Emma Green

CEM FACETAS DO SR.DIAMONDS

Volume 5: Radiante

1. O gelo e o fogo

"É ela ou eu?" Do que ela estáfalando? E o que está fazendo?!

Reconheço imediatamente a voz umpouco nasalada e irritante de Eva. Masdesta vez, ela está marcada por umaemoção que eu não lhe conhecia e queprovoca calafrios em minha espinha. Oque foi que me deu de dizer a Gabrielpara contratar esta moça? Depois de noscantar a ambos, ela não deve terapreciado ser mandada embora. E agoranos persegue em plena noite, em uma

praia deserta?

Desde o começo, eu não a sentia...

Apenas alguns segundos depois desteorgasmo iodado que me deixou aimpressão de naufragar em uma onda deprazer, eu ainda não havia voltado amim. Não é senão ao cruzar com o olharem pânico de Gabriel que percebo quealguma coisa não vai bem. Tenhovontade de virar a cabeça paradescobrir aquilo que vou ter deenfrentar, mas o medo me impede. Acrer na expressão de meu amante, Evanão veio nos fazer uma visita decortesia. Esta hipótese se confirma nomomento em que a assistente retoma a

palavra colando algo de encontro aminha têmpora. É frio. Duro. De metal.

Piedade, faça com que não seja oque eu estou pensando...

- Levantem-se lentamente. Nada degesto heroico ou eu atiro!

Merda...

Interrogo Gabriel com o olhar, ele meencoraja a obedecer. Nunca o vi assim,parece realmente assustado. Mais pormim que por ele, tenho certeza disso.Apoiando-me nas mãos colocadas naareia de um lado e de outro de seu corpotenso, começo a me levantar. Depressa

demais para o gosto de nossa agressora,que pressiona a arma com mais forçacontra minha têmpora.

- Eu disse lentamente, entendeu ouquer que eu desenhe?

Sou presa de violentos tremores, todoo meu corpo está imobilizado, sinto frioe sei que a qualquer momento estahistérica pode explodir meus miolos.Meu vestido branco está ensopado edeixa entrever a ponta de meus seios.Com um gesto de pudor, muitoinapropriado dada a situação, tentoescondê-los cruzando os braços.Também então Eva me repreende e grita.

- Os braços ao longo do corpo! Nãome provoque demais, Amandine, issopoderia degenerar facilmente...

É a vez de Gabriel se colocarnovamente de pé. Não sei como, mas eleconseguiu se vestir e reencontrar toda asua dignidade. Eu o vejo erguer-se, emcâmara lenta. Sinto uma repentina pontade calor se espalhando pelas minhascostas.

É preciso crer que desejo e terrorfazem uma boa mistura...

A voz grave e estoica do milionáriofaz sumir minha vozinha interior.

- Eva, o que é que você está fazendo?

- Quero negociar os termos de minhademissão. Acho que mereço umarecompensa.

- Diga-me o seu preço, posso mandartransferir a soma para você esta noite.

- Você e seu dinheiro... Não é issoque quero! Você é cego ou o que? Évocê que eu desejo, desde o começo! Hátrês anos, me ofereci a você, mas vocême rejeitou como um zero à esquerda.Não se lembra disso, não é? Com todasessas idiotas o rondandopermanentemente, isso não me espanta...Mas eu, eu não esqueci de nada e hoje

sou eu quem decide!

Quanto mais ela se enerva, mais orevólver afunda em minha pele. Dou-meconta de que Eva não passa de umaenésima vítima de Gabriel, de seucharme, de sua irresistível aura. Umavítima que, por força de rejeições ehumilhações, acabou por perder asestribeiras. Diamonds é uma criaturaúnica em seu gênero, um homem ardentee, por força de se aproximar demais,algumas se dão mal...

Este certamente será meu caso...

Se eu morrer hoje, será por causadele.

- Eu me lembro muito bem dasenhorita, Eva. Se não sucumbi a seusencantos, é que na época eu não erasolteiro. Sou homem de uma mulher só,quando esta merece toda a minhaatenção. Quando tem suficientes carátere ambição. Uma mulher como asenhorita.

Ela está blefando, não vai atirar,vai?!...

- O senhor me toma por uma idiota,Gabriel. Eu os observei a ambos, vi bemque entre os senhores não era somentesexual. Quero que ela vá embora, quedesapareça, e se for preciso eu mesma

me encarrego...

Faça alguma coisa, Gabrieeel!

- A senhorita Baumman não é nadapara mim. Apenas uma distração.Acredite, Eva, eu ficaria feliz de mandá-la a Paris imediatamente. E de dar àsenhorita toda a minha atenção…

– Conheço de cor esse gênero demoças. Porque são belas e inocentes,sempre conseguem seu objetivo.Impossível livrar-se delas, por força dechoramingar, elas acabam por convencê-lo a voltar para elas.

– Não é uma moça como ela que eudesejo, o que preciso é de uma mulher,

uma de verdade. Uma mulher como asenhorita, Eva.

– Prove-o! É eliminando-a quesaberei se o senhor tem afeto por ela ounão… Não tenho outra escolha, ela devemorrer.

O QUÊ?!

Embora ela não me tenha dirigido umsó olhar durante toda a conversa, sintoos olhos de Eva se voltarem em minhadireção. Mais precisamente para minhatêmpora. Sua respiração se faz maisforte, sinto seu corpo tensionar, o metalganha terreno. No momento em quefecho os olhos temendo a detonação,ouço o grito de Gabriel, tão forte, tão

intenso, tão desesperado.

Nada de tiro. De repente, mais nadasobre a minha têmpora. Desabo nosbraços de Gabriel, que se jogou em cimade mim, sem entender o que acaba de sepassar. Meus olhos pousam em umaforma inerte, deitada no chão.Reconheço os cabelos ruivos daassistente. E depois ouço uma vozfeminina, bela, grave, intimidante.

– Uma a menos!

Lá está Celeste, a um metro de nós,uma garrafa de champanhe na mão,enfim… o que resta dela. Meu espíritocompletamente confuso reconstitui o

quebra-cabeça: a irmã de Gabriel acabade abater Eva por trás e, ao mesmotempo, de me salvar a vida! Meu amantee eu estamos sem palavras, sem fôlego.Ele me aperta com tanta força que malconsigo respirar.

– Amandine, droga, quase perdivocê…

– E eu, eu não existo? Sem minhaintervenção, sua protegidinha não estariamais entre nós… Mereço um pouco degratidão, não?Esta mulher incrivelmente bela nuncadeixa de ter uma resposta rápida, mesmonas piores situações. Ela quase assistiua meu assassinato e acha um meio de nosdirigir um sorriso triunfal.

Deve ser de família…

Gabriel acaba por se afastar de mime toma a irmã nos braços.

– Obrigada, pestinha, você acaba denos salvar a ambos.

– Sim, obrigada, Celeste. Se asenhora não tivesse chegado a tempo…

Ela não me deixa acabar a frase e mepõe de novo em meu lugarimediatamente.

– De nada, Amandine. A senhoritadeveria se cobrir ou vossa anatomialogo não terá mais segredo para mim…

Simpático .

Eva continua no chão, inconsciente.Celeste não a errou e eu lhe souimensamente grata! Enquanto o irmão e airmã chamam a polícia e os bombeiros,tento lutar contra os soluços que mesobem à garganta. Estou me dando contade que quase morri. Não apenas estehomem me deixa louca, de desejo, deincerteza, mas também, sem querer,coloca minha vida em perigo.

Talvez eu devesse fugir, agora,imediatamente, e nunca voltar…

Sua voz lassa e fatigada me arranca ameu devaneio. Ainda com o peito nu,

sublime, ele me estende a mão, seu olharelétrico plantado no meu.

– Venha, Amandine, voltemos.

Durante um instante, hesito em segui-lo. Estou completamente perdida, nãodistingo mais o verdadeiro do falso, obem do mal. Finalmente, ele pega aminha mão e sem me deixar escolha, meleva com ele. O caminho de volta até oluxuoso palacete parece durar umaeternidade, só tenho vontade de umacoisa: que me esqueçam, que me deixemsozinha, em paz. Mas Gabriel não temnenhuma intenção de me oferecer essemomento de solidão. Mal coloco o péem meu quarto, as comportas se abrem,

se derramam. Choro todas as lágrimasde meu corpo, ainda estou grogue comesta cena terrível e não consigo mais mecontrolar. Como bom cavalheiro que é(quando quer), Gabriel me aprisiona emseus braços e tenta acalmar esta ondaque me submerge. Mas não quero queele me toque e menos ainda que meconsole! Saio violentamente de seucorpo, para que, enfim, ele me largue.

– Deixe-me, não preciso de você.Leio em seu rosto que esta frase o feriu.Ele não esperava por isso.

Tanto melhor.

– Você me odeia e tem todo o direito.

Sua voz é doce… doce demais. Elecaminha de novo em minha direção, maseu o evito.

– Isso é um pedido de desculpas?– Não sei, mas pare de fugir de mim,

isso me deixa louco e você sabe disso.– Há muito que eu deveria ter fugido

de você, Gabriel. Se houvesse escutadomeu instinto mais do que meu desejo,não teria estado a dois passos da morte.

Acabo de acertá-lo em cheio nocoração. Seu rosto se contorce sob oefeito de milhares de emoções. Culpa,tristeza. Raiva, sobretudo. De repente,ele está de frente para mim, pega meurosto com uma mão e, com a outra,

prende meus braços em minhas costas.Tento me soltar, resmungo, mas eleresiste.

– Você é minha, ouviu? E vou matarquem fizer mal a você! Com minhaspróprias mãos…

Suas ameaças fazem eu me calar, nãoouso responder nada, e, de qualquermaneira, ele não me dá chance. Seuslábios ávidos vêm se colocar contra osmeus e a esse mero contato, meu corpose irradia, fica em brasa. Dentro de meuvestido ensopado, morro de frio e decalor ao mesmo tempo. Meus punhoscontinuam prisioneiros de suas mãos deferro, não consigo escapar de seu

domínio que me é insuportável, meexalta, me excita. Com um movimentoseco e brutal, ele me vira de frente paraa parede. Enquanto se cola contraminhas costas e tiraniza minha nuca comseus lábios e dentes, meus mamiloseretos se esfregam de encontro aoreboco. Esta sensação é dolorosa,deliciosa, tenho a respiraçãoentrecortada.

Sem se dar ao trabalho de desabotoarmeu vestido, ele me despe em um élanbestial. Ouço o tecido se rasgar e antesque consiga protestar, ele me ergue dochão e me leva à sala de banhos. Apesarde seu ardor, ele me colocadelicadamente debaixo do jato da

imensa ducha à italiana e abre a água.Ela está glacial, grito sob a tortura, masrapidamente sua boca vem abafar meusgritos. Sua língua brinca com a minha, seimiscui por toda parte, acariciando ointerior de minha boca. Depois, eledesabotoa sua calça de linho e emalguns segundos, encontra-se nu a minhafrente e não posso me impedir dedesejar esse sexo ereto e monumental,de querê-lo no mais profundo de mim.Enquanto ele se põe de joelhos emergulha o rosto em meu baixo-ventrepara devorar minha intimidade, a águafica morna. Eu me arqueio para ir aoencontro de suas carícias divinas equando tento deslizar minha mão emseus cabelos dourados, ele a intercepta e

a cola contra a parede de seixos.

O senhor tirano está de voltanovamente!

Muito rapidamente, perco totalmenteo chão. O cômodo parece girar a minhavolta, não sei mais onde estou, nemcomo cheguei ali. Suplico que ele vámais fundo, com mais força, gemo,arquejo, meu clitóris está em fogo, estoua dois passos de gozar. Quando sentemeu orgasmo iminente, meu amanteinfernal se ergue, me levanta do chãocolocando minhas coxas em volta de suacintura e me empala rosnandoligeiramente. Ele desliza dentro de mim,primeiro suavemente. Agora a água está

fervendo e escorre sobre os nossoscorpos imbricados como se nãofizessem mais que um. Seu rosto vem secolocar juntinho ao meu e ele mesussurra palavras que me fazem perder acabeça. "Você é tão bonita", "Nuncamais resista a mim", "Quero fazer vocêgozar, mais e mais"…

Seus desejos são uma ordem…

Ele acelera progressivamente o ritmoe, em minhas profundezas, sua virilidadeparece se desenvolver a cada ofensiva.Seus movimentos de vai-e-vem me dãovertigem e me fazem alcançar um prazersem precedentes. Ao mesmo tempo emque me penetra, seus dentes vêm se

plantar deliciosamente na curva de meusombros, enquanto suas mãos percorremmeus seios, avaliando-os como se osdescobrisse pela primeira vez. Quandoataca os meus mamilos, esta doceperseguição me arranca um gemidobestial que desencadeia nosso gozo. Oorgasmo nos assalta ao mesmo tempo,longo, quente, palpitante, espantoso.Sem fôlego, Gabriel e eu permanecemosnesta posição durante longos segundos,antes de ele me dar um beijo terno noslábios e colocar os meus pés no chão.

– Prefiro assim, Amande... Vamosdormir.

Ainda embrutecida por todos os

acontecimentos da noite, eu o deixo melevar para a cama. Me afundo nocolchão macio e me envolvo noslençóis, contra o corpo ainda ardente demeu amante. Tenho muita vontade defalar com ele, de lhe explicar porqueessas palavras tão duras me escaparam,mas o sono me ganha imediatamente.

Quando saio de meu semi-comareparador, a manhã já vai alta. Ouçovozes ao longe, entre as quais a deGabriel. Hesito entre flanar na cama ouir ver o que está se passando efinalmente, minha curiosidade vence.Prendo os cabelos, enfio minha camisolacinza, um colete branco e pequenassandálias. Ao sair do quarto, descubro

que la misteriosa conversa acontece naoutra extremidade do corredor. Vou atélá discretamente, depois de haververificado que não havia ninguém nasproximidades. Quando chego à porta emquestão, ouço meu nome…

– Você acha realmente que Amandineé feita para você? Você está seludibriando, Gabriel!Celeste. Sempre ela…

Ela a salvou, lembre-se. Conceda-lhe ao menos o benefício da dúvida!

Sim, bem…

– Ela me faz bem.

Bem? O que quer dizer bem? Bemcomo?

– Se for uma aventurazinha sem futuroou mesmo um rolo, tudo bem. Se formais, você é um cretino.

Perdão? Um rolo?!

– Agora você me dá lição? Isso não éda sua conta, em absoluto!

– Sim, é claro que isso é da minhaconta. Isso tudo é doentio, e indigno devocê.

– Pare antes que eu me enerve. Sei oque vai dizer, não chegue até aí,Celeste…

– Você não deve esquecê-la. Nem

substituí-la… Você prometeu.

Mas de quem é que ela estáfalando?!

– Parabéns, você tocou na ferida.Satisfeita?

– Sabe que eu só quero o seu bem,Gabriel, sou sua irmã…

– Sim, minha irmã. E eu peço que selimite a esse papel. Você não é nemminha mãe, nem minha psicóloga.

– Mas…– Nada de mas! Não acha que os

últimos dias foram bastante difíceis?Pare com os grandes discursos, deixe-me em paz, Celeste.

A conversa chegou ao fim. Saio dalisem fazer barulho e volto ao meu quarto.Ou melhor, nosso quarto.

Nosso quarto. Hum, esta ideia meagrada…

Devagar, Amandine. E quem é estamulher de quem Celeste falava?

Quando Gabriel se junta a mim, estoude novo na cama, completamente nua.Estou de humor para afetos, não queropensar em nada, nem na cenatraumatizante da praia nem nestaconversa estranha. Quando ele percebeque estou completamente nua, esboça umsorriso malicioso. Vem pousar um beijo

fresco em meus lábios, seu hálito cheiraa menta. Isso excita minha imaginação,mas ele está longe. Quando me propõedescer para o café-da-manhã, façobeicinho. Seu duelo matinal com a irmãprovavelmente ainda corre em seuespírito… De passagem, ele me anunciaque Eva foi internada em um hospitalpsiquiátrico e que não está maisautorizada a sair dos Estados Unidos.

No avião que me leva de volta aParis, ainda tenho dificuldades de tornara pensar nisso tudo. Estouconfortavelmente instalada na primeiraclasse: desta vez, não recusei estepresente por parte de meu belo eriquíssimo amante. Duas horas mais

tarde, Gabriel me deixou no aeroporto eme apertou contra ele ternamente, antesde voltar ao volante de seu 4x4 BMW.

Tudo bem, ele também não disse "eute amo"!

Separar-me dele está cada vez maisdifícil, mas tenho pressa em voltar paraminha vidinha pacata (onde as armas defogo não têm espaço) e rever Marion,Camille e Émilie. Ao procurar os fonesde ouvido de meu iPod na bolsa, doucom uma pequena folha em branco,dobrada em dois. Sorrio de orelha aorelha: suspeito que Gabriel tenha mefeita uma surpresa... A mensagem diz:ele nunca será seu, não se iluda.

2. Sonhos e desilusões

Lá está Marion, no meio da multidão,no momento em que desço do avião.Não quero lhe esconder nada, espero lhecontar tudo nos mínimos detalhes. Comexceção de meus embates, a madamebanca a puritana quando se trata deGabriel. No entanto, se minhaslembranças estiverem corretas, eramesmo ela que me interrogava semcessar sobre minha vida sexual quandoeu saía com Ben… No táxi que nos levaao décimo segundo distrito, a conversafaz pensar no cenário de um filme trash.

– Uma arma de fogo na cabeça?! Estáfalando sério?

– Sim. E se não fossem a irmã deGabriel, você estaria a caminho parameu enterro.

– Francamente, reaja! Este cara fazmal à saúde!

Ora, ora, já ouvi isso…

– Largue-o, Amandine, isso tudo vaiacabar mal.

O que ela resmunga me irritaprofundamente, Marion é umaverdadeira drama queen, mas parecesinceramente preocupada, portanto

guardo para mim minhas reflexõesdesagradáveis.

Em todo caso por ora…

– E esse bilhete, então? Quem oescreveu em sua opinião?

– Só vejo uma possibilidade: Eva.Ela deve tê-lo enfiado em minha bolsade mão antes de seu ataque de loucurana praia.

– Sim, é possível. E está certa de queesta tarada não vai escapar do hospitalpsiquiátrico? Eu quero você viva!

– Gabriel contratou homens paravigiá-la. De qualquer maneira, ela vaipermanecer no hospício durante váriosmeses, quanto a isso estou tranquila.

Foi há nove dias. Desde então,Marion repete as palavras "Eva", "armade fogo" e "esqueça-o". Em certosmomentos, sinto uma comichão nosdedos. Como uma vontade de lhearrancar a língua ou de lhe costurar oslábios… Não sou violenta, nunca fui,mas minha melhor amiga sabe meexasperar como ninguém. E seucomportamento não me ajuda emabsoluto a pensar em outra coisa alémdeste homem que me obseda. Ele mepersegue, por mais que eu faça nãoconsigo tirá-lo da cabeça.

Preciso de uma lobotomia!

A monotonia parisiense me deprime.

Faz nove dias que voltei de Los Angelese que sinto falta dele, de seus braços, deseus olhos, de sua voz, que fazem eu meemocionar. Nove dias que aterrissei nosolo francês, mas que uma parte de mimficou lá. Depois de ter visto a morte detão perto, eu não estava, contudo, tristepor reencontrar meu mundo pacífico etranquilizador, meus amigos normais,meu estágio um pouco tedioso masreconfortante. Eu pensava ter vários diasde trégua, mas ao cabo de 24 heures, jánão podia mais ficar longe dele. Nemum telefonema, nem um e-mail, nem umacarta… nada. Devo crer que ele já meesqueceu. "Amandine, virei a página, apróxima!" É preciso dizer que a ele nãofaltam pretendentes dispostas a tudo por

seus belos olhos azuis. Tanta beleza,carisma, perfeição reunidos em um sóhomem, é revoltante!

Eu o detesto!

Eu o adoro…

Várias vezes, tive de me controlarcomo nunca para me impedir de lheenviar uma mensagem. Não quero dar oprimeiro passo, passar por alguém fraca,desesperada. Seu silêncio me deixalouca, longe dele meu espírito sedispersa, se embaralha, meu corpofervilha, se consome em fogo brando.Para não pensar no assunto, tento meconcentrar no último dossiê que me

confiou Éric. Supõe-se que devoestabelecer o top 10 dos vinhospreferidos dos franceses, que aparecerána próxima newsletter. As grandessafras fascinam, fazem viajar, sonhar,mas não conseguem disfarçar estainquietação que me corrói. Acho queestá na hora de eu parar de me iludir:não sou nada para ele. Uma entre tantasoutras…

Perdida em meus pensamentos, nãonoto de imediato que a minha caixa de e-mail indica uma mensagem não lida. É avoz exasperada de Émilie, plantada emfrente a minha mesa, que me traz devolta à realidade.

– Amandine, o que diabos estáfazendo? É a terceira vez que peço avocê que me encaminhe o último e-maildo chefe. É urgente!

"Por favor, minha colega querida",é pedir demais?…

Ela realmente parece irritada, não édo feitio dela gritar comigo…

– Sinto muito, vou fazer issoimediatamente.

Ela dirige a mim um pequeno gestocom a cabeça, gira nos calcanhares e sai, tão depressa quanto chegou.

Está na hora de tirar férias,senhorita Marechal!

Ao abrir minha caixa de e-mail,descubro haver recebido uma mensagemde um remetente desconhecido. Refreioa curiosidade e envio esse maldito e-mail a Émilie, antes que ela volte agritar comigo. Uma vez cumprida estamissão, clico na misteriosa mensagem.

De: AnônimoPara: Amandine BaumannAssunto: … Tic-tac, Tic-tac, seu tempo estácontado.

Eva ataca novamente. Só pode serela! Mesmo a milhares de quilômetros eamarrada em uma camisa de força, estalouca furiosa consegue me dar medo. Eunão deveria entrar no seu jogo, isso lhedaria demasiado prazer, mas é maisforte que eu.

Meu tempo está contado? O que issoquer dizer? Ela quer novamente memeter uma bala na cabeça?

Depois de um dia cansativo física emoralmente, é com imenso prazer quevolto a encontrar meu velho canapé.Esta noite, meu programa é o reflexo demeu moral: medíocre. Uma chuveirada,

um reality show fraco mas divertido,uma pizza descongelada cozida demais esem gosto e cama. Não tenho hábito dedormir às 10h00 da noite, mas tenhopressa em que este maldito dia termine.Adormeço rapidamente, esgotada pormeu imenso abatimento. Mais uma vez,ele está presente em meus sonhos,dominante, ardente, tórrido.Evanescente. À meia-noite e meia, souacordada pelo bipe do celular.

Marion ou Camille, sempre.Deixem-me dormir!

A contragosto, pego meu iPhone eabro meus SMS. Surpresa…

[Estarei em Paris no sábado. Passopara pegá-la ao meio-dia.]

É mesmo ele, nenhuma dúvida,reconheço sua eloquência lendária…Vou revê-lo. Em dois dias, eu o terei sópara mim. Meu coração acelera, meuestômago revolve, meu baixo-ventrepalpita.

[Senti saudade, senhor Diamonds.Achei que o senhor tinha me esquecido.]

[Sua imaginação está pregando umapeça, Amande doce.]

[O senhor me abandonou por tempodemais. Em nove dias, nós nos tornamosestranhos.]

[Estranhos? A senhorita não poderia

estar mais longe da verdade…][Sei tão pouco sobre você,

Gabriel…][Não gosto de falar de mim, mas

exijo saber mais a seu respeito.][Depende sobre o que…][Você já conhece meu irmão e minha

irmã, está em vantagem. Apresente-me aum dos seus. Sábado.]

[Está brincando? Não sabe ao quevocê se expõe…]

[Estou falando muito sério.][Não posso prometer nada. Dois dias

para organizar tudo é muito pouco.][Boa noite, minha Amande. Não me

decepcione. Conto com você.]

Ele tem a arte de me colocar sob

pressão…

E de me deixar insone!

Camille está disposta, não pretendoapresentar-lhe a meu irmãozinho, querodeixá-lo fora disso. O encontro será nolago Daumesnil para um piquenique deprimavera. Estou uma pilha de nervos.Não tenho certeza se meu amantemultimilionário e minha irmã comtranstorno de personalidade. Isso dito,ao menos suas múltiplas facetas e suaspersonalidades lunáticas são um pontoem comum!

A gente se tranquiliza como pode…

Avisei a minha irmã: proibido fazerrevelações humilhantes, falar de minhafase hippie, contar minhas loucuras deadolescente ou minhas histórias caóticascom meus ex-namoradinhos. Eu aconheço, ela dificilmente vai segurar alíngua, mas me prometeu fazer umesforço. Vindo dela, já é muito!Felizmente, meu sobrinho Oscar estarápresente e sua adorável figura deverádescontrair o ambiente…

Quando ele toca o interfone ao meio-dia em ponto, estou acabando de mearrumar. Estamos quase em abril, mas otempo está fresco. Abandonei a ideia decolocar um vestido primaveril e opteipor um vestido de mangas de cor cinza,

um casaco cintado, meias cor de carne ebotinas de veludo com salto. Poucamaquiagem, um bracelete de mármoreque herdei de minha avó paterna, umrabo-de-cavalo alto e estou pronta.Desço rapidamente os degraus daescada para ir ao seu encontro. Lá estáele, de jeans cru e casaco de couro,encostado ao carro, sublime, magistral,hipnotizador. Faço uma pausa,estupefata com a força que dele emana,depois me jogo em cima dele para meaninhar em seus braços. Ele ri comvontade, percebendo minha emoção, eme beija fogosamente. Sentindo sualíngua acariciar a minha, percototalmente o controle. Ele acaba por meafastar, tão perturbado quanto eu por

esse beijo.

– Cada coisa a seu tempo, gulosinha.Não pretendo fazer sua irmã esperar.

– Que pena…

Ele me lança um olhar divertido, emseguida me faz um gesto para que euentre no Mercedes cinza. Obedeço. Ali,ele se inclina em minha direção, me fixacom seus olhos ameaçadores, aproximao rosto do meu como se fosse me beijar,morde o lábio pertinho dos meus equando mergulho para obter esse beijotão desejado, ele escapa para pegar ocinto de segurança e afivelá-lo. Muitoorgulhoso de si, ele saboreia o olharsombrio que lhe lanço e finge se

explicar.

– A segurança antes de tudo,Amande…

Provocador…

Lá está Camille, sentada em cima deuma manta quadriculada, Oscar está emseus joelhos. Vendo-nos chegar, ela selevanta e caminha em nossa direção,toda sorrisos. Noto que seu olharrepousa em Gabriel e daí não sedesprende mais. Impressionada pelabeleza de meu amante, ela sedescontrola no instante de cumprimentá-lo. A cena é quase cômica. O milionáriolhe diz bom dia educadamente, ela

gagueja algumas palavras confusas e seufilho reclama imediatamente meusbraços. Quando Gabriel acariciaternamente a bochecha do garotinho, euliteralmente derreto. Jamais o tinha vistodar provas de tanta doçura. Nós nosinstalamos na manta, todos colados unsaos outros e me espanta que estaproximidade esteja ao gosto do senhormilionário. Enquanto converso comminha irmã sobre tudo se sobre nada, eletira o conteúdo de sua imensa cesta devime. Uma garrafa de San Pellegrino,outra de champanhe Taittinger, trêstaças, pequenos canapésmaravilhosamente preparados, legumespara morder, maçapães Ladurée emorangos.

Nada mais que isso!

Camille arregala os olhos, antes deaceitar a taça de champanhe que meuamante lhe estende. E em seguida, semrodeios, ela aborda os assuntosespinhosos, tomando todo o cuidadopara abordar essa questão delicada…

– E então, Gabriel, o que você esperade minha irmãzinha?

Grrr

Ele, como de costume, não se deixadesconsertar. Ao contrário, percebo umpequeno brilho de prazer sádico em seu

olhar.

– É uma boa pergunta, Camille. Maspergunte-lhe antes o que ela espera demim…

Todos os olhares se voltam em minhadireção. Exceto o de Oscar, ocupadodemais em colher grama.

– Tudo parece delicioso! Podemoscomer?

Minha resposta faz sorrir Gabriel.Quanto a Camille, volta à carga.

– Vocês estão juntos? É oficial?

Camille, você vai se arrepender…

– Pare com as suas perguntas, você écuriosa demais…

Gabriel não me dá tempo paracontinuar.

– Imagino que enquanto irmã maisvelha, a senhora procura protegerAmandine, mas me parece que ela é bemgrandinha e bastante independente parafazer isso ela mesma. Dito isso, estaconversa é muito divertida. Vossa irmãtem uma personalidade interessante, elanão se deixa levar, mas cora por nada eagora mesmo nos dá uma demonstraçãodisso.

– Stop! Proponho que mudemos de

assunto. Camille, como vai Alex? Elenão pôde vir hoje? Está trabalhando?

Ai, acho que acabo de tocar em umponto sensível…

– Ele não está aqui porqueatravessamos um período ruim e porqueprecisamos ficar um pouco afastados.Que ideia casar-se… Antes era muitomais simples.

Desta vez, é um brilho de compaixãoque atravessa o olhar de meu milionário.Camille, ela, parece incomodada por terse confessado assim.

– Concordo com a senhora, Camille.

Espero que, no vosso caso, não sejasenão uma fase ruim, mas estouconvencido de que o casamento separaos casais ao invés de uni-los. Em todocaso, a maior parte deles. É por isso quenão conto tentar a experiência. Nem terfilhos, mesmo que o vosso sejaabsolutamente adorável.

– Jamais?

Falei alto demais, profundamentechocada e revoltada com o que acabo deouvir.

– Jamais.

De volta à Mercedes, mal consigoesconder minha tristeza. Através dos

vidros escuros, vejo desfilarem as ruas,mas meu espírito está em silêncio.Tentei fazer uma cara boa durante todo opiquenique, mas agora que Camille eOscar não estão mais presentes,impossível conter minhas emoções.Gabriel está cheio de pequenasatenções, provavelmente sabe por queestou neste estado, mas aparentemente,não tem nenhuma vontade de abordarnovamente o assunto.

– Vamos para a sua casa, Amandeamarga?

– Para que? Não tem outras pessoaspara ver ao invés de perder seu tempocomigo?

– Pare com as suas besteiras, vim a

Paris apenas por você.– Celeste tinha razão, você é um

cretino, sou apenas um rolo…

Ele me encara, horrorizado com oque acaba de ouvir. Dá-se conta de quenaquela manhã, em Los Angeles, nãoperdi nada de sua briga com a irmã eisso não lhe agrada em absoluto. Ouentão é a história do rolo que o deixafurioso. Com um movimento fluido,estaciona em um local destinado aentregas e desliga o motor. Seu olhar éduro, frio, assassino. Tento permanecerforte, mas este confronto me faz subiremlágrimas aos olhos. Ao cabo de algunssegundos, renuncio a minha dignidade,me descomponho, deixando minhas

lágrimas correrem soltas. De repente,seus olhos não me fuzilam mais edeixam entrever outra nuance, maisdoce, mais terna.

– Não chore, Amandine, isso me faztão mal…

Com a ponta dos lábios, ele detém aslágrimas que escorrem pelo meu rosto.Aprisiona meu rosto entre suas mãos ebeija minha testa, meu nariz, meuspômulos, meu queixo. Vem colar suaboca contra a minha e com a ajuda dalíngua, ele a entreabre delicadamente epenetra no interior. Não consigoreprimir um grunhido de prazer eimediatamente sinto seu corpo se

tensionar, seu beijo se torna maisardente, mais ávido. Não sei mais ondeestou, devo me deixar levar ou resistir,esquecer ou me impor? Quando suasmãos me percorrem, sobem ao longo deminhas coxas, empunham os meus seios,acariciam meu pescoço, capitulo. Nãome faço mais perguntas, meu corpo setorna cada vez mais receptivo, estouinteiramente à mercê dele.

Meu baixo-ventre arde em fogo, eu oquero dentro de mim, ali, imediatamente.Pouco importa que estejamos em umcarro, em plena rua, que a noite aindanão tenha caído. Todos os meus sentidosestão em efervescência, à espera dasdoces sevícias que ele vai me infligir.

Esse beijo é sem fim, a respiração deGabriel se acelera, como eu, elearqueja. Finalmente, seus lábios sedescolam dos meus brutalmente. Seuolhar mergulha no meu, desta vezdespido de ternura, mas cheio de umdesejo louco, ameaçador.

– Diga-o.– Quero você.– Mais alto!– QUERO VOCÊ!

Com uma facilidade e uma levezaincomparáveis, ele se posiciona emcima de mim. Com um clique, baixa meuassento e eu me vejo deitada sob seucorpo ardente. Enquanto seus dentes

atacam meu ombro, suas mãosexperientes sobem meu vestido e rasgamminha meia na altura de minhasobrecoxa.

Nenhuma dúvida, ele tem prática…

Ele faz calar minha vozinha interiorafastando minha tanga e metendo doisdedos em minha intimidade molhada.Enquanto ele inicia um movimento devai-e-vem que me faz perder a cabeça,desabotoo sua calça jeans e tiro seusexo ereto de sua cueca boxer. Eu oacaricio, adotando o mesmo ritmo, atéque ele se apodera de minha mão e acoloca atrás do assento. Depois retiraseus dedos, arrancando-me um grito e

vem se plantar no mais profundo demim. Meus gemidos são longos equeixosos enquanto ele me penetraselvagemente. Todo seu corpo estácrispado, seu sexo duro e imenso correem mim, ele mantém a cadência semmostrar sinais de fraqueza, a cabeçaenfiada em meu pescoço. Sinto meuprazer aumentar com uma velocidadelouca, o orgasmo não está longe,arquejo, mordo os lábios comimpaciência, quero sentir este gozo, nãoposso mais esperar. De repente, umruído insistente vem interromper nossosembates apaixonados. Alguém batecontra o vidro.

– Polícia! Tem alguém no veículo?

3. Com os pés na água

- Obrigado, senhores, bom fim detarde.

Não acredito. Mais uma vez, Gabrielconseguiu virar o jogo a seu favor. Aoinvés de lhe aplicar uma multa porestacionamento proibido, os doispoliciais quase se prosternaram diantedele. Fiquei no carro enquanto meuamante voltava a se vestir a todavelocidade e sair para falar com eles,deixando-me sozinha e terrivelmentefrustrada por ter sido privada de meu

gozo. Este orgasmo que se anunciava eracheio de promessas… Enquanto meucorpo tenta se refazer de suas emoções,nossa conversa caótica me volta àlembrança.

Mais uma vez, fui longe demais…

O que é que você esperava? "Ele alevou em seu cavalo branco, casou comela e lhe fez muitos filhos?"

Patético…

Não tenho tempo de ruminar mais,meu milionário volta a se sentar ao meulado na Mercedes com interior emcouro. Seu olhar me interroga, como se

ele pudesse ler meus pensamentos maissecretos. Eu lhe dirijo um pequenosorriso para fazer boa figura, ele meacaricia a bochecha com o dorso da mãoe dá partida no carro fazendo roncar omotor. Quinze minutos mais tarde, medeixa em baixo do prédio e depois deum beijo rápido demais para meu gosto,vai embora sem insistir. Este diaesgotou toda minha energia. Antes dedescer, não tive forças para lutar, paralhe exigir explicações. Não estourealmente com humor para fazer alguémme mandar às favas… amargas.

Ao tirar as meias rasgadas e ovestido amassado, eu me perguntoquanto tempo mais vai se passar antes

que Gabriel se digne a me oferecernovamente sua companhia… e seucorpo. Eu o deixei há apenas algunsminutos, mais a saudade dele já me pesadolorosamente. Marion zombaria,dizendo: "O amor é lindo!"

Não embarque nesse caminho,Amandine.

Esse reencontro foi curto demais,tudo aconteceu depressa demais, nãopude saborear esses momentos tãointensos. Mais uma vez, tenho aimpressão de ter sido usada, depoisdeixada na beira da estrada. Sei queGabriel e eu ainda temos milhares decoisas a viver, mas será que ele sabe

disso? O medo volta a se mostrar, elenunca está longe, mas sempre consegueme surpreender nos piores momentos.Preciso que ele me tranquilize. Sei queele não é capaz de me dar uma prova deamor. Está por demais acima de tudopara se deixar levar por um sentimentotão humano, tão banal. Tenho de meresignar: o coração deste homem, se éque tem um, nunca pertencerá a mim.Meus próprios pensamentos são durosde entender, mas tenho outra escolhasenão aceitá-los. Estou cansada derefletir demais, de analisar, de dissecartodos os momentos passados ao seulado. Maquinalmente, pega o celular namesinha e redijo um SMS franco, direto,sem rodeios.

[Volte, por favor.]

Aperto no botão enviar sem me fazerperguntas. Por uma vez, não tenhovontade de jogar, não tenho vontade deprovocá-lo, de tocar em seu ponto maissensível. Quero que ele dê meia-volta,que venha bater em minha porta. Queromergulhar em seus braços, sentir o calorde sua pele e inalar seu perfumealmiscarado. Dormir de encontro a ele eenfim, encontrar a serenidade.

Quatro dias depois, minha mensagemcontinua sem resposta. Dou-me conta deque não sou nada para ele, de que elezomba completamente da estagiariazinha

transparente que eu sou. Há quatromeses, Gabriel me faz acreditar emcoisas que não existem. Estou destruída,seu silêncio me fere, sua indiferença meparte o coração. Se pudesse escolher, eupreferiria me irritar, sentir ódio, mesmo.Mas desde sábado, é a tristeza que mehabita.

Aqui cheguei ao fundo…

O fundo de que, não se saberá…

Meu aniversário está próximo, masnão tenho nenhuma vontade decomemorá-lo. Faz três dias que Mariontanto mediocremente me distrair, medevolver o sorriso, mas é inútil. Depois

de uma interminável jornada detrabalho, ela me leva às lojas para umasessão de compras.

– Pare de lamentar a sorte e faça umesforço, Amandine, é preciso achar umvestido para você!

– Para que? Não preciso!

Cuidado, Marion, eu mordo…

– Tenho uma surpresa para você. Euesperava guardá-la mais tempo, masvisto seu estado… Está pronta?

– Hum...– Sábado de manhã decolamos para o

paraíso e vamos comemorar seuaniversário ao sol!

– Como?– Você não tem escolha. Reservei

tudo, partidas às 9 horas!– Aonde vamos?– Hum, hesito em dizê-lo. Preciso de

um pouco mais de entusiasmo de suaparte…

Ela me irrita, ela me irrita, ela meirrita…

– Bom, vá lá, suspense demais mata osuspense: vamos a Ibiza!

Ibiza… Devo confessá-lo, sempresonhei ir para lá. Esta surpresa me fazum pouco de bem e graças a Marion,vou poder comemorar meus 23 anos

como se deve. Ao nível de excitação,ela está no topo e sua hilaridade começaa me ganhar… Felizmente ela está aqui!

"Os passageiros com destino a Ibizadevem se apresentar no portão C paraembarque imediato." Fazem agora setedias que não tenho mais notícias deGabriel. Certamente, não é a primeiravez que ele faz isso comigo, mas seusilêncio me tortura e me destrói umpouco mais a cada vez. Ao subir noavião na classe econômica pelos braçosde Marion, tento me concentrar nopresente, neste magnífico presente queela me dá, na amizade sincera que meoferece há anos. Esta noite, depois dasdoze badaladas da meia-noite, terei mais

um ano e já me alegro com o programado final de semana: sessões debronzeamento, degustações de frutos domar e de coquetéis, boate e se tudocorrer bem, uma leve ressaca amanhãpela manhã.

Três horas e meia mais tarde, Marionestaciona nosso pequeno carro dealuguel diante de um imenso e magníficoportão em ferro batido. Faz vinte equatro graus, doze a mais que na França.Depois de termos trocado de rouparapidamente no aeroporto, rodamos porquase uma hora para penetrar no interiorda ilha, digna dos mais belos recantosdo Mediterrâneo, luminosa, selvagem epreservada. Muito longe do lugar-

comum que eu esperava… O pinheiralse estende a perder de vista, a mudançade ares é total e me permite relaxar.Desde que aterrissamos, Gabriel nãomonopoliza mais meus pensamentos.

– É a isso que você chama clube deférias ?

– Bom, enfim vamos à casa de ummorador. Consegui alugar um pequenoquarto nesta propriedade de alto luxo.

– Alto luxo? Dir-se-ia antes umpalácio!

– Se isso não convier, ainda podemosarmar uma barraca nos dez hectares deterreno…

Depois de ter aberto o portão,

Marion retoma a direção e nos conduzaté a residência. O jardim, ou melhor, oparque, é incrível. Por trás do vidro,vejo desfilarem centenas de árvoresfrutíferas, cascatas artificiais, estátuascolossais. Nenhuma dúvida, minhamelhor amiga ganhou na loteria! No fimdo caminho de cascalho, descubro,encantada, a imensa mansão ao mesmotempo contemporânea e, suponho,inspirada nas quintas tradicionais. Elaestá rodeada por uma suntuosa piscinaem vários níveis que reflete a brancuradas paredes de cal. Vendo minha cara,Marion cai na gargalhada.

– Respire, Amandine! Espere ver ooutro lado da casa, com vistas para o

mar.

Ao subir os degraus que levam àcasa, sinto-me reviver. Fiz bem emescolher este vestidinho cor de coral,plissado e cintado na cintura. O sol quebate em meus ombros e em minhaspernas nuas me proporciona umadeliciosa sensação de bem-estar. Eu mesinto leve, em harmonia com essequadro idílico. Chegando à grandeporta, Marion me pede que passe nafrente dela.

– Depois da senhorita, senhoritaBaumann.

A porta dupla pesa une tonelada,

tenho de tentar duas vezes antes que elaqueira se abrir. Mal dei um passo nointerior do hall magistral, meu coraçãopara e minha cabeça explode…

– SURPRESA!

Vejo tudo e não vejo nada. A minhafrente, uma vintena de pessoas merecebe de braços abertos, gritando meunome e outras coisas incompreensíveis.Estou em estado de choque, nãocompreendo mais nada, mas reconheçotodos esses rostos familiares. Um poucodistante desta multidão alegre, Gabrielme fixa com seu olhar penetrante ebrincalhão. Antes que eu consiga lhedirigir um gesto de reconhecimento,

Marion pula em cima de mim.

– Por essa você não esperava,confesse! Gabriel organizou tudo parafazer a maior surpresa da sua vida...

Ele conseguiu…

Está aí por que me ignorou duranteuma semana!

Retiro tudo o que eu disse sobre ele!Ele é generoso, atencioso,maravilhoso…

– Amandine, tudo bem? Não vai terum infarto?!

Minha irmã Camille está a minha

frente e tenta me arrancar de meu torpor.Ao tomá-la em meus braços, noto apresença de Alex e Oscar, de Celeste eSilas, de minha colega Émilie, deTristan, o irmão de Marion, e de amigosque eu não via há séculos. Cruzo com oolhar de Louise, minha amiga deinfância com quem partilhei tantascoisas ao crescer.

Ela está aqui? Incrível!

Cumprimento e agradeçocalorosamente a cada um dosconvidados. Estou profundamentecomovida por todos eles terem feito otrajeto até Ibiza para celebrar meuaniversário. Todos encontram uma

palavrinha tocante e pessoal para medizer, o que me dá ainda mais vontadede chorar. Tento permanecer digna, maseles não facilitam a minha tarefa, comtodas as suas marcas de afeição! Deiquase toda a volta na multidão e enfimavanço na direção de meu belomilionário. Lá está seu sorrisinho nocanto da boca, seus olhos azuis também,ele está incrivelmente belo em suacamisa polo Ralph Lauren vermelha esua calça branca de linho. No momentoem que mordo o lábio sentindo um docecalor se propagar por todo o meu corpo,vejo uma silhueta se destacar, atrás dele.

Ben? Mas o que é que ele estáfazendo aqui?!

Meu ex-namorado vem ao meuencontro, ignorando soberbamente meuamante que se acha a caminho.

– Oi, Amor…

Grrr… Já naquela época eu detestavaesse apelido ridículo!

– Ben? Quem o convidou?– O Sr. Diamonds, quem mais? Aliás,

ele não faz as coisas pela metade, fizbem em vir!

Procuro Gabriel com o olhar, eledesapareceu. Deve estar furioso…Provavelmente ele não sabia quem eraBen. Aliás, meu ex-namorado não

mudou, continua muito irritante. Passa otempo a me examinar da cabeça aos pése a me dirigir piscadas fora de contexto.

Erro de casting. Quando penso quefiquei seis meses com ele…

– Perdeu a língua, Amor? Na época,era difícil fazê-la calar-se!

– Estou espantada que esteja aqui, ésó isso. Não estamos mais juntos, nãonos falamos mais, qual o seu interesseem vir?

– Queria revê-la. E talvez mais…Está parecendo tensa, talvez eu pudesseconsertar isso. Nunca a vi tão sexy,estou tendo umas ideias…

Ele se aproxima perigosamente demim e mergulha seus olhos em meudecote.

Minha mão na sua cara, isso simseria uma boa ideia!

– Benjamin, é isso? Acho que umataça de champanhe espera pelo senhorao lado do bufê…

Gabriel acaba de surgir do nada. Suavoz é autoritária, incisiva, seu olhar,assassino. Aparentemente, ele viu eouviu tudo. E não gostou disso…

– Obrigado, Sr. Diamonds, masacabo de reencontrar Amor e tenho

muitas coisas para dizer a ela.

Meu ex-namorado jamais apreciouque lhe dessem ordens. Gabriel, comode costume, não se desconserta. Passaum braço em volta de meus ombros e mecola a ele. Tenho a impressão de ser otroféu nessa briga de galos.

– Amor passado, senhor Schmidt.Amandine virou a página há muitotempo, o senhor deveria fazer o mesmo.

– Como?– Insisto, senhor Schmidt. Ide beber

um copo para se refrescar.

Durante longos segundos, seusolhares se desafiam. Perde quem

mostrar primeiro um sinal de fraqueza.Evidentemente, Ben acaba rapidamentepor baixar os olhos. Gabriel Diamonds éum homem impressionante, a quem nãose pode faltar com o respeito. Meu ex-namorado acaba de compreender isso.Enquanto o indesejável se afastapraguejando, meu milionário me beijafogosamente. Estou imensamentealiviada por sentir seus lábios ardentescontra os meus, mas a este gesto falta umpouco de doçura para meu gosto.

– Devagar, senhor dominador.– Obedecei a vosso mestre, pequena

impertinente.

Ele pressiona seu corpo contra o meu

e aperta meu rosto entre suas mãos. Seusolhos são sombrios, ameaçadores.

– Não gostei nada desta conversa.Lembre-se, Amandine, você mepertence.

A sangria branca e as mimosascorrem soltas. O bufê foi instalado atrásda casa, frente ao mar. Com os pés napiscina imensa, os convivas saboreiamos pratos suculentos servidos pelosempregados atenciosos. Fujo de Bencomo da peste e tento desfrutar do restodos convidados. Camille se desculpoupor seu comportamento por ocasião dopiquenique desastroso, Louise me fez umresumo palpitante de sua vida nos

últimos dez anos, Émilie se extasioucom a beleza e o carisma de Gabriel eTristan se divertiu empurrando sua irmãna água. A festa está no auge, a noitecaiu há um bom tempo quando me douconta de que não tive oportunidade deconversar com Celeste. Eu a procuro umpouco por toda parte com o olhar eacabo por percebê-la. Sublime em seuvestido longo de seda cor de creme, elase isolou para admirar os reflexosprateados do mar que se estende aperder de vista. Tento me aproximardela discretamente, mas desastradacomo sou, tropeço e quase me estatelono chão. Aterrisso em seus braços.

– Decididamente, Amandine, passo a

vida a salvar sua pele!

Seu tom é ao mesmo tempo irônico eglacial. Esta mulher tem o dom de mecolocar pouco à vontade…

– Sinto muito. Obrigada mais uma vezpor… a senhora sabe… Los Angeles.

– A senhorita teria feito o mesmo nomeu lugar. Enfim, a senhorita certamenteteria caído com a cara no chão no meiodo caminho, mas teria tentado. Estouenganada?

– …

Ela me interrompe todas as vezes,isso me deixa louca!

– Meu irmão faz muito pela senhorita,Amandine. A senhorita tem consciênciadisso?

– Sim, eu lhe sou muito agradecidapor isso. Mas jamais reclamei nada,espero que a senhora não me tome poralguém venal.

Ela começa a me enervar com suasinsinuações…

– Meu irmão faz muito pela senhorita,Amandine. A senhorita tem consciênciadisso?

– Sim, eu lhe sou muito agradecidapor isso. Mas jamais reclamei nada,espero que a senhora não me tome poralguém venal.

– Pode-se ter um fraco pelas coisasbelas e nem por isso ser venal,Amandine. Eu só me pergunto se asenhorita sabe no que está se metendo…

– Parece-me que isso só diz respeitoa Gabriel e a mim…

Por uma vez, Celeste Diamonds nãoencontra nada para replicar. Ela me fixadiretamente nos olhos, pensativa.Suspeito que não lhe ocorre nenhumaresposta dura, dessas que, no entanto,são a sua especialidade. Váriossegundos se passam, nossos olhares nãose desgrudam um do outro. Felizmente,Silas vem quebrar esse silêncioensurdecedor.

– Olá, meninas! Alguma de vocês meconcede uma dança?

Celeste venceu, desviei o olhar antesdela. Antes de desaparecerdiscretamente nos braços de seu irmão,ela me faz um pequeno aceno com acabeça, cujo significado ignoro.

Esta mulher é um mistério…

Por volta das 2h00 da manhã, a maiorparte dos convidados foi dormir em umadas numerosas suítes da suntuosaresidência. Quase não vi Ben durante anoite e Gabriel se fez muito discreto,certamente para me deixar desfrutar demeus próximos. Ao cruzar com ele no

grande hall de mármore branco, meoferece um longo e delicioso beijo, quedesperta todos os meus sentidosanestesiados pela fadiga e pelo álcool.Eu o desejo, ali, imediatamente, mas eleacalma meus ardores.

– Calma, bela Amande, encontre-medo lado de fora em uma hora.

Grrr…

Tento conter minha frustração eaproveito para cumprimentar os últimosconvidados que vão dormir, tomar umaducha, retocar ligeiramente a maquiageme me trocar. Opto por um conjunto decalcinha e sutiã branco com borda rosa

pálido e um quimono de seda.

Assim ele não vai resistir…

Na hora marcada, desço os degrausna ponta dos pés e vou ao terraço quedomina o Mediterrâneo. Lá está Gabriel,encostado à barreira do pontão, belo eviril como um deus grego neste cenárioencantador. Sinto-me vacilar, minhaspernas estão bambas, meu coraçãoacelera, este homem tem sobre mim umefeito ao mesmo tempo divino edemoníaco. Ignoro se ele percebe minhaperturbação, mas também ele vem aomeu encontro, como para me socorrer.Nossas bocas se encontram, nossoscorpos se pressionam um contra o outro,

nossas mãos se procuram.

– Enfim, você é toda minha.

Sua voz rouca ressoa em todo o meuser e antes que eu possa lhe responder,seus lábios me impedem. Sua língua estáávida, seus dentes me mordiscam, sintomeu desejo aumentar e não consigoreprimir um grunhido de prazer. Meuamante toma isso como umencorajamento e com a ponta dos dedosdesfaz o cinto de meu quimono. Fazescorregar a roupa ao longo de meusombros e com as duas mãos se apoderade meus seios para massageá-lossensualmente. Desta vez é demais, gemoruidosamente, sem poder me controlar.

Sinto o desejo de Gabriel de encontro aminha coxa e já o quero dentro de mim.Enquanto suas mãos descem até minhascostas, empunham minhas nádegas efazem minha calcinha escorregar até ochão, tiro as suas calças. Quero sentirsua ereção de encontro a mim, dentro demim. Seu sexo ereto é monumental, estavisão me faz tremer e eu quase desmaio.

– Agora, Gabriel, quero você agora,não posso mais…

Ao invés de ceder ao meu capricho,ele me pega pelas ancas, me levanta eme conduz na direção da piscinaenorme. Desce os cinco degraus edevagarinho nossos corpos nus

enlaçados entram na água morna. Olíquido chega até meus ombros, eu flutuode encontro a ele, nossos sexos seroçam, se tocam, se eletrizam, como queimantados um pelo outro. Ao mesmotempo em que me beijaapaixonadamente, Gabriel cola minhascostas contra a parede da piscina e comas duas mãos eu me agarro à borda.Finalmente, meu doce carrasco entra emmim grunhindo de impaciência e depoisde apenas dois ou três movimentos devai-e-volta, gozo instantaneamente. Esteorgasmo fulgurante aconteceu cedodemais, mas meu amante nem por issopara por aí. Ele continua seus vai-e-vemdivinos e eu sinto meu desejo despontarnovamente, o prazer aumentar mais e

mais. Quando está a dois passos degozar, ele se separa de mim, me vira defrente para a parede, vem se colar contraminhas costas e, mordiscando-me anuca, mergulha no mais profundo demim. Eu me arqueio ao máximo paramelhor receber suas investidas. Aomesmo tempo em que me penetra comardor, acaricia sutilmente meu clitóris.Meu corpo está em fogo, o seu queima,arde, tenho a impressão de que a águaferve a nossa volta. Seu corpo setensiona de repente, seu sexo endurece,sua respiração se imobiliza e juntosacolhemos a onda de prazer que nossubmerge. Um tsunami de sensaçõesdeliciosas e desconcertantes. Um

maremoto de intensidade tal que quaseperco a consciência…

Depois de me haver colocado emuma espreguiçadeira, Gabriel me enrolaem uma toalha de uma incrível maciez edá um terno beijo em meus lábios. Emseguida, como que por magia, fazaparecer um pequeno estojo que ele meentrega. Eu o interrogo com o olhar,cansada demais para lhe perguntar doque se trata.

– Abra, minha Amande.

Quase ouvi "meu Amor", mais devoestar sonhando. Nossos embates meaturdiram completamente, tento retomar

a consciência. Ao abrir delicadamente oestojo branco, descubro uma chave.

– De agora em diante, você virá mevisitar em minha casa, em Paris.

– Em sua casa? Em Paris?– Sim.– Eu achava que o senhor detestava

esta cidade, Sr. Diamonds…– É preciso crer que certas coisas

mudaram, senhorita Baumann…

Avant de me meter debaixo doslençóis, tomo o cuidado de guardarminha preciosa chave em minha caixinhade joias. Mas, ao abrir a caixinhagravada com meu nome, descubrohorrorizada que a foto de Gabriel e eu,

tirada em LA, está rasgada. Ao meio,como se alguém me mandasse umamensagem. Mais uma…

4. Sangue e lágrimas

Ainda tenho dificuldades para me darconta de que esta escapulida de três diasao mesmo tempo paradisíaca e infernalnão é um simples fruto de minhaimaginação. Em minha cabeça, todas aslembranças se chocam e eu me dividoentre uma alegria embriagadora e umsentimento de amargura. Alguém decidiuse colocar no meu caminho e tenta meseparar de Gabriel mandando-memensagens em código. O bilhetecolocado em minha bolsa de mão, o e-mail anônimo e agora a foto rasgada.

Nosso relacionamento perturba.Mas quem?

Uma coisa é certa: o culpado estavaem Ibiza.

Não pode ser Eva…

– Amandine, reunião! Imediatamente!

Éric está de muito mau humor hoje.Ao invés de me dispersar, é melhor eume concentrar em meu novo projeto: acriação de um artigo consagrado aoslicores. Ao entrar no escritório do chefe,observo que Émilie já está lá, prostradaem uma cadeira. Ela me dirige um olhar

suplicante…

Você abusou da sangria...

– As senhoras farrearam todo o fimde semana ou o quê? As senhoras nãoestão com o espírito de segunda-feira,deveriam ver as vossas caras…

Nosso patrão é um homem aberto etolerante, mas desde o começo do dia,ele faz observações desagradáveis umaatrás da outra. Como duas funcionárias-modelo, não nos rebelamos eaguentamos. Dentro de algumas horas,Éric provavelmente virá se desculpar,propondo-nos ir tomar um drinque.

– Como a cada dia doze do mês, datade criação do site, vamos lançar umnovo concurso. Desta vez será…

Enquanto ele diz dez palavras porsegundo para nos expor seu conceito,perco o fio da conversa e sinto meuestômago se embrulhar. Estamos em11 de abril. Minhas regras estão doisdias atrasadas. É um primeiro…

No fim da tarde, Marion passa parame pegar no trabalho e me levar a nossasessão semanal de cinema. Em um olhar,compreende que alguma coisa estáerrada.

– Deixe-me adivinhar… Você brigou

com o seu milionário!– Não, e aviso, não estou com humor

para passar por um interrogatório.– Se você não quer que façam

perguntas, diga-me o que estáacontecendo!

– Estou dois dias atrasada.– Suas regras?– Sim.– Mas está tomando pílula?– Todos os dias, com hora marcada.

Nunca esqueço.– E normalmente você nunca atrasou!– Na mosca, Sherlock…– Então como pode?– Não tenho a mínima ideia, Marion,

você está vendo que estou agitada comisso!

– Nenhuma contracepção é 100 %...–...– Bom, vamos esquecer o cinema,

vamos a sua casa!

Durante mais de duas horas, Mariontenta me tranquilizar como pode.Segundo ela, esse atraso pode se dever àmudança de clima, às bebidas alcoólicasque consumi durante o fim de semana, àemoção que me causou esta festasurpresa e de que ainda não merecuperei… Em todo caso, ela não tentame puxar para baixo, não me censura esua gentileza consegue acalmar umpouco minhas angústias. Antes de irembora, ela seca as minhas lágrimas, mebeija com ternura no rosto e me dirige

um sorrisinho de simpatia.

– Elas virão amanhã, tenho certezadisso!

Se pelo menos…

Éric está mais relaxado desde que oconcurso foi lançado on-line e queinúmeros internautas jogam tentandoganhar um jéroboam de champanhe. Eu,em contrapartida, não estou no meunormal. Mando um e-mail a Marion parame sentir um pouco menos sozinhadiante desse desastre.

De: Amandine Baumann

Para: Marion AubracAssunto: Help Já é amanhã e nada ainda…Ele vai achar que fiz um filho com elepelas suas costas.

Fazer um filho com ele pelas costas,talvez ele me ache capaz disso. Gabrielé muito rico, talvez outras tenhamtentado antes de mim. Em todo caso,Celeste se convencerá de que sou amulher venal e manipuladora que elasuspeitava. Na noite de meu aniversário,ela não fez rodeios para me dizer o quepensava de mim…

De: Marion AubracPara: Amandine BaumannAssunto: Testes de gravidez! Comprei três diferentes. Que tal nosencontramos em sua casa às 19h00?

Tenho a impressão de um déjà-vu.Exceto que, da última vez, fui eu quecorri em socorro de minha melhoramiga. A seu pedido, eu havia esvaziadoa farmácia e voara para a casa dela.Naquele dia, todos os testes serevelaram negativos. No momento emque me preparo para responder aMarion, meu telefone se põe a vibrarduas vezes.

[Senhorita Baumann, espero asenhorita às 20h00 em minha humilderesidência. Servi-vos de vossa chave efazei como se estivesse em vossacasa…]

A coisa se complica… Em termos detiming, não poderia ser pior, mas sótenho um desejo: afundar-me em seusbraços e sentir sua pele ardente contra aminha.

Foi justamente isso que colocou vocênessa situação…

Antes de mudar de ideia, informo aGabriel de que estarei lá na horacombinada e aviso a Marion sobre as

mudanças no programa. Ela me respondequase instantaneamente…

De: Marion AubracPara: Amandine BaumannAssunto: Como quiser… Avise-me quando souber que NÃOestá grávida!

"Grávida", realmente, será que eranecessário?

Às 19h45, descubro com alegria eestupefação esta suntuosa rua sem saídaparticular que margeia o parque

Monceau. Nesse lugar carregado dehistória e colorido de aristocracia, asresidências particulares construídas pelaalta sociedade do Segundo Império seerguem na direção do céu. A beleza dapedra, o luxo das fachadas, a pureza dosjardins em volta me dão vertigem. Nãohá dúvida, só um milionário poderiaproporcionar a si mesmo semelhantejoia da arquitetura! Introduzofebrilmente minha chave no buraco dafechadura e penetro nesse santuário.Desde o imenso hall de entrada, sourecepcionada por uma belíssima mulherque deve ter aproximadamente cinquentaanos.

– Boa noite, senhorita Amandine.

Sua voz é rouca mas calorosa edistingo um leve sotaque hispânico. É dealtura mediana, bastante carnuda, vesteum tailleur preto e seus cabelos estãolevantados elegantemente em um coqueperfeitamente redondo.

– Meu nome é Soledad, sou agovernanta do Sr. Diamonds.

– Boa noite, senhora. Tenho umencontro com ele.

Que voz de colegial medrosa é essa?

– Chamai-me Soledad. Segui-me, voumostra à senhorita o vosso quarto. O Sr.Diamonds não deve demorar.

Eu lhe devolvo o sorriso e a sigo nadireção da escadaria de madeiramaciça. Ao mesmo tempo em quesaboreio o som melodioso dos degrausque rangem suavemente sob os meuspés, me extasio com os painéis solaresgigantescos desenhados na balaustradade ferro batido. Em cada patamar,imponentes vitrais iluminam o espaço.Ao chegar ao primeiro andar, percebo oimenso salão decorado em um estilo aomesmo tempo barroco e de design. Estamistura de gêneros correspondeinteiramente ao proprietário do lugar:autêntico e moderno. No segundo andar,Soledad abre a porta dupla que conduz auma suíte assombrosa.

– Aqui está vosso quarto. Instalai-vosconfortavelmente. Se precisar de mim,basta apertar este botão. Não hesitai.

A governanta vestida com esmero medirige um olhar benevolente antes desair do quarto. Eu me vejo sozinha,frente a frente com o mobiliário deépoca e as obras de artecontemporâneas. Em tons claros edepurados, este cômodo me proporcionaimediatamente uma sensação deapaziguamento. Do closet branco emlaca à sala de banhos em mármore bege,passando pelo birô Napoleão III emacaju e a vista que domina o parque,tenho a impressão de estar dentro de umsonho.

Enfim, quase…

Durante alguns minutos, esquecitotalmente que minha vida se parecemais com um pesadelo. Em minhapequena sacola de viagem onde enfieialgumas mudas de roupa se acha tambémum teste de gravidez. Hesito entre memaquiar ou me trancar no banheiro paradescobrir de uma vez por todas se estouesperando ou não o filho bastardo deGabriel Diamonds.

Troque de roupa, depois você verá…

Uma escovada nos cabelos, um poucode rímel imitando cílios postiços, batomnos lábios e meu rosto parece mais

sereno, meus traços menos cansados.Visto o vestidinho preto com lantejoulasque não tive a oportunidade de colocarem Ibiza e estou pronta: preparada paraencontrar meu amante e fugir para longe,muito longe da realidade. Abro oarmário para guardar a sacola e meuolhar recai sobre o famoso teste.

Saltar no vazio ou esperar?

Com a maldita caixa na mão, eu medirijo à sala de banhos quando ouçopassos na escada. Tomada de pânico,escondo o objeto na primeira gaveta queencontro e tento recuperar o controle.Alguém bate à porta…

– Entre?

Gabriel aparece a minha frente e maisuma vez fico enlouquecida com a suaelegância. Em seu terno cinzaacarvoado, que sublinha sua silhueta dedeus grego, sua beleza é de tirar ofôlego. Encostado à parede, ele observacomo o admiro e me desafiaorgulhosamente. Seu risinho de canto deboca e seu olhar zombeteiro são sinaisclaros e eu me dou conta de que eleespera que eu dê o primeiro passo. Nãoestou com humor rebelde, mais do quenunca preciso sentir o calor de seucorpo de encontro a mim, baixo acabeça e me jogo para cima dele.Imediatamente, seus braços musculosos

se fecham sobre mim e me converto emsua prisioneira.

– Fiquei com saudades. Você estámuito linda neste vestidinho…

Ao mesmo tempo em que me mantémcolada a ele, se vira e eu me vejo comas costas contra a parede. Enquanto meagarro a sua cintura, suas mãosaprisionam meu rosto e dirigem minhaboca para a sua. Seus lábios carnudos seentreabrem e eu sinto sua língua seinsinuar entre os meus. Esta caríciadivina me deixa em brasa e eu sinto umdesejo ardente aumentar dentro de mim.Torno-me mais ousada, minhas mãospercorrem suas nádegas, suas coxas, e

se aproximam perigosamente do frutoproibido. Estou faminta, quero pegar seusexo na boca, degustá-lo longamente,sensualmente, e ouvi-lo suspirar emêxtase. Enquanto elaboro meu planodelicioso, meu amante tirânico meinterrompe de repente em meu élan.

– Tenho fome da senhorita, Amandedoce, mas primeiro é preciso que eucoma qualquer coisa. Vou precisarrecuperar forças para infligir à senhoritatodos os suplícios que reservo àsenhorita…

Grrr…

Na imensa cozinha em inox aberta

para a sala, Soledad dá os últimosretoques a seu menu gastronômico. Amesa já está posta e nós nos sentamos.

– Está com fome?– Não muita.

Ai… Espero não ter ofendidoSoledad!

– Obrigado, Soledad, tudo me parecedelicioso, mas vamos nos contentar como prato principal.

– Muito bem, senhor.

A governanta, que também umacozinheira formada pelo cordon-bleu,nos serve os dois pratos de pato com

laranja e desaparece discretamente.

– Conheceu Soledad? Ela éformidável, não posso mais prescindirdela.

Está aí uma coisa que eu gostaria deouvir a meu respeito…

Durante toda a refeição, Gabriel sediverte em me titilar, em me observarmordendo o lábio, em levar o garfo àboca da forma mais sensual possível, emme lançar olhares ardentes. Tentopermanecer digna, não mostrar minhasemoções, represento a bela indiferente,mas por dentro fervilho. Finalmente,sem avisar, ele se levanta bruscamente

da cadeira, me pega pelo braço para meobrigar a segui-lo e me leva para a sala.Beija-me, passa suas mãos por sob meuvestido e rasga a minha tanga. Esteataque violento e imprevisível me chocae me excita no mais alto grau. Ignorocomo, mas sem nenhum esforço eleconsegue me deitar sobre o grossotapete, afastando-me as coxas emergulha o rosto em minhas partesíntimas. Seus lábios estão por todaparte, sua língua é febril, ávida, tensa,ela trabalha ao nível de meu clitóris,depois vem se plantar no mais profundode mim. Arquejo, gemo, estremeço, mearqueio, puxo os cabelos dele, sinto oorgasmo chegar, mas meu amante já temoutra ideia.

Sem nenhum cuidado, ele me vira defrente para o chão e, entorpecida poressas sensações fulgurantes, eu me deixolevar como uma boneca de pano. Aolonge, eu o escuto desabotoar a calça eliberar seu sexo duro, imenso, queaponta orgulhoso para o céu. Sinto-mevazio, não tenho pressa senão de umacoisa: de que ele deslize dentro de mim,que me preencha, me possua, memaltrate. Meu amante dominador sabe oque espero e se alegra por me fazerenlanguescer… Sinto seu sexo quenteentrar em contato com minha pele, masapesar de meus gemidos suplicantes, elenão vem se plantar dentro de mim.Gabriel acaricia minhas nádegas, o

começo de minhas coxas e meu clitóriscom a ponta de seu sexo. Não aguentomais, a espera é insuportável, quasedolorosa.

– Gabriel…– Suplique-me.– Por favor, me possua!

Mal tenho tempo de acabar a frase,sinto sua ereção afastar os meus lábios epenetrar em meu baixo-ventre. Gritocomo nunca antes, aliviada por sentirsua virilidade tomar posse de meu sexomolhado. Estou deitada de bruços, eleestá de joelhos e me domina com toda asua força, com todo o seu ardor. Seusmovimentos de vai-e-vem primeiro são

lentos e controlados, depois, pouco apouco, ele aumenta a cadência e acabapor me penetrar em um ritmodesenfreado. Suas investidas são umverdadeiro alívio, sinto meu corpo seexaltar, se abrir sob seus ataquesrepetidos. Juntos, voamos e explodimosno ar, em um gozo aéreo, astral. Eledesaba sobre mim e no côncavo deminha nuca, sussurra palavras que mefazem as lágrimas subirem aos olhos…

– Preciso tanto de você, Amandine…

Esta confissão me emocionaprofundamente. Por minha vez, tenhovontade de lhe confessar meussentimentos, de fazer cair estas barreiras

que nos impedem de nos amarmosnaturalmente, completamente. Masdepressa demais sinto seu corpo seseparar do mim. Meu amante me beijana testa, se levanta e apanha as nossasroupas espalhadas pelo chão.

– Sr. Diamonds, tenho uma coisa parao senhor.

Eu a tinha esquecido!

Gabriel e eu acabamos de nos vestire eu enrubesço, dando-me conta de queSoledad talvez tenha ouvido tudo… Noentanto, arriado em um dos sofás, meucorpo ainda inteiramente paralisado nãolamenta nada e meu espírito decide fazer

o mesmo. Mergulhada em meuspensamentos, não observo de imediato acaixa que meu amante está segurandoquando se planta a minha frente. Ele melança um olhar frio, furioso e eu me douconta de que já é tempo de sair de minhabolha.

– Você tem alguma coisa para medizer?

Reconheço a embalagem do teste degravidez.

Merda…

Soledad, a espiã malvada a serviçodo senhor milionário, fez direitinho seu

trabalho.

– Não.– Não o que? Não, você não é capaz

de ter uma vida sexual adulta? Não,você não está grávida? Não, eu não souo pai?

– …– Responda-me, Amandine, ou nunca

mais vai me ver.

Ver-me chorar não lhe inspira nada,nenhuma compaixão, nenhuma ternura.Seu tom se faz mais ameaçador, seustraços estão tensos, irreconhecíveis,tenho vontade de ir me esconder, de meencolher em um cantinho e dedesaparecer.

– Era isso que você queria? Fazer umfilho contra a minha vontade e tirar asorte grande?

Aí está… Eu já esperava por isso!

Acabo de levar uma grande bofetadamas não tenho mais medo, não temomais este homem que me insulta do altode seu pedestal.

– Não, o que eu queria era terrelações sexuais mais e mais com umhomem incapaz de experimentar o menorsentimento, de dar provas da menorhumanidade. Você é um robô, Gabriel,não tem alma, não tem coração eacabará sozinho!

Eu ignorava que minha voz pudessealcançar tal volume. Gritei tão alto quetenho a impressão de que as paredesainda tremem. Sem refletir, me jogo parafora do cômodo, subo para pegar asminhas coisas na suíte real e desço asescadas a toda velocidade para escapardeste lugar que não me inspira mais doque desgosto.

No caminho de volta, quando nãoestou mais do que a alguns passos deminha casa, sinto um líquido quente...sangue. Dou-me conta de que não estougrávida. E de que acabo de perderGabriel.

Um bipe toca e por um instante

imagino que meu milionário tenta seredimir. Pego o telefone e desbloqueio atela. Um SMS, enviado por um númerobloqueado, aparece.

[Um único ser nos falta e fica tudodeserto.]

5. A palavra final

Há três dias, a citação de Lamartinenão me sai da cabeça. Ignoro quem mepersegue nestas últimas semanas, masgostaria muito de lhe dizer umasverdades.

Chutar cachorro morto, érepugnante.

Mas tenho coisas mais importantes nacabeça. Perdi Gabriel, sua estima, suaconfiança, sua ternura… tenho certezadisso. Ele foi longe demais, eu também,

nossa raiva nos levou longe demais edissemos coisas que não pensávamos.Enfim, no meu caso foi o que aconteceu.Espero que ele não tenha realmente estaimagem errada de mim, que não mecreia capaz de ter um filho com elepelas costas, que não imagine que eu medeito a torto e à direita, que não estejapronto para me riscar de sua vida.

A esperança é a última que morre…

O e-mail que enviei na quarta-feirapassada, apenas uma hora depois denossa briga, ficou sem resposta.Relendo-o pela décima vez, eu mefelicito por não lhe ter enviadotoneladas deles, por não lhe ter

suplicado que me perdoasse ou quevoltasse para mim. Não, não me rebaixeia esse ponto.

De: Amandine BaumannPara: Gabriel DiamondsAssunto: Negativo Não estou grávida.Cordialmente,Amandine

Simples, claro, conciso. Fui direto aoponto, dizendo a mim mesma que isso iafazê-lo reagir, que ele me responderiaimediatamente. Grande engano de minha

parte: o senhor milionário mais uma vezdecidiu ignorar a estagiariazinha. Seusilêncio me perturba, não sei o que elesignifica.

Está tudo acabado entre nós, vocênão existe mais para mim?

Eu a puno porque isso me diverte?

Estou ocupado demais fodendo umabela loura de seios grandes?

Ao fechar a porta de meu apartamentopara ir encontrar Marion, continuo alista que não acaba mais de aumentar.No grande hall deserto, passo diante deminha caixa de cartas e me dou conta de

que há dois dias não apanho acorrespondência. Abro a pequena caixacom meu nome. Com exceção de umestranho envelope, está vazia. Acima deminhas coordenadas, alguém carimbou apalavra URGENTE em letras vermelhas.Intrigada e aliviada de pensar em outracoisa além de meu amante perdido, abroo envelope rapidamente. Em uma grossafolha de papel em branco, descubronova mensagem enigmática e anônima…

"Pequena pomba, você vai queimaras asas... Não há lugar para você emseu ninho."

Um corvo que me trata como pomba,é original…

Trinta minutos mais tarde, encontroMarion no terraço de um café em frenteao museu Beaubourg. Louise, que estavapor perto, propôs juntar-se a nós. EmIbiza, prometemos voltar a nos ver erecuperar os anos perdidos. Nomomento em que ela vem se sentar aomeu lado, a discussão está no auge.

– Amandine, pare com as suasidiotices, sei que vai fazer de tudo pararecuperá-lo!

– Marion, ao menos uma vez na vidavocê poderia ficar do meu lado?

Louise tenta acompanhar a conversa,mas não sabe de toda a história. Minhamelhor amiga toma a iniciativa de

resumir para ela a situação.

– Gabriel achou que ela estivessetentando ter um filho com elediscretamente. Ele ficou com medo e aacusou de querer o dinheiro dele, de seruma caçadora de Diamonds…

Ela cai na gargalhada, achandodivertido seu jogo de palavras. Eu afuzilo com o olhar.

– Em resumo, pela primeira vezAmandine não se deixou levar e lhecomunicou tudo o que pensava dele.Desde então, não tem notícias de seubelo milionário.

Louise tenta assimilar todas essasinformações. Volta-se para mim e mepergunta, inquieta:

– Você está grávida?– Não, alarme falso…

Durante uma hora, minha duas amigasdissecam minha vida sentimental dandoa opinião delas, mesmo quando não ébem-vinda. Eu as escuto distraída,bebericando meu cappuccino, com acabeça cheia das piores e melhoreslembranças que compartilhei comGabriel. Tudo isso já parece tãodistante… Na pequena mesa redonda docafé da moda, meu telefone se põe avibrar. Meu coração acelera, rezo para

que o nome de meu amante apareça, masé o de Ben que é exibido.

Ele de novo…

Não atendo, não tenho nenhumavontade de falar com ele. Meu ex-namorado não se dá por vencido: sãotrês chamadas não atendidas antes de elecapitular. Enfim, capitular não é bem otermo… Alguns minutos mais tarde,recebo um SMS de sua parte.

[Vamos jantar essa noite? Vontade derevê-la, Amor…]

Estou tentada a mandá-lo pastar semreservas, mas quando começo a redigir

minha mensagem, Louise confisca meutelefone.

– Aceite seu convite! Isso vai distraí-la.

– Não, ele ainda vai bancar o seriallover, não estou com humor para isso.

Marion também se intromete, comtoda a sutilidade que a caracteriza…

– Vamos, Amandine, dê a ele umachance. Ao menos vai comer de graça!Peça a ele para leva-la a um bomrestaurante!

– Estão surdas? Eu disse não!

As duas diabas conseguiram mevencer pelo cansaço… Vou encontrarBen às 20h00, o que só me deixa otempo exato de voltar para casa, trocarde roupa e tornar a partir na direção daBastilha. Opto por uma roupa femininamas informal: um vestido branco comcinto de couro camel e botinas sem saltocombinando. Domo minha cabeleirarebelde e a prendo em uma longa trança,desenho um traço de delineador emminhas sobrancelhas, um pouco debatom cor de rosa pálido nos lábios eestou pronta para ir ao encontro de meuex-namorado e rechaçar suas grosseirastentativas de aproximação.

– Sempre muito bonita, Amor…

– Sempre muito direto, ex...

Ben continua o mesmo: seguro de si,sedutor, jogador. O problema com oscaras de 23 ans é que quando sãobonitos se convencem de que isso bastapara atingir os seus objetivos.

– Toma um mojito?– Está tentando me fazer beber para

ter todas as chances ao seu lado?– Se você acha isso, é porque

também está com vontade…

– Você está sonhando.

– Seu milionário a deixou sair? Deu avocê a permissão para vir me ver? Isso

me espanta, não o julguei alguém capazde emprestar…

Grrr…

O pior é que ele não está errado…

– Entre Gabriel e eu está tudoterminado. Entre você e eu também,lembre-se disso…

Na mosca!

Espantosamente, o jantar transcorrebem e eu me surpreendo várias vezes arir de bom grado. Por mais que Bentenha montes de defeitos, ele não deixade ter espírito, nem humor. Minhas

vieiras cozidas ao mel estão deliciosase combinam perfeitamente com oSauternes recomendado pela casa.Quanto mais a noite avança, mais eu medeixo levar a uma doce euforia. O vinhoé em parte responsável por isso, é claro,mas o charme de meu ex-namoradotambém tem algo a ver. Feliz de estar emsua presença, esqueço de enviar umamensagem de texto a Marion e Louisepara dizer a elas que tudo vai bem. Meutelefone está no fundo da bolsa e nãotenho nenhuma intenção de tirá-lo delá…

Antes que os fondants de caramelonos sejam servidos, sigo Ben ao lado defora do restaurante para acompanhá-lo

durante sua pausa para um cigarro.Mentolados, como se usava na época.Ele me oferece um, mas recuso. Umsilêncio pesado se instala, Ben me olhanos olhos tirando o cigarro, antes de meinspecionar várias vezes de alto a baixo.Aparentemente, o que ele vê lhe agradae é estúpido, mas me dá vontade deimpressioná-lo, de surpreendê-lo, de lheprovar que não sou mais uma coroinha,mas uma mulher de verdade.

Durante vários segundos, nossoslábios se encontram, se tocam, seacariciam. Não vou mais longe, nãotenho vontade de sentir sua língua contraa minha, acender uma chama que nãoestou certa de poder apagar.

Rapidamente, lamento meu gestoirrefletido, absurdo, injusto. Ao beijarBen, pensava provar a mim mesma queeu não era uma vítima, não era apenasuma largada pelo homem que ama. Aocontrário, esse contato me lembradolorosamente que a boca de Gabrielestá longe, longe demais da minha. Queseus braços não me aprisionarão mais,que sua pele não aquecerá mais, que seusexo não me preencherá mais. Eu meafasto de meu ex-namorado balbuciandopalavras confusas.

– Sinto muito, não sei o que me deu…– Mentirosa, você ainda quer, isso

salta aos olhos…

Ele tenta me segurar, mas me afastodele.

– Largue-me, Ben, não é você que euquero e você sabe disso!

Lá está ele, a alguns metros de mim…Leio um misto de surpresa e de cóleranos olhos brilhantes de Gabriel. Bendesaparece murmurando palavrasinaudíveis e eu me vejo diante de meusublime milionário. Como duas estátuas,permanecemos imóveis, silenciosos.Nossos olhares não se deixam, apesardo frescor da primavera eu o sintoferver por dentro.

Ele viu tudo!

O que ele está fazendo aqui?!

Ele dá um passo em minha direção,eu recuo. Temo sua cólera, as palavrasassassinas que ele certamente vai mecuspir na cara. Nossa última conversame volta à cabeça e me dá coragem paraenfrentá-lo.

– Como sabia que eu estaria aqui?– Tentei encontrá-la a noite toda, sem

sucesso. Acabei por telefonar para ocelular de Marion, foi Tristan queatendeu. Ele me deu o nome desserestaurante.

– Tentei encontrá-la a noite toda, semsucesso. Acabei por telefonar para ocelular de Marion, foi Tristan que

atendeu. Ele me deu o nome desserestaurante.

Sua voz é glacial, seca. Tenho aimpressão de estar em face de umestranho.

– E você disse para si mesmo quepodia ir embora sem avisar?

– Isso me permitiu constatar que vocênão se aborrecia sem mim…

– O que é que você achava, Gabriel?Que eu fosse deixar de viver?Aborrecer-me sozinha em meu cantoesperando que você me tirasse docastigo?

– Não brinque com isso, Amandine.Até que se prove o contrário, foi você

que acabou de se jogar nos braços deoutro homem, não tente torcer as coisas.Se você fode com a terra inteira, diga-me, não tenho tempo a perder comuma…

Sua voz nunca foi tão desdenhosa, tãoríspida. Ele aperta os dentes para nãoacabar a frase, seus olhos me fuzilam.

– Não me deitei com ele! E nemmesmo sei por que o beijei. Ben não meinteressa.

– O que é que interessa a você,Amandine?

– Você. Mas isso não é recíproco.

Esta frase o tocou, vejo em seu rosto

que, de repente, relaxa. Seu olharsuaviza, ele me fala com mais doçura,sem animosidade.

– Ah, você acha isso?– Sim. Se me desejasse, não me teria

tratado assim outro dia desses.– Fiquei com medo, Amande. Sinto

muito, eu não deveria acusá-la assim,deveria ter assumido minhasresponsabilidades e melhor protegê-la...

– Sim, e você preferiu me insultar eme deixar sozinha. Você meabandonou...

E em menos de um segundo, ele estáde encontro a mim, sua boca ávida forçaos meus lábios e sua língua se manifesta

com ímpeto. Sinto um calor familiarirradiar por todo o meu corpo: é o efeitoGabriel Diamonds. Ele pega as minhasmãos e as coloca contra a parede, paraimpedir qualquer resistência. Eu medeixo levar, bendizendo o céu por estehomem sublime continuar a me desejar.Gemo sob os efeitos divinos que estebeijo provoca em mim e sinto suavirilidade apontar contra a minha coxa.Ele aperta o seu domínio e os seuslábios descem até o meu pescoço. Baixoa cabeça e inalo o perfume almiscaradoque escapa de sua cabeleira dourada.Ele libera uma de minhas mãos eempunha minhas nádegas, grunhindosensualmente. Estou a dois passos dedesmaiar, meu baixo-ventre está em fogo

e pede ajuda. De repente, ele se afastade mim e me observa enquanto tentocontrolar a respiração.

– Não vai perguntar para onde foi seuBen?

Seu tom é irônico, mas suas palavrasme ferem. Eu me dou conta de que nãoestá pronto para esquecer meu erro.

– Não é meu Ben. E pouco se me dá,essa é a última de minhas preocupações.

– No entanto, você não fugiu dele.– Ele não me acusou de usá-lo por

causa de seu dinheiro.

Gabriel se aproxima de mim, cola seu

rosto contra o meu, nossos lábios estão amenos de um centímetro.

– Meu dinheiro não lhe interessa,senhorita Baumann?

– Não, Sr. Diamonds, mas você temoutra coisa que me interessa…

Mal tenho tempo de reconhecer seusorriso malicioso, ele me pega pelobraço e me leva ao beco contíguo aorestaurante de frutos do mar. Estáescuro, mas suponho que meu amantenão deseja se fazer surpreender. Suareputação e minha dignidade estão emjogo… Tracionada por sua forçamonumental, eu o sigo sem resistir,saboreando de antemão as doces

sevícias que ele se prepara para meinfligir. Nós nos insinuamos até aextremidade da ruela, passamos diantede uma cabine telefônica e, sem meavisar, ele se adapta e me cola contra aparede, brutalmente. Escondida atrásdas paredes opacas, eu me acho defrente para este homem soberbo,intimidante, que me olha com um desejotal que estremeço da cabeça aos pés.

– Amandine, não sabe do que soucapaz por você…

Meu amante está perturbado, pelaprimeira vez suas emoções lhe escapame ele não tenta contê-las, sua voz estátrêmula, seu corpo está duro como

pedra. Sinto as lágrimas aflorarem aosolhos, tive tanto medo de perdê-lo…Tento lhe responder que souinteiramente dele, mas nenhum somchega a sair de minha boca paralisada.Logo seus lábios vêm ao encontro dosmeus e eu me deixo ir de encontro a ele.Sua mão direita se introduz por baixo demeu vestido e se cola de encontro a meusexo. Esse contato repentino me arrancaum grito, seguido por um longo gemidoquando meu amante se põe a acariciarminha entrecoxa através do tecido deminha tanga. Minhas pernas bambeiammas Gabriel me segura apoiando-se commais força contra mim. Depois seusdedos contornam a renda e vêm se enfiarem minha intimidade. Pegando meu

queixo com a outra mão, ele me obriga alevantar a cabeça e a me perder em seuolhar. Sua cólera desapareceu, não leiomais do que desejo em seus olhos azuis.

Enquanto seus dedos me vasculham eme atravessam, encontro coragem paradesabotoar sua calça jeans e liberar seusexo, tenso como um arco. A visão desua ereção provoca em mimestremecimentos, sinto uma vontadefuriosa de senti-la contra a palma deminha mão, de manipulá-la, de acariciá-la. Sem seu consentimento, começo umsuave movimento de vai-e-vem, masmeu amante me detém em meu impulso.Em um único movimento, levanta uma deminhas pernas e faz deslizar minha tanga

até me liberar dela. Depois, soltando umgrunhido bestial, ele me levantapegando-me por debaixo das coxas,convida minhas pernas a se enrolaremem volta de suas ancas e me penetraprofundamente. Minhas costas vêmnovamente se colar contra a parede e eugemo sem parar sob suas investidasapaixonadas. Durante longos minutos,ele me preenche, me percute, me possuisem nunca mostrar um sinal de fraqueza.Sua força é sobrehumana, sua resistênciaquase indecente. Finalmente, quandoestou arquejante, a dois passos dedesabar, gozo, gritando meu prazer. Meuorgasmo fulminante desencadeia o demeu amante: seu corpo se contrai umaúltima vez, seu sexo se aloja na parte

mais profunda antes de explodir dentrode mim.

Tive de usar e abusar de meu poderde persuasão para que Gabriel aceitassesubir ao meu apartamento. Eu não mesentia capaz de ouvir os pneus de seucarro guincharem sobre o betume e devê-lo afastar-se de mim, sozinha nomundo em meu pequeno canto decalçada. Preciso falar com ele, de meredimir, de lhe fazer compreender quenenhum outro homem poderá me desviardele.

– Quer um chá, um café, um suco defrutas, uma cerveja?

– Nada, obrigado.

Quanta frieza...

– Algum dia você pensa em meperdoar?

– Não tenho nada para perdoar. Vocêé livre para fazer suas escolhas, não medeve nada, mas saiba que se desejar serde outros, não será minha. Eu nãodivido, já disse isso a você, Amandine.

– Está difícil de seguir seuraciocínio. Em resumo, não estamosjuntos mas eu pertenço a você?

– Unicamente se o desejar. Para mimé tudo ou nada: ou você me é fiel ou nãoexiste mais para mim.

– O que espera de mim? Sexo,ternura... amor?

Está indo longe demais, Amandine…

– Muito mais do que sexo, tudomenos amor.

– Não sei se sou capaz disso.– É justamente por isso que deixo a

porta aberta. Você pode dizer stop aqualquer momento e eu desaparecerei desua vida.

– E se você se apaixonar por mim?– Mocinha, isso não vai acontecer,

acredite em mim…

Imbecil...

Ele tenta me tomar em seus braços,mas escapo. Suas palavras me feriram,tenho ganas de esbofeteá-lo, de martelar

seu peito maravilhoso com meuspequenos punhos ridiculamente fracos.

– De onde, pois, saía esta crise deciúmes? De minha imaginação? Eu acriei com todas as peças? Vai me fazeracreditar que isso não doeu, que não temnenhum sentimento por mim?! MalditoGabriel, vai me deixar louca!

– Acalme-se. Sou possessivo,Amande, mais nada.

– Não sou um objeto, tenho umcoração, uma consciência. Quanto avocê, duvido.

– Pare com isso, não me force a mejustificar. A verdade iria doer muito.

Estou esgotada, este diálogo de

surdos não levará a nada, estouconvencida disso. Como ele faz a cadavez para me fazer viver os mais belosmomentos de minha vida e os pioressuplícios no espaço de algumas horas?Desapontada, eu lhe peço que me sigaaté minha cama. Lá chegando, ele sedeita de encontro a mim e me envolveem seus braços. O sonho me vencesubitamente, antes que minhas lágrimastenham tempo de tocar o travesseiro.

Acordo de madrugada, sozinha. Emmeu punho fechado, descubro um pedaçode papel…

[Amande tão doce, devolvo sualiberdade. Faça bom proveito dela…]

Continua ! Não percam oepisódio a seguir !

Cem Facetas do Sr.Diamonds vol. 6

Amandine está com o coração partido,seu misterioso milionário foi embora.Por que Gabriel a deixou, o que ele

esconde de tão sombrio e inconfessável?A jovem se prepara para embarcar em

uma nova viagem emocional eperigosamente sensual, mais decidida do

que nunca a descobrir toda a verdade.Terá ela condições de enfrentar o

pesado passado de Diamonds que nãopara de persegui-los?

Fulgurante é a sexta parte da saga Cemfacetas do Sr. Diamonds.