cem anos de cia city

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Iniciação - Revista de Iniciação Científica, Tecnológica e Artística Edição Temática: Comunicação, Arquitetura e Design Vol. 3 no 1 – janeiro de 2014, São Paulo: Centro Universitário Senac ISSN 2179474 X © 2014 todos os direitos reservados - reprodução total ou parcial permitida, desde que citada a fonte portal de revistas científicas do Centro Universitário Senac: http://www.revistas.sp.senac.br e-mail: [email protected] CEM ANOS DE CIA CITY A Importância dos Bairros-Jardins na Conformação da Cidade de São Paulo. 100 years of Cia City: The Importance of the City Gardens in the development of São Paulo. Juliana Lopes de Andrade, Prof. Dr. Márcio Novaes Coelho Jr. Centro Universitário Senac – CAS BAU Comunicação, Arquitetura e Design - Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo [email protected], [email protected] Resumo. Este projeto pretende estudar o papel dos Bairros Jardins projetados pela Cia City no início do século XX, como planos de ordenamento urbano de determinada área da cidade de São Paulo, no caso o Jardim América, com enfoque no contexto histórico e sociocultural da cidade, analisando o tecido urbano em suas diferentes temporalidades, com suas permanências, efemeridades e projeções, buscando verificar os impactos da transformação causada por esta política urbana e sua influência no reconhecimento de um patrimônio construído da cidade. Palavras-chave: Bairro Jardim, Cia City, ordenamento urbano, São Paulo, Jardim América. Abstract. This project aims to study the role of the City Gardens developed by the Cia City during the beginning of the 20 th century, as planning instruments of a new residential neighborhood in São Paulo, the Jardim America, focusing on historical context and socio-cultural city, analyzing the urban fabric in their different temporalities and its permanence, seeking to verify the impact of consolidation of this urban policy and its influence on the recognition of a built heritage of the city. Key words: Garden City, Cia City, urban planning, São Paulo, Jardim America.

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Título completo: CEM ANOS DE CIA CITY A Importância dos Bairros-Jardins na Conformação da Cidade de São Paulo Artigo publicado na Revista Iniciação – edição Vol. 3, nº1, Ano 2014 Publicação Científica do Centro Universitário Senac - ISSN 2179-474X Acesse a edição na íntegra! http://www1.sp.senac.br/hotsites/blogs/revistainiciacao/?page_id=13 Resumo Este projeto pretende estudar o papel dos Bairros Jardins projetados pela Cia City no início do século XX, como planos de ordenamento urbano de determinada área da cidade de São Paulo, no caso o Jardim América, com enfoque no contexto histórico e sociocultural da cidade, analisando o tecido urbano em suas diferentes temporalidades, com suas permanências, efemeridades e projeções, buscando verificar os impactos da transformação causada por esta política urbana e sua influência no reconhecimento de um patrimônio construído da cidade.

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Iniciação - Revista de Iniciação Científica, Tecnológica e Artística Edição Temática: Comunicação, Arquitetura e Design Vol. 3 no 1 – janeiro de 2014, São Paulo: Centro Universitário Senac ISSN 2179474 X © 2014 todos os direitos reservados - reprodução total ou parcial permitida, desde que citada a fonte portal de revistas científicas do Centro Universitário Senac: http://www.revistas.sp.senac.br e-mail: [email protected]

CEM ANOS DE CIA CITY

A Importância dos Bairros-Jardins na Conformação da Cidade de São Paulo.

100 years of Cia City: The Importance of the City Gardens in the development of São Paulo.

Juliana Lopes de Andrade, Prof. Dr. Márcio Novaes Coelho Jr.

Centro Universitário Senac – CAS BAU

Comunicação, Arquitetura e Design - Bacharelado em Arquitetura e Urbanismo

[email protected], [email protected]

Resumo. Este projeto pretende estudar o papel dos Bairros Jardins projetados pela Cia City no início do século XX, como planos de ordenamento urbano de determinada área da cidade de São Paulo, no caso o Jardim América, com enfoque no contexto histórico e sociocultural da cidade, analisando o tecido urbano em suas diferentes temporalidades, com suas permanências, efemeridades e projeções, buscando verificar os impactos da transformação causada por esta política urbana e sua influência no reconhecimento de um patrimônio construído da cidade.

Palavras-chave: Bairro Jardim, Cia City, ordenamento urbano, São Paulo, Jardim América.

Abstract. This project aims to study the role of the City Gardens developed by the Cia City during the beginning of the 20th century, as planning instruments of a new residential neighborhood in São Paulo, the Jardim America, focusing on historical context and socio-cultural city, analyzing the urban fabric in their different temporalities and its permanence, seeking to verify the impact of consolidation of this urban policy and its influence on the recognition of a built heritage of the city.

Key words: Garden City, Cia City, urban planning, São Paulo, Jardim America.

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1. Introdução

Como tema deste projeto de pesquisa escolheu-se estudar os Bairros Jardins, planejados pela inglesa Cia City ("City of São Paulo Improvements and Freehold Land Company Limited”), fundada em março de 1912, e as possíveis influências que os mesmos teriam na configuração da estrutura urbana de São Paulo.

A escolha do tema teve como partida a relevância da Cia City no processo urbano e paisagístico de São Paulo, que influenciou o urbanismo paulistano da época, e contribuiu para a difusão de um determinado tipo de assentamento residencial, o dos Bairros Jardins, sendo uma das primeiras a implantar e planejar loteamentos de acordo com normas urbanísticas; e o fato da companhia estar completando cem anos.

Os bairros jardins paulistanos, surgiram a partir do conceito de Cidade-Jardim; primeiramente abordado por Ebenezer Howard. As teorias de Howard, publicadas em 1989, (SEGAWA,2000) defendiam uma cidade autônoma, que mesclasse as qualidades do campo e da metrópole, se apropriasse das qualidades naturais do terreno onde seria implantada, e, além disso, fossem circundadas por um cinturão verde. A ideia era utilizar as características originais da terra, como drenagem, topografia, vegetação, para criar um ambiente que prezasse a vida em comunidade, e resgatasse elementos já perdidos na vida na cidade liberal. O novo modelo de se desenhar as cidades era uma resposta do estudioso ao fenômeno de perda de identidade e sociedade que vinha ocorrendo nas cidades inglesas, e principalmente nas suas regiões periféricas.

Baseados nesses ideais, os urbanistas Barry Parker e Raymond Urwin foram os responsáveis por projetar a primeira Cidade Jardim implantada no mundo, Letchworth, em 1902. Esses mesmos urbanistas foram, aproximadamente dez anos mais tarde, chamados para desenhar o primeiro bairro jardim brasileiro: o Jardim América. Assim, o modelo de assentamento das casas do Jardim América, assobradadas e destacadas dos limites de seus lotes, veio da Europa, mas tornou-se padrão para a implantação das residências paulistanas da época. Também, sua norma vigente de desenho urbano, homogêneo e orgânico, com passeios ajardinados e arborizados, vegetação publica e residências baixas, foi importada dos moldes ingleses e considerada sofisticada e adequada aos padrões da cidade, passando assim a ser replicado em outros empreendimentos de bairros residenciais, tornando-se a novo meio de se lotear.

A pesquisa teve assim seu foco direcionado para o estudo do Jardim América, primeiro bairro instituído pela Cia City em São Paulo. Assim, sua implantação foi tomada de exemplo para se entender como funciona um bairro jardim em São Paulo, que relações cria na cidade, e como foi sua manutenção com o passar do tempo. Sobretudo porque o caso particular deste bairro é considerado representativo dentro de um conjunto de casos análogos, pois, a partir da implantação do Jardim América, diversos outros modelos de bairros jardins, inspirados no sucesso deste, se consolidaram em São Paulo (Jardim Paulista, Jardim Europa, Jardim Guedala).

2. Objeto de Estudo

O objeto de estudo em questão, o bairro do Jardim América, foi incorporado em 1915 e loteado por volta de 1919, tendo seu tombamento assinado em 1986. Faz parte do distrito Jardim Paulista e é administrado pela subprefeitura de Pinheiros. O perímetro definido para estudo se delimita entre as ruas Estados Unidos, Av. Nove de Julho, Groenlândia e Al. Gabriel Monteiro da Silva. Sua escolha como objeto de pesquisa baseia-se no pioneirismo do mesmo em sua proposta urbanística, e nas polêmicas geradas em relação ao seu processo de tombamento (WOLFF, Silvia, 2001). Além

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disso, o período de implantação e consolidação do bairro coincide com o momento em que se constituíram as primeiras representantes da arquitetura paulistana moderna.

3. Objetivos da Pesquisa

O projeto visa o estudo de traçados e percursos, e a influência dos mesmos na trajetória da formação do espaço urbano na cidade de São Paulo, a partir da análise especifica de determinado trecho da cidade: o loteamento realizado pela Cia City na região do Jardim América.

A relevância do projeto baseia-se, portanto, na ativa participação da companhia, que agora completa cem anos, no processo de transformação urbana e paisagística de São Paulo, e na referência histórica que estes bairros trouxeram para São Paulo, sendo que alguns deles (Jardim América, City Lapa, Pacaembu) são inclusive tombados como patrimônio histórico pelo Condephaat (Conselho de Defesa de Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico do Estado de São Paulo).

4. Metodologia

A metodologia adotada baseou-se em um primeiro levantamento de dados bibliográficos, que após estudos e discussões gerou parâmetros que guiaram o resto da pesquisa. Foram então realizadas coletas de material documental e legislativo, e uma pesquisa de campo que resultou em um levantamento de material iconográfico. As análises desses dados recolhidos juntamente com o suporte bibliográfico deram base para a elaboração de mapas e diagramas esquemáticos sobre o local; e comparação, com base nos dados recolhidos, da situação atual do local com sua forma original.

5. Resultados

Em 1910, a prefeitura de São Paulo propunha uma expansão urbana, contratando Barry Parker, famoso urbanista inglês, responsável por realizar loteamentos conhecidos como cidade-jardim, para realizar projetos em São Paulo. O desenho urbano das cidades-jardim era feito levando em conta as características e elementos naturais do terreno (topografia, drenagem, vegetação). Assim, o desenho local valoriza o pedestre: com calçadas largas, bem arborizadas, os recuos prestigiam o conforto térmico e lumínico. O desenho dos jardins pode ser considerado pioneiro nos moldes do urbanismo paulistano, e a massa vegetal se compara a edificada em questão de importância, sendo que na época de sua ocupação, foram definidos padrões não só de uso e aproveitamento de lote, recuos e gabaritos, como também regras que exigiam existência de massas arbóreas, cercas vivas, calçadas e passeios gramados.

Quanto à arquitetura, não há um único estilo arquitetônico no Jardim América, porém, uma mistura de edifícios ecléticos, modernistas, neoclássicos e neocoloniais. Há poucos edifícios originais, muito do que foi implantado de novo procura copiar os padrões da época de implantação do bairro.

Quanto ao tombamento, foram tombados na área do Jardim América os seguintes elementos: o atual traçado urbano, representado pelas ruas e praças públicas contidas entre os alinhamentos dos lotes particulares; a vegetação , especialmente a arbórea, que passa a ser considerada como bem aderente; e as atuais linhas demarcatórias dos lotes, junto ao o baixo adensamento delas decorrente. Além disso, quaisquer alterações nas construções deverão passar por prévia autorização do CONDEPHAAT; não são permitidas mudanças no sistema viário, guias e larguras de calçadas, sem prévia autorização; é permitido aos moradores o plantio de árvores e ajardinamento de calçadas; e os projetos realizados na região deverão respeitar limites e volumetria

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dos edifícios originais e ter parte do lote destinado ao ajardinamento com alta densidade arbórea.

Além da importância histórica e turística, a região apresenta precioso valor ambiental e paisagístico, criando um microclima urbano mais úmido e de temperaturas mais amenas. Em 2010, foi proposto um projeto de revisão do tombamento dos Jardins, quando o mesmo completou 25 anos, tentando modificar aspectos da legislação que se adaptassem melhor às características existentes nos locais, porém não obteve aprovação.

Pesquisa de campo: Descrição de vias principais.

-Vias Arteriais: Foram praticamente todas modificadas, ocupadas principalmente por showrooms.

-Vias Coletoras: Ainda mantém o caráter residencial e o desenho de calçadas em sua maioria, mas grande parte já foi ocupada por serviços.

-Vias locais: Ainda funcionam no padrão original, observam-se poucas mudanças na arquitetura também, e há um grande número de edifícios antigos.

-Praças: As praças, apesar de bem conservadas, muitas por serem mantidas por empresas privadas, não são muito utilizadas pela população local, mesmo aquelas que possuem equipamentos. Várias delas funcionam apenas como canteiros e floreiras. As praças parecem não ser exatamente voltadas para uso público, mas têm função de garantir a permeabilidade e condição de conforto ambiental e qualidade ecológica do local.

A partir da pesquisa de campo, foi criado um mapeamento de usos e ocupações atuais das principais vias do Jardim América, organizados no Mapa 1:

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MAPA 1 - Mapa montado a partir de visitas, estudos, análise de dados e levantamento

iconográfico de mapas e fotos sobre o Jardim América, para determinar as formas aproximadas de uso e ocupação das vias.

Fonte: Base – Gegran; Edição – Autora.

Levantamento Iconográfico

MAPA A - Referências históricas

Seleção de locais e desenhos de rua considerados importantes por serem referências históricas ou caracterizadores da tipologia do bairro. Dentre eles instituições que marcaram época por motivos específicos; monumentos; conjuntos de praças e trechos viários que demonstram características de desenho urbano-paisagístico do lugar. (Observar Mapa A e Tabela de Figuras A).

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MAPA A – Localização dos edifícios apontados na Tabela de Figuras A.

Fonte: Base – Google; Edição – Autora.

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TABELA DE FIGURAS A – Seleção de imagens de locais de alta representatividade histórica. Fonte: Autora.

A1. Paróquia Nossa Senhora do Brasil. Praça Nossa Senhora do Brasil, s/n. Datada 1942, a igreja, originalmente de estilo colonial brasileiro modernizado, foi sendo modificada durante sua construção adquirindo um estilo eclético, com elementos mouriscos, orientais, clássicos e barrocos. É o principal marco do bairro, localizada exatamente no centro do mesmo, foi construída em local destinado pela Cia City para jardins;

A2. Praça Homero Vaz do Amaral, s/n. Esquina das ruas Venezuela e Estados Unidos. Mantida pela F*Hits, a praça hoje possui esculturas diversas e instalações artísticas. Graças à decoração a praça tornou-se cenário para fotos e propagandas de marcas de roupas;

A3. Praça Dionísio de Carvalho, s/n. Localizada na Rua Colômbia. A praça ganhou sua importância quando em 1927 foi inaugurado em 1927 o monumento para homenagear o Club Athletico Paulistano, primeiro time brasileiro a excursionar pela Europa;

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A4. Club Athletico Paulistano. Rua Honduras, 1400. Desde os primeiros desenhos, o espaço em que hoje está implantado o clube foi destinado para esse fim, sua fundação coincide com a do bairro. O local conta com infraestruturas diversas para a prática de esportes, como quadras e piscinas, e atende não só moradores do Jd. América como de diversos locais da cidade;

A5. Praça Libertador Simón Bolívar, s/n. Localizada na Rua Canadá. A praça pode ser considerada um elemento mais pontual, servindo de referencia apenas para as ruas em seu entorno. Formada apenas por canteiros, e sem equipamentos, tem sua manutenção realizada pelos próprios moradores das casas adjacentes;

A6. Praça Adolfo Bloch, s/n. Localizada na Rua Colômbia. A praça funciona como um parque local com equipamentos diversos, e tem capacidade para atender um grande público, é palco para diversos eventos culturais, educacionais e de lazer. Apesar disso, ela é pouco utilizada, e assim como na maior parte das ruas do bairro a frequência de pessoas é pequena;

A7. Praça das Guianas, s/n. Entre as ruas Canadá e Nove de Julho. Funciona como um canteiro central separador de vias. Assim como a maioria das praças do Jd. América ela não possui usos específicos e sua função está relacionada bem mais a permeabilidade, e elemento paisagístico de composição do desenho das vias, que um espaço para uso púbico de descanso, ou contemplação;

A8. Praça General San Martín, s/n. Localizada na Rua Guadalupe. Mantida pelo banco Santander, possui equipamentos como playgrounds, e mobiliários; e uma escultura dedicada ao patrono que dá nome à praça. Tem escala bem maior que as outras praças existentes no bairro, mas apesar disso não se nota a presença de pessoas frequentes que utilizam o local;

A9. Rua Argentina/ A10. Rua Canadá. O desenho de vias e calçadas, mostrado nas fotos acima, foi escolhido para representar todo o traçado viário do Jardim América, que pode também ser considerado como uma referência e merece atenção especial devido às suas particularidades. Todas as calçadas residenciais possuem tratamento paisagístico, desenhos específicos e áreas destinadas para jardins;

A11. Sociedade Harmonia Tênis, Rua Canadá, 652. Fundado em 1930 por sócios do Club Athletico Paulistano, possuiu dez quadras abertas e piscinas, atende a população local e de outros bairros, além de ser sede de diversos campeonatos da modalidade. O edifício projetado por Fábio Penteado foi tombado como patrimônio histórico.

MAPA B – Showroons, comércios e serviços.

Seleção de trechos viários caracterizadas por usos comerciais e de serviços que fogem dos padrões de construção e legislação existentes no bairro. (Observar Mapa B e Tabela de Figuras B.)

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MAPA B – Localização dos edifícios apontados na Tabela de Figuras B.

Fonte: Base – Gegran; Edição – Autora.

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TABELA DE FIGURAS B – Seleção de imagens de comércios, serviços e showroons.

Fonte: Autora.

B1. Showroom Via Itália. Av. Brasil, 1779. No local são expostos carros das marcas Ferrari e Maserati, foi

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inaugurado em 2009 e além da função cultural, também exerce papel turístico atraindo público para visitar os carros expostos;

B2. C&C Showroom Brasil. Av. Brasil, 1860. O antigo palacete da Av. Brasil foi adaptado e hoje abriga um depósito da C&C. Parte da vegetação foi mantida e também alguns móveis e decorações da época de sua construção;

B3. Av. Brasil, altura do número 2079. A avenida possui comércios, serviços, showroons e depósitos espalhados por toda sua extensão. É a via mais movimentada;

B4. Giroflex Forma, Rua Colômbia, 100./ B5. ASH Hair and Esthetics, Rua Colômbia, 229./ B6. Tânia Bulhões, Perfumes. Rua Colômbia, 270. A parte baixa da Rua Colômbia possui showroons, clínicas, e serviços variados, com maior adensamento vegetal, tem calçadas e passeios desenhados e vegetados, baixa luminosidade e maior conforto térmico e umidade que a parte alta da mesma;

B7. Hyundai, Rua Colômbia, 652./ B8. Audi, Rua Colômbia, 710./ B9. Citröen, Rua Colômbia, 740./ B10. Bentley, Rua Colômbia, 784/ B11. Mercedes-Benz, Rua Colômbia, 785./ B12. Aston Martin, Rua Colômbia, 799. A parte alta da Rua Colômbia é marcada pela existência de concessionárias das mais diversas marcas, acabou tornando-se referência na cidade por possuir um tipo de serviço específico. Possui calçadas largas e pouco vegetadas, o local recebe alta incidência solar, fugindo dos padrões paisagísticos definidos para o bairro;

B13. Salão 1838, Rua Estados Unidos, 1838./ B14. 2001 Locadora, Rua Estados Unidos, 1324./ B15. HSBC, Rua Estados Unidos, 1240./ B16. LINCX, Rua Estados Unidos, 1162./ B17. S. C. Sapatos, Moda, Acessórios, Rua Estados, 1122/ B18. Zabo Engenharia, Rua Estados Unidos, 1044./ B19. LINCX, Rua Estados Unidos, 1000. O comércio de rua da Estados Unidos é o menos elitizado e parece ser mais voltado ao público local. Isso pode ser consequência do fato da via ter sido destinada desde o inicio do bairro para usos comerciais;

B20. Doural, Alameda Gabriel Monteiro Da Silva, 795./ B21. Portoro, Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 756./ B22. Alberflex Móveis, Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 755./ B23. Espaço Til, Alameda Gabriel Monteiro da Silva, 689. A Alameda Gabriel Monteiro da Silva pode ser considerada a mais movimentada depois da Av. Brasil devido a sua ocupação total por showroons de alto padrão. A via não visa atender apenas público local, mas ser um ponto de vendas que atrai pessoas de diversos locais da cidade;

B24. João Mansur Arquitetura, Rua Groenlândia, 1922./ B25. Avanti Carpet, Rua Groenlândia, 1951. A metade mais alta da Rua Groenlândia é ocupada por lojas, showroons, e escolas de artes e línguas. Provavelmente por conta de esse trecho ser o mais próximo da Al. Gabriel Monteiro da Silva, contrastando com a metade mais baixa da rua, onde a ocupação é em sua maioria residencial.

MAPA C – Residências

Seleção de residências e trechos residenciais considerados marcantes, ou por serem originais do período de criação do bairro, e por sua arquitetura histórica preservada,

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ou por terem sofrido reformas drásticas, pela agressividade das modificações, ou contrate que causam em seu entorno. (Observar Mapa C e Tabela de Figuras C.)

MAPA C – Localização dos edifícios apontados na Tabela de Figuras C.

Fonte: Base – Gegran; Edição – Autora.

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TABELA DE FIGURAS C – Seleção de imagens de residências.

Fonte: Autora.

C1. Rua Honduras, 1361. O estilo arquitetônico da casa foi representativo do período de sua construção, a casa apresenta características neocoloniais e regionalistas além de arcos de pedras incrustadas típicos de uma simplificação da linguagem hispano-americana;

C2. Rua Estados Unidos, 1053. Na rua há poucas residências implantadas, e a maioria encontrada lá parece ter sofrido reforma recente, como esse palacete, que se encontrava em obras;

C3. Rua Estados Unidos, 1358. Outra residência na Rua Estados Unidos que apresenta recente reforma, mas que procura manter parte de suas características estilísticas;

C4. Rua Canadá, 85. Exemplo da forma de tratamento paisagístico existente intra-lote; os lotes tem grande parte de suas áreas permeáveis e com alta concentração arbórea. Observa-se bem essa característica nessa residência, pela diversidade de espécies vegetais, árvores de copa densa e palmeiras;

C5. Rua Canadá, 240. Residência que também apresenta diversos elementos característicos do Jardim América idealizado por Barry Parker, como os muros baixos,

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as calçadas ajardinadas e a alta quantidade de vegetação dentro do lote;

C6. Rua Canadá, 390. Mais um exemplo da mescla estilística do Jardim América. Com elementos mais orgânicos como o portão Art Nouveau, contrastando com as formas mais geometrizadas da edificação;

C7. Rua Canadá, 424. Novas elites que ocuparam o bairro mais recentemente investiram em arquiteturas mais monumentais, remetendo aos elementos clássicos, grandes jardins racionalistas, e uso de paredes brancas;

C8. Rua Canadá, 602./ C9. Rua Canadá, 671./ C10. Rua Canadá, 677./ C11. Rua Canadá, 739. Conjunto de casas da rua Canadá das décadas de 30 e 40, demonstram como o modo de vida do refletia-se na arquitetura; muros baixos, muitos ornamentos, portões e esquadrias adornados, misturas de elementos estilísticos. Nota-se também a como o tempo influi na arquitetura, que assumia formas mais limpas e geometrizadas nas residências mais novas;

C12. Rua Canadá, 787. Exemplo de como os moradores tem investido em elementos que em sua opinião trazem mais segurança as suas casas, como os muros altos, ultrapassando os 1,2m de muro delimitados na época da ocupação do bairro, e outros equipamentos como câmeras e guaritas.

C13. Rua Argentina, 219. Uma das diversas residências construídas em “estilo normando”, nome genérico para um tipo de construção com telhados de alta inclinação, estruturas em madeira enxaimel, e janelas pequenas, o tipo de construção usada em países frios para proteção da neve, esteve ironicamente sempre presente no Jardim América contribuindo para o seu clima bucólico.

C14. Rua Groenlândia, 1338. Construída em 2009, após demolição do edifício pré-existente, demonstra a ocupação mais recente do bairro por edifícios de caráter contemporâneo.

C15. Rua Groenlândia, 1371. Conhecida como Casa Manchete, foi tida como um dos cartões postais da cidade por ter pertencido a Dr. Adolfo Bloch, dono da Editora Manchete e da Rede Manchete de Televisão, mansão afrancesada, com mansardas e águas-furtadas. A casa foi originalmente construída para residência do Ministro Horácio Lafer, sendo posteriormente vendida para o dono da Manchete e, em seguida para o empresário Jorge Yunes, que murou a casa por volta de 2006, após um assalto. Hoje parece que o proprietário da mansão é o ex-senador Gilberto Miranda.

C16. Av. Brasil, 2016. Uma das poucas residências remanescentes na Av. Brasil, senão a única, também em estilo normando.

Sobre esses dados discorre-se que apesar possuir de um desenho completamente favorável à caminhada do pedestre, as ruas são basicamente ocupadas somente por carros, o trânsito de pessoas é muito pequeno e nulo em algumas partes. Motivos hipotéticos podem ser a insegurança dos usuários ou a falta de usos mistos e outros atrativos. A elitização do bairro, a segurança exagerada, os muros altíssimos negando

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completamente a ideia de cercar os lotes com paredes de até 1,20m previstas no projeto original, podem ser agravantes nesse processo de desuso das ruas por público de transeuntes. Mesmo assim, é inegável a representatividade do bairro para a região em que foi implantada por diversos fatores.

6. Conclusão

As formas de ocupação do Jardim América no início do século passado e a diversidade estilística de suas residências foram, juntamente com o traçado criado pela City, os elementos caracterizadores do bairro. As casas, símbolos de momentos arquitetônicos diferentes, seus moradores e as vivências que se desenvolveram no local deram vida à imagem que temos hoje do mesmo. Essa imagem, apesar de consolidada, veio se modificando nos últimos anos devido a fraquezas na legislação vigente, entre outros fatores.

Apesar de possuir um desenho urbano altamente reconhecível e responsável pelo sucesso da Companhia City (favoreceu, inclusive seus cem anos de existência) a forma do bairro tem sido desmerecida com o passar do tempo. A legislação protege os elementos paisagísticos, viários e de parcelamento, porém, não é eficaz ao que se diz respeito à manutenção das edificações e formas de uso locais.

Com a construção de elementos que não estavam presentes no projeto original de Parker, como muros altos e guaritas, o bairro perdeu muitas de suas características originais de uso e ocupação do solo e parte da sua essência. O local, desenvolvido para favorecer o percurso a pé, dotado de caminhos arborizados, referências bucólicas e pitorescas, não é mais utilizado dessa forma. O tráfego de pedestres é praticamente nulo, os espaços públicos são pouco utilizados e as ruas são apenas ocupadas por veículos.

Muitas residências foram mascaradas dando lugar à comércios e serviços; outras vezes showroons ocupam os lotes, que deveriam ser exclusivamente residenciais, com aprovação legal, usando a desculpa de não realizarem atividades comerciais, somente expositivas. Isso faz com que o tombamento conquistado pelos moradores para garantir a essência tradicional do bairro venha aos poucos perdendo seu sentido.

Apesar de tudo isso, pensar em impor no bairro formas de ocupação unicamente residenciais como garantia de sucesso é um tanto quanto paradoxal. Já que ao limitar esse tipo de uso cria-se uma ocupação mais elitizada limitando também o melhor aproveitamento das formas urbanas pelos transeuntes. Talvez a melhor maneira de retomar o modelo de bairro idealizado por Parker e Urwin seja mesclar os diferentes usos, porém com incentivo legal e regulamentado.

Conclui-se assim que a ocupação não residencial que vem ocorrendo no Jardim América, principalmente nos últimos dez anos, apesar de acelerar o processo de descaracterização do bairro, poderia funcionar como uma solução para a melhoria de seu caráter de uso público; se feita de forma padronizada e regulamentada. A verdade é que a legislação atual dá pouco suporte à manutenção do Jardim América original, das residências, e favorece situações de ocupação consideradas impróprias pela lei.

Durante seus cem anos de existência, a Cia City foi responsável por trazer referências arquitetônicas e urbanísticas para a cidade, com seu jeito europeu, orgânico e sustentável de se lotear, e favoreceu na conformação da história de São Paulo. A companhia trouxe uma forma de loteamento, que apesar de não ser para todas as classes, não pode ser negligenciada, devido à sua importância histórica, artística, cultural e arquitetônica. Um modelo que merece ser preservado e ter uma legislação que garanta o melhor aproveitamento possível de suas obras; tanto por seus moradores, como por visitantes e pela cidade em geral; não somente no Jardim América, tomado como exemplo nesse projeto, mas também nos muitos outros bairros criados pela empresa.

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Iniciação - Revista de Iniciação Científica, Tecnológica e Artística - Vol. 3 no 1 – janeiro de 2014 Edição Temática: Comunicação, Arquitetura e Design

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