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19/05/2016 CEBI - Centro de Estudos Bíbl i cos http://www.cebi.org.br/ print.php?type=news&id=6283 1/3  “O Espírito do Senhor me ungiu para anunciar a boa-nova aos pobres” (Lc 4,16-21) - [Ildo Bohn Gass] O evangelho para a liturgia deste domingo inicia com o prólogo da obra de Lucas (1,1-4). Sua intenção fundamental é apresentar a prática de Jesus como fato histórico testemunhado por seus seguidores e suas seguidoras. O destinatário é “Teófilo”, o que significa “amigo de Deus”. Teófilo é toda a pessoa ou comunidade que vier a ler e a viver este evangelho, tornando-se sempre mais amigo e amiga de Deus. Portanto, hoje, “Teófilo” somos nós. Movido pelo Espírito de Deus... Na sequência, o evangelho deste domingo apresenta um resumo da prática de Jesus de Nazaré (Lucas 4,14-15). Ele vivia em meio a seu povo, participando de sua vida de fé. Ensinava nas sinagogas da Galileia, na periferia da Palestina. Toda sua missão é movida pelo dinamismo do Espírito (Lucas 3,22; 4,1.14.18). Para as comunidades de Lucas, a ação de Jesus é inseparável do Espírito profético, o Espírito de Deus. Convém que tenhamos presente que a força do Espírito do Senhor também conduziu João Batista e Maria, Isabel e Zacarias, Simeão e Ana (Lucas 1,15.35.41.67; 2,25-27.36). Apresentando a missão de Jesus dinamizada pela força do Espírito, a comunidade lucana nos desafia a que também nós abramos nosso coração ao Espírito Santo e nos coloquemos a seu serviço, a serviço da libertação de todas as formas de opressão, promovendo a vida. ... para libertar os pobres... A narrativa a respeito da leitura de trechos do profeta Isaías feita por Jesus na sinagoga de Nazaré (Lucas 4,16-21) insere-se numa narrativa mais ampla, pois, na sequência, Lucas descreve a reação diante do anúncio desse evangelho (boa-nova) aos pobres. Uns aprovam. Outros têm dúvidas (Lucas 4,22-23). E há quem rejeita o projeto de salvação para os mais desamparados (Lucas 4,23-30). O que não é possível é ficar indiferente. A boa-nova para uns é uma má notícia para quem deseja continuar vivendo à custa dos pobres. Essa é a razão por que se enfureceram, o expulsaram e queriam precipitá-lo do cimo da colina (Lucas 4,28-29). Como ontem, ainda hoje se repete a mesma situação. Qualquer liderança que assume a promoção dos mais pobres, de modo que possam ter pelo menos três refeições por dia e viver com dignidade, continua sendo caluniada e perseguida. E isso não somente pela mídia comprometida com o poder econômico, mas também por políticos e até por setores de igrejas e tribunais. Não é por acaso que Jesus vê motivo de alegria para as pessoas perseguidas por lutarem pela justiça (Mt 5,10-12). Em Lucas 4,16-21, temos a apresentação do programa de Jesus num dia de sábado na sinagoga de Nazaré, sua terra natal. É o projeto do reinado Deus. Na sinagoga, era costume rezar alguns Salmos, ler e comentar um trecho de algum livro da lei (Pentateuco) e outro de algum livro profético. Jesus escolhe três fragmentos do livro de Isaías para anunciar o coração do projeto de Deus.  “O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu para anunciar a boa-nova aos

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“O Espírito do Senhor me ungiu para anunciar aboa-nova aos pobres” (Lc 4,16-21) - [Ildo BohnGass]

O evangelho para a liturgia deste domingo inicia com o prólogo daobra de Lucas (1,1-4). Sua intenção fundamental é apresentar aprática de Jesus como fato histórico testemunhado por seusseguidores e suas seguidoras. O destinatário é “Teófilo”, o quesignifica “amigo de Deus”. Teófilo é toda a pessoa ou comunidade

que vier a ler e a viver este evangelho, tornando-se sempre maisamigo e amiga de Deus. Portanto, hoje, “Teófilo” somos nós.

Movido pelo Espírito de Deus...

Na sequência, o evangelho deste domingo apresenta um resumo da prática de Jesus deNazaré (Lucas 4,14-15). Ele vivia em meio a seu povo, participando de sua vida de fé.Ensinava nas sinagogas da Galileia, na periferia da Palestina. Toda sua missão é movida pelodinamismo do Espírito (Lucas 3,22; 4,1.14.18). Para as comunidades de Lucas, a ação deJesus é inseparável do Espírito profético, o Espírito de Deus. Convém que tenhamos presenteque a força do Espírito do Senhor também conduziu João Batista e Maria, Isabel e Zacarias,Simeão e Ana (Lucas 1,15.35.41.67; 2,25-27.36).

Apresentando a missão de Jesus dinamizada pela força do Espírito, a comunidade lucana nosdesafia a que também nós abramos nosso coração ao Espírito Santo e nos coloquemos a seuserviço, a serviço da libertação de todas as formas de opressão, promovendo a vida.

... para libertar os pobres...

A narrativa a respeito da leitura de trechos do profeta Isaías feita por Jesus na sinagoga deNazaré (Lucas 4,16-21) insere-se numa narrativa mais ampla, pois, na sequência, Lucasdescreve a reação diante do anúncio desse evangelho (boa-nova) aos pobres. Uns aprovam.Outros têm dúvidas (Lucas 4,22-23). E há quem rejeita o projeto de salvação para os mais

desamparados (Lucas 4,23-30). O que não é possível é ficar indiferente. A boa-nova para unsé uma má notícia para quem deseja continuar vivendo à custa dos pobres. Essa é a razão porque se enfureceram, o expulsaram e queriam precipitá-lo do cimo da colina (Lucas 4,28-29).Como ontem, ainda hoje se repete a mesma situação. Qualquer liderança que assume apromoção dos mais pobres, de modo que possam ter pelo menos três refeições por dia eviver com dignidade, continua sendo caluniada e perseguida. E isso não somente pela mídiacomprometida com o poder econômico, mas também por políticos e até por setores de igrejase tribunais. Não é por acaso que Jesus vê motivo de alegria para as pessoas perseguidas porlutarem pela justiça (Mt 5,10-12).

Em Lucas 4,16-21, temos a apresentação do programa de Jesus num dia de sábado nasinagoga de Nazaré, sua terra natal. É o projeto do reinado Deus. Na sinagoga, era costume

rezar alguns Salmos, ler e comentar um trecho de algum livro da lei (Pentateuco) e outro dealgum livro profético. Jesus escolhe três fragmentos do livro de Isaías para anunciar ocoração do projeto de Deus.

“O Espírito do Senhor está sobre mim, pois ele me ungiu para anunciar a boa-nova aos

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pobres: enviou-me para proclamar a libertação aos presos (Isaías 61,1) e, aos cegos, arecuperação da vista (Isaías 35,5); para dar liberdade aos oprimidos (Isaías 58,6) eproclamar um ano de graça do Senhor” (Isaías 61,2).

Essa missão libertadora vem do Deus da vida, pois é conferida a Jesus pelo próprio Espíritodo Senhor, por quem já fora ungido como o messias por ocasião do seu batismo (Lucas 3,22).

A missão do messias é de esperança de vida digna, certamente para todas as pessoas, masespecialmente para quem está excluído da cidadania. Em quatro afirmações, Jesus faz

memória da profecia de Isaías para descrever em que consiste a sua missão de “anunciaruma boa-nova aos pobres”.

Primeiro, “anunciar uma boa-nova aos pobres” é “proclamar a libertação aos presos”. Por umlado, é a libertação de quem sobrevive em condições subumanas nos presídios, onde agrande maioria está em consequência dessa sociedade desigual, injusta e de exclusão. E, notempo de Jesus, a maioria das pessoas que se encontrava na prisão eram presos políticos queresistiam contra a opressão e a violência do império romano. Por outro lado, a proposta deJesus é libertar-nos de todas as formas de prisão, de tudo aquilo que nos impede de sermosnós mesmos, de sermos livres, sem deixar-nos guiar pelo egoísmo, por vícios, peloindividualismo, pela ganância, pelo consumismo, pela ambição, etc. Senhor, liberta-nos detudo o que nos aprisiona e impede de sermos radicalmente livres.

Em segundo lugar, “anunciar uma boa-nova aos pobres” é levar “aos cegos a recuperação davista”. É, sim, curar a cegueira física, mas é muito mais. É também curar a nossa ‘cegueira’ quando não enxergamos a realidade por estarmos com a visão embaciada ou com ‘viseiras’ que impedem vermos a realidade em toda a sua amplitude. É curar a nossa ‘cegueira’ quandonão vemos com nossos próprios olhos, não pensamos com nossa própria mente, nãoescutamos com nossos próprios ouvidos e, por isso mesmo, não dizemos nossa própriapalavra, mas reproduzimos as ideias do pensamento dominante na sociedade. Senhor,recupera as nossas vistas. Dá-nos forças para alcançarmos clareza em nossas mentes ecorações, a fim de ampliar o nosso discernimento conduzido por teu Espírito.

Em terceiro lugar, “anunciar uma boa-nova aos pobres” também é “dar liberdade aosoprimidos”, seja diante da opressão social, mental, econômica, psicológica, política, afetivaou religiosa. Senhor, que teu amor mova nossos desejos, possibilitando-nos a graça desermos pessoas próximas, solidárias com quem vive na opressão.

Por fim, “anunciar uma boa-nova aos pobres” é “proclamar um ano de graça do Senhor”.Anunciar o ano de graça do Senhor é proclamar o ano jubilar que fazia parte da tradição doAntigo Israel. Nos livros do Deuteronômio e do Levítico fala-se desse jubileu. Primeiro, erauma reforma feita a cada sete anos (Deuteronômio 15,1-18). Mais tarde, passou para cada 50anos (Levítico 25,8-55). Era o ano do perdão das dívidas que, muitas vezes, levavam à perdada terra, das casas e da própria liberdade. Por isso, ao anunciar o ano jubilar, além doperdão das dívidas, o Espírito do Senhor move Jesus para anunciar vida plena, o que tambéminclui terra para quem está sem terra, moradia para quem está sem teto e liberdade paraquem sofre trabalho escravo.

... ontem e hoje

No passado, o Espírito animava a profecia na proclamação da boa-nova da libertação para ospobres (Isaías 61,1). Fiel à missão que o Espírito lhe confiara no batismo (Lucas 3,22), Jesusatualiza essa profecia, igualmente movido pela força do Espírito (Lucas 4,18). É por isso quediz: “Hoje, se cumpriu aos vossos ouvidos essa passagem da Escritura” (Lucas 4,21).

No nosso batismo, também somos ungidos pelo mesmo Espírito Santo e assumimos o mesmo

programa de Jesus. Por isso, podemos dizer com ele que, em nós, “hoje, se cumpriu aosvossos ouvidos essa passagem da Escritura”. Que a graça de Deus nos ajude a colocar-nos nomesmo caminho da profecia, no caminho do Espírito do Senhor.

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