cícero casemiro da costa nogueira filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfcícero...

103
Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação de Mestrado Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Logística pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial da PUC-Rio. Orientador: Luiz Felipe Roris Rodriguez Scavarda do Carmo Rio de Janeiro Agosto de 2005

Upload: others

Post on 14-Aug-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho

Tecnologia RFID aplicada à logística

Dissertação de Mestrado

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Logística pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial da PUC-Rio.

Orientador: Luiz Felipe Roris Rodriguez Scavarda do Carmo

Rio de JaneiroAgosto de 2005

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CB
Page 2: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho

Tecnologia RFID aplicada à logística

Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Logística pelo Programa de Pós-Graduação em Engenharia Industrial da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Prof. Luiz Felipe Roris Rodriguez Scavarda do CarmoOrientador

Departamento de Engenharia Industrial -PUC-Rio

Prof. Vânia Barcellos Gouvêa CamposIME – Instituto Militar de Engenharia

Prof. José Eugênio LealCoordenador Setorial do Centro Técnico Científico - PUC-Rio

Departamento de Engenharia Industrial -PUC-Rio

Rio de Janeiro, 5 de agosto de 2005

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CB
Page 3: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, do autor e do orientador.

Cícero Casemiro Da Costa Nogueira Filho

Graduou-se em Engenharia Civil pela PUC-Rio em 1976. Estagiou na Montreal Engenharia e no escritório de cálculo estrutural José Luis Cardoso, sendo posteriormente efetivado por esta, para atuar como Engenheiro de Projetos Estruturais. Realizou diversos cursos na área de gerenciamento, planejamento e controle de projetos na FVG e pós-graduação em Engenharia de Segurança na UERJ. Trabalhou em Empresa de Construção Civil como supervisor de obras residenciais e posteriormente ingressou na White Martins Gases Industriais onde trabalhou por 26 anos ocupando diversos cargos de confiança, desde a coordenação de projetos na área de engenharia de processos industriais, até cargos de alta gerencia nas áreas de vendas, suprimentos e operações industriais como logística e distribuição. Neste período cursou MBAs na área Executiva na Dom Cabral e Finanças - na FGV. Também foram realizados outros de pós- graduação nas áreas de logística e de negociações. Participou como membro do grupo multinacional de desenvolvimento de tecnologias aplicadas ao varejo na distribuição de gases industriais, criado pela Matriz americana do grupo Praxair, sendo o único representante atuante pela América do Sul. Atualmente trabalha para a Petrobras na coordenação de suprimentos em projeto de plataforma off-shore.

Ficha catalográfica

Nogueira Filho, Cícero Casemiro da Costa Tecnologia RFID aplicada à logística / Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho ; orientador: Luiz Felipe Roris Rodriguez Scavarda do Carmo. – Rio de Janeiro : PUC-Rio, Departamento de Engenharia Industrial, 2005. 103 f. ; 30 cm Dissertação (mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Departamento de Engenharia Industrial. Inclui referências bibliográficas 1. Engenharia industrial – Teses. 2. Logística. 3.Gestão da cadeia de suprimentos (SCM). 4.Identificador de radiofreqüência (RFID). I. Carmo, Luiz Felipe Roris Rodriguez Scavarda do. II. Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Departamento de Engenharia Industrial. III. Título.

CDD: 658.5

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CB
Page 4: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

Aos meus Pais, minha esposa Cristina e meus filhos Eduardo e Patrícia, razões das minhas principais conquistas.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CB
Page 5: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

Agradecimentos À minha família pelo constante apoio, amor e incentivo. Ao professor Luiz Felipe Roris Scavarda do Carmo pela motivação, conhecimento, orientação, entusiasmo e amizade. Ao Victor Kraemer pela ajuda e dedicação nas pesquisas de material bibliográfico. À White Martins em especial ao Diretor Industrial Ricardo Pinho pelo incentivo, suporte financeiro e confiança. Ao Renato Rochini e equipe do grupo DaimlerChrysler que disponibilizou informações e material de pesquisa, propiciando visita ao chão de fábrica. Ao Matsuri do Grupo Pão de Açúcar por ter disponibilizado informações e material de pesquisa. Ao Enídio e Armando da Intermóbile pelo apoio e material técnico. A Tamara Figueiredo por sua contribuição na pesquisa de artigos e material técnico científico. Aos amigos Leo Achmam e Paulo Pegas pelo material informativo. Ao Renato Pereira e Leonardo Rubinato do grupo Unilever pela disponibilização de informações e material de pesquisa. Aos amigos do mestrado, por todos os momentos no decorrer de dois anos de curso. À PUC-Rio por ter propiciado as melhores condições e ambiente para a realização desse trabalho.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CB
Page 6: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

Resumo

Nogueira Filho, Cícero Casemiro da Costa. Tecnologia RFID aplicada à logística. Rio de Janeiro, 2005. 103p. Dissertação de Mestrado - Departamento de Engenharia Industrial, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

A crescente competitividade entre cadeias de suprimentos, proveniente de

um cenário globalizado onde o mercado exige um forte desempenho das cadeias

produtivas e flexibilidade com relação à qualidade, prazos e custos dos produtos,

acentua a importância da participação da logística como um agente fomentador de

inteligência estratégica entre as diversas disciplinas dos processos industriais. A

necessidade de obtenção e gerenciamento de um fluxo ideal de informações e

ações dentro dos atuais processos produtivos de uma SC - Supply Chain (cadeia

de suprimentos) para responder de forma competitiva e segura às demandas

vindas deste mercado, aliada ao desenvolvimento nos últimos anos da tecnologia

sem fio (wireless) Radio Frequency Identification (Identificação por Rádio

Freqüência), abre grandes oportunidades à aplicação do RFID na logística. Neste

trabalho pretendeu-se dar continuidade ao trabalho intitulado “Aplicações de

tecnologias sem fio em operações logísticas”, divulgado em Figueiredo (2004).

Assim, de forma a complementar o trabalho de Figueiredo (2004), o propósito

desta dissertação é dar maior visibilidade sobre o uso da tecnologia de RFID com

aplicação voltada a processos logísticos, de forma a promover maior compreensão

dos impactos desta tecnologia nas diversas aplicações industriais. Para tal, o

presente trabalho analisa diversos estudos de casos reais abrangendo empresas que

utilizam esta tecnologia, ou que estão em fase piloto de sua utilização no Brasil.

Com base nos resultados de estudos de casos realizados pelo autor, puderam ser

analisados alguns impactos nos usos e oportunidades do RFID nos processos

logísticos.

Palavras-chave Logística, Gerenciamento da Cadeia de Suprimentos (SCM), Identificador de

radiofreqüência (RFID).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CB
Page 7: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

Abstract Nogueira Filho, Cícero Casemiro da Costa. RFID technology applied to logistics. Rio de Janeiro, 2005. 103p. Dissertation - Industrial Engineering Department, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. The growing competitiveness among supply chains, originated from a

global scenery where the market demands a strong performance and flexibility

regarding quality, periods and costs of the products from the productive chains,

emphasizes the importance of the logistic participation as a promoting agent of

strategic intelligence among the several disciplines of the industrial processes.

The necessity of obtaining an efficient management system of information flow

and actions inside the current productive processes of a SC – (Supply Chain) to

answer in a safe and competitive way to the demands coming from this market,

allied with the development of the wireless technology opens great opportunities

to apply RFID (Radio Frequency Identification) technology to logistics. This

work intends to continue the research conducted in Figueiredo (2004) entitled

“Aplicações de tecnologias sem fio em operações logísticas”. Therefore, the main

goal of this master dissertation is to give more visibility concerning the use of the

RFID technology applied to logistic processes in a way to promote a better

comprehension of the impacts of this technology in different industrial

applications. In order to achieve its goal, this dissertation analyses different case

studies with companies that use this technology or are in pilot phase of its use in

Brazil. Regarding the results of case studies conducted by the author it was

possible to analyze some impacts in the uses and opportunities of RFID in the

logistics processes.

Keywords Logistics, Supply Chain Managment (SCM), Radio - Frequency Identification-

RFID).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CB
Page 8: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

Sumário

1 Introdução 12 1.1 Breve histórico sobre o uso de RFID 14 1.2 Objetivo de pesquisa 16 1.3 Metodologia de pesquisa 16 1.4 Estrutura do trabalho 17 2 Fundamentação teórica 18 2.1 Considerações gerais sobre a RFID 18 2.2 Etiquetas ópticas e “inteligentes” 23 2.2.1. Caracterização das Etiquetas Ópticas 25 2.2.2. Classificação das Etiquetas Inteligentes 27 2.3 Código Eletrônico de Produto – EPC 30 2.4 Comparativo - RFID X Código de Barras 32 2.5 Aplicações de RFID 37 2.5.1. Aplicações de RFID no Processo Logístico 39 2.5.2. Exemplo de Aplicação da RFID na Logística 41 3 Aplicações na produção 44 3.1 Introdução 44 3.2 Objetivo 45 3.3 Descrição do estudo de caso 45 3.3.1. Status anterior sem RFID 45 3.3.2. Status atual com RFID 46 3.4 Processo MDS 47 3.4.1. Montagem bruta 48 3.4.2. Pintura 50 3.4.3. Puffer (Armazenagem) 51 3.4.4. Montagem final 53 3.5 Resultados obtidos e conclusão 54 3.6 Próximos passos 56 4 Aplicações na distribuição e na logística reversa 57 4.1 Introdução 57 4.2 Objetivo 58 4.3 Descrição do estudo de caso 60 4.3.1. Escopo técnico/operacional complementar do estudo piloto 62 4.3.2 - Resultados obtidos com o estudo piloto 64 4.3.2.1- Avaliação da tecnologia 64 4.3.2.1.1- Transponder 65 4.3.2.1.2- Leitores de Transponders 65 4.3.2.1.3 – Handheld 66 4.3.2.1.4 - Cartão PCMCIA 66 4.3.2.1.5 - Cabos de Conexão 67 4.3.2.1.6- Mecanismo de implantação de transponder no colarinho 67 4.3.2.1.7 – Cola 68 4.3.2.1.8 – Baterias 68

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CB
Page 9: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

4.3.2.2 – Avaliação da operação 68 4.3.2.2.1 - Handheld / Leitor 68 4.3.2.2.2 - Tempos/Suporte técnico 69 4.3.3 - Avaliação dos benefícios e sugestões 70 4.4 Conclusão 71 4.5 Próximos passos 72 5 Aplicações na gestão do fluxo inbound e na armazenagem 75 5.1 Introdução 74 5.2 Objetivo 75 5.3 Descrição do estudo de caso 76 5.3.1 - Escopo de atuação do projeto piloto 76 5.3.2 – Configurações 77 5.3.3 - Arquitetura e operação 77 5.3.4 – Software e hardware utilizados 78 5.3.5 – Fases de implementação do projeto piloto 79 5.4 Resultados obtidos e conclusões 80 5.5 Próximos passos 82 6 Aplicação na gestão de pallets 83 6.1 Introdução 83 6.2 Objetivo 84 6.3 Descrição do estudo de caso 84 6.3.1 - Arquitetura e operação 85 6.4 Resultados obtidos 86 6.5 Pré- requisitos 88 6.6 Resultados obtidos e conclusão preliminar 88 7 Conclusões 90 7.1 Aspectos gerais 90 7.2 Abordagem sobre os estudos de casos 91

7.2.1 - Flexibilidade, automação e acuracidade na produção: Caso Mercedes Benz 91

7.2.2 - Rastreabilidade e controle de ativos nas operações de distribuição e logística reversa: caso White Martins 92

7.2.3 - Otimização e agilidade nas operações de centro de distribuição: caso Unilever 93

7.2.4 - Avaliação de oportunidade para utilização na cadeia de suprimentos: caso Pão de Açúcar 94

7.2.5 - Abordagem geral 94

7.3 Contribuição para o CPFR (Controlling Programming and Forecasting Replenishment) 95

7.4 A questão da violação de privacidade 96 7.5 Outros aspectos que impactam o uso pleno da tecnologia RFID 98 8 Referências bibliográficas 101

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CB
Page 10: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

Lista de figuras

Figura 1: antena tipo portal 19

Figura 2: exemplo de um leitor 20

Figura 3: sistema de baixa freqüência 21

Figura 4: sistema de alta freqüência 22

Figura 5: arquitetura epc network 32

Figura 6: comparação código de barras/ etiqueta de rfidsob a perspectiva do fluxo de informação 35

Figura 7: exemplo de rfid na logística 42

Figura 8: fluxo de comunicação entre o mds e os sistemas de gerenciamento da produção (gps) 48 Figura 9: montagem do mds na carroceria 49

Figura 10: fluxo montagem bruta 50

Figura 11: fluxo da pintura 51

Figura 12: fluxo no puffer 53

Figura 13: fluxo montagem final 54

Figura 14: fluxo das operações de produção e distribuição com uso de rfid 61

Figura 15: estimativa preliminar de custos 73

Figura 16: cronograma do projeto de rfid 74

Figura 17: camadas de relacionamento 78

Figura 18: mapa do local das instalações dos participantes 83

Figura 19: fluxo operacional 85

Figura 20: relatório de controle de notas fiscais 87

Figura 21: relatório de controle por produto 87

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CB
Page 11: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

Lista de Tabelas Tabela 1: Funcionalidades das etiquetas de RFID 29

Tabela 2: Freqüências por região 29

Tabela 3: Ccomparativo entre os sistemas de código de barras e RFID 34

Tabela 4: Eequipamentos e componentes utilizados 63

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CB
Page 12: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

1. Introdução

A busca constante pela vantagem competitiva em um mercado de economia

de livre comércio traz como conseqüência o desenvolvimento de esforços nas

Empresas, focados em análises dos processos internos e externos de toda a cadeia

de suprimento dos seus produtos, como a compra das matérias-primas, produção,

armazenagem, distribuição, vendas e pós-venda. Ser capaz de acompanhar a

evolução das técnicas produtivas não é mais o único elemento chave para manter

os produtos dentro do mercado consumidor. As informações adquiridas com

rapidez e acuracidade sobre cada estágio da cadeia de suprimentos destes produtos

são, atualmente, de fundamental importância para alimentar as decisões

estratégicas e operacionais que possibilitem dar sustentabilidade e alavancar os

negócios empresariais. À medida que os consumidores têm maiores alternativas

de escolha e definem com maior facilidade as características técnicas, o local, o

tempo de entrega e o nível de qualidade que exigem dos produtos que desejam

adquirir dentro de um curto espaço de tempo, têm-se verificado que as Empresas

estão revendo seus processos e suas estratégias de marketing mais rapidamente.

Como parte desta adequação, o nível de relacionamento com os principais

fornecedores da cadeia de suprimento têm aumentado, os canais de distribuição

têm sido alvo de constantes estudos de logística, os processos produtivos têm sido

rastreados com maior rigor, obrigando a se desenvolver sistemas mais ágeis que

possibilitem, num curto espaço de tempo, identificar possíveis gargalos e

obstáculos que possam estar dificultando a produção e a entrega dos produtos. Em

resumo, a maior flexibilidade e produtividade dos processos produtivos nas

Empresas têm sido metas obstinadas para atender, com nível de qualidade

diferenciado, às demandas do mercado. Neste cenário de competição, houve, nos

últimos anos, um grande movimento nas Empresas para o desenvolvimento de

processos logísticos focados nos diversos estágios da cadeia de suprimento para

permitir, além da maior sinergia nas operações inbound (logística de

abastecimento) e outbound (logística de distribuição), a obtenção de maior

visibilidade nas diversas fases desta cadeia de suprimento. Com esta visão, cresce,

a cada dia, a importância das tecnologias de informação como ferramenta de

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 13: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

13

realimentação de dados e informações dentro da cadeia de suprimento para o

estabelecimento de processos logísticos adequados à necessidade de cada produto

dentro do seu segmento de mercado. Os processos logísticos têm como pilares de

sustentação a qualidade das informações obtidas nos processos produtivos que,

corretamente trabalhadas, induzem a excelência operacional, passando a agregar

valor aos produtos e serviços, trazendo como efeito a satisfação dos clientes.

Capturar dados confiáveis e com rapidez de obtenção é uma necessidade

premente para se trabalhar na identificação de idéias e soluções de melhoria

contínua dos processos produtivos, dando maior agilidade, eficiência e

transparência às mudanças necessárias a serem implementadas nos elementos

principais da cadeia de suprimento.

Segundo Pires (2004), durante as últimas décadas presenciamos uma

evolução marcante no emprego de tecnologias de comunicação wireless, o que

vem garantindo maior mobilidade na comunicação e no acesso à informação.

Ainda nessa linha, presenciamos grandes avanços na questão da alimentação dos

sistemas de informações (inputs), que caminhou desde a simples digitação,

passando pelos códigos de barras e pela rádio-freqüência, até os atuais cartões e

etiquetas eletrônicas (tags). Tais tecnologias proporcionam elevado grau de

integração, na medida em que possibilitam a atualização das informações nos

vários elos da cadeia de suprimentos em tempo real.

Apesar do seu grande potencial de aplicação em diversos segmentos, o uso

do RFID (Radio Frequency Identification) - Identificação por rádio freqüência -

se mostra ainda num estágio inicial de adoção pelas Empresas brasileiras. Mesmo

assim, baseado em recentes informações específicas a respeito do uso e

aplicabilidade desta tecnologia, o autor observou uma movimentação considerável

no interesse de adoção desta tecnologia, “empurrado” principalmente pelo

segmento varejista de forma geral, devido à necessidade de maior integração,

flexibilidade, acuracidade e controle nas suas operações.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 14: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

14

1.1. Breve histórico sobre o uso de RFID

Durante a Segunda Guerra Mundial os ingleses desejavam distinguir seus

aviões de guerra, que retornavam do combate, dos aviões inimigos. Esta

identificação deveria ser feita a vinte e cinco milhas a partir da costa francesa

ocupada. Foi então desenvolvido um sistema por meio de um transponder

(etiqueta eletrônica) colocado nas aeronaves aliadas de modo a dar um sinal

apropriado que avisava automaticamente se o avião era “amigável” ou não. Este

sistema fora denominado IFF (Identify: Friend or “Foe”) e até hoje este sistema é

utilizado. Foi o primeiro uso da RFID – identificação por rádio freqüência.

(Miller, 2000). No final da década de 60 e início da década de 70 a necessidade

por segurança na utilização de materiais nucleares conduziu o desenvolvimento de

mais um uso do RFID. Nos anos 70, esta tecnologia que havia sido desenvolvida

em laboratórios do governo transferiu-se ao setor público através dos laboratórios

científicos de Los Alamos (LASL), resultando na exploração desta tecnologia para

uso civil por duas companhias: a Amtech e a Indentronix Rechearch (EUA), que

se destacou com o uso de identificadores na pecuária por meio de dispositivos

implantáveis em animais. Essa técnica foi seguida por diversas outras empresas.

No mesmo período, as etiquetas de RFIDde uso animal ganharam força e

importância com a definição de padrões ISO 11784/85 (EAN Brasil, 2004).

Também neste período, algumas empresas desenvolveram artigos eletrônicos de

segurança (eletronic article surveillance/EAS) para conterem roubos e furtos. O

EAS foi uma das mais utilizadas aplicações comercial de RFID. Em 1972, a

empresa americana Schalage Electronics, atualmente Westinghouse, desenvolveu

um cartão RFID, constituído de diversos circuitos depositados em uma placa de

circuito impresso, que foi um protótipo da etiqueta de RFID (Ferreira, 2004).

A década de 1980 foi o período das implementações de RFID, com

interesses distintos em várias partes do mundo. Os Estados Unidos tinham grande

interesse nas áreas de transporte e de controle de acessos – e um menor interesse

em controle animal. Na Europa, o interesse era em controle pecuário e em

aplicações industriais. Nessa época, já era possível encontrar aplicações em

diversos países como Itália, França, Espanha, Portugal e Noruega. Nos Estados

Unidos, na década de 1980, a associação de auto-estradas já estava envolvida em

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 15: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

15

aplicações com RFID. Foram feitos diversos testes com RFID como ferramenta de

coleta de dados. Apesar de, tanto na Europa como nos Estados Unidos, os projetos

e estudos em torno dessa tecnologia estarem em processo de aceleração, foi na

Europa – mais precisamente na Noruega – que ocorreu, em 1987, a primeira

aplicação comercial. Rapidamente, os Estados Unidos seguiram o feito, em 1989,

na cidade de Dallas, no Texas. Também nessa época as autoridades portuárias de

Nova York e Nova Jersey iniciaram uma operação comercial nos ônibus que

atravessavam o túnel Lincoln, que liga os dois estados. Iniciou-se um trabalho

visando à melhoria do desempenho com o uso da tecnologia, focado na redução

da necessidade do uso de energia para ativar os mecanismos de leitura e na

capacidade de leitura das etiquetas a distâncias maiores. Esses desenvolvimentos

levaram a uma avaliação mais detalhada dos custos e das dimensões dos

dispositivos (Nystrom apud Ferreira, 2004). A década de 1990 foi muito

significativa para o desenvolvimento e para a consolidação da RFID. Importantes

aplicações e várias inovações nas ferramentas eletrônicas contribuíram para

inúmeros ganhos. A primeira auto-estrada monitorada por ferramentas eletrônicas

foi inaugurada no ano de 1991, e m Oklahoma (EUA). Nela, veículos passavam

por determinados pontos, e suas velocidades eram controladas. Além das

ferramentas eletrônicas, o controle era reforçado por câmeras. Em Houston, no

ano de 1992, além das ferramentas de controle eletrônico, combinou-se um

sistema de gerenciamento de tráfego. Com a integração dos circuitos de RFID em

chips, a aplicação dessa tecnologia se tornou muito difundida em mecanismos de

controle de acesso e de segurança, principalmente na década de 1990 (EAN Brasil

apud Ferreira, 2004). Os militares americanos usaram RFID em conjunto com

sistemas de satélites para rastrear todos os seus ativos bélicos durante a guerra do

Afeganistão, o que confirma o seu papel na indústria bélica. Além do uso em

identificação de “fogo amigo”, etiquetas de RFID foram colocadas em pallets,

containers e na frota, transmitindo a localização exata dos equipamentos e

monitorando a melhor rota a ser seguida (Konicki apud Ferreira, 2004). As

aplicações no varejo têm sido recentes, e, particularmente, a associação da RFID

ao uso de etiquetas de RFID é algo novo. No início do ano de 2004 (Barcellos

apud Ferreira, 2004), houve a divulgação do primeiro projeto piloto da América

Latina de utilização de etiquetas de RFID no varejo atrelado à tecnologia de

RFID, desenvolvido pela empresa Unilever, uma indústria da área de bens de

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 16: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

16

consumo (essa iniciativa da indústria será detalhada no quinto capítulo). Observa-

se que, as aplicações associadas às etiquetas de RFID são recentes, embora os

conceitos de eletromagnetismo que suportam a sua tecnologia já estão, há muito

tempo, sendo investigados e desenvolvidos.

1.2. Objetivo de pesquisa

Nessa dissertação, pretendeu-se dar continuidade ao trabalho pioneiro de

dissertação de mestrado “Aplicações de tecnologias sem fio em operações

logísticas” (Figueiredo, 2004), o qual tem uma profunda e detalhada

fundamentação teórica em tecnologias de meios de transmissão e acesso operantes

em rádio-freqüência. Assim, o propósito é dar maior visibilidade sobre o uso da

tecnologia RFID com aplicação voltada aos processos logísticos, promovendo

uma maior compreensão dos impactos desta nas diversas aplicações industriais.

No presente trabalho, o autor mostra em detalhes estudos de casos reais, sendo

complementado por uma bibliografia técnica resumida, mas suficiente para o

entendimento desta tecnologia. O leitor deve atentar para o fato de que não se

pretende, por meio deste, esgotar as aplicações da tecnologia de RFID em

processos industriais, mas sim dar uma visão das diversas aplicações desta

tecnologia na logística e estimular, através dos estudos de casos, o

desenvolvimento de novas oportunidades para a aplicação desta tecnologia no

Brasil.

1.3. Metodologia de pesquisa

Este trabalho foi desenvolvido, basicamente, em duas etapas: num primeiro

momento foi feita a análise de material bibliográfico disponível na literatura

acadêmica, por meio do qual se pode delimitar a linha de pesquisa, bem como

oferecer maior embasamento ao desenvolvimento do tema. Numa segunda fase,

foram realizados estudos de caso com empresas que desenvolveram ou estão em

processo de implantação da RFID no Brasil.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 17: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

17

Para elaborar os estudos de caso, foram realizadas entrevistas semi-

estruturadas guiadas por um questionário que continha os seguintes pontos: 1-

Introdução – dados da Empresa; 2- Objetivo do projeto; 3- Descrição do processo

anterior – controle/logística de ativos / relacionamento com fornecedores /

satisfação do cliente; 4- Motivos relevantes da escolha da tecnologia de RFID; 5-

Descrição do processo atual – fluxo/diagrama do processo, indicando os pontos de

leitura e quais as informações e os desdobramentos, fases da implantação e os

equipamentos/recursos utilizados; 6- Resultados obtidos – benefícios (tangíveis e

intangíveis); 7- Conclusões – aprendizado, sugestões futuras, barreiras e efeitos na

SCM. Tais entrevistas foram complementadas por observações diretas obtidas

com as visitas de campo. Após a conclusão dos estudos de caso, foi enviado, para

cada empresa envolvida, um relatório com as análises feitas, de forma a validar a

coleta dos dados e ouvir a opinião destas em relação às análises.

1.4. Estrutura do trabalho

A presente dissertação esta dividida em sete capítulos, sendo este primeiro

introdutório. O capítulo 2 apresenta uma revisão bibliográfica sobre RFID e

fornece ao leitor uma visão suficiente de conhecimento técnico do processo de

RFID, para compreensão dos estudos de caso. Nos capítulos 3, 4, 5 e 6, o autor

apresenta estudos de casos de Empresas que se utilizam ou estão em fase piloto de

implantação da tecnologia de RFID em seus processos industriais. Nestas

Empresas, esta tecnologia se constitui como uma nova ferramenta de importante

relevância na busca de otimizações de operações, maior acuracidade de leitura de

dados e aumento de qualidade nos processos logísticos das suas operações

industriais. No capítulo 7 são apresentadas as conclusões e considerações finais.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 18: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

2. Fundamentação teórica

O objetivo deste capítulo é apresentar termos técnicos e teóricos que

facilitem a compreensão da funcionalidade da tecnologia de RFID, e, com isso, o

entendimento dos estudos de caso. Também constituirá parte deste capítulo

aspectos comparativos com a tecnologia de códigos de barras.

2.1. Considerações gerais sobre a RFID

A RFID consiste num sistema como um todo, e não num produto isolado.

Esse sistema utiliza espectros eletromagnéticos para transmitir informações sem

contato e sem linha de visão (Miller, 2000). A RFID também pode ser definida

como uma tecnologia de identificação que utiliza a rádio-freqüência para o

intercâmbio de dados, permitindo realizar remotamente o armazenamento e

recuperação de informações usando um dispositivo chamado de etiqueta de rádio

identificação, um pequeno objeto que poderá ser afixado a ou incorporado em um

produto, bem ou até num ser vivo (Stanton, 2004). A EAN Brasil (2004) define

RFID como uma tecnologia que utiliza ondas eletromagnéticas (sinais de rádio)

para transmitir dados armazenados em um micro-circuito (microchip), que por sua

vez podem trabalhar com altas ou baixas freqüências, conforme será apresentado

mais adiante. Este micro-circuito é também chamado de e-tag, RFID tag,

transponder, etiqueta eletrônica, etiqueta inteligente, ou então simplesmente de

tag. Nesta dissertação sempre que puder será utilizado o termo “etiqueta

inteligente”, pois se acredita ser este o termo mais utilizado em português.

O sistema RFID consiste basicamente nos seguintes componentes: antena;

transceiver com decodificador (ou conversor analógico digital e oscilador); e

transponder (a própria etiqueta inteligente), este último composto pela antena (ou

bobina) e o microchip.

No caso da alta freqüência, a antena, através de um sinal de rádio, é o meio

que ativa a etiqueta de RFID para trocar/enviar informações (processo de leitura

ou escrita). As antenas são fabricadas em diversos formatos e tamanhos com

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 19: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

19

configurações e características distintas, cada uma para um tipo de aplicação

(Pinheiro, 2004).

Figura 1: Antena Tipo Portal (Fonte: InteMobile)

O leitor ou scanner, através do transceiver, emite freqüências de rádio que

são dispersas em diversos sentidos no espaço desde alguns centímetros até alguns

metros, dependendo da potência de saída e da freqüência de rádio utilizada. Não

difere muito de um leitor de código de barras em termos de função e de conexão

ao restante do sistema. Entretanto, o leitor opera pela emissão de campo

eletromagnético (rádio freqüência), que é a fonte que alimenta a etiqueta

inteligente, que por sua vez, responde ao leitor com o conteúdo de sua memória.

Ao contrário de um leitor óptico, tal qual o código de barras, o leitor não precisa

de campo visual para realizar a leitura da etiqueta inteligente, podendo ler através

de diversos materiais como plásticos, madeira, vidro, papel, cimento, etc. Quando

a etiqueta de RFID passa pela área de cobertura da antena, o campo magnético é

detectado pelo leitor. Este, então, decodifica os dados que estão codificados na

etiqueta inteligente, passando-os para um computador realizar o processamento

(Gragg, 2003). O sistema de baixa freqüência opera de maneira análoga, mas

alguns de seus componentes são diferentes, não permitindo regravações. O

detalhamento do funcionamento de alta e baixa freqüência será apresentado mais

adiante.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 20: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

20

Figura 2: Exemplo de um leitor (Fonte: InteMobile)

A etiqueta de RFID (transponder ou tag) consiste de uma unidade eletrônica

composta por um chip e uma antena de fio, normalmente de cobre, conectados

entre si, que podem ser encapsulados em vários formatos e tamanhos (etiquetas,

cápsulas, cartões de proximidade, pastilhas, argolas, etc) com a utilização de

diversos tipos de materiais (plástico, vidro, epóxi, etc.) no processo de

encapsulamento (Pinheiro, 2004). No caso da etiqueta de RFID de baixa

freqüência, a antena é substituída pela bobina. O tipo de etiqueta de RFID é

também definido conforme a aplicação, ambiente de uso e performance. Existem

dois tipos de etiquetas inteligentes: ativas e passivas. A passiva opera com baixa

freqüência (menos de 100 megahertz) e a ativa com alta freqüência (mais de 100

megahertz). Diferente de seu equivalente de baixa freqüência, as etiquetas de alta

freqüência podem ter seus dados lidos a distâncias maiores de um metro, bem

como quando próximos.

As figuras 3 e 4 apresentam respectivamente um fluxo esquemático sobre os

mecanismos de funcionamento de leitura da etiqueta de RFIDdos sistemas de

baixa e alta freqüências.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 21: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

21

Figura 3: Sistema de baixa freqüência (Fonte: Want, 2004).

A explicação para o sistema apresentado na figura 3 é a seguinte:

1) Um circuito integrado envia um sinal para um oscilador, que cria uma

corrente alternada na bobina do leitor.

2) A corrente, por sua vez, gera um campo magnético alternado que serve

como fonte de energia para a etiqueta inteligente.

3) O campo interage com a bobina na etiqueta inteligente, induzindo uma

corrente que causa um fluxo de carga para um capacitor, onde tal fluxo

fica preso pelo diodo.

4) Enquanto a carga acumula no capacitor, a voltagem neste também

aumenta e ativa o circuito integrado da etiqueta inteligente, que, então,

transmite seu código identificador.

5) Altos e baixos níveis de sinal digital, correspondentes a uns e zeros

codificando o número identificador, ligam e desligam o transistor.

6) Variações na resistência do circuito, resultantes do ligamento e

desligamento do transistor, causam a geração de um campo magnético

variável próprio da etiqueta inteligente, que interage com o campo do

leitor. Nesta técnica, chamada modulação de carga, flutuações

magnéticas causam mudanças no fluxo de corrente do leitor para a

bobina no mesmo padrão dos uns e zeros transmitidos pela etiqueta.

SISTEMA DE BAIXA FREQÜÊNCIA

1 2 3

4

57 6

Leitor Circuito

Integrado

Oscilador

Código identificador G2321 [51120]

Sinal digital Conversor

Analógico - Digital Campo

magnéticoda etiqueta

Transistor

Bobina

Linhas de campoflutuantes

Sinal digital Código identificador G2321 [51120]

Etiqueta

Corrente Diodo Capacitor

Energia

Dados

SISTEMA DE BAIXA FREQÜÊNCIA

1 2 3

4

57 6

Leitor Circuito

Integrado

Oscilador

Código identificador G2321 [51120]

Sinal digital Conversor

Analógico - Digital Campo

magnéticoda etiqueta

Transistor

Bobina

Linhas de campoflutuantes

Sinal digital Código identificador G2321 [51120]

Etiqueta

Corrente Diodo Capacitor

Energia

Dados

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 22: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

22

7) As variações no fluxo de corrente na bobina do leitor são sentidas por

um dispositivo que converte esse padrão num sinal digital. O circuito

integrado do leitor, então, decodifica o código de identificação da

etiqueta.

A explicação para o sistema apresentado na figura 4 é a seguinte:

1) Um circuito integrado envia um sinal digital para um transceiver, que

gera um sinal de rádio-freqüência que é transmitido por uma antena

dipolo.

2) O campo elétrico dos sinais propagados dá origem a uma diferença de

potencial através da antena dipolo da etiqueta inteligente, que causa um

fluxo de corrente no capacitor. A carga resultante é presa pelo diodo.

3) A voltagem através do capacitor liga o circuito integrado da etiqueta

inteligente, que envia seu código identificador único por meio de uma

série de voltagens altas e baixas, correspondentes a uns e zeros. O sinal

vai para o transistor.

1 2

3

45 6

Código identificador G2321 [51120]

Código identificadorG2321 [51120]

Sinal digital

Sinal digital

Leitor Circuito

Integrado

Transceiver

Transistor

Corrente Diodo

Capacitor

Etiqueta

Energia

Dados

Antena Dipolo

Sinal Refletido

SISTEMA DE ALTA FREQÜÊNCIA

1 2

3

45 6

Código identificador G2321 [51120]

Código identificadorG2321 [51120]

Sinal digital

Sinal digital

Leitor Circuito

Integrado

Transceiver

Transistor

Corrente Diodo

Capacitor

Etiqueta

Energia

Dados

Antena Dipolo

Sinal Refletido

SISTEMA DE ALTA FREQÜÊNCIA

Figura 4: Sistema de alta freqüencia (Fonte: Want, 2004).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 23: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

23

4) O transistor liga e desliga pelas voltagens altas e baixas do sinal digital,

alternadamente causando na antena a reflexão ou recepção de alguma

energia de radio freqüência incidente do leitor.

5) Variações na amplitude do sinal refletido, chamadas backscatter

modulation correspondem a um padrão do transistor ligando e

desligando.

6) O transceiver do leitor detecta os sinais refletidos e os converte em um

sinal digital que é retransmitido para o circuito integrado, onde o

identificador único da etiqueta é determinado.

As principais características dessas duas categorias são temas da próxima

seção.

2.2. Etiquetas ópticas e “inteligentes”

Atualmente, se verifica uma forte tendência ao emprego de redes sem fio,

que transmitem informações por rádio-freqüência, na coleta de dados. Segundo

Figueiredo (2004), as situações mais propícias para o uso desta rede são as

seguintes:

• Quando há necessidade de ocorrência de uma constante atualização dos

dados recebidos pelos pontos de coleta;

• Quando uma mesma tarefa é realizada por vários operadores, sendo

necessário coordená-las;

• Quando o ponto de operação situa-se distante da fonte, o que torna

impraticável o deslocamento do operador para troca de dados;

• Quando não é viável a transmissão pelos meios de transmissão

convencionais, como cabos telefônicos.

A coleta das informações transmitidas por rádio-freqüência pode ser feita

com o emprego das tecnologias de captura de sinal, baseados em etiquetas

inteligentes.

Para Thomas & Saar apud Figueiredo (2004), dois tipos de etiquetas têm

sido empregados com maior freqüência em aplicações vinculadas ao controle do

produto: as etiquetas ópticas e as etiquetas inteligentes:

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 24: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

24

As etiquetas ópticas mais comuns são os códigos de barra (códigos

unidimensionais) e os códigos bidimensionais. A primeira modalidade citada é

referente aos códigos de barra convencionais, mais simples e relativamente

baratos, presentes na maioria dos produtos de consumo do setor supermercadista,

que tem como função básica agilizar de forma segura a velocidade de entrada de

dados em sistemas informatizados. Tais códigos são constituídos basicamente por

um padrão de linhas verticais, com diferentes espessuras, disposto em uma

variedade de tamanhos e formas. Já os códigos bidimensionais representam um

avanço em relação aos códigos de barra, na medida em que são capazes de

concentrar maior volume de informações de forma mais compactada. O grande

fator limitante na adoção de etiquetas ópticas consiste na necessidade de

alinhamento de leitura entre a etiqueta e o leitor óptico. Aplicações logísticas que

exijam maior necessidade de flexibilidade de operação, podem ser atendidas com

a implementação de etiquetas inteligentes, que não exigem necessidade de

alinhamento.

A solução RFID consiste numa tecnologia mais sofisticada, e

conseqüentemente, mais cara, capaz de realizar aplicações de forma totalmente

automática. Operações mais ágeis podem ser obtidas dessa forma, assim como

eliminação de erros, os quais ocorrem, eventualmente, em processamentos

manuais da informação. Contrariamente às etiquetas ópticas, que são estruturas

passivas, as etiquetas de RFIDsão compostas basicamente por chips, os quais,

além de serem capazes de armazenar muito mais informações, podem ser

realimentados com novas. Pode-se fazer idéia do reflexo deste aspecto em

operações logísticas que exijam redefinição de fluxo de materiais, informações e

instruções (Thomas & Saar apud Figueiredo, 2004). A aplicação desta modalidade

de etiqueta é o tema central desta dissertação e será abordada de forma mais

detalhada dentro dos estudos de casos apresentados neste trabalho.

Os leitores ópticos podem ser scanners de mão ou fixos, os quais podem

envolver ou não a necessidade de contato com o código do produto. Os scanners

manuais estão disponíveis na forma de pistolas a laser (tecnologia de não contato)

e canetas ópticas (tecnologia de contato). Já a opção fixa, engloba os scanners

automáticos (tecnologia de não contato), e o scanner de cartão - tecnologia de

contato (Bowersox apud Figueiredo, 2004). A escolha do tipo de equipamento a

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 25: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

25

ser utilizado varia de acordo com as necessidades de flexibilidade da operação e

dos recursos financeiros disponíveis.

2.2.1. Caracterização das etiquetas ópticas

As primeiras aplicações dos códigos de barras foram realizadas em

meados da década de 60 pelo exército dos EUA, segundo informação no site da

Seal. Essa primeira modalidade de código de barra, o chamado NW7,

possibilitava o armazenamento de um número ainda bastante limitado de

caracteres por polegada, por meio do qual informações como a diferenciação por

tamanho e cor era registrada no produto a ser transportado. Na década de 70 uma

nova modalidade de código de barras foi difundida nos EUA, sendo empregada,

sobretudo, em aplicações industriais. Um pouco mais tarde, foram criados os

códigos UPC (Universal Product Code) e EAN (European Article Numbering), os

quais consolidaram o uso dos códigos de barras. O segundo padrão mencionado

prevalece até hoje no mercado varejista. Ainda segundo a Seal, no Brasil, os

códigos de barras foram introduzidos somente na década de 80 em aplicações

voltadas para atividades de exportação. Com a criação da ABAC (Associação

Brasileira de Automação Comercial) em 1985, foi feita a padronização do código

EAN. Essa entidade é responsável pela implantação e pela administração do uso

dos códigos de barra no Brasil. Os códigos de barra, desde que foram criados,

passaram por uma série de etapas evolutivas, visando oferecer novas

funcionalidades. Bowersox apud Figueiredo (2004) identifica basicamente três

etapas principais no processo evolutivo dos tags ópticos:

• Numa primeira etapa, destacaram-se os códigos UPC, já mencionados

anteriormente. Esses códigos eram utilizados em operações logísticas de

recebimento, manuseio e expedição do produto. Uma das modalidades de

código UPC é constituído por uma seqüência de 12 dígitos, dos quais o

primeiro é referente ao tipo de aplicação, os 5 seguintes dizem respeito a

informações de manufatura, os próximos 5 tratam das especificações do

produto e o último equivale ao dígito de checagem (Thomas & Saar apud

Figueiredo, 2004). Por meio de tais códigos, os membros dos canais de

distribuição tinham acesso a informações mais detalhadas dos produtos que

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 26: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

26

manuseavam. Dessa forma, os varejistas eram capazes de proporcionar um

tratamento mais adequado a itens isolados. Os embarcadores e

transportadores, por sua vez, podiam fazer o controle de identificação de

caixas, pallets e containers, o que tornava as operações de identificação e

transporte mais ágeis (Figueiredo, 2004)

• Com o tempo, verificou-se que, nos códigos de barra convencionais, já não

era mais possível armazenar uma quantidade de informações necessária à

melhor caracterização do produto. A disposição de mais informações

codificadas ocuparia um maior espaço no produto, reduzindo a área

disponível para apresentação do mesmo. Nesse sentido, foram feitos novos

estudos em códigos que possibilitassem incluir maior quantidade de

informação dentro da menor área possível. Este fato conduziu ao

desenvolvimento dos códigos multidimensionais. Dentre eles, os códigos

bidimensionais são capazes de armazenar milhares de bits de informação, no

mesmo espaço que seria necessário para um código unidimensional

armazenar apenas 100 bits. Dentre esses, destacam-se os códigos 49, e 16K,

cujos projetos permitem sobrepor um código de barras sobre o outro,

ampliando a capacidade de transferência de informação. Já o PDF 417,

representa um código mais avançado, que emprega projetos matriciais

sobrepostos, capazes de armazenar 1800 caracteres/ polegada (Thomas &

Saar apud Figueiredo , 2004).

• Uma vez que a disposição de códigos menores e mais compactos nos

produtos estava ocasionando, freqüentemente, erros de leitura, novas

modalidades de códigos foram propostas mais tarde. Os mais recentes

incluem a propriedade de correção de erros. O UCC 128 está sendo adotado

como padrão internacional dentro desse novo propósito. Além de permitir

uma identificação exclusiva de cada container, ao longo da cadeia logística,

oferece melhor capacidade de rastreamento.

Diante da grande diversidade de modelos de códigos que está sendo lançada,

um agravante que surge é a definição de uma simbologia padrão a ser adotada,

reconhecida mundialmente. A necessidade de padronização, assim como de maior

flexibilidade em relação a suas características técnicas, são duas questões que

norteiam as pesquisas e desenvolvimentos de novos aplicativos de captura de

sinal. No entanto, tais questões implicam em maiores custos, uma vez que o grau

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 27: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

27

de sofisticação acompanha a necessidade de investimentos, nas mesmas

proporções. Esse fato dificulta a implementação de novas tecnologias em

empresas de pequeno e médio porte (Figueiredo, 2004).

2.2.2. Classificação das etiquetas de RFID

As etiquetas de RFID podem ser classificadas como ativas ou passivas.

Etiquetas ativas são alimentadas por uma bateria interna e tipicamente são de

escrita e leitura, ou seja, pode ser atribuída (re-escrita ou modificada) uma nova

informação a este tipo de etiqueta (Weisman apud Ferreira, 2004). A memória de

uma etiqueta ativa variará de acordo com a necessidade da aplicação dada a ele.

Como apresentado no site da AIM (Automatic Identification Manufacturers

Association) Brasil, alguns sistemas operam com 1 MB de memória. A potência

da bateria utilizada geralmente dá à etiqueta de RFID um vasto espectro de

leitura. O trade-off está entre seus tamanhos, custos e tempos de vida.

As etiquetas ativas podem durar no máximo dez anos, dependendo do seu

uso e de condições operacionais, como temperatura e tipo de bateria. Outro ponto

relevante citado por Keskilammi et al. apud Ferreira (2004) é que a bateria dos

tags ativos tem sua vida útil reduzida em ambientes frios. Segundo Miller (2004),

outra característica importante é que a transmissão de dados é bem mais rápida

nas etiquetas ativas em relação às passivas. Hakkinen apud Ferreira (2004), por

sua vez, cita que as etiquetas passivas não apresentam baterias e são ativadas pela

fonte de energia externa gerada pelo leitor. Essa simplicidade tem como

conseqüência custos menores que as etiquetas ativas e tempo de vida

infinitamente superior. Em contrapartida, apresentam faixas menores de leitura,

são do tipo R/O (read/only), o que não permite a alteração do seu código

memória, são usadas para curtas distâncias e requerem um leitor com maior

potência. Etiquetas de leitura são usualmente passivas e são programadas com

dados (32 a 128 bits) que não podem ser modificados. Os sistemas de RFID

passivos são geralmente utilizados em produtos de grande volume e no EPC

(Eletronic Product Code). No caso de etiquetas passivas, uma limitação citada

por Thompson (2004) refere-se à necessidade de a superfície onde a etiqueta de

RFIDfor anexada não ser metálica, o que dificulta a adoção dessa tecnologia para

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 28: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

28

itens que apresentem essa propriedade. Objetos metálicos dificultam o fluxo do

campo magnético. Como resultado dessa redução, as etiquetas não recebem a

força mínima necessária para ativar seu funcionamento, condição necessária para

etiquetas passivas. Esta barreira já é motivo de desenvolvimento, por parte de

pesquisadores, de estudos de técnicas específicas visando à utilização de etiquetas

em objetos metálicos. Caso um objeto identificado com uma etiqueta de RFID

seja colocado em uma embalagem de metal totalmente fechada, sua leitura,

atualmente, se torna inviável por qualquer tipo de leitor.

As etiquetas podem ser somente lidas (R/O – read only), lidas e gravadas

(R/W – read & write) ou gravadas uma vez e lidas várias (Worm – write once,

read many), conforme observam Akinci et al. apud Ferreira (2004). As etiquetas

R/O são pré-programadas com informações únicas, e esses dados não poderão ser

modificados posteriormente. As etiquetas R/W poderão gravar dados adicionais

ou realizar sobreposição aos já existentes. No caso das etiquetas Worm, as

informações poderão ser modificadas somente uma vez. Após os dados serem

lidos de qualquer um dos tipos de etiquetas, eles poderão ser igualmente enviados

para um computador.

Segundo a EAN Brasil as etiquetas também podem ser classificadas de

maneira mais específica. A Tabela 1 apresenta um outro nível de segmentação,

mostrando do mais simples, classe I/0, ao mais complexo, que pode funcionar até

como um leitor. Entre as funcionalidades que permitem a classificação de uma

etiqueta inteligente, podem-se destacar memória, presença de senhas, sensor,

baterias, freqüências e criptografia (Ferreira, 2004).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 29: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

29

Classes Funcionalidades

Classe I/0 Etiquetas passivas somente leitura

Classe II Etiquetas passivas com funcionalidades adicionais como memória

e criptografia

Classe III Etiquetas semi passivas com suporte e comunicação em banda

larga

Classe IV Etiquetas ativas com capacidade de comunicação em banda larga

ponto a ponto com outras etiquetas ativas que operem na mesma

freqüência e com leitores

Classe V Etiquetas desta classe são essencialmente leitores, pois podem ler

etiquetas das classes I, II e III, assim como se comunicar com

etiquetas da classe IV e qualquer outro dispositivo wireless

Tabela 1: Funcionalidades das etiquetas de RFID(Fonte: EAN Brasil)

Outro ponto que merece atenção especial é a definição da freqüência para

operação. Conforme mostra a Tabela 2, pode-se perceber que a freqüência de

atuação da tecnologia difere de área para área. No Brasil, adotou-se a mesma

freqüência que os Estados Unidos, segundo a resolução definida pela Agência

Nacional de Telecomunicações (ANATEL) para o uso de equipamentos de RF

(ANATEL apud Ferreira, 2004).

Região Freqüência de atuação dos tags

Europa e África 869.4 a 869.65 / 915.2 a 915.4 MHz

Américas (Brasil e EUA) 902 a 928 MHz

Ásia 864 a 868 / 918 a 926 / 950 a 956 MHz

Tabela 2: Freqüências por região (Fonte: EAN Brasil 2004)

A EAN Brasil fez uma recomendação para que as etiquetas de RFID sejam

utilizadas na faixa de 900 MHz, permitindo leituras mais fáceis à distância, o que

é bom para a área de gerenciamento da cadeia de suprimentos que é composta de

várias etapas e localizações distintas. Entretanto, pondera que, como a freqüência

é regulada pelo setor de telecomunicações mundial, sendo, por exemplo, a mesma

freqüência utilizada pelos celulares, está sujeita às normativas de cada país.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 30: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

30

Em baixas freqüências, etiquetas de RFID passivas não são capazes de

transmitir seus dados, exceto a pequenas distâncias. Em altas freqüências, a

distância para a leitura entre as etiquetas de RFID ativas e o leitor aumenta, mas é

necessário lembrar que esse aumento é limitado por imposição dos governos e

órgãos reguladores.

2.3. Código eletrônico de produto – EPC

Em 1999, o Auto-ID Center1 (um consórcio de pesquisa), através do MIT -

Massachusetts Institute of Technology, partiu para o estudo de uma arquitetura

que utilizasse os recursos das tecnologias baseadas em radio freqüência para servir

como modelo de referência para o desenvolvimento de novas aplicações de

rastreamento e localização de produtos. Desse estudo nasceu o Código Eletrônico

de Produtos - EPC (Electronic Product Code) um novo padrão de identificação,

baseado na tecnologia RFID. Hoje, a EPCglobal, uma organização sem fins

lucrativos, é responsável pelo controle, desenvolvimento e promoção dos padrões

baseados no sistema EPC (Malinverni, 2004).

A tecnologia de RFID serve como base para o código eletrônico do

produto (EPC), um código que torna possível a identificação individual de um

item, ou seja, ele guardará informações únicas a respeito de um particular produto.

Portanto, surge uma grande oportunidade no gerenciamento da cadeia de

suprimentos, como pode se observado no site da EPC Global.

Cabe ao Auto-ID Center o desenvolvimento do padrão para a

comercialização da tecnologia EPC, gerenciando o processo de criação dos

padrões. A EAN Brasil cita o EPC como um identificador global e único, que

serve como um ponteiro para realizar consultas acerca do item que ele identifica.

A rede EPC utiliza a RFID para tornar claras as informações de toda a cadeia

logística, desde a sua produção até a venda ao cliente final. Essa rede é composta

por basicamente cinco elementos: o EPC, o sistema identificador (etiquetas de

RFID e leitores), o sistema gerenciador de informações (ONS – object name

1O Auto-ID Center, um grupo fundado em 1999 com representantes do governo americano, empresas americanas e de outros países, localizado no Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos Estados Unidos

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 31: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

31

service), a linguagem utilizada na rede que permite consultas para obtenção de

relatórios relacionados aos EPCs (PML – physical markup language) e o Savan,

servidor que funciona como um repositório local para EPCs e suas informações

associadas (EAN Brasil, 2004). O número EPC é gravado na etiqueta de RFID

colocada no chip de silicone, com uma antena anexada ao item. Utilizando RFID,

a etiqueta de RFID comunica seu número para o leitor. O leitor transmite o sinal

para um computador ou sistema local. Esse sistema é o ONS e é responsável pela

informação do local onde estão os dados com a história do produto e pontos

relevantes ao seu uso. A PML é a linguagem normalmente utilizada na rede EPC

para definição dos dados de um objeto. A versão 1.0 da rede EPC apresenta uma

completa relação de especificações técnicas para todos os componentes. Lançada

em setembro de 2003 e disponibilizada pela EAN Brasil, juntamente com AIM

Brasil e EPC global, essa versão oferece informação técnica do número de

sistema, etiquetas, leitores e referência de diversos softwares de implementação.

A AIM se define como uma associação mundial para a identificação automática e

de captura de dados. Seus membros são indústrias ou empresas provedoras de

serviços e de tecnologia. A missão da AIM é a descoberta de novas tecnologias de

informações, desenvolvimento de hardware e software, definição de padrões e

todos os demais requisitos necessários para a implantação de um sistema

automático de identificação ou captura de dados. O EPC global é líder no

desenvolvimento de padrões para o uso do código eletrônico do produto. Seu

objetivo é aumentar a visibilidade da cadeia de suprimentos por meio da alta

qualidade nas informações. A Figura 5 mostra um esquema da arquitetura da rede

EPC, na qual podem ser vistos os elementos envolvidos no processo, com o

compartilhamento de dados entre duas empresas. A Empresa 1 pode compartilhar

seus dados com os da Empresa 2, sendo ambos coletados internamente, mas

disponibilizados através de um banco de dados na Internet. Basicamente, a

estrutura de captação e transferência de informações é similar e padronizada

(Ferreira, 2004).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 32: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

32

Figura 5: Arquitetura EPC Network (Fonte: EAN Brasil)

2.4. Comparativo - RFID x código de barras

Durante um período de tempo que pode variar de três a dez anos e até além

deste, segundo opiniões de especialistas (Malinverni, 2004), o EPC e o código de

barras deverão conviver harmoniosamente, com tendência de compartilhamento

das duas tecnologias, nas chamadas soluções casadas, com ascendência cada vez

mais forte das etiquetas inteligentes. No entanto, há uma convicção geral de que o

EPC será mesmo o padrão da cadeia de abastecimento no varejo pois o novo

padrão apresenta inúmeras vantagens sobre o código de barras conforme veremos

a seguir. Uma das limitações do código de barras é a possibilidade de problemas

na qualidade de impressão, o que pode dificultar ou impedir sua leitura, com a

necessidade de redigitação do código ao invés de haver uma leitura automatizada

(Czapski2, 2003).

Ainda segundo Czapski (2003), uma diferença importante e que abre uma

ampla gama de usos é o fato de que o código de barras identifica uma categoria de

2 Czapski é o superintendente da Associação ECR Brasil, em entrevista a revista Tecnologista em Junho/2003

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 33: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

33

produtos ou um conjunto de produtos similares com o mesmo código, não sendo

possível por exemplo identificar o lote de fabricação. Logo, a rastreabilidade do

produto em relação à sua origem e seu trânsito ao longo da cadeia é uma das

limitações do código de barras. Já a etiqueta inteligente, por ter muito mais

campos de informação, oferece a possibilidade de conter não apenas a informação

genérica do produto, mas poderá ter cada embalagem de venda com uma

identificação diferente.

Outra diferença em favor dos EPCs ou simplesmente etiquetas

inteligentes, é a possibilidade de automação do processo de leitura, já que não é

necessário que o leitor passe na frente do produto nem este passe perto de algum

leitor, como acontece hoje com o código de barras (Monteiro & Bezerra apud

Barros, 2005). Num CD por exemplo, no momento da chegada de um caminhão,

este passará por algum controle ou portão que poderá ter um leitor com

capacidade de ler todo o seu conteúdo de uma única vez, agilizando assim o

processo de recebimento de mercadorias. O grande empecilho em relação à

adoção dessa tecnologia é o fator custo, que depende do tamanho da etiqueta

inteligente, do alcance, da faixa de freqüência em que opera e de ser ou não

regravável (Czapski, 2003)

De forma resumida, os aspectos mais importantes que diferenciam a

etiqueta de RFID do código de barras estão dispostos na Tabela 3.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 34: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

34

Código de Barras RFID

Utiliza luz óptica (Pinheiro, 2004) Utiliza radiofreqüência (Pinheiro, 2004)

Precisa de campo visual direto para

realizar a leitura (Pinheiro, 2004)

Sem necessidade de contato físico,

podendo ler através de diversos

materiais como plásticos, madeira,

vidro, papel, cimento etc (Pinheiro,

2004).

No código de barras há 14 campos

disponíveis para se preencher com

letras, números e símbolos (Barros,

2003).

Um chip de radiofreqüência tem 96

campos. Mais campos significa mais

combinações para identificar cada

produto (Barros, 2003).

Código de barras não é eficiente em

ambientes insalubres (Souza, 2003)

Permite a codificação em ambientes

insalubres (Souza, 2003)

Podem ser forjadas Mais difíceis de serem forjadas

Não permite a inclusão de novos dados

Podem permitir a inclusão de novos

dados na memória para posterior

recuperação por parte dos leitores

(Srivastava, 2004)

Maior tempo de resposta

Menor tempo de resposta (100 ms)

(Pinheiro, 2004)

Leitura individual (Figueiredo, 2004) Várias etiquetas podem ser lidas

simultaneamente (Figueiredo, 2004)

Mais barato Mais caro (Srivastava, 2004)

Maior risco de erros de leitura

(Teixeira, 2004)

Menor risco de erros de leitura

(Teixeira, 2004)

Tabela 3: Comparativo entre os sistemas de código de barras e RFID

A Figura 6 apresenta os possíveis fluxos de informação para o sistema

baseado em código de barras (um único sentido) e para o sistema de RFID (pode

ter dois sentidos).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 35: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

35

Figura 6: Comparação código de barras/ etiqueta de RFID sob a perspectiva do

fluxo de informação

Os maiores benefícios que podem ser enumerados quando na utilização da

etiqueta de RFID são:

• Rapidez e confiança na transmissão dos dados aumentam as vendas e

reduzem as faltas (Didonet et al., 2004);

• Elevado grau de controle e fiscalização aumenta a segurança e evita furtos

(Barros, 2003);

• Possibilidade de leitura de muitas etiquetas de RFID de forma simultânea

(Figueiredo, 2004) e captação de ondas à distância (Barros, 2003) evitam

perdas com manuseio do produto;

• Identificação sem contato nem visão direta do produto (Stanton, 2004)

possibilita a leitura desta identificação em ambientes hostis;

• Simplificação dos processos do negócio permite a redução da força de mão

de obra com transferência dos atuais empregados nestas atividades para

atividades mais nobres (Stanton, 2004);

• Rastreabilidade de produtos (controle de inventário) e de informação (ciclo

de vida) acarretam uma melhoria nas operações de gerenciamento e controle

• Alta capacidade de memória propicia o armazenamento de todas as

informações pertinentes (Figueiredo, 2003);

• Leitura e escrita criam a possibilidade de constante atualização dos dados

recebidos (Figueiredo, 2004).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 36: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

36

• Alta acuracidade de leitura e rapidez na identificação de dados permitem

controle de acesso de pessoas e/ou automóveis com alta qualidade de

performance.

Quanto às dificuldades de implementação, as mais relevantes são as

seguintes:

• Monitoramento indevido de pessoas (quebra de privacidade ou assaltos)

(Srivastava, 2004). Uma alternativa é a criação de um mecanismo que

desligue a etiqueta de RFIDapós a compra, ou que seja fàcilmente

removível;

• Dependência da orientação para efetivar leitura (Want, 2003). Uma

alternativa é o desenvolvimento de sistemas de leitores múltiplos que

cubram todas as orientações;

• Bloqueio de sinal por substâncias metálicas, líquidas (Srivastava, 2004) ou

corpo humano (Want, 2003);

• Alto investimento (Srivastava, 2004); porém, com a adesão das grandes

corporações, a tendência é ter os preços os componentes do sistema em

queda.

• Padronização (Srivastava, 2004): falta ainda um padrão mundial para o EPC

a ser aceito e adotado em todas as regiões, o que dificulta a interação entre

as cadeias de suprimentos. Esforços de órgãos como a EPCglobal, a AIM ,

o MIT , a EAN e o ECR (Movimento global da indústria, comercio e

demais integrantes da cadeia de abastecimento com o objetivo de reduzir

custos e aumentar a produtividade em suas relações) têm papel fundamental

na busca da padronização possível e desejada.

A rede EPC torna as organizações mais eficientes pela visibilidade de

informações em toda a cadeia, permitindo identificar localização, data e local de

fabricação, venda e validade, atuando de forma rápida na resposta e satisfação dos

clientes (Ferreira,2004).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 37: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

37

2.5. Aplicações de RFID

Existem diversas aplicações genéricas de RFID divididas em vários

segmentos. A RFID Technologies CC (2005) organiza as aplicações nos seguintes

grupos:

• Rastreamento de bens: identificação de equipamentos de teste,

computadores, móveis de escritório. Mantém atualizado o registro dos bens,

rastreia o escritório para identificar os itens nos cômodos conforme estão

registrados.

• Rastreamento de laptop: detecta a passagem de laptops pelas vias de acesso,

evitando roubos ou remoções.

• Rastreamento de pallets: através de etiquetas de RFID anexadas aos pallets

nos quais os bens estão sendo estocados e transportados, o sistema de

rastreamento automático permite o controle do progresso dos envios de

mercadorias. As etiquetas podem ser reaproveitadas.

• Controle de tráfego: etiquetas de RFID presas ao pára-brisa dos carros

podem ler distâncias de até 15 metros a 200km/h. Isso permite que um

sistema computadorizado identifique veículos que utilizam certas estradas

ou autorize o acesso destes pelo pedágio, gerando o gerenciamento da

demanda, retenções de circulação, pedágios eletrônicos e a cobrança

automática.

• Monitoramento de animais selvagens: permite aos zoólogos o

monitoramento remoto de migrações dos animais com mínima intervenção

humana.

• Controle de livros nas bibliotecas: etiquetas de RFID anexadas aos livros

permitem um controle automático do fluxo destes, bem como facilitam a

busca nas prateleiras.

• Cronometragem esportiva: maratonas, corridas de rua, mountain bike, kart,

motocross. O sistema RFID identifica os competidores e, através de um link

para um computador, provê um gerenciamento dos dados cronometrados.

• Gestão logística: através de etiquetas de RFID colocadas nas caixas das

mercadorias transportadas pelo armazém, um sistema computacional pode

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 38: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

38

processar dados do leitor rapidamente e identificar os produtos passando por

ele, automatizando o processo de rastreamento de pacotes.

• Monitoramento de árvores: o sistema RFID pode rotular árvores

individualmente, monitorando-as através de um registro e diferenciando-as

numa floresta, por exemplo.

• Controle de acesso: as etiquetas de RFID podem fazer parte de distintivos

de acesso ou ser colocadas em veículos, controlando o acesso.

• Aumento de produtividade: etiquetas de RFID anexadas em objetos em

construção permitem que os computadores monitorem e meçam a

produtividade de cada estágio do processo de produção.

• Rastreamento de gado: Particularmente, com o aparecimento de doenças que

afetam o gado, surge o requerimento de que este, quando destinado para

alimentação humana, seja etiquetado do nascimento à morte para ativar um

rastreamento do histórico geográfico do animal.

• Identificação de falsificação: etiquetas de RFID que são destruídas quando

falsificadas podem ser utilizadas como selos antifalsificação em mercadorias

monitoradas, como containers nas embarcações, dinheiro, ouro e diamantes,

permitindo que a integridade seja checada remotamente e identificando o

estágio do transporte no qual pode ter ocorrido alguma falsificação de

produto.

• Prova de identidade: Etiquetas de RFID embutidas na moldagem de fibra de

vidro de bens de capital como barcos, iates, veículos e aeronaves permitem

provar a posse em caso de roubo ou modificação para esconder sua real

identidade.

Outras aplicações genéricas da etiqueta de RFID são apresentadas por outros

autores. Por exemplo, Want (2004) cita o uso desta tecnologia para proteção

antifurto, antiterrorismo e auxílio de pacientes nos hospitais. Já Teixeira (2004) e

Didonet et al. (2004) abordam o emprego no acompanhamento de bagagens nos

aeroportos. Didonet et al. (2004) ainda propõe a aplicação no monitoramento de

pessoas.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 39: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

39

2.5.1 Aplicações de RFID no processo logístico

A adoção da RFID na logística vem sendo amplamente discutida, tanto

pela academia quanto pelas indústrias, e acredita-se que esta tecnologia irá

revolucionar o conceito de logística que conhecemos hoje em dia. A sua aplicação

na logística vem sendo estudada e introduzida por várias empresas de distintos

segmentos, desde indústrias automobilísticas (Mercedes Benz, Volkswagen, Audi,

etc...) até grandes varejistas (Wal-mart, Tesco, Pão de Açúcar, etc...). Estas

aplicações ainda são incipientes com muitas empresas ainda implementando

estudos pilotos. Ainda são poucas as empresas que utilizam a RFID já de forma

definitiva e não experimental com estudos pilotos.

O presente trabalho levanta cinco processos logísticos que estão passando

por profundas transformações com o advento da RFID, são eles:

Suprimentos/Compras; Produção; Armazenagem; Distribuição/Vendas; e

Logística Reversa. A seguir são listadas as transformações em cada um destes

processos. Vale mencionar que algumas dessas transformações já são possíveis

com o código de barras, mas o seu potencial é limitado.

Processo de Suprimentos/ Compras

• Não há necessidade de descarregar o caminhão que chega dos fornecedores

para inspeção (Teixeira, 2004; Want, 2004);

• Compras são automaticamente registradas (Teixeira, 2004);

• Sistema de rastreamento automático permite o controle do progresso do

recebimento de mercadorias (RFID Technologies CC, 2005);

• Os itens retirados são contabilizados e, quando o nível de produtos cai

abaixo do ponto de pedido, o estoque é acionado para reposição (Teixeira,

2004);

• Compartilhamento e sincronia de dados previne erros decorrentes da falta de

comunicação entre as partes envolvidas (Srivastava, 2004);

• Melhoria na rapidez e acuracidade nas informações sobre o controle de

qualidade, com informações com relação à procedência da matéria-prima,

data de fabricação, validade e garantia das aquisições.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 40: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

40

Produção

• Instruções para máquina ou operador sobre a operação a ser executada

(Srivastava, 2004);

• Notificação ao sistema sobre o estágio do processo produtivo no qual o

produto que está sendo executado (Srivastava, 2004);

• Redução de utilização de papéis (Srivastava, 2004);

• Rastreabilidade dos diversos estágios de fabricação, identificando

operadores e materiais utilizados nas operações;

• Controle das baixas de produtos rastreando também as peças defeituosas.

• Flexibilizando o planejamento da produção com o fornecimento de

informações sobre novas vendas e movimentação dos estoques;

• Maior acuracidade na transmissão de informações do processo produtivo,

evitando erros, retrabalhos e omissões.

Armazenagem

• Aumento da rapidez e diminuição dos erros de movimentação nos depósitos

(Teixeira, 2005);

• Diminuição dos furtos (Teixeira, 2005; Srivastava, 2004);

• Manutenção do registro de mercadorias atualizado (RFID Technologies CC,

2005);

• Gerenciamento de expiração dos prazos de validade (Srivastava, 2004);

• Busca nas prateleiras (picking) facilitada e melhor utilização do espaço de

estoque (Srivastava, 2004);

• Permite o controle em tempo real de todos os produtos no estoque. Fornece

com exatidão informações sobre os itens estocados, permitindo a extinção

de inventários periódicos, diminuindo desta forma seu custo operacional. A

vantagem imediata é a contagem instantânea de estoque. Desta forma pode-

se saber em tempo real quantas unidades se tem e onde elas estão. (Zinn,

2003)

Distribuição/ Vendas

• Identificação de preferências do cliente (Roberti, 2004);

• Comunicabilidade com outras lojas ou com depósito (Roberti, 2004);

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 41: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

41

• Não há necessidade de descarregar o caminhão para inspeção (Teixeira,

2004);

• Vendas são automaticamente registradas (Teixeira, 2004);

• Redução dos furtos em loja, visto que a tecnologia pode alertar contra

mercadorias que saem das lojas sem serem pagas (Srivastava, 2004);

• Sistema de rastreamento automático permite o controle do progresso dos

envios de mercadorias (RFID Technologies CC, 2005);

• Mudança de preço dos produtos (Srivastava, 2004);

• Eliminação de carregamentos perdidos (Srivastava, 2004);

Logística Reversa

• Identificação da proveniência de produtos defeituosos e devolução (Want,

2004);

• Quando o produto é descartado, a etiqueta de RFID auxilia o centro de

reciclagem a identificar a categoria correta para encaminhamento (Want,

2004);

• Controle e rastreamento dos ativos, identificando cada unidade que sai da

fábrica ou CD, quando foi fabricado, lote, onde foi entregue, que

transportador fez a entrega, o tempo de recolhimento do mesmo e a forma

de controlar o lastro operacional, para o caso de cilindros ou botijão;

• Controle da necessidade de execução de testes de qualidade (cilindros) com

a informação sendo obtida pela simples leitura do tag alocado em cilindros

de alta pressão.

2.5.2 Exemplo de aplicação da RFID na logística

A figura 7 apresenta uma aplicação fictícia do uso do sistema RFID nos

processos de distribuição física de um produto. O exemplo utiliza um fabricante

de molhos de tomate (Mamma’s Sauces) que afixa no final da linha de produção

uma etiqueta de RFID na embalagem do molho para controlar o fluxo desta

mercadoria ao longo do canal de distribuição (CD – Distribuidora Quick;

Supermercado – Quick Marts) e ao longo do canal reverso.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 42: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

42

Figura 7: Exemplo de RFID na logística (Fonte: Want, 2004)

Primeiramente a etiqueta de RFID é afixada à embalagem do produto

(frasco/vidro de extrato de tomate) enquanto ele passa na esteira do final da linha

de produção (Ponto 1). Esta etiqueta contém determinados códigos

especificadores (número da etiqueta; local de fabricação; primeiro destino CD –

Distribuidora Quick; destino final Supermercado – Quick Marts), prontos para

serem enviados para central de dados. Em seguida um pallet contendo caixas de

molho de tomate Mama’s é preparado para transporte (Ponto 2). Quando lidas na

fábrica, cada caixa, bem como os vidros nela contidos, respondem com seu código

identificador. Na saída das mercadorias, os produtos, as caixas e os pallets são

associados à fábrica de origem, via Internet, criando um banco de dados (Ponto 3).

No CD, outro leitor verifica a chegada das mercadorias, inspecionando sua

identidade e informações de embarque, sem necessidade de abertura de caixas.

Então, a mercadoria é despachada (Ponto 4). O carregamento chega ao

supermercado, sendo automaticamente adicionado ao sistema de estoque. Se

houver eventuais problemas com o produto, o fabricante é contatado e ele pode

13

2

4

56

7

8

Enviar para o CD

Leitor Fixação da Etiqueta

Distribuidora Quik – EE

Elizabeth, New Jersey

Rastreia origem do vidro defeituoso

Leitor

Transporte para Quick Mart

Total é $11,27

Demanda mais molho Mama’s

Reordena Mercadorias

Sistema de pedido de estoque

Número da etiqueta é9908 GGH76

Vidro de molho de tomate enviado de

MAMA’S SAUCES Primeiro destino:

QUICK-EEDestino Final:

QUICK MARTS

QUIK MARTS

13

2

4

56

7

8

Enviar para o CD

Leitor Fixação da Etiqueta

Distribuidora Quik – EE

Elizabeth, New Jersey

Rastreia origem do vidro defeituoso

Leitor

Transporte para Quick Mart

Total é $11,27

Demanda mais molho Mama’s

Reordena Mercadorias

Sistema de pedido de estoque

Número da etiqueta é9908 GGH76

Vidro de molho de tomate enviado de

MAMA’S SAUCES Primeiro destino:

QUICK-EEDestino Final:

QUICK MARTS

QUIK MARTS

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 43: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

43

identificar qual foi a fábrica responsável pela produção e qual foi o canal de

distribuição utilizado (Ponto 5). O cliente não necessita aguardar no caixa, pois

um leitor soma suas compras enquanto ele sai com o carrinho pelo corredor. Um

dispositivo digital lista os produtos e o preço, possibilitando completar a transação

através de um botão sem a necessidade de retirar os produtos do carrinho (Ponto

6). Um leitor no refrigerador ou prateleira permite saber quando a mercadoria está

em falta e, através de um sinal para o computador pessoal, a inclui nas próximas

compras (Ponto 7). Quando o produto é descartado, a etiqueta de RFID auxilia o

centro de reciclagem a identificar a categoria correta para encaminhamento e o

tratamento adequado para o seu processamento (Ponto 8).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 44: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

3. Aplicação na produção O presente capítulo tem como objetivo analisar o uso do sistema RFID na

indústria automobilística. O estudo de caso escolhido foi o da fábrica do Classe A

da Mercedes Benz em Juiz de Fora.

3.1. Introdução

A DaimlerChrysler é o resultado a fusão da alemã Daimler-Benz AG e da

norte-americana Chrysler Corporation, ocorrida em novembro de 1998 e tem sede

mundial em Stuttgart-Möhringen (Alemanha). A montadora é hoje um dos mais

bem sucedidos e respeitados grupos industriais no mundo, atuando nos setores

automotivo, de transportes e serviços (Malinverni, 2004). O grupo mundial

DaimlerChrysler tinha em 2003 cerca de 365.000 empregados distribuídos nos

cinco continentes. Seu core business é a produção e a comercialização de

veículos, tendo uma participação no mercado global de automóveis de passageiros

de 9,8%, sendo a quinta colocada neste segmento em n° de unidades vendidas e de

17% no segmento de veículos comerciais maiores que 6ton, sendo, neste caso,

líder mundial de mercado. De acordo com a montadora, sua estratégia está

baseada em quatro principais pilares:

• Presença Global;

• Portfolio de Marcas Fortes;

• Vários Tipos de Produtos;

• Liderança em Inovação e Tecnologia.

No Brasil, a DaimlerChrysler está presente desde 1956, quando começaram

as operações da fábrica de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, onde são

produzidos os caminhões, chassis, plataformas para ônibus Mercedes-Benz e

agregados, como motores, câmbios e eixos para aplicação veicular e mercado de

reposição (Malinverni, 2004).

Na fabricação iniciada em 1999 do modelo Mercedes-Benz Classe A, na

fábrica da DaimlerCrysler em Juiz de Fora (MG), estão incorporadas técnicas

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 45: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

45

arrojadas de produção e tecnologia de ponta que contribuíram decisivamente para

a ampliação da padronização de processos e, ao mesmo tempo, aumentaram a

eficiência e a produtividade desses processos. Essa característica transformou a

Unidade numa das mais modernas da indústria automobilística mundial, sendo

hoje uma referência de excelência para todo o grupo DaimlerChrysler. Neste

cenário de modernidade, destaca-se a solução baseada em tecnologia RFID (Radio

Frequency Identification), que controla, através de transponders, todo o processo

de produção e montagem do Classe A voltado para os mercados brasileiro e

latino-americano. O uso dessa tecnologia é uma política mundial da

DaimlerChrysler, que vem priorizando a aplicação de RFID nas novas fábricas e

nos projetos de veículos atuais, adotando esta solução como padrão (Malinverni,

2004). Adicionalmente é importante registrar que as unidades brasileiras da

montadora são certificadas pela ISO 9001, TS16949, ISO14000 e OHSAS.

3.2. Objetivo

O objetivo principal era estabelecer um novo processo de controle de

produção para a produção do Classe A que tornasse possível a flexibilização do

atendimento da seqüência de produção, de forma a assegurar o atendimento dos

pedidos de vendas na seqüência e na data planejada para entrega do carro aos

clientes, sem a aplicação dos modelos tradicionais de identificação (impressão por

estampagem de numeração na carroçaria) o que tornaria o processo inflexível sob

o ponto de vista da montadora.

3.3. Descrição do estudo de caso

3.3.1. Status anterior sem RFID

Na industria automobilística, de forma geral, a identificação do produto ao

longo dos estágios de produção é feita a partir do numero VIN (vehicle

identification number), também conhecido por numero do chassis, que é gravado

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 46: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

46

tão logo a estrutura bruta tome a configuração do produto desejado, normalmente

a partir da montagem do assoalho do veículo, logo nas primeiras estações da

montagem bruta.

Esta necessidade de identificação faz com que se estabeleça muito cedo a

seqüência de montagem, cerca de 1,5 a 2,0 dias antes da saída do veículo no final

da linha. Isto praticamente torna inviável o fluxo logístico de fornecimento de

itens seqüenciados para a montagem final (quanto mais cedo estabelecida a

seqüência, menor a flexibilidade e maior a necessidade de estoques reguladores

para atendimento das variações).

Da mesma forma em caso de refugos nos processos de montagem bruta e

pintura a seqüência de produção é automaticamente prejudicada com perda deste

número de produção e a necessidade de encaixe deste pedido no final da fila. Com

isso, o atendimento dos pedidos é prejudicado repercutindo em atrasos na entrega

do veículo ao cliente e conseqüentemente no seu índice de satisfação,

comprometendo assim a imagem da marca.

3.3.2. Status atual com RFID

Partindo do objetivo, o ponto a resolver era identificar o produto ao longo

dos estágios de produção, de forma segura e eficaz, que permitisse a

rastreabilidade e a confiabilidade do rastreamento dos dados de produção

assimilados ao longo das etapas de produção.

A solução lógica era buscar a dissociação do pedido nas etapas de

montagem bruta e pintura e fazer a associação do pedido do cliente com o produto

o mais tarde possível, isto é no início da montagem final. Para tanto foi

considerada a tecnologia RFID, tecnologia esta já usada em 97 em caráter

experimental na produção do Classe A na fábrica de Rastatt na Alemanha.

Após análises de desempenho e considerando restrições de investimento, foi

estudada uma nova solução com o uso da etiqueta passiva. Neste modelo os dados

não são carregados na etiqueta inteligente, eles ficam armazenados na base de

dados do sistema de controle da produção e a etiqueta e seu número funcionam

como indexador entre a carroçaria e os processos de produção, servindo nas etapas

de montagem bruta e pintura como elementos de identificação e controle de

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 47: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

47

produção dentro destes segmentos específicos. Isso aumenta a flexibilidade já que

refugos nestas etapas podem simplesmente ser repostos sem conseqüências para o

atendimento dos pedidos de clientes – processo denominado internamente como

SINCRO (Fahrzeuge Produktions Prozesse Sincroniziert - processos

sincronizados de produção de veículos), o que não acontecia quando o chassi era

gravado nas fases iniciais da montagem bruta.

Com este processo qualquer carroçaria vermelha com teto solar, por

exemplo, pode ser aplicada em qualquer pedido de cliente que requeira uma

carroçaria vermelha com teto solar. A adoção deste processo faz com que hoje

esta fábrica seja benchmark mundial entre as fábricas do grupo DaimlerChrysler

com um índice de atendimento da seqüência de 98% (média) no Brasil, enquanto

que os índices mais altos de outras fábricas giram em torno de 70%.

Fundamentalmente a solução trabalha com a associação de dados. Assim,

para cada pedido de produção de veículo é “nomeado” um transponder, chamado

de MDS (Móbile Daten Speicher – Portador de Dados Móveis). Quando o BPM-

STAR, sistema de gestão próprio da montadora, transfere para o GPV (Sistema de

Controle e Gerenciamento da Produção de Veículo) uma ordem de produção, um

MDS é associado àquele veículo. Nos sistemas são feitas as associações entre o

MDS e as características do pedido, tais como a cor, os acessórios que devem ser

colocados, se é esportivo ou não e a que concessionária pertence. Não se grava

nada na etiqueta inteligente, é feita apenas uma associação entre a etiqueta (um

número código) com o pedido na base de dados oracle de todo o GPV.

3.4. Processo MDS

O transponder adotado, ID1100, fabricado pela alemã AEG, contém uma

etiqueta read only, sendo, portanto, passivo, e carrega uma única informação, num

código hexadecimal (10 caracteres). Todas as etiquetas são únicas e não podem

ser regravadas, ou seja o código não se repete e serve apenas para leitura. O

consumo anual de transponders na fábrica em 2004 foi de cerca de sete mil

unidades e seu custo unitário menor que um dólar.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 48: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

48

Uma das principais funções do MDS é como disparador de outras funções

automáticas ao longo do processo de montagem tais como: montagem bruta,

pintura, puffer e montagem final.

Ao longo da linha de montagem estão instalados 28 leitores AEG-modelos

AANFK2, fixos, e LID-500/MB, portáteis – que se comunicam com o GPV – um

software da categoria PCS (Production Control System), desenvolvido

internamente pelas equipes da DaimlerChrysler e da T-System do Brasil. O GPV

administra todo trabalho no chão de fábrica e o controle de atendimento dos

pedidos na fábrica, auxiliado por módulos independentes e hierarquicamente

inferiores, que fazem o gerenciamento da produção (GP) em três frentes distintas:

montagem bruta (GPMb); pintura (GPPi): e puffer (GPPu), armazém para onde

vão as carrocerias já pintadas, conforme apresentado na Figura 8.

Figura 8: Fluxo de comunicação entre o MDS e os sistemas de Gerenciamento da

produção (GPs) (Fonte: Mercedes Benz)

3.4.1. Montagem bruta

Uma vez transferida a Ordem de Produção do BPMStar para o GPV e deste

para os GPs com os dados do cliente, na primeira estação (chamada de estação

100) um CLP (Controlador Lógico Programável) recebe do GPMb a informação

da variante a ser montada e o veículo recebe um MDS, que é fixado do lado de

dentro da dianteira direita da carroceria no início da montagem bruta, conforme

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 49: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

49

visto na Figura 9. Esse transponder será utilizado ao longo de toda a linha de

montagem, que é dividida nas seguintes estações de trabalho: “180”, “210” e

“220”, conforme descrito a seguir e ilustrado na figura 10.

Figura 9: Montagem do MDS na carroceria (Fonte: Mercedes Benz)

Apenas na estação 180 Perceptron é feita a primeira leitura para a

associação dos dados de medição da estrutura com o número do MDS. A partir da

leitura do MDS o sistema deflagra essas ações, que são informadas através de um

“telegrama” que contém vários códigos. Na primeira leitura no GPMb, um

“telegrama” informa ao sistema que a carroceria já chegou à estação da montagem

bruta. Este “telegrama” identifica a carroceria que contém o MDS e o sistema

descreve as características da carroceria. A primeira leitura do MDS indica as

estações de soldagem do teto, o tipo de teto a ser montado (com ou sem teto

solar), amarração de todos os dados de qualidade do produto e dos tempos de

atendimento do pedido ao longo da montagem - leitores espalhados ao longo da

linha registram a passagem da carroceria e amarram ao número do MDS os

tempos de processo. Em seguida a carroceria é enviada para a estação 210 que

fará o check-list da produção, liberando-a para o processo posterior de pintura

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 50: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

50

passando pela estação 220 ou para a área de re-trabalho. Os dados são acionados

em cada etapa do processo com o MDS da carroceria, seguindo a seqüência da

linha de produção, conforme apresentado na Figura 10.

Figura 10: Fluxo Montagem Bruta (Fonte: Mercedes Benz)

3.4.2. Pintura

Encerrada a etapa de montagem bruta, a carroceria segue para o processo de

pintura, que será gerenciado pelo GPPi. A leitura do MDS ao longo da linha

indica os primers e cores a serem aplicados na carroceria ao longo do processo de

pintura. Não existem na pintura leituras de cartas (papel) ou de etiquetas para o

controle da produção - todas as funções são controladas a partir da indexação do

MDS com a base de dados do sistema. Sendo assim, a carroceria bruta passa por

uma série de estações que vão de pré-tratamento para recebimento das várias

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 51: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

51

camadas de tintas inferiores protetoras à tinta externa, que é a cor do veículo

propriamente dita. Nessa área os “telegramas” fazem pedidos de cor de tinta, onde

a ordem e quantidades de tinta necessária para cada etapa da pintura já estão

programadas nos CLPs da linha de pintura, que é totalmente automatizada. A

identificação da ação de pintura vem da leitura do MDS, que informa ao sistema

que a carroceria chegou à determinada estação. O sistema, por sua vez, libera

ordem de pintura para os CLPs, que realizam a operação automaticamente,

conforme apresentado na Figura 11.

Figura 11: Fluxo da Pintura (Fonte: Mercedes Benz)

3.4.3. Puffer (Armazenagem)

A entrada dos pedidos na linha de montagem obedece a uma seqüência de

produção previamente estabelecida, desde a montagem bruta até o acabamento

final. Como o processo de pintura não é linear – eventualmente algumas

carrocerias precisam ser retocadas antes de seguir para a montagem final, para que

haja uma maior otimização das cores com relação a esta possibilidade de retoques,

todas as carrocerias são enviadas, obrigatoriamente, para área de puffer, onde

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 52: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

52

estão instalados quatro leitores de MDS que, através do GPPu, recebem as

informações lidas das carrocerias e se encarregam de reordenar a seqüência,

originalmente planejada, enviando para o acabamento os veículos na ordem em

que entraram na linha.

Nesta fase, além do registro de entrada na montagem final, os transponders

são usados também para disparar informações ao parque de fornecedores,

instalados na área da fábrica. Nesse sentido, a solução, além da produção, apóia

também a logística de abastecimento de peças just in sequence, como, por

exemplo, bancos: o primeiro da linha de couro, o seguinte de tecido padrão A,

depois o tecido padrão B e assim por diante. Assim, quando a carroceria chega ao

leitor de entrada no puffer e lê o número do MDS, a informação das características

do pedido é transmitida via sistema para o fornecedor de bancos, avisando-o de

que a carroceria relacionada ao primeiro pedido está entrando na montagem final

e vai precisar de um banco de couro. Em conseqüência, o fornecedor começa a

preparar esse pedido pensando, concomitantemente, no banco do veículo seguinte,

que é de tecido padrão A.

A transmissão da informação, tanto para o processo de acabamento,

controlado pelo próprio GPV, como para a logística da produção, é feita em tempo

real, uma vez que os fornecedores estão interligados com a fábrica usando o

software SIL - Sistema Integrado de Logística - desenvolvido pela própria

Empresa permitindo essa produção sincronizada. Destaca-se que o SIL contempla

especialmente os itens just in sequence porque eles são abastecidos conforme a

linha de produção. Além disso, esses itens têm peças de grandes volumes e alto

valor agregado e, portanto, demandam uma solução de estocagem mais crítica. A

Figura 12 apresenta as interfaces do puffer com as áreas de montagem bruta

(AMOB), pintura (APIN) e montagem final (AMOF).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 53: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

53

Figura 12: Fluxo no puffer (Fonte: Mercedes Benz)

3.4.4. Montagem Final

No processo de montagem final os veículos recebem o acabamento. É o

momento em que os carros são diferenciados uns dos outros. A Figura 13

apresenta o fluxo da montagem final. Nesta fase, todos os equipamentos de

controle (descritos a seguir) são acionados por leitores instalados ao longo da

linha.

• Gravação do número do chassis (VIN) (40): o operador da máquina de

gravação registra a leitura e a partir daí o número é gravado

automaticamente.

• Plausibilidades de montagem ao longo da linha (41): assegurar que o motor

certo esta sendo montado no carro certo, cockpit, itens de segurança tais

como air bags, side bags etc.

• Controle de abastecimento de fluidos (42): líquido do radiador, carga do ar

condicionado, óleo do motor e gasolina. Mediante leitura é associado o

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 54: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

54

destino do veículo e os fluidos abastecidos conforme especificação do país

de destino.

• Controle de liberação final do produto (43): estação onde é gravado o

número VIN nos vidros e onde o veículo passa por uma última revisão, que

determinará se o padrão de qualidade da montadora está atendido, podendo

ser liberado para a concessionária, ou se deverá ser submetido a retrabalho.

(Figura 13).

Figura 13: Fluxo Montagem Final (Fonte: Mercedes Benz)

3.5. Resultados obtidos e conclusão

O grande fator de aumento de produtividade foi a flexibilidade gerada pela

utilização da tecnologia RFID no processo produtivo, uma vez que a utilização

deste processo permitiu identificar o veículo com o pedido colocado apenas na

etapa de montagem final. Desta forma, cresce a versatilidade na produção nas

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 55: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

55

etapas de montagem bruta, pintura e ordem de saída no puffer, pela substituição,

inclusão e/ou retrabalhos originalmente não previstos.

Outros benefícios obtidos com o uso da tecnologia de RFID na linha de

produção estão relacionados aos ganhos de produtividade e a alta confiabilidade

em todos os processos de montagem. Através do MDS, o carro pode ser

identificado em qualquer uma das etapas de produção, com uma intervenção

100% automatizada, aumentando assim o grau de segurança no chão de fábrica.

Alguns processos simplesmente seriam inviáveis para o ser humano, como, por

exemplo, a secagem da pintura em estufa, que chega a aproximadamente 200ºC.

Sem esta automação, a demanda por outro processo, com uso de mão de obra,

aumentaria o tempo de execução.

Assim, o processo é altamente estável, confiável e praticamente livre de

erros, pois há mínima dependência de intervenção humana no processo. Um

exemplo desse erro seria na pintura de um carro na cor errada ou rasura na

gravação do chassi. Neste caso, a carroceria teria que ser sucateada.

Como foi mostrado, pela importância, rapidez e acurácia das informações

necessárias ao processo de montagem que tramitam na linha de produção o

processo de identificação por RFID é hoje em dia considerado um diferencial

competitivo na produção de carros de passeio Mercedes-Benz no contexto

DaimlerChrysler. O processo é seguro, já que o índice de falhas é muito baixo

1X10000 (uma falha de leitura a cada dez mil MDS) e sua aplicação está

planejada para futuros projetos.

A adoção das características do MDS utilizado na fábrica de Juiz de Fora

se deve a necessidade de ter leituras e controles em ambientes agressivos, como os

banhos de proteção à corrosão na pintura e a aplicação de primers e vernizes, bem

como a secagem a temperaturas de 80° C.

As interfaces do equipamento de leitura com os CLP's da produção são

relativamente simples e estão plenamente adaptadas às necessidades da fábrica.

A transparência nos ganhos de produtividade gerados pela utilização da

aplicação da tecnologia de RFID no processo produtivo em toda a linha de

produção da fábrica de Juiz de Fora, provenientes da maior acuracidade nas

leituras de dados, maior flexibilidade nas etapas de produção, possibilidade de

utilização de processos com grau de automação elevado e a implementação on

line do sistema de comunicação entre os elementos principais da Cadeia de

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 56: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

56

Suprimento deste produto, atestados pelos dados e informações coletadas in loco

pelo autor e descritos anteriormente, sem dúvida contribuíram fortemente para

agregar valor à cadeia produtiva, adicionando maior sinergia e alinhamento dos

fornecedores principais na linha de montagem.

Finalmente, pode-se observar um início de implementação do processo de

CPFR – Collaborative Planning and Forecasting and Replenishment1 na Cadeia

de Suprimentos, considerando que o processo RFID, ao usar as etiquetas

inteligentes, está propiciando informações precisas em termos de estoques e do

gerenciamento de pedidos, entre outros aspectos para os participantes da Cadeia,

obtendo ganhos expressivos. Como conseqüência imediata deste processo é

admissível supor que haja reflexos positivos de aceitação e satisfação do cliente

final com relação ao cumprimento dos curtos prazos de entrega e à qualidade

aliada ao desempenho deste produto.

3.6. Próximos passos

Pelo sucesso alcançado no uso da tecnologia de RFID, em termos de

produtividade e confiabilidade na linha de produção do Classe A, o mesmo

conceito deverá ser adotado em novos projetos para a fábrica de Juiz de Fora.

A fábrica ainda cogitava, no início de 2005, usar os mesmos MDS

instalados nos carros durante a fase de montagem, no atendimento ao pós-venda,

como na revisão periódica nas concessionárias e identificação de registro de

montagem do produto, bem como outras aplicações relacionadas com telemática

veicular, tais como monitoramento à distância, rastreabilidade, identificação para

órgão de trânsito dentre outras. Na verdade, os próximos passos dependerão

muito do futuro da fábrica de Juiz de Fora, futuro este ainda incerto no momento

de conclusão desta dissertação.

1 O CPFR (Planejamento, Previsão e Reposição Colaborativos) é uma metodologia desenvolvida com o intuito de propiciar o planejamento conjunto entre os elos da cadeia no que tange a previsão de demanda e o re-suprimento de produtos (VICS, 2004). Segundo a ECR Brasil (2004) o CPFR é um conjunto de normas e procedimentos em que fabricantes e varejistas estabelecem objetivos comum, trabalhando em conjunto no planejamento e atualização de previsões de venda e reabastecimento dos estoques.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 57: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

4. Aplicação na distribuição e na logística reversa

O presente capítulo tem como objetivo analisar o uso do sistema RFID na

distribuição de gases industriais. O estudo de caso escolhido foi o estudo piloto

realizado pela White Martins.

4.1. Introdução

A White Martins é uma empresa multinacional americana, pertencente ao

grupo Praxair Co com sede em Danbury (NY). Seu core business é a produção,

distribuição e comercialização de gases industriais no mercado nacional e, através

de suas subsidiárias, no mercado sul americano.

As operações de gases industriais no segmento de pequenos consumidores

(consumo médio mensal até 300 m³) são normalmente feitas através do uso de

cilindros nos quais os gases são acondicionados na forma gasosa (alta pressão) ou

na forma líquida (baixa pressão). Os cilindros são itens fundamentais na

operacionalização do sistema de fornecimento de gases aos clientes, sendo o seu

gerenciamento, portanto, uma parte crítica e essencial de toda a cadeia de

suprimentos, constituindo-se em um dos principais ativos das operações de gases.

Assim sendo, o sistema de rastreabilidade de cilindros é parte do plano previsto

para a automação das atividades relativas às operações de gases em cilindros na

White Martins. Após avaliações das tecnologias comerciais disponíveis e

considerando as limitações da tecnologia de código de barras, tais como: curta

vida útil da etiqueta, impacto negativo da poeira e pintura na leitura da etiqueta,

necessidade de leituras individualizadas, maiores dificuldades com operações

paletizadas, limitações de crescimento mundial em termos de tecnologias

eletrônicas, a tecnologia escolhida para ser testada foi o sistema de identificação

por radio freqüência.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 58: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

58

4.2. Objetivo

Em 1994, um time mundial corporativo da Praxair decidiu aprofundar as

pesquisas na área de gerenciamento de cilindros, estabelecendo um programa para

analisar a utilização do RFID disponível àquela época.

O objetivo deste programa foi construir um sistema de rastreabilidade de

cilindros, com um mínimo de ocorrências de erros, considerando os seguintes

aspectos:

1) Reduzir as perdas de ativos e melhorar suas utilizações;

2) Criar um sistema de processamento de dados on-line, compatível com

os programas existentes;

3) Gerar, em tempo real, informações para o sistema de planejamento e

logística, visando melhorias operacionais para o negócio de gás em

cilindros;

4) Verificar os dados registrados dos cilindros e as restrições de produtos e

serviços: o recall de produtos para o negócio de gases especiais já é

uma importante atividade. Algumas misturas têm um ciclo de vida curto

e necessitam ser rastreadas como parte de um procedimento de garantia

de qualidade. Também, existem casos em que os cilindros precisam

sofrer um recall e somente um sistema de rastreamento pode tornar

possível a sua identificação no campo. Como exemplo, podemos citar

os cilindros de gases especiais parados nas plataformas por um tempo

maior que o necessário. Os mesmos poderiam ser transferidos para

outras filiais antes de ter sua validade vencida aumentando o giro do

estoque. Finalmente a ISO 9000 requer um sistema que possa

facilmente rastrear um lote de cilindros nas plataformas das fábricas e

em nos clientes.

5) Controlar o estoque de cilindros: com o controle rigoroso de cada

cilindro aplicado em cliente através de seu código individual, espera-se

reduzir a quantidade de cilindros desaparecidos por ano, contribuindo

para inibir o uso destes ativos pertencentes à Empresa por distribuidores

não autorizados e/ou concorrentes. As perdas (investimento e vendas)

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 59: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

59

causadas por um controle ineficiente de ativos podem chegar a centenas

de milhares de dólares.

6) Facilitar a pesagem e acetonagem de cilindros de acetileno: os

processos de pesagem e acetonagem podem ser fortemente melhorados

com a rápida identificação dos cilindros disponível.

7) Controlar a densidade no enchimento automático: similarmente aos

cilindros de acetileno, um projeto de enchimento automático para CO2

(dióxido de carbono), N2O (óxido nitroso), cilindros LS e alguns

enchimentos para gases especiais. A definição da tara quando o cilindro

é identificado pode melhorar o processo de enchimento.

8) Contar os cilindros nas plataformas: o gerenciamento de cilindros pode

permitir melhorias na operação intensiva de mão de obra, fazendo essas

atividades de maneira mais rápida, mais precisa e menos custosa.

9) Planejar a produção: com a automação no enchimento de cilindros de

alta pressão, torna-se maior a necessidade de suporte neste processo de

uma rápida identificação dos cilindros.

10) Elaborar testes e histórico de manutenções em cilindros: com a

possibilidade das análises do giro de cilindros e identificação das datas

de testes, melhorias substanciais nos procedimentos de ambos processos

poderão ser obtidas.

11) Melhorar a qualidade na prestação de serviços ao cliente: por manter o

rastreamento dos cilindros paralisados em clientes (alguns levam muito

tempo sem retornar para um novo enchimento nas plantas da White

Martins), os clientes podem ser suportados com informações que

permitam reduzir o número de cilindros aplicados nos mesmos

economizando no pagamento de aluguel.

12) Identificar o grau de fidelização de clientes: através de visitas aos

clientes de baixo giro de cilindros, obtêm-se condições, pela leitura dos

cilindros neles aplicados, de identificar os clientes que trocam de

cilindros com os de outros competidores (eles não retêm os cilindros

originalmente entregues).

13) Analisar as baixas: uma investigação sobre um acidente com cilindro

pode ser mais bem realizada quando suportada por um sistema de

rastreamento que possa identificar o caminho realizado por este cilindro

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 60: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

60

identificando os últimos usuários e estações de enchimento por onde

passou o cilindro que causou o acidente.

Como conseqüência do programa, um estudo piloto foi realizado por esta

Empresa, em 1995, para analisar a viabilidade técnica-operacional e averiguar a

viabilidade econômica segundo as premissas acima propostas, usando a tecnologia

de RFID. A Praxair, também, buscou com este estudo piloto desenvolver expertise

relativa à nova tecnologia de RFID para rastreabilidade de cilindros de gases,

como uma alternativa potencial para o programa de gerenciamento de cilindros de

toda a White Martins.

4.3. Descrição do estudo de Caso

O estudo piloto foi realizado entre junho e novembro de 1995, na Filial de

Juiz de Fora, em Minas Gerais, envolvendo todos os cilindros de gases

atmosféricos da Unidade. O teste foi executado dentro da operação normal,

entregando e recebendo cilindros, praticando todos os procedimentos em vigor

para operação atual. Os transponders foram submetidos a uma operação

rigorosamente real, cobrindo todos os itens do fluxo operacional dos cilindros

para o teste, conforme apresentado adiante na figura 14. Como premissa, o cliente

foi considerado como o primeiro ponto de entrega ou devolução de cilindros,

mesmo que este possa ser eventualmente um Centro de Distribuição, ou uma

filial. Esta Filial era operada com 5 caminhões e atendia cerca de 2500 clientes.

Foram envolvidos no teste cerca de 2.100 cilindros de oxigênio com

transponders, ficando cerca de 1700 cilindros retidos em clientes. Cinco

caminhões de entrega foram equipados com um kit de um handheld EHT-30 e um

leitor de transponder Trovan LID-502 em cada um deles. Um kit semelhante foi

mantido na plataforma para apoiar o novo sistema operacional (dados de entrada –

ID do cilindro). A seleção do software da Dataweld, o Acutrax, foi baseada na

necessidade de ter um suporte técnico disponível dentro do período de tempo

necessário à realização do teste. A avaliação de todas as funcionalidades deste

software não foi parte do escopo deste estudo de caso.

Para a operação do teste, o Acutrax foi instalado em um desktop PC em

cada um dos seis handhelds. Todos os dados foram diariamente atualizados

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 61: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

61

(carregados/descarregados) através de um cartão de memória PCMIA, de acordo

com as instruções apresentadas no manual do Acutrax.

Finalmente, foi definido um equipamento que executasse o

acondicionamento dos transponders nos colarinhos dos cilindros.

A figura 14 apresenta o esquema do fluxo operacional de cilindros com o

uso da tecnologia de RFID.

Figura 14: Fluxo das operações de produção e distribuição com uso de RFID

(Fonte: White Martins)

A seguir, é feita a descrição das principais operações conforme o esquema

da figura 14. Os transponders foram lidos a cada ponto de processo.

• Ponto 1: Na operação de enchimento, ele foi conferido em:

o registros de teste de cilindro;

o tipo de produto no cilindro;

o ciclo de enchimento do cilindro;

o registros de controle de qualidade.

• Ponto 2: No ponto de embarque, o operador gerou:

o um manifesto de viagem;

o registros de dados de roteirização.

leitura e Instalação tags

enchimentoemissão tag

dados

UNIDADE DA WHITE

Entrega cils e leitura tagEmissão de nota fiscal

CLIENTE

Retorno id dcam inhão

Leitura tags

RETORNO ÀUN

atualização banco de dados sistema contrôle

PLATAFORMA

DISTRIBUI Ç ÃO

CARGA CAMINHÕES

Despacho Check de carga

FLUXO OPERACIONAL DE CILINDROS COM USO DE RFID

1 2

4

3

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 62: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

62

• Ponto 3: Na entrega de cilindro, foi registrada atividade do motorista no

cliente:

o entrega de cilindros cheios;

o retorno de cilindros vazios

o estado de retorno dos cilindros (dano, etc.);

o impressão do recibo de entrega ou retorno ao cliente contendo:

- nome de cliente;

- data;

- número de série do cilindro entregue ou devolvido.

• Ponto 4: No retorno a filial, o operador transferiu todos os arquivos diários

ao computador da filial para atualizar os registros contábeis dos clientes.

Então, a filial esteve em condições de emitir:

o relatório de controle de estoque de cilindro;

o relatório de danos de cilindro;

o relatório de necessidade de manutenção e re-teste;

o Dados de giro de cilindros.

Os equipamentos e componentes utilizados no estudo piloto foram cotados

pela Empresa Dataweld Incorporation e sua descrição e valores encontram-se na

tabela 4.

4.3.1. Escopo técnico/operacional complementar do estudo piloto

Aproveitando-se das avaliações das atividades principais, também foram

considerados outros itens importantes para avaliação na implantação de um

sistema produtivo, como:

1) Avaliar o transponder (read only) I-300, na precisão da leitura dentro

das características de um ambiente real de operação;

2) Reportar as falhas e em que condições as mesmas poderiam ocorrer

com os principais equipamentos (leitores, handhelds, cabos etc.);

3) Avaliar o manuseio dos handhelds e do leitor em relação à interação

amigável e o uso adequado do usuário;

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 63: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

63

4) Avaliar e descrever (desenhos, setups etc.) o dispositivo piloto feito

para o acondicionamento dos transponders nos cilindros e apresentar

recomendações relativas à solução final.

ITENS DESCRIÇÃO QT UNID

FOB1

Total

FOB

1 Computador Portátil (Handheld)- Epson EHT.

202

Incluindo:

unidade básica com memória de 2 MB;

processador;

adaptador de comunicações.

6 $3,657 $21,942

2 Leitor de transponder - Trovan LID 502S 3 6 $845 $5,070

3 Cartão (PCMCIA) 1 $995 $995

4 transponder – Trovan ID-3004 3500 $3,25 $11,375

5 Software de rastreabilidade cilindros - Acutrax 1 ------5 ---------

6 Cartão de memória 2 MB 3 $706 $2,118

7 Software de comunicação remoto – Blast 1 $495 $495

TOTAL $41,995

Tabela 4: Equipamentos e componentes utilizados

5) Fornecer estimativas de tempo de operação para as seguintes atividades:

5.1. Leitura dos transponders (incluir o setup do handheld) tanto no cliente

quanto nas plataformas de embarque. 1 Fretes, seguros, taxas de importação, taxas de ICMS e IPI e cobranças alfandegárias foram previstas a uma base de 110% sobre os preços US FOB. 2 Foi requerido que o computador da Unidade estivesse equipado com um modem de 9600 baud e um programa de comunicação que permitisse um suporte remoto da Dataweld. 3 A transmissão do leitor opera a 128 kHz. O recebimento do ciclo leitura opera a 64 kHz. Estas freqüências estavam de acordo com os padrões da U.S. Federal Communications Commission (FCC). O DENTEL,Órgão regulador de telecomunicações no Brasil, após consulta, informou que não havia nenhuma necessidade de possuir qualquer licença para trabalhar com estas freqüências. O RFID tem uma vantagem principal sobre do código de barras, faixa magnética, ou outros dispositivos semelhantes, porque não requer contato direto para realizar a leitura de identificação de cilindros. 4 Um grande número de diferentes fabricantes de transponders passivos foi contatado através do grupo de tecnologia de gases da PRAXAIR nos EUA (Hughes, Texas Instruments, Indala, etc.) e da Trovan apropriada para o projeto de rastreabilidade de cilindros. A recomendação estava baseada em algumas experiências prévias no Estados Unidos, relativas a escalas de leituras e a sua maior resistência quando próxima ao aço, em relação a outros competidores. 5 O software Acutrax não foi cobrado pela Dataweld durante o período de teste. Caso implantado o mesmo seria incluso na proposta final à White Martins.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 64: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

64

5.2. Furo no pescoço do cilindro, acondicionar o transponder no cilindro e

setups.

6) Avaliar o desempenho diário do equipamento em circunstâncias críticas

de operações tais como:

6.1 Dias chuvosos;

6.2 Exposição longa a luz do sol e/ou a altas temperaturas;

6.3 Dificuldades de leitura de cilindros;

6.4 Avaliar o impacto do sistema operacional durante a entrega aos

clientes;

6.5 Atrasos no atendimento aos clientes;

6.6 Reação dos clientes e motoristas na utilização do novo sistema;

6.7 Avaliar o impacto do sistema operacional nas Unidades;

6.8 Demora nas operações de carregamento e descarregamento dos

caminhões;

6.9 Furos nos cilindros e setups;

6.10 Identificar o potencial de benefícios neste novo sistema de

gerenciamento da operação de cilindros.

4.3.2. Resultados obtidos com o estudo piloto

Esta sub-seção tem como objetivo descrever os resultados relacionados ao

uso da tecnologia de RFID na identificação e controle de cilindros em uma

operação real. Também são apresentadas algumas recomendações para

desenvolvimentos futuros e alguns benefícios esperados do gerenciamento de

cilindros.

4.3.2.1. Avaliação da Tecnologia

A avaliação da tecnologia apresentada do RFID quanto a rastreabilidade

de cilindros foi baseada na experiência adquirida no teste. Este conhecimento

segue abaixo descrito e suportará a conclusão e recomendações para futuros

desenvolvimentos.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 65: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

65

4.3.2.1.1. Transponder

ID-300 somente leitura – a taxa de leitura foi de quase 100%, considerada

um sucesso. Somente 03 transponders com defeitos em cerca de 2.000 unidades

foram encontrados durante os testes de leitura realizados antes das instalações dos

transponders nos cilindros (Trovan apresentou defeito após a sua instalação e

operação nos cilindros).

O procedimento de leitura foi normalmente aceito pelos motoristas e

operadores de plataformas, apesar de alguma dificuldade inicial no manuseio

conjunto do handheld e leitor ao mesmo tempo.

Foi escolhido o colarinho do cilindro como o lugar para inserir o

transponder devido à necessidade de reduzir sua visibilidade contra avarias

causadas por terceiros (necessidade do mercado local). Cerca de 50 cilindros

foram testados com os transponders colocados no capacete: a distância para

leituras aumentou para 10 cm. Este tipo de instalação pode ser usado onde a

exposição do transponder não é fator relevante (por exemplo: gases especiais)

uma vez que permite, pela sua visibilidade, maior facilidade na leitura do mesmo.

Um custo de US$0.20/cilindro seria adicionado se fosse usado o capacete como

local da instalação do transponder.

4.3.2.1.2. Leitores de transponders

O leitor LID-502 apresentou uma boa performance de leitura no colarinho,

podendo ser feita facilmente a uma distancia de 3,5 a 5,0 cm, atendendo as

necessidades do momento para o teste de rastreabilidade. Para a alternativa de

transponders instalados no capacete esta distância de leitura elevou-se para 10

cm.

O LID-502 provou ser frágil e não forte suficiente para o uso nos

caminhões e plataformas. O casco de plástico pareceu demasiadamente delgado e

a conexão do circuito da antena com o corpo não muito forte. Um dos leitores não

funcionou após queda de uma mesa para o carpete. Como resposta a Empresa

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 66: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

66

Trovan desenvolveu um modelo mais robusto. Outro leitor parou de funcionar

sem uma causa aparente diagnosticada, sendo reposto um novo pelo fabricante.

Alguns tempos foram medidos e são apresentados abaixo:

N° de cilindros Setup Leitura

1 a 3 40-45 seg./cliente 10-12 seg./cil

4 ou mais 40-45 seg./cliente 07-10 seg./cil

4.3.2.1.3. Handheld

O EPSON’S EHT-30 teve uma performance confiável durante os testes. É

leve, compacto e sua tela com grandes caracteres é muito amigável aos usuários.

Dois aparelhos saíram de operação depois de 02 meses de testes e mais um

terceiro em novembro. O primeiro teve problemas de interface de saída de dados e

as causas não foram claramente reportadas pelo suporte técnico da empresa

EPSON. O segundo teve a tela quebrada pelo mau manuseio de um dos motoristas

de caminhão. O terceiro não teve sua falha diagnosticada.

Dois pontos do EHT-30 precisam ser melhorados: A tela não pode ser lida

(alguns caracteres apagam-se) quando a temperatura da cabine do caminhão sobe

acima dos 45° graus Celsius e a conexão do cartão PMCIA parece frágil.

Um problema apresentado foi: a função do “screen saver” desligava o

handheld depois de 20 minutos sem uso causando perda de dados, em vez de

somente salvar a tela. Segundo a Dataweld isto seria resolvido facilmente com

uma alteração no setup.

4.3.2.1.4. Cartão PCMCIA

O cartão PCMCIA de 2 Mb provou ser muito hábil e rápido como meio de

transferência de dados. Nenhum problema foi reportado.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 67: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

67

4.3.2.1.5 Cabos de conexão

O cabo e conexão entre o leitor e o handheld provaram não serem

adequados. Dois destes cabos causaram mal-funcionamento na transferência de

dados e tiverem que ser substituídos durante os testes.

4.3.2.1.6. Mecanismo de implantação de transponder no colarinho

O mecanismo de instalação dos transponders desenvolvido pela White

Martins apresentou uma boa performance. Uma máquina de furar foi adaptada em

um pedestal para furar os colarinhos dos cilindros. A máquina podia ser ajustada

para diferentes alturas de cilindros e operou com um ângulo 60 graus, usando uma

broca de 9/16’’.

A seguir é apresentada uma visão dos tempos padrão de setup por cilindro

estabelecidas no inicio do teste e considerando 02 operadores:

- Tempo de Setup para furar e arremates de pintura – 150 segundos 6

- Preparação para colar - 60 segundos

- Instalar transponder - 15 segundos

- Acabamentos - 120 segundos

- Entrada de dados do cilindro no sistema - 60 segundos

___________

TOTAL : 405 segundos = 6 min. e 45 s

Ou 8,88 cilindros/hora

Segue abaixo uma tabela com os tempos de instalação de alguns

transponders após um período de prática dos operadores com esta operação:

Data N°de cils Setup(h:min) Entrada dados(h:min) Total(h:min)

03/08 19 01:02 00:25 01:27

04/08 47 02:14 00:55 03:09

09/08 49 02:19 00:57 03:16

6 O tempo desta operação varia muito de acordo com as condições do cilindro. Para novos cilindros, esta operação seria eliminada se o fabricante já fornecer os cilindros furados.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 68: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

68

11/08 43 03:53 00:51 04:44

16/08 41 03:50 00:45 04:35

22/08 31 02:52 00:36 03:28

23/08 54 05:30 01:05 06:35

Pode-se notar que a velocidade desta operação pode chegar acima dos 14

cilindros/hora caso os operadores estejam bem treinados e os cilindros em bom

estado.

4.3.2.1.7. Cola

Diversos tipos de colas para instalar os transponders nos cilindros foram

testadas. Um cilindro foi deixado em um pátio aberto com diferentes tipos de

colas usadas nos transponders durante 04 meses. O melhor custo x benefício

encontrado foi a de epóxi usada para consertar carros. O tempo de secagem variou

de 15-30min. E o custo foi de U$3.00 por uma lata de 700grs.

4.3.2.1.8. Baterias

As baterias e carregadores dos handhelds não apresentaram qualquer

problema. A duração da bateria é longa suficiente para suportar de 8-10 horas de

trabalho diário, mas deve ser recarregada toda noite. Em viagens multi dias o

motorista precisou levar o carregador.

4.3.2.2. Avaliação da operação

4.3.2.2.1. Handheld / leitor

É amigável: as telas são fáceis de ler e de serem manuseadas (não há

chaves para serem tecladas). Os motoristas e operadores encontraram alguma

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 69: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

69

dificuldade no início para usá-los por causa do tamanho do leitor e da necessidade

de se manusear dois equipamentos ao mesmo tempo. (equipamentos mais

compactos teriam melhor aceitação). As leituras dos transponders a uma distância

de 3.5-5.0 cm tiveram boa acuracidade permitindo razoável condição de leitura

para cilindros localizados em até três filas, movendo o leitor em volta dos

capacetes. Em grandes áreas de estocagem de cilindros onde se necessita realizar

contagem para inventário, nenhuma leitura de cilindros pode ser realizada sem

mover as primeiras filas para o lado ou mudar o layout da área do estoque, de

forma a juntar no máximo 03 filas de cilindros em cada divisão, o que muitas

vezes não é possível.

As telas dos handhelds foram traduzidas para o português e os motoristas

não necessitaram de um extenso treinamento para entender o Acutrax. O

manuseio do EPSON EHT -30 é baseado no modelo de touch-screen com uso de

caneta específica na própria tela para acionar os comandos. As reclamações dos

motoristas foram concentradas em problemas relativos ao software.

4.3.2.2.2. Tempos / suporte técnico

Quanto ao impacto no tempo de entrega, nenhuma reclamação ocorreu,

tanto por parte dos clientes quanto pelos transportadores, foram reportadas. O

tempo de carga e descarga dos cilindros nos sites dos clientes é significantemente

maior que o tempo de identificação dos cilindros, portanto, a performance da

entrega não foi afetada.

A reação dos clientes com relação aos transponders foi basicamente

curiosa. Eles apenas comentaram que o rastreamento garantiria uma melhor

qualidade e controle do produto no futuro.

Os serviços de suporte no fornecimento de equipamentos da Trovan

(leitores e transponders), disponíveis no Brasil, na época, ainda estavam sendo

testados.

A EPSON não estava, na época, preparada para fornecer uma grande base

de suporte para seus handhelds no Brasil. Por solicitação da White Martins, a

Dataweld estava desenvolvendo alternativas de equipamentos handhelds para uso

com os equipamentos da Trovan. A Symbol e Telxon, dois maiores fabricantes

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 70: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

70

mundiais de handhelds estavam já desenvolvendo mudanças requeridas pela

Trovan em seus equipamentos touch screen de forma a atender as necessidades de

uso com aquele transponder.

4.3.3. Avaliação dos benefícios e sugestões

A tecnologia de RFID mostrou-se confiável e operacional para o

rastreamento de cilindros. O equipamento usado para suportar o teste piloto

apresentou alguns pontos fracos já apontados.

Considerando o objetivo do programa à época em que foi realizado o teste

piloto (aspectos enumerados no item 4.3.1), foi observado que, apesar do tempo

reduzido de teste, todos os itens ali listados eram passíveis de serem alcançados.

Para que fossem efetivamente satisfeitos, algumas sugestões deveriam ser mais

profundamente investigadas em futuros desenvolvimentos, ou seja:

1- Acompanhar a Trovan/Dataweld nos desenvolvimentos que foram

solicitados pelo time do projeto:

. Novo leitor

. Novo cabo de conexão entre o leitor e o handheld

2- Acompanhar os desenvolvimento de equipamentos alternativos aos da

EPSON pela Dataweld (Symbol ou Telxon)

3- Investigar algumas outras melhorias:

- Usar como carregador da bateria do handheld (no caminhão) a bateria do

caminhão.

- Utilizar o sistema de rádio freqüência no processo de transferência de

dados do handheld para o computador da Unidade.

4- Melhorar o atual sistema de furação dos cilindros na implantação dos

transponder para utilização em grandes escalas.

5- Definir as funções requeridas para o rastreamento de cilindros e pesquisar

a existência de softwares ou desenvolvimento in house de software

específico, garantindo a total compatibilidade com as funções definidas para o

computador de bordo (emissão notas fiscais).

6- Acompanhamento da evolução da tecnologia de transponder “read only”

x “read/write”.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 71: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

71

7- Avaliar operacionalmente e economicamente alternativas para transponder

com maior distancia de leitura.

O uso diário dos equipamentos/software na Filial foi interrompido por

motivos de custos, mas os cilindros com transponders instalados foram

mantidos na Unidade de Juiz de Fora. Caso os desenvolvimentos descritos

nos itens 1, 2 e 3 acima sejam no futuro executados, testes com os novos

equipamentos podem ser realizados utilizando-se desses transponders.

4.4. Conclusão

Como apresentado no estudo, o uso da tecnologia de RFID na

rastreabilidade de cilindros é eficiente e pode trazer diversos benefícios no

gerenciamento de toda a cadeia de suprimento. Tanto o cliente quanto os

fabricantes e distribuidores podem ter a visibilidade necessária de todo o processo

desde a produção até o consumo final no cliente utilizando-se da sua logística

reversa destes ativos. Isto permitirá identificar e rastrear possíveis problemas com

a qualidade dos produtos, qualidade dos cilindros, desvios de ativos, estoques

indevidos e uma série de outros benefícios na cadeia de produção. No entanto, à

época deste teste, os altos preços dos equipamentos envolvidos, como também

suas qualidades técnicas operacionais observadas, contribuíram para um estudo de

análise de viabilidade econômica, onde o mesmo se mostrou inviável, naquele

momento, para implantação definitiva desta tecnologia.

Com a continuação dos desenvolvimentos, a Empresa optou em usar a

tecnologia de códigos de barras em meados de 2002. Desta forma quis rastrear

apenas os produtos contidos dentro dos cilindros, desde a sua produção até a

entrega no cliente, contribuindo para aumentar a garantia de qualidade do

processo produtivo dos gases junto aos clientes. Esta tecnologia, apesar de mais

simples e mais barata, tem uma série de restrições técnicas para leituras em

processos que exijam maior velocidade de leituras e o seu curto ciclo de vida,

quando expostas às intempéries do tempo, é limitante para ser usada na operação

pesada do rastreamento de cilindros. Foi então realizado outro estudo piloto, desta

vez na filial de Volta Redonda, cujo objetivo principal era além do controle de

carga (produto armazenado dentro do cilindro), o de se comprovar o

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 72: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

72

melhoramento dos equipamentos e a operacionalidade do sistema às operações

normais de produção e distribuição de gases em cilindros, usando o código de

barras em vez de transponders, ainda por razões de avaliação econômica. O estudo

se mostrou eficiente e está em fase de implantação no Brasil observando as

interfaces com os softwares hoje existentes na Empresa.

4.5. Próximos passos

Em 2004 a Praxair Co, voltou a priorizar, em seu centro tecnológico de

Tonawanda – Buffalo- NY, tecnologias, materiais e equipamentos que privilegiem

o melhor gerenciamento de um de seus maiores ativos operacionais, os cilindros,

inclusive re-avaliando o uso da tecnologia de RFID e o seu progresso na

rastreabilidade de cilindros.

O seu programa atual consta dos seguintes estágios:

I) Planejamento

1) Estágio 1 – Definição do escopo

a) Definir recursos e necessidades técnicas / premissas chaves.

b) Selecionar fornecedores e obter propostas.

c) Refinar estimativa de custos, recursos e revisar cronograma.

d) Executar o planejamento do teste para o estágio2

2) Estágio 2 – Testar o conceito (avaliação técnica em pequena escala)

a) Testar e avaliar proposta de fornecedores x necessidades.

b) Desenvolver soluções para as premissas técnicas.

c) Detalhar avaliação do risco técnico

d) Teste de campo em pequena escala

e) Desenvolver um plano piloto detalhado

3) Estágio 3 – Piloto

a) Medir desempenho x projetado

b) Refinar custos/análise de benefícios

c) Determinar a necessidade de um “Beta Teste”

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 73: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

73

0

2

4

6

8

10

12

14

$ MM

Estagio1 Estagio 2 Piloto Rollout

Pesq/desenvolviLaborServiços MO contratada Softwares Equipamentos

0.04 0.291.4

13.9

4) Estágio 4 – Rollout7

II) Estimativa de custos:

A figura 15 apresenta a estimativa preliminar de custos para cada uma dos 04

estágios em MM$.

Figura 15 - Estimativa preliminar de custos (Fonte: Praxair)

7 Rollout: fase do projeto onde o mesmo é efetivamente implementado no campo, sendo após replicado a outras Unidades.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 74: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

74

2005 2004 2014

2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013

Jun 2004 Propostas de fornecedores

Detalhamento “Business Case” Necessidades técnicas

d Plano de recursos Revisão estagio 1

Mar 2005 Teste em pequena escala

Avaliação de performancePlanejamento do teste piloto

Revisão estágio 2

Jan 2006 Quantificar benefícios piloto

Planejamento Rollout Revisão estágio 3

Jan 2007 Rollout Completo

Forte Desembolso

2009 Retorno alcançado

A figura 16 apresenta o cronograma mostrando os principais eventos

futuros que a Empresa esta planejando com relação ao plano de implementaçao da

tecnologia RFID no rastreamento de um dos seus principais ativos operacionais.

Figura 16: Cronograma do projeto de RFID

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 75: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

5. Aplicação na gestão do fluxo inbound e na armazenagem

O presente capítulo tem como objetivo analisar o uso do sistema RFID no

varejo com foco na gestão do fluxo inbound e na armazenagem de um centro de

distribuição. Para tal, será analisado o projeto piloto da Unilever.

5.1. Introdução

A Unilever é uma empresa anglo-holandesa que opera em diferentes

modalidades de negócio, como alimentos, higiene e beleza, possui unidades

operacionais em 160 países e faturamento global de cerca de US$ 43,8 bilhões.

A Unidade Brasileira da Unilever colocou em operação em abril de 2004,

um projeto-piloto de uso da tecnologia de RFID, no padrão EPC (Electronic

Product Code – Código Eletrônico de Produto) em sua fábrica em Indaiatuba

(maior fábrica de sabão em pó da Unilever em todo o mundo com 120 mil m2) e

no Master Logistics Center (MLC) de Louveira, ambos no interior de São Paulo.

5.2 . Objetivo

Os seguintes objetivos foram adotados para o desenvolvimento deste projeto:

• Implementar a tecnologia RFID nas operações de distribuição da Unilever

(Piloto);

• Validar os ganhos da utilização da tecnologia RFID nas operações da

Unilever do Brasil em relação a: otimização da mão de obra; precisão das

informações; velocidade de expedição e utilização de ativos;

• Alavancagem da tecnologia de RFID para o mapeamento e uso de etiquetas

de RFIDnas operações de Unilever Brasil e América Latina.

Segundo estudos preliminares da divisão de higiene e beleza da Unilever,

foi estimado um ganho potencial de 12% em produtividade (velocidade de

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 76: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

76

operação) como resultado da aplicação da nova tecnologia nas instalações da

fábrica de Indaiatuba e no CD de Louveira (Fernandes, 2004).

5.3 . Descrição do Estudo de Caso

O estudo para a implantação deste sistema na Empresa teve início em

2002, com pesquisas dentro do próprio grupo em outros países como os Estados

Unidos e a Inglaterra. Depois de análises de viabilidade física e retorno do

investimento, a empresa buscou fornecedores e parceiros locais, como a Seal

(parceiro tecnológico) e a Exel (operador logístico) para participarem do projeto.

A participação da Seal foi para viabilizar uma solução completa, aliando o

conhecimento necessário para integrar a tecnologia RFID ao sistema existente de

WMS (Warehouse Management System – Sistema de Gerenciamento de

Armazém). O apoio integral da Exel, que gerencia as atividades de logística do

armazém de Indaiatuba e o centro de distribuição de Louveira, foi na execução e

no gerenciamento desses processos, de forma a viabilizar técnica e

economicamente a implementação da tecnologia RFID nas operações de

distribuição (Fonte Unilever- maio/2004)

5.3.1. Escopo de atuação do projeto piloto

1) Implementar etiquetas de RFIDEPC em um pool de pallets (1,5 mil

pallets) e realizar as operações de leitura e identificação através de leitores

de rádio freqüência instalados em seis empilhadeiras, sendo três em

Indaiatuba e três em Louveira (MLC).

2) Operações no inbound (recebimento, conferência, armazenagem,

expedição) entre a fábrica de Indaiatuba e o centro de distribuição de

Louveira (MLC).

3) Produtos envolvidos: pallets de detergentes em pó (OMO/Minerva/Surf/

Brilhante) de 1 kg (42 caixas) e 500g (63caixas).

4) Participantes: Unilever, Exel, Seal, Júlio Simões (Frota inbound)

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 77: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

77

5.3.2. Configurações

A freqüência de 915 Mhz foi escolhida devido ao fato de ser o padrão

estabelecido pelo Auto ID Center1 para utilização de EPCs com pallets em

operações logísticas, por proporcionar uma maior cobertura para os leitores (até

três metros) e por permitir a leitura simultânea da doca e do pallet .

Os leitores foram instalados nas empilhadeiras, preferencialmente às docas,

devido à busca de configurações mais baratas. Neste caso o numero de docas foi

superior ao de empilhadeiras, justificando a escolha da implementação nas

empilhadeiras.

5.3.3. Arquitetura e operação

Para facilitar a visibilidade e rastreabilidade dos pallets de detergentes em

pó dentro da operação de inbound entre Louveira e Indaiatuba, um código

numérico de RFID único e encriptado foi aplicado no formato de etiqueta

inteligente, para cada pallet do pool destinado ao projeto. Desse modo, cada pallet

possuiu uma única e exclusiva identidade associada aos produtos por ele

transportados. O tipo de etiqueta de RFID utilizada neste projeto é chamado smart

tag, e baseou-se no tipo EPC Classe I por este ser uma evolução da Classe 0 e

apresentar melhorias significativas na parte de comunicação mostrando-se assim

muito mais confiável. Ainda é considerado um padrão a ser seguido pelo mercado

considerando o tipo de aplicação.

O sistema smart tag foi concebido para fornecer o controle e a coleta de

dados durante as fases vitais da operação de inbound entre Indaiatuba e Louveira.

• Em Indaiatuba: Recebimento (linha), Armazenagem e Expedição;

• Em Louveira: Recebimento (Docas) e Armazenagem.

1 Auto IC Center - Organismo Intenacional que desenvolveu o EPC , a partir de um projeto sediado no MIT (Massachusetts Institute of Tecnology - EUA). Hoje, a EPCGlobal, uma Organização sem fins lucrativos, é responsável pelo controle, desenvolvimento e promoção de padrões baseados no sistema EPC (Malinverni, 2004).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 78: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

78

5.3.4. Software e hardware utilizados

A arquitetura de solução do software foi idealizada com o sistema

trabalhando em 04 camadas distintas, com os seus relacionamentos acontecendo

nestes níveis conforme figura 16

Figura 17: Camadas de relacionamento

A primeira camada é composta pelos equipamentos de leitura e

comunicação de dados que foram montados nas empilhadeiras, também utiliza os

terminais veiculares já existentes nas empilhadeiras como forma de interação com

o usuário. Esta camada efetua a captura das informações nas etiquetas de RFID de

endereço, montados no piso, e das etiquetas de identificação de pallets (LPN –

Licence plate number). As informações capturadas nessa camada são transmitidas

pela rede existente nos depósitos para o controlador da rede de leitores RFID

(segunda camada). Este controlador é composto por um dispositivo eletrônico e

um aplicativo que gerencia os diversos leitores RFID. Os dados recebidos dos

leitores são filtrados, classificados e as informações são transmitidas para a

terceira camada. Esta faz a integração dos dados com o sistema de gestão, tendo

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 79: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

79

sido configurada de forma a minimizar a necessidade de customizações no WMS,

utilizando o Middleware Seal.

A arquitetura de solução hardware foi montar em cada empilhadeira um

leitor RFID com antenas de leitura de transponder, um sistema de comunicação

por radio freqüência e um conversor para alimentação a partir da bateria da

empilhadeira. Os terminais veiculares atualmente instalados foram utilizados para

interação com o usuário.

Foram utilizadas etiquetas de RFID Alien 915Mhz passive smart labels

que tem as seguintes características: sem bateria; tamanho menor; menor distância

de leitura; custo baixo; tempo de vida ilimitada (condições abrasivas do ambiente

podem em questão podem inutilizar a etiqueta); trabalha em condições severas.

5.3.5. Fases de implementação do projeto piloto

A Unilever utilizou-se da seguinte esquema para desenvolver a

implementação efetiva deste projeto:

1) Identificar e priorizar oportunidades:

• Entender a estrutura de custos da cadeia de valor

• Avaliar onde RFID é aplicável

• Identificar benefícios potenciais

• Priorizar de forma preliminar a aplicação do RFID

2) Construir o Business Case:

• Traçar objetivos estratégicos

• Definir benefícios e investimentos

• Estabelecer premissas

• Definir visão e objetivos com a aplicação de RFID

3) Desenvolver o modelo:

• Avaliar impactos em Processos e pessoas

• Definir Tecnologia (Sistemas e infraestrutura)

• Selecionar parceiros

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 80: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

80

• Estruturar Modelos de colaboração na cadeia de valor

4) Realizar o piloto:

• Selecionar Piloto (Produto, processo, parceiro)

• Testar o Piloto (Integração e Capacidades)

• Monitorar o Business Case (Avaliar resultados, realizar ajustes)

5) Desenvolver Rollout

• Planejar seqüência das implementações

• Determinar gaps entre processo, tecnologia e pessoas

• Refinar Business Case

5.4. Resultados obtidos e conclusões

Os testes estiveram concentrados no ambiente operacional de Louveira e

Indaiatuba. O objetivo principal foi fornecer uma comparação entre a aplicação da

tecnologia de rádio freqüência, com as condições reais de trabalho, presentes na

rotina de expedição, movimentação e armazenagem destes centros de distribuição,

lembrando-se que a expedição do CD de Loureira não foi incluído no estudo

piloto. Para tal, desenvolvimentos de infra-estrutura e sistemas foram necessários

e amplamente realizados. Comparar os benefícios relativos da aplicação da

tecnologia e validar se a performance atingida garante condições de controle e

estabilidade no mundo real foi o desafio lançado. Na busca deste desafio, foram

divididos os principais pontos que exigiram grande foco e energia para serem

superados:

• Com equipamentos que precisam funcionar nos sites em três turnos diários e

que não são dedicados somente ao projeto; o risco de quebra e avaria da

infra-estrutura instalada nas empilhadeiras é iminente. Para minimizar esses

riscos, o investimento em treinamento, tanto para a manutenção como para a

operação dos equipamentos, deve ser entendido como regra.

• Com o desenvolvimento de uma nova geração de antenas e leitores menores,

mais leves, mais potentes, dotados de dispositivos Wireless, que eliminem

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 81: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

81

fios e cabos muito frágeis, foi conseguida uma solução embarcada robusta e

mais resistente às exigências operacionais diárias em um Centro de

Distribuição.

• Como o projeto envolve empilhadeiras de garfo simples e duplo, foi preciso

redefinir o posicionamento do leitor, para que as luzes pudessem ficar

dentro do campo visual do operador, encontrando configurações de

posicionamento de antenas e leitores RFID diferentes para cada site. Definir

como adaptar a empilhadeira para que o operador enxergasse este conjunto

de luzes foi uma das principais inovações em infra-estrutura do projeto

piloto. Com esta modificação foi possível que o operador de empilhadeira

pudesse ser capaz de interpretar o funcionamento das antenas e leitores

RFID dando maior fluidez às atividades de movimentação e armazenagem.

• Problemas de interferência de ondas de radiofreqüência externas ao Centro

de Distribuição de Louveira foram uma grande preocupação. Este tipo de

interferência chegou a provocar lentidão e até mesmo o travamento

completo do terminal de empilhadeira. Estas interferências impedem não só

o funcionamento e estabilidade do smart tag, como também toda operação

usual de qualquer centro de distribuição. Alternativas de contorno passaram

por: identificação da fonte emissora de interferência, alteração da faixa de

freqüência em produção, instalação de novos pontos de acesso dentro do

CD, entre outras. Neste presente caso: Foram instalados pontos adicionais

de acesso na doca e rua de armazenamento.

• O terminal de radiofreqüência da empilhadeira deve ser desvinculado do

middleware. Em qualquer parada relativa ao banco smart tag, o terminal não

pode ser utilizado na operação convencional.

• Para proporcionar uma boa performance da aplicação, há necessidade de

servidor e estrutura de contingência.

• Além disso, foram identificadas outras oportunidades:

• Existe espaço para desenvolvimento da infra-estrutura das empilhadeiras de

garfo duplo.

• Uma nova geração de antenas e leitores poderá constituir uma solução

embarcada robusta e mais resistente às exigências operacionais.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 82: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

82

Como conclusão até o momento, pode-se dizer que a tecnologia de RFID

se comprova para a movimentação e controle de pallets em Centros de

Distribuição. Sua aplicação no ambiente controlado dentro de 2 centros de

distribuição foi bem sucedida. Segundo a Unilever, ela alcançou, com a

implementação do sistema RFID, níveis elevados de otimização da mão-de-obra,

precisão de informações, velocidade de expedição e utilização de ativos. O

aumento de produtividade (velocidade de produção) foi de 24% em Indaiatuba e

5% em Louveira, superando a estimativa de 12% anteriormente previstos.

5.5. Próximos passos

Por motivos confidenciais relacionados ao fato do projeto ainda encontrar-

se em fase embrionária, informações relativas aos próximos passos não foram

cedidas pela empresa, dado que se tratam de informações estratégicas. De forma

geral, pode-se dizer que esse projeto será continuado e expandido de forma a

incorporar toda América Latina.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 83: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

6. Aplicação na gestão de pallets

O presente capítulo tem como objetivo analisar o uso do sistema RFID no

processo de gestão de pallets. Para tal, será analisado o projeto piloto do Grupo

Pão de Açúcar, no interior do estado de São Paulo.

6.1 – Introdução

O Grupo Pão de Açúcar (CBD), a Gillette, a Procter Gamble e a CHEP

(Empresa proprietária dos pallets) com o suporte da Accenture desenvolveram um

esforço conjunto para iniciar a utilização da tecnologia RFID /EPC na sua

respectiva cadeia de suprimentos. Nesse sentido, este Grupo de Empresas

implementaram um projeto piloto nas instalações dos participantes ao longo da via

Anhaguera nas redondezas da cidade de São Paulo (Figura 18).

Figura 18: Mapa do local das instalações dos participantes

CD Centro de Serviço

CD do Operador Logístico

CD

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 84: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

84

6.2. Objetivo

Os objetivos do projeto piloto são os seguintes:

• Avaliar a viabilidade técnica de utilização da tecnologia de RFID na Cadeia

de Suprimentos no Grupo Pão de Açúcar considerando a atualidade

brasileira;

• Avaliar os potenciais benefícios a serem obtidos na gestão da cadeia de

suprimentos;

• Desenvolver prática e aprendizado no manuseio desta tecnologia;

• Identificação preliminar da necessidade de evolução nos processos

operacionais e na infra-estrutura de TI;

• Aprimoramento do Business Case;

6.3. Descrição do estudo de caso

O estudo piloto partiu das seguintes premissas e escopo:

1) Implementar a circulação e monitoramento de 1000 pallets etiquetados

com foco nos processos de recebimento e expedição e na troca de

informações entre os participantes da cadeia de suprimentos;

2) Utilização de pallets CHEP etiquetados para a movimentação de

produtos da P&G (1 SKU) e da Gillette (30 SKUs) ao longo da cadeia

de suprimentos;

3) Alinhamento das informações de produtos e bases de dados específica

utilizada no Piloto;

4) Convivência do Código de Barras com a solução RFID/EPC;

5) Utilização dos processos comerciais e logísticos vigentes;

6) Os sistemas de RFID não foram, nesta fase piloto, integrados;

7) Foram utilizadas etiquetas passivas read only dentro dos padrões EPC.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 85: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

85

6.3.1. Arquitetura e operação

Na arquitetura do projeto foram instalados portais RFID nos três Centros

de Distribuição considerados e desenvolvidos os aplicativos necessários para

leitura e captura de dados, além da rede de comunicação com base nos padrões

EPC Global. A operação compreendeu a circulação e o monitoramento de pallets

etiquetados e teve foco nos processos de Recebimento / Expedição e na troca de

informações (Figura 19).

Figura 19: Fluxo Operacional

Passo 1 – O pallet vazio passa através de um portal de RFID no CD da CHEP, é

lido e embarcado para o CD da P&G e Gillette (1);

Passo 2 – O pallet vazio que chega ao CD da P&G passa por um novo portal é

lido (2a) e carregado (2b), lido novamente na saída (2c) e embarcado para o CD

do Pão de Açúcar;

Passo 3 - O pallet carregado chega ao CD do Pão de Açúcar é lido através de um

outro portal (3a), descarregado (3b), lido novamente vazio (3c) e embarcado de

volta ao CD da CHEP.

2b

3a4

2a

2c

3b

3c

1

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 86: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

86

Passo 4- O pallet vazio passa através de um portal de RFID (4), é lido e colocado

à disposição no CD da CHEP para iniciar novamente o Passo1.

Os 1000 pallets etiquetados circularam, de maneira controlada, durante dois

meses entre os diversos CDs de acordo com os processos comerciais e logísticos

vigentes.

6.4. Resultados obtidos

Em relação aos aspectos técnicos/operacionais, chegou-se, como estudo

piloto, aos seguintes resultados:

• A infra-estrutura instalada funcionou de acordo com a expectativa inicial,

sendo necessários ajustes específicos a cada ambiente. Como exemplo,

pode-se citar a instalação dos portais.

• A obtenção do índice de leitura de 97% foi considerada, pela equipe de

implementação, como sendo aceitável para um estudo piloto.

• A movimentação dos pallets foi monitorada pela rede de comunicação

implementada e devidamente documentada na base de dados específica

utilizada no Piloto, não causando dificuldades para as equipes

operacionais.

Os principais benefícios obtidos com esse estudo piloto foram os

seguintes:

• Ele permitiu a verificação de conceitos e benefícios provenientes da

utilização da solução na cadeia de suprimentos, considerando que com os

processos estabelecidos e uma rede de comunicação simplificada e segura

propiciaram uma maior visibilidade e acuracidade na cadeia, com maior

controle e qualidade das operações. A figura 20 exemplifica isso através

do relatório de controle de notas fiscais.

• Os processos e os controles estabelecidos permitiram melhor entendimento

e percepção de benefícios como maior produtividade e redução de perdas

no recebimento e expedição de pallets. A figura 21 exemplifica isso

através do relatório de controle por produto.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 87: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

87

Figura 20: Relatório de controle de Notas Fiscais

As numerações presentes na nota fiscal equivalem aos processos

representados na figura 19, nos momentos em que o caminhão passa pelos portais

RFID e são registrados horários, origens e destinos. Estes dados são enviados para

o network através da interligação dos portais com o sistema.

Figura 21: Relatório de controle por produto

Na figura 21, GTIN significa Global Trade Identification.

12a

3c3a

2c

43a

1

2c

2a

12a

12a

2c 3a

2c 2c

3a 3a

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 88: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

88

6.5. Pré-requisitos

A utilização da solução RFID/EPC requer pré-requisitos críticos para a

maximização dos benefícios esperados ou seja:

- A utilização de processos operacionais pré-definidos nos centros de

distribuição para garantir o controle e a qualidade da operação;

- A aplicação desta tecnologia induzirá a revisão dos processos operacionais

atuais nos CDs.

- Necessidade de alinhamento prévio das informações de produto em base de

dados específica para agilizar os processos operacionais e possibilitar a

comunicação entre participantes;

- Os sistemas operacionais (WMS, ERP) utilizados atualmente deverão ser

equalizados para processar as informações geradas pela aplicação da

tecnologia RFID;

- Elaboração de um processo diferenciado de colaboração e integração, que

preserve a identidade de cada participante e suporte o desenvolvimento da

iniciativa com foco específico nas questões de interesse comum da cadeia de

suprimentos;

6.6. Resultados obtidos e conclusão preliminar

O Pão de Açúcar teve como primeiro aprendizado, obtido no estudo piloto,

um levantamento dos principais pontos que devem ser considerados em um

projeto de RFID de forma a torná-lo um sucesso. Este sucesso depende

fundamentalmente de um conjunto de ações focadas no desenvolvimento de

conhecimento, na identificação de oportunidades e na colaboração entre os

membros da cadeia de suprimentos e para isso é necessário:

1) A participação e o envolvimento das diversas áreas internas,

colaboração e integração com parceiros na Cadeia de Suprimentos

visando o desenvolvimento da utilização da solução.

2) Fomentar processo de educação e desenvolvimento de conhecimento

da solução e da tecnologia utilizada.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 89: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

89

3) Mapeamento de oportunidades e demandas internas e na Cadeia de

Suprimentos, desenvolvimento e aprimoramento do Business Case.

4) Identificação dos pré-requisitos e principais desafios internos e

externos.

5) Desenvolvimento de testes práticos e pilotos com foco nas

oportunidades e demandas.

As principais conclusões obtidas até o momento são as seguintes:

• A avaliação de oportunidades indica que a solução RFID/EPC apresenta

benefícios claros para o Brasil, mas sua adoção deverá ocorrer em um

horizonte de tempo mais longo se comparado a EUA e Europa.

• Existência de ajustes no aprimoramento dos processos de gestão da cadeia

de suprimentos, independente da adoção da solução RFID/EPC.

• A menor escala de operação e o baixo valor unitário médio agregado dos

produtos, em conjunto com o custo mais alto da infra-estrutura, são

características do mercado brasileiro, que atuam de modo contrário gerando

um maior desafio para a adoção da solução de RFID/EPC no curto prazo.

• Finalmente o alto custo do capital tem impacto negativo nos investimentos

necessários, porém contribui favoravelmente na avaliação dos benefícios

provenientes da redução de estoque e aumento da venda.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 90: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

7. Conclusão e considerações finais 7.1. Aspectos gerais

A principal intenção do autor neste trabalho foi mostrar como a tecnologia

RFID está contribuindo como um meio eficaz de leitura e condução de dados e

informações agregando valores em processos logísticos de diferentes segmentos

industriais e o seu vasto potencial de aplicação e uso. Nesse sentido, a visibilidade

e a rastreabilidade das operações aparecem como destaque na busca da excelência

operacional com os seus efeitos em toda a cadeia de suprimentos.

Os estudos de casos apresentados demonstram a confiança das empresas

de diversos segmentos industriais nesta solução e a forte tendência das indústrias

em incorporar alternativas tecnológicas em seus processos que possam contribuir

na realização com alta performance na execução das suas atividades operacionais

e consequentemente influenciando positivamente o desempenho de toda a cadeia

de suprimentos.

É importante, segundo Hill (2004), que a adoção da tecnologia de RFID

por uma Empresa, considerando-se todos os custos relativos de mudanças físicas

na operação, na infra-estrutura de rede e interfaces (softwares, hardwares e

integração) venha precedida de um estudo piloto. O forte monitoramento deste

estudo é condição fundamental para minimizar riscos, ou pelo menos, definir os

desafios associados à implantação da nova tecnologia. Atenção especial deve ser

dada em realizar alguns passos iniciais como: fazer um levantamento do perfil das

operações, refinar o processo e a infra-estrutura e determinar as necessidades dos

parceiros. O desenvolvimento destes passos traz como conseqüência imediata uma

base mais realística para avaliação objetiva e potencial da RFID e sistemas

relacionados. Como pudemos observar no presente trabalho, todos os estudos de

casos apresentados, à exceção da Mercedes Benz onde o piloto foi em Rasttat na

Alemanha, são estudos pilotos nas Empresas cujos objetivos se encaixam nos

descritos em Hill (2004).

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 91: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

91

Na próxima sub-seção o autor visa dar maior visibilidade às contribuições

identificadas pelas Empresas no uso da tecnologia de RFID nos estudos de caso.

7.2. Abordagem sobre os estudos de casos

7.2.1. Flexibilidade, automação e acuracidade na produção: caso Mercedes Benz

No estudo de caso da indústria automobilística (DaimlerChrysler - fábrica

de Juiz de Fora - Mercedes Classe A), o foco principal da Empresa na adoção da

tecnologia de RFID foi buscar a maior flexibilidade, automação e acurácia dos

dados nas suas operações na área de montagem. O fato da identificação dos carros

aos respectivos compradores e concessionárias ser somente na fase final da linha

de montagem bruta e pintura, devido a introdução da etiqueta de RFIDno início da

montagem bruta, permite uma flexibilidade necessária para dar aos consumidores

a garantia de atendimento do carro escolhido no prazo em caso de qualquer

imprevisto que possa ocorrer com a carroceria. O nível de automação da pintura e

o eficiente sistema de identificação do chassis do automóvel, sem a presença

humana, dão um grau de acuracidade das informações e desenvolvimento de

processos industriais bastante superior às linhas de montagem convencionais. Os

benefícios apurados e o benchmarking desta solução para o Grupo

DaimlerChrysler indicam a certeza de uma boa escolha.

Outro estudo neste segmento que vem apresentando diversos benefícios é

o da fábrica da Volkswagen em São José dos Pinhais (PR), onde a cadeia

produtiva da fábrica permite a montagem do Audi A3 em até 05 horas. O item

chave da cadeia de suprimento - O FIS (Sistema de Gerenciamento de Fábrica) – é

responsável pelo registro e gerenciamento de todos os processos, desde os pedidos

nas concessionárias até a medição dos resultados dos testes realizados quando os

carros ficam prontos. O sistema utiliza da tecnologia de RFID na realização das

diversas operações ao nível de chão de fábrica (Nogueira, 2003).

Ambos os casos comprovam o uso eficaz desta tecnologia no processo

produtivo da indústria automotiva, porém ressalvas devem ser feitas quando o

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 92: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

92

produto em questão possui um valor agregado pequeno. No caso de um

automóvel, o custo da etiqueta de RFID é irrelevante quando comparado ao valor

do produto, o que não acontece na indústria varejista de modo geral, como foi

visto no caso da Unilever. Como conseqüência a solução RFID da Unilever foi

diferente da adotada pela Mercedes – Benz.

7.2.2. Rastreabilidade e controle de ativos nas operações de distribuição e logística reversa: caso White Martins

No estudo de caso da White Martins o objetivo principal foi aplicar a

solução RFID nas suas operações de distribuição de cilindros, focando as

atividades de enchimento, testes, armazenagem e distribuição de cilindros de alta

pressão para dar maior rastreabilidade, controle e agilidade nas operações de

distribuição destes ativos e na logística reversa. A maior visibilidade na operação

dos processos produtivos de gases comprimidos até a distribuição final no cliente,

com a identificação automática através das etiquetas de RFID em diversos pontos

da cadeia de suprimentos, além de permitir maior controle dos ativos envolvidos

(cilindros e acessórios), automatiza a operação, evitando falhas ou possíveis erros

no processamento de documentação específica da operação, aumentando a

garantia dada ao produto desde a sua concepção até a entrega ao consumidor final.

O pós-venda é outro ponto que a Empresa prima pela eficiência. A adoção desta

tecnologia promoverá um nível de rastreabilidade de informações de seus

produtos e mercado jamais conseguido. Apesar da interrupção dos testes em 1995,

a tecnologia RFID mostrou-se confiável e agregou valor a operação, sendo

paralisado por motivos de viabilidade financeira, uma vez que aquela época os

valores da etiqueta de RFIDe do hardware utilizado ainda não compensavam a

utilização em escala nas operações da Empresa. Com o desenvolvimento e

aprimoramento acentuados nos últimos anos das etiquetas de RFIDe seus

componentes (hardwares e softwares) a Empresa volta, novamente, a priorizar o

estudo da aplicação desta tecnologia nas suas operações de distribuição e logística

reversa.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 93: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

93

7.2.3. Otimização e agilidade nas operações de Centro de Distribuição: caso Unilever

O emprego desta tecnologia em Centros de Distribuição (CDs) tem

mostrado ser uma das grandes oportunidades atuais de promover uma mudança

nos padrões atuais que normalmente têm sido adotados nos CDs (código de

barras) para facilitar o desenvolvimento das operações. O estudo de caso da

Unilever indica que a utilização da RFID nestas operações tem contribuído

fortemente na obtenção de níveis de performance bastante elevados em relação às

etiquetas de código e barras. A maior agilidade no endereçamento dos produtos,

facilidade de rastreabilidade de pallets e produtos, confiabilidade dos dados,

rápida elaboração de inventários, maior facilidade na troca de informações com

parceiros na cadeia de suprimentos são exemplos deste aumento de produtividade

e incentivam cada vez mais as Empresas aderirem a RFID como uma alternativa a

ser utilizada para ter suas operações monitoradas por sistemas que utilizam esta

tecnologia.

Distintamente do caso da Mercedes Benz, onde as etiquetas de RFID são

afixadas nos veículos e neles permanecem até o fim do ciclo de vida do produto,

na Unilever as etiquetas de RFID são anexadas aos pallets ao invés nas caixas dos

produtos. Com isso a etiqueta continuará na posse da Unilever e a análise de

monitoração dos produtos no elo da cadeia continua sendo possível, porém de

forma agregada (em pallets) e não individual (por caixa do sabão Omo).

Obviamente, aí se estabeleceu uma relação de custos x valor agregado, ou seja,

produtos com maior valor agregado têm, atualmente, melhor possibilidade de

aplicação individual da etiqueta inteligente, uma vez que, ainda, os custos

incorridos da infra-estrutura necessária para a utilização plena desta tecnologia

são elevados. Também pudemos observar que, por questões de avaliação de

custos, os leitores de RFID, foram instalados nas empilhadeiras (menor número),

em vez de serem instaladas nas docas (maior número). No entanto, na literatura

corrente, é comum se fazer um prognóstico bastante otimista com relação a

redução drástica destes elementos ao longo de mais alguns poucos anos, o que

provocará o rastreamento individual de cada item de menor valor agregado.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 94: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

94

7.2.4. Avaliação de oportunidade para utilização na cadeia de suprimentos: caso Pão de Açúcar

O estudo de caso referente ao projeto piloto do Pão de Açúcar tem como

foco os processos de recebimento e de expedição na troca de informações

compartilhadas referentes à movimentação de pallets etiquetados em uma parte da

cadeia de suprimentos. O grande ponto a ser realçado neste caso é a inclusão de

várias empresas de forma direta no projeto do RFID. Enquanto que nos demais

casos foram incluídos apenas a empresa responsável pelo projeto, o projeto piloto

do Pão de Açúcar incluiu ainda a Procter&Gamble/Gillete e a Chep. No caso da

Mercede-Benz, os fornecedores estão ligados apenas de forma indireta no projeto,

pois o uso do sistema RFID transmite para o parque de fornecedores as

informações em tempo real da seqüência de montagem final de forma a viabilizar

um fornecimento JIS (Just-in-Sequence). Estes fornecedores não precisaram

investir no sistema de RFID, como na compra de leitores e antenas. O mesmo

acontece no caso da White Martins. Na Unilever a cadeia utilizada em seu projeto

piloto incorpora apenas membros internos (fábrica da Unilever e seu CD) e um

membro de suporte operacional (operador logístico).

7.2.5. Abordagem geral

Considerando os potenciais benefícios no uso da tecnologia RFID que

podem ser apurados nos processos das Empresas, como a melhoria no

planejamento da demanda, o acompanhamento dos pedidos ao longo da cadeia de

abastecimento, o rastreamento das unidades logísticas ao longo dos processos

internos, a maior produtividade e agilidade da força de trabalho na recepção,

armazenagem, separação e expedição, é factível que melhorias operacionais sejam

obtidas. Em seguida são listadas algumas dessas importantes melhorias:

1) Aumento de Vendas e Margem – provenientes de aumentos na

disponibilidade de produtos, redução no nível de rupturas;

2) Redução de Custos logísticos – características da tecnologia RFID,

como a sua precisão e velocidade de processamento dos dados,

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 95: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

95

permitem um aumento na eficiência da força de trabalho, redução nos

custos de armazenamento, movimentação e transporte. Através da sua

capacidade de permitir a rastreabilidade e alta visibilidade operacional

dos produtos nos processos industriais, propicia redução das perdas de

inventário, favorecendo a diminuição dos custos de manutenção do

nível dos estoques além de proporcionar maior eficiência nos custos de

recall e de assistência técnica.

3) Redução de Ativos – devido ao aumento da produtividade na utilização

dos ativos (empilhadeiras, pallets, etc) e melhor grau de utilização das

instalações.

Pelos resultados preliminares encontrados nas Empresas abordadas e a

forte tendência na comprovação das suas potencialidades, o RFID mostra que

poderá contribuir positivamente com as Empresas na obtenção de processos

mais eficientes gerando vantagem competitiva.

Adicionalmente, estas melhorias operacionais podem ser verificadas

estabelecendo diversos indicadores de performance. Como referência para

consulta ver site ECR GlobalScore Card (www.globalscorecard.net).

7.3. Contribuição para o CPFR (Controlling Programming and

Forecasting Replenishment)

De acordo com a teoria sobre gestão da cadeia de suprimentos, o fluxo de

informações circula pelos elos da cadeia e é este fluxo que possibilita integrá-los,

a despeito dos objetivos conflitantes entre as várias partes do todo (SIMCHI-

LEVI et al., 2000). Tais conflitos caracterizam pelas diferentes percepções sobre o

negócio pelos membros da cadeia de suprimentos, cuja concepção tende a ser

própria de cada organização. Como destacam Simchi-Levi et al, (2000) este rol de

expectativas, incluem-se os objetivos dos varejistas, os quais se traduzem em lead

times mais curtos nos pedidos bem como na eficiência e na acurácia das entregas,

e os desejos do cliente, que demandam a disponibilidade dos itens em estoque,

grande variedade de produtos e preços baixos. Nesta perspectiva, a criação de

valor para o cliente final é uma combinação de eficiência, efetividade e relevância

por parte das organizações componentes da cadeia de suprimentos. A eficiência

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 96: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

96

traduz-se pelos ganhos em economia de escala; a efetividade está nos

relacionamentos dos canais em prover ganhos pela economia de escopo; e a

relevância está em prover exatamente o que ele precisa para atender às

expectativas pessoais ou do seu negócio (Bowersox et al., 2000). Para garantirmos

o alcance destes três aspectos passa, entre outras coisas, pela utilização de

tecnologia de informação pela cadeia de suprimentos.

Então ao considerarmos que o uso de etiquetas de RFID possibilita a obtenção de

informações precisas em termos de estoques e do gerenciamento de pedidos, entre

outros aspectos, podemos admitir que a partir do momento em que os elos da

cadeia – fornecedores e varejistas, bem como os elos intermediários, como é o

caso dos operadores logísticos e transportadores – adotarem o RFID, as relações

entre eles devam ser mais estreitas e evoluam para relacionamentos mais

colaborativos que permitam maior efetividade da cadeia. Como a tecnologia RFID

é ainda pouco difundida entre as Empresas Brasileira, o uso das etiquetas de RFID

para identificação por rádio freqüência suscita uma série de questionamentos em

termos de seus reais potenciais, do custo do investimento – o qual ainda é visto

como muito alto pelas Empresas -, do seu retorno e das implicações éticas da sua

utilização. Segundo Sousa (2004), a cautela parece ser a palavra de ordem entre as

Organizações, embora grandes redes de varejo que atuam no mercado brasileiro já

estejam fazendo grandes investimentos para a adoção desta tecnologia e forçando

os seus fornecedores a fazerem o mesmo.

7.4. A questão da violação de privacidade

Embora haja uma grande expectativa que, com a aplicação dessa

tecnologia, enormes benefícios possam ser obtidos para toda a cadeia de

suprimentos, incluindo o consumidor final, levando-se em consideração a

qualidade obtida pelo nível de rastreabilidade do produto desde a sua fase de

manufatura, tempo de armazenamento e condições de transporte, surgem questões

sobre invasão de privacidade levantadas por algumas entidades sem fins

lucrativos.

Sob este ponto de vista, o cúmulo da invasão de privacidade provém de

fatos ligados ao forte rastreamento de hábitos e consumos de clientes advindos do

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 97: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

97

uso das etiquetas de RFID em seus produtos por parte dos varejistas. Questões

como “Qual o limite de rastreamento dos produtos?” têm sido assunto objeto de

discussões em diversos fóruns a nível mundial, principalmente na Europa e

Estados Unidos. Essas críticas têm causado alguns movimentos contrários à

tendência do uso de RFID em toda a cadeia de suprimentos fazendo até com que

algumas Empresas recuem e aguardem maior clareza e alinhamento com relação

às decisões de grupos envolvidos na discussão sobre conceitos e objetivos desta

tecnologia. Estes grupos têm, além de representantes de grandes Corporações

como o Wal Mart, MetroGroup, Target, Tesco, Home Depot, CocaCola, e outras,

membros do Auto-Id Center, CASPIAN1 e da AIM. O CASPIAN, por exemplo,

tem atuado firmemente contra qualquer propósito que permita o rastreamento,

pelos lojistas, de hábitos e consumos de seus clientes, como, por exemplo, pelo

uso de cartões de fidelidade supermercadistas (Albrecht, 2005).

Segundo Ferreira (2004) o Auto-ID Center tem se concentrado na adoção

de três princípios básicos para se manter a privacidade dos consumidores. São

eles:

1) Consumidores e clientes precisam ter conhecimento dos produtos com

etiquetas inteligentes, bem como a localização dos leitores;

2) Deve ser direito de clientes e consumidores a desativação das etiquetas

de RFID de forma permanente sem custos ou penalidades;

3) Consumidores devem ter o direito de comprar produtos com EPC sem

que suas informações pessoais sejam associadas ao código do produto.

Com base nessas questões, várias perguntas estão sendo formuladas: como

identificar os produtos com etiquetas inteligentes? Como desativá-las na saída

(check-out)? Enquanto essas questões são debatidas, advogados de entidades de

defesa da privacidade continuam questionando as empresas que estão

experimentando o uso da tecnologia. Algumas empresas, como a Procter &

Gamble, vão mais adiante e já criaram uma diretoria de privacidade (Nuttall,

2004). O grupo varejista britânico Marks & Spencer já informou que anexará as

etiquetas de RFID nos produtos de modo que elas possam ser facilmente

removidas após sua aquisição.

1 C.A.S.P.I.A.N (Consumers Against Supermarkets Privacy Invasion Numbering), um dos mais relevantes grupos de defesa da privacidade dos indivíduos, fundado em outubro de 1999 por Katherine Albrecht

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 98: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

98

Apesar desse movimento contrário à invasão de privacidade ter muita

força nos Estados Unidos e Europa, no Brasil não foi encontrado, ao longo do

período desta pesquisa, organizações formais que tratem desse assunto. De

qualquer forma, é apenas mais uma questão que precisa ser considerada no escopo

da adoção da tecnologia.

7.5. Outros aspectos que impactam o uso pleno da tecnologia RFID

Muitas das indústrias que hoje estão implementando e testando a

tecnologia RFID, tem como meta a melhoria de seus processos logísticos. Além

da definição de como e onde se pode aplicar a tecnologia, é necessário estar

preparado para administrar uma alta quantidade de dados que são gerados numa

base contínua, tornando-se visível a necessidade de desenvolvimento de softwares

capazes de fazer a total exploração dos mesmos. Basicamente, o que é requerido é

a capacidade de extrair a informação pertinente destes dados e inteligentemente

fazê-la circular através da cadeia de suprimentos. Essa capacidade das empresas

em administrar um volume muito grande de dados que já vêm sendo fortemente

abordada e deve ser fonte de atenção para as Empresas interessadas na tecnologia

RFID. Por exemplo, para se ter uma idéia do tamanho de dados a serem

manuseados, apenas na rede de varejo Wal-Mart, estima-se a geração de milhões

terabytes por dia em suas 3,5 mil lojas nos Estados Unidos (Nisiyama, 2004).

Outro aspecto que merece atenção é a carência, ainda, de padrões

universais tais como: especificações de etiquetas, alocação de freqüências e

sistemas de comunicações, com os quais as Empresas possam realizar a inter-

operacionalidade dos dados com um mínimo de duplicação de recursos. Sem um

padrão global no mercado, é difícil encontrar um espectro de freqüências

adequadas que possam ser usadas universalmente para o RFID. A maioria dos

sistemas de RFID atualmente em uso é baseada em sistemas próprios e são

limitados em termos de seus escopos na cadeia de suprimentos.

Outro grande aspecto a considerar na adoção do RFID é o custo.

Atualmente a grande maioria das etiquetas de RFID passivas é vendida por cerca

de 50 centavos de dólares e das etiquetas ativas por valores acima de US$ 5.00 a

unidade dependendo de sua memória, tipo (R/O, R/W, Worm) e da freqüência de

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 99: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

99

trabalho (Srisvastava, 2004); como a estrutura de preço também está diretamente

ligada ao volume produzido (economia de escala), existe uma expectativa de que

nos próximos anos, a maioria das etiquetas de RFID disponíveis na cadeia de

suprimentos é do tipo passiva e considerando a atual demanda crescente,

atingindo a alguns bilhões de etiquetas por ano, os preços cairão fortemente.

Podemos citar como exemplo de organizações que estão demandando, atualmente,

quantidades elevadas de etiquetas de RFID para a sua operação, o grupo Wal-Mart

e o D.O.D (Department of Defense) dos EUA. Portanto recomenda-se fazer uma

avaliação do ROI (retorno do investimento), comparativamente ao código de

barras, observando e contabilizando os trade-offs existentes entre as duas

tecnologias disponíveis.

Mais um aspecto, não menos importante que os outros, trata de problemas

técnicos que ainda existem com o nível atual da tecnologia de RFID. Por exemplo,

containers de metal, cilindros de aço, têm a propensão de dispersar as ondas de

radio, enquanto que produtos como detergentes líquidos tendem a absorvê-las.

Interferências de outros meios de comunicação sem fio e redes também podem

causar problemas técnicos, afetando a confiabilidade dos leitores. Muitas

Organizações estão trabalhando nestes problemas e alguns já estão perto de uma

solução adequada.

Finalmente, acredita-se que o uso em escala total da tecnologia de RFID,

na maioria das cadeias de suprimentos, fornecerá convincentes benefícios e

vantagens competitivas. Entretanto, é vital para as Companhias, iniciarem a

exploração de aplicações específicas desta tecnologia, em suas cadeias de

suprimentos com um estudo piloto. O objetivo seria para obter um maior

entendimento da Tecnologia e adquirir competências nesta área. Projetos iniciais

teriam como alvo áreas onde o rastreamento de produtos provavelmente

forneceria os maiores benefícios. Por exemplo, estas áreas poderiam ser em áreas

ou produtos com excessivo nível de inventários, reduções substanciais de itens do

inventário, falhas ou alto nível de stockouts (falta de produto nas prateleiras).

Padrões globais, custos e integração com sistemas de informações

empresariais, serão as necessidades chaves para se obter uma total integração nas

cadeias de suprimentos gerenciadas com a tecnologia RFID. As barreiras

tecnológicas rapidamente estão sendo ultrapassadas, mas ainda é alto o

investimento em todos os níveis da cadeia. Embora movimentar-se rapidamente

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 100: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

100

em um ambiente competitivo seja importante é imperativo que os objetivos dos

negócios também sejam completamente bem definidos. A tecnologia de RFID,

como agente fomentador da integração das cadeias de suprimentos, somente

alcançara êxito no potencial de gestão da cadeia, se no longo prazo todos os

parceiros que a constituem forem capaz de obter benefícios dela.

Este trabalho, também pretende servir como estímulo para o

desenvolvimento de outras pesquisas sobre este tema, o qual esta despertando em

diversos tipos de organizações públicas ou privadas, a nível mundial, interesses

cada vez maiores, levando-se em conta a diversidade de aplicações e a gama de

benefícios provenientes da gestão criteriosa das inúmeras informações geradas

neste processo.

Considerando a carência atual de pesquisas sobre este assunto, como

sugestão para futuros trabalhos, podemos propor seja estudado modelos de

estimativa de custos, levando-se em consideração, principalmente, as variáveis da

tecnologia de informação e a eficácia nas diversas formas de implementação do

projeto.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 101: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

8.

Referências Bibliográficas

AIMiBrasi. Disponível em: <http://www.aim.org.br,>. Acesso em: 03/04/2004. AKINCI, B., PATTON, M., ERGEN, E. Utilizing radio frequeny identification on precast concret components supplier’s perspective, Carnegie Mellon University, 2002. ALBRECHT,iKatherine.iRFID:iTrackingieverything,everywhere. Disponível em: <http://www.inocards.com> ie <iwww.boycottgillette.com/rfid>. Acesso em: 15/06/2005. BARROS, Mariana. Vigilância em Rede, Revista Isto É, coluna Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente, 16 de junho, 2004. BOWERSOX, Donald J.; CLOSS, David J. Logística Empresarial: o processo de integração da cadeia de suprimento. São Paulo, Editora: Atlas, 2001. CZAPSKI, Cláudio. Etiqueta Revolucionária. Junho,2003. Disponível em: <www.tecnologistica.com.br>. Acesso em 22/06/04. DIDONET, Simone Regina, CHERER, Flavia Luciane, LADEIRA, Marcelo Bronzo UFMG/FECE/2004. O RFID como uma oportunidade para estabelecer Relacionamentos Colaborativos na Cadeia de Suprimentos, SIMPOI São Paulo, SP, 2004. EAN Brasil. Disponível em: <http://www.eanbrasil.com.br>. Acesso em: 05/01/2004. ECRBrasil. Disponível em: <http://ecrbrasil.com.br>. Acesso em : 05/01/2004. FERNANDES 2004. rev. SuperHiper, março, 2004. FERREIRA, Gabriela Rodrigues. RFID: Avaliação de oportunidades, desafios e perspectivas do uso da tecnologia no Brasil, dissertação de mestrado, COPPE, 2004. FIGUEIREDO, Tâmara. Aplicações das tecnologias sem fio na logística, dissertação de mestrado, Departamento de Engenharia Industrial, PUC-RJ, 2004. GRAGG, Jeremy. The emergency of RFID – Technology in Modern Society, ECE 399H: Exploratory Paper, Oregon, 2003.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 102: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

102

HILL, John. RFID. A Identificação por Radio Freqüência – Um mapa da estrada agora e para o futuro, 2004. InteMobile. Disponível em: <http://www.intemobile.com>. Acesso em: 16/02/2004 MALINVERNI, Claudia. EPC: A Smart Label do Varejo, Revista Automação, maio de 2004, p. 8-14. MALINVERNI, Claudia. RFID é diferencial na produção do Mercedes-Benz Classe A, Revista Automação, julho de 2004, p. 8-16. MILLER, Steven P. What is RFID, Purdue University, 2000. NOGUEIRA, Juliana. Movido a Supply Chain, Revista Info Corporate, dez., 2003, p. 49-51. PINHEIRO, Jose Maurício Santos, RFID – Identificação por Radio-frequência, 1 de maio 2004. PIRES, Sílvio R. L. Gestão da Cadeia de Suprimentos. São Paulo, Editora: Atlas, abril 2004. RFID TECHNOLOGIES CC. Disponível em: <http://rapidttp.com/rfid>. Acesso em: 06/01/2005. ROBERTI, M. What Other Retailers Can Learn From Prada, Case Study RFID Journal. 2002 THOMAS, V. & SAAR, S. Toward Trash That Thinks: “Product Tags for Enviromental Management” Journal of Industrial Ecology, v. 6 n. 2, Massachusetts, 2003. SIMCHI-LEVI, David; KANINSKY, Philip; SHIMCHI-LEVI, Edith. Designing and managing the supply chain: concepts, strategies and case studies. Boston: Irwin McGraw-Hill, 2000. Seal. Disponível em: <http://seal.com.br>. Acesso em 12/08/2004. SOUZA, W. Radio-frequência: futuro antecipado. Disponível em: <http://www.abrasnet.com.br/super/agosto_2003_comp.asp>. Acesso em: 12/08/2004. SOUSA, Walter. Varejo que acelera projetos de etiquetas inteligentes, SuperHiper, março, 2004. Disponível em: <www.abrasnet.com.br>. Acesso em: 02/02/2005. SRIVASTAVA, Bharatendu. Radio Frequency ID tecnology: The next revolution in SCM, Business Horizons, Nov., 2004

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA
Page 103: Cícero Casemiro da Costa Nogueira Filho …livros01.livrosgratis.com.br/cp075204.pdfCícero Casemiro da Costa Nogueira Filho Tecnologia RFID aplicada à logística Dissertação apresentada

103

STANTON, Michael. A identificação por radio freqüência esta chegando, Jornal O Estado de São Paulo, coluna tecnologia, 22 de agosto de 2004. TEIXEIRA, S. Esta etiqueta é inteligente, Revista Exame, São Paulo, agosto. Ed. 823, n. 15, p. 100-101, 2004. THOMPSON, O. Supply Chain payoff with RFID. Food Engineering, n 4, p.119, 2004. VICS 2004. Voluntary Interindustry Commerce Standards – Voluntary Guidelinas. Disponível em: <http://www.cpfr.org>. Acesso em: 13/04/2005. WANT, Roy. RFID A Key to Automating Everything, Scientific American, p. 56-65, janeiro, 2004. ZINN,Walter. O Efeito de novas tecnologias na prestação de serviços logísticos. Trabalho apresentado ao XI Fórum Nacional de Logística e Seminário Internacional, RJ, 2003.

DBD
PUC-Rio - Certificação Digital Nº 0321250/CA