cavalguemos adiante...o lich rei”, disse ela. “engraçadinha como sempre, cristalba”, ironizou...
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Cavalguemos Adiante
ROBERT BROOKS
“Mograine.”
Pôr do sol. Violeta no horizonte. O sereno da noite se espalhava,
misturando-se aos fogos-fátuos gélidos que bruxuleavam ao redor da
necrópole.
“Mograine.”
O frio não o afetava. O frio só incomoda os vivos.
“Grão-lorde Mograine, o que houve?”
Através do nevoeiro que envolvia a fortaleza flutuante de Áquerus,
Dárion Mograine divisava as Ilhas Partidas, que se estendiam adiante. As
luzes reconfortantes de Suramar. A silhueta morta da Tumba de Sargeras,
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seu lume vil já apagado. O pico distante de Alta Montanha, a neve
reluzente e alaranjada pelos últimos raios de sol. Calmaria. Silêncio. Como
vinha sendo desde a derrota da Legião.
“Mograine, você ainda está ao nosso lado?”
Uma lâmina pressionava com firmeza a nuca do Grão-lorde. Bastava um
gesto e seus problemas se acabariam. Dárion Mograine virou a cabeça e
olhou nos olhos da mulher que empunhava a espada. “Por enquanto, sim”,
respondeu ele.
“Como posso ter certeza?”, perguntou Sally Cristalba, sem piscar os
olhos rútilos sob os cabelos brancos como a neve. Encontravam-se ao lado
dela um orc e um humano. Eles não fizeram menção de intervir. Sensato
da parte deles.
“Porque”, justificou Mograine, “eu ia justamente lhe pedir para me
ajudar a matar Bolvar Fordragon.”
A Presença dentro da mente de Mograine sequer esboçou reação. Isso o
surpreendeu. Mas as reações dos outros três o interessavam mais.
Thoras Matatroll fez um esgar e ficou cabisbaixo. Nazgrim resmungou
uma maldição órquica e cuspiu no chão. Cristalba só fez sorrir e abaixar a
arma. “Excelente. Não há nada que eu queria mais nesta vida do que matar
o Lich Rei”, disse ela.
“Engraçadinha como sempre, Cristalba”, ironizou Matatroll.
Mograine virou o rosto. Seu olhar recaiu sobre as ilhas, e ele se
permitiu contemplar uma última vez uma terra de paz. Um último
momento de serenidade. Então se voltou para frente, enterrando aquela
visão com o que ainda lhe restava de alma.
A serenidade não lhe serviria de nada agora.
“‘Porque’, justificou Mograine, ‘eu ia justamente lhe pedir para me ajudar a matar Bolvar Fordragon’”.
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“Nós precisamos conversar. Os Quatro Cavaleiros, a sós”, exclamou
Mograine. Ele se voltou para o orc. “Nazgrim, se me faz o favor.”
O orc se virou para a tripulação de Áquerus, grunhindo como um
sargento de treinamento em Orgrimmar. “Circulando. Circulando já. Não
me obriguem a me repetir, ou eu...”
Os subalternos mortos-vivos logo se puseram a partir, obedientes,
enquanto Nazgrim os tangia para fora. Aqueles que ainda conservavam
uma fagulha de inteligência já haviam se acostumado à forma de comandar
característica do orc. Os restantes — os que não foram reanimados pela
morte-viva com a mente ilesa, os que estavam condenados a ser o Flagelo
de Azeroth, não fosse a intervenção dos Quatro Cavaleiros — obedeciam
sem pestanejar, fossem as ordens berradas, enunciadas ou meramente
induzidas ao seu âmago.
Mograine deixou que Nazgrim se divertisse. Havia uma mesa de
comando não muito longe da janela. Desembainhou a lâmina — repleta
de inscrições rúnicas que ele teria achado uma blasfêmia em vida — e
colocou-a na mesa.
Os outros se juntaram a ele. Inclusive Nazgrim, passados alguns
minutos. Os olhos do orc cintilavam de entusiasmo. Toda alma perdia
parte de si na morte-viva, porém Nazgrim parecia grato por conservar o
amor pela autoridade. Compreensível, partindo de alguém que morrera no
posto de General.
O silêncio se instaurou no recinto. Por mais que não houvesse ninguém
nas redondezas para bisbilhotar os Quatro Cavaleiros, isso não lhes
garantia privacidade. Se Bolvar quisesse ouvir cada palavra fazendo-se
Presente na mente deles, Mograine duvidava muito que pudessem fazer
algo para impedi-lo.
Raios o partam, Bolvar, por que você não se explica?Mograine contemplava a lâmina, organizando as ideias. “Vocês sentiram
alguma coisa vinda do Lich Rei hoje?”, indagou ele. Era à Presença que ele
se referia. “Ordens, emoções avulsas, qualquer coisa?”
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Os outros três trocaram olhares. Matatroll foi quem respondeu
primeiro: “Nada. Talvez uma fagulha de raiva, depois mais nada.”
Nazgrim e Cristalba concordaram. Mograine fechou os olhos. “O que
vocês estão sentindo, partindo dele, agora?”
“Nada”, reafirmou Cristalba.
“Tente outra vez”, pediu Mograine. “Tente sentir qualquer coisa que
esteja partindo do Lich Rei. Vasculhe sua mente.”
Ela lançou-lhe um olhar intrigado, então fechou os olhos. Os outros
dois imitaram o gesto. Alguns momentos se passaram enquanto se
concentravam. “Nada ainda”, repetiu Nazgrim.
“Nada para vocês também?”, conferiu Mograine. Os outros dois fizeram
sinal afirmativo com a cabeça. “Então vou lhes dizer a verdade. Bolvar não
respondeu nenhuma das minhas perguntas quando o confrontei. Ainda
não faço ideia de por que ele nos isolou. Ainda não faço ideia do que ele
vem planejando. Eu exigi respostas, ou, no mínimo, uma promessa de
que ele continuaria a reter o poder do Elmo. Ele se recusou. Então eu...”,
hesitou Mograine, “eu o ataquei. Ou melhor, tentei atacar. Ele assumiu o
controle sobre mim e me forçou a voltar para cá. Só faltou nos desafiar a
enfrentá-lo juntos. Não é o Bolvar a quem juramos servir.”
O sorriso de Cristalba se desmanchou. O de todos eles. Nazgrim
apertou os olhos. “Ele dominou sua mente e deixou que você fosse
embora?”
“Deixou”, confirmou Mograine.
“Por que não destruiu você no ato?”
“Eu não sei”, respondeu Mograine com sinceridade.
Nazgrim resmungou alguma coisa que Mograine não conseguiu
entender.
Matatroll bateu na mesa com um dedo. O clangor metálico da manopla
reverberou pelo salão. “Será uma armadilha?”
“Eu não sei”, repetiu Mograine.
“Isso é muito estranho, Mograine”, comentou Matatroll. “Bolvar sabe
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que desconfiamos dele, e sabe
que não nos deixamos intimidar
facilmente. Agora ele confirmou
nosso maior temor: de que ele
tomaria o controle das nossas
mentes, se nós o traíssemos. Ele
não é tolo. Isso foi de propósito.”
Um sorriso cínico lampejou
no rosto de Cristalba. “Foi uma
ameaça. ‘Vocês vão me obedecer,
quer queiram, quer não.’”
“Pode ser”, considerou
Mograine. “Ou pode ser que não.”
Nazgrim tornou a praguejar.
Mograine estava ciente de que
seria difícil para eles aceitar aquilo.
Eles eram os Quatro Cavaleiros, os
tenentes de confiança do homem
que vinha contendo o levante dos
mortos-vivos. Mas nenhum deles
conhecia Bolvar Fordragon há tanto
tempo quanto Mograine. Nenhum
deles jamais tinha visto a prisão de
gelo de Bolvar até serem trazidos
de volta pela morte-viva. Nenhum
deles tinha buscado por anos a fio,
naquele mundo e no outro, uma
forma de livrar Bolvar daquele
dever terrível. Nenhum deles tinha
testemunhado a erosão do espírito
impávido e implacável de Bolvar
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Fordragon sob o poder corruptor inconcebível do Elmo, desgastando-o a
ponto de reduzir sua voz a um arquejo rouco e entorpecido de dor.
Mas praticamente no mesmo instante que se reergueram como os
Quatro Cavaleiros, passaram a partilhar das aflições de Mograine: de que
a decisão de Bolvar de usar o poder do Lich Rei para combater a Legião —
ainda que fosse apenas uma fração do vasto potencial do Elmo — poderia
abrir uma porta que jamais se fecharia.
“Vocês conquistaram o posto dos Quatro Cavaleiros de Bolvar graças ao
seu senso de dever e lealdade extraordinários, e eis que venho lhes pedir
que cometam o maior dos pecados: o pecado da traição. Venho lhes pedir
que matem Bolvar Fordragon, não por entendermos o que ele está fazendo,
mas justamente por não entendermos. Prometi a mim mesmo que não o
deixaria tornar-se o monstro que ele substituiu, por isso preciso tomar
uma atitude, ainda que eu fracasse.” Mograine apontou para a espada
sobre a mesa. “Bolvar me provou hoje que eu não tenho como resistir ao
controle dele. Se forem se unir a mim, guardem minha espada. Ela não
pode ficar nas minhas mãos.”
O veredito veio sem hesitação. “Pegue sua espada, Mograine”, disse
Matatroll. “Vamos precisar de você na batalha que está por vir.”
Nazgrim concordou com um grunhido: “Nós sabíamos que esse dia
chegaria. Cavalgaremos ao seu lado.”
Mograine se voltou para Cristalba. “E você?”
Ela limitou-se a sorrir.
Então estava decidido. Quisera eu poder fazer isso sozinho. A morte
havia furtado a Mograine — a todos eles — o caleidoscópio vibrante das
emoções mortais. Eles jamais sentiriam amor, alegria ou raiva da mesma
forma que os vivos. Mas Mograine havia combatido, ao lado daqueles três
Cavaleiros, a maior ameaça que Azeroth jamais enfrentara. No calvário
do combate, ele passara a conhecer e admirar seus espíritos impávidos e
corações implacáveis. Por obra do destino, do dever ou por mero acaso
eles haviam se tornado os Quatro Cavaleiros do Lich Rei.
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Haviam sofrido juntos, lutado juntos e vencido juntos. Tratava-se de um
vínculo que somente os soldados conhecem.
E ele os conduziria à derrocada. Não havia a menor dúvida. Quatro
subordinados do Lich Rei jamais poderiam derrubá-lo.
Mas eles estavam cientes disso também. E aceitaram sem hesitar. Nem
por um instante.
Uma passagem do incunábulo do pai veio-lhe à mente. Irmãos e irmãs, juntem-se a mim na batalha de agora, juntem-se a mim na vitória de agora, e juntos cavalgaremos rumo aos braços da Luz. O desejo de Mograine era
poupá-los daquela missão fadada ao fracasso. Devido ao vínculo que
possuíam, ele sabia que não seria possível. Independente do que fosse
acontecer.
“Então reúnam a tripulação. Mobilizem Áquerus”, instruiu Mograine.
“Nós cavalgaremos para Nortúndria. Cavalgaremos para a Coroa de Gelo.
Cavalgaremos pela última vez.”
A Aliança havia invadido Dazar’alor. Mataram o rei dos Zandalari e se retiraram. Os corpos de incontáveis guerreiros, tanto da Aliança quanto da Horda, jaziam pelas ruas.
“Tragam-me os corpos dos que morreram com honra”, comandou o Lich Rei.E assim foi feito. Com muito cuidado.Como era território da Horda, Nazgrim assumiu a liderança, recolhendo
histórias de heróis tombados e selecionando os candidatos. Fizeram todo o possível para passar despercebidos pelo loa das tumbas que vivia ali, pois ele ficaria um tanto desgostoso ao saber que tinha gente caçando na área dele. Nazgrim não estava bem certo de que tinham conseguido.
Depois partiram para Kul Tiraz. Depois para a Costa Negra. Para todos os campos de batalha importantes que encontraram. Alguns dos mortos haviam tombado confrontando entidades horripilantes saídas das profundezas, enquanto outros tombaram lutando pela terra natal. Alguns foram recolhidos
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subornando os mesmos zeladores e coveiros que os haviam enterrado, e o restante foi roubado sem mais nem menos de seus túmulos desprotegidos.
Era um trabalho sinistro e inquietante. Nazgrim às vezes confrontava Bolvar. “É melhor deixar os mortos descansarem na terra natal, entre os espíritos dos ancestrais”, rosnava o orc.
O Lich Rei não se deixava abalar. “Eu os domino para que outros não dominem.”
Outros? Nazgrim questionara a Mograine que história era aquela. Mograine não sabia ao certo. “Bolvar está de olho em Sylvana Correventos”, especulava o Grão-lorde. “Ele desconfia das intenções dela.”
A ideia de se opor a Correventos não chegava a incomodar Nazgrim. Sylvana ajudara a matá-lo, afinal. E ela nunca tinha sido a Chefe Guerreira dele.
Os cadáveres foram levados à Coroa de Gelo, onde foram enterrados com cuidado nos depósitos no subsolo da Cidadela, onde o frio não deixaria que apodrecessem.
Foi só quando Correventos abdicou do comando da Horda que o Lich Rei começou a reanimá-los com a morte-viva. Corpos e mais corpos inertes começaram a se remexer, a estremecer e, por mim, a se erguer numa nova existência de dor, tormento e poder.
O Lich Rei saudou esses novos cavaleiros da morte com uma tarefa simples: “O poder da morte se expande. Ergam-se e tornem-se meus campeões.”
Nazgrim achou que passaria anos treinando-os para que pudessem
“Nazgrim contou aos outros Cavaleiros. Eles estavam tão preocupados quanto ele. Por que Bolvar vinha reunindo o Flagelo na Coroa de Gelo em segredo, enquanto mandava para longe todos os mortos-vivos que poderiam vir a
questioná-lo?”
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manipular o novo poder, mas quase todos foram mandados de volta para suas respectivas terras e seriam forçados a encontrar o próprio caminho em um mundo que os temia e desprezava. Nazgrim não conseguia conceber a ideia de mandar recrutas recém-chegados para a guerra sem sequer tentar ensiná-los como sobreviver. Um dia, ouviu Mograine confrontando Bolvar a respeito disso.
“Até Arthas treinava os novos escravos”, provocou Mograine.“Eu não sou Arthas”, retrucou Bolvar. “Eles não são escravos.”“Justamente”, insistiu Mograine. “Nós somos amaldiçoados. Sofremos
todos os dias. E nosso único prazer é infligir dor e morte aos vivos. Sem o controle estrito de Arthas, a maior parte de nós teria se entregado à selvageria. Algumas dessas almas não vão durar muito tempo soltas por aí, e pode ser que machuquem inocentes antes de tombarem.”
A resposta de Bolvar foi fria: “Um risco necessário.”Com o passar das semanas, no entanto, outra coisa começou a incomodar
Nazgrim. Parecia que o Flagelo vinha sendo atraído para a Cidadela da Coroa de Gelo. Embora os cavaleiros da morte estivessem sendo mandados embora, as fileiras do Flagelo na Coroa de Gelo só engrossavam. A primeira vez que Nazgrim reparou nisso foi ao ver um punhado de mortos-vivos desgarrados escavando um monte de neve e se cobrindo para se esconder. Logo o orc sairia metendo a mão em cada montículo de neve que via — às vezes nada revelando e, em outras, revelando um bando de mortos-vivos de olhos fitos nele.
Tratava-se dos descerebrados. Só fariam aquilo mediante ordens. Ao questionar Bolvar, a resposta que Nazgrim recebeu foi: “Não é da sua conta”.
Nazgrim contou aos outros Cavaleiros. Eles estavam tão preocupados quanto ele. Por que Bolvar vinha reunindo o Flagelo na Coroa de Gelo em segredo, enquanto mandava para longe todos os mortos-vivos que poderiam vir a questioná-lo?
Áquerus estava a caminho. As Ilhas Partidas já tinham ficado para trás,
restando para se ver apenas as estrelas, as nuvens e o mar levemente
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enluarado.
Era a primeira vez em muitos anos que a fortaleza voadora se
deslocava. Enquanto urrava ordens para a tripulação morta-viva nos
níveis superiores, Nazgrim se perguntava o que estariam pensando os
shal’dorei em Suramar ao vê-los zarpar. Ele se perguntava se os batedores
na Alta Montanha estariam mandando relatórios para Orgrimmar naquele
exato instante, comunicando a eles que a Lâmina de Ébano estava em
movimento. Ele se perguntava o que a Horda faria a respeito.
Se forem espertos, vão dobrar as defesas e se preparar para uma invasão,
refletiu Nazgrim. A volta de Áquerus para a Coroa de Gelo não podia ser
boa coisa. Thrall, o Conselho da Horda ou quem quer que estivesse no
comando tinha que ter essa noção.
Nazgrim fizera questão durante a guerra contra a Legião de evitar
os rumores e notícias da Horda. Não por falta de curiosidade; o medo
dele era sentir curiosidade demais. Ele morrera defendendo um Chefe
Guerreiro para lá de tirano. Quando foi reerguido como cavaleiro da
morte, soube do que aconteceu depois: da Horda de Ferro, do retorno
da Legião. Tudo isso, consequências do orgulho de Grito Infernal.
Consequências da lealdade de Nazgrim.
Ele morrera cumprindo seu juramento. Morrera pela Horda. No
entanto, aquelas consequências ainda o inquietavam. Por isso ele tentava
não pensar no assunto.
Durante a Quarta Guerra, enquanto viajava pelas terras da Horda
em busca de... recrutas decentes, ele não teve como não ficar a par das
atribulações da Horda. Viu seu povo depor outro monstro, e não tinha
permissão para ajudar. Foi estranho se dar conta de que ele queria, ainda
que fosse só um pouquinho.
Os olhos de Nazgrim recaíram sobre uma forja rúnica, apagada e
silenciosa. Não fulgurava nela aquele fogo violeta corrompido, como devia
ser às vésperas da batalha. Nos entornos, três lacaios do Flagelo imóveis,
cabisbaixos.
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Nazgrim preparou a velha voz. Sua voz de General.
“Ao trabalho”, rugiu ele. “Se minha lâmina se partir em batalha, vou ter
que ficar horas esperando os preguiçosos atiçarem o fogo e aquecerem a
forja? Se eu pegar vocês fazendo corpo mole outra vez...”
A voz de Nazgrim foi sumindo. Os três lacaios já tinham se posto ao
trabalho, comandados mais pelo ímpeto do que pelas palavras do orc.
Labaredas arroxeadas começaram a tremeluzir na fornalha. Ele estava
desperdiçando saliva. Não há prazer em bradar ordens a alguém incapaz de desobedecer, pensou.
Deu as costas à cena. Havia outras tarefas a cumprir.
Quando desceu aos níveis inferiores de Áquerus, deparou-se com
Thoras Matatroll à sua espera. “Saudações, Milorde”, cantarolou o orc,
ajoelhando-se em uma imitação caricatural daquele estranho gesto
humano que chamavam de mesura.
“Zug-zug, General” respondeu o humano com um suspiro impaciente,
como quem participa de uma piada velha por pura obrigação. “Mograine
me pediu para procurá-lo. Diz ele que nenhum de nós quatro deve
permanecer sozinho até a batalha.”
“Por quê?”
“Caso Bolvar tente nos impedir. Pode ser que precisemos da ajuda uns
dos outros.”
Caso a Presença acachapante do Lich Rei esmagasse suas mentes e os
transformasse em marionetes, era o que ele queria dizer. Nazgrim soltou
um grunhido. A única forma que tinham de impedir aquilo era matando
uns aos outros antes que perdessem o controle. Ele enfrentara e matara um
bom bocado de membros do Flagelo em Nortúndria, e jamais se esqueceria
do olhar vago naqueles rostos antes de tombarem. Prefiro morrer outra vez a me tornar um escravo como eles. “Você acha que ele vai fazer isso?”
“Ele não fez ainda”, considerou Matatroll, com calma. “Pode ser que
nem venha a fazer. Ou pode ser que ainda estejamos longe demais da
Coroa de Gelo. Se ele fizer isso e você ainda estiver em condições de
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brandir seu machado, você faria o favor de cortar minha cabeça?”
“Um punhal no meu peito primeiro e negócio fechado”. Nazgrim
apertou o antebraço do humano com firmeza. Era um gesto de
camaradagem comum entre os soldados de Stromgarde, aparentemente.
O velho Rei humano e o General orc haviam de fato se tornado amigos,
embora tenham levado um tempo para superar as rixas de suas vidas
pregressas. Nazgrim passara muito tempo nos campos de concentração
dos humanos; Matatroll clamara publicamente que cada orc naqueles
campos fosse executado.
Depois, o homem voltou atrás e reconheceu o erro. Nazgrim imaginava
que aquela era uma das qualidades que fizeram dele um governante tão
amado pelo seu povo.
Caminharam juntos pela Fortaleza de Ébano, inspecionando os muitos
membros da tripulação com suas incontáveis tarefas para manter a
fortaleza no ar e em movimento. Por fim, Nazgrim fez a pergunta que não
lhe saíra da cabeça a noite toda.
“Se tivermos que matar Bolvar, quem vai envergar o Elmo no lugar
dele?”
“Não sei”, respondeu Matatroll. “Essa coroa, eu não quero.”
“E se você for o último homem em pé?”
Matatroll balançou a cabeça. “Muito improvável.”
“Ainda assim. O que você faria?”
Matatroll interrompeu a caminhada e lançou um olhar firme a Nazgrim.
“O que for preciso para proteger Azeroth. Concentre-se na vitória
primeiro, orc. Duvido muito que vamos sobreviver.”
Nazgrim deu de ombros. “Bolvar poderia ter matado Mograine na
Coroa de Gelo. Mas não matou”, considerou o orc. “Talvez uma parte dele
queira que nós venhamos findá-lo. Talvez ele deixe isso acontecer.”
“É possível.” Matatroll não tirou os olhos de Nazgrim. “Mas o último
Lich Rei não atraiu os maiores guerreiros do mundo ao seu trono de
propósito? Uma armadilha da qual só escaparam por um triz?”
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De súbito, abriu-se um poço de incertezas no âmago de Nazgrim. Ele
não havia considerado a possibilidade. Foi por isso que Bolvar deixou que Mograine voltasse? Para atrair nós quatro ao Trono de Gelo, onde seu poder é mais forte, e dominar todos nós de uma tacada só?
Não, decidiu ele após um instante. “Bolvar não tem essa intenção”,
afirmou Nazgrim.
“Você parece muito certo disso.”
“Eu estou”, confirmou Nazgrim. “Eu vi os planos de batalha dele em
Nortúndria. Ele tem astúcia, não usaria a mesma estratégia duas vezes.
Muito menos uma que falhou na primeira tentativa.”
Matatroll refletiu sobre o argumento e aquiesceu. “Bem pensado.
Mas a única conclusão que podemos tirar disso é que nós não estamos
preparados para o que ele está tramando.”
Isso era verdade. A incerteza de Nazgrim se cristalizou em forma de
receio, a coisa mais próxima do medo que a morte-viva lhe permitia sentir.
No momento em que Mograine fizera sua declaração, Nazgrim já estava
ciente de que os quatro provavelmente seriam destruídos pelo Lich Rei.
Até aí, tudo bem. Ele já havia morrido em batalha uma vez. Há sinas piores, pensou ele. O nada absoluto ainda era preferível à escravidão.
Era o desconhecido que lhe dava nós nas tripas. Dois exércitos
determinados haviam atacado o último Lich Rei e quase perderam. Que
chance poderiam ter quatro guerreiros? Mograine tinha acabado de
confirmar que eles eram vulneráveis ao poder do Elmo. Se fracassassem,
teriam os exércitos da Horda e da Aliança, deixados em frangalhos pela
última guerra, forças para terminar o serviço?
Incógnitas. Incertezas. Nazgrim ainda tinha a ideia louca de que Bolvar
não era inimigo deles, e isso o preocupava. Talvez houvesse um problema
fundamental na sua capacidade de julgamento. Mas ele não ia sugerir que
voltassem atrás. O confronto responderia a todas as suas dúvidas, de um
jeito de ou de outro.
“Você hesitaria em matá-lo?”, indagou Nazgrim.
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“Eu jurei defender Azeroth, não Bolvar”, limitou-se a responder
Matatroll.
O orc retomou a patrulha. Matatroll acompanhou seus passos lado a
lado.
Ao chegaram a uma das amuradas de Áquerus, viram o céu coberto de
nuvens ao noroeste. A Coroa de Gelo ficava naquela direção, muito além
do horizonte. Nazgrim sentia a presença dela. Seria capaz de apontá-la de
olhos vendados, firme e inabalável, erguendo-se como um farol invisível.
Nazgrim não sentia uma comichão sequer da Presença desde o regresso de
Mograine. Era como se o Lich Rei tivesse cortado o contato com eles.
Porém ela continuava lá. À espera.
“Ele deve saber que estamos a caminho”, sugeriu Nazgrim.
“Também acho.”
“Você conversou com ele mais do que eu”, disse o orc. “Bolvar é mesmo
caso perdido? Ou pode ser que ainda tenha salvação?”
Matatroll ficou calado por alguns instantes. Nazgrim deixou que ele
organizasse as ideias sem comentar nada. Por fim, o homem disse num
tom suave: “Trata-se de um líder com um dever dos mais terríveis. Creio
que sua intenção seja carregar esse fardo até ser esmagado por ele”.
Thoras Matatroll encontrava-se sozinho diante do Trono de Gelo. Acima, no pico da Cidadela da Coroa de Gelo, dois olhos de fogo cintilavam de dentro do Elmo da Dominação, envoltos pelo azul do gelo.
A voz do Lich Rei, profunda como os abismos insondáveis, soou por meio da Presença na mente de Matatroll. Era a primeira vez em semanas que ele fazia aquilo. “Vá embora, Matatroll. Eu não preciso dos seus conselhos hoje.”
“Talvez não”, disse Matatroll em alto e bom som. Ele subiu os degraus, ignorando o aviso. “Eu gostaria de falar com o senhor ainda assim.”
A cada degrau que subia, Matatroll sentia a irritação de Bolvar aumentando. O sentimento latejava por meio da Presença, feito uma ferida aberta. Cuidado
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onde pisa, era o recado.Matatroll não chegara a conhecer Bolvar em vida. Como rei de Stromgarde,
ele ouvira falar do jovem Fordragon, que vinha impressionando os mentores paladinos com sua determinação e espírito nobre. Talvez tivessem comparecido a alguma cerimônia da corte juntos, mas nunca haviam se falado. A fama de Bolvar era compatível com a sua experiência desde que havia sido reerguido pela morte-viva: um homem dedicado, resoluto e inabalável. Nos tempos de paladino, devia estar entre os melhores. Como Carcereiro dos Malditos, isso significava que ele nunca queria falar sobre suas tribulações. Teimava em carregar seu fardo sozinho.
Matatroll deteve-se alguns degraus antes do pico. Não queria ficar no topo da escadaria, pairando sobre o trono de Bolvar. A crisálida de gelo cobria os olhos do Lich Rei e as cicatrizes alaranjadas de fogo espalhadas pelo seu corpo, que conferiam ao trono um brilho suave e sobrenatural. Matatroll se perguntava se o gelo que lhe cobria a pele aliviava o fogo de dragão nas suas veias. Era capaz até de piorar a sensação.
“Bolvar”, disse Matatroll, “nós não somos seus servos. É hora de você parar de nos tratar como tal.”
O clarão alaranjado sob o gelo foi acompanhado por um lampejo de irritação que se fez sentir pela Presença de Bolvar. “Então... veio a mando de Mograine.”
“Não. Mas Mograine não fez segredo algum do desentendimento entre vocês.”Frio, sem hesitar: “Não tenho nada a dizer a ele. Tampouco a você.”“Você teve confiança para nos erguer. Para fazer de nós seus Cavaleiros”,
prosseguiu Matatroll. “Precisamos confiar em você também. Você está escondendo segredos de nós.”
Com uma fúria crescente: “E o que eu teria para lhe confidenciar?”, perguntou Bolvar.
Matatroll abriu as mãos e gesticulou com calma. “Você vem formando um exército aqui. Todos vemos que você vem mexendo as peças do xadrez, mas não conseguimos discernir seu objetivo. Conte-nos seus planos, e nós o auxiliaremos.”
“Vocês morreriam. Isso não me ajudaria em nada”, falou Bolvar, com o
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desprezo de um pai frustrado com o filho. Fazia muito, muito tempo que Matatroll não passava por uma situação igual.
“Se mandam soldados despreparados para a batalha, sim, provavelmente eles vão morrer”, concordou Matatroll. “E é certo que estamos despreparados. O que foi que mudou? Que força é essa que nos compele a tomar a defensiva?”
“Sylvana Correventos.”Thoras Matatroll hesitou. Correventos? O Lich Rei lhe dedicava atenção desde
o começo da Quarta Guerra, ordenando aos Quatro Cavaleiros que relatassem todo e qualquer rumor de seu paradeiro, porém proibindo-os de persegui-la pessoalmente. Bolvar também já havia mencionado que a única coisa que ela sentia pelo Elmo era desdém. “O que tem ela?”
“A guerra dela desfez o equilíbrio entre a vida e a morte. A morte se refastelou, e o poder do Elmo ferve”, explicou Bolvar. “A Legião transformou o nosso mundo em um ossuário, e nem naquela época eu senti coisa parecida.”
Matatroll ainda não estava certo do que vinha inquietando Bolvar. “Seja lá o que for que Sylvana tentou fazer, ela fracassou.”
O Cavaleiro sentiu a raiva de Bolvar arder como uma fogueira, mas tinha a estranha impressão de que o Lich Rei estava, mais do que tudo, bravo consigo mesmo. “Você vê algum sinal de que ela ache que fracassou?”
O céu nublado escondia o nascer do sol, mas na penumbra da aurora já
se revelavam os penhascos e as ruínas decrépitas no litoral do Ermo das
Serpes, que a vista ainda mal alcançava. Ainda se passariam horas para que
avistassem a Cidadela da Coroa de Gelo.
Sally Cristalba observava Dárion Mograine de rabo de olho com
atenção. Ele se ocupara das tarefas do comando a noite inteira,
distribuindo ordens curtas e grossas à tripulação de Áquerus, nos
preparativos do cerco. Agora encarava de olhos fitos um mapa de
Nortúndria. Parecia absorto em pensamentos.
Assim não dá, decidiu Cristalba. Se Mograine se distraísse da tarefa
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terrível que tinha à frente, ele poderia ficar vulnerável ao controle de
Fordragon. “Quando o último Lich Rei fez você de marionete, o que foi que
você sentiu?”, perguntou ela.
Mograine se virou para a mulher. “Vá rezando para não descobrir.”
“Não tenho intenção de despertar lembranças terríveis”, mentiu ela, “mas
Fordragon deve saber que estamos a caminho. Se ele tentar nos tomar o
controle à força, temos que estar preparados para resistir. Como você escapou
ao controle de Arthas na Esperança da Luz? Como fez para ficar livre?”
O Grão-lorde apertou os olhos. “Eu pisava em solo sagrado quando me
libertei. Uma raiva justa me manteve pleno até que Arthas estivesse morto.”
“Então... Luz e raiva. Elas vão nos servir de alguma coisa agora?”
questionou Cristalba, com um tom forçado. Era justamente raiva o que ela
queria provocar nele, se possível. Desde o instante em que fora trazida
de volta à morte-viva, ela se enchera de rancor. Uma vida dedicada a
erradicar os mortos-vivos para, no fim, se tornar um deles, era de uma
ironia particularmente cruel. No entanto, ela aceitara seu dever. Usara seu
poder sombrio em defesa de Azeroth, por mais desgostosa que se sentisse.
Ela não deixaria que seu sofrimento fosse em vão, por mais que Mograine
estivesse em conflito.
“Eu não rogaria pela Luz se fosse você, cavaleira da morte, a menos que
fosse seu último recurso”, respondeu Mograine com frieza. “Na melhor das
hipóteses, ela reduziria sua carne corrompida a cinzas. Vá por mim: não
será uma morte agradável.”
Cristalba estava ciente de que ele falava por experiência própria. “Eu
tenho minhas dúvidas quanto a você, Grão-lorde”, confessou ela. “Quando
chegar a hora de matar Bolvar, é capaz de você vacilar.”
Mograine tornou a olhar para a mesa. “Será facílimo para você matá-lo,
então?”
Cristalba tornou a exibir os dentes num sorriso. “Você acha que falei
que queria matar o Lich Rei por pura troça?”
“Não.” Depois de encarar o mapa de Nortúndria por mais alguns instantes,
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ele afastou o documento. “Eu não guardo raiva de Bolvar. Só arrependimentos.
Mas cumprirei meu dever. Eu prometi a ele que o cumpriria.”
De repente, os olhos de Mograine se arregalaram. “O quê...”, exclamou.
Cristalba sentiu em questão de instantes.
A Presença na sua mente, a conexão entre ela e o Lich Rei, não estava
mais dormente.
Por um instante, parecia que o vínculo tinha pegado fogo. Não. Não era
calor o que Cristalba sentia. Era o ardor gélido de uma queimadura de frio
que, aos poucos, ia envolvendo a Presença do Lich Rei.
Começou. “Grão-lorde, isso é...”
“É”, confirmou Mograine. “Foi assim que me senti com Arthas. É o
poder do Elmo. Bolvar parou de restringi-lo.”
“Ele sucumbiu?”, indagou Cristalba.
“Sucumbiu”, respondeu ele. Cristalba chegou a ouvi-lo dizer baixinho,
em tom de luto: “Bolvar, eu não entendo...”
Pela Luz, estou sentindo também, pensou Cristalba. Bolvar tinha aceitado
a maldição corruptora da morte-viva na sua forma mais pura, um rio
caudaloso e voraz de podridão que vinha consumir a essência da vida.
Se Cristalba ainda tinha dúvidas, elas tinham acabado de sumir. O Lich Rei tem que morrer de imediato. Ela sentia o poder dele se infiltrando
sutilmente por meio da Presença, como gotas d’água que se formam em
um copo no frio, escorrendo pela sua mente e derramando-se na sua alma
impura. Em questão de dias, mesmo se Bolvar tentasse protegê-los daquilo
— mesmo se ele quisesse protegê-los —, os Quatro Cavaleiros estariam tão
perdidos quanto ele.
Ela ficou aliviada ao ver a expressão firme do companheiro. Agora sim,
pensou Cristalba, o Grão-lorde finalmente está pronto para a batalha.Mograine contemplou Nortúndria e bateu o punho cerrado no peitoral.
“Não nos resta escolha agora”, sentenciou. “Não há mais volta. Se Bolvar
ainda for o Lich Rei quando o sol se puser, talvez não seja mais possível
vencê-lo.”
1919
Ele levantou a voz para que suas palavras ecoassem por toda Áquerus. “Por
Azeroth! Pelos vivos! E por cada um de nós: cavalguemos para matar Bolvar.”
No dia anterior, Dárion Mograine se aproximara do Trono de Gelo com a
lâmina desembainhada e a alma pesarosa.
“Bolvar”, anunciou ele. “Precisamos conversar. Agora.”
Não houve resposta. Uma rajada de vento frígida açoitou o pico da
cidadela, fustigando a armadura de Mograine com pedaços de gelo. Ele subiu
o primeiro degrau em direção a Bolvar. Não sabia dizer se o Lich Rei olhava
para ele. O gelo que o envolvia não estava límpido como de costume.
“Bolvar, eu lhe fiz uma promessa.” Mograine subiu mais um degrau.
“Lembra?”
Nada. Bolvar continuava sem olhar. Mograine sentiu uma onda de pesar
subir-lhe à garganta. De todos os sentimentos que eu poderia levar para a
morte-viva, fui ficar logo com a mágoa, pensou com tristeza. E continuou
subindo.
“Eu jurei que não deixaria você se tornar outro Arthas.” Mais um
degrau. Diga algo, Bolvar, pensou Mograine. Não me obrigue a fazer isso.
Mograine subiu mais um degrau e quase escorregou. Filetes de água
escorriam escada abaixo, feito corregozinhos sob suas botas.
Ele não entendeu. De onde estava saindo aquilo?
Subiu os últimos degraus rápido como um raio, espirrando água a
cada passo. Só se deteve ao ficar bem diante do Trono de Gelo, os olhos
arregalados.
O gelo que envolvia o Lich Rei estava derretendo. Parecia que um terço
já tinha ido embora.
“Bolvar”, sussurrou Mograine. “O que está fazendo?”
“Vocês acabariam mortos. Todos os
quatro.”
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E finalmente aqueles olhos alaranjados se encontraram com os dele.
“Foi tolice sua vir sozinho, Mograine.”
Sim. Foi tolice. Mograine viera com a esperança de que Bolvar
responderia a um ultimato, não imaginou que encontraria o Lich Rei se
preparando para erguer-se do trono.
Eu demorei demais para confrontá-lo, pensou Mograine. Pior do que
isso, talvez ele tivesse abusado da paciência de Bolvar.
“Nós precisamos ter certeza de que você não cedeu à tentação do Elmo.
Você desempenhou bem o papel de Carcereiro dos Malditos por anos”.
“Desempenhei?” Bolvar estava calmo. Calmo até demais. “Ao restringir
o poder do Elmo, fiquei cego para o propósito dele.”
Propósito? “Seja lá o que for, podemos ajudar você a impedir. Mas você
não pode ceder ao poder do Elmo por nada, Bolvar. Você está a par das
consequências.”
“Os exércitos dos mortos marchariam sobre os ermos de um mundo
destruído. A vida, em Azeroth, perderia o lugar.”
“Sim”, sussurrou Mograine.
“E quem vai impedir isso?”
“Eu já enfrentei um Lich Rei”, respondeu o Grão-lorde. “Ainda tenho
forças para mais um.”
A Presença se fez sentir com um senso de humor sinistro. “Se você me
matasse e assumisse meu lugar ainda esta noite, Mograine, seu reinado
teria um fim precoce.”
O que significava aquilo? “Você zomba de mim? Não quero seu Elmo,
muito menos seu trono. Eu derrubaria essa cidadela inteira e cada
criatura que nela se encontra se isso não fosse condenar a vida de tantos.”
Mograine indicou com um gesto todo o panorama das fortificações em
torno da Coroa de Gelo. “Eu posso lhe ajudar. Nós quatro podemos. Pouco
importa o peso do fardo.”
“Vocês acabariam mortos. Todos os quatro.”
“Que venha a morte!”, bradou Mograine. “Você acha que temos medo
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de morrer de novo? Nós cavalgaremos contra todo e qualquer inimigo que
ameace Azeroth. E, se tombarmos, faremos com que paguem cem vezes
mais caro.”
“Assim espero.”
Uma rachadura riscou o gelo, na altura da cabeça do Lich Rei. Uma
pequena fenda se abriu sobre seu rosto, traçando uma linha serrilhada
pelo pescoço. Uma crosta de gelo desabou no chão, aos pés de Mograine,
partindo-se em cristais minúsculos que o vento levou.
Mograine ficou tenso. Havia um buraco no gelo, deixando exposto o
pescoço de Bolvar. Um golpe certeiro de minha espada, pensou ele.
Mas havia algo de errado ali. Era como se Bolvar estivesse desafiando-o.
Mograine fechou os olhos por um instante. Organizou as ideias.
E decidiu desferir o golpe.
Mas antes que seus músculos pudessem agir, a Presença reagiu. De
súbito, Mograine quedou paralisado. Fora detido pela vontade de Bolvar.
Mograine se debatia alucinadamente em seu âmago, tentando se
desvencilhar de Bolvar, assim como se soltara da coleira de Arthas. E deu
certo. Alguma coisa cedeu. Era como se Bolvar não fosse capaz de prender
a alma de Mograine em seus braços.
Mograine brandiu a lâmina contra o pescoço de Bolvar sem hesitar.
A Presença aumentou a pressão. A espada caiu das mãos de Mograine.
O desespero desabou sobre Mograine ao ver sua arma repicar no chão
de gelo e água, bem diante do trono do Lich Rei. A Presença prendia com
firmeza todo o seu ser, acorrentando-o à vontade de Bolvar com elos mais
“Matar quem porta o elmo. Não me matar.
Porque talvez o Elmo já não pertencesse
mais a ele.”
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fortes do que aço.
Eu fracassei.
“Recolha sua lâmina, Mograine. Você vai precisar dela.” Agora o
controle da Presença sobre ele era absoluto. Mograine tinha se tornado
cativo na prisão do Elmo, incapaz de se mexer ou de falar por conta
própria, enquanto via suas mãos recolherem a lâmina e embainhá-la sem a
menor cerimônia. “Agora vá andando.”
Os pés de Mograine obedeceram. A Presença o forçou a dar as costas
ao Trono de Gelo e a marchar escada abaixo. Bolvar conjurou — não,
Mograine conjurou, cumprindo a vontade tácita de Bolvar — um portão
da morte para Áquerus. “Eu poderia mandá-lo de volta para me servir de
instrumento. Os outros três o estão esperando, não estão? Quantos você
conseguiria deitar por terra antes de ser eliminado?”
Uma fagulha de esperança. Faça isso. Mande-me de volta, desejou
Mograine.
Bolvar percebeu. “Entendo. Eles estão à sua espera. E Cristalba suspeita
que você não voltará em posse de si. Eles estarão prontos para essa
eventualidade. Ótimo.”
O portão da morte se abriu. Brumas de um tom violeta escuro tomaram
a forma de uma pirâmide, um pouco mais alta do que Mograine.
A Presença forçou o homem a tomar o rumo do portal.
“Não volte sozinho, Mograine”, alertou Bolvar. “Somente juntos vocês
terão uma chance de matar quem porta o Elmo. Adeus.”
Mograine atravessou o portal para Áquerus. E as brumas desapareceram
às suas costas.
Assim como o controle de Bolvar. A Presença voltou a ficar dormente.
Em silêncio. À espreita na alma, como uma víbora que espera o momento
para dar o bote.
Mograine caiu de joelhos, a cabeça nas mãos. Estava livre, mas sentia-se
mais perdido do que nunca.
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Já estava quase na hora.
Mais cedo, eles haviam chegado a um acordo quanto ao plano de
ataque. Se Bolvar não se rendesse e não se despisse do Elmo no ato,
Áquerus bombardearia suas fileiras, abrindo caminho para que os Quatro
Cavaleiros lançassem uma ofensiva direta contra o Lich Rei. O que
aconteceria depois disso ia depender de quantos deles seriam capazes de
resistir ao controle do inimigo. Se é que algum deles seria capaz.
Mas então a Presença se alterou. Eles já estavam perto o bastante
para sentir a influência de Bolvar. Estavam a mais ou menos uma hora
da Cidadela da Coroa de Gelo, nem tão perto que pudessem ver o Trono
com os próprios olhos, nem tão longe que não conseguissem divisar sua
silhueta ameaçadora por detrás das nuvens carregadas.
E então começaram a enxergar formas indistintas na sua mente.
Mograine foi o primeiro a notar. Uma cena estranha lampejou na sua
cabeça: um soldado de Bolvar caindo ao chão, seu corpo cravejado por
uma flecha envolta em breu. Alguns minutos depois, eram dezenas de
soldados do Flagelo estirados diante do Trono de Gelo. Dezenas e mais
dezenas.
Havia uma batalha em curso na Coroa de Gelo. Era possível vê-la por
meio da Presença. Não — Bolvar estava lhes mostrando aquilo. Os Quatro
Cavaleiros quedaram em silêncio em Áquerus, observando a torre distante.
Em poucos minutos, as imagens já se tornavam mais nítidas.
Cristalba soltou um arquejo. “É Correventos. Bolvar está lutando com
Sylvana Correventos.”
Dito isso, Mograine passou a ver também. Os olhos rútilos. A cicatriz
recém-fechada atravessando o rosto. Era mesmo Sylvana. Ela tinha vindo
atrás do Elmo.
E foi naquele lugar e instante que Mograine compreendeu tudo.
“Somente juntos vocês terão uma chance de matar quem porta o Elmo”,
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foram as palavras de Bolvar.
Matar quem porta o elmo. Não me matar. Porque talvez o Elmo já não
pertencesse mais a ele.
Ele sabia que ela viria, Mograine deu-se conta. Bolvar tinha previsto
que Correventos o desafiaria por causa do Elmo. E planejava usar o Elmo
para detê-la, porque Sylvana jamais reivindicaria o poder do Lich Rei para
mantê-lo adormecido.
Mas Bolvar estava ciente de que haveria consequências. Só havia um
resultado possível ao se usar o Elmo: um mundo morto. Pouco importava
se ele resistiria à corrupção por um mês, uma semana ou um minuto
depois de aceitar o poder. O fim seria o mesmo. Azeroth sucumbiria.
A menos que quatro cavaleiros que juraram defender Azeroth
conseguissem detê-lo enquanto ainda estivesse fraco da batalha contra
Correventos. E mesmo que Sylvana vencesse, o poder do Elmo ainda seria
novidade. Ela ficaria vulnerável, ainda que por pouco tempo.
Bolvar tinha provocado Mograine e os demais Quatro Cavaleiros para
que viessem matá-lo no exato instante em que seu reinado poderia chegar
ao fim. E os mantivera isolados — todos os novos cavaleiros da morte
— do seu controle o máximo possível para que, independente de quem
vencesse, os Cavaleiros tivessem uma chance.
Matatroll olhou nos olhos de Mograine. “Isso muda nossa situação?”,
indagou ele.
Mograine se voltou para os companheiros. “Não. Isso não muda nada.
Nosso dever continua o mesmo”. Então tornou a contemplar a Coroa de
Gelo. “Bolvar sabia que esse dia ia chegar. Ou ele venceria, ou haveria um
novo Lich Rei.”
“Rainha”, corrigiu Cristalba.
“É vero.” Bolvar, quisera eu que você confiasse em mim para me contar
isso. Mas não. Mograine teria insistido em permanecer lá para enfrentar
Sylvana ao lado dele. Seus companheiros, idem. A julgar pelos cadáveres
diante do Trono de Gelo, todos os quatro teriam morrido. “Ele nos queria
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aqui e agora para finalizarmos o vencedor, terminada a batalha. Depois que
Sylvana já tivesse aberto caminho em meio ao Flagelo por nós. Antes que
tivesse a oportunidade de aprender a nos dominar.”
Nazgrim ficou refletindo sobre aquelas palavras. “Um de nós terá que
tomar o lugar dele.”
O silêncio reinou entre eles por um longo momento. Os olhos de
Cristalba dardejavam de um Cavaleiro para o outro, tentando ver se algum
deles desejava o posto.
Um barulho distante, parecendo um trovão, chamou a atenção deles
de volta para a Coroa de Gelo. A Presença estremeceu. A determinação
glacial e sinistra de Bolvar fora trespassada pelo desespero.
Mograine viu pelo olho da mente, com uma nitidez absoluta, o braço de
Sylvana indo no rumo da cabeça de Bolvar.
E então, dor. Dor para todos eles. Aguda como uma faca cravada no
crânio. Aos urros, Mograine arremessou o próprio elmo do outro lado
do salão de comando, apertando as têmporas como se tentasse extrair a
dor, com uma vaga noção de que seus companheiros também estavam aos
urros.
Alguns instantes depois, a dor sumiu de forma tão brusca que Mograine
caiu de joelhos, aliviado, a cabeça ainda em mãos. Passou-se um tempo até
que algum deles conseguisse se manifestar.
“Onde está a Presença?”, questionou Nazgrim, num tom exausto.
Mograine não compreendia. Ele não respondeu. Limitou-se a desfrutar
da ausência da dor. Uma sensação maravilhosa.
“Onde está Bolvar?”, repetiu o orc. “Não consigo senti-lo.”
Ele tinha razão. A Presença de Bolvar havia desaparecido. Não,
desaparecido não. Vagado, deu-se conta Mograine. O canal de poder
continuava lá. Porém... desocupado. Ela sentira exatamente a mesma coisa
depois da derrota de Arthas.
“Sylvana tomou o Elmo”, anunciou Mograine. Ele fitou os
companheiros. “Nosso alvo agora é ela.”
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Cristalba bufou, entredentes: “Entendido.”
“E quanto a Bolvar?”, resmungou Nazgrim.
“Não creio que ele seja mais o Lich Rei. Vamos salvá-lo, se possível,”
respondeu Matatroll, se voltando para Mograine.
“De acordo”, completou o Grão-lorde.
Ele fitou, atrás de Matatroll, a tripulação morta-viva de Áquerus. A
maior parte encontrava-se imóvel. Os que conservavam o cérebro olhavam
à sua volta, atordoados; os descerebrados olhavam para o nada e já
começavam a ter espasmos.
Sempre deve haver um Lich Rei.
Logo, quase toda a tripulação de Áquerus — e o resto do Flagelo em
Nortúndria — regressariam a um estado de violência desenfreada. E se
Sylvana envergasse o Elmo, ela sentiria Áquerus se aproximando. Sentiria
as intenções dos Quatro Cavaleiros. Mograine não tinha dúvidas de que ela
tentaria detê-los, submetendo-os à sua vontade. Ainda que ela não consiga,
ainda teríamos que abrir caminho à força em meio ao Flagelo dela.
Ele indicou a fortaleza voadora com um gesto enfático. “Estamos longe
da Coroa de Gelo, talvez consigamos manter o controle sobre a tripulação
de Áquerus. Preparem-nos. É nossa única chance...”
E então perdeu o fio da meada e quedou boquiaberto. A Presença na
sua cabeça se alterava. Não era uma sensação dolorosa. Era outra coisa.
Mograine nunca tinha sentido nada igual em toda a sua existência. Nem
mesmo quando Arthas tombara.
Se a Presença era um canal de controle e poder, parecia que esse canal
estava em colapso. Que se fazia em pedaços. Mograine não compreendia
aquilo. Mas a sensação era... libertadora. Como se sua mente estivesse
presa e as correntes estivessem se soltando, uma por uma. Como se ele
não fizesse sequer ideia de quão firme era o controle que lhe fora imposto.
De repente, Nazgrim gritou: “O que ela está fazendo?”
Mograine se voltou para a Coroa de Gelo bem a tempo de ver o céu se
estilhaçar.
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Uma onda de energia se chocou contra Áquerus, desequilibrando
Mograine. Nazgrim agarrou-o pelo braço, firmando-o, enquanto a fortaleza
flutuante balançava para lá e para cá no ar.
“Estabilizar!”, bradou Mograine. “Estabilizem a Áquerus!”
Parte da tripulação respondeu ao comando. Ainda assim, parecia que
a fortaleza ia despencar do céu. Então ela voltou ao normal. Se tivessem
tempo para soltar um suspiro aliviado, teriam soltado.
“Defendam nossa posição!”, urrou Nazgrim. Com olhos treinados, ele
varreu o horizonte, registrando cada detalhe.
Mograine contemplava a Coroa de Gelo. O céu azul tinha sumido. Feito
em pedaços. Ele vislumbrava um reino sombrio, sufocado por um nevoeiro
escuro e espesso, iluminado tão somente por uns clarões coléricos cor de
âmbar que lampejavam feito relâmpagos. Projetando-se sob a névoa, via-se
outra estrutura, suspensa sobre a Cidadela da Coroa de Gelo.
Ao vê-la, Mograine deu-se conta de que a Presença tinha ido embora de
vez. O Elmo fora destruído. E com a destruição...
“O véu entre a vida e a morte”, murmurou Mograine. “Ela o rompeu.”
Um terrível engano, percebeu Mograine. O Lich Rei pensara que
Sylvana viria para tomar o Elmo, não para destruí-lo. Mas como saber?
Como Bolvar poderia saber que a destruição do Elmo resultaria naquilo?
Mograine ouviu uma lâmina cortar o ar às suas costas e então o baque
de uma coisa pesada que cai ao chão.
“Grão-lorde, saque sua arma,” bradou Matatroll.
Mograine o fez, sem tirar os olhos do céu. Alguma coisa trombou nele,
que então se virou, franzindo o cenho. As garras de um dos tripulantes de
Áquerus arranhavam sua armadura, tentando matá-lo.
Ainda absorto, ele o partiu ao meio. Só então notou que vários corpos
jaziam ao redor.
O Flagelo não tem mais Lich Rei, compreendeu Mograine finalmente. E
queira a Luz que nunca volte a ter.
O pensamento o trouxe de volta à realidade. Só um punhado da
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tripulação presente no Salão tinha enlouquecido, e os Quatro Cavaleiros
acabaram com eles no ato.
Mograine avaliou a situação no salão de comando e começou a
distribuir ordens. Havia clareza no caos, ele aprendera isso muito tempo
atrás. Ver os problemas significava que havia como resolvê-los.
Uma catástrofe de cada vez.
“Não sei o que Sylvana planeja fazer a seguir. Mas talvez Bolvar saiba.
Precisamos dele”, anunciou Mograine. “Cristalba, Nazgrim, ainda estamos
a uma hora da Coroa de Gelo. Assim que chegarmos, vocês dois vão atrás
de Bolvar. Se estiver vivo, tragam-no de volta.”
Eles assentiram. Mograine acenou com a cabeça para Matatroll.
“Enquanto isso, nós protegeremos Áquerus. Vamos dominar os que ainda
pudermos controlar e eliminar o resto. Temos que salvar o máximo de
gente possível para... seja lá o que for que vá acontecer.”
“Entendido”, confirmou Matatroll. Juntos, se embrenharam na fortaleza.
Logo suas lâminas estariam cantando no ar frio de Nortúndria.
Cristalba não tirou os olhos do Trono de Gelo ao abrir caminho em meio à
neve, ao lado de Nazgrim. O céu estilhaçado acima, ela ignorou. Deixaria o
problema para depois. Ficou atenta a qualquer sinal de que Sylvana ainda
estivesse ali, mas parecia que a Rainha Banshee já tinha ido embora.
O orc chegou primeiro, saltando sobre os escombros do Trono de Gelo.
Cristalba aterrissou um segundo depois, passando feito uma flecha por
Nazgrim, desviando-se com destreza dos cadáveres do Flagelo pelo chão.
Ela avistou Bolvar perto do centro da plataforma, caído de lado.
Ele fitava o céu, com choque e horror estampados na cara. Cristalba
entendia perfeitamente. Ajoelhou-se ao lado dele, soerguendo-o com
delicadeza pela nuca. “Ela já se foi?”, perguntou.
Bolvar mal conseguia articular as palavras. Cristalba suspeitava que
não fosse por causa das feridas, e sim da escala abismal e inconcebível do
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desastre que ele não conseguira impedir.
“Sim. Sylvana já se foi.” A voz cheia de remorso e culpa. “Eu não sabia.
Eu sequer sonhava...”
Nazgrim também já estava ajoelhado ao lado dele. “Nós vamos voltar
para a Áquerus”, avisou. “Há muito a ser feito.” Juntos, ajudaram Bolvar a
se levantar.
Bolvar apertou o ombro da mulher. “Você sabe o que ela fez?”
“Não. Quando estivermos a salvo, você nos conta”, respondeu Nazgrim.
“E então poderá nos dizer como prosseguir.”
Bolvar lançou aos dois um olhar confuso. “Eu não sou mais o Lich Rei.”
“Que pena.” Cristalba jogou o braço de Bolvar por cima do ombro,
apoiando o peso dele. “Eu vim até aqui só para matar o Lich Rei. É muita
falta de educação renunciar justo agora que eu cheguei.”
“Vocês não têm que seguir minhas ordens.”
“Não me diga...” Cristalba partiu os lábios num sorriso.
Nazgrim também sorria. “Você tentou providenciar a própria morte
para garantir a vitória. Lok-tar ogar, hein? Conduza nossas lâminas, e nós o
obedeceremos.”
Bolvar fechou os olhos por um momento. Ao abri-los, o que Cristalba
viu foi determinação. Excelente, pensou ela.
Ele apontou os estilhaços do Elmo da Dominação. “Recolham isso,
então. Com cuidado. Vamos precisar deles”, instruiu.
Cristalba suportava todo o peso de Bolvar, enquanto Nazgrim recolhia
os cacos. “E depois, Grão-lorde?”
Bolvar tornou a contemplar o céu. “Vamos precisar de aliados, tantos
quanto for possível. E então marcharemos contra o sinistro coração da
Morte.”
“Ótimo”, fez Cristalba. “Já estava com medo de ser coisa fácil.”
CréditosAutor: Robert Brooks
Edição: Allison Irons
Design: Betsy Peterschmidt
Produção: Brianne Messina
Consultoria de história do jogo: Sean Copeland, Justin Parker, Anne Stickney
Consultoria Criativa: Ely Cannon, Steve Danuser, George Krstic,
Korey Regan
Tradução: Yuri Riccaldone, Flávia Assis
Agradecimentos: Jason Campbell, Jamie Cox, Anna Ficek-Madej,
Thomas Floeter, Felice Huang, Ty Julian