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Dom Casmurro compareceu a um show de blues. Melancólico por natureza, o blues até combinou com o estado de espírito do filho de Macha- do de Assis, mas o ensolarado sábado de sol e a multidão alegre espantou qualquer vestígio de humor sombrio. O encontro se deu no Planeta Lite- ratura, ou seja: na Feira do Livro do Colégio João XXIII, realizada de 6 a 8 de abril e que, nesse ano, orbitou em torno do tema “Clássicos, um jeito de ler, ver e sentir diferentes mundos”. Durante o evento, o célebre perso- nagem – retratado pelos alunos do 7º ano – compôs o cenário do palco onde se apresentaram estudantes do 8º ano, participantes do projeto “Oi- tava em blues”. E essas foram apenas duas das cerca de 30 atrações prepa- radas pela comunidade escolar, além das bancas de livros Casmurro sobe ao palco no Planeta Literatura www.joaoxxiii.com.br - 2017 Junho Foto: Cristiano Sant’Anna

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Page 1: Casmurro sobe ao palco no Planeta · PDF file3 O João virou um livro aberto durante a ou me-preciso um livro em de um jornal para contar tudo o que se planeta em poucas páginas?

Dom Casmurro compareceu a um show de blues. Melancólico por natureza, o blues até combinou com o estado de espírito do filho de Macha-do de Assis, mas o ensolarado sábado de sol e a multidão alegre espantou qualquer vestígio de humor sombrio. O encontro se deu no Planeta Lite-ratura, ou seja: na Feira do Livro do Colégio João XXIII, realizada de 6 a 8 de abril e que, nesse ano, orbitou em

torno do tema “Clássicos, um jeito de ler, ver e sentir diferentes mundos”. Durante o evento, o célebre perso-nagem – retratado pelos alunos do 7º ano – compôs o cenário do palco onde se apresentaram estudantes do 8º ano, participantes do projeto “Oi-tava em blues”. E essas foram apenas duas das cerca de 30 atrações prepa-radas pela comunidade escolar, além das bancas de livros

Casmurro sobe ao palco no Planeta Literatura

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Jornal do Colégio João XXIII

FUNDAÇÃO EDUCACIONAL JOÃO XXIIIPresidente: Laura Maria Da C. Eifler SilvaVice Presidente: José Carlos Monteiro da ConceiçãoDiretor Financeiro: Jose Alencar LummertzDiretor de Obras e Patrimônio: Demétrio Luis GuadagninDiretor Jurídico: Candice Orlandin Premaor GulloDiretor de Comunicação: Edgar Da Silva Aristimunho

INSTITUTO EDUCACIONAL JOÃO XXIIIDiretora Geral: Anelori LangeVice-Diretora: Maria Tereza CoelhoJornalista Responsável: Rosina Duarte Assessoria de Imprensa e Colaboração: Luana Dalzotto Castro AlvesDiagramação e editoração: Patrick de MedeirosRevisora: Caroline Valada BeckerFotos: Audiovisual João XXIII

Origem da vida na Terra, elemento prioritário e majoritário no Planeta e no corpohumano, “A água é um clássi-co”. Por isso, assim foi batizado o pro-jeto do 9º ano. Mesmo com o nome escrito em português, o trabalho foi vinculado à disciplina de Língua Inglesa e teve por objetivo incentivar os alu-nos a beberem mais água. A proposta despertou a atenção e a curiosidade de todos os frequentadores da Feira do Livro 2017 pela sua ideia genial-mente simples.

Mas o projeto não se limitou a for-necer conselhos e dicas de conscienti-zação. Bem no centro do pátio foi ins-talada uma grande mesa com dezenas de potes, tintas, esmaltes, rendas, fitas, cordões, retalhos, lantejoulas e outros enfeites, além de pequenas ferramen-tas. E ali mesmo os interessados custo-mizavam os vidros, transformando-os em graciosas garrafas de água. Porém, como se tratava da festa dos livros, todos os recipientes eram adornados com lindas frases literárias e poesias.

Os clássicos foram os satélites que gra-vitaram em torno do Planeta Literatura em 2017, quando a Feira do Livro do João propôs um jeito de ler, ver e sentir diferen-tes mundos. A proposta desafiou, pois, para muitas pessoas, incluindo leitores vorazes, os clássicos são contraditórios, às vezes hermé-ticos e até, em alguns casos, chatos. Especial-mente para adolescentes. Porém, a resposta da comunidade escolar desmentiu a lenda e quebrou o preconceito. Os 30 projetos expostos no ensolarado sábado, 8 de abril, montaram um compêndio criativo sem sinais de tédio por parte dos alunos e professores de todos os níveis.

“Os clássicos não são lidos por dever ou por respeito, mas só por amor. Exceto na escola: a escola dever fazer com que você conheça bem ou mal um certo número de clássico dentre os quais (ou em relação aos quais) você poderá depois reconhecer os ‘seus’ clássicos. A escola é obrigada a dar--lhe instrumentos para efetuar uma opção: mas as escolhas que constam são aquelas que ocorrem fora e depois de cada escola”.

O argumento do escritor italiano Ítalo Cal-vino foi uma base sólida para a escolha da equipe Pedagógica responsável pela organi-zação do evento. Como a Feira aconteceu no início do ano letivo e o tempo era curto para tratar um tema tão complexo, só com o esforço coletivo de todas as áreas – pro-fessores, alunos e equipe da Biblioteca e do Serviço Geral, coordenadoras e Direção – a Feira tornou-se possível.

O sábado radiante de abril contribuiu, sem dúvida, mas o sucesso da mostra teve relação direta com as surpreenden-

tes formas encontradas pelas turmas para representar os clássicos. A maioria dos trabalhos estavam expostos ao ar livre, embora também ocupassem várias salas, Biblioteca e Ginásio. Recantos de leitura sob as árvores foram igualmente desfru-tados pelos participantes de Feira. A lite-ratura contou com o apoio e a parceria de diversas linguagens artísticas, entre elas as artes plásticas, a música e o teatro.Toma-do de assalto pela Feira, o João se trans-formou em uma grande feira livre, mais vanguardista do que clássica.

O Planeta gira em torno dos clássicos

Água é um clássico

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O João virou um livro aberto durante a

Feira. Em cada canto, uma história, ou me-

lhor, um projeto. Confi ra alguns – apenas

alguns – porque seria preciso um livro em

vez de um jornal para contar tudo o que se

viu. Afi nal, quem consegue descrever um

planeta em poucas páginas?

Um livro aberto

AbecedárioLetras para que te quero?

O 1º ano respondeu à pergun-ta com “Um abecedário para brincar e aprender! Brincando a gente aprende a pensar, criar, fazer, refl etir, crescer, sentir e ser feliz!”. A partir daí, a guri-zada fez gato e sapato com o alfabeto, incluindo maquetes de palavras, Bichonário (dicio-nário de bichos) e Abecedário de Transportes, entre outros.

Conexões virtuaisProjeto “Conectando au-

tores e leitores” abriu frontei-ras. Por meio dele, as crianças participaram de encontros virtuais, dialogando por Skype com três escritoras: a argentina Ruth Kaufmann, autora da obra “Abecedário” (1º ano); a per-nambucana Rosinha Campos, autora da obra “João e Maria e Os três Porquinhos” (2º ano); e a inglesa Su Blackwell, autora da obra “Contos de Princesas” (4º ano). No caso das estran-geiras, a gurizada contou com a tradução da professora de Lín-gua Espanhola Ângela Bono e do professor de Língua Inglesa Douglas Severo.

Terrado NuncaO menino que não queria

crescer sobrevoou o Planeta Literatura e inspirou a crian-çada a brincar com a própria sombra. O palco do Ginásio de Esportes, por exemplo, ga-nhou grandes painéis com ima-gens de piratas, crocodilos e sereias para compor o cenário do projeto “Você tem coragem de entrar na Terra do Nunca?”, do 5º ano. Ele também inspi-rou o 3º ano, que apresentou “Peter Pan na Terra do Nunca”, igualmente instalado no Giná-sio. Ainda no mesmo local, o trabalho “Fontes Históricas –Universo de Possibilidades de ler, aprender e descobrir o mundo” (5º ano) era uma es-pécie de ilha dentro da ilha das eternas crianças.

Romeue JulietaOs trágicos amantes eter-

nizados por Willian Sheakes-peare não poderiam faltar na festa dos clássicos. Eles vi-veram, amaram, sofreram e morreram na Sala de Música, onde foi encenado o projeto “Romeo and Juliet on Stage”, falado no idioma original em que a peça foi escrita, pelos alunos do 4º ano.

Castelode LetrasNem tijolo, nem barro nem

cimento. As construções lilipu-tianas do projeto “Que conto é esse? Com o jornal te conto!” foram feitas com folhas de jor-nal pela gurizada do 4º ano. O trabalho tridimensional inspira-do no livro “Conto de Prince-sas” (Sue Blackwell) exibiu de-licados recortes, personagens e cenários de histórias infantis:

castelo, casinha de bruxa, pé de feijão, coelho da

Alice, entre outros.

Personagensà soltaO projeto “Dos contos de

Fadas para o João XXIII: per-sonagens à solta”, apresentado pelo 4º ano, poderia emprestar seu nome a vários outros dis-tribuídos ao longo da Escola. O bonequinho de pau – men-tiroso, ingênuo e muito amado pelo pai- dos livros infantis, por exemplo, protagonizou o trabalho “As aventuras de Pi-nóquio”, do 6º ano e a baleia mais feroz de todos os tempos deixou os mares para aportar na Alameda das Árvores do João, onde se instalou o projeto “Moby Dick”, do 7º ano.

No João, toda a comunidade escolar é estimulada a ler

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Blue (azul) é a cor símbolo da tristeza. Por isso, o gênero musical que leva esse nome – cantados originalmente pelos es-cravos das fazendas de algodão às margens do rio Mississipi no sul dos Estados Unidos – é lento, intimista, melancólico. O micro festival “Oitavo in Blues”, apresentado du-rante a Feira do Livro, embora mantendo essa característica, trouxe também a jovia-lidade própria dos seus autores, no caso, os alunos do 8º ano.

“Eu não sabia a história do Blues e nem ouvia muito. E nunca tinha feito uma músi-ca”, confessa Manuela de Oliveira do Cou-to e Silva, da 8 A. Entretanto, ela compôs uma bela canção sobre uma mulher apri-sionada em um relacionamento quase pla-tônico que conserva não apenas por medo de perder a pessoa amada como também por medo de se libertar.

Mesmo sem ter consciência disso, a maioria dos estudantes já conhecia o Blues por vias indiretas, explica o professor de música Marcello Soares, um dos organi-zadores do projeto. Fãs da música pop de Língua Inglesa, os adolescentes passaram a

Blues joviais

Quem tem medo do Casmurro?

identificar a influência do blues nas canções de seus ídolos. “É uma descoberta enten-der que a música de Alicia Keys, de quem eles gostam tanto, tem raízes no Blues”, comenta. Além de fazer essas conexões, os alunos também mergulharam nas caracte-rísticas musicais e peculiaridades do gêne-ro e até compuseram seus próprios Blues.

Os alunos do 7º ano não têm medo de careta. Junto com seus professores de Língua Portuguesa, Arte e Música eles desenvolveram o projeto Dom Casmurro, que mer-gulhou na obra de Machado de As-sis sobre o soturno personagem da literatura. Parte do trabalho serviu de cenário no palco armado duran-te a Feira do Livro 2017.

Entre tantos clássicos, a obra de Machado foi escolhida especial-mente por ser dividida em capítulos pequenos, “torna mais fácil elencar os elementos da narrativa”, confor-me a professora Carmen Lucia Pa-checo de Araujo. Além da leitura e interpretação de texto – com análi-se do personagem, enredo, tempo, espaço e vocabulário – o romance também inspirou músicas e pintu-ras. “Quando a produção lúdica se faz presente em um projeto, fica mais compreensível para o público visitante”, comemora Carmen.

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A sala 403 virou um labirinto sombrio onde era preciso seguir pegadas para atingir o centro iluminado. Apesar da luz, porém, a visão não era tranqüilizadora, pois os car-tazes produzidos pelos alunos 1ª série do Ensino Médio – quase todos com imagens bem fortes de cenas reais- segredavam aos visitantes que a vida dos adolescentes não é tão esfuziante como muitos pensam.

A instalação “O Mundo que eu vejo” – montada com cortinas negras e sonori-zado com ruídos perturbadores – repre-sentou a realidade sombria da cidade, do país e do mundo, conforme a explicação da “guia” Nathalia Soares Macedo, da 1ª C. “A gente se perde no meio de tanta confusão, mas queremos lutar para po-der falar”, opina, lembrando que duran-te a elaboração do projeto, nas aulas de Redação, ela, os colegas e os professores debateram muito os acontecimentos e rumos do mundo.

O resultado foi uma coleção de ima-gens que retratam a atualidade sem re-toques. As colagens reúnem os focos

O adolescente no seu labirinto

Guillermo del Toro estava a um passo do labirinto negro. O mexicano – diretor do filme “Labirinto do Fau-no” – era um dos homenageados do projeto “Museo La Sangre Hispánica”, da 3ª série do EM, instalado ao lado do projeto “O mundo que eu vejo”.

O trabalho – vinculado à disciplina de Língua Espanhola ministrada pela professora Angela Bono – gravitou em torno de uma galeria de hispânicos no-táveis, formando uma espécie de banco de sangue artístico e literário com “do-adores” do calibre de Julio Cortázar, Gabriel Gacía Márquez, Pablo Picasso, Pablo Neruda, Carlos Gardel, Jorge Luis Borges, Isabel Allende Miguel de Cervantes, Pedro Almodóvar, entre outros. Mas foi pelas ideias, e não pela fama, que Angela fisgou a gurizada.

O texto “El derecho al delírio”, de Eduardo Galeano, por exemplo, con-quistouem primeira mão o interesse dos adolescentes. Depois vieram ou-tros e mais outros. Aos poucos, os alu-nos- habitualmente mais identificados com celebridades de Língua Inglesa – foram sendo apresentados a escritores, poetas, músicos, artistas e diretores ci-nematográficos que se expressam na Língua Espanhola.

Além da imagem e de uma micro-biografia dos 16 destaques, o Museo também ofereceu degustação e apre-sentações musicais, estas feitas no palco montado no pátio. Mariana Fachinello, da 3 A, cantou o tango “Por uma cabe-za”, e também a canção “Solo Le pido a diós”, em dueto com a colega Monique Rodrigues. Devidamente paramentada com um visual latino, Monique era a Mercedes Sosa do Museo. A interpre-tação lhe provocou uma reflexão: “A gente pede tanta coisa a Deus no dia a dia, sem refletir. Será que precisamos de tanto?”

Banco de sangue hispânico

de interesse dos adolescentes, incluin-do meio ambiente, direitos das mulhe-res, manifestações populares brasileiras, violência,homossexualidade, diversidade, infância, pobreza, consumismo, televisão, morte e Donald Trump. “Por mais que a gente tente ter uma cabeça boa, não é fácil viver no Brasil, um dos países onde mais se mata”, desabafa Nathalia. No tra-balho – feito junto com a colega Isadora Carrion – as meninas misturaram a dor e o amor e tentaram responder a pergunta que não quer calar: “Nós transformamos o mundo ou o mundo nos transforma?”

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O livro negro tem apenas um peque-no orifício e ele é a chave para desvendar algo que as pessoas insistem em ignorar. Este foi um dos trabalhos realizados pelos alunos do 9º ano, participantes do projeto “Convite ao olhar”, que uniu as disciplinas de Língua Portuguesa e Artes. A base do trabalho foi a obra “A vida que ninguém vê”, da jornalista Eliane Brum.

A partir dos relatos de Eliane – e tam-bém da leitura de outras obras, como En-saio sobre a Cegueira, de José Saramago – as professoras Caroline Becker (Portu-guês) e Cláudia Lottermann(Artes) rein-terpretaram o tema. Os alunos foram estimulados a selecionar o olhar sobre

Confidências são difíceis para um pré-adolescente. Contá-las em inglês, é ainda pior. Por essas e por outras, o projeto “Myper-sonal Life Story” realizado com os alunos do 8º ano pelos professo-res Maiara Rosa Viegas e Matheus Moura, foi um desafio. “Não te-nho histórias para contar”, dispa-rou um estudante. “Mas como? Tu já viveste 13 anos”, provocou a professora. E outro: “A minha vida não tem nada de especial”. E a professora: “Tem sim, toda vida tem”.

Assim, garimpando daqui e dali pequenas vivências, o projeto nasceu e se desenvolveu. “Foram histórias muito variadas”, relata Maiara. Um narrou o nascimento do irmãozinho; outro, um acidente com a prancha de surfe; um tercei-ro, a alegria de participar de uma festa inesquecível. O cotidiano, que parecia sem graça, revelou-se ricos de momentos interessantes. “Mexeu com a mesmice. Eles fo-ram estimulados a parar e pensar em suas vidas”, entusiasma-se a professora.

Life Story

fatos e imagens “invisíveis” para a maio-ria das pessoas e cada grupo apresentou suas escolhas de maneira velada. Fosse qual fosse a informação, ela não estava à mostra para os visitantes, que preci-savam buscá-las erguendo, afastando, espiando ou tateando sob os obstáculos interpostos à vista.

As imagens eram, geralmente tristes – representações da morte, animais aban-donados, pessoas sofrendo – mas todas continham uma beleza quase trágica. A professora Cláudia considera a escolha da gurizada bastante coerente com o assunto, pois os momentos felizes são muito mais visíveis à sociedade, existindo até uma su-

perexposição dessas alegrias por meio de fotos publicadas na Internet.

Fato singular, é que o trabalho foi fei-to em um tempo recorde, pois Caroline leciona no João há apenas três meses. Entusiasmada com o esforço coletivo dos alunos e com os elogiados resulta-dos do projeto, ela já tem planos para uma segunda etapa: “Os alunos vão re-cortar notícias e ficcionalizar a realida-de, criando narrativas inspiradas nas de Eliane”. Fã dos textos da jornalista, ela pretende trabalhar também as suas crô-nicas publicadas no jornal “El País”. Seu sonho é estabelecer um contato entre os estudantes e Eliane.

Vidas reveladas

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Dom Quixote – com sua fala líri-ca e filosófica – é capaz de prender a atenção de meninos e meninas com dentes de leite? A Educação Infantil do João provou que sim. E como não seria? Pergunta-se a coordenadora da etapa, Márcia Valiati, provocando: “Ele é tão bom para as crianças quanto o Pequeno Príncipe é para os adultos”. Para ela, o que parece improvável é, na verdade, muito lógico: “Ele tem tudo a ver com as crianças, olha um moinho e vê um gigante, é fantasia pura”. Mas as surpre-sas não pararam na escolha do tema. No palco, Quixote contracenou com os três porquinhos e, é claro, com o Lobo Mau.

Diferente das demais programações, a Educação Infantil instalou a gurizada na plateia enquanto as professoras as-sumiram o palco. “Crianças de zero a seis anos não devem ter compromisso de atuar e sim de viver e de brincar. Se

as submetermos a esse tipo de pres-são, a um padrão de perfeição, pode-mos estar matando um artista”, ensina Márcia, lembrando que, para os pe-quenos, a representação deve ser livre, fantasiosa,lúdica e na forma de brinca-deira. “É como na vida: primeiro entra-mos na piscina para depois aprender a nadar”, complementa.

Por isso, durante a Feira os peque-nininhos do João apenas desfrutaram “As aventuras de Dom Quixote” e “Os Três Porquinhos”. Quando um deles se espantou com o Lobo e fez bico para chorar, Clara Coelho espiou por trás da máscara e tranquilizou-o: “Sou eu, a profe”. E, como todo o adulto tem uma criança dentro de si, as professoras se divertiram tanto quanto as crianças, mostrando aos pais um pequeno recor-te das suas rotinas de contadoras de histórias

Quixote para menores de seis

Entrevista com professor de Lite-ratura Ibirá Costa, um dos profes-sores do projeto “Uma Escola de Cinema”, que dá sentido à Mostra.

1. Se tivesses que apresentar a Mostra para alguém que nunca ouviu falar nela, o que dirias?Esse projeto busca trabalhar com re-cursos audiovisuais nas diversas áre-as do conhecimento, especialmente nas áreas das linguagens (Literatura, Português, Redação, Língua Inglesa, Língua Espanhola e Artes) criando possibilidades de uso do cinema na Escola, unindo uma maravilhosa seleção de contos de escritores universais, incentivando à leitura dos mesmos, a análise, a discussão e a reflexão. São inúmeras as possibili-dades de uso desse tipo de produção, sem esquecer o entretenimento, a criatividade, a ousadia, a experimen-tação, o que promove a ampliação das possibilidades didáticas.

2. Qual a relação do cinema com a educação formal de um aluno?A utilização do cinema como veículo e ferramenta de ensino-aprendizagem oportuniza enfocar os aspectos cultu-rais, históricos, literários, econômicos e políticos, proporcionando um a visão integral do cinema enquanto mídia educativa. A inserção de novas estratégias de desenvolvimento do processo de ensino-aprendizagem é primordial para a inovação pedagó-gica e a adequação às mudanças so-ciais com a finalidade de proporcionar uma formação integral aos cidadãos. Nesse contexto, o cinema se torna uma ferramenta educativa cheia de potencialidades ao constituir-se em um meio de contribuir para a mudan-ça social. Ao ser percebido como uma mídia educacional o cinema tem a possibilidade de inserir-se na sala de aula de forma promissora.

Mostra de Curtas é lançada na Feira

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Da janela

Sentar-se-á num canto, calado,

solvendo a bebida mais amarga

Chorará, conformar-se-á,

calará e partirá (Tão lindo ou horrendo O lado de lá).

Porque a vida, enraizada na gente,

cresce mesmo de repente

Bebendo a água do amor, tragando a seiva da dor

Já sem samba, já sem malandragem

É o fim (ou começo) da viagem

Talvez, nunca mais primavera.

Sociedade dos Poetas Vivos revela talentos anônimosEspécie de homenagem ao filme

“Sociedade dos Poetas Mortos”, es-trelado por Robin Williams, o pro-jeto “Sociedade dos Poetas vivos” é a escrita dos poetas da Escola. O trabalho, iniciado em 2015, estimu-la a criação poética e a produção artística, além do gosto pela leitu-ra, bem como o compartilhamento de impressões, de reflexões e de opiniões, conforme o professor de Literatura Ibirá Costa, criador da ideia. “Muitos têm elevada pro-dução lírica, mas não externavam por motivos pessoais, entre eles, o medo da recepção”, conta. Assim, o projeto busca o ato de criar e de divulgar a produção literária destes artistas preservando o anonimato, a

fim de tranquilizá-los. Atualmente, porém, alguns já são reconhecidos na comunidade escolar e sentem-se à vontade com a situação. Estimu-lados pela direção e coordenação pedagógica, os participantes da So-ciedade – junto com o professor – organizam exposições das poesias produzidas nos murais, na Mostra Cultural e na Feira do Livro.

Falando Assim

Sei de sua dor, passo que dá adiante,

algo estala em um momento,

um grito de (…) de quê mesmo?

outra ideia, sem palavras.

Assim amanhece

Um prelúdio de manhã,

me sustenta, me dá a sentença,

se devora ou me dá paciência,

se associa com o nada.

Um e uma das poucas

Não sou conhecedor

Beijos são o que são

Prefiro ter um somente, nem que seja o último

[primeiro

Entre tantos ou poucos: único.

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