catálogo transversalidades 2013

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    2013Transversalidades

    Territrios, Sociedades e Culturasem tempos de mudana

    fotograa sem fronteiras

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    Transversalidades

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    2013Transversalidades

    Territrios, Sociedades e Culturasem tempos de mudana

    otografa sem ronteiras

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    ndiceiceMelhor portfolio.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..8 Imaginar o mundo na era da imagem- Rui Jacinto.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..12

    T 1

    Paisagens, biodiversidade e patrimnio naturalFotograas premiadas .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..22

    Fotograa e Paisagem- Jorge Gaspar.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..27Portfolios selecionados.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..32

    Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural -Lcio Cunha.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..45Fotograas selecionadas.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..47

    Paisagem e patrimnio natural Espanha -Eugenio Baraja Rodrguez.. .. .. .. .. .. .. ..68 Paisagem e Territrio- Messias Modesto dos Passos.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..72

    T 2Espaos rurais, povoamento e processos migratrios

    Fotograas premiadas .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..80

    Poblacin y espacios rurales, su imagen y su esttica- Santiago Santos.. .. .. .. .. .. .. ..85Portfolios selecionados.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..88Lessentiel est invisible pour les yeux- Pedro Hespanha.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..95

    Fotograas selecionadas.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..98Espacios rurales, poblamiento y procesos migratorios- Mara Jos Prados.. .. .. .. .. .. .. .. ..106

    O tempo da natureza e do homem- Antonio Nivaldo Hespanhole Rosangela Ap. de Medeiros Hespanhol. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..109

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    ndiceiceT 3Cidade e processos de urbanizao

    Fotograas premiadas .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..114Cidade palimpsesto -Henrique Cayatte.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..120

    Portfolios selecionados.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..122As cidades e os processos de urbanizao -Antnio Gama.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..133

    Fotograas selecionadas.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..136Cidade e procesos de urbanizacin -Xulio X. Pardellas.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..146Urbanizao e cidades, cincia e arte:a fotograa como linguagem -Maria Encarnao Beltro Sposito.. .. .. .. .. .. .. .. .. ..148

    T 4Cultura e sociedade

    Fotograas premiadas .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..154Imagen, cultura, sociedad y su esttica -Victorino Garca Caldern.. .. .. .. .. .. .. .. ..160

    Portfolios selecionados.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..163Cultura e sociedade - cidade, arte e poltica -Antnio Pedro Pita.. .. .. .. .. .. .. .. .. ..174

    Fotograas selecionadas.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..178Imgenes y miradas solidarias -Valentn Cabero Diguez.. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..198A imagem, a cultura e a cultura da imagem- Eliseu Savrio Sposito.. .. .. .. .. .. .. .. ..200

    Legendas das imagens. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. .. ..204

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    Territrios, Sociedades e Culturas em tempos de mudana

    h r r

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    Transversalidades I fotograa sem fronteirasm lhor portfolio

    Vto dos Santos eixei a Portugal

    4. 1. 12. 3. 35Os homens do Sal_3*(2) Marinhas de Santiago, Aveiro (Portugal), 2012

    4. 1. 12. 1. 35Os homens do Sal_2*(1) Marinhas de Santiago, Aveiro (Portugal), 2012

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    Territrios, Sociedades e Culturas em tempos de mudana

    4. 1. 12. 6. 35Os homens do Sal_6*(3) Marinhas de Santiago, Aveiro (Portugal), 2012

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    Transversalidades I fotograa sem fronteiras

    4. 1. 12. 4. 35Os homens do Sal_4*(5) Marinhas de Santiago, Aveiro (Portugal), 2012

    4. 1. 12. 5. 35Os homens do Sal_5 *(4) Marinhas de Santiago, Aveiro (Portugal), 2012

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    Territrios, Sociedades e Culturas em tempos de mudana

    4. 1. 12. 1. 35Os homens do Sal_1*(6) Marinhas de Santiago, Aveiro (Portugal), 2012

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    O

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    Transversalidades I fotograa sem fronteiras

    I gin r o undo n r d i grui Jacinto *

    O que quer isto dizer? Que verdade esta que uma pelcula no erra? Que certeza esta que umalente fria documenta? () A realidade verdadeira dum objecto apenas parte dele; o resto o pesado tributque ele paga matria em troca de existir no espao. Semelhantemente, no h no espao realidade paracertos fenmenos que no sonho so palpavelmente reais. Um poente real impondervel e transitrio. Um poente de sonho xo e eterno. Quem sabe escrever o que sabe ver os seus sonhos nitidamente (e assimou ver em sonho a vida, ver a vida imaterialmente, tirando-lhe fotograas com a mquina do devaneio, soba qual os raios do pesado, do til e do circunscrito no tm aco, dando negro na chapa espiritual.

    Fernando Pessoa.Livro do desassossego.

    sonho do fotgrafo na era da imagem: imaginar o mundo . A produo exponencial e a difuso

    viral de fotograas, provenientes de recnditos lugares e retratando distintas situaes, permite aceder,quase instantaneamente, a uma avalanche de imagens, das mais simples, banais e annimas s maiscomplexas, sosticadas e icnicas. A rapidez com que circulam e a banalizao dos respectivos contedostransformaram a fotograa num produto instantneo, retirando-lhe densidade, espessura e a urea demistrio que a envolvia.

    O momento capital que xa o meio natural, a diversidade de paisagens e as manifestaes humanas,captadas em variados contextos econmicos, sociais, culturais e polticos, esboa em cada fotograa uma

    pequena geograa que revela como o espao a acumulao desigual dos tempos, qual mapa onde secondensa o movimento e a mudana que ocorre a montante e a jusante daquele instante. A uniformizaoe crescente fragmentao dos territrios, que se verica em todos os continentes e a todas as escalas, daslocais s globais, tambm subtraiu capacidade da fotograa, inequivocamente e de modo imediato, inter-pretar e situar os espaos retratados. Porque nem sempre mostra toda a verdade e pode ser usada para mani-pular ou, mesmo, mentir, legtima a interrogao se a fotograa continua a valer mais que as apregoadasmil palavras. Todas estas razes converteram a fotograa numa das metforas do nosso tempo.

    Desde os seus primrdios que a fotograa cumpre a nobre misso de retirar do anonimato pessoase territrios olvidados, incomoda quando produz testemunhos que permanecero como memria futura,interpela ao mostrar o que alguns pretendem ocultar, traz ao conhecimento pblico casos e situaes quegostariam de manter esquecidos. Razes estticas, documentais ou emocionais concentram em determi-nadas imagens tal carga simblica, que somos obrigados a questionar, como outros j o zeram, por quecertas fotograas nos obrigam a olhar para o que no queremos ver.

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    Territrios, Sociedades e Culturas em tempos de mudana

    A comunicao inter-pessoal, o acesso informao e ao conhecimento, do mais simples ao maiselaborado, zeram-nos dependentes de imagens. Um breve acesso ao universo das redes sociais mostracomo naufragamos num oceano de tantas e to variadas imagens, como o excesso de elementos visuaispode no dar resposta cabal necessidade real de informao estratgica. Esta irnica contradiomostra como a quantidade avassaladora de informao visual que continuamente nos submerge, por sis e de forma imediata, no suciente para descodicar as mensagens que carregam nem estruturaruma leitura assertiva do mundo que nos rodeia sem recurso a adequadas ferramentas de leitura e inter-mediao.

    A fotograa, contudo, continua a ser uma conveno do olhar, uma linguagem de representao,a expresso de um olhar sobre o mundo, imagem hbrida onde a realidade captada passa a incorporare a veicular uma mensagem com determinado contedo histrico, social e cultural. Nesse sentido, asimagens so ambguas (por sua natureza tcnica) e passveis de mltiplas interpretaes (em relao aomeio atravs do qual elas circulam e do olhar que as contempla). Por isso, para a sua interpretao, sonecessrias a compreenso e a desconstruo desse olhar fotogrco, atravs de uma discusso terico-metodolgica, que permita formular problemas histricos e visuais, no sentido de que a dimenso propria-mente visual do real possa ser integrada pesquisa histrica1.

    Como os exploradores, os cartgrafos e a generalidade dos gegrafos, tambm os fotgrafos retratamterritrios fsicos e imateriais, desenham mapas imagticos onde vertem o sonho que todos continuam aprosseguir: resumir numa nica imagem, seja fotograa, desenho ou mapa, tanto o que lhes vai na almacomo o conhecimento do mundo acumulado em longas viagens interiores e exteriores. Como se velhogegrafo, perante a ingenuidade desarmante do Principezinho, continuasse a esgrimir argumentos na v

    tentativa de eternizar o efmero: As geograas, disse o gegrafo, so os livros de mais valor. Nunca camfora de moda. muito raro que um monte troque de lugar. muito raro um oceano esvaziar-se. Ns escre-vemos coisas eternas. o que, sua maneira, tambm pretende o fotgrafo.

    Excluso seria o que o fotgrafo no gosta, no quer, no pode ou est proibido de fotografar. Razes end- genas (no gostar, no querer), razes exgenas (no poder, ser interdito). () Fotografar tambm resistire cada um resistir conforme a sua pessoa. No humanamente possvel fotografar tudo; h que escolher,

    portanto h que excluir. Mas tambm no possvel reduzir o mundo sua representao fotogrca. Tendo

    a acreditar que a fotograa est para a realidade como o mapa para o territrio. Um minuto depois do clic,o mundo j no exactamente assim. Um dia depois do temporal, o mapa j no espelha elmente o terreno.

    Tudo isto me leva a concluir que a fotograa sempre uma co porque a sua relao com o real , porinerncia, ltrada pelo olhar do autor que exclui segundo os seus valores ticos e estticos.

    Grard Castello-Lopes (2004) - Reexes sobre fotograa. Assrio & Alvim: 117-121.

    T lid d I f t f t i

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    Transversalidades I fotograa sem fronteiras

    Transversalidades: fotograa, incluso e identidade territorial . A imagem, desde as cavernas eas remotas pinturas rupestres, tem acompanhado o processo de socializao, ordenado a relao entre oshomens, feito a sua intermediao com o visvel, o invisvel e o transcendente; desde Lascaux e Altamira,o homem parece ser possudo por essa quase religiosa necessidade de representar, de recriar o mundo, para o clebrar ou para lhe esconjurar os perigos. As imagens, no passado mais recente, invadiram todos os domniosdo quotidiano e da organizao social, tornaram-se omnipresentes, conheceram uma difuso to prolferaque, em muitos casos, congura uma verdadeira poluio visual. Na sua verso digital ou virtual, esto nateleviso, no cinema, nos jogos, na internet, no telefone e em toda a parafernlia de gadgets, assumindoum signicado que transcende o seu incontestado valor esttico, documental ou pedaggico.

    Os territrios (lugares, regies ou pases), por outro lado, tambm constroem a sua prpriaimagem,combinando marcas materiais com sinais intangveis, desde as crenas s ideias, impresses e expectativasque suscitam. Porque, em ltima instncia, o espao regional tambm uma imagem. Entre os homens e oespao em que vivem, uma das relaes mais fundamentais a da percepo, do comportamento psicolgico erelao ao espao vivido. Como salientou Armand Fremont em A regio, espao vivido(1976, 1980: 109),os mecanismos da aculturao e da alienao impem aos homens uma certa imagem dos lugares onde vivemdo seu espao, da sua regio. E essa imagem, aceite, recalcada ou recusada, constitui um elemento essencial dacombinaes regionais, o lao psicolgico do homem com o espao, sem o qual a regio seria apenas a adaptade um grupo a um meio, ou um encontro de interesses dum espao dado.

    A imagem, em sentido lato, por todas estas razes, viu reforada a sua importncia como objecto deestudo, mas, tambm, como elemento estratgico a ter em conta na aco, sobretudo quando esto emcausa certas polticas pblicas. O campo de investigao que se abriu em torno da imagem, necessaria-mente interdisciplinar, tem por objectivo problematizar a centralidade das imagens e a importncia do olharnas sociedades contemporneas, envolve as artes, a comunicao, a geograa, a histria, a antropologia,a psicologia, a sociologia. Os estudos sobre a cultura visual analisam a forma como os diversos tipos deimagens perpassam a vida social cotidiana (a visualidade de uma poca), relacionando as tcnicas de produocirculao das imagens forma como so vistos os diferentes grupos e espaos sociais (os padres de visualid propondo um olhar sobre o mundo (a viso), mediando a nossa compreenso da realidade e inspirando modelode ao social (os regimes de visualidade)2.

    A utilizao da fotograa na promoo dos territrios tem sido analisada, sobretudo, em estudossobre os centros urbanos e a actividade turstica: concluem que o discurso imagtico de forte selecti-vidade, recorre a fotograas que apenas divulgam aspectos singulares ou marcas parcelares, vincandofragmentos estetizados da paisagem, da arquitectura monumental ou conjuntos urbanos limpos e bemconservados. Este tipo de comunicao obedece a uma estratgia simples e ecaz: ressaltar elementosarquitectnicos imponentes ao mesmo tempo que omite ou desvaloriza expresses materiais de algumadegradao ou descaracterizao fsica; a humanizao da paisagem e do seu entorno feita por persona-

    Territrios Sociedades e Culturas em tempos de mudana

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    Territrios, Sociedades e Culturas em tempos de mudana

    gens, geralmente esteretipos, facilmente identicveis, donde se excluram pedintes, ambulantes e, porvezes, at pessoas comuns.

    A narrativa deste discurso prossegue um nico objectivo: tornar apelativos certos lugares pelaexaltao da beleza, do esplendor e da glria, quase sempre passada, construir cones e clichs a partir dematerial imagtico, quase sempre redutor, com forte carga ideolgica, que valoriza a paisagem e o patri-mnio, real e simblico, enquanto recursos consumveis pelo turismo e actividades similares. Os sinaisfortes que os lugares encerram viram marca territorial, elemento nuclear dum conceito que colocado

    ao servio da promoo espacial. A criao e a gesto de imagens transforma-se, pois, na estratgia quaseexclusiva do marketing territorial, apostado em valorizar certos atributos dos lugares, por vezes de formaarticiosa se no articial, para lhes conferir notoriedade, induzir competitividade e, deste modo, os tor-nar mais atractivos junto de diferentes pblicos internos e externos.

    Alm da coeso territorial a fotograa tem servido outras causas, designadamente a da coesosocial. Como ferramenta usada em metodologias de investigao/aco participativa, como o projectoPhotovoice, cujo referencial terico a educao crtica de Paulo Freire, as teorias feministas e a fotogra-

    a documental social, com os seguintes objectivos: encorajar os indivduos a identicar e a reectir sobreaspectos da sua prpria experincia pessoal e comunitria; promover o dilogo crtico e o conhecimentosobre aspectos importantes da sua comunidade; projectar a viso acerca das suas vidas a outros, especial-mente poderosos agentes polticos3.

    A fotograa est na base doutro tipo de projectos, designadamente pedaggicos, orientados para aeducao do olhar ou a anlise de contextos econmicos e sociais, onde se integram os respectivos par-ticipantes, a partir das suas experincias e vivncias. Quando esto em causa ns cientcos, a fotograaca na fronteira uida denida pelos cdigos de leitura visual dos respectivos especialistas. a partir dovalor plstico ou cientco que reconheam s imagens, provenientes da astronomia, imagiologia mdicae de outras cincias, sobretudo sociais (paisagens, lugares, pessoas, elementos, peas do vesturio, smbo-los, cenas do quotidiano, etc.), que avanam com outros olhares possveis sobre o mundo.

    A imagem, em geral, e a fotograa, em particular, jogam ainda um papel, que no despiciendo,na (re)construo das identidades territoriais, processo permanente que se alimenta duma innidade deelementos sociais, histricos, culturais e polticos. Os poderes e autoridades pblicas, regionais e locais,apostam na criao de imagens que os diferencie dos restantes para, assim, ajudar ao desencravamentofsico e imaterial, reforar a auto-estima dos habitantes e, em ltima instncia, contribuir para a promo-o da coeso territorial e social. O projecto Transversalidades, fotograa sem fronteiras, tributrio detoda esta cultura visual, recorre imagem como instrumento para promover o dilogo e a cooperaoterritorial, tendo como coordenadas: aproveitar o valor esttico, documental e pedaggico da imagempara promover a incluso dos territrios menos visveis, inventariar recursos, valorizar paisagens, culturase patrimnios locais; promover a cooperao entre pessoas, instituies e territrios, de aqum e alm

    TransversalidadesI fotograa sem fronteiras

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    I g

    fronteiras, fomentar a troca de experincias e de conhecimentos entre espaos unidos pela matriz ibricacomum, espalhados por diferentes pases de vrios continentes; formar novos pblicos e usar as novastecnologias de comunicao como meio privilegiado de comunicar, apelando participao de jovensestudantes universitrios e, assim, alargar a rede internacional de investigadores que se vai organizando apartir da entidade promotora desta iniciativa (CEI).

    Como designar, ento, a prosso destes caadores de fascnio? Fotgrafo um termo que no basta. Melhorseria cham-los de imagingrafos. Com eles todos sangramos da mesma ferida, todos reacendemos igual esperan-

    a, todos ousamos de novo assaltar o futuro. Eles manejaram o poder mgico da imagem: desocultar os mltiplossentidos do acontecido, libertar o tudo que poderia ter sido naquilo que simplesmente foi. () doaram um olhare nos facultaram a descoberta de fascinantes mundos que to perto estavam mas que no sabamos ver.

    Mia Couto, Pensatempos: 83.

    Todos ns fotgrafos: participao e cultura territorial . A nossa relao com a fotograa mudou,deixamos de ser meros espectadores, de ter a posio passiva de simples consumidores para sermos, tam-bm, protagonistas e produtores de imagens. Cada um sua maneira, hoje, caador casual de imagens,faz registos para alimentar a memria e mais tarde recordar, faz apontamentos mais intencionais destina-dos a partilhar causas ou transmitir sentimentos.

    Os 166 participantes no concurso, que submeteram 841 imagens, so predominantementejovens, do sexo masculino, oriundos de meios urbanos, com qualicaes relativamente elevadas,exercendo prosses tcnicas. Uma anlise mais na mostra que 25% dos participantes tm menos de25 anos, valor que atinge 42% se estendermos este limite aos 30 anos; embora predominem os homens,as mulheres representam 32% dos concorrentes. Aos portugueses (que representam 59% do total departicipantes), espanhis (20%) e brasileiros (13%) juntam-se concorrentes doutros pases de lnguaportuguesa (Cabo Verde e Moambique) e continentes (Uruguai, Venezuela, Japo, Polnia, fricado Sul, etc.). A origem dos concorrentes , tambm, variada, embora prevalea, entre os portugueses,alm da Guarda (12), os que residem, em Lisboa (8), Porto e Coimbra (7), Viana do Castelo (8), Leiriae Viseu (3); os espanhis so, fundamentalmente, de Salamanca (5), Madrid, Barcelona e Sevilha (3),os brasileiros do Rio de Janeiro (4), Porto Alegre (3) e So Paulo (3). Depois dos estudantes (39),destacam-se as seguintes prosses: professores (21), fotgrafos (13), designers (8), arquitectos (6),alm de outras mais tcnicas (bilogos, engenheiros, gegrafos, etc.) ou de carcter generalista (admi-nistrativo, secretria, etc.).

    A elevada participao no deixa de ser uma manifestao de cidadania, de envolvimento e desejocooperao atravs da fotograa, veiculando mensagens que espelham, alm de valor documental, umacultura territorial relativamente abrangente e tematicamente variada: o tema paisagens, biodiversidadee patrimnio natural recebeu 360 imagens (42% do total) de 66 concorrentes (40%); os espaos rurais,

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    povoamento e processos migratrios (13% de imagens, 14% de participantes); cidade e processos de urba-nizao (14 %); cultura e sociedade (31 e 32%, respectivamente).

    O espectro dos lugares e pases onde as fotograas foram captadas so incomparavelmente superio-res e mundialmente mais representativos. Portfolios com discursos intencionais, maduros e consistentesconvivem com outras leituras mais fragmentadas, complementando abordagens temticas igualmentediversas, dos territrios naturais e sociais especcos (geomonumentos, ria de Aveiro; Bairro do Aleixo,etc.) aos do trabalho e da cultura (vindima, pesca, pastorcia, etc.). Para alm dos vencedores, inerentes

    a qualquer concurso, ca para memria futura um conjunto de imagens que nos ajudam a compreendermelhor o mundo e o tempo em que vivemos, peas dum complexo mosaico com que vamos construindoum pequeno atlas imagtico do mundo.

    Ora nenhuma outra cultura celebrou tanto as imagens, em detrimento do livro e do conceito, como a nossa. Otexto ir desaparecer, o livro tambm, em proveito das imagens icnicas, pixelizadas, digitalizadas, o real recuana sua espessura carnal em proveito da modalidade virtual: alcanamos o culminar da imagem e, como acontecesempre nestas alturas, o excesso mata a prpria possibilidade delas poderem ter verdadeiramente signicado.

    Michel Onfray (2009). Teoria da Viagem. Uma potica da geograa. Quetzal: 25.

    Atlas imagtico do mundo: temas e territrios; signicado e utilidade das imagens . As imagensobtidas no mbito deste concurso so olhares subjectivos, abordagens pessoais dos temas que enquadra-vam o concurso, documentos que mostram a diversidade de geograas, a variedade de processos e rees-truturaes que percorrem os territrios, as sociedades e as culturas de vrios continentes. Atravs delascaptam-se sinais de continuidade e de mudana, arcasmos e inovaes, diferentes modos de organizaosocial e espacial que ocorrem tanto nas metrpoles mais populosas como em despovoadas, remotas elongnquas reas rurais.

    O catlogo e os textos que estruturam os respectivos captulos obedecem aos temas do concurso:paisagens, biodiversidade e patrimnio natural; espaos rurais, povoamento e processos migratrios; cida-de e processos de urbanizao; cultura e sociedade. O resultado que ca plasmado um mosaico de ima-gens do mundo, pequeno atlas imagtico que nos permite viajar por mltiplos e variados territrios. Asfotograas, ao mostrarem e permitirem ler as paisagens naturais, econmicas, sociais e culturais, sobretudoas dos territrios perifricos, marginais e menos visveis, acabam por se transformar num instrumento decooperao e incluso territorial.

    Embora predominem fotograas captadas na Europa, o catlogo inclui muitas que so provenientesdo Sul, para onde parece ter emigrado a esperana, que aqui retorna sob a forma de imagem. Quando asobservamos assaltam-nos reexes contraditrias. Vm-nos memria os mapas que desenham as geogra-as da guerra, da fome e das abissais desigualdades que fragmentam o mundo; conclumos que as anlises

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    de Josu de Castro s pecaram por defeito, que as novas fronteiras destes agelos se tornaram mais uidas,chegam a penetrar na Europa, continente donde se pensava estarem praticamente erradicadas. Esta leitu-ra reforada pelo insucesso dos nobres Objectivos de Desenvolvimento do Milnio, denidos em 2000pelas Naes Unidas, quando 191 estados assumiram acabar, at 2015, com a extrema pobreza e a fome,promover a igualdade de gnero, erradicar doenas que continuam a matar injusticadamente milhes depessoas em todo o mundo.

    Enquanto pensamos nisto, mergulhados na crise, angstia e incerteza que actualmente nos enreda,

    deparamos com sinais bem diferentes, a avaliar pelo novo relatrio do desenvolvimento humano de 2013,divulgado pelo PNUD: A ascenso do Sul: progresso humano num mundo diversicado. Referia uma fonte,com base naquele estudo, que os pases do Sul se desenvolvem a uma velocidade e escala sem precedentes, res-gatando centenas de milhes de pessoas da pobreza, integrando outras numa nova classe mdia mundial.Nunca, na Histria, as condies de vida e as perspectivas de futuro de tantos indivduos mudaram deforma to considervel e to rapidamente. Enquanto o crescimento nos pases do Sul est a permitir umreequilbrio global sem precedentes, o lado oposto do globo conhece, pelo contrrio, polticas de auste-ridade e ausncia de crescimento econmico que dicultam a vida de milhes de pessoas desempregadase privadas de benefcios, crise que comea a ameaar a paz social. At 2020, o produto combinado dastrs principais economias do Sul (China, India e Brasil) ultrapassar o produto agregado dos Estados Uni-dos, Alemanha, Reino Unido, Frana, Itlia e Canad.

    A mesma fonte escrevia que a ascenso meterica do Sul, num mundo interdependente, carcomprometida se as economias dos Estados Unidos e da Europa titubearem. Algum referiu recentementeque a Europa tornou-se um museu de si mesma (Eduardo Loureno), assumpo implcita da agoniado eurocentrismo, esse olhar desfocado com que se insistiu ler e interpretar o mundo. Torna-se aindamais evidente que h mais mundo para alm de Gibraltar, facto que ir impor alguma humildade para sereaprender com o Sul os caminhos da esperana, onde foram adoptadas, sem complexos e contra algumascabeas bem pensantes, receitas que funcionam e comeam a apresentar resultados.

    * CEGOT - Universidade de Coimbra; CEI1 Charles Monteiro (Org.; 2012) Fotograa, Histria e Cultura Visual. Pesquisas recentes. EdiPUCRS, Porto Alegre: 14. Consultado em:

    http://ebooks.pucrs.br/edipucrs/fotograa.pdf.2 Charles Monteiro (Org.; 2012), ob. cit.: 11.3 Photovoice (http://www.photovoice.org), projecto lanado por Carolina C. Wang (Universidade de Michigan) e Mary Ann Burris

    (Universidade de Londres); Soa Rodrigues & Liliana Sousa, Comunicar com famlias pobres: o Photovoice (www.ua.pt/cs/ReadObject.aspx?obj=15508).

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    Paisagens, biodiversidade e patrimnio natural

    Tema 1

    Transversalidades I fotograa sem fronteirasPrmio Tema 1

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    Antnio C te-real , Portugal

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    Despojos*(7) Olivena (Espanha), 2012

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    Transversalidades I fotograa sem fronteirasMenes honrosas

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    1.1.47.5.151Jos Manuel Portelo Paiva , PortugalThe Reex *(8) Parque Natural Serra da Estrela(Portugal), 2012

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    1.1.17.4.69Julio Herrera, EspanhaSoledad *(9) Asturias (Espanha), 2012

    Transversalidades I fotograa sem fronteirasJovens estudantes

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    Menes honrosas

    1.2.16.6.139Alejandro Lpez Arnal , EspanhaEl cementerio grabado*(11) Castell de la Plana (Espanha), 2012

    1. 2. 17. 4. 141Leonice Seolin Dias, BrasilO choro no canavial *(10) So Paulo (Brasil), 2012

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    F

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    Fotogr P is gJo ge Gaspa *

    em ns que as paisagens tm paisagem.

    BS/FP: Livro do Desassossego

    otograa e paisagem so dois termos que aparecem frequentemente associados. Num artigo de 2001 emque defendamos a ideia de que o interesse da Geograa pela paisagem se tinha renovado, escrevamos:Mas o regresso paisagem no s apangio da Geograa, manifesta-se em vrios outros domnios onde necessrio apreender a luz, as formas, os ambientes, para compreender os lugares e o sentido do espaoe do tempo; da as novas paisagens da pintura, da literatura, da arquitetura e a continuidade renovada dafotograa.. Assim se tem vericado.

    A fotograa de certo modo veio democratizar a arte e ao mesmo tempo dar outra amplitude

    quele que era um dos grandes desideratos das artes visuais o permitir a objetivao/concretizao/ma-terializao da memria. Se a pintura, a escultura, a tapearia tinham permitido sobrelevar determinadosfactos e personagens memorveis, a fotograa permitiu o crescente alargamento dessa memria materialpara as pessoas, as coisas, as experincias, as vivncias, os acontecimentos banais. Assim, com a fotograa,tambm a imagem da paisagem se banalizou e, sobretudo, deixou de ser necessria ao que continua a serum domnio maior da fotograa: o retrato do retrato de pose, intencionalmente encenado, ao retrato deidenticao pretensamente objetivo: dos arquivos (civis, militares, judiciais, prisionais), ao passaporte,bilhete de identidade, entre outros.

    interessante que tendo a paisagem sido inventada pela pintura, mormente o retrato, conferindo-lhe um enquadramento, ou servindo como pretexto, foi o retrato fotogrco que desvinculou a paisagemdessa funo, autonomizando o tema central.

    Desde a Primeira Exposio Universal no Crystal Palace, onde o fotgrafo americano MathewBrady apresentou, entre outros trabalhos, daguerretipos de paisagens, que a fotograa de paisagem nodeixou de se banalizar e em certo sentido, passaram a ser uma das fontes de construo da paisagem.Primeiro atravs da difuso dos lbuns de fotograas e a partir de nais do sculo, atravs do postalilustrado, sem dvida o principal agente de construo e divulgao de paisagens. famoso o primeiropostal ilustrado, mostrando a paisagem alpina de Davos, enviado da estao de correios local, em 30 deDezembro de 1890.

    A fotograa desde cedo associada ao caminho-de-ferro, contribuindo para fomentar o interessepela viagem e pelas paisagens. As estaes dos caminhos-de-ferro, e tambm as carruagens, vo ser dos

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    mais conspcuos apresentadores de fotograas, sobremaneira as dedicadas a paisagens. o nascimento doturismo moderno. Por todo o Mundo, as gares mostravam, em fotograa, revelavam atravs da reproduode imagens fotogrcas, panoramas, paisagens, hotis e monumentos, lojas e restaurantes, onde se podiachegar no conforto do comboio.

    Poucos anos depois, sobretudo aps a 1 Grande Guerra, o automvel ir, a um tempo, competire complementar o caminho-de-ferro. O automvel vai permitir o alargamento de horizontes e aprofun-damento da sua pesquisa. Disso nos deu nota Miguel Unamuno, j em 1907, nas suas notas nais sobre

    as viagensPor Tierras de Portugal y de Espaa: Outra de las cosas que contribuyen hoy aqu a desarrollarla acin al campo y al goce de las bellezas de la Naturaleza es el automvil. El deporte automovilista hallebado a muchos a conocer campias y rincones que antes ignoraban, ha hecho que muchos empiecen adescubrir Espaa. (Unamuno, 1907; 1960, pp. 187-188).

    A popularizao do automvel que entretanto se vericou a nveis nunca imaginados, no sbanalizou o passeio, como a viagem, permitindo multiplicar ao innito as vises de paisagens, que variamsegundo o observador, mas tambm, e de que forma, segundo a velocidade.

    At que o TGV veio trazer novas imagens, como nos apresentou Yoshio Nakamura Le TGVest un aspirateur du paysage a-t-on dit quelque part en une bien intressante mtaphore. En effet, lepaysage, dissmin en corps poudreux comme de la poussire, est aspir vers larrire, comme dans unaspirateur. A la pointe de la civilisation contemporaine, cette mtaphore clbre annonce la mort dupaysage traditionel e mais adiante Laspirateur du paysage fait pressentir que le train grande vitesseest un outre un mdia gnrateur dimages. (Nakamura, Frieling e Hunt, 1993, pp.16-17).

    A fotograa permite nos nossos dias mltiplas interaes com a paisagem: registo, arquivo e instru-mento de planeamento (guia para a interveno), ela prolonga ou recupera a contemplao, permitindoou facilitando imaginar/construir futuros. A fotograa, ao representar a paisagem enquanto modelo,constitui um campo aberto no s leitura e interpretao, como interveno, imaginao, manipu-lao, (re)criao

    Se o objetivo da Geograa contribuir para o conhecimento do Planeta, no nos pode surpreenderque o aparecimento da fotograa no sculo XIX tenha contribudo para novas perspetivas do trabalhodos gegrafos. Assim, ao mesmo tempo que as tcnicas fotogrcas progrediram e se consolidaram, a

    Geograa progrediu e armou-se como domnio cientco. No admira pois que os primeiros laboratriosde Geograa do incio do sculo XX tenham atribudo um lugar central fotograa, tanto nos seus equi-pamentos como nas colees, a par com mapas e atlas, com os quais alis a imagem fotogrca foi cons-truindo relaes e associaes originais e fecundas. Correlativamente, os livros e os artigos das revistas deGeograa passaram a apresentar regularmente ilustraes fotogrcas, ao mesmo tempo que a fotograacontribua para o reforo do paradigma paisagstico da Geograa. A fotograa estava to fortemente

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    associada ao progresso cientco da Geograa que o congresso da UGI que teve lugar em WashingtonDC, em 1904, aprovou a proposta do geomorflogo alemo Albrecht Penck para que se promovesse umlevantamento fotogrco da superfcie da Terra, o que viria a originar o Atlas phographique des formes durelief terrestre, da autoria de Jean Brunhes, mile Chaix e Emmanuelle De Martonne, cujas primeiraslminas foram apresentadas por De Martonne no X Congresso Internacional de Geograa, Roma 1913,(Robic,1993).

    Mais ambicioso seria o banqueiro Albert Khan que em 1909 inicia o projecto de levantamento foto-

    grco e cinematogrco,Les Archives de la Plante, para cuja direco cientca convida, em 1912, o ge-grafo Jean Brunhes, projecto que terminaria por efeito da grande crise nanceira de 1929. Entre 1909 e 1931foram realizados e arquivados 72000 autocromos, 4000 fotograas a preto e branco, e cerca de 100 horas delme, abrangendo meia centena de pases. Este acervo pode ser visitado em Paris, no museu Albert Khan.

    Toda a paisagem no est em parte nenhuma.

    BS/FP: Livro do Desassossego

    Acabo de ler que no dia 25 de Abril p.f. o proco de Ftima ir celebrar uma missa s escuras dedi-cada aos invisuais; todos podero assistir, desde que coloquem vendas que sero distribudas.

    Olho agora para estas fascinantes 44 fotograas que j me levaram em mltiplas viagens ( volta domeu quarto) e procuro imagin-las s escuras, feitas numa noite de lua nova e com o cu carregado denuvens baixas, sem luzes.

    Est tudo naqueles 44 retngulos negros, s falta a luz, mas so 44 paisagens, para l da luz. Mas noso paisagens das trevas. E, no entanto, medida que aprofundo esta procura das paisagens na escurido(os deuses vivem da luz, at ao exagero de serem s luz - sEsprito Santo), navego sobre as guas de rios eoceanos, de montanhas velhas da Ibria ou sobre os jovens sertes dos Brasis. Sinto os frios na cara e ouoaves, ventos e pessoas vozes, cantigas, orestas, vinhedos, ondas, cheiro mais e mais e a cada minutoque passa cresce em mim aquele impulso tctil de que escreveu Y Fu Tuan a propsito doThe Leaping Horsede John Constable, e em relao ao qual Robert Hughes foi denitivo: ...this is the landscape of touch.(Tuan, 1993, 43).

    Respiro mais e mais fundo, na busca do fundo daquelas paisagens e sinto a angstia da busca ansio-sa de Kazimir Malevich, 18 meses de escurido iluminada at chegar ao quadrado negro ( Tchorniquadrat).

    Volto a respirar bem fundo, e percebo que as funes vitais adquirem a sua plenitude quando se

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    processam ao ar livre, em plena paisagem. Comer na paisagem um acto que marca a esttica dos scu-los XIX e XX Le djeuner sur lherbe!

    A vitria da liberdade, que cest bon de se desembter!, na expresso queiroziana, e a recuperaodo gosto simples, da vida saudvel, o contraponto aosmiasmas ptridosda cidade. Da tambm o fascniode pintores e de fotgrafos pela comida na paisagem que nos actos prosaicos e populares dos habitantes deLisboa de 1900 era prtica frequente -comer fora de portasporque as portas davam acesso aos ares puros, natureza, ao que hoje diramos paisagem, no sentido de campo.

    assim que inspirados, por exemplo, no picnic de burguesas do Cesrio Verde, podemos encenarsobre a toalha, as paisagens de diferentes latitudes. Entre ns os mais comuns podem resumir-se namemria literria de Orlando Ribeiro: as paisagens mediterrneas e as paisagens atlnticas, que poderoser mescladas com uma paisagem ibrica, onde ascecinase osquesosassumem o essencial da paisagem dameseta, podendo mesmo convocar as dimenses gustativas do Quijote e esconjurar ahambredo Lazarillo.Com luz, espanto, serenidade e grandeza.

    Dia a dia recebemos testemunhos, tambm atravs das leituras fotogrcas, das contradies resul-tantes dos movimentos que se operam nas innitas dimenses do Planeta, que por um lado se encolhe eachata e, por outro, nos mostra o crescendo explosivo das rugosidades da paisagem.

    E aquelas ovelhas, exibindo a pele da sua pele, paisagens mutantes, paisagens do corpo, que viroa transmutar-se em pele de outros corpos. Lembro-me de David Mouro Ferreira Quem foi que tua peleconferiu esse papel de mais que tua pele ser pele da minha pele.

    De facto, no podemos deixar de ter presente, entre outros, dois factos que colocam limites

    capacidade da fotograa captar as paisagens. Por um lado, a paisagem a sntese de um lugar, de umterritrio, de uma regio, mas uma sntese modelizada (simplicada). Vidal de La Blache escreveu quea construo mental da paisagem o resultado da memria, aquilo que ca...; por outro lado, como sesublinhou nos trabalhos conducentes ao PNPOT (Programa Nacional de Polticas de Ordenamento do Terri-trio): ainda necessrio ter presente que a paisagem, enquanto valor cultural e societal, constitui umarealidade dinmica. Por essa razo, a paisagem no passvel de tipicaes datadas nem de processos decristalizao: os usos alteram-se, assim como as relaes dos habitantes e dos visitantes com os territrios. fundamental saber incorporar subtilmente as mudanas, mantendo ou reforando os valores de identi-

    dade, de memria e de uso.Estas 44 imagens mostram-nos outras paisagens para l da fotograa, para l da luz.

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    PaisagemDesejei-te pinheiro beira-mar para xar o teu perl exacto.

    Desejei-te encerrada num retrato para poder-te contemplar.

    Desejei que tu fosses sombra e folhas

    no limite sereno dessa praia.E desejei: Que nada me distraiados horizontes que tu olhas!

    Mas frgil e humano gro de areiano me detive tua sombra esguia.

    (Insatisfeito, um corpo rodopia

    na solido que te rodeia.)David Mouro-Ferreira, in A Secreta Viagem

    * Universidade de Lisboa

    Referncias:

    Gaspar, J. (2001) O Retorno da Paisagem Geograa - apontamentos msticos in Finisterra, XXXVI, 72, pp.83-99.Nakamura, Y., Frieling, D., Hunt, J. D. (1993) Trois Regards sur le Paysage Franais, Seyssel, Champ Vallon.Robic, Marie Claire (1993) La Gographie dans le mouvement scientique in Jean Brunhes - autour du monde: regards dun gographie/ regards de la Gographie, Paris, Muse Albert Khan.Tuan, Y-F (1993) Passing, Strange and Wonderful aestetics, nature and culture, Washington, D.C., Islands Press.Unamuno, M. (1907) Por Tierras de Portugal y de Espaa, 5. ed., Espasa Calpe, 1960.

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    1. 1. 10. 2. 43Parede do glaciar Viedma*(15) Parque Nacional Los Glaciares - Patagnia (Argentina), 2011

    1. 1. 10. 4. 43Entrando ou saindo do gelo

    *(13) Parque Nacional Los Glaciares - Patagnia (Argentina), 2011

    1. 1. 10. 1. 43 Aproximao*(14) Parque Nacional Los Glaciares - Patagnia (Argentina), 2011

    1. 1. 10. 3. 43Explorando a superfcie glaciar

    *(12) Parque Nacional Los Glaciares - Patagnia (Argentina), 2011

    Carla Alexandra Fernandes Mota , Portugal

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    1. 1. 14. 6. 62Sunset on water at La Albufera*(18) La Albufera - Valencia (Espanha), 2012

    1. 1. 14. 4. 62Fisherman at La Albufera*(17) La Albufera - Valencia (Espanha), 2012

    1. 1. 14. 2. 62Reections on water at La Albufera

    *(16) La Albufera - Valencia (Espanha), 2012

    Miguel Pereira Lpez, Espanha

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    1. 1. 18. 6. 70Solitrio*(20) Praia do Carvalho, Lagoa (Portugal), 2012

    1. 1. 18. 2. 70Garra

    *(19) Rogil, Aljezur (Portugal), 2010

    Joo Pedro Costa , Portugal

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    1. 1. 18. 1. 70Costa Norte*(24) Arrifana, Aljezur (Portugal), 2010

    1. 1. 18. 4. 70Portal

    *(22) Praia do Carvalhal, Odemira (Portugal), 2012

    1. 1. 18. 5. 70Rebolinhos*(23) Praia dos Rebolinhos, Sagres (Portugal), 2010

    1. 1. 18. 3. 70Labirinto

    *(21) Arrifana, Aljezur (Portugal), 2011

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    1. 1. 44. 6. 143Inmensidad de la costa VI *(26) Cabo de So Vicente (Portugal), 2012

    1. 1. 44. 4. 143Inmensidad de la costa IV

    *(25) Carvoeiro (Portugal), 2012

    Dolores Giraldez Alonso, Espanha

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    1. 1. 44. 2. 143Inmensidad de la costa II *(30) Portimo (Portugal), 2012

    1. 1. 44. 1. 143Inmensidad de la costa I

    *(28) Albufeira (Portugal), 2012

    1. 1. 44. 5. 143Inmensidad de la costa V *(29) Lagos (Portugal), 2012

    1. 1. 44. 3. 143Inmensidad de la costa III

    *(27) Carvoeiro (Portugal), 2012

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    1. 1. 22. 3. 79Barcos e Pescadores*(34) Tef - Amazonas (Brasil), 2012

    1. 1. 22. 1. 79Pesca de Malhadeira

    *(32) Tef - Amazonas (Brasil), 2012

    1.1.22.5.79O lago e os pescadores*(33) Tef Amazonas (Brasil), 2012

    1. 1. 22. 4. 79Peixes na luta pelo retorno ao lago

    *(31) Tef - Amazonas (Brasil), 2012

    Dirce Maria Antunes Suertegaray , Brasil

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    1. 1. 37. 4. 107Lavando a ameijoa*(38) Ria de Aveiro (Portugal), 2012

    1. 1. 37. 6. 107 vara se navega

    *(36) Ria de Aveiro (Portugal), 2012

    1. 1. 37. 2. 107O trabalho em famlia*(37) Ria de Aveiro (Portugal), 2012

    1. 1. 37. 3. 107Puxando a cabrita pequena

    *(35) Ria de Aveiro (Portugal), 2012

    Antnio Alves Tedim, Portugal

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    1. 1. 38. 1. 110O Dono*(40) Reguengo, Montemor-o-Novo (Portugal), 2011

    1. 1. 38. 4. 110 As Ovelhas

    *(39) Reguengo, Montemor-o-Novo (Portugal), 2011

    Enric Vives-Rubio, Portugal

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    1. 1. 38. 6. 110 A L*(44) Reguengo, Montemor-o-Novo (Portugal), 2011

    1. 1. 38. 2. 110O Rebanho

    *(42) Reguengo, Montemor-o-Novo (Portugal), 2011

    1. 1. 38. 5. 110 A Mulher *(43) Reguengo, Montemor-o-Novo (Portugal), 2011

    1. 1. 38. 3. 110O Tosquiador

    *(41) Reguengo, Montemor-o-Novo (Portugal), 2011

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    1. 1. 28. 3. 89 Abrigo

    *(47) Serra do Maro (Portugal), 2012

    1. 1. 28. 5. 89Intemporal *(48) Serra do Maro (Portugal), 2012

    1. 1.28.1.89Tempo Suspenso

    *(46) Aplia (Portugal), 2012

    1. 1. 28. 2. 89 Amanhecer

    *(45) Marvo (Portugal), 2012Srgio Pinto, Portugal

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    1. 1. 47. 3. 151Running River *(51) Parque Natural Serra da Estrela (Portugal), 2012

    1. 1. 47. 1. 151Waiting*(50) Pateira de Fermentelos (Portugal), 2012

    1. 1. 47. 4. 151Morning Cold

    *(49) Parque Natural Serra da Estrela (Portugal), 2012

    Jos Manuel Portelo Paiva , Portugal

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    1. 1. 46. 2. 150 Apago*(55) Guarda (Portugal), 2012

    1. 1. 46. 5. 150Nas Nuvens

    *(53) Guarda (Portugal), 2012

    1. 1. 46. 1. 150Reexos*(54) Guarda (Portugal), 2012

    1. 1. 46. 3. 150Escuro Flamejante

    *(52) Guarda (Portugal), 2012

    Rafael Emiliano Abreu Antunes , Portugal

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    P is g ns, biodiv rsid d p tri nio n tur lcio Cun a*

    este incio de sculo XXI, as condies demogrcas, as mudanas nas condies de trabalho e oaumento da mobilidade, a par com a valorizao da educao e da cultura tm contribudo para uma mo-dicao das procuras tursticas e de lazer, com valorizao dos seus segmentos menos massicados, aque-les que esto ligados ao mundo rural, aos espaos silvestres e de montanha, s guas interiores, orestae, de um modo geral, valorizao do patrimnio natural. A crescente utilizao dos chamados espaosde baixa densidade para atividades de turismo e lazer, desportivas, tratamento teraputico, investigaocientca e educao ambiental, tem vindo a promover a valorizao cultural e econmica das paisagensde base natural e do geopatrimnio, ao mesmo tempo que faz aumentar a sua vulnerabilidade, face a umaprocura muitas vezes mal ordenada e que se traduz numa fruio inadequada e selvagem, atravs de ativi-dades desenvolvidas sem os devidos cuidados de gesto.

    A valorizao da Natureza, das paisagens culturais de base geomorfolgica e do patrimnionatural ultrapassa, em muito, o valor econmico nas suas diferentes vertentes (turismo em espao rural,

    animao desportiva e cultural, comrcio de produtos endgenos, emprego local) para alcanar umadimenso cultural, cientca, educativa e at social que transporta as paisagens, a biodiversidade e o pa-trimnio natural para um lugar de destaque no Mundo deste conturbado incio de sculo.

    Neste contexto, quer do ponto de vista cientco, quer do ponto de vista cultural, cabe um lugarde destaque para o geopatrimnio. Este corresponde ao patrimnio natural abitico, ou seja aquele que associado a aspetos geolgicos e, sobretudo, a aspetos geomorfolgicos que, pelas suas caractersticasparticulares (cientcas, didticas ou estticas) ou pelo signicado de que se reveste para a sociedade (nacultura, na arte ou na religio) merece ser valorizado, divulgado e preservado. semelhana do que jacontecia com o patrimnio humano (histrico-arqueolgico, monumental, imaterial) e com o patrim-nio biolgico ligado aos valores da biodiversidade, o geopatrimnio tem vindo a ganhar relevncia comum desenvolvimento signicativo dos estudos com vista sua inventariao, classicao, valorizaoe conservao, um pouco por todo o Mundo, mas particularmente nos espaos rurais e de montanha,em territrios de baixa densidade econmica ou em espaos ambientalmente protegidos. Se a utilizaodestes espaos e dos seus elementos patrimoniais para atividades desportivas, para turismo e para educa-o ambiental, um importante fator de valorizao e demarketing territorial, logo de desenvolvimento

    local, importa chamar a ateno da sociedade e dos seus actores e agentes (autarcas, gestores de reasprotegidas, operadores tursticos e agentes desportivos) para a importncia que o geopatrimnio assumeenquanto recurso e, sobretudo, para a fragilidade ambiental que, em regra, lhe est associada.

    Dentro da geodiversidade, o geopatrimnio , talvez, a forma mais acabada de entendimento darelao entre a Natureza abitica e os Seres Humanos que nela encontram as suas razes, a sua casa, a suancora, a sua base de sustentao. Por isso, o valorizam e protegem.

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    Longe de ser uma relao de equilbrio, a relao biunvoca que se estabelece entre a Sociedadee a Natureza , fundamentalmente, uma relao de agresso, de defesa, de posse, de domnio. Nos doissentidos Se o Ser Humano, individual e, sobretudo, colectivamente, tem vindo, ao longo dos tempos,a procurar o domnio da Natureza, a explor-la, a transform-la, a polu-la, a travesti-la com novas rou-pagens, a Natureza, o Planeta, a Gaia no sentido de James Lovelock, tem vindo a reagir, a defender-se e,mesmo, a impor-se A Vingana da Gaia, uma das obras deste autor, fala-nos, precisamente, de altera-es climticas, de desastres naturais de grandes dimenses, das enormes diculdades que o Ser Humanovai tendo para se adaptar e viver com qualidade numa Gaia em distrbio e que de natural vai tendo cadavez menos. Claro que a maior parte das vezes, os problemas, bem localizados ou mais generalizados, esto,apenas, no mau ordenamento ou no mau uso do territrio, ou seja no modo como no entendemos ofuncionamento e, consequentemente, subestimamos a fora da Natureza natural.

    Ainda assim, alguns equilbrios so possveis e multiplicam-se os exemplos recentes de situaesde boa articulao entre Sociedade e Natureza, que promovem a sustentabilidade ambiental e lhe donovos signicados. O uso crescente dos recursos renovveis (hdricos, energticos, biticos), bem como ovalor social e cultural das paisagens de base natural e do geopatrimnio para ns tursticos, desportivos ede educao ambiental, so apenas dois bons exemplos desta articulao.

    Muito daquilo que a produo de territrio passa por estes equilbrios e desequilbrios. Passapelo melhor e pelo pior nesta articulao entre o Ser Humano, a sua economia, cultura e educao, coma Natureza, os seus valores, os seus recursos, as suas foras e as suas fragilidades. A paisagem, mais naturalou mais humanizada, mas sempre cultural, corresponde sntese perfeita ou imperfeita destas articula-es. E, como o estudo da paisagem no corresponde a uma cincia exacta, uma vez que muito dependedos olhares e da percepo que sobre ela se tm, a arte e, particularmente, a pintura e a fotograa, soinstrumentos de anlise fundamentais.

    As fotograas desta exposio transmitem percepes e sensaes acerca de paisagens rurais, dosvalores da biodiversidade e de diferentes elementos do patrimnio natural. As percepes so sobretudoas dos seus autores e esto associadas aos olhares das lentes das suas mquinas! As sensaes passam apertencer, agora, tambm, aos leitores, aproximando-os dos valores estticos da paisagem, da Natureza,da biodiversidade e do patrimnio natural. Cada um ler de seu modo, cada um sentir com a sua alma,cada um valorizar com as suas experincias de vida! No entanto, a plstica destas imagens e o seu valoresttico arrastam consigo, tambm, um valor educativo intrnseco, que em muito ajuda a compreender, aconhecer, a amar e, consequentemente, a preservar melhor a Natureza, em todos os seus signicados.

    Porque, independentemente do modo como a vemos, usamos ou dominamos, todos ns, fotgra-fos, leitores, investigadores, desportistas ou simples turistas, somos intrinsecamente Natureza!

    * CEGOT, Universidade de Coimbra

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    1. 1. 30. 3. 95Alexandre Antnio Rodrigues Lus , Portugalbrias aparies*(58) So Joo da Pesqueira (Portugal), 2012

    1. 2. 14. 4. 88Ana Margarida Ramalhoso Batista , Portugal

    Monte Solitrio*(56) Loriga (Portugal), 2009

    1. 2. 8. 4. 51Ricardo Manuel Azevedo Brando , Portugal

    O encontro das montanhas*(57) Arouca (Portugal), 2009

    1. 2. 8. 3. 51Ricardo Manuel Azevedo Brando , Portugal Arouca*(59) Arouca (Portugal), 2009

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    1. 1. 7. 1. 31Rui Ferreira, Portugal Amarelo Sujo*(62) Mrtola/Serpa (Portugal), 20121. 1. 27. 6. 87Egdio Eduardo Manita Santos , PortugalGrifos no Penedo Duro*(63) Freixo de Espada Cinta (Portugal), 2012

    1. 1. 33. 1. 101Beatriz Mendoza , Espanha

    Ttulo*(61) Sierra de La Culebra, Zamora (Espanha), 2011

    1. 2. 12. 3. 60Pablo Estrem Brosset, Espanha

    Montaa arcillosa*(60) Sedona, Arizona (Estados Unidos), 2010

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    1. 1. 40. 5. 115Jos Freitas, Portugal

    Torres*(64) So Domingos, Mrtola (Portugal), 2012

    1. 2. 14. 6. 88Ana Margarida Ramalhoso Batista , PortugalO Abrigo do Douro*(67) Figueira de Castelo Rodrigo (Portugal), 2009

    1. 1. 7. 3. 31Rui Ferreira, PortugalHarmonia*(66) Monsanto, Idanha-a-Nova (Portugal), 2012

    1. 1. 33. 2. 101Beatriz Mendoza , Espanha

    Petroglifos de Lucillo*(65) Lucillo, Len (Espanha), 2010

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    1. 1. 20. 4. 75Jos Antnio Morgadinho So Pedro , PortugalSo Gens*(71) Nisa (Portugal), 2012

    1.1.35.1.105Rui Lopes Pinheiro, PortugalO espigueiro*(70) Caldas de Reis (Espanha), 2012

    1. 1. 23. 2. 80Eulalio Ruiz Muoz, Espanha

    El futuro*(68) Isla de La Palma, Canarias (Espanha), 2012

    1. 2. 3. 3. 22Davidson, Brasil

    Sempre pode ser maior *(69) Viveiro da UTFPR Campos Dois Vizinhos, Paran (Brasil), 2011

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    1. 1. 27. 2. 87Egdio Eduardo Manita Santos , Portugal

    Paisagem Trs-os-Montes*(73) Parque Natural de Montesinho (Portugal), 2012

    1. 2. 1. 2. 7Ana Filipa Neto, Portugal

    Fardos*(72) Santo Varo (Portugal), 2012

    1. 1. 11. 1. 44Alexandrina Pinto , PortugalSincelo*(74) Parque Urbano do Rio Diz, Guarda (Portugal), 2012

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    1. 1. 29. 2. 90Ins Pereira Leonardo , Portugal

    Ao tempo do Vento*(75) Serra da Freita, Arouca (Portugal), 2012

    1. 1. 19. 1. 74Pedro Costa, PortugalDown through the dam*(78) Shing Mun Reservoir, China (Hong Kong), 2010

    1. 1. 31. 2. 98Jos Costa Pinto, Portugal

    A rua da Cisterna*(76) Castelo Rodrigo (Portugal), 2010

    1. 1. 3. 6. 6Antonio Corte-Real , PortugalCampos Dourados*(77) Olivena (Espanha), 2012

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    1. 2. 15. 1. 123Rosana Almeida, Portugal

    Paisagem*(79) Caminha (Portugal), 2012

    1. 1. 12. 4. 45Andreia Pereira , PortugalOutono 4*(81) Brugges (Blgica), 2012

    1. 1. 12. 2. 45Andreia Pereira , Portugal

    Outono 2*(80) Brugges (Blgica), 2012

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    1. 1. 45. 3. 144Enric Enrich, Espanha

    Caldeira Velha*(83) So Miguel, Aores (Portugal), 2012

    1. 1. 32. 1. 99Jos Carlos Martins Silva, PortugalMagic Place*(84) Sintra (Portugal), 2012

    1. 1. 45. 2. 144Enric Enrich, Espanha

    Tronc *(82) So Miguel, Aores (Portugal), 2012

    1. 2. 4. 3. 26Luis Mrquez Nogales, EspanhaOtoo en la Ribera del Mrtigas*(85) La Nava (Espanha), 2011

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    1. 2. 16. 4. 139Alejandro Lpez Arnal , Espanha

    La frontera inocente*(87) Mol de la Font, Castell de la Plana (Espanha), 2012

    1. 1. 23. 3. 80Eulalio Ruiz Muoz, EspanhaLos caminos*(89) Isla de La Palma, Canarias (Espanha), 2012

    1. 1. 25. 2. 84Daniel Jess Snchez Escalera, Espanha

    Alcornoque*(86) Jabugo, Huelva (Espanha), 2012

    1. 1. 19. 2. 74Pedro Costa, PortugalIn the moss world *(88) Pirinus, a caminho da La Grande Fache (Espanha), 2011

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    1. 2. 11. 2. 59Kleber Renan de Souza Santos , BrasilSeca e cheia sem fronteiras*(93) Margem do Rio Miranda, Pantanal de Mato Grosso do Sul (Brasil), 2011

    1. 1. 26. 2. 85Joo Aristeu da Rosa , Brasil

    Raios de luz *(91) So Lus, Estado do Maranho (Brasil), 2012

    1. 1. 26. 1. 85Joo Aristeu da Rosa , BrasilTeias de aranha*(92) Esprito Santo do Pinhal, Estado de So Paulo (Brasil), 2011

    1. 2. 17. 2. 141Leonice Seolin Dias, Brasil

    O verde e o preto*(90) Rodovia Assis Chateaubriand, So Paulo (Brasil), 2012

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    1. 2. 12. 1. 60Pablo Estrem Brosset, EspanhaRo Colorado desde el Desert View *(96) Gran Can del Colorado (Estados Unidos), 20101. 2. 17. 6. 141Leonice Seolin Dias, BrasilBeleza no canavial *(97) Rodovia Assis Chateaubriand, So Paulo (Brasil), 2012

    1. 2. 17. 3. 141Leonice Seolin Dias, Brasil

    Ao antrpica na vegetao*(95) Rodovia Assis Chateaubriand, So Paulo (Brasil), 2012

    1. 1. 5. 2. 25Andr Luiz Caixeta, Brasil

    Flamboyan*(94) Braslia (Brasil), 2012

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    1. 1. 8. 3. 32Rui Manuel Loureno Moreira , BlgicaTrs tetas*(100) S. Joo das Arribas, Miranda do Douro (Portugal), 2011

    1. 1. 11. 4. 44Alexandrina Pinto , Portugal

    Gratti em comunho com a natureza*(99) Guarda (Portugal), 2012

    1. 1. 48. 2. 158Oleksandr Bilko, Portugal

    Flores*(98) Trofa (Portugal), 2012

    1. 1. 8. 2. 32Rui Manuel Loureno Moreira , BlgicaEstrelas do campo*(101) S. Joo das Arribas, Miranda do Douro (Portugal), 2012

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    1. 1. 8. 5. 32Rui Manuel Loureno Moreira , Blgica

    Seduo*(102) S. Joo das Arribas, Miranda do Douro (Portugal), 2011

    1. 2. 9. 6. 55Sara Gomes, Portugal

    Simples*(103) Monfortinho (Portugal), 2012

    1. 2. 9. 2. 55Sara Gomes, PortugalFormiga*(104) Monfortinho (Portugal), 20121. 2. 6. 2. 29Vanessa Simei Martins, BrasilLanche*(105) Jales, SP (Brasil), 2012

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    1. 1. 16. 5. 65Teresa Fernandes , Portugal

    Espreitando*(107) Algarve (Portugal), 2012

    1. 1. 3. 1. 6Antonio Corte-Real , Portugal

    Espelho do mundo*(106) Alentejo (Portugal), 2012

    1. 2. 11. 3. 59Kleber Renan de Souza Santos , BrasilQuem dera fossemos como a gua*(109) Gruta do Lago Azul, Bonito, Mato Grosso do Sul (Brasil), 2012

    1. 2. 6. 1. 29Vanessa Simei Martins, BrasilBandeira*(108) Jales, SP (Brasil), 2012

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    1. 1. 36. 5. 106Maria Raquel Simes M. C. Pinto, Portugal

    Reexos*(111) Pateira de Fermentelos, gueda (Portugal), 2010

    1. 1. 36. 2. 106Maria Raquel Simes M. C. Pinto, PortugalPedra da Ferida*(113) Espinhal, Penela (Portugal), 2010

    1. 1. 36. 4. 106Maria Raquel Simes M. C. Pinto, PortugalVida dura...*(112) Pateira de Fermentelos, gueda (Portugal), 2010

    1. 1. 30. 5. 95Alexandre Antnio Rodrigues Lus, Portugal

    Paraso encoberto*(110) So Joo da Pesqueira (Portugal), 2012

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    1. 2. 2. 5. 14Pedro Nuno Fernandes Rodrigues , PortugalCatalunha a banhos!*(116) Banyoles, Provncia de Girona, Catalunha (Espanha), 2012

    1. 2. 13. 2. 82Eduardo Filipe Fernandes Realinho , Portugal

    Jantar na Sabia*(115) Reserva da Faia Brava, Figueira de Castelo Rodrigo (Portugal), 2012

    1. 2. 2. 4. 14Pedro Nuno Fernandes Rodrigues , PortugalEscaldante despedida*(117) Serra de Vila Nova (Portugal), 2010

    1. 2. 4. 2. 26Luis Mrquez Nogales, Espanha

    Ocaso*(114) Aracena (Espanha), 2011

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    1. 2. 7. 1. 40Heitor Garcia, BrasilPr-do-sol Santos*(121) Santos (Brasil), 2012

    1. 2. 7. 4. 40Heitor Garcia, Brasil

    Nascer do Sol *(119) Rio de Janeiro (Brasil), 2012

    1. 1. 5. 1. 25Andr Luiz Caixeta, BrasilSol Congresso Nacional Brasil *(120) Braslia (Brasil), 2012

    1. 1. 5. 5. 25Andr Luiz Caixeta, Brasil

    Esplanada dos Ministrios*(118) Braslia (Brasil), 2012

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    1. 1. 34. 2. 104Isabel Nobre, Portugal ncoras*(125) Praia do Barril, Tavira, Algarve (Portugal), 2011

    1. 1. 33. 4. 101Beatriz Mendoza , EspanhaVolviendo a Puerto*(124) Viana do Castelo (Portugal), 2011

    1. 1. 45. 1. 144Enric Enrich, Espanha

    Fim*(122) So Miguel, Aores (Portugal), 2012

    1. 1. 41. 4. 118Osvaldo da Graa M. G. de Carvalho, Cabo Verde

    Sodade*(123) Praia Grande, Ilha do Maio (Cabo Verde), 2011

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    1. 1. 43. 5. 132Vitor Alexandre Pina Cabrita Da Silva, Portugal gua, O Arquitecto *(129) Praia do Carvalho, Lagoa (Portugal), 2012

    1. 1. 43. 3. 132Vitor Alexandre Pina Cabrita Da Silva, Portugal

    Final de Etapa*(126) Lyon (Frana), 2012

    1. 1. 29. 3. 90Ins Pereira Leonardo , PortugalEstou aqui s para te ver *(128) Cabo de So Vicente, Sagres (Portugal), 2012

    1. 2. 5. 2. 27Alistair Langmuir, Espanha

    Make your path long*(127) Teba, Mlaga (Espanha), 2011

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    1. 1. 32. 2. 99Jos Carlos Martins Silva, Portugal

    In The Ocean*(130) Peniche (Portugal), 2012

    1. 1. 1. 1. 3Joo Miguel do Nascimento Ribeiro , PortugalFalsias*(133) Milfontes (Portugal), 2012

    1. 1. 1. 2. 3Joo Miguel do Nascimento Ribeiro , Portugal

    Rochedo*(131) Milfontes (Portugal), 2012

    1. 1. 34. 4. 104Isabel Nobre, PortugalEntardecer *(132) Praia da Fbrica, Cacela Velha, Algarve (Portugal), 2012

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    1. 1. 41. 3. 118Osvaldo da Graa M. G. de Carvalho , Cabo Verde

    Esperana*(134) Ponta Preta, Cidade de Porto Ingls, Ilha do Maio (Cabo Verde), 2011

    1. 2. 5. 1. 27Alistair Langmuir, EspanhaO mar, sempre navegado*(135) Ilha do Barril, Sta. Luzia, Algarve (Portugal), 2010

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    P is g p tri nio n tur l esp nh

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    g p pugenio Ba aja rod guez *

    iversidad natural y densidad histrica se decantan en la singularidad y variedad de los paisajes es-paoles. Como todo paisaje, se constituyen como una realidad fsica, objetiva, visible; son las formas delterritorio, el reejo de sus estructuras. Pero tambin como una percepcin individual y social; el productode una sensibilidad y de unos valores que ltran las miradas e inspiran sus representaciones. Son, desdeesa doble perspectiva, una construccin cultural. Una cultura que se plasma en la materialidad que losproduce y en los signicados que les otorga.

    Si la sensibilidad social ante la magnitud y rapidez de los cambios de nuestro entorno justica elrenacer del inters por el paisaje en Espaa, las mltiples formas de acercamiento y consideracin queadmite (acadmico, poltico, tcnico, esttico) han puesto en evidencia su diversidad. Uno de susmejores conocedores, Eduardo Martnez de Pisn, se reere a ello al destacar que la clave de los paisajesnaturales espaoles, tanto de los que hacen de soporte a los espacios humanizados, como de los escasosque an guardan marcas evidentes de sus elementos naturales, es su diversidad1. Tanto es as que, posi-blemente, en esta piel de toroencontremos la mayor variedad paisajstica de Europa.

    Una diversidad que descansa en una trama siogrca compleja, derivada de la compartimenta-cin del relieve en unidades diferenciadas. Si la insularidad, conformacin y latitud individualizan losarchipilagos, en la Pennsula, alineaciones montaosas de diversa composicin, disposicin y natura-leza - agrestes y arriscadas en unos casos, macizos pandos y pesados en otros- enmarcan valles y aslandepresiones. Altas y extensas llanuras dominan y abren el horizonte en el interior, marcando un acusadocontaste con las estrechas franjas litorales. Por otro lado, su situacin de encrucijada en el mbito de laslatitudes medias, entre masas continentales y marinas, explica las diversas inuencias a las que se ve so-metida. Lo atlntico y lo mediterrneo se distribuyen el territorio, solapndose en espacios de transicino matizndose por el efecto del relieve. En la hmeda franja septentrional (desde el NO de Galicia hastael confn oriental de los Pirineos) se hace evidente el inujo boreal, mientras que la aridez del esto y susmanifestaciones ecolgicas dene el amplio dominio territorial de lo mediterrneo. Rasgos ambientalesque justican la variedad de vegetacin y la riqueza orstica, traducida en una veste vegetal que se mani-esta en la diversidad de bosques, montes, pastizales...

    Determinadas porciones, a veces enclaves, arman su singularidad dentro de los respectivos mbi-tos por una combinacin de factores que les dotan de inters ecolgico, cientco, esttico, lo que lesha valido el reconocimiento social como portadores de unos valores que justican su conservacin. Es lanaturaleza entendida como patrimonio, que -convergiendo con la idea de patrimonio elaborada a partir

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    del monumento, de raz histrica y valor arquitectnico artstico- se ha traducido en unas normas para su

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    custodia y preservacin en forma deespacios naturales.Sin embargo, estos espacios protegidos responden a una idea de lo natural reelaborada cultural-

    mente, en tanto que la impronta humana a lo largo de una ocupacin milenaria ha ido dejando atrs susrasgos primigenios. En efecto, desde antiguo, los pobladores insulares y peninsulares han venido modi-cando, en mayor o menor medida, los rasgos del medio. Un proceso de construccin territorial dilatadoy complejo, resultado de una cultura secular contrastada y rica en variantes en virtud de las formas deocupacin, de asentamiento y de relacin propias de cada momento histrico.

    De entre las actividades del hombre, las tres categoras de aprovechamientos que denen loagrario: el cultivo de la tierra, el cuidado del ganado y el uso forestal, son las que ms intensamente hacontribuido a la construccin de los paisajes espaoles. Constituyen la manifestacin visual de una com-binacin profunda y diferenciada de naturaleza y cultura que dene e identica una forma de vida. Losgrandes dominios climticos, as como la multitud de matices que determinan el relieve y los suelos, con-forman el basamento sobre el que se asientan los grandes grupos de aprovechamientos. Bosques, prados,braas y pastizales, policultivos y forrajes en los mbitos atlnticos. Cereales, viedos, olivares y frutales

    en el mediterrneo, donde la aridez se mitiga en la compleja malla de los regados. Paisajes del monte yde la dehesa, combinacin singular de lo agrcola, ganadero y forestal. Adaptndose y utilizando en su be-necio los componentes naturales, la actividad agraria, con sus tramas parcelarias, aprovechamientos delsuelo, formas de asentamiento y organizacin, es la gran modeladora de los paisajes en Espaa, la clavepara su interpretacin.

    Pero el paisaje es contingente y dinmico por denicin. Se reelabora continuamente. El paso deuna sociedad rural y campesina a otra urbana, industrial y terciarizada que tuvo lugar en la Espaa de la

    segunda mitad del siglo XX, determin una profunda transformacin de las formas de vida y de los paisa-jes tradicionales que la acompaaban. El abandono y la despoblacin de unos espacios se han combinadocon la intensicacin de los aprovechamientos en otros. Es la manifestacin de la integracin y adapta-cin al cambio y a las nuevas funciones que la sociedad les otorga. Esa (re) funcionalizacin del espaciose ha traducido en nuevas formas de ocupacin y de organizacin, y se ha enriquecido con la aparicinde elementos novedosos. Los procesos son de sobra conocidos, pues forman parte del presente inmediatodel pas: el avance de la ciudad hacia el campo, los espacios concebidos para el ocio, la proliferacin deresidencias secundarias, las ocupaciones tursticas, las infraestructuras de comunicacin, la produccinenergtica extensiva Todo ello genera una nueva malla que se sobrepone a la anterior, reescribiendo enel palimpsesto territorial, y generando una convivencia no siempre armnica (paisajes hbridos, trans-versales, complejos, tensionados.)

    La rapidez e intensidad de estos procesos ha inducido trasformaciones y cortes radicales con el pa-

    Transversalidades I fotograa sem fronteiras

    sado. Son nuevas materialidades, producto de los tiempos globales. El fuerte impacto y la escasa calidad

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    de las mismas, en el sentido de la progresiva homogeneizacin y falta de integracin, ha llevado a hablarde banalizacin del paisaje, de no lugares, en alusin al contraste con lo tradicional que, a veces,perdura en forma de elementos o combinaciones paisajsticas residuales, mejor o peor conservadas, y enlos que la sociedad reconoce su singularidad. Es el sentido del paisaje como identidad. Ese sentimiento deprdida de lo que nos identica en sus formas pretritas y ancestrales, de los valores materiales y cultura-les que encierra, junto a la necesidad de protegerlo para a su vez legarlo, justica el reconocimiento delpaisaje como patrimonio.

    A remolque de un marco normativo reconocido internacionalmente, que lo dene comolasobras de la labor combinada del hombre y la naturaleza que por su singularidad y representatividad merecen unreconocimiento y proteccin, en Espaa el concepto de patrimonio ha ido incorporando los valores ticos,la cultura inmaterial y la idea de espacialidad a las dimensiones estticas y materiales convencionales. Elencuentro entrelo histricoy lo naturalderiva as en un tipo de patrimonio territorial, donde el paisaje seabre camino como concepto clave.

    Sin embargo, los espacios que por los valores que encierran necesitan una proteccin especial son

    escasos y se encuentran aislados. Entre ellos se extiende el espacio de la vida cotidiana, el paisaje habitualy ordinario en el que vivimos la mayor parte de los ciudadanos, que no est dotado de atributos excepcio-nales, pero s est sometido a las tensiones de los procesos de transformacin. A este tipo de paisaje hacemencin el Convenio Europeo del Paisaje, al denirlo como cualquier parte del territorio tal y como lapercibe la poblacin, cuyo carcter sea el resultado de la accin y la interaccin de factores naturales y/ohumanos. Una denicin abierta (sin adjetivos, basado enel carcterde un territorio) y una nalidadque no necesariamente pasa por la proteccin, sino por la gestin de los cambios y la intervencin en lassituaciones ms crticas. La entrada en vigor en Espaa de este Convenio tiende una va para su consi-deracin transversal en las diferentes polticas de ordenacin del territorio o en aquellas sectoriales denotable impacto que inciden en la calidad de vida de los habitantes.

    Pero el acercamiento al paisaje no es necesariamente racional y operativo, tambin es comprensi-vo. Numerosos autores han abundado en esta dimensin, destacando cmo las representaciones e imge-nes literarias, pictricas, cinematogrcas, son un puente tendido entre el observador y lo observado.Por ello permiten, a travs de las diferentes miradas, acercarnos a la idea subjetiva del paisaje, a las per-cepciones, a los valores que encierra y que la imagen desvela, a la relacin de la sociedad con su entornocaptada por la mirada sutil del artista, pero tambin del ciudadano. Porque el paisaje tiene una dimensintextual abierta a una lectura que admite mltiples interpretaciones y sensibilidades.

    De entre las posibles representaciones, la fotogrca, ms all del efectismo tcnico o la espec-tacularidad artstica, ha sobresalido por su valor interpretativo, por su capacidad para caracterizar la

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    diversidad paisajstica y mostrar comprensivamente el paisaje. De ah el valor de esta muestra. Las foto-

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    grafas vencedoras del Concurso de Fotografa Transversalidades 2012 del CEI, independientemente desu indiscutible calidad, tienen precisamente esa virtud: acercarnos a la diversidad de los paisajes a travsde miradas tambin diversas. Ello les otorga un alto valor pedaggico. Muestran una sntesis evocadora,ilustrativa e informativa, de la riqueza y variedad de los paisajes en Espaa.

    * Universidad de Valladolid1 MARTNEZ DE PISN, E. (2003): El Paisaje de Espaa, en Atlas de los Paisajes de Espaa ( Mata, R. y Sanz, C., dirs.). Madrid, Ministerio

    de Medio Ambiente, Universidad Autnoma, p. 17

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    essias odesto dos assos *

    intil sonhar com uma rusticidade distante de ns. Isso no existe. O que inspira tal sonho ocharco que h em nosso crebro e em nossas entranhas, o vigor primitivo da Natureza existente em ns.

    Nunca encontrarei nos ermos de Labrador rusticidade maior que em qualquer lugar de Concord, pois para c a trago.

    Henry David ThoreauinSimon Schama: Paisagem e Memria.

    geograa hoje reconhecida como a cincia social dos territrios. A compreenso geogrca do meioambiente deve se manifestar essencialmente nessa perspectiva. Territorializar o meio ambiente , aomesmo tempo, enraiz-lo no territrio dos homens e na longa histria das sociedades, fornecendo osmeios conceituais e metodolgicos de fazer avanar o conhecimento ambiental nesse campo.

    Enquanto por toda parte desmoronam as ideologias conhecidas, a ascenso da noo de meioambiente aparece como a grande revoluo do sculo XX no modo de pensar do mundo e, mais preci-samente, nas relaes do homem e da natureza. A natureza e os fenmenos naturais a so, certamente,considerados em si mesmos e para si mesmos, mas cada vez mais em uma perspectiva social no amplo sen-tido, ao mesmo tempo econmico e cultural. Isto no aconteceu sem reticncias por parte dos cientistasduros, mas a demanda social foi mais forte e at suscitou a reconverso de numerosas problemticas.A pesquisa em meio ambiente o prprio exemplo da pesquisa interdisciplinar conrmada uma vez queela associa, pelo menos na teoria, as cincias sociais s cincias da natureza.

    Entre as diferentes abordagens pertinentes descrio e anlise das dinmicas e organizaesespaciais, existem duas grandes orientaes que, acredito, devem ser vistas como complementares. Uma,a anlise espacialconsiste em explicitar as grandes regras que estruturam, organizam o espao. A outra,a geograa social, aborda os processos de construo territorial pela anlise dos comportamentos sociais. Aabordagem paisagstica se prope a costurar as relaes entre estas duas orientaes, para mostrar como asdiferentes combinaes de comportamentos individuais induzem cada uma das construes paisagsticasespeccas e, pois, os modelos recorrentes de organizao do territrio.

    Nos ltimos vinte anos a paisagem tem mudado de estatuto, de nalidade e de contedo partici-pando de forma explcita da cultura, da sensibilidade, do simblico, ou seja, do que se considera de artia-lizao. E mais, a paisagem assume, a cada dia, maior relevncia como um dos componentes das polticasde ordenamento ambiental e patrimonial - dos territrios.

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    A paisagem o sinal sobre o terreno e o olhar das convulses ambientais que sacodem o planeta.

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    Trabalhar com a paisagem signica contemplar um paradigma de complexidade e de diversidade, quetranscende disciplinas e interdisciplinas. Aps uma longa histria, se tem dado paisagem, talvez comoltimo recurso, a misso de interceder para sensibilizar, nos dois sentidos do termo, sobre as questes doterritrio, do meio ambiente, da ordenao e do desenvolvimento. A paisagem pode (e deve) ser muitomais do que um atalho, uma moda. Ela um longo caminho que aclara e humaniza o territrio.

    Se h um contraste de paisagem, h, tambm, um contraste poltico-administrativo. Para conhecera Geograa Fsica preciso conhecer os problemas sociais, econmicos, administrativos... A interdiscipli-

    naridade, o globalismo, o ambientalismo e a anlise dialtica da natureza e da sociedade no puderam sedesenvolver seno num ambiente cientco dominado pela ideia de sistema. Era o m de uma longa tra-dio de setorizao da pesquisa, ao curso da qual, os elementos, isolados de um sistema de referncia, co-nheceram longas derivas. A recentragem em torno dos conceitos de estrutura e de sistema, e do princpiode auto-organizao, relanou a Ecologia em torno do conceito renovado de ecossistema e, a GeograaFsica, em torno do conceito de geossistema.

    Este ltimo lentamente separado da anlise paisagstica para dar nascimento a um mtodo naturalis-

    ta s margens das cincias sociais e das prticas de organizao do espao.De onde a necessidade de no seanalisar o meio ambiente no quadro estrito de um nico conceito, a partir de 1990, Bertrand reconhece queno possvel abordar o meio ambiente complexo e com diversidade -, a partir de um conceito unvoco,(ecossistema e/ou geossistema) e, ento, prope o modelo GTP (Geosistema Territrio Paisagem).

    O meio ambiente e o retorno do geogrco, tem como objetivo maior chamar a ateno para osurgimento do geogrco na mdia, nas polticas de ordenamento territorial e no cotidiano das pessoas.Esse geogrco est explcito na espetacularizao do meio ambiente, quer seja atravs das imagens de

    catstrofes, de cenrios paisagsticos; mas, tambm, na necessidade de se considerar as potencialidadesde determinados territrios em termos de recursos naturais: gua, solo, biodiversidade, geodiversidade,fotossntese etc.

    A paisagem o reexo e a marca impressa da sociedade dos homens na natureza. Ela faz parte dens mesmos. Como um espelho, ela nos reete. Ao mesmo tempo, ferramenta e cenrio. Como ns e conos-co, ela evolui, mvel e frgil. Nem esttica, nem condenada. Precisamos faz-la viver, pois nenhum homem,nenhuma sociedade, pode viver sem territrio, sem identidade, sem paisagem.(Bertrand, 2007).

    Uma paisagem nasce, toda vez que um olhar cruza um territrio, pois a paisagem nasce da interaode dois elementos: (a) o objeto - um determinado espao geogrco; (b) o sujeito - o observador, isto , ohomem com sua sensibilidade, seus projetos, etc.. O mais importante o que existe entre os dois. Paisa-gem um processo! Um modo de representao scio-cultural de um espao. A cada um a sua paisagem.

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    A paisagem um tema transversal. Abordar a paisagem como uma questo transversal e de travessia

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    suscita muito mais interrogaes que armaes: Le paysage revient inattendu dans le vide o le systmecomme un arc-en ciel dans le pr ( A paisagem retorna para o vazio ou o sistema como um arco-ris no prado)(Michel Serres,Les cinq sens, Grasset, 1985: 229), coloca as questes essenciais inerentes paisagem e nosinterpela sobre alguns pontos : o retorno da paisagem, tendo sido preciso esperar o m dosTrinta Gloriosos para que se tivesse um olhar de interesse pela paisagem, h muito tempo esquecida, notadamente pelos ges-tores do territrio; a relao entre paisagem e sistema; a abordagem sensvel, potica e cultural, que marca oretorno da paisagem atravs da imagem, da espetacularizao das catrstrofes ambientais...

    A primeira diculdade desde que se fala de paisagem lhe dar uma denio. Segundo um provr-bio chins a paisagem est ao mesmo tempo na frente dos olhos e atrs dos olhos. Cada um de ns tem umaimagem associada paisagem e a dene atravs de suas prprias referncias. Mais, todos os povos noexprimem da mesma maneira a noo de paisagem. Esta concepo vaga tem um sentido diferente emfuno das lnguas e das culturas. Os rurais no falam de paisagem, falam da terra: a gente cultiva a terra ea gente olha a paisagem.

    Alm do debate em torno das denies se coloca a questo do retorno da paisagem. H muitotempo esquecida, a paisagem tornou-se atualmente uma preocupao tanto ecolgica e econmica comocultural, interferindo com as problemticas do meio ambiente e da gesto do territrio. Mas este novointeresse suscita outros problemas e interrogaes. Ns somos confrontados com uma multiplicidade defontes, de interpretaes histricas e delobbiesque se interessam no sujeito. A multiplicao de correntes,tendncias de escolas que se opem nas ambies e aspiraes diferentes do uma viso confusa dapercepo atual da paisagem. A noo de paisagem procede menos da polissemia que da cacofonia (vaziade sentido, frgil, logomarca etc.); se quer ligar a paisagem s formas de interdisciplinaridade atualmentefrgeis. preciso encontrar outra coisa, fora das disciplinas. preciso reconhecer e favorecer a diversida-

    de das interpretaes e das abordagens.Propor uma abordagem, hbrida, susceptvel de associar os contrrios: natureza e sociedade, subje-

    tivo e objetivo, individual e coletivo, terico e prtico, cincia e cultura, ordinrio e extraordinrio etc.Associa a paisagem ao territrio no sistema GTP (Geosistema Territrio - Paisagem) fundado sobre atrilogiaSource-Ressource-Ressourcement. preciso construir um sistema a partir dos diferentes elementos. mais que um simples agregar. preciso rejeitar a cesura entre geograa fsica e humana, aproximar-seda histria. preciso utilizar a geograa para atravessar as outras disciplinas com a condio de traarum caminho. Como o diz Antonio Machado: O caminho, a gente o faz caminhando. preciso considerarque desde que a gente fala de paisagem, de meio ambiente, de gesto, de ordenamento ou de territrio, agente fala sempre do mesmo objeto. um conjunto que a gente no pode utilizar com uma nica metodo-logia. um paradigma que toma em considerao todos os elementos e hbrido dos contrrios (exemplo:natureza/sociedade, individual/coletivo, ordinrio/extraordinrio). uma entrada particular no territrioque funo de cada um.

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    Ver, fazer ver, prever. O objetivo primeiro das representaes da paisagem fazer ver virtualmente,

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    uma innidade de paisagens, ou uma innidade de vistas da mesma paisagem. A utilizao de represen-taes em trs dimenses, e no somente de fotograas, implica uma vontade de compreenso global queultrapassa o clich. Trata-se de ver a paisagem no seu conjunto, sua profundidade, para compreender nosomente as diferentes perspectivas, mas tambm as relaes espaciais: visualizar os stios de implantaodo habitat em relao ao relevo, a organizao da paisagem agrria em funo da inclinao de vertente,a congurao de bacias hidrogrcas etc. O objetivo no somente ver, mas tambm multiplicar os tiposde perspectivas, de olhares e, portanto, de anlises: Nossa concepo atual de paisagem, sistema ecolgi-co, cultural, estrutural e simblico, cujos signicados so diversos, no pode se satisfazer, para todo modode representao, de uma carta de base de dados especializados (ERVIN, S., 1994).

    Depois de criar o canto, o verso, a rima, a poesia e as rezas de sol da missa do vaqueiro, sou tam-bm um vaqueiro montado na beleza e na grandeza dessa gente, ativado num calor de vaquejada, caval- gando por seus cantos e seus recantos, recolhendo no cho, no ar e no cu do serto a emoo e vertigemdessa vivncia, que pontica o verso e constri o poema.

    Sou um vaqueiro afoito, cansado, descontrado, emergindo da caatinga para descansar na tran-

    qilidade do trabalho realizado, e sombra da jurema, suado, esbaforido, tiro o chapu, bato o p domarmeleiro, desvencilho-me do gibo, das perneiras e das botas, sou um homem comum na passagem davida bebo cachaa no chocalho, gracejo e me divirto com meus parceiros e este mundo companheiro, souum vaqueiro livre e eterno, como o vento do mundo, as pedras da terra e as estrelas do cu.

    Janduhy Finizola da Cunha, Missa do Vaqueiro.

    As paisagens, como vimos, so s vezes produtos da natureza e da sociedade. Elas foram, so econtinuaro a ser enquanto a terra seja habitada, enquanto os olhares se colocaram sobre o mundo. Estemundo, que no um jardim paradisaco, dominado por duas aspiraes utpicas para a felicidade.A primeira, baseada sobre o direito liberdade, privilegia o mercado o livre-comrcio para criar erepartir as riquezas como os recursos. A segunda, apoiada no princpio da igualdade, recorre s regras dademocracia para regular os efeitos perversos do livre-comrcio: pobreza, segregao social, acessibilidadeseletiva aos espaos, concentrao de patrimnios, destruio do meio ambiente etc.

    A paisagem entre liberdade e igualdade. A liberdade de mercado pode ser o nico motor da produode paisagens materiais? Para responder, preciso imaginar os mundos governados principalmente pelointeresse egosta e a ganncia, e marcado pela recusa da responsabilidade coletiva. A liberdade de empre-ender, gostaria de viver como lhe apraz, produz paisagens particulares. Elas no so ces. Elas existemnas grandes plancies cerealistas da Amrica do Norte, nas monoculturas de soja, de cana do Brasil, nosagrobusiness,