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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO DE CIÊNCIAS DA SÁUDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO CELINA DE AZEVEDO DIAS ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS E SUAS MÃES MORADORAS DE ASSENTAMENTOS SUBNORMAIS DE MACEIÓ – AL RECIFE 2011

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO DE CIÊNCIAS DA SÁUDE

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM NUTRIÇÃO

CELINA DE AZEVEDO DIAS

ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS E SUAS MÃES

MORADORAS DE ASSENTAMENTOS SUBNORMAIS DE

MACEIÓ – AL

RECIFE 2011

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CELINA DE AZEVEDO DIAS

ESTADO NUTRICIONAL DE CRIANÇAS E SUAS MÃES

MORADORAS DE ASSENTAMENTOS SUBNORMAIS DE

MACEIÓ – AL

Orientador: Profº Dr. Pedro Israel Cabral de Lira Co-orientador: Profª Dra. Poliana Cabral Coelho

RECIFE 2011

Dissertação de mestrado apresentada ao programa de Pós-graduação em Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco, para obtenção do grau de mestre. Área de concentração: Nutrição em Saúde Pública.

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Dias, Celina de Azevedo

Estado nutricional de crianças e suas mães moradoras de assentamentos subnormais de Maceió- AL / Celina de Azevedo Dias. – Recife: O Autor, 2011.

76 folhas: il., fig. e graf.; 30 cm.

Orientador: Pedro Israel Cabral de Lira Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de

Pernambuco. CCS. Nutrição, 2011.

Inclui bibliografia, anexos e apêndices.

1. Nutrição. 2. Criança. 3. Mães. 4. Fatores socioeconômicos. 5. População de baixa renda. I. Lira, Pedro Israel Cabral de. II.Título.

UFPE 612.3 CDD (20.ed.) CCS2011-095

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Aos que acreditam, motivam e se alegram com as minhas realizações e conquistas.

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AGRADECIMENTOS

A Deus, por iluminar e abençoar sempre a minha vida e ser minha razão de viver.

À minha família, principalmente minha mãe, pela confiança, pelo estímulo, apoio e pelo amor eternos.

Ao meu marido José Neto, pelo amor e compreensão incondicionais nesta caminhada.

Ao Prof. Dr. Pedro Israel Cabral de Lira, pela disponibilidade e confiança ao orientar este trabalho.

À Profa. Dra. Poliana Cabral Coelho, pela disposição e serenidade constante para instrução e orientação deste trabalho.

À Profa. Dra. Telma Maria de Menezes Toledo Florêncio, por proporcionar a oportunidade de participar desta grande e importante pesquisa, contribuindo para minha vida acadêmica, desde a graduação até a obtenção do grau de mestre.

À Pós-graduação em Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco, especialmente aos professores do Laboratório de Saúde Pública, pelo apoio, oportunidade e qualidade do ensino oferecido.

A cada indivíduo e morador dos assentamentos que participou desta pesquisa, fornecendo informações inerentes à sua vida, de maneira inocente e voluntária, nem imaginando o quão foram importantes para a realização deste estudo.

A toda equipe dos estudantes e estágios de nutrição e medicina, hoje, todos profissionais, que participaram na coleta e tabulação dos dados deste estudo, pois sem eles este trabalho não seria realizado.

À minhas verdadeiras amizades e a todos que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho.

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“O subdesenvolvimento não é, como muitos pensam equivocadamente, insuficiência ou ausência de desenvolvimento. O subdesenvolvimento é um produto ou um

subproduto do desenvolvimento, uma derivação inevitável da exploração econômica colonial ou neocolonial, que continua se exercendo sobre diversas regiões do planeta”.

Josué de Castro, extraído do livro Geopolítica da fome

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RESUMO

Estudos têm apontado correlação intra-familiar positiva quanto ao estado nutricional de mães

e seus filhos, por compartilharem tanto informações genéticas, quanto condições

socioeconômicas e ambientais. Assim, objetivou-se avaliar a associação entre o estado

nutricional de crianças e suas mães moradoras de assentamentos subnormais de Maceió-AL,

caracterizando a população de estudo segundo variáveis demográficas e socioeconômicas.

Trata-se de um estudo transversal envolvendo amostra probabilística de 1137 mães e 1365

crianças (0 a 10 anos). Os dados socioeconômicos, demográficos e antropométricos foram

coletados através de inquérito domiciliar. Na avaliação nutricional das mães, foi utilizado o

índice de massa corporal (IMC) e das crianças os índices altura/idade (A/I) e IMC/Idade

(IMC/I) em Escores-z. A idade média das mães foi de 38,5 anos (DP=14,27) e das crianças de

4,85 anos (DP=2,86). Na análise das variáveis socioeconômicas e do domicílio, constatou que

a população era de muito baixa renda. Contudo, 46,8% das mães e 18,0% das crianças

apresentaram excesso de peso. Encontrou-se déficit estatural em mães e suas crianças de

20,8% e 7%, respectivamente. Não houve associação entre o excesso de peso materno e o

estado nutricional das crianças menores de 10 anos (p>0,05). Portanto, apesar de

compartilharem o mesmo contexto socioeconômico e ambiental, não houve relação entre o

estado nutricional de mães e suas crianças. O déficit estatural e o excesso de peso foram

significativos e prevalecem tanto nas mães como em suas crianças.

Descritores: Criança. Mães. Estado nutricional. Fatores socioeconômicos. População de

baixa renda.

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ABSTRACT

Studies have shown positive correlation within families on the nutritional status of mothers

and their children, for sharing so much genetic information, and socioeconomic and

environmental conditions. The objective was to evaluate the association between nutritional

status of children and their mothers living in substandard settlements (slums) of Maceió-AL,

characterizing the study population according to demographic variables and socioeconomic

characteristics. This is a cross-sectional study involving a random sample of 1137 mothers

and 1365 children (0-10 years). The demographic, socioeconomic and anthropometric

measurements were collected through household survey. During the nutritional assessment of

mothers, we used the body mass index (BMI) and for children height-for-age and BMI-for-

age indices in z-scores. The average age of mothers was 38.5 years (SD = 14.27) and children

of 4.85 years (SD = 2.86). In the analysis of socioeconomic variables and household

characteristics, found that the population was very poor. However, 46.8% of mothers and

18,0% of children were overweight. It was found short stature in mothers and their children,

20.8% and 7% respectively. There was no association between maternal overweight and

nutritional status of children under 10 years (p> 0.05). Therefore, even though they share the

same socioeconomic background and environment, there was no relationship between the

nutritional status of mothers and their children. The stunting and overweight were prevalent

and significant in both mothers and their children.

Descriptors: Child. Mothers. Nutritional status. Socioeconomic factors. Low-income people.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Gráficos Páginas

Gráfico 1. Classificação nutricional segundo o índice de massa corporal (IMC)

de mães e crianças moradoras de assentamentos subnormais de Maceió/AL-2004.

55

Gráfico 2. Classificação nutricional segundo déficit de estatura de mães e

crianças moradoras de assentamentos subnormais de Maceió/AL-2004.

56

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LISTA DE TABELAS

Tabelas Páginas

Tabela 1. Caracterização socioeconômica de mães moradoras de assentamentos

subnormais de Maceió/AL-2004.

52

Tabela 2. Condições de moradia das mães e de suas crianças menores de 10 anos

moradoras de assentamentos subnormais de Maceió/AL-2004.

53

Tabela 3. Razão de prevalência e intervalo de confiança de 95% do excesso de

peso das mães de acordo com o estado nutricional de suas crianças menores de 10

anos moradoras de assentamentos subnormais de Maceió/AL-2004

54

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AL – Alagoas

A/I – Altura/Idade

CEP – Comitê de Ética em Pesquisa

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico

CSE – Condições Socioeconômicas

DHS – Demographic Health Surveys

ECMAL – Escola de Ciências Médicas de Alagoas

ENDEF - Estudo Nacional de Despesas Familiares

ESF – Estratégia de Saúde da Família

FAPEAL – Fundação de Amparo a pesquisa do Estado de Alagoas

IBAM – Instituto Brasileiro de Administração Municipal

IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IC – Intervalo de Confiança

IMC – Índice de Massa Corporal

IMC/I – Índice de Massa Corporal /Idade

g – gramas

Kg – Quilograma

MONICA – Monitoring Trends and

determinants in Cardiovascular Disease

OMS - Organização Mundial de Saúde

OPAS – Organização Pan-Americana de Saúde

OR – odds ratio

PESN – Pesquisa Estadual de Saúde e Nutrição

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

PNDS – Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde

PNSN – Pesquisa Nacional de Saúde e Nutrição

POF – Pesquisa de Orçamentos Familiares

PPV – Pesquisa sobre Padrão de Vida

RMR – Região Metropolitana do Recife

RP - Razão de Prevalência

SM – Salários Mínimos

SPSS – Statistical Package for the Social

Sciences

UFAL – Universidade Federal de Alagoas

UFPE – Universidade Federal de Pernambuco

UNICEF – United Nations Children's

Fund

WHO – World Health Organization

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SUMÁRIO

1 APRESENTAÇÃO .......................................................................................................

12

2 REVISÃO DA LITERATURA ........................................................................... ........

14

2.1 Evolução do estado nutricional de crianças ................................................................. 14 2.2 O processo de transição ............................................................................................... 17 2.3 Determinantes do declínio da desnutrição infantil no Brasil e no Nordeste ............... 19 2.4 Fatores socioeconômicos e ambientais associados ao estado nutricional ................... 22 2.5 Estado nutricional materno e o estado de saúde e nutrição de seus filhos ................. 25 3 MÉTODOS ....................................................................................................................

28

3.1 Local de estudo ........................................................................................................... 28 3.2 Desenho de estudo ...................................................................................................... 28 3.3 População de estudo .................................................................................................... 28 3.3.1 Amostra ................................................................................................................ 29 3.4. Coleta de dados ........................................................................................................... 29 3.4.1 Dados socioeconômicos ....................................................................................... 30 3.4.2 Dados antropométricos ........................................................................................ 30 3.5 Processamento e análise de dados ............................................................................... 31 3.6 Aspectos éticos ............................................................................................................ 31 4 RESULTADOS .............................................................................................................

32

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS .......................................................................................

57

REFERÊNCIAS ............................................................................................................

59

APÊNDICES

A – Questionário utilizado para coleta de dados ............................................................ 68 B – Termo de consentimento livre e esclarecido utilizado na pesquisa ......................... 73 ANEXOS

A – Distribuição espacial das regiões administrativas de Maceió-AL ........................... 75 B – Aprovação do comitê de ética em pesquisa ............................................................. 76

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

1 Apresentação

Diversas mudanças econômicas, políticas, sociais e demográficas nas últimas décadas

impulsionaram transformações expressivas no processo saúde-doença nas sociedades. O

intenso êxodo rural favorecido pela urbanização acelerada propiciou mais de 80% das pessoas

residindo nas cidades, favorecendo a inversão da distribuição da população de áreas urbanas e

rurais, contribuindo para “metropolização da pobreza” – concentração de pobres rurais nas

metrópoles urbanas. As taxas de mortalidade infantil e pré-escolar e de fecundidade

declinaram substancialmente, elevando a expectativa média de vida e aproximando o perfil da

pirâmide populacional ao de países desenvolvidos. As modificações no mercado de trabalho

foram fundamentais no que se refere à geração de renda, estilos de vida e demandas

nutricionais (BATISTA FILHO e RISSIN, 2003). Neste contexto, mudanças nos indicadores

nutricionais e no padrão de morbimortalidade também foram observadas, especialmente no

que se refere ao declínio da desnutrição, principalmente em crianças e o incremento da

obesidade, principalmente em adultos.

Essa nova conformação demográfica e social acabou por produzir intensas

desigualdades no acesso a bens e serviços em determinados grupos sociais, com notável

impacto na população de baixa renda. Apesar de a desnutrição energético-protéica estar

diminuindo no Brasil, principalmente no Nordeste, tal agravo ainda continua a ser um

relevante problema de saúde pública, especialmente em alguns bolsões de pobreza localizados

nas periferias das grandes cidades devido às diferenças sociais. Ao mesmo tempo, a

prevalência de obesidade cresce de forma global, porém com frequência de excesso de peso

expressiva particularmente na população feminina de menor renda. As consequências

advindas desse quadro tais como a ameaça ao crescimento e desenvolvimento infantil, as

complicações clínicas que limitam o acesso ao trabalho e a necessidade de tratamentos

onerosos, ajudam a disseminar o ciclo de pobreza (DANEL, KUROWSKI e SAXENIAN,

2008; IBGE, 2010).

No Brasil, a população de baixa renda representa cerca de 20% da população total

(IPEA, 2008). Segundo o Mapa de Pobreza e Desigualdade, publicado pelo IBGE em 2008 a

partir das informações da Pesquisa de Orçamentos Familiares – POF 2002-2003 e do Censo

Demográfico de 2000, a região Nordeste tinha 77,1% de seus municípios com mais da metade

da sua população vivendo na pobreza (IBGE, 2008).

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

O estado de Alagoas possui dez dos municípios brasileiros mais pobres, sendo

considerado um dos estados do Nordeste com as piores condições sociais. Os seus indicadores

sociais tais como o índice de desenvolvimento humano e o índice de inclusão social

apresentam valores muito baixos em relação aos outros estados brasileiros, além de uma alta

prevalência de desnutrição infantil e saneamento básico precário, percentual de analfabetismo

mais alto do Brasil (30,4%) e a segunda maior taxa de analfabetos funcionais (45,3%). A

concentração espacial e de renda são maiores do que a média nacional e até mesmo do que a

média nordestina. Ocupando apenas 7% do território, a Região Metropolitana de Maceió

concentra 37% da população alagoana e 64% da riqueza do Estado. Dentro deste contexto, a

população é particularmente exposta aos riscos de insegurança alimentar e deficiências

nutricionais em virtude destes fatores socioeconômicos desfavoráveis (URANI, 2005).

O aumento populacional em Maceió ocorreu devido a crise do setor açucareiro,

principal atividade econômica do estado, no final da década de 1980, que obrigou os

trabalhadores do interior a deixarem suas moradias e a migrarem para Maceió (LIRA, 2004).

Esse processo trouxe um alto grau de exclusão social à população maceioense, com elevado

índice de subemprego e ocupação desordenada do espaço urbano, com formação dos

chamados assentamentos subnormais (favelas). Essas transformações também acarretaram

pauperização das condições de vida destes grupos, tornando-os vulneráveis aos distúrbios

nutricionais que recai sobre essa população.

Diante da carência de estudos, especialmente em populações de baixa renda, que

aprofundem o conhecimento sobre os fatores econômicos, sociais e biológicos que interferem

nas condições de saúde e nutrição de crianças e adultos, discute-se qual seria a real dimensão

deste efeito nas classes sociais menos favorecidas, principalmente na relação nutricional das

crianças e suas mães. Faz-se necessário, portanto, realizar estudos em segmentos de baixo

nível socioeconômico sobre o desenvolvimento infantil e o estado nutricional materno.

Dessa forma, este estudo objetivou avaliar a associação existente entre o estado

nutricional de crianças e de suas mães residentes em assentamentos subnormais de Maceió-

AL, caracterizando a população de estudo segundo variáveis demográficas e

socioeconômicas. Para tais fins, foram utilizados os dados de um inquérito de prevalência de

base populacional conduzido entre os anos de 2004 e 2006 com amostra de 8.387 indivíduos

em todas as faixas etárias. Esses dados subsidiaram a elaboração de um artigo original

intitulado “Excesso de peso materno e sua relação com o estado nutricional de crianças de

baixa renda do Nordeste brasileiro”, que será enviado para publicação no periódico Archivos

Latinoamericanos de Nutrición.

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

2 Revisão da Literatura

2.1 Evolução do estado nutricional de crianças

O conhecimento da situação socioeconômica e nutricional constitui instrumento

essencial para a aferição das condições de saúde da população infantil e proporcionam

medidas objetivas das condições de vida da população em geral. A importância da avaliação

nutricional decorre da influência decisiva que o estado nutricional exerce sobre a morbi-

mortalidade, o crescimento e o desenvolvimento infantil (FISBERG; MARCHIONI;

CARDOSO, 2004).

A desnutrição permanece o problema nutricional de maior interesse em países em

desenvolvimento, pois, apesar de uma redução gradativa da prevalência ao longo dos anos em

algumas áreas, percentual significativo de crianças ainda é afetado, estando associada a maior

risco de doenças infecciosas e de mortalidade precoce, comprometimento do desenvolvimento

psicomotor, menor aproveitamento escolar e menor capacidade produtiva na idade adulta

(VICTORIA et al., 2008; LIMA et al., 2010) .

Na década de 90, a Organização Mundial de Saúde (OMS) estimou que 38,1% das

crianças menores de cinco anos que vivem em países em desenvolvimento apresentava

comprometimento severo do crescimento (“stunting”) e 9,0% emagrecimento extremo

(“wasting”) (WHO, 1997). Segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância

(UNICEF), publicados no relatório Progress for Children: a Report Card on Nutrition, aponta

que 146 milhões de crianças de até 5 anos de idade no mundo estão abaixo do peso, e três

quartos delas (73%) vivem em 10 países em desenvolvimento. Uma em cada quatro crianças

(23%) nesses países está desnutrida, metade delas no sul da Ásia (UNICEF, 2006).

A análise dos últimos inquéritos nacionais realizados no Brasil em âmbito nacional e

regional (Estudo Nacional de Despesas Familiares – ENDEF, 1974/1975; Pesquisa Nacional

de Saúde e Nutrição – PNSN, 1989; Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde – PNDS,

1995/1996), possibilitam mostrar um declínio marcante na prevalência da desnutrição em

crianças menores de cinco anos, em todas as regiões do país e em diferentes estratos sociais,

embora de forma ainda heterogênea.

Com relação ao déficit estatural, observa-se que entre 1975 e 1989, a diminuição da

prevalência do retardo de estatura foi maior no meio urbano da região sudeste, Sul e Centro-

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

Oeste, com um declínio de 20,5% para 7,5%, enquanto no Norte a redução foi de 39,0% para

23,0 % e, no Nordeste, de 40,8% para 23,8%. Já no período de 1989 a 1996, o declínio da

desnutrição, entendida como retardo estatural moderado ou grave, foi mais acentuado nas

regiões Norte e Nordeste (MONTEIRO et al.,2000; BATISTA FILHO e RISSIN, 2003).

Todavia, nota-se que as crianças do Nordeste brasileiro detêm os mais elevados déficits

estatural (17,9%) quando comparado com as crianças da região Sul (5,1%), uma das regiões

mais ricas do país (PNDS, 1996).

Pesquisa recente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2004)

identificou maior percentual de déficit de peso/idade para as crianças da área rural do

Nordeste Brasileiro (8,7%) quando comparadas com a prevalência deste déficit entre as

crianças do Sul total (5,2%) e do Sul rural (5,6%), confirmando uma tendência de distribuição

heterogênea segundo as áreas geográficas do país. As estimativas do déficit estatural não

estão disponíveis.

A análise inicial dos dados coletados pelo mais atual inquérito brasileiro do programa

de pesquisa Demographic Health Surveys (DHS), realizado em 2006/7 (Pesquisa Nacional de

Demografia e Saúde da Criança e da Mulher, doravante denominada PNDS 2007),

demonstrou a tendência de declínio da desnutrição infantil em todas as regiões do país,

mostrando redução importante dos déficits do indicador de altura para idade no Nordeste,

conseguindo eliminar toda a desvantagem dessa região com relação às demais (MONTEIRO

et al., 2009). Além disso, indica que a meta do milênio das Nações Unidas relativa a

desnutrição infantil (redução à metade no período 1990-2015) será largamente ultrapassada

pelo Brasil mediante a evolução recente do crescimento das crianças brasileiras (UNITED

NATIONS, 2007).

Posteriormente, Lima et al. (2010) estudou a variação temporal na prevalência da

desnutrição infantil no Nordeste em dois períodos (1986-1996 e 1996-2006) a partir dos

dados do programa DHS, realizadas no Brasil em 1986, 1996 (Pesquisa Nacional sobre

Demografia e Saúde, doravante denominada PNDS 1996) e 2006-2007 (PNDS, 2007). A

prevalência de déficits de altura para idade, bastante elevada em 1986 (33,9%), diminuiu em

1996 (22,2%) e ainda mais em 2006 (5,9%), evidenciando declínio relativo de 34,3% no

primeiro período e de 73,4% no segundo período. Portanto, a análise dos dados obtidos por

três inquéritos domiciliares realizados em um intervalo de 20 anos mostrou uma melhoria

acelerada da nutrição infantil na região Nordeste do Brasil, com déficits de altura para idade,

indicativos de comprometimento crônico da nutrição infantil, reduzidos em cerca de um terço

entre 1986 e 1996 e em quase três quartos entre 1996 e 2006.

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

É importante também analisar que, se levado em conta que no âmbito regional existem

grandes diferenças quanto à distribuição de renda e qualidade de vida da população, tais

valores, quando apresentados para toda a Região ou mesmo para os Estados, podem mascarar

a gravidade com que o problema se manifesta em localidades mais restritas, onde a exclusão

social se apresenta de forma mais contundente. Assim, a prevalência de desnutrição detectada

pela PNSN para o estado de Alagoas foi bem inferior as encontradas em comunidades

periféricas desse Estado (FERREIRA et al., 2002). Ferreira et al. (1997) encontraram 22,4%

de prevalência de desnutrição segundo peso/idade em crianças de 0 a 24 meses de famílias em

área de invasão de Alagoas, também superior à média esperada para o estado. Mais tarde, ao

avaliar crianças menores de 5 anos moradoras de favelas no mesmo estado, encontraram

prevalências de déficits nutricionais para os indicadores altura/idade, peso/idade e peso/altura,

respectivamente, 22,6%, 16,1% e 1,5% (FERREIRA et al., 2002). Em outra investigação

recente, as prevalências de déficits (abaixo de -2 Escores-z; padrão da Organização Mundial

de Saúde, 2006) foram, respectivamente, 10,3%, 2,9% e 1,2%, nesta mesma faixa etária

(FERREIRA e LUCIANO, 2010).

A Pesquisa Estadual de Saúde e Nutrição (PESN) configura um perfil de saúde e

nutrição da população de crianças menores de cinco anos e de mulheres em idade reprodutiva

no estado de Pernambuco, realizada nos anos de 1991, 1997 e 2006. A evolução dos

resultados revela um decréscimo da prevalência de desnutrição nos indicadores altura/idade

(24,6%, 16,2% e 7,7%, respectivamente), com redução equivalente de aproximadamente 50%

para as áreas urbana, rural e Região Metropolitana do Recife (RMR). Essa redução foi

semelhante à encontrada para o Brasil (50%) e inferior a observada para a Região Nordeste

(67%) na Pesquisa Nacional de Demografia e Saúde (PNDS, 2006). O indicador peso/idade

reduziu de 6,1%, 3,8% e 3% e peso/altura variou de 1,2 a 2% entre 1991 e 2006, encontrando-

se praticamente no limiar de controle esperado para população (2,3%). A taxa de déficit

estatural foi ligeiramente menor que o encontrado no mesmo ano em Alagoas (10,3%), por

Ferreira e Luciano (2010), e semelhantes quanto ao peso/idade e peso/altura.

Estudos epidemiológicos mostram que a obesidade infantil vem aumentando de forma

significativa. A comparação com resultados obtidos pelos inquéritos anteriores (1974-1975,

1989) com as Pesquisas de Orçamentos Familiares (POF) realizadas no Brasil nos anos de

2002-2003 e 2008-2009 confirma a tendência de aumento acelerado do excesso de peso nas

crianças maiores de 5 anos. Em crianças entre 5 e 9 anos de idade, a frequência de excesso de

peso, que vinha aumentando modestamente até o final da década de 80, praticamente triplica

nos últimos 20 anos em todos os estratos de renda e em todas as regiões brasileiras (IBGE,

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

2010). Na região Nordeste, 30,3% das crianças do sexo masculino e 26% do sexo feminino

apresentaram excesso de peso (Índice de Massa Corporal-para-idade igual ou superior a 1

escore z) em 2008-2009, evidenciando o incremento da obesidade e estabelecendo um

antagonismo de tendências temporais entre desnutrição e obesidade, definindo uma das

características marcantes do processo de transição nutricional do país (BATISTA FILHO e

RISSIN, 2003; IBGE, 2010).

Estudos epidemiológicos recentes na região Nordeste revelam a ascensão alarmante do

sobrepeso. Ferreira e Luciano (2010) encontraram uma prevalência de 9,7% de sobrepeso nas

crianças menores de 5 anos em Alagoas. No estado de Pernambuco, a ocorrência de excesso

de peso apresenta valores semelhantes, entre 8% e 10%, segundo dados da terceira PESN

(PESN, 2006). Resultados similares são observados em crianças residentes em comunidades

de baixa renda (MOTTA e SILVA, 2001; SILVEIRA et al., 2010), mostrando que este

problema nutricional vem atingindo todos os estratos de renda, inclusive, a população infantil.

2.2 O processo de transição

Diversos países da América Latina, especialmente o Brasil, estão experimentando nos

últimos vinte anos uma rápida transição demográfica, epidemiológica e nutricional. As

características e os estágios de desenvolvimento da transição diferem para os vários países da

América Latina (KAC e VELÁSQUEZ-MELÉNDEZ, 2003).

A transição demográfica é definida como processo de modernização global do padrão

demográfico tradicional, caracterizado por altos níveis de mortalidade e de fecundidade, para

o chamado padrão demográfico moderno que evidencia baixos níveis dos dois elementos da

dinâmica populacional citados (CHESNAIS, 1992). O novo padrão demográfico brasileiro é

marcado por progressivos declínios das taxas de fecundidade e mortalidade, alteração da

estrutura etária, aumento da proporção de idosos e inversão na distribuição da população de

áreas urbanas e rurais (FERREIRA et al., 2005; BRITO, 2008).

O Brasil, entre os anos de 1960 e 1980, viveu o maior êxodo rural de sua história.

Entre as décadas de 60 e 70 aproximadamente 13 milhões de pessoas abandonaram o campo

em busca das cidades, o que corresponderia a 33% da população rural desta época. Entre 1970

e 1980 o total de migrantes que deixaram a zona rural foi de aproximadamente 16 milhões, o

que correspondia a 38% da população rural daquele período (MARTINE, 1987). No

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

levantamento censitário de 2000 (IBGE, 2000), o Brasil concentrava 81,2% da sua população

vivendo no meio urbano. No nordeste, todos os estados já tinham maior parte da sua

população vivendo nas cidades, inclusive Alagoas com 68% de sua população no meio

urbano, subindo este valor para aproximadamente 74% de acordo com o último censo em

2010 (IBGE, 2010b).

Em Maceió, o aumento populacional ocorreu devido ao processo migratório que foi

incrementado pela crise do setor açucareiro. Com a crise do setor no final da década de 1980,

e com as alterações introduzidas na legislação trabalhista referente ao trabalho rural, os

trabalhadores do interior do estado foram obrigados a deixar suas moradias e a confluir para

Maceió (LIRA, 2004). Esse processo acabou trazendo um alto grau de exclusão social à

população maceioense, com elevado índice de subemprego e ocupação desordenada do

espaço urbano, com formação de favelas, loteamentos clandestinos e ocupações de áreas de

risco. Este fenômeno, chamado “metropolização da pobreza”, vem sendo observado em todo

o país nos últimos anos, promovendo concentração de pobres rurais no contexto das

metrópoles urbanas (IPEA, 2005).

Concomitantemente à transição demográfica, ocorrem ainda mudanças nos padrões de

morbimortalidade das populações, o que convencionou chamar de transição epidemiológica.

Para a maioria dos países da América Latina, inclusive o Brasil, observa-se um modelo tardio

e polarizado de transição (FRENK et al, 1989), no qual há uma dupla carga de doença, ou

seja, há uma superposição das doenças ditas do atraso sobre as doenças da modernidade

(BOBADILLA e POSSAS, 1993). Apesar do decréscimo global das taxas de mortalidade e da

diminuição proporcional por doenças infecciosas e parasitárias, a mortalidade decorrente

dessa causa ainda permanece elevada no Brasil, havendo ainda um crescente aumento na

morbidade e mortalidade por Doenças Crônicas não Transmissíveis (BRASIL, MINISTÉRIO

DA SAÚDE, 2005).

A transição nutricional integra os processos de transição demográfica e

epidemiológica. O conceito de transição nutricional diz respeito a mudanças seculares em

padrões nutricionais que resultam de modificações na estrutura da dieta dos indivíduos, e que

se correlacionam com mudanças econômicas, sociais, demográficas e do perfil de saúde das

populações (POPKIN et al., 1993). Segundo Monteiro et al. (2000), aspectos singulares da

transição nutricional são encontrados em cada país e região do mundo, mas elementos comuns

convergem para uma dieta rica em gorduras (particularmente de origem animal), açúcar e

alimentos refinados e reduzida em carboidratos complexos e fibras. A adoção deste padrão

alimentar, freqüentemente denominada “dieta ocidental”, aliado ao declínio progressivo da

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

atividade física dos indivíduos, está associado a alterações na composição corporal, em

particular ao aumento da obesidade.

O modelo de transição nutricional no Brasil assemelha-se ao modelo polarizado da

transição epidemiológica, onde coexistem na mesma comunidade e, muitas vezes no mesmo

domicílio tanto a obesidade como a subnutrição. Neste sentido, Sawaya (1997) em estudo

com população residente em favelas de São Paulo, chamou a atenção para o fato de ter

encontrado a presença simultânea de desnutrição e obesidade na mesma família (13% das

famílias tinham pelo menos um membro desnutrido e um membro obeso).

O processo de transição nutricional, embora atingindo a população como um todo

diferencia-se conforme o segmento socioeconômico. Vários estudos têm demonstrado

aumentos nas prevalências de excesso de peso entre populações de baixa renda seguida por

declínio nas classes de melhor rendimento, tendência vista com evidência no sexo feminino

(MONTEIRO; CONDE; POPKIN, 2004). Segundo Monteiro e Conde (2000) o aumento na

prevalência da obesidade apesar de distribuído em todas as regiões e estratos

socioeconômicos, é proporcionalmente maior entre indivíduos de baixa renda.

Dados mais recentes publicados pela Pesquisa de Orçamento Familiar (POF)

comprovam essa tendência (IBGE, 2010). A prevalência de déficit de peso em mulheres

brasileiras caiu de 11,8% em 1974-1975 para 3,6% em 2008-2009. Em contraste, a frequência

de excesso de peso aumentou de 28,7% para 48,0%, respectivamente, sobre o mesmo período,

aumentando continuadamente na região Nordeste e nos mais baixos estratos de renda.

De acordo com Pinheiro, Freitas e Corso (2004), pode-se dizer que no Brasil, onde as

desigualdades sociais e de acesso a serviços de saúde são relevantes, é possível identificar

diferenças na distribuição social destes processos de transição. As incidências e prevalências

da subnutrição versus obesidade, se apresentam desiguais entre as diferentes regiões e

camadas sociais, sendo população de menor renda a mais afetada por essa dupla carga de

doença.

2.3 Determinantes do declínio da desnutrição infantil no Brasil e no Nordeste

A tendência secular da desnutrição na população brasileira de crianças menores de

cinco anos tem sido objeto de estudos e análises graças à disponibilidade de inquéritos

antropométricos nacionais realizados no País desde meados da década de 1970. Com base

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

nesses inquéritos, o decréscimo da prevalência de desnutrição na infância identificado entre

1975 e 1989 e entre 1989 e 1996 foi atribuído mais ao aumento da escolaridade materna e à

expansão da cobertura de serviços de saúde e de saneamento do que a variações no poder

aquisitivo da população (MONTEIRO et al., 1992; MONTEIRO, BENÍCIO e FREITAS,

2000; MONTEIRO, CONDE e POPKIN, 2002).

O novo inquérito antropométrico nacional em 2006-2007 permitiu atualizar a

tendência temporal da desnutrição infantil no Brasil, evidenciando redução de cerca de 50%

na prevalência de desnutrição em um intervalo de 11 anos (1996 e 2007) e atribuindo cerca

de dois terços do declínio da desnutrição a melhorias, por ordem de importância: na

escolaridade das mães, no poder aquisitivo das famílias (sobretudo das mais pobres), no

acesso à assistência à saúde e nas condições do saneamento (MONTEIRO et al., 2009).

O aumento do poder aquisitivo familiar das crianças brasileiras, sobretudo nas classes

de menor poder aquisitivo, consiste com estimativas baseadas nas Pesquisas Nacionais sobre

Amostragem de Domicílios (PNAD) que indicam melhoria na distribuição da renda nacional

e redução da proporção de indivíduos vivendo com renda abaixo da linha da pobreza,

particularmente a partir de 2003 (NERI, 2007).

Segundo Neri (2007), a melhoria recente na distribuição da renda e redução da

pobreza no Brasil seria consequência da reativação do crescimento econômico e consequente

diminuição do desemprego, de reajustes e valorização do salário mínimo e da expressiva

expansão da cobertura dos programas de transferência de renda.

A evolução favorável da escolaridade materna constatada por Monteiro et al. (2009)

entre 1996 e 2007, o fator singular que mais contribuiu para o declínio da desnutrição no

período, corresponde à universalização do acesso ao ensino fundamental e na melhoria de

indicadores do seu desempenho, observadas no Brasil ao longo da década de 1990 (DRAIBE,

2003).

A expansão do acesso de mães e crianças à assistência à saúde, por sua vez, coincide

com a forte expansão no País da Estratégia de Saúde da Família (ESF), enfatizando a

prevenção e a educação em saúde e a promoção da equidade na oferta de serviços

(MONTEIRO et al., 2009; LIMA et al., 2010).

A melhoria discreta nas condições de saneamento dos domicílios onde vivem as

crianças brasileiras é consistente com a lenta expansão da cobertura das redes públicas de

coleta de esgoto e abastecimento de água no Brasil. Entre 2001 e 2009, a cobertura da rede de

esgoto passou de 45,4% para 59,1% e da rede de água de 81,1% para 84,4%. Estudiosos das

políticas sociais no Brasil têm chamado a atenção para a menor visibilidade e menor atrativo

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

político dos investimentos em saneamento básico e para a necessidade de priorizar este tema

na agenda brasileira das políticas públicas (NERI, 2007).

Em Alagoas foram observadas importantes modificações socioeconômicas,

demográficas e na estrutura de serviços públicos, as quais podem justificar o declínio da

desnutrição e o avanço do sobrepeso infantil. Segundo Carvalho (2007), em 2004, Alagoas

obteve o segundo pior índice de desenvolvimento humano do Brasil, conforme estudo do

Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada e o Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento. Apesar disso, nos anos 1990, foi o estado brasileiro que obteve maiores

avanços no que se refere à educação (31%) e saúde (16%), com uma variação positiva da

ordem de 20% em comparação aos demais estados (CARVALHO, 2007). A melhoria na

gestão dos investimentos na área social, principalmente no ensino fundamental e nos

programas de saúde pública (FERREIRA e LUCIANO, 2010). Além disso, não se pode

deixar de mencionar o possível impacto causado na economia popular em virtude dos recursos

de origem federal na economia alagoana nos últimos anos por meio de programas de

transferência de renda (CARVALHO, 2007).

Vale ressaltar que se manter a taxa anual média de declínio de 6,3% na prevalência de

déficits de crescimento observada entre 1996 e 2007 no Brasil e de mais de 7% no Nordeste, a

proporção de crianças com déficits de altura-para-idade chegaria a menos de 3% em pouco

mais de dez anos, o que significaria igualar a proporção (geneticamente) esperada de crianças

de baixa estatura quando as condições de alimentação, saúde e nutrição de toda a população

são consideradas adequadas (WHO, 2006; MONTEIRO et al., 2009; LIMA et al., 2010).

Entretanto, para se chegar a este resultado em mais uma década ou em menos tempo,

será preciso manter ou intensificar as ações que têm favorecido o aumento do poder aquisitivo

dos menos favorecidos e assegurar investimentos públicos que permitam garantir a

universalização do acesso da população brasileira aos serviços essenciais de educação, saúde

e saneamento (LIMA et al., 2010).

Por outro lado, a prevalência de sobrepeso vem crescendo paulatinamente a ponto de,

na época atual, as duas condições prevalecerem com idêntica magnitude, enfatizando a

importância da manutenção das ações destinadas ao controle da desnutrição e a expansão das

medidas de prevenção do sobrepeso, haja vista que ambas representam agravos à saúde

associados com sérias repercussões a curto e longo prazos. Isso é mais um aspecto a ser

considerado pelos gestores das políticas públicas, pois indica que o acesso ao alimento deve

ser acompanhado de um processo educativo visando à adequação do consumo às necessidades

nutricionais e promoção da saúde (FERREIRA e LUCIANO, 2010).

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

2.4 Fatores socioeconômicos e ambientais associados ao estado nutricional

O mais recente fenômeno observado em diversos países é a influência das diferenças

sociais no estado nutricional. Isto ocorre devido o fato do nível socioeconômico interferir na

disponibilidade de alimentos, no acesso à informação e a serviços de saúde, bem como pode

estar associado ao estilo de vida e a determinados padrões de atividade física. Entre os

indicadores de condições socioeconômicas mais frequentemente utilizados estão educação,

ocupação e renda (DUNCAN et al, 2002; WARDLE, WALLER E JARVIS, 2002).

Entretanto, seus componentes individuais podem ter efeitos independentes e até opostos sobre

a ingestão alimentar e os padrões de atividade física, de forma que é difícil estabelecer

generalizações sobre a relação entre condições socioeconômicas (CSE) e o estado nutricional

(OMS, 2004).

A escolaridade e a renda são as variáveis mais utilizadas em estudos populacionais e

parecem estar relacionadas a diferentes aspectos epidemiológicos. A escolaridade fornece

informações sobre etapas mais precoces da vida e tende a determinar outros marcadores,

como ocupação e renda. A renda por sua vez tem implicações importantes para várias

circunstâncias materiais que têm impactos diretos na saúde, como as condições de moradia,

alimentação e lazer (FONSECA, 2006). Em relação à ocupação, relata-se que indivíduos com

trabalhos de menor prestígio social possuem menos autonomia, dificultando assim a adoção

de um estilo de vida saudável. Por outro lado, ocupações de menor prestígio geralmente

demandam maior esforço físico, resultando em proteção contra o excesso de peso (WARDLE,

WALLER e JARVIS, 2002)

Por sua vez, a pobreza é a principal causa ligada à desnutrição e aos seus

determinantes e ameaça a infância, ao interferir diretamente nas condições de saúde desta

população. As condições de moradia são fatores importantes para a prevenção de doenças,

principalmente parasitária, onde os vetores de transmissão dessas doenças encontram no tipo

de revestimento um habitat essencial para o desenvolvimento e proliferação de sua espécie

(SANTOS, MARTINS e SAWAYA, 2008).

Sawaya et al. (2003) ao realizar análise de regressão logística múltipla com os dados

do censo antropométrico realizada entre 1990 e 1991 em favelas da região Sul de São Paulo,

com o objetivo de identificar quais seriam os fatores que mais se associavam à presença de

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baixa estatura (desnutrição crônica), encontraram na falta de piso em pelo menos um cômodo

da casa um dos fatores mais importantes. Segundo esse estudo, a chance de uma criança

possuir baixa estatura foi duas vezes maior quando não havia piso em todos os cômodos e

aumentava em 60% quando a residência não possuía abastecimento de água encanada em

casa. Desta forma, o estado nutricional é um evento expressamente sensível às condições do

ambiente social e econômico em que vive a criança e sua família, indicando a importância

epidemiológica destes fatores na conformação do estado de saúde e nutrição das populações

(OLIVEIRA et al, 2006).

A influência das condições de saneamento básico é notória sobre a desnutrição

infantil. Grillo et al. (2000) revelaram que no grupo das crianças desnutridas de uma

população de baixa renda, apenas 47% dos domicílios estavam ligados à rede de esgotos,

estando diretamente associado à desnutrição. Vários estudos têm mostrado que famílias

numerosas são um fator de risco para a desnutrição em crianças jovens. Um estudo realizado

com famílias mexicanas verificou uma maior prevalência de crianças com atraso no

crescimento associado a um consumo de dietas de qualidade mais pobre em relação a famílias

menores (PELTO et al., 1991). Mais tarde, Martins et al. (2007) registraram que crianças

residentes em casas com menos de quatro cômodos apresentaram maior chance de déficit de

crescimento.

Trabalhos recentes têm elucidado que a escolaridade materna e a disponibilidade de

serviços de saneamento aparentam ser os fatores mais relevantes ao estado nutricional infantil

(MONTEIRO et al., 2009; LIMA et al., 2010). A importância da mulher como a principal

provedora de alimentação durante os períodos cruciais do desenvolvimento da criança

evidencia a importância da educação materna na nutrição/crescimento dos filhos. Assim, nos

primeiros anos de vida, a relação com o meio externo é mediada pela mãe, o que reforça a

influência da educação materna no estado nutricional dos filhos (MARTINS et al., 2007).

Silveira et al. (2010) ao estudar crianças residentes em favelas, encontraram que a maioria da

amostra apresentava renda familiar mensal inferior a um salário-mínimo, condição que, aliada

à baixa escolaridade materna, pode contribuir de forma decisiva para a carência de alimentos

ou para uma escolha inadequada dos mesmos, determinando os agravos nutricionais

observados nessas crianças, como prevalência significativa de desnutrição crônica.

Em adultos, a associação entre o estado nutricional e nível socioeconômico tem

mostrado diferenças entre as populações. Sobal e Stunkard (1989), em revisão sistemática

encontraram que, nos países desenvolvidos, a obesidade tende a ser mais freqüente nos

estratos da população com menor renda, menor escolaridade e com ocupações de menor

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

prestígio social, sendo essa tendência particularmente evidente entre mulheres adultas.

Estudos transversais sobre a distribuição social da obesidade são mais escassos em países em

desenvolvimento e, até recentemente, apontavam relações opostas às encontradas nos países

desenvolvidos, ou seja, maior freqüência de obesidade nos estratos de maior nível

socioeconômico (SOBAL e STUNKARD, 1989).

Uma avaliação mais recente de estudos realizados na América Latina mostrou

associação direta (positiva) entre obesidade e nível socioeconômico em alguns desses países,

mas em outros, essa relação se inverteu passando a negativa (PEÑA e BACALLAO, 2000).

Monteiro et al. em revisão publicada em 2004 com dados de estudos de populações de países

em desenvolvimento alertaram para a transição nutricional entre as classes sociais menos

favorecidas, evidenciando reversão da associação antes positiva entre CSE e obesidade para

um padrão negativo. Evidências adicionais sugerem que países em desenvolvimento que

tenham atingido melhor nível econômico, a relação positiva está lentamente sendo substituída

pela associação negativa (OMS, 2004).

Dados obtidos na Pesquisa sobre Padrão de Vida (PPV) realizada no Brasil entre os

anos de 1996 e 1997 conduzidas na região Nordeste e Sudeste do país, comprovam esta

tendência de atenuação da associação positiva (MONTEIRO et al., 2001). Neste estudo se

encontrou que tanto na região Sudeste como na região Nordeste a obesidade se associou

positivamente a renda, exceto entre as mulheres do sudeste que evidenciaram relação inversa,

e negativamente com a escolaridade. Aplicando técnicas de análise multivariada aos dados

colhidos neste inquérito, demonstrou-se que o nível de escolaridade é a variável chave que

responde pela associação inversa atualmente encontrada no Brasil entre nível socioeconômico

e obesidade em mulheres. Estes dados confirmam a hipótese de que em sociedades em

transição a renda tende a ser um fator de risco para obesidade enquanto os níveis de educação

tendem a ser fator protetor e que o nível de desenvolvimento econômico são importantes

modificadores da influência exercida por estas variáveis (MONTEIRO et al, 2001).

Análise realizada com estudos de base populacional com amostra de mulheres entre 15

e 45 anos de idade em países Latinoamericanos (incluindo Brasil) demonstrou tendência

similar. Neste estudo, o número de posses associado às características dos domicílios foram

consideradas variáveis proxy de renda e evidenciaram associação positiva com a obesidade.

Enquanto que após ajuste para renda, a educação formal mostrou associação negativa em

cinco dos nove países pesquisados (MARTORELL et al, 1998). Dados publicados do projeto

WHO (World Health Organization) MONICA (Monitoring Trends and determinants in

Cardiovascular Disease), realizado em centros colaboradores de 26 países, evidenciaram que

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

menor escolaridade estava associada a maiores valores de IMC em quase toda população

feminina avaliada (MOLARIUS et al, 2000).

As razões apontadas para associação positiva entre as CSE e obesidade nos países em

desenvolvimento se referem à proteção natural contra a enfermidade encontrada entre nos

estratos de menor prestígio social, possivelmente devido à escassez de alimentos e ao perfil de

intensa atividade física encontrada nesta população (SOBAL e STUNKARD, 1989). Já a

associação inversa (negativa) observada nos estratos sociais menos privilegiados das

sociedades desenvolvidas, estaria relacionada à menor disponibilidade de oferta de alimentos

de menor densidade energética, como frutas frescas, verduras e hortaliças, e acesso limitado a

espaços urbanos mais propícios para a prática de atividades físicas no lazer (JAMES et al.,

1997). Segundo estudo realizado por MORIMOTO et al (2008), a qualidade da dieta melhora

de acordo com o aumento do nível de escolaridade, tanto do indivíduo quanto do chefe da

família, e de condição socioeconômica, tais como o número de bens de consumo e renda per

capita. Desta forma, apenas indivíduos com melhor nível socioeconômico seriam capazes de

resistir ao ambiente “obesogênico” por possuírem maior flexibilidade em suas escolhas

alimentares e no tempo para prática de atividade física (MONTEIRO et al, 2004).

Sugere-se ainda como possível explicação para a relação inversa entre nível

socioeconômico e obesidade, a hipótese da mobilidade social, segundo a qual indivíduos

obesos, particularmente adolescentes do sexo feminino, teriam mais dificuldades em

prosseguir seus estudos e obter níveis superiores de escolaridade limitando assim sua renda

futura (LISNER, 1997).

Estudos sobre os mecanismos subjacentes à relação inversa entre nível

socioeconômico e obesidade em países em desenvolvimento não são disponíveis na literatura.

No entanto, mantida esta tendência de concentração da doença nos estratos sociais menos

favorecidos, serão enormes as repercussões futuras sobre a distribuição social da carga total

de doenças no Brasil. Monteiro, Conde e Castro (2003) sugerem então que a obesidade poderá

brevemente se constituir em um dos fatores singulares mais importantes para a geração de

desigualdades sociais em saúde no Brasil.

2.5 Estado nutricional materno e o estado de saúde e nutrição de seus filhos

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Segundo a Organização Pan-Americana de Saúde – OPAS (PAHO, 1991), há

evidências de que o estado nutricional do recém-nascido, do qual depende sua saúde, seu

crescimento e seu desenvolvimento futuros, é intimamente dependente do estado nutricional

materno, já que boas condições do ambiente uterino favorecerão o desenvolvimento fetal

adequado.

Além do contexto socioambiental no qual a criança vive, a desnutrição infantil é

também determinada pelo fator biológico, sendo a figura materna um forte interlocutor da

criança-ambiente. Desta forma, a má nutrição materna, seja pregressa ou gestacional,

implicaria no baixo peso ao nascer das crianças, cujo retardo do crescimento intra-uterino

ainda é alteração mais freqüente do que a prematuridade (MONTEIRO et al., 1992;

SAENGER et al., 2007; VICTORIA et al., 2008).

Especificamente no sexo feminino, o baixo peso ao nascer causado por desnutrição

intra-uterina e o retardo do crescimento infantil são fatores de risco para determinar mulheres

adultas de baixa estatura com um risco maior de gerar crianças com baixo peso ao nascer,

além de desenvolvimento de doenças crônicas não-transmissíveis, o que caracteriza o efeito

entre gerações da desnutrição (SORENSEN et al., 1999; FERREIRA et al., 2005;

FLORÊNCIO et al., 2007).

Assim, estudos evidenciam que, embora a obesidade nas crianças esteja aumentando,

sendo considerada como um importante problema epidemiológico, a desnutrição infantil, que

está associada principalmente com a pobreza e a baixa estatura materna (SAENGER et al.,

2007), ainda é de preocupação em muitas partes do Brasil (MONTEIRO, 2000).

Na década de 90, duas pesquisas em países em desenvolvimento encontraram uma

correlação positiva entre o baixo peso materno e desnutrição nas crianças nos primeiros anos

de vida (MOCK et al., 1993; RAHMAN et al., 1993). Um estudo em gestantes residentes em

favelas demonstrou que a baixa estatura materna (estatura abaixo de 150 cm) foi o principal

determinante para o baixo peso ao nascer (FRANCESCHINI et al., 2003).

Recentemente, Martins et al. (2007) encontraram forte associação entre a estatura da

mãe, isolada ou acompanhada de obesidade, com o déficit estatural na criança em famílias de

baixa renda. Observou-se, também, que a baixa estatura em crianças e a obesidade em

mulheres adultas com desnutrição pregressa estão associadas e ambos os agravos (desnutrição

e obesidade) podem ser provenientes das mesmas condições adversas do meio e que a estatura

materna foi, em algum momento, determinada por fatores socioeconômicos e ambientais.

Pesquisa na região semi-árida de um estado do nordeste brasileiro mostrou que a baixa

estatura materna esteve associada com o baixo nível socioeconômico, doenças crônico-

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

degenerativas não transmissíveis, como hipertensão e obesidade e com baixo peso ao nascer e

com déficit de altura para idade das crianças, sugerindo nesta associação que o metabolismo e

adaptações fisiológicas decorrentes da privação nutricional na infância podem ser passados

para futuras gerações (FERREIRA et al., 2009). De acordo com Emanuel et al. (2004),

estatura e peso pré-gestacional são preditores fortes e independentes para o baixo peso ao

nascer em crianças. Ainda neste estudo, a desnutrição de crianças teve associação positiva

com o baixo nível de escolaridade de suas mães. Sabe-se que o nível de escolaridade materna

influencia diretamente a saúde de seus filhos, uma vez que as mães são responsáveis pela

prestação de cuidados para as crianças durante os anos de intenso crescimento e

desenvolvimento (MARTINS et al., 2007). Esta mesma associação foi vista em trabalhos

anteriores (ENGSTROM e ANJOS, 1999).

Diversas explicações têm sido apresentadas para justificar a razão da desnutrição no

início da vida predispor a obesidade na idade adulta. Ferreira et al. (2005) julgam a mais

plausível a que a ocorrência da obesidade seja uma sequela da desnutrição, que por sua vez,

induziria mecanismos adaptativos, ou seja, modificações no sistema nervoso central e

modificações metabólicas, tais como a redução do metabolismo basal e a diminuição das

necessidades energéticas, no sentido de facilitar prioritariamente o armazenamento de gordura

corporal. Tais eventos promoveriam uma tendência ao balanço energético positivo quando

existe uma melhoria na disponibilidade de alimentos.

Prevalecendo esta hipótese, observa-se como ainda mais dramática a situação de

populações que sobrevivem em condições de miséria. Porque, além de sofrerem os efeitos

deletérios ocasionados pela desnutrição em relação ao crescimento e ao desenvolvimento na

infância, essas pessoas, quando adultas, estariam predestinadas à obesidade e a todas as

conseqüências advindas de sua ocorrência, como o maior risco de doenças cardiovasculares

(FERREIRA et al., 2005). Portanto, deve-se reconhecer que tanto a desnutrição (em crianças)

como a obesidade (em mães) podem ter etiologia em comum, sendo ambas oriundas da

pobreza e dos males que acompanham.

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

3 Métodos

3.1 Local de estudo

A pesquisa foi realizada nos assentamentos subnormais da cidade de Maceió, estado

de Alagoas, entre os meses de setembro de 2004 e março de 2006. O município, no ano de

realização do último levantamento censitário, possuía 135 assentamentos subnormais

subdivididos em sete regiões administrativas de acordo com sua localização e distribuição

geográfica, 100.704 domicílios e uma população de 364.970 habitantes (IBAM, 2005) (Anexo

A).

O termo assentamento subnormal diz respeito ao conjunto de unidades habitacionais

(barracos, casas, etc.) que ocupam, ou ocuparam até recentemente, terrenos de propriedade

alheia e que estão, em geral, dispostos de forma desordenada e densa e são carentes de

serviços públicos essenciais.

3.2 Desenho de estudo

Este estudo é do tipo transversal de base populacional e foi parte de um projeto de

pesquisa intitulado Perfil Nutricional e de Saúde dos Moradores de Assentamentos

Subnormais de Maceió/AL, financiado pela Fundação de Amparo a pesquisa do Estado de

Alagoas (FAPEAL) (Processo N.º 21.154), que contemplou a avaliação do estado nutricional

e do perfil socioeconômico de crianças, adolescentes, adultos e idosos, envolvendo

profissionais das áreas de medicina e nutrição da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) e

da Escola de Ciências Médicas de Alagoas (ECMAL). Os dados do referido projeto foram

coletados entre os meses de setembro de 2004 e março de 2006.

3.3 População de estudo

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

3.3.1 Amostra

Para a pesquisa de base populacional o cálculo amostral levou em consideração a

prevalência (21,0%) de desnutrição moderada/grave (< -2 escore Z) a partir do indicador

altura/idade em menores de 10 anos, encontrada em uma população pobre moradora em um

acampamento de “sem teto” no município de Maceió em 1999 (FLORÊNCIO et al, 2001). Foi

considerado um erro amostral de 3,5% e um nível de significância de 5%, resultando em uma

amostra de crianças de 520, contudo para correção do efeito do desenho esse valor foi

multiplicado por 2, obtendo-se ao final 1.040 crianças.

O processo amostral adotado para cálculo do número de domicílios investigados foi o

de conglomerado em dois estágios, com probabilidade de seleção proporcional ao número de

assentamentos e ao número de domicílios de cada região administrativa. O estudo contemplou

aproximadamente 18% dos 136 assentamentos das 7 regiões administrativas de Maceió,

totalizando 25 unidades amostrais obtidas através de sorteio simples. Com base em dados

obtidos na Secretaria Municipal de Planejamento Urbano de Maceió-AL (IBAM, 2005) sobre

o número domicílios e o tamanho populacional das respectivas regiões administrativas

definiu-se o número de domicílios estudados por assentamento. Em seguida, procedeu-se à

elaboração de mapas e cada assentamento elegível foi percorrido em sentido horário a partir

de uma esquina sorteada previamente, até que se completasse a seleção do total de domicílios

estabelecidos para cada assentamento. O número total de domicílios pesquisados foi de 2.172,

variando entre 31 e 146 por assentamento. Para esse estudo em particular foram selecionadas

todas as crianças menores de 10 anos cujas mães também foram avaliadas.

3.4 Coleta de dados

A coleta de dados consistiu em entrevista domiciliar com o responsável pelo domicílio

maior de 18 anos, realizada por universitários treinados para aplicação, esclarecidos de

dúvidas e padronização das tomadas de medidas antropométricas.

Foram coletadas informações quanto às características sócio-econômicas das famílias

e obtidos dados referentes ao estado nutricional como peso e altura, que servirão de base para

o diagnóstico nutricional das mães das crianças avaliadas.

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

3.4.1 Dados socioeconômicos

As informações sobre condições socioeconômicas das famílias foram conhecidas com

adoção de um questionário (Apêndice A) que possibilitou a obtenção de dados referentes:

• Às condições econômicas e sócio-culturais: idade em anos no momento

da entrevista, escolaridade em anos completos de estudo, agrupada em ≤ 8 e > 8

anos; renda familiar bruta, posteriormente convertida em salários mínimos (SM) e

subdividida em ≤ 1 e > 1 SM (valor do período ≅ R$ 283,16); procedência urbana

ou rural e estado marital (com ou sem cônjuge) informados pelo entrevistado; e

situação de emprego por meio de informações sobre atividade remunerada

(trabalhando ou não).

• Às condições de moradia e a caracterização do domicilio: número de

cômodos (categorizados em >4 e ≤ 4 cômodos), presença de banheiro (unifamiliar

e coletivo ou inexistente), tipo de construção (alvenaria e materiais precários) e

presença de bens de consumo no domicílio, tais como geladeira e TV.

• Ao saneamento básico: destino do lixo (coleta pública e céu aberto),

tipo de esgotamento sanitário (público e céu aberto ou fossa séptica), condições de

abastecimento de água (rede pública e outras);

3.4.2 Dados antropométricos

Para caracterizar a população integrante da amostra, com relação ao estado nutricional,

foram tomadas medidas de peso, altura e coletados dados referentes ao sexo e idade.

A classificação do estado nutricional das mães de acordo com o Índice de Massa

Corporal (IMC), obtido pela divisão do peso (em quilogramas) pela altura (em metros)

elevada ao quadrado, foi feita através dos pontos de corte da Organização Mundial da Saúde –

(OMS) (WHO, 1995).

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

No que se refere às crianças, foi a partir dos índices altura/idade (A/I) e IMC/Idade

(IMC/I) em Escores-z, segundo os pontos de corte estabelecidos pela OMS (WHO, 2006). As

crianças situadas abaixo do Escore-z -2 no indicador A/I e IMC/I foram classificadas como

portadoras de baixa estatura e magreza, respectivamente. Por outro lado, aquelas acima do

Escore-z +1 no IMC/I receberam o diagnóstico de excesso de peso.

Para as mães e as crianças maiores de dois anos, o peso foi aferido em balança

antropométrica com capacidade de 150 kg com precisão de 100 g. Para medição da altura, foi

utilizado um estadiômetro dotado de fita métrica inextensível com 2 m de comprimento e

precisão de 0,1 cm. As crianças menores de dois anos foram pesadas junto com as mães e a

estatura aferida através de um antropômetro infantil.

Todas as medidas foram obtidas nos domicílios, com os indivíduos usando roupas

leves e descalços e as crianças sem fraldas e tomadas uma única vez.

3.5 Processamento e análise dos dados

Os dados foram digitados no programa Epi Info versão 3.3 para windows. As análises

foram realizadas no Programa SPSS versão 13.0.

A análise estatística foi feita em três etapas, primeiro, uma análise descritiva

(univariada), incluindo a freqüência de cada variável do estudo; segundo, análise bivariada

entre a variável dependente e as variáveis independentes, com aplicação do teste do qui-

quadrado resultando na determinação da razão de prevalência (RP) e respectivo intervalo de

confiança de 95% para cada característica estudada, a qual foi utilizada por se tratar de um

estudo transversal, sabendo que esta, nesse desenho, não superestima os riscos como ocorreria

com o odds ratio (OR).

3.6 Aspectos Éticos

Este estudo fez parte do projeto de pesquisa aprovado pelo Comitê de Ética em

Pesquisa (CEP) da UFAL (Processo N.º 006.020), estando os procedimentos de acordo com

os padrões éticos do comitê responsável por experimentos com humanos. (Apêndice B e

Anexo B).

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

4 Resultados

Os resultados deste estudo estão apresentados sob a forma de artigo científico original,

conforme regulamentação do Colegiado de Pós-graduação do Centro de Ciências da Saúde da

Universidade Federal de Pernambuco.

• Artigo:

Excesso de peso materno e sua relação com o estado nutricional de crianças de baixa

renda do Nordeste brasileiro.

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

Artigo que será enviado para publicação no periódico Archivos Latinoamericanos de

Nutrición.

Artigo

Excesso de peso materno e sua relação com o estado

nutricional de crianças de baixa renda do Nordeste

brasileiro.

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

Excesso de peso materno e sua relação com o estado nutricional de crianças de baixa

renda do Nordeste brasileiro

Autores

Celina de Azevedo Dias1, Poliana Coelho Cabral2, Leopoldina Augusta de Souza Serqueira3,

Telma Maria de Menezes Toledo Florêncio4, Pedro Israel Cabral de Lira5

1Aluna do Mestrado em Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

2Professor adjunto do Departamento de Nutrição da UFPE.

3Nutricionista pesquisadora do Departamento de Nutrição da UFPE.

4Professor adjunto da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Alagoas.

5Professor titular do Departamento de Nutrição da UFPE.

1Autor para correspondência:

Celina de Azevedo Dias.

Rua São Mateus, 1160. Conj. Jardim Florença, Bloco R, Apto. 04.

Iputinga, 50680-000, Recife, PE, Brasil.

Telefone: 81 8606 2303. Email: [email protected]

Instituição de financiamento:

Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL). Processo nº. 21.154

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

RESUMO O objetivo deste estudo foi analisar a associação entre excesso de peso materno e estado

nutricional de crianças residentes em áreas de exclusão social. A amostra foi composta por

2502 indivíduos, sendo 1137 mães e 1365 crianças menores de 10 anos moradores em

assentamentos subnormais de Maceió-AL, na região Nordeste do Brasil. Na avaliação do

excesso de peso e do déficit estatural das mães, foi utilizado o índice de massa corporal (IMC)

e ponto de corte de 150,0 cm, valor que corresponde ao Escore-z -2 na idade de 19 anos

segundo a referência da Organização Mundial de Saúde (OMS, 2007). Para a avaliação

nutricional das crianças foram utilizados os índices altura/idade (A/I) e IMC/Idade (IMC/I)

em escores-z. Encontrou-se prevalência de excesso de peso em 46,8% das mães e 18% das

crianças e de déficit estatural de 20,8% e 7%, respectivamente. Não houve associação entre o

excesso de peso materno e o estado nutricional das crianças menores de 10 anos segundo os

indicadores A/I (Razão de Prevalência [RP]=1,16, IC95% 0,91-1,49) e IMC/I (RP= 0,89,

IC95% 0,76-1,05). Portanto, apesar de compartilharem o mesmo contexto socioeconômico e

ambiental, não houve relação entre o estado nutricional de mães e suas crianças.

Palavras-chave: Criança. Mãe. Sobrepeso. Obesidade. População de baixa renda.

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

SUMMARY

Maternal overweight and its relationship to the nutritional status of low-income children

in Northeast Brazil.

The aim of this study was to analyze the association between maternal overweight and

nutritional status of children living in areas of social exclusion. The sample consisted of 2502

individuals, 1137 mothers and 1365 children under 10 years living in substandard settlements

in Maceió, Alagoas, northeastern Brazil. In the assessment of overweight and stunting of the

mothers, we used the body mass index (BMI) and a cutoff of 150.0 cm, which corresponds to

-2 Z-Scores at the age of 19 years according to the reference World Health Organization

(WHO, 2007). For the nutritional evaluation of children were used height-for- age and BMI-

for-age indices in z-scores. Prevalence rates of overweight in 46.8% of mothers and 18% of

children stunted and 20.8% and 7% respectively. There was no association between maternal

overweight and nutritional status of children under 10 years according to height-for-age

(Prevalence Ratio [RP] = 1.16, 95% CI 0.91 to 1.49) and BMI / (RP = 0.89, 95% CI 0.76 to

1.05). Therefore, even though they share the same socioeconomic background and

environment, there was no relationship between the nutritional status of mothers and their

children.

Keywords: Child. Mothers. Overweight. Obesity. Low-income people.

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

INTRODUÇÃO

A obesidade é considerada endêmica em países desenvolvidos e vem aumentando

rapidamente nos países em desenvolvimento, inclusive nas classes mais pobres da população

(1,2). No Brasil, pesquisa recente que englobou suas cinco macrorregiões revelou aumento do

sobrepeso e obesidade e que na população feminina, o problema do excesso de peso tendeu a

deslocar-se para região Nordeste e, de modo geral, para as classes de menor renda (3).

Por ser considerada como um dos principais determinantes da etiologia do excesso de peso, a

correlação intrafamiliar positiva quanto ao estado nutricional de pais e filhos, por

compartilharem tanto informações genéticas, quanto condições socioeconômicas e

ambientais, tem sido apontada por alguns pesquisadores (4-6).

Estudos recentes relacionando estado nutricional materno e de seu filho em famílias de baixa

renda mostraram forte associação entre a baixa estatura da mãe com a da criança,

relacionando assim o crescimento infantil à estatura dos pais e às condições ambientais

(4,5,7). Especificamente no sexo feminino, o baixo peso ao nascer causado por desnutrição

intra-uterina e o retardo do crescimento infantil são fatores de risco para determinar mulheres

adultas de baixa estatura com um risco maior de gerar crianças com baixo peso ao nascer,

além de desenvolvimento de doenças crônicas não-transmissíveis como a obesidade, o que

caracteriza o efeito entre gerações da desnutrição (8-10).

Diante deste contexto, o presente trabalho analisou a associação entre excesso de peso

materno e estado nutricional de crianças de baixa renda em assentamentos subnormais do

município de Maceió, capital de Alagoas, região Nordeste do Brasil.

MATERIAL E MÉTODO

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

Trata-se de um estudo do tipo transversal de base populacional e foi parte do projeto de

pesquisa “Perfil Nutricional e de Saúde da População de moradores em Assentamentos

Subnormais de Maceió/AL”, financiado pela Fundação de Amparo a pesquisa do Estado de

Alagoas (FAPEAL) (Processo N.º 21.154). Os dados do referido projeto foram coletados

entre os meses de setembro de 2004 e março de 2006.

O tamanho da amostra foi estimado admitindo-se a prevalência (21,0%) de desnutrição

moderada/grave (< -2 escore Z) em menores de 10 anos, encontrada em uma população pobre

moradora em um acampamento de “sem teto” no município de Maceió em 1999 (11). Foi

considerado um erro amostral de 3,5% e um nível de confiança de 95%, resultando em uma

amostra de crianças de 520, contudo para correção do efeito do desenho esse valor foi

multiplicado por 2, obtendo-se ao final 1.040 crianças.

O processo amostral adotado para cálculo do número de domicílios investigados foi o de

conglomerado em dois estágios, com probabilidade de seleção proporcional ao número de

assentamentos e ao número de domicílios de cada região administrativa. O estudo contemplou

aproximadamente 18% dos 136 assentamentos das sete regiões administrativas de Maceió,

totalizando 25 unidades amostrais obtidas através de sorteio simples. Em seguida, procedeu-se

à elaboração de mapas e cada assentamento elegível foi percorrido em sentido horário a partir

de uma esquina sorteada previamente, até que se completasse a seleção do total de domicílios

estabelecidos para cada assentamento. O número total de domicílios pesquisados foi de 2.172,

variando entre 31 e 146 por assentamento.

A coleta de dados consistiu-se em entrevista domiciliar com o chefe da família ou o

responsável pelo domicílio maior de 18 anos, realizada por universitários treinados para

aplicação, esclarecidos de dúvidas e padronização das tomadas de medidas antropométricas.

Para esse estudo em particular utilizou-se o universo de todas as crianças menores de 10 anos

cujas mães também foram avaliadas.

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

Foram coletadas informações quanto às características sócio-econômicas das famílias tais

como: idade em anos no momento da entrevista, escolaridade em anos completos de estudo,

agrupada em ≤ 8 e > 8 anos; renda familiar bruta, posteriormente convertida em salários

mínimos (SM) e subdividida em ≤ 1 e > 1 SM (valor do período ≅ R$ 283,16); procedência

urbana ou rural e estado marital (com ou sem cônjuge) informados pelo entrevistado; e

situação de emprego por meio de informações sobre atividade remunerada (trabalhando ou

não). Os aspectos referentes às condições de moradia foram: número de cômodos

(categorizados em >4 e ≤ 4 cômodos), presença de banheiro (unifamiliar e coletivo ou

inexistente), destino do lixo (coleta pública e céu aberto), tipo de esgotamento sanitário

(público e céu aberto ou fossa séptica), tipo de construção (alvenaria e materiais precários),

condições de abastecimento de água (rede pública e outras) e presença de bens de consumo no

domicílio, tais como geladeira e TV.

Para as mães e as crianças maiores de dois anos, o peso foi aferido em balança digital

Filizola® com capacidade de 150 kg com precisão de 100 g. Para medição da altura, foi

utilizado um estadiômetro portátil dotado de fita métrica inextensível com 2 m de

comprimento e precisão de 0,1 cm. As crianças menores de dois anos foram pesadas junto

com as mães e a estatura aferida através de um antropômetro infantil. Todas as medidas foram

obtidas nos domicílios, com os indivíduos usando roupas leves e descalços e as crianças sem

fraldas.

Para caracterizar o estado nutricional, foram avaliados peso e altura. A classificação do estado

nutricional das mães de acordo com o Índice de Massa Corporal (IMC) obtido pela divisão do

peso (em quilogramas) pela altura (em metros) elevada ao quadrado, foi feito através dos

pontos de corte da Organização Mundial da Saúde – (OMS) (12). Para a definição de baixa

estatura materna utilizou-se o ponto de corte de 150,0 cm, valor que corresponde ao Escore-z

-2 na idade de 19 anos segundo a referência da OMS (13).

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

No que se refere às crianças, foi a partir dos índices altura/idade (A/I) e IMC/Idade (IMC/I)

em Escore-z, segundo os pontos de corte estabelecidos pela OMS (13). As crianças situadas

abaixo do Escore-z -2 no indicador A/I e IMC/I foram classificadas como portadoras de baixa

estatura e magreza, respectivamente. Por outro lado, aquelas acima do Escore-z +1 no IMC/I

receberam o diagnóstico de excesso de peso.

Os dados foram digitados no programa Epi Info versão 3.3 para windows. As análises foram

realizadas no Programa SPSS versão 13.0. A análise bivariada incluiu o teste do quiquadrado

e o cálculo das Razões de Prevalência (RP) com seus intervalos de confiança de 95%

(IC95%).

O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UFAL aprovou o presente estudo (Processo N.º

006.020), estando os procedimentos de acordo com os padrões éticos do comitê responsável

por experimentos com humanos.

RESULTADOS

Foram identificados 2502 indivíduos, dos quais 1137 são mães e 1365 são crianças menores

de 10 anos. Para a associação do estado nutricional materno e das crianças, as mães que

tinham mais de uma criança foram incluídas novamente para o cálculo. A idade média das

mães foi de 38,5 anos (DP=14,27) e das crianças de 4,85 anos (DP=2,86).

Em relação à situação socioeconômica das mães, a maioria (70,6%) não estava inserida no

mercado de trabalho. Apesar de 77% das mulheres terem algum grau de escolaridade, a

maioria delas tinha menos de oito anos de estudo (Tabela 1). A renda familiar média foi de

R$110,00. Como o número médio de habitantes por domicílio foi de 4,1 pessoas, a renda per

capita mensal foi de R$26,80.

As condições de moradia de mães e crianças apresentadas na Tabela 2 mostram que apesar de

cerca de 60% dos domicílios serem feitos de alvenaria, grande parte da água obtida não

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advinha da rede pública (56,4%), não fazia tratamento da água utilizada (70,6%) e o

esgotamento sanitário era realizado a céu aberto.

Os Gráficos 1 e 2 mostram o estado nutricional segundo o IMC e o déficit estatural das mães

e crianças menores de 10 anos, onde se observa que 46,8% das mães e 18% das crianças

apresentaram excesso de peso e 20,8% e 7,0% respectivamente apresentavam estatura abaixo

de -2 Escore-z.

As análises da associação entre o estado nutricional de mães e crianças descritas na Tabela 3

revelaram que não houve associação entre o excesso de peso materno e o estado nutricional

das crianças menores de 10 anos segundo os três indicadores avaliados (p>0,05).

DISCUSSÃO

Os resultados deste estudo são oriundos de uma amostra representativa de indivíduos de

baixas condições socioeconômicas, sendo um importante inquérito de base populacional e

assim, podem demonstrar certa especificidade pelo seu caráter homogêneo. Constitui-se de

uma população urbana residente em áreas periféricas com elevado índice de exclusão social

do município de Maceió, capital de Alagoas, um dos estados com as piores condições sociais

da região Nordeste do Brasil. As dificuldades de acesso e localização dos domicílios dentro

dos próprios assentamentos devido às precárias condições ambientais, tais como presença de

valas, morros, superfícies íngremes, bem como a intensa migração espacial desta população

fizeram com que os pesquisadores visitassem os assentamentos por vários meses, o que

elucida o longo período de coleta de dados.

As prevalências encontradas de excesso de peso nas mães estudadas evidenciam os níveis

epidêmicos deste problema, principalmente no sexo feminino. Enquanto 5,4% apresentaram

baixo peso, indicando baixa exposição à desnutrição, 46,8% mostraram sobrepeso e

obesidade, onde o excesso de peso ultrapassou em quase 9 vezes o baixo peso. Comparando

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

às duas últimas pesquisas de base populacional realizadas no Brasil nos anos de 2002-2003

(14) e 2008-2009 (3), observa-se que a prevalência de déficit de peso das mulheres desta

amostra se revelou semelhante aos 5,6% de desnutrição no total de mulheres em 2002-2003 e

inferior aos 7% nas mulheres do Nordeste brasileiro; porém superior às encontradas em 2008-

2009 de 3,6% de déficit de peso no total e 4,8% no Nordeste brasileiro.

Ao analisar resultados de 3 inquéritos de base populacional realizados no Brasil entre 1975 e

1997, Monteiro et al. (15) apontaram que nos adultos o sobrepeso parece estar substituindo a

desnutrição como problema de saúde pública, principalmente nas classes sociais menos

favorecidas.

O excesso de peso em populações urbanas de estratos de renda mais baixa tem sido

evidenciado em diversos estudos. Sawaya et al. (16) estudando adultos moradores de favelas

na cidade de São Paulo encontraram 8,5% de desnutrição e 36,5% de sobrepeso e obesidade.

Florêncio et al. (11) evidenciaram em adultos residentes em um acampamento “sem teto” na

cidade de Maceió, 19,5% de desnutrição, sendo 16,9% homens e 22,1% mulheres e 25,0% de

sobrepeso e obesidade, mais prevalente também mais nas mulheres do que nos homens (32%

versus 18,1%). O excesso de peso das mães no presente estudo se mostrou superior a estes

achados. Mais tarde, Ferreira et al. (17) constatou 45,2% de excesso de peso ao estudar

mulheres de uma comunidade de baixa renda situada no mesmo estado, mostrando o

incremento deste agravo nutricional nos segmentos de renda menos abastados, com valores

semelhantes ao deste atual trabalho.

Aumentos contínuos na prevalência do excesso de peso e da obesidade entre mulheres são

constatados a partir das pesquisas brasileiras em 2002-2003 (14) e 2008-2009 (3),

principalmente na região Nordeste, aumentando de 39% para 46%, respectivamente, sendo

este último resultado semelhante ao encontrado para as mulheres desta amostra. Segundo

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

dados recentes da POF (3), o sobrepeso e obesidade aumentam continuamente nas mulheres

pertencentes aos dois primeiros quintos da distribuição da renda.

Em relação ao déficit de estatura nas crianças menores de 10 anos obtiveram-se resultados

inferiores aos encontrados por Florêncio et al. (11), 8,7% das crianças de zero a 10 anos com

déficit estatural em Maceió, mas bastante similar aos 7% obtidos em Pernambuco na mais

recente Pesquisa Estadual de Saúde e Nutrição realizada em 2006 (18). Já a prevalência de

déficit de peso esteve quase duas vezes maior aos observados em Pernambuco, estando

superiores aos valores esperados para uma população normal, tendo como referência os

padrões antropométricos internacionais.

Inquéritos antropométricos realizados em amostras probabilísticas da população infantil

brasileira desde meados da década de 70, incluindo a Pesquisa de Orçamentos Familiares

(POF) 2008-2009 (3), apontam declínios intensos e contínuos da desnutrição infantil em todas

as regiões brasileiras, mostrando, além disso, redução particularmente expressiva dos déficits

de altura para idade no Nordeste, a ponto de eliminar toda a desvantagem em relação às

demais. Tomando-se como parâmetro os estudos mais recentes realizados em 2006 (19) e

2008-2009, pode-se constatar que a prevalência de déficit estatural no presente trabalho foi

maior quando comparado aos achados de 2006 e próxima aos observados em 2008-2009 na

região Nordeste.

Análises recentes sobre a tendência secular da desnutrição infantil no Brasil indicam que o

importante declínio do ocorreu associado às melhorias observadas no poder aquisitivo das

famílias de menor renda, na escolaridade materna e na assistência de serviços básicos de

saúde e saneamento. Aspectos esses que vêm sendo observados a partir da evolução anual dos

resultados da PNAD. Tais melhorias decorreram de várias políticas públicas, incluindo a

valorização do salário mínimo e os programas de transferência de renda, a universalização do

ensino fundamental e a expansão da estratégia de saúde da família (20,21). A manutenção

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dessas políticas e o reforço de outras, como a expansão dos serviços de saneamento, serão

essenciais para que o problema da desnutrição infantil seja definitivamente resolvido no

Brasil.

Ao mesmo tempo, a ocorrência de excesso de peso nas crianças apresenta-se mais elevada

comparativamente duas vezes a Pernambuco, porém bem inferior ás prevalências da POF

2008-2009 na região Nordeste, demonstrando a sobreposição da desnutrição ao incremento

acelerado da obesidade em toda a população brasileira, seja crianças, adolescentes e adultos.

Em Alagoas foram observadas importantes modificações socioeconômicas, demográficas e na

estrutura de serviços públicos, as quais podem justificar os achados ora apresentados.

Segundo estudiosos no assunto, apesar de continuar apresentando os piores indicadores

sociais do País, os investimentos realizados na infra-estrutura de serviços públicos, sobretudo

no setor saúde e educação, além do grande aporte de recursos federais injetados no estado por

meio de programas de transferência de renda, parecem explicar, pelo menos em parte, a

redução na prevalência de desnutrição infantil e o aumento da obesidade (22).

A prevalência de baixa estatura encontrada nas mães integrantes desta amostra foi similar às

apresentadas por outros autores (9,17). Nesses estudos sugerem que o baixo índice

socioeconômico associado à baixa estatura, essa quando resultante da desnutrição no início da

vida, predispõe a obesidade e doenças crônico-degenerativas não transmissíveis,

principalmente entre as mulheres. A explicação mais plausível para justificar essa

susceptibilidade seria que a sequela da desnutrição induziria mecanismos adaptativos no

sistema nervoso central e modificações metabólicas, tais como a redução do metabolismo

basal e diminuição das necessidades energéticas, facilitando assim o armazenamento de

gordura corporal e promovendo uma tendência ao balanço energético positivo, quando da

vigência de uma melhoria na disponibilidade de alimentos (9).

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A inserção social das crianças e suas mães e a qualidade do ambiente vivenciado são

importantes condições que determinam o estado de saúde e nutrição. Com esse intuito, a

criança não pode ser vista isoladamente, onde a figura materna surge como importante elo de

ligação da criança com o ambiente e compartilha condições socioambientais semelhantes com

hábitos alimentares associados também aos aspectos culturais de cada grupo social,

favorecendo uma relação direta em seu estado nutricional. Entretanto, o excesso de peso

materno não teve associação significativa com o estado nutricional de suas crianças,

resultados semelhantes aos de Martins et al (5) e Silveira et al. (7). Entretanto, estes autores

encontraram uma correlação intrafamiliar positiva quando associou a obesidade e baixa

estatura materna das mães com o déficit estatural da criança. Estudos que justifiquem a não-

associação direta entre o excesso de peso da mãe e o estado nutricional de seus filhos são

escassos, sugerindo que o comprometimento estatural da mãe pode ser fator determinante na

associação do excesso de peso materno e o estado nutricional infantil, fator mais sensível às

condições socioeconômicas e ambientais. Ferreira et al. (17) confirmaram que mulheres com

baixa estatura tendem a ser obesas e terem crianças desnutridas, sugerindo que adaptações

fisiológicas decorrentes da desnutrição pregressa podem ser transmitidas para gerações

futuras.

Na análise das variáveis socioeconômicas, constatou-se que mais de 80% da população

estudada subsistia com renda familiar bruta igual ou inferior a um salário mínimo,

caracterizando uma população de muito baixa renda. Além disso, o déficit da cobertura dos

domicílios quanto aos serviços públicos, como abastecimento de água e esgotamento

sanitário, denota as condições ambientais precárias em que os indivíduos vivem. Trabalhos

demonstram que o estado nutricional é um evento expressamente sensível às condições do

ambiente social e econômico em que vive a criança e sua família, indicando a importância

epidemiológica destes fatores na conformação do estado de saúde e nutrição das populações

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

(23,24). Este patamar de renda possivelmente restringe o poder de compra e a satisfação das

necessidades nutricionais, com a priorização do consumo elevado de alimentos de baixo

custo, que são fontes de gorduras, açúcares simples, cereais refinados em detrimento de frutas,

legumes, grãos, carnes, que são fontes de vitaminas e minerais, colocando os indivíduos que

vivem nesse nível de pobreza em condição de alta vulnerabilidade para os agravos

nutricionais.

O presente estudo evidencia então que mesmo compartilhando condições socioeconômicas e

ambientais semelhantes, não houve associação entre o excesso de peso materno e o estado

nutricional de suas crianças. Apesar da condição social precária, a prevalência de sobrepeso-

obesidade em mães e crianças foi significativa.

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AGRADECIMENTOS

Os autores agradecem à Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de Alagoas (FAPEAL) e

ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPQ) pelo apoio

financeiro.

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

Tabela 1. Caracterização socioeconômica de mães moradoras de assentamentos subnormais

de Maceió/AL-2004.

Variáveis N % IC95%‡

Procedência Rural 369 32,5 (30,1-34,9) Urbana 768 67,5 (65,1- 69,9) Total 1137 100 Emprego Não 803 70,6 (68,2-72,8)

Sim 334 29,4 (27,2-37,8)

Total 1137 100

Escolaridade (anos)

Nenhuma 259 23,0 (20,9-25,2)

<8 759 67,5 (65,1-69,9) >8 107 9,5 (8,1-11,1) Total 1125 100 Renda Familiar Bruta > 1SM* 967 86,6 (84,8-88,3) < 1SM 150 13,4 (11,7-15,2) Total 1117 100

*Salário mínimo de referência = R$ 283,16 - Média dos valores referentes aos meses de setembro de 2004 a abril de 2005 (260,00) e Maio de 2005 a março de 2006 (300,00); ‡IC95% (Intervalo de Confiança de 95%).

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Tabela 2. Condições de moradia das mães e de suas crianças menores de 10 anos moradoras

de assentamentos subnormais de Maceió/AL-2004.

Variáveis n % IC95%‡

N.º cômodos >4 397 34,9 (32,7-37,4)

<4 740 65,1 (62,6-67,4)

Total 1137 100

Banheiro Unifamiliar 913 80,3 (78,2-82,2) Inexistente ou coletivo 224 19,7 (17,7-21,8) Total 1137 100 Destino do lixo Coleta pública 843 74,1 (71,8-76,3) Céu aberto 294 25,9 (23,7-28,2) Total 1137 100 Esgotamento sanitário Esgoto público 84 7,4 (6,2-8,9)

Céu aberto ou Fossa 1053 92,6 (91,1-93,8)

Total 1137 100

Tipo de construção

Alvenaria 712 62,6 (60,1-65,0)

Materiais precários 425 37,4 (35,0-39,9)

Total 1137 100 Abastecimento d´água Rede pública 496 43,6 (41,1-46,2) Poço 305 26,8 (24,5-29,0) Outra 336 29,6 (27,3-32,0) Total 1137 100 Geladeira Sim 787 69,2 (66,8-71,5) Não 350 30,8 (28,5-33,2) Total 1137 100 Televisão Sim 929 81,7 (79,6-83,5) Não 208 18,3 (16,5-20,4) Total 1137 100

‡IC95% (Intervalo de Confiança de 95%).

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Tabela 3. Razão de prevalência e intervalo de confiança de 95% do excesso de peso das mães

de acordo com o estado nutricional de suas crianças menores de 10 anos moradoras de

assentamentos subnormais de Maceió/AL-2004

Crianças Total Crianças

Mães com excesso de peso Sim Não

n % n % RP* IC95%‡

Baixa Estatura Não 1269 600 93,9 669 92,1 1,16 0,91-1,49 Sim 96 39 6,1 57 7,9 Total 1365 639 100,0 726 100,0

Baixo peso Não 1257 594 93,5 663 93,8 0,98 0,78-1,23 Sim 85 41 6,5 44 6,2 Total 1342 635 100,0 707 100,0

Excesso de peso Sim 232 99 15,8 133 18,7 0,89 0,76-1,05 Não 929 527 84,2 578 81,3 Total 1337 626 100,0 711 100,0

*RP (Razão de Prevalência); ‡IC95% (Intervalo de Confiança de 95%).

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Gráfico 1. Classificação nutricional segundo o índice de massa corporal (IMC) de mães e

crianças moradoras de assentamentos subnormais de Maceió/AL-2004.

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Gráfico 2. Classificação nutricional segundo déficit de estatura de mães e crianças moradoras

de assentamentos subnormais de Maceió/AL-2004.

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5. Considerações finais

Frente à natureza multicausal dos distúrbios nutricionais, como a desnutrição e

obesidade, muitos estudos têm buscado evidenciar os efeitos das condições socioeconômicas,

ambientais, demográficas, biológicas, entre outras, sobre o estado nutricional.

Apesar da melhoria das condições nutricionais das crianças no Brasil, a prevalência

significativa de desnutrição crônica encontradas nas crianças estudadas mostra que esta

condição tem ocorrido de forma muito desigual e o problema ainda é grave nos bolsões de

pobreza das grandes cidades, embora sejam resultados inferiores aos anteriormente

encontrados no Estado. Apesar de Alagoas continuar apresentando os piores indicadores

sociais do País, os investimentos realizados no setor saúde e educação, além de recursos

federais injetados no estado por meio de programas de transferência de renda, parecem

explicar, pelo menos em parte, a redução na prevalência de desnutrição infantil.

Em contrapartida, o excesso de peso foi também expressivo e evidencia que o déficit

estatural e o sobrepeso prevalecem com idêntica magnitude, enfatizando a importância da

manutenção das ações destinadas ao controle da desnutrição e o desenvolvimento de medidas

preventivas do sobrepeso, visto que ambas representam agravos à saúde associados com sérias

repercussões a curto e longo prazos. Isso é mais um aspecto a ser considerado pelos gestores

das políticas públicas, pois indica que o acesso ao alimento deve ser acompanhado de um

processo educativo visando à adequação do consumo às necessidades nutricionais e promoção

da saúde.

A elevada prevalência de excesso de peso encontrada nas mães foi também elevada,

denotando a tendência ao excesso de peso em populações urbanas de baixa renda em

mulheres. Esses achados sugerem que mudanças no padrão alimentar ocasionadas pelo

processo de transição demográfica e econômica ao qual estão submetidos os países em

desenvolvimento, como o Brasil. Além disso, a baixa estatura materna observada pode ser

resultante de uma desnutrição pregressa, que por sua vez, predispõe a obesidade,

principalmente no sexo feminino, por mecanismos fisiológicos adaptativos que reduzem o

metabolismo basal e facilitam o armazenamento da gordura corporal e balanço energético

positivo.

Apesar de compartilharem o mesmo contexto socioeconômico e ambiental, não houve

relação entre o estado nutricional de mães e suas crianças, estando em discordância com

estudos no mesmo Estado. Entretanto, deve-se reconhecer que tanto a desnutrição (em

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crianças) como a obesidade (em adultos) podem ter etiologia comum, sendo ambas oriundas

da pobreza, das condições adversas do meio e dos males que a acompanham. A solução deste

problema, sem dúvida, passa pelo conhecimento do contexto socioeconômico, para que se

possam estabelecer estratégias de intervenção oportunas.

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Data: ____/____/____ Assentamento_______

Nº da casa: _________

APÊNDICES

APÊNDICE A – Questionário utilizado para coleta de dados.

PERFIL NUTRICIONAL E DE SAÚDE DOS MORADORES DE ASSENTAMENTOS

SUBNORMAIS DE MACEIÓ/AL

Nome do chefe da família: __________________________________________ 1. Caracterização do domicílio Tipo de construção: (1) Madeira (2) Mista (3) Alvenaria (4) Taipa (5) Lajota (6) Plástico (7) Outro N.º Cômodos: _______ 2. O piso de todos os cômodos tem revestimento? ( ) Sim ( ) Não 3. Destinação de dejetos: Esgoto ( ) Fossa ( ) Céu aberto ( ) Uso de W.C.: ( ) Unifamiliar ( ) Coletivo ( ) Inexistente 4. Destinação do lixo: Coleta pública ( ) Enterra/queima ( ) Céu aberto ( ) 5. Abastecimento de água: Rede pública ( ) Domiciliar ( ) Poço ( ) Coletiva ( ) 6. Equipamentos eletrônicos: Rádio ___________________( ) Geladeira ________________( ) Liquidificador ____________( ) TV _____________________( ) Aparelho de som __________( ) Videocassete _____________( ) Máquina de lavar__________( ) Carro ___________________( ) Outros:__________________( ) Total (____)

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APÊNDICE B – Termo de consentimento livre e esclarecido utilizado na pesquisa

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (T.C.L.E.) (Em 2 vias, firmado por cada participante-voluntário (a) da pesquisa e pelo responsável)

Eu, ____________________________________________________________________________, tendo sido convidado(a) a participar como voluntário(a) do “Perfil Nutricional e de Saúde da População de

moradores em Assentamentos Subnormais de Maceió/AL”, recebi da Profª Drª Telma Maria de Menezes Toledo Florêncio, da Faculdade de Nutrição da Universidade Federal de Alagoas, responsável por sua execução, as seguintes informações que me fizeram entender sem dificuldades e sem dúvidas os seguintes aspectos: • Que o estudo se destina a conhecer as causas das doenças crônico degenerativas, como obesidade, hipertensão e diabetes, nas populações de baixa renda e as conseqüências dessas doenças para a saúde humana; • Que este estudo será importante para o desenvolvimento de políticas públicas direcionadas para a melhoria da qualidade de vida e de saúde dos moradores desses assentamentos; • Que os resultados que se desejam alcançar são: 1) Identificar a prevalência obesidade nessas populações, associadas ao consumo alimentar e modo de vida; 2) Identificar a causa dessa doença nas populações de baixa renda; 3) Coletar informações suficientes para o desenvolvimento de Políticas Públicas; • Que esse estudo começará em outubro de 2005 e terminará em setembro de 2006; • Que o estudo será feito da seguinte maneira: 1) Será aplicado um questionário onde constará dados de identificação e socioeconômicos; 2) Serão realizadas Avaliações do estado nutricional e de saúde através de medidas antropométricas e aferição da Pressão Arterial 3) Será aplicado um questionário para a coleta de dados de alimentação (Inquérito Dietético) e de prática de atividade física; 4) Os dados serão compilados e analisados em programas de computador (EpiInfo 2000); 5) Artigos científicos serão escritos e publicados com os dados coletados; • Que eu participarei das seguintes etapas: 1) Coleta de dados socioeconômicos; 2) Avaliação do estado nutricional e de saúde através da medição do meu peso, da minha altura e da circunferência da cintura e aferição da Pressão Arterial; 3) Coleta de dados de alimentação (Inquérito Dietético) e de atividade física; • Que não existem outros meios conhecidos para se obter os mesmos resultados, visto que a coleta de dados e a freqüência do aparecimento dessas doenças são fundamentais para o reconhecimento das causas destas em população de baixa renda; • Que não sentirei incômodos relacionados a minha participação na pesquisa, pois os dados que serão coletados não influenciarão no meu sistema biológico, visto que não será necessária a administração de nenhuma substância e/ou fármaco; • Que o presente estudo não traz riscos à minha saúde física e mental; • Que caso seja detectado em mim alguma doença, serei encaminhado(a) ao Hospital Universitário – UFAL ou ao Hospital José Carneiro, onde serei tratado, tendo como responsável Telma Maria de Menezes Toledo Florêncio (endereço: Centro de Ciências da Saúde, Faculdade de Nutrição, Campus A.C. Simões, Cidade Universitária, Maceió-AL); • Que os benefícios que deverei esperar com a minha participação, mesmo que não diretamente são: 1) auxiliar na descoberta das possíveis causas da elevada prevalência de Doenças Crônicas não

“O respeito devido à dignidade da pessoa humana exige que toda

pesquisa se processe após consentimento livre e esclarecido dos sujeitos,

indivíduos ou grupos que por si e/ou por seus representantes legais

manifestem a sua anuência à participação na pesquisa.”

(Resolução nº. 196/96-IV, do Conselho Nacional de Saúde)

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transmissíveis na população de baixa renda; 2) O desenvolvimento de ações que sejam capazes de diminuir a incidência dessas e outras doenças; 3) Fornecer informações para o desenvolvimento de Políticas Públicas responsáveis que visem à melhoria da saúde e a qualidade de vida dos moradores desses assentamentos; • Que, sempre que eu desejar será fornecido esclarecimentos sobre cada uma das etapas do estudo; • Que, a qualquer momento, eu poderei me recusar a continuar participando do estudo e, também, que eu poderei retirar este meu consentimento, sem que isso me traga qualquer penalidade ou prejuízo; • Que as informações conseguidas através da minha participação não permitirão a identificação da minha pessoa, exceto aos responsáveis pelo estudo, e que a divulgação das mencionadas informações só será feita entre os profissionais estudiosos do assunto; • Que eu não terei qualquer despesa com a minha participação nesse estudo e, também, não sofrerei nenhum dano físico ou mental; Finalmente, tendo eu compreendido perfeitamente tudo o que me foi informado sobre a minha participação no mencionado estudo e estando consciente dos meus direitos, das minhas responsabilidades, dos riscos e dos benefícios que a minha participação implicam, concordo em dele participar e para isso DOU O MEU CONSENTIMENTO SEM QUE PARA ISSO EU TENHA SIDO FORÇADO OU OBRIGADO.

Endereço do(a) participante - voluntário(a): Domicílio: Bloco: Nº: Complemento: Bairro: CEP: Cidade: Telefone: Ponto de Referência: Contato de urgência- Sr(a): Domicílio: Bloco: Nº: Complemento: Bairro: CEP: Cidade: Telefone: Ponto de Referência:

Endereço da responsável pela pesquisa - Instituição: Universidade Federal de Alagoas Endereço: Centro de Ciências da Saúde, Faculdade de Nutrição, Campus A.C. Simões, Cidade Universitária, Maceió-AL. Bloco: CESAU. Telefones p/ contato: (82) 3241- 1160

ATENÇÃO: Para informar ocorrências irregulares ou danosas durante a sua participação no estudo, dirija-se ao: Comitê de Ética em Pesquisa da Universidade Federal de Alagoas: Prédio da Reitoria, sala do C.O.C., Campus A.C. Simões, Cidade Universitária, Maceió-AL. Telefone: (82) 3241-1053

Maceió, ______de ________________de ______________

_______________________________ ____________________________________ (Assinatura ou impressão datiloscópica Nome e Assinatura do(s) responsável(eis) pelo estudo d(o,a) voluntári(o,a) ou responsável legal (Rubricar as demais páginas) - Rubricar as demais folhas)

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

ANEXOS

ANEXO A – Distribuição espacial das regiões administrativas de Maceió-AL.

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DIAS, C.A. Dissertação de mestrado. UFPE. 2011.

ANEXO B – Aprovação do comitê de ética em pesquisa.