cautelar de bloqueio

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Jus Navigandi http://jus.uol.com.br

A penhora on line:a utilizao do sistema BacenJud para constrio judicial de contas bancrias e sua legalidadehttp://jus.uol.com.br/revista/texto/8459Publicado em 06/2006

Demcrito Reinaldo Filho

O princpio da economicidade no pode superar o princpio maior da utilidade da execuo para o credor, propiciando que se realize por meios ultrapassados e ineficientes soluo do crdito exeqendo.Sumrio: 1- O que o sistema Bacen-Jud. 2- A verso 2.0 do sistema Bacen-Jud. 3- A legalidade da utilizao do sistema Bacen Jud para penhora de contas bancrias. 4- Ordem legal da penhora preferncia do dinheiro a qualquer outro bem. 5- A utilizao do Bacen-Jud no afeta o princpio da "menor onerosidade" (art. 620 do CPC). 6- Momento para a realizao da "penhora on line". 6.1 Medida cautelar pelo sistema do BacenJud. 6.1.1 Medida cautelar no bojo do processo de execuo. 7. Concluses.

1- O que o sistema Bacen-Jud Tambm conhecido como "penhora on line", trata-se de sistema informtico desenvolvido pelo Banco Central que permite aos juzes solicitar informaes sobre movimentao dos clientes das instituies financeiras e determinar o bloqueio de contas-correntes ou qualquer conta de investimento. O sistema est disponvel a todos os ramos do Poder Judicirio, mediante convnio assinado entre o Banco Central e os tribunais superiores, ao qual aderiram os tribunais regionais e estaduais. O sistema Bacen-Jud elimina a necessidade de o Juiz enviar documentos (ofcios e requisies) na forma de papel para o Banco Central,

toda vez que necessita quebrar sigilo bancrio ou ordenar bloqueio de contascorrentes de devedores em processo de execuo. As requisies so feitas atravs de site prprio na Internet, onde o Juiz tem acesso por meio de senha que lhe previamente fornecida. Em espao prprio do site, o Juiz solicitante preenche uma minuta de documento eletrnico, onde coloca informaes que identificam o devedor e o valor a ser bloqueado. A requisio eletrnica enviada diretamente para os bancos, que cumprem a ordem e retornam informaes ao Juiz. Ou seja, o sistema apenas permite que um ofcio que antes era encaminhado em papel seja enviado eletronicamente, atravs da Internet, racionalizando os servios e conferindo mais agilidade no cumprimento de ordens judiciais no mbito do Sistema Financeiro Nacional. A realizao de ordens de bloqueio pela via do sistema Bacen-Jud no somente elimina o uso de papel e do correio tradicional, gerando economia de tempo e racionalizao dos servios de comunicao entre o Judicirio e as entidades integrantes do sistema Financeiro Nacional. Ele confere mais eficcia s ordens judiciais de bloqueio de contas bancrias, na medida em que fica mais difcil de o devedor prever quando ter sua conta bloqueada. Pelo sistema de envio das requisies via correio, a ordem (o ofcio) circula por vrias reparties, desde a sada do cartrio, passando por departamentos do Banco Central, at a chegada nas mos do gerente da agncia bancria. Antes de o ofcio cumprir todo esse caminho, o devedor quase sempre era informado sobre a diligncia, sobrando-lhe tempo para providenciar a retirada do numerrio. O sistema eletrnico de cumprimento de ordens judiciais dificulta essa ao preventiva do devedor, porque nem o gerente do banco toma conhecimento de que a conta ser bloqueada. Tudo feito eletronicamente e diretamente pelo Juiz. claro que o devedor de m-f poder sempre levantar o dinheiro da conta assim que toma conhecimento da execuo (quando citado), mas no tem, como antes, conhecimento exato do momento em que poder ocorrer a constrio judicial.

2- A verso 2.0 do sistema Bacen-Jud No final de 2005, entrou em funcionamento uma nova verso do sistema Bacen-Jud. A verso 1.0 do sistema [01] apesar de ter proporcionado imensos avanos para a efetividade do processo de execuo judicial, na medida em que ps disposio do Judicirio recursos da informtica para a

realizao da penhora de dinheiro, apresentou ainda algumas deficincias. Por exemplo, a verso original no contemplava a possibilidade de o Juiz ter o controle das respostas dos bancos no prprio sistema. O Juiz somente ficava sabendo que uma ordem tinha sido cumprida ao receber, via ofcio em papel, a resposta de um determinado banco. Na verso atual, o Juiz no dia seguinte efetivao da ordem, pode acessar o site e verificar se sua requisio de bloqueio j foi efetivada. Alm disso, a verso antiga do sistema tambm no permitia ao magistrado efetuar a transferncia de valores eventualmente bloqueados para outra conta, disposio do juzo e com correo monetria. A transferncia de valores bloqueados tinha que ser determinada por meio de ofcio em papel endereado agncia bancria onde se verificara o bloqueio de contas, com toda a demora que isso representava. O valor bloqueado ficava tempo largo sem correo monetria, at ser transferido para a conta judicial. Com as alteraes promovidas no Bacen-Jud, o Juiz eletronicamente faz a transferncia de valores, semelhana da ordem de bloqueio [02]. A nova verso (2.0) Bacen Jud [03], portanto, foi desenvolvida em razo da necessidade de se implementar novas funcionalidades, visando ao aperfeioamento do sistema. O Juiz continua a emitir ordens judiciais de bloqueio, desbloqueio, solicitar informaes bancrias, saldos, extratos e endereos de pessoas fsicas e jurdicas clientes do Sistema Financeiro Nacional, tudo como antes (de forma instantnea), mas o sistema agora conta com as seguintes melhorias: a)as respostas das instituies financeiras so includas automaticamente no sistema, para consulta pelo Juiz; b)o Juiz pode realizar, no prprio site do Bacen-Jud, a transferncia de valores bloqueados para contas judiciais; c)o sistema permite maior agilidade para o desbloqueio (total ou parcial) de contas, o que ameniza os efeitos de um eventual bloqueio a maior do que o valor da dvida executada; d)o sistema agora conta com um cadastro atualizados de todos as Varas e Juzos cadastrados. Com essas melhorias, espera-se que os Juzes passem a utilizar cada vez mais o sistema Bacen-Jud, reduzindo o nmero de ofcios e requisies

judiciais em forma de papel. O sistema, totalmente remodelado, oferece ao Judicirio mais segurana, rapidez e controle das ordens judiciais. A nova verso do Bacen-Jud no elimina, no entanto, a possibilidade de o bloqueio acabar atingindo vrias contas, superando o valor da dvida executada. A ordem do bloqueio repassada automaticamente a todas as instituies bancrias integrantes do Sistema Financeiro Nacional. Assim, se por ocasio do seu cumprimento o devedor tiver mais de uma conta, em bancos diferentes, com saldo disponvel, o bloqueio pode se concretizar em valor superior ao requisitado. A apreenso do numerrio, em cada banco, feita at o montante do valor requisitado, isso porque eles no tm informaes sobre a situao do correntista em outras instituies bancrias. A garantia do sigilo bancrio conferida ao cliente impede que os bancos troquem informaes entre si, da se explica a possibilidade da ocorrncia dos excessos no cumprimento de ordens judiciais de bloqueio. Se a verso 2.0 do sistema no elimina a possibilidade de excessos em penhora de contas bancrias, torna o procedimento de desbloqueio muito mais rpido. A penhora de valores em contas acima do efetivamente devido pelo devedor e o tempo gasto para o desbloqueio dos excessos foram as principais crticas feitas primeira verso do sistema Bacen-Jud. A nova verso diminui drasticamente o tempo necessrio para o desbloqueio da conta penhorada, em razo da total integrao dos sistemas de informtica dos bancos com o do Banco Central. Na verso anterior, no havia essa completa integrao, e alguns bancos cumpriam e respondiam a ordens de bloqueio ainda de forma manual, por meio da utilizao de correspondncias enviadas pelo sistema tradicional dos correios. Com a nova verso do Bacen-Jud calcula-se que uma ordem de desbloqueio no leve mais que 48 horas entre sua emisso pelo Juiz e seu definitivo cumprimento pelos bancos. de se concluir, portanto, que a possibilidade de ocorrncia de excesso de penhora de conta corrente, quando efetivada eletronicamente, no deve servir de causa para justificar a no utilizao do sistema Bacen-Jud. A nova verso do sistema reduz drasticamente o tempo necessrio para a liberao da conta bloqueada. Se o procedimento de desbloqueio muito mais rpido, houve um avano significativo nesse ponto. Nunca demais lembrar que a penhora de contas bancrias sempre foi feita pelo Judicirio, para garantir o processo de execuo; apenas era realizada por meio da emisso de mandado e cumprimento da ordem pelo Oficial de Justia. Mesmo nessa forma

tradicional havia possibilidade de penhora excessiva e uma contra-ordem de desbloqueio demorava para ser cumprida. Ainda assim, o programa que permite o bloqueio de contas bancrias por meio eletrnico continua em constante processo de aperfeioamento. Segundo informaes divulgadas pelo Banco Central[04]

, seus tcnicos estariam

desenvolvendo um software que permitir que o sistema eletrnico do Banco Central realize o bloqueio do valor exato da condenao, depois que receber a determinao do juiz. O prprio sistema do Bacen comunicar o bloqueio agncia onde o devedor tem conta. Se a penhora for feita em mais de uma conta e em valor que exceda ao da condenao, a correo ser feita no prazo de um dia.

3- A legalidade da utilizao do sistema Bacen Jud para penhora de contas bancrias A chamada "penhora on line", como antes explicado, nada mais do que a utilizao, pelo Judicirio, de um sistema que permite efetuar a penhora em dinheiro de forma eletrnica, mediante envio das ordens judiciais aos bancos pela rede Internet. Atravs de uma solicitao em forma de documento eletrnico repassado a todas as instituies integrantes do sistema Financeiro Nacional, as ordens judiciais so cumpridas instantaneamente (em havendo saldo em alguma conta do executado). Pois bem, se a "penhora on line" se resume a isso, a apenas um meio de instrumentalizar (por via eletrnica) ordens judiciais de bloqueio de contas e depsitos bancrios, trata-se de procedimento que no interfere com as regras do Processo de Execuo (Livro II do CPC). O convnio assinado pelo Banco Central com os tribunais no criou ou alterou nenhuma norma processual nem poderia faz-lo, pois somente o Congresso Nacional pode editar leis sobre direito processual (art. 22, I, da CF). O bloqueio de crditos disponveis em contas bancrias tem evidente amparo nas normas processuais vigentes, tanto que sempre foi realizado, embora pelo mtodo tradicional envolvesse expedientes de pouca praticidade, consistentes na expedio de ofcios (na forma impressa em papel) ao Banco Central para identificao de contas bancrias de devedores, seguindo-se a diligncia de constrio atravs de oficial de Justia. Quando a conta se situava em localidade diversa da rea de competncia territorial do magistrado emissor da ordem, fazia-se necessria a expedio de carta precatria para que outro

juzo (deprecado) implementasse a constrio. Toda a demora inerente a esse procedimento tradicional no mais das vezes acabava por permitir que o devedor frustrasse a penhora, efetuando o saque de seus depsitos. Na atualidade, o que muda que o Juiz, por conta do convnio entre o Poder Judicirio e o Banco Central, tem a faculdade de utilizar recursos informticos para dinamizar o procedimento de constrio de contas bancrias, que sempre teve permisso na legislao. Com efeito, a moldura da execuo tal qual est disciplinada no CPC induz a que a penhora deva recair sobre dinheiro, com precedncia a qualquer outro bem de propriedade do devedor. O dinheiro tem preferncia sobre todos os outros bens na ordem de nomeao penhora (art. 655, I, CPC). Essa ordem legal de preferncia tem de ser obedecida (salvo convindo ao credor), sob pena de se tornar ineficaz (art. 656, I, CPC). A jurisprudncia dos tribunais que se firmou, em torno da interpretao desses dispositivos, que a penhora pode recair em dinheiro depositado em conta-corrente ou depsito existente em instituies bancrias. Acrdos reiterados, inclusive do STJ, onde os julgadores realizaram interpretao sistemtica dos arts. 620 e 655 do Cdigo de Processo Civil, confirmam a possibilidade de o ato constritivo incidir sobre dinheiro depositado em conta bancria do executado (s para exemplificar, os acrdos nos REsp n 528.227/RJ e REsp n 390.116/SP).

4- Ordem legal da penhora preferncia do dinheiro a qualquer outro bem Embora a gradao legal de bens que podem ser indicados penhora (art. 655 do CPC) no tenha um carter absoluto e o Juiz possa, observando as circunstncias de um caso concreto, decidir pela constrio de outro bem, ele deve ser bastante restritivo quando tiver de assim optar. A opo por outro bem que no o dinheiro, para garantir a execuo, implica em assumir uma srie de dificuldades prticas que terminam inelutavelmente por levar o processo a no atingir o seu fim (de satisfao do direito de crdito do credor). Todos os outros bens elencados no art. 655 tm uma maior ou menor dificuldade de converso para dinheiro, mas quase sempre essa converso implica em um procedimento longo e penoso (avaliao, publicao de editais,

praa ou leilo), com o surgimento de inmeros incidentes processuais nesse caminho, tornando, na prtica, o processo de execuo por essa nica razo, de ter de expropriar e converter bens do executado em dinheiro de pouca (ou quase nenhuma efetividade). A existncia do Bacen-Jud, portanto, tornando ainda mais fcil o bloqueio de contas e depsitos bancrios, deve ser levada em considerao para, ainda com mais razo, o Juiz se inclinar cada vez mais em rejeitar a opo por outro bem, quando o devedor dispe de dinheiro depositado em instituio bancria. Como rotina regular, o Juiz deve investigar se o executado possui dinheiro depositado em conta bancria para, em caso negativo, promover a penhora sobre outro bem (indicado previamente ou no pelo executado). Trata-se, to somente, de aplicar a regra do art. 656, I, do CPC, que prev a ineficcia da nomeao penhora que no obedece ordem legal. Tendo o devedor dinheiro em conta bancria, a sua no colocao disposio do credor para fins de penhora, implica em tornar ineficaz essa nomeao, porque no obedece a ordem legal do art. 655, que prev o dinheiro como primeiro bem para satisfao do direito de crdito. O dispositivo cria uma incumbncia legal a cargo do devedor, de observar a ordem legal de preferncia pelo dinheiro (inc. I), salvo quando no dispe desse tipo de bem. A jurisprudncia mais acertada sempre proclamou a invalidade do oferecimento de bens, feito pelo devedor, quando este dispe de dinheiro para fazer satisfazer a dvida. Se o devedor tem disponibilidade em dinheiro, pode o Juiz recusar a nomeao de outros bens (JTA 103/171). Acrdo do STJ bastante recente bem ilustrativo dessa preferncia que o dinheiro tem em relao a outros bens passveis de penhora, podendo o Juiz da execuo recusar a nomeao feita pelo devedor:PROCESSUAL CIVIL. EXECUO. NOMEAO DE IMVEL DE DIFCIL VENDA. GRADAO LEGAL. PENHORA DE NUMERRIO DISPOSIO DA EXECUTADA. ADMISSIBILIDADE. Indicado bem imvel pelo devedor, mas detectada a existncia de numerrio em conta-corrente, preferencial na ordem legal de gradao, possvel ao juzo, nas peculiaridades da espcie, penhorar a importncia em dinheiro, nos termos dos arts. 656, I, e 657 do CPC.

(4a. Turma, REsp 537667/SP, rel. Min. Cesar Asfor Rocha, j. 20.11.03, DJ 09.02.04).

No sentido de que o Juiz pode recusar penhora de bens mveis quando exista dinheiro suficiente em contas bancrias para garantia do dbito: STJ-4. Turma, REsp 703033 / MA, rel. Min. Jorge Scartezzini, j. 19.04.05, DJ 09.05.05). Como se disse, possuindo o devedor mais de uma espcie de bens, dentre estes dinheiro em conta-corrente, deve o Juiz o mximo que possvel atender a gradao do art. 655 do CPC, isto , determinar que a constrio recaia sobre dinheiro, preferencialmente utilizando-se do sistema Bacen-Jud, dada a agilidade e praticidade que esse sistema oferece para o bloqueio de valores depositados em instituies financeiras. certo que a gradao prevista no art. 655 tem carter relativo, mas, como no se pode olvidar que o objetivo primordial da penhora o de reservar bens para garantir a satisfao da dvida, no h sentido em no se preferir antecipadamente o prprio dinheiro. Soa como um contra-senso deixar de garantir a execuo, prematuramente, com quantias em dinheiro. Tendo o executado mais de uma espcie de bens passveis de penhora (dinheiro e outros bens), porque no se preferir o prprio dinheiro? Somente situaes excepcionais pode justificar a deciso do Juiz de optar, em um primeiro momento, por outro bem que no o dinheiro quando este integra o conjunto de bens do patrimnio do devedor. A gradao estabelecida para a efetivao da penhora (art. 656, I) tem carter relativo, podendo ser alterada por fora das circunstncias e tendo em vista as peculiaridades de cada caso concreto. Mas o objetivo da sua instituio foi o de propiciar o pagamento de modo mais rpido e clere, da porque o Juiz no deve se afastar, sem motivo srio e baseado nas circunstncias do caso, da regra que d preferncia ao dinheiro para efeito de penhora. O princpio da economicidade no pode superar o princpio maior da utilidade da execuo para o credor, propiciando que se realize por meios ultrapassados e ineficientes soluo do crdito exeqendo. A "constrio em dinheiro, a primeira na ordem dos bens penhorveis a que conspira em favor dos objetivos precpuos da execuo por quantia certa contra devedor solvente" [05]. Nesse sentido, deve haver uma preferncia pela penhora de

dinheiro, atravs do sistema eletrnico de requisies judicirias, mtodo idneo e suficiente para alcanar o resultado pretendido com o processo de execuo.

5- A utilizao do Bacen-Jud no afeta o princpio da "menor onerosidade" (art. 620 do CPC) Alguns profissionais do Direito tm sustentado que a penhora de dinheiro depositado em conta-corrente, sobretudo quando realizada pela forma "on line", contraria o princpio da menor onerosidade previsto no art. 620 do CPC. O fundamento que a utilizao do Bacen-Jud possibilita um bloqueio indiscriminado e amplo de contas bancrias, acarretando nus excessivo ao devedor. Argumenta-se, tambm, que o bloqueio eletrnico pode alcanar contas e depsitos destinados a pagamentos de obrigaes do devedor ou at mesmo sobre verbas de natureza impenhorvel, como aquelas de natureza alimentar ou que representem exclusivamente ganhos salariais. Esses argumentos, todavia, no procedem, no servindo como base para desestimular de forma apriorstica a utilizao de um sistema informtico que se mostra eficiente e adequado aos fins do moderno processo de execuo. Primeiro, porque de se ter em vista que o princpio da "menor onerosidade" no se sobrepe a outros que tambm informam o processo de execuo, especificamente aquele inserido no art. 612, que consagra o princpio da maior utilidade da execuo para o credor e impede que seja realizada por meios ineficientes soluo do crdito exeqendo. preciso, portanto, uma compatibilizao entre esses princpios, tendo-se sempre em mente que a necessidade de se imprimir execuo uma real efetividade no pode prescindir de um sistema que desburocratiza atos processuais. preciso, a propsito, lembrar que a jurisprudncia j afastava qualquer leso ao princpio da menor onerosidade pela simples razo de a penhora atingir dinheiro depositado em conta bancria. As ementas abaixo transcritas so elucidativas desse entendimento:"Processual civil. Agravo regimental no agravo de instrumento. Execuo. Nomeao de bens penhora. Interpretao do art. 620 em harmonia com o art. 655, ambos do CPC. Smula 83/STJ. Verificao dos motivos que justificaram a rejeio dos bens oferecidos

penhora. Smula 7/STJ - O art. 620 do CPC h de ser interpretado em consonncia com o art. 655 do CPC, e no de forma isolada, levando-se em considerao a harmonia entre o objetivo de satisfao do crdito e a forma menos onerosa para o devedor. - A jurisprudncia dominante do STJ no sentido de que, desobedecida pelo devedor a ordem de nomeao de bens penhora prevista no art. 655 do CPC, pode a constrio recair sobre dinheiro, sem que isso implique em afronta ao princpio da menor onerosidade da execuo previsto no art. 620 do Cdigo de Processo Civil" (STJ-3. Turma, AgRg no Ag 633357/RS, rel. Min. Nancy Andrighi, j. 28.06.05, DJ 01.08.05).

Mais especfico, no sentido de que a penhora possa recair em dinheiro depositado em conta-bancria, sem que isso implique ofensa ao art. 620:"Este Tribunal de Uniformizao, realizando interpretao sistemtica dos arts. 620 e 655 da Lei Processual Civil, j se manifestou pela possibilidade do ato constritivo incidir sobre dinheiro depositado em conta bancria de titularidade de pessoa jurdica, sem que haja afronta ao princpio da menor onerosidade da execuo disposto no art. 620 da Norma Processual (cf. REsp n 528.227/RJ, REsp n 390.116/SP)" (STJ-4. Turma, AgRg no Ag 612382/RS, rel. Min. Jorge Scartezzini, j. 15.0905, DJ 17.10.05).

O princpio da economicidade, realmente, no pode superar o princpio maior da utilidade da execuo para o credor, propiciando que a execuo se realize por meios ultrapassados e ineficientes soluo do crdito exeqendo. Por essa razo, deve haver uma preferncia pela penhora de dinheiro, atravs do sistema eletrnico de requisies judicirias, mtodo idneo e suficiente para alcanar o resultado pretendido com o processo de execuo. "A execuo visa a recolocar o credor no estgio de satisfatividade que se encontrava antes do inadimplemento. Assim, realiza-se a execuo em prol dos interesses do credor (artigos 612 e 646 do CPC). Em conseqncia, o princpio da Economicidade no pode superar o princpio maior da Utilidade da execuo para o credor, propiciando que a execuo se realize por meios ineficientes soluo do crdito exeqendo, maxime tratando-se de execuo de sentena trnsita, cujo direito do credor restou soberanamente reconhecido" [06].

A penhora de valores depositados em conta bancria, sobretudo na sua modalidade eletrnica, representa, isso sim, uma economia para o prprio devedor, que no tem que arcar com custos com registro da penhora, publicao de editais, honorrios de avaliador e leiloeiro e outras despesas que sempre arca ao final do procedimento praa e leilo para converso de outros bens em dinheiro. Isso revela que penhora de outros bens, para sua posterior converso em dinheiro pelo procedimento da praa ou leilo, tambm prejudicial ao prprio devedor, que tem que arcar com todos os custos adicionais do procedimento da converso. Por outro lado, o Juiz tem sempre a possibilidade de determinar o desbloqueio (total ou parcial) de contas, quando a constrio se revela excessiva ou recai sobre valores que possuam natureza de impenhorabilidade (art. 649 do CPC). O Juiz pode sempre avaliar a necessidade de eventual desbloqueio, se verificar algumas das situaes que contrariam dispositivos legais (constrio de salrios, proventos de aposentadoria, penses e outras verbas de carter alimentar) ou que demonstrem que a penhora deva ser feita de uma maneira menos excessiva ou menos gravosa. Mas, em todo caso, ele sempre poder exigir do devedor outras garantias, antes de efetuar o desbloqueio. Nessa situao, de o devedor j se encontrar com recursos de suas contas bancrias retidos, muito mais fcil que ele aceite em oferecer outros bens ou indicar uma das contas bancrias em que possa ser mantido o bloqueio. O sistema Bacen-Jud na nova verso (2.0) possibilita que esse desbloqueio seja realizado num prazo mximo de 48h, o que evita qualquer prejuzo ou transtorno ao devedor. A possibilidade de a constrio alcanar valores de natureza alimentar ou acima do valor da execuo sempre existiu, mesmo quando era feita na forma tradicional, por meio de ofcio (impresso em papel) remetido pelo correio e mandado cumprido por Oficial de Justia. Ocorrendo essa situao, eventual desbloqueio poderia demorar prazo muito mais largo do que se exige para efetu-lo via Bacen-Jud. Sempre bom lembrar que o sistema Bacen-Jud no criou uma nova modalidade de execuo; apenas permite que a penhora de numerrio existente em contas e aplicaes bancrias do devedor seja feita de forma eletrnica. No sistema antigo, quando o Juiz a determinava atravs de ofcio (em papel) tambm havia a possibilidade de o bloqueio recair sobre depsitos

e recursos de origem salarial, contas destinadas ao depsito de penses etc. S que a possibilidade de prejuzo era muito maior, porque as respostas dos bancos s chegavam tardiamente ao conhecimento do Juiz, o qual, para ordenar o desbloqueio, tambm no tinha meios mais velozes, somente podendo orden-lo por meio de novo ofcio, que levava tempo bastante largo para ser enviado instituio bancria. O processamento de uma ordem de desbloqueio, por meio da utilizao do sistema Bacen-Jud, feito de forma muito mais rpida e simples, o que concorre em favor da utilizao desse sistema. A penhora realizada sobre qualquer outro bem (que no dinheiro) tambm pode se mostrar excessiva. Mesmo um bem imvel ou veculo encontrado para penhora pode ultrapassar o valor da dvida executada. Da a legislao prever que, aps a avaliao, o Juiz pode reduzir a penhora a bens suficientes ou mesmo transferi-la a outros, se o penhorado for consideravelmente superior a o crdito exeqendo (art. 685). O argumento de que a penhora de dinheiro, quando feita de forma eletrnica, pode eventualmente ultrapassar o valor da execuo, atingindo mais de uma conta, no razo suficiente, como se v, para invalidar a utilizao do sistema Bacen-Jud. Trata-se de sistema informtico que, na verdade, suaviza os efeitos de eventual penhora excessiva, se comparado com os mtodos tradicionais de requisio de penhora em dinheiro, na medida em que possui funcionalidade para desbloqueio de forma rpida e eficiente.

6- Momento para a realizao da "penhora on line" O magistrado deve se utilizar do sistema Bacen-Jud observando a legislao processual j existente, como assinalamos. A criao do sistema de "penhora on line" e sua disponibilizao, via convnio com o Banco Central, ao conjunto dos magistrados brasileiros no importou na alterao das regras processuais preexistentes. Os juzes agora tm disposio um meio rpido e eficaz de comunicao, para o envio de ordens judiciais, s entidades integrantes do Sistema Financeiro Nacional. Nada mais que isso. A utilizao do sistema, portanto, deve ser feita de maneira a se subsumir integralmente s normas previstas no Cdigo para o processo de execuo. O magistrado no pode se valer do sistema Bacen-Jud para atropelar as fases processuais e, em

ocorrendo tal situao, a parte prejudicada pode ofertar os recursos cabveis, demonstrando o prejuzo sofrido e requerendo a nulidade do ato judicial. Por essa necessidade que a penhora eletrnica de dinheiro (depositado em conta bancria) tem de obedecer s normas processuais, importante que o Juiz observe o momento adequado para utilizar o sistema do Bacen-Jud. Em regra, salvo situaes que justifiquem a concesso de medidas cautelares, o Juiz no deve utilizar o sistema de requisies on line antes da citao do ru. De acordo com as normas atinentes execuo por quantia certa (art. 646 e seguintes do CPC), o devedor deve ser "citado para, no prazo de 24 horas, pagar ou nomear bens penhora" (art. 652). O devedor, portanto, tem o direito processual de indicar bens penhora, depois de citado. Ento, o Juiz no deve utilizar o Bacen-Jud antes de oferecer a oportunidade para que o ru indique bens penhora, atravs de sua citao. Alm disso, o prprio credor pode preferir outro bem que no o dinheiro, hiptese em que a nomeao que no segue a ordem legal (656, I). No se opondo o exeqente, a nomeao feita pelo devedor prevalece[07]

.

Claro que isso, na prtica, dificilmente vai ocorrer, pois nenhum credor prefere dinheiro a outro bem, mas se deve respeitar essa possibilidade assegurada legalmente. De qualquer maneira, o Juiz deve como regra citar o executado e ouvir o exeqente sobre a nomeao, decidindo-se em seguida pela rejeio dos bens oferecidos penhora (quando for o caso) e investigando a existncia de outros (dinheiro em conta bancria) por via do Bacen-Jud. 6.1 Medida cautelar pelo sistema do Bacen-Jud Se possvel o bloqueio de conta-corrente, para penhora de dinheiro nela depositado, esse tipo de apreenso pode se fazer como medida cautelar, para garantir a eficcia do processo de execuo. A medida cautelar pode ser preparatria ou incidental ao processo de execuo (art. 796 do CPC) [08]. O Juiz pode conceder uma medida cautelar especfica, desde que patentes os requisitos especficos, ou uma medida cautelar inominada, quando outras situaes (e no aquelas elencadas expressamente para um dos procedimentos cautelares especficos[09]

) se

fizerem presentes [10], demonstrativas do "periculum in mora" e do "fumos boni juris" do requerente. Nesse sentido, o Juiz pode, observando que o devedor tenta ausentar-se, alienar seus bens, transferi-los para nome de terceiros ou comete outro artifcio fraudulento com a inteno de frustrar a execuo e lesar

o credor, conceder uma medida cautelar especfica de arresto (art. 813), determinando o bloqueio de dinheiro em conta bancria do devedor [11] pelo sistema do Bacen-Jud. O Juiz processante da execuo tambm pode conferir ao credor uma medida cautelar inominada, valendo-se do seu poder geral de cautela (art. 798), quando outras situaes, que no as discriminadas nos incisos do art. 813 se mostrem presentes. Por exemplo, quando o credor comprova que o devedor tem outros processos de execuo em andamento, onde as dvidas no foram satisfeitas, ou que tem um passado de mau pagador, com nome em bancos de dados de proteo ao crdito. Essas so situaes que podem perfeitamente autorizar a concesso de medidas cautelares pelo Juiz, para preservar a eficcia do processo de execuo. Atualmente, certos devedores, para escaparem da constrio eletrnica, retiram os valores das contas assim que tm conhecimento do processo de execuo (e s vezes antes disso). Como os devedores (e seus advogados) j tm conhecimento do potencial de utilizao do sistema BacenJud pelos juzes, sacam os valores de suas contas para escapar da "penhora on line". Se o requerente consegue demonstrar indcios de que tal manobra est a ocorrer e que, sem o bloqueio de contas, dificilmente sobraro bens para garantir a execuo (ou que os bens restantes so de difcil converso em dinheiro), o Juiz pode conceder a medida liminarmente, concretizando a ordem via sistema Bacen-Jud. Essa nova realidade induz a que os Juzes se mostrem sensveis possibilidade de utilizao do Bacen-Jud de forma cautelar, para evitar o cometimento de prejuzo ao direito de crdito do credor, pela retirada antecipada do numerrio existente em contas bancrias de titularidade do devedor. A constatao de que a maioria dos devedores sacam valores de contas bancrias quando pressentem a iminncia de um processo de execuo, deve conduzir a uma utilizao cada vez maior do sistema BacenJud para a implementao de medidas cautelares de bloqueio de contas. Em todo e qualquer caso, o Juiz tem sempre que fundamentar a concesso da medida, indicando a presena dos requisitos que a autorizam. O Juiz, ao conceder uma medida cautelar para bloqueio de conta bancria sem ouvida da parte contrria (o devedor), precisa no entanto estar atento para a possibilidade do clculo de atualizao da dvida (feito pelo credor) exceder demasiadamente o valor da dvida. Como se sabe, cumpre ao credor, ao requerer a execuo, instruir a petio inicial com o demonstrativo

de dbito atualizado at a data da propositura da ao, quando se tratar de execuo por quantia certa (art. 614, II, CPC)[12]

. Eventualmente, o clculo feito

pelo devedor pode conter erro que o faa ultrapassar em muito a atualizao da dvida real. Por essa razo, o Juiz deve sempre observar se o clculo do credor, pelo menos aparentemente, no ultrapassa os limites do ttulo exeqendo [13], de modo a evitar uma constrio de valor excessivo, antes de conceder uma medida cautelar de bloqueio de contas. 6.1.1 Medida cautelar no bojo do processo de execuo Antes da citao do devedor, a lei processual prev, no captulo que trata do processo de execuo por quantia certa [14], a figura do arresto provisrio, ou seja, a possibilidade de constrio de bens (para futura converso em penhora) do devedor no encontrado pelo Oficial de Justia. Tal faculdade est prevista no art. 653 do CPC, que estabelece: "O oficial de justia, no encontrando o devedor, arrestar-lhe- tantos bens quantos bastem para garantir a execuo". Nada impede que, verificada a situao ftica (devedor no encontrado para citao pelo oficial de justia), que o arresto provisrio seja realizado por meio de bloqueio de conta bancria[15]

, atravs da

utilizao, pelo Juiz, do sistema Bacen-Jud. Ciente da certido do oficial de justia de que no conseguiu encontrar o devedor, o Juiz pode ordenar, no prprio mbito do processo de execuo, a medida do arresto provisrio[16]

.

Alm dessa situao especfica, o Juiz est autorizado a determinar medidas cautelares de bloqueio de contas bancrias do devedor (via BacenJud) no prprio processo de execuo, sem necessidade de o credor ajuizar um processo cautelar autnomo. No processo de execuo, diferentemente do processo de conhecimento, sempre existiu a possibilidade de o autor cumular ao pedido principal requerimento para que o Juiz adote providncias cautelares. Essa autorizao legal consta do inc. III do art. 615 do CPC, que estabelece que ao credor, ao requerer a execuo, cumpre tambm, em sendo o caso, "requerer medidas acautelatrias urgentes". Esse dispositivo, portanto, j assegurava ao exeqente a possibilidade de requerer medidas cautelares no bojo do prprio processo de execuo. Mas, mesmo diante dessa regra de evidente facilitao da prestao jurisdicional em benefcio do credor, sempre houve quem sustentasse a necessidade do manuseio de um processo cautelar autnomo, como forma de obter uma medida cautelar. Argumentava-se que o inc. III do art. 615 no

dispensava a necessidade de o credor promover o processo cautelar em paralelo execuo. Uma alterao no Cdigo de Processo Civil veio reforar, no entanto, a idia de que as medidas cautelares podem ser, sim, deferidas no bojo do prprio processo de execuo. Trata-se do acrscimo do pargrafo 7. ao art. 273 do CPC, includo pela Lei 10.442/02, o qual estabelece que o Juiz pode adotar medidas cautelares na esfera do prprio processo principal, "quando presentes os respectivos pressupostos". Diz o citado dispositivo que: "Se o autor, a ttulo de antecipao de tutela, requerer providncia de natureza cautelar, poder o juiz, quando presentes os respectivos pressupostos, deferir a medida cautelar em carter incidental do processo ajuizado". Ao prever a fungibilidade entre a tutela antecipada e a medida cautelar, o pargrafo 7o. do art. 273 acabou autorizando a possibilidade de o Juiz conceder medida cautelar incidental em qualquer tipo de processo e procedimento. Antes da edio da Lei 10.444, de 07.05.02, no havia previso no sistema jurdico ptrio para uma concesso de liminar de natureza assecuratria no processo principal (de conhecimento). Sobrava a regra do art. 292, inc. III, do CPC, que exige como requisito da admissibilidade da cumulao "que seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento". Interpretando essa regra, a jurisprudncia repelia a cumulao de um pedido cautelar com o principal [17], determinando inclusive que o autor promovesse o desmembramento dos processos [18]. Assim, por exemplo, um devedor no podia, nos prprios autos de uma ao ordinria declaratria de inexigibilidade do dbito, formular um pedido cautelar de sustao do protesto. No se admitia a sustao liminar na prpria ao principal, havendo sempre a necessidade de o interessado promover um processo cautelar autnomo. Agora, por fora da norma do par. 7. do art. 273, o autor de um processo de conhecimento pode requerer uma liminar cautelar, na forma de providncia incidente ao processo ajuizado[19]

. Antes no se admitia a

cumulao do pedido cautelar com o principal, ou a concesso liminar de medida cautelar na ao principal, em razo da falta de previso expressa em lei. A nova regra veio preencher esse vcuo legal, autorizando a concesso de liminar de natureza cautelar "em carter incidental ao processo ajuizado" e proporcionando elevada simplificao processual.

O art. 273 (e seu par. 7.) refere-se ao processo de conhecimento, mas execuo aplicam-se subsidiariamente as disposies que regem o processo de conhecimento (art. 598 do CPC). Essa aplicao subsidiria das normas do processo de conhecimento execuo s tem limitao quando existe norma especfica no segundo [20]. O entendimento de que as normas do processo de conhecimento aplicam-se de forma subsidiria em tudo quanto no forem incompatveis com o processo de execuo [21]. Esse entendimento confirma a viabilidade de medida cautelar incidental nos prprios autos do processo de execuo, sem necessidade de um processo autnomo cautelar. Se possvel cautelar incidental (nos prprios autos) do processo de conhecimento, o mesmo se aplica ao processo de execuo, ainda com mais razo em face da regra do art. 615, III. Se o Juiz, pela nova sistemtica processual, est autorizado a deferir uma medida cautelar de bloqueio de conta (ou outra providncia liminar) no bojo do processo de execuo, a facilidade da comunicao eletrnica recomenda que a implemente por meio do sistema Bacen-Jud.

7. Concluses: 1. A "penhora on line", assim entendida a determinao judicial para o bloqueio de contas bancrias via sistema Bacen-Jud, no interfere com as regras do Processo de Execuo (Livro II do CPC) e a ele deve se subsumir integralmente. 2. O princpio da economicidade no pode superar o princpio maior da utilidade da execuo para o credor, propiciando que se realize por meios ultrapassados e ineficientes soluo do crdito exeqendo. Por essa razo, deve haver uma preferncia pela penhora de dinheiro, atravs do sistema eletrnico de requisies judicirias (sistema Bacen-Jud), mtodo idneo e suficiente para alcanar o resultado pretendido com o processo de execuo. 3. Possuindo o devedor mais de uma espcie de bens, dentre estes dinheiro em conta-corrente, deve o Juiz, o mximo que possvel, atender a ordem de preferncia do art. 655 do CPC, isto , determinar que a constrio recaia sobre dinheiro, utilizando-se do sistema Bacen-Jud, dada a agilidade e praticidade que esse sistema oferece para o bloqueio de valores depositados em instituies financeiras.

4. No se pode afirmar que as conseqncias geradas pela utilizao do sistema de "penhora on line" sejam mais gravosas do que a utilizao de outro meio. As adaptaes realizadas no sistema Bacen-Jud deram maior agilidade ao processo de desbloqueio de contas bancrias, em caso de penhora excessiva, evitando a possibilidade de prejuzos. Utilizando o sistema do Bacen-Jud o Juiz sempre tem a faculdade de, da mesma forma como determina o bloqueio, ordenar o desbloqueio, em caso de verificar que a penhora atingiu conta onde esto depositados valores (bens) de natureza impenhorvel ou quantias acima do valor da dvida executada. A nova verso do Bacen Jud (2.0) corrigiu algumas falhas no sistema antigo, principalmente em relao falta de agilidade para desbloquear recursos penhorados em excesso. 5. Em regra, salvo situaes que justifiquem a concesso de medidas cautelares, o Juiz no deve utilizar o sistema requisies on line antes da citao do ru. 6.O Juiz pode, observando a presena de situaes de periculum in mora para a satisfao do crdito do exeqente, conceder medida cautelar de bloqueio de dinheiro em conta bancria do devedor pelo sistema do Bacen-Jud. 7. O Juiz est autorizado a determinar medidas cautelares de bloqueio de contas bancrias do devedor (via Bacen-Jud) no prprio processo de execuo, sem necessidade de o credor ajuizar um processo cautelar autnomo, em face da regra do do inc. III do art. 615 do CPC, reforada com o advento da norma do pargrafo 7. do art. 273 do CPC, includo pela Lei 10.442/02, desde que "presentes os respectivos pressupostos". 8. recomendvel que o Juiz, tendo em vista que a memria de clculo de atualizao da dvida feita pelo prprio credor (art. 614, II), verifique cuidadosamente sua adequao aos ndices legais de correo, valendo-se de contador se necessrio, antes de promover um bloqueio cautelar (sem ouvida do devedor) via Bacen-Jud, para evitar a possibilidade de constrio excessiva. 9. A criao do sistema de penhora eletrnica do Banco Central trouxe maior efetividade ao processo de execuo do que qualquer reforma da legislao processual.

Notas

01

Essa verso anterior do sistema Bacen-Jud ainda est disponvel,

com a pgina inicial (home page), mas a funcionalidade de bloqueio foi desativada desde 19.12.05, quando entrou em funcionamento a nova verso 2.0.02

Sugerimos uma visita pgina de apresentao do Bacen-Jud 2.0,

no site do Banco Central, onde podem ser encontradas todas as informaes sobre as alteraes produzidas no sistema: http://www.bcb.gov.br/fis/pedjud/ftp/BACEN%20JUD%202.0%20%20Apresentacao.doc03 04 05

O endereo do site : http://www.bcb.gov.br/?BACENJUD2 Em seu site na Internet - http://www.bacen.gov.br/ STJ-1. Turma, REsp 419151/SP, rel. Min. Luiz Fux, j. 05.11.02, DJ STJ-1. Turma, REsp 419151/SP, rel. Min. Luiz Fux, j. 05.11.02, DJ "Tambm se entende que, violada a ordem preferencial contida no

10.03.03.06

10.03.03.07

art. 655 mas no se opondo o exeqente, a nomeao feita pelo ru deve prevalecer" (DINAMARCO, Cndido Rangel. Instituies de Direito Processual Civil. vol. IV. So Paulo: Malheiros, 2004, p. 516).08

Quando a lei fala (no art. 796) em "processo principal", no exclui o

processo de execuo como sendo o principal do qual depende o procedimento cautelar.09

As medidas cautelares especficas (p. ex., arresto e seqestro) esto

previstas a partir do Captulo II do Ttulo nico do Livro III (Do Processo Cautelar), do CPC.10

A medida cautelar especfica no pode ser concedida seno nos

casos expressos em lei, no podendo ser ampliada como medida cautelar inominada (RT 600/165). Da que "no se deve deferir cautela inominada na hiptese de prever o ordenamento jurdico providncia especfica para atender necessidade cautelar" (RTFR 162/173).11

A jurisprudncia admite medida cautelar de arresto com a finalidade

de bloquear conta bancria, quando pleiteada "diante do justo receio da parte de no receber o valor da dvida contrada, inclusive pela ausncia de outros bens que pudessem garantir a execuo" TJPE, AGTR n 71658-1, 3 Cmara Cvel, rel. Des. Silvio de Arruda Beltro, ac. un., j. 17/03/2005, DJ 13/04/2005).

12

Essa redao do inc. II do art. 614 vem desde a Lei 8.953, de A Lei 10.444, de 07.05.02, incluiu o par. 2. ao art. 604, permitindo ao

13.12.94.13

Juiz valer-se do contador do juzo para adequar clculo apresentado pelo credor, aparentemente excedente dos limites da deciso exeqenda. A recente Lei 11.232/05 revogou esse dispositivo, mas incluiu regra semelhante no par. 3. do art. 475-B, que trata da liquidao de sentena.14 15

Captulo IV do Ttulo I, do Livro do Processo de Execuo. A jurisprudncia admite o arresto de bens na forma de bloqueio de

depsitos em conta bancria: "O arresto de bens medida prevista legalmente, quando no encontrado o devedor. Sendo o dinheiro, o primeiro na ordem de penhora, possvel o bloqueio de valores encontrados na conta do executado, ainda que no tenha havido a citao (TJRS, AGTR n 70009242900, Vigsima Segunda Cmara Cvel, rel. Des. Leila Vani Pandolfo Machado, Julgado em 01/09/2004).16

Pode parecer, pela redao do art. 653, que o arresto no caso de

devedor no encontrado pelo Oficial de Justia, feito de forma automtica por este, sem interferncia ou prvia cincia do fato ao Juiz. Mas, pelo menos na prtica, a coisa no funciona assim, at porque antes de promover o arresto, o Oficial de Justia tem que "certificar cumpridamente que no localizou o devedor (par. 2. do art. 652). Essa certido que ele lavra justamente para ser objeto de anlise do Juiz, que, em vista dela, pode determinar o arresto. A deciso do Juiz que determina o arresto provisrio (que se converte depois em penhora, art. 654, parte final) inclusive agravvel (RP 3/326).17

RTFR 152/29, RT 498/92, JTA 47/44, RJTJERGS 153/285 e RSTJ Sob pena do indeferimento da inicial do processo principal (TFR-4.

68/381).18

Turma, Ag. 58.154-PE, rel. Min. Ilmar Galvo,. 9.11.88, DJU 20.2.89.1

9 Posio que destoa da sustentada por Theotnio Negro, que

defende o processamento da cautelar em autos apartados (CPC e Legislao Processual em Vigor, 35. ed., nota 30 ao art. 273).20 21

RSTJ 6/419. Nota de Theotonio Negro ao art. 598 do CPC.

Autor

Demcrito Reinaldo Filho

juiz de Direito em Pernambuco, diretor do Instituto Brasileiro de Direito e Poltica da Informtica (IBDI).Doutorando do curso de Direito da Universidade Estcio de S (RJ).http://www.infojus.com.br

Como citar este texto: NBR 6023:2002 ABNTREINALDO FILHO, Demcrito. A penhora on line: a utilizao do sistema BacenJud para constrio judicial de contas bancrias e sua legalidade. Jus Navigandi, Teresina, ano 11, n. 1066, 2 jun. 2006. Disponvel em:. Acesso em: 10 jul. 2011.