0,156R² = 0,998
-2
0
2
4
6
8
10
12
14
0 20 40 60
Co
nce
ntr
ação
Absorbância
Curva Padrão Chumbo
Série1
y = 0,035x - 0,082R² = 0,999
-2
0
2
4
6
8
10
12
0 100 200 300
Co
nce
ntr
ação
Absorbância
Curva Padrão Cobre
Série1
51
Tabela VIII: Valores de referência para metais no solo
Metal
Valor de Referência
para solo (mg/kg)
Bário 150
Cromo 75
Cobre 60
Chumbo 72
Zinco 300
Fonte: Adaptado de CONAMA nº 420/2009 (Brasil, 2009).
Fazendo a comparação das análises com os limites estabelecidos pelo CONAMA
pode-se notar a alta presença do metal cobre (Cu) em todos os pontos de coletas podendo ser
oriundo dos adereços dos caixões uma vez que são gastos anualmente, pelos setores
funerários, uma quantidade de 827.060 litros de formol sendo impressionantes também os
números para o consumo de cobre, aço, concreto, plástico e tecidos sintéticos.
O cobre pode ser encontrado na natureza na forma elementar ou na forma de sais, na
crosta terrestre ou nos oceanos. A quantidade de cobre encontrada no corpo humano varia de
100 a 150 mg, e sua ingestão diária está entre 2 e 3 mg.
Nos seres humanos, Santana (2009) afirmou que a contaminação por cobre causa uma
disfunção genética conhecida como Doença de Wilson. O processo de contaminação
geralmente ocorre em feto cuja mãe apresenta altas concentrações deste elemento no
organismo. A Doença de Wilson provoca um acúmulo excessivo desse elemento essencial no
organismo.
Contudo, o cobre é considerado um elemento fitotóxico, isso por que é mais tóxico
para plantas do que para animais (Costa, 2005).
Os elementos bário e cromo, não foram encontrados na área de estudo, vindo apenas
como resultados das análises o valor referido a zero.
Já para o elemento zinco e o chumbo (Zn, Pb) os valores variaram de acordo com a
amostra sendo que o Chumbo apresentou apenas para as amostras P4 e PE, uma leve alta
concentração ultrapassando os valores estimados pela norma, já para o Zinco nenhuma das
amostras ultrapassaram os limites estimados na CONAMA 420/2009, porém chegaram
próximas a este valor as amostras (P1 e PE) com valores exatos de 272,5 mg/kg e 280,5
mg/kg.
O Zinco é utilizado em baterias, fertilizantes, aros e rodas de veículos, tintas, plásticos,
borrachas, em alguns cosméticos como pós e bases faciais e produtos farmacêuticos, como os
complexos vitamínicos (Moore e Ramamoorthy, 1984). A absorção excessiva do metal pelo
52
organismo pode levar a um quadro de intoxicação, resultando em sintomas como vômitos,
diarréias e cólicas (Bona et al., 2007).
O chumbo por si é um metal tóxico, pesado,ele é usado na construção civil, baterias
de ácido, em munição, proteção contra raios-X e forma parte de ligas metálicas como é o caso
das alças dos caixões (Figura 24).
Figura 24: Adereços de metais presentes nos caixões
É um metal conhecido e usado desde a antiguidade. Suspeita-se que este metal já fosse
trabalhado há 7000 anos, utilizado pelos egípcios sendo parte de ligas metálicas devido suas
características e pelos romanos como componentes de tintas e cosméticos.
2.3.6 Nitrogênio e Fósforo
Na putrefação são liberados gás sulfídrico (H2S), dióxido de carbono (CO2), metano
(CH4), amônia (NH3) e mercaptanas (compostos que contêm enxofre, como a cadaverina e a
putrescina, responsáveis pelo cheiro de carne podre), além da fosfina (PH3), um hidrato de
fósforo incolor e inflamável.
Os compostos orgânicos degradáveis liberados no processo de decomposição dos
corpos estimulam a atividade microbiana no solo sob áreas de sepultamentos. Também
aumentam, no solo, o teor de compostos de nitrogênio e fósforo e o de sais (o que eleva a
condutividade elétrica) e o índice de acidez.
Através da curva padrão do fósforo como mostra Figura 25 obteve-se apartir equação
respectiva deste gráfico.
53
Figura 25: Curva Padrão Fósforo e sua respectiva equação
Através da equação oriunda do gráfico pôde-se determinar a concentração total de
fósforo existente no solo em estudo (tabela IX).
Tabela IX: Valores obtidos de P no solo
FÓSFORO Mg/L
Pontos Normais 101,9
Ponto Especial 120,5
Os valores de nitrogênio obtidos em análises são resultados da equação (2) abaixo, e
em seguida tem-se do real valor para o Nitrogênio avaliado no solo (tabela X).
𝑁𝑚𝑖𝑛𝑒𝑟𝑎𝑙(𝑚𝑔𝐾𝑔−1) = 𝑚𝐿𝐻𝑎𝑚 −𝑚𝑔𝐻𝑏𝑟 ∗70∗2,5
5𝑔 (2)
Tabela X: Valores obtidos de N no solo
NITROGÊNIO mg/l
Pontos Normais 30,9 NH4+
22,4 NO3-
Ponto Especial 22,4 NH4+
24,85 NO3-
Buscando analisar os valores obtidos com valores permitidos no solo, foi seguido os
limites da Legislação (Estadual) que segundo Silvio Túlio Cassini professor do Programa de
Pós Graduação em Engenharia Ambiental da UFES fica entre 20 – 40 Mg/L. Isto prova a
y = 8,972x + 0,053R² = 0,996
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
0,000 0,100 0,200 0,300
Co
nce
ntr
ação
Abosorbância
Curva Padrão Fósforo
Série1
54
grande quantidade de Nitrogênio no solo em estudo ressaltando aqui que o excesso de Matéria
Orgânica é a causa destas altas concentrações por gera NO3- que favorece a toxidez no solo
ultrapassando o limite estimado.
Solos com altos teores de argila, óxidos e M.O, faz com que o fósforo percole no perfil
deste solo podendo comprometer a qualidade destas águas, sendo que provavelmente a maior
contaminação ocorre pelo escorrimento superficial da água da chuva e pela erosão o que
resulta na eutrofização, fenômeno em que o ecossistema aquático é enriquecido por nutrientes
provenientes da lixiviação de fertilizantes de uso agrícola. A presença destes elemento no solo
favorece a superpopulação de microorganismos decompositores, com isso o nível de oxigênio
é reduzido acarretando a morte por asfixia das espécies aeróbicas, predominando assim
organismos anaeróbicos produtores dos gases H2S e CH4.
Após o nitrogênio orgânico ser mineralizado formando (NH4+)
, este por sua vez é
transformado em nitrato (NO3-) – nitrificação. Se estas transformações serem muito rápidas,
poderá haver muito mais nitrato no solo o dificulta a capacidade de absorção pelas plantas,
uma vez que o nitrato é fracamente adsorvido percolando com maior facilidade.
Altas concentrações de nitrato na água utilizada pelo consumo humano (>10mg\L-1
)
podem causar methemoglobinemia ou a síndrome do bebê azul (dificulta o transporte de
oxigênio na corrente sanguínea) que ocorre em crianças.
2.4 Medidas Mitigadoras e Possiveis Soluções
2.4.1 Cremação
Quem é engajado, ou seja, preocupado com as questões ambientais, deve se informar
sobre a forma como seu corpo deve ser tratado após a vida, qual a melhor saída, ser enterrado
ou cremado? – porque cada opção tem um impacto diferente.
Se a escolha for o enterro, há diversas providências que ficam a cargo do cemitério e
nada melhor do que escolher um lugar que siga critérios sustentáveis, ou seja, de não-agressão
ao verde.
Por exemplo: você sabia que os mortos não podem ser enterrados a qualquer
profundidade? Eles devem ficar longe do lençol freático, numa distância de, no mínimo, dois
metros, e é melhor que o solo não seja poroso. Caso contrário, os resíduos da decomposição
do corpo podem escorrer e contaminar a água que será distribuída e usada para beber, tomar
banho e várias outras coisas. Já pensou?
55
Esse líquido que é resultado da decomposição do corpo chama-se chorume – você já
deve ter notado a presença de um caldinho em alguns sacos de lixo com restos de alimentos.
No caso dos corpos humanos, essa mistura é ainda mais tóxica o necrochorume, porque é o
resultado de água, sais minerais e substâncias como a putrescina, e mais, cada cadáver de
adulto pode produzir entre 30 e 40 litros desse líquido.
A Cremação que pode ser uma saída sendo ela uma técnica funerária que visa reduzir
um corpo a cinzas através da queima do cadáver. O método comum no mundo ocidental é a
cremação do cadáver em crematórios.
A cremação pode ser um funeral ou um rito pós-funeral e é uma alternativa que
oferece menos riscos ambientais que o sepultamento do corpo em covas.
No Brasil exige-se que a pessoa registre em cartório o desejo de ser cremado, ou então
que o parente mais próximo requisite o serviço. Já a disposição final das cinzas é livre,
podendo ser conservadas em jazigos perpétuos particulares ou urnas no cemitério (Figura 26),
ou ainda existem pessoas que levam para casa e a guardam em locais apropriados.
Figura 26: Urnas para depósito das cinzas de cremação
Porem a alta temperatura da cremação vindas dos fornos de cremação (Figura 27)
queima muito combustível e emite dióxido de carbono na atmosfera, o principal gás de efeito
estufa. A cremação também libera no ar o mercúrio das obturações dentárias do finado e
ainda, o formaldeído e outras substâncias tóxicas que as funerárias usam para preparar os
corpos para o enterro possam "acabar contaminando o ambiente ao redor dos cemitérios"
(Revista, AmericanChemical Society, dos Estados Unidos)
56
Figura 27: Forno de cremação
Com estas preocupações, existem saídas as quais poderiam livrar o meio ambiente de
mais esses impactantes efeitos. Engenheiros europeus desenvolveram dois métodos inusitados
de eliminação do corpo: o primeiro é um método de cremação de baixa temperatura, e o
segundo é um método mais ecológico do que o tradicional enterro, transformando
rapidamente o corpo em uma espécie de adubo.
A cremação de baixa temperatura substitui a queima do combustível e o calor por uma
substância alcalina altamente corrosiva, que literalmente dilui o corpo.
Como a temperatura utilizada neste novo processo é 80% menor do que a temperatura
da cremação padrão, o processo usa menos energia e produz menos emissões de dióxido de
carbono.
Outra alternativa para quem fizer a escolha da cremação é a utilização de um “caixão
de aluguel” onde somente uma cápsula interna podendo ser de papelão reciclado entre no
forno crematório, há ainda a opção por caixões de vimes ou madeira reflorestada como o
pinho e no interior destes só se pode utilizar vernizes à base de água e, no lugar de pregos,
cola branca e um sistema de encaixe manter as partes unidas. Aparte interna é feita de fibras
naturais, como o algodão.
2.4.2 Compostagem Póstuma
Método, que substitui o enterro tradicional, uma espécie de compostagem do cadáver.
O processo começa com o congelamento do corpo em nitrogênio líquido, quebrando-o em
pedaços menores.
57
A seguir, os restos são secos por um processo chamado liofilização, por meio do qual
a água congelada sublima-se, passando diretamente da fase sólida para gasosa.
Finalmente, o que sobrou é colocado dentro de um caixão biodegradável para o
enterro, e o ambientalista liofilizado pode descansar duplamente em paz - consigo e como
meio ambiente.
2.4.3 Cemitérios Ecológicos e Sustentáveis
Se a opção for o tradicional enterro, há soluções que ajudam a minimizar os impactos
causados ao meio ambiente com os pouco conhecidos cemitérios sustentáveis que classifica-
se como sendo aquele que cumpre integralmente as Resoluções CONAMA 335/03 e a 402/08
(Anexo). Alguns parâmetros importantes são: se possuem Licenciamento Ambiental, se existe
sistema de coleta/drenagem do necrochorume, se a área de fundo das sepulturas mantêm uma
distância mínima de 1,5m, se a área de sepultamento mantém a distância de 5m em relação ao
perímetro do cemitério, entre outros.
Para nós Brasileiros o assunto ainda é novidade, mas já existem cemitérios chamados
de ecológicos há muitos anos. Impressiona a quantidade de locais nos Estados Unidos e na
Europa. Isto é prova mais do que concreta da aceitação desta modalidade de funeral ecológico
ou enterro natural, como também é chamado. Esta opção é uma forma das pessoas darem
continuidade, até o fim, à sua opção de compromisso com o Meio Ambiente. As vantagens
são muitas. A primeira refere-se ao formol que pode contaminar lençóis freáticos, pois os
enterros naturais não utilizam a técnica de embalsamamento.
Normalmente, são gastos anualmente, pelos setores funerários, uma quantidade de
827.060 litros de formol. Os diversos números também impressionam, com o consumo de
cobre, aço, concreto, plástico e tecidos sintéticos. Outra vantagem é econômica já que os
cemitérios ecológicos são implantados, em sua maioria, em zonas rurais, de valor territorial
reduzido. O preço das urnas e caixões ecoamigáveis também é muito menor, dada a utilização
de materiais baratos e sem metais.
Nos cemitérios verdes não se planta grama, deixando-se a vegetação natural e árvores
nativas. As lápides podem ser de bambu ou outro material degradável e também de pedra
natural, sem polimento. Os modelos são variados e os materiais também, usando bambu, folha
de bananeira, papel cartão ou papelão, folhas da planta pandanus, madeira de pinheiros e
folhas de salgueiro, dentre outros (Figuras 28 e 29).
58
O interior do caixão é feito de fibras naturais, como o algodão alem de ser utilizado o
invólucro protetor composto absorvente de celulose e gel, atua no processo de sucção e
contenção das partículas danosas, com o objetivo de evitar contaminação do lençol (aqüífero)
freático pelo necrochorume, subproduto resultante da decomposição do organismo humano de
forma natural direta ou indireta. A medida evita o vazamento do líquido presente na
decomposição de cadáveres: o necrochorume.Uma vez que cada corpo produz diariamente
200 mililitros de necrochorume, por pelo menos seis meses e trata-se de um escoamento
viscoso, acinzentado, e que, com a chuva, pode atingir o lençol de água subterrânea de
pequena profundidade e outras regiões próximas aos cemitérios.
Figura 28: Esquema de um enterro comum e o natural
Figura 29: Cemitérios e caixões ecologicamente corretos.
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3 CONCLUSÕES
Pode-se fazer uma analise crítica de como tem sido tratadas as necrópoles dentro das
cidades, a partir de seus diferentes aspectos, em busca de um despertar para o enfrentamento
da questão CEMITÉRIO X MEIO AMBIENTE, onde este compõe o conjunto de recursos
necessários ao encaminhamento sustentável das requisições sócio-ambientais, devendo ser
tratado para além de mitos e subjetividades, como uma questão política e técnica da gestão
urbana nas cidades.
A preocupação maior em um cemitério é com a possibilidade de contaminação, já que
como comprovado neste trabalho, um cadáver pode espalhar, através do necrochorume,
microorganismos patogênicos da sua causa mortis, pelo ar, água ou solo;
Conseguiu-se ainda verificou que os problemas mais graves estão relacionados à falta
de manutenção das sepulturas, começando lá na sua construção e no presente identificasse que
parte delas estão destruídas, outras apresentam rachaduras, erosão em sua base,
comprometendo o estado do solo e do lençol freático devido a infiltração de água;
A contaminação do solo foi comprovada pelas análises feitas, no entanto, trata se de
uma contaminação leve podendo ser revertida ou diminuída. O que pode ser agravado pela
causa mortis e os fenômenos físico – químicos.
Infelizmente a contaminação do solo em estudo tem favorecimento da matéria
orgânica bem como as características deste solo considerado argiloso. A reduzida
permeabilidade destes solos não permite o arejamento das sepulturas (prolongando o processo
de putrefação) e em períodos chuvosos ocorre a saturação dos solos o que propicia a
saponificação dos corpos.
Segundo Dias apud Pacheco (1986 p. 52) “um cemitério em terra de argila pura ou
com este produto em elevada percentagem e sujeita a ação da umidade e das águas, é
absolutamente inadmissível.
O elemento cobre (Cu) considerado um metal pesado é o que esteve presente em maior
concentração nas análises realizadas o que traz grandes preocupação uma vez que apresenta
como efeitos para saúde, alterações no sangue e na urina, ocasionando doenças graves e em
alguns casos, invalidez total e irreversível, ocasiona problemas respiratórios, provoca
alterações renais e neurológicas.
60
Apesar de menos agressivo na água do que no ar, depositado nos ossos, musculaturas,
nervos e rins, provoca estado de agitação, epilepsia, tremores, perda da capacidade intelectual
e anemia.As principais alterações são no desenvolvimento cerebral das crianças, podendo
provocar o idiotismo. Já no meio ambiente polui o solo, a água e o ar e desta forma
contamina os organismos vivos, devido a seu efeito bioacumulativo,em toda a cadeia
alimentar (trófica).
Já a matéria orgânica em excesso é a causa das altas concentrações por gera NO3- que
favorece a toxidez no solo ultrapassando o limite estimado.
Solos com altos teores de argila, óxidos e M.O, faz com que o também o elemento
fósforo percole no perfil deste solo podendo comprometer a qualidade destas águas, sendo
que altas concentrações de N e P na água utilizada pelo consumo humano (>10mg\L-1
) podem
causar methemoglobinemia ou a síndrome do bebê azul (dificulta o transporte de oxigênio na
corrente sanguínea) que ocorre em crianças.
Ainda pode - se detectar que os resíduos produzidos no cemitérios pela exumação de
cadáveres e possivelmente com alguma contaminação não têm destinação adequada de acordo
com a legislação e, além disso, permanecem por tempo indeterminado armazenados em locais
impróprios dentro do cemitério, e o que piora a situação após este tempo são queimados no
aterro sanitário do Município;
Para que os danos à saúde ambiental possam ser amenizados, faz-se necessário para
uma melhora na qualidade de vida da população, a mobilização da sociedade como um todo
para se cobrar dos governantes, ações em todas as áreas e atividades das cidades que estejam
interferindo nesta qualidade, começando pela qualidade do ensino, pelo trabalho de educação
ambiental e conscientização da população, no caso dos cemitérios, dos problemas que a
cidade enfrenta com cada ser humano que morre. Urge discutir ações conjuntas, com
participação popular, de estratégias que poderiam amenizar estes impactos, trabalhando
também, as representações da população, que vê estes empreendimentos como “áreas
degradadas”, tétricas, perigosas, “estranhas”, assustadoras, ou pior, nem as enxergam.
E por fim para que haja estas melhorias é necessário o cumprimento das leis que
regem o tema em estudo pela sua suma importância uma vez que no Município não há
nenhuma preocupação com as exigências da legislação pertinente atual, onde se faz necessário
a regularização através de licença de instalação e licença ambiental de operação.
61
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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freático do Cemitério de Vila Nova Cachoeirinha, Município de São Paulo. Tese de
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DELMONTE, C. Putrefação e suas consequências para o meio ambiente. São Paulo. Palestra
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62
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FIÚZA, Sergio L.; VIOTTI, Luiz F.; GRIFFO, Luiz H. M. Tanatopraxia: teoria, prática e
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Temperado. Disponível em: <http://www.cpact.embrapa.br. Acesso em: 20 out. 2012.
63
ANEXOS
Estado do Rio Grande do Sul
MUNICIPIO DE ERECHIM
PREFEITURA MUNICIPAL
Praça da Bandeira, 354
Fone: (54) 3520 – 7000
99700-000 Erechim – RS
LEI Nº 4.004, DE 12 DE JULHO DE 2006.
Consolida a Legislação, Regulamenta as Atividades, Uso e
Prestação dos Serviços Cemiteriais e Funerários no âmbito
do Município de Erechim; Altera e Revoga Leis.
O Prefeito Municipal de Erechim, Estado do Rio Grande do Sul, no uso de atribuições
conferidas pelo Artigo 64, Inciso V da Lei Orgânica do Município:
Faço saber que o Poder Legislativo aprovou, e eu sanciono e promulgo a seguinte Lei:
TÍTULO I
DAS DISPOSIÇÕES
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 1º Os Serviços Cemiteriais e Funerários, no âmbito do Município de Erechim, são
considerados de interesse público e poderão ser prestados, em todo ou em parte, pela
iniciativa privada, por livre prestação, mediante autorização expedida pelo Município, através
de alvará de localização.
§ 1º A autorização, respeitada a presente lei e o Plano Diretor, será fornecida mediante
Termo de Compromisso de que a autorizada desenvolverá os serviços cumprindo as
disposições da presente Lei, sob pena de cancelamento.
64
§ 2º Fica criado o Sistema Funerário do Município de Erechim, que será composto
por:
I - Empresas funerárias autorizadas, com sede no Município de Erechim;
II - Capelas funerárias públicas e privadas;
III - Empresas funerárias com sede em outros municípios para serviços esporádicos no
município de Erechim, desde que com sede no Município em que ocorreu o óbito e tenha
efetuado o translado a Erechim;
IV - Os cemitérios públicos e privados do município de Erechim;
V - A comissão municipal dos serviços funerários;
VI - Os hospitais públicos e privados e casas de saúde do município de Erechim;
VII – DML;
VIII – Plano de Assistência Funeral;
VIX – Comissão Municipal de Serviços Funerários encarregada da orientação e
fiscalização dos serviços.
CAPÍTULO II
DAS COMPETÊNCIAS
Art. 2º As competências de cada Órgão Público Municipal relacionadas aos serviços
funerários serão fixados por Decreto.
TÍTULO II
DOS CEMITÉRIOS
CAPÍTULO I
DISPÕE SOBRE CEMITÉRIOS MUNICIPAIS OU PRIVADOS
SEÇÃO I
CEMITÉRIOS MUNICIPAIS OU PRIVADOS
Art. 3º Os Cemitérios Municipais e os Privados são áreas de uso especial destinadas à
inumação de pessoas e, por sua natureza, locais livres a todos os cultos religiosos, cuja prática
não atentem contra a Lei e a moral, sendo local de absoluto respeito.
Parágrafo Único. As inumações serão feitas sem indagação da crença religiosa ou
política do(a) falecido(a).
Art. 4º Sempre que possível, os Cemitérios municipais, existentes, serão divididos em
Ruas, Setores, Quadras, Filas e Número de identificação de túmulos, jazigos ou gavetas, para
permitir a identificação e localização das pessoas sepultadas independentemente dos livros de
registros de inumações e exumações.
65
Parágrafo Único. Os Cemitérios Municipais farão a adequação das respectivas áreas ao
previsto no caput deste artigo.
Art. 5º Para a aprovação da implantação de novos Cemitérios ou Necrópoles
pertencentes a Empresas Privadas deverão ser respeitados os seguintes itens básicos e
indispensáveis:
I – Atender às disposições do Plano Diretor;
II – Submeter o Projeto, antes de sua aprovação, à apreciação do Conselho do Plano
Diretor, após parecer de técnico do Município;
III – Obter, antes de sua aprovação, os licenciamentos ambientais junto aos Órgãos
competentes;
IV -Somente será permitida a construção de cemitérios-parques, que se caracterizam
pela predominância de áreas livres em relação às destinadas a inumações.
V – As áreas destinadas a cemitérios não poderão apresentar superfície inferior a 5
(cinco) e nem superior a 10 (dez) hectares.
VI – Os acessos de cemitérios deverão atender às seguintes condições:
a ) Observar afastamento de 200 metros de qualquer cruzamento de sistema viário
principal , existente ou projetado.
b) Possuir uma área de estacionamento externa com capacidade mínima de 50
veículos.
c) Possuir entrada para veículos, pavimentada com largura mínima de 8 metros, ligada
à via periférica.
d) Dispor de sinalização adequada que facilite a orientação de visitantes e o tráfego
interno de veículos.
e) Além da faixa de isolamento periférico, os cemitérios deverão apresentar,
obrigatoriamente os seguintes setores: Núcleo Administrativo, Núcleo de Serviços e Área de
sepultamentos.
§ 1º Os cemitérios deverão apresentar, em todo o seu perímetro, uma faixa de
isolamento de, no mínimo, 10 (dez) metros de largura. A faixa de isolamento poderá ser feita
com a construção de muros ou por uma faixa de arborização e vegetação adequada, de modo a
propiciar o bloqueio visual das áreas de sepultamentos a partir de logradouros e imóveis
circunvizinhos.
§ 2º O Núcleo Administrativo deverá ter as seguintes dependências: Capelas
Mortuárias ardentes, sala de estar para familiares e sanitários; sala para visitantes, gabinete
para oficiante, portaria, pequeno depósito e copa, além de sanitários para ambos os sexos;
66
conjunto de dependências para escritório, local de atendimento ao público, dependências para
o Zelador; local para venda de flores, lancheria e área para estacionamento, interno, para no
mínimo 30 (trinta) veículos e ligado à(s) via(s) pública(s).
§ 3º O Núcleo de Serviços deverá ter as seguintes dependências: Oficina de Serviços,
depósito de materiais, sanitários e vestiários para operários e segurança, depósito de material
de jardinagem, local para estacionamento de veículos de carga.
§ 4º O Cemitério deverá ter zeladoria ou segurança permanente.
Art. 6º É obrigação dos cemitérios públicos e particulares do município de Erechim:
I- Apresentar, até o quinto dia útil do mês subseqüente , a relação das inumações
realizadas, contendo o nome do “de cujos”, data do óbito, local de origem, nome da empresa
que realizou o serviço fúnebre, com documentos de translado, quando for o caso.
II – Manter afixada, em local de fácil acesso aos usuários, relação padrão das empresas
habilitadas a prestar serviços funerários nesta cidade.
Art. 7º É proibido aos Cemitérios indicar empresas funerárias.
Parágrafo único. A infração deste dispositivo implicará multa de R$ 2000 (dois mil),
dobrando-se o valor a cada reincidência.
SEÇÃO II
DOS SEPULTAMENTOS NOS CEMITÉRIOS MUNICIPAIS OU PRIVADOS
Art. 8º Os sepultamentos serão efetuados somente com a entrega de:
I – Certidão de Óbito;
II – Cópia, destinada ao Cemitério, da Guia de Autorização para liberação e
sepultamento de corpos (GALSC), emitida pelo Órgão Municipal competente;
III – Comprovação do pagamento ou isenção das Taxas previstas no Código Tributário
Municipal.
IV – Quando for o caso, Procuração para os fins específicos da inumação.
Parágrafo Único. As Empresas Funerárias deverão comunicar à Administração dos
Cemitérios, obrigatoriamente, a hora do sepultamento, com 08 (oito) horas de antecedência,
ressalvadas as exceções previstas no Art. 9º.
Art. 9º É proibido realizar qualquer sepultamento antes de decorrido o prazo de 12
(doze) horas, contado do momento do falecimento, excetuando-se:
I – Quando a causa da morte for moléstia contagiosa ou epidêmica.
II – Quando o cadáver apresentar inequívocos sinais de putrefação.
III – Nas hipóteses previstas nos art. 78 e 83, da Lei 6015/73.
67
Parágrafo Único. Nenhum cadáver poderá permanecer insepulto, no cemitério, se o
óbito tiver ocorrido há mais de 36 (trinta e seis) horas, salvo quando o corpo estiver
embalsamado ou em ocorrência de determinação judicial ou policial competente ou da
Secretaria Estadual da Saúde.
Art. 10. Os sepultamentos serão sempre individuais, excetuando-se quando se tratar de
mãe e filho natimorto, que poderão ser sepultados juntos.
Art. 11. Nenhum corpo de pessoa falecida poderá ser liberado por Hospitais, Clínicas,
Departamento Médico Legal ou de residências para translado, velório ou inumação, sem
atender a legislação federal e estadual atinente à matéria, notadamente sem o
acompanhamento da Declaração de Óbito ou determinação Judicial.
§ 1º Nenhum sepultamento será feito sem a entrega da Certidão de Óbito, fornecida
pelo Registro Civil.
§ 2º Poderá, no entanto, o sepultamento ser feito mediante determinação da autoridade
Judicial, ficando com a obrigação do registro posterior ao óbito, em cartório, com remessa de
cópia à Administração do Cemitério para arquivo.
§ 3º Na remota impossibilidade de se conseguir a Certidão de Óbito, esta poderá ser
substituída, excepcionalmente, por Termo de Compromisso assinado pelo responsável pelo
falecido(a), acompanhado da Declaração de Óbito emitida e assinada pelo Médico assistente
do falecido. Este documento terá validade máxima de 15 (quinze) dias, depois das quais
deverá ser substituído pela documentação legal.
Art. 12. A transladação e sepultamento de cadáveres obedecerão às seguintes normas:
I - O interessado, para transladação de cadáver e restos mortais, deve requerer ao
Município, fazendo constar o nome da pessoa falecida, a data do óbito, a causa mortis e o
lugar onde será sepultada;
II - O requerimento, para a emissão da GALSC e/ou GEMTC, deve ser acompanhado
da respectiva certidão de óbito;
III - Todo cadáver que vier transportado de outros Municípios, Estados ou Países, deve
ser transportado em caixão de zinco e estar hermeticamente fechado. No caso da morte ter
sido por doença transmissível, a exigência do caixão de zinco, em hipótese alguma, poderá ser
dispensada;
IV - Se o cadáver tiver que permanecer insepulto por menos de 24 (vinte e quatro)
horas, a juízo da autoridade sanitária, poderá ser dispensado o caixão de zinco, desde que a
causa da morte não tenha sido doença transmissível, e que as condições do corpo permitam o
transporte em caixa de madeira;
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V - Se o cadáver a ser transladado permanecer insepulto por mais de 24 horas, é
obrigatório o embalsamento do mesmo.
SEÇÃO III
DA ESCRITURAÇÃO DE INUMAÇÕES, EXUMAÇÕES E OUTRAS NAS
NECRÓPOLES, CEMITÉRIOS MUNICIPAIS E PRIVADOS.
Art. 13. Além dos livros exigidos pela legislação fiscal e outros, cada Cemitério,
Público ou Privado, deverá ter, obrigatoriamente, os seguintes livros:
I – Livro Registro de Sepultamentos;
II – Livro de Registro de Cremações (quando for o caso);
III – Livro de Registro de Ossuário, inclusive o ossuário universal, característico de
Cemitérios Municipais;
IV – Livro de Registro de Exumações;
V – Livro de Cadastramento das Sepulturas, Jazigos e Gavetas;
VI – Livro de Escrituração Contábil da receita e despesas (para cemitérios privados);
VII – Talonário de Recibos e controle contábil (Cemitérios Privados);
VIII – Livro de Registro de Reclamações e ocorrências;
IX – Livro Tombo.
§ 1º Todos estes Livros deverão ser aprovados pelo Município, autenticados, mediante
Termo de Abertura e Encerramento, rubricadas e numeradas todas as folhas. O Município
poderá autorizar, a seu juízo, e mediante requerimento da Administração dos Cemitérios
Municipais ou Privados, a substituição dos Livros por sistema de informática que garanta a
fidelidade dos dados de registros que devem constar nos livros.
§ 2º Constará, nos Livros de Registro de Inumações e no de Exumações, os seguintes
dados:
a) Nome da pessoa sepultada;
b) Data de nascimento e falecimento;
c) Número da certidão de óbito;
d) Nome do(s) cessionários do local da inumação;
e) Endereço do(s) cessionário(s);
f) Município ou local de origem;
g) Estado;
h) Tipo de sepultura;
i) Número da sepultura;
69
j) Número da fila;
l) Número da quadra e setor;
m) Número da guia;
n) Indicação do sepultamento perpétuo ou temporário.
§ 3º No livro de Exumações ficarão os mesmos dados da GUIA GEMTC, cujas
discriminações constam no artigo 14º.
§ 4º Os Registros nos Livros, ou em outros sistemas de Registro, serão escritos por
extenso, sem abreviaturas, sem emendas, entrelinhas, borrões ou substituições de qualquer
natureza.
§ 5º O Livro de Registro de Reclamações e Ocorrências deverá ficar à disposição do
Público, em lugar visível, com indicação de sua existência, e servirá para anotações das
deficiências, recomendações e contribuições na prestação se serviços apontados pelos
usuários.
Art. 14. Ficam criadas a GALSC - Guia de Autorização para Liberação e
Sepultamento de Corpos e a GEMTC - Guia de Exumação, Movimentação e Traslado de
Corpos a serem emitidas pelo Município.
§ 1º A Administração Municipal terá o prazo de 120 ( cento e vinte ) dias para a
implantação e rotinização do previsto no caput deste artigo.
§ 2º O Município arbitrará os mecanismos necessários para que os formulários de
Declaração de Óbito, utilizado fora do expediente ou em dias de feriados, sejam entregues
diretamente a médicos devidamente identificados.
§ 3º Cabe à Polícia Civil expedir autorização de translado de cadáveres.
Art. 15. As Guias, criadas no artigo 14º, deverão conter os seguintes dados e
informações:
I – Nome do falecido;
II – Data do óbito;
III – Local do Óbito;
IV – Local onde se encontra o corpo;
V – Empresa Funerária;
VI – Nome do Agente Funerário e respectivo RG ( carteira de Identidade );
VII – Local do Velório ( só constará na GALSC ) – Local do Translado ( só constará
na GEMTC);
VIII – Cemitério de sepultamento;
IX – Cidade e Estado do sepultamento;
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X – Certidão de Óbito;
XI – Familiar responsável pelo Falecido Nome – RG ( carteira de identidade ) –
Endereço – Bairro – Telefone para contato – CEP;
XII – Quadro para constar observações pertinentes à ocorrência;
XIII – Data da Emissão das Guias;
XIV – Assinaturas: do Familiar ou Responsável pelo Falecido – Agente Funerário –
do Emitente das Guias.
Parágrafo único. As Guias deverão ser numeradas, seqüencialmente, com cinco Vias,
assim destinadas:
I - GALSC - 1ª Via – Liberação do Corpo; 2ª Via – Translado para o Velório ou
Sepultamento; 3ª Via – Sepultamento e Arquivo do Cemitério; 4ª Via – Arquivo do Município
e 5ª Via – Para Familiar ou Responsável pelo Sepultamento do falecido.
II - GEMTC – 1ª Via Liberação do Corpo ou restos Mortais; 2ª Via – para a
Movimentação ou Translado no âmbito do Município, Estado ou País; 3ª Via – Para o
responsável pelo local para onde será transladado o corpo ou restos mortais; 4ª Via – Arquivo
do Município; 5ª Via – Arquivo do Cemitério onde foi realizada a exumação.
SEÇÃO IV
DAS SEPULTURAS
Art. 16. Os cadáveres serão sepultados em caixão e sepulturas individuais, com ou
sem revestimento.
Art. 17. As sepulturas deverão ter as seguintes dimensões:
I – No solo, para adultos – 1,00 metro de largura por 2,30 metros de comprimento,
com calçada ao redor, de 30 centímetros de largura;
II – No solo, para menores (entendem-se como menores as pessoas com idade até 12
anos) 90 centímetros de largura por 1,70 metro de comprimento, com calçada, ao redor, de 30
centímetros de largura;
III – Em formato Vertical ( Gavetas ) – 75 centímetros de largura – 55 centímetros de
altura e 2,60 metros de comprimento;
IV – Carneiras ou Túmulos – Na ocupação de um terreno de 1 metro por 2,30 metros,
poderão ser edificados 4 sepulturas para cima, em forma de gavetas, ou 4 sepulturas, para
baixo, no solo. Estas deverão respeitar, no mínimo, as seguintes dimensões: 75 centímetros de
largura – 60 centímetros de altura e 2,30 metros de comprimento. Ao redor das carneiras ou
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túmulos, independente do número de sepulturas, deverá haver calçada com 30 centímetros de
largura.
§ 1º. Para garantir a salubridade e controle ambiental da emissão de líquidos
resultantes da putrefação dos cadáveres, em todas as construções, nos Cemitérios, que tiverem
sepulturas ou gavetas sobrepostas, deverão possuir sistema de drenagem individual. Este
sistema consiste em cano de PVC ou similar, com 40 milímetros de diâmetro, que sai da
sepultura até uma caixa de drenagem com dimensões de 40 centímetros de comprimento, 40
centímetros de largura, 40 centímetros de profundidade, preenchida com brita.
§ 2º. Sempre que for possível, nos Cemitérios existentes e, obrigatoriamente, nos
projetos dos novos Cemitérios, o arruamento entre locais para sepultamento deverá ser de
2,00 metros de largura.
Art. 18. O autorizado ou seu representante é obrigado a manter a sepultura, jazigo ou
gaveta limpos e realizar as obras de conservação e reparação do que tiver construído e que, a
critério da Administração do Cemitério, forem necessárias para a estética, segurança e
salubridade destes locais.
Parágrafo único. O concessionário deverá, sempre, manter o(s) nome(s) das pessoas
sepultadas nas Gavetas, Jazigos, Sepulturas ou Monumentos Sepulcrais, para sua melhor
identificação.
Art. 19. Na falta, constante, de limpeza e reparação julgadas necessárias pela
Administração dos Cemitérios Municipais serão, as sepulturas, jazigos e outros monumentos
sepulcrais, consideradas em abandono ou ruína.
§ 1º Consideradas as sepulturas, jazigos ou outros monumentos sepulcrais em
abandono ou ruína, a Administração Municipal convocará os concessionários ou Parentes dos
Falecidos(as), através de Edital, publicado 3 vezes com interstício de 15 dias, exposto no
quadro de avisos da Prefeitura Municipal e amplamente divulgado nos meios de comunicação
locais, regionais e/ou estadual, para que estes procedam à regularizações necessárias dentro
do prazo de 180 (cento e oitenta) dias. Este procedimento será feito, pelo menos, a cada 3
(três) anos.
§ 2º Esgotado o prazo previsto no § 1º, as sepulturas, jazigos ou monumentos
sepulcrais serão abertos. Os restos mortais, identificados, serão removidos para o ossuário
universal e as construções demolidas, sendo, o terreno ou gaveta, declarado vago para
reocupação.
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§ 3º O Material retirado das sepulturas abertas para remoção ou translado, por
qualquer motivo, pertence à Prefeitura Municipal, não cabendo aos seus interessados direito
de reclamação.
SEÇÃO V
DAS EXUMAÇÕES
Art. 20 As exumações de pessoas inumadas em sepulturas, sem ou com revestimento,
não poderão ser feitas antes do prazo mínimo de 5 anos, em Cemitérios Públicos ou Privados.
§ 1º Em qualquer tipo de solicitação para exumação de cadáveres, esta deverá ser
acompanhada da Certidão de Óbito, da GEMTC - Guia de Exumação, Movimentação e
Translado de Corpos, e do recibo de pagamento das Taxas inerentes a este tipo de serviço.
§ 2º Em caso de determinação Policial ou Judicial, as exumações poderão ser feitas a
qualquer tempo, desde que sejam devidamente isoladas.
SEÇÃO VI
DAS CONSTRUÇÕES
Art. 21. Excetuando-se pequenos reparos, pinturas, colocação de lápides, pequenos
serviços de manutenção de sepulturas, túmulos, jazigos ou monumentos sepulcrais e
construção de até duas carneiras, nenhuma outra construção poderá ser feita ou iniciada, nos
Cemitérios e Necrópoles Municipais, sem que o Projeto tenha sido aprovado pela SMOP -
Secretaria Municipal de Obras Públicas.
§ 1º Os concessionários interessados na construção de Jazigo ou Monumentos
Sepulcrais serão responsáveis pela limpeza e desobstrução do local, após o término das obras,
não sendo permitido o acúmulo de material de construção ou outros nas vias principais de
acesso.
§ 2º Atendendo ao disposto no artigo dezessete, desta Lei, as construções devem ser
calçadas ao redor.
§ 3º Os Prestadores de Serviços, na área de Construção Civil, para realizarem obras
nos Cemitérios Municipais, deverão estar devidamente cadastrados pela Prefeitura Municipal
de Erechim.
Art. 22. A fim de que a limpeza geral dos Cemitérios Municipais, para as
comemorações do Dia dos Finados, não fique prejudicada, obras referentes a Projetos
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aprovados pela SMOP – Secretaria Municipal das Obras Públicas, só poderão ser iniciadas
com prazo bastante, de modo que possam estar concluídas, impreterivelmente, até a data de
20 de Outubro de cada ano.
Parágrafo único. Casos fortuitos ou imprevisíveis que possam acarretar ampliação do
prazo, previsto no caput deste artigo, serão resolvidos entre o Departamento de Engenharia da
SMOP – Secretaria Municipal das Obras Públicas, e a Administração dos Cemitérios e o
Cessionário responsável pelas obras em andamento.
Art. 23. É, terminantemente, proibido deixar nos Cemitérios Municipais depósito de
terra ou escombros originários de construções ou demolições, devendo os excedentes ser
removidos após a conclusão do serviço.
Parágrafo único. A condução de material destinado às construções deve ser feita em
recipientes que não permitam o derramamento ou perda destes pelas vias de circulação
principais e secundárias.
Art. 24. Os Empreiteiros de obras, tanto públicas quanto privadas executadas nos
Cemitérios Municipais, responderão por danos causado por seus empregados, ou por desvio
de objetos das sepulturas quando estiverem ali em trabalho.
Parágrafo Único. Às infrações ao disposto nesta Lei, cometidas por Autorizados,
Empresas Funerárias, Empreiteiros de Obras e Prestadores de Serviços, nos Cemitérios
Municipais, garantida a ampla defesa, aplicar-se-á multa de 100 URM por dia até a
regularização das infrações cometidas.
Art. 25. A Administração Pública poderá determinar a limpeza e conservação, às
expensas do Município, desde que haja recursos financeiros, dos túmulos, jazigos, mausoléus
e cinetáfios que guardem restos mortais daqueles que tenham prestado relevantes serviços ao
Município. O mesmo poderá ocorrer com os monumentos fúnebres de valor histórico, em
função de sua arquitetura e/ou beleza, devendo ser tombados como patrimônio histórico.
Art. 26. Os cemitérios existentes deverão ter, no mínimo, as seguintes dependências:
Portaria, sala para administração e atendimento ao público, pequena copa, vestiários e
sanitários para funcionários, sanitário público para ambos os sexos, local para acendimento de
velas, área externa para estacionamento de veículo com a capacidade mínima para 50 carros e
outros veículos.
§ 1º Na implantação de futuros cemitérios Municipais, além das dependências
elencadas no caput deste artigo, deverão ser previstos, opcionalmente, mais as seguintes
instalações: Câmaras mortuárias ardentes, sala-de-estar para familiares com sanitário, sala
para visitantes, gabinete para oficiante. 99700-000 Erechim – RS
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§ 2º Na medida em que forem executadas melhorias nos Cemitérios Municipais, serão
os mesmos adaptados às previsões do presente artigo.
SEÇÃO VII
DAS TAXAS DE SERVIÇOS CEMITERIAIS
Art. 27. As Taxas de Serviços de Cemitérios serão as seguintes:
I – Inumações em Sepulturas rasas;
II – Inumações em jazigos, túmulos ou gavetas;
III – Exumações de qualquer tipo;
IV – Construção de Carneiras;
V – Abertura de sepulturas, carneiras, jazigos e gavetas para nova inumação;
VI – Remoção, entrada ou retirada de ossadas;
VII – Aprovação de Projetos, permissão de construções ou execução de obras;
VIII – Concessão de uso de Gavetas;
IX – Concessão de uso de terrenos por metro quadrado;
X – Transferência de Direitos Perpetuais concedidos pelo Município até o ano de
1993;
XII – Recomposição de asfalto por m² (metro quadrado);
XIII – Abertura de vala com recomposição de asfalto por m² (metro quadrado);
XIV – Recomposição de calçamento por m² (metro quadrado).
Parágrafo único. Os valores das Taxas e Serviços são as fixadas pela Legislação em
vigor.
CAPÍTULO II
CONCESSÃO DE USO DE ESPAÇO FÍSICO
Art. 28. A ocupação das sepulturas e gavetas dos Cemitérios Municipais se dará
somente por Concessão de Uso pela Administração Municipal, de forma inalienável, não
caracterizando direito de propriedade, ficando vedada sua transferência ou comercialização
inter vivos.
Parágrafo Único – Poderá haver transferência causa mortis aos herdeiros ou
sucessores.
Art. 29 As concessões de uso de espaço físico serão de 5 (cinco) anos, renováveis
sucessivamente de 5 (cinco) em 5 (cinco) anos, mediante o pagamento de Taxas.
Parágrafo Único. A Administração Municipal estará autorizada, independente de
comunicação ao cessionário, a transladar os restos mortais ali sepultados para o ossário
75
universal, preservando os dados de identificação registrados no livro de Exumações, caso não
haja o recolhimento das Taxas de renovação de concessão de uso no prazo de 180 dias após
seu vencimento, com o esgotamento das formas de cobrança normais, extrajudiciais.
Art. 30. Os Alvarás concedidos pela Administração Municipal até o ano de 1993
continuarão a ter validade, desde que os cessionários dêem a devida conservação e
manutenção às sepulturas.
Parágrafo único. Em caso de abandono ou ruína, os túmulos, jazigos e outras formas
de sepulturas, serão submetidas ao previsto no artigo dezenove e seus parágrafos desta Lei.
Art. 31. A transferência dos Alvarás concedidos até o ano de1993, opera-se-á nas
seguintes condições:
I – Aos seus parentes mais próximos, segundo a ordem da vocação hereditária
estatuída na legislação civil;
II – A um de seus parentes, mediante desistência expressa dos demais com parentesco
de mesmo grau ou em grau mais próximo;
III – Poderá a concessão ser transferida àquele que para tanto haja sido designado por
disposição de última vontade do beneficiado pelo Alvará, expressa em testamento lavrado e
processado de forma regular;
IV – Nos casos supra serão mantidos as condições do Alvará;
V – Excepcionalmente, quando for o caso de construção ou aumento de Jazigos que
ocupem mais que um terreno próximo à sepultura ou jazigo existente, poderá ser transferido
para terceiros, independente de parentesco;
VI – A transferência prevista no Inciso quinto poderá ensejar ao beneficiado o
pagamento da construção existente. O Município fornecerá ao beneficiado a Cessão de Uso da
área, conforme o previsto no artigo 29, excluída a Taxa pelo uso nos 5 anos iniciais.
Art. 32. A Concessão de uso de gavetas destina-se unicamente para sepultamento de
pessoas, ficando vedada sua concessão com outra destinação.
Art. 33. Para emissão do Alvará de Concessão de uso deverá haver a informação das
Administrações dos Cemitérios da existência e disponibilidade de terrenos ou gavetas.
CAPÍTULO III
DA CREMAÇÃO DE CADÁVERES E INCINERAÇÃO DE RESTOS MORTAIS
Art. 34. O Município poderá autorizar os serviços de cremação e incineração de restos
mortais, bem como a instalação de equipamentos para tal fim, mediante projeto aprovado
pelos órgãos competentes.
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Art. 35. Será cremado o cadáver:
I – Daquele que, em vida, houver demonstrado este desejo, por instrumento público ou
particular, exigida, nesta última alternativa, a intervenção de duas testemunhas, com firmas
reconhecidas;
II – Se, ocorrida a morte natural, a família do morto assim o desejar e sempre que, em
vida,o falecido(a) não haja feito declaração em contrário por uma das duas formas a que se
refere o ítem I,deste artigo;
§ 1º Para os efeitos do constante do ítem II, deste artigo, considera-se família, atuando
sempre na falta do outro, e na ordem estabelecida, o cônjuge sobrevivente, os ascendentes, os
descendentes e os irmãos, estes e aqueles últimos se maiores.
§ 2º Em caso de morte violenta, a cremação, atendidas as condições estabelecidas
neste artigo, só poderá ser levada a efeito mediante prévio e expresso consentimento da
Autoridade Policial ou Judicial competentes.
Art. 36. Em caso de epidemia ou calamidade pública poderá ser determinada a
cremação, mediante pronunciamento das autoridades sanitárias.
Art. 37. Os restos mortais de pessoas sepultadas, após a regular exumação, poderão
ser incinerados, mediante o consentimento expresso da família do falecido(a), observado, para
este critério, o estatuído no Artigo trinta e cinco.
Art. 38. As cinzas resultantes da cremação de cadáveres ou incineração de restos
mortais serão recolhidas em urnas e estas guardadas em locais destinados para este fim,
provisoriamente, até serem entregues aos familiares.
Parágrafo único. Nas urnas constarão, obrigatoriamente, o número de classificação, os
dados relativos à identidade do falecido(a) e a(s) data(s) de falecimento, cremação ou da
incineração.
Art. 39. Os serviços de cremação e incineração, se executados diretamente pela
Administração Municipal, terão as taxas respectivas fixadas no Código Tributário Municipal.
TÍTULO III
SERVIÇOS FUNERÁRIOS
CAPÍTULO I
DISPOSIÇÕES PRELIMINARES
Art. 40. Serviços Funerários são os atos que se realizam com vistas ao sepultamento
digno dos mortos. É conjunto de atos e ações desenvolvidas por particular, pelo Poder Público
ou por agente seu que, através de autorização de serviço público, desenvolvem a atividade
para o sepultamento dos corpos.
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Art. 41. Os agentes funerários executam tarefas referentes à organização e realização
de funerais, providenciando os preparativos como limpeza, vestimenta do cadáver, adornos e
documentação para o translado e velório do corpo, assegurando a realização ordenada do
sepultamento ou cremação. Colhem dados e outras informações sobre a pessoa falecida,
providenciando a documentação necessária para o sepultamento, translado ou cremação.
Prestam assistência à família nos assuntos referentes à escolha das urnas, adornos, publicação
de avisos e escolha de cemitério e modalidade de sepultamento, providenciam o transporte até
o cemitério ou crematório. Podem realizar embalsamento-tanotopraxia, desde que
devidamente autorizados pela família e tomar as providências necessárias para a cremação.
Art. 42. Os agentes funerários deverão respeitar o princípio da autonomia da vontade
da parte contratante que são livres para disporem, como melhor lhe aprouver, ressalvadas as
questões legais de salubridade pública.
§ 1º Será garantida à família enlutada a livre escolha da empresa funerária, devendo,
entretanto, a empresa escolhida ser autorizada para prestar o atendimento quando a sede da
Empresa for localizada em outro Município.
§ 2º Para os efeitos desta Lei, entende-se por Empresa Funerária ou Agentes
Funerários, a pessoa jurídica de direito privado, autorizada a prestar tais serviços.
Art. 43. Fica criada a Comissão dos Serviços Funerários que será composta de
conformidade com Decreto a ser expedido pelo Município.
§ 1º A Comissão de Serviços Funerários reunir-se-á, ordinariamente, a cada 180 dias
por convocação escrita de seu Presidente.
§ 2º Extraordinariamente, a Comissão dos Serviços Funerários reunir-se-á por
solicitação da(s) Empresa(s) Funerária(s), mediante pedido por escrito, especificando a
matéria a ser tratada; a qualquer tempo, por determinação do Prefeito Municipal
§ 3º Aos membros da comissão não caberá remuneração de qualquer espécie, sendo
seu trabalho considerado relevante para o Município.
Art. 44. A Comissão dos Serviços Funerários será Órgão de Fiscalização Supletiva e
de Assessoramento, competindo-lhe, sem prejuízo de outras, as atribuições de:
I – Zelar pela regular aplicação desta Lei referente aos Serviços Funerários;
II – Receber denúncias relativas a prestações de serviços;
III – Acompanhar os preços da prestação de serviços funerários que visem atender
pessoas de baixa renda;
IV – Opinar sobre a autorização e funcionamento de novas Empresas Funerárias e
Instalação de novos cemitérios públicos ou privados;
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V – Opinar sobre preços de serviços funerários a serem estabelecidos por Decreto;
VI – Emitir, mensalmente, a Listagem de Plantão das Empresas Funerárias, que deverá
ser afixada nos Hospitais, Clínicas, Casas de Saúde e Cemitérios Públicos ou privados. A lista
poderá ser elaborada em consonância com a empresas e, se estas não acordarem, será sugerida
pela Comissão e expedida pelo Município.
CAPÍTULO II
DAS EMPRESAS PRESTADORAS DE SERVIÇOS FUNERÁRIOS
Art. 45. O serviço funerário poderá ser prestado por Empresas Privadas, mediante
autorização da Administração Pública, em forma de rodízio e que atendam aos seguintes
requisitos:
I – Empresa regularmente constituída para o fim específico;
II – Seu proprietário ou sócios não poderão participar em mais de uma empresa com a
mesma finalidade;
III – A Empresa, uma vez atendidas as disposições do Plano Diretor do Município, não
poderá localizar-se a menos de 300 metros dos Hospitais e a menos de 150 metros de Casas
de Saúde ou similares, onde podem ocorrer óbitos;
Parágrafo único. O pedido de autorização deverá ser instruído, sob pena de
indeferimento, dos seguintes documentos:
I – Contrato Social ou registro de Firma Individual, registrado e arquivado na Junta
Comercial do Estado do Rio Grande do Sul (certidão das alterações com validade até 30 dias);
II – Certidão negativa de débitos perante o Município;
III – Atestado de idoneidade financeira, fornecido por Instituição Bancária (validade
de 30 dias, da data de apresentação);
IV – Croqui das instalações;
V – Relação de veículos (modelo, marca, HP, ano de fabricação), com fotocópia do
documento de propriedade, acompanhado do Contrato de Locação, se for o caso.
VI – Comprovante de pagamento da taxa de licença (anual).
Art. 46. As Empresas Funerárias, para obterem a autorização para prestação de
serviços funerários, além dos requisitos e documentação exigidos no artigo anterior, deverão
atender à Legislação relativa ao meio ambiente, Código de Posturas, de Obras e o Plano
Diretor do Município, e fazer prova da disponibilidade dos seguintes bens de capital e áreas
físicas:
I – Capital inicial mínimo de R$ 10.000 ( dez mil) URMs;
79
II – Instalações Físicas mínimas, assim distribuídas:
a) Escritório para atendimento de clientes;
b) Sala para mostruários de urnas e objetos funerários sem vistas ao público;
c) Almoxarifado;
d) Sala para preparo de cadáveres, com no mínimo 09 metros quadrados;
e) Quarto para Plantão;
f) Sanitários para uso de Clientes.
III – No mínimo, dois veículos adequados e devidamente adaptados, com isolamento
entre o local da urna e a parte do motorista e passageiro; em material impermeável para
facilitar a higienização após o uso, sendo um destes com no máximo de 10 anos de uso, para o
transporte digno de pessoas falecidas.
IV – Material para a montagem de, no mínimo, 2 câmaras ardentes;
V – Um telefone comercial em nome da empresa;
VI - Equipamentos e mobiliário de escritório;
VII – Estoque mínimo de 30 urnas funerárias para adultos, com nota fiscal em nome
da empresa.
Parágrafo único. As Empresas Funerárias, já autorizadas para prestar os serviços, terão
prazo de 18 (dezoito) meses para se adequarem às condições propostas neste artigo.
Art. 47. Em suas atividades deverá, a Autorizada, atender às seguintes disposições:
I – Praticar para o sepultamento os preços a serem estabelecidos pela Administração
Pública;
II – Os preços do sepultamento serão estabelecidos em 03 (três) níveis, mediante a
edição de Decreto, os quais poderão sofrer adequação, de acordo com o situação econômica
do país;
III – A Autorizada não poderá expor urnas e artigos funerários em local visível ao
público;
IV – A Autorizada não poderá manter plantões em Hospitais, Casas de Saúde ou
similares;
Art. 48. O descumprimento do disposto no artigo quarenta e sete ensejará as seguintes
penalidades:
a) advertência;
b) multa;
c) suspensão do exercício das atividades pelo prazo de 60 dias, duplicado em caso de
reincidência;
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d) cassação da permissão e alvará em caso de terceira infração;
§ 1º As penalidades serão aplicadas, mediante Processo Administrativo, assegurada a
ampla defesa;
§ 2º A defesa deverá ser feita mediante petição dirigida à Comissão de Serviços
Funerários, no prazo de 10 dias contados da notificação;
§ 3º Da decisão do Secretário Municipal, caberá recurso ao Prefeito Municipal, no
prazo de 10 dias contados da sua intimação;
§ 4º Uma vez advertido e permanecendo a Autorizada na prática do ato, incidirá a
pena de multa no valor de 500 URMs, que deverão ser recolhidas aos Cofres Municipais no
prazo máximo de 60 (sessenta) dias a contar da ciência da notificação ou do indeferimento do
recurso;
§ 5º A pena de suspensão será aplicada em caso de reincidência nas penas de
advertência e multa, no período de 3 (três) anos;
§ 6º A pena de cassação da autorização e alvará de localização será aplicada em caso
de:
a) reincidência na pena de suspensão, no período de 3 (três) anos;
b) interrupção do serviço por mais de 72 horas, salvo motivo de força maior,
devidamente comprovado e autorizado pela Secretaria competente;
c) falência ou dissolução da Empresa;
d) cobrança fora da tabela de preços fixados;
e) fraude ou irregularidades cometidas pela Empresa, de qualquer natureza,
devidamente comprovada em Sindicância administrativa, determinada pelo Chefe do
Executivo Municipal.
Art. 49. São considerados partes integrantes dos serviços funerários prestados pelas
Empresas Funerárias as seguintes atividades:
I – Confecção e Comercialização de urnas funerárias;
II – Transporte, adequado, do corpo do local onde se encontra ao local onde será
sepultado;
III – Organização de velórios;
IV – Limpeza, preparo e vestimenta, embalsamento-tanotopraxia e translado;
V – Aluguel de câmaras ardentes;
VI – Comercialização de flores, arranjos e vestimentos necessários ao velório;
VII – Administração de Capelas Velatórias Públicas e Privadas assim como cemitério
público e privado;
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VIII – Encaminhamento e acompanhamento dos familiares ao Cartório de Registro
Civil para Obtenção da Certidão de Óbito;
IX – Assessoramento aos familiares para os trâmites e documentações para o
sepultamento;
X – Manter plantão de 24 horas, diariamente, para atendimento ao público e realização
de Pompas Fúnebres, seguindo plantões estabelecidos;
XI – Ter, nos seus quadros de funcionários, qualificados em conformidade com o
CBO (Classificação Brasileira de Ocupações), no mínimo, um funcionário com Curso de
Tanatopraxia, realizado em Entidade legalmente reconhecida para fornecimento deste tipo de
Curso.
Art. 50. Os serviços e as urnas funerárias terão tipos, padrões e preços aprovados pela
Administração Municipal, obrigatório para todas as empresas funerárias, e são as seguintes:
I – Padrão I – Simples – Caixão alça dura, sem visor, uma coroa, véu, velas e
transporte;
II –Padrão II –Especial - Caixão alça dura, com visor simples, uma coroa, véu, velas e
Transporte;
III – Padrão III – Especial Extra- Caixão com alça móvel, coroa, manto, véu, velas,
preparo para o velório e transporte.
Parágrafo único. Os preços serão fixados pelo Executivo Municipal, ouvida a
Comissão de Serviços Funerários, analisando proposição das Autorizadas. Os preços serão o
máximo a ser cobrado para os padrões supra, excluindo-se do controle serviços escolhidos.
Art. 51. O fornecimento de serviços funerários para indigentes ou pessoas carentes
será prestado ao Município de Erechim pela empresa vencedora do processo
licitatório.
Art. 52. É vedado às Empresas Funerárias:
I – Efetuar, acobertar ou remunerar o agenciamento de funerais e de cadáveres, não se
restringindo ao município de Erechim;
II – Ficam proibidos os atos de contratação, quaisquer que sejam suas extensões,
devendo tais procedimentos terem curso nas Empresas, e por livre escolha dos interessados
nos Serviços, vedados agenciamentos.
Art. 53. Serão mantidas as autorizações expedidas para as empresas que hoje prestam
os serviços, devendo as mesmas adequarem-se no prazo previsto.
Art. 54. As empresas hoje autorizadas não poderão ter sede em endereços idênticos,
devendo cada uma ter suas respectivas instalações, de conformidade à presente Lei.
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Parágrafo único. As empresas que não cumprirem o artigo supra, no prazo de 90 dias,
a partir da regulamentação da presente Lei, comportará a cassação da autorização da empresa
que mais recentemente a obteve.
TÍTULO IV
DOS ESTABELECIMENTOS HOSPITALARES
Art. 55. É obrigação dos estabelecimentos hospitalares e casas de saúde:
I – Designar membros de seu serviço social para orientação aos familiares ou pessoas
de suas relações, sobre os procedimentos posteriores à entrega da Declaração de Òbito por
parte do médico designado;
II – Somente poderá ser liberado o cadáver à família, para proceder a retirada do local
por parte da empresa funerária, após a entrega da Declaração de Óbito pelo médico;
III - Afixarem em local apropriado, no interiro dos hospitais, quadro padrão, com o
nome, endereço e telefone das empresas devidamente habilitadas junto ao órgão designado
pelo poder executivo a realizar os atendimentos funerários no município de Erechim e
inscrição proibindo a ação de intermediários entre funerárias e familiares de pessoas falecidas
e procedimentos necessários para obtenção de certidão de óbito;
TÍTULO V
DISPOSIÇÕES FINAIS E TRANSITÓRIAS
Art. 56. Ficam revogadas as Leis nº 177, de 09 de Setembro de 1977, e nº 2.747, de 28
de Dezembro de 1995.
Art. 57. Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogando-se demais
disposições em contrário.
Prefeitura Municipal de Erechim/RS, 12 de Julho de 2006.