catherine marshall - aventuras na oração

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experiencias com oração

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  • AventurasAventuras nana OraoOrao

    Catherine Marshall

    Ttulo do original em ingls: Adventures in PrayerTraduo de Myrian Talitha Lins

    Quinta edio, 1981Editora Betnia

    Digitalizado por guerreirapara o Semeadores da Palavra e-books evanglicos

    HTTP://SEMEADORESDAPALAVRA.QUEROUMFORUM.COM

    CONTRA-CAPA

    Voc est precisando de cura, seja para a mente ou para o corpo? Sente-se incapaz diante de problemas de emprego, ou de ordem econmica? Seu lar est dividido o marido contra a esposa e a gerao mais velha contra a nova? Sente-se solitrio, desejoso de uma vida mais plena de significado?

    Sim, voc deseja orar, mas as palavras no saem. Sente que precisa da orao, mas, l dentro, como que cambaleando sob o peso das dificuldades, o corao exclama: "Onde est Deus, que no o encontro nesta situao? Como conseguirei o auxlio e a orientao do Senhor?"

    "O auxlio no tarda" o tema vibrante de "Aventuras na Orao". Deus, o eterno "Eu Sou", gloriosamente capaz de nos responder, afirma nesta obra Catherine Marshall, que tambm autora de vrios outros livros inspirativos. Nestas pginas, ela nos fala de suas descobertas pessoais nesse campo, deixando-nos entrever a aventura fascinante que a orao

  • pode ser, e o quanto Deus deseja sejam prticas e especficas as nossas oraes.

    Aventuras na Orao certamente se tornar um clssico no assunto, pois traz-nos orientao h muito necessria com respeito aos aspectos bsicos da orao... fala do tipo de prece que ns, nesta idade moderna, mais do que nunca precisamos redescobrir... a orao de uma criana que, simplesmente, corre para o Pai celeste em busca de auxlio.

    PREFCIO

    Nosso ingresso na escola da orao se faz atravs de um teste preliminar que consta de apenas duas perguntas. A primeira : temos realmente uma necessidade? E a segunda: reconhecemos nossa incapacidade para resolver a questo por ns mesmos?

    Tudo que aprendi sobre orao resultou de ocasies em que dei, clara e decisivamente, respostas positivas a estas duas perguntas. Quando penso no meu passado, vejo que aquelas horas difceis agora se salientam como elevados picos de montanhas, e no como vales de desalento, como se poderia esperar. So picos porque, em cada uma daquelas situaes, aprendi uma lio muito importante a respeito de Deus: ele bem real, e maravilhosamente capaz de atender s nossas peties.

    Uma destas experincias de aprendizado me ocorreu na infncia, quando enfrentei um desesperado medo do escuro. Na juventude, a questo foi conseguir o dinheiro para custear meus estudos no curso superior. As lies que aprendi nestas duas fases de vida, relato em "A Orao que Transforma os Sonhos em Realidade".

    Com a idade de vinte e sete anos, meu grande problema foi uma enfermidade grave. A lio aprendida nessa ocasio narrada em: "A Orao de Renncia".

    Quando contava trinta e poucos anos, aprendi uma grande lio com a morte sbita de meu marido, Peter Marshall. Com ela, vieram outros problemas menores: como criar um filho sem a presena do pai, conseguir emprego quela altura da vida sem treinamento especializado. Durante essa fase, aprendi a fazer a "Orao da Apropriao".

  • Alguns anos mais tarde, aps meu casamento com Leonard LeSourd e o encargo de trs crianas pequenas, precisei voltar escola da orao. Como sempre, no foi difcil passar no teste inicial. A dificuldade era imensa, e minha inadequao, patente. Naqueles anos, aprendi a "Orao do Necessitado".

    Naturalmente, na maioria dos casos, a situao que me colocou de joelhos no era estritamente pessoal. Por vezes, tratava-se de problema de um amigo, ou ento de necessidade existente em alguma outra parte desse nosso mundo to conturbado pela fome e pela guerra. Mas o critrio era sempre o mesmo: uma questo muito importante em confronto com nossa insuficincia de recursos para resolver o problema.

    Com o tempo, houve oportunidade de relatar muitas de minhas descobertas no campo da orao na revista Guideposts. Mais tarde, reunimos seis destes artigos para a publicao de um livrete, o qual tem sido muito procurado desde ento. Recentemente, solicitaram-me que revisasse o material para ser colocado em forma de livro. Esta reviso era necessria porque cada artigo havia sido condensado e encurtado para caber no limitado espao de que dispnhamos em Guideposts. Portanto, nas pginas que se seguem, aparece, pela primeira vez, o texto original completo dos seis artigos sobre orao. Este material pode ser considerado "clssico" apenas em um sentido: j passou pelo teste do tempo, depois de impresso.

    Em adio aos primeiros artigos, e como o tempo sempre nos ensina novas lies, acrescento mais dois captulos: "Orar Pedir" e "A Orao de Espera".

    Tambm escrevi, para este volume, uma orao especial acompanhando cada captulo. Todos ns temos momentos em que a orao parece brotar de nossos lbios espontaneamente e sem esforo. Mas h ou-tras vezes em que precisamos de auxlio para que o peso de nosso corao chegue at nossos lbios, e para tais ocasies que apresentamos essas oraes escritas no como substituto para nossas prprias peties, mas como se fossem uma plataforma de lanamento para elas.

    lgico que nem uma existncia inteira e nem um livro mesmo que se tratasse de uma obra bem mais extensa que esta poderiam fazer mais que arranhar a superfcie de assunto to amplo e abrangente como a orao.

  • Neste volume, deixo de mencionar a orao de adorao, a de ao de graas, de louvor, de contemplao, de meditao e a orao que apenas a elevao do corao humano ao encontro do Amado de sua alma, em comunho silenciosa. No que considere sem valor esses aspectos da orao; pelo contrrio; mas que, atravs dos sculos, vrios escritores, bem mais qualificados que eu, nos legaram clssicos sobre o assunto.

    Por estranho que parea, a falta que senti nos meus momentos de necessidade espiritual foi orientao quanto ao mais humilde e elementar tipo de orao a orao de petio. A orao simples da criana que corre ao pai pedindo socorro. isto que precisamos redescobrir nesta era de perplexidades: como recorrer ao Pai.

    Nesta dcada de setenta, as salas e corredores da escola da orao acham-se mais apinhadas que nunca: pois as necessidades pesam sobre ns com premncia cada vez maior; a crise econmica mundial, a intensi-ficao dos problemas do casamento, o aumento do conflito das geraes, o vcio de drogas, o alcoolismo, o cncer que se espalha em propores quase epidmicas. S podemos mesmo correr para a escola. Nossa sede profunda; nossa nsia de aprender, enorme.

    Que maravilha saber que nossa incapacidade a chave que escancara a porta da capacidade divina! Que sempre e sempre a sede e a fome nos impulsionem para o Senhor, "provar e ver" como ele bom. Quem, seno Jesus, poderia ter formulado um plano to perfeito?

    Catherine Marshall

    Maro de 1975

    CAPTULO UM

    ORAR PEDIR

    Recentemente uma amiga relatou-me o seguinte incidente. Sua filha, Elizabeth, arranjara um emprego para o vero, a fim de conseguir o dinheiro necessrio para custear suas despesas na faculdade. Sua tarefa era preparar embalagens de carne para o balco frigorfico de um

  • supermercado. Certo dia, pouco antes de sair para o trabalho, Elizabeth deu pela falta de uma de suas lentes de contato. E embora sua me a auxiliasse na busca, no encontrou a lente em parte alguma.

    Aps a moa haver sado para o servio, usando os culos, a me assentou-se para tomar uma xcara de caf, ponderando a respeito do problema. Havia milhares de cantinhos onde aquela fina escama de plstico poderia ter cado. Ento ela pensou: "Ser que devo orar a respeito disso? Ou ser que o problema trivial demais?" Esta amiga, Tib Sherrill, tinha enorme averso a oraes que tratam o Criador do universo como se ele fora um garoto de recados ou como um Papai Noel celestial.

    Mas Tib sabia que Elizabeth precisaria gastar a quarta parte do salrio para adquirir outra lente, e a moa contava com esse dinheiro para despesas na faculdade. Isso significaria tambm mais uma semana de desconforto no salo refrigerado onde ela trabalhava e mais dedos queimados no arame quente da mquina de embalar.

    Acudiu-lhe mente, ento, a parbola que Jesus narrara acerca da mulher que procurara uma moeda de prata perdida um objeto valioso. (Lc 15.8-10.)

    "Esta histria revela", pensou consigo mesma, "que Jesus se importa com tais coisas, no porque sejam importantes em si mesmas, mas por que o so para ns.

    "Est bem, Senhor", concluiu ela, "ns precisamos do teu auxlio nesta questo. Podes mostrar-me onde est a lente?"

    Sem qualquer razo plausvel, ela se levantou e encaminhou-se para o banheiro. Abaixou-se e correu os dedos cuidadosamente pela superfcie peluda do tapete. Nada!

    Ergueu-se de novo e olhou para a pia.

    "Bem", pensou, "pode ter cado aqui e descido pelo cano."

    Levantou o ralo cromado para olhar dentro do cano. E ali, bem na ponta do pino central do ralo achava-se a lente desaparecida, agarrada no metal como uma gotcula de gua. A primeira vez que algum abrisse a torneira, ela seria levada embora.

  • "Transcorrera menos de um minuto desde que eu fizera aquela orao na cozinha", contou-me ela. "E eu poderia ter procurado em todos os lugares, mas nunca me ocorreria retirar aquela pea."

    Esta me passara pela experincia de obter resposta ao tipo mais elementar de orao a petio. Quando nos encontramos em dificuldades, sejam elas de grande ou pequena monta, aceitando a palavra de Jesus de que Deus realmente nosso Pai, achegamo-nos a ele, contamos-lhe nosso problema da maneira mais direta e franca possvel, e pedimos sua ajuda.

    Se algum ainda no experimentou a glria de receber resposta definida para uma orao, ento, como diz o apstolo Tiago, a culpa apenas sua: "Nada tendes, porque no pedis." (Tg 4.2.)

    Tiago aprendera com o prprio Senhor Jesus que preciso pedir. Andando de aldeia em aldeia com o Mestre, quantas vezes ele vira Jesus forar a pessoa que lhe apresentava um pedido a exp-lo em termos claros e diretos. O Mestre no aceitava generalidades nem pedidos confusos. Um exemplo disso fora o que acontecera aos dois cegos de Jeric. Os dois homens haviam estado a repetir as palavras: "Senhor, Filho de Davi, tem misericrdia de ns." (Mt 20.31.)

    A cegueira daqueles mendigos era bvia, tanto para Jesus como para os discpulos. No entanto, o Mestre silenciara aquela petio lamurienta com uma pergunta direta: "O que desejam que lhes faa?"

    Aquela pergunta direta como que sacudiu os dois, despertando-os de seu estado de autopiedade. "Senhor", disseram, agora com deciso, "queremos que nos abras os olhos."

    Na mesma hora, Jesus atendeu. Mais tarde, Tiago e os outros iriam lembrar-se da expresso de amor e compaixo que se estampava na fisionomia do Senhor em tais momentos. Como era intensa a sua solicitude! Ento, Jesus tocara os olhos de cada um dos mendigos, e, imediatamente, sua viso lhes fora restaurada.

    Aps observarem uma srie de incidentes semelhantes, os discpulos compreenderam que o mtodo de Jesus era este: "Diga-me exatamente o que quer. Fale comigo. Pea-me."

    Um ponto que ele enfatizou inmeras vezes em seu ministrio foi justamente a importncia de expressarmos nossos pedidos ao Pai celestial.

  • "...quanto mais vosso Pai que est nos cus dar boas cousas aos que lhe pedirem?" (Mt 7.11.)

    ''Pedi, e dar-se-vos-... pois todo o que pede recebe." (Mt 7.7,8.) "Pedi, e recebereis, para que a vossa alegria seja completa." (Jo 16.24.)

    Depois ele ensinou que quando pedimos po, no recebemos uma pedra. Se pedimos um ovo, Deus no nos dar um escorpio, como no o faria nenhum pai terreno. (Lc 11-11,12.) Quando batemos porta, ela aberta diante de ns. Portanto, Jesus ensinou que receber resposta de orao receber o que pedimos.

    E ao ouvirem os discpulos tais declaraes, ser que o impetuoso Pedro, ou o ctico Tom perguntaram ao Mestre: "Mas, Senhor, j que o Pai celestial sabe de tudo a nosso respeito e conhece nossas necessidades, para que precisamos pedir?"

    A resposta de Jesus est implcita em muitos de seus ensinos acerca da orao. Ele mostrou a estreita ligao que h entre a orao e o fato de nos tornarmos como crianas.

    "Quem no receber o reino de Deus como uma criana, de maneira nenhuma entrar nele." (Mc 10.15.)

    Quantas vezes Jesus iniciou um ensino dirigindo-se ternamente aos seus discpulos, homens fortes e corpulentos, com a palavra "filhinhos..." E, naturalmente, a atitude caracterstica da infncia a do pedido direto.

    As criancinhas que no mostram hesitao ou constrangimento em pedir aos pais as coisas de que precisam, esto, inconscientemente, revelando sua total carncia alm de demonstrarem que tm um relacionamento perfeito com os pais. Do mesmo modo, o fato de nos dirigirmos imediatamente a Deus, apresentando-lhe nossas peties, nos coloca no relacionamento correto com ele. Isto uma aplicao prtica do fato de que ele o criador, a quem pertencem todos os bens e recursos de

  • que precisamos, e ns somos as criaturas que necessitam de seu auxlio. tomar a posio do "chapu na mo", o que nos desagrada, porque a julgamos depreciativa. Temos que abandonar um pouco do nosso orgulho, para chegarmos ao ponto de pedir socorro, seja a Deus ou a outro ser humano.

    s vezes, acontecimentos corriqueiros pem a descoberto nosso orgulho e teimosia na questo de pedir casos como o de um homem, por exemplo, que viaja de carro por uma regio desconhecida, e se perde. Na maioria das vezes, ele roda quilmetros e quilmetros, perdendo tempo, tentando encontrar o caminho por uma estrada, e depois por outra, em vez de parar e informar-se.

    Deus quer que ns peamos, no porque ele precise conhecer nossa situao, mas porque ns precisamos dessa disciplina espiritual: pedir. Por outro lado, o fato de fazermos um pedido especfico nos obriga a dar um passo de f. A razo por que muitos se atm a divagaes e generalidades em suas oraes no terem um conceito elevado de Deus, mas justamente o contrrio. Receamos que, se fizemos um pedido definido e no formos atendidos, a pequena f que temos se esvair. Por isso, preferimos seguir a rota mais segura das oraes altamente "espirituais" o tipo de petio que Jesus rejeitava, por no ser uma orao verdadeira, e sim uma espcie de monlogo, com que nos enganamos a ns mesmos.

    Em seu famoso livro, Cartas do Inferno, C. S. Lewis faz um comentrio oportuno a respeito dessas falsas oraes, colocando na boca do diabo, o Murcego, o seguinte conselho para o seu substituto, Cupim:

    "No h dvida de que impossvel impedir que ele ore por sua me, mas ns temos meios de tornar estas oraes ineficazes. Faa com que ore de maneira bem "espiritual", e que esteja sempre mais preocupado com o estado de sua alma do que com o reumatismo dela."

    estranho que ns, que tememos tanto orar para que uma dor reumtica passe ou que uma lente de contato perdida seja encontrada, no hesitemos em orar pela paz mundial, ou pela salvao de almas ou por um avivamento que venha modificar a face de nossos dias. Nunca nos ocorre que se o poder de Deus est ausente para atender a estas oraes cotidianas, estar tambm para atender estas peties imensas e abrangentes que fazemos.

  • Para termos certeza de que no estamos tentando evitar que nossa f seja posta prova, faamo-nos a seguinte pergunta: "Ser que eu realmente espero que alguma coisa acontea?" Isto impedir que faamos oraes que no passam de mera "contemplao de vitrines". s vezes bem agradvel "olhar vitrines", mas no passa disso. No nos custa nada. Estamos apenas olhando, sem inteno de fazer compras. Assim, no temos compra alguma para mostrar, aps todo aquele tempo. Muitas de nossas oraes tanto em pblico como as particulares so meros passeios por entre as peties que poderamos fazer; no nos definimos, absolutamente. E no esperamos obter nada com estas oraes, a no ser, talvez, uma sensao de euforia.

    E quanto ao perigo de perdermos a f em Deus caso a orao no seja respondida exatamente do modo como queremos, ser que algum pode estar mais interessado no estado de nossa f que o prprio Deus? O seu desejo que confiemos nele, e mais que desejo, esse o grande anseio de seu corao de Pai. Ento, ns podemos transferir para ele qualquer temor quanto possibilidade de perdermos a f.

    E alm disso, ser que tememos que uma resposta negativa nos coloque de costas contra a parede de nossas deficincias, de nosso erro em no corresponder s exigncias de Deus? E se assim for, no estaremos ns novamente duvidando de que Deus capaz de dar-nos tudo que nos falta seja f, perseverana, ou aquela fora interior para cumprir suas exigncias?

    Vrias vezes Jesus falou de um galardo nos cus. Se tendemos a repelir esta idia por consider-la demasiado materialista, talvez devamos ser mais cautelosos, pois podemos estar sendo mais "espirituais" que o Senhor.

    Um veterano guerreiro das batalhas da orao, John R. Rice, expressou-se de forma drstica a respeito da orao, em sua obra Asking and Receiving (Pedir e receber). Ele disse: "A orao no um automvel bonito para se dar um passeio turstico pela cidade. Antes, ela um caminho que vai direto ao armazm de vveres, estaciona ali, carregado, e volta para casa com eles."

    Se pensamos que nunca conseguiremos reunir f bastante para fazer tal orao, temos toda razo. Entretanto, os santos de Deus mais experimentados nestas questes nos dizem que Deus usa nosso passo de f,

  • mesmo hesitante e vacilante, como porta aberta para que ele opere muito alm daquilo que "pedimos ou pensamos". Ns resolvemos pedir seu auxlio para uma dificuldade pequena e imediata. A ao de pedir como dar um passo e entrar numa pequena ante-sala. Ao darmos esse passo hesitante, descobrimos que a ante-sala nos leva para o imenso salo real de recepo. E para nosso espanto, o prprio Rei vem ao nosso encontro e nos oferece um presente valiosssimo, que s poderia vir de um Rei: o dom de desfrutar da amizade do Senhor da glria por toda a vida.

    "Voc pediu dinheiro para o aluguel deste ms", diz ele sorrindo. "Sente-se aqui aos meus ps e conversaremos sobre o aluguel, mas tambm sobre outros assuntos. Tenho muitas coisas para lhe dizer. Se voc aceitar minha amizade, eu e voc teremos nossa frente anos e anos de glorioso intercmbio. Tenho tantas coisas para ensinar-lhe, que precisaremos de toda a eternidade para tratar disso."

    Nossa situao nos faz lembrar a de uma mulher a quem, h muito tempo atrs, nosso Senhor pediu um pouco de gua, junto ao poo de Jac, em Sicar. Sob o olhar penetrante daquele Estranho, e por causa de suas perguntas incisivas, ela descobriu que a sede que a obrigava a dirigir-se diariamente quele poo era problema meramente superficial. O Rabi sabia de tudo a seu respeito e tinha conhecimento de todas as coisas erradas que praticara. E, no entanto, no houve condenao alguma de sua parte, mas somente amor terno e restaurador, que lhe indicava as solues de seus problemas, solues que ela buscava havia tanto tempo.

    Quando passamos a ter este relacionamento pessoal com Jesus, damos a ele condies de resolver no s nossos problemas materiais e fsicos mais imediatos, mas tambm nossos problemas mais profundos, ocultos, que envolvem atitude e emoes sadias, motivao certa e a maneira de resolvermos nossos problemas de relacionamento.

    Pouco depois, descobriremos que pedir no implica apenas em expor necessidades. Nossos lbios nem sempre sabem expressar corretamente o clamor de nosso corao. Em alguns casos, isto se d porque nossas emo-es esto de tal forma alheias atuao da vontade que nossas oraes giram em torno de irrealidades. s vezes, estamos divididos em nosso interior e nem sabemos exatamente o que queremos, e por isso no podemos suplicar de todo o corao. Ou talvez ns nem mesmo saibamos o bastante acerca de nossas esperanas e sonhos para fazermos um pedido definido.

  • Ento conclumos que deve haver vrios nveis de petio. E h tanta coisa para se aprender a respeito da orao!

    "Senhor, ensina-nos a orar!"

    ORAO: EU PEO

    Senhor Jesus, tu que nasceste num estbulo e foste colocado sobre a palha; tu que andaste por estradas poeirentas e sentiste sede, e desejaste sentir a gua fresca descendo pela tua garganta; e que riste, e algumas vezes verteste lgrimas amargas tu s quem est-me chamando de volta realidade. Agora entendo o que eu pensava ser uma elevada espiritualidade, aos teus olhos, apenas iluso e engano. Pior que isso, muitas vezes tem sido uma capa para esconder meu receio de no receber o que peo.

    Tu, que ests muito mais vivo do que eu, desejas ir comigo at o centro e ajudar-me a encontrar um bom ponto para estacionar o carro, e relembrar-me onde foi que perdi aquele pedao de papel com o nmero de telefone que preciso. Queres tambm proporcionar minha esposa uma boa noite de sono; curar a artrite de meu vizinho e ajudar John a encontrar um bom emprego. A alegria invade meu corao quando me lembro de que tu s Homem, alm de seres Deus; e que tu j provaste, em essncia, toda e qualquer dificuldade que eu possa vir a encontrar.

    Tu me ordenas que eu te fale de todas as minhas carncias e prometes que a alegria e os teus preciosos dons esto ao meu dispor, bastando que eu pea.

    Senhor, eu preciso muitssimo de ....................................

    Gostaria de pedir-te tambm que ....................................

    Peo-te que me reveles tua vontade com respeito a esses pedidos. Ser que, sem que eu saiba, eles podem ser para mal e no para bem? Ser que eu terei de dar um passo de crescimento, perdo ou obedincia antes, para que possas atender ao meu pedido? Senhor, se eu precisar de pacincia para aguardar o tempo certo, peo-te que me ds pacincia tambm.

  • J antegozando, com alegria, a tua bno, espero tua resposta. Obrigado, Senhor Jesus. Amm.

    CAPTULO DOIS

    A ORAO DO NECESSITADO

    Quando eu residia na capital, costumava notar a freqncia com que os jornais da cidade noticiavam a morte de pessoas que se suicidavam saltando da ponte da Rua Calvert. Isso vem acontecendo tantas vezes que o local conhecido como "a ponte dos suicdios".

    Sentindo o drama que havia por trs daqueles curtos relatos como no caso da esposa de um major da aeronutica, uma senhora de 31 anos de idade, que sofria de cncer inopervel, e o do velhinho que perdera a esposa havia pouco eu pensava muitas vezes que, provavelmente, todas aquelas tragdias possuam um denominador comum. Cada uma daquelas pessoas devia ter-se sentido totalmente desvalida e desesperada. E pensei: "Se ao menos eu pudesse conversar com elas no momento da crise, poderia dizer-lhes que a conscincia de desamparo, de impotncia, um dos maiores bens que um ser humano pode possuir."

    Eu creio que aquele velho ditado: "Deus ajuda queles que se ajudam" no somente enganoso, como tambm, em muitos casos, totalmente errado. Algumas das mais espetaculares respostas de orao que recebi foram justamente as de oraes feitas quando me sentia to impotente para agir, to desconcertada, que no poderia fazer abso-lutamente nada em meu favor.

    O salmista diz: "Na angstia me tens aliviado" (Sl 4.1). Aos poucos eu fui aprendendo a reconhecer essa angstia como um dos mais ternos expedientes de que Deus lana mo para mostrar-nos que Ele real e gloriosamente capaz de resolver nossos problemas.

    Uma dessas ocasies foi quando estava escrevendo meu primeiro livro. Enviuvara recentemente do Rev. Peter Marshall, pastor da Igreja Presbiteriana Escocesa e capelo do Senado dos Estados Unidos, e resolvera empreender o audacioso projeto de escrever sua biografia.

  • Quando j me achava pelo meio do manuscrito, recebi crticas desoladoras por parte de uma pessoa cuja opinio eu muito prezava.

    "Voc no conseguiu dar ao menos um vislumbre do verdadeiro Peter Marshall", disse-me sem rodeios.

    E o pior de tudo que ele estava com a razo. O reconhecimento de minha inaptido como escritora no foi apenas mental; foi emocional tambm, regado com muitas lgrimas. Mas essa crise resultou em grande revelao para mim.

    Em minha insuficincia, no havia outra alternativa seno transferir a empresa para as mos de Deus. Orei a ele, entregando-lhe o livro A Man Called Peter (Um Homem Chamado Peter 1), e os resultados tambm.

    E ambas as coisas ficaram com ele. Ainda me espanto quando penso nos milhes de exemplares da obra que circularam pelo mundo todo. Mas tanto isso como o enorme sucesso obtido pelo filme produzido pela com-panhia cinematogrfica 20th Century Fox, so de pouca monta quando comparados s notcias que recebo, vez por outra, a respeito de vidas que foram transformadas pela leitura do livro, e de homens que se dedicam ao ministrio da Palavra por inspirao da vida de Peter Marshall.

    Muitos anos depois, pude ver essa orao do necessitado operar numa situao mais corriqueira o caso era arranjar uma empregada domstica. Antes de casar-me com Leonard LeSourd no final de 1959, eu estava muito animada com a perspectiva de cuidar de seus trs filhos pequenos. Meu filho, Peter John, estava estudando fora havia trs anos, e eu me dedicara ao ministrio de escritora. Em seu esforo para animar-me, Leonard falava confiadamente em conseguirmos uma boa empregada domstica.

    Todavia descobrimos que conseguir uma empregada em Chappagua era extremamente difcil. Meses se passaram. Uma senhora ficou conosco algumas semanas, e depois saiu. Procuramos nos classificados, mas sem sucesso. Oramos persistentemente a respeito do problema, mas a soluo no aparecia. Por fim, resolvi que eu mesma iria encarregar-me do servio. Mas logo descobri que cuidar de uma casa movimentada como a nossa era um servio de horrio mais que integral. Durante vrias semanas, nem che-guei perto da escrivaninha.

    1 Peter = Pedro, em ingls (N. da Revisora).

  • E ento, uma vez mais, lanamos mo do j conhecido recurso: a orao do necessitado o reconhecimento de que eu no poderia fazer tudo, e tambm a constatao de que minha responsabilidade principal era para com o lar. Se Deus desejava que eu voltasse a escrever, teria que solucionar a questo.

    Aps ter reconhecido minha total incapacidade para resolver a situao, surgiu-nos Lucy Arsenault uma pessoa firme, leal, maravilhosa, plenamente digna de confiana, e, alm disso, excelente cozinheira.

    Por que Deus faz questo de que cheguemos ao ponto de reconhecermos nossa incapacidade total, antes de responder nossas oraes? Uma razo bvia que nossa incapacidade humana um fato. Deus realista, e deseja que ns tambm o sejamos. Enquanto estivermos nos iludindo, crendo que nossos prprios recursos podem atender os anseios de nosso corao, estaremos crendo numa mentira. E impossvel que nossas oraes sejam respondidas se baseadas em auto-iluso e mentira.

    Ento, qual a verdade acerca da situao humana? Nenhum de ns teve qualquer participao nas decises relativas nossa origem. No escolhemos nosso sexo, nem deliberamos se seramos japoneses, russos ou americanos; se seramos brancos, negros ou amarelos. Tampouco pudemos escolher nossos ancestrais, nem nossas caractersticas fsicas.

    Depois que nascemos, o sistema nervoso central, que autmato, passou a controlar todas as nossas funes vitais. Uma energia que no entendemos bem mantm nosso corao pulsando, os pulmes funcionando, o sangue circulando, e a temperatura do corpo entre 36 e 37 graus centgrados.

    Um cirurgio pode cortar tecidos do corpo humano, mas no pode absolutamente forar o organismo a religar os tecidos separados.

    E ns envelhecemos automtica e inexoravelmente.

    Auto-suficincia? Impossvel!

    At mesmo o planeta onde vivemos... no tivemos parte alguma na sua criao. O pequeno planeta Terra se acha exatamente distncia certa cerca de 140 milhes de quilmetros da estrela que sua fonte de luz e calor. Se chegasse mais perto, seramos destrudos pela radiao solar; se se afastasse um pouco, morreramos por congelamento. O equilbrio entre

  • o nitrognio e o oxignio do ar atmosfrico ajustado para a sustentao da vida; os elementos do solo e a criao de depsitos de pedras raras tudo isso ocorre revelia do homem este homem pequenino que se mostra to orgulhoso e s vezes esbraveja tanto sobre a superfcie da terra.

    Jesus fez algum comentrio acerca disso tudo? Sim. Como sempre, ele colocou o dedo no mago da questo: "...sem mim nada podeis fazer" (Jo 15.5), disse ele.

    Nada? Isto pode parecer um pouco de exagero. Afinal de contas, o homem tem feito grandes progressos. J conseguimos quase eliminar algumas enfermidades, como a varola, a peste bubnica, a tuberculose, a poliomielite, e a maioria das doenas infecciosas infantis. Aprendemos a controlar, em grande parte, o meio-ambiente; j enviamos homens lua. Como podemos considerar isto tudo como incapacidade? A maioria das pessoas no aprecia muito essa idia. O culto do humanismo que existe em nossos dias levou-nos a crer que somos aptos para controlar nosso prprio destino.

    Entretanto, Jesus no somente insistiu em afirmar que somos totalmente incapazes de tudo, mas ele sublinhou essa verdade dizendo que ele tambm estava sujeito a ela durante sua vida terrena: "Eu nada posso fazer de mim mesmo", disse ele aos apstolos (Jo 5.30). Nisto, como em tudo o mais, ele apresentava o modelo do homem perfeito.

    As Escrituras nos revelam, ponto por ponto, a verdade acerca de nossa incapacidade tanto com relao vida espiritual, como vida fsica.

    Sentimos um impulso em direo a Deus. E ns pensamos que somos ns que estamos indo em busca dele. Mas isto no verdade. Jesus disse o seguinte: "Ningum pode vir a mim se o Pai que me enviou no o trouxer." (Jo 6.44.)

    Desejamos ser salvos de nossos pecados e possuir a vida eterna. E pensamos que, de algum modo, podemos obt-la. No. A verdade que "... dom de Deus; no de obras, para que ningum se glorie" (Ef 2.8,9).

    E quanto s virtudes e graas de que precisamos para obtermos vitrias na vida crist f, alegria, pacincia, paz de esprito, a capacidade de amarmos as pessoas infelizes e desagradveis no h nada que possamos fazer para criar em ns tais qualidades. Paulo nos diz, em Glatas 5.22,23, que tais coisas so dons do Esprito Santo. No h

  • outro meio pelo qual elas possam ser adquiridas. "O homem no pode receber cousa alguma se do cu no lhe for dada." (Jo 3.27.) Esta nfase dada nossa incapacidade tambm observada nos escritos dos autores cristos de outras eras. Vemos, por exemplo, naquela jia da literatura do sculo XVII, no livro do Irmo Loureno "A Prtica da Presena de Deus". A impotncia humana era o centro em torno do qual esse irmo carmelita fazia girar seu relacionamento com Deus:

    "Quando se lhe apresentava a oportunidade de praticar uma virtude qualquer, ele se dirigia a Deus dizendo: Senhor, eu no posso fazer isso a no ser que tu me capacites; e ento ele recebia fora mais que suficiente."Quando ele fracassava naquilo que era seu dever, apenas confessava sua falha a Deus, dizendo: Se me deixares entregue a mim mesmo, no farei outra coisa seno errar; s tu quem deve impedir minha queda, e consertar o que estiver errado. Depois disso, no pensava mais no fato."

    Embora poucos tenham a maturidade espiritual do Irmo Loureno, contudo h ocasies na vida em que nos encontramos numa situao que est fora de nosso controle, e achamo-nos presos a circunstncias que no podemos absolutamente modificar. Quando isso acontecer, acolhamos tais situaes de braos abertos! Muitas vezes, somente a que ns, espritos menores, penetramos na verdade da declarao que Jesus fez no dcimo quinto captulo de Joo: "Sem mim nada podeis fazer."

    O Dr. Arthur Gossip, que escreveu a explanao do Evangelho de Joo para o Interpretels Bible, fez um comentrio muito interessante acerca deste texto: "Estas so as palavras mais animadoras das Escrituras. .. sem mim nada podeis fazer. Pois com base no reconhecimento franco de nossa total incapacidade, sem o Senhor, que Cristo... nos d suas grandes promessas."

    Grandes promessas, como a gloriosa promessa seguinte, que suficientemente poderosa para suplantar nossa incapacitao em um milho de vezes: "... para Deus tudo possvel" (Mc 10.27). Ele est a

  • dizer-nos que um Deus onipotente, transcendente e eminente est acima de tudo e opera atravs de tudo com muito mais perfeio do que ns sabemos.

    Se ficssemos apenas com a nossa incapacidade, seramos como um pssaro que tentasse voar com uma nica asa. Mas quando acrescentamos a ela a outra asa a da capacidade divina ento o pssaro pode alar-se triunfantemente acima dos problemas e atravessar as nuvens de dificuldades que at ento o tm derrotado.

    Uma histria que sempre me impressionou muito foi a do Dr. A. B. Simpson, o famoso pregador de Nova York. Ele fora sempre atormentado por um precrio estado de sade. Sofreu dois esgotamentos nervosos e ainda tinha problemas cardacos. Quando estava com trinta e oito anos de idade, um mdico de Nova York disse-lhe que nunca chegaria aos quarenta.

    A declarao daquele mdico s conseguiu acentuar seu estado de incapacidade fsica, que o pastor j conhecia to bem. Pregar era-lhe um esforo agonizante. Subir ladeiras, mesmo que fracas, causava-lhe sufocao e agonia terrveis.

    Em desespero doente no corpo e no esprito o Dr. Simpson resolveu recorrer Bblia para ver exatamente o que Jesus tinha a dizer a respeito de enfermidades. Descobriu que o Senhor sempre considerara a cura como parte integrante de seu evangelho para a redeno total do ser humano.

    Numa sexta-feira, pouco depois de ter essa revelao, ele resolveu dar um passeio ao campo. Era obrigado a caminhar lenta e penosamente, pois tinha o flego curto. Chegando a um bosque de pinheiros, assentou-se numa tora de rvore para descansar. Logo comeou a orar, falando a Deus de sua total impotncia com relao s suas condies fsicas. Mas a este senso de incapacidade ele adicionou a certeza de que Deus sempre desejara uma sade perfeita para o seu povo. Mais uma vez, atuava aquela poderosa combinao de realidades minha total incapacidade e tua perfeita capacidade. Ento ele pediu a Cristo para entrar nele e se tornar sua vida fsica e suprir todas as necessidades de seu corpo, daquele instante at que conclusse sua misso neste mundo.

    "E ali, naquele bosque, consegui um contato com Deus", contou ele mais tarde. "Sentia cada fibra de meu corpo vibrar com a presena do Senhor."

  • Alguns dias depois, Simpson escalou uma montanha de mil metros de altitude. "Quando cheguei ao topo", relatou ele alegremente, "o mundo de fraquezas e temores estava a meus ps. E daquele momento em diante, passei a ter, literalmente, um novo corao dentro do peito."

    E tinha mesmo. Nos trs primeiros anos, depois de curado, ele pregou mais de mil sermes; e dirigiu, s vezes, at vinte reunies por semana. Seu testemunho era de que em nem uma s ocasio se sentiu esgotado. E pelo resto da vida, ele se tornou conhecido pela grande quantidade de trabalho que produziu tanto em sermes como em livros e ministrio pastoral. Viveu at a idade de setenta e seis anos.

    Alm disso, a obra de Simpson sobreviveu a ele. A Aliana Crist e Missionria, por ele fundada, ainda hoje uma imensa fora espiritual; seus livros ainda esto sendo reimpressos, e tm se constitudo em bno para milhes de pessoas.

    Por que que a orao se torna to eficaz quando reconhecemos nossa incapacidade pessoal? Primeiro, como j vimos, porque Deus faz questo de que encaremos a verdade acerca da situao humana. Deste modo, ns edificamos nossas oraes sobre o firme fundamento da verdade, e no nas bases falsas do auto-engano e das iluses.

    Este reconhecimento de nossa incapacidade pessoal tambm se constitui no modo mais rpido de chegarmos atitude correta na orao, e que Deus considera essencial.

    Ele desfere um golpe mortal contra o mais grave pecado seu senso de independncia que leva o homem a ignorar o Senhor.

    Outra razo que enquanto estivermos confiados em ns mesmos ou em outras pessoas, no podemos aprender de Deus diretamente como Ele , como seu amor por ns como indivduos e seu poder real. E o verdadeiro objetivo da vida a comunho com Jesus, a qual tambm o nico fundamento para a eternidade. Esta comunho diria que ele nos oferece muito real.

    Portanto, se os seus planos e projetos fracassaram; se, uma a uma, as escoras do apoio humano ruram e as portas se fecharam bem diante de seus olhos, reanime-se. Deus est querendo enviar-lhe uma mensagem. A

  • mensagem a seguinte: "Pare de depender dos recursos humanos, que so to inadequados. Deixe-me tomar conta da situao."

    Quero apresentar aqui trs sugestes para fazermos a orao do necessitado.

    Primeiro, seja honesto com Deus. Diga-lhe que est ciente de que, aos olhos dele, voc totalmente impotente para fazer o que quer que seja. Permita que Deus lhe revele sua incapacidade, no plano dos sentimentos, se isso que Ele quer. Lembre-se de que tal revelao pode ser dolorosa. Mas existem boas razes psicolgicas para este primeiro passo. Se o grande potencial das nossas emoes no for tocada por Ele, como se um estopim ficasse apagado.

    Em segundo lugar, confie a Deus o desejo de seu corao. Voc j aceitou o fato de sua incapacidade. Agora agarre-se com a mesma fora de vontade f em que Deus pode operar atravs de voc aquilo que voc no pode. possvel que, durante algum tempo, voc tenha a impresso de que est pisando num vazio, pendendo sobre um abismo. No d ateno a tal sensao, e, calmamente, agradea a Deus pelo fato de ele estar operando.

    Terceiro, esteja atento para as portas que se abriro. Quando a porta certa se abrir, voc ter a certeza interior de que a mo de Deus est girando a maaneta. Chegou o instante de voc agir, a oportunidade para sua criatividade entrar em ao.

    Um belo dia, no futuro, voc olhar para trs e seu corao se encher de louvor a Deus, ao verificar como o amou tanto que lhe deixou uma s sada: voltar-se para Ele. Sem essa providncia diretiva e terna, voc nunca poderia ter conhecido por si mesmo o admirvel poder da orao do necessitado.

    ORAO: ONDE ESTS, SENHOR?

    Senhor, como eu tenho sido derrotado peias circunstncias! J me senti como um animal acuado em um canto, sem ter por onde escapar. E onde que ests em tudo isso? A noite escura. No consigo sentir a tua presena.

  • Ajuda-me a entender que as trevas so, na realidade, "a sombra da tua mo que se estende para afagar" e que essa "angstia" vem de ti, pois talvez no houvesse outro meio de conseguires minha ateno, nem outro modo pelo qual eu te permitiria demonstrar tudo que podes fazer em minha vida.

    Agora vejo que quanto mais vazio meu clice estiver, mais espao haver para eu receber teu amor e bnos. Senhor, eu entrego a ti este problema: ......................., pedindo-te que, da abundncia de teus reser-vatrios, derrames a tua soluo, no tempo que determinares e da forma que quiseres. Quanto te agradeo, Pai celeste, por tuas riquezas estarem minha disposio; no devido aos meus merecimentos, mas pelos mritos de Jesus Cristo. Portanto, pelo poder do teu nome eu te peo estas coisas. Amm.

    CAPTULO TRS

    A ORAO QUE TRANSFORMA SONHOS EM REALIDADE

    Uma das verdades mais estimulantes para ns, em minha opinio, saber que cada objeto criado pelo homem, bem como a maioria de suas atividades, comearam com uma simples imagem mental. Minha me ensinou-me isto, e ao mesmo tempo demonstrou vividamente como a orao que transforma os sonhos em realidade.

    Quando jovem, eu desejava ardentemente fazer um curso superior. Mas atravessvamos os anos da depresso econmica, e a igreja a que meu pai servia na Virgnia Ocidental tinha muitos problemas financeiros. Eu j havia sido aceita para matrcula na Faculdade Agnes Scott, em Decatur, na Gergia. Tinha economizado algum dinheiro de prmios escolares. Alm disso, recebera a promessa de uma bolsa de estudos para alunos que quisessem trabalhar na escola, mas ainda nos faltavam centenas de dlares.

    Certa noite, mame foi encontrar-me, deitada de bruos na minha cama, em prantos. Sentou-se ao meu lado para conversar comigo.

    "Vamos orar, ns duas, por esse problema", disse tranqilamente.

  • Fomos para o nosso quarto de hspedes e nos ajoelhamos junto a um velho leito dourado de carvalho. Aquela fora a primeira cama que meus pais haviam comprado para seu lar.

    "Eu sei que essa idia de voc ir para a faculdade est certa", disse mame. "Creio tambm que foi Deus quem colocou esse sonho em sua cabea. Portanto, vamos pedir-lhe para nos dizer o que que podemos fazer para que o sonho se transforme em realidade."

    Durante aqueles instantes de calma que passamos naquele aposento, senti nova confiana e uma forte determinao surgirem dentro de mim. Minha me tinha uma f contagiante. A resposta viria. Como, no sabamos.

    Continuei a fazer os preparativos para ingressar na Faculdade Agnes Scott. Pouco tempo depois, mame recebeu um oferecimento de um departamento cultural do governo para que escrevesse a histria de nossa comarca. O dinheiro que ela ganhou foi suficiente para pagar a maior parte de minhas despesas com a faculdade.

    Houve um outro exemplo mais dramtico de como mame aplicava a orao para a realizao de sonhos. Foi o caso de Raymond Thomas, um rapaz de "Radical Hill", o bairro mais pobre da cidade. Alm de pobre, ele fora criado por uma famlia do lugar, e nem sabia quem eram seus pais.

    Aquele moo era to pobre que no possua um terno. Todas as vezes que vinha conversar com minha me, trajava macaco de trabalho e calava botinas de cano alto; porm andava sempre impecavelmente limpo. Nos dias quentes de vero, ele se postava no degrau superior da escadinha de nossa varanda ensombrada, e conversava... conversava... conversava... enquanto mame se embalava numa cadeira de balano, debulhando ervilhas, ou tirando a linha das vagens, ou remendando meias. Em pouco tempo, mame percebeu nele uma energia ilimitada e uma grande capacidade mental.

    Certa tarde, ele deixou entrever o mesmo anseio interior que eu tivera cursar uma escola superior. Logo que seu sonho se revelou diante deles, brilhante e claro, mame ficou encantada de ver a expresso de anelo, que se estampava nos olhos castanhos de Ray, transformar-se na chama da esperana.

  • "Mas como vou conseguir isto?" perguntou o rapaz. "No disponho de recursos econmicos, nem vejo perspectivas de arranjar dinheiro."

    Mame percebeu que, com Ray, a orao do sonho deveria ser mais abrangente, incluindo, alm do curso superior, toda uma nova filosofia de vida.

    "Raymond, qualquer que seja a sua necessidade, Deus j possui os recursos preparados para voc, conquanto que voc esteja pronto para receb-los. E nossa ptria ainda a terra da oportunidade, Raymond. Aqui, o cu o limite. Haver dinheiro para todo e qualquer sonho que voc tiver e que for certo para voc, para cada sonho pelo qual voc estiver disposto a lutar."

    Para uma esposa de pastor que dispunha de parcos recursos, esta maneira de pensar era um tanto audaciosa. Mas mame cria nisso, e j o provara muitas vezes. E aquelas verdades comearam a criar razes na vida de Raymond.

    Afinal, chegou o dia em que Ray aceitou o pensamento dela sem reservas, e mame pde lev-lo a fazer a orao que transforma os sonhos em realidade. Depois de t-la ouvido orar por mim naquela situao, posso bem imaginar como foi sua orao por ele.

    "Senhor, tu concedeste a Ray uma mente privilegiada. Cremos ser a tua vontade que ela seja desenvolvida e que desejas usar os potenciais de Raymond para iluminar alguma regio deste teu mundo. E como toda a riqueza que h na terra tua, por favor, ajude o Raymond, para que ele encontre tudo de que necessita para fazer esses cursos.

    "Pai, cremos tambm que tu tens projetos maiores para ele. Coloque em sua mente e corao imagens vividas e sonhos especficos a respeito das atividades que desejas que ele exera aps a faculdade. E tambm, Senhor, d-lhe a alegria de sonhar uma grande alegria."

    E assim, com a carteira vazia, mas muita f em seu sonho, Raymond Thomas embarcou em um nibus com direo faculdade. Se eu fosse relatar aqui como foi que ele conseguiu tudo de que precisava, iria alongar demasiadamente esta histria. Mame arranjou uma senhora que emprestou parte do dinheiro para ele. Escreveu-lhe cartas de encorajamento e orou muito por ele. Ray se disps a aceitar responsabilidades e tomou a iniciati-va de conseguir trabalho. Durante os quatro anos do curso, ele trabalhou

  • em doze empregos, manobrando o tempo e o dinheiro: tantas horas de aulas, tantas para estudo, igreja, lazer, etc. Mame ficou imensamente feliz e orgulhosa no dia em que Ray recebeu seu diploma de Bacharel em Cincias, com distino.

    Durante a Segunda Grande Guerra e nos anos que se seguiram, no mantivemos nenhum contato com Raymond, mas soubemos que ele fixara residncia em Viena, na ustria. Nos meados de julho de 1958, quando me preparava para fazer uma viagem Europa, escrevi a Ray.

    Quando cheguei em Roma, encontrei ali uma carta dele, minha espera.

    "Preparei-lhe uma surpresa. Entrei em contato com a Reverenda Fabrica di San Pietro, e eles iro procur-la. A questo a seguinte: somente eles podem conce-der-lhe permisso para ver o que, a meu ver, o ponto alto de Roma as escavaes da rua de tmulos, datando de mil e seiscentos anos atrs, que se acham sob o Altar Mor da baslica de So Pedro. H dois anos atrs, visitei o local, canto por canto..."

    Depois foi em Florena; logo que me registrei no hotel, o encarregado da recepo entregou-me uma carta de Ray.

    "Quando visitar a cpula do Duomo, lembre-se de que Brunelleschi levou quatorze anos para constru-la. No inverno passado, subi ltima sacada e dei a volta ao redor da cpula..."

    A esta altura eu j ardia de curiosidade para saber mais coisas a respeito de Ray. O homem que escrevera aquelas cartas no parecia ter qualquer semelhana com o rapaz l do Radical Hill. Estava claro que ele conhecia a Europa como poucos americanos. Aquele vigor e aquele gosto pela vida que se espelhavam em suas cartas intrigavam-me.

    E as cartas continuavam a chegar. Em Veneza:

  • "Escrevi a um amigo da vidraaria Salviati, e pedi-lhe que enviasse uma gndola para busc-la. Voc precisa ver os sopradores de vidro trabalhando."

    E em Bad Gastein:

    "Creio que vai achar o lugar meio agreste. Eu esquiei numa colina prximo da."

    Em Viena, ele foi esperar-me no aeroporto, levando-me flores.

    "As flores e a msica so parte da vida de Viena", explicou. "Aqui sempre levamos flores para uma anfitri, mesmo que se tenha sido convidado para um simples jantar."

    E mais tarde, quando saborevamos sacher torte e caf, ele passou a responder s minhas perguntas.

    "O fato de eu ter-me sentado na escada de sua casa e, sem ter dinheiro algum, ter sonhado com um curso superior, e ter conseguido realizar o sonho, ensinou-me uma coisa. Para simplificar, o que sua me disse era verdade; qualquer sonho certo pode se tornar reali-dade. Os recursos materiais realmente esto disposio de quem quiser sonhar. A orao nos ajuda a descobrir se o sonho certo, e ainda nos d a fora para persistir."

    Depois ele descreveu os anos de guerra: fora um dos poucos sobreviventes de um destrier torpedeado. Durante a convalescena, fizera projetos para o resto da vida.

    "Eu queria ser uma espcie de cidado do mundo, para poder servir a meu pas em tempos de paz.

  • Queria viajar muito, falar vrios idiomas muito bem, e ter um grau de doutorado."

    " interessante notar como voc tinha projetos to especficos", comentei.

    Ray sorveu o caf devagarinho, parecendo imerso em suas recordaes, olhando para fora, pela janela.

    "Este processo de fazer projetos s funciona se eles forem bem especficos. Isto acontece porque grande parte da energia necessria para que o sonho se rea-lize deriva justamente do quadro mental que formamos. E para criar esse quadro mental, preciso que tenhamos idias bem claras e precisas."

    Depois, ele passou a falar-me de seus sonhos que j haviam-se tornado realidade: viajara por sessenta pases, conseguira o doutorado em Fsica, pela Universidade de Viena, o que significava perfeito domnio da lngua alem. Falava tambm espanhol, um pouco de francs e de italiano, holands, sueco e um pouquinho de russo. Ele serve sua ptria como funcionrio do Projeto de Energia Atmica dos Estados Unidos, na Europa.

    Uma histria como a de Ray mostra a ntima relao que existe entre o sonho construtivo e a orao. Pois, de certo modo, este tipo de sonho uma orao. Certamente que a vontade do Criador que os desejos e talentos que ele mesmo colocou em ns sejam concretizados. Deus est muito interessado em ver materializar-se a grande personalidade que ele enxerga em cada um de ns. Ele quer que nos conscientizemos dos alvos que ele tem para ns. Pois nisso exatamente que consiste a orao: os homens operando em unio com Deus para trazer do cu os planos maravilhosos que ele tem para ns.

    Mas, infelizmente, muitas vezes, no nos apercebemos desses planos, porque, devido a uma circunstncia qualquer, nossa capacidade de sonhar se atrofiou, provocando em ns um complexo de pobreza. A primeira vez que notei isso foi em contato com uma ex-colega de faculdade, que sofrera muito por causa da infncia pobre que tivera. Dot era incapaz de visualizar seus interesses no campo vocacional.

  • Entretanto, ela fora para Washington cheia de ideais com relao a um cargo pblico.

    "Eu no quero um cargo qualquer", explicou-me pouco depois que ali chegara. "Eu aceito a idia de que Deus tem um plano para a minha vida, mas acontece que eu ainda no descobri qual . Ento como que vou orar com relao a esse problema de trabalho?"

    "Qual seria a ocupao que lhe daria mais satisfao?" perguntei-lhe. "Geralmente, isso um bom ponto de partida para se saber o que fazer."

    Minha amiga olhou-me ligeiramente espantada, e abanou a cabea.

    "Voc nunca sonha?" insisti. "No existe alguma coisa que voc sempre quis ser?"

    "No. Nada."

    Esta jovem no tinha aspiraes porque, durante os anos de sua vida em que a me passara por dificuldades financeiras, ela ensinara filha que quem no alimenta muitas esperanas nunca sofre muitas desiluses. Na realidade, isto nada mais era que uma excelente preparao para esperar pobreza. Infelizmente, minha amiga acabou ficando num servio de arquivista pblica, um trabalho rotineiro, em que ela empregava apenas uma frao de suas muitas habilidades.

    Hoje sei que existe uma sada para essa situao. Quando descobrimos que existem reas afetadas em nosso subconsciente, podemos apelar para o poder do Esprito Santo. Ele pode voltar conosco ao passado e extirpar todo o veneno, aplanar os terrenos acidentados, e criar uma estrada para Deus, a fim de que ele possa penetrar triunfantemente em nosso presente com a execuo de seu plano para nossa vida, um plano muitas vezes quase esquecido e j em atraso.

    No h limites para o que essa associao de sonhos e orao pode realizar. Eu j tenho visto resultados admirveis em diversos tipos de experincia, como: encontrar o cnjuge certo, ou o emprego mais conveniente, encontrar a casa ideal, saber conduzir a criao dos filhos, e na formao de uma empresa.

    Fiquei conhecendo a histria da Olivetti anos atrs, quando visitei as belssimas instalaes da sua fbrica de mquinas de escrever e equipamentos de escritrio em Ivrea, no norte da Itlia, uma regio cercada pelos Alpes. Ali eu vi 22 hectares de terreno, belo projeto de paisagismo,

  • com uma boa enfermaria para os funcionrios, uma biblioteca, fileiras de blocos de apartamentos pintados em cores claras. A empresa notvel no somente pelo seu alcance internacional, mas tambm pela assistncia que d aos empregados. Fiquei encantada ao descobrir que tudo aquilo nascera de um sonho...

    Anos atrs, um jovem italiano que visitava a fbrica da Underwood, em Hartford, nos Estados Unidos, deixara-se ficar no ptio da empresa olhando aqueles edifcios de tijolos vermelhos. Um passante que visse o rapaz assim absorto teria se admirado com isso, pois no havia nada de extraordinrio naquelas instalaes imensas que ele contemplava to atentamente: eram exatamente iguais a outros prdios de fbricas da regio.

    Entretanto, para Adriano Olivetti, aqueles prdios representavam o sonho de uma vida. Naquela poca, Underwood era o maior nome em mquinas de escrever. Algum dia, jurou, ele possuiria uma empresa como aquela, e o nome Olivetti teria o mesmo significado de qualidade que esse outro. Ao procurar fixar em seu corao e mente os edifcios que tinha diante de si, ele criava uma imagem mental que serviria de alvo para suas oraes.

    Trinta e quatro anos depois, Adriano voltou aos Estados Unidos como Presidente da Ing. C. Olivetti & Co. Dali telefonou para um colega seu na Itlia, a fim de dar-lhe a boa notcia: "Acabo de comprar uma coi-sa..." e neste ponto sua voz se embargou pela emoo, "... comprei a Companhia Underwood."

    Oito milhes e setecentos mil dlares haviam passado de uma mo para outra. Com a aquisio do controle da velha companhia americana, Adriano Olivetti realizava um sonho que nascera havia trinta e quatro anos.

    Existem pessoas que fariam objees a esta orao que transforma os sonhos em realidade, porque tm dvidas quanto validade de orarmos pelas necessidades materiais, como: o vesturio, o po, uma pescaria, ou para usarmos situaes mais atuais uma vaga para se estacionar o carro. Com toda a razo indagam: "Ser que no errado tentar utilizar o poder de Deus e os princpios espirituais para alcanarmos nossos objetivos pessoais?"

    Ambas as perguntas so muito vlidas e precisam ser respondidas. Quanto questo de Deus querer que incluamos em nossas oraes peties a respeito das coisas materiais, certamente Cristo estava

  • interessado tanto nas necessidades materiais do homem quanto em sua alma. Ele se interessava por suas enfermidades e sua fome fsica. O cristianismo uma das poucas religies do mundo que consideram as coisas materiais como sendo verdadeiras e importantes to verdadeiras que Cristo teve que morrer num corpo de verdade, numa cruz de verdade.

    E quanto ao perigo de nossos sonhos serem resultado de nossa vontade humana e egostica, existem testes para verificarmos isto. Somente depois que nossas aspiraes so aprovadas nesses testes e assim, antes de orarmos, estivermos certos de que o anseio de nosso corao tambm o de Deus s ento a orao que realiza os sonhos poder ser feita com f e, portanto, com poder.

    Comecemos por reconhecer que as leis de Deus esto em operao em nosso universo, quer as aceitemos ou no. E ns temos que operar em harmonia com elas, e no desafi-las. Por exemplo, faamos a ns mesmos as seguintes perguntas:

    Ser que a concretizao desse sonho ir preencher os talentos, temperamento e tendncias emocionais com que Deus dotou meu ser?

    Esta pergunta no muito fcil de se responder. Ela exige bom

    conhecimento prprio, conhecimento da nossa verdadeira personalidade, o que poucos de ns possuem.

    Ser que meu sonho implicar em usurpar alguma coisa ou em prejudicar alguma pessoa? Ser que sua realizao vai magoar algum? Se assim for, podemos estar quase certos de que essa aspirao no a vontade de Deus para ns.

    Ser que estou disposto a acertar meu relacionamento com outras

    pessoas? Se tenho ressentimentos, animosidades, amarguras justificveis ou no esses sentimentos negativos e errneos nos separam de Deus, que a fonte de toda a criatividade. Alm disso, nenhum sonho pode ser realizado onde no haja bom

  • relacionamento humano. Basta um relacionamento errado para obstruir o canal de comunicao da orao.

    Eu desejo a realizao desse sonho de todo o corao? Eles

    geralmente no frutificam numa personalidade dividida; somente um corao inteiramente dedicado a ele estar disposto a fazer integralmente a sua parte para a concretizao da aspirao.

    Ser que estou disposto a esperar pacientemente o tempo

    determinado por Deus?

    Minhas aspiraes so elevadas? Quanto mais elevado for o

    sonho, maior o nmero de pessoas que se beneficiaro com a sua realizao, e maior a possibilidade de ter-se originado nos infinitos desgnios divinos.

    Se o desejo do seu corao foi aprovado nesses testes, ento s lhe falta agora dar o passo final e necessrio para a orao que transforma os sonhos em realidade. Entregue o seu sonho a Deus, e deixe-o aos seus cuidados. Parece haver perodos quando o sonho como uma semente que deve ser plantada na terra escura e deixada ali para germinar. Mas isto no significar passividade de nossa parte. H muitas coisas que podemos fazer fertiliz-la, irrig-la, roar o mato e que implicam em muito trabalho e autodisciplina.

    Mas o crescimento daquela semente, aquela misteriosa e irreprimvel germinao de vida nos recnditos da terra, em segredo, isso a parte de Deus no processo. Ns no podemos ficar escavando o solo, a cada momento para examinar como vai indo o progresso do sonho.

    No captulo seguinte vou abordar mais alguns detalhes sobre o poder da confiana e da espera em orao.

  • Mas nesse nterim, bem antes de vermos a frutificao de nossas esperanas (alis, no momento em que um sonho originado em Deus plantado em nosso corao), uma estranha felicidade penetra em ns. Penso que, naquele instante, todos os recursos do universo so libertados em nosso favor. Nossa orao, ento, est em perfeita consonncia com a vontade de Deus e se torna um veculo para transmisso dos felizes e triun-fantes propsitos do Criador, para ns e para o mundo.

    ORAO: D-ME UM SONHO

    Senhor, outrora e parece que j faz tanto tempo eu tinha grandes sonhos, e tantas esperanas para o futuro. Agora, no h mais horizonte minha frente a chamar-me; meus dias no tm brilho. Vejo to pouca coisa de valor na rotina diria! Onde est o teu plano para minha vida, Senhor?

    Pai, sabendo que posso pedir em confiana aquilo que j da tua vontade dar-me (1 Jo 5.14,15), peo-te que coloques em meu corao meu sonho pessoal, a misso especial que tu tens para minha vida.

    E juntamente com o sonho, d-me a graa, a pacincia e a resistncia de que precisarei para ver o sonho se realizar. Sei que isto pode implicar em eu ser envolvido por circunstncias talvez inesperadas. Mas quero confiar muito em ti, a ponto de seguir-te mesmo que seja por trilhas desconhecidas. Reconheo que gosto bastante de certos aspectos da minha rotina diria. Mas sei tambm que as atitudes e atos habituais que parecem ser como ninhos confortveis olhando-se do seu interior, do teu ponto-de-vista podem parecer celas de priso. Senhor, se tiveres de deitar abaixo algumas dessas prises, peo-te que comeces o processo agora. Em alegre expectativa, amm.

  • CAPTULO QUATRO

    A ORAO DE ESPERA

    H algum tempo atrs, eu estava folheando uma velha Bblia muito amada e j cheia de orelhas, que eu no utilizava j havia algum tempo, quando dei com alguns pequenos pedaos de papel, recortados em forma oval. Sorri, ao relembrar-me do que se tratava.

    Quando meu filho Peter John era pequeno e eu passava por aquela fase tpica de todas as mes de preocupar-me com ele em demasia, deparei com um artigo escrito pelo Dr. Glenn Clark, onde, com uma simplicidade quase infantil, ele ensinava como agir em tais situaes.

    Na questo da orao em favor dos filhos, dizia ele, parte da dificuldade reside na demora, no tempo necessrio para a lenta maturao de nossas peties. Mas este o mtodo de Deus para os processos da natureza. Por exemplo, uma galinha tem que chocar os ovos pacientemente, durante o tempo de incubao, e somente depois que nascem os pintinhos.

    Com essa ilustrao em mente, o Dr. Clark sugeria que os pais passassem alguns minutos por dia, durante uma semana, pensando nos seus anseios profundos com relao ao futuro dos filhos. Aps escrev-los num pedao de papel, deviam pedir a Jesus que lhes revelasse seus planos para eles; retiramos tudo que fosse superficial ou egostico, at conseguir chegar ao cerne dos desejos e aspiraes do Esprito para cada filho, em particular.

    A seguir, continuava o Dr. Clark, escrevam esses anseios, em forma de petio, usando para isso papis cortados em formato oval. Entreguem ento as oraes ao Pai, para que as responda no tempo e do modo que ele desejar. Para auxiliar a visualizao da idia de que as respostas podem demorar bastante para se concretizar, coloquem as folhas de papel entre as pginas da Bblia, o que simbolizar o ato de deixar tudo aos cuidados de Deus.

    Resolvi seguir a sugesto, mas no comentei nada com ningum, com receio de parecer tola. Entretanto, hoje eu penso exatamente o contrrio. Creio que aqueles pedacinhos de papel falam de um princpio espiritual muito profundo. Pois quando encontrei os pedidos em minha Bblia velha, descobri que o Pai, terno e amoroso, havia atendido a cada um deles.

  • Por qu? O que haveria naquela forma de orao que Deus a honrara to maravilhosamente? Certamente, no fora o fato de eu haver recortado aquelas folhas de papel, naquele formato, e tambm no havia poder algum em terem sido colocadas entre as pginas de uma Bblia. Enquanto meditava nisso, ocorreu-me que parte do segredo estava na espera. A espera, em si, se posta em prtica de acordo com o mtodo bblico, parece ser um estranho mas dinmico meio de comunicao entre o homem e Deus.

    A espera sempre tem um papel muito relevante no desenrolar da histria do relacionamento de Deus com o homem. Ela o mtodo divino que o Senhor utiliza freqentemente para nos ensinar que o seu poder real e que ele pode responder nossas oraes sem quaisquer interferncias ou manobras nossas.

    Todavia, to difcil para ns remover do caminho a nossa vontade e o nosso senso de tempo. Muitas vezes agimos como a criana que leva um brinquedo ao pai para que este o conserte 2. O pai toma o brinquedo, e, de bom grado, comea a consert-lo. Alguns instantes depois, a impacincia infantil comea a se revelar. Por que est demorando tanto?

    A criana fica ali por perto, atrapalhando o trabalho do pai, fazendo observaes desnecessrias, ou crticas tolas. Finalmente, esgotada sua pacincia, ela arranca o brinquedo das mos do pai, e sai correndo, dizendo amargamente que j sabia que ele no conseguiria mesmo consert-lo. Talvez ele nem queira consertar brinquedos.

    Por outro lado, sempre que confiamos no Pai o bastante para deixarmos o "brinquedo quebrado" aos seus cuidados, no s even-tualmente o receberemos de volta consertado, mas obteremos uma surpreendente bno adicional. E descobriremos, por ns mesmos, o que os santos e msticos afirmam: que durante o sombrio perodo de espera, quando todo o esforo pessoal cessa, h em ns um espantoso surto de crescimento espiritual. Depois, notamos em ns qualidades, acrescentadas, como: mais pacincia, maior amor pelo Senhor e pelos que nos rodeiam, mais capacidade de ouvir sua voz, maior disposio de obedecer.

    2 Uma ilustrao de que Peter Marshall muito gostava. Ele a mencionava para responder seguinte pergunta: "O que devo fazer para ajudar o Senhor a responder minhas oraes? e o que devo deixar inteiramente com ele?" Catherine Marshall: "Para Todo o Sempre".

  • O divino Agricultor tem estado a ensinar-nos a lio da vida na Videira. Durante esse perodo de espera (que para a alma como uma noite negra) aprendemos o grande segredo de permanecer. Permanecer na videi-ra a chave que abre os tesouros celestes. (Jo 15.1-8.)

    Nosso condicionamento humano nos faz pensar que a espiritualidade consiste em algo que fazemos. "No assim", diz Jesus, " a minha vida em voc." O ramo da videira no precisa se esticar e se esforar para crescer e produzir fruto. Seu papel simplesmente permanecer ligado Videira, e ficar ali para que a seiva que lhe d vida possa circular atravs dele. Somente ento que podemos produzir "muito fruto".

    Jesus tambm falou bastante acerca dos cronogramas de seu Pai; o princpio de que existe uma certa seqncia e um determinado ndice de crescimento para tudo, na natureza que ele criou.

    "...primeiro a erva, depois a espiga, e, por fim, o gro cheio na espiga." (Mc 4.28.)

    "O tempo est cumprido e o reino de Deus est prximo", disse Jesus. E quando alguns discpulos tentaram for-lo a agir prematuramente: "O meu tempo ainda no chegou..." (Jo 7.6). E mais tarde, quando as sombras se adensavam ao redor da cruz: "O meu tempo est prximo" (Mt 26.18). Sempre falando de seu tempo. Mas ns queremos forar as coisas e apressar a programao divina, com riscos para ns mesmos.

    Deus realmente tem uma "plenitude dos tempos" para responder a cada orao. Segue-se ento que somente ele conhece a dimenso das transformaes que precisam ser operadas em ns antes que possamos ver nossos anseios realizados. Somente ele sabe das mudanas e operaes externas que tm de ocorrer antes que nossa orao possa ser respondida. Foi por isso que Jesus disse: "No vos compete conhecer tempos ou pocas que o Pai reservou para sua exclusiva autoridade." (At 1.7.)

    Portanto, o Senhor parece estar constantemente usando a espera como um instrumento para nos dar os melhores de seus dons. Ele deixou os filhos de Israel esperarem durante vrias geraes, at que ocorresse sua libertao da escravido do Egito. Por causa de sua desobedincia e obstinao, eles tiveram que aguardar quarenta anos para entrar na terra

  • prometida. A espera foi a tnica do exlio. Toda a histria do Velho Testamento se resume em paciente espera pela "plenitude dos tempos", pelo momento do nascimento do Salvador. E aps a ascenso de Jesus, os que se reuniram no Cenculo tiveram que esperar dez dias pela vinda do Esprito Santo.

    No de se admirar que algumas das promessas de Deus sejam condicionadas a uma espera confiante do tempo de Deus:

    "Bom o Senhor para os que esperam por ele." (Lm 3.25.)

    "Os que esperam no Senhor possuiro a terra." (Sl 37.9.)

    "Mas os que esperam no Senhor renovam as suas foras, sobem com asas como guias, correm e no se cansam, caminham e no se fatigam." (Is 40.31.)

    "Porque desde a antigidade no se ouviu, nem com ouvidos se percebeu, nem com os olhos se viu Deus alm de ti, que trabalha para aquele que nele espera." (Is 64.4.)

    "E no nos cansemos de fazer o bem, porque a seu tempo ceifaremos, se no desfalecermos." (Gl 6.9.)

    A espera parece ser uma espcie de dramatizao da orao, exigida de ns com freqncia e honrada por Deus, coisa que s vim a entender depois que descobri a notvel "musculatura" espiritual de f que ela forma em ns. Pois no verdade que a espera exige pacincia, persistncia, confiana e senso de expectao, todas elas qualidades que pedimos continuamente a Deus?

    Lembro-me de certa ocasio quando o Senhor me ordenou que permanecesse de lado, aguardando pacientemente, sem dizer nada, a soluo de um problema, embora estivesse convencida de que a conhecia. Mesmo numa situao de pequena amplitude, eu deveria aguardar a hora

  • determinada por ele, enquanto ele atuava em outro corao humano. Foi uma experincia grandiosa esperar em atitude de serenidade.

    Havia quase dois anos que eu no via Helen. Seu telefonema chocou-me profundamente, pois ela me disse que Steve, seu marido, iria abandon-la para unir-se a uma mulher mais jovem. Ela desejava conversar comigo.

    "Por favor, Catherine, posso ir falar com voc?"

    "Helen, eu no tenho muita habilidade para conselheira matrimonial", respondi.

    "Mas voc pode orar comigo?"

    Isso eu podia fazer, e disse-lhe que sim, sem saber a forma estranha que aquela orao iria tomar.

    Quando Helen se apresentou porta de minha casa em Boynton Beach, na Flrida, olhei para ela com o corao pesado. Ela estava vestida descuidadamente, os olhos sem brilho e irritados de tanto chorar. Estava com excesso de peso e seu cabelo louro avermelhado precisava de mais trato.

    Logo que nos acomodamos no sof do living, Helen lanou-se no relato de uma histria que girava em torno de um s tema: ela estava continuamente se depreciando. Eles tinham tido trs filhos, mas Steve quisera mais. Ele passava horas e horas diante do televisor, mas tambm ela nunca fora muito boa para uma conversa. Havia anos que ele no a convidava para sair, mas ela no se importava muito. Helen no estava certa de quem era a outra mulher, mas sem dvida seria uma jovem mais interessante que ela, e assim por diante.

    E enquanto ela falava, descobri subitamente qual era a causa da dificuldade. No que se precisasse de muita perspiccia para reconhec-la. Desde o momento em que Helen entrara, estivera a declarar, em alto e bom som, qual era a raiz do problema. A verdade que ela no gostava de si prpria. E no instante em que compreendi isto, tive outra revelao: eu no deveria dizer nada. O Senhor falou claramente ao meu corao que eu teria que esperar. Teria que guardar para mim aquela revelao at que o Senhor a comunicasse tambm a Helen, na hora aprazada e do modo mais adequado. O autocontrole que aquilo exigiu de mim foi imenso, pois ela ficou ali duas horas, expressando, de diversas maneiras, uma verdade que eu j conhecia. Mas incrvel tambm foi o senso de expectao que tive ao

  • observar a operao divina. Ele trouxera Helen at mim com o objetivo nico de dar-lhe tempo tempo para raciocinar com coerncia e com lgica acerca de seu problema. Meu papel ali era apenas ajud-la a conservar os pensamentos na trilha certa. Helen precisava alcanar um entendimento de si prpria, por si mesma, e o Senhor estava-me dando uma dose sobrenatural (pelo menos para mim) de pacincia, enquanto encaminhava seu raciocnio ao ponto certo, com muito carinho.

    Com este dom da graa, as duas horas se escoaram rapidamente, tal o suspense que se apoderou de mim diante da gloriosa anteviso do que estava para acontecer. Aqueles momentos foram passados numa mistura de conversa, leitura bblica, silncio e ateno s palavras dela. Por fim, Helen perguntou-me se poderia ir ao jardim, e ficar a ss uns instantes.

    Quando regressou, as palavras se derramavam de seus lbios.

    "Aquele versculo, Catherine, que diz que Jesus nos amou antes que ns o amssemos ultimamente tem sido to difcil acreditar que algum me ama. Mas l no jardim eu fiquei pensando. Quando ns realmente cre-mos que Deus nos ama pessoalmente, ento temos que amar a ns mesmos tambm."

    Acenei com a cabea, concordando, no me atrevendo a dizer nada, e ela prosseguiu.

    "Bem, ocorreu-me ento que, de certo modo, eu o tenho desonrado, por ter-me descuidado de mim mesma e da casa. Quero dizer, meu aumento de peso, refeies simplificadas, camas sempre por fazer..."

    E enquanto eu a escutava, maravilhava-me da operao de Deus. Se eu tivesse procurado dizer a Helen aquelas coisas, no papel de amiga dando conselho, era bem provvel que ela se ofendesse ou, quando muito, que aceitasse minhas sugestes com certa relutncia. Desnecessrio dizer que, tal descoberta no resolveu o problema de Helen, da noite para o dia; seguiram-se muitos meses de duras provaes. Mas, eventualmente, depois que ela ps em ordem a casa e a si mesma, varreu do corao os ressenti-mentos e as irritaes abafadas, e passou a enxergar-se a si mesma como uma pessoa preciosa aos olhos de Deus, o casamento tambm foi salvo. Fiquei sabendo disso um ano depois, quando recebi um interurbano dela.

  • "Achei que voc iria gostar de saber, Catherine; eu e Steve estamos juntos novamente. Estamos viajando. uma espcie de segunda lua-de-mel. Passamos horas e horas conversando..."

    Ento a Bblia valoriza a espera, em parte porque o exerccio dela exige qualidades que Deus quer cultivar em ns como a pacincia, de que eu preciso tanto. Mas h uma outra razo. A espera tem uma funo; re-presenta a unio de Deus com o homem para a obteno de um fim desejado, e este fim sempre uma manifestao da histria da Pscoa.

    Nunca me esqueci de um incidente relatado por Patt Barnes, de Milwaukee, que contou de uma idosa vendedora de flores que conheceu e que lhe ensinou o segredo dos "trs dias". Patt ficou to impressionado com a visvel alegria da velhinha, que comentou com ela que sua vida devia ser totalmente isenta de problemas e dificuldades. No, no disse ela tivera os mesmos problemas que qualquer outra pessoa, mas sabia que cada um deles tinha dentro de si uma fora viva de ressurreio. Quando Jesus morreu, tudo pareceu negro, mas trs dias depois, ocorreu a ressurreio.

    " por isso que sou feliz", disse ela. "Eu conheo o segredo. Quando lhe sobrevier qualquer dificuldade, d a Deus um voto de confiana: espere trs dias."

    Podemos fazer com que uma derrota aparente se transforme em vitria atravs da confiana no princpio da ressurreio. Esse tempo de espera pode no ser exatamente trs dias, mas o princpio verdadeiro. E assim como o seu prottipo bblico (a Pscoa) no foi um evento passivo, assim tambm esse tipo de espera. Nela tambm, alguma coisa tem que morrer geralmente a preocupao ou a tentativa de resolver o problema ns mesmos.

    Alguns anos atrs, uma amiga minha de Washington falou-me a respeito da orao que ela estava fazendo em favor de seu filho, que ento tinha dez anos de idade.

    "Eu j estou comeando a orar para que Deus prepare uma esposa para Bobby a esposa certa. Peo a Deus que ela seja protegida do mal; peo em favor de seu crescimento, tanto fsico como espiritual", contou-me.

    Aquilo era novidade para mim. Mas a idia me pareceu to certa que comecei a fazer o mesmo. Durante alguns dias, todas as manhs, eu

  • trabalhei na formulao daquela orao criativa, o tipo que, eu sabia por experincia, Deus se agrada em atender. Perguntei a mim mesma: "Quais seriam as caractersticas de esprito, mente e corao da jovem ideal para meu filho?" Eu no estava muito preocupada com exteriores se seria loura ou morena; naturalmente, a beleza interior se refletiria no exterior.

    E assim, detalhe por detalhe, e com bastante clareza, os traos da moa ideal, por mim imaginada, foram sendo postos no papel. O mais importante era que ela conhecesse a Jesus Cristo pessoalmente, e o amasse de todo o corao. Deveria ser inteligente e ter cultura bastante para que houvesse entre ambos um estmulo intelectual. Teria que ter alegria de viver, sendo de humor, e aquele jeitinho especial, e assim por diante.

    Depois, quando o retrato j parecia estar completo, certa manh eu o confiei ao Senhor, pedindo-lhe que corrigisse as falhas, e o tornasse realidade para Peter, em seu tempo certo e sua maneira. A seguir, eu o enterrei, por assim dizer, entre as pginas da mesma Bblia velha, como um lavrador coloca a semente na terra.

    Nos anos que se seguiram, tive que lutar para no desenterrar a semente, vez por outra, para ver como estava-se saindo, medida que as garotas iam passando pela vida de Peter. Muitas eram bonitas; outras eram mais difceis de se aceitar. Mas, por fim, o tempo da espera criativa se encerrou quando Peter John estava a meio de seu curso do Seminrio de Princeton. O nome da jovem era Edith.

    Algum tempo depois que Edith e Peter j estavam noivos, encontrei aquelas anotaes e pude ver, com grande admirao, que ali estava, detalhe por detalhe, uma descrio de Edith. E naturalmente, como sempre, Deus acrescentara mais alguns dividendos. Ela era alta, como Peter; loura, como ele, e tima cozinheira. Que homem no gostaria de uma jovem assim? Ela era forte fisicamente e dona de uma alegre vitalidade. Alm disso, gostava muito de jardinagem, trabalhos manuais e outros passatempos que ele tambm apreciava. Gostei dela imediatamente, e nun-ca cesso de agradecer a Deus por uma to maravilhosa resposta para a misteriosa e triunfante orao de espera.

  • ORAO: ENQUANTO ESPERO

    Senhor Jesus, tu queres que eu fale palavras sinceras; de qualquer forma, nenhum pensamento meu est oculto de ti. Fico perplexo com o cronograma do Pai. Tu sabes h quanto tempo estou orando acerca de ............................ e j tentei ser paciente para esperar a resposta. Mas Senhor, por que a tua providncia se move to lentamente?

    Eu sei que as estaes vm e vo em majestosa seqncia. A terra gira em torno de seu eixo num ritmo predeterminado. Nenhuma orao pode modificar esta situao. Eu sei que os Teus caminhos no so os meus caminhos; tua hora no a hora que eu escolheria. Mas Senhor, como que eu, que sou to condicionado s coisas terrenas, posso chegar a uma unio perfeita com o ritmo da eternidade?

    Quero ser malevel. Existe alguma coisa que Tu queres ensinar-me, algum empecilho que queres remover, alguma mudana que queres operar em mim ou em minhas atitudes, para que a orao possa ser respondida? D-me a bno de olhos para ver, de ouvidos que ouam o que tens a dizer-me.

    Vem, Senhor Jesus, e habita em meu corao. Como estou alegre de saber que a resposta de minha orao no depende absolutamente de mim. E quando eu permaneo em ti, serenamente, e deixo tua vida fluir para mim, que maravilha saber que o Pai no v minha pacincia em farrapos nem minha f insuficiente, mas apenas a tua pacincia, Senhor, e a tua confiana de que tudo est sob o controle do Pai.

    Em tua f, eu te agradeo desde j pela resposta minha orao, uma resposta que ser mais gloriosa do que eu imagino. Amm.

    CAPTULO CINCO

    A ORAO DE RENNCIA

    Como a maioria das pessoas, logo que comecei a ter experincias vivas com a orao, comecei a ter tambm inmeras perguntas e dvidas no assunto, tais como: por que algumas oraes sinceras e agonizantes no so atendidas enquanto outras so?

  • Mesmo agora, eu ainda fao perguntas. Os mistrios acerca da orao so sempre maiores que o conhecimento que temos e nos impulsionam, motivando-nos a buscar maiores experincias.

    Mas uma coisa eu sei, e aprendi-a atravs de experincias difceis. H um modo de orar que sempre tem resultado em gloriosas respostas; gloriosas porque, a cada vez que feita, libera um poder imenso que est alm do entendimento humano. a orao da renncia.

    Tive o meu primeiro vislumbre a este respeito em setembro de 1943. Havia seis meses que eu estava enferma, sofrendo de uma infeco pulmonar, e o corpo de especialistas que me assistia parecia no ter condies de curar-me. Orara persistentemente, fazendo uso de toda a f que eu podia ter, mas tudo dera em nada. Eu continuava de cama.

    Certo dia, veio ter s minhas mos um folheto. Era a histria de uma missionria que fora invlida durante oito anos. Ela orava constantemente a Deus para que a restabelecesse, para que ela pudesse trabalhar para ele. Por fim, cansada daquela repetio intil, ela orou:

    "Est bem, Senhor. Eu desisto. Se tu preferes que eu permanea invlida, isto s concerne a ti. De qualquer modo, eu quero a ti muito mais do que desejo a sade. Deixo contigo a deciso."

    Da a duas semanas, ela estava de p, completamente curada.

    Isso no fazia sentido para mim; entretanto, no conseguia esquecer o caso. No dia 14 de setembro, pela manh nunca poderei esquecer tal data! consegui colocar-me em posio de total aceitao.

    "Estou cansada de pedir", foi o brado de meu corao. "Estou derrotada, acabada. Senhor, tu tomars a deciso do que ir suceder comigo."

    Lgrimas corriam pelo meu rosto. No senti f alguma, pelo menos, no senti a f que conhecia; e no esperava nada. A entrega de meu corpo doente foi feita sem qualquer vestgio da graa divina.

    E o resultado? Foi como se eu houvesse apertado o boto que abria as janelas do cu; foi como se a energia celestial comeasse a fluir e fluir. Em questo de horas experimentei a presena do Cristo Vivo de uma forma que varreu toda a dvida e revolucionou minha vida. Naquele instante, iniciou-se o meu restabelecimento.

  • Atravs deste incidente e de outros que se seguiram, Deus estava tentando ensinar-me uma lio muito importante a respeito da orao. Aos poucos eu fui entendendo que o esprito exigente, orientado pela vontade prpria, bloqueia o caminho da orao. Compreendi que a razo disto era que Deus absolutamente se recusa a violentar nosso livre arbtrio, e que, portanto, a no ser que nossa vontade lhe seja entregue voluntariamente, Deus no pode atender nossa orao.

    Com o correr do tempo, fui compreendendo outros aspectos acerca da orao de renncia atravs da experincia de outros, tanto de contemporneos, como pela leitura de livros. A orao de Jesus no Jardim do Getsmani, como vim a entender depois, um modelo para ns. Cristo poderia ter evitado a cruz. Ele no era obrigado a ir a Jerusalm aquela ltima vez. Ele poderia ter contemporizado, entrando em acordo com os sacerdotes; poderia ter feito um acordo com Caifs. Poderia ter apelado para seus seguidores, ou ter agradado a Judas, fundando um imprio terreno. Pilatos quis solt-lo, e s faltou implorar-lhe para que dissesse a palavra certa que lhe permitiria faz-lo. Mesmo no jardim, na noite da traio, ele teve bastante tempo e oportunidade de fugir. Mas ao invs disso, Cristo usou de seu livre arbtrio para deixar a deciso nas mos do Pai.

    A traduo dos evangelhos feita por J. B. Phillips d uma nfase especial s palavras de Jesus: "Pai querido, ...todas as coisas te so possveis. Permite que eu no tenha que beber este clice! Contudo, no seja o que eu quero, mas o que tu queres." (Mc 14.36.)

    A orao no foi respondida como desejava o Jesus humano; todavia, desde ento, o poder tem fludo de sua cruz.

    Mesmo no instante em que Cristo estava-se curvando possibilidade de uma terrvel morte na cruz, ele nunca se esqueceu nem da presena de Deus, nem do seu poder. Existe uma profunda diferena entre aceitao e resignao. Na orao de renncia no existe o fator resignao. A resignao diz: "A situao esta, e eu me resigno a aceit-la como ." A seguir, ela se deita no p de um universo sem Deus, e se pe a esperar o pior.

    A aceitao afirma: " verdade. Esta a minha situao no momento. Vou encarar a realidade dela sem pestanejar. Mas tambm abrirei as mos

  • para aceitar de bom grado tudo que o Pai enviar." E assim, a aceitao nunca fecha a porta para a esperana.

    Entretanto, mesmo tendo esperana, nossa renncia deve ser real e a deciso de renunciar vontade prpria o ato mais difcil que ns, seres humanos, temos que realizar.

    Lembro-me da agonia de uma bela jovem de nome Sara, que me confiou os problemas que estava enfrentando com seu noivado.

    "Eu amo Jeb", disse-me ela, "e sei que ele me ama. Mas o problema que ele bebe muito. No que ele seja alcolatra, no. Mas a bebida uma espcie de smbolo das idias que ele tem. Isto est-me incomodando bas-tante, e eu fico pensando se no justamente Deus querendo dizer-me para desistir de Jeb."

    Enquanto conversvamos, Sara chegou concluso do que deveria fazer. Estava certa de que perderia um bem infinitamente precioso se no decidisse pelo ideal mais elevado e melhor. Lgrimas brilhavam em seus olhos quando disse:

    "Vou terminar o noivado. Se Deus quer que eu me case com Jeb, ele ter que modificar a situao a bebida e tudo o mais."

    E naquele momento, de modo simples e incisivo, ela orou a Deus falando-lhe de sua deciso. Colocou nas mos do Senhor seus sonhos desfeitos e seu futuro desconhecido.

    Jeb no modificou nem suas idias nem seus ideais, e Sara no se casou com ele. Um ano depois, recebi dela uma carta em que transbordava de alegria.

    "Quase morri quando tive que renunciar a Jeb, mas Deus sabia que ele no era o homem com quem eu deveria me casar. Recentemente, eu fiquei conhecendo o rapaz certo, e vamos nos casar. E hoje eu realmente sei o que a sabedoria e a alegria de se confiar em Deus totalmente..."

    bom lembrar que nem mesmo o Grande Pastor pode guiar, se as ovelhas, em vez de segui-lo, preferirem correr frente e tomar caminhos de sua prpria escolha. Essa a razo de Cristo insistir em exigir obedincia prtica: Por que me chamais, Senhor, Senhor, e no fazeis o que vos mando? (Lc 6.46.) Obedecer... obedincia... confiar... so expresses que encontramos freqentemente nos evangelhos. A maleabilidade de um

  • corao obediente deve ser completa, desde o ato de acertarmos nossa vontade com a de Deus, s aes resultantes.

    E se formos pensar bem, como que a obedincia pode ser genuna a menos que desistamos de nossa vontade prpria, em cada episdio da vida, medida que ela avana quer o entendamos ou no, e mesmo parecendo que foi o mal quem deu origem ao episdio em questo? por isso que no nos deve surpreender o fato de que a lei da renncia jaz no mago do segredo da orao respondida.

    Foi o que descobriu a Sra. Nathaniel Hawthorne, esposa do famoso escritor americano, certa vez, quando teve que lutar em orao, no ano de 1860, em Roma. Una, a filha mais velha do casal, estava morte, gravemente atacada de malria. O mdico que a assistia, Dr. Franco, j lhes havia dito, naquela noite, que se a febre da garota no abaixasse antes do amanhecer, ela morreria.

    Sentada beira da cama de sua filha, seu pensamento voltou-se para seu marido, que se encontrava no aposento anexo, e para o que ele dissera naquele dia:

    "Eu no agento mais esse vai-e-vem entre esperana e temor; portanto, estou tomando a deciso de no ter mais esperanas.

    Mas a me no conseguiu partilhar da mesma desesperana de Nathaniel. Una no podia morrer, no devia morrer. A filha era to parecida com o pai; era dotada de grande inteligncia e tinha o carter mais complexo de todos os filhos do casal Hawthorne. Por que razo algum capricho da Providncia iria exigir-lhes que desistissem dela?

    Alm disso, a garota estivera delirante durante vrios dias, sem reconhecer ningum. Se ela morresse naquela noite, eles no teriam nem mesmo o consolo de uma despedida.

    Enquanto a noite avanava, a menina continuava to quieta que parecia estar na antecmara da morte. A me foi at janela e olhou para a praa. No havia luar; era um cu escuro e silente, carregado de nuvens.

    "Eu no suportarei esta perda; no posso, no posso..."

    Ento, subitamente, ocorreu-lhe outro pensamento, de maneira inexplicvel.

  • "Por que deveria eu duvidar da bondade de Deus? Que ele leve Una, se achar melhor assim. E mais ainda: posso entreg-la para Ele. Eu a entrego a ti, Senhor. No vou mais lutar contra ti."

    Foi ento que algo estranho aconteceu. Depois de ter feito este grande sacrifcio, a Sra. Hawthorne pensou que iria sentir-se mais triste. Em vez disso, porm, ela se sentiu mais leve, mais feliz e contente, que em qualquer outra ocasio, desde que a longa enfermidade de Una comeara.

    Alguns minutos depois, ela voltou ao quarto da menina e tocou sua testa. Estava mida e fria. O pulso estava calmo e regular. Una dormia normalmente. E a me correu ao quarto contguo para contar ao marido que o milagre acontecera.

    No terreno da orao respondida, a progresso dos eventos na cura de Una no apresentou nada de extraordinrio. Pois nos anos que se seguiram, depois que ouvi o relato do acontecido com o casal Hawthorne, continuei a ouvir experincias estranhamente parecidas. A que relato a seguir me foi contada por uma amiga, em uma carta.

    ...Nosso filho nasceu h trs anos atrs. A princpio, ele parecia uma criana normal e saudvel. Mas, com apenas doze horas de nascido, enquanto eu o segurava em meus braos, ele teve uma convulso, a primeira. Nos dias que se seguiram, teve vrias outras.A nica explicao dos mdicos era que ele devia ter sofrido alguma leso cerebral no parto. Isto intensificou meu terror. Se ele vivesse, talvez fosse cego, surdo, mudo ou aleijado, ou talvez ficasse com a mente afetada.Nunca me senti to s como naqueles primeiros dias. Eu orava, mas pensava que Deus no se importava mais comigo. Por que isto tivera que acontecer com meu filho?Agora reconheo que minhas oraes no eram verdadeiras oraes, mas acusaes. Eu estava exigindo que Deus curasse meu filho.Ento, exausta no corpo e na alma, parei de dar ordens a Deus, e curvei-me diante dele. Disse-lhe simplesmente: "Leva-o, Senhor, se essa a tua vonta-

  • de. Qualquer que seja tua deciso eu a acatarei; se queres que ele seja aleijado ou retardado, ento eu terei que aprender a aceitar tua deciso e a situao que dela resultar." Eu me coloquei inteiramente nas mos dele.Daquele momento em diante, no apenas Larry comeou a melhorar, mas tambm minhas lgrimas cessaram, e meus temores se desfizeram. Uma paz inexplicvel encheu meu corao e eu tive a certeza de que Larry no somente teria uma vida normal, mas tambm til...Bem, para encurtar a histria, Larry agora um menino normal e sadio. muito, muito inteligente, e se ele fosse um pouquinho mais ativo do que , ento eu que estaria aleijada.

    Est claro que as histrias de Larry e Una tm muitos pontos em comum. Em ambos os casos, a me desejava uma coisa desesperadamente a vida e a sade da criana. As duas exigiram de Deus que respondesse sua petio. E enquanto esse esprito de exigncia predominou, Deus lhes pareceu remoto e inaccessvel. Depois, ao constatarem a evidente inutilidade da orao de exigncia, e aliando-se a isso o cansao do corpo e do esprito, cada uma orou rendendo-se possibilidade daquilo que ela mais temia. Aquele instante foi um momento decisivo. Sbita e inexplicavelmente o temor desapareceu e a paz se fez presente. Seguiu-se, ento, uma sensao de leveza e gozo, que no tinha conexo alguma com as circunstncias externas. Aquele foi o ponto crtico. Daquele momento em diante, a orao comeou a ser respondida.

    A questo que nos intriga : qual o segredo ou lei espiritual que atua na orao de renncia?

    Parte dele o seguinte: sabemos que o medo como uma tela que se ergue entre ns e Deus, e que impede o seu poder de chegar at ns. E como que nos libertamos do medo?

    Isso no fcil, quando est em jogo a