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ÍNDICE CAUSO Nº 1 – Casamento errado - Por Luiz Vitor............................................. Pág 7 CAUSO Nº 2 – Negócio fechado- Por Luiz Vitor ..................................................Pág 9 CAUSO Nº 3 – A resposta na lata, do Mateus - Por Procópio ............................Pág 10 CAUSO Nº 4 – Um passeio no Rio de Janeiro - Por Luiz Vitor .........................Pág 11 CAUSO Nº 5 – Morde ou não morde? - Por Procópio ........................................Pág 12 CAUSO Nº 6 – Danada da baioneta - Por Procópio ............................................Pág 13 CAUSO Nº 7 – O Soldado Músico Zé Horta - Por Luiz Vitor ........................... Pág 14 CAUSO Nº 8 – A providencial mesa - Por Luiz Vitor .........................................Pág 15 CAUSO Nº 9 – O Show particular para o Limão – Por Simões ........................Pág 16 CAUSO Nº 10 – No mundo da lua - Por Procópio ..............................................Pág 17 CAUSO nº 11 – No avião, cobras e lagartos – Por Procópio .............................Pág 18 CAUSO nº 12 – Casado? Nem tanto... – Por Procópio .......................................Pág 19 CAUSO Nº 13 – Outra do Tiradentes – Por Procópio ........................................Pág 20 1

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ÍNDICECAUSO Nº 1 – Casamento errado - Por Luiz Vitor............................................. Pág 7

CAUSO Nº 2 – Negócio fechado- Por Luiz Vitor ..................................................Pág 9

CAUSO Nº 3 – A resposta na lata, do Mateus - Por Procópio ............................Pág 10

CAUSO Nº 4 – Um passeio no Rio de Janeiro - Por Luiz Vitor .........................Pág 11 CAUSO Nº 5 – Morde ou não morde? - Por Procópio ........................................Pág 12

CAUSO Nº 6 – Danada da baioneta - Por Procópio ............................................Pág 13

CAUSO Nº 7 – O Soldado Músico Zé Horta - Por Luiz Vitor ........................... Pág 14

CAUSO Nº 8 – A providencial mesa - Por Luiz Vitor .........................................Pág 15

CAUSO Nº 9 – O Show particular para o Limão – Por Simões ........................Pág 16

CAUSO Nº 10 – No mundo da lua - Por Procópio ..............................................Pág 17

CAUSO nº 11 – No avião, cobras e lagartos – Por Procópio .............................Pág 18

CAUSO nº 12 – Casado? Nem tanto... – Por Procópio .......................................Pág 19

CAUSO Nº 13 – Outra do Tiradentes – Por Procópio ........................................Pág 20

CAUSO Nº 14 - Hora do Rancho - Por Procópio ................................................Pág 21

CAUSO nº 15 - Contando até Zero - Por Procópio .............................................Pág 22

CAUSO Nº 16 - Muito macho!... Mas só ao rés do chão - Por Procópio ...........Pág 23

CAUSO Nº 17 - A fome do Matias - Por Procópio ..............................................Pág 24

CAUSO Nº 18 – Pulando o muro do Almoxarifado - Por Ronaldo ...................Pág 25

CAUSO Nº 19 - Espaço mal cheiroso... ou mera questão de dubiedade ?

Por Procópio .............................................................................Pág 27

CAUSO Nº 20 – A estranha carta – Por Simões ................................................Pág 28

CAUSO Nº 21 – A estranha preferência do Marreco - Por Simões ................Pág 29

CAUSO Nº 22 – Siri sem molho – mas bem regado - Por Procópio .................Pág 30

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CAUSO Nº 23 – Uma cola na Prova de Educação Física? - Por Luiz Vitor ....Pág 31

CAUSO Nº 24 – À procura de um Fotógrafo - Por Luiz Vitor ................... .....Pág 33

CAUSO Nº 25 – Monstruosa alteração - Por Procópio ............................. .......Pág 34

CAUSO Nº 26 – O pé de Chumbo - Por Luiz Vitor ............................................Pág 36

CAUSO Nº 27 – A calma e a tranqüilidade do "Pé-de-chumbo" - Por Procópio

...........Pág 37

CAUSO Nº 28 – Arte culinária em Guarapari - Por Procópio ........................Pág 39

CAUSO Nº 29 – Não existe crime perfeito - Por Luiz Vitor ...............................Pág 40

CAUSO Nº 30 – O nosso primeiro pedido em Cancun - Por Luiz Vitor ...........Pág 41

CAUSO Nº 31 – Nem tudo que reluz é Ouro - Por Procópio .............................Pág 43

CAUSO Nº 32 – Por falar em p. veia, o fuzil mais leve do DI - Por Lúcio Emílio

..........Pág 44

CAUSO Nº 33 – Cadete PM ECO - Por Pastor ....................................................Pág 46

CAUSO Nº 34 – O nome incorreto - Por Pastor ...................................................Pág 47

CAUSO Nº 35 – O presente do Edmar - Por Pastor ............................................Pág 48

CAUSO Nº 36 – O atraso do cadete Vale - Por Pastor ........................................Pág 49

CAUSO Nº 37 – Sargento Chapisco - Por Pastor ................................................Pág 50

CAUSO Nº 38 – O dente quebrado - Por Pastor .................................................Pág 51

CAUSO Nº 39 – Idem, idem, idem - Por Pastor ..................................................Pág 52

CAUSO Nº 40 – A Cor da Chita - Por Pastor ......................................................Pág 53

CAUSO Nº 41 – Lacerdino: BASE - Por Pastor...................................................Pág 54

CAUSO Nº 42 – Os gêmeos Santino e Santos Costa - Por Pastor ..................... Pág 55

CAUSO Nº 43 – O problema existencial - Por Pastor......................................... Pág 56

CAUSO Nº 44 – O fuzil do Marreco - Por Pastor ..............................................Pág 57

CAUSO Nº 45 – O pulo do Sapo - Por Pastor .....................................................Pág 58

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CAUSO Nº 46 – A passagem de comando - Por Pastor ......................................Pág 59

CAUSO Nº 47 – Líder da resistência passiva salvo pelos Sargentões -

Por L. Emílio ............Pág 60

CAUSO Nº 48 – A limpeza do coturno - Por Pastor ............................................Pág 61

CAUSO Nº 49 – Sapato de cadete tem a cor que ele quiser.. se não chover. P.Procópio ................Pág 62

CAUSO Nº 50 – Atividade extra-classe – Por Procópio ......................................Pág 63

CAUSO Nº 51 – Um alojamento de qualidade - Por Luiz Vitor .........................Pág 65

CAUSO Nº 52 – O patrulhão - Por Luiz Vitor .....................................................Pág 67

CAUSO Nº 53 – Comendo "PM" de olho no "Pão-com-ovo" -

Por Procópio ....................................Pág 69

CAUSO Nº 54 – Essa o RCont não previa. - Por Lúcio Emílio .........................Pág 70

CAUSO Nº 55 – Do FM, só o cabo – Por Procópio ............................................Pág 71

CAUSO Nº 56 – O Mensageiro - Por Procópio ..................................................Pág 73

CAUSO Nº 57 – O Golfista – Por Soares ............................................................Pág 74

CAUSO Nº 58 – Fofoca na caserna!!! Será? – Por Procópio .............................Pág 76

CAUSO Nº 59 – Bala perdida na sala do CFO 3 – Por Lúcio Emílio ...............Pág 77

CAUSO Nº 60 – Deus seja louvado – Por Cícero Moteran .................................Pág 78

CAUSO Nº 61 – O sanduíche do Nélio – Por Luiz Vitor ....................................Pág 79

CAUSO Nº 62 – A cueca branca – Por Procópio ................................................Pág 81

CAUSO Nº 63 –Um golpe no escuro– Por Soares ...............................................Pág 82

CAUSO Nº 64 – A mensagem cifrada – Por Procópio.........................................Pág 83

CAUSO Nº 65 – A disparada do Aquino – Por Procópio....................................Pág 85

CAUSO Nº 66 – Um matreiro caixão-de-areia – Por Soares..............................Pág 86

CAUSO Nº 67 –Uma missão pra lá de secreta - Por Procópio...........................Pág 88

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CAUSO Nº 68 – Desfile em continência à obra de arte de um cagão desconhecido –

Por Tarcício...........................Pág 89

CAUSO Nº 69 – Salvo pelo gongo!– Por Soares................................................Pág 91

CAUSO Nº 70 – A grande sentada – Por Procópio...........................................Pág 93

CAUSO Nº 71 – Um pouco de "Bullying" até que não faz mal.– Por Soares Pág 94

CAUSO Nº 72 – Foi só uma sugestão, Comandante! – Por Aleixo (71)..........Pág 97

CAUSO Nº 73 - O milagre da transformação do néctar dos Deuses

em H2O – Por Tarcício............................................................Pág 98

CAUSO Nº 74 –Venturas e desventuras de um caçador – Por Soares........... Pág 100

CAUSO Nº 75 – Um padrinho em saia justa – Por Soares.............................Pág 102

CAUSO Nº 76 –Lições da aurora – Por Lúcio Emílio....................................Pág 105

CAUSO Nº 77 -Um ladrão em palpos de aranha – Por procópio..................Pág 109

CAUSO Nº 78 -Antes da Aurora – Uma Lição de Disciplina –Por Soares...Pág 111

CAUSO Nº 79 – Isso é data para casamento ? – Por Soares..........................Pág 114

CAUSO Nº 80 –Duas chuveiradas insólitas - Por Soares ..............................Pág 116

CAUSO Nº 81 – Sizudo, um aspirante de opinião.– Por procópio................Pág 118

CAUSO Nº 82 - Marimbondo nos costados de primeiro ano é refresco.

Por Procópio................Pág 120

CAUSO Nº 83 – Marafo – Por Cícero................................................................Pág 122

CAUSO Nº 84 – Arranca Rabo – Por Cícero....................................................Pág 126

CAUSO Nº 85 – Pela hora da morte – Por Cícero...........................................Pág 129

CAUSO Nº 86 - Quem se lembra do Meninão? - Por Soares........................Pág 135

CAUSO Nº 87 - Antes da Aurora II - Um Lutador Temerário –Por Soares...Pag 138

CAUSO Nº 88 –O tombo do mestre Courinha – Por Luiz Vitor......................Pag 142

CAUSO Nº 89 – O coral – Por Procópio.............................................................Pag 145

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CAUSO Nº 90 –A pescaria – Por Procópio.........................................................Pág 146

CAUSO Nº 91 –Por um "macaco" paga-se um "mico"– Por Procópio...........Pág 148

CAUSO Nº 92 –Pequenos, mas...com pau grande – Por Procópio....................Pág 151

CAUSO Nº 93 –Dois comensais aparvalhados – Por Soares............................Pág 153

CAUSO Nº 94 – Um Sargento apimentado – Por procópio.............................Pág 155

CAUSO Nº 95 – A posição de descansar correta – Por Procópio ...................Pág 157

CAUSO Nº 96 – O roubo da Maria Rosa – Por Procópio................................Pág 158

CAUSO Nº 97 – Algo de mal cheiroso pairava no ar – Por Procópio............Pág 159

CAUSO Nº 98 – Andando sobre pregos – Por Procópio...................................Pág 161

CAUSO Nº 99 – Um combate aos 17 anos – Por Luiz Vitor.............................Pág 162

CAUSO Nº 100 – Uma brincadeira e sua contrapartida – Por Procópio.......Pág 167

CAUSO Nº 101- Memórias de um atleta Asp70 – Parte I – Por Marcílio.......Pág 169

CAUSO Nº 102 – Memórias de um atleta Asp70 – Parte II – Por Marcílio....Pág 171

CAUSO Nº 103 – Memórias de um atleta Asp70 – Parte III– Por Marcílio.. Pág 173

CAUSO Nº 104 - Memórias de um quase atleta – Por Procópio......................Pág 175

CAUSO Nº 105 - Uma comemoração azarada – Por Procópio.........................Pág 177

CAUSO Nº 106 - Jogos memoráveis... ou nem tanto – Por Soares...................Pág 179

CAUSO Nº 107 – Passagem Serv. Dia. Verdadeira parada – Por Procópio... Pág 181

CAUSO Nº 108 – Passagem Serv. Dia. Verdadeira parada – Por Procópio... Pág 183

CAUSO Nº 109 – Marcha e acampamento – Por Procópio.............................. Pág 185

CAUSO Nº 110 - Causo da botina – Por Ronaldo.............................................Pág 187

CAUSO Nº 111 – Teje preso! Teje preso também....................Por Ronaldo.. Pág 189

CAUSO Nº 112 – Um hasteamento incomum do Ten FHEAP...Por Cúrcio ...Pág 191

CAUSO Nº 113 – Quem perdoa não é perdoado 191.......Por Cúrcio ..............Pág 192

CAUSO Nº 114 – Iniciativa versus disciplina...................Por Cúrcio ..............Pág 193

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CAUSO Nº 115 – Precedência............................................Por Cúrcio ..............Pág 194

CAUSO Nº 115 – Planejamento & Eficiência................Por Cúrcio ...............Pág 195

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CAUSO Nº 1 - Casamento erradoPor Luiz Vitor

Esse causo aconteceu comigo mesmo. Foi muito jocoso e interessante.

Recebemos um convite para o casamento de uma filha de um amigo de infância, de nome Guaraci.

A dita cerimônia estava marcada para o dia 19 de Março e seria na capela do Colégio Arnaldo.

Ocorre que o convite sumiu e minha esposa, Dalva, disse-me que tinha certeza que a data era 12 de Março.

Confiantes em sua memória, na data estipulada, fomos todos os seis, eu, a Dalva e os quatro filhos, vestidos a caráter evidentemente, e correndo para não chegarmos atrasados à cerimônia religiosa.

A Dalva, vendo uma senhora sorridente na porta da igreja, julgando tratar-se da mãe do noivo, cumprimentou-a dando-lhe beijinhos e fazendo a entrega do presente, devidamente embrulhado.

A mãe do noivo, julgando tratar-se de convidada da noiva, recebeu polidamente o presente, acondicionando-o em uma caixa própria para tal, colocada ao lado da porta principal da capela.

Entramos para a igreja e sentamos em um dos primeiros bancos, muito sorridentes e cumprimentando o povão, que retribuía aos cumprimentos.

Apesar de estar achando muito estranho, por coincidência, havia um senhor parecidíssimo com um dos tios da nossa noiva, ao qual demos até um "Xauzinho".

Eis que o conjunto musical inicia seus primeiros acordes da marcha nupcial e imediatamente levantamo-nos e pusemo-nos a olhar com vivo interesse para vermos como a noiva estava.

A noiva portava um véu cobrindo-lhe o rosto, o que dificultava a sua identificação, mas o pai da noiva, que conhecíamos muito, estava visivelmente diferente.

Aparece-nos um senhor bastante obeso, calvo, cabelos grisalhos ao redor da cabeça, com óculos de lentes grossas, nariz proeminente, enquanto o nosso amigo Guaraci era de estatura franzina, bem magro, mais cabeludo, nariz afilado, de características completamente diversa daquela figura.

Foi quando aos cochichos comentei com a Dalva: "Como o Guaraci está mudado, querida!!!" Como engordou, carecou, deve ter feito plástica para aumentar o nariz!

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Como os pais da noiva estavam divorciados e há muito tempo não os víamos, julguei que poderia ter sido desgaste natural do tempo, já que tal situação desgasta muito as pessoas ou então que algum amigo da família tivesse sido escolhido para entrar com a noiva

Foi quando minha mulher resolveu perguntar para uma senhorita ao lado, qual era o nome da noiva, tendo ficado chocada ao saber tratar-se de pessoa completamente desconhecida.

Ante seu espanto, demos um jeitinho de sairmos despistadamente, como se houvéssemos esquecido algo lá fora e rachamos fora rapidamente para ninguém perceber.

Nem pedimos o presente de volta para não levantar suspeita do ocorrido.Fomos então para uma churrascaria nas imediações para nos refazermos do susto.

Seguros de que o episódio ficaria em segredo, eis que na semana seguinte, uma professora de inglês da minha filha Dryka, procurou-a e lhe disse: "Dryka, te procurei na festa do casamento da Patrícia e não te encontrei. Eu te vi entrando na igreja com a sua família. De onde vocês a conhecem?"

A Dryka começou a rir compulsivamente e teve de explicar todo o episódio.

Ahuahuahuahuahuahuahua

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CAUSO Nº 2 - Negócio fechadoPor Luiz Vitor

Quando estávamos no primeiro ano, em 1967, o Valdivino vendo um gravadorzinho de fita, daqueles antigos, de primeiro lançamento, pertencente a mim, passou a se interessar na compra do mesmo, apesar de não estar à venda.

Ficou a procurar-me insistentemente, querendo a qualquer custo comprar a novidade. Após algum tempo de insistência resolvi ceder e propus o preço justo.

O Valdivino ficou de pensar e após uma semana apareceu com a proposta de comprar o mequetrefe do gravador, pelo preço estipulado, mas financiado em 60 (sessenta) prestações de um lanche por dia.

Para sua surpresa aceitei a proposta e a partir de então, todos os dias no intervalo de lanche lá íamos nós para a cantina onde, impreterivelmente o Valdivino honrava seu compromisso, mas era só um pãozinho com manteiga e uma média de café com leite.

Isso durou uns três meses, já que não havia boletos para pagamentos nos fins de semana e feriados. Ahuahuahuahuahuahua

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CAUSO Nº 3 -A resposta na lata, do Mateus Por Procópio

O ano 1969. Local: Água Limpa. O evento ranca rabo. Autores alguns alunos do quarto ano. A vítima o terceiro ano (futuros aspirantes 70).

Estávamos enfiados num brejo, corre pra lá, corre pra cá, deita levanta,corre de novo. De repente o João Bosco de Castro grita: “aluno Mateus é pra deitar”. A resposta vem de imediato: “Sô aluno eu já estou é nadando”.

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CAUSO Nº 4 – Um passeio no Rio de janeiro Por Luiz Vitor

Nas férias de fim de ano de 1969, viajamos eu, o Nélio, o Lima e o Maurício para o Rio de Janeiro. Como éramos quatro duros, procuramos o 4º BPM da PMERJ para nos instalar.

Colocaram-nos no sótão de um prédio velho, cheio de baratas, pernilongos e outros bichos, mas ficamos radiantes com a receptividade. Tomamos um banho e partimos para conhecer o Rio de Janeiro, que ainda era tranqüilo.

Tomamos um ônibus em direção a Copacabana, já de noite, e como todos estávamos exaustos, dormimos sentados, quase que instantaneamente. Todos os quatro.

Algumas horas depois somos abruptamente acordados pelo trocador que perguntava se a gente não iria descer.

Levantamos assustados, sem ter a menor idéia de onde estávamos.

Ficamos sabendo através do trocador que já havíamos passado por Copacabana já havia mais de uma hora e que estávamos exatamente no outro extremo da cidade.

Não tivemos escolha a não ser pagar nova passagem e retornarmos para o Batalhão a fim de dormir.

No dia seguinte a coisa foi mais promissora.

Arrumamos umas namoradas na praia e a minha era Cearense e trabalhava numa loja de chocolates pertinho da praia.

A partir desse dia começamos a freqüentar assiduamente a Loja de doces, onde nos fartávamos com as guloseimas experimentando uma novidade da época que eram os fios de ovos, tudo por conta da casa.

Apesar da namorada ser a minha, ia o time todo comer de graça. (Mas só os doces!!!)

Ahuahauahuahua

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CAUSO Nº 5 – Morde ou não morde?Por procópio

Aula de armamento e tiro para o CFO2-A.

Ano 1968.

Instrutor o então Ten Campolina.

Aproveitando-se o espaço entre o prédio da Adm. e o ginásio do antigo DI, estenderam-se as lonas e armaram-se as oficinas, duas ou três, não me lembro bem.

Os alunos espalharam-se em torno delas e diligentes se revezavam na desmontagem e montagem da metralhadora Colt .50, metralhadora pesada.

As peças iam sendo retiradas paulatinamente,quando um dos colegas, não lembro quem, com muito cuidado buscava, com o dedo, soltar uma mola situada no orifício da culatra que permitia a retirada do cano da arma, separando-o do corpo da metralhadora.

O cuidado se fazia necessário porque se a mola se soltasse bruscamente picotava o dedo do incauto.

O cuidado era tanto que chamou a atenção do Ten Campolina que logo gritou: "aluno enfia o dedo neste buraco com vontade que isto não morde. Deixa eu te mostrar como é que se faz".

Dito isto enfiou o dedo no tal buraco, mas tão rápido quanto enfiou, retirou-o também, balançando a mão e dizendo:

"Morde sim aluno! Morde sim!

É que a mola soltando-se picou-lhe o dedo.

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CAUSO Nº 6 – Danada da baioneta.Por Procópio

A tropa treinava para o desfile de Sete deSetembro.

Após a tarde inteira de instrução a cargo dos alunos do quarto ano, antes da dispensa, o oficial cmt de pelotão comparecia para verificar o grau de adestramento.

Para cumprir este desiderato, chega o tenente à frente do seu pelotão e depois de dar voltas de ordem unida, mandar em continência, ordena o armar baioneta, o movimento feito a um só tempo por todos saiu perfeito.

Até aí tudo corria bem e o tenente parecia satisfeito.

Veio em seguida o comando de desarmar baioneta. Após a execução, ouviu-se um barulho estranho, vindo do fim do pelotão: Plim...plim...plim.

O tenente divisando o autor do inusitado barulho pergunta: - O que está acontecendo mestre?

E aluno Juvenal (saudoso Juvenal da turma de 69) com a capa metálica do sabre na mão responde:

- Não sô tenente! É que o sabre não quer soltar está agarrado na vareta.

Ahuahuahuahuahauahua

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CAUSO Nº 7 – O Soldado Músico Zé Horta

Por Luiz Vitor

O Zé Horta antes de entrar para o CFO, entrou como recruta no então DI. Na época o negócio era muito instável e a escola de Recruta não tinha continuidade. Parava, começava, parava, começava e por ai em diante.

Foi quando publicou-se uma Resolução do Comando Geral extinguindo essa Escola de Recrutas, determinando que fossem desligados todos os seus integrantes, exceto aqueles que fossem datilógrafos ou músicos, já que eram as necessidades mais prementes da corporação na época.

O Zé Horta não era nem um nem outro.

Quando ficou sabendo da Resolução, correu até a banda de música e procurou o Subtenente Zacarias, amigo da família dele, ao qual relatou o fato, dizendo que não era nem datilógrafo nem músico e que estava para ser desligado do curso, perguntando-lhe se não poderia dar um jeitinho.

O Subtenente Zacarias, aquiesceu, condoendo-se pelo problema do filho de seu amigo e aceitou a sua bela sugestão.

No dia seguinte, aparece o Zé Horta desfilando no meio da Banda de Música, com um Pistom na boca e mexendo os dedos, como se estivesse tocando naturalmente.

Isso passou a ocorrer diariamente, tendo sido então o Zé Horta admitido como Soldado Músico sem conhecer bulhufas da arte

Ahuahuahuahuahua

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CAUSO Nº 8 – A providencial mesaPor Luiz Vitor

Antes de entrar para o CFO, o Zé Horta era Soldado da Academia, sendo na época seu Comandante, nada mais nada menos, que o temido Cel Drumond. Uma fera!

O Cel Drumond havia baixado uma norma determinando que "estava proibido comparecer à cantina da Unidade, fora dos horários de lanche".

Ato contínuo, o Cel Drumond passou a fiscalizar pessoalmente o cumprimento de sua determinação dando incertas ao local, para punir os descumpridores da ordem, inclusive Oficiais da própria Escola.

Num belo dia, o Zé Horta, com fome, e contrariando a determinação do Comandante, foi fazer um lanche fora do horário entrando para a cozinha da cantina.

Eis que, ato contínuo, adentra ao local o Cel Drumond para a sua rotineira fiscalização, encontrando vários militares descumprindo a determinação.

Quando o Zé Horta percebeu o imbróglio que se metera, entrou debaixo de uma mesa, levantando-a e começou a retirar-se da cantina carregando essa mesa.

Quando passava pelo Cel Drumond, foi inclusive ajudado pelo mesmo, que pediu aos demais militares, licença para que aquele menino pudesse passar.

O Zé Horta ficou de longe observando atrás de uma árvore, e esperando a saída do Comandante daquela cantina, para finalmente poder devolver a providencial mesa, ao seu legítimo lugar.

Ahuahuahauhahuahuahua

CAUSO Nº 9 – O Show particular para o Limão

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Por Simões

Quando chegamos no DI, bichos vindo do ES, o Lima de 1968, irmão do nosso colega Lima, todos os dias chamava eu e o Léllis à presença dele.

Nossa missão diária era de que eu deveria cantar alguma música e o Léllis assoviar alguma coisa, sob pena de ficarmos detidos no fim de semana.

Nenhum dos dois poderia rir um do outro.

Como o Léllis não conseguia assoviar por causa do seu queixo Noel Rosa, embora tentasse, a minha risada era inevitável e resultado: foram vários fins de semana detidos, nós dois!

Era só ele começar a assoviar que eu já me declarava preso no fim de semana! Bons tempos, muitas saudades! kkkkkkkkkk.

Um abraço do Simões.

CAUSO Nº 10 –No mundo da lua.Por Procópio

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Ouvi dizer que de certa feita, alguns colegas ao se aproximarem do portão de entrada do antigo DI, perceberam que apressado, passava por eles um determinado colega de turma (não digo o nome porque ele é meio esquentado).

Assim que ele passou pelo portão, o sentinela o chamou: - Sô aluno... Sô aluno! Ao voltar para atender ao chamado, o sentinela completou: - O Senhor me desculpe, mas o senhor tá com um pé de sapato marrom e o outro preto.

O aluado colega que morava nas imediações voltou correndo para fazer a troca, mas chegou atrasado para a chamada.

ahuahuahuahuahuahua

CAUSO nº 11 – No avião, cobras e lagartos

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Por Procópio

Esta aconteceu durante uma das nossas viagens de turma. Estávamos indo para Maceió e tivemos que fazer escala em Salvador. Dentre os passageiros que embarcaram naquela cidade estavam uma senhora com uma criança que, por sorte ou azar do destino, tomaram assento em um poltrona perto do nosso amigo Tiradentes, próximo também estávamos eu e Cléo. A dita senhora mal assentou-se já tinha rezado uns cinquenta Pai Nosso e outras tantas Ave Maria. O Tiradentes com um jornal nas mãos, com voz pausada e em bom tom, soltou a seguinte frase:

_ Avião cai e mata cem.

Caiu mesmo foi na cabeça do Tiradentes. Pois a tal senhora soltou pra cima dele cobras, lagartos e outros impropérios, só não o chamou de "santo". Nosso amigo com a calma que lhe é peculiar retrucou:

_ Mas está escrito aqui no jornal.

E a senhora, continuando, vociferou:

_ O senhor é muito sem graça e não tem o que fazer.

Não é preciso dizer que no jornal não tinha a tal reportagem e a distinta senhora voltou as suas rezas.

CAUSO nº 12 – Casado? Nem tanto....Por Procópio

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Para não deixar o Nélio escapar. Acabávamos de chegar ao hotel em Cancum, o Nélio depois de registrar-se, pegou as chaves e subiu todo alegre e satisfeito doido para descansar da longa viagem e do avião. Nem todos tinham,ainda, registrado, volta o Nélio muito apressado e deveras preocupado reclamou com o recepcionista:

_ Não, não dá. Eu quero outro quarto. Este quarto de casal não dá.

Fomos saber o que estava acontecendo. Quando nosso apavorado e precupadíssimo colega esclareceu:

_ Não! Me deram um quarto junto com o Marra,mas o quarto é de casal e só tem uma cama.

CAUSO Nº 13 – Outra do TiradentesPor Procópio

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A viagem da turma é,ainda, Maceió. Embarcamos no ônibus para um passeio até a famosa praia do Gunga. Todos presentes o guia,meio afeminado, ia brincando com todos. Brincadeira vai, brincadeira vem, todos se divertiam, quando o guia, zeloso de suas funções, resolve brincar com o Tira e dizia:

_ Gente! Gente! Temos que tomar muito cuidado com o Sô Tira. O Sô Tira não é de brincadeira.

E o Tiradentes retruca com voz grave:

_ Tira não! Põe.

CAUSO Nº 14 - Hora do RanchoPor Procópio

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Este eu não presenciei, foi-me contado pelo Valter Nazaret (turma de 1969) quando ainda eramos tenentes e servíamos no 2 Batalhão em Juiz deFora. Contou-me ele o seguinte:

Certa feita estava uma das Cias do CFO formada e o seu Comandante o então capitão Braga prelecionava para a tropa a respeito de diversos assuntos. A preleção já ia adiantada e nada de dispensa. Os cadetes já estavam impacientes pois,no rancho, já era hora do almoço e o capitão continuava com a preleção.

O capitão Braga notou a impaciência que tomava conta de todos e dirigiu-se à tropa nos seguintes termos:

_ O que que foi? Vocês estão com fome? Eu ainda não almocei. E vendo o, na época, Ten Guísoli que se aproximava, completou: o Guísoli também não. Não é Guísoli? E este último,ainda palitando os dentes responde:

_ É sim sô capitão... É sim sô capitão.

Ressalte-se, de passagem, que o Guísoli acabava de sair do rancho.

CAUSO nº15 - Contando até ZeroPor Procópio

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O terceiro ano, em razão da formatura dos aspirantes de 67, tinha acabado de assumir a liderança do CFO. Estávamos então no primeiro ano. No pátio principal do DI o aluno "Limão"(alcunha com que tratávamos o irmão do Lima da nossa turma pois os dois tinham o mesmo nome de guerra) ministrava instrução de ordem unida: Ordinário marche! Acelerado marche, etc. etc. etc. Iámos já há algum tempo nesta lide quando o o citado aluno manda alto e dirigindo-se à turma disse:

_ Vou contar até zero e quero ver vocês formarem à frente da porta do rancho e ali ficou... à nossa frente e nós a olharmos para ele... Foi quando, quebrando o silêncio, vociferou:

_ Primeiro ano bobo!... O que vocês estão esperando?

Só então nos demos conta e saimos em disparada para a porta do rancho.

CAUSO Nº 16 - Muito macho!... Mas só

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ao rés do chãoPor Procópio

Era dia de "ranca rabo", o segundo que fazíamos naquele início de curso, estávamos pagando castigo. O quarto ano como de costume comandava as ações. Após a chamada matinal, ali por volta de seis horas da manha, saimos pelos fundos do então Departamento de Instrução, pulando a cerca que divisava com a rua dos Pampas. Depois de vários deita, levanta, acelerado e corre-corre, logramos alcançar o rio Arrudas, na altura da rua Tereza Cristina, que naquela época era interrompida pela via férrea e uma área coberta de mato. Havia ali um pontilhão guarnecido com arcos dos dois lados, por onde passava o trem. Recebemos ordem de passar em pé pelos tais arcos. A altura era deveras considerável e em baixo o leito do Arrudas cheio de pedras. Alguns alunos já haviam passado quando chega a vez do Fábio, este sem titubear montou a cavaleiro no referido arco e de bunda ia arrastando, já ia pela metade da travessia quando um aluno do quarto ano grita perguntando:

_ Oh primeiro ano você não é homem não?

O Fábio lá de cima olhando para baixo, responde:

_ Aqui em cima não.

CAUSO Nº 17 – A fome do Matias

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Por Procópio

Dia de jornada militar em Imbiruçu, que naquela época era mato só. Estávamos em uma oficina em que era ministrada instrução de maneabilidade da seção de metralhadoras, da Cia de Infantaria. Após passarmos toda a parte da manhã aprendendo formações em linha, em cunha, por justaposição,deslocamentos em marche-marche e outros bichos, o instrutor (para variar aluno do quarto ano) resolveu dar um descanso de dez minutos. Descanso que aproveitávamos para comer,beber água e etc. Findo o período de descanso o aluno do quarto ano chamou o Felipe (era ele que estava nas funções de comandante da seção) e determinou que, colocando em prática o que foi aprendido, fizesse uma progressão com a seção até o sopé de um morro, distante uns dois quilometros à nossa frente. O Felipe cioso de suas funções e querendo mostrar bom desempenho ordenou, começando por ele mesmo, seção identificar. Veio a seguir a identificação da primeira peça, depois silêncio total, podia-se até ouvir o estalar das patinhas dos carrapatos nas folhas do capim. O Felipe repetiu o comando e novamente iimperou o silêncio, após primeira peça identificar. Pela terceira vez repetiu-se o comando e nada da segunda peça identificar. Desesperado, já antevendo a anotação negativa, e pressionado pelo quarto ano o Felipe explode:

_ Oh Matias! (era ele o comandante da segunda peça). Filho da mãe! Você vai ou não vai identificar?

De uma densa moita de capim ao lado ouviu-se, então, uma voz abafada:

_ Calma poh!...Eu ainda não acabei de comer...

CAUSO Nº 18 – Pulando o muro do almoxarifado. Por Ronaldo

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O primeiro ano recebeu ordem para mudar ,urgente, o local de troca de roupa. Dai o Lacerdino era muito amigo de um aluno do segundo ano (ex sgt que trabalhava no almoxarifado, cujo nome não me lembro) e nos convidou para mudar para lá pois tinha muitos armários disponiveis. Foi o Pedro Braz, Santino e eu.

Num dia em que o segundo ano não tinha aula à tarde surgiu uma ordem de prontidão e a gente não tinha como entrar no almoxarifado. Resolvemos pular o muro para colocar o uniforme de instrução, pois já estava escurecendo. Quando pulamos o muro de volta, um aluno capixaba, moreninho, baixinho, cri cri pra caramba, do segundo ano, nos viu através da janela do alojamento, e disse: Ô, PRIMEIRO ANO, PULANDO O MURO DO ALMOXARIFADO!!!! .FIQUEM AI QUE EU VOU DESCER AGORA.

Assim que ele desapareceu da janela Pedro Braz perguntou: E nós vamos esperar por ele? Eu não!

Fomos cada um para um lado e tratamos de mudar de lá imediatamente .

No outro dia o Dito aluno foi fazer o reconhecimento dos que haviam pulado o muro. Inicialmente, chegou no CUNHA PINTO e disse: Foi voce, é foi voce sim, que pulou o muro do almoxarifado.Foi não, sô aluno. Eu troco de roupa noutro lugar. Não obstante as ponderações do Cunha Pinto o aluno deu parte dele.

Cunha Pinto justificou. O Aluno voltou no primeiro ano apontando o Valtinho dizendo: Então foi você que pulou o muro do almoxarifado.Foi eu não seu aluno. Mesmo assim deu parte do Valtinho que justificou.

Não conformado com a situação voltou ao primeiro ano e apontando para mim, disse: Agora eu tenho certeza que foi voce. Fui eu não, sô aluno. Deu parte de mim.

Aí informei que o referido aluno todo dia vai ao primeiro ano ora acusa um , ora acusa outro sem fundamento pois o meu local de trocar de roupa era em tal lugar ( não me lembro mais).

Era nosso chefe de turma o então, Asp do Piauí, cujo nome não me recordo. Diante da minha minha argumentação o aspirante deu parte do aluno que ficou detido por 5 dias publicado no Boletim.

Enquanto ele cumpria a punição eu e Pedro Bras estávamos conversando de frente a Igreja quando o referido aluno aproximou de mim e afirmou: Agora eu tenho certeza que foi voce quem pulou o muro.

Eu disse: foi sim, e daí? Virou para o Pedro Braz e disse voce é minha testemunha.

O Pedro Braz disse: Sou sim, eu ouvi tudo! O aluno me considerou detido e determinou que o acompanhasse até ao Cap oficial de dia ..

Na presença dele o aluno relatou tudo e apresentou Pedro Braz como testemunha da minha confissão.

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O Oficial de dia pediu a confirmação do Pedro Braz e ele respondeu: Não, sô capitão, o senhor aluno está enganado. Eu não sou testemunha de nada. Eu só vim aqui por que o senhor aluno mandou eu acompanhá-lo, sem saber o porque.

O Oficial de Dia perguntou-me se havia confessado alguma coisa , certamente eu neguei.O Oficial virou para o aluno e disse: Voce já está cumprindo punição por dar parte infundada, agora vai ficar preso à minha ordem.

Inconformado o aluno foi lamentar juntos aos colegas e eles responderam: Mexer com P...VELHA dá nisso.

CAUSO Nº 19 – Espaço mal cheiroso... ou uma questão de dubiedade ?

Por Procópio

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Este causo já não é dos tempos de cadetes, é um pouco mais recente. Mas gira em torno de dois aspirantes 70. A época está entre 1983 e 1984 e servíamos no antigo CSMMB (Unidade Administrativa que integrava o complexo da Diretoria de Apoio Logístico) O aquartelamento, um dos mais antigos da Corporação, possuia galpóes, prédios, repartições em grande número e espalhados por uma área enorme, ali tinha coisas do arco - velha, só quem conhecia é que poderia imaginar o tamanho da coisa. Bem! Vamos ao causo: o comandante chamando o capitão chefe da Seção Administrativa dá-lhe a imcumbência de fazer uma levantamento daquela velharia toda com a finalidade de revitalizar o aquartelamento e reaproveitar, funcionalmente, os espaços. Face à determinação o capitão Santos Costa chama o almoxarife Ten Lindolfo e saem a campo para fazer o dito levantamento. Prancheta nas mãos iam anotando tudo: barracões, repartições, galpões, tarefa não tão dificil, mas das mais trabalhosas e também das mais polêmicas em razão do conservadorismo e da ortodoxia que reveste o caráter de todo militar, mudanças eram dificeis de aceitar. Um belo dia, depois do levantamento feito, esatávamos aguardando a revista dos oficiais quando, por sorte ou azar do destino, o assunto veio a tona, entre um comentário e outro de repente ouve-se a voz do Santos Costa com um certo tom de irritação:

_ Mas tem muita coisa ociosa e mau aproveitada e o que é pior, nunca vi tanto banheiro, em todo cantinho depara-se com um banheiro.

E complementando:

_ Nunca vi igual! O que mais tem neste quartel é lugar de fazer cagada!!!

CAUSO Nº 20 – A estranha cartaPor Simões

Estávamos no segundo ano, em 1968. O momento era de realização de uma prova de Topografia, cujo instrutor era o então Ten Mozar. A sala era a do CFO2C.

Para a realização da prova usávamos uma carta topográfica para a solução das diversas questões.

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De repente sinto uma cutucada nas costas com a ponta de uma caneta.

Sentado à minha retaguarda estava o nosso amigão Fortes

Olhei meio de banda para ver o que estava acontecendo e ouvi o Fortes dizer bem baixinho: Simonxxxx, Simonxxxx, com aquele sotaque matogrossense legítimo.

E continuou: “A carta, Simonxxx, a carta!”

Como eu estava usando a minha carta topográfica, para a solução da prova e estava concentrado na resolução das questões, evidentemente não poderia passar-lhe naquele momento, tendo lhe dito, bem baixinho também: “Espera p....ainda não terminei.”

Poucos minutos depois, nova cutucada e nova insistência: “ Cacete, Simonxxxx, a carta, a carta por favor. Pelo amor de Deus, só falta ela.

E eu: “ Calma cara!!! Espera um pouco, p....!”

Daí a pouco sussurrei: “Fortinho, terminei de usar a carta. Pegue-a rápido pelo lado de cá, enquanto o Ten Mozar tá olhando pra lá. Ato contínuo, coloquei a carta topográfica para que ele a pegasse rapidamente.

Nesse instante, o Fortinho, já muito nervoso, sussurrou novamente: “Simonxxxx, p...., não é essa carta, p.... Essa eu tenho cacete! É a CARTA QUESTÃO que não consigo resolver, cara!!!

Nessa hora me deu um acesso de riso que quase não consegui terminar a prova, porque eu entendi carta (topográfica) e não quarta (questão da prova) e tive de mesclar risada com tosse para o Instrutor não perceber que se tratava só de risada e quisessesaber o motivo da euforia.

Grande Fortes, meu abraço fraterno e saudades pelos velhos tempos, companheiro! Participe conosco das comemorações dos 40 anos. Afinal você faz parte da nossa história - Do Simões

CAUSO Nº 21 – A estranha preferência do Marreco

Por Simões

Estávamos em uma jornada militar, pros lados do Cercadinho, no então chamado Morro dos Pintos.

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Estávamos no terceiro ano e o quarto ano, turma de 69 comandava um frenético arranca rabo. Eles adoravam a nossa turma e empenhavam-se em fazer o que de melhor conheciam em matéria de sacanagem.

A gritaria era intensa, via-se nos olhares dos zelosos cadetes do 4º ano uma alegria imensa. Nos cantos das bocas percebia-se a emissão até de espuma, tal era a satisfação com que exerciam o seu mister.

Nosotros, no exercício correto de nossas atribuições executávamos com maestria os comandos gritados de nossos grandes amigos do 4º ano.

Com o passar do tempo a exaustão foi tomando conta de alguns, embora a tentativa de nunca quedar-se aos objetivos do inimigo fosse clara entre nós.

A correria era intensa e o pau quebrava, até que um dos nossos, o Marrequinho, caiu, quase morto de cansaço.

Foi quando o Cadete Terra, aos gritos irados e espumantes, se dirige ao Marrequinho com viva satisfação e lhe questiona:

- MARRECO, quer morrer ou ser preso, seu p.....O Marrequinho não vacilou na resposta:- Sô Cadete, num guento mais! EU PREFIRO MORRER. ahuahauahua

CAUSO Nº 22 – Siri sem molho – mas bem regado

Por Procópio

A república da rua Matosinhos! Era um espaço ocupado principalmente pelos capixabas, daí a chamarmos carinhosamente de república dos capixabas, muito embora, algum tempo depois, foram ali morar dois mineiros: Adelmir e Quintão. Eu já morava numa casa vizinha da famosa república, era ,portanto, um pioneiro no local. De certa

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feita apareci por lá para uma visita e encontrei todos, capixabas e mineiros, reunidos em torno de um caixote que servia de mesa. Em cima do dito cujo nada mais nada menos que uma panela de arroz e outra de siri cozido. Acheguei-me à turma e todos comiámos da iguaria, devidamente regada com coca-cola misturada com rum bacardi. A farra ia alegre quando acabou o refrigerante, à falta do que misturar alguém, não sei se por gaiatice ou mesmo por seriedade, sugeriu misturar bacardi com cachaça ( a marvada estava ali à mão ), sugestão feita, por mais inusitada que pareça, foi aceita, e continuamos sorvendo aquela mistura até que acabou a panela de siri. Rapaz, o gosto da beberragem era horrível ( como diria o Ronaldinho era o horrível falando do horrendo) e o efeito bombástico, todo mundo foi dormir mais cedo. Teve gente que só dormiu depois de tomar boas talagadas de sal de fruta. Eh!... Coisas de cadetes.

Este causo, bem soft pois não tem nada de "picante" (na expressão conotativa e denotativa da palavra), é para satisfazer o Luiz Vitor.

Obrigado Procops, pelo atendimento. Vamos então fazer o lançamento oficial dessa nova bebida para a turma. rssssss

CAUSO Nº 23 – Uma cola na Prova de

Educação Física? Por Luiz Vitor

Jamais fui adepto da prática de esportes de atletismo e daqueles que quase arrancam os bofes da gente pra fora, como corridas de longa duração,

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halterofilismo e outros. Gostava mais dos esportes coletivos, onde a gente dividia a exaustão com os outros.

Para passar pela prova Física de admissão ao CFO, foi um esforço ingente. Em todas elas, fiz apenas o mínimo necessário à aprovação, já que não era necessário mais que isso para aumentar a pontuação, como ocorre nos dias atuais.

Aprovado para o CFO, uma das minhas angústias era exatamente quando éramos obrigados a correr grandes distâncias pelas ruas da cidade. Quase sempre eu era um dos últimos atletas a chegar de volta ao quartel, bufando como um condenado. À minha retaguarda somente ficavam alguns de idade mais avançada, cuja natureza já não permitia tamanho esforço. Eu era o mais jovem da turma e mesmo assim os mais velhos me davam show de preparo físico.

Na época das provas finais do primeiro ano, uma das provas que pontuava era exatamente a Corrida de 1500 m a ser feita em 6 minutos e 30 segundos.

Isso pra mim era o cão chupando manga. Como não havia meios de se safar dessa prova, lá íamos nós para o matadouro. Era assim que me sentia nesses momentos.

Nosso Instrutor era o então Ten Nelson Vareta, excelente pessoa e amigo dos seus alunos. Peça fina.

O Ten Nelson dividiu a turma em dois blocos, posicionou o primeiro bloco, no qual me integrava e deu o sinal de partida. Ao término da primeira volta eu percebi que o Ten Nelson estava marcando as voltas coletivamente e não para cada aluno que passava.

Foi quando eu tive uma maravilhosa idéia:

Eu tinha percebido que do outro lado da pista, em relação à posição do Tenente, o capim não havia sido cortado e já estava com uma altura de quase um metro. Pensei. Se o Ten Nelson está marcando coletivamente as voltas e somos mais de 20 alunos a correr, acho que ele não vai notar a minha falta em algumas voltas.

Ato contínuo, ao passar pelo capinzal, de olho fixo no Instrutor, que olhava para o outro lado, não tive dúvidas: Dei um mergulho no meio do mato, onde passei a observar pelas frestas do capim, o comportamento do Instrutor, que realmente não deu pela minha falta.

Quando a turma passava pela última volta, incorporei-me novamente ao grupo, tendo o cuidado de não chegar em primeiro lugar, mas entre os últimos que estavam ainda dentro do tempo admissível para aprovação.

Ao final meus colegas riam-se da minha proeza, mas graças a Deus ninguém me entregou pro Ten Nelson e fui aprovado com distinção em Educação Física. Brigadão caros Aspiras 70 !!!!!

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Ao hoje, Cel Nelson Alves Soares, o meu grande abraço. Ainda bem que essa façanha já prescreveu. Apesar de termos idêntico sobrenome, não se trata de caso de nepotismo, pois não temos parentesco que seja do nosso conhecimento.

CAUSO Nº 24 – À procura de um

FotógrafoPor Luiz Vitor

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Essa nos aconteceu em 1995, em Cancun, quando comemorávamos 25 anos de formatura dos Asp70.

Eu e a Dalva, num dia livre, saímos a passear pela cidade, deslumbrados com as belezas da cidade de Cancun.

Eram Hotéis esplendorosos, construções simplesmente fantásticas e tudo mais nos maravilhava pelo encanto.

Em todos os pontos, eu debulhava o meu fraco “Portunhol!: “Por favor Señor, toma una foto de nosotros” e depois “Muchas Gracias Señor”, “Muchas Gracias Señora”

E apenas com essas duas frases, íamos resolvendo o problema das fotos pelo caminho.

Eis que em uma exuberante praia, resolvemos usar a mesma estratégia, para que um senhor nos fotografasse, de forma que a praia aparecesse e também na mesma foto entrasse uma bela edificação existente nas proximidades. Era um ponto turístico que não se podia deixar de registrar.

E de novo: “Por favor Señor, toma una foto de nosotros”. O cidadão muito gentilmente pegou a câmera e fotografou. Quando olhei a foto, a edificação não aparecera, então tive de explicar que nós queríamos que ele enquadrasse também a edificação para ficar mais bonita a nossa lembrança.

Voltei ao mesmo cidadão e com enorme dificuladade lhe pedi: “Disculpe Señor, tome de nuevo la imagen para que aparezca ese edifício”.

Parece que o cidadão não me entendeu e tive de repetir várias vezes, mudando a pronúncia para ver ser dava certo e ele me respondia em Espanhol e eu não entendia nada do que ele falava também, talvez pela velocidade com que pronunciava as palavras. Acho que ele queria me explicar que não daria para aparecer o prédio todo devido à posição em que estávamos.

Depois de quase 20 minutos de tentativas de entendimento e finalmente com a foto tirada do jeito que nós queríamos, ele me perguntou: “De que país eres?”, ao que respondemos: “Somos Brasileños”.

O distinto senhor, que para nós era Mexicano, agora bem irritado disse: “Pôô!!! Eu também sou. Porque não falaram antes?” Caímos na gargalhada.

CAUSO Nº 25 – Monstruosa alteraçãoPor Procópio

Entramos o ano de 1971, haviamos acabado de formar e iniciávamos a nossa carreira de oficial, estávamos servindo, eu, o Adelmir, Milagres e Jeová no 2º BPM.

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Um belo dia, mais precisamente num sábado, ao meio dia, cumprindo escala estava entrando de oficial-de-dia e o Adelmir saindo de serviço.

Após a parada de rendição do serviço, com desfile e tudo o mais de direito, anunciado a rendição do serviço de oficial-de-dia, estando o major sub comandante em seu gabinete, subimos os dois, Adelmir e eu, para prestar ao sub comandante o anúncio regulamentar.

Adentrando o gabinete, após pedirmos licença, anunciamos haver passado e recebido o serviço sem alteração. Mas para espanto nosso, o major disse que não aceitava o anúncio pois o quartel estava alterado, que deveríamos sanar a alteração e depois voltar e anunciar.

Voltamos e percorremos todo o quartel, não encontramos nada de errado, tudo estava impecávelmente limpo e funcionava a contento. Subimos novamente a anunciar a passagem de serviço.

Perguntopu-nos o major:

_ Acharam a alteração?

Respondemos que não.

_ Como não? Está alterado sim. Voltem e só me anunciem depois de encontrar o alterado.

Voltamos, não havia outro remédio. Novamente olhamos tim-tim-por-tim-tim e nada encontramos, vasculhamos e revasculhamos todo o aquartelamenento, prédio muito antigo por sinal, e nada encontramos.

Depois de muito matutar sobre o assunto, disse ao Adelmir que o melhor era perguntarmos ao major qual a alteração e lá fomos nós.

Perguntado disse o major a alteracão está no pátio da terceira companhia. Vistoriando o referido pátio encontramos uma bolinha de papel caprichosamente enrolada e jogada atrás de um caixotinho que servia de cuspideira, apanhei a bolinha coloquei-a dentro da cuspideira e fomos anunciar.

_ Então, acharam a alteração?

Respondemos que sim, que a bolinha de papel já estava no seu devido lugar.

_ Muito bem agora podem anunciar.

Anunciamos a passagem do serviço sem alteração.

E o major, já indo embora, sorria indisfaçardamente.

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Olhando o relógio já passava das três da tarde, quando o Adelmir respirou aliviado e foi para casa descansar.

CAUSO Nº 26 – O pé de ChumboPor Luiz Vitor

Essa aconteceu em 1971, no princípio do ano, logo após nossa formatura, no 11º BPM, na cidade de Manhuaçu.

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O nosso colega Tarcício, sabemos, é sobejamente conhecido por todos, como o Aspirante mais tranqüilo que já passou pelos umbrais da Academia.

Nada o fazia apressar-se para qualquer coisa. Podia estar pegando fogo no prédio em que estivesse, que nem isso o fazia apressar o passo para se safar.

Para o 11º BPM foram classificados 3 Aspirantes: O Maurício, o Ângelo e o Tatá.

Era o Sub comandante do Batalhão, o nosso saudoso e estimado, então Capitão Vivaldo Leite de Brito.

Tanto era amigo de todos, como também um exímio disciplinador da tropa.

Da mesma forma que o Tatá era conhecido por todos na Academia, foi ele para cumprir o seu estágio probatório, no 11º BPM, em Manhuaçu.

Nada, mas absolutamente nada, fazia com que o novo Aspirante mudasse seu comportamento em relação à sua velocidade para resolver os diversos problemas que diturnamente apareciam no seu turno de serviço.

Eis que em um determinado dia, o Subcomandante necessitou com urgência do Aspirante Tarcício, mandando que o seu ordenança o chamasse.

                                   Ato contínuo o ordenança partiu para cumprir a determinação, encontrando o Asp Tarcício nas proximidades do rancho.

                                   Ciente do chamado do Subcmt, partiu o Asp Tatá para atendê-lo, gastando do local onde se encontrava, nas proximidades do rancho, até o Gabinete, que ficava a uma distância aproximada de 100 m, nada mais nada menos, que 45 minutos.

                                   O Cap Vivaldo, já conhecendo o jeitão do Tatá, transmitiu-lhe a ordem, sem questionar o tempo que ele levara para atendê-lo.

                                   No dia seguinte toda a oficialidade estava chamando o Tatá de Aspirante Pé de Chumbo.

                                  Procurando saber o porque dessa nova denominação, ficou sabendo que o próprio Cap Vivaldo, durante a revista geral dos oficiais,  o havia apelidado de "Pé de Chumbo", dada a sua proeza do dia anterior. Por algum motivo o Tatá não havia participado dessa Revista.

                                

CAUSO Nº 27 – A calma e a tranqüilidade do "Pé-de-chumbo"

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Por Procópio

É sobejamente conhecida a tranquilidade do nosso colega Tarcício e disto sou testemunha.

Lembro-me que em 1979 servíamos, os dois, no 11º Batalhão em Manhuaçu e a cidade sofreu bastante com as fortes chuvas que assolaram a região.

Da sacada do gabinete do sub comandante divisávamos, logo abaixo no fundo do vale, uma boa parte da cidade e o rio que ali passava e que ia aumentando em muito o volume de água, a ponto de transbordar e inundar as ruas periféricas. A situação era preocupante e a população estava sendo evacuada e apressada retirava seus pertences para colocá-los a salvo em lugar mais abrigado.

Da referida sacada assistíamos a tudo, quando alguém observou que a casa do Tarcício em breve seria tomada pelas águas que, céleres, já aproximavam-se de suas portas.

Ouvindo o comentário e lembrando que o nosso distinto colega estava de férias em Caputira, localidade bem próxima, mandou, o sub comandante, que alguém telefonasse avisando-o do perigo que corria com sua casa prestes a ser inundada.

Atendendo ao telefonema, o próprio Tarcício em pessoa, pergunta se a água já havia tomado as ruas vizinhas.

Informado que sim, que as águas já estavam bem próximas da sua casa, do outro lado do fio responde, o Tarcício:

"Deixa pra lá, deixa inundar, não dá mais tempo mesmo...", e tranquilamente continuou no gozo das férias, só retornando ao fim delas, para finalmente proceder à limpeza do imóvel e ao Inventário do que seria possível aproveitar, já que realmente as águas inundaram até boa altura a sua habitação. Quase nada se aproveitou e mesmo assim continuou o Tatá com o mesmo jeitão de sempre.

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De fato! É bem tranquilo o nosso prezado colega.

CAUSO Nº 28 – Arte culinária em

GuarapariPor Procópio

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Interessante esta história de contar "causos". A gente começa a pensar, as lembranças vão chegando...

A verdade é que um causo puxa outro e assim vai:

Havíamos acabado de formar e a turma da capital recebeu como prêmio uma dispensa do serviço por cinco dias, enquanto a do interior teve o trânsito regulamentar de vinte dias.

Para aproveitar a mordomia um grupo de aspirantes, capitaneados pelo Luiz Vitor, resolveu dar uma esticada até Guarapari. Malas prontas lá fomos nós.

A hospedagem se deu num apartamento que o pai do Vitor tinha naquela cidade.

Eramos sete aspirantes, entre eles o Santos Filho, o Tarcício, eu e o Lima para citar alguns, e lá pelo terceiro dia, com a grana já encurtando, para economizar, resolvemos nós mesmos cuidar da comida.

No apartamento tinha tudo: fogão, panela, talheres. Os demais ingredientes compramos no armazém.

Enquanto o Santos Filho cuidava de limpar, temperar e fritar alguns peixes, comprados nas mãos dos pescadores, eu prontifiquei-me a ir preparar o prato principal, uma bela macarronada.

A medida que o macarrão ia cozinhando, preparei um molho de tomate que ficou uma beleza.

Cozido o macarrão, colocado para escorrer, joguei tudo dentro de uma panela grande e a comida estava pronta para ser servida.

E aí! ... Aí é que veio o problema.

O experiente e renomado mestre cuca havia colocado o macarrão para cozinhar na água ainda fria e a iguaria virou um grude que dificilmente saia da panela.

Apesar da dificuldade comemos, mas no dia seguinte resolvemos voltar ao restaurante.

Era uma opção muito mais agradável.

CAUSO Nº 29 – Não existe crime perfeitoPor Luiz Vitor

Vou complementar o Causo nº 28, relatado pelo Procópio sobre os seus pendores culinários, durante uma estada no litoral capixaba, quando vários colegas para lá se dirigiram a fim de gozarem uma licença de 5 dias.

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Para que meus pais assentissem em que fôssemos para Guarapari usar o apê deles, eu tive de falar umas mentiras, pois eles não gostavam de montoeira de gente no apê, nem no prédio, para não provocar confusões e incomodar os vizinhos, depois de bebedeiras, que certamente ocorreriam.

Falei com eles, então, que iriam comigo para Guarapari apenas dois colegas, o Lima e o Tatá.

Assim sendo não haveria confusão ou problemas no prédio.

Dessa forma, autorizaram a nossa ida sem mais questionamentos.

Como todos já sabem, contrariamente ao que eu havia dito, foram comigo 7 (sete) Aspirantes70, o Lima, Tatá, Procópio, Nélio, Maurício e o Santos Filho

Passamos lá pelo período estipulado e retornamos felizes e satisfeitos para Belo Horizonte, não sem antes procedermos a uma limpeza completa no apartamento para apagar todos os vestígios da superlotação.

Dois meses depois, meus pais foram para Guarapari passar alguns dias. De lá minha mãe me liga em BH, perguntando-me novamente quantos colegas eu tinha levado mesmo.

Respondi, mentirosamente, que eram só dois mesmo, ao que ela me disse: Então porque as despesas foram divididas para mais de 10 pessoas?

Não entendendo o porque dela dizer isso para mim, ela me explicou que achou um papel na gaveta, onde estavam escritos vários nomes com o total a pagar para cada um.

Aí não teve jeito. Tive de confessar o crime e caí na gargalhada. KKKKKKKKKKKK

O que ocorrera é que o Santos Filho, encarregado do controle das despesas, apesar de todo o nosso cuidado para não deixar vestígios da infração, esqueceu-se de jogar fora as nossas anotações de despesas para o acerto final.

Realmente, como diz o ditado: "Não existe crime perfeito"

CAUSO Nº 30 – O nosso primeiro pedido

em CancunPor Luiz Vitor

Vendo o Potência falar, no site, sobre um prato mexicano, lembrei-me de um causo muito interessante acontecido comigo, também em Cancun.

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A turma chegou a Cancun já exausta da longa viagem espremida dentro do avião e logo fomos fazer o check in no Hotel César Park.

Após recebermos as chaves do nosso apartamento, subimos e fomos tomar um banho e descansar um pouco.

Após o banho resolvemos pedir algo para comer e verificando o cardápio vimos entre diversas opções desconhecidas, uma que sabíamos que não iríamos errar, pois no Brasil sempre comíamos, eram os Hambúrgueres.

Na época eu ainda não tinha feito a cirurgia bariátrica e ainda comia que nem um boi. Pedimos então três Hambúrgueres, sendo que eu comeria dois e a Dalva comeria um e ainda me dava um pedaço ao final. Era o nosso costume aqui no Brasil.

Passados uns 50 minutos batem na porta e anunciam a chegada do lanche. Abri a porta do apartamento e entra o garçom empurrando um carrinho, com uma bandeja grande redonda no centro, coberta por uma tampa bonita, de aço inoxidável.

Ato contínuo entra outro garçom, com outro carrinho e com idêntica bandeja redonda coberta.

Logo em seguida chega um terceiro garçom com mais um carrinho, também idêntico, com os mesmos ingredientes.

Os três postam os carrinhos em volta da mesa do apartamento e se retiram.

Só aí, fomos verificar que burrada a gente tinha feito. Levantando as tampas das bandejas, para cada uma delas estava lá postado o Hambúrguer pedido.

O nosso hamburger aqui no Brasil é feito de pãozinho redondo com carne de vaca, moída e frita como almôndega chata, mas apenas um pão, com a carne de hambúrguer respectiva, além de mais alguns poucos ingredientes, como maionese e batata palha, um queijinho, além do bacon.

Pois o deles, só aí ficamos sabendo, tinha de ser servido numa bandeja, tendo em vista o tamanho da coisa.

A bandeja era similar a de uma nossa Pizza gigante aqui, e estava completamente tomada de ingredientes pertencentes ao pedido feito.

Não era apenas um hambúrguer que ali estava, mas uma refeição completa para duas ou três pessoas, com bastante sobra por sinal. E esse era só o primeiro carrinho.

Começamos a olhar um para o outro com vontade de rir ou de chorar, mas com certeza já pensando como é que sairíamos dessa.

O jeito foi comer o contido em apenas uma das bandejas e guardar as outras duas bandejas na geladeira para ver se conseguiríamos comer tudo aquilo nos sete dias em que lá ficaríamos.

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Era melhor do que dizer que erramos no pedido. Quando de lá saímos, para regressar ao Brasil, ainda deixamos na geladeira muita coisa do nosso primeiro pedido em Cancun.

ahuahuahuahuahua

CAUSO Nº 31 – Nem tudo que reluz é

OuroPor Procópio

Não me lembro ao certo, se estávamos no primeiro ou segundo ano...

Bom! A época foi logo quando a loteria esportiva começava a fazer sucesso e bastava

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cravar os treze pontos, acertando os prognósticos contidos no volante e o sortudo ou grupo de sortudos, pois já haviam criado os famosos bolões, tornava-se, da noite para o dia, milionários.

Ajuntados em um pequeno grupo esperávamos a hora da formatura para a chamada matinal,enquanto conversávamos justamente sobre o bolão feito por um grupo de oficiais e que havia sido sorteado, valha-nos todos os santos, com treze pontos.

Não preciso dizer que a alegria tomava conta de todos os participantes.

Enquanto alguns lamentavam não ter participado do benfazejo bolão, outros eram só sorrisos.

Íamos por aí quando chega um oficial, dos mais conhecidos na Corporação, encosta uma rural-willis, desce do carro e metendo o pé na porta fecha-a de uma só vez, dizendo em alto e bom tom: - carro velho é uma desgraça! E contente dirigiu-se para o prédio da administração.

Passadas algumas horas, a notícia correu feito rastilho de pólvora. Soube-se que o número de ganhadores do teste foi muito grande e feito o rateio, o dinheiro não dava nem para recuperar o que havia sido investido no jogo.

O mal estar e o desconforto tomou conta de todos, foi verdadeiro desastre. Quem havia ficado milionário de repente tornou-se pobre novamente.

E aí!... Aí é que vem a parte principal do "causo": Lá estávamos o mesmo grupinho do dia anterior quando de novo chega o já referido oficial, estaciona a velha rural-willis e com esmerado cuidado fecha a porta da dita cuja e olhando-nos de soslaio, corresponde a continência que lhe dirigimos e, desta vez, sem dizer uma palavra sequer, ressabiado, dirige-se para o prédio da administração, visivelmente chateado com o episódio.

Ficamos sabendo alguns dias depois, que esse Oficial havia chamado um grupo de pedreiros em regime de urgência em sua casa e mandara quebrar todo o piso, para colocar um novo, pois já era seu desejo, havia anos. O piso foi totalmente quebrado e somente alguns meses depois ele pode recolocar um novo piso, e de nível bem aquém daquele inicialmente projetado.

ahuahuahuahuaha

CAUSO Nº 32 – Por falar em P.. Véia, o fuzil mais leve do DI

Por Lúcio Emílio

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Não sei se por intuição ou instinto de sobrevivência, eu sempre me sentia muito seguro perto dos sargentões, digamos assim, todos eles verdadeiras P. Véias.

Cercados de inimigos por todos os lados, oficiais, veteranos e até o pessoal da administração, nós, alunos do primeiro ano, éramos presas fáceis e cobiçadas.

Perto do Sapão, Pedro Braz, Zé Horta, Lacerdino, Santos Costa, era como se eu estivesse protegido por muralhas colossais.

O Lacerdino era amigo do meu pai e, não sei se recomendado por ele, vivia me dando conselhos, de graça. O jovem quer liberdade e como aguentar aquele cara falando "Cuidado com aluno tal"; "Num vai na Pedro II não", 'Num dá sopa no pátio não, esconde o máximo que você puder" e coisas do tipo.

A primeira fila em que eu me lembro de ter entrado no CFO, não foi a do Rancho não. Foi uma fila para pegar o fuzil. Eu era um dos últimos da fila, esperando a minha vez de ser premiado com aquela peça abominável, que me acompanharia pelos próximos quatro anos.

Eis que vem se aproximando o Lacerdino com dois fuzis. Estranhei o fato e não acreditei quando ele me falou: "Esse é seu". O recibo você assina depois com o armeiro, meu amigo. Relutei. Ele insistiu. Não podia me esquecer que estava diante de um P. Véia, que jamais iria me meter numa enrascada.

Peguei o fuzil, notei que era bem mais claro do que os outros, parecendo pau-marfim. Sem conhecer direito aquele tipo de objeto, fui para a instrução no pátio. Lá pelas tantas, num "Sem conversa à vontade", meu conterrâneo P. Véia,Cunha Pinto me cutucou e sussurrou: "Deixe eu ver o seu fuzil". Examina daqui, examina dali.

O veredicto: "Tá sem chapa da soleira. A coronha é bem mais curta. É muito mais leve que o meu. Se eu fosse você, comunicava essas alterações". Mal esperei o "Fora de forma" para, enfurecido, cobrar explicações do Lacerdino.

Para encurtar conversa, o Lacerdino não se abalou. Olhou para mim e cochichou, com a mão na boca, prá ninguém ouvir: Cê num quer um fuzil mais leve, não? Você bate ele com toda força no chão. Mas bate prá valer. Depois, cê vem com um canivete e vai aparando as arestas." Foi o que eu fiz durante os quatro anos de DI.

O preço que eu paguei: uma parte quase semanal ao Comandante da Companhia pedindo fosse providenciada uma chapa de soleira para o meu fuzil, que ia se desgastando muito. Nunca providenciaram a tal chapa. Além desse incômodo, tive que fazer todas as redações que o Professor Taranto mandava fazer.

Tinha que fazer a minha, a do Sapão e de outros P. Véias, que me protegiam.

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CAUSO Nº 33 – Cadete PM ECOPor Pastor

Esse causo ocorreu em 1967, quando éramos do CFO1.

O subcomandante do DI era o então Major Joaz.

Certa manhã, após fazer a chamada da tropa, às 0700 horas, o Maj Joaz, para dar o anúncio ao comandante, como diariamente fazia, comandou:

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Lacerdino, BASE !

O Lacerdino como sempre, tomava a posição de sentido, levantava o braço esquerdo e gritava: Senhor Major Subcomandante, Cadete Lacerdino, B A S E !!!

Em seguida o Major Joaz complementava o comando: "Departamento, sentido ! Pelo base, PERFILAR !!

Em seguida: FIRME !!

Ocorre que nesse dia, o barulho produzido pela tropa ao executar o comando de FIRME, provocou um "ECO", vindo lá da Capela, nos fundos do pátio da Academia.

O Maj Joaz gritou incontinenti: "TEM UM RETARDATÁRIO AÍ NA TERCEIRA COMPANHIA" !!!

Lá da terceira Companhia, o Xerife Geral esclarece; "É o Eco na capela Senhor Major!"

O Major Joaz visivelmente irritado determina:

Vai ficar detido para não retardar mais a execução do comando!!!

ahuahuahuahuahua

CAUSO Nº 34 – O nome incorretoPor Pastor

Esse fato se deu em 1967, quando estávamos no primeiro ano.

Alguns gaiatos do curso começaram a escrever bobagens nas portas dos banheiros da Escola, malhando o subcomandante, Major Joaz e até mesmo o comandante, Cel Ellos Pires de Carvalho.

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Incontinenti começaram uma investigação para descobrir-se os autores da gaiatice.

O Major Joaz gostava muito de mim e sempre me chamava para mostrar alguma coisa que estava ocorrendo. Nesse dia me chamou para acompanhá-lo juntamente com o comandante ao banheiro do ginásio, onde as indiscretas frases estavam sendo grafadas.

O Haroldão era o encarregado da Sindicância e comandava a retirada das portas, para servirem como instrumento de prova.

Quando o Soldado que retirara a porta passava próximo da gente, o Major Joaz mandou que parasse e chamando o Comandante para ver, disse:

Veja aqui Senhor Comandante, eles não sabem nem escrever direito o meu nome. Colocaram 'VOAZ" ao invés de "JOAZ".

ahuahuahuahuahuahuahuahuahua

CAUSO Nº 35 – O presente do EdmarPor Pastor

Esse fato ocorreu em 1967, quando estávamos nos apresentando dos diversos batalhões, para iniciarmos o Curso.

Entre os diversos recém aprovados que chegavam de Juiz de Fora, estávamos eu e o Edmar Onofre de Paula.

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O Edmar trouxe com muito carinho de sua terra natal, uma relíquia para ele que era um maço muito grande de Revistas em Quadrinhos, os famosos gibis. Eram revistas do Capitão Marvel, Fantasma, Mandrake, Tio Patinhas, Bolinha, Luluzinha e diversas outras da mesma categoria. Era como um troféu que ele tinha.

Com aquele troféu o Edmar entrou no Internato, voltando quase de imediato a procurar-me, visivelmente irritado e a reclamar:

"Adilson, encontrei com um Cadete do 4º ano ali, um fortão (Lair) que sem mais nem menos pegou o meu monte de gibi e disse: Obrigado pelo presente Bicho!. Agraciastes um 4º ano. E mandou que eu me retirasse!"

CAUSO Nº 36 – O atraso do cadete ValePor Pastor

Esse fato ocorreu em 1968.

Certa manhã o Vale chegou para a chamada no exato momento em que o Altarízio, Xerife Geral da semana, soava o seu apito (de Juiz de futebol), para que a Companhia entrasse em forma.

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Todos tomaram a posição de "sentido" e a seguir "descansar"

O Vale foi devidamente anotado para passar para a direita e ficar detido por atraso.

Inconsolável, o Vale procurou o Chefe de Curso, Ten Guisoli, dizendo-se injustiçado e que tinha testemunha de que chegara na hora.

O Chefe de Curso, sem se comover pelas palavras do Vale simplesmente respondeu:

"Vale, eu já avisei para chegarem cinco minutos antes na praça de alarme."

E complementou: "Você chegou na hora exata..... BEM FEITO !!! "

CAUSO Nº 37 – Sargento ChapiscoPor Pastor

Em 2006 coloquei a venda um veículo de minha propriedade, um Ford Verona 1.8, modelo 96.

Um interessado trouxe um mecânico para testar o meu carro.

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Esse mecânico sabendo que eu era Oficial da PM, começou a dizer:

"Fui Sargento da PM. Servi no CSM/MB e depois dei baixa."

E complementou: "Quando me incorporei à PM, estava em Diamantina e ingressei no 3º BPM. Lá tinha um monitor muito chato, um tal de Sargento Fernandes dos Santos Costa. Nós o apelidamos de Sargento Chapisco, pois sempre chegava com uma caderneta na mão dizendo: Quem está certo, muito bem!! Quem estiver errado 'EU CHAPISCO".

ahuahuahuahua

CAUSO Nº 38 – O dente quebradoPor Pastor

Esse causo se deu em 1967.

Estávamos em uma maneabilidade no Morro dos Pintos, comandados pelo Cadete do 4º ano Noronha.;

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Lado a lado executavam as diversas manobras, o Santos Costa e o Cunha Pinto.

De repente o Cunha Pinto grita para o Instrutor, o Cad Noronha: "Sô Cadete, meu dente quebrou!!!"

O cadete Noronha pergunta então: "Está saindo muito sangue?"

Ao que o Cunha Pinto responde esclarecedoramente: "Não Senhor. É dente de dentadura."

ahuahuahuahuauha

CAUSO Nº 39 – Idem, idem, idemPor Pastor

Essa foi em 1968.

O nosso estimado Chefe de Curso, Ten Guisoli, chega na coluna da esquerda da turma B, formada no pátio, e diz:

Lacerdino e Jackson: Coturno Sujo.

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Quanto aos demais da coluna, idem, idem, idem, idem, idem, idem, idem, idem e idem.

E arrematou: "Isso meus amigos, numa observação a Grosso modo"

CAUSO Nº 40 – A Cor da Chita Por Pastor

A turma havia já iniciado o segundo ano do Curso, em 1968.

Não obstante essa nossa promoção, o Cadete Benjamim, escalador, continuava nos escalando para fazer faxina nos banheiros do Ginásio de Educação Física, embora já existisse uma turma grande de alunos no primeiro ano de 1968.

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Inconformados com a situação resolvemos reclamar com o nosso Chefe de Curso na aula seguinte que ele nos ministrasse.

No dia seguinte combinamos que o xerife iria interromper a aula de armamento, 5 minutos antes do final, para conversarmos com o Ten Guisoli.

Nesse momento toda a turma ponderou com o Tenente Chefe de Curso, que as aulas já haviam se iniciado e que apesar da nossa promoção ao segundo ano, ainda estávamos sendo escalados para fazer a faxina no banheiro do Ginásio.

Diante de nossas argumentações o Tenente perguntou; Quem faz essa escala?

Respondi-lhe que era o Cadete Benjamim.

O Tenente visivelmente irritado, disse em alto tom: "O Benjamim está enganado com a cor da Chita". Vou recomendar-lhe escalar Cadetes do primeiro ano a partir de hoje.

No dia seguinte ficamos sabendo por diversas fontes, que o Benjamim havia levado uma fenomenal "Sacada", para a alegria de todos.

ahuahuahuahua

CAUSO Nº 41 – Lacerdino: BASEPor Pastor

Essa ocorreu em 1967.

Todas as manhãs, o Major Joaz, subcomandante do DI, religiosamente, para prestar o anúncio regulamentar ao Comandante, comandava: LACERDINO: BASE !!

O Lacerdino tomava a posição de sentido, levantava o braço esquerdo identificando-se:

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Senhor Major, Cadete Lacerdino, BASE!!!

Em seguida o Major dava os demais comandos para prestar o anúncio regulamentar.

Essa sequência de comandos estava tão arraigada que o Major Joaz era incapaz de uma eventual alteração nessa sequência.

Certo dia o Lacerdino deu parte de doente e foi para o médico.

Na hora certa lá vem o Comando: LACERDINO, BASE!!!! - Silêncio totalO Major estranhando, repete: LACERDINO, BASE!!!! - Silêncio total novamenteJá irritado o Major novamente repete, desta vez com muito mais veemência; LACERDINO, BASE !!!!

Nessa hora o Zé Luiz Buick resolveu dar uma mãozinha para o Major e grita: Sô Major, o Lacerdino está de parte de doente.

O Major Joaz, já visivelmente irritado, então muda o comando. gritando: VOCÊ MESMO, BASE!!!!

Aí o Zé Luiz fez as vezes do Lacerdino e finalmente o Major pôde completar o comando para dar o anúncio ao Comandante.

ahuahuahuahuahu

CAUSO Nº 42 – Os gêmeos Santino e

Santos CostaPor Pastor

Estávamos em 1968, durante uma aula de Distúrbios Civis.

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Com esmero o Instrutor delineava as diversas formações para o confronto com a turba.

Em Cunha, em escalão à direita, em escalão à esquerda, etc

De repente, bem à frente do Santos Costa, avisa em altos brados para a turma e apontando para o Santos Costa: "Agora o Santino vai nos dar uma aula sobre "Turba".

ahuahuahuahuahu

Isso foi o que a Psicologia chama de Ato Reflexo: A pessoa olha pra B e fala o nome de C.

O Santino nem da nossa turma era

CAUSO Nº 43 – O problema existencialPor Pastor

Essa foi em 1968, durante uma aula de Investigações Criminais.

O Ten Haroldão, após tecer diversas considerações sobre os meandros do crime, explica-nos muito bem o que vem a ser "História Hipotética"

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Qualquer aluno da turma que ele perguntasse a respeito saberia perfeitamente responder às suas indagações, exceto o que foi chamado.

Ocorre que o Instrutor chama à frente o nosso amigo "Dom Justino", perguntando-lhe exatamente: "o que é uma História Hipotética"?

O Dom Justino, sabíamos, deveria estar com a cabeça e o espírito em Uberaba, onde sua genitora se encontrava enferma. Certamente ele não sabia nada do que havia sido dito naquela aula.

Ao ser questionado e chegando à frente da turma o Dom Justino começou a responder: "História Hipotética é......, é......., é......., é........., é.........,é......., é......., é........., é.........

O Instrutor muito nervoso disse; "Pode assentar Cadete.

Após a aula tivemos de procurar o Instrutor para colocá-lo a par da situação aflitiva e do problema existencial do nosso amigo Dom Justino

ahuahuahuahuahua

CAUSO Nº 44 – O fuzil do MarrecoPor Pastor

No ano de 1967 o CFO1 era formado por duas turmas. Quando passamos para o segundo ano, com a chegada de novos colegas, principalmente do Espírito Santo, as turmas foram redimensionadas e foi criada a turma C, para onde foi transferido, entre

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outros, o nosso colega Marreco. Ele era da turma A, da 1ª Cia e veio para a turma C, da 3ª Cia.

Numa tarde, durante a Revista Geral da Tropa para a dispensa, o Ten Chefe de Curso da turma C, chega à frente da Companhia e diz: "Os nomes que eu chamar deverão passar para a direita da tropa. Motivo: Fuzil Sujo.

Leu vários nomes e quando disse: "Dias Andrade", o Marrequinho gritou lá de trás: Senhor Tenente, o meu fuzil pertence à reserva da 1ª Companhia, ao que o Oficial esclareceu: Você foi transferido pra cá junto com outros. Eu fui lá para conferir e é bom que se diga. O seu fuzil está é IMUNDO.

E completou: "PARA A DIREITA CHEFE !"

Todos estão detidos até 22 horas.

hauahuahauhau

CAUSO Nº 45 – O pulo do SapoPor Pastor

Essa aconteceu em 1968. Lecionava Inglês para a turma o Professor Lúcio Flávio de Vasconcelos Naves, irmão do então presidente do Atlético, Betinho Naves,

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A certa altura da aula, o Marco Aurélio (Sapão) incomodado com a velocidade com que o Professor conduzia a sua aula, reclamou: "Professor, o Senhor está correndo muito com a matéria"

O professor, coincidentemente responde ao Marco Aurélio: "Também dou aulas na Faculdade de Engenharia e os livros são todos em Inglês. Os alunos se viram, ou seja, "SAPO QUANDO TÁ APERTADO, ELE PULA"

A sala quase veio abaixo com as gargalhadas da turma e o Professor ficou atônito com tamanha manifestaçao da turma, perguntando: o que foi?

O Dulinha veio em seu socorro esclarecendo o episódio; Professor, por coincidência, o apelido dele é Sapão.

ahuahuahuahuahuah

CAUSO Nº 46 – A passagem de comandoPor Pastor

O fato ocorreu em 1968, quando o CFO2 B estava tendo uma aula de Ordem Unida no pátio.

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Era a vez do Ferreira pesão assumir o comando do pelotão. Seu antecessor grita: "Passo o comando do Pelotão para o Cadete Ferreira"

O Ferreira com a maior naturalidade responde: "RECEBO-O". Foram risos indisfarçáveis

O Ten Guisoli, Chefe de Curso, que observava o comportamento da tropa grita de lá:

Cadete Ferreira: Quanto ao Português você está certo, porém você já pensou na aula de depor e tomar os fuzis?

Iríamos dizer: "DEPÔ-LOS, TOMÁ-LOS, REDEPÔ-LOS, RETOMÁ-LOS.

Assim não dá Chefe. Isso aqui é aula de Ordem Unida.

ahuahuahuahuahu

CAUSO Nº 47 – Líder da Resistência

Passiva salvo pelos

Sargentões

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Por Lúcio Emílio

Numa bela tarde de primavera, tropa formada esperando o "Fora de forma" para gritar o "Oba", eis que aquele Tenente, não me lembro se era nosso Chefe de Curso, simplesmente determinou que a Turma B permanecesse em forma.

E veio o "Ranca" extraordinário. Portão principal até a Capela, deitar, rolar, rastejar... O pior de tudo é que depois do "Ranca", o Tenente mandou que fôssemos todos para a sala de aula.

E tome preleção. Num determinado momento, eis que fala com voz pausada e grave: "O Cadete Emílio é o líder da resistência passiva". Houve um silêncio glacial.

Depois, o próprio Tenente continuou descendo a ripa na turma. Fiquei surpreso, porém tranquilo, porque tinha a minha consciência limpa. Como é que eu ia liderar o Sapão, o Lucas, o Santos Costa, o Lacerdino, o Cunha Pinto, o Pedro Braz? Quem sou eu?Se eu conseguisse essa façanha, iria me candidatar a presidente da república!

Enquanto o Tenente babava de xingar, lá dos fundos da sala, ergue-se uma voz tonitroante: "Dá licença, sô Tenente". Pego de surpresa, o Tenente não teve alternativa: "Pois não, Lacerdino!". O que o Lacerdino falou não me lembro bem, mas fez ver ao Tenente que ele estava equivocado, porque a turma não era daquele feitio.

Se o desempenho no "Ranca" havia deixado algo a desejar, não foi nada deliberado. Todos eram cumpridores dos deveres e fieis à disciplina. E concluiu: "A acusação ao Cadete Emílio é injusta".

Mal acabara de falar, outros sargentões, sempre eles, pediram a palavra e protestaram contra a acusação. O Tenente saiu mudo. Nunca mais ouvi falar de resistência passiva.

No entanto, quiseram me testar. Nesse mesmo ano, fui escalado para almoxarife do Acampamento. Meu árbitro foi o então Tenente Guisoli, que, pelo seu espírito de justiça e reta intenção, passei a admirar e dele me tornei amigo.

CAUSO Nº 48 – A limpeza do coturnoPor Pastor

Esse causo ocorreu em 1967. Éramos alunos do primeiro ano. Todos tínhamos um coturno para o dia a dia e um coturno para as Jornadas.

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Evidentemente o coturno do dia a dia era muito bem cuidado, engraxado, sempre brilhante. Quanto ao outro, ora bolas, nem se tomava conhecimento do seu estado.

Certo dia quando iríamos iniciar uma aula de Ordem Unida no pátio, chega o Vale quase na hora H, com o uniforme impecável, uma maravilha, tamanho era o cuidado que se tivera com aquele fardamento. O vale todo cheio de si, sabendo que estava reluzente diante da turma, se incorpora à tropa.

Quando o Chefe de Curso se aproxima, a primeira coisa que diz é "Cadete Vale, seu coturno está OHH! (colocando a mão no lóbulo da orelha direta). Esse OHHH, com a mão na orelha, só poderia ser completado com uma expressão elogiosa, mas não foi o que ouvimos. A frase completa foi: "Cadete Vale, seu coturno está, ohhh, uma PORCARIA"

Foi aí que o Vale descobriu que na correria para entrar em forma, ao invés de colocar o coturno do dia a dia, ele colocou equivocadamente o coturno para jornadas.

ahuahuahuahua

CAUSO Nº 49 – Sapato de cadete tem a

cor que ele quiser... se

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não chover. Por Procópio

Corria o ano de 1968.

Findo o ano letivo, já aprovados para o terceiro ano, esperávamos impacientes a entrada das férias escolares, quando foi baixada a ordem de passar em inspeção em todo o equipamento, armas e uniformes dos cadetes. Só entraria de férias quem estivesse com tudo regular, limpo e organizado.

Os dias iam passando e tudo era inspecionado. Espadim, fuzil, mochila, uniforme de instrução, uniforme bege. Nada escapava aos olhares atentos dos cadetes do quarto ano. Até que chegou o dia do uniforme cinza.

Na véspera, eu já me sentia apertado, faltava-me o sapato preto. Sem grana para a compra de um par, resolvi improvisar. Comprei um vidro de tinta preta de sapateiro, dei duas ou três demãos de tinta no sapato marrom, engraxei e estava pronto para a malfadada inspeção.

No dia seguinte, enverguei o uniforme, muito bem passado por sinal, o sapato preto reluzindo e, já no Departamento de Instrução (antigo DI) entrei em forma e esperava, satisfeito comigo mesmo, pela referida inspeção.

As horas passavam, a inspeção demorava e eu ali já peocupado com o clima que começava a mudar. Chuva era o que não podia acontecer.

O tempo fechando, horas passando e nada de chegar a minha vez. Da preocupação passei à reza. Foi com alívio que vi o cadete do quarto ano se aproximar. Olhou-me de cima a baixo, deu volta pela minha esquerda, contornou pela direita e dando-se por satisfeito seguiu em frente.

Assim que ele retornou à frente da turma começou a pingar e a cada pingo uma bolinha marrom surgia no meu sapato.

Apressado pela chuva que se aproximava, já terminada a inspeção, nossa turma era a última da Cia., prestado o anúncio regulamentar, o xerife-geral mandou fora-de-forma.

Depois do "boa", com a desculpa da chuva, sai em disparada rumo ao portão principal antes que alguém percebesse o que estava acontecendo.

Passei pelo sentinela com o uniforme cinza e o sapato todo pintado de preto com bolinhas marrom, mas livrei-me da inspeção e entrei de férias.

CAUSO Nº 50 – Atividade extra-classe.Por Procópio

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No antigo Departamento de Instrução havia uma atividade levada a efeito que era pura sacanagem. Nada tinha de educativo nem sequer de proveitoso.

Podemos dizer que tal atividade envolvia autores e vítimas. Os autores eram cadetes do curso lider e as vítimas sempre o primeiro ano, a bicharada, cujo único direito era servir de pau-para-toda-obra.

A atividade consistia no seguinte: um aluno dentre os autores ficava perto do portão principal, outro próximo a capela e outros espalhados pelo pátio.

Mandava-se a bicharada entrar em forma numa das extremidades e logo a seguir mandava fora de forma e formar na outra extremidade e tudo deveria ser feito correndo. Corre pra lá, corre pra cá, de vez em quando algum tombo, tendo em vista os calços que os alunos do curso lider esmeravam-se em aplicar. A atividade durava alguns minutos.

Como disse, era uma verdadeira sacanagem, a render alguns arranhões e pequenas esfoliações. Feitas estas preliminares para o bom entendimento de quem não passou por elas.

Vamos ao causo.

Estávamos em 1967 e a bicharada éramos nós, futuros aspirantes 70.

Pouco antes da hora do almoço recebemos ordem de formar para o rancho com o uniforme de instrução e capacete de aço.

Já estávamos, todos os cursos, formados na porta do rancho com o uniforme determinado quando aparece o Gerson da turma de 69, portanto do segundo ano, com o uniforme de expediente, qual seja calça de tergal, camisa, sapato e casquete, pedindo ao xerife-geral permissão para entrar em forma.

O aluno do quarto ano, não acreditando no que via, vociferou:

- Gerson!!! Porque você não está de capacete?

Ele, dando uma de esperto, responde com seu sotaque carioca:

- Sô aluno é porque estou sem coturno.

Continuou o xerife-geral:

- E porque você está sem coturno?

- Porque estou sem capacete.

Diante do inusitado da resposta não se conseguiu esconder o riso, inclusive nós (do primeiro ano).

Mas o que é isso? A bicharada rindo do Xerife-geral e do aluno do segundo ano? Inconcebível !!!

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E aí pagamos o pato.

Fomos formar em frente ao portão principal e a dita sacanagem rolou solta por quase uma hora.

CAUSO Nº 51 – Um alojamento de

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qualidadePor Luiz Vitor

Estávamos entrando nas férias escolares no final do ano de 1969. Tínhamos sido promovidos para o quarto ano.

Alguns alunos da turma A estavam querendo dar um passeio pelas praias capixabas e começamos a fazer o planejamento.

O primeiro item importante seria onde ficar sem gastar nada. Aí lembrei-me que o meu irmão, Ten Mozar pertencia ao antigo CSA e fora designado recentemente como administrador da Colônia de Férias de Carapebus. Mudou-se para lá com a família e passou a comandar as obras, morando na Casa da Administração.

Isso foi informado aos colegas que endoidaram e queriam que eu fizesse um contato com ele urgente, para arrumar um lugar lá pra gente ficar. Não precisava ser na casa dele, lógico, pois não caberíamos todos lá. Éramos 7 (sete): Eu, Lima, Tatá, Santos Filho, Maurício, Nélio e mais um que ainda vou me lembrar (Peço ajuda aos colegas)

Foi o que fiz. Liguei para o Ten Mozar e ele concordou com a nossa ida pra lá, pois os trabalhadores se encontravam em férias e poderíamos perfeitamente ficar no alojamento deles. Um lugar ótimo, segundo ele. Disse que era um lugar tranqüilo à beira da lagoa.

Na época existiam poucas edificações em Carapebus. O Castelinho, dois blocos de Apartamento e algumas poucas casas.

Partimos para a nossa viagem, carregando conosco uma barraca que o Maurício arrumou e que pesava aproximadamente 120 quilos. Foi quase impossível acondicioná-la no bagageiro do ônibus. O rapaz da rodoviária tentou diversas posições para conseguir colocar a barraca, que ficou ocupando um compartimento de bagagem, completo.

Chegamos ao nosso destino, carregando a barraca em sistema de revezamento, pois eram necessários três cadetes para movimentá-la.

Pela manhã o Ten Mozar nos recebeu muito bem, mostrando-nos onde ficaríamos.

Para chegar ao alojamento onde nos instalaríamos era necessário seguir por uma trilha à beira da Lagoa, andando por uns 3 quilômetros mato adentro, e lá fomos nós carregando a barraca.

Quando finalmente chegamos, verificamos que existia ali uma edificação toda de madeira, feita específicamente para abrigar a peãozada. Como eles estavam de férias, ocupamos as suas camas e beliches. O Lima, muito esperto, ocupou logo a parte de baixo do único beliche que dispunha de um cortinado para proteção contra moscas.

Nosotros nem isso tínhamos.

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O alojamento não possuía laje a dava para ver toda a estrutura de madeira do telhado, bem como os muitos buracos de telhas quebradas.

Deixamos nosso material por lá e fomos para a praia, para aproveitarmos o primeiro dia.

Realmente nos esbaldamos na praia, comemos peixe frito, tomamos água de côco, cervejinha super gelada e tudo o mais que tínhamos direito.

Lembro-me aqui que foi nessa época que o Masoka conheceu a Dea, com a qual veio a se casar e constituir uma bela família. Ela estava lá com mais uma amiga, de nome Kátia, com a qual o Lima também iniciou um romance, que não foi muito longe.

Voltando ao nosso causo, quando anoiteceu fomos para o nosso alojamento para tomarmos um banho e dormimos, pois afinal já estávamos há quase 48 horas sem dormir.

Após o banho deitamos com um sono colossal, mas quem disse que conseguiríamos dormir? Olhando para cima pudemos divisar diversos olhares a nos espreitar.

Tão logo deitamos, pudemos ficar frente a frente com o madeirame do telhado que se encontrava em estado precário. Das nossas camas pudemos assistir ao primeiro espetáculo da noite: havia ali em cima, uma família numerosa de ratos e ratazanas a correr em diversas direções em verdadeiro exercício de equilíbrio e de vez em quando caia um. Era tão intenso o tráfego de ratos gigantes, que escutávamos claramente as suas passadas nos caibros.

Entre nós somente o Lima estava protegido com uma telinha, pois ele foi mais esperto, como disse no início. Não sei se por capricho do destino, mas foi exatamente em cima do Lima que caiu o primeiro rato. Afinal a tela era para mosquitos. O Lima saiu correndo, levando com ele a coberta, a tela e tudo o mais que encontrava pelo caminho, para se safar do rato.

Além dos ratos, a quantidade de pernilongos existente era uma coisa fenomenal. Nem a telinha do Lima dava conta da missão. Imaginem os outros que nem tela tinham.

Depois desses considerandos o único jeito que achamos para conseguirmos dormir, foi tomar mais algumas doses de uma pinga boa que havíamos levado para que pudéssemos, simplesmente desmaiar e dar um f.... para os bichos. O nº 51 deste causo veio a calhar com o próprio causo. Tivemos de ter a “Boa idéia” de esvaziar algumas garrafas de Pinga Boa.

Assim, desmaiados de tanto beber, pudemos dormir sem preocupações com os ratos, pernilongos, baratas e outros bichos. Se cair algum por aqui, ele que prossiga o seu caminho do jeito que quiser. Afinal não temos gosto de comida de rato. Alguns de nós, no dia seguinte estávamos literalmente com catapora, tamanha era a quantidade de picadas, pois com o calor infernal que fazia, não podíamos nem cobrir com o lençol, apesar de que alguns pernilongos nem lençol respeitassem.

Assim transcorreu o nosso calmo primeiro dia de farra. E noite também.

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CAUSO Nº 52 – O patrulhãoPor Luiz Vitor

Esse causo tem a ver com o anterior, pois aconteceu no segundo dia em que estávamos gozando férias em Carapebus.

Nesse dia levantamo-nos cedo, pois não dava para ficar na cama naquelas condições de sofrimento com os ratos e pernilongos e fomos curtir o nosso passeio noutras paragens.

Tudo correu às mil maravilhas no segundo dia e à tarde, quando começou a escurecer, quando estávamos tomando umas cervejas em um bar, alguém sugeriu um Tour pelo Bairro São Sebastião. Era um bairro distante uns 3 km de Carapebus, onde poderíamos arrumar alguma namorada séria para casar.

Fomos todos, mas o Tatá disse que iria mais tarde pois precisava resolver algum problema ainda na colônia. Até hoje não sabemos que problema foi esse que atrasou o Tatá. Acho que ele tava era de olho numas meninas que passavam férias por lá e que se encontravam hospedadas na casa do Coronel Pereirinha. Se foi isso, o negócio não vingou, pois o Tatá resolveu ir atrás da gente.

Lá pelas 8 horas da noite, o Tatá já com o seu “problema” na colônia resolvido, ou “Não resolvido” decidiu procurar-nos em São Sebastião. Pôs-se a caminho do famoso bairro, a pé, seguindo pela estradinha de terra ali existente. Em determinada curva da estrada, ele vislumbrou que existia uma claridade muito grande na direção de São sebastião e que talvez se ele saísse da estrada e fosse em direção ao clarão, poderia ganhar tempo e distância. Parecia ser muito mais perto seguir naquela direção.

Assim pensando resolveu se embrenhar pelo mato. Andava, andava, andava e nada de chegar a São Sebastião, nem mesmo de se aproximar do destino. Foi então que já temeroso de sua iniciativa não ter sido tão feliz como achava, resolveu voltar para atingir a estrada e então seguir para São Sebastião. Deu meia volta e partiu em direção contrária.

Aí o negócio literalmente, piorou. O Tatá passou a não enxergar nem pra onde estava indo, pois nem luz havia nessa outra direção. Nesse ponto ele diz que ficou mais perdido que fdp que não sabe quem é o pai.

Somente por volta das 05:30 horas, quando começaram a aparecer os primeiros raios solares, o Tatá conseguiu visualizar ao longe, uma trilha. Conseguiu chegar nessa trilha e dali para achar a estrada de terra foi fácil. Na estrada de terra, conseguiu se encontrar com alguns peões que se dirigiam ao trabalho, os quais o orientaram para que conseguisse retornar a Carapebus.

Enquanto isso, nós já havíamos voltado de São Sebastião e não conseguíamos dormir. Desta vez não era por causa do bichos, mas por causa do Tatá que desaparecera.

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Já estávamos dividindo-nos em três patrulhas de busca, sendo que uma iria percorrer a praia, outra iria seguir em direção ao bairro São Sebastião, ficando atento para possíveis buracos, valas e armadilhas do caminho e a terceira patrulha iria se embrenhar mesmo no mato, entre Carapebus e São Sebastião.

Seria a terceira noite sem dormir, quando por volta das 06:00 horas entra o Tatá no nosso alojamento, tranqüilo, como se nada tivesse acontecido, fumando um cigarrinho e surpreso por encontrar-nos ainda de pé, perguntou:

Onde vocês vão?

Respondemos-lhe que já estávamos partindo para o resgate, pois ainda tínhamos esperanças de encontrá-lo vivo.

E perguntamos: E você?

Ele simplesmente respondeu, sem dar qualquer explicação: Fui procurar vocês.

Ato contínuo, deitou-se e nem quis conversa, dormindo quase que de imediato.

Só no dia seguinte, ele nos revelou o que realmente tinha acontecido.

Taí a explicação o do apelido “Tatá Patrulhão.

CAUSO Nº 53 – Comendo "PM" de olho no "Pão-com-ovo"Por Procópio

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Nos velhos tempos, o regime do CFO nos brindava com quatro tempos de aulas pela manhã e havia dois tipos de intervalo: cinco minutos entre cada tempo e um intervalo maior, cerca de quinze minutos, após dois tempos.

Lembro-me que íamos pelo terceiro ano e nossa sala de aula ficava no então prédio novo, logo alí atrás do prédio da Administração e o intervalo maior era aproveitado por todos para se fazer um "lanchinho".

Abro aquí um parêntese para dizer, apenas de passagem, que estava para haver criaturas com mais fome do que nós, pobres cadetes. Não sei se devido à pouca idade, jovem ainda, ou se por causa da incessante e estafante atividade diária. Esta última, era coisa que parecia não ter fim: aulas de ginástica, natação, ordem unida, maneabilidade, defesa pessoal, armamento e tiro, aulas em sala, tudo coroado, de vez em quando, com um "ranca rabo".

Não sei! O certo é que cadete tinha fome de elefante. E não pense que é exagero não! Taí o Luiz Vitor que não me deixa mentir, sozinho.

Mas voltemos ao causo. No intervalo maior todos se dirigiam à cantina para saborear algumas guloseimas que faziam a festa dos cadetes, todos menos um.

Talvez por comodidade ou mesmo por preguiça o Quintão não saia da sala e quando me via saindo, para ir à cantina, evidentemente, pedia para trazer-lhe um pão- com- ovo- frito.

Eu achava estranho aquele tipo de sanduiche, na minha região nunca tinha ouvido falar de tal. O que eu apreciava era um cachorro-quente ou quando a grana encurtava, comia mesmo era um "pm", mas levava o pedido do Quintão.

Isto ocorria invariavelmente todos os dias, nunca vi gostar tanto de pão-com-ovo.

Depois de algum tempo, resolve o nosso nobre colega, não sei se com a intenção de recompensar-me pelo trabalho, pagar pra mim o tal sanduiche, apesar de achar estranho comi...

E não é que o "trem" era "bão" mesmo sô. A partir daí,deixei de comer cachorro-quente e "pm"(pão molhado) e aprendi a gostar de pão-com-ovo, até hoje, para uma boquinha apressada e ligeira, é com ele que me viro, tudo graças ao Quintão.

Meu prezado Quintão! Grande figura! Meio teimoso (o Lima que o diga) mas um boa-praça e grande figura humana.

Não fiques bravo com o causo.

Desejo-lhe felicidades e (lembrando o Lúcio Emílio que não está bebendo nem água) espero, se ainda lhe for permitido, que continue a apreciar a iguaria.

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CAUSO Nº 54 – Essa o RCont não

previa.Por Lúcio Emílio

Nosso entusiasmado instrutor, Coronel Guisoli, esmiuçava, nos seus minimíssimos detalhes, o Regulamento de Continências e Sinais de Respeito.

Esse, quem não soubesse levava ferradas monumentais.

Sabendo disso e querendo só a nossa felicidade, o instrutor caprichava.

Assunto: continência na escada. Superior descendo, subordinado subindo. Vice-versa, versa-vice e tal e etc."Quando você cruzar com superior na escada, você pára, volta-se para o superior e presta-lhe a continência".

Foi aí que um "Sô Tenente" se ouviu no fundo da sala.

Ninguém mais que o Belizário (por onde andas, Belizário?), mão erguida, pronto para desfechar a pergunta fatal:

"E se eu estiver na escada rolante, como é que eu faço?

Sinceramente, qual foi a resposta do Coronel Guisoli eu não sei. Só imagino.

Naquele tempo, novidades enchiam a nossa Capital, lojas de departamento, escadas rolantes, camisas volta ao mundo, meias de nylon, o tergal e a popularização do Fusca. Modificações tão aceleradas não tinham dado tempo ao velho RCont de se atualizar.

CAUSO Nº 55 – Do FM, só o caboPor Procópio

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Corria o primeiro semestre de 1966. Naquela época, recruta ainda, logrei aprovação no concurso para o CFS (Curso de Formação de Sargentos) que era realizado, também, no antigo DI (Departamento de Instrução da Polícia Militar). Curso Intensivo com uma enorme carga de atividades, teríamos que absorver em seis meses o que normalmente era lecionado em um ano. Daí se ver que não sobrava tempo para mais nada. Era um corre-corre dos diabos.

Lembro-me que no desenrolar do curso, tivemos uma atividade ali pelos lados do BH Shoping, região que na ocasião era puro mato, havia apenas a estrada que liga a Nova Lima, como até hoje. Atividade de campo, iríamos ver, na prática, o que nos fora ensinado na teoria, dentro da sala de aula.

Naquele dia, formado o Batalhão de Manobras saímos bem cedo em marcha a pé até atingirmos a já referida região. Eu fazia parte de um pelotão de fuzileiros e tinha a função de atirador e portava por isto mesmo um fuzil metralhador ZB (FMZB). A medida que o tempo passava o malfadado FM pesava cada vez mais, parecia feito de chumbo.

Já transcorrida a parte da manhã, logo depois do intervalo do almoço que se deu no local, pois a comida foi para lá transportada, estávamos no alto de um morro e um aluno do quarto ano (turma de 1966), não me lembro quem, ministrava instrução de maneabilidade. Tudo corria bem, quando chega no local em que estávamos o então Tenente Antônio Alves 10º, saudoso Bolinha, e chefe de curso da turma B, a minha turma. Dirigindo-se ao aluno do quarto ano disse:

- Quero ver o grau de prontidão desta turma, você vai comandar uma progressão daqui até o fundo do vale, passando por todas as formações, quero ver chegar lá o mais rápido possível.

Já disse anteriormente que eu portava um FMZB, esta arma tinha um cano com uma alça para facilitar o transporte. Este cano, diga-se de passagem, encaixava no corpo da arma através de uma braçadeira e por pressão.

Dada a ordem. Lá fomos nós: um apito deitar, dois apitos levantar e correr, três apitos rolar para a direita, quatro rolar para a esquerda. Atropelando tudo o que aparecia pela frente em poucos minutos estávamos lá em baixo colados de barriga no chão. Veiu em seguida o comando de reunir. O pelotão repondeu prontamente, formados o Tenente me pergunta:

-Soldado Darci cadê o FM?

Olhando para minha mão só vi o cano da arma, o restante tinha ficado para trás.

Tive que voltar, subir o morro a ver se encontrava o maldito FM que havia se soltado. Depois de muito procurar achei o dito cujo num emaranhado de mato, cipó e espinho, como tinha conseguido passar por ali, sem nenhum arranhão, só Deus sabe. Mas só então pude respirar aliviado, já que não teria um FM descontado nos meus vencimentos.

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CAUSO Nº 56 – O MensageiroPor Procópio

Éramos alunos do CFO - 2. Tínhamos acabado de voltar das férias do meio do ano. A atividade era jornada militar em Imbiruçu.

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Terminada a jornada, já a noite, estávamos de volta ao DI, passando pela BR-381.

A tropa deslocava-se, como sempre, em marcha a pé, cansada e em silêncio. Neste dia a minha função dentro do Batalhão de Manobras era de mensageiro.

Após passar toda a parte da manhã correndo feito louco do início da coluna de marcha até o seu final e vice-versa, levando mensagens a comandantes de Cias e de Pelotão e já em Imbiruçu participar das instruções de maneabilidade, tendo como ponto alto o corre-corre e o levanta e deita e o torna a correr, já cansado de não mais aguentar, ia a passos sonolentos pela beira da BR, pensando nas agruras do dia e principalmente sobre o acidente com o Tenente Lair, coitado...

Mas também quem mandou ficar inquietando a tropa com bombas de efeito moral e de gás. Ia neste pensar quando...

Quando de repente faltou o chão debaixo dos meus pés. É que, de tão cansado, dormi andando e despenquei por uma valeta abaixo, caindo de joelhos em cima de um fundo coberto de concreto grosso, valeta relativamente profunda.

Um ligeiro alto e alguém perguntou-me se havia me machucado. Respondi que não e me tiraram de lá. Ao chegar em cima, lembrei-me que os estropiados eram transportados de jipe.

Imediatamente dobrei os joelhos e pus-me a gemer. Levado para o jipe descansei e dormi até a chegada ao quartel.

CAUSO Nº 57 – O GolfistaPor Soares

Este relato-confissão vem também dos tempos de Cancun-México.Lá estávamos em 1995, sob comando do Zero-Um (que há muito tempo não vejo assim ser chamado: o Martinho), Comemorávamos os nossos 25 anos de formatura.

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Quem esteve naquele passeio há de se lembrar para sempre daquela belezura de Hotel Caesar Park; seis estrelas, jóia do investimento americano na região, como apregoavam na época. Na verdade, tudo o que se referia a hotelaria e diversão em Cancun era coisa de gringo, exceto os trabalhadores, gente simples da terra.

Anexo ao hotel, havia um imenso e sofisticado campo de golfe, que, acho, ninguém da turma se arriscou a visitar. Afinal, de um modo geral, o nosso contato com aquele esporte, na época, se limitava a alguns sonolentos minutos diante da TV nos programas esportivos especializados.

Pois bem, eu fui lá; andar lento, todo cabreiro, curioso, levando comigo apenas o Leo, filho de 13 anos, franzino e rebelde, meio que puxado pela orelha, já que também não era chegado àquele esporte... aliás, no caso dele, a esporte nenhum.

Em algum lugar, na entrada das luxuosas instalações, me lembro de ter visto estampado um valor, bastante salgado, que cobravam por fração de hora como taxa para aprendizado e/ou prática do esporte, sei lá. Era um número, inexplicavelmente expresso em pesos mexicanos, com um monte de zeros.

Ficamos algum tempo observando o pessoal que jogava e eis que se acercou de nós um dos instrutores com uniforme padrão da casa, mexicano de ar senhorial, com uma bolsa cheia de tacos de golfe e cara de velho conhecedor do assunto. Conversa vai, conversa vem (o gajo em espanhol e eu em portunhol, claro), ele acabou por passar um taco para o Leo, alinhou umas cinco ou seis bolinhas no chão, e mandou que ele as atirasse em determinada direção. Com clara má vontade, o menino tentou umas duas tacadas, sem sucesso, e logo ficou emburrado: - Troço esquisito e sem graça!

Coube então a mim prosseguir na empreitada. Na primeira tacada, atirei a bolinha, se bem me lembro, a uns cinqüenta metros de distância.- Muy bien, muy bien! incentivou o instrutor.Mais umas três tacadas e, atuando em alto astral, atirei todas as bolinhas mais ou menos no mesmo lugar. Ou seja, em tese, eu estava sempre chegando ao Green, que é o objetivo do lance inicial de cada etapa do jogo.

Aí o homem ficou entusiasmado e quis saber se eu era desportista ou o que mais na vida. Ele disse que os militares são muito disciplinados e por isto mesmo são bons em esportes que precisam de muita disciplina pessoal, como o golfe. Quis logo me ensinar os macetes. E a coisa que começara até muito bem passou a ficar foi danada de ruim.

Precisam ver a chatura. Sem nem pedir licença, ele pegava os meus braços, forçava meus ombros, mandava fechar os cotovelos; impaciente, acertava minhas mãos crispadas, uma sobre a outra, em torno do cabo do pesado taco (... assim não, é assado!) e, para bater na bola, eu tinha que me contorcer e girar o nefando instrumento em um grande arco, começando por sobre um ombro e terminando sobre o outro. O movimento terminava com a perna direita flexionada, o joelho próximo ao esquerdo, e apenas a ponta do pé tocando o chão... numa posição meio boiola, eu achava.

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Eu fui ficando nervoso com aquele pega-torce-aperta-empurra e comecei a suar. As mãos completamente molhadas. Engessado pelas técnicas ensinadas e não assimiladas, passei a atirar as bolinhas apenas na metade do caminho, se tanto.

O mexicano começou também a ficar nervoso e exigente quanto à minha produtividade.

Em um momento de quase desespero e orgulho ferido, querendo me recuperar diante do instrutor e do meu filho, que a tudo assistia, fiz um esforço extremo para atirar a bolinha o mais longe possível. E vuuup!...com toda a força. Foi uma tentativa desastrada: não só errei a bolinha, como o taco de ferro deslizou-me por entre as mãos encharcadas de suor e passou zunindo lateralmente, perto da orelha do mexicano, indo cair nas proximidades de um grupo de turistas que jogava ao nosso lado esquerdo.

O homem ficou lívido. Demorou alguns instantes para se refazer do susto.- Es muy peligroso, señor!

Ato contínuo, ele encerrou a experiência; disse que a minha meia-hora estava esgotada e pediu-me para acertar com ele a taxa determinada pela casa.

Achei estranho aquilo de pagar ali mesmo, na bucha, e quis protestar, uma vez que eu nem sequer pedira aula alguma. Mas a situação tinha ficado meio bizarra e eu com uma vergonha danada de minha atuação final.

O homem era terrível: quase enfiou a mão em minha carteira, quando notou que eu mexia nela relutantemente sem pegar logo a grana exigida. Em pouco tempo ele involuíra de simpático para chato e de chato para inconveniente. (Devia ser uma espécie de freelancer, credenciado pela administração da casa para prestar assistência e cobrar diretamente dos turistas).

No fim das contas, espoliado aí por uns trinta dólares, convertidos pela taxa de câmbio que o mexicano arbitrariamente estipulara, fui embora com “o rabo entre as pernas” e obviamente sem nada comentar com o Leo (este, felizmente, meio ausente e desinteressado em relação que realmente ocorrera).

Meu “papelão” não iria vazar! Estivesse lá o Lúcio, ou o Marra, e eu tava era lascado.

Como em toda primeira má-experiência, aquela primeira tende a ser também a última deste desastrado golfista.

CAUSO Nº 58 – Fofoca na caserna!!!

Será?Por Procópio

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Este fato ocorreu já há alguns anos, não recordo bem a data, só sei ao certo que ainda era capitão, o local foi o pátio da Academia de Polícia Militar. Também não me vem à memória o que estávamos aguardando ali.

Certo é que conversávamos entre nós, um grupo de capitães e uns poucos tenentes, sobre algumas futilidades e coisas do dia-a-dia. Conversa vai, conversa vem, o papo ia animado, quando alguém chamou a atenção, pois aproximava-se do nosso grupo um oficial superior, um coronel para sermos mais exatos.

Incontinenti, paramos a conversa e, como manda o regulamento, viramos e encarando o superior prestamos-lhe a continência devida.

Este último olhando-nos correspondeu ao sinal de respeito e passou por nós, voltamos imediatamente ao bate papo interrompido.

De repente, surpresos e um pouco assustados ouvimos o referido oficial, que havia parado depois de dar uns cinco a seis passos, dizer em alto e bom tom:

- Olha lá hein! Não joguem merda no superior porque pode respingar.

Após uns momentos iniciais de susto. Sem compreender bem o que motivou o dito, já que ninguém falava mal de ninguém, só nos restou sorrir.

Isto porque o citado oficial, também, não se dirigia a ninguém especificamente e nem pretendia nos admoestar.

Era apenas mais uma de suas famosas e inesperadas tiradas, coisas pelas quais, aliás, ele se tornou famoso e notório.

Depois de nos olhar novamente, o oficial em questão, virou-se e sorrindo seguiu o seu caminho, satisfeito consigo mesmo.

CAUSO Nº 59 – Bala perdida no CFO 3

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Por Lúcio Emílio

Deve ter sido no CFO-3, porque a sala de aula já era no prédio novo, minha carteira era alinhada com a do Cícero Moteran.

Naquele dia, não sei mais se foi na hora do intervalo ou se foi durante alguma aula ou até mesmo aula vaga, nosso colega resolveu namorar um revólver, imagino que particular.

Abre tambor, tira bala, examina o cano, põe a munição de volta, dá uma lustradinha no niquelado com uma flanela, põe no coldre, tira do coldre, como se fosse menino fascinado com brinquedo, no dia de Natal.

Eis senão quando, soa o tirambaço.

Sem exagero, suvio de bala eu nunca tinha escutado. É feio. Subia mesmo e venta em volta.

Passado o susto, fui ver o buraco na parede. Não sei como estou vivo aqui, contando este causo.

Por onde essa bala passou sem acertar a minha cuia, não sei.

Será que o Cícero Moteran sabe?

CAUSO Nº 60 – Deus seja louvadoPor Cícero Moteran

Um estrondo, parecido com um trovão seco, estremeceu o espírito do noviço.

Perdeu para a eternidade, exatamente a partir daquele ribombar, qualquer coordenação motora: olhos esbugalhados, boca aberta, pele esbranquiçada, nenhum sinal vital.

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Extasiados também, permaneciam seus colegas de turma. Parecia treinamento avançado do comando “estátua” que as crianças insistem em nos ensinar...

O professor civil estava de pé; alunos o rodeavam trocando comentários sobre a disciplina de direito. Alguns descansavam as nádegas depois de 45 minutos plantadas na carteira. Outros haviam se retirado até o sanitário; alguns poucos ainda permaneciam sentados.

Longos segundos congelaram a todos...

Pedro Braz, sargentão encruado, homem de atitude instantânea, inflexível nas decisões tal que mula empacada, “xerife” de semana do CFO-3B, ressuscitou a todos com brados de Dom Pedro: “tá preso...; tá preso aluno Cícero, até segunda ordem...”Todos passaram, mecanicamente, a procurar por mortos, feridos, agonizantes, enxurrada de sangue, algum sinistro da catástrofe.Cícero quedava mumificado. Sua arma ainda vomitava fumaça de crematório.Sentado também, esquadrejado a duas filas paralelas, e na segunda linha de carteiras a partir do quadro-negro, “potência” acabara de “acordar”...Lúcio Emílio passava as aulas em transe, parecia em sono profundo... só não babava nem roncava como ao soneca Soares, outro potência. Era assim, ora de olhos anestesiados, vitrificados, ora de olhos cerrados, que Lúcio Emílio absorvia conhecimentos. Nada anotava, nada perguntava, nada estudava, nem cadernos ou livros tinha. Tinha sim, excelentes notas nas provas, daí seu apelido.Cícero acabara de iniciar a milionésima operação de limpeza de sua novíssima pistola semi-automática 735. Nenhum tiro a “protetora” havia dado, mas, se necessário fosse, aquele canhão haveria de lhe defender.Extremamente precavido e cioso dos riscos, a limpeza foi precedida da retirada do pente de munição.O vai e vem da flanela fofa, aquecendo o cano rígido do armamento, num movimento habitual para a idade, acabou por puxar o cão, o tinhoso, o chifrudo... BUMMM...O tiro acertou a parede interna da sala de aula, logo abaixo de uma das janelas, fazendo um buraquinho de uns 3 mm de profundidade por outros poucos milímetros de esfolamento no reboco. A linha de tiro passou exatamente próximo ao Lúcio Emílio, talvez por ele, deixando uma grande constatação: tanto Lúcio quanto Cícero tinham proteção dos Céus.

Deixou também, a convicção de que arma não é solução: é problema

CAUSO Nº 61 – O sanduíche do NélioPor Luiz Vitor

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Essa aconteceu em 1990, quando cursávamos o CSP/1º Semestre em BH. A turma tinha uns 4 ou 5 Aspirantes 70, num total de uns 30 alunos. Éramos os primeiros da turma a fazer o CSP, ainda como Majores. O Curso era realizado através da Fundação João Pinheiro, para onde nos deslocávamos diariamente.

Da turma estavam matriculados, o Nelson, Pedro Ivo, Nélio, Lima e eu. Se me esqueci de alguém, por favor manifeste-se.

Dentro da grade curricular estava prevista a participação de todos os alunos do CSP daquele ano, em um Congresso sobre Segurança Pública, a ser realizado em Fortaleza, no mês de maio de 90.

Foi então programada uma viagem de estudos para o CSP, tendo sido prevista também uma visita às Polícias de outros Estados do Nordeste, viagem que seria finalizada no referido Congresso.

Foram três dias de intensos debates em Fortaleza, tendo o nosso CSP dado a sua contribuição ao evento, que contou com representantes de todo o país.

Foram destinados os dois últimos dias para um turismo na cidade.

Programou-se para nós uma visita à Siará Hall - Casa de Shows e Espetáculos, para onde fomos à noite.

O Show rolava solto e em uma de suas partes, um dançarino dançava como um sanduíche, tendo um linda dançarina à sua frente e outra mais linda ainda atrás. Dançavam os três em perfeita harmonia nos seus passos, mantendo seus corpos perfeitamente agarrados.

Em dado momento o dançarino se dirige à platéia perguntando se alguém gostaria de substituí-lo na dança, agarrando as duas dançarinas. O Nélio muito afoito não perdeu tempo. Prontificou-se imediatamente a sentir os corpos daquelas belas senhoritas.

E assim sendo, ele foi levado ao palco e as duas meninas o agarraram e começaram a dançar com ele da mesma forma, acariciando-o. O Nélio ia à loucura.

Na dança eles passeavam livremente pelo palco e as meninas o agarravam e soltavam e novamente o agarravam e soltavam, até que em determinado momento a de trás o soltou e imediatamente a substituiu um baita dum negão horroroso, que o agarrou por trás e ficou acariciando-o também. O Nélio sem perceber a troca, fazia carinhos na da frente e agora no de trás, também. Dançavam soltos pelo palco enquanto a platéia ia à loucura com a sacanagem que faziam com o Nélio, que permanecia muito sorridente e feliz e passando a mão até pelo rosto do negão.

Não sei como o Nélio descobriu a sacanagem, mas eu acho que ele deve ter passado a mão por baixo e percebido algo anormal por ali, ocasião em que se desprendeu do trio e saiu correndo para o seu lugar na platéia.

A platéia se divertiu muito com esse episódio. Foi hilariante.

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CAUSO Nº 62 – A cueca brancaPor Procópio

Vamos nos abstrair e voltar alguns anos no passado, mais precisamente ao ano de 1967.

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Sociedade tradicional costumes e padrões morais rigorosos, não se admitia nenhum deslize.

Naquela ocasião a roupa de baixo masculina, segundo os padrões da moda de então, era a cueca denominada samba canção e de cor branca. Qualquer outro modelito ou cor era absolutamente inimaginável e reprovável. Cueca colorida, estampada ou de bolinhas, nem pensar. Só mesmo a velha cueca samba canção branca. Não havia outra opção.

Imagine agora a vida de caserna. Principalmente o internato do antigo DI, o alojamento onde moravam os cadetes. Tudo muito limpo e organizado, nada ficava fora de lugar e tudo era ciosamente guardado. Nada, mas nada mesmo era deixado ao acaso. Se porventura alguém se desse ao luxo de ser desleixado, a punição vinha a cavalo e a galope. Ao incauto, punição imediata.

Também aqui o deslize não era admissível. Daí o esmero, o cuidado sempre presente.

Cada coisa no seu devido lugar, ou seja, cada coisa no seu porta coisa.

Neste ambiente, perder qualquer coisa era improvável, a probabilidade era quase nula.

Feito estes considerandos, vamos aos finalmente, isto é, vamos ao causo.

Foi então que, numa bela tarde, todo o Corpo de Alunos formado para a revista diária e consequente dispensa, chega a frente da tropa um determinado aluno do quarto ano, diamantinense dos bons, e pedindo permissão ao xerife-geral dirige-se ao CFO.

Depois de comandar sentido e descansar tonitroa:

- Atenção CFO para um aviso!

Com a tropa fixada na sua figura, conclue com voz séria e grave:

- Procura-se uma cueca branca, perdida no alojamento!!!...

Não sei, até hoje, se a cueca foi achada. Só sei que um certo ar de riso tomou conta da tropa.

Somente o ar porque qualquer outra manifestação mais afoita significava ficar detido.

Nos tempos de hoje, com uma tropa mista, por certo que seria dificil segurar o riso.

CAUSO Nº 63 – Um golpe no escuroPor Soares

Lembram daquela sirene maluca que nos acordava no acampamento de Água Limpa?

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Deve ter sido no segundo ano, lá pelas duas da madrugada, quando a danada soou. Gritos do Quarto-Ano pra todo lado! Entramos em forma atabalhoadamente, como era de se esperar de virtuais sonâmbulos, por que aquela já era a segunda ou terceira vez que o nosso pesado sono fora interrompido naquela noite gelada.

Dessa vez não voltamos para a barraca. Saímos para mais um “patrulhão”!A noite estava muito escura e andávamos tropegamente esbarrando uns nos outros. O humor geral estava péssimo. Não era prá menos!

De repente, quando seguíamos por uma espécie de vala do terreno, ao encostar-me em alguém, levo um belo e inesperado sopapo no pé da orelha. Embora com a proteção dos apetrechos normais de campanha, o golpe foi o suficiente para me desequilibrar e colocar-me por terra.

Passei o resto do exercício, tentando inutilmente descobrir quem fora o miserável traiçoeiro. A noite era realmente escura e tive que engolir a raiva, sem condições de dar o troco.

Mas o cara era valente e acabou se identificando.... uns quinze anos depois. Era ninguém mais ninguém menos que o "gigantesco" Santos Costa (agora, um amigo do peito).

CAUSO Nº 64 – A mensagem cifradaPor Procópio

Início do ano de 1970. Lá pelos idos de Abril ou Maio não me lembro bem.

Sei que era a primeira jornada militar que desfrutávamos como curso lider.

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A euforia tomava conta do grupo de trabalho escolhido para o comando do Btl. de Manobras, todos esmeravam-se nos preparativos.

Este narrador foi designado como oficial de comunicações, cujo árbitro era o então Aspirante Benjamim, da turma de 1969.

Depois que apresentei o meu planejamento para a jornada detalhando todo o encargo referente à função, fui chamado no rancho, no cômodo que servia de refeitório dos oficiais.

Lá chegando, encontrei o Benjamim que incontinente perguntou-me porque no meu planejamento não constava um código de mensagens cifradas.

Depois de olhar bem nos olhos do meu inquisitor respondi que lidar com as mensagens em claro era muito mais facil.

Bom, vamos ressaltar por necessário, que saí dali com a ordem de apresentar imediatamente uma grade de cifra de mensagens.

Não preciso dizer que optei por apresentar a grade mais simples do manual de comunicações.

O Aspirante não gostou muito não, mas argumentei que seria muito dificil trabalhar com outro tipo de grade durante a jornada, que grades mais complexas se aplicariam melhor em acantonamentos ou acampamentos, sim ou não, ele aceitou, não sem relutância, a explicação.

Chega o dia da tão esperada jornada. Logo que transpusemos o portão do DI o Asp Benjamim entregou-me uma mensagem em claro ordenando repassá- la, cifrada, para o capitão que comandava o exercício.

Seguia a jornada tranquilamente sem muitos percalços e o Benjamim virava e mexia me perguntava:

- Procópio já entregou a mensagem?

E eu respondia que não.

E foi assim até chegarmos na região do Cercadinho, este era o objetivo da marcha e da tropa.

Dado o intervalo para descanso, antes de começar as lides previstas, lá vem o Benjamim de novo:

- Procópio já entregou a mensagem?

Respondi que não. Ao que ele retrucou:

- Deste jeito a jornada acaba e você não entrega a mensagem.

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Sentei-me, então, a um canto e rapidamente cifrei a tal mensagem. Terminado o trabalho de enquadrar a mensagem na grade, corri até a barraca do Comando e, pedindo lincença, entreguei a dita mensagem. O capitão olhou-me e vociferou:

_ Aluno você vem e me entrega uma mensagem cifrada, o que vou fazer com isto, volta, decodifica a mensagem e me entrega, em claro.

Olhei para o Benjamim que estava do lado e imediatamente retirei da prancheta a folha com a mensagem que ele havia me passado e entreguei ao capitão. Este último virando-se para mim disse:

Ah! Agora sim. É assim que se faz.

Pedi licença e retirei-me imediatamente, antes que o Benjamim se recuperasse da surpresa e o caldo entornasse para o meu lado.

CAUSO Nº 65 – A disparada do AquinoPor Procópio

Ano de 1968! Acabávamos de deixar para trás a pecha de bicharal. O segundo ano enfim chegou!

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Estávamos rindo a toa, pois deixávamos de ser a bola da vez e poderíamos, também, dar as nossas tacadas. Tudo ia de vento em popa e felizes exibíamos a nossa estrela amarela. Veio então as primeiras provas bimestrais, lembro-me como se fosse hoje, estávamos, a turma A, na pista de atletismo prontos para realizar a prova de 1500 metros, para alguns poucos coisa a toa, para outros exacerbado sacrifício.

Dentre os que sentiam dificuldade para desempenhar-se da corrida estava o aluno Mauro Aquino que, neste dia, dava tratos a bola, imaginando uma forma de obter sucesso e tirar uma boa nota ou pelo menos ficar dentro da média.

Assim pensando, resolveu que de início, aproveitando que estava descansado, sairia em ritmo bastante acelerado e depois, quando viesse o cansaço em passadas mais lenta lograria o objetivo de completar a prova. Dito e feito.

Todos na linha de partida, dado o sinal de largada pelo instrutor, enquanto começávamos com passadas lentas para ir aumentando o ritmo gradativamente o Mauro saiu em louca disparada.

Não chegou a percorrer nem duzentos metros e cambaleante, dando uma guinada, não conseguiu fazer a curva, foi direto para fora da pista e desmontou de vez, todo ofegante e sem cor, em cima de umas moitas de capim que ficava nas proximidades, bem na beirada, as mesmas que o Luiz Vitor usou para se esconder.

Fracassava ali a brilhante idéia do nosso prezado colega.

Não logrou completar a prova, não obteve nota alguma e pior desempenho não poderia esperar.

CAUSO Nº 66 – Um matreiro caixão-de-areiaPor Soares

Acampamento de Água Limpa de 1969. Estávamos no terceiro ano e a Turma de 69 liderava.

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No ano anterior, andei fazendo uns desenhos avulsos para a área topografia no acampamento e, mercê disto, desta vez, fui recrutado em caráter permanente para a equipe do “Oficial de Topografia” (assim chamado o aluno do quarto ano, encarregado deste importante setor da “guerra” para a qual nos preparavam!).

Estranhamente, para uma época de tanto rigor militar, o corajoso OF TOPO não compareceu no primeiro dia de acampamento e só deu o ar da graça no segundo dia. A justificativa obviamente deve ter sido outra, mas consta que o problema foi mesmo rabo-de-saia...Mas isto é outra estória (ou não.)

Pois bem, uma das nossas atividades no setor de TOPO do acampamento era confeccionar o indispensável Caixão de Areia, uma reprodução do terreno, em alto relevo, teoricamente para orientar as manobras da tropa.

A técnica era bem simples e lógica: a) colocava-se uma camada de areia úmida bem apertada no fundo dum imenso caixote suspenso no meio da tenda; b) estendia-se uma carta do terreno, com as curvas de nível bem delineadas, sobre a camada de areia: c) palitos de bambu (tipo espetos de churrasco) eram cortados, proporcionalmente às cotas de altura, e espetados longitudinalmente nas curvas de nível; d) finalmente, bastava preencher-se com areia úmida os espaços entre os palitos e... pronto; num passe de mágica o terreno estava modelado!Realmente muito simples, não parece?

Pois é; mas orientados pelo nosso valoroso OF TOPO, ficamos o dia inteiro preparando o caixote, espetando pedaços de bambu na carta estendida sobre a areia compactada e, ao final, o que tínhamos era uma bagunça... uma profusão de palitos ouriçados, sem a menor condição de embasar o trabalho final de modelagem.

Claro que alguns erros técnicos tinham sido perpetrados, entre eles, com certeza, a inadequação de escala da carta utilizada. O fato é que, no fim daquela tarde, o nosso Oficial de Topografia estava em desespero e sem saber como solucionar o problema. (Provavelmente, a sua aflição estava aliada a apertos por uma “estória-cobertura” pouco convincente, contada para justificar a ausência de um dia de acampamento). E mais: no dia seguinte, os oficiais do DI, com a presença do severíssimo Capitão Edevar, especialista no assunto, iriam inspecionar a barraca de topografia, onde, normalmente, a cereja do bolo era o Caixão de Areia. O caso estava era feio.

Temendo que sobrasse para mim, quando fossem arrancar a pele do nosso orientador, procurei logo uma alternativa. Numa de suas ausências da barraca, arranquei os espetos de parte do Caixão e, com uma certa habilidade manual, comecei a esculpir os montes “no olhômetro”, tomando como referência apenas a indicação das curvas de nível.Ao retornar, o OF TOPO ficou encantado com o que eu começara a fazer e, claro, deu o maior apoio para que eu continuasse o trabalho. A noite seria longa.Enfim, utilizando uns poucos palitos para localizar e balizar a altura dos morros – meio que “incorporado” pelo espírito de Michelangelo, – modelei toda a região de Água Limpa no caixotão: montes, chapadas, depressões, tudo; boa parte no “chutômetro”. Depois salpiquei serragem colorida de verde sobre os morrotes, marquei os cursos d’água com barbantes azuis, mais alguns detalhes criativos e, aí sim, estava pronta a “tecnicíssima” tarefa do Caixão de Areia.

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No dia seguinte, fomos para a inspeção sem a menor cisma, por duas razões: primeiro porque o trabalho estava realmente bonito e depois por que ninguém tinha como sobrevoar o terreno para comparar o modelo com o original.Foi um sucesso a nossa pequena tramóia.E devo dizer também que não houve dor de consciência alguma, pois foi puro “estado de necessidade”.

Querem mais uma confissão? No ano seguinte, 1970, fui Oficial de Topografia e todo o trabalho do Caixão de Areia foi desenvolvido por mim, pessoalmente. Conseguem imaginar a técnica utilizada?

É isto. Ai de nós se não fossem as pequenas artimanhas, pecados veniais, para sobreviver àqueles tempos bicudos.

PS: Contadas as façanhas, não sei se revelo ou não, aqui, o nome do nosso bravo quartanista, OF TOPO de 69 (hoje, um grande amigo).Acho que não...Só posso afirmar que o caso é Verdadeiro... É Vero... É Veríssimo!Se é que me entendem.

CAUSO Nº 67 – Uma missão pra lá de secretaPor Procópio

Já no apagar das luzes do ano de 1970 e como coroamento das atividades letivas, o famoso e esperado acampamento de Água Limpa.

Uma semana no meio do mato, dormindo em cama de campanha, o colchão, quando havia, era improvisado com saco de aniagem recheado de capim, comida da melhor

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qualidade e com fartura, tudo com o conforto que só uma barraca no meio do nada e do frio da região podia oferecer.

Naquela ocasião, eu era parte integrante de um pelotão de fuzileiros cujo comandante era o saudoso Adalberto da PMAM, para bem precisar eu era, na verdade, o auxiliar do pelotão.

Tudo ia muito bem, de vento em popa... Quando um belo dia, já caindo a noite, o Adalberto manda reunir o pelotão pois precisava fazer uma preleção a respeito de uma missão que teríamos que cumprir.

Todos reunidos, feita a chamada, esperávamos impacientes e curiosos as instruções que nos seriam passadas.

O Adalberto, que acabava de sair de uma reunião com o EM do Btl Man, postou-se frente à tropa e com voz empoada, assim se expressou:

- Acabo de receber do EM uma missão que o pelotão terá que cumprir.

Não poderei dizer agora o que é nem onde será.

Não posso dizer qual o objetivo nem onde se dará.

Só quando chegar lá é que direi do que se trata.

De modo que o que tiver de ser, direi lá onde houver de ser. Entendido?

Ninguém disse nada, olhando para o Adalberto todos quedaram-se calados.

Como quem cala consente, ninguém tinha dúvida alguma. Tudo havia sido esclarecido... Estava claro como a água...

Assim, tudo bem entendido, com o nosso saudoso colega Adalberto à frente, partimos para fazer o que tinha de ser, lá onde havia de ser!!!

Sem sombra de dúvida, ótima, bela e esclarecedora preleção.

Ou seria explanação??? Já não sei mais nada!!!

CAUSO Nº 68 – Desfile em continência à obra de arte de um cagão desconhecidoPor Tarcício

Lá pelos idos de mil novecentos e setenta e qualquer coisa o expediente administrativo, nas Quartas-Feiras, começava as sete horas. O Subcomandante do Batalhão, como de costume e independente do dia, chegava ao quartel por volta de seis e meia da manhã.

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Numa determinada manhã de Quarta-Feira, o Oficial de dia dirige-se ao Sub Comandante  e lhe anuncia o serviço: Senhor Subcomandante, Ten PM "JÁ ERA", Oficial de Dia. Informo-vos que o serviço está sem alteração.   

O Subcomandante, após receber o anúncio, resolveu dar uma volta pelo quartel com o intuito de verificar, entre outras coisas, se a faxina estava bem feita, pois qualquer palito de fósforo no chão era  como se tivesse uma tora no meio do caminho.

Às sete horas, com a tropa já formada, foi feita a chamada, a leitura do Boletim Interno, inspeção de uniforme, cabelo e bigode, procedeu-se ao hasteamento  das  bandeiras   e ao final o  anúncio  regulamentar ao Comandante. 

Após as formalidades de praxe, foi determinada à tropa que permanecesse "a vontade sem  conversa"  ou  "sem  conversa  a vontade". 

Já não sei qual é o comando correto. Afinal de contas,  a ordem dos tratores  não altera  o barulho.      

Enquanto a tropa espera pelo desfile, que seria a última atividade  antes do  início do expediente, o Comandante e o Subcomandante conversam aos cochichos. Logo depois o subcomandante manda a banda de música se postar em frente a uma bananeira existente próximo da Seção de Transporte. 

Determina então, ao restante da tropa, que em coluna por um, começando pelos Oficiais e ao som de um dobrado executado pela banda, passassem em frente a bananeira e observassem atentamente a obra de arte ali deixada.

Iniciado o expediente o Ten "JÁ ERA", Oficial de Dia , é chamado pelo Subcomandante que lhe diz:  “Você tem até o Meio Dia para descobrir o autor da obra de arte. Está dispensado.” 

O Ten "JÁ ERA" reune o pessoal de serviço e tenta de todas as maneiras "adivinhar quem era o autor .       

Era uma “MISSÃO IMPOSSÍVEL”!!!!!! 

Por volta de Meio Dia , o Ten se dirige ao Subcomandante e lhe anuncia que a missão a ele determinada tratava-se uma “Missão Impossível” e não conseguira descobrir quem era o cagão.

Os esclarecedores exames de DNA ainda não haviam aportado no Brasil

O Subcomandante, muito educadamente esclarece então: "Não se preocupe, por causa disso. Você e todos os demais PMs vão dobrar de serviço. Boa sorte. “            

ATÉ HOJE, PROCURA-SE ,VIVO OU MORTO , O TAL CAGÃO DESCONHECIDO.

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CAUSO Nº 69 – Salvo pelo Gongo !Por Soares

Meus causos são quase sempre de antigas desditas pessoais. Mas é assim mesmo. Depois de certo tempo, até os apertos sofridos passam a ser engraçados.

Foi duro para todos nós, “bichos” de 1967, sem muita experiência, nos sujeitarmos à sanha fiscalizatória dos quartanistas do CFO. De quebra, havia alguns terceiros e até

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segundanistas bem chatos. Dá até arrepio lembrar, não?

Lá por meados daquele primeiro ano, tivemos uma atividade militar externa, acho que uma “marcha”, talvez até a localidade de Imbiruçu, não me lembro bem.

O que não me esqueço é do medo que me assaltou, na véspera do evento, quando tive a confirmação de que estava chegando uma namoradinha (!) , vinda de Divinópolis, e que estaria em BH, em rápida passagem, exatamente naquele dia.

Ficar “detido”, após uma atividade militar, era uma conseqüência bem real. E eu ia acabar é perdendo aquela oportunidade de uns acertos de contas com a gata... Além disso, havia o vexame de mandar avisar que estava “preso” no quartel.

Tomei, pois, todas as providências cabíveis para evitar o pior: fuzil limpo, farda impecável, coturnos engraxadíssimos, não esquecer de fazer a barba... Tinha de dar certo.

Pois sim! Quem disse que daria? Na primeira hora da manhã, logo na formatura inicial, meus planos foram por água abaixo. Eu perfilado na coluna da direita do pelotão, ribombou quase que dentro da minha orelha a voz detestável daquele sô aluno baixinho, troncudo, moreno. Boçal que só ele! (Seu nome: M _ _ _ _ _ _ ; quem quiser que complete.)

– Tá mexendo em forma aluno?! Qual o seu nome?

Ele nem me deu tempo para falar nada. Espiou direto para a etiqueta estampada no uniforme e me “anotou” sei lá onde...

Detalhe importante: meu nome de guerra no primeiro ano do CFO não pôde ser “Soares”, por que já havia um outro na Unidade. Ficou sendo então Jose Soares e, como medida de economia, na etiqueta, apenas “J. Soares”.

Ao final daquele dia e do exercício militar, já no DI, certamente de ordem do Cmt da Jornada, foi conduzida pelo aluno Mateus do CFO-3 (saudoso amigo) aquela tradicional cerimônia de separação do joio do trigo (como sempre, mais joio que trigo): – Aluno Belizário!– Pronto, sô aluno!– Detido, passa pra direita! – Aluno Robson... passa pra direita! – Aluno Orestes... E assim por diante.

De repente, ele chamou um nome e embatucou:– Aluno João Soares!Percebi num átimo o engano e me encolhi todo. Não era comigo... O coração batia forte, com medo de que fosse retificado o nome...O aluno Mateus, após um instante de hesitação, deu um muxoxo, murmurou entre os dentes algo como: “– Isso deve ser brincadeira...” E riscou o nome da relação.

Ufa. Não é que, em vez do meu “J. Soares”, o troglodita do M havia anotado o nome de seu próprio colega de turma, o aluno “João Soares” (irmão do Vitor)?!

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Melhor para mim que saí ileso daquela e fiquei pronto para o quentíssimo encontro da noite...

– “Quentíssimo”? Como assim?Bom, é melhor mudar de assunto, que a dona Sônia – mesmo a estas alturas da vida e tendo apenas dez ou onze anos na época dos fatos – nunca está prá brincadeira ao saber destas coisas...

CAUSO Nº 70 – A grande sentadaPor Procópio   

          Outro dia, não sei porque cargas d'água, encontrei-me meditando sobre um dito bastante

popular qual seja: "sentar alguém no colo". O significado não preciso dizer, por  demais

conhecido que é.

          Assim pensando, correu-me à memória um fato acontecido pelos idos de 1970. O CFO4

A, para as aulas de equitação, foi dividido em dois grupos com aulas uma vez  por semana, a

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cada sexta feira um dos grupos dirigia-se até o Regimento de Cavalaria. A finalidade: aprender

a montar.

          Depois de passar  algum tempo montando em um cavalo de pau, finalmente fomos

levados para uma pista de areia, bem ao lado do picadeiro do RCM. Ali, já encontramos vários

cavalos selados e arreados, um para cada componente do grupo. Era só escolher o animal e

montar como fora ensinado. Lembro-me que o Weufale sempre reclamava, tinha verdadeira

aversão pela atividade, mas ordens são ordens e ele não tinha outra alternativa, deste modo

escolheu  dentre os cavalos o menor, pois achava que por ser pequeno o animal seria mais

fácil de controlar. Mal sabia que laborava em ledo engano.

          O fato é que todos montados, seguindo as orientações do instrutor, íamos numa espécie

de fila-indiana. Ora com os cavalos a passo, ora a trote. Estávamos justamente a trote quando

a montaria do Weufale empacou. Este último voou da sela para o pescoço do cavalo, como

segurava firme, puxando a rédea, o bridão fustigava a boca do animal que começou a empinar.

O Weufale do pescoço deslizou para o trazeiro do cavalo.

          O nosso nobre colega com medo, literalmente, de cair do cavalo, não soltava a rédea e,

ao contrário, a puxava cada vez mais para si. O pobre do animal com o bridão tracionando a

boca e a lingua não aguentou e acabou por arriar no colo do Weufalle. Tudo aconteceu muito

rápido e a situação não fosse hilária seria dramática, só terminou depois que nosso colega

lembrou de soltar a rédea.O quadro que se formou foi o seguinte: o Weufale de bunda na areia

e o cavalo de bunda no colo do Weufale. Verdadeiro sufoco.

          Diante de tal cena, o riso que já aflorava aos lábios de todos tornou-se verdadeira

gargalhada quando, no meio da turma, alguém deixou escapar o seguinte comentário: "Pô! o

Weufale é tão boçal que sentou até o cavalo no colo".

          Claro que tudo não passava de uma brincadeira de cadetes, pois o Weufale de boçal não

tinha nada, aliás é uma grande figura humana e companheiro de peso.

CAUSO Nº 71 - Um pouco de "Bullying" até que não faz mal.aguardando postagemPor Soares

O estrangeirismo do título sugere a ação continuada dos valentões nas escolas. No CFO, isto só se concretizava mesmo, e de certa forma, por ocasião da recepção dos “bichos” e do “ranca” inicial do primeiro ano. Aí realmente o bicho pegava. 

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Depois disto, nada mais de tão drástico. Apenas algumas pequenas malvadezas, que se perpetravam, principalmente no seio das próprias turmas. Então vamos lá. 

***Em nossa Turma, o Orestes sempre foi um caso à parte.Bom companheiro, sempre alegre (quando nervoso, ninguém o levava a sério), grande cover do Cauby Peixoto, quem de nós não se deliciou, por mais de uma vez, ao vê-lo entoar a plenos pulmões:  “...Conceição, eu me lembro muito bem ....” Acho que, só de Orestes, daria para se escrever um “causório” e tanto na Turma de 70.  E, no entanto, até que temos poupado o impagável e hilário companheiro, em nossos escritos. É verdade que ele tem aparecido nos relatos, vez por outra, mas... e sobre a sua maior contribuição para o divertimento na Turma: o pulo do trampolim?! Esta passagem só dá mesmo para contar como registro obrigatório, por que não é um dos causos perdidos da memória coletiva e que alguém, de repente, cisma em trazer à tona. Creio que ela está indelével na mente de todos nós, uma vez que todos a assistimos; e não creio que seja possível esquecer totalmente um episódio tão divertido. De alguns detalhes, no entanto, eu não me lembro; por exemplo: quem era o nosso instrutor de educação física naquele dia? Acho que era, esporadicamente, o Capitão Campolina. Não sei. Pois bem. Lá estávamos em uma aula de natação, quando o instrutor nos determinou entrar em fila indiana, subir e pular do primeiro estágio do trampolim na temível piscina de saltos. De mim, que sou medroso para quaisquer alturas, posso dizer que foi um drama aquela marcha lenta e sofrida, do chão ao fim da plataforma de saltos. Quando se olha do solo, ela até que parece relativamente baixa, provavelmente por que você desconta sua própria altura. Mas depois que se sobe, o efeito é o inverso e sua mente deve adicionar em dobro o seu tamanho. O meu medo foi bem grande, mas, de qualquer maneira, com o coração na boca, me despenquei lá de cima. Com a missão cumprida, ficamos lá de baixo, eu e os que já tinha pulado, deliciando-nos, com certo sadismo, ao ver o sofrimento daqueles “bois” que ainda estavam na fila do matadouro. Esta imagem é boa para caracterizar o pobre Orestes, quando chegou a vez dele. Ninguém tem dúvidas de que esse companheiro é um bravo. Mas, com certeza, é imenso o seu grau de fobia por altura e talvez por água. Ele tomou distância – coisa de um metro e pouco – e se foi de vez, como quem tem que enfrentar inevitavelmente o abismo. Mas ao chegar na beirada, empacou. Os freios

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estavam bons. Voltou um pouco e repetiu a manobra. Nada! Aí ficou um tempão na beirada, pula-não pula... pula-não pula. Era como se pudéssemos até enxergar o espectro da luta interna entre a valentia e o pavor. O seu corpo se inclinava, a ponto de se desprender da prancha, mas se recolhia, tracionado de volta pela mão invisível do medo. De baixo, a turma ria a bandeiras despregadas. E o pior é que, enquanto o impasse não se resolvia, a coisa foi chamando a atenção de quantos se encontravam na Praça de Esportes. Acho que o Orestes, mesmo aturdido com a situação, percebia a nossa gozação e isso o fazia ficar mais determinado a dar conta do recado. E não é que, depois de um bom tempo daquele vai-não-vai, ele acabou pulando! Só que não chegou lá embaixo. Acredite ou não (e você acredita por que assistiu), após ter-se despencado, ele logrou realizar uma façanha que – duvido – alguém tenha jamais protagonizado: conseguiu esticar o braço para trás, girar a mão direita e agarrar-se à borda do trampolim. Não sei como ele conseguiu sustentar-se com um só braço, girar o corpo no ar e, em seguida, usando as duas mãos, alçar-se de volta à plataforma do trampolim. Foi algo de surreal! Contando assim, a estória pode parecer especialmente dramática, mas as cenas eram de tal forma hilariantes, que alguns colegas rolavam no chão de tanto rir. Lembro-me, como se fosse hoje, do Hélio de Oliveira (finado amigo), que se debatia de costas na grama e tinha o rosto molhado de lágrimas, claro, de tanto rir. Devo confessar que também eu estava nesse clima. Não sei avaliar bem esta coisa do ponto de vista psicológico, mas o riso, mesmo nas anedotas, está sempre associado ao infortúnio de alguém. Naquela ocasião, os apertos do bravo colega fizeram a nossa delícia.     Mas tem ainda um detalhe, importante, que realmente não me lembro bem: no fim da história, o Orestes pulou ou não pulou na água? Até por não ser muito mau para com o bom companheiro, devo concluir que sim.

 ***

 Mas, por falar em “malvadeza”, de quebra, conto mais uma rapidinha.A estória andou correndo no DI, logo no início do CFO-1. (Teve até “charge”.) O personagem era outro: um nosso querido colega, do próprio primeiro ano, cujo nome não digo nem amarrado...   

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Sentado na cadeira do barbeiro, este (o barbeiro) estava todo atarantado por que a máquina não funcionava direito, o fio se enroscava na cadeira e em seus braços... um rolo, aquele corte de cabelo! Aí, o barbeiro apela:  – Raios! Nunca dei tanto nó... Qual o seu nome sô aluno? A sua cândida resposta: –  Nóbson! 

***  Mas voltemos ao Orestes, que anda danado de sumido. Que saudade de ouvir aquela  voz. Nos intervalos de aula, ele se postava à frente da turma, disposto a cantar, e logo vinham os gritos “Senta Orestes!”. E as bolinhas de papel voavam de todos os lados. Nada disto o demovia. De coração puro, ele gosta de ser o foco das atenções e a tudo relevava.  Acho que nem mesmo o dramático episódio do trampolim o afetou. E assim é que, inúmeras vezes, até o final do curso, pudemos ouvi-lo, “a la Cauby Peixoto”, feliz da vida de ser notado (como todo artista), abrindo o peito: “– Esta vai para as minhas fãs: ...Conceição, eu me lembro muito bem...”

CAUSO Nº 72 – Foi só uma sugestão, Comandante !Por Aleixo (71)

Em 1972, Aspirante, fui servir no 6º BPM, em Governador Valadares. Ali já encontrei

alguns colegas de 70, Gentil, Lázaro, Alciomar e, se não me engano, o Ruben

Carreiro. Desde que cheguei, até partir em 1974, pela Unidade passaram-se três

Comandantes. Um deles, quando chegou, trazia a fama de disciplinador, pois viera do

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11º onde fora colocar a casa em ordem após uma grande auditoria sobre desvios e

desmandos. Para identificá-lo prometo dar uma chave ao final.

Chegou ele com todo o gás. Escalas de 24 x 24 h para CPU e Oficial de Dia, sem

prejuízo das instruções para a escola de Recrutas. CPU sem direito a dormir (sem

local para repouso no Quartel). Dedurados pelo Sub Comandante porque tinham

cachaça no armário (o Major bebia conosco nos intervalos), os  dois oficiais alojados,

Aleixo e Milton Lares, foram “despejados” em 24 horas (fomos morar em uma garagem

emprestada). Já os oficiais que estudavam eram sistematicamente escalados de

serviço em horários que não lhes permitisse essa extravagância e, aos que tentavam

burlar esse controle, restavam-lhes os destacamentos (Teófilo Otoni, Santa Maria do

Suaçuí, etc.).

A turma de 70 também se deu mal nesse comando:

Um deles, como aprovisionador, perdeu o cargo e o rumo logo no primeiro almoço

com o Comandante (almoço e lanche incorporados e só iniciados com a presença

deste) pois aguardou o garçom servir a todos o cardápio do dia e ali, sem qualquer

cerimônia, pediu a “comida do aprovisionador”, que era diferente para melhor, muito

melhor do que a que fora servida para o Tenente Coronel e os demais Oficiais...

Outro, que estudava e sofria as perseguições por essa causa, estava um dia no

refeitório com os Oficiais onde aguardavam a chegada do Comandante para o lanche.

Eis que surge a imponente figura do Tenente Coronel com um volante de loteria

esportiva nas mãos. Falava alto, encenando como era de seu estilo, dizendo: “- ...Ah!

se eu ganhar na loteria...” Não terminou. Nosso Asp 70 sugeriu no ato: “- o, o, o ,se,

se, senhor com com compra u, um, uma polícia só, só pro senhor!”. Foi parar em

Teófilo Otoni.

Sobre a identidade do Comandante, resolvi que não direi qual “chave é”! Quem quiser

que adivinhe. 

CAUSO Nº 73 – O milagre da transfor-mação do néctar dos Deuses em H2O Por Tarcício        

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          Nos alojamentos dos nossos quartéis, não sei por que, sempre havia um litro da marvada. Lá pelos idos de 1978/79/80, uma plêiade de oficiais, após o expediente, reunia-se no alojamento para conversar fiado, relaxar do estressante dia de serviço e tomar um dedinho deitado da boa para lavar o gogó. Não posso me esquecer do tira-gosto,oferecido graciosamente pelo aprovisionador. Ressalto que as reuniões dos lava-gogós não aconteciam diariamente. Só nos dias em que havia feira.

          Numa sexta-feira, quando a reunião era mais prolongada, verificou-se que o conteúdo do garrafão, cachaça Senador, estava aquém da sede da turma. A Senador era fabricada em Bom Jesus do Galho, na fazendo de José Augusto, que foi senador. A pinga não era comercializada , apenas presenteada. Quantos políticos não lavaram o gogó ? Hein ?

          Enquanto divagava pela Senador lembrei-me que naquela sexta-feira bebericávamos o líquido precioso com muita parcimônia. Também pudera, pois havia "negros e brancos " com cada gogó imundo, que dez dedinhos deitados eram insuficientes para a limpeza.

          Conversa vai, conversa vem , entra no alojamento o Ten X , que não era da turma dos lava-gogós, com um garrafão  de cinco litros da água que passarinho não bebe. Guarda o garrafão num dos armários do alojamento, bate um papo com a turma e diz que a pinga - Senador - é um presente para um oficial, seu amigo, que mora em BH. Aguardava um portador para levá-la até BH. Toma um dedinho da nossa Senador e se manda.

          O alojamento fica num silêncio sepulcral. Um oficial olhava  para o outro, o outro olhava para um e todos olhavam para o armário onde estava o garrafão, cheínho, cheínho. De repente, todos falaram ao mesmo tempo: VAMOS...........................................................................................................................................!!!!!!!!!!!!!

           O oficial mais "agraduado" colocou ordem na casa, ops ,no alojamento e após um longo debate chegou-se à  decisão unânime:VAMOS  trocar três quartos da Senador  por quantidade igual de água mineral torneiral. E assim foi feito.  E dizem que a unanimidade é burra! A reunião continuou, agora com um astral elevadíssimo.

            Fechem os olhos e imaginem! Aquela turma sorvendo o néctar dos deuses; aquele dedinho deitado derretendo no céu da boca e cada um estalando a língua -"tlac". Que delícia! Não é Procópio?

            Lá pelas tantas a turma se despediu e rachou no trecho. Alguns foram contrariados, pois só na semana vindoura haveria outra reunião. Dias depois soubemos que a encomenda estava nas mãos do destinatário, que é nosso  amigo e foi chefe de curso de uma das turmas ASP/70. Qual seria a sua reação ao provar daquela àgua rala?

             E a rotina continuou - expediente diário, Oficial de dia prá cá, sindicância prá lá - até que notamos que o Ten X andava meio sorumbático. Ficamos sabendo que êle havia recebido um telefonema do amigo de BH que lhe dissera:  "Obrigado pela pinga. Essa bosta que você mandou é água pura. Assim que você é meu amigo?

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              A turma do lava-gogó ficou tranquila, pois o oficial mais "agraduado" era major.

"MILAGRES ACONTECEM"

CAUSO Nº 74 – Venturas e desventuras de um caçador

Por Soares

Ao final da década de 70, eu estava servindo ao 15º BPM, na belíssima Patos de Minas. Comigo lá, de nossa Turma, o companheirão Marra. Bons tempos!

Não me lembro muito a respeito das circunstâncias em que fui instado e aceitei visitar uma fazenda em São Gotardo, uma importante cidade da região. Na verdade eu fui a reboque de uma pequena turma em que, se não me engano, o Tenente César Perpétuo

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(Turma de 71) era o real convidado do fazendeiro.

A tarde estava bonita, ensolarada, e o dono da fazenda – vamos chamá-lo de Seu João – pessoa simples e hospitaleira, deu de organizar uma caçada de codornas e perdizes, aproveitando que elas “gostavam muito de ficar na palhada” de pós-colheita de milho em sua propriedade.

Escolheu uns dois de seus belos cães perdigueiros, arranjou umas espingardas cartucheiras emprestadas para os visitantes, e lá fomos nós, cerca de cinco ou seis pessoas, entre as quais o próprio Seu João e um filho dele. Entramos no palharal, lado a lado, e começamos a avançar... eu na extremidade esquerda do grupo em linha.

Logo ao inicio da caçada, antes mesmo de se soltarem os cachorros, inesperadamente, duas codornas voaram estrepitosamente de uma moita, rente à qual eu acabara de pisar. Deviam estar dormindo ou namorando; nunca vi uma coisa destas; quase que piso nelas. Voaram, pois, em direção às minhas costas.

A cena que se seguiu, para os outros, deve ter sido de cinema: girei nos calcanhares com a rapidez de um raio e fiz um tiro perfeito; fulminante; uma das codornas caiu, lindamente.

E aí – é de se questionar –, eu era um caçador experiente, uma bambambã no assunto? Que nada. Nem caçador bissexto. Na verdade eu era novato de tudo. Foi pura “sorte de iniciante”, claro.

Mas não é isto que ficou parecendo para os outros. Os murmúrios e os olhares eram de aprovação. Mais que isto, de admiração. Para os civis então “o tenente era é foda!” Minha “moral” ficou realmente bem alta no grupo.

Mas a caçada prosseguiu. Soltaram os cães e aí foi que aprendi o que era uma caçada de verdade. Os perdigueiros, por treino e por instinto, trançavam sob as moitas, a uns tantos metros à nossa frente, e provocavam o vôo dos pássaros na condição exata para o tiro. As perdizes, por exemplo, invariavelmente, subiam cerca de um metro e meio acima do solo e voavam barulhentamente em linha reta... fácil para o tiro.

Só que, a partir de então, o que valia era a experiência, a rapidez de ação consciente (e não por susto) do atirador. O filho do fazendeiro então era um ás do “esporte”... Quando eu pensava em apontar a espingarda ele já tinha atirado, via de regra acertando o alvo.

E a coisa durou por umas duas horas, sem que eu lograsse mais nem um tiro certeiro. A cada disparo – quase sempre redundante e atrasado –, minha “moral” ia diminuindo, até quase nada sobrar.

Na volta, eu vinha andando, meio desenxabido, à frente do pequeno grupo, quando de repente um dos cachorros amarrou uma perdiz.

“Amarrar” é assim que diziam. Até então, eu só tinha visto aquilo, com tanta perfeição, em desenho animado. É uma cena realmente interessante: o cão percebe o pássaro entre a ramagem, pára no meio do trote, a patinha suspensa no ar, e permanece estático. O

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focinho fica apontado para o local em que viu o pássaro, o olhar fixo, e realmente não move absolutamente nada. Nem um músculo sequer.

Aí você vai se aproximando, pé ante pé. Foi o que fiz. A sensação é indescritível. A expectativa de que o pássaro vai levantar vôo a qualquer momento causa uma comoção tal que você sente até uma espécie de calor na raiz dos cabelos. Era como se eles ficassem de pé. E a comichão na ponta do dedo crispado no gatilho!

Senti a competição de alguém que também avançava lentamente, quase a meu lado.Fui aproximando passo a passo... A sensação aumentando... A vontade de ser o primeiro a atirar e finalmente recuperar a “moral” perdida...

Mas, apesar (ou em razão) de toda essa concentração, quando a perdiz bateu furiosamente as asas para alçar o vôo, levei foi um tremendo susto. O dedo puxou o gatilho numa ação puramente reflexa e o tiro partiu levantando poeira (eu diria) a centímetros do lugar onde estava o cachorro. Quase que o acerto. Lembro-me perfeitamente de tê-lo visto se encolher com o rabo entre as pernas e encarar a gente com aquele olhar de cão ralhado, como se ele é que tivesse feito algo errado.

Nesse momento, já praticamente ao meu lado, pasmo, estava o Seu João. Foi inevitável que os nossos olhos se cruzassem rapidamente, os meus com jeito de “Ai meu Deus, desculpe!” e os dele com ar de “Virgem Maria... que homem perigoso!”.

Mas depois de examinar disfarçadamente o cachorro e ver que não fora atingido, o Seu João adotou foi uma postura de esquecer o caso e fingir que não fora nada, minimizando conciliadoramente o meu vexame. Tanto ele como filho. Eram gente boa e de espírito generoso. Em nossa chegada à fazenda até tentaram contar para os demais a minha façanha inicial e realçar o meu tiro espetacular (dado naquela codorninha suicida ou sem sorte).

E felizmente veio a noite, que terminou em golo, comilança e num glorioso jogo de “truco”, no qual, me lembro muito bem – mudou-se a história daquele dia aziago – e fui muito mais feliz como jogador do que antes fora como caçador.

CAUSO Nº 75 – Um padrinho em saia

justaPor Soares

 

Frequentemente, por falar demais, por falar de menos ou mesmo por simples falta de atenção, nos metemos em situações muito embaraçosas em nossa vida social.

No item “falta de atenção”, alguns exageram.

O Vitor, por exemplo, nos relata um caso de erro de data em que foi a um casamento de

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gente pouco conhecida; estranhou, assistiu a cerimônia, deu presente, cumprimentou o pai da noiva (amigo de infância que há muito não via... e que achou meio “diferente”). Só então se deu conta do mico de estar no casamento errado e saiu de fininho.

Eu mesmo já fui a um aniversário na casa do então Cap. José Maurício (Turma de 71) uma semana antes da data certa; encontrei-o de pijamas, assistindo novela com a esposa e as filhas, todas de camisola. Só por ser amigo, fui perdoado.Pouco tempo depois, a mesma desatenção se repetiu comigo (e alguns maldosos dirão: “Que novidade!”). Desta vez, foi o Martinho que me recebeu a desoras da noite, com a casa toda às escuras, e me despachou lá mesmo do portão: a festa era para o mês seguinte.

Mas, o que quero mesmo contar-lhes hoje (devidamente autorizado pelos personagens centrais) é um caso de “falar demais” – ou de “falar pelos cotovelos”, como queiram – , envolvendo o Zero-Um Martinho e o Santos Costa, o nosso querido “Cumpadre”.

Os dois haviam solidificado uma bela amizade, que começou ainda no CFO e continuou firme após a formatura dos Aspirantes 70.

O Martinho sempre freqüentou a casa do Santos Costa. Com o correr do tempo, veio a namorada e depois noiva, Efigenia, e os dois rumavam para lá frequentemente, principalmente nos fins de semana, atraídos por um costumeiro bom papo, por uma indispensável caninha Ypióca e pelas delícias da cozinha da Josefina – ou simplesmente Fina –, a prendadíssima esposa do “Cumpadre”.

Naquele domingo fatídico, as duas mulheres “tricotavam” na cozinha, enquanto borbulhavam as panelas no fogão e os homens, um pouco afastados, sentados lá na sala, inspirados pelos vapores da aguardente Ypióca, resolviam animadamente todos os problemas do Brasil e do mundo.

Foi quando, lá na cozinha, a Efigênia segredou para a Fina que o sonso do Martinho, finalmente, resolvera marcar a data do casamento e que os dois amigos seriam formalmente convidados naquele dia para serem os padrinhos do noivo. No fim da confidência, a inevitável recomendação: “Mas faz de conta que eu não te disse nada, heim!?”

Mais tarde, após o lauto almoço, os dois casais permaneceram à mesa, meio amolecidos naquela pré-digestão, embora as línguas em plena atividade. Seria o momento para a pretendida formalização do convite por parte do Martinho.

Alguém trouxe à baila o assunto “casamento”, talvez até como introdução do anúncio e do convite que se seguiriam. Mas não é que, de graça, sem esperar o andamento da conversa, impelido não se sabe por que artes do diabo, o Santos Costa cismou de sentar o pau no “sagrado instituto”?

Na verdade, a sua invectiva era mais contra a forma da moderna cerimônia de casamento e contra o que, no fundo, ela significava a seu ver:

– É uma fila danada na igreja, um monte de padrinhos dos dois lados... Às vezes tem mais padrinho do que outros convidados. Claro que é uma estratégia dos noivos para

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ganhar mais presentes...

A Fina, que percebera desde o início o rumo perigoso da conversa, se desesperou. Primeiro lançou um olhar fulminante para o Santos Costa e depois tentou uns chutes por baixo da mesa, buscando ao mesmo tempo contemporizar ou desviar o assunto.

Não teve jeito. O Compadre estava atacado e quase que esbravejou:

– É isto mesmo, Fina. Você é muito boba. As pessoas chamam a gente prá padrinho, mas é de caso pensado, é de olho no presente de casamento...

E por aí continuou.

Nestas alturas, a sempre espirituosa Efigênia não tinha palavras, estava muda; e o Martinho, amarelo, só conseguia balbuciar alguma coisa ininteligível, que tanto podia significar sim ou não em relação aos arrasadores argumentos do “ex-futuro padrinho”.

Logo que pôde, ele deu um jeito de ir agradecendo o almoço e puxou a Efigênia para ir embora, pois “tinha muita coisa pra fazer”.

Depois que os dois partiram, foi a vez de cair o mundo do Santos Costa, menos por conta da carraspana que lhe passou a Fina por sua língua solta e mais pela opressão da própria notícia, ao saber que o amigo tinha ido lá exatamente para chamá-lo para padrinho. E a partir daí (sem o precioso recurso do celular, inexistente naquela época) ele passou o resto do domingo tentando, pelo telefone, localizar o Martinho para se retratar. Foi em vão; o “ex-futuro afilhado” havia desaparecido.

Dureza, né? Mas relaxem; no fim da estória, os dois acabaram se encontrando, se entendendo e o Santos Costa acabou sendo o padrinho do casamento. Entre amigos de verdade tudo se resolve, tudo se releva, tudo se perdoa.

Difícil mesmo, segundo o Santos Costa, foi convencer o Martinho a aceitar que comprasse para ele um presente de casamento. Não queria dar despesa. Foi preciso negociar. No final, saiu um relógio despertador.

Todo mundo feliz!

E a vida continuou.

E o tutu com costelinha e couve da Fina, até hoje, continua o fino! Todo Aspirante 70 é permanente convidado para passar lá na Rua Meca e conferir. Podem ir sem susto. Qualquer coisa, pode por na minha conta, pois que o Santos Costa está me devendo... por um certo “Golpe no Escuro!”

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CAUSO Nº 76 – Lições da auroraPor Lúcio Emílio

" Se todo o meu mundo ruir, e eu perder tudo que tiver e só restar o amor... Eu não peço mais..."

Março de 1967. Os vetustos umbrais do Departamento de Instruções se abriam para mais uma turma de cadetes, jovens e veteranos, oriundos de todos os rincões do Estado, que àquela Escola acorriam em busca do sonho de um dia envergar a farda de Oficial da Polícia Militar.

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Lá fora ficava o mundo. Pouca atenção se dava aos acontecimentos políticos e sociais que marcavam a vida nacional naquele ano. Costa e Silva era o novo presidente da República. Assumia com a promessa de restalebecer a normalidade democrática e modernizar o país. Uma de suas primeiras medidas foi criar o Cruzeiro Novo, a primeira modificação desta moeda, instituída em 1942, substituindo o mil-réis.

Uma nova Constituição consignava as formulações necessárias à manutenção das diretrizes da Revolução de 1964. A vida política, no entanto, estava longe de encontrar a normalidade.

Uma guerra surda se travava entre as forças remanescentes do período pré-revoluçao e as forças emergentes a partir de 64.

Não tínhamos tempo para avaliações mais demoradas a respeito dos acontecimentos do mundo exterior. A vida mal nos deixava tempo para uma rápida visita à família, um cinema ou uma: carta à namorada distante.

O primeiro ano do CFO, como sabem todos os que pelo Dl passaram, é um duro aprendizado. Ainda vigiam os trotes, em que " bicho", o aluno novato, ficava à mercê dos caprichos dos veteranos, medindo alojamento com palito de fósforos, tirando sentinela com pau de vassoura... Depois vinha o "ranca-rabo", como marco da entrada real na vida académica.

Ninguém esquece os rastejos, os exercícios de maneabilidade, as jornadas, as escolinhas de Ordem Unida, rodas-gigantes, as inspeções e o seu resultado sempre certo: detenção no fim de semana.

O Dl, no ano de 1967, comportava um número extraordinário de alunos. Suas acomodações eram extremamente precárias. Não havia alojamentos adequados, o rancho era insuportável e vivíamos mudando de sala de aula. O primeiro ano acabou funcionando em duas salas localizadas onde hoje é o refeitório de praças. Uma única parede nos separava da movimentada rua Diabase. O barulho impedia o aproveitamento, conforto e aprendizado.

Apesar de tudo, a seriedade sempre foi característica da Escola. Naquele tempo, uma abertura foi a introdução da disciplina Relações Humanas, no CFO. As idéias de Pierre Weil começam a fazer efeito. Muito objetivo e claro, a assimilação e memorização eram muito fáceis: as máximas daquela importante obra eram repetidas e repassadas à exaustão: "Homem certo no lugar certo";" Adaptar o trabalho ao homem e o homem ao trabalho". Era a Corporação atenta aos novos tempos, preparando-se para a fase do progresso e prosperidade que se anunciava para o povo brasileiro.

O primeiro ano do CFO chegava, assim, ao seu final. Éramos verdadeiros cadetes e, espadim à cinta, desfilávamos com orgulho nossos reluzentes uniformes. A estrelinha verde, distintivo do novato e signo de um árduo período probatório, em breve cederia lugar à estrela amarela. Na sala de jogos, Ronie Von continuava cantando a sua bela versão do "Here, there and every here", dos Beatles, povoando de sonhos e emoção a nossa alma juvenil.

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" Se o mundo compreender que é bem melhor ter amor do que ter tanta tristeza, será bem melhor viver..."

Maus presságios. Notícias vindas do Rio e São Paulo mostravam o cenário político brasileiro em efervescência. Iniciamos o ano em uniforme de instrução e sob regime de prontidão quase que ininterrupta. Pela primeira vez, sentíamos na pele os efeitos dos acontecimentos políticos. De capacete de aço, fuzil embalado, transformamo-nos em partícipes da História. A agitação social turvara o ambiente escolar. Éramos alunos e combatentes, prontos para entrar em ação. No final de março, num choque entre a Polícia Militar do Rio de Janeiro e estudantes em passeata, em meio a vaias pedradas e tiros, tombou morto o estudante paraense Edson Luís.

Era o começo de uma escalada de violência política que sepultaria de vez as possibilidades de retorno à democracia.

Apesar de tanta turbulência, o Dl, agora sob o comando do coronel Ellos Pires de Carvalho, sofria importantes transformaçoes. Iniciava-se a construção do chamado "Prédio Novo", situado na parte posterior do Prédio da Administração, ampliando-se, assim, o número de salas de aula. A administração do ensino foi totalmente redimensionada, com a introdução de mecanismos de controle mais eficientes, como os talões de aula, que até hoje são usado na APM. Novos professores e instrutores foram trazidos para a Escola, melhorando a qualidade do ensino. Desta forma, as constantes interrupções das aulas, em face da situação política conturbada não traziam grandes reflexos no aproveitamento.

Depois de um ano de convivência, vivenciando juntos momentos de sofrimento e angústia, a turma primava pela união, coleguismo e a tão importante comunhão de sentimentos. Sem ofensa à amizade, as brincadeiras ajudavam a reduzir as tensões e o tédio de dias e dias sem sair do quartel, em face do regime permanente de prontidão.

O Ninho de Ganso, o sangue da dentadura, a manteiga da Bélgica, o bichinho atleticano, as fases da "Lua", o desespero do "Noivo", os pulos do "Sapão", a "Carta Questão", e tantas outras figuras e historietas cómicas iam sedimentando e fortalecendo os vínculos de amizade.

Exupéry está coberto de razão quando diz: no seu admirável "Terra dos Homens", que "a grandeza de uma profissão consiste em unir os homens".

O ano caminhava para seu final. Em outubro, o acampamento em Água Limpa. Passar por esta prova de tenacidade e coragem dava-nos a certeza de que a conquista do ideal não era sonho impossível.

Depois do acampamento, começávamos a pensar nas férias, no regresso ao lar e na volta triunfal aos braços da namorada saudi sã.

Mas o destino reservava para nós coisa bem diversa. Às vésperas de nossa saída para as férias, no dia 13 de dezembro de 1968 em rede nacional de rádio e televisão, o então ministro Gama e Silva anunciou a decretação do Ato Institucional n° 5 e do Ato Complementar n° 38. Resultado: passamos o Natal e o Ano Novo guardando pontos sensíveis na Cidade Industrial. Adeus bailes de formatura, reveillons", horas dançantes,

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pescarias e carinhos da mulher amada. O jeito era ouvir Ronie Von, na sala de jogos, olhar perdido no céu finito do Dl, e contentar com a saudade amarga que nos doía  a garganta.

" Sou rico prá valer... Tenho mais que um reino, Pois tenho o teu-amor..."

Agora a estrela que carregávamos no braço era azul. Novas responsabilidades, novas perspectivas. Éramos vice-líderes. Sentia-se o peso da obrigação de dar exemplo, de aprender a comandar instruir nossos subordinados. Começávamos a perceber a grandeza da profissão que abraçáramos. E toda grande profissão exige ato-de-entrega, a dedicação exclusiva a seus misteres.

A Corporação, naquele ano, passava por importantes transformações. Editara-se, em janeiro, o Regulamento Geral da Polícia Militar, cujos princípios continuam, 41 anos depois, plenamente lidos.

Através do 667 e do 2010, a Polícia Militar alcançava a exclusividade no policiamento ostensivo e tinha ampliadas as suas "atribuições. A 16 de outubro, um novo marco na história da Corporação surgia com o Estatuto do Pessoal da Polícia Militar, o conhecido EPPM, de avançada concepção, trazendo conquistas que vêm rando até os nossos dias, com poucas modificações. A nova legislação era recebida com euforia e esperança. Em cada canto, a coletânea de capa vermelha era lida e relida com avidez.

Os acontecimentos políticos ainda iam quebrar a normalidade da vida académica. O presidente Costa e Silva deixa o governo, por motivo de doença, e uma Junta Militar assume a presidência. O final de 69 ainda foi marcado por sobreavisos, prontidões e fuzis postos no pátio. O quarto ano se avizinhava e, aos poucos, íamos trocando Ronie Von por Billy Vaugh e Ray Conniff, embora ficassem os melodiosos versos da canção dos Beatles para sempre gravada em nossa memória:" o amor no mundo é de quem quiser, de quem sofrer e sonhar, de quem souber que só o amor pode mudar a vida e ser feliz."

1970. A sonhada liderança havia chegado. Exibíamos com orgulho a estrela vermelha, a espada cor de prata e o ar de comandante sabe-tudo. Alianças começavam a aparecer na mão direita. No quadro negro, a contagem regressiva.

Não se vê passar o quarto ano, o de 70 passou mais célere ainda. Nos primeiros meses do ano, as atenções todas se voltavam para a Seleçâo Brasileira, que se preparava para a conquista do inesquecível tricampeonato mundial. "Noventa milhões em açâo, pra frente Brasil, salve a Seleçâo..."  era o que se ouvia nas ruas, no rádio e na televisão. E nesse embalo, acalentávamos o sonho da formatura. O coronel Ellos prometera fazer uma festa como jamais se vira no Dl. Entretanto, em meados de 70 deixa o comando, ficando a incumbência para o coronel Welther Vieira de Almeida, seu substituto.

No dia 11 de dezembro, éramos declarados aspirantes, em meio a feéricas celebrações. Pela primeira vez, uma emissora de televisão fazia cobertura de baile no Clube dos Oficiais.

Fragmentos de nossas vidas foram ficando nessa longa estrada percorrida.

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Farrapos das vidas alheias trazemos engastados no livro indestrutível da memória.

Um dia cruzamos, de volta, o portão da Escola, íamos para as lides profissionais. Saímos do Dl, mas o Dl não saiu de nós. São quarenta anos de presença marcante em que a sua mensagem sempre atual continua a guiar nossos passos com segurança e precisão.

Inesquecíveis lições da aurora, aurora de nossa vida profissional, que os anos, infelizmente, não trazem mais, mas que seguirão conosco como fonte inesgotável de sabedoria, força e autoconfiança.

CAUSO Nº 77 – Um ladrão em palpos de

AranhaPor Procópio

Lá pelos idos de 1981, fui servir no 2º BPM em Juiz de Fora. Ali, ainda tenente, concorria à escala de Comandante de Operações e, por este modo, era responsável pela distribuição, controle e fiscalização do policiamento afeto à Unidade que abrangia as modalidades: a pé, trânsito e rádio-patrulha.

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          Por aquela época, resolveu o Comando que, a par do serviço de comandante de operações, haveria também, à noite, o serviço de supervisão, a cuja escala concorreriam os capitães.

          O supervisor entrava de serviço às dezenove e saia à uma hora da madrugada do dia subsequente, enquanto o comandante de operações pegava o serviço às dezoito e largava às seis da manhã.

          Bem, feitas estas considerações iniciais, sem a intenção de plagiar ninguém, "deixemos os entretantos e vamos aos finalmente", ou seja, sebo nos calos que atrás vem gente e vamos ao "causo".

          Uma das noites em que a escala de Cmt de Operações coube a mim, a escala de supervisão caiu em um determinado capitão, boa praça, mas conhecido no batalhão por não ter "papas na lingua". Assim, às 19:00 horas compareci na casa do referido oficial intermediário, ele tomando lugar na viatura, saímos a cumprir nossas atribuições.

          Tudo ia bem, a noite, por sinal muito fria, corria normalmente e o serviço, naquela calmaria, não podia ser mais monótono.

           Já passava da meia-noite, o capitão,entediado, ia relaxando o espírito na expectativa do término da supervisão. Com certeza pensando no aconchego e conforto da cama e dos cobertores quentinhos. Estávamos nestes pensares quando a Central de Operações acionou o rádio, transmitindo a sequinte mensagem: - Senhor Capitão, estamos com uma viatura empenhada numa ocorrência de arrombamento no Vale do Ipê e o ladrão ao entrar pela chaminé da casa ficou entalado, a guarnição consulta como proceder.

          O nosso supervisor, já dissemos que não tinha "papas na língua", fixou o olhar, por alguns instantes, no microfone do rádio e, visivelmente aborrecido, respondeu: - ô central! Se o ladrão está entalado e eles não sabem como tirá-lo de lá, eu é que vou saber? Experimente o seguinte: manda enfiar pela chaminé um cabo de vassoura na bunda do ladrão que ele sai. Quanto a mim, estou indo para casa já que o meu horário foi cumprido, câmbio e desligo.

          Após deixar o capitão em casa e prosseguindo no serviço, procurei saber da central o que se passou com a ocorrência do ladrão e o rádio-operador informou que a referida ocorrência estava sendo encerrada com a apresentação do meliante na delegacia.

          Aconteceu que a guarnição de rádio- patrulha seguindo, ao pé da letra, a orientação superior, enfiou um cabo de vassoura pela chaminé e o ladrão com aquela monstruosidade cutucando-lhe o traseiro, antes que acontecesse o pior, rápido como um raio arranjou um jeito de desentalar-se...

          Já se afirmou por aí que "ladrão entalado, morre sufocado"... e eu diria que depende do tamanho do cabo de vassoura!!!

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CAUSO Nº 78 – Antes da Aurora – Uma

Lição de DisciplinaPor Soares

 

Com a bela crônica “Lições da Aurora” o Lúcio Emilio consegue nos emocionar, remetendo-nos de volta ao final dos anos sessenta, o glorioso tempo de nossa passagem

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de quatro anos como cadetes da PMMG.

O que vem de seu texto são pérolas que exprimem a caracterização histórica daquele momento e que nos falam de transformações sociais e de experiências da juventude... tudo com certo que de saudosismo e dolência.

Como não podia deixar de ser, ele passeia pelo terreno do que para nós é anedótico e divertido. (Não há realmente como fugir a tais reminiscências de um tão belo grupo... com tão longa convivência... em tão tenra idade.)

E algumas vezes se detém, inevitavelmente, naqueles fatos que simbolizaram sempre para nós a terrível rigidez da vida de caserna:“Ninguém esquece os rastejos, os exercícios de maneabilidade, as jornadas, as escolinhas de Ordem Unida, rodas-gigantes, as inspeções e o seu resultado sempre certo: detenção no fim de semana.”

São fatos compuseram  necessariamente  a  nossa  transmutação de civis inexperientes a genuínos policiais militares. São as lições da aurora...

Pois é, caro Lucio, para alguns de nós – já militares, antes mesmo de adentrar os umbrais do DI – as lições vieram mais cedo.

É o meu caso particular.E algumas realidades daqueles ainda mais remotos tempos talvez mereçam emergir da memória (já um tanto fugidia) para o campo álacre dos nossos causos.E pode ser que se encaixem bem, pois são fatos que, de alguma forma, devem ter contribuído para a formação deste orgulhoso integrante da Turma Aspirantes 70.

                                                                        * * *

Antes sequer de saber da existência de CFO, ingressei no Batalhão Escola, como recruta, ao finalzinho do ano de 1965.

Completo “filho de maria-clarineta” e sem contato anterior com qualquer tipo de experiência militar, iniciei o curso em uma “escolinha” que já começara efetivamente há um ou dois meses . (As coisas não eram, então, muito organizadas.)

Sentia-me lá no antigo BEs meio perdido na vida, sem conhecer ninguém e mergulhado numa nova ordem de coisas um tanto malucas para os meus padrões da época.

“Alojamento” e “Rancho”, de segunda a sexta feira, eram recursos necessários para a sobrevivência do recruta e eram circunstâncias obrigatórias para bem do CAE (entenda-se por isto “as finanças da Unidade”).

Assim, alojado compulsório, logo nos primeiros dias enfrentei a “barra” de dormir em um local absurdamente amplo, apinhado de gente, em camas nada confortáveis e ao lado de companheiros que adoravam uma bagunça antes de dormir.

Após o toque de silêncio, quando apagadas as luzes e todos já recolhidos, lá vinha o característico assobio de um recruta galhofeiro, imitando o canto do conhecido pássaro

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de nossa fauna:

– “Peixe frito!”... Risos, gritos surdos, alguns protestos e, enfim, silêncio.

Mais uns instantes e lá vinha de novo o “peixe frito!” assoviado de um outro canto do alojamento e correspondido alhures por outro gaiato...

Alguns dos alojados mais sérios ficavam bravos; e como o recruta escalado como “Plantão de Alojamento” nunca resolvia a parada a contento, o remédio era chamar o Sargento “Adjunto-de-Dia”.

(Esta brincadeira incômoda persistiu no Batalhão Escola por muitos anos e, em 1970, quando para ali retornei como Aspirante – juntamente com mais dez companheiros –, ainda se assoviava o “peixe-frito” nos alojamentos.)

Pois bem. Naquela noite dos velhos tempos, a coisa se complicou.

Chamado para controlar a costumeira e surda algazarra pós-toque de silêncio, apareceu por lá o Adjunto, Sargento Vila (excelente graduado, que se tornou mais tarde um apreciado oficial de administração).

Não me lembro bem os detalhes, mas o Sargento acabou se estranhando como o Plantão do Alojamento e deu uma ordem que – vista daqui – pode parecer pra lá de esquisita:

– José Alan, mande todo o alojamento formar lá embaixo. Vou apanhar as luvas de boxe e esteja lá, por que quero ver se você é homem mesmo!

Um sargento chamando um recruta para briga? Eu, do alto de minha ignorância e alienação de recém-chegado, não estava entendendo nada. Até os personagens que cito só depois os pude realmente conhecer.

Lembro-me de ver o Quirino (Antonio Quirino de Tal, um recruta sempre brincalhão e espirituoso) sair do alojamento antegozando o que iria ocorrer:

– Uuuh... estamos sem Adjunto!

Teoricamente ele estava certo: o Sgt Vila não era exatamente um fracote, mas o Alan (José Alan Máximo, de Guidoval) era um caboclo escuro, forte, de cara feia, imenso, um autêntico “armário”. O sargento, com certeza, seria trucidado.

Mais alguns minutos, já inteiramente despertos, estávamos formados lá no pátio, esperando pelos acontecimentos e pela iminente surra do recruta no sargento.

A expectativa de todos era tanta que quase que se materializava no ar como uma enorme interrogação: Será que ele vem? E ao mesmo tempo por uma consensual certeza: Vai levar o maior pau!

Ledo engano. Era mais uma lição para os ingênuos recrutas.O mise-en-scène do alojamento não fora mais que uma armadilha do sargento experiente e sagaz. Quem o conhece, sabe que o Vila sempre teve aquele espírito que se

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situa entre sério e “gozador”. Não iria se meter tão facilmente em uma canoa furada.

Em vez das luvas de boxe, ele apareceu com um apito, acompanhado de mais um ou dois graduados. (De quebra, um pouco mais ao largo, ficou a nos observar o Oficial-de-Dia – certamente agregando autoridade aos atos se seguiriam).

– Atenção recrutas – bradou o sargento –, quando eu der um apito: todo mundo deitado! Quando eu der dois: levantar e correr! Quem for pego molengando, vai se arrepender de ter nascido!

Não precisa dizer mais nada, por que todos conhecemos de sobra esta estória, vivida e revivida nos quatro anos de CFO... Como dizia no inicio: eu só comecei mais cedo.

Mas devo ainda pontificar que aquela foi para mim uma noite memorável. Não apenas por conhecer de perto – com joelhos, barriga e cotovelos – todos os recantos poeirentos e todos os sarrafos e restos de construção do quartel, mas também por que foi a minha primeira e real experiência sobre um efetivo exercício de disciplina militar..É como dizia a propaganda famosa (e deliciosa) de uns poucos anos depois – com certeza ainda fresca na memória de todos nós: “O primeiro Valisére a gente nunca esquece”.

Pois é; o primeiro “rastejo” também: a gente nunca esquece!

CAUSO Nº 79 –Isso é data para casamento?Por Soares

O Adilson Pastor é a memória viva de nossa turma.Rezam as crônicas do Pastor que, ao formarmos Aspirantes, fomos sete para o Batalhão Escola: Martinho, Claudionor, Soares, Gonzaga, Paulo Alcântara, Fábio, e Marra.

Depois, chegaram lá outros quatro, formados em segunda-época: José Luiz, Coutinho, Santino e o próprio Adilson Pastor.

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Mais tarde, chegaram ainda outros dez emprestados, um de cada Unidade do interior: Adelmir, Procópio, Ângelo, Mauricio Moura, Justino, Quintão, Cunha Pinto, Damas, Sebastião Souza e Lázaro.

Na época, o BEs já se transformava em uma super-escola de formação de praças; daí, o número expressivo de Aspirantes.

Nossa formatura foi no dia 11 de dezembro de 1970 e nos apresentamos lá, a primeira leva de sete, logo após uma pequena folga; portanto, bem ao finzinho do ano.

O nosso corpulento comandante – cujo nome não devo revelar (embora possa fuxicar que, pelas costas, o chamavam de Barrigudo) – tinha lá suas idiossincrasias. Entre elas, um extremado gosto pela noite e por um bom uísque (mas quem não gosta?).

Diziam a más línguas que, não raro, ele fechava o bar que freqüentava (acho que o Píer) lá pelas tantas da madrugada.

E então, no dia seguinte, chegava à frente do batalhão, na formatura matinal, com as suas inesperadas preleções, para as quais nunca podíamos realmente atinar com um motivo. Invariavelmente, o que ele buscava era persuadir-nos da necessidade de mudar de postura e fazer com que a própria Unidade “mudasse de rumo”:

- Precisamos fazer um giro de trezentos e sessenta graus... – exortava.

Ele era repetitivo. Batia sempre nessa mesma tecla. E vá lá se entender como alguma coisa possa mudar de rumo com um giro de 360º !

Mas era um bom comandante, que realmente gostava da Unidade e de seus oficiais. Nas atividades sociais, ele estava sempre presente e fazia questão da presença dos demais. Nos casamentos, então, era chamada geral.

A nossa primeira de experiência foi o casamento do Marra.____________

O Marra e a Inês (que hoje está no céu) formaram um casal feliz e constituíram uma bela família. Tiveram ao todo quatro filhos. E eu tive a felicidade de seguir de perto uma boa parte de sua história. Fomos amigos e companheiros próximos em duas Unidades. Por isto, ela me autoriza relatar o presente causo.

O Marra foi sempre aquele cara impagável, com as suas posturas muito próprias e a sua risada, digamos, abundante.

Quando chegamos ao Batalhão Escola, ele já estava de casamento marcado. (Até aí, nada demais.)

A chamada para assistir e compor a “cúpula de aço” no casamento do colega era para todos os oficiais, sem exceção. Tudo bem, era o rito normal imposto por nosso Comandante.

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O casamento parece que tinha que ser pra já (!)... Tudo bem.

Mas o que será que faz um cristão marcar o seu casamento para a manhã de um dia 1º de janeiro? Tinha que ser tão “pra já“ assim?

Pois o casamento do Marra foi marcado para o dia 1º de janeiro de 1971 (em pleno reveillon), às 8 horas da manhã. E não foi na Capela do DI (ali pertinho). Foi numa igreja lá na chamada Cidade Ozanan (bairro longe pra dedéu, pros padrões da época).

E olhem que era casamento com missa! Dá pra imaginar o que é ficar de pé no corredor de uma igreja lotada, fardado e “em forma”, por quase duas horas, posando de “bibelô”, com todo mundo de olho na gente, após uma noite de bebedeira?

Lembro-me que a cabeça rodava e eu sentia um buraco no estômago. Acho que era assim com todo mundo.

Imaginem então como estava a coisa para o nosso destemido Comandante, que (a julgar pelas más línguas) só deve ter chegado em casa a tempo de trocar a farda e partir para a solenidade. Do meu lugar na fila, eu podia ver a sua cabeça calva balançando lá na frente...

Foi realmente um casamento doído. (Eu disse do-í-do.)

Mas tudo bem, por que após da solenidade fomos direto para a festa... Festa às 10 da matina, com uma cerveja bem quentinha e uns salgados geladinhos!

Perguntem a qualquer um dos sete (incluindo o Marra, claro.)

Quando conto o caso em sua presença, ele não confirma nem desmente; só dá aquela risada ruidosa, vagamente feliz, que todos conhecemos.

Só o Marra mesmo.

CAUSO Nº 80 – Uma chuveirada insólitaPor Soares 

Já citei o Pastor como o grande memorialista da turma. Mas têm outros também que são muito bons: o Mauricio, o Dulinhas e o Martinho, só como exemplos.

Temos hoje duas passagens curtinhas, dos tempos de Aspirantes no BEs, que nos foram contadas pelo Maurício Moura.

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A primeira é do Procópio, que ele sempre chamou de “Gatinho”. (Nada de conclusões erradas, pessoal! Mauricio e Procópio são “espadas”; sem dúvidas.  E “Gatinho” é meramente um  apelido  oposto a “Gatão”  [o Carlos Carvalho]; ambos  assim  chamados, por causa daquele olhar branco mortiço... olhar de gato, em sentido literal)

O Maurício nunca se esquece do trio mais fiel do golo noturno dentre os alojados do BEs: : ele mesmo, o Procópio e eu. Nas sextas feiras, então, as saídas eram sagradas.

Lembra-nos ele que, naquela noite, chegamos da rua pra mais das 3 horas da madrugada. O Procópio se dirigiu para o banheirão coletivo, lá nos fundos do alojamento, decerto para refazer-se do excesso etílico com uma boa chuveirada.

Os demais, caímos imediatamente no sono, até por que tínhamos que acordar bem cedo.De manhã, o Mauricio me acorda, morrendo de rir: “Veja lá dentro o estado em que está o Gatinho!”

Fui rapidamente para o banheiro até um tanto preocupado.

Lá estava o Procópio, sentado em uma cadeira, encurvado sobre o seu espaldar, dormindo (ou algo parecido), com o chuveiro aberto e a água morna caindo mansamente em seu lombo. Foram pelo menos três horas que passou desmaiado debaixo d`água... Eta carraspana brava!

No segundo caso, o Maurício tem a desfaçatez de colocar-me como personagem central. É da mesma época e se reporta aos tempos em que fui um fumante inveterado.

Neste detalhe, ele está certo. Ao formar Aspirante, logo engracei-me com o cigarro, meio que levado pelo abestamento natural da juventude, meio que influenciado pela força da Propaganda, principalmente aquela do cigarrão-coqueluche dos anos 70: o Hilton 100 milímetros – Longo e Suave.Caí como um patinho. Tornei-me uma chaminé ambulante. Só não fumava quando nos atos de serviço e quando estava comendo ou dormindo. Quando estava nos botecos, então, era uma loucura: um cigarro aceso no toco do outro.

Numa noite daquelas, conta o Maurício que nós (o trio do golo) chegamos da rua bem tarde – aliás como sempre – e que eu teria decidido ir tomar um banho antes de dormir.

Aí, são palavras textuais do Maurício:

– ... Alguns minutos depois, ao entrar no banheiro, deparei com aquela cena estranha: em um dos chuveiros, lá estava o Soares, debaixo d’água, de olhos fechados, inclinando a cabeça, ora para um lado, ora para o outro, ora pra frente, ora pra trás... Desta forma, conseguia ensaboar-se, driblando e impedindo o jato d’água de cair no alto de sua cabeça, enquanto baforava o grande pito aceso que apertava entre os lábios... O miserável fumava até debaixo d’água!

Fumar debaixo do chuveiro? Nem o Luiz Vitor, certamente o maior fumante da turma 70, se atreveu a tanto, mesmo em seus bons tempos.

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Portanto, não confirmo.

Já o primeiro caso, o do Procópio, assino e dou fé.

CAUSO Nº 81 – Sizudo, um aspirante de

opinião.Por Procópio        

Em vocabulário de caserna a expressão soava mesmo estranha, melhor seria usar "adido". Mas o Soares tem razão ao reportar o fato, pois a ordem, não se sabe o motivo, chegou nestes termos, o batalhão deveria mandar dois aspirantes emprestados para o Batalhão Escola (BEs).

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          Foi assim que eu e o Adelmir fomos parar na dita unidade escola, emprestados por quarenta e cinco dias, que depois foram prorrogados. Juntou-se ali vinte e um aspirantes, nunca se viu, antes, tanto aspirante em uma só Unidade, era quase um pelotão. Visava tal medida suprir a falta de instrutores no batalhão. A Unidade contava, na ocasião, com duas companhias realizando o curso de formação de soldados, outras tantas com recrutas aguardando a abertura de novos cursos e mais o curso de formação de cabos.

          A agitação era intensa, um fervilhar de atividades e o quartel mais parecia um formigueiro de tanto recruta que abrigava, chegava-se a quase três mil.

          Corria, então, o ano de 1971. O batalhão, no cumprimento de seus objetivos, tinha acabado de aplicar as provas de final de curso a mais duas companhias. Aguardava-se, apenas, as publicações oficiais e as solenidades de formatura e logo os novos soldados seriam classificados nos diversos batalhões e serviços da Capital.

          Não passou muito tempo da divulgação dos resultados, recebemos, de surpresa, uma visita ilustre e inusitada. Eu descia a rampa que dá acesso ao andar superior do batalhão, quando, ao fazer uma curva, dei de cara com um coronel que, em sentido contrário, subia em passos apressados e nervosos. Prestei-lhe a continência e fiquei observando. O referido oficial superior, um dos mais respeitados na Corporação, logo mais adiante chamou a atenção, em termos ríspidos, de um pequeno grupo de recrutas que não parou para fazer a continência regulamentar e dirigiu-se direto para a P/3. Ali, nervoso, falava e gesticulava. Queria saber porque haviam reprovado um determinado recruta, seu parente, e quem teve tal petulância, em apenas uma matéria e por poucos décimos, um absurdo.

          O pobre capitão P/3, por mais que tentasse, não conseguia acalmar o seu inesperado interlocutor.

          O comandante da unidade, já alertado e com a diplomacia que lhe era peculiar, adentrou a sala, prestou a continência, o devido anúncio e conseguiu fazer com que o coronel o acompanhasse até o gabinete do comando e ali ficaram conversando por quase uma hora.

          Ânimos acalmados, o nosso ilustre visitante, homem do dinheiro na Corporação, retirou-se satisfeito com a promessa de solução, a contento, do problema.

          O P/3, diligente, procurou dar solução ao imbróglio. Fácil, era só aplicar nova prova ao recruta. Seria fácil realmente, não fosse a personalidade do instrutor, que o capitão não conhecia bem. Aí é que entra no meio de tamanha confusão um aspirante 70.

          Com a prova nas mãos, o oficial intermediário chamou o aspirante Sizudo, explicou o caso e pediu a ele que revisse as questões ou aplicasse nova prova ao desditado recruta. Ao que o aspirante, um dos mais teimosos que já conheci, retrucou:

          - Não! Se é para passar o recruta não precisa de nova prova. O senhor mesmo pode dar-lhe a nota que necessitar. Para mim ele está reprovado. Eu não vou aplicar nova prova só para agradar, seja a quem for que seja.

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          O capitão tentou que tentou, mas Sizudo, intransigente, recusou-se a aplicar nova prova ao apadrinhado do saudoso coronel.

          Bem! O recruta passou a pronto. Mas nada, nem reza brava demoveu o nosso teimoso colega de sua posição.

CAUSO Nº 82 – Marimbondo nos costa-dos de primeiro ano é refresco Por Procópio

 

          Já se afirmou,anteriormente, que os quartanistas do CFO eram mestres insuperáveis na arte de sacanear. Atesto e dou fé, nisto realmente se esmeravam e ninguém conseguia superá-los.

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           Estávamos iniciando o curso de oficiais e participávamos, à época, da primeira atividade curricular, o famoso "ranca-rabo", que era o marco inicial do CFO.

           Lembro-me que percorríamos a periferia da Capital, não sei precisar onde, quando fomos parar no alto de um morro e tínhamos de chegar ao sopé da forma mais rápida possível, senão seríamos alvo de anotações negativas e, sob a batuta do quarto ano, descíamos, deitando , rastejando, rolando, correndo, tropeçando tudo era válido, importava era chegar rápido.

          No meio de todo aquele alvoroço, enveredei por um caminho que passava por um grotão e a vegetação ali existente obrigava-me a rastejar por baixo de uma moita de pequenos arbustos, ao aproximar dei de cara com uma enorme caixa de marimbondos, voltei nos meus calcanhares para contornar a moita e, assim, livrar-me dos nervosos insetos. Mas por azar, ao dar a volta esbarrei com um aluno do quarto ano, não me lembro quem, que logo me interpelou:

           - Ô primeiro ano onde você pensa que vai?

           Repondi que estava evitando a moita por causa dos marimbondos. O aluno continuando no seu rompante trovejou:

           - Não quero nem saber. Você vai voltar e passar é por lá, senão vai ficar detido quando chegarmos ao quartel e vai ganhar uma anotação negativa na ficha de conceito.

           Ora, ficar detido era normal naquelas ocasiões e poderia até suportar, mas anotação negativa na ficha e logo no início do curso, por certo não pegava bem.

           Diante da ameaça voltei e passei por baixo dos arbustos, rastejando de costas e com a caixa quase esbarrando no meu nariz, mas passei ileso.

           Sai do outro lado, coloquei-me de pé e já respirava aliviado, quando um atrapalhado calouro, precipitando morro abaixo, atropelou a moita com maribondo e tudo. Tratei de colar a barriga no chão e rápido rolei até o fim do morro, não sem antes levar, de lambuja, uma meia dúzia de dolorosas ferroadas.

  Sinceramente, pensei em xingar o estabanado colega, mas fui precedido pelo quartanista que, com alguns calombos vermelhos na cara, passava verdadeiro destampatório no calouro.

           Continuei no corre-corre. Mas confesso, apesar da dor, não pude deixar de ter uma pontinha de satisfação com o acontecido.

           Não é que o feitiço, virando, atingiu também o feiticeiro.

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CAUSO Nº 83 – Marafo Por Cícero

O cadete Marco Aurélio de Carvalho estava no terceiro ano do CFO – Curso de Formação de Oficiais. Como sua silhueta se assemelhava a um quibe gigante, a uma piorra, a um anuro inflado, seu apelido carinhoso era “Sapão”.

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“Sapão” adveio de Barbacena onde era sargento antigo, mafioso e cheio de mutretas. Um de seus colegas antigos de farda, com origem em Diamantina e, dono dos mesmos predicados, era não menos que Fernandes dos Santos Costa – vulgo “Papai Noel” ou “Santino”. A diferença entre os dois está para “o gordo e o magro”, bem como a de que o “Santino” detestava os puxa-sacos.

Numa segunda-feira cedo, “Sapão” adentra a sala de aula com um estranho embrulho, delineando uma garrafa.

“Sapão” e “Santino” sentavam-se ao fundo da sala, como convinha aos mais espertos. Naquele dia ele era só amor pela garrafa, pois mão sob a carteira, a acariciava de minuto a minuto, antevendo as benesses da barganha com o rei, dentro da “máxima” da vã política: é dando que se recebe.

- “Sapão”, pra quem é esta cachaça? – indaga “Santino” – Cachaça é proibido no quartel. Se você não me disser pra quem vai dar esta cachaça vou te denunciar ao Oficial do Dia e você vai ser expulso; vai levar ferro; vai...!

Por mais que o “Santino” puxasse a língua do “Sapão” só se via aquele sorriso amarelo e babado, próprio de bajulador profissional.

Assim foi cada minuto de aula, cada minuto de intervalo, até que “Santino” se fez de pacifista esclerosado.

Titubeou... o cachimbo caiu. “Santino” esconde a garrafa tão rápido quanto ascende a auréola da inocência.

“Saparrão” interrompe a aula, brada, ruge, coaxa, blasfema, sapateia, envenena o ambiente, ameaça urinar em cada um. Aguarda por alguma manifestação no silêncio de sepulcro... e sai.

O anuro volta saltitante, língua muscosa, longa e pegajosa, espumando pelas ventas, na posição de guarda-costas do Sr. Cadete Dilly, este em serviço de ajudante de oficial do dia.

Guarda-costas, caminha um passo atrás e um passo à esquerda de seu protegido.

Cadete Dilly passa um “sabão” na turma “B”. “B” de Bons. Além da turma “B”, o CFO/67 (aspirantes a oficiais em 1970) tinha a turma “A” e a turma “C”, totalizando quase cem alunos.

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A carótida do Cadete Dilly está a ponto de explodir. A cor de tomate maduro reafirma o semblante anglo-saxão do quase oficial.

- Vocês estão detidos. Todos. Até que a garrafa apareça... – sentenciou o pré-Tenente Dilly.

O pacto de silêncio falou mais alto.

Dilly era Cadete do último ano do Curso de Formação de Oficiais, a concluir o curso ao final daquele ano. Era um dos mais ponderados e moderados entre os integrantes da turma de 69 e filho do Sr. Coronel Dilly...

É isto mesmo: a cachaça era para o coronel que seria entregue através do Cadete... Desta forma, “Sapão” agradaria ao pai, ao filho e ao espírito santo... No intervalo seguinte, “Santino” cola na orelha do cadete Cícero e dá uma ordem: - “Preciso que você esconda o marafo no seu carro!”

Na surdina, na moita, Cícero e Santos Costa escondem a garrafa no compartimento do motor do fusquinha “53”, entre o encosto fixo do banco traseiro e o motor, ou seja, atrás do motor. Antes de se ligar o motor, ao final da detenção, seria necessário remover a garrafa daquela posição, por razões de segurança contra incêndio.

O resto do dia transcorreu em clima de panela de pressão. Todos eram coniventes. “Santino” equilibrava a tensão com a satisfação, dor com prazer...

“Sapão” passou das ofensas, das ameaças, para a fase do apelo, da clemência. - Gente, é uma encomenda. Eu me compromissei. Até recebi o dinheiro adiantado. Se eu não mandar a cachaça para o senhor coronel Dilly, como fico? Ajude aí turma, pelo amor de Deus!

“Sapão” era grande por fora e por dentro. Sempre teve um baita coração. Companheiro prestativo nas horas difíceis, conselheiro sentimental, exterminador de cravos e espinhas nas costas dos companheiros e contador de causos. Mas, como a perfeição é só Deus, “Sapão” pecava nas bajulações.

Marco Aurélio, embora velho e feio como um baiacu, tinha uma linda noiva. A moça além de bonita, denotava ser aristocrata, uma verdadeira lady, de uma classe social saída dos contos de

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fadas. Era estudante de farmácia e morava em Itabirito, próximo a Ouro Preto. O pai dela era o boticário da cidade. Vez ou outra, domingo à tarde, Cícero, Marcos e as patroas iam até lá pelo prazer da visita e das “curvas da estrada de Santos”...

Marco Aurélio, precavido (não se sabe o porquê), jamais voltou com os colegas para BH, morrendo num ônibus de carreira...

Finalizado o expediente do dia, às 18 horas, todos foram dispensados após a “revista geral” e leitura do “boletim da unidade”, exceto a famigerada turma “B”.

Os cadetes do CFO/4 – quarto ano – e por tal, superiores aos mais modernos, foram empenhados pelo colega Dilly na operação de busca pela garrafa. Armários e escaninhos foram vistoriados. Fez-se a varredura da sala de aula, vestiário, dormitórios, capela, campanário, pocilgas e tudo mais: ninguém saía do quartel sem passar pela revista.

A turma “B” foi reunida umas quatro ou cinco vezes, assistiu-se a ameaças, trovões e relâmpagos. Ódio, lamúria e clamor se alternavam.

Por volta das 22 horas, antes do toque de recolher que entoava por todo o quartel, deixando uma nebulosa de álcool fétido advindo dos pulmões do corneteiro, a turma “B” foi dispensada. - Fora de forma! Marche!

Marcos e Cícero entraram no fusquinha e, cortando pregos, rumaram para a portaria...

Não havia como retirar a garrafa do motor, como adiar a saída, como sair a pé, como isto ou aquilo, pois, presumidamente, estavam sendo vigiados. O carro seguiu até a portaria do DI, um monumental pórtico em arcos, eternizado em fotografias por todos os que por lá passaram.

O carro foi parado e seus ocupantes desembarcados por ordem dos superiores. - Abram o porta-malas! Rebatam os bancos! Tirem para fora todo e qualquer volume! Deixem as portas abertas...! - Tô ferrado! – imaginou Cícero.

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Os superiores sabiam que a garrafa estava no fusquinha, não havia dúvidas desta evidência. Pior, é que Cícero esqueceu o motor funcionando... era questão de segundos para a bomba explodir.

Uma onda gelada alojou-se no ventre de Cícero. A respiração parou; o coração parecia explodir... - Santo Antônio, Santo Antônio, Santo Antônio...

Não tendo encontrado a garrafa, um dos superiores comanda: - Vamos ver tudo de novo, inclusive por baixo! Procura aqui, procura ali, até que um dos superiores parte para abrir o compartimento do motor. Não consegue. Estava trancado. Estava trancado, funcionando e traqueando...

Cícero desceu ao inferno em frações de segundo. Anteviu o conselho dos capetas, aqueles do quarto ano, dançando freneticamente e votando pela sua expulsão.

A bem da verdade, a vida nos demonstra a extrema proximidade, a frágil permeabilidade, a tênue fronteira entre o céu e o inferno, entre o amor e o ódio, entre a lealdade e a traição, entre a fama e a infâmia, entre a felicidade e a tristeza... Para se descer ao patamar de baixo é questão de queda livre, pura força degenerativa do entrevero entre Deus e o demo. Seu corpo, seu físico, pode até permanecer plasmando como múmia paralítica, mas seu espírito não resiste ao magnetismo surreal, à força “M” de maligna.

- Tá limpo!

Atônito, passos robóticos, sinais vitais latentes, Cícero, junto com Marcos, entra no carro, estica a primeira, subindo a Rua Diabase, estica a segunda até o motor tossir. Tosse para a Rua Platina e vê o Santos Costa fazendo sinal de pare, com um pé no asfalto, uma auréola circundando os chifres, um espectro de rabo enorme e a luz cintilante do incisivo restaurado a ouro.

Santos Costa adentra o possante, Cícero sobe a primeira à esquerda, à direita, à esquerda, apaga as luzes, para no freio de mão, esquadrinha os quatro cantos para ter certeza de não estarem sendo seguidos.

Desce, esquece a chave, volta, pega a chave, abre o motor, digo, o cofre do motor, apanha a garrafa e deságua num graças a Deus.

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- Graças a Deus! Obrigado, Santo Antônio!

Três semanas depois, na casa de Santos Costa, aconteceu uma churrasqueada, uma farreada, uma festança entre os irmãozinhos do CFO-B, regada ao marafo do Sapão.

Marco Aurélio foi.

CAUSO Nº 84 – Arranca RaboPor Cícero

Trem bom é coisa boa; pena que dure pouco

Cícero estava alojado, temporariamente, na casa dos padrinhos Francisco e Maria. Era início do ano de 1967. Contava 16 anos e havia terminado, com louvor, o “ginásio” no Colégio Anchieta. O baile de formatura ocorreu no PIC, tendo como madrinha a monumental, escultural e fogosa prima Raquel, que dançou com todos, menos com ele...

Cícero pensava que já era homem: engasgava, em lágrimas, com a fumaça do próprio cigarro e arrotava doce o amargo da cerveja. Mesmo assim, fazia pose de mocinho de cinema americano.

A casa dos padrinhos, de número 380 da Rua Rio Espera, no Bairro Carlos Prates, favorecia as idas e vindas ao DI da antiga Força Pública de Minas Gerais. Era descer a rua, atravessar as duas linhas férreas, sair incólume do beco da favelinha, atravessar a pinguela sobre o Arrudas e subir Rua Paraguaçu, onde começava e terminava a Avenida Tereza Cristina para, quilômetro à frente, recomeçar e terminar novamente.

As provas teóricas e de condicionamento físico necessárias à classificação ao Curso de Formação de Oficiais – CFO – duravam duas semanas. Depois vinham mais semanas de exames médicos,

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exames psicotécnicos, entrega de documentos e a tal “consolidação” da classificação final.

O mais dificultoso, a maior barreira, seria a aprovação pelo oftalmologista: Cícero sabia da sua deficiência na visão de profundidade, visão à distância, tanto que, em sala de aula, sentava-se à frente para ver, com dificuldade, os escritos no quadro. Se sentasse no fundo da sala, não via nem o próprio quadro negro...

Eis que Pedro Ivo, outro candidato civil, este da linhagem de coronéis, deu a dica: vamos marcar consulta particular com o médico, assim ele vai ter “segurança” quanto à nossa aprovação. Dito e feito: custou alguns cruzeiros ao Sr. Gercino e a recomendação (não comprida) pelo uso de óculos para compensar o astigmatismo.

Em 01 de março do ano de 1967, Cícero assentava praça especial, na condição de cadete do primeiro ano do CFO – Curso de Formação de Oficiais da Polícia Militar de Minas Gerais.

O corpo de cadetes do primeiro ano foi dividido em três turmas (A, B e C), totalizando uns 98 alunos. A maioria já pertencia às fileiras da corporação, na graduação de soldado, cabo ou sargento. Os demais, assim como Pedro Ivo, Marcos Flávio, Ângelo, Mamede, Lúcio Emílio e Cícero, eram, até então, civis.

Dentre os 98 alunos, havia um grupo de uns 20 “es-trangeiros”, assim chamados aqueles que pertenciam às cor-porações co-irmãs, advindos do nordeste, norte, centro-oeste e do Estado do Espírito Santo. A presença dos “alienígenas” em Minas se justificava pela não disponibilização de curso de oficiais policiais militares em seus Estados de origem.

A partir de então, o grupo de alunos se tornava um só corpo, em espírito, em sentimento, em uniforme, não em privilégios, sagrando aqui os “sargentões” e parentes de oficiais superiores.

Havia os alojados (os que residiam no quartel) e os não alojados. Os não alojados poderiam optar por ser arranchados (refeições no quartel) ou não. Melhor ser arranchado, pois no caso de detenção você fica preso, mas não com fome... diziam os superiores.

Outro detalhe é que não havia sexo feminino dentro dos quartéis e o homossexualismo não era tolerado, embora quase todo superior fosse veado.

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A única fêmea que usualmente transitava em horário de expediente era a esposa do cabo “branca de neve”, praça antigo da administração da academia, de etnia negra pura, pele lustrosa, sorriso de marfim e extremamente alterado (indisciplinado). A esposa, loira oxigenada, pele clara, curvas fartas, vestido descortinado à altura da marquise das nádegas, sempre intercedia junto ao capitão comandante da companhia a favor e para felicidade do marido que, pela injeção de ânimo, já poderia ser general...

Os alunos da academia eram divididos também, em quatro degraus hierárquicos conforme o “ano” do curso: do primeiro ao quarto ano, do bicho ao quase oficial.

Esta hierarquia, dentro da máxima de que antiguidade é posto, era levada a ferro e fogo, a partir dos próprios testes de aptidão. Era, em verdade, um teatro de boçalidades, de atrocidades, de vampirismo e de injustiças que, via de regra, terminava na desistência do subordinado e nunca, na punição do algoz. Era também a maior prova de subserviência, de superação e de sobrevivência no curso.

As turmas também eram reduzidas ano a ano, por desistência, expulsão ou morte, nesta ordem, o que sempre impingia nova depressão ao grupo.

Os alunos de 70 (ano de formatura para os iniciados em 67) tiveram o azar de encontrar pela frente, já no segundo ano, a turma de 69. A turma de 69 (iniciada em 66, dois anos após o golpe militar) foi, em todos os tempos, a maior, a mais malfadada, famigerada e maquiavélica da academia, consagrando inveja aos nazistas ortodoxos dos campos de concentração. Óbvio que havia os ponderados, os conciliadores, os justos, mas, na maioria, sobressaía a imagem dos boçais, dos trogloditas, por índole ou por exagero de encenação.

Esta fama dos de 69 ficou gravada a ferro quando do trote, do batismo dos novos alunos, em que imperou toda sorte, toda sordidez de violência física, moral e espiritual.

Ficou provado também que o sofrimento une, ata e envolve as pessoas de forma tão indissolúvel quanto a essência do amor, ratificando a máxima de que não existe glória sem dor: este é o estigma, o brasão da turma de 70.

Os civis incorporados ao corpo de alunos eram fácil e infelizmente identificados: usavam roupas civis por algumas semanas até a obtenção do uniforme (uniforme de educação física,

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de natação, de campanha, de aula, de trânsito, de gala, de desfile, disto e daquilo).

O Sr. Gercino, orgulhoso do feito do filho Cícero, contratou na Alfaiataria Militar Mineira, com o judeu Nazareno, todo o guarda-roupa da academia.

Os vencimentos eram “puxados” pelo sargenteante da companhia, manuscrito num livro gigantesco. Neste livro, o tarimbado sargento anotava o nome do policial-militar, a graduação ou posto, o soldo, as vantagens, os descontos, o rancho, o alojamento, a caixa beneficente, os descontos e mais descontos, sobrando alguns contos de réis.

Neste início, solteiro ou não, o novo cadete era casado com um fuzil e, com ele, iria romper os quatro anos de curso. O fuzil era usado (sem munição) em todas as aulas de ordem unida, nas marchas, nas prontidões, no acampamento, nos arranca-rabos e nos desfiles. Pelo menos uma vez por semana, o aluno, em horário de folga, retirava o fuzil “Springfield” calibre 7,62 mm, modelo 1903, equipado com sabre-baioneta, da intendência da companhia para, pela milionésima vez, limpá-lo, lubrificá-lo, acariciá-lo.

Neste ano, um dos arranca-rabos consistiu em progredir, rastejando, pelo leito do Ribeirão Arrudas, desviando, quando possível, dos torpedos e carniças, sem molhar o fuzil.

- Braços para cima; fuzil fora d´água seus muxibas...!

Posteriormente, os calouros foram obrigados a passar por sobre os arcos da ponte metálica da ferrovia desativada da Estrada de Ferro da Rede Mineira de Viação (arcos parecidos com os do viaduto de Santa Tereza, só que em perfis de aço estreitos), sem a ajuda das mãos, numa altura da ordem de dez metros acima dos blocos de rochas do leito do rio.

Ângelo, talvez com sede ou com raiva, mergulhou fundo no Rio...

CAUSO Nº 85 – Pela hora da morte

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Por Cícero

Luz própria é reflexo da própria grandeza

Embora tenha passado por conceituados colégios, Anchieta, em Belo Horizonte, e São Francisco, em Pará de Minas, foi o ambiente familiar e o Curso de Formação de Oficiais, este com duração de quatro anos, que forjaram, a ferro e fogo, o caráter e a personalidade do cidadão Cícero.

O choque de maturidade iniciou em 1967, quando Cícero, aos dezesseis anos, troca a adolescência, os coleguinhas medíocres, os filhinhos de papai no Anchieta, os adolescentes bandidos da Nova Cintra e as quengas da vida, pelo convívio com homens feitos, calejados, colegas de academia militar.

A partir daí, todo e qualquer aprendizado, bom ou ruim, passa a ser filtrado pelo crivo do berço e da caserna, sobrando sucateado ou incorporado.

Ocorre, como em qualquer profissão, os bons e maus profissionais, os mais ou menos proativos, os justos e os injustos, os de excelência e os medíocres, os arrogantes e os humildes. Porém, uma academia policial militar difere de uma escola ou faculdade por adentrar na raiz do caráter humano, construindo ou sugestionando reforma da personalidade, tornando-a favorável à ambiência social: essência, objeto, meio e fim da atividade policial militar.

É o exercício da doutrina do homem como animal político, estabelecida por Aristóteles (384 – 322 a.C.), que preconizou também, o tripé ideal do ser humano: ética, política e poética. Assim, por silogismo, podemos inferir na polícia militar ideal: humanizante e humanizada.

Uma das aulas magnas da academia ocorreu em meados de 67.

Para melhor avaliar a amplitude desta lição, temos de dimensionar a distância hierárquica entre um simples cadete e um coronel. Corresponde a vários interstícios entre os vários patamares que os separam: algo da ordem de 25 a 30 anos de serviço, de maturidade, de profissionalismo, de caldeamento de conhecimentos, de sorte, de vitórias e de conquistas.

Passa pela distância estratosférica entre o cadete aluno e o coronel comandante da academia, tanto que, ao aluno era denegado o direito de transitar pelo prédio do comando...

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Eis que, num belo dia, tropa de uniforme de educação física, surge o coronel comandante que, em pessoa, assume o comando e diz:

- Esta sucata de tratores, bem na frente do quartel, está enfeando nossa casa.

- São carcaças pesadíssimas, mas com a ajuda dos senhores, no braço, vamos levá-las lá para os fundos.

- Comigo!

Comandar não é mandar: é se fazer líder. E, a distância entre o líder e o liderado, não é distância, é uma proximidade fraternal, de confiança e de sinergia. Daí a máxima de que comandar é uma ação solidária e fraternal.

Esta foi uma das lições do comandante Ellos Pires de Carvalho...

Aos olhos do mundo civil, o meio militar é permeado do paradigma: “manda quem pode, obedece quem tem juízo...”

Enorme engano. Muito pelo contrário. O mundo militar é estratificado sobre o conhecimento, a vivência e a experiência... Daí a ordem, a disciplina e a própria hierarquia. Daí também se depreende a essência militar como amálgama da atividade policial.

Este paradigma é realidade maior no mundo civil, em empresas celetistas (de CLT), em que o poder discricionário é tão grande quanto a boçalidade do chefe e onde a administração autocrática constitui marca registrada dos incompetentes. Sofre aqui os não bajuladores, os não subservientes, os verdadeiramente competentes e as mulheres sérias. Por via de regra, o mérito que guindou a pessoa à graduação, ao posto ou ao cargo, explica e justifica suas atitudes, cabendo exaltar as poucas e pontuais exceções de posturas e administrações de excelência democrática. O status de medo ou de respeito do subordinado determina a resposta, a contrapartida, o grau de abnegação do profissional para com sua organização.

Não houve acampamento no ano de 1967, para felicidade dos alunos do primeiro ano do CFO (onde se situava Cícero) e para recalque maior dos veteranos do segundo ano. Em 1968 o acampamento foi ressuscitado.

Por acampamento se entende cinco dias de exercícios militares, cinco dias sem dormir, cinco dias sem tomar banho nem trocar de roupa, cinco dias comendo o pão que o diabo amassou.

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Por diabo se entende os alunos veteranos, digo superiores.

Historicamente, o acampamento ocorria em agosto ou setembro, período de lua nova, de final de inverno austral, de dias bem quentes, noites muito frias e de chuva em penca.

Seguindo a BR-3, passando pelo trevo de Ouro Preto até o Balneário de Água Limpa, entrava-se uns cinco quilômetros à esquerda, picada carroçável, região de montanha, totalmente desabitada e inóspita, na divisa dos municípios de Nova Lima e Itabirito. O tal balneário de Água Limpa fora criado em 1953, às margens da BR-3, pela Construtora Alfa, com finalidade de ajudar a financiar a campanha de JK.

Entre uma turma e outra, o Capitão Campolina dá a instrução de metralhadora Madsen já montada no tripé, posicionada a uns duzentos metros do alvo, onde dois alunos do primeiro ano colavam as umbrelas (pequenos discos de papel que, aplicados sobre os furos dos tiros, restauravam a integridade do alvo). Junto ao alvo, era construída uma vala (trincheira), para abrigo dos coladores de umbrela, quando do sinal dos disparos, avisados antes e depois da saraivada, por um silvo longo de apito.

- A Madsen é dinamarquesa, projeto de 1902, usa a mesma munição de nossos fuzis, alcance de dois mil metros, dispara quatrocentos tiros por minuto... Continua o instrutor Campolina para atenção dos alunos do CFO-2B.

- a melhor posição de tiro é deitada, de bruços, pés afas-tados, calcanhares ao chão, ponta do dedo no gatilho, cabeça lateralizada, um olho no inimigo, outro na alça de mira devi-damente alinhada com a massa de mira e...

Rá, tá, tá, tá... (Rá, tá, tá, tá) Os estampidos ecoavam duas a três vezes pelos grotões da montanha.

Os coladores de umbrelas caem no fosso... Capitão Campolina fica mumificado. CFO-2B está atônito. Silêncio sepulcral...

Alguns eternos segundos se passam, até que quatro mãos pálidas acenam de dentro do buraco.

Mestre Campolina era um excelente pescador...

A fila do rancho é enorme, sol a pino, capacete de aço derretendo, fuzil pesadíssimo, estômago saindo pelas costas. A tropa vai passando o prato de alumínio retirado do bornal e o

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caneco do cantil. Os soldados auxiliares de cozinha vão servindo... Feijão, arroz, macarrão, carne cozida amarrada com os próprios nervos e leite ao pé da vaca, pois ainda quedava quente.

Cícero senta no chão, capacete ao lado, fuzil sob as pernas e começa a saciar a agonia da fome. Percebe que pontos brancos na comida, parecidos com raspas de queijo minas, têm a capacidade de se locomoverem: são larvas brancas, saídas de não se sabe onde, jogadas, discretamente, às formigas...

Deviam ser umas oito ou nove horas da noite. Os cadetes do segundo ano estavam deitados nas camas de campanha, dentro da escuridão de dezenas de barracas de lona verde. Do uniforme e do armamento, só o capacete poderia ser retirado. O fuzil, objeto de furto dos superiores para provar a negligência do subordinado, dormia sobraçado, preso nas entrecoxas, reclamando das ereções espontâneas.

Houve ordem do segundo ano se reunir, no prazo de um minuto, na praça do acampamento. O acampamento militar segue a ciência das aldeias indígenas, com uma praça central a partir da qual gravitam as malocas. A praça, o rancho, a enfermaria e a barraca dos oficiais eram iluminados por gambiarras, alimentadas por um pequeno motogerador. As barracas dos alunos ficavam às escuras. Eram proibidos lampiões, lamparinas e velas. Em cada uma delas se colocavam dez camas de campanha, muito parecidas com cadeiras tubulares de praia. Não havia colchão, só uma lona permeável ao frio e à umidade.

O horário de silêncio, de 22 às 06 horas era religiosamente respeitado. O período para dormir não, pois quando o aluno não estava empenhado no serviço de guarda do acampamento, estava alocado em alguma operação noturna ou, simplesmente, era chamado a cada duas/três horas.

As três turmas do CFO-2 foram postadas em coluna de marcha, duas colunas paralelas, todos com seus apetrechos, exceto lanterna, expressa e severamente proibida.

O Oficial e alguns alunos do quarto ano, estes com suas lanternas, foram capitaneando a coluna de marcha. Foram umas duas a três horas de marcha acelerada, subindo, descendo, tropicando, cruzando riacho, virando à direita e à esquerda, até parar sob forte cerração. O Oficial chama um dos alunos do segundo ano, dá instruções e se afasta com seus auxiliares.

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Meia hora depois, o tal colega comunica aos demais que a instrução recebida é de que todos devem se apresentar no acampamento antes de meia-noite. Onde é o acampamento!? Qual o azimute!?

Os cem alunos ficam polemizando. Os sargentões assumem a liderança, mas entre eles não havia consenso.

Os grupos foram abandonando o local, pelos 360 graus possíveis. Aloir, Cícero e Marcos compunham um destes grupos.

Caminharam a esmo, de olhos vendados pela absoluta escuridão, tateando o solo com a soleira do fuzil, até o sol raiar. Agora, providos de visão, escutam o barulho de caminhões, provavelmente da BR-3... Era da mineração do Pico do Itacolomy que, por si só, atestava um erro de 180º do grupo de combatentes.

Aloir se fez de estropiado e, carregado pelos dois companheiros, conseguiram carona até o trevo de Ouro Preto, na BR-3. De lá, usando o mesmo estratagema, conseguiram carona até próximo ao Balneário.

Chegaram ao acampamento a tempo da bóia. Houve grupo que chegou ao entardecer carregando, desfalecido, um de nossos colegas, o Tiãozinho. Marco Aurélio (Sapão), Fernandes dos Santos Costa (Papai Noel) e Lacerdino Ferreira Borges (Dino) foram os primeiros a chegar, não se sabe como.

Na penúltima noite, lá pelas duas horas da madrugada, diante das evidências do iminente desabamento do céu, o CFO-2 foi colocado em coluna de marcha, ora uma só coluna ou fila indiana. Os alunos foram conduzidos mato adentro, sob o fogo cerrado dos trovões e dos relâmpagos.

A chuva de granizo desabou. A água invadia o corpo e a alma. As mãos tinham de encontrar um bolso para não se machucar. O capacete de aço dava a exata sensação da cabeça dentro de uma pipoquete. Claudionor (Dulinha), logo à frente de Cícero, esbravejava sob a mordaça da tempestade:

- Pqp! Que merda, sô! Isto não é vida! Vou desertar, não volto nem para pedir desligamento...!

“Dulinha” não parava de gritar, pedindo pela indulgência da expulsão...

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Lucas (vulgo dispensado), logo à frente de Claudionor, respondia aos brados do colega, virando a cabeça ora para um, ora para outro lado:

- Eu devia quebrar uma perna, um braço, baixar à enfermaria, ao hospital! Nunca mais apareço!

Cícero gargalhava de mijar.

No ano de 69, quando a turma de 70 estava cursando o terceiro ano, as circunstâncias, os entreveros e as beligerâncias foram as mesmas. Apenas duas exceções merecem registro.

Por estarem no quarto ano, a turma de 1969 foi mais boçal na pista de aplicação, exigindo o impossível no desempenho dos demais alunos.

Pista de aplicação consiste numa sequência de terrenos e de obstáculos simulados, a serem vencidos num determinado intervalo de tempo. São exemplos de etapas da pista de aplicação: rastejar sob uma manta de arames farpados, distanciada um palmo do solo; pular um córrego de três metros de largura sem pisar na água; transpor terreno alagado pendurado na corda do Tarzan; subir por uma corda fina e lambuzada de lama ou pelo pau de sebo; transpor um muro de três metros; rastejar em pântano; carregar o colega em terreno pantanoso; transpor os desafios psicológicos, ouvindo, dentre outros, os seguintes elogios:

- muxiba, mequetrefe, banana... Quem não terminasse a pista no tempo estipulado, ou seja,

todos, era obrigado a repetir, repetir até marejar lágrimas de sangue.

Outro destaque consistiu no ataque dos inimigos. Inimigo era um grupo de alunos do quarto ano que, utilizando de táticas de guerrilha rural, deveriam fazer o máximo de prisioneiros, invadir e “tomar” o acampamento. Os prisioneiros feitos pelos “inimigos” seriam punidos com a detenção quando da volta ao quartel.

O aluno Xisto, cadete do quarto ano, estava no comando da guarda do acampamento. Dentre os comandados (uns dez a quinze dentre os melhores pit bulls) estava Cícero.

O resto da tropa havia saído na captura dos ferrenhos inimigos.

A proximidade ou não dos inimigos era evidenciada pelo estouro de bombas de guerrilha, fabricadas com bambu-imperial, pólvora e cordel detonante: os colmos de bambu grosso eram recheados, um a um, com pólvora, mantendo o cordel detonante atrelado ao pavio de maior ou menor comprimento, determinando, aqui, o tempo para sua explosão.

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Lá pelas duas ou três horas da manhã, após extenuante sinfonia de câmara de sapos, pererecas, grilos e alguns parcos e distantes estampidos, uma dessas bombas, em cometa, descreve um arco no céu e cai na praça do acampamento. O Cadete Xisto se apressa a chutá-la para longe... Para longe foi o próprio cadete, já sem a bota que se desintegrou, assim como dois ou três artelhos e o resto de seu pé restou dilacerado, queimado e ensanguentado.

Cel. Ellos, comandante da Academia, levanta de seu alojamento, manda o médico, a bordo de um Jeep, acompanhar Xisto ao Hospital Militar. A seguir, noutra lição, reúne toda a tropa, amigos e inimigos, e faz uma preleção curta e grossa:

- Faltam três meses para o Cadete Xisto se tornar oficial. Se ele chegou até aqui, foi por mérito. Ele não tem mais condição física para sê-lo. Temos, nós todos, de fazer tudo para que ele seja declarado aspirante.

Xisto foi declarado aspirante, no gabinete do comandante do DI, três semanas após a formatura de sua turma.

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CAUSO Nº 86 - Quem se lembra do Meninão?Por Soares

 

Gosto de contar as façanhas do Jackson, que não são poucas.

O Jackson não é o caçula da Turma de 70 (caçula é o Vitor), mas é um dos mais novos.

Junto conosco, entrou no DI em março de 1967, dias antes de completar os dezessete anos de idade. Por que ainda tinha aquela cara de quase-garoto, bochechas rosadas, imberbe e, no entanto, já meio compridinho, isto rendeu-lhe o apelido de “Meninão”.

Um parêntesis, só para dizer que o Jackson é um querido amigo e um companheiro cuja vida profissional – mesmo na fase pós-reserva – veio seguindo em paralelo com a minha, em inúmeras circunstâncias.  Mas isto é outra estória e nem por isto vou poupá-lo.

Eu nunca o chamei de “Meninão”. De mim, ele até mereceu foi um outro epíteto mais adequado, o de “Troglodita”, pelo corpanzil que desenvolveu depois de formado, bem como pela descomunal força física, e por alguns fatos de que foi protagonista, demonstrando o seu vigor corporal meio estouvanado.

Vejam só esse exemplo.Nos velhos tempos de tenente, vinha ele de Vitória para Belo Horizonte em seu Chevette bege, novinho em folha, envenenado... Envenenado pelo seu pé que foi sempre muito, muito pesado. Até hoje, ele anda no trânsito de BH lépido como um “trenzinho-fantasma”. Perguntem à Marisa sobre a quantidade de sustos que leva. Eu já levei alguns.

Vinha, pois, ele dirigindo o carro; com a empregada na frente a seu lado e a esposa Marisa cuidando do garoto Dudu (hoje, doutor Eduardo) no banco de traz. Cansado por uma estrada que era longa e chata, de repente a vista enviesou e ele teve um sonho que o carro saltava por sobre um barranco e partia em direção ao tronco de uma árvore.Rapidamente, em meio aos solavancos do veículo ao transpor o acostamento, descobriu que o salto no vazio era uma realidade imediata a ser enfrentada.

Pois o Jackson firmou-se no volante e resistiu ao forte impacto na força de seus braços. O carro bateu na árvore e o volante dobrou-se entre suas mãos crispadas como duas tenazes até encostarem-se ao painel do carro, mas acreditem ou não, o seu peito não chegou a tocar (como seria de esperar) na coluna  da direção... e o nosso “troglodita” saiu ileso, sem um arranhão.

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Coisa de gente forte, como esta, ao que sei, só aconteceu na Turma com o “Guinchinho”, o patola Antônio Luiz Andrade. Consta que ele vinha de Barbacena, noite adentro, quando, por um fenômeno similar ao do Jackson, o seu fusquinha desobediente saiu da estrada e foi parar no meio do mato. Como as rodas giravam, giravam e não conseguiam aderência para voltar de ré, o jeito que achou o nosso companheirão foi de trazer o carro no muque (isto mesmo, no braço) de volta para a estrada. Acho que o fato foi testemunhado pela esposa. A partir daí é que lhe veio a merecida alcunha: Guinchinho”.

Mas voltando para o caso do Jackson, que não pode ficar em suspenso, saibam que a empregada e o Dudu se salvaram sem ferimentos: ela milagrosamente protegida por um grande travesseiro que trazia no colo e o Dudu pelo espaldar acolchoado do banco dianteiro. A Marisa não teve tanta sorte. Arremessada para frente, atravessou espremida entre os dois bancos e, como resultado, teve que levar uns trinta pontos no o rosto. (O correspondente, imagino, aos pontos que perdeu o Jackson como marido displicente.)____________

Em geral, meus casos sobre o Jackson são um pouco do que me contaram e um pouco daquilo que, de sua própria boca, ele admite. Outros eu mesmo assisti de perto, como o da Supervisão Técnica da Diretoria de Finanças na Cia PFem.

Éramos já capitães na DF e estávamos lá na Companhia de Polícia Feminina absortos nas tarefas de análise de processos e revisão de procedimentos administrativos da novíssima Unidade. Fora-nos reservada uma sala apropriada à concentração, separada do ambiente geral por uma parede de vidro tipo blindex. Ali se desenvolvia o trabalho.

De repente, o Jackson se lembra de alguma coisa que tem que fazer lá fora e, no seu estilo "apavoradão”, se levanta atabalhoadamente partindo como um bólido em direção a porta de vidro, que não percebe estar fechada.

E quem foi a pobre porta para resistir ao impacto... Ela se espatifou e só pode mesmo, como vingança, deixar um talho no braço do agressor, rompendo-lhe um vaso que passou a esguichar sangue pra todo lado.

Depois de um natural pânico inicial, rapidamente alguém estancou o sangue. Mas mesmo assim, enquanto não vinha o socorro definitivo, o Jackson ficou semi-desfalecido em uma cadeira, trêmulo e branco como cera.

Nestas alturas –  quero dizer:  depois de tantos anos transcorridos –, acho que não é impróprio lembrar aqui uma imagem que me ficou gravada na mente: é a daquela policial bonita, linda mesmo, que ficou lá assoprando carinhosamente uma xícara de chá quente para “tratar” do gigante derreado de beiços brancos, enquanto não chegava o transporte para levá-lo ao HPM. (Pra falar a verdade, deu inveja!)____________

Em algumas coisas, o Jackson é mesmo incorrigível.

Trombadas com ele eram frequentes e, segundo me confessou, em outra ocasião já havia trincado uma parede de vidro (e a testa) no saguão de estação rodoviária.

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No mais, o nosso amigo é um lutador e um vencedor.

Só tem isto de querer levar tudo no peito: além dos percalços e das vicissitudes próprias da vida, esta coisa que parece uma espécie de fixação por atravessar fisicamente árvores, portas e vidraças.

Esse, o nosso Jackson; ex-“meninão”, mas, a meu ver e sentir, eternamente amigo e “troglodita”.

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CAUSO Nº 87 – Antes da Aurora II - Um Lutador Temerário

Por Soares

A nossa memoria nos impõe algumas limitações interessantes.

Por exemplo, me lembro como poucos detalhes de uma aula de judô, no primeiro ou segundo ano do CFO, em que o saudoso mestre Albano colocou-me em confronto com o Araujo, o forte “Cordoba”(excelente colega, também ora falecido).

Com certeza deveríamos ser de categorias de peso diferentes e por isto passei uns bons apertos em suas mãos, mas pelo menos não fui vítima daqueles temíveis Kataguramas, Osotogari  ou outros bichos parecidos... Ao que sei deu empate.

No entanto, me lembro com detalhes de histórias de tempos mais antigos, provavelmente porque foram produtos de lances mais marcantes e sofridos.

Permitam-me pois, os amigos de 70, dar mais um salto no tempo, passar por sobre as experiências do CFO, e retornar ao inicio do ano de 1966, quando era ainda recruta do BEs.

Nossa vida inicial na PMMG nunca foi realmente fácil. De mim, posso dizer que tive as minhas duras lições de caserna sentidas no lombo pouco afeito aos rigores militares...  Outras as senti no fígado, – literalmente!

A minha Escola de Recruta era a do Sgt Castor (embora devesse dizer do Aspirante Porfírio, que eu muito pouco via). Naquele tempo, diziam na PM que o “sargento” era a “mola mestra” da Unidade. E era mesmo. No BEs, todas as “escolas” eram desenvolvidas basicamente pelos sargentos, calcadas fortemente na instrução física e militar.

Por razões que desconheço, andei tendo aulas com o Sgt Cruz, um baiano (se bem lembro), moreno, troncudo, de porte atlético, ao estilo Mike Tyson. A comparação é precisa, até por que ele era realmente um lutador de boxe. Tinha a cara larga e aquele nariz achatado, bem característico dos praticantes do esporte.  Consta que, antes de ingressar na PMMG, ele fora um boxeador profissional, com larga atividade no Ginásio Paissandu –  templo do esporte especializado em BH, então situado no local onde veio a ser construída a Estação Rodoviária,

 A primeira aula da manhã naquele dia era seu encargo e transcorria num cantão afastado do quartel.  Havia uma primeira parte teórica que era para mim, recruta

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desinteressado, uma pura e fastidiosa lengalenga. O boxe seria a coroação da aula e, como sinal disto, lá estavam os pares de luvas, no solo, à espera.

Sentados no chão, enquanto ele falava, eu comecei um papo sussurrado lá atrás com um colega qualquer, que tinha provavelmente o mesmo nível de interesse que eu na aula.

 De repente, o sargento alterou a voz em minha direção.

 – Você aí, florzinha, quer calar a boca?

Olhei pra ele entre desafiador e interrogativo.

– É...  você mesmo, florzinha; cale a boca.

O sangue ferveu. Sempre fui pacato, vocês me conhecem. Mas todos temos o nosso ponto de ebulição, que chega quando mexem, por exemplo, com a nossa masculinidade. E então tomamos atitudes que não são as usuais.

(Lembra-me isto um episódio dos tempos de menino. Pacato como sempre, cheguei até a adotar atitudes meio cobardes, como escrever na pasta escolar: “Não sou de briga”... Foi o que aconteceu lá pelo terceiro ano de grupo, por que um tal de Geraldo, um pouco mais velho, cismou de me perseguir e queria me “pegar” de qualquer jeito. Fugi enquanto pude, mas um dia, na saída, fui cercado por ele. Não teve jeito. A turma em volta exigiu o confronto: “–  Marinquinhas, tem que lutar!” Pois é... não teve jeito... mas saibam que o tal Geraldo nunca apanhou tanto na vida dele.)

Voltemos

O sangue ferveu, mas eu não era besta. Naquelas alturas da vida militar eu já sabia que mandar um sargento à p.q.p. equivalia a exclusão sumária.  Pus-me então a encará-lo fixamente... o pescoço esticado... a cabeça em pé...  o olhar mais do que desafiador, provocativo mesmo. Era como se eu o estivesse “chamando no braço”.

E foi isto que ele entendeu:

– O que é... não gostou? Quer colocar as luvas pra tirar o  problema a limpo? Convidou

– Quero! Disse eu, insensatamente, já me levantando.

A desproporção de peso, de experiência, de preparo e de talento não deixava nenhuma dúvida sobre o resultado daquele iminente embate. Mas eu jamais poderia conviver com aquele “florzinha!”.

 Não foi realmente uma luta. Ele ficou brincando comigo, mais ou menos daquele jeito que se vê entre o gato e o rato. Balançava-se à minha frente e desviava meus golpes com facilidade. Oferecia a cara sorridente e eu “mandava o braço”... bufava de vontade de acertar naquela carantonha  cínica e detestável pelo menos um golpe!

 E a coisa ficou assim por cerca de uns dois minutos, até que ele decidiu encerrar a luta. Balançou-se um pouco mais rápido e vi o seu corpo descrever um círculo à minha

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frente... e a mão pesada explodiu-me na região do fígado. O tempo escureceu de repente e o ar sumiu dos meus pulmões.

 Os joelhos dobraram e fiquei nesta postura, curvado, por bom tempo, até recuperar o fôlego.

E aí o encarei novamente, com o mesmo olhar desafiador, sem me dar por vencido. Agora, estava duplamente ferido. “Quer continuar?”, perguntou. “Quero!”, disse eu, ainda com a voz meio fraca, esganiçada, mas pondo na cara a maior ferocidade de que fui capaz.

Claro que era uma atitude totalmente louca. Foi o que ele também achou. E disse meio sorrindo, já de forma bastante amável e conciliadora:

– Não, não. Escolha um outro colega aí no pelotão.

O orgulho ferido não me deixava margem à prudência. Escolhi o maior: o Alberto (acho que é esse mesmo o nome), um grandalhão, gente-boa, que formava na testa do pelotão.

Colocaram nele o par de luvas e eu parti pra cima.

Mas, durante todo o tempo, ele mais fugiu e se defendeu do que me atacou. Talvez que, apesar de grandão, ele não fosse lá muito afeito a lutas; ou simplesmente estava-me “respeitando”.

Nestas alturas, o Cruz também, nitidamente, estava respeitando a minha imprudente bravura e cessou de vez a peleja.

...

Contar aventuras pessoais é quase sempre  um ato pendular entre venturas e desventuras, entre glorias e humilhações. Eventualmente este relato pode até parecer um cortejo à desventura. Nada disto. Devo dizer que desta vez o que sobreveio mesmo foi um bom tempo de glórias para mim.

Mesmo perdedor da luta contra o Cruz, todos, inclusive os demais instrutores (a quem ele deve ter relatado positivamente a peripécia), passaram a me ver de uma forma diferente. Algo como “gente que não leva desaforo para casa”.

O próprio Sgt Cruz, nos encontros eventuais de pátio do quartel, passou a me tratar muito amistosamente, o que correspondia, na situação, quase que a um pedido de desculpas pelo “florzinha!”. E eu, até por índole, me esqueci rapidamente do meu motivo de raiva.

Uns poucos meses depois, início de 1967, fui guindado ao CFO e a luta pela afirmação continuou em um outro nível. 

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***

Disse Dom Pedro Calderon de la Barca que "a coragem é filha da prudência e não da temeridade".

Pois pelo menos naquele caso, por caminhos trasnversos que sejam, a temeridade acabou dando certo para mim; e passou a ser um símbolo de coragem.

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CAUSO Nº 88 – O tombo do mestre Courinha

Por Luiz Vitor

  Seguindo o exemplo do Soares, resolvi contar um Causo dos meus tempos de Escola de Formação Musical do BG.

Antigamente a PMMG recrutava meninos de 13 a 15 anos para suprir a Orquestra Sinfônica e as Bandas de Música da Corporação, em Belo Horizonte.

Esses meninos já eram incorporados como Recrutas, com o vencimento equivalente a 80% da salário de um Soldado de primeira classe. Era uma fortuna para a criançada, que jamais havia colocado as mãos em tanta grana. Nosso primeiro salário, lembro-me muito bem, era de Cr$ 53.000,00 (cinqüenta e três mil cruzeiros). Era mais que o salário mínimo da época, que girava em torno de R$ 42.000,00.

O último desses recrutamentos ocorreu em 1965, quando eu contava com 14 anos e portanto um potencial candidato, já que minha origem era de uma família de muitos músicos da Corporação.

Não deu outra. Candidatei-me e logrei êxito, sendo aprovado em primeiro lugar.

Iniciamos nosso curso então, no dia 13 de Setembro de 1965, data que passou a ser o meu marco inicial na corporação. Foi por isso que saí antes de muita gente da turma. Em 1995, época das promoções dos Asp70 ao último posto, eu já estava terminando de cumprir minha missão na PM, e talvez tenha sido prejudicado nessa promoção, mas não me arrependo, pois os meus dois anos iniciais na PM me deram conhecimentos, que ainda hoje os utilizo no meu dia a dia, com muito orgulho e alegria: A música.

Aliás, abro aqui um parêntesis, para agradecer ao Dauri, que nem deve mais se lembrar, mas foi ele que um dia, na Academia, me questionou sobre os meus conhecimentos musicais, apresentando-me uma partitura e pedindo-me para solfejá-la. Acho que queria me testar. Quando ele percebeu que realmente eu entendia daquele emaranhado de símbolos, parecendo escrita Grega ou Japonesa, cheio de bolinhas brancas ou pretas, com rabo ou sem rabo, com claves e pentagramas, aconselhou-me veementemente a nunca abandonar esse conhecimento, pois seria um grande desperdício. Essa expressão “grande desperdício” ficou incrustada na minha cabeça , e foi o suficiente para alavancar-me do marasmo, que àquela altura da minha vida, já se apresentava em relação à música.

Lembro-me disso com muito carinho, pois foi a partir desse momento, que eu resolvi manter-me atualizado musicalmente, embora de forma amadora. Isso me traz muitas alegrias até hoje. Consegui até compor uma música, que certamente vai deixar o meu nome, ainda aceso por muitos anos após a minha despedida: Trata-se do hino do

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BRP, feito numa época de muita vibração, que virou depois, Hino do Batalhão Fernão Capelo, Unidade de treinamento dos Cadetes do CFO, que é entoado com garbo na academia, diariamente, antes que a tropa parta para sua missão pelos bairros de Belo Horizonte, onde executam missões policiais supervisionadas, a título de treinamento.

Apresento aqui apenas o estribilho da Canção que os Cadetes cantam fervorosamente antes de saírem para suas Missões:

“Minha farda simboliza, ..............Liberdade e muita pazorporação, vamos ao Causo que me lembrei dos tempos Eu trabalho tendo em mira a justiça............................................................ .............Sou um Patrulheiro audaz”

Após esse preâmbulo dos meus primeiros tempos na Corporação, vamos ao Causo que me lembrei dos tempos de Escolinha.

        Tínhamos um mestre de música chamado Mauro Coura Macedo, que chegou a lecionar para nós Cadetes, que compúnhamos o Coral do DI. Portanto, todos devem se lembrar dele. Era profissional altamente competente e zeloso de seu mister.

Diuturnamente empenhava-se em transmitir-nos os mais sólidos conhecimentos musicais, de forma a provermos a Orquestra Sinfônica e as Bandas da PM, com qualidade e esmero.

          O mestre sempre chegava com sua pastinha debaixo do braço e depois de um “Bom dia Classe”, desabava na cadeira do professor. Sentava com vontade.

          Lembrem-se que éramos crianças de 13 ou 14 anos e dêem o devido desconto nessa peraltice.

Certa vez eu e mais dois colegas programamos uma recepção diferente para o nosso mestre Courinha.

          Após o término do expediente, quebramos um dos pés da cadeira do professor e o encaixamos de novo, para parecer que estava perfeito. Sabíamos que ele se sentava com vontade ao início das aulas.

          No dia seguinte, após a chamada, o Xerife nos encaminhou para a sala e ficamos aguardando a entrada do Professor.

          Somente nós três sabíamos da tramóia.

          Com a maior cara de Santinhos ficamos alertas aguardando o que iria acontecer.

          Não deu outra. O nosso querido mestre entrou com toda simpatia que lhe era peculiar, postou sua pasta sobre a mesa e sentou-se de uma só vez.

          Foi uma cena incrivelmente hilariante. O coitado do professor sentou-se com tanta vontade que não teve outro jeito. Caiu de uma só vez.

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          Nós alunos não víamos mais seu rosto. Apenas conseguíamos ver suas duas pernas a balançar por cima da mesa. Ele ficou literalmente de cabeça para baixo.

          A turma ao invés de socorrê-lo, entrou em estridente gargalhada.

          Aos poucos o mestre foi se levantando e passou a olhar-nos por trás da mesa, aparecendo somente sua testa e olhos, fuzilando-nos a todos.

          Levantou-se furioso, não sei se por causa das risadas da turma, ou por causa do inexplicável tombo e passou a vociferar pra cima de nós: Estão todos detidos !

          Foi um pandemônio. Alguns começaram a chorar copiosamente porque iriam chegar tarde em casa e jamais tinham ficado detidos.

          Os peraltas da turma não se abalaram muito, pois já tinham o costume de ficar detidos e pasmem: Gostavam disso porque ficavam jogando bola a tarde toda.

Depois do susto, o Professor se refez e deu a sua aula normalmente sem problemas, mas manteve realmente a ordem de detenção coletiva.

Esse alvoroço durou alguns dias, com a turma querendo descobrir os autores da peripécia, mas aos poucos, foi tudo serenando e voltamos à normalidade do dia a dia.

Até hoje, 47 anos depois, quando nos encontramos, ainda lembramos do episódio, com grandes gargalhadas.

O nosso querido Professor Mauro Coura Macedo já se foi. Que Deus o tenha em seus braços.

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CAUSO Nº 89 – O CoralPor Procópio

          Dizem que uma história puxa outra, ou seja, um "causo" desencandeia outro. Verdade ou não, deixo a discussão em aberto, pois existe controvérsia.

          O certo é que lendo a façanha do Luiz Vitor nos tempos da escolinha de formação musical, veio-me à memória um fato acontecido no CFO, não me lembro a data, nem o ano que cursávamos, só o fato.

          Houve uma ocasião que recebemos ordem de passarmos na sala reservada ao cassino dos cadetes, no prédio do antigo internato, e deveríamos nos apresentar ali a um maestro que faria uma seleção para compor o coral do antigo Departamento de Instrução ( hoje Academia da Polícia Militar).

          Por lá foram passando os cadetes, um a um, iam fazendo seus testes. Ao chegar a minha vez tentei de todas as formas pular fora, pois não tinha o menor pendor musical, mas não teve jeito - ordens são ordens - e lá fui eu.

          Adentrei a referida sala e lá estava, junto a um piano, o tal maestro que foi logo dizendo que eu deveria acompanhar, com a voz, os tons que ele produzia ou as notas que ele tocasse, sei lá.

          Fiquei ali, de pé, ouvindo, sem nada entender, e comecei, titubeante, a emitir, a medida em que o maestro tocava as teclas do instrumento, alguns sons: dó, ré, mi.

          De repente ele, o maestro, parou exclamando:

          - Não é possível, você está brincando comigo! Na hora que estou subindo, você está descendo e quando eu desço você sobe. Só pode ser brincadeira.

          Enquanto falava, olhava-me com cara de poucos amigos, pronto a espinafrar-me.

          - Vamos tentar outra vez.

          Mas não havia sá Maria, nem reza, que me fizesse atinar com o compasso do maestro. Quando ele estava no dó eu estava no ré, se ele estava no mi, aí eu estava no dó.

          Depois de muito insistir comigo, o homem pareceu compreender e, com dó, dispensou-me. Tratei de sair dali às pressas e aliviado, pois de música e de canto não entendo nada. Não sei cantar nem no banheiro.

          Aliás, nesse sentido, pode socorrer-me o Soares, que lá nos tempos de BEs, já dizia: - Pô!... O Procópio desafina até quando assobia.

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CAUSO Nº 90 – A pescariaPor Procópio

 

          O fim de semana aproximava. Sem ter nada para fazer, combinamos uma pescaria lá para as bandas do São Francisco, eu, Watanabe, o Soares e o Zé Roberto.

           Saímos cedo de Belo Horizonte rumo a Bom despacho. De lá, acompanhados do Zé Roberto e do seu pai, este já de saudosa lembrança, fomos parar às beiras do Velho Chico, num rancho de pescadores que por lá havia.

          A turma chegou animada e logo preparou as canoas e redes e lá se foram rio abaixo a armá-las em busca dos peixes.

          Eu, como preferia a pesca de vara, passei parte da manhã e a tarde toda numa lagoa do outro lado do rio, pescando piranhas pequenas.

          Já perto do escurecer Zé Roberto e seu pai nos pegaram, a mim e ao Soares que havia aderido à pesca com vara, e atravessando o rio de volta, recolhemo-nos ao rancho. Aos costados o resultado da diversão: uma caixa de isopor grande carregada de piranhas.

          Por volta de sete ou oito da noite, com a lua cheia iluminando a pradaria, o Soares e eu resolvemos ir pescar em outra lagoa que ficava a algumas dezenas de metros da porta do rancho. Varas de pesca aos ombros, iscas, uma espingarda cartucheira de chumbo grosso que o Soares (extraordinário e emérito caçador) teimou em levar, lá fomos nós.

          Lagoa grande, noite de lua cheia, tudo estava propício para pescar bagres. Fiquei ali à beira da lagoa, pitando um “cigarrim” e dando banho na minhoca. O Soares, cansado de bater anzol sem nada pescar, passou a mão na espingarda e resolveu que era hora de caçar.

          Bem ali ao lado, a uns dez ou quinze metros, uma pobre saracura procurava alimentos, salta de um arbusto a outro, mergulha nas moitas, volta para os galhos dos arbustos, foi ela o objeto da sanha de caçador do Soares.

          Espingarda carregada, saracura na mira, partiu o tiro. Um estrondo ribombou, quebrando a calma e o silêncio que tomava conta do lugar. A saracura sumiu na moita à beira d’água. O Soares com ar de vencedor dizia: - acertei. Mas coitado, mal acabara de falar, surge a saracura nos galhos de outro arbusto. Um segundo tiro ecoou, a ave tornou a mergulhar no mato, para, logo depois, aparecer novamente. Veio o terceiro tiro e a saracura lá. Já nem se preocupava mais em esconder-se, parecia até brincar com o nosso amigo caçador e ficava pulando de galho em galho, de vez em quando mergulhava com

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certeza para catar alguma bolota ou pegar alguma piabinha que voraz degustava. Os tiros não a assustavam mais, passavam longe, tão bom era o atirador.

          O Soares, por sua vez, não desistia pelo menos mais três ou quatro disparos foram efetuados e a avezinha lá intacta. Sinceramente, nunca vi em toda a minha vida um atirador de tão bom calibre.

          Por fim, porque a munição acabou ou porque o sono já batia às portas o nosso emérito caçador parou. Eu fiquei olhando, que com tanto barulho, por certo peixe nenhum viria ao anzol.

          Juntamos as tralhas, a espingarda e voltamos ao rancho. Eu sem peixe e o Soares sem a caça.

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CAUSO Nº 91 – Por um "macaco" paga- se um "mico"Por Procópio

Por um “macaco” paga-se um “mico”

 

            Dois pedaços de tronco de árvore fincados no chão e encimados por uma tábua que a eles era unida por pregos. Ficava ali no passeio de terra batida, colocado entre duas birosqueiras que se pela manhã permitia que o sol o banhasse, à tarde oferecia refrescante sombra de suas copas.

            Alguém, jocosamente, lhe dera o nome de banco do conselho. Isto porque ali se reuniam os reformados do então 2º BCM (Segundo Batalhão de Caçadores Mineiro), nome estranho para os dias de hoje, mas não para aquela época.

            Os reformados, tanto oficiais como praças, reuniam-se em torno do banco para, pela manhã, “quentar sol” ou para aproveitarem, à tarde, a sombra das árvores e baterem um papinho descompromissado e rever os velhos camaradas ou, ainda, para discutirem questões e problemas de interesse comum. Daí a origem do nome. A verdade é que ali pululavam histórias, casos acontecidos, situações vividas nos tempos de caserna. Algumas verdadeiras outras nem tanto. Mas que faziam, quando contadas, a alegria e a felicidade dos velhos soldados.

            O banco do conselho! Foi em volta daquele banco, quando criança ainda, ouvi da boca de um dos freqüentadores, dos mais velhos por sinal, o caso que vou contar. Causo antigo, retirado bem lá do fundo do baú.

            Mas antes façamos aqui uma pausa para explicar o seguinte: à época do “causo”, o uniforme de instrução da então Força Pública de Minas Gerais constituía-se de gandola, calça e casquete de dois bicos, o famoso bibico, tudo feito de brim zuarte. Era um brim azul claro, mesclado de branco, tecido forte e resistente, por isto mesmo muito comum e usado à larga por diversos profissionais no estilo de macacões. Forçoso é explicar também, para quem não conhece, que o termo “macaco” é usado na caserna para designar a venda irregular de peças de uniforme, prática que já foi, outrora, muito comum entre praças.

                        Bem! Cumpridos estes breves esclarecimentos, necessários ao entendimento do que vamos relatar, voltemos ao “causo”.

            Naquele dia em particular, o pátio do batalhão estava azulado, fervilhavam os preparativos. Urgia fazer a chamada e prestar os anúncios, a unidade iria ser empenhada em exercício de campo: uma marcha a pé de vinte quilômetros até a localidade de Muçungê e após exercícios de maneabilidade. Era mister deixar a tropa adestrada,

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pronta para qualquer eventualidade, já que as comoções intestinas aconteciam com relativa freqüência naqueles tempos.

            Naquela faina, iam todos muito atarefados, quando adentra ao quartel um civil, o leiteiro. Conduzia este uma carroça de tração animal, cuja carroceria tinha o formato de um barril onde era colocado o leite e um dispositivo atrás com duas torneiras por onde se retirava o precioso alimento. Ao chegar nas proximidades da cantina, como era de costume, parou a carroça, procurando pelo soldado encarregado de receber o leite. Ora, este último estava formado no pátio interno, junto com o batalhão, integrante que era da CMP (Companhia de Metralhadoras Pesadas).

            Avisado de que teria que pedir licença ao comandante da companhia para que o soldado saísse de forma e fosse receber o leite, incontinente, o nosso leiteiro, aproximando, dirigiu-se ao referido oficial. Este, um primeiro tenente antigo de boa estatura, branco avermelhado, bem ao estilo lusitano, queixo luzidio e proeminente, apêndice que lhe valeu, posteriormente, um particular apelido, estava que era nervos só, verdadeira pilha, pronta a descarregar.

- Dá licença sô tenente.

            O tenente olha de lado e responde:

- Não! Nada de licença, entra em forma rápido.

- Mas é que eu...

- Não tem mais, nem menos entra em forma e não me amola.

- Mas...

- Já disse para entrar em forma. Entre em forma agora ou mando te recolher ao xadrez.

            O leiteiro ainda tentou falar, explicar o que fazia ali, mas o tenente, fazendo ouvidos de mercador, não o escutava e, além de mandá-lo calar-se, ainda ameaçava de fazê-lo recolher ao xadrez se não entrasse em forma.

            Homem simples do povo e com medo de ir parar na cadeia, que o tenente não estava para brincadeira, foi colocar-se lá atrás do último pelotão, a esperar talvez melhor oportunidade.

            Veio a ordem de início da marcha e o leiteiro lá atrás acompanhando o pelotão.

            Todos estranhavam a presença daquele paisano junto ao pelotão, mas era ordem do tenente e este, por certo, sabia o que estava fazendo. Melhor não se meter e deixar quieto.

            Por mais duas vezes o leiteiro, aproveitando os alto-horários, buscou se explicar diante do oficial, mas em vão, este não o deixava falar.

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            E assim foi: vinte quilômetros de marcha a pé, a carroça lá, parada, no quartel e a clientela aguardando o leite que não chegava nunca e o leiteiro desesperado.

            Atingindo o objetivo, encerrada a marcha, no descanso que precedia os exercícios de maneabilidade, o sargento auxiliar do pelotão, não conseguindo conter a curiosidade, foi conversar com o leiteiro que o colocou a par de toda a situação.

            Penalizado e acompanhado do leiteiro, o sargento vai até o comandante da companhia e pedindo licença explica o que estava se passando. O tenente virando para o indigitado leiteiro diz:

- Puxa vida! Por que você não falou sô?

- Eu bem que tentei, mas o senhor não deixou.

- Não, não! Mas você tinha que ter me falado... Poxa parece mudo, não fala nada... É nisso que dá... Está dispensado. Vai, vai... pode ir cuidar do seu leite.

            E o leiteiro, rápido que nem um raio desbancou-se dali em direção à estrada.

            Como fez para voltar ninguém sabe. Mas naquele dia, só mais tarde, bem mais tarde, uma figura vestindo calça, gandola e casquete de brim zuarte  -  fruto com certeza de algum “macaco” - conseguiu atender sua clientela que nervosa aguardava, impaciente, a distribuição do leite.

            Este “causo”, bem que encaixaria na categoria dos nem tanto, mas quem o contou jurava de pé junto e por tudo o que era de mais sagrado ser ele a mais pura e absoluta expressão da verdade.

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CAUSO Nº 92 – Pequenos, mas... com pau grandePor Procópio

                               Era mais um daqueles anos conturbados. O governo, chamado de militar, enfrentava uma de suas piores crises. Dias e mais dias de prontidão. Mal se podia passar algumas horas em casa. A vida, praticamente, se resumia ao interior dos quartéis.  A situação exigia tropa pronta para atender qualquer eventualidade. Corria o ano de 1968, estávamos, então, no segundo ano do CFO, o curso havia começado há poucos meses, estávamos em abril.

                        Foi neste clima que um dia, já anoitecendo, a corneta tocou no pátio do antigo Departamento de Instrução – prontidão formar - os cadetes apressados acorreram ao chamado. Tropa formada, feita a chamada, tudo pronto, embarcamos nas viaturas de transporte de pessoal e fomos levados para o centro da cidade.

                        Na Avenida Afonso Pena, no entorno da Praça Sete, uma multidão de pessoas agitada promovia manifestação em protesto contra o regime político imperante.

                        A Cia de cadetes, tropa bem treinada, foi colocada em forma e sob o comando dos oficiais executava as ordens e os movimentos com rapidez e precisão. Importava a demonstração de força e disciplina para impressionar e dissuadir a multidão. Dito e feito, diante do avanço da tropa toda aquela avalanche de pessoas dispersou-se pelas ruas laterais.

                        Arrefecidos os ânimos com a volta da ordem e da calma fomos divididos em pequenos grupos e distribuídos ao longo da avenida.

                        A orientação e ordens que recebemos, naquela ocasião, foram no sentido de efetuarmos patrulhamento e não deixarmos que se formassem grupinhos de transeuntes a conversar.

            Pressupondo-se ser, eu, o mais experiente, por ter mais tempo de praça, fui colocado como chefe de um grupo que foi postado no quarteirão onde se situava o hotel Normandi. Formávamos o grupo eu, Ari, Lúcio Emílio, se a memória ainda me anda por boa, e outro de quem ora, realmente, não me lembro.

                        Percorríamos o quarteirão em vai-e-vem, cumprindo tranquilamente a nossa atribuição quando um grupo de senhoritas, parando junto à guia da calçada, na confluência da Afonso Pena com rua dos Tamoios, conversava animadamente. Como chefe do grupo, aproximei-me delas e, educadamente, expliquei que não poderiam ficar reunidas ali conversando e pedi que elas continuassem a andar.

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                        O meu pedido foi prontamente acatado e elas puseram-se a caminhar, não sem antes uma delas olhar-nos fixamente e exclamar:

- Olha só o tamanhinho destes soldados... E que pau!

                         E a moça completou, arrematando:

-O pau deles é maior do que eles.

                        Logo após elas se foram, conversando ao longo da Afonso Pena em direção a Praça Sete. Quanto a nós, só nos restou sorrir diante da estranha e surpreendente observação. Realmente, não sobressaíamos pela estatura, mas também não éramos os mais baixinhos da Cia. E eu fiquei ali, pensando com os meus botões, imagine se elas deparassem com um grupo formado por alguns colegas lá da chamada “rabeira” dos pelotões.

                        Aí sim, razão lhes seria dada: pequenos, mas com paus grandes.

                        A título de esclarecimento, é necessário dizer que estávamos, todos, portando aquele antigo bastão policial de madeira. Era, realmente, um enorme pedaço de pau.

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CAUSO Nº 93 – Dois comensais aparvalhadosPor Soares

Se quiserem,  podem considerar estas linhas  como uma continuação do causo 75 -  “Um Padrinho em saia justa”.

Eu considero. Pois é uma  coisa que eu queria ainda contar pra vocês, inspirado naquele relato  de comilanças na casa do  Cumpadre Santos Costa.

 

Em sua amável vivenda da Rua Meca, hoje, tem finura de toda espécie;  e na cozinha tem a Fina (sem trocadilho!), a esposa diligente que garante o bom e o melhor, com o seu talento inigualável.

 

Mas houve tempo em que comidas finas e coisa e tal embatucavam a cabeça do Cumpadre. Vejam só.  (E saibam que foi ele mesmo que me contou.)

 

Em 1961, procedente  do 3º BPM, sediado na velha Diamantina, veio o Soldado Santos Costa dar com os costados  no DI para fazer o CFS (Ops!... desculpem, parece que houve aí mais um trocadilho.)

Com ele, veio o Soldado Jason.

Ambos,  especialistas nas culturas diamantinenses mas muito crus nas coisas da capital, viviam sonhando em fazer uma gracinha e ir jantar num restaurante “de luxo” do centro. Como resultado de suas conversas nesse teor, aparece na estória um primo do Sodado Jason, há muito residente em Belo Horizonte, que resolveu satisfazer a vontade dos dois e os  levou numa noite ao Restaurante-Pizzaria Giovanni, localizado na Avenida Afonso Pena.

 

Foi uma experiência gloriosa para eles. Gostaram demais daquele trem. Pizza! Nunca tinham ouvido falar. Combinaram que quando saísse o pagamento voltariam lá para comer outra vez aquela coisa deliciosa.

E assim se fez. Cerca de um mês depois,  pagamento no bolso, lembraram-se do trato feito e lá rumaram para o restaurante. Nem se agastaram por estar ali em suas fardas impecáveis e badulaques brilhantes de alunos do CFS, por que, na época, soldado não podia mesmo  andar à paisana.

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O problema real é que, na hora agá, se deram conta de que não mais lembravam o nome do tal prato.

E agora!?

Primeiro tentaram o óbvio, que é pescoçar as mesas vizinhas; mas não dava para “autoridades” fardadas  apontar o dedo para alguém que estivesse comendo pizza  e dizer “queremos aquilo...”

O Santos Costa então jogou a responsabilidade pra cima do companheiro:

– Como é mesmo o nome daquilo que comemos, Jason?

O colega, desmiolado, acuado,  coçou a cabeça, pensou um instante e titubeou:

– É... É... maionese!?

O Cumpadre virando-se  para o garçom:

– É. Uma maionese pra nós! E uma Antártica bem gelada!

O serviçal estranhou o pedido, mas, enfim, o cliente sempre tem razão.

 

[Ai é eu imaginando o garçom, entre desconcertado e divertido, chegando com a comanda lá para o pessoal da cozinha:  – Gente, tem dois pulícia aí fora querendo  comer maionese (!) Acho que vocês vão ter que se virar com o que sobrou do almoço...]

 

Demorou um pouco, mas acabou saindo a maionese.

Quando chegou aquele  prato de batatas cozidas com uma meleca branca misturada, os dois se entreolharam, mas ninguém se atreveu a dizer nada. Sob o olhar vigilante e interrogativo do garçom, o melhor era fingir que era aquilo mesmo.

Até que não estava ruim a tal maionese, principalmente por que acompanhada  daquela cervejinha sempre super gelada do Giovanni.

 

Não estava ruim, mas os dois tabaréus findaram aquela noite muito frustrados: com o sentido ainda preso naquele prato gostoso da outra vez...  

[– Raios! Como é mesmo o nome daquele trem?]

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CAUSO Nº 94 – Um Sargento ApimentadoPor Procópio    

     

          Este “causo” veio-me à memória há alguns dias atrás, confesso que fiquei indeciso se deveria contá-lo ou não. É uma história antiga que passando de boca em boca chegou ao meu conhecimento. O fato tem por ambiente temporal os anos quarenta e revela uma estória interessante, parte que é do anedotário que envolve nossa Corporação. E assim sendo... Bem! Ao final explico o porquê da indecisão. Por hora, vamos ao causo.

           O velho e experiente sargento tinha por costume, quando o serviço apertava, levar trabalhos para concluir em casa. E, assim, foi naquele dia.

           O anoitecer já batia às portas das casas, o sargento chegou sobraçando um calhamaço de papeis e depositou-o na estante que ficava a um canto da sala, junto a uma mesa com a velha máquina de datilografia. A intenção era terminar a última peça do IPM do qual era o escrevente. Bom! Depois do jantar atacaria de frente o trabalho.

          Depois de tomar um banho, terminado o jantar, como bom mineiro tomou um “cafezim”, foi até a varanda pitou seu “cigarrim” e, depois de cofiar o bigode, dirigiu-se para a mesinha, aquela da máquina de escrever, sentou-se e, diligentemente, começou a datilografar o relatório, cujo rascunho, já revisado, estava ali à mão. Ora, o trabalho havia de ser bem feito, nada de erros ou borrões, coisa que, para ele, seria imperdoável.

           Já ia bem adiantado no seu intento, quando o silêncio da sala foi quebrado, eram as comadres da casa que foram, justo ali, conversar.

           Assunto vai, assunto vem, conversavam sobre tudo, porque mulheres quando se juntam o papo é interminável. Vá lá explicar onde elas arranjam tanto assunto. É sair um e entrar outro.

           Lá pelas tantas, com as fofocas sendo colocadas em dia, entraram a conversar sobre comidas. As iguarias ficavam prontas num piscar de olhos e saltavam sobre a mesa, saborosas, de dar água na boca.

           Por umas duas ou três vezes, o sargento pediu, educadamente, que elas fossem conversar em outro lugar, pois estavam a lhe tirar a atenção com aquela faladeira, mas de nada adiantou. As mulheres, fazendo ouvido de mercador, continuavam, animadas, o bate-papo. Em dado momento, uma delas elevando a voz disse:

- Não! Comida chique, sofisticada, até que é bom. Mas delícia mesmo é uma comidinha caseira, simples, mas boa.

           Mal acabara de falar e outra completou:

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- É tem razão, um anguzinho com feijão, uma couve cortada bem fininha, um arrozinho fresco, tem lá o seu lugar.

           Logo uma outra aderiu:

- Realmente, viu, comida caseira tem um quê todo especial. Feijão com angu, por exemplo, é bom demais da conta, é muito bom mesmo.

           De repente, um estrondo ecoou na sala, o sargento nervoso, batendo as mãos na mesa vociferava:

- Vejam só o que vocês fizeram! Cansei de pedir para que fossem conversar em outro lugar, mas não, tinha que ser aqui.

           Incontinenti, tirou o papel da máquina e leu. Bem lá no final, quase ao pé da página, estava datilografado: “Isto posto, pelas provas contidas nos presentes autos de inquérito, conclui-se que feijão com angu é muito bom.”

           Naquela época não era como hoje um clique e tudo se resolve. Não! Todo o trabalho perdido. Teria que refazer tudo.

           Há! E as mulheres? Só então fecharam as matracas, colocaram as violas no saco e olhando de soslaio para o apimentado sargento, foram saindo de fininho, a continuar a conversa lá pelas bandas da cozinha.

           Luiz Vitor, ao contrário de você entendo que se o “causo” refere-se à história ou anedotário da PM, salvaguardado está o interesse e atendido o contexto.

           Quanto ao Soares, desculpas aí meu amigo pelo “causo”, não da década de cinquenta, e sim de quarenta, Mas, feijão com angu e couve – cortada bem fininha – realmente é muito bom.

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CAUSO Nº 95 – Aposição de descansar corretaPor Procópio

Uma bem curtinha – O Treinamento.

                       

                        Quem não se lembra dos treinamentos para desfile no antigo Departamento de Instrução. Naquela época tínhamos dois desfiles em que toda a tropa era empenhada: o de 31 de março e o de Sete de Setembro. Este relato tem como personagens os alunos do CFO, o ano é 1969, estávamos treinando para o desfile de, se não me engano, Sete de Setembro.

                        Como sempre estávamos nas mãos dos cadetes do quarto ano, turma muito grande, era quartanista que não acabava mais, para não fugir ao costume, eram eles que desempenhavam a incumbência de instrutores. Eu formava em um pelotão em que um aluno do curso líder dava os comandos e dois outros iam fazendo as correções necessárias. Se é que se pode chamar de correções, pois na verdade, errado ou não, gritavam a todo o momento, importava demonstrar que estavam se empenhando, já que o treinamento acontecia no pátio principal, bem em frente ao prédio da Administração e por certo os oficiais estariam observando, era preciso mostrar serviço.

                        No meio daquela gritaria infernal íamos executando os comandos dados sem titubear e os auxiliares corrigindo: aluno firma a cadência, aluno eleva o joelho, não deixe a cadência cair, aluno coloque o fuzil na vertical, dedos unidos, polegar também é dedo e assim corria a instrução e nós ali, firmes, esmerando na marcha e nos movimentos. Neste embate do duro vai não vai, lembro-me de um aluno, cujo nome me permito omitir, que na ânsia de demonstrar empenho, quando gritava, deixava escapar verdadeiras pérolas de linguagem: aluno seu fuzil está caindo no ombro, põe o fuzil na vertical, aluno seu fuzil tá balangando, não deixe o fuzil balangar. Entre tantas outras não posso deixar de lembrar mais esta, só para encerrar: aluno corrige a posição que a sua posição de descansar correta está errada. Ao término de tudo os comentários e os risos eram inevitáveis.

                        Assim era o CFO, não só apertos e dificuldades, tinha lá seus momentos de descontração e alegrias.

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CAUSO Nº 96 – O roubo da Maria RosaPor Procópio

 

                                   Este é mais um “causo” da época do CFO, acredito que assim ficarei bem frente ao Luiz Vitor e ao Soares. É um relato rápido, bem curtinho. Espero ainda que, no mundo espiritual onde se encontra, o nosso saudoso companheiro, personagem, não se aborreça e me perdoe a ousadia de relatar a sua façanha.

                                   As coisas naquele ano, não lembro a data só o fato, pareciam não estar, financeiramente, nada boas na Escola, a julgar pela comida servida no rancho. Passamos o ano inteiro comendo uma linguiça de péssima qualidade, mais conhecida como Maria Rosa. Quando acontecia de mudar o cardápio éramos servidos com uma carne moída em que até pedaços de couro do boi a gente encontrava. O rancho estava realmente sofrível.

                                   Assim, comendo Maria rosa dia sim, dia não, chegamos próximos ao final do ano, mais precisamente no mês de outubro, época de acampamento. Pelo sim ou pelo não, o aprovisionador deve ter achado que seria uma ótima oportunidade para dar cabo da tal linguiça e levou todo o estoque para Água Limpa. Atividade de campo cansativa, desgastante, consumia-se muita energia, os cadetes com fome, comeriam qualquer coisa. Bem pensado! Pois soldado em marcha pega o que acha e se for cadete muito mais. O importante era matar a fome que ninguém é de ferro.

                                   Não é que depois de passarmos o ano todo comendo linguiça, ao ponto de não aguentarmos nem ver o cheiro da dita cuja, o nosso colega acima, à noite, estando de sentinela junto ao rancho, resolveu pegar às escondidas a tal Maria rosa e com uma vara retirada de um arbusto logrou pescar um pedaço bem razoável da saborosa iguaria.

                                   Exultante com o êxito da operação já se preparava para retirar a Maria rosa do gancho quando uma voz o interpelou: - Aluno você tá roubando comida do rancho? Pego em flagrante, urgia um expediente que o livrasse da suspeitosa situação e o nosso colega não titubeou. - Não seu aluno cuidado que é uma cobra. E à medida que falava balançava a vara, fazendo o pedaço de linguiça enroscar-se que nem o verdadeiro animal e arremessou linguiça com vara e tudo numa grota que ficava logo abaixo à beira do riacho.

                                   Noite fria, escura, de pouca luz, aquela coisa luzidia enroscando na vara, habilidosamente manejada e arremessada longe, enganou o aluno do quarto ano que, não estando disposto a entrar no mato para conferir, deu-se por satisfeito e foi embora.

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                                   O estimado e saudoso colega continuou a tirar o seu quarto de sentinela, sem matar a fome, mas a astúcia do improvisado estratagema o livrou de uma punição que, por certo, face às circunstâncias, seria bem pesada.

                                   Não adianta! Em respeito à memória, conto o milagre, mas não conto o santo.

CAUSO Nº 97 – Algo de mal cheiroso pairava no arPor Procópio

 

                                   Encontrei-me, alguns dias atrás, dando voltas pela minha memória. Mexe daqui, remexe dali, de repente a lembrança saltou-me a frente viva, bem viva.

                                   Lá estávamos: Colégio Monteiro Lobato, terceira série ginasial, matéria de francês, professor Ibiapina, ano 1960.

                                   A figura de um velho professor veio-me à mente. Nordestino do Ceará, afora a estatura de um metro e oitenta mais ou menos, que fugia aos padrões da região, o restante dizia bem da sua origem. Cabeça chata, sotaque característico, um respeitável nariz. Sim, era mesmo nordestino sem tirar nem por.

                                   Mas o que me espicaçou a memória foi um fato, bem incomum, mas que acontecia com certa frequência nas aulas do Ibiapina.

                                   Quando da entrada do professor a sala o recebia de pé, este após mandar que todos se assentassem providenciava a chamada e começava a lecionar: C’est un crayon, voilà le tableau noir, ici la table e assim por diante. E a aula seguia quase que normalmente, mas o que quero ressaltar é que de vez em quando algum gás espalhava-se pela sala e o Ibiapina de imediato dirigia-se aos alunos:

- Vamos cheirar todos, gente, que é para acabar depressa.

                                   Do falar à ação, começava a aspirar voluptuosamente o ar fétido, no que era acompanhado por alunos e alunas, já que a classe era mista. Curioso é que não se descobria o autor da façanha, por mais que se procurasse, nunca apareceu. Até que desconfiados, todos concordaram que o insólito “sopra-ventos” era o próprio professor. Pois a coisa só acontecia nas aulas dele, e os alunos, ingênuos, a sorverem profundamente aqueles ares poluídos.

                                   E assim, foi durante todo o ano letivo, pois o Ibiapina não se tocava e continuou a soltar os gases, sempre que dava vontade, ali mesmo na sala, sem nenhum constrangimento, embora já não fosse mais acompanhado, na aspiração, pelos alunos que passaram a torcer os narizes toda vez que tal acontecia.

                                   Bem, foi lembrando-me do professor Ibiapina que outro fato, não igual, mas semelhante veio-me à memória. Não o presenciei, foi-me contado. Estávamos nós já no segundo ano do CFO e tudo aconteceu em sala do primeiro ano.

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                                   Contou-me um dos alunos, integrante do bicharal, que em determinado dia, na parte da tarde, após uma lauta refeição no rancho da escola, esperavam pela presença do instrutor para dar prosseguimento às aulas, quando adentrou a sala um aluno do quarto ano, informando que o instrutor não pode comparecer e que ele fora encarregado de substituí-lo e iria ministrar aula de IG (Instrução Geral).

                                   O referido aluno depositou sobre a mesa alguns manuais e tomando de um deles, enquanto ia e vinha pela sala, começou a ler e a explicar o que a letra fria dos preceitos regulamentares queria dizer.

                                   Tudo ia bem, a aula transcorria normalmente, mas, o aluno monitor, de vez em quando parava e olhava para a turma com cara de poucos amigos. Lá pela terceira ou quarta vez, o aluno, não aguentando, parou no meio da sala e explodiu com a seguinte tirada:

- Assim não dá!!! Arrego!!! Ou vocês me compram este nariz, ou me vendem este C...

                                   E assim dizendo, pegou seus alfarrábios e abandonou a sala, que ficou a espera do próximo instrutor.

                                   Foi por este modo que o mestre de francês transportou-me, no tempo e no espaço, da terceira série do Colégio Monteiro Lobato, em 1960, para o antigo Departamento de Instrução, em 1968.

                                   Coincidências à parte, o Colégio citado ficava em Juiz de Fora e o então aluno do quarto ano também era de lá.

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CAUSO Nº 98 – Andando sobre pregosPor procópio

ANDANDO SOBRE PREGOS

 

                                   Era um dia rotineiro no antigo Batalhão Escola. Naquela manhã, após o café, voltei ao alojamento e antes de descer para o início das aulas e instruções, peguei meu par de sapatos marrom e o deixei debaixo da cama, tinha a intenção de levá-lo ao sapateiro para conserto, assim que desse o intervalo do almoço.

                                   Terminado o período matinal de instrução, voltei ao alojamento em busca do par de sapatos como havia planejado. Mas, qual não foi a minha surpresa? Não encontrei o velho par de sapatos. Procura daqui, pergunta dali e nada. Ninguém dava notícias. O referido par de sapatos simplesmente desaparecera, sem sequer deixar rastos.

                                   Já à tardinha, um pouco antes do término do expediente, conformado com o sumiço dos sapatos, encontrava-me arrumando o meu armário, quando adentra ao alojamento certo aspirante 70. Logo que entrou dirigiu-se a mim e com o par de sapatos na mão, começou a explicar que tivera que sair, às pressas e com certo grau de urgência, de uniforme de passeio e como precisava de um par de sapatos, pois esquecera os seus em casa, resolveu utilizar os meus, que estavam bem ali à mão. Explicou, ainda, que devido à pressa, não deu tempo de procurar-me e avisar. Ato contínuo entregou-me o dito par de sapatos.

                                   Fiquei parado a olhá-lo e, de surpreso a incrédulo, não pude deixar de pensar: como é que ele conseguiu usar os sapatos?

                                   Não é que justo esta pergunta é que me fez o nosso estimado colega. Dizia ele: - como é que você consegue andar com estes sapatos? Estão cheios de pregos. Bom, acho que, na verdade, seus pés já estão acostumados. Acho mesmo que a sola do seu pé já tem até os buraquinhos que servem de alojamento para os pregos, porque eu sai mancando até chegar em casa para trocá-los pelos meus.

                                   Ora, tivesse me falado antes, mas a urgência e a pressa não deixaram, eu teria explicado da impossibilidade de usar tais sapatos. Mas, enfim, expliquei-lhe que os sapatos estavam ali, exatamente, para serem levados ao sapateiro.

                                   Desculpe-me nosso caro companheiro. Mas, ao imaginar um tenente PM, fardado de túnica e gravata, mancando pelas ruas, por estar, literalmente,

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pisando em pregos, não pude deixar de dar uma ótima gargalhada. Foi dramático. Mas, sem sombra de dúvidas, cômico.

                                   Sim senhor! A pressa é mesmo inimiga da perfeição.

CAUSO Nº 99 – Um combate aos 17 anosPor João Soares (pai do Luiz Vitor)

       

Obs. Esse Causo foi escrito pelo meu falecido pai, há muitos anos atrás, mas é muito bom conhecê-lo. Trata-se de um dos capítulos de um livro escrito por ele sobre a sua vida. Abs.

        Luiz Vitor

 

         Um combate aos 17 anos

       Em Março de 1929, ingressei no 1º Batalhão da PMMG, como aprendiz de música, tendo a princípio, tocado Sax-horne. Em virtude do bom desempenho que vinha demonstrando, não só no instrumento, como também na leitura musical, o mestre da banda preferiu transferir-me para a clarineta, instrumento que passei a estudar com toda a dedicação.

       Inicialmente ocupava na bancada, um lugar à esquerda, junto dos clarinetistas de 3ª classe e aprendizes. Dentro de pouco tempo entretanto, o mestre, apreciando o meu desempenho, mudou-me para o centro da bancada, junto dos clarinetistas de 2ª classe. Não havia a essa altura, obtido a promoção a 3ª classe, pois ainda era muito novo com meus 16 anos, e não existiam vagas.

       Já estávamos no ano de 1930 e permanecia recebendo aulas do professor Leonídio.

       Problemas políticos assolavam o Brasil obrigando as Forças Armadas Federais, Estaduais e Municipais a se manterem sob rigorosa prontidão em seus quartéis.

       Em 3 de Outubro de 1930, estoura a revolução. As Forças Estaduais de São Paulo e de outros Estados estavam aliadas ao Exército Brasileiro. Minas Gerais, Rio Grande do Sul e alguns outros estados não concordavam com São Paulo. Inicia-se então a batalha.

       A Polícia Militar mineira, preparada para o combate, põe seus batalhões a caminho de todos os lugares onde houvesse necessidade.

       A respeito do 1º Batalhão da PMMG, Unidade a qual pertencia, tenho a informar que naquele dia 3 de Outubro de 1930, pouco antes do anoitecer, marchamos em direção ao 12º Regimento de Infantaria, tendo nossa tropa se posicionado bem próximo do

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objetivo. Outras Unidades também se deslocaram para o entorno do 12º RI. Em poucos dias de combate, o 12º RI se rendeu, entregando as armas. Antes dessa rendição porém, passei a integrar um outro contingente que partiu para Ouro Preto, sob o comando do Major Apolino, com a missão de impedir que o 12º RI recebesse reforço do 10º BC de Ouro Preto.

       Passamos por Itabirito, em embarcação ferroviária até Gajé, estação próxima a Lafaiete. O restante do trecho seguimos a pé, cautelosamente, visto constar haver militares do Exército na referida cidade.

      No caminho deparamos com um Subtenente na estrada, em trajes civis, do 10º BC, que estava foragido de suas obrigações militares. Era um desertor. Esse Subtenente deu importantes informações ao nosso Comandante.

       Passando por Lafaiete, continuamos até a estação ferroviária de Cristiano Otoni, onde inúmeras armas militares haviam sido jogadas ao lado dos trilhos da estrada de ferro. Que vexame!!! O exército as havia abandonado.

      Conforme informações recebidas, continuamos a marcha em direção a uma fazenda naquelas proximidades, e lá, encontramos diversos oficiais do 10º BC, que foram conduzidos presos para Belo Horizonte.

       Missão cumprida, todo o contingente comandado pelo Major Apolino retornou a Capital para novas tarefas.

       O 1º Batalhão e outros de Minas Gerais, reorganizam-se com urgência, e partem rumo a Três Corações. No meio lá estava eu, com meus 17 anos de inexperiência. Lá, por volta do dia 12 de Outubro de 1930, incorporamo-nos a tropa que havia combatido contra o Regimento de Cavalaria. Os combates já haviam cessado.

       O 4º RCD rendeu-se as tropas mineiras. Houve mortos inimigos, que cheguei a ver, tombados dentro de suas trincheiras, defronte a um cemitério. Foi uma cena extremamente triste para mim. Assistia impotente aos choros e lamentações de muitas mães e pais e outros entes queridos daqueles abatidos pela nossa tropa. Não nos noticiaram se havia ocorrido perda entre os nossos. Mais tarde fiquei sabendo que sim.

       Diversos Soldados do Exército resolveram se incorporar às nossas Unidades, passando a lutar do outro lado.

       Ato contínuo seguimos em caminhões, chegando em Cambuquira, estação das águas, onde grupos de educadas e gentis senhoritas pararam nossos caminhões a fim de oferecer-nos água mineral e alimentos diversos.

       Em seguida prosseguimos alguns quilômetros a frente à beira da estrada, onde, em uma fazenda abandonada, montamos acampamento provisoriamente.

       No dia 14 de Outubro de 1930, a tarde, o Cabo Romeu da Costa Lopes, recebe a missão de seguir com uma patrulha de mais três Soldados, sendo eu, Soldado João Soares de Souza um de seus comandados, a fim de seguir por 15 quilômetros de estrada, com binóculos, em um automóvel da época, a fim de detectar se havia ou não presença inimiga no trecho. A missão era de alto risco e deveríamos tomar todas as precauções necessárias. Vigilância e cautela eram as palavras de ordem.

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       Havia informações de presença de militares a frente. Em uma de nossas paradas, avistamos pelo binóculo, a uma distancia razoável, um Soldado inimigo no meio da estrada. Alguns segundos após já se contavam quatro ou cinco Soldados inimigos no mesmo local.

       Retornamos imediatamente ao acantonamento.

       No dia seguinte, 15 de Outubro de 1930, grande efetivo parte em direção aos inimigos a fim de afastá-los de nosso território. Éramos 15 em cada caminhão. Na época os caminhões eram de pequeno porte.

       Eu me encontrava no primeiro dos caminhões, em pé na carroceria, observando por cima da cabine do motorista.

       Não sei por qual motivo, mas os demais caminhões distanciaram-se muito do primeiro caminhão. Talvez por causa da potencia de cada um e das fortes subidas que estávamos vencendo para atingir a crista do morro.

       Eis que de repente, na crista do morro, deparamos frente a frente com a tropa inimiga, com seus elementos deitados em abrigos dos dois lados da estrada. Estávamos literalmente no meio do fogo cruzado.

       Começamos a gritar para o motorista parar.  Com o fogo intenso em nossa direção, o motorista começou a dar marcha ré. Ao meu lado vi estupefato, ainda em pé, um colega com enorme buraco de bala no meio da testa, o que lhe causou morte instantânea.

       Pulávamos imediatamente do caminhão a fim de nos abrigarmos do fogo inimigo, posicionando-nos como Deus nos permitia.

       Na minha busca por abrigo, me protegi atrás do caminhão que descia de ré enquanto respondia ao fogo inimigo.

       Nesse movimento de andar para trás sem poder olhar onde pisava, e com o aumento da velocidade do caminhão, tropecei e caí debaixo do caminhão. O caminhão descia reto e tentei permanecer em uma posição que me livrasse das rodas. Justamente quando passava por mim, o motorista girou o volante para entrar em uma curva, tendo posicionado a roda dianteira direita exatamente na minha direção, tendo o caminhão passado por cima do meu peito. Como era época de frio, eu estava usando quatro peças de roupa e mais um capote de frio, de tecido muito grosso. Foi a minha salvação! O caminhão por ser de porte pequeno e estar sem carga no momento, não me provocou nenhum ferimento sério. Tive apenas um ardor forte no peito que passou com o decorrer do tempo.

       Não teve jeito. O militares paulistas desceram rapidamente em nossa direção e nos fizeram prisioneiros, tomando nossas armas sem dificuldades, pois naquela altura dos acontecimentos já havíamos perdido dois companheiros e oito estavam gravemente feridos. Em perfeito estado éramos apenas cinco, contra 150 paulistas.

       As nossas armas e munições foram tomadas e fomos conduzidos, sem demora, para o outro lado do morro, onde nos colocaram presos em caminhões fechados.

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       Quanto aos mortos e feridos de nosso pelotão, foram todos levados para o município de Campanha, o mais próximo do local, para as devidas providencias hospitalares e fúnebres.

       O contigente militar que nos esperava naquele local era de Soldados paulistas que tinham como principal objetivo ajudar na defesa do Regimento de Cavalaria da cidade de Três Corações, Mas já era tarde para eles. Esse regimento já havia sido tomado pelas tropas mineiras.

       Pouco tempo depois, passamos a ser conduzidos presos para o Estado de São Paulo. Houve algumas paradas em cidades do Sul de Minas e na última que fizeram, havia uma escolta da Cavalaria Paulista para prosseguir conosco via Trem de Ferro, rumo à capital de São Paulo. À essa altura éramos onze mineiros presos, pois seis haviam sido capturados no dia seguinte pela manhã.

       Chegamos na capital de São Paulo por volta do dia 20 de Outubro, tendo nos alojado em uma cadeia pública da cidade. Tudo ali era péssimo. O nosso jantar era de apenas milho cozido.

       Decorridos dois ou três dias fomos transferidos para um salão situado no último andar do prédio da Imigração, onde as coisas melhoraram. A comida passou a ser posta em mesa e tínhamos até um conforto regular.

       O Cabo Romeu da Costa Lopes, naquela época, tinha muito bom relacionamento com o papai, Manoel Simões de Souza, que lhe fez um pedido veemente para que durante a revolução, cuidasse de seu filho João Soares, de apenas 17 anos, devido a sua pouca idade e inexperiência absoluta em conflitos armados. Papai sabia que eu seguiria junto com o Cabo Romeu para o front de batalha.

       Naquele dia 15 de Outubro, quando fomos feitos prisioneiros, o restante da tropa, que se distanciara de nós, não teve notícia do que acontecera com os combatentes do primeiro caminhão que havia sido atacado pelos paulistas.

       O Cabo Romeu, preocupadíssimo com o problema, sem saber o que havia ocorrido com o João, e diante da missão que meu pai lhe dera, de cuidar de seu filho, resolveu tranquilizá-lo, escrevendo uma carta com falsas notícias, dizendo que João havia sido preso, mas que havia fugido dos adversários e se encontrava em outra coluna de combate da Polícia mineira.

       Meu pai, que também era Cabo, e trabalhava no Hospital Militar, recebeu a carta em poucos dias, mas muito triste, não acreditara em seu teor. Não quis que minha mãe, Maria Soares, tomasse conhecimento da missiva, para não trazer-lhe preocupações e aborrecimentos.

       Um de meus companheiros de luta, o também clarinetista do 1º Batalhão, Sd José Augusto, foi recolhido a belo Horizonte para cuidar de ferimentos em combate. Esse Soldado entra em um bar, situado à Rua Álvares Maciel, defronte ao prédio onde hoje se localiza a Diretoria de Pessoal. No bar já se encontrava o meu pai, desconhecido do chegante.

       Dirigindo-se ao dono do bar, José Augusto dá a triste informação de que um de seus colegas, o João Soares, havia sido morto pelos paulistas, picado a machadinha, durante um combate. Papai ouvindo aquela horrível notícia abandona imediatamente o local, sem dizer uma palavra sequer.

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       Após a sua saída, o comerciante informa ao meu colega que aquele senhor que acabara de sair era justamente o pai do Soldado João Soares.

       Era dia 23 de Outubro de 1930, quando papai começou a passar muito mal, agravando-se com várias convulsões, principalmente à noite. Pela manhã bem cedinho levantou-se com dificuldades e seguiu em direção ao Hospital Militar, que ficava a dois quarteirões de nossa casa situada à Rua Rio das Velhas 1057, atual Rua Tenente Anastácio de Moura.

       Papai estava tão mal que minha mãe exigiu que uma de minhas irmãs, a Naná, o acompanhasse até que ele entrasse no HPM.

       Duas horas depois falece meu querido pai, aos 52 anos de idade, vítima de um enfarto fulminante, em decorrência obviamente, de uma falsa notícia de minha morte e morte brutal.

       Minha mãe nada sabia sobre o episódio do bar e também do que havia acontecido com seu filho durante os combates, quando durante o velório, um colega e amigo do papai diz ingenuamente em voz alta: “O que é o amor de um pai, hein?”

       Mamãe ouviu a frase e quase enlouqueceu. Aos gritos e chorando muito passou a questionar a todos os presentes: O que houve com meus filhos. O que aconteceu e com qual deles ? Éramos dois irmãos participantes da Revolução. Eu e Garcindo. Continuava: Onde ele está?

       Rodolfo, meu irmão mais velho, fez um gesto para a pessoa que havia dito a inoportuna frase e, explicando cautelosamente, conseguiu arrumar argumentos convincentes para acalmar a velha mãe e convencê-la de que nada de ruim havia acontecido com nenhum de seus filhos.

       Três dias após o sepultamento de papai, chego a Belo Horizonte com diversos companheiros, inclusive Miguel Pinheiro, muito amigo da família. A Revolução terminara no dia 24 de Outubro de 1930, quando fomos colocados em liberdade. A peleja durara portanto, uma eternidade de 21 dias.

       Fomos colocados em liberdade em São Paulo, por um Capitão do Exército, do prédio da Imigração, como vitoriosos, recebendo passagens ferroviárias para o retorno a nossa terra natal.

       Chegamos a Belo Horizonte e fomos todos conduzidos ao Estado Maior da Força Pública, quando foi confiada ao Soldado Pinheiro a incumbência de comunicar-me o falecimento do meu pai em decorrência da morte de um dos filhos, picado a machadinha, por paulistas. Como éramos dois irmãos no combate, logicamente achei que Garcindo tinha sido a vítima da atrocidade. Abandonei imediatamente o Estado Maior e desci a Avenida Brasil, com a cabeça revolta e completamente descontrolado. Quando me aproximava da igreja de Santa Efigênia, encontrei-me com outro companheiro, também músico, de nome José Rodrigues, que me tranqüilizou, pelo menos no que dizia respeito ao Garcindo, esclarecendo que a notícia que chegara era de que eu, João Soares, havia morrido, picado a machadinha. Óbvio que a tristeza permaneceu, mas não pela perda do irmão, mas pelo fato de que a trágica falsa notícia havia abatido o meu amado pai.

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       Fui subindo o morro para chegar em casa, mas foi a subida mais demorada que experimentei. A cada casa que passava, meus vizinhos e amigos faziam questão de me abordarem com abraços de alegria pela constatação da falsidade de tão trágica notícia.

       Finalmente, quando consegui chegar em minha casa, fui recepcionado com muita festa pelos meus entes queridos, minha saudosa mãezinha e meus queridos irmãos e irmãs. Minha alegria era também muito grande em poder voltar são e salvo de um combate no qual, infelizmente, morreram muitos companheiros.

CAUSO Nº 100 – Uma brincadeira e sua contrapartidaPor Procópio

 

                                   Foi durante o Curso de Formação de Sargentos no antigo Departamento de Instrução que tive o prazer de conhecê-lo. Sim senhor, uma respeitável e querida figura.

                                   Para começo de história, havia, onde hoje existe a capela, separando o quartel da cavalaria do pátio do DI, um enorme barranco, necessário era removê-lo, justo para que fosse construída a capela. Em razão disto, após o término das aulas toda a tropa do CFS era empenhada em terraplanar o local e lá estava ele, batina preta, ar circunspecto, a tudo observava. Sua fiscalização era permanente. Cumpria deixar o local limpo e plano para abrigar o projeto arquitetônico.  Ciente de seus deveres, nosso personagem não deixava ninguém ficar parado e os alunos de picareta, pás e carrinhos nas mãos iam retirando terra e mais terra que era jogada para o lado da pista de atletismo.

                                   Término de semestre, já formados, fomos embora sem vermos os trabalhos concluídos.

                                   Tornei a encontrar o nosso querido personagem no ano seguinte, quando voltei à velha escola para cursar o CFO. Sempre de batina preta, que não abandonava nunca.

                                   Foi exatamente pelo traje que o destino o brindou com um apelido. Um tanto inusitado para a figura que era. Quem conhece as historietas de Walt Disney sabe do que estou falando. Realmente, era de se estranhar. Mas colocado, não sei por quem, pegou. Não havia uma só alma dentro dos muros do antigo DI e até mesmo fora, que não o conhecesse pelo apelido.

                                   Corrido o tempo, já capitão, voltei aos bancos da vetusta escola, agora já Academia da PM, para fazer o Curso de Bombeiro para Oficiais. Neste curso, dentre as matérias curriculares, como não podia deixar de ser, havia a de educação física, cujo instrutor era, então, um capitão do Batalhão de Choque, de cujo nome direi

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somente que tinha alguma coisa de familiar, algo em comum com o que foi removido para a construção da capela.

                                   O referido instrutor, diga-se de passagem, tinha por predileção levar a turma para uma área cheia de areia ao lado do picadeiro do RCM e ali praticávamos, após um rápido aquecimento, a chamada corridinha da saúde, voltas e mais voltas na areia pesada. Verdadeiro suplício.

                                   Mas, vamos em frente por que mineiro de verdade não perde trem. Sempre que as tais aulas aconteciam, ao passarmos correndo-curto pela frente da capela, não raro, encontrávamos ali no pátio o nosso querido e respeitado personagem. E todas às vezes, ao avistá-lo, o nosso instrutor, a título de brincadeira, em tom baixo, mas audível, sussurrava: - Mancha!

                                   O velho e bom padre, em contrapartida, também em tom de brincadeira, não deixava por menos, olhava para um lado, olhava para o outro, a ver se não havia por ali algum observador maldoso ou fofoqueiro de plantão e tão ligeiro quanto podia, sem se avexar, respondia: - É a mãe!

                        E assim, deixadas de lado as brincadeiras, a turma, sorrindo, continuava correndo rumo ao malfadado campo de areia.

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CAUSO Nº 101 – Memórias de um atleta Asp70Por Marcílio

Desde o primeiro ano do CFO, em 1966, passei a integrar a equipe de atletismo do então DI (Departamento de Instrução), graças aos naturais dotes físicos de que era portador. Inicialmente, na modalidade de salto em altura, tendo como parceiro o Cadete Lagares, do CFO-3. Naquele ano conquistei a segunda colocação no Campeonato Estadual de Atletismo, categoria juvenil, ficando o Cadete Lagares em primeiro lugar. Ambos, no entanto, saltando 1,75m, altura que consegui somente na segunda tentativa.

Naquela época, como a PMMG não podia participar dos campeonatos oficiais de atletismo (brasileiro e estadual), ou mesmo os promovidos pelas diversas instituições do Estado, como o Instituto Presbiteriano Gammon (Colégio Gammon de Lavras), foi criado um clube, denominado Vila Rica, vinculado ao COPM, no qual eram inscritos os atletas militares, de todas as modalidades esportivas. Era uma poderosa equipe que, invariavelmente, se classificava em primeiro lugar no Estado em todos os torneios, integrada por diversos campeões estaduais e brasileiros, nas diversas modalidades. Registro aqui os nomes do Sd BM Eduardo, campeão brasileiro de arremesso de disco, e o Sgt PM João da Mata, campeão da São Silvestre, em 1983. Quem não se lembra, ainda, do Sargento Bezerra, grande maratonista, diversas vezes campeão? Como integrantes do CFO, que tiveram atuação destacada na equipe de atletismo, registro os nomes do Cadete Nahas (turma de 69), campeão dos 800m livres; do Cadete Virgulino ( Asp70), campeão de salto triplo; do Cadete Orlando “Graveto” (turma de 69), campeão dos 100m livres; dos Cadetes Ribas (turma de 67) e Terra (turma de 69), destaques nos 1.500m. Busquei nos escaninhos da memória outros irmãos de 1970, mas somente os encontrei na também brilhante equipe de acrobática.

Posteriormente, ainda em 66, quando participava dos treinamentos na pista de atletismo, ao devolver um dardo para o Cad Lair, do CFO-3, que era o campeão de arremesso de dardo do DI, o então Cap PM Gotelip, chefe da equipe de atletismo, gritou ao longe: “hei, cadete! Você leva jeito..!” A partir de então, passei a treinar e competir também naquela modalidade que, ao final se revelou o meu “forte”, à qual me dediquei ao longo de todo o curso, participando dos diversos campeonatos, inclusive o brasileiro de atletismo.

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Nos dias de treinamentos, que se realizavam durante as aulas de educação física, conheci o então campeão brasileiro de arremesso de dardo, que também treinava na pista de atletismo do DI. Seu nome: Paulo Irene, do glorioso Clube Atlético Mineiro. Em diversas oportunidades, passamos a treinar juntos, quando pude aprender com ele alguns detalhes técnicos e “macetes” para se conseguir, cada vez mais, um melhor resultado.

Todavia, enquanto ele treinava com dardos de alumínio, oficialmente adotados pela Federação Brasileira de Atletismo, eu treinava com os de bambu, com peso e características aerodinâmicas completamente diferentes. Esses detalhes foram fundamentais na minha desclassificação no Campeonato Brasileiro de Atletismo, realizado em 1967, no Mineirão. Eu simplesmente não consegui fazer com que o dardo de alumínio, que pegava pela primeira vez, pelo menos furasse o solo (exigência das regras), embora realizasse excelentes arremessos, que me classificariam, com tranquilidade, como o vice-campeão brasileiro. Todos caíram “chapados”. Naquela oportunidade, o Paulo Irene não quis me dar qualquer dica, confirmando sua performance, tornando-se o campeão com 69m. O segundo colocado, de cujo estado não me recordo, não chegou aos 55m.

Chorei junto com o Sgt PM Vinoldário, grande desportista e auxiliar do Cap Gotelip, enquanto me passavam pela mente, como um filme, os dez lançamentos que fazia nos treinamentos, todos acima de 60m. Não sabia se execrava o dardo de bambu ou o de alumínio, ou ainda...!

Nos dias que se seguiram, durante um treinamento no DI, o Paulo Irene, após observar alguns arremessos meus, aproximou-se de mim e disse: “É, cara...! Vou ter de caprichar mais, pois você está chegando muito perto”.

Ele, na verdade, tinha razão. Em 1968 (se não me falha a memória), enquanto o campeão brasileiro Paulo Irene permanecia com a marca de 69m, eu conquistava a marca de 66m, registrada na última Olimpíada das Polícias Militares do Brasil, realizada em Minas Gerais. Um recorde que, ao que me consta, ainda persiste nos anais do DI/APM. Faltavam apenas 3 metros para alcançar o campeão brasileiro!

A história do segundo Campeonato Brasileiro de Atletismo, em 1969, quando já cursava o CFO-4, virá na segunda parte.

Um fraternal abraço a todos.

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CAUSO Nº 102 – Memórias de um atleta Asp70 – Parte IIPor Marcílio

Na Parte I das “Memórias de um Atleta Asp70”, fiz uma narração sintética da minha passagem pelo esporte especializado, nas modalidades de salto em altura e arremesso de dardo, bem como da existência do Clube Vila Rica e sua finalidade, da importância dos meus contatos com o campeão brasileiro de arremesso de dardo, do meu fracasso no Campeonato Brasileiro de Atletismo de 1967 e da minha participação nas Olimpíadas das Polícias Militares do Brasil de 1968, quando estabeleci o recorde de arremesso de dardo, com a marca de 66 metros, apenas 3 metros abaixo da marca alcançada pelo então campeão brasileiro, Paulo Irene, do CAM.

O ano de 1969 iniciou-se, abrindo para mim as portas do CFO-4, cujas atividades transcorreram sem maiores anormalidades até meados do ano, exceto as prontidões comuns naqueles tempos, também chamados de “período de exceção”, “anos de chumbo”, “ditadura militar”...!

No início do segundo semestre, pelo que posso recordar, foi a equipe de atletismo do DI informada de que deveria participar do Campeonato Brasileiro de Atletismo, que iria se realizar na pista de atletismo da Usiminas, em Ipatinga, a ser inaugurada no dia 07 de setembro daquele ano. Todos os atletas foram concitados a caprichar nos treinamentos, na busca de índices cada vez melhores, em todas as modalidades.

A notícia empolgou a todos e a mim de modo particular, pois via a oportunidade de, definitivamente, passar uma borracha na lembrança de 1967, que insistia em manter-se viva em minha memória. Essa expectativa aumentou ainda mais, quando tomei conhecimento de que o grande campeão brasileiro, Paulo Irene, não estaria participando integrante que seria da equipe de atletismo que iria representar o Brasil no Campeonato Sul Americano de Atletismo, a realizar-se no exterior, no mesmo período. “Tá no papo” exclamei para mim mesmo!

Lancei-me aos treinamentos com empenho e zelo, buscando corrigir e aprimorar os detalhes.  Embora não atingisse novamente a marca de 66 metros, estava sempre acima

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dos 63 metros nos treinamentos. Alimentava a expectativa de que, na competição, eu estaria pronto para bater o meu próprio recorde.

Numa manhã do início do mês de agosto, ao encontrar-me com o Sargento Vinoldário, no pátio do DI, este me informou que entregara, naquela data, no Gabinete do Comando, um ofício da Chefia do EM, autorizando o Comando da Unidade a dispensar os integrantes da equipe de atletismo das atividades normais do Departamento de Instrução, com vinte dias de antecedência do início do Campeonato Brasileiro de Atletismo, para que pudessem se preparar adequadamente.

A alegre expectativa e entusiasmo que envolveu a todos acabaram por transformar-se em preocupação já que, dias após passada a data, nada acontecera.

Aproximava-se o dia 07 de setembro, que se dava num sábado, se não me trai a memória e que, como todos se recordam, era a data do grande desfile da independência, do qual participavam todos os cadetes e alunos do DI. Realmente, fomos todos integrados às Cias de Desfile, cujos treinamentos se iniciaram com cerca de dez (ou doze?) dias de antecedência, através das rodas gigantes, de que ninguém sente saudades.

Assim, durante esse tempo as aulas foram suspensas e, pela manhã e à tarde, nos empenhamos em aprimorar a cadência e o alinhamento, a postura física, a posição dos fuzis e a manobra do armamento na ação de prestar continência, etc. Isto debaixo dos gritos e exigências dos instrutores, além das “anotações” por falhas nem sempre esclarecidas, cujos anotados iriam compor a lista dos detidos dos fins de semana.

No dia 06 de setembro, ao término dos treinamentos, às 12:00 hs, com toda as Cias de Desfile formadas, feitas as recomendações, foram todos dispensados para se prepararem para o desfile, com chamada no início da manhã do dia seguinte. Antes, porém, alguém gritou: “integrantes da equipe de atletismo, formar à direita.” Logo em seguida, recebemos a seguinte ordem: “vocês estão dispensados agora para prepararem suas bagagens, devendo apresentar-se logo mais, às 18:00 horas, defronte ao prédio da Administração, onde deverão embarcar em um ônibus e seguir viagem para Ipatinga, para participar do Campeonato Brasileiro de Atletismo.”

Ficamos perplexos, para não dizermos indignados! Pensei: que desempenho poderíamos almejar, com os músculos todos congestionados de tanto marchar e psicologicamente desestruturados? Lembro-me apenas de, naquele momento, dizer para meus companheiros: “eu não venho; vou apresentar-me amanhã para o desfile, pois foi para isto que fui preparado.” Embora aconselhado por vários colegas, realmente não compareci para o embarque, apresentando-me e participando normalmente do grande desfile.

Na segunda feira seguinte fiquei sabendo que a participação da nossa poderosa equipe de atletismo foi um vexame só. Ninguém conseguiu sequer se classificar para as finais das suas modalidades. O Cadete Nahas, campeão dos 800 metros, tentou, no entusiasmo e na raça, alcançar o resultado, mas desmaiou na pista.

Quanto a mim, fui chamado ao Gabinete do Comandante, onde já se encontrava o Capitão chefe da equipe, tendo o Comandante me questionado sobre as razões do meu não comparecimento para as competições. Humildemente, informei que, como me havia preparado para desfilar e que, nas condições físicas e psicológicas em que me encontrava, não estava preparado para participar de um campeonato tão exigente e

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difícil como o Brasileiro de Atletismo, decidi me apresentar para o desfile. Desnecessário registrar aqui a reação e as palavras do Comandante.

Resultado: cinco dias de prisão por rebeldia e não cumprimento de ordens superiores, com publicação em BI. Isto somente porque contei com o pedido de complacência do chefe da equipe de atletismo, que sempre mereceu de todos nós o mais profundo respeito e consideração, não apenas pelo oficial competente, mas, sobretudo, pelo ser humano equilibrado e sensível que sempre foi.

Ao procurar tomar conhecimento dos resultados do Campeonato de Atletismo, constatei que o novo campeão brasileiro de arremesso de dardo fora um nissei de São Paulo, com a singela marca de 52 metros. Uma vez mais, chorei...!

Abraços a todos e até breve.

CAUSO Nº 103 – Memórias de um atleta Asp70 – Parte IIIPor Marcílio

O ano era 1967 e brilhava no uniforme a estrelinha amarela do CFO-2. Avançávamos no salto em altura e no arremesso de dardo, tanto em força quanto em técnica despontando, naquela época, no arremesso de dardo, como o segundo no ranking estadual, atrás apenas do campeão brasileiro que todos ficaram conhecendo nas memórias anteriores.

Em um mês, que a memória não conseguiu recordar, foi a equipe de atletismo do DI convidada a participar de um torneio promovido pelo Colégio Gammon, da aprazível cidade de Lavras, juntamente com diversas outras instituições. Conforme ressaltamos anteriormente, a mencionada instituição educacional se destacava no Estado, colocando-se na vanguarda do atletismo mineiro, cuja equipe era composta de nomes como o do velocista Chitarra (100 e 200m rasos), que também se arriscava no arremesso do dardo. O torneio se destinava em preparar a equipe do Gammon para o Brasileiro de Atletismo, a realizar-se no segundo semestre daquele ano.

Nos nossos treinamentos no DI, eu e o Cadete Lagares, então no CFO-4, o sarrafo era colocado em 1,70 metros e o Capitão Gotelip recomendava: “15 saltos para cada um. Só conta quando passar.” Após os 15 saltos seguia-se, para mim, a segunda parte dos treinamentos, com o arremesso do dardo.

Partimos confiantes para a cidade de Lavras, aonde chegamos ao iniciar da tarde de uma sexta feira. Não obstante algumas provas se iniciassem naquela mesma tarde, as nossas modalidades teriam início nos dias seguintes.

Manhã de sábado, nos apresentamos para a prova de salto em altura, que se iniciava com o sarrafo a 1,50 metros. Como nós estávamos acostumados a treinar com o sarrafo em 1,70 metros, eu e o Cadete Lagares não tentamos os saltos até que o sarrafo

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alcançasse  1,65 metros, mesmo assim como forma de nos aquecermos para os saltos seguintes.

Foi aí que aconteceu o que ninguém esperava: nenhum dos dois conseguiu passar 1,65 metros, pelo que fomos desclassificados da prova. Ficamos perplexos, buscando uma explicação para aquela situação. A decepção refletia nos semblantes de todos, de modo particular no chefe da equipe que não nos poupou os “puxões de orelha”. A desconfiança era que, no mínimo, nós havíamos “caído na gandaia” no dia anterior, subestimado os atletas adversários, uma vez que não se tinham notícias da existência, entre eles, de algum que saltasse 1,75 metros. Resultado: o campeão foi um atleta do Gammon com 1,70 metros.

Felizmente, na manhã do domingo eu pude me redimir no arremesso do dardo, sagrando-me campeão, com a marca de 52 metros, sem ser muito ameaçado pelos demais atletas. O segundo colocado foi o atleta Chitarra, já mencionado, com a marca de 46 metros.

Já o Cadete Lagares retornou a BH amargurado e indignado, já que fora divulgada a informação de que um “misterioso personagem” havia colocado no feijão que nos foi servido no jantar, no início da noite de sexta feira, uma substância a que denominaram “nitro”, responsável pelo nosso pífio desempenho nas provas de salto em altura. Verdade...? Mentira..? A resposta esconde-se nas poeiras do tempo e já não interessa a ninguém mais.

O nosso abraço fraterno e até breve.

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CAUSO Nº 104 – Memórias de um quase atletaPor Procópio

 

                                               A vida é mesmo um encadear de fatos e situações, uma coisa puxa outra, disto não tenho dúvidas. Não é que outro dia, lendo um dos “causos” narrado pelo nosso estimado colega Marcílio, deparei ali, com um nome que me transportou lá para os idos do primeiro semestre de 1966. Naquela ocasião, após ter sido aprovado nas provas vestibulares ao Curso de Sargentos, apresentei-me, juntamente com outros vários colegas, no então Departamento de Instrução da polícia Militar, o antigo DI.

                                               Mal havia começado as atividades escolares, logo na primeira aula de educação física, recebi ordem de apresentar-me ao sargento Vinoldário, lá na pista de atletismo. Bem, ordem dada, ordem cumprida. Deste modo, lá fui eu e, mais ainda, o Indiomar, o Altair e o Vidal, todos trajando ou envergando, como queiram, o uniforme de educação física.

                                                Já na referida pista. O sargento Vinoldário, também com o uniforme da atividade, recebeu-nos e explicou que, durante as provas de seleção havia anotado os nossos tempos na corrida de mil e quinhentos metros. Que nós levávamos jeito para o atletismo, na modalidade de corridas e que treinados poderíamos chegar a atletas da equipe da escola.

                                               Dadas as explicações, após ligeiro aquecimento, passou, a título de treinamento, a ministrar-nos uma série de atividades. Começamos por subir e descer, correndo-curto, aquelas escadarias ou arquibancadas, que até hoje estão lá, ao lado da pista de atletismo e a separa da área do Clube dos Oficiais. Subimos e descemos mais de vinte vezes, a quantidade exata foge-me à memória, só sei dizer que já saímos dali cansados. Imediatamente após, fomos levados para a pista, aquela mesma, coberta de cascalho fino e pó de pedra que levantava um poeirão de sufocar. Deveríamos fazer

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os mil e quinhentos metros. Ritmo suave, dizia ele, sem forçar nada, estilo corridinha da saúde, precisávamos apenas completar o percurso e lá fomos nós.

                                               Terminada a chamada corridinha, achávamos que seríamos dispensados, afinal era a primeira aula de educação física e o preparo não estava lá estas coisas. Hum! Ledo engano. Vinoldário, logo a seguir ordenou-nos que fizéssemos dez tiros de cem metros razos na maior velocidade que pudéssemos desenvolver e a seguir estaríamos dispensados e assim foi. Dali, literalmente caindo pelas tabelas, seguimos para a sala de aulas, dando continuidade ao dia letivo.

                                               Na manhã seguinte, após uma noite mal dormida, cheios de dores, resolvemos eu e o Indiomar procurar o sargento Vinoldário e pedimos para nos dispensar dos treinamentos que não tínhamos aptidão para a coisa, ele relutou um pouco, mas, olhando para o nosso estado, cedeu. Lembro-me que o Altair e o Vidal entusiasmados, melhor preparados, continuaram e passaram a fazer parte da equipe de atletismo.

                                               Quanto a mim, visto que não sou de ferro, desisti de vez. Corrida, equipe de atletismo, definitivamente não dava, uma bola e um campo de futebol na minha frente e eu seria capaz de correr horas e horas atrás da bola, bem entendido. Mas, correr só por correr não, não dava.

                                               Morria assim, no nascedouro, a promessa de um futuro atleta das pistas de corrida. Ficamos mesmo só na promessa.

                                               Estes fatos, envolvidos pelas brumas do tempo, já adormeciam na memória quando a leitura das proezas de nosso colega Marcílio trouxe a baila um nome, a lembrança, então, saltou viva, bem viva a nossa frente.

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CAUSO Nº 105 – Uma comemoração azaradaPor Procópio

                                               Término do primeiro semestre letivo, férias às portas, viagens, para muitos a perspectiva de rever a família, é havia mesmo motivo de sobra para comemorar. Foi por assim pensar que aqueles três cadetes do segundo ano, sem nenhuma programação, por mero acaso, foram dar com os costados no Clube dos Oficiais. Acontecia ali um evento de relativa frequência, por aquela época, a chamada hora dançante, sempre muito concorrida e os três colegas lá se encontraram, sem nenhum ajuste ou combinação.

                                               Uma mesa selecionada em um cantinho estratégico, que permitia uma visão da pista de dança e do salão e das meninas, por que não, que por ali desfilavam. Sinceramente, nada poderia ser mais agradável. A noite transcorria, por este modo, alegre e festiva. Boa música, época da jovem guarda, Roberto Carlos e toda sua trupe passeavam nos acordes do conjunto e o salão fervilhava.

                                                 Sem sombra de dúvidas, o convite para uma geladinha e o respectivo tira- gosto era irresistível. Uma cerveja aqui, outra li, papo daqui e outro de lá, a noite avançou e o conjunto musical, em tom de despedida, já tocava a saideira.

                                               Terminada a hora dançante, apagadas as luzes do salão saem os três amigos. Mas, no ambiente alegre e descontraído do final de noite uma nuvem embaça o horizonte. Não é que um dos cadetes, tomado nos braços de Baco, não reunia condições de voltar, por si só, ao alojamento do internato. Mas também não aceitava, teimoso que era, dormir fora do quartel, mesmo com um dos colegas lhe oferecendo, gentilmente, uma cama que estava sobrando no quarto onde morava.

                                               Bem, o que fazer? No quartel o toque de silêncio já havia soado a muito, hora de repouso que não se admitia perturbar. O nosso cadete não arredava pé de sua teimosia, iria dormir mesmo era no alojamento. Ora, outra coisa não restava senão levá-lo até lá, se possível, a são e salvo. Neste intento, ficaram dois dos cadetes lado a lado com o teimoso no meio, iam, propositalmente, tão apertados de modo que quem olhasse à distância só veria duas pessoas e não três. E, assim,

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desfilaram por todo o pátio, do portão de entrada até o internato. Já no alojamento, conseguida a façanha, colocaram o João Teimoso na cama, onde já caiu dormindo. Um suspiro de alívio e saíram, pé-ante-pé, satisfeitos com o estratagema, pois ninguém tinha notado nada. Ledo engano. Assim que saíram do alojamento, já no corredor, antes de descerem as escadas, deram de encontro com uma figura indesejável, um aluno do terceiro ano, parece até que ele ali estava justo para apanhar alguém de surpresa, pois não se atinava com outra coisa. O que ele estava fazendo sem dormir àquela hora? Incontinente, o estraga- prazeres deu voz de prisão aos indigitados cadetes por estarem perturbando o silêncio. Ora que absurdo, se tudo o que foi feito fora justamente o contrário. E os dois pobres cadetes foram levados ao serviço de dia e apresentados ao aluno Auxiliar de Dia, um cadete do quarto ano. O terceiroanista, informando que apresentaria a parte por escrito pela manhã, retirou-se.     Presos, disciplinarmente, por perturbarem o silêncio. Tremenda injustiça, pois tudo o que fizeram foi exatamente evitar, a todo custo, fazer qualquer tipo de barulho. Entretanto, não havia o que fazer, estavam mesmo detidos. Sem dúvida foi um tremendo azar.

                                               Ficaram por ali, conversando com o Auxiliar de Dia e chegaram mesmo a pedir para que fossem dispensados da detenção, alegando da injustiça do ato, pois que não haviam perturbado nada. Este último, embora muito boa praça, que Deus o tenha, negou-se, com muita razão, a satisfazer o pedido.

                                               Contrariado e visivelmente revoltado, um dos detidos, num arroubo de ousadia disse que não ficaria detido, que iria embora e realmente foi. O outro, olhando o colega já saindo no portão principal, pensando nas férias e na viagem para casa, passagem já comprada, ignorando o conselho do Auxiliar de Dia para que não fizesse a mesma coisa, retrucou dizendo que também não ficaria e ato contínuo se mandou quartel a fora. Atitudes e gestos sem explicação, coisas mesmo de estudantes.

                                               Terminado o período de férias, de volta às atividades da escola e da caserna, logo no primeiro dia, o segundoanista, aquele que primeiro se rebelou, chamando o colega de lado mostrou a parte que fora dada e que ele, não se sabe como, pois guardou segredo, conseguira surrupiar.

                                                Ufa! Há que se confessar: só então o alívio tomou conta de todos e a preocupação que tinha perdurado por todo o tempo das férias se esfumou no ar. Indiscutivelmente, os dois se livraram de forte enrascada.

    

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CAUSO Nº 106 – Jogos memoráveis... ou nem tanto Por Soares

Há algum tempo não conto minhas potocas. Voltemos, pois, à cancha (para usar um termo que tem tudo a ver com o nosso atual causo)!

Inspiro-me em dois fatos: O primeiro vem da atuação do goleiro Vitor, que recentemente deixou a atleticanada eufórica e em privilegiada posição no campeonato da Libertadores-2013, ao defender miraculosamente (com um pé esquecido) o pênalti que seria fatal, cobrado aos 46 minutos do segundo tempo pelo craque goleador do time adversário. Cá pra nós cruzeirenses, aquilo foi coisa do Demo, não foi? Pois para nós atleticanos foi coisa de santo. São Vitor! O segundo vem de uma foto reeditada pelo Vitor – não o goleiro, mas o nosso bravo colega Aspirante70 –, a propósito de uma homenagem que gentilmente decidiu fazer-me pelos sessenta e tantos anos de idade completados em 31 de maio.  

A foto, que traz de volta memórias esquecidas, foi postada no sítio da Turma (ou site, como queiram) e lá se pode ver o plantel dos heróis de um time de Aspirantes70, todos paramentados com um uniforme démodé do Atlético: o Virgulino “Mantissa”, o Araújo “Cordoba”, o Oséias, o Santos Costa, o Lindolfo, o Ferreira, o Lacerdino “Dois Mirréis”, o Fonseca “Caxiado”, o Ari, o Peixoto “o Bom”, o Cristiano, o Jeovat “Mug” e o Pedro Braz (confiram a foto e corrijam-me, se identifiquei alguém errado).

Aquela foi a equipe finalista de um curto torneio realizado em nosso tempo de DI/Academia, talvez lá pelo primeiro ou segundo ano do CFO. Não me cobrem muita precisão de detalhes daquilo, após todos estes anos passados... embora de alguns eu me lembre perfeitamente, como a atuação destacada daquele goleiro magricela da foto, no caso este humilde causista.

O evento envolveu três equipes identificadas e uniformizadas de acordo com os gloriosos clubes locais de futebol: América, Atlético e Cruzeiro. Qual o critério de filiação a cada equipe? - Não faço a menor idéia; certamente não foi por preferência pessoal.

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No jogo de encerramento do torneio, após o tempo normal, deu desempate na base dos pênaltis. 

Na última e fatídica cobrança de penalidade, lá estava eu – goleiro totalmente eventual, mas que já dera conta do recado até ali – a esperar, internamente trêmulo, naquela imensidão de espaço debaixo das traves, o golpe de misericórdia do batedor.

Lembro de alguém de meu time murmurando atrás do gol continuamente:

- Ele vai bater no canto direito...  Ele vai bater no canto direito...

Quando o cara correu para a bola e chutou, eu já estava até meio atordoado pela adrenalina do momento;  mas não tive dúvidas: pulei no canto direito e, inexplicavelmente, me vi com a bola firmemente travada entre os braços.

Guardadas as proporções, a minha glória foi semelhante à do goleiro Vitor do Galo. Faltaram apenas as entrevistas de televisão.

Campeões, graças a mim!

O interessante é que, a partir daquele dia, passei a acreditar que era realmente um goleiro. Em nossas frequentes peladas, acho que como parte das aulas de Educação Física, lá estava eu firme em um dos gols, cortando cruzamentos, fechando os espaços e pulando arrojadamente nos pés dos atacantes.

A motivação nos esportes produz milagres!

E o inverso também: a desmotivação – o fogo amigo da vaia principalmente – tem o condão de transformar o craque do jogo de ontem no “perna de pau” do jogo de hoje...

É o que me aconteceu em uma daquelas peladas subseqüentes. Alguém acertou um belo chute, lá do meio do campo, e a bola viajou longamente em direção ao gol e em direção a mim. O que aconteceu, amigo, não posso explicar: não sei como pude ficar tão apalermado e indeciso! Só me dei conta que a bola estava chegando mesmo quando já estava a centímetros de minha cara. Levei um enorme susto e me abaixei instintivamente para não ser atingido por aquele bólido ameaçador, deixando – funestamente – passar a pelota para o fundo do gol...

A maior recordação que tenho de meu opróbrio e do tremendo fiasco é o Lindolfo, um dos craques do meu time, de gozação, demonstrando o que eu deveria ter feito:

- Que isso goleiro!? Uma bola destas é só matar assim no peito, oh!...

Foi uma falha maior, para quem se lembra, que  o famoso “golpe de vista do Taffarel” em um jogo da Seleção. E foi o fim de minha breve carreira.

Nunca mais fui para o gol e o herói do torneio, como corolário óbvio de um tal “frangaço”, acabou esquecido por todos. Até por si mesmo.

 

Pra falar a verdade, só mesmo esta foto de fundo-de-baú pra me lembrar, sobrepondo-se ao vexame posterior, daqueles breves momentos de glória do torneio. Fugazes... Mas como foram gostosos!

 

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CAUSO Nº 107 – Passagem do Serviço de Dia, verdadeira paradaPor procópio

                                               O causo a seguir passou-se no Departamento de Instrução durante a passagem do serviço de dia. Tem como personagens alunos do CFO e do CFS

                                              Mandava a tradição que tal passagem de serviço fosse feita solenemente mediante uma parada de rendição de serviço, com tropa formada, continência de tropa, desfile e tudo o que de direito fosse.

                                               Naquele domingo, do primeiro semestre de 1966, não foi diferente. Obedecidos os rigores solenes, tudo preparado, tropa formada, chamada realizada, instruções e orientações ministradas veio o ato de passagem da senha de identificação, que outra coisa não era senão uma questão de segurança dos quartéis.

                                               O aluno Auxiliar de Dia depois de dar a conhecer a senha ao último homem da fileira, sim, porque a tropa estava formada em linha, deslocou-se para o início da fileira a esperar que chegasse até ele a referida senha.

                                               Esta senha era de conhecimento restrito ao pessoal de serviço e, por isso mesmo, era passada ao pé do ouvido de cada integrante da tropa. A coisa funcionava desta forma: aquele que a recebia, gritava a palavra “SENHA” e dando um passo para o lado e bem baixinho, ao pé do ouvido, quase sussurrando, transmitia a palavra escolhida como tal para o companheiro e, assim, sucessivamente até chegar ao Aluno Auxiliar de Dia que verificando a correta transmissão da senha, dava continuidade à solenidade.

                                               A explicação acima seria desnecessária se só a militares se destinasse a presente leitura, porém se torna necessária face a outras categorias de leitores. Dado que foi, por necessário, este pequeno introito. Vamos ao causo.

                                               Dizíamos que naquele domingo veio o ato de passagem da senha. Até então tudo fluía as mil maravilhas, a senha era passada de ouvido a ouvido até que lá pelo meio da fileira, mais ou menos, tudo parou, empacou de vez. Silêncio sepulcral, nenhum pio se ouviu mais. O Auxiliar de Dia, intrigado, saiu de forma para

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verificar o que estava acontecendo, isto é, porque a transmissão da senha não prosseguia.

                                               Irritadiço, nervoso pelo atraso, perguntou quem havia interrompido o procedimento. Ouviu-se, então, um estalar de mãos à coxa, o barulho do juntar os calcanhares do coturno o que indicava a tomada da posição de sentido e em seguida a apresentação:

- Sô aluno, soldado Manoel do CFS, informo-vos que não dei prosseguimento à transmissão da senha porque o colega aqui do lado está de sacanagem, está de brincadeira comigo.

                                               O Auxiliar de Dia, voltando-se para o soldado que antecedia ao Manoel, perguntou que tipo de brincadeira ele tinha feito, obtendo a seguinte resposta:

- Sô aluno, eu passei a senha de maneira correta, mas ele, não entendi o porquê, recusou-se a passar pra frente e disse-me que deixasse de brincadeira. Repeti a palavra e ele continuou a dizer-me que deixasse de brincadeira. Então deixei pra lá.

                                               Toda a tropa ouvia com imensurável interesse o desenrolar do papo. O aluno Auxiliar de Dia parecia que iria explodir de tão nervoso e voltando-se para o Manoel perguntou qual a senha que tinha recebido. Este último, prontamente respondeu em alto e bom tom a que todos ouviram:

- Butão, desculpa-me Sô aluno, isto só pode ser brincadeira.

- Mas esta é exatamente a senha soldado. Onde está a brincadeira?

                                               Manoel, caindo em si, ficou olhando aparvalhado para o seu inquisidor sem nada responder. Ficou mesmo sem saber mais o que dizer.

                                               Enquanto tal acontecia toda a tropa do CFS, ali presente, tentava a todo o custo segurar o riso. Até que alguém se adiantando, dirigiu-se ao aluno Auxiliar de Dia e informou:

- Sô aluno, ai está o motivo de toda esta confusão, é que o apelido dele é Butão.

                                               O Auxiliar de Dia trocou a senha e a partir daí tudo o mais transcorreu sem alteração.

                                               Assim era o soldado Manoel (vulgo Butão), um candidato a sargento bem trapalhão.

 

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CAUSO Nº 108 – Alcunha a altura da façanhaPor Procópio

 

                                               Fim de tarde, preparava-me para tomar uma chuveirada e não sei por que, surpreendi-me pensando no comentário que o Soares fez a respeito de um dos meus causos, falava ele sobre as coincidências da vida. Não entendi bem o porquê e acho que por isso ia matutando a respeito. Já debaixo do chuveiro, aquela duchinha que fica ao lado, que todos conhecem de sobra, desprendendo-se do suporte caiu-me sobre as costas.

                                                Coincidência? Ou não? Como é palavra muito ao gosto do Soares deixarei ao seu arbítrio a decisão, ou de quem se atreva a dar opinião a respeito. Esperemos pelo fim do causo. O certo é que o fato mexeu com a minha memória. Lembrei-me de algo ocorrido lá pelos idos da década de 1970, estava eu, por aquela ocasião, servindo no Segundo Batalhão e o período momesco estava às portas. Todo o batalhão, como é comum acontecer nestas ocasiões, estava preparado para atender os eventuais pedidos de reforço de policiamento e eles vieram de várias localidades da circunscrição da Unidade.

                                               Foi atendendo a um destes pedidos que eu, então segundo tenente, fui parar numa cidadezinha da região famosa por seu carnaval, um dos mais concorridos e festivos da redondeza, vinha gente de todo os lados, atraídos pelo bom carnaval. Mas, se concorrido e alegre, também tinha seus percalços e, por sinal, bastante sérios, daí a preocupação do prefeito em pedir reforço policial de peso.

                                               Chegamos à cidade às vésperas da folia. O prefeito havia reservado quartos em um hotel para a tropa de reforço. Éramos dez, eu, um sargento e oito soldados divididos em dois por apartamento. Deixei ali o pessoal e sai para reunir-me com o comandante do destacamento e o prefeito, após tomar pé de toda a situação, dos eventos que ocorreriam e das possíveis implicações, voltei ao hotel já encontrando todos acomodados.

                                               À noite, após o jantar, espalhada a soldadesca pelos corredores e salão o papo corria solto. Em um dos grupinhos formados o riso alto atraia a atenção. Mordido pela curiosidade aproximei-me para saber o que estava acontecendo. Um dos soldados, cujo nome não me recordo mais, explicou-me:

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- Sô tenente, o senhor me conhece e sabe que não sou de fofoca, mas desta vez não tem jeito, esta eu vou contar.

                                               À medida que ia falando todos riam às bandeiras despregadas, confesso que minha curiosidade aumentou. E o soldado continuou:

- Sô tenente, o senhor não vai acreditar! Assim que chegamos ao nosso quarto o João disse que ia amassar um barro e dirigiu-se para o banheiro. Passado algum tempo saiu de lá dizendo que tinha um vaso diferente no banheiro, com um chuveirinho no meio, que o indivíduo fazia as necessidades e, ali mesmo, já saia lavado, só que não tinha descoberto como dar a descarga. Fui lá, olhei, e falei pra ele: rapaz isso ai não é vaso e nem é pra homem é pra mulher se lavar. Sô tenente, sem mentira nenhuma, sai e deixei ele lá limpando aquela coisa, deve ter gastado uns dois rolos de papel higiênico na limpeza.

                                               Bem!... Estava explicado, com minúcias, o motivo de tanto riso. Fiquei com pena do João, gente simples, oriundo mesmo da roça, nunca tinha visto ou sequer ouvido falar daquelas coisas. Mas não pude deixar de rir, fazendo coro com o resto da turma que, por sua vez, não deixou por menos, lascou-lhe logo um apelido, que grudou feito cola.

                                               De volta à sede do batalhão, o acontecido correu a voz solta. Espalhou-se que nem fogo em rastilho de pólvora. E o soldado João pelo apelido ficou conhecido. Seu verdadeiro nome esquecido. O pobre coitado carregou este apelido por toda a vida da caserna e até mesmo quando foi para a reserva. Todos só o conheciam como João Bidê.

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CAUSO Nº 109 –Marcha e acampamentoPor Procópio

                                               Naquele ano de 1966, concluiu o comando que a Corporação premia pela falta de sargentos, em razão disto planejaram dois cursos intensivos a funcionar um por semestre.

                                               É de ver-se, também, que no desenrolar do curso chegou-se à conclusão de que o CFS não podia passar pela escola sem que participasse do famoso acampamento de Água Limpa, que outra coisa não era senão uma série de manobras e exercícios militares no campo.

                                               Dois acampamentos aconteceram então. Em junho estiveram naquela localidade a turma do CFO-4 de 1966 e o CFS-I e lá para outubro ou novembro, não sei bem a data, o CFS-II e, provavelmente a turma do CFO-3 que, com a formatura dos aspirantes de 1966, havia assumido, naturalmente, a liderança dos cursos.

                                               Não posso afirmar com certeza, mas parece-me residir ai o motivo de não termos tido esta atividade durante o nosso primeiro ano em 1967. É que a turma do quarto ano já havia feito o acampamento no final do ano anterior. Estas explicações, necessárias ou não, servem para situar o leitor no contexto da narrativa.

                                               Bem, o período a que quero reportar-me é o primeiro semestre de 1966, mês de junho, pouco antes do término do CFS-I do qual eu era parte integrante.  Por evento tínhamos o tradicional acampamento de Água Limpa.

                                               O planejamento das atividades levado a efeito pelos alunos do quarto ano previa, para chegarmos àquelas paragens, uma marcha mista, ou seja, parte motorizada e parte a pé.

                                               Assim é que saímos da escola, o antigo DI, embarcados em ônibus que nos transportou até alcançarmos a distância de vinte quilômetros, que faltava para batermos os coturnos em Água Limpa, a partir daí a marcha desenvolveu-se a pé.

                                               Éramos duzentos e poucos homens, divididos em duas companhias e comandados pelo CFO-4. Por este modo, é que estava constituído o Batalhão de Manobras – Btl Man - daquele tempo.

                                               Atentemos, então, para o seguinte: fazendo parte de uma das ditas companhias lá estava eu. A função que exercia dentro da companhia era a de

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remuniciador (lembram-se disso?), da segunda peça, da seção de metralhadoras, da companhia de fuzileiros. Que coisa mais complicada não? Como tal, competia a mim, além de conduzir o meu fuzil, carregar também, nas costas, o reparo da metralhadora (metralhadora Madsen). O tal reparo era um tripé, verdadeiro trambolho, onde era acoplada a metralhadora para a posição de tiro.

                                               Não bastasse a marcha a pé, toda aquela parafernália incomodava bastante e para completar havia uma pecinha no reparo que mais parecia um pêndulo que, na medida em que se andava, girava para um lado e para outro. A comparação, de modo nenhum, pode ser outra, era mesmo um pêndulo que, batendo no capacete de aço fazia-o tinir como se fora um sino.

                                               Nos primeiros quatro quilômetros tive que aguentar aquele barulho na minha cabeça, não podia parar estávamos em marcha. Entretanto, no primeiro auto-horário dei um jeito, tirando da mochila um pedaço de barbante amarrei a malfadada pecinha.

                                               Reiniciada a marcha ia satisfeito comigo mesmo, ideia brilhante, livrei-me daquele barulho ensurdecedor. Mas como o que é bom dura pouco, mal tinha caminhado uns poucos metros quando, percorrendo a coluna de marcha, passa um aluno do quarto ano, olha para mim e pergunta em tom crítico:

- Que coisa é esta CFS, que lacinho bonitinho é este no reparo? Laço de fita fica bem é em cabeça de donzela. Pode tirar isso daí. Oh! CFS donzela!

                                               Não sei por que, mas o tal aluno, chato que nem ferrinho de dentista, tinha a mania de chamar-nos a todos de donzela, tanto que a turma, quando a ele se referia, dizia: “é o aluno donzela”.

                                               Mas que alternativa? Tirei o barbante e aquele pêndulo foi retinindo no meu capacete e nos meus ouvidos. Com o passar das horas o que parecia um simples sininho, transformou-se em verdadeiro carrilhão de igreja a ponto de enlouquecer qualquer cristão. Foram dezesseis quilômetros de sofrimento e agonia com aquilo ribombando na cabeça.

                                               Enfim, a chegada ao acampamento. O reparo colocado de lado, bem guardado na barraca do almoxarifado, mas minha cabeça ficou zumbindo por muitas e muitas horas.

                                               Para fim de conversa, ao cair da noite, na hora da chamada e revista da tropa, ainda fui intimado a passar para a esquerda, meu nome estava relacionado para o patrulhão, anotado que fora por usar, em armamento militar, peça não regulamentar.

                                               Sinceramente, durma-se com um barulho destes, coisa, realmente, de maluco ou de milico, como queiram.

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CAUSO Nº 110 – O sumiço da botinaPor Ronaldo

Certa vez, em 1967, o DI estava preparando para receber uma equipe feminina de vôlei. O local designado para abrigar a dita equipe foi o alojamento do 4º ano, no Internato. Como o alojamento do 1º ano era muito mais espaçoso o cmt da Cia determinou que o 4º ano se acomodasse junto com o 1º ano, separando-os com uma pequena divisória de madeira improvisada. Estando a PM, naquela época, em constante prontidão e seguidos alarmes de treinamento, alguns oficiais, com o objetivo de descontrair a tropa, resolveram fazer uma brincadeira com os cadetes. Reuniu a tropa no pátio com uniforme de educação física simulando uma preleção. Enquanto isso os oficiais foram ao alojamento misturaram os coturnos e uniformes de instrução do 4º e 1º ano amarrando-os uns aos outros e apagaram as luzes do quartel soando o alarme, em seguida. Os cadetes receberam a ordem de apresentar com uniforme de instrução em cinco minutos. Foi uma correria, uma bagunça, chave de galão em cima do 1º ano a toda hora, para se conseguir encontrar seu coturno e seu uniforme. Era um salvem-se quem puder. A única luz que surgiu no alojamento foi de um pedaço de vela que o Cunha Pinto possuía. Quando ele conseguiu acendê-la um aluno do 4º ano tomou de sua mão, dizendo: 1º ano não precisa de vela! Ele quis ponderar mas de nada adiantou. Se vira, disse ele. Isso tudo que foi dito serviu para se ter uma noção do que acontecia naquele momento. Eu não quis nem saber. Em meio àquela escuridão peguei os dois primeiros coturnos que encontrei e calcei no escuro mesmo. A princípio verifiquei que um estava um pouco grande e o outro apertando um pouco, meio esquisito, apertando de um lado, mas não importei não. Afinal de contas o tempo estava correndo. O meu braço sumia dentro do uniforme de instrução. A cobertura rodava em cima de minha cabeça. Não importei. Para mim o problema era chegar uniformizado em forma.Vencido o tempo corri para o pátio atendendo a ordem de formar. Neste momento acenderam as luzes do quartel. O cmt da Cia passou o comando da tropa ao xerife do 4º ano e esse determinou que se procedesse a uma inspeção na tropa. O cadete Mancini encontrava-se descalço procurando no meio da tropa pelo seu coturno do pé esquerdo.

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Quando as luzes foram acesas o 1º ano já estava na posição de sentido. Portanto não podia mexer e nem saber o que tinha vestido e calçado no meio daquela confusão. De repente o cadete Mancini chega por tras de mim e disse: Cadete, você não está percebendo algo de errado não? Sim senhor, respondi. O que é, então? O meu coturno está comprimindo muito o meu pé direito provocando dor, respondi. Só isso? Retrucou. Em seguida o cadete Mancini mandou-me descansar e olhar para os meus pés. Nesse momento percebi que o bico dos dois coturnos pendia para o mesmo lado, ou seja, para o lado direito. Foi então que verifiquei que havia calçado dois coturnos do mesmo pé esquerdo. O cadete Mancini chamou outros colegas e disse: Olha só como este primeiro ano se encontra uniformizado: duas botinas do mesmo pé, a cobertura maior que a cabeça, os braços e as mãos sumiram dentro da túnica. O defunto maior.E eu, do 4º ano estou sem meu coturno. Foi uma gozação geral. Quanto ao uniforme e a cobertura consegui trocá-los, posteriormente, no almoxarifado. Todos esses acontecimentos, hoje, servem como uma saudável memória, lenitivo para o espírito daqueles que realmente curtem o passado como uma lição de vida, exemplo de amor e abnegação. E pensar que tudo isso valeu a pena. Louvo a Deus por isso.

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CAUSO Nº 111 – Teje preso ! Teje preso tambémPor Ronaldo

Nós tínhamos um colega no CFO, o Mario Malheiros, que não regulava muito bem da cachola. Ele aproveitava os intervalos das aulas e ia para o pátio superior em frente ao antigo Colégio Tiradentes a fim de exigir continência dos sargentos, pois a CCS ficava na parte inferior do referido pátio, local de constante acesso dos referidos graduados. Era uma murrinha em cima dos seus subordinados.

Em 1968, quando estávamos cursando o segundo ano do CFO o Presidente do Brasil emitiu o decreto-lei 317 equiparando o aluno do CPOR do Exercito ao cabo daquela organização. Em conseqüência o efeito desse decreto estendeu, também, para todas as Policias Militares. Com isso o terceiro sargento PM passou a ser superior ao cadete do CFO.

FOI UM ARANZEL NO PAIOL. A sargentada toda passou a cobrar dos cadetes a continência. Na hora do

rancho passaram a almoçar antes dos cadetes alem de exigir o enquadramento da tropa que esperava pela refeição, e muitas outras coisas.. . Em fim, surgiu um clima muito tenso entre cadetes e sargentos, pois um caso já havia ocorrido de um sargento enquadrar cadete do quarto ano.

Mas... o alvo principal dos sargentos era mesmo o Malheiros. Achá-lo onde?

Malheiros não saía da sala de aula nem para respirar. Trazia lanche de casa para não ir à cantina. Permaneceu escondendo durante todo tempo ate que foi revogado o referido decreto. Também, logo em seguida ele foi excluído do curso.

Diante desse impasse causado pelo decreto, os cadetes que eram sargentos anteriormente, conservaram sua carteira de identidade, como foi o meu caso.

Bem, o fato principal do presente causo aconteceu com o Pedro Braz. Numa noite quando regressava da rua, ele foi abordado pelo 3º sargento Messias, cmt da guarda, por não ter passado pelo corpo da guarda, sendo por isso, severamente, advertido.

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Pedro Braz respondeu com mais veemência, exibindo a sua identidade de 2º sargento. O cmt. da guarda não o considerou como sargento e o prendeu, de imediato. Em seguida, o Pedro Braz deu voz de prisão ao sargento convidando-o a ir ao oficial de dia. O mesmo convite o Cmt da guarda fez ao Pedro Braz. Ambos foram à presença do oficial de dia que era o então 2º ten IVALDER.

CONCLUSÃO: Um prendeu o outro e ambos foram prendidos. Após ouvir as partes o oficial de dia decidiu desprender os dois e passar o

problema para o comandante da Cia, o então capitão Braga. Esse, por sua vez, passou o problema para o comandante do batalhão.

Após analisar detidamente os fatos, ou seja, o do cadete do 4º ano e o acima mencionado o Comando da PM expôs ao EM do Exercito as diferenças da situação entre o cadete da PM e o do CPOR , o que motivou acrescentar no decreto-lei 667 a revogação dos efeitos da equiparação do decreto-lei 317 para as PMs.

Os sargentos que usaram o bom senso não consideraram os efeitos primários daquele decreto, pois sabiam que não tardaria revogá-los sobre as Polícias Militares.

Os sargentos que aproveitaram da oportunidade, mesmo depois de aposentados, certamente, estão, até hoje, escondendo dos cadetes do CFO com medo da desforra.

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CAUSO Nº 112 – Um hasteamento incomum do Ten FHEAPPor Cúrcio

O ano era 1981 e exercíamos as funções de Sub Comandante da 61ª Cia PM / 9º BPM, sediada em Conselheiro Lafayete, bem comandada pelo então Capitão PM “Jobão Barcos”, da turma de Aspirantes1968, autointitulado “Capitão Bossal”, que não tolerava que seus comandados mexessem na posição de sentido. A Subunidade dispunha de um miniposto de gasolina, para abastecimento das viaturas das frações vizinhas. Numa quarta feira, tropa formada para o hasteamento das bandeiras, ao som dos hinos do famoso “disquinho” do Presidente Médici (Este é um país que vai prá frente, etc), eis que adentra ao pátio o Tenente PM “Riqueiro”, conhecido como Tenente “FIAP”, conforme lhe apelidou o Capitão “Zoimbra”, em razão de um hospital público para tratamento de esquizofrenia e assistência psiquiátrica, cuja sigla FHEAP (Fundação Hospitalar de Esquizofrenia e Assistência Psiquiátrica), sempre foi muito conhecida na região de Barbacena. O mencionado tenente pertencia ao efetivo da Companhia de Ouro Branco e ocupava uma viatura da AÇOMINAS, na qual estavam alguns tambores para levar o combustível para sua fração. Fazia-lhe companhia um 1º Sargento. Impulsivo, o Capitão “Jobão Barcos” interrompeu a cerimônia e, com acentuada marcialidade, escalou os visitantes para hastearem os pavilhões, até então depositados sobre cadeiras comuns, com cordas de nylon de primeiro uso, cheias de voltas e nós. Por arte e obra do destino o assustado Tenente FIAP, ao se posicionar junto à bandeira para o hasteamento, não percebeu que uma das voltas da corda ficou entre seus pés. Ao comando de “em continência a bandeira apresentar armas”, iniciou-se o movimento esperado, enquanto a corda subia por entre as pernas do Oficial homenageado. Com a bandeira já na metade do mastro, ele notou o problema e, discretamente, começou a dar “pequenos coices”, alternando as canelas. A essa altura risos abafados partiam do seio da tropa e, como não obtinha sucesso nos seus “coices”, incomodado, dirigiu-se em alta voz ao Capitão, nos seguintes termos: “Sr Capitão, permissão para me mexer na posição de sentido”. Aí não houve quem conseguisse segurar as gargalhadas, abalando gravemente a disciplina.

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CAUSO Nº 113 – Quem perdoa não é perdoadoPor Cúrcio

O Major PM “Fioran”, Sub Comandante do 9º BPM, treinou exaustivamente os oficiais do batalhão para o momento da apresentação ao Exmo Sr General IGPM (Inspetor Geral das PM), em rigorosa inspeção à PMMG. A todos orientava assim: “primeiro, o Comandante apresenta o Subcomandante e, na sequência hierárquica, cada oficial dá um passo à frente e, na posição de sentido, declina posto, nome e função, descansando em seguida”.Muito treinamento e tolerância zero com os erros. Na hora H, o Padre “Tardício Marciano Popes”, primo legítimo do “Zaltinho” (Zalter Tem PG), tropica, engasga e, com esforço, grita fininho apresentando-se: “Padre Capelão, Tardício do Batalhão”. O Major “saculejou” a cabeça, bocejou a palavra “muxiba” acompanhada de palavrão. Em seguida, cumpriu-se o regulamento, ficando o Oficial P/2 de providenciar o enquadramento do Capelão.

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CAUSO Nº 114 – Iniciativa versus disciplinaPor Cúrcio

O Subtenente “Filermon” tinha uma dúzia de galinhas ródias poedeiras, que “punham” 18 ovos grandes por dia e o 1º Sargento “Alfeu”, o mais rico da tropa, esbanjava carros, roupas, whisky, etc. Numa sexta feira nobre, a 1ª depois do pagamento, o Major “Zoimbra” mandou o Subtenente em diligência para o Município de Barroso, distante cerca de 22 Km, com retorno previsto para as 18:00 horas. Em seguida, escalou o “Primeirão” para “desapertar” as galinhas do “Sô Sub”. Com as galinhas em mãos, incumbiu o cozinheiro para preparar uma galinhada, para ser servida depois do expediente. Continuando, fizeram uma montagem num bilhete íntimo, com a assinatura do 1º Sargento “Alfeu”, para a esposa deste, recomendando que ela mandasse 3 garrafas do melhor whisky e mais 3 do vinho importado, para serem servidas à equipe de um General que, de improviso, ia pernoitar no batalhão. Diversos oficiais, praças auxiliares mais próximos, além de outras pessoas, especial e camaradamente convidadas para inusitada confraternização, elogiaram entusiasticamente o fino cardápio, rapidamente consumido por todos. Na 2ª feira seguinte o clima para os protagonistas do feito descambou para a indisciplina e a insubordinação, com o “Subão” excomungando a todos e, ao final, queixando-se: “Turma de safados...! Não sobrou uma galinha sequer...!”

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CAUSO Nº 115 – PrecedênciaPor Cúrcio

Promovido ao 1º posto e classificado no 9º BPM, apresentei-me naquela unidade, onde também se apresentava, na mesma data, o Major “Fioran”, assim como eu, também procedente da cidade de Lavras. Meses depois recebemos convites individuais para a formatura de Escola de Recrutas, de cuja organização participamos. Escalado pelo Superior para irmos “sem ônibus para o Estado”, apresentei-me em sua residência, 05 minutos antes da hora por ele marcada. Fiquei surpreso e preocupado logo ao chegar, já que o fusquinha 67 do Major já estava estacionado na rua e, dentro dele, sua esposa “Aniara” no banco da frente, e a filha “Dyocara”, no banco trazeiro. Esperei no passeio e, ante a sua chegada, apresentei-me regulamentarmente. Após corresponder ao meu cumprimento, o Major dirigiu-se bruscamente a elas, mandando que descessem do veículo. Em seguida perguntou-me qual era o banco da minha preferência, pois, segundo ele, o oficial tem precedência. Não vacilei! Imediatamente escolhi a lateral direita do banco traseiro, já que boatos corriam no batalhão que o Superior não tinha muito talento na condução de veículos.

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CAUSO Nº 115 – Planejamento & EficiênciaPor Cúrcio

O Tenente “Riqueiro” (Tenente FHEAP, ou FIAP), por longos anos Almoxarife do “Sentinela da Mantiqueira”, recebeu telex da DAL (Diretoria de Apoio Logístico) confirmando a liberação de uma bobina para a Unidade. Imediatamente, procurando ser ágil nas suas funções, redigiu uma parte ao Subcomandante solicitando caminhão, motorista e ajudante para transportarem a grande carga. No retorno, interpelado em face da curiosidade geral de todos acerca do novo material, todo “jururu” respondeu, timidamente, ao Sr Comandante que presidia reunião dos Oficiais, mostrando pequena bobina para um aparelho do Gabinete Dentário. E, claro, continuou subindo os degraus da Grande Fama (esquizofrênico), com as ameaças de submissão a Conselho de Justificação.

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