cat030 - joão e o logos

28
Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 1/28 ASSOCIAÇÃO MINISTÉRIO ENSINANDO DE SIÃO Filiada ao Netivyah Bible Instruction Ministry (Israel) CURSO DE TEOLOGIA DA RESTAURAÇÃO (CTER): a Bíblia no contexto judaico-messiânico Disciplina (CAT030): João e o Logos Prof. Joseph Shulam Belo Horizonte – MG – Brasil

Upload: marcos-paulo-araujo-de-oliveira

Post on 12-Aug-2015

97 views

Category:

Documents


58 download

TRANSCRIPT

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 1/28

ASSOCIAÇÃO MINISTÉRIO ENSINANDO DE SIÃO

Filiada ao Netivyah Bible Instruction Ministry (Israel)

CURSO DE TEOLOGIA DA RESTAURAÇÃO (CTER): a Bíblia no contexto judaico-messiânico

Disciplina (CAT030): João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Belo Horizonte – MG – Brasil

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 2/28

JOÃO E O LOGOS

O texto do apóstolo João não só é interessante: também é de difícil

entendimento, por se tratar de áreas que normalmente não estudamos.

O conceito de inspiração das Escrituras Sagradas, tanto na forma judaica

ortodoxa, quanto na forma cristã, é chamado de “Inspiração Plena Verbal.” Isso significa

que tudo que está escrito nas sagradas Escrituras foi ditado por D’us, e os autores

escreveram conforme ouviram.

Contudo, o papel original onde estas palavras foram escritas, as primeiras cópias,

nos são inacessíveis. O que temos como referência são cópias das cópias das cópias. E

as traduções que utilizamos, em diversas línguas, resultados de comitês, cujos integrantes

pesquisadores escolheram, dentre um grande número de textos, uma coletânea que

culminou na redação que temos hoje.

Devido a isso, a posição cristã diante das Escrituras, diz que o “ditado verbal”,

não faz sentido nos nossos dias. Quando lemos esses textos nos idiomas em que foram

escritos – hebraico, aramaico e grego –, percebe-se em cada livro um estilo literário

diferente. Por exemplo, o estilo literário do livro de Ruth é diferente do estilo de D’varim

– Deuteronômio. Percebemos diferenças quanto ao vocabulário, em função da época

em que o livro foi escrito (1Re 5 a 8).

O que estamos tentando esclarecer é que o texto bíblico reflete o lugar e a época

em que aconteceram e foram escritos, o estilo e os problemas que os autores tinham. Ou

seja, foram pessoas que escreveram tais acontecimentos, com suas impressões pessoais

da época em que viveram, e D’us não suplantou a porção humana impressa nesses

escritos.

O que devemos ter em mente, é que a porção divina dos relatos bíblicos, são os

eventos que D’us causou ou influenciou na história, que foram descritos por

testemunhas fiéis, e que foram protegidos pelo Espírito de D’us. É por isso que temos só

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 3/28

quatro evangelhos, e há entre eles diferenças muito perceptíveis. O mesmo acontece

também no livro de Deuteronômio, que é a repetição do que está escrito em Êxodo,

Levítico e Números. Outro exemplo são os livros primeiro e segundo de Samuel, dos

Reis e das Crônicas: podem-se perceber detalhes e particularidades distintas.

O Evangelho de Mateus começa pela genealogia de Yeshua, mas, no Evangelho

de Marcos, o autor não menciona nem a genealogia, nem a história do nascimento de

Yeshua. O Evangelho de Lucas começa com o nascimento de João Batista, e depois o

relata o nascimento de Yeshua. Já o Evangelho de João não começa nem com

nascimento de João Batista, nem com o de Yeshua. O que podemos extrair disso, é que

são pessoas diferentes com pontos de vista diferentes, mas que descrevem sobre uma

mesma história.

Tudo isso se constitui um problema na interpretação das Escrituras, tanto no

Tanakh,1 quanto na Brit Chadashá.2 Assim, se crermos que a Bíblia foi ditada pelo

Espírito Santo de D’us, podemos ser levados a crer que, em um texto mais recente, o

Espírito Santo de D’us se esqueceu do que havia dito antes, pois veio a ditar um texto

diferente.

Devemos entender que “inspiração” nada mais é que homens fiéis registrando,

como testemunhas, o que D’us fez no contexto de seu tempo, em sua época, cultura e

local de habitação.

A partir desse pensamento, percebemos no Evangelho de João, que o autor está

agindo dessa mesma forma, ou seja, ele está escrevendo para uma platéia grega, dentro

do contexto cultural grego, mas usando o pensamento judaico, para mostrar que Yeshua

é o Messias.

O Evangelho de João é um escrito voltado para o fortalecimento da fé com

propósitos evangelísticos, e totalmente dentro do contexto cultural greco-romano, de sua

1 TaNaKh, ou Antigo Testamento: (1) Torá, (2) Neviim e (3) Ketuvim, ou seja, (1) Pentateuco, (2) Profetas

e (3) Escritos, conforme o agrupamento dos livros da Bíblia na tradição judaica. As Bíblias judaica e cristã são diferentes quanto à ordenação e agrupamento dos livros.

2 Nova Aliança, ou Novo Testamento.

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 4/28

época. Apesar disso, João usa como referência o Tanakh, como podemos perceber logo

no primeiro verso: “B’reshit”, “No princípio.”

O que João pretendia era levar sua platéia, ou seus leitores a se conectarem com

os primeiros versos de Gênesis. Ao contrário do pensamento ocidental, ele não está

querendo convencer ninguém a nenhuma corrente filosófica grega, mas levá-los a se

conectarem com a mensagem bíblica. João quer converter seus leitores, ao D’us de

Israel, ao Messias de Israel e à eleição de Israel, partindo da premissa de que eles não

têm conhecimento da Torá.

Devemos também levar em consideração que, no pensamento filosófico grego

daquela época, o tempo e o universo sempre existiram – estavam lá. O conceito de

tempo para o pensamento judaico é linear,3 ou seja, dentro da Eternidade de D’us,

houve um momento para o “início” de todas as coisas.4 O tempo de D’us tem início e

terá um fim, pois está escrito no Tanakh e na Brit Chadashá que haverá “novos céus e

nova terra.” Esse é um conceito da Torá e não da Brit Chadashá.

João começa dizendo “No princípio era a Palavra.” Note que a Palavra existia:

ela era. O tempo verbal apresentado aqui é “passado.” No original grego, está escrito

que “A Palavra” estava lá, ela existia. Dessa forma, podemos entender que a Palavra

não foi criada. E esse “Verbo”, “Palavra”, estava com D’us. E se ela estava, não pode

ser a mesma pessoa, mas uma outra pessoa. E essa Palavra que está com D’us no

princípio é D’us. Para o pensamento judaico, isso não é difícil de entender, mas para

uma mente ocidental cristã induz a interpretações falsas.

O conceito que João está tentando ensinar e introduzir no pensamento grego é

muito judaico. João usa a palavra “logos”, que começou a ser usada por Zenão quatro

séculos antes. Zenão foi muito influenciado pela filosofia de Hieráclito.

3 O conceito de tempo no pensamento cristão é cíclico, influenciado pelo pensamento grego-romano. Mas

o tempo, no pensamento judaico, é linear: tem início, meio e fim.

4 Antes de B’reshit, só havia a G’vura – Poder Pleno.

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 5/28

Se nesse texto João quisesse dizer que Yeshua é D’us, ele não precisaria ficar

floreando o texto, ele simplesmente diria. Mas João tem um propósito para proceder

assim. O uso da palavra “logos”, no pensamento grego, é interpretado como o

“Elemento Unificador da Natureza”, ou o elemento que traz ordem ao “caos da

natureza.” Tentem avaliar isso no centro de um mundo sem D’us, um fundo filosófico,

destituído de um conceito monoteísta de “Adonay Echad” – “D’us é um”.

A observação de Zenão à natureza o levou a conceber que existe uma certa

ordem nela e que ela tem uma explicação, uma lógica. Há uma lógica para o nascer e o

pôr do sol, e em tudo que há na natureza.

João usa esse termo grego filosófico – “logos” – e diz: “No princípio era o logos.”

Uma pintura tem a assinatura do artista, ou a forma como ele enxerga a cena e a

reproduz. Por isso podemos afirmar que uma pintura é de determinado artista. Por que o

caráter, a personalidade e a impressão digital estão na criação. Vejam: a foto de uma

pessoa é a pessoa. Se cortarmos a foto, a pessoa não sentirá dor, mas se cortarmos a

pessoa da foto, ela sentira dor e sangrará.

Por isso, João diz que o Logos estava com D’us e que o Logos é D’us. No

segundo versículo ele repete: “Ele estava com D’us no princípio.” João repete para que

seus leitores não tivessem dúvida: Ele é D’us e Ele estava com D’us. No verso três, ele

diz: “Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez.”

Há um pensamento judaico que diz que tudo que existe tem um nome e foi

criado por palavras. Ora, as palavras são formadas por letras. Assim podemos entender

que D’us falou ao mundo e o trouxe a existência. Ele disse: “Haja luz”, e a luz passou a

existir. Ele disse: “Produza a terra árvores, e relva, e flores”, e a terra produziu, árvores

relva e flores. Pelo uso da palavra “logos”, nos versos 1, 2 e 3, João quer enfatizar que a

criação tem ordem e lógica.

Querendo ou não, o mundo ocidental foi influenciado pela Palavra de D’us, e

isso é bem entendido pelos judeus, pelos cristãos e até pelos muçulmanos. Mas, se não

conhecêssemos a Bíblia, e se não crêssemos que o mundo foi criado por um D’us, não

chegaríamos à conclusão de que criação tem ordem e lógica. Chegamos a essa

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 6/28

conclusão por que conhecemos a Bíblia. Quando João diz para sua platéia grega que o

mundo foi criado pelo “Logos”, pela Palavra, ele diz: existe um D’us, Criador, que tem

uma Palavra, e essa Palavra é o instrumento para dar início à criação.

Para o pensamento grego, essa informação se torna uma boa notícia, porque o

princípio motivador do texto de João é dizer que Yeshua é a lógica, ou seja, o criador da

ordem para o caos em que se encontrava o mundo. Yeshua é o propósito, a razão e

a glória de toda a criação. João está dizendo que tudo o que foi criado o foi pelo

Logos.

A Carta aos Hebreus (cap. 1) confirma de forma judaica o que João está dizendo

aos gregos: que o filho é a revelação de D’us para nós hoje. Ele é o herdeiro de todas as

coisas. Ele foi o criador de todas as coisas. No texto grego, a palavra é kosmoe (kosmoe)

e está no plural – “mundos” –, significando “Universo”. Yeshua é também a Luz, para

resplandecer a Glória de D’us, como está descrito no Evangelho de João.

Os textos de João e de Hebreus, informam que, não só no passado, mas também

no presente, Yeshua é o sustentador da criação. Os rabinos dizem que todo o Universo

foi criado para o Messias, e é exatamente isso que é dito: “tudo foi criado para Ele e por

Ele, e Ele sustém todas as coisas.” Ele é a fonte da existência da vida nesse mundo.

“Nele estava a vida, e a vida era a Luz da humanidade” (Jo 1:4). Na Carta aos

Hebreus, diz-se que Ele era o resplendor da Glória, a Sh’khinah5 – brilho ou resplendor

aludem a Luz. João está introduzindo um conceito que já era conhecido pela mitologia

grega a respeito do primeiro ser humano criado. No mito, o nome do ser era fws (Phós)

– Luz. João está unindo conceitos gregos e conceitos hebraicos, para ensinar sobre o

Messias, usando a Torá.

Nos primeiros versos, lemos que Yeshua já existia (cf. também: Jo 17:24; Ef 1:4;

1Pe 1:20; Ap 13:8). No quarto verso, João está fazendo alusão aos fatos de que o corpo

5 A palavra Sh’khinah aparece apenas na literatura rabínica, havendo na Torá somente alusões a essa

presença divina. Por exemplo, em Ex 25:8: “ועשו לי מקדש ושכנתי בתוכם” – “E fareis um santuário para Mim, e habitarei neles.” Observe-se que a palavra “veshakhanti” tem a mesma raiz da palavra

Sh’khinah. “Veshakhanti” é uma conjugação do verbo שכנ (shakan), que significa habitar.

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 7/28

de Yeshua era feito de Luz e de que a Luz é o poder que dá Vida. Isso nos conduz a

uma interpretação judaica de Gênesis, sobre o pecado de Adão e Eva.

A primeira percepção de Adão e Eva, pós-transgressão, foi terem visto nus a si

mesmos, e então começaram a se esconder de D’us. Quando ouviram a Voz de D’us

andando pelo Jardim, não era D’us que estava andando, mas a Palavra (Gn 3:8-10). No

séc. II a.C., quando a Torá foi traduzida para o aramaico por Onkelos – um prosélito do

judaísmo –, este traduziu Gn 3:8-10 com a palavra “Memra”, que é a correspondente

aramaica para “Logos.” Então, Adão e Eva estavam se escondendo de Memra, Logos,

Palavra de D’us que andava pelo jardim.

Não apenas D’us criou o mundo, dizendo “Haja Luz”, “Haja separação entre a

terra e as águas”, “Produza a terra vegetais”. Não só D’us criou o mundo com o Logos,

Palavra. Quando Adão e Eva pecaram, após a obra da Criação ter sido acabada, o

Logos ainda estava lá. A voz de D’us estava lá e falava, por que a Voz de D’us disse

para Adão, “Onde está você?”.

Somente D’us é Onisciente. Yeshua não é onisciente (cf. Mt 24:36). Então, o

Logos não é onisciente. Se Ele fosse onisciente deveria saber onde Adão e Eva estavam.

E Ele também estava lá no Jardim, mas não os via. Conforme descrito em Gn 3:21,

“Adonai, D’us, fez roupas de pele para Adão e para sua mulher, e os vestiu.” A versão

cristã dos Pais da Igreja, explica esse texto dizendo que D’us sacrificou um cordeiro, fez a

cura do couro, pegou uma agulha e linha, mediu Adão e Eva e costurou-lhes uma

vestimenta para cobrir sua nudez. Mas, no pensamento judaico, Adão e Eva tinham

corpos feitos de luz, e D’us lhes deu um material “opaco” de carne e osso, pele, e os

vestiu com corpos de pecado. Porque, se eles não tivessem pecado, eles não morreriam,

mas Paulo diz:

Pelo que, como por um homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte, assim também a morte passou a todos os homens, por isso que todos pecaram. Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado não havendo lei. No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não pecaram à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir. (Rm 5:12-14)

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 8/28

Se eles não tivessem transgredido o mandamento de D’us, eles viveriam

eternamente no Jardim, e a promessa de D’us foi que morreriam se transgredissem. E a

morte começou a atuar neles a partir do momento em que eles receberam um corpo

como o nosso.

João tem esse mesmo pensamento e tenta influenciar o pensamento grego dentro

desse princípio. O homem, como o Messias, deveria viver eternamente. “A Luz brilha

nas trevas e as trevas não entendem isso.” (Jo 1:5) Ele era a Luz que brilhava nas trevas,

mas as trevas não O aceitaram. No Tanakh, a palavra “trevas” é usada, na maioria das

vezes, nos Salmos e nos profetas para descrever a condição do mundo pagão dos

gentios. Ou seja: os gentios sem D’us estão mortos. Paulo (Ef 2) e João (1:5) também

confirmam essa posição.

Podemos interpretar “trevas” de diversas formas. Escuridão de forma

generalizada, ou qualquer tipo de escuridão, por exemplo. Mas não dentro do contexto

de João. Pois a física provou o que o pensamento grego já sabia: que a luz espanta as

trevas, e onde não há luz há trevas. Esse é o princípio físico que João quer mostrar, mas

não é o que ele está dizendo. Ele diz que a Luz brilha nas trevas, no tempo presente,

agora. A Luz ainda resplandece nas trevas, e isso não foi só no tempo da Criação.

Diante disso temos:

Existe o Logos que é a Palavra de D’us. A Palavra de D’us está com D’us, e a Palavra de D’us é D’us. Essa Palavra criou tudo. Essa Palavra é a Vida, e a Vida é a Luz. Essa Luz brilha nas trevas, e as trevas ainda não podem compreendê-la. Isso é verdade hoje como foi ‘No princípio’.

É fácil adorar coisas, mas é difícil entender a essência da adoração a D’us: como

nossa oração pode chegar aos ouvidos de D’us, como podemos entender o

funcionamento da vida dos crentes sendo inspirados pelo Espírito de D’us, como a obra

da salvação atua em mim e me direciona. Isso é algo de difícil compreensão. É fácil

adorarmos a D’us e adorarmos Yeshua, mas é difícil entendê-los. Temos Yeshua como

nosso Salvador, como Juiz, como D’us, como Amigo, mas a última coisa é Yeshua como

Professor, como Mestre.

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 9/28

Assim era como as pessoas do Seu tempo O conheciam e O queriam, porque só

se pode ser aluno se houver alguém ensinando. Ninguém quer o ensino de Yeshua

Rabeinu, porque são ensinos muito duros. Ele nos compara a uma árvore, e diz que se

não dermos fruto, seremos arrancados e jogados ao fogo. As “Boas Novas” são duras.

Ele também diz: “E você colocar seu pai, sua mãe ou seu irmão na minha frente, você

não é digno de mim.” Isso não só é difícil, mas também muito duro. João traz a essência

do Evangelho, usando esses termos gregos filosóficos, e casando esses termos com o

livro de Genêsis, com a história da Criação, e introduzindo no mundo grego esses

conceitos judaicos da Criação.

João (1:6), apresenta João, o Imersor,6 de uma forma peculiar e que sai

totalmente da sequência apresentada até o verso 5. A pergunta aqui é: “Por que o

escritor está fazendo isso?” D’us usa muitas pessoas, muitas ferramentas, para seus

objetivos, mas aqui, o escritor não quer que pensemos que todo mensageiro de D’us é

igual ao Logos.

O profeta Isaías também proclamava nas ruas de Jerusalém: “Assim diz o

Senhor”, “o Senhor D’us vos fala”. Isso não queria dizer que Isaías fosse o Logos. A

palavra de D’us estava saindo através da boca de Isaías – ou de qualquer um dos outros

profetas – e eles eram mensageiros de D’us. João usa um recurso para mostrar que o

Logos não é um mensageiro, e que João, o Imersor, não era a Luz, mas uma

testemunha da Luz.

Yeshua é a monogênese,7 o único criado com a sua própria natureza, o unigênito

de D’us. E, como unigênito de D’us, Ele pode ser mensageiro de D’us. Ele foi enviado

por D’us e está falando as Palavras de D’us. Yeshua diz duas vezes no Evangelho de

João, “Quem não me ama não guarda as minhas palavras; ora, a palavra que ouvistes

não é minha, mas do Pai que me enviou.” (Jo 14:24) Yeshua é mensageiro, mas João

está dizendo que Ele é mais que um mensageiro, Ele é maior que João, o Imersor.

6 João Batista. “Batismo” vem do grego baptizw (baptizó): mesmo que “imersão”. Em Hebraico, ִמְקֶוה

(miqvéh).

7 Teoria segundo a qual todos os seres derivariam por evolução de um mesmo ser primordial.

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 10/28

É por isso que João quebra a sequência do pensamento e só retorna no verso 14

para dizer que não são todos os mensageiros de D’us iguais ao Logos. Só Yeshua é o

Logos. O testemunho de João é que a verdadeira Luz que veio ao mundo, ilumina todo

homem.

Quando um judeu lê esse texto, ele entende que a Torá é essa Luz que foi dada

pelo Logos a todo homem que vem ao mundo, por que a Torá é também chamada de

Luz, Óleo, Água. Quando João menciona a João, o Imersor, como testemunha da

Verdadeira Luz, é esse Logos que se fez carne, se tornou ser humano. O autor do livro

de Hebreus diz que Yeshua é a Torá, é Ele que Ilumina a Torá.

João tenta mostrar aos gregos que Yeshua é a Luz de D’us que veio a todo

homem, e todo ser humano tem se beneficiado da obra de Yeshua, do Logos de D’us,

da Palavra de D’us, seja ele cristão, mulçumano, judeu, budista ou hindu. A Palavra de

D’us tem influenciado toda a raça humana.

Os direitos civis, a abolição da escravatura, valores morais ocidentais, a Carta

Magna, o Presidente Lula e até mesmo os que se chamam ateus foram influenciados e se

beneficiam hoje da Palavra de D’us. E eles não gostariam de viver em um mundo onde

não existissem direitos, e leis, e os Dez Mandamentos, e igualdade entre raças, homem e

mulher. Todas essas coisas e valores que o mundo aprecia hoje são resultado da Luz que

veio de Yeshua e resplandeceu sobre todo o mundo.

“Estava no mundo, e o mundo foi feito por intermédio dele, e o mundo não o

conheceu.” (Jo 1:10) A palavra “intermédio”, no contexto grego, quer dizer “através”.

Dentro desse contexto, Yeshua não é o Criador, mas o instrumento da Criação. Dentro

do pensamento judaico, o Logos – Yeshua –, a Luz, a Vida, são instrumentos e não

possuem finalidade em si mesmos.

Com essa noção, se fomos criados para viver, por que morremos? E se vivemos

para morrer, por que vivemos? Assim, a vida em si mesma não é o objetivo final, mas

uma ferramenta. Ou seja: a vida é uma passagem, uma ponte que devemos atravessar

sem temer. Esse conceito judaico de “vida” está também na Brit Chadashá: “Somos

peregrinos e estrangeiros atravessando esta terra.” (1Cr 29:15 // 1Pe 2:11) O propósito

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 11/28

da nossa existência é passarmos por esta vida e alcançarmos uma existência duradoura.

Esta vida não é o objetivo final, mas um instrumento para nos preparar e treinar para

algo melhor e eterno.

João está dizendo que Yeshua também não é o propósito final, mas um

instrumento. Como a Torá, a Palavra de D’us e a Igreja são instrumentos. No momento

em que a Igreja pensar que ela é o propósito final da criação e não o instrumento,

estaremos com um grande problema e seremos uma seita.

João diz que “o mundo foi criado através dele, e o mundo não o conheceu”.

Será que isso é uma condenação para o mundo? Não. Uma mãe está grávida de um

bebê. Ele não a conhece, mas isso não é uma coisa ruim. Se ela comer dentes de alho,

ele vai saber e perceber, mas ele não conhece sua mãe. João diz a mesma coisa do

Messias. Isso é natural.

O que não é natural é: “Ele veio para o que era seu e os seus não o receberam.”

(Jo 1:11). Ele não veio para nenhum outro povo a não ser o povo judeu. É aqui que

está o problema. O povo d’Ele deveria estar preparado desde dois mil anos antes de sua

vinda, mas não o reconheceram: essa foi a grande tragédia.

“Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o direito de serem chamados filhos

de Deus, aos que crêem em seu nome.” (Jo 1:12) Essa é uma doutrina pouco ensinada

no cristianismo evangélico. Esse direito é um privilégio, mas podemos pegá-lo ou rejeitá-

lo. Pegá-lo hoje e recusá-lo amanhã. Por que é um direito. Mas, para termos o direito

legitimamente, devemos fazer uso dele. Temos o cheque de um milhão de Reais. Se o

guardarmos na gaveta, podemos até dizer que temos essa quantia, mas se não

descontarmos, não usufruímos dele.

O que João quer enfatizar é que todo homem, de qualquer nação, que o recebe,

que dá testemunho d’Ele, recebe o direito, o privilégio de ser chamado filho de D’us. Há

no cristianismo uma noção de que somente são filhos de D’us os que aceitam o Messias

como Senhor e Salvador. Mas na interpretação judaica, todo ser humano é filho de

D’us, porque D’us os criou a sua imagem e semelhança (Gn 1:26,27), embora os que

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 12/28

testemunham Yeshua como Mashiach são filhos para a salvação, e os demais para a

condenação.

Contudo, uma pessoa somente é chamada de filho de D’us quando esse direito é

posto em prática. Isso contraria o que a doutrina cristã tem pregado há quase dois mil

anos: “É só aceitar Jesus como Senhor e Salvador e ser batizado.” Na verdade, esse

direito é dado por Yeshua, o Logos, no momento em que o colocamos em exercício.

Esses filhos são os que crêem em Seu Nome.

No evangelho de João, a questão do Nome é de muita importância, porque O

Nome de Yeshua em hebraico quer dizer “D’us é Salvação.” O nome grego “Ihsouj”

(Iesus) é uma transliteração e não tem significado nenhum em nenhuma língua. Essa

forma de transliteração do hebraico para o grego, do grego para as outras línguas – Issa,

no árabe; Gesù, no italiano, Jesus, no português etc. –, pode reduzir o entendimento

sobre quem verdadeiramente Ele é.

Mas, a todos quantos o receberam, aos que depositaram confiança na pessoa e no poder dele, Ele lhes deu o direito de se tornarem filhos de Deus, Não por causa da linhagem [sangue], nem da vontade da carne [pai e mãe – impulso físico], nem da vontade do homem, mas por causa de Deus. (Jo 1:12,13, tradução de David Stern)

Nascer de novo é um termo muito popular no mundo cristão. Na Bíblia, porém,

nascer de novo é algo muito concreto, não é somente espiritual. Representa uma

mudança da matriz de nossa vida. Para sermos discípulos de Yeshua, chamados

Filhos de D’us, significa estar neste mundo e não pertencer a ele.

Vivemos aqui na carne, mas nossos valores e lealdade não são para esta

realidade.8 Há uma mudança de aliança, das instituições deste mundo, para uma

instituição real de valores de um novo Reino. Como discípulos de Yeshua, não

pertencemos a este mundo, mas estamos atravessando a ponte que é este mundo, para

um local que qualquer que ele seja e nos espera, é muito melhor do que o que tem aqui.

.”este mundo“ ,(Olam haZeh) עולם הזה 8

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 13/28

Se não crermos que haverá uma vida eterna, que haverá um dia de juízo, que

nesse dia Yeshua vai cobrir seus pecados – se não crermos nisso, nós estamos perdendo

tempo, pois essa é a essência de “nascer de novo”. Paulo diz que éramos escravos do

pecado, mas, no batismo, morremos com o Messias, ressurgimos dos mortos quando

saímos da água e, a partir desse momento, somos escravos de D’us (Rm 6).

Quando, como discípulos de Yeshua, não estamos felizes é porque tentamos

viver em dois mundos simultaneamente, tentando agradar a dois senhores. Um dia você

ama um e odeia o outro. Noutro dia, odeia o primeiro e ama o segundo. O Corpo do

Messias, a Igreja, deve aprender esses princípios básicos e colocá-los em prática, pois

aqueles que nasceram de novo têm com matriz e valores novos para conduzir sua vida –

as regras expostas na Palavra de D’us: a Torá, os profetas e os apóstolos.

A Palavra se tornou um ser humano e habitou (tabernaculou) entre nós (Jo 1:14).

Isso é verdade ainda em nossos dias, e Ele continua a bater nas portas de nossas vidas.

Mas a chave está dentro de nós: essa é uma ação que nós temos que executar, a de abrir

a porta e deixar que Ele entre.

O conceito de “logos” é um dos mais complicados da Bíblia e também do

judaísmo. Como é uma união de conceitos gregos e judaicos, de filosofia grega com a

Palavra de D’us, tentar simplificá-lo requer um esforço de ambas as partes. João usa esse

recurso para fins evangelísticos, e ele é o único que usa a palavra “logos” dessa forma.

A palavra “logos” aparece 311 (trezentas e onze) vezes no Novo Testamento. Na

maioria das vezes, a tradução de “logos” é usada para designar “palavra”. No hebraico,

há três vocábulos para designar palavra: (1) “milah”, que significa “palavra”; (2) “amar”,

que significa “dito” e que também pode significar “palavra”; e (3) “davar”, o termo mais

complicado, que pode significar “palavra”, “evento”, “acontecimento”, “coisa” e, até

mesmo, “nada” – “shundavar” é o mesmo que “nada”. A Bíblia usa todos estes termos.

Em nosso cotidiano, o uso das palavra é complicado. As palavras são como

recipientes, porque tudo depende de o quê você “coloca” na palavra, como a dizemos,

com que ênfase, pois as mesmas palavras ditas em tons diferentes são compreendidas de

formas diferentes.

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 14/28

D’us resolveu se revelar à humanidade através da Palavra. Para isso, a literatura

tem de ser entendida, mas as palavras podem mudar o sentido, porque elas têm sentidos

múltiplos. Uma palavra dita há cinquenta anos pode hoje significar algo bem diferente.

Mesmo dentro de um país, os dialetos e a forma de compreender as palavras são

diferentes, ou seja, palavras diferentes para a mesma coisa e vice-versa.

Geralmente a palavra “logos” significa “Palavra de D’us”, a “Bíblia”, e é assim

que é usada nos Evangelhos, nas Cartas de Paulo, no livro de Atos. Mas João usa a

palavra “logos”, dentro do contexto filosófico de uma escola grega, e tenta unir esse

conceito grego com o conceito judaico. João pega um conceito filosófico do séc. IV a.C.,

usado pela filosofia estóica, para dizer que Yeshua é a Palavra, o “logos” do estoicismo.9

Os estóicos eram pessoas escolarizadas, e a sua origem nos sugere que eram

“preguiçosos”. Quem poderia ficar à toa pensando? Pessoas que não trabalhavam, ricas

o suficiente para filosofar – daí também a origem da palavra “escola”.10 Esses filósofos

pensavam sobre o quê, e qual o elemento que une o Universo, qual a razão da vida. Os

estóicos eram pessoas tristes e pessimistas, pois falavam que o mundo era uma bagunça,

que está envelhecendo, que a vida não tem gosto, e então há sofrimento ao longo da

vida.

Os estóicos foram os que começaram a usar o termo “logos”, e é por isso que

João tenta convencer os gregos de que D’us criou o Mundo: Ele usou esse poder

unificador, a razão e a lógica – e essa lógica se tornou um homem, e esse homem é

Yeshua. João afirma isso (1:14), mas ele não usa, e não informa o nome de Yeshua.

João também não usa as palavras “judeu”, “Israel”, “Torá”, “cristão”. Ele fala no geral,

9 “Doutrina fundada por Zenão de Cício (335-264a.C.), e desenvolvida por várias gerações de filósofos,

que se caracteriza por uma ética em que a imperturbalidade, a estirpação das paixões e a aceitação resignada do destino, são as marcas fundamentais do homem sábio, o único apto a experimentar a verdadeira felicidade. O estoicismo exerceu profunda influência na ética cristã.” (HOUAISS, Antônio. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0.5. Instituto Antônio Houaiss, 2002. Verbete “estoicismo”.)

10 “Lat. schola(ae) ‘lugar nos banhos onde cada um espera a sua vez; ocupação literária, assunto, matéria; escola, colégio, aula; divertimento, recreio’, do gr. skhole(es) ‘descanso, repouso, lazer, tempo livre; estudo; ocupação de um homem com ócio, livre do trabalho servil, que exerce profissão liberal, ou seja, ocupação voluntária de quem, por ser livre, não é obrigado a; escola, lugar de estudo’.” (Idem. Etimologia do verbete “escola”.)

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 15/28

tentando convencer os adeptos do “mundo das idéias”, da filosofia, que aquela lógica se

tornou algo tangível, visível e que nós a vimos, vimos a Glória – Sh’khinah.

Essa idéia sublime de o Logos descer até nós era impossível ao pensamento

grego, por que o cosmos grego era dividido entre o mundo dos deuses – o Olimpo – e a

terra onde nós estamos. Esta era considerada o mundo dos mortais, e esses dois mundos

não se relacionam a não ser em raras ocasiões. Os “deuses” querem ficar em paz, e não

querem ser incomodados pela humanidade.

Havia também a figura do demiurgo, meio deus e meio homem. O mais famoso

de todos é Hércules, filho de Zeus com uma mulher mortal. Esses demiurgos podiam

transitar entre esses dois mundos e faziam uma ponte entre os homens e os deuses. O

conceito cristão que foi desenvolvido logo após o século primeiro, e que foi copiado de

Platão, era exatamente esse. Platão usou a noção de “logos” como o mediador entre o

mundo divino e o mundo terreno. Podemos perceber essa forma de pensar nas

representações artísticas cristãs que usaram o mesmo modelo na arte sacra.

João diz que o Verbo, a Palavra, fez-se carne e habitou entre nós (1:14). Isso era

quase uma blasfêmia para o pensamento grego, pois os gregos não entendiam como o

divino poderia descer e se revestir de carne. Paulo também lida com o problema em

vários textos, e o mais conhecido é Fl 2:6-7: “Que, sendo em forma de Deus, não teve

por usurpação ser igual a Deus, mas esvaziou-se a si mesmo, tomando a forma de servo,

fazendo-se semelhante aos homens.”

Quando comparamos os textos de João e de Paulo, notamos duas palavras que

aparentemente se contradizem. As palavras são “forma” e “semelhança”. No

entendimento de João, Paulo estaria errado, pois, para João, Yeshua é verdadeiramente

homem de carne corruptível.

Paulo vê Yeshua sob um prisma diferente, essencialmente sob dois prismas. No

primeiro, ele vê D’us se revelando ao homem em forma de homem, mas não

completamente homem, embora mais que um simples homem. No segundo, Paulo O vê

em semelhança de homem. Para Paulo, Yeshua é um homem que alcançou D’us – e é

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 16/28

D’us que alcançou o homem. Essas duas direções se encontram na pessoa e no caráter

de Yeshua.

Pela ótica de João, Yeshua não se revela assim. Para João, há somente uma

forma de enxergar Yeshua: de cima para baixo, na direção divino-humano. Isso nos

ajuda responder outra pergunta: Por que a Torá veio dos Céus? Por que D’us revelou a

Torá a Moisés, e Moisés a revelou ao povo? Entender isso é difícil para Israel.

Há uma história, que é a chave para entendermos o judaísmo farisaico nos

tempos de Yeshua.

Na parte interna de um forno, o tijolo não pode ser revestido de argamassa, mas em sua área externa pode ter revestimento para selá-lo. Se for usado para cozinhar alguma coisa à base de leite, como queijo, e se o queijo se espalhar nos poros daquele revestimento, e depois esse forno for usado para cozinhar um alimento à base de carne, e a carne também grudar nos poros, o forno terá misturado leite e carne em seus poros. Então, para que um forno seja considerado kasher,11 não pode ter internamente nenhuma cobertura nos tijolos, por que esse material é poroso. Havia um homem que construía fornos e o nome dele era Arnay. Ele construiu um forno, e o forno era construído de tijolos. Outros judeus estavam discutindo sobre esse forno que Arnay construiu. Um rabino disse para Arnay: – Seu forno não é kasher. Mas o rabino dele, Eliezer, disse que era kasher, porque, pelo princípio judaico, o fogo purifica. Então houve uma grande discussão entre o rabino professor e os seus talmidim, que também eram rabinos. Os discípulos diziam que o forno não era kasher, mas o professor dizia que era kasher. O rabino professor disse então que provaria sua responsa12 e daria uma prova dos Céus. Então ele disse para uma árvore: – Arranque-se daqui e plante-se no mar! E a árvore saiu de onde estava e se plantou no mar. Então os discípulos disseram:

11 Dentro das normas haláchicas de purificação, no conceito rabínico.

12 Respostas para perguntas sobre o judaísmo e a vida judaica. Diferentemente das resoluções, que são adotadas por voto nas convenções, a responsa fornece uma guia, e não uma regra.

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 17/28

– Não podemos fazer halachá13 baseada em árvores. Foi um milagre, mas um milagre não serve para se fazer halachá. Então o rabino disse para seus discípulos: – Vou lhes dar outra prova. Vocês estão vendo esse aqueduto e como a água sai da parte de cima para a parte de baixo. Pois bem: eu darei uma ordem a ela, para que ela inverta seu fluxo. O rabino deu a ordem e a água começou a subir pelo aqueduto. Os discípulos então disseram: – Não podemos fazer doutrinas baseadas em milagres de aquedutos, porque milagres não provam a Lei. Então o rabino disse-lhes: – Vou pedir a meu Pai, que está no céu, que fale com vocês que eu estou certo. Nesse momento veio uma voz do céu e lhes disse: – O rabino Eliezer está certo. Ao que os discípulos responderam: – Mas a Torá não está no céu. A Torá já desceu até nós. Ela está na terra.

Essa é uma frase muito famosa, que, para os judeus, significou que D’us deu a

Torá aos homens, que agora nós somos guardiões da Torá e que a maneira como

decidimos as doutrinas aqui – a halachá – é lidando com o texto, interpretando-o, e não

por meio de milagres ou revelações (conferir Gl 1:8). João (1:14) confirma essa mesma

idéia quando não diz que o Logos esteja nos Céus, mas sim que veio habitar conosco

aqui na terra, quando diz que a Palavra se fez carne e que ela vive entre nós, e nós

vimos a Sua Glória.

João está tentando ensinar que, se olharmos os seres humanos, a carne,

podemos ver a Glória de D’us. Não é necessário termos uma experiência extracorpórea,

espiritual, para vermos a Glória de D’us. A própria carne, o homem, já é uma

13 Doutrina.

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 18/28

proclamação da Glória, da revelação e da presença de D’us. Podemos deduzir que João

não está falando só de Yeshua, mas de toda a humanidade, pois fomos criados à

imagem e semelhança de D’us, como está descrito em Gênesis. Quando observamos o

nosso próximo, o nosso irmão, o nosso semelhante, devemos vê-los como a revelação

da Glória de D’us.

João (1:14b) continua: “E vimos a Sh’khinah, a Sh’khinah do Filho único do Pai,

repleto de graça e verdade.” O que João quer nos dizer? De onde ele tirou essa

combinação: “graça e verdade”? Da Torá. Porque a revelação de D’us na Torá, é graça

e verdade. “Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Yeshua

haMashiach.” (Jo 1:17)

A expressão “graça e verdade” vem do livro de Êxodo, no capítulo 34. Mas a

base é o capítulo 33, quando Moisés discutia com D’us, após o evento do “Bezerro de

Ouro”. No verso 20, Moisés pede a D’us: “Mostra-me a Tua Sh’khinah [Glória].”

Observe-se que a Sh’khinah está também em João 1:14. Vejamos o que segue em Ex

34:6,7, onde Moisés lista os 13 atributos do caráter do ETERNO:

Passando, pois o SENHOR perante a sua face, clamou: SENHOR, o SENHOR, Deus, misericordioso e piedoso, tardio em iras e grande em beneficência e verdade; que guarda a beneficência em milhares; que perdoa a iniquidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até à terceira e quarta geração.

No original hebraico, onde se lê “beneficência e verdade”, está escrito: חסד ורמת

(chésed v’emét), ou seja “graça e verdade”. Essa combinação ocorre mais de 20 (vinte)

vezes em todo o Tahakh. No Tanakh, os tradutores cristãos usaram sinônimos, mas em

Jo 1:14 e Jo 1:17, usaram “graça e verdade”. Provavelmente, a opção por não usar a

palavra “graça” nas ocorrências da combinação no Tanakh foi feita porque a redação de

Jo 1:17 tornar-se-ia um problema, associando claramente a Torá a “graça e verdade”: se

a graça e a verdade vieram por Yeshua, como poderiam ter vindo por intermédio de

Moisés?

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 19/28

O primeiro ponto onde aparece a expressão “graça e verdade” é Gn 24, que não

é muito teológica. Diz respeito ao servo de Abraão, Eliezer, que subiu à Síria para trazer

uma noiva para Isaac. No desenrolar da história, no verso 49, os tradutores usam o

sinônimo “benevolência” em vez de “graça”.

No livro de Salmos, também isso ocorre em vários pontos. O mais interessante é

Sl 25:10: “Todas as veredas do SENHOR são misericórdia e verdade para aqueles que

guardam a sua aliança e os seus testemunhos.” Aqui também os tradutores cristãos

usaram um sinônimo para “graça”. Por uma única razão: não entendiam que poderia

haver Graça no Antigo Testamento.

Assim, quando se usa a concordância bíblica para pesquisar sobre Graça e

Verdade, ninguém encontra a combinação, a não ser no primeiro capítulo do evangelho

de João.

João afirma que, quando o Logos se tornou carne, Ele veio habitar entre nós.

“Nós” é o povo de Israel, porque Yeshua mesmo diz mais de uma vez: “Eu vim para as

ovelhas perdidas da casa de Israel.” (cf. Mt 15:24) Quando aquela mulher fenícia, não

judia, uma gentia, veio pedir a cura para sua filha, Yeshua disse que “não se dá comida

dos filhos para os cãezinhos” (Mc 7:27). Essa não foi uma resposta muito agradável de

Yeshua, mas a razão é confirmar o que João quer dizer: que D’us usa o povo de Israel

para a Sua revelação, no poder do Logos revelado a Israel, e que o Logos veio habitar

entre nós, Israel, e nós fomos os primeiros a ver a Sua Glória, a Glória do único Filho de

D’us, que foi revelada pelo Pai como sendo cheio de Graça e de Verdade. Isso também

significa que Yeshua está contido no caráter de D’us e na revelação da Torá, como

lemos em Sl 25, além de 85:11, 40:11-12 e 64, entre outros.

Graça e verdade são como água e óleo: elas não se misturam. Se você for ao

mercado e pedir um quilo de picanha, e o açougueiro lhe der um quilo e cem gramas, e

você pagar por apenas um quilo, você ganhou 100 gramas através da “graça”. Por outro

lado, isso não é “verdade”, por que você pagou por um quilo exato. Se você recebesse

um quilo, isso seria a representação da “verdade”. A graça e a verdade não podem

existir no mesmo evento. Mas em D’us podem, porque D’us pode exercer justiça e

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 20/28

verdade ao mesmo tempo que exercer longanimidade e graça. Essa é a função exata do

Logos. O Logos é o Elemento que traz equilíbrio à natureza. Fazendo isso, Ele revela o

caráter de D’us de Graça e Verdade, que é também mostrado na Torá (Ex 34:6,7).

Em Jo 1:17, o problema está na forma como João usa as preposições: “Porque a

Torá foi dada por intermédio de Moisés.” A Torá não tem origem em Moisés. Moisés é o

instrumento que D’us usa para dar a Lei a Israel. A Torá não pertence a Moisés, porque

não foi ele que originou a Torá. Ele foi o mensageiro de D’us que entregou a Torá ao

povo de Israel.

Na continuação do verso 17, temos: “a graça e verdade vieram por intermédio de

Yeshua, o Messias.” Mas Yeshua foi aquele que originou a Graça e a Verdade. Não há

apenas Graça, ou apenas Verdade, mas Graça e Verdade habitando na mesma pessoa,

Yeshua HaMashiach. N’Ele, tanto o Juízo de D’us, quanto o Amor de D’us são

demonstrados. Ele pagou o preço da Justiça de D’us e, ao mesmo tempo, demonstrou a

Graça, o Amor de D’us. Moisés foi o intermediário da Torá, mas Yeshua é a essência

da Torá. Então, podemos afirmar que Moisés entregou ao povo de Israel a própria

essência da Graça e da Verdade. Foi por isso que Yeshua disse: “Eu vim para os meus e

eles não me reconheceram.”

No verso 15, João retorna ao que havia dito nos versos 6 a 8, com a figura de

João, o Imersor: “Esse era aquele de quem eu dizia: O que vem após mim é antes de

mim, porque foi primeiro do que eu.” Por que será que João o apóstolo menciona João,

o Imersor, no início de seu Evangelho? Observe-se que o livro foi o que mais

tardiamente foi escrito – segundo os historiadores, por volta do ano 90 E.C.14 Os outros

Evangelhos já existiam quando o de João foi escrito.

Primeiramente, o autor do evangelho de João quer deixar bem claro, como já

dissemos, que Yeshua não é qualquer mensageiro ou profeta de D’us, mas muito além

disso. Ao trazer João, o Imersor, para o seu relato, o evangelista quer demonstrar que o

Logos não é mais um mensageiro ou profeta.

14 E.C.: Era Comum, para determinar o tempo desde a primeira vinda de Yeshua haMashiach.

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 21/28

A outra razão é política. João, o Imersor, tinha discípulos, e eles continuaram

existindo, e não se associavam automaticamente aos discípulos de Yeshua (At 19). Em

Éfeso, vemos discípulos de João, o Imersor, que só conheciam o batismo de João. Um

exemplo é Apolo, a quem Áquila e Priscila ensinaram o caminho de D’us. Também os

discípulos de Apolo que estavam em Éfeso e diziam não ter conhecimento de duas

coisas: (1) o batismo de Yeshua; e (2) a vinda do Espírito sobre o povo em Shavuot (cf.

At 2). Então Áquila e Priscila ensinam o caminho de D’us mais perfeitamente.

Na continuação do Evangelho de João, os discípulos de João, o Imersor,

perguntam a Yeshua: “Você é mesmo o Messias? Nosso mestre quer saber.” Yeshua

responde através de seu testemunho de vida: “Eu abro a vista aos cegos, alimento os

necessitados, [...]15, voltem e digam isso a João.” Ou seja: “Deixem que ele mesmo

decida se sou ou não o Messias.”

Havia competição entre os discípulos de João, o Imersor, e os de Yeshua. Isso

fica evidente quando os discípulos de Yeshua dizem: “Aqueles batizam em teu nome

mas não são dos nossos.” A resposta de Yeshua foi: “Não o proibais, porque quem não

é contra nós é por nós.” (Mc 9:40 e Lc 9:50)

Então, o apóstolo João, no início de seu Evangelho, falando sobre João, o

Imersor, o faz por razões doutrinais e políticas. Onde existir seres humanos, lá estará a

política, em todas as congregações, nas Igrejas, nos hospitais, nas escolas, em todo

negócio – e até mesmo na política. Existia política não apenas entre os discípulos, mas

também entre os apóstolos. Na Carta aos Gálatas, Paulo conta como ele mesmo

repreendeu Pedro. Se não fosse por uma questão política, Paulo não precisaria contar

essa história. Fez isso porque havia pessoas que se opunham a ele. Ele quis mostrar ao

Gálatas que era tão bom quanto Pedro.

“Esse era aquele de quem eu dizia: O que vem após mim é antes de mim, porque

foi primeiro do que eu.” (Jo 1:15) João usa de política para elevar Yeshua.

15 Isaías 35:5-6

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 22/28

“E todos nós recebemos também de sua plenitude, e graça por graça.” (Jo 1:16)

João nos leva de volta a Ex 34:6,7. Em Ex 34:6, temos “graça e verdade” como

atributos do caráter de D’us. No verso seguinte, aparece um outro tipo de Graça:

Que guarda a beneficência [חסד (chésed)] em milhares; que perdoa a iniquidade, e a transgressão, e o pecado; que ao culpado não tem por inocente; que visita a iniquidade dos pais sobre os filhos e sobre os filhos dos filhos até à terceira e quarta geração.

Aqui, novamente a tradução cristã oculta a palavra “graça” presente no texto

original hebraico. A “graça” do verso 7 é uma Graça guardada, protegida ou escondida,

para gerações ou multidões. Veja o texto hebraico:

M‹¹–́L¼‚́L …¶“¶‰ š·˜¾’ (notzer chésed laalafim)

Literalmente: “Guarda graça para duas mil.” Em hebraico, נצר é a palavra que

designa a trava de segurança de uma arma. Isaías fala no “notzrim b’har Efraim” isso

significa “os guardas das montanhas de Efraim”. Yeshua vem de Natzaret, e seus

discípulos eram chamados de “notzrim” – nazarenos. Paulo é chamado de “o cabeça da

seita dos nazarenos” (At 24:14), embora negue, dizendo crer na Lei e nos profetas e

andar segundo aquele que é chamado de “Caminho”. “Netzer” também é um dos

nomes do Messias, uma planta da oliveira da Casa de David.

Assim, Ex 34:7 informa que D’us “notzer” – guarda, protege – uma outra medida

de Graça, para duas mil – ou milhares – de gerações, ou para as multidões. Então,

quando João (1:16) diz que através do Logos, da plenitude de Yeshua, recebemos

Graça sobre Graça, o evangelista refere-se a duas graças: (1) a Graça da Torá, que vem

em parceria com a Verdade; e (2) um tipo de Graça escondida, que está sendo revelada

agora, através da plenitude.

“Plenitude” tem muito significado para João por ser também um termos filosófico

grego – plhrwma (pleroma) –, que quer dizer “a razão da existência de algo”. Estar em

“plenitude” significa cumprir o propósito de sua existência. O uso desse termo por João

quer dizer que “da plenitude de Yeshua temos recebido Graça sobre Graça”. Ou seja,

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 23/28

quando Yeshua cumpriu o propósito de sua existência, nós recebemos aquela dupla

Graça de D’us prometida na Torá.

Estar dentro do propósito para o qual D’us nos criou, nos traz serenidade e

satisfação. A cultura moderna não ensina os seres humanos a cumprirem o seu propósito

e viverem satisfeitas com o que elas são. Os filmes e as propagandas levam os homens a

viverem no mundo da fantasia e do que eles impõem como o estereótipo do correto e

do belo. Elas se tornam infelizes mesmo tendo todos os motivos para serem felizes.

Quando o apóstolo Paulo fala de humildade, ele diz: “Não pensem que são maiores do

que realmente são.” Viver na verdadeira felicidade é estar dentro da plenitude que D’us

criou para nós.

João está dizendo que, quando Yeshua entrou em Sua plenitude, a “Graça sobre

Graça” foi revelada para a toda a humanidade. O texto de Êxodo nos mostra que o

Caráter de D’us é Graça e Verdade, Longaminidade e Misericórdia. Ele escolheu se

revelar a uma nação, Israel – uma nação pequena e fraca, é o que diz Deuteronômio. A

essa nação ele deu a Torá, que é a Palavra de D’us – é o que encontramos registrado

em todo o Tanakh (exemplo: Sl 119) e na Brit Chadashá.

Quando lemos em Atos (4, 13, 18 e em todo o livro) que os apóstolos ensinavam

a Palavra de D’us, eles estavam ensinando a Torá. Paulo diz que é isso que ele ensina. O

que significa “Palavra de D’us” no Novo Testamento? A “palavra de santo Agostinho”?

Os apóstolos ensinavam a Torá e os profetas porque, naquela época, era isso que

existia de Escritura Sagrada. Quando Paulo diz: “Toda a Escritura é inspirada e útil para

exortação, correção e para obedecer aos mandamentos, equipando assim os homens de

D’us para toda boa obra.” O que Paulo está dizendo? Que as Escrituras eram todo o

Antigo Testamento. O “Novo” ainda não existia.

Paulo disse: “Eu creio em tudo o que está escrito na Torá e nos profetas.” (At 24)

Mesmo quando ele foi às sinagogas de Tessalônica e Bereia, tendo afirmado que

proclamou a Palavra do Senhor: sua leitura no Shabat, nas sinagogas, era a Torá! Os

apóstolos usavam a Torá para provar que o Mashiach deveria vir e morrer, ressuscitar e

se assentar à direita de D’us. Estes eram os únicos textos que Paulo tinha nas mãos.

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 24/28

Quando falamos de Palavra do Senhor se tornando carne, não estamos nos

referindo apenas à pessoa de Yeshua, Filho de D’us. Falamos também do Logos, que é

a Torá. A Torá foi exemplificada e também se tornou carne através do testemunho de

Yeshua – Ele cumpriu a Torá sem pecar. Tudo isso está incluso no texto de João, mas o

nome de Yeshua somente é apresentado a partir de 1:17.

Todo grego e todo judeu que ler o texto de Jo 1:1-16, concordará com o que ali

está exposto. É um texto filosófico e cabalístico, místico. Porém, quando João diz que “a

Torá foi dada por Moisés, e a Graça e a Verdade, prometida, por meio de Yeshua

HaMashiach”, João transforma o que era filosofia em história real, num ser humano e

personagem histórica. Algo muito bonito e grande, porque mostra o nosso D’us se

revelando através da história e da realidade, e não através de fantasias acerca do que

acontece nos céus.

Não estamos negando que nos céus aconteçam coisas. O fato é que D’us nos

informa apenas algumas poucas e nos dá pequeninas dicas a respeito, porque o que nos

importa é o que está acontecendo aqui em baixo, porque estamos conectados a este

mundo, a nossa carne, e presos a nossas limitações. Nesse estágio de vida, somente

podemos ouvir um tipo de onda – mecânica. Mas existem muitos mundos ao redor do

nosso, e não sabemos nada a respeito deles. D’us resolveu dar Sua revelação através da

forma humana, carne e sangue, forma limitada, como todos nós, e é essa a mensagem

de João até o verso 17, ainda conectado a Êxodo 34.

E em João 1:18, “Ninguém jamais viu Deus, mas Seu Filho unigênito, que é

idêntico a D’us e está ao lado do Pai, ele o tornou conhecido.” Isso é verdade, mas

Yeshua haMashiach não veio à terra fazer o que Ele queria, ou o que determinava a Sua

vontade. Ele veio cumprir a vontade do Pai. Na existência do mundo, da natureza, o

Logos não é o objetivo final, mas um instrumento de D’us.

É difícil aceitarmos que o Logos é um instrumento e também que nós mesmos

somos instrumentos. Nós gostamos de ter o direito de existir para nosso próprio prazer,

para nossa própria existência. Mas D’us nos deu um propósito e um chamado. Também

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 25/28

deu um propósito e um chamado a Yeshua, que é o de declarar o Pai, preparar o Reino

e devolvê-lo ao Pai no final (1Co 15:26-28 e Sl 8:6(7)).

Yeshua é o Logos, a razão, o propósito e a lógica para a existência do Universo.

Isso é maravilhoso, mas este mundo, como o conhecemos, terminará, e existirá um novo

mundo. Nele, Yeshua continuará sentado à destra de D’us e não no Trono de D’us.

Continuará honrando Seu Pai. É no Evangelho de João que estão estas palavras de

Yeshua: “É através de mim que vocês chegam ao Pai.” (Jo 14:6) Então ele é um

instrumento, um importante instrumento, mas não o objetivo final.

Ele é um instrumento divino, e é Ele que demonstra o grande amor de D’us a

toda a humanidade. Yeshua diz que Ele mesmo é o caminho – e o caminho é o

instrumento. Ele também diz que é a Verdade – e a Verdade também é um instrumento.

Ele diz que é a Vida – e a Vida também é um instrumento.

Nosso tempo de vida aqui na terra é uma ponte que temos que atravessar para

chegarmos ao outro lado, porque é lá que será demonstrada a realidade e o propósito

da existência: a Vida Eterna. Aqui, apesar de passarmos por momentos de alegria

limitados, na maior parte do tempo estamos trabalhando, sacrificando, nos entregando

para construirmos o Reino de D’us. João então está nos dizendo que Yeshua, no seio do

Pai, está declarando o Pai.

Em 1:19, o evangelista apresenta novamente João, o Imersor, por dois

propósitos. O político e o teológico. O político, para mostrar que João, o Imersor, não é

o Messias e não é Elias, mas sim um mensageiro cumprindo o que Isaías profetizou: “A

voz de alguém clamando: ‘No deserto, façam o caminho reto para Adonay!’” (Jo 1:23)

Há um paralelo entre as palavras de Isaías e o início do Evangélho de João.

Yeshua é o Logos, a Palavra de D’us. João, o Imersor, é a Voz de D’us. O evangelista

não está colocando João, o Imersor, em uma condição inferior, mas em uma condição

paralela. Yeshua é o Logos, a Palavra, e João, o Imersor, é a Voz. O primeiro é

sinônimo do segundo, não na acepção da palavra, mas, no contexto, é similar. O

evangelista faz esse paralelo por motivos políticos e para argumentar sua teologia.

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 26/28

Na Primeira Carta de João, o evangelista traz o mesmo conceito de Logos. Ele

começa com o mesmo enunciado de Bereshit (1Jo 1). João está reforçando que isso não

é teologia e também não é doutrina, mas experiência com “A Palavra de D’us”. Nós a

tocamos e vimos: a Palavra da Vida. Para João, a Vida Eterna NÃO é uma

experiência após a morte. No pensamento judaico, que João quer transmitir, a

experiência da Vida Eterna é agora, e nós testemunhamos a Eternidade nesse momento.

Em Sua a última oração no Getsêmani, Yeshua diz:

E a vida eterna é essa: que te conheçam, a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste. Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer. E agora glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse. (Jo 17:3-5)

A tradição informa que, após morrermos, ressuscitaremos e passaremos pelo

julgamento, D’us nos justificará pelo sangue de Yeshua, e então teremos Vida Eterna.

Mas, para João, a Vida Eterna não é uma questão de tempo: é uma questão de

qualidade. Podemos recebê-la agora, e Paulo parece ter o mesmo ponto de vista.

Para Paulo, depois de crermos, e confessarmos que Yeshua é o Messias, e nos

arrependermos, somos batizados e morremos, começando imediatamente uma vida

nova (Rm 6:3-5). Essa é uma vida real e não religiosa, porque muda a matriz que

comanda nossa vida e nossos valores – isso é o nascer de novo.

João está tentando ensinar que isso não é teoria, não é religiosidade:

testemunhamos que a Vida Eterna é real, como a vimos, nela tocamos e acerca dela

falamos. Tivemos comunhão com o Pai e com o Filho. “Escrevemos estas coisas para

que a nossa16 alegria seja completa” (1Jo 1:4), ou seja, podemos ter a alegria plena de

viver na Palavra de D’us, em Yeshua haMashiach, a realidade da Sua presença em

nossas vidas.

16 Alguns textos, como na tradução inglesa, dizem “vossa alegria”.

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 27/28

“E esta é a mensagem que dele ouvimos, e vos anunciamos: que Deus é luz, e

não há nele trevas nenhuma. Se dissermos que temos comunhão com ele, e andarmos

em trevas, mentimos, e não praticamos a verdade.” (Jo 1:5,6) No Evangelho, João

mostra que a Luz que brilha nas trevas.

Tanto no texto, quanto no pensamento judaico, quando lemos a respeito dos não

judeus – os “pagãos” –, entendemos que estes estão em trevas. Exemplo é o relato sobre

quando o povo hebreu estava no Egito. Uma das dez pragas era trevas. O texto relata

algo estranho, por que diz que os egípcios estavam em trevas, mas os israelitas estavam

na Luz.

João mostra que Yeshua ensinou que D’us é Luz, e n’Ele não habita trevas. Essa

não é uma mensagem religiosa, mas uma mensagem que traz mudança de vida, que traz

alegria a nossa existência e que tem implicações morais. Nós, como discípulos de

Yeshua, judeus ou não, não podemos viver como pagãos, em trevas, sem conhecimento

de quem é D’us, sem o conhecimento de que o mundo tem um Mestre, sem o

conhecimento de que haverá um dia de juízo.

Israel é a única religião, a única nação e a única fé no mundo que crê numa

ressurreição geral dos mortos. Toda a humanidade, os maus e os bons ressuscitarão. É a

única fé que diz que toda a carne será julgada. Também é a única que diz que a maneira

como você vive determina a sua eternidade. Os cristãos e os muçulmanos obtiveram

essa informação da Torá e dos profetas – trata-se, portanto de um pensamento judaico.

João conecta todo esse pensamento – o juízo e o perdão – à Palavra de D’us, ao

Filho de D’us: “Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para nos perdoar os

pecados, e nos purificar de toda a injustiça.” (1Jo 1:9) A purificação não é só de nossos

pecados mas também de toda a injustiça que cometemos contra nosso próximo e que

nosso próximo comete contra nós.

João foi muito bem sucedido em evangelizar os gregos em Éfeso. Policarpo foi

um velho martirizado pelos romanos – os romanos o fritaram e lhe tiraram a pele, ainda

vivo, porque ele não quis adorar a César e negar ao D’us de Israel. Esse mesmo

Policarpo conhecia pessoalmente João e dizia que costumava-se trazer João aos cultos,

CTER – CAT030 – João e o Logos Prof. Joseph Shulam

Copyright © CATES. Para uso exclusivo dos alunos. Proibida a reprodução para quaisquer outros fins. www.cates.com.br 28/28

na cidade de Éfeso, deitado numa cama, pois o evangelista já estava muito velho. Toda

semana. João proclamava o mesmo sermão. Ele dizia: “Meus filhinhos, amem-se

uns aos outros.”